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Dr.

António Salomão Chipanga, Assistente Universitário da Faculdade de Direito da UEM e do Instituto


Superior de Ciencia e Técnologias de Moçambique (ISCTEM) – Disciplina de Ciência Política e Direito
Constitucional, 2005

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE DIREITO

DIREITO CONSTITUCIONAL

Tema da aula: Noções Básicas sobre a Constituição

População alvo: Estudantes do 1.º ano de Direito

1. OS DADOS DE PARTIDA.

Antes de iniciar esta nova matéria gostaria de recordar aos estudantes que o
tema que se segue é continuação da Parte I – da Introdução ao Direito
Constitucional.

Os conteúdos de que hoje vamo-nos debruçar sobre elas são uma introdução à
Parte II, do Plano Temático da disciplina de Direito Constitucional I, que temos
vindo a seguir, que tem como título, a Constituição como fenómeno jurídico.
Iremos ao longo das aulas que se irão seguir, falar da Constituição e sua
classificação e das concepções a cerca da sua natureza e de outros assuntos
que em tempo oportuno iremos anunciar.

Com esta 1.ª aula da Parte II pretendo fornecer aos estudantes os dados de
partida para a compreensão das Noções Básicas Sobre a Constituição,
matéria que a seguir terão a oportunidade de apreciar.

Ao analisarmos a história das sociedades políticas e fazermos uma comparação


da formação e evolução do Estado e sobre os sistemas Político-Constitucional,
obtêm-se os seguintes dados:

a) Qualquer Estado, incluindo o nosso, requer a institucionalização


jurídica do poder; isto quer dizer que o poder político tende ser instituído
e constar da lei fundamental, que pode ser escrita ou não, como
expressão jurídica do enlace entre poder e comunidade política ou entre
sujeitos e destinatários.

A Constituição procede ao enquadramento da existência legal do Estado e


constitui a base e sinal da sua unidade e legitimidade.
b) a Constituição contêm um conjunto de regras jurídicas que definem as
relações (ou da totalidade das relações) do poder político, do estatuto de
governantes e dos governados.

Vamos fazer aqui um parentis para nos recordarmos das noções sobre o Poder
político, matéria leccionada na Ciência política.

O Estado para a sua subsistência requer a existência de princípios e preceitos


normativos que a regula e é com base nesses princípios e normas que se opera
a institucionalização do poder político.

O que é então poder politico?


É a possibilidade de eficazmente impor aos outros o respeito da própria conduta
ou de traçar a conduta alheia1 ou, por outras palavras. É a capacidade de
obrigar os outros a certo comportamento2_ de modo a subordinar os interesses
particulares ao interesse geral.

O poder Político. Exprime a autoridade própria de um povo de instituir órgãos


que exerçam, com relativa autonomia, a jurisdição sobre um território, nele
criando e executando normas jurídicas e usando os meios coercivos se
necessário.

A institucionalização do poder político numa comunidade transforma-a em


comunidade política, podendo esta ser simples: a título de exemplo as
sociedade políticas arcaicas baseadas nos laços de sangue, ou em laços tribais.

Hoje, as sociedades políticas mais complexas denominam-se Estado, cujos fins


e funções são de garantir a segurança, justiça e Bem-estar económico, social
e espiritual.

Em primeiro plano, temos a Segurança, assente na estabilidade para as


pessoas e para os valores que a constituem.

A segurança impõe-se em primeiro lugar com a garantia da conservação e


existência do próprio Estado em tanto que realidade jurídica e sociedade
politicamente organizada.

O Estado carece, para existir, de paz social interna e externa. Para o efeito,
exige-se que cada elemento humano da comunidade tenha garantida a
segurança da sua pessoa e dos seus bens.

1
Marcello Caetano, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Tomo I, Coimbra, 1996, pág. 5.
2
Adriano Moreira, Ciência Política, Coimbra, 1995.

2
A paz externa pressupõe a inviolabilidade das fronteiras e a manutenção da
integridade territorial, perante as ameaças do exterior.

Assim, o Estado como detentor do poder político surge como um instrumento


que garante a segurança do indivíduo e da colectividade, através da emanação
de normas jurídicas executadas pelos órgãos competentes do Estado, enquanto
realidade que envolve toda a comunidade considerada

Em segundo plano, temos a Justiça, expressão do sentimento inato de


igualdade. Em paridade de circunstâncias exige o princípio da igualdade de
tratamento e equivalência de prestações e de contraprestações.

A justiça traduz-se na manutenção de relações de mútuo respeito e de


equidade.

