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Atos processuais penais

Prof.ª Gisela Esposel

Descrição

Estudo dos atos processuais penais, especialmente os atos de comunicação processual e os atos do
magistrado.

Propósito

A persecução penal é o caminho percorrido pelo Estado para que, ao final, decida-se pela aplicação ou não
de uma pena ou medida de segurança. Buscando atingir um resultado justo, o processo, no contexto de um
estado democrático de direito, funciona como instrumento de garantia do indivíduo contra o uso arbitrário
do poder punitivo estatal. Daí a importância de compreender os atos procedimentais que compõem o
processo, cujas formas devem ser levadas a efeito em estrita observância às garantias constitucionais e
regras estabelecidas em lei.

Preparação

Antes de iniciar seu estudo, você deverá ter em mãos o Código de Processo Penal, o Código Penal (arts. 103
e 107), o Código de Processo Civil (arts. 9º, 252 e 255) e a Constituição da República (art. 5º).
Objetivos

Módulo 1

Da teoria geral dos atos processuais


Reconhecer os principais aspectos acerca dos atos processuais na teoria geral do processo.

Módulo 2

Da comunicação dos atos processuais


Identificar os atos de comunicação processual.

Módulo 3

Dos atos do juiz


Identificar quais são os atos do juiz e seu regime jurídico.

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Introdução
Uma das funções do Direito é restabelecer a paz social, isto é, assegurar a certeza das relações jurídicas,
pacificando eventual conflito entre as partes. No processo penal, o bem jurídico tutelado é a liberdade do
indivíduo e somente o Estado – juiz – poderá exercer o denominado ius puniendi, ou seja, o direito de punir, e
por meio de um processo. Esse será o único meio legítimo e necessário para aplicar a lei penal.

Quando um agente resolve descumprir a norma geral e abstrata, nasce, para o Estado, o direito de aplicar a
sanção descrita no tipo penal. Surge, assim a persecução penal – que se desenvolve em duas etapas para a
efetiva concretização do ius puniendi do Estado. Assim, a persecução penal é o caminho percorrido pelo
Estado para que seja aplicada uma pena ou medida de segurança àquele que cometeu uma infração penal.

A primeira fase é a exercida através do inquérito policial, mero procedimento administrativo, e a segunda
etapa é a ação penal propriamente dita, promovida, em regra, pelo Ministério Público, por meio de denúncia.

Por isso, o aspecto instrumental do processo penal, uma vez que será instrumento de garantia do indivíduo
contra qualquer arbítrio do Estado, é também instrumento de aplicação da lei penal.

Inicialmente, torna-se válido ressaltar que, em um sistema processual acusatório, a relação processual é
composta de sujeitos processuais, como o juiz, o órgão acusador e o acusado. E uma das características de
tal sistema é a separação das funções de julgar, acusar e defender órgãos distintos. Por isso, o estudo e a
compreensão dos atos processuais penais são de suma importância.

1 - Da teoria geral dos atos processuais


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os principais aspectos acerca dos atos
processuais na teoria geral do processo.

Dos atos processuais penais


Processo e procedimento são conceitos fundamentalmente distintos. O primeiro remete à existência de
uma pretensão acusatória deduzida em juízo. O segundo trata da formalidade da atuação judicial, o
caminho desta pretensão acusatória até que se alcance o fim almejado. Procedimento é o aspecto
extrínseco do processo, sendo certo que o conjunto dos atos processuais leva ao procedimento.

Assim, para análise da sequência dos atos processuais penais, teremos como parâmetro o procedimento
comum, que é o rito padrão do Código de Processo Penal (CPP), sendo aplicado residualmente, ou seja,
quando não haja procedimento especial previsto no próprio CPP ou em legislação extravagante.

O procedimento comum ordinário será aplicado para a apuração de crimes cuja sanção máxima cominada
for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade. As técnicas da concentração,
imediatidade e economia dos atos processuais, regidas pelo princípio da simplificação, são as linhas
mestras das normas que estabelecem os novos ritos do processo penal, viabilizando a condução do
processo dentro de uma perspectiva real de duração razoável.

Sequência dos atos processuais no procedimento


comum ordinário

Oferecimento da denúncia ou queixa


A peça acusatória deverá conter a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias,
conforme art. 41 do CPP. É de se dizer que a descrição pormenorizada do suposto fato criminoso se dá em
observância ao princípio da ampla defesa e do contraditório. Isso porque pressupõe-se que o réu não
poderá se defender daquilo que não está claro. Nesses casos, restando ausente o atendimento aos
comandos do art. 41 do CPP, a denúncia deverá ser considerada inepta, devendo ser rejeitada pelo juízo nos
termos do art. 395, inciso I, do CPP.

Para além da descrição pormenorizada, o exercício do direito de ação pressupõe, ainda, outras condições.
Observe a seguir:

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Pressuposto processual

Pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal.


close

gavel
Justa causa

A justa causa, entendida como a presença da prova da materialidade do crime e indícios de autoria.

Presentes os requisitos mencionados, deverá o magistrado receber a denúncia, para, em seguida, citar o réu
para que este responda à acusação.

Citação do acusado
Recebida a denúncia ou queixa, o juiz determinará a citação do acusado, para que este apresente, no prazo
de dez dias, a sua resposta à acusação.

Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer
documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, conforme se
depreende do art. 396 do CPP.

Atenção!

Caso o acusado não apresente a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o
juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 dias.

Absolvição sumária
Seguindo a sequência dos atos processuais, após a apresentação da resposta, o juiz poderá absolver
sumariamente o acusado.

As hipóteses de absolvição sumária estão previstas taxativamente no art. 397 do CPP, como: a existência
manifesta de causa excludente da ilicitude do fato, a existência manifesta de causa excludente da
culpabilidade do agente, salvo a inimputabilidade, quando o fato narrado evidentemente não constitui crime;
ou na hipótese de presença de alguma causa extintiva da punibilidade do agente.
Audiência de instrução e julgamento

Não sendo hipótese de absolvição sumária, o magistrado marcará a audiência de instrução e julgamento
para que os atos probatórios sejam realizados. Aberta a audiência, o procedimento será a tomada de
declarações do ofendido, a inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e a defesa, nesta ordem,
ressalvado o disposto no art. 222 do CPP, interrogando-se, em seguida, o acusado.

