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TGDC II – APONTAMENTOS

CAPÍTULO I – TEORIA GERAL DO OBJETO DA RELAÇÃO JURÍDICA


1. OBJETO DA RELAÇÃO JURÍDICA
Fala-se do objeto da relação jurídica para referir o objeto do direito subjetivo que constitui o lado
ativo da mesma relação.
Em que consiste o objeto do direito subjetivo?
- Traduz-se no poder atribuído a uma pessoa. Esse poder e faculdades incidem sobre um determinado
ente (coisa ou pessoa) conferindo a possibilidade de exercer uma soberania ou domínio sobre um
bem ou objeto (seja ele, uma coisa corpórea ou incorpórea, prestação, pessoa, etc)
O objeto das relações jurídicas é, pois, todo o ente, todo o bem sobre que podem recair direitos
subjetivos.
 Distinção entre objeto de um direito e conteúdo de um direito
Objeto é aquilo sobre que recaem os poderes do titular de direito. Por exemplo, o objeto do direito de
propriedade é a coisa apropriada.
O conteúdo é o conjunto dos poderes ou faculdades que o direito subjetivo comporta. Ou seja, o
conteúdo do direito de propriedade são os poderes conferidos pelo ordenamento jurídico ao
proprietário (poderes de usar, dispor, fruir)
Pelo exposto, parece compreender-se que o direito potestativo não tem objeto uma vez que
são direitos a uma modificação jurídica (extinção, modificação ou constituição). No máximo, poderia
concluir-se que o modificativo e extintivo tem como objeto a relação jurídica modificada ou extinta.
Quanto aos constitutivos, há autores que defendem que o o seu objeto seria o comportamento do
sujeito ativo destinado a produzir efeito na esfera de outrem.
No entanto, o problema do conteúdo não se coloca nestes direitos

2. OBJETO IMEDIATO E MEDIATO


A distinção entre objeto imediato e mediato exprime a diversidade entre aquilo que diretamente está
submetido aos poderes ideais que integram um direito subjetivo E aquilo que só de uma forma
mediata ou indireta (através de um elemento mediador) está submetido àqueles poderes.
Contudo, esta distinção nem sempre se verifica. Por exemplo, nos direitos reais não há intermediário
entre o titular do direito e a coisa uma vez que o proprietário está em contacto direto com o objeto,
recolhendo dele as respetivas utilidades, sob a tutela do ordenamento jurídico.
MAS, esta distinção já se verifica nas obrigações (direitos de crédito). Neste caso, o objeto imediato
do direito do credor é o comportamento do devedor, ou seja, a prestação/ato de entrega da coisa. O
objeto mediato é a própria coisa que deve ser entregue ao credor.
Ex: Servidão de passagem: Objeto imediato: passagem / O. Mediato: terreno alheio.
3. POSSÍVEIS OBJETOS DE RELAÇÕES JURÍDICAS
O art. 202º CC estabelece equivalência entre o conceito de coisa e o de objeto das relações jurídica,
enunciado nos artigos seguintes várias classificações de coisas. No entanto, esta equivalência não é
rigorosa uma vez que nem tudo o que é suscetível de ser objeto de relações jurídicas é uma coisa em
sentido jurídico.
São possíveis objetos das relações jurídicas: (1) Pessoas; (2) Prestações; (3) Coisas
materiais/corpóreas; (4) Coisas incorpóreas/imateriais; (5) Direitos subjetivos; (6) A própria pessoa e
(7) Animais.
(a) Pessoas
Não há qualquer ofensa há dignidade da pessoa humana. O direitos sobre outras pessoas têm um
conteúdo especial pois não são direitos subjetivos do tipo comum mas sim poderes-deveres ou
poderes funcionais.
São exemplo destes poderes o poder paternal (art. 1878º e ss.) ou poder tutelar (art.1935º).
Nestes casos, a entidade sobre que incidem os poderes- deveres dos pais consiste na própria pessoa
do filho. São direitos que conferem poderes destinados a habilitarem os pais/tutor ao cumprimento
dos seus deveres para com o filho podendo os titulares de tais direitos ser sancionados se não
exercerem e não cumprirem os deveres ao serviço dos quais se encontram.

(b) Prestações
Nos direitos de crédito, objeto é uma conduta humana: prestação. Nestes direitos, o objeto não é a res
mas um comportamento do devedor (positivo ou negativo).
Por vezes, a prestação é o objeto imediato e a própria coisa o objeto mediato. Noutros casos, a
prestação é também o objeto da relação, não se distinguindo entre objeto mediato e imediato.

