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Ética Profissional

em Serviço Social
Profª. Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

Indaial – 2013
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2013

Elaboração:
Profª. Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

362.850981
P615e Pieritz, Vera Lúcia Hoffmann
Ética profissional em serviço social/ Vera Lúcia Hoffmann Pieritz.
Indaial : Uniasselvi, 2013.

227 p. : il

ISBN 978-85-7830-817-9

I. Ética profissional.
1.Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a)!

Iniciamos os estudos de Ética Profissional em Serviço Social.


Entraremos no mundo intrínseco do relacionamento e do comportamento
humano e suas regras de conduta, no qual trabalharemos a questão
da formação dos princípios morais e éticos dos homens que vivem em
sociedade. Portanto, esta disciplina aborda a compreensão dos significados
dos princípios norteadores da ética, além de propiciar um conhecimento dos
fundamentos ético-morais do exercício profissional do Assistente Social e
promover uma reflexão e uma discussão sobre as questões ético-morais, na
relação indivíduo e sociedade.

Esta disciplina pretende, também, fomentar o debate sobre as


diversas dimensões ético-morais da vida social e profissional, promover uma
consciência crítica referente aos valores e princípios norteadores do exercício
profissional e apresentar os fundamentos e significados do código de ética
dos Assistentes Sociais.

Para que você possa compreender estes conceitos de ética, valores e


moral e os assuntos pertinentes às questões éticas do cotidiano profissional
do Assistente Social, proporcionaremos uma reflexão acerca do espaço da
ética na relação indivíduo e sociedade, de modo que você possa trabalhar
estes conceitos, permitindo que os mesmos interajam nas dimensões ético-
morais da vida social e profissional.

De modo prático, sobre os assuntos abordados, esta disciplina será


dividida em três unidades principais.

Na Unidade 1, proporcionaremos uma reflexão dos “fundamentos


e principais características da ética”, em que destacaremos os sentidos da
ética, refletindo sobre a problemática da moralidade e ética, o significado e a
formação do sujeito ético-moral, como também desvelaremos os fundamentos
éticos. Aprofundaremos os conhecimentos acerca da ética na vida cotidiana,
buscando compreender as diferenças da ética e moral, como também
elucidar as questões relativas à consciência moral no desenvolvimento
humano e à conduta moral do ser humano, refletindo sobre o bem e o mal,
o certo e o errado. Ampliaremos a percepção referente aos valores e a moral,
proporcionando um momento de discussão a respeito da essência da moral
e dos valores e princípios morais. Discorreremos sobre a questão da ética
na atualidade, perpassando por algumas questões polêmicas referente à
ética na contemporaneidade, além de fazer algumas reflexões sobre a ética,
a liberdade e o compliance.

Na segunda unidade, você conhecerá os fundamentos ético-morais


do exercício profissional dos Assistentes Sociais; promoverá a reflexão e
discussão sobre as questões ético-morais na relação indivíduo e sociedade;
fomentará o debate sobre as diversas dimensões ético-morais da vida social
e profissional e promoverá uma consciência crítica referente aos valores e
princípios norteadores do exercício profissional do Assistente Social.

No Tópico 1, abordaremos, com detalhes, a natureza, o significado


e as características fundamentais da ética profissional, além de trabalhar as
questões relativas ao cotidiano da prática profissional e das finalidades ético-
morais da reprodução social.

No Tópico 2, trabalharemos como se processa o espaço da ética


na relação indivíduo versus sociedade, no qual perpassamos por alguns
aspectos históricos da construção ética-moral da sociedade. Demonstramos,
ainda, a inter-relação natural do comportamento moral entre os homens,
principalmente na questão da construção subjetiva do homem, ou seja, o
homem como ser individual.

No Tópico 3, trabalharemos os vários aspectos das relações entre o


trabalho, a ética e o ser social, verificando as relações éticas no mundo do
trabalho.

No Tópico 4, abordaremos a questão da ética profissional do serviço


social e seu projeto ético-político, no qual se trabalhou como se processam as
intervenções éticas na prática profissional do Assistente Social e seu objeto
de trabalho, as expressões da questão social.

Na terceira unidade, você compreenderá os fundamentos e


significados do código de ética dos Assistentes Sociais. Além de ter um link
com os Conselhos de Fiscalização do Serviço Social.

No Tópico 1, abordaremos os principais fundamentos e significados


do código de ética dos Assistentes Sociais.

No Tópico 2, abordaremos uma discussão referente aos direitos


e deveres gerais do Assistente Social. Direitos e deveres assegurados pelo
Código de Ética do Assistente Social.
No Tópico 3, somente apresentaremos, na íntegra, o Código de Ética
do Assistente Social.

No Tópico 4, apresentaremos os diversos Conselhos de Fiscalização


do Serviço Social, o CFESS – Conselho Federal do Serviço Social e o CRESS –
Conselho Regional do Serviço Social.

Prontos para começar a compreender o significado da ética


profissional em serviço social?

Então, mãos à obra!

Bons estudos, e sucesso!

Profª. Vera Lúcia Hoffmann Pieritz


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que
está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso
material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o


material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um forma-
to mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para
diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar
dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institu-
cionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar
seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de De-
sempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA............. 1

TÓPICO 1 — OS SENTIDOS DA ÉTICA........................................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 A PROBLEMÁTICA DA MORALIDADE E ÉTICA...................................................................... 4
3 O SIGNIFICADO, FUNDAMENTOS E A FORMAÇÃO DO SUJEITO ÉTICO-MORAL ... 8
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 21
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 23

TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA.... 25


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 25
2 COMPREENDENDO AS DIFERENÇAS DA ÉTICA E MORAL ............................................. 27
3 A ESSÊNCIA DA MORAL ............................................................................................................... 34
4 OS VALORES E PRINCÍPIOS MORAIS ...................................................................................... 37
5 A CONSCIÊNCIA E O SENSO MORAL NO DESENVOLVIMENTO HUMANO .............. 40
5.1 OS ESTÁGIOS DA CONSCIÊNCIA ÉTICA E MORAL: AS ETAPAS DA EVOLUÇÃO
HUMANA....................................................................................................................................... 43
5.1.1 Primeiro estágio: medo, punição e obediência . .............................................................. 45
5.1.2 Segundo estágio: recompensa............................................................................................. 46
5.1.3 Terceiro estágio: aprovação social...................................................................................... 48
5.1.4 Quarto estágio: manutenção da ordem social.................................................................. 49
5.1.5 Quinto estágio: proteção do bem-estar coletivo............................................................... 50
5.1.6 Sexto estágio: zelo pelos princípios éticos universais..................................................... 52
6 A CONDUTA MORAL: O BEM E O MAL, O CERTO E O ERRADO .................................... 54
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 63
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 66

TÓPICO 3 — A QUESTÃO DA ÉTICA NA ATUALIDADE......................................................... 69


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 69
2 ALGUMAS QUESTÕES POLÊMICAS SOBRE A ÉTICA
NA CONTEMPORANEIDADE ...................................................................................................... 70
2.1 OS DILEMAS NO ÂMBITO DA FAMÍLIA................................................................................ 73
2.2 REFLEXÕES SOBRE A SOCIEDADE CIVIL.............................................................................. 74
2.3 PONDERAÇÕES SOBRE OS DILEMAS DO ESTADO ........................................................... 75
3 REFLEXÕES SOBRE A ÉTICA E LIBERDADE............................................................................ 76
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 83
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 88
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 90
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 91

UNIDADE 2 - A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS DA PRÁTICA


PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL ....................................................... 93

TÓPICO 1 – OS FUNDAMENTOS ÉTICO-MORAIS DO EXERCÍCIO


PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL.......................................................... 95
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 95
2 A NATUREZA E OS FUNDAMENTOS DA ÉTICA PROFISSIONAL.................................... 95
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 96
3 O SIGNIFICADO DA ÉTICA PROFISSIONAL.......................................................................... 97
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 99
4 ÉTICA, O COTIDIANO E A PRÁTICA PROFISSIONAL......................................................... 99
LEITURA COMPLEMENTAR 1........................................................................................................ 102
LEITURA COMPLEMENTAR 2........................................................................................................ 103
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 109

TÓPICO 2 – O ESPAÇO DA ÉTICA NA RELAÇÃO


INDIVÍDUO E SOCIEDADE..................................................................................... 111
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 111
2 AS BASES HISTÓRICAS DA SOCIEDADE NA CONSTRUÇÃO DA ÉTICA................... 111
LEITURA COMPLEMENTAR 1........................................................................................................ 114
LEITURA COMPLEMENTAR 2........................................................................................................ 115
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 121

TÓPICO 3 – A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SER SOCIAL E ÉTICA............................... 123


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 123
2 O QUE É TRABALHO?.................................................................................................................... 123
3 A ÉTICA DO TRABALHO.............................................................................................................. 124
LEITURA COMPLEMENTAR 1........................................................................................................ 127
LEITURA COMPLEMENTAR 2........................................................................................................ 128
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 133

TÓPICO 4 – A ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E SEU


PROJETO ÉTICO-POLÍTICO.................................................................................... 135
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 135
2 AS INTERVENÇÕES ÉTICAS NA PRÁTICA PROFISSIONAL
DO ASSISTENTE SOCIAL............................................................................................................. 135
3 O OBJETO DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL............................ 136
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 141
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 155

UNIDADE 3 – O CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS


E OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO........................................................... 157

TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO DE ÉTICA


DOS ASSISTENTES SOCIAIS.................................................................................. 159
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 159
2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA.................................................... 160
2.1 LIBERDADE................................................................................................................................. 160
2.2 DIREITOS HUMANOS............................................................................................................... 162
2.3 CIDADANIA................................................................................................................................ 164
2.4 DEMOCRACIA............................................................................................................................ 166
2.5 EQUIDADE E JUSTIÇA SOCIAL.............................................................................................. 167
2.6 RESPEITO À DIVERSIDADE..................................................................................................... 168
2.7 PLURALISMO.............................................................................................................................. 169
2.8 PROJETO PROFISSIONAL........................................................................................................ 170
2.9 MOVIMENTOS SOCIAIS........................................................................................................... 171
2.10 QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS....................................................................... 172
2.11 INDISCRIMINAÇÃO................................................................................................................ 173
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 175
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 184

TÓPICO 2 – DOS DIREITOS E DAS RESPONSABILIDADES GERAIS DO


ASSISTENTE SOCIAL................................................................................................ 187
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 187
2 DOS DIREITOS GERAIS DO ASSISTENTE SOCIAL............................................................. 187
3 DOS DEVERES GERAIS DO ASSISTENTE SOCIAL.............................................................. 188
4 O QUE O ASSISTENTE SOCIAL NÃO PODE FAZER............................................................. 189
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 192
TÓPICO 3 – O CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL BRASILEIRO................... 193
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 193
2 O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DOS/DAS ASSISTENTES SOCIAIS................. 196
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 210

TÓPICO 4 – OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL....................... 211


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 211
2 CFESS – CONSELHO FEDERAL DO SERVIÇO SOCIAL....................................................... 211
3 CRESS – Conselho Regional de Serviço Social........................................................................... 214
4 Outras entidades correlacionadas ao Serviço Social.................................................................. 216
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 217
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 224
UNIDADE 1 —

FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• aprofundar os conhecimentos acerca dos sentidos da ética;


• compreender a problemática da moralidade e ética;
• desvelar o significado e a formação do sujeito ético-moral;
• ampliar a percepção referente aos fundamentos éticos;
• perceber as nuances da ética na vida cotidiana;
• compreender as diferenças da ética e moral;
• elucidar a consciência moral no desenvolvimento humano;
• refletir sobre a conduta moral, o bem e o mal, o certo e o errado;
• desenvolver uma compreensão sobre os valores e a moral;
• perceber a essência da moral;
• compreender os valores e princípios morais;
• elucidar a questão da ética na atualidade;
• compreender algumas questões polêmicas sobre a ética na
contemporaneidade;
• fazer reflexões sobre a ética e a liberdade;
• elucidar o compliance no cotidiano profissional.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – OS SENTIDOS DA ÉTICA

TÓPICO 2 – A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA


COTIDIANA

TÓPICO 3 – A QUESTÃO DA ÉTICA NA ATUALIDADE

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

OS SENTIDOS DA ÉTICA

FIGURA 1 – OS DIVERSOS SENTIDOS DA ÉTICA

FONTE: <https://www.previsc.com.br/etica/images/etica.png>. Acesso em: 3 nov. 2020.

“Ética é a concepção dos princípios que eu escolho, moral é a sua prática”.


Mario Sergio Cortella

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, neste tópico, será realizada uma discussão acerca dos
sentidos da ética, perpassando por uma reflexão a respeito da problemática da
moralidade e ética, desvelando o significado e a formação do sujeito ético-moral
e seus fundamentos éticos.

Ofereceremos subsídios a você, para compreender a questão da ética na


vida cotidiana, apresentando elementos para elucidar as diferenças da ética e
moral, pois isso se torna vital para que possamos viver e conviver em sociedade.

Nessa discussão, outro aspecto fundamental é a questão relativa à


consciência moral no desenvolvimento humano, para que o ser humano possa
desenvolver uma vida diga e respeitosa perante a sociedade a qual faz parte, já
que a conduta moral do ser humano faz toda a diferença no desenvolvimento de
sua qualidade de vida, refletindo na sua dignidade, pois é importante sabermos
o que faz bem ou mal, o que é certo e errado em nossas ações cotidianas perante
nossos grupos sociais, bem como diante de toda a sociedade.

3
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

Realizaremos uma discussão acerca dos valores e da moral, desmistificando


suas características, conceitos e diferenças, para, assim, podermos verificar como é
importante decodificar a essência da moral e dos valores e princípios morais na vida
de cada cidadão brasileiro. Todos nós temos uma concepção e desenvolvimento de
vida diferente, todos nós temos uma visão de mundo diferente e, por fim, todos nós
temos uma base moral advinda dos laços familiares diferentes uns dos outros, isso
gera o nosso comportamento ético perante a sociedade a qual pertencemos.

Por fim, verificaremos, ainda neste tópico, algumas questões relativas à


ética na atualidade, discutindo e refletindo algumas questões polêmicas da ética
no cotidiano da vida em sociedade, além de fazer algumas reflexões referentes à
ética, à liberdade e ao compliance.

Vamos lá, compreender sobre os sentidos da ética!

2 A PROBLEMÁTICA DA MORALIDADE E ÉTICA


No que tange às questões relativas à ética e à moralidade, nota-se que ambas
estão atreladas implicitamente na própria condição de ser, do agir das pessoas
mediante o meio social em que vivem e convivem cotidianamente. A consciência
moral do certo e do errado, do bem e do mal é formada pela composição histórica
dos nossos costumes e das nossas ações em sociedade, formando uma moralidade
e uma ética implícita nas ações do ser humano e refletida no seu convívio social.

Nesse sentido, pode-se expor que a moral e a ética estão presentes


na nossa vida o tempo todo, pois nossas decisões cotidianas estão repletas de
valores morais e éticos, segundo Tavares (2013, p. 4) “no nosso dia a dia, a ética
tem presença garantida, porque ela faz parte do ser humano em todas as suas
atividades, funções, espaço, ou seja, na família, no trabalho, no lazer, enfim, onde
o ser humano interage com outro, a ética aí se faz presente”.

Então, a questão da ética e da moral está além dos seus conceitos preeminentes,
já que é um conceito vivo, moldando-se no nosso comportamento diário que permuta
o conceito para a prática das relações humanas e sociais, pois, na visão de Tomelin e
Tomelin (2002, p. 89) “a ética é uma das áreas da filosofia que investiga sobre o agir
humano na convivência com os outros [...]” e, assim, nosso comportamento ético e
moral são objetos do estudo da própria filosofia, que busca investigar a racionalidade
do comportamento humano perante a sociedade e procura compreender os princípios
fundamentais dos seres humanos que permeiam a nossa vida cotidiana.

Ressalva-se ainda que a ética, segundo Cunha (2011, p. 140), é o “ramo


do conhecimento cuja finalidade é estabelecer os melhores critérios para o agir”.
Critérios estes, que são estabelecidos socialmente e que norteiam o convívio
do ser humano em sociedade, pois a ética é compreendida como “normas e
princípios que dizem respeito ao comportamento do indivíduo no grupo social a
que pertence” (GUIMARÃES, 2016, p. 377).

4
TÓPICO 1 — OS SENTIDOS DA ÉTICA

De acordo com Leyser (2018, p. 3), “na linguagem comum, frequentemente


utilizamos as palavras ética e moral (e antiético e imoral) de forma intercambiável.
Isto é, falamos da pessoa ou ato como ético ou moral”.

Segundo Solomon (2006, p. 12), “estudar ética não é escolher entre o bem
e o mal, mas é se sentir confortável diante da complexidade moral”, buscando
aprofundar o conhecimento acerca do nosso agir perante a sociedade em que
vivemos, faz-se necessário realizar um estudo das nossas atitudes éticas e morais,
para, assim, podermos refletir e entender essas questões balizares das nossas
atitudes e comportamentos.

Mediante esse contexto inicial, Pieritz (2013, p. 3) expõe que:


Com relação aos problemas éticos e morais do comportamento
humano, observamos que a ética não é facilmente explicável, ao sermos
indagados, mas todos nós sabemos o que é, pois está diretamente
relacionada aos nossos costumes e às ações em sociedade, ou seja, ao
nosso comportamento, ao nosso modo de vida e de convivência com
os outros integrantes da sociedade.

Assim, pode-se expor que é na convivência humana e social que refletimos os


nossos valores éticos e morais, que foram construídos historicamente na sociedade
e grupo social da qual fazemos parte, esses valores éticos e morais são concebidos
de acordo com a visão de mundo de cada um, dentro do seu contexto social, pois
cada um de nós possui uma visão do que é o bem e o mal, do que é certo e errado.

Leyser (2018, p. 4) nos complementa expondo que:


Quando falamos de pessoas como sendo morais ou éticas, geralmente
queremos dizer que elas são pessoas boas, e quando falamos delas
como sendo imorais ou antiéticas, queremos dizer que elas são
pessoas más. Quando nos referimos a certas ações humanas como
sendo morais, éticas, imorais ou antiéticas, queremos dizer que elas
estão certas ou erradas. A simplicidade dessas definições, contudo,
termina aqui, pois como definimos uma ação certa ou errada ou uma
pessoa boa ou má? Quais são os padrões humanos pelos quais tais
decisões podem ser tomadas? Estas são as questões mais difíceis que
constituem a maior parte do estudo da moralidade [...].

Contudo, essa consciência moral do ser humano, segundo Pieritz (2013,


p. 4), “é determinada por um consenso coletivo e social, ou seja, o conjunto da
sociedade é que formula e compõe as normas de conduta que o regem”. Permitindo,
assim, um regramento comportamental empírico, ditado pelos comportamentos
éticos e morais e pelos regramentos e normativas institucionais, balizados em
regras e normas legais do legislativo, executivo e judiciário. Todas as normas de
comportamento social se encontram balizadas na Constituição Federal.

5
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

DICAS

Caro acadêmico, na esfera dos regramentos e normativas institucionais,


convido-lhe a aprofundar os seus conhecimentos relativos aos princípios e valores
constitucionais. Nesse sentido, sugerimos a leitura dos Artigos 1º, 3º e 5º da Constituição
da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988. Acesse o site: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.

Segundo Leyser (2018, p. 4), “o importante é lembrar aqui que moral, ética,
imoral e antiético significam, essencialmente, o bom, o certo, o mau e o errado,
com frequência dependendo se alguém está se referindo às próprias pessoas ou
as suas ações”.

Então, nessa discussão, acerca da problemática da moralidade e da


ética, estamos oferecendo subsídios para compreender que existem dois lados
da mesma moeda, quando falamos do comportamento ético e moral dos seres
humanos, essas direções podem ser observadas e compreendidas no Quadro 1,
que expõe os dois campos dos problemas teóricos da ética e da moral. Vejamos!

QUADRO 1 – CAMPOS DO PROBLEMA TEÓRICO DA ÉTICA E DA MORAL


CAMPOS CARACTERÍSTICAS
Tais como:
• Liberdade;
PROBLEMAS GERAIS E • Consciência;
FUNDAMENTAIS • Bem e Mal;
• Valor;
• Lei e outros.
Na aplicação concreta, como
os problemas da:
• Ética profissional;
PROBLEMAS • De ética política;
ESPECÍFICOS • De ética sexual;
• De ética matrimonial;
• De bioética etc.

FONTE: Adaptado de Valls (2003, p. 8)

Deste modo, destaca-se que a ética e a moral permeiam em nossas vidas


cotidianas, desde nossas ações mais fundamentais e básicas, que é o processo
de decisão do que é o certo e o errado a se fazer, dos nossos valores e princípios
morais, até nas ações mais específicas, que estão refletidas no nosso modo
operante de fazer as coisas e se relacionar com o outro em sociedade.

6
TÓPICO 1 — OS SENTIDOS DA ÉTICA

Resumindo, a questão da ética e moral é a base norteadora das nossas


relações humanas e sociais, pois, é mediante esses princípios que agimos no meio
social em que vivemos e convivemos com o outro.

E
IMPORTANT

Contudo, como saber o que é certo e errado? Se estamos fazemos o bem ou o mal?

FIGURA – O QUE É CERTO E ERRADO?

FONTE: <https://pt.vecteezy.com/arte-vetorial/428683-escolha-moral-etica-nos-negocios-e-
tentacao>. Acesso em: 24 nov. 2020.

Acadêmico, esse é um bom questionamento, não achas?

Vale refletirmos o seguinte!

Os problemas éticos são os mesmos problemas morais?

Vejamos: devemos compreender que a problemática da ética e da moral


possuem características genéricas que as distinguem uma da outra, como podem
verificar suas diferenças e aspectos comuns no Quadro 2.

QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS GENÉRICAS DA MORAL E DA ÉTICA

CARACTERÍSTICAS
QUESTÃO
ESPECÍFICAS COMUNS
• O que há de
• A moral se caracteriza pelos PRO-
comum entre elas
MORAL BLEMAS DA VIDA COTIDIANA.
é fazer o homem
• A moral faz pensar as
pensar sobre a
CONSEQUÊNCIAS GRUPAIS,
RESPONSABILI-
adverte para normas culturalmente
DADE das
formuladas ou pode estar
consequências de
fundamentado num princípio ético.
suas ações.

7
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

• A ética faz pensar sobre


as CONSEQUÊNCIAS
UNIVERSAIS, sempre
ÉTICA priorizando a vida presente e
futura, local e global.
• A ética pode, desta forma, pautar
o comportamento moral.
FONTE: Adaptado de Tomelin e Tomelin (2002, p. 90)

Assim, pode-se verificar que na desmistificação das propriedades


conceituais da ética e da moral, observamos que ambas possuem características
genéricas e comuns, tanto na ética como na moral é a questão da responsabilidade
das consequências de nossas ações que refletem o nosso agir perante a sociedade
em que estamos inseridos, sejam elas de âmbito micro (grupo intrafamiliar e
amizades pessoais) ou macro (regional, comunitário, empresarial e social).

Segundo Leyser (2018, p. 3):


A moralidade reivindica nossas vidas. Faz reivindicações sobre cada
um de nós que são mais fortes do que as reivindicações da lei e tem
prioridade sobre o interesse próprio. Como seres humanos que vivem
no mundo, temos deveres e obrigações básicas. Há certas coisas que
devemos fazer e certas coisas que não devemos fazer. Em outras palavras,
há uma dimensão ética da existência humana. Como seres humanos,
experimentamos a vida em um mundo de bem e mal e entendemos
certos tipos de ações em termos de certo e errado. A própria estrutura da
existência humana dita que devemos fazer escolhas. A ética nos ajuda
a usar nossa liberdade de maneira responsável e a compreender quem
somos. E, a ética dá direção em nossa luta por responder às perguntas
fundamentais que questionam como devemos viver nossas vidas e
como podemos fazer escolhas certas.

Nesse sentido, tanto a ética como os princípios morais nos devem auxiliar na
reflexão sobre a responsabilidade das consequências advindas de nossas ações perante
o meio familiar e social a que vivemos e convivemos, norteando as nossas decisões de
fazermos o que é certo ou errado, o que faz bem ou mal para nós e para o outro.

3 O SIGNIFICADO, FUNDAMENTOS E A FORMAÇÃO DO


SUJEITO ÉTICO-MORAL
Agora, realizaremos uma reflexão a respeito do campo da ética em si,
perpassando pelo seu significado e como se dá a formação do sujeito ético-
moral. Assim, poder-se-á desmistificar as características conceituais da ética, para
podermos compreender como a ética permeia a nossa vida cotidiana em sociedade.

Pronto? Vamos lá!

8
TÓPICO 1 — OS SENTIDOS DA ÉTICA

Segundo Pieritz (2013, p. 5, grifos nossos):


Todos os homens fazem parte de uma sociedade, de um grupo social,
portando, podemos dizer que os homens em sociedade convivem em
grupo. Cada grupo social possui diferentes características culturais
e morais, como, por exemplo: os povos indígenas, os orientais, os
africanos, os alemães, os franceses, os italianos, os americanos, os
brasileiros, entre muitos outros. Cada sociedade possui suas normas
de conduta comportamental e seus princípios morais, ou seja, cada
grupo social constituiu o que é certo e errado, o que é o bem e o mal
para o seu povo, portanto, nem sempre o que é certo para nós pode ser
certo para outro grupo social e vice-versa.

Importante compreendermos que se fazemos parte de uma comunidade, de


um grupo social ou grupo familiar, ou seja, de uma sociedade, devemos entender
que todos nós somos diferentes e possuímos valores e princípios éticos e morais
diferenciados, sendo que cada etnia possui seu próprio jeito de ser e conviver,
instituindo regras sociais, políticas, econômicas e jurídicas de convivência.

Então, caro acadêmico, a compreensão do que é certo e errado e do que


é fazer o bem ou o mal para um grupo ou etnia, pode ser diferente para a outra
composição social. Tudo depende da formação dos valores e princípios éticos
e morais sócio-históricos da comunidade a que pertencemos. Segundo Tavares
(2013, p. 3), “a ética e a moral são os condutores para a sustentabilidade de
uma sociedade mais humana, mais justa, mais igualitária. É o bem comum que
subsidia as condições para as condutas morais, para a manutenção de valores que
coadunam com o interesse coletivo”.

NTE
INTERESSA

“[...] Existem algumas sociedades indígenas em que a mãe, ao dar à luz,


embrenha-se na mata sozinha e se o filho não for perfeito, segundo os seus princípios
morais, ela o abandona a sua própria sorte. À luz de nossos princípios morais, esta ação
seria considerada um crime de abandono” (PIERITZ, 2013, p. 6).

Demostramos, assim, que de acordo com o desenvolvimento sócio-


histórico dos valores e princípios éticos e morais de um determinado grupo social,
essa comunidade em si, desenvolve seu próprio jeito de ser, seu comportamento
social e moral, formatando socialmente sua tradição, costumes, hábitos e cultura.

Vejamos, na Figura 2, um exemplo visual da diversidade cultural do povo


brasileiro:

9
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

FIGURA 2 – DIVERSIDADE CULTURAL

FONTE: <https://definicao.net/wp-content/uploads/2019/05/diversidade-cultural-1.jpg>.
Acesso em: 4 nov. 2020.

DICAS

Se você quiser saber mais sobre o comportamento moral desses grupos


sociais/povos, pesquise, na internet, a cultura de cada povo. Assim, você poderá observar
as diferenças culturais de cada um e identificar seus princípios morais.

Agora que você já compreendeu que cada grupo social possui uma
composição diferente de costumes e valores éticos e morais, e que ele foi construído
historicamente pelos integrantes do seu provo, resta compreender o significado
intrínseco da ética.

Nesse sentido, indagamos:

10
TÓPICO 1 — OS SENTIDOS DA ÉTICA

Vejamos!

De acordo com Leyser (2018, p. 3, grifos nossos):


Ética vem do termo grego ethike que provém de ethos, que por sua
vez deriva de duas matizes distintas, uma que designa costumes
normativos e outra que ensina constância do comportamento, hábito
ou caráter. Na verdade, o termo ethos é uma transposição metafórica
de um termo que denota a morada dos animais (VAZ, 2006). Os gregos
antigos ao fazerem essa transposição queriam se referir ao mundo
humano, quanto aos seus costumes e o próprio agir humano que
constituiria sua morada e, simultaneamente, seu caráter.

Nesse sentido, Tomelin e Tomelin (2002, p. 89) complementam expondo


que “a palavra ética provém do grego ethos e significa hábitos, costumes e se
refere à morada de um povo ou sociedade. A palavra moral provém do latim
morális e significa costume, conduta”. Demonstrando que:
A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento
que cada pessoa ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que
é certo ou errado, o que é bom ou mau. Porém, este comportamento
sempre partirá do ponto de vista dos princípios morais de cada
sociedade, ou seja, seu grupo social. A ética auxilia no esclarecimento e
na explicação da realidade cotidiana de cada povo, procurando sempre
elaborar seus conceitos conforme o comportamento correspondente
de cada grupo social (PIERITZ, 2013, p. 7).

Assim, pode-se compreender que a ética reflete os hábitos e costumes gerais


de uma sociedade, suas normativas e convenções, que fora institucionalizada
pelo coletivo social, e a moral é a forma que conduzimos nossos atos perante o
outro, ou seja, é a conduta em si.

Desse modo, o Quadro 3 apresenta a definição de ética.

QUADRO 3 – O QUE É ÉTICA?

• ESTUDO DOS JUÍZOS de apreciação que se referem à conduta


humana, do ponto de vista do bem e do mal.
ÉTICA é:
• Conjunto de NORMAS E PRINCÍPIOS que norteiam a boa
conduta do ser humano.
FONTE: Adaptado de Houaiss (2009, p. 324)

Vázquez (2005, p. 20) complementa expondo que “o ético transforma-se


assim numa espécie de legislador do comportamento moral dos indivíduos ou da
comunidade”, em outros termos, a ética verifica a conduta dos homens em sociedade,
pois “a ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana
ou forma de comportamento dos homens [...]” (VÁZQUEZ, 2005, p. 21).

11
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

De tal modo, que “o valor de ética está naquilo que ela explica – o fato
real daquilo que foi ou é –, e não no fato de recomendar uma ação ou uma atitude
moral” (PIERITZ, 2013, p. 7), pois, a ética está posta para nos explicar o nosso agir
junto à comunidade e grupo social em que vivemos e convivemos.
Ética é a ciência da conduta humana, segundo o bem e o mal, com
vistas à felicidade. É a ciência que estuda a vida do ser humano, sob o
ponto de vista da qualidade da sua conduta. Disto precisamente trata
a Ética, da boa e da má conduta e da correlação entre boa conduta e
felicidade, na interioridade do ser humano. A Ética não é uma ciência
teórica ou especulativa, mas uma ciência prática, no sentido de que
se preocupa com a ação, com o ato humano (ALONSO; LÓPEZ;
CASTRUCCI, 2006, p. 3).

No entanto, a ética é considerada uma ciência que estuda a conduta


humana, suas normas e comportamentos reais, para proporcionar a melhoria da
qualidade de vida dos seres humanos.

Salienta-se ainda que “existem grandes transformações históricas


no decorrer dos tempos em nossa sociedade. Com estas mudanças, o nosso
comportamento também muda e, consequentemente, os nossos princípios morais
também” (PIERITZ, 2013, p. 7).

Essas transformações sociais ao longo da história da humanidade advêm


da própria existência humana, pelas suas relações sociais com o outro, pois a ética
vem demostrando pelo seu estudo e regulação, que determinadas ações e atitudes
morais devam ser revistas e adaptadas à nova realidade social, pois estamos em
constantes transformações humanas e sociais.

Outro fator que não podemos esquecer, segundo Pieritz (2013, p. 7), “é a
questão de julgar o comportamento dos outros grupos sociais, pois a realidade
cotidiana destes foi formada por outro conjunto de normas e princípios morais,
diferente dos nossos. Mesmo que em alguns aspectos esses princípios se pareçam
com os nossos”.

Após, estas breves reflexões sobre a ética, vale ressaltar que se pode definir
a ética sobre três vertentes, expostas no Quadro 4, vejamos!

QUADRO 4 – VERTENTES DO CONCEITO DE ÉTICA

Que corresponde a JUÍZO DE VALOR, ou seja, quem tem


boa conduta pode ser considerado como uma pessoa ética,
A ética é
ou seja, uma pessoa virtuosa e íntegra.
DESCRITIVA
Enquanto quem não condiz com as expectativas sociais pode
ser considerado ‘sem ética’.

12
TÓPICO 1 — OS SENTIDOS DA ÉTICA

Nesse sentido, a ética assume uma ideia simplista reduzida a


um VALOR SOCIAL, ou apenas um adjetivo.

A ética como “SISTEMA DE NORMAS MORAIS ou a um


CÓDIGO DE DEVERES” (SOUR, 2011, p. 19), ou seja, os
padrões morais que deveriam conduzir categorias sociais ou
A ética é
organizações passam a se chamar de CÓDIGO DE ÉTICA.
PRESCRITIVA
Nesse sentido de prescrição a ética e moral tornam-se
SINÔNIMO INDISTINGUÍVEL.

Que corresponde à TEORIA DE UM ESTUDO


SISTEMÁTICO como objeto de INVESTIGAÇÃO que, ao
transitar por diferentes áreas, pode ser considerada como:
A ética é
• ÉTICA FILOSÓFICA – que reflete sobre a melhor maneira
REFLEXIVA
de viver (ideais morais).

• ÉTICA CIENTÍFICA – que estuda, observa, descreve e


explica os fatos morais (a moralidade como fenômeno).

FONTE: Adaptado de Tavares (2013, p. 7)

E
IMPORTANT

Prezado acadêmico, segundo Tavares (2013, p. 7, grifos nossos):

“A ética filosófica quer refletir sobre a maneira de viver”.


“A ética científica quer observar e descrever a maneira de viver”.

No que tange aos ideais éticos, principalmente a investigação dos seus fun-
damentos, da sua essência, devemos compreender que a ética está além das normas
socialmente constituídas, pois existem muitos elementos norteadores do compor-
tamento humano, podemos apresentar na Figura 3 algumas de suas características
balizares, para assim elucidar o que compõe o conceito holístico da ética.

13
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

FIGURA 3 – CARACTERÍSTICAS BALIZARES DA ÉTICA

FONTE: A autora

Todas essas características expostas na Figura 3, fundamentam a essência


da ética humana como um todo, numa visão holística, pois, como já discorremos
anteriormente, a ética faz com que o ser humano reflita e indague sobre seus atos,
comportamentos e costumes, para, assim, poder agir no seu meio social.

E
IMPORTANT

A ética não se restringe somente a normas e leis instituídas pelos poderes


legislativos, executivos e judiciário!

A ética vai além das normativas impostas, pois leva em consideração a construção
histórica do comportamento humano em sociedade, sua conduta, hábitos e costumes.

Outro aspecto pertinente nesse debate sobre as concepções do conceito da


ética, vem da indagação de Valls (2003, p. 43) em que ele faz esta provocação para
podermos refletir sobre o nosso comportamento ético: “será que agir moralmente
significaria agir de acordo com a própria consciência?”

Será?

Vejamos:

14
TÓPICO 1 — OS SENTIDOS DA ÉTICA

É salutar compreender que o nosso agir deve ser consciente e estar


conectado com a realidade do mundo em que vivemos, ou seja, precisamos
perceber em que contexto social, político e econômico estamos, quais são as
regas e normativas vigentes, quais são nossos direitos e deveres, quais são as
nossas responsabilidades e obrigações, para assim podermos agir coerentemente,
respeitando as convenções socialmente construídas.

De tal modo, são as nossas escolhas que refletem a nossa conduta, do certo
e errado, do bem e do mal, do ético ou do antiético.

Assim, mediante essa reflexão, ampliamos a percepção relativa ao


significado da ética, no qual, pode-se perceber que a ética oportuniza uma reflexão
do nosso jeito de viver e conviver historicamente em sociedade, compreendendo
os nossos costumes de hoje, de ontem e como poderá se moldar amanhã.

Para encerrarmos o Tópico 1, convidamos você, acadêmico, a fazer a


leitura do texto Ética e moral de Sandro Denis.

ÉTICA E MORAL

Sandro Denis

Existe alguma confusão entre o Conceito de Moral e o Conceito de Ética.


A etimologia destes termos ajuda a distingui-los, sendo que Ética vem do grego
ethos, que significa modo de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de
“mores”, significando costumes.

Esta confusão pode ser resolvida com o estudo em paralelo dos


dois temas, sendo que, Moral é um conjunto de normas que regulam o
comportamento do homem em sociedade, essas normas são adquiridas pela
educação, pela tradição e pelo cotidiano. É a “ciência dos costumes”. A Moral
tem caráter normativo e obrigatório.

Já a Ética é “conjunto de valores que orientam o comportamento do


homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo,
assim, o bem-estar social”, ou seja, Ética é a forma que o homem deve se
comportar no seu meio social.

A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência


Moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo
realmente quando o homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto é,
surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos. A Ética teria surgido com
Sócrates, pois se exige maior grau de cultura. Ela investiga e explica as normas
morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas
principalmente por convicção e inteligência. Ou seja, enquanto a Ética é teórica e
reflexiva, a Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra.

15
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

Em nome da amizade, deve-se guardar silêncio diante do ato de um


traidor? Em situações como essa, os indivíduos se deparam com a necessidade
de organizar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas
ou mais dignas de ser cumpridas. Tais normas são aceitas como obrigatórias e,
desta forma, as pessoas compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela
maneira. O comportamento é o resultado de normas já estabelecidas, não sendo,
então, uma decisão natural, pois todo comportamento sofrerá um julgamento.
A diferença prática entre Moral e Ética é que esta é o juiz das morais, assim,
Ética é uma espécie de legislação do comportamento Moral das pessoas.

Ainda podemos dizer que a ética é um conjunto de regras, princípios


ou maneiras de pensar que guiam ou chamam para si a autoridade de guiar, as
ações de um grupo em particular ou, também, o estudo da argumentação sobre
como nós devemos agir.

A simples existência da moral não significa a presença explícita de uma


ética, entendida como filosofia moral, pois é preciso uma reflexão que discuta,
problematize e interprete o significado dos valores morais.

Podemos dizer, a partir dos textos de Platão e Aristóteles, que, no


Ocidente, a ética ou filosofia moral se inicia com Sócrates.

Para Sócrates, o conceito de ética iria além do


senso comum da sua época, o corpo seria a prisão
da alma, que é imutável e eterna. Existiria um “bem
em si” próprios da sabedoria da alma e que podem
ser rememorados pelo aprendizado. Esta bondade
absoluta do homem tem relação a uma ética anterior
à experiência, pertencente à alma e que o corpo para a
reconhecer terá que ser purificado.

Aristóteles subordina sua ética à política,


acreditando que, na monarquia e na aristocracia,
encontrara-se a alta virtude, já que esta é um

16
TÓPICO 1 — OS SENTIDOS DA ÉTICA

privilégio de poucos indivíduos. Também diz que na prática ética, nós somos
o que fazemos, ou seja, o homem é moldado à medida que faz escolhas éticas e
sofre as influências dessas escolhas.

O Mundo Essencialista é o mundo da contemplação, ideia compartilhada


pelo filósofo grego Aristóteles. No pensamento filosófico dos antigos, os seres
humanos aspiram ao bem e à felicidade, que só podem ser alcançados pela
conduta virtuosa. Para a ética essencialista, o homem era visto como um ser
livre, sempre em busca da perfeição. Esta, por sua vez, seria equivalente aos
valores morais que estariam inscritos na essência do homem. Dessa forma, para
ser ético, o homem deveria entrar em contato com a própria essência, a fim de
alcançar a perfeição.

Costuma-se resumir a ética dos antigos ou ética essencialista, em três


aspectos: 1) o agir em conformidade com a razão; 2) o agir em conformidade com
a Natureza e com o caráter natural de cada indivíduos; e 3) a união permanente
entre ética (a conduta do indivíduo) e política (valores da sociedade). A ética
era uma maneira de educar o sujeito moral (seu caráter) no intuito de propiciar
a harmonia entre ele e os valores coletivos, sendo ambos virtuosos.

Com o cristianismo romano, através de São


Tomás de Aquino e Santo Agostinho, incorpora-se a
ideia de que a virtude se define a partir da relação
com Deus e não com a cidade ou com os outros. Deus,
nesse momento, é considerado o único mediador
entre os indivíduos. As duas principais virtudes são
a fé e a caridade.

Através deste cristianismo, afirma-se na ética


o livre-arbítrio, sendo que o primeiro impulso da
liberdade se dirige para o mal (pecado). O homem
passa a ser fraco, pecador, dividido entre o bem e o mal. O auxílio para a melhor
conduta é a lei divina. A ideia do dever surge nesse momento. Com isso, a ética
passa a estabelecer três tipos de conduta; a moral ou ética (baseada no dever), a
imoral ou antiética e a indiferente à moral.

As profundas transformações que o mundo


sofre a partir do século XVII, com as revoluções
religiosas, por meio de Lutero; científica, com
Copérnico e filosófica, com Descartes, oprimem um
novo pensamento na era Moderna, caracterizada
pelo Racionalismo Cartesiano – agora a razão é o
caminho para a verdade e para chegar a ela é preciso
um discernimento, um método. Em oposição à fé,
surge o poder exclusivo da razão de discernir,
distinguir e comparar. Esse é um marco na história

17
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

da humanidade que, a partir daí, acolhe um novo caminho para se chegar ao


saber: o saber científico, que se baseia num método e o saber sem método é
mítico ou empírico.

A ética moderna traz à tona o conceito de que


os seres humanos devem ser tratados sempre como
fim da ação e nunca como meio para alcançar seus
interesses. Essa ideia foi contundentemente defendida
por Immannuel Kant. Ele afirmava que: “não existe
bondade natural. Por natureza somos egoístas,
ambiciosos, destrutivos, agressivos, cruéis, ávidos de
prazeres que nunca nos saciam e pelos quais matamos,
mentimos, roubamos”.

De acordo com esse pensamento, para nos tornarmos seres morais, era
necessário nos submetermos ao dever. Essa ideia é herdada da Idade Média na
qual os cristãos difundiram a ideologia de que o homem era incapaz de realizar o
bem por si próprio. Por isso, ele deve obedecer aos princípios divinos, cristalizan-
do, assim, a ideia de dever. Kant afirma que se nos deixarmos levar por nossos
impulsos, apetites, desejos e paixões não teremos autonomia ética, pois a Natu-
reza nos conduz pelos interesses de tal modo que usamos as pessoas e as coisas
como instrumentos para o que desejamos. Não podemos ser escravos do desejo.

No século XIX, Friedrich Hegel traz uma nova


perspectiva complementar e não abordada pelos
filósofos da Modernidade. Ele apresenta a perspectiva
Homem – Cultura e História, sendo que a ética
deve ser determinada pelas relações sociais. Como
sujeitos históricos culturais, nossa vontade subjetiva
deve ser submetida à vontade social, das instituições
da sociedade. Desta forma, a vida ética deve ser
“determinada pela harmonia entre vontade subjetiva
individual e a vontade objetiva cultural”.

Através desse exercício, interiorizamos os valores culturais de tal


maneira que passamos a praticá-los instintivamente, ou seja, sem pensar. Se
isso não ocorrer, é porque esses valores devem estar incompatíveis com a nossa
realidade e, por isso, devem ser modificados. Nesta situação, podem ocorrer
crises internas entre os valores vigentes e a transgressão deles.

Já, na atualidade, o conceito de ética se fundiu nestas duas correntes de


pensamento: A ética praxista, cuja visão o homem tem a capacidade de julgar,
ele não é totalmente determinado pelas leis da natureza, nem possui uma
consciência totalmente livre. O homem tem uma corresponsabilidade frente as
suas ações.

18
TÓPICO 1 — OS SENTIDOS DA ÉTICA

A ética Pragmática, com raízes na apropriação de coisas e espaços, na


propriedade, tem como desafio a alteridade (misericórdia, responsabilização,
solidariedade), para transformar o Ter, o Saber e o Poder em recursos éticos para
a solidariedade, contribuindo para a igualdade entre os homens: “distribuição
equitativa dos bens materiais, culturais e espirituais”.

O homem é visto como sujeito histórico-social, e como tal, sua ação não
pode mais ser analisada fora da coletividade. Por isso, a ética ganha novamente
um dimensionamento político: uma ação eticamente boa é politicamente boa
e contribui para o aumento da justiça, distribuição igualitária do poder entre
os homens. Na ética pragmática, o homem é politicamente ético, – “todos os
aspectos da condição humana têm alguma relação com a política” – há uma
corresponsabilidade em prol de uma finalidade social: a igualdade e a justiça
entre os homens.

Na Contemporaneidade, Nietzsche atribui a


origem dos valores éticos, não à razão, mas à emoção.
Para ele, o homem forte é aquele que não reprime
seus impulsos e desejos, que não se submete à moral
demagógica e repressora. Para coroar essa mudança
radical de conceitos, surge Freud com a descoberta
do inconsciente, instância psíquica que controla
o homem, burlando sua consciência para trazer à
tona a sexualidade represada e que o neurotiza. Em
momento algum Freud afirma dever o homem viver
de acordo com suas paixões, apenas buscar equilibrar e conciliar o id com o
super ego, ou seja, o ser humano deve tentar equilibrar a paixão e a razão.

Hoje, em uma era em que cada vez mais se fala


de globalização, da qual somos todos funcionários
e insumos de produção, o conhecimento de nossa
cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento de
outras culturas. Entretanto, essa tarefa antropológica
não é suficiente para o homem comum superar a crise
da ética atual conhecendo o outro e suas necessidades
para se chegar a sua convivência harmônica. Ao
contrário, ser feliz hoje é dominar progresso técnico e
científico, ser feliz é ter. Não há mais espaço para uma
ética voltada para uma comunidade. Hoje se aposta no
individualismo, no consumo, na rapidez de produção.

No momento histórico em que vivemos, existe um problema ético-político


grave. Forças de dominação tem se consolidado nas estruturas sociais e econômicas,
mas através da crítica e no esclarecimento da sociedade, seria possível desvelar
a dissimulação ideológica que existe nos vários discursos da cultura humana,
sabendo disso, essas mesmas forças têm procurado controlar a mídia.

19
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

Em lugar da felicidade pura e simples, há a obrigação do dever e a


ética fundamenta-se em seguir normas. Trata-se da “Ética da Obediência”.
Que impede o Homem de pensar e descobrir uma nova maneira de se ver, e
assim encontrar uma saída em relação ao conformismo de massa que está na
origem da banalidade do mal, do mecanismo infernal em que estão ausentes o
pensamento e a liberdade do agir.

Assim determina Vásquez (1998) ao citar Moral como um “sistema de


normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações
mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que
estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livres e
conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica,
externa ou impessoal”.

Enfim, Ética e Moral são os maiores valores do homem livre. O homem,


com seu livre arbítrio, vai formando seu meio ambiente ou o destruindo, ou
ele apoia a natureza e suas criaturas ou ele subjuga tudo que pode dominar, e
assim ele se forma no bem ou no mal neste planeta.

FONTE: Adaptado de <Http://Circulocubico.Wordpress.Com/2008/04/04/Tica-E-Moral/>.


Acesso em: 17 nov. 2020.

20
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Propiciamos uma compreensão da problemática da moralidade e ética,


verificamos que a consciência moral do certo e do errado, do bem e do mal é
formada pela composição histórica dos nossos costumes e das nossas ações
em sociedade.

• A moral e a ética estão presentes na nossa vida cotidiana o tempo todo, pois
nossas decisões diárias estão repletas de valores morais e éticos.

• A questão da ética e da moral está além dos seus conceitos postos, já que é um
conceito vivo, moldando-se no nosso comportamento diário que permuta o
conceito para a prática das relações humanas e sociais.

• O nosso comportamento ético e moral é objeto do estudo da filosofia, que


procura investigar a racionalidade do comportamento humano perante a
sociedade, procurando compreender os princípios fundamentais dos seres
humanos, que permeiam a nossa vida cotidiana.

• É na convivência humana e social que refletimos os nossos valores éticos e


morais, e que eles foram construídos historicamente na sociedade e grupo
social da qual fazemos parte.

• Esses valores éticos e morais são concebidos de acordo com a visão de mundo
de cada um, dentro do seu contexto social, pois cada um de nós possui uma
visão do que é o bem e o mal, do que é certo e errado.

• A ética e a moral permeiam em nossas vidas cotidianas, desde nossas ações


mais fundamentais e básicas, que é o processo de decisão do que é o certo e o
errado a se fazer, dos nossos valores e princípios morais, até nas ações mais
específicas, que estão refletidas no nosso modo operante de fazer as coisas e
se relacionar com o outro em sociedade.

• A ética e a moral são a base norteadora das nossas relações humanas e sociais,
pois é mediante esses princípios que agimos no meio social em que vivemos
e convivemos com o outro.

• No que tange às propriedades conceituais da ética e da moral, ambas possuem


características genéricas e comuns, mas tanto na ética como na moral é a
questão da responsabilidade das consequências de nossas ações que refletem
o nosso agir perante a sociedade em que estamos inseridos, sejam elas de
âmbito micro (grupo intrafamiliar e amizades pessoais) ou macro (regional,
comunitário, empresarial e social).

21
• Tanto a ética como os princípios morais nos devem auxiliar na reflexão sobre
a responsabilidade das consequências advindas de nossas ações perante o
meio familiar e social em que vivemos e convivemos.

• Fazemos parte de uma comunidade, de um grupo social ou grupo familiar,


ou seja, de uma sociedade, a qual devemos entender que todos nós somos
diferentes e possuímos valores e princípios éticos e morais diferenciados,
sendo que cada etnia possui seu próprio jeito de ser e conviver, instituindo
regras sociais, políticas, econômicas e jurídicas de convivência.

• A concepção do certo e errado, do fazer o bem ou o mal para um grupo


ou etnia, pode ser diferente para a outra composição social. Tudo depende
da formação dos valores e princípios éticos e morais sócio-históricos da
comunidade a que pertencemos.

• De acordo com o desenvolvimento sócio-histórico dos valores e princípios


éticos e morais de um determinado grupo social, essa comunidade em
si, desenvolve seu próprio jeito de ser, seu comportamento social e moral,
formatando socialmente sua tradição, costumes, hábitos e cultura.

• A ética reflete os hábitos e costumes gerais de uma sociedade, suas normativas


e convenções, que fora institucionalizada pelo coletivo social, e a moral é a
forma que conduzimos nossos atos perante o outro, ou seja, é a conduta em si.

• A ética está posta para explicar o nosso agir junto à comunidade e grupo
social em que vivemos e convivemos.

