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Conceito
Arnaldo Rizzardo define a disciplina como “conjunto de normas, leis,
regulamentações, estudos, usos e concepções positivadas, em torno dos bens ou
coisas materiais que, abrangentemente se apresenta na ciência e nas codificações
como o Direito das Coisas… trata da regulação do poder do homem sobre os bens
e das formas de disciplinar a sia utilização econômica”.
Já Luís Manoel Telles Leitão diz que o Direito das Coisas regula a atribuição de
coisas corpóreas com eficácia real, eficácia absoluta perante terceiros. Tem
natureza patrimonial. “sempre que surgir a atribuição de coisas corpóreas a
determinadas pessoas, essa situação é regulada pelo Direito das Coisas”.
Teoria realista
DIREITO REAL
Poder imediato e direto sem intermediação de outro sujeito. Jus in re. O direito
real cria entre a pessoa e a coisa uma relação direta e imediata, encontrando-se
dois elementos: a pessoa (SA) e a coisa que é o objeto.
“Direito real é um direito de propriedade entre uma pessoa e uma coisa, sem
relação necessária com a outra pessoa” – Hugo Grotius
DIREITO PESSOAL
Opõe-se unicamente ao devedor pessoa que não é o títular do direito. Jus ad rem.
O direito pessoal traz uma relação entre a pessoa que está obrigada em relação
àquela, em razão de uma coisa ou de um fato qualquer apresentando-se três
elementos, o SA, o SP e a coisa ou fato que é objeto.
Teoria personalista
Alguns doutrinadores consideram essa teoria como uma teoria mais moderna,
essa teoria dá um outro critério para a diferenciação do direito real e do direito
pessoal, que é a caracterização do sujeito passivo. A relação jurídica para a teoria
personalista será composta sempre por três elementos: SA, SP e o objeto.
Windscheid, sobre o assunto disse que “relações jurídicas não se estabelecem
entre pessoa e coisa”, Kant disse que “nos direitos reais, embora possa parecer
existir uma relação entre pessoa e coisa, efetivamente existe uma vinculação dos
outros para com o proprietário da coisa. Por isso é um direito oponível erga
omnes”.
by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre
DIREITO REAL
Aqui tem-se obrigação passiva universal.
DIREITO PESSOAL
Aqui o sujeito passivo é a pessoa certa e determinada.
Direitos reais
Aula 2 (27/01/2022)
Posse
Pontes de Miranda conceitua a posse como “relação fática entre pessoa que
possui e o alter, a comunidade (…) Posse é estado de fato, situação real, o poder
fático sobre a coisa”.
Caio Mário conceitua a posse como “situação de fato em que uma pessoa,
independentemente de ser ou não proprietária, exerce sobre uma coisa poderes
ostensivos, conservando-a e defendendo-a.
Rizzardo conceitua a posse como “exercer, praticar ou usufruir de fato, ou
efetivamente de algum dos poderes inerentes ao domínio ou à propriedade. A
posse é o exercício de fato de um dos poderes inerentes ao domínio ou à
propriedade”.
by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre
POSSE ≠ PROPRIEDADE
Teorias da posse
Existem duas teorias da posse, a teoria subjetiva, de Svigny e a teoria objetiva de
Ihering, que é a teoria adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro.
TEORIA SUBJETIVA – SAVIGNY, 1803
A teoria de Savigny foi montada pelos a partir dos elementos encontrados no
Direito Romano (posse como toda a relação material intencional da pessoa com a
coisa).
Posse = corpus + animus domini (corpus, affectio tenendi, animus domini). Ou
seja, para ser caracterizado a posse era necessário a coisa, exercer o poder sobre
a coisa e ter vontade de ser proprietário. Quando há um poder físico sobre à coisa
trata-se de detenção.
O problema dessa teoria era que o aninus domini é um elemento de difícil
constatação, além disso, há, nessa teoria, a necessidade do contato físico com a
coisa, mas nem sempre o proprietário está com a coisa, às vezes ele pode alugar,
emprestar, etc.
Com a crítica à necessidade de contato físico, ocorreu um avanço da teoria, onde
Savigny disse que em algumas hipóteses poderia ocorrer exercício da posse sem
contato físico com a coisa em casos de posse derivada.
A teoria adotada pelo direito brasileiro foi a teoria objetiva, do início ao fim do
ordenamento jurídico. Alguns doutrinadores informam que, na modalidade de
usucapião existe a teoria subjetiva, mas não é verdade, como explica a Prof. Tula,
quando o Cód. Civil fala do usucapião o legislador sempre se refere como “aquele
que possuir como seu” que não significa vontade de ser proprietário.