(c) Coisas materiais ou corpóreas


Não há dúvidas que realidades físicas sejam objeto de direitos subjetivos. É bastante recorrente,
principalmente nos direitos reais. No entanto, é necessário que estes objetos cumpram certos
requisitos:
 Existência autónoma
 Idoneidade para satisfazer interesses humanos
(devem ser úteis)
 Possibilidade de sujeição jurídica ao poder
exclusivo dos homens (devem ser
apropriáveis)

(d) Coisas incorpóreas ou bens imateriais


A atividade intelectual do homem pode resultar na criação de obras artísticas, literárias, científicas,
invenções industriais, etc. Qualquer um destes bens têm valor patrimonial autónomo uma vez que

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podem ser explorados economicamente. Par alem disso, alguns deles estão ligados à personalidade
do seu autor.
E, por isso, o direito reconhece a importância destes bens, tutelando-os mediante a atribuição de
direitos de autor («exteriorizações das criações intelectuais do domínio literário, científico e
artístico») e a chamada propriedade industrial (direitos sobe patentes, nome e insígnia do
estabelecimento, logotipos, etc)

O objeto destes direitos não é uma coisa corpórea. O objeto do direito de autor é a obra na sua forma
ou conceção ideal; é a entidade ideal traduzida numa especifica articulação de ideias, formas e sons.
O conteúdo do direito de autor compreende poderes respeitantes à utilização económica da obra
criada- direito patrimonial de autor: poder de disposição exclusiva da obra – e poderes dirigidos à
tutela da personalidade, o chamado direito pessoal ou moral do autor: poder de manter a obra inédita,
de se opor à sua publicação com ilustrações, supressões, etc.

(e) Direitos subjetivos


Pode colocar-se o problema de saber se um direito subjetivo pode constituir objeto de outro direito
subjetivo, ou seja, discute-se se se trata de direitos sobre direitos ou de transmissões limitadas do
direito. Contudo, interessa apenas frisar que algumas soluções legais parecem ajustar-se à figura dos
direitos dos direitos.
Exemplos:
 Penhor de direitos -art. 679º
 Usufruto de direitos de crédito – arts. 1439º, 1446º. 1463º
 Hipoteca de um direito de superfície – art. 668º, n. º1, al. C)

(f) A própria pessoa (certas manifestações ou modos de ser físicos ou morais da pessoa)
Alguns autores contestam a legitimidade da figura dos direitos da própria pessoa uma vez que seria
absurdo levar-nos a distinguir no homem duas pessoas: uma delas sujeito e outro objeto dos seus
direitos de personalidade. Para além disso, seria moralmente insustentável por levar ao
reconhecimento da legitimidade do suicídio, da automutilação, da escravidão consentida, etc.
No entanto, a nossa lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à
sua personalidade física ou moral (art.70º) e concretiza alguns direitos sobre certos aspetos de
personalidade- direito ao nome, direito à reserva de intimidade da vida privada, etc.
Deste modo, pode sustentar-se a existência de um direito sobre a própria pessoa. Tal figura nem será
ilógica pois o direito subjetivo é um poder ideal da vontade humana, nem nos vinculará a
consequências moralmente absurdas pois tais direitos devem ter-se como irrenunciáveis e
insuscetíveis de limitação voluntária quando esta for contrária à ordem pública (art. 81º)
(g) Animais
- Aplicam-se a situações das coisas, sejam elas a compra e venda, a prestação de serviços, etc
- Não são coisa, mas é um objeto.

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CAPÍTULO II - AS COISAS E O PATRIMÓNIO
1. NOÇÃO JURÍDICA DE COISA
Em sentido amplo, coisa é tudo o que pode ser pensado, ainda que não tenha existência real e
presente.
Em sentido físico, coisa é tudo o que tem existência corpórea (quod tangi potest- tudo o que se pode
tocar), ou pelo menos, é suscetível de ser captado pelos sentidos.
 Ex: eletricidade

Em sentido jurídico, há que considerar o art. 202º CC que define coisa como:

“tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas”.

Compreende-se que a noção explicitada pelo artigo está incorreta uma vez que se confunde coisas
com objeto.
Há entes suscetíveis de serem objeto das relações jurídicas que não são coisas em sentido jurídico.
Por exemplo, as prestações, as pessoas, etc.
Uma vez que a noção de coisas está incorreta no CC, é necessário recorrermos à jurisprudência.
Define-se coisas em sentido jurídico como «os bens (ou os entes) de caráter estático, desprovidos de
personalidade e não integradores do conteúdo necessário desta, suscetíveis de constituírem objeto de
relações jurídicas».
Mas os bens de caráter estático, carecidos de personalidade, só são coisas em sentido jurídico quando
puderem ser objeto de relações jurídicas. Para esse efeito devem apresentar as seguintes caraterísticas
(sentido +)
 Existência autónoma ou separada (a casa é uma coisa, mas as paredes que a integram não o
são);
 Possibilidade de apropriação exclusiva por alguém (não são coisas os bens que escapam ao
domínio do ser humano, como, por exemplo, as estrelas ou a lua)
 Aptidão para satisfazer interesses ou necessidades humanas (ser humano é a medida e, por
isso, não são coisas, pois para nada servem, uma gota de água, um grão de areia)
Inversamente, não é necessário (sentido -)
 Que se trate de bens de natureza corpórea (energia elétrica é uma coisa)
 Que se trate de bens permutáveis, isto é, com valor de troca (ex: foto de casamento da avó)
 Que se trate de bens efetivamente apropriados (animais bravios, peixes não apropriados;
basta que sejam bens apropriáveis)
O CC define várias categorias de coisas decorrentes das classificações que consagrou, definindo no
art. 204º e ss as coisas móveis e imóveis, as coisas simples e compostas, coisas fungíveis, coisas
consumíveis, coisas divisíveis, as coisas principais e acessórias/pertenças e as coisas futuras.
 Tijolo: parte componente
 Móvel: parte acessória
 Candeeiro: parte integrante

