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Direitos Reais
Direito Civil IV - 2020.1
ATENÇÃO: a presente apostila NÃO Cristiano Chaves de Farias e Nelson
substitui a leitura de doutrina e do Rosenvald: “(...) o direito das coisas regula
material complementar e o o poder do homem sobre certos bens
acompanhamento das aulas.
suscetíveis de valor e os modos de sua
O conteúdo aqui abordado não utilização econômica. Certamente, ao
exaure a matéria e NÃO vincula o longo de nossa abordagem, saltará claro
conteúdo da prova. que tal poder de atuação sobre bens
encontrará seus contornos modernamente
“A Esperança é o único bem real da
definidos pelo princípio da função social”.
vida”. (Olavo Bilac)
(p. 32)
OU TEORIA REALISTA?!
Mas, afinal, o direito real é a relação entre SUJEITO
sujeito e coisa; ou entre pessoas?!
§ 1º Constitui-se a propriedade
fiduciária com o registro do contrato,
celebrado por instrumento público
ou particular, que lhe serve de
título, no Registro de Títulos e
Documentos do domicílio do
devedor, ou, em se tratando de
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- Sujeito passivo: sobre quem
recai o dever de respeito ao Analisaremos o quadro comparativo a
exercício do direito pelo sujeito seguir, o qual contém as maiores e mais
ativo. Conforme já visto importantes diferenças entre os direitos
anteriormente, diz-se que na reais e os direitos obrigacionais.
relação de direito real há sujeição
passiva universal. O sujeito
passivo é indeterminado, já que
todos devem respeitar os direitos
reais do sujeito ativo.
Direitos privada
(liberdade)
Obrigacionais Perpétuo
(direitos
Transitórios
(obrigação nasce
reais para ser
Outra discussão acadêmica é relativa a
perpetuados cumprida)
diferença entre os Direitos Reais e os
no seio da
Direitos Obrigacionais/Pessoais.
mesma
família)
DIREITOS REAIS -> Verbo TER
DIREITOS OBRIGACIONAIS -> Verbo
AGIR
II. Obrigações propter rem (ou Em que pese essa breve conceituação, os
próprias da coisa; ou temas serão estudados de forma
obrigações ambulatórias) – aprofundada no decorrer da apostila.
encontram-se em uma zona
entre os direitos reais e os
direitos obrigacionais, pois
perseguem a coisa onde quer
que ela esteja.
Por ex.: IPTU, Condomínio,
ITR, art. 1.345 CC/02.
Art. 1.203 CC/02. Salvo prova em Observemos o que dispõe o aludido artigo:
contrário, entende-se manter a
posse o mesmo caráter com que Art. 558 CPC/15 - Regem o
foi adquirida. procedimento de manutenção e
de reintegração de posse as
Estamos diante de um fenômeno normas da Seção II deste
denominado de INTERVERSÃO DA Capítulo quando a ação for
POSSE. proposta dentro de ano e dia da
turbação ou do esbulho afirmado
Esse é um dos temas mais difíceis e mais na petição inicial.
polêmicos.
Nesse sentido é o ensinamento de Maria
Imagine uma posse injusta em razão da Helena Diniz.
precariedade, ou seja: era justa e se tornou
injusta em razão do abuso de confiança.
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Por outro lado, Flávio Tartuce segue a Por fim, ainda entendimento majoritário,
corrente até então minoritária (Marco insta esclarecer que a possibilidade de
Aurélio e Venosa), a qual estabelece a convalidação não ocorre quando a posse é
necessidade de se analisar a cessação no , já que representa um abuso
caso concreto, sempre observando a de confiança – não faz sentido se cogitar na
finalidade social da posse. possibilidade de usucapir, por exemplo,
algo que fora emprestado (viola inclusive a
Como justificativa para tal boa-fé).