A audiência de instrução e julgamento é o principal ato do procedimento, pois é o


momento de produção e coleta da prova, seja testemunhal, pericial ou documental.

Destaque-se que a ordem prevista no art. 400 do CPP sobre prazo, declarações, inquirições e
esclarecimentos deve ser observada, sob pena de nulidade. Assim, é de fundamental importância a
observação dos atos processuais realizados na audiência de instrução e julgamento.

É dizer que não poderá o magistrado inaugurar a audiência com o interrogatório do acusado, uma vez que,
além de representar a inobservância da forma prevista em lei, pressupõe-se, nessa hipótese, a supressão do
exercício do direito ao contraditório e à ampla defesa, garantido ao réu.

Dessa forma, o interrogatório deverá ser o último ato a ser realizado na audiência. Nesse momento, o réu
poderá exercer sua autodefesa, sendo obrigatória a presença do defensor.

Atenção!

Importante salientar que cada parte poderá arrolar até 8 testemunhas (lembrando que as testemunhas se
referem aos fatos, não aos agentes). Sendo assim, caso haja duas imputações ao acusado, o número
máximo de testemunhas será 16 para cada parte, totalizando 32 testemunhas.

A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas, ressalvado o disposto no art.
209 do CPP – o juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas pelas
partes.
Produzidas as provas, ao final da audiência, e não havendo requerimento de diligências, serão oferecidas
alegações finais orais por vinte minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por
mais dez, proferindo o juiz, a seguir, a sentença, nos termos do art. 403, parágrafo 3º, do CPP.

Ainda na análise da sequência dos atos processuais, é de suma relevância mencionarmos a possibilidade
de o juiz conceder às partes o prazo de cinco dias para a apresentação de memoriais (substituição das
alegações finais orais por escrito), desde que considere o caso complexo ou pelo excessivo número de
acusados. Nesse caso, terá o prazo de dez dias para proferir a sentença.

Porém, constitui ato de discricionariedade do magistrado a substituição dos debates orais por memoriais.
Trata-se de um momento crucial, em que as partes farão uma análise de todo o conjunto probatório e sua
última manifestação no processo.

A sentença

A sentença será, em regra, proferida em audiência. Adota-se, portanto, o princípio da identidade física do
juiz, em que aquele que preside a audiência será o mesmo que irá proferir a sentença, conforme o art.
399, parágrafo 2º, do CPP.

Da contagem dos prazos

Verificamos que em algumas situações o legislador prevê um prazo para a realização dos atos
processuais. Podemos citar como exemplo o prazo de dez dias para que a defesa apresente a resposta à
acusação.
Segundo a legislação, todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se
interrompendo por férias, domingos ou feriados, nem se computará no prazo o dia do começo, incluindo-
se, porém, o do vencimento.

O prazo que terminar em domingo ou dia feriado será prorrogado até o dia útil imediato e não correrão os
prazos, se houver impedimento do juiz, força maior ou obstáculo judicial oposto pela parte contrária. Salvo
os casos expressos, os prazos correrão:

da intimação;

da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a parte estiver


presente; e

do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca de sentença ou


despacho.

Atente-se que o prazo, no processo penal, é contado a partir da efetiva citação, não da juntada aos autos do
mandado de citação.

Assim, exclui-se o dia do começo e inclui-se o do vencimento, conforme inteligência do art. 798, parágrafo
1º, do CPP.
Mas e se a parte for intimada em uma sexta-feira, por exemplo, como se dará a contagem
do prazo?

Conforme disposto na Súmula no 310 do Supremo Tribunal Federal (STF), “quando a intimação tiver lugar na
sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na
segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se
seguir”.

Exemplo

Veja-se a seguinte hipótese: a defesa foi intimada a apresentar memoriais no dia 5 de abril de 2022, terça-
feira. Qual será o último dia do prazo para apresentação das alegações finais por memoriais?

Nesse caso, o prazo para apresentação de memoriais é de cinco dias. Como a defesa foi intimada no dia 5,
o prazo começa a correr no dia 6 de abril, sendo o último dia 9 de abril. Porém, como dia 9 cai em um
domingo, deverá ser prorrogado para o primeiro dia útil subsequente, ou seja, segunda-feira, 10 de abril.

Classificação dos atos processuais

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Atos processuais
Confira agora os atos processuais e suas diferentes classificações.

Como vimos, os atos processuais configuram condutas dos sujeitos processuais (juiz, autor, réu) por meio
dos quais se altera ou cria determinada situação jurídica processual.

No processo, existem atos praticados por esses atores. Veja a seguir:


Magistrados
Como despachos, decisões interlocutórias e sentenças.

Auxiliares da justiça
Atos ordinatórios, certidões etc.

Partes
Denúncia, defesa prévia/resposta à acusação, alegações finais etc.

De acordo com a doutrina, os atos processuais são classificados da seguinte forma:

atos dos órgãos judiciários (juiz e auxiliares da justiça); e

atos das partes.

Os atos dos juízes dividem-se em atos de provimento e atos materiais. Veja a seguir.

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Atos de provimento
O juiz se pronuncia, durante o processo, por meio das decisões interlocutórias e, ao final do processo, por
meio da sentença.

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Atos materiais
Não há solução de demanda, mas tão somente a documentação ou instrução processual.

Os atos processuais podem ser classificados como:

Postulatórios expand_more
Os atos postulatórios são praticados pelas partes e objetivam atingir determinada pretensão
processual.

Dispositivos expand_more

Os atos dispositivos ou de disposição também são praticados pelas partes. Diferentemente dos
atos postulatórios, os atos de disposição pressupõem a concessão ou desistência de uma das
partes de determinada pretensão. Cite-se, como exemplo, a renúncia ao direito de recorrer, perdão do
ofendido etc.

Instrutórios expand_more

Já os atos instrutórios são aqueles direcionados ao convencimento do juízo. Portanto, estão


diretamente relacionados à produção de provas.

Reais expand_more

Os atos reais consistem em condutas materiais exaradas por todos os sujeitos do processo, como a
preparação de recurso, o reconhecimento do acusado etc.

