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RECURSO EM SENTIDO ESTRITO (RESE)

* CABIMENTO: O RESE destina-se à impugnação dos atos


judiciais TAXATIVAMENTE elencados no artigo 581 do
CPP. Quando nos depararmos com uma SENTENÇA,
devemos analisar o artigo 581 do CPP. Caso a situação
não esteja prevista no referido dispositivo legal, caberá
apelação, que funciona de forma residual, ou seja,
quando não couber RESE. Vamos analisar individualmente
cada hipótese prevista no artigo 581 do CPP.

I – que não receber a denúncia ou queixa:

 Juizado Especial Criminal: Da rejeição da denúncia ou


da queixa cabe APELAÇÃO (art. 82 da Lei nº
9.099/95)
 Súmula 707 do STF: Constitui nulidade a falta de
intimação do denunciado para oferecer
contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da
denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor
dativo.
 Súmula 709 do STF: Salvo quando nula a decisão de
primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra
a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo
recebimento dela.
 Decisão de recebimento da denúncia ou queixa :
IRRECORRÍVEL, podendo ser impetrado HC para
traçar a ação penal, havendo fundamento legal para
tanto (manifesta atipicidade da conduta, presença
de causa de extinção da punibilidade ou ausência de
indícios mínimos de autoria e materialidade
delitivas).

II – que concluir pela incompetência do juízo:

 Inciso autoexplicativo. Havendo qualquer declaração


de incompetência do juízo, cabe RESE. Por tal
motivo, quando o Magistrado, no final da primeira
fase do procedimento do júri (judicium accusationis),
profere decisão desclassificatória, reconhecendo não
se tratar de crime doloso contra a vida (art. 419 do
CPP), cabe RESE com fundamento no inciso II do
artigo 581.

III – que julgar procedentes as exceções, salvo a de


suspeição:

 As exceções são procedimentos incidentais que


permitem alegar a ausência das condições da ação
e/ou dos pressupostos processuais. São elas:
exceção de suspeição ou impedimento, de
incompetência, de litispendência, de coisa julgada e
de ilegitimidade de parte.
 Da PROCEDÊNCIA da exceção cabe RESE, salvo da
procedência da exceção de SUSPEIÇÃO, que é
irrecorrível.
 A IMPROCEDÊNCIA da exceção é irrecorrível, nada
impedindo, se for o caso, a impetração de mandado
de segurança ou habeas corpus, ou que a matéria
seja rediscutida ao final do processo em preliminar
de futura apelação.
 ATENÇÃO: Se o Juiz reconhece DE OFÍCIO a
ilegitimidade, a litispendência ou a coisa julgada, ou
seja, sem que nenhuma parte tenha oferecido
exceção a respeito, cabe APELAÇÃO, conforme artigo
593, inciso II, do CPP.
 No Código de Processo Penal Militar, a
improcedência da exceção de incompetência é
recorrível (artigo 145 do CPPM).

IV – que pronunciar o réu:

 A pronúncia é a decisão interlocutória mista não


terminativa, que remete o réu ao plenário do
Tribunal do Júri para julgamento. Contra a decisão
de PRONÚNCIA cabe RESE.
 Porém, contra a sentença de IMPRONÚNCIA cabe
APELAÇÃO.
 MACETE: Vogal-Vogal (Impronúncia-Apelação) /
Consoante-Consoante (Pronúncia-Rese).

V – que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar


inidônea a fiança. Que indeferir requerimento de prisão
preventiva ou revogá-la. Que conceder liberdade
provisória ou relaxar a prisão em flagrante.

 Das decisões sobre fiança cabe RESE.


 Se a decisão privilegia a liberdade do agente
(indefere preventiva ou a revoga, concede liberdade
provisória e relaxa a prisão), cabe RESE.

VI – REVOGADO.
 Tratava da absolvição sumária no júri, atualmente
disciplinada no artigo 415 do CPP, que atualmente
comporta apelação (artigo 416 do CPP).

VII – que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu


valor:

 A quebra da fiança é ocasionada pelo


descumprimento das obrigações impostas ao
afiançado (artigos 327, 328 e 341 do CPP). Já a perda
se origina pela fuga do réu após o trânsito em
julgado da sentença condenatória, ilidindo o início
da execução da pena (artigo 344 do CPP). Na quebra
da fiança, metade do valor caucionado será
destinada ao Fundo Penitenciário Nacional
(FUNPEN), enquanto na perda da fiança, a
integralidade do valor remanescente irá ao referido
fundo.
 Como já mencionado no comentário do inciso
anterior, das decisões sobre fiança cabe RESE.

