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A POLITÉCNICA
GUIA DE ESTUDO
Direito Constitucional II
Curso de Ciências Jurídicas
(2º Semestre - NC)
Moçambique
FICHA TÉCNICA
Organização e Edição
Instituto Superior Aberto (ISA)
Elaboração (Conteúdo)
Mouzinho Patrício James Nicol’s
UNIDADES TEMÁTICAS
TEMAS PÁGINAS
46
APRESENTAÇÃO
Caro(a) estudante
Este guia tem por finalidade orientar os seus estudos individuais neste
semestre do curso. Ao estudar a disciplina de Direito Constitucional II, você
(i) irá compreender a estrutura das normas constitucionais; (ii) conhecer a
teoria da Constituição; (iii) conhecer a garantia constitucional; (iv) conhecer
os direitos fundamentais.
A Equipa da ESA
UNIDADE TEMÁTICA 1
Vamos iniciar o nosso estudo, na primeira unidade temática, dizendo que a
disciplina de Direito Constitucional II tem precedência com a de Direito
Constitucional I, que foi ministrada no semestre passado. Seja, só quem
aprovar na I terá o direito de frequentar a II. Para esta primeira parte o
nosso programa vai-se ocupar exclusivamente da estrutura das normas
constitucionais, que irá comportar diversos subtemas que se relacionam.
Elaborado pelo Mestre Mouzinho Nicol’s, adaptado de textos da Dra. Neusa de Matos e
o Mestre Pedro Sinai Nhatitima
Objectivos
É um direito sobre o político – dado que, entre outras coisas tem como
objecto as formas e procedimentos da formação da vontade e das
tomadas de decisões políticas)
É um direito do político por ser uma expressão normativa das forças
políticas e sociais
É um direito para o político porque estabelece medidas e fins ao
processo político.
A lei constitucional não regula tudo quanto dela deve ser objecto. Nem a lei
constitucional, o costume constitucional, a Declaração Universal, outras
regras de direito interno e direito internacional no seu conjunto se dotam de
Leituras Obrigatórias
Leituras Complementares
Actividades
Actividade 1
Leitura do texto
REFERÊNCIAS
UNIDADE TEMÁTICA 2
TEORIA DA CONSTITUIÇÃO
Objectivos
Constituição
Inicial porque não existe, antes dele, nem de facto nem de direito,
qualquer outro poder. É nele que se situa, por excelência, a vontade do
soberano (instancia jurídico-política dotada de autoridade suprema).
Hoje o poder constituinte não pode criar uma Constituição a partir do nada,
não inventa novos valores aos quais a Constituição terá de se ajustar.
Porem isso não quer dizer que o poder constituinte equivale a um poder
soberano absoluto e que pode dar à Constituição todo e qualquer conteúdo.
Características:
VICISSITUDES CONSTITUCIONAIS
Quanto ao alcance,
quanto às situações da
Vicissitudes de alcance concreto
vida e aos destinatários
ou excepcional (quando se têm em
das normas
vista situações concretas,
constitucionais postos
verificadas ou a verificar-se, e
em causa pelas
alguns dos destinatários possíveis
vicissitudes, podemos
abrangidos pelas normas)
distinguir: Derrogação Constitucional
Leituras Obrigatórias
Leituras Complementares
Actividades
Actividade 1
Leitura do texto
Leia as páginas 633-646, sobre a dinâmica do Direito Constitucional, com
destaque para o poder constituinte, as vicissitudes constitucionais e a
revisão constitucional do Manual de Direito Constitucional, de Jorge
Bacelar Gouveia (551-601).
REFERÊNCIAS
UNIDADE TEMÁTICA 3
Nesta unidade vai-se dar maior enfoque aos aspectos que dizem respeito
ao direito interno moçambicano. O que se pretende é fazer com que os
nossos tutorados tenham maior contacto com as nossas constituições. Por
isso, se recomenda a leitura da obra Evolução Constitucional da Pátria
Amada, por conter todas as constituições moçambicanas, do mesmo modo
se recomenda a leitura de toda a unidade.
GARANTIA DA CONSTITUIÇÃO
Elaborado pelo Mestre Mouzinho Nicols, adaptado de textos da Dra. Neusa de Matos e
o Mestre Pedro Sinai Nhatitima
Objectivos
1. A INCONSTITUCIONALIDADE E A GARANTIA DA
CONSTITUIÇÃO
O Professor Marcelo Caetano define a inconstitucionalidade como sendo o
vício das leis que provenham de órgão que a constituição não considere
competente 1 ou que não tenham sido elaboradas de acordo com o
processo 2 prescrito na Constituição ou contenham normas opostas 3 às
constitucionalmente consagradas.
preceituado no artigo 141 da CRM que estatui a forma de lei para os actos legislativos da AR.
