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CFS

2019-2020

TERMO CIRCUNSTANCIADO DE
OCORRÊNCIA

DOUGLAS MARINK DE MIRANDA – CAP PM


INSTRUTOR
Sumário
Apresentação............................................................................................................................................4
Capacitação para o Termo Circunstanciado - Introdução........................................................................ 5
Finalidade do programa de treinamento............................................................................................. 5
Objetivo de desempenho..................................................................................................................... 5
Estrutura do programa de treinamento............................................................................................... 5
Metodologia de ensino.........................................................................................................................5
1. Aspectos legais básicos - Porque prender?......................................................................................... 7
1.1. Introdução...................................................................................................................................... 7
1.2. Infração penal.................................................................................................................................7
1.3. Requisitos da infração penal: gerais e específicos......................................................................... 7
1.3.1. Requisitos gerais: A tipicidade e a antijuridicidade................................................................7
1.4. Culpabilidade..................................................................................................................................8
1.4.1. Funções Da Culpabilidade.......................................................................................................8
1.4.2. Elementos Da Culpabilidade...................................................................................................8
1.5. Excludentes de ilicitude..................................................................................................................9
1.6. Requisitos específicos...................................................................................................................10
1.7. Os tipos penais e o resultado da infração penal.......................................................................... 11
1.8. Crime consumado e crime tentado..............................................................................................11
2. Aspectos legais básicos - Quando prender?......................................................................................13
2.1. Introdução.................................................................................................................................... 13
2.2. Prisão em flagrante delito............................................................................................................ 13
2.3. Espécies de flagrante delito......................................................................................................... 13
2.4. Flagrante em infrações penais permanentes e habituais............................................................ 14
2.5. Flagrante preparado e flagrante esperado.................................................................................. 15
2.6. Aspectos importantes da prisão em flagrante............................................................................. 15
2.6.1. Não podem ser presos em flagrante delito..........................................................................15
2.6.2. Só podem ser presos em flagrante delito de crimes inafiançáveis...................................... 15
2.6.3. Prisão de alienados mentais.................................................................................................15
2.7. Ação penal pública e ação penal privada..................................................................................... 15
2.7.1. Ação Penal Pública................................................................................................................16
2.7.2. Ação Penal Privada............................................................................................................... 16
2.7.3. Infrações penais de ação penal privada ou condicionada - ofendido menor de 18 anos.... 16
2 8.Prisão em flagrante nas infrações de ação penal pública condicionada ou ação penal privada 16
2.9.Direitos do preso em flagrante.....................................................................................................17
3. Aspectos legais básicos – Quem pode prender.................................................................................18
3.1. Introdução.................................................................................................................................... 18
3.2. Flagrante obrigatório e flagrante facultativo............................................................................... 18
1
3.3. Autoridade policial....................................................................................................................... 18
3.3.1. Quem é autoridade policial (Genérica)................................................................................ 19
4. Juizados Especiais Criminais e o Termo Circunstanciado.................................................................. 20
4.1. As discussões anteriores à Constituição Federal de 1988............................................................20
4.2. Previsão Constitucional................................................................................................................ 20
4.3. A Lei dos Juizados Especiais – Lei 9.099 de 26 de setembro de 1995.......................................... 21
4.3.1. Composição, competência e a ênfase na transação penal.................................................. 21
4.4. Critérios (princípios) orientadores da Lei 9.099/95..................................................................... 21
4.5. Elaboração do termo circunstanciado segundo previsto na Lei 9.099/95...................................22
4.6. O Termo Circunstanciado como base para a denúncia................................................................22
4.7. Entendendo melhor quem faz o Termo Circunstanciado............................................................ 23
4.8. A palavra dos doutrinadores........................................................................................................ 23
4.9. Conselho Nacional do Ministério Público.................................................................................... 24
4.10. A manifestação do Poder Judiciário e de seus integrantes....................................................... 24
4.11. O Estado de Rondônia............................................................................................................... 26
4.12. A decisão do Supremo Tribunal Federal....................................................................................27
4 13. Os benefícios produzidos pela elaboração do Termo Circunstanciado por Policiais Militares 27
5. Reconhecendo as infrações de menor potencial ofensivo................................................................28
5.1. Introdução: As discussões anteriores à Constituição Federal de 1988........................................28
5.2. Definindo as infrações penais que são de menor potencial ofensivo..........................................28
5.3. Principais infrações penais de menor potencial ofensivo, previstas no Código Penal................ 29
5.4. Principais infrações penais de menor potencial ofensivo, previstas na Lei de Contravenções
Penais..................................................................................................................................................34
5.5. Principais infrações penais de menor potencial ofensivo, previstas no Código Brasileiro de
Trânsito............................................................................................................................................... 35
6. Procedimentos Policiais.....................................................................................................................37
6.1. Introdução.................................................................................................................................... 37
6.2. Confirmar a localização e a natureza do atendimento................................................................ 37
6.3. Deslocar com rapidez e segurança...............................................................................................37
6.4. Informar a chegada ao local e a avaliação inicial......................................................................... 37
6.5. Socorrer vítimas e gerenciar os riscos..........................................................................................37
6.6. Organizar o local da ocorrência e os envolvidos..........................................................................38
6.7. Realizar os procedimentos legais................................................................................................. 38
6.8. Documentar o atendimento.........................................................................................................38
6.9. Retornar ao serviço preventivo....................................................................................................38
6.10. Exercício..............................................................................................................................38
7. Definindo o procedimento legal........................................................................................................39
7.1. Introdução.................................................................................................................................... 39

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7.1.1. O fato é uma infração penal?............................................................................................... 39
7.1.2. Existe flagrante delito?......................................................................................................... 39
7.1.3. A infração é de menor potencial ofensivo?..........................................................................40
7.1.4. O autor assume o compromisso de comparecer em juízo?.................................................41
7.2. Consolidando o que vimos........................................................................................................... 41
8. Utilizando o Procedimento Policial Padronizado.............................................................................. 43
8.1. Introdução.................................................................................................................................... 43
8.2. Três Procedimentos Operacionais Padronizados.........................................................................43
8.3. Padrão de Procedimento Policial (PPP) nº 1 ou (POP) 01............................................................ 43
8.4. Padrão de Procedimento Policial (PPP) nº 2 ou (POP) 02............................................................ 44
8.5. Padrão de Procedimento Policial (PPP) nº 3 ou (POP) 03............................................................ 45
9. Elaboração do Termo Circunstanciado............................................................................................. 47
9.1. Introdução.................................................................................................................................... 47
9.2. Sobre o local e a forma de elaboração do Termo Circunstanciado............................................. 47
9.3. Dados básicos da ocorrência e qualificação dos envolvidos........................................................47
9.4. Dados gerais e identificadores da ocorrência.............................................................................. 47
9.5. Dados gerais do envolvido........................................................................................................... 49
9.6. Termo de manifestação do ofendido........................................................................................... 50
9.7. Termo de compromisso do(s) autor(es).......................................................................................50
9.8. Requisição de Exame de Corpo de Delito.................................................................................... 51
9.9. Termo de apreensão e/ou depósito.............................................................................................51
10.Exercitando a elaboração.................................................................................................................. 52
10.1. Introdução.......................................................................................................................... 52
10.2. Exercício..............................................................................................................................52

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Apresentação

A Disciplina de termo circunstanciado de ocorrência (TCO) está relacionada a ação


policial diante das infrações de menor potencial ofensivo, que, no local dos fatos, poderá ser
resolvida pelo policial que está no local, de forma imediata e rápida, representando um grande
avanço em relação ao exercício e à promoção da cidadania.
Por um lado, o cidadão exerce o direito de não ser conduzido coercitivamente a uma
repartição policial quando a lei lhe dá o direito de relatar o que ocorreu, assumir o compromisso de
comparecer em juízo e ser liberado ali mesmo.
Por outro, o policial exerce seu papel de forma mais efetiva e pedagógica, pois ao
elaborar o termo circunstanciado pessoalmente, na frente dos envolvidos, cria as condições para
uma resolução mais rápida e eficaz para todos: vítima, vizinhança e o próprio ofensor, fortalecendo
um modelo de justiça mais calcado na celeridade e informalidade e focado na resolução de conflitos.
A presente capacitação é um passo importante no processo de implementação dessa forma de
elaborar o termo circunstanciado, pois capacita os participantes de
forma completa e objetiva, com ênfase para a atividade policial em seu nível operacional.

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Capacitação para o Termo Circunstanciado - Introdução

Ao finalizar esta apresentação o participante terá recebido informação sobre:


 Finalidade, objetivo de desempenho, objetivos de capacitação, avaliação e método de ensino;
 Materiais a utilizar, detalhes logísticos e agenda.

Finalidade da Instrução
Propiciar aos participantes as competências necessárias para a confecção do Termo
Circunstanciado no atendimento policial a ocorrências.

Objetivo de desempenho
Ao finalizar a Instrução de TCO os participantes, diante de uma situação simulada e
aplicando os procedimentos preconizados na capacitação, dispondo dos materiais e formulários
necessários, deverão confeccionar corretamente um Termo Circunstanciado e os documentos
complementares em tempo estimado de 30 minutos.

