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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Nota prévia:
Estes são os apontamentos semanais de DIREITO PROCESSUAL CIVIL, disponibilizados pela Comissão
de Curso dos alunos do 3º ano da licenciatura de Direito da Faculdade de Direito da Universidade do Porto,
para o mandato de 2023/2024.
Foram elaborados pelas alunas Lara Monteiro e Beatriz Oliveira, tendo por base as aulas e documentos
disponibilizados pelo docente Tiago Ramalho.
Salienta-se que estes apontamentos são apenas complementos de estudo, não sendo dispensada, por isso, a
leitura das obras obrigatórias e a presença nas aulas
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Índice
Parte 0 – Introdução ....................................................................................................2
Esquema Geral da Matéria.......................................................................................... 2
Parte I – O objeto do processo................................................................................... 10
Pedido ...................................................................................................................... 10
Ações Declarativas ................................................................................................... 11
Causa do Pedido ....................................................................................................... 13
Sujeitos do Processo ................................................................................................. 16
Atividade Processual ................................................................................................ 17
Defesa do Réu .......................................................................................................... 19
Defesa no plano do mérito ................................................................................ 20
Defesa no plano da admissibilidade .................................................................. 20
O poder de julgar ......................................................................................................... 28
Parte II – Os pressupostos processuais ..................................................................... 31
Personalidade Judiciária ........................................................................................... 34
Capacidade Judiciária ............................................................................................... 37
Legitimidade Processual ........................................................................................... 38
Patrocínio Judiciário ................................................................................................. 66
Competência Jurisdicional ........................................................................................ 71
Interesse em Agir ..................................................................................................... 84
Parte III – A tramitação processual .......................................................................... 87
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Direito
Facto
o Exceção peremptória – o réu introduz novos factos no processo, que permitem
obstar àquilo que o autor afirmou;
Assim sendo, embora o objeto do processo tenha por limites as partes do pedido e a causa do
pedido, o Tribunal terá de conhecer também um conjunto de elementos que o réu coloca em
apreciação e das questões que sejam de conhecimento oficioso. Quando o Tribunal já dispõe de
todos os elementos necessários, este poderá colocar termos à causa através da sentença.
Ex.: imaginemos que na petição inicial o autor afirma que celebrou um contrato de compra e
venda de um imóvel com o réu, no valor de 100.000 euros. Afirma, igualmente, que o réu não
procedeu ao pagamento e pretende a sua condenação a pagar o valor acordado no contrato, diz
que ele próprio se chama João e a parte contrária é o Manuel.
As partes da relação são o João e o Manuel, deste modo, as partes da ação apenas podem ser as
mesmas.
O pedido é a condenação ao pagamento de 100.000 euros.
E a causa do pedido é o incumprimento do contrato.
O réu, após a ação do autor, será chamado pelo Tribunal, e poderá defender das seguintes formas:
Colocar em causa a admissibilidade da ação (afirmando que não é Manuel, mas sim o
José e como tal não tem parte na ação) – exceção dilatória;
Negar ter celebrado um contrato – impugnação;
Afirmar que aquele contrato é inválido porque foi celebrado por coação (introdução de
novos factos) – exceção peremptória;
Parte II - Os pressupostos processuais
Os pressupostos processuais colocam-se com o objetivo de obter conhecimento em relação ao
objeto do processo.
No processo comum da declaração distingue-se o plano da admissibilidade (diz respeito à relação
processual/instância) do plano do mérito (diz respeito à relação material controvertida), isto é,
apenas se a ação for admissível é que o Tribunal avança para o mérito.
A primeira coisa que o Tribunal tem de fazer é verificar se todos os pressupostos de
admissibilidade estão verificados. O réu pode invocar uma exceção dilatória quando estes
pressupostos não se encontram verificados.
É admissível corrigir a falta destes pressupostos ao longo do processo. Se os pressupostos
persistirem sem correção, o Tribunal recusar-se-á a conhecer o mérito dando-se uma “absolvição
da instância”. Caso estes sejam corrigidos o Tribunal avança para o seu conhecimento.
Os principais pressupostos processuais são:
Personalidade Judiciária;
Capacidade Judiciária;
Legitimidade das partes;
Competência do Tribunal nacional ou internacional;
Patrocínio Judiciário – para se socorrer de um advogado ou, eventualmente, solicitadores;
Parte III – A tramitação processual
Nota: A tramitação da ação declarativa encontra-se regulada nos art. 552º e ss. do CPC, livro 3.
É através da tramitação processual que o Tribunal conhece o objeto do processo.
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Se o processo civil é instrumental de direito substantivo, isto significa que ele se deve
orientar pelas mesmas ideias de fundo, pelos mesmos valores fundamentais daquele
direito a cujo serviço se encontra;
Mas podemos extrair a consequência rigorosamente inversa:
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Nos vários países da Europa, o processo não tem sempre o mesmo estatuto. Há duas formas de
organizar o processo no contexto das várias disciplinas jurídicas, dependendo de país para país.
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poder sem qualquer paralelo, que é o próprio estado que priva de poder todas as entidades que
consigo podem rivalizar.
Daí que após uma primeira fase, entre os séc. XVI e XVIII, num segundo momento tenha havido
uma reação no sentido de limitação deste mesmo poder a partir do séc. XVIII, nomeadamente
com o movimento do constitucionalismo moderno. Este está estritamente ligado com a ideia de
conter um poder que foi concentrado, através de constituições escritas, propagação de direitos
humanos que garantam a separação entre o Estado e a sociedade, separação de poderes e
princípios relativos à própria separação de poderes (princípio da legalidade, princípio da
proporcionalidade, etc.).
Se o processo civil supõe o exercício de um poder jurisdicional que é um poder público então
também este poder reclama um conjunto de balizas que garantam o seu exercício adequado. Em
especial há duas balizas fundamentais:
CPC – regula a ordenação do processo, isto é, a sequência de atos que devem ser adotados
para a resolução de uma controvérsia;
A lei de organização do sistema judiciário – regula a orgânica de funcionamento dos
tribunais judiciais, isto é, quais são os concretos tribunais em que se desdobra a ordem
dos tribunais judiciais – categorias de tribunais existentes;
CRP – várias disposições da CRP assumem relevância para o processo civil,
especialmente os artigos 202º e ss.
o Dupla relevância do ponto de vista jurídico e também na sua relação com Direito
Processual; os atuais textos constitucionais desempenham uma dupla função
prática:
1º finalidade: ordenar o funcionamento do poder político – tarefas do
estado, competências, etc.
2ª finalidade: previsão de certos catálogos de direitos fundamentais e de
meios de fiscalização da constitucionalidade – qualquer ordem jurídica
precisa de resolver o seguinte problema: compatibilizar a sujeição à lei
com a liberdade individual.
Uma das formas históricas que confere liberdade ao jurista para desaplicar a lei foi conformar um
direito que estaria acima do direito ordenado, seria o direito natural.
Atualmente, o meio utilizado é o apelo ao texto constitucional, este em razão da sua
indeterminação pode funcionar como um meio para um jurista diante de uma norma cuja bondade
pretende colocar em causa a desaplicar.
Neste ponto de vista, as normas de direito constitucional poderão ser olhadas como pretextos para
a desaplicação de certas normas de direito ordenado. Normas como, o art. 20º CRP (normas de
referência), inspirado no art. 6º da CUEDH, que prevê o acesso ao direito. Deste artigo da CRP
resultam muitos sub-direitos que poderão ser invocados para a desaplicação de normas
processuais.
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Sujeito (respeita às partes, isto é, àqueles que estão sujeitos aos efeitos da decisão);
Pedido (essencial no processo, este não pode ficar aquém nem ir além; tem de ser
formulado pelo autor que eventualmente pode alterar a sua pronúncia);
Causa (corresponde à própria realidade jurídica, ou seja, objeto da controvérsia);
Sublinha-se que é às partes que cabe esta delimitação, são as partes que decidem contra quem a
ação é proposta, qual o pedido e qual a causa do pedido e quais as questões judiciais que o tribunal
deva conhecer para o processo.
Pedido
É pelo pedido que tem início a ação declarativa, por isso, o primeiro ato processual intitula-se
petição inicial porque por intermédio dela se dirige um pedido ao tribunal.
Este ato (art. 552º CPC), petição inicial, é aquilo a que dogmaticamente se chama um ato
postulativo (um ato mediante o qual se dirige o pedido de uma decisão a alguém). O autor dirige
um pedido ao tribunal de que decida no sentido favorável à sua pretensão (ex.: requerimento que
um aluno faça à faculdade).
Uma ação civil portanto apenas se inicia na sequência deste impulso de um particular, não se
inicia ex oficcio, não se inicia oficiosamente, apenas haverá lugar a um início oficioso, se e na
medida em que houver um interesse público na resolução da causa. São raras as matérias em que
se aceita que uma entidade pública inicia oficiosamente uma causa. (Ex.: investigação da
paternidade art. 1808º CPC e 804º CC – este tipo de investigação tem como objetivo a não
existência de crianças com pai incógnito, o que é um interesse público.)
O pedido pode ter várias modalidades:
Pedido singular – se o pedido for singular a regra é que ele deve ser certo, individualizado e
concretizado, contudo, em determinadas circunstâncias a lei admite que este siga uma outra
estrutura, nomeadamente, é possível deduzir pedidos alternativos (a lei permite estes pedidos em
relação a direitos que do ponto de vista substantivo tenham esta estrutura);
Pedidos genéricos ou ilíquidos (art. 556º nº1 CPC): – um pedido genérico é um pedido
que não está completamente concretizado, em geral não são admitidos (apenas os casos
do art. 556º nº1 a) e b) CPC), mas a lei faculta esta modalidade quando o objeto mediato
da ação seja uma universalidade de facto ou de direito; quando não seja possível
determinar de modo definitivo as consequências do facto ilícito; em algum momento o
pedido genérico terá de ser concretizado, essa concretização é feita mediante um incidente
de liquidação (art. 358º e ss. CPC) e pode ser deduzido durante a ação ou após a sentença;
Pedidos de prestações de vincenda: quando se trate de uma ação relativa a prestações
periódicas, se o devedor deixar de pagar pode pedir-se a sua condenação não só nas
prestações já cumpridas como naquelas que se vierem a vencer posteriormente;
Pedido plural – em alternativa pode o autor formular vários pedidos:
Cumulação de pedidos (art. 555º CPC) – na cumulação de pedidos são realizados vários
pedidos em simultâneo pedindo-se a procedência de todos ao mesmo tempo. Esta
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Ações Declarativas
É a partir do pedido formulado pelo autor que se definirá qual a finalidade da ação. Nos termos
do art. 10º nº3 CPC, as ações declarativas podem ter 3 finalidades diferentes:
Ações de Condenação;
Ações de Simples Apreciação;
Ações Constitutivas;
Ações de Condenação (art. 10º nº3 CPC)
As ações de condenação são as ações paradigmáticas, isto é, o processo de declaração
desenvolveu-se tendo por especial referência as ações de condenação, apenas posteriormente
autonomizou as restantes.
Uma ação de condenação é uma ação destinada a exigir que de um réu “a prestação de coisa ou
de um facto”, ou seja, são ações destinadas a condenar o réu à observância de um determinado
comportamento perante o autor.
Ex.: Quando existe um determinado vínculo obrigacional, o devedor tem o dever de realizar uma
prestação. Havendo um litígio a respeito desta prestação a ação judicial seria de condenação
porque dirigia o cumprimento do devedor a realizar a prestação debitória – exemplo a partir do
Direito das Obrigações.
Ex.: Quando alguém é titular do direito de propriedade pode sempre que a fruição do seu bem
seja perturbada reivindicar (ação de reivindicação art. 1150º CC) a coisa, exigir que a coisa lhe
seja restituída – exemplo a partir de Direitos Reais.
Nas ações condenatórias, via de regra, têm lugar quando se reage a um direito violado, perante
esta situação, o autor, pede proteção jurídica pedindo a condenação do réu a observar um
determinado comportamento devido. Em determinadas circunstâncias estas ações podem ter lugar
não no pressuposto de um direito violado, mas na previsão de que isso possa acontecer (ex.:
pedido de condenação de obrigação a cumprir prestações que ainda não se venceram – art. 557º
CPC prestações vincendas).
A previsão da violação de um direito implica ações inibitórias, estas são as ação de condenação
destinadas a inibir o réu para que no futuro observe um determinado comportamento. Estas serão
admitidas apenas nos casos em que a lei prevê esta modalidade de tutela preventiva.
Ex.: São admitidas na clausulas contratuais gerais (art. 25º CPC); no âmbito da propriedade
industrial e da proteção do direito do autor (nos termos dos códigos respetivos); enquanto
expressão da tutela do direito de propriedade ou da posse (art. 1276º CPC), etc.
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Nota: Este tipo de ações adequa-se à proteção dos direitos absolutos é-lhe então também
admitido, o âmbito da proteção dos direitos de personalidade (art. 70º nº2).
Uma particularidade das ações inibitórias é que estas assentam em condenar o réu a observar um
comportamento futuro, devendo especificar-se qual o núcleo de condutas do réu que se encontram
proibidas. Como meio de garantia prevê-se uma sanção pecuniária compulsória (art. 829º-A CC).
Ex.: Alguém tem um vizinho que faz muito ruido, pode propor uma ação de condenação destinada
a inibir o vizinho de fazer barulho como meio de incutir ao cumprimento fixa-se uma ação por
cada vez que faça ruido ou por cada dia que o faça.
Ações de simples apreciação (art. 10º nº3 a) CPC)
As ações de simples apreciação são ações nas quais se procura somente declarar a existência ou
não de um direito ou de um facto. Têm um alcance menor, isto é, não há um ato condenatório, há
uma simples declaração e é nisso que se esgota a tutela jurídica.
As declarações de simples apreciação podem ser:
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“nenhum juiz sem autor” e “ne eat indez ultra petito partium”, isto é, “não vale o juiz além dos
pedidos das partes”.
Daí que, uma vez formulado o pedido, o juiz se deva ocupar dele inteiramente, não deixando de
responder a nada do que lhe é suscitado nem ficando à quem nem indo além daquilo que lhe é
pedido. Em qualquer uma dessas hipóteses a sentença será nula.
Caso o juiz fique à quem do que lhe é pedido a sentença é nula por omissão de pronuncia (art.
615º nº1 d) 1ª parte) CPC), caso o juiz vá além a sentença é nula por excesso de pronuncia (art.
615º nº1 b) 2ª parte e e) CPC).
Eventualmente, em alguns casos muito circunscritos é admitido que o juiz dê uma solução à parte
ligeiramente diferente daquela que foi nominalmente pedida – ex.: art. 609º nº3 CPC – faculta-se
a possibilidade do juiz poder decretar a restituição da posse, em vez da manutenção da posse ou
vice-versa, segundo o que for mais adequado.
Do mesmo modo, é possível que quando haja erro na qualificação do meio processual, o juiz pode
corrigi-lo oficiosamente – art. 193º nº2 CPC.
Em qualquer uma dessas hipóteses o tribunal não está a substituir só o autor na produção dos seus
interesses, está apenas a adequar a situação processual àquilo que foi explicitado pelo autor, mas
que foi indevidamente configurado do ponto de vista do ordenamento jurídico.
Se não houver pedido:
Caso não exista sequer uma petição inicial, não existe processo. Conforme resulta do
art. 259º nº1, o processo inicia-se com o recebimento da petição inicial, logo se não há
petição não há processo.
Caso exista petição inicial, mas na petição inicial não constar pedido – nos termos do
art. 552º nº1 e) CPC, o autor deve formular um pedido na petição inicial. Caso falte o
pedido, a petição inicial, padece de um vício, de uma nulidade de especial gravidade que
se chama ineptidão da petição inicial.
Nos termos do art. 186º nº2 a) CPC a petição inicial é nula quando falte o pedido, igual
regime se há de aplicar quando muito embora se formule o pedido este seja inteligível,
isto é, não se consiga perceber o que o autor quer. Quando a petição inicial é inepta, nulo
será todo o processo (art. 186º nº1 CPC).
Não podia ser outra a solução legal, de facto, se o processo deve ser iniciado pelo
interessado e, se o ato pelo qual o interessado pretende iniciar não permite descortinar a
finalidade por si procurada, então o processo não pode cumprir o seu propósito.
Este regime que se aplica quando haja falta ou inteligibilidade do pedido vale, de igual
modo, quando se consubstanciem pedidos incompatíveis entre si (art. 186º nº2 c) CPC),
uma vez que, se se cumulam pedidos incompatíveis entre si, então não é possível perceber
o que pretende realmente o autor.
Causa do Pedido
Nos termos do art. 581º nº4 CPC, existe uma identidade causa do pedido quando a pretensão
deduzida nas duas ações procede dos mesmos factos jurídicos.
A causa de pedir é integrada por aqueles concretos factos dos quais o autor extrai a sua pretensão,
que exerce em juízo – teoria da substanciação. O autor, para agir no processo, deve substanciar,
por factos, a pretensão que pretende ver reconhecida. Aliás este é o detentor do ónus da delegação
desses mesmos factos.
“Da Mihi facta, dabo tibi ius” – dá-me os factos, dar-te-ei o direito;
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“Ex facto ius oritur” – a partir do facto nasce o direito, isto é, pode-se extrair do direito a
pretensão exercida pelo autor em juízo;
Como determinamos concretamente a causa do pedido de cada concreto ação?
A causa do pedido de cada concreta ação é determinada através da norma jurídica. A norma
jurídica tem dois elementos a previsão e a estatuição. A certos eventos (previsão) associa-se uma
determinada consequência (estatuição).
A previsão da norma verifica-se em cinco requisitos:
Facto
Ilícito
Culposo
Nexo de Causalidade
Dano
Assim, a causa do pedido é constituída pelo conjunto de factos que permitem concluir pela
verificação da previsão da norma.
Ex.: art. 483º CPC - No dia 12 de setembro, o Manuel deu um murro no nariz do João e este ficou
com enormes mazelas – descrição factual que permite aplicar a norma jurídica.
Do ponto de vista metódico como é que o autor apresenta a causa do pedido?
1. Deverá enquadrar juridicamente o caso;
2. Deverá enquadrar quais os pressupostos e normas em geral dos quais depende a aplicação
das normas que garantam o seu direito;
3. Descrever os factos que permitem a aplicação dessas mesmas normas;
Ex.: Alguém comprou um livro e agora pretende condenar o réu a entregar o livro.
1. Enquadramento jurídico:
a. contrato de compra e venda;
b. art. 874º - definição de contrato de compra e venda;
c. art. 879º b) – existe a obrigação de entrega da coisa;
2. Enquadramento dos pressupostos:
a. Em caso de incumprimento, pode exigir-se a condenação, ou seja, o credor pode
exigir judicialmente o seu cumprimento (art. 817º CC);
b. Normas de formação do negócio (art. 217º e ss. CC);
3. Factos que permitam a aplicação dessas normas:
a. O autor apresenta a situação factual de forma que, caso o tribunal conclua que ela
se verifica, a ação possa proceder.
b. São destes factos de que depende a aplicação destas normas. O autor apresenta a
situação factual de forma que, caso o tribunal conclua ela se verifica, a ação possa
proceder.
Nota: Se o mandatário processual nada souber de direito, nunca vai conseguir descrever a ação.
E se for um caso sujeito a vários regimes?
O mandatário deve ter a prudência de elencar factos que permitam a aplicação de todos os
regimes, se não o fizer o juiz não vão conseguir extrair consequências que sejam favoráveis ao
autor.
