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07/05/2023

PROCESSO PENAL III – AULA 10


TEORIA GERAL RECURSOS

INTRODUÇÃO
CONCEITO: É o meio processual, em regra, voluntário de impugnação de
uma decisão, utilizado antes da preclusão, apto a propiciar um resultado
mais vantajoso na mesma relação jurídica processual, decorrente de
reforma, invalidação, esclarecimento ou confirmação.
MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DE DECISÕES: a) recursos; b) ações autônomas
FINALIDADE: o reexame da decisão.
FUNDAMENTO: a falibilidade humana e o inconformismo natural daquele
que é vencido e deseja submeter o caso ao conhecimento de outro órgão
jurisdicional; o recurso instrumentaliza o princípio do “duplo grau de
jurisdição”.

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JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE (ou JUÍZO DE PRELIBAÇÃO): os recursos, em


regra, são interpostos perante o juízo de 1ª instância (prolatou a decisão),
este deverá verificar apenas a presença dos pressupostos recursais (juízo
de admissibilidade pelo juiz “a quo”).
Se entender presentes todos os pressupostos, o juiz recebe o recurso,
manda processá-lo e, ao final, remete-o ao tribunal; estando ausentes
algum dos pressupostos, o juiz não recebe o recurso;
O tribunal (juiz “ad quem”), antes de julgar o mérito do recurso, deve
também analisar se estão presentes os pressupostos recursais (novo juízo
de admissibilidade); estando ausentes qualquer dos pressupostos não
conhecerá o recurso, mas se estiverem todos eles presentes, conhecerá
deste e julgará o mérito, dando ou negando provimento ao recurso (juízo
de delibação).

EXTINÇÃO DOS RECURSOS


a. EXTINÇÃO NORMAL DOS RECURSOS: dá-se com o julgamento do mérito
pelo tribunal “ad quem”.
b. EXTINÇÃO ANORMAL DOS RECURSOS:
Desistência – ocorre quando, após a interposição e o recebimento do
recurso pelo juízo “a quo”, o autor do recurso desiste formalmente do seu
prosseguimento (MP não pode desistir).
Falta de preparo – não-pagamento das custas e despesas referentes ao
recurso que se tratar de interposição do querelante na ação penal privada
(v. Lei Estadual n° 11.608/03).
Obs: Deserção - Súmula 347 do STJ: “O conhecimento de recurso de
apelação do réu independe de sua prisão”.

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EFEITOS DOS RECURSOS:


Obstativo – impede a preclusão da decisão.
Devolutivo – a interposição reabre a possibilidade de análise da questão
combatida no recurso, através de um novo julgamento.
Suspensivo – a interposição impede a eficácia (aplicabilidade) da decisão
recorrida; a regra no processo penal é a não-existência deste efeito, sendo
assim, um recurso terá tal efeito quando a lei expressamente o declarar.
OBS: Súmula 604 STJ: Mandado de segurança não se presta para atribuir efeito suspensivo a recurso criminal
interposto pelo Ministério Público.”
Regressivo – a interposição faz com que o próprio juiz prolator da decisão
tenha de reapreciar a matéria, mantendo-o ou reformando-a, total ou
parcialmente; poucos possuem este efeito, como o RSE.

Substitutivo – o julgamento proferido pelo órgão superior irá substituir a


decisão impugnada. Regra prevista no artigo 1008 CPC aplicada de forma
subsidiária ao processo penal. Obs: somente haverá tal efeito se o recurso for
conhecido para fins de reforma ou improvimento quando se tratar de error in
procedendo.
Extensivo – havendo dois ou mais réus, com idêntica situação processual e
fática, se apenas um deles recorrer e obtiver qualquer benefício, será o
mesmo estendido aos demais que não recorreram.
OBS: Art. 580 CPP – STF: dentro da mesma relação jurídica (Extn no HC
137.728/PR)
Translativo – devolução ao juízo ad quem de toda a matéria não atingida pela
preclusão. Possibilidade de apreciar toda a matéria. Ex: recurso de ofício
(reexame necessário). Ver Súmula 160 STF

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REFORMATIO IN PEJUS
• “REFORMATIO IN PEJUS” (piora): havendo recurso apenas por parte da
defesa, o tribunal não pode proferir decisão que torne mais gravosa sua
situação, ainda que haja erro evidente na sentença, como, por exemplo,
pena fixada abaixo do mínimo legal. Art. 617 CPP.
Pode ser direta (provimento de reforma) ou indireta (provimento de
anulação)
• “REFORMATIO IN MELLIUS” (melhora): havendo recurso apenas por parte
da acusação, o tribunal pode proferir decisão mais benéfica em relação
àquela constante da sentença – Ex.: réu condenado à pena de um ano de
reclusão; MP apela visando aumentar a pena; o tribunal pode absolver o
acusado por entender que não existem provas suficientes.

