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- Para Tartuce, o Direito das Coisas é o ramo do Direito Civil que possui como
conteúdo relações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas ou
determináveis. Já os Direitos Reais seria o conjunto de categorias jurídicas
relacionadas à propriedade, descrita inicialmente no artigo 1225/CC. Assim, os
Direitos Reais são o conteúdo principal dos Direitos da Coisa, mas não o
exclusivo.
Orlando Gomes, aduz que o Direito das Coisas regula o poder dos homens
sobre os bens e os modos de sua utilização econômica.
2) Posse x Propriedade
- Conceito:
Art. 1.197/CC A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de
quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra
o indireto
.
***ATENÇÃO: tanto o possuidor direto quanto o indireto podem se valer
igualmente da defesa da posse (podem defender a coisa da posse de terceiros).
Mas o possuidor direto pode se defender contra o indireto? Enunciado 76 da
Jornada:
76 – Art. 1.197: O possuidor direto tem direito de defender a sua posse contra o
indireto, e este, contra aquele (art. 1.197, in fine, do novo Código Civil).
3) Coisa?
Tudo aquilo que não é humano.
No Direito das Coisas, há uma relação de domínio pela pessoa (sujeito ativo)
sobre a coisa.
Sujeito ativo
Coisa
4) Características
- De acordo com Maria Helena Diniz:
Coisa
De acordo com Rosenvald os tipos de direito real são abertos, pois há espaço no
qual a autonomia privada pode se manifestar, desde que não sejam criadas figuras
atípicas, que não sejam previstas em lei. Certamente, o controle de legitimidade e
merecimento da atuação conferida aos particulares para a modelagem de direitos reais
será dado pela prevalência axiológica da Constituição Federal.
De acordo com Tartuce, há uma influência da autonomia privada no Direito das
Coisas, entendo o referido autor que o rol previsto no artigo 1225/CC é exemplificativo.
Em suas palavras, “... a vontade humana pode criar novos direitos reais”.
Doutrina contemporânea que entende que não há uma rigidez absoluta quanto
aos institutos previstos no artgo 1225/CC = Tartuce, Rosenvald, Cristiano Chaves.
Posição minoritária.
Em sentido contrário: MHD, Orlando Gomes, Venosa e Caio Mário e Carlos
Roberto Gonçalves.
DIREITO CIVIL. INVALIDADE DA PENHORA SOBRE A
INTEGRALIDADE DE IMÓVEL SUBMETIDO A TIME SHARING.
É inválida a penhora da integralidade de imóvel submetido ao regime de
multipropriedade (time-sharing) em decorrência de dívida de condomínio de
responsabilidade do organizador do compartilhamento. Na espécie,
reconhece-se que a natureza jurídica da multipropriedade imobiliária bem
mais se compatibiliza com a de um direito real. Isso porque,
extremamente acobertada por princípios que encerram os direitos reais,
a multipropriedade imobiliária, nada obstante ter feição obrigacional aferida
por muitos, detém forte liame com o instituto da propriedade, se não for
a sua própria expressão, como já vem proclamando a doutrina
contemporânea, inclusive num contexto de não se reprimir a autonomia da
vontade nem a liberdade contratual diante da preponderância da tipicidade
dos direitos reais e do sistema de numerus clausus . Não se vê como
admitir, no contexto do CC/2002, óbice a se dotar o instituto da
multipropriedade imobiliária de caráter real, especialmente sob a ótica
da taxatividade e imutabilidade dos direitos reais inscritos no art. 1.225.
Primeiro, porque o vigente diploma, seguindo os ditames do estatuto civil
anterior, não traz nenhuma vedação nem faz referência à inviabilidade
de consagrar novos direitos reais. Segundo, porque com os atributos dos
direitos reais se harmoniza o novel instituto, que, circunscrito a um vínculo
jurídico de aproveitamento econômico e de imediata aderência ao imóvel,
detém as faculdades de uso, gozo e disposição sobre fração ideal do bem,
ainda que objeto de compartilhamento pelos multiproprietários de espaço e
turnos fixos de tempo. REsp 1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, por maioria, julgado
em 26/4/2016, DJe 6/9/2016.
Obs.: A multipropriedade foi incluída no CC/2002 em 2018, pela Lei 13.777.
- Relação jurídica entre uma pessoa e - A relação é formada entre uma pessoa
uma coisa. O sujeito passivo é a (sujeito ativo) e outra (sujeito passivo).
coletividade.
- Teorias da posse
2.1) Teoria subjetiva de Savigny e Teoria objetiva de Ihering
a) Teoria subjetiva
Em 1803, Friedrich Carl von Savigny, escreveu seu tratado sobre a posse e
propôs que deveria haver uma proteção jurídica nas situações onde houvesse o contado
de uma pessoa com um bem.
Conforme Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves, na concepção de Savigny, a
posse seria o poder que a pessoa tem de dispor materialmente de uma coisa, com a
intenção de tê-la para si e defende-la contra a intervenção de outrem.
A posse decorria da junção dos seguintes aspectos:
- Corpus
- Animus domini
Fórmula da posse, para Savigny:
*** P = C + A
***Crítica = Caso não ocorra o animus (ex.: Locatário =
tem somente o corpus, não tem o animus domini =
intenção de ter a coisa); como não será por esta teoria
considerada possuidor, não fará jus à tutela possessória;
seria considerado um mero detentor.
b) Teoria objetiva
Meio século depois, surge outro autor, Rudolf von Ihering, propondo uma releitura da
posse, de forma a ampliar a teoria subjetiva.
