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Direito das Coisas/Reais


Professora: Ássima Casella
Introdução
1) Direitos reais x direitos das coisas

- Terminologia divide a doutrina.

- Direito das coisas = Carlos Roberto Gonçalves, Tartuce, MHD, Washington de


Barros, Silvio Rodrigues.

- Direitos reais = Rosenvald, Cristiano Chaves, Orlando Gomes, Venosa.

• No CC/2002 = Direitos da coisa = Livro III


Direitos reais = 1225/CC

- Para Tartuce, o Direito das Coisas é o ramo do Direito Civil que possui como
conteúdo relações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas ou
determináveis. Já os Direitos Reais seria o conjunto de categorias jurídicas
relacionadas à propriedade, descrita inicialmente no artigo 1225/CC. Assim, os
Direitos Reais são o conteúdo principal dos Direitos da Coisa, mas não o
exclusivo.

*** Questão terminológica

Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves, ambas as expressões possuem


conceitos idênticos, tratando da mesma matéria.

Orlando Gomes, aduz que o Direito das Coisas regula o poder dos homens
sobre os bens e os modos de sua utilização econômica.

2) Posse x Propriedade
- Conceito:

*** Propriedade: Faculdade de usar, gozar, dispor e reaver a coisa.


Nas palavras de Rosenvald e Cristiano Chaves, “ a propriedade é um direito
complexo, que se instrumentaliza pelo domínio, possibilitando ao seu titular o
exercício de um feixe de atributos consubstanciados nas faculdade de usar,
gozar, dispor e reivindicar a coisa que lhe serve de objeto”.
*** Posse: Um dos poderes inerentes à propriedade.
A definição de posse se extrai, conforme a tradição do direito brasileiro, a partir
da noção de possuidor, a quem se confere a titularidade do exercício de fato de
uma das faculdades inerentes à propriedade. (Gustavo Tepedino, Maria Celina e
Heloisa Barbosa, Código Civil Interpretado)
Art. 1.228/CC O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e
o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.
Art. 1.196/CC Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
- Os poderes da propriedade são: uso, gozo/fruição, livre disposição e
reivindicação. No Brasil, possuidor é aquele que tem um dos poderes de
propriedade.
Ex.: Art. 565/CC Na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder à
outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível,
mediante certa retribuição.
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/2022/140920
22-Acao-de-despejo-e-a-via-processual-adequada-para-comprador-tomar-
posse-de-imovel-locado.aspx
*** A posse do bem locado se desdobra, ou seja, o locatário recebe a posse
direta e o locador mantém a indireta. Isto justifica, por exemplo, a possibilidade
de que ambos defendam a posse, em caso de ameaça, turbação ou esbulho por
terceiros.

*** Desdobramento de posse - art. 1.197:


Possuidor direto – aquele que via de regra está no bem/ utilizando da coisa
Possuidor indireto – não utiliza da coisa

Art. 1.197/CC A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de
quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra
o indireto
.
***ATENÇÃO: tanto o possuidor direto quanto o indireto podem se valer
igualmente da defesa da posse (podem defender a coisa da posse de terceiros).
Mas o possuidor direto pode se defender contra o indireto? Enunciado 76 da
Jornada:
76 – Art. 1.197: O possuidor direto tem direito de defender a sua posse contra o
indireto, e este, contra aquele (art. 1.197, in fine, do novo Código Civil).

*** Contrato estimatório = artigo 534 a 537/CC – poder de disposição.

Reintegração de posse – artigo 1210/CC

3) Coisa?
Tudo aquilo que não é humano.

No Direito das Coisas, há uma relação de domínio pela pessoa (sujeito ativo)
sobre a coisa.

Sujeito ativo

Coisa

Sujeito ativo _______________ Sujeito passivo

3.1) Objeto do estudo:


- Normas que regulam as relações jurídicas referentes à coisa susceptíveis
de apreciação econômica.

4) Características
- De acordo com Maria Helena Diniz:

a) Oponibilidade Erga Omnes (Princípio do Absolutismo);


O direito real é um direito absoluto; normas de ordem pública e estabelecem
entre o sujeito ativo (pessoa) e uma coisa determinada (objeto) uma relação.
Sujeito (ativo)

Coisa

Esta relação obriga a sociedade (sujeito passivo) a abster-se de praticar qualquer


ato contrário, qualquer violação a esta relação.
Os direitos reais se exercem erga omnes, contra todos, que devem abster-se de
molestar seu titular.

b) Direito de sequela; (Princípio da aderência)

O direito real acompanha sempre a coisa. De acordo com Orlando Gomes, “é


como lepra ao corpo”.

Ex.: Servidão; usufruto

c) Direito de preferência a favor do titular de um direito real

Credor com garantia real tem direito de preferencia em relação ao credor


com garantia pessoal.

Art. 1.422/CC O credor hipotecário e o pignoratício têm o direito de excutir


a coisa hipotecada ou empenhada, e preferir, no pagamento, a outros
credores, observada, quanto à hipoteca, a prioridade no registro.
Parágrafo único. Excetuam-se da regra estabelecida neste artigo as dívidas
que, em virtude de outras leis, devam ser pagas precipuamente a quaisquer
outros créditos.

d) Possibilidade de abandono, renúncia aos direitos reais;


Art. 1.275/CC Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade:
I - por alienação;.
II - pela renúncia;
III - por abandono;
IV - por perecimento da coisa;
V - por desapropriação.
Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade imóvel
serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de
Imóveis.

e) Viabilidade de incorporação da coisa por meio da posse, de um domínio


fático;
Exercícios de atos que externam a sua posse.
- São suscetíveis de incorporação por via do instituto da posse
Possuidor encontra-se em uma situação de fato, aparentando ser o
proprietário. Posse exteriorização do domínio – art. 1196/CC.
Exteriorização ou visibilidade do domínio, ou seja, a relação exterior entre a
pessoa e a coisa. Ex.: Usucapião

f) Previsão de usucapião como meio de aquisição da propriedade;


Obs.: Atinge também outros direitos reais.

g) Suposta obediência a um rol taxativo (numerus clausus) de institutos,


previstos em lei.

Art. 1.225/CC São direitos reais:


I - a propriedade;
II - a superfície;
III - as servidões;
IV - o usufruto;
V - o uso;
VI - a habitação;
VII - o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII - o penhor;
IX - a hipoteca;
X - a anticrese.
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia

XII - a concessão de direito real de uso; e


XIII - a laje.

O artigo acima mencionado traz os Direitos Reais. Discute-se aqui, se são


numerus clausus, se há incidência do princípio do princípio da taxatividade.
Seria possível a existência de outros direitos reais além do previsto do
dispositivo acima?
Há, portanto, uma divergência doutrinária.

De acordo com Rosenvald os tipos de direito real são abertos, pois há espaço no
qual a autonomia privada pode se manifestar, desde que não sejam criadas figuras
atípicas, que não sejam previstas em lei. Certamente, o controle de legitimidade e
merecimento da atuação conferida aos particulares para a modelagem de direitos reais
será dado pela prevalência axiológica da Constituição Federal.
De acordo com Tartuce, há uma influência da autonomia privada no Direito das
Coisas, entendo o referido autor que o rol previsto no artigo 1225/CC é exemplificativo.
Em suas palavras, “... a vontade humana pode criar novos direitos reais”.
Doutrina contemporânea que entende que não há uma rigidez absoluta quanto
aos institutos previstos no artgo 1225/CC = Tartuce, Rosenvald, Cristiano Chaves.
Posição minoritária.
Em sentido contrário: MHD, Orlando Gomes, Venosa e Caio Mário e Carlos
Roberto Gonçalves.
DIREITO CIVIL. INVALIDADE DA PENHORA SOBRE A
INTEGRALIDADE DE IMÓVEL SUBMETIDO A TIME SHARING.
É inválida a penhora da integralidade de imóvel submetido ao regime de
multipropriedade (time-sharing) em decorrência de dívida de condomínio de
responsabilidade do organizador do compartilhamento. Na espécie,
reconhece-se que a natureza jurídica da multipropriedade imobiliária bem
mais se compatibiliza com a de um direito real. Isso porque,
extremamente acobertada por princípios que encerram os direitos reais,
a multipropriedade imobiliária, nada obstante ter feição obrigacional aferida
por muitos, detém forte liame com o instituto da propriedade, se não for
a sua própria expressão, como já vem proclamando a doutrina
contemporânea, inclusive num contexto de não se reprimir a autonomia da
vontade nem a liberdade contratual diante da preponderância da tipicidade
dos direitos reais e do sistema de numerus clausus . Não se vê como
admitir, no contexto do CC/2002, óbice a se dotar o instituto da
multipropriedade imobiliária de caráter real, especialmente sob a ótica
da taxatividade e imutabilidade dos direitos reais inscritos no art. 1.225.
Primeiro, porque o vigente diploma, seguindo os ditames do estatuto civil
anterior, não traz nenhuma vedação nem faz referência à inviabilidade
de consagrar novos direitos reais. Segundo, porque com os atributos dos
direitos reais se harmoniza o novel instituto, que, circunscrito a um vínculo
jurídico de aproveitamento econômico e de imediata aderência ao imóvel,
detém as faculdades de uso, gozo e disposição sobre fração ideal do bem,
ainda que objeto de compartilhamento pelos multiproprietários de espaço e
turnos fixos de tempo. REsp 1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, por maioria, julgado
em 26/4/2016, DJe 6/9/2016.
Obs.: A multipropriedade foi incluída no CC/2002 em 2018, pela Lei 13.777.

h) Regência do Princípio da Publicidade dos Atos.

Ver: art. 1227/CC


Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis
constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só
se adquirem com o registro no Cartório de Registro
de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247),
salvo os casos expressos neste Código.

5. Direitos reais x direitos pessoais

Direitos reais Direitos pessoais

- Relação jurídica entre uma pessoa e - A relação é formada entre uma pessoa
uma coisa. O sujeito passivo é a (sujeito ativo) e outra (sujeito passivo).
coletividade.

- Os seus efeitos operam em face da - Os seus efeitos só atingem os sujeitos


coletividade (erga omnes). da relação jurídica (inter partes).

- São regidos, especialmente, pelo - São regidos pelo princípio da


Princípio da publicidade. autonomia privada. 425/CC

- Rol taxativo - Rol exemplificativo

- A coisa responde. - Os bens do devedor respondem.

- Caráter permanente - Caráter transitório, em regra.

5.1) Obrigações propter rem:


- Também denominadas obrigações híbridas ou ambulatórias.
- Inicialmente, parecem se inserir no campo dos direitos obrigacionais.
De acordo Rosenvald e Chaves, uma importante situação de imbricação
entre direito real e obrigacional instala-se nome momento da formação das
obrigações proter rem. Constituem uma figura peculiar, pois se inserem entre os
direitos reais e obrigacionais, assimilado características de ambos.

5.2) Direitos obrigacionais com eficácia real


- São, de fato, obrigacionais, mas vinculam a coletividade, e por isso se
aproximam dos direitos reais – mesmo que, diferentemente da obrigações
propter rem, não estão vinculados a um direito real qualquer. São obrigacionais,
mas ganham eficácia real, erga omnes, por força de lei, quando registrados
(dependendo da publicidade, portanto).

- Resultam de contratos e alcançam, por força de lei, a dimensão de direito


real.

Obs.: Preempção ou prelação legal _ Do direito de preferência

Lei 8245/91, art. 27. No caso de venda, promessa


de venda, cessão ou promessa de cessão de direitos
ou dação em pagamento, o locatário tem preferência
para adquirir o imóvel locado, em igualdade de
condições com terceiros, devendo o locador dar - lhe
conhecimento do negócio mediante notificação
judicial, extrajudicial ou outro meio de ciência
inequívoca.
Parágrafo único. A comunicação deverá
conter todas as condições do negócio e, em especial,
o preço, a forma de pagamento, a existência de ônus
reais, bem como o local e horário em que pode ser
examinada a documentação pertinente.
Art. 28. O direito de preferência do locatário
caducará se não manifestada, de maneira inequívoca,
sua aceitação integral à proposta, no prazo de trinta
dias.
Art. 33. O locatário preterido no seu direito de
preferência poderá reclamar do alienante as perdas e
danos ou, depositando o preço e demais despesas do
ato de transferência, haver para si o imóvel locado,
se o requerer no prazo de seis meses, a contar do
registro do ato no cartório de imóveis, desde que o
contrato de locação esteja averbado pelo menos
trinta dias antes da alienação junto à matrícula do
imóvel.

