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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Faculdade de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Administração Pública

A inconstitucionalidade da Lei em Moçambique

Nome do aluno: Temóteo Macavelane Zimila

Códico do Estudante: 31231018

Xai – Xai, Setembro de 2023


INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Departamento de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Administração Pública

A inconstitucionalidade da Lei em Moçambique

Trabalho de campo a ser


submetido na coordenação de
Licenciatura em Administração
Pública da Unisced

Coordenação em Administração
Pública

Nome do aluno: Temóteo Macavelane Zimila

Códico do Estudante: 31231018

Xai – Xai, Setembro 2023


Índice

Introdução ………………………………………………………………………………..3
O conceito de Direito Constitucional……………………………………………………4
As divisões do Direito Constitucional …………………………………………………..4

As características do Direito Constitucional …………………………………………….5

O DIREITO CONSTITUCIONAL NA CIÊNCIA DO DIREITO …………………….5

A Ciência do Direito Constitucional ……………………………………………………..6

O pensamento científico no Direito Constitucional ………………………………………6

O ensino do Direito Constitucional em Moçambique ……………………………………7

O CONSTITUCIONALISMO MOÇAMBICANO ……………………………………….7

Periodificação da evolução histórico-política de Moçambique…………………………….7

A época colonial portuguesa (1498-1974)………………………………………………….7

Inconstitucionalidade dos atos jurídico-públicos …………………………………………..8

A importância da defesa da Constituição…………………………………………………….8

O Direito Constitucional anterior e a nova Ordem Constitucional …………………………..8

Conclusão……………………………………………………………………………………9

Referência Bibliografia………………………………………………………………………10

Introdução

É com enorme alegria que se dá à estampa o Direito Constitucional de Moçambique, numa


edição promovida por algumas instituições e a quem, penhoradamente, muito agradeço todo o
empenho que colocaram na sua concretização. Eis uma ocasião muito feliz pela possibilidade
de ter conseguido – ao fim de tantos anos e muitas mais promessas que reiteradamente fiz a
amigos e a mim próprio… – reunir os materiais normativos, jurisprudenciais e doutrinários
exigíveis para a elaboração de um manual universitário especificamente dirigido ao Direito
Constitucional de Moçambique, tomando como ponto de partida o meu Manual de Direito
Constitucional, já em cinco edições e para o qual remeto considerações mais gerais e teóricas.
No âmbito da Ciência do Direito de Moçambique, é o primeiro esforço doutrinário globalmente
explicativo do respetivo Direito Constitucional, destinando-se a todos os muitos interessados
neste preponderante setor do Direito, desde os estudantes dos diferentes ciclos aos profissionais
forenses, como magistrados, procuradores e advogados, passando ainda pelos políticos,
dirigentes e professores universitários, com especial ênfase para os de Direito.

A terminologia utilizada – “Direito Constitucional” – acabaria por se cristalizar com o tempo e


é hoje a designação mais utilizada um pouco por todo o Mundo, sendo igualmente reconhecida
em múltiplas instituições internacionais e comparatísticas6. Esta denominação é diretamente
tributária da palavra “Constituição”, que se apresentou coeva do nascimento deste novo setor do
Direito Público a partir do século XVIII7. Assim sendo, o Direito Constitucional representa a
síntese dos princípios e das normas que se condensam (pelo menos, maioritariamente) na
Constituição enquanto ato cimeiro do Estado e da sua Ordem Jurídica, podendo ser
simplesmente definido como o “Direito do Estado na Constituição”.

O conceito de Direito Constitucional


O Direito Constitucional, no contexto da sua inserção no Direito em geral, consiste no sistema
de princípios e de normas que regulam a organização, o funcionamento e os limites do poder
público do Estado, assim como estabelecem os direitos das pessoas que pertencem à respetiva
comunidade política. Isso quer dizer que o Direito Constitucional assenta numa tensão dialética,
que reflete um equilíbrio – nem sempre fácil e nem sempre calibrado1 – entre2:

– Por um lado, o poder público estadual, que numa sociedade organizada monopoliza os meios
públicos de coerção; e

– Por outro lado, a comunidade de pessoas em nome das quais aquele poder é exercido, estas
carecendo de autonomia e de liberdade frente ao poder público estadual

A explicação do sentido do Direito Constitucional como setor da Ordem Jurídica não vem a ser
unívoca, pois que nele é possível surpreender três elementos, a partir dos quais é viável a busca
dos pilares fundamentais que permitem a respetiva caracterização:

