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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CURSO: ADMINISTRAÇÃO

APOSTILA

INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS

PROFª. DÉBORA GOMES GALVÃO BASÍLIO

2023
UNIDADE I – FONTES DO DIREITO

1 - Conceito:

Fontes vem do latim “fontis” e significa nascente da água. Fazendo a analagia ao


Direito, podemos dizer que descobrir a fonte do direito é saber onde a regra jurídica sai
da vida social para aparecer no Direito.

2 - Espécies de fontes: Históricas, materiais e formais

Históricas

Apesar do direito estar sempre em evolução, contém idéias permanentes que se


conservam presentes na ordem jurídica. O estudo do ordenamento jurídico atual, para
proporcionar um conhecimento pleno, deve procurar subsídios nas fontes históricas.
Nessa perspectiva, o retorno ao Direito Romano torna-se imperativo.

Materiais ➔ fatos sociais – principal fonte

O Direito não é uma vontade do legislador mas uma criação que depende da
vontade social. É a sociedade que vai fornecer ao legislador os elementos necessários para
a formação dos estatutos jurídicos. Como causa do Direito, as fontes materiais são
constituídas pelos fatos sociais, pelos problemas que emergem da sociedade.

As fontes podem ser divididas em diretas e indiretas. As indiretas são os fatores


jurídicos, como a moral, a economia, a Geografia e as diretas são os órgãos elaboradores
do Direito, como por ex. a sociedade que cria o Direito consuetudinário, o poder
legislativo que constrói as leis e o Judiciário que produz a Jurisprudência.

Formais

São os meios de expressão do Direito, a forma como as normas jurídicas se


exteriorizam, tornam-se conhecidas. As principais fontes formais são as leis e costumes.
Necessário então que o Direito seja criado com a criação das normas jurídicas.
As fontes são divididas em diretas e indiretas.
As fontes formais diretas são as leis e os costumes.
As fontes formais indiretas ou não formais são as doutrinas jurídicas e as
jurisprudências que, não criam normas, mas fornecem subsídios para o encontro destas
normas.
No Brasil, a principal forma de expressão do Direito, ou fonte formal, é o direito
escrito, que se manifesta por leis e códigos. Os Costumes são considerados fontes
complementares. A Jurisprudência se caracteriza pelo conjunto uniforme de decisões
judiciais sobre determinada indagação jurídica, não tem a função de gerar normas
jurídicas, apenas de interpretar o Direito à luz dos casos concretos.
Cada fonte tem uma origem própria. Toda fonte pressupõe uma estrutura de poder.
A lei é emanação do poder legislativo. O costume é a expressão do poder social.
A sentença é ato do poder Judiciário.
3 – Direito Costumeiro

É comum, na historia do Direito, sua relação com os fatos sociais, que constituem
a sua fonte material. No passado, os costumes além de fonte material eram a forma de
expressão do direito, já que era a principal forma de expressão do Direito. Atualmente,
os costumes, ou fatos sociais são considerados o órgão gerador do Direito e têm a função
apenas supletiva da lei.
O Direito escrito já absorveu quase a totalidade das normas consuetudinárias,
salvo dos povos anglo-americanos, onde o Direito costumeiro ainda tem uma relativa
importância, mas tende a diminuir com a crescente produção legislativa.
Todos os povos, primitivamente, adotaram normas de controle social, geradas
pelo consenso popular e as antigas legislações, como as XII tábuas que foram em grande
parte compilações dos costumes.
Não se pode admitir, entretanto, que o Direito teve uma formação totalmente
espontânea e democrática, como uma criação do povo. Pesquisas revelam que a estrutura
das sociedades primitivas era mais patriarcal do que democrática.
A partir do séc. XIX, começou a haver uma mudança na forma de manifestação
do Direito. Com o racionalismo filosófico, doutrina que destaca o poder da razão humana
e a elaboração do Código de Napoleão, influenciaram na codificação do Direito de quase
todos os povos.

Conceito.

