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Instituto Superior de Ciências e Tecnologias de Moçambique

Escola Superior de Ciências Jurídicas e Artes


Licenciatura em Direito
2o. Ano – I Simestre
Teoria Geral do Direito Civil 1

Tema: Princípios do Direito Civil.

Discente:
Deise Boque

Docentes:
Álvaro Duarte
Gil Cambule
Ayrton Tembe

Maputo, Março 2024


Introdução
Desde tempos imemoriais, o Direito Civil tem servido como a espinha dorsal das relações
sociais, regulando e moldando as interações entre indivíduos em sociedade. Dentro desse vasto
campo jurídico, os princípios de Direito civil emergem como os alicerces fundamentais que
fundamentam as normas e regras que norteiam nossas vidas quotidianas.

Nas aulas anteriores, da Teoria Geral do Direito Civil discorremos a temática sobre os Princípios
fundamentais do Direito Civil, nas quais abordamos a definição dos princípios gerais do Direito
de modo a depreender, concretamente dos princípios no Direito Civil.

Por conseguinte, na presente dissertação daremos continuidade do tema e iremos explorar os


princípio do Direito Civil, destacando o princípio da Igualdade, o Princípio da personalidade
Colectiva, o princípio da autonomia privada, o princípio da responsabilidade civil, o princípio da
propriedade privada, o princípio da instituição família, o princípio do fenómeno sucessório e o
princípio da boa fé.

Esta dissertação se propõe a ser um guia exploratório, abordando os princípios de direito civil em
sua amplitude e profundidade.
Princípios Fundamentais do Direito Civil

Como dissemos nas aulas anteriores, os princípios são normas estruturantes de um sistema
jurídico, os quais funcionam como pilares de sustentação. Como todo fio condutor ou como
pilares de uma casa, assim são os princípios a orientarem o intérprete, eis que pode lançar mão
dos mesmos em qualquer situação de incerteza ou de incompletude da norma positivada,
harmonizando o próprio sistema jurídico. Passemos a análise dos oito princípios restantes:

A. Princípio da Igualdade.

O princípio da igualdade é um princípio fundamental do Direito. É sabido que os princípios


fundamentais são, historicamente, objectivados e introduzidos na consciência jurídica geral,
além de encontrarem uma recepção expressa ou implícita no texto constitucional. A ausência
explícita do princípio da igualdade no Código Civil pode ser vista como uma problemática, uma
vez que este princípio desempenha um papel crucial na fundamentação de decisões judiciais e na
construção de relações jurídicas justas. Os princípios fundamentais pertencem à ordem jurídica
positiva e constituem um importante fundamento para a interpretação, o conhecimento e a
aplicação do direito positivo. Os conformadores são princípios constitucionais que explicitam
valores políticos fundamentais do legislador constituinte, os quais condensam opções políticas
fundamentais e refletem a ideologia inspiradora da Constituição. ‘Eles são o cerne político da
Constituição1’.

Portanto, no artigo 35 da Constituição da República de Moçambique (CRM) estabelece, sob a


epígrafe "princípio da universalidade e igualdade" que todos os cidadãos são iguais perante a lei,
gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor,
raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posiçāo social, estado
civil dos pais, profissão ou opção política. Com dignidade constitucional, o princípio da
igualdade perpassa e enforma a globalidade do ordenamento jurídico disso não sendo excepção o
Direito Civil. Com efeito, a igualdade entre os sujeitos, pelo menos a nível teórico, é marca
própria do Direito Privado que, como vimos, engloba o Direito Civil, sendo entretanto que o
princípio da igualdade, como vector de orientação que é, apresenta-se como um elemento de
ordenação, devendo ser tido em conta pelo legislador (ao construir as normas) e pelo intérprete. 2
1
In GOUVEIA, JORGE. Direito Constitucional de Moçambique
2
In CAMBULE, GIL. Teoria geral do Direito Civil
Aplicação desse princípio no âmbito do Direito Civil

O princípio da igualdade, ao ser aplicado no contexto do Direito Civil, é fundamental para


garantir tratamento justo e imparcial entre as partes envolvidas em relações jurídicas. Este
princípio reflete o ideal de que todos os indivíduos devem ser tratados de maneira igual perante a
lei, sem discriminação arbitrária.