– Um elemento subjetivo – que se define pelo destinatário da regulação que o Direito


Constitucional contém, ao dirigir-se ao Estado na sua dupla vertente de Estado-Poder

– Um elemento material – que se define pelas matérias que são objeto da regulação levada a
cabo pelo Direito Constitucional, nela se estipulando um sistema de normas e princípios, de
natureza jurídica, que traçam as opções fundamentais do Estado;

– Um elemento formal – que se define pela posição hierárquico-normativa que o Direito


Constitucional ocupa no nível supremo da Ordem Jurídica, acima da qual não se reconhece
outro patamar de juridicidade positiva interna, integrando-se num ato jurídico-público chamado
“Constituição”

A expressão “Direito Constitucional” surgiu em França e na Itália, aquando da elaboração dos


primeiros manuais que, nos respetivos contextos de receção do Constitucionalismo Liberal, se
dedicaram ao estudo científico deste ramo do Direito, nesse esforço se evidenciando o nome de
Pellegrino Rossi. Esta conclusão não exclui, no entanto, que num momento inicial aquela
expressão tivesse sofrido a concorrência de outras designações, como foi o que sucedeu com a
de Direito Político.

As divisões do Direito Constitucional


Mesmo considerando a sua unidade intrínseca, o Direito Constitucional é suscetível de ser
encarado sob diversas perspetivas, tantas quantos os problemas mais específicos que permitem
a ereção de polos regulativos próprios, sem que tal possa quebrar aquela sua primária essência
sistemática. São estes os principais níveis por que o Direito Constitucional pode ser
entendido12: – o Direito Constitucional Social: o conjunto dos princípios e das normas
constitucionais que versam os direitos fundamentais das pessoas emrelação ao poder público,
quer nos seus aspetos gerais, quer nos seus aspetos de especialidade; – o Direito Constitucional
Económico, Financeiro e Fiscal: o conjunto dos princípios e das normas constitucionais que
cuidam da organização da vida económica, medindo os termos da intervenção do poder público,
no plano dos regimes económico, financeiro e fiscal;

– O Direito Constitucional Internacional: parcela do Direito Constitucional que traça as


relações jurídico-internacionais do Estado, simultaneamente do ponto de vista da participação
na formação e na incorporação do Direito Internacional Público no Direito Interno e do prisma
dos critérios que orientam a ação do Estado nas grandes questões que se colocam à sociedade
internacional, sem ainda esquecer as peculiares relações que os Estados hoje já ostentam com
algumas organizações internacionais de cunho supranacional;

– O Direito Constitucional dos Direitos Fundamentais: parcela do Direito Constitucional que


é atinente à regulação dos direitos fundamentais das pessoas frente ao poder público, nos pontos
relativos à sua positivação, regime de exercício e mecanismos de defesa, dimensão que se
concretiza tanto na generalidade quanto na especialidade dos seus diversos tipos;

– O Direito Constitucional Económico: parcela do Direito Constitucional que orienta a


organização da economia, tanto no seu estrito âmbito privado, como nos instrumentos que ao
poder público se consente para na mesma intervir;

– O Direito Constitucional Ambiental: parcela do Direito Constitucional que, recebendo a


influência crescente da necessidade da proteção do ambiente, que se mostra transversal a toda a
Ordem Jurídica, confere direitos aos cidadãos e impõe deveres e esquemas de atuação ao poder
público;

– O Direito Constitucional Eleitoral: parcela do Direito Constitucional que se organiza em


torno da eleição como modo fulcral de designação dos governantes, quer numa perspetiva
funcional – atendendo à dinâmica do procedimento eleitoral e dos momentos em que se
desdobra – quer numa perspetiva estática – levando em consideração o direito de sufrágio e a
possibilidade de os cidadãos poderem democraticamente influenciar a vida do Estado;

– O Direito Constitucional dos Partidos Políticos: parcela do Direito Constitucional que


equaciona o estatuto jurídico dos partidos políticos, não apenas na sua conexão com os órgãos
do poder público, mas também enquanto singular expressão da liberdade política, no plano dos
vários direitos fundamentais de intervenção política;

– O Direito Constitucional Parlamentar: parcela do Direito Constitucional que define o


estatuto do Parlamento, na sua estrutura e modo de funcionamento, sem esquecer as relações
que mantém com outros órgãos do poder público, maxime com o Governo;

– O Direito Constitucional Procedimental: parcela do Direito Constitucional que disciplina


os termos por que se desenrola o procedimento legislativo, na sua marcha tramitacional no
âmbito da produção dos atos jurídico-públicos de feição procedimental, maxime dos atos
legislativos.