5.3) Ônus reais


- São outra figura intermediária: consistem nos gravames convencionais
impostos sobre determinados bens, limitando seu nível de disponibilidade.
Carlos Roberto Gonçalves afirma que “são obrigações que limitam o uso
e gozo da propriedade constituindo gravames ou direitos oponíveis erga omnes”.
Maria Helena Diniz afirma que os ônus reais “são obrigações que limitam
a fruição e a disposição da propriedade. Representam direitos sobre coisa alheia
e prevalecem erga omnes”.
2. Posse

- Teorias da posse
2.1) Teoria subjetiva de Savigny e Teoria objetiva de Ihering
a) Teoria subjetiva
Em 1803, Friedrich Carl von Savigny, escreveu seu tratado sobre a posse e
propôs que deveria haver uma proteção jurídica nas situações onde houvesse o contado
de uma pessoa com um bem.
Conforme Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves, na concepção de Savigny, a
posse seria o poder que a pessoa tem de dispor materialmente de uma coisa, com a
intenção de tê-la para si e defende-la contra a intervenção de outrem.
A posse decorria da junção dos seguintes aspectos:
- Corpus
- Animus domini
Fórmula da posse, para Savigny:
*** P = C + A
***Crítica = Caso não ocorra o animus (ex.: Locatário =
tem somente o corpus, não tem o animus domini =
intenção de ter a coisa); como não será por esta teoria
considerada possuidor, não fará jus à tutela possessória;
seria considerado um mero detentor.

b) Teoria objetiva
Meio século depois, surge outro autor, Rudolf von Ihering, propondo uma releitura da
posse, de forma a ampliar a teoria subjetiva.
Fórmula da posse, para Ihering:
P=C
*** O artigo 1.196/CC demonstra a adesão de nosso ordenamento à teoria objetiva da
posse, de Ihering:
“Art. 1.196/CC Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno
ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.”
Obs.: Apesar de o CC/2002 adotar como regra a Teoria Objetiva, faz concessões à
Teoria Subjetiva.

1.2. Detenção
As teorias de Savigny e Ihenring mostram-se de extrema importância quando do estudo
da figura do detentor. Assim para Savigny detentor, não era considerado possuidor face
à ausência do animus domini.
Para Ihering, a posse, ocorre quando há o corpus e o a figura de detentor decorreria de
lei, de opção legislativa.
Como adotamos a teoria objetiva de Ihering, temos 3 situações de detenção.
a) Fâmulo da posse/gestor da posse (art.1198/CC) Servidores da posse
Art. 1.198/CC Considera-se detentor aquele que,
achando-se em relação de dependência para com outro,
conserva a posse em nome deste e em cumprimento de
ordens ou instruções suas.
Detenção dependente.
Ex.: Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o
responsável pelo prejuízo invocado, o juiz facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a
alteração da petição inicial para substituição do réu.
Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará
os honorários ao procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por
cento do valor da causa ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85, § 8o.
Enunciado 493, V Jornada de Direito Civil:
O detentor (art. 1.198 do Código Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a
autodefesa do bem sob seu poder.
- Enunciado 301, IV Jornada de Direito Civil:
É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na
hipótese de exercício em nome próprio dos atos possessórios. Ex.: rompimento da
relação trabalhista e empregado permanece no bem. Ver: art. 1204/CC
Art. 1.204/CC Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o
exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
b) Atos de permissão ou tolerância (art. 1208/CC)
Detenção interessada
A provisoriedade é essencial para configurar a
tolerância ou a permissão, mantendo a situação no
campo da detenção, pois se a situação se consolidar,
pode comutar-se em posse.
Art. 1.208/CC Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância

c) Posse violenta e clandestina (art.1208/CC) – posses injustas, viciadas.


Detenção autônoma
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de
cessar a violência ou a clandestinidade

2.1) Posse justa e injusta


** Artigo 1200/CC
- Justa é a posse cuja aquisição não decorre de lesão ao direito de propriedade,
inexistindo nesta perspectiva, vício no momento de aquisição. (Gustavo Tepedino,
Maria Celina e Heloisa Barbosa, CC/2002 Comentado).
- De acordo com Orlando Gomes, a posse injusta associa-se à lesão ao direito de
propriedade; resta maculada desde a origem, por ter sua aquisição fundada em um dos
três vícios possessórios: violência, clandestinidade e precariedade.
- Injustas:
- Violenta: ocorre quando a coisa é tomada pelo uso da força de seu possuidor legítimo,
impedindo-o de exercer livremente o poder físico sobre a coisa.
- Clandestina: ocorre quando colhida de forma disfarçada, com astúcia, à revelia do
possuidor legítimo. É adquirida sorrateiramente.

Esbulho possessório de bar no centro do Rio gera indenização por danos morais e materiais

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmou decisão do Tribunal de


Justiça do Rio de Janeiro que mandou pagar indenização de danos morais e materiais por
descumprimento de contrato e esbulho possessório em favor do ex-proprietário de um
botequim. O recurso do comerciante foi acolhido por unanimidade no colegiado.

Segundo os autos, o dono do Loide Bar – que funcionou durante 42 anos no mesmo endereço –
foi procurado por investidor que se disse interessado em revitalizar o local, no centro da capital
fluminense. Para isso, queria ajuda do comerciante para comprar o imóvel, que era alugado.

Visando alavancar o potencial do seu negócio, o dono do botequim disse ter firmado acordo
verbal com o investidor para lhe repassar o direito de compra do imóvel, na expectativa de que
ele fizesse uma reforma no prédio. Pelo acordo, após a reforma, o imóvel continuaria sendo
alugado para o Loide Bar.

Segundo a petição inicial, o comerciante confiou em fazer um acerto verbal porque o investidor
era figura pública, que ocupou cargos de direção na administração pública federal.

Durante a reforma, os aluguéis continuaram a ser pagos pelo dono do bar, que também
comunicou à Secretaria Estadual de Fazenda a paralisação temporária de seu negócio. Após o
fim da reforma, no entanto, o investidor rompeu o acordo e o vínculo locatício, instalando, logo
em seguida, outro negócio do mesmo ramo no local.

Segundo a relatora do recurso no STJ, ministra Nancy Andrighi, o cenário descrito no processo
revela “nítido comportamento contrário à boa-fé objetiva”, pois o investidor, antes mesmo de
se tornar proprietário e locador do imóvel onde estava instalado o Loide Bar, “não se pautou
pelo dever de lealdade, transparência e probidade quanto às suas reais intenções”, frustrando
a expectativa do comerciante de que permaneceria à frente do seu negócio.

Perdas e danos

Segundo Nancy Andrighi, deve ser aplicado ao caso o artigo 402 do Código Civil, com base no
qual a indenização por perdas e danos deve abranger, além do valor correspondente às
máquinas, equipamentos, móveis e utensílios que eram usados no Loide Bar, o valor do ponto
empresarial que o recorrente perdeu por conta do esbulho praticado pelo recorrido.

A relatora disse ter ficado caracterizada no processo a existência de um contrato de locação


verbal entre as partes, e que o não cumprimento do acordo trouxe a perda do ponto
empresarial. O investidor teria feito o comerciante crer que manteria o contrato de locação
entre eles, “mas este nunca foi o seu propósito”.

“Ao manter o recorrido, unilateralmente, o imóvel em seu poder, além do prazo


convencionado para a devolução, passou a exercer a posse injusta, em razão do esbulho
então praticado, causador da perda do ponto empresarial pelo recorrente”, ressaltou a
ministra.
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/
Noticias-antigas/2017/2017-12-28_10-18_Esbulho-
possessorio-de-bar-no-centro-do-Rio-gera-indenizacao-
por-danos-morais-e-materiais.aspx
Reconhecida usucapião extraordinária de veículo furtado após 20 anos de uso por terceiro

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou provimento ao recurso especial
do proprietário de um caminhão furtado ao reconhecer a aquisição por usucapião
extraordinária em favor de um terceiro, que comprou o veículo de boa-fé e exerceu a posse
sobre ele por mais de 20 anos.

O recurso teve origem em ação de reintegração de posse do terceiro adquirente contra o


proprietário original, cujo caminhão foi furtado em 1988 e recuperado em 2008. Até ser
apreendido, o veículo estava em posse do terceiro, que o comprou de uma pessoa que
aparentava ser o dono, por meio de financiamento bancário, e obteve registro no departamento
de trânsito, além do licenciamento regular.

O pedido de reintegração foi julgado improcedente em primeiro grau, mas o Tribunal de Justiça
de Minas Gerais deu provimento à apelação, ao entendimento de que houve usucapião
extraordinária pelo terceiro. No recurso especial, o proprietário original do caminhão
sustentou que a proteção possessória deveria ser deferida àquele que provasse a propriedade
do veículo e que não seria possível a usucapião em razão da detenção de bem furtado.

Usucapião extraordinária

O relator no STJ, ministro Marco Aurélio Bellizze, lembrou que a Terceira Turma, em acórdão
anterior à vigência do Código Civil de 2002, concluiu não ser admissível a usucapião ordinária
de veículo furtado, pois a posse a título precário jamais poderia ser transformada em justa,
mesmo que o possuidor usucapiente fosse terceiro que desconhecesse a origem dessa posse.

No entanto, para o ministro, o caso em análise amplia o debate, pois trata da possibilidade de
aquisição da propriedade de bem móvel por usucapião extraordinária e sua incidência sobre
bem objeto de furto.

O relator afirmou que a posse é protegida pelo direito por traduzir a manifestação exterior do
direito de propriedade. "Esta proteção prevalecerá, sobrepondo-se ao direito de propriedade,
caso se estenda por tempo suficiente previsto em lei, consolidando-se a situação fática que é
reconhecida pela comunidade, sem se perquirir sobre as causas do comportamento real do
proprietário", disse.

Além do transcurso do prazo de prescrição aquisitiva, observou Bellizze, a legislação


estabelece tão somente que a posse deve ser exercida de forma contínua e sem oposição,
conforme os artigos 1.260 e 1.261 do Código Civil de 2002.

"Nos termos do artigo 1.261, aquele que exercer a posse de bem móvel, ininterrupta e
incontestadamente, por cinco anos, adquire a propriedade originária, fazendo sanar todo e
qualquer vício anterior", lembrou o relator.

"Nota-se que não se exige que a posse exercida seja justa, devendo-se atender o critério de boa-
fé apenas nas hipóteses da usucapião ordinária, cujo prazo para usucapir é reduzido",
afirmou.

Início da posse

O relator destacou que o artigo 1.208 do Código Civil estabelece que a posse não é induzida
por atos violentos ou clandestinos, passando a contar após a cessação de tais vícios. De
acordo com ele, o furto é equiparado ao vício da clandestinidade, enquanto o roubo, ao da
violência.

"Nesse sentido, é indiscutível que o agente do furto, enquanto não cessada a clandestinidade
ou escondido o bem subtraído, não estará no exercício da posse, caracterizando-se assim a
mera apreensão física do objeto furtado. Daí porque, inexistindo a posse, também não se dará
início ao transcurso do prazo de usucapião", disse ao destacar que, uma vez cessada a
violência ou a clandestinidade, a apreensão física do bem induzirá a posse.

O ministro concluiu que não é suficiente que o bem sub judice seja objeto de crime contra o
patrimônio para se generalizar o afastamento da usucapião. Para ele, é imprescindível que se
verifique, nos casos concretos, se a situação de clandestinidade cessou, especialmente quando o
bem furtado é transferido a terceiros de boa-fé.