• A ética é considerada uma ciência que estuda a conduta humana, suas normas
e comportamentos reais, para proporcionar a melhoria da qualidade de vida
dos seres humanos.

22
AUTOATIVIDADE

1 Na atualidade, o que tange às questões relativas à ética e à moralidade,


vimos que ambos os conceitos fazem parte do dia a dia das populações
civilizadas e ambas estão atreladas implicitamente na própria condição de
ser, do agir das pessoas mediante o meio social em que vivem e convivem
cotidianamente. A consciência moral do certo e do errado, do bem e do mal é
formada pela composição histórica dos nossos costumes e das nossas ações
em sociedade, formando, assim, uma moralidade e uma ética implícita nas
ações do ser humano e refletida no seu convívio social. Sobre o conceito de
ética, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Ética é o ramo do conhecimento cuja finalidade é estabelecer os melhores


critérios para o agir. Critérios que são estabelecidos socialmente e
que norteiam o convívio do ser humano em sociedade, pois a ética
é compreendida como as normas e princípios que dizem respeito ao
comportamento do indivíduo no grupo social a que pertence.
b) ( ) Ética é o ramo do conhecimento cuja finalidade é estabelecer os
princípios de fragilidades do comportamento humano e os critérios
para o agir. Critérios que são estabelecidos pela Constituição Federativa
do Brasil.
c) ( ) Ética é o ramo do conhecimento da psicologia que estuda os desvios de
conduta dos cidadãos na sociedade, assim como as formas de tratamento.
d) ( ) Ética é o ramo do conhecimento que estuda e define as formas de agir e
princípios transmitidos pelas diversas religiões existentes. Busca trazer
os conceitos puramente na visão filosófica das religiões.

2 A ética é um dos grandes valores que as pessoas têm e, por isso, vemos,
na atualidade, uma população desacreditada em diversas áreas como as
políticas, bancárias, entre outras que, historicamente, trazem condições
conflitantes com os bons costumes e diretrizes éticas das pessoas. Com
base no exposto, analise as sentenças a seguir:

I - Estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana, do


ponto de vista do bem e do mal.
II - Conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser
humano.
III - Tem caráter normativo e obrigatório e são definidos pelas leis existentes
nos países.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

23
24
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL


NA VIDA COTIDIANA

FIGURA 4 – A ÉTICA E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

FONTE: <https://gestaodesegurancaprivada.com.br/etica-moral-e-cidadania-o-que-sao/>.
Acesso em: 4 nov. 2020.

“Na ética o mal é uma consequência do bem, assim na realidade da


alegria nasce a tristeza. Ou a lembrança da felicidade passada é a angústia de
hoje, ou as agonias que são têm sua origem nos êxtases que poderiam ter siso”.
Edgar Allan Poe

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, agora que já compreendes os diversos sentidos
conceituais da ética, suas principais características e fundamentos, sua
problemática junto às questões da moral e a formação do sujeito ético-moral,
chegou o momento para desvelar e compreender as nuances relativas à ética e à
moral na vida cotidiana do ser humano em sociedade.

Vamos relembrar!

25
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

FIGURA 5 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DE ÉTICA E MORAL

FONTE: A autora

Pautados nas supracitadas características, este tópico trabalhará os


conhecimentos relativos à ética e à moral na vida do dia a dia das pessoas, que
vivem e convivem em grupos sociais, buscando compreender as diferenças entre
a ética e a moral, como também esclarecer as questões da consciência moral no
desenvolvimento humano e a conduta moral do ser humano, refletindo sobre
o bem e o mal, o certo e o errado, ou seja, as responsabilidades individuais e
coletivas do agir humano.

Assim, aprofundaremos o nosso conhecimento acerca dos Fundamentos


ontológico-sociais da dimensão ético-moral da vida social e seu rebatimento na
ética profissional.

Acadêmico, neste tópico, ainda desenvolveremos uma análise referente


aos valores e à moral, proporcionando um momento de discussão a respeito da
essência da moral e dos valores e princípios morais.

FIGURA 6 – VALORES MORAIS E SUA IMPORTÂNCIA NA SOCIEDADE

FONTE: <http://meon.com.br/files/media/originals/maos_unidas_representando_os_valores_
morais.jpg>. Acesso em: 4 nov. 2020.

26
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

“Mesmo que tenham filosofias diferentes, as religiões defendem valores


semelhantes para a conduta ética e trazem a mesma mensagem de amor,
compaixão e perdão”.
Dalai Lama

Demonstrando assim, sua importância para a sociedade em que estamos


inseridos, pois a intensão aqui é desvelar os conceitos e características pertinentes
aos valores e virtudes morais, evidenciando que eles é que formam os princípios
norteadores da ética, como já estudamos anteriormente.

Vamos lá, acadêmico, compreender sobre a ética, valores, princípios e a


moral na vida cotidiana das pessoas!

2 COMPREENDENDO AS DIFERENÇAS DA ÉTICA E MORAL


Para iniciarmos esta discussão, faz-se necessário sedimentar os diversos
aspectos conceituais que proporcionam o entendimento das diferenças entre
a ética e a moral. Nesse sentido, pode-se dizer que “a ética estuda e investiga
o comportamento moral dos seres humanos e essa moral é constituída pelos
diferentes modos de viver e agir dos homens em sociedade, que é formada por
suas diretrizes morais da vida cotidiana, transformando-se no decorrer dos
tempos” (PIERITZ, 2013, p. 19).

Demostrando, assim, que a ética e a moral permeiam em nosso agir


perante a sociedade, desde o estudo do comportamento até a sua prática real
cotidiana das relações humanas e sociais.

Afinal, o que é a moral?

Segundo Aranha e Martins (2003, p. 301, grifos nossos):


A moral vem do Latim mos, moris, que significa “costume”, “maneira
de se comportar regulada pelo uso”, e de moralis, morale, adjetivo
referente ao que é “relativo aos costumes”. Portanto, podemos
considerar que a moral é “um conjunto de regras de conduta admitidas
em determinada época ou por um grupo de pessoas.

Vejamos, no Quadro 5, o que Cunha (2011) nos expõe sobre o que é a ética
e a moral:
QUADRO 5 – O QUE É A ÉTICA E MORAL

• Ciência cujo objetivo é a moral.


ÉTICA é: • Ramo do conhecimento cuja finalidade é estabelecer os
melhores critérios para o agir.

27
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

• Conjunto de regras e princípios morais.


MORAL é: • A dimensão ideal da moralidade.
• Relativo à dignidade, ao decoro e à honra.
FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 140-196)

Diante desta visão conceitual de ética e moral, ficou demonstrado que


ambos estão correlacionados a uma ciência, um estudo do comportamento e
das normas de conduta, e que esse conjunto de regras e princípios éticos-morais
propiciem a honra, o decoro e a dignidade da pessoa humana.

No entanto, segundo Cunha (2011, p. 197), a moralidade é um “processo


social costumeiro, concernente à melhor forma de comportamento”. Sendo que
esta conduta moral só é possível, se tiver um estudo dos hábitos e costumes do
homem em sociedade no seu convívio histórico-social. É a ética que realiza esta
ciência das dimensões morais, propiciando transparecer nos diversos códigos
de condutas, regramentos e legislações como devemos proceder e se comportar
perante o meio social em que vivemos e convivemos.

Essa é uma condição socialmente construída ao longo da história da


humanidade. Sendo aprimorada conforme o desenvolvimento humano. Depois
dessas reflexões iniciais, já podemos buscar elementos que apresentem algumas
diferenças entre a ética e a moral. Vejamos:

QUADRO 6 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL

FONTE: <https://bit.ly/39MHBlE>. Acesso em: 3 dez. 2020.


ÉTICA MORAL
• É o modo de viver e agir de cada
• É a ciência que estuda a moral. povo, em cada cultura.
• É a reflexão sistemática sobre o • É o conjunto de normas, prescrição e
comportamento moral. valores reguladores da ação cotidiana.
• É a parte da filosofia que trata da • Varia no tempo e no espaço.
reflexão dos princípios universais • São os valores concernentes ao bem
da humanidade. e ao mal, permitindo ou proibindo.
• São os valores humanos universais • Conjunto de normas e regras regu-
e fundamentais. ladoras da relação entre os homens
• É a teoria do comportamento moral. de uma determinada comunidade.
• É a compreensão subjetiva do ato • Nasce da necessidade de ajudar
moral. cada membro aos interesses
coletivos do grupo.
FONTE: Adaptado de Tomelin e Tomelin (2002, p. 89-90)

28
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

O quadro das diferenças entre a ética e a moral, só comprova o que já


colocamos até o presente momento, de que o comportamento ético-moral é
estudado como ciência, para proporcionar melhor qualidade de vida ao cidadão
brasileiro e mundial.

Então, demonstramos que é a nossa consciência das obrigações e deveres


morais, ou seja, o caráter e o modo de ser dos homens em sociedade que formam
a ética. Assim, compreendemos que a ética é a ciência que procura estudar e
compreender as nuances relativas aos princípios morais, que são constituídos
historicamente.

Já a moral retrata nossos costumes e hábitos cotidianos, pois seu caráter é


social e está pautado na história, cultura e natureza dos seres humanos, pois a moral
está compreendida como um conjunto de normativas, regras, leis, regulamentos
e princípios que são instituídos pelo coletivo social, mas individualizada na
consciência dos homens e mulheres que vivem e convivem em sociedade.

Então, destacamos que moral são princípios comportamentais adquiridos


com a herança histórica da humanidade e preservados pelas pessoas que vivem
em grupos sociais.

Assim, no Quadro 7 demostraremos um balanço comparativo da ética e


moral, do que estudamos até agora.

QUADRO 7 – BALANÇO COMPARATIVO ENTRE ÉTICA E MORAL

FONTE: A autora

Esse balanço comparativo entre a ética e a moral demonstra que as duas


estão amplamente conectadas, mas apresentam sutis diferenças, porque a ética
denota um conceito subjetivo e teórico sobre a consciência das regras sociais,
já a moral se apresenta mais de cunho prático e objetivo, proporcionando uma
tratativa da conduta humana por intermédio de regras e códigos de condutas
socialmente constituídos.
29
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

A ética sempre procurará conhecer as formas das tratativas do bem e do


mal no âmbito holístico, do coletivo social, já a moral busca tratar o agir humano
de forma individualizada, tratando o certo e o errado nos seus regulamentos e
normas institucionalizadas.

Contudo, ressalva-se que os seres humanos não nascem com os


conhecimentos éticos e postura moral, eles se tornam éticos no decorrer do seu
desenvolvimento intelectual ao longo de sua história e colocam seus princípios
morais de acordo com o empoderamento de suas conotações e convívio sociais.
É na socialização e interação com o outro em sociedade que construímos a nossa
postura ética individual e profissional.

Vale destacar ainda que a ética é aprendida pelo estudo do comportamento


humano em sociedade, e a moral necessita ser imposta pelos regramentos sociais
de convívio humano. A ética é manifestada a partir do interior das pessoas, de sua
consciência, já a moral expressa-se no exterior do indivíduo, na conduta dos seus atos.

Como vivemos em constantes transformações humanas e sociais,


percebe-se que a ética e a moral sempre estarão em evolução, aprimorando-se
constantemente, pois o comportamento humano muda e suas regras de conduta
também mudam ao longo da história.

NTE
INTERESSA

Lembre-se que um dia a escravidão já foi considerada um comportamento


“normal” e hoje a escravidão é considerada um crime. Demostrando, assim, que as regras
mudam conforme a mudança do comportamento e normativas socialmente constituídas.

Na prática da vida cotidiana, como se apresentam as questões éticas e


morais?

Convidamos você a refletir sobre algumas situações do dia a dia,


demostrado em algumas charges, para refletir sobre o nosso comportamento
ético-moral. Vejamos!

FIGURA 7 – ÉTICA

30
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/431641945509586866/>. Acesso em: 20 jun. 2020.

FIGURA 8 – UM SÁBADO QUALQUER

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/455637687295581746/>. Acesso em: 20 jun. 2020.

FIGURA 9 – MOISÉS CHARGES E CARTOONS

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/716283515704220437/>. Acesso em: 20 jun. 2020.

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UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

FIGURA 10 – ÉTICA E MORAL: CONCEITOS, DIFERENÇAS E EXEMPLOS

FONTE: <https://bit.ly/3odSAc7>; <https://bit.ly/3mqnsp1>. Acesso em: 20 jun. 2020.

As charges apresentadas anteriormente demostram algumas situações,


muitas vezes, corriqueiras em nosso convívio social da vida cotidiana, que nem
nos damos conta, desvirtuando os preceitos ético-morais socialmente constituídos.

Se você parar para pensar um pouco, em cinco minutos, quantas situações


similares aparecem em sua mente? Muitas, com certeza!

Levando-nos a refletir sobre outra questão, o outro lado dessa moeda


ética-moral, a ausência e os contrários à ética e à moral.

Nesse sentido, discutiremos agora os sentidos inversos da moral e da


ética, mas, antes, verifique sua terminologia no Quadro 8.

QUADRO 8 – AUSÊNCIA E CONTRÁRIOS A ÉTICA E A MORAL

FONTE: A autora

Assim, podemos compreender que quando falamos da ausência de alguma


coisa, estamos nos referindo a falta, a deficiência, a carência e a insuficiência.

Levando esses conceitos supracitados para a ética e a moral, pode-se


perceber que essa ausência denota:
32
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

• Na ética: uma pessoa aética, ou seja, um indivíduo que não possui ou é


deficiente da consciência do coletivo, dos atos e costumes gerais do meio
em que vive e convive. Possui insuficiência ou carência da compreensão dos
estudos históricos da composição dos juízos de valores.
o Aqui a palavra-chave é a consciência do todo.

• Na moral: uma pessoa amoral, ou seja, um indivíduo que não possui ou é


deficiente na forma que conduz seus atos perante a sociedade que vive e
convive, pele simples fato de lhe faltar a compreensão de como agir perante
os regramentos impostos. Possuindo assim, insuficiência ou carência na sua
forma de agir, na sua atitude e conduta, na sua aplicação da norma, pois não
a compreende.
o Aqui a palavra-chave é a atitude individual.

Já quando falamos na questão das pessoas que são contrárias a alguma


coisa, estamos nos referindo a seres humanos que são adversos, antagônicos,
avessos, desfavoráveis e opostos a alguma situação.

Repassando esses conceitos supracitados para a ética e a moral, pode-se


perceber que essas atitudes contrárias a alguma coisa denotam:

• Na ética: uma pessoa antiética, ou seja, um indivíduo que possui argumentos


no sentido contrário da consciência coletiva do que é certo e errado, do que
é fazer o bem ou o mal, demostrando estar em oposição aos atos e costumes
gerais da sociedade em que está inserido, como também é avesso ao estudo
dos juízos de valores constituído historicamente.
o Aqui a palavra-chave é a contrariedade.

• Na moral: uma pessoa imoral, ou seja, um indivíduo que não segue as regras
de conduta socialmente constituídas pelo coletivo social, pelo seu livre
arbítrio. É fazer, ser oposto ou querer o contrário das normas. São avessas a
qualquer código de conduta, por consciência de querer contrariá-la.
o Aqui a palavra-chave é a atitude consciente.

Por fim, agora que aprofundamos nosso conhecimento acerca dos dois
lados desta moeda ética-moral, é importante sedimentarmos esses conhecimentos
adquiridos numa síntese conceitual.

Assim, segue o quadro síntese para a sua reflexão final das concepções e
diferenças da ética e moral.

33
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

QUADRO 9 – SÍNTESE DAS PRINCIPAIS CATEGORIAS DA ÉTICA E MORAL

FONTE: A autora

Nessa síntese das categorias analíticas da ética e moral, pode-se perceber


as nuances relativas às diferenças e semelhanças entre elas, mas o principal é
que ambas estudam e regulam o nosso agir pessoal e profissional e que são
constituídas historicamente nas relações humanas e sociais.

3 A ESSÊNCIA DA MORAL
Aqui realizaremos um debate entorno da essência da moral, mas com
embasamentos éticos para a vida cotidiana das pessoas que vivem em sociedade,
procurando desvelar o cerne e coração dessa questão da moral do ser humano.

Segundo Pieritz (2013, p. 35), “partimos do entendimento de que todo


homem pode ser considerado um ser ético e que nossas raízes éticas advêm da
nossa própria história por meio do trabalho”, assim, pode-se questionar como se
dá a sua forma de ser e conviver com o outro. Em outros termos, indaga-se:

• Qual a natureza da moral do ser humano?


• Por que a moral é necessária para a vida cotidiana?
• E como a moral é?

Partimos do princípio de que sabemos que “a (re)produção da vida social


coloca necessidades de interação entre os homens, modos de ser constitutivos da
cultura, produtos do trabalho, tais como a linguagem, os costumes, os hábitos, as
atividades simbólicas, religiosas, artísticas e políticas” (BARROCO, 2000, p. 25).

Diante deste contexto, no Quadro 10, apresentaremos alguns exemplos


dessa necessidade humana de interação e contato com os outros.

34
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

QUADRO 10 – EXEMPLOS DAS NECESSIDADES DE INTERAÇÃO ENTRE OS HOMENS PARA A


REPRODUÇÃO DA VIDA COTIDIANA
QUESTÃO DE
NECESSIDADE
PARA A CARACTERÍSTICAS BÁSICAS
REPRODUÇÃO DA
VIDA COTIDIANA
• Observa-se que toda região do Brasil, como no
mundo, desenvolve-se ao longo de suas próprias
histórias diversos grupos, que são ligados por seus
costumes e hábitos da vida cotidiana, tais como:
LINGUAGEM, O O nosso tipo de comida.
HÁBITOS E o O estilo de vida.
COSTUMES o As atitudes.

• A qual, estes costumes e hábitos propiciam a


determinação do nosso convívio social. Desenvolvendo
assim, uma linguagem e dialeto próprio.
• Aqui o lúdico de uma realidade abstrata e simbólica
positivada, denotam um aspecto muito importante
para o desenvolvimento das pessoas, para assim
ATIVIDADES poderem se espelhar naquela atividade.
SIMBÓLICAS
• Pois, a simples aplicação de leituras de histórias
de conto de fadas serve para o desenvolvimento
emocional de crianças.
• As cenas representativas dos atos da vida cotidiana
reforçam aspectos intrínsecos da personalidade das
pessoas.
ARTÍSTICA • Assim, qualquer atividade artística, como por
exemplo a dança, a pintura, o teatro exercem sobre
o ser humanos, a possibilidade do desenvolvimento
criativo e a liberação do imaginário.
FONTE: A autora

De acordo com o conjunto de possibilidades e necessidades de cada grupo


socialmente constituído, ter-se-á a criação e desenvolvimento dos valores, seja
individual ou coletivos, institucionalizando um padrão do que é considerado
certo ou errado, bom ou mau.

Então, o que poderemos considerar como configurações de ser da moral?

Vejamos!

Barroco (2000, p. 25-26) expõe que:

35
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

[...] o campo da moral é um espaço de criação e realização de normas e


deveres, de atitudes, desejos e sentimentos de valor. Na vida cotidiana,
julgamos as ações práticas como corretas ou incorretas; fazemos juízo
de valor sobre nosso comportamento e dos outros; nos deparamos com
situações em que ficamos em dúvida sobre a melhor escolha; projetamos
nossa vida a partir de valores que julgamos positivos e negamos as
ações que se orientam por valores que consideramos negativos.

Nesse cenário da vida cotidiana da nossa existência, observa-se pessoas


“que não respeitam as normas de conduta da sociedade em que vivem, por
isso, elas possuem um comportamento imoral ou antiético, ou seja, negam as
normas e diretrizes morais constituídas e legitimadas pela própria sociedade”
(PIERITZ, 2013, p. 36). Demostrando, assim, que existem os dois lados da moeda
do comportamento moral, os que são adeptos do comportamento ético-moral e os
contrários a ele, demostrando a liberdade da escolha da conduta humana.

Assim, de acordo com Barroco (2000, p. 26):


Todos esses julgamentos, sentimentos, escolhas e desejos constituem o
campo da moral; referem-se a valores, normas e deveres que orientam o
comportamento dos indivíduos em sociedade, reproduzindo um dever
ser que possa fazer parte do seu ethos, de seu caráter, determinando
sua consciência moral, influenciando as escolhas, os projetos, as ações
práticas dirigidas à realização do que se considera bom. É também
no âmbito da moral que falamos do senso moral, pois se considera
que os indivíduos estão socializados quando têm capacidade para se
autodeterminar em face de situações de conflito, podem distinguir o
que é bom e o que não é, podem ser responsabilizados pelos seus atos.

Complementando, Pieritz (2013, p. 38) expõe que se pode perceber “que


a moral sugere, constantemente, a valorização de nossas ações e de nossos
comportamentos em sociedade, mas é a moral que determina quais são os nossos
direitos e deveres perante a sociedade em que vivemos”. Assim, regulando o
nosso agir perante o grupo social a que pertencemos.

Todavia, salienta-se que tanto os direitos como os deveres e obrigações


socialmente constituídos, denotam responsabilidade sobre os atos praticados, pois
ambos estão diretamente associados ao nosso modo de ser e conviver em sociedade.

Que responsabilidades são estas?

São as responsabilidades sobre nossos:

• sentimentos;
• escolhas;
• desejos;
• atitudes;
• posicionamentos diante da realidade;
• juízo de valor;
• senso moral;
• consciência moral.
36
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

Em outros termos, somos responsáveis diretos por todos os nossos


atos, sejam de ação ou omissão. Segundo Pieritz (2013, p. 39), “não podemos
esquecer que a moral, seus hábitos, princípios e costumes são constituídos
em sociedade e no decorrer de nossa história. Essas construções são baseadas
no dia a dia das relações sociais que compõem a produção e reprodução da
vida em sociedade”. O qual, compreendemos que todas as pessoas possuem
consciência e responsabilidade sobre os atos que praticam no seu cotidiano, tanto
individualmente como socialmente.

4 OS VALORES E PRINCÍPIOS MORAIS


Realizaremos, neste momento, uma discussão relativa aos valores e
princípios morais, o qual, é importante, neste primeiro momento, segundo
Pieritz (2013, p. 39), “compreender o significado de valor, pois ao refletir sobre
ética, também falamos dos nossos valores e virtudes e, consequentemente, no
comportamento dos homens”. Sendo que, ao discutirmos as questões éticas-
morais, estamos nos reportando diretamente à “vida moral dos homens, e esta
moralidade social é permeada de valores, valores estes também constituídos em
sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 39).

No entanto, o que pode ser considerado um valor dos princípios morais?

Vejamos!

José Paulo Netto coloca-nos que Agnes Heller menciona que “valor é tudo
aquilo que contribui para explicar e para enriquecer o ser genérico do homem,
entendendo como ser genérico um conjunto de atributos que constituiriam a
essência humana” (PAULO NETTO,1999 apud BONETTI et al., 2010, p. 22-23).

Nesse sentido, valor é aquele atributo essencial do comportamento ético-


moral, que explica a subjetividade humana, suas preferências e modo de ser.
Esses atributos na perspectiva de Heller são:

QUADRO 11 – ATRIBUTOS NA PERSPECTIVA DE HELLER

• Que expressa prioritariamente por intermédio do


trabalho.
OBJETIVAÇÃO
• Que proporciona sair do subjetivo e passar para o
real e concreto.

• Que se expressa com a convivência com o outro, em


grupo.
SOCIALIDADE
• Aprendizagem com o outro.
• Assimilação de normas sociais.

37
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

• Tomar ciência dos fatos ou de alguma coisa.


• Reconhecimento da realidade.
CONSCIÊNCIA
• Descoberta de algo.
• Capacidade de perceber as coisas.

• Universal.
UNIVERSALIDADE • O todo.
• Fazer parte de um determinado grupo.

LIBERDADE • Livre-arbítrio.
FONTE: Adaptado de Paulo Netto (1999 apud BONETTI et al., 2010, p. 23)

Entretanto, você sabe as diferenças entre os valores e os princípios?


Destacaremos as nuances relativas às concepções conceituais dos valores e dos
princípios, para poder visualizar suas diferenças.

• Valores: é o sentido intrínseco da moral e do comportamento, o seu conjunto


de qualidades individuais, que transmite o modo de ser das pessoas, ou seja,
cada um de nós possuímos subjetividades que alimentam a conduta humana
em sociedade, propiciando a definição da personalidade e preferência das
pessoas. Por exemplo, a humildade, bondade, respeito e assim por diante.
• Princípios: são os parâmetros, preceitos, normas, leis e marcos de referência
universais, que definem as regras de conduta social e consente a medição
das consequências do comportamento humano. É um pressuposto que está
conectado diretamente à nossa consciência e modo de agir. Por exemplo, o
princípio da igualdade, imparcialidade, moralidade, liberdade etc.

E
IMPORTANT

“Estes atributos, segundo muitos estudiosos, são os elementos constitutivos do


ser humano, do ser social” (PIERITZ, 2013, p. 41).

Mediante esse debate, pôde-se compreender que “a ética é formada pelo


estudo e investigação do comportamento e dos juízos de valores, estabelecendo
ponderações de valor para o que está de acordo ou não com as normas e regras de
convivência dos homens em sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 41), demostrando que
são os valores e princípios ético-morais que moldam a postura comportamental
do ser humano.

No entanto, o que são os valores sociais?

Segundo Pieritz (2013, p. 41, grifos nossos):

38
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

Diariamente, analisamos e fazemos julgamentos de valores tanto


de coisas como dos seres humanos. Por exemplo, “Aquela flor tem
muitos espinhos, pode me machucar”. “Este sabonete é ruim para
mim, pois me dá alergia”. “Este chocolate é ruim, pois derrete fácil”.
“Gosto muito daquele chocolate, porque é muito gostoso”. “Acho que
a Samanta agiu bem ao ajudar você no trabalho de aula”. “Aquele
profissional é competente”. Essas afirmações se referem ao juízo de
valor da realidade em que estamos inseridos, pois quando partimos
do fato que a flor, o sabonete, o chocolate, a moça e o profissional
existem realmente, atribuímos algumas qualidades a eles, que podem
nos atrair ou repelir.

É a qualidade que empregamos as coisas e ações, que definem seus


valores.

No nosso dia a dia, de acordo com Pieritz (2013, p. 41), “empregamos


diversos tipos de valores, tais como: utilidade, estético, afetividade, do bem e mal,
religiosos, aspectos econômicos, sociais e políticos”.

Vejamos, agora, nas Figuras 11 e 12, alguns exemplos de virtudes ou


valores humanos, como também de princípios e valores.

FIGURA 11 – EXEMPLOS DE VIRTUDES OU VALORES HUMANOS

FONTE: < https://demodelando.files.wordpress.com/2014/05/valores.gif?w=450&h=217>.


Acesso em: 4 nov. 2020.

FIGURA 12 – EXEMPLOS DE PRINCÍPIOS E VALORES

FONTE: <http://www.kipique.com.br/imagens/vantagens.jpg>. Acesso em: 4 nov. 2020.

39
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

5 A CONSCIÊNCIA E O SENSO MORAL NO DESENVOLVIMENTO


HUMANO
Agora, adentraremos numa breve discussão da gênese da consciência e
do senso moral, discutindo a questão da necessidade deles no desenvolvimento
humano em sociedade.

Para isso, ofereceremos subsídios relativos às origens, constituição, formação,


geração ou bases e princípios fundamentais da existência humana, em outros
termos, a gênese da consciência e do senso moral do homem que vive e convive em
sociedade, aquilo que nos possibilita sermos considerados seres humanos.

Contudo, é salutar lembrar de um velho ditado popular, no qual expõe


que “O homem é homem, porque é um ser racional!”. “A questão não é tão
simples assim, pois não podemos dizer que a ética só depende da razão e que a
racionalidade é o seu fator constituinte” (PIERITZ, 2013, p. 21).

Esta racionalidade advém da consciência e empoderamento dos valores


e princípios éticos-morais adquiridos no decorrer da história da humanidade e
refletem diretamente no senso e na consciência moral do ser humano.
Entretanto, antes de tudo, precisamos compreender o significado das
ações ético-morais na vida dos seres humanos, indagando se o simples
fato de pensar e estabelecer normas de conduta da realidade cotidiana
pode ser compreendido como a realização de uma atividade prática em
sua vida, ou seria possível que a vida dos homens fosse estabelecida
apenas por sua racionalidade ou pela composição de regras, normas e
valores sociais? (PIERITZ, 2013, p. 21-22).

Lembre-se que nós seres humanos vivemos num mundo real, palpável,
pulsante e em constantes transformações, e que constantemente estamos
estabelecendo novas e diversas relações com a própria natureza, este contato
propicia sua própria transformação, modificando-a de acordo com suas
necessidades reais de sobrevivência.

Segundo Pieritz (2013, p. 22):


Os seres humanos estão ligados à natureza e dela dependem para
se constituírem como seres sociais, pois, à medida que utilizam sua
consciência sobre a natureza, desenvolvem necessidades práticas
de sobrevivência, ou seja, não basta apenas pensar e observar, faz-
se necessário que os homens ajam sobre sua realidade cotidiana,
realizem seus desejos e vontades e transformem a sua vida conforme
suas necessidades e as necessidades de sua sociedade.

Nesse sentido, Marx e Engels (1987, p. 22) nos colocam que:


[...] o primeiro pressuposto de toda existência humana e, portanto, de
toda história, é que os homens devem estar em condições de viver para
poder fazer história, mas para viver, antes de tudo comer, beber, ter
habitação, vestir-se e algumas coisas a mais. O primeiro ato histórico

40
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas


necessidades, a produção da própria vida material, e de fato este é um
ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda
hoje, como há milhares de anos, deve ser cumprida todos os dias e
todas as horas, simplesmente para manter os homens vivos.

De tal modo, a realização de nossas atividades e necessidades humanas é


entendida como um fato social, que é historicamente constituído, este fato relativo
à relação e convívio social, torna-se primordial para compreendermos a própria
existência humana.

Agora, aprofundaremos nosso conhecimento acerca da própria existência


da ética na nossa vida cotidiana. Para isso, a filósofa Marilena Chauí, agracia-nos
com uma linda reflexão, apresentando-nos algumas situações da vida cotidiana
trazendo um debate relativo ao senso moral e à consciência moral.

QUADRO 12 – REFLEXÃO DA EXISTÊNCIA ÉTICA


NOSSOS SENTIMENTOS E NOSSAS AÇÕES EXPRIMEM NOSSO
SENSO MORAL

• VIVEMOS CERTAS SITUAÇÕES, ou sabemos que foram


vividas por outros, como situações de extrema aflição e
angústia, situações felizes e de prazer.
• Denotando a consciência destas situações advindas dos fatos
SITUAÇÕES históricos vividos pelo homem, a qual, buscamos no espirar
de vida e moldar.
• Situações como essas - mais dramáticas ou menos dramáticas
– de alegria e de tristeza – de sucessos e fracasso - surgem
sempre em nossas vidas.
• NOSSAS DÚVIDAS quanto à DECISÃO CERTA A TOMAR
não manifestam nosso senso moral, mas também põem a
prova nossa consciência moral, pois exigem que decidamos
o que fazer, que justifiquemos para nós mesmos e para os
outros as razões de nossas decisões e que assumimos todas
as consequências delas, porque somos responsáveis por
DECISÕES nossas opções.
na vida • Quantas vezes, levados por algum impulso incontrolável ou
por alguma emoção forte (medo, orgulho, ambição, vaidade,
covardia), fazemos alguma coisa que, depois, sentimos
vergonha, remorso, culpa. Gostaríamos de voltar atrás no
tempo e agir de modo diferente.
• Esses sentimentos também exprimem nosso SENSO
MORAL.

41
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

SENSO MORAL CONSCIÊNCIA MORAL

Conjunto de AVALIAÇÕES de
conduta que nos levam a tomar
Conjunto de SENTIMENTOS de
decisões por nós mesmos, a agir em
indignação, de administração ou de
conformidade com elas e a responder
responsabilidade por nossa conduta
por elas.
ou de outros.
CAPACIDADE DE DECIDIR o
MANEIRA como avaliamos a conduta
que fazer, de justificar as razões
e a ação de outras pessoas.
de nossas decisões e de assumir as
consequências delas.

O senso moral e a consciência moral referem-se a:

• VALORES de justiça, honradez, espírito de sacrifício, integridade,


generosidade.
• SENTIMENTOS provocados pelos valores, de admiração, vergonha, culpa,
remorso, contentamento, cólera, amor, dúvida, medo.
• DECISÕES que conduzem a ações com consequências para nós e para os
outros.

Embora os conteúdos dos valores variem, podemos notar que estão se referindo
a um valor mais profundo, mesmo que apenas subentendido: o bom ou o bem.

O SENSO E A CONSCIÊNCIA MORAL dizem respeito a


valores, sentimentos, intenções, decisões e ações referidos ao bem e ao mal e
ao desejo de felicidade.
Dizem respeito às relações que mantemos com os outros e, portanto,
NASCEM E EXISTEM COMO PARTE DA NOSSA VIDA SUBJETIVA.

Dizem o porquê as coisas são o que são, como são e por


JUÍZO DE FATO
que são.

São avaliações sobre coisas, pessoas e situações, e são


JUÍZO DE
proferidos na moral, nas artes, na política, na religião. Se
VALOR
referem ao que devem ser.

AGENTE Homem, dotado de razão, capaz de ver, julgar e agir na


MORAL realidade em que está inserido.

A EXISTÊNCIA ÉTICA é constituída por dois polos internamente relacionados:


• o AGENTE ou O SUJEITO moral (o homem); e
• os VALORES MORAIS ou os FINS ÉTICOS.
Além disso, é constituída também pelos MEIOS MORAIS.
FONTE: Adaptado de Chauí (2016, p. 312 e 319)

42
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

No quadro anterior, a filósofa Marilena Chauí (2016) expõe com sensatez


como as nossas emoções, anseios, ações e sentimentos exprimem o nosso senso
ético-moral nas diversas situações da vida cotidiana, além de desmistificas as
nuances relativas à consciência e senso moral.

No senso e na consciência moral dos seres humano estão estampados


nossas intenções e desígnios, como também nossos valores, emoções e sentimentos,
relativos à concepção do bem e do mal.

5.1 OS ESTÁGIOS DA CONSCIÊNCIA ÉTICA E MORAL: AS


ETAPAS DA EVOLUÇÃO HUMANA
Refletiremos, agora, a questão da classificação dos estágios da consciência
ética e do julgamento moral dos seres humanos, desvelando e buscando
compreender as etapas e níveis da evolução humana.

Primeiramente, vejamos o que Alves (2017, p. 1) indaga nessa discussão:

• “Como nos tornamos seres morais?”


• “Como aprendemos distinguir entre o certo e o errado?”

Alves (2017, p. 1) complementa, expondo que “as respostas filosóficas são


tão díspares quanto interessantes”.
Agostinho afirmava que já nascemos depravados e inclinados a
naturalmente escolher o mal, enquanto Rousseau contesta que
originalmente o ser humano é bom, mas nos corrompemos mediante
o contato social. Mais tarde, em uma abordagem psicodinâmica, Freud
dava explicações, como a repressão das pulsões (a influência do superego)
para a origem da moral. O psicólogo Jean Piaget deu um grande passo ao
notar que a formação moral é construída e difere entre a construção da
moralidade extrínseca e a internalizada (ALVES, 2017, p. 1).

Assim, tudo depende da consciência que o ser humano tem dos seus
próprios atos e ações perante o meio em que vive e convive, e que eles são
constituídos historicamente pela sua socialização junto a outras pessoas que estão
ao seu entorno.

Nesse sentido, Aveline (2019, p. 1) expõe que “o psicólogo norte-


americano Lawrence Kohlberg (1981) afirma que o desenvolvimento moral do
ser humano tem seis estágios, mas, atualmente, são poucos os que alcançam o
patamar mais elevado”. Esses estágios da consciência ética são desenvolvidos
durante o percurso histórico da evolução humana e psicológica de qualquer
pessoa, independentemente de raça, cultura ou etnia.

Complementando, Alves (2017, p. 1) expõe que:

43
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

Em um notável experimento, Kohlberg (1981) descobriu que a


construção da moral ocorre por estágios, paralelos aos estágios
desenvolvimentais então estudados por Piaget. Ainda mais, para uma
criança atingir certo estágio de desenvolvimento moral, deveria antes
alcançar um estágio intelectual que a permitisse assimilar as questões
morais e produzir seu próprio raciocínio.

De tal modo, pode-se considerar que a base destes seis estágios da


consciência ética e do julgamento moral dos seres humanos se encontra na fase do
desenvolvimento intelectual do mesmo, para assim possibilitar o discernimento
e compreensão dos fatos e das coisas, possibilitando seu empoderamento do
intelecto e tomadas de decisão, do que é certo ou errado, do que é fazer o bem
ou o mal. Vale frisar que “os seis estágios também coexistem entre si. A vida é
contraditória. Cada pessoa possui vários níveis de motivos para agir corretamente,
e diversos tipos de definição do que é correto” (AVELINE, 2019, p. 1).

Logo, Aveline (2019, p. 1) expõe que “em cada indivíduo ou grupo


social, há alguns níveis de consciência ética que predominam sobre os outros”,
possibilitando, assim, que todos nós possamos ser diferentes, pois temos o livre
arbítrio da escolha do caminho que desejamos seguir, mediante o desenvolvimento
da nossa consciência ética e moral. Na Figura 9, serão expostos os seis estágios
da consciência ética e do julgamento moral que foram propostos por Lawrence
Kohlberg (1981), o qual demostrarão as motivações que levam para cada nível e
estágio do desenvolvimento humano.

FIGURA 13 – KOHLBERG E OS ESTÁGIOS DA CONSCIÊNCIA ÉTICA

FONTE: <https://www.filosofiaesoterica.com/Kohlberg (1981)-e-os-estagios-da-consciencia-etica/>.


Acesso em: 6 nov. 2020.

Contudo, antes de aprofundar nossos conhecimentos acerca de cada um


destes seis estágios da consciência ética e moral que foram propostos por Kohlberg
(1981), devemos compreender que eles foram classificados em três grandes níveis,
que são denominados de pré-convencional, convencional e pós-convencional.

44
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

QUADRO 13 – CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS NÍVEIS DOS ESTÁGIOS DA CONSCIÊNCIA ÉTICA E


MORAL PROPOSTOS POR KOHLBERG (1981)

Nível 1 ou A Nível 2 ou B Nível 3 ou C

Raciocínio e Moralidade Raciocínio e Moralidade Raciocínio e Moralidade


PRÉ-CONVENCIONAL CONVENCIONAL PÓS-CONVENCIONAL
Nível PRÉ-MORAL, Nível da CONFORMI- Nível da ACEITAÇÃO
estágio mais básico e DADE com os papéis dos princípios morais
inferior sociais universais

Estágio 1 e 2 Estágio 3 e 4 Estágio 5 e 6


Raciocinam para
Sem código de conduta Leal as regras e normas
melhorar o mundo
• Ainda não • Teve plena
compreende o que internalização das
é certo e errado, o • Segue as regras normas e convenções
que é fazer o bem e e as normas de sociais.
o mal. condutas socialmente
• Não se baseia nos
constituídos pela
• Não teve padrões dos outros.
sociedade que estão
internalização inseridas. • Baseia-se nos seus
das normas e princípios individuais
convenções sociais. abstratos.
FONTE: A autora

Agora que observamos que os seus estágios são classificados em três


grandes níveis, convido-lhes a compreender cada um desses seis estágios da
consciência ética e moral que foram propostos por Kohlberg (1981).

5.1.1 Primeiro estágio: medo, punição e obediência


Esse primeiro estágio da consciência ética e do julgamento moral dos seres
humanos, que foi proposto por Kohlberg (1981), busca compreender o nível mais
básico da consciência, do raciocínio do intelecto da própria evolução humana.

De acordo com a pirâmide de Kohlberg (1981), a ação do ser humano


é “motivada pelo medo da punição e pela obediência” (AVELINE, 2019, p. 1,
grifos nossos), como também, está considerada no primeiro nível da classificação
geral, possuindo um raciocínio e moralidade consideradas pré-convencionais,
conforme exposto no Quadro 13.

45
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

Nesse primeiro nível, as pessoas ainda não compreendem o que é certo e


errado, o que é fazer o bem e o mal. Como também, não tiveram a internalização
das normas e convenções sociais instituídas legalmente e que não seguem um
código de conduta. Esse primeiro estágio da consciência e raciocínio da evolução
humana, foi denominado como a fase do medo, punição e obediência, pois,
segundo Alves (2017, p. 1), “as consequências das ações determinam o certo e
o errado”, e, de acordo com Aveline (2019, p. 1, grifos nossos) “a ação certa é a
ação que não é punida”, pois “a prioridade é não ser punido, e por isso há uma
obediência. A ação errada é aquela que recebe castigo. Se não houver castigo, não
haverá consciência de que algo errado foi feito” (AVELINE, 2019, p. 1).

Assim, pode-se verificar que a base da pirâmide está norteada por


orientações de obediência, para, assim, evitar a punição, demostrando que o
medo de não obedecer ao socialmente posto, gera temor do castigo que possa ter,
e assim segue com um comportamento de obediência, pois tem medo que seja
descoberto algo considerado errado pela sociedade que vive e convive.

As questões desse primeiro estágio são as seguintes:

• Se não obedecer, serei punido ou castigado?


• Quais serão as consequências de minha ação ou omissão?

Desse modo, segundo Carvalho (2011, p. 1), no Estágio um, “a criança


obedece literalmente a regra, pois sua interpretação é que, obedecer a autoridade
é evitar castigo. Cumpre, portanto, por obediência ao adulto e para não sofrer
sanções, nesse caso, o castigo.”

Salienta-se que são as consequências das ações que demostram o


comportamento em si, a ação comportamental, ou seja, não é a ação que
predomina, e sim o medo das consequências que a ação poderá gerar. Gerando
obediência por medo de punição e castigo.

A palavra aqui é obediência à regra posta!

5.1.2 Segundo estágio: recompensa


O segundo estágio da consciência ética e moral das pessoas no seu convívio
social, que foi sugerido por Kohlberg (1981), busca também compreender o nível
basilar da consciência, do raciocínio do intelecto da própria evolução do ser humano.

Segundo a pirâmide de Kohlberg (1981), a ação do ser humano é “motivada


pela obtenção e recompensa” (AVELINE, 2019, p. 1, grifos nossos), como também,
está considerada no primeiro nível da classificação geral, possuindo um raciocínio
e moralidade consideradas pré-convencionais, conforme exposto no Quadro 13.

46
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

Reforça-se que nesse primeiro nível, os indivíduos ainda não compreendem


o que é certo e errado, o que é fazer o bem e o mal. Como também não tiveram a
internalização das normas e convenções sociais instituídas legalmente e que não
seguem um código de conduta.

Vale salientar, que neste estágio da evolução do intelecto e comportamento


humano, foi denominado como a fase da recompensa, pois, segundo Alves (2017,
p. 1), no estágio dois, as ações estão pautadas no “hedonismo instrumental ingênuo.
O individualismo e a transação passam a serem consideradas”. “A ação correta é
definida como ‘aquela que serve aos interesses de cada um’. O objetivo é obter uma
recompensa. Ocorre aqui o ‘toma lá, dá cá’. Vale a negociação caso a caso, a troca de
favores, o apoio mútuo em ações de curto prazo” (AVELINE, 2019, p. 1).

NOTA

Vejamos seus significados:


Hedonismo – “Tendência a considerar que o prazer individual e imediato é a finalidade da
vida” (FERREIRA, 2008, p. 448, grifos nossos).
Ingênuo – “Sem malícia, franco. Em que há inocência, pureza, singelo, pueril” (FERREIRA,
2008, p. 478, grifos nossos).
Egocêntrico – “Que ou quem refere tudo ao próprio eu. Egoísta (FERREIRA, 2008, p. 334,
grifos nossos).

Esse desejo imediato da realização individual do prazer é compreendido


como um instrumento egocêntrico do ser humano, para sua própria satisfação.
No segundo estágio da consciência ética e moral das pessoas no seu convívio
social, a orientação comportamental aponta para o contentamento dos próprios
desejos ou de outros.

As questões do segundo estágio são as seguintes:

• O que posso ganhar ou obter com minha ação ou omissão?


• O que ganho em troca?

Assim, as ações humanas, no seu convívio social, estão pautadas no prazer


individual, desprovida de malícia, e na transação ou negociação de barganha para
conseguir o que deseja — ações única e exclusivamente para satisfação pessoal.

Segundo Carvalho (2011, p. 1), esse segundo estágio denota que o ser
humano “age pelo próprio interesse (individualismo), [pois] a obediência consiste
em fazer só aquilo que lhe interessa e até na relação com os outros não é movido
por respeito ou por lealdade, mas pelo interesse de ‘uma mão lava a outra’, uma
troca de favores”.

47
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

Nesse sentido, ressalva-se que, o objetivo desse comportamento é a


reciprocidade restrita em obter uma recompensa.

A palavra aqui é buscar recompensa!

E
IMPORTANT

Segundo Aveline (2019, p. 1, grifos nossos), “os dois estágios iniciais da moralidade
humana são chamados de ‘pré-convencionais’, porque neles não há um código de conduta.
As ações são vistas de modo mais ou menos isolados. Predomina o casuísmo”.

5.1.3 Terceiro estágio: aprovação social


O terceiro estágio da consciência ética e do julgamento moral dos seres
humanos, que foi proposto por Kohlberg (1981), denota que tenhamos um
raciocínio ético-moral convencional, pois propicia ser um nível conectado com a
conformidade dos papéis sociais, ou seja, a lealdade dos homens com as regras e
normas socialmente constituídas.

De acordo com a pirâmide de Kohlberg (1981), a ação do ser humano é


“motivada pela aprovação social” (AVELINE, 2019, p. 1, grifos nossos), como
também está considerada no segundo nível da classificação geral, possuindo
um raciocínio e moralidade consideradas convencionais, conforme exposto no
Quadro 13.

Ressalva-se que nesse segundo nível, as pessoas procuram seguir as


regras e as normas de condutas socialmente constituídos pelo grupo social a qual
faz parte. São leais às regras e normas.

Neste sentido, esse terceiro estágio da consciência e raciocínio da evolução


humana foi denominado como a fase da aprovação social, pois, segundo Alves
(2017, p. 1, grifos nossos), este é o estágio das “relações interpessoais. [Onde
existe] o ideal de ‘bom garoto’, ou seja, o que agrada aos outros é bom”.

Aveline (2019, p. 1) complementa expondo que, neste terceiro estágio:


A criança (ou o adulto) demonstra ter bom caráter. É a etapa do “bom
garoto”. A meta é a aprovação social, ou o apoio sincero dos mais
velhos e dos mais poderosos. Aqui vale a frase “faça aos outros o que
gostaria que eles lhe fizessem”. A pessoa desenvolve um sentido de
justiça e reciprocidade. A compaixão é compreendida e até certo ponto
vivenciada. Também pode ocorrer um conformismo: mas existe um
sentido de compromisso ético verdadeiro (grifos nossos).

48
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

Demostrando que nas relações interpessoais, buscar ser considerado uma


boa pessoa é um bom negócio, para ter um convívio social pleno e ser aprovado
socialmente.

Aqui, procuramos nos orientar pelos valores socialmente constituídos,


manter-nos íntegros, conforme as normativas, regras e legislações vigentes, mas,
sempre no intuito de agradar o grupo social a que fazemos parte, e não pelo
simples fato de seguir as normas.

As questões desse terceiro estágio permeiam em:

• Se seguir as normas sociais, estou agradando e sou aprovado socialmente?


• Como sou considerado nas minhas relações interpessoais, agrado a todos?
• Será que tenho bom caráter, se sigo fielmente a legislação vigente?

De tal modo que nossa atitude em relação às ações humanas deva estar
pautada nas normativas socialmente constituídas, e que nos orientam se podemos
ser considerados bons ou maus seres humanos, e se assim agradamos e somos
aprovados socialmente.

Vale salientar que, as ações que agradam o coletivo são consideradas


boas, e que o caráter humano é reconhecido por estes atos compartilhados e
positivados nas relações interpessoais. A palavra aqui é agradar o outro!

5.1.4 Quarto estágio: manutenção da ordem social


No quarto estágio da consciência ética-moral das pessoas que vivem e
convivem em sociedade, que foi apresentado por Kohlberg (1981), o qual é possível
propiciar a você, que este estágio do raciocínio da ética e da moral é convencional,
para demostrar que este nível está conectado com a harmonia dos papéis sociais,
ou seja, a lealdade dos homens com as regras e normas socialmente constituídas.

Segundo a pirâmide de Kohlberg (1981), a ação do ser humano é “motivada


pela manutenção da ordem social” (AVELINE, 2019, p. 1, grifos nossos) e está
considerada no segundo nível da classificação geral, possuindo um raciocínio e
moralidade consideradas convencionais, conforme exposto no Quadro 13.

Pontua-se que nesse segundo nível, os seres humanos procuram seguir as


regras e as normas de condutas socialmente constituídos pela sociedade em que
vivem e convivem. São leais às regras e normas.

Assim sendo, este quarto estágio da consciência e raciocínio da evolução


humana, foi denominado como a fase da manutenção da ordem social, pois, de
acordo com Aveline (2019, p. 1, grifos nossos) “o quarto estágio é o da Lei e da
Ordem. Nesse ponto o respeito ao líder, ao chefe, ao professor, é algo central. O

49
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

importante é cumprir o dever. Cabe respeitar as normas e obedecer às autoridades


– sem questioná-las”. Importante salientar que é a “autoridade [que] mantém a
ordem social. Atitude deontológica, cumprir os deveres” (ALVES, 2017, p. 1).

Pode-se destacar que nesta etapa, o nosso comportamento social é


orientado pelas normas, leis, regras e ordem social. Procurando manter os
valores e princípios socialmente constituídos.

Aqui, é a manutenção das leis e normas e o respeito às lideranças que


propiciam a promoção do bem-estar social da população, já que as questões do
quarto estágio estão em torno das seguintes indagações:

• Se seguir as normas vigentes, estou mantendo a ordem e o bem-estar social?


• Será que estou respeitando minhas lideranças e suas decisões?
• Estou cumprindo meus deveres e minhas obrigações sociais?

Ainda, torna-se importante refletirmos na questão da Lei e da Ordem, pois:


Quem está nesse estágio realmente acredita que a lei, a ordem social, a
justiça e outros valores são reais, são partes do gênero humano, neste
sentido o correto é cumprir seu dever na sociedade, preservar a ordem
social, e manter o bem-estar da sociedade ou do grupo (CARVALHO,
2011, p. 1, grifos nossos).