Portanto, recorrendo as palavras do prof. Marcelo Rebelo de Sousa, a justiça


visa a substituição nas relações entre os homens, do arbítrio por um conjunto de
regras capaz de consensualmente estabelecer uma nova ordem e, assim,
satisfazer uma aspiração por todos sentida.

A justiça pressupõe a existência de regras ou normas inspiradas por princípios


de justiça, por forma a que nas relações entre os membros da comunidade não
exista desproporção entre os valores comutativos – justiça comutativa – e, bem
assim, uma remuneração adequada à contribuição de cada um para o todo –
justiça distributiva.

Finalmente, temos o Bem-estar económico, social e espiritual, este fim


corresponde à satisfação das necessidades materiais e espirituais dos cidadãos,
cabendo ao Estado, prover total ou parcialmente a satisfação pelos cidadãos.

Com esta finalidade cabe ao Estado promover as condições de vida dos


cidadãos em termos de garantir o acesso, em condições sucessivamente
aperfeiçoadas, de bens e serviços considerados essenciais para a vida da
colectividade e do homem em particular, nomeadamente bens económicos e
sociais que, permite a elevação do nível de vida dos cidadãos: educação, saúde,
segurança social, vias de comunicação, habitação, etc.

Assim, compete ao Estado promover o povoamento e a cultura das terras,


facilitar o comércio, alargar o culto, abrir estradas, canalizar águas e outras
realizações de interesse público que devem ser promovidos pelo Estado

Os fins do Estado são realizados por este em harmonia com as concepções e os


meios técnicos de cada época. Isto é, as concepções e meios técnicos
existentes no período pós independência em Moçambique, por exemplo, são
diferentes da época actual.

3
O que significa que o Estado após a independência cumpria com as suas
finalidades de acordo com as concepções e técnicas existentes na época.

Deste modo, está realizada a ORDEM isto é, cada elemento componente da


Sociedade, seja indivíduo ou grupo, ocupará o seu lugar próprio ao qual
corresponda uma função no todo, sem prejuízo das finalidades e actividades
particulares de cada um.

De notar que a sociedade, sob todas as suas formas, não passa de um meio de
realizar os interesses humanos e o poder não é mais que um instrumento da
sociedade, para impor a conduta alheia.

Para a Sociedade Política é a pessoa humana que importa servir e valorizar.

Não quer isto dizer que toda a vida social haja de ser subordinada aos caprichos
e apetites de cada um.

O Estado, é como um povo baseado num território no qual institui, por


autoridade própria, um poder político (relativamente) autónomo.

O Estado, surge assim como uma pessoa colectiva pública que, no seio da
comunidade política, desempenha funções com vista a satisfazer o interesse
comum.

Assim, Estado, é uma colectividade de indivíduos, ou seja, um povo3 fixo num


determinado território4 que, nos termos do poder constituinte que a si próprio se
atribui, assume uma forma e um poder político5 relativamente autónomo, para
prosseguir os fins nacionais que se propõe realizar.

Entendendo-se nesta perspectiva, comunidade política, como sendo o Povo-


conjunto de cidadãos residentes ou não no território do Estado. O povo
identifica-se sempre com o conjunto dos homens, sejam estes quais forem, que,
em certo momento, estão sujeitos às leis do Estado e têm um laço permanente
com o poder político.

Nesta ordem, comunidade Política, abrange os destinatários permanentes da


ordem jurídica estatal, nomeadamente o Estado, indivíduos e instituições
públicas e privadas.

3
Vide artigo 2, 5, 23 e seg. da CRM
4
Vide artigo 6 e 7 da CRM.
5
Vide artigo 2, 3, 73, 133 da CRM

4
Compreendido assim, podemos concluir que o Estado como pessoa colectiva
não se confunde com os governantes, isto é, os titulares dos cargos.
O Estado é uma organização política permanente, enquanto que os titulares são
os indivíduos que transitoriamente desempenham as funções dirigentes dessa
organização por mandato ou por comissão de serviço.

O Estado não se confunde ainda com os funcionários. O Estado é uma pessoa


colectiva de Direito Público, com património próprio. Os funcionários são
indivíduos que actuam ao serviço do Estado mas que mantém a sua
individualidade humana e jurídica.

Não se confunde o Estado com outras entidade públicas, isto é, não se confunde
o Estado com as regiões autónomas, ou autarquias locais nem sequer com os
institutos públicos, Empresas públicas, etc., apesar da mais intima conexão com
tais instituições.

Todas constituem instituições distintas e cada qual com a sua personalidade


jurídica, com o seu património próprio, com os seus direitos e obrigações, com
as suas atribuições e competências, com as suas finanças, com seu pessoal,
etc.

