Você está na página 1de 9

DIREITOS REAIS

DEFINIÇÃO
Os Direitos Reais consistem num ramo do Direito Civil, sendo este Direito Privado Comum, a par do
Direito das Obrigações, Direito da Família e Direito das Sucessões. Os direitos reais são aqueles que
incidem sobre coisas, ao contrário dos direitos de crédito que incidem sobre as pessoas. A sua
caracterização unitária corresponde à denominada eficácia real, que diz respeito à eficácia do direito
contra qualquer pessoa. Esta caracterização atribui ao direito real um caráter absoluto.
O Direito das Coisas consiste assim no direito que regula a atribuição das coisas corpóreas com
eficácia real, ou seja com eficácia absoluta perante terceiros.
No âmbito do direito Civil, o Direito das Coisas caracteriza-se por ter natureza patrimonial, ou seja,
diz respeito a situações jurídicas avaliáveis em dinheiro.
Nos Direitos Reais não é possível estabelecer uma teoria geral porque, ao contrário dos direitos de
crédito onde todas as obrigações conduzem a uma teoria geral, não existem dois direitos reais iguais.
Os Direitos Reais vêm-se tutelados constitucionalmente no artigo 62º nº1 e 2 da CRP. O artigo 62º
deve ser considerado extensivo a todos os direitos reais. Esta proteção não é, porém, absoluta.
A proteção da propriedade envolve uma componente estática, no âmbito do qual é permitido aos
cidadãos a titularidade dos bens e uma componente dinâmica, no âmbito da qual se permite aos
cidadãos o seu pleno aproveitamento,designadamente através do uso, fruição, transformação e
alienação do bem.
O 3º livro do Código civil não regula todo o sistema de direitos reais, uma vez que se limita, além da
posse, a referir vários direitos reais de gozo. A posse encontra-se entre os artigos 1251º e 1301º do
cc, a propriedade entre os artigos 1302º e 1438º, o usufruto entre os arts1439º e 1483º, o uso e
habitação entre os arts 1484º e 1490º, a superfície entre os arts 1524º e 1542º e as servidões
prediais entre os arts 1543º e 1575º.
Os direitos reais de garantia, uma vez que se encontram intimamente ligados com a função de
garantia das obrigações são incluídos no livro II do CC (direito das Obrigações): Penhor (arts. 666º-
685º), hipoteca (arts.686º-732º), direito de retenção (arts. 754º-761º).
Por fim, os direitos reais de aquisição encontram-se dispersos pelos dois livros: art 413º, 421º, 1409º
e 1535º).

Os direitos reais são absolutos, ficando todas as pessoas vinculadas a não perturbar o exercício do
direito. Os direitos de crédito são possuem caráter relativo, vinculam somente as partes.
Conferem ao seu titular um poder direto e imediato sobre a coisa, ao passo que os direitos de crédito
tem que haver cooperação das partes.
Os direitos reais conferem o direito a uma coisa, ao contrário dos direitos de crédito que conferem o
direito a uma prestação.
Os direitos reais são absolutos na medida em que as faculdades que são conferidas pelo direito ao
titular são oponíveis a terceiros (oponibilidade erga omnes). Se não fosse assim, a segurança jurídica
do comércio imobiliário e mobiliário sujeito a registo seria posta em causa.

CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS


Os direitos reais podem constituir-se por usucapião e os direitos de crédito não. Apenas podem ser
usucapíveis os direitos reais de gozo.

Os direitos reais de gozo conferem ao titular o aproveitamento direto das utilidades de uma coisa
móvel ou imóvel seja pelo uso, fruição ou disposição. Encontram-se todos no livro III do CC, com
exceção dos últimos dois, que se encontram em legislação avulsa.
São direitos reais de gozo o direito de propriedade, o direito de usufruto, o direito de uso e habitação,
o direito de superfície, as servidões prediais, a posse, o direito real de habitação periódica e o direito
real de habitação duradoura.
Os direitos reais de garantia conferem ao titular a possibilidade de cumprimento de uma obrigação
com preferência sobre os demais credores. Encontram-se todos no Livro II do CCe são estes a
consignação de rendimentos, a hipoteca, o penhor, os privilégios creditórios e o direito de retenção.

