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Direito Processual Penal

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO


CABIMENTO
Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença (art. 581 do CPP):
 Que não receber a denúncia ou a queixa;
o Esta rejeição pode ser total ou parcial.
o Também é cabível recurso em sentido estrito da decisão que recebe a denúncia com
capitulação diversa daquela atribuída ao fato pelo Ministério Público, uma vez que tal
pronunciamento equivale à rejeição.
o A decisão que rejeita o aditamento da denúncia ou queixa também pode ser tacada por
RESE.
o No rito sumariíssimo, a decisão que rejeita a denúncia ou queixa pode ser atacada por meio
de recurso de apelação (art. 82, caput, da Lei 9.099/95).
o Nos processos de competência originária dos Tribunais, a decisão que rejeita a denúncia ou
queixa pode ser atacada por meio de agravo (art. 39 da Lei 8.038/90).
o De acordo com a Súmula 709 do STF: “Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o
acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo
recebimento dela”.
 Que concluir pela incompetência do juízo;
o Trata-se da hipótese em que o juiz, de ofício, declara a sua incompetência, pois, se o
reconhecimento se der em razão de exceção de incompetência, será cabível recurso em
sentido estrito com fundamento no art. 581, III, do CPP (“decisão que julgar procedentes
as exceções, salvo de suspeição”).
 Que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;
o No art. 95 do CPP estão previstas as exceções de suspeição, de incompetência, de
litispendência, de ilegitimidade de parte e de coisa julgada.
o Só não caberá RESE contra a decisão que acolher a suspeição, pois, se o juiz se julgar
suspeito, a parte não terá interesse recursal.
o Não há recurso cabível contra as decisões que julgam improcedentes as exceções
invocadas. Contudo, é sempre possível o ingresso de Habeas Corpus.
 Que pronunciar o réu;
o A decisão que impronuncia o réu desafia recurso de apelação (art. 416 do CPP).
 Denomina-se apelação supletiva a pretensão recursal externada pelo ofendido,
seu representante, seu cônjuge, seu ascendente, seu descente ou seu irmão em
razão da inércia do Ministério Público frente à decisão de impronúncia.
 Que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão
preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante;
o Para FMB, em razão de o art. 581 do CPP só admitir interpretação analógica nos casos de
lacuna involuntária da lei, são irrecorríveis: a decisão que decreta a prisão preventiva; a
decisão que indefere pedido de relaxamento de flagrante; e a decisão que não concede
liberdade provisória. Contudo, há, para estas hipóteses, a possibilidade de a parte se valer
de habeas corpus.
o Renato Brasileiro entende que a regra supramencionada deve ser objeto de interpretação
extensiva e assim admite a interposição de Recurso em Sentido Estrito contra decisão que
indeferir requerimento de medidas cautelares pessoais.
 Que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;
o A fiança será julgada quebrada quando o réu (art. 341 e art. 328, ambos do CPP):
 Regularmente intimado para ato do processo, deixar de comparecer, sem motivo
justo;
 Deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento do processo;
 Descumprir medida cautelar imposta cumulativamente com a fiança;
 Resistir injustificadamente a ordem judicial;
 Praticar nova infração penal dolosa.
 Mudar de residência, sem prévia permissão da autoridade processante, ou
ausentar-se por mais de 8 (oito) dias de sua residência, sem comunicar àquela
autoridade o lugar onde será encontrado.
o O quebramento injustificado da fiança importa na perda de metade de seu valor, cabendo
ao juiz decidir sobre a imposição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a
decretação da prisão preventiva (art. 343 do CPP).
o O RESE interposto contra a decisão que decreta a quebra da fiança somente suspende o
efeito da perda da metade do valor da referida garantia (art. 584, § 3º, do CPP)