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O CC dá-nos também o conceito de frutos (art.212º) e de benfeitorias (art.216º)

2. NOÇÃO DE PATRIMÓNIO
Património global: conjunto de relações jurídicas ativas e passivas (direitos e obrigações) avaliáveis
em dinheiro de que uma pessoa é titular
É importante destacar alguns pontos

1º Trata-se do conjunto de relações jurídicas e não de um conjunto de móveis, imóveis, etc. O


património é integrado por direitos sobre coisas (propriedade, usufruto), direitos de crédito,
obrigações e outros direitos patrimoniais.

2º Não fazem parte do património certas realidades suscetíveis de terem grande relevância para a
vida económica das pessoas como, por exemplo, a força de trabalho ou a competência técnica de um
indivíduo. Estas são qualidades do sujeito que se projetam nos resultados patrimoniais da sua vida
mas não são parte do seu património

3º Só fazem parte do património as relações suscetíveis de avaliação pecuniária. Esta pecuniaridade


pode resultar do valor de troca do direito (alienável mediante contraprestação) ou do valor de uso
(proporcionar o gozo de um bem, material ou ideal, que só se obtém mediante despesa).

Património bruto ou ilíquido: conjunto de direitos avaliáveis em dinheiro pertencentes a uma


pessoa, abstraindo, portanto, das obrigações
- Esta noção é aquela que tem maior interesse para o domínio da responsabilidade civil. A principal
função jurídica do património do património situa-se na garantia dos credores (art.601º CC).
Património líquido: ou seja, saldo património, isto é, consiste nas relações jurídicas ativas ou
direitos menos (-) as obrigações /relações passivas (ativo -passivo)
O património também se distingue da esfera jurídica – totalidade das relações jurídicas de que uma
pessoa é sujeita. Abrange o património e os direitos e obrigações não avaliáveis em dinheiro.
…………………………………………………………………
O conceito de património traduz a soma ou conjunto das relações jurídicas alienáveis em dinheiro,
pertencentes a uma pessoa. Não se trata de um objeto jurídico único ou universalidade. Deste modo,
quem pretender alienar as suas relações patrimoniais tem de recorrer a vários tipos negociais
adequados à alienação de casa um dos elementos componentes do seu património. /ex: notificar o
devedor, escritura publica, etc.

3. O FENÓMENO DA AUTONOMIA PATRIMONIAL OU SEPARAÇÃO DE PATRIMÓNIOS


Na esfera jurídica de uma pessoa existe normalmente apenas um património. Contudo, em certos
casos, podemos concluir que pode existir titularidade do mesmo sujeito, alem do seu património
geral, a um conjunto de relações patrimoniais submetido a um tratamento jurídico particular como se
fosse uma pessoa diferente- património autónomo ou separado

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Quando podemos considerar existirem vários patrimónios?
Existem vários critérios: a especial destinação de certa massa de bens, a sua administração separada e
a responsabilidade por dividas.
O critério preferível e o da responsabilidade por dívidas. Se o património tem como função
principal responder pelas dividas do seu titular então parece que o critério mais adequado para
caraterizar a separação de patrimónios deve ser o da existência de um tratamento jurídico em matéria
de responsabilidade por dívidas.
Património autónomo será o que «responde por dividas próprias». As dividas pelas quais só o
património autónomo responde são aquelas relacionadas com a função especifica, com a finalidade
ou afetação especial desse património.
Mas no nosso direito privado não é assim. A herança será um património autónomo se os bens
hereditários responderem apenas pelas dividas do de cujus, e não pelas dividas pessoais do herdeiro

O caso mais nítido de património autónomo no direito privado português era, até 1986, a herança que se
define como o conjunto de relações jurídicas patrimoniais que, por força da morte de um individuo, passam
da titularidade deste para os herdeiros e legatários.
As características de uma plena autonomia patrimonial manifestam-se:
 Na circunstância de a responsabilidade do herdeiro pelas dividas da herança não exceder o valor dos
bens herdados, quer a herança seja aceite a benefício do inventário, quer seja apenas aceite (art.
2071º)
 Na circunstância de os credores da herança e os legatários gozarem de preferência sobre os credores
pessoais do herdeiro durante 5 anos subsequentes à abertura da sucessão.
Constata-se que a herança é um mero escopo de liquidação que assegura o pagamento dos credores da
herança com os bens da herança (e apenas com estes).
Um caso em que o legislador se referiu a um património autónomo é o estabelecimento individual de
responsabilidade limitada (EIRL). Estes pode ser constituído por qualquer pessoa singular que pretenda
exercer uma atividade comercial, afetando para o efeito ao estabelecimento de uma parte do seu
património, cujo valor representa o capital inicial do estabelecimento. (art.1º do DL nº 248/86, de 25 de
Agosto).
Pelas dividas resultantes de atividades no âmbito da EIRL, só respondem os bens a estes afetados. Por
outro lado, o património da EIRL responde apenas pelas dívidas contraídas no desenvolvimento da
atividade no âmbito desse estabelecimento (art.10º e 22º)
Sub-rogação real: substituição de uma coisa que se perdeu por força de um ato ou facto jurídico que
simultaneamente implicou a aquisição de um valor, ocupando o novo valor o lugar do anterior, como novo
objeto da mesma RJ existente (ex: venda objeto que é trocado pelo preço correspondente).