posicionamento Tartuce esclarece:
Ok, pensando friamente até achamos
A princípio, imagine-se o caso de realmente injusto… Mas, como já
invasão de um imóvel em que os mencionamos acima, tudo depende do caso
ocupantes dão uma destinação à concreto e da função social…
área mais bem qualificada do que
os antigos possuidores, entrando Por outro lado, entendendo como possível
em cena a ideia de melhor posse, a cessação da precariedade, temos o
a partir de sua função social. Enunciado 237 da III Jornada de Direito
Nesse sentido, pensamos, a Civil do CJF/STJ:
alteração no caráter da posse
pode ocorrer antes de um ano e É cabível a modificação do título
um dia. Por outra via, imagine-se da posse – interversio
a hipótese em que a obtenção da possessionis – na hipótese em
posse de um veículo se deu por que o até então possuidor direto
meio de um homicídio. Essa demonstrar ato exterior
posse injusta, na opinião deste inequívoco de oposição ao antigo
autor, nunca poderá ser curada. possuidor indireto, tendo por
(TARTUCE, Flávio. Direito Civil efeito a caracterização do animus
- Vol. 4 - Direitos das Coisas, 10ª domini”.
edição. Forense, 12/2017.
VitalBook file.)
Constata-se, assim, que para Tartuce o
que importa não é o requisito temporal,
mas sim a função social da posse.
Realmente é o entendimento mais
plausível.
Assim, a partir do momento em que um
possuidor injusto em razão da
Temos total ciência da dificuldade em
precariedade demonstrar o nítido
assimilar o tema, uma vez que a
interesse de se tornar dono do bem –
classificação da posse é um dos mais
animus domini – falaremos em interversão
complexos de Direitos Reais.
do caráter da posse, iniciando, inclusive, a
Entretanto, sugiro que estude todas as
possibilidade de se cogitar na usucapião.
classificações, e depois volte neste ponto
para que facilite a compreensão.
Por fim, ainda em relação à posse injusta,
é importante observar que há hipóteses em
Além disso, enviamos no SAI alguns
que, em um primeiro momento,
artigos para leitura complementar, o
poderíamos concluir pela existência de
que certamente irá facilitar o estudo da
esbulho, mas, na verdade, o mesmo não
matéria.
existe, o que afasta a possibilidade de
propositura de ação possessória (ou
melhor, diminui a probabilidade do êxito
em uma ação possessória).
Aplica-se, aqui, o artigo 1.228 CC/02 -> Antes de mais nada, realizando uma
Lucrécia não possui causa capaz de retrospectiva à parte geral e ao direito
justificar o seu ingresso em imóvel obrigacional, é importante observarmos
alheio. que o Código Civil inegavelmente adotou o
princípio da ETICIDADE (ética!),
Mas, adiantamos, isso não quer dizer estimando as práticas guiadas pela boa-fé
que Waldicreuza sairá vencedora na (objetiva).
ação, já que, conforme artigo 1.275,
inciso III, CC/02, perde-se a Enunciado n. 363 do CJF/STJ, da
propriedade pelo abandono, atendendo IV Jornada de Direito Civil: “Os
certos requisitos (art. 1.276 CC/02). O princípios da probidade e da
juiz analisará o caso concreto, inclusive confiança são de ordem pública,
quanto a eventual incidência da estando a parte lesada somente
usucapião. obrigada a demonstrar a
existência da violação”.
Sabemos que a uma primeira análise tal
diferenciação é de extrema complexidade. Especificamente em matéria de Direitos
Mas o ponto focal é identificar se há a Reais encontramos a boa-fé explícita no
presença de um dos três modos viciosos artigo 1.201 do Código Civil:
citados para existir a posse injusta e a
possibilidade de eventual êxito em Art. 1.201 CC/02 - É de boa-fé a
demanda possessória – este pelo menos é o posse, se o possuidor ignora o
entendimento de Cristiano Chaves e vício, ou o obstáculo que impede
Nelson Rosenvald no sentido de que o a aquisição da coisa.
artigo 1.200 CC/02 possui um rol taxativo.
É a que conta com menos de um ano e dia, Essa posse não conduz à usucapião.
ou seja, até um ano.
Exemplo: locador e locatário podem
b) Posse velha defender a posse de uma turbação
praticada por terceiro.
É a que conta com um ano e um dia, ou
mais.
FIM. #SQN
“Reintegração de posse.