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A lei no seu art. 581 nº4 2ª parte CPC especifica duas hipóteses concretas de causa do pedido, isto
é, especifica como se determina o pedido em:
Ações reais – a causa do pedido é o facto jurídico de que deriva o direito real, ou seja, o
autor deve descrever o facto que originou a aquisição do direito real;
Ações constitutivas ou de anulação;
Ex.: Alguém pretende anular um determinado negócio jurídico: a causa de pedido determina os
factos que permitem concluir uma concreta causa de anulação, por exemplo, uma ameaça.
Os factos que integram a causa do pedido não são os únicos que são considerados ou que relevam
para o processo. As alegações ou enunciações de facto, presentes na ação são mais ricas do que o
que respeita exclusivamente à causa do pedido.
No art. 5 nº1 CPC vemos que na verdade há diferentes categorias de factos sujeitas a regime
jurídico diferenciado.
Tipos de Factos:
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A matéria de facto que está presente na ação pode ter aquela riqueza, mas o que prevalece são os
factos essenciais que devem ser alegados pelo autor.
Também a causa do pedido contribui para delimitar o objeto do processo, assim nos termos do
art. 608º nº2 CPC, o juiz deve resolver todas as questões que tenham sido submetidas à sua
apreciação, tal significa que o juiz deve responder às questões tal como substanciadas e
especificadas pela causa do pedido. Se porventura o juiz deixar de conhecer essas questões ou
conheça de questões que não possa, a sentença é nula (art. 615º nº1 b) CPC).
A alegação factual feita pelo autor circunscreve o âmbito factual temático sobre o qual incidirá a
ação.
Quid iuris caso a causa do pedido seja apresentada de modo insuficiente?
Rigorosamente podemos distinguir entre a falta de causa do pedido e ininteligibilidade ou
insuficiência.
Sendo a causa do pedido um elemento delimitativo do objeto da ação é claro que a causa do pedido
deve ser indicada na petição inicial, de facto prevê o art. 552º b) que o auto deve expor os factos
essenciais que compõe a causa do pedido – caso este não exponha ou o que exponha seja
ininteligível, a petição, tal como acontecia com o pedido, é inepta art. 186º nº2 a) CPC e todo o
processo é nulo (art. 186º nº2 c) CPC). Da mesma forma, o processo será nulo quando se formulam
causas do pedido substancialmente incompatíveis (art. 186º nº2 c) CPC). Se pedido estiver em
contradição com a causa de pedir, também a petição inicial é inepta (art. 186º nº2 d) CPC).
E se a causa do pedido não faltar, mas for insuficiente, isto é, não inscrever com concretização
suficiente a situação da qual o autor pretende extrair a sai pretensão?
A lei prevê que o juiz possa proferir um despacho de aperfeiçoamento dando a oportunidade de
contraditório à parte contraria. Ora, em resposta a esta possibilidade ou o autor pode
complementar ou concretizar a causa do pedido.
Ex.: causa imperfeita – o autor afirma que o réu causou um acidente. – esta causa do pedido é
incompleta porque o réu não descreve as causas do acidente.
Sujeitos do Processo
Os sujeitos correspondem às partes sujeitas à decisão processual.
Quem é que é parte para efeitos o objeto do processo?
Ex.: António propõe uma ação judicial contra Bernardo em que afirma que celebrou um contrato
com uma determinada sociedade, nos termos da qual a sociedade lhe deve uma certa quantia.
Neste caso quem é que é parte do litígio? António e a sociedade. Por outro lado, quem são os
sujeitos da relação material controvertida? As partes da relação processual são A e B.
Para efeitos da delimitação do objeto as partes são aqueles contra quem a ação foi proposta. É
parte quem inicia a ação (autor) e quem é citado como réu.
São partes, portanto, quem inicia e contra quem é movida a ação, assim o processo civil adota
uma noção formal de parte, porque importa é quem esta formalmente na ação.
Quem deve ser parte? De acordo com o pressuposto da legitimidade processual, vale a regra de
que devem ser partes os sujeitos da relação material controvertida, isto é, as partes em sentido
formal devem corresponder aos sujeitos da relação material alegada. Se corresponderem, as partes
dizem-se legitimas, se não, são ilegítimas.
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Ex.: De acordo com o exemplo acima mencionado, o Bernardo é parte, mas não é parte legitima
portanto poderá ser pedida a sua absolvição.
Modalidade da parte
O processo civil prevê que possa haver várias configurações possíveis das partes.
Quanto ao número
o Singular – quando haja apenas um autor e um réu;
o Plural – quando haja vários autores e/ou vários réus. Quando exista pluralidade
de partes elas podem organizar-se de duas formas, sob a forma de:
Litisconsórcio – quando as partes fazem parte de uma mesma relação
jurídica (ex.: vários coproprietários);
Coligação – quando o que associa as partes são relações jurídicas
diferenciadas (ex.: A realiza um contrato de CCV contra B e
posteriormente B realiza um CCV da mesma coisa com C. A pretende
declarar a nulidade do primeiro contrato e reivindicar a coisa contra C.
Propõe uma ação contra B (deduz o pedido com base no fundamento na
nulidade da venda) e contra C (deduz o pedido com base na titularidade
da coisa)).
Quanto à sua relação com o objeto do processos
o Principal – sujeita à própria relação controvertida;
o Acessória – Não é parte da relação processual, as tem um posição jurídica dela
dependente;
Nota: Pode haver uma terceira parte oponente, isto é, que se opõe tanto ao autor como ao réu.
Quid iuris, caso as partes não sejam indicadas na ação e não se consiga determinar quem é
indicado sobretudo como réu? A lei não prevê esta hipótese, mas o professor acha que dará lugar
à inaptidão da petição inicial. Se vale para a falta de pedido e de causa do pedido, então também
tem de valer para a falta de indicação das partes.
Atividade Processual
O que é que não integra a delimitação do objeto da causa? O enquadramento jurídico.
A lei prevê, no seu art. 552º CPC, que as partes devem, na petição inicial, expor as razões de
direito que servem de fundamento à ação. Simplesmente vale a regra de que o juiz de direito não
está adstrito a estas razões de direito. O juiz pode dar o enquadramento jurídico que entender (art.
5º nº3 CPC).
Significa isto que, a parte pode dispensar de dar o enquadramento jurídico?
Apesar de o juiz poder dar outro enquadramento jurídico, a parte tem o maior interesse em
apresentar o seu enquadramento jurídico o melhor que consiga de modo a persuadir o juiz à sua
pretensão.
O ideal é a peça processual da parte oferecer a um possível julgador o máximo de facilidade em
resolver aquele processo.
O grande prejudicado pelo não desenvolvimento do direito é a parte.
Nota: Proibição non líquet – sempre que substantivamente for claro o que é pretendido por uma
parte e tal for compreendido pelos diferentes intervenientes do processo, como o efeito útil da
ação é o mesmo muda apenas a configuração jurídica necessária para chegar a esse resultado, o
processo não acaba.
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Este princípio de o tribunal pode conhecer do direito tem, porém, duas limitações:
Limitação Material – o tribunal não pode aplicar regimes jurídicos que dependam da
vontade dos interessados quando esta vontade não tenha sido exercida no processo (ex.:
numa causa de anulação o regime substantivo diz que apenas têm legitimidade os
interessados – art. 287º CC.)
Limitação Processual – o princípio do contraditório vale também em relação ao próprio
tribunal, isto é, pretende garantir-se que sempre que alguém é afetado por uma decisão
que tenha sido tomada previamente tenha sempre a oportunidade de contrariar. Isto
significa que se, porventura, o tribunal pretender dar um enquadramento jurídico não
discutido, deva oferecer às partes, previamente, a oportunidade de se pronunciarem sobre
ele (art. 3º nº 3 2ª parte CPC), de acordo com o princípio da proibição de decisões
surpresa. Se porventura, uma decisão judicial é proferida violando o contraditório neste
sentido esta decisão padece do vício de nulidade invocável nos termos gerais.
Nos termos do art. 3º nº1 CPC, o processo não é guiado apenas pelo princípio do pedido, a par
deste temos o princípio do contraditório. Não existe processo sem ambos os princípios estarem
presentes, o primeiro pede necessariamente a existência do segundo, antes da tomada de decisão.
Esta é uma ideia fundamental de igualdade entre as partes.
Nota: Relativamente ao princípio do pedido, este, em sentido amplo, diz respeito à petição inicial
onde o autor apresenta um articulado ao tribunal, na qual formula um pedido, uma certa causa do
pedido, contra uma concreta pessoa, assim, delimitando as partes. Em sentido estrito, o princípio
do pedido apenas diz respeito ao pedido em si.
Princípio do Contraditório
O princípio do contraditório releva, por um lado, enquanto possibilidade de contraditar a parte
contrária, por outro, enquanto possibilidade de contraditar o próprio tribunal.
Hoje quando se fala no princípio do contraditório considera-se os desenvolvimentos doutrinais
que foram feitos no âmbito alemão em torno de uma norma que, na Alemanha, se encontra no art.
103º da respetiva constituição. Este prevê aquilo a que aí se designa, por Lebre de Freitas, como
“a pretensão a ser escutado juridicamente”, portanto, a ideia deste artigo é de que sempre que
alguém age perante uma autoridade judiciária tem o direito a ser escutado antes de uma decisão
que a acuse.
As duas concretizações fundamentais desta pretensão no sentido de direito são justamente poder
contraditar a parte contrária e poder contraditar o próprio juiz.
1. Possibilidade de contraditar a parte contrária
A possibilidade de contraditar a parte contrária é a dimensão mais tradicional do princípio do
contraditório, ou seja, a de que, antes do tribunal responder a um pedido, se deve ouvir o
contrainteressado, esta ideia corresponde ao vocábulo latino “audiatur et altera pars” (“Que se
ouça também a outra parte”). Esta é a regra, por assim dizer, que deve balizar todo aquele que
toma uma decisão relativa a terceiro.
Na eventualidade de haver várias partes deve garantir-se que cada uma possa ser escutada a
respeito da sua posição particular e que nenhuma saia prejudicada pela atuação de alguma co-
parte.
2. Possibilidade de contraditar o próprio tribunal
Mesmo quando o tribunal tem poderes para oficiosamente aplicar um determinado
enquadramento jurídico, este está processualmente adstrito a somente extrair as conclusões
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
jurídicas desse regime após ter dado às partes a oportunidade de se pronunciarem sobre se ele
deve ou não se aplicar naquele caso.
Neste caso, o princípio do contraditório traduz-se no princípio da proibição das decisões surpresa.
Quando este princípio não é respeitado temos uma nulidade processual.
Quais são os momentos do processo em que é especialmente relevante o princípio do
contraditório?
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
exceções dilatórias são de conhecimento oficioso, a regra é de que não tem de ser suscitada pela
parte (art. 558º CPC) mesmo sendo esta a regra é claro que o réu tem o interesse em suscitar
expressamente a questão, uma vez que, ela pode passar inadvertida ao Tribunal.
Quais são as exceção dilatórias?
As exceções dilatórias encontram-se previstas no art. 577º CPC. Este elenco não é taxativo,
sempre que houver uma determinada norma que condicione a atividade do Tribunal à verificação
de um certo pressuposto processual temos de extrai uma exceção dilatória. Esta é a norma que
prevê um pressuposto processual visto da perspetiva do réu.
Qual é o efeito próprio da exceção dilatória?
As exceção dilatórias obstam a que o Tribunal conheça do mérito da causa (art. 576º nº2 1ª parte
CPC). Embora a exceção dilatória enquanto persista, obste a que o Tribuna conheça do mérito da
causa, é possível que a falta do pressuposto processual seja sanada. Sempre que a falta do
pressuposto processual seja sanável, o Tribunal deve procurar, em primeiro lugar, que a instância
seja regularizada nos termos do art. 6º nº2 CPC, só se ela não o for é que poderá extrair
consequências mais gravosas da falta do pressuposto processual ou da persistência da exceção
dilatória.
Quais são as consequências da exceção dilatória?
Via de regra é a absolvição do réu da instância (art. 576º nº2 2ª parte e art. 278º nº1 CPC).
A exceção dilatória mesmo quando tem esta última consequência não obstará a que possa haver
uma nova ação com o mesmo objeto porque o caso julgado que produz a sentença de absolvição
da instância é meramente formal.
Uma vez que as exceções dilatórias estão ligadas à admissibilidade da relação processual, elas,
doutrinalmente, são chamadas exceções processuais porque têm como fundamento o próprio
processo.
Modalidades de defesa no plano do mérito
Impugnação de Facto
O réu pode impugnar os factos articulados pelo autor, ora é muito importante este meio de defesa,
uma vez que, a lei processual prevê um verdadeiro ónus de impugnação.
Nota: dever – quando alguém está adstrito a ter de observar um comportamento; ónus – encargo
de ter de observar um comportamento sobre pena de ter de sofrer consequências desfavoráveis).
No âmbito de processo civil um ónus de impugnação (art. 574º CPC) consiste em que o réu deve
tomar posição jurídica perante os factos que constituem a causa de pedido. O autor tem de alegar
os factos de que extrai a sua pretensão ele tem de tomar posição em relação a estes factos.
Qual é a consequência decorrente de não tomar posição? Se a não tomar posição, tais factos
consideram-se admitidos por acordo (art. 574º nº2 1ª parte CPC).
Ex.: O autor afirma que no dia 1 de setembro o réu declarou que lhe vendia 50 kg de batatas. O
réu na contestação não diz nada. O tribunal não vai investigar estes factos, vai aceitá-los sem
discussão. O que não foi discutido já está admitido e, portanto, não será objeto de apreciação pelo
juiz – em processo civil, “quem cala consente”.
Sendo assim, o réu perante a alegação feita pelo autor poderá tomar três atitudes:
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Impugnação de facto: pode operar de qualquer uma destas formas o que é importante é
que tome posição definida perante os factos alegados pelo autor (art. 574º nº2 CPC –
executa-se da admissão por acordo os factos articulados pelo autor que estejam em
oposição com a defesa considerada no seu conjunto).
o Direta – quando contradiz frontalmente
Ex.: O autor afirma que o réu no dia 1 de setembro declarou que lhe vendia 50
kg de batatas, o réu diz que não.
o Indireta – quando o réu afirma factos totalmente incompatíveis com os do autor.
Ex.: No dia 1 de setembro estava de férias na amazónia, sem rede no telemóvel,
logo não pude fazer a venda.
Nota: Se houver pluralidade de partes a impugnação feita por uma parte não aproveita às demais.
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
As exceções peremptórias, nesta medida, alargam o conjunto de temáticas que são discutidas na
ação, isto é, a ação não versa apenas sobre o pedido e causa do pedido, mas implica que o Tribunal
conheça das questões invocadas pelo réu na exceção peremptória.
Assim, as exceções peremptórias consistem na alegação de factos impeditivos, modificativos ou
extintivos do direito exercido pelo autor (art. 576º nº3 CPC), uma vez que se trata da invocação
de factos, carecem eles de ser alegados pelo réu. Da mesma forma que o autor tem o ónus de
alegar os factos que integram a causa de pedido e o pedido, o réu tem o ónus de alegar os factos
que integram a exceção.
Como supramencionado, as exceções peremptórias podem assentar na alegação de facto
impeditivo, modificativo ou extintivo. A diferença entres estes está no momento temporal em que
o facto ocorreu ou no seu efeito jurídico sobre a pretensão exercida em litígio.
O autor alega a causa do pedido, os factos que integram a causa de pedir são aqueles dos quais o
autor extrai a sua pretensão, ou seja, são factos constitutivos. Por sua vez, os factos impeditivos
são contemporâneos aos factos constitutivos. Os factos modificativos ou extintivos são
posteriores.
Os factos modificativos alteram a pretensão, mas não a eliminam por completo ou passo que os
extintivos “acabam com ela”, isto é, conduzem à não produção de efeitos.
Ex.: Imaginando que o autor está a exercer um crédito contratual quais são os factos constitutivos?
São os factos dos quais se extraem a celebração do contrato (declarações negociais, vicissitudes,
etc.).
Factos impeditivos – factos comtemplados na celebração do contrato, que impeçam a sua
produção de efeitos (coação, causas de nulidade ou anulação, inexistência, etc.).
Factos modificativos – alteração de circunstâncias (um segundo contrato que modifique o
primeiro, etc.).
Factos extintivos: factos que permitem a aplicação de normas extintivas (cumprimento, causa de
impossibilidade, compensação, etc.).
Ex.: Ação de Reivindicação (art. 1311º CC) – ação pela qual aquele que alega ser proprietário
exige que a coisa lhe seja restituída. Esta ação afirma o poder do proprietário sobre a sua coisa
onde quer que ela se encontre.
Factos constitutivos – factos de onde o autor extrai a sua propriedade e desapossamento (neste
caso o réu pode dizer que ele próprio não tem a coisa - exceção).
Facto impeditivo – nulidade do contrato aquisitivo (o réu afirma que o autor não é o proprietário
da coisa logo o contrato seria nulo).
Facto modificativo – o réu afirma que de facto tem uma coisa consigo, mas que não é obrigado a
restituir porque tem o direito de retenção.
Facto extintivo – o autor já não é o proprietário porque o réu adquiriu a propriedade por usucapião.
As exceções peremptórias poderão ser conhecidas oficiosamente caso não estejam dependentes
da vontade do interessado. À contrário, hipótese há em que elas só podem ser conhecidas se o
interessado demonstrar interesse em delas se prevalecer.
Ex.: direito de anulação; direito de prescrição (art. 303º CC); usucapião (art. 1292º CC).
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Quando uma exceção depende da vontade do interessado pode ser chamada exceção em sentido
próprio, quando pode ser conhecida oficiosamente ela chama-se, doutrinalmente, objeção.
Mesmo quando uma exceção pode ser conhecida oficiosamente, o Tribunal só pode considerá-la
se os factos delas relativos, já estiverem no processo (art. 578º CPC).
Ex.: O cumprimento é de conhecimento oficioso. Se dos factos alegados pelo autor é possível
concluir que há alguma exceção, então o Tribunal pode conhecer oficiosamente, mas se não for
possível, isto é, se não houver factos que substanciem a exceção, o Tribunal não pode investigar,
logo é altamente conveniente que o réu alegue os factos.
Em que casos se pode dar conhecimento da exceção sem que o réu tenha alegado nada? Nulidade.
Finalidade das Exceções Peremptórias
A finalidade das exceções peremptórias é obter a absolvição do pedido (art. 576º nº3 1ª parte CPC,
ou seja, uma decisão (art. 619º CPC) que vem obter a forma de caso julgado material com força
dentro e fora do processo. Quando a lei processual fala de exceções peremptórias tem em vista
essencialmente o efeito, contudo uma análise mais atenta do regime das exceções peremptórias
permite concluir que em alguns casos a sua consequência não é a absolvição do pedido, mas sim
a condenação, a cumprir no momento oportuno – exceções materiais dilatórias.
Nas exceções materiais dilatórias dá-se a invocação do primeiro obstáculo de natureza substantiva
que tem o efeito de paralisar ou suspender temporariamente o exercício do direito que o autor
deve fazer valer no âmbito de uma ação judicial.
Nota: Remissão do art. 576º nº3 CPC para o art. 5º nº1 CPC.
As exceções peremptórias, uma vez que, respeitam ao mérito/procedibilidade são chamadas
exceções materiais e já não processuais.
Qual é a ordem lógica da organização de uma defesa?
1. Exceções dilatórias;
2. Impugnação;
3. Exceções Peremptórias;
Vale a regra do processo civil, que toda a defesa do réu deve ser concentrada na contestação nº
573º CPC, portanto, é no mesmo ato que o réu recorre a todos estes meios de defesa. Qual é o
intuito? É que na sequência da petição inicial e da contestação (569º e ss. CPC), o tribunal consiga
responder a todas estas questões.