Aqui, o importante sempre será o cumprimento da Lei e da Ordem,


cumprindo nossos deveres e obrigações para com a sociedade em que fazemos
parte, além de respeitar os processos decisórios de nossos gestores, pois assim,
proporcionaremos a promoção do bem-estar social.

As palavras aqui são respeito e cumprimento das leis, da ordem e da


liderança!

E
IMPORTANT

De acordo com Aveline (2019, p. 1, grifos nossos), “As etapas três e quatro são
chamadas de ‘convencionais’, porque nelas o indivíduo é sinceramente leal às normas e
às orientações coletivas”.

5.1.5 Quinto estágio: proteção do bem-estar coletivo


Este quinto estágio da consciência ética e do julgamento moral dos seres
humanos, que foi proposto por Kohlberg (1981), busca compreender a questão do
raciocínio e da moralidade no âmbito pós-convencional, no nível da aceitação dos
princípios morais universais, em que os seres humanos procuram raciocinar para
melhorar a qualidade de vida no mundo.
50
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

Portanto, de acordo com a pirâmide de Kohlberg (1981), a ação do ser


humano, no quinto estágio, é “motivada pela proteção do bem-estar coletivo”
(AVELINE, 2019, p. 1, grifos nossos) e está considerada no terceiro nível da
classificação geral, possuindo um raciocínio e moralidade consideradas pós-
convencional, conforme exposto no Quadro 13.

É importante destacar que, no terceiro nível da classificação geral da


pirâmide de Kohlberg (1981), devemos compreender que as pessoas já possuem
plena internalização das normas e convenções sociais, e que não se baseiam nos
padrões dos outros, mas se baseiam nos seus princípios individuais abstratos.

Aqui, no terceiro nível, devemos partir do princípio de que “agora as crianças


ou adultos respeitam às normas, leis e convenções, mas ao mesmo tempo enxergam
além delas e procuram aprimorá-las” (AVELINE 2019, p. 1, grifos nossos).

Vale fazermos uma reflexão!

Prezado acadêmico, reflita conosco o que Sigmund Freud (2005, p. 53,


grifos nossos) escreveu:
[…] Não é necessário ser um anarquista para ver que as leis e as normas
não podem ser consideradas como algo sagrado ou inquestionável,
ou para compreender que elas são com frequência formuladas de
modo inadequado e ferem o nosso sentido de justiça, ou virão a ser
injustas dentro de algum tempo, e que, considerando a lentidão das
autoridades, muitas vezes o único meio de corrigir estas leis tolas
é tendo a coragem de violá-las. Além disso, se desejamos manter o
respeito pelas leis e normas, é aconselhável só promulgá-las quando
se pode vigiar e saber se são obedecidas.

Você conseguiu observar na fala de Freud (2005), que as leis e normas


podem ser reformuladas e modificadas no decorrer da própria evolução humana,
por conta da transformação social? Que elas podem ter sido feitas de formas
equivocadas, não atingindo seu propósito? Que podem ter perdido sua validade,
por conta do tempo de promulgação?

Que bom que você compreendeu essa questão! Pois, isso é fundamental
para compreender este estágio, como o sexto também.

Nesse sentido, este quinto estágio da consciência e raciocínio da evolução


humana, foi denominado como a fase da proteção do bem-estar coletivo, pois,
na visão de Aveline (2019, p. 1, grifos nossos), esta é uma fase que demonstra o
“desenvolvimento ético, [onde] o indivíduo percebe que as leis e os costumes
estabelecidos podem ser injustos. [E], quando necessário, ele busca uma mudança
para melhor. Faz isso através de meios legítimos, democráticos, moralmente
aceitáveis, eticamente responsáveis”. Demonstrando que é possível realizar a
mudança normativa, desde que devidamente justificada e legal, pois quem está
nesta fase, consegue enxergar além das normativas postas, pois procura aprimorar
o contrato social posto.

51
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

Aqui, neste estágio, as pessoas se orientam pela melhoria constante do


contrato social e suas normativas institucionalizadas, procurando o exercício
do respeito aos direitos civis, sociais e individuais, no intuito de protegê-las e
verificarem sua eficácia, para angariar a promoção do bem-estar do coletivo social.

Segundo Alves (2017, p. 1), o contrato social é compreendido como


“acordos democraticamente alcançados sobre se os valores são bons, cabendo ao
indivíduo determinar o certo e o errado dentro dos parâmetros desses valores”.

Nessa concepção, esse aprimoramento legislativo do contrato social


denota os seguintes questionamentos:

• Será que podemos ir além do contrato social instituído, tendo uma visão
ampliada de sua eficácia e propor aprimoramento, quando necessário?
• Como podemos exercer nossa cidadania para proteger o bem-estar coletivo?

Já Carvalho (2011, p. 1) complementa expondo que as pessoas desse


estágio possuem uma “visão que no mundo as pessoas são diferentes, têm
opiniões, direitos e valores também diferentes e o correto é apoiar os direitos,
valores e contratos jurídicos de uma sociedade, mesmo quando estão em conflito
com as normas concretas do grupo”. Ou seja, procuram ir além do socialmente
posto, para poder contribuir a melhoria de qualidade vida dos cidadãos, pois
entendem que somos todos diferentes.

As palavras aqui são proteção do bem-estar coletivo e melhoria do


contrato social.

NTE
INTERESSA

Exemplos desse nível de moral (assim como do sexto nível) são Mahatma
Gandhi, na Índia, Martin Luther King, nos Estados Unidos e, no Brasil, Chico Mendes, o
defensor da Floresta Amazônica. Os três líderes sociais deram um exemplo de altruísmo
e foram assassinados precisamente por defenderem ideais nobres e uma ética superior,
contrariando as estruturas da ignorância organizada. Na quinta etapa, busca-se um contrato
social eficiente e justo para todos (AVELINE 2019, p. 1).

5.1.6 Sexto estágio: zelo pelos princípios éticos universais


Por fim, o sexto e último estágio da consciência ética-moral das pessoas,
que foi apresentado por Kohlberg (1981), procurou presentar uma reflexão
relativa ao raciocínio e à moralidade no âmbito pós-convencional, no nível da
aceitação dos princípios morais universais, em que os seres humanos procuram
raciocinar para melhorar a qualidade de vida no mundo.

52
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

Nesse sentido, a pirâmide de Kohlberg (1981) demonstra que a ação


do ser humano, no sexto estágio, é “motivada pelo zelo dos princípios éticos
universais” (AVELINE, 2019, p. 1, grifos nossos) e está considerada no terceiro
nível da classificação geral, possuindo um raciocínio e moralidade consideradas
pós-convencional, conforme exposto no Quadro 13.

Vale frisar que neste terceiro nível da classificação geral da pirâmide de


Kohlberg (1981), é importante compreender que as pessoas já possuem plena
internalização das normas e convenções sociais, e que não se baseiam nos padrões
dos demais cidadãos, mas baseiam-se nos seus princípios individuais abstratos.

Portanto, neste terceiro nível, partiremos do princípio de que “agora as


crianças ou adultos respeitam as normas, leis e convenções, mas ao mesmo tempo
enxergam além delas e procuram aprimorá-las” (AVELINE, 2019, p. 1, grifos nossos).

Assim, o sexto estágio da consciência e raciocínio da evolução humana, foi


denominado como a fase do zelo dos princípios éticos universais, pois, segundo
Aveline (2019, p. 1), “na sexta etapa de desenvolvimento moral, o indivíduo –
ou o povo – vive os princípios universais da consciência ética. Hoje são pouco
numerosos os seres humanos firmemente estabelecidos neste estágio. São os
precursores. Preparam o futuro. Abrem o caminho”.

As questões do sexto e último estágio estão em torno das seguintes


indagações:

• Qual o caminho que podemos trilhar para zelar os princípios éticos universais?
• Com podemos aprimorar os preceitos éticos e morais, para ir além do
socialmente posto?

Aqui, nesta fase, as pessoas se orientam pelos princípios éticos universais,


a qual procuram zelar pelos valores éticos-morais ao longo da história da
humanidade. Lembre-se que a ética reflete os hábitos e costumes gerais de
uma sociedade, suas normativas e convenções, que fora institucionalizada pelo
coletivo social, e a moral é a forma que conduzimos nossos atos perante o outro,
ou seja, é a conduta em si.

Alves (2017, p. 1) coloca-nos que “os princípios de justiça e ética são parte da
consciência, sendo questões de escolhas individuais dentro de princípios axiológicos
universais, mesmo que contra as leis e regras socialmente estabelecidas”. Vale
lembrar que “a pessoa desenvolve um padrão moral baseado nos direitos humanos
universais. Quando confrontado com um conflito entre a lei e a consciência, a
pessoa seguirá a consciência, ainda que essa decisão envolva risco pessoal, e tem a
capacidade de ver-se no lugar do outro” (CARVALHO, 2011, p. 1).

Assim, somos incitados a zelar por esta consciência dos princípios éticos
e de justiça universais que refletem as nossas condutas na sociedade em que
estamos inseridos.

53
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

Lembre-se de que estamos aqui para melhorar o mundo em que vivemos,


mas precisamos compreender e zelar os nossos valores e princípios éticos-morais
que foram historicamente concebidos pelo coletivo social.

As palavras aqui são zelo dos valores e princípios éticos-moras e


universais, pois a ética é para o coletivo social, para todos.

E
IMPORTANT

Prezado acadêmico, para Kohlberg (1981) “nem todos progrediam por esses
estágios. Somente uns poucos (citou Gandhi, Thoureau e Martin Luther King) chegam ao
Estágio 6, mas todos em potencial podem alcançar esses estágios, que progridem conforme
a idade” (ALVES, 2017, p. 1). De acordo com Carvalho (2011, p. 1):

Kohlberg (1981) acreditava que estes níveis e estágios ocorrem


numa sequência:
• Antes dos nove anos, a maioria das crianças seguem
caminhos pré-convencionais (nível 1).
• Na primeira adolescência, eles raciocinam de uma maneira
mais convencional (nível 2). A maioria no Estágio 3, com
apenas sinais dos Estágios 2 e 4.
• No início da fase adulta, um pequeno número de indivíduos
arrazoa (raciocinam) de maneira pós-convencional.

6 A CONDUTA MORAL: O BEM E O MAL, O CERTO E O


ERRADO
No que tange a nossa conduta moral, em relação ao fazer o bem ou o mal,
em fazer o certo ou o errado, pode-se dizer que chegamos agora num dilema, pois
no nosso próprio comportamento ético-moral é a nossa consciência, das coisas e
dos fatos, que irá determinar o caminho a seguir, pois indaga-se:

• Como saber o que devemos fazer? Para que lado ir?


• O que é certo ou errado perante a sociedade?
• O que é fazer o bem e como evitar o mal?

Respondendo a esses três questionamentos, Valls (2003, p. 67-68) expõe que:


Agir eticamente é agir de acordo com o bem. A maneira de como se
definirá o que seja este bem, é um segundo problema, mas a opção
entre o bem e o mal, distinção levantada já há alguns milênios, parece
continuar válida. [...] Neste sentido, poderíamos continuar dizendo
que uma pessoa ética é aquela que age sempre a partir da alternativa
bem ou mal, isto é, aquela que resolveu pautar seu comportamento
por uma tal opção, uma tal disjunção. E quem não vive dessa maneira,
optando sempre, não vive eticamente.

54
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

Assim, se agirmos no intuito de fazer o bem, estamos agindo com uma


postura ética-moral, ela proporcionará uma conduta direcionada para o certo,
mas sempre pautada no que fora instituído socialmente. Então, pode-se dizer
que os seres humanos são aquelas pessoas que desenvolvem uma conduta ou um
comportamento baseado em alternativas, podendo escolher em fazer o bem ou o
mal, que quem faz o bem é considerado ético, e quem faz o mal é antiético.

De acordo com Pieritz (2013, p. 23-24):


Para efetuarmos um julgamento concreto sobre alguma situação da
vida em sociedade, devemos nos pautar sobre todos os pressupostos
éticos daquela sociedade em si, ou seja, seus princípios morais e seus
costumes. Entretanto, sem esquecer que o que todo ser humano busca
em suas ações cotidianas na sociedade é fazer sempre e somente o bem,
pois é por causa e em nome deste bem maior que eles realizam tudo.

De tal modo, que necessitamos compreender a realidade social, política


e econômica do grupo social a que pertencemos, principalmente seus preceitos
éticos-morais para, assim, podermos tomar a decisão de que postura teremos em
relação aos outros que vivem e convivem conosco.
[Pois], sempre que uma decisão ou uma escolha deve ser feita com
relação ao comportamento, a decisão moral será aquela que trabalha
para a criação de confiança e integridade nos relacionamentos. Deve
aumentar a capacidade dos indivíduos para cooperar, e aumentar a
sensação de autorrespeito no indivíduo. Atos que criam desconfiança,
suspeita e mal-entendidos, que constroem barreiras e destroem a
integridade, são imorais. Eles diminuem o senso de autorrespeito
do indivíduo e, ao invés de produzir uma capacidade de trabalhar
juntos, separam as pessoas e rompem a capacidade de comunicação
(KIRKENDALL, 1961, p. 6).

Nesse sentido, é importante compreender que:


Todas as nossas ações possuem um propósito, ou seja, um fim. Este
fim somente é alcançado quando os homens realizam uma atividade
para alcançá-lo, vão em busca de seus objetivos e metas. Portanto, se
realmente existe um motivo que visa tudo o que fazemos, este fim só
poderá ser realizado se nós, seres humanos, o realizarmos através de
ações/atividades. Elas, por sua vez, sempre estão na busca constante
da realização do bem e da verdade e procurando a felicidade e o prazer
(PIERITZ, 2013, p. 24).

Neste contexto indaga-se: o que é a moralidade?

A moralidade, segundo Cunha (2011, p. 197), é compreendida como o


“processo social costumeiro, concernente à melhor forma de comportamento”. A qual,
exprime a qualidade do comportamento moral do cidadão, suas regras e princípios.

Nesse sentido, segundo Pieritz (2013, p. 35), “a moralidade dos homens é


um reflexo direto do modo de ser e conviver em sociedade, no qual o caráter, os
sentimentos e os costumes determinam o seu comportamento individual e social,
que foi ou está sendo perpetuado num espaço de tempo”.

55
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

Assim, adentramos na questão do princípio da moralidade, mas você


sabe o que é um princípio?

Um princípio, segundo Ferreira (2008, p. 654), é “o momento ou local


ou trecho em que algo tem origem.” Então, pode-se expor que o princípio da
moralidade exprime a origem do comportamento moral de nossa sociedade
ou grupo social, pois, o princípio da moralidade denota que as pessoas estão
vinculadas pelas normas e diretrizes do comportamento moral. É o agir segundo
os preceitos éticos e morais socialmente constituídos.

Caro acadêmico, sugerimos que faça a leitura do texto de Israel Alexandria,


intitulado Ética e moral uma reflexão sobre a ética e os padrões de moralidade ocidental.

ÉTICA E MORAL
UMA REFLEXÃO SOBRE A ÉTICA E OS PADRÕES DE MORALIDADE
OCIDENTAL

Israel Alexandria

1 A MORALIDADE ENQUANTO OBJETO DA ÉTICA

Gosto não se discute. Correntemente essa frase é utilizada quando se quer


estabelecer a ideia de que gosto é algo radicalmente subjetivo e imutável. Ora,
a imensa variedade de sujeitos com preferências e opiniões distintas entre si e o
fato de um mesmo sujeito mudar de preferências e opiniões fazem prova de que a
complexa estrutura psíquica humana é capaz de aprender e de modificar o que se
aprendeu. Subjetividade não combina com imutabilidade, logo a frase em questão
é contraditória.

Diz-se também que personalidade vem da natureza. Quando atribuímos


à natureza a existência de alguma coisa, estamos simplesmente dizendo que esta
coisa não foi criada pela cultura, nasce-se com ela. Não há necessidade de aprender
o que é natural. O natural é inato. Essa coisa chamada personalidade é inerente
à pessoa. Pessoa e personalidade vêm da mesma palavra: persona. Ninguém
nasce pessoa. Ninguém se refere a um bebê como "aquela pessoa", pois sabe-se
que personalidade tem a ver com um sistema mais ou menos definido de gostos,
preferências que se vai adquirindo com o tempo.

Embora as preferências e as condições que formam a personalidade sejam


tão subjetivas e mutáveis, há uma constante que não podemos desprezar. É o
princípio do prazer. Todo ser dotado de sensibilidade tem a propensão natural
de afastar o que lhe está associado à dor e buscar o que lhe é prazeroso. O gato
morde o homem que lhe pisa a cauda e o vegetal cresce em direção ao sol. Para o
gato é bom que não lhe pisem na cauda. Para a planta, é bom crescer em direção
ao sol. O ser humano não foge a essa regra. O bebê humano é capaz de manifestar
sua percepção de prazer e dor e essa capacidade não se perde com a idade. O que

56
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

muda é a forma como se dá essa manifestação e o objeto do prazer ou o da dor


que, por sua vez, dependem das circunstâncias. O que permanece imutável é o
fato de os sujeitos estarem sempre buscando o que lhes parece bom, e afastando o
que lhes parece mal. É sobre esses dois conceitos que trata a ética.

A ética é uma ciência comprometida com a busca aprofundada das relações


entre o homem e os conceitos de bem e de mal. Trata-se de uma ciência da qual
não podemos nos esquivar, pois o bem e o mal, o certo e o errado impregnam
nossa conduta prática. Embora a maioria não pense no assunto, o comportamento
humano é uma contínua resposta às questões éticas. É nesse ponto que nasce a
distinção entre ética e moral.

O dicionarista e pensador Nicola Abbagnano (1901-1990) afirma que moral


é "atinente à conduta" (1982, p. 652) enquanto a ética é "a ciência com vistas a dirigir
e disciplinar a mesma conduta" (1982, p. 360). A moral seriam as regras práticas
e a ética, o fundamento teórico da moral. Dizem-se moral aristotélica, moral
kantiana para enfatizar os respectivos aspectos práticos; ética aristotélica, ética
kantiana estariam mais relacionados aos seus aspectos teóricos. Alguns autores,
entretanto, ressaltam que, embora haja uma infinidade de morais: moral cristã,
moral judaica, moral platônica, moral kantiana etc., a ética seria uma só. É que,
sendo esta uma ciência, trabalha apenas com conceitos universais. Basicamente,
são três os modelos de moralidade: aristocrático, utilitarista e kantiano.

2 A MORAL ARISTOCRÁTICA

A moral aristocrática visa fazer com que o indivíduo se aproxime, cada vez
mais, de um homem ideal e transcendente. Nesse sentido, são morais aristocráticas
a moral judaica, baseada no modelo de homem de fé (Abraão), a moral cristã, no
amor ao próximo (Jesus), a moral platônica, no ascetismo (filósofo-rei), a moral
budista, na eliminação dos desejos (Buda).

Na maioria das vezes, esses modelos ideais são apenas descrições sem
referências a nomes de personagens históricos. A moral aristocrática propõe que
cada indivíduo seja dotado das virtudes adequadas (a palavra virtude vem de
virtu, que significa força) para imitar o modelo ou um ideal de vida proposto. A
felicidade plena é obtida quando o indivíduo realiza o ideal proposto. Quanto
mais virtuoso for o indivíduo, maior o seu grau de felicidade.

Sócrates (470-399 a.C.) inventou o ideal cínico (palavra derivada de canino),


cuja principal virtude é o desprezo às comodidades, às riquezas e às convenções
sociais, enfim a tudo aquilo que afasta o homem da simplicidade natural de que
dão exemplo os animais (no caso o cão). Cínico é aquele que vive o descaramento
da vida canina. Relata-se que Sócrates caminhava nos mercados apenas para saber
do que ele não precisava. Outros curiosos relatos envolvendo Diógenes, tais como
o da "visita do imperador", "a mão e a cuia", "a lanterna" etc. indicam que este teria
sido o maior cínico da história.

57
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

Platão (428-348 a.C.) propôs o ideal asceta. A prática da ascese consiste


em viver na contemplação do mundo das ideias ao tempo que se afasta de tudo
o que é corpóreo. "É evidente que o trabalho do filósofo consiste em se ocupar
mais particularmente que os demais homens em afastar sua alma do contato
com o corpo" (PLATÃO, 1999, p. 125). O sábio educa-se para a morte, ou seja,
para o dia em que sua alma se separará definitivamente do corpo, migrando
para o outro mundo.

Aristóteles (384-322 a.C.) definia o homem ideal como aquele que consegue
pôr em prática tanto a sua animalidade natural como a sua sociabilidade natural,
pois o homem é um animal social por natureza. "Mesmo quando não precisam
da ajuda dos outros, os homens continuam desejando viver em sociedade"
(ARISTÓTELES, s.d., s.p.). Reprimir a animalidade ou a sociabilidade distancia o
homem da felicidade. Para encontrar um termo médio entre essas duas naturezas,
o homem vale-se da razão.

Os estoicos são outro exemplo de moral aristocrática. No século IV a.C.,


acredita-se que o nome estoico tenha sido inspirado no local onde Zenão de Cício
(335-263 a.C.) ensinava: os pórticos (stoa, em grego). Costuma-se atribuir a razão
do surgimento dessa doutrina ao fato da cidade de Atenas haver perdido sua
independência para os macedônicos, prolongada depois pelo império romano.
O estoicismo foi uma espécie de refúgio espiritual, uma via filosófica para se
conseguir a independência em nível individual. Não obstante, o estoicismo
atravessou séculos, sendo adotado pelos cristãos e até pelo imperador romano
Marco Aurélio (121-180 d.C.). Segundo os estoicos, nenhum evento acontece por
acaso (teoria da necessidade). Até mesmo o trajeto de uma folha que se desprende
da árvore já foi milimetricamente traçado pelo Logos, princípio inteligente do
cosmos. O ideal de sabedoria estoica é a completa apatia: indiferença-acomodação
diante dos acontecimentos da vida, é o que revela Sêneca (4 a.C. 65 d.C.) um dos
expoentes do estoicismo.

Toda a vida é uma escravidão. É preciso, pois, acostumar-se à sua condição,


queixando-se o menos possível e não deixando escapar nenhuma das vantagens que
ela possa oferecer: nenhum destino é tão insuportável que uma alma razoável não
encontre qualquer coisa para consolo. Vê-se frequentemente um terreno diminuto
prestar-se, graças ao talento do arquiteto, às mais diversas e incríveis aplicações, e
um arranjo hábil torna habitável o menor canto. Para vencer os obstáculos, apela
à razão: verás abrandar-se o que resistia, alargar-se o que era apertado e os fardos
tornarem-se mais leves sobre os ombros que saberão suportá-los (1973, p. 216).

Não se interprete indiferença por alienação: um sábio pode engajar-se na


vida política até mesmo porque estava escrito. Nesse ponto, os povos muçulmanos
parecem estar em franco acordo com a doutrina estoica pois regularmente repetem
a expressão maktub (estava escrito), particípio passado do verbo catab (escrever). A
virtude do sábio é o controle absoluto de suas emoções. Segundo sua parenética
(termo que diz respeito aos aconselhamentos práticos), quando as circunstâncias
tornam impossível o controle das emoções, é aconselhável a prática do suicídio.

58
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

Epicuro de Samos (341-270 a.C.) criou o modelo de sábio epicurista: o


homem que pratica plenamente a virtude da ataraxia (despreocupação; ausência
de aborrecimentos, de dores ou medos).

Nem a posse das riquezas nem a abundância das coisas nem a obtenção
de cargos ou o poder produzem a felicidade e a bem-aventurança; produzem-
na a ausência de dores, a moderação nos afetos e a disposição de espírito que se
mantenha nos limites impostos pela natureza.

A ausência de perturbação e de dor são prazeres estáveis; por seu turno,


o gozo e a alegria são prazeres de movimento, pela sua vivacidade. Quando
dizemos, então, que o prazer é fim, não queremos referir-nos aos prazeres
dos intemperantes ou aos produzidos pela sensualidade, como creem certos
ignorantes, que se encontram em desacordo conosco ou não nos compreendem,
mas ao prazer de nos acharmos livres de sofrimentos do corpo e de perturbações
da alma (EPICURO, 1993, p. 25).

Efetivamente, a ideia de que os epicuristas pregavam a volúpia do corpo


é falsa. Eles praticavam uma espécie de otimismo profilático que se aproxima
muito do famoso "jogo do contente" da personagem Poliana. Eram iconoclastas
em relação aos mitos sobre morte, religião e política. Isolados em jardins afastados
das agitações da vida citadina, cultivavam a amizade (a prática de viver em
seletos círculos de amigos era considerada condição fundamental na vida do sábio
epicurista). O modus vivendi de Epicuro e seus discípulos foi chamado de áurea
mediocritas (mediocridade dourada) por Horácio.

3 A MORAL UTILITARISTA

A moral utilitarista caracteriza-se pela ausência do transcendente e de


modelos a priori a serem imitados. Todas as ações devem ser medidas pelo bem
maior para o maior número.

Ao definir o utilitarismo, o filósofo irlandês Francis Hutcheson (1694-1746)


assim se expressa: "a melhor ação é aquela que produz a maior felicidade ao maior
número de pessoas". O utilitarismo é a moral dos números.

Nicolau Maquiavel (1469-1527), pensador italiano, tem sobre si a culpa de


haver defendido que os fins justificam os meios embora, segundo o Dicionário de
Filosofia de Abbagnano (1962, p. 614), tal máxima tenha origem jesuíta. A injustiça
que recai sobre Maquiavel vem da dificuldade que se tem de separar o mero
descrever e o opinar. Ele tinha horror a governos de ocasiões, golpes sucessivos,
casuísmos, enfim à política do dia a dia que tanto permeava a agitada vida nos
bastidores políticos de Florença. Em O Príncipe ele faz uma descrição em forma
de aconselhamento, com base em seus conhecimentos de história, da conduta
do governante que pretende permanecer no poder por um tempo relativamente
longo, mas chega mesmo a confessar que, para atingir tal permanência, o ideal

59
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

seria que as coisas não ocorressem da forma como a história demonstrara. Não
obstante, a tradição nos legou o termo maquiavélico como designativo de um
modelo que se firmou como um dos marcantes exemplos de moral utilitarista: a
que visa um maior número de dias no poder.

Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês, parte do princípio de que


quanto menor for o número de invasões, mortes violentas e desapossamentos
mútuos, mais feliz será a espécie humana. Esta condição só pode ser arranjada
com a existência de um contrato social e de um Leviatã. Vamos explicar melhor:
para Hobbes, o homem é, naturalmente, o lobo do homem (homo homini lupus),
ou seja, não é um ser naturalmente cordial e sociável, não está naturalmente
aparelhado para sentir-se incomodado com a dor alheia quando sua sobrevivência
está em jogo. "Se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é
impossível ela ser gozada por ambos, eles se tornam inimigos" (HOBBES, 1651,
p. 43). Relegados ao estado de natureza, os homens promovem uma guerra de
todos contra todos (bellum omnium contra omnes), guerra inútil porque põe em risco
a própria conservação humana. Os homens, portanto, perceberam e admitiram
entre si a vantagem em cada um reprimir sua animalidade natural em prol de
uma mútua convivência pacífica, bem mais útil, produtiva, confortável e segura.
A civilização nasce desse contrato social. Essa nova situação, entretanto, só pode
ser mantida com a existência de um Leviatã (monstro amedrontador e forte) que
se expressa preferencialmente na figura de um rei, comandante autoritário e único
que gera em todos o sentimento generalizado de medo da punição, garantindo
assim a continuidade do estado civil.

A base da moral utilitária de Hobbes sofreu inúmeras críticas, a principal


partiu de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo suíço, que via na animalidade
humana não lobos e sim cordeiros. Tais quais cordeiros livres, os homens, no
estado de natureza, vivem em plena felicidade. Foi a civilização que fez com que
muitos cordeiros se tornassem violentos e pensassem ser lobos. A soberania do
Leviatã não é desejável porque além de retirar do homem a sua liberdade natural
impossibilita a construção de uma liberdade civil, que só é possível quando a
vontade geral é soberana. A conquista da liberdade civil estaria na reeducação
por meio de leis "corderiais" que, metaforicamente, fizessem com que os cordeiros
reconhecessem que são cordeiros.

Ainda a respeito da dicotomia lobo/cordeiro, há outras observações


curiosas. Para Frederich Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, a natureza
produz homens-lobos e homens-cordeiros e não podemos ignorar que lobos
estão aparelhados para devorar cordeiros. Quando só restarem lobos, as forças
naturais produzirão superlobos que devorarão antigos lobos numa progressão
infinita de vidas cada vez mais fortes. A moral nietzschiana é a da exuberância da
força e do vitalismo das potências naturais ou super-humanas. É uma moral que
pretende ir além do bem e do mal (se é que isso é possível). Nietzsche afirma que
dicotomia entre bem e mal não passa de invencionice resultante do ressentimento
e da fraqueza dos cordeiros. "Toda moral é [...] uma espécie de tirania contra a
'natureza' e também contra a 'razão'" (NIETZSCHE, 1886, p. 110).

60
TÓPICO 2 — A ÉTICA, VALORES, PRINCÍPIOS E A MORAL NA VIDA COTIDIANA

Michel Foucault (1926-1984) diria que lobos e cordeiros habitam cada um


de nós e ambos teriam desenvolvido estratégias de sobrevivência que tornariam
extremamente complexa a luta entre os dois, uma complexidade tal que o cordeiro,
em determinados momentos, poderia estar sob a condição de ataque. Nesse caso,
a questão moral só poderia ser definida dentro de um contexto muito específico
onde se levariam em conta os sujeitos envolvidos, suas estratégias, suas relações
de poder... Foucault é o criador da microética.

4 A MORAL KANTIANA

A moral kantiana é a concebida por Immanuel Kant (1724-1804), filósofo


prussiano. Sua intuição principal foi que o indivíduo deve estar livre para agir "não
em virtude de qualquer outro motivo prático ou de qualquer vantagem futura,
mas em virtude da ideia de dignidade de um ser racional que não obedece a outra
lei senão àquela que ele mesmo simultaneamente se dá" (KANT, 1785, p. 16). A
ação moral exige a autonomia do agente. Ser autônomo é obedecer a si mesmo
ou ao que vem de dentro. É o inverso do heterônomo (o que obedece a ordem do
outro, obedece ao que vem de fora). Não se pode falar em ética sem autonomia
pois a ação heterônoma (cuja vontade vem de fora) não é uma ação ética. A moral
aristocrática e a utilitarista não são eticamente válidas porque dependem de algo
exterior: a primeira, de ideais transcendentes e a segunda, de ideais imanentes.

Para realizar a autonomia, a ação moral deve obedecer apenas ao


imperativo categórico: o bom senso interior que todos nós temos de perceber
que não somos instrumentos e sim agentes. Nunca instrumentalizar o homem é
a exigência maior do imperativo categórico. Kant fornece uma regra para saber se
uma decisão nossa obedece ou não ao imperativo categórico: indague a si mesmo
se a razão que te faz agir de determinada maneira pode ser convertida em lei
universal, válida para todos os homens. Se não puder, esta tua ação não é digna
de um ser racional, não é eticamente boa porque falta-te a autonomia, estás agindo
premido por circunstâncias exteriores a ti. O bem ético é um bem em si mesmo.

Ao realçar a exigência da autonomia da ação moral, Kant desperta a


questão da liberdade ética. O conceito de liberdade ética parte da distinção
entre ação reflexa e ação deliberada. A ação deliberada é aquela que resulta de
uma decisão, de uma escolha, é o mesmo que ação autônoma. A ação reflexa
é "instintiva", independe da vontade do agente. Apenas as ações deliberadas
podem ser analisadas sob o ponto de vista ético. Voltemos ao exemplo do gato
que morde o homem que lhe pisou a cauda. O gato tentou afastar o que lhe
era um mal, mas não podemos dizer que ele escolheu morder o homem. Logo,
não se pode dizer que o gato agiu de forma imoral ou antiética. A questão da
liberdade ética pode ser assim resumida: Levando-se em conta que somos
animais e ocasionalmente agimos de forma reflexa, em que condições nossa
ação pode ser considerada uma ação deliberada?

61
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

Henri Bergson (1859-1941) e Jean-Paul Sartre (1905-1980) respondem a


essa pergunta de forma radical: O livre-arbítrio é a qualidade que melhor define
o homem. A própria condição humana exige que todo ato humano seja um ato de
escolha, seja uma ação deliberada. O homem está condenado à liberdade porque
nunca pode decidir não escolher. Diante da consciência de que nos vemos forçado
a realizar algo por imposição exterior, passamos a ter liberdade de escolher entre
entregar-se à ação ou ir de encontro a ela.

FONTE: Adaptado de <http://ialexandria.sites.uol.com.br/textos/israel_textos/etica_e_moral.htm>.


Acesso em: 20 jun. 2020.

62
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A ética e a moral permeiam em nosso agir perante a sociedade, desde o estudo


do comportamento, até a sua prática real cotidiana das relações humanas e
sociais.
• A ética e a moral estão correlacionadas a uma ciência, um estudo do
comportamento e das normas de conduta.
• A moral retrata nossos costumes e hábitos cotidianos, pois seu caráter é social
e está pautado na história, cultura e natureza dos seres humanos.
• A moral está compreendida como um conjunto de normativas, regras, leis,
regulamentos e princípios, que são instituídos pelo coletivo social, mas
individualizada na consciência dos homens e mulheres que vivem e convivem
em sociedade.
• A moral são princípios comportamentais adquiridos com a herança histórica
da humanidade e preservadas pelas pessoas que vivem em grupos sociais.
• O balanço comparativo entre a ética e a moral demonstrou que as duas estão
amplamente conectadas, mas apresentam sutis diferenças, porque a ética
denota um conceito subjetivo e teórico sobre a consciência das regras sociais,
já a moral se apresenta mais de cunho prático e objetivo, proporcionando uma
tratativa da conduta humana por intermédio de regras e códigos de condutas
socialmente constituídos.
• A ética sempre procurará conhecer as formas das tratativas do bem e do mal
no âmbito holístico, do coletivo social, já a moral busca tratar o agir humano
de forma individualizada, tratando o certo e o errado nos seus regulamentos
e normas institucionalizadas.
• Os seres humanos não nascem com os conhecimentos éticos e postura moral,
eles se tornam éticos no decorrer do seu desenvolvimento intelectual ao longo
de sua história.
• A ética é aprendida pelo estudo do comportamento humano em sociedade, e
a moral necessita ser imposta pelos regramentos sociais de convívio humano.
• A ética é manifestada a partir do interior das pessoas, de sua consciência, já a
moral expressa-se no exterior do indivíduo, na conduta dos seus atos.
• Uma pessoa aética, é um indivíduo que não possui ou é deficiente da
consciência do coletivo, dos atos e costumes gerais do meio em que vive
e convive. Possui insuficiência ou carência da compreensão dos estudos
históricos da composição dos juízos de valores.

63
• Uma pessoa amoral, é um indivíduo que não possui ou é deficiente na forma
que conduz seus atos perante a sociedade que vive e convive, pele simples
fato de lhe faltar a compreensão de como agir perante os regramentos
impostos. Possuindo, assim, insuficiência ou carência na sua forma de agir,
na sua atitude e conduta, na sua aplicação da norma, pois não a compreende.
• Uma pessoa antiética, é um indivíduo que possui argumentos no sentido
contrário da consciência coletiva do que é certo e errado, do que é fazer o
bem ou o mal. Demostrando estar em oposição aos atos e costumes gerais da
sociedade em que está inserido, como também é avesso ao estudo dos juízos
de valores constituído historicamente.
• Uma pessoa imoral, é um indivíduo que não segue as regras de conduta
socialmente constituídas pelo coletivo social, pelo seu livre arbítrio. É fazer,
ser oposto ou querer o contrário das normas. São avessas a qualquer código
de conduta, por consciência de querer contrariá-la.
• Fizemos uma breve discussão da gênese da consciência e do senso moral,
discutindo a questão da necessidade deles no desenvolvimento humano em
sociedade.
• Estudamos a questão da classificação dos estágios da consciência ética e do
julgamento moral dos seres humanos, desvelando e buscando compreender
as etapas e níveis da evolução humana.
• A base dos seis estágios da consciência ética e do julgamento moral dos
seres humanos se encontra na sua fase do desenvolvimento intelectual,
para possibilitar o discernimento e compreensão dos fatos e das coisas,
possibilitando seu empoderamento do intelecto e tomadas de decisão, do que
é certo ou errado, do que é fazer o bem, ou o mal.
• Os seis estágios da consciência ética e moral que foram propostos por Kohlberg
(1981), são:
o Primeiro estágio: medo, punição e obediência: denominado como a fase do
medo, punição e obediência, que está norteada por orientações de obediência,
para, assim, evitar a punição, demostrando que o medo de não obedecer ao
socialmente posto, gera temor do castigo que possa ter, e assim segue com
um comportamento de obediência, pois tem medo de ser descoberto que
possa ter feito algo considerado errado pela sociedade que vive e convive.
o Segundo estágio: recompensa: denominado como a fase da recompensa,
estão pautadas no prazer individual, desprovida de malícia, e na transação
ou negociação de barganha para conseguir o que deseja. Ações única e
exclusivamente para satisfação pessoal. O objetivo desse comportamento é a
reciprocidade restrita em obter uma recompensa.
o Terceiro estágio: aprovação social: denominado como a fase da aprovação
social, demostrando que nas relações interpessoais, buscar ser considerado
uma boa pessoa é um bom negócio, para ter um convívio social pleno e
ser aprovado socialmente. Aqui, procuramos nos orientar pelos valores

64
socialmente constituídos, buscando mantê-los íntegros, conforme as
normativas, regras e legislações vigentes, mas sempre no intuito de agradar
o grupo social a que fazemos parte, não pelo simples fato de seguir as
normas. As ações que agradam o coletivo são consideradas boas, e que o
caráter humano é reconhecido por estes atos compartilhados e positivados
nas relações interpessoais.
o Quarto estágio: manutenção da ordem social: denominado como a fase da
manutenção da ordem social, pois, nesta etapa, o nosso comportamento
social é orientado pelas normas, leis, regras e ordem social. Procura manter os
valores e princípios socialmente constituídos. Aqui, é a manutenção das leis
e normas e o respeito às lideranças que propiciam a promoção do bem-estar
social da população, pois, o importante, aqui, sempre será o cumprimento
da lei e da ordem, cumprindo nossos deveres e obrigações com a sociedade
em que fazemos parte, além de respeitar os processos decisórios de nossos
gestores, pois assim proporcionaremos a promoção do bem-estar social.
o Quinto estágio: proteção do bem-estar coletivo: denominado como a fase
da proteção do bem-estar coletivo, demonstrando que é possível realizar
a mudança normativa, desde que devidamente justificada e legal, quem
está nesta fase, consegue enxergar além das normativas postas, pois
procuram aprimorar o contrato social posto. Aqui, neste estágio, as pessoas
se orientam pela melhoria constante do contrato social e suas normativas
institucionalizadas, procurando o exercício do respeito aos direitos civis,
sociais e individuais, no intuito de protegê-las e verificarem sua eficácia, para
angariar a promoção do bem-estar do coletivo social. As pessoas procuram
ir além do socialmente posto, para poder contribuir a melhoria da qualidade
de vida dos cidadãos, pois entendem que somos todos diferentes.
o Sexto estágio: zelo pelos princípios éticos universais: denominado como
a fase do zelo pelos princípios éticos universais, cujas pessoas se orientam
pelos princípios éticos universais, a qual procuram zelar por esses valores
éticos-morais ao longo da história da humanidade, pois se lembra que a
ética reflete os hábitos e costumes gerais de uma sociedade, suas normativas
e convenções, que fora institucionalizada pelo coletivo social, a moral é a
forma que conduzimos nossos atos perante o outro, ou seja, é a conduta em
si. Assim, somos incitados a zelar por esta consciência dos princípios éticos
e de justiça universais que refletem as nossas condutas na sociedade em que
estamos inseridos.

65
AUTOATIVIDADE

1 A ética e a moral muitas vezes são confundidas em sua definição, mas


tem nuances importantes a serem entendidas pelos profissionais. Todos
precisamos estar cientes que precisamos viver em sociedade e por isso
mesmo precisamos agir de forma moral e termos uma ética a zelar. Sobre
os conceitos de ética e moral, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Ética
II- Moral.

( ) É a ciência que estuda a moral.


( ) É o conjunto de normas, prescrição e valores reguladores da ação
cotidiana.
( ) É a reflexão sistemática sobre o comportamento moral.
( ) Conjunto de normas e regras reguladoras da relação entre os homens de
uma determinada comunidade.
( ) Retrata nossos costumes e hábitos cotidianos, pois seu caráter é social e
está pautado na história, cultura e natureza dos seres humanos
( ) É a parte da filosofia que trata da reflexão dos princípios universais da
humanidade.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) I – II – I – II – II – I .
b) ( ) II – I – II – I – I – I .
c) ( ) I – II – II – II – II – I.
d) ( ) II – II – I – I – II – II.

2 Assistimos constantemente nos telejornais situações relacionadas a


descaminhos que diversas pessoas têm na sociedade, como roubos, subornos,
perversões diversas acometidas contra o outrem, situações muitas vezes
corriqueiras em nosso convívio social da vida cotidiana, que nem damos conta,
desvirtuando os preceitos éticos-morais socialmente constituídos. Sobre estes
conceitos, associe os itens apresentados, utilizando o código a seguir:

I - Aético.
II - Amoral.
III - Antiético.
IV - Imoral.

( ) Ausência de ética.
( ) Contrário a ética.
( ) Contrário a moral.
( ) Ausência de moral.

66
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) IV – I – III – II.
b) ( ) II – I – III – IV.
c) ( ) I – III – IV – II.
d) ( ) III – II – I – I V.

67
68
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

A QUESTÃO DA ÉTICA NA ATUALIDADE

FIGURA 14 – DILEMAS ÉTICOS

FONTE: <http://arquidiocesebh.org.br/noticias/etica-entre-o-conhecimento-e-a-acao/amp/>.
Acesso em: 5 nov. 2020.

“Os axiomas éticos são encontrados e testados não muito diferentemente


dos axiomas da ciência. A verdade aparece com o teste da experiência”.
Albert Einstein

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, neste tópico, realizaremos uma reflexão dos dilemas
éticos que vivemos no nosso cotidiano da vida pessoal e profissional, discutindo
a questão da ética na atualidade, perpassando por algumas questões polêmicas
sobre a ética na contemporaneidade, além de fazer algumas reflexões sobre a
ética, a liberdade e o compliance.

Também procuraremos abordar a questão do livre-arbítrio, da escolha


e suas consequências e responsabilidades, para, assim, perceber a liberdade
como uma das capacidades humanas, bem como algumas questões consideradas
polêmicas referentes à ética, como a ética na atualidade, na família, na sociedade
civil e no estado.

Vamos lá, mas antes, reflita!

“Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há


ninguém que explica e ninguém que não entenda”.

Cecília Meireles

69
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

2 ALGUMAS QUESTÕES POLÊMICAS SOBRE A ÉTICA NA


CONTEMPORANEIDADE
Acadêmico, neste momento, refletiremos sobre algumas polêmicas e
dilemas éticos na contemporaneidade.

Antes, vejamos o que Valls (2003, p. 70) nos apresenta:


[...] a ética foi reduzida a algo de privado. [...] Ora, nos tempos da
grande filosofia, a justiça e todas as demais virtudes éticas referiam-
se ao universal (no caso, ao povo ou à polis), eram virtudes políticas,
sociais. Numa formulação de grande filosofia, poderíamos dizer que o
lema máximo de ética é o bem comum. E se hoje a ética ficou reduzida
ao particular, ao privado, isto é um mau sinal.

Sob este bem comum, na visão de Valls (2003), estamos saindo das
concepções universais, do todo, para um comportamento individualizado,
privado, centralizando nossas ações aos fatos particulares de nossa vida em
sociedade e não somente no contexto ético-moral universal.

Assim, segundo Pieritz (2013, p. 49-50):


Não se pode esquecer que os valores, os hábitos e os princípios formam
a consciência moral dos seres humanos, e esta consciência moral torna-
se um fator preocupante nos dias de hoje, pois os indivíduos possuem
suas responsabilidades individuais e coletivas perante a sociedade em
que vivem, contudo, muitas vezes, o dever ético respalda muito mais
no indivíduo do que na coletividade, mesmo que os valores éticos
sejam constituídos pela sociedade como um todo.

Denotando, assim, que o ser humano está muito mais preocupado com
seus direitos e deveres individuais, deixando, muitas vezes, o coletivo de lado,
lembre-se de que os princípios éticos-morais foram constituídos pelo coletivo
social a que pertencemos. Assim, o nosso agir individual continua pautado nessas
normativas sociais universais.

Agora, questionamos:

• O que é ter uma vida ética nos dias de hoje?


• Você conhece alguns dilemas éticos?

Antes de responder, vejamos alguns exemplos dos dilemas éticos e


morais que vivenciamos em nossa sociedade nos tempos de hoje:

Dilemas éticos e morais:

• compliance;
• as formas de reprodução humana, como a reprodução assistida;
• o aborto;
• a inteligência artificial;

70
TÓPICO 3 — A QUESTÃO DA ÉTICA NA ATUALIDADE

• a clonagem;
• a corrupção, sonegação;
• a transfusão de sangue nos pacientes de certas religiões;
• o suicídio assistido – eutanásia;
• os alimentos transgênicos, que são geneticamente modificados.
• ter filhos apenas como um meio de ganhar alguma coisa;
• filho órfão já na concepção, por intermédio da reprodução humana além da
vida de um dos pais, a fertilização in vitro;
• a substituição do ser humano pela tecnologia;
• cirurgia robótica;
• terapias alternativas;
• a histerectomia.

Poderíamos estender esta lista de exemplos, mas não é o caso, o importante


é fazer com que você compreenda que a nossa sociedade está permeada por
dilemas éticos-morais, nas mais diversas esferas, e que eles são frutos do livre-
arbítrio das escolhas humanas.

UNI

Convidamos você a fazer um exercício de reflexão!

Atividade: pegue um bloco de anotações e coloque, no mínimo, cinco dilemas éticos e


morais que você possa detectar no seu bairro, município e estado.

Esta atividade é para você poder refletir sobre eles com seus colegas no próximo encontro!

Boa reflexão e debate!

Nesse sentido, Valls (2003, p. 71) expõe que “a liberdade se realiza


eticamente dentro das instituições históricas e sociais, tais como a família, a
sociedade civil e o Estado”. Portanto, possuímos a liberdade de escolher fazer o
certo ou o errado, fazer o bem ou o mal, mas sempre pautados pelos princípios
éticos-morais universais do nosso contexto social. Muitas vezes adentramos num
dilema, indagando-nos a qual caminho devemos seguir?

Compreendemos que um dilema é “uma situação difícil, na qual é preciso


escolher entre duas alternativas contraditórias ou antagônicas ou insatisfatórias”
(FERREIRA, 2008, p. 319). Essas situações de conflito, em que temos que escolher
é realmente um grande dilema ético-moral para a humanidade, pois sempre
teremos vários caminhos a percorrer, mas sempre devemos fazer três indagações
antes de agirmos, como:

71
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

• Eu quero fazer ou não?


• Eu devo fazer ou não?
• Eu posso fazer ou não?

Esses questionamentos ajudarão no posicionamento da nossa postura


ética-moral, colaborando no esclarecimento do dilema das escolhas que podemos
ou devemos fazer.

Vale ressaltar que, nos dilemas das escolhas éticas-morais, perpassam três
questões fundamentais, que são os dilemas dos valores, destinatários e meios.
Vejamos!

• Dilema dos valores: aqui, apresentam-se os conflitos dos valores éticos-


morais, ou seja, as escolhas dos valores éticos, de ser ético ou antiético. Este
é o dilema da escolha de seguir ser leal, de honrar o compromisso, de ser
solidário, tolerante ou não. Ser justo ou injusto. Ser honesto ou desonesto.
Também são os vários caminhos a seguir, por exemplo: honrar o nosso
compromisso de pagar uma conta, uma dívida ou com este mesmo recurso,
colaborar com a melhoria de qualidade de vida de uma família em situação
de vulnerabilidade social, deixando, assim, de cumprir com um compromisso
pessoal para amparar o outro.
• Dilema dos destinatários: são aqueles dilemas e situações difíceis
correlacionadas com as pessoas que irão se beneficiar com a ação da tomada
de decisão, ou não. É relacionada aos agentes envolvidos, cuja situação
conflitante está na escolha do destinatário da ação ou omissão, ou seja, quem
será beneficiado ou prejudicado.
• Dilema dos meios: aqui, o fator gerador da escolha da alternativa contraditória
está única e exclusivamente na maneira de se alcançar o resultado desejado, ou
seja, o meio, mecanismos e instrumentos utilizados para realizar a atividade e
atingir seu fim. Esses meios são classificados por sua validação e legitimidade
ética-moral.

Esses dilemas, concernentes aos valores, destinatários e meios, devem ter


por premissa o coletivo social, ou seja, devem prevalecer os interesses universais
sobre os grupais e individuais, mesmo se as instâncias destes grupos menores
possam ser feridas.

Nesse processo de tomada de decisão individual ou coletiva, ainda temos


mais dois aspectos a compreender, que são os sensos do dever e da importância
da decisão a ser tomada:

• Senso do dever: denota uma ética relacionada ao cumprimento dos deveres,


tarefas e obrigações, ou seja, a consciência do dever de fazer ou não fazer
alguma coisa.
• Senso da importância: transmite uma ética permeada pelo seu desígnio,
propósito e razão, denotando para que resultados queremos ter com nossa
ação ou omissão, e qual a importância desses resultados para a vida cotidiana.
72
TÓPICO 3 — A QUESTÃO DA ÉTICA NA ATUALIDADE

Assim, os sensos do dever e da importância da decisão a ser tomada são


muito importantes nessa discussão dos dilemas éticos-morais que vivenciamos
o tempo todo, para podermos mediar o nosso comportamento nas relações
humanas e sociais.

2.1 OS DILEMAS NO ÂMBITO DA FAMÍLIA


Agora, realizaremos uma breve reflexão de algumas questões polêmicas
sobre a ética na contemporaneidade no âmbito da família, oferecendo um
momento para retratar as situações difíceis e algumas indagações que permeiam
em nossa sociedade contemporânea.

Iniciaremos essa discussão a partir de alguns questionamentos, vejamos!

QUADRO 14 – INDAGAÇÕES REFLEXIVAS SOBRE A FAMÍLIA

INDAGAÇÕES REFLEXIVAS SOBRE A FAMÍLIA

Em relação à família, hoje se colocam de maneira muito aguda as questões das


exigências éticas do amor.

O amor não tem de ser LIVRE?


O que dizer então da noção tradicional do amor livre?
Ele é realmente livre?