Estrutura da Instrução
Nesta capacitação basicamente você aprenderá quando e como elaborar corretamente
o termo circunstanciado ao atender ocorrências que envolvam infrações penais de menor potencial
ofensivo.
Vamos revisar alguns conceitos básicos respondendo às perguntas: porque e quando
uma pessoa pode ser presa, e quem pode efetuar a prisão? Para isso, vamos falar sobre os temas
básicos a respeito do que é infração penal, o que é prisão em flagrante e quando ela ocorre, o
conceito de autoridade policial no contexto da legislação e decisões judiciais que tratam do tema e
finalmente a questão das polícias e suas responsabilidades.
Vamos ver que a partir da Lei 9.099 de 1995 algumas infrações penais passaram a
receber um tratamento diferenciado, por serem consideradas de menor potencial ofensivo,
permitindo que não se lavre o flagrante contra o ofensor se houver condições de conduzi-los
imediatamente à presença de um juiz ou, não havendo, se ele se comprometer a comparecer em
juízo na data a ser estabelecida, além disso, com a nova legislação, ficou aberta a possibilidade de
que estas infrações possam ser resolvidas por meio de uma transação penal.
Trabalharemos também com um tema mais prático: afinal, como diferenciar as situações
onde a lei 9.099/95 se aplica, ou seja, como identificar as infrações de menor potencial ofensivo?
Vamos ver nesta unidade onde isso está definido e estudar as principais infrações, exercitando este
aspecto que é fundamental para a aplicação da Lei 9.099.
Aproveitando que já sabemos diferenciar as infrações de menor potencial ofensivo
daquelas de maior potencial ofensivo, iremos passar para o passo seguinte, que é definir as etapas a
seguir em cada uma das situações que podem ocorrer.
Por último, vamos realmente colocar a mão na massa, aprendendo os detalhes sobre a
elaboração do termo circunstanciado, incluindo as dicas práticas sobre o local da lavratura, a
obtenção dos dados, a redação do relatório e a solicitação de exames. Neste módulo vamos estudar
alguns exemplos de Termo Circunstanciado e exercitar a sua elaboração.

Metodologia de ensino
A instrução será desenvolvida utilizando o método de ensino interativo, valorizando a
construção do conhecimento por meio da interação dos participantes com o instrutor, com os

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demais participantes e com o próprio objeto do conhecimento, empregando para isto as técnicas de
apresentação interativa, além do uso de dinâmicas, vivências de grupo e simulados, fazendo
contraste com situações de rotina policial e exemplos do dia-dia.

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1. Aspectos legais básicos - Porque prender?

Objetivos
 Ao finalizar esta unidade espera-se que o participante tenha alcançado os seguintes objetivos:
 Conceituar prisão e infração penal.
 Descrever as características da infração penal: tipicidade e antijuridicidade, destacando os
excludentes de ilicitude.
 Identificar, em um caso descrito, as características de uma infração penal.
 Buscar o auto aperfeiçoamento por meio de leituras sobre o assunto.

1.1. Introdução
Você já parou para pensar o que é prender e porque as pessoas são presas?
Do ponto de vista do senso comum, prender é capturar alguém, privando esta pessoa de
sua liberdade, por ter feito algo considerado errado. No sentido jurídico, prender é privar ou limitar
alguém do direito de ir e vir por ter praticado algo contrário a lei.
No serviço policial, nós usamos a expressão prender normalmente associada à legislação
penal, tanto para a ação física de conter alguém, privando ou limitando seu direito de ir e vir, como
para os atos formais que se seguem à ação física.
Prender é restringir a liberdade de alguém para ir e vir porque infringiu a legislação
penal, cometendo uma ou mais infrações penais. Pode ser em flagrante delito ou depois, por ordem
de uma autoridade judiciária competente.

1.2. Infração penal


Infrações penais são fatos (ou omissões) que violam a lei penal. Como estabelece o Art.
1º da Lei de Introdução do Código Penal (Decreto-Lei nº 3.914, de 9 de dezembro de 1941):
“Art. 1º Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou
de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena
de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de
prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. ”
A infração penal compreende tanto os crimes como as contravenções. Embora a
diferenciação tenha relação com a gravidade da infração penal e a sanção prevista (Os Crimes são
descritos no Código Penal e em leis extravagantes, prevendo penas de detenção e de reclusão
enquanto as Contravenções penais são descritas na Lei de Contravenções Penais) do ponto de vista
prático a diferença é apenas formal.
Segundo o Decreto-Lei No. 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções
Penais) as Contravenções Penais estão sujeitas às mesmas regras gerais que os crimes, exceto
quando houver uma lei que expresse de modo diverso: “Art. 1º. Aplicam-se às contravenções as
regras gerais do Código Penal, sempre que a presente lei não disponha de modo contrário. ”

1.3. Requisitos da infração penal: gerais e específicos


1.3.1. Requisitos gerais: A tipicidade e a antijuridicidade.
 Tipicidade: Para que ocorra uma infração penal é preciso que haja uma conduta típica, ou
seja, um comportamento humano, seja por ação ou omissão, que é prevista como infração
penal, enquadrando-se em um tipo penal. O tipo penal, por sua vez, é a descrição abstrata da
conduta proibida, ou seja, prevista nos dispositivos legais como crime ou contravenção penal

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 Antijuridicidade: Entretanto, ao contrário do que poderia parecer, é preciso ainda que o fato
típico seja também ilícito, ou seja, contrário a lei. Embora pareça que executar qualquer fato
típico é sempre antijurídico, existem circunstâncias em que o fato típico não é ilegal. Estas
condições são chamadas de excludente de ilicitude.

1.4. Culpabilidade
A culpabilidade é a possibilidade de se considerar alguém culpado pela prática de uma
infração penal. Por essa razão, costuma ser definida como juízo de censurabilidade e reprovação
exercido sobre alguém que praticou um fato típico e ilícito. Não se trata de elemento do crime, mas
pressuposto para imposição de pena, porque, sendo um juízo de valor sobre o autor de uma infração
penal, não se concebe possa, ao mesmo tempo, estar dentro do crime, como seu elemento, e fora,
como juízo externo de valor do agente. Para censurar quem cometeu um crime, a culpabilidade deve
estar necessariamente fora dele.

1.4.1. Funções Da Culpabilidade


Uma das funções se refere a inclusão da Culpabilidade como elemento do crime, haja visto
que para parte da doutrina, o conceito de crime é tripartiti, ou seja, requer ação típica, antijurídica e
culpável. Outra parte, porém, prefere um conceito bipartiti, em que a culpabilidade não integra o
conceito de crime, funcionando estritamente como pressuposto para aplicação da pena.
A Culpabilidade desempenha também a função de Princípio do direito penal. Esta segunda
função consiste em atribuir à Culpabilidade a característica de limite dosador de justiça, funcionando
como o equilíbrio entre o direito de punir do Estado e a necessidade de sanção justa e adequada ao
infrator.
A Culpabilidade, como Princípio limitador do ius puniendi, não deve ser confundida com o
Princípio da responsabilidade pessoal do agente que, por sua vez, consiste na proibição de sanção
penal para além do agente infrator, ou seja, não admite punição por fatos praticados por outrem. A
Culpabilidade ao operar como limite ao ius puniendi, guarda um significado político-criminal, ao
passo que, consiste na impossibilidade de que o autor de um fato punível seja efetivamente punido
quando concorram determinadas condições psíquicas, pessoais ou situacionais que lhe
impossibilitam o normal acesso à proibição.
Outra função da Culpabilidade a ser considerada, refere-se à acepção de juízo de reprovação,
sendo composta pelos seguintes elementos: imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa
(reprovabilidade) e potencial consciência de ilicitude.

1.4.2. Elementos Da Culpabilidade


Imputabilidade
A Imputabilidade é a capacidade psíquica do agente em compreender o caráter ilícito de
determinado comportamento e a condição para que seja passível de punição, caso não venha agir de
modo diverso conforme o direito.
A imputabilidade, em conjunto com os demais elementos que compõe a Culpabilidade,
permite atribuir punição ao agente infrator, responsabilizando-o por sua conduta.
É importante a consideração de que embora o CP brasileiro não tenha estabelecido o que
seja a Imputabilidade, ao definir as causas de inimputabilidade, no artigo 26 do Código Penal, de
forma indireta é possível extrair o conceito da imputabilidade.
Para tanto, se inimputável é o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o

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caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, imputável é o agente
plenamente capaz, que possuí ao tempo da ação ou da omissão, condições de compreender o
caráter ilícito da ação e agir de modo diverso conforme o direito.

Potencial Consciência Da Ilicitude


A Potencial Consciência de Ilicitude consiste na particular condição que guarda o agente em
conhecer, ou ao menos de poder conhecer a ilicitude (ou antijuridicidade) de determinada conduta.
Constata-se assim que a consciência da ilicitude pode ser apenas potencial, ou seja, razoável,
não havendo a necessidade que o agente contemple conhecimento técnico-jurídico sobre a proibição,
de determinadas condutas perante o ordenamento jurídico.
Destaca-se que ao atuar desprovido da consciência de ilicitude, ao menos potencial, o agente
infrator estará em erro de proibição ou erro sobre a ilicitude do fato.

