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Fundamentos do

Serviço Social na
Contemporaneidade
Material Teórico
Amadurecimento da intenção de ruptura

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.a Esp. Regina Inês da Silva Bonança

Revisão Técnica:
Prof.ª Me. Elisângela Pereira de Queiros Mazuelos

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Amadurecimento da intenção de ruptura

• A recusa à violência institucional


• Prática Institucional e Prática Profissional
• Serviço Social e participação popular: formulações e experiências

·· Abordar a busca da legitimidade da atividade profissional, essa marcada pela


ruptura com o conservadorismo para que assim fosse possível sua renovação.
·· Estudar a relação entre a atuação profissional e a questão da participação popular
diante das novas perspectivas para o assistente social.

Caro(a) aluno(a),
Para obter um bom desempenho, você deve percorrer todos os espaços, materiais e
atividades disponibilizadas nesta Unidade.
Inicie seus estudos pela leitura do material didático, composto pelo conteúdo teórico,
material complementar, apresentação narrada e videoaula, essa que sintetiza e amplia conceitos
importantes sobre o tema abordado.
Apenas depois realize as atividades propostas, as quais:
• Atividade de Sistematização (AS): composta por exercícios de múltipla escolha, com
autocorreção e que possuem pontuação;
• Atividade de Aprofundamento (AA): baseada em um trecho de livro, propõe o
desenvolvimento reflexivo a partir da elaboração textual;
• Avaliação: igualmente constituída por questões de múltipla escolha e que analisam,
atribuindo pontuação, sua compreensão e desenvolvimento nesta Unidade.
Bons estudos!

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Unidade: Amadurecimento da intenção de ruptura

Contextualização
Caro(a) aluno(a),
Nesta Unidade discorreremos sobre o processo de institucionalização do Serviço Social
brasileiro como profissão reconhecida na divisão do trabalho, em especial na década de 1940,
momento em que se vinculou a criação das instituições assistenciais e entidades paraestatais.
Abordaremos também o Serviço Social e a participação popular em suas formulações
e experiências diante das novas perspectivas profissionais, isso conforme a concepção de
ruptura do conservadorismo rumo à renovação profissional.

Nesse sentido, aqueceremos e enriqueceremos os nossos estudos


assistindo à palestra do professor José Paulo Netto, realizada em
comemoração ao dia do assistente social, com o tema Formação
profissional na consolidação do projeto ético-político do
Serviço Social brasileiro: fundamentos, resistências e
desafios conjunturais. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=wGDnqWeck0A

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A recusa à violência institucional

A concepção de algo que seja novo no espaço profissional deve-se à ruptura com o
conservadorismo, abrindo, assim, caminho para a renovação profissional.
Essa renovação foi caracterizada pela busca da legitimidade da atividade profissional, além
do Estado e do patronal, mas tendo a clareza da intermediação que ocorre no mercado de
trabalho e com o empresariado.
Essa atuação ocorre no sentido de superar a demanda institucional na realização de propostas
de trabalho que possibilitem a ampliação da prática do Serviço Social.
Há a efetivação de uma ruptura com o papel imposto pelo tradicionalismo que era marcado
pelo controle e tutela das classes subalternas para atendimento da lógica do poder vigente,
tornando possível a realização de uma prática profissional que atendesse às reais necessidades
sociopolíticas dos trabalhadores em seus grupos.
Realizava-se, assim, não apenas o atendimento diante da demanda institucional, mas
também ampliações de propostas de trabalho, as quais são de extrema valia para a prática do
assistente social nas diversas expressões de participação social, especialmente na realização
com eficácia dos serviços prestados, no respeito às diversas formas de trabalho, de vida, de
cultura e também como educador político.
Para Gramsci (1999, p. 103-104) a busca para conquistar essa nova realidade e a
realização de uma prática em sua completa unidade significa travar uma ampla batalha,
a qual exige, em primeiro lugar, a autocompreensão crítica, a ser obtida através de uma
luta de hegemonias políticas, de direções contrastantes, inicialmente no campo da ética e
depois no da política, atingindo uma elaboração superior da própria concepção do real,
mantendo-se a unidade entre a teoria e a prática não como um dado mecânico, mas como
um devir histórico.
Trata-se de desconstruir o discurso racional burguês, que se agarra à “imediaticidade” e à
“pragmaticidade” dos fenômenos sociais, e recriar as práticas sociais no sentido de inová-las,
torná-las "concreto pensado" e vinculá-las a uma nova concepção de mundo.
Torna-se claro que o “novo" no espaço profissional não se trata apenas de uma
modificação ou recusa nas tarefas socialmente atribuídas nos quadros da divisão sociotécnica
do trabalho, mas sim no âmbito do tratamento teórico-político atribuído a essa prática, o que
impulsiona a construção e a implementação de ações conduzidas pela nova direção social
com planejamento e redimensionadas, manifestando-se como facilitadoras de articulações
na atuação da prática profissional.
Tal circunstância requer um profissional diferenciado, que possa atender aos novos
parâmetros para a criação de outra hegemonia na sociedade. Para que isso ocorra, ou seja,
para que se manifeste a apropriação do novo e a potencialização das possibilidades em sua
prática, faz-se necessário:

