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A lei como forma principal de direito

Introducao

Conceito de Fontes do Direito.

Classificação das Fontes do Direito


2 – Fontes do Direito

A palavra “fonte” possui vários significados. Pode ser entendida como uma nascente de água,
como um texto original de uma obra, um princípio, a origem de algo ou causa de onde
provem efeitos físicos ou morais.

MACHADO assim conceitua a fonte do direito:

A fonte de uma coisa é o lugar de onde surge essa coisa. O lugar de onde ela nasce. Assim, a
fonte do Direito é aquilo que o produz, é algo de onde nasce o Direito. Para que se possa
dizer o que é fonte do Direito é necessário que se saiba de qual direito. Se cogitarmos do
direito natural, devemos admitir que sua fonte é a natureza humana. Aliás, vale dizer, é a
fonte primeira do Direito sob vários aspectos.

Conforme o exposto acima, fonte constitui o lugar de onde surge o direito, ou seja, sempre
que se tratar de fonte do direito deve-se entender o seu ponto de partida, o seu início. Se num
determinado povo, por exemplo, as pessoas costumam fazer algo que venha a culminar numa
lei, a sua fonte é entendida como o costume daquele determinado povo, pois o diferencia dos
outros povos e, sem esse costume, essa lei não surgiria.

DEL VECCHIO assevera:

Fonte de direito in genere é a natureza humana, ou seja, o espírito que reluz na consciência
individual, tornando-se capaz de compreender a personalidade alheia, graças à própria. Desta
fonte se deduzem os princípios imutáveis da justiça e do Direito Natural.

Assim, pode-se entender que os princípios e valores morais que atingem um dado povo é
fonte do direito, partindo da consciência individual de cada pessoa, sendo que cada povo
possui a sua cultura e seus costumes.
As fontes do direito estão previstas no artigo 4.º da Lei de Introdução ao Código Civil que
estabelece: "Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito". Assim, o intérprete é obrigado a integrar o sistema
jurídico, ou seja, diante da lacuna (a ausência de norma para o caso concreto), ele deve
sempre encontrar uma solução adequada. Basta analisar o verbo “decidirá” para entender que
o sistema jurídico ordena a decisão do caso concreto.

O artigo já mencionado estabelece uma hierarquia entre as fontes, pois só autoriza o juiz a
valer-se de outras fontes quando houver omissão na lei e impossibilidade de aplicação da
analogia, buscando resoluções legais para casos semelhantes. Assim, a lei é uma fonte
principal, sendo fontes secundárias a analogia, os costumes, os princípios gerais do direito, a
doutrina e a jurisprudência.

2.1 – Lei

A lei é o preceito jurídico escrito, emanado do legislador e dotado de caráter geral e


obrigatório. É, portanto, toda norma geral de conduta, que disciplina as relações de fato
incidentes no Direito, cuja observância é imposta pelo poder estatal. Segundo Del
VECCHIO, lei “é o pensamento jurídico deliberado e consciente, formulado por órgãos
especiais, que representam a vontade predominante numa sociedade.” Assim, a lei constitui a
vontade do povo, sendo elaborada por legisladores eleitos pelo mesmo.

A lei tem por objetivo resolver o problema da antinomia, ou seja, o problema do conflito e da
contradição das normas, hipótese em que mais de uma norma incide sobre o caso concreto.
Mas, quanto à aplicação da lei, devem seguir uma hierarquia, sendo a Constituição Federal a
lei maior, as leis complementares e ordinárias abaixo e da Constituição Federal e os decretos,
portarias e demais atos administrativos por último. Sendo assim, as leis de menor grau devem
obedecer às de maior grau.

2.2 – Analogia

Analogia é fonte formal mediata do direito, utilizada com a finalidade de integração da lei, ou
seja, a aplicação de dispositivos legais relativos a casos análogos, ante a ausência de normas
que regulem o caso concretamente apresentado à apreciação jurisdicional, a que se denomina
anomia.
2.3 – Costumes

O costume no direito é considerado uma norma aceita como obrigatória pela consciência do
povo, sem que o Poder Público a tenha estabelecido. Segundo RIZZATTO, “o costume
jurídico é norma jurídica obrigatória, imposta ao setor da realidade que regula, possível de
imposição pela autoridade pública e em especial pelo poder judiciário.”4 Nesse sentido, os
costumes de um dado povo é fonte do direito, pois pode ser aplicado pelo poder judiciário,
uma vez que o próprio costume constitui uma imposição da sociedade.