Concubina. Composse. É de
reconhecer-se a tutela
possessória à concubina que
permaneceu ocupando o
apartamento após a morte do
A composse pode ser decorrente de companheiro de longos anos e
contrato ou de herança (herdeiros antes de que postula, em ação própria, a
partilhar os bens). meação do bem adquirido na
constância da sociedade de fato,
Em qualquer caso os compossuidores têm mediante o esforço comum.
o direito de usar livremente a coisa, Recurso especial conhecido e
conforme seu destino, e exercer sobre ela provido” (STJ, REsp 10.521/PR,
seus direitos. Rel. Min. Barros Monteiro, 4.ª
Turma, j. 26.10.1992, DJ
Art. 1.199 CC/02 - Se duas ou 04.04.1994, p. 6.684).
mais pessoas possuírem coisa
indivisa, poderá cada uma
exercer sobre ela atos
possessórios, contanto que não
excluam os dos outros
compossuidores.
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“Princípio saisine. Reintegração. bens da herança,
Composse. Cinge-se a questão em independentemente da prática
saber se o compossuidor que de qualquer outro ato, visto que a
recebe a posse em razão do transmissão da posse dá-se ope
princípio saisine tem direito à legis, motivo pelo qual lhe assiste
proteção possessória contra outro o direito à proteção possessória
compossuidor. Inicialmente, contra eventuais atos de
esclareceu o Min. Relator que, turbação ou esbulho. Isso posto, a
entre os modos de aquisição de Turma deu provimento ao
posse, encontra-se o ex lege, visto recurso para julgar procedente a
que, não obstante a ação de reintegração de posse, a
caracterização da posse como fim de restituir aos autores da
poder fático sobre a coisa, o ação a composse da área recebida
ordenamento jurídico reconhece, por herança. Precedente citado:
também, a obtenção desse direito REsp 136.922-TO, DJ
pela ocorrência de fato jurídico – 16.03.1998” (STJ, REsp
a morte do autor da herança –, 537.363/RS, Rel. Min. Vasco
em virtude do princípio da Della Giustina (Desembargador
saisine, que confere a convocado do TJRS), j.
transmissão da posse, ainda que 20.04.2010).
indireta, aos herdeiros
independentemente de qualquer Ainda, a composse pode ser dividida em:
outra circunstância. Desse modo,
pelo mencionado princípio, a) Composse pro indiviso ou
verifica-se a transmissão da indivisível
posse (seja ela direta ou indireta)
aos autores e aos réus da
Os compossuidores têm a fração ideal da
demanda, caracterizando, assim,
coisa, visto que é impossível determinar,
a titularidade do direito
no plano fático e corpóreo, qual a parte de
possessório a ambas as partes.
cada um. Trata-se da mesma posse, da
No caso, há composse do bem em
mesma coisa (por inteiro!).
litígio, motivo pelo qual a posse
de qualquer um deles pode ser
defendida todas as vezes em que b) Composse pro diviso ou divisível
for molestada por estranhos à
relação possessória ou, ainda, Cada compossuidor sabe exatamente qual
contra ataques advindos de a sua parte, havendo uma fração real da
outros compossuidores. In casu, a posse.
posse transmitida é a civil (art.
1.572 do CC/1916), e não a posse Ex: dois irmãos têm a composse da
natural (art. 485 do CC/1916). Fazenda do Armaria, a qual encontra-se
Existindo composse sobre o bem dividida ao meio por uma cerca. Na
litigioso em razão do droit de metade A, um irmão planta alface; na
saisine é direito do compossuidor metade B, o outro irmão cria gado.
esbulhado o manejo de ação de
reintegração de posse, uma vez Nesse caso, alguns Tribunais como o TJSP
que a proteção à posse molestada vêm decidindo que cada um somente
não exige o efetivo exercício do poderá defender a posse de acordo com sua
poder fático – requisito exigido fração real.
pelo tribunal de origem. O
exercício fático da posse não
encontra amparo no
ordenamento jurídico, pois é
indubitável que o herdeiro tem
posse (mesmo que indireta) dos
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E, atenção: Cristiano Chaves e Nelson
Rosenvald afirmam que, neste caso, não a) Direito aos frutos
há mais composse, e sim posse pro diviso.