"As peculiaridades do caso concreto, em que houve exercício da posse ostensiva de bem
adquirido por meio de financiamento bancário com emissão de registro perante o órgão
público competente, ao longo de mais de 20 anos, são suficientes para assegurar a aquisição
do direito originário de propriedade, sendo irrelevante se perquirir se houve a inércia do
anterior proprietário ou se o usucapiente conhecia a ação criminosa anterior a sua posse",
afirmou Bellizze.

https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Reconhecida-
usucapiao-extraordinaria-de-veiculo-furtado-apos-20-anos-de-uso-por-terceiro.aspx
- Precária: aquela obtida por abuso de confiança, daquele que detém a coisa para
devolução posterior, mas não o faz oportunamente, conservando-a consigo de maneira
indevida.
****Os vícios da posse possuem caráter relativo. Os vícios da posse não produzem
efeitos erga omnes, só podendo ser alegados pelo possuidor ofendido contra o agressor;
daí seu caráter relativo. ( Gustavo Tepedino, Maria Celina e Heloisa Barbosa, Código
Civil Interpretado)

Particulares podem discutir posse de imóvel localizado


em área pública
Aos particulares que ocupam terras públicas sem
destinação específica é permitido o pedido judicial de
proteção possessória. A possibilidade não retira o bem do
patrimônio do Estado, mas reconhece a posse do
particular, que garante a função social da propriedade e
cristaliza valores constitucionais como a dignidade da
pessoa humana, o direito à moradia e o aproveitamento
do solo.
O entendimento foi firmado pela Quarta Turma do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao julgar recurso em
ação de reintegração de posse entre dois particulares que
disputam imóvel pertencente ao Distrito Federal. De
forma unânime, o colegiado negou provimento ao recurso
do ente público e manteve acórdão que determinou novo
julgamento em primeira instância, após a abertura da fase
de produção de provas.
A discussão original foi travada em ação de reintegração
de posse entre dois particulares por área rural no DF. O
autor alegou que, após 20 anos de posse no imóvel, foi
surpreendido por invasão e parcelamento de metade da
área pelo réu.
Ainda na primeira instância, o Distrito Federal ingressou
na ação como interveniente anômalo, conforme definido
no artigo 5º da Lei 9.469/97, alegando ter havido
parcelamento irregular do solo.
Possibilidade jurídica
O juiz considerou improcedente o pedido de reintegração
por entender que, como a área discutida nos autos estava
situada em terra pública, não havia direito de posse a ser
defendido pelos dois particulares.
A sentença foi cassada pelo Tribunal de Justiça do
Distrito Federal (TJDF). Após confirmar a possibilidade
jurídica do pedido de disputa possessória por particulares
em imóveis do poder público, os desembargadores
entenderam haver necessidade da produção de prova oral
e pericial para determinação da posse.
Com a modificação do julgamento na segunda instância, o
Distrito Federal apresentou recurso especial ao STJ.
Alegou ser impossível ao particular o pedido de proteção
possessória sobre imóvel de natureza pública, pois ele,
nesses casos, possui mera detenção do bem, não havendo
possibilidade do cumprimento dos pressupostos
estabelecidos pelo Código de Processo Civil de 1973.
Possuidores
O relator do caso na Quarta Turma, ministro Luis Felipe
Salomão, esclareceu inicialmente que, segundo o artigo
1.196 do Código Civil, considera-se possuidor aquele que
tem de fato o exercício, de forma plena ou não, de algum
dos poderes inerentes à propriedade.
Salomão também lembrou a importância de diferenciar os
casos em que pessoas invadem imóvel público e
posteriormente almejam proteção possessória e os litígios
em que, como no recurso analisado, são levantadas
questões possessórias entre particulares por imóvel
situado em terras públicas.
O ministro destacou que as turmas de direito privado do
STJ costumavam caracterizar o ocupante de bem público
como mero detentor do imóvel, sem legitimidade para
pleitear proteção possessória ou indenização por
benfeitorias realizadas.
Todavia, Salomão enfatizou a recente evolução de
posicionamento dos colegiados do tribunal no sentido de
que, dependendo do caso, é possível a discussão
possessória em bens dessa natureza por particulares,
“devendo a questão ser interpretada à luz da nova
realidade social”.
A evolução de entendimento leva em conta o conceito de
bens públicos dominicais, definidos pelo Código Civil
como aqueles que, apesar de fazerem parte do acervo
estatal, encontram-se desafetados, sem destinação
especial e sem finalidade pública. Em imóveis desse tipo,
o particular exerce poder fático sobre o bem e lhe garante
sua função social, podendo propor interditos possessórios
contra terceiros que venham a ameaçar ou violar sua
posse.
Aproveitamento concreto
“Em suma, não haverá alteração na titularidade dominial
do bem, que continuará nas mãos do Estado, mantendo
sua natureza pública. No entanto, na contenda entre
particulares, reconhecida no meio social como a
manifestação e exteriorização do poder fático e duradouro
sobre a coisa, a relação será eminentemente possessória
e, por conseguinte, nos bens do patrimônio disponível do
Estado, despojados de destinação pública, será
plenamente possível — ainda que de forma precária —, a
proteção possessória pelos ocupantes da terra pública que
venham a lhe dar função social”, resumiu o relator.
No voto, que foi acompanhado de forma unânime pelo
colegiado, Salomão também destacou que a posse deve
ser analisada de forma autônoma em relação à
propriedade, por ser fenômeno de relevante densidade
social.
Para o ministro, a posse deve expressar o aproveitamento
concreto e efetivo do bem para o alcance do interesse
existencial, “tendo como vetor de ponderação a dignidade
da pessoa humana, sendo o acesso à posse um
instrumento de redução de desigualdades sociais e justiça
distributiva”.

https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/
Noticias-antigas/2016/2016-11-08_08-43_Particulares-
podem-discutir-posse-de-imovel-localizado-em-area-
publica.aspx
Segundo VENOSA, a posse somente é viciada em relação a uma determinada pessoa,
não tendo efeito, neste caso, erga omnes.
*** Convalidação dos vícios
Ver: art. 1208/CC
De acordo com Carlos Roberto Gonçalves, a violência e a clandestinidade podem
cessar. Enquanto não findam, existe apenas detenção. Cessados, surge a posse, porém
injusta, em relação a quem a perdeu.
Cessada a violência e a clandestinidade, dar-se-á o inicio da posse. ( Gustavo Tepedino,
Maria Celina e Heloisa Barbosa, Código Civil Interpretado). Também neste sentindo,
Maria Helena Diniz e Silvio Rodrigues.
Flávio Tartuce e José Fernando Simão entendem que a análise da cessação dos vícios, e
possibilidade de convalidação ou não, dever ser feita à luz da função social da posse,
diante de caso a caso.
Já Caio Mario aduz que a posse inicialmente injusta poderá se tornar justa, mediante a
interferência de uma causa diversa. Aponta as seguintes situações: aquele de quem
tomou pela violência comprar do esbulhado ou quem a possui clandestinamente herdar
do desapossado.
*** Posse precária: convalida?
Enunciado 237 CJF
Art. 1.203: É cabível a modificação do título da posse – interversio possessionis – na
hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar ato exterior e inequívoco de
oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus
domini.
TJRJ — APELAÇÃO 0091824-33.2003.8.19.0001 — j. 26/10/2010
Apelação Cível. Ação de usucapião. Pretensão deduzida por possuidores de mais de 20
anos, que afirmam ter ingressado no imóvel como locatários, mas logo passado a
exercer a posse com animus domini. Proprietários cujo paradeiro se desconhece.
Citação por edital. Posse comprovadamente exercida de forma mansa e pacífica.
Inversão do caráter da posse. Existência de atos que, de forma inequívoca, indicam a
mudança da qualidade da posse, originalmente precária, como a cessação do pagamento
de 4 aluguéis, a realização de obras de conservação no bem e a quitação de débitos
tributários de períodos pretéritos. Função social da posse. Desídia dos proprietários
registrais exteriorizada pela ausência prolongada, que se extrai do insucesso das
diligências realizadas pelo Juízo no intuito de localizá-los. Recurso ao qual se dá
provimento para declarar os apelantes proprietários do imóvel descrito na inicial,
consoante o artigo 1.238 do Código Civil.
**Ver: artigo 1203/CC = Princípio da Continuidade do caráter da posse
Nas palavras de Venosa, “a simples vontade do possuidor não tem o condão de
modificar a natureza da posse. O que modificaria sua natureza seria ato material
exteriorizado em outra relação de fato com a coisa.
2.2) Posse de boa-fé e de má-fé
O conceito de justiça ou injustiça da posse é eminentemente objetivo: basta constatar se
há o vício ou não. O conceito de posse de boa ou má-fé, por seu turno, é essencialmente
subjetivo, pautando-se pela mente do possuidor.
De acordo com Silvio Rodrigues, o que distingue a posse boa-fé da posse de má-fé é a
posição psicológica do possuidor. Caso tenha o conhecimento do vício sua posse é de
má-fé. Se ignora o vício que a macula, sua posse é de boa-fé.
A posse de má-fé é aquela em que o possuidor tem conhecimento dos seus vícios, ou
pelo menos poderia e deveria ter tal ciência, e ainda assim não se demite da posse.
Art. 1.201/CC É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que
impede a aquisição da coisa.Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a
presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta
presunção.

Art. 1.202/CC A posse de boa-fé só perde este caráter no


caso e desde o momento em que as circunstâncias façam
presumir que o possuidor não ignora que possui
indevidamente.
* Justo título
De acordo com Gustavo Tepedino, justo título constitui-se em documento hábil, em
tese, à transmissão da propriedade a despeito de vício que o macula.
*** Presunção relativa
Promovido o leilão do bem pelo credor hipotecário, a permanência do mutuário no imóvel
caracteriza posse de má-fé. STJ. 1a Turma. AREsp 1.013.333-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria,
julgado em 03/05/2022 (Info 735).

2.3) Posse direta e indireta


Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves, a Teoria adotada por Ihering, engloba a
possibilidade de utilização econômica da coisa, o exercício de fato de alguns dos
poderes inerentes à propriedade. Quem se comporta como se tivesse tais direitos sobre a
coisa é possuidor dela, ainda que não a tenha sob sua dominação direta.
- Desdobramento da posse
Ver: Artigo 1197/CC
“Enunciado 76, CJF – Art. 1.197: O possuidor direto tem direito de defender a sua
posse contra o indireto, e este, contra aquele (art. 1.197, in fine, do novo Código Civil).”
2.4) Posse ad interdicta e ad usucapionem
A posse ad interdicta é aquela que autoriza o possuidor a manejar os interditos
possessórios, a proteger sua posse.
A posse ad usucapionem é aquela que autoriza o possuidor a reclamar a propriedade do
bem, por via da usucapião. A posse só será ad usucapionem se preencher determinados
quesitos: deve ser contínua, ininterrupta, e deve ser mansa e pacífica, ou seja,
inconteste, sem resistência oposta por outrem.

Condômino que exerce posse sem oposição do coproprietário pode pedir usucapião em nome
próprio - 2022

Para a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o condômino que exerce a posse
do imóvel por si mesmo – sem nenhuma oposição dos demais coproprietários – tem
legitimidade para pedir usucapião em nome próprio.

O entendimento foi firmado pelo colegiado ao confirmar acórdão do Tribunal de Justiça de São
Paulo (TJSP) que considerou o ex-cônjuge parte legítima para ajuizar a ação de usucapião em
nome próprio, após a dissolução da sociedade conjugal, desde que exerça a posse exclusiva
com animus domini e sejam atendidos os outros requisitos legais.

Segundo o processo, uma mulher pediu o reconhecimento de sua propriedade sobre a fração
ideal de 15,47% de vários imóveis. As partes, casadas desde 1970, se divorciaram em 1983,
mas não partilharam os bens. Por estar na posse exclusiva dos imóveis há mais de 23 anos
(desde o divórcio até o ajuizamento da ação, em 2007), sem oposição do ex-marido, a mulher
ajuizou ação objetivando a usucapião extraordinária.

No recurso especial apresentado ao STJ, o homem alegou que a coproprietária – no caso, sua
ex-esposa –, enquanto administrava a fração ideal dos imóveis comuns (alugando-os a
terceiros), não exerceu posse ad usucapionem, por mais longa que tenha sido essa posse; por
isso, não seria cabível o reconhecimento da usucapião em seu favor.

Posse de imóvel com ânimo de dono

De acordo com o relator, ministro Marco Aurélio Bellizze, a jurisprudência do STJ considera
que, dissolvida a sociedade conjugal, o imóvel comum do casal passa a ser regido pelas regras
do condomínio – ainda que não realizada a partilha de bens –, cessando o estado de
mancomunhão anterior.

"Nesse contexto, possui legitimidade para usucapir em nome próprio o condômino que exerça a
posse por si mesmo, sem nenhuma oposição dos demais coproprietários, tendo sido preenchidos
os demais requisitos legais", afirmou o ministro, citando vários precedentes do tribunal (REsp
668.131; REsp 1.631.859; AgInt no REsp 1.787.720).

Segundo Bellizze, a posse de um condômino sobre o imóvel, exercida com ânimo de dono,
ainda que na qualidade de possuidor indireto, sem nenhuma oposição dos coproprietários,
nem reivindicação dos frutos que lhes são inerentes, confere à posse o caráter ad
usucapionem, que legitima a procedência da usucapião, quando atendidas as outras
exigências da lei.

Ex-marido abandonou os bens após o fim do casamento

No caso julgado, observou o relator, após o fim do matrimônio, o ex-marido abandonou


completamente a fração ideal dos imóveis pertencente ao casal, sendo que a ex-esposa não lhe
repassou nenhum valor proveniente de aluguel – nem ele o exigiu – e tampouco prestou contas
por todo o período antecedente ao ajuizamento da ação.