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Unidade: Amadurecimento da intenção de ruptura

• Um profissional crítico;
• Uma formação intelectual sólida;
• A recusa ao pragmatismo e ao conformismo;
• A capacitação teórica e o conhecimento da historicidade.

Conformismo
Passividade, comportamento, ou tendência de se conformar, de aceitar
Glossário sem se opor a uma situação indesejada
Disponível em: http://www.dicio.com.br/conformismo.

Você sabia?
Pragmatismo é um pensamento filosófico que foi criado nos fins do século
XIX pelo filósofo norte-americano Charles Sanders Peirce (1839-1914), pelo
psicólogo William James (1844-1910) e pelo jurista Oliver Wendele Holmes Jr.
(1841-1935). Opondo-se ao intelectualismo, considera o valor prático como
critério da verdade.
Assim, ser partidário do pragmatismo é ser prático, ser pragmático, ser realista.
Trata-se daquele que não faz rodeios, que tem seus objetivos bem definidos e que
considera o valor prático como critério da verdade
Fonte: http://www.significados.com.br/pragmatismo

O profissional renovado poderá construir novas possibilidades de atuação com os grupos


que trabalha na interpretação da realidade percebida, diante do que efetivamente ocorre na
dinâmica cotidiana da vida em sociedade.

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Prática Institucional e Prática Profissional

Ao longo de nossa história, o Serviço Social brasileiro foi objeto de várias análises, entre as
quais pode-se citar o movimento social com a Igreja Católica, em que a questão social estava
relacionada à questão moral; em que se deslocava de uma postura contemplativa para uma
ação em um redimensionamento do Estado e da ordem burguesa.

Liberalismo
O princípio do liberalismo é o conhecimento da razão humana e o
Glossário direito irrevogável à ação e realização própria, livre e sem limites. No
campo político, o liberalismo surgiu a partir das Revoluções Francesa
e Norte-Americana. Seu primeiro ato de fé política direciona-se aos
direitos humanos.
Fonte: http://www.infoescola.com/filosofia/liberalismo-politico

A partir de 1937 ocorreu um período marcado por uma política favorável à industrialização
e ao modelo corporativista do Estado, que tornou a posição da burguesia industrial soberana
ao poder nacional. Adquirindo, portanto, a supremacia no poder do Estado, essa se aliou
aos proprietários rurais, defrontando-se com o proletariado urbano em pleno crescimento.
Esta expansão foi fomentada pelo grande fluxo populacional que teve origem na liberação
da capitalização da produção agrícola. Diante desse quadro de expansão, fez-se necessário
absorver e conter a condução de medidas de controle.
Assim, o processo de institucionalização do Serviço Social como profissão reconhecida na
divisão do trabalho, em especial na década de 1940, vinculou-se à criação das instituições
assistenciais e entidades paraestatais.