Efeitos da posse
Na verdade o tema ‘efeitos da posse’ não é
unânime (como tantas outras questões
jurídicas), havendo, inclusive,
doutrinadores como Tapia que atribui
nada mais nada menos que 72 efeitos à
posse! Já pensou se adotássemos tal
doutrinador?!!! Viram como tudo na vida Como já fora estudado em Direito Civil –
pode piorar?! parte geral, os frutos são bens acessórios,
os quais saem do principal (se destacam,
sem diminuir sua quantidade / qualidade
– são renováveis, ao contrário dos
Entretanto, apesar da importância produtos). São as utilidades econômicas
temática, devemos simplificar sua que a coisa periodicamente produz.
compreensão.
Como regra geral, os frutos pertencem ao
Reforça-se que a posse possui alguns proprietário do bem.
efeitos. E ponto…
Em relação à origem, os frutos podem ser
Estudaremos os mais es. subdivididos em:
A interpretação é intuitiva!
MANUTENÇÃO DE POSSE.
INTERDITO LOCAÇÃO. INADIMPLEMENTO DO
PROIBITÓRIO ALUGUEL E ENCARGOS. CORTE DE
MANUTENÇÃO DE ENERGIA E ÁGUA PELA
POSSE LOCADORA. TURBAÇÃO DE POSSE
REINTEGRAÇÃO DE CARACTERIZADA. CONFIRMAÇÃO
POSSE DA LIMINAR. 1) Estando a inicial
instruída com prova da posse, da
turbação e que ocorria esta a menos de
ano e dia, lícita a concessão de liminar
– No caso de ameaça à posse (risco de de manutenção, independentemente de
atentado à posse) = caberá ação de justificação prévia. Constitui-se
interdito proibitório – visa à proteção turbação de posse o ato do locador que,
– No caso de turbação (atentados como forma de obrigar o locatário a
fracionados à posse) = caberá ação de pagar os alugueres e encargos em
manutenção de posse – visa à atraso, procede ao corte das ligações de
manutenção água e luz do imóvel locado; 2) Agravo
– No caso de esbulho (atentado provido.
consolidado à posse) = caberá ação de AGR 21898 AP – Câmara Única
reintegração de posse – visa à devolução
(tabela extraída do livro do autor Finalmente, há o esbulho quando o
Flávio Tartuce, p. 70) atentado fora finalmente realizado e os
integrantes adentraram efetivamente na
A ameaça ocorre quando não há a prática fazenda, a qual, a título de exemplo,
de um ato propriamente dito, mas sim cumpre sua função social.
meros indícios. Ocorre, por exemplo, Art. 1.210 CC/02. O possuidor
quando próximo a uma fazenda tem direito a ser mantido na
integrantes de determinado grupo se posse em caso de turbação,
instalam, sem, contudo, realizarem restituído no de esbulho, e
qualquer ato de invasão. segurado de violência iminente,
se tiver justo receio de ser
molestado.
De ante mão já damos uma notícia boa Art. 558 CPC/15. Regem o
(FINALMENTE!): as diferenças práticas procedimento de manutenção e
entre as três ações pouco nos interessam, de reintegração de posse as
uma vez que vigora em matéria normas da Seção II deste
possessória o princípio da fungibilidade, Capítulo quando a ação for
ou seja, caso a ação correta seja a proposta dentro de ano e dia da
manutenção de posse, e o advogado turbação ou do esbulho afirmado
pleiteou a reintegração, o juiz não irá na petição inicial.
extinguir o feito e receberá como
manutenção. Parágrafo único. Passado o prazo
referido no caput, será comum o
Nesse sentido: procedimento, não perdendo,
contudo, o caráter possessório.
Art. 554, CPC/15 - A propositura
de uma ação possessória em vez Entretanto, há uma exceção em que caberá
de outra não obstará a que o juiz liminar na ação de força velha: demandas
conheça do pedido e outorgue a possessórias coletivas, desde que se
proteção legal correspondente realize, de forma prévia, audiência de
àquela cujos pressupostos mediação ou de conciliação, conforme
estejam provados. artigo 565 do CPC/15).
