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Processos Especiais e Recursos | MCJF

12/10/18

Noções a rever: Alçada; Condições fundamentais interpor recurso; Tipos recursos ordinários

ldsilva@fd.uc.pt

19/10/18

A problemática dos recursos

O que é um recurso? O problema dos recursos põe-se a partir do momento em que é proferida
uma decisão. Porque nesse momento esgota-se o poder jurisdicional- o tribunal que proferiu a
decisão, que não tem de ser uma decisão final, fica impedido de a alterar a partir do momento
em que a profere- verifica-se o esgotamento do poder jurisdicional. Se fica esgotado o poder
jurisdicional isto significa que naquela instância a decisão se torna tendencialmente
imodificável- as partes deixam de ter a possibilidade de, em principio, se dirigirem ao autor
daquela decisão (juiz) para que lhe introduza qualquer alteração. Esta extinção de se continuar a
pronunciar quanto àquela ação está no art. 613 n. º1 e toma a designação de “esgotamento do
poder jurisdicional”. O poder jurisdicional inicia-se quando é exercido o direito à ação, que é
exercido quando a petição inicial dá entrada na secretaria, uma vez proferida a decisão,
extingue-se o poder judicial. Sendo as partes notificadas da decisão, elas podem não concordar e
quererão impugná-la, reagir contra a decisão.

Formas de reação/de impugnação:

1. Reclamação
2. Recurso

O que distingue a reclamação do recurso? A reclamação é uma forma de impugnação que é


dirigida contra o autor da decisão. O recurso é uma forma de impugnação que é dirigida a uma
instância superior, a um tribunal que não foi aquele que proferiu a decisão.

Mas, como é que é possível haver reclamação se o poder judicial do juiz já se esgotou? Porque
só é possível relativamente a circunstâncias especiais, só com base em certos fundamentos
expressamente determinados na lei, é que é possível a reclamação. O poder jurisdicional do juiz
esgota-se em princípio no momento em que é proferida a decisão, salvo nos casos
expressamente previstos na lei- nestes casos inclui-se a reclamação.

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Quais os casos que permitem a reclamação? Quais os fundamentos que permitem às partes
reagir junto do juiz? Há 3 tipos de fundamentos, dois deles existem sempre, seja qual for a
concreta causa e processo, estes fundamentos são sempre fundamentos legítimos de reclamação.
Há uma terceira categoria de fundamentos que têm só podem ser invocados em reclamação em
última linha, se nesse processo não for admissível recurso.

1. Primeira categoria: reclamação destinada a obter a retificação de erros materiais.


O que se entende por erros materiais para este efeito? O legislador entende que existem
erro material sempre que:
o a sentença omitir o nome das partes
o a sentença é omissa quanto a custas
o se não observe o previsto no art. 607 nº6
o quando há um erro de escrita ou um erro de cálculo
o qualquer outra inexatidão, que não se enquadre nas anteriores, mas que assuma
um caráter manifesto/evidente
o alguma omissão que resulte também de lapso manifesto

Nestas situações houve um erro quase que mecânico, que facilmente se deteta e por isso se
entende que seja o próprio juiz a corrigir. Estes erros podem ser corrigidos através de
reclamação, ou oficiosamente porque o próprio juiz se apercebeu. Quando se verifique este tipo
de erros, seja qual for o processo ou ação, as partes têm sempre fundamento válido para
reclamar e assim abrir exceção ao esgotamento jurisdicional.

Este tipo de reclamação pode sempre apresentado dentro do prazo de:

1º hipótese: há lugar a recurso: se houver lugar a recurso o tribunal inferior enviará o recurso
para tribunal superior, e a retificação só pode ter lugar até ao momento em que o processo sobe.
O juiz pratica um erro material, as partes apresentam reclamação e ao mesmo tempo interpõe
recurso da decisão. O juiz terá de proceder à retificação antes de mandarem o processo para
reapreciação.

2º hipótese: não há lugar a recurso: se nenhuma parte recorrer, a retificação pode ter lugar a todo
o tempo.

2. Segundo tipo de fundamentos- reforma da sentença-, estes que só em alguns casos


podem ser objeto de reclamação, aqui há que distinguir duas hipóteses:

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a) Não é admissível recurso: neste caso, não sendo admissível recurso, a parte pode
dirigir-se ao tribunal pedindo a reforma da sentença. Esta reforma pode ser pedida
em que termos? Pode pedir que o tribunal altere a sentença quando:
o a custas ou a multa que tenha sido objeto da sentença;
o quando tenha o tribunal, por manifesto lapso, errado na determinação da
norma aplicável ou na qualificação jurídica dos factos;
o quando do processo conste um meio de prova plena que, por si só,
implique uma decisão diferente daquela que foi proferida (ex. imagine-se
que o facto em causa é determinar se o autor casou ou não, e o tribunal
decidiu esse facto como não provado, mas do processo consta uma certidão
do registo civil que comprova a celebração do casamento. A certidão do
registo civil é um documento autêntico, um documento público. E os
documentos públicos, no nosso CC, têm força probatória plena. Um
documento autêntico implica que há uma presunção de que o seu conteúdo
corresponde à verdade, claro que esta força probatória pode ser ilidida pela
parte contrária) por daqui resultar um erro evidente, permite-se que a parte
venha junto do juiz pedir a retificação do erro.
b) É admissível recurso dessa decisão: caso seja possível o recurso, quem apreciará os
fundamentos de a) não será o tribunal que proferiu a decisão, mas o tribunal
superior.

3. O outro tipo de fundamentos que podem ser fundamento válido de reclamação,


correspondem às chamadas nulidades da sentença. Estas são várias, mas têm caráter
taxativo. A sentença só é nula nos fundamentos previstos. Causas:
o Falta de assinatura do juiz: isto porque a sentença assume a natureza
vinculativa que a caracteriza porque é proferida pelo tribunal. E só temos
certeza de que a sentença foi proferida por tribunal e pelo juiz competente,
através da assinatura;
o Falta de fundamentação. Quais as principais fases da primeira instância? A
primeira fase é a do articulado, o que a caracteriza é a exposição ao tribunal
dos factos e dos direitos das partes. Depois da fase dos articulados temos a
fase do saneamento: com a fase do articulado as partes levaram material; na
fase do saneamento o juiz vai sanear, vai escortinar o que foi levado.
Quando tudo estiver regularizado, o juiz vai selecionar os chamados temas
da prova que serão produzidos na audiência de julgamento. Para além de se

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produzir prova, na audiência de julgamento, fazem-se as alegações. Finda a


audiência de julgamento, o juiz vai proferir sentença. Quais as partes
constitutivas da sentença? O juiz identifica as partes, o pedido, a
contestação e consequente pedido, e, depois, passa a enunciar dois tipos de
decisão: primeiro, julga os factos (a matéria de facto), dizendo se se
consideram provados ou se permanece duvida. Mas, o tribunal não se limita
e esclarecer o que considerou ou não provado, deve fundamentar o porquê
de declarar determinados factos como provados. Depois, o segundo tipo de
decisão, prende-se com a decisão do direito, onde vai aplicar o direito aos
factos.
Ou seja, a decisão tem de ser fundamentada. Se não for fundamentada a
nível dos factos ou do direito, a sentença pode ser nula.
Este conteúdo obrigatório da sentença encontra-se no art. 607 n. º2, 3 e 4
(princípio da livre apreciação da prova previsto nos n. º4 e 5). Nulidade da
sentença, artigo 615.º;
o Fundamentação incompatível com a decisão. Ex. tribunal considerada como
não provado o facto alegado da celebração de um contrato; contudo, na
fundamentação diz que foi determinante para a formação da sua convicção
a prova testemunhal em que as testemunhas confirmaram a celebração do
contrato.
A fundamentação destina-se a assegurar que quem lê compreenda o
raciocínio do juiz, de modo a ficarem cientes e convencidas de que se trata
de uma boa decisão. O estado não aceita que uma sentença proferida nestes
termos permaneça na ordem jurídica, por isso concede às partes a
possibilidade de avaliarem da sua nulidade. Art. 615 n. º1, 1ª parte.
Pode haver outras causas de para a não compreensão, como a dificuldade de
compreensão na escrita. Portanto, também será nula a decisão de tal forma
ambígua ou obscura que não seja compreensível. Art. 615 n. º1 c).
o Situações em que o juiz peca ou por defeito ou por excesso. Em processo
civil corre o princípio do pedido (art. 3 n. º1), daqui resulta que o tribunal
não tem possibilidade de, oficiosamente, dar início ao processo. Mas, para
além do princípio do pedido, há o princípio do dispositivo. De acordo com
o último, é às partes que incumbe trazer ao processo os factos, e é às partes
que incumbe delimitar as questões que querem ver resolvidas e formular a
pretensão. E o tribunal fica limitado por esta disposição das partes, não

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podendo ir para além daquilo que é pedido, mas também não podendo ficar
aquém do conhecimento das questões juridicamente relevantes que lhe são
postas. O que significa que o tribunal não pode, p.ex., condenar o réu em
mais do que aquilo que é pedido. Proibição que consta do art. 609 n. º1. O
tribunal não pode ir para além do que a parte pede, em sede condenatória.
Mas, nas questões que lhe são colocadas, ele não pode ficar aquém: tem de
se pronunciar sobre todos os problemas que lhe são colocados pelas partes.
Se o juiz infringir algum destes limites a sentença é nula. A causa de
nulidade por defeito, art 615 nº1 d). A nulidade por excesso, art 615 n. º1
e).

Estas causas de nulidade podem ser arguidas em sede de reclamação ou em sede de recurso.
Como se reage então? Temos de considerar, de um lado, a primeira causa de nulidade (falta
assinatura) e, por outro lado, todas as demais. Assim:

a) Falta assinatura do juiz: neste caso a reação quanto à decisão tem lugar sempre através
de reclamação. No entanto, esta causa de nulidade pode ser conhecida a título oficioso
ou a requerimento de qualquer das partes; se o juiz se aperceber que se esqueceu de
assinar a sentença pode suprir a falha. Até quando? Até ao momento em que seja
possível colher a assinatura do juiz. Se o juiz considerar que as partes têm razão, irá
assinar a sentença e declarar na sentença a data em que realmente a assinou. Quando
tenha lugar por via eletrónica já não será feita tal declaração.
b) As outras causas de nulidade: nestes casos há que distinguir se da sentença for possível
interpor recurso ordinário, este meio processual adquire prevalência sobre a reclamação.
Só se, por alguma razão, não for possível interpor recurso, é que será possível invocar
em reclamação estas causas de nulidade.

Os recursos

A. Quanto aos sujeitos

O recurso pressupõe um ato potestativo, um ato de manifestação de vontade. Quando se interpõe


recurso, a vontade que se manifesta é a de que a decisão seja objeto de reapreciação por tribunal
superior, de forma a que o seu conteúdo possa vir a ser alterado. Sendo um ato de vontade, este
ato, neste caso, é um ato disponível. Ou seja, as partes podem prescindir do direito ao recurso,
podem expressamente renunciar ao direito a recurso; as partes podem, não tendo renunciado,

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levá-lo até ao fim; ou podem, não tendo renunciado, não o conduzir até ao fim, desistir dele
antes do seu termo.

1. Renúncia ao direito de recurso

A renúncia pode ser considerada sob um duplo contexto: primeiro, a renúncia antecipada;
segundo, renúncia contemporânea. Renúncia antecipada ou contemporânea em relação ao
momento em que surge o direito de recorrer. Este surge quando a decisão é notificada às partes.
Portanto, a renúncia pode acontecer antes de as partes serem notificadas ou já depois. A
gravidade da renúncia destes dois momentos é completamente diferente. É mais perigosa a
renúncia antecipada, porque as partes ainda não sabem em que medida é que a decisão os vai
afetar. Se a renúncia ao recurso for feita apenas por uma das partes unilateralmente, essa
renúncia não tem qualquer validade, não produz quaisquer efeitos- o legislador, com isto, de
uma forma paternalista, está a proteger a parte contra si própria. Contudo, se a renúncia
antecipada for conjunta, então aí já é possível.

Agora, no período pós notificação da decisão, existem várias hipóteses:

● a parte conhece o conteúdo, não concorda e recorre;


● a parte é notificada e não diz nada;
● a parte é notificada e aceita, ou por via expressa ou por via tácita;
● as partes são notificadas e expressamente renunciam a recorrer.

Aceita por via tácita quando não declare de modo expresso que concorda, mas pratica atos que
de modo empírico demonstram que concordou. Ex. tribunal condena o réu a pagar 3000€, e este
valor é pago no próprio dia. Caso a parte renuncie a recorrer neste momento, já não existe
qualquer atitude paternalista por parte do legislador, uma vez que já é conhecida a decisão.

No que diz respeito aos sujeitos, quem pode recorrer?

1. Quem não renunciou ao recurso;


2. Só pode interpor recurso quem tenha ficado prejudicado com a decisão. Se a decisão se
reporta a um sujeito, mas não o prejudica, não pode recorrer. Note-se que pode ficar
prejudicado com a decisão mesmo que não seja parte. Assim, pode interpor recurso
quem não seja parte, assim que de forma direta e efetiva tenham sido prejudicados pela
decisão.

Conclusão: podem interpor recurso as partes principais ou acessórias que tenham ficado
vencidas (art. 631 nº1 e n. º2 parte final); quem, não tendo sido parte, tenha ficado de modo

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direto e efetivo prejudicado pela decisão (art. 631 n. º2, 1ª parte). Todos estes sujeitos só o
podem fazer desde que não tenham renunciado (632 nº1) ao direito validamente- renúncia
posterior à notificação ou se for anterior for conjunta (632 n. º1) -, nem tenham aceite (632 n. º2
e 3) a decisão de forma expressa ou tenham desistido do recurso (632 n. º5).

Quanto aos sujeitos temos de considerar dois aspetos: quem pode interpor recurso (já visto) e
perante quem se produzem os efeitos do recurso interposto. O primeiro problema põe-se no
início da instância do recurso, o segundo problema coloca-se já na fase final. Então, perante
quem se produzem os efeitos do recurso?