Diante disso, o ministro entendeu ser descabida a alegação de que a mulher apenas
administrava os bens. "O que houve – e isso é cristalino – foi o exercício da posse pela ex-
esposa do recorrente com efetivo ânimo de dona, a amparar a procedência do pedido de
usucapião, segundo já foi acertadamente reconhecido na origem", afirmou o relator.

https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/
Noticias/24062022-Condomino-que-exerce-posse-sem-
oposicao-do-coproprietario-pode-pedir-usucapiao-em-
nome-proprio.aspx
2.5) Posse nova e posse velha
Conforme Carlos Roberto Gonçalves, posse nova é a de menos de ano e dia. Já a posse
velha é a de ano e dia ou mais. Esta classificação considera a idade da posse.
2.6) Posse natural e civil
- 1996/CC e art. 1228/CC
CONSTITUTO POSSESSÓRIO. AÇÃO POSSESSÓRIA.
A Turma, entre outras questões, entendeu ser cabível o manejo de ação possessória pelo
adquirente do imóvel cuja escritura pública de compra e venda continha cláusula
constituti, já que o constituto possessório consiste em forma de aquisição da posse nos
termos do art. 494, IV, do CC/1916. Na espécie, a recorrente (alienante do bem) alegou
que o recorrido não poderia ter proposto a ação de reintegração na origem porque nunca
teria exercido a posse do imóvel. Entretanto, segundo a Min. Relatora, o elemento
corpus – necessário para a caracterização da posse – não exige a apreensão física do
bem pelo possuidor; significa, isso sim, sua faculdade de dispor fisicamente da coisa.
Salientou ainda que a posse consubstancia-se na visibilidade do domínio, demonstrada a
partir da prática de atos equivalentes aos de proprietário, dando destinação econômica
ao bem. Assim, concluiu que a aquisição de um imóvel e sua não ocupação por curto
espaço de tempo após ser lavrada a escritura com a declaração de imediata tradição – in
casu, um mês – não desnatura a figura de possuidor do adquirente. Precedente citado:
REsp 143.707-RJ, DJ 2/3/1998. REsp 1.158.992-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 7/4/2011.
03) Composse
Ver: Art. 1.199/CC
Art. 1.199/CC Se duas ou mais pessoas possuírem coisa
indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos
possessórios, contanto que não excluam os dos outros
compossuidores.
Conceito:
De acordo com Cristino Chaves, composse é o exercício
simultâneo da posse por duas ou mais pessoas e com a
mesma natureza.
Também denominada: compossessão ou posse em comum.
De acordo com MHD, para configurar a composse são
necessário dois pressupostos:
** Pluralidade de sujeitos;
** Coisa indivisa ou em estado de indivisão.
Obs.: A composse não se confunde com o desdobramento
da posse
De acordo com Orlando Gomes, no desdobramento os
graus da posse são diversos, pois um dos possuidores fica
privado da utilização imediata da coisa. Na composse
todos podem utilizá-la diretamente, desde que uns não
excluam os outros.
*** De acordo com o artigo 1.199/CC = qualquer um dos
possuidores poderá fazer uso das ações possessórias, no
caso de atentado praticado por terceiro. É possível também
a utilização de autotutela
STJ: A composse existe nas relações concubinárias ou na
união estável e se caracteriza não só pela relação
matrimonial ou declaração conjunta do bem, mas pelo
exercício efetivo e concomitante da posse pelos
possuidores.
** Efeito jurídico processual da composse (Artigo
73/CPC)
Art. 73/CPC O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que
verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação
absoluta de bens.
§ 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:
I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de
separação absoluta de bens;
II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por
eles;
III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família;
IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre
imóvel de um ou de ambos os cônjuges.
§ 2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é
indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado.
§ 3º Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos.

Ação de reintegração exige citação de todos os que exercem a posse simultânea do imóvel
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por unanimidade, reafirmou que, na
hipótese de composse (quando mais de uma pessoa exerce a posse do mesmo bem), a decisão
judicial de reintegração de posse deverá atingir de modo uniforme todas as partes ocupantes
do imóvel, configurando-se caso de litisconsórcio passivo necessário.

Com base nesse entendimento, o colegiado deu provimento ao recurso especial no qual três
pessoas da mesma família sustentaram que são ocupantes de imóvel objeto de litígio e não
foram citadas para contestar a ação de reintegração de posse, de modo que deveria ser
reconhecida a nulidade da sentença e dos atos posteriores, com a devolução do prazo para a
apresentação de defesa.

O proprietário ajuizou a ação de reintegração de posse contra uma mulher, que, segundo ele,
seria a matriarca da família. Como não houve contestação da citada, o juízo de primeiro grau
decretou a revelia e julgou a ação procedente.

Depois de iniciado o cumprimento de sentença, as outras três pessoas da família protocolaram


petição contra a decisão do juiz. O Tribunal de Justiça de São Paulo considerou que houve a
efetiva citação dos demais ocupantes do imóvel, por meio da matriarca, e que não seria
possível reverter a reintegração de posse, devido ao trânsito em julgado da sentença.

Citação é pessoal e não pode ser feita em nome de terceiro

O relator do recurso especial, ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, observou que a citação, em
regra, é pessoal e não pode ser realizada em nome de terceiros, salvo hipóteses legalmente
previstas, como a citação por hora certa (tentativa de ocultação) ou por meio de edital (citando
desconhecido ou incerto) – exceções não aplicáveis no caso dos autos.

O magistrado destacou que, em razão da natureza da relação jurídica controvertida, como


previsto no artigo 114 do Código de Processo Civil de 2015, a sentença de reintegração de
posse, na hipótese de composse, deve atingir de maneira uniforme os ocupantes do imóvel, o
que exige que todos sejam citados.

"Na linha da jurisprudência do STJ, o vício na citação caracteriza-se como vício


transrescisório, que pode ser suscitado a qualquer tempo, inclusive após escoado o prazo para
o ajuizamento da própria ação rescisória, mediante simples petição, por meio de ação
declaratória de nulidade ou impugnação ao cumprimento de sentença", concluiu o ministro.

Ao reconhecer a nulidade da sentença, ele determinou a remessa dos autos à origem para a
citação dos litisconsortes passivos necessários e o posterior processamento do feito.

https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/
Noticias/2022/31082022-Acao-de-reintegracao-exige-
citacao-de-todos-os-que-exercem-a-posse-simultanea-do-
imovel.aspx

2) Efeitos da posse:
a) Percepção de frutos
b) Responsabilidade civil
c) Indenização de benfeitorias
d) Direito de retenção
Obs.: Também considera um dos efeitos da posse a
usucapião.
a) Direito aos frutos percebidos
Ver: art. 1232/CC
Art. 1.232/CC Os frutos e mais produtos da coisa
pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário,
salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a
outrem.

*** Caio Mário = a percepção dos frutos pelo possuidor


de boa-fé, configura efeitos da posse mitigando a regra de
que os frutos pertencem ao proprietário.
Ver: art. 1214/CC
Art. 1.214/CC O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos
percebidos.Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé
devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem
ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação.

De acordo com Rosenvald e Cristiano Chaves, no


momento em que cessa a boa-fé, o possuidor tem direito
aos frutos obtidos e separados tempestivamente,
abrangendo-se aí tanto os colhidos, como os percebidos. Já
o possuidor não faz jus aos frutos pendentes ao tempo da
cessação da boa-fé.
Ver: art. 1215/CC
Art. 1.215/CC Os frutos naturais e industriais reputam-se
colhidos e percebidos, logo que são separados; os civis
reputam-se percebidos dia por dia.
- Possuidor de má-fé = art. 1216/CC
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e
percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento
em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.

*** Produtos
- Tartuce entende, seguindo o entendimento de Orlando
Gomes que não é possível sua aplicação aos efeitos dos
frutos. Para Tartuce, a questão envolvendo os produtos
deverá ser resolvida com as regras que vedam o
enriquecimento sem causa. Neste sentido, MHD.
Em sentido contrário: Rosenvald e Cristiano Chaves.
Caso prático:
João tomou um empréstimo junto à Caixa Econômica para adquirir um imóvel,
comprometendo-se a pagar a dívida em 180 prestações.
Como garantia, o imóvel ficou hipotecado para a Caixa Econômica.
Ocorre que, por dificuldades financeiras, o adquirente se tornou inadimplente.
Diante disso, a instituição financeira iniciou a execução hipotecária extrajudicial e o imóvel foi
levado a leilão.
Mesmo com a arrematação, João se recusou a sair do imóvel, o que somente ocorreu
efetivamente após alguns anos.
Após sair, João pediu para receber todas as benfeitorias (necessárias, úteis e voluptuárias) que
realizou no imóvel durante o período entre o leilão e a sua efetiva saída do local. Ele utilizou
como fundamento o art. 1.219 do Código Civil. Tem Joao direito à indenização pelas
benefeitorias?

b) Responsabilidade civil do possuidor


Ver: arts. 1217 e 1218/CC
O legislador presume a responsabilidade, cabendo ao
possuidor provar que o dano sobreviria mesmo que a coisa
estivesse na posse do reividicante, rompendo a causalidade
entre o exercício possessório e o evento danoso, visando
evitar o enriquecimento sem causa. (Gustavo Tepedino,
Maria Celina e Heloisa Barbosa, Código Civil
Interpretado)
c) Direito às benfeitorias
Benfeitorias:
Ver: art. 96/CC
** Classifica-se a benfeitoria de acordo com a utilidade
que prestam ao bem principal.
Ver: art. 97/CC
Acessão: incorporação, união física com o aumento do
volume da coisa.
- Bens por acessão natural: acréscimos naturais, sendo
considerados modos de aquisição da propriedade.
- O entendimento jurisprudencial consolidado é de que há
o direito à indenização pelas acessões, assim como, é
possível o exercício do direito de retenção.
TJMG: CONSTRUÇÃO. ACESSÃO EM TERRENO DE
PROPRIEDADE ALHEIA. ART. 1255 DO CÓDIGO
CIVIL/ ART. 547 DO CÓDIGO CIVIL REVOGADO-
BOA FÉ- INDENIZAÇÃO. VALOR DA EDIFICAÇÃO
À DATA DA DESOCUPAÇÃO. -Aquele que procedendo
de boa fé edifica em terreno alheio, malgrado, via de
regra, perca o que construiu em proveito do proprietário,
tem direito, por força do art. 1255 do Código Civil
vigente/ art. 547 do Código Civil revogado, à indenização
correspondente ao valor das acessões realizadas na data
em que cessa o exercício de sua posse sobre a coisa.
- Ver: art. 1219/CC
*** Consequências:
a) o possuidor de boa-fé tem direito à indenização por
benfeitorias necessárias e úteis.
b) o possuidor de boa-fé não indenizado, tem direito à
retenção dessas benfeitorias ( úteis e necessárias)- ius
retentiones,
c) o possuidor de boa-fé tem direito ao levantamento das
benfeitorias voluptuárias, se não forem pagas, desde que
não cause prejuízo à coisa.- ius tollendi.
Ver: artigo 1220/CC
a) O possuidor de má-fé não tem direito de retenção ou de
levantamento. A lei garante , somente, indenização ao
possuidor de má-fé tão só pelas benfeitorias necessárias
realizadas na coisa.
Ver: art. 1222/CC
d) Direito de retenção
- Ius retentionis
- Medida de defesa do possuidor de boa-fé.
De acordo Venosa, o direito de retenção do possuidor de
boa-fé é modalidade de garantia de pagamento da
obrigação.
Nas palavras de Orlando Gomes, o direito de retenção
constitui um dos modos de defesa ou tutela de certos
direitos, dos mais enérgicos, porque, embora não seja
forma de fazer justiça com as próprias mãos, assegura a
conservação do bem alheio a quem é credor de dívida
relativa a esse bem.
Enunciado 81, I Jornada de Direito Civil
Art. 1.219: O direito de retenção previsto no art. 1.219 do
Código Civil, decorrente da realização de benfeitorias
necessárias e úteis, também se aplica às acessões
(construções e plantações) nas mesmas circunstâncias.
DIREITO. RETENÇÃO. BENFEITORIAS. ALUGUEL.
Os recorridos adquiriram de boa-fé o terreno em questão.
Nele construíram sua residência. No entanto, o recorrente
ajuizou contra eles ação reivindicatória, resolvida pela
celebração de transação (homologada por sentença), a qual
regulava o direito de retenção: os recorridos obrigavam-se
a entregar o imóvel após serem indenizados pelas
benfeitorias construídas (art. 516 do CC/1916). Não se
estipulou, na oportunidade, qualquer valor a título de
aluguel pelo tempo que durasse a retenção. Arbitrado
judicialmente o valor das benfeitorias (R$ 31.000,00), o
recorrente alegou não ter como ressarci-las por falta de
condições econômicas para tanto. Permaneceram os
recorridos na posse e uso do imóvel. Contudo, a doutrina
admite que, apesar de não ser obrigado a devolver a
coisa até que se satisfaça seu crédito, o retentor não
pode utilizar-se dela. Assim, é justo que o recorrente
deva pagar pelas acessões introduzidas de boa-fé, mas
também que os recorridos sejam obrigados a indenizá-
lo pelo uso do imóvel (valor mensal a ser arbitrado em
liquidação, devido desde a data da citação). A
jurisprudência deste Superior Tribunal já admite
semelhante solução na hipótese relacionada com a
separação ou o divórcio, enquanto um cônjuge permanece
residindo no imóvel do outro. Por fim, os créditos
recíprocos deverão ser compensados de forma que o
direito de retenção seja exercido no limite do proveito que
os recorridos têm com o uso da propriedade alheia. Anote-
se que a retenção não é um direito absoluto ou ilimitado
sobre a coisa, mas mera retentio temporalis: os princípios
da vedação ao enriquecimento sem causa e da boa-fé
objetiva, ao mesmo tempo em que impõem ao retentor o
dever de não usar a coisa, determinam que a retenção não
se estenda por prazo interminável. Com esse
entendimento, a Turma, por maioria, deu provimento ao
recurso. Precedentes citados: REsp 673.118-RS, DJ
6/12/2004, e REsp 23.028-SP, DJ 17/12/1992. REsp
613.387-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
2/10/2008.
“DIREITO CIVIL. POSSIBILIDADE DE O
DEPOSITÁRIO JUDICIAL EXERCER DIREITO DE
RETENÇÃO.
O particular que aceita exercer o múnus público de
depositário judicial tem o direito de reter o depósito até
que sejam ressarcidas as despesas com armazenagem e
conservação do bem guardado e pagos os seus
honorários.” (STJ, Ac. 3ª T., REsp 1.300.584/MT, rel.
Min. João Otávio de Noronha, j. 3.3.16, DJe 9.3.16)

