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Turma e Ano: Direito Processual Civil - NCPC (2016)

Matéria / Aula: Contestação / 89


Professor: Edward Carlyle
Monitora: Laryssa Marques

Aula 89

Contestação (Parte II):

Princípio da eventualidade ou princípio da concentração da defesa (art. 336, CPC):

A maioria da doutrina trata estes princípios como sinônimos.

CPC, Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa,
expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e especificando
as provas que pretende produzir.

A doutrina e a jurisprudência entendem que, pelo princípio da eventualidade, as


razões de fato e de direito (alegações defensivas) podem e devem ser apresentadas pelo réu
na contestação mesmo que aparentemente contraditórias entre si.

Daniel Assumpção Neves explica que:

"A exigência de cumulação de todas as matérias de defesa na


contestação faz com que o réu se veja obrigado a cumular defesas
logicamente incompatíveis, por exemplo, no caso de alegar que não houve o
dano alegado pelo autor mas que, na eventualidade do juiz entender que houve
dano, não foi no valor apontado pelo autor, circunstância verificada com
regularidade nos pedidos de condenação por dano moral”.

E acrescenta:

“Certa incompatibilidade lógica é natural e admissível, mas o réu jamais


poderá cumular matérias defensivas criando para cada uma delas diferentes
situações fáticas, porque com isso em alguma das teses defensivas estará
alterando a verdade dos fatos. Pode-se afirmar que o limite do princípio da
concentração da defesa é o respeito ao princípio da boa-fé e lealdade





processual” (Manual de Direito Processual Civil, volume único, 5ª edição,
ed. Saraiva, p. 359-360).

É importante destacar, ainda, que há quem distinga o princípio da eventualidade do


princípio da concentração da defesa. Enquanto este seria a necessidade de o réu apresentar
todas as alegações defensivas na contestação; aquele seria a necessidade de todas as
alegações do réu serem apresentadas neste momento para que, na eventualidade de rejeição
da primeira, o juiz possa passar ao exame da subsequente e assim por diante.

- Exceções ao princípio da eventualidade:

CPC, Art. 342. Depois da contestação, só é lícito ao réu deduzir novas alegações
quando:

I - relativas a direito ou a fato [art. 493, CC] superveniente;

Fato é o conteúdo da causa de pedir. Por isso, uma parcela da doutrina, capitaneada
por Fredie Didier, entende que fato superveniente é uma nova causa de pedir (nova defesa,
que irá propiciar a reabertura de prazo para manifestação das partes).

Mas, a orientação predominante - Barbosa Moreira, Fux - é de que fatos


supervenientes são novas alegações para o fundamento apresentado.

II - competir ao juiz conhecer delas de ofício;

Se o juiz pode conhecer determinada matéria de ofício, pode examiná-la a qualquer


tempo ou grau de jurisdição. De modo que não há nenhum óbice a que o réu venha a alega-
la - mesmo após a contestação. O que está em jogo é o próprio interesse público.

III - por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer tempo e
grau de jurisdição.

Exemplo: prescrição – art. 193, CC.

Outra exceção está plasmada no art. 1.014 do CPC:

CPC, Art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser
suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.





Conteúdo da contestação:

Quais são as espécies de defesa que podem ser apresentadas na contestação?

Defesas processuais (de admissibilidade) -> finalidade: apontar vícios no processo,


de modo a impedir o juiz de realizar o exame do pedido formulado pelo autor. Por isso, essa
defesa é sempre indireta.

No CPC/73, as defesas processuais eram chamadas de preliminares. E o art. 337 do


NCPC basicamente reproduz o que o art. 301 do CPC antigo estabelecia.

O autor terá direito à réplica, no prazo de 15 dias, de acordo com o art. 351, CPC:

CPC, Art. 351. Se o réu alegar qualquer das matérias enumeradas no art. 337, o juiz
determinará a oitiva do autor no prazo de 15 (quinze) dias, permitindo-lhe a produção de
prova.

Defesas de mérito -> podem ser diretas ou indiretas. As diretas são aquelas em que o
réu (i) nega a ocorrência dos fatos constitutivos do direito alegado pelo autor ou (ii) nega a
ocorrência dos efeitos jurídicos (ou consequências jurídicas) do direito afirmado pelo autor.
Assim, a defesa de mérito direta vai frontalmente contra aquilo que foi alegado pelo autor.

A defesa de mérito é indireta ocorre quando o réu apresenta fato novo impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor. Neste caso, o réu não apresenta alegações
contrárias à ocorrência do fato constitutivo afirmado pelo autor, nem as consequências
jurídicas deste fato; mas, apresenta um novo fato. Exemplos: (i) fato impeditivo ->
incapacidade do agente; (ii) fato modificativo -> pagamento parcial; (iii) fato extintivo ->
prescrição.

Lembre-se que em se tratando de fato novo, cabe réplica do autor, no mesmo prazo
da contestação, com base no art. 350, CPC:

CPC, Art. 350. Se o réu alegar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito
do autor, este será ouvido no prazo de 15 (quinze) dias, permitindo-lhe o juiz a produção
de prova.





Hipóteses do art. 337, CPC:

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:

“Antes de discutir o mérito” -> não são matérias de mérito -> são defesas de natureza
processual -> a sentença é terminativa (sem resolução do mérito) – art. 485, CPC1 -> daí a
razão pela qual são chamadas de questões preliminares ao mérito2.

I - inexistência ou nulidade da citação;


II - incompetência absoluta e relativa;
III - incorreção do valor da causa;
IV - inépcia da petição inicial;
V - perempção;
VI - litispendência;
VII - coisa julgada;
VIII - conexão;
IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;
X - convenção de arbitragem;
XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual;
XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;
XIII - indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.


1 Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
I - indeferir a petição inicial;
II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;
III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30
(trinta) dias;
IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do
processo;
V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada;
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer
sua competência;
VIII - homologar a desistência da ação;
IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e
X - nos demais casos prescritos neste Código.
2 Preliminares ao mérito (Antes do mérito) x Preliminares de mérito (tem natureza de mérito e são preliminares,

porque, dentre as matérias de mérito, devem ser examinadas antes das outras. Ex.: prescrição e decadência).

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