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Ciência Política 1° Ano Curso de Direito

1. Teoria Geral do Estado

1.1. Noção de Teoria Geral do Estado

Teoria Geral do Estado é a ciência que investiga e expõe os princípios fundamentais da sociedade
política denominada Estado, sua origem, estrutura, formas, funções, finalidade e evolução.

Aristóteles (IV a. C) em sua obra denominada “a Política” já escrevia sobre o Estado, começando pela
organização política de Atenas e Esparta, os órgãos de governo dessas cidades, chegando a uma
classificação de todas as formas de governos então existentes, podendo ser considerado o fundador da
ciência do Estado.

Já Platão (IV a. C) escreveu a obra denominada “a República”. No entanto, enquanto Aristóteles estudou
o Estado real, tal como existia na época, procurando descobrir os princípios que o regiam, Platão
descreveu o Estado ideal, tal como devia ser, de acordo com sua própria concepção do homem e do
mundo.

Cícero (II a. C) faz uma análise jurídica e moral do Estado romano, do que ele era e do que deveria ser.

No século XVI Maquiavel escreveu “o Príncipe”, lançando os fundamentos da política, como a arte de
atingir, exercer e conservar o poder.

O Estado configura-se como o objecto da Teoria Geral do Estado. A Teoria Geral do Estado é o estudo
do Estado, sua origem, organização, estrutura, funcionamento, finalidades e evolução.

1. 2. Noção de Estado

Todo o cidadão do mundo moderno é súbdito de um estado. É legalmente obrigado a obedecer às regras
desse Estado e a sua conduta é estabelecida por normas impostas pelo Estado.

A denominação de Estado tem a sua origem no latim “status” (estar firme) que significa situação
permanente de convivência e está ligada à sociedade política. Aparece pela primeira vez em “o príncipe,
escrito por Nicolau Maquiavel em 1513.
Docente: Emílio Silvestre Langa
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Os funcionalistas definem o Estado como sendo o conjunto de órgãos que, numa sociedade, aparecem
a exercer o poder político. Esta definição atribui às funções dos órgãos de soberania a verdadeira
essência do Estado. Tomando em consideração a perspectiva desta definição corre-se o risco de
considerar parte do Estado ( o governo) como o próprio Estado. O facto de o governo falar em nome do
Estado e estar oficialmente investido do poder do Estado não quer dizer que controle efectivamente esse
poder.

Já os estruturalistas definem o Estado como uma instituição social equipada e destinada a manter a
organização política de um povo interna e externamente.

O critério estruturalista foi usado pelos marxistas para definirem o Estado como uma instituição
comunitária onde existe uma diferenciação entre fortes e fracos (exploradores e explorados) de
modo que os primeiros mandam e os outros obedecem. Desta forma o Estado destina-se a preservar a
exploração dos pobres pelos ricos. Corpo do Estado: Base do Estado: População (Povo)

Estado como Pirâmide do Poder

Direcção do Estado:
Chefe do Estado,
Parlamento e
Governo

Corpo do Estado: Órgãos


administrativos, Tribunais
e Aparelho Militar

Base do Estado: População (Povo)

Como se pode observar nesta figura, no vértice da pirâmide do poder encontra-se 1º, a direcção do
Estado. É ao nível da direcção do Estado que são tomadas as decisões políticas fundamentais em forma
de leis. Em seguida, mais abaixo encontramos o corpo do Estado constituído pelos órgãos
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administrativos que executam as decisões políticas, pelos tribunais que decidem sobre a observância
da lei e pelo aparelho militar que zela pela manutenção da ordem interna e assegura a defesa externa
do território e da população. Por fim, Já na base da pirâmide encontra-se a base do Estado constituída
pela população do estado, ou melhor, o povo do estado.

A Direção do Estado e o corpo do Estado formam o aparelho do poder, que se estende a determinado
território e à sua população, a qual aparece neste modelo como mero objecto do poder estatal.

1.3. Elementos Constitutivos do Estado

Os critérios funcionalista e estruturalista de definição do Estado deram origem a teoria dos três elementos
constitutivos do Estado: território, população e aparelho do poder. O Estado será pois a organização
político-jurídica de uma sociedade dispondo de órgãos próprios que exercem o poder sobre um
determinado território.

a) A população: Povo e Nação

O povo é o primeiro elemento do Estado. Não há Estado sem população mas nem todos os habitantes de
um território sob o controle soberano constituem elemento humano do Estado. Só os nacionais fazem
parte deste elemento. Assim, o povo de um Estado é o conjunto dos indivíduos que se constitui em
sociedade política, para a prossecução de interesses comuns, e se rege por leis próprias sob a
direcção de um mesmo poder soberano. O vínculo que liga os indivíduos ao Estado chama-se
nacionalidade.