AR aprova os impostos na forma de Decreto em violação do preceituado no artigo 50 da CR.
AR aprova a Lei dos Impostos e é publicada no jornal notícia ao invés do Boletim da República, em
violação do artigo 141 da CRM.
3 Assembleia da República aprova na forma de lei a pena de morte na República de Moçambique, em
AR aprova uma lei que apenas permite os homens de candidatarem –se a Presidência da República
em violação ao principio da igualdade consagrado no artigo 66 da CR.
4 Exemplo O Conselho de Ministros na forma de Decreto aprova um diploma legal que descrimine os
os órgãos jurisdicionais que eram dependentes do Monarca. Por este facto a burguesia representada
pelo Parlamento não admitia que entidades conotadas com o poder do Rei fiscalizar os seus actos,
preferindo que a lei inconstitucional lhe fosse devolvida para efeitos de reapreciação.
7 Artigo 181nº1 alínea a) da CRM de 1990 e na CRM de 2004 se prevê no artigo 244, nº 1 alínea a).
Ora para nós nos parece claro que as decisões dos tribunais não são
actos normativos muito menos actos legislativos.
Tal como estabelecia o artigo 162 nº3 da CRM de 1990 e no artigo 214
da CRM de 2004, em que se preconiza que as decisões dos tribunais
tem por objecto penalizar as violações da legalidade, e não normar ou
legislar, atribuições essas exclusivas do poder legislativo e executivo8.
8Artigos 131, 133, 135, 141, 153 e 157 da CRM de 1990, hoje incorporados nos artigos 158, 169, nº 1,
179, 182, 204 e 210, todos da CRM de 2004.
9 Exemplo a lei que atribui vantagens a igreja católica e não atribui as restantes confissões religiosas.
Esta lei é inconstitucional na parte onde não atribui direitos as restantes confissões religiosas por
omissão
10 Na Constituição moçambicana de 1990 ocorria ao abrigo do artigo 162 ao permitir que os tribunais
constantes do artigo 167, na apreciação de um caso concreto, podiam recusar-se a aplicar uma norma
com fundamento na sua inconstitucionalidade. O que se verifica hoje na conjugação dos artigos 214 e
223 da CRM de 2004.
11 Na ordem jurídica moçambicana ocorre quando as figuras previstas no artigo 183 da CRM de 1990,
Controlo abstracto 12
: O controlo abstracto significa que a
impugnação da constitucionalidade de uma lei é feita
independentemente de qualquer litígio concreto. O controlo abstracto
de normas não é um processo contraditório de partes; é sim um
processo que visa sobretudo a defesa da Constituição e da legalidade
democrática através da eliminação de actos normativos contrários à
Constituição.
12 Esta relacionado com o controlo concentrado e principal exercido pelo Conselho Constitucional ao
abrigo do artigo 180 n. º 1 alínea a) da CRM de 1990 e o artigo 244 da CRM de 2004.
13 Está associado ao controlo jurisdicional difuso e incidental que era exercido ao abrigo do artigo 162
Antes, o país viveu durante cerca de 500 anos, sob regime de colonização
portuguesa, que se fez sentir, essencialmente, na vida política, económica
e social dos moçambicanos.
Marbury havia sido nomeado, em 1801, nos termos da lei, para o cargo de
juiz da paz no Distrito de Columbia, pelo então Presidente da União John
Adams, que se encontrava nos últimos dias do seu mandato.
Ocorre, porém, que não houve tempo suficiente para que fosse dada a
posse ao já nomeado Marbury, antes que assumisse a presidência o
republicano Thomas Jeferson. Este, ao assumir o poder, determinou que o
seu Secretário de Estado, Madison, negasse posse a Marbury, que, por
sua vez, em virtude dessa ilegalidade, requereu ao Supremo Tribunal
Federal para que o Secretário de Estado Madison fosse obrigado a dar-lhe
posse.
24 De Moraes Alexandre, Jurisdição Constitucional e Tribunais Federais, Ed. São Paulo, Editora Atlas
S.A -2000; paginas 91 e seguintes.
25 Viera Óscar, Supremo Tribunal Federal, In Jurisprudência Política, Ed. Revista dos Tribunais, 1994 p
44
26 Lhorente Francisco, La Jurisdiccion Constitucional como Forma de Creacion de Derecho, In Revista
Espanola de Derecho Constitucional, Ed. Centro de Estúdios Constitucionales, Numero 22, 1988
28
Pereira Miguel, O Contributo da Função Jurisprudencial para a Integração Jurídico – Política dos EUA;
Ed., FDL Tese 1994/95 PP 19 e ss.