Fórmula da posse, para Ihering:
P=C
*** O artigo 1.196/CC demonstra a adesão de nosso ordenamento à teoria objetiva da
posse, de Ihering:
“Art. 1.196/CC Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno
ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.”
Obs.: Apesar de o CC/2002 adotar como regra a Teoria Objetiva, faz concessões à
Teoria Subjetiva.
1.2. Detenção
As teorias de Savigny e Ihenring mostram-se de extrema importância quando do estudo
da figura do detentor. Assim para Savigny detentor, não era considerado possuidor face
à ausência do animus domini.
Para Ihering, a posse, ocorre quando há o corpus e o a figura de detentor decorreria de
lei, de opção legislativa.
Como adotamos a teoria objetiva de Ihering, temos 3 situações de detenção.
a) Fâmulo da posse/gestor da posse (art.1198/CC) Servidores da posse
Art. 1.198/CC Considera-se detentor aquele que,
achando-se em relação de dependência para com outro,
conserva a posse em nome deste e em cumprimento de
ordens ou instruções suas.
Detenção dependente.
Ex.: Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o
responsável pelo prejuízo invocado, o juiz facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a
alteração da petição inicial para substituição do réu.
Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará
os honorários ao procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por
cento do valor da causa ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85, § 8o.
Enunciado 493, V Jornada de Direito Civil:
O detentor (art. 1.198 do Código Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a
autodefesa do bem sob seu poder.
- Enunciado 301, IV Jornada de Direito Civil:
É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na
hipótese de exercício em nome próprio dos atos possessórios. Ex.: rompimento da
relação trabalhista e empregado permanece no bem. Ver: art. 1204/CC
Art. 1.204/CC Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o
exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
b) Atos de permissão ou tolerância (art. 1208/CC)
Detenção interessada
A provisoriedade é essencial para configurar a
tolerância ou a permissão, mantendo a situação no
campo da detenção, pois se a situação se consolidar,
pode comutar-se em posse.
Art. 1.208/CC Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância
Esbulho possessório de bar no centro do Rio gera indenização por danos morais e materiais
Segundo os autos, o dono do Loide Bar – que funcionou durante 42 anos no mesmo endereço –
foi procurado por investidor que se disse interessado em revitalizar o local, no centro da capital
fluminense. Para isso, queria ajuda do comerciante para comprar o imóvel, que era alugado.
Visando alavancar o potencial do seu negócio, o dono do botequim disse ter firmado acordo
verbal com o investidor para lhe repassar o direito de compra do imóvel, na expectativa de que
ele fizesse uma reforma no prédio. Pelo acordo, após a reforma, o imóvel continuaria sendo
alugado para o Loide Bar.
Segundo a petição inicial, o comerciante confiou em fazer um acerto verbal porque o investidor
era figura pública, que ocupou cargos de direção na administração pública federal.
Durante a reforma, os aluguéis continuaram a ser pagos pelo dono do bar, que também
comunicou à Secretaria Estadual de Fazenda a paralisação temporária de seu negócio. Após o
fim da reforma, no entanto, o investidor rompeu o acordo e o vínculo locatício, instalando, logo
em seguida, outro negócio do mesmo ramo no local.
Segundo a relatora do recurso no STJ, ministra Nancy Andrighi, o cenário descrito no processo
revela “nítido comportamento contrário à boa-fé objetiva”, pois o investidor, antes mesmo de
se tornar proprietário e locador do imóvel onde estava instalado o Loide Bar, “não se pautou
pelo dever de lealdade, transparência e probidade quanto às suas reais intenções”, frustrando
a expectativa do comerciante de que permaneceria à frente do seu negócio.
Perdas e danos
Segundo Nancy Andrighi, deve ser aplicado ao caso o artigo 402 do Código Civil, com base no
qual a indenização por perdas e danos deve abranger, além do valor correspondente às
máquinas, equipamentos, móveis e utensílios que eram usados no Loide Bar, o valor do ponto
empresarial que o recorrente perdeu por conta do esbulho praticado pelo recorrido.
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou provimento ao recurso especial
do proprietário de um caminhão furtado ao reconhecer a aquisição por usucapião
extraordinária em favor de um terceiro, que comprou o veículo de boa-fé e exerceu a posse
sobre ele por mais de 20 anos.
O pedido de reintegração foi julgado improcedente em primeiro grau, mas o Tribunal de Justiça
de Minas Gerais deu provimento à apelação, ao entendimento de que houve usucapião
extraordinária pelo terceiro. No recurso especial, o proprietário original do caminhão
sustentou que a proteção possessória deveria ser deferida àquele que provasse a propriedade
do veículo e que não seria possível a usucapião em razão da detenção de bem furtado.
Usucapião extraordinária
O relator no STJ, ministro Marco Aurélio Bellizze, lembrou que a Terceira Turma, em acórdão
anterior à vigência do Código Civil de 2002, concluiu não ser admissível a usucapião ordinária
de veículo furtado, pois a posse a título precário jamais poderia ser transformada em justa,
mesmo que o possuidor usucapiente fosse terceiro que desconhecesse a origem dessa posse.
No entanto, para o ministro, o caso em análise amplia o debate, pois trata da possibilidade de
aquisição da propriedade de bem móvel por usucapião extraordinária e sua incidência sobre
bem objeto de furto.
O relator afirmou que a posse é protegida pelo direito por traduzir a manifestação exterior do
direito de propriedade. "Esta proteção prevalecerá, sobrepondo-se ao direito de propriedade,
caso se estenda por tempo suficiente previsto em lei, consolidando-se a situação fática que é
reconhecida pela comunidade, sem se perquirir sobre as causas do comportamento real do
proprietário", disse.