Já o dano moral se dá, por exemplo, Art. 556 CPC/15. É lícito ao réu,
quando o proprietário-locador, abusando na contestação, alegando que foi o
de seu direito, troca as fechaduras do ofendido em sua posse, demandar
imóvel, retirando do locatário (possuidor a proteção possessória e a
direto – posse justa), sua posse: indenização pelos prejuízos
resultantes da turbação ou do
“O arrombamento do imóvel e esbulho cometido pelo autor.
substituição de fechaduras por
conta própria caracteriza abuso Também há a expressa vedação de
de direito (art. 187, Código Civil) propositura, seja pelo réu, seja pelo autor,
e gera o dever de indenizar danos de demanda em que o objeto seja o
materiais e morais dele reconhecimento do domínio do bem, salvo
decorrentes. Danos morais perante terceiros:
configurados. Indenização
devida. Demonstrados os danos Art. 557 CPC/15. Na pendência
materiais correspondentes à de ação possessória é vedado,
perda de bens móveis (insumos) tanto ao autor quanto ao réu,
que se encontravam no propor ação de reconhecimento
estabelecimento do locatário, do domínio, exceto se a pretensão
bem como a ocorrência de lucros for deduzida em face de terceira
cessantes, é devida a indenização pessoa.
correspondente. Deferido o
pedido de reembolso do valor de Outro ponto importante é que o Código de
serviços prestados pela locatária Processo Civil, observando norma
aos clientes do locador, em previamente disposta pelo Código Civil,
observância às circunstâncias do faz nítida distinção entre direito
caso concreto” (TJRS, Apelação possessório e direito petitório, informando
Cível 0067563- que argumentações sobre domínios não
16.2014.8.21.7000, 16.ª Câmara impedem o reconhecimento da ação
Cível, 26.11.2014). possessória, e, se for o caso, sua
procedência:
Outro ponto interessante é a possibilidade Art. 557, Parágrafo único
de fixação de multa (astreintes), a qual CPC/15. Não obsta à
visa garantir maior efetividade à tutela manutenção ou à reintegração de
judicialmente concedida. posse a alegação de propriedade
ou de outro direito sobre a coisa.
O fundamento de tal medida encontra-se
no artigo 555, parágrafo único, e seus Art. 1.210, § 2º CC/02. Não obsta
incisos, do Código de Processo Civil: à manutenção ou reintegração na
posse a alegação de propriedade,
Art. 555, Parágrafo único ou de outro direito sobre a coisa.
CPC/15. Pode o autor requerer,
ainda, imposição de medida
necessária e adequada para:
I - evitar nova turbação ou
esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória
ou final.
REPARAÇÃO DE DANO –
DERRUBADA DE CERCA –
DESFORÇO PESSOAL –
LEGÍTIMA DEFESA
ADMITIDA – USO MODERADO
DOS MEIOS –
DESNECESSIDADE DE
INDENIZAÇÃO. Não resulta
dever reparatório por aquele que,
agindo por desforço pessoal e
imediato, sem ultrapassar os
meios indispensáveis à
manutenção, ou restituição da
posse, desfaz de cerca que atenta
contra sua posse, pois que esta
ação encontra respaldo no art.
502, que se faz sancionado pelo
art. 160, I, ambos do Código Civil
de 1916. (TAMG, Apelação Cível
2.0000.00.416673-8/000(1), 6ª
Câmara Cível, relator: Des.
Dídimo Inocêncio de Paula)
Por fim, é importante ter muito cuidado Por atos Inter vivos ou mortis causa, pode
com o caso em que, após adquirir a o proprietário livrar-se da coisa, ofertar,
propriedade, o novo proprietário não oferecer, conceder, doar, despojar-se,
consegue imitir-se na posse em desfazer-se, vender…
decorrência da presença de um terceiro
sem qualquer elo de subordinação ou de Como exemplo de disposição por ato Inter
relação jurídica com o alienante, ocasião vivos, temos o contrato de compra e venda
em que a ação cabível é a e doação.
reivindicatória, a qual é proposta contra
quem injustamente possua ou detenha o Em relação ao ato mortis causa, há o
bem. testamento.
II. Avulsão
Entretanto, não nos parece esta a correta Sendo o álveo abandonado, a propriedade
interpretação do artigo, já que ‘aquiescer’ será dos proprietários ribeirinhos das duas
significa anuir, concordar. Assim, diz o margens, sem qualquer indenização aos
artigo que o proprietário beneficiado deve donos dos terrenos por onde as águas
simplesmente concordar com o fato de que abrirem novo curso.
o outro remova a terra acescida.