Exigibilidade De Conduta Diversa


A Exigibilidade de Conduta diversa consiste na possibilidade de exigir do agente que ele haja
de forma legal, ou seja, conforme o direito diante de uma determinada situação. É a análise acerca
da coerência em poder exigir que o agente determinasse sua conduta de determinada forma.
É dever de todo homem moldar suas atitudes aos modelos delineados pelo ordenamento
jurídico, entretanto, para que possa ser classificada como coerente a exigência de determinado
comportamento, é prudente que se esteja diante de uma situação de normalidade, onde o sujeito
pudesse agir conforme o esperado.

1.5. Excludentes de ilicitude.

São excludentes de ilicitude de caráter genérico: estado de necessidade, legítima defesa e


estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de direito. São circunstâncias em que a
conduta praticada, mesmo sendo típica, não configura uma infração penal. Segundo o Código Penal
Brasileiro:
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I – Em estado de necessidade;
II – Em legítima defesa;
III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
direito.
Em cada uma destas circunstâncias, um conjunto de características retira o caráter ilegal da
conduta típica:
 Estado de necessidade: pessoa pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
provocou por sua vontade nem podia evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir.
 Legítima defesa: pessoa usa de forma moderada os meios necessários para repelir
agressão injusta, atual ou iminente a direito seu ou de outrem.
 Estrito cumprimento do dever legal: pessoa pratica uma conduta em cumprimento de
um dever imposto pela lei.
 Exercício regular do direito: pessoa pratica uma conduta autorizada por lei.
É interessante observar, e talvez você já saiba, que além destes excludentes de caráter
genérico há excludentes específicas, encontradas na parte especial do Código Penal, como por
exemplo o aborto necessário (art. 128, inciso I) e a coação exercida para impedir suicídio (art. 146, §

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3º, incisos II). Dois excludentes específicos muito próximos ao serviço policial são os previstos no art.
150, § 3º:
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas
dependências:
I – Durante o dia, com a observância das formalidades legais, para efetuar prisãoou
outra diligência;
II – A qualquer hora do dia ou da noite, quando o crime está sendo ali praticado ou
na iminência de o ser.

1.6. Requisitos específicos.


Além dos requisitos gerais, que acabamos de estudar, há requisitos específicos para
cada crime ou contravenção penal, expressos nas várias formas que assumem os requisitos genéricos
nos diversos tipos penais, como o verbo que descreve a conduta, o objeto material, os sujeitos ativo
e passivo inscritos no tipo penal. Assim, se no caso concreto inexistir qualquer dos elementos da
descrição legal, não há crime.

 Sujeito ativo da infração penal


O sujeito ativo é aquele que pratica o fato típico, ou seja, a conduta descrita na
legislação penal como crime ou contravenção. Assim, dizemos que o conceito abrange aquele que
pratica a essência da figura típica (a pessoa que subtraiu uma coisa de outro, por exemplo) bem
como aquele que colabora de alguma maneira nesta conduta.
Este é um conceito importante, pois o sujeito ativo precisa ter algumas capacidades
penais para se tornar titular de obrigações no campo do direito penal. Em primeiro lugar, é preciso
distinguir quem tem capacidade penal para ser sujeito ativo em infrações penais em geral.
Obviamente, não tem capacidade penal (ou seja, não podem praticar crime ou
contravenção) os mortos, os entes inanimados e os animais, que podem ser apenas objeto ou
instrumentos do crime.
Não podemos ainda esquecer, como policiais, que a pessoa jurídica também não pode
ser sujeito ativo na maioria dos crimes crime, mas apenas os responsáveis concretos pelos atos
ilícitos (o gerente ou o atendente da empresa, por exemplo).
Ainda precisamos ficar atentos ao fato de que, apesar da maioria dos crimes poder ser
praticada por qualquer pessoa, para alguns é necessária a existência de uma capacidade especial ou
posição jurídica, como por exemplo, ser funcionário público no crime de peculato (Art. 312 do Código
Penal) ou ser médico no crime de omissão de notificação de doença (Art. 268 do Código Penal).

 Sujeito passivo da infração penal


Sujeito passivo, por outro lado, é o titular do bem jurídico que foi lesado ou ameaçado
pela conduta típica, como por exemplo, aquele que morre no homicídio ou aquele que é ferido na
lesão corporal. É interessante que você não esqueça que nem sempre a vítima da ocorrência é o
sujeito passivo, pois são coisas diferentes: o sujeito passivo pode ser:
o Homem, como por exemplo, no homicídio, Art. 121 do Código Penal.
o Pessoa jurídica, como por exemplo, na fraude para recebimento de indenização ou
valor segurado, Art. 171, § 2º, inciso V.
o Estado, nos crimes contra a administração pública, como por exemplo, o emprego
irregular de verbas ou rendas públicas, Art. 315 do Código Penal.
É importante também que não seja esquecida a possibilidade de haver crimes em que o
sujeito passivo é específico, como o menor em idade escolar no abandono intelectual (Art. 246 do
Código Penal).
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Além disso, a pessoa jurídica, como tem bens jurídicos protegidos por lei, também pode
ser sujeito passivo de determinados crimes como aqueles que são contra o patrimônio (como o furto,
previsto no art. 155 do Código Penal).
Finalmente, é muito importante recordar que uma mesma pessoa não pode ser ao
mesmo tempo sujeito ativo e passivo. A autolesão só será uma infração penal se for para lesar o
seguro, e então o sujeito passivo é a pessoa jurídica da seguradora (fraude para recebimento de
indenização ou valor segurado, Art. 171, § 2º, inciso V).
No suicídio também, só há crime para quem induz ou auxilia na prática (induzimento,
instigação ou auxílio a suicídio, Art. 122 do Código Penal), mas não para quem tenta ou consegue se
matar.
Na rixa (Rixa, Art. 137 do Código Penal), ocorrência tão comum no cotidiano policial,
embora os rixentos pratiquem a agressão e sejam agredidos, dando a impressão de que são ao
mesmo tempo sujeitos ativos e passivos pela mesma conduta, na realidade eles são sujeitos ativos
nas agressões que realizam, e sujeito passivo dos demais envolvidos.

1.7. Os tipos penais e o resultado da infração penal


Agora veremos que o tipo penal, ao descrever a conduta que o caracteriza, pode
estabelecer diferentes critérios, que são muito importantes, pois através deles se entende porque
alguns crimes precisam de um resultado final adverso para o sujeito passivo, concreto, e outros não:
basta a conduta para que a infração penal esteja completa.
 Crimes materiais: Em alguns casos, chamados de materiais, a descrição se baseia na ação,
mas precisa que o resultado se concretize (como no homicídio, por exemplo, previsto no Art.
121 do Código Penal, onde é preciso que a vítima morra) para que a conduta seja
considerada típica.
 Crimes formais: Em outros casos, o tipo penal descreve uma ação e um resultado,
dispensando o resultado para a consumação do crime, como no caso do crime de ameaça,
previsto no Art. 147 do Código Penal.
 Crimes de mera conduta: Finalmente, há casos em que o tipo penal descreve apenas uma
ação para a consumação do crime, sem resultado final, como por exemplo, no caso da rixa,
prevista no Art. 137 do Código Penal.

1.8. Crime consumado e crime tentado


Agora, vamos rever mais um conceito importante, pois o policial se defronta com esta
situação em seu cotidiano: o crime consumado e o crime tentado’
 Crime consumado: Segundo o Art. 14, inciso I do Código Penal, dizemos que o crime é
consumado quando a sua prática reúne todos os elementos de sua tipificação. Por isso, para
identificar o crime consumado é relevante conhecer a conduta típica, reconhecer seus
requisitos gerais e específicos, verificar a capacidade penal do sujeito ativo e as
especificidades do sujeito passivo e verificar se estamos tratando de um crime que depende
do resultado produzido.
 Crime tentado: Segundo o Art. 14, inciso II do Código Penal, dizemos que por outro lado um
crime é tentado quando iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à
vontade do agente.
 Quando falamos sobre crimes consumados e tentados, devemos sempre nos lembrar que a
contravenção penal, apesar de ser uma infração penal assim como o crime, não admite
tentativa porque assim está previsto na Lei das Contravenções Penais (Decreto Lei No. 3.688,

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de 3 de outubro de 1941) em seu Art. 4º: “Art. 4º. Não é punível a tentativa de
contravenção”.

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2. Aspectos legais básicos - Quando prender?
Objetivos
 Enumerar as hipóteses de prisão em flagrante previstas no artigo 302 do Código de Processo
Penal, destacando a diferença entre o flagrante esperado e o preparado.
 Descrever os direitos de quem é preso em flagrante delito e a impossibilidade de prender em
flagrante delito os menores de 18 anos.
 Identificar quem pode prender em flagrante delito e quem tem o dever de fazê-lo.