De comunicação expand_more

Por fim, os atos de comunicação se destinam a dar ciência às partes acerca dos atos processuais
que foram ou serão realizados. Por exemplo: citação para oferecimento de reposta à acusação,
intimação de data de julgamento de determinado recurso etc.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

Antônio Carlos foi denunciado pelo Ministério Público, que lhe imputou a prática do crime de roubo.
Após o recebimento da denúncia, Antônio foi citado para que apresentasse a resposta à acusação.
Verificando que não seria a hipótese de absolvição sumária, o magistrado designou audiência de
instrução e julgamento, nos termos do art. 400 do CPP. Na data marcada, o juiz iniciou a audiência
interrogando o acusado após ouvir as declarações da vítima e o depoimento das testemunhas
arroladas pelas partes. Ao final, as partes se manifestaram nos debates e o magistrado proferiu
sentença, condenando o acusado pelo crime praticado.

Considerando a hipótese narrada, marque a seguir a alternativa correta.

Caso o réu tivesse que ser interrogado por carta precatória, esta seria realizada antes da
A
oitiva das testemunhas.

A inversão da ordem do interrogatório, sendo o primeiro ato da instrução, pode acarretar


nulidade processual, por violar a forma prevista em lei para a realização do ato
B
processual, bem como pela inobservância das garantias do contraditório e da ampla
defesa.

O silêncio do acusado no momento do interrogatório viola o princípio constitucional do


C
contraditório.

Ainda que o réu esteja presente na audiência de instrução, o juiz poderá dispensar o
D
interrogatório do acusado, caso esteja satisfeito com as provas já produzidas em juízo.

E Não se aplica, no processo penal, o princípio da identidade física do juiz.

Parabéns! A alternativa B está correta.

No estudo sobre os atos processuais, verificamos que a forma é sinônimo de garantia no processo
penal. De acordo com o disposto no art. 400 do CPP, o interrogatório será o último ato a ser realizado na
instrução, sob pena de nulidade absoluta, por violação aos princípios constitucionais do devido
processo legal, contraditório e ampla defesa. Isso porque, sendo o réu ouvido primeiro, não lhe será
oportunizado impugnar a versão da vítima e das testemunhas de acusação, que falarão depois.

Questão 2

Em relação aos prazos no processo penal, assinale a alternativa correta.

Os prazos serão contados em dias úteis, aplicando-se a mesma regra que o processo
A
civil.

B Os prazos no processo penal contam-se da juntada aos autos do respectivo mandado.

C Para a contagem do prazo, exclui-se o dia do começo e inclui-se o do vencimento.

Uma vez citado, o acusado terá o prazo de quinze dias para apresentar a sua resposta à
D
acusação.

Se a parte for intimada em uma sexta-feira, o dia inicial da contagem será na própria
E
sexta-feira.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Conforme o previsto no art. 798, parágrafo 1º do CPP, para a contagem dos prazos processuais, exclui-
se o dia do começo e inclui-se o do vencimento.
2 - Da comunicação dos atos processuais
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os atos de comunicação processual.

Introdução à comunicação dos atos procedimentais


Neste conteúdo aprenderemos quais são os atos de comunicação processual, suas características e
peculiaridades. É de suma importância conhecer a diferença entre citação, intimação e notificação, até
mesmo porque o próprio legislador pode confundir os institutos, disciplinando-os de forma equivocada.

Se o Ministério Público oferecer denúncia imputando a alguém a prática de um crime, como será feita a
comunicação a esse suposto autor de uma infração penal? Ou como será feita a comunicação para que as
testemunhas compareçam em uma audiência para depoimento?

A resposta correta a tais perguntas perpassa pelo conhecimento dos atos de comunicação processual.
Sendo o processo dinâmico, é inegável que vários atos serão realizados até que se
almeje o fim a que se pretende, uma sentença de mérito.

No processo penal, forma é sinônimo de garantia, sendo, portanto, imprescindível o conhecimento do aluno
sobre a forma correta a ser utilizada. Inicialmente, cumpre esclarecer que a comunicação entre órgãos
jurisdicionais se dá por meio das seguintes formas.

Carta rogatória
Entre justiças/exterior.

Carta precatória
Entre comarcas diversas.

Carta de ordem
Há vínculo hierárquico.

Já entre órgãos jurisdicionais e as partes se dá por meio de notificação, intimação e citação.

Da intimação
Trata-se da comunicação dos atos já realizados no processo (passado), por exemplo, a intimação de uma
sentença.

Veja-se, a título de exemplo, que o art. 201, parágrafo 2º do CPP, prevê a comunicação dos atos processuais
à vítima de determinado crime nas hipóteses de entrada ou saída no sistema penitenciário ou até mesmo da
sentença.

Em se tratando da comunicação dos atos processuais destinados ao defensor constituído, do advogado do


querelante e do assistente, ela se dará por publicação, conforme dispõe o art. 370, parágrafo 1º do CPP.

Já a intimação do Ministério Público, do defensor público e dativo é feita pessoalmente, conforme dispõe o
art. 370, parágrafo 4º do CPP.
Da notificação
Consiste na ciência dada a uma parte ou um interessado de um ato que será realizado no processo (futuro).
Por exemplo: a notificação da testemunha para que compareça em juízo, para prestar depoimento na
audiência que ainda será realizada.

Atenção!

Destaque-se que o Código de Processo Penal (CPP) não diferencia intimação de notificação. A diferença é
dada pela doutrina.

Da citação

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A citação no processo penal
Confira agora o que é a citação, seus requisitos e modalidades no processo penal.

A citação consiste no ato pelo qual chama-se alguém a juízo a fim de se defender. É a comunicação
processual entre a justiça e o acusado.
Segundo o art. 363 do CPP, o processo terá completado a sua formação quando realizada a citação do
acusado.

A sua ausência acarreta a nulidade do processo, nos termos do art. 564, inciso III “e”, do mesmo diploma
legal, por violar os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, art. 5º, LV da Constituição
Federal de 1988 (CR/1988).