E como definir, hoje, o que seja a VERDADEIRA FIDELIDADE, sem identificá-


la como formas criticáveis de possessividade masculina ou feminina?

Como fundamentar, a partir dos progressos das ciências humanas, os


compromissos do amor, como se expressam na resolução (no sim) matrimonial?

E como desenvolver uma nova ética para as novas formas de relacionamento


heterossexual?

E como fundamentar hoje as preferências por formas de vida celibatária, casta


ou homossexual?

Fonte https://www.cubatel.com/blog/actualidad/cuando-llegara-el-nuevo-codigo-de-familia-
-a-cuba/
FONTE: Adaptado de Valls (2003, p. 71)

73
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

São tantas indagações, certo!

Pois bem! É assim mesmo! Já que estamos em constantes transformações


humanas e sociais e essas mudanças refletem diretamente na relação entre pais e
filhos e nas composições e configurações das novas estruturas familiares.

Não trataremos das configurações familiares aqui, pois a intensão é


somente demostrar que existe uma série de dilemas e indagações inerente à própria
existência do homem na terra, principalmente nas suas relações intrafamiliares.

Neste contexto, podemos observar que:


As transformações histórico-sociais exigem, hoje, igualmente
reformulações nas doutrinas tradicionais éticas sobre o relacionamento
dos pais com os filhos. Novos problemas surgiram com a presença
maior da escola e dos meios de comunicação na vida diária dos filhos.
As figuras tradicionais, paterna e materna, não exigem, hoje, uma nova
reflexão sobre os direitos e os deveres dos pais e dos filhos? Em especial,
a reflexão sobre a dominação das chamadas minorias sociais chamou a
atenção para a necessidade de novas formas de relacionamento dentro
do próprio casal. O feminismo, ou a luta pela libertação da mulher,
traz em si exigências éticas, que até agora não encontraram talvez as
formulações adequadas, justas e fortes. A libertação da mulher, a
libertação de todos os grupos oprimidos, é uma exigência ética, das mais
atuais. E, como lembraria Paulo Freire, em seu Pedagogia do Oprimido,
a libertação não se dá pela simples troca de papéis: a libertação da
mulher liberta igualmente o homem (VALLS, 2003, p. 72).

Assim, pode-se perceber que os valores e princípios éticos e morais vão


sendo renovados e reconfigurados conforme a própria evolução humana na terra,
pois a humanidade vem se transformando ao longo da sua história.

DICAS

Convidamos você a compreender mais essas novas configurações familiares.


Nesse sentido, procure pesquisar sobre o tema e leve os resultados de sua pesquisa para o
seu próximo encontro de sua turma.

No entanto, procure debater esse assunto à luz dos princípios éticos e morais já estudados.

2.2 REFLEXÕES SOBRE A SOCIEDADE CIVIL


O objetivo, aqui, é fazer algumas reflexões polêmicas da ética-moral do
dia a dia da sociedade civil, aprofundando o conhecimento acerca dos dilemas
concernentes ao mundo do trabalho e à propriedade.

74
TÓPICO 3 — A QUESTÃO DA ÉTICA NA ATUALIDADE

Nesse sentido, Valls (2003, p. 72) expõe o seguinte:


Como falar de ética num país onde a propriedade é um privilégio
tão exclusivo de poucos? E não é um problema ético a própria falta
de trabalho, o desemprego, para não falar das formas escravizadoras
de trabalho, com salários de fome, nem da dificuldade de uma
autorrealização no trabalho, quando a maioria não recebe as condições
mínimas de preparação para ele, e depois não encontram, no sistema
capitalista, as mínimas oportunidades para um trabalho criativo e
gratificante? Num país de analfabetos, falar de ética é sempre pensar
em revolucionar toda a situação vigente.

Pieritz (2013, p. 51) expõe que nesse contexto se faz “necessário algumas
reformas políticas e éticas, no que tange às regras de conduta referente ao
modo de aquisição da propriedade e do trabalho. Essa reforma deve partir da
reformulação dos nossos princípios morais e éticos e através da vontade política
de nossos governantes”.

Ainda, segundo Valls (2003, p. 73):


Crítica atual insiste muito mais, agora, sobre a injustiça que reside no fato
de só alguns possuírem os meios da riqueza, e a crítica à propriedade se
reduz sempre mais apenas aos meios de produção. [...] A propriedade
particular aparece agora, nas doutrinas éticas, principalmente como
uma forma de extensão da personalidade humana, como extensão
do seu corpo, como forma de aumentar sua segurança pessoal, e de
afirmar a sua autodeterminação sobre as coisas do mundo.

DICAS

Prezado acadêmico, convidamos-lhes a compreender mais essas novas


configurações do mundo do trabalho e suas relações trabalhistas. Assim, procure
pesquisar os dilemas profissionais da profissão que você está exercendo hoje, e leve os
resultados de sua pesquisa para o próximo encontro de sua turma.

Contudo, procure debater esse assunto à luz dos princípios éticos e morais já estudados.

2.3 PONDERAÇÕES SOBRE OS DILEMAS DO ESTADO


Proporcionaremos, agora, uma reflexão de algumas questões polêmicas
sobre o comportamento ético-moral na contemporaneidade relativo ao Estado.
O Estado denota “ser muito mais complexo, pois os ideais políticos são um tanto
mais complicados de se compreender” (PIERITZ, 2013, p. 51).

Sobretudo, quando abordamos da questão liberdade. De acordo com Valls


(2003, p. 74):

75
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

[...] a liberdade do indivíduo só se completa como liberdade do cidadão


de um Estado livre e de direito. As leis, a Constituição, as declarações
de direitos, definição dos poderes, a divisão destes poderes para evitar
abusos, e a própria prática das eleições periódicas aparecem hoje como
questões éticas fundamentais. Ninguém é livre, numa ditadura [...].

Assim, indaga-se: qual é a função do Estado?

Valls (2003, p. 75) complementa expondo que “os Estados que existem de
fato são a instância do interesse comum universal, acima das classes e dos interesses
egoístas privados e de pequenos grupos. [...] Em outras palavras, o Estado real
resolve o problema das classes, ou serve a um dos lados, na luta de classes?”.

3 REFLEXÕES SOBRE A ÉTICA E LIBERDADE


Primeiramente, gostaríamos de contar a história A águia e a galinha, uma
adaptação da fábula contada por Leonardo Boff no livro a Águia e a galinha.

A ÁGUIA E A GALINHA

Numa tarde sonolenta de verão, voltava um criador de cabras do alto


de uma planura verde. Quando passava ao pé de uma montanha, encontra
um ninho de águias todo estraçalhado. Semicoberta por gravetos, havia uma
jovem águia ferida na cabeça, parecia morta. Era uma águia-harpia brasileira,
ameaçada de extinção no Brasil.

Recolheu a águia com cuidado e pensou em levá-la ao seu vizinho, que


empalhava animais. Ele ficou admirado por se tratar de uma águia-harpia.
Também supôs que estivesse morta e a colocou ternamente debaixo de uma cesta.

Na manhã seguinte, teve grata surpresa. Percebeu que a águia mexia


levemente. Havia feridas em várias partes do corpo e a águia estava cega.

Sentiu muita pena da jovem águia. Por misericórdia, quase quis sacrificá-
la. Até encontrava razões para isso, visto que matam muitos animais pequenos,
especialmente macacos, preguiças, lebres e patos. Sabia que, na Austrália, as
águias são mortas às centenas por serem prejudiciais aos cangurus e outros
animais pequenos.

Pensou muito, mas lembrou-se da tradição espiritual de Buda e veio-lhe


à mente: “escolha a vida e viverá”.

76
TÓPICO 3 — A QUESTÃO DA ÉTICA NA ATUALIDADE

Por todos esses argumentos, decidiu preservá-la e tratá-la com carinho.


Todo dia partia-lhe pedaços de pão e carne e a alimentava com dificuldade.
Depois de um ano, começou a perceber que os sentidos despertavam para a
vida. Primeiro os ouvidos. Depois, começou a se mover por si mesma. Andava
pela sala e pelo jardim. Recuperou sua voz, mas continuava cega. Os olhos são
tudo para uma águia. Seu olhar vê oito vezes mais que o olho humano.

Por fim, o empalhador decidiu colocá-la junto às galinhas. Durante dois


anos circulava cega entre elas. Andava com dificuldade, pois suas garras não
foram feitas para andar. Eis que um dia, a águia começou a enxergar. Depois de
três anos de paciente cuidado, ela recuperara seu corpo de águia, porém, vivia
como uma galinha.

Certo dia, um casal de águias passou por ali. Deu voos rasantes. Ao
perceber as águias no céu, a águia-galinha espalmava as asas e sacudia a cauda.
Seu coração de águia voltava a pulsar aos poucos.

Passado algum tempo, o empalhador recebeu a visita de um naturalista,


que ficou perplexo ao ver a águia-galinha. Decidiram fazer um teste. O
empalhador colocou-a no braço e falou-lhe:

— Águia, nunca deixará de ser águia, estenda suas asas e voe. Vendo
as galinhas, a águia deixou-se cair pesadamente. Fizeram nova tentativa, no
terraço de sua casa, mas não funcionou.

Aí ambos se lembraram da importância do sol para uma águia e a


levaram no alto da montanha, de frente para o sol. O empalhador sustentou
fortemente a águia sob o olhar confiante do naturalista e disse:

— Águia, você é amiga da montanha, filha do sol, eu lhe suplico:


desperte de seu sono! Revele sua força interior. Abra suas asas e voe para o alto!

A águia ergueu-se soberba sobre o próprio corpo, abriu as longas asas,


esticou o pescoço e alçou voo. Voou na direção do sol nascente. Voou até fundir-
se no azul do firmamento.

FONTE: BOFF, L. A águia e a galinha. In: TOMELIN, J. F.; TOMELIN, K. N. Do mito para a razão:
uma dialética do saber. 2. ed. Blumenau: Nova Letra, 2002. p.129-130.

Nesta história da águia e a galinha, podemos verificar que a vida é feita


de escolhas, e elas nos conduzirão para o nosso destino, mas a essência humana
fala mais alto, ou seja, os valores e princípios éticos e morais são os nossos guias
de comportamento e são eles que revelam a nossa força interior.

77
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

Caro acadêmico, faça como a águia, abra suas asas e voe para o alto! Tenha
seu livre-arbítrio em suas escolhas! Compreendendo seus princípios éticos-
morais para ter um comportamento socialmente condizente com os preceitos
preestabelecidos.

Afinal, o que é esta tal liberdade?

QUADRO 15 – O QUE É LIBERDADE?

O que é a liberdade?
Luísa Guimarães

Liberdade é um conceito encarado


com bastante controvérsia. Um assunto que
é discutido por muitos, os quais procuram
uma resposta que parece inalcançável.
Sempre foi, é, e penso que sempre será,
uma das maiores questões da humanidade.
Somos livres ou é uma mera ilusão? Temos
limites e o outro tem limites?

Todos procuramos a liberdade, sendo que a falta desta apresenta uma das mais
temíveis ameaças. Será que somos realmente livres?

O livre arbítrio é um apelo a essa liberdade, que se traduz no direito de agir


de segundo própria vontade, na sensação de não depender de ninguém e no prazer
de poder escolher, analisando antes as hipóteses que se encontram ao nosso dispor e
ponderando sobre a nossa decisão final.

Este é um tema que, mesmo podendo não parecer, é bastante complexo, até para
alguns filósofos. Ninguém aparenta ter a capacidade para responder à “simples” questão:
O que é a liberdade? uma pergunta intrigante que revela a complexidade de toda uma
realidade com a qual não estamos habituados a conviver. Quando fazemos este tipo de
questões a nós próprios, apercebemo-nos de que talvez não prestemos a devida atenção
à maioria dos assuntos que nos rodeiam, dos mais simples aos mais labirínticos e, por
vezes, desprezamo-los quando, na verdade, podem ser dos mais importantes.

A liberdade está intimamente relacionada com a Ética uma vez que, agindo
livremente, nós devemos ser responsabilizados pelos nossos atos e por isso devemos
comportarmo-nos, em sociedade, da melhor forma para que ninguém seja prejudicado.

Este é um assunto que deve ser discutido por todos nós para que possamos ter
um contacto mais cuidado e atento com as diferentes realidades que dão vida ao nosso
mundo e para que possamos entender o outro e agir da melhor forma.
FONTE: <https://osraciociniosdeninguem.blogspot.com/2019/04/o-que-e-liberdade_22.html>.
Acesso em: 25 jun. 2020.

Assim, compreendemos que a liberdade é uma capacidade humana de


tomar decisões perante os grupos sociais a que pertencemos, pois, segundo
Pieritz (2013, p. 52):
78
TÓPICO 3 — A QUESTÃO DA ÉTICA NA ATUALIDADE

Devemos sempre partir do princípio de que a ética denota regras,


normas e responsabilidades, mas também não podemos esquecer que
a ética é um espaço de reflexão sobre a nossa vida cotidiana. Esta vida,
que está pautada nos alicerces da moral humana em sociedade, deve
também supor que todos os homens sejam livres.

A partir disso tudo, o que é liberdade?

QUADRO 16 – LIBERDADE

FONTE: <https://bit.ly/36ztu13>. Acesso em: 18 nov. 2020.


A LIBERDADE é:
• A capacidade de determinar.
• A posse das próprias faculdades.
• Poder agir segundo próprio discernimento.
• É o direito de fazer tudo quando quanto as leis permitem.
• A obediência à lei que nós mesmos nos prescrevemos.
• A faculdade de só obedecer a leis externas às quais pude dar o meu
assentimento.
• A segurança tranquila no exercício do direito.
FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 185)

Pieritz (2013, p. 52) complementa expondo que:


Quantas vezes tivemos o sentimento de estarmos presos, ou seja,
não tendo liberdade para fazer aquilo que realmente desejamos;
ou simplesmente poder escolher entre uma ou mais opções; ou
ainda sentir-se livre para querer realizar as nossas mais subjetivas
necessidades, tais como: escolher uma boa comida, comprar aquela
roupa desejada, fazer aquele curso desejado e não imposto pela família
ou sociedade, andar de bicicleta, fazer um esporte etc.

Nesse contexto, observemos, no Quadro 17 e no texto a seguir, alguns


aspectos importantes referentes à liberdade e às concepções da ética:

79
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

QUADRO 17 – CONCEITO DE ÉTICA

FONTE: <https://bit.ly/36ztu13>. Acesso em: 18 nov. 2020.


A ÉTICA é:
• A moral individual ou subjetiva, por oposição à moral social.
• A filosofia da moral.
• É a ciência cujo objeto é a moral.
• O ramo do conhecimento cuja finalidade é estabelecer os melhores critérios
para o agir.
FONTE: Adaptado de Cunha (2011, p. 140)

Vejamos, agora, uma breve leitura sobre a liberdade e a ética.

Boa leitura!

Liberdade e ética

Liberdade e ética, binômio fascinante. A mentalidade medíocre vê


apenas uma face do ser humano. A mentalidade sábia vê o ser humano em
todos os seus aspectos. A mediocridade é disjuntiva: liberdade ou ética, ética ou
liberdade. A sabedoria é conjuntiva: liberdade com ética é ética com liberdade. A
visão estreita fragmenta o ser humano. A visão ampla é arquitetônica. Engloba
liberdade e ética.

Liberdade e ética possuem reciprocidade positiva. Intercomunicam-


se e se interfecundam. A liberdade acelera a ética e a ética tonifica a liberdade.
Interligadas, estimulam a “mútua criação”.

A ética pressupõe a liberdade. A pedra, a planta, o animal e o


homem coagido não exercem ato ético, porque não dispõem de liberdade
para a atividade ética. Por outra parte, sem ética, a liberdade pode adotar
procedimentos tortuosos. A liberdade requisita referenciais éticos para mover-
se com legitimidade. A ética oferece balizas aos passos livres. Valores éticos
são flechas que apontam rumos à liberdade. A ética sinaliza trânsito aberto ou
fechado para a arrancada da liberdade.

Liberdade e ética não são infalíveis. Podem tropeçar no percurso da


vida. Estão sujeitas a falhas e a deformações. O eticismo é vazio de sentido.
O autoritarismo ético veta inovações. A ética negativa proíbe iniciativas

80
TÓPICO 3 — A QUESTÃO DA ÉTICA NA ATUALIDADE

construtivas e condena atitudes lícitas. O fundamentalismo ético revela


rigorismo patológico. Por outra parte, o libertarismo torna ilimitável pretensões
abusivas da liberdade. E não leva em conta a liberdade e os direitos dos outros.
Também a liberdade pode ensandecer na irracionalidade.

A ética ditatorial avisa: “Aqui mando eu”. E a liberdade destemperada


ameaça: “Sou livre e faço o que quero”. Ora, a ética tem a função de encaminhar
a liberdade, e não de bloqueá-la arbitrariamente. E, por sua vez, a liberdade nem
sempre pode justificar-se a si mesma, porque acerta, mas também desacerta.
Não basta ser livre para ter o direito de fazer tudo o que é executável. Com
liberdade fazem-se maravilhas, mas também se faz o pior. Se bastasse ser livre
para agir retamente, então matar com liberdade, estuprar com liberdade e
rapinar dinheiro público com liberdade seriam procedimentos legítimos, mas
são execráveis. Apesar de livres, são totalmente imorais. Pico della Mirandola,
protagonista do “humanismo orgulhoso”, confessa que se pode fazer “uso
funesto da livre escolha”. Todo ser humano honesto reconhece que o direito à
liberdade não sanciona ações criminosas praticadas livremente.

Sartre mostra que a liberdade é inerente ao ser humano. E, ao mesmo


tempo, aponta o caráter ético da liberdade ao escrever que o “homem é livre
porque, lançado no mundo, é responsável por tudo quanto fizer”. A liberdade
possibilita a ética, e a ética salvaguarda a liberdade. Liberdade madura não
dispensa a ética, e ética lúcida não amordaça a liberdade. O sujeito humano
unifica, em si, liberdade e ética. Não se deve divorciá-las. Há que mantê-las
organicamente articuladas.

Orientar eticamente a liberdade não é aprisioná-la, mas consolidá-la.


O mundo atual pede mais liberdade e mais ética. Juntas, contribuem para
que a humanidade seja autônoma e justa. Sem liberdade, a humanidade é
submetida à escravidão. E, sem ética, é submetida a crueldades repugnantes.
Rousseau diz que “só a liberdade moral torna o homem senhor de si mesmo”. A
humanidade, quanto mais livre, deve ser mais ética. E quanto mais ética, deve
ser mais livre. E concretizemos, com o pensamento e as mãos, a utopia de uma
nova humanidade livremente ética e eticamente livre.

“O que mais irrita um tirano é a impossibilidade de pôr a ferros também o


pensamento do homem”.
Poul Volarey.
FONTE: Adaptado de <http://www.qir.com. br/?p=6180>. Acesso em: 18 nov. 2020.

De acordo com Pieritz (2013, p. 54):


Sabemos que todos os homens necessitam de liberdade. Os animais
também precisam dela. A liberdade pode ser entendida como um
processo de poder fazer escolhas. Estas escolhas devem ser sempre
pautadas sobre os nossos princípios morais e éticos, para que, assim,
não possamos prejudicar os outros.

81
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

Barroco (2000, p. 54) complementa expondo que:


A liberdade como capacidade humana é, portanto, o fundamento de
ética. Assim, agir eticamente, em seu sentido mais profundo, é agir
com liberdade, é poder escolher conscientemente entre alternativas,
é ter condições objetivas para criar alternativas e escolhas. Por sua
importância na vida humana, a liberdade é também um valor, algo
que valorizamos positivamente, de acordo com as possibilidades
de cada momento histórico. Por tudo isso, podemos perceber que a
liberdade é também uma questão ética das mais importantes, pois
nem todos os indivíduos sociais têm condições de escolher e de criar
novas alternativas de escolha.

Nesse contexto, Pieritz (2013, p. 54) expõe ainda que:


O formato da vida em que estamos inseridos demonstra a situação
de que os homens estão sempre tomando decisões sobre onde, como,
para onde, o que estão fazendo ou vão realizar. A nossa própria
existência pode ser considerada instável e incerta, porque mudamos
de opinião o tempo todo. O mundo está em constante transformação
e, por consequência, os nossos hábitos e costumes também, devido ao
fato de que os seres humanos estão o tempo todo em movimento.

Segundo Pieritz (2013, p. 54), “não sabemos se choverá amanhã ou fará sol,
não sabemos realmente o que pode acontecer no dia seguinte e nem o caminho
que vamos tomar daqui para frente”.

De acordo com Tomelin e Tomelin (2002, p. 128):


Posso existir se constitui a cada dia, pois o homem não é algo pronto e
acabado, é um ser em movimento e que tem possibilidades de escolha. O
nosso existir revela uma escolha. Uma escolha de nossos pais, ao terem
um filho e uma escolha nossa, de optarmos todos os dias pela vida.

Ainda, de acordo com Pieritz (2013, p. 54):


Podemos compreender que somos livres, temos o poder de escolha
entre as inúmeras possibilidades que o universo nos proporciona.
Só que não podemos esquecer que toda escolha denota uma
responsabilidade, não vivemos isolados, mas numa sociedade e,
perante ela, podemos, de certa maneira, influenciar os outros conforme
as nossas próprias escolhas.

Vale ressaltar que toda escolha que fazemos determinará a nossa própria
existência junto ao grupo social que fazemos parte.

Por fim, de acordo com Pieritz (2013, p. 55):


A moral, por meio das normas de conduta, determina como devemos
agir perante a sociedade em que vivemos. E se devemos agir deste modo,
conforme as diretrizes morais e éticas, é porque existe a possibilidade de
as pessoas fazerem o contrário, ou seja, não agirem conforme as normas
de conduta preestabelecidas pela sociedade. [...] Temos a liberdade
de escolha, pois muitas vezes nos indagamos se realmente devemos
obedecer ou não a estas regras, pois cabe a cada um de nós decidirmos o
que é certo ou errado, o que é fazer o bem ou o mal. É claro, esta decisão
deve ser tomada à luz de nossos valores e princípios éticos, que foram e
são constituídos pela sociedade como um todo.

82
TÓPICO 3 — A QUESTÃO DA ÉTICA NA ATUALIDADE

LEITURA COMPLEMENTAR

Prezado acadêmico, para encerrar a Unidade 1, trazemos uma leitura


complementar sobre o compliance, aqui, está apenas uma síntese, um extrato
do artigo completo estará disponível para você, quando estudares o Estudo
Transversal VI – Compliance.

Boa Leitura!

Msc. Dra. Vera Lucia Hoffmann Pieritz

Compliance é um termo que tem tido grande repercussão nos últimos anos,
principalmente pelos fatos que têm ocorrido nos meios políticos e com as suas
relações com as empresas. O termo Compliance possui a sua origem do inglês do
verbo to comply, que conforme o Dicionário Collins define, é agir conforme ou
de acordo com uma regra definida, uma norma interna, um comando ou uma
instrução passada.

Os princípios e ideias-bases do compliance surgem com a evolução da


sociedade moderna e a industrialização, e esses princípios foram amadurecendo
conforme surgiam casos/escândalos que chocavam a comunidade ou, ainda, por
questões políticas relacionadas a controles necessários para o bem-estar da população.

Conforme destacado por Ribeiro e Diniz (2015, p. 87), compliance tem como
o âmbito o foco empresarial e é uma expressão que se volta para as “ferramentas
de concretização da missão, da visão e dos valores de uma empresa”. As autoras
ainda complementam que “Não se pode confundir o Compliance com o mero
cumprimento de regras formais e informais, sendo o seu alcance bem mais amplo”.

Conforme a ABBI – FEBRABAN (2019), um dos primeiros documentos que


iniciou a ideia de programas de Compliance teve sua origem nos Estados Unidos, no
ano de 1913, quando fora criado o Federal Reserve System (Banco Central dos EUA),
o qual teve como foco principal desenvolver um sistema financeiro mais estável,
seguro e adequado às leis americanas, evitando assim fraudes no sistema bancário.

83
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

Com a promulgação no congresso Brasileiro da Lei nº 12.846/2013 (Lei


Anticorrupção Empresarial – também conhecida como LAC), o termo Compliance
vem sendo mais utilizado por nós, brasileiros, e somente mais recentemente devido
aos problemas de escândalos em nível político, que gerou como consequência
uma nova visão jurídica tanto em nível empresarial como político, gerando
uma conscientização para uma nova realidade jurídica nacional de repressão à
corrupção.

Apesar dessa nova empreitada empresarial e jurídica, vimos o Compliance


amadurecendo no país de forma consistente há alguns anos, com as agências
reguladoras, Banco Central e leis criadas para regular questões nos mais variados
âmbitos e que trabalham para proteger a população, as empresas e os integrantes
dos governos sobre a égide da ética e boa governança das ações como um todo.

Para controlar e gerir todas essas questões legais e desenvolver a política


de compliance nas organizações, elas têm desenvolvido o conceito de Governança
Corporativa e a sua eficiência deve se basear:
[...] numa análise criteriosa da adequação dos processos, da cultura
e da disciplina organizacional, recursos humanos e tecnologia, e
na aplicação de controles rigorosos, preventivos e detectivos no
gerenciamento dos Riscos. Deve pautar-se, ainda, em uma atuação
conjunta com os gestores na avaliação, gestão e monitoração dos
mecanismos de medição de informações de desempenho (ABBI –
FEBRABAN, 2019, p. 8).

Conforme Perez e Brizoti (2016), ABBI – Febraban (2019), Ribeiro e Diniz


(2015), ao desenvolver uma política de compliance, a organização trabalha o dever
de respeitar, de estar em conformidade (conforme terminologia utilizada na ISO
9000 e em meios jurídicos) para fazer cumprir por todos os seus funcionários e
colaboradores tanto os regulamentos internos da organização, como os externos,
leis e diretrizes de mercado que podem ser uma regulação – fiscal-financeiro-
contábil, sempre com transparência e ética, conforme são os preceitos determinantes
às atividades em que a organização empresarial desenvolve os seus trabalhos.

Temos diversas referências que citam as principais leis, normas e


regulamentos, que um compliance deve se basear dependendo da área de ação
da organização. Assim, as principais são apresentadas no Quadro 1.

QUADRO 1 – EXEMPLOS DE POLÍTICAS, NORMAS INTERNAS, LEIS PARA REFERÊNCIA AO


COMPLIANCE

Políticas e Normas internas – produzidas pela organização:


• Códigos de Conduta.
• Política de Segurança Corporativa.
• Normas Internas.
• Normas ISSO.
• Termos de Responsabilidade.

84
TÓPICO 3 — A QUESTÃO DA ÉTICA NA ATUALIDADE

• Termos de Confidencialidade.
• Termos de Aceitação e Uso.
• Políticas de Responsabilidade Social e Ambiental etc.

Legislação Nacional e Regulamentar – Leis, Decretos, Portarias, Resoluções,


Instruções Normativas, Pareceres:
• Lei Anticorrupção Brasileira (12.846/2013).
• Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011).
• Lei de Conflito de Interesses (Lei nº 12.813/2013).
• Lei das Estatais (Lei nº 13.303/2016).
• Lei das S.A. (6.404/1976).
• Código de Processo Civil (13.105/2015).
• Código Civil (10.406/2002).
• Lei de Informática e Automação (8.248/1991).
• Lei do Desenvolvimento e Inclusão Social (13.146/2015).
• Leis e normas que regulamentam Condomínios residenciais e comerciais etc.

Regulação de Mercado Nacional e Internacional:


• Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC.
• Instruções Normativas da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
• Instruções Normativas da RFB (Receita Federal Brasileira).
• Instruções Normativas Setoriais (ANS, ANSINE, IBAMA, INSS etc.).
• Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária CONAR.
• Práticas exigidas, baseadas na Lei Norte-Americana FCPA (Foreign Corrupt
Practices Act) anticorrupção.
• Diretrizes da OCDE sobre governança corporativa para empresas de
controle estatal etc.

Normativas Técnicas Nacionais e Internacionais – produzidas por Entidades


e Institutos:
• Normas Técnicas ABNT NBR – ISO/IEC e as internacionais.
• Norma IFRS (International Financial Reporting Standards) para práticas de
contabilidade em padrão internacional.
• Norma COPC® (Metodologia para gestão de Call Center).
• Padrão Normativo MPS-br (Modelo para qualidade definido como
“Melhoria de Processos do Software Brasileiro” – baseado nas normas ISO/
IEC 12207 e ISO/IEC 15504 e compatível com o CMMI).
• Padrão PMBOOK (Project Management Body of Knowledge): guia baseado
em um conjunto de práticas para a gestão de projetos, organizado pelo
instituto PMI.
• Padrão PCI DSS (Payment Card Industry Data Secutity Standart) é um
amplo requerimento para quem opera cartões de crédito.

85
UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

• Requisitos Normativos BM&FBOVESPA Supervisão de Mercados


(BSM).
• Padrão Normativo CERFLOR para manejo florestal (CERFLOR conta com
acervo normativo, e utiliza normas internacionalmente aceitas como as
Diretrizes para auditorias de sistema de gestão (ABNT NBR ISO 19011):
• NBR 14789:2012 – Manejo Florestal – Princípios, Critérios e Indicadores
para Plantações Florestais.
• NBR 14790:2014 – Manejo Florestal – Cadeia de Custódia (baseada na PEFC
ST 2002:2013).
• NBR 14792 – NBR 14793:2008 – NBR 15789:2013 – NBR 16789:2014 – NBR
15753:2009 – NBR 17790:2014 etc.
FONTE: Adaptado de Perez e Brizoti (2016, p. 9 -11)

Como você pôde ver no Quadro 1, são muitos os marcos legais nos quais
uma organização precisa se aprofundar para desenvolver o setor de Compliance, e
esse quadro só traz uma amostra para o seu conhecimento ao iniciar a trabalhar,
se esse for o seu caso.

Assim, o desenvolvimento do compliance dentro das organizações


empresariais deve envolver todos os seus funcionários e gestores para
desenvolverem um trabalho ético e reto, mas nessa visão está claro que o exemplo
precisa vir de cima, dos diretores e executivos das empresas, como também
ressalta a responsabilidade apregoada na lei anticorrupção.

Com relação aos controles internos e à estrutura da organização, Peres e


Brizoti (2016, p. 11) descrevem:
A Estrutura da Organização (EO) deve apresentar quatro categorias de
objetivos, o que permite às organizações se concentrar em diferentes
aspectos dos controles internos (CI), como segue:
Segurança – Esse aspecto está relacionado aos processos operacionais,
de divulgação e de conformidade, promovendo a avaliação contínua
de riscos e sua gestão, nas medidas preventivas de proteção, dos
ambientes corporativos, das tecnologias empregadas, da segurança das
informações, dos recursos humanos e na manutenção da continuidade
dos negócios para a perenidade da organização.
Operacional – Esse aspecto relaciona-se à eficácia e à eficiência das
operações da empresa, inclusive as metas de desempenho financeiro e
operacional e a salvaguarda de perdas de ativos.
Divulgação – Esse aspecto relaciona-se a divulgações financeiras e
não financeiras, internas e externas, podendo abranger os requisitos
de confiabilidade, oportunidade, transparência ou outros termos
estabelecidos pelas autoridades normativas, órgãos normatizadores
reconhecidos, ou às políticas internas da organização.
Conformidade – Esse aspecto relaciona-se ao cumprimento de leis,
normas e regulamentações às quais a organização está sujeita.

86
TÓPICO 3 — A QUESTÃO DA ÉTICA NA ATUALIDADE

Logo, o compliance deve ser trabalhado constantemente para mitigar


futuros problemas devido a possíveis desvios que possam ocorrer, e em grandes
organizações, mesmo os pequenos desvios podem gerar prejuízos enormes em
diversas frentes para o negócio.

A Gestão de Compliance, trabalhando em conjunto com as outras áreas


da organização, formam os pilares da Governança Corporativa, bem como um
Sistema de Controles Internos e externos efetivos desenvolvem um sistema
robusto de compliance empresarial, dando maior segurança jurídica ao negócio.

Podemos concluir que o desenvolvimento das práticas de Compliance


permitem que as organizações, conforme expresso por Peres e Brizoti (2016),
permite identificar de forma proativa os possíveis desvios operacionais e de
conduta humana, permitindo assim serem corrigidos, de modo que sejam
minimizados os impactos no negócio, seja por perda de tempo, falhas em
processos, desvios financeiros e, principalmente, de imagem no mercado.

FONTE: PIERITZ, V. L. H. Compliance. Indaial: Uniasselvi, 2020.

87
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Estamos saindo das concepções universais, do todo, para um comportamento


individualizado, privado, centralizando nossas ações aos fatos particulares
de nossa vida em sociedade e não somente no contexto ético-moral universal.

• O ser humano está muito mais preocupado com seus direitos e deveres
individuais, deixando, muitas vezes, o coletivo de lado, mas lembre-se de
que os princípios éticos-morais foram constituídos pelo coletivo social a
que pertencemos e assim, o nosso agir individual continua pautado nessas
normativas sociais universais.

• Alguns exemplos dos dilemas éticos e morais que vivenciamos em nossa


sociedade nos tempos de hoje, tais como: compliance; as formas de reprodução
humana, como a reprodução assistida; o aborto; a inteligência artificial; a
clonagem; a corrupção, sonegação; a transfusão de sangue nos pacientes de
certas religiões; o suicídio assistido – eutanásia; os alimentos transgênicos, que
são geneticamente modificados; ter filhos apenas como um meio de ganhar
alguma coisa; filho órfão já na concepção, por intermédio da reprodução
humana além da vida de um dos pais, a fertilização in vitro; a substituição
do ser humano pela tecnologia; cirurgia robótica; terapias alternativas; e a
histerectomia.

• Possuímos a liberdade de escolher fazer o certo ou o errado, fazer o bem ou o


mal, mas sempre pautados pelos princípios éticos-morais universais do nosso
contexto social. Muitas vezes adentramos num dilema, indagando-nos a qual
caminho devemos seguir?

• Situações de conflito em que temos que escolher é realmente um grande


dilema ético-moral para a humanidade, pois sempre teremos vários caminhos
a percorrer, mas sempre devemos fazer três indagações antes de agirmos:
o Eu quero fazer ou não?
o Eu devo fazer ou não?
o Eu posso fazer ou não?

• Os dilemas das escolhas éticas-morais perpassam três questões fundamentais,


que são os dilemas dos valores, destinatários e meios.

• O dilema dos valores apresenta os conflitos dos valores éticos-morais,


ou seja, as escolhas dos valores éticos, de ser ético ou antiético, e que este
é o dilema da escolha de seguir ser leal, de honrar o compromisso, de ser
solidário, tolerante ou não. Ser justo ou injusto. Ser honesto ou desonesto.
Também são os vários caminhos a seguir, como por exemplo: horar o nosso

88
compromisso de pagar uma conta, uma dívida ou, com este mesmo recurso,
colaborar com a melhoria de qualidade de vida de uma família em situação
de vulnerabilidade social. Deixando assim de cumprir com um compromisso
pessoal para amparar o outro.

• O Dilema dos destinatários são aqueles dilemas e situações difíceis


correlacionadas às pessoas que irão se beneficiar com a ação da tomada de
decisão, ou não. É relacionada aos agentes envolvidos, em que, a situação
conflitante está na escolha do destinatário da ação ou omissão, ou seja, quem
será beneficiado ou prejudicado.

• No dilema dos meios o fator gerador da escolha da alternativa contraditória


está única e exclusivamente na maneira de se alcançar o resultado desejado, ou
seja, o meio, mecanismos e instrumentos utilizados para realizar a atividade e
atingir seu fim. Esses meios são classificados por sua validação e legitimidade
ética-moral.

• Os dilemas concernentes aos valores, destinatários e meios, devem ter por


premissa o coletivo social, ou seja, deve prevalecer os interesses universais
sobre os grupais e individuais, mesmo se as instâncias destes grupos menores
possam ser feridas.

• Nesse processo de tomada de decisão individual ou coletiva, ainda temos


mais dois outros aspectos a compreender, que são os sensos do dever e da
importância da decisão a ser tomada:
o Senso do dever: denota uma ética relacionada ao cumprimento dos
deveres, tarefas e obrigações, ou seja, a consciência do dever de fazer ou
não fazer alguma coisa.
o Senso da importância: transmite uma ética permeada pelo seu desígnio,
propósito e razão, denotando para que resultados queremos ter com
nossa ação ou omissão, e qual a importância destes resultados para a vida
cotidiana.

• Os sensos do dever e da importância da decisão a ser tomada são muito


importantes na discussão dos dilemas éticos-morais que vivenciamos o tempo
todo, para podemos mediar o nosso comportamento nas nossas relações
humanas e sociais.

CHAMADA

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89
AUTOATIVIDADE

1 A humanidade e as pessoas neste limiar de século estão vivenciando diversos


limites éticos tanto em nível pessoal como na própria convivência em grupos.
Isso nos traz diversos dilemas vivenciais que geram conflitos pessoais.
Disserte sobre o tema Dilemas e conflitos pessoais na contemporaneidade.

90
REFERÊNCIAS
ALONSO, F.; LOPEZ, F. G.; CASTRUCCI, P. L. Curso de ética em administração.
São Paulo: Atlas, 2006.

ALVES, L. M. Os estágios morais de Kohlberg (1981). Ensaios e Notas, 2017.


Disponível em: https://wp.me/pHDzN-3To. Acesso em: 20 jul. 2020.

ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Temas de filosofia. 3. ed. São Paulo:


Moderna, 2005.

AVELINE, C. C. Kohlberg (1981) e os estágios da consciência ética: compreendendo


as etapas da evolução humana. Filosofia Esotérica. 2019. Disponível em: https://
www.filosofiaesoterica.com/Kohlberg (1981)-e-os-estagios-da-consciencia-etica/.
Acesso em: 2 jul. 2020.

BARROCO, M. L. S. Ética e sociedade. Brasília: CFESS, 2000.

BITTENCOURT, S. Comentários à lei anticorrupção: Lei nº 12.846, de 1 de


agosto de 2013. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.

BONETTI, D. A. et al. Serviço social e ética: convite a uma nova práxis. 11. ed.
São Paulo: Cortez, 2010.

BRASIL, Lei ordinária nº 12.846, de 1 de agosto de 2013. Dispõe sobre a respon-


sabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a
administração pública, nacional ou estrangeira, e dá outras providências. Disponí-
vel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/ lei/l12846.htm.
Acesso em: 18 nov. 2020.

CARVALHO, F. A ética segundo Kohlberg (1981). 2011. Disponível em: https://


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CHAUÍ, M. Iniciação à filosofia. São Paulo: Ática, 2016.

CUNHA, S. S. Dicionário Compacto de Direito. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

FERREIRA, A. B. H. Miniaurélio: o minidicionário da Língua portuguesa. 7. ed.


Curitiba: Ed. Positivo, 2008.

FREUD, S. No ensaio The Question of Lay Analysis. In: FREUD, S. (Org.). The
Question of Lay-Analysis: an Introduction to Psycho-Analysis 1947. London:
Imago Publishing Co, 2005. Disponível em: http://www.yorku.ca/dcarveth/
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91
GUIMARÃES, D. T. Dicionário Técnico Jurídico. 19. ed. São Paulo: Rideel, 2016.

HOUAISS, A. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,


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KOHLBERG, L. Essays On Moral Development. Volume 1. The Philosophy Of


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LEYSER, K. D. dos S. Ética. Indaial: Uniasselvi, 2018.

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SOLOMON, R. C. Ética e excelência. Cooperação e integridade nos negócios.


São Paulo: Civilização Brasileira, 2006.

TAVARES, F. R. Ética, política e sociedade. Indaial: Uniasselvi, 2013.

TOMELIN, J. F.; TOMELIN, K. N. Do mito para a razão: uma dialética do saber.


2. ed. Blumenau: Nova Letra, 2002. p. 89-90.

VALLS, A. L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2003.

VÁZQUEZ, A. S. Ética. 26. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

92
UNIDADE 2

A ÉTICA E OS FUNDAMENTOS
DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO
ASSISTENTE SOCIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• conhecer os fundamentos ético-morais do exercício profissional do Assis-


tente Social;

• promover a reflexão e discussão sobre as questões ético-morais, na relação


indivíduo e sociedade;

• fomentar o debate sobre as diversas dimensões ético-morais da vida social


e profissional;

• promover uma consciência crítica referente aos valores e princípios norte-


adores do exercício profissional.

PLANO DE ESTUDOS
A Unidade 2 está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada um deles, você
terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos, realizando as atividades
propostas.

TÓPICO 1 – OS FUNDAMENTOS ÉTICO-MORAIS DO EXERCÍCIO


PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

TÓPICO 2 – O ESPAÇO DA ÉTICA NA RELAÇÃO INDIVÍDUO E


SOCIEDADE

TÓPICO 3 – A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SER SOCIAL E ÉTICA

TÓPICO 4 – A ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E SEU


PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

93
94
UNIDADE 2
TÓPICO 1

OS FUNDAMENTOS ÉTICO-MORAIS DO EXERCÍCIO


PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
Com a própria evolução histórica da humanidade, pode-se dizer que,
hoje em dia, quando tratamos das questões éticas e morais, estamos falando que
o comportamento social dos homens vem atravessando todos os espaços da vida
social do mesmo. Pautando-se neste comportamento que vem se transformando
constantemente, encontramos muitos desafios no exercício profissional do
Assistente Social.

Neste tópico, abordaremos, com detalhes, a natureza e as características


fundamentais da ética profissional, além de trabalhar as questões relativas ao
cotidiano da prática profissional e das finalidades ético-morais da reprodução social.

2 A NATUREZA E OS FUNDAMENTOS DA ÉTICA PROFISSIONAL


Sabe-se que o principal problema da ética é a definição do que é certo
ou errado, bom ou mau, e que todos os homens desejam fazer o bem e a justiça,
observando sempre que esta problemática permeia toda a história da humanidade.
Compreendemos que “fazer o bem” pode ser considerado uma virtude social.

Porém, o que é fazer o bem?

Todos os nossos atos, que permeiam nosso comportamento social,


são frutos diretos e indiretos de uma consciência social e esta, por sua vez, é
constituída sobre os valores, princípios e hábitos morais do povo que a compõe.

Existe uma ligação química e muito forte no modo comportamental subjetivo


de cada homem, com relação à sociedade em que vive, pois se nossas ações visam,
constantemente, fazer o bem perante os outros, então, estamos sendo eticamente
bons sem, necessariamente, ser bom ou mau para alguém ou vice e versa.

Contudo, devemos compreender que não existe um bem ou mal absoluto,


pois as diversas subjetividades humanas apresentam inúmeras diferenças, ou
seja, a subjetividade é relativa de acordo com a visão de mundo e sociedade de
cada ser humano.

95
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

Neste contexto, observa-se que a ética trabalha e avalia as diferentes


alternativas de preferência dos homens que vivem em sociedade, principalmente
no que tange à indicação do que devemos realmente fazer, ou não, em vez do que
devíamos ter feito, ou não, pois não podemos deixar de lado que todos os atos
dos homens que vivem em sociedade possuem suas restrições e consequências.
Estas, por sua vez, devem ser avaliadas constantemente, principalmente no que
tange à questão da escolha entre as diversas alternativas que estão postas pela
própria sociedade em que vivemos.

Portanto, compreende-se que a ética avalia as diversas escolhas conscientes


dos homens e trabalha com as consequências subjetivas de cada ser humano em
sociedade. Estas escolhas e suas consequências podem ser consideradas objeto da
prática profissional do Assistente Social. Como expõe Barroco 2008a, p. 67:

[...] a ética profissional é um modo particular de objetivação da vida


ética. Suas particularidades se inscrevem na relação entre o conjunto
complexo de necessidades que legitimam a profissão na divisão
sociotécnica do trabalho, conferindo-lhe determinadas demandas
[...]. Ou seja, estas demandas, fruto direto das escolhas subjetivas dos
homens e suas consequências, é que legitima o agir ético profissional
do Assistente Social. Pois, a consciência moral é formada pelos valores
culturais de uma determinada sociedade, e estes são legitimados pela
própria sociedade, ou seja, pelos seus integrantes. No qual, criam e
recriam constantemente novas necessidades, papéis e valores sociais.

Neste sentido, segundo Barroco (2008a, p. 68), o “ethos profissional é um


modo de ser constituído na relação complexa entre as necessidades socioeconômicas
e ídeo-culturais e a possibilidade de escolha inseridas nas ações ético-morais, o
que aponta para sua diversidade, mutabilidade e contraditoriedade.”

Assim, observa-se que a ética profissional do Assistente Social está recheada


de conflitos e contradições sociais que se remodelam ao passar dos tempos.

AUTOATIVIDADE

Baseado(a) nas informações adquiridas até o presente momento, forme


uma equipe, de no máximo quatro acadêmicos, e escreva quais os principais
CONFLITOS e CONTRADIÇÕES SOCIAIS que os seres humanos enfrentam
na atualidade.

96
TÓPICO 1 | UNIDADE 2

Podemos, assim, compreender que, o conhecimento concebido pelos


homens propicia o seu modo de vida e de convivência em sociedade, pois buscam,
constantemente, seus fundamentos e suas posturas críticas da realidade em que
estão inseridos, além de transformar sua própria realidade. Complementando,
Lukacs (apud BARROCO, 2008b, p. 16) expõe que:

[...] o homem torna-se um ser que dá respostas precisamente na medida


em que – paralelamente ao desenvolvimento social e em proporção
crescente – ele generaliza, transformando em perguntas seus próprios
carecimentos e suas possibilidades de satisfazê-los; e quando, em sua
resposta ao carecimento que a provoca, funda e enriquece a própria
atividade com tais mediações bastante articuladas. De modo que não
apenas a resposta, mas também a pergunta é um pouco imediato na
consequência que guia a atividade.

Podemos compreender, então, que a ética supõe a compreensão e


análise da subjetividade do seres humanos e de suas relações sociais, através da
formação da práxis humana como um todo e não somente compreendida como a
formação de um conhecimento, ou seja, a ética está baseada nos relacionamentos,
comportamentos e práticas sociais tanto dos homens quanto das mulheres em seu
convívio cotidiano, no qual forma uma consciência moral global.

3 O SIGNIFICADO DA ÉTICA PROFISSIONAL


Agora, prezados(as) acadêmicos(as) iremos estudar diversos significados
da ética na práxis profissional do Assistente Social.

De acordo com Sá (2001, p. 129):

[...] a expressão profissão provém do Latim professione, do substantivo


professio, que teve diversas acepções naquele idioma, mas foi empregado
por Cícero como “ação de fazer profissão de”. O conceito de profissão,
na atualidade, aquele que aceito, representa: “trabalho que se pratica
com habitualidade a serviço de terceiros”, ou seja,”‘prática constante
de um ofício”.

TUROS
ESTUDOS FU

Você verá, no Tópico 3, A Relação entre Trabalho, Ser Social e Ética, uma reflexão
mais profunda referente à ética no trabalho.

97
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

O que vem a ser, então, a ética profissional?

Segundo Brites e Sales (2000, p. 8):

A ética das profissões não está dissociada do contexto sociocultural e


do debate filosófico. A ética profissional guarda uma profunda relação
com a ética social e, consequentemente, com os projetos sociais. Não
há, portanto, um hiato entre a ética profissional e a ética social, pois
seria cindir a própria vida do homem na sua totalidade, isto é, em seus
diversos pertencimentos: trabalho, gênero, família, ideologia, cultura,
desejos etc. Na verdade, é o “homem inteiro”, na acepção lukacsiana,
que participa da cotidianidade. Isto significa que o homem, no
processo de produção de sua vida material e cultural, constrói valores
que passam nortear as relações consigo mesmo e com os outros
homens, constituindo-se, assim, como sujeito ético no processo de
sociabilidade.

Observamos, então, que a constituição de um homem, enquanto indivíduo,


só pode ser feita por meio de suas relações com os outros. E é nesta interação social
que o indivíduo forma sua consciência moral, além de constituir seus anseios,
desejos e sonhos, fazendo suas escolhas de certo ou errado perante a sociedade em
que vive. Assim, pode-se dizer que é por meio da ética que o homem é um ser de
consciência, pois valora seus atos de forma autônoma e responsável, qualificando
e enriquecendo todo o processo complexo de produção e reprodução humana.

Partindo deste entendimento, verificamos que a ética proporciona


maior visibilidade no esclarecimento da direção social e, em consequência, da
qualificação da prática profissional de uma determinada sociedade, ou seja, por
meio da ética, existe todo um posicionamento social que forma e determina seus
valores, hábitos e princípios e estes, por sua vez, compõem as normas e diretrizes
profissionais daquela comunidade.

Nesta perspectiva, Brites e Sales (2000, p. 9) colocam-nos que:

[...] a ética profissional tem a ver com a imagem que a profissão quer que
seja reconhecida pela sociedade. [...] Em outras palavras, a profissão
constrói, historicamente, uma identidade e adquire uma legitimidade
social tanto a partir da explicação da função social da profissão quanto
dos contornos éticos que assume o trabalho profissional. Esse processo
é atravessado por contradições e tensões que envolvem disputas
políticas e ideológicas na sociedade. Não esqueçamos que o nosso
exercício profissional realiza-se numa sociedade capitalista, logo, há
demandas diferenciadas ou entendimentos diversos do que seja a
função social da profissão, no que concerne aos interesses das classes
em relação. Desse modo, há vários projetos societários em confronto
e o posicionamento da categoria, ao qual nos referimos, expressando
exatamente a opção por um determinado projeto social.

98
TÓPICO 1 | UNIDADE 2

AUTOATIVIDADE

Tudo isto nos leva a fazer a seguinte indagação: Será que quando estou
exercendo minhas atividades laborais, estou reforçando diretamente um projeto
ético de sociedade? Reflita esta questão em um dos encontros presenciais.

4 ÉTICA, O COTIDIANO E A PRÁTICA PROFISSIONAL


“A cabeça da gente é uma só e as coisas que há e que estão para haver
são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de
aumentar a cabeça, para o total.” (Guimarães Rosa)

Conforme a frase de Guimarães Rosa, é a partir da totalidade, que


podemos entender as particularidades subjetivas de cada ser humano, pois é
a sociedade como um todo que forma e constitui todos os nossos princípios e
valores ético-morais.

Contudo, quais as correlações entre o Código de Ética, o projeto


profissional do Assistente Social e sua práxis?

O que deve ficar bem claro aqui é que o objeto da prática profissional se dá
no dia a dia de nossa sociedade, ou seja, são nos diversos modos comportamentais
dos homens que se formam as questões sociais, ou seja, o objeto da práxis
profissional do Assistente Social.

O que é esta tal de questão social?