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o Nestas hipóteses, o recurso também pode ser interposto pelo fiador da garantia que, apesar
de ser sujeito secundário do processo, também pode vir a ser atingido pela referida decisão.
o O perdimento da fiança ocorre nos casos em o réu, condenado, não se apresenta para o
início do cumprimento da pena que definitivamente lhe foi imposta.
 O art. 347 do CPP estabelece que: não ocorrendo a quebra da fiança, o seu saldo
será entregue a quem houver prestado a fiança, depois de deduzidos os encargos a
que o réu estiver obrigado.
 Já o art. 336 do CPP preceitua que: o dinheiro ou objetos dados como fiança
servirão ao pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação
pecuniária e da multa, se o réu for condenado.
 Que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;
o Trata-se da decisão que, de ofício ou mediante requerimento, reconhece a presença de
causa extintiva de punibilidade.
o Nestas hipóteses, se o Ministério Público deixar de interpor recurso, a sua inércia poderá
ser suprida pela interposição de recurso por parte do assistente de acusação (art. 271 e art.
584, § 1º, do CPP), pelo ofendido ou pelo CADI (art. 31 e art. 598, ambos do CPP).
o Se a causa extintiva de punibilidade estiver prevista na lei de execuções penais, não será
cabível o RESE, mas sim o agravo em execução (art. 197 da Lei 7.210/84).
 Que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade;
 Que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;
o Somente a decisão concessiva ou denegatória da ordem de habeas corpus proferida por
juiz singular é que pode ser atacada por meio de RESE.
 A jurisprudência proclama que, no caso de decisão denegatória, ao invés de
impetrar RESE, a parte pode intentar novo HC, agora direcionado ao tribunal
contra o ato do juiz singular que, a partir da denegação, tornou-se a autoridade
coatora.
o O Ministério Público, apesar de não intervir no processo de habeas corpus que tramita em
primeiro grau, deve ser, obrigatoriamente, intimado da decisão, pois pode recorrer em
sentido estrito representando o Estado-Administração.
o A decisão concessiva de habeas corpus, proferida por tribal, somente pode ser atacada por
Recurso Ordinário Constitucional.
o A decisão do tribunal que conceder a ordem de habeas corpus sujeita-se a recurso de ofício
(art. 574, I, do CPP).
 Que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;
o Entende a doutrina que não há lugar para a interposição de recurso contra as decisões que
concedem, negam ou revogam o sursis, pois, de um lado, a decisão que concede ou nega o
referido benefício é, na verdade, uma sentença (afinal, ao proferir a sentença condenatória,
o juiz concede ou nega o sursis de acordo com o preenchimento dos requisitos do art. 77
do CP) e assim sendo, deve ser atacada por recurso de apelação; ao passo que, de outo
lado, a decisão que revoga o sursis ocorre na fase de execução de pena e, com efeito,
somente pode ser ataca por agravo em execução.
 Que conceder, negar ou revogar livramento condicional;
o Esta hipótese foi tacitamente revogada pela Lei 7.210/84, que previu o agravo em
execução como recurso hábil para impugnar quaisquer decisões proferidas em sede de
execução de pena.
 Que anular (de ofício ou a requerimento da parte) o processo da instrução criminal, no todo ou em
parte;
o Esta hipótese recebe uma interpretação extensiva por parte da doutrina para o fim de
viabilizar a admissão de recurso em sentido estrito contra a decisão interlocutória que
determina o desentranhamento de prova ilícita (art. 157 do CPP).
 Que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;
o É de vinte dias o prazo conferido para a interposição de RESE contra a decisão que inclui
ou exclui jurado da lista geral.
o Há doutrinadores que sustentam que esta hipótese recursal não mais subsiste em razão da
modificação do art. 426, § 1º, do CPP (que deixou de prever o cabimento de RESE contra
as decisões supramencionadas) pela Lei 11.689/08.
o Seja um ou outro o posicionamento adotado, jamais será possível a interposição de RESE
contra a decisão que incluir ou excluir jurado da lista geral provisória.
 Que denegar a apelação ou a julgar deserta;
 Que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;
o As questões prejudiciais estão previstas nos arts. 92 à 94 do CPP, segundo os quais