"Nos termos do artigo 1.261, aquele que exercer a posse de bem móvel, ininterrupta e
incontestadamente, por cinco anos, adquire a propriedade originária, fazendo sanar todo e
qualquer vício anterior", lembrou o relator.
"Nota-se que não se exige que a posse exercida seja justa, devendo-se atender o critério de boa-
fé apenas nas hipóteses da usucapião ordinária, cujo prazo para usucapir é reduzido",
afirmou.
Início da posse
O relator destacou que o artigo 1.208 do Código Civil estabelece que a posse não é induzida
por atos violentos ou clandestinos, passando a contar após a cessação de tais vícios. De
acordo com ele, o furto é equiparado ao vício da clandestinidade, enquanto o roubo, ao da
violência.
"Nesse sentido, é indiscutível que o agente do furto, enquanto não cessada a clandestinidade
ou escondido o bem subtraído, não estará no exercício da posse, caracterizando-se assim a
mera apreensão física do objeto furtado. Daí porque, inexistindo a posse, também não se dará
início ao transcurso do prazo de usucapião", disse ao destacar que, uma vez cessada a
violência ou a clandestinidade, a apreensão física do bem induzirá a posse.
O ministro concluiu que não é suficiente que o bem sub judice seja objeto de crime contra o
patrimônio para se generalizar o afastamento da usucapião. Para ele, é imprescindível que se
verifique, nos casos concretos, se a situação de clandestinidade cessou, especialmente quando o
bem furtado é transferido a terceiros de boa-fé.
"As peculiaridades do caso concreto, em que houve exercício da posse ostensiva de bem
adquirido por meio de financiamento bancário com emissão de registro perante o órgão
público competente, ao longo de mais de 20 anos, são suficientes para assegurar a aquisição
do direito originário de propriedade, sendo irrelevante se perquirir se houve a inércia do
anterior proprietário ou se o usucapiente conhecia a ação criminosa anterior a sua posse",
afirmou Bellizze.
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Reconhecida-
usucapiao-extraordinaria-de-veiculo-furtado-apos-20-anos-de-uso-por-terceiro.aspx
- Precária: aquela obtida por abuso de confiança, daquele que detém a coisa para
devolução posterior, mas não o faz oportunamente, conservando-a consigo de maneira
indevida.
****Os vícios da posse possuem caráter relativo. Os vícios da posse não produzem
efeitos erga omnes, só podendo ser alegados pelo possuidor ofendido contra o agressor;
daí seu caráter relativo. ( Gustavo Tepedino, Maria Celina e Heloisa Barbosa, Código
Civil Interpretado)
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/
Noticias-antigas/2016/2016-11-08_08-43_Particulares-
podem-discutir-posse-de-imovel-localizado-em-area-
publica.aspx
Segundo VENOSA, a posse somente é viciada em relação a uma determinada pessoa,
não tendo efeito, neste caso, erga omnes.
*** Convalidação dos vícios
Ver: art. 1208/CC
De acordo com Carlos Roberto Gonçalves, a violência e a clandestinidade podem
cessar. Enquanto não findam, existe apenas detenção. Cessados, surge a posse, porém
injusta, em relação a quem a perdeu.
Cessada a violência e a clandestinidade, dar-se-á o inicio da posse. ( Gustavo Tepedino,
Maria Celina e Heloisa Barbosa, Código Civil Interpretado). Também neste sentindo,
Maria Helena Diniz e Silvio Rodrigues.
Flávio Tartuce e José Fernando Simão entendem que a análise da cessação dos vícios, e
possibilidade de convalidação ou não, dever ser feita à luz da função social da posse,
diante de caso a caso.
Já Caio Mario aduz que a posse inicialmente injusta poderá se tornar justa, mediante a
interferência de uma causa diversa. Aponta as seguintes situações: aquele de quem
tomou pela violência comprar do esbulhado ou quem a possui clandestinamente herdar
do desapossado.
*** Posse precária: convalida?
Enunciado 237 CJF
Art. 1.203: É cabível a modificação do título da posse – interversio possessionis – na
hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar ato exterior e inequívoco de
oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus
domini.
TJRJ — APELAÇÃO 0091824-33.2003.8.19.0001 — j. 26/10/2010
Apelação Cível. Ação de usucapião. Pretensão deduzida por possuidores de mais de 20
anos, que afirmam ter ingressado no imóvel como locatários, mas logo passado a
exercer a posse com animus domini. Proprietários cujo paradeiro se desconhece.
Citação por edital. Posse comprovadamente exercida de forma mansa e pacífica.
Inversão do caráter da posse. Existência de atos que, de forma inequívoca, indicam a
mudança da qualidade da posse, originalmente precária, como a cessação do pagamento
de 4 aluguéis, a realização de obras de conservação no bem e a quitação de débitos
tributários de períodos pretéritos. Função social da posse. Desídia dos proprietários
registrais exteriorizada pela ausência prolongada, que se extrai do insucesso das
diligências realizadas pelo Juízo no intuito de localizá-los. Recurso ao qual se dá
provimento para declarar os apelantes proprietários do imóvel descrito na inicial,
consoante o artigo 1.238 do Código Civil.
**Ver: artigo 1203/CC = Princípio da Continuidade do caráter da posse
Nas palavras de Venosa, “a simples vontade do possuidor não tem o condão de
modificar a natureza da posse. O que modificaria sua natureza seria ato material
exteriorizado em outra relação de fato com a coisa.