1. Perante as partes, recorrente e recorrido


2. Mas não só. Pode aproveitar a quem, não tendo sido parte do recurso, tenha sido
comparte em litisconsórcio necessário1, art. 634 n. º1.

26/10/18

Art. 616º, reforma da sentença “não cabendo recurso”: diz respeito às circunstâncias em que não
é admissível recurso do ponto de vista legal. Qual é a tramitação do recurso? O recurso
caracteriza-se por um pedido de reapreciação num tribunal superior, mas entra no tribunal que
proferiu decisão. O recurso é proposto através de requerimento, que se divide em duas partes: na
primeira parte pede a reapreciação, na segunda junta as alegações. Estas alegações têm de
finalizar com conclusões. Depois, a parte recorrida apresenta contra-alegações. E só depois de
tudo isto é que o tribunal vai fazer subir o recurso para tribunal superior.

Quais os sujeitos que podem interpor recurso? Art. 631º

Contrariamente ao que se podia pensar, nem só as partes podem recorrer. Portanto, podem ser
sujeitos do recurso:

1
O litisconsórcio prende-se com o pressuposto da legitimidade das partes e, em especial, com a
legitimidade plural. O litisconsórcio distingue-se da coligação- ambos implicam a intervenção de vários
sujeitos- uma vez que o que os une é diferente. No litisconsórcio há uma relação jurídica legal; no
consórcio o que os une não é o direito, é uma coincidência. Ex. A celebra contrato com B, e outro muito
semelhante com C, D e E. por força desta coincidência, o legislador permite que a questão quanto a todas
estas pessoas seja resolvida no mesmo processo. Enquanto que o litisconsórcio tem na sua base um nexo
jurídico.
O litisconsórcio pode ser voluntário ou necessário. É voluntário quando as partes possam estar na ação
juntas ou separadas. Se for necessário, será obrigatório que as partes figurem em conjunto. Quais os
fundamentos possíveis deste caráter obrigatório? 1. A lei; 2. Contrato (litisconsórcio necessário
contratual); 3. Litisconsórcio necessário natural. Sempre que o litisconsórcio seja necessário, ainda que
seja um só a interpor o recurso, os efeitos do recurso estendem-se aos outros sujeitos da relação de
litisconsórcio, art. 634 nº1.

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1. Sujeitos que integraram o processo onde foi proferida a decisão recorrida, desde que
tenha ficado vencido (total ou parcialmente), desde que tenha sucumbido
2. Sujeitos externos a esse processo
3. Mesmo no que diz respeito às partes que integraram o processo, não serão só as partes
principais, mas também as partes acessórias e terceiros à causa, desde que tenham sido
prejudicados de forma efetiva e direta pela decisão.

Ficar vencido implica uma perda, que não tem de ser total, podendo ser parcial. Ex. A propõe
ação contra B no pagamento de 3.000euros. Quem pode interpor recurso? Só B. Mas, admita-se
que B foi absolvido do pedido. Apenas A pode interpor recurso. Numa terceira hipótese: o
tribunal condena B no pagamento de 1.500€. Ficam os dois vencidos, por isso ambas poderão
recorrer. Sucumbir significa não obter a pretensão.

Podem recorrer partes principais, acessórias ou terceiros desde que afetados pela decisão.
Contudo, isto pressupõe que os sujeitos não tenham renunciado ao direito de recorrer. A
renúncia, se for antecipada, só é válida se provier de ambas as partes. Se for posterior, será
válida ainda que tenha caráter unilateral.

Delimitação subjetiva dos efeitos do recurso, 634º

Esta questão que se prende com a legitimidade não se confunde com outra questão que tem a
ver com a delimitação subjetiva dos efeitos do recurso. O primeiro problema põe-se no primeiro
momento do recurso; a segunda questão tem a ver com o momento final do processo do recurso.
Uma das partes principais, acessórias ou um terceiro interpõe recurso. O recurso decorre e o
tribunal profere uma decisão. Esta decisão vincula as partes2, mas vinculará outros sujeitos que
não as partes?

É um caso em que a resposta é mais clara: o litisconsórcio necessário. Este distingue-se em três
modalidades: legal, convencional e natural. O litisconsórcio necessário diz-se natural quando é
necessário que estejam presentes mais do que um sujeito para que se chegue a uma decisão justa
e definitiva.

Quando exista litisconsórcio necessário, se apenas um dos litisconsortes interpuser recurso, por
força da lei, apesar dos outros litisconsortes não terem estado presentes, o recurso interposto por
um deles aproveita aos demais. Isto acontece independentemente de algum deles manifestar

2
Por força do princípio da relatividade.

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vontade de aproveitar. No entanto, este efeito de extensão do conteúdo do recurso, verifica-se


também noutras situações.

Ainda que o litisconsórcio seja voluntário, os outros litisconsortes podem aproveitar do


resultado, se tiverem dado a sua adesão. Só irão beneficiar na parte em que a sua posição seja
idêntica.

● Como podem aderir de maneira a poderem do recurso beneficiar? Devem fazê-lo ou


através de pedido, ou subscrevendo as alegações de quem recorre. No entanto, este ato
de adesão não pode ser praticado em qualquer momento, há limites temporais: art. 657
nº1.
“o relator”: nos processos de recurso o tribunal é sempre colegial, contrariamente ao
que acontece em 1ª instância em que o tribunal é sempre singular. No tribunal colegial,
há alguém que escreve/relata a decisão; essa pessoa é o juiz relator. Este juiz tem a
incumbência de analisar o processo e fazer um projeto de acórdão, uma proposta de
decisão, e para isso tem um prazo de 30 dias, art. 657 n. º1. E a decisão final será a
decisão que resulta da pronúncia de todos os juízes relativamente àquela proposta,
através de votação. É até ao limite deste caso que, quem não queira interpor recurso,
mas queira dele beneficiar, tem de dar a sua adesão: art. 634 n. º2 a), em conjugação
com n. º3 e 4 do mesmo artigo.
Normalmente quem adere a um recurso fá-lo porque confia em quem recorreu. Porque
parte do princípio de que quem interpôs recurso fê-lo bem e bem o suficiente para
proteger a sua posição. No entanto, pode acontecer que no decurso do processo do
recurso, o aderente mude de ideias e o legislador dá a possibilidade de alterar a sua
posição processual, para passar de mero aderente a recorrente, art. 634 n. º4, 2ª parte.
Imagine-se que o recorrente falece: o aderente estava tranquilo porque sabia que ia
beneficiar da decisão, mas se o recorrente falece e ninguém se-lhe substitui, o recurso é
extinto. Para evitar isto, o tribunal notifica o aderente para ele poder assumir o papel de
recorrente, caso assim queira. O mesmo vale se o recorrente desistir, art 634 n. º4, parte
final.

O recorrente tem a faculdade de excluir os outros sujeitos dos efeitos do recurso, art. 635º-
não o podendo fazer no caso de litisconsórcio necessário.

● Hipóteses em que esteja em causa um interesse que dependa do interesse do recorrente:


também aqui decorre um efeito extensivo. Ex. devedor e fiador.

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● Solidariedade passiva: a solidariedade tem a ver com o regime da responsabilidade. Mas


o regime da solidariedade contrapõe-se à conjunção. A solidariedade poderá ser ativa ou
passiva, mas a que nos interessa é a solidariedade passiva. Esta respeita a hipóteses em
que um débito impende sobre mais do que uma pessoa, em que há mais do que um
devedor relativamente a um mesmo dever. Esta pluralidade de devedores pode dever-se
a conjunção ou solidariedade. A conjunção, p.ex. numa dívida de 30.000€: 3 devedores,
cada um responsável por 10.000€: nesta situação o credor pode exigir de cada um
apenas a quota-parte de que é devedor. Cada um só responde pela sua parte na dívida, é
uma obrigação conjunta. Se o mesmo caso se refletisse na solidariedade: cada um
também só deve 10, mas por força deste regime, o credor pode exigir os 30 de qualquer
um. Qual é a regra no direito civil? A conjunção. Portanto, só existe solidariedade em
casos especiais, nomeadamente nos casos previstos pelo legislador. Isto importa porque
se a ação tiver sido intentada contra ABC, e se apenas um deles tiver interposto recurso,
em princípio os efeitos beneficiam também os outros devedores que não recorreram, a
não ser que pelos seus fundamentos o recurso só respeite à pessoa do recorrente, art.
634 nº2 c).
Caso A pague a totalidade, porque o credor assim quis, ele pode intentar uma ação
declarativa condenatória contra BC exercendo o seu direito e regresso.

O objeto

O recurso tem sempre por objeto uma decisão, uma pronúncia. Não há recurso de omissões de
decisão. Mas, de que decisão ou decisões?

Ao longo de um processo são proferidas dezenas de decisões, e podemos distinguir dois tipos:

● Decisão final: decisão com a qual o processo finda, por regra a sentença;
● Decisões interlocutórias: todas as decisões que antecedem aquela decisão.

Mas será que todas as decisões do processo podem ser objeto de recurso? Aqui podemos
distinguir 3 categorias:

1. Decisões irrecorríveis:
1.1. Decisões que são proferidas através de despacho de mero expediente. O que é? São
aquelas decisões que verdadeiramente não contendem com o mérito da causa, nem
com a posição das partes. São despachos inócuos, despachos que se prendem com a
tramitação processual. Ex. juiz manda que as partes sejam notificadas da data da
audiência

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1.2. Despachos que sejam proferidos no uso legal do poder discricionário: conjunto de
poderes que o legislador entendeu confiar ao juiz. Discricionariedade não se
confunde com arbitrariedade, o juiz não fica com poder de decidir como entender.
É-lhe dado o poder de, de modo fundamentado, proferir uma decisão em função da
concreta avaliação que mereça determinada matéria processual.
1.3. Decisões que decorram dos poderes de gestão processual. Entre nós, o juiz beneficia
da possibilidade de agilizar o processo, de o simplificar. A lei prevê uma certa
tramitação processual, mas depois flexibiliza-a, permitindo que o juiz perante cada
caso altere essa tramitação de modo a que ela se adeque à particularidade daquele
caso concreto. O legislador decidiu também tornar essas decisões de gestão
processual, agilização, adequação, tendencialmente irrecorríveis. Tendencialmente
porque será irrecorrível, a não ser que se verifique uma das seguintes
circunstâncias:
a) Essas decisões contendem com princípios nucleares do processo: princípio da
igualdade, do contraditório, da aquisição processual de factos e admissibilidade
da prova, artigo 630.º;
2. Decisões recorríveis desde que se verifiquem certas condições: corresponde à
generalidade das decisões, art. 629 n. º1. Quais os pressupostos?
a) O critério do valor da ação: entendeu o legislador que os tribunais de recurso são
tribunais que só têm o dever de tomar decisões quando a causa assuma alguma
importância, e a forma de concretizar esta importância foi com valor patrimonial.
Então estabeleceu um valor mínimo da ação para que seja admissível recurso.
Como se designa esse montante a partir do qual é admissível recurso? Alçada. Para
que o recurso seja admissível é necessário que o valor da ação seja superior ao valor
da alçada, que varia consoante a instância em que nos situamos. 1ª instância:
5.000€; 2ª instância: 30.000€; STJ: não há alçada, porque deste não é possível
recorrer para outro tribunal cível.
Porque é que o legislador usa a expressão “alçada”? é quem manda.
b) Critério da sucumbência: para que possa ser interposto recurso a parte tem de ter
ficado vencida, mas este requisito vai mais longe, exige que a parte tenha ficado
vencida em montante superior a metade da alçada do tribunal de que se recorre. Ex.
A intenta ação declarativa condenatória contra B, requerendo a condenação de B no
pagamento de 6000€. O tribunal condenou B a pagar 4.500€. O autor pretende
interpor recurso. Pode fazê-lo? Não estamos perante ação irrecorrível. Cumpre-se o
critério do valor da ação? Sim, o valor da ação é superior é superior ao valor da

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alçada (6). Mas só será admitido se se verificar também o segundo requisito. O


autor ficou vencido? Ficou parcialmente vencido. Mas ficou vencido em montante
superior a metade da alçada do tribunal de que se recorre? O autor ficou vencido em
1500€, por força deste critério o valor da sucumbência tem de ser maior que metade
da alçada do tribunal de que se recorre (5000€). Logo, o valor da sucumbência é
inferior, não sendo admissível recurso.
Ex2. O mesmo caso, mas da posição do réu. Este podia ter sido absolvido de 6, mas
foi condenado em 4500€. Considerando o valor da ação, ele pode recorrer.
Considerando o critério da sucumbência? O réu ficou vencido parcialmente, porque
não foi condenado em 6000€. Tem uma sucumbência de 45000€. Este decaimento é
superior a metade da alçada do tribunal da primeira instância? Sim. O réu pode
recorrer.
3. Decisões sempre recorríveis, independentemente de qualquer condição: daqui
conseguimos distinguir duas categorias:
3.1. Categorias das decisões que são sempre passíveis de recurso para qualquer tribunal
superior: são de tal forma importantes que podem ser impugnáveis
independentemente dos critérios e para qualquer tribunal, até ao STJ. Estas estão no
art. 629 n. º2.
3.2. As decisões passíveis de recurso independentemente das condições, mas essa
exceção só se verifica até ao tribunal da relação (se quiserem recorrer ao STJ, já
regressa a regra das duas condições): art. 629 n. º3.

02/11/18

Efeitos do recurso

Na primeira aula vimos em que é que consistem recursos: meio de reação contra uma decisão
judicial através de um pedido de reapreciação que é dirigido a um tribunal superior. Sob este
ponto de vista, o recurso contrapõe-se à reclamação.

Há um problema que suscita: admita-se que somos advogados e propusemos uma ação contra B.
Vamos admitir que esta ação foi uma ação declarativa condenatória e que em primeira instância
o tribunal condenou B. Naturalmente B ficou desiludido com a decisão e pretende interpor
recurso. O que será necessário para que o recurso possa ser interposto?

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O critério relativo ao valor da causa e o outro da sucumbência. O valor da ação prende-se com o
valor da alçada do tribunal que tomou a decisão. admitamos que este critério se verifica.

