Você está na página 1de 5

DIREITO PROCESSUAL CIVIL II – 1ª PARTE – RECURSOS

Prof.ª: Agatha Gonçalves Santana


Aluna:
Turma:
Data:

RECURSOS – 2ª PARTE DA MATÉRIA

OBS: Após uma pequena conversa na aula inaugural, lembrando-se, do debate acerca da polêmica
natureza jurídica do recurso, passa-se a um estudo mais acentuado da Teoria Geral dos Recursos
de uma maneira mais direta e didática.
Não se esqueçam de que este é um roteiro de aula, para a complementação do que explicado em
sala de aula. Lembrem-se também de que é muito importante a complementação do aprendizado
com livros e leituras complementares.
Bons estudos.
Agatha.

I – Conceito: Didier: “É o remédio voluntário, idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a


reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna”.
Marcus Vinícius Rios Gonçalves: “Remédio processual posto à disposição das partes, do MP, e de
eventuais terceiros prejudicados, para submeter uma decisão judicial a uma nova apreciação, em
regra, por um órgão diferente”.

 O Direito Processual é o reconhecimento da falibilidade – a sentença pode não estar correta ou


adequada. Pressupõe assim o inconformismo.

OBS: Meios de impugnação:

a) Recursos
b) Ações autônomas de impugnação (Novas ações) – Ação rescisória, querella nullitatis,
embargos de terceiro, mandado de segurança, Habeas corpus, reclamação constitucional
c) Sucedâneos recursais – Pedido de reconsideração, suspensão de segurança e remessa
necessária (reexame necessário)

II – CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DOS RECURSOS: Basicamente são cinco.

1) Não criam um novo processo – a partir da corrente majoritária de que os recursos são um
prolongamento da relação processual originaria com a petição inicial, essa característica firma o
entendimento de que o recurso não pode criar um novo processo. Em outras palavras, o recurso não
é um processo novo. Se criar um novo processo, não é recurso. Atentem que isso não é uma
repetição aleatória.
Exemplo: Mandado de Segurança NÂO é recurso, é ação autônoma; Habeas Corpus (que, lembrem-
se, também é cabível no âmbito civil como no caso de prisão por inadimplência de pensão
alimentícia), também NÂO é recurso.
2) Impedem a preclusão e a coisa julgada. Enquanto há recurso pendente, a sentença ainda
pode ser modificada. Quando nenhum recurso puder ser interposto por falta de previsão legal ou há
esgotamento das vias recursais, a decisão se torna imutável.
OBS: Havendo recurso pendente, não faz decisão definitiva. Se uma decisão interlocutória foi
atacada e sentenciada antes do recurso da mesma ser apreciado, retroagirá.

3) Em regra, os recursos são interpostos perante o órgão “a quo”, pela razão de que o CPC
determina que o juízo “a quo” já faça um prévio juízo de admissibilidade antes de remetê-los ao
juízo “ad quem”. Se o orgão “a quo” receber (estando admitido o recurso, presentes os requisitos
de admissibilidade), manda intimar as partes para apresentarem contra-razões e manda ao juízo ad
quem, que faz novo juízo de admissibilidade antes de examinar o mérito (dará “conhecimento ou não
do recurso” para então provê-lo ou não o prover)

 O órgão ad quem pode dar três decisões:


a) Não conhece
b) Conhece e acolhe (dá provimento)
c) Conhece e não acolhe (não dá provimento)

OBS1: A quo = juízo de origem; Ad quem = juízo que analisa o mérito do recurso.
OBS2: Só há UM recurso do nosso ordenamento jurídico que é interposto diretamente no tribunal
que é o agravo de instrumento.

4) O acórdão substitui a sentença – O que vai prevalecer é o Acórdão, ainda que ele tenha se
limitado a confirmar a sentença, mas para que substitua, o recurso deve ser conhecido.
OBS: A partir de quando substitui? É importante para o ajuizamento da Ação Rescisória. Assim,
como recursos em regra demoram mais de dois anos para serem julgados, prazo para ajuizamento
da ação rescisória, se retroagisse, além da perda do direito, perder-se-ia o prazo para o ajuizamento
da ação rescisória. Assim, firmou-se o entendimento de que, em não havendo má-fé, o recurso tem o
efeito de retardar, não de retroagir a coisa julgada. Assim, só após 15 dias do Acórdão haverá
trânsito em julgado.