2.1. Introdução
Agora que vimos porque uma pessoa pode ser presa (porque comete uma infração
penal) vamos ver quando ela pode ser presa.
A resposta está na própria Constituição Federal, que estabelece:
“Art. 5º, Inciso LXI. Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita
e fundamentada da autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão disciplinar ou
crime propriamente militar, definidos em lei. ”
Embora o policial possa prender em qualquer uma das situações, ordem judicial ou
flagrante delito, iremos nesta unidade dar atenção à segunda: prisão em flagrante delito.

2.2. Prisão em flagrante delito


É um ato administrativo, com caráter de medida cautelar, de natureza processual,
exercitado antes da ação processual que só terá início quando a denúncia for recebida pelo juiz,
contra quem se encontra em flagrante delito. Pressupõe atos administrativos materiais, de
intervenção física imediata para cessar a prática de infração penal e atos administrativos formais,
associados à lavratura do auto de prisão em flagrante.
Justamente por este caráter cautelar, que decorre da necessidade de uma intervenção
imediata para interromper um crime ou contravenção é que este ato em um primeiro momento é
físico, recebendo o nome de ato administrativo material e apenas em um segundo momento
ocorrem os atos administrativos formais, associados à lavratura do auto de prisão em flagrante.
Lembre-se de diferenciar o ato administrativo material do ato administrativo formal na prisão em
flagrante.
A prisão em flagrante, como comentamos, tem dois momentos distintos:
O primeiro momento, relacionado aos aspectos materiais da prisão em flagrante,
quando as ações são físicas, materiais, isto é, quando o Estado autoriza e determina o uso da força
necessária (atos materiais) para fazer cessar a conduta por ele incriminada, não requerendo
formalidades.
Neste momento a simples manifestação verbal da vítima pedindo socorro ou solicitando
providência do órgão policial caracteriza representação e queixa.
O segundo momento relaciona-se aos aspectos formais da prisão em flagrante, e neste
momento a manifestação formal por meio de representação ou queixa-crime é obrigatória para a
lavratura (ato formal) do flagrante, por meio do Auto de Prisão em Flagrante (APF) ou elaboração de
um Termo Circunstanciado (TC) e recebimento da denúncia.

2.3. Espécies de flagrante delito


Surge então uma pergunta importante: uma pessoa só pode ser presa em flagrante
delito quando está cometendo o crime ou contravenção, ou seja, quando é surpreendida no ato em
si?

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Se você, policial, encontra uma pessoa que acabou de cometer um crime (por exemplo,
acabou de matar alguém) ela não está mais em flagrante delito?
Segundo o Código de processo Penal, há diversas modalidades de flagrante delito além
daquela em que alguém é surpreendido cometendo o crime:
Art. 302. Considera-se em flagrante quem:
I - Está cometendo a infração penal;
II - Acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer
pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;
IV - É encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que
façam presumir ser ele autor da infração.

Estas diferentes espécies de flagrante são chamadas pelos juristas de:


 Flagrante Próprio (Art. 302, Inciso I - está cometendo a infração penal; e II - acaba de
cometê-la). É o caso do agente surpreendido praticando o homicídio ou visto saindo da cena
do crime carregando o corpo da vítima, com a faca suja de sangue na cinta.
 Flagrante Impróprio ou quase flagrante (Art. 302, Inciso III - perseguido, logo após, pela
autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor
da infração). Nestes casos logo após significa o tempo necessário para a comunicação do
crime, uma rápida investigação sobre a autoria e a imediata perseguição. Embora a lei não
indique a duração do logo após, a melhor doutrina considera que o estado de flagrância
continua enquanto continuar a perseguição. Aliás, o que pretende o legislador é estender o
flagrante para aquelas situações muito próximas do flagrante próprio. Por isso mesmo, é
necessário que a perseguição do agente seja iniciada quase que imediatamente, e o agente
perseguido seja determinado, porque é preciso que as circunstâncias que cercam a
perseguição o coloquem em situação que faça presumir ser ele o autor da infração. O que se
deve levar em conta é que se o agente não é determinado imediatamente não há
perseguição, mas simples investigação. Consequentemente, se estas condições forem
atendidas não há um limite fixo de tempo entre a infração e a prisão em flagrante.
 Flagrante Presumido (Art. 302, Inciso IV), quando for encontrado, logo depois, com
instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. Neste
caso também, o tempo contido na expressão logo depois também não é delimitado pela lei.
Mas exige-se que o encontro se dê em ato sucessivo ao delito, logo depois da prática do
crime. O flagrante presumido ocorre quando, por exemplo, você foi informado de que uma
pessoa arrombou uma loja e subtraiu uma sacola com mercadorias e, alguns minutos após
chegar ao local, durante as buscas nas imediações, uma pessoa é encontrada com um pé de
cabra e uma sacola com mercadorias.

2.4. Flagrante em infrações penais permanentes e habituais


Há ainda a situação em que a infração penal é considerada permanente. Nestes casos o
flagrante delito também é permanente segundo o Código de Processo Penal: “Art. 303. Nas infrações
permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a permanência”.
Como você pode ver, no crime permanente a consumação se prolonga no tempo,
dependendo para isso apenas da vontade do agente. Logo, o agente estará em flagrante delito
enquanto não cessar a permanência. Você consegue lembrar-se de algum crime com esta
característica? Um bom exemplo é a extorsão mediante sequestro, ou simplesmente sequestro
(Código Penal) sequestro. Neste crime, o flagrante não se limita ao período em que a captura da
vítima é realizada ou logo após, nem mesmo à perseguição que possa ocorrer ou a eventualidade de
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o agente ser encontrado com instrumentos utilizados no sequestro. O flagrante se prolonga
enquanto a vítima estiver em cárcere privado.
Já no crime habitual, a consumação implica na prática reiterada de atos (e não a
continuidade de uma mesma conduta típica), validando a prisão em flagrante. Nestes casos,
normalmente exige-se uma sindicância prévia para a configuração da habitualidade e não há
consenso sobre a possibilidade de flagrante delito, pois alguns afirmam que não há como flagrar uma
habitualidade (que se estende no tempo) enquanto outros defendem que sim, é possível, como no
caso do exercício Ilegal da medicina quando o agente é flagrado atendendo vários pacientes.

2.5. Flagrante preparado e flagrante esperado


Outra questão importante na discussão sobre o flagrante, é a distinção entre o flagrante
preparado e o flagrante esperado. No flagrante preparado o agente é induzido à ação pelo chamado
"agente provocador" (policial). Entende-se nestes casos que o agente não praticou um crime, mas
participou apenas, embora sem o saber, de uma farsa, e que nestes casos a sua consumação se torna
impossível em virtude da preparação pela própria polícia. Não se considera, portanto, regular a
prisão em flagrante quando o flagrante é preparado ou provocado.
Esta situação difere do flagrante esperado, pois o crime ocorre sem a interferência
policial. Apesar de o policial permanecer em “tocaia”, aguarda a consumação do crime ou
contravenção penal, para só depois efetuar a prisão. Esta modalidade de flagrante é válida.

2.6. Aspectos importantes da prisão em flagrante


Embora a regra geral seja que qualquer pessoa pode ser presa e autuada em flagrante, a
legislação apresenta algumas exceções:

2.6.1. Não podem ser presos em flagrante delito


Não podem ser presos em flagrante, não importando o delito que cometam: os menores
de 18 anos uma vez que são inimputáveis (art. 106 e 107 do Estatuto da criança e do Adolescente); o
Presidente da República (art. 86, parágrafo 3º da Constituição Federal) e os diplomatas estrangeiros,
em decorrência de tratados e convenções internacionais.

2.6.2. Só podem ser presos em flagrante delito de crimes inafiançáveis


Só podem ser presos em flagrante delito em caso de crimes inafiançáveis: os membros
do Congresso Nacional (art. 53, parágrafo 1º da Constituição Federal); os deputados estaduais (art.
27, parágrafo 1º, c/c o art. 53, parágrafo 1º, da Constituição Federal); os magistrados (art. 33, II, da
Lei de Organização da Magistratura Nacional - LOMN); os membros do Ministério Público (art. 20, VIII,
da lei de organização do Ministério Público nacional - LONMP) e os advogados, se o crime for
cometido no desempenho de suas atividades profissionais.

2.6.3. Prisão de alienados mentais


É legal ainda a prisão dos alienados mentais, embora inimputáveis, já que a eles se pode
aplicar medida de segurança, cabendo no caso a instauração do incidente de insanidade mental (art.
149 do Código de processo Penal).

2.7. Ação penal pública e ação penal privada


Como você deve ter deduzido quando falamos da infração penal, uma conduta é
incriminada sempre por interesse do Estado, para promoção do bem comum. No entanto, como
policial, você já deve ter se deparado com crimes onde a punição do autor depende de manifestação
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da vontade da vítima, enquanto em outros a manifestação é desnecessária. Isso acontece porque a
ação penal, ou seja, o direito de invocar a tutela jurisdicional do Estado para a solução do caso
concreto pode ser pública ou privada.