Se, ao dizer o direito, o juiz extravasar o caso concreto, esse exagero deve
ser visto com a finalidade de, em primeira linha, salvaguardar os interesses
particulares das partes envolvidas em conflito e, por outro lado, defender
as liberdades e direitos fundamentais protegidos pela Constituição no
âmbito da “Supremacy Clause”.
29 Neste sentido Pablo Tremps; Tribunal Constitucional y Poder Judicial; Ed. Centro de Estudos
Costitucionales, p. 6 e seguintes
Aos juízes, é incumbido julgar “sobre a base da lei” e não julgar a própria
lei; a não ser assim, diz Shimitt, estaríamos a entregar à “aristocracia de
toga” todo o poder político”. Para Shmitt, somente o Supremo Chefe da
Nação teria legitimidade para exercer a função de controlar a
constitucionalidade das leis.
30
Kelsen, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1985. P 288-290.
31 Neste sentido Cappelletti, Jorge Miranda que inserem a função criativa da justiça constitucional no
âmbito da defesa dos direitos fundamentais, como resultado da crescente interpretação e aplicação
efectiva dos instrumentos jurídicos internacionais, cujo escopo é a dignidade da pessoa humana,
sobretudo quando são chamados a dar um sentido aos conceitos vagos contidos em tais documentos.
33 Costa, José Manuel Moreira Cardoso da. A Jurisdição Constitucional em Portugal. Ed. Coimbra
Editora, 1992. P. 19
34 Neste sentido Nadais António, Vitorino António, Canas Vitalino, Lei sobre Organização,
Funcionamento e processo do tribunal constitucional. Lisboa: AAFDL, 1984
38 Neste sentido, Piçarra Nuno, A separação dos poderes como doutrina e princípio constitucional;
Coimbra Editora, 1989, p. 202 e seguintes
39 Nos termos do artigo 70.º da Lei Orgânica do Tribunal Constitucional não é admitido recurso para o
Tribunal Constitucional de decisões sujeitas a recurso ordinário obrigatório, nos termos da respectiva
lei processual. Se a decisão admitir recurso ordinário, a não interposição de recurso para o Tribunal
Constitucional não faz precludir o direito de interpo-lo de ulterior decisão que confirme a primeira.
Este modelo vai vigorar em quase todos os países europeus no Século XIX
e, depois nas Constituições de matriz marxista-leninista, onde as
assembleias nacionais, na qualidade de órgãos representativos supremos
do povo eram chamadas a decidir sobre a conformidade das leis com a
Constituição.
44 É o caso de Cuba (artigo 73 alínea d) da Constituição; e da antiga União Soviética (artigo 121 nº7) da
Constituição.
Para nós, não existe aqui fiscalização nenhuma mas sim, uma actividade
de controlo da conformidade das normas ordinárias com a lei fundamental,
pois não é de admitir que, qualquer que seja o órgão se fiscalize a si
próprio.
45 Neste sentido, Beatriz Segorbe e Cláudia Trabuco, O Conselho Constitucional Francês; Editora
Quarteto; 2002; página 25 e seguintes.
46 Três são escolhidos pelo Presidente da República, três pelo Presidente da Assembleia Nacional e
três pelo Presidente do Senado.
47 Artigo 7.º
48 Moraes de Alexandre; Jurisdição.ob.cit; paginas 144 e seguintes
50
Este fenómeno pode ser exemplificado pelo debate em volta da despenalização do aborto que
apesar de ser jurídica tem sempre repercussões políticas.
51 Este ponto concreto é contrariado por dois ex. Membros do Conselho Constitucional que entendem a
ausência do princípio do contraditório não é suficiente para afastar a sua natureza jurisdicional. Para
Waline e Luchaire o Conselho Constitucional é uma verdadeira jurisdição com poderes para determinar
e definir os termos em que a Constituição deve ser aplicada – sobre esta matéria tomam decisões
definitivas com carácter jurisprudencial e definitivo – é exemplo de uma jurisdição não contraditória.
52 Mauro Capelletti, obcit, p.30
53 Miranda Jorge, Ciência Política – Formas de Governo, Apontamentos das Lições do 1.º ano jurídico,
Lisboa, 1992.
Cada um dos órgãos de soberania exercia funções próprias mas com uma
subordinação ao «partido dirigente», recebendo deste as devidas
orientações e directivas políticas ideológicas. Neste sentido, os tribunais
apresentavam, anualmente, um relatório à Assembleia do Povo do escalão
respectivo, sobre o trabalho judicial realizado54.