É uma prática gerada pelas forças sociais. A lei é um processo intelectual que se
baseia nos fatos e expressa a opinião do Estado. A formação dos costumes é lenta e
decorre das necessidades sociais. Diante de um caso concreto, não definido por qualquer
norma vigente, as partes envolvidas, com base no bom senso e no sentido natural de
justiça, adotam uma solução, que por ser racional e estar de acordo com o bem comum,
vai servir de modelo para casos semelhantes. Essa pluralidade de casos, com o passar do
tempo, cria a norma costumeira.
O direito costumeiro pode ser definido como um conjunto de normas de
conduta social, criadas espontaneamente pelo povo, através do uso reiterado,
uniforme e que gera a certeza de obrigatoriedade, reconhecidas e impostas pelo
Estado.
Na prática, a distinção entre lei e costume consiste no fato de a lei ser sempre
escrita e o costume ser oral, pois a fonte e o conteúdo são iguais. Assim, podemos concluir
que uma vez escrita, a norma deixa de ser costumeira para incorporar-se à categoria de
Direito Codificado.
Apesar dos costumes representarem a forma mais legítima e autêntica do Direito,
pois são o produto voluntário das relações da vida, não garantem a segurança jurídica
como as normas positivadas. Essa circunstância dá a lei uma superioridade aos costumes,
principalmente em Estados com grandes extensões territoriais, onde há uma diversidade
de usos e costumes.
Elementos do Costume

Elementos materiais e psicológicos.

O elemento material, objetivo ou exterior consiste na repetição constante e


uniforme de uma prática social. Consiste na pluralidade de atos, um longo tempo e uma
única fórmula. Com relação à quantidade de atos ou o tempo necessário, para Paulo
Nader, esse quantitativo de atos e de tempo deve ser o suficiente para gerar na consciência
popular, a convicção da obrigatoriedade da prática social.
O elemento psicológico, subjetivo ou interno, é o pensamento, a convicção de
que a prática reiterada, constante e uniforme é necessária e obrigatória. É a certeza de que
a norma adotada espontaneamente pela sociedade possui valor jurídico.

A aplicação supletiva dos costumes

O nosso Direito admite a aplicação supletiva dos costumes, quando há lacunas na


lei. Na falta de uma disposição legal aplicável, deverá o juiz decidir de acordo com o
direito costumeiro e na falta deste poderá se valer da doutrina e da jurisprudência. O art.
4º da lei de introdução ao Código Civil prevê “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o
caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito”.
Exemplo do uso do costume no nosso direito é o uso do cheque-pós-datado,
vulgarmente conhecido como pré-datado. O Costume, neste caso, descaracterizou o
cheque como ordem de pagamento à vista, e o poder judiciário não pôde deixar de
conhecer deste fenômeno pela grande maioria das pessoas em seus atos de comércio.
Pode-se dizer que o uso e o costume de emitir cheque pós-datado criou o instituto
do cheque como promessa de pagamento, diferente do regulamento legal, que é a ordem
de pagamento à vista.

Valor dos Costumes

Para o Direito Brasileiro, a principal fonte formal do Direito é a lei, como pode-
se observar na segunda parte do art. 126 do CPC, “ No julgamento da lide, caber-lhe-á
aplicar as normas legais, não as havendo, deverá recorrer a analogia, aos costumes e aos
princípios gerais do Direito. Em vários ramos do direito, os costumes são aceitos, civil,
comercial, trabalhista, menos no direito penal, em face do princípio da reserva legal (
“Não há crime, não há pena, sem lei anterior” ), a norma costumeira não é admitida como
fonte.

Prova dos Costumes

O princípio segundo o qual os juízes conhecem o Direito, pelo qual as partes não
precisam provar a existência do Direito invocado, não tem aplicação para os costumes já
que o art. 337 do CPC dispõe “A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro
ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a vigência se assim determinar o juiz”. Podem
ser provados por diversos modos. Documentos, testemunhas, vistorias, etc..
4- Jurisprudências

Conceito

Precedentes Judiciais, reunião de decisões judiciais, interpretadoras do Direito


vigente. Os Tribunais, na sua tarefa de julgar, desenvolvem a análise do Direito,
registrando na prática várias hipóteses de incidência das normas jurídicas. A contribuição
das jurisprudências é grande à experiência jurídica, já que, ao revelar o alcance e o sentido
das leis, o poder judiciário beneficia a ordem jurídica tornando-a mais clara, mais definida
e mais acessível ao conhecimento.
Assim, para conhecer bem o Direito, não basta o estudo das leis mas também a
consulta às jurisprudências.
A jurisprudência constitui a definição do Direito elaborado pelos Tribunais.