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 Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de
controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o
curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia
dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição
das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.
Parágrafo único. Se for o crime de ação pública, o Ministério Público, quando
necessário, promoverá a ação civil ou prosseguirá na que tiver sido iniciada, com
a citação dos interessados.
Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão
sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo
cível, e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal poderá,
desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova
a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das
testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente.
§ 1º. O juiz marcará o prazo da suspensão, que poderá ser razoavelmente
prorrogado, se a demora não for imputável à parte. Expirado o prazo, sem que o
juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal fará prosseguir o processo,
retomando sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria da
acusação ou da defesa.
Do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso.
3º. Suspenso o processo, e tratando-se de crime de ação pública, incumbirá ao
Ministério Público intervir imediatamente na causa cível, para o fim de promover-
lhe o rápido andamento.
Art. 94. A suspensão do curso da ação penal, nos casos dos artigos anteriores,
será decretada pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes.
o Somente a decisão que decreta a suspensão do processo comporta RESE. A decisão que
indefere o pedido de suspensão é irrecorrível (art. 93, § 2º, do CPP)
 Que decidir sobre a unificação de penas;
o Para a doutrina majoritária, esta hipótese foi tacitamente revogada pela Lei 7.210/84, que
previu o agravo em execução como recurso hábil para impugnar quaisquer decisões
proferidas em sede de execução de pena.
o A doutrina minoritária aduz que a hipótese em apreço continua em vigor em razão de a
matéria concernente à unificação de penas ter sido regulamentada pelo art. 82 do Código
de Processo Penal e não pela Lei de Execução Penal.
 Que decidir o incidente de falsidade;
o O incidente de falsidade encontra-se regulamentado do art. 145 ao art. 148 do Código de
Processo Penal.
o A falsidade de um documento juntado ao processo pode ser arguida pela parte,
pessoalmente ou por meio de procurador com poderes especiais.
o O incidente também pode ser instaurado de ofício pelo juiz.
o Qualquer que seja a hipótese de iniciativa, o incidente deve ser autuado em apartado, com a
suspensão do curso do processo principal. Depois de intimada a parte contrária, para que
se manifeste a respeito da arguição, o juiz assinalará o prazo sucessivo de três dias para que
as partes comprovem suas alegações, podem ordenar as diligências que entender
necessárias.
o Reconhecida ou não a falsidade, será cabível RESE.
 Que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado; que impuser medida
de segurança por transgressão de outra; que mantiver, substituir, revogar ou deixar de revogar (nos
casos em que a lei admita revogação) a medida de segurança;
o Estas hipóteses foram tacitamente revogadas pela Lei 7.210/84, que previu o agravo em
execução como recurso hábil para impugnar quaisquer decisões proferidas em sede de
execução de pena.
 Que converter a multa em detenção ou em prisão simples.
o Esta hipótese de RESE se tornou inaplicável, pois o art. 51 do CP, que previa a
possibilidade de conversão da pena de multa em prisão, teve sua redação alterada pela Lei
9.268/96, que tornou impossível a referida conversão.
 Após a referida modificação, o art. 51 do CP passou a dispor que: transitada em
julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor,
aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda
Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da
prescrição.

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A doutrina preconiza que as hipóteses de cabimento do recurso em sentido estrito são taxativas.
 O STF vem flexibilizando este posicionamento e admitindo a interposição deste recurso em outros
casos com base em interpretação extensiva e em analogia (HC 75.798-DF); contudo, a ampliação do
leque de possibilidades só tem cabimento para hipóteses assemelhadas, quando restar evidente o
intuito do legislador de alcança-las.
 O STJ também flexibilizou o rol do art. 581 do CPP e admitiu a interposição de recurso em sentido
estrito contra decisões que indeferiram pedidos de produção antecipada de provas (REsp 532.259 –
SC e REsp 245.708 – SP), com base na aplicação analógica do art. 581, XVI, do CPP (que aventa a
possibilidade de interposição de RESE contra a decisão que ordena a suspensão do processo em
razão de questão prejudicial).
PRAZO
Como regra, o RESE deve ser interposto no prazo de 05 (cinco) dias (art. 586, caput, do CPP); contudo, será
de 20 (vinte) dias o prazo para a interposição de RESE contra decisão que incluir ou excluir jurado da lista
geral (art. 586, parágrafo único, do CPP).