As características do Direito Constitucional

O mais profundo conhecimento preliminar do Direito Constitucional – sem ainda ter chegado o
momento do seu estudo pormenorizado – deve ser apoiado pela apreciação dos traços
distintivos que permitem a respetiva singularização no contexto mais vasto do Direito em que o
mesmo se integra. Esta nem sequer é uma observação isenta de escolhos num momento em que
aquele conhecimento é superficial, embora uma breve alusão a essas características decerto
faculta avançar-se um pouco mais na respetiva dilucidação. Várias são as características que
podemos elencar, cada uma delas carecendo de uma explicação breve, iluminando um pouco
mais os meandros do Direito Constitucional:

a) Supremacia; b) Transversalidade; c) Politicidade; d) Estadualidade; e) Legalismo;

f) Fragmentarismo; g) Juventude; h) Abertura.

O DIREITO CONSTITUCIONAL NA CIÊNCIA DO DIREITO

A Ciência do Direito Constitucional

A observação do Direito Constitucional, para que deste se possa extrair orientações para um
concreto dever-ser no plano estadual, só pode ser bem sucedida quando executada através de
uma atividade científica, que se consubstancia na Ciência do Direito Constitucional21. O objeto
da Ciência do Direito Constitucional é o estudo do Ordenamento Jurídico-Constitucional, com o
propósito de se obter uma resposta quanto a um problema formulado, labor científico que
assume uma dimensão prática. Isso quer dizer que a atividade da Ciência do Direito
Constitucional, sendo hoje inequivocamente dotada de cientificidade, busca soluções com base
num dado ordenamento constitucional concreto, repousando numa certa juridicidade positivada.

O pensamento científico no Direito Constitucional

A Ciência do Direito Constitucional, tal como a Ciência do Direito em geral, nem sempre se
pautou por uma mesma e perene orientação metodológica, a seu modo refletindo o debate geral
sobre o pensamento científico acerca do Direito.

O ensino do Direito Constitucional em Moçambique

A Ciência do Direito Constitucional de Moçambique está numa fase de enorme


desenvolvimento, em grande medida esse esforço se justificando pela aprovação da CRM, que
assinalou a definitiva estabilização jurídico-constitucional do país. Não que antes os debates
constitucionais ou os estudos sobre o Direito Constitucional não se tivessem realizado, até por
força da transição democrática que se iniciaria em 1990, a qual se consolidaria, depois de
algumas vicissitudes, com o surgimento daquele texto constitucional em 2004.

O CONSTITUCIONALISMO MOÇAMBICANO

Periodificação da evolução histórico-política de Moçambique

Não obstante a centralidade da sua Constituição e o lugar que tem na terceira vaga do
Constitucionalismo de Língua Portuguesa, Moçambique como nação e como território não
surgiram no plano político apenas em 25 de junho de 1975 – data da sua independência – ou em
16 de novembro de 2004 – momento da aprovação da CRM pela Assembleia da República.
Inserindo-se na rota dos Descobrimentos Portugueses da Idade Moderna, é aí que Moçambique
pode mergulhar as suas raízes mais profundas, ou até mesmo indo mais retrospetivamente às
ancestrais culturas moçambicanas que precederam a colonização portuguesa, num mosaico
apreciável de povos e de migrantes.

A época colonial portuguesa (1498-1974)

Moçambique foi descoberto por Vasco da Gama, na sua passagem a caminho da Índia em 1498,
tendo aquele navegador português aportado à Ilha de Moçambique e zonas circundantes98. Mas
desde cedo o território moçambicano assumiria a configuração que tem hoje, como um espaço
único e litorâneo, mas muito vasto longitudinalmente na costa leste da região da África Austral.
A Capitania-Geral de Moçambique só seria constituída em 1752, desanexada do Governo da
Índia, e com a outorga de um estatuto em 176399.

Inconstitucionalidade dos atos jurídico-públicos

Do ponto de vista sistemático, a garantia da Constituição joga-se na posição que ela exerce de
cume da Ordem Jurídica, tal acarretando uma relação de desconformidade por parte de todos os
restantes atos jurídico-públicos que à mesma desobedeçam, devendo-lhe, ao invés, estrito
acatamento. É esta relação de desconformidade que se designa por inconstitucionalidade, o
mesmo é dizer, a verificação de uma discrepância entre a Constituição.