Possuidor não está isento de pagar pelo uso do imóvel


enquanto exerce direito de retenção por benfeitorias/
2021
No caso de resolução de contrato de compra e venda de
imóvel, ainda que o comprador possua o direito de
retenção por benfeitorias, ele não está dispensado da
obrigação de pagar aluguel ou taxa de ocupação ao
vendedor pelo tempo em que usou o bem, enquanto
exercia tal direito.
Com esse entendimento, a Terceira Turma do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) reformou acórdão do Tribunal
de Justiça do Paraná que isentou o comprador do
pagamento de aluguéis pelo período em que exerceu o
direito de retenção por benfeitorias.
Ao STJ, o vendedor alegou que, sob pena de
enriquecimento ilícito, o comprador deveria indenizá-lo
por todo o período de ocupação do imóvel. Sustentou
ainda que o não pagamento dos aluguéis em virtude do
direito de retenção seria incoerente com a ideia de retorno
ao estado anterior à formalização do contrato e de
indenização efetiva de todos os prejuízos.
Benfeitorias
A relatora do caso, ministra Nancy Andrighi, explicou
que benfeitorias são bens acessórios acrescentados ao
imóvel (bem principal) pela pessoa que detém sua posse,
com a finalidade de aperfeiçoar seu uso, evitar que se
deteriore ou se destrua, ou, ainda, de embelezá-lo ou
torná-lo mais agradável.
Pelo princípio da gravitação jurídica – ressaltou –, as
benfeitorias acompanham o imóvel, de forma que esses
melhoramentos introduzidos pelo possuidor direto, em
algumas situações, passam para o patrimônio do
proprietário (possuidor indireto) quando o bem principal
retorna à sua posse.
Segundo a ministra, o possuidor de boa-fé tem direito à
indenização das benfeitorias necessárias e úteis que fez e
de retenção do bem principal, não sendo obrigado a
devolvê-lo até que seu crédito, referente a tais
benfeitorias, seja satisfeito (artigo 1.219 do Código
Civil).
Enriquecimento sem causa
Nancy Andrighi observou que, com fundamento na
vedação do enriquecimento sem causa, a jurisprudência
do STJ se firmou no sentido de que a utilização do imóvel
objeto do contrato de compra e venda enseja o pagamento
de aluguéis ou de taxa de ocupação pelo tempo de
permanência, independentemente de quem tenha sido o
causador do desfazimento do negócio.
"Por impedir o enriquecimento sem causa, vedado pelo
ordenamento, o pagamento de taxa de ocupação ou de
aluguéis não depende sequer da aferição da boa-fé ou não
do adquirente na posse do imóvel, sendo, pois, devido em
relação à integralidade do período em que a citada posse
foi exercida", afirmou.
A relatora lembrou precedente no qual a Quarta Turma
concluiu que a investigação sobre a boa-fé do possuidor
pode ser importante para aferir a possibilidade de
retenção e de indenização por benfeitorias, mas nada
disso dispensa o pagamento pelo uso do imóvel.
Para a ministra, como a contraprestação pelo uso do bem
decorre da vedação ao enriquecimento sem causa, e como
o direito de retenção não é um direito absoluto, o crédito
que o comprador possui pelas benfeitorias deve ser
compensado com os valores referentes aos aluguéis ou à
taxa de ocupação – por aplicação analógica do artigo
1.221 do Código Civil, que informa que ''as benfeitorias
compensam-se com os danos".
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/
Noticias/18052021-Possuidor-nao-esta-isento-de-pagar-
pelo-uso-do-imovel-enquanto-exerce-direito-de-retencao-
por-benfeitorias.aspx

Superior Tribunal de Justiça


RECURSO ESPECIAL. CIVIL. AÇÃO DE
REINTEGRAÇÃO DE POSSE. VEÍCULO. REPARO.
SERVIÇO CONTRATADO. PAGAMENTO. RECUSA.
DIREITO DE RETENÇÃO. CONCESSIONÁRIA.
BENFEITORIA. IMPOSSIBILIDADE. POSSE DE BOA-
FÉ. AUSÊNCIA. DETENÇÃO DO BEM.
1. A controvérsia a ser dirimida no recurso especial reside
em definir se a oficina mecânica que realizou reparos em
veículo, com autorização de seu proprietário, pode reter o
bem por falta de pagamento do serviço ou se tal ato
configura esbulho, ensejador de demanda possessória.
2. O direito de retenção decorrente da realização de
benfeitoria no bem, hipótese excepcional de autotutela
prevista no ordenamento jurídico pátrio, só pode ser
invocado pelo possuidor de boa-fé, por expressa
disposição do art. 1.219 do Código Civil de 2002.
3. Nos termos do art. 1.196 do Código Civil de 2002,
possuidor é aquele que pode exercer algum dos poderes
inerentes à propriedade, circunstância não configurada na
espécie.
4. Na hipótese, o veículo foi deixado na concessionária
pela proprietária somente para a realização de reparos,
sem que isso conferisse à recorrente sua posse. A
concessionária teve somente a detenção do bem, que ficou
sob sua custódia por determinação e liberalidade da
proprietária, em uma espécie de vínculo de subordinação.
5. O direito de retenção, sob a justificativa de realização
de benfeitoria no bem, não pode ser invocado por aquele
que possui tão somente a detenção do bem.
6. Recurso especial conhecido e não provido.

Obs.: Contrato de locação


Ver: art. 35 e 36/ Lei 8.245/91
Art. 35. Salvo expressa disposição contratual em contrário,
as benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário,
ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as
úteis, desde que autorizadas, serão indenizáveis e
permitem o exercício do direito de retenção.
Art. 36. As benfeitorias voluptuárias não serão
indenizáveis, podendo ser levantadas pelo locatário, finda
a locação, desde que sua retirada não afete a estrutura e a
substância do imóvel.
Súmula 335/STJ
Contratos de Locação - Cláusula de Renúncia à
Indenização - Benfeitorias e Direito de Retenção:
- Nos contratos de locação, é válida a cláusula de
renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de
retenção.
- Contrato de adesão:
Ver: art. 424/CC
TJMG: CONSTRUÇÃO. ACESSÃO EM TERRENO DE
PROPRIEDADE ALHEIA. ART. 1255 DO CÓDIGO
CIVIL/ ART. 547 DO CÓDIGO CIVIL REVOGADO-
BOA FÉ- INDENIZAÇÃO. VALOR DA EDIFICAÇÃO
À DATA DA DESOCUPAÇÃO. -Aquele que procedendo
de boa fé edifica em terreno alheio, malgrado, via de
regra, perca o que construiu em proveito do proprietário,
tem direito, por força do art. 1255 do Código Civil
vigente/ art. 547 do Código Civil revogado, à indenização
correspondente ao valor das acessões realizadas na data
em que cessa o exercício de sua posse sobre a coisa.
Enunciado 81, I Jornada de Direito Civil
Art. 1.219: O direito de retenção previsto no art. 1.219 do
Código Civil, decorrente da realização de benfeitorias
necessárias e úteis, também se aplica às acessões
(construções e plantações) nas mesmas circunstâncias.
OAB_FGV_XV_ Com a ajuda de homens armados,
Francisco invade determinada fazenda e expulsa dali
os funcionários de Gabriel, dono da propriedade. Uma
vez na posse do imóvel, Francisco decide dar
continuidade às atividades agrícolas que vinha sendo
ali desenvolvidas (plantio de soja e de feijão). Três anos
após a invasão, Gabriel consegue, pela via judicial, ser
reintegrado na posse da fazenda.
Quanto aos frutos colhidos por Francisco durante o
período em que permaneceu na posse da fazenda,
afirmativa correta.
a) Francisco deve restituir a Gabriel todos os frutos
colhidos e percebidos, mas tem direito de ser ressarcido
pelas despesas de produção e custeio.
b) Francisco tem direito aos frutos percebidos durante o
período em que permaneceu na fazenda.
c) Francisco tem direito à metade dos frutos colhidos,
devendo restituir a outra metade a Gabriel.
d) Francisco deve restituir a Gabriel todos os frutos
colhidos e percebidos, e não tem direito de ser
ressarcido pelas despesas de produção e custeio.

3. Aquisição e perda da posse


Ver: art. 1204/CC
É possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno
ou não, de atributos da propriedade. Por isso, o modo de
aquisição da posse é considerado cláusula aberta, pois
todo aquele demonstra a exteriorização do domínio é
possuidor.
Nas palavras de Clóvis Beviláqua “... se a posse é um
estado de fato, correspondente ao exercício da propriedade
ou de seus desmembramentos, sempre que esta situação se
definir, nas relações jurídicas, haverá posse”.
Há posse no momento em que se possibilita o exercício
em nome próprio de qualquer das faculdades inerentes ao
domínio. Se tal exercício se dá em nome alheio, há
detenção. (Gustavo Tepedino, Maria Celina e Heloisa
Barbosa, CC/2002 Comentado)
3.1) Posse originária e derivada
Segundo MHD, há formas de aquisição originária da posse
( contato direto entre a pessoa e a coisa) e formas de
aquisição derivadas ( intermediação pessoal).
a) Posse originária
De acordo com Orlando Gomes a posse originária ocorre
quando não há consentimento do possuidor precedente.
Conforme Carlos Roberto Gonçalves, na aquisição
originária, os vícios da posse desaparecem, pois não há
uma relação negocial com o possuidor originário. Neste
sentindo, Rosenvald e Cristiano Chaves.
Destaque
O ente desapropriante não responde por tributos incidentes sobre o imóvel desapropriado nas
hipóteses em que o período de ocorrência dos fatos geradores é anterior ao ato de aquisição
originária da propriedade.
Informações do Inteiro Teor
A questão trazida à colação trata de sucessão tributária, em decorrência da desapropriação de
imóvel pertencente à empresa privada pela União Federal, visto que os débitos, objetos de
cobrança em execução fiscal promovida por fazenda municipal, tem como fundamento fatos
geradores ocorridos em momento pretérito à ocorrência da imissão na posse, relativos ao
Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) e Taxa de Limpeza Pública de Coleta de Resíduos
Sólidos. Primeiramente, cumpre referir que o art. 34 do CTN considera contribuintes do IPTU
o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título. Por
seu turno, da análise dos artigos 130 e 131, I, do CTN, extrai-se que o comprador do imóvel se
sub-roga nos direitos e obrigações que decorrem da aquisição, ou seja, se torna pessoalmente
responsável pelos impostos referentes ao bem adquirido. No mesmo sentido, as taxas de limpeza
pública de coleta de resíduos sólidos estão vinculadas ao imóvel, ou seja, são
obrigações propter rem, independentemente de quem seja o proprietário, detentor do domínio
útil ou possuidor. Noutra quadra, a desapropriação, de acordo com doutrina, “(…) é forma
originária de aquisição da propriedade, porque não provém de nenhum título anterior, e, por
isso, o bem expropriado torna-se insuscetível de reivindicação e libera-se de quaisquer ônus
que sobre ele incidissem precedentemente, ficando os eventuais credores sub-rogados no
preço”. Extrai-se, portanto, que a propriedade adquirida em decorrência da desapropriação
desvincula-se dos títulos dominiais pretéritos e não mantém nenhuma ligação com estes, o que
impede a imposição de ônus tributário sobre o bem por quem quer que seja, nos termos do
artigo 35 do Decreto-Lei n. 3.365/1941. À vista desse entendimento e considerando que à
legislação tributária é vedado alterar a definição, o conteúdo e o alcance dos institutos,
conceitos e formas de direito privado (art. 110 do CTN), conclui-se ser inexigível perante à
União, os créditos tributários incidentes sobre o imóvel expropriado, devendo eventuais direitos
creditórios em favor da exequente ser imputados ao expropriado. REsp 1.668.058-ES, Rel.
Min. Mauro Campbell Marques, por unanimidade, julgado em 8/6/2017, DJe 14/6/2017.

