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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
COM300- COMUNICAÇÃO E SOCIEDADE

DISCENTE: WILLIAM SILVA RIBEIRO


DOCENTE: JONICAEL CEDRAZ DE OLIVEIRA

Fichamento por citação: Fichamento nº06


Obra: Comuna de Paris e a teoria da revolução em Marx: Do balanço na “Guerra Civil
em França” às conclusões de Engels no “Testamento” de 1895, por Valério Arcary

TÓPICO 1: Marx e a defesa da revolução permanente (Ps. 2-4)

“(...)encontramos na teoria da revolução de Marx uma reflexão histórica sobre o modelo da


grande revolução francesa que teria revelado que existem tendências internas à dinâmica dos
processos revolucionários (...)na defesa da necessária radicalização ininterrupta da revolução
democrática em revolução proletária, isto é, a perspectiva da revolução permanente: (...) ‘os
nossos interesses e as nossas tarefas consistem em tornar a revolução permanente até que seja
eliminada a dominação das classes mais ou menos possuidoras, até que o proletariado
conquiste o Poder do Estado, até que a associação dos proletários se desenvolva, não só em
um país, mas em todos os países predominantes do mundo, em proporções tais que cesse a
competição entre os proletários desses países (...)’.” (p. 2)

“Existe, entretanto, uma polêmica de interpretação histórica sobre as expectativas que Marx
mantinha (...)em relação ao papel que a burguesia poderia ou não cumprir no processo
revolucionário então em curso (...)A leitura que parece ser mais amplamente documentada e
rigorosa (...)é a de Draper: ‘Vimos com que segurança Marx e Engels previram que a
burguesia não tinha alternativa senão realizar uma revolução política que a colocasse no poder
e introduzisse um regime constitucional-liberal (...)mas isso ainda não os levou a concluir que
a burguesia poderia se recusar a cumprir sua tarefa histórica. para eles que a tarefa inicial do
proletariado (ou "o povo") pode ser empurrar a burguesia por trás. (...)’ (tradução nossa).”
(p.2)

“Ou seja, pelo menos durante os anos da revolução em 1848, alimentavam duas perspectivas
que estavam articuladas entre si: (a) (...)a luta (...)só poderia triunfar com métodos
revolucionários, isto é, a necessidade de uma revolução pela democracia (...)como a ante-sala
da revolução proletária, do que se deve concluir um programa de luta por duas revoluções,
ainda que com um intervalo abreviado entre ambas; (b) (...)a construção da independência
política de classe (...)para que a engrenagem de radicalização (...)não resulte em um
estrangulamento da revolução proletária, ou seja, em um novo thermidor, e ao contrário,
garanta a mobilização contínua dos trabalhadores pelas suas reivindicações e antecipe e
abrevie o intervalo entre as duas revoluções.” (p.3)

“Em 1848-51, Marx ainda tinha expectativas no possível desenlace de uma revolução
democrática na Alemanha e, se a burguesia não ocupasse o lugar de força motriz, trabalhava
com a hipótese de que a pequena-burguesia a substituísse historicamente.(...)”. (p. 3)

“Na segunda metade do XIX o marxismo nasce em um intervalo histórico em que a burguesia
européia teme o recurso aos métodos revolucionários(...)Mas, por outro lado, a sua ascensão
econômico-social lhe permite encontrar outras vias para consolidar o seu domínio sobre o
Estado e a sociedade.(...)” (p.3)

“A fórmula semi-etapista de Marx não era, no entanto, uma leitura determinista simples por
duas razões fundamentais: (a) porque considerava a possibilidade de que a pequena burguesia
viesse a substituir no calor do processo a demissão burguesa; (b) porque sugeria que o
intervalo entre as duas revoluções poderia ser abreviado (...)” (p.3)

TÓPICO 2: Uma explicação última para as derrotas de 1848 e da Comuna (Ps. 4-5)

“(...)Nunca é demais lembrar que grandes acontecimentos históricos como a derrota da vaga
de revoluções democráticas que se disseminou pela Europa em 1848, ou a fugaz conquista do
poder pelo proletariado parisiense em 1871 só podem ser compreendidas e analisadas através
da articulação de complexas cadeias de causalidades em que os elementos objetivos e
subjetivos se emaranham de forma freqüentemente indivisível. E, no entanto, ainda assim o
problema teórico permanece irredutível.” (p.4)

“ (...)a conclusão inescapável é que o primeiro prognóstico histórico do Manifesto, a defesa de


que uma época revolucionária anti-capitalista já se teria precipitado, não se confirmou. A
Segunda metade do XIX demonstrou que, se estava esgotada a época histórica das revoluções
burguesas (...)” (p. 4)
“As transições "tardias" encontraram uma alternativa histórica (...)que só pode ser explicado,
em última análise, pela vitalidade do crescimento das forças produtivas em expansão, o que,
em termos marxistas, caracteriza uma época não revolucionária.(...)” (ps.4-5)

