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PROCESSO PENAL III – AULA 14

REVISÃO CRIMINAL
REVISÃO CRIMINAL
Coisa julgada é qualidade da sentença que torna imutáveis os seus efeitos.
Art. 5º, XXXVI, CF. Coisa julgada traz certeza jurídica e paz social.
Certeza x Paz Social? Ordenamento busca julgamento justo, probo,
afastando o vício ou erro. Busca-se a estabilidade da decisão justa!
É instrumento processual exclusivo da defesa que visa rescindir uma
sentença penal condenatória transitada em julgado.
Os processualistas a chamavam de recurso sui generis, mas trata-se, a rigor,
de uma ação impugnativa autônoma (instaura-se nova relação jurídica
processual com o seu ajuizamento), cujo pressuposto é a decisão
transitada em julgado (similar à ação rescisória civil).
• NATUREZA JURÍDICA: apesar de o CPP haver tratado da revisão
criminal no título destinado ao regramento dos recursos, prevalece o
entendimento segundo o qual tem ela a natureza de ação penal de
conhecimento de caráter desconstitutivo de sentença penal
condenatória ou absolutória imprópria.
imprópria

• PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO: não há prazo.


CONDIÇÕES DA AÇÃO
Deverá obedecer às condições de exercício das ações em geral
(legitimidade, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido).

• POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO


Sentença condenatória ou absolutória imprópria transitada em
julgado.
Observações pertinentes:
vedação de revisão pro societate e o ne bis in idem.
Não cabimento da revisão para fins de modificação dos fundamentos
da sentença absolutória própria.
Extinção da punibilidade: aqui verificar se ela ocorreu antes da decisão
condenatória ou absolutória imprópria.
imprópria
Se ocorreu antes não caberá revisão pois não há decisão condenatório ou
absolutória imprópria e sim extintiva da punibilidade. Se ocorrer a extinção
depois da decisão condenatório ou absolutória imprópria transitada em
julgado será possível a revisão criminal.
criminal
Decisão do júri e soberania dos veredictos: podemos falar em juízo
rescindente e rescisório. Rescindente (anular) e realizar novo plenário a
doutrina é pacífica. Em relação ao juízo rescisória (reforma) há divergência
doutrinária. Porém STF admite também.
também Confrontação da soberania com
dignidade da pessoa.
Juizado especial criminal: possível revisão criminal.
Transação penal: não é possível pois na transação não há condenação
ou absolvição imprópria (STJ, Resp 1.107.723/MS, rel. Min. Laurita
Vaz, j. 07.04.11).
• INTERESSE DE AGIR
Desconstituir sentença penal condenatória ou absolutória imprópria
transitada em julgado.
Observação:
Não se admite a utilização do HC em substituição da RC (STJ, HC
323.401/SPR, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 13.06.17)
• LEGITIMIDADE
Próprio réu ou por procurador legalmente habilitado (dispensa
poderes especiais), bem como, no caso de falecimento do acusado,
cônjuge/companheiro, ascendente, descendente ou irmão.

O Ministério Público pode figurar no pólo ativo? Há polêmica na


doutrinária quanto ao assunto. Para Ada Grinover, Renato Brasileiro,
sim. Mas a posição dominante na doutrina e na jurisprudência é a de
que não. O Ministério Público pode impetrar habeas corpus, mas não
revisão criminal. Ao Ministério Público cabe ocupar o pólo passivo na
revisão criminal em defesa da coisa julgada.
PEDIDOS POSSÍVEIS:
Juízo rescidente: rescisão, desconstituição, anulação.
Juízo rescisório: rejulgamento, reforma.
reforma

Pedidos, art. 626 CPP:


Anular
Absolver
Desclassificar infração
Modificar pena
HIPÓTESES DE CABIMENTO (art. 621, CPP)
• Quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei
penal ou à evidência dos autos;
Obs:
Na revisão criminal vigora o princípio do in dubio pro societate. Na dúvida,
a revisão será julgada improcedente.
Não cabe revisão criminal quando houver uma mudança na interpretação
dos tribunais.
• Quando a sentença condenatória fundar-se
fundar em depoimentos, exames ou
documentos comprovadamente falsos;
falsos
• Quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do
condenado ou de circunstâncias que determine ou autorize diminuição
da pena.
PROCEDIMENTO
• Inicia-se com o oferecimento da petição inicial, acompanhada da certidão
do trânsito em julgado e de algum documento que comprove as alegações
do autor.
• A prova é sempre pré-constituída (art.
(art 625, §1º, CPP).
• Dirigida ao Presidente do Tribunal, o qual pode indeferi-la liminarmente. Se
não indeferir, ele encaminha a um relator, que também pode indeferi-la
liminarmente.
• O Procurador Geral dará o parecer em dez dias (espécie de contestação -
defendendo a coisa julgada).
• A revisão volta para receber os pareceres do relator e do revisor, no prazo
de dez dias para cada e, após, tem-se
se o julgamento definitivo.
• STJ entende que o relator e o revisor não podem ter proferido nenhuma
decisão no processo originário.
• EFEITOS: se julgada procedente, poderá acarretar a alteração da
classificação da infração, a absolvição do réu, a modificação da pena
ou a anulação do processo; se julgada improcedente, só poderá ser
repetida se fundada em novos motivos.
motivos
COMPETÊNCIA
• Cada Tribunal é competente para o julgamento de seus próprios julgados.
Se a decisão condenatória transitou em julgado na 1ª instância, a revisão
criminal deve ser ajuizada no Tribunal que tem competência recursal para
aquela matéria.
• Nos Tribunais Superiores:
Se o Tribunal Superior não conheceu
nheceu ddo recurso a competência continua
sendo do Tribunal de 2º grau.
Se o Tribunal Superior conheceu do recurso (na parte que conheceu)
temos o efeito substitutivo. Agora a competência será do Tribunal
Superior para conhecer da Revisão Criminal (na parte que conheceu do
recurso).
RECURSOS
• Do indeferimento liminar da revisão criminal cabe recurso inominado
(em São Paulo esse recurso é o agravo interno).