Nota: Art. 563º CPC – “O réu é citado para contestar, sendo advertido no ato da citação da
consequência da falta de contestação.” – oportunidade de apresentação de defesa.
Começamos por ver de que modo o autor pode delimitar o objeto do litígio. Agora consideramos
de que forma o réu pode colocar-se perante esse objeto do processo e apresentar a sua defesa
(princípio do contraditório).
Resulta até agora, que são as partes, e não o Tribunal, que delimitam a controvérsia. Se assim é,
então, de facto, aquilo que será objeto de controvérsia num determinado processo é somente o
que é nele apresentados pelas partes. A esta soberania das partes sobre o objeto do processo se
designa por princípio do dispositivo.
O que se pretende com o princípio do dispositivo é sublinhar que se as posições jurídicas são
objeto do processo, pertencem às respetivas partes, então do mesmo modo que só elas podem
decidir acerca da conveniência a litigar então também ao longo de todo o processo poderão manter
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Desistência do Pedido
Por conseguinte, a desistência do pedido tem por consequência a extinção do próprio direito
substantivo que poderia eventualmente existir (art. 285º nº1 CPC). A desistência do pedido, uma
vez que, respeita integralmente ao autor, é livre (art. 286º nº2 CPC), isto é, não precisa do
consentimento do réu, dado que, o réu não é através desta prejudicado.
Ex.: O autor pede a condenação do réu a pagar uma determinada quantia e decide, por algum
motivo, desistir desse pedido. Não pode haver uma nova ação que volte a litigar sobre o mesmo
objeto (diz respeito ao plano do mérito).
Desistência da Instância
Por sua vez, a desistência da instância, consiste em o autor desistir somente da ação, mas
reservando o direito substantivo, ou seja, o autor desiste da concreta relação processual, desiste
da ação, mas reserva a possibilidade voltar a litigar sobre aquele objeto, visto que, este não está a
dispor do objeto da ação, mas apenas da relação processual. Não obsta a uma nova ação e quanto
à sua eficácia, se ocorrer após a contestação, depende da aceitação do réu (art. 286º nº1 CPC), isto
é, após o ato pelo qual o réu contesta, a lei considera igualmente o seu interesse em litigar aquela
concreta ação.
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Nota: Do mesmo modo que o réu, a partir do momento em que é citado, está sujeito a que seja
proferida uma decisão contra si, também o autor, a partir do momento em que a contestação é
proferida, está sujeito a uma decisão contrária aos seus interesses, por exemplo, a absolvição do
réu.
2º Ponto: Confissão
A confissão diz respeito à confissão do pedido, esta tem de ser distinguida da confissão como
meio probatório.
A confissão prevista como meio probatório consiste em alguém declarar a verdade de um facto
que lhe é desfavorável (art. 352º CPC).
A confissão do pedido é muito mais do que isto, é o ato pelo qual o réu reconhece que o pedido
contra si dirigido é procedente. Ora, uma vez que, a confissão é inteiramente desfavorável aos
interesses do réu, ela pode ser praticada por ele sem necessidade do consentimento do autor.
3º Ponto: Transação
A transação do contrato, enquanto a desistência e a confissão são atos unilaterais, é um contrato
celebrado entre autor e réu, nos termos do qual, mediante concessões recíprocas, colocam termo
a uma controvérsia. Ora, tratando-se de um contrato com efeitos simultaneamente substantivos e
processuais, está regulado no CC nos art. 1248º a 1250º. A transação do contrato pode ser judicial
ou extrajudicial.
A transação extrajudicial verifica-se em relação a litígios que não são objeto de nenhuma ação.
Ex.: Celebra-se um CCV de uma máquina. O comprador informa o vendedor que a máquina veio
defeituosa. O vendedor nega tal facto, no entanto, este cede ao comprador, por mútuo consenso,
e dá-lhe uma máquina nova.
A transação judicial verifica-se por referência a um litígio que está a ser objeto de uma
determinada ação. Aqui o litígio tem em vista terminar essa mesma ação e reger as relações das
partes, não mediante uma sentença proferida pelo juiz, mas através da forma exercida pelos
próprios interessados.
Quando se verifica uma destas três possibilidades (desistência, confissão ou transação), o seu
efeito processual não é automático. Antes que produzam o seu efeito sobre a relação
processual/instância, impõe-se que o juiz afira se as partes dispunham ou não de poderes para a
prática desse ato (art. 290º CPC).
A matéria objeto destas três possibilidades é disponível se o juiz, apreciando a desistência,
confissão ou transação, concluir pela disponibilidade, profere, por sentença, nos precisos moldes
de uma das modalidades.
Estas sentenças são designadas por sentenças homologatórias. Nestas, o juiz, ao invés de resolver
a controvérsia, delimita-se a homologar a desistência, confissão ou transação. É um ato pelo qual
o juiz declara que aquilo que foi pretendido pelas partes é conforme o direito. Este ato está na sua
esfera de disponibilidade, por isso, o juiz condena ou absolve nos precisos termos pretendidos
pelas partes- tem como único propósito dar força processual ao acordo das partes.
Nota: Quem é que materialmente resolveu a controvérsia? Foram as partes, o juiz limitou-se a
declarar o direito e, por consequência, extinguiu a ação.
Nota: As controvérsias são negócios de auto composição da lide.
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Justamente por aquilo que resolve a controvérsia ser um ato praticado pelas partes, esse ato pode,
posteriormente, ser declarado nulo ou anulado (art. 291º CPC), podendo tal repercutir-se na
sentença homologatória.
O Poder de Julgar
Qual é o poder do juiz sobre o objeto do processo?
O juiz tem o poder de julgar, como se constitui, qual o seu âmbito quais as matérias submetidas a
este poder, etc.
A relação processual tem três polos:
Autor
Réu
Tribunal – destaca-se uma figura: o juiz.
O juiz é a pessoa a quem se atribui um poder público de julgar, de resolver com autoridade uma
controvérsia. Este poder está sujeito aos parâmetros gerais previstos na CRP que balizam o
exercício desta função pública.
1. Princípio da Separação de Poderes;
2. Independência da função judicial (art. 204º CRP) – este parâmetro apresenta uma dupla
dimensão:
a. Por um lado, engloba a independência externa, isto é, a independência da ordem
jurisdicional no seu conjunto diante de outros poderes;
b. Por outro lado, engloba a independência interna, isto é, a independência de cada
concreto juiz em relação aos demais juízes.
Para garantia da independência interna prevê-se um amplo conjunto de meios, por exemplo, a
fixação de regras de competência legal, ou seja, a competência decisória do juiz depende não de
um ato pessoal de alguém que lhe confia a posição, mas de um regime previsto na lei – princípio
do juiz natural, princípio do previsto na lei.
Os juízes estão sujeitos a um órgão disciplinar próprio, sendo este, o concelho superior da
magistratura. Além disso, estão também sujeitos a um estatuto específico, o dos magistrados
judiciais, onde se prevê várias garantias como, os juízes são irresponsáveis; têm direito a um
estatuto remuneratório condigno; entre outras. Todos estes fatores têm em vista, no seu resultado,
que, quando o juiz exerce a sua função, tem por objetivo somente a aplicação do direito no caso
concreto – o juiz está somente submetido ao direito e à lei.
No âmbito do próprio processo, a independência concretiza-se enquanto imparcialidade, isto é,
enquanto garantia de que o juiz não está previamente condicionado de um modo em que não possa
tomar partido por uma das partes, seja motivada, não por qualquer condicionamento prévio, mas
somente por aquela que vier a ser a convicção do próprio julgador naquela concreta situação.
Como garantias de imparcialidade da decisão estão dois regimes (art. 115º a 129º CPC):
1. Regime de Impedimento;
2. Regime de Suspeição;
A independência do juiz tem em vista libertá-lo de qualquer condicionamento, mas para que se
possa submeter integralmente à lei ou ao direito. Justamente para se poder sindicar o sentido da
decisão judicial prevê-se o dever de fundamentação das decisões judiciais (art. 205º nº1 CRP e
152º CPC). Se o poder do juiz é um poder vinculado, então as respetivas decisões devem expressar
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
claramente os motivos que conduziram o julgador à convicção de que apenas aquela decisão se
justificava no caso concreto.
Finalidades da Fundamentação
1. Permitir ao próprio juiz controlar a sua decisão, uma vez que, a exigência de
fundamentação permite ao decisor tomar consciência do seu próprio erro;
2. Dar a conhecer aos próprios destinatários da decisão quais foram as razões que a
motivaram de modo a tentar persuadir os próprios destinatários da bondade da decisão
tomada, facilitando a sua aceitação;
3. Permitir a sindicância da decisão para um tribunal superior, nomeadamente para efeitos
de recurso;
Uma sentença ou uma decisão não é um ato cognitivo, é um ato de vontade, o juiz exerce a sua
vontade no sentido favorável ou desfavorável à controvérsia. Sem fundamentação a vontade é
nula, é puro exercício de força, é incontrolável, é cega. A exigência de fundamentação tem em
vista, nestes termos, racionalizar o exercício da força ao permitir aceder àquilo que possa ter
motivado esse mesmo exercício e dessa forma permitir agilizar se essa motivação é adequada, ou
não, para a consequência que dela se pretende extrair.
Quem é que pode decidir acerca do objeto do processo?
É o juiz, com um estatuto de independência e de sujeição à lei, com um dever de fundamentação.
Como é que se constitui o poder de julgar?
O poder de julgar é atribuído a um concreto juiz quando o processo é distribuído (art. 203º e ss.
CPC). Este é um ato de secretaria que distribui um processo entregue entre os concretos juízes
daquele tribunal. A partir do momento em que o processo é distribuído, ele está alocado a um
concreto julgador.
Até quando dura este poder de julgar?
O poder de julgar é concedido para que o juiz resolva a controvérsia e esgota-se quando o juiz
profere sentença (art. 613º CPC). Ora, resolvendo a controvérsia através da sentença, o poder já
foi plenamente exercido e, por conseguinte, desparece naquele concreto julgado.
Se, no decurso da ação, o juiz for proferindo decisões, vai esgotando gradualmente o poder de
julgar em relação a essas concretas matérias que decidiu. Com efeito, o poder de julgar esgota-se,
não só em geral quando é proferida uma sentença, mas, em especial, à medida que cada despacho
é proferido. O poder de julgar é um poder que se perde à medida que se exerce. Quando é exercido
plenamente, perde-se completamente.
Quanto ao modo do seu exercício
O poder de julgar pode exercer-se:
Por despacho: há despachos que estão sujeitos a um regime específico em que, muito
embora sejam proferidos, o juiz pode posteriormente rever a decisão, são os chamados
despachos de mero expediente (relação entre o juiz e secretaria) ou despachos no uso do
poder discricionário (art. 152º nº 1 e nº4 CPC);
Por sentença: este ato decisório coloca termo à controvérsia. É um ato conclusivo do
processo nos termos do art. 152º nº2 CPC. No caso de provir de um tribunal superior
designa-se por acórdão.
Tanto o despacho como a sentença são ambos modos de exercício que contêm atos decisórios do
juiz. Embora sejam ambos atos unilaterais do juiz, estes podem ter de ser decididos na audição
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
das partes, esta é uma exigência que decorre do princípio do contraditório. No entanto, a prévia
audição das partes não retira unilateralidade a esses modo de exercício. Há casos em que a lei
prevê que deva haver acordo entre o juiz e as partes, por exemplo, nos termos do art. 151º nº1
CPC.
Âmbito do poder de julgar: o juiz tem o poder de julgar o quê?
1. O juiz tem o poder de apreciar a admissibilidade da ação – princípio da kompetenz-
kompetenz;
2. O juiz tem competência para apreciar quaisquer incidentes que sejam suscitados na ação,
isto é, quaisquer questões que devam ser resolvidas como pressupostos para que possa
resolver a controvérsia;
3. O juiz tem competência para apreciar do mérito da ação: pode conhecer do pedido e da
causa do pedido e pode conhecer das exceções materiais (exceções peremptórias)
deduzidas pelo réu (art. 91º nº1 parte final CPC);
4. O juiz tem competência para conhecer das questões prejudiciais que sejam relevantes para
a resolução da causa, mesmo que a competência, para o seu conhecimento a título
principal, caiba a outro tribunal, normalmente a um tribunal penal ou a um tribunal
administrativo;
Ex.: A pede contra B a nulidade do contrato, alegando que o contrato é nulo porque o seu objeto
é um medicamento cuja comercialização foi proibida pelo ministério da saúde.
Se a ação tivesse por finalidade aferir da validade daquela proibição, era competência dos
tribunais judiciais ou administrativos?
O que deu entrada no tribunal civil foi a validade do contrato, no entanto para que o tribunal a
isso responda, tal implica que conheça de uma matéria de lei administrativa. Na ação civil, o
tribunal vai poder conhecer desta matéria (art. 91º nº2 CPC), mas apenas como pressuposto para
responder ao pedido para o qual tem competência. O art. 91º nº1 CPC permite que o juiz, em lugar
de conhecer diretamente da questão prejudicial, decida aguardar que o tribunal competente para
ela se pronuncie primeiro.
5. O juiz tem competência para conduzir o próprio processo (art. 6º CPC), isto é, este tem o
poder de gestão processual, por outras palavras, o juiz tem a competência de dirigir
ativamente o processo, adequando-o formalmente de forma que ele possa adquirir o seu
propósito.
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porventura, não estiverem verificados e a sua falta não for sanada a consequência é o
indeferimento liminar.
2ª Exceção – o juiz pode conhecer, em data posterior, à gestão inicial do processo. Este pode
conhecer de pressupostos processuais até na própria sentença. Com efeito, conforme resulta do
art. 608º nº1, mesmo na própria sentença, o juiz antes de avançar para o mérito conhece da
admissibilidade, salvo os casos em que a lei o exclua. Mas num processo bem produzido, os
problemas de admissibilidade já foram resolvidos na gestão inicial do processo (fase intermédia).
Os diferentes pressupostos podem classificar-se, de acordo com diferentes categorias:
Quanto ao objeto:
o Respeitam às partes
Personalidade Judiciária;
Capacidade Judiciária;
Patrocínio Judiciário;
o Respeitam ao Tribunal
Competência;
o Respeitam ao objeto do processo
Litispendência;
Caso Julgado;
o Respeitam à relação entre as partes e o objeto do processo
Legitimidade;
Quanto à sanação
o Sanáveis – aqueles cuja falta pode ser colmatada na própria ação;
o Não sanáveis – aqueles cuja falta não poder ser colmatada, logo a sua falta faz
com que a ação seja julgada necessariamente inadmissível;
Esta distinção é importante, uma vez que, o legislador prevê que quando a falta do pressuposto
seja sanável, o tribunal deva ativamente providenciar pela regularização da instância (art. 6º nº2
CPC). O juiz deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para garantir a utilidade daquela ação.
Portanto, se o pressuposto processual em causa é sanável deve procurar a regularização da
instância para que seja possível conhecer do mérito e que a ação, com o esforço que implica, não
seja desperdiçada.
Modo de Conhecimento
o Oficioso – não dispondo a lei diferentemente, a regra é que o pressuposto processual
possa ser conhecido oficiosamente;
o Provocado – suscitado pela parte a sua inobservância para que o tribunal a reconheça;
Relativamente ao tempo do conhecimento, vale a regra, de que podem ser conhecidos a todo o
momento (até ao final da sentença). Contudo, casos há em que a lei impede o seu reconhecimento
a partir de certa altura (ex.: incompetência relativa até ao despacho saneador).
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Se o pressuposto processual for sanável: a lei nada prevê, logo o juiz terá de ordenar a
regularização a instância ou convidar à prática dos atos convenientes para esse efeito;
Se o pressuposto processual for insanável: o efeito próprio de uma exceção dilatória
que não tenha sido sanada, é a absolvição do réu da instância.
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Por conseguinte, a exceção dilatória não obsta a que se proponha uma nova ação com o mesmo
objeto (art. 620º e 279º nº1 CPC). Mesmo que tenha havido absolvição da instância, é possível
aproveitar alguns efeitos decorrentes da propositura da primeira ação (aquela que terminou com
a absolvição do réu da instância), quando seja proposta uma nova ação no prazo de 30 dias a
contra do trânsito em julgado (art. 279º nº2 CPC). Podem ser aproveitados os chamados efeitos
civis da propositura de uma ação e os efeitos da citação. Eventualmente, nos casos previstos no
art. 279º nº3, podem mesmo ser aproveitadas as provas produzidas na primeira ação.
É possível propor uma mesma ação respeitante ao mesmo negócio? Sim, se o tribunal não
conhecer o fundo da causa. Mas pode já ter decorrido mais de um ano a contar do conhecimento
da anulação – neste caso, aproveita-se os efeitos civis da primeira no prazo de 30 dias, mesmo
quando a ação termina com a absolvição da instância, pode a nova ação aproveitar efeitos civis
da primeira.
Ex de um efeito civil: com a propositura da ação, interrompe-se o prazo para a caducidade do
direito (331º/1 CC). Ex. de uma ação sujeita a caducidade: anulação do negócio jurídico celebrado
sob coação.
Finalmente, ainda quanto ao regime geral dos pressupostos processuais, excecionalmente, é
possível que, embora faltando um pressuposto processual, o tribunal conheça do mérito da causa
(art. 278º nº3 CPC).
Quais são os casos excecionais em que se pode admitir a aplicação deste regime? Quando o
pressuposto processual em causa se destina a proteger o interesse de uma das partes, quando não
esteja presente nenhuma outra exceção dilatória e quando a decisão seja integralmente favorável
a essa parte protegida pelo pressuposto processual em falta (condições cumulativas).
Ex.: É proposta uma ação em que o réu é menor, no entanto, o tribunal só se apercebeu que ele
era menor no momento da sentença, ou seja, apercebe-se que este não tem capacidade judiciária.
A regra normal seria a regularização da instância, mas aqui vale o art. 278º nº3 que diz que o
tribunal pode conhecer do mérito caso a sentença seja integralmente favorável ao menor, pelo que
deixa de ser necessário regularizar a instância.
Portanto, a lei pretende que a parte esteja devidamente tutelada no processo.
Pressuposto Processuais em concreto
Personalidade Judiciária
A personalidade judiciária traduz-se, no plano processual, como o pressuposto da personalidade
jurídica (suscetibilidade de ser titular de direitos e obrigações). Deste modo, a personalidade
judiciária consiste na suscetibilidade de ser titular de uma relação processual, ou seja, de ser parte
de uma relação processual (conceito de relação jurídica aplicado à relação processual).
De acordo com o princípio da coincidência ou da equiparação, em regra, quem tem personalidade
jurídica tem personalidade judiciária (art. 11º CPC).
Quem tem personalidade judiciária?
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Código das Sociedades Comerciais
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Ainda, a lei processual atribui a possibilidade de ser parte num processo a entidades que não
tenham personalidade jurídica em sentido substantivo. Há realidades substantivas a respeito das
quais entendeu o legislador não se justificar aquele tipo de autonomização que decorre da
atribuição de personalidade jurídica, optando apenas por conceder uma personalização com
efeitos limitados, isto é, efeitos exclusivamente processuais.
Coutinho Almeida distingue entre personalidade jurídica e subjetividade jurídica. Esta distinção
serve para distinguir aqueles a quem apenas se atribui a plenitude de consequências decorrentes
da personalidade jurídica daqueles a quem apenas uma parte desses atributos são reconhecidos.
A quem se atribui personalidade judiciária?