Pois bem, a questão social, a priori, forma-se na relação direta do trabalho


versus capital, principalmente na formação moral do trabalhador (classe operária),
perante a sociedade, o qual almeja ser reconhecido como tal por parte dos
detentores do capital (os patrões), ou seja, é nas contradições deste relacionamento
(trabalhador x patrão) que se forma o objeto de trabalho do Assistente Social. Esta
contradição é estabelecida diretamente na produção, reprodução e apropriação
da riqueza constituída em sociedade, ou seja, os trabalhadores, por meio do
trabalho, produzem a riqueza, em contrapartida, os patrões apropriam-se dela.
Portando, nesta dinâmica, o trabalhador não tem muitas vezes a possibilidade de
usufruir e obter as riquezas que produziu.

Complementando, Iamamoto (1997, p. 14) define o objeto do Serviço


Social nos seguintes termos:

Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas


mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos
as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na

99
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

saúde, na assistência social pública etc. Questão social que sendo


desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam
as desigualdades e a ela resistem, se opõem. É nesta tensão entre
produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência,
que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido
por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou
deles fugir porque tecem a vida em sociedade. [...] a questão social,
cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do
Assistente Social.

Voltando à questão principal, pode-se observar que a vida cotidiana dos


seres humanos denota certa alienação dos mesmos ao sistema societal que estão
inseridos, ou seja, devemos saber distinguir as nossas ações de prática profissional
das atividades cotidiana em que estamos envolvidos. De acordo com Heller (apud
BRITES; SALES, 2000, p. 69):

[...] o cotidiano é o território da espontaneidade, das motivações


efêmeras e particulares, da fixação repetitiva do ritmo e da rigidez
do modo de vida. Consequentemente, o pensamento cotidiano é
um pensamento fixado, tão somente, na experiência, na dimensão
empírica da realidade e dos acontecimentos da vida; logo, pragmático e
ultrageneralizador, assentado na unidade imediata entre pensamento e
ação. Opera, portanto, corretamente, num nível de aproblematicidade
em detrimento da razão e das intimações humano-genéricas.

Contudo, o que é alienação?

Compreendemos que é por meio do trabalho que se forma a consciência


moral dos homens, denotando a sua sobrevivência social. Porém, como esta
atividade laboral pode ser considerada uma alienação de sua própria constituição
moral?

Podemos considerar que a alienação proporciona uma diminuição da


capacidade do agir consciente dos seres humanos, ou seja, os homens, muitas
vezes, não conseguem assimilar o seu próprio comportamento e suas atitudes
perante sua própria produção e reprodução social, no qual acabam bloqueando
sua autonomia de agir.

No que tange à alienação social, podemos citar que muitas vezes os


seres humanos não se dão conta que são eles que produzem as riquezas de sua
sociedade, por meio de suas atividades laborativas. Diante disto, apresentam duas
posturas, tais como: veem este processo de produção de riquezas como uma ação
natural e espontânea ou rejeitam esta situação, verificando que nós possuímos
muito mais capacidades de julgamento do que simplesmente acatar tudo o que
vem dos donos do capital (os patrões).

100
TÓPICO 1 | UNIDADE 2

Nos dois casos, de acordo com Brites e Sales (2000, p. 69) “a sociedade é o
outro (alienus), algo externo a nós, separado de nós, diferente de nós e com poder
total ou nenhum poder sobre nós.”

Segundo Brites e Sales (2000, p. 69):

No debate da práxis profissional, vemos, então, as possibilidades


de atuação dos assistentes sociais, consideradas particularmente,
inseridas nas contradições e tensões do cotidiano, mas vincadas e
içadas pelo projeto ético-político profissional – uma vez assimiladas
com consciência as suas exigências – ao plano do humano genérico.
A riqueza e desafios das situações radicalmente humanas posta pelo
exercício profissional listam aqueles a se orientar e conduzir sua vida
pela vida da eticidade; logo, a se posicionar diante de alternativas e
a realizar escolhas, postas na esfera do cotidiano, submetendo a sua
particularidade ao genérico.

Heller (apud BRITES; SALES, 2000, p. 69) expõe ainda que:

[...] quanto maior é a importância da moralidade, do compromisso


pessoal, da individualidade e do risco (que vão sempre juntos) na
decisão acerca de uma alternativa dada, tanto mais facilmente essa
decisão eleva-se acima da cotidianidade e tanto menos se pode falar
de uma decisão cotidiana.

Então, pode-se observar que não existe um divisor entre o comportamento


cotidiano e do não cotidiano, pois o desenvolvimento da práxis profissional
está interligado com a convivência do dia a dia do grupo social em que estamos
inseridos, ou seja, o trabalho profissional do Assistente Social se dá sobre as
questões sociais advindas deste convívio em sociedade. Contudo, não podemos
confundir que a prática profissional seja também as atividades cotidianas que
realizamos, pois estas se transformam na práxis profissional só quando nós
tomamos consciência deste fato.

No entanto, de acordo com Brites e Sales (2000, p. 70) “a práxis aqui


reivindicada decorre de uma construção coletiva expressa na direção social do
projeto ético-político do Serviço Social e que ganha tessitura e substância por
meio da adesão consciente e crítica aos princípios e valores presentes no código
de ética dos assistentes coletivos desenvolvidos país afora”.

101
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

LEITURA COMPLEMENTAR 1

ÉTICA NO COTIDIANO

A.Augusta Soares

[...] O nosso país está [sempre] nos chamando para comparecermos às


urnas, período de mudanças políticas [...].

Período propício para questionamentos, principalmente sob um aspecto


cultural importante: a Ética em nosso cotidiano e as consequências de nossas ações.

Vivemos em sociedade, influenciamos e somos influenciados, através da


mídia escrita e falada (rádio, TV, jornais, propagandas e revistas), convivemos e
interagimos socialmente, portanto, cabe pensarmos e respondermos, intimamente,
a seguinte pergunta:

Como agimos em nosso cotidiano perante os Outros?

Trata-se de uma pergunta fácil de ser formulada, mas difícil de ser


respondida. Está intimamente ligada à questão ÉTICA e, consequentemente, ao
julgamento do caráter moral de uma determinada pessoa.

Sabemos que a ética está presente em todos os povos, independente de


raça. Ela é um conjunto de regras, princípios, formas de pensar e se expressar.

A palavra de origem grega pode ser traduzida, dentro da sociedade, como


propriedade de caráter.

Ser ético envolve integridade, honestidade em qualquer situação, coragem


para assumir seus erros e decisões, tolerância, flexibilidade, humildade, posturas
e procedimentos que não causem prejuízo ao meio social em que está inserido. É
estar tranquilo com a consciência pessoal, cumprindo com os valores no espaço
em que vive, ou seja, onde mora, trabalha, estuda e convive socialmente.

A ética reflete diretamente sobre as ações, diferentemente de MORAL, que


estabelece regras para garantir a ordem social, sem levar em conta as fronteiras
geográficas. Mas é através da ética que o indivíduo é levado a refletir, questionar,
percorrer sobre todas as causas e consequências de suas ações no exercício de uma
PROFISSÃO, postura que deve ser iniciada antes mesmo da prática profissional,
a que está se propondo a exercer.

Ser ético, ter postura ética, é fazer algo que te beneficie e, no mínimo, não
prejudique o “outro”, ou o meio social em que convive.

FONTE: SOARES, A. Augusta. Ética no cotidiano. Disponível em: <http://www.revistafatosregionais.


com.br/conteudo/edicao-002/etica-no-cotidiano.html>. Acesso em: 25 fev. 2009.

102
TÓPICO 1 | UNIDADE 2

LEITURA COMPLEMENTAR 2

ÉTICA E PROFISSIONALISMO

Maria Elizabete Silva D`Elia

Ética e profissionalismo deveriam andar de mãos dadas, principalmente,


num mundo em que qualidade é sobrevivência.

Deveria ser algo implícito, explícito e matéria obrigatória do Ensino


Fundamental ao Superior.

Mesmo que haja, atualmente, um movimento de resgate da ética e discussão


sobre a sua importância em todos os segmentos da sociedade, a distância entre o
discurso e a prática é ainda muito grande.

Como profissionais de desenvolvimento humano, um dos nossos


compromissos é trazer sempre à tona a Ética, mostrando-a de forma simples,
didática, como prática diária em nossa casa, escritório, grupo, comunidade e a
sociedade como um todo.

A Ética permeia todas as relações e colabora decisivamente para o bem-


estar individual, coletivo e também atua diretamente na “ecologia” do ambiente
e do universo.

Empresas e profissionais vencedores têm expresso em sua missão e


“tatuado” nas atitudes o valor da ética, como característica primordial para o
sucesso e felicidade.

Por ser a Ética um assunto complexo, amplo e de entendimento subjetivo,


uma grande maioria associa seu entendimento e prática como algo distante,
filosófico, de responsabilidade do governo, da Sociedade, isentando-se de trazê-la
para o seu cotidiano e para o âmbito da sua responsabilidade, enquanto cidadão.

Quando deixamos à Ética num plano muito filosófico, abrimos mão do


nosso poder de praticá-la e passamos a colocar “a culpa” da falta de ética no país,
nos governantes, nas leis, ou seja, sempre no “outro”.

O grande desafio é colocar a Ética como parte do nosso “ritual de


qualidade diária”. Quando nos cuidamos, nos respeitamos, respeitamos o outro,
o meio ambiente, estamos praticando a Ética.

O Conceito que está na nossa esfera de atuação e que pode ser exercitado
24 horas por dia é entender Ética como “o bem comum”.

103
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

Quando queremos saber se algo ou alguma atitude é ética, basta que


questionemos se ela atende ao bem comum. Se a resposta for SIM, a ética está
presente.

Esclarecendo o sentido de Bem comum para situações do dia a dia:

● É bom para a empresa e para o cliente?

● É bom para o profissional e para a empresa?

● É bom para a empresa, para os profissionais, para os clientes, para a sociedade,


para o meio ambiente?

Se só um dos lados for beneficiado, não houve ética.

Logo, entende-se que o bem comum passa pela negociação ganha-ganha,


pelo diálogo, pela transparência.

E esses quesitos fazem parte hoje do que se exige de um profissional.

Dentro do nosso cotidiano, há zonas claras de entendimento coletivo,


sobre situações que são entendidas como falta de ética. Exemplos:

● Falar mal da empresa e/ou de alguém da empresa para o cliente.

● Reclamar de salário ou de condições de trabalho para o cliente.

● Fazer confidências da vida pessoal para o cliente.

● Pedir algo para o cliente (favor, presente, empréstimo etc.).

● Revelar informações confidenciais para ter favoritismo ou demonstrar poder.

● Legislar em causa própria, por ter acesso a dados de salário da empresa, por
conta da função.

- Aceitar presentes, para favorecer um fornecedor ou cliente.


- Sabotar informações, por questões pessoais.
- Prejudicar a equipe, os pares, por “fazer fofocas” pessoais e/ou
profissionais.
- Outros similares.

Há outras situações, consideradas cinzentas, que são também antiéticas,


mas que podem gerar dúvidas. Exemplos:

● Avançar o limite saudável entre relação “amistosa” com o cliente para uma
relação próxima e privada.

104
TÓPICO 1 | UNIDADE 2

● Não colaborar com uma ideia ou projeto, por “não gostar” do dono da ideia.

● Tratar com parcialidade pessoas da equipe ou pares, simplesmente, por ter


mais afinidade pessoal.

● Abrir mão de contribuir com a qualidade de relacionamento do seu ambiente.

● Ficar passivo e/ou concordar com críticas feitas a colegas e/ou a procedimentos
da empresa.

● Utilizar mala direta da empresa e/ou dados do negócio, para fins particulares.

● Usar para fins particulares materiais da empresa (papel, impressora, disquete


etc.).

● Usar telefone da empresa, sem reembolsar despesas, para responder recados


de celular particulares, para ligações interurbanas etc.

● Usar Internet para fins particulares, sem autorização do Coordenador/Gerente.

● Outras situações similares.

Outro direcionamento que confirma se há ou não ética é o exercício diário


da missão e valores da empresa em que atua e dos próprios valores como pessoa.

Profissionalismo é a simbiose entre competência técnica e humana.

E sem ética, é impossível ter competência humana.

Esses princípios devem estar presentes na conduta diária, junto a clientes,


equipe, coordenadores, gerentes, Diretoria, parceiros.

Ética dá lucro e faz bem a todos.

Se tivermos dúvida de alguma situação, o diálogo é sempre bem-vindo.

O Clube Rotary dá uma excelente contribuição sobre Ética nos seus


princípios. Podemos também nos inspirar nos valores que pregam, que se baseiam
em três perguntas:

É bom?
É verdade?
É justo?

A ajuda coletiva e o respeito mútuo são irmãos gêmeos da ética e, sem


dúvida, podem ser a diretriz para o bem-estar e para a ecologia do nosso planeta.

FONTE: D’ELIA, Maria Elizabete Silva. Ética e profissionalismo. Disponível em: <www.betedelia.
com.br>. Acesso em: 25 fev. 2009.

105
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

DICAS

Para um melhor aprendizado, sugerimos a leitura do seguinte artigo e do livro.


Assista, também, ao filme indicado.

● Artigo: Questão Social: Objeto do Serviço Social? De Ednéia Maria Machado. Disponível
em: <http://www.ssrevista.uel.br/c_v2n1_quest.htm>.

● Livro: COUTO, Wanderley. O ● Livro: BRITES, Cristina Maria; SALES,


que é alienação. São Paulo: Mione Apolinário. Ética e práxis
Brasiliense, 1992. profissional. 2. ed. Brasília: CFESS,
2000.

● Filme: Conduta de Risco

106
RESUMO DO TÓPICO 1
Abordamos, neste tópico, as questões fundamentais da ética, no
que tange ao exercício profissional do Assistente Social. Assim, tratamos os
seguintes assuntos:

 Hoje em dia, quando tratamos das questões éticas e morais, estamos falando
que o comportamento social dos homens vem atravessando todos os espaços
da vida social do mesmo, ao longo de sua história.

 Verificamosque o principal problema da ética é a definição do que é certo ou


errado, bom ou mau, e que todos os homens desejam fazer o bem e a justiça.

 Compreendemos que “fazer o bem” pode ser considerado uma virtude social.

 Todos os nossos atos, que permeiam nosso comportamento social, são frutos
diretos e indiretos de uma consciência social e, esta, por sua vez, constituída
sobre os valores, princípios e hábitos morais do povo que a compõe.

 Não existe um bem ou mal absoluto, pois as diversas subjetividades humanas


apresentam inúmeras diferenças, ou seja, a subjetividade é relativa de acordo
com a visão de mundo e sociedade de cada ser humano.

 Compreendemos que a ética avalia as diversas escolhas conscientes dos homens


e trabalha com as consequências subjetivas de cada ser humano em sociedade.

 Estas escolhas e suas consequências podem ser consideradas objeto da prática


profissional do Assistente Social.

 Observamos que a ética profissional do Assistente Social está recheada de


conflitos e contradições sociais que se remodelam ao passar dos tempos.

 A ética está baseada nos relacionamentos, comportamentos e práticas sociais


tanto dos homens como das mulheres em seu convívio cotidiano, no qual
forma uma consciência moral global.

 Observamos que a constituição de um homem, enquanto indivíduo, só pode ser


feita por meio de suas relações com os outros em sociedade. E é nesta interação
social que o indivíduo forma sua consciência moral, além de constituir seus
anseios, desejos e sonhos.

107
 A ética proporciona maior visibilidade no esclarecimento da direção social e,
em consequência, da qualificação da prática profissional de uma determinada
sociedade, ou seja, por meio da ética, existe todo um posicionamento social
que forma e determina seus valores, hábitos e princípios e estes, por sua vez,
compõem as normas e diretrizes profissionais do homem.

 É a partir da totalidade que podemos entender as particularidades subjetivas


de cada ser humano, pois é a sociedade como um todo que forma e constitui
todos os nossos princípios e valores ético-morais.

 O objeto da prática profissional se dá no dia a dia de nossa sociedade, ou


seja, são nos diversos modos comportamentais dos homens, que se formam
as questões sociais e estas, por sua vez, são o objeto da práxis profissional do
Assistente Social.

 A questão social forma-se na relação direta do trabalho versus capital.

 A vida cotidiana dos seres humanos denota certa alienação dos mesmos ao
sistema societal que estão inseridos, pois, muitas vezes, os seres humanos não
se dão conta que são eles que produzem as riquezas de sua sociedade, por meio
de suas atividades laborativas.

 Verificamos que o trabalho profissional do Assistente Social se dá sobre as


questões sociais advindas do convívio em sociedade. Contudo, as nossas
atividades cotidianas se transformam na práxis profissional só quando nós
tomamos consciência deste fato.

108
AUTOATIVIDADE

Em equipe, de no máximo quatro acadêmicos, liste todas as questões sociais


que conseguirem identificar. Em seguida, realizem um debate, no grande
grupo, sobre esse tema.

109
110
UNIDADE 2 TÓPICO 2

O ESPAÇO DA ÉTICA NA RELAÇÃO INDIVÍDUO E


SOCIEDADE

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, trabalhar-se-á como se processa o espaço da ética na relação
indivíduo versus sociedade, no qual perpassaremos por alguns aspectos históricos
da construção ética-moral da sociedade. Assim, segundo Barroco (2008b, p. 19):

[...] é nesse processo histórico que são tecidas as possibilidades de


o homem se comportar como um ser ético: enquanto o animal se
relaciona com a natureza a partir do instinto, o ser social passa a
construir mediações – cada vez mais articuladas –, ampliando seu
domínio sobre a natureza e sobre si mesmo. Desse modo, sem deixar
de se relacionar com a natureza – pois precisa dela para se manter vivo
–, vai moldando sua natureza social.

Demonstrando, ainda, a inter-relação natural do comportamento moral


entre os homens, principalmente na questão da construção subjetiva do homem,
ou seja, o homem como tal, ser individual.

2 AS BASES HISTÓRICAS DA SOCIEDADE NA CONSTRUÇÃO


DA ÉTICA
Pelo comportamento humano e, principalmente, por meio de seu modo
de ser, hábitos e costumes é que determinamos e consolidamos nossa moral e, por
conseguinte, a ética. A sua constituição advém historicamente das relações do dia a
dia de cada ser humano que vive em sociedade.

Complementando, Barroco (2008b, p. 20) escreve que:

A história não é uma abstração dotada de uma existência independente


dos homens. Os homens reais – entre suas relações entre si e com a
natureza – são os portadores da objetividade sócio-histórica. E nesse
sentido pode-se dizer que o ser social fundamenta-se em categorias
ontológico-sociais, pois os modos de ser que o caracterizam são
construções sócio-históricas que se interdeterminam de forma
complexa e contraditória, em seu processo de constituição.

111
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

Então, podemos compreender que o homem social nasce da natureza e


de sua inter-relação com os outros de sua espécie, em que suas habilidades e
aptidões são desenvolvidas por ele no decorrer de seu processo de humanização,
ou seja, é o próprio homem o autor e produto da sua construção.

FIGURA 7 – FRASE REFLEXIVA

FONTE: A autora

Nesta perspectiva, podemos citar que o homem desenvolve suas


capacidades de forma consciente e livre. E, por meio do trabalho, ele é capaz de
transformar a natureza, em consequência ao seu meio e a si próprio, mantendo
sua própria vida em sociedade. Então, podemos dizer que “[...] o trabalho é, antes
de tudo, em termos genéricos, o ponto de partida da humanização do homem, do
refinamento de suas faculdades, processo do qual não se deve esquecer o domínio
sobre si mesmo” (LUKÁCS apud BARROCO, 2008b, p. 21).

Portanto, a sociabilidade humana pode ser compreendida como o berço


da constituição do homem social ou ser social, pois é por meio de nossas atividades
humanas que nos constituímos como homens e, assim, nos perpetuamos
historicamente.

De acordo com Barroco (2008b, p. 22) “constituir-se cada vez mais


socialmente quer dizer dominar a natureza, criar novas alternativas, dar respostas
sociais, e daí decorre a transformação de todos os sentidos humanos.” Isto só
pode ser viável, se o homem tiver consciência de seus atos e de sua própria
transformação social.

Contudo, qual o papel da consciência humana na prática profissional


dos mesmos?

Antes de tudo, precisamos compreender o significado da consciência


humana. Portanto, segundo Cavalcanti (2007, p. 2) para Susan Greenfield,
pesquisadora da Universidade de Oxford:

112
TÓPICO 2 | UNIDADE 2

A consciência não é um lampejo, mas um contínuo de conexões dos


seus [...] [...] neurônios, que vão ocorrendo do momento em que você
nasce até o fim da experiência, seu cérebro faz uma representação
mental que é armazenada da sua vida. A cada nova em sua memória.
Ao comer uma comida diferente, por exemplo, surgiria uma mudança
nas conexões do seu cérebro. Quanto mais o mundo passa a ter
significado para você, mais conexões são feitas em seu cérebro.

Ou seja, é por meio da constituição de consciência que analisamos,


calculamos e aspiramos ideias, realizando um processo de escolha do que pode ou
não ser feito, do que é bom ou não para nós e para os outros. Então, se partirmos
do princípio de que a nossa constituição ético-moral advém do trabalho, podemos
assim dizer que a nossa prática profissional só se processa quando a realizamos
de forma consciente em prol da realização do bem.

Portanto, por meio da transformação consciente da natureza, o homem cria


sempre novas alternativas de valorações em seu processo de escolha e tomada de
decisões, pois as realizam conscientemente, por meio de comparações do certo e
errado, do fazer o bem ou o mal.

Assim, Barroco (2008b, p. 25-26) expõe que:

[...] quando os homens transformam um dado elemento da natureza,


por exemplo, um pedaço de madeira criando fogo ou um instrumento
de trabalho, passa a instituir alternativas antes inexistentes. Os
instrumentos de trabalho não modificam apenas a atividade humana;
transformam toda a vida dos homens, instituindo novas possibilidades.
No caso do fogo, alteram-se todos os sentidos – pois com o alimento
cozido, por exemplo, o paladar, o tato, o olfato etc. são modificados;
atendem-se a necessidades, pois é possível aquecer-se com o fogo;
criam-se hábitos culturais, desencadeando novos sentimentos e
comportamentos; a natureza já não se apresenta como um mistério; o
homem se vê como sujeito de sua transformação.

Acarretando, assim, para o homem, a possibilidade de realizar suas


escolhas de forma livre e consciente. E estas escolhas podem ser consideradas a
constituição da liberdade humana.

Para Lukács (apud BARROCO 2008b, p. 26):

A liberdade, bem como sua possibilidade, não é algo dado por


natureza, não é um dom do “alto” e nem sequer uma parte integrante
– de origem misteriosa – do ser humano. É o produto da própria
atividade humana, que decerto sempre atinge concretamente
alguma coisa diferente daquilo que se propusera, mas que nas suas
consequências dilata – objetivamente e de modo contínuo – o espaço
no qual a liberdade se torna possível.

Finalizando, podemos observar que a liberdade de escolha dos homens


proporciona autonomia. E esta autonomia denota que o ser humano é um ser
livre, tendo plena consciência em suas escolhas. Portanto, por meio do trabalho,
o ser humano se constitui um homem consciente e livre.

113
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

LEITURA COMPLEMENTAR 1

“DECIFRA-ME OU TE DEVORO”: O ENIGMA DA ESFINGE

Maria Lúcia Silva Barroco

Na tragédia grega clássica Édipo Rei, escrita por Sófocles, Édipo se


encaminha para Tebas, quando uma esfinge, monstro que devora a todos que
não conseguem decifrar seus enigmas, profere-lhe um enigma. De sua resposta
depende a vida da cidade e também o seu destino [...].

Antes de se deparar com a esfinge, Édipo já consultara o oráculo, forma


de comunicação com os deuses através de uma consulta que também deve ser
decifrada. No caso de Édipo, o oráculo já dissera a seu pai, Laio, que seu filho
o mataria e se casaria com a própria mãe, ou seja, com a mulher de Laio. Para
evitar este destino trágico, Laio abandonara Édipo nas montanhas, com os pés
atravessados por um ferro e ligados por uma tira de couro (daí seu nome Édipo,
que significa “pés inchados”).

Adotado por Pólipo, Édipo, já adulto, resolve consultar o oráculo sobre sua
origem. O oráculo repete a previsão anterior: Édipo mataria o pai e se casaria com
a mãe. Édipo foge de Pólipo para que não se cumprisse o destino. No caminho
para Tebas, encontra Laio e, numa briga, mata o rei e sua comitiva. Em seguida,
encontra a esfinge, que lhe propõe o enigma que nenhum homem conseguira
responder até então: “Qual é o ser que anda de manhã com quatro patas, no meio
do dia com duas e à noite com três e que, contrariamente à lei mais geral, é mais
fraco quando tem mais pernas?”. Édipo responde: “É o homem que engatinha
quando criança, quando adulto usa suas duas pernas e quando velho usa uma
bengala”. Diante disso, a esfinge morre e os tebanos reconhecem Édipo como rei,
oferecendo-lhe a viúva de Laio como esposa.

Passados muitos anos, uma peste assola a cidade e o oráculo novamente


é consultado. Quando Édipo indaga sobre as causas da peste, obtém a resposta
de que a morte de Laio não fora vingada e que o responsável era ele, Édipo. Ao
descobrir que matara o próprio pai e que Jocasta, sua mulher, é sua mãe, Édipo
arranca os olhos com uma joia de Jocasta, que se enforca. Então sai, cego, errante
pelo mundo, acompanhado por uma de suas filhas, Antígona.

Assim, Édipo não teve êxito em suas sucessivas tentativas de fugir do seu
destino. Determinado pelos deuses, o destino não pode ser transformado pelos
homens, como bem mostra Sófocles. Porém, é parte da natureza humana, dizem
também os mitos, questionar o poder dos deuses; por isso, mesmo que a palavra
divina seja revelada através do oráculo, os humanos sempre buscam um desvio
desse caminho “predestinado”.

Mais adiante, veremos como tudo isso tem a ver com a concepção ética
dos gregos, herança fundamental da civilização ocidental.

114
TÓPICO 2 | UNIDADE 2

E você, acredita em destino?

FONTE: BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética: fundamentos sócio-históricos. 6. ed. São Paulo:
Cortez, 2008. p. 47-48.

Agora, prezado(a) acadêmico(a), vamos verificar no texto a seguir a questão


da discussão em torno de uma ética universal para toda a sociedade contemporânea.

Então leia com atenção esta leitura complementar 2, pois ela propiciará
um panorama geral desta ética universal.

LEITURA COMPLEMENTAR 2

ÉTICA E SOCIEDADE: EM BUSCA DE UMA ÉTICA UNIVERSAL

José Carlos S. de Mesquita

ÉTICA: Do grego, ETHOS. Significa costumes, extrai-se Ética. Do latim,


MORES. Donde moral. Ciência da moral. "Estudo dos juízos de apreciação referente
à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja
relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto."¹. "Em outras palavras,
ética e moral referem-se ao conjunto de costumes tradicionais de uma sociedade."²

INTRODUÇÃO

A Ética moral, enquanto ciência que estuda as virtudes da humanidade, vem


sendo especulada desde os tempos antigos até os nossos dias, pelos mais ilustres
filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Rousseau, Kant, Hegel, Kierkegaard
e outros. Contudo, sabemos que o primeiro código ético, enquanto regras a serem
cumpridas, data, segundo a Bíblia, dos tempos do antigo testamento com os Dez
Mandamentos, mas mesmo assim já havia quem os transgredia. Ainda dentro
de uma visão bíblica, entende-se que o descumprimento das leis divinas, tem
origem desde a criação da terra com Adão e Eva. Há quem fale que o contraste de
moralidade hoje, reflete o pecado cometido no início dos tempos.

Numa abordagem mais filosófica, comentaremos sobre o ético na


concepção de alguns filósofos, fazendo entre eles uma relação de modo a deixar
claras as divergências e convergências de pensamentos no que tange as suas
concepções de Ética. Abordaremos também, a partir de um prisma mais social, as
desigualdades de pensamento que legitimam a relativização do comportamento
ético, desde as sociedades gregas, fazendo uma reflexão histórica nas épocas que
mais transpareceu o amoral. Ainda numa visão sociológica, analisaremos alguns
fatores que fortalecem o descaso da virtude moral com as sociedades de hoje.
Entraremos no Brasil de 64 relembrando a mobilização e o sofrimento dos contras-

1. HOLANDA, Aurélio B. de. Novo dicionário da língua portuguesa.


2 . CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia, p. 340.

115
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

ditadura por uma realidade social igualitária e chegaremos até o Brasil dos anos
90 abordando verdadeiros exemplos de cidadania expressa na mobilização da
sociedade por uma política Ética.

A ÉTICA E SOCIEDADE: Em busca de uma Ética universal

A ÉTICA como "[...] reflexão científica, filosófica e até teológica [...]"³ , vem
sendo estudada desde a antiguidade pelos mais renomados filósofos. Sócrates,
consagrado "fundador da moral"4, destacou-se nesta área da filosofia por buscar
em suas indagações, a convicção pessoal dos transeuntes para obter uma melhor
compreensão da justiça. Sócrates acreditava nas leis, mas como pensador capaz de
pôr em prova o próprio subjetivo, às questionava, gerando um descontentamento
aos conservadores gregos da época. A condenação de Sócrates a beber veneno
ainda é um questionamento, cuja resposta possa estar nas entrelinhas dos
argumentos conservadores do poder: "[...] as leis existiam para serem obedecidas
e não para serem justificadas."5

Já Platão (427-347 a.C.), admirável discípulo de Sócrates, articulava em suas


inspirações teóricas a ideia de se encontrar a felicidade no centro das questões éticas.
A sabedoria para Platão, não está expressa no saber pelo saber, ou melhor, não se
identifica o sábio pela sua grandeza de conhecimentos teóricos, mas pela sua grandeza
de virtudes. O homem virtuoso tende a encontrar e contemplar o mundo ideal.

Aristóteles (384-322 a.C.), também pensador da Grécia antiga, fundamentou


maior parte de seu postulado teórico no empirismo onde, baseado no tipo de
sociedade, desenvolveu algumas obras que enfocam as questões éticas daquele
tempo: Ética a Eudemo, Ética a Nicômaco e uma Magna Moral. Aristóteles não
descarta a relação entre Ser e o Bem, porém enfatiza que não é um único bem,
mas vários bens, e que esse bem deve variar de acordo com a complexidade do
ser. Para o homem, por exemplo, há a necessidade de se ter vários bens, para que
este possa alcançar a felicidade humana. A virtude em Aristóteles está entre os
melhores dos bens.

Com o cristianismo, percebemos que se encerra o papel da filosofia


moral enquanto determinante do que é ou não ético. As ações humanas agora
se norteiam na divindade de um único Deus, e não mais no politeísmo como na
cultura grega. O ético reflete agora a consciência interior de cada um, é o que
estabelece o coração do indivíduo. Em coerência com essa visão cristã de ação
moral, Rousseau, já, por volta do século XVIII, argumenta que a moralidade é
obra divina. O agir naturalmente dentro dos mais puros princípios éticos, reflete
a existência de Deus em nossos corações. Em Rousseau, ao obedecermos ao dever
externo, estamos obedecendo aos nossos corações. Para ele, os homens nascem
puros e bons, a sociedade é quem os corrompe.

"[...] se o dever parece ser uma imposição e uma obrigação externa, imposta

3. Álvaro L. M. VALLS, O que é Ética, p. 7.


4. Id. Ibid., p. 17.
5. Idem.

116
TÓPICO 2 | UNIDADE 2

por Deus aos humanos, é porque nossa bondade foi pervertida pela sociedade
quando criou a propriedade privada e os interesses privados [...]".6

Em oposição a essa concepção, encontramos Kant no final do séc. XVIII.


Kant se contrapõe a Rousseau por negar a existência da "bondade natural"7. Nos
corações dos homens só existem sentimentos negativos e para conseguirmos
superar todos esses males, devemos almejar uma Ética racional e universal
identificada no dever moral.

Ao contrário de Rousseau e Kant, vamos encontrar Hegel, que encara


a questão Ética de outro prisma. Opondo-se ao argumento do coração como
determinante da vontade individual de Rousseau, e a da moral racional de Kant,
Hegel diz que somos seres indissociáveis.

O ser humano é histórico e vive o coletivo em todas as suas ações, associado


aos seus costumes e as suas manifestações culturais. É por esse ângulo que Hegel
argumenta sobre a vontade coletiva que guia nossas ações e comportamentos. A
família, o trabalho, a escola, as artes, a religião etc. norteiam nossos atos morais e
determinam o cumprimento do dever. É também por essa linha de pensamento
que tentaremos direcionar nosso raciocínio enfocando as relações éticas no contexto
político-social, expondo a relativização do comportamento ético nos últimos tempos.

A Ética, como conjunto de normas e valores que regem uma sociedade


deve necessariamente refletir a consciência e as ações desse povo, assim como
trazer consigo o tipo de organização que alimenta essa sociedade. Acreditamos
na universalidade do comportamento e das ações éticas, assim como na sua
transformação relativa às transformações das sociedades que as impera, mas
se voltarmos às sociedades da Grécia antiga e fizermos o percurso histórico até
os nossos dias, vamos encontrar diversidade de virtudes e comportamentos,
ao ponto de colocarmos em cheque essa virtude que tanto sonhamos para
todos. Se analisarmos a educação espartana e a ateniense, ambas vividas numa
mesma época, e entrarmos no feudalismo e verificar o contraste entre os servos
e os senhores feudais, os dogmas da Igreja enquanto posicionamento do clero
como meio de conservar seu poder em detrimento à vida dos que questionavam
tais dogmas, continuar caminhando até o séc. XVIII e nos depararmos com as
injustiças sociais nas quais a miserável classe proletariada subordinava-se em
plena revolução industrial, trabalhando 14 a 15 horas por dia, sem restrição de cor,
raça, sexo e idade, com alguns ficando até neuróticos em decorrência do volume
de trabalho que havia, e tudo para beneficiar um pequeno grupo de capitalistas
que emergia em detrimento à vida dos necessitados. Nesse caso, seria essa a Ética
do capitalismo? E no caso do clero, a Ética da Igreja? Sim, certamente, mas é
importante também refletirmos sobre o lado moral e o princípio Ético universal
idealizado por Kant. Os costumes e as regras morais impostas pelo clero na idade
média e pelos capitalistas no sec. XVIII, não refletiam com certeza, a consciência
da maioria da população, de suas respectivas épocas, nem tão pouco, o dever
moral dos submissos não atendia e nem atende aos interesses dos dominadores.

6. CHAUÍ, Marilena, Convite à filosofia, p. 344.


7. Idem.

117
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

Hoje, à beira do século XXI, ainda nos deparamos com situações que fogem
aos anseios de uma Ética universal, onde pessoas injustiçadas perdem a vida,
morrem de fome, passam as piores necessidades e situações de constrangimento
por serem negras ou pobres. Instituições como a família, Igreja e organizações
culturais ainda cultivam no seio de suas atividades valores representativos de uma
Ética padrão e de valores condizentes com a noção humanitária de vida, porém por
outro lado, sentimos na pele ações de uma minoria que infringe as normas legais
e ultrapassam as barreiras do Ético na ânsia de adquirir ou conservar seu poder.
Em apoio e como cúmplice deste processo de decadência moral, encontramos os
meios de comunicação de massa. Com enorme força de poder de conscientização,
eles funcionam de maneira a levar aos lares da sociedade, as situações mais
ilusórias e pervertidas do social, fazendo com que seu público caia no abismo
do amoral. Lamentavelmente, a televisão como meio de comunicação que atinge
em maior proporção a população em todas as camadas, desponta na frente como
meio que mais distorce a realidade e infiltra na população a ideologia dominante,
quando ao invés disso, poderia utilizar tal poder no sentido de esclarecer, educar
e conscientizar a população, almejando uma sociedade igualitária onde o branco,
o negro, o rico e o pobre tenham direitos iguais.

Particularmente, o Brasil dos últimos 50 anos enfrentou algumas altas e


baixas no que tange à liberdade de vida de maneira digna. A que mais repercutiu
foi o golpe de 64 que originou o despertar da comunidade estudantil e da
sociedade em geral para questões primárias como liberdade e democracia. A
repressão originada pelo golpe sacrificou toda uma geração com todos os meios
possíveis de tortura e constrangimento. Uns mortos, outros torturados e outros
para não serem mortos ou presos passaram a viver no exílio, mesmo assim não
escapavam das perseguições. Os quase 10 mil brasileiros que viviam no exterior,
principalmente na América latina, não se intimidaram com essas repressões,
mesmo exilados em países diferentes, formaram uma corrente contraditadura não
deixando o espírito do patriotismo morrer. Pessoas como Paulo Freire, Gilberto
Gil, Herbert de Souza e outros, trouxeram do exílio verdadeiras lições de vida e
conhecimentos, contribuindo com a educação, cultura e dando sua participação
de solidariedade humana. Está expresso aí nas ações dessa gente o verdadeiro
significado de comprometimento moral com a sociedade.

Hoje, final da década de 90, sentimos que alcançamos algumas melhorias


na sociedade, principalmente no que tange à conscientização de uns poucos para
as questões morais que norteiam a sensibilidade do homem às situações críticas
e polêmicas da sociedade. Projetos como a “Ação da cidadania contra a miséria
e pela vida” e a própria tentativa de dar um basta na corrupção política do país,
resgatou a confiança do povo para um Brasil melhor onde habita o dever do valor
moral e de uma postura socialmente Ética

Com certeza, disparidades sociais são vividas em todo o mundo. A


existência de dominantes e dominados parece ser o requisito principal para se
viver em sociedade. Mas estamos caminhando para essa superação, e certamente,
a educação é a melhor maneira de montarmos a nossa estratégia no sentido de
alcançarmos uma padronização nas ações e comportamentos dos homens.

118
TÓPICO 2 | UNIDADE 2

O ideal seria alcançarmos o idealismo kantiano, de uma Ética universal onde


todos sejam norteados pelos mesmos princípios e eticamente puros. Entendemos que
isso há de ser conseguido aos poucos dentro de um processo educativo e cauteloso.
A nosso ver, é somente através da educação, que conseguiremos concretizar o
nosso projeto de "homenização" e de adquirirmos essa conscientização política.

BIBLIOGRAFIA

VALLS, Álvaro L. M. O que é Ética, Coleção primeiros passos, 3. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1989.
SOUZA, Herbert de & RODRIGUES, Carla. Ética e cidadania. Coleção polêmica,
4. ed. Moderna, 1994.
RIOS, Terezinha Azevedo. Ética e competência. Coleção questões da nossa época.
V.16. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1994.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia in filosofia moral. São Paulo: Ática, 1994.

FONTE: MESQUITA, José Carlos S. de. Ética e sociedade: em busca de uma ética universal.
Disponível em: <http://www.doutrina.linear.nom.br/cientifico/Filosofia/%C9TICA%20E%20SO-
CIEDADE.htm>.

DICAS

Para compreendermos melhor o que acabamos de estudar, sugerimos que você


realize a seguinte leitura e assista ao filme indicado:

● BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética: ● A PROCURA DA FELICIDADE.


fundamentos sócio-históricos. 6. ed. Gênero: Drama.
v.4 São Paulo: Cortez, 2008. Tempo de Duração: 117 minutos.
Ano de Lançamento (EUA): 2006.
Site Oficial: <www. aprocurada
felicidade.com.br>.
Direção: Gabriele Muccino.
Elenco: Will Smith (Chris Gardner),
Jaden Smith (Christopher), entre
outros.

119
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, trabalhou-se como se processa o espaço da ética na
relação indivíduo versus sociedade, abordando alguns aspectos históricos da
construção ético-moral dos homens em sociedade. Demonstrando que:

 É pelo comportamento humano e, principalmente, por meio de seu modo de


ser, hábitos e costumes que determinamos e consolidamos nossa moral e, por
conseguinte, a ética.

 Esta constituição advém da história de cada ser humano que vive em sociedade.

 O homem social nasce da natureza e de sua inter-relação com os outros de sua


espécie, em que suas habilidades e aptidões são desenvolvidas no decorrer de
seu processo de humanização.

 É o próprio homem o “autor e produto” de sua construção.

 O homem desenvolve suas capacidades de forma consciente e livre.

 Por meio do trabalho, o homem é capaz de transformar a natureza, o seu meio


e a si próprio, mantendo sua própria vida em sociedade.

 A sociabilidade humana pode ser compreendida como o berço da constituição


do homem social ou ser social.

 Épor meio de nossas atividades humanas que nos constituímos como homens,
perpetuando-nos historicamente.

 É por meio da constituição de consciência que analisamos, calculamos e


aspiramos ideias, realizando um processo de escolha do que pode ou não ser
feito, do que é bom ou não para nós e para os outros.

 O homem tem a possibilidade de realizar suas escolhas de forma livre e


consciente. E estas escolhas podem ser consideradas a constituição da liberdade
humana.

 A liberdade de escolha dos homens proporciona autonomia.

 A autonomia dos homens denota que o ser humano é um ser livre e tem o
poder de escolha.

 As escolhas humanas devem ser sempre conscientes.

 É por meio do trabalho que o ser humano se constitui um homem consciente e


livre.
120
AUTOATIVIDADE

 Baseado(a) na afirmação que “O homem é que escreve sua própria história”,


responda:

a) O que você compreende por SOCIABILIDADE HUMANA?


____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

b) O que você compreende por liberdade incondicional e livre-arbítrio?


____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

c) A partir do conceito de liberdade, interprete o ditado: “Se eu não for por


mim mesmo, quem será por mim? Se eu for apenas por mim, que serei eu?
Se não agora – quando?”
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

d) Qual o papel da CONSCIÊNCIA HUMANA na prática profissional dos


homens? Justifique.
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

121
122
UNIDADE 2 TÓPICO 3

A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SER SOCIAL E ÉTICA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, prezado(a) acadêmico(a), iremos desvendar as questões do
mundo do trabalho, e como o homem, enquanto um ser social se comporta e se
desenvolve como ser social por intermédio do trabalho, além de verificarmos como
a ética está envolvida neste processo.

O processo de trabalho é atividade dirigida com o fim de criar valores


de uso, de apropriar os elementos naturais às necessidades humanas;
é condição necessária do intercâmbio material entre o homem e a
natureza; é condição natural e eterna da vida humana, sem depender,
portanto, de qualquer forma dessa vida, sendo antes comum a todas as
suas formas sociais. (MARX, 1987, p. 27).

Verificamos que a ética e o trabalho podem ser considerados uma extensão


do exercício profissional, que denota uma ação real, concreta, transformadora
da realidade da sociedade em que estamos inseridos. A ética e o trabalho vêm
se transformando historicamente, pois nossos costumes, princípios e hábitos se
transformam no decorrer dos tempos.

Neste contexto, abordaremos vários aspectos das relações entre o trabalho,


a ética e o ser social.

2 O QUE É TRABALHO?
Pode-se compreender que é por meio do trabalho dos homens que a
sociedade se forma, se organiza tanto política, econômica e socialmente. É o
trabalho que estrutura as nossas relações sociais. O trabalho se torna fundamental
para o desenvolvimento dos princípios ético-morais de uma sociedade, pois é ele
que medeia todas as nossas relações. Em outras palavras, o trabalho é a mola
propulsora da vida em comunidade.

De acordo com Gonçalves e Wyse (1997, p. 61-62):

O trabalho pode ser visto como lugar de autorrealização do homem,


extensão de sua personalidade, espaço de criatividade, onde ele fala de
si, mostra-se diante do seu grupo social, expressa sua identidade, presta
um serviço social e contribui para o bem comum. Mas também pode
ser encarado como uma maldição, lugar de tortura, suportado pela
necessidade do salário ao final do mês.
123
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

Por meio do trabalho, desenvolvemos vínculos tanto sociais como


comunitários com as outras pessoas. Estas relações sociais podem ser consideradas
a base fundamental à própria vida dos seres humanos.

Segundo Tomelin e Tomelin (2002, p. 118) “através do trabalho, o homem


se diferenciou dos outros animais, produzindo bens e transformando a natureza.
Pelo trabalho o homem fundamentou a sua vida cultural e a civilização. Para os
outros animais, o trabalho visa satisfação imediata e instintiva, sem acúmulo de
saberes”.

Complementando, Aranha e Martins (2003, p. 24) colocam-nos que:

O trabalho humano é uma ação transformadora da realidade, dirigida


por finalidades conscientes. Ao reproduzir técnicas já usadas e ao
inventar outras novas, a ação humana se torna fonte de ideias e, portanto,
experiência propriamente dita. Por isso dizemos que o animal não
trabalha – mesmo quando cria resultados materiais com essa atividade
–, pois sua ação não é deliberada, intencional. Dessa forma, o animal
não produz propriamente sua existência, apenas a conserva agindo
instintivamente ou, quando se trata de animal de maior complexidade
orgânica, resolvendo problemas por meio da inteligência concreta. [...]
Esses atos visam a defesa, a procura de alimentos e de abrigo. Assim,
não devemos pensar que o castor, ao construir o dique, e o João-de-
barro, a sua casinha, estejam “trabalhando”.

Portanto, pode-se observar que quando o homem transforma a natureza


por meio do trabalho, ele próprio está se transformando.

E
IMPORTANT

Lembra da história do LOLO BARNABÉ, de Eva Furnari, que você leu na Unidade
1 deste Caderno? O mesmo demonstra claramente esta transformação da natureza. Então,
aproveite para rever a história. (FURNARI, Eva. Lolo Barnabé. São Paulo: Moderna, 2000).

3 A ÉTICA DO TRABALHO
Com a evolução humana e, em consequência, com a evolução da própria
sociedade, observamos que, por intermédio do trabalho, começou a surgir uma
nova concepção de classe social, denominada burguesia, a qual desenvolve novos
hábitos, princípios e valores morais perante a sociedade, mediando, diretamente,
as relações sociais entre todos os seres humanos.

124
TÓPICO 3 | UNIDADE 2

Estes novos interesses, que dependem diretamente do trabalho e do


desenvolvimento de uma produção que garanta a expansão do comércio,
na produção incondicional de novas riquezas, acabaram exigindo, dos seres
humanos, uma dedicação exclusiva ao trabalho, no intuito de angariar maior
produtividade e prosperidade dos detentores do capital. De acordo com Gonçalves
e Wyse (1997, p. 23), “a nova classe em ascensão tem como característica as
virtudes de laboriosidade, honradez, puritanismo, amor à pátria e à liberdade,
em contraposição aos vícios da aristocracia – desprezo ao trabalho, ociosidade,
libertinagem”.

Portanto, o trabalho, hoje, se tornou um fato social que determina a própria


existência do homem em sociedade, legitimando-o como um ser humano.

Segundo Gonçalves e Wyse (1997, p. 23-24):

Antes, o trabalho sempre foi visto de forma negativa. Na sua origem, a


palavra trabalho vem do Latim tripalium, que significa um instrumento
de tortura. Mesmo na Bíblia o trabalho é proposto como castigo pela
culpa de Adão e Eva (nos termos bíblicos, o homem é condenado a
trabalhar e a ganhar o pão com o suor do seu rosto, ficando a mulher
condenada ao trabalho de parto). Na Grécia Antiga e na Idade Média,
[o trabalho] é desvalorizado por estar reservado aos escravos e aos
servos. A sociedade moderna declara o trabalho uma expressão de
liberdade, uma vez que, por meio dele (seja pela força física, pela
ciência, pelas artes) o homem modifica a natureza, inventa a técnica,
cria nova realidade, enfim, altera o curso das coisas, alterando a si
próprio e a sociedade onde ele vive.

Outro fator relevante nesta discussão é a questão de que, por meio do


trabalho, os homens constituem seus laços sociais, pois começam a pertencer a
um determinado grupo social, acontecendo de acordo com o poder aquisitivo,
status que o trabalhador obtém por meio de seu trabalho, ou seja, conforme o
seu salário e sua formação do capital, este trabalhador estabelece determinados
vínculos sociais, que determinam a que classe social eles pertencem.

Por meio do comportamento humano nas relações de trabalho, e seu papel


em sociedade, desenvolve-se a ética do trabalho.

E
IMPORTANT

A ÉTICA DO TRABALHO consiste em entender essa atividade – o trabalho – como


fator fundamental à construção da identidade e da realização pessoal e ao estabelecimento
de uma ordem social, onde prevaleçam relações fundadas na dignidade, na liberdade e na
igualdade entre os homens. (GONÇALVES; WYSE, 1997, p. 24).

125
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

Verificamos que o trabalho denota alguns valores morais que são


constituídos pela própria sociedade (capitalista) em que estamos inseridos, tais
como: disciplina, obediência, atenção e segurança pessoal.

Porém, como fica a questão da liberdade, igualdade e autonomia do


trabalhador?

Observamos que, na modernidade, a questão da autonomia, liberdade


e igualdade entre os seres humanos são tidas como uma condição da própria
natureza humana. E que este valor é considerado como um fator necessário para
o desenvolvimento da ética do trabalho.

Entretanto, será que, por natureza, os homens são realmente iguais entre
si?

Historicamente, podemos observar que todos os homens apresentam


muitas diferenças, pois cada um possui um modo de vida, uma etnia e visão
de mundo diferentes, como: opção sexual, etnia, religião, força física, sonhos,
desejos, objetivos de vida, entre muitas outras diferenças, que são resguardadas
como direito de igualdade em nossa sociedade. É só observar o que prediz a nossa
Constituição Federal.

NOTA

Caro(a) acadêmico(a), para compreender melhor esta questão, sugerimos a


releitura dos artigos 1º, 3º e 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada
em 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.
htm>.

Segundo Gonçalves e Wyse (1997, p. 25-26), “na defesa desses interesses,


o homem moderno lança Mão de uma teoria – a teoria liberal – que utiliza os
conceitos de igualdade e de liberdade natural para justificar sua prática social,
sua ordem econômica e inclusive, a forma de organização do estado moderno”.

Finalizando, podemos entender que esta teoria liberal, por sua vez,
formula e regula suas próprias leis com relação à economia de uma sociedade, na
qual estas leis e normas preconizam um equilíbrio das relações de mercado, de
compra e venda.

126
TÓPICO 3 | UNIDADE 2

LEITURA COMPLEMENTAR 1

TRABALHO E REALIZAÇÃO HUMANA

Silvio Gallo

Se, por um lado, o trabalho torna-se elemento de alienação do homem,


não tornando possível a ele uma participação ativa na transformação do objeto,
percebemos, por outro lado, que o trabalho pode ser motivo de realização do
ser humano. Para Marx, o homem se define pela produção. Pelo simples fato de
o homem produzir, ele se diferencia dos animais, porque a realidade humana é
explicada por fatores reais: produção em relação ao humano. Por isso, ao produzir
seus meios de vida, o homem produz indiretamente sua própria vida, material e
espiritual. Desde que há homem, há produção e desde que ele produz e transforma
a natureza, há história. Uma história real: nem essência humana indiferente à vida
social, humana e histórica e nem existência separada da essência e, sim, a essência
que só pode ser descoberta na existência social e histórica dos indivíduos.