Os direitos reais de aquisição conferem ao titular a possibilidade de aquisição da coisa objeto do


direito (promessa com eficácia real e direito de preferência com eficácia real).
Os direitos de preferência podem ser de natureza legal e encontram-se previstos na lei, dispersos no
Código Civil: artigos 1409º (compropriedade) e 1535º ( direito de superfície) ou natureza
convencional quando decorrem de um acordo ou de uma convenção unilateral. São os pactos de
preferência (art 414º a 423º CC). O pacto de preferência trata-se do acordo pelo qual alguém se
obriga a dar preferência a outrem na eventual conclusão futura de um contrato. O pacto de
preferência fica sujeito ao regime geral dos contratos, salvo no que diz respeito à forma, por exemplo,
se o contrato futuro estiver sujeito à forma escrita, o pacto de preferência deve ser celebrado por
escrito. É necessária a assinatura do promitente (art 410º, nº2 e 415º CC).
Na preferência com eficácia real, o direito do preferente prevalece sobre o negócio realizado com
terceiro, através da ação de preferência prevista no art 1410º do CC

CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS REAIS


1. Tipicidade- artigo 1306º “Numerus Clausus”.
Os direitos reais são típicos na medida em que só existem os direitos reais tipificados/ previstos na
lei, não existindo a suscetibilidade de criação de outros pelos particulares.
A tipicidade dos direitos reais é essencial, encontrando-se ligada ao seu caráter absoluto.
Se a regra da tipicidade não for cumprida, aplica-se o disposto no artigo 1306º nº1 e o negócio
jurídico passa a ter natureza obrigacional. se for constituído um novo direito como real que não se
encontre na lei, este passa a ser obrigacional e ter , lá está, natureza obrigacional. Desta forma,
nesta situação, estes negócios jurídicos não seguem as regras dos artigos 292º e 293º do CC e sim o
artigo 1306º do CC.

2. Publicidade
Qualquer facto jurídico relativo aos Direitos Reais deve ser dado a conhecer ao público em geral, por
razões de segurança jurídica.
Dessa forma, é necessário dar a conhecer esses factos de forma ordenada e organizada.
Definindo, a publicidade é a atividade intencional, organizada e ordenada destinada a dar a conhecer
a terceiros uma certa situação jurídica, para dela terem conhecimento.
A sua principal função é o conhecimento por terceiros de factos relativos aos direitos reais permitindo
que todos respeitem o Direito real em questão. Só este conhecimento por parte de terceiros vai
permitir a segurança do comércio jurídico imobiliário ou mobiliário sujeito a registo.

A publicidade pode ser espontânea ou provocada.


A publicidade espontânea verifica-se “quando alguém atua” de forma espontânea, repetida como
se fosse o titular daquele direito real. O artigo 1251º mostra-nos a posse como modalidade de
publicidade espontânea.
Esta modalidade de publicidade pressupõe um comportamento espontâneo.
A publicidade provocada trata-se daquela que é forçada a existir na medida em que, como o nome
indica, é provocada. Esta não nasce apenas de um comportamento espontâneo do sujeito e
encontra-se a cargo do Estado, sendo feita pelas Conservatórias do Registo (predial, civil, automóvel,
etc), que são serviços públicos. Pode ser também chamada de publicidade Registral.
Consiste essencialmente na inscrição dos factos em registos próprios (informatizados) e que são
elaborados pelas conservatórias mediante pedido feito pelos interessados. Estes factos devem
estar documentados. Esta é a forma mais segura de assegurar a publicidade dos Direitos Reais é
mediante o registo dos factos, com relevância jurídica, referentes aos imóveis e móveis sujeitos a
registo.
3. Caráter absoluto dos direitos reais
Os direitos têm caráter absoluto em virtude de ser, como já foi referido acima, oponível erga omnes.
Ao contrário dos direitos reais, temos os direitos de crédito que são apenas oponíveis ao devedor,
por serem oponíveis entre as partes apenas. Neste caso, existe apenas uma eficácia inter-partes.
Como consequência, o caráter absoluto dos direitos reais exige um dever geral de respeito por parte
dos outros sujeitos, aos quais o titular do direito pode opor eficazmente o seu direito.