O elenco das entidades de que apesar de não terem personalidade jurídica têm personalidade
judiciária consta no art. 12º CPC.
1. Art. 12º a) CPC – a herança jacente e os patrimónios autónomos semelhantes cujo
titular não estiver determinado.
A herança jacente diz respeito ao primeiro estado em que se encontra a herança após a morte
daqueles que era titular dos bens que a integram. Quid iuris caso se pretenda propor uma ação
relativa à herança jacente? Presume-se que tem personalidade judiciária.
Ex.: A é titular do imóvel X na cidade do Porto que está em risco de derrocada. O vizinho pretende
reagir, nomeadamente, pretende que o proprietário tome as providências necessárias para o imóvel
não ruir atingir o seu património.
Imaginemos que A morreu? É possível propor uma ação contra ele? Não, porque A deixa de te
personalidade judiciária. É possível propor uma ação contra os herdeiros? Só se eles passarem a
ser herdeiros do imóvel, no entanto estes só se tornam proprietários aquando da aceitação. E se o
vizinho propõe a ação e os herdeiros ainda não aceitaram a herança? Esta ação será proposta
contra a herança jacente que tem personalidade judiciária nos termos do art. 12º a) CPC.
Nota: Existe algum património, que não pertence a ninguém a concreto? Sim, os baldios
(regulados na lei 75/2017), estes são terrenos que pertencem à coletividade e não a pessoas
individualmente identificadas. Assim, segundo a lei 75/2017, no seu art. 4º nº1, os baldios não
tem personalidade jurídicas, mas têm personalidade judiciária.
2. Art. 12º b) CPC – as associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais
(ex.: comissões de curso, grupo de sujeitos que se organiza para fazer uma festinha);
3. Art. 12º c) CPC – as sociedades civis (nos termos do art. 980º CC são quase irrelevantes);
4. Art. 12º d) CPC – as sociedades comerciais, até à data do registo definitivo do
contrato pelo qual se constituem, nos termos do art. 5º CSC (antes do registo as
sociedades comerciais ainda não têm personalidade jurídica, mas já têm personalidade
judiciária, ou seja, já podem ser parte no processo);
Estas são entidades com um certo substrato pessoal que consistem numa coletividade de pessoas,
mas às quais a lei entende não atribuir personalidade jurídica, por não gozarem do nível de
institucionalização conveniente para a atribuição deste valor.
5. Art. 12º e) CPC – o condomínio resultante da propriedade horizontal, relativamente
às ações que se inserem no âmbito dos poderes do administrador;
A propriedade horizontal consiste no modo de organizar o direito da propriedade que une
a propriedade comum das partes comuns (corredores, elevadores, jardins, piscinas,
estacionamento) de um prédio com a propriedade exclusiva das frações autónomas desse
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prédio de modo incindível. Quando nós temos um edifício sujeito a este regime, teremos
portanto certas partes comuns e certas partes próprias (frações autónomas de cada
condómino). Cada condómino é proprietário exclusivo da sua fração e é coproprietário
das partes comuns (corredores, entrada, telhado). Para a administração dessas partes
comuns, a lei prevê:
Por um lado, a assembleia de condóminos;
Por outro lado, o administrador do condomínio: se houver uma ação que respeite a
algumas funções dos poderes do administrador, o próprio condomínio que não tem
personalidade jurídica (os condóminos têm personalidade jurídica) pode ser parte do
processo, ou seja, tem personalidade judiciária.
Se a ação se tornar inútil, a instância extingue-se por inutilidade superveniente (art. 277º
e) CPC);
Ex.: o autor propõe uma ação contra o réu para que ele seja condenado a não concorrer
no exercício de uma atividade processual.
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Se, pelo contrário, a ação mantiver a sua utilidade (regra) temos de aplicar o regime de
sucessão da parte na instância (esta é a norma porque via de regra a morte não é causa de
extinção da relação jurídica – só as posições pessoais é que se extinguem);
Qual é o regime que regula a sucessão da parte que morrer durante a ação?
Morrendo uma das partes, a instância suspende-se (art. 269º a) CPC). Serão nulos todos os atos
praticados a partir da data em que a parte morreu ou a parte se extinguiu (no caso das pessoas
coletivas), nos termos do art. 270º nº3.
O processo só retomará o seu curso quando for habilitado o sucessor (art. 276º nº1 a) CPC).
Para regularizar a instância, o meio é o incidente de habilitação, nos termos do art. 251º CPC e
ss., este é o meio para substituir no processo às primitivas partes àqueles que lhes tenham
sucedido. Existe, porém uma exceção, que se encontra prevista no art. 162º CSC, extinguindo-se
um sociedade comercial, a ação pode prosseguir contra os sócios sem necessidade de habilitação.
Capacidade Judiciária
Se a personalidade judiciária traduzia o conceito substantivo da personalidade jurídica, a
capacidade judiciária traduz, na realidade processual, o conceito substantivo de capacidade
jurídica.
A capacidade judiciária consiste na suscetibilidade de poder estar, por si, na ação, sem necessidade
de representante (art. 15º nº1 CPC) e tem por base a regra de capacidade de exercício (art. 15º nº2
CPC).
Será a partir dos 18 anos, por regra.
Mesmo quem tem capacidade judiciária, muito embora possa estar por si na ação, para agir no
processo, pode carecer de patrocínio judiciário (que é outro dos pressupostos para a ação
processual).
Qual o regime que se aplica quando um incapaz seja parte da ação?
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Legitimidade Processual
Para que o Tribunal entre na apreciação do mérito da causa exige-se, além da presença na instância
de partes dotadas de personalidade e capacidade jurídicas, que ambas tenham legitimidade
processual.
Diferentemente do que se passa com os dois primeiros pressupostos que correspondem a
qualidades das partes, determináveis em geral para todos os processos independentemente do seu
objeto, a legitimidade processual traduz-se numa ligação específica (tanto do lado ativo como do
lado passivo) com a relação de direito material em que o autor sustenta o pedido da tutela judicial,
seria desprovida de utilidade a decisão proferida no confronte de quem, tendo sido parte, todavia
não era titular do direito ou da obrigação correspondente.
Legitimidade Singular
A legitimidade é um substantivo formado através do adjetivo “legitimum” – qualidade do que é
conforme à lei – mais o sufixo “tas” – sufixo utilizado na idade medieval para formar substantivos
abstratos. Logo, legitimidade corresponde portanto a uma qualidade do que é conforme à lei.
Legitimidade aponta, portanto, para duas ideias em conformidade.
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Art. 30º nº2 CPC – saltamos de um conceito geral do nº1 para outro conceito geral, o de
utilidade: solução não nos permite uma concretização clara, não dá um critério efetivo.
o Para ultrapassar os limites do nº1, o legislador acrescenta que a ligação do
interesse do autor se exprime “pela utilidade derivada da procedência da ação” e,
do lado passivo, que o interesse que funciona como correlato daquele que é
preenchido pela consideração do “prejuízo que dessa procedência advenha”.
Mas isto está situado fora do campo da legitimidade processual.
A dificuldade de operar com o referido critério tomou particular relevo com o debate doutrinal
que se abriu a propósito de um caso discutido nos nossos tribunais, em que a sociedade comercial,
autora, alegou ter celebrado com o réu um contrato de compra e venda de determinada quantia de
matéria prima, que não fora cumprido integralmente.
Daqui decorria o pedido de condenação do demandado na entrega da quantia em falta ou, em
alternativa, na indemnização dos prejuízos causados.
Ao contestar, o réu alegou que não assumiu pelo contrato a obrigação de fornecer a mercadoria
em causa, uma vez que se limitara a intervir como mero intermediário de uma sociedade
espanhola, que era realmente a vendedora- foi aprovada a alegação do réu.
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Quem entendesse que a aferição da titularidade se baseasse tão só na relação controvertida tal
como foi apresentada ao tribunal pelo autor, desde que a existência dessa relação, assim
configurada, pudesse em abstrato ser reconhecida pelo direito.
A solução do legislador para ultrapassar este problema encontra-se no art. 30º nº3 CPC.
Art. 30º nº3 CPC - finalmente fornece um critério efetivo para determinar a
legitimidade: os sujeitos da relação material que constituem o objeto do processo, tal
como a autora o apresentou na petição inicial.
Logo, a legitimidade afere-se confrontando as partes da ação com as partes da relação
que o autor alegou e apresentou ao tribunal na petição inicial. Agora o que importa é a
relação alegada pois a relação efetiva já tem a ver com o mérito da causa.
Concretizações deste critério em vários casos específicos/casos ordinários:
Normal ação de condenação – são partes legítimas aqueles que se afigurem ser os
titulares ativos e passivos da pretensão exercida no processo.
Ex.: exerce-se um direito de crédito, sendo a parte ativa aquele que afigura ser o credor e
a parte passiva quem se afigura como devedor.
Numa ação de reivindicação é:
o Parte ativa quem se apresenta como alegado proprietário;
o Parte passiva aquele que violou o seu direito de propriedade;
Normal ação constitutiva
Ex.: A tem um prédio encravado e para chegar à via pública é necessário passar por, pelo
menos 2 prédios, de B e C.
E se A propuser a ação constitutiva apenas contra B? B não é parte legitima porque para
que os efeitos potestativos do direito potestativo se produzam é necessário que estejam
ambos os representantes, B e C.
o É parte ativa aquele que aparenta ser o titular do direito;
o É parte passiva aquele que, nos termos da alegação do autor, arca com os efeitos
da procedência da ação;
Normal ação de simples apreciação
Ex.: Alguém afirma que outrem arroga a sua propriedade do direito (são partes aquele
que afirma e aquele que arroga o direito).
o São partes legítimas as pessoas envolvidas na situação de incerteza que se
pretende esclarecer no processo.
Legitimidade Ordinária vs. Extraordinária
Podemos fazer uma distinção entre e legitimidade ordinária e extraordinária.
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Há várias hipóteses em que a lei admite que alguém possa litigar sobre uma relação jurídica alheia.
Neste caso, é importante admitir como parte legítima uma pessoa que não é o sujeito da relação
material controvertida, por esse motivo que, este caso, se designa de legitimidade extraordinária
ou substituição processual.
Na legitimidade extraordinária ou substituição processual aquele que age na ação encontra-se a
substituir o titular da relação jurídica. Ora neste tema da substituição processual é muito difícil e
duvidoso que se possa fazer uma espécie de regime geral para todos os casos de substituição
processual.
Como tal, invés de ver-mos, em geral, o que poderia ser um regime englobante de substituição
vamos ver vários conjuntos de casos, cada um com determinados elementos.
Nota: O professor Tiago Ramalho tem dúvidas que este casos se possam reduzir a um
determinado denominador comum.
1º Hipótese: Transmissão de coisa ou de direito
A lei processual prevê um regime específico para a hipótese em que durante a pendencia de uma
ação o bem, que era objeto de litígio, é transmitido a um terceiro.
Ex.: Imaginemos A propõe uma ação de reivindicação contra B, na pendência da ação B aliena a
C.
Quando a ação foi proposta B era parte legitima? Sim, porque o réu é aquele que nos termos da
relação material corresponde a sujeito passivo.
Na pendencia da ação o réu transmitiu o bem. Perdeu a sua qualidade de parte legitima? Não.
Se a ação proceder é oponível a C ou não? Sim.
Quando à transmissão de coisa ou direito em litígio o transmitente mantém a sua legitimidade e a
sentença que vier a ser proferida é oponível ao terceiro. É o que resulta do art. 263º nº3 CPC.
Daqui decorre que a partir do momento em que B transmitiu o bem está a litigar sobre um direito
de terceiro, portanto é um acaso de legitimidade extraordinária. B passa a ter legitimidade
extraordinária para agir no lugar do adquirente e a sentença é oponível a C.
Sem prejuízo pode ser requerida no processo a habilitação de terceiro, isto é, que ele ingresse na
ação para substituir a primeira parte, é um caso de habilitação inter-vivos, ela pode ter lugar nos
termos do art. 256º CPC.
Ex.: B sai da ação e C ingressa através de um incidente de habilitação. Esta circunstância de o B
se tornar substituto processual não é destituída de interesse, a partir do momento em que B passa
a agir como substituto processual, já não pode dispor do objeto do processo com efeitos em relação
a C.
2ª Hipótese: Administração de patrimónios alheios
Há certas hipóteses previstas na lei substantiva em que se faculta a alguém a possibilidade de estar
em juízo, mas para defesa de determinados patrimónios alheios cuja administração lhe compete.
É aquilo a que os alemães chamam “parteien kraft amtes”, ou seja, “ser parte em virtude da
função que se exerce”.
Dois exemplos de pessoas que podem ser parte para defender património alheio:
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Testamenteiro (art. 2326º b) CC) – tem legitimidade para sustentar em juízo a validade
de disposições testamentárias, isto é, alguém que faz o testamento indica o testamenteiro
que pode defender o testamento contra terceiros;
Administrador de Insolvência – por força da declaração de insolvência, o insolvente
deixa de ter legitimidade para conduzir as ações relativas ao seu património, quem exerce
esta função é, portanto, o administrador de insolvência que defende o património alheio.
Quando alguém é declarado insolvente, o seu património passa a estar incredencionado a
terceiro.
Nota: Aqui não se inclui o administrador de condomínio, a lei optou por atribuir personalidade
judiciária ao condomínio.
3ª hipótese – Conservação da garantia patrimonial
A lei civil, nos art. 605º e ss. CC, confere um conjunto de prerrogativas especiais aos credores
para conservar a sua garantia patrimonial.
Na garantia patrimonial dos credores, o credor – aquele que tem um crédito em relação ao devedor
– pode em caso de recusa do devedor em realizar a prestação debitória pode executar o património.
É por isso que o património se diz a garantia comum de credores.
A título de regra, o credor não pode interferir nas relações do devedor com terceiros. A regra é
que o poder do credor sobre o devedor se restringe à relação jurídica obrigacional entre ambos,
contudo a lei para hipótese em que se revela necessário, para conservação da garantia patrimonial,
intervir sobre as relações jurídicas do devedor, faculta ao credor as seguintes prerrogativas:
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608º CC). Portanto teremos uma ação com 3 partes, o credor a parte ativa, o terceiro a parte
passiva e o devedor também será parte assumindo uma posição ativa e passiva, ou seja, pode opor-
se ao credor, mas também se pode opor a terceiro.
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chamados à ação (art. 316º nº3 b) CPC). Assim, teríamos uma ação com uma pluralidade de partes
(tem de ser por iniciativa do réu).
5º Hipótese – Realidade dos seguros, especialmente do seguro de responsabilidade civil
Em direitos das obrigações, a responsabilidade extracontratual tem um esquema. O código civil
configura a responsabilidade civil como um problema entre duas pessoas – o lesante e o lesado.
Quando se verificam os pressupostos da responsabilidade civil, o lesante responde perante o
lesado, constituindo-se uma obrigação. Esta realidade assumiu entretanto uma complexidade
maior, uma vez que, surgiu um terceiro interveniente, o segurador.
Na maioria dos casos de responsabilidade civil, o segurador é aquele que assume a obrigação de
pagar a indemnização caso se verifique o sinistro (evento lesivo) passou, portanto, de uma
estrutura bipolar para uma estrutura tripolar, isto tornou as coisas mais difíceis no plano
processual: que posição deve assumir o segurador?
O segurador, desde logo, pode proteger o lesante que é aquele com quem celebrou o contrato de
seguro. Quando alguém celebra um contrato de seguro faz uma operação de troca, ou seja, alguém
troca um valor incerto e muito elevado, por um valor certo e baixo (valor do prémio de seguro).
A seguradora assume a responsabilidade de pagar o valor caso a obrigação se venha a constituir.
O contrato de seguro visa, desde logo, proteger o interesse o possível lesante em precaver-se
contra o eventual poder de pagamento de uma indemnização de montante muito elevado.
Mas também é no interesse do lesado nos casos em que a lei prevê o seguro obrigatório, nos casos
em que a lei obriga todos aqueles que querem desempenhar uma determinada atividade a
constituírem seguro para a eventualidade de se gerar um dano qualquer lesado é tutelado
prevenindo o risco de eventual insuficiência patrimonial do lesante.
Ex.: caso dos automóveis em que a constituição do seguro é obrigatória.
A isto se chama socialização do risco. Todos os possíveis lesantes constituem seguros para que as
seguradoras indemnizem todos os possíveis lesados e quando seguro não e constituído a obrigação
é assumida por um fundo de garantia (financiado por todos os possíveis lesantes para indemnizar
aqueles lesados por quem não constitui indevidamente seguro).
Repercussões processuais do regime de seguro de responsabilidade civil:
1. Seguro facultativo
Importa considerar o art. 140º do regime geral do contrato de seguro (RGCS) que está regulado
no DL 72/2008, de 16 de setembro. Tratando-se de seguro facultativo, vale a regra, de que a ação
é contra o lesante, mas que o segurador pode intervir em qualquer processo (art. 140º nº1 RGCS).
Prevê-se ainda, que segurador e tomador de seguro possam acordar que a ação seja proposta
diretamente contra o segurador estando ele presente de forma isolada ou em conjunto contra o
segurado.
A esta possibilidade de agir diretamente designa-se ação direta no âmbito dos seguros. Isto é, no
interesse do lesante, sem que o lesado seja prejudicado.
2. Seguro Obrigatório
O seguro obrigatório tem-se multiplicado de modo relevante, por exemplo, seguro automóvel,
estudante, trabalhador no âmbito de acidentes de trabalho; condomínios, etc.
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Qual é o regime que aqui vale? Vale o disposto no art. 146 nº1 RGCS, faculta-se a possibilidade
de agir diretamente contra o assegurador (ação direta).
3. Seguro de responsabilidade civil automóvel
No regime geral deste caso, a ação deve ser proposta apenas contra a seguradora (art. 64º nº1 a)
DL 291/2007) desde que o pedido se contenha no capital mínimo obrigatório do seguro
obrigatório (7 milhões de euros – se o pedido exceder este valor é contra o segurador e a tomador
de seguro).
Se não houver seguro a ação é proposta contra o lesante e fundo de garantia automóvel em
litisconsórcio (art. 62º nº1 DL 291/2007). estando os dois presentes na instância, a sentença
produz caso julgado em relação a ambos, portanto a relação jurídica fica estabelecida em relação
a ambos. Assim, o fundo de garantia automóvel, cumprindo, pode exigir de volta aquilo que
prestou ao lesante, ao abrigo da figura da sub-rogação, como meio de transmissão de obrigações.
Assim, o fundo de garantia automóvel tem apenas a função de garantir a proteção do lesado,
estando o lesante obrigado a restituir tudo o que o fundo de garantia automóvel teve de despender
em razão do dano produzido.
6ª Hipótese – Direito de Personalidade
No âmbito dos direitos de personalidade em varias hipótese é conferida legitimidade aos herdeiros para
agirem defesa da personalidade já falecida nos termos do art. 71º nº2 e 73º CC.
Trata-se de uma legitimidade extraordinária porque não estão dependentes de uma posição
própria, mas sim um direito de personalidade respeitante à personalidade da pessoa que já
faleceu.
Legitimidade Plural
O regime da legitimidade plural aplica-se quando haja várias pessoas ou no lado ativo ou no lado
passivo da instância.
Vale a regra no processo civil de que deve haver sempre duas partes, uma ativa e uma passiva,
mas cada uma destas pode ser singular ou plural.