2.7.1. Ação Penal Pública


Na ação penal pública cabe ao Ministério Público o dever de oferecer uma denúncia
contra o autor de uma infração penal, provocando assim que o Estado aprecie no âmbito da justiça
penal um determinado caso concreto. Isto ocorre nas infrações penais que invocam o dever do
Estado de proteger a coletividade ou o sujeito passivo de uma conduta tipificada. Dependendo deste
aspecto, a Ação Penal Pública pode ser Incondicionada ou Condicionada a Representação:
Ação Penal Pública Incondicionada: Neste caso o titular para o exercício do direito de
ação é o Ministério Público, que representa o Estado no interesse de proteger a coletividade, e
ocorre por meio de uma denúncia que independe da manifestação de vontade da vítima.
Ação Penal Pública Condicionada: Na ação pública condicionada a peça acusatória
(chamada de denúncia) também é ofertada pelo promotor, que representa o Estado no interesse de
proteger o agente passivo de uma infração penal, mas precisa ser antecedida de prévia manifestação
da parte vítima através de uma representação, que pode ser até mesmo um termo de declarações ou
formulário em que esta deixe clara sua vontade em processar o autor. Logo, neste caso a propositura
da ação depende de manifestação de vontade do ofendido.

2.7.2. Ação Penal Privada


Neste caso o Estado transfere a titularidade da ação penal para o particular e a peça
jurídica para isto é a queixa-crime oferecida pelo ofendido (vítima) ou seu representante legal, ao
invés da denúncia produzida pelo promotor na ação pública. Assim, a ação penal nestes casos
depende inteiramente da vítima da infração penal, e não pode ser iniciada contra a vontade desta.

2.7.3.Infrações penais de ação penal privada ou condicionada - ofendido menor de 18 anos


Sendo o ofendido menor de 18 anos de idade, o exercício do direito de representação
ou queixa caberá aos pais ou responsáveis.

2.8. Prisão em flagrante nas infrações de ação penal pública condicionada ou ação penal
privada
Neste momento, relembrando seu trabalho como policial, você provavelmente está
refletindo sobre uma questão importante: então quando eu posso prender uma pessoa por estar em
flagrante delito se a infração penal em questão depender da manifestação da vítima ou ofendido?
A conclusão é de que o fato de a vítima ter solicitado a intervenção policial no local, para
intervir no caso em andamento ou logo após, tornou evidente e manifesta sua vontade de que o
Estado adotasse os atos materiais que, em determinadas ocasiões, serão suficientes para a cessação
da atividade danosa do acusado, restando satisfeita a vítima.
Nestes casos pode ocorrer (e podemos dizer que é bastante comum em algumas
infrações penais) que antes de lavrar o Auto de Prisão em Flagrante, a mesma vítima que chamou a
polícia manifeste que não quer processar o autor da infração penal.
É importante então destacar que isto não torna ilegal o primeiro conjunto de ações do
policial, pois o cerceamento inicial da liberdade do autor está amparado nos dispositivos legais
referentes à prisão, e não trazem a necessidade de representação ou queixa-crime para a sua
efetivação.

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Resumindo, quem está em flagrante delito deve ser preso (prisão material).

2.9. Direitos do preso em flagrante


Durante a lavratura do auto, deverão ser observados os dispositivos constitucionais
previstos no Art. 5º da Constituição Federal (comunicação à família, direito de permanecer calado etc.
- art. 5º LXII, LXIII e LXIV, da CF). Não há nulidade na falta de comunicação à família se o preso não
indica a pessoa a ser comunicada (RT 687/334, 692/280).
Não há nulidade se o auto não é formalizado imediatamente, desde que o seja em 24
horas após a prisão, pois o art. 306 do Código de Processo Penal concede esse prazo para a entrega
da nota de culpa (RT 567/ 286, 683/347, 687/335).
A autoridade policial deverá desde logo arbitrar a fiança, quando ela é cabível, isto é,
nas infrações penais apenadas com detenção.
A nota de culpa será dada ao preso, assinada pela autoridade policial, no prazo de 24
horas depois da prisão, com o motivo desta, o nome do condutor e o das testemunhas. O preso
passará recibo da nota de culpa.
"A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente (leia-se em até 24 horas – tempo necessário para lavratura do auto de prisão em
flagrante) ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada" (art. 5º, LXII, da CF).
No caso de ilegalidade, a prisão em flagrante será relaxada pelo juiz, que também
poderá arbitrar a fiança, se for o caso.
Quando se verificar que o agente praticou o fato sob excludente de antijuridicidade, ou
não estiverem presentes as hipóteses que autorizam a prisão preventiva, o juiz concederá a
liberdade provisória (art. 310, do Código de Processo Penal).

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3. Aspectos legais básicos – Quem pode prender
Objetivos
Ao finalizar esta unidade espera-se que o participante tenha alcançado os seguintes objetivos:
 Identificar quem pode prender em flagrante delito e quem tem o dever de fazê-lo.
 Discutir, a partir de um caso descrito, a obrigatoriedade de prender.

3.1. Introdução
Agora que respondemos às duas primeiras perguntas que norteiam este módulo
(porque e quando uma pessoa pode ser presa?) Vamos nos dedicar à discussão da terceira e última
pergunta deste módulo? Então vejamos, segundo a nossa legislação quem pode prender em
flagrante delito?

3.2. Flagrante obrigatório e flagrante facultativo.


Segundo o Código de Processo Penal, algumas pessoas podem e outras têm o dever de
prender quem esteja em flagrante delito: “Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades
policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito”.
Como podemos verificar, a lei confere uma faculdade (poderá) ao particular e uma
obrigação (deverão) à autoridade e seus agentes. Daí falar-se em flagrante facultativo, no primeiro
caso, e em flagrante obrigatório, no segundo. É claro que neste caso o legislador se refere ao
primeiro momento da prisão em flagrante, que conforme já discutimos, está relacionado aos
aspectos materiais da prisão em flagrante, quando o Estado autoriza e determina o uso da força
necessária (atos materiais) para fazer cessar a conduta por ele incriminada, não requerendo
formalidades.
Afinal, não se poderia esperar de “qualquer do povo” que completasse também os
aspectos formais da prisão em flagrante, completando os atos físicos de contenção e prisão com a
lavratura do Auto de Prisão em Flagrante.
Mas este não é o ponto central da discussão, uma vez que o cidadão comum pode ou
não exercer esta faculdade. A questão mais interessante e relevante está na obrigatoriedade das
autoridades policiais e seus agentes.

3.3. Autoridade policial


A primeira questão a ser discutida trata de quem é autoridade policial e, desta forma,
tem o dever de prender em flagrante. Durante muito tempo, o conceito de autoridade policial ficou
restrito aos aspectos mais específicos de alguns atos formais previstos no Código de Processo Penal,
limitando a aplicação do termo ao Delegado de Polícia.
Entretanto, algumas alterações na estrutura legal do país levaram à ampliação desta
aplicação, entre elas o novo tratamento dado pela Constituição Federal ao tema segurança pública. A
Constituição Federal do ano de 1988 dá uma nova ênfase ao tema Segurança Pública, estabelecendo
a competência de cinco polícias, e determinando uma atuação sistêmica na Segurança Pública.
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,
é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e
do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - Polícia federal;
II - Polícia rodoviária federal;
III - Polícia ferroviária federal;
IV - Polícias civis;
V - Polícias militares e corpos de bombeiros militares.

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Assim, surge o Sistema de Segurança Pública, tendo os órgãos que o compõe as
seguintes competências:
 Polícia Federal: órgão do sistema de segurança pública, a quem compete, nos termos do art.
144, CF, a apuração de infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de
bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas,
assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e
exija repressão uniforme, segundo dispuser a lei. Também lhe compete prevenir e reprimir o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo
da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência. Ainda
lhe cabe exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras. Por fim, lhe
cabe exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
 Polícia Rodoviária Federal: Órgão do sistema de segurança pública, a quem compete, nos
termos do art. 144, CF, a função de patrulhamento ostensivo nas rodovias federais.
 Polícia Ferroviária Federal: Órgão do sistema de segurança pública, a quem compete, nos
termos do art. 144, CF, a função de patrulhamento ostensivo nas ferrovias federais.
 Polícia Civil: Órgão do sistema de segurança pública, a quem compete, nos termos do art.
144, CF, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e de apuração de
infrações penais, exceto as militares.
 Polícia Militar: Órgão do sistema de segurança pública, a quem compete, nos termos do art.
144, CF, as funções de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública.
Em relação às Polícias Militares, polícia ostensiva, é uma expressão nova. Foi adotada
por dois motivos: o primeiro, de estabelecer a exclusividade constitucional e, o segundo, para marcar
a expansão da competência além do "policiamento" ostensivo. A preservação da Ordem Pública dá-
se em duas fases distintas: a primeira em situação de normalidade, quando esta é assegurada com
ações preventivas através do exercício da Polícia Ostensiva (não confundir com Policiamento
Ostensivo); e a segunda, em situação de anormalidade, ou seja, na quebra da ordem pública, quando
tem que ser restabelecida através de ações de Polícia Ostensiva repressivas enérgicas e imediatas.
Desta nova definição constitucional, juntamente com a Legislação dos Juizados Especiais
Criminais, especialmente a Lei nº 9.099/95, é que o entendimento contemporâneo sobre o conceito
de autoridade policial se ampliou.

