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PROCESSO PENAL III – AULA 11

APELAÇÃO
APELAÇÃO
Recurso interposto da sentença definitiva ou com força de definitiva,
para a segunda instância, com o fim de que se proceda ao reexame da
matéria, com a conseqüente modificação parcial ou total da decisão.
CARACTERÍSTICAS:
• Recurso amplo – recurso dirige-se contra a decisão em sua totalidade ou
parcial (recurso visa impugnar somente parte da decisão) – tem aplicação o
princípio do “tantum devolutum quantum appellatum”, segundo o qual só
poderá ser objeto de julgamento pelo tribunal a matéria que lhe foi entregue
pelo recurso da parte;
• Instrumento residual – interposto somente nos casos em que não houver
previsão expressa de cabimento de RSE.
RSE
• Recurso preferível – cabível a apelação, não poderá ser interposto RSE contra
parte da decisão;
• Recurso principal (quando interposta pelo MP) e subsidiário ou supletivo
(quando, esgotado o prazo recursal para o MP, o ofendido, habilitado ou não
como assistente, interpuser o recurso).
recurso)
CLASSIFICAÇÃO
Quanto à extensão:
• Ampla ou plena: devolve o conhecimento pleno de toda a matéria
decidida.
• Restrita, limitada ou parcial: impugna tópicos da sentença, pede-se apenas
o reexame de parte da decisão.
OBS: O que fixa a extensão da apelação é o ato de interposição. Caso isso
não ocorra entende-se que a apelação foi total.
Quanto ao procedimento:
• Ordinária: ocorre nos casos de apelação de crimes punidos com reclusão
(art. 613 do CPP).
• Sumária: ocorre nas contravenções e crimes punidos com detenção (art.
610, CPP).
HIPÓTESES DE CABIMENTO DA APELAÇÃO
(art. 593, CPP)
1. Decisões proferidas por juiz singular - são hipóteses em que cabe a
apelação:
• Decisões definitivas de condenação ou absolvição;
• Decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz
singular nos casos não previstos no art. 581 do Código de Processo
Penal, pois a apelação tem caráter subsidiário.
OBS: Todas as decisões condenatórias e absolutórias são apeláveis? Apeláveis
não são sinônimos de recorríveis. Todas as decisões condenatórias e absolutórias
são recorríveis, mas nem todas apeláveis.
apeláveis
2. Decisões proferidas pelo júri (art. 593,
593 inciso III, §§ 1º a 3º do CPP):
• Nas decisões proferidas pelo júri, a apelação é cabível se prevista em uma das hipóteses do
inciso III, do art. 593 do Código de Processo Civil:
• Nulidade posterior à pronúncia: a nulidade posterior, se relativa, o
momento de argüição é imediatamente depois de anunciado o julgamento
e apregoada as partes. Se o tribunal reconhecer a nulidade anula o ato e
todos os demais dele decorrentes (art.
(art 571, inciso VI, CPP). Se a nulidade
relativa tiver ocorrido durante o julgamento, o protesto deve ser feito logo
após a sua ocorrência, sob pena de ser convalidada (art. 571, inciso VIII,
CPP).
• Decisão contrária à letra expressa da lei à decisão dos jurados.
• Quando houver erro ou injustiça na aplicação da pena ou medida de
segurança.
• Decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos: decisão
arbitrária (essa apelação só é cabível uma vez).
ART. 593, § 4º, CPP: quando de parte da decisão for cabível apelação
e de outra parte for cabível recurso em sentido estrito, o único
recurso cabível será a apelação, ainda que somente de parte da
decisão se recorra (a apelação absorve o recurso em sentido estrito).
EFEITOS DA APELAÇÃO
• Devolutivo (tantum devolutum quantum appellatum): o judiciário irá
reexaminar a decisão, devolve-se se o conhecimento da matéria à instância
superior;
• Suspensivo: efeito que impede que a decisão proferida produza efeitos,
que seja eficaz (obsta os efeitos da sentença).
• Extensivo: todos os recursos no processo penal têm esse efeito (art. 580,
CPP). A decisão proferida no recurso interposto por um co-réu beneficia
os demais que não recorreram, salvo se o recurso for fundado em motivos
de ordem pessoal.
Obs: efeito regressivo: efeito que permite ao próprio órgão prolator da
decisão reexaminá-lo (permite o juízo de retratação); a apelação do CPP