Via de regra, sejam as partes singulares, sejam as partes plurais, o número de partes da ação é
sempre resultante de uma opção daqueles que nela intervêm, isto é, são as partes que definem as
partes (que são aqueles que arcam com os possíveis efeitos de uma decisão), isto decorre do
princípio do dispositivo, as partes são o elemento delimitador do objeto do processo (partes,
pedido e causa de pedido) e se assim o é, então, de facto, apenas o autor, o réu ou outros
intervenientes processuais que fiquem sujeitos aos efeitos da ação podem delimitar a instância no
seu aspeto subjetivo.
Dai que as partes da instância não possam ser estabelecidas por ordem do juiz. O juiz não pode
ordenar que seja parte quando tal não tenha sido pedido
Ex.: A propõe uma ação contra B o juiz entende que nessa ação deve também estar presente C. O
juiz pode ordenar a situação de C? Não, o princípio do dispositivo não o permite, mas este pode
convidar as partes a chamarem C.
Ou seja, do ponto de vista substantivo, isto não é uma formalidade. Não é indiferente a alguém a
pessoa com quem está a litigar. A pode aceitar mitigar com B, mas não querer mitigar com C, por
exemplo, por ser seu filho.
Apenas aos intervenientes da ação cabe ajuizar se querem entrar e concluir. O processo é uma
guerra e, como tal, apenas os contentores é que decidem se querem conflituar com aqueles.
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Ninguém pode ser forçado a litigar! O tribunal não se pode substituir às partes nesta decisão: pode
ser tão profunda, tão difíceis de suportar os efeitos de uma determinada ação que apenas se dá
essa etapa que tal contende se houve um impulso de um interveniente processual.
Ninguém está livre de ser parte de um processo, cada membro de uma comunidade jurídica está
sujeito a ser parte de uma ação. Mas só pode ser réu se for por iniciativa apenas e tão só de uma
parte.
Tudo depende da causa que motiva o chamamento- mas, se fosse um caso de litisconsórcio
necessário, que o autor quer o réu podiam chamar novas partes. Chamando, C seria parte da ação.
Logo, apenas se é parte da ação na sequência feita de um chamamento por outra parte que pode:
Livre: as partes são plurais na sequência de uma opção, não resultando de nenhum
regime obrigatório: por exemplo, o autor optou por agir contra vários réus ou, então,
o réu optou por chamar várias pessoas a serem parte ativa da ação.
Obrigatória: a própria lei que exige que para que a ação seja conhecida esteja nela
presente uma pluralidade de pessoas.
Assim, nós poderemos ter várias modalidades de partes plurais:
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Litisconsórcio Necessário
O litisconsórcio pode ser necessário quando estejamos diante de uma relação jurídica da qual a
lei imponha que só possa ser apreciada judicialmente com a presença de todos os seus titulares.
Portanto, a legitimidade aparece submetida a um regime jurídico que unifica a posição dos
litisconsortes, na medida em que a sua intervenção na instância tem de operar-se de forma
conjunta, originando uma autêntica parte coletiva no(s) polo(s) da relação processual onde se
manifesta a pluralidade. A autonomia da atuação por cada um dos sujeitos reunidos por força do
litisconsórcio desaparece em atenção à unidade e indivisibilidade sub specie iuris da relação
material que une as partes.
A lei determina-o essencialmente em virtude do regime do caso julgado, isto é, através da presença
obrigatória na instância, consegue-se que os chamados a juízo, mesmo que se alheiem do
desenvolvimento do processo depois de concretizado o chamamento, sejam atingidos pela eficácia
do caso julgado material (art. 619º nº1 CPC e art. 581º nº2 CPC), ou seja, o caso julgado na ação
só produz efeitos entre as partes, logo, sempre que se trate de uma relação jurídica em que para o
legislador seja essencial uma uniformidade do seu tratamento, impõe a presença dos titulares da
instância para que a sentença que venha a ser proferida valha em idênticos termos para todos os
titulares.
A lei processual civil tenta evitar ao máximo a complexidade processual, o princípio é sempre de
que basta o autor e o réu. Só em casos muito limitados, é que exige a presença de mais titulares
da relação jurídica.
Nos termos do art. 33º nº1 CPC, o litisconsórcio necessário pode ser imposto por:
Lei;
Negócio jurídico;
Podemos distinguir entre:
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A perda ou a oneração de bens que só por ambos os conjugues possam ser alienados;
A perda de direitos que só por ambos possam ser exercidos. Incluindo as ações que
tenham por objeto, direta ou indiretamente, a casa de morada de família;
Nos termos do art. 34º nº3 c) CPC, as ações emergentes de facto praticado:
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a controvérsia que há entre si de acordo com um regime que vale para os efeitos do caso julgado
da decisão.
Será um litisconsórcio voluntário (facultativo) se para produzir o efeito útil normal da ação não
é necessário a presença de uma pluralidade de partes (art. 32º CPC).
Exemplo:
1. A propõe uma ação de responsabilidade civil contra B. O dano foi causado por B e C.
Aqui há litisconsórcio necessário? A tem de propor a ação contra um ou contra ambos? Do ponto
de vista do direito civil a lógica é sempre a da simplificação da ação.
Se a ação for proposta apenas de A contra B resolve definitivamente o conflito entre ambos, então
pode (se dá para segmentar a relação jurídica; então segmenta-se porque isso é o mais simples) -
teoricamente, isto pode levar a decisões contraditórias, mas, na prática, não conflituem entre si.
2. A ação de divisão de coisa comum que tem 4 partes. É para colocar termo a uma
titularidade que pertence a vários. A propõe uma ação apenas contra B.
Aqui há litisconsórcio necessário? A tem de propor a ação contra um ou contra ambos? Esta ação
não pode regular de um modo definitivo um estatuto de um bem que pertence a vários, sob pena
de a ação ser inútil.
Logo, neste caso, A tem de propor a ação contra ambos.
3. O autor é titular de um prédio e não consegue chegar à via publica sem passar pela
propriedade de B e C. O autor propõe apenas a ação contra B.
Aqui há litisconsórcio necessário? A tem de propor a ação contra um ou contra ambos? Esta ação
não pode regular de um modo definitivo a situação do autor que tem um prédio encravado, sob
pena de a ação ser inútil.
Logo, neste caso, o autor tem de propor a ação contra B e C.
4. Imaginemos que A celebrou um CCV com B e C, na qualidade de comprador, mas, no
âmbito da celebração de contrato houve um comportamento abusivo por parte de ambos,
pelo que A pretende uma indemnização por culpa in contrahendo.
Aqui há litisconsórcio necessário? A tem de propor a ação contra um ou contra ambos? Se a ação
for proposta apenas de A contra B apenas (ou contra C apenas) resolve definitivamente o conflito
entre ambos, então pode (se dá para segmentar a RJ; então segmenta-se porque isso é o mais
simples) - teoricamente, isto pode levar a decisões contraditórias, mas, na prática, não conflituem
entre si.
5. Mas e se A quisesse a anulação do negócio para ser restituído o bem?
Aqui há litisconsórcio necessário? A tem de propor a ação contra um ou contra ambos? Esta
ação não pode regular de forma definitiva a situação de A, que pretende anular o contrato, se A
apenas propor a ação apenas contra B ou apenas contra C, sob pena de a ação perder a sua utilidade
- uma ação apenas em relação a uma das partes, não permitiria anular o efeito translativo.
Logo, neste caso, o A tem de propor a ação contra B e C.
6. E no caso de existirem 3 prédios contíguos – é possível propor uma ação de demarcação?
Aqui há litisconsórcio necessário? A tem de propor a ação contra um ou contra ambos? Esta ação
não pode regular de um modo definitivo o autor que propôs uma ação de demarcação se ele não
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propuser contra os dois, sob pena de a ação ser inútil - só tem utilidade quanto a todos os prédios
que demarcam os seus limites.
Portanto, para aferirmos se há ou não litisconsórcio necessário temos de fazer uma ponderação
prática e concreta sobre a utilidade da ação.
a) No que diz respeito à citação (art. 219º nº1 CPC), caso um dos litisconsortes não seja
citado, é anulado todo o processado após a citação em relação a todos, nos termos do art.
190º a) CPC, salvando-se unicamente a petição inicial e os atos que lhe estejam ligados:
pretende -se que todos estejam na ação e todos possam influenciar a ação;
b) No que diz respeito à confissão:
a. enquanto meio probatório, só é atendível se provier em simultâneo de todos os
litisconsortes: art. 353º nº2 2ª parte do CC. Compreende-se que, na presença dos
interesses insuscetíveis de divisão entre a pluralidade dos cointeressados seus
titulares, não possa ser valorada pelo julgador como confissão a atitude de um ou
de alguns deles reconhecerem a realidade de um facto que a todos prejudica- de
todo o modo, mesmo que não provenha de todos, o tribunal pode livremente
apreciá-lo (art. 361º CC e 607º nº 5 CPC);
b. se a relação jurídica respeita a várias pessoas, então a confissão, desistência ou
transação enquanto atos de disposição sobre o objeto do processo, só podem
ser praticadas por todos em simultâneo. De todo o modo, se algumas das partes
praticar isoladamente alguns destes atos, poderá ser relevante para efeitos de
repartição das custas judicias: art. 288º nº2 CPC e 528º nº2 CPC, ficando o
tribunal impedido de atender à manifestação daquela vontade em tudo o que
interfira com o sentido de julgamento da questão de fundo. Cada um destes
litisconsortes perde a autonomia para dispor do objeto do processo.
c) Uma vez que no litisconsórcio necessário está em jogo apenas uma relação jurídica que a
lei pretende que seja regulada de modo rigorosamente uniforme para todos os seus
titulares, caso seja interposto recurso apenas por um dos litisconsortes, a decisão do
recurso aproveita aos demais, mesmo que estes últimos nela não participem ou não
intervenham, nos termos do art. 634º nº1 CPC.
Quis iuris caso não seja respeitado o regime do litisconsórcio necessário?
Caso haja preterição de litisconsórcio (seja ativo, seja passivo – depende dos casos) considera-se
que as partes são ilegítimas (art. 33º nº1 CPC).
Ora, constituindo a falta de um pressuposto processual, dá lugar a uma exceção dilatória (art. 577º
e) CPC) que conduz a que o juiz se venha a abster de conhecer do mérito da ação (art. 576º nº2 1ª
parte CPC). Tratando-se da falta de um pressuposto processual sanável, o juiz deverá prover pela
regularização da instância (art. 6º nº2 CPC), embora este artigo abra duas possibilidades, no caso
do litisconsórcio necessário, no caso do pressuposto da legitimidade que respeita sempre as partes
o juiz nunca pode oficiosamente regularizar a instância porque só as partes é que decidem contra
quem haja (princípio do dispositivo).
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Portanto, mesmo após a fase dos articulador, é possível no caso de litisconsórcio chamar novos
intervenientes.
De outro modo, o juiz não poderia convidar à regularização, o art. 6º nº2 CPC não podia reclamar
a sua aplicabilidade.
Requerer a intervenção da parte em falta até ao trânsito em julgado (art. 261º nº1 CPC);
Mesmo após o trânsito em julgado, no prazo de 30 dias, pedir o chamamento de terceiro,
considerando-se a instância renovada (art. 261º nº2 CPC);
Com base nestes regimes, vemos o empenho fortíssimo da lei processual em salvar a instância
para não inutilizar toda a atividade processual para trás (ex.: a petição inicial e a contestação têm
custos muito elevados a elas associados).
Litisconsórcio Voluntário
No litisconsórcio necessário, a lei exige que haja uma pluralidade de partes para que a instância
seja tramitada; já no litisconsórcio voluntário, essa situação de pluralidade de partes não conduz
a que todas elas tenham de estar presentes na ação, mas apenas faculta que, caso os interessados
assim pretendem, se origine a situação de pluralidade.
Quando é que a lei o admite? Sempre que a relação material controvertida (que é objeto de
discussão na ação):
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Estamos diante de uma hipótese de litisconsórcio voluntário quando haja uma relação jurídica que
respeite a várias pessoas, mas essa relação seja divisível ou quando, muito embora ela seja
indivisível, um dos seus titulares possa estar sozinho na ação (ex.: no âmbito da copropriedade
para a defesa da propriedade comum), estão se estiverem vários na ação, não por imposição da
lei, mas ao abrigo de um regime de litisconsórcio voluntário.
O princípio fundamental que preside ao regime do litisconsórcio voluntário é o de que cada um
dos litisconsorte age na ação apenas a respeito da sua próprio posição jurídica se ela poder ser
dividida.
Quais são os principais regimes substantivos que do ponto de vista processual constituem
hipóteses de litisconsórcio voluntário?
1. Regime de solidariedade (art. 512º e ss. CC), uma obrigação diz-se solidária:
a. Do ponto de vista ativo: quando pode ser exigida na totalidade por qualquer um
dos credores (art. 528º e ss. CC);
b. Do ponto de vista passivo: quando pode ser exigida na totalidade a qualquer um
dos devedores (art. 518º e ss. CC).
Em caso de solidariedade passiva, pode a ação ser proposta apenas contra um dos
codevedores? Sim, nos termos do art. 32º nº2 CPC.
E pode ser proposta contra vários? Sim, neste caso teríamos um litisconsórcio,
uma única relação jurídica com uma pluralidade de partes.
2. Responsabilidade civil extracontratual havendo vários autores do facto donoso:
dispõe os art. 490º e 497º CC que quando há vários responsáveis por um dano, a obrigação
é solidária. A ação pode ser proposta:
a. Contra um dos lesantes;
b. Contra vários lesantes em simultâneo – caso em que é litisconsórcio voluntário
(uma única relação jurídica com uma pluralidade de partes);
3. Pluralidade de credores de uma prestação indivisível – dispõe a lei na art. 538º nº1 1ª
parte que:
a. Cada credor pode exigir a prestação por inteiro – tem legitimidade singular;
b. Mas se todos agirem em conjunto já se tratará de litisconsórcio voluntário
4. Em determinadas hipóteses, quando se trate de uma relação jurídica plural:
a. Cada um pode defender coisa comum;
b. Se em vez de agir sozinho, agir em conjunto com os demais será litisconsórcio
voluntário;
5. Obrigações conjuntas: da mesma forma que as obrigações plurais podem ser
solidárias podem também ser conjuntas;
a. Numa obrigação solidária, pode-se exigir a totalidade ou pode ser exigida a
totalidade (consoante seja ativa ou passiva);
b. Nas obrigações conjuntas, cada um só pode exigir a sua cota parte – só pode
ser dirigida a alguém a sua quota parte. Neste caso, numa obrigação conjunta, se
numa concreta ação estão presentes vários devedores, estão a título de
litisconsórcio voluntário, cada um a respeita da sua quota parte;
6. Hipótese de relações de acessoriedade: o regime de direito das obrigações permite a
constituição de garantias, sejam reais, sejam pessoas, acessórias de uma obrigação
principal (fiança, hipoteca ou penhor);
Se forem demandados o devedor principal e o garante, é ao abrigo do litisconsórcio ou ao abrigo
da coligação? Estamos diante uma relação jurídica ou de várias relações jurídicas?
Se considerarmos que é litisconsórcio fica facilitada esta circunstância, uma vez que, a lei é
altamente restritiva nas hipóteses de coligação.
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
O professor Tiago Ramalho quando se trate de uma hipótese de garantia acessória de uma
obrigação principal, termos de aplicar o regime de litisconsórcio voluntário, uma vez que, a
obrigação acessória está subordinada ao regime da obrigação principal e por conseguinte há a
máxima utilidade processual em que ambas possam ser conhecidas na mesma ação. Ambas
formam parte da mesma realidade substantiva, aplicando-se, portanto, o regime do litisconsórcio.
Se numa ação judicial estiverem presentes o alegado devedor principal e o garante, então a
situação e pluralidade de partes que aqui se faz sentir é de litisconsórcio voluntário.
No caso de litisconsórcio voluntário, em princípio, teremos uma relação jurídica plural em que o
litisconsorte litiga apenas sobre a sua quota parte a não ser que a lei autorize a título extraordinário
a litigar além disso. Esta posição de relativa autonomia de cada litisconsorte reflete-se em vários
relações processuais.
Exemplo:
1. A falta de citação de um litisconsórcio voluntário não implica a anulação do processado
em relação aos demais (art. 180º b) CPC), uma vez que, cada um está na ação a defender
a sua quota parte, efetivamente não é prejudicado pela falta de citação da outra parte;
2. Ao contrário do litisconsórcio necessário, cada um pode confessar por referência à sua
quota parte, sem necessidade do consentimento dos demais para que a sua declaração
produza efeitos (art. 353º nº2 CC);
3. Em matéria de atos de disposição sobre o objeto do processo, cada litisconsorte é livre de
dispor da sua quota-parte (art. 288º nº1 CPC).
4. Em matéria de recursos, no caso de litisconsórcio voluntário, vale a regra geral do
princípio da proporcionalidade – o recurso aproveita apenas àqueles que o tenham
interposto ou que a eles tenham aderido (art. 634º nº2 a) e 634º nº3 CPC);
No litisconsórcio necessário, temos uma ação com vários titulares, no litisconsórcio voluntário,
temos uma acumulação de ações, todas elas correlacionadas porque são relativamente a uma
mesma relação jurídica, mas podendo gozar em parte de um tratamento diferenciado.
Ao contrário do que acontecia no litisconsórcio necessário, não cabe falar no litisconsórcio
voluntário de regularização da instância porque se o litisconsórcio é voluntário, mesmo que esteja
presente apenas um sujeito, ele já é parte legitima, não é necessário que intervenham outros.
De todo o modo, é também possível, no âmbito do litisconsórcio voluntário, que ele se constitua
ou modifique em virtude dos incidentes de intervenção de terceiros, têm lugar por critérios de
simples conveniência, não para regularizar a instância. Por essa razão, é natural que a lei seja mais
restritiva na admissão destes incidentes. ~
Quando é que a lei admite em matéria de litisconsórcio voluntário a dedução de incidentes de
intervenção de terceiros?
1. Intervenção principal provocada
A lei apenas admite que o autor possa chamar novos réus (art. 316º nº2 CPC). Este pode fazê-lo
até ao termo da fase do articulados (art. 318º nº1 b) CPC), uma vez que, são posições autónomas
(autor apenas é soberano sobre a sua). Nos termos do art. 316º nº3 CPC, o réu pode chamar:
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
técnica de resolução de litígios é tentar sempre reduzir um conflito à máxima simplicidade para
ser rapidamente tramitado.
Quando tenha lugar uma situação de pluralidade de partes, fora do regime da coligação e do
litisconsórcio, constitui-se uma exceção dilatória (art. 577º f) e 278º e) CPC).
Pressuposto de admissão da coligação (art. 36º e 37º CPC):
1. Deve haver uma conexão substantiva entre as várias relações jurídicas. É conexão
relevante qualquer uma das causa previstas nos art. 36º CPC:
a. Identidade da causa de pedir;
b. Os pedidos estarem em relação de prejudicialidade ou dependência;
c. Pedidos que, embora diferentes da causa de pedir, envolvam essencialmente a
aplicação dos mesmos factos, mesmas regras de direitos ou cláusulas contratuais
análogas (art. 36º nº2 CPC);
d. Quando se trate de uma hipótese que envolva títulos de crédito no sentido do art.
36º nº3 CPC;
Exemplo: Num empreendimento de construção civil com várias habitações e há um determinado
erro de construção que prejudica cada uma das habitações.
Podem os lesados interpor a ação em conjunto?
Aqui há uma conexão entre os vários pedido porque são fundamentalmente os mesmos factos que
estão em jogo (uma má obra que prejudica a habitação) a respetivo dos vários pedidos dos autores.
Este é um exemplo claro do que pode ser uma coligação em que cada um, com a sua pretensão,
faz um pedido e a lei permite uma tramitação em conjunto.