55
Face à nova ordem política, social e económica e a revogação
automática de toda legislação contraria ao Estado revolucionário, indaga-
se em que medida a política de “escangalhamento” da estrutura jurídica e
judicial colonial, terá afectado o modelo de fiscalização da
constitucionalidade das normas constante da Constituição portuguesa de
1933 ou, “repescado” pelo Estado novo.
57 Decreto 2.066, de 27 de Junho de 1953, publicado no Boletim Oficial n.º 29, I Série, de 18 de Julho.
58 Boletim Oficial n.º 26, I Série, de 3 de Junho
59
Segundo Jorge Miranda, decorriam da não aplicação das normas
inconstitucionais algumas consequências práticas, a saber:
59 Miranda Jorge, Contributo para uma Teoria da Inconstitucionalidade, Coimbra Editora, 1996, pp. 254
e 255.
Quer nos parecer que essa actuação decorria do Direito Processual Civil,
sendo certo, porém que estes dois ramos de direito adjectivo não contêm
nenhuma referência expressa ao constitucionalismo processual.
pag.71.
63
Os idealistas da construção do Estado do tipo socialista tinham a convicção de que a
causa de todo o mal numa sociedade do tipo ocidental estava na sociedade do
antagonismo das classes sociais, devendo por esse facto serem suprimidas as classes
sociais, proibindo a apropriação privada dos bens de produção e, pondo estes bens à
disposição da colectividade, que os exploraria no interesse de todos.
Nessa altura, seria estabelecida uma sociedade fraternal, liberta das contradições
antagónicas da sociedade política do tipo ocidental, passando a vigorar uma sociedade do
tipo comunista dominada pela concórdia. Cada um trabalharia para a comunidade
segundo as suas possibilidades, e dela receberia em proporção das suas necessidades. Na
sociedade comunista toda a violência seria inútil: Estado e Direito se tornariam inúteis e
desapareceriam.
A passagem à nova sociedade, sem Estado nem Direito, representariam um novo salto
dialéctico, inverso ao primeiro que observamos na história da humanidade. O homem
seria de novo livre, senhor de si, orientando-se por meras regras morais, de costumes, etc.
A expressão da justiça residiria na observação do interesse geral.
Visando atingir o estágio primário da vivência social, numa primeira fase a lei, no sentido
lato do termo, seria a fonte ou o veículo principal da ideologia marxista-leninista
identificada com a vontade dos dirigentes ansiosos de rápidas transformações
revolucionárias.
A interpretação e aplicação da lei não teria propriamente por base a Constituição, pois
que, esta seria também mais um instrumento de materialização da vontade política
exprimida pelos dirigentes revolucionários de forma imperativa, residindo aí os princípios
da vinculação dos órgãos e actos do Estado e dos particulares. Qualquer interpretação da
lei deveria ser feita em conformidade com os ditames da doutrina marxista, enquanto guia
da actividade dos agentes do Estado, incluindo os juízes.
Sendo as leis escassas, o juiz devia procurar a solução do litígio nos princípios do marxismo
– leninismo.
64
V.d. o preâmbulo da Lei nº11/78, de 15 de Agosto, onde se diz: “A” Constituição, lei
fundamental da República popular de Moçambique, consagra as principais conquistas da
nossa revolução, ao mesmo tempo que define os objectivos a alcançar pelo povo
Moçambicano. Como programa que é, a Constituição deve acompanhar o avanço do
processo da edificação da nova sociedade. O povo moçambicano dirigido pela FRELIMO,
seu partido de vanguarda, é o agente principal de transformação da nossa sociedade na
construção da base material e ideológica para a passagem ao socialismo.
65
Se atentarmos ao preâmbulo da Lei da Organização Judiciária (Lei n.º 12/78, de 2 de Dezembro),
veremos que a vontade política de descontinuidade é evidente e inequívoca.
Nessa lei, estabelece o legislador de então que, abolir a injustiça inerente ao sistema colonial e
estabelecer a justiça que sirva os interesses e as aspirações das largas massas do Povo
moçambicano, foi sempre objectivo fundamental do combate libertador que, a quando do
desenvolvimento da guerra popular revolucionária de libertação nacional, várias estruturas de opressão
colonial como os administradores e os régulos, foram eliminadas, criando-se em sua substituição um
sistema de aplicação da justiça profundamente ligado ao modo de vida, às aspirações das massas e às
exigências da própria luta.
A aplicação da justiça baseava-se na linha política da FRELIMO e no estudo das tradições sociais
locais. O trabalho político junto das massas constituía o factor fundamental que, através da múltipla
diversidade dos costumes locais, abria caminho à unidade nacional, num esforço de uniformização das
medidas tomadas em todas regiões libertadas.