Mas a essência do homem nunca se manifestou de fato ao longo da história,


porque sua existência sempre foi negada ante sua essência, porque o homem
encontrou-se sempre alienado ao trabalho. A essência é concebida no trabalho;
num trabalho oposto ao alienado, no trabalho criador, consciente e livre. Se o
trabalho é fonte de alienação e não de criação, o homem desumaniza-se. Marx viu
a essência do trabalho com os olhos de um artista.

O trabalho deve espelhar a atividade artística: uma expressão da


criatividade e da inteligência humanas, que possibilita a transformação da
natureza, constituindo uma fonte de prazer e alegria. No mundo atual, e da
forma como as relações de trabalho estão constituídas, são poucos os que
podem participar efetivamente da alegria do trabalho. Há um trabalho maldito,
desgastante e sofrido. E o próprio Marx denunciou isso, dizendo que não há
salário que possa pagar a degradação do corpo e da alma, o uso do ser humano
para fins lucrativos.

Para que a história não seja a da negação do homem, precisamos entender


que a relação existente entre essência e existência é uma relação dominada por
interesses que regem uma sociedade. Trata-se, portanto, dos homens e das relações
entre eles. No caso da sociedade capitalista, esses homens são os burgueses, de
um lado, e os operários, de outro. Como vimos anteriormente, o burguês é o dono
do objeto, e o operário é o dono da força de produção que vai transformar o objeto
em riquezas para a sociedade. Portanto, o homem é um ser produtor que produz
e transforma os objetos e que não participa deles, porque o produto pertence
a outro homem, dominante nas relações sociais. Mas os homens são os sujeitos
dessas relações, e estas podem ser transformadas pela própria ação humana,
de modo a possibilitar o exercício de um trabalho livre e criativo, expressão da
grandeza humana.
127
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

O trabalho é, portanto, em primeiro lugar, um processo de transformação


material entre a natureza e o homem. Num segundo momento, é o processo pelo
qual ele realiza, regula e controla sua ação física de necessidades e consumos
produtivos. E, num terceiro momento, o trabalho se encontra como um elemento
importante de realização humana, pois pela ação humana no trabalho o objeto se
transforma e o trabalhador também, pois é da sua força de produção que o objeto
ganha forma, arte e riqueza que serão marcadas e contempladas pela existência
humana através dos tempos [...].

FONTE: GALLO, Silvio (coord.) Ética e cidadania: caminhos da filosofia. Campinas: Papirus, 1999. p.
49.

LEITURA COMPLEMENTAR 2

A seguir, disponibilizamos a letra da Música Construção, do cantor e


compositor Chico Buarque de Hollanda.

Amou daquela vez como se fosse a última Tijolo com tijolo num desenho
Beijou sua mulher como se fosse a última lógico
E cada filho seu como se fosse o único Seus olhos embotados de cimento
E atravessou a rua com seu passo tímido e tráfego
Subiu a construção como se fosse máquina Sentou pra descansar como se
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas fosse um príncipe
Tijolo com tijolo num desenho mágico Comeu feijão com arroz como se
Seus olhos embotados de cimento e fosse o máximo
lágrima Bebeu e soluçou como se fosse
Sentou pra descansar como se fosse sábado máquina
Comeu feijão com arroz como se fosse um Dançou e gargalhou como se fosse
príncipe o próximo
Bebeu e soluçou como se fosse um E tropeçou no céu como se ouvisse
náufrago música
Dançou e gargalhou como se ouvisse E flutuou no ar como se fosse
música sábado

128
TÓPICO 3 | UNIDADE 2

E tropeçou no céu como se fosse um E se acabou no chão feito um pacote


bêbado tímido
E flutuou no ar como se fosse um Agonizou no meio do passeio náufrago
pássaro Morreu na contramão atrapalhando o
E se acabou no chão feito um pacote público
flácido
Agonizou no meio do passeio público Amou daquela vez como se fosse
Morreu na contramão atrapalhando o máquina
tráfego Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes
Amou daquela vez como se fosse a flácidas
última Sentou pra descansar como se fosse um
Beijou sua mulher como se fosse a única pássaro
E cada filho como se fosse o pródigo E flutuou no ar como se fosse um
E atravessou a rua com seu passo príncipe
bêbado E se acabou no chão feito um pacote
Subiu a construção como se fosse sólido bêbado
Ergueu no patamar quatro paredes Morreu na contramão atrapalhando o
mágicas sábado.

FONTE: HOLLANDA, Chico Buarque de. Construção. Disponível em: <http://www.chicobuar-


que.com.br/discos/mestre.asp?pg=construcao_71.htm>. Acesso em: 18 mar. 2009.

DICAS

Para melhorar o seu entendimento sobre todos os assuntos que discutimos


neste tópico, utilize as seguintes sugestões de leitura e filme:

● Artigo: A estrutura da vida inteira e os embaraços da alienação, de José César dos


Santos. Disponível em: <http://www.insite.pro.br/2005/31-A%20estrutura%20da%20vida%20
inteira%20e%20os%20embara%C3%A7os%20da%20aliena%C3%A7%C3%A3o.pdf>.

● GONÇALVES, Maria H.B; WYSE,


Nely. Ética e trabalho. Rio de Janeiro:
Ed. SENAC Nacional, 1997.

129
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

POESIA: “O operário em construção” de Vinicius


de Moraes. Disponível em: <http://letras.terra.
com.br/vinicius-de-moraes/87332/>. ou
pelo livro: MORAES, Vinicius. O operário em
construção. Don Quixote, 2001.

O DIABO VESTE PRADA


Gênero: Comédia.
Tempo de Duração: 109 minutos.
Ano de Lançamento (EUA): 2006.
Site Oficial: <www.devilwearspradamovie.com>.
Direção: David Frankel.
Elenco: Meryl Streep (Miranda Priestly), Anne Hathaway
(Andrea “Andy” Sachs), Emily Blunt (Emily), Stanley
Tucci (Nigel) entre outros.

TEMPOS MODERNOS (dir. Charles Chaplin).


Título Original: Modern Times.
Gênero: Comédia.
Tempo de Duração: 87 minutos.
Ano de Lançamento (EUA): 1936.
Estúdio: United Artists / Charles Chaplin Productions.
Distribuição: United Artists.
Direção: Charles Chaplin.
Elenco: Charles Chaplin (Trabalhador) e outros.

130
RESUMO DO TÓPICO 3
Em se tratando da relação entre trabalho, ser social e ética, demonstramos
que:

 A ética e o trabalho podem ser considerados uma extensão do exercício


profissional.

 A práxis profissional denota ser uma ação real, concreta, transformadora da


realidade da sociedade em que estamos inseridos.

 A ética e o trabalho vêm se transformando historicamente, pois nossos costumes,


princípios e hábitos se transformam no decorrer dos tempos.

 É por meio do trabalho dos homens que a nossa sociedade se forma, se organiza
tanto política, econômica e socialmente.

 É o trabalho que estrutura as nossas relações sociais.

 Otrabalho se torna fundamental para o desenvolvimento dos princípios ético-


morais de uma sociedade, pois é ele que medeia todas as nossas relações sociais.

 O trabalho é a mola propulsora da vida em sociedade.

 Por meio do trabalho, desenvolvemos vínculos tanto sociais como comunitários


com os outros homens que também vivem em sociedade.

 As relações sociais entre os homens podem ser consideradas a base fundamental


à própria vida dos seres humanos.

 Quando o homem transforma a natureza por meio do trabalho, ele próprio está
se transformando.

 Por intermédio do trabalho, começou a surgir uma nova concepção de classe


social, denominada burguesia, a qual desenvolve novos hábitos, princípios e
valores morais perante a sociedade, que medeia diretamente as relações sociais
entre todos os seres humanos.

 Os interesses burgueses dependiam diretamente do trabalho e do


desenvolvimento de uma produção que garantisse a expansão do comércio e a
produção incondicional de novas riquezas.

 O trabalho, hoje, tornou-se um fato social que determina a própria existência


do homem em sociedade e assim o legitima como um ser humano.

 Por meio do trabalho, os homens constituem seus laços sociais, pois começam a
pertencer a um determinado grupo social, isto acontece de acordo com o poder
aquisitivo, status que o trabalhador obtém por meio de seu trabalho.

131
 Por meio do comportamento humano nas relações do trabalho e seu papel em
sociedade, desenvolve-se a ética do trabalho.

 Os homens apresentam muitas diferenças entre si, pois cada um possui um


modo de vida, uma etnia e visão de mundo também diferente, como: opção
sexual, etnia, religião, força física, sonhos, desejos, objetivos de vida, entre
muitas outras diferenças.

 Estas diferenças são resguardadas como direito de igualdade em nossa


sociedade.

 Podemos entender, então, que a teoria liberal, por sua vez, formula e regula
suas próprias leis com relação à economia de uma sociedade, na qual estas
leis e normas preconizam um equilíbrio das relações de mercado, de compra e
venda.

132
AUTOATIVIDADE

1 A partir da leitura dos dois textos de apoio (Trabalho e realização humana,


de Silvio Gallo, e Construção, de Chico Buarque de Hollanda), reflita sobre
o TRABALHO ALIENADO na sociedade em que vivemos. Analise se as
questões expostas nestes dois textos estão relacionadas à nossa vida do dia
a dia em sociedade, com nossa família, nosso trabalho, nossos amigos, na
escola etc. No dia de seu encontro presencial, discuta esta questão com os
seus colegas de sala de aula.

2 Leia o texto a seguir:

As mais significantes ações que afetam o crédito de um homem devem


ser consideradas. O som de teu martelo às cinco da manhã, ou às oito da noite,
ouvido por um credor o fará conceder-te seis meses a mais de crédito; ele
procurará, porém, por seu dinheiro no dia seguinte, se te vir em uma mesa de
bilhar ou escutar tua voz, em uma taverna, quando deverias estar no trabalho;
exigi-lo-á de ti antes que possa dispor dele.

Isto mostra, além do mais, que estais consciente do que possuis; fará
com que pareças um homem tão cuidadoso quanto honesto e isto ainda
aumentará mais o teu crédito.

(Retrato da Cultura Americana, Benjamin Franklin)

Você pode perceber que o texto manifesta valores que o autor atribui
ao trabalho. Após essa constatação, responda:

a) Quais são esses valores?

b) Até que ponto esses valores são compatíveis com aqueles propostos pela
ética da modernidade (ética do trabalho)?

133
134
UNIDADE 2
TÓPICO 4

A ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E SEU


PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

1 INTRODUÇÃO
Verificamos que o homem possui uma necessidade de interagir com os
outros homens em sociedade, pois, por meio do trabalho, o homem produz e
reproduz sua vida na sociedade em que está inserida. Só assim, os seres humanos
desenvolvem sua cultura, hábitos e costumes, além de seu poder de valorar seu
próprio comportamento, decidindo o que é certo ou errado, bom ou mau nas
relações dentro da comunidade de vivência. Desta relação advém as questões
sociais, objeto da prática profissional do Assistente Social, que é regulada por
meio de seu projeto ético-político.

Portanto, prezado(a) acadêmico(a), agora estudaremos como se processam


as intervenções éticas dos profissionais do serviço social e qual é o seu objetivo de
sua práxis profissional.

2 AS INTERVENÇÕES ÉTICAS NA PRÁTICA PROFISSIONAL


DO ASSISTENTE SOCIAL
A prática profissional do Assistente Social dos últimos anos ganhou
grande relevância teórica, política e ética, após a promulgação do Código de
Ética Profissional dos Assistentes Sociais, através da Resolução CFESS nº 273,
de 13 de março de 1993 (BRASIL, 2009a). Esta resolução determina os princípios
e valores determinantes para a prática profissional do Assistente Social,
diretamente inseridos em seu projeto ético-político profissional.

TUROS
ESTUDOS FU

Você verá na próxima unidade um debate acerca do Código de Ética do


Assistente Social (Resolução CFESS nº 273, de 13 de março de 1993).

135
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

O projeto ético-político profissional do Assistente Social, de acordo


com Iamamoto (1999, p. 12) trata de um “projeto profissional indissociável da
democracia, da equidade, da liberdade, da defesa do trabalho, dos direitos sociais
e humanos, contestando discriminações de todas as ordens”.

Nesta perspectiva, a práxis profissional do Assistente Social está


permeada numa direção social, ou seja, nas questões sociais advindas das
relações comportamentais dos homens em sociedade, mais precisamente de suas
contradições.

3 O OBJETO DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE


SOCIAL
Como já observamos anteriormente, o objeto da prática profissional do
Assistente Social são as expressões das questões sociais.

Contudo, o que é uma questão social? E o que é uma expressão da


questão social?

Podemos compreender que a questão social está diretamente vinculada


aos conflitos advindos do capital versus trabalho, ou seja, são todos os problemas
sociais, políticos e econômicos que surgem das relações cotidianas do trabalho,
formando as desigualdades sociais.

De acordo com Iamamoto e Carvalho (1996, p. 77):

A questão social não é senão as expressões do processo de formação


e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário
político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por
parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da
vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual
passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e
repressão.

Teles (1996, p. 85), complementa, afirmando que:

[...] a questão social é a aporia das sociedades modernas que põe em


foco a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do mercado e a
dinâmica societária, entre a exigência ética dos direitos e os imperativos
de eficácia da economia, entre a ordem legal que promete igualdade
e a realidade das desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das
relações de poder e dominação.

Também se torna relevante pontuarmos que estas desigualdades sociais se


apresentam de forma diferente no decorrer da própria história da humanidade,
pois o modo de produção, o desenvolvimento e a dinâmica econômica, política
e social vêm se transformando conforme a própria evolução do homem em sua
convivência em sociedade.

136
TÓPICO 4 | UNIDADE 2

Em cada momento histórico, as questões sociais vão ganhando novas formas.


Formas estas que chamamos de expressões da questão social, ou seja, a questão social
sempre foi a mesma desde os tempos mais remotos da humanidade e independem de
classe social. O que vem mudando são suas formas de apresentação, pois, de acordo
com as transformações do modo de produção, vão surgindo contradições sociais,
que se transformam nas diversas formas de expressão da questão social.

Então, as expressões da questão social se apresentam de formas diferentes


conforme a classe social em que o homem está inserido. Estas expressões se
formam diretamente nas contradições da produção e apropriação da riqueza que
foi e é gerada pela sociedade, pois nem sempre o trabalhador que produz esta
riqueza pode usufruir da mesma.

Citamos, nos quadros a seguir, as questões sociais e algumas de suas


expressões:

QUADRO 2 – QUESTÕES SOCIAIS

TRABALHO HABITAÇÃO ALIMENTO SAÚDE

SEGURANÇA EDUCAÇÃO JUSTIÇA POLÍTICA

FONTE: A autora

QUADRO 3 – EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

QUESTÃO SOCIAL EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

• a pobreza;
• o trabalho escravo;
• o trabalho infantil;
• o trabalho informal;
Trabalho
• o desemprego;
• a doença ocupacional;
• a inadimplência;
• entre outros.
• brigas conjugais;
• violência doméstica;
• delinquência juvenil;
• pedofilia;
Família
• estupro;
• divórcio;
• discórdias familiares;
• entre outros.

137
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

• favelas;
• moradores de ruas;
Habitação • movimento dos Sem-Terra (MST);
• reforma agrária;
• entre outros.

• saúde pública;
• alimento;
• fome;
• desnutrição;
• a falta de leitos em hospitais;
Saúde • drogas;
• alcoolismo;
• mortalidade infantil;
• entre outros.

• violência;
• a delinquência juvenil;
Segurança
• criminalidade;
• entre outros.

• a baixa escolarização;
Educação • analfabetismo;
• entre outros.

• a ineficiência da justiça;
Justiça • questão da igualdade de direitos e deveres;
• entre outros.

• analfabetismo político;
• política do Idoso;
Política • política da infância e juventude;
• política da assistência social;
• entre outros.

FONTE: A autora

Será que a QUESTÃO SOCIAL é realmente objeto profissional do Assistente


Social?

138
TÓPICO 4 | UNIDADE 2

Iamamoto (1997, p. 14) define o objeto do Serviço Social nos seguintes


termos:
Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas
mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as
experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na
saúde, na assistência social pública etc. Questão social que sendo
desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam
as desigualdades e a ela resistem, se opõem. É nesta tensão entre
produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência,
que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido
por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou
deles fugir, porque tecem a vida em sociedade. [...] a questão social,
cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do
Assistente Social.

De acordo com Faleiros (1997, p. 37):


[...] a expressão questão social é tomada de forma muito genérica,
embora seja usada para definir uma particularidade profissional. Se
for entendida como sendo as contradições do processo de acumulação
capitalista, seria, por sua vez, contraditório colocá-la como objeto
particular de uma profissão determinada, já que se refere a relações
impossíveis de serem tratadas profissionalmente, através de estratégias
institucionais/relacionais próprias do próprio desenvolvimento
das práticas do Serviço Social. Se forem as manifestações dessas
contradições o objeto profissional, é preciso também qualificá-las
para não colocar em pauta toda a heterogeneidade de situações que,
segundo Netto, caracteriza, justamente, o Serviço Social.

Finalizando, podemos afirmar que é imprescindível que o serviço social


intervenha também na esfera das desigualdades sociais, em suas mais diversas
expressões, pois sua atuação se dá intrinsecamente na busca constante das
transformações da sociedade, através da luta dos direitos sociais e de cidadania,
desejando o equilíbrio e a mediação dos conflitos advindos da relação do trabalho
versus capital, por meio de diversas políticas sociais do Estado.

DICAS

Como leitura complementar deste tópico, sugiro que você leia o texto intitulado
“A Construção do Projeto Ético-Político do Serviço Social”, de José Paulo Netto. Você pode
encontrar este texto no seguinte site: <http://www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_saude/
texto2-1.pdf>.

139
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

DICAS

Para aprofundarmos o nosso estudo sobre tudo o que vimos nesse tópico,
sugiro que você leia o seguinte texto:
BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A Questão Social no Brasil. Disponível em: <http://
www.hottopos.com/vdletras3/vitoria.htm>. Acesso em: 27 mar. 2009.
E os seguintes livros:

BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética SÁ, Antônio Lopes de. Ética
e serviço social: fundamentos Profissional. 4. ed.. São Paulo: Atlas,
ontológicos. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
2008.

140
TÓPICO 4 | UNIDADE 2

LEITURA COMPLEMENTAR

O DEBATE SOBRE O OBJETO DO SERVIÇO SOCIAL:


REFLEXÃO SOBRE A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE À
QUESTÃO SOCIAL

Andréia Cristina da Silva ALMEIDA

INTRODUÇÃO

A grande discussão que ocorre no campo da profissão do Serviço Social,


diz respeito a seus elementos constituintes, sendo o objeto, a teoria, o método e a
especificada. Vários são os autores que discutem as questões, porém cada qual com
seus argumentos e defesas.

Pensar no objeto do Serviço Social requer conhecimento e estudo e reflexões,


embasadas teoricamente na direção dos pensamentos dos estudiosos referente ao
Serviço Social. A questão social vem sendo posta como objeto do Serviço Social
desde a nova proposta do currículo profissional, marcado com vários debates,
contradições e afinidades entre aqueles que discutem o referido tema.

Aqui, neste breve estudo, trataremos sobre alguns pensamentos de autores


sobre o objeto do serviço social, levantando sobre as defesas e contradições postas
nas principais bases teóricas que o Serviço Social possui em seu acervo teórico.
Também elucidaremos a importância do método de intervenção do assistente
social sobre esse objeto, sendo este um assunto de fundamental relevância para
enriquecer a prática profissional.

Contudo, esse breve estudo, objetiva refletir sobre alguns posicionamentos


defendidos pelos estudiosos, autores e militantes que abordam a questão do
objeto do Serviço Social. É objetivo também desse artigo discutir sobre a relação
do Serviço Social com a questão social, visto que este fenômeno é colocado como
objeto de intervenção da profissão, conforme defendido na base teórica elaborada
por Marilda Vilela Iamamoto e demais autores que apoiam esse pensamento.

Diante desse objetivo, é fundamental afirmar que compreendemos o objeto


de intervenção do Serviço Social sendo este construído e reconstruído, mediante a
intencionalidade da atuação do profissional e a realidade que intervém, devendo este
ser desvelado, ou seja, eliminado as impregnações e os fetiches existentes sobre este
objeto. O objeto do Serviço Social deve ser desmistificado, através de aproximações
sucessivas, saindo do concreto aparente e indo para o concreto pensado.

Compreendemos também que, pensar nos elementos que fundamentam


o Serviço Social, requer compreender suas particularidades, uma vez que é
imprescindível o aprofundamento intelectual da base teórica referente a esses
elementos. Assim, é possível perceber uma precarização do conhecimento teórico

141
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

da profissão, no interior da categoria, ficando aparente o desconhecimento do


real espaço de intervenção, diante das contradições que operam o Serviço Social.

No circuito dinâmico, as mudanças globalizadas do mundo do trabalho,


com o impacto da reestruturação produtiva, a introdução da tecnologia e
da informatização, a consciência dos empresários referente à produção e ao
trabalho, onde objetivam cada vez mais a rentabilidade do capital. Tais provocam
significantes mudanças na prática dos profissionais, incluindo o Serviço Social
que lida diretamente na relação capital e trabalho.

Assim, pensar o objeto da profissão do serviço social requer cautela e


principalmente coerência ao mercado de trabalho que este profissional está
inserido, sem deixar para traz os princípios éticos e as lutas e defesas assumidas
deste profissional, conforme é posto na legislação que permeia a profissão: Projeto
Ético Político, Código de Ética e Lei que Regulamente a Profissão.

Por outro lado, o assistente social necessita ter uma prática sustentada por
uma teoria calcada em certeza, coerências, compromissos e princípios éticos, para
que no cotidiano a prática profissional não se torne um mero “fazer por fazer”,
distanciando assim de uma prática com compromisso ético-político-social.

I - O SERVIÇO SOCIAL E SEU OBJETO

Discutir sobre o objeto de intervenção do Serviço Social é sempre


um grande desafio, uma vez que as profissões são originadas para atender às
necessidades dos homens, diante de um contexto histórico e de uma sociedade
em constante movimento.

Esse movimento da sociedade traz novas demandas, novas necessidades


sociais e consequentemente novas exigências profissionais, além de novas
profissões, onde umas emergem e outras desaparecem, num movimento dialético.
O Serviço Social nessa lógica vem ao longo de sua história, principalmente após
o movimento de reconceituação, um lugar de destaque nas discussões, debates e
reflexões acerca da sua composição.

Tratando, mais especificamente do objeto do Serviço Social, muitas são as


divergências e debates entre os autores, uns defendem que a profissão não possui
um objeto próprio como afirma Montaño (2007, p. 136) que define da seguinte
forma: “... o Serviço Social não possui um objeto de conhecimento próprio” outros
debatem dizendo que o Serviço Social possui um objeto específico, como afirma
Iamamoto. (2000, p. 62).

O objeto de trabalho (...) é a questão social. É ela em suas múltiplas


expressões, que provoca a necessidade da ação profissional junto à criança e
ao adolescente, ao idoso, a situações de violência contra a mulher, à luta pela
terra etc. Essas expressões da questão social são a matéria-prima ou o objeto do
trabalho profissional.

142
TÓPICO 4 | UNIDADE 2

Também, nessa direção a questão social é afirmada como posto por


Yasbeck (1999, p. 91) “é a matéria-prima e a justificativa da constituição do espaço
do Serviço Social na divisão sociotécnica do trabalho e na construção/atribuição
da identidade da profissão”.

Também essa defesa é apresentada por Guerra (2000) que destaca que o
aparecimento do Serviço Social como profissão surge com o agravamento das
expressões da questão social. “O Serviço Social, sendo um trabalho, e como tal
de natureza não liberal, tem nas questões sociais a base de sustentação da sua
profissionalidade e sua intervenção se realiza pela mediação organizacional
de instituições públicas, privadas ou entidades de cunho filantrópico.”
(GUERRA, p. 18).

Nas perspectivas de outros autores, como Ezequiel Ander-Egg (apud,


MONTAÑO, 2007, p. 132) concede que haja efetivamente um objeto próprio
do Serviço Social, no entanto, este é construído pelo profissional por meio da
sua perspectiva interdisciplinar, por outro lado, a autora Josefa Batista (apud,
MONTAÑO, 2000, p. 132) contradiz, afastando a “qualquer hipótese no sentido
da apropriação pelo Serviço Social, ao nível do real, de um fenômeno social que
seja de sua única e especifica competência, como se fosse possível um divisão
real do real” Sobre a perspectiva de Ezequiel Ander-Egg, a construção do objeto
do Serviço Social, também é defendida por Bachelard (apud MONTAÑO 2007,
p. 133) onde defende a ideia de que o “objeto é construído” por cada profissão
a partir de determinada “perspectiva”, que lhe outorgaria sua especificidade.
Essa especificidade, compreendida como “formas particulares assumidas pela
disciplina nesta relação, é o próprio projeto na sua totalidade” (BATISTA LOPES,
apud MONTAÑO, 2007, p. 133). A autora ainda afirma que “só identificando a
especificidade identifica-se o objeto”.

Percebe-se, portanto, na ideia de Batista Lopes, compreende que as


realidades como resultantes de um processo de construção, tornam-se objeto
do Serviço Social quando este propõe a essas realidades, uma relação de
conhecimentos e intervenção, sempre direcionados por uma perspectiva. (idem:
p. 134).

Diante dessa defesa da autora, na direção da construção do objeto diante


de uma “perspectiva”, existe uma discussão em que Carlos Montaño (2007, p.
134) define da seguinte forma:

Na medida em que se entende que o objeto de estudo e intervenção de uma


dada profissão é construído a partir de certa “perspectiva” esta é construída a partir
de uma relação que o sujeito estabelece com a realidade, mediada pelo projeto
profissional e na medida em que se suponha que esta dita “perspectiva” própria a
cada profissão, demarca sua “especificidade”, então estará se realizando também
um “recorte” da realidade. Recorte este que, no entanto, poderá nesta perspectiva
“reconstruir” a totalidade do real desde que se trabalhe interdisciplinarmente.

143
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

Na direção de um trabalho interdisciplinar, soma-se a essa ideia, as


defesas de Mitjavila, (apud, MONTAÑO, 2007, p. 132) em que o “trabalhador
social constrói um objeto próprio a partir de um ponto de vista interdisciplinar”.

Em síntese, são várias as discussões pertinentes ao Serviço Social, que


percorrem sobre seu objeto, sua especificidade, suas teorias, sendo que cada autor
apresenta suas ideias e suas defesas, contribuindo para um debate com muita
riqueza, que nos propicia refletir sobre tais elementos pertinentes a essa profissão.

O Serviço Social compreendido como uma profissão que tem uma função
social, inserida na divisão social do trabalho, de caráter sociopolítico, interventivo
e crítico, é imprescindível conhecer, discutir sobre qual objeto se debruça, ou seja,
qual o objeto de trabalho a profissão nos dias de hoje?

Tais questionamentos são debatidos desde o início do Serviço Social


no Brasil (1937) onde definiu o homem caracterizado como pobre, favelado,
marginalizado, dentre outros, como sendo o objeto de sua intervenção, cuja
finalidade da profissão era moldá-lo, enquadrá-lo na filosofia neotomista.

Posteriormente a esse período, a profissão pôde perceber que essa ideia de


homem era equivocada, transferindo a ele uma noção de resultado das situações
que exigia a intervenção do Serviço Social e não objeto dessa profissão.

Na década de 70, pós-movimento de reconceituação, e com as manifestações


populares contra a ditadura, o Serviço Social na busca do seu objeto de intervenção,
equivocadamente define a transformação social, sendo o real objeto de sua
intervenção. Com esse equívoco, que não se efetivou, foi possível a profissão buscar,
então, à aproximação com as lutas e defesas dos interesses das classes subalternas e
excluídas pelo capitalismo, o que permanece até os dias de hoje.

Nessa lógica, no processo de reconceituação o Serviço Social orientado


pela lógica da teoria marxista, se apropria da questão social, como objeto de sua
intervenção.

Tal discussão, ainda presente nos dias de hoje, é compreendido por alguns
autores de formas distintas, o que enriquece a teoria do Serviço Social frente a
discussões de seu objeto.

II - A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS EXPRESSÕES DA


QUESTÃO SOCIAL – DEFENDIA COMO OBJETO DO SERVIÇO SOCIAL

A questão social, compreendida como um fenômeno que emerge no


século XIX, com a era da industrialização, concomitante com a pauperização, na
contradição do modo de produção capitalista, onde uma parcela da sociedade
(trabalhadores) produz a riqueza, enquanto outra parcela (capitalistas) se
apropria dela, na qual o trabalhador não usufrui da riqueza que produz.

144
TÓPICO 4 | UNIDADE 2

Discutir sobre a questão social nos obriga entender o seu conceito,


onde nos apropriamos das explicações apresentada por Iamamoto (2000) que é
considerada uma das concepções mais difundidas do Serviço Social.

A questão social não é senão as expressões do processo da formação


e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da
sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado
e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o
proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais
além da caridade e repressão. (CARVALHO; IAMAMOTO, 2000, p. 77).

Nesse contexto, é possível contextualizar a questão social não somente


diante das desigualdades sociais, mas também perante o processo de resistência
das lutas dos movimentos dos trabalhadores, ou seja, das classes subalternas, em
busca da garantia dos seus direitos.

Pensando na questão social, também tratamos de refletir sobre aspectos


da pobreza, favelização, fome, analfabetismo, trabalho escravo, violência,
desemprego, trabalho infantil, dentre outros, que são consideradas expressões
da questão social, provocada por um modelo econômico totalmente excludente e
desigual. Marilda Iamamoto (2000, p. 38) afirma que tais expressões da questão
social “vêm afetando não só os direitos sociais, mas o próprio direito à vida”,
mesmo com os esforços e lutas dos movimentos das classes subalternas em busca
de impedir que esse quadro agrave e se amplie.

Tratando da questão social e o serviço social, nos apropriamos, mais uma


vez, das reflexões de Iamamoto (2000) que afirma que o assistente social trabalha
diretamente com as expressões da questão social nas mais variadas expressão do
cotidiano, ou seja, nas diversas áreas de atuação profissional: saúde, educação,
habitação, criança e adolescente, dentre outras. Afirma ainda que esse fenômeno
é “a matéria-prima do trabalho profissional, sendo a prática profissional
compreendida como uma especialização do trabalho participe de um processo de
trabalho”. (IAMAMOTO, 2000, p. 59).

É nesse contexto que ocorre a intervenção do assistente social, diante desse


cenário de acúmulo de capital em que poucos têm acesso e muitos vendem sua
força de trabalho, para sobreviver, ou seja, uma relação desigual entre capital e
trabalho, caracterizado como um campo de tensão e desconforto, na qual exige o
envolvimento do Assistente Social, apreendendo formas de mediar essa relação.

Um fator de fundamental importância nessa discussão é compreender que a


questão social como “lócus” de trabalho do Serviço Social, traz para este profissional,
grandes desafios em sua atuação. Tais desafios referem-se às diversas expressões
manifestadas na vida individual e/ou coletiva dos sujeitos, e que de certa forma,
estes sujeitos se rebelam com resistências e rebeldias, como forma de manifestação
contraria as tais expressões. É aí que se exige do assistente social alguns requisitos
do assistente social a fim mediar essa relação entre capital e trabalho.

145
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

Esse sujeito é o principal elemento para demonstrar os agravantes que


a questão social provoca na vida individual e coletiva, violando seus direitos,
desprotegendo-os de uma vida com segurança de renda, de alimentação, de saúde,
de educação, de segurança pública, enfim de segurança de uma vida com digna.

Pensar na intervenção do Serviço Social, tendo como objeto a questão


social, é relevante aclarar qual o posicionamento necessário desse profissional,
diante do direcionamento de sua prática. Compreendo que a partir da década de
70, a categoria profissional, na perspectiva de ruptura com o conservadorismo,
“propõe colocar a profissão a serviço dos interesses dos explorados e dominados,
buscando novos fundamentos, novos conteúdos e objetivos e novas bases de
legitimação da ação profissional”. (SILVA, 2007, p. 15).

Diante disso, o profissional é possibilitado a construir ações no horizonte


dos interesses das classes subalternas, com inovações e com perspectivas de
criação de um espaço profissional renovado, que desmistifica a sua neutralidade
diante das ações profissionais.

Reconhecemos que para essa propensa “ruptura” com o conservadorismo, é


necessário que profissionais capacitados para criar outras formas de desvelamento
da realidade, das expressões da questão social, apreender a questão social é
também captar as múltiplas formas de pressão social, de inversão e de reinversão
da vida, construídas no cotidiano, pois é no presente que estão sendo recriadas
as novas formas de viver, que apontam um futuro que está sendo germinado.
(IAMAMOTO, 2000, p. 28).

Nessa direção, ressaltamos que dar conta das expressões da questão


social requer muito mais que os instrumentos práticos, já utilizados no cotidiano
profissional, como: técnicas, reuniões, entrevistas, dentre outros, mas sim
conhecimentos, acúmulo de saberes, novas habilidades, além da capacidade de
manter envolver sistematicamente com os debates referentes às expressões da
questão social e as proposições relativas às políticas sociais, compreendido uma
exigência fundamental dada ao assistente social.

A apropriação de conhecimento deve ser um exercício constante como


suporte para o profissional desvelar a realidade da qual o individuo vive, além
de apresentar novas propostas de superação da desigualdade social, “solidárias
ao modo de vida daqueles que a vivenciam, não só como vitimas, mas como
sujeitos que lutam pela preservação e conquista da sua vida, da humanidade.”
(IAMAMOTO, 2000, p. 75).

O conhecimento da realidade em que essa profissão intervém é


fundamental, pois “se não tem domínio da realidade que é objeto do trabalho
profissional, como é possível construir propostas de ações inovadoras? Construí-
las, com base em quê?” (IAMAMOTO, 2000, p. 41) [...] o conhecimento não é só
um verniz que se sobrepõe superficialmente à prática profissional, podendo ser
dispensado: mas é um meio pelo qual é possível decifrar a realidade e clarear a
condução do trabalho a ser realizado. (IAMAMOTO, 2000, p. 63).
146
TÓPICO 4 | UNIDADE 2

Os assistentes sociais são profissionais capazes de manter um acervo


de informações e saberes suficientes para conhecer como essas expressões da
questão social se manifestam e como o individuo experimenta tais expressões em
seu cotidiano.

Para tanto, compreende-se que o conjunto de conhecimentos, teórico-


metodológico e empírico são elementos fundamentais para descobrir novas
formas de desvelamento da realidade, bem como criar em seu cotidiano, espaços
democráticos e participativos, pois é imprescindível a necessidade de um
profissional com conhecimentos e habilidades aprimorados, visto que este deve
ser apropriado em seu cotidiano, iluminando e aprimorando sua intervenção, e
também contribuir para a leitura da realidade em que está inserida.

Para tanto, o processo de desvelamento da realidade requer conhecimento


e capacidade profissional, além de envolvimento com o sujeito e/ou grupo em que
está ser relacionando, podendo exemplificar com o trabalho do assistente social no
campo da política de assistência social, mais especificamente no CRAS – Centro de
Referência de Assistência Social, localizado em um território onde os indivíduos
se encontram em situação de vulnerabilidade social, exigindo do profissional
conhecimento da realidade, das necessidades e das expectativas da comunidade
local, e para tal conhecimento se faz necessário envolvimento, Iamamoto, Marilda
V., O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional, 3º
ed.; São Paulo, Cortez, 2000, p. 75, articulação, compromisso ético-político, além
de capacidade de apresentar junto a essa comunidade, propostas de superação da
realidade vivenciada e novas alternativas de superação.

Importante salientar que, na perspectiva de apontar novas propostas de


superação das expressões da questão social, requer do profissional a capacidade
de acompanhar o movimento da sociedade, que se altera e apresenta, a cada
momento, novas características e necessidades diferenciadas, vivenciadas pelos
sujeitos e pelo coletivo, alterando também o direcionamento metodológico e
intelectual do profissional, ou seja, requer do assistente social novos olhares,
novos conhecimentos e novas práticas, conforme a realidade e o momento
histórico em que está intervindo.

Para tanto o assistente social deve se apresentar como um agente político


crítico, capacitado, informado, culto e crítico, deixando de ser somente um
mero executor das ações, e assumindo um papel de propositor de propostas de
superação das expressões da sociedade que se manifesta na vida dos sujeitos.

Diante dessas requisições, se faz necessário o rompimento o teoricismo,


bem como romper com “o fazer por fazer”, compreendendo que prática e a teoria
são condições que requer a apropriação um da outra.

“A teoria do Serviço Social como “sistematização abstrata que deve


ser remetida ao campo das Ciências Sociais ou do marxismo, em particular, e
entendem que o nível do conhecimento do ser social, objeto da construção teórica,

147
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

é o mesmo nível de intervenção da ação profissional, ficando desautorizada a


separação metodologia do conhecimento e metodologia da ação”. (SILVA, 2007).

Contudo, é justo afirmar que tais competências, configuram-se como um


dos elementos essenciais para novas respostas profissionais, capaz de construir
espaços democráticos, e incentivar, bem como fortalecer, lutas e movimentos
sociais, direcionados a conquistas de uma sociedade justa e democrática.

III - O ASSISTENTE SOCIAL E O MÉTODO DE DESVELAMENTO DA


REALIDADE

Diante do contexto da necessidade de acumulo de saberes, envolvimento


profissional, enfim uma prática pensada, rumo à construção de possibilidades
em descobrir e conhecer a realidade da qual está intervindo, é imprescindível
abordarmos sobre o método na qual possibilitará o alcance desse objetivo.

Para tanto, é necessário ir além do que é “visível”, ou seja, buscar


aprofundar, conhecer, apreender os fenômenos, para que de fato conheça a
realidade que irá intervir, assim o assistente social precisa incorporar um método
de trabalho, na qual possa lhe dar respostas a estes questionamentos.

Nessa direção, o autor Reinaldo Nobre Pontes (1995, p. 16) destaca, para a
ação profissional se manter dentro do estatuto de profissional idade, tem que compor
o suporte de um corpo de conhecimento científico, expresso na seguinte matriz:

1 – a teoria social traz no seu bojo um método, um arcabouço categorial


organizadamente articulado, propiciador de um conhecimento do ser social, bem
como da possibilidade de captação de direções a serem assumidas na intervenção
no real;

2 – o projeto de sociedade constitui a utopia (LÖWY, 1987), que se deseja atingir,


ou melhor, a direção teleológica que busca a construção de uma ordem social
superior. É, portanto, uma dimensão de natureza eminentemente teórico-política;

3 – o projeto profissional não se identifica com o anterior, como querem alguns


segmentos da profissão, porque esta dimensão ilumina a especificidade mesma da
profissão; sua inserção socioconstitutiva; sua particularidade em face da divisão
sociotécnica do trabalho; a complexa relação entre demanda institucional e
demanda profissional; as perspectivas teórico-metodológicas próprias dos vários
projetos profissionais particularizados no interior da profissão; as perspectivas
historicamente construídas pelos profissionais no direcionamento político-
institucional da área de intervenção privilegiada no âmbito das políticas sociais;
a assistência social;

4 – o instrumental teórico-técnico de intervenção constitui o corpo de conhecimento


imediatamente ligado à dimensão operativa propriamente dita da profissão.

148
TÓPICO 4 | UNIDADE 2

Esses são os domínios necessários, compreendido pelo autor, para


propiciar ao assistente social um plano cognitivo-operativo em sua atuação, o que
também depende do projeto societário que o profissional apresenta, sendo esses
elementos fundamentais para direcionar a atuação profissional.

Portanto, a mediação possibilita o profissional ir além da operacionalização,


conhecer as particularidades dessa realidade, desvelando o que se está “oculto”,
além de revelar os nexos entre a teoria e a prática profissional, pois o conhecimento
adquirido na ação cotidiana, no campo empírico não traz um conhecimento pronto
e acabado, requer ser sustentado por embasamento da teoria, compreendendo
assim que o conhecimento empírico se constrói, traduz, codifica e decodifica
um conjunto de questões que se colocam à prática profissional em determinado
momento (BAPTISTA, 1986: 4), e dela extrai um saber.

O cotidiano deve ser compreendido como um espaço a ser explorado


como “campo de conhecimento”, onde o assistente social possa desenvolver suas
ações, sob uma prática pensada, com possibilidades da construção do “novo” e
da apropriação de saberes.

Para tanto, a ação profissional perante o seu objeto, requer um método


de trabalho que possibilite sair do concreto, daquilo que está aparente, visível,
e limitado, possibilitando a reconstrução desse objeto. Perante a esse contexto, é
necessário conhecer as categorias de analise que o Assistente Social se apropria para
decodificar o seu objeto de trabalho, visto que a mediação é a categoria principal
da pratica do Assistente Social, compreendida como: “componente estrutural do
ser social” (PONTES, 1995, p. 77) e ainda “expressões históricas das relações que
o homem edificou com a natureza e consequentemente das relações sociais daí
decorrentes, nas várias formações sócio-humanas que a historia registrou”.

Também definida por LuKács (apud PONTES, 1995, p. 79), a categoria


medição na dimensão ontológica: Pontes, Reinaldo Vieira, Mediação e Serviço Social,
São Paulo, Cortez Editora; Belém, Pa: Universidade da Amazônia, 1995, p. 17.

Suguihiro, Vera. L. T. A ação investigativa na prática cotidiana do


Assistente Social, disponível em: <http://www.ssrevista.uel.br/c_v2n1_invest.
htm>. Acesso em: 29 jul. 2009.

Não pode existir nem na natureza, nem na sociedade nenhum objeto que
neste sentido [...] não seja mediato, não seja resultado de mediações. Deste ponto
de vista, a mediação é uma categoria objetiva, ontológica, que tem que estar
presente em qualquer realidade, independente do sujeito (1979).

E ainda, segundo Pontes (1995, p. 95). A categoria mediação foi


introduzida no discurso profissional inicialmente pela via da análise política, na
sua articulação no bojo das políticas sociais e de uma inserção sócio-profissional.
A pressão das demandas postas pela realidade à profissão pode-se afirmar, foi
a geradora da discussão metodológica da mediação enquanto categoria teórica.

149
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

Na questão da mediação perante os debates dos autores de Serviço Social,


Reinaldo Nobre Pontes (1995), em seu livro Mediação e Serviço Social, apresenta as
ideias de Faleiros que, aponta uma preocupação com o “teoricismo”, ou seja, a
categoria mediação discutida entre os intelectuais, mas que não chega à prática
profissional, como afirma nesse trecho: O que mais me intriga na discussão desta
categoria (mediação) é que ela não passa a fazer parte da análise de nenhum objeto
da prática profissional, ela é usada por intelectuais, não se incorporando no cabedal
da prática, o que, aliás, é uma das características do teoricismo dito reconceituado,
que é incapaz de incorporar esta categoria na prática. (FALEIROS, 1992).

Assim, diante dessa citação de Faleiros, compreende-se que, devemos


evitar sim o “teoricismo”, mas também por outro lado o “pratiquismo”, que deve
ser abolido na profissão, pois as necessidades atuais requerem um profissional
que ofereça uma prática pensada, com embasamento teórico, desmistificando
o velho pensamento de que “teoria e prática não se combinam” ou “na prática
é outra coisa”, mostrando uma ideia que a prática não se apropria da teoria, e
nem vice-versa, assim, nesta direção, deve-se buscar uma apropriação de saberes
profissionais, na qual a discussão sobre mediação é elemento primordial.

Perante a categoria mediação, ainda são necessários estudos, pesquisas,


que possibilitem a ampliação da base teoria sobre esse assunto, pois, sabe-se que
somente no final da década de 80, se inicia uma discussão mais avançada sobre
Pontes, Reinaldo Vieira, Mediação e Serviço Social, São Paulo, Cortez Editora;
Belém, Pa: Universidade da Amazônia, 1995, p. 95, esse tema, onde até os dias de
hoje, a discussão é ainda tímida, porém, percebe-se mais presente, nas propostas
de aquisição de novos saberes profissionais. As categorias mediação na prática
do Serviço Social são imprescindíveis e necessárias, a fim de possibilitar um
pensamento crítico profissional, a qualidade nas respostas oferecidas à realidade
que intervém, a melhor compreensão da totalidade do objeto, a possibilidade
de sair do imediatismo, do visível e ir para uma prática pensada, embasada
teoricamente e com possibilidade de construção de novos conhecimentos.

Em síntese, as categorias são elementos fundamentais para desmistificarem,


explicarem e reconstruírem o objeto de intervenção, como afirma Iamamoto (2000,
p. 191), é meio de “detectar as dimensões da universalidade, particularidade e
singularidade na análise dos fenômenos presentes no contexto da prática profissional.”

Assim, a categoria mediação é um elemento fundamental para conhecer


o objeto de intervenção em sua totalidade, bem como reconstruir o objeto através
de uma prática pensada, saindo do imediato, do visível, do aparente.

V- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreendo que em se tratando do objeto do serviço social, a relação


dessa profissão com a questão social vem sendo afirmada desde o currículo de
1982, porém com muita ênfase nos pressupostos das novas diretrizes curriculares
de 1996, uma vez que a questão social é defendida como fundamento do processo

150
TÓPICO 4 | UNIDADE 2

histórico da profissão, porém tal afirmação requer precaução e maior discussão


para ser defendidas nos diversos processos de trabalho do Serviço Social.

Compreendo que a relação do serviço social com a questão social, não


deve ser vista como um posicionamento único e acabado, pois é uma discussão
que deve acompanhar o movimento da própria realidade, aonde novas demandas
e novas atribuições vai surgindo à profissão.

Assim entendo que os assistentes sociais trabalham com as expressões da


questão social em seu cotidiano, trabalham também diretamente com os sujeitos
que vivenciam as expressões da questão social, que requer um profissional
criativo, competente, e que desvele as expressões da questão social, como também
desvele quais as alternativas, opções e caminhos para revertê-la.

As demandas que o Serviço Social tem foco a atender são diversas, portanto
todas emergidas do sistema capitalista, onde a divisão de classe tem sido cada
vez mais fortalecida e diferenciada. Assim o profissional tem várias dimensões
para atender as necessidades que esse sujeito, grupos, comunidades, enfim esse
público requer, como a organização em grupos para o acesso e defesa dos direitos
civis, sociais e políticos; a melhoria das condições de vida da comunidade; a
ampliação de espaços democráticos e participativos, dentre outros.

Para isso, busca-se um profissional capacitado, criativo e comprometido, a


fim de romper com o feitiço da caridade, da ajuda, do filantropismo. O trabalho do
assistente social está interligado às relações sociais vigentes nessa sociedade, onde
o desenvolvimento capitalista traz muitas alterações na realidade em que intervém.

Em fim, compreendo que a profissão tem sua intervenção direcionada,


principalmente, pelos parâmetros ético-políticos coletivamente construídos, na
direção de afirmação dos direitos sociais, e para a contribuição de uma sociedade
que supere a questão social como matéria de trabalho, a fim de se conquistas uma
sociedade mais justa e igualitária.

BIBLIOGRAFIA

CAPACITAÇÃO em Serviço Social e política social: módulo 1: a crise


contemporânea, questão social e serviço social. Brasília. Ed. Da UnB. Centro de
Educação Aberta, Continuada a Distância, 1999.

CAPACITAÇÃO em serviço social e política social: módulo 2 : reprodução


social, trabalho e serviço social. Brasília: Ed. da UnB, Centro de Educação Aberta,
Continuada a Distância, 1999.

GUERRA, Yolanda. Instrumentalidade do processo de trabalho e serviço social.


In Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, n. 62, Ano XX, março 2000, p.
05-34.

151
UNIDADE 2 | UNIDADE 2

IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e


formação profissional. 3. ed. São Paulo, Cortez, 2000.
__________. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma
interpretação histórico-metodológico. 13. ed. São Paulo, Cortez; (Lima, Peru):
CELATS, 2000.

MONTAÑO, Carlos. A natureza do serviço social, São Paulo, Cortez, 2007.

NETO, José P. Ditadura e serviço social: uma analise do Serviço Social no Brasil
pós 64, 12. ed., São Paulo, Cortez, 2008.

__________. Capitalismo monopolista e serviço social, 6. ed., São Paulo, Cortez,


2007.

PONTES, Reinaldo Vieira, Mediação e Serviço Social, São Paulo, Cortez Editora;
Belém, Pa: Universidade da Amazônia, 1995, p. 17.

SILVA, Maria O. da S.; O serviço social e o popular: resgate teórico-metodológico


do projeto profissional de ruptura, 4. ed., São Paulo, Cortez, 2007.

SUGUIHIRO, Vera. L.T. A ação investigativa na prática cotidiana do assistente


social. Disponível em: <http://www.ssrevista.uel.br/c_v2n1_invest.htm>. Acesso
em: 29 jul. 2009.

FONTE: ALMEIDA, Andreia Cristina da Silva. O debate sobre o objeto do serviço social: reflexão
sobre a atuação do serviço social frente à questão social. Disponível em: <http://intertemas.
unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/2167/2347>. Acesso em: 20 set. 2011.

152
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico trabalhamos as questões éticas do profissional do Serviço
Social e seu projeto ético-político. Para tanto, abordamos os seguintes assuntos:

● Verificamos que o homem possui uma necessidade de interagir com os outros


homens, em sociedade.

● É por meio do trabalho que o homem produz e reproduz sua vida na sociedade
em que está inserido.

● Só por meio da interação social os seres humanos desenvolvem sua cultura,


hábitos e costumes.

● Da relação dos homens em sociedade é que advém as questões sociais, objeto


da prática profissional do Assistente Social, regulada por meio de seu projeto
ético-político.

● O Código de Ética do Assistente Social, Resolução CFESS nº 273, de 13 de março


de 1993 (BRASIL, 2009a), determina os princípios e valores determinantes para
a prática profissional do Assistente Social, que estão diretamente inseridos em
seu projeto ético-político profissional.

● A práxis profissional do Assistente Social está permeada nas questões sociais


advindas das relações comportamentais dos homens em sociedade, mais
precisamente, de suas contradições.

● A questão social está diretamente vinculada aos conflitos advindos do capital


versus trabalho.

● Todos os problemas sociais, políticos e econômicos, que surgem das relações


cotidianas do trabalho, formam as desigualdades sociais.

● As desigualdades sociais apresentam-se de forma diferente no decorrer da


própria história da humanidade, pois o modo de produção, o desenvolvimento
e a dinâmica econômica, política e social vêm se transformando conforme a
própria evolução do homem em sua convivência em sociedade.