2. Compatibilidade formal entre os vários pedidos (art. 37º nº1 CPC). Esta compatibilidade
formal assenta fundamentalmente em dois fatores:
a. Todos os pedidos seguirem a mesma forma de processo, nos termos do art. 37º
nº1 ad início;
b. Não ofender regras de competência internacional da matéria ou da hierarquia (art.
37º nº1 in fine);
Exemplo:
Uma pessoa coletiva de Direito Público pratica um ato administrativo ilegal, e na sequência desse
ato, um particular comercializou um produto danoso. O lesado pode demandar ambos numa só
ação com ase na coligação? Não, com base nas regras em razão da matéria que cabe aos tribunais
administrativos.
Se fosse o caso em que se verificasse um determinado acidente de viação e os possíveis lesantes
são uma pessoa coletiva de direito público e um particular, já seria um caso de litisconsórcio
porque a relação jurídica é a mesma.
Observe que mesmo quando os pedidos sejam tramitados como formas processuais diferentes, o
juiz autorizar a coligação, adaptando a tramitação processual, de forma a conhecer do conjunto
dos pedidos em simultâneo por força do art. 37º nº2 e 3 CPC.
Mesmo que estes requisitos positivos para a coligação se verifiquem, pode o tribunal, apreciando
as circunstâncias do caso, recusar a coligação, quando entenda que há, se ela for admitida,
inconveniente grave para a tramitação da ação (causa), nos termos do art. 37º nº4 e 5 CPC. Aqui
não é um ato discricionário, totalmente livre pode ser sindicado, tem de ser um inconveniente
grave.
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Em suma:
A ação declarativa desenvolve-se em três fases: fase dos articulados, fase da audiência prévia,
fase da audiência final.
Exemplo: Alguém propõe uma ação (petição inicial ao tribunal) contra o réu (fase dos articulados).
Nesta fase, o juiz não intervém, só em casos excecionais de despacho liminar. Em princípio, esta
fase tem dois articulados:
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
É admitida;
Não é admitida;
O despacho saneador é o ato final desta fase.
Mas, o ato em que o tribunal decide se estão reunidas as condições para tramitar ação é o despacho
saneador (determina se a exceção dilatória é ou não procedente). Assim, se o juiz ao contactar,
em momento anterior ao despacho saneador, com as peças processuais das partes e concluir que
falta um pressuposto, deve proferir o despacho pré-saneador, antecipando a decisão que vai tomar
no despacho saneador.
Em concreto, o juiz, olhando para as peças processuais das partes, percebe que falta alguém, temos
um caso de litisconsórcio necessário que constitui uma exceção dilatória (577º e) CPC e art. 278º
nº1 d) CPC), pelo que antecipa no despacho saneador que, se persistir, terá de terminar a ação.
No art. 6º nº2 CPC prevê que o juiz nunca deve tirar imediatamente essa conclusão porque, se for
possível regularizar, dele ele próprio fazer se tiver poder ou convidar as partes a fazê-lo (na
ilegitimidade não pode ser oficiosamente).
Logo, no despacho pré-saneador, o juiz fixa um prazo para a regularização da instância
convidando as partes a fazê-lo, mas nada obstando que ela se regularize por intervenção
espontânea dos interessados (temos duas hipóteses: intervenção provocada ou espontânea).
Temos duas possibilidades:
1. Foi deduzida a intervenção e ela foi admitida: instância regularizada. A instância é
admissível e o processo pode continuar;
2. A instância não foi regularizada: persiste a exceção dilatória, absolve-se o Réu, a ação
termina sem que o Tribunal tenha conhecido do mérito. Logo, a sentença terá o valor de
caso julgado formal, ou seja, pode discutir-se o mesmo objeto, porque o tribunal se
recusou a conhecer dele.
E se o tribunal não conhecer no despacho saneador? Pode concluir até ou na sentença, ou seja,
pode conhecê-la até na própria sentença, embora isso não seja a regra.
Se se tratasse de uma sentença de mérito, não faria sentido reabrir a ação, porque o tribunal já
tinha conhecido, mas uma vez que não conheceu do mérito, pode ter mais utilidade, do ponto de
vista da economia processual, admitir que a instância se renove a impor a necessidade de propor
nova ação, porque se aproveitam os dados da fase dos articulados (por exemplo, que se aproveitem
atos de secretaria).
As partes tiveram a prévia possibilidade de regularizar, mas a sanção de impedir a regularização
depois do trânsito em julgado não convém para o processo, porque levará a produzir atos
desnecessários. Ainda assim, a lei processual tem interesse em moralizar o recurso a esta
possibilidade, ou seja, em que ela não seja usada de modo leviano.
O momento para regularizar a instância não é após trânsito em julgado, por isso, se, porventura,
houver regularização após trânsito em julgado, o autor tem uma responsabilidade especial de
pagamento de custas (art. 261º nº2 CPC in fine), isto é, um contraincentivo económico a não
regularizar a instância apenas no momento final.
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Embora o comportamento processual das partes não seja o mais adequado, dado que o que convém
ao processo é permitir a regularização para que se conheça do mérito, a lei admite esse
chamamento.
Nota: Historicamente, em Portugal, surgiu o despacho saneador porque havia muitas ações que
persistem até ao fim com nulidade ou falta de pressupostos, pelo que se passou a prever um
momento a meio do processo em que se controlou a regularidade da ação.
Regime da legitimidade das ações por cônjuges e contra cônjuges
No regime especial de direito matrimonial (art. 34º CPC), prevê-se o conjunto de particularidades
substantivas a respeito das posições jurídicas de cada um dos cônjuges em relação aos bens
integrantes do património familiar.
Num casamento é possível distinguir:
1. Efeitos pessoais, nos termos do art. 1672º CC:
o Deveres de respeito;
o Deveres de fidelidade;
o Deveres de coabitação;
o Deveres de cooperação;
o Deveres de assistência;
2. Efeitos patrimoniais
o Valem para qualquer tipo de casamento:
Eventualidade de por uma dívida conjugal poderem responder ambos os
cônjuges (art. 1691º nº1 b) CC, por exemplo, apenas um dos cônjuges é
que contraiu uma dívida, mas ambos podem responder pela mesma);
Há atos de disposição sobre bens integrantes do património familiar que
só podem ser praticados com o consentimento do outro cônjuge (art.
1682º e ss. CC), uma das hipóteses é a disposição sobre a casa de morada
de família, mesmo que a casa seja propriedade de apenas um dos
cônjuges, para a sua alienação é necessário o consentimento do outro.
o Valem na medida do regime de bens que tenha sido adotado no casamento;
De acordo com o regime de bens, poderá haver no casamento várias
massas patrimoniais que conduz a que se afete o outro cônjuge por causa
do regime de bens aplicados, ainda que apenas intentada contra um
deles. O casamento pode estar sujeito a diferentes regimes que regem a
quem pertence cada um.
Temos três regimes de referência:
o Regime de comunhão geral – em princípio, todos os bens
pertencem a ambos;
o Regime da comunhão adquiridos – existem três massas de
bens, os bens de um, os bens de outro e os bens comuns a ambos.
O princípio base aqui é que cada cônjuge mantém os bens
próprios que tinha quando celebrou o casamento, a partir daí o
que se adquire na constância do casamento é dos dois. Quem
recebe é que administra os bens, mas pertencem a ambos.
o Regime de separação de bens
Estes regimes são importantes porque quando haja comunhão de bens, seja numa comunhão geral
ou numa comunhão de adquiridos, tal regime repercute-se nas regras de responsabilidade:
o Havendo uma masse comum de bens e tratando-se de uma dívida por que respondem
ambos os cônjuges, nos termos do art. 1625º CC:
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Em suma:
Fruto do regime do direito matrimonial, há casos em que, muito embora se trate de uma
dívida contraída por apenas um cônjuge, ambos respondem por ela;
Há atos que só podem ser praticados com o consentimento do outro cônjuge;
Por força do regime de bens, há casos em que, muito embora a dívida apenas seja de um
ou de ambos, para a responsabilização pode-se atingir os bens comuns, de ambos os
cônjuges (meação dos bens comuns);
Estas particularidades no plano do direito substantivo são as que determinam as soluções
processuais constantes do art. 34º CPC.
Do ponto de vista processual, as repercussões são várias:
1. Nas hipóteses substantivas em que a alienação dependa do consentimento do outro
cônjuge, a ação relativa a este bem deve ser proposta por ambos ou contra ambos (art.
34º nº1 CPC – legitimidade ativa e art. 34º nº3 in fine CPC – legitimidade passiva).
Exemplo: A pretende reivindicar um bem de B que é casa de morada de família de B e C.
Mesmo que o proprietário seja apenas B, a ação tem de ser movida contra ambos os cônjuges, B
e C. Não vigora aqui a regra geral, pois estamos no âmbito do regime especial de direito
matrimonial. Segundo a regra de legitimidade, se o bem pertencesse apenas a B seria suficiente a
presença de B na instância para assegurar a legitimidade passiva. Mas, tratando-se de um bem
que, do ponto de vista substantivo, só pode ser alienado com o consentimento do outro cônjuge,
caso a ação judicial possa implicar a sua perda, que é o que acontece precisamente na ação de
reivindicação. Assim, é necessário que A mova a ação também contra C que tem legitimidade não
por ser alegado possuidor, mas cônjuge da primitiva parte passiva.
Quando se trate de propositura da ação por um dos cônjuges e o outro cônjuge recuse o
reconhecimento, o tribunal pode oficiosamente supri-lo (art. 34º nº2 CPC), isto é, o cônjuge
interessado na propositura da ação pode pedir ao tribunal que consinta na propositura em lugar do
outro cônjuge. A lei substantiva prevê esta situação.
2. Nas hipótese em que o ato que respeita a relação material controvertida tenha sido
praticado por ambos os cônjuges ou então tenha sido praticado por um deles, mas que se
pretende uma decisão oponível a outro, a ação deve ser proposta contra ambos, nos
termos do art. 34º nº3 CPC.
Exemplo: Contração de uma obrigação de pagamento pela compra de uma carro num Stand de
automóveis e ela não é cumprida.
O autor tem duas hipóteses:
Se ambos os cônjuges compraram, a ação tem de ser proposta contra ambos (art. 34º nº3
ad início CPC);
Se só um dos cônjuges comprou depende (art. 34º nº3 2ª parte CPC):
o Pode propor a ação contra esse, mas assim não poderá executar futuramente o
outro cônjuge;
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Ação em que, do ponto de vista ativo, está em jogo a casa de morada de família, e esta ação foi
proposta sem o consentimento do outro cônjuge, pode regularizar-se a instância de duas formas
alternativas:
Inicial;
Superveniente – pode ela ter lugar, mediante os incidentes de intervenção de terceiros,
neste caso, permitindo-se o chamamento até ao termo da fase dos articulados (art. 316º
nº2 e 318º nº1 b) CPC).
Exemplo: A propõe uma ação contra B, estando convencido de que ele praticou um facto ilícito.
Mas B, na contestação, diz que foi C.
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
O que pode A fazer? Chamar o C, mediante o incidente de intervenção de terceiros, neste caso,
com fundamento em pluralidade subjetiva subsidiária, para evitar que a ação impropere tanto
contra B como contra C.
Apensação de ações (art. 267º CPC)
A estas hipóteses de chamamento superveniente de partes, podemos acrescentar o caso de
apensação de ações.
Nos casos que vimos até agora de litisconsórcio e coligação, estamos diante de um só processo
que originária ou supervenientemente, tem uma pluralidade de partes.
A lei admite, porém, que, mesmo quando se trate de processos diferenciados, eles podem, em
dadas circunstâncias, ser apensados com o intuito de serem tramitados em conjunto.
A apensação de ações está prevista no art. 267º CPC e pode ser admitida quando se verifiquem os
pressupostos do, nos termos do nº1:
Litisconsórcio;
Coligação;
Oposição;
Reconvenção;
Se os vários processos ocorrerem perante o mesmo juiz, a apensação pode ser determinada
oficiosamente, nos termos do art. 267º nº4 CPC, nos demais casos, ela deve ser requerida pela
parte que tem interesse atendível na junção e é requerido ao tribunal que tenha instaurado o
processo em primeiro lugar, nos termos dos nº2 e 3.
Mesmo quando já não é possível o chamamento de novas pates ao abrigo do regime geral do
litisconsórcio voluntário e da coligação, pode, ainda, ser possível iniciar uma nova ação e pedir a
apensação daquela que tiver sido iniciada em primeiro lugar, o que permite um efeito prático
próximo daquele que se obtém com o chamamento de novas partes com a primitiva ação.
A apensação pode ser recusada por razões de simples conveniência.
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
A lei segue-se portanto de uma cláusula geral para concretizar quando é que se admite este tipo
de intervenção.
Os dois casos principais serão:
Assistente tenha uma posição jurídica dependente daquela que é objeto principal da causa.
Exemplo: Há uma ação entre determinada pessoa, um autor, e um réu que é locador do imóvel. O
locatário pode ter interesse em intervir na ação, uma vez que, tudo o que afete juridicamente o
locador pode afetá-lo, visto que, a sua posição jurídica é dependente da do locador. Ele pode pedir
a intervenção na ação na qualidade de assistente.
Assistente tenha uma posição jurídica cuja consistência económica dependa daquela que
é objeto da causa principal
Exemplo: Uma sociedade comercial propõe uma determinada ação contra terceiro para cobrança
de um crédito. Em princípio, o sócio não tem legitimidade para intervir a título principal (quem o
tem é a sociedade), mas pode pedir a sua intervenção como parte acessória.
Se, porventura, o terceiro tiver legitimidade para intervir como parte principal, tem de o requerer,
não se podendo aplicar o regime da assistência.
Qual a posição jurídica do assistente?
Em regra, o assistente limita-se a auxiliar a parte principal nos termos do art. 321º nº1 CPC, este
goza dos mesmo direitos e deveres da parte principal, contudo, havendo divergência entre ambos,
prevalece a posição da parte principal nos termos do art. 328º nº1 CPC.
Se, porventura, a parte principal não apresentar a contestação, o assistente pode apresentar todas
as prerrogativas da parte principal, nos termos do art. 329º CPC.
Exemplo: É proposta uma ação pelo Porto contra o Benfica. O Benfica, parte principal, não
apresenta contestação. Nesse caso, os sócios do Benfica, constituindo a posição de assistente, têm
legitimidade para exercer todas as prerrogativas a que o Benfica teria direito por força do art. 329º
CPC.
Uma vez que, o assistente, tem uma posição subordinada à da parte principal, não afeta os direitos
das partes principais em disporem do seu objeto da causa, nos termos do art. 331º CPC. Portanto,
as partes principais podem livremente confessar, desistir ou transigir.
Qual o efeito próprio da assistência?
A decisão proferida na causa constituirá caso julgado em relação ao assistente com as exceções
constantes do art. 332º CPC. Se ele intervém, o efeito jurídico prático da assistência é permitir
que o assistente assessore a parte principal e sujeitar o assistente aos efeitos da decisão que venha
a ser proferida.
Como se pode constituir a assistência?
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
O empreiteiro está obrigado ao dever de realizar a obra porque é ele o devedor. No entanto, quando
a empreitada tenha um nível elevado, recorre a auxiliares. Se a obra for mal realizada quem tem
o dever de prestar é o empreiteiro, uma vez que, ele é que é o devedor, nos termos do art. 798º
CC, logo é ele que responde pelos defeitos da obra. O credor apenas pode reagir contra o devedor.
Nos termos do art. 800º CC, o devedor responde pelos atos auxiliares porque foi ele que se obrigou
ao resultado. É perante ele que o credor tem uma pretensão. Se o eletricista não toma as diligencias
necessárias na instalação da luz, é o empreiteiro o responsável pelo comportamento deste.
O empreiteiro realizou ele próprio os contratos de subempreitada, por isso, o empreiteiro
responsabiliza, por sua vez, o subempreiteiro.
Processualmente, o dono da obra é o A que pode reagir sobre o empreiteiro, que é parte da relação
material controvertida, tal como delegada pelo autor.
Mas o empreiteiro tem interesse em chamar terceiro e em sujeitar o seu auxiliar aos efeitos do
caso julgado para que, se ele for condenado, o subempreiteiro não possa contraditar aquilo que na
primeira ação foi decidido.
Mas o subempreiteiro é chamado como parte acessória para auxiliar do réu, para um possível
exercício de direito de regresso, se o empreiteiro for condenado pela má realização da obra pelo
eletricista, numa nova ação, o auxiliar é obrigado a aceitar o que foi decidido na primeira.
Portanto, este regime da possibilidade de provocar o chamamento do assistente visa realizar
processualmente esta solução substantiva de o devedor reaver futuramente de terceiro aquilo
porque presentemente só ele está a responder.
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
A oposição serve, por isso, para intervir na instância alguém como uma posição diferente quer do
autor, quer do réu.
Nota: Existem ainda, em matéria de pluralidade de partes, as figuras da intervenção acessória do
Ministério Público (art. 325º CPC) e a oposição mediante embargos de terceiros (art. 342º e ss.
CPC), sendo própria da ação executiva, no entanto, estas não serão desenvolvias em aula.
Patrocínio Judiciário
O patrocínio judiciário consiste em, nos casos previstos na lei, mas que correspondem à regra, as
partes, na instância, deverem agir em juízo por intermédio de um profissional especialmente
habilitado ao exercício da prática forense, sob pena da sua atuação processual não ter qualquer
efeito.
Qual a razão justificativa do pressuposto do patrocínio judiciário?
O patrocínio judiciário visa proteger o interesse das partes e do próprio estado, em garantir
que a tramitação é feita por profissionais especialmente habilitados ao domínio da técnica do
processo e ao conhecimento do direito substantivo.
As codificações contemporâneas regulam as posições jurídicas dos cidadãos, mas não são escritos
para serem entendido pelos cidadãos, mas sim por juristas. Há uma diferença entre quem é o
destinatário do texto e o destinatário da regulação. O texto foi expressamente configurado tendo
como leitores privilegiados juristas regulando situações de cidadãos comuns.
Nota: O Código Civil francês de 1804, na sua versão inicial, tinha como ideia ter uma codificação
base cujo sentido fosse compreensível pelo cidadão comum. Na sociedade atual esta é uma
solução não realizável, por conseguinte é necessário haver mediadores, neste caso, os juristas.
Assim, prevê-se, na generalidade dos casos, um patrocínio judiciário obrigatório. De facto, as
partes têm, em primeira linha de serem protegidas contra a sua própria ignorância. A lei pretende
garantir que a parte é protegida contra o risco de assimetrias de informação, isto é, prevê-se a
proteção da não disposição de um conjunto de informações relevantes para a tomada de decisões
livres e esclarecidas.
Além disso, o patrocínio judiciário é também do interesse do próprio estado para garantir, no
fundo, que os principais dinamizadores do processo (juiz e mandatários) comunguem de uma
mesma linguagem conseguindo, desta forma, uma tramitação mais célere e efetiva do processo.
Para o próprio bom funcionamento da justiça, há outras ordens jurídicas que, inclusive, graduam
quais os advogados que podem litigar perante cada tribunal, restringindo o número daqueles que
podem litigar perante o Supremo Tribunal (isto não acontece em Portugal).