3.3.1. Quem é autoridade policial (Genérica)


Autoridade policial é toda pessoa investida da função policial. Logo, concluímos que
toda pessoa investida da função policial e seus agentes devem prender que se encontre em flagrante
delito.

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4. Juizados Especiais Criminais e o Termo Circunstanciado

Objetivos
 Descrever os aspectos históricos relacionados à criação dos Juizados Especiais Criminais e à
elaboração do Termo Circunstanciado em infrações penais de menor potencial ofensivo.
 Identificar, criticamente, os benefícios da elaboração do termo circunstanciado em infrações
penais de menor potencial ofensivo para a população, para a justiça e para o sistema de
segurança pública.

4.1. As discussões anteriores à Constituição Federal de 1988


Como você deve ter vivenciado, ou quem sabe estudado, a Constituição Federal de 1988
trouxe muitos avanços e inovações legais, inclusive nas questões relacionadas à justiça e ao sistema
de segurança pública.
Um dos assuntos amplamente discutido na época que antecedeu a Constituinte era a
convicção geral de que o modelo de legislação penal baseada primariamente no encarceramento
(prisão) dos ofensores, mesmo nos casos menos graves, estava se tornando insustentável.
Na verdade, o modelo de controle social através da criminalização das condutas
desviantes e a imposição de penas restritivas de liberdade provocaram a saturação do sistema
judiciário e do sistema prisional, os quais não conseguem responder às demandas que progridem
rapidamente.
Muitos crimes acabavam prescrevendo sem que o autor recebesse qualquer punição
simplesmente pelo acúmulo de inquéritos e processos, ficando os integrantes do Sistema Judiciário e
Ministério Público impotentes diante do excesso de trabalho (na maioria relacionados a fatos simples
e crimes de bagatela) e da falta de alternativas legais para buscarem uma alternativa punitiva.
Restava desta forma a inércia, justificada pelo número enorme de processos, a
descrença no Estado e sua capacidade de punir, o constrangimento das vítimas e a impunidade dos
autores em razão do tempo de espera e a consequente prescrição.
Por outro lado, entidades ligadas aos Direitos Humanos defendiam soluções diferentes
do encarceramento para os episódios de menor gravidade, encaminhados em processos mais
informais e céleres, privilegiando a mediação de conflitos e a transação penal para a imposição de
punições alternativas.
Neste contexto, a chegada da Assembléia Constituinte mobiliza a sociedade civil
organizada pela criação dos juizados de instrução ou especiais, reduzindo o formalismo dos
procedimentos, aproximando a justiça da sociedade e produzindo soluções por transação, diferentes
do encarceramento.

4.2. Previsão Constitucional


Como resultado desta discussão, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu a criação
de juizados especiais, pela União, Distrito Federal, Estados e Territórios, para a conciliação, o
julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor
potencial ofensivo. Diz a Constituição Federal de 1988, no Art. 98, caput e inciso I:
A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão juizados
especiais providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a
conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e
infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e
sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o
julgamento de recursos por turmas de juízes de 1º grau.

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A Emenda Constitucional nº 22, de 18 de março de 1999, possibilitou a criação dos
Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal.
Como você pode perceber a partir do texto legal, o dispositivo constitucional cria a
necessidade de serem criados juizados especiais e permite que eles sejam providos tanto por juízes
togados (juízes togados são os pertencentes à carreira da magistratura) como por juízes leigos.
Estabelece que estes Juizados especiais não serão competentes apenas para a
conciliação, mas também para o julgamento e execução de infrações penais de menor ofensivo.
Estabelece ainda que sejam procedimentos orais e sumaríssimos, e que nas hipóteses
previstas em lei se admitiria a transação penal para resolução célere e restaurativa do conflito

4.3. A Lei dos Juizados Especiais – Lei 9.099 de 26 de setembro de 1995


Apesar de comemorada pelos segmentos envolvidos, a criação dos juizados especiais só é
regulamentada em 1995, mais especificamente pela Lei 9.099 de 26 de setembro de 1995,
Regulamentação dos Juizados Especiais Criminais.

4.3.1. Composição, competência e a ênfase na transação penal


A Lei 9.099, a partir do artigo 60 estabelece que:
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos,
tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações
penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e
continência.
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do
júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão
os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.
Ou seja:
 Composição: Temos que o Juizado especial pode ser composto por juízes togados, que são
magistrados de carreira, ou leigos, isto é, que não sejam de carreira, mas nomeados ou
designados apenas para isto;
 Competência: Que a competência dos juizados especiais é sobre as infrações penais de
menor potencial ofensivo (e veremos na próxima aula o que são estas infrações penais); e
 Ênfase na transação penal: Na reunião de processos perante o juízo comum ou tribunal de
júri a ênfase será a manutenção dos princípios da transação penal e da composição dos
danos civis.

4.4. Critérios (princípios) orientadores da Lei 9.099/95


No artigo 62, a Lei 9.099 estabelece os princípios orientadores dos Juizados Especiais
Criminais, que influenciam diretamente a elaboração do Termo Circunstanciado:
Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da
oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,
objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a
aplicação de pena não privativa de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.603, de
2018)
Ou seja, os critérios (princípios) serão:
 Oralidade: a maioria dos procedimentos será feita oralmente, ou seja, se buscará a melhor
solução sem a exigência de que todos os argumentos e pedidos durante o processo sejam
escritos;
 Simplicidade: As causas acerca dos procedimentos dos juizados especiais serem de menor
complexidade, ou seja, simples, para que não se exija a complexidade tal qual ocorre no

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procedimento comum, sem que se prejudique o resultado da prestação jurisdicional.
Contudo, isso não quer dizer que as causas num juizado especial às vezes devam prescindir,
por exemplo, de uma perícia. Até também uma perícia pode ser simples, ou mesmo
simplificar um processo.
 Informalidade: com a oralidade temos uma maior informalidade na busca de um
encaminhamento, tornando a justiça nestes casos mais parecida com a maneira como
resolvemos problemas no nosso dia-a-dia;
 Economia processual: a valorização da oralidade e informalidade será apoiada pela busca da
redução de etapas e procedimentos processuais meramente formais, simplificando a ação do
ministério público e do magistrado;
 Celeridade: finalmente, se buscará maior rapidez (celeridade é rapidez) na solução final,
reduzindo a demora que tanto angustia as pessoas que dependem da justiça quando está é
tardia.

4.5. Elaboração do termo circunstanciado segundo previsto na Lei 9.099/95


Justamente atendendo buscar a mediação do conflito ao invés do encarceramento do
autor e a resposta rápida por meio de etapas relativamente simples e informais, que a legislação
ampliou estes critérios para o momento da prisão.
A partir da lei 9.099/95, ao autor de infração penal de menor potencial ofensivo que for
imediatamente encaminhado ao Juizado ou que assumir o compromisso de comparecer ao Juizado
quando for solicitado não se imporá prisão em flagrante.
Ao invés disso, a autoridade policial fará um relato detalhado sobre as circunstâncias em
que os fatos ocorreram e leva o autor direto para o Juizado Especial Criminal junto com a vítima, já
providenciando os exames periciais necessários.
É o que prevê o artigo 69 da Lei 9.099/95:
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e
a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
E nos locais onde não existe um plantão do juizado Especial Criminal, como é o caso da
maior parte do Brasil?
Nestes casos o autor será liberado na hora, após a elaboração do relato ou termo
circunstanciado pelo policial e o compromisso do autor em comparecer no Juizado Especial Criminal
em uma data e horário que pode ser agendada neste momento ou que depois será definida e
comunicada a ele.
O parágrafo único do Art. 69 fala exatamente isso:
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele
comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança (...).

4.6. O Termo Circunstanciado como base para a denúncia


O Termo Circunstanciado elaborado pelo policial será encaminhado ao Juizado Especial
Criminal e lá, utilizado na audiência que ocorrerá no dia agendado.
Em audiência preliminar, será esclarecido pelo conciliador sobre a possibilidade da
composição dos danos civis. Na impossibilidade de acordo, será dado à vítima o direito de
representação verbal, o qual será reduzido a termo. Havendo representação ou nos casos de infração
penal de ação pública incondicionada, o Ministério Público poderá propor a transação penal, que é o

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procedimento conciliatório pelo qual as partes interessadas, fazem concessões mútuas, que
previnem ou extinguem obrigações litigiosas ou duvidosas.
Aceita a proposta, o Juiz aplicará uma pena restritiva de direitos ou multa, que será
registrada no processo apenas para impedir que o benefício não se repita no prazo de cinco anos.
Mas e se não houver acordo, o autor recusar a transação ou mesmo se ele não
preencher as condições para ser beneficiado pela transação penal?
Por outro lado, caso haja recusa deste benefício ou o autor do fato não preencha os
requisitos legais, o Ministério Público oferecerá denúncia na própria audiência, de forma oral, e o
processo correrá normalmente aplicando-se os demais institutos vigentes ao processo ordinário até
se chegar à sentença.
Fica assim dispensado o retorno do encaminhamento para a elaboração de um inquérito
policial ou mesmo o exame de corpo delito, se houver exames médicos que comprovem a
materialidade da infração penal.
O termo circunstanciado, assim, serve para promover a oralidade, simplicidade, a
informalidade, a economia processual e a celeridade mesmo que não haja a transação penal e o
processo prossiga para outras instâncias do judiciário.