não tem efeito regressivo.
REFORMATIO IN PEJUS:
• O art. 617, CPP proíbe expressamente a reformatio in pejus (ex: a defesa recorre pedindo a
absolvição, o Tribunal nega a absolvição e aplica, ainda, uma agravante).
• Reformatio in pejus direta: decorrente da reforma da sentença.
• Reformatio in pejus indireta: anulada sentença condenatória em recurso exclusivo da defesa, não
pode ser prolatada nova decisão mais gravosa do que a anulada (ex: réu condenado a um ano de
reclusão apela e obtém a nulidade da sentença;
sentença a nova decisão poderá impor-lhe, no máximo, a
pena de um ano, pois do contrário o réu estaria sendo prejudicado indiretamente pelo seu
recurso - entendimento pacífico do STF).
Obs: No caso da sentença condenatória ter sido anulada em virtude de recurso da defesa, mas
por vício da incompetência absoluta, a jurisprudência não tem aceitado a regra da proibição da
reformatio in pejus indireta.
Obs2: Reformatio in pejus no júri: a lei que proíbe a reformatio in pejus (art. 617) não prevalece
sobre o princípio constitucional da soberania dos veredictos. Anulado o júri, em novo julgamento,
os jurados poderão proferir qualquer decisão. (ex: se o réu foi pronunciado e condenado por
homicídio simples, a defesa interpõe apelação. O tribunal dá provimento e anula o 1º julgamento.
No segundo julgamento o júri condena por homicídio qualificado. Houve reformatio in pejus, a
pena aumentou só por recurso da defesa, no caso reformatio in pejus indireta).
REFORMATIO IN MELLIUS
• REFORMATIO IN MELLIUS: a reformatio in mellius ocorre quando o
tribunal melhora a situação do réu em recurso exclusivo da acusação.
Parte da doutrina sustenta que é possível a reformatio in mellius, com
base no próprio art. 617 do CPP, que só proíbe a reformatio in pejus.
PROCESSAMENTO DA APELAÇÃO
• PRAZO DE INTERPOSIÇÃO:
a) Regra: 05 dias;
b) Exceção: Assistente de Acusação não habilitado (STF manteve posicionamento
no sentido de que o prazo é de 05 dias, a contar da intimação, para assistente
habilitado, e 15 dias, após o vencimento do prazo para o Ministério Público
apelar, para o não habilitado).
• FORMA DE INTERPOSIÇÃO: por termo ou petição, no juízo que proferiu a
decisão.
• JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DUPLO: Se o juiz de 1° grau denegar a apelação ou a
julgar deserta, caberá recurso em sentido estrito (art. 581, XV, do CPP). Recebido
o recurso e depois de processado, o Tribunal fará outro juízo de admissibilidade.
• RAZÕES: Interposta a apelação, o apelante e, depois dele, o apelado terão o
prazo de 08 dias cada um para oferecer razões. Após a apresentação das razões
ou contra-razões do MP, se houver assistente, este arrazoará, no prazo de 03 dias.
Observações
• O art. 576 do Código de Processo Penal estabelece que: “O Ministério Público
não poderá desistir de recurso que haja interposto” (inexiste juízo de retratação
na apelação).
• A apresentação tardia das razões de apelação não impede o conhecimento do
recurso.
• No caso de intimação ficta, para fins de interposição do recurso de apelação, o
prazo do edital será de 60 dias, nas hipóteses de pena inferior a 01 ano, e 90 dias,
se a pena for superior a 01 ano.
• Conta-se o prazo da data da audiência ou sessão em que foi proferida a
sentença, se a parte esteve presente em tal ato.
• Nos processos de competência do Juizado Especial Criminal (rito sumaríssimo), o
prazo é de 10 dias, devendo ser interposta por petição e acompanhada das
razões de inconformismo, sob pena de preclusão consumativa.
• Com as razões ou contra-razões, podem ser juntados documentos novos.
• Art. 600 § 4º do CPP – faculdade de arrazoar na superior instância
(autos são remetidos ao Tribunal ad quem onde será aberta vista às
partes, observados os prazos legais, notificadas as partes pela
publicação oficial).
APELAÇÃO NA LEI n°
n° 9.099/95
Hipóteses de cabimento:

• Sentença do procedimento sumaríssimo;


• Sentença homologatória da transação penal;
• Rejeição da denúncia ou da queixa no procedimento sumaríssimo.