Saiba Mais
A expressão entidade paraestatal é amplamente utilizada para denominar as organizações
sociais autônomas, que funcionam de forma paralela ao Estado, sem integrá-lo; realizando
uma atividade de interesse público, sem se confundir com o serviço público próprio do Estado.
Diferencia-se por se submeter a um regime jurídico de direito privado, mas, cumulativamente,
gozando de privilégios e sofrendo restrições próprias da Administração Pública.
A característica principal das organizações sociais autônomas é a colaboração com o
Poder Público. Ou seja, não se trata de um serviço público e não é atividade inteiramente
privada, está em uma zona intermediária. Dito de outra forma, nos serviços sociais
autônomos surge uma entidade paraestatal, que funciona paralelamente ao Estado
Fonte: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=5299&n_link=revista_artigos_leitura

Através de uma política que atendesse às massas populares, o Estado Novo buscou espaço
de legitimação com a classe operária, dessa maneira, coibindo o componente autônomo de
movimentos de reivindicação do proletariado.

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Unidade: Amadurecimento da intenção de ruptura

Para isso houve a necessidade de o Estado incorporar parte das reivindicações sociais das
classes trabalhadoras e do proletariado na ampliação de bases de reconhecimento de uma:
• Legislação sindical;
• Legislação social;
• Institucionalização do salário mínimo;
• Constituição da Justiça do Trabalho.
Com esse movimento de proteção ao trabalhador gestado pelo Estado e pelas determinações
legais, o papel do sindicato se transformou à condição de um agente de colaboração do Poder
Público, patrocinado a partir de recursos da própria classe operária.
Isso fez com que as entidades sindicais tivessem significativo esvaziamento político e o
Estado, como meio de canalizar e mobilizar os trabalhadores, promovesse uma ação normativa
assistencial que teve como fruto a manutenção de salários rebaixados.
Com o Estado intervencionista, desenvolveram-se as instituições assistenciais, as quais
fizeram com que o Estado fosse interventor não apenas na política salarial e sindical, como
também agente de controle social de uma política assistencial vinculada a uma organização
representativa das classes produtoras.
Com esse processo surgiram os seguintes órgãos, instituições e entidades privadas.

Legião Brasileira de Assistência (LBA)


Foi um órgão assistencial público brasileiro, fundado em 28 de agosto de 1942 pela, então
primeira dama, Darcy Vargas, com o objetivo de ajudar as famílias dos soldados enviados à
Segunda Guerra Mundial, contando com o apoio das associações comerciais e da Confederação
Nacional da Indústria.

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)


É uma instituição privada brasileira de interesse público, sem fins lucrativos. Os programas de
capacitação profissional são viabilizados por meio das seguintes modalidades de aprendizagem:
Habilitação, Qualificação, Aperfeiçoamento, Técnico, Superior e Pós-Graduação.

Serviço Social do Comércio (Sesc)


É uma entidade privada que tem como objetivo proporcionar o bem-estar e a qualidade de
vida aos trabalhadores desse setor e suas famílias.

Conselho Nacional de Assistência Social (Cnas)


Foi instituído pela Lei Orgânica da Assistência Social (Loas) – Lei n.º 8.742, de 7 de
dezembro de 1993 –, como órgão superior de deliberação colegiada, vinculado à estrutura do
órgão da Administração Pública Federal, responsável pela coordenação da política nacional
de assistência social.

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Saiba Mais
A expressão controle social tem origem na Sociologia. De forma geral, é empregada
para designar os mecanismos que estabelecem a ordem social, disciplinando a sociedade
e submetendo os indivíduos a determinados padrões sociais e princípios morais.
Assim, assegura a conformidade de comportamento dos indivíduos a um conjunto de
regras e princípios prescritos e sancionados.
Mannheim (1971, p. 178) define tal expressão como o “conjunto de métodos pelos quais a
sociedade influencia o comportamento humano, tendo em vista manter determinada ordem”
Fonte: http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/consoc.html