4.7. Entendendo melhor quem faz o Termo Circunstanciado


Como policial você deve ter percebido que a Lei 9.099/95 na verdade estabelece
procedimentos e critérios especiais para as infrações consideradas menos graves ou de menor
potencial ofensivo, a fim de possibilitar que elas tenham uma resposta mais rápida e que satisfaça o
anseio por justiça do ofendido sem que a solução seja necessariamente prender.
Para que ocorra esta rapidez, ela reduz os documentos apenas aos necessários para
registrar uma situação que é entendida como simples, baseando boa parte dos procedimentos no
Juizado Especial Criminal no relato que o policial formalizou ao atender a ocorrência e nos exames
que ele entendeu serem necessários naquele momento e já providenciou para que a celeridade não
fosse comprometida.
O Art. 69 da Lei 9.099/95, que acabamos de estudar, prevê que:
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará
termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do
fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
(Grifo nosso)
Mas então, quem é a autoridade policial para aplicação desta Lei, isto é, para elaborar o
Termo Circunstanciado? Não há dúvida de que o termo autoridade policial conforme utilizado nesta
legislação inclui o Policial Militar.

4.8. A palavra dos doutrinadores


Isso é o que afirmam alguns doutrinadores (estudiosos de notável saber jurídico, cujos
escritos servem de base para a compreensão da lei e sua aplicação na prática):
Álvaro Lazzarini, um respeitável doutrinador, sustenta que:
[...] autoridade policial é um agente administrativo que exerce atividade policial,
tendo o poder de se impor a outrem nos termos da lei, conforme o consenso
daqueles mesmos sobre os quais a sua autoridade é exercida, consenso esse que se
resume nos poderes que lhe são atribuídos pela mesma lei, emanada do Estado em
nome dos concidadãos.

23
Damásio de Jesus, outro famoso especialista, sustenta que: “[...] 'autoridade policial',
para os estritos fins da Lei comentada, compreende qualquer servidor público que tenha atribuições
de exercer o policiamento, preventivo ou repressivo”.
Rogério Lauria Tucci, autor reconhecido, citado na monografia de Farias entende que:
“Em suma, qualquer órgão específico da administração direta, regularmente investido no exercício
de função determinante, quer interna, quer externamente, da segurança pública, submete-se no
conceito de polícia e, como tal, é dotado de autoridade de polícia”.

4.9. Conselho Nacional do Ministério Público


O posicionamento do Conselho Nacional do Ministério Público, publicada no Diário
Oficial da União, Seção 1, de 18/09/2014, págs. 85-886, confirma o mesmo entendimento:
Por ocasião do julgamento do Processo CNMP n.º 0.00.000.001461/2013-22, o presidente do
Conselho, fez referência à ADI 2862-6/SP, e passando a palavra ao Relator do processo, o Conselheiro
Luiz Moreira Gomes Junior, foi apresentado o seguinte relatório (extrato):
De saída é necessário ter conta, como de forma muito bem frisada por Vossa
Excelência, o Supremo já analisou essa matéria, ao contrário do que se possa supor,
à primeira vista, aquilo que se está discutindo no presente caso não é a adoção de
qualquer tipo de atividade de investigação criminal, mas apenas a lavratura de
termo circunstanciado pela Polícia Rodoviária Federal faz nas rodovias federais há
mais de dez anos como as Policias Militares fazem em quase todos os municípios
do País também por esse prazo longo. A Lavratura de TCOs não deve, portanto, ser
confundida com investigação criminal, atividade inerente à polícia judiciária e
outras instituições similares. Nem autoridade policial há de ser compreendida
estritamente como o delegado de polícia [...]. A lavratura dos TCOs pelas Polícias
Militares e pela Polícia Rodoviária Federal cumpre na verdade o princípio da
eficiência, na medida em que impõe um serviço público realizado com muito maior
qualidade, deixando a polícia judiciária atenta aos crimes de especial gravidade,
que deve realmente ocupar em primazia sua atuação.
O Conselho, por unanimidade, julgou improcedente o pedido, nos termos do voto do
Relator.

4.10. A manifestação do Poder Judiciário e de seus integrantes


Da mesma maneira, várias instâncias do Poder Judiciário se manifestaram confirmando
que os Policiais Militares podem fazer o Termo Circunstanciado, pois são autoridades policiais para
os fins da Lei 9.099/95.
No XVII Encontro Nacional do Colégio dos Desembargadores Corregedores Gerais de
Justiça do Brasil, reunidos em São Luís do Maranhão, nos dias 04 e 05 de março de 1999, realizou-se
a composição da "Carta de São Luís do Maranhão”, onde foi concluído que:
Autoridade policial, na melhor interpretação do art. 69 da lei 9.099/95, é também o
policial de rua, o policial militar, não constituindo, portanto, atribuição exclusiva da
polícia judiciária a lavratura de Termos Circunstanciados. O combate à
criminalidade e à impunidade exigem atuação dinâmica de todos os Órgãos da
Segurança Pública.

Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, §1º do Provimento 04/99:


“[...] é o agente do Poder Público com possibilidade de interferir na vida da pessoa
natural, enquanto o qualificativo policial é utilizado para designar o servidor
encarregado do policiamento preventivo ou repressivo ”.

24
O Fórum Nacional dos Juizados Especiais – FONAJE, através do Enunciado Criminal 34,
expressou a possibilidade da lavratura de termo circunstanciado pela Polícia Militar.
Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, através do Provimento
n. 34, de 28 de dezembro de 2000:
A autoridade policial, civil ou militar, que tomar conhecimento da ocorrência,
lavrará termo circunstanciado, comunicando-se com a secretaria do juizado
especial para agendamento da audiência preliminar, com intimação imediata dos
envolvidos.

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Provimento 806/03:


“Considera-se autoridade policial, apta a tomar conhecimento da ocorrência e a
lavrar termo circunstanciado, o agente do Poder Público, investido legalmente para
intervir na vida da pessoa natural, que atue no policiamento ostensivo ou
investigatório”.

Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul, em Instrução n. 05/04, de 2 de


abril de 2004, publicado no Diário da Justiça, n. 786, p. 2:
“Para efeito do disposto no artigo 69 da Lei n 9.099, de 26 de setembro de 1995, e
nos artigos nº 72 e 73 da Lei nº 1.071, de 11 de julho de 1990, entende-se por
“autoridade policial”, o agente dos Órgãos da Segurança Pública do Estado, policial
civil ou militar, que atua no policiamento ostensivo ou investigatório [...]”.

Corregedoria-Geral Da Justiça do Estado de Sergipe - Provimento nº 13/2008: Dispõe


sobre o recebimento de Termo de Ocorrência Circunstanciado lavrado pela Polícia Militar, no âmbito
dos Juizados Especiais Criminais do Estado de Sergipe e dá outras providências.
CONSIDERANDO que o Termo de Ocorrência Circunstanciado – TOC – é relato de
fatos delituosos de menor potencial ofensivo definido na Lei 9.099/95;
CONSIDERANDO que a lavratura do TOC pode ser feita por autoridade policial, seja
ela civil ou militar, segundo decidido no Fórum Nacional dos Juizados Especiais –
FONAJE, no Enunciado Criminal nº 34;

Corregedoria-Geral Da Justiça do Estado de Goiás - Provimento N° 18, de 15 de julho de


2015: Autoriza os Juízes de Direito dos Juizados Especiais e Comarcas do Estado de Goiás a
recepcionar termos circunstanciados de ocorrência lavrados por policiais militares ou rodoviários
federais com atuação no Estado de Goiás: “CONSIDERANDO que a expressão "autoridade policial",
prevista no art. 69 da Lei 9.099/95 abrange qualquer autoridade pública que tome conhecimento da
infração penal; ”
Corregedoria-Geral Da Justiça do Estado do Rio Grande do Norte - Provimento nº 144,
de 11 de março 2016: Facultar aos Magistrados de 1º Instância do Poder Judiciário do Estado do Rio
Grande do Norte a recepção de termos circunstanciados lavrados por policiais militares, rodoviários
federais ou ferroviários federais.
CONSIDERANDO que o art. 69 da Lei dos Juizados Especiais não restringe a
competência administrativa da autoridade policial para lavratura de termos
circunstanciados, os quais constituem mero relatório sumário da infração, sem
qualquer feição investigativa;
CONSIDERANDO que a Constituição Federal não estabeleceu exclusividade de
atribuições a nenhuma das instituições Policiais dos Estados; e que em matéria de
segurança pública a única exclusividade imposta pelo Constituinte é aquela
relacionada às atribuições da Polícia Federal com relação ao exercício da função de
Polícia Judiciária da União;
25
Corregedoria-Geral Da Justiça do Estado do Alagoas - Provimento nº 51, de 19 dezembro
de 2016. - Autoriza os Juízes de Direito do Estado de Alagoas a recepcionarem termo circunstanciado
de ocorrência lavrados por policial militar ou rodoviário federal com atuação no Estado:

“Art. 2º Para os fins previstos no art. 69, da Lei nº 9.099/95, entende-se por
autoridade policial, apta a tomar conhecimento da ocorrência, lavrando o termo
circunstanciado, encaminhado imediatamente, ao Poder Judiciário, o agente do
Poder Público investido legalmente para intervir na vida da pessoa natural,
atuando no policiamento ostensivo ou investigatório”.