O segundo critério traduz-se na necessidade de B ter sucumbido em valor pelo menos superior a
metade do valor da alçada, acima de 2500 euros. Admitamos que também este está cumprido.

Qual é o problema com que o sr. Advogado de A se depara? Temos nas mãos uma decisão
condenatória, mas B não paga e interpõe recurso. O problema que se põe é o de saber se
enquanto o tribunal superior reaprecia a decisão condenatória, se esta pode ou não se executada.

Atualmente o legislador adotou como regra não esperar, isto é, conceder ao credor a
possibilidade de não esperar. É concedida a faculdade de imediato exigir o pagamento da
prestação. Como? Através de uma ação executiva para pagamento de quantia certa. A regra
permite ao credor o direito de exigir através de ação executiva, apesar de estar pendente o
recurso. Antes da reforma dos recursos, a decisão era a contrária, o credor estava por regra
impedido de intentar a ação executiva (exigir o cumprimento coercivo da obrigação da
sentença), antes de o tribunal de recurso proferir a decisão.

Estas opções têm designações diferentes:

● De acordo com a visão anterior, os recursos tinham um efeito suspensivo porque apesar
de a decisão ser proferida os seus efeitos ficavam, por regra, suspensos até à decisão
definitiva;
● De acordo com o regime em vigor, os recursos de apelação têm, por regra, um efeito
meramente devolutivo, ou seja, não tem efeito suspensivo.

Esta modificação deu-se porque anteriormente a visão do legislador era uma questão de certeza
e segurança, enquanto não houver decisão de conteúdo definitivo não adiantava executar a
decisão anterior porque a decisão podia ser alterada e haveria que se voltar atras. Para evitar isto
a opção do legislador era o regime com efeito suspensivo.

Porque é que o legislador mudou? Porque se observou que na prática muitas partes interpunham
recurso não propriamente porque entendessem que a decisão era errada, mas apenas para não
sofrerem as consequências de imediato. Assim, não tendo o recurso efeito suspensivo, a parte só
vai recorrer se entender que existe realmente razão.

Hoje os recursos de apelação têm, por regra, efeito meramente devolutivo. Mas então e quanto à
solução anterior, porque não se fala de devolutivo? Porquê esta terminologia? Porque qualquer
recurso tem sempre um efeito devolutivo. Este efeito devolutivo consiste na devolução do poder

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decisório do tribunal inferior para o tribunal superior. O poder jurisdicional é devolvido para o
tribunal superior. Por isso todos os recursos têm efeito devolutivo. Mas, há recurso que para
além de terem efeito devolutivo têm também efeito suspensivo da decisão que é objeto de
recurso. Portanto, anteriormente a regra era o efeito suspensivo porque, de acordo com esse
regime, para além do devolutivo, tinha também efeito suspensivo. Hoje, o recurso de apelação
por norma não tem efeito suspensivo, portanto só tem efeito devolutivo-apenas/meramente
devolutivo.

Esta é a regra dos recursos de apelação. Mas, há exceções:

Art. 647º CPC. A regra é que o recurso tenha apenas efeito devolutivo, a não ser nos casos em
que as decisões sejam especialmente delicadas. Ex. decisão que condene o réu a abandonar a
casa de morada de família. Aqui o recurso tem efeito suspensivo.

O de apelação é de 1ª instância para relação.

Recurso de revista

Qual a regra no recurso de revista? Art. 676º. O recurso de revista é da relação para o STJ.

A regra no recurso de revista é do efeito meramente devolutivo. Mas, também aqui há exceções.

Até aqui só nós referimos a sentenças condenatórias, porquê? Temos decisões declarativas
condenatórias, constitutivas e de simples apreciação (positiva ou negativa). Porquê sempre as
condenatórias?

Porque só quanto a estas é que se põe o problema de execução. Por isso só quanto a elas se põe
o problema de saber se o efeito suspende ou não. Ex. de uma sentença de simples apreciação: A
é proprietário de um imóvel e B diz que A não é dono de imóvel. A ação a interpor por A será
de simples apreciação positiva: o que A quer é que o tribunal declare que ele é proprietário do
bem em causa. B quer e interpõe recurso de apelação, coloca-se aqui a questão de saber se o
recurso tem efeito suspensivo? Não porque a suspensão seria do efeito de execução, mas aqui
não há nada a executar.

NOTA: ação constitutivas são ações que se destinam a permitir o exercício de direitos
potestativos. Traduzem-se em direitos de produzir efeitos que imutavelmente se impõe na esfera
jurídica da outra parte. A outra parte não tem nenhuma margem para impedir que o efeito se
produza. Ex. ação de impugnação da paternidade; A é casado com B, na dependência do
matrimónio nasceu C, por força da presunção legal A é declarado pai de C, mas vamos admitir
que C toma conhecimento que se pai é D. A pode intentar ação de impugnação da paternidade.

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Se o tribunal extinguir a presunção, aquilo que A pretende é conseguido por simples decisão do
tribunal. O mesmo sucede com o divórcio. Basta o exercício da potesta= vontade. Portanto,
quando a sentença é constitutiva há uma conformação da esfera jurídica, criando-se um direito,
modificando-se um direito ou extinguindo-se um direito. Por isso é que os direitos potestativos
podem ser constitutivos, modificativos ou extintivos.

Nas decisões condenatórias a sentença impõe à outra parte o cumprimento de uma obrigação.
Falar em obrigação é o mesmo que falar em prestação. Prestação que pode ser:

● De pagamento de quantia certa


● De entrega de coisa
● De facto positivo ou negativo

Portanto, nas ações de simples apreciação o juiz olha para a esfera jurídica das partes e declara
se lá existe ou não um determinado direito. O juiz limita-se a passar para o papel a explicitação
daquilo que está ou não está na esfera jurídica. Ora, não há nada a efetivar coercivamente. A
atividade do juiz é uma atividade puramente enunciativa.

Nas ações constitutivas, o juiz não se limita a declarar se existe ou não. O que o juiz vai fazer é
criar um direito novo, alterando a esfera jurídica. Se o direito potestativo é modificativo, ele vai
modificar um direito. Se for extintivo, ele vai retirar um direito da esfera jurídica. Estas
distinguem-se da primeira porque altera a esfera jurídica. Mas têm em comum algo: o efeito
pretendido consegue-se com a mera decisão judicial.

Diferentemente acontece nas ações condenatórias: aqui o tribunal aprecia a esfera jurídica e diz
“existe aqui um direito de crédito”, mas daqui retira consequências “por força do direito de
crédito, o devedor fica obrigado a adotar um certo comportamento”. Ou o devedor cumpre, ou
não cumpre. Se não cumprir surge a possibilidade de cumprimento coercivo através de ação
executiva. A ação executiva será para pagamento de quantia, ou para entrega de coisa, ou para
prestação de facto, art. 10º.

Mas então, é proferida sentença condenatória, é interposto recurso, enquanto o tribunal está a
decidir o credor não espera e executa? Tem de se refazer a execução.

Esta questão de saber se o recurso tem ou não efeito suspensivo não tem nada a ver com a
questão de saber se o recurso tem subida imediata ou não. Nem tem nada a ver com a questão de
saber se o recurso sobe nos autos ou em separado. Então:

1. Efeito suspensivo ou meramente devolutivo

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2. Saber se o recurso sobe imediatamente ou se só sobe a final

O processo culmina com uma decisão final. Mas, ao longo do processo são proferidas várias
decisões (interlocutórias). E também quanto às últimas as partes podem ficar insatisfeitas. A
questão é: a decisão é proferida no início do processo, pode-se interpor recurso dessa decisão
interlocutória imediatamente ou quando se interpuser recurso da sentença? A regra é a de que só
se pode interpor no final, no entanto o legislador enuncia casos excecionais em que pela sua
importância é permito que a parte interponha recurso autonomamente.

● O que caracteriza
● O que distingue um do outro

3. Saber se o recurso sobe nos autos ou em separado (através de traslado)

Quando se interpõe recurso e uma vez que a peça processual que leva ao recurso é entregue no
tribunal que proferiu a decisão, e depois este vai mandar o recurso para o tribunal superior.
Quando o faz, envia todo o processo ou só envia o designado traslado, ou seja, se só envia
partes desse processo, ficando com o processo na sua totalidade consigo?

Se o juiz que proferiu a decisão tiver o dever de enviar o recurso com todo o processo, diz-se
que o recurso sobe nos próprios autos. Se o juiz tiver o dever de enviar o recurso sendo este
integrado apenas por certos elementos do processo, então diz-se que o recurso sobe em
separado.

Qual o critério de base que leva o legislador a decidir? Tudo depende de saber se para o juiz que
proferiu a decisão é importante continuar a ter em seu poder o processo na sua totalidade.

Se for interposto recurso da decisão final, o juiz esgota o seu poder jurisdicional, portanto subirá
nos próprios autos. Estando em causa uma decisão interlocutória, em que é admissível a
interposição autónoma de recurso, então o juiz vai ter de continuar a decidir, por isso vai enviar
apenas as partes estritamente necessárias para que o tribunal de recuso envie a decisão proferida.

● O que diferencia

Em que consiste o caso julgado?

Verifica-se quando a decisão transita em julgado: quando se torna impossível interpor recurso
ordinário ou reclamação.

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O caso julgado formal tem por objeto decisões de caráter processual; está em causa caso julgado
material quando a decisão se prende com a matéria de direito.

Os efeitos são diferentes porque a imodificabilidade da decisão respeita apenas ao âmbito do


processo onde aquela decisão foi proferida. No material, torna-se inalterável a decisão em
qualquer processo que envolva aqueles sujeitos sobre aquelas matérias.

Frequência:

1. Distinção
2. Frase para comentar
3. Caso prático

09/11/18- Aula de dúvidas

1. Subida diferida revogada? Este problema só se põe quanto às decisões interlocutórias.

Há diferença entre interposição diferida e subida diferida. A segunda já não existe entre nós. A
solução hoje é que há algumas decisões de que se interpõe recurso imediato (que sobe
imediatamente) e outras de que só se interpõe recurso a final.

Antes, o que sucedia era que quando as decisões eram notificadas, tinham de se recorrer de
imediato. A diferença é que quanto a umas, o recurso interpunha-se e subiam de imediato,
outras só diferidamente.

Estas medidas visam conter o primeiro ímpeto para interpor recurso; outra medida, hoje quando
se interpõe recurso tem logo de se interpor alegações, antes estas eram apresentadas segundo
determinado prazo.

2. Reclamações: uma delas que se verifica sempre e duas que dependem da interposição de
recurso. Então? 615º e 616º dependem ambas de recurso ordinário.

Prazos de interposição de reclamação no art.615º e 616º: é o prazo supletivo de 10 dias, art 149º.

3. Decisões interlocutórias- subida separada e recurso autónomo:

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Há decisões que nunca admitem recurso, outras admitem sempre, outras depende. Este
problema não se confunde com o problema do momento em que o recurso entra: este problema
só se coloca relativamente às decisões interlocutórias.

O critério do legislador é que, em princípio, o recurso não deve acontecer de imediato, a não ser
em situações de especial gravidade.

O 644º nº1 reportam-se a decisões que põe termo à causa, em princípio no fim do processo. Na
alínea b) está em causa decisão que também decide matéria que compõe o litígio, mas não põe
termo ao processo, este continuará para conhecer os demais pedidos.

No nº2 estão casos de decisões que não são finais, mas pela sua importância podem ser
impugnadas autonomamente. Ex. a), aqui fica sem se saber se o juiz pode ou não continuar a
causa; b) saber se o tribunal é ou não competente, também aqui o tribunal não pode continuar
até estar esclarecido; tudo o que tenha a ver com prova é muito sensível, se estiver em causa
também deve ser possível interpor recurso de imediato. Tem a ver com saber se é ou não
possível interpor recurso, o recurso subirá logo.

Questão diferente é saber se sobe nos próprios autos ou em separado, art. 645º; tal como
diferente será saber que efeito terá efeito meramente devolutivo ou devolutivo e suspensivo.

Caso prático:

1. É recorrível? Ver as que nunca são recorríveis, ver se se trata de uma que depende dos
critérios
2. Sendo recorrível, é recorrível neste momento ou só em momento posterior? Se for em
momento posterior não se admite
3. Se for de imediato, deve vir em separado ou nos autos?
4. Vindo em separado ou no processo, qual é o efeito que a interposição deste recurso vai
ter no tribunal a quo? Esta questão é importante para o tribunal ad quem, porque este
tem de fixar o efeito do recurso; é importante para o a quo para saber se o processo
continua ou não, se pode ou não haver execução.

23/11/18

Correção das frequências

2ª Frequência

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1. Distinção entre critério do valor da ação e critério da sucumbência

Em primeiro lugar, por regra, a interposição do recurso não é livremente admissível, pressupõe a
observância de certos requisitos. Embora, a esta regra haja exceções nos dois sentidos.

O critério do valor da ação: a toda a ação corresponde um valor, há critérios próprios para
atribuição do valor da ação, para se poder aplicar esse critério é importante conhecer o valor da
alçada, e de acordo com este critério o valor atribuído à ação tem que ser superior ao valor da
alçada do tribunal de que se recorre, art 629 nº1, 1ª parte.

O critério do valor da sucumbência: o primeiro não se confunde com este segundo. O que se
entende por sucumbência: parte da decisão relativamente à qual o recorrente perdeu. (…)

Há determinados casos em que é difícil definir o valor da sucumbência e nesses casos


considera-se apenas o valor da causa.

2. Afirmação: os regimes do recurso e da reclamação podem ser considerados de


forma independente e externa.

A afirmação era falsa.

Em primeiro lugar haveria que distinguir entre a noção de recurso e de reclamação. Ambos são
formas de impugnar uma decisão.

O principal critério distintivo prende-se com o ente a quem se solicita a reapreciação da decisão.

E, na verdade, estes dois regimes não podem ser considerados de forma autónoma. Porque em
várias situações, saber se é ou não possível propor reclamação depende daqueles casos em que é
ou não possível interpor recurso. Necessário enumerar casos, ex. art. 614º, nº2; art 615º nº4.