No caso de RESE supletivo ou subsidiário, interposto pelo ofendido ou pelo CADI no caso de inércia do
Ministério Público, em relação à decisão que extinguir a punibilidade, o prazo de interposição será de 15
(quinze) dias, contado da data em que se escoar o prazo do Ministério Público (art. 584, § 1º, e art. 598,
parágrafo único, ambos do CPP).

No caso de RESE supletivo ou subsidiário, interposto pelo assistente de acusação no caso de inércia do
Ministério Público, em relação à decisão que extinguir a punibilidade, o prazo de interposição será de 05
(cinco) dias, contado da data em que se escoar o prazo do Ministério Público.

Independentemente do prazo previsto para a interposição do recurso, as razões recursais sempre deverão ser
apresentadas dentro do prazo de 02 (dois) dias (art. 588, caput, do CPP).
PROCEDIMENTO
O RESE pode ser interposto por petição ou por termo nos autos perante o juiz prolator da decisão recorrida.

Recebido o recurso, o recorrente será intimado para oferecer as razões dentro do prazo de dois dias.
 Ao contrário do que ocorre na apelação, no RESE, o recorrente não pode apresentar suas razões
perante o Tribunal (art. 600, § 4º, do CPP).

O RESE poderá ser processado:


 Nos próprios autos; quando:
o For interposto contra decisão que acolher exceções, salvo a de suspeição;
o For interposto contra decisão que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a
fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade
provisória ou relaxar a prisão em flagrante;
o For interposto contra decisão que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta
a punibilidade;
o For interposto contra decisão que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;
o O seu processamento não prejudicar o andamento do processo;
 Por meio de instrumento, nas demais hipóteses.
o Neste caso, a parte deve indicar na petição ou no termo de interposição quais peças devem
ser transladadas para a formação do instrumento (art. 587 do CPP).
o O traslado será extraído, conferido e concertado no prazo de cinco dias, e dele constarão
sempre a decisão recorrida, a certidão de sua intimação, se por outra forma não for
possível verificar-se a oportunidade do recurso, e o termo de interposição.

O recurso em sentido estrito interposto contra a decisão de pronúncia, em regra, deve ser processado nos
próprios autos, porém, quando houver mais de um réu e um deles não tiver recorrido ou não tiver sido
intimado, o RESE se processará por meio de instrumento.

Apresentadas as razões e as contrarrazões, os autos devem ser encaminhados ao juiz, que, dentro de dois dias,
reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso com os traslados que Ihe parecerem
necessários.

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 Se o juiz reformar a decisão/sentença recorrida, a parte contrária, por simples petição, poderá
recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz modificá-la. Neste caso,
independentemente de novos arrazoados, subirá o recurso nos próprios autos ou em traslado.
 Se o juiz mantiver sua decisão, os autos serão remetidos ao tribunal.
 Se a decisão sofrer reforma parcial, os autos serão remetidos ao tribunal para fins de apreciação do
recurso no tocante à parte da decisão que não foi modificada.
EFEITOS
A interposição do recurso em sentido estrito produz os seguintes efeitos:
 Devolutivo: devolve-se ao Tribunal tudo que foi objeto de impugnação.
 Extensivo: a interposição do recurso em sentido estrito aproveitará aos demais réus naquilo que não
se fundar em matéria de cunho eminentemente pessoal (art. 580 do CPP).
 Regressivo: consiste na possibilidade de o juiz a quo reavaliar a decisão recorrida por meio do “Juízo
de Retratação”.
 Suspensivo: como regra, o RESE não produz efeito suspensivo, salvo nos casos de (art. 584 do
CPP):
o Perda ou de quebra da fiança;
 No caso de quebra da fiança, somente se suspenderá o efeito da perda de metade
do seu valor.
o Concessão de livramento condicional;
o Decisão que denegou seguimento ou que julgou deserta a apelação;
o Decisão que decretou o perdimento da fiança;
o Decisão de pronúncia;
 Neste caso somente se suspenderá a realização do júri.
RECURSO DE APELAÇÃO
É o recurso cabível contra decisões definitivas ou com força de definitivas proferidas em primeira instância,
desde que não exista previsão legal de cabimento de outro recurso.