O direito costumeiro possui dois requisitos: subjetivo e objetivo. O primeiro corresponde ao


“opinio necessitatis”, a crença na obrigatoriedade, isto é, a crença que, em caso de
descumprimento, incide sanção. O segundo corresponde à “diuturnidade”, isto é, a simples
constância do ato.

2.4 – Doutrina

Doutrina é o conjunto de indagações, pesquisas e pareceres dos cientistas do Direito. Há


incidência da doutrina em matérias não codificadas, como no Direito Administrativo e em
matérias de Direito estrangeiro, não previstas na legislação pátria. POMPÉRIO compreende a
doutrina como “o acervo de soluções trazidas pelos trabalhos dos juristas.”5 Nesse sentido, a
doutrina é considerada como fonte por sua contribuição para a aplicação e também
preparação à evolução do direito.

2.5 – Jurisprudência

A jurisprudência é uma função atípica da jurisdição, considerada também como uma fonte do
direito. MACHADO assim explica a jurisprudência:

A palavra jurisprudência pode ser empregada em sentido amplo, significando a decisão ou o


conjunto de decisões judiciais, e em sentido estrito, significando o entendimento ou diretiva
resultante de decisões reiteradas dos tribunais sobre um determinado assunto.

De acordo com o exposto, jurisprudência são decisões reiteradas, constantes e pacíficas do


Poder Judiciário sobre determinada matéria num determinado sentido.
A jurisprudência não precisa ser sumulada para ser fonte. Não pode ser confundida com a
orientação jurisprudencial, que é qualquer decisão do Poder Judiciário que esclareça a norma
legal. A orientação jurisprudencial é apenas um método de interpretação da lei e não precisa
de uniformidade. Em razão disso, é rara a adoção da jurisprudência como fonte.

2.6 – Princípios gerais do direito

Princípios do direito são postulados que se encontram implícita ou explicitamente no sistema


jurídico, contendo um conjunto de regras.

DINIZ assim explica os princípios gerais do direito:

Quando a analogia e o costume falham no preenchimento da lacuna, o magistrado supre a


deficiência da ordem jurídica, adotando princípios gerais do direito, que, às vezes, são
cânones que não foram ditados, explicitamente, pelo elaborador da norma, mas que estão
contidos de forma imanente no ordenamento jurídico.

Entende-se, então, que os princípios gerais de direito são a última salvaguarda do intérprete,
pois este precisa se socorrer deles para integrar o facto ao sistema.
2. Classificação das Fontes do Direito

Diante disso, classifica-se as fontes do direito em fontes históricas, materiais e formais.

2.1 Fontes históricas: Para Paulo Nader e Pablo Stolze as fontes históricas são fontes do
Direito. Segundo Paulo Nader (2004) as fontes históricas são “conjuntos de fatos ou
elementos das modernas instituições jurídicas: á época, local, as razões que determinaram a
sua formação”. Em contrapartida Miguel Reale (2003), não considera as fontes históricas
como fontes do direito, pois trata-se de um estudo filosófico e sociológico dos motivos éticos
ou dos fatos econômicos, estudo de outra ciência.

2.2 Fontes Materiais: As fontes materiais do Direito são todas as autoridade, pessoas, grupos
e situações que influenciam na criação do direito em determinada sociedade. Ou seja, fonte
material é aquilo que acontece no âmbito social, nas relações comunitárias, familiares,
religiosas, políticas, que servem de fundamento para a formação do Direito. Assim, fonte
material é de ONDE vem o direito (GARCIA 2015).

2.3 Fontes formais: Por outro lado, as fontes formais, o meio pelo qual as normas jurídicas se
exteriorizam, tornam-se conhecidas. São, portanto, os canais por onde se manifestam as
fontes materiais (GARCIA 2015).