b) Posse derivada
** Modos de aquisição derivados: tradição, sucessão causa
mortis e inter vivos
Nas palavras de Silvio Venosa, “ é importante essa
distinção em posse originária e derivada. Quando a
aquisição é originária, não havendo vínculos com o
possuidor anterior, a posse apresenta-se despida de vícios
para o novo possuidor. Se o possuidor recebeu a posse de
outrem, derivada portanto, as mesmas características lhe
são transferidas, ou seja, com os vícios e virtudes
anteriores”
*** Na posse originária como não há vínculos com o
possuidor anterior, a posse apresenta-se despida de vícios
para o novo possuidor. Já na posse derivada, como o
possuidor recebeu a posse de outrem, as mesmas
características lhe são transferidas.
Jurisprudência STJ: Desapropriação. Aquisição originária de propriedade. Exigibilidade de
tributos anteriores ao ato desapropriatório. Ausência de responsabilidade do ente expropriante.

Negada reintegração a herdeira que não comprovou posse do pai sobre imóvel

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por unanimidade de votos, negou
pedido de reintegração feito por herdeira que não conseguiu provar que seu pai efetivamente
exerceu a posse como dono do imóvel.

O caso envolveu uma ação de reintegração de posse de terreno localizado no Rio Grande do
Sul. Uma mulher moveu ação contra o ocupante do terreno, alegando ter recebido por
herança de seu pai um sexto dos direitos sobre o imóvel. Apesar de o terreno não ter sido
registrado pela viúva e pelos herdeiros, ela defendeu que a transmissão da posse a herdeiro se
dá ex lege (por força da lei).

O relator no STJ, ministro Moura Ribeiro, reconheceu que o exercício fático da posse não é
requisito essencial para que o herdeiro tenha direito à proteção possessória, em virtude do
princípio da saisine, que estabelece que o falecido já transmite o patrimônio aos herdeiros
imediatamente no momento de sua morte.

Súmula 7

No entanto, o ministro destacou o entendimento das instâncias de origem de que o pai da


autora da ação jamais exerceu posse direta sobre a área questionada. Segundo o acórdão, o
que existia era uma relação de comodato verbal entre o pai da mulher e os proprietários do
terreno, sendo que aquele abandonou o imóvel em 2002 e, um ano depois, passou a haver a
ocupação por terceiro, clandestinamente.

Modificar essa conclusão das instâncias ordinárias, segundo Moura Ribeiro, exigiria a
reapreciação de provas, o que é vedado em recurso especial pela Súmula 7 do STJ.

“Se o autor da herança jamais exerceu posse sobre a área questionada, como afirmado pelas
instâncias ordinárias, o que não pode mais ser questionado (Súmula 7), torna-se inviável a
herdeira pretender defender a posse que seu pai jamais teve”, concluiu o relator.

https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/
Noticias-antigas/2017/2017-06-05_10-31_Negada-
reintegracao-a-herdeira-que-nao-comprovou-posse-do-pai-
sobre-imovel.aspx

- Art. 1203/CC
Obs.: A posse de bens móveis se transmite pela tradição,
tal como a propriedade. No bem imóvel, a propriedade
depende do registro para se transmitir, mas não a posse:
esta se passa com a mera tradição, tal como nos bens
móveis.

3.2) Tradição
Enunciado 77 I Jornada de Direito Civil do CJF:
Enunciado 77, CJF – Art. 1.205: A posse das coisas
móveis e imóveis também pode ser transmitida pelo
constituto possessório.”
CONSTITUTO POSSESSÓRIO. AÇÃO
POSSESSÓRIA.
A Turma, entre outras questões, entendeu ser cabível o
manejo de ação possessória pelo adquirente do imóvel
cuja escritura pública de compra e venda continha cláusula
constituti, já que o constituto possessório consiste em
forma de aquisição da posse nos termos do art. 494, IV, do
CC/1916. Na espécie, a recorrente (alienante do bem)
alegou que o recorrido não poderia ter proposto a ação de
reintegração na origem porque nunca teria exercido a
posse do imóvel. Entretanto, segundo a Min. Relatora, o
elemento corpus – necessário para a caracterização da
posse – não exige a apreensão física do bem pelo
possuidor; significa, isso sim, sua faculdade de dispor
fisicamente da coisa. Salientou ainda que a posse
consubstancia-se na visibilidade do domínio, demonstrada
a partir da prática de atos equivalentes aos de proprietário,
dando destinação econômica ao bem. Assim, concluiu que
a aquisição de um imóvel e sua não ocupação por curto
espaço de tempo após ser lavrada a escritura com a
declaração de imediata tradição – in casu, um mês – não
desnatura a figura de possuidor do adquirente. Precedente
citado: REsp 143.707-RJ, DJ 2/3/1998. REsp 1.158.992-
MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/4/2011.

É cabível ação de reintegração de posse fundada


exclusivamente no constituto possessório
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
negou recurso de uma antiga proprietária de imóvel em
Uberlândia, Minas Gerais, que contestava ação de
reintegração de posse movida pelo novo dono contra ela.
Os ministros mantiveram decisão do Tribunal de Justiça
de Minas Gerais (TJMG) que reconheceu ser possível tal
tipo de ação estar fundada exclusivamente no constituto
possessório constante em escritura pública regular de
compra e venda.
Na ação de reintegração de posse ajuizada, o homem
alegou que adquiriu, por escritura, o imóvel vendido pela
ré por intermédio de seu procurador. Disse que a posse do
bem, que se encontrava desocupado, foi transferida no ato
da escritura. Entretanto, pouco mais de um mês depois da
compra, a antiga proprietária reocupou o imóvel,
contratando faxineiras para limpá-lo e trocando as chaves
para impedir que ele entrasse.
Em resposta, a mulher sustentou que o autor jamais havia
tomado posse do imóvel; que havia conexão entre a ação
de reintegração de posse e a ação anulatória proposta
perante a 10ª Vara Cível de Uberlândia; e que havia
comunicado ao seu antigo procurador que não pretendia
vender o bem, cujo preço sequer teria recebido.
Instâncias anteriores
O juízo de primeira instância julgou o pedido
improcedente sob o fundamento de que, apesar da
transferência da propriedade, o autor nunca teria exercido
a posse do imóvel, sendo o constituto possessório
insuficiente para esse fim.
Em sede de apelação, o TJMG entendeu que a
aquisição da posse também se dá pela cláusula
“constituti” inserida em escritura pública de compra e
venda de imóvel. O tribunal mineiro concluiu que a
reintegração de posse deveria ser concedida, pois, no
caso, estava demonstrado que o homem recebeu a
posse pelo constituto possessório, bem como a perdeu
de modo injusto.
A antiga proprietária interpôs, então, recurso especial,
afirmando que o TJMG não teria considerado o fato de ter
sido proferida sentença de procedência na ação anulatória
de escritura de compra e venda. A mulher argumentou que
a posse do imóvel jamais teria sido transmitida ao homem,
o que tornaria impossível o acolhimento da ação
possessória. Alegou, ainda, que o comprador teria
promovido uma modificação indevida na causa de pedir da
ação após ter o pedido contestado, violando os artigos 183
e 282, inciso III do Código de Processo Civil (CPC).
Voto
A relatora, ministra Nancy Andrighi, observou que “a
norma que determina a impossibilidade de modificação do
pedido ou da causa de pedir após a citação é o artigo 264
do CPC que, não abordada no recurso especial, impede o
conhecimento da matéria. Incide, neste ponto, o óbice da
Súmula 284/STF.”
A ministra afastou a alegação de que o TJMG deixou de
considerar a sentença da ação anulatória, visto que o
acórdão é de 13 de dezembro de 2006, enquanto a
sentença data de 21 de março de 2007. “Ela, portanto, não
poderia ter sido levada em consideração no julgamento”,
completou.
Quanto ao argumento de que o comprador não poderia
ter proposto a ação possessória, a relatora citou
precedente da Terceira Turma, o Recurso Especial
842.559, de relatoria do ministro Sidnei Beneti, que
concluiu que a compra e venda de imóvel só seria, em
tese, suficiente para transmitir a posse deste se
houvesse uma cláusula “constituti” no contrato.
No processo em análise, o TJMG reconheceu
expressamente a existência da cláusula. Como a revisão
não é possível em sede de recurso especial por força da
Súmula 5/STJ, a ministra Nancy Andrighi concluiu que a
eficácia do constituto possessório deve ser considerada
suficiente à caracterização da posse.
“Não bastassem esses fundamentos”, continuou a ministra,
“o acórdão recorrido ainda poderia ser mantido por outro”.
Na análise do recurso especial, a relatora verificou que as
contestações da mulher consideram inválido o negócio
jurídico pelo qual o imóvel foi vendido. Portanto, sua
oposição à posse do comprador está claramente fundada
no domínio do bem – o qual ela afirma ainda ser titular.
“Sendo com base no domínio que se disputa a posse do
imóvel, não é possível, consoante a regra do artigo 505 do
CPC somada à interpretação que lhe deu a Súmula
487/STF, julgá-la em favor de quem evidentemente não o
tem”, entendeu a ministra Nancy Andrighi. No caso, como
a validade do contrato foi confirmada pelo Tribunal
mineiro, o domínio do imóvel pertence ao comprador, de
modo que o acórdão do TJMG deve ser mantido. A
decisão foi unânime.
3.3) União de posses
Ver: art. 1206/CC
A sucessão de posses ou sucessio possessionis consiste na
transferência da posse aos herdeiros e legatários, com os
mesmos caracteres.
Rosenvald e Cristiano Chaves aduzem o seguinte: trata-se
de modo derivado de titularização da posse, pois diante do
princípio da saisine, não se pode destacar a nova posse da
antiga. A mutação subjetiva da titularidade da posse não
afeta as suas qualidades. Isto é, se a posse do de cujus era
injusta ou de má-fé, conservam-se nos herdeiros o vício
objetivo e subjetivo que balizam a sua natureza.
Ver art. 1207/CC
Acessão na posse (Orlando Gomes)
a) Sucessão: ocorre na união universal
b) União: ocorre na sucessão singular
Enunciado V Jornada de Direito Civil
494 – A faculdade conferida ao sucessor singular de
somar ou não o tempo da posse de seu antecessor não
significa que, ao optar por nova contagem, estará livre do
vício objetivo que maculava a posse anterior.
*** Art. 1205/CC
De acordo com Tartuce, a posse pode ser adquirida pelo
próprio sujeito que a apreende, desde que capaz; por seu
representante legal ou convencional; ou até por terceiro
que não tenha mandato, desde que haja confirmação
posterior, com efeitos ex tunc.
Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que
se torna possível o exercício, em nome próprio, de
qualquer dos poderes inerentes à propriedade. (artigos
1196 e 1228/CC)
Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:
I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu
representante;
II - por terceiro sem mandato, dependendo de
ratificação.
Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou
legatários do possuidor com os mesmos caracteres.
Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a
posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é
facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos
legais.
Art. 1209/CC (Princípio da gravitação jurídica)
*** Presunção relativa
Art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova
contrária, a das coisas móveis que nele estiverem.