Dos elementos da citação

É importante destacar que a citação poderá ser realizada a qualquer dia e hora, ressalvada, por evidente, a
inviolabilidade de domicílio (art. 5º, inciso XI da CF/1988). Para além disso, a citação se destina,
exclusivamente, para ciência do réu.

Se o réu for citado pessoalmente e permanecer inerte, será nomeado um defensor público e o processo
seguirá nos termos do art. 367 do CPP: “o processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou
intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de
mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo”.

A revelia no processo penal não se confunde com a revelia do processo civil, ou seja, não apresenta como
efeito a veracidade dos fatos narrados na peça acusatória.

Exemplo

João é citado para compor a relação processual penal, mas não comparece em audiência para refutar as
acusações que recaem contra si; assim, as acusações não serão presumidas como verdadeiras. É dizer que,
em processo penal, os atos serão levados a efeito, mas, ainda assim, incumbirá ao órgão acusador
comprovar o alegado.
Agora, imagine que João é citado para responder a processo cível, mas decide ignorar o processo. Caso não
rebatidas, as alegações da outra parte terão presunção de veracidade.

Espécies de citação

A citação pessoal ou por mandado, também chamada de real, é aquela feita pessoalmente pelo oficial de
justiça. Ela ocorre quando o acusado reside na mesma comarca em que o processo tramita. Trata-se do
cumprimento, pelo oficial de justiça, de ordem escrita, subscrita pelo juiz competente.

Os requisitos intrínsecos e extrínsecos. Observe-os a seguir.

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Intrínsecos
Os primeiros estão previstos nos arts. 351 e 352 do CPP: o nome do juiz, o nome do querelante nas ações
iniciadas por queixa, o nome do réu (ou seus sinais característicos, sendo ele desconhecido), a residência
do réu, sendo conhecida, a finalidade da citação, o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá
comparecer, a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz.

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Extrínsecos
Os requisitos extrínsecos estão previstos no art. 357 do mesmo diploma legal: a leitura do mandado ao
citando pelo oficial e entrega da contrafé, na qual se mencionarão dia e hora da citação e a declaração do
oficial, na certidão da entrega da contrafé, e sua aceitação e recusa.

Observe a seguir as espécies de citação pessoal ou por mandado.

Da citação por carta precatória expand_more


Trata-se de espécie de citação pessoal e se dá quando o acusado estiver em território nacional, em
local certo e sabido, mas fora do âmbito de competência do juiz processante.

Conforme disposto no art. 353 do CPP, a citação por carta precatória se dará “quando o réu estiver
fora do território da jurisdição do juiz processante, [sendo] citado mediante precatória”.

Atente-se, ainda, que a doutrina utiliza a expressão precatória itinerária, que nada mais é do que uma
modalidade de citação prevista no art. 355, parágrafo 1º do CPP, que estabelece que “verificado que
o réu se encontra em território sujeito à jurisdição de outro juiz, a este remeterá o juiz deprecado os
autos para efetivação da diligência, desde que haja tempo para fazer-se a citação”.

Por fim, na hipótese de o réu se ocultar para não ser citado, a precatória será devolvida, nos termos
do art. 355, parágrafo 2º do CPP.

Citação do militar (previsão legal: art. 358 do CPP) expand_more

Atendendo aos princípios da hierarquia e disciplina, a citação do militar far-se-á por intermédio do
chefe do respectivo serviço.

Evita-se que o oficial de justiça ingresse em dependências militares para procurar o acusado. O juízo
processante deve expedir um ofício ao comandante da organização militar em que se encontra
lotado o acusado para que, assim, proceda a sua citação.
Citação do funcionário público (previsão legal: art. 359 do CPP) expand_more

O dia designado para o funcionário público comparecer em juízo, como acusado, será notificado
tanto a ele como ao chefe de sua repartição.

Portanto, será expedido ofício requisitório ao chefe da repartição para evitar prejuízos ao bom
andamento do serviço.

Citação do réu preso (previsão legal: arts. 360 e 399, parágrafo 1º do CPP) expand_more

A citação será sempre pessoal. A Súmula no 351/STF, que não se aplica mais, afirmava ser nula a
citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação em que o juiz exerce a sua
jurisdição.

Uma interpretação a contrario sensu levava a crer que, se o réu estivesse preso em outra unidade da
federação do juízo processante, a citação poderia ser por edital.

Mas, se ele está preso, o poder público terá que saber onde o réu se encontra, mesmo que em outra
unidade da federação. Assim, não há de se falar mais em citação por edital de réu preso.

Citação do acusado no estrangeiro (previsão legal: arts. 368 CPP) expand_more


O instrumento adequado para a citação do acusado que se encontra em outro país é a carta
rogatória. Assim, na hipótese em que o réu está em local sabido, o juiz deverá encaminhar a carta ao
Ministério da Justiça, que se responsabilizará pela remessa ao Ministério das Relações Exteriores, o
qual, por sua vez, destinará a carta rogatória ao estrangeiro, para que se proceda a citação do
acusado.

Citação por edital/ficta ou presumida ocorre quando o réu se encontra em local incerto e não sabido,
conforme disposto no art. 361 do CPP.

Nessa hipótese, caso não seja encontrado, deverá ser citado por edital no prazo de quinze dias.

Nesse caso, presume-se que o acusado tome conhecimento da citação. Será feita publicando-se o edital de
citação em jornal de grande circulação ou afixado no átrio do fórum, com o prazo de quinze dias.

Esgotado tal prazo de dilação, começa a correr o prazo para a prática do ato, que será a resposta à
acusação.

Observe a seguir as hipóteses da citação por edital.

Se o réu não for encontrado, exige-se que tenha sido procurado por todos os meios possíveis e, ainda
assim, não encontrado.

Quando inacessível, em virtude de epidemia, guerra ou outro motivo de força maior o lugar em que o réu
estiver.
Destaque-se, ainda, que o art. 366 do CPP prevê a possibilidade de prisão preventiva, na hipótese em que o
réu, citado por edital, remanescer inerte.

Assim que o aludido artigo foi modificado pela Lei nº 9.271/96, dando a ele essa nova redação, discutiu-se
qual seria o prazo da suspensão da prescrição.