VOLUNTARIEDADE
O recurso é meio voluntário (extensão do direito de ação); o poder
judiciário só atua se provocado (inércia da jurisdição).
EXCEÇÕES: o princípio da voluntariedade do recurso é mitigado pelo
reexame necessário (recurso obrigatório). Trata-se de condição de eficácia
da decisão, não transitando em julgado a sentença enquanto não for
analisado.
HIPÓTESES DE RECURSO NECESSÁRIO:
• Art. 574, I – da sentença que conceder habeas corpus;
• Sentenças absolutórias referentes aos crimes contra a economia popular ou à saúde
pública;
• Decisão que determinarem o arquivamento dos autos do inquérito policial referentes
a esses crimes, art. 7º da Lei 1521/51;
• Sentença concessiva de mandado de segurança, art. 14, § 1º, Lei 12016/09.
• Da decisão que conceder a reabilitação, art. 746 CPP. (STJ, Resp 157.415/SP).

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CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS


Quanto ao conteúdo
• Total ou pleno: quando se questiona toda a decisão. O órgão ad quem
reexaminará toda a decisão.
• Parcial ou restrito: quando se questiona apenas parte da decisão. Será
reexaminada pelo Tribunal apenas a parte impugnada (v. ressalva da “reformatio
in mellius”).
Quanto às fontes informativas
• Constitucionais: previstos pela Constituição Federal com a finalidade de levar aos
Tribunais Superiores o conhecimento ou defesa dos direitos fundamentais do
indivíduo.
• Legais: previstos no Código de Processo Penal e leis processuais especiais.
• Regimentais: instituídos nos regimentos dos tribunais.

Quanto à motivação
• Ordinário: é o recurso que visa a defesa de um direito subjetivo. Baseiam-se no
mero inconformismo (ex.: apelação, RSE etc.).
• Extraordinário: é o recurso possui requisitos próprios. Exemplos: recurso
extraordinário (que a matéria seja constitucional), recurso especial (que tenha
sido negada vigência à lei federal) etc.
Quanto à iniciativa
• Voluntários – são aqueles em que a interposição do recurso fica a critério
exclusivo da parte que se sente prejudicada pela decisão do juiz; é a regra no
processo penal. Art. 574 CPP.
• Necessários (ou “de ofício” ou anômalos) – em determinadas hipóteses, o
legislador estabelece que o juiz deve recorrer de sua própria decisão, sem a
necessidade de ter havido impugnação por qualquer das partes.

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PRESSUPOSTOS RECURSAIS OBJETIVOS


• Cabimento: o recurso deve estar previsto em lei.
• Adequação: não basta que o recurso seja previsto em lei, é necessário que o
recurso seja adequado à decisão que se deseja impugnar.
Cada decisão, em regra, só comporta um recurso, em face da aplicação do
princípio da unirrecorribilidade das decisões. Esse princípio, da irrecorribilidade
das decisões, é mitigado por algumas exceções, como por exemplo: recurso de
ofício e voluntário contra decisão concessiva de habeas corpus. Outro exemplo:
interposição simultânea de recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal e
de recurso especial ao Superior Tribunal de Justiça. Ver art. 1031, §§ 2º e 3º, CPP.
Qual a conseqüência para a parte que interpõe recurso errado? O recurso, ainda
que inadequado, pode ser recebido e conhecido pelo princípio da fungibilidade.
É exceção ao princípio da adequação (art. 579 do CPP). Portanto, o recurso
mesmo que equivocado, deve ser oferecido dentro do prazo correto e desde que
não haja de má-fé o recorrente.

• Regularidade Formal: O CPP estabelece a forma segundo a qual o recurso deve ser
interposto, são formalidades legais para o recurso ser recebido (ex: a apelação pode ser
interposta por petição ou por termo nos autos).
• Tempestividade: O recurso deve ser interposto no prazo legal.
Os prazos começam a correr a partir do primeiro dia útil após a intimação conforme
artigo 798, § 1º, CPP. Súmula n° 310 do Supremo Tribunal Federal: “quando a intimação
tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o
prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente,
caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir” (no caso de carta precatória,
o prazo é contado a partir da juntada da carta aos autos do processo).
OBS1: Prazos processuais penais são contínuos, art. 798 CPP.
OBS2: Réu e defensor – o prazo começa da última intimação.
OBS3: Processo eletrônico: disponibilização, publicação e início do prazo – Lei 11419/06.

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• Ausência de fatos impeditivos ou extintivos do direito de recorrer


Fatos impeditivos são aqueles que impedem a interposição do recurso ou seu recebimento:
Renúncia: é ato de disposição, abre-se mão do direito de recorrer. É diferente de deixar escoar o
prazo sem interpor recurso. Na renúncia há manifestação expressa nesse sentido (a renúncia
antecipa o trânsito em julgado).
OBS1: Em sentença condenatória, o defensor e o réu têm que ser intimados da sentença e
ambos podem interpor recurso. Se houver divergência de vontades, um deles quer renunciar e
o outro não, qual prevalece? Prevalece a vontade de quem quer recorrer. Ver súmula 705 do
STF: A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não
impede o conhecimento da apelação por este interposta.
OBS2: Não recolhimento à prisão Súmula 347 do STJ, segundo a qual: "O conhecimento de
recurso de apelação do réu independe de sua prisão”.
Preclusão: impede a interposição do recurso. Perda do prazo de interposição.