“As transições não revolucionárias foram a forma política de um pacto anti-operário e anti-
popular das classes proprietárias burguesas e aristocráticas, unidas, apesar dos seus conflitos,
pelo temor à revolução. O desenvolvimento proporcionado pela, denominada por alguns,
"segunda revolução industrial (...) ofereceu as bases materiais para uma aceleração da
urbanização que, associada à elevação de salários que a migração de dezenas de milhões de
europeus para as Américas, Austrália, etc... também produziu, veio a se traduzir em novas
conquistas econômico-sociais para o proletariado como: escola primária pública e gratuita (e
laica, na França); direito crescente de voto, de associação sindical e de organização de
partidos na legalidade, etc.” (p.5)

TÓPICO 3: Engels e a polêmica sobre a "via inglesa" no Testamento de 1895:


democracia e revolução e a hipótese das "duas ondas" (Ps. 5-8)

“A mesma questão ressurge (...)por um outro ângulo, na famosa e injustiçada Introdução de


1895, em que Engels retoma o balanço de época e a discussão sobre a permanência da
mobilização no processo revolucionário.(...). Assim, nessa Introdução vale a pena destacar
duas reflexões profundamente agudas sobre épocas e situações: a) Um balanço de época,
recolocando com uma educativa honestidade intelectual, os erros de apreciação sobre as
possibilidades que ele e Marx tinham alimentado em relação aos processos revolucionários de
48 e, também situando a Comuna, como uma situação revolucionária no marco de uma época
não revolucionária, e estabelecendo, assim, uma referência metodológica para a reflexão
sobre a simultaneidade dos tempos históricos descontínuos, desiguais e até de sentidos
simétricos (...) b) b. Um balanço da engrenagem da permanência no interior do processo
revolucionário ainda inspirada no modelo francês, mas agora com a interrogação, vital, sobre
as diferenças que poderiam existir (...)” (ps. 5-6)

“A concepção de revolução nos anos de 48/50 tinha portanto no seu centro, um pensamento
que, pelo menos em relação ao continente, desenhava a perspectiva de um processo de duas
revoluções políticas encadeadas em duas ondas, seqüenciadas, ininterruptas, a revolução
permanente, que se inspirava no padrão dominante nos círculos extremistas de meados do
século passado que, por sua vez, derivava da experiência histórica do modelo francês de
1789/93.” (p.6)

“(...)Marx não teria descartado a possibilidade, mesmo que excepcional, de uma passagem
pacífica, eleitoral e democrática ao socialismo.” (p.6)

“Essas passagens inconclusas, (...) indicariam, segundo alguns comentaristas, uma hipótese
estratégica distinta em relação à Inglaterra e os EUA, uma estratégia não revolucionária, a
chamada "via inglesa": uma possibilidade de transição histórica, apoiada na extensão das
liberdades democráticas, ampliação irrestrita do direito ao sufrágio universal, e conquista do
poder político, sustentada no peso social do proletariado (...).” (p.6)

“A questão em Marx parece, no entanto, estar restrita à possibilidade de conquistar a


democracia, sem recorrer aos métodos da revolução, o que é evidentemente muito diferente,
de pensar a transição ao socialismo sem ruptura. (...)Marx considerava razoável pensar, a
partir da experiência do cartismo, na conquista da democracia sem que uma revolução política
fosse necessariamente indispensável, hipótese esta, aliás, a da excepcionalidade, confirmada
pela história (...)a hipótese de que o partido operário poderia chegar a vencer as eleições e se
constituir em força política majoritária, nos países mais desenvolvidos, se o sufrágio eleitoral
fosse alargado sem restrições censitárias (...)” (Ps. 6-7)

“De qualquer forma, alguns comentaristas de Marx têm retomado recentemente o tema das
relações do marxismo com a democracia, seja pelo ângulo mais filosófico da concepção
determinista da História, seja pelo ângulo de uma releitura do que seriam as insuficiências de
uma teoria política do marxismo (...)Marx pensava os deslocamentos colocados à escala
internacional, (...)a partir de duas premissas políticas estratégicas: (a.) identificação de um
núcleo duro da contra-revolução na Europa identificado no absolutismo da Rússia dos Czares,
que seria o centro da reação européia, inimiga irreconciliável de uma revolução na Alemanha
(...)(b) um núcleo histórico da revolução social proletária, com três componentes
fundamentais, as três classes operárias com maior desenvolvimento, experiência e peso social,
a francesa, a alemã e a inglesa. Mas sempre articulava a reflexão sobre a dialética da
permanência da revolução em duas dimensões: como uma revolução européia e como duas
revoluções políticas ininterruptas, portanto duas etapas num mesmo processo que unia a luta
pela derrubada das monarquias com a luta pela emancipação social do proletariado. A
revolução democrática seria assim a ante-sala de uma nova revolução política (...)” (p.7)
“As etapas surgem assim como um tempo histórico e um tempo político: um encontro de
temporalidades sobrepostas, pela pressão objetiva das tarefas, expressão das necessidades
históricas adiadas, e pela pressão das lutas de classes, impulso da iniciativa dos trabalhadores,
que se constituem politicamente como classe independente.(...)” (p. 7)

TÓPICO 4: Uma aposta na aceleração da história (Ps. 8-10)