5) Outra característica é o inconformismo. O recurso serve para corrigir dois tios de erros
imputáveis à decisão:
a) Error in procedendo – Erro formal ou vício de atividade – imputado ao juiz referente aos
aspectos processuais tão somente. Exemplo: juiz deveria ter ouvido três e só ouviu duas
testemunhas; era para o juiz fazer instrução e julgamento mas fez julgamento antecipado – É erro no
processo, o juiz não seguiu o CPC.
b) Error in judicando – vício de juízo – Erro material, substancial, de mérito. Erro no mérito – Ao
invés do juiz julgar procedente, da improcedência

III – Classificação:
1) Quanto a extensão:
a) Recurso parcial – em virtude da voluntariedade.
b) Recurso total ou integral
2) Quanto a fundamentação
a) Fundamentação livre – o recorrente é livre para nas suas razões recursais, deduzir qualquer
parte da decisão.
b) Fundamentação vinculada – limitação no conteúdo a ser atacado. Exemplo: Recurso
Extraordinário e Recurso Especial.
3) Quanto a dependência: Recursos dependentes e subordinados – Do recurso adesivo.

IV – Princípios Fundamentais:

1) TAXATIVIDADE: Só existem os recursos criados expressamente em lei. O rol legal dos recursos
é um rol de “numerus clausus”.
*** Art. 496 CPC – Nada impede que leis especiais criem outros recursos, como o recurso inominado
da Lei. 9.099/95.

-Decisão Interlocutória – Agravo de Instrumento ou retido


-Sentença – Apelação
-Acórdão não unânime do Tribunal – Embargos infringentes.
-Mero esclarecimento de contradição, omissão ou obscuridade de sentença ou acórdão – Embargos
de declaração
-Violação de lei Federal – Resp
-Violação de mandamento constitucional – Rext.
OBS: Não esquecer das espécies que podem ser confundidas com recursos.
OBS2: Recurso adesivo não é uma espécie de recurso, mas sim uma forma de interposição de
determinados recursos, como se verá mais adiante.

2) SINGURALIDADE OU UNIRRECORRIBILIDADE: Para cada tipo de ato judicial existe apenas um


tipo de recuso adequado previsto na lei.

Exemplos: - art. 496


-Decisão Interlocutória – Agravo de Instrumento ou retido
-Sentença – Apelação
-Acórdão não unânime do Tribunal – Embargos infringentes.
 Há exceção ao princípio? SIM
a) Embargos de Declaração – Cabe em sentença, como pode caber posteriormente uma
apelação, dada a sua finalidade de aclarar ou integrar.
b) Resp e RExt.

OBS: Afora essas duas exceções, para cada ripo de decisão há um tipo de recurso adequado.
Cuidado!!! Há dois casos a serem ressaltados aqui.

 Agravo retido deve ser reiterado em preliminar de possível apelação no futuro para não ser
prejudicado.
 TUTELA ANTECIPADA E RECURSOS – É possível conceder tutela antecipada na fase de
sentença se entender necessário. Apesar da polêmica, predomina o entendimento de que pode. Mas
qual o interesse nisso? Lembre-se que após a sentença ainda há a possibilidade de recurso (em
geral dotado de efeito suspensivo, ou seja, suspendendo o decidido até a decisão final), que pode
durar anos, e em caso de urgência, pode ser que não se possa esperar. Em geral o juiz confere essa
tutela antecipada fora da sentença, constituindo decisão autônoma, para que a parte prejudicada
possa manejar dois recursos.
***Se o juiz proferiu a tutela antecipada dentro da sentença, gera problemas. A prudência faz com
que a maioria dos juízes faça em separado, mas alguns concedem tutela antecipada no bojo da
sentença, atacável somente por apelação.
Não vingou a “teoria da água e do óleo”, em que a tutela antecipada, se posta dentro da sentença,
seria considerada apartada do bojo da mesma em virtude de sua natureza, motivo pelo qual
surgiram os problemas.
-A sentença em regra tem efeito suspensivo
-A tutela antecipada não tem efeito suspensivo dado o seu caráter de urgência. (520, VII).
Nesse caso, como advogado da parte, você terá duas saídas possíveis:
a) Apela e pede em caráter excepcional o efeito suspensivo que normalmente tem a apelação –
Se o juiz não conceder, agrava da decisão.
b) Usar o art. 558 CPC – Apela e imediatamente atravessa uma petição direcionada ao Relator
designado e vinculado ao processo para que, provada a urgência da decisão, conceda o efeito
suspensivo desde logo. Essa é a solução mais eficiente, por vezes.
1) Fungibilidade recursal
Tutelas podem ser concedidas diferentemente das requeridas, sem configurar sentença ultra, extra
ou citra petita.
É curial ressaltar que a fungibilidade recursal, ao contrário do que ocorre, por exemplo, nas
ações possessórias (art. 920), não está prevista no CPC. No CPC de 1939 havia essa previsão
expressa. Quando o atual CPC (1973) entrou em vigor, já não previa expressamente essa
possibilidade, além de ter confeccionado um sistema recursal muito mais claro do que o tumultuado
sistema do código anterior, o que levou alguns processualistas a pensar que a fungibilidade estaria
revogada. Porém, hoje predomina o entendimento de que, muito embora não expressa, a
fungibilidade está em pleno vigor.
Mesmo porque continuam existindo situações que podem gerar dúvidas a respeito de qual é o
recurso cabível, como por exemplo, em decisão do juiz de exclusão de réu; decisão de incidente de
falsidade  são zonas cinzentas que devem ser aplicadas a fungibilidade.
Continuam surgindo situações de dúvidas, e assim, a parte não pode sair prejudicada.
 Mas a fungibilidade não pode ser usada em qualquer caso, tendo aplicabilidade restrita:
a) Deve haver dúvida objetiva sobre qual recurso adequado em determinada situação. Não é a
dúvida subjetiva de um advogado mal preparado (o que se considera erro grosseiro). Deve ser uma
dúvida resultante de controvérsia na doutrina e na jurisprudência. Em geral ocorre com apelação e
agravo.
Exemplo: Consignação em pagamento por dúvida entre dois credores. O autor sai e esses dois ficam
disputando. A decisão é decisão interlocutória ou sentença? Cabe qualquer dos dois desde que com
o requisito seguinte.
b) A questão é que, além da dúvida objetiva, temos a questão dos prazos. Por exemplo, o prazo
para a apelação é de 15 dias, e o do agravo (seja ele retido ou de instrumento) é de 10 dias. Na
duvida, a parte pode interpor agravo ou apelação, mas para demonstrar a boa-fé, deve utilizar-se do
menor prazo.