2) Perda da posse
Ver: arts. 1223 e 1224/CC
Art. 1.223/CC Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o
poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.
Art. 1.224/CC Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho,
quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é
violentamente repelido.

3)Defesa da posse: os interditos possessórios. As ações


possessórias típicas e atípicas.
3.1) A legítima defesa da posse.
A posse conta com tutela específica, completamente
independente da propriedade. Dentre os inúmeros efeitos
da posse – indenização por benfeitorias, direito de
retenção, usucapião - a proteção que a posse merece é,
sem dúvida, o seu efeito mais relevante. Os meios de
proteção típicos da posse, como os interditos possessórios,
e até mesmo a autotutela, conferem ao seu titular uma
defesa desatrelada da propriedade.
Nas palavras de Flavio Tartuce, “a legítima defesa da
posse e o desforço imediato constituem formas de
autotutela, autodefesa ou defesa direta, independemente de
ação judicial, cabíveis ao possuidor direto ou indireto
contra as agressões de terceiro. Nos casos de ameaça e
turbação, em que o atentado à posse não foi definitivo,
cabe legítima defesa. Havendo esbulho, a medida cabível é
o desforço imediato, visando à retomada do bem
esbulhado”.
Ver: art. 1210/CC
“Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na
posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e
segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser
molestado.
§ 1° O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-
se ou restituir-se por sua própria força (é possível a ajuda
de 3°), contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de
desforço, não podem ir além do indispensável à
manutenção, ou restituição da posse.
§ 2° Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a
alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a
coisa.”
- O legislador apresenta as três ações possessórias
típicas, os três interditos possessórios: a manutenção de
posse, a reintegração de posse e o interdito proibitório, e
no § 1°, consta a autotutela.

***Autotutela possessória
Ver: art. 1210, § 1°/CC
- A autotutela é um modo excepcional de solução de
conflitos.
- A legítima defesa e o desforço imediato são as duas
únicas medidas que o possuidor está legitimado a adotar
para recuperar (reintegração; esbulho) ou manter a posse
agredida (manutenção; turbação)
- De acordo com o art. 1210, § 1°/CC, a legítima defesa da
posse consiste na reação a uma turbação, pois a agressão
apenas incomoda a posse, não sendo neste caso, o
possuidor privado de sua posse. Já o desforço imediato é
dirigido ao esbulho consumado, implicando defesa
imediata à injusta perda da posse do autor.
Requisitos:
a) Titular da posse, mesmo que em nome de outrem.
Enunciado 493 V Jornada de Direito Civil: “O detentor
(art. 1.198 do Código Civil) pode, no interesse do
possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder”.
b) Imediatidade
Enunciado 495/ V Jornada de Direito Civil: No desforço
possessório, a expressão “contanto que o faça logo” deve
ser entendida restritivamente, apenas como a reação
imediata ao fato do esbulho ou da turbação, cabendo ao
possuidor recorrer à via jurisdicional nas demais hipóteses.
c) Proporcionalidade
- Segundo Gustavo Tepedino, o desforço pessoal apenas
se mostra legítimo se exercido imediatamente
(incontinenti) e de maneira proporcional à agressão. Desta
forma, exige-se, em primeiro lugar, que a reação seja
imediata à agressão sofrida, sob pena de constituir
exercício arbitrário das próprias razões.
Nas palavras de Rogério Sanches, sempre que o
proprietário reivindicar por suas próprias mãos a posse que
lhe pertence, fora dos casos em que a lei civil autoriza essa
recuperação, pode ele incidir nas penas do crime de
exercício arbitrário das próprias razões (art. 345/CP)
d) Agressão injusta à posse
Obs2.: As medidas de autotutela encontram-se limitadas
ao exercício regular desse direito (art. 187/CC)
Enunciado 37 I Jornada de Direito Civil – Art. 187: A
responsabilidade civil decorrente do abuso do direito
independe de culpa e fundamenta-se somente no critério
objetivo-finalístico.
4. As ações possessórias típicas
Ver: art. 1210/CC
a) Manutenção de posse (art.561/CPC e seguintes)
b) Reintegração de posse
c) Interdito proibitório (art. 567/CC)

DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS

Seção I
Disposições Gerais

Princípio da fungibilidade
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em
vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e
outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos
pressupostos estejam provados.
Conflitos fundiários: forma de citação
§ 1º No caso de ação possessória em que figure no
polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a
citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no
local e a citação por edital dos demais, determinando-se,
ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver
pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da
Defensoria Pública.
§ 2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1º, o
oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma
vez, citando-se por edital os que não forem encontrados.
§ 3º O juiz deverá determinar que se dê ampla
publicidade da existência da ação prevista no § 1º e dos
respectivos prazos processuais, podendo, para tanto,
valer-se de anúncios em jornal ou rádio locais, da
publicação de cartazes na região do conflito e de outros
meios.
Nas ações possessórias, é necessária citação por edital dos ocupantes não encontrados no
local

Por violação aos princípios do devido processo legal, da publicidade e da ampla defesa, a
Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) considerou nulos todos os atos de um
processo de reintegração de posse relativo a uma área localizada no bairro do Brás, em São
Paulo. O motivo da nulidade foi a falta de citação por edital dos ocupantes não encontrados no
local.

Segundo o colegiado, em ações possessórias contra número indeterminado de pessoas, é


necessária a citação por edital, aliada à citação pessoal daqueles que se encontrarem no
imóvel ocupado, nos termos do artigo 554, parágrafo 1º, do Código de Processo Civil (CPC),
sob pena de nulidade.

O recurso dos ocupantes ao STJ teve origem em ação de reintegração de posse julgada
procedente em primeiro grau. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), ao manter a decisão,
concluiu que não haveria necessidade de qualificação e citação individual de todos os
ocupantes, pois o comparecimento espontâneo de parte significativa deles ao processo – com a
apresentação de contestação que serviria ao interesse de todo o grupo – permitiria presumir o
conhecimento dos demais acerca da ação.

Citação pessoal dos ocupantes encontrados e ficta dos demais

A relatora, ministra Nancy Andrighi, citou doutrina segundo a qual as ações possessórias têm
por finalidade a restauração de "uma situação de fato antecedente à turbação ou ao esbulho,
respectivamente, afastando a perturbação à posse ou reinvestindo o possuidor no controle
material da coisa; ou, para evitar que uma dessas lesões ocorra".

Segundo a ministra, o CPC de 1973 não dispunha sobre forma especial de citação nessas
ações, mas o CPC de 2015 encampou as práticas estabelecidas pela jurisprudência. O código,
observou a magistrada, estabeleceu a desnecessidade de identificação de cada um dos
invasores.

"Basta, portanto, a indicação do exato local da ocupação para que o oficial de Justiça proceda
à citação pessoal dos que lá se encontrarem, sendo os demais citados de maneira ficta, por
edital", destacou.

Para a relatora, o legislador, ao prever que a esmagadora maioria dos requeridos será citada
de forma ficta, determinou a ampla publicidade acerca da existência da ação possessória, por
anúncios em jornais ou rádios locais, cartazes e quaisquer outros meios que alcancem a mesma
eficácia, nos termos do parágrafo 3º do artigo 554 do CPC.

Citação inválida configura nulidade absoluta insanável


Nancy Andrighi apontou precedentes do STJ segundo os quais "a ausência de citação ou a
citação inválida configuram nulidade absoluta insanável, por ausência de pressuposto de
existência da relação processual".

A relatora citou julgado da Quarta Turma que também reconheceu nulidade por falta de
citação ficta em ação de reintegração de posse diante de litisconsórcio passivo multitudinário.

No caso em julgamento, a ministra verificou que a ocupação no bairro do Brás envolve grande
número de pessoas – na época do mandado de constatação, teria sido verificada a presença de
35 adultos e 30 menores –, motivo pelo qual entendeu que o procedimento do artigo 554,
parágrafo 1º, do CPC deveria ter sido aplicado.

https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunica
cao/Noticias/2022/16092022-Nas-acoes-possessorias--e-
necessaria-citacao-por-edital-dos-ocupantes-nao-
encontrados-no-local.aspx
Efeitos da posse
Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido
possessório o de:
I - condenação em perdas e danos;
II - indenização dos frutos.
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda,
imposição de medida necessária e adequada para:
I - evitar nova turbação ou esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória ou final.
Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando
que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção
possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da
turbação ou do esbulho cometido pelo autor.
* Ações possessórias, não se discute a propriedade
Ver: art. 557/CPC e 1210, § 2°/CC
- Art. 1210, § 2°/CC = Não obsta à manutenção ou
reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de
outro direito sobre a coisa
Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado,
tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de
reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for
deduzida em face de terceira pessoa.
Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à
reintegração de posse a alegação de propriedade ou de
outro direito sobre a coisa.
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
PROCESSUAL CIVIL. CONEXÃO ENTRE AÇÃO DE
REINTEGRAÇÃO DE POSSE E DE USUCAPIÃO.
RECONHECIMENTO DA CONEXÃO. FACULDADE
ATRIBUÍDA AO JUÍZO. INEXISTÊNCIA DE
PREJUDICIALIDADE EXTERNA, CONEXÃO OU
CONTINÊNCIA ENTRE AÇÃO POSSESSÓRIA E
USUCAPIÃO.
1. Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, a reunião dos processos por conexão configura
faculdade atribuída ao julgador.
2. Não há prejudicialidade externa que justifique a
suspensão da demanda possessória até que se julgue a
ação de usucapião.
3. A posse é fato, podendo estar dissociada da
propriedade.
4. Por conseguinte, a tutela da posse pode ser
eventualmente concedida mesmo contra o direito de
propriedade.
5. As demandas, possessória e de usucapião, não
possuem, entre si, relação de conexão ou continência.
6. Não apresentação pela parte agravante de argumentos
novos capazes de infirmar os fundamentos que
alicerçaram a decisão agravada.
7. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
(AgRg no REsp 1.483.832/SP, Rel. Ministro PAULO DE
TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
06/10/2015, DJe 13/10/2015)
Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de
reintegração de posse as normas da Seção II deste
Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia
da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput ,
será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o
caráter possessório.
Art. 559. Se o réu provar, em qualquer tempo, que o
autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse
carece de idoneidade financeira para, no caso de
sucumbência, responder por perdas e danos, o juiz
designar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para requerer
caução, real ou fidejussória, sob pena de ser depositada a
coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte
economicamente hipossuficiente.

Da Manutenção e da Reintegração de Posse

Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na


posse em caso de turbação e reintegrado em caso de
esbulho.
Art. 561. Incumbe ao autor provar:
I - a sua posse;
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação
de manutenção, ou a perda da posse, na ação de
reintegração.
Art. 562. Estando a petição inicial devidamente
instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do
mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso
contrário, determinará que o autor justifique previamente
o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência
que for designada.
Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de
direito público não será deferida a manutenção ou a
reintegração liminar sem prévia audiência dos
respectivos representantes judiciais.
Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz
fará logo expedir mandado de manutenção ou de
reintegração.
Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de
manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 5
(cinco) dias subsequentes, a citação do réu para,
querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias.
Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação
prévia, o prazo para contestar será contado da intimação
da decisão que deferir ou não a medida liminar.
Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel,
quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição
inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes
de apreciar o pedido de concessão da medida liminar,
deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em
até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2º e
4º.
§ 1º Concedida a liminar, se essa não for executada no
prazo de 1 (um) ano, a contar da data de distribuição,
caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos
termos dos §§ 2º a 4º deste artigo.
§ 2º O Ministério Público será intimado para
comparecer à audiência, e a Defensoria Pública será
intimada sempre que houver parte beneficiária de
gratuidade da justiça.
§ 3º O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio
quando sua presença se fizer necessária à efetivação da
tutela jurisdicional.
§ 4º Os órgãos responsáveis pela política agrária e
pela política urbana da União, de Estado ou do Distrito
Federal e de Município onde se situe a área objeto do
litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim de se
manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a
existência de possibilidade de solução para o conflito
possessório.
§ 5º Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre
propriedade de imóvel.
Art. 566. Aplica-se, quanto ao mais, o procedimento
comum.
Seção III
Do Interdito Proibitório

Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha


justo receio de ser molestado na posse poderá requerer ao
juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente,
mediante mandado proibitório em que se comine ao réu
determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito.
Art. 568. Aplica-se ao interdito proibitório o disposto
na Seção II deste Capítulo.