Os termos nacional e nacionalidade evocam o conceito de nação. Em ciência política a nação apresenta-
se como um grupo com qualidades e atributos próprios, uma fisionomia moral peculiar diferente das
demais nações. Costumes, tradições, hábitos, ideias, sentimentos formam o conjunto psicológico que
caracteriza a nação e que se encontra nos próprios indivíduos que a compõe, apesar das possíveis
diferenças de pessoa para pessoa.

As relações entre Estado e Nação podem ser dos seguintes tipos:

 Nação sem Estado,


 Nação repartida por vários Estados,
 Estado sem Nação,
 Estado correspondente a varias nações e
 Estado e nação coincidentes.

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b) O território

Toda a colectividade que se constitui em Estado está fixada num determinado território. A população
tem no território um património colectivo e não a propriedade dos chefes. Só com território é que um
povo pode sonhar em ter um Estado. O território é um elemento tão imprescindível do Estado que a
história está cheia de exemplos de lutas sangrentas para conquista e alargamento de territórios.

Portanto, O território de um Estado é o espaço no qual os órgãos do Estado têm a faculdade de


impor a sua autoridade. Esse espaço é formado pelo solo delimitado pelas fronteiras terrestres, pelo
subsolo em toda a profundidade, pelo espaço aéreo e pelas águas territoriais (quando o Estado é banhado
pelo mar).

Teoricamente, o território dos Estados está delimitado por fronteiras físicas ou convencionais. No mundo
actual, Estados mais poderosos como os EUA ampliam o espaço geográfico sob a sua jurisdição: o alto
mar, o espaço cósmico e através de bases militar em territórios de outros estados.

c) O Aparelho do Poder

O povo e o território não são elementos suficientes para a definição do Estado. O Estado só nasce quando
nesse povo fixado num território por acrescentado um poder político capaz de impor regras de conduta
social e dotado de autoridade para se fazer obedecer.

Muitos autores identificam o governo como o terceiro elemento do Estado mas é preciso ver que o
governo é apenas um órgão do aparelho do poder que há casos em que não funciona ou praticamente
não existe mas o Estado não deixa de existir. Outros preferem atribuir ao poder político a qualidade de
elemento de Estado mas o poder político é apenas uma faculdade de definir as normas de conduta e de
as fazer respeitar pelos membros da comunidade política que não pode ser exercida pelo vazio.

Desta forma, não é o governo nem o poder político separadamente que são o terceiro elemento do Estado
mas sim o aparelho do poder . O conjunto dos órgãos do estado que exercem o poder político ( o chefe
de Estado, as assembleias parlamentares, o governo, a administração, os tribunais, as forças
armadas e a policia).

Nem todos os órgãos acima referidos são considerados órgãos de soberania. Por isso, não se pode
confundir o poder político com a soberania ou o poder soberano.

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Jean Bodin definiu a soberania como um poder que não tem igual na ordem interna nem superior
na ordem externa. O poder soberano é assim um poder supremo e independente que não está
subordinado a nenhum outro quer a nível interno quer a nível externo.

2.O Poder do Estado

Elemento essencial constitutivo do Estado, o poder assegura a existência de uma comunidade


humana num determinado território, conservando-a unida, coesa e solidária.

Segundo Stephen Lukes existem “três faces ou dimensões de poder": O poder como influência nos
principais assuntos, o poder como controle de agenda e o poder como manipulação.

2.1.Poder como influência nos principais assuntos:

É a capacidade de uma pessoa mudar a forma como os outros se comportam como resultado do poder
que está sendo exercido.

No poder do Estado, isso pode ser visto quando o governo toma uma decisão através de leis. As
decisões são facilmente reconhecidas e menos contestadas.

2.2.O Poder como controle de agenda

O poder não é apenas tomar decisões, mas é também definir a agenda que leva à decisões.

No poder do Estado isso pode ser visto nas decisões tomadas "a portas fechadas" e nos "corredores
do poder“.

O poder é realizado não só por funcionários eleitos, mas também pelos sussurros (murmúrios) e
assistentes que estabelecem reuniões, organizam as agendas e escrevem as actas.