4. A FIGURA DO PATRIMÓNIO COLETIVO

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A figura do património coletivo apresenta-se quando um único património tem vários sujeitos. O
património coletivo não se confunde com a compropriedade (cada comproprietário tem direito a uma
quota ideal ou fração do objeto comum) - art. 1408º
O património coletivo pertence, em bloco, ao conjunto de pessoas. Individualmente nenhum dos
sujeitos tem direito a qualquer quota ou fração; o direito sobre a massa patrimonial em causa cabe ao
grupo no seu conjunto.
Pelas dividas geradas a prossecução do seu escopo, reponde o grupo titular com os bens coletivos e,
esgotados estes, solidariamente com os seus bens pessoais.
O direito português conhece a figura da compropriedade de tipo individualístico (art.1403º e ss)
não sendo possível, entre nós, criar-se um património coletivístico sem repartição de quotas.
 O único caso que parece ser similar (patr. Coletivo) corresponde à comunhão conjugal
(art.1695º /1696º)

III- TEORIA GERAL DO FACTO JURÍDICO


A: CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO

1. NOÇÃO DE FACTO JURÍDICO


Facto jurídico: todo o ato humano ou acontecimento natural juridicamente relevante, ou seja, que
produz efeitos jurídicos.
Há factos que são irrelevantes para o direito – factos materiais, ajurídicos, neutrais (ex: convite para
um passeio). Ou seja, nem todos os factos reais ou sociais são fatos jurídicos.

2. CLASSIFICAÇÃO DOS FACTOS JURÍDICOS

1)_Factos jurídicos voluntários ou atos jurídicos: resultam da vontade como elemento


juridicamente relevante; manifestação de uma vontade
 Dentro destes, os fatos podem ser lícitos ou ilícitos
o Atos lícitos: conformes a ordem jurídica e por ela consentidos
o Atos ilícitos: são contrários à ordem jurídica e por ela reprovados; importam uma
sanção para o seu autor
Factos jurídicos involuntários ou naturais: são estranhos a qualquer vontade, ou porque resultam
da ordem natural ou porque a sua voluntariedade não tem relevância jurídica (ex: nascimento, morte,
vizinhança)

2)_Negócios jurídicos: factos voluntários cujo núcleo essencial é integrado por uma ou mais
declarações de vontade a que o ordenamento atribui efeitos jurídicos concordantes com o conteúdo
da vontade das partes.

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- Os seus efeitos produzem-se ex voluntate, como é o caso do testamento ou contratos
Simples atos jurídicos: factos voluntários cujos efeitos se produzem mesmo que não tenham sido
previstos ou queridos pelos seus autores, embora muitas vezes haja concordância entre a vontade
destes e os referidos efeitos
- Os seus efeitos produzem-se ex lege e não ex voluntate (ex: gestão de negócios – art. 464º/fixação
domínio voluntário- art.82º)
 Dentro dos simples atos jurídicos faz-se a distinção entre:
 Quase-negócios jurídicos: manifestação exterior de uma vontade
 Atos materiais/ operações jurídicas: traduzem-se na efetivação ou realização de um resultado
material a que a lei liga determinados efeitos jurídicos.

B. AQUISIÇÃO, MODIFICAÇÃO E EXTINÇÃO DE RELAÇÕES JURÍDICAS

Os factos jurídicos desencadeiam determinados efeitos. Esses efeitos jurídicos consistem


fundamentalmente numa aquisição, numa modificação ou numa extinção de relações jurídicas.

1. CONCEITO E MODALIDADE DE AQUISIÇÃO DE DIREITOS. AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA E DERIVADA


Um direito é adquirido por uma pessoa quando esta se torna titular dele, ou seja, a aquisição de
direitos é a criação de um direito a uma pessoa.
A constituição de um direito é o seu surgimento; é a criação de um
Aquisição ≠ Constituição direito que não existia anteriormente.
Toda a constituição de um direito implica a sua aquisição, MAS nem toda a aquisição de direitos tem
lugar em casos de surgimento ex novo de um direito.
Existem 2 tipos de aquisição de direitos (baseada no critério da causalidade)
a) Aquisição originária: o direito adquirido não depende da existência/extensão de um direito
anterior que poderá não existir; quando o direito anterior exista, o direito não foi adquirido
por causa desse direito.
Ex: usucapião (art.1287º)

b) Aquisição derivada: o direito adquirido funda-se na existência de um direito na titularidade


de outra pessoa; a existência anterior desse direito e a sua extinção ou limitação é que geram
a aquisição do direito pelo novo titular
Ex: aquisição do direito de propriedade, contrato (CV, doação)

Dentro da aquisição derivada pode distinguir-se entre aquisição derivada translativa, aquisição
derivada constitutiva e aquisição derivada restitutiva.