3. A sociedade … com sede em Espanha, celebrou com a empresa … um contrato nos


(…)

Começar por dizer que de acordo com as regras gerais só seria admissível a interposição do
recurso se o valor da ação fosse superior ao valor da alçada, pelo que à partida não seria possível
interpor recurso.

No entanto, existem exceções a esta regra: existem situações em que não se admite nunca
recurso, e outras situações em que se admite sempre recurso. O nosso caso enquadra-se na
segunda situação, art. 629 nº2 a).

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1ª frequência

1. Distinga sucintamente entre efeitos suspensivo e efeito meramente devolutivo dos


recursos

Primeiro contextualizar: o problema poe-se relativamente à possibilidade de executar ou não


uma decisão. E uma vez que se fala de execução, só estão em causa sentenças com caráter
condenatório.

Todos os recursos têm efeito devolutivo: que se traduz na devolução para o tribunal superior o
poder jurisdicional.

Mas, há recursos que têm apenas este efeito, e recurso que para além de terem este efeito
também têm efeito suspensivo: os recursos com efeito suspensivo. Quando os recursos têm este
efeito, a sentença não pode ser executada.

Entre nós, os recursos têm efeito meramente devolutivo. Indicar a razão.

Quais os casos em que o recurso tem efeito suspensivo e quais os que têm efeito meramente
devolutivo: arts. 647 nº1, exceções nos 2 e 3. No nº4 prevê situações em que a apelação tem
efeito suspensivo, mas por decisão do juiz.

Quanto ao recurso de revista: a regra é a do efeito meramente devolutivo, art 676º a contrário. E
a situação de ter efeito devolutivo é o sentido direto deste artigo.

2. Pronuncie-se quanto ao teor da seguinte afirmação: todas as decisões recorríveis


devem ser impugnadas em recurso autónomo.

Poe-se o problema de saber se das decisões interlocutórias se recorre de imediato ou se só se


recorre em conjunto com a decisão final.

A regra é que o recurso não seja autónomo, só é autónomo nos casos do 644 nº2, para a
apelação. No que diz respeito ao recurso de revista, a regra também é, art 673º, do recurso
conjunto. Com as suas exceções.

3. Caso prático.

Também aqui definir a regra geral: critério do valor da ação e da sucumbência. Não estava
cumprido o primeiro critério, mas também aqui o recurso é sempre admissível, art. 629 nº2 a).

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Ampliação do objeto do recurso e recurso subordinado

Questão que se põe muitas vezes na prática e relativamente à qual é frequente ver imprecisões
desnecessárias.

Admita-se a seguinte hipótese: A celebrou com B um contrato de empreitada. Esse contrato de


empreitado foi fixado o valor de 20.000€. O empreiteiro realizou a obra, mas o dono da obra
não pagou o preço. Em face do não pagamento, o empreiteiro intentou contra o dono da obra
uma ação declarativa condenatória, para que o dono fosse condenado a pagar 20.000€. O
tribunal, contudo, condenou o dono da obra a pagar apenas 14.000€, porque se verificou que a
obra padecia de alguns defeitos. Perante esta condenação, o réu interpôs recurso. Podia interpor
recurso?

O valor da ação é superior ao valor da alçada. O valor da sucumbência é de 14.000€, que


ultrapassa dos 2.500€. Assim, o réu pode interpor recurso.

E o autor, se quiser, poderá interpor recurso? O valor da ação é superior ao valor da alçada. E o
valor da sucumbência é de 6000€. Assim, também o autor pode interpor recurso.

Vamos admitir que o réu interpôs recurso. O autor/o réu pode:

a) Estar interessado em interpor recurso independentemente da conduta do réu, por achar


que os 6000€ são devidos. Ou seja, recorrerá sempre, a atitude do réu é indiferente.
Este é um recurso independente. O seu interesse e a sua posição é completamente
alheia, autónoma, quanto à posição do réu. Cada uma das partes é vencida e vencedora,
e cada uma delas pretende que o recurso seja apreciado na parte que são vencidas.
b) O autor pode dizer: o réu foi condenado apenas em 14.000€, e eu não faço especial
questão em que o tribunal reaprecie a questão. Mas, se o réu interpuser recurso, pedindo
ser totalmente absolvido (os 6000€ estão absolvidos, por proibição da reformatio in
pejus), então eu também quero que o tribunal aprecie a parte em que fiquei vencido. Se
é para discutir, vamos discutir tudo, e vou pugnar pela condenação em 20.000€.
Se o autor só interpõe recurso a título subordinado, então se o réu desistir do recurso,
deixa de existir o risco que conduziu ao recurso subordinado. Assim, caindo o recurso
independente, cairá também o recurso subordinado. Se ele quisesse manter a
possibilidade de recurso, interporia um recurso independente.

Se o recorrente principal desistir, as custas cairão nele, art. 633 nº3.

30/11/18

2018/2019
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Tramitação do recurso propriamente dito

Antes da reforma deste regime jurídico existiam em 1ª instância dois recursos:

1. Apelação: dizia respeito a decisões de mérito


2. Agravo: dizia respeito a decisões com caráter processual.

Daí a expressão “sem apelo nem agravo”: questão resolvida.

Com a reforma a diferença deixou de se verificar e passou a consagrar-se um regime unitário:


apenas apelação. Assim, a apelação é o recurso que se interpõe das decisões proferidas em
primeira instância, quer sejam questões de natureza substantiva ou processual.

1. A tramitação do recurso de apelação: quais os passos que se observam quando


alguém pode pôr em causa uma decisão proferida em 1ª instância?

A tramitação dos recursos tem uma primeira fase que decorre no tribunal a quo, e uma segunda
fase que decorre no tribunal ad quem. O tribunal a quo é o tribunal que proferiu a decisão. O
tribunal ad quem é o tribunal para o qual se interpõe o recurso.

Ex. somos os juízes que proferimos a decisão. Se a parte vencida quiser apelar, é perante nós
que apresenta o requerimento de interposição de recurso. O recorrente, entrega na primeira
instância os vários documentos através dos quais põe em causa a decisão recorrida, junto do
tribunal.

1.1. Qual o prazo de que o recorrente dispõe para interpor recurso?

O prazo regra é de 30 dias. Excecionalmente, este prazo é de 15 dias. Art 638 nº1.

Quando tem lugar o prazo excecional? Em três situações:

a) No âmbito dos processos urgentes: ex. procedimentos cautelares. Se, por exemplo, o
tribunal de 1ª instância indeferir um procedimento cautelar, o prazo para a apelação é de
15 dias.
b) Apelação de decisão interlocutória: art. 644 nº2. Destas decisões, o prazo também é de
15 dias.
c) Recurso de revista, 677º. Fica para mais tarde.

1.2. A partir de que momento se começa a contar este prazo?

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A regra é de que o prazo começa a contar a partir do momento em que a decisão é notificada à
parte, isto quanto às decisões escritas. No entanto, há certas decisões que são proferidas em
audiência, no decurso de atos processuais. Nestes casos, o prazo conta-se do próprio ato em que
a decisão foi proferida, em que a parte ou seu representante esteve presente ou pelo menos foi
notificada para estar presente.

Há ainda outro caso: quando a parte é revel ela não será notificada da decisão. A parte é revel
quando não exerce contraditório. Se a parte for revel e se não dever ser notificada, porque não
constituiu mandatário, há duas hipóteses:

a) A revelia mantém-se até ao decurso do prazo. Neste caso, o prazo para interpor recurso
conta-se deste a publicação da decisão, já que a parte não é notificada.
b) Se a parte revel fizer cessar a revelia, passa a surgir o dever de notificação, então o
prazo só começa a decorrer quando a notificação ocorre.

Noutras situações em que não tenha de haver notificação, e que não corresponda a revelia, então
o prazo conta-se desde o momento em que o interessado em recorrer teve conhecimento da
decisão.

Pode, no entanto, acontecer que haja mais do que um recorrente, ou mais do que um recorrido.
E se o prazo dos vários recorrentes ou recorridos for diferente, conta-se apenas como um só: o
prazo é único.

Art. 638 nº1 prazos; art 638 nº2,3, e 4; art. 638 nº9 quanto ao facto de haver vários recorrentes e
recorridos o prazo ser um só.

A estes prazos de 30 ou 15 dias, podem acrescer mais 10, quando o recorrente peça a
reapreciação da prova gravada. Quando o recorrente interpõe recurso, pode fazê-lo quer em
matéria de facto, quer em matéria de direito. Pode pedir ao tribunal superior que altere a decisão
de facto, ou pode recorrer em matéria de direito. Se o recorrente interpuser recurso em matéria
de facto, pode pedir ao tribunal que reaprecie a prova que foi produzida, mas o tribunal só o
poderá fazer se a prova for gravada. Só que quando o recorrente pede a reapreciação da matéria
de facto, ele vai ter de dispor de mais tempo para interpor recurso porque vai ter de ouvir as
gravações, para dizer qual o exato ponto da gravação sobre a qual a má decisão incidiu. Por isto,
pressupõe mais tempo. Art 638 nº7.

Dentro destes prazos, o recorrente dirigir-se-á ao tribunal de primeira instância através de um


requerimento. Art. 637 nº1.

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1.3. O que consta do requerimento?

a) A identificação do recorrente, que se dirige ao tribunal a quo declarando que pretende


impugnar a decisão, requerente que esse tribunal admita o recurso.
b) Neste requerimento, o recorrente identifica o tipo de curso (apelação)
c) Identifica o efeito do recurso (meramente devolutivo)
d) Identifica também o modo de subida (nos próprios autos ou em separado).

A este requerimento, vão ser juntas as chamadas alegações. Estas alegações, que sã anexadas ao
requerimento, são entregues no tribunal inferior, mas dirigidas ao tribunal superior.

Em que consiste este documento? O recorrente vai expor as razões que o levam a pedir a
reapreciação da decisão. é obrigatória a formulação de conclusões: o recorrente expõe
pormenorizadamente a sua versão, e depois tem de sintetizar aquilo que expôs em conclusões.
Art 637 nº2, 1ª parte, e art 639 nº1.

No que diz respeito às alegações propriamente ditas, é preciso ter especial cuidado no que diz
respeito ao conteúdo dessas alegações quando se impugne a matéria de facto (640º). Porque
neste caso, o recorrente tem obrigatoriamente de fazer constar:

a) Os concretos pontos de facto que considera indevidamente julgados. Tem de identificar


de forma precisa o erro.
b) Tem de demonstrar que existe o erro. A demonstração acontece através da apresentação
dos meios de prova que, no seu entender, deveriam corresponder a uma decisão
diferente. Podem ser meios de prova que constem do processo, ou podem ter a ver com
a própria gravação.
c) Se tiverem a ver com a própria gravação, o recorrente tem de indicar com exatidão as
passagens da gravação onde se demonstre que o tribunal deveria ter proferido uma
decisão diferente. Art 640º.
d) Depois de identificar a decisão errada e a matéria que deveria ter levado o tribunal a
decisão diferente, o recorrente tem de identificar o sentido da decisão correta.

Ou seja: erro, elementos que demonstram o erro, e decisão correta.

Se o recorrente não observar esta fórmula (a identificação dos 3 factos e a referência na prova
gravada) o recurso é automaticamente rejeitado.

Depois, as conclusões devem sintetizar tudo aquilo que consta das alegações. Mas quando se
recorra em matéria de direito, existe um especial ónus: o recorrente tem que indicar as normas

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jurídicas que entende que foram violadas; e se entender que a norma jurídica aplicada era aquela
mas que foi mal interpretada, tem que dar a interpretação correta; se entender que aquela não era
a norma jurídica correta, deve indicar qual a norma que deveria ter sido aplicada. Art. 639 nº2.

O facto de não serem formuladas conclusões, é motivo de indeferimento do requerimento de


interposição de recurso.

Ao requerimento de interposição de recurso, o recorrente pode juntar também documentos ou


pareceres:

a) Os documentos: pode fazê-lo nas situações do art. 651 nº1.


b) Os pareceres: até ao momento em que começa o prazo para a decisão final ser
elaborada, art 651 nº2.
c) Para além disto, o recorrente tem de demonstrar que procedeu ao pagamento da taxa de
justiça. Ou então, demonstrar o comprovativo de que beneficia de apoio judiciário. Art.
642º.

Tudo isto dá entrada em 1ª instância.

Continuação

O juiz do tribunal a quo vai proferir uma decisão, e fá-lo-á apoiando-se na verificação dos
requisitos de que depende a admissibilidade do recurso.

No entanto, antes de proceder a esta apreciação, em homenagem ao p. do contraditório e da


igualdade, também ao recorrido será possível pronunciar-se: fá-lo-á em contra-alegações. Isto,
no mesmo prazo das alegações: ou 30 dias, ou 10? dias, art 638 nº5.

O que é que o recorrido pode invocar?

1. Pode pôr em causa a tempestividade do recurso: pode invocar que o recurso foi
interposto fora do prazo
2. Pôr em causa a própria admissibilidade do recurso: p.ex. ação cujo valor está aquém do
valor da alçada; pode se tratar de uma ação de que nunca seja admissível recurso; ainda,
a legitimidade do recorrente.
3. Naturalmente, pugnará pela improcedência do recurso, defenderá que a decisão
recorrida é uma boa decisão e não padece dos vícios invocados.

Pode ainda ampliar o objeto do recurso. Imagine-se que o autor intentou uma ação de despejo,
invocando os argumentos falta de pagamento de rendas, utilização para outros fins, perturbação

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vizinhos, requerendo a extinção do contrato de arrendamento. O tribunal a quo considerou a


ação procedente, mas apenas com base na falta de pagamento de rendas. Aquilo que o autor
queria conseguir plenamente- ganhar totalmente a ação- não foi conseguido.

O inquilino, não satisfeito, interpõe recurso de apelação quanto à parte em que foi vencido,
sendo certo que perdeu totalmente (foi extinto o contrato), mas havendo o tribunal
desconsiderado dois argumentos. Agora o recorrido nas contra-alegações pode vir dizer que não
concordo, apesar de considerar a decisão bem proferida, mas já que ele entende que seja
avaliada a decisão, então eu quero que reapreciem também os outros argumentos.