2.3.O poder como manipulação

O poder como manipulação é a capacidade de controlar o que as pessoas consideram como "corretas"
pode levar à aceitação de decisões tendenciosas sem dúvida.

No poder do Estado, aparece na propaganda, na rotação e na elaboração de discursos que são


deliberadamente projectados para mudar as mentes antes da decisão ser anunciada. Pode ser vista
como uma face do poder enganadora onde truques e métodos psicológicos são a principal
ferramenta na mudança de valores e na mudança do que as pessoas consideram importante.

2.4.Características do poder do Estado

O poder do Estado reveste-se de características: O poder do Estado é imperativo e integrador,


o poder do Estado tem capacidade de auto-organização, o poder do Estado não é divisível, o
poder de Estado é soberano

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a)Imperatividade e natureza integrativa do poder estatal

Todos nos nascemos num Estado e não existe vida fora do Estado. As demais associações como
religiosas por exemplo estão sempre abertos para entrada e saída dos membros.

O Estado possui o monopólio da coacção organizada e incondicionada

O governo que exerce o poder estatal através de leis que obrigam, não porque sejam “boas,
justas ou sábias”, mas simplesmente porque são leis obrigatórias.

b)A capacidade de auto-organização

O poder de Estado tem a capacidade de elaborar ou modificar, por direito próprio e originário,
uma ordem constitucional. Pode ser entrada numa federação ou divisão de um Estado.

c)A unidade e indivisibilidade do poder

O Estado é o único a exercer este poder e não divide com ninguém este poder.

É preciso distinguir a titularidade do poder do Estado do exercício desse mesmo poder. A


titularidade do poder estatal pertence ao povo; o seu exercício, porém, pertence aos órgãos
através dos quais o poder se concretiza: o Parlamento, o Ministério, o chefe de Estado, etc.

O poder do Estado na pessoa de seu titular é indivisível: a divisão só se faz quanto ao exercício
do poder, quanto às formas básicas de actividade estatal: poder legislativo, poder executivo e
o poder judicial.

3. Categoria de Estados Modernos


Tomando em consideração a soberania dos Estados podemos classifica-los em três categorias.
São a categoria de estados soberanos, a categoria de estados não Soberanos e a categoria de
estados semi-soberanos

3.1.Estados soberanos

São estados que detém um poder sem igual na ordem externa: Estados federais e Estados unitários.

Estados Federais – é a união de Estados num Estado central que se rege por normas constitucionais
comuns a todos os membros. A principal diferença com o Estado unitário é que no estado unitário
não há Estados membros.

Os Estados soberanos caracterizam-se por desfrutarem de um poder supremo na ordem interna e de um


poder independente na ordem externa. No interior do seu território não admitem que nenhum outro poder

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se sobreponha ao seu. Na comunidade internacional todos os Estados gozam dos mesmos direitos: direito
de fazer a guerra, direito de legação, direito de celebrar tratados internacionais, direito de reclamação
internacional.

3.1.2. Estados não Soberanos (Estados Federados)

Existem Estados que não disfrutam dos direitos/ prerrogativas dos estados soberanos. Uns não desfrutam
de nenhuma das prerrogativas tanto a nível interno como a nível externo. São os Estados não soberanos
– os Estados federados. Os Estados federados estão dependentes da colectividade federal. Compete aos
órgãos federais definir os objectivos sociais e políticos de toda a federação e a nível externo representam
toda a federação. Não são os Estados federados que são soberanos mas sim a federação. Ex EUA.

3.1.2. Estados semi-oberanos (estados protegidos e estados exíguos)

Há Estados que gozam de algumas prerrogativas externamente mas não gozam a nível interno – são os
estados semi-soberanos (os estados protegidos e os estados neutralizados).

a) Estados Protegidos

O protectorado ou Estado protegido resultam de um tratado em que um Estado soberano (protector)


assume a obrigação de proteger um outro Estado e em contrapartida dirige as relações internacionais do
protectorado e até certo ponto dirige mesmo ao nível interno.

É um Estado semi – soberano porque não tem a obrigação de respeitar a constituição do Estado protector
mas deve respeitar apenas o tratado.