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Aquisição derivada translativa (+ vulgar): o direito que se adquire é o mesmo que o anterior
(tem a mesma amplitude e conteúdo). É uma transmissão de direito que se vai extinguir na esfera de
um sujeito e surgir na esfera de outro.
Ex: Contrato de CV. A vende, B compra. O direito de propriedade de A transmite-se para B.

Aquisição derivada constitutiva: o direito adquirido filia-se num direito mais amplo do anterior
titular, isto é, forma-se à custa dele, limitando-o ou comprimindo-o = direito progenitor e filial
Ex:

DISTINÇÃO: Cessão da posição contratual (1) VS Subcontrato (2) (pags.363, nota 430)
(1) É uma aquisição derivada translativa da posição contratual, isto é, da relação contratual
emergente do contrato de locação, contrato de fornecimento, etc. – art.424º.

(2) É uma aquisição derivada constitutiva pois um contratante concede a outro a possibilidade de
usar a posição contratual que para o primeiro resulte de um contrato principal, ao qual este
último continua ligado.

Aquisição derivada restitutiva: hipótese de o titular de um direito real limitado se demitir dele,
unilateral ou contratualmente, recuperando assim o proprietário a plenitude dos seus poderes, em
virtude da conhecida elasticidade ou força expansiva do direito de propriedade.
Ex: Olhando para o exemplo anterior, a extinção do usufruto vai restituir o direito a A (pleno)

DISTINÇÃO: Aquisição derivada (1) VS Sucessão (2)


A sucessão é o subingresso de uma pessoa na titularidade de todas as relações jurídicas ou
determinada(as) relações jurídicas de outrem.
Por isso, pode confundir-se com a aquisição derivada translativa (direito adquirido é o mesmo do
anterior titular).

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No entanto, a sucessão refere-se igualmente às dividas e não só aos direitos, enquanto a aquisição diz
respeito apenas a direitos. As dívidas, apesar da mudança de devedor com consentimento do credor,
não se adquirem – assume-se. Por este motivo é que o art. 595º CC tem a epígrafe de assunção da
dívida.
Ou seja, na sucessão teremos uma modificação subjetiva e não uma aquisição derivada translativa.
A noção de transmissão de direitos equivale à de aquisição derivada translativa e à de sucessão.

1.1. IMPORTÂNCIA DA DISTINÇÃO ENTRE AQUISIÇÃO DERIVADA E ORIGINÁRIA


Na aquisição originária, a extensão do direto adquirido depende apenas do facto ou título aquisitivo.
Ou seja, na usucapião diz-se tantum possessum quantum prescriptam.
Já na aquisição derivada, a extensão do direito do adquirente depende do conteúdo do facto
aquisitivo, mas depende também da amplitude do direito do transmitente, não podendo, em regra, ser
maior que a deste direito. Ou seja, não se pode transmitir direitos mais amplos do que aqueles
que possuem PRÍNCIPIO NEMO PLUS JURIS (Regra geral da aquisição derivada)
No entanto, este principio contém exceções, isto é, em certas hipóteses, o adquirente, pode obter um
direito que não pertencia ao transmitente ou é mais amplo do que aqueles que pertenciam a este.

1.2. EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO


Existem 3 exceções ao princípio Nemo Plus Iuris:
 (a) Instituto do Registo (predial, automóvel e similares- aeronaves, navios..)
 (b) Artigo 243º CC
 (c) Artigo 291º CC

(a) Instituto do registo


Para um negócio ser válido tem de ser respeitada a sua forma (art.219º CC). E, em regra, não é
necessária forma para celebrar negócios jurídicos (art. 875ºCC). Mas, em alguns NJ é necessário a
existência de forma (art.220º CC) que, não sendo respeitada, o negócio será considerado nulo.
NOTA: Forma mais solene- Escritura Pública ou Doc. Particular autenticado
O registo na Conservatória não está relacionado com a forma. Para além disso, o registo não é um
meio de aquisição de direitos (com exceção da hipoteca que só é valida quando registada) sendo o
ato plenamente eficaz inter partes.
O registo é uma condição de eficácia para com terceiros, tendo uma função de publicidade. A
consequência da falta de registo é a ineficácia do ato em relação a terceiros (art. 4º/1/5 C. Reg.
Predial).
Bens que carecem de registo:
 Imóveis,
 Automóveis Art. 4º e 5º C. Reg. Predial
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 Aeronaves
 Navios
Quem são os terceiros para efeitos de registo predial?
- São todos aqueles que adquirem do mesmo autor ou transmitente direitos total ou parcialmente
incompatíveis sobre o mesmo objeto.
Ex:

E no caso de B não registar? E A vender a C o terreno, sendo que este último irá registar?

Prevalece a venda a C, pois foi a


1º a ser registada, embora A já
não fosse o verdadeiro
proprietário pois a sua venda a B
é plenamente válida e eficaz
inter partes (art.4º
C.Reg.Predial).