Hoje, a matéria está sumulada, conforme enunciado na Súmula nº 415 do Superior Tribunal de Justiça (STJ):
“o período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena regulada”.

Sendo assim, será regulado pelo máximo da pena cominada, conforme art. 109 do Código Penal (CP). Uma
vez transcorrido, volta o prazo a correr normalmente.

Exemplo

Um crime de roubo simples, art. 157, caput do CP, cuja pena é de 4 a 10 anos, ficará suspenso por 16 anos.

O art. 366 do CPP prevê, ainda, a possibilidade de o magistrado determinar a produção antecipada de
provas. Inobstante, tal decisão deve ser concretamente fundamentada, conforme a Súmula nº 455 do STJ,
que dispõe: “a decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP deve
ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo”.

Conforme preceitua o art. 225 do CPP, “se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade
ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou
a requerimento de quaisquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento”. Cite-se como exemplo
uma testemunha com 98 anos de idade.

Ressalte-se que a prisão preventiva não será automática. Os requisitos dos arts. 312 e 313 devem estar
presentes, ou seja, periculum libertatis (perigo na liberdade do acusado) e fumus commissi delicti (indícios
suficientes do cometimento do crime imputado).

A citação por hora certa está prevista no art. 362 do CPP. Trata-se de uma espécie de citação ficta ou
presumida, sendo cabível quando o réu se oculta para não ser encontrado.

É de se dizer, ainda, que, nessa hipótese, aplicam-se as normas dos arts. 252 e 255 do Código de Processo
Civil (CPC).

O oficial de justiça deve procurar o réu por duas vezes e ao mesmo tempo se certificar de que ele está se
ocultando para não ser citado. Em seguida, comunicará a um parente, vizinho, ou quaisquer pessoas
próximas ao citando, que retornará no útil imediato com hora fixada para proceder a citação.

Atenção!

Não se aplica ao réu citado por hora certa a norma do art. 366 do CPP. Se o réu for citado, e não comparecer
nem constituir advogado, o juiz nomeará um defensor e o processo seguirá, sem a presença do acusado.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

O Ministério Público ofereceu denúncia contra Jorge. Segundo a denúncia, ele teria praticado o crime
descrito no art. 155 do CP, ou seja, furto simples. O magistrado recebeu a denúncia e determinou a
citação do acusado. Porém, o oficial de justiça certificou que Jorge encontrava-se em local incerto e
não sabido. Assim, foi realizada a citação por edital. No entanto, Jorge não compareceu nem constituiu
advogado. Por esse motivo, o magistrado entendeu por aplicar o disposto no art. 366 do CPP,
determinando a suspensão do processo e do curso prescricional.

Pergunta-se: como será regulado o tempo de suspensão da prescrição?

A A suspensão do prazo prescricional ficará a critério discricionário do magistrado.


B O prazo ficará suspenso até o momento que o acusado for encontrado.

C A suspensão do prazo prescricional será por vinte anos.

D A suspensão será regulada pelo mínimo da pena cominada.

E A suspensão será regulada pelo máximo da pena aplicada.

Parabéns! A alternativa E está correta.

A matéria encontra-se pacificada pelo STJ, que entende que a suspensão prevista no art. 366 do CPP,
citado na questão, regula-se pelo art. 109 do CP. É dizer que, havendo suspensão do processo, em razão
da impossibilidade de citação do réu, o prazo prescricional será regulado pelo máximo da pena
aplicada. No caso, como foi imputado a Jorge o crime de furto simples, cuja pena máxima é de quatro
anos, o processo ficará suspenso por oito anos, conforme inteligência do art. 109, inciso IV, do CP.

Questão 2

O Ministério Público ofereceu denúncia em face de Tício, pela prática do delito descrito no art. 157 do
CP. O juiz recebeu a denúncia e mandou citar o réu. O oficial de justiça, então, dirigiu-se à residência de
Tício, porém percebeu que ele estava se ocultando para não ser citado. Como deverá proceder o oficial
de justiça de acordo com as regras do CPP?

A Fazer a citação por ligação telefônica.

B Fazer a citação por hora certa.

C Tentar fazer a citação por e-mail.


D Fazer a citação pelo correio.

E Proceder a citação por edital.

Parabéns! A alternativa B está correta.

A citação por hora certa é um mecanismo previsto no art. 362 do CPP, que permite ao oficial de justiça,
nos casos de evidente tentativa de ocultação do réu, designar horário em que será citado no local.
Nessa hipótese, caso o réu não se encontre para receber a citação, será considerado devidamente
citado.

3 - Dos atos do juiz


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar quais são os atos do juiz e seu regime
jurídico.
Dos atos procedimentais do juiz
É certo que a jurisdição é inerte, ou seja, somente ocorrerá o exercício da função jurisdicional se
devidamente provocada. No entanto, após a iniciativa das partes, vigora o princípio do impulso oficial.

Uma vez que o processo é dinâmico, e não estático, o magistrado deverá proferir decisões que façam com
que o processo se desenvolva de forma válida e regular, sendo inegável que vários atos serão realizados até
que se almeje o fim a que se pretende, que é uma sentença de mérito.

No decorrer deste conteúdo, iremos identificar os atos do juiz e suas características, bem como analisar as
possibilidades fáticas de atuação e possíveis decisões que podem ser proferidas durante o processo:
despachos de mero expediente, decisões interlocutórias e sentença.

Dos despachos de mero expediente


Trata-se de atos jurisdicionais que propiciam a mera movimentação do processo, o seu andamento. Não
possuem qualquer carga decisória. São diferentes, portanto, das decisões interlocutórias e da sentença –
atos de impulsionamento do processo, isto é, não têm conteúdo decisório.

Podemos citar, como exemplo, o ato do juiz em marcar a data da audiência de instrução e julgamento, em
um procedimento comum ordinário, de acordo com o art. 400 do Código de Processo Penal (CPP), ou até
mesmo quando determina a juntada de algum documento no processo, ou a determinação da produção de
provas.
Como não possuem carga decisória, são irrecorríveis – a não ser que causem tumulto processual, por ato
abusivo do juiz ou inversão do procedimento. Nessas hipóteses, caberá a correição parcial, medida
administrativa judicial contra decisão judicial que cause tumulto processual.