O raciocínio é idêntico à formação de ilhas:
traçamos um meridiano no rio, verificando
a distância das margens. Deixaremos isso
para nossos colegas engenheiros!
Vejamos:
*Extraída da obra de Elpídio Donizetti
Art. 1.254 CC/02. Aquele que
semeia, planta ou edifica em
IV. Plantações e construções
terreno próprio com sementes,
plantas ou materiais alheios,
adquire a propriedade destes;
No tocante às plantações e construções,
mas fica obrigado a pagar-lhes
temos vários bens móveis que são
o valor, além de responder por
‘grudados’ aos imóveis: sementes, mudas,
perdas e danos, se agiu de má-
materiais de construção. É, em verdade,
fé.
acessão artificial.
Em razão do princípio da gravitação – o
Art. 1.253 CC/02. Toda
acessório segue o principal, quem
construção ou plantação
emprega nas plantações ou construções,
existente em um terreno
em terreno próprio, bens alheiros
presume-se feita pelo
(mudas, tijolos etc), acaba por adquirir a
proprietário e à sua custa, até
propriedade destes, devendo,
que se prove o contrário.
entretanto, indenizar seu dono pelo seu
valor, e, se tiver agido de má-fé, também
A regra geral é a disposta no artigo 1.253
por perdas e danos.
CC/02, onde há uma presunção relativa de
que as construções e plantações realizadas
em um terreno foram realizadas à custa do
proprietário do aludido bem imóvel.
Parágrafo único. O
proprietário das sementes,
plantas ou materiais poderá
cobrar do proprietário do solo a
indenização devida, quando
não puder havê-la do
plantador ou construtor.
CONCEITO
Popularmente (vulgarmente) conhecida
como ‘Uso Campeão’ e até mesmo como A usucapião constitui o modo de adquirir o
‘Urso Campeão’, a usucapião constitui domínio ou outros direitos reais pelo
modo originário de aquisição da decurso do tempo condicionado à posse
propriedade, seja ela de bem imóvel ou incontestada e ininterrupta.
móvel.
Calma que vamos facilitar.
Neste tópico analisaremos a propriedade
de bem imóvel. A fórmula fática da usucapião é a seguinte:
Antes de mais nada é importante informar Sujeito + coisa em seu poder + tempo (+
que adotamos a forma feminina da palavra eventuais requisitos exigidos pela lei) =
para não confundir os estudantes, já que o usucapião => domínio
Código Civil de 2002, o Estatuto da Cidade
(Lei 10.257/01), e a Lei da Usucapião Já a fórmula jurídica é:
Agrária (Lei 5.969/81), também
realizaram esta opção. Posse ad usucapionem (= posse
incontestada e ininterrupta de coisa
Entretanto, vocês poderão ver em hábil) + tempo (+ demais requisitos que
doutrinas e julgamentos a utilização do a lei exigir) = domínio
vocábulo no masculino – o usucapião.
Aplicamos o princípio da operabilidade, Caio Mário da Silva Pereira conceitua a
não importando se utilizarão o termo no usucapião como sendo
feminino ou no masculino.
“a aquisição da propriedade ou
outro direito real pelo decurso do
tempo estabelecido e com a
observância dos requisitos
instituídos em lei”
(Instituições..., 2004, v. IV, p.
138).
Assim, o parágrafo único deve ser - Justo Título: para a usucapião ordinária,
interpretado da seguinte forma, o justo título pode ser compreendido como
observando a posse-trabalho: qualquer documento hábil (ao menos em
tese) a transferir a propriedade, mesmo
Art. 1.242 CC/02. [...] sem o registro. Pode não realizar a efetiva
Parágrafo único. Será de cinco transferência em razão de algum defeito,
anos o prazo previsto neste mas era hábil para tanto.
artigo, se o imóvel houver sido
adquirido, onerosamente, com Enunciado 86 CJF/STJ: A
base no registro constante do expressão "justo título" contida
respectivo cartório, desde que os nos arts. 1.242 e 1.260 do Código
possuidores nele tivessem Civil abrange todo e qualquer ato
estabelecido a sua moradia, ou jurídico hábil, em tese, a
realizado investimentos de transferir a propriedade,
interesse social e econômico. independentemente de registro.