OBS: Apelação e Agravo de instrumento não são interpostos no mesmo órgão. Foi sustentado que
nesse caso não se aplicaria a fungibilidade. Esse entendimento foi completamente superado. Assim,
se for o caso, o juízo de primeiro grau, entendendo ser a apelação agravo de instrumento, remete ao
tribunal, ou, entendendo o tribunal que seria caso de apelação, manda baixar os autos.

2) Proibição da Reformatio in Pejus: Quando uma pessoa recorre, por força do efeito
devolutivo, o órgão fica limitado “tantum devolutum quantum apelatum”. Se a parte recorre, é porque
postula a melhora, e não a piora. Se o tribunal está adstrito ao que foi pedido, ele não pode piorar a
situação do litigante, salvo se houver recurso do adversário.
OBS1: Ainda assim há um único risco: O Tribunal pode conhecer de matérias de ordem pública
(efeito translativo), o que significa dizer que, reconhecendo carência de ação ou falta de
pressupostos processuais, poderá extinguir o processo sem resolução de mérito, ocasionando uma
piora à situação do litigante.

OBS2: art. 515, §3º - Se na 1ª instância o processo foi extinto sem julgamento de mérito, o autor
apelar, e ao chegar ao tribunal, o Tribunal entender que não era o caso de extinção e que o processo
já está suficientemente maduro para a apreciação do mérito, poderá julgá-lo. Sustentaram
inconstitucionalidade (por ser um dispositivo relativamente recente, das últimas reformas), mas hoje
é pacifico de que isto é constitucional. Nesse caso, não se cogita reformatio in pejus, pois a mesma
só ocorre se pressupondo de que o juiz de primeiro grau não examinou o pedido (mérito). Se o juizo
de primeiro grau não respondeu, o tribunal não piorou a situação do autor.

3) Duplo Grau de Jurisdição: Esse princípio visa a correção dos errores in procedendo e in
judicando, pressupondo a existência de órgãos com hierarquia superior.
Esse princípio não se encontra de maneira expressa na Constituição, mas está subentendido de
maneira tácita, quando a Carta Magna indica que cabe a apreciação em grau de recurso, por
exemplo, pelo STF e STJ.
Por motivos de base política, para evitar os entraves processuais, o duplo grau de jurisdição é
voluntário (e não mais obrigatório como na Constituição do Império de 1824). Por essa não
obrigatoriedade, há a possibilidade de limitação da utilização de recursos por lei no caso concreto.

4) Princípio da Dialeticidade – é o ônus do recorrente de motivar o recurso – apresentar suas


razões.

5) Princípio da Voluntariedade – o recorrente tem a faculdade e não obrigação de recorrer.


Exceção ao principio (pois nenhum princípio é absoluto) é o reexame ou remessa necessário.

6) Princípio da Complementariedade e da consumação – a grande regra é a de que não se


pode complementar as razões com fundamentos diversos devido a preclusão consumativa. Mas
pode ocorrer uma ocasião: o ajuizamento de Embargos de Declaração com o objetivo de
modificação da decisão (efeitos infringentes).

Você também pode gostar