3 Subdivisões das fontes formais: Existem diversas classificações para as fontes formais,
quais sejam, ESTATAIS: são produzidas pelo poder público e correspondem à lei e à
jurisprudência E NÃO ESTATAIS: decorrem diretamente da sociedade ou de seus grupos e
segmentos, sendo representadas pelo costume, doutrina e os negócios jurídicos; ESCRITAS:
codificadas, NÃO ESCRITAS: decorrentes do comportamento, NACIONAIS: são as criadas
no BRASIL E INTERNACIONAIS: as que tem origem na norma estrangeira (GARCIA
2015).
A classificação mais utilizada é a que classifica as fontes formais em DIRETAS,
IMEDIATAS OU PRIMÁRIAS E INDIRETAS, MEDIATAS OU SECUNDÁRIAS.

3.1 Fontes formais diretas: Sendo a fonte direta, imediata ou primária do direito aquela que
revela imediatamente o direito positivo e basta por si mesma, sendo esta a LEI – normas
jurídicas escritas provenientes do estado. Até mesmo porque, adotamos no BRASIL o sistema
do CIVIL LAW, que é uma estrutura jurídica em que a aplicação do direito se dá a partir da
interpretação da LEI.

3.1.1 Lei: Leis são preceitos (normas de conduta) normalmente de caráter geral e abstrato, ou
seja, voltam- se “a todos os membros da coletividade”. Sendo esta a fonte mais importante
para o nosso ordenamento jurídico. Podendo se classificar em Lei em sentido amplo: que é
uma referência genérica que atinge à lei propriamente, à medida provisória e ao decreto e em
Lei em sentido estrito: Emanada do poder legislativo no âmbito de sua competência – lei
ordinária, lei complementar e lei delegada (GARCIA 2015).

Além disso, no entendimento de Hans Kelsen (2009) as leis podem se dividir quanto a sua
hierarquia em: a) Leis Constitucionais: São as normas mais importantes do ordenamento
jurídico nacional, sendo o fundamento de validade das demais normas de Direito, limitando o
poder, organizando o Estado e definindo os direitos e garantias fundamentais; b) Leis
Infraconstitucionais: são aquelas previstas no art.59 da CF, as leis complementares, as leis
ordinárias, as leis delegadas e as medidas provisórias são hierarquicamente inferiores,
devendo, por isso, ser produzidas de acordo com o devido processo legislativo, bem como ter
o seu conteúdo em consonância com a Constituição; c)Tratados e convenções internacionais:
Os tratados provêm de acordos firmados entre as vontades dos Estados, e as convenções
através de organismos internacionais.
3.1.2 Precedentes: Contudo, com o passar dos anos, vêm se admitindo também como FONTE
FORMAL PRIMÁRIA DO DIREITO os PRECEDENTES, que são decisões judiciais
reiteradas que possuem efeitos vinculantes. Os precedentes ganharam essa força a partir da
EC 45/2004 que criou as súmulas vinculantes que se tornaram de observância obrigatórias
aos julgadores, assemelhando-se, neste aspecto ao sistema COMMON LAW, onde a
aplicação do direito se dá pelo uso de precedentes e do costume.

Cabe dizer que, a doutrina moderna cita ainda, o Novo CPC como uma indicativa da força de
fonte formal primária dos precedentes, eis que o referido diploma legal no art. 927
determinou a observância dos julgados na aplicação da Lei. Entretanto, este é ainda um tema
controvertido, uma vez que o Brasil, por ser o país com uma Constituição rígida exige a
subordinação da decisão à LEI e aos princípios éticos sociais.

3.2. Fontes formas indiretas: No que diz respeito às fontes indiretas, mediatas e secundárias,
que são aquelas que suprem a falta de LEI, a Lei de Introdução ao Direito Brasileiro, no
art.4º, previu três delas, quais sejam: a analogia, costumes e princípios gerais do direito,
sendo que a doutrina majoritárias ainda trata de outras, quais sejam: jurisprudência, doutrina,
negócio jurídico, equidade e brocardos jurídicos.