• Do acórdão que julga a revisão criminal cabe recurso especial ou


recurso extraordinário.

Obs:: possível também embargos de declaração.


Observações Finais
• Cabe revisão criminal para rescindir sentença absolutória? Sim, no caso de absolvição imprópria.
• É requisito para a revisão criminal o prévio recolhimento do réu à prisão? Não, não é uma
condição. S 393 STF.
• A revisão criminal tem efeito suspensivo, isto é, suspende a execução da pena? Não. O
ajuizamento da revisão criminal não suspende a execução da pena (STJ, RHC 81.497/TO, rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonsenca, j. 09.05.17). Mas, segundo considerável doutrina, é possível a
aplicação subsidiária do art. 297 do CPC, com base no poder geral de cautela.
• A revisão criminal tem efeito extensivo aos demais agentes? Sim, aplica-se o art. 580, CPP na
revisão criminal.
• E a reformatio in pejus? A nova sentença não pode ser pior que a sentença rescindida: trata-se
da proibição da reformatio in pejus indireta.
• Ônus da prova? Incumbe ao condenado o ônus de provar o alegado. Razão? Já existe a
estabilidade trazida pela coisa julgada.
• Empate no julgamento da revisão? Prevalece a posição mais favorável ao condenado (STJ, HC
274.989/BA, rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 03.05.16)..
INDENIZAÇÃO ERRO JUDICIÁRIO
Art. 630 CPP: o interessado pode requerer uma justa indenização pelos
prejuízos sofridos na Revisão Criminal.
Criminal
Sempre é possível o pedido de indenização por erro judiciário? Em alguns
casos não. O autor da revisão precisa pedir expressamente, não sendo,
pois, um efeito automático da revisão.
revisão
Não é possível o pedido de indenização nos seguintes casos:
quando o réu de alguma forma colaborou na produção do documento
falso;
quando o réu colaborou com a ocultação da prova.
Obs: Não cabe revisão criminal de decisão de pronúncia, eis que não há
coisa julgada material.
JURISPRUDÊNCIA
“não modificou a sua noção, não ampliou o seu alcance e nem tornou
compulsória a intervenção do advogado em todos os processos.
Legítima, pois, a outorga, por lei em hipóteses excepcionais, do jus
postulandi a qualquer pessoa, como a ocorre na ação penal de
habeas corpus, ou ao próprio condenado sem referir outros — como
se verifica na ação de revisão criminal” (STF — RvC 4.886/SP —
Tribunal Pleno — Rel. p/ acórdão Min. Celso de Mello — DJ
23.04.1993 — p. 6.919).
“Revisão criminal — Legitimidade.
Legitimidade O Estado-acusador, ou seja, o
Ministério Público, não tem legitimidade para formalizar a revisão
criminal, pouco importando haver emprestado ao pedido o rótulo de
habeas corpus, presente o fato de a sentença já ter transitado em
julgado há mais de quatro anos da impetração e a circunstância de
haver-se arguido a competência da Justiça Federal, e não da Justiça
Estadual, sendo requerente o Procurador da República” (STF — RHC
80.796/SP — 2ª Turma — Rel. Min.
Min Marco Aurélio — DJ 10.08.2001
—p. 20)
“Para que reste caracterizada a hipótese de condenação contrária à
evidência dos autos, há de exsurgir da decisão combatida a total ausência
de qualquer elemento probatório capaz de sustentar a condenação. Não se
pode confundir revisão criminal, que tem requisitos específicos para o seu
ajuizamento, com novo recurso de apelação. 2.Tendo o Tribunal do Júri
afastado a tese da legítima defesa por cinco votos a dois, não cabe ao
Tribunal a quo, em revisão criminal, reconhecer a legítima defesa, uma vez
que o objetivo dessa ação é assegurar a correção de um erro judiciário, o
que não ocorre quando sobre a prova haja uma interpretação aceitável e
ponderada. 3. Recurso especial conhecido e provido, para restabelecer a
decisão proferida pelo Tribunal do Júri” (STJ — REsp1.022.546/SP — 5ª
Turma — Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima — julgado em 16.04.2009 — DJe
18.05.2009).

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