Isto faz-se através da ampliação do objeto do recurso, art. 636º. Isto porque quando há
ampliação, o recurso passa a incidir sobre matéria diferente daquela que o recorrente tinha
definido inicialmente. E vai ser dada ao recorrente a oportunidade de, em 15 dias, se pronunciar
sobre o objeto novo, art. 638 nº1.

a. Agora, o juiz do tribunal que proferiu a decisão, perante estes elementos, vai ter de
decidir. Em primeiro lugar, se tiver havido nulidades alegadas no recurso, o juiz vai
pronunciar-se quanto a elas já.
b. Se o juiz, apreciadas as alegações das partes, proferirá um despacho de deferimento da
admissibilidade do recurso. Considerando que estão reunidas os requisitos para que o
recurso seja admitido.

Em que circunstancias é que o juiz indeferirá a admissibilidade do recurso? Art. 641 nº1 e 2, art
641 nº6

1. Quando se trate de decisão que não admita recurso: ex. quando o valor da causa não
supera o valor da alçada; quando a sucumbência não seja superior a metade da alçada do
tribunal de que se recorre; despachos de mero expediente;
2. Intempestividade do recurso: recurso interposto apos os 15 ou 30 dias;
3. Não serem apresentadas alegações: se o recorrente não juntas alegações, não é
admissível recurso. Antes, num primeiro momento interpunha-se recurso, e só passado
o prazo de 30 dias se apresentavam as alegações;
4. O facto de não se formularem conclusões: se as alegações não forem sintetizadas, o
recurso é inadmissível.

Se proferir uma decisão de não aceitação, esta será uma decisão desfavorável para o recorrente.
Este poderá reagir (643º) contra a decisão através de reclamação. Esta reclamação é dirigida ao
tribunal que conheceria do recurso se ele tivesse sido admitido, ao seja pelo TR. Para isto, o

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recorrente tem o prazo de 10 dias (643 nº1) a contar da notificação da decisão de não aceitação
do requerimento do recurso.

Esta reclamação é dirigida ao tribunal superior em causa, mas é entregue na secretaria do


tribunal a quo. A secretaria irá juntar esta reclamação ao requerimento de interposição de
recurso, às alegações e à decisão de indeferimento. O tribunal a quo envia este conjunto de
documentos para o TR e neste o processo será distribuído, uma vez que neste tribunal existem
vários grupos de juízes. Através do ato de distribuição vai-se designar a que grupo de juízes
cabe decidir aquela questão. E, designado este conjunto de juízes, é designado um relator. O juiz
relator vai analisar as várias peças que lhe foram entregues, e ou considera que essas peças são
suficientes ou considera que precisa de mais informação: se considerar que precisa de mais
informação vai solicitá-la ao tribunal a quo. Depois de ter toda a informação necessária o relator
vai decidir, no prazo de 10 dias. Esta decisão será ou de manutenção da decisão do tribunal a
quo, ou de não manutenção/alteração. Se entender que o recurso é permitido, o juiz relator vai
ordenar ao tribunal a quo que mande o processo de recurso, e o tribunal terá o prazo de 10 dias
para o fazer.

Esta decisão do relator é, no entanto, passível de reação, de impugnação. Impugnação esta que
seguirá os termos previstos no art 652 nº3(?): ou seja, será pedido que sobre esta decisão se
pronuncie o conjunto de juízes (conferência) e não só o relator.

Ver: Art. 643 nº2, 3, 5, 4 e 6. Reação contra a decisão: art. 652 nº2.

O juiz do tribunal a quo defere o recurso, art. 641 nº5 1ª parte, e art 645/7?

Não lhe chegará dizer que o recurso é admissível. Fixa também o tipo de recurso (apelação), e
determina o seu efeito (meramente devolutivo ou suspensivo), conforme o previsto no art 647º.

Pode acontecer que o recorrido não concorde com a decisão de admissão do recurso, mas esta
decisão não é impugnável, art 641 nº5. A única hipótese de impugnação está no 306 nº3, uma
hipótese especial, de fixação do valor.

Admite-se o recurso e ele sobe para o tribunal ad quem, mas quando é recebido por este, o
tribunal não fica vinculado por esta decisão, podendo decidir de modo diferente. Aqui termina a
fase do processo do recurso que se passa em 1ª instância, verifica-se a devolução.

2ª etapa

Entrando o processo, há lugar à distribuição do recurso, que será atribuído a uma certa secção
do tribunal da relação. Dentre estes juízes será designado o juiz relator. Em que consiste o

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estatuto do juiz relator? O juiz relator é o juiz mais ativo no processo. É ele quem tem o dever
de tramitar o recurso até ao final, tanto na fase inicial (quando o recurso lhe chega), como
durante a tramitação do recurso, quer na fase final. P.ex. quando o processo chega ao TR e é
designado o coletivo de juízes, num primeiro momento vai-se apreciar se o juiz do tribunal a
quo decidiu bem quanto à admissibilidade, quanto à fixação da espécie, quanto ao efeito e
quanto ao modo de subida. E quem vai proceder a esta análise não são os vários juízes, mas sim
o juiz relator.

Imagine-se que o juiz entende que não deve conhecer o objeto do recurso, é o juiz relator que
vai proferir essa decisão, mas tem o dever de, antes de a proferir, notificar as partes de que o
protende fazer, para que elas possam exercer o contraditório no prazo de 10 dias, art. 655º e art
652 nº1 b).

No entanto o juiz relator pode entender que o tribunal decidiu bem, mas que o juiz do tribunal a
quo atribuiu ao recurso um efeito que não era o correto. Ex. atribui-lhe efeito suspensivo,
quando deve ter efeito meramente devolutivo. Se o relator entender assim, deve notificar as
partes quanto a esta matéria, para que se pronunciem no prazo de 5 dias. Imagine-se que o
recorrido já levantou a questão e arguiu este motivo, neste caso o recorrido não terá de ser
ouvido, será apenas ouvido o recorrente, art. 654 nº1 e 2 e 652 nº1 a).

Vamos admitir que o juiz relator que efetivamente houve erro quanto à definição do efeito do
recurso. Pode haver erro em dois sentidos:

a) Atribuição efeito meramente devolutivo, quando deveria ser suspensivo: se o tribunal


superior corrige este efeito, se, entretanto, já foi intentada execução, será preciso tomar
medidas. Portante, o recorrente pode solicitar ao tribunal que ordene ao tribunal inferior
que suspenda a execução, art 654 nº3;
b) Atribuição de efeito suspensivo, quando deveria ter efeito meramente devolutivo: neste
caso, é o apelado que pode requerer ao relator que mande passar traslado, ou seja, que
duplique algumas peças do processo para que estas baixem para 1ª instância, de modo a
que possa haver execução, art. 654 nº4.

Pode também verificar-se uma outra circunstância: pode acontecer que o tribunal superior detete
erro quanto ao modo de subida. Existem duas formas de o recurso subir: em separado ou nos
próprios autos. Ex. juiz relator que se apercebe que o recurso vem em separado quando deveria
ter vindo nos autos. Que fazer? Poderá ordenar ao tribunal inferior que envie o processo. Todas
as decisões deverão ser comunicadas às partes.

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Ex. contrário: recurso subiu nos autos e deveria ter subido em separado. Que fazer? O processo
deverá descer, e ficarão apenas as peças necessárias para o julgamento do recurso. Sabem-se
quais as peças necessárias através da convocação das partes para que identifiquem as peças
necessárias para que o recurso seja julgado. Estas peças são juntas ao requerimento e alegações.
Art 653 nº2.

Uma das principais funções do juiz relator é controlar se o recurso foi bem ou mal admitido e as
questões da subida e da espécie, art. 652 nº1 a) e b).

Vamos admitir que o recurso foi bem-admitido e que agora se vai ver o recurso propriamente
dito. É também ao juiz relator que cumpre decidir se vai ser ele sozinho a decidir sobre o
recurso, ou se será o coletivo de juízes a fazê-lo. Quando é o juiz relator a julgar sozinho, diz-se
que o recurso é julgado sumariamente, ou através de decisão liminar. Este poder de decisão,
quanto a uma forma ou outra: art 652 nº1 c).

Em que circunstâncias é que o relator pode decidir sozinho? É necessário que se verifique uma
das seguintes hipóteses, art. 656º, 1ª parte:

1. Decisão de manifesta simplicidade: será assim quando, por exemplo, se tratar de um


problema que tem vindo a ser decidido repetidamente da mesma forma pelo tribunal.
2. Quando for evidente que o recurso não tem provimento.

Imagine-se que o fundamento para a decisão sumária é o do número 1, se for este o caso é
permitido ao relator apenas a remissão para essas outras decisões. E, o relator tem o dever de
juntar a essa sua decisão cópia da outra decisão em que se fundamenta, art. 656º, parte 2ª.

Mas o relator tem outras funções: imagine-se que uma das partes juntam, já na pendencia do
recurso, documentos ou pareceres. É ao juiz relator que cabe admitir ou não a junção, art. 652
nº1 e). O mesmo se for necessário suspender uma instância.

Quando exerce estes poderes pode não estar a decidir, estando a prejudicar as partes. Assim, as
partes têm de ter o direito de reagir contra estas decisões. Neste caso, a parte deve deduzir
reclamação. Recebida a reclamação o juiz relator notifica a parte contrária, e depois vai
submeter a reapreciação da sua decisão à conferencia. E, portanto, sob essa matéria recairá
acórdão, uma decisão coletiva.

Vamos admitir que o tribunal em conferencia profere decisão e uma das partes não se conforma:
pode dela reclamar ou recorrer. Reclamará no caso do 652 nº5 a), e reclamará para o presidente

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do STJ e dessa decisão já não cabe recurso. Quando estiver em causa uma outra hipótese poderá
recorrer de acordo com as regras gerais.

Ver: art 652 nº3; art 652 nº5 b); art 652 nº5 a).

Vamos admitir que o juiz relator não deverá decidir sozinho, vai ser o colégio de juízes. Neste
caso, primeiramente, ir-se-á decidir as decisões que devem ser apreciadas antes do julgamento.
E depois disso, o juiz relator vai elaborar um projeto de acórdão, uma proposta de acórdão. Mas
isto é apenas uma proposta. Portanto, o que vai acontecer é que esta proposta vai ser
comunicada aos outros juízes antes de reunirem para audiência de julgamento, para que os
juízes a estudem e depois na audiência de julgamento possam dizer se concordem ou não.
Assim, antes da audiência de julgamento, o processo vai “com vista”, e isto acontece através de
meios eletrónicos. Esta “vista” só não acontece antes de julgamento em casos em que se exige
uma grande celeridade de decisão.

O relator tem o prazo de 30 dias para fazer o projeto. Cada um dos juízes tem o prazo de 5 dias
para o analisar. Art 657 nº1, art 657 nº2, e art. 657 nº4.

Depois de se esgotar este prazo, o processo é “inscrito em tabela”: vai ser designada uma data
para a audiência. Art 659 nº1.

Existe então: o juiz relator, e os juízes adjuntos (2).

Finalmente os juízes reúnem-se para decidir se o recorrente tem ou não razão. Como decorre o
julgamento? Art 659 nº2

1. Num primeiro momento, o juiz relator expõe o seu projeto. Ou seja, explica aquilo que
já foi objeto de vista pelos juízes adjuntos.
2. Depois, os juízes adjuntos pronunciam-se. A pronuncia poderá ser no sentido da
concordância ou discordância.
3. A decisão é tomada por maioria. Ganha a posição que reúna o maior número de votos.
Se porventura não for possível formar maioria, então será o presidente que desempata,
art 659 nº3. E a decisão final, ou seja, o acórdão definitivo, resultará da votação. Este
acórdão irá ser feita pelo relator de acordo com a decisão que venceu. No entanto, quem
não concordou pode apresentar o “voto de vencido”, que poderá ser proferido com um
de dois fundamentos, art 663 nº1:
3.1. O juiz que não concorda com os termos do acórdão não aprova com a própria
decisão

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3.2. Pode declarar-se vencido sobre os fundamentos, concordando com o sentido da


decisão.

Imagine-se que o vencido é o próprio relator. Não fazia sentido que fosse ele a redigir o acórdão.
Neste caso, é o primeiro adjunto vencedor, a redigir (o que adotou a decisão que prevalece), art
663 nº3 e 4.

O acórdão vai ser elaborado, e o tribunal ou julgará o recurso procedente ou improcedente. Mas
o tribunal tem várias possibilidades no que diz respeito à decisão em matéria de facto. Esta
traduz-se em julgar os factos como provados ou não provados. E pode acontecer que o erro
decaia sobre a matéria de facto. Que fazer?

1. O TR pode entender que perante os elementos que o tribunal inferior expunha, a decisão
devia ter sido diferente. Neste caso, altera a decisão. Se o facto foi julgado provado,
julgam não provado. E vice-versa. Ou seja, o processo já tem informação suficiente para
se decidir. Art. 662 nº1.
2. O TR ouve a prova da parte e fica com duvidas sobre a credibilidade da testemunha.
Neste caso, o TR vai ordenar que esse arguente seja ouvido de novo, a renovação da
prova.
3. Pode acontecer que o TR não tenha propriamente dúvidas sobre aquela testemunha, mas
que considere útil que novas testemunhas sejam ouvidas, ou que se juntem documentos.
Assim, ordena que seja produzida mais prova, nova prova.
4. O tribunal pode decidir anular a decisão, e determinar que o tribunal profira outra
decisão, nas hipóteses do 662 nº3 c).
5. O tribunal superior não anula a decisão, mas manda o tribunal inferior decidir
corretamente do ponto de vista da fundamentação. Art. 662 nº3 d).

A tramitação adotada para cada uma destas hipóteses está no nº3 deste art. e destas decisões não
cabe recurso para tribunal superior.

Posto isto, resta a publicação do acórdão, art 664º. Isto porque pode o tribunal chegar a uma
decisão e não conseguir de imediato elaborar o acórdão. Assim, torna-se útil dar a conhecer o
sentido da decisão, e deixa-se para depois a redação.

Só depois o acórdão é lavrado e assinado. A data do acórdão é a data em que este realmente é
assinado. Será notificado às partes.