Nesse momento histórico, o Serviço Social exercia uma atividade totalmente ligada à Igreja
Católica, desenvolvendo ações assistenciais implementadas pela burguesia, em especial pelo
segmento feminino e tinha como principal objetivo o projeto de recristianização da sociedade
e solidificação de sua ação entre as classes operárias.
O processo de intervenção do Serviço Social no momento da criação das instituições
assistenciais ainda era germinal. O mercado de trabalho do profissional sofria grande expansão
e rompeu com o espaço anteriormente estreito e limitado, característico de sua origem para se
tornar uma atividade legitimada e institucionalizada pelo Estado, como também pelo conjunto
dos grupos dominantes.
Se o Serviço Social detinha em sua origem um caráter missionário, na realização da
justiça e da caridade, ao se profissionalizar agregou o apostolado social sem que, para isso,
ocorresse um confronto diante do crescimento profissional promovido pelo Estado e também
pela iniciativa privada.

Apostolado é a ação de propagar e defender uma doutrina.


Missionário é aquele que se dedica a propagar uma ideia, à
pregação de sua fé.

Podemos concluir que em um espaço de tempo muito curto, o Estado passou a ser um
caminho de motivação e incentivo para a ampliação da qualificação técnica e, portanto,
expansão do campo de atuação profissional. Além disso, pelo seu poder, o Estado confere
e solidifica a legitimação do Serviço Social como categoria assalariada em um processo de
profissionalização que possibilita o aumento de contratações.
O perfil do usuário de Serviço Social é alterado em virtude da significativa ampliação do que
era uma pequena parcela da população pobre nos atendimentos das obras sociais. Torna-se,
assim, o referencial das políticas assistenciais desenvolvidas pelas instituições e, dessa maneira,
o Serviço Social funciona também como agente e facilitador da execução de políticas sociais
do Estado e do setor privado, o que significa um maior número de empregos para a categoria.
Torna-se imprescindível no exercício profissional uma análise de seu significado social e sua
vinculação com o poder dominante diante das novas formas de enfrentamento, assim como da
prática com a classe trabalhadora, condições implantadas pelo Estado em consonância com o
empresariado para a construção de políticas assistenciais.

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Unidade: Amadurecimento da intenção de ruptura

O profissional de Serviço Social começa a atuar no desenvolvimento de normas pelos grupos


dominantes diante das classes trabalhadoras, não apenas dos usuários que eventualmente
necessitem de serviços profissionais, mas também do grande empresariado, tendo por objetivo
agir de acordo com as propostas desse setor. Com apoio, suporte institucional e jurídico,
realiza suas atividades profissionais a partir da demanda imposta, a qual contém um nítido
caráter de classe.
Para Iamamoto (2004) esse cunho impositivo, que marca grande parte da atuação
profissional, não aparece limpidamente no discurso do Serviço Social, tende a expressar-
se ao inverso, como reforço à ideologia do desinteresse, do dom de si, do princípio da não
ingerência, do respeito à livre iniciativa do cliente, da neutralidade etc. Tal análise nos leva a
marcar dois aspectos fundamentais:
O Serviço Social se institucionaliza e se legitima como profissão, extrapolando suas
marcas de origem no interior da Igreja, quando o Estado centralizava sua política assistencial,
efetivada através da prestação dos serviços sociais implementados pelas grandes instituições;
com isso, as fontes de legitimação do fazer profissional passam a emanar do próprio Estado
e do conjunto dominante.
O Estado não é compreendido, aqui, como aquele acima das classes, ou representante
exclusivo dos interesses da burguesia. Como centro do exercício do poder político, a noção de
Estado é inseparável da dominação. Porém, importa reter que tal dominação é, essencialmente,
contraditória, o que Kowarick (1979) traduz como a noção de "pacto de dominação".
De um lado, porque as classes burguesas não são homogêneas: no interior do bloco
dominante existem contradições secundárias entre suas frações, na busca de se apropriarem
de maior parcela possível do excedente criado pelas classes trabalhadoras sob as formas de
lucro industrial, comercial, juros e renda da terra; de outro lado, se o Estado exclui as classes
dominadas, deve levar em conta alguns de seus interesses, seja devido à luta de classes, seja às
próprias necessidades do processo de acumulação. Porém, tais interesses apenas são incluídos
nas políticas do Estado se não afetam substancialmente outros interesses, esses de classe
capitalista como um todo.
O pano de fundo do processo de institucionalização do Serviço Social, fornecendo
profissionais à sociedade, é a "questão social": isto é, o processo de formação e desenvolvimento
da classe operária e seu ingresso no cenário político, exigindo, a partir de suas lutas, o seu
reconhecimento como classe por parte do Estado e do empresariado, assim como ver a
classe operária através de legislação social e trabalhista, da prestação de serviços previstos
nas políticas sociais. Esses se tornam meios de enfrentamento do processo de pauperização
das classes trabalhadoras e de organização e luta na defesa de seus interesses e necessidades
imediatas de sobrevivência (IAMAMOTO, 2004, p. 110-111).
Ao serem inseridos nas instituições para a realização dos serviços sociais, os profissionais
de Serviço Social constituem a análise necessária para entender a natureza de sua ação e
prática profissional.