Diz ainda o legislador que, após a proclamação da independência, o avanço da revolução, com a
destruição do aparelho de Estado colonial-capitalista e a edificação do Estado Democrático Popular,
tornou-se necessário criar um sistema judiciário de tipo novo, formulando-se assim, regras e princípios
que regulavam a estrutura, composição e funcionamento dos tribunais, tidos como sendo o lugar da
forja onde o povo cria o direito novo que cada vez mais rechaça o direito velho da sociedade colonial
capitalista e feudal.
O mesmo espírito é, claramente visível em outros diplomas legais como o Decreto n.º 14/75, de 11 de
Setembro, que cria Comissões de Trabalho para solução das questões individuais de trabalho e das
resultantes de doenças profissionais e acidentes de trabalho, que, vê na legislação colonial como o
símbolo da opressão e exploração dos moçambicanos dai, a necessidade de serem instaladas
comissões de trabalho que iriam resolver os conflitos laborais de acordo com os ditames da revolução
socialista.
66 V.d. Guadagni, Marco, Introdução ao Direito Moçambicano, pag.78 – versão portuguesa de “IL Diritto
In Mozambique”, Trento, 1989; Monteiro, Óscar, colectânea de Lições de Direito Estatal Moçambicano,
leccionadas ao IIº ano Jurídico da Faculdade de Direito da U.E.M, no ano lectivo de 89/90, pag.56.
68 Artigos 43, 50, 53, 58, 60, 63, 64, 65 e seguintes da Constituição da República Popular de
Moçambique
69 A título exemplificativo vide os artigos 3.º da CRPM e 5.º dos Estatutos e Programa do Partido
Este poder de revogação é regulado em termos mais amplos pela Lei n.º
1/77,72 que, no seu artigo 5.º nº3, estipula o seguinte:
Nos termos do artigo 5.º n.º 3 da mesma Lei, no intervalo entre sessões
das Assembleias, compete ao órgão do Governo de nível imediatamente
superior suspender as decisões inconstitucionais ou ilegais, havendo
exigência de confirmação à posterior do acto de suspensão pela
Assembleia competente para a revogação, na sua sessão seguinte.
Esta solução parece-nos ter sido a mais feliz, por ser consentânea com o
princípio da soberania das Assembleias, como órgãos superiores do poder
de Estado no respectivo escalão territorial74
Em relação a outros actos normativos a que faz alusão o Artigo 8.º nº6
alínea c) da Directiva, o Regulamento é omisso quanto aos procedimentos
para o seu controlo. Julgamos que nem os poderes conferidos à Comissão
para solicitar informações ao Conselho de Ministros ou interpelar membros
do Governo seriam suficientes para responder a esta questão.
Igualmente, nos dois diplomas que temos vindo a citar não se deslumbra a
questão do controlo sucessivo da constitucionalidade das Leis ou
Resoluções da Assembleia popular, parecendo ser sustentável afirmar que
esta modalidade de fiscalização foi excluída.
82
O Presidente da República velará pelo respeito à Constituição. Assegurará, pela sua arbitragem, o
funcionamento regular dos poderes públicos, assim como a continuidade do Estado. (artigo 5.º)
83
O Presidente da República participa como sujeito de pleno direito, no sistema de fiscalização da
constitucionalidade dos actos normativos, a título preventivo ou sucessivo, bem como da
inconstitucionalidade por omissão, no âmbito da função de garantia do regular funcionamento das
instituições e de defensor da Constituição (artigo 123.º da Constituição da República)
84
A legitimidade processual para solicitar a verificação da constitucionalidade das normas é um dos
principais pressupostos relativos às partes.
A falta de legitimidade activa leva à não admissibilidade do pedido ou, dito doutro modo quando um
pedido for formulado por pessoa ou entidade sem legitimidade processual, aquele não deve ser
admitido. Por outro lado, no Direito Processual Constitucional, por força do interesse público, a
legitimidade activa não coincide necessariamente com a titularidade do interesse específico para o qual
se requer tutela jurisdicional, contrariamente ao que sucede no direito processual comum em que a
legitimidade respeita, em regra, aos titulares do direito subjectivo.
85 Artigo 183.º da CR
86 Texto aprovado na Assembleia da República em 16 de Novembro de 2004
87
O sistema de governo moçambicano não é presidencial, nem parlamentar, nem semi-presidencial.