Não se confunde, também, com os cidadãos ou com os partidos políticos. A


personalidade jurídica do Estado permite construir como autenticas relações
jurídicas as relações travadas entre o Estado e os cidadãos e os partidos
políticos.

De notar que nem sempre foi assim, este mérito inovador deve-se as
Constituições modernas que surgem a partir do século XVIII.

c) Em geral, as Constituições do século XX, reservam para as leis ordinárias


e decretos, as matérias da vida política e ocupam-se essencialmente de
definir as grandes opções políticas/direitos fundamentais, órgãos do
Estado, garantias constitucionais e as relações entre os governantes
entre si e estes com os governados;

d) Por outro lado é neste século que temos a Constituição económica;


Constituição do trabalho; Constituição social e cultural;

e) Com o constitucionalismo moderno, a Constituição não se afirma apenas


pelo objecto e pela função; afirma-se também – ao invés do que sucedera

5
antes – pela força jurídica específica e pela forma; a função que
desempenha determina (ou determina quase sempre) uma forma própria
que pode variar consoante os tipos constitucionais e os regimes políticos;

f) na esteira deste entendimento, encontramos Constituições que adoptam


uma postura pessimista e negativa sobre a operacionalidade do conceito
de nacionalidade.

g) do conceito de nacionalidade, entendido como neutro ou plural numa


dada Constituição, os princípios habitualmente associados ao Estado de
Direito ou a consciência da sua necessidade, sobrevive em todos os
regimes jurídico político dos povos;

O professor Jorge Miranda, no Manual de Direito Constitucional, Tomo II, 3ª.


Edição, 1996, defende que perante o fenómeno constitucional, quando fazermos
uma observação, encontramos duas atitudes básicas que geralmente
assumimos, nomeadamente:

a) uma atitude cognoscitiva;


b) uma atitude voluntarista.

É do nosso conhecimento que a cognoscibilidade é uma qualidade do que é


cognoscível, ou seja, que pode ser conhecido ou que é fácil de conhecer.
Invoco a cognoscibilidade, porque perante a Constituição pode assumir-se uma
de entre as duas posições:

i) uma posição passiva (ou aparentemente passiva) em que o


observador limita-se a fazer uma mera descrição ou reprodução de
determinada estrutura jurídico-política;

ii) uma posição activa de criação de normas jurídicas proporcionando


assim uma transformação das condições políticas e sociais.

A atitude cognoscitiva era adoptada pelos juristas, no tempo das leis


fundamentais do Estado estamental e do Estado Absoluto.

Hoje em dia, esta atitude encontra-se subjacente na Constituição Britânica, que


como devemos saber tem uma carga do direito consuetudinária. Manifesta-se
também, em larga medida, na Constituição dos Estado Unidos, conforme o
autor já citado.

A atitude voluntarista, emerge com a Revolução francesa e está presente em


correntes filosófico-jurídicas e ideológicas bem contraditórias.

6
Os seguidores da doutrina que afirma a primazia da razão, o jusracionalismo,
ou seja, aquela doutrina segundo a qual só na razão devemos confiar e não
admitir nos dogmas religiosos senão o que ela reconhece como lógico, se
pretende descobrir o direito – válido para todos os povos com recurso à razão,
não oculta a intenção reconstrutiva: trata-se de uma nova organização colectiva
que visa estabelecer em substituição da ordem anterior.

As correntes historicistas conservadoras, ao reagirem contra as constituições


liberais revolucionárias, em nome da tradição da legitimidade ou do espírito do
povo, lutam por um regresso ou por uma restauração só possíveis com uma
acção política directa e positiva sobre o meio social, ou seja, lutam pela
manutenção da ordem constitucional estabelecida, opondo-se a criação de
normas jurídicas que proporcionam aos cidadãos novas condições políticas e
sociais.

A corrente seguida pelos voluntaristas, no mundo contemporâneo, encontra eco


ou valoração nas decisões revolucionárias ou pós-revolucionárias apostadas no
refazer de toda a ordem social, ou seja, para eles, a Constituição é o
instrumento pelo qual promovem mudanças da sociedade, no plano político,
social, económico e cultural.

Porém, é preciso ter o cuidado de evitar que com atitudes voluntaristas não
possamos condenar o mundo a retroceder e a deitar ao rio, todas as conquistas
da humanidade, sobretudo no campo dos direitos e garantias fundamentais dos
cidadãos.

Para finalizar diria: A Constituição é Direito e Direito que tem por objecto o
Estado, daí o subtítulo da nossa matéria, “A constituição como fenómeno
jurídico”.