Analisando individualmente o caráter absoluto de cada tipo de direito real:


Começando pelos direitos reais de gozo, a oponibilidade erga omnes resulta das ações reais como a
ação de reivindicação por exemplo (arts 1311º a 1315º), que podem ser utilizadas para defesa do
direito real, independentemente da demonstração da irregularidade da aquisição por parte do
possuidor ou detentor da coisa.
Nos direitos reais de garantia, a oponibilidade consiste na faculdade de satisfação de crédito a partir
dos rendimentos da coisa (consignação de rendimentos) ou do produto da sua venda (restantes
direitos reais de garantia) contra quem não tenha direito preferente.
Por fim, nos direitos reais de aquisição, como a promessa real (eficácia real da promessa) o pacto de
preferência com eficácia real, ou as preferências legais, o caráter absoluto resulta de a aquisição
pode ser desencadeada, independentemente do atual titular do bem (artigo 1410º CC).

4. Inerência
O direito real está inerente à coisa que é o seu objeto.
Os direitos reais têm por objeto coisas corpóreas, móveis ou imóveis. O interesse do titular do direito
real é realizado por ele, mediante o aproveitamento imediato das utilidades da coisa (usar, fruir e
dispor).

5. Sequela
A sequela permite que o direito real de que o titular dispõe persiga a coisa, onde quer que ela se
encontre, mesmo que esta tenha sido transmitida para outra pessoa.
Isto significa que, se um bem, de minha propriedade me for furtado ou roubado se encontrar na
posse ou detenção de outra pessoa, eu posso persegui-lo (reivindicá-lo) onde quer que esteja,
através do recurso à ação de reivindicação, que se encontra consagrada no artigo 1311º do CC. a
sequela exprime-se essencialmente na ação de reivindicação.

6. Prevalência
A prevalência, como o nome indica, prioriza os direitos reais sobre todos os direitos de crédito, e
sobre os direitos reais de constituição ou registo posterior.
O direito real que se constituir em primeiro lugar tem prioridade sobre todos os outros direitos reais
de constituição posterior, à exceção dos privilégios creditórios que são a favor do Estado. Deste
modo, se uma hipoteca por exemplo for constituída em primeiro lugar relativamente a um privilégio
creditório, o privilégio creditório mantém-se com prioridade, mesmo tendo sido constituído em
momento posterior.

DIREITO DE PROPRIEDADE
Podemos encontrar a noção de direito de propriedade, ainda que subentendidamente, no artigo
1305º do CC, que afirma que o proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso,
fruição e disposição das coisas que lhe pertencem. Deste artigo podemos identificar o cariz de gozo
máximo que o direito de propriedade confere ao seu titular, tendo este o poder máximo de usar, fruir
e dispor da sua propriedade, ou seja, é assegurada ao titular do direito, com exclusividade, a
generalidade dos poderes de aproveitamento global das utilidades de certa coisa.

CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE PROPRIEDADE


1. Plenitude
O direito de propriedade tende a abranger todos os poderes que podem existir sobre uma coisa na
medida em que esses poderes respeitam ao uso, fruição e à disposição das coisas objeto do direito
de propriedade. A plenitude é meramente tendencial, uma vez que existem limites e restrições, como
refere o artigo 1305º CC).

2. Elasticidade
O direito de propriedade tende a expandir-se até ao máximo das faculdades que pode comportar.

3. Perpetuidade
O direito de propriedade é perpétuo, não tem prazo, não cessa pelo decurso do tempo.
O artigo 298º nº3 diz que “os direitos de propriedade, usufruto, uso, habitação, superfície e servidão
não prescrevem, mas podem extinguir-se pelo não uso nos casos especialmente previstos na lei”.

4. Transmissibilidade
A transmissão abrange a generalidade dos direitos privados patrimoniais, no entanto há direitos reais
que são intransmissíveis , como é o caso do direito de uso e habitação (artigo 1488º).