Também aqui será possível reclamação e reforma: art. 613 a 617º, aplicam-se também na
relação, art. 666º. No entanto, há um outro fundamento para reagir. Porque em 1ª instância hoje

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a decisão é sempre uma decisão singular, mas no TR é uma decisão coletiva, a menos que seja
liminar. Assim, pode haver um outro erro: faça o vencimento de uma decisão, mas o acórdão
seja escrito conforme decisão que não atingiu maioria, art 666 nº1, parte final e 665º.

Do acórdão, em princípio, poderá ser interposto recurso, desde que verificados os critérios
gerais. Se não for interposto recurso, a decisão transita em julgado e o processo descerá à 1ª
instância- descida a que se chama baixa- para ser arquivado, art. 669º.

O recurso de revista

Três aspetos:

1. Critério da dupla conforme, art. 671 nº3.


2. Revista excecional, art. 672º.
3. Recurso per saltum, art. 678º.
4. Julgamento ampliado da revista, 686º e seguintes.

07/12/18

O recurso de revista, continuação

Em que se traduz o recurso de revista? É um recurso da competência do STJ.

Vimos que o recurso de apelação se interpõe das decisões proferidas na primeira instância, quer
de decisões finais, quer de algumas decisões interlocutórias - as outras só com a decisão final. O
TR revê a decisão da 1ª instância quer em matéria de facto, quer em matéria de direito. O STJ,
enquanto tribunal de recurso, só revê a decisão em matéria de direito. só em casos excecionais
conhece a matéria de facto.

O recurso de revista interpõe-se, em princípio, de decisões proferidas do TR. No entanto, há


casos em que excecionalmente é possível recorrer diretamente das decisões que são proferidas
em 1ª instância para o STJ, é o chamado recurso per saltum.

Quando é que o recurso é possível para o STJ- O RECURSO NORMAL? À semelhança do que
acontece com o TR, também para se interpor recurso para o STJ, e necessário que o valor da
ação seja superior ao valor da alçada do TR (30.000€), e o valor da sucumbência tem de ser
superior a 15.000€. Para além destes 2 critérios, é necessário que se verifique um terceiro: o
critério da dupla conforme. A ideia do legislador é reservar o STJ para situações residuais, é
limitar com critério os casos que podem ser objeto de decisão pelo STJ, então apertou ainda
mais o critério de acesso. O STJ só deve poder conhecer daquelas decisões relativamente às

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quais houve discordância entre os tribunais inferiores: se o t. 1ª instância e a TR se


pronunciaram no mesmo sentido, perante esta unanimidade o STJ não terá de se pronunciar. Só
terá de se pronunciar se não houver concordância, uma dupla conforme.

Mas, quando e que se pode entender que as duas decisões são iguais?

1. As decisões só serão iguais se o sentido decisório for o mesmo. Isto é se, p.ex., a 1ª
instância e a TR absolverem; ou se ambos condenarem. Ou seja, primeiro requisito:
igual conteúdo de decisão na parte dispositiva.
2. O sentido decisório tem de ter nas duas instâncias uma fundamentação essencialmente
igual. Fundamentações equivalentes.
3. É necessário que não tenha havido voto de vencido. Pode haver voto de vencido no TR:
uma manifestação de discordância de um juiz relativamente a uma decisão propugnada
pela maioria.

Se estes requisitos se encontrarem preenchidos, apesar de o valor da ação e da sucumbência se


verificarem, não é admissível recurso: ou seja, dois critérios positivos (valor ação e
sucumbência) e um negativo (dupla conforme). São estes os três critérios que valem para a
generalidade das decisões, arts. 629 nº1, 671 nº3.

No entanto, há casos em que se prescinde deste terceiro critério negativo, ou seja, haverá
recurso de revista apenas com base no critério do valor da ação e da sucumbência. São três os
casos, art. 629 nº1, 671 nº3 parte final + art 672 nº1:

1. Se estiver em causa uma questão cuja apreciação, pela sua importância jurídica, é
necessária para uma melhor aplicação do direito.
2. Se estiver em causa um interesse com um particular relevo social.
3. Se esse acórdão da TR estiver em contradição com outro acórdão da TR, ou com outro
acórdão do STJ, que já tenham transitado em julgado e que se tenham pronunciado no
âmbito da mesma legislação e quanto à mesma questão fundamental de direito em
sentido contrário ao do acórdão da TR em causa. Só não é assim se já tiver havido um
acórdão de uniformização de jurisprudência que esteja de acordo com esse acórdão do
TR.

Há ainda uma terceira hipótese: de recursos de revista que são interpostos para o STJ, mesmo
que não se verifique nem o critério do valor da ação, nem o critério da sucumbência, art 629 nº2.

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Quarta hipótese: de decisões da relação de que nunca é admissível recurso do STJ, mesmo que
se verifiquem todos os critérios, art. 630º.

Admitamos que estamos perante uma situação em que é possível recurso para o STJ. De que
decisões da relação é que é possível interpor recurso?

1. Quando esteja em causa um acórdão da Relação, que reaprecia uma decisão de 1ª


instância, se essa decisão de 1ª instância puser termo à causa: quer porque se conheceu
do mérito, quer por razões de forma.
2. Mas pode estar em causa um acórdão do TR que foi proferido de uma decisão
interlocutória de 1ª instância. Neste caso, o recurso de revista só é admissível em duas
situações, art 671 nº2:
2.1. Naqueles casos em que o recurso é sempre admissível, art. art 629 nº2
2.2. Ou então, se esse acórdão que reaprecia uma decisão interlocutória da 1ª instancia,
estiver em contradição com outro acórdão que já tenha transitado em julgado e que,
no âmbito da mesma legislação e sobre a mesma questão fundamental de direito, se
tenha pronunciado em sentido contrário àquele em que se pronunciou o acórdão da
relação. A não ser que este seja conforme um acórdão de uniformização de
jurisprudência.
3. Também é admissível recurso de decisões interlocutórias do próprio tribunal da relação.
O próprio tribunal da relação, para além do acórdão final, vai proferindo decisões.
A regra é de que estas decisões só será admissível recurso em conjunto com a decisão
final da TR. Só não é assim em dois casos, só se interpõe recurso autónomo de decisões
interlocutórias da relação, art 673º:
3.1. Quando a lei expressamente o preveja
3.2. Quando a impugnação dessa decisão interlocutória com a decisão final torna-se o
recurso absolutamente inútil.

Quais são as regras que se observam neste processo de recurso no STJ? São as regras aplicáveis
ao recurso de apelação, naquilo que não contrarie as regras do recurso de revista.

Como é que este recurso se interpõe? Tem início através de um requerimento de interposição de
recurso acompanhado por alegações, art 637º. Este requerimento vai dirigido ao Tribunal da
Relação. E este requerimento vai acompanhado por alegações dirigidas ao STJ. O prazo regra é
de 30 dias, art 638º. No entanto, se estiverem em causa processos urgentes ou interposição de
recurso de uma decisão interlocutória da relação, o prazo é de 15 dias, art. 677º?.

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Continuação aula

Interposto o recurso, o TR vai-se pronunciar sobre a sua admissibilidade ou não. Dentro das
hipóteses de recorribilidade vimos 3 casos:

1. Possibilidade desde que se verifiquem os 3 critérios


2. Basta que se verifique o critério do valor da ação e da sucumbência
3. Sempre admissível

Assim, recebido o requerimento e as alegações, é concedido prazo ao recorrido para


contra-alegações e com base nisso o tribunal vai-se pronunciar. Vale aqui o regime geral, art.
637º, 638º e 639º, 641º a 643º. A estas alegações podem ser juntos documentos e pareceres, nos
termos do 680º.

Admitindo que o TR entende que o recurso é admissível, vai remeter o processo para o STJ. O
STJ vai ser designado também um juiz relator, incumbente das funções paralelas à TR 652º. É
este juiz que vai verificar se o recurso foi ou não bem-admitido, e se foi bem dado o modo de
subida e efeito do recurso. Art. 676º, quanto ao efeito de recurso; e quanto ao modo de subida,
675º.

Mas, há um conjunto de decisões em que se prescinde do critério da dupla conforme. Só se


prescinde nos casos do 672. Nestes casos, o recorrente deve na sua alegação invocar que se
verifica este conjunto de critério e que, apesar de haver dupla conforme, deve ser admitido pelo
juiz. Esta imposição está no art. 672 nº2. E, se estiver em causa uma contradição de julgados, o
recorrente deve juntar ao processo copia da decisão que permita concluir que há contradição,
tem de se juntar certidão. Esta revista é permitida em situação de exceção. Por isso, por seguir
um regime à parte, chama-se revista excecional. Apesar de já haver dois tribunais a
pronunciarem-se no mesmo sentido em relação à mesma causa, admite-se. Quem controla? O
próprio STJ, mas não através do juiz relator. Existe uma comissão especial no STJ, que está
incumbida de verificar se estes pressupostos estão ou não reunidos. Esta formação é constituída
por 3 juízes, designados todos os anos pelo presidente do STJ, sendo que os escolhe dos juízes
mais antigos das secções cíveis. É uma decisão que tem de ser fundamentada, ainda que
sumariamente, e é uma decisão definitiva: não cabe reclamação ou recurso.

Pode acontecer que, quando esta formação, avalia o pedido de revista excecional, pode chegar a
outras conclusões:

A) Não estão reunidos os requisitos de revista excecional: não se prende com nenhum dos
fundamentos do 672º.

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B) Os requisitos estão reunidos. Admite-se a revista excecional.


C) Não estão reunidos nenhum dos pressupostos de revista excecional, mas a verdade e
que, apesar disso, a parte não tinha de requerer revista excecional, porque não há dupla
conforme. Não era necessário pedir revista excecional porque é admissível revista nos
termos normais. Ou até porque é um daqueles casos em que é sempre admissível
recurso.
Se o legislador fosse demasiado formalista, negaria o recurso. Mas permite uma espécie
de correção de erro quase quanto à forma de processo- quanto ao regime de recurso- e
por isso, se o conjunto de juízes concluir que não estão reunidos os pressupostos de
revista excecional, mas sim outros, enviará o processo para o juiz relator. Ficciona-se
que o recorrente pediu bem.
Esta possibilidade de suprimento do erro encontra-se no art 672 nº5.

Vimos que o STJ conhece em matéria de direito, não, por princípio, os erros por matéria de
facto. Isto porque as decisões do tribunal de 1ª instância, a sentença é constituída por 3 partes:

a) primeiramente o tribunal julga a matéria de facto, aquilo que para efeitos processuais se
passou ou não na realidade, o juiz tem de ser convencido dos acontecimentos;
b) depois, aplicar-se-á o direito a estes factos, as normas substantivas vão constituídas por
hipótese e estatuição
c) a decisão resulta de uma simbiose entre a norma e os factos. Da aplicação da hipótese
normativa que respeita a situações factuais abstratamente construídas.

Pode haver erro do juiz quer quando julga os factos (ex. julga que o contrato se celebrou), ou
pode ter jugado bem os factos, mas o erro versa sobre a aplicação da norma aos factos – erro
sobre a matéria de direito – que poderá concretizar-se na má seleção da norma ou da sua
interpretação. O TR pronunciar-se-á sobre os dois erros.

O STJ só reaprecia a matéria de direito. Em princípio. A regra do tribunal conhecerá apenas da


matéria de direito está no art. 682º, mas interessa-nos porque o recorrente tem de ter noção
daquilo que o tribunal pode conhecer para, nas suas alegações, invocar os fundamentos certos. E
os fundamentos são os que constam do art. 674º, em particular nos nº 1 e 2. O legislador dá aqui
vários exemplos, taxativos, todas elas representativas do erro de direito.

Art. 674 nº1:

a) por ter aplicado mal uma norma de direito substantivo. Poderá ser um erro de seleção,
interpretação ou aplicação.

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b) Por aplicação errada das normas processuais.


c) Situação de nulidade, art 615 e 666º.

Há um caso, no entanto, em que o STJ pode reapreciar a matéria de facto: casos graves.
Imagine-se que A (autor) alega ter celebrado com B um contrato de compra e venda de um
apartamento. E B impugna esse facto, dizendo não ter celebrado qualquer contrato. Em sede de
audiência de julgamento de p1ª instância, são ouvidas testemunhas que confirmar a celebração
do contrato. E o tribunal considerou o facto provado. O reu não concorda e interpõe recurso para
o TR invocando erro no julgamento da matéria de facto. O TR mantem a decisão de 1ª instância.
É interposto recurso de revista para o STJ, invocando erro quanto ao julgamento da matéria de
facto. Em princípio o STJ não se pode pronunciar, mas a lei impõe que a prova deste facto seja
feita através de escritura pública, nunca por prova testemunhal. Como se trata de uma situação
em que a lei exige uma espécie de prova para a comprovação do facto, permite-se que o STJ
reaprecie esta questão.

Ou, imagine-se que foi considerado não provado um facto apesar de ter sido feita junção de
documento autêntico, não foi feito qualquer tipo de prova. o juiz decide que, ao abrigo do poder
de livre apreciação, declara não provado o facto porque o documento não é convincente. Com
isto, o tribunal está a incumprir a lei porque estes documentos fazem prova plena. Se não houver
qualquer tipo de prova em contrário.

Estas situações excecionais em que o STJ pode reapreciar a matéria de facto estão no art 674
nº3.

Quando o relator analisa o processo, pode entender que será útil o julgamento. Pode fazê-lo a
título oficioso ou por pedido de alguma das partes. Como decorre esta audiência?

1. Abre com uma descrição que é feita pelo presidente do tribunal relativamente ao objeto
do processo
2. É dada palavra aos advogados para se pronunciarem

Esta audiência de julgamento não é adiável.

De seguida (3) o tribunal vai julgar. Em que termos?

a) Só vai julgar a matéria de direito. Só julgará matéria de facto nos casos excecionais. 682
nº2.

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b) Por regra, o STJ define o direito a aplicar e os termos em que deve ser aplicado. Profere
a decisão final.