Hoje esta forma de Estado transformou-se num tipo de Estado designado de Estado cliente; um Estado
que tem todas as prerrogativas internas e externas mas é dependente económica ou militarmente
sobretudo na esfera internacional.

b)Estados Exíguos

São comunidades politicas que , pela sua reduzida extensão territorial e escassa população, não estão em
condições de exercer plenamente a soberania. Ex: o principado San Marino, Principado de Andora. Eles
tem as prerrogativas internacionais mas não as exerce apenas exercem as prerrogativas internas.
Portanto, são Estados semi – soberanos.

c) Estados Neutralizados

São estados que por vontade própria e de acordo com as potências internacionais decide não se
intrometer em assuntos internacionais. Eles até podem ter relações económicas com Estados
beligerantes. Ex: Suiça.

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4.Os Órgãos do Corpo do Estado e os Processos de Seleção dos


Governantes
4.1. O Aparelho Administrativo

Tradicionalmente e de acordo com a teoria liberal-democratica há uma distinção entre o executivo


politico e a administração (separação de poderes).Actualmente, alguns governantes desempenham
funções políticas e funções administrativas. Na verdade, há medida que o aparelho burocrático do Estado
cresceu, a separação clássica entre o governo e a administração tende a desaparecer.

As funções administrativas do Estado aumentaram significativamente e o aparelho administrativo


ganhou cada vez mais importância. A importância crescente da burocracia administrativa e o seu caracter
de permanência e continuidade permite que se torne numa forca estabilizadora e conservadora do sistema
politico. Os funcionários públicos ou agentes administrativos encarregues de zelar pela execução das
decisões governamentais ou da justiça podem ser recrutados através de um destes regimes:

• Regime de cargos hereditários: os funcionários são recrutados por herança

• Regime de recrutamento arbitrário pelos dirigentes: Obedece critérios partidários. A


mudança de presidente ou do governador implica a renovação da equipa administrativa.

• Regime de estatuto: O recrutamento obedece a requisitos de qualificação académica ou


técnica.

 Os agentes do aparelho administrativo do estado estão sujeitos a diversos tipos de controle: o


controle pela própria administração, o controle financeiro, o controle jurisdicional e o
controle politico.

4.2.Aparelho militar

Para assegurar a segurança interna dos cidadãos e preservar os limites das fronteiras físicas, isto é, para
a sua autoconservação, os Estados precisam criar e manter um aparelho militar.

O aparelho militar está ligado a prossecução do interesse nacional e as virtudes militares (honra,
coragem, disciplina, etc).

A participação dos militares na governação não é bem vista e é considerada típica de países com
instituições fracas ou com cultura política militarista.

A imagem de um aparelho militar dedicado ao interesse nacional que exime-se de se imiscuir na


governação é falsa.

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Os militares intervêm diretamente nos governos dos países menos desenvolvidos através de
pronunciamentos e golpes de estado.

Nos países desenvolvidos os militares intervêm indiretamente.

O crescimento das despesas militares e o desenvolvimento da tecnologia militar são factores que
influenciam a governação e revelam a importância do aparelho militar.

4.3.Os Tribunais

São órgãos de soberania juntamente com o chefe de Estado, o parlamento e o governo.

Os tribunais tem a função de administrar a justiça de forma isenta sem se imiscuir no processo de
governação.

Na verdade, os tribunais não se limitam a ser a voz da lei mas tem uma influência no próprio processo
politico e desempenham um papel importante na manutenção do sistema politico e na conservação da
ordem existentes.

A designação de juízes obedece uma das seguintes modalidades: nomeação pelos governantes, eleição
pelos parlamentos e cooptação pelos próprios juízes.

4.4.O Processo de selecção dos governantes

Um dos problemas fundamentais da Ciência politica é saber qual a melhor maneira de seleccionar os
governantes.

A selecção dos governantes diz respeito a estabilidade social e à eficiência do poder politico.

Desta forma é preciso encontrar uma maneira que garanta que os governantes sejam aceites pelos
governados.

A selecção dos governantes é feita por via pacifica e não através de meios violentos: revolta, rebelião,
insurreição, pronunciamento, golpe de Estado ou revolução

4.5.Formas de selecção dos governantes

Herança: Consiste na transmissão hereditária das funções inerentes a certos Cargos públicos. Ocorre
principalmente nas monarquias e aristocracias.

Inerrância: Consiste em atribuir legalmente a qualidade de titular de um órgão governativo ao titular


do cargo público ou privado. Ex: em Moçambique, o presidente da republica é , por inerência de funções,
o comandante em chefe das FDS

Cooptação: é o processo pelo qual os titulares de um órgão escolhem outros titulares do mesmo órgão.

Nomeação: Designação do titular de um órgão pelo titular de um outro órgão

Eleição : Consiste na escolha dos governantes através de votos de uma pluralidade de pessoas.

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