● Em cada momento histórico, as questões sociais vão ganhando novas formas,


que chamamos de expressões da questão social.

153
● A questão social sempre foi a mesma desde os tempos mais remotos da
humanidade, independentemente da classe social.

● Conforme as transformações do modo de produção, surgem contradições


sociais e estas, por sua vez, se transformam nas diversas formas de expressão
da questão social.

● O serviço social intervém na esfera das desigualdades sociais, em suas mais


diversas expressões, pois sua atuação se dá intrinsecamente na busca constante
das transformações da sociedade.

● Com a práxis profissional, o Assistente Social vem buscando sempre o equilíbrio


e a mediação dos conflitos advindos da relação do trabalho versus capital.

154
AUTOATIVIDADE

● Reflita
e debata no grande grupo, a partir de sua própria experiência, sobre
as suas escolhas e projetos individuais, além de expor o que você espera da
sociedade em que vive.

155
156
UNIDADE 3

O CÓDIGO DE ÉTICA DOS


ASSISTENTES SOCIAIS BRASILEIROS E
OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• apresentar os fundamentos e significados do Código de Ética dos Assis-


tentes Sociais;

• apresentar conteúdos de ligação com os Conselhos de Fiscalização do Ser-


viço Social.

PLANO DE ESTUDOS
A Unidade 3 está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada um deles, você
terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos, realizando as atividades
propostas.

TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO DE ÉTICA


DOS ASSISTENTES SOCIAIS

TÓPICO 2 – DOS DIREITOS E DAS RESPONSABILIDADES GERAIS DO


ASSISTENTE SOCIAL

TÓPICO 3 – O CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL BRASILEIRO

TÓPICO 4 – OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

157
158
UNIDADE 3
TÓPICO 1

FUNDAMENTOS E SIGNIFICADOS DO CÓDIGO


DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS

1 INTRODUÇÃO
A Conduta Profissional do Assistente deverá ser regida por seu Código
de Ética, especialmente, pelos seguintes princípios e valores:

QUADRO 4 – PRINCÍPIOS E VALORES FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA DO


ASSISTENTE SOCIAL

Princípios e Valores Fundamentais


do Código de Ética do
Assistente Social

FONTE: A autora

Além destes princípios e valores morais que determinam o modus


operandi dos Assistentes Sociais, o código de ética do Assistente Social possui
onze princípios fundamentais que norteiam sua prática profissional, no qual
trataremos a seguir cada um deles.

159
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA

São princípios fundamentais do Código de Ética:

QUADRO 5 – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE


SOCIAL

Princípios Fundamentais
do Código de Ética do
Assistente Social

Liberdade Respeito à Diversidade

Direitos Humanos Pluralismo

Projeto Profissional
Cidadania
Movimentos Sociais
Democracia
Qualidade dos serviços
prestados
Equidade e Justiça Social
Indiscriminação

FONTE: A autora

2.1 LIBERDADE

FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO DO SENTIMENTO DE LIBERDADE

FONTE: Disponível em: <www.casaldogalo.com>. Acesso em: 25


fev. 2009.

160
TÓPICO 1 | UNIDADE 3

“Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas


políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos
indivíduos sociais”. (BRASIL, 2009a)

Observamos, na Unidade 2 deste Livro Didático, que todo homem pode


fazer suas escolhas de forma livre e consciente, em que podem ser consideradas a
constituição da liberdade humana.

A liberdade é constituída no relacionamento direto entre os homens


em sociedade, por meio de suas atividades humanas. Podemos considerar que
o ser humano é um ser livre e tem o poder de escolha, desde que seja sempre
consciente. Portanto, por meio do trabalho, o ser humano se constitui um homem
consciente e livre.

E
IMPORTANT

“LIBERDADE, essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém
que explique, e ninguém que a entenda.” (Cecília Meireles)

Contudo, o que é liberdade?

No que tange à questão de liberdade, vejamos o que prediz Tomelin e


Tomelin (2002, p. 127), quando tratam desta questão em seu livro “Do mito para
a razão: uma dialética do saber”.

Você, por muitas vezes, deve ter se sentido preso, sem liberdade para
sair de casa ou fazer o que quer. Ou que, muitas vezes, ao ser livre para
querer, acabam-se querendo o que os outros querem que se queira.
[...] A liberdade sempre foi uma questão fundamental na história da
humanidade. Todos nós queremos ser livres. Através da história,
percebemos que muitas pessoas tiveram que pagar um preço alto
pela sua liberdade. Muitos queimados em fogueiras, outros presos,
perseguidos e torturados. Todos necessitam de liberdade. Até os
animais. Você já reparou como o cachorro fica feliz quando o soltamos
para correr?

Podemos assim compreender que a liberdade é um poder de escolhas.

Nesta perspectiva, observamos que a existência do ser humano, nas suas


relações cotidianas, acaba revelando escolhas, ou seja, todos os dias escolhemos
entre inúmeras possibilidades postas pela sociedade, o que é bom ou mau para
nós e para os outros. Assim, podemos considerar que todo homem é livre para
escolher, por si só, uma determinada possibilidade e renunciar outras.

161
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

Não podemos esquecer de que vivemos em sociedade, portanto, todas


as nossas escolhas, direta ou indiretamente, influenciarão os demais membros
da comunidade em que estamos inseridos. As nossas decisões refletem também
diretamente sobre nós, ou seja, se por ventura eu decidir não mais estudar e trabalhar,
isso influenciará diretamente a minha vida e a da minha família e dos amigos.

Nesta perspectiva, Tomelin e Tomelin (2002, p. 128) expõem que “[...]


quando escolho, torno-me humano, e escolho não apenas a mim, mas a toda
humanidade. Nossas escolhas é que determinarão o nosso existir”.

Partindo desta premissa, os profissionais do Serviço Social tomam como


uma de suas bases fundamentais, para a práxis profissional, a LIBERDADE,
conforme estabelecido no Código de Ética que regulamenta sua profissão
(BRASIL, 1997). Podemos observar que a liberdade é tida como um valor ético,
que determina, como um todo, a atuação profissional do Assistente Social,
principalmente na tratativa das demandas políticas, buscando, constantemente,
autonomia, desenvolvimento e emancipação dos indivíduos que vivem em
sociedade, procurando sempre melhorar sua qualidade de vida.

2.2 DIREITOS HUMANOS

FIGURA 9 – DIREITOS HUMANOS

FONTE: Disponível em: <www.pedrowilson.com.br>. Acesso em: 25 fev. 2009.

“Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do


autoritarismo.” (BRASIL, 2009a).

Outro princípio fundamental do Código de Ética Profissional do Assistente


Social é a defesa e conservação incondicional dos direitos humanos. Direitos,
estes, inscritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 2009), que
foi promulgada pela ONU – Organização das Nações Unidas, em 1948.

162
TÓPICO 1 | UNIDADE 3

DICAS

Como sugestão, entre no site da ONU/Brasil – Nações Unidas no Brasil, seu link
é: <http://www.onu-brasil.org.br> , e procure mais informações referente a este assunto.

Conforme o preâmbulo desta declaração, o Assistente Social, em sua


prática profissional, deve desenvolver atividades laborais a partir das seguintes
considerações:

CONSIDERANDO que o reconhecimento da dignidade inerente


a todos os membros da família humana e seus direitos iguais e
inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,
CONSIDERANDO que o desprezo e o desrespeito pelos direitos do
homem resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da
Humanidade, e que o advento de um mundo em que os homens gozem
de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do
temor e da necessidade, CONSIDERANDO ser essencial que os direitos
do homem sejam protegidos pelo império da lei, para que o homem
não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a
opressão, CONSIDERANDO ser essencial promover o desenvolvimento
de relações amistosas entre as nações, CONSIDERANDO que os povos
das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos do homem
e da mulher, e que decidiram promover o progresso social e melhores
condições de vida em uma liberdade mais ampla, CONSIDERANDO
que os Estados Membros se comprometeram a promover, em cooperação
com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades
fundamentais do homem e a observância desses direitos e liberdades,
CONSIDERANDO que uma compreensão comum desses direitos e
liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse
compromisso. (ONU, 2009, p. 1).

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Versão Popular de Frei Betto

 Todos nascemos livres e somos iguais em dignidade e direitos.


 Todos temos direitos à vida, à liberdade e à segurança pessoal e social.

 Todos temos direito de resguardar a casa, a família e a honra.

 Todos temos direito ao trabalho digno e bem remunerado.

 Todos temos direito ao descanso, ao lazer e às férias.

 Todos temos direito à saúde e assistência médica e hospitalar.

 Todos temos direito à instrução, à escola, à arte e à cultura.

 Todos temos direito ao amparo social na infância e na velhice.

 Todos temos direito à organização popular, sindical e política.

163
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

 Todos temos direito de eleger e ser eleito às funções de governo.


 Todos temos direito à informação verdadeira e correta.

 Todos temos direito de ir e vir, mudar de cidade, de Estado ou país.

 Todos temos direito de não sofrer nenhum tipo de discriminação.

 Ninguém pode ser torturado ou linchado. Todos somos iguais perante a lei.

 Ninguém pode ser arbitrariamente preso ou privado do direito de defesa.

 Toda pessoa é inocente até que a justiça, baseada na lei, prove o contrário.

 Todos temos liberdade de pensar, de nos manifestar, de nos reunir e de crer.

 Todos temos direito ao amor e aos frutos do amor.

 Todos temos o dever de respeitar e proteger os direitos da comunidade.

 Todos temos o dever de lutar pela conquista e ampliação destes direitos.

FONTE: DHNET. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.
dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm>. Acesso em: 26 mar. 2009.

Portanto, podemos dizer que os direitos humanos norteiam a base ética


profissional do Assistente Social, pois estes desenvolvem suas atividades com
base na liberdade, igualdade, justiça e paz do mundo e na defesa dos direitos
fundamentais dos seres humanos, procurando sempre promover o progresso
social e a ampliação da qualidade de vida de cada cidadão.

2.3 CIDADANIA

FIGURA 10 – CIDADANIA

FONTE: Disponível em: <www.vivaterra.org.br>. Acesso em: 26 mar. 2009.

164
TÓPICO 1 | UNIDADE 3

“Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial


de toda a sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos
das classes trabalhadoras.” (BRASIL, 2009a).

Podemos entender que, cidadania é um conjunto de direitos e deveres


que denotam e fundamentam as condições do comportamento de cada indivíduo
em relação à sociedade, ou seja, a cidadania designa normas de conduta para
o convívio social, determinando nossas obrigações e direitos perante os outros
integrantes da nossa sociedade.

Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade, para


melhorar suas vidas e a de outras pessoas. Ser cidadão é nunca
esquecer das pessoas que mais necessitam. A cidadania deve ser
divulgada através de instituições de ensino e meios de comunicação,
para o bem-estar e desenvolvimento da nação.
A cidadania consiste desde o gesto de não jogar papel na rua, não pichar
os muros, respeitar os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim
como todas as outras pessoas), não destruir telefones públicos, saber
dizer obrigado, desculpe, por favor e bom-dia quando necessário [...],
até saber lidar com o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas,
o direito das crianças carentes e outros grandes problemas que
enfrentamos em nosso país.
“A revolta é o último dos direitos a que deve um povo livre para
garantir os interesses coletivos: mas é também o mais imperioso dos
deveres impostos aos cidadãos.” Juarez Távora - Militar e político
brasileiro. (WEB CIÊNCIA, 2009, p. 1)

Podemos observar três dimensões da cidadania:


 
 Cidadania civil: são aqueles direitos advindos da liberdade de cada indivíduo,
como, por exemplo: o livre-arbítrio para expressar nossos pensamentos; o
direito de propriedade (venda e compra de um imóvel, um bem ou serviço);
entre outros.

 Cidadania política: podemos considerar que a cidadania política se legitima


quando os homens exercem seu poder político de eleger e ser eleito para o
exercício do poder político, independentemente da instituição pública ou
privada na qual venha exercer suas atribuições.

 Cidadania social: compreendida como o conjunto de direitos concernentes ao


conforto de cada cidadão, no que tange à sua vida econômica e social, ou seja,
do seu bem-estar social.

E é nesta perspectiva da garantia dos direitos e deveres de cada cidadão,


que o Assistente Social desenvolve sua prática profissional.

165
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

2.4 DEMOCRACIA
FIGURA 11 – DEMOCRACIA

FONTE: Disponível em: <www.mises.org.br>. Acesso em: 16 mar.


2009.

“Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da


participação política e da riqueza socialmente produzida.” (BRASIL, 2009a).

Podemos considerar que a democracia nada mais é do que um sistema


de governo, no qual o povo governa para sua própria sociedade. Este sistema de
governo democrático possui formatos diferentes nas diversas sociedades, pois,
em cada uma, existem regas e normas diferentes e isto acontece por causa da
constituição dos princípios ético-morais de cada localidade.

Então, podemos dizer que, num governo democrático, o povo determina


suas relações de poder sobre os demais integrantes, mas, mesmo assim, podemos
distinguir a democracia em duas formas distintas:

 Democracia direta: na qual o povo decide diretamente, por meio de referendo/


plebiscito, se aceita ou não determinadas questões políticas e administrativas
de sua localidade, Estado ou país.

 Democracia indireta: nesta, o povo participa democraticamente, por meio do


voto, elegendo seu representante político, ou seja, uma pessoa que os represente
nas diversas esferas governamentais, para tomar decisões cabíveis em nome do
povo que os elegeu.

Outro fator que não podemos esquecer é que, quando falamos em


democracia, também falamos de distribuição democrática, das riquezas
socialmente produzidas por meio do trabalho dos homens.

166
TÓPICO 1 | UNIDADE 3

Assim, o Assistente Social possui a premissa de defender,


incondicionalmente, a democracia política, econômica e social da sociedade, na
qual desenvolve suas atividades por meio da socialização direta dos direitos de
participação democrática em todas as esferas de poder.

2.5 EQUIDADE E JUSTIÇA SOCIAL

FIGURA 12 – EQUIDADE

FONTE: Disponível em: <www.sericosocialhoje.blogsport.com>.


Acesso em: 26 mar. 2009.

“Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure


universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas
sociais, bem como, sua gestão democrática.” (BRASIL, 2009a).

Podemos dizer que a equidade nada mais é do que fazer justiça com
imparcialidade, pois todos os seres humanos possuem direitos e deveres perante
a sociedade em que vivem. Estes direitos, por sua vez, denotam um conjunto de
princípios morais, que acabam igualando todos os homens de uma mesma sociedade.

E
IMPORTANT

Equidade é a igualdade de direitos entre os iguais.

Contudo, devemos tomar cuidado, pois muita gente pensa que equidade
é sinônimo de igualdade, mas não é bem assim, pois a equidade é vista por dois
prismas:

167
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

 Equidade horizontal: denota que existe um tratamento igualitário para todos


os indivíduos, ou seja, não há distinção, pois o problema a ser resolvido é o
mesmo, independentemente da classe social.

 Equidade vertical: denota que existem tratamentos diferentes para


determinados grupos sociais, ou seja, dependendo da situação social do
homem, o mesmo problema é tratado de forma diferente.

Então, podemos dizer que a prática profissional do Assistente Social se


processa na garantia da equidade e da justiça social, procurando assegurar a
universalidade de direitos e o acesso aos bens produzidos por meio do trabalho a
todos os indivíduos, sem distinção de cor, raça, etnia e classe social.

2.6 RESPEITO À DIVERSIDADE


FIGURA 13 – DIVERSIDADE

FONTE: Disponível em: <www.planetaeducacao.com.br>. Acesso em: 26


mar. 2009.

“Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando


o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e
à discussão das diferenças.” (BRASIL, 2009a).

Conforme exposto nesta citação do Código de Ética Profissional do


Assistente Social, podemos observar que outro princípio fundamental de sua
práxis profissional se processa na mediação direta com todos os indivíduos de
uma determinada sociedade, com intuito de eliminar toda e qualquer forma de
preconceito e discriminação, seja ele racial, étnico, cultural, religioso entre outros,
além de incentivar, constantemente, o respeito às diferenças e diversidades
humanas.

Entretanto, o que é diversidade?

Pois bem, ao tratarmos da questão da diversidade, devemos, primeiramente,


compreender o significado de tolerância, porque a diversidade denota que todos
os homens devem aceitar e compreender as diferenças humanas.
168
TÓPICO 1 | UNIDADE 3

E
IMPORTANT

Nenhum homem na face da Terra é igual a outro homem.

Neste sentido, podemos compreender que o respeito à diversidade humana


não significa apenas tolerar o outro, mas respeitá-lo como ele realmente é.

Devemos olhar o outro, por meio dos olhos dele e não por meio dos
nossos olhos, ou seja, devem-se compreender as diferenças do outro, ver como
ele realmente é, qual são seus princípios e valores morais. Nunca devemos ver o
outro a partir de nossa visão de mundo, de nossos valores morais, pois, assim,
acabamos prejulgando-o.

Assim, podemos afirmar que o respeito às diferenças humanas também


pode ser compreendido como o respeito às diversas identidades que compõe
uma sociedade, pois cada ser humano possui sua singularidade, ou seja, suas
características pessoais.

2.7 PLURALISMO

FIGURA 14 – PLURALISMO

FONTE: Disponível em: <www.lacoctelera.com>. Acesso em: 26


mar. 2009.

169
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

“Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais


democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o
constante aprimoramento intelectual.” (BRASIL, 2009a).

Podemos compreender que o pluralismo é reconhecer a existência da


diversidade humana. Diversidade que pode ser cultural, religiosa, política,
econômica, ambiental e social.

E
IMPORTANT

Não existe uma realidade única e absoluta.

O pluralismo denota que não existe somente uma concepção conceitual,


ou seja, existem várias referências e doutrinas conceituais, pois, como abordamos
anteriormente, todos os seres humanos são diferentes, possuem diversas
subjetividades, que denotam visões de mundo diferenciadas, ou seja, sobre um
mesmo fato, uma mesma realidade poderá suscitar diversas opiniões, diversos
conceitos, porque cada homem analisa um fato conforme sua constituição moral.

Nesta perspectiva, pode-se dizer que a prática profissional do Assistente


Social deve, constantemente, buscar e garantir o pluralismo conceitual, para seu
constante aperfeiçoamento pessoal e intelectual.

2.8 PROJETO PROFISSIONAL

FIGURA 15 – PROJETO PROFISSIONAL

FONTE: Disponível em: <www.cress-ms.org.br>. Acesso em: 26 mar. 2009.

170
TÓPICO 1 | UNIDADE 3

“Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção


de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia e
gênero.” (BRASIL, 2009a).

Com relação ao projeto profissional do Assistente Social, podemos citar


que o mesmo possui um caráter sociopolítico, crítico e interventivo, que vem,
historicamente, utilizando um instrumental técnico operativo multidisciplinar,
para análise e intervenção junto às inúmeras expressões da questão social, como na
educação, justiça, saúde, lazer, previdência, habitação, assistência social, entre outros.

O Assistente Social busca sempre prestar seus serviços em prol do


desenvolvimento e da construção de uma sociedade mais justa, igualitária e sem
discriminação e exploração das classes sociais e suas diversidades.

TUROS
ESTUDOS FU

Você verá mais adiante, em outra disciplina, a questão do instrumental técnico


operativo do Assistente Social.

DICAS

Como sugestão, leia o artigo: A Construção do Projeto Ético-Político do Serviço


Social, por José Paulo Netto. Disponível em: <http://www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_
saude/texto2-1.pdf>.

2.9 MOVIMENTOS SOCIAIS

FIGURA 16 – MOVIMENTOS SOCIAIS

FONTE: Disponível em: <www.spsoul.blogspot.com>. Acesso em: 26 mar. 2009.

171
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

“Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que


partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores.”
(BRASIL, 2009a).

Porém, o que é um movimento social?

Podemos compreender que um movimento social denota a organização


de um grupo social que possue interesses comuns, que, de forma estruturada,
busca desenvolver suas atividades, conforme suas finalidades e objetivos.

Conforme Gohn (1995, p. 44), movimentos sociais:

[...] são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por


atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles
politizam suas demandas e criam um campo político de força social
na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios
criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos, litígios
e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-
cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de
interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio
da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores
culturais e políticos compartilhados pelo grupo.

DICAS

Como sugestão, leia o artigo: O Papel dos Movimentos Sociais na Construção de


Outra Sociabilidade, de Sandra Maria Marinho Siqueira. Disponível em: <http://www.anped.
org.br/reunioes/25/excedentes25/sandramariamarinhosiqueirat03.rtf>.

Nesta perspectiva, os assistentes sociais também desenvolvem suas


atividades laboratoriais em prol da articulação e mediação constante entre a
sociedade civil, os diversos movimentos sociais e o Estado.

2.10 QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS

FIGURA 17 – QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS

FONTE: Disponível em: <www.verzani.com.br>. Acesso em: 26 mar. 2009.

172
TÓPICO 1 | UNIDADE 3

“Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e


com aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional.”
(BRASIL, 2009a).

Esta questão é indiscutível, pois todo trabalho, produto ou prestação de


serviço deve ter, como premissa, a qualidade, ou seja, todo profissional deve
exercer sua profissão com ética, responsabilidade e qualidade.

Por meio de seu desempenho profissional, o Assistente Social


proporcionará, ao seu público-alvo, possibilidades de melhoria de qualidade de
vida, além de mediar, com serenidade e propriedade, as expressões da questão
social, objeto de seu trabalho.

2.11 INDISCRIMINAÇÃO

FIGURA 18 – INDISCRIMINAÇÃO

FONTE: Disponível em: <www.infinitoemaisalem.blogs.sapo.pt>. Aces-


so em: 26 mar. 2009.

“Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar,


por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade,
opção sexual, idade e condição física.” (BRASIL, 2009a).

Para entendermos esta questão da indiscriminação, faz-se necessário


compreendermos o significado de preconceito.

Então, o que é preconceito?

Bem, o preconceito pode ser compreendido como uma atitude, um


julgamento de valores, formação de juízo ou ideias preconcebidas, a partir do qual
nós recriminamos ou rotulamos uma situação, lugares, pessoas, objetos e culturas,
conforme nossos valores ético-morais, ou seja, nós, seres humanos, geralmente

173
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

quando nos deparamos com “o diferente”, o repulsamos e discriminamos, sem,


muitas vezes, conhecer melhor a pessoa ou situação que estamos julgando.

Existem muitas formas de discriminação ou preconceito, mas podemos


citar que hoje, na sociedade em que vivemos, as questões raciais, sociais, sexuais
e religiosas são as principais formas de preconceito que enfrentamos.

Finalizando, podemos expor que o PRECONCEITO HUMANO leva os


homens a agirem de forma violenta, acarretando discriminação e marginalização
dos homens.

NOTA

Caro(a) acadêmico(a), para aprofundar os seus conteúdos com relação aos


princípios e valores gerais dos cidadãos brasileiros, sugerimos a releitura dos artigos 1º, 3º e
5º da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>.

DICAS

Como sugestão, leia o seguinte livro:

BONETTI, Dilséia Adeodata et al. Serviço social e ética: convite a uma nova práxis. 11ª Edição.
São Paulo: Cortez, 2010.

174
TÓPICO 1 | UNIDADE 3

LEITURA COMPLEMENTAR

ÉTICA PROFISSIONAL

Edite Jendreick Franke


[...]
No momento em que se diz que o Brasil está passando por uma crise ética,
oportuno se faz falar sobre a Ética Profissional.

Necessário se faz lembrar que, quem não tem ética pessoal, não terá
ética profissional.

A palavra Ética, do grego ethos, designa:

 os costumes;
 a condução da vida;
 as regras de comportamento.

A Ética é o estudo da moralidade do agir humano; é o estudo da bondade


ou da maldade dos atos humanos, a retidão dos atos humanos frente à ordem
moral.

É justificada pela Moral enquanto esta estabelece regras que são assumidas
pela pessoa, como uma forma de garantir o bem viver, um agir segundo o bem,
remetendo estas regras ao agir humano, aos comportamentos cotidianos, às
escolhas existenciais [...]

[...] a Ética se coloca como um questionamento sobre o agir, uma reflexão


sobre o que é preciso fazer, uma procura pelo que é bom ou justo.

A Ética não estabelece regras, mas propõe uma reflexão sobre a ação
humana, sobre sua retidão frente à ordem moral.

A Ética, espontaneamente, gera:

1. Questionamentos: a ética nos leva a refletir sobre as normas ou regras de


comportamento, nos leva a analisar princípios, valores que fundamentam
nossa obrigação na sociedade.

2. Sistematização da reflexão: encontrada em teorias ou escolas que tratam da


moral e da ética, ou o conjunto de normas de grupos específicos, como é o caso
dos códigos de ética profissional.

3. Prática concreta: ou a realização de valores que exige o processo de deliberação,


a decisão, a atitude subjacente e a ação propriamente dita.

175
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

Toda herança da reflexão sobre a Ética e a Moral se apresenta subjacente


à Ética Profissional.

Isto é, a Ética Profissional só se efetivará se houver a Ética Pessoal.

Importante identificarmos, refletirmos aqui: quem é o Sujeito Ético?

Sujeito Ético é todo ser humano que se depara com a necessidade de


decidir, pois onde há [...] decisões a serem tomadas; reflexões a serem feitas; e
liberdades a serem alcançadas [...] há a Ética.

A Ética não existe sem a responsabilidade.

Uma Ética de Responsabilidade é a do sujeito livre, autônomo, que


reflete, dotado de prudência, coragem e convicção.

A responsabilidade dá cada vez mais lugar à interrogação e à discussão


democrática.

Assim, cada vez mais a Ética recorre à prudência, que é vigilância e


previsão, e à solidariedade.

A Ética profissional pode ser definida como:

A reflexão sobre as exigências do profissional em sua relação:

 com o cliente/usuário;
 com o público;
 com seus colegas;
 com sua corporação;
 com os demais profissionais. (DURAND, p. 85).

Estas exigências remetem ao conjunto de direitos e de obrigações


expressos no Código de Ética da profissão.

A reflexão sobre as ações realizadas no exercício de uma profissão, [...]


no que consistem [...], [...] a quem se destinam [...], [...] para que se destinam [...],
deve iniciar antes da prática profissional .

A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência, muitas vezes,


já deve ser permeada por esta reflexão.

A escolha por uma profissão é optativa, mas ao escolhê-la, o conjunto de


deveres profissionais passa a ser obrigatório.

Geralmente, quando se é jovem, escolhe-se a carreira sem conhecer


o conjunto de deveres que está prestes a assumir ao se tornar parte daquela
categoria que escolheu.
176
TÓPICO 1 | UNIDADE 3

Toda a fase de formação profissional, [...] o aprendizado das competências


e habilidades referentes à prática específica numa determinada área, [...] deve
incluir a reflexão, desde antes do início dos estágios práticos.

Ao completar a formação em nível superior, a pessoa faz um juramento,


que significa sua adesão e comprometimento com a categoria profissional em que
formalmente ingressa.

Isto caracteriza o aspecto moral da chamada Ética Profissional. Seja, esta


adesão, voluntária a um conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais
adequadas para o seu exercício.

No período de formação e mesmo depois no decorrer da prática, o


profissional deve estar sempre se perguntando:

1. Que deveres assumi? O que a entidade, a chefia, e o usuário esperam de mim?


Estes deveres são compatíveis com a profissão? Ou é a chamada exigência
generalista do mercado?

2. Estou assumindo uma função institucional ou a profissão mesma?

3. Como estou conduzindo os deveres assumidos? Como estou cumprindo


minhas responsabilidades? Estou me conduzindo nos valores previstos pelo
Código de Ética da Profissão?

4. O que devo fazer e como fazer? Planejo, organizo, sistematizo, avalio minhas
ações? Que resultados produzo? Em benefício de quem?

5. E tão importante quanto os aspectos acima: Estou sendo bom profissional?


Competente, coerente? Estou agindo adequadamente nas relações pessoais e
profissionais? Isto inclui:

● respeitar e exigir respeito;

● atitudes de generosidade e cooperação, trabalho em equipe;

● uma postura pró-ativa (que é compromisso/ é contribuir para o engrandecimento


do trabalho);

● estar preocupado, com as PESSOAS, que é ser coerente com os deveres


profissionais.

Acredito na profissão de Assistente Social a qual defendi durante toda


minha vida de prática profissional e como docente.

Sempre busquei apresentar o quanto é importante e bom ser Assistente


Social, e como se faz necessário o esmerado preparo profissional e o compromisso
com a realidade, alvo de nossa intervenção. O trabalho profissional não permite
acomodação e o profissional comprometido não se acomoda.
177
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

Só se acomoda e se arrisca a virar fóssil aquele que não tem amor por si
mesmo e pelo próximo.

O Serviço Social é uma profissão que tem sua legitimidade regulamentada


em Lei e fundamentada em seu Código de Ética, e este defende a equidade e a
justiça social.

O processo de renovação pelo qual o Serviço Social tem passado, no


transcorrer de sua história, vem compromissado com esses valores e princípios
que são defendidos por seus profissionais, na conquista de direitos sociais, na
defesa dos direitos já alcançados e na ampliação destes.

Apegados a estes valores, não poderemos deixar de ser Éticos.

● Ser Assistente Social é fazer Serviço Social:

A identidade profissional é construída pelos grupos profissionais de que


fazemos parte. Como o grupo existe? Passa a existir através das relações que
estabelecem seus membros entre si e com o meio em que vivem, isto é, pela sua
prática, seu agir, seu trabalhar, fazer, pensar, sentir [...].

O indivíduo (Assistente Social) vai sendo representado previamente


na graduação e vai assimilando em um processo interno a representação desta
identidade.

Esta identidade pressupõe o fazer, as práticas de serviço social que realiza,


mas é a aceitação da identidade que força comportamentos, ações compatíveis
com a profissão. É a aceitação que leva a assumir a postura ética exigida pela
profissão.

Por isto, a identidade precisa ser continuamente re-posta, que significa


“agir como”. Comparecer perante o outro como portador de um papel, mas como
representante de si e de um grupo profissional.

● Ser Assistente Social ético exige:

Competência técnica, aprimoramento constante, respeito às pessoas,


confidencialidade, privacidade, tolerância, flexibilidade, fidelidade, envolvimento,
afetividade, correção de conduta, boas maneiras, relações genuínas com as
pessoas, responsabilidade, corresponder à confiança que lhe é depositada [...]
pois o comportamento ético de um profissional reflete em todos os demais da
profissão.

Vale lembrar que comportamento eticamente adequado e sucesso


continuado são indissociáveis!

178
TÓPICO 1 | UNIDADE 3

Empregabilidade é sinônimo de bom profissional.

E só pode ser ético profissionalmente aquele que o é pessoalmente.

Lembro aqui a passagem de Lucas, que em seu Capítulo 16, traz a palavra
de Jesus:

“Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é
injusto nas pequenas, também é injusto nas grandes.” (BRASIL, 16:10).

Obrigada, e vamos em frente pela Ética agora e sempre!

FONTE: FRANKE, Edite Jendreick. Ética Palestra proferida na III Jornada de Estágio do Curso de
Serviço Social da UEPG (PR), Ponta Grossa, 25 set. 2007. Disponível em: <http://www.uepg.br/
uepg_departamentos/deservi/pdf/TEXTOS%20PARA%20REFLEXAO%2002.pdf>. Acesso em: 26
mar. 2009.

179
RESUMO DO TÓPICO 1

Com relação aos princípios fundamentais do Código de Ética dos


Assistentes Sociais, abordamos, neste tópico, as seguintes questões:

● Vimos que o Código de Ética do Assistente Social possui onze princípios


fundamentais que norteiam sua prática profissional. Estes princípios são:

Liberdade:

● Observamos que todo homem pode fazer suas escolhas de forma livre e
consciente.

● A liberdade é constituída no relacionamento direto entre os homens em


sociedade, por meio de suas atividades humanas.

● O ser humano é um ser livre e tem o poder de escolha, feita de maneira


consciente.

● Por meio do trabalho, o ser humano se constitui um homem consciente e livre.

● A liberdade é um poder de escolhas.

● Vimos que os profissionais do serviço social tomam como uma de suas bases
fundamentais, para a práxis profissional, a LIBERDADE.

● A liberdade é tida como um valor ético, que determina, como um todo, a


atuação profissional do Assistente Social.

Direitos Humanos:

● Outro princípio fundamental do Código de Ética Profissional do Assistente


Social é a defesa e conservação incondicional dos direitos humanos.

● Direitos inscritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU –


Organização das Nações Unidas.

● Os direitos humanos norteiam, diretamente, a base ética profissional do


Assistente Social.

● Os Assistentes Sociais desenvolvem suas atividades com base na liberdade,


igualdade, justiça e paz do mundo e na defesa dos direitos fundamentais dos
seres humanos, procurando sempre promover o progresso social e a ampliação
da qualidade de vida de cada cidadão.

180
Cidadania:

● A cidadania é um conjunto de direitos e deveres que denotam e fundamentam


as condições do comportamento de cada indivíduo, em relação à sociedade em
que está inserido.

● A cidadania designa normas de conduta para o convivio social, em que


determina nossas obrigações e direitos perrante os outros integrantes da nossa
sociedade.

● Temos três dimensões da cidadania: civil, política e social.

● E é nesta perspectiva da garantia dos direitos e deveres de cada cidadão, que o


Assistente Social desenvolve sua prática profissional.

Democracia:

● A democracia nada mais é do que um sistema de governo, no qual o povo


governa para sua própria sociedade.

● Este sistema de governo democrático possui formatos diferentes nas diversas


sociedades.

● Temos a democracia direta e indireta.

● Quando falamos em democracia, também falamos de distribuição democrática


das riquezas socialmente produzidas, por meio do trabalho dos homens.

● O Assistente Social possui a premissa de defender incondicionalmente a


democracia política, econômica e social da sociedade.

Equidade e Justiça Social:

● A equidade nada mais é do que fazer justiça com imparcialidade.

● Todos os seres humanos possuem direitos e deveres iguais perante a sociedade


em que vivem.

● Estes direitos, por sua vez, denotam um conjunto de princípios morais, que
acabam igualando todos os homens de uma mesma sociedade.

● Equidade é a igualdade de direitos entre os iguais.

● A prática profissional do Assistente Social processa-se na garantia da equidade


e da justiça social, em que procura assegurar a universalidade de direitos e o
acesso aos bens produzidos por meio do trabalho de todos os indivíduos, sem
distinção de cor, raça, etnia e classe social.

181
Respeito à Diversidade:

● Outro princípio fundamental da práxis profissional do Assistente Social se


processa na mediação direta com todos os indivíduos de uma determinada
sociedade, com o intuito de eliminar toda e qualquer forma de preconceito e
discriminação.

● A diversidade denota que todos os homens devem aceitar e compreender as


diferenças humanas.

● Nenhum homem na face da Terra é igual a outro homem.

● O respeito à diversidade humana não significa apenas tolerar o outro, mas


respeitá-lo como ele realmente é.

● Devemos olhar o outro por meio dos olhos dele e não por meio dos nossos
olhos.

Pluralismo:

● O pluralismo significa reconhecer a existência da diversidade humana.

● A diversidade pode ser: cultural, religiosa, política, econômica, ambiental e


social.

● Não existe uma realidade única e absoluta.

● O pluralismo denota que não existe somente uma concepção conceitual, ou


seja, existem várias referências e doutrinas conceituais.

● A prática profissional do Assistente Social deve, constantemente, buscar e


garantir o pluralismo conceitual, para seu constante aperfeiçoamento pessoal e
intelectual.

Projeto Profissional:

● O projeto profissional do Assistente Social possui um caráter sociopolítico,


crítico e interventivo, no qual vem, historicamente, utilizando um instrumental
técnico operativo multidisciplinar, para análise e intervenção junto às inúmeras
expressões da questão social.

● O Assistente Social busca sempre prestar seus serviços em prol do


desenvolvimento e da construção de uma sociedade mais justa, igualitária e
sem discriminação e exploração das classes sociais e suas diversidades.

182
Movimentos Sociais:

● Um movimento social denota a organização de um grupo social que possui


interesses comuns, que, de forma estruturada, busca desenvolver suas
atividades conforme suas finalidades e objetivos.

● Nesta perspectiva, os Assistentes Sociais também desenvolvem suas atividades


laboratoriais, em prol da articulação e mediação constante entre a sociedade
civil, os diversos movimentos sociais e o Estado.

Qualidade dos Serviços prestados:

● Todo trabalho, produto ou prestação de serviço deve ter, como premissa, a


qualidade, ou seja, todo profissional deve exercer sua profissão com ética,
responsabilidade e qualidade.

Indiscriminação:

● O preconceito pode ser compreendido como uma atitude, julgamento de


valores, formação de juízo ou ideias preconcebidas, a partir do qual nós
recriminamos ou rotulamos uma situação, lugares, pessoas, objetos e culturas,
conforme nossos valores ético-morais.

● Quando nos deparamos com “o diferente”, o repulsamos e discriminamos, sem,


muitas vezes, conhecer melhor a pessoa ou a situação que estamos julgando.

● Existem muitas formas de discriminação ou preconceito. Hoje, as questões


raciais, sociais, sexuais e religiosas são as principais formas de preconceito que
enfrentamos.

● O preconceito humano leva os homens a agirem de forma violenta, acarretando


na discriminação e marginalização dos homens.

183
AUTOATIVIDADE

Em grupo, reflitam sobre cada um dos onze Princípios Fundamentais do


Código de Ética do Assistente Social. Em seguida, realizem as seguintes
atividades.

1 Explique a frase: “A liberdade é um poder de escolhas”.


____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

2 Escolha dois dos direitos humanos expostos na Declaração Universal dos


Direitos Humanos da ONU – Organização das Nações Unidas – e explique-os.
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

3 Temos três dimensões da cidadania: a civil, a política e a social. Explique


cada uma delas.
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

4 O que você compreende por democracia?


____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

5 Equidade é a igualdade de direitos entre os iguais. Justifique esta indagação.


____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

6 A diversidade denota que todos os homens devem aceitar e compreender as


diferenças humanas. Exemplifique esta indagação.

184
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

7 Será que existe uma realidade única e absoluta? Justifique.


____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

8 Quando nos deparamos com “o diferente”, o repulsamos e discriminamos,


sem, muitas vezes, conhecer melhor a pessoa ou a situação que estamos
julgando. O que você faria nesta situação, ou seja, como você agiria diante
de uma pessoa que você não conhece?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

185
186
UNIDADE 3
TÓPICO 2

DOS DIREITOS E DAS RESPONSABILIDADES GERAIS DO


ASSISTENTE SOCIAL
1 INTRODUÇÃO
Observamos que o Código de Ética do Assistente Social foi constituído na
perspectiva de garantir os princípios fundamentais da profissão, além de dispor
sobre os direitos e deveres do profissional, mas, também, prediz como se devem
processar, eticamente, as relações diretas com os usuários.

Neste tópico, abordar-se-á uma discussão referente aos direitos e deveres


gerais do Assistente Social. Direitos e deveres assegurados pelo Código de Ética do
Assistente Social - Resolução CFESS nº 273, de 13 de março de 1993 (BRASIL, 1997).

2 DOS DIREITOS GERAIS DO ASSISTENTE SOCIAL


Art. 2º - Constituem direitos do Assistente Social:

a) garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de


Regulamentação da Profissão e dos princípios firmados neste Código;

b) livre exercício das atividades inerentes à Profissão;

c) participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na


formulação e implementação de programas sociais;

d) inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação,


garantindo o sigilo profissional;

e) desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;

f) aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos


princípios deste Código;

g) pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando se


tratar de assuntos de interesse da população;

h) ampla autonomia no exercício da Profissão, não sendo obrigado a prestar


serviços profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou funções;

i) liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos


de participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos.

FONTE: Brasil (2011)

187
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

Como vocês observaram, o Artigo 2 do Código de Ética do Assistente


Social compreende que os direitos gerais do Assistente Social prediz todas as
atribuições e prerrogativas que compõe o regulamento da profissão (Lei n° 8.662,
de 7 de junho de 1993), garantindo-os.

O Assistente Social poderá exercer sua atividade profissional de forma


ética e livre, participando constantemente do desenvolvimento, elaboração e
gestão de políticas sociais.

Também é garantido o sigilo profissional e a dignidade do Assistente


Social, ou seja, não é permitido que haja violação tanto do local de trabalho
quanto dos arquivos e documentos provenientes da prática profissional, além da
segurança à honra profissional do Assistente Social.

Todo Assistente Social deve ter como premissa fundamental o


constante aprimoramento técnico operativo. Buscando sempre novas formas de
melhoramento de sua prática profissional.

Somos corresponsáveis pela divulgação direta dos assuntos


correlacionados à nossa prática, ou seja, devemos fazer declarações públicas de
matérias pertinentes ao interesse da sociedade.

Finalizando, podemos expor que todo Assistente Social possui plena


autonomia e liberdade na execução de sua prática profissional, não sendo obrigado
ou coagido a fazer algum serviço que não seja pertinente à sua capacidade técnico-
operativa, cargo ou função.

3 DOS DEVERES GERAIS DO ASSISTENTE SOCIAL

Art. 3º - São deveres do Assistente Social:

a) desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e


responsabilidade, observando a legislação em vigor;

b) utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da


profissão;

c) abster-se, no exercício da Profissão, de práticas que caracterizem a


censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos,
denunciando sua ocorrência aos órgãos competentes;

d) participar de programas de socorro à população em situação de calamidade


pública, no atendimento e defesa de seus interesses e necessidades.

FONTE: Brasil (2011)

188
TÓPICO 2 | UNIDADE 3

Como exposto no Artigo 3 do Código de Ética do Assistente Social, o


Assistente Social deve realizar sua prática profissional com eficiência, eficácia e
responsabilidade, mas sempre norteado pelas normas e princípios ético-morais.

Para atuação da prática profissional, todo Assistente Social deve se registrar


no Conselho Regional do Serviço Social (CRESS) de sua região de atuação, para,
assim, se legitimar enquanto profissional.

Todo Assistente Social deve se abster da prática profissional que seja


contra os princípios fundamentais de sua conduta profissional, ou seja, afastar-se e
denunciar, aos órgãos competentes, as ações que cerceiam os direitos de liberdade,
democracia, cidadania, igualdade, direitos humanos, equidade e justiça social.

Devemos sempre estar prontos e aptos a participar ativamente de


programas e projetos de socorro emergencial à sociedade que esteja em situação
de risco, calamidade pública, no intuito de atender e defender os interesses e as
necessidades da comunidade.

4 O QUE O ASSISTENTE SOCIAL NÃO PODE FAZER


Art. 4º - É vedado ao Assistente Social:

a) transgredir qualquer preceito deste Código, bem como da Lei de


Regulamentação da Profissão;

b) praticar e ser conivente com condutas antiéticas, crimes ou contravenções


penais na prestação de serviços profissionais, com base nos princípios deste
Código, mesmo que estes sejam praticados por outros profissionais;

c) acatar determinação institucional que fira os princípios e diretrizes deste


Código;

d) compactuar com o exercício ilegal da Profissão, inclusive nos casos de estagiários


que exerçam atribuições específicas, em substituição aos profissionais;

e) permitir ou exercer a supervisão de aluno de Serviço Social em Instituições


Públicas ou Privadas que não tenham em seu quadro Assistente Social que
realize acompanhamento direto ao aluno estagiário;

f) assumir responsabilidade por atividade para as quais não esteja capacitado


pessoal e tecnicamente;

g) substituir profissional que tenha sido exonerado por defender os princípios


da ética profissional, enquanto perdurar o motivo da exoneração, demissão
ou transferência;

h) pleitear para si ou para outrem emprego, cargo ou função que estejam


sendo exercidos por colega;

189
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

i) adulterar resultados e fazer declarações falaciosas sobre situações ou


estudos de que tome conhecimento;

j) assinar ou publicar em seu nome ou de outrem trabalhos de terceiros,


mesmo que executados sob sua orientação.
FONTE: Brasil (2011)

Conforme o Artigo 4 do Código de Ética do Assistente Social, observou-se que


o Assistente Social possui algumas atribuições que não podem ser exercidas, como:

 não levar a sério ou não respeitar o que prediz o Código de Ética da profissão e seu
Regulamento;

 não ter posturas antiéticas no seu exercício profissional;

 não praticar crimes e contravenções penais, na realização da prática profissional;

 nunca aceitar ou praticar ações impostas, muitas vezes, pelas organizações,


que infrinjam as diretrizes do Código de Ética;

 nunca condescender ou aceitar práticas profissionais que sejam ilegais, ou seja,


contra os princípios legais da profissão;

 nunca devemos assumir responsabilidades de coisas e ações que não estejam


norteadas por nossas capacidades técnicas operativas, ou seja, só devemos
exercer as atividades das quais possuímos conhecimento técnico.

DICAS

– Para um aprofundamento destes temas, sugiro que você leia os seguintes


livros:

SOUZA, Herbert. Ética e


cidadania. São Paulo: Moderna,
2000.

GALLO, Silvio. Ética e cidadania:


caminhos da filosofia. Papirus,
2002.

190
RESUMO DO TÓPICO 2
Observamos que o Código de Ética do Assistente Social prediz como se
devem processar, eticamente, as relações diretas com usuários, principalmente
no que se refere aos direitos e deveres gerais do Assistente Social. Portanto,
neste tópico abordamos que:

 Os direitos gerais do Assistente Social predizem todas as atribuições e


prerrogativas que compõe o regulamento da profissão, garantindo-os.

 O Assistente Social poderá exercer sua atividade profissional de forma ética e livre.

 É garantido o sigilo profissional e a dignidade do Assistente Social.

 Todo Assistente Social deve ter, como premissa fundamental, o constante


aprimoramento técnico operativo.

 Devemos fazer declarações públicas de matérias pertinentes ao interesse da


sociedade.

 Todo Assistente Social possui plena autonomia e liberdade na execução de sua


prática profissional, não sendo obrigado ou coagido a fazer algum serviço que
não seja pertinente à sua capacidade técnico-operativa, cargo ou função.

 O Assistente Social deve realizar sua prática profissional com eficiência, eficácia
e responsabilidade.

 Todo Assistente Social deve se registrar no Conselho Regional do Serviço


Social (CRESS).

 Todo Assistente Social deve se abster da prática profissional que seja contra os
princípios fundamentais de sua conduta profissional.

 Devemos sempre estar prontos e aptos a participar ativamente de programas


e projetos de socorro emergencial à sociedade que esteja em situação de risco e
calamidade pública.

 O Assistente Social possui algumas atribuições que não podem ser exercidas,
como:

 não levar a sério ou não respeitar o que prediz o Código de Ética da profissão
e seu Regulamento;

 não ter posturas antiéticas no seu exercício profissional;

não praticar crimes e contravenções penais, na realização da prática profissional;


 nunca aceitar ou praticar ações que infrinjam as diretrizes do Código de Ética;

 nunca aceitar práticas profissionais ilegais;

 só devemos exercer as atividades que possuímos conhecimento técnico.


191
AUTOATIVIDADE

Escreva o que você compreendeu a respeito dos direitos e deveres gerais dos
Assistentes Sociais.

192
UNIDADE 3
TÓPICO 3

O CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL BRASILEIRO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, somente apresentaremos, na íntegra, o Código de Ética do
Assistente Social.

Mas, primeiramente, apresentamos uma síntese histórica do seu


surgimento e adaptações.

O Código de Ética profissional dos assistentes sociais brasileiros já


passou por diversas edições e atualizações. Agora, prezados acadêmicos, lhes
apresentarei uma síntese de casa fase.

Primeira edição: Em setembro de 1947 foi aprovado em São Paulo pela


Assembleia Geral da Associação Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS), o
primeiro Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais no Brasil – que foi
um marco histórico para a categoria profissional do Serviço Social. Apresentava
somente:

• os deveres fundamentais do assistente social;

• os deveres para com o beneficiário do serviço social;

• os deveres para com os colegas;

• os deveres para com a organização onde trabalha.

Segunda edição: aprovada em 8 de maio de 1965 pelo Conselho Federal


de Assistentes Sociais (CFAS), em que baseado nos direitos fundamentais do
homem e as exigências do bem comum da sociedade brasileira institui um novo
código de ética, que apresentava:

• a profissão;

• os deveres fundamentais do assistente social;

• o segredo profissional;

• os deveres para com as pessoas, grupos e comunidades atingidos pelo serviço


social;

193
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

• os deveres para com os serviços empregadores;

• os deveres para com os colegas;

• as associações de classe;

• o trabalho em equipe;

• a responsabilidade e da preservação da dignidade profissional;

• a aplicação e observância do código.

Terceira edição: aprovado em 30 de janeiro de 1975, pelo Conselho


Federal de Assistentes Sociais (CFAS), em que nos traz toda uma introdução ao
Código de Ética Profissional do Assistente Social. Esta apresenta os princípios
e valores fundamentais para a atuação profissional que são: autodeterminação,
participação, subsidiariedade, bem comum e justiça social. Em que apresentou:

• os direitos e deveres do assistente social – em que se trabalharam os direitos com


relação ao exercício e status profissional e os deveres no que tange as questões
do exercício profissional, nas relações com os clientes, colegas, entidades de
classe, instituições, comunidade, justiça, à publicação de trabalhos científicos,
além de apontarem o que o assistente social não poderia fazer.

• o segredo profissional;

• as medidas disciplinares.

UNI

Segundo Paiva et. al (APUD BONETTI ET AL, 2010, p. 159-160), “desde a primeira
formulação do nosso Código de ética Profissional, em 1947, até a reelaboração de 1975,
permaneceram vigentes as mesmas concepções filosóficas assentadas no neotomismo,
a partir das quais consagrávamos valores abstratos e metafísicos como “BEM COMUM”
e “PESSOA HUMANA”. E somente com a reformulação de 1986 essas concepções foram
superadas, com a explicitação de PRINCÍPIOS ÉTICOS HISTORICAMENTE SITUADOS:
foram negados conceitos abstratos e indicada a urgência de objetivar os sujeitos históricos
para apreender suas necessidades concretas.”

Quarta edição: aprovado em 9 de maio de 1986, pelo Conselho Federal


de Assistentes Sociais (CFAS), que também nos traz uma breve introdução e nos
apresenta:

194
TÓPICO 3 | UNIDADE 3

• os direitos e das responsabilidades gerais do assistente social;


• o sigilo profissional;
• as relações profissionais (com: usuários, instituições, entre profissionais
do serviço social, entidades da categoria e demais organizações da classe
trabalhadora, justiça;
• a observância, aplicação e cumprimento do código de ética.

Quinta edição: foi feita uma revisão do código de ética em 1991 no


Seminário Nacional de ética.

Sexta edição: também o código de ética foi revisto em 1992, pelos encontros
estaduais, além da 7ª CBAS, XII ENESS, XX Encontro nacional CFESS/CRESS.