No entanto, pode haver situações em que o STJ não consiga resolver de imediato o litígio. Pode
ser necessário que o processo volte ao tribunal da relação. Aqui temos duas hipóteses:

1. O STJ pode entender que a matéria de facto é insuficiente. Para que a decisão de direito
possa ser proferida tem de haver ampliação da matéria de facto. Como a matéria de
facto não compete ao STJ, tem de baixar
2. Apercebe-se contradições na própria decisão que impedem de tomar decisão. também
aqui baixa.

Mas pode acontecer uma de duas situações, arts 682º e 683º.:

● Há contradições, mas o STJ sabe já que regime jurídico aplicar, pelo que descendo ara o
TR ele só terá depois de aplicar aquele regime jurídico
● Se porventura as contradições forem tantas que o STJ não consegue antecipar o regime
de direito aplicável, a decisão desce, mas dessa decisão pode ainda caber revista, ainda
se pode interpor recurso.

Vamos admitir que tudo decorre normalmente e o processo não tem de descer. Admitamos que
esta secção tem as condições necessárias para produzir resposta. Pode acontecer que o
presidente do STJ se aperceba de que está em causa uma matéria onde existe muito divergência
jurisprudencial. E então, seja oficiosamente ou a pedido das partes, o PR pode decidir que a
decisão tomada neste processo seja tomada não só por estes juízes, mas por todos os juízes das
secções cíveis do STJ. Esta decisão do presidente é uma decisão definitiva. E quando assim
suceda, quando se convoquem todos os juízes das secções cíveis, diz-se que há intervenção do
pleno das secções. E uma vez que é um julgamento que envolve a ampliação do número de
juízes, diz-se que está em causa um julgamento ampliado de revista.

Vamos admitir que o PR toma esta decisão. Que se passa a seguir? O processo é confiado ao
MP, vai com vista ao MP e dispõe do prazo de 10 dias para emitir parecer quanto à necessidade
de uniformização de jurisprudência, de um julgamento ampliado de revista. Pronuncia-se,
depois são ouvidas as partes, e depois é dada a cada um dos juízes a possibilidade de estudar o
processo. Depois disto, há lugar ao julgamento. Este julgamento pressupõe uma maioria
qualificada de ¾ dos juízes. Têm de estar presentes pelo menos ¾ dos juízes em exercício.

2018/2019
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Este acórdão é depois publicado em DR. isto não significa que esta decisão tenha conteúdo
obrigatório. Não significa que outros juízes fiquem vinculados a adotar decisão igual. Mas é
uma orientação que por regra é seguida pelos outros tribunais.

Estes são os recursos ordinários: de apelação e de revista. Temos depois uma outra categoria de
recursos que são os recursos extraordinários.

Os recursos extraordinários

O que são os recursos extraordinários? Recurso que se interpõe já depois do transito em julgado
da decisão, quando já não é admissível apresentação de recurso ordinário ou reclamação. Não é
passível de recurso ordinário, art. 621º, quando em três situações:

1. Naqueles casos em que o recurso não é admissível


1.1. Porque se trata de um caso em que nunca é admissível a interposição de recurso
1.2. Porque não se verificam os critérios para o recurso
1.3. Quando, apesar de ser admissível recurso, a parte não fez uso dessa faculdade
1.4. Ou quando esse direito existiu, foi exercido, mas se esgotou

Em qualquer uma destas circunstâncias não possível interpor recurso e a decisão torna-se
transitada em julgado.

Tipos de recurso extraordinário:

a. Recurso para uniformização de jurisprudência


b. Recurso de revisão: congrega o anterior regime de revisão e o recurso de oposição de 3º

Cada um destes recursos tem objetivos distintos. A partir do momento e que uma decisão
transita em julgado, torna-se imodificável. Mas os fundamentos destes recursos admitem que se
modifique.

Casos em que o legislador, excecionalmente permite que a decisão ainda seja objeto de
modificação. Só se permite eu o transito em julgado seja superado em situações muito graves.

O que conduz o legislador a permitir que haja ainda discussão da decisão, nos casos da
uniformização de jurisprudência, é assegurar, na medida do possível, a maior igualdade das
partes enquanto recetoras de decisões judiciais. Tentar minorar as hipóteses de divergência de
jurisprudência.

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O que está na base do recurso de revisão é o facto de ter havido um erro judiciário clamoroso,
uma decisão errada em termos que assumem uma especial gravidade.

1. O recurso de uniformização de jurisprudência

Houve recurso de revista para o STJ e o tribunal proferiu decisão. em princípio, desta decisão
não cabe qualquer possibilidade de recurso. Em que circunstancias se poderá, ainda assim
recorrer desta decisão? às partes só resta invocar que esta decisão está em contradição com uma
outra decisão deste mesmo STJ que tinha sido proferido sobre esta mesma questão no momento
em que a legislação que se aplicava era a mesma. Está-se a tentar resolver uma contradição de
sentidos decisórios proferidos pelo mesmo tribunal. Tentar superar uma divisão interna.

A parte que pretenda recorrer nestes termos tem um prazo de 30 dias para o fazer, a contar do
transito em julgado do acórdão recorrido. O recurso é interposto nos mesmo termos, é
obrigatória a apresentação simultânea de alegações. A contraparte tem 30 dias para
contra-alegações.

O que é que o recorrente tem que obrigatoriamente mencionar?

1.1. Tem de identificar as decisões que estão em confronto. E não basta identificar o
acórdão, tem de juntar cópia.
1.2. Tem de identificar a contradição. Demonstrar que os dois acórdãos têm sentido
contrário.
1.3. Tem também de justificar porque é que a decisão anterior é a boa decisão.

Que o recorrente mencione os elementos com precisão é fundamental. Se não acontecer é um


dos fundamentos de rejeição da admissibilidade do recurso.

Depois de apresentadas as alegações – onde isto tem de ser mencionado – e depois de decorrido
o prazo para as contra-alegações. O processo vai para o juiz relator, que irá procedera um exame
preliminar. O que poderá levar o relator a rejeitar o recurso?

a) O recurso será rejeitado se estiver em causa uma decisão não admite recurso, s
b) e tiver sido interposto fora do prazo
c) se o recorrente não tiver as condições necessárias para recorrente
d) se o recorrente não tiver feio junção de alegações
e) ou se as alegações não tiverem conclusões
f) sempre que não tenha invocado os elementos anteriores

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g) quando, apesar de estes elementos terem sido mencionados, ele concluir que não há
oposição.

Art 692º, 641 nº2, 690 e 688 nº3.

Esta decisão do relator não é definitivo. Poderá ser admitida remissão para a conferência, art
692 nº2.

Vamos admitir que o relator admite o recurso. Este recurso tem sempre efeito meramente
devolutivo, art 693º. Este recurso é julgado de acordo com as mesmas regras do julgamento
ampliado de revista, e se o tribunal entender que há contradição, então substitui o acórdão
objeto de recurso por um outro, em que decide a questão controvertida, art. 695 nº2.

2. O recurso de revisão

É uma situação de erro grave que fundamenta este segundo recurso extraordinário. E os erros
graves têm caráter taxativo:

2.1. Se se alegar e provar que a decisão recorrida foi proferida no contexto de crime
praticado pelo juiz em exercício de funções. Ex. juiz proferiu decisão em prática de
crime de corrupção.
2.2. A decisão de que se pretende recorrer foi proferida tomando por base, por exemplo, um
documento falso ou um depoimento pericial falso. Aqui a culpa não é do juiz, mas está
em causa um elemento decisivo que não é verdadeiro.
2.3. Admita-se agora que a parte que pretende recorrer, vem tomar um conhecimento de um
documento superveniente, se esse documento for por si só suficiente para mudar a
decisão, não será mantida
2.4. A decisão foi condenatória do réu porque ele confessou. Se se vier a provar que a
confissão é invalida, será reavaliada a decisão.
2.5. O processo correu no tribunal a quo estando o reu em revelia. Em princípio isto não é
obstáculo a que haja decisão, pelo que o tribunal profere decisão. mas isto é
pressupondo que o reu é notificado e que a citação foi válida. Se se percebe que isto não
se deu, a decisão perde a legitimidade por falta de contraditório.
2.6. Pode acontecer que esteja em causa uma decisão que não é compatível com uma
decisão duma instância internacional.
2.7. Estar em causa um ato simulado pelas partes – conluio para prejudicar 3º. Art 612º. Este
fundamento corresponde ao fundamento do antigo recurso de oposição de 3º.

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Este recurso é interposto depois do transito em julgado, mas não o pode ser sem quaisquer
limites. Há duas barreiras, consideradas em conjugação:

● Prazo de 5 anos após o trânsito em julgado. Se este prazo for ultrapassado não pode
haver mais nada.
● Não basta que seja interposto dentro dos 5 anos. Tem de ser interposto no prazo de 60
dias.
Há uma fronteira absoluta: os 5 anos. Dentro destes, o recorrente tem o ónus de propor
o recurso no prazo de 60 dias a contar de um prazo que varia consoante o fundamento
do recurso. Ex. crime do juiz, os 60 dias contam do transito em julgado da sentença,
mas se for caso de incoerência entre a decisão e tribunal internacional, conta-se a partir
do transito em julgado da decisão internacional. Imagine-se que a decisão internacional
transita em julgado 100 dias antes da barreira dos 5 anos, tem 60 dias para interpor
recurso.

O recurso de revisão tem duas fases essenciais. Uma primeira fase tem por objetivo verificar se
existe ou não fundamento para rever a decisão – esta é a grande primeira fase. Se se entender
que há razão, entra-se numa segunda fase em que se repete o julgamento e se revê a decisão.

IMPORTANTE: esta figura do recurso de revisão, não é um recurso, é uma ação. É um


instrumento que permite re-conferir ao tribunal a quo poderes para continuar a julgar
aquele caso. É dirigido ao próprio tribunal que proferiu a decisão. o que este tribunal faz
é: já tinha proferido decisão, já se tinha esgotado o poder jurisdicional do juiz, esta já se
tinha tornado imodificável, e conclui-se que há motivo para rever e reabre-se a ação. O
mesmo tribunal vai dar continuidade ao processo para ver se se verifica ou não motivo
para reabrir.

Art 696º, 697º, 699º e 701º

Não confundir este recurso extraordinário com um processo especial de revisão de sentença
estrangeira, 978º.

11/12/18

657 nº2: “sessão anterior ao julgamento do recurso”, sessão em que os juízes reúnem.

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Processos Especiais

Seleção pelo critério dos direitos pessoais, do estatuto pessoal.

1. Processo especial para tutela da personalidade: este processo especial já se encontra em


vigor. Até se dá a circunstância de ter sido utilizado em casos mediáticos.
2. Processo especial sobre regime do maior acompanhado: pendente de vacatio legis.

Que tipos de processos especiais existem? Duas grandes categorias? Processos de jurisdição
voluntária e processos de jurisdição contenciosa. A generalidade dos processos são processos de
jurisdição contenciosa, à semelhança do que sucede com os processos não especiais. O processo
declarativo comum é também contencioso, e todos os processos regulados entre o art 878º e
985º.

São processos de jurisdição voluntária os que estão regulados a partir do art 986º.

Quais as principais notas distintivas entre estes processos?

a) Em matéria de prova no âmbito dos processos de jurisdição contenciosa existe a regra


de que quanto aos factos vale o princípio do dispositivo, ao passo que quanto à prova e
ao direito vale o princípio do inquisitório.
Nestes processos o juiz só pode considerar os factos que tenham sido invocados pelas
partes, é esta a regra. Art. 5º nº1. No nº2 consagram-se as exceções ao princípio do
dispositivo.
No âmbito dos processos de jurisdição voluntária vale o princípio do inquisitório. O
tribunal pode investigar livremente os factos. E em matéria de facto e prova, para além
do poder especial para investigar, tem um poder especial para limitar os poderes
próprios das partes. Art. 986 nº2, parte final.
b) Contrariamente ao que acontece nos processos de jurisdição contenciosa, não é
necessário o patrocínio judiciário. Só não é assim na fase de recurso, art 40º. Nos
processos de jurisdição voluntária o legislador foi mais liberal, art. 986 nº4.
c) Celeridade: estes processos querem-se mais rápidos e apesar de não serem processos
urgentes estão sujeitos a prazos mais curtos em matéria de sentença. Portanto, as
sentenças devem ser proferidas no prazo de 15 dias. Art 986 nº3.
d) Quando decide, o tribunal não tem de o fazer de acordo com critérios de legalidade
estrita. Pode decidir de acordo com a equidade, ou seja, pode decidir de acordo com os
critérios que considere mais adequados, justos, convenientes, em face da situação
concreta. 987º

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e) Por outro lado, uma vez proferida a decisão a regra nos processos de jurisdição
contenciosa é a de que o poder jurisdicional do juiz se esgota. Ou seja, depois de
transitado em julgado a decisão, a decisão torna-se imodificável. Não é assim no âmbito
dos processos de jurisdição voluntária. Aqui, se se verificarem alterações
supervenientes, se depois de proferida a sentença ocorrerem circunstâncias que
justifiquem que a decisão seja alterada, ela pode-o ser pelo próprio juiz que proferiu a
decisão. Art 988 nº1.

Porquê a importância desta distinção no âmbito dos processos especiais? Porque vamos estudar
um processo especial que é um processo de jurisdição contenciosa, e outro que, não sendo um
processo de jurisdição voluntária, beneficia de algumas normas deste processo – é um processo
de jurisdição contenciosa, mas a que se aplicam algumas normas dos processos de jurisdição
voluntária.

1. Processo destinado à tutela da personalidade

É o primeiro processo previsto no livro dos processos especiais.

Vamos considerar vários aspetos:

a) Âmbito aplicativo: em que circunstâncias é possível recorrer a esta forma de tutela


processual?

Quando esteja em causa uma ameaça ilícita e direta à personalidade física ou moral do ser
humano. E esta ameaça pode ser tutelada enquanto tal, a título preventivo, ou a título sucessivo,
no sentido de fazer cessar ou atenuar os efeitos da ofensa que já tenha sido praticada.

b) Que regras se aplicam a esta forma de processo especial?