Não é, rigorosamente presidencial, porque:
Coexistem um Presidente, um Conselho de Ministros e um Primeiro-ministro, ambos titulando
o exercício do poder executivo, diversamente do que sucede dos EUA, onde o poder
executivo está centrado no órgão singular, Presidente da União;
Ainda que remotamente, o Conselho de Ministros responde perante a Assembleia da
República, podendo esta aprovar monções de censura. No entanto, esta responsabilidade
não deve ser confundida com a responsabilidade política, porque dela não se vislumbra
qualquer possibilidade de o Governo ser demitido face a tal monção de censura, derivado do
facto de a composição e o funcionamento do Governo depender exclusivamente do
Presidente da República, a Assembleia da República não dispor de instrumentos que
materializem a responsabilidade política do Governo face ao parlamento, exceptuando
quando pela segunda vez, o Programa do Governo é reprovado pela Assembleia da
República;
O Presidente da República tem iniciativa de lei e de revisão constitucional, matéria que é
exclusiva da Assembleia política num sistema presidencial;
O princípio de “check and balances”, funciona de forma desigual. Com efeito, a Assembleia
da República, não dispõe de poderes para equilibrar o seu protagonismo junto do Presidente
da República e do Governo.
Não é parlamentar, na medida em que:
O Chefe do Governo (Presidente da República) dispõe de legitimidade popular, não sendo
indicado pelo partido com maioria na Assembleia da República;
O Chefe de Estado não desempenha papel honorífico, gozando de poderes vastos;
Não há responsabilidade política do Governo face à Assembleia da República;
O Primeiro-ministro não é Chefe formal do Governo, cabendo-lhe uma função coadjuvante
em relação ao Presidente da República.
Não é semi presidencial, visto que:
Não há separação entre Presidente da República e o Governo, pois que o primeiro integra o Conselho
de Ministros na qualidade de Chefe do Governo;
Não há equilíbrio de poderes. A balança pende claramente a favor do Presidente da República e do
seu Governo;
Trata-se de um sistema presidencialista, algo impuro, atendendo ao conjunto de poderes que são
atribuídos ao Presidente da República, fazendo com que os restantes órgãos de soberania gravitem
em seu torno.
88
A mesma faculdade encontramo-la nos artigos 278.ºn.º 1 e 281.º n.º 2 da Constituição da República
Portuguesa.
Não pode dizer-se que qualquer dos órgãos políticos esteja adstrito a
requerer a apreciação e a declaração da inconstitucionalidade, quando
esta, em puro juízo jurídico, se lhes apresenta nítida”92.
95
O princípio do dispositivo postula que a tramitação processual esteja ao inteiro dispor das partes de
um determinado processo. Em muitos dos processos de fiscalização da constitucionalidade e da
legalidade não há partes em sentido rigoroso.
Por essa razão o conteúdo tradicional do princípio tem de sofrer neste terreno as necessárias
modificações.
Diremos por isso que de acordo com o princípio do dispositivo quem é senhor do processo são os
outros sujeitos processuais que não o juiz constitucional. A este grande princípio opõe-se um outro: o
inquisitório, que tenderá a depositar nas mãos do juiz o poder de decisão sobre acontecimentos
processuais.
O princípio do dispositivo desdobra-se em sub princípio do pedido que se traduz na obrigatoriedade de
o poder de iniciativa e fixação do objecto do processo caber a alguém distinto do julgador. (.........)
Nos processos de fiscalização da constitucionalidade e da legalidade a relevância do sub princípio do
pedido traduz-se na adesão (quase ilimitada) ao princípio do pedido e na adesão (parcial) ao princípio
da disponibilidade quanto ao termo do processo.95 Por um lado, significa que certo tipo de processo só
pode ser iniciado por impulso de outrem que não seja o julgador, ou seja, o processo só inicia sob
iniciativa das entidades às quais é constitucionalmente reconhecida a legitimidade processual activa.
96
CANAS Vitalino, In “Processos de Fiscalização da Constitucionalidade e da Legalidade pelo Tribunal
Constitucional, Coimbra Ed. 1986, págs. 102 e ss.
97 MIRANDA Jorge, In “Manual de Direito........”, ob. Cit., pág. 369.
98 A dado passo do Acórdão, afirmam os Venerandos Juízes do Tribunal Supremo que o Presidente da
“Tratando-se de uma lei, que pela sua natureza, está directamente ligada
aos Direitos Fundamentais, consagrados na Constituição da República, e
por me parecer que algumas das suas disposições são de
constitucionalidade duvidosa venho por esta via solicitar ao Conselho
Constitucional, nos termos do artigo 183.º, alínea a) da Lei 9/2003, de 22
de Outubro, a verificação da constitucionalidade das seguintes normas da
Lei de Combate à Corrupção:
105 Compete ao Conselho Constitucional apreciar recursos de decisões de outros tribunais (art. 7)
Mais ainda, os políticos parece não admitirem que os seus actos possam
ser fiscalizados por uma entidade diversa da assembleia política, o que, no
seu entender, poria em causa a soberania e legitimidade popular do
parlamento.
