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Sistema Administrativo

Por Sistema Administrativo entende-se um modo jurídico típico de organização,


funcionamento e controlo da Administração Pública.
Existem três tipos de sistemas administrativos: o sistema tradicional; o sistema tipo britânico
(ou de administração judiciária) e o sistema tipo francês (ou de administração executiva).

Sistema administrativo tradicional


Este sistema assentava nas seguintes características:
a)      Indiferenciação das funções administrativas e jurisdicionais e, consequentemente,
inexistência de uma separação rigorosa entre os órgãos do poder executivo e do poder
judicial;
b)      Não subordinação da Administração Pública ao princípio da legalidade e
consequentemente, insuficiência do sistema de garantias jurídicas dos particulares face
à administração.
O advento do Estado de Direito, com a Revolução Francesa, modificou esta situação: a
Administração Pública passou a estar vinculada a normas obrigatórias, subordinadas ao
Direito. Isto foi uma consequência simultânea do princípio da separação de poderes e da
concepção da lei geral, abstracta e de origem parlamentar – como reflexo da vontade geral.
Em resultado desta modificação, a actividade administrativa pública, passou a revestir
carácter jurídico, estando submetida a controlo judicial, assumindo os particulares a posição
de cidadãos, titulares de direitos em face dela.

Administrativo de tipo Britânico ou de Administração Judiciária

Aspectos fundamentais do Direito Anglo-saxónico em geral:

 Lenta formação ao longo dos séculos;


 Papel destacado do costume como fonte de direito;
 Distinção entre common law e equity;
 Função primordial dos tribunais;
 Vinculação à regra do precedente;
 Grande independência dos juízes e forte prestígio do poder judicial.
Características do sistema administrativo de tipo britânico:

a) Separação de Poderes: O Rei foi impedido de resolver questões de natureza


contenciosa e foi proibido de dar ordens aos juízes, transferi-los ou demiti-los.

b) Estado de Direito: Os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos foram


consagrados “ Bill of Rights” (1689). O Rei ficou subordinado ao Direito consuetudinário,
resultante de costumes sancionados pelos tribunais. O “ Bill of Rights” determinou que o
direito comum seria aplicável a todos os ingleses sem excepção.

c) Sujeição da administração aos Tribunais Comuns: os litígios que surjam entre as


entidades administrativas e os particulares não são, em regra, da competência de quaisquer
tribunais especiais, entram na jurisdição normal dos tribunais comuns. São dadas soluções
iguais aos problemas da Administração Pública aos problemas da vida privada.

d) Subordinação da Administração ao Direito Comum: Todos os órgãos e agentes da


Administração Publica, estão submetidos ao direito comum, o que significa que por via de
regra não dispõem de privilégios ou de prerrogativas de autoridade pública. O rei, os outros
órgãos da Administração Central e os municípios estão todos, como os particulares,
subordinados ao direito comum.

e) Execução judicial das decisões administrativas: no sistema administrativo de tipo britânico


a Administração Publica não pode executar as suas decisões por autoridade própria. Se um
órgão da Administração toma uma decisão desfavorável a um particular e se o particular não
acata voluntariamente, esse órgão não poderá por si só empregar meios coercivos para impor
o respeito da sua decisão: terá de ir ao tribunal (comum). As decisões unilaterais da
Administração não têm força executória própria, não podendo por isso ser impostas pela
coacção sem prévia intervenção do poder judicial.

f) Garantias jurídicas dos Particulares: os cidadãos dispõem de um sistema de


garantias contra as ilegalidades e abusos da Administração Publica. O particular cujos
direitos tenham sido violados pode recorrer a um tribunal superior (King`s Bench),
solicitando um «mandado» ou uma «ardem» do tribunal à autoridade para que faça ou deixe
de fazer alguma coisa. Os tribunais comuns gozam de plena jurisdição: Papel Preponderante
exercido pelos Tribunais.