Art 879º, aplicam-se as normas do art 549º. Ou seja:

● em primeiro lugar, aplicam-se as disposições próprias dos processos especiais,


● a título subsidiário as disposições gerais e comuns,
● em terceiro lugar, as disposições que são próprias do processo declarativo comum.

c) Como é que este processo começa?

Começa com um requerimento. E aqui o facto de o tribunal usar a palavra “requerimento” é


indicativa de se tratar de um processo especialmente célere. E célere porque está em caso a

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tutela de bens especialmente sensíveis, a personalidade humana. Começa não com uma petição
inicial, mas com um requerimento.

E o requerente tem o ónus de indicar de imediato a prova que pretende produzir. Um dos tipos
de prova mais importantes é a prova testemunhal. Poe-se aqui o problema de saber qual o nº de
testemunhas que pode ser indicado pelas partes? Alguns autores sustentam que a este processo
especial se aplicam as regras dos procedimentos cautelares. E, no âmbito dos procedimentos
cautelares vigora a regra de acordo com a qual no que quanto a eles não se encontre
expressamente previsto, se aplicam as regras dos incidentes da instância, art. 365º. No âmbito
dos procedimentos cautelares não se encontra regulado o nº máximo de testemunhas, portanto,
aplica-se a regra prevista no art 294 nº1. Ou seja, a parte não pode produzir mais de 5
testemunhas. Portanto, como no âmbito deste processo especial não está previsto no nº máximo
de testemunhas, então entendem alguns autores que na verdade está aqui um procedimento
cautelar, e nessa medida deve aplicar-se a regra prevista nos procedimentos cautelares que
remete para esta regra.

Outros autores entendem que se trata de um processo especial. E que, portanto, vale o art 549
nº1, logo não havia essa limitação. A Dra. Entende que é esta a interpretação mais correta. Não
está em causa um procedimento cautelar, desde logo pela questão sistemática (se o fosse estava
noutro capítulo). Também podia ter acontecido que se trate de um processo especial mas a que
se aplicam normas dos procedimentos cautelares, mas se o legislador assim quisesse remeteria
para essas normas, mas não o fez. Por outro lado, será compreensível que se admita um nº maior
de testemunhas, porque depois deste processo não haverá mais nenhuma: nos procedimentos
cautelares o tribunal decide para adotar medidas imediatas, mas depois haverá uma ação
principal em que se produzirá prova e o tribunal decidira. Aqui isto não acontece, isso seria
forçar o tribunal a decidir definitivamente com base numa prova limita. Isto vale também para
as partes: ficariam limitadas a mostrar a sua versão numa prova muito limitada.

A Dra. entende que está em causa um processo especial, que o legislador quer especialmente
célere, mas um processo principal, não um processo cautelar. O legislador quer que o tribunal
profira decisão em termos curtos de acordo com os critérios normais de decisão.

d) Porquê decidir de forma muito mais concentrada em termos temporais? Porque os valores
que estão em causa, a personalidade humana, assim o exige.

EXPLICAÇÃO: Do ponto de vista processual temos dois tipos de tutela: a tutela principal e a
tutela cautelar. A tutela cautelar tem uma característica de dependência. No que diz respeito à

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tutela principal temos: a tutela declarativa e a tutela executiva. Esqueçamos a tutela executiva.
Quanto às ações declarativas podem ter duas formas processuais: por um lado, a forma de
processo comum; por outro lado, formas de processo especiais. E dentro das formas de processo
especiais temos ainda os processos de jurisdição contenciosa e os processos de jurisdição
voluntária. O processo de tutela da personalidade é um processo especial de jurisdição
contenciosa. Só que este processo especial, as normas que o regulam, não contêm resposta para
todas as questões. Quanto a estas questões, a que é que recorremos? Há autores que dizem que
este processo parece um procedimento cautelar, portanto quando houver lacuna aplicam-se as
regras dos procedimentos cautelares. E, de acordo com estas regras, quando haja lacuna
recorre-se às regras dos incidentes da instância (máximo de 5 testemunhas). Um outro
entendimento é que estamos perante um processo de jurisdição contenciosa especial. Prevê o
código que perante os processos especiais, em caso de lacuna, se aplicam primeiro as regras dos
processos especiais, depois as regras gerias de todos os processos, e em último caso, as regras
do processo declarativo comum. A DRA. Entende que o entendimento correto é este. Este
processo corre singularmente, não é sucedido de uma questão principal; o legislador não quis
uma decisão superficial, quis sim uma resposta de fundo, mas rápida. Esta não é propriamente
uma tutela urgente, mas do regime do processo entende-se que o legislador quis um regime
muito curto por força dos valores que estão em causa.

e) Provas da especial celeridade:


● As partes têm de apresentar as provas de imediato- apesar de não ser bom exemplo
porque tem sempre de o fazer.
● Há lugar a despacho liminar- o processo é logo apresentado ao juiz.
● Se o juiz não o indeferir liminarmente, há de imediato lugar a audiência. O tribunal vai
logo designar a data de audiência.

Há aqui um encurtamento da fase processual. Em princípio nos processos não há despacho


liminar, mas quando há direito de contraditório. Aqui passa-se logo para julgamento.

● É obrigatório que a audiência se realize num prazo máximo de 20 dias.

E o exercício do contraditório? É exercido na própria audiência. Ou seja, o requerido vai


apresentar a sua contestação na audiência de julgamento.

● Começa então a audiência de julgamento:


1. Primeiro ato: o tribunal vai tentar conciliar as partes. Se o conseguir adotar-se-á
essa solução. Se não conseguir, inevitável litígio, haverá lugar a produção de prova.

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2. Depois disto o tribunal decide. Em que termos? Através de sentença, também por
uma questão de celeridade a sentença pode ser fundamentada em termos sucintos.
3. E, no âmbito dessa decisão, o tribunal vai determinar o comportamento a que o
requerido fica subordinado, que terá de adotar, vai fixar prazo para adoção desse
comportamento, e, se necessário, poderá haver lugar a sanção pecuniária
compulsória para estimular o cumprimento.

Há um conjunto de medidas adotas para que a decisão seja rápida. Mas pode ser ainda mais
rápida. Pode acontecer que o juiz olhando para o requerimento e para prova que dele consta,
pode perceber que não há tempo para ouvir o requerido nem mesmo na própria audiência,
podendo nem mesmo haver audiência, o tribunal decidirá de imediato. Então decide – no caso
de lesão iminente e irreversível. O mesmo podendo acontecer se o tribunal, perante a prova
produzida não conseguir chegar a uma convicção segura. Neste caso, se o requerido não for
ouvido antes da decisão, ele poderá exercer o contraditório depois da decisão. tem o prazo de 20
dias depois de ser notificado da decisão. naturalmente a decisão poderá ser alterada em função
do exercício desse contraditório.

f) Em matéria de recurso, o legislador não fixou regras especiais de recurso exceto num
aspeto: os recursos têm de tramitar de acordo com as regras de processo urgente. O
legislador não classificou como processo urgente, mas em matéria de recurso remete para
processo urgente.
g) Por outro lado, em matéria de execução prevê-se uma exceção ao princípio do pedido. Em
processo vigora a regra geral de acordo com a qual o processo não começa a não ser que
uma das partes o peça, art 3 nº1. No âmbito deste processo adota-se um regime excecional:
depois de proferida a decisão declarativa, é o próprio tribunal que dá início à execução da
sentença, não fica dependente do pedido. Por outro lado, é imediatamente liquidada a
sanção pecuniária compulsória.

Principais pontos a reter:

● Âmbito
● Que normas lhe são subsidiariamente aplicadas: é procedimento cautelar?
● Especificidades de aplicação previstas na lei.

2. Processo especial de acompanhamento do maior

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Este regime especial foi introduzido através da lei nº 49/2018, publicado no dia 14 agosto. Esta
entra em vigor em fevereiro, 180 dias depois da sua publicação, art 25º desta lei.

Através desta lei, introduziram-se alterações em vários diplomas. Aqueles que mais diretamente
nos interessam têm a ver com as alterações do CC e no CPC.

Em termos sintéticos qual a grande alteração? Esta lei vem extinguir o regime jurídico das
interdições e das inabilitações. Até agora tinham 3 tipos de incapacidades. O que o legislador
fez foi extinguir esta bipartição entre interdição e inabilitação no âmbito dos maiores e criar a
figura do maior acompanhado. No CC foram introduzidas diversas alterações, sendo as
principais: arts 131º, 138º a 156º, 320º, 482º e 705º. No âmbito do CPC temos no livro dos
processos especiais, V, encontra-se previsto no título III um outro processo especial que tem
como epigrafe “das interdições e inabilitações”. Esta epigrafe foi substituída por “estatuto do
maior acompanhado”. Este é o processo especial de acompanhamento do maior. Alterados art.
16º, 19º, 20º, 27º, 453 nº2, 495 nº1.

No que diz respeito a este processo especial: trata-se de um processo especial que embora esteja
regulado na parte relativa à jurisdição contenciosa, assume natureza mista, porque o legislador
manda aplicar as regras relativas à jurisdição voluntária, mas não todas elas. A este processo
especial aplicam-se as regras quanto a três aspetos:

1. Poderes do juiz: vale o princípio do inquisitório


2. Critério de julgamento: aqui o julgador não terá de se reger por critérios de legalidade
estrita
3. As decisões podem ser alteradas com base na verificação de circunstâncias supervenientes.

Uma outra especificidade: a tutela cautelar é uma tutela com carater geral que pode ser
mobilizada em qualquer ação declarativa, mas o legislador permite que possa ser concedida uma
medida cautelar sem que haja um procedimento cautelar – a medida cautelar pode ser pedida no
próprio processo principal. Ou seja, também aqui tem uma natureza mista. E mais, esta medida
cautelar pode ser concedida a pedido ou a título oficioso.

Principais momentos desta tramitação processual:

1. O processo começa com um requerimento. O que é que o requerente tem de fazer


constar?
1.1. Tem de demonstrar que tem legitimidade para dar início ao processo. os sujeitos que
têm legitimidade para dar início ao processo encontram-se previstos no CC. E que
existem razões que determinam a necessidade de recorrer a este regime

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1.2. Deve indicar que tipo de acompanhamento ao maior é necessário.


1.3. Deve designar, indicar, quem entende que deve ser o acompanhante.
1.4. Deve referir que grau de publicidade é que deve ser dado á decisão adotada: não
publicada, não acessível por todos, ou publica.
1.5. Deve juntar elementos que indiciem a existência da situação clínica que
eventualmente alegue.
2. Perante este requerimento o juiz vai-se pronunciar quanto à publicidade a dar ao
processo. ou seja, não apenas quanto à publicidade a dar à decisão final, mas do
processo e do seu decurso.
Neste momento o juiz pode também adotar um outro tipo de medidas, isto é, pode
comunicar que o processo se encontra pendente a instituições de crédito, a
intermediários financeiros, a conservatórias, e a outras entidades. Fá-lo-á se isto for
necessário para proteger o beneficiário, para evitar que adote medias prejudiciais para o
seu património.
3. O juiz ordena a citação do requerido, do maior, para que se pronuncie sobre a medida
que é requerida quanto a ele. Se não for possível citá-lo, ou se a citação for ineficaz
porque não pode compreender o conteúdo da citação, aplica-se o art 21º e a defesa deste
maior será assegurada pelo MP.
O prazo para resposta é de 10 dias.
4. Perante estes elementos de ambas as partes o tribunal vai recolher elementos. Vai,
necessariamente, ouvir o maior – ele é obrigado a ouvir o maior de forma pessoal e
direta. E, se necessário for, deverá deslocar-se ao sítio onde o maior se encontra. Por
outro lado, o juiz pode ordenar a produção de prova. A prova que por regra aqui assume
maior relevância é a prova pericial, que irá esclarecer quanto à necessidade de
acompanhamento do maior. Por estas medidas serem tão perigosas – encarceramento
sem clausura - é que o legislador obriga que o juiz oiça o maior. Para que o juiz possa
beneficiar desta imediação – contacto direto com o maior – legislador permite que se
crie uma exceção à regra de inquirição, e inquirir sozinho o maior, mandando sair
quaisquer pessoas da sala. Não pode determinar que toda a audição seja maior, mas que
parte dessa inquirição seja feita apenas na sua presença.
Precisamente por estar em causa uma matéria muito sensível, o relatório do perito tem
de ser muito específico. Tem de especificar qual o problema de saúde, os problemas que
daqui decorrem, a data provável em que este problema teve início, e quais os meios de
tratamento e apoio mais indicados para este concreto maior.

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O juiz pode não ficar satisfeito com o relatório pericial, e para apurar a real situação
deste maior, pode determinar que seja internado numa clínica da especialidade – por um
período não superior a 1 mês – para que ele seja submetido a exames. Enquanto estiver
nesta clínica, o maior fica sob a responsabilidade do diretor da clínica.
5. Depois de adotadas todas as medidas de prova, o tribunal vai proferir a decisão final.
Quais os elementos que constam desta decisão?
5.1. Designa-se o acompanhante
5.2. Se necessário, designa-se um ou mais acompanhantes substitutos
5.3. Define quais as concretas medidas de acompanhamento a adotar
5.4. Fixa a data a partir da qual as medidas decretadas se tornaram convenientes
5.5. Deve expressamente referir a existência de testamento vital
5.6. Deve referir a existência de procuração para cuidados de saúde
5.7. E deve acautelar o respeito pela vontade do acompanhado.

Desta decisão cabe recurso de apelação. Tem legitimidade para interpor recurso o requerente, o
acompanhado e o acompanhante. Esta decisão será publicitada nos termos que tenham sido
decididos pelo juiz no início do processo.

Depois de ter transitado em julgado a decisão que decrete o acompanhamento, é possível que
haja lugar ao relacionamento dos bens do beneficiário (maior).

Precisamente porque estas são medidas muito gravosas, aplica-se aqui uma regra que também é
própria da jurisdição voluntaria, mas que o legislador consagrou neste regime, art 904 nº2, de
acordo com a qual a decisão não assume caráter imodificável, podendo vir a ser alterada em
função de circunstâncias supervenientes relativas à evolução clínica do beneficiário.

Outras alterações: art 949º, 950º, 1001º, 1014º e 1016º.

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