3.2.1 Analogia: Iniciaremos, tratando da ANALOGIA, analogia significa aplicar ao caso em


concreto uma solução já aplicada a um caso semelhante. Alguns consideram que a analogia
não seria uma fonte do direito mas apenas uma forma de integração da norma nos casos de
lacuna da lei pois ela não cria norma, apenas aplica uma norma já existente a outro caso
concreto. Todavia, Pablo Stolze (2012), entre outros, assegura que a analogia pode ser
considerada fonte do direito.
A analogia se subdivide em legal: aquela que utiliza outra lei para casos semelhantes e
analogia jurídica aquela que utiliza outras fontes do direito que não a lei.

Para a aplicação da analogia exige-se três requisitos: 1) que o fato em questão não seja
regulado de forma específica e expressa pela lei; 2) que a lei regule hipótese similar; 3) que a
semelhança essencial entre a situação não prevista e aquela prevista na lei tenham a mesma
razão jurídica (GARCIA 2015).

3.2.2 Costumes: Já os COSTUMES consistem na prática de uma determinada forma de


conduta, repetida de maneira uniforme e constante pelos membros da comunidade. A
doutrina costuma exigir a concorrência de dois elementos para a caracterização do costume
jurídico. O elemento objetivo corresponde à prática, universal, de uma determinada forma de
conduta. O elemento subjetivo consiste no consenso, na convicção da necessidade social
daquela prática. (GARCIA 2015, citando a teoria da convicção jurídica de Savigny).

Com relação a lei, três são as espécies de costumes: secundum legem, praeter legem e contra
legem. O costume secundum legem está previsto na lei, que reconhece sua eficácia
obrigatória, Ex.: art. 13 do cc. O costume é praeter legem quando se reveste de caráter
supletivo, suprindo a lei nos casos omissos, preenchendo lacunas, Ex.: Parar para um pedestre
atravessar onde não existe faixa de segurança é um costume em diversas cidades e ainda que
não possua lei é por todos condutores observado. O costume contra legem é aquele que se
forma em sentido contrário ao da lei. Embora não revogue a lei pode fazer com que ela entre
em desuso, Ex.: a função natural do cheque é ser um meio de pagamento a vista. Entretanto,
muitas pessoas vêm, reiteradamente, emitindo-o não como uma mera ordem de pagamento,
mas como garantia de dívida, para desconto futuro. (GARCIA 2015).
3.2.3 Princípios gerais do direito: São ideias jurídicas gerais que sustentam, dão base ao
ordenamento jurídico e não necessariamente precisam estar escritos para serem válidos.
Logo, tratam-se de preceitos essenciais, que fundamentam o Direito ou certos ramos do
Direito, sendo o entendimento atual de que os princípios gerais do direito possuem força
normativa, Ex. principio da dignidade da pessoa humana.

3.2.4 Doutrina: Maria Helena DINIZ (2008) tratando A DOUTRINA como fonte formal
indireta a conceitua como fonte decorrente da atividade científico-jurídica, isto é, dos estudos
científicos realizados pelos juristas, na análise e sistematização, interpretação, elaboração das
normas jurídicas, facilitando e orientando a tarefa de aplicar o direito, e na apreciação da
justiça ou conveniência dos dispositivos legais, adequando-os aos fins que o direito deve
perseguir.

A Doutrina, assim, exerce função de relevância na elaboração, reforma e aplicação do


Direito, influenciando a legislação e a jurisprudência, bem como o ensino ministrado nos
cursos jurídicos.

Por outro lado, Miguel Reale (2003) e Paulo de Barros Carvalho entendem que a doutrina não
altera a estrutura do direito apenas ajuda a compreende-lo e portanto seria uma forma de
interpretação do direito e não uma fonte.

3.2.5. Jurisprudência: A jurisprudência pode ser entendida como o conjunto de decisões


uniformes e constantes dos tribunais, proferidas para a solução judicial de conflitos,
envolvendo casos semelhantes, não vinculam julgadores mas serve como orientação para o
julgamento. Há aqui uma corrente que embora reconheça a importância da jurisprudência
entende que esta não é fonte do direito uma vez que ao juiz cabe julgar de acordo com a lei,
não podendo, portanto, criar o direito (ORLANDO GOMES, 2014). Entretanto, outra
corrente entende que a atividade jurisprudencial é fonte do direito consuetudinário uma vez
que a uniformização de entendimento positiva o “costume judiciário” (MARIA HELENA
DINIZ, 2008). Esta fonte do direito, no Brasil vem ganhando força pois a jurisprudência
exerce o importante papel de atualizar as disposições legais tornando-as compatíveis com a
evolução social.