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Serviço Social e participação popular: formulações e experiências

Compreende-se que o poder do governo estabelece a demanda do profissional de


Serviço Social com o interesse da manutenção da ordem, legalidade e participação
popular controlada para, dessa maneira, integrar as classes subalternas no espaço do
poder e reprodução do capital.
Para Gramsci (2002, p. 135) os grupos subalternos sofrem sempre a iniciativa dos
grupos dominantes, mesmo quando se rebelam e insurgem: apenas a vitória permanente
rompe, e não imediatamente, a subordinação. Verifica-se em seu processo histórico que
mesmo quando parecem vitoriosos, na realidade os grupos subalternos estão apenas em
estado de defesa, sob alerta.
Os programas constituídos de políticas sociais têm como objetivo um elo que pode antecipar e
controlar possíveis manifestações, insatisfações e quebra do poder legitimado, o que possibilita
a ampliação da hegemonia sobre a sociedade em sua totalidade.

Saiba Mais
A participação popular é a soberania do povo em ação, sua expressão
concreta; é o efetivo exercício do poder político pelo seu titular. Como
tal, é inerente e indispensável à democracia contemporânea.
Os abusos cometidos pelos regimes totalitários e os horrores da
guerra empreendida para barrar a ameaça contra a humanidade que
eles representavam fizeram com que os Estados-membros da recém-
criada Organização das Nações Unidas percebessem a absoluta
incompatibilidade daqueles regimes com a proteção e efetivação dos
direitos humanos fundamentais e puseram em destaque as inúmeras
vantagens da democracia para alcançar tal desiderato.
Fonte: http://goo.gl/YceRiz

Cabe ressaltar que a formação das políticas sociais e os programas derivados foram
constituídos devido às lutas das classes trabalhadoras em busca de conquistas de direitos de
cidadania. Tais direitos, ao serem institucionalizados e administrados pelo Estado, perdem
o seu cerne político e provocam o esvaziamento do conteúdo das classes reivindicatórias.
Diante desse quadro, o Estado se apropria do poder e transforma a participação controlada
nos programas derivados das políticas sociais e a participação social como forma de controle
e retração das lutas também sociais, dos processos de miserabilidade relativa ao crescimento
desorganizado e diminuição do poder aquisitivo da classe trabalhadora.

Esta perspectiva de participação se fundamenta no fato de


os novos métodos de organização de produção e do trabalho
individual serem indissociáveis de um modo de viver ou pensar e
de sentir a vida; a obtenção de resultados efetivos em um campo
está intimamente associado ao êxito no outro. A automatização do
trabalho, a subordinação da atividade humana à máquina enquanto

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Unidade: Amadurecimento da intenção de ruptura

capital fixo; a perda do controle do trabalhador sobre o processo


de trabalho, coordenado e gerido pelos representantes do capital;
a incorporação dos avanços científicos a produção, como meio de
potencializar o trabalho, ampliando o tempo de trabalho não pago
apropriado pela classe capitalista, a desqualificação progressiva do
trabalho – todos estes fatores implicam mecanismos disciplinadores
e de vigilância sobre os agentes da produção
(IAMAMOTO, 2004, p. 124-125).