 No âmbito da fundamentação Constitucional:

O princípio da igualdade muitas vezes encontra sua base nas constituições, que afirmam a
igualdade de todos perante a lei 3. - O Direito Civil, ao ser influenciado por normas
constitucionais, deve assegurar que todos os cidadãos tenham acesso aos mesmos direitos e
oportunidades.

 Igualdade nas Relações Contratuais:

Na formação de contratos, o princípio da igualdade requer que as partes estejam em uma posição
equitativa (Conforme o artigo 405 do Codigo Civil). - Cláusulas abusivas ou contratos que criam
desigualdades substanciais podem ser considerados inválidos ou passíveis de revisão judicial.

 Igualdade nas Relações Familiares:

O Direito Civil, ao tratar de questões familiares, busca garantir igualdade entre cônjuges,
parceiros e filhos.(art 1 e seguintes da lei no 22/2019 de 11 de Dezembro). - A igualdade de
direitos e deveres no casamento, (título 3 da lei 22/2019, de 11 de Dezembro).

O princípio da igualdade se reflete no acesso à justiça. Todas as partes devem ter acesso
igualitário aos tribunais e ao processo judicial.Medidas que garantam a acessibilidade, como
assistência jurídica gratuita em certos casos, podem ser implementadas para reforçar esse
princípio.

B. . Princípio da personalidade Colectiva

3
segundo artigo 35 da CRM
Ao lado das pessoas individuais, denominadas também singulares, fisicas, reais, corpóreas,
naturais, existe, com efeito, a categoria das pessoas colectivas, também denominadas ficticias;
artificiais, abstractas, incorpóreas, misticas, sociais, morais e juridicas.

Sempre que uma necessidade humana, um fim de carácter mais ou mnenos perman ente, não
facil mente realizável com as forças e actividade đum só individuo, determina várias pessoas a
reünir-se e a cooperar para o mesmo fim, ou levar alguém a destinar-lhe dum modo estável e
duradouro um complexo de bens, forma-se assim uma instituição de natureza social e colectiva,
com uma organização juridica apropriada, a qual, para a satisfação das suas necessidades e
consecução de seus fins, se constitui, perfeitamente como as pessoas individuais, o centro de
propulsão e atracção.

O princípio da personalidade coletiva, também conhecido como personalidade jurídica de


entidades coletivas, é um conceito fundamental no Direito Civil. Esse princípio reconhece que
certas entidades, além das pessoas físicas, têm uma existência jurídica distinta e são capazes de
adquirir direitos e assumir obrigações. Aqui estão alguns aspectos importantes sobre o princípio
da personalidade coletiva:

Definição

A personalidade coletiva refere-se à capacidade jurídica atribuída a entidades que não são
indivíduos, como empresas, organizações sem fins lucrativos, associações, fundações e
sociedades. Empresas comerciais, sociedades anônimas, sociedades limitadas, entre outras
formas de organizações, são exemplos de entidades coletivas que possuem personalidade
jurídica.

Caracteristicas

- Entidades coletcivas têm a capacidade de adquirir direitos, como propriedade, e assumir


obrigações, como a celebração de contratos.Elas podem ser demandadas judicialmente e
processadas, assim como pessoas físicas.

- Um dos aspectos importantes da personalidade colectiva é a separação patrimonial entre a


entidade e seus membros. Os ativos e passivos da entidade são distintos dos ativos e passivos dos
indivíduos que a compõem.
- Em muitas formas de entidades coletivas, como sociedades limitadas e sociedades anônimas,
os membros têm responsabilidade limitada, ou seja, não são pessoalmente responsáveis pelas
dívidas e obrigações da entidade além de sua contribuição.

- Entidades coletivas têm autonomia contratual para celebrar acordos, negociar e agir em nome
da organização, desde que estejam agindo dentro dos limites legais e estatutários.

- A personalidade coletiva confere às entidades uma continuidade independentemente das


mudanças em sua composição. A morte ou retirada de membros individuais não afeta a
existência da entidade.