Jurisprudência X Costume

É análoga a lei por sua formação reflexiva e semelhante ao costume por necessitar
de uma pluralidade de atos. A formação de ambos exige uma pluralidade de práticas: o
costume necessita de repetição de um ato pelo povo e a jurisprudência requer uma série
de decisões judiciais sobre uma determinada questão de Direito.
Costume e jurisprudência pressupõem uma uniformidade de procedimentos: é
necessário que a prática social se reitere igualmente e que as sentenças judiciais sejam
invariáveis.
Se diferenciam porque: 1) enquanto a norma costumeira é obra de uma
coletividade de indivíduos que integram a sociedade a jurisprudência é produto de um
setor de organização social. 2) A norma costumeira é criada no relacionamento comum
dos indivíduos, no exercício natural de direitos e cumprimento dos deveres, a
jurisprudência é formada, geralmente, diante de conflitos é e produto dos tribunais. 3) A
norma costumeira é criação espontânea enquanto a jurisprudência é elaboração intelectual
e reflexiva.

A jurisprudência cria o Direito. ➔ função – interpretar a lei

A jurisprudência constitui uma fonte indireta do Direito, que influencia na


formação das leis, por seu conteúdo doutrinário. Mas não é uma forma de expressão do
Direito como as leis, limita-se a revelar o Direito preexistente. O papel dos Tribunais não
pode ir além da interpretação ou integração do Direito a ser aplicado. Se os juízes
passassem a criar o Direito, haveria uma intromissão arbitrária na área de competência
do legislativo. Os juízes devem ser guardiões da lei e a sua função é a de interpretar o
Direito e não criá-lo.

A Jurisprudência vincula os Tribunais?

Na Inglaterra, a jurisprudência passou a ser obrigatória. No Brasil, a


Jurisprudência apenas orienta, informa. Os juízes de instância inferior não têm o dever de
acompanhar a orientação hermenêutica dos tribunais superiores. O juiz, ao decidir, deve
aplicar a norma de acordo com a sua convicção, com base na lei e recorrendo a outras
fontes como a doutrina e a jurisprudência.
Processos de Unificação da Jurisprudência

O nosso sistema prevê que, no caso das jurisprudências divergentes, há a


possibilidade do recurso especial que será julgado pelo STJ, com fundamento no art. 105,
III, c, da Constituição Federal. As súmulas dos tribunais também têm esse papel, sobre
questões de Direito, em que se manifestam divergências de interpretação entre turmas ou
câmaras, os tribunais fixam a sua inteligência, mediante ementas, que favorecem a
unificação jurisprudencial. O CPC em seus arts. 476 e 479, dispõe sobre as condições
para a elaboração das súmulas pelos Tribunais.
Ex. de súmula do STF, nº 380 “Comprovada a existência da sociedade de fato
entre os concubinas, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio
adquirido pelo esforço comum”

Súmula Vinculante

É importante ressaltar que as súmulas vinculantes foram previstas na emenda


constitucional nº 45 de 2004, que acrescentou o art. 103- A na CF. “O Supremo Tribunal
Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus
membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a
partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais
órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma
estabelecida em lei”.

Conceito

É a jurisprudência que, quando votada pelo Supremo Tribunal Federal, se torna


um entendimento obrigatório ao qual todos os outros tribunais e juízes, bem como a
Administração Pública, Direta e Indireta, terão que seguir. Na prática, adquire força de
lei, criando um vínculo jurídico e possuindo efeito erga omnes.( para todos).

Observe-se que a referida espécie de súmula não vincula o Poder Legislativo, sob
pena de criar uma indesejável petrificação legislativa, nem o próprio STF, que pode
alterar o seu entendimento esposado em súmula vinculante, através de votação que
obedeça ao mesmo quórum necessário à sua aprovação inicial (2/3 dos seus membros).

5- Doutrina Jurídica -

A Doutrina Jurídica compõe-se de estudos e teorias, desenvolvidas pelos juristas,


com o objetivo de sistematizar e interpretar as normas vigentes e de conceber novos
institutos jurídicos, reclamados pelo momento histórico. Estes estudos estão nos tratados,
monografias e sentenças prolatadas.