2.2) Posse de boa-fé e de má-fé
O conceito de justiça ou injustiça da posse é eminentemente objetivo: basta constatar se
há o vício ou não. O conceito de posse de boa ou má-fé, por seu turno, é essencialmente
subjetivo, pautando-se pela mente do possuidor.
De acordo com Silvio Rodrigues, o que distingue a posse boa-fé da posse de má-fé é a
posição psicológica do possuidor. Caso tenha o conhecimento do vício sua posse é de
má-fé. Se ignora o vício que a macula, sua posse é de boa-fé.
A posse de má-fé é aquela em que o possuidor tem conhecimento dos seus vícios, ou
pelo menos poderia e deveria ter tal ciência, e ainda assim não se demite da posse.
Art. 1.201/CC É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que
impede a aquisição da coisa.Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a
presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta
presunção.
Condômino que exerce posse sem oposição do coproprietário pode pedir usucapião em nome
próprio - 2022
Para a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o condômino que exerce a posse
do imóvel por si mesmo – sem nenhuma oposição dos demais coproprietários – tem
legitimidade para pedir usucapião em nome próprio.
O entendimento foi firmado pelo colegiado ao confirmar acórdão do Tribunal de Justiça de São
Paulo (TJSP) que considerou o ex-cônjuge parte legítima para ajuizar a ação de usucapião em
nome próprio, após a dissolução da sociedade conjugal, desde que exerça a posse exclusiva
com animus domini e sejam atendidos os outros requisitos legais.
Segundo o processo, uma mulher pediu o reconhecimento de sua propriedade sobre a fração
ideal de 15,47% de vários imóveis. As partes, casadas desde 1970, se divorciaram em 1983,
mas não partilharam os bens. Por estar na posse exclusiva dos imóveis há mais de 23 anos
(desde o divórcio até o ajuizamento da ação, em 2007), sem oposição do ex-marido, a mulher
ajuizou ação objetivando a usucapião extraordinária.
No recurso especial apresentado ao STJ, o homem alegou que a coproprietária – no caso, sua
ex-esposa –, enquanto administrava a fração ideal dos imóveis comuns (alugando-os a
terceiros), não exerceu posse ad usucapionem, por mais longa que tenha sido essa posse; por
isso, não seria cabível o reconhecimento da usucapião em seu favor.
De acordo com o relator, ministro Marco Aurélio Bellizze, a jurisprudência do STJ considera
que, dissolvida a sociedade conjugal, o imóvel comum do casal passa a ser regido pelas regras
do condomínio – ainda que não realizada a partilha de bens –, cessando o estado de
mancomunhão anterior.
"Nesse contexto, possui legitimidade para usucapir em nome próprio o condômino que exerça a
posse por si mesmo, sem nenhuma oposição dos demais coproprietários, tendo sido preenchidos
os demais requisitos legais", afirmou o ministro, citando vários precedentes do tribunal (REsp
668.131; REsp 1.631.859; AgInt no REsp 1.787.720).
Segundo Bellizze, a posse de um condômino sobre o imóvel, exercida com ânimo de dono,
ainda que na qualidade de possuidor indireto, sem nenhuma oposição dos coproprietários,
nem reivindicação dos frutos que lhes são inerentes, confere à posse o caráter ad
usucapionem, que legitima a procedência da usucapião, quando atendidas as outras
exigências da lei.
Diante disso, o ministro entendeu ser descabida a alegação de que a mulher apenas
administrava os bens. "O que houve – e isso é cristalino – foi o exercício da posse pela ex-
esposa do recorrente com efetivo ânimo de dona, a amparar a procedência do pedido de
usucapião, segundo já foi acertadamente reconhecido na origem", afirmou o relator.
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/
Noticias/24062022-Condomino-que-exerce-posse-sem-
oposicao-do-coproprietario-pode-pedir-usucapiao-em-
nome-proprio.aspx
2.5) Posse nova e posse velha
Conforme Carlos Roberto Gonçalves, posse nova é a de menos de ano e dia. Já a posse
velha é a de ano e dia ou mais. Esta classificação considera a idade da posse.
2.6) Posse natural e civil
- 1996/CC e art. 1228/CC
CONSTITUTO POSSESSÓRIO. AÇÃO POSSESSÓRIA.
A Turma, entre outras questões, entendeu ser cabível o manejo de ação possessória pelo
adquirente do imóvel cuja escritura pública de compra e venda continha cláusula
constituti, já que o constituto possessório consiste em forma de aquisição da posse nos
termos do art. 494, IV, do CC/1916. Na espécie, a recorrente (alienante do bem) alegou
que o recorrido não poderia ter proposto a ação de reintegração na origem porque nunca
teria exercido a posse do imóvel. Entretanto, segundo a Min. Relatora, o elemento
corpus – necessário para a caracterização da posse – não exige a apreensão física do
bem pelo possuidor; significa, isso sim, sua faculdade de dispor fisicamente da coisa.
Salientou ainda que a posse consubstancia-se na visibilidade do domínio, demonstrada a
partir da prática de atos equivalentes aos de proprietário, dando destinação econômica
ao bem. Assim, concluiu que a aquisição de um imóvel e sua não ocupação por curto
espaço de tempo após ser lavrada a escritura com a declaração de imediata tradição – in
casu, um mês – não desnatura a figura de possuidor do adquirente. Precedente citado:
REsp 143.707-RJ, DJ 2/3/1998. REsp 1.158.992-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 7/4/2011.