- Geralmente, o reconhecimento da personalidade coletiva requer um processo legal de registro


junto aos órgãos competentes, sujeito a regulamentações específicas do país.

C. Principio da autonomia privada

O princípio da autonomia privada é um dos pilares fundamentais do direito civil em muitos


sistemas jurídicos ao redor do mundo. Ele reconhece a capacidade das pessoas de determinar,
dentro dos limites legais, seus próprios interesses e relações jurídicas, sem intervenção excessiva
do Estado. Esse princípio concede aos indivíduos o direito de estabelecer suas próprias regras e
obrigações em contratos, negócios jurídicos e outras relações privadas, desde que essas ações
estejam em conformidade com a lei4.

A autonomia privada é um reflexo do valor atribuído à liberdade individual nas sociedades


democráticas e é considerada essencial para promover a liberdade de escolha, a eficiência
econômica e o desenvolvimento social. No entanto, é importante ressaltar que essa autonomia
não é absoluta e encontra limites em outros princípios e normas do direito, tais como a função
social do contrato, a boa-fé objetiva, a igualdade, a ordem pública e os direitos fundamentais.

Em sua essência, a autonomia privada abrange várias dimensões:

 Capacidade de Contratar: As partes devem ter capacidade legal para celebrar contratos.
Isso significa que devem ser capazes de compreender as consequências legais de seus
atos e agir de acordo com sua vontade livre e consciente. Pessoas jurídicas também
podem exercer autonomia privada, dentro dos limites de sua capacidade jurídica.

4
Artigo 405 e seguintes do codigo civil
 Liberdade de Contratar As partes têm liberdade para estabelecer os termos e condições
de seus contratos, desde que respeitem os princípios legais e éticos que regem as relações
contratuais. Isso inclui a liberdade de escolher com quem contratar, o objeto do contrato e
as cláusulas que o compõem.
 Liberdade de Estipulação Contratual As partes têm liberdade para estipular contratos
atípicos, ou seja, contratos que não estão previstos na lei, desde que observem os
princípios gerais do direito e os limites da autonomia privada.
 Liberdade de Forma As partes têm liberdade para escolher a forma de seus contratos,
exceto nos casos em que a lei exige uma forma específica para a validade do contrato.
 Liberdade de Disposição Patrimonial: As pessoas têm o direito de dispor de seus bens e
direitos de acordo com sua vontade, desde que respeitem os direitos de terceiros e os
limites impostos pela lei.

A autonomia privada é um princípio dinâmico que evolui com o tempo e reflete os valores e
necessidades da sociedade. No entanto, seu exercício deve ser equilibrado com outros princípios
e interesses jurídicos, de modo a garantir a justiça, a igualdade e o bem-estar coletivo.

D. Principio da responsabilidade civil

O princípio da responsabilidade civil é um dos pilares fundamentais do direito civil em muitos


sistemas jurídicos, incluindo o sistema jurídico português. Ele estabelece que aquele que causa
dano a outrem tem o dever de repará-lo, independentemente de culpa, sempre que exista uma
relação de causalidade entre o ato praticado e o prejuízo sofrido pela vítima.

Artigos Fundamentais:

- O princípio da responsabilidade civil no nosso pais está fundamentado principalmente nos


artigos 483.º e seguintes do Código Civil.

- O Artigo 483.º estabelece que "aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o
direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica
obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação".

Modalidades de Responsabilidade
- O Código Civil reconhece duas modalidades de responsabilidade civil: a responsabilidade
por acto ilícito (culposo ou doloso) e a responsabilidade por acto lícito.

-A responsabilidade por acto ilícito está prevista no Artigo 483.º, como mencionado
anteriormente. Nesse caso, o agente deve reparar o dano causado à vítima, seja por culpa grave
(dolo) ou por negligência (culpa).

- A responsabilidade por acto lícito está prevista no Artigo 488.º do Código Civil e ocorre
quando alguém, no exercício regular de um direito, causa dano a outrem.

Elementos da Responsabilidade Civil

- Para que haja responsabilidade civil, é necessário que se verifiquem três elementos
essenciais: a conduta ilícita (dolo ou culpa), o dano e o nexo de causalidade entre a conduta e o
dano.