Funções da Doutrina

Atividade criadora – É a doutrina que introduz os novos conceitos, teorias e


institutos no mundo jurídico. Para acompanhar a dinâmica da vida social, o Direito tem
que evoluir, mediante a criação de novos princípios e formas.
Função Prática da Doutrina – O jurista ao estudar o Direito, vai selecionar as
normas jurídicas e para analisá-las vai sistematizar reunindo as disposições que
interessam a sua pesquisa. Sistematizando, vai interpretar as normas e revelar o sentido e
o alcance das normas. Esse resultado de seleção e de interpretação vai ser útil não só para
os profissionais do Direito mas para os destinatários da norma, que tem o dever de seguir
as determinações.
Atividade Crítica – Os juristas não vão apenas se limitar a dizer a mensagem
contida na norma, mas vão submetê-la a juízos de valor, a uma plena avaliação, sob
diferentes ângulos. É deste contraste de opiniões, das divergências das correntes de
pensamento, que vai nascer um instrumento realmente eficaz.
A doutrina se desenvolve no plano teórico, oferecendo subsídios ao legislador na
formação dos documentos legislativos. É tarefa dos juristas de investigar os princípios e
institutos necessários.
A atividade doutrinária facilita a vida dos advogados e juízes, já que vão fornecer
subsídios para os mesmos, com a disponibilização de conhecimento para postularem em
juízo ou para julgarem.
Essa influência é clara nas universidades, onde se torna decisivo o ensino do
Direito.

Fonte indireta do Direito

A doutrina não é uma fonte formal do Direito, porque não possui estrutura de
poder, indispensável à caracterização das fontes formais.
É uma fonte indireta do Direito, já que favorece o trabalho do legislador.

Argumento de autoridade

Consiste na citação de opiniões doutrinárias como fundamento de uma tese


jurídica que se desenvolve. A advocacia é uma arte de convencimento, então o advogado
se empenha no diagnóstico dos fatos, utilizando os elementos de prova e ainda na
caracterização do direito.
Para a análise do direito, o ponto de partida é a análise das fontes formais e a
seguir vai fazer a interpretação dos dispositivos legais, devendo recorrer não só ao seu
próprio argumento, mas também os subsídios da doutrina e da jurisprudência.
Orientação Prática – Não se deve conceder ao argumento de autoridade um valor
absoluto, como toda obra humana pode conter falhas. Não é incomum um autor, da edição
de uma obra para outra, mudar de entendimento quanto a uma matéria controvertida.

6 - Analogia Legal

Integração – Processo de preenchimento das lacunas existentes na lei, por


elementos que a própria legislação oferece ou por princípios jurídicos, mediante operação
lógica e juízos de valor.
A integração se dá pelos Princípios Gerais do Direito e pela Analogia.
Os elementos de integração não se confundem com as fontes formais, porque não
formulam diretamente as normas jurídicas, apenas orientam o legislador a localizá-las.
O art 126 do CPC dispõe que “o juiz não se exime de sentenciar ou despachar
alegando lacuna ou obscuridade da lei”.
O art. 4º do da Lei de introdução ao CC dispõe: “Quando a lei for omissa, o juiz
decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do Direito”.
Conceito: É um recurso técnico que consiste em se aplicar, a uma hipótese não
prevista pelo legislador, a solução por ele apresentada para outro caso fundamentalmente
semelhante a não prevista.
Não é uma fonte formal porque não cria a norma, apenas conduz o intérprete ao
seu encontro.
É aplicada quando há lacunas na lei, quando a situação de fato não foi prevista
pelo ordenamento. A tarefa do juiz é de investigar no sistema jurídico vigente, a hipótese
prevista pelo legislador que apresenta semelhança com o caso concreto. Esta hipótese
definida em lei é chamada de paradigma.
O Fundamento da analogia é dar segurança jurídica ao Sistema, evitando
tratamentos contraditórios para situações semelhantes. Impede a prática de injustiça.

Procedimento Analógico

A aplicação da analogia pressupõe não apenas a aplicação de um caso semelhante


pelo intérprete, mas aplicação de juízos de valor de sentimento ético pelo aplicador do
Direito.
É preciso que se tenha a certeza da semelhança não só dos fatos, mas da razão que
levou o legislador a disciplinar o segundo caso, usado como paradigma para o julgamento
do caso em questão.