A importância da defesa da Constituição

A preocupação com a defesa da Constituição é a outra face da constitucionalidade, não já numa


perspetiva normativo-sistemática, quanto numa ótica de proteção da Ordem Constitucional
estabelecida. Por força da importância da defesa da Constituição, os mecanismos que se
alinham nesse desiderato são múltiplos, podendo apresentar-se como1329:

– Garantias internas e garantias externas: as primeiras integrando-se dentro da própria Ordem


Constitucional, enquanto que as outras funcionando a partir do exterior da Ordem
Constitucional;

– Garantias gerais e garantias especiais: as primeiras tendo uma vocação irradiante para toda a
Constituição, ao passo que as outras se limitando a segmentos mais específicos da Ordem
Constitucional;

O Direito Constitucional anterior e a nova Ordem Constitucional

Mais fácil é perceber o relacionamento da nova Ordem Constitucional com o Direito


Constitucional anterior, uma vez que se assiste a uma vocação exclusivista de regulação do
fenómeno político, incompatível com soluções muito diferenciadas. O que normalmente sucede,
mesmo que isso não seja explicitamente assumido, como vem a acontecer com a CRM, é a
aprovação de uma nova Constituição implicar a revogação global da ordem constitucional
precedente.
Conclusão

Claro que essa é uma apreciação que, partindo da leitura e da hermenêutica dos textos
constitucionais, deve ponderar a existência de outros elementos, fornecidos pela prática política
e pelo modo como a aplicação dos comandos constitucionais é vivida pelos protagonistas da
política e dos seus destinatários. Têm aqui grande utilidade as apreciações da Ciência Política,
assim dando uma valiosa colaboração no estudo que o Direito Constitucional vai levar a cabo a
este propósito.

É também de tomar em consideração o facto de nem sempre ser inteiramente fácil enquadrar,
com perfeição, determinado sistema político-constitucional, tal como ele aparece na
estruturação de certo Estado, numa daquelas duas categorias. Não é raro que a realidade dos
sistemas político-constitucionais apareça com elementos contraditórios ou com tendências que
não vão apenas num único sentido, ainda que apontem predominantemente num certo sentido.
A discussão acerca das formas políticas de governo é uma das mais antigas questões do Direito
Constitucional e da Ciência Política, remontando a sua discussão ao tempo da época ateniense,
cujos principais ícones proporiam modalidades puras e degeneradas, tanto em Platão como em
Aristóteles. A evolução posterior dos sistemas políticos determinou que a grande divisão se
tornasse mais simples e separasse as ditaduras das democracias, deixando de fazer sentido
formular juízos morais acerca de algumas das modalidades. Paralelamente, operar-se-ia a
separação do esquema unipessoal do governo da coisa pública com base democrática da forma
política de governo, passando aquele a ingressar no conceito, menos árduo, de forma
institucional de governo, ali se contrapondo a monarquia à república.
Referência Bibliografia

– Autarquias Locais em Moçambique – antecedentes e regime jurídico, Lisboa/Maputo,

1998

– História de Moçambique (coord. Carlos Serra), vols. I e II, Maputo, 2000

– Conflito e Transformação Social: uma Paisagem das Justiças em Moçambique (orgs.

Boaventura de Sousa Santos e João Carlos Trindade), I e II vols., Maputo,

2003

– Moçambique e a Reinvenção da Emancipação Social (org. Boaventura de Sousa

Santos e Teresa Cruz e Silva), Maputo, 2004

– Moçambique – o sector da Justiça e o Estado de Direito, Joanesburgo, 2006

– O Semipresidencialismo e o Controlo da Constitucionalidade na África Lusófona (ed.

de Armando Marques Guedes), in RNE, 11.4 especial, setembro de 2007

– O reconhecimento pelo Estado das Autoridades Locais e participação pública – experiências,


obstáculos e possibilidades em Moçambique (org. de Helene Maria Kyred,

Lars Buur and Terezinha da Silva), Maputo, 2007

– 10 Anos de Descentralização em Moçambique: os caminhos sinuosos de um processo


emergente (org. Gilles Cistac e Eduardo Chiziane), Maputo, 2008

– Descentralização e desenvolvimento local em Angola e Moçambique: processos, terrenos e

atores (org. Yves-a. Fauré e Cristina Udelsmann Rodrigues), Coimbra, 2011

– As autoridades tradicionais em Luanda, in AAVV, O Direito por fora do Direito: as

instâncias extra-judiciais de resolução de conflitos em Luanda (orgs. Maria Paula

Meneses e Júlio Lopes), Coimbra, 2012

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