“Certamente toda a obra de Marx nos permite concluir que ele estava solidamente convencido
que os intervalos das transições históricas tinham uma tendência de aceleração: a transição
socialista seria mais breve do que foi a transição do feudalismo ao capitalismo(...)Assim, se
um processo de revolução social se iniciaria dentro de fronteiras nacionais, inaugurado por
uma revolução política, a conquista do poder pelo proletariado em um país não seria senão o
primeiro ato de um drama histórico, que se decidiria na arena internacional. Mais importante,
esta dimensão internacional assumida pela luta de classes seria o fator chave para a análise
sobre a aceleração dos tempos históricos.” (Ps. 8-9)

“(...)se o capitalismo não atravessa um período de crise crônica, então decorre desta conclusão
que as forças produtivas estão em crescimento ininterrupto e qualquer projeto revolucionário
pós-capitalista trata-se de uma veleidade utópica e sem sustentação histórica.(...)” (Ps. 9-10)

“Em poucas palavras, não é possível avaliar se uma revolução é prematura, senão depois que
a sorte foi lançada. Um exercício histórico legítimo, mas um procedimento político
impossível.” (p. 10)

TÓPICO 5: Engels e a defesa da "tática alemã": as possibilidades e os perigos da


utilização da legalidade pelo SPD (Ps. 10-10)

“(...)Possibilidades abertas pelo crescente peso social do proletariado e sua capacidade de


elevar a consciência de classe a novos patamares de auto-organização permanente através de
sindicatos que filiavam milhões, com a utilização hábil das margens ampliadas de liberdade, a
participação eleitoral, enfim a escola de aprendizagem sindical-parlamentar. Dificuldades que
resultavam do esgotamento histórico das revoluções burguesas, da acomodação bastarda da
burguesia com os regimes bonapartistas ou semi-bonapartistas, do deslocamento e divisão
inexorável das camadas médias(...)” (p.11)
“Assim explicava Engels as suas conclusões sobre os novos desafios da experiência da tática
alemã: ‘O direito à revolução é o único "direito histórico" real, o único sobre o qual repousam
todos os Estados modernos sem exceção,(...) Mas, ocorra o que ocorrer nos outros países, a
social-democracia alemã tem uma situação particular e, em decorrência pelo menos no
momento, uma tarefa também particular. Com dois milhões de eleitores que ela envia às
urnas, neles incluídos os jovens e as mulheres que estão por detrás dos sufragantes na
qualidade de não eleitores, constituem a massa mais em numerosa, mais compacta, a "força de
choque" decisiva do exército proletário internacional.(...)’.” (p.11)

“Engels alertava, portanto, para uma reação burguesa contra-revolucionária impiedosa, com
recursos renovados, bases sociais de apoio ampliadas, capacidade de iniciativa política e até
um dispositivo militar moderno, muito superior aos que se abateu sobre a Comuna.(...)”.
(p.11)

“Destes fragmentos se conclui, portanto: (a) que sendo revoluções de maioria, as revoluções
proletárias seriam, paradoxalmente, socialmente mais poderosas mas, ao mesmo tempo,
politicamente mais difíceis que as revoluções burguesas; (b) que a conquista da democracia
repousaria agora nas mãos do proletariado (...) (c) que a nova hipótese estratégica exigiria a
capacidade dos partidos de utilizar os espaços de legalidade, por reduzidos que fossem, para
acumular forças, estimular a auto-organização e elevar o nível de atividade, confiança e
consciência de classe (...); (d) que a luta pelo poder deveria ser buscada no melhor momento
e, se possível, em condições de legítima defesa, em resposta defensiva à iniciativa contra
revolucionária do regime que seria incapaz de conviver de forma perene com um forte
movimento operário na legalidade” (p.12)

“Destes quatro postulados somente o último não sobreviveu à prova do balanço histórico.”
(p.12)

“Poder-se-ia, por último, afirmar que uma teoria dos tempos da revolução em Marx e Engels,
um pensamento sobre época, situação e crise revolucionária(...)No seu centro está uma ênfase
na pulsação circular da crise econômica, como um tempo de movimento e inércia do capital,
que se desenvolve à escala do mercado mundial e encontra refrações nacionais em cada país;
e outro é o tempo das lutas de classes” (p.12)
“No seu centro está uma ênfase na pulsação circular da crise econômica, como um tempo de
movimento e inércia do capital, que se desenvolve à escala do mercado mundial e encontra
refrações nacionais em cada país; e outro é o tempo das lutas de classes (...)”. (p. 12)

“Esses dois tempos são distintos, mas estão articulados, em formas que são, para o essencial,
imprevisíveis, porque amadurecem em ritmos que lhes são próprios, únicos e discordantes.
E, no entanto, essas duas forças motrizes do processo histórico estão amalgamados no sentido
de uma unidade substantiva do tempo. Assim como a crise econômica incide sobre as lutas de
classes, porque abre e precipita a crise social, a lutas de classes, a maior insegurança ou maior
determinação de cada classe social na defesa de seus interesses, também incide sobre o
processo econômico aprofundando as tendências à crise ou favorecendo a recuperação” (p.13)

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