Art. 1.239 CC/02. Aquele que, Ademais, a Lei 6.969/81 (art. 3º) proíbe a
não sendo proprietário de imóvel ocorrência da usucapião especial rural nas
rural ou urbano, possua como seguintes áreas:
sua, por cinco anos ininterruptos,
sem oposição, área de terra em Art. 3º - A usucapião especial não
zona rural não superior a ocorrerá nas áreas
cinquenta hectares, tornando-a indispensáveis à segurança
produtiva por seu trabalho ou de nacional, nas terras habitadas
sua família, tendo nela sua por silvícolas, nem nas áreas de
moradia, adquirir-lhe-á a interesse ecológico, consideradas
propriedade. como tais as reservas biológicas
ou florestais e os parques
Esta usucapião também está nacionais, estaduais ou
regulamentada pela Lei 6.969/81, municipais, assim declarados
especialmente em questões processuais, as pelo Poder Executivo,
quais são estudadas na disciplina Direito assegurada aos atuais ocupantes
Processual Civil. a preferência para assentamento
em outras regiões, pelo órgão
Para a declaração da aquisição da competente.
propriedade por meio da usucapião
especial rural, há de se preencher os Quanto a possibilidade de usucapir área
seguintes requisitos: inferior à possuída, remetemos o aluno ao
tópico 3, aplicando os mesmos conceitos
a) Área não superior a 50 hectares com as devidas adaptações.
(50 ha), localizada em zona rural.
b) Posse de cinco anos ininterruptos,
sem oposição e com animus
domini.
c) Utilização do imóvel para
subsistência ou trabalho (pro
labore) – agricultura, pecuária,
extrativismo etc. A terra deve se
tornar produtiva.
d) Residir no imóvel durante o
período mínimo de cinco anos
ininterruptos.
e) O requerente não pode ser
proprietário de outro imóvel, seja
ele rural ou urbano, durante todo o
prazo.
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5. Usucapião familiar Nesse sentido, Enunciado 500 da V
Jornada de Direito Civil:
A usucapião familiar foi criada pela
Lei 12.424/11, a qual cuidou do Programa Enunciado 500: A modalidade de
Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), sendo usucapião prevista no art. 1.240-A
produto da conversão em lei da Medida do Código Civil pressupõe a
Provisória 514, de 2010, a qual incluiu no propriedade comum do casal e
Código Civil o artigo 1.240-A: compreende todas as formas de
família ou entidades familiares,
Art. 1.240-A CC/02. Aquele que inclusive homoafetivas.
exercer, por 2 (dois) anos
ininterruptamente e sem oposição, O possuidor não pode ser proprietário de
posse direta, com exclusividade, outro imóvel, e nem já ter usucapido por
sobre imóvel urbano de até 250m² esta modalidade (usucapião familiar).
(duzentos e cinquenta metros
quadrados) cuja propriedade Para termos o abandono do lar, é
divida com ex-cônjuge ou ex- imprescindível a junção de dois elementos:
companheiro que abandonou o lar,
utilizando-o para sua moradia ou a) Um cônjuge ou companheiro não
de sua família, adquirir-lhe-á o mais residir habitualmente com o
domínio integral, desde que não outro – elemento objetivo
seja proprietário de outro imóvel b) O ânimo de abandonar o lar, ou
urbano ou rural. (Incluído pela Lei seja, existir a vontade de não mais
nº 12.424, de 2011) residir com o outro – elemento
subjetivo. Isso por questões óbvias:
§ 1º O direito previsto no caput não se um cônjuge encontra-se privado
será reconhecido ao mesmo de sua liberdade, não há o que se
possuidor mais de uma vez. falar em abandono do lar.
Inicialmente, não basta a posse ad Atenção: o simples fato de ter ‘ido comprar
usucapionem (incontestada e cigarro e nunca mais voltado’ não significa,
ininterrupta), mas é imprescindível que a necessariamente, o abandono do lar, pois
mesma seja direta, ou seja, o possuidor não restará demonstrado, por si só, o
tem que ter o poder de usar a coisa. elemento subjetivo.
DESTAQUE
O reconhecimento extrajudicial da
usucapião foi previsto, inicialmente, no
art. 60 da Lei do Programa "Minha
Casa, Minha Vida" (Lei n. 11.977/2009),
com aplicação restrita ao contexto da
regularização fundiária.