03) Composse
Ver: Art. 1.199/CC
Art. 1.199/CC Se duas ou mais pessoas possuírem coisa
indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos
possessórios, contanto que não excluam os dos outros
compossuidores.
Conceito:
De acordo com Cristino Chaves, composse é o exercício
simultâneo da posse por duas ou mais pessoas e com a
mesma natureza.
Também denominada: compossessão ou posse em comum.
De acordo com MHD, para configurar a composse são
necessário dois pressupostos:
** Pluralidade de sujeitos;
** Coisa indivisa ou em estado de indivisão.
Obs.: A composse não se confunde com o desdobramento
da posse
De acordo com Orlando Gomes, no desdobramento os
graus da posse são diversos, pois um dos possuidores fica
privado da utilização imediata da coisa. Na composse
todos podem utilizá-la diretamente, desde que uns não
excluam os outros.
*** De acordo com o artigo 1.199/CC = qualquer um dos
possuidores poderá fazer uso das ações possessórias, no
caso de atentado praticado por terceiro. É possível também
a utilização de autotutela
STJ: A composse existe nas relações concubinárias ou na
união estável e se caracteriza não só pela relação
matrimonial ou declaração conjunta do bem, mas pelo
exercício efetivo e concomitante da posse pelos
possuidores.
** Efeito jurídico processual da composse (Artigo
73/CPC)
Art. 73/CPC O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que
verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação
absoluta de bens.
§ 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:
I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de
separação absoluta de bens;
II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por
eles;
III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família;
IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre
imóvel de um ou de ambos os cônjuges.
§ 2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é
indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado.
§ 3º Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos.
Ação de reintegração exige citação de todos os que exercem a posse simultânea do imóvel
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por unanimidade, reafirmou que, na
hipótese de composse (quando mais de uma pessoa exerce a posse do mesmo bem), a decisão
judicial de reintegração de posse deverá atingir de modo uniforme todas as partes ocupantes
do imóvel, configurando-se caso de litisconsórcio passivo necessário.
Com base nesse entendimento, o colegiado deu provimento ao recurso especial no qual três
pessoas da mesma família sustentaram que são ocupantes de imóvel objeto de litígio e não
foram citadas para contestar a ação de reintegração de posse, de modo que deveria ser
reconhecida a nulidade da sentença e dos atos posteriores, com a devolução do prazo para a
apresentação de defesa.
O proprietário ajuizou a ação de reintegração de posse contra uma mulher, que, segundo ele,
seria a matriarca da família. Como não houve contestação da citada, o juízo de primeiro grau
decretou a revelia e julgou a ação procedente.
O relator do recurso especial, ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, observou que a citação, em
regra, é pessoal e não pode ser realizada em nome de terceiros, salvo hipóteses legalmente
previstas, como a citação por hora certa (tentativa de ocultação) ou por meio de edital (citando
desconhecido ou incerto) – exceções não aplicáveis no caso dos autos.
Ao reconhecer a nulidade da sentença, ele determinou a remessa dos autos à origem para a
citação dos litisconsortes passivos necessários e o posterior processamento do feito.
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/
Noticias/2022/31082022-Acao-de-reintegracao-exige-
citacao-de-todos-os-que-exercem-a-posse-simultanea-do-
imovel.aspx
2) Efeitos da posse:
a) Percepção de frutos
b) Responsabilidade civil
c) Indenização de benfeitorias
d) Direito de retenção
Obs.: Também considera um dos efeitos da posse a
usucapião.
a) Direito aos frutos percebidos
Ver: art. 1232/CC
Art. 1.232/CC Os frutos e mais produtos da coisa
pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário,
salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a
outrem.
*** Produtos
- Tartuce entende, seguindo o entendimento de Orlando
Gomes que não é possível sua aplicação aos efeitos dos
frutos. Para Tartuce, a questão envolvendo os produtos
deverá ser resolvida com as regras que vedam o
enriquecimento sem causa. Neste sentido, MHD.
Em sentido contrário: Rosenvald e Cristiano Chaves.
Caso prático:
João tomou um empréstimo junto à Caixa Econômica para adquirir um imóvel,
comprometendo-se a pagar a dívida em 180 prestações.
Como garantia, o imóvel ficou hipotecado para a Caixa Econômica.
Ocorre que, por dificuldades financeiras, o adquirente se tornou inadimplente.
Diante disso, a instituição financeira iniciou a execução hipotecária extrajudicial e o imóvel foi
levado a leilão.
Mesmo com a arrematação, João se recusou a sair do imóvel, o que somente ocorreu
efetivamente após alguns anos.
Após sair, João pediu para receber todas as benfeitorias (necessárias, úteis e voluptuárias) que
realizou no imóvel durante o período entre o leilão e a sua efetiva saída do local. Ele utilizou
como fundamento o art. 1.219 do Código Civil. Tem Joao direito à indenização pelas
benefeitorias?
b) Posse derivada
** Modos de aquisição derivados: tradição, sucessão causa
mortis e inter vivos
Nas palavras de Silvio Venosa, “ é importante essa
distinção em posse originária e derivada. Quando a
aquisição é originária, não havendo vínculos com o
possuidor anterior, a posse apresenta-se despida de vícios
para o novo possuidor. Se o possuidor recebeu a posse de
outrem, derivada portanto, as mesmas características lhe
são transferidas, ou seja, com os vícios e virtudes
anteriores”
*** Na posse originária como não há vínculos com o
possuidor anterior, a posse apresenta-se despida de vícios
para o novo possuidor. Já na posse derivada, como o
possuidor recebeu a posse de outrem, as mesmas
características lhe são transferidas.