Sistema Administrativo de tipo Francês ou de Administração Executiva


Traços essências do direito romano-germanico em geral:

 Escassa relevância do costume;


 Sujeição a reformas globais impostas pelo legislador em dados momentos;
 Papel primordial da lei como fonte de direito;
 Distinção básica entre o direito público e o direito privado;
 Função de importância muito variável dos tribunais na aplicação do direito legislado;
 Maior influência da doutrina jurídica do que da jurisprudência.
 Mais prestígio do poder executivo do que do poder judicial.
 Características do sistema administrativo de tipo Francês

a) Separação dos poderes: Com a Revolução Francesa foi proclamado em 1789, o


princípio da separação de poderes. A administração ficou separada da justiça – poder
executivo para um lado, poder judicial para o outro.

b) Estado de direito: Enunciaram-se os direitos subjectivos públicos invocáveis pelo


indivíduo contra o Estado: é de 1789 a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”,
cujo artigo 16º, exige um sistema de “garantia dos direitos”.

c) Sujeição da Administração aos tribunais administrativos: Depois da revolução,


continuando os tribunais comuns nas mãos da antiga nobreza, esses tribunais foram focos de
resistência à implantação do novo regime, das novas ideias, da nova ordem económica e
social. O poder politico teve de tomar providências para impedir intromissões do poder
judicial. Surge, assim, uma interpretação do princípio da separação de poderes diferente da
que prevalecia em Inglaterra:

 O poder executivo não podia intrometer-se nos assuntos da competência dos tribunais
e o poder judicial também não poderia interferir no funcionamento da Administração
Pública.
 A lei proíbe aos juízes que conheçam de litígios contra as autoridades administrativas
e em 1799 são criados os tribunais administrativos, que não eram verdadeiros
tribunais, mas órgãos da administração, independentes e imparciais – incumbidos de
fiscalizar a legalidade dos actos da Administração e de julgar o contencioso dos seus
contractos e da sua responsabilidade civil.
d) Subordinação da Administração ao direito administrativo: Os órgãos e agentes
administrativos pela sua força, eficácia e capacidade de intervenção, não estão na mesma
posição que os particulares; exercem funções de interesse público e utilidade geral e
devem por isso dispor quer de poderes de autoridade, que lhes permitam impor as suas
decisões aos particulares, quer de privilégios ou imunidades pessoais, que os coloquem ao
abrigo de perseguições ou más vontades vindas dos interesses feridos.

e) O privilégio da execução prévia ou auto-tutela: O direito administrativo confere,


pois, à Administração Pública um conjunto de poderes exorbitantes sobre os cidadãos que
permite à Administração executar as suas decisões por autoridade própria. Quando um órgão
da Administração francesa toma uma decisão desfavorável a um particular e se ele não a
acata voluntariamente, esse órgão pode por si só empregar meios coactivos, inclusive a
polícia, para impor o respeito pela sua decisão e pode fazê-lo sem ter de recorrer a tribunal
para o efeito.

f) Garantias jurídicas dos particulares: O sistema administrativo francês, concede aos


particulares um conjunto de garantias jurídicas contra os abusos e ilegalidades da
Administração Pública. Essas garantias são efectivadas através dos tribunais administrativos,
e não por intermédio dos tribunais comuns. Se os tribunais são independentes perante a
Administração, esta também é independente perante aqueles. E por isso são as autoridades
administrativas que decidem como e quando há-de executar as sentenças que hajam anulado
actos seus.

As garantias jurídicas dos particulares face à Administração são aqui menores do que
no sistema britânico, só aos poucos se foi reforçando a posição dos particulares perante os
poderes públicos.

O sistema francês vigora hoje em dia em quase todos os países da Europa ocidental,
como no nosso ordenamento jurídico desde a aprovação da Reforma Administrativa
Ultramarina (1856-1932).

Confronto entre os sistemas de tipo britânico e de tipo francês


Têm, vários traços específicos que os distinguem nitidamente:
Quanto à organização administrativa,  um é um sistema descentralizado. O outro é
centralizado;
Quanto ao controlo jurisdicional da administração,  o primeiro entrega-o aos
Tribunais Comuns, o segundo aos Tribunais Administrativos. Em Inglaterra há pois, unidade
de jurisdição, em França existe dualidade de Jurisdições;
Quanto ao direito regulador da administração,  o sistema de tipo Britânico é o
Direito Comum, que basicamente é Direito Privado, mas no sistema tipo Francês é o Direito
Administrativo que é Direito Público;
Quanto à execução das decisões administrativas,  o sistema de administração
judiciária fá-la depender da sentença do Tribunal, ao passo que o sistema de administração
executiva atribui autoridade própria a essas decisões e dispensa a intervenção prévia de
qualquer Tribunal;
Enfim, quanto às garantias jurídicas dos administrados,  a Inglaterra confere aos
Tribunais Comuns amplos poderes de injunção face à Administração, que lhes fica
subordinada como a generalidade dos cidadãos, enquanto França só permite aos Tribunais
Administrativos que anulem as decisões ilegais das autoridades ou as condenem ao
pagamento de indemnizações, ficando a Administração independente do poder judicial.

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