Por conseguinte, se o direito constitucional tem por objecto o Estado-Sociedade


política, não há teoria da Constituição capaz de separar a concepção de Direito
e de Estado que possa ser acolhida.

2. A perspectiva material e a perspectiva formal sobre a Constituição.

O Direito Constitucional de um País, como conformador do político, é sem


sombra de dúvidas, um Direito6 que exprime, ou seja, que traduz, uma realidade
política, social e historicamente determinada, concebendo-se, por isso, que a
história da Constituição de cada Estado é também a História da Administração
daquele país, por traduzir um fenómeno social e coincidente.

6
Ordem existente com o sentido de um dever ser, em cada sociedade, destinada a estabelecer os aspectos
fundamentais da convivência e a criar condições para a realização das pessoas, e que se funda em regras
com exigência absoluta de observância. José de Oliveira Ascenção, O Direito – Introdução e Teoria Geral,
Uma perspectiva Luso-Brasileira, 10.ª ed. Revista, Almedina, Coimbra, 1997, pag. 207.

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Por outro lado, a componente política é indissociável do jurídico, considerando
que as Constituições dos Estados modernos são na sua maioria escritas e
emanadas sob forma de Lei fundamental - a Constituição da República,
instrumento pelo qual o legislador eleva para dignidade e valor jurídico superior
uma norma de direito interno.

O Direito é portanto, uma ordem da sociedade onde concorrem as


determinações do ser, do dever ser ou norma7 e do valor.

A Constituição de um país, pode ser vista em duas perspectivas que constituem


em si, diferentes sentidos interdependentes duma visão unitária que se deve ter
da Constituição.

Os diferentes pontos de vista da Constituição não correspondem a formas


isoladas de análise. É uma forma de apreciar uma mesma Constituição sob
vários ângulos para melhor análise, assim, temos:

2.1 A perspectiva material sobre a Constituição

A perspectiva material, em que se atende ao seu objecto, ao seu conteúdo ou


à sua função reguladora da sociedade e do Estado.

Neste sentido, a Constituição consiste num conjunto de normas que define e


regula o estatuto jurídico do Estado ou, doutro prisma, o estatuto jurídico do
político, nos seus aspectos fundamentais; estrutura o Estado em termos de
definir quais são os órgãos do Estado, suas competências, mandato, o
relacionamento institucional entre os órgãos, o direito que rege o referido Estado
e finalmente, define os direitos, deveres e garantias fundamentais dos cidadãos
vinculados juridicamente ao Estado;

Trata-se de um poder constituinte material do Estado, por meio do qual, o


Estado possui o poder ou a capacidade de auto-organização e auto-regulação.

É um poder original e próprio, na medida em que se propõe que antes dele não
existe nem de facto, nem de direito, qualquer outro direito, daí que se afirma
que é um poder inicial.

O poder constituinte material do Estado exprime a soberania do Estado na


ordem interna e externa.

Através do poder constituinte pretende-se a revelação internacional de valores


jurídicos que visam a fundamentação da estrutura da organização e
funcionamento do Estado.

7
O mesmo que regra ou lei. As leis aqui referidas não são as leis naturais ou científicas, a que todos os
seres obedecem, inclusive o Homem, cegamente ou passivamente. São as leis que a ele si mesmo se impõe
em vista a obter determinados fins que a sua inteligência e consciência concebe como valiosos.

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De recordar que o Poder constituinte, é o poder de constituir a Constituição.

2.2 Perspectiva formal sobre a Constituição

A perspectiva formal, refere-se a disposição das normas constitucionais ou do


seu sistema diante das demais normas do ordenamento jurídico em geral.

A partir desta perspectiva chega-se a Constituição em sentido formal, que é o


complexo de normas formalmente qualificadas de constitucionais e revestidas de
força jurídica superior à de quaisquer outras normas, atribuída pelo poder
constituinte formal, única entidade do Estado com a faculdade de atribuir tal
forma e tal força jurídica a certas normas pelo seu valor e dignidade, vide artigo
2, n.º 4 da CRM.

O sentido formal da Constituição, pressupõe a existência do poder


constituinte formal, procedimentos constitucionais para a emanação das normas
com valor e dignidade constitucional, hierarquia superior as demais normas de
ordenamento jurídico e autonomia jurídica das normas constitucionais, vide
artrigos 291 e seguintes da CRM;

Nas normas constitucionais é costume distinguir nas normas: as que são directa
e imediatamente obra do poder constituinte daquelas que são anteriores ou
posteriores, pertencentes ao mesmo ordenamento jurídico ou, por ventura,
provenientes de outro ordenamento, que no entanto, das primeiras recebem
também força de normas jurídicas constitucionais.