3.2.6 Equidade: Neste ponto, considera-se que a equidade poderá ser tanto fonte do direito
como fonte de integração da norma, será fonte do direito quando a própria lei prevê a
possibilidade de sua aplicação pelo juiz no momento do julgamento ( art. 140, parágrafo
único do CPC, art. 8ºda CLT) , por outro lado será integração da norma quando houver uma
lacuna da lei e se fizer necessária a integração pelo uso da equidade.

3.2.7 Negócios jurídicos: Ao ser firmado um contrato, cria-se no ordenamento, direitos e


obrigações que não existiam até então e o Estado, por sua vez, se compromete a assegurar o
cumprimento desses novos direitos e obrigações contraídas. Isso se dá pelo reconhecimento
da autonomia da vontade pelo ordenamento jurídico, dando a possibilidade de cada um de
agir ou omitir nos limites da lei. Por isso, diz que o contrato faz lei entre as partes.

A teoria clássica, mais tradicional, não inclui o negócio jurídico entre as fontes jurídicas,
destacando ser restrito ao caso em concreto, não tendo, assim, caráter abstrato. No entanto, na
realidade, o Direito não se restringe às normas genéricas e abstratas, mas dele também fazem
parte normas particulares e individualizadas. (GARCIA 2015).

3.2.8 Brocardos jurídicos: São ditados jurídicos consagrados, que se consubstanciam em


ideias ou máximas que sintetizam orientações ou ensinamentos a respeito de certas matérias.
AULA 8 – FONTES

I ASPECTOS GERAIS DAS FONTES DO DIREITO

A doutrina jurídica não se apresenta uniforme quanto ao estudo das fontes do Direito. Entre
os doutrinadores do Direito, há uma grande diversidade de opiniões quanto ao presente tema,
principalmente em relação ao elenco das fontes. Fonte provém do latim e significa nascente
de água.

Distinguimos três espécies de fontes do Direito: históricas, materiais e formais.

a) Fontes históricas: Apesar de o Direito ser um produto em constante transformação,


contém muitas ideias permanentes, que se conservam presentes na ordem jurídica. A
evolução dos costumes e o progresso induzem o legislador a criar novas formas de aplicação
para esses princípios. As fontes históricas do Direito indicam a gênese das modernas
instituições jurídicas: a época, local, as razões que determinaram a sua formação. A pesquisa
pode limitar-se aos antecedentes históricos mais recentes ou se aprofundar no passado, na
busca das concepções originais. Esta ordem de estudo é significativa não apenas para a
memorização do Direito, mas também para a melhor compreensão dos quadros normativos
atuais.

b) Fontes materiais: Por fontes materiais ou genéticas entendemos os fatores que criam
o direito (Executivo, Legislativo, Judiciário, etc...), dando origem aos dispositivos válidos.
São fontes materiais todas as autoridades, pessoas, grupos e situações que influenciam a
criação do direito em determinada sociedade. O Direito não é um produto arbitrário da
vontade do legislador, mas uma criação que se lastreia no querer social. É a sociedade, como
centro de relações de vida, como sede de acontecimentos que envolvem o homem, quem
fornece ao legislador os elementos necessários à formação dos estatutos jurídicos. Como
causa produtora do Direito, as fontes materiais são constituídas pelos fatos sociais, pelos
problemas que emergem na sociedade e que são condicionados pelos chamados fatores do
Direito, como a Moral, a Economia, a Geografia etc.

• Diretas: são representadas pelos órgãos elaboradores do Direito Positivo,


como a sociedade, que cria o Direito consuetudinário, o Poder Legislativo, que
constrói as leis, e o Judiciário, que produz a jurisprudência.

• Indiretas: são identificadas com os fatores jurídicos

c) Fontes Formais: O Direito Positivo apresenta-se aos seus destinatários por diversas
formas de expressão, notadamente pela lei e costume. Fontes formais são os meios de
expressão do Direito, as formas pelas quais as normas jurídicas se exteriorizam, tornam-se
conhecidas. Para que um processo jurídico constitua fonte formal é necessário que tenha o
poder de criar o Direito. Criar o Direito significa introduzir no ordenamento jurídico, novas
normas jurídicas. Quais são os órgãos que possuem essa capacidade de criar regras de
conduta social? O elenco das fontes formais varia de acordo com os sistemas jurídicos e
também em razão das diferentes fases históricas.