COMPROPRIEDADE
O artigo 1403º começa por afirmar que existe compropriedade, ou propriedade comum, quando duas
ou mais pessoas detêm simultaneamente direito de propriedade sobre uma mesma coisa.
No que diz respeito à natureza jurídica da compropriedade verificam-se algumas teses em confronto,
sendo a dominante na doutrina portuguesa a que vê na compropriedade um conjunto de direitos,
coexistindo sobre toda a coisa e não sobre qualquer realidade ideal ou imaterial, como seria a quota,
ou nem sequer sobre uma parte da coisa.

A lei reconhece aos comproprietários legitimidade para praticarem, cada um por si, certos atos que
integram o conteúdo do direito de propriedade, sendo os mais relevantes o uso da coisa (artigo
1406º), a disposição e oneração de quota (1408º) e a reivindicação da coisa comum (artigo 1405º
nº2).
No entanto, muitos poderes encontram-se subordinados à vontade da maioria dos consortes, como
as coisas que respeitam à administração comum.
Os consortes podem, por vontade concordante de todos, exercer todas as faculdades que integram
os seus direitos de propriedade, mas nem sempre a unanimidade é exigida. São poderes de
necessário exercício unânime os de disposição e de oneração da coisa comum ou, mesmo, de parte
específica dela.
Decorre do artigo 1408º nº2 que só com o consentimento dos restantes comproprietários pode
qualquer consort praticar estes atos.
No que toca aos encargos, estes são suportados, de acordo com o artigo 1405º nº1, por todos os
comproprietários na proporção das suas quotas.

A cessação da situação de compropriedade implica o termo do concurso de vários direitos de


propriedade pertencentes a pessoas diferentes, tendo por objeto a mesma coisa. Por isso, constitui
importante faculdade para cada comproprietário obter a divisão da coisa comum.
O artigo 1412º nº1 afirma que nenhum comproprietário é obrigado a permanecer na indivisão.

POSSE
O artigo 1251º do CC define a posse como “o poder que se manifesta quando alguém atua por forma
correspondente ao exercício do direito de propriedade ou de outro direito real. A posse diz assim
respeito à situação em que ocorre o exercício fáctico de poderes sobre as coisas, o qual é objeto de
proteção pelo Direito, independentemente da averiguação da efetiva titularidade do direito sobre essa
coisa.
As razões da proteção da posse por parte do Direito prendem-se essencialmente, segundo o
Professor Menezes Leitão, com a paz pública e da continuidade do exercício das posições jurídicas.
Efetivamente, se alguém, pela violência, resolve perturbar a utilização duradoura de uma coisa por
outrem ou mesmo subtrair-lhe essa coisa, o Direito, para reprimir essa situação, não necessita da
efetiva demonstração de que o lesado é titular de direitos reais sobre a coisa. O simples facto de
exercer poderes sobre ela é suficiente para que a ordem jurídica lhe permita exigir a manutenção ou
restituição da coisa, independentemente da discussão sobre a efetiva titularidade do direito.
Distinguindo a posse formar de casual, a posse formal verifica-se quando o exercício fáctico de
poderes sobre a coisa não é acompanhado da titularidade do direito, e a posse casual, em que esse
exercício se encontra a ser realizado pelo titular do direito.

Posse e detenção: diferença


A grande diferença prende-se com a existência do animus domini. Na posse existe o animus ao
contrário da detenção. Na detenção, esse elemento não existe uma vez que se entende que a
pessoa não tem a intenção de possuir a coisa para si e sim para outrem (nomine alieno).
Há uma parte da doutrina que entende que toda a detenção deve considerar-se posse, uma vez que
considera que o artigo 1251º, na definição de posse não existe qualquer referência ao animus.