108Segundo Beatriz Segorbe; Cláudia Trabuco In, O Conselho.ob.cit, nenhum regime depois de 1791
admitiu a ideia de um poder judicial capaz de fazer contrapeso ao poder legislativo. O Juiz era visto e
pretendia-se um mero servidor da lei, incapaz de um juízo valorativo sobre a bondade de qualquer
diploma
110
Alínea a) n.º 1 do artigo 181.º
111
Podemos por exemplo, verificar na Constituição Portuguesa que, no capítulo da Garantia e Revisão
da Constituição, estabelece a inconstitucionalidade por acção, a fiscalização preventiva da
constitucionalidade, fiscalização concreta da constitucionalidade e da legalidade, fiscalização abstracta
da constitucionalidade e da legalidade e por fim a inconstitucionalidade por omissão.
112
Lei n.º 9/2003, de 22 de Outubro
113 Artigos 36.º, 37.º, 39.º, 41.º e seguintes da Lei Orgânica do Conselho Constitucional.
114 Referência genérica aos processos de fiscalização abstracta da constitucionalidade ou da legalidade
115 Recursos para o Conselho Constitucional das decisões de outros tribunais que: recusem a aplicação
Não estamos em crer que tenham sido esses os efeitos pretendidos pelos
membros do Conselho Constitucional, isto é, bloquear os processos de
fiscalização da constitucionalidade constantes da então alínea a) do n.º1
do artigo 181.º da Constituição da República.
Por outro lado, é dado adquirido que os prazos prescritos na Lei n.º 4/2003,
de 31 de Janeiro, para o exercício da fiscalização abstracta, ultrapassam
largamente os trinta dias que o Presidente da República dispõe para
promulgar as leis aprovadas pela Assembleia da República, obstando,
assim a partida, que este exerça a fiscalização prévia.
118
Quando não esteja expressamente regulada na lei, os actos processuais terão a forma que, em
termos mais simples, melhor se ajuste ao fim que visam atingir
119
Assente que não há contraditório, tal não se opõe, no entanto, a que se possa solicitar ao órgão
donde emanou a norma, elementos que possam esclarecer a sua motivação e fundamentação. Neste
sentido vide o artigo 44.º da Lei n.º 9/2003, de 22 de Outubro
A sua determinação não constitui tarefa fácil, pelo que, para uma melhor
percepção do posicionamento funcional em sede da fiscalização
concreta, faremos recurso à doutrina, legislação e jurisprudência
vigentes.
120 Queiroz Cristina; Interpretação Constitucional e Poder Judicial; Coimbra Editora; 2000; pp. 28 e 29
A não aplicação plena dos princípios processuais civil e penal, como seja o
princípio do contraditório, 121 o princípio de partes processuais e da
121 Nos processos de fiscalização abstracta não opera qualquer manifestação do princípio do
contraditório, no sentido rigoroso que a doutrina lhe atribui.
Não há partes porquanto não há interesses opostos. Toda a intervenção das entidades legitimadas a
participar nos processos conflui numa única direcção: a conveniente tutela de interesses públicos da
constitucionalidade e da legalidade. (neste sentido Vitalino Canas, Princípios Estruturantes dos
Processos de Fiscalização da Constitucionalidade e da Legalidade, Lisboa 1985)
122 Os actos do poder público e privado devem sofrer o influxo da norma constitucional e a ela se
subordinando enquanto a concretizam e desenvolvem na vida quotidiana
123 Lei n.º 9/2003, de 22 de Outubro
124 A contagem dos prazos referidos na presente Lei é aplicável o disposto no artigo144.º do Código de
Processo Civil.
125 Acórdão da plenária do Tribunal Supremo, sem n.º datado de 24 de Outubro de 1996
127Cabe recurso para o Tribunal Constitucional das decisões dos tribunais que:
Recusem a aplicação de qualquer norma com fundamento na sua inconstitucionalidade ou ilegalidade;
Apliquem normas cuja inconstitucionalidade ou ilegalidade hajam sido suscitados durante o processo.
Os recursos só podem ser interpostos pela parte que haja suscitado a questão da inconstitucionalidade
ou da ilegalidade. (art.º 232.º)
Assim, o artigo 232.º, sobre decisões dos tribunais que caibam recurso ao
Tribunal Constitucional, seria eliminado, pois para Tribunais, caberia a
função da fiscalização concreta.
Para o Tribunal Supremo (TS), parece estar provado que, de modo geral, o
Conselho Constitucional não tem nada que fazer fora dos períodos
eleitorais, ou seja, as suas funções resumem-se, na prática, à supervisão
dos processos eleitorais, o que significa que os seus membros, que estão
sujeitos ao regime de incompatibilidade igual ao dos juízes, estariam
votados ao ostracismo durante cerca de cinco anos de mandato.