Ou seja, verifica-se aqui uma


exceção ao princípio segundo o qual, na aquisição derivada, o adquirente (C)não pode adquirir um
direito, se este não existia na titularidade do transmitente, A.
(Concluímos que o registo predial não se destina a realizar uma proteção máxima na aquisição de
direitos sobre imóveis, mas uma proteção mais limitada: assegurara que, se o direito existiu na
titularidade desta pessoa (que tem o prédio registado), então ela ainda a conserva.)
Voltando ao exemplo:
E se C sabia do negócio (estando a agir de má-fé)?

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- Segundo a Escola de Coimbra, é irrelevante se o terceiro age ou não de má-fé, baseando-se em 2
critérios:
 O nosso direito não fornece qualquer argumento legal que permita sustentar a relevância da
má-fé (quando é um elemento essencial, vem descrito na letra da lei)

 O facto de não se considerar esta situação (a inoponibilidade de atos não registados a


terceiros), motivará os interessados a promover o registo, que é de interesse público.

E se A doar a C? Aplica-se o mesmo instituto? Sim, aplica-se o instituto anterior. Só em casos


extremos se aplica o instituto do abuso de direito

(b) Da inoponibilidade da simulação a terceiros de boa-fé (art.243º CC)

Nos termos deste artigo, os negócios simulados são nulos e, como tal, não produzem quaisquer
efeitos.
Simulação: divergência intencional entre a vontade e declaração que resulta de um conluio/acordo
entre declarantes com vista a enganar terceiros. (direito de preferência sobre C, no caso de A querer
vender. Não há direito de preferência nos casos de doação).
Ou seja, o vendedor ou doador que tenha adquirido a propriedade por ato simulado (nulo) faz com
que o terceiro o adquira de quem não era proprietário.
O art. 243º aplica-se sempre em casos de simulação. Este artigo serve para a proteção de terceiros se
os seus requisitos forem preenchidos.
REQUISITOS:
 A simulação tem de ser arguida por um dos simuladores
 O terceiro tem de estar de boa-fé

(c) Da eventual inoponibilidade das nulidades e anulabilidades a terceiro de boa-fé


(art.291º CC)
Esta é mais uma das exceções ao princípio do Nemo Plus Iuris. Esta exceção tem como objetivo
proteger o terceiro de boa-fé, sendo os direitos deste sacrificados, por força da invalidade do negócio
donde resultam os direitos do seu transmitente.
REQUISITOS:
1) Temos de estar perante um negócio nulo ou anulável;
2) O negócio em causa tem de incidir sobre coisa móveis (sujeitas a registo) e coisas imóveis;
3) Tem de existir uma cadeia de transmissões;
4) O terceiro tem de ficar afetado por uma invalidade de um negócio anterior;
5) O terceiro tem de estar de boa-fé: no momento da aquisição, desconhecia, sem culpa, o vício
do negócio nulo oi anulável;
6) O terceiro tem de registar o seu direito;
7) O negócio tem de ser oneroso;

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8) Tem de ter passado mais do que 3 anos sobre a data do primeiro negócio;
2. MODIFICAÇÃO DE DIREITOS
A modificação de direitos ocorre quando, alterado ou mudado um elemento de um direito, permanece
a identidade do referido direito, apesar da vicissitude ocorrida. O ordenamento jurídico, apesar da
modificação verificada, continua a tratar o direito como se não tivesse tido lugar a alteração. Ou seja,
o direito é o MESMO.
A modificação de direitos pode ser: (a) Subjetiva e (b) Objetiva
(a)MODIFICAÇÃO SUBJETIVA: será subjetiva se tem lugar uma substituição do respetivo
titular, permanecendo a identidade objetiva do direito.
É o caso da sucessão entre vivos nas relações obrigacionais – substituição de sujeitos sem extinção
da relação jurídica e surgimento de uma nova- também pode ter lugar do lado passivo, surgindo a
assunção da dívida e pode ainda referir-se à relação contratual através da cessão da posição
contratual.
A modificação também pode ter lugar, tanto pelo lado ativo como passivo, através de uma sucessão
mortis causa.
(b) MODIFICAÇÃO OBJETIVA: será objetiva se muda o conteúdo ou o objeto do direito,
permanecendo este idêntico.
Altera o conteúdo se, é concedida pelo credor ao devedor uma prorrogação do prazo para o
cumprimento. Muda o objeto quando o devedor, não cumprindo culposamente a obrigação, o seu
dever de prestar é substituído por um dever de indemnizar.

3. EXTINÇÃO DE DIREITOS
A extinção de um direito tem lugar quando um direito deixa de existir na esfera jurídica de uma
pessoa. Quebra-se a relação entre o direito e a pessoa do seu titular.
A extinção de direitos pode ser: (a) Subjetiva e (b) Objetiva.
(a) EXTINÇÃO SUBJETIVA: será uma extinção subjetiva se o direito sobreviver em si, apenas
mudando a pessoa do seu titular. Ou seja, o direito mudou de titularidade, extinguindo-se para
aquele sujeito, mas subsiste na esfera jurídica de outrem.
Verifica-se sempre que tem lugar uma sucessão na titularidade do direito.