Segundo a doutrina, a apelação é considerada um “recurso preferível”, pois, se de parte da decisão couber
apelação e de outra parte couber recurso em sentido estrito, o único recurso cabível será o de apelação, ainda
que se recorra apenas de parte da decisão. Tal regra decorre do princípio da unirrecorribilidade.

A apelação pode ser (art. 599 do CPP):


 Plena/ampla: quando devolver ao Tribunal ad quem a totalidade da matéria decidia em primeira
instância;
 Limitada/parcial/restrita: quando devolver ao Tribunal ad quem apenas parte da matéria decidia em
primeira instância;
o Nestas hipóteses, o limite do inconformismo deve se identificado na petição ou no termo
de interposição do recurso, não podendo a parte, nas razões, ampliar o âmbito do
inconformismo, alterando sua pretensão limitada. Tal impossibilidade decorre do princípio
tantum devolutum quantum appelatum, segundo o qual somente se devolve ao Tribunal ad quem
a matéria que foi objeto de inconformismo da parte. Com efeito, não pode o Tribunal
julgar ultra petita.
o A Súmula 713 do STF preceitua que o efeito devolutivo da apelação contra decisões do
Júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição.
CABIMENTO
Cabe apelação (art. 416 e art. 593, ambos do CPP):
 Das sentenças definitivas de condenação ou absolvição (leia-se: meritórias) proferidas por juiz
singular;
o As sentenças definitivas, proferidas por juiz federal, que condenam ou absolvem o réu da
prática de crime político somente podem ser atacadas por recurso ordinário constitucional,
que deverá ser dirigido ao STF (art. 102, II, da CF);
 Das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos em que
não for cabível RESE;
o As decisões definitivas são aquelas que, mesmo não julgando o mérito, põe termo ao
processo (v.g. decisão que indefere o pedido de restituição de bem e decisão que autoria o
levantamento do sequestro).
o As decisões com força de definitivas são as decisões interlocutórias mistas que, apesar
de não decidirem o mérito, põe fim à relação processual (decisões interlocutórias mistas

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terminativas) ou põe fim a uma etapa do procedimento (decisões interlocutórias mistas não
terminativas).
 Na maioria das vezes as decisões interlocutórias mistas (terminativas ou não) são
atacáveis por meio de RESE, contudo, em algumas hipóteses, o recurso adequado
é a apelação, como ocorre, por exemplo, com decisão que, sem julgar o pedido de
restituição de bem, remete as partes ao juízo cível para a solução da controvérsia
(art. 1200, § 4º, do CPP).
 Das decisões do Tribunal do Júri, quando:
o Ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
 Para que possa ser objeto de apelação, a nulidade relativa ocorrida após a
pronúncia deve ter sido arguida logo depois de anunciado o julgamento e
apregoadas as partes, sob pena de preclusão e consequente convalidação (art. 571,
V, do CPP). Se, apesar de arguida, a nulidade relativa for refutada pelo juiz
presidente, abrir-se-ão as portas para o recurso de apelação.
 A nulidade absoluta, mesmo que anterior à pronúncia, pode ser arguida em sede
de apelação.
 Se o tribunal acolher a tese de nulidade, ele anulará o julgamento e determinará a
renovação dos atos reputados inválidos. O tribunal não pode modificar a decisão
dos jurados em razão do princípio da soberania dos vereditos.
o For a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;
 Neste caso, ao acolher a pretensão recursal, o tribunal ajustará a sentença
proferida pelo juiz presidente àquilo que houver sido efetivamente decidido pelos
jurados sem, contudo, anular o julgamento.
o Houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;
 Neste caso, acolhendo a pretensão recursal, o Tribunal se limitará a retificar a
aplicação da pena ou da medida de segurança.
o For a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos;
 Nesta hipótese, reconhecendo que o veredicto dos jurados é manifestamente
contrário à prova dos autos, o Tribunal anulará o julgamento realizado
determinando que o réu seja submetido a novo julgamento.
 Neste caso, mesmo acolhendo a pretensão recursal, o tribunal não pode
modificar a decisão dos jurados em razão do princípio da soberania dos vereditos.
 Não se admite, pelo mesmo motivo (“decisão contrária à prova dos autos”), uma
segunda apelação, independentemente de ter sido, na segunda decisão,
sucumbente a parte contrária (art. 593, § 3º, do CPP).
o Em todas as hipóteses acima, ao interpor o recurso, a parte deve indicar qual dentre as
hipóteses supra o motiva, sob pena de o recurso não ser conhecido.
 Da decisão de impronúncia e da decisão de absolvição sumária proferidas no rito do tribunal do júri;
PRAZO
A apelação deve ser interposta no prazo de 05 (cinco) dias (art. 593, caput, do CPP).