A posse pode ter diversas classificações, tais como posse efetiva e não efetiva, posse titulada e não
titulada, posse de boa fé e posse de má fé, posse violenta e posse pacífica, entre outras.
A posse efetiva traduz-se naquela em que existe um controlo material sobre a coisa, já a não efetiva
é aquela em que a situação possessória resulta apenas da lei.
A posse titulada é aquela que se funda num modo legítimo de adquirir, independentemente do direito
do transmitente ou da validade substancial do negócio jurídico. É aquela que quando a sua aplicação
se funde num ato jurídico, translativo, ou constitutivo de um direito real que, a ser válido, seria a
causa dessa posse.A posse não titulada é aquela que não deriva desse modo legítimo de adquirir.
A posse de boa fé é aquela em que o possuidor ignorava, ao adquiri-la, que lesava o direito de
outrem (art 1260º nº1). Posse de má fé é aquela em que não se verificava essa ignorância, no
momento de aquisição da posse.
A posse violenta é aquela em que, para adquiri-la, o possuidor usou de coacção física ou de coação
moral (1261º nº2). Pelo contrário, a posse pacífica é aquela que foi adquirida sem violência (1261º
nº1).
A violência na aquisição da posse permite ao possuidor requerer o procedimento cautelar de
restituição provisória da posse (1279º).
Por fim, a posse pública é aquela que se exerce de modo a poder ser conhecida pelos interessados,
de acordo com o artigo 1262º.

DIREITO DE SUPERFÍCIE
O artigo 1524º do Código Civil define o direito de superfície como a faculdade de construir ou manter,
perpétua ou temporariamente, uma obra em terreno alheio, ou de nele fazer ou manter plantações.
O direito de superfície pode constituir-se através de contrato, testamento e usucapião.
Os direitos do superficiário prendem-se com a faculdade de construir ou plantar e de manter a obra
ou plantação. Já as suas obrigações prendem-se, principalmente com, fazer, no prazo fixado ou, na
ausência de fixação, no prazo de 10 anos, a obra ou plantação, bem como refazê-los, em caso de
destruição, dentro dos mesmos prazos, a contar desta (destruição); pagar o preço, que pode consistir
numa prestação única ou numa prestação anual, sempre pecuniária, estando a determinação do
preço e a forma de pagamento adstritas ao ato de constituição da superfície (artigo 1530º); consentir
no uso e fruição do solo pelo fundeiro (dono do terreno) até ao início da plantação (artigo 1532º) e
por fim, dar preferência ao fundeiro na alienação da superfície, gozando este de direito de eficácia
real (artigo 1535º).

São factos extintivos do direito de superfície o decurso do seu prazo, no caso deste ser temporário; a
reunião na mesma pessoa do direito de superfície e direito de propriedade; sanção pelo
incumprimento da obrigação de fazer ou refazer a obra ou plantação, no prazo aplicável;
desaparecimento ou inutilização do solo; expropriação por utilidade pública e por fim a ocorrência de
outro facto a que o título constitutivo ligue tal efeito.

DIREITO DE USUFRUTO
A sua definição encontra-se no artigo 1439º do Código Civil, que define o usufruto como o direito de
gozar temporariamente e plenamente sobre uma coisa ou direito, sem alterar a sua forma ou
substância.
Verifica-se uma coexistência com o direito de propriedade.
O usufruto pode ter como objeto não só coisas corpóreas como direitos, como afirma o artigo 1439º
na sua definição.
Além de ser um direito apenas temporário, este só permite ao usufrutuário gozar plenamente a coisa
ou direito a que este incide. Compreende as faculdades do uso e fruição (artigo 1446º).
Verifica-se também uma transmissibilidade limitada, na medida em que a lei atribui a possibilidade da
transmissibilidade do usufruto inter vivos (artigo 1444º), afirmando que o usufrutuário pode
trespassar, definitiva ou temporariamente, bem como onerar, salvas as restrições. No entanto, a
transmissão mortis causa não se verifica, uma vez que este se extingue por morte do usufrutuário de
acordo com o artigo 1476º nº1 alínea a).
O usufruto pode ser constituído por contrato, testamento, usucapião ou disposição da lei, sendo os
mais relevantes o contrato e testamento (negócio jurídico).
O usufruto constituído por usucapião é uma situação meramente académica, uma vez que é muito
raro que se gere uma situação de posse com base no usufruto.
A lei atribui um regime especial a algumas formas de usufruto devido à particularidade do seu objeto
(ver artigos 1451º e seguintes).
São direitos do usufrutuário o gozo pleno da coisa ou direito (1439º e 1446º); incluir no objeto do
usufruto certos acréscimos ao mesmo (artigo 1449º); transferir os seus poderes para as
indemnizações devidas em caso de deterioração ou perda (1480º); ser indemnizado no momento de
cessação por despesas de produção em curso (artigo 1447º); ser indemnizado pelo valor das
reparações extraordinárias a que proceda licitamente (artigo 1473º).
Por outro lado, a lei impõe inúmeras obrigações ao usufrutuário para com o proprietário de raiz, que
se dividem em obrigações anteriores à tomada de conta dos bens, sendo estas fazer uma relação
dos bens e prestar caução; e obrigações subsequentes à tomada de conta dos bens, sendo elas
fazer um bom uso da coisa ou direito; suportar as despesas de administração; fazer reparações
ordinárias; consentir a realização pelo proprietário de obras, melhoramentos e novas plantações;
informar o proprietário de raiz da necessidade de reparações extraordinárias e de quaisquer factos
de terceiros de que possam resultar danos para o proprietário; suportar impostos e outros encargos
anuais sobre os rendimentos e por fim restituir a coisa, findo o usufruto.
No que diz respeito à forma de extinção, o usufruto vitalício extingue-se pela morte do usufrutuário e
o usufruto não vitalício pelo decurso do prazo. O usufruto pode ser também renunciável.
A lei menciona outras causas de extinção (artigo 1476º), sendo elas a reunião do usufruto e direito de
propriedade na mesma pessoa; o não exercício do usufruto durante 20 anos e por fim a perda total
da coisa usufruída.