2. FONTES FORMAIS (ESCRITAS)

a) LEI: A lei é a forma moderna de produção do Direito Positivo. É ato do Poder Legislativo,
que estabelece normas de acordo com os interesses sociais. Não constitui, como outrora, a
expressão de uma vontade individual, pois traduz as aspirações coletivas. Apesar de uma
elaboração intelectual que exige técnica específica, não tem por base os artifícios da razão,
pois se estrutura na realidade social. A sua fonte material é representada pelos próprios fatos
e valores que a sociedade oferece

• Fatores da crise do Direito escrito: i) o deeretismo, isto é, excesso de


leis; ii) vícios

do parlamentarismo, de vez que o legislativo se perde em discussões inúteis, sem atender às


exigências dos tempos modernos.
As vantagens que a lei oferece do ponto de vista da segurança jurídica fazem tolerável
um coeficiente mínimo de distorções na elaboração do Direito objetivo.

a.1) Classificações:

• Lei em Sentido Amplo - Em sentido amplo, emprega-se o vocábulo


lei para indicar

o jusscriptum. É uma referência genérica que atinge à lei propriamente, à medida provisória e
ao decreto.

• Lei em Sentido Estrito - Neste sentido, lei é o preceito comum e


obrigatório,

emanado do Poder Legislativo, no âmbito de sua competência.

• Lei Substantiva e Lei Adjetiva - Lei substantiva ou material é aquela


que reúne

normas de conduta social que definem os direitos e deveres das pessoas, em suas relações de
vida. As leis relativas ao Direito Civil, Penal, Comercial, normalmente são dessa natureza.
Lei adjetiva ou formal consiste em um agrupamento de regras que definem os procedimentos
a serem cumpridos no andamento das questões forenses. Exemplos: leis sobre Direito
Processual Civil, Direito Processual Penal. As leis que reúnem normas substantivas e
adjetivas são denominadas institutos unos. Exemplo: Lei de Falências. A lei substantiva é,
naturalmente, a lei principal, que deve ser conhecida por todos, enquanto que a adjetiva é de
natureza apenas instrumental e o seu conhecimento é necessário somente àqueles que
participam nas ações judiciais: advogados, juízes, promotores.

A.2) SANÇÃO, COERÇÃO E COAÇÃO DA LEI

• Sanção: É o ato de punir por uma norma infringida, quem não obedece ao comando
primário das normas jurídicas. Sanção jurídica uma consequência jurídica estatuída numa
norma que se impõe a quem infringir determinada regra. É uma consequência desfavorável
normativamente prevista para o caso de violação de uma regra, e pela qual se reforça a
imperatividade desta.

• Coerção: É o efeito psicológico da sanção e que tem função preventiva. Age sobre o

destinatário como um aviso: se ele não cumprir a norma jurídica, poderá sofrer os efeitos
concretos da sanção. Coerção é o ato de induzir, pressionar ou compelir alguém a fazer algo
pela força, intimidação ou ameaça.

• Coação: o último estágio da aplicação da sanção: é a sua aplicação forçada, contra a

vontade do agente que descumpriu a norma. A coerção e a coação estão diretamente ligadas
com a sanção, pois, ambas visam , no seu interim , a punição, a aplicação de uma pena para
quem descumpre “ordens”.

A.3) QUANTO À HIERARQUIA:

i) Constituição: conjunto de normas (regras e princípios) supremas do ordenamento


jurídico de um país. A Constituição limita o poder, organiza o Estado e define direitos e
garantias fundamentais.

ii) Leis Infraconstitucionais : tecnicamente não há hierarquia entre as leis


infraconstitucionais, o que as diferem é o órgão competente para sua edição e o quórum
necessário para sua aprovação. São elas: leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas,
decretos-leis (já extintos em nosso ordenamento jurídico), medidas provisórias, decretos
legislativos, resoluções do Poder Legislativo.

iii) Lei complementar: é uma lei que tem como propósito complementar, explicar,
adicionar algo à constituição. A lei complementar diferencia-se da lei ordinária desde o
quorum para sua formação.