Atenção!
Despachos de mero expediente não se confundem com atos meramente ordinatórios, que são aqueles
praticados de ofício pelo servidor e dos quais há a fiscalização do magistrado.

Das decisões interlocutórias


Já as decisões interlocutórias são aquelas que resolvem incidentes processuais ou questões referentes
à regularidade formal do processo. Assim, não julgam o mérito da causa principal.

Na decisão interlocutória, pode-se extinguir ou não o processo, mas não há o enfrentamento do mérito
da questão principal. Não se discute, portanto, autoria, culpabilidade e materialidade, conforme disposto
no art. 800 do CPP. As decisões interlocutórias se dividem em:

Simples
Não põem fim a procedimento.

Mistas
Terminativas e não terminativas.

As decisões interlocutórias simples não encerram o processo, nem uma fase do procedimento. Mas
decidem questões acerca de sua regularidade formal, do seu andamento. São decisões acerca de questões
processuais.
Exemplo
Cita-se, como exemplo, a decisão que concede liberdade provisória, que decreta a prisão preventiva, que
recebe a denúncia ou queixa, ou até mesmo a decisão que arbitra a fiança.

As decisões interlocutórias mistas extinguem o processo, sem, contudo, adentrarem no mérito, ou seja, sem
julgamento do mérito. Determinam, tão somente, o fim de uma etapa do procedimento ou solucionam
procedimentos incidentais de maneira definitiva.

As decisões interlocutórias mistas se dividem, ainda, em terminativas ou com força de definitiva e não
terminativas. Veja atentamente a seguir.

Decisões interlocutórias mistas terminativas ou com força de definitiva expand_more

Colocam fim ao processo sem resolução de mérito, por exemplo, a decisão que rejeita a denúncia ou
queixa, a decisão de impronúncia prevista no art. 414 do CPP, que se dá quando o juiz não se
convence da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de
participação. Tal decisão não faz coisa julgada material, uma vez que, enquanto não ocorrer a
extinção da punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa, desde que sejam
apresentadas novas provas.

Esta é a justificativa de tratar a decisão de impronúncia como decisão interlocutória mista, pois
encerra o processo, sem condenar ou absolver o acusado.

No entanto, torna-se válido ressaltar que, muito embora a impronúncia tenha natureza jurídica de
decisão, o recurso cabível para impugná-la é o de apelação, nos termos do art. 416 do CPP.

Decisões interlocutórias mistas não terminativas expand_more

Não colocam fim ao processo, encerrando tão somente uma fase do procedimento, por exemplo, a
decisão que pronuncia o réu, nos termos do art. 413 do mesmo diploma legal.
Sabe-se que o procedimento do tribunal do júri é bifásico. A primeira fase denomina-se juízo de
admissibilidade da acusação – iudicium accusationis – e, ao término da primeira fase, se o juiz se
convencer da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de
participação, irá pronunciar o acusado.

A decisão de pronúncia leva o réu a julgamento em plenário pelo conselho de sentença. Caberá
recurso em sentido estrito, conforme o disposto no art. 581, inciso IV do CPP.

Da sentença

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Sentença penal
Confira agora o que é sentença, diferenciando-a de outros atos do juiz, assim como de seus requisitos.

A sentença pode ser definida como o ato pelo qual se põe fim ao processo: o juiz encerra a atividade
jurisdicional do processo, podendo ou não julgar o mérito principal da causa. A sentença penal está
relacionada à liberdade do indivíduo, seu direito de ir e vir, diferentemente, portanto, da sentença cível, que,
em grande maioria, diz respeito a questões patrimoniais.
A sentença pode ser em sentido amplo, consideradas, por parte da doutrina, as decisões
interlocutórias, e em sentido estrito.

A sentença em sentido estrito é a decisão que julga o mérito, sentença definitiva (diferente de trânsito em
julgado), condenatória, absolutória, terminativa de mérito ou declaratória extintiva de punibilidade.

Na sentença terminativa de mérito ou declaratória extintiva da punibilidade há resolução do mérito: o juiz


extingue o processo decidindo o mérito principal, mas não há absolvição, nem condenação, por exemplo, as
hipóteses previstas no art. 107 do Código Penal (CP) (prescrição, morte do agente, perempção).

Atenção!

De acordo com a Súmula nº 18 do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), a sentença concessiva do perdão
judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.

Requisitos da sentença penal


A sentença será composta por quatro partes: relatório, fundamentação, dispositivo e autenticação final.

Conforme o art. 381 do CPP são partes essenciais da sentença penal o nome das partes, a exposição
sucinta da acusação e da defesa, a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão,
a indicação dos artigos de lei aplicados, o dispositivo, a data e a assinatura do juiz.

Esses são requisitos formais da sentença e a sua ausência acarreta um vício, causando a nulidade do ato.
Classificação das sentenças

Vamos conferir agora as seguintes sentenças:

Declaratórias

Reconhecem uma situação jurídica, como a sentença absolutória, uma vez que se reconhece a inocência do
acusado, ou também as sentenças que reconhecem a presença de uma causa extintiva da punibilidade.

Condenatórias

Reconhecem a pretensão punitiva estatal, aplicando a respectiva sanção penal ao infrator.

Constitutivas

Reconhecem uma nova situação jurídica. Citam-se como exemplo as sentenças proferidas em habeas
corpus, em que se reconhece o trancamento da ação penal, por ausência de justa causa.

<strong>Mandamentais</strong>

Contêm uma ordem, que seve ser imediatamente cumprida, sob pena de desobediência. Como exemplo
pode ser citada a sentença que confere a ordem de habeas corpus e, consequentemente, requer a expedição
do alvará de soltura em favor do paciente.

Executivas

Aquelas que, no próprio conteúdo, por si só, já possuem um caráter decisório, sem necessidade de ordem
para cumprimento.
Observe atentamente outras espécies de classificação a seguir:

Sentença suicida expand_more

Quando existe uma contradição entre a fundamentação e o dispositivo. Suponhamos que o


magistrado, em sua fundamentação, reconheça a materialidade, autoria e culpabilidade, e, ao final,
no dispositivo, absolva o acusado, julgando improcedente a pretensão punitiva estatal. Tal sentença
será considerada nula.