Não apenas o controle da produção e dos métodos de trabalho são modificados, ocorre
também uma nova socialização, que é imposta ao trabalhador e a sua família em seu cotidiano,
condição estabelecida pela ordem do capital, invadindo sua vida particular.

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Material Complementar
Caro(a) aluno(a),
Sugere-se os seguintes materiais para sua consulta e ampliação de seus conhecimentos
acerca dos assuntos estudados nesta Unidade:
Livros:
IAMAMOTO, Marilda Villela. Trabalho e indivíduo social. São Paulo: Cortez, 2008.
Neste livro, Marilda Villela Iamamoto realiza a análise de algumas particularidades do
processo de constituição da condição operária na agroindústria canavieira. A autora coloca
em evidência a centralidade do trabalho na vida dos indivíduos na sociedade capitalista;

CORREA NETTO, E. Profissão: assistente social [online]. São Paulo: Editora UNESP;
São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 280 p. ISBN 978-85-7983-083-9. Available from
SciELO Books. Disponível em:
http://books.scielo.org

SENNEDT. Richard. O artífice. Rio de Janeiro: Record, 2009. Richard Sennedt é um


dos mais importantes intelectuais contemporâneos. Nesta obra explora o trabalho manual
não industrializado. Conecta o esforço físico a valores éticos e discorre sobre o desejo
de fazer as coisas da melhor maneira possível e sobre a frustração e os danos causados
quando esse desejo nos é negado. Em uma abordagem original, Sennedt expande o
conceito de “artesanato” e impressiona ao mostrar o quanto é possível aprender sobre si
por meio do ato de produzir manualmente.

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Unidade: Amadurecimento da intenção de ruptura

Referências

BUTTIGIEG, J. Sulla Categoria Gramsciana di’subalterno. in.BARATA,G,;


LIGUORI,G,(Org). GRAMSCI, A. Da un secolo all’altro. Roma: Editori Reuniti,1999,p.27-38.

GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere. Tradução de Carlos Nelson Coutinho com a


colaboração de Luiz Sérgio Henrique e Mário Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Editora
Civilização Brasileira, 2002.v.5.

___________.Cadernos do Cárcere. Tradução de Carlos Nelson Coutinho com a colaboração


de Luiz Sérgio Henrique e Mário Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Editora Civilização
Brasileira, 1999.v.1.

IAMAMOTO, M. V. Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: Ensaios Críticos.


7.ed.São Paulo: Cortez, 2004.

KOWARICK, L. Processo de desarrollo del estado en Américo Latina y políticas


sociales. Acción Crítica, Lima, Celats/Alaets, n.5, p.6-13, 1979.

MANNHEIM, K. Sociologia Sistemática: uma introdução ao estudo de sociologia. 2.ed.


São Paulo: Pioneira, 1971.

NETTO, J. P. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. 5.ed. São Paulo: Cortez, 2006.

__________. Crise do Socialismo e Ofensiva Neoliberal. 4.ed.São Paulo: Cortez, 2007.

PONTES, R, N. Mediação e Serviço Social: Um estudo preliminar sobre a categoria. 4.


ed. São Paulo: Cortez, 2007.

SADER, E. S. Pós-Neoliberalismo: As políticas Sociais e o Estudo Democrático. São Paulo:


Paz e Terra, 2010.

Simionato, Ivete. Classes subalternas, lutas de classe e hegemonia: uma abordagem


gramsciana. UFSC, junho de 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1414-49802009000100006 Acesso em: 10/08/2015.

www.sesc.com.br/portal/sesc/o_sesc

http://www.diplomatique.org.br/acervo.php?id=3076

http://www.dicio.com.br/missionario

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Anotações

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