A lei complementar como o próprio nome diz tem o propósito de complementar.


iv) Lei ordinária: o seu campo material é alcançado por exclusão, se a Constituição não
exige a elaboração de lei complementar então a lei competente para tratar daquela matéria é a
lei ordinária.

v) Medida provisória: A (MP) é adotada pelo Presidente da República, mediante ato


unipessoal, somente em caso de urgência e relevância, sem a participação do Poder
Legislativo, que somente será chamado a discuti-la em momento posterior. A medida
provisória, assim, embora tenha força de lei, não é verdadeiramente uma lei, no sentido
técnico estrito deste termo, visto que não existiu processo legislativo prévio à sua formação.

vi) Decreto: Um decreto é uma ordem emanada de uma autoridade superior ou órgão
(civil, militar, leigo ou eclesiástico) que determina o cumprimento de uma resolução. No
sistema jurídico brasileiro, os decretos são atos administrativos da competência dos chefes
dos poderes executivos (presidente, governadores e prefeitos).Decreto é a forma de que se
revestem do atos individuais ou gerais, emanados do Chefe do Poder executivo Presidente da
República, Governador e Prefeito.

vii) Decreto legislativo: é a norma jurídica que vem abaixo das emendas a Constituição,
leis complementares, leis ordinárias e medidas provisórias. Ele é destinado a veicular matéria
de competência do Congresso Nacional prevista basicamente no artigo 49 da CF/88.

viii) Lei Delegada: é um ato normativo elaborado pelo Presidente do Brasil com a
autorização do Congresso Nacional do Brasil, para casos de relevância e urgência, quando a
produção de uma lei ordinária levaria muito tempo para dar uma resposta à situação. O
Presidente solicita a autorização, e o Congresso, julgando adequado o período, fixa os limites
da lei delegada. Depois de criada a lei pelo Presidente, ela é remetida ao Congresso para
avaliação e aprovação.

ix) Decretos Regulamentares: Na verdade não são leis no sentido estrito da palavra,
mas sim atos do Poder Executivo, com a finalidade de prover situações previstas na lei em
sentido técnico, para explicitá-la e dar-lhe execução.

x) Normas Internas: Assim como os decretos regulamentares também não são leis no
sentido estrito da palavra, mas têm por finalidade disciplinar situações específicas,
notadamente na Administração Público. Ex. Despachos, Estatutos, Regimentos internos...
B) JURISPRUDÊNCIA:

A jurisprudência é o conjunto de reiteradas decisões dos tribunais sobre determinada

matéria. A jurisprudência não vincula o juiz, mas acaba prevalecendo na maioria dos casos,
principalmente, em virtude da tendência que se tem à sua uniformização, o que não implica
dizer, todavia, que o juiz deva tabelar suas decisões, pois ao contrário disso, deve o
magistrado analisar cada caso em concreto para aplicar o direito da forma mais adequada. A
jurisprudência expressa nas sentenças e acórdãos, estabelecendo um entendimento a respeito
da norma a ser subsumida ao caso "sub judice", é assim fonte por meio da qual se manifesta o
Direito, em sua aplicação prática e real. A Constituição e as leis só valem, verdadeiramente,
através desse significado que lhes empresta a jurisprudência. Apesar da Jurisprudência não
ter a mesma força que a lei, não se pode estudar qualquer assunto jurídico, desvinculando-o
das manifestações do Poder Judiciário, especialmente da jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, que no desempenho de sua missão constitucional de árbitro da Federação, guardião
da Constituição e uniformizador da jurisprudência, manifesta- se a respeito dos mais diversos
temas jurídicos.