- A conduta ilícita pode ser dolosa (intencional) ou culposa (negligente), como estabelecido no
Artigo 487.º do Código Civil.

- O dano pode ser material, moral ou patrimonial, e deve ser efetivo e quantificável.

- O nexo de causalidade estabelece a relação entre a conduta do agente e o dano causado à


vítima. De acordo com o Artigo 563.º, o nexo de causalidade existe quando o dano é
consequência direta e imediata da conduta do agente.

Excludentes e Atenuantes de Responsabilidade

- O Código Civil prevê algumas excludentes e atenuantes de responsabilidade civil, tais como o
caso fortuito, a força maior, a culpa da vítima e a concorrência de culpas.

- Por exemplo, nos termos do Artigo 570.º, a responsabilidade civil pode ser excluída ou
atenuada se o dano resultar de culpa exclusiva da vítima ou de terceiros.

Portanto, o princípio da responsabilidade civil, como delineado no Código Civil estabelece um


importante equilíbrio entre a liberdade individual e a proteção dos direitos e interesses das
pessoas, assegurando que aqueles que causam danos injustamente sejam responsabilizados e
obrigados a repará-los.

E. Principio da propriedade privada


O princípio da propriedade privada é um dos fundamentos essenciais do direito civil em diversos
sistemas jurídicos ao redor do mundo, incluindo o sistema jurídico português. Esse princípio
reconhece o direito de uma pessoa ou entidade possuir, usar, usufruir e dispor de bens de forma
exclusiva, desde que dentro dos limites legais e respeitando os direitos de terceiros. Vamos
explorar em detalhes esse princípio com base no Código Civil.

Base Legal

- O princípio da propriedade privada encontra-se consagrado no Artigo 1439.º do Código Civil


Português, que estabelece que "a propriedade plena confere ao seu titular os direitos de usar,
gozar e dispor das coisas, sem mais restrições do que as estabelecidas na lei".

Atributos da Propriedade

- A propriedade privada confere ao seu titular uma série de atributos, que incluem o direito de
usar, gozar, dispor e reivindicar a coisa.

- O direito de usar refere-se à faculdade de utilizar a coisa de acordo com o seu destino
econômico ou social, respeitando os limites legais e os direitos de terceiros.

- O direito de gozar refere-se à faculdade de usufruir dos frutos e utilidades da coisa, como
rendas, produtos ou serviços por ela proporcionados.

- O direito de dispor refere-se à faculdade de alienar, gravar ou modificar a coisa, de acordo


com a vontade do proprietário, dentro dos limites legais.

- O direito de reivindicar refere-se à faculdade de exigir o restabelecimento do seu direito de


propriedade em caso de violação por terceiros.

Limites e Restrições

- Embora a propriedade privada seja um direito fundamental, esse direito não é absoluto e pode
ser limitado por interesses públicos ou privados superiores, como a função social da propriedade,
a proteção do ambiente, a defesa dos consumidores.

- O Código Civil Português estabelece várias restrições à propriedade privada, como por
exemplo, as servidões legais, os direitos reais de gozo e garantia, as limitações administrativas,
entre outros.
Função Social da Propriedade

- O princípio da função social da propriedade, embora não esteja expressamente mencionado


no Código Civil, é reconhecido como um importante limite ao exercício do direito de
propriedade.

- Esse princípio implica que o exercício dos direitos de propriedade deve ser orientado para o
interesse coletivo e o bem-estar da comunidade, de modo a promover o desenvolvimento
econômico, social e ambiental.

Portanto, o princípio da propriedade privada, como delineado no Código Civil reconhece e


protege o direito dos indivíduos de possuir, usar e dispor de bens de forma exclusiva, mas
também estabelece limites e restrições necessárias para garantir o equilíbrio entre os interesses
individuais e colectivos.

F. Instituição da família

O princípio da instituição da família é uma das bases fundamentais do direito civil em muitos
sistemas jurídicos ao redor do mundo. Esse princípio reconhece a importância da família como
célula fundamental da sociedade, estabelecendo normas e proteções legais para regular as
relações familiares e promover o bem-estar dos seus membros5. relevantes:

Base Legal:

- O princípio da instituição da família está consagrado em diversos dispositivos legais do


Código Civil, na lei numero 22/2019, de 11 de Dezembro.