Essa teoria permite o desdobramento da posse, onde uma pessoa é o possuidor
direto e o outro é o possuidor indireto, ex.: locação, onde o locador é o possuidor
indireto e o locatário é o possuidor direto (aquele que tem o contato mais próximo
com a coisa). Ou seja, não exige contato físico com a coisa para ser possuidor da
coisa, daí permite-se o desdobramento da posse.
by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre
Objeto da posse
Rizzardo diz que qualquer coisa corpórea é objeto da posse, deve ser comerciável
ou ter algum valor econômico e que apresente alguma utilidade. Importante
destacar a súmula 228 do STJ, que diz que “é inadmissível o interdito proibitório
para a proteção do direito autoral.”
Detenção
O detentor é aquele que exerce poder sobre a coisa mas sob interesse alheio, e
está prevista no art. 1198 do CC. Alguns autores conceituam a detenção como
posse degradada, ou seja, o detentor é um servidor ou fâmulo da posse.
Aula 3 (03/02/2022)
Classificação da posse
O código civil trata sobre a classificação da posse nos arts. 1.200 a 1.203.
É importante ressaltar que não se pode falar em violência nem esbulho de bem
abandonado, sendo assim não há o que se falar na existência de vício. Outra
observação importante é que a posse injusta pode conferir efeitos jurídicos,
inclusive para fins de usucapião. Os vícios da posse são vícios relativos, ou seja,
só podem ser alegados pelo possuidor agredido em face do agressor.
Conversão da posse
Há a possibilidade da conversão da posse injusta em posse justa e para que
ocorra é necessário que ocorra uma interferência de uma causa diversa, não
depende da mudança de intenção do possuidor mas de inversão do título. A
transferência da coisa para terceiro não importa na conversão (art. 1.203 CC).
Desdobramento da posse
O desdobramento da posse se dá em posse direta e em posse indireta, também se
encontra na doutrina as posses parelelas, onde existe o exercício da posse por
mais de uma pessoa, onde uma exerce a posição de possuidor direto e o outro de
posse indireta (ex.: aluguel).
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a
indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto
defender a sua posse contra o indireto.
O enunciado 492 do CJF diz que “A posse constitui direito autônomo em relação
à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de
interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela”.
Aula 4 (10/02/2022)
Aquisição da posse
A posse é um ato-fato jurídico, ou seja, não precisa cumprir com os requisitos de
validade do negócio jurídico. Não se aplica a posse o art. 104 do CC, pois a posse
não é um negócio jurídico. O Código Civil não fala sobre as formas de aquisição
da posse, limita-se a tratar do assunto no art. 1204 que diz que “adquire-se a
posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio,
de qualquer dos poderes inerentes à propriedade”. A posse se dá com a
exteriorização da propriedade.
Pode-se dividir a aquisição da posse em posse originária e posse derivada. Na
posse originária o indivíduo recebe o bem como o primeiro possuidor, as formas
de aquisição da posse originária nas situações de res nullius (quando não é de
by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre
Tradição
A tradição subdivide-se em real, simbólica e ficta. A tradição real ocorre com a
entrega efetiva da coisa. A tradição simbólica ocorre quando se tem um ato
representativo (longa manu), por exemplo: entrega das chaves de um
apartamento. A tradição ficta é a presunção, ex.: compra e venda de imóvel na
qual vendedor passa a ser locatário.
Pontes de Miranda informa que a posse pela própria pessoa não depende de
requisitos de validade, basta a condição humana (não exige qualificação
subjetiva).
Dentro do nosso ordenamento jurídico admite-se a aquisição da posse pelos entes
despersonalizados e não somente a pessoas físicas e jurídicas. O enunciado 236
fala que considera-se possuidor também a coletividade desprovida de
personalidade jurídica e o enunciado 596 fala que o condomínio edilício pode
adquirir imóvel por usucapião.
Transmissão da posse
A transmissão da posse está prevista nos artigos 1203, 1206 e 1207 do Código
Civil. Em regra, com a transmissão da posse mantém-se o mesmo caráter com
que foi adquirida (art. 1206 CC). Os arts. 1206 e 1207 referem-se a continuidade
da posse. As regras de continuidade da posse para sucessor universal (herança
legítima), aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros
legítimos e testamentários. As regras para união da posse (acessão) faz-se
necessário a diferenciação do sucessor universal e do sucessor singular (compra e
venda, doação e legado).
Orlando Gomes questiona as regras apresentadas pela legislação, ele diz que “o
que distingue a sucessão da união é o modo de transmissão da posse, sendo a
título universal, há sucessão; sendo a título singular, há união. Não importa que
a sucessão seja inter vivos ou mortis causa. Na sucessão mortis causa a título
singular, a acessão se objetiva pela forma da união. A sucessão de posses é
by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre
Perda da posse
A perda da posse está prevista no art. 1223 e 1224 do Código Civil que diz que a
perda da posse se dá quando cessa o poder sobre o bom, mesmo que contra a
vontade do possuidor, sendo que só se considera perdida a posse para quem não
presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém a retornar a coisa,
ou tentando recuperá-la é violentamente repelido. Ou seja, a perda da posse
quando não se tem mais condições de exercer o poder sobre a coisa em interesse
próprio.