Na hipótese de apelação subsidiária/supletiva, interposta pelo ofendido ou pelo CADI em razão da inércia do
Ministério Público, o prazo de interposição será de 15 (quinze) dias e começará a fluir após o término do
prazo conferido ao Ministério Público (art. 598 do CPP).

Na hipótese de apelação subsidiária/supletiva, interposta pelo assistente de acusação diante da inércia do


Ministério Público, o prazo de interposição será de 05 (cinco) dias.
 Em princípio, o prazo deste recurso começa a fluir após o término do prazo conferido ao Ministério
Público (Súmula 448 do STF). Contudo, esta regra só tem valia nos casos em que o assistente de
acusação é intimado da sentença antes do Ministério Público ou durante a fluência do prazo recursal
deste último. Se vier a ser intimado após o término do prazo recursal do parquet, o prazo do
assistente de acusação começará a fluir a partir da data de sua intimação.

As razões do recurso de apelação devem ser apresentadas dentro do prazo de 08 (oito) dias (art. 600, caput, do
CPP).

Nos processos que tramitam sobre o rito sumariíssimo, o prazo para a interposição do recurso de apelação
(devidamente acompanhado das razões recursais) é de 10 (dez) dias (art. 82, § 1º, da Lei 9.099/95).
PROCESSAMENTO

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Interposta a apelação, por petição ou termo nos autos, perante o juiz a quo, este realizará o controle prévio de
admissibilidade do recurso, denominado de “juízo de prelibação”.
 Se depois de receber a apelação, o juiz constatar que a pretensão recursal não deve ser admitida, ele
poderá reconsiderar sua decisão.
 A decisão que rejeita a interposição do recurso de apelação pode ser atacada por meio de RESE.