DIREITO DE USO E HABITAÇÃO


O artigo 1484º define o direito de uso e habitação.
Começa por definir o direito de uso como a faculdade de alguém se servir de certa coisa, incluindo
haver os respectivos frutos, na medida das suas necessidades e da sua família. Quanto ao direito de
habitação não é mais do que o nome específico do direito de uso quando o seu objeto respeita a uma
casa de morada.
Grande parte do regime dos direitos de uso e habitação são atribuídos pela lei por remissão para o
usufruto (artigos 1485º e 1490º).
Só as pessoas singulares podem ser titulares dos direitos de uso e habitação, sendo as suas
principais características o caráter pessoalíssimo e a sua não negociabilidade.
A lei afirma, através do artigo 1485º que as formas de constituição e extinção dos direitos de uso e
habitação são as mesmas do usufruto, com a exceção da alínea b) do artigo 1293º e a cessação das
necessidades do titular e da sua família.

SERVIDÕES PREDIAIS
A sua definição encontra-se no artigo 1543°
Trata-se de um direito incidente sobre coisa alheia. O lado passivo diz respeito ao prédio
serviente, e o ativo ao prédio dominante.
Podemos distinguir algumas características das servidões prediais, tais como a ligação
necessária a um prédio (atribuição da servidão é sempre em função da titularidade de um
prédio dominante, não sendo admitidas servidões pessoais). Esta ligação é imprescindível,
uma vez que apenas as utilidades que possam ser susceptíveis de ser gozadas por
intermediário do prédio dominante é que podem ser objeto de servidões (1544°).
Outra característica que se pode destacar é a inseparabilidade (1545°) em relação ao
prédio sobre que incide, sendo corolário da regra de que as utilidades do prédio serviente
devem ser gozadas através do prédio dominante.
A servidão é intransmissível e não pode, por si, ser objeto de alienação ou oneração, uma
vez que não pode ser destacada de um prédio. Se o prédio for onerado ou alienado a
servidão acompanha-o.
Por fim, podemos referir a indivisibilidade como característica das servidões, uma vez que
estas não são suscetíveis de serem repartidas por partes, incidindo sobre a totalidade do
prédio serviente e não sobre apenas uma parte deste. Mesmo que seja limitado por local,
dias ou horas, há sempre uma utilidade total da servidão. Vale a pena reforçar que a divisão
dos prédios não implica a multiplicação das servidões.
O artigo 1547° estabelece como podem ser constituídas servidões prediais, sendo através
de contrato (por escritura pública e sujeito a registo (artigo 2° n°1 alínea a do código do RP);
de testamento; usucapião ( apenas no caso de servidões aparentes - artigo 1548°/1 +
1293°/a); destinação do pai de família que ocorre sempre que em dois prédios com o
mesmo dono, ou em duas frações de um só prédio, houver sinais visíveis e permanentes,
postos em um ou em ambos, que revelem serventia de um para o outro (1549°) e por fim
através de sentença judicial ou decisão administrativa em que a sentença judicial se verifica
sempre que o proprietário do prédio sujeito à servidão legal não decida voluntariamente
constituí-la e a decisão administrativa que se verifica por e duplo no caso das águas,
ligadas a concessões de águas públicas.
Após a sua constituição, as servidões são exercidas, atendendo ao seu conteúdo, nos
termos do artigo 1564° e seguintes.