Jurisprudência STJ: Desapropriação. Aquisição originária de propriedade. Exigibilidade de
tributos anteriores ao ato desapropriatório. Ausência de responsabilidade do ente expropriante.
Negada reintegração a herdeira que não comprovou posse do pai sobre imóvel
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por unanimidade de votos, negou
pedido de reintegração feito por herdeira que não conseguiu provar que seu pai efetivamente
exerceu a posse como dono do imóvel.
O caso envolveu uma ação de reintegração de posse de terreno localizado no Rio Grande do
Sul. Uma mulher moveu ação contra o ocupante do terreno, alegando ter recebido por
herança de seu pai um sexto dos direitos sobre o imóvel. Apesar de o terreno não ter sido
registrado pela viúva e pelos herdeiros, ela defendeu que a transmissão da posse a herdeiro se
dá ex lege (por força da lei).
O relator no STJ, ministro Moura Ribeiro, reconheceu que o exercício fático da posse não é
requisito essencial para que o herdeiro tenha direito à proteção possessória, em virtude do
princípio da saisine, que estabelece que o falecido já transmite o patrimônio aos herdeiros
imediatamente no momento de sua morte.
Súmula 7
Modificar essa conclusão das instâncias ordinárias, segundo Moura Ribeiro, exigiria a
reapreciação de provas, o que é vedado em recurso especial pela Súmula 7 do STJ.
“Se o autor da herança jamais exerceu posse sobre a área questionada, como afirmado pelas
instâncias ordinárias, o que não pode mais ser questionado (Súmula 7), torna-se inviável a
herdeira pretender defender a posse que seu pai jamais teve”, concluiu o relator.
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/
Noticias-antigas/2017/2017-06-05_10-31_Negada-
reintegracao-a-herdeira-que-nao-comprovou-posse-do-pai-
sobre-imovel.aspx
- Art. 1203/CC
Obs.: A posse de bens móveis se transmite pela tradição,
tal como a propriedade. No bem imóvel, a propriedade
depende do registro para se transmitir, mas não a posse:
esta se passa com a mera tradição, tal como nos bens
móveis.
3.2) Tradição
Enunciado 77 I Jornada de Direito Civil do CJF:
Enunciado 77, CJF – Art. 1.205: A posse das coisas
móveis e imóveis também pode ser transmitida pelo
constituto possessório.”
CONSTITUTO POSSESSÓRIO. AÇÃO
POSSESSÓRIA.
A Turma, entre outras questões, entendeu ser cabível o
manejo de ação possessória pelo adquirente do imóvel
cuja escritura pública de compra e venda continha cláusula
constituti, já que o constituto possessório consiste em
forma de aquisição da posse nos termos do art. 494, IV, do
CC/1916. Na espécie, a recorrente (alienante do bem)
alegou que o recorrido não poderia ter proposto a ação de
reintegração na origem porque nunca teria exercido a
posse do imóvel. Entretanto, segundo a Min. Relatora, o
elemento corpus – necessário para a caracterização da
posse – não exige a apreensão física do bem pelo
possuidor; significa, isso sim, sua faculdade de dispor
fisicamente da coisa. Salientou ainda que a posse
consubstancia-se na visibilidade do domínio, demonstrada
a partir da prática de atos equivalentes aos de proprietário,
dando destinação econômica ao bem. Assim, concluiu que
a aquisição de um imóvel e sua não ocupação por curto
espaço de tempo após ser lavrada a escritura com a
declaração de imediata tradição – in casu, um mês – não
desnatura a figura de possuidor do adquirente. Precedente
citado: REsp 143.707-RJ, DJ 2/3/1998. REsp 1.158.992-
MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/4/2011.
2) Perda da posse
Ver: arts. 1223 e 1224/CC
Art. 1.223/CC Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o
poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.
Art. 1.224/CC Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho,
quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é
violentamente repelido.
***Autotutela possessória
Ver: art. 1210, § 1°/CC
- A autotutela é um modo excepcional de solução de
conflitos.
- A legítima defesa e o desforço imediato são as duas
únicas medidas que o possuidor está legitimado a adotar
para recuperar (reintegração; esbulho) ou manter a posse
agredida (manutenção; turbação)
- De acordo com o art. 1210, § 1°/CC, a legítima defesa da
posse consiste na reação a uma turbação, pois a agressão
apenas incomoda a posse, não sendo neste caso, o
possuidor privado de sua posse. Já o desforço imediato é
dirigido ao esbulho consumado, implicando defesa
imediata à injusta perda da posse do autor.
Requisitos:
a) Titular da posse, mesmo que em nome de outrem.
Enunciado 493 V Jornada de Direito Civil: “O detentor
(art. 1.198 do Código Civil) pode, no interesse do
possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder”.
b) Imediatidade
Enunciado 495/ V Jornada de Direito Civil: No desforço
possessório, a expressão “contanto que o faça logo” deve
ser entendida restritivamente, apenas como a reação
imediata ao fato do esbulho ou da turbação, cabendo ao
possuidor recorrer à via jurisdicional nas demais hipóteses.
c) Proporcionalidade
- Segundo Gustavo Tepedino, o desforço pessoal apenas
se mostra legítimo se exercido imediatamente
(incontinenti) e de maneira proporcional à agressão. Desta
forma, exige-se, em primeiro lugar, que a reação seja
imediata à agressão sofrida, sob pena de constituir
exercício arbitrário das próprias razões.