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.


AJUIZAMENTO DE AÇÃO POSSESSÓRIA POR
INVASOR DE TERRA PÚBLICA CONTRA OUTROS
PARTICULARES.
É cabível o ajuizamento de ações possessórias por parte de
invasor de terra pública contra outros particulares.
Inicialmente, salienta-se que não se desconhece a
jurisprudência do STJ no sentido de que a ocupação de
área pública sem autorização expressa e legítima do titular
do domínio constitui mera detenção (REsp 998.409-DF,
Terceira Turma, DJe 3/11/2009). Contudo, vislumbra-se
que, na verdade, isso revela questão relacionada à posse.
Nessa ordem de ideias, ressalta-se o previsto no art. 1.198
do CC, in verbis: “Considera-se detentor aquele que,
achando-se em relação de dependência para com outro,
conserva a posse em nome deste e em cumprimento de
ordens ou instruções suas”. Como se vê, para que se possa
admitir a relação de dependência, a posse deve ser
exercida em nome de outrem que ostente o jus possidendi
ou o jus possessionis. Ora, aquele que invade terras
públicas e nela constrói sua moradia jamais exercerá a
posse em nome alheio, de modo que não há entre ele e o
ente público uma relação de dependência ou de
subordinação e, por isso, não há que se falar em mera
detenção. De fato, o animus domni é evidente, a despeito
de ele ser juridicamente infrutífero. Inclusive, o fato de as
terras serem públicas e, dessa maneira, não serem
passíveis de aquisição por usucapião, não altera esse
quadro. Com frequência, o invasor sequer conhece essa
característica do imóvel. Portanto, os interditos
possessórios são adequados à discussão da melhor posse
entre particulares, ainda que ela esteja relacionada a terras
públicas. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro,
julgado em 10/3/2016, DJe 15/3/2016.
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/
Noticias/04082021-Cabe-a-Justica-Federal-julgar-crime-
de-esbulho-possessorio-de-imovel-financiado-pelo-Minha-
Casa-Minha-Vida.aspx
Cabe à Justiça Federal julgar crime de esbulho possessório de imóvel financiado pelo
Minha Casa Minha Vida

A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabeleceu a competência da Justiça


Federal para processar e julgar crime de esbulho possessório de imóvel financiado pelo
programa Minha Casa Minha Vida. Para o colegiado, enquanto o imóvel estiver vinculado ao
programa, cuja compra envolve subsídio federal e posse indireta da Caixa Econômica Federal
(CEF), persistirá a competência federal.

O conflito foi suscitado no STJ pelo juízo federal de Campo dos Goytacazes (RJ), após o juízo
estadual declinar da competência para analisar o caso de uma mulher que teria sido forçada
por invasores, mediante ameaças e intimidações, a deixar o imóvel financiado no âmbito
do Programa Minha Casa Minha Vida.

Para o juízo estadual, por ser o programa habitacional implementado pela CEF, mediante
contratos de mútuo, o crime ofende bens, interesses e serviços da União. Além disso,
argumentou que o banco estatal tem direito à reintegração de posse de imóveis comprados pelo
programa.

O juízo federal, no entanto, sustentou que a vítima do crime é quem tem a posse direta do bem –
no caso, a particular obrigada a deixar o imóvel.

Vítima do crime de esbulho possessório

O delito em discussão está descrito no artigo 161, parágrafo 1°, inciso II, do Código Penal,
que tipifica a conduta de invadir terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho
possessório, com violência ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas
pessoas.

Segundo a relatora do conflito de competência, ministra Laurita Vaz, "o crime de esbulho
possessório pressupõe uma ação física de invadir um terreno ou edifício alheio, no intuito
de impedir a utilização do bem pelo seu possuidor. Portanto, tão somente aquele que tem a
posse direta do imóvel pode ser a vítima, pois é quem exercia o direito de uso e fruição do
bem".

Na hipótese de imóvel alienado fiduciariamente, a ministra ressaltou que, enquanto o devedor


fiduciante permanecer na posse direta, só ele poderá ser vítima do crime. Apenas se o credor
fiduciário passar a ter a posse direta do bem é que será ele a vítima.

Legitimação concorrente do possuidor indireto

Entretanto, Laurita Vaz ponderou que o fato de o credor fiduciário não ser a vítima do crime
não exclui o seu interesse jurídico no afastamento do esbulho, uma vez que o possuidor
indireto, no âmbito civil, da mesma forma que o possuidor direto, tem legitimidade para
propor a ação de reintegração de posse, prevista no artigo 560 do Código de Processo
Civil – hipótese de legitimação ativa concorrente.

No caso em análise, a relatora comentou que a CEF, na condição de credora fiduciária e


possuidora indireta, tem legitimidade para propor eventual ação de reintegração de posse do
imóvel esbulhado na Justiça civil, tanto quanto a vítima do crime – ou seja, a possuidora direta e
devedora fiduciante.

"Essa legitimação ativa concorrente da empresa pública federal, embora seja na esfera civil, é
suficiente para evidenciar a existência do seu interesse jurídico na apuração do referido delito.
E, nos termos do artigo 109, inciso IV, da Constituição, a existência de interesse dos entes
nele mencionados é suficiente para fixar a competência penal da Justiça Federal", declarou.

Questão de concurso
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARANÁ
CONCURSO PÚBLICO- 2014 Conforme lição de
Tupinambá Miguel Castro do Nascimento, “A proteção
judicial da posse é de tríplice espécie e se dará conforme
se caracterizar a infringência ao exercício possessório.”
Considerada esta assertiva, identifique e conceitue quais
são as três dimensões de agressões possessórias previstas
no ordenamento jurídico pátrio, correlacionando-as às
formas de proteção judicial respectivamente cabíveis.
Também, discorra acerca do cabimento da autotutela da
posse pelo seu titular, mencionando, em caso positivo,
quais são os atos passíveis de concreção para este fim,
bem como os seus requisitos e limites.
Casos práticos
1. Caio vendeu à Tício um terreno de sua propriedade, mas
que há três anos é ocupado por Mévio, que ali instalou sua
residência, julgando-o abandonado. No corpo da escritura
pública de compra e venda o alienante transferiu ao
adquirente o domínio, posse, direito e ação, em virtude da
cláusula “constitui”, ali expressamente referida. De que
ação dispõe Tício, e em face de quem, para obter ou
recuperar a posse do imóvel? Justificar a resposta,
inclusive examinando se persiste em nosso direito o
constituto possessório, tendo em vista a redação dos
artigos 1.205 e 1.223 do NCC.
2. Marcos, ao viajar para a Europa, deixou sob a guarda de
Carlos um automóvel, celebrando com este um contrato de
comodato. Acontece que Antônio, irmão de Marcos, sob o
argumento de ser o verdadeiro proprietário do veículo,
tomou-o de Carlos mediante violência. Carlos,
inconformado com a atitude de Antônio, propôs ação de
reintegração de posse. Antônio alegou, todavia, que, por
ser Carlos mero detentor, carecia de legitimidade ad
causam, devendo o processo ser extinto sem julgamento
do mérito. Pergunta-se:
a) Tem fundamento a argumentação de Antônio?
Explique.
b) Poderia Carlos, logo após a agressão, mediante ajuda
de amigos, utilizar de força para reaver o bem? Quais
requisitos devem ser observados? Explique e
fundamente sua resposta.
c) Antônio pode ser considerado possuidor do bem que
tomou de Carlos mediante violência? Explique sua
resposta.

3) Após viajar durante dois anos pela Europa, Eduardo


retorna ao Brasil, encontrando sua casa ocupada por
invasores. Considerando que Eduardo não tinha
conhecimento da invasão, a qual já havia ocorrido há um
ano e sete meses, configurou-se a perda da posse?
Explique.

5. As ações possessórias atípicas


5.1. Imissão na posse
Nas palavras de Rosenvald e Cristiano Chaves, a ação de
imissão na posse deverá ser adotada por quem adquire a
propriedade por meio de titulo registrado, mas não pode
investir-se na posse pela primeira vez, porque o alienante,
ou um terceiro (detentor) a ele vinculado, resiste em
entrega-la.
O novo proprietário invocará o jus possidendi – pedirá
posse com fundamento na propriedade que lhe foi
transmitida.
Ação de imissão na posse x Ação reivindicatória
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves, “ o objetivo da
imissão na posse é consolidar a propriedade, em sentido
amplo. Enquanto a reivindicação tem por fim reaver a
propriedade”.
*** Rosenvald = entende ser possível aplicar a
fungibilidade. Neste sentindo, Carlos Roberto Gonçalves.
O art. 557 do CPC e o art. 1.210, §2o, do CC estabelecem
a vedação da exceção de domínio. Há uma separação
absoluta entre os juízos petitório, baseado na
propriedade, e o juízo possessório, baseado na posse.
Isso porque a posse é fenômeno fático-social digno de
tutela, sendo totalmente autônomo e distinto da
propriedade. Um dos efeitos da posse é justamente a sua
proteção através da tutela estatal.
Portanto, havendo uma ação possessória em curso, não é
cabível o ajuizamento de ação petitória ou a discussão a
respeito da propriedade.
Ademais, a vedação à exceção de domínio não deve ser
compreendida como limitação aos direitos constitucionais
de propriedade ou de ação, seja porque a propriedade
deve obedecer à sua função social, seja porque o não
debate sobre o domínio nas ações possessórias representa
apenas uma condição suspensiva no exercício do direito
de ação fundada na propriedade.
A ação de imissão na posse, apesar do nome, não se
baseia na posse, mas sim na propriedade, sendo uma ação
petitória. É a ação cabível para o proprietário obter a
posse que nunca teve.
Assim, havendo uma ação possessória em curso, caso seja
ajuizada a ação de imissão na posse, esta deverá ser
extinta sem resolução de mérito, ante a falta de
pressuposto negativo de constituição e desenvolvimento
válido do processo, qual seja, a ausência de ação
possessória pendente sobre o bem como requisito para o
manejo de ação petitória.
STJ. 3a Turma. REsp 1.909.196-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 15/06/2021 (Info 701).

5.2. Ação de nunciação de obra nova


Ação demolitória é de natureza real e exige citação do
cônjuge, define Segunda Turma
A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
reformou acórdão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina
(TJSC) e decidiu que nas ações demolitórias, por terem
natureza real, exige-se a formação de litisconsórcio
passivo necessário entre cônjuges. O colegiado entendeu
que esse tipo de ação equivale à ação de nunciação de obra
nova.
O artigo 95 do Código de Processo Civil (CPC) estabelece
que a ação de nunciação se insere entre as fundadas em
direito real imobiliário, nas quais – conforme o artigo 10,
parágrafo 1°, inciso I – os cônjuges devem ser
necessariamente citados. “A mesma conclusão deve
alcançar a ação demolitória”, afirmou o relator da matéria,
ministro Herman Benjamin.
As duas ações, respaldadas pelo artigo 1.280 do Código
Civil e pelo artigo 934 do CPC, pleiteiam a demolição de
construção ilegal ou com vício irrecuperável, como
prédio vizinho em ruína ou cuja permanência traga
prejuízo a propriedades próximas.
O relator lembrou que a diferença entre ambas as
ações se dá em razão do estado em que se encontra a
obra. Assim, a nunciação é cabível até o término da
construção. A partir de concluída, ainda que faltem
trabalhos secundários, cabe a ação demolitória.
Citação indispensável
No recurso julgado, o réu questionava demolição de
imóvel demandada pelo município de Florianópolis.
Segundo ele, não foi respeitado o litisconsórcio passivo
necessário.
O TJSC havia dado decisão favorável ao município, pois
entendeu que ações demolitórias teriam natureza pessoal.
Desse modo, a citação do cônjuge seria dispensável, uma
vez que tais ações não afetariam diretamente o direito de
propriedade das partes.
Ao analisar o caso, o ministro Herman Benjamin citou
precedente da Quarta Turma do STJ (REsp 147.769) em
que se entendeu que a falta de citação de condômino
litisconsorte necessário leva à nulidade do processo no
qual se pleiteia a demolição de bem.(REsp 1374593)
5.3. Ação de dano infecto:
Nas palavras de Maria Helena Diniz, “ é uma medida
preventiva utilizada pelo possuidor, que tenha fundado
receio de que a ruína ou demolição ou vício de construção
do prédio vizinho ao seu venha causar-lhe prejuízos, para
obter, por sentença, do dono do imóvel contíguo caução
que garanta indenização por danos futuros”.
*** Art. 1277/CC
Ver: art. 1280/CC e art. 1281/CC

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