Obs:: O prazo dessa apelação é de 10 dias para a interposição e apresentação


das razões de apelação.
JURISPRUDÊNCIA
• Habeas corpus. Júri. Apelação do Ministério Público contra a acolhida pelo
júri de qualificadora do crime. Alegação de ilegalidade do acórdão que,
dando provimento à apelação, determinou que o paciente fosse submetido
a novo júri. Interpretação do art. 593,
593 III, c, do Código de Processo Penal. —
O art. 593, III, c, do CPP se refere a erro ou injustiça praticados pelo juiz-
presidente quando da aplicação da pena ou da medida de segurança, e não
sobre qualquer ponto a respeito do qual se tenha manifestado o júri em
seu veredito. — Sendo a qualificadora elemento acidental do crime, e não
circunstância da pena, o erro em seu julgamento não enseja apelação com
fundamento na letra c do inciso III do art. 593, do CPP, mas, sim, na letra d
desse dispositivo (quando ‘for a decisão dos jurados manifestamente
contraria a prova dos autos’), e, consequentemente,
consequentemente o seu provimento —
como ocorreu no caso concreto — acarretará seja o réu submetido a novo
julgamento pelo júri. Habeas corpus indeferido” (STF— HC 66.334/SP —
Tribunal Pleno — Rel. Min. Néri da Silveira — DJ 19.05.1989 — p. 8.440).
“1. Uma vez anulado o primeiro julgamento, perante o Tribunal do
Júri, em face de apelação interposta com base no art. 593, III, d, do
Código de Processo Penal, outro recurso, com o mesmo fundamento,
é descabido ainda que apresentado pela outra parte (parágrafo 3 do
mesmo dispositivo). 2. Desse modo, fica respeitado o princípio da
soberania do júri, tão constitucional quanto o da isonomia 3.
Apelação não conhecida. 4. ‘H.C.’ indeferido. 5. Precedentes do STF”
(STF — 1ª Turma — HC 77.686/RJ /RJ — Rel. Min. Sydney Sanches — DJ
16.04.1999 — p. 4)
“A determinação de realização de novo julgamento pelo Tribunal do Júri
não contraria o princípio constitucional da soberania dos vereditos quando
a decisão for manifestamente contrária à prova dos autos. Precedentes”
(STF — HC 134.412 — 2ª Turma — Rel. Rel Min. Cármen Lúcia — julgado em
07.06.2016 — DJe 15.06.2016 — Public.:
Public 16.06.2016).

“Assistente de acusação habilitado no processo. Seu prazo, para apelar, é


de cinco dias, sem que se lhe aplique o disposto no parágrafo único do art.
598 do Código de Processo Civil. Precedentes do Supremo Tribunal: HC
59.668, RTJ 105/90 e HC 69.439, DJ 27.11.1992”
27 (STF —HC 74.242/PA — 1ª
Turma — Rel. Min. Octavio Gallotti — DJ 07.03.1997 — p. 5.401).
“No modelo penal garantista hoje vigente, não se concebe a possibilidade de um
recurso de apelação ser apreciado sem que se apresente as razões(ou
contrarrazões) da defesa. Segundo a melhor interpretação dada pela doutrina e
jurisprudência ao art. 601 do Código de Processo Penal, nas hipóteses em que o
patrono constituído não apresente as razões de apelação, deve-se intimar o réu
para que indique novo advogado. Em caso de inércia, de rigor seja nomeado
defensor dativo” (STJ —HC 43.045/ES — 6ª Turma — Rel. Min. Og Fernandes —
DJe 08.03.2010).

“Processual penal — Recurso— Julgamento — Voto intermediário. — Quando, no


julgamento do recurso, nenhum dos votos divergentes obtiver maioria, o
resultado será obtido pelo voto médio, não havendo como cogitar de empate, de
modo a ensejar a aplicação da regra prevista no par. 1. do art. 615 do CPP” (STJ —
REsp 20.263/RJ — 5ª Turma — Rel. Min.. Cid Flaquer Scartezzini — DJ 23.11.1992
— p. 21.898).

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