VIII – que decretar a prescrição ou julgar, por outro


modo, extinta a punibilidade:

 A maioria das hipóteses de extinção de punibilidade


está elencada no artigo 107 do Código Penal e são
passíveis de definitividade pela coisa julgada
matéria. Podemos citar outros exemplos fora do
referido dispositivo legal, como o artigo 312, § 3º, do
CP e o cumprimento integral da suspensão
condicional do processo (artigo 89, § 5º, da Lei nº
9.099/95).

IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da


prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade:

 Negada a extinção da punibilidade, também cabe


RESE, sem prejuízo de eventual habeas corpus
(artigo 648, inciso VII, do CPP).

X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus:

 Tal previsão é para o julgamento do HC pelo juízo de


primeiro grau.
 Sendo concedido o HC, ainda que não tenha sido
interposto RESE, deve o Juiz remeter sua decisão
para reapreciação do Tribunal, por força do recurso
de ofício previsto no artigo 574, inciso I, do CPC.

XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão


condicional da pena:

 Tal inciso não tem mais aplicação, pois se o sursis da


pena (artigo 77 do CP) for objeto da sentença
condenatória, caberá APELAÇÃO.
 Por sua vez, se for tratada na fase de execução
penal, o recurso adequado é o AGRAVO EM
EXECUÇÃO (artigo 197 da Lei nº 7.210/84).

XII - que conceder, negar ou revogar livramento


condicional:
 Tal inciso não tem mais aplicação, visto que as
decisões interlocutórias proferidas pelo juiz da
execução são agraváveis (artigo 197 da Lei nº
7.210/84).

XIII - que anular o processo da instrução criminal, no


todo ou em parte:

 Reconhecida a nulidade da instrução criminal, cabe


RESE.
 Negada a nulidade, nada impede que a matéria seja
arguida novamente em preliminar de futura
apelação, e sendo o vício evidente, subsiste a
possibilidade de impetração de HC.

XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir:

 A doutrina majoritária entende que tal inciso não


tem mais aplicação, uma vez que cabe RECLAMAÇÃO
ao Juiz Presidente do Tribunal do Júri, até o dia 10 de
novembro de cada ano, data da publicação da lista
definitiva (artigo 426, § 1º, do CPP).
 Conforme disposto no parágrafo único do artigo 582
do CPP, o RESE na hipótese em análise deve ser
endereçado ao Presidente do Tribunal de Justiça ou
do TRF, para os crimes de competência federal
(artigo 109 da CR/88).

XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta:


 A rejeição da apelação se deve pelo não
atendimento dos pressupostos de admissibilidade
recursal, enquanto a deserção ocorre pela ausência
do preparo, quando exigível, sendo certo que não
mais subsiste a deserção pela fuga.

XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude


de questão prejudicial:

 Prejudiciais são questões ligadas ao mérito e que


precisam ser resolvidas para que se possa decidir
sobre a causa principal (artigos 92 e 93 do CPP). É
possível que a prejudicial precisa ser resolvida na
seara extrapenal, suspendendo-se a ação penal e o
prazo prescricional (exemplo: a discussão sobre a
validade do primeiro casamento para o
enquadramento ou não no crime de bigamia). A
decisão que determina a suspensão do processo em
razão de questão prejudicial compota RESE.
 Negada a suspensão, não cabe recurso, podendo ser
impetrado HC ou mandado de segurança,
dependente dos interesses da defesa ou da
acusação.

XVII - que decidir sobre a unificação de penas:

 Tal inciso não tem mais aplicação, visto que as


decisões interlocutórias proferidas pelo juiz da
execução são agraváveis (artigo 197 da Lei nº
7.210/84).
XVIII - que decidir o incidente de falsidade:

 Havendo dúvida quanto à idoneidade de documento


acostado aos autos, admite-se a instauração do
procedimento incidental para aferição da
autenticidade ou falsidade do aludido documento.
Da decisão que julga o incidente, seja procedente ou
não, cabe RESE.

XIX - que decretar medida de segurança, depois de


transitar a sentença em julgado:

 Tal inciso não tem mais aplicação, visto que as


decisões interlocutórias proferidas pelo juiz da
execução são agraváveis (artigo 197 da Lei nº
7.210/84).

XX - que impuser medida de segurança por transgressão


de outra:

 Tal inciso não tem mais aplicação, visto que as


decisões interlocutórias proferidas pelo juiz da
execução são agraváveis (artigo 197 da Lei nº
7.210/84).

XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança,


nos casos do artigo 774:

 Tal inciso não tem mais aplicação, visto que as


decisões interlocutórias proferidas pelo juiz da
execução são agraváveis (artigo 197 da Lei nº
7.210/84).

XXII - que revogar a medida de segurança:

 Tal inciso não tem mais aplicação, visto que as


decisões interlocutórias proferidas pelo juiz da
execução são agraváveis (artigo 197 da Lei nº
7.210/84).

XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos


casos em que a lei admita a revogação:

 Tal inciso não tem mais aplicação, visto que as


decisões interlocutórias proferidas pelo juiz da
execução são agraváveis (artigo 197 da Lei nº
7.210/84).

XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão


simples:

 Em razão da nova sistemática do artigo 51 do Código


Penal, o inciso em tela não possui mais aplicação, já
que a pena de multa não poderá ser convertida em
pena privativa de liberdade.

Obs 1: Como visto acima, algumas decisões atacadas por


RESE podem ser pro et contra ou secundum eventum litis.
No primeiro caso, o recurso é cabível em ambas as
hipóteses de sucumbência (da acusação e da defesa),
como, por exemplo, da decisão que conceder ou negar a
fiança. Por outro lado, no segundo caso, o recurso só é
admitido em uma das hipóteses de sucumbência, como a
decisão que não recebe a denúncia ou queixa, visto que
inexiste RESE para a decisão de recebimento da peça
inicial.

Obs 2: O artigo 585 do CPP, que determina que o réu não


poderá recorrer da pronúncia senão depois de preso,
salvo se prestar fiança, NÃO TEM MAIS APLICAÇÃO. Isso
porque, dispõe o artigo 413, § 3º, do CPP que, proferida a
decisão de pronúncia, o juiz deve decidir acerca da
necessidade da manutenção, revogação ou substituição
da prisão preventiva.

* PRAZOS:

 PARA INTERPOSIÇÃO: Nos termos do artigo 586 do


CPP, o RESE poderá ser interposto no prazo de 05
(CINCO) DIAS, salvo no caso de decisão que incluir ou
excluir jurado na lista geral, cujo prazo é de 20
(vinte) dias, contado da data da publicação definitiva
da lista de jurados.
 PARA RAZÕES RECURSAIS: 02 (dois) dias, contados
da intimação, por força do artigo 798, § 5º, alínea
“a”, em detrimento da interpretação dada ao artigo
588 do CPP. Isso porque, interposto o recurso, o Juiz
deve recebê-lo e, somente então, determinar a
intimação do recorrente para apresentação das
razões recursais.
 PARA CONTRARRAZÕES: Também 02 (dois) dias,
contados da intimação. Se o réu for o recorrido, sua
intimação é feita na pessoa de seu defensor (artigo
588, parágrafo único, do CPP)

* EFEITO SUSPENSIVO:

 Em regra, o RESE não possui efeito suspensivo.


 EXCEÇÕES – O RESE terá efeito suspensivo nos
seguintes casos:
A) Decisão que julga perdida a fiança;
B) Decisão que decreta a quebra da fiança. Nesse caso,
o efeito suspensivo está adstrito a impedir a
imediata destinação de metade do valor caucionado
ao Fundo Penitenciário Nacional, inexistindo efeito
suspensivo para evitar eventual privação de
liberdade.
C) Decisão que não recebe a apelação ou a julga
deserta.

* PROCEDIMENTO:

 Como regra, o RESE é processado em autos


apartados (instrumento) que são remetidos ao
Tribunal competente (TJ ou TRF), com cópias das
principais peças dos autos originários e de outras
que o recorrente indicar (artigo 587 do CPP). Isso
porque, em regra, o RESE não possui efeito
suspensivo, de modo que o processamento do
recurso não atrapalha o andamento do feito
principal na instância de origem.
 EXCEÇÕES – O RESE será processado nos próprios
autos do feito principal nas seguintes hipóteses:
A) Decisão que não recebe a denúncia ou a queixa;
B) Decisão que julga procedente as exceções (salvo a de
suspeição, que é irrecorrível);
C) Decisão que decreta a prescrição ou julgar, por outro
modo, extinta a punibilidade;
D) Decisão que concede ou nega a ordem de habeas
corpus;
E) Decisão de pronúncia do réu, salvo quando, havendo
dois ou mais réus, qualquer um deles se conformar
com a decisão ou todos não tiverem sido ainda
intimados da pronúncia, caso em que o recurso
subirá em translado.
 Decorrido o prazo para apresentação das
contrarrazões, com ou sem elas, o Magistrado,
dentro de dois dias, poderá exercer o juízo de
retratação (artigo 589 do CPP). Trata-se do efeito
regressivo do RESE.
 Se houver retratação da decisão impugnada, ou seja,
se o juiz reformar sua decisão anterior, poderá a
parte recorrida, POR SIMPLES PETIÇÃO, recorrer da
nova decisão, se couber recurso, não sendo mais
possível ao Juiz exercer novo juízo de retratação.
Nesse caso, não cabem contrarrazões ao novo
recurso (artigo 589, parágrafo único, do CPP).

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