7 - Princípios Gerais do Direito

Conceito

Para iniciar pode-se conceituar princípio como o início, a origem, o começo, a


causa. Vem do latim “principium”, com o significado de origem, começo, base.
É o alicerce, a base, o suporte do ordenamento jurídico.
Pode-se citar princípios morais, religiosos e políticos que servem de parâmetro de
como agir dentro de um contexto social..
Mas além dos princípios éticos, que são as regras morais e de conduta que
orientam o comportamento das pessoas, temos os princípios de Direito, que se inserem
no ordenamento jurídico, orientando o legislador e o aplicador do Direito. Esses
princípios podem ter se originado da ética e da política, mas vão ser aplicados no Direito.
Os princípios são como vigas ou alicerces que dão sustentação ao edifício. Este é
o ordenamento jurídico.
O Significado semântico da expressão:

Princípio: significado de origem, começo, base.


Gerais: idéia de distinção entre gênero e espécie e oposição entre pluralidade e
singularidade.
Direito: caráter de juridicidade, o que está conforme a reta, o que dá a cada um o
que lhe pertence.

Funções: para o Direito, os princípios são importantes em duas fases:

1) Na elaboração das leis e na aplicação do Direito, pelo preenchimento das


lacunas da lei. O legislador vai tomar como ponto de partida os princípios na elaboração
das leis. São os princípios que dão consistência ao edifício do Direito, a qualidade da lei
está diretamente relacionada com a escolha dos princípios escolhidos pelo legislador. Se
os princípios não forem justos, a obra legislativa não será justa.

2) Na segunda função de preenchimento das lacunas, o aplicador do Direito


deverá perquirir quais os princípios e valores que nortearam a formação do ato legislativo.
A direção metodológica é inversa: da análise da regra jurídica, por indução, vai revelar
quais os princípios que informaram o ato legislativo.

Os princípios têm a função supletiva, nas lacunas ou omissões, quando inexistem


outras normas jurídicas que possam ser utilizadas pelo intérprete. São utilizados como
regra de integração na norma jurídica, preenchendo as lacunas, completando, inteirando.
O art. 8º da CLT autoriza o interprete a utilizar-se da analogia, da equidade e dos
princípios gerais do Direito, principalmente do Trabalho, na falta de disposições legais
ou contratuais específicas...
O art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil permite ao juiz, quando a lei for
omissa decidir o caso concreto de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais do Direito.

Conflito de Princípios

Quando há conflito de princípios, deve-se verificar o peso relativo de cada um


deles, a solução decorre sempre da interpretação que faz prevalecer o mais recente sobre
o anterior, o de maior grau sobre o menor, os especiais quando existentes devem
prevalecer sobre o principio geral. Deve-se observar ainda a preponderância do princípio
de interesse público sobre o particular, ou a prevalência do princípio do interesse público
sobre o direito adquirido. Citar como ex. a desapropriação de um imóvel visando o
interesse público.

Exemplos de Princípios Gerais do Direito

Destaca-se, por exemplo, o princípio de que ninguém pode alegar


desconhecimento do Direito. O art. 3º do Código Civil é claro no sentido de que ninguém
se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º III ) que é um
dos objetivos do nosso Estado Democrático de Direito. Ainda, o inciso X do art. 5º da Lei
maior, assegura a inviolabilidade à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das
pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação.
O princípio do abuso de direito ou do lícito exercício regular do próprio direito,
previsto no CC, art. 188.
Veda, ainda, o Direito o enriquecimento sem causa, não podendo uma pessoa
locupletar-se de outra enriquecendo às custas dela, sem que haja causa para tanto.
Função Social do Direito, regulando a vida humana na sociedade, estabelecendo
regras de conduta que devem ser respeitadas por todos.
O princípio da razoabilidade e da proporcionalidade, no sentido de que não se
pode impor condutas a não ser para o estrito cumprimento do interesse público. Não se
pode agir com excessos, nem de modo insuficiente.
O princípio da boa fé ( art. 422 do Código Civil) e no art. 14 II do CPC. Presume-
se a boa fé devendo a má fé deve ser provada.
Princípios relativos a contratos, como o de que o contrato faz lei entre as partes,
ou da força obrigatória dos contratos, disso decorre o “pacta sunt servanda”, ou seja, os
acordos devem ser cumpridos. Essa regra sofre atenuações como a cláusula “rebus sic
stantibus”. Enquanto as coisas permanecerem como estão, devem ser observadas as regras
anteriores. Se houver alguma modificação substancial, deve haver revisão da situação
anterior. Por ex. o caso do empregador que paga o adicional de insalubridade ao
empregado, que presta serviços em condições prejudiciais à saúde. Entretanto, esse
pagamento pode ser revisto em decorrência da utilização de equipamentos de proteção
individual, que eliminem a insalubridade existente no ambiente de trabalho.
O mesmo pode-se dizer, quando há mudança na realidade econômica, que pode
implicar grave desequilíbrio contratual entre as partes, que não era previsto na relação
inicial, necessitando também haver revisão das condições anteriormente pactuadas.