Seja ele obrigatório, seja ele facultativo só há duas classes profissionais que o podem exercer:
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Consulta – pedir uma opinião qualificada a uma advogado ou solicitador nos termos do
art. 14º lei 34/2004 de 29 de julho;
Apoio Judiciário – agir judicialmente;
Entre as muitas modalidades conta-se a de pagamento a um patrono (art. 16º nº1lei 34/2004), isto
é, a possibilidade de os custos inerentes ao mandato judicial não serem suportados pela parte, mas
sim por fundos públicos. Do ponto de vista processual, caso, na pendência de uma ação, seja
apresentado um pedido de apoio judiciário, é interrompido o prazo para a prática do ato que se
encontra em curso, nos termos do art. 24º nº4 lei 34/2004. Assim, se a ação é proposta contra o
réu e ele, uma vez citado, solicita apoio judiciário, interrompe-se o prazo, nos termos do art. 24º
nº4 da lei 34/2004, de 29 de julho. Este pedido é dirigido à Segurança Social sendo o patrono,
designado pela Ordem dos Advogados (art. 30º lei 34/2004).
É, ainda, possível que o exercício de um mandato judicial tenha lugar ao abrigo do regime de
gestão de negócios, isto é, quando alguém, sem estar autorizado, assume a condução de um
negócio alheio.
Exemplo: O meu vizinho é emigrante e só vem em setembro a Portugal. Em agosto, sabe-se que
uma tempestade vai destruir a vinha. Eu faço a colheita da vinha do vizinho sem lhe pedir
autorização, ou seja, assume o negócio alheio no interesse de um determinado titular de um bem,
sem o seu consentimento.
Em termos processuais, ela é admitida no pressuposto de que o mandatário assume a qualidade
de gestor não autorizado para agir em lugar do titular do interesse. De todo o modo, eficácia dos
atos praticados pelo mandatário não autorizado está dependente de futura ratificação por parte do
dono do negócio, nos termos do art. 49º CPC. Se o dono do negócio nada fizer, a atuação do
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
mandatário não tem lugar, nesse caso, o gestor será condenado na custa das ações e na eventual
indemnização das partes conforme o disposto no art. 48º nº2 CPC.
A utilidade desta parte subsume-se ao facto de se evitar o decurso do prazo de caducidade. O
gestor não consegue contactar com a parte e toma a decisão de propor a ação.
Caso o mandatário não tenha poderes de representar a parte, então esta falta de poderes pode ser
conhecida a todo o momento, nos termos do art. 48º nº1 CPC. O juiz deve em tal caso fixar prazo
para a regularização dos poderes do mandatário. Em princípio, esta regularização dá-se mediante
a ratificação do processado pela parte interessada.
Se, porventura, não houver regularização, todos os atos praticados pelo mandatário ficam sem
efeito e ele será condenado em custas e eventualmente a indemnizar a parte indevidamente
representada (art. 49º nº2 in fine CPC).
Quando o que esteja em causa se trate de o mandatário agir para além dos poderes que dispõe (art.
48º nº3 CPC), tal será comunicado à Ordem dos Advogados para efeitos disciplinares.
Âmbito Natural da relação de mandato forense (pode ser excluído pelas partes, no
entanto, é o que se traduz quando as partes não dispõe em contrário) – permite ao
mandatário representar a parte em todos os atos e termos do processo principal e seus
incidentes mesmo perante tribunais superiores (art. 45º nº1 e 44º nº1 CPC).
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Exceção Dilatória;
Impugnação;
Exceção Perentória;
Quando uma parte apresenta a sua peça processual sob forma articulada, em razão deste regime
processual, é comum que a parte contrária, em respeito ao articulado em que reage, declare aquilo
que aceita porque a partir do momento que aceita, a parte que fez a declaração não pode mais
retirar aquilo que declarou, ou seja, conclui quais os factos que impugna e quais os factos de que
discorda (se ele não aceitasse, a parte contrária podia a todo o momento aperfeiçoar a sua peça
processual e isso traria desvantagens para a contraparte).
A primeira preocupação do réu é dar uma outra versão global dos acontecimentos para colocar
em causa a versão do autor. O meio mais eficaz é narrar sequencialmente a sua versão dos factos
e só depois impugnar os factos do autor.
O patrocínio judiciário pode ser:
1. Facultativo
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Quando o patrocínio judiciário é facultativo, é às partes que cabe a decisão acerca da conveniência
de constituir ou não um mandatário judicial. Nesse caso, ele poderá ser assumido por advogado,
advogado estagiário ou solicitador (art. 46º CPC).
Nos casos em que a parte age por si só, há atos processais que são realizados pelo juiz nos termos
do art. 40º nº3 CPC, no entanto, não será muito comum que a parte litigue si própria na ação,
salvo se essa parte for advogado, uma vez que, é excessivamente complexo tramitar uma ação
jurídico-civil, mas é possível.
Os meios de resolução de controvérsia que, porventura, o admitirão por facilidade serão:
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Assim, do ponto de vista do autor, a secretaria deverá recusar a petição inicial caso ela não indique
o mandatário nos termos do art. 558º nº1 c) CPC. Se, porventura, a falta de mandatário for detetada
posteriormente, o juiz deverá fixar prazo para a regularização da instância, nos termos do art. 6º
nº2. Aqui, é regularizada constituindo mandatário. Se, pelo contrário, não vier a ser regularizada
a instância, o réu é dela absolvido, uma vez que, a petição inicial não tem valor, logo o processo
não pode ser tramitado, pois não estão reunidos os pressupostos para tramitar a ação.
Nesta situação, de não constituição de mandatário na petição inicial, há a possibilidade de se
constituir uma exceção dilatória (art. 577º h) CPC).
Caso não exista constituição de mandatário por parte do réu, o tribunal deve convidar à
regularização da instância. Se nada for feito, a defesa apresentada pelo réu não adquire qualquer
valor nos termos do art. 41º CPC, aplicando-se o regime da revelia nos termos do art. 566º e ss.
CPC. Assim, a falta de patrocínio judiciário, no caso do réu, leva a que o processo continue de
modo regular, simplesmente sem se considerar a defesa.
Quid iuris, caso seja na pendência da ação que uma das partes deixa de dispor de
mandatário? As partes podem deixar de dispor de mandatário, na decorrência da ação, na
sequência de:
Competência Jurisdicional
A relação processual, que é constituída para conhecer o objeto do litígio, tem três polos, o autor,
o réu e o tribunal.
Os pressupostos que vimos até agora diziam respeito apenas às partes. Este pressuposto diz
respeito à competência. A competência é o quantum, a parcela de jurisdição que é conferida a
cada concreto tribunal para resolver uma controvérsia.
Dentro do tribunal, a competência pode ser distribuída entre juízes caso haja mais do que um.
Este regime encontra-se regulado no plano da competência interna no código processual civil e,
em concreto, no nos art. 59º e ss. LOSJ.
É importante, ainda considerar, no que respeita à competência internacional, o Regulamento de
Bruxelas Reformulado.
Em primeiro lugar, vamos considerar a:
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
O art 202º CRP prevê que os tribunais são os órgãos de soberania com competência para a
administração da justiça simplesmente eles existem em pluralidade, isto é, o poder jurisdicional
não é exercido por uma única instância, mas por um pluralidade de tribunal que cobrem o território
nacional, que se organizam em vários níveis de jurisdição e em que cada um dentro da sua
jurisdição de competência exerce este poder constitucionalmente reconhecido.
Em Portugal, a base da organização jurisdicional distingue-se em quatro categorias de tribunais,
nos termos do 209º CRP e 29º LOSJ:
1. Ordem dos tribunais judiciais – é a primeira, por um lado, por ser a mais
tradicional/antiga e, por outro, por ser a ordem jurisdicional com competência
subsidiária;
Nota: Há estados que têm apenas esta categoria de tribunais (EUA e Inglaterra), também
podemos designá-los por tribunais comuns.
Desta ordem comum de tribunais especificaram-se posteriormente:
2. Jurisdição administrativa e tributária
3. Jurisdição constitucional
4. Jurisdição do tribunal de contas
Isto significa que não existe apenas um Supremo Tribunal, cada umas das ordens tem um
tribunal supremo, menos o tribunal constitucional e o tribunal de contas.
Ex.: O STJ profere um determinado acórdão. Pode recorrer-se para o tribunal constitucional? Não
porque não fazem parte da mesma ordem, nem estão acima um do outro.
Há formas de interação entre estas ordens jurisdicionais, mas cada uma delas dentro do seu círculo
de competências.
O que justifica a especialização de jurisdição?
A especialização de jurisdição é justificada essencialmente por duas razões:
Em termos substantivos, isto corresponderá a que os tribunais judiciais se ocupem de questões de:
Direito Civil;
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Direito Penal;
Direito Privado de modo mais abrangente;
Direito Público em tudo aquilo que não esteja especificamente atribuído a outra ordem
jurisdicional;
Exemplo: imaginemos o autor diz que o litígio é relativo a uma relação contratual, em função
desta apresentação do objeto processual, aplica-se a regra da competência para as obrigações
contratuais.
Vale o princípio de que cada tribunal tem competência para fixar a sua própria competência,
mesmo que o tribunal não tenha competência para conhecer do objeto do processo, tem
competência para apreciar se pode ou não conhecer, nem que seja para dizer que não pode, a este
princípio dá-se o nome de princípio da Kompetenz-Kompetenz.
Como se distribui concretamente a competência dentro da ordem jurisdicional?
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Exemplo: Matéria de direitos reais sobre imóveis são competentes os tribunais do estado-membro
onde se situa o imóvel. A ação de reivindicação de um prédio que se encontra em Espanha é da
competência dos tribunais espanhóis.
Competências gerais
o Se não se verificar nenhuma competência exclusiva, tem de se aferir da
verificação do fator geral de distribuição de competência nos termos deste
regulamento. Nos termos do 4º, é o domicílio do réu. A regra na UE é a de que
os tribunais dos estados-membros, no seu conjunto, são internacionalmente
competentes para litígios a respeito de pessoas domiciliadas nalgum deles.
Dentro desse estado-membro, é competente a concreta ordem jurídica onde esteja
domiciliada a pessoa, isto é, o domicílio do réu desempenha uma dupla função
neste regulamento:
Por um lado, atribui competência aos estados-membros da União no seu
conjunto;
Por outro lado, distribui a competência dentro dessas várias ordens
jurídicas;
Exemplo: Um litígio respeitante a um Sr. domiciliado na Tailândia - não se aplica
este regulamento;
Um litígio respeitante a um Sr. domiciliado na Grécia – aplica-se este
regulamento;
Caso se verifique o fator geral de competência, eventualmente, admite-se uma competência
especial, nos termos do 7º e ss. do regulamento. Mas só se aplica alguma destas competência
especiais se o critério geral estiver verificado.
Exemplo:
Art. 7º nº1 a): em matéria contratual, pode a ação ser interposta/intentada no lugar de
cumprimento da obrigação;
Art. 7º nº1 b): estabelece o lugar de cumprimento da obrigação;
Num contrato de compra e venda que tenha lugar num estado-membro, onde, nos termos do
contrato, os bens foram ou devam ser entregues:
A, residente em Marrocos, pretende propor uma ação contra B, residente em Itália para
cumprimento de um contrato de compra e venda que deve ser cumprido na Alemanha.
Qual é a ordem jurisdicional competente? Aplica-se o regulamento de Bruxelas
reformulado? Se sim, porquê?
Aqui não nenhuma competência exclusiva, mas aplica-se o critério geral de competência
porque o réu está domiciliado em Itália. A ordem jurisprudencial poderá ser:
o A italiana ao abrigo do critério geral;
o A alemã ao abrigo da competência especial para cumprimento de obrigações
pecuniárias nos termos do art. 7º nº1 a) CPC;
A, domiciliado em Itália, propõe uma ação contra B, domiciliado em Marrocos, para
cumprimento de um contrato de compra e venda que deve ter lugar na Alemanha.
o Aqui não se aplica um regulamento porque não se verifica sequer o critério geral
da competência (Marrocos não é membro da UE). O campo de regulação deste
regulamento está completamente excluído.
o O regulamento designa apenas a ordem jurisdicional competente, mas não qual
o tribunal competente
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
a decisão não carece de ser reconhecida em nenhum outro estado-membro, nos termos do
art. 36º nº1 do regulamento;
a decisão pode ser executada sem necessidade de qualquer declaração de executariedade
(art. 39º nº1 do regulamento).
Assim dentro da UE, no âmbito civil, tudo funciona, via de regra, como se de uma só ordem
jurisdicional se tratasse uma decisão, por exemplo, proferida na Hungria pode ser executa em
Portugal como se tivesse sido proferida por um tribunal português.
Este regime vale apenas para os estados-membros com a exceção da Dinamarca. Contudo, as suas
funções foram em parte estendidas à Dinamarca, a Islândia, a Noruega e a Suíça através da
convenção de Lugano de 2007.
Qual a principal diferença? Na convenção de Lugano não se atribui um valor automático de
executariedade, continua a ser necessário uma declaração prévia.
No que respeita à competência internacional dos tribunais jurisdicionais em matéria civil e
comercial, nós temos de começar por aplicar este regulamento.
Art. 978º CPC – Necessidade de Revisão
1. Sem prejuízo do que se ache estabelecido em tratados, convenções, regulamentos da
União Europeia e leis especiais, nenhuma decisão sobre direitos privados, proferida por
tribunal estrangeiro, tem eficácia em Portugal, seja qual for a nacionalidade das partes,
sem estar revista e confirmada.
2. Não é necessária a revisão quando a decisão seja invocada em processo pendente nos
tribunais portugueses, como simples meio de prova sujeito à apreciação de quem haja de
julgar a causa.
Se tivermos fora do campo de aplicação deste regulamento ou de qualquer outro que esteja
especial mente previsto, a competência internacional será fixada de acordo com os art. 62º e 63º
CPC.
O art. 62º CPC prevê 3 fatores de atribuição de competência internacional aos tribunais
portugueses (regras gerais de atribuição de competência à ordem dos tribunais judiciais):
Alínea a): as regras que atribuem competência na distribuição interna de processos entre
tribunais, têm igualmente o valor de atribuição da competência internacional (exemplo:
este regime está subjacente, em principio à responsabilidade civil extra obrigacional –
objeto processual – art. 71º nº 2 CPC – O réu reside em Marrocos mas teve um acidente
em Portugal como lesante ou como lesado (não interessa), não se pode aplicar o
regulamento de Bruxelas Reformulado porque o réu não tem residência num estado-
membro, mas à luz desta regra do direito interno, que vale para competência interna, pode
o tribunal português afirmar igualmente a sua competência internacional uma vez que o
lugar da prática do facto foi o território português). Por conseguinte, deste regime do art.
62º a) CPC diz ser orientado pela ideia de coincidência, isto é, princípio da coincidência,
as regras do regime da competência internacional coincide automaticamente com a da
competência internacional dos tribunais;
Alínea b): os tribunais, por vezes, também se consideram competentes quando tenha sido
praticado em território português facto que serve de causa de pedir na ação ou algum dos
factos que a integram princípio da causalidade, quando haja uma confidência causal entre
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Fatores da matéria;
Valor da causa;
Hierarquia;
No que respeita aos tribunais judiciais, está previsto um tríplice nível de jurisdição.
No topo encontra-se o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), este
está acima de todos os tribunais dentro da ordem dos tribunais
judiciais, ou seja, não está acima dos tribunais administrativos,
de contas ou constitucionais.
Num nível intermédio, temos uma série de tribunais da relação.
Em Portugal, existe presentemente cinco tribunais da relação
(Porto, Lisboa, Coimbra, Évora e Guimarães).
Na base, temos tribunais de 1ª instância que se distribuem em
dois grupos – tribunais de competência territorial alargada e
tribunais de comarca, que constituem a base da organização
judiciária.
Distinção da competência entre estes vários níveis
A primeira decisão a tomar respeita a saber em que nível destes tribunais dá entrada ação.
A regra é a de que os tribunais da relação servem para o conhecimento das apelações, de decisões
de 1ª instância (art. 68º CPC) e o STJ serve para o conhecimento das revistas (recurso que se pode
interpor para esta alta instância (art. 69º CPC). Assim, o tribunal em que via de regra, dão entrada
as ações, é no tribunal de 1ª instância, eventualmente, a ação pode subir e descer para efeitos de
recurso. Contudo, excecionalmente, este regime pode ter alguns desvios, por um lado, pode haver
desvios decorrentes de tribunais superiores funcionarem como a 1ª instância, isto é, os tribunais
da propositura da ação:
Tribunais da relação – em regra, julgam para efeitos de recurso, para conhecer das
apelações, nos termos do art. 73º a) LOSJ e 68º CPC. Mas, se se tratar de uma ação
proposta contra um juiz de direito (juiz de um tribunal de 1ª instância) por causa de um
exercício das suas funções ela é interposta no tribunal da relação (art. 73º b) LOSJ);
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Supremo Tribunal Justiça (art. 69º CPC) – regra é de que o Supremo Tribunal de Justiça
conhece de revistas. Essa regra do CPC é reproduzida no art. 55º a) LOSJ. Contudo, o
STJ tem competência para julgar ações propostas contra juízes do STJ ou do tribunal da
relação relativos a ações respeitantes ao exercício das suas funções (art. 55º c) CPC).
Neste caso opera uma primeira instância;
Tribunais 1ª instância – a regra é que a 1ª instância profere a 1ª decisão sobre uma causa.
Mas excecionalmente também pode julgar do recurso – pode exemplo, dor recurso de
decisões de atos praticados por notários, conservadores de registo ou juízos de paz (art.
67º nº1 CPC). Quando haja um ato praticado por uma determinada entidade que não
integre a ordem dos tribunais judiciais, o recurso dos tribunais judiciais é tramitado pela
1ª instância disponível, por exemplo, se alguém interpõe uma ação de julgado de paz
(existe aqui no Porto e não está integrado nos tribunais judiciais) e depois quer recorrer,
recorre o juiz que estaria imediatamente ao lado.
Dentro dos tribunais superiores encontram-se divididos em várias secções.
Cada secção é um micro tribunal em que funciona o tribunal superior. As secções previstas na
LOSJ são para o STJ:
Cíveis;
Criminais;
Matéria Social que envolve o direito do trabalho;
Uma vez constituídas várias secções, o tribunal pode funcionar em:
Secção;
Plenário de secções (grupo de todas as secções de uma determinada área);
Plenário de todo o tribunal;
Nos tribunais da relação admite-se que possa haver também secções em matéria:
De família e menores – a lei permite que as secções existam, mas elas não estão elencadas;
De comércio;
De propriedade intelectual e de concorrência, regulação e supervisão (o único que existe
é um tribunal da relação de Lisboa);
Do território;
A lei não o diz no art. 60º nº2 CPC, mas, na verdade, serve-se ainda de outro critério que é a
forma do processo.
Nota: No litisconsórcio e na coligação temos um processo com pluralidade de partes.
Nos tribunais de 1ª instância, a LOSJ optou por distinguir entre dois grupos de tribunais (art. 79º
LOSJ e art. 111º e ss. LOSJ):
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
distinguia-se a instância central das instâncias locais, mas tais designações já foram modificadas
e presentemente distingue-se entre:
a) Juízos de competência especializada
o Competência em razão da matéria
Juízo de Família e Menores (art. 81º nº3 g) e 122º a 125º LOSJ) – são
competentes para uma série de causas respeitantes a relações familiares
ou a questões de filiação (as suas competências estão listas nos art. 122º
a 124º LOSJ);
Juízo de Trabalho (art. 81º nº3 b) e 126º e 127º LOSJ) – são
competentes para as causas previstas no art. 126º LOSJ (relações
coletivas ou individuais de trabalho);
Juízo de Comércio (art. 81º nº3 i) e 128º LOSJ) – têm competências
para tramitar o processo de insolvência em várias ações respeitantes ao
estatuto das sociedades comerciais ou a direitos societários. Estas são
exercidas pelos juízos centrais cíveis caso a ação tenha valor superior a
50.000$ e não haja juízo de comércio constituído, nos termos do art. 117º
nº2 LOSJ;
o Competência em razão da forma da matéria
Juízo de Execução (art. 81º nº3 j) e 129º LOSJ) – são competentes para
tramitar ações executivas que não caibam a algum dos juízes anteriores
nos termos do art. 129º nº1 e nº2 LOSJ;
Caso não exista nenhum deles, a competência de matéria civil, em princípio, reparte-se entre:
b) Juízos de competência genérica
o Juízos Centrais Cíveis (art. 81º nº3 a) e 117º LOSJ) – têm competência para
tramitar ações de valor superior a 50.000€ que sigam a forma de processo
comum, bem como as ações executivas correspondentes quando não exista juízo
de execução.