(b) EXTINÇÃO OBJETIVA: será objetiva se o direito desaparece, deixando de existir para o seu
titular ou para qualquer outra pessoa. Nesta hipótese, não há sucessão, transmissão ou
aquisição translativa de direitos.
Ex: destruição de coisa por incendido
NOTA: Estas considerações valem sobretudo para a extinção de obrigações
Uma forma particular de extinção de direitos são os institutos da prescrição (art.300º e ss) e da
caducidade (art. 328º e ss).

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 Prescrição
Se o titular de um direito o não exercer durante certo tempo fixado na lei, extingue-se esse direito.
Diz-se, nestes casos, que o direito caducou.
O beneficiário da prescrição, quando completada, pode recusar o cumprimento da prestação ou opor-
se ao exercício do direito prescrito. Mas, se o devedor, beneficiário da prescrição, tiver cumprido
espontaneamente a obrigação prescrita, o credor goza da soluti retentio, não podendo o obrigado
repetir o que haja prestado (art.304º) – Obrigações naturais
Ao lado desta prescrição negativa existe ainda a chamada prescrição aquisitiva ou positiva, através
da qual se adquirem direitos reais Usucapião
Diferenças entre a prescrição e a caducidade
Ambas acarretam a extinção de direitos quando estes não são exercidos durante certo tempo.
Segundo o critério tradicional clássico, a prescrição aplica-se aos direitos subjetivos propriamente
ditos enquanto a caducidade visará os direitos potestativos.
A nossa lei seguiu, porém, um critério formal, afirmando que quando um direito deva ser exercido
durante certo prazo se aplicam as regras da caducidade, salvo se a lei se referir expressamente à
prescrição (art.298º/2 CC).

CADUCIDADE PRESCRIÇÃO
1. Admitem-se estipulações convencionais 1. Regime inderrogável- art. 300º
sobre a caducidade -art. 330º 2. Tem de ser invocada, não podendo o
2. Apreciada oficiosamente pelo tribunal - tribunal supri-la de ofício – art.303º
art.333º 3. Suspende-se e interrompe-se nos casos
3. Em princípio, não comporta causas de previstos na lei (art. 318º e ss e 323º e
suspensão nem de interrupção (art.328º) ss)
4. Só é impedida, em princípio, pela 4. Interrompe-se pela citação ou
prática do ato (art.331) notificação judicial de qualquer ato que
exprima a intenção de exercer o direito,
tendo-se por interrompida, 5 dias depois
de requerida a citação/notificação –
art.323º
RAZÕES DESTAS DIFERENÇAS
- Na caducidade só o aspeto objetivo da certeza A prescrição extintiva é um instituto endereçado
e segurança é tomado em conta e, por isso, é fundamentalmente à realização de objetivos de
que esta é apreciada oficiosamente no tribunal conveniência ou oportunidade.
- A prescrição arranca também da ponderação
de uma inercia negligente do titular do direito
em exercitá-lo
NOTAS:
 Prazo ordinário de prescrição – 20 anos (art. 309º CC), prevendo a lei para certas hipóteses
uma prescrição de 5 anos (art.310º).

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 Prescrições presuntivas (as que se fundam na presunção de cumprimento- art. 312º) - prazo
de 6 meses (art. 316º) ou de 2 anos (art.317º)

TÍTULO I- NEGÓCIO JURÍDICO


1. CONCEITO
Os negócios jurídicos são atos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de vontade,
dirigidas à realização de certos efeitos práticos com intenção de os alcançar sobre a tutela do direito,
determinando o ordenamento jurídico a produção dos efeitos jurídicos conformes à intenção
manifestada pelo declarante.
O que constitui o negócio é o comportamento declarativo, ou seja, um comportamento que apareça
como manifestação de uma vontade de certos efeitos práticos.
Importância do negócio jurídico: instrumento principal da realização do principio da autonomia da
vontade/autonomia privada.

2. RELAÇÃO ENTRE A VONTADE EXTERIORIZADA NA DECLARAÇÃO NEGOCIAL E OS EFEITOS DO


NEGÓCIO
Existem várias teorias acerca desta relação.
Teoria dos efeitos jurídicos: para esta doutrina os efeitos jurídicos produzidos, tais como a lei os
determina, são perfeitas e completamente correspondentes ao conteúdo da vontade das partes.
A ser esta doutrina correta, só os juristas completamente informados sobre o ordenamento poderiam
celebrar negócios jurídicos. A verdade é que a parte dos negócios não tem uma representação
completa de todos os efeitos que o ordenamento atribui às suas declarações de vontade.
Teoria dos efeitos práticos: Para esta doutrina, a teoria anterior não é realista. Para estes autores, as
partes manifestam apenas uma vontade de efeitos práticos, normalmente económicos ou sociais, sem
caráter ilícito. A estes efeitos práticos manifestados, faria a lei corresponder os efeitos jurídicos
concordantes.
Esta conceção também não é aceitável.
Teoria dos efeitos prático-jurídicos: Os autores dos negócios jurídicos visam certos resultados
práticos ou materiais e querem realizá-los por via jurídica. Tem também uma vontade de efeitos
jurídicos.
A vontade dirigida a efeitos práticos não é única nem decisiva (decisiva para existir um negócio é a
vontade dos efeitos práticos serem vinculativos, a vontade de se gerarem efeitos jurídicos, etc)

DISTINÇÕES ENTRE NJ e

 Negócios de pura obsequiosidade: promessas ou combinações da vida social às quais é estranho


o intuito de criar, modificar ou extinguir um vínculo jurídico (ex: convite para um passeio).