UNIDADE II – NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

1- Rigidez e supremacia da Constituição

Em razão da maior dificuldade para modificação de suas normas, que não podem
ser alteradas pela simples edição de leis infraconstitucionais, a Constituição rígida é
considerada a lei suprema do país, a denominada “lex legum” (a lei das leis ), localizada
no ápice da pirâmide normativa do Estado, da qual todas as demais leis e atos normativos
necessariamente extraem seu fundamento de validade. Não só os atos legislativos, como
todos os atos do poder público (administrativo e jurisdicionais) além dos atos particulares.

O princípio da supremacia constitucional, ao menos do ponto de vista jurídico,


decorre da rigidez constitucional, uma vez que somente serão consideradas válidas as
normas infraconstitucionais que se revelarem compatíveis com os princípios e regras
protegidos pela constituição, que não podem ser, revogados pela simples edição de
legislação infraconstitucional.

FONTE: DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO – MARCELO


ALEXANDRINO E VICENTE PAULO.
O Direito constitucional tem por objeto o estudo dos princípios e regras da
Constituição de um Estado específico. É um ramo do Direito Público que tem por objeto
o conjunto de princípios e regras que tratam da organização fundamental do Estado.
A constituição é a lei fundamental do Estado, a norma positiva que condiciona a
edição as normas infra-constitucionais. Trata-se de norma superior do sistema, que
empresta validade as demais normas dos ordenamentos jurídico estatal, consistindo no
fundamento destas.
Constituição, em sentido jurídico, pode ser definida como norma jurídica
fundamental, seja como um conjunto de normas formais e solenes, elaboradas por órgão
constituinte, chamada constituição escrita seja formada pela reunião de costumes ,
jurisprudências e também leis esparsas, chamada constituição não escrita. Disciplina a
organização do Estado, e condiciona a edição, interpretação e validade das normas infra-
constitucionais.

2- Conceito de Direito Constitucional

Conjunto de normas ( princípios e regras ) que fornecem a organização


fundamental do Estado, principalmente as referentes a sua estrutura, forma de Estado e
governo, regime político, modo de aquisição e exercício do poder, estabelecimento de
seus órgãos e fixação de suas competências, direitos e garantias fundamentais, além dos
direitos sociais e econômicos.

3 - Classificações das Constituições

Constituições quanto à origem: Promulgadas, outorgadas ou bonapartistas.

Constituição promulgada: Também denominada democrática ou popular é


aquela produzida por uma assembléia constituinte, composta por representantes eleitos
pelo povo, e criada exatamente para este fim. No caso do Brasil, foram promulgadas as
Constituições de 1891,1934, 1946 de 1988.

Constituição outorgada: É aquela produzida não por uma Assembléia Nacional


Constituinte, refletindo a vontade popular, mas sim pela imposição do agente
revolucionário, ou seja aquele governante que detém o poder à época da sua instituição.
É também chamada de carta constitucional. É típica de movimentos ditatoriais. No caso
do Brasil, foram outorgadas as constituições de 1824,1937,1967, e EC nº 1/1969. A
aceitação dessa Constituição costuma ser tácita, já que as normas acabam sendo
respeitadas pelo povo.

Constituição Cesarista ou bonapartista (assim chamada porque foi utilizada por


Napoleão Bonaparte) é aquela em que o agente revolucionário, geralmente um ditador,
solicita prévio consentimento do povo para elaborar um texto constitucional.