Hipóteses de perda
As hipóteses de perda da posse são: abandono da coisa, tradição, perda ou
destruição da coisa possuída, perda da própria coisa, coisa fora do comércio,
posse de outrem (esbulho de outrem) e constituto possessório.
Ações possessórias
As ações possessórias, também chamadas de interditos possessórios, são as que
tem por objetivo a defesa da posse, com fundamento na posse, em face da prática
de três diferentes graus de gravidade de ofensa a ela cometida: esbulho, turbação
ou ameaça. As ações possessórias têm natureza dúplice (art. 556 CC). Para
tutelar a proteção da posse, as ações possessórias exigem a prova da posse
devido a diferenciação entre posse e propriedade.
A legitimidade ativa da ação possessória está prevista no art. 1196 do CC que diz
que tem legitimidade todo aquele que exerce posse sobre o bem, devendo essa
existir antes da ofensa e possuidores diretos e indiretos, compossuidores. A
legitimidade passiva se dá por todos que participaram da ofensa, a não
identificação dos réus invasores não prejudica o ajuizamento da ação, nesse caso
identifica-se o bem e os invasores com dados disponíveis (arts. 554 e 565 do
CPC).
Modalidades de turbação
A turbação pode ser positiva, negativa, direta ou indireta. Os atos de turbação
positivos são aqueles que envolvem uma ação molestadora da posse (ex.: corte
de árvores, derrubada de cercas, implantação de estacas, etc), já os atos de
turbação negativos são os que impedem ou dificultam o caminho possuidor de
praticar certos atos (ex.: colocar obstáculos no caminho utilizado pelo possuidor).
A turbação direta é praticada na própria coisa, enquanto a turbação indireta é
desenvolvida externamente à coisa, mas trazendo efeitos prejudiciais no exercício
da posse.
Aula 5 (17/02/2022)
Propriedade
No Código Civil de 1916 tinha-se uma noção conceitual do direito de propriedade
vinculado ao Direito Romano, onde a propriedade era vista como um conjunto de
direitos. Na Constituição Federal de 1988 temos no art. 5º, XXII o direito de
propriedade aparecendo como um direito fundamental e logo no inciso XXIII tem-
se a limitação desse direito, que fala sobre a função social. Já no Código Civil de
2002, no art. 1228 está muito presente o princípio da socialidade, ou seja, o
interesse social se sobrepõe sobre o interesse individual e é necessário
estabelecer limitações ao direito de propriedade e quem não cumprir com a
função social pode sim perder a propriedade. Ideia de que propriedade rima com
responsabilidade.
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da
coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que
injustamente a possua ou detenha.
Extensão da propriedade
O art. 1229 do CC trata da extensão da propriedade, que diz que a propriedade
do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo em altura e profundidade úteis ao
seu exercício. Em resumo, o espaço aéreo e o subsolo são extensões da
propriedade, podendo ser utilizados considerando as limitações e podendo ser
esse espaço utilizado por outrem, se o proprietário do imóvel não estiver
utilizando, ex.: encanamentos que passem por baixo do meu imóvel.
by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre
Descoberta
Arts. 1233 a 1237 do CC, que falam sobre a descoberta, ou a “invenção de coisas
perdidas”, é uma regra geral da propriedade e não é mais um modo de aquisição
da propriedade, como era anteriormente. Um objeto perdido não pode
simplesmente ser apropriado por outrem, uma vez achado o objeto, o mesmo
deverá ser restituído ao proprietário, somente em situações muito excepcionais
haverá a aquisição da propriedade.
!! Res perdita ≠ res derelicta! Ou seja, coisa perdida não se confunde com coisa
abandonada.
Processo do registro
O interessado pode apresentar o título, para exame e cálculo dos emolumentos,
independentemente de protocolo (prenotação). Se o título é apresentado para
registro, o Oficial do RI irá fazer a verificação formal e legal do documento e caso
entenda que o título não é passível de registro a LRP determina que deve
manifestar por escrito a dúvida e dirigir ao Juiz competente.
Quando o oficial entende que não é possível o registro e a parte entende que
deveria ocorrer o registro, o oficial faz o encaminhamento para que o juiz
competente decida sobre a legitimidade à exigência feita, como condição de
registro, esse processo se chama “dúvida registral” e é cabível para hipóteses de
registro. No caso de dúvida da averbação cabe pedido de providencias.
Para que seja submetido essa dúvida registral é necessário que ela seja legítima,
razoável (o oficial deve buscar soluções para viabilizar o registro), clara
(linguagem acessível), exaustiva (apresentando exigência a todas as deficiências
de uma só vez) e passiva (oficial não deve notificar o interessado, este deve
comparecer ao Cartório).
by: @justo_estudos – UFRGS – 7º semestre