Fatos extintivos são fatos supervenientes à interposição do recurso:


Desistência: é ato de disposição, porém sempre posterior à
interposição do recurso. O Ministério Público não pode desistir dos
recursos interpostos (art. 576 do CPP).
Deserção: ato de abandonar o recurso. Pode ocorrer pelo não
pagamento das custas processuais (art. 806, §2º, do CPP). Isso
somente em relação ao querelante na ação penal privada exclusiva ou
personalíssima.
Não há mais deserção pela fuga do acusado: Súmula 347 STJ.

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PRESSUPOSTOS RECURSAIS SUBJETIVOS


• Legitimidade: refere-se às partes legítimas para interposição do recurso
(art. 577 do CPP).
• Obs: MP pode recorrer como parte ou fiscal da lei. Pode recorrer para
buscar a absolvição do acusado. (art. 385 CPP). Não pode recorrer em favor
do querelante em caso de absolvição do querelado. Porém pode recorrer
em caso de condenação do querelado para fins de correta dosimetria da
pena.
• Interesse jurídico: o interesse deriva da sucumbência. A sucumbência
ocorre sempre que a parte teve frustrada alguma expectativa legítima.
Estabelece o parágrafo único, do art. 577 do Código de Processo Penal:
“não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na
reforma ou modificação da decisão”.

JURISPRUDÊNCIA
“Homicídio doloso. Tribunal do Júri. Três julgamentos da mesma causa. Reconhecimento
da legítima defesa, com excesso, no segundo julgamento. Condenação do réu à pena de
6 (seis) anos de reclusão, em regime semiaberto. Interposição de recurso exclusivo da
defesa. Provimento para cassar a decisão anterior. Condenação do réu, por homicídio
qualificado, à pena de 12 (doze) anos de reclusão, em regime integralmente fechado, no
terceiro julgamento.Aplicação de pena mais grave. Inadmissibilidade. Reformatio in
pejus indireta. Caracterização. Reconhecimento de outros fatos ou circunstâncias não
ventilados no julgamento anterior. Irrelevância. Violação consequente do justo processo
da lei (due process of law), nas cláusulas do contraditório e da ampla defesa. Proibição
compatível com a regra constitucional da soberania relativa dos veredictos. HC concedido
para restabelecer a pena menor. Ofensa ao art. 5º, incs. LIV, LV e LVII, da CF. Inteligência
dos arts. 617 e 626, do CPP. Anulados o julgamento pelo tribunal do júri e a
correspondente sentença condenatória, transitada em julgado para a acusação, não
pode o acusado, na renovação do julgamento, vir a ser condenado a pena maior do que a
imposta na sentença anulada, ainda que com base em circunstância não ventilada no
julgamento anterior” (STF — HC 89.544 — 2ª Turma — Rel. Min. Cezar Peluso — DJe-89
— p. 197).

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“Processual penal. Reformatio in mellius. Admissibilidade em doutrina. O


recurso de apelação do Ministério Público devolve ao Tribunal o exame de
mérito e da prova. Nessas circunstâncias, se o tribunal verifica que houve
erro na condenação ou na dosimetria da pena, não está impedido de
corrigi-lo, em favor do réu, ante o que dispõe o art. 617, do CPP, que
somente veda a reformatio in pejus, não a reformatio in mellius.
Argumentos de lógica formal não devem ser utilizados, na justiça criminal,
para homologar erros ou excessos. E não é razoável remeter-se, na
hipótese, o interessado para uma revisão criminal de desfecho
provavelmente tardio, após cumprida a pena, com prejuízos para o
indivíduo e para o Estado: aquele pela perda da liberdade, a este pela
obrigação de reparar o dano (art. 630, do CPP). Recurso especial do
Ministério Público conhecido pela divergência jurisprudencial, mas
improvido” (STJ — REsp 2.804/SP — 5ª Turma — Rel. Min. Assis Toledo —
DJ 06.08.1990 — p. 7.347).

“Processual penal. Recurso especial. Decisão concessiva de habeas


corpus. Remessa de ofício (art. 574, inciso I, do CPP). Dispositivo não
revogado pelo art. 129, inciso I, da CF/88. Na linha de precedentes do
Pretório Excelso, o reexame necessário previsto no art. 574, do CPP
não foi tacitamente revogado pelo art. 129, inciso I, da Constituição
Federal, devendo o juiz de primeiro grau remeter a decisão que
conceder habeas corpus à apreciação da instância superior. Recurso
provido” (REsp 760.221/PA — 5ª Turma — Rel. Min. Felix Fischer —
DJ 27.03.2006 — p. 323).

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