Natureza e Finalidade

- A instituição da família visa proteger e promover a formação e desenvolvimento das relações


familiares, assegurando o afecto, a solidariedade, a educação, a assistência e o amparo recíproco
entre os seus membros.

- A família é reconhecida como a base da sociedade e como o espaço privilegiado para a


realização dos direitos fundamentais da pessoa humana, como a dignidade, a igualdade, a
liberdade, entre outros.
5
Artigo 1 ab initio, da lei numero 22/2019, de 11 de Dezembro.
Direitos e Deveres dos Membros da Família

- O Código Civil Português estabelece uma série de direitos e deveres para os membros da
família, como por exemplo, o direito à assistência, à educação, à herança, à proteção da morada
de família, bem como na Constituição da Republica.

- Os cônjuges e os pais têm o dever de colaborar no sustento e educação dos filhos, bem como
no respeito mútuo e na assistência recíproca, conforme estabelecido nos Artigos 5 e 6 da lei
22/2019 do Código Civil, respectivamente.

Proteção e Promoção da Família

- O Estado tem o dever de proteger e promover a instituição da família, adotando medidas


legislativas, administrativas e sociais que garantam a sua estabilidade, coesão e desenvolvimento.

- O direito à proteção da família está consagrado na Constituição da República (Artigo 119.º),


que estabelece que a família, como elemento fundamental da sociedade, deve ser protegida pelo
Estado e pela sociedade.

Portanto, o princípio da instituição da família, como delineado no Código Civil e na legislação


correlata, reconhece e protege a importância da família como célula básica da sociedade,
estabelecendo normas e proteções legais para regular as relações familiares e promover o bem-
estar dos seus membros.

G. Fenómeno sucessório

O princípio do fenômeno sucessório é um dos pilares fundamentais do direito civil em muitos


sistemas jurídicos ao redor do mundo. Ele diz respeito à transmissão do patrimônio de uma
pessoa após sua morte, regulamentando como os seus bens serão transferidos aos herdeiros ou
legatários.

Natureza e Finalidade

- O fenômeno sucessório regula a transferência de bens, direitos e obrigações de uma pessoa


após o seu falecimento. Sua finalidade é assegurar a continuidade do patrimônio, garantir a
proteção dos interesses dos herdeiros e legatários, e promover a justiça na distribuição dos bens
do falecido.
Base Legal

O fenômeno sucessório é regulado principalmente pelo direito das sucessões, que faz parte do
direito civil em muitos países, incluindo o Código Civil, lei número 23/2019, de 23 de
Dezembro.

Modalidades de Sucessão

- Existem diferentes modalidades de sucessão, incluindo a sucessão legal (ou intestada) e a


sucessão testamentária.

- Na sucessão legal, os bens do falecido são distribuídos de acordo com as regras estabelecidas
pela lei, na ausência de testamento válido.

- Na sucessão testamentária, os bens são distribuídos de acordo com as disposições expressas


no testamento deixado pelo falecido.

Herdeiros e Legatários

- Os herdeiros são as pessoas que têm direito à herança do falecido, enquanto os legatários são
aqueles que recebem legados específicos.

- Os herdeiros são classificados em ordens de preferência, de acordo com o grau de parentesco


com o falecido.

Princípio da Igualdade na Sucessão

- Em muitos sistemas jurídicos, incluindo o Código Civil, existe o princípio da igualdade na


sucessão, que visa garantir tratamento igualitário entre os herdeiros, independentemente do sexo,
estado civil, filiação.

Função Social da Herança

- A herança não é apenas uma questão de direitos patrimoniais, mas também envolve
considerações sociais, familiares e culturais.
- A sucessão deve promover a justiça distributiva, a solidariedade familiar e a preservação do
patrimônio familiar ao longo das gerações.

H. Principio da Boa fé

Esse princípio estabelece que as partes devem agir de acordo com os padrões de honestidade,
lealdade e probidade nas relações jurídicas, tanto na fase de formação quanto na execução dos
contratos e negócios jurídicos.