Constituições quanto ao conteúdo: materiais ou formais

Constituição material: É aquela composta por normas essenciais à caracterização


do Estado. Composta exclusivamente pelo conjunto de princípios e regras materialmente
constitucionais, que tratam da organização fundamental da entidade estatal,
principalmente as relativas a estrutura do Estado, forma de estado e de governo, regime
político, modo de aquisição e exercício de poder, além dos direitos e garantias
fundamentais.
Pode ser escrita ou não escrita.

Constituição formal: É aquela expressa necessariamente em um documento


formal e solene, instituído pelo poder constituinte originário, e que pode conter em seu
corpo outras normas que não substancialmente as materialmente constitucionais.
Essas normas que não têm normas essencialmente constitucionais, são incluídas
no texto constitucional apenas porque o constituinte desejou realçar a importância dos
temas nelas disciplinados, ou para fazê-las gozar de maior estabilidade, no caso de ser
uma constituição rígida, ao exigir processos mais difíceis de alteração do que os previstos
para a legislação infraconstitucional.
Assim podemos diferenciar as normas materialmente constitucionais, como
aquelas que disciplinam temas essencialmente constitucionais, relativos à própria
existência do Estado e as normas formalmente constitucionais, como aquelas
consideradas constitucionais apenas por figurarem no corpo de uma constituição escrita,
não guardando efetiva correspondência com as normas essenciais a existência do Estado.
Exemplos de normas materialmente constitucionais, na CF de 1988, nós temos
nos artigos que tratam dos direitos e garantias individuais, da organização do Estado e
dos poderes. Exemplo de normas formalmente constitucionais, o art 242 § 2º da Carta
Magna que prevê que o “o colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será
mantida na órbita federal”.

Constituições quanto à forma: escritas ou não escritas.

Constituição Escrita: É aquela expressa em um documento único, formal e


solene, elaborado por um órgão constituinte, e que contém todas as normas consideradas
essenciais à formação e regência do Estado. É o caso de constituição de 1988.

Constituição não escrita: Não expressa em um único documento formal e


solene, mas sim em um conjunto de normas esparsas,somadas aos costumes e
jurisprudências ( decisões proferidas pelo judiciário ). Muito utilizada no sistema,
common law, do direito anglo-saxão. O exemplo mais citado é o da constituição inglesa.

Common Law: do ingês: direito comum” é o direito que se desenvolveu em certos


países por meio das decisões dos tribunais e não mediante atos legislativos ou
executivos. O direito é criado ou aperfeiçoado pelos juízes: uma decisão a ser tomada
num caso depende das decisões adotadas em casos anteriores e afeta o direito a ser
aplicado a casos futuros. Nesse sistema, quando não existe um precedente, os juízes
possuem a autoridade de criar o direito, estabelecendo um precedente. O conjunto de
precedentes é chamada de common law e vincula as decisões futuras.

Importante ressaltar que a constituição brasileira apesar de ser escrita, devendo ter
suas normas todas contidas em um único documento, excepcionalmente previu ( EC
45/2004 ) a existência de normas fora de seu corpo, ao permitir que tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos sejam admitidos em nosso ordenamento com força
de emenda constitucional.
Constituições quanto à estabilidade: imutáveis, rígidas, semirrígidas ou
flexíveis.

Essa classificação refere-se a possibilidade ou não de alteração de seu texto.

Constituição imutável: Aquela que não pode sofrer qualquer espécie de alteração
de seu texto. Muito rara, podem ser citadas como exemplos as cartas políticas de alguns
países islâmicos, em razão da forte vinculação do Estado à religião.

Constituição rígida. É a modalidade de constituição (sempre escrita), que permite


alterações de seu texto, contando que observadas as regras condicionadoras fixadas em
seu próprio corpo, e que necessariamente são mais rígidas e severas que as impostas às
demais normas que compõem o ordenamento jurídico daquele Estado.
Em razão da maior dificuldade para modificação de suas normas, quando em
comparação com as regras fixadas para a alteração de normas infraconstitucionais, a
Constituição rígida é considerada a lei suprema do país, localizada no ápice da pirâmide
normativa do Estado.
As constituições rígidas são sempre escritas mas o contrário não é verdade. As
constituições escritas podem ser rígidas ou não, dependendo do texto constitucional
preveja ou não regras mais severas para sua alteração.