Sentença vazia expand_more

É aquela que carece de fundamentação ou cuja fundamentação é incompleta. Também será passível
de anulação. Considere a hipótese de uma sentença levar em conta, em sua conclusão, que o réu
cometeu o crime de roubo. No entanto, tece comentário apenas acerca das provas que indicam que
ele se apropriou indevidamente do bem alheio contra a vontade da vítima, mas não fundamenta
sobre as provas que indicam que o réu agiu com violência ou grave ameaça (elementos
imprescindíveis para a caracterização de crime e roubo).

Sentença autofágica expand_more

Reconhece a imputação, mas declara extinta a punibilidade do agente. Assim, imagine o caso em
que o réu é condenado por furto, após o processo durar dez anos. Nesse caso, o magistrado
reconhece que houve a prática do furto, mas declara extinta a punibilidade do réu pelo decurso do
prazo prescricional. Isso porque a prescrição é causa extintiva de punibilidade, conforme inteligência
do art. 107, inciso IV, do CPP.

Do princípio da correlação entre o pedido e a sentença


Abordarmos o princípio da correlação entre o pedido formulado pela acusação e a sentença a ser proferida
pelo magistrado.
Exemplo
É certo que o juiz não poderá julgar extra petita (fora do que se pediu), nem ultra petita (além do que se
pediu), nem citra petita (menos do que se pediu). O juiz deverá julgar a lide, nos limites em que for proposta.
Sendo assim, é vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida.

Segundo o art. 383 CPP, o juiz poderá, no momento em que for proferir a sentença de mérito, proceder a
uma reclassificação jurídico-penal dos fatos imputados ao réu.

O fato permanece idêntico, mas o juiz entende que a situação fática narrada na peça acusatória se amolda a
outro tipo penal, condenando o agente nas apenas desse novo crime, ainda que seja uma pena mais grave.

Assim, confira-se o teor do art. 383 CPP, que diz: “o juiz, sem modificar a descrição do fato contida na
denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de
aplicar pena mais grave”.

Não há qualquer cerceamento de defesa pois o réu, no processo penal, se defende dos fatos narrados na
peça acusatória e não da classificação jurídico penal.

Exemplo

É narrado na denúncia que João subtraiu um colar da vítima Maria no momento em que deu um empurrão
na vítima e ela caiu no chão. Ato seguinte, ele arrancou o cordão do seu pescoço. Ainda assim, o Ministério
Público capitulou no art. 155 do CP.

Nesse caso, o juiz pode entender que esse mesmo fato narrado na peça acusatória se amolda ao tipo penal
previsto no art. 157 do CP, ou seja, roubo. De acordo com o disposto no art. 383 do CPP, poderá proferir
sentença, aplicando ao acusado esse crime mais grave.

Fundamento da emendatio libelli


A emendatio libelli trata-se de instituto que permite ao magistrado a atribuição de definição jurídica diferente
do descrito na denúncia, independentemente da anuência do órgão acusatório, conforme disciplina o art.
383 do CPP. A emendatio libelli, em verdade, permite ao magistrado que faça correção em denúncia que seja
deficiente.

Exemplo
Dessa forma, suponhamos que o Ministério Público tenha imputado a João o crime de furto. No entanto, na
descrição dos fatos, resta claro que a res furtiva fora subtraída mediante violência ou grave ameaça
(elementos inerentes ao tipo penal de roubo).

Nesse caso, é lícito ao magistrado, em correção à denúncia deficiente, atribuir ao fato o crime de roubo, não
o de furto.

O parágrafo 1º do art. 383 estabelece que, após o juiz proceder a emendatio, irá interromper o ato de
prolação de sentença e abrir vista ao Ministério Público para que se manifeste sobre a possibilidade do
sursis processual (suspensão condicional do processo), medida despenalizadora prevista no art. 89 da Lei
no 9.099/95.

O parágrafo 2º estabelece que o juiz irá declinar da sua competência se verificar a alteração ao aplicar a
emendatio libelli.

Exemplo

Imagine que o Ministério Público estadual oferece denúncia em desfavor de Pedro, imputando-lhe o crime
de falsidade ideológica. Nada obstante, ao ler a denúncia, o magistrado percebe que, na descrição dos
fatos, ela narra que Pedro, em verdade, falsificava papel-moeda de curso legal no país.

Nesse caso, haverá emendatio libelli, uma vez os fatos descritos na exordial acusatória se adéquam ao tipo
penal descrito no art. 289 do CP (moeda falsa), cuja competência é da Justiça Federal. Logo, após a
modificação da definição jurídica, deverá o magistrado remeter os autos, para que o caso seja processado e
julgado naquela instância competente.

Emendatio libelli x contraditório

Discute-se na doutrina se deve ser observado o princípio do contraditório no momento em que o


magistrado aplicar a emendatio libelli.

O entendimento majoritário é o de que não há que se dar vista às partes, pois o réu não se defende da
definição jurídica, mas sim dos fatos imputados, que se mantêm inalterados, não havendo que se falar em
qualquer violação ao princípio da correlação.
Realmente, os fatos são os mesmos daqueles narrados na denúncia. Não há qualquer situação fática nova:
o juiz simplesmente entende que esse fato se adéqua a outro tipo penal.

No entanto, parcela da doutrina afirma que o contraditório impõe a ciência bilateral das partes sobre os atos
do processo e, por isso, a emendatio libelli deve ser sucedida de vista às partes, antes da prolação da
sentença.

Emendatio libelli x momento processual

Também se discute na doutrina qual o momento processual para que o juiz aplique a emendatio libelli.

Observamos que o art. 383 do CPP está topograficamente incluído no título XII que trata “Da Sentença” e,
portanto, segundo o entendimento majoritário, será esse o momento, ou seja, na sentença de mérito.

Porém, parcela da doutrina entende que o juiz poderá aplicar a emendatio no juízo de admissibilidade da
acusação, quando verificar que será mais benéfico para o acusado.

Atenção!

Aplica-se a emendatio libelli em 2º grau, conforme o disposto no art. 617, do CPP – o tribunal, a câmara ou a
turma atenderá suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387.