Base Legal

- O princípio da boa-fé está consagrado no Código Civil em vários dispositivos legais, sendo o
Artigo 227.º um dos mais importantes. Este artigo estabelece que "os direitos devem ser
exercidos e os encargos cumpridos de acordo com as exigências da boa-fé, tendo em conta a
função social de tais direitos".

Natureza e Finalidade

-A boa-fé é um princípio ético-jurídico que visa promover a equidade, a lealdade, a confiança e


a segurança nas relações jurídicas. Sua finalidade é garantir a proteção dos interesses legítimos
das partes, prevenir o abuso de direito, promover a justiça contratual e preservar a ordem pública.

Dever de Informação e Cooperação

- As partes têm o dever de informar de forma clara, precisa e completa todas as informações
relevantes para a conclusão do negócio jurídico. Além disso, as partes devem cooperar entre si e
agir de boa-fé na execução dos contratos, respeitando os interesses legítimos da outra parte e
evitando condutas abusivas ou fraudulentas.

Dever de Lealdade e Honestidade

- As partes devem agir com lealdade e honestidade nas negociações e na execução dos contratos,
respeitando os compromissos assumidos e evitando condutas que violem a confiança depositada
pela outra parte.

- Isso inclui a obrigação de não agir de forma enganosa, dissimulada, abusiva, ou de aproveitar-
se de situações de vulnerabilidade da outra parte.
Princípio da Confiança Legítima

- O princípio da boa-fé gera uma expectativa razoável de que as partes cumprirão suas
obrigações de forma honesta e leal. Assim, a confiança legítima na boa-fé das partes é um
elemento essencial para o funcionamento eficaz das relações jurídicas, garantindo a
previsibilidade, a segurança e a estabilidade nas transações comerciais e sociais.

Sanções por Violação da Boa-fé

- A violação da boa-fé pode acarretar diversas consequências jurídicas, tais como a anulação do
negócio jurídico, a responsabilização por perdas e danos, e até mesmo a aplicação de sanções
específicas previstas na lei (artigo 892 do Codigo Civil).
Conclusão

A presente dissertação abordou os princípios da teoria do direito civil, proporcionou uma


profunda análise sobre os fundamentos que regem as relações jurídicas na esfera civil. Ao
explorar princípios como autonomia privada, responsabilidade civil, propriedade privada,
instituição da família, fenômeno sucessório e boa-fé, foi possível compreender a complexidade e
a importância desses conceitos no ordenamento jurídico.

Conclui-se, portanto, que os princípios da teoria do direito civil desempenham um papel


fundamental na estruturação e aplicação do direito civil, fornecendo alicerces sólidos para a
construção de relações jurídicas justas, equitativas e harmoniosas na sociedade. Esses princípios
não apenas orientam a interpretação e aplicação das normas legais, mas também refletem os
valores fundamentais da justiça, igualdade, liberdade e dignidade humana.

Através dessa dissertação, foi possível reconhecer a interconexão e a complementaridade entre


os diversos princípios do direito civil, bem como a sua importância na promoção do bem-estar
social e na protecção dos direitos e interesses dos cidadãos. Portanto, é fundamental que esses
princípios sejam devidamente compreendidos, respeitados e aplicados pelos operadores do
direito, visando sempre à realização da justiça e ao fortalecimento do Estado de Direito.
Referências Bibliograficas

PINTO, Carlos Alberto da Mota - Teoria Geral do Direito Civil. 4ª ed. Coimbra:
Almedina, 2005.

GOUVEIA, Jorge Bacelar. Direito Constitucional de Moçambique, 1 a ed.


Lisboa/Maputo, 2015

______Codigo Civil, plural editores, 1966.

CAMBULE, Gil. Teoria Geral do Direito Civil, 1a ed. W. Editora, 2017, vol 1

MACIE, Albano. Manual de Direito Admnistrativo, Escolar Editora, 2021

ANOTILHO, José Joaquim Gomes – Direito Constitucional e Teoria da


Constituição. 7.ª ed. Coimbra: Almedina, 2003.

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