Modalidades de servidões
Positivas- atribuem ao titular do prédio dominante o poder de praticar certos atos sobre o
prédio serviente. (Exemplo- passagem, apascentamento);
Negativas- o titular do prédio serviente fica obrigado a abster-se da prática de certos atos
(exemplo- não edificação, não edificação em altura);
Desvinculativas- aquelas em que ocorre a libertação do prédio de uma restrição legal
imposta em benefício de prédio serviente. (Exemplo- Estilicídio);
Aparentes e não aparentes- as aparentes revelam sinais visíveis e permanentes relativos
à existência de uma servidão. Já as não aparentes não se revelam por sinais visíveis e
aparentes. Estas últimas não podem ser constituídas por usucapião, conforme afirma o
artigo 1548° n°1.

Contínuas e descontínuas- as contínuas são aquelas que se exercem permanente e


independentemente de qualquer ação do homem. ( Exemplo- servidão de estilicídio).
Já as descontínuas são aquelas cujo exercício é intermitente, depende da ação humana.
(Exemplo-servidão de passagem e servidão de apascentamento).
Voluntárias e legais- as voluntárias exigem o consentimento do proprietário do prédio
serviente para se poderem constituir. As servidões legais podem ser constituídas sem esse
consentimento.

Servidões legais de passagem


1. Em benefício de prédio encravado (1550°)
Prédios que não tenham comunicação com a via pública têm de estabelecer essa
comunicação através de uma servidão de passagem pelo modo e lugar menos
inconvenientes (1553°)
O direito de preferência só é atribuído no caso da servidão legal de passagem já estar
constituída, não bastando a possibilidade (1555°).

2. Para o aproveitamento de águas (1556°)

Servidões legais de águas


1. Aproveitamento de águas para gastos domésticos e fins agrícolas (1557° e
1558°)
Atribuída a titular de um prédio que não tenha água suficiente para as suas necessidades e
não a possa obter sem excessivo incómodo ou dispêndio, sendo-lhe reconhecido o direito
de constituir servidão para aproveitar as águas existentes no prédio vizinho.

2. De presa (1559° e 1560°)


Não se limita a recolher águas do prédio alheio, atribuindo antes a faculdade de represar a
água e a fazer derivar desse prédio. Esta servidão pode aplicar-se a águas públicas ou
particulares.

3. De aqueduto (1561° e 1562°)


Atribui a faculdade de conduzir sobre prédio alheio as águas a que o titular da servidão
tenha direito, podendo mais uma vez tratar-se águas públicas ou particulares.

4. De escoamento (1563°)
Faculdade de fazer escoar sobre prédio vizinho as águas que existem em excesso em
determinado prédio.

Extinção das servidões


1. Confusão de propriedades- pode ocorrer quando o titular de um prédio adquire o
outro ou quando um terceiro adquire ambos. Temos de estar perante aquisição de
propriedade porque se for usufruto a servidão mantém-se;
2. Não uso durante 20 anos- extingue todas as servidões;
3. “Usucapio libertatis”- 1574°;
4. Renúncia- não requer aceitação do proprietário do prédio serviente (1569°/ 5).
5. Desnecessidade (1569°/ 2 e 3);
6. Remição (1569°/4).

Por fim, falando da sua natureza, ML fala-nos da teoria do direito real menor, sendo a
servidão um direito real de gozo incidente sobre coisa alheia, ainda que o gozo que esta
proporciona indicando de coisa diferente daquela que constitui o seu objeto.

Você também pode gostar