Mutatio libelli
A mutatio libelli possui previsão legal no art. 384 do CPP. Veja a seguir.

Art. 384 do CPP expand_more

Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em


consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não
contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco)
dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se
a termo o aditamento, quando feito oralmente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

Na mutatio libelli há a alteração dos próprios fatos imputados ao acusado na denúncia/queixa, em razão de
elemento de prova sobre fato novo, produzido durante a instrução criminal, não contido na denúncia/queixa.
Dessa forma, é imprescindível a observância dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla
defesa.

Fundamento da mutatio libelli


Assegura a correlação entre acusação e sentença. O juiz, ao proferir sentença penal, está vinculado ao teor
da acusação. Assim, impede que o acusado seja surpreendido por uma sentença, de cujos fatos ele não se
defendeu, e também, que a acusação seja surpreendida por uma sentença que condene o réu por fatos
distintos dos narrados na peça acusatória.

Verifica-se, pela leitura do dispositivo, que o Ministério Público irá aditar a denúncia, incluindo esse fato
novo surgido na instrução criminal. Trata-se do aditamento espontâneo. Se o ministério não aditar, aplica-se
o disposto no art. 28 do CPP, conforme dispõe o parágrafo 1º do artigo mencionado. Em outras palavras,
encaminhará ao procurador-geral de justiça para que a última palavra fique no âmbito do Ministério Público.

Atenção!
Como na mutatio há uma modificação da situação fática, abre-se uma nova possibilidade de as partes se
manifestarem, com nova inquirição de testemunhas, e até mesmo novo interrogatório do réu.

Ouvido o defensor do acusado no prazo de cinco dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de
qualquer uma das partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de
testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento (incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).

Em caso de aditamento, cada parte poderá arrolar até três testemunhas, no prazo de cinco dias, ficando o
juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento. E, se o magistrado não receber o aditamento, o
processo seguirá seu curso.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Quanto à correlação entre acusação e sentença, marque a opção correta.

A emendatio libelli não pode ser conhecida pelo juiz para adequar o pedido à
A
classificação do delito.

O juiz do feito pode realizar, de ofício, a mutatio libelli se for colhida prova sobre
B
elementar não contida no pedido.

Não havendo aditamento pelo Ministério Público, o próprio juiz poderá fazê-lo,
C
substituindo o membro do parquet.

A mutatio libelli deverá ser realizada através de aditamento da inicial de forma


D
espontânea pelo acusador.

Segundo a legislação processual, o juiz deverá dar vista às partes para que se
E
manifestem sobre a emendatio.

Parabéns! A alternativa D está correta.

Conforme aprendemos, o réu se defende dos fatos narrados na inicial acusatória. Portanto, o Ministério
Público deverá aditar, ou seja, acrescentar esse fato novo, sob pena de violação ao princípio da
correlação entre o pedido e a sentença, como também aos princípios constitucionais do contraditório e
da ampla defesa.

Questão 2

Sobre os atos do juiz, assinale a seguir a alternativa correta.

Decisão interlocutória é um ato do juiz irrecorrível, que propicia tão somente o


A
andamento do processo.

B As sentenças terminativas são decisões do juiz que levam à resolução do mérito.

C O despacho serve para o juiz rejeitar o pedido, julgando-o improcedente.

D A prescrição é reconhecida pelo juiz a partir de sentença definitiva.

E O despacho é o ato pelo qual o magistrado julga o processo com resolução de mérito.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A prescrição é causa extintiva da punibilidade, prevista no artigo 107 do código penal. Na sentença
terminativa de mérito ou declaratória extintiva da punibilidade, há resolução do mérito, o juiz extingue o
processo decidindo o mérito principal, mas não há absolvição, nem condenação.

Considerações finais
Como vimos, os estudos sobre os atos processuais penais são imprescindíveis para a compreensão da
atividade persecutória do Estado. É espécie do gênero ato jurídico, sendo praticados pelos sujeitos do
processo. Em um sistema processual acusatório, a relação processual é triangular e uma de suas
características marcantes é a separação das funções de acusar, julgar e defender.

Para melhor abordagem e compreensão do tema, apresentamos o conteúdo em três partes, quais sejam:
teoria geral dos atos processuais, comunicação dos atos processuais e atos do juiz.

Na primeira parte, analisamos a teoria geral, mais especificamente, a sua forma, os prazos, a contagem dos
prazos no processo penal e a sequência dos atos, tudo isso na perspectiva de um procedimento comum
ordinário.

Abordamos todo o rito comum ordinário, desde o oferecimento da denúncia ou queixa até a prolação da
sentença. Assim, podemos acompanhar toda a sequência dos atos realizados no processo e a sua
importância para sua própria validade. Ressaltamos, também, o filtro constitucional do devido processo
legal, como um princípio basilar do processo (lembrando que, no processo penal, “forma” é sinônimo de
“garantia”).

Já na segunda parte, tratamos da comunicação dos atos processuais. Sendo o processo dinâmico, tal
comunicação propicia o desenvolvimento regular e válido da relação processual. Chamamos atenção para a
citação como fator crucial para formação completa do processo. Com a citação válida estará completada a
formação da relação processual. Destacamos, ainda, que a citação é o ato pelo qual chama-se alguém a
juízo para que se defenda da imputação do órgão acusador, assegurando o contraditório e a ampla defesa.
Também diferenciamos os institutos da intimação e notificação.

Por fim, na terceira parte, abordamos os atos do juiz. É importante entendermos as espécies de decisões
possíveis, até mesmo para o fim de impugná-las. Vimos a diferença entre decisões, despachos e sentenças.
Entre os atos do juiz, destacamos o princípio da correlação entre o pedido e a sentença, sob o enfoque dos
institutos da emendatio libelli e mutatio libelli.

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Podcast
Ouça agora sobre os atos processuais penais e saiba como diferenciá-los.
Referências
BADARÓ, G. H. Processo penal. São Paulo: Editora RT, 2021.

FERNANDES, A. S. Teoria geral do procedimento no processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

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Acesse o material, disponível na revista Conjur: É cabível acordo de não persecução penal em casos de
emendatio e mutatio libelli? Vale a leitura!

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