Constituição semirrígida: É a espécie de constituição que permite alterações em


seu texto, algumas sujeitas ao atendimento de regras mais solenes e difíceis, como se dá
com as constituições rígidas, e outras passíveis de alteração através da simples
observância do processo legislativo ordinário, comum às normas infraconstitucionais.
(Ex. constituição de 1824)

Constituição flexível: É a modalidade de Constituição, normalmente não escrita,


que permite a livre alteração de seu texto, por meio do processo legislativo ordinário. Não
impõe regras mais severas que as previstas para alteração das normas infraconstitucionais.
Constituições quanto à extensão: Sintéticas ou analíticas

Constituição sintética: É aquela que contém apenas normas (princípios e regras)


fundamentais de formação e caracterização do Estado, e também de limitação do poder
estatal, por meio da previsão de direitos e garantias fundamentais. Refere-se ao modelo
clássico de Constituição, cujo texto é composta apenas por normas relativas a estrutura
do Estado, forma de governo, modo de aquisição e exercício do poder, limites de atuação
estatal e fixação dos direitos e garantias fundamentais. O exemplo mais citado é a
constituição norte-americana com seus singelos 7 (sete) artigos e 27 (vintes e sete)
emendas.

Constituição analítica: É aquela que não contém apenas normas gerais de


regência do Estado e de fixação dos direitos e garantias fundamentais, mas que também
disciplina, em seu corpo, diversos outros assuntos que o constituinte julgou necessário
que figurassem no texto constitucional. É o caso da constituição de 1988, com seus mais
de 250 (duzentos e cinqüenta) artigos, que possui normas específicas de direito civil, do
trabalho, administrativo etc.

Classificação da constituição de 1988


Quanto à origem, a constituição de 1988 é promulgada, por ter sido produzida por
uma assembléia nacional constituinte, composta por representantes eleitos pelo povo e
criada para esse fim.
Quanto ao conteúdo, é formal, caracterizada por um documento formal e solene,
e que pode conter em seu corpo outras normas que não as materialmente constitucionais.
Quanto à forma, é uma constituição escrita, por estar expressa em um documento
formal e solene, elaborado por um poder constituinte.
Quanto à estabilidade é rígida, por se tratar de uma constituição escrita que
permite alterações em seu texto, contanto que observadas as regras condicionadoras
fixadas em seu próprio corpo, regras estas que são mais rígidas e severas que as impostas
às demais normas do ordenamento.
Quanto à extensão é analítica ou prolixa, já que contém outras normas que não
apenas aquelas gerais de regência do Estado e de fixação dos direitos e garantias
fundamentais, mas que o constituinte considerou importante que figurassem no texto
constitucional.

UNIDADE III– LEI: CONCEITO, VIGÊNCIA E APLICABILIDADE

1- A Lei

Conceito: É o ato do poder legislativo, que estabelece normas de acordo com os


interesses sociais. É a forma de produção do Direito Positivo.
Não constitui a expressão de uma vontade individual, mas sim da coletividade. A
sua fonte material é representada pelos fatos e valores que a sociedade oferece.

2 - Formação da Lei

O processo legislativo refere-se ao conjunto de atos preordenados e sucessivos


destinados à formulação das diversas espécies normativas previstas na Constituição.
Refere-se também as diversas constituições dos estados –membros, lei orgânica do
distrito federal e dos municípios.
As normas relativas ao processo legislativo destinadas a elaboração das emendas
à constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias,
decretos legislativos e resoluções, estão consignadas no art. 59 a 68 da C.F.

3 - Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro.

Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta


e cinco dias depois de oficialmente publicada. Nos Estados, estrangeiros, a
obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de
oficialmente publicada.
Vacatio Legis – é uma expressão latina que significa "vacância da lei", ou seja:
" A Lei Vaga"; é o prazo legal que uma lei tem pra entrar em vigor, ou seja, de sua
publicação até o início de sua vigência, se não for dito prazo de vacância expressamente
pela lei, esse, será o prazo estabelecido na Lei de Introdução as Normas do Direito
Brasileiro, que é de 45 dias. É dado esse prazo para que os operadores do direito tenham
pleno conhecimento da lei vacante.

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