As competência do Juízo de Comércio são também exercidas pelos juízos
centrais cíveis caso a ação tenha valor superior a 50.000€ e não haja juízo de
comércio constituído, nos termos do art. 117º nº2 LOSJ.
o Juízos Locais Cíveis (art. 81º nº3 b) e 130º LOSJ) – têm competência residual.
Se estes tiverem competência para matéria criminal chamam-se de Juízos de
Competência Genérica (art. 130º nº1 LOSJ)
A lei para além destes tribunais prevê igualmente:
o Juízo Central Criminal (art. 81º nº3 c) LOSJ);
o Juízo Local Criminal (art. 81º nº3 d) LOSJ);
o Juízo Local de Pequena Criminalidade (art. 81º nº3 e) LOSJ);
o Juízo de Instrução Criminal (art. 81º nº3 f) LOSJ);
A lei prevê ainda juízos de proximidade, estes não são um juízo autónomo em termos funcionais,
são apenas instalações físicas que podem ser utilizadas para a prática de atos processuais, ou seja,
não são um juízo propriamente dito.
A Lei da Organização do Sistema Judiciário (LOSJ), prevê estas possibilidades. A sua
concretização é dada pela sua regulamentação através do Decreto-Lei 49/2014, nomeadamente,
pelos seus anexos que concretizam quais os concretos juízos vieram a ser constituídos em várias
partes do território nacional.
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
5. Sucessão – é competente o tribunal do lugar da abertura da sucessão (art. 72º-A nº1 CPC),
a regra é que a sucessão se abre no lugar do último domicílio do de cujos (art.2031º CC),
este foro designa-se por forum hereditaris.
Ex.: Imaginando que o de cujos residia no Porto e estava de férias no Algarve, o tribunal
competente é o do Porto.
Forma do Processo (a lei não o diz no art. 60º nº2, mas na verdade, serve-se ainda
deste critério)
Qual a consequência decorrente da não observação das regras de distribuição de competência
previstas?
Constitui-se uma exceção dilatória (art. 577º a) CPC), esta obsta a que o tribunal se pronuncie
sobre o foro da causa.
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Interesse em Agir
O interesse em agir é talvez o pressuposto processual mais enigmático. Este não está previsto na
lei, mas é admitido pela doutrina processualista como condicionante de uma ação judicial.
Na verdade, o interesse em agir tende a funcionar como uma espécie de cláusula geral dos
pressupostos processuais.
Quando por qualquer razão importante negar a admissibilidade de uma ação ou se pretende
enquadrar um regime jurídico sem fácil sistematização, apela-se a este pressuposto processual
residual.
Ou seja, recorre-se a este pressuposto quando:
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Ora o interesse em agir corresponde àquilo a que os alemães designam por “necessidade de tutela
jurídica”. Uma ação judicial só será de admitir quando objetivamente se entenda que ela é
merecedor de tutela.
Apenas se admite uma ação judicial nesse termos mais restritos para:
1. Conservar a autoridade e o prestígio dos tribunais, não se vendo eles enredados em
questões jurídicas não merecedoras de um empenho dos recursos públicos (exemplo: podem
dois estudantes que tenham uma dúvida de interpretação legal propor uma ação judicial?
Embora havendo uma controvérsia jurídica, não pode haver ação porque se entende que este
conflito não é efetivo, é um mero conflito doutrinal);
2. Proteção do réu, obstando a que tenha de assumir a qualidade de parte numa ação não
merecedora de tutela;
O interesse em agir não tem nenhum regime previsto na lei. De todo o modo se consultarmos o
art. 577º CPC, vemos que o seu elenco é aberto. Assim, pode admitir-se como pressuposto
processual eventuais condicionantes à admissibilidade das ações judiciais não expressamente
nominadas.
A doutrina processual não conseguiu ainda formular um regime unitário, talvez na verdade venha
a ser impossível fazê-lo atendendo à índole residual deste pressuposto.
Por conseguinte, em termos de identificação do respetivo regime, não sendo possível uma sua
enunciação unitária, importará identificar diferentes tipologias de caso para, a respeito de cada
uma delas, indicar como e em que medida pode ter relevo o pressuposto do interesse em agir.
Assim veremos qual a relevância que ele pode assumir nas ações de:
Condenação;
Constitutivas;
Simples apreciação;
Ações de Condenação
Pressupondo a violação de um direito
Neste caso, em princípio, não se coloca qualquer problema no que respeita o interesse em agir, se
um direito foi violado, é evidente que há necessidade de tutela jurídica.
Por conseguinte, entende-se que, nestas ações, o interesse em agir não precisa de ser demonstrado,
não chega a ser problemático.
Quando muito, em alguns casos excecionais para certos regimes jurídicos, poderão entender-se
que há falta de interesse em agir se a lei determinar um outro meio de resolução da controvérsia
que não o recurso aos tribunais judiciais. Pode ser o caso eventualmente no arrendamento recorrer
aos mecanismos especiais do despejo.
Assim, em princípio, admite-se sempre a ação no que respeita à necessidade de tutela jurídica, no
entanto, pode haver casos excecionais quando se trate de uma dessas hipóteses de forma especial
de tutela imperativa diferente do processo de declaração. A falta de interesse conduz a exceção
dilatória que tem como consequência a absolvição do réu da instância (art. 577º e 278º nº1 e)
CPC).
Prevendo a violação de um direito
Ações de condenação que preveem a violação de um direito, em dadas circunstâncias a lei
processual admite que haja condenações in futuro (art. 557º CPC). Tais possibilidades são, ainda,
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
admitidas nas chamadas ações inibitórias. Neste caso, deverá entender-se que apenas há interesse
em agir dentro destas hipóteses especificamente previstas na lei.
Pretendendo alguém uma condenação in futuro fora das hipóteses do art. 557º CPC e das ações
inibitórias, não há necessidade objetiva de tutela jurídica. Ainda não houve nenhuma crise que
justificasse a intervenção judicial.
A lei (art. 577º CPC), na hipótese de ser proposta uma ação relativa a um crédito inexigível, onde
não haja interesse em agir, admite que o tribunal conheça da obrigação caso o réu a conteste (art.
610º nº1 CPC). Segundo parece, se o réu se interessar na controvérsia, o tribunal pode conhecer
do objeto do litígio. Caso entenda, pode condenar o réu a cumprir quando a obrigação se vença
ou se torne exigível.
Nas ações inibitórias deve entender-se que só há interesse em agir caso o autor alegue que o réu
ameaça o exercício do seu direito. O réu só deve ficar sujeito a estar presente na situação quando
haja um litígio concreto que o possa envolver, pelo que um litígio meramente abstrato não é
justificativo de forçar o réu a ser parte de uma ação.
Exemplo: o proprietário de uma fração autónoma de um condomínio e decide propor uma ação
inibitória contra todos os outros vizinhos para que não façam baralho duramente a noite. Neste
caso, não pode fazê-lo porque não tem interesse em agir- só há interesse em agir contra o(s)
vizinho(s) que efetivamente faça(m) barulho.
Ações Constitutivas
O problema principal que se tem suscitado a respeito do interesse em agir é o de saber se quando
o direito potestativo se pode exercer extrajudicialmente, é ou não admitida uma ação judicial para
a produção de efeito constitutivo.
Esse problema não se coloca nas ações de anulação ou para constituir servidão ou obrigação de
alimentos, porque nestas a lei prevê a constituição destes direitos mediante ação judicial, mas o
problema já se coloca na resolução. O direito de resolução de contrato (art. 436º CC) exerce-se
por declaração à parte contrária.
Em hipóteses como esta em que um direito potestativo se pode exercer extrajudicialmente é
possível propor uma ação judicial? Sim, uma ação judicial destinada a apreciar os pressupostos
desse direito potestativo e a pedir a condenação do réu a arcar com os efeitos decorrentes do seu
exercício, no caso da resolução, a restituir tudo aquilo que foi prestado.
Ações de Simples Apreciação
Para ser proposta este tipo de ações é necessário, para fundamentar o interesse em agir, que haja
uma situação de incerteza a respeito de um direito ou de um facto. Não havendo, o réu tem de ser
absolvido da instância, não existe interesse em agir. Está positivamente dependente de uma
situação de incerteza em respeito a um facto ou direito que reclame a intervenção do sistema de
justiça.
Nota: Esta assimetria dos pressupostos processuais é estudada ao longo de todo o processo, cada
ato processual está sujeitos aos seus pressupostos.
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Processo Comum;
Processo Especial;
A relação entre os dois é de generalidade e especialidade. Havendo forma especial é essa que se
aplica, não havendo aplica-se a comum. A respeito de uma qualquer forma especial (art.546º nº2),
se não houver disposição especifica, aplicam-se subsidiariamente as disposições do processo
comum (art.549º nº1).
É o que explica que o legislador, na regulação de processos especiais, não se baste com apenas
aquele conjunto de concretizações que justificam o regime divergente, porque a mais se aplicam
as disposições de regime comum. Ao estudarmos o processo comum, já estaremos a antecipar
muito daquilo que também se aplica aos processos especiais.
Processo Comum
O processo comum pode ter duas grandes finalidades:
Processo Especial
Os processos especiais podem ter múltiplas concretizações. Do ponto de vista da organização
sistemática do CPC, o processo comum de declaração esta regulado no:
Ações de valor não superior a metade da alçada da relação (art. 44º nº1 LOSJ) ou seja,
valor não superior a 15 000€), que se introduzam algumas medidas de adequação formal
constantes no art. 597º CPC, para simplificar a tramitação;
Ações de valor não superior à alçada da primeira instância (art. 44º nº1 LOSJ), ou seja,
não superiores a 5000€, adicionalmente se restrinja o número de testemunhas que podem
ser apresentadas (art. 511º nº1 parte final), além de se reduzirem para metade os tempos
de alegação na audiência final (art. 604º nº5 parte final).
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Direito Processual Civil – 1º Semestre
Assim, a forma de processo é única, mas não uniforme. Dentro da unicidade da forma do processo,
há concretizações diferentes em razão do valor da ação.
Regime da ação especial para o cumprimento de obrigações pecuniárias (AECOP)
O regime das AECOP exige um processo especial previsto fora do CPC no Decreto-Lei 269/98.
Ela vale para obrigações pecuniárias de valor não superior a 15.000€ de fonte contratual.
Quando assim ocorra e vier a ser proposta uma ação declarativa, ela é tramitada com esta forma
simplificada.
Este regime prevê também um outro meio procedimental que não vamos estudar a injunção.
As AECOP são um processo especial muito relevante do ponto de vista estatístico.
Verdadeiramente, correspondem a uma forma sumária do processo de declaração, a uma
simplificação da tramitação geral prevista no CPC. Há até quem sugira que foi um erro manter as
AECOP fora do CPC, porque é muita a sua relevância prática (faria sentido pôr no CPC como
variação sumária do processo comum de declaração).
Determinação da forma do processo
A forma do processo é determinada por confronto com o pedido. Qualificando-se o pedido do
autor, apura-se se a seu respeito está prevista uma tramitação especialmente adequada. Se sim,
determina-se uma forma especial; se não, aplica-se a forma comum.
Exemplos:
1. Imaginemos que alguém está a ser permanentemente alvo de assédio por parte de outrem e
pretende propor uma ação para inibir aquele que a assedia de praticar esses atos. É uma ação
inibitória. Do ponto de vista da qualificação jurídica, qual a matéria que nos parece envolvida?
Direitos de personalidade. A lei prevê um processo especial – art. 878º e ss. CPC.
2. Vários comproprietários querem colocar fim à coisa comum. Qualificamos o pedido e vimos
que estão a exercer o direito potestativo à ação constitutiva de divisão de coisa comum. Há o
processo especial do art. 925º e ss. CPC.
3. Dois proprietários querem delimitar os fins dos seus prédios. Chama-se uma ação de
demarcação. Agora não há processo especial, pelo que se aplica o processo comum.
Nota: O esquema é sempre o mesmo, qualificar o pedido e ver se há uma resposta jurídica
especificada.
Assim, a forma de processo deve ser indicada na petição inicial. Isto é, o próprio autor,
interpretando o pedido que faz, antecipa e indica qual lhe parece ser a forma mais adequada de
tramitação (art. 552º nº1 c) CPC).
Se, porventura, houver erro na forma do processo, anulam-se os atos que não possam ser
aproveitados (art. 193º nº1 CPC), podendo ser oficiosamente conhecida pelo juiz no despacho
saneador (art. 200º nº2 CPC).
Quid iuris caso haja uma sucessão de leis no tempo que atinja a forma do processo?
Nos termos do art. 136º nº2 CPC, determina a lei que havendo uma sucessão de leis no tempo se
mantenha a aplicação da forma estabelecida ao tempo em que a ação foi proposta.
A forma processual é um grande arquétipo, um grande modelo, geral e abstrato. Mas este modelo
geral e abstrato pode e deve ser adaptado às circunstâncias do caso concreto. Isto é, a forma de
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Via de regra o juiz fará uso do poder dever de adequação formal ou não?
Não. O maior fator de simplificação não é a adequação formal, é a forma do processo, um esquema
padronizado que é repetido. A ideia da adequação formal não é modificar todo e qualquer
processo, mas, quando necessário, poder fazê-lo.
Não devemos cair no erro de julgar que a adequação formal é uma alternativa à forma de processo.
É um elemento de sua adequação quando, no caso concreto, ela não se ajusta. Em termos gerais,
o maior elemento de simplificação é a repetição, a padronização, porque isto leva a que se ganhe
eficiência.
Este poder dever de adequação formal esta, no seu exercício, sujeito a certos limites.
O art. 547º CPC serve-se da cláusula geral do processo equitativo, que aponta para uma ideia
geral de razoabilidade e de respeito pelos princípios gerais do processo.
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Por conseguinte, as decisões de adequação formal, embora sejam por regra irrecorríveis, poderão
ser impugnadas quando coloquem em causa (art. 630º nº2 parte final):
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As partes, por via de regra, pelos mandatários (art. 144º e ss. CPC);
Juiz (art. 150º e ss. CPC);
Secretaria judicial (art. 157º e ss. CPC);
Quanto ao tempo
O tempo é regulado pelo art. 137º CPC, vale o princípio de que salvo os atos realizados
de forma automática, não se praticam atos processuais nos dias em que os tribunais
estiverem encerrados, nem durante o período de férias judiciais;
Tratando-se de atos praticados por via eletrónica não se aplica esta restrição (art. 137º
nº3 CPC);
Quanto ao lugar
Os atos presenciais em princípio devem ser praticados no tribunal (art. 143º nº2 CPC);
Em regra os atos devem ser praticados presencialmente, no entanto, existem atos não
presenciais que são apresentados por via eletrónica através da plataforma CITUS (art.
144º CPC);
Quanto à forma dos atos
O art. 131º nº1 CPC diz que os atos devem adotar a forma mais adequada ao fim que têm em vista.
Há casos em que a lei prevê que a resposta feita de uma parte para a outra devem ser sob a forma
oral. Se for uma questão complexa, o juiz pode determinar que seja a forma escrita. A forma dos
atos determina-se pela lei vigente na prática do ato.
Quanto aos não falantes da língua portuguesa, podem exprimir-se em língua estrangeira sendo
nomeado um intérprete se necessário. Segue um regime semelhante ao art. 134º CPC só deve ser
traduzido se necessário.
A lei portuguesa não tem limitações quase nenhumas a respeito de quem possa traduzir.
A forma dos atos pode ter de corresponder a modelos pré dados que apenas são obrigatórios
quando digam respeito à secretaria (art. 131º nº2 CPC). Mesmo quando não esta sujeito, o normal
é seguir uma fórmula típica, isto é, os advogados ou juízes tendem a adotar um formulário mais
ou menos repetidos a atos da mesma estrutura/natureza, mesmo não havendo vinculatividade
jurídica.
Os atos podem ser:
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Quanto ao prazo
O regime dos prazos dos atos processuais está no art. 138º nº1 e 2 CPC. Este podem ser fixados
de modo:
Dilatórios (art. 139º nº1 e 2 CPC) – prazo que difere, adia para outro momento:
o A possibilidade de praticar um ato;
o Início de contagem de outro prazo;
Perentórios (art. 139º nº1 e 3 CPC) – prazo que extingue o direito de praticar um ato;
Exemplo: art. 569º nº1 CPC a lei prevê “o réu pode contestar no prazo de 30 dias a contar da
citação” – prazo perentório;
Art. 245º nº3 CPC quando o réu tenha sido citado para a causa no estrangeiro, a citação haja sido
editorial ou se verifique o caso do art. 229º nº5 CPC, a dilação é de 30 dias. – dilatório e perentório
(prazo de 60 dias).
Quando se preveja a aplicação de prazo dilatório e perentório, os dois contam-se como um só –
princípio de preclusão.
Depois de esgotado o prazo, o ato poderá ser praticado nos 3 dias úteis subsequentes mediante
pagamento de multa (art. 139º nº5 CPC) ou quando tenha havido justo impedimento à respetiva
pratica, por causa não imputável (art. 140º CPC).
Exemplo de justo impedimento: doença súbita e grave da parte.
Quanto à duração do prazo
O prazo tem duração a fixar, mas supletivamente tem duração de:
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O livro III começa por regular os articulados (título I), depois a gestão inicial do processo e
audiência prévia (título II) e, por fim, a audiência final (título III).
Fase dos Articulados
A que se destina? Destina-se a que as partes apresentem as suas posições jurídicas conformando
o objeto do processo e trazendo à ação os meios de defesa que em relação a ele se pretende que
sejam apreciados pelo tribunal.
Traduzindo esta finalidade em atos, quais são os concretos atos que tem lugar nesta fase?
Petição Inicial – ato postulativo (em que se formula um pedido) realizado pelo autor;
Recebimento pela secretaria;
Eventualmente (não é essa a regra, é a exceção), pode seguir-se o despacho limiar pelo
juiz;
Citação do réu – é um ato dirigido pela secretaria;
Contestação – a regra é a de que a fase dos articulados termina aqui;
Estes são os articulados normais, petição inicial e contestação.
Eventualmente, o réu pode dirigir um pedido contra o autor – reconvenção. O pedido
reconvencional é feito na própria contestação.
Na eventualidade de o réu fazer um pedido reconvencional, o autor terá a oportunidade de se opor
ao réu através de um articulado chamado réplica (“a contestação da reconvenção”).
Nota: A réplica também pode ter lugar noutras ações mais circunscritas – ações de simples
apreciação negativa.
A réplica já não é um articulado normal, mas sim eventual, porque só tem lugar se tiver havido
um pedido reconvencional.
Poderá ainda haver articulados supervenientes, que são aqueles que têm lugar depois de terminada
a fase dos articulados, destinando-se a trazer à ação novos factos que ocorreram ou foram
conhecidos supervenientemente à data do termo da fase dos articulados.
Exemplo: Após a contestação, a obrigação tornou-se impossível, o réu pode trazer o motivo da
impossibilidade.
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