Sétima edição: resolução CFESS N.º 273/93, de 13 março 1993, que Institui
o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais e dá outras providências,
promulgado pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). Que primeiramente
apresenta os princípios fundamentais da profissão e depois:

• os direitos e das responsabilidades gerais do assistente social;


• as relações profissionais, com o usuário, instituições empregadoras e outras,
assistentes sociais e outros profissionais, entidades da categoria e demais
organizações da sociedade civil;
• o sigilo profissional.

Oitava edição: em 1996 o Código de Ética foi revisitado e ampliado.


Buscou-se enriquecê-lo, incluindo as características da Resolução do CFESS nº
333/96, que incidiu sobre o Art. 25 do Código de Ética, de acordo com a deliberação
do XXV Encontro Nacional CFESS/CRESS (Setembro de 1996 - Fortaleza/CE).

UNI

Nesta nova edição tivemos o intuito também de apresentar uma nova


programação visual deste instrumento normativo, que possa propiciar uma percepção mais
completa e imediata dos valiosos conteúdos que emanam dos artigos, alíneas e incisos aqui
reunidos.
Assim sendo, a concepção da capa não é, em absoluto, aleatória. A figura lendária de Arthur
Bispo do Rosário significa a homenagem do CFESS a cada usuário das políticas e serviços
sociais, em nome do respeito, qualidade e responsabilidade nos termos dos princípios
firmados por este Código que nossa ética profissional pretende assegurar. A imagem de Bispo
procura ainda reconhecer e enaltecer os esforços dos vários segmentos sociais, políticos
e profissionais que se mobilizam pelo compromisso ético com a liberdade, equidade e
democracia.
Fonte: Conselho Federal de Serviço Social – CFESS Gestão 1996/99.

195
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

Nona edição: em 2011, o Código de ética sofreu nova modificação, pois:

A 9ª edição do Código de Ética do/a Assistente Social [vem]


Incorporando as alterações discutidas e aprovadas no 39º Encontro Nacional
do Conjunto CFESS/CRESS, realizado em setembro de 2010 em Florianópolis
(SC), a nova edição do documento foi publicada pelo CFESS nesta sexta-feira,
11 de fevereiro de 2011.

[...] As alterações no Código de Ética se adéquam às correções formais e


de conteúdo, conforme consignadas na Resolução CFESS 594, de 21 de janeiro
de 2011, publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 24 de janeiro deste ano.

"As correções formais dizem respeito à incorporação das novas regras


ortográficas da língua portuguesa, assim como à numeração sequencial dos
princípios fundamentais do Código e, ainda, ao reconhecimento da linguagem
de gênero, adotando-se em todo o texto a forma masculina e feminina
simultaneamente", [...]

Além disso, houve mudanças de nomenclatura, com a substituição do


termo "opção sexual" por "orientação sexual", incluindo ainda no princípio XI
a "identidade de gênero", quando se refere ao exercício do serviço social sem
ser discriminado/a nem discriminar por essa condição. Ainda, a 9ª edição do
Código, conforme consta da Apresentação à Edição de 2011 do instrumento
normativo, traz alterações que "reafirmam princípios e valores do Projeto Ético-
Político e incorporam avanços nas discussões acerca dos direitos da população
LGBT pela livre orientação e expressão sexual".

(Código de Ética do/a Assistente Social. 9ª Edição Revista e


Atualizada, 2011).

2 O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DOS/DAS ASSISTENTES


SOCIAIS
Prezados(as) acadêmicos(as)! Segue na íntegra a 9ª EDIÇÃO REVISTA E
ATUALIZADA do Código de Ética profissional do/da assistente social, publicada
em janeiro de 2011. Que foi Aprovado em 13 de março de 1993, mas segue com as
alterações introduzidas pelas Resoluções CFESS nº290/94, 293/94, 333/96 e 594/11.
Além do mais, o texto vem com adequação de LINGUAGEM DE GÊNERO,
conforme deliberação do 39º Encontro Nacional CFESS/CRESS.

196
TÓPICO 3 | UNIDADE 3

CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL


RESOLUÇÃO CFESS Nº 273, DE 13 DE MARÇO DE 1993

Princípios Fundamentais

I. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas


políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos
indivíduos sociais;

II. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do


autoritarismo;

III. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de


toda a sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos
das classes trabalhadoras;

IV. Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da


participação política e da riqueza socialmente produzida;

V. Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure


universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e
políticas sociais, bem como sua gestão democrática;

VI. Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o


respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados
e à discussão das diferenças;

VII. Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais


democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o
constante aprimoramento intelectual;

VIII. Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção


de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia
e gênero;

IX. Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que


partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores;

X. Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com


aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;

XI. Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por
questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade,
opção sexual, idade e condição física.

197
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

TÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 1º - Compete ao Conselho Federal de Serviço Social:

a) zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, fiscalizando


as ações dos Conselhos Regionais e a prática exercida pelos profissionais,
instituições e organizações na área do Serviço Social;

b) introduzir alteração neste Código, através de uma ampla participação da


categoria, num processo desenvolvido em ação conjunta com os Conselhos
Regionais;

c) como Tribunal Superior de Ética Profissional, firmar jurisprudência na


observância deste Código e nos casos omissos.

Parágrafo único – Compete aos Conselhos Regionais, nas áreas de suas


respectivas jurisdições, zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste
Código, e funcionar como órgão julgador de primeira instância.

TÍTULO II – DOS DIREITOS E DAS RESPONSABILIDADES


GERAIS DO ASSISTENTE SOCIAL

Artigo 2º - Constituem direitos do Assistente Social

a) garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de


Regulamentação da Profissão, e dos princípios firmados neste Código;

b) livre exercício das atividades inerentes à Profissão;

c) participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na


formulação e implementação de programas sociais;

d) inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação,


garantindo o sigilo profissional;

e) desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;

f) aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos


princípios deste Código;

g) pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando se


tratar de assuntos de interesse da população;

h) ampla autonomia no exercício da profissão, não sendo obrigado a prestar


serviços profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou
funções;

198
TÓPICO 3 | UNIDADE 3

i) liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos


de participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos.

Artigo 3º - São deveres do Assistente Social:

a) desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade,


observando a legislação em vigor;

b) utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da


Profissão;

c) abster-se, no exercício da Profissão, de práticas que caracterizem a


censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos,
denunciando sua ocorrência aos órgãos competentes;

d) participar de programas de socorro à população em situação de calamidade


pública, no atendimento e defesa de seus interesses e necessidades.

Artigo 4º - É vedado ao Assistente Social:

a) transgredir qualquer preceito deste Código, bem como da Lei de


Regulamentação da Profissão;

b) praticar e ser conivente com condutas antiéticas, crimes ou contravenções


penais na prestação de serviços profissionais, com base nos princípios deste
Código, mesmo que estes sejam praticados por outros profissionais;

c) acatar determinação institucional que fira os princípios e diretrizes deste


Código;

d) compactuar com o exercício ilegal da Profissão, inclusive nos casos de


estagiários que exerçam atribuições específicas, em substituição aos
profissionais;

e) permitir ou exercer a supervisão de aluno de Serviço Social em Instituições


Públicas ou Privadas, que não tenham em seu quadro Assistente Social que
realize acompanhamento direto ao aluno estagiário;

f) assumir responsabilidade por atividade para as quais não esteja capacitado


pessoal e tecnicamente;

g) substituir profissional que tenha sido exonerado por defender os princípios


da ética profissional, enquanto pendurar o motivo da exoneração, demissão
ou transferência;

199
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

h) pleitear para si ou para outrem emprego, cargo ou função que estejam sendo
exercidos por colega;

i) adulterar resultados ou fazer declarações falaciosas sobre situações ou


estudos de que tome conhecimento;

j) assinar ou publicar em seu nome ou de outrem trabalhos de terceiros, mesmo


que executados sob sua orientação.

TÍTULO III – DAS RELAÇÕES PROFISSIONAIS

CAPÍTULO I – Das relações com os Usuários

Artigo 5º - São deveres do Assistente Social nas suas relações com os


usuários:

a) contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuária


nas decisões institucionais;

b) garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e


consequências das situações apresentadas, respeitando democraticamente as
decisões dos usuários, mesmo que sejam contrárias aos valores e às crenças
individuais dos profissionais resguardados os princípios deste Código;

c) democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço


institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos
usuários;

d) devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos usuários, no


sentido de que estes possam usá-las para o fortalecimento dos seus interesses;

e) informar à população usuária sobre a utilização de materiais de registro


audiovisual e pesquisas a elas referentes e a forma de sistematização dos
dados obtidos;

f) fornecer à população usuária, quando solicitado, informações concernentes ao


trabalho desenvolvido pelo Serviço Social e as suas conclusões, resguardado o
sigilo profissional;

g) contribuir para a criação de mecanismos que venham desburocratizar


a relação com os usuários, no sentido de agilizar e melhorar os serviços
prestados;

h) esclarecer aos usuários, ao iniciar o trabalho, sobre os objetivos e a amplitude


de sua atuação profissional;

200
TÓPICO 3 | UNIDADE 3

Artigo 6º - É vedado ao Assistente Social:

a) exercer sua autoridade de maneira a limitar ou cercear o direito do usuário


de participar e decidir livremente sobre seus interesses;

b) aproveitar-se de situações decorrente da relação Assistente Social-usuário,


para obter vantagens pessoais ou para terceiros;

c) bloquear o acesso dos usuários aos serviços oferecidos pelas instituições,


através de atitudes que venham coagir e/ou desrespeitar aqueles que buscam o
atendimento de seus direitos.

CAPÍTULO II – Das Relações com as Instituições Empregadoras e


Outras

Artigo 7º - Constituem direitos do Assistente Social:

a) dispor de condições de trabalho condignas, sejam em entidade pública ou


privada, de forma a garantir a qualidade do exercício profissional;

b) Ter livre acesso à população usuária;

c) Ter acesso a informações institucionais que se relacionem aos programas


e políticas sociais, e sejam necessárias ao pleno exercício das atribuições
profissionais;

d) integrar comissões interdisciplinares de ética nos locais de trabalho do


profissional, tanto no que se refere à avaliação da conduta profissional, como
em relação às decisões quanto às políticas institucionais.

Artigo 8º - São deveres do Assistente Social:

a) programar, administrar, executar e repassar os serviços sociais assegurados


institucionalmente;

b) denunciar falhas nos regulamentos, normas e programas da instituição em que


trabalha, quando os mesmos estiverem ferindo os princípios e diretrizes desse
Código, mobilizando, inclusive, o Conselho Regional, caso se faça necessário;

c) contribuir para a alteração da correlação de forças institucionais, apoiando


as legítimas demandas de interesse da população usuária;

d) empenhar-se na viabilização dos direitos sociais dos usuários, através dos


programas e políticas sociais;

201
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

e) empregar com transparência as verbas sob a sua responsabilidade, de acordo


com os interesses e necessidades coletivas dos usuários.

Artigo 9º - É vedado ao Assistente Social:

a) emprestar seu nome e registro profissional a firmas, organizações ou


empresas para simulação do exercício efetivo do Serviço Social;

b) usar ou permitir o tráfico de influência para obtenção de emprego,


desrespeitando concurso ou processos seletivos;

c) utilizar recursos institucionais (pessoal e/ou financeiro) para fins partidários,


eleitorais e clientelistas.

CAPÍTULO III – Das Relações com Assistentes Sociais e Outros


Profissionais

Artigo 10 - São deveres do Assistente Social:

a) ser solidário com outros profissionais, sem, todavia, eximir-se de denunciar


atos que contrariem os postulados éticos contidos neste Código;

b) repassar ao seu substituto as informações necessárias à continuidade do


trabalho;

c) mobilizar sua autoridade funcional, ao ocupar uma chefia, para a liberação


de carga horária de subordinado, para fim de estudos e pesquisas que visem
ao aprimoramento profissional, bem como de representação ou delegação
de entidade de organização da categoria e outras, dando igual oportunidade
a todos;

d) incentivar, sempre que possível, a prática profissional interdisciplinar;

e) respeitar as normas e princípios éticos das outras profissões;

f) ao realizar crítica pública a colega e outros profissionais, fazê-lo sempre


de maneira objetiva, construtiva e comprovável, assumindo sua inteira
responsabilidade.

Artigo 11 - É vedado ao Assistente Social:

a) intervir na prestação de serviços que estejam sendo efetuados por outro


profissional, salvo a pedido desse profissional; em caso de urgência, seguido
da imediata comunicação ao profissional; ou quando se tratar de trabalho
multiprofissional e a intervenção fizer parte da metodologia adotada;

202
TÓPICO 3 | UNIDADE 3

b) prevalecer-se de cargo de chefia para atos discriminatórios e de abuso de


autoridade;

c) ser conveniente com falhas éticas de acordo com os princípios deste Código
e com erros técnicos praticados por Assistente Social e qualquer outro
profissional;

d) prejudicar deliberadamente o trabalho e a reputação de outro profissional;

CAPÍTULO IV – Das Relações com Entidades da Categoria e demais


Organizações da Sociedade Civil

Artigo 12 - Constituem direitos do Assistente Social:

a) participar em sociedades científicas e em entidades representativas e de


organização da categoria que tenham por finalidade, respectivamente, a
produção de conhecimento, a defesa e a fiscalização do exercício profissional;

b) apoiar e/ou participar dos movimentos sociais e organizações populares


vinculados à luta pela consolidação e ampliação da democracia e dos direitos
de cidadania.

Artigo 13 - São deveres do Assistente Social:

a) denunciar ao Conselho Regional as instituições públicas ou privadas, onde


as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar os usuários
ou profissionais;

b) denunciar, no exercício da profissão, às entidades de organização da categoria,


às autoridades e aos órgãos competentes, casos de violação da Lei e dos
Direitos Humanos, quanto a: corrupção, maus-tratos, torturas, ausência de
condições mínimas de sobrevivência, discriminação, preconceito, abuso de
autoridade individual e institucional, qualquer forma de agressão ou falta de
respeito à integridade física, social e mental do cidadão;

c) respeitar a autonomia dos movimentos populares e das organizações das


classes trabalhadoras.

Artigo 14 - É vedado ao Assistente Social valer-se de posição ocupada


na direção de entidade da categoria para obter vantagens pessoais, diretamente
ou através de terceiros.

CAPÍTULO V – Do Sigilo Profissional

Artigo 15 - Constitui direito do Assistente Social manter o sigilo


profissional.

203
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

Artigo 16 - O sigilo protegerá o usuário em tudo aquilo de que o


Assistente Social tome conhecimento, como decorrência do exercício da
atividade profissional.

Parágrafo único - Em trabalho multidisciplinar só poderão ser prestadas


informações dentro dos limites do estritamente necessário.

Artigo 17 - É vedado ao Assistente Social revelar sigilo profissional.

Artigo 18 - A quebra do sigilo só é admissível, quando se tratarem


de situações cuja gravidade possa, envolvendo ou não fato delituoso, trazer
prejuízo aos interesses do usuário, de terceiros e da coletividade.

Parágrafo único – A revelação será feita estritamente o necessário, quer


em relação ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele
devam tomar conhecimento.

CAPÍTULO VI – Das Relações do Assistente Social com a Justiça

Artigo 19 - São deveres do Assistente Social:

a) apresentar à justiça, quando convocado na qualidade de perito ou


testemunha, as conclusões do seu laudo ou depoimento, sem extrapolar o
âmbito da competência profissional e violar os princípios éticos contidos
neste Código.

b) comparecer perante a autoridade competente, quando intimado a prestar


depoimento, para declarar que está obrigado a guardar sigilo profissional
nos termos deste Código e da Legislação em vigor.

Artigo 20 - É vedado ao Assistente Social:

a) depor como testemunha sobre situação sigilosa do usuário de que tenha


conhecimento no exercício profissional, mesmo quando autorizado;

b) aceitar nomeação como perito e/ou atuar em perícia, quando a situação não se
caracterizar como área de sua competência ou de sua atribuição profissional,
ou quando infringir os dispositivos legais relacionados a impedimentos ou
suspeição.

TÍTULO IV – DA OBSERVÂNCIA, PENALIDADES, APLICAÇÃO


E CUMPRIMENTO DESTE CÓDIGO

Artigo 21 - São deveres do Assistente Social:

204
TÓPICO 3 | UNIDADE 3

a) cumprir e fazer cumprir este Código;

b) denunciar ao Conselho Regional de Serviço Social, através de comunicação


fundamentada, qualquer forma de exercício irregular da Profissão, infrações
a princípios e diretrizes deste Código e da legislação profissional;

c) informar, esclarecer e orientar os estudantes, na docência ou supervisão,


quanto aos princípios e normas contidas neste Código.

Artigo 22 - Constituem infrações disciplinares:

a) exercer a Profissão quando impedido de fazê-lo ou facilitar, por qualquer


meio, o seu exercício aos não inscritos ou impedidos;

b) não cumprir, no prazo estabelecido, determinação emanada do órgão ou


autoridade dos Conselhos, em matéria destes, depois de regularmente
notificado;

c) deixar de pagar, regularmente, as anuidades e contribuições devidas ao


Conselho Regional de Serviço Social a que esteja obrigado;

d) participar de instituição que, tendo por objeto o Serviço Social, não esteja
inscrita no Conselho Regional;

e) fazer ou apresentar, declaração, documento falso ou adulterado, perante o


Conselho Regional ou Federal.

Das Penalidades

Artigo 23 - As infrações a este Código acarretarão penalidades, desde a


multa a cassação do exercício profissional, na forma dos dispositivos legais e/
ou regimentais.

Artigo 24 - As penalidades aplicáveis são as seguintes:

a) multa;

b) advertência reservada;

c) advertência pública;

d) suspensão do exercício profissional;

e) cassação do registro profissional.

Parágrafo único - Serão eliminados dos quadros dos CRESS, aqueles


que fizerem falsa prova dos requisitos exigidos nos Conselhos.

205
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

Artigo 25 - A pena de suspensão acarreta ao Assistente Social a interdição


do exercício profissional em todo o território nacional, pelo prazo de 30 (trinta)
dias a 2 (dois) anos.

Parágrafo único - A suspensão por falta de pagamento de anuidades e


taxas só cessará com a satisfação do débito, podendo ser cancelada a inscrição
profissional, após decorridos três anos da suspensão.

Artigo 26 - Serão considerados na aplicação das penas os antecedentes


profissionais do infrator e as circunstâncias em que ocorreu a infração.

Artigo 27 - Salvo nos casos de gravidade manifesta, que exigem


aplicação de penalidades mais rigorosas, a imposição das penas obedecerá à
gradação estabelecida pelo artigo 24.

Artigo 28 - Para efeito da fixação da pena, serão consideradas


especialmente graves as violações que digam respeito às seguintes disposições:

 Artigo 3º – alínea c
 Artigo 4º – alíneas a, b, c, g, i, j
 Artigo 5º – alíneas b, f
 Artigo 6º – alíneas a, b, c
 Artigo 8º – alíneas b, e
 Artigo 9º – alíneas a, b, c
 Artigo 11 – alíneas b, c, d
 Artigo 13 – alínea b
 Artigo 14
 Artigo 16
 Artigo 17
 Parágrafo único do artigo 18
 Artigo 19 – alínea b
 Artigo 20 – alíneas a, b

Parágrafo único - As demais violações não previstas no caput, uma vez


consideradas graves, autorizarão aplicação de penalidades mais severas, em
conformidade com o artigo 26.

Artigo 29 - Advertência reservada, ressalvada a hipótese no artigo 32,


será confidencial, sendo que a advertência pública, a suspensão e a cassação do
exercício profissional serão efetivadas através de publicação em Diário Oficial
e em outro órgão da imprensa, e afixado na sede do Conselho Regional onde
estiver inserido o denunciado e na Delegacia Seccional do CRESS da jurisdição
de seu domicílio.

Artigo 30 - Cumpre ao Conselho Regional a execução das decisões


proferidas nos processos disciplinares.

206
TÓPICO 3 | UNIDADE 3

Artigo 31 - Da imposição de qualquer penalidade caberá recurso com


efeito suspensivo ao CFESS .

Artigo 32 - A punibilidade do Assistente Social, por falta sujeita ao


processo ético e disciplinar, prescreve em 5 (cinco) anos, contados da data da
verificação do fato respectivo.

Artigo 33º - Na execução da pena de advertência reservada, não sendo


encontrado o penalizado ou se este, após duas convocações, não comparecer
no prazo fixado para receber a penalidade, será ela tornada pública.

§ 1º - A pena de multa, ainda que o penalizado compareça para tomar


conhecimento da decisão, será publicada nos termos do artigo 29, deste Código,
se não for devidamente quitada no prazo de 30 (trinta) dias, sem prejuízo da
cobrança judicial.

§ 2º - Em caso de cassação do exercício profissional, além dos editais e


das comunicações feitas às autoridades competentes interessadas no assunto,
proceder-se-á a apreensão da Carteira e Cédula de Identidade Profissional do
infrator.

Artigo 34 - A pena de multa variará entre o mínimo correspondente ao


valor de uma anuidade e o máximo do seu décuplo.

Artigo 35 - As dúvidas na observância deste código e os casos omissos


serão resolvidos pelos Conselhos Regionais do Serviço Social ad referendum do
Conselho Federal de Serviço Social, a quem cabe firmar jurisprudência.

Artigo 36 - O presente Código entrará em vigor na data de sua publicação


no Diário Oficial da União, revogando-se as disposições em contrário.

Brasília, 13 de março de 1993.

MARLISE VINAGRE SILVA


Presidente do CFESS
FONTE: Publicada no DOU, Seção 1, de 8.6.1993, p. 7.613-7.614. Disponível em: <http: // www.
cfess.org.br >. Acesso em: 26 mar. 2009.

Publicada no DOU, Seção 1, n. 60, de 30.3.1993, p. 4.004-4.007 e alterada pela Resolução


CFESS, n. 290, publicada no DOU, Seção 1, de 11.2.1994. Disponível em: <http:// www.cfess.org.
br >. Acesso em: 26 mar. 2009.

207
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

DICAS

Para um aprofundamento destes temas, sugiro que você leia os


seguintes livros:

Código de Ética do/a Assistente Social. 9ª Edição Revista e


Atualizada, 2011. - Aprovado em 13 de março de 1993 - Com as
alterações introduzidas pelas Resoluções CFESS nº 290/94, 293/94,
333/96 e 594/11 - podendo ser baixado do site: <http://www.cfess.
org.br/arquivos/CEP2011_ CFESS.pdf>.

208
RESUMO DO TÓPICO 3
O Código de Ética Profissional do Assistente Social está dividido nos
seguintes capítulos:

 Introdução.

 Princípios Fundamentais.

 Título I - Disposições Gerais.

 Título II - Dos Direitos e das Responsabilidades Gerais do Assistente Social.

 Título III - Das Relações Profissionais.

 Capítulo I - Das Relações com os Usuários.

 Capítulo II - Das Relações com as Instituições Empregadoras e Outras.

 Capítulo III - Das Relações com Assistentes Sociais e Outros Profissionais.

 Capítulo IV - Das Relações com Entidades da Categoria e Demais Organizações


da Sociedade Civil.

 Capítulo V - Do Sigilo Profissional.

 Capítulo VI - Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento.

 Título IV - Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento.

209
AUTOATIVIDADE

Escreva um resumo do presente Código de Ética Profissional do Assistente


Social, apresentando somente os principais tópicos.

210
UNIDADE 3
TÓPICO 4

OS CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, apresentaremos os diversos Conselhos de fiscalização do
Serviço Social.

2 CFESS – CONSELHO FEDERAL DO SERVIÇO SOCIAL


O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) pode ser compreendido
como um órgão regulador da profissão, no qual fiscaliza a práxis profissional dos
Assistentes Sociais em todo o território nacional, devidamente regulamentado
pela Lei nº 8662/93.

O Conselho Federal do Serviço Social (CFESS) vem desenvolvendo suas


atividades em prol da regulamentação e garantia dos direitos e deveres da
profissão do Serviço Social.

A estrutura de atuação do Conselho Federal do Serviço Social é a seguinte:

O Brasil tem hoje aproximadamente 80.000 profissionais que atuam,


predominantemente, na formulação, planejamento e execução de políticas
públicas como educação, saúde, previdência, assistência social, habitação,
transporte, entre outras, movidos/as pela perspectiva de defesa e ampliação dos
direitos da população brasileira. [...]

[...] o Conjunto CFESS/CRESS reafirma e fortalece, em sua programática,


o debate e ações estratégicas em torno da valorização da ética, da socialização
da riqueza e da defesa dos direitos, na perspectiva de reconhecer, analisar e se
contrapor às formas de mercantilização de todas as dimensões da vida social.

Nosso compromisso com o projeto ético-político profissional, expresso nos


valores e princípios estabelecidos no Código de Ética dos/as Assistentes Sociais, nos
mobiliza para a luta em defesa de uma cultura política com direção emancipatória
e respeito à diversidade, além de nos sensibilizar, em nosso cotidiano profissional,
para conhecer as reais condições de vida da população e buscar formas de intervir
contra todos os processos de degradação da vida humana.

FONTE: Brasil (2009b, p. 1)

211
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

As frentes de atuação do Conselho Federal do Serviço Social (CFESS) são:

 Comissão de Orientação e Fiscalização Profissional – COFI:

Enfatiza e normatiza ações de orientação e fiscalização do exercício


profissional, na perspectiva de valorizar, defender, garantir e ampliar
os espaços de atuação profissional, e propiciar condições adequadas
de trabalho e qualidade de atendimento e defesa dos direitos da
população. Acompanha e formula estratégia para desenvolvimento
e implementação da Política Nacional de Fiscalização do Conjunto
CFESS/CRESS, atuando como instância de orientação e apoio aos
CRESS e Seccionais, de modo a unificar procedimentos relativos à
fiscalização profissional. Para tanto, observa as deliberações aprovadas
no Encontro Nacional CFESS/CRESS. (BRASIL, 2009b, p. 1).

 Comissão de Formação Profissional:

Atua na perspectiva de fortalecer a articulação entre a formação e o


exercício profissional, estimulando a criação de mecanismos para
qualificação profissional como requisito para valorização da profissão.
Defende o projeto de formação profissional, referenciado nas
diretrizes curriculares aprovadas pela ABEPSS e estabelece articulação
com ABEPSS e ENESSO para defesa da formação profissional com
qualidade. (BRASIL, 2009b, p. 1).

 Comissão de Ética e Direitos Humanos :

Pauta-se na análise crítica e estratégica dos direitos humanos


como mediação para a defesa de uma cultura política com direção
emancipatória e respeito à diversidade, com a perspectiva de conhecer
as reais condições de vida da população e buscar formas de intervir
na defesa de direitos e contra todos os processos de degradação da
vida humana. Atua como instância recursal nos julgamentos éticos e
na capacitação de agentes multiplicadores, por meio do curso Ética
em Movimento, oferecido anualmente aos representantes de todos os
CRESS e Seccionais. Atua também na divulgação do código de ética e
na defesa dos princípios contidos no projeto ético-político profissional,
articulando-se com movimentos em defesa dos direitos humanos.
(BRASIL, 2009b, p. 1).

 Comissão de Seguridade Social:

Defende a intervenção qualificada e crítica dos assistentes como


trabalhadores que atuam em todas as políticas sociais e em diversos
campos sócio-ocupacionais, formulando respostas às múltiplas
expressões da questão social que constituem objeto de trabalho
profissional. Reafirma a postura contundente de defesa dos direitos
e de políticas sociais públicas universais, com ênfase na concepção de

212
TÓPICO 4 | UNIDADE 3

um amplo padrão de seguridade social, universal, redistributivo e de


responsabilidade estatal e fortalecimento das políticas de trabalho e
emprego, habitação e educação, na perspectiva de estabelecimento
de um padrão universal de direitos e políticas públicas. Por meio da
representação de conselheiros/as em Fóruns, Conselhos de Direitos
e de Políticas defende a socialização da política e participação
democrática dos assistentes sociais nos espaços de controle social
democrático. (BRASIL, 2009b, p. 1).

 Comissão de Relações Internacionais:

Objetiva fortalecer o Serviço Social para além das fronteiras nacionais,


e dar visibilidade ao projeto Ético-Político e à direção social da
profissão. Articula o Serviço Social na América Latina e Caribe e se
dedica a debater e formular parâmetros éticos comuns no âmbito dos
países do Mercosul, por meio da participação no Comitê Mercosul de
Trabalhadores Sociais. Veicula os princípios e valores do Projeto Ético-
Político Profissional no mundo por meio de participação na direção
da Federação Internacional de Trabalhadores Sociais (FITS). (BRASIL,
2009b, p. 1).

 Comissão de Comunicação:
Busca criar mecanismos para engajar o CFESS na luta pela
democratização da comunicação no Brasil, em diálogo com outros
movimentos sociais, entidades e demais instâncias de trabalhadores/
as organizados/as, buscando assegurar o direito humano à
comunicação como um direito da categoria e da sociedade. Elabora
e coordena estratégias comunicativas que viabilizem e ampliem o
acesso à informação qualificada sobre as causas, pautas e lutas da
categoria, tais como campanhas e veiculação de notícias em rádios,
jornais, informativos, cartilhas, entre outros. Viabiliza edição de
livros, divulgação de eventos e assessoria de imprensa. Tem a
responsabilidade de colocar a voz dos assistentes sociais nos diversos
espaços públicos democráticos disponíveis (rádio, televisão, jornais,
revistas e entre outros). (BRASIL, 2009b, p. 1).

 Comissão Administrativo-financeira:

Acompanha as receitas devidas aos Conselhos pelas pessoas físicas


e jurídicas, propondo a adoção de medidas administrativas, legais
e estratégias políticas para que mantenham a sua capacidade de
arrecadação. Por meio de um trabalho articulado com o Conselho
Fiscal, o controle fiscal interno vem conduzindo uma política de
qualificação gerencial e aprimoramento dos mecanismos de gestão
e controle democráticos, com resultados significativos expressos no
equilíbrio fiscal do CFESS. Essa ação tem como referência fundamental
os princípios de transparência, gestão democrática, competência
técnica, compromisso político, responsabilidade, postura ética,
direção social da política e participação de todos os conselheiros nas
discussões e viabilização das ações. (BRASIL, 2009b, p. 1).

213
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

3 CRESS – CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL


O Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) pode ser compreendido
como um órgão que regula a profissão do Assistente Social, mas no âmbito
Estadual, ou seja, regional. Sendo que o mesmo está diretamente vinculado ao
CFESS – Conselho Federal do Serviço Social.

O CRESS possui como norte ou princípio fundamental: disciplinar,


orientar, fiscalizar e defender a prática profissional do Assistente Social.

No Brasil, o Conselho Regional do Serviço Social foi dividido em 25


regiões e cada região possui sua regulamentação e suas diretrizes básicas.

UNI

Os 25 Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS) e as duas Seccionais de


Base Estadual (Acre e Amapá) são responsáveis pelo desenvolvimento das políticas elaboradas
e aprovadas pelo Conjunto CFESS/CRESS, de forma a estreitar, cada vez mais, a interação com
a categoria.

Maiores informações, vocês podem acessar os seguintes sites do CRESS de


sua região de atuação. Observe o seguinte quadro:

QUADRO 6 – SITES DOS CRESS

CRESS 1ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


PA
do Pará: <http://www.cress-pa.org.br>

CRESS 2ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


MA
do Maranhão: <http://www.cressma.org.br>

CRESS 3ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


CE
do Ceará: <http://www.cress-ce.org.br>

CRESS 4ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


PE
do Pernambuco: <http://www.cresspe.org.br>

214
TÓPICO 4 | UNIDADE 3

CRESS 5ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


BA
da Bahia: <http://www.cress-ba.org.br>

CRESS 6ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


MG
de Minas Gerais: <http://www.cress-mg.org.br>

CRESS 7ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


RJ
do Rio de Janeiro: <http://www.cressrj.org.br>

CRESS 8ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado de


DF
Brasília – Distrito Federal: <http://www.cressdf.org.br>

CRESS 9ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


SP
de São Paulo: <http://www.cress-sp.org.br>

CRESS 10ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


RS
do Rio Grande do Sul: <http://www.cressrs.org.br>

CRESS 11ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


PR
do Paraná: <http://www.cresspr.org.br>

CRESS 12ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


SC
de Santa Catarina: <http://www.cress-sc.org.br>

CRESS 13ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


PB
de Paraíba: <www.cress-pb.org.br>

CRESS 14ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


RN
de Rio Grande do Norte: <www.cressrn.org.br>

CRESS 15ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


AM
do Amazonas: <www.cress-am.org.br>

CRESS 16ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


AL
de Alagoas: <www.cress16.hpg.com.br>

CRESS 17ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


ES
do Espírito Santo: <www.cress-es.org.br>

CRESS 18ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


SE
de Sergipe: <www.cress-se.org.br>

215
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

CRESS 19ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


GO
de Goiás: <http://www.cressgo.org.br>

CRESS 20ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


MT
do Mato Grosso: <www.cressmt.org.br>

CRESS 21ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


MS
do Mato Grosso do Sul: <www.cress-ms.org.br/>

CRESS 22ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


PI
do Piauí: <www.cresspi.org.br/>

CRESS 23ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


RO
de Rondônia: <www.cress-ro.org.br>

CRESS 24ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


CRESS 24ª Região AP
de Amapá: <www.cressap.org.br>

CRESS 25ª Região: Conselho Regional de Serviço Social do Estado


AP
do Tocantins: <www.cressto.org.br>

FONTE: Adaptado do site: <http://www.cfess.org.br/cfess_diretorias.php>. Acesso em: 17 fev.


2012.

4 OUTRAS ENTIDADES CORRELACIONADAS AO SERVIÇO


SOCIAL
ENTIDADES DE SERVIÇO SOCIAL:

 Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS): <http://


www.abepss.org.br>.

 Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO): <http://www.


enesso.net>.

 Fórum Nacional de Assistência Social (FNAS): <fnas.forum@gmail.com>.

216
TÓPICO 4 | UNIDADE 3

LEITURA COMPLEMENTAR

HISTÓRICO DO CFESS E CRESS

ANTECEDENTES: A ORIGEM SOB CONTROLE ESTATAL

A criação e funcionamento dos Conselhos de fiscalização das profissões no


Brasil têm origem nos anos 1950, quando o Estado regulamenta profissões e ofícios
considerados liberais. Nesse patamar legal, os Conselhos têm caráter basicamente
corporativo, com função controladora e burocrática. São entidades sem autonomia,
criadas para exercerem o controle político do Estado sobre os profissionais, num
contexto de forte regulação estatal sobre o exercício do trabalho.

O Serviço Social foi uma das primeiras profissões da área social a ter
aprovada sua lei de regulamentação profissional, a Lei nº 3252 de 27 de agosto de
1957, posteriormente regulamentada pelo Decreto nº 994 de 15 de maio de 19621.
Foi esse decreto que determinou, em seu artigo 6º, que a disciplina e fiscalização
do exercício profissional caberiam ao Conselho Federal de Assistentes Sociais
(CFAS) e aos Conselhos Regionais de Assistentes Sociais (CRAS).

Esse instrumento legal marca, assim, a criação do então CFAS e dos CRAS,
hoje denominados CFESS e CRESS2. Para efeito da constituição e da jurisdição
dos CRESS, o território nacional foi dividido inicialmente em 10 Regiões,
agregando em cada uma delas mais de um estado e/ ou território (exceto São
Paulo), que progressivamente se desmembraram e chegaram em 2008 a 25 CRESS
e 2 Seccionais de base estadual.

Os Conselhos profissionais nos seus primórdios se constituíram como


entidades autoritárias, que não primavam pela aproximação com os profissionais
da categoria respectiva, nem tampouco se constituíam num espaço coletivo de
interlocução. A fiscalização se restringia à exigência da inscrição do profissional
e pagamento do tributo devido. Tais características também marcaram a origem
dos Conselhos no âmbito do Serviço Social.

OProcessoderenovaçãodoCFESSedeseusinstrumentosnormativos:OCódigo
de Ética, a Lei de Regulamentação Profissional e a Política Nacional de Fiscalização.
A concepção conservadora que caracterizou a entidade nas primeiras décadas de sua
existência era também o reflexo da perspectiva vigente na profissão, que se orientava
por pressupostos acríticos e despolitizados face às relações econômico-sociais. A
concepção conservadora da profissão também estava presente nos Códigos de Ética
de 1965 e 1975: “Os pressupostos neotomistas e positivistas fundamentam os Códigos
de Ética Profissional, no Brasil, de 1948 a 1975” (Barroco, 2001, p. 95)3.

O Serviço Social, contudo, já vivia o movimento de reconceituação e um


novo posicionamento da categoria e das entidades do Serviço Social é assumido

217
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

a partir do III CBAS (Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais), realizado em


São Paulo em 1979, conhecido no meio profissional como o Congresso da Virada,
“pelo seu caráter contestador e de expressão do desejo de transformação da práxis
político-profissional do Serviço Social na sociedade brasileira” (CFESS, 1996).
Embora o tema central do Congresso ressaltasse uma temática da grande relevância
– Serviço Social e Política Social – o seu conteúdo e forma não expressavam nenhum
posicionamento crítico quanto aos desafios da conjuntura do país. 4

Sintonizada com as lutas pela redemocratização da sociedade, parcela


da categoria profissional, vinculada ao movimento sindical e às forças mais
progressistas, se organiza e disputa a direção dos Conselhos Federal e Regionais,
com a perspectiva de adensar e fortalecer esse novo projeto profissional. Desde
então, as gestões que assumiram o Conselho Federal de Serviço Social imprimiram
nova direção política às entidades, por meio de ações comprometidas com a
democratização das relações entre o Conselho Federal e os Regionais, bem como
articulação política com os movimentos sociais e com as demais entidades da
categoria, e destas com os profissionais.

A partir de 1983, na esteira desse novo posicionamento da categoria


profissional, teve início um amplo processo de debates conduzido pelo CFESS
visando à alteração do Código de Ética vigente desde 1975. Desse processo,
resultou a aprovação do Código de Ética Profissional de 1986, que superou
a “perspectiva a-histórica e acrítica onde os valores são tidos como universais
e acima dos interesses de classe” (CFESS, 1986). Essa formulação nega a base
filosófica tradicional conservadora, que norteava a “ética da neutralidade” e
reconhece um novo papel profissional competente teórica, técnica e politicamente.

Em que pese esse significativo avanço, já em 1991, o Conjunto CFESS/


CRESS apontava para a necessidade de revisão desse instrumento para dotá-lo
de “maior eficácia na operacionalização dos princípios defendidos pela profissão
hoje” (CFESS, 1996). Essa revisão considerou e incorporou os pressupostos
históricos, teóricos e políticos da formulação de 1986, e avançou na reformulação do
Código de Ética Profissional, concluída em 1993. Mais uma vez, sob coordenação
do CFESS, o debate foi aberto com os CRESS e demais entidades da categoria em
vários eventos ocorridos entre 1991/1993: Seminários Nacionais de Ética, ENESS,
VII CBAS e Encontros Nacionais CFESS/CRESS.

A necessidade de revisão da Lei de Regulamentação vigente desde 1957 já


se fazia notar, ainda que de forma incipiente, desde 1966, quando da realização do
I Encontro Nacional CFESS/CRESS, que colocara em pauta a discussão acerca da
normatização do exercício profissional, constatando-se, na ocasião, a fragilidade
da legislação em vigor em relação às atribuições profissionais.

Porém, somente em 1971 se discute o primeiro anteprojeto de uma nova


lei no IV Encontro Nacional CFESS/CRESS e apenas em 1986 o deputado Airton
Soares encaminha o PL 7669, arquivado sem aprovação, devido à instalação
da Assembleia Nacional Constituinte. O tema volta ao debata nos Encontros

218
TÓPICO 4 | UNIDADE 3

Nacionais, onde se elabora a versão final do PL, apresentado desta vez, pelas
deputadas Benedita da Silva e Maria de Lourdes Abadia. O processo legislativo
foi longo em face da apresentação de um substitutivo o que retardou a aprovação
final. O Conjunto CFESS/ CRESS, no entanto, não se deixou abater tendo
acompanhado e discutido o substitutivo nos seus fóruns até a aprovação da Lei
nº 8.662 em 7 de junho de 1993.

A nova legislação assegurou à fiscalização profissional possibilidades


mais concretas de intervenção, pois define com maior precisão as competências
e atribuições privativas do Assistente Social. Inova também ao reconhecer
formalmente os Encontros Nacionais CFESS/CRESS como o fórum máximo de
deliberação da profissão.

Além desses importantes instrumentos normativos, há que se ressaltar


a existência de outros que dão suporte às ações do Conjunto para a efetivação
da fiscalização do exercício profissional. Portanto, podemos afirmar que todos
os instrumentos normativos se articulam e mantêm coerência entre si: a Lei de
Regulamentação, o Código de Ética, o Estatuto do Conjunto, os Regimentos Internos,
o Código Processual de Ética, o Código Eleitoral, dentre outros, além das resoluções
do CFESS que disciplinam variados aspectos. Dentre as resoluções destacam-se: a)
Resolução nº 489/2006 que veda condutas discriminatórias ou preconceituosas, por
orientação e expressão sexual por pessoas do mesmo sexo, reafirmando importante
princípio ético contido na formulação de 1993; b) Resolução nº 493/2006 que
dispõe sobre as condições éticas e técnicas do exercício profissional, que possibilita
aos profissionais e aos serviços de fiscalização a exigência do cumprimento das
condições institucionais que possibilite o desempenho da profissão junto aos
usuários de forma ética e tecnicamente qualificada.

Esse conjunto de instrumentos legais constitui a base estruturante da


fiscalização do exercício profissional. Daí a importância de sua atualização para
sustentar a Política Nacional de Fiscalização conectada com o novo projeto
profissional, sintonizado com os anseios democráticos dos profissionais e seus
usuários. A partir dessa ótica, o Conjunto redimensiona a concepção de fiscalização,
compreendendo a sua centralidade como eixo articulador das dimensões política,
formativa e normativa. A fiscalização passa a ter o caráter de instrumento de luta
capaz de politizar, organizar e mobilizar a categoria na defesa do seu espaço de
atuação profissional e defesa dos direitos sociais.

As primeiras experiências de fiscalização, embora com diferenciações entre


os diversos CRESS, remontam a meados dos anos 1980. Inicialmente, os CRESS
se preocuparam com sua organização administrativo-financeira, entendida como
suporte fundamental às ações da fiscalização; avançaram para a identificação das
demandas da categoria, conhecimento da realidade institucional, discutindo-se
condições de trabalho, autonomia, defesa de espaço profissional, atribuições e
capacitação, assim como a necessária articulação política do Conjunto com outros
sujeitos coletivos. Nesse momento, metade dos CRESS então existentes, criou
suas Comissões de Fiscalização, inicialmente formadas por conselheiros, sendo

219
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

posteriormente ampliadas com a contratação de agentes fiscais. Mas, dificuldades


se evidenciavam nos limites dos instrumentos legais (as primeiras ações de
fiscalização tiveram lugar sob a vigência da Lei nº 3.252/57) e também financeiros.

Como forma de superação desses limites, o Conjunto apostava


na construção coletiva, fazendo emergir novos espaços para discussão e
aprimoramento das experiências entre os CRESS, a exemplo dos Encontros
Nacionais de Fiscalização, que se sucederam a partir do primeiro deles realizado
em Aracaju (1988). Encontros Regionais também se organizaram visando a
preparação para o Encontro Nacional. No 1º. Encontro Regional do Nordeste,
em Fortaleza (1991) já se destacava a necessidade da construção de uma Política
Nacional de Fiscalização (PNF). Com base nessa experiência, houve, a partir da
gestão 1996-1999, a instituição dos Encontros Regionais Descentralizados, que
ampliando sua pauta, incluíram a discussão de outras temáticas para além da
fiscalização: ética, seguridade social, administrativo-financeira, comunicação,
formação e relações internacionais.

A Comissão Nacional de Fiscalização e Ética do CFESS (COFISET) assume


então a responsabilidade de elaborar as diretrizes e estratégias para uma Política
Nacional de Fiscalização do Exercício Profissional do Assistente Social, incorporando
as principais demandas e discussões dos Encontros Regionais, que foram aprovadas
no 25º. CFESS/CRESS, em Fortaleza, em 1996. Nos Encontros Nacionais dos anos
seguintes (1997/1998) a discussão da PNF foi aprofundada, bem como outras
normativas do Conjunto que se relacionavam com a fiscalização do exercício
profissional. Esse processo culminou com a aprovação da Resolução CFESS 382
de 21/02/1999, que dispôs sobre as normas gerais para o exercício profissional e
instituiu a Política Nacional de Fiscalização, sistematizada a partir dos seguintes
eixos: potencialização da ação fiscalizadora para valorizar e publicizar a profissão;
capacitação técnica e política dos agentes fiscais e COFIs para o exercício da fiscalização;
articulação com as unidades de ensino e representações locais da ABEPSS e ENESSO;
inserção do Conjunto CFESS / CRESS nas lutas referentes às políticas públicas. Tais
eixos se articulam em torno de três dimensões, a saber: afirmativa de princípios e
compromissos conquistados; político-pedagógica; normativa-disciplinadora.5

A partir de então, a PNF vem sendo um instrumento fundamental para


impulsionar e organizar estratégias políticas e jurídicas conjuntas e unificadas para
a efetivação da fiscalização profissional em todo o território nacional, levando-se
em consideração, no entanto, as particularidades e necessidades regionais.

Os espaços de discussões do Conjunto relativos à Política de Fiscalização


têm sido ampliados, a exemplo dos Seminários Nacionais de Capacitação
das COFIs que acontecem a cada 2 anos (realizados a partir de 2002), além da
continuidade dos Seminários Regionais de Fiscalização que ocorrem juntamente
com os Encontros Descentralizados, preparatórios para o Encontro Nacional.
Outro espaço previsto é a Plenária Ampliada, para aprofundamento de alguma
temática, e ainda o Projeto Ética em Movimento, espaço privilegiado para a
ampliação do debate e reflexão ética. 

220
TÓPICO 4 | UNIDADE 3

A atualização da PNF ocorrida em 2007 visou incorporar os aperfeiçoamentos


necessários decorridos 10 anos da sua aprovação. O processo envolveu as Comissões
de Fiscalização e culminou com a aprovação da Resolução CFESS 512 de 29/09/2007
que reformulou as normas gerais para o exercício da fiscalização profissional e
atualizou a Política Nacional de Fiscalização, após intensas e profícuas discussões
nos espaços deliberativos do Conjunto. Essa revisão manteve os pressupostos
anteriormente definidos, conservando os eixos e dimensões estruturantes e
avançou, por exemplo, na elaboração de um Plano Nacional de Fiscalização que se
apresenta como um instrumento político e de gestão.

NOTAS

1
Esta data ficou instituída como o Dia do Assistente Social e passou a
ser comemorada anualmente pela categoria profissional com a organização de
eventos pelas suas entidades representativas.

2
Com a aprovação da lei nº 8.662/93, que revogou a nº 3.252/57, as
designações passaram a ser Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e
Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS). No decorrer do texto utilizaremos
as novas designações.

3
O primeiro Código de Ética Profissional do Assistente Social foi elaborado
pela ABAS – Associação Brasileira de Assistentes Sociais, em 1948. A partir da
criação do CFAS, em 1962, um novo Código é aprovado em 1965, passando a ter
um caráter legal, assim como as reformulações posteriores em 1975, 1986 e 1993.

4
Resgate desse processo pode ser encontrado em ABRAMIDES, M. B. C.
& CABRAL, M. S.R. O novo sindicalismo e o serviço social. São Paulo, Cortez,
1995 e CFESS. “Serviço Social a caminho do século XXI: o protagonismo ético-
político do Conjunto CFESS-CRESS”. In: Serviço Social e Sociedade (50). São
Paulo, Cortez, 1996,

5
Para maior aprofundamento desse processo, consultar Relatório de
Deliberações do 26º. Encontro Nacional CFESS/CRESS (1997) e seus anexos.

REFERÊNCIAS

BARROCO, M. L. S. Ética e Serviço Social: fundamentos ontológicos. São Paulo,


Cortez, 2001.

BRASIL. Lei nº 8.662/93 de 7 de junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de


Assistente Social e dá outras providências.

CFESS. Código de Ética Profissional do Assistente Social. 1986.

_______ Código de Ética Profissional do Assistente Social. 1993.

221
UNIDADE 3 | UNIDADE 3

_______ “Serviço Social a caminho do século XXI: o protagonismo ético-político


do Conjunto CFESS-CRESS”. In: Serviço Social e Sociedade (50). São Paulo,
Cortez, 1996.

_______ Relatório de Deliberações do 26º. Encontro Nacional CFESS/ CRESS.


1997.

_______ Resolução nº 382/99 de 21/02/1999. Dispõe sobre normas gerais para o


exercício da Fiscalização Profissional e institui a Política Nacional de Fiscalização.

_______ Resolução nº 512/07 de 29/09/2007. Reformula as normas gerais para o


exercício da fiscalização profissional e atualiza a Política Nacional de Fiscalização.

_______ Instrumentos para a fiscalização do exercício profissional do Assistente


Social. Brasília, 2007.

FONTE: BRASIL. Conselho Federal do Serviço Social – CFESS. Brasília: CFESS, 2009b. Disponível
em: <http://www.cfess.org.br>. Acesso em: 16 mar. 2009.

222
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico apresentamos os diversos Conselhos de fiscalização do


Serviço Social.

 O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) é um órgão regulador da


profissão, que fiscaliza a práxis profissional dos Assistentes Sociais em todo o
território nacional, devidamente regulamentado pela Lei nº 8.662/93.

 O Conselho Federal do Serviço Social (CFESS) vem desenvolvendo suas


atividades em prol da regulamentação e garantia dos direitos e deveres da
profissão do Serviço Social.

 O Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) é um órgão que regula a


profissão do Assistente Social, mas no âmbito Estadual, ou seja, regional.

 O CRESS está diretamente vinculado ao CFESS – Conselho Federal do Serviço


Social.

 O CRESS possui como norte ou princípio fundamental: disciplinar, orientar,


fiscalizar e defender a prática profissional do Assistente Social.

 No Brasil, o Conselho Regional do Serviço Social foi dividido em 24 regiões, no


qual cada região possui sua regulamentação e diretrizes básicas.

223
AUTOATIVIDADE

Acesse os sites do CFESS e do CRESS de sua região e pesquise mais


sobre a profissão do Assistente Social.

224
REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
introdução à filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003.

BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética e serviço social: fundamentos ontológicos. 6.


ed. São Paulo: Cortez, 2008a.

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Ética Profissional dos Assistentes Sociais e dá outras providências. Disponível
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227

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