 Meros acordos/agréments: são combinações sobre matéria que é normalmente objeto de NJ mas
que, excecionalmente, estão desprovidas de intenção de efeitos jurídicos (ex: empréstimo de
honra)
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3. ELEMENTOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Há uma tradicional repartição dos elementos dos NJ: elementos essenciais, elementos naturais e
elementos acidentais
3.1. Elementos essenciais
Os elementos essenciais de um NJ deveriam ser as realidades sem as quais o negócio não chegaria
sequer a existência material.
A sistematização tradicional considera elementos essenciais de todo e qualquer negócio jurídico os
requisitos ou condições gerais de validade de qualquer negócio. São eles:
 Capacidade das partes (legitimidade);
 Declaração de vontade;
 Idoneidade do objeto.
NOTA: Pode falar-se dos elementos essenciais de cada negócio típico (venda, locação, mútuo, etc.).
Neste caso, trata-se de cláusulas/características próprias que distinguem um certo tipo negocial dos
restantes tipos.
3.2. Elementos Naturais
Os elementos naturais são os efeitos negociais derivados de disposições legais supletivas. Não é
necessário que as partes configurem qualquer cláusula para a produção destes efeitos, podendo,
todavia, ser excluídos por estipulação propositadamente formulada.
3.3. Elementos Acidentais
Estes elementos correspondem as clausulas acessórias dos NJ. Trata-se de estipulações que não
caraterizam o tipo negocial em abstrato, mas se tornam imprescindíveis para que o negócio concreto
produza os efeitos a que elas tendem.
4. Classificações dos Negócios Jurídicos (pag.27 sebenta)

SUBTÍTULO I- ELEMENTOS ESSECIAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO


São pressupostos gerais de validade dos NJ a capacidade e a legitimidade.

Capacidade: traduz-se no modo de ser ou qualidade do sujeito em si.


No domínio dos NJ fala-se em
 Capacidade negocial de gozo: suscetibilidade de ser titular de direitos e obrigações
derivados de NJ.
Incapacidade negocial de gozo: representa um absoluto impedimento da titularidade de
tais relações (insuprível)

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 Capacidade negocial de exercício: idoneidade para atuar juridicamente, exercendo ou
adquirindo direitos, cumprindo ou assumindo obrigações, por atividade própria ou através de
um representante voluntário.
Incapacidade negocial de exercício: impedimento/proibição não absoluta da realização de
negócios e, como tal, é suprível pelos institutos da representação ou assistência.

Legitimidade: é uma relação entre o sujeito e o conteúdo do ato (a relação jurídica que está em
jogo no negócio).
Ilegitimidade: falta dessa relação de tal modo que o sujeito não pode com a sua vontade afetar esse
direito ou obrigação.

SUBTÍTULO II- A DECLARAÇÃO NEGOCIAL

1. CONCEITO
O CC regula a declaração negocial nos arts. 217º e ss.
Capacidade gozo e de exercício e legitimidade requisito de validade  Anulabilidade
Idoneidade do objeto negocial- requisito de validade  Nulidade do negócio
Pelo contrário, a declaração negocial é um elemento verdadeiramente integrante do NJ, conduzindo
a sua falta à inexistência material do negócio.
Declaração negocial de vontade
Comportamento que, exteriormente observado, cria a aparência de exteriorização de um certo
conteúdo de vontade negocial, caraterizando, depois, a vontade negocial com a intenção de
realizar certos efeitos práticos, com animo de que sejam juridicamente tutelados e vinculantes.
-Comportamento declarativo
 Apesto subjetivista: vontade manifestada
 Aspeto objetivista: comportamento objetivo, aparência de vontade, etc.
O comportamento externo em que se traduz a declaração, manifesta normalmente uma vontade,
formada sem anomalias e coincidente com o sentido exteriormente captado daquele comportamento.
A declaração pretende ser o instrumento de exteriorização da vontade psicológica do declarante.
Atos jurídicos de natureza não negocial – art.295º

2. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS NORMAIS DA DECLARAÇÃO NEGOCIAL


Numa declaração negocial podem distinguir-se 2 momentos:
(1) A declaração propriamente dita (elemento externo) - consiste no comportamento declarativo
(2) A vontade (elemento interno) – consiste no querer, a vontade que existirá e coincidirá com o sentido
objetivo da declaração
(2) O elemento interno (vontade real) pode decompor-se em 3 elementos:

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- A vontade da ação: consiste na voluntariedade (consciência e intenção) do comportamento declarativo. Mas
pode faltar a vontade da ação (ato de reflexo-aceitação de uma proposta).
- A vontade da declaração/vontade da relevância da ação: consiste em o declarante atribuir ao
comportamento querido o significado de uma declaração negocial

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