Ultrapassada a fase do exame de admissibilidade da apelação, a parte será intimada para apresentar as razões
recursais (que deverão ser dirigidas ao tribunal) dentro prazo de oito dias e na sequência, o requerido
apresentará suas contrarrazões em igual prazo.
 Segundo a doutrina e a jurisprudência majoritárias, quando o recurso é tempestivamente interposto,
a apresentação das razões recursais fora do prazo legal não o torna intempestivo, caracterizando,
destarte, mera irregularidade.
 Se a parte recorrida juntar algum documento às suas contrarrazões, o recorrente será intimado para
sobre ele se manifestar, sob pena de ofensa ao princípio do contraditório.
 Se o apelante declarar, na petição ou no termo, ao interpor a apelação, que deseja arrazoar na
superior instância serão os autos remetidos ao tribunal ad quem onde, observados os prazos legais,
será concedido vista às partes que serão notificadas através de publicação oficial (art. 600, § 4º, do
CPP).
 A doutrina e a jurisprudência majoritárias entendem que é imprescindível que as partes apresentem
as razões recursais e as contrarrazões, pois sem estas não é possível se ter conhecimento sobre a
exata extensão da pretensão recursal. Assim, ainda que o art. 600, § 4º, do CPP autorize a remessa
dos autos ao tribunal com ou sem as razões e/ou as contrarrazões recursais, o juiz deve velar para
que os autos somente sejam remetidos ao tribunal após a apresentação das sobreditas peças.
o Se o representante do Ministério Público se recusar a apresentar as razões ou as
contrarrazões, o juiz deve remeter os autos ao procurador-geral, por aplicação analógica do
art. 28 do CPP, afinal, o ministério público não pode desistir do recurso por ele interposto
e nem deixar de contra-arrazoar o recurso interposto pelo réu em razão do princípio da
indisponibilidade.
 A ausência das razões ou contrarrazões do Ministério Público leva o processo à
nulidade (art. 564, III, “d”, do CPP).
o Em se tratando de recurso interposto pelo réu (representado por defensor constituído) ou
por seu defensor constituído, a falta das razões recursais desencadeará a necessidade de o
réu ser intimado para constituir novo defensor para apresentar suas razões recursais, sob
pena de lhe ser nomeado um defensor dativo.
 De acordo com a Súmula 708 do STF é nulo o julgamento da apelação se, após a
manifestação nos autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente
intimado para constituir outro.
o Em se tratando de recurso interposto pelo réu representado por defensor dativo, a falta das
razões recursais desencadeará a revogação da nomeação do defensor dativo e a nomeação
de um novo procurador para apresentar as razões recursais.
o Havendo assistente de acusação, este arrazoará o recurso no prazo de 03 (três) dias após o
Ministério Público, salvo quando a pretensão recursal houver sido intentada por ele, pois,
nestes casos, será de 08 (oito) dias o prazo para a apresentação do arrazoado.

Na ação penal pública e na ação penal privada subsidiária o Ministério Público sempre poderá interpor
apelação, tenha sido o réu condenado ou absolvido.

Já na ação penal privada exclusiva e na ação penal privada personalíssima, o Ministério Público somente
poderá apelar nos casos em que o réu vier a ser condenado, na condição de custos legis e visando a exata
aplicação da lei penal.
 Na hipótese de o Ministério Público interpor apelação em favor do réu condenado, se este também
vier a ingressar com apelação, o recurso interposto pelo parquet será tido por prejudicado, já que não
se admite a dualidade de recursos com o mesmo objetivo em relação a mesma parte.
 Na ação penal privada, o Ministério Público poderá se manifestar sobre a sentença condenatória
dentro do prazo de 03 (três) dias após a apresentação das contrarrazões (art. 600, § 2º, do CPP).

Com a juntada das contrarrazões os autos serão remetidos ao juízo ad quem, que, em um primeiro momento,
realizará novo exame de admissibilidade, denominado “juízo de delibação”.

Após ser devidamente admitida, a apelação será conhecida e no mérito poderá ser provida ou desprovida.
EFEITOS

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Direito Processual Penal
A interposição do recurso de apelação produz os seguintes efeitos:
 Devolutivo: devolve-se ao Tribunal tudo que foi objeto de impugnação.
 Extensivo: a interposição do recurso em sentido estrito aproveitará aos demais réus naquilo que não
se fundar em matéria de cunho eminentemente pessoal (art. 580 do CPP).
 Suspensivo: o efeito suspensivo não ocorre nos casos em que a pretensão recursal se erige contra
uma sentença absolutória, assim, a absolvição do réu preso desencadeia a sua imediata libertação
(art. 596 do CPP); lado outro, a pretensão recursal gozará de efeito suspensivo nos casos em que a
pretensão recursal objetiva a reforma de uma sentença condenatória; nada obsta, no entanto, que ao
proferir a sentença condenatória o juiz venha a decretar, fundamentadamente, a prisão preventiva
do acusado.

O recurso de apelação não goza de efeito regressivo.

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