Assim, temos Constituição formal nuclear que se refere as normas emanadas


directamente e imediatamente pelo poder constituinte original e Constituição
formal complementar as restantes, por contraposição.

As normas classificadas de Constituição formal nuclear correspondem às


normas definidas pelo legislador constituinte no texto original que traduz a letra
da Constituição material.

Exemplo a Constituição Norte Americana de 1787 é neste


sentido Constituição formal nuclear assim, como a
Constituição da República de Moçambique de 1975.

As normas classificadas de Constituição formal complementar correspondem,


por sua vez, às normas que decorrem do poder constituinte material definidas a
posterior resultantes da revisão constitucional que decorre dos ajustamentos que
se mostram ser necessários efectuar no processo da aplicação da Constituição
e apresentam-se conforme o sistema, sob forma de aditamento à Constituição,
no caso de sistema norte americano ou alteração à letra da norma

9
Constitucional original por uma nova redacção correspondente ao texto ora
aprovada.

Exemplo: Os aditamentos à Constituição Norte Americana


de 1787 são neste sentido Constituição formal
complementar como são também as revisões à
Constituição da República de Moçambique de 1975.

2.3 Sentido instrumental da Constituição

Um último sentido básico da constituição é o sentido instrumental, que é o


documento onde se insere ou se revela o texto que traduz a letra da constituição
material, isto é, onde estão depositadas (escritas) as normas constitucionais,
publicadas, enunciadas, reveladas.

As brochuras, livros e outros meios de revelação da Constituição são meros


documentos onde é reproduzido o texto da constituição e, por isso, não são a
Constituição em sentido instrumental.

A Constituição em sentido instrumental vem revelada no Boletim da República.

Portanto, Constituição em sentido instrumental é a lei fundamental sob forma de


um texto escrito ou como um documento escrito, oficial e tem como finalidade,
garantir a ordenação sistemática e racional das normas, através de um
documento escrito que permite uma estabilidade, segurança e certeza jurídica,
além de resolver alguns problemas relacionados com os efeitos da Constituição
como fonte de produção normativa, ou seja, a partir de quando vigora este ou
aquela norma.

3. A constituição em sentido institucional.

diz-se Constituição em sentido institucional, porque torna patente o estado


como instituição, como algo de permanente para lá das circunstâncias e dos
detentores em concreto do poder.

nos Estados modernos há sempre um conjunto de regras fundamentais,


respeitantes à estrutura, à organização e à sua actividade.

As regras fundamentais de qualquer Estado independentemente do regime e


sistema político que esteja a seguir e do conteúdo com que seja preenchido,
constam da Constituição escrita ou não, conforme já nos referimos.

o Estado para a sua subsistência requer a existência de princípios e


preceitos normativos que a regula e é com base nesses princípios e normas
que se opera a institucionalização do poder político.

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No constitucionalismo do passado a institucionalização do poder político não
se operava da mesma forma que se opera agora.

Na Grécia antiga, as Constituições não se destrinçavam dos sistemas


políticos e sociais. Porém, todos deviam orientar-se para um fim ético, a
Constituição nesta época é pensada como um sistema organizatório que se
impõe quer a governantes quer a governados e que se destina não tanto a
servir de fundamento do poder quanto a assinalar a identidade da
comunidade política.

No Estado estamental e no Estado absoluto, é visível a ideia de um direito do


Estado, a ideia de normas jurídicas superiores à vontade dos príncipes e na
fase final do absolutismo, vai-se enaltecer o poder monárquico e reconhece-
se a inelutabilidade de “leis fundamentais”, a que os Reis devem obediência
e que não podem modificar.

Através das “leis fundamentais” estabelece-se a unidade da soberania e da


religião do Estado, regula a forma de governo e sucessão no trono e dispor
sobre as garantias das instituições e dos grupos sociais e sobre os seus
modos de representação.

4. Classificações materiais de constituições

As Constituições modernas podem ser normativas, nominais e semânticas.

As normativas, são aquelas cujas normas dominam o processo político,


aquelas em que o processo do poder se adapta ou se conforma às normas
constitucionais e se lhes submete.

As Constituições classificadas de normativas limitam efectivamente o poder


político.

As nominais, são aquelas que não conseguem adaptar as suas normas à


dinâmica do processo político, pelo que ficam sem realidade existencial, mas
com a finalidade de limitar o poder político, embora o não limitam;

As Semânticas, são aquelas cuja a realidade ontológica não é senão a


formalização da situação do poder político existente em beneficio exclusivo dos
detentores de facto desse poder.

Trata-se das Constituições que apenas servem para estabilizar e eternizar a


intervenção dos dominadores de facto na comunidade.

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