Nas palavras de Rogério Sanches, sempre que o
proprietário reivindicar por suas próprias mãos a posse que
lhe pertence, fora dos casos em que a lei civil autoriza essa
recuperação, pode ele incidir nas penas do crime de
exercício arbitrário das próprias razões (art. 345/CP)
d) Agressão injusta à posse
Obs2.: As medidas de autotutela encontram-se limitadas
ao exercício regular desse direito (art. 187/CC)
Enunciado 37 I Jornada de Direito Civil – Art. 187: A
responsabilidade civil decorrente do abuso do direito
independe de culpa e fundamenta-se somente no critério
objetivo-finalístico.
4. As ações possessórias típicas
Ver: art. 1210/CC
a) Manutenção de posse (art.561/CPC e seguintes)
b) Reintegração de posse
c) Interdito proibitório (art. 567/CC)
Seção I
Disposições Gerais
Princípio da fungibilidade
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em
vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e
outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos
pressupostos estejam provados.
Conflitos fundiários: forma de citação
§ 1º No caso de ação possessória em que figure no
polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a
citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no
local e a citação por edital dos demais, determinando-se,
ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver
pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da
Defensoria Pública.
§ 2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1º, o
oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma
vez, citando-se por edital os que não forem encontrados.
§ 3º O juiz deverá determinar que se dê ampla
publicidade da existência da ação prevista no § 1º e dos
respectivos prazos processuais, podendo, para tanto,
valer-se de anúncios em jornal ou rádio locais, da
publicação de cartazes na região do conflito e de outros
meios.
Nas ações possessórias, é necessária citação por edital dos ocupantes não encontrados no
local
Por violação aos princípios do devido processo legal, da publicidade e da ampla defesa, a
Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) considerou nulos todos os atos de um
processo de reintegração de posse relativo a uma área localizada no bairro do Brás, em São
Paulo. O motivo da nulidade foi a falta de citação por edital dos ocupantes não encontrados no
local.
O recurso dos ocupantes ao STJ teve origem em ação de reintegração de posse julgada
procedente em primeiro grau. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), ao manter a decisão,
concluiu que não haveria necessidade de qualificação e citação individual de todos os
ocupantes, pois o comparecimento espontâneo de parte significativa deles ao processo – com a
apresentação de contestação que serviria ao interesse de todo o grupo – permitiria presumir o
conhecimento dos demais acerca da ação.
A relatora, ministra Nancy Andrighi, citou doutrina segundo a qual as ações possessórias têm
por finalidade a restauração de "uma situação de fato antecedente à turbação ou ao esbulho,
respectivamente, afastando a perturbação à posse ou reinvestindo o possuidor no controle
material da coisa; ou, para evitar que uma dessas lesões ocorra".
Segundo a ministra, o CPC de 1973 não dispunha sobre forma especial de citação nessas
ações, mas o CPC de 2015 encampou as práticas estabelecidas pela jurisprudência. O código,
observou a magistrada, estabeleceu a desnecessidade de identificação de cada um dos
invasores.
"Basta, portanto, a indicação do exato local da ocupação para que o oficial de Justiça proceda
à citação pessoal dos que lá se encontrarem, sendo os demais citados de maneira ficta, por
edital", destacou.
Para a relatora, o legislador, ao prever que a esmagadora maioria dos requeridos será citada
de forma ficta, determinou a ampla publicidade acerca da existência da ação possessória, por
anúncios em jornais ou rádios locais, cartazes e quaisquer outros meios que alcancem a mesma
eficácia, nos termos do parágrafo 3º do artigo 554 do CPC.
A relatora citou julgado da Quarta Turma que também reconheceu nulidade por falta de
citação ficta em ação de reintegração de posse diante de litisconsórcio passivo multitudinário.
No caso em julgamento, a ministra verificou que a ocupação no bairro do Brás envolve grande
número de pessoas – na época do mandado de constatação, teria sido verificada a presença de
35 adultos e 30 menores –, motivo pelo qual entendeu que o procedimento do artigo 554,
parágrafo 1º, do CPC deveria ter sido aplicado.
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunica
cao/Noticias/2022/16092022-Nas-acoes-possessorias--e-
necessaria-citacao-por-edital-dos-ocupantes-nao-
encontrados-no-local.aspx
Efeitos da posse
Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido
possessório o de:
I - condenação em perdas e danos;
II - indenização dos frutos.
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda,
imposição de medida necessária e adequada para:
I - evitar nova turbação ou esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória ou final.
Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando
que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção
possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da
turbação ou do esbulho cometido pelo autor.
* Ações possessórias, não se discute a propriedade
Ver: art. 557/CPC e 1210, § 2°/CC
- Art. 1210, § 2°/CC = Não obsta à manutenção ou
reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de
outro direito sobre a coisa
Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado,
tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de
reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for
deduzida em face de terceira pessoa.
Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à
reintegração de posse a alegação de propriedade ou de
outro direito sobre a coisa.
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
PROCESSUAL CIVIL. CONEXÃO ENTRE AÇÃO DE
REINTEGRAÇÃO DE POSSE E DE USUCAPIÃO.
RECONHECIMENTO DA CONEXÃO. FACULDADE
ATRIBUÍDA AO JUÍZO. INEXISTÊNCIA DE
PREJUDICIALIDADE EXTERNA, CONEXÃO OU
CONTINÊNCIA ENTRE AÇÃO POSSESSÓRIA E
USUCAPIÃO.
1. Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, a reunião dos processos por conexão configura
faculdade atribuída ao julgador.
2. Não há prejudicialidade externa que justifique a
suspensão da demanda possessória até que se julgue a
ação de usucapião.
3. A posse é fato, podendo estar dissociada da
propriedade.
4. Por conseguinte, a tutela da posse pode ser
eventualmente concedida mesmo contra o direito de
propriedade.
5. As demandas, possessória e de usucapião, não
possuem, entre si, relação de conexão ou continência.
6. Não apresentação pela parte agravante de argumentos
novos capazes de infirmar os fundamentos que
alicerçaram a decisão agravada.
7. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
(AgRg no REsp 1.483.832/SP, Rel. Ministro PAULO DE
TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
06/10/2015, DJe 13/10/2015)
Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de
reintegração de posse as normas da Seção II deste
Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia
da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput ,
será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o
caráter possessório.
Art. 559. Se o réu provar, em qualquer tempo, que o
autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse
carece de idoneidade financeira para, no caso de
sucumbência, responder por perdas e danos, o juiz
designar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para requerer
caução, real ou fidejussória, sob pena de ser depositada a
coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte
economicamente hipossuficiente.
O conflito foi suscitado no STJ pelo juízo federal de Campo dos Goytacazes (RJ), após o juízo
estadual declinar da competência para analisar o caso de uma mulher que teria sido forçada
por invasores, mediante ameaças e intimidações, a deixar o imóvel financiado no âmbito
do Programa Minha Casa Minha Vida.
Para o juízo estadual, por ser o programa habitacional implementado pela CEF, mediante
contratos de mútuo, o crime ofende bens, interesses e serviços da União. Além disso,
argumentou que o banco estatal tem direito à reintegração de posse de imóveis comprados pelo
programa.
O juízo federal, no entanto, sustentou que a vítima do crime é quem tem a posse direta do bem –
no caso, a particular obrigada a deixar o imóvel.
O delito em discussão está descrito no artigo 161, parágrafo 1°, inciso II, do Código Penal,
que tipifica a conduta de invadir terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho
possessório, com violência ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas
pessoas.
Segundo a relatora do conflito de competência, ministra Laurita Vaz, "o crime de esbulho
possessório pressupõe uma ação física de invadir um terreno ou edifício alheio, no intuito
de impedir a utilização do bem pelo seu possuidor. Portanto, tão somente aquele que tem a
posse direta do imóvel pode ser a vítima, pois é quem exercia o direito de uso e fruição do
bem".
Entretanto, Laurita Vaz ponderou que o fato de o credor fiduciário não ser a vítima do crime
não exclui o seu interesse jurídico no afastamento do esbulho, uma vez que o possuidor
indireto, no âmbito civil, da mesma forma que o possuidor direto, tem legitimidade para
propor a ação de reintegração de posse, prevista no artigo 560 do Código de Processo
Civil – hipótese de legitimação ativa concorrente.
"Essa legitimação ativa concorrente da empresa pública federal, embora seja na esfera civil, é
suficiente para evidenciar a existência do seu interesse jurídico na apuração do referido delito.
E, nos termos do artigo 109, inciso IV, da Constituição, a existência de interesse dos entes
nele mencionados é suficiente para fixar a competência penal da Justiça Federal", declarou.
Questão de concurso
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARANÁ
CONCURSO PÚBLICO- 2014 Conforme lição de
Tupinambá Miguel Castro do Nascimento, “A proteção
judicial da posse é de tríplice espécie e se dará conforme
se caracterizar a infringência ao exercício possessório.”
Considerada esta assertiva, identifique e conceitue quais
são as três dimensões de agressões possessórias previstas
no ordenamento jurídico pátrio, correlacionando-as às
formas de proteção judicial respectivamente cabíveis.
Também, discorra acerca do cabimento da autotutela da
posse pelo seu titular, mencionando, em caso positivo,
quais são os atos passíveis de concreção para este fim,
bem como os seus requisitos e limites.
Casos práticos
1. Caio vendeu à Tício um terreno de sua propriedade, mas
que há três anos é ocupado por Mévio, que ali instalou sua
residência, julgando-o abandonado. No corpo da escritura
pública de compra e venda o alienante transferiu ao
adquirente o domínio, posse, direito e ação, em virtude da
cláusula “constitui”, ali expressamente referida. De que
ação dispõe Tício, e em face de quem, para obter ou
recuperar a posse do imóvel? Justificar a resposta,
inclusive examinando se persiste em nosso direito o
constituto possessório, tendo em vista a redação dos
artigos 1.205 e 1.223 do NCC.
2. Marcos, ao viajar para a Europa, deixou sob a guarda de
Carlos um automóvel, celebrando com este um contrato de
comodato. Acontece que Antônio, irmão de Marcos, sob o
argumento de ser o verdadeiro proprietário do veículo,
tomou-o de Carlos mediante violência. Carlos,
inconformado com a atitude de Antônio, propôs ação de
reintegração de posse. Antônio alegou, todavia, que, por
ser Carlos mero detentor, carecia de legitimidade ad
causam, devendo o processo ser extinto sem julgamento
do mérito. Pergunta-se:
a) Tem fundamento a argumentação de Antônio?
Explique.
b) Poderia Carlos, logo após a agressão, mediante ajuda
de amigos, utilizar de força para reaver o bem? Quais
requisitos devem ser observados? Explique e
fundamente sua resposta.
c) Antônio pode ser considerado possuidor do bem que
tomou de Carlos mediante violência? Explique sua
resposta.