130
Em parceria com o Conselho Constitucional, às Assembleias Provinciais, compete fiscalizar e
controlar a observância dos princípios e normas estabelecidas na Constituição, sem no entanto,
legitimidade activa e poderes para desaplicar leis inconstitucionais.
133
Trata-se de normas provenientes de autoridades tradicionais,
legalmente reconhecidas, ou de práticas 134 seguidas pelas populações
rurais com a convicção espontânea de sua obrigatoriedade e que o Estado
trata de reconhecer, na medida em que não contrariem os valores e
princípios fundamentais da Constituição135.
132 O Estado reconhece os vários sistemas normativos e de resolução de conflitos que coexistem na
sociedade moçambicana, na medida em que não contrariem os valores e os princípios fundamentais
da Constituição.
133 O Estado reconhece e valoriza a autoridade tradicional legitimada pelas populações e segundo o
Entretanto, este artigo nos parece algo impreciso, por quanto, limita-se a
estabelecer a obrigação de remeter ao Conselho Constitucional os
assentos e outras decisões com fundamento de inconstitucionalidade, sem,
contudo se referir expressamente para que efeito.
Na alínea a)137 do artigo 247.º parece resultar tácito que com a remessa ao
Conselho Constitucional das decisões que recusem a aplicação de uma
norma com fundamento na sua inconstitucionalidade, se pretende apenas
que este tome conhecimento da decisão dos tribunais.
Embora a sua denominação 141 e nomeação 142 dos seus membros seja
política não há dúvidas quanto à natureza jurisdicional objectiva das suas
funções se atendermos as garantias de independência, inamovibilidade,
imparcialidade, irresponsabilidade143 e incompatibilidades144, na tomada de
decisões de acordo com critérios de objectividade e de legalidade, na
apreciação, em sede de recurso dos assentos e das decisões dos tribunais
que recusem a aplicação de uma norma com fundamento na sua
inconstitucionalidade ou ilegalidade, no cumprimento obrigatório dos seus
acórdãos para todos os cidadãos, instituições e no não cabimento de
recurso das suas decisões, prevalecendo sobre outras decisões145.
138
Gozam de legitimidade activa:
O presidente da República;
O Presidente da Assembleia da República;
Um terço, pelo menos, dos deputados da Assembleia da República;
O Primeiro-ministro;
O Procurador-geral da República;
O Provedor de Justiça;
Dois mil cidadãos
139 Entenda-se tribunais como se tratando das jurisdições objectiva (Conselho Constitucional) e
podem desempenhar quaisquer outras funções públicas ou privadas, excepto a actividade de docente
ou investigação jurídica ou outra de criação e produção científica, literária, artística e técnica, mediante
prévia autorização do respectivo órgão
145 Artigo 248.º
Leituras Obrigatórias
A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para
a compreensão de nossos estudos e para a realização das actividades
propostas para esta primeira unidade de estudo. Portanto, não deixe de
estudá-los.
Leituras Complementares
Actividades
Actividade 1
Leitura do texto
REFERÊNCIAS
UNIDADE TEMÁTICA 4
DIREITOS FUNDAMENTAIS
Elaborado pelo Mestre Mouzinho Nicols, adaptado de textos da Dra. Neusa de Matos e
o Mestre Pedro Sinai Nhatitima
Objectivos
1. Os Direitos Fundamentais
Em contrapartida
E inconstitucional uma lei que a viole e só por revisão pode ser eliminada
ou ter o seu conteúdo essencial modificado.
Não se pode fazer confusão entre os direitos dos povos – desde o direito
`a autodeterminação ao direito a paz – e os direitos do homem – o direito a
vida, a liberdade física, as convicções religiosas e filosóficas, ao trabalho,
etc.
Sem plena liberdade religiosa não há plena liberdade cultural, nem plena
liberdade política.
Por outro lado a liberdade de comunicação social tem a ver com outros
valores como a liberdade de religião, a liberdade de associação, em geral
com o pluralismo.
O direito de associação
Iniciativa económica
Direito de propriedade
Leituras Obrigatórias
Leituras Complementares
Actividades
Actividade 1
Leitura do texto
REFERÊNCIAS
UNIDADE TEMÁTICA 1
Actividade I
UNIDADE TEMÁTICA 2
Actividade I
UNIDADE TEMÁTICA 3
GARANTIA DA CONSTITUIÇÃO
Actividade I
Ex.: Uma lei que estabelece a pena de morte viola forçosamente o artigo
40, nº 2, da C.R.M.
UNIDADE TEMÁTICA 4
DIREITOS FUNDAMENTAIS
Actividade I