C) DOUTRINA:

A Doutrina consiste na exposição, explicação e sistematização do Direito,

consubstanciada nas manifestações dos estudiosos, jurisperitos ou jurisconsultos, através de


tratados, livros didáticos, monografias, conferências, etc. A doutrina é resultado do estudo
que pensadores juristas e filósofos do direito É por meio da doutrina que os conceitos
operacionais do Direito são elaborados. A doutrina, mediante seus argumentos de autoridade,
está também vinculada à dogmática (norma) jurídica. A prática reiterada de juristas a respeito
de determinado assunto, gera interpretação da lei e a possibilidade de conceitos operacionais
pode influenciar um ordenamento jurídico, assim como também preencher lacunas,
auxiliando os intérpretes aplicadores na confecção de suas sentenças, desde que sob
beneplácito dos tribunais.
3. FONTES NÃO ESCRITAS: A) COSTUME:

Assim como a lei, também o costume é importante fonte do direito e, dependendo de se

considerar este ou aquele Estado, este ou aquele momento histórico, poderá uma dessas
fontes ser preponderante em relação à outra. Não há negar, contudo, a precedência histórica
do costume, a mais espontânea fonte do Direito e, de certa forma, também a mais normal,
consubstanciada nessas normas de conduta, oriundas dos usos e costumes, em decorrência da
necessidade de regulamentação da convivência humana em sociedade.

O costume consiste, portanto, na prática de uma determinada forma de conduta, repetida

de maneira uniforme e constante pelos membros da comunidade. A Doutrina costuma exigir a


concorrência de dois elementos para a caracterização do costume jurídico, o elemento
objetivo e o elemento subjetivo. O elemento objetivo ou material do costume corresponde à
prática, inveterada e universal, de uma determinada forma de conduta. O elemento subjetivo
ou espiritual consiste no consenso, na convicção da necessidade social daquela prática. Em
nossa sistemática, o costume é colocado em posição secundária, conforme decorre das
disposições da Lei de Introdução ao Código Civil, que determina que “Quando a lei for
omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do
direito."

B) ANALOGIA

Alguns doutrinadores como, por exemplo, Pablo Stolze Gagliano, admitem que a analogia, os
princípios gerais de direito e a eqüidade, também possa ser considerada fonte, apesar de
constar como meio de integração das lacunas (espaços) da lei. Usar a analogia significa
aplicar ao caso em concreto uma solução já aplicada a um caso semelhante (um caso que
possui mais semelhanças do que divergências).

C) PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO

São postulados que procuram fundamentar todo o sistema jurídico, não tendo
necessariamente uma correspondência positivada equivalente. São ideias jurídicas gerais que
sustentam, dão base ao ordenamento jurídico e não necessariamente precisam estar escritos
para serem válidos.

D) EQUIDADE

Na concepção aristotélica equidade significa justiça do caso concreto. É a possibilidade do


juiz de julgar de acordo com seus ditames. Ë faculdade que o magistrado possui de valer-se
de seus próprios critérios de justiça, não estando vinculado a métodos de concepção e
interpretação préestabelecidos. É certo que o julgador deve sempre aplicar humanamente o
direito, e decidir dentro dos limites da norma. Entretanto, apesar desta atitude também
demonstrar uma forma de equidade, utilizamos o termo no direito de forma mais restrita, com
o sentido de que o julgador utiliza-se de tal instituto quando se desapega à norma, e julga de
acordo com a sua razão, com a sua consciência, com aquilo que ele entende ser justo (este
tipo de equidade possui aplicação limitada pelo direito. O ordenamento somente admite sua
utilização quando expressamente autorizado em lei).

4 – Considerações finais
A principal reflexão a ser feita ao final deste trabalho, é a ciência da utilização das fontes do
direito como preenchimento de lacunas para a adequada solução do caso concreto. A análise
da norma à aplicação ao caso concreto gera, para o intérprete, um processo metodológico que
lhe permite encontrar lacunas e, consequentemente, supri-las. Assim, o uso das fontes do
direito constitui a garantia da solução do processo, ainda que a lei seja omissa, evitando a
suspensão por respaldo legal.

Nestes termos, é dada a importância ao estudo das fontes do direito, porque, como exposto no
correr do texto, contribui ao intérprete à solução do processo com o suprimento das lacunas
encontradas a partir da análise e interpretação da norma para o caso concreto.

Por fim, conclui-se que as Fontes do Direito são de suma importância para a aplicação do
direito no caso em concreto, sendo a Lei insuficiente, é possível a busca de outras fontes para
a solução do caso.

5 - Referências

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Coimbra: Arménio Amado, 1972.

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REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2003.

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