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais - Aviso Conjunto Nº 02/PR/2017:


O Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais e o Corregedor-
Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais, no uso de suas atribuições legais,
considerando o disposto na Lei estadual nº 22.257, de 27 de julho de 2016, que
autorizou a lavratura de Termo Circunstanciado de Ocorrência – TCO, de que trata
a Lei federal nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, por todos os integrantes dos
órgãos a que se referem os incisos IV e V do “caput” do art. 144 da Constituição
Federal, AVISAM a todos os magistrados que os termos circunstanciados de
ocorrências, relativos às infrações penais de menor potencial ofensivo, lavrados
pelos policiais militares, com respaldo na regra do art. 191 da Lei estadual em
epígrafe, também poderão ser registrados, autuados e distribuídos perante o Juízo
competente.

4.11. O Estado de Rondônia

Rondônia implementou a lavratura do termo circunstanciado por policiais militares a


partir da regulamentação instituída pelo Decreto 21.256, de 13 de setembro de 2016.
Para tanto, o Comando Geral da PMRO instituiu a Resolução 206, de 30 de setembro de
2016, que definiu os modelos oficiais de documentos operacionais da corporação.
Em abril de 2017, o Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, através do Provimento
Corregedoria Nº 011/2017, recomendou aos magistrados de 1ª instância o recebimento de Termos
Circunstanciados lavrados pelas Polícias Militar e Rodoviária Federal que lhes forem encaminhados
pelas autoridades policiais designadas para esse fim pelas respectivas corporações, entendendo a
abrangência do termo “autoridade policial” para a lavratura de termo circunstanciado:
CONSIDERANDO que a expressão “autoridade policial” tem um maior alcance para
a finalidade de lavratura de um Termo Circunstanciado de Ocorrência, conforme
veiculado no acórdão proferido na ADI 2862, sem prejuízo da decisão proferida na
Reclamação 6612, ambas pelo Supremo Tribunal Federal;
Em agosto do mesmo ano, o Ministério Público do Estado de Rondônia, impetrou uma
Ação direta de inconstitucionalidade face ao Decreto 21.256, alegando inconstitucionalidade formal
(falta de competência para legislar em matéria processual penal) e inconstitucionalidade material
(usurpação de competência atribuída a delegado de polícia).
Em dezembro de 2017, o TJRO indeferiu a petição inicial da ADI, sob fundamentação de
que a matéria em discussão não pode ser objeto de ADI, porquanto o ato normativo impugnado
trata-se de um Decreto regulamentar, de modo que não há que se falar em inconstitucionalidade,
pois a norma não vai além do conteúdo da lei.
Portanto, é certo que o Decreto Estadual n. 21.256/16, que estabelece diretriz à
integração dos procedimentos a serem adotados pelos Órgãos da Segurança Pública, na lavratura do

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Termo Circunstanciado, regulamenta o que já é previsto no artigo 69, da Lei Federal n. 9.099, de 26
de setembro de 1995.

4.12. A decisão do Supremo Tribunal Federal


Finalmente, o Supremo Tribunal Federal, que tem por finalidade esclarecer e decidir
sobre as questões constitucionais, em julgamento de ação direta de inconstitucionalidade, que
questionava a competência do policial militar para a lavratura de termo circunstanciado, apresentou,
por unanimidade, o seguinte parecer:
“É de se concluir, pois, que a presente ação direta de inconstitucionalidade não
pode ser conhecida. No concernente ao mérito, também, não assiste razão ao
Partido requerente, porquanto inexiste afronta ao art. 22, inciso I, da Constituição
Federal, visto que o texto impugnado não dispõe sobre direito processual ao
atribuir à autoridade policial militar competência para lavrar termo circunstanciado
a ser comunicado ao juizado especial. Não se vislumbra, ainda, nem mesmo afronta
ao disposto nos incisos IV e V, e §§ 4º e 5º, do art. 144, da Constituição Federal, em
razão de não estar configurada ofensa à repartição constitucional de competências
entre as polícias civil e militar, além de tratar, especificamente, de segurança
nacional”. (ADI 2618 PR)
Em 25 de outubro de 2017, durante o julgamento da ADI 3982 / SC, o Ministro Luiz,
diante do não cabimento do meio processual escolhido para veicular a pretensão de direito
formulada, NÃO CONHEÇEU ação direta de inconstitucionalidade, visto que o ato normativo
impugnado é ato normativo secundário.
Como você pode ver, não há mais dúvida a este respeito: O termo autoridade policial
conforme utilizado nesta legislação inclui o Policial Militar e, portanto, cabe também ao Policial
Militar elaborar o Termo Circunstanciado quando for o caso.

4.13. Os benefícios produzidos pela elaboração do Termo Circunstanciado por Policiais


Militares
Além da previsão legal, pois é fundamental que as polícias estejam voltadas para o
cumprimento da lei, a elaboração do Termo Circunstanciado também pelos Policiais Militares traz
inúmeros benefícios ao ampliar o acesso da população a este direito.
 Atendimento ao cidadão no local da infração, não havendo a necessidade de deslocar-se até
a delegacia para lavratura do Termo Circunstanciado, que por muitas vezes não é realizado
naquele momento, tendo o cidadão que retornar posteriormente para término do
procedimento;
 Celeridade no desfecho dos atendimentos policiais, em benefício do cidadão;
 Redução da sensação de impunidade, pois no local dos fatos todos terão conhecimento dos
desdobramentos e implicações decorrentes, inclusive com o agendamento da audiência
judicial;
 Redução do tempo de envolvimento das guarnições policiais nas ocorrências, possibilitando a
ampliação de ações de caráter preventivo e não somente de resposta a solicitações;
 Manutenção do aparato policial em sua área de atuação, não havendo a necessidade do
deslocamento da guarnição para a delegacia;
 Redução da necessidade de condução coercitiva para a Delegacia de Polícia e a
estigmatização resultante deste ato para o cidadão;
 Liberação do efetivo da Polícia Judiciária para centrar esforços na apuração (investigação)
das infrações penais.

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5. Reconhecendo as infrações de menor potencial ofensivo

Objetivos
 Conceituar infração penal de menor potencial ofensivo.
 Identificar, corretamente, as infrações de menor potencial ofensivo.

5.1. Introdução: As discussões anteriores à Constituição Federal de 1988


Como vimos na aula anterior, a Lei 9.099/95 ao regulamentar os Juizados Especiais
Criminais previstos no Art. 98 da Constituição Federal, estabelece procedimentos especiais para as
infrações de menor potencial ofensivo.
Nestas infrações não se imporá a prisão em flagrante ao autor que for imediatamente
conduzido ao Juizado Especial Criminal ou assumir o compromisso de fazer isso, cabendo ao policial
que atendeu a ocorrência, como autoridade policial naquele momento, elaborar um relatório ou
Termo Circunstanciado que será enviado ao Juizado e servirá de base para os atos posteriores.
Possibilitou inclusive que este policial providencie os exames de corpo delito que achar
necessários, visando complementar seu relato, que poderá servir inclusive de base para a denúncia
pelo Ministério Público nas infrações penais de ação pública em que o autor não compareça ou não
aceite a transação penal.
No módulo anterior, nós estudamos alguns conceitos que auxiliam na compreensão
desta legislação. Vimos que infração penal pode ser um crime ou contravenção e que há
determinados requisitos gerais e específicos para termos uma infração penal. Os requisitos gerais
aplicáveis a todos os crime e contravenções, são a tipicidade e a antijuridicidade, aos quais se juntam
requisitos aplicáveis apenas a uma determinada infração penal.
Estudamos ainda que há determinados requisitos que excluem a ilicitude de fatos típicos.
Há excludentes gerais, também aplicáveis a qualquer situação, e excludentes específicos, que afetam
apenas aquele tipo penal.
Saber identificar em uma situação real os requisitos e excludentes, gerais e específicos, é
fundamental para decidir se a elaboração do Termo Circunstanciado se aplica naquela situação
concreta em particular.

5.2. Definindo as infrações penais que são de menor potencial ofensivo


Quando falamos de menor potencial ofensivo, o que você pensa como policial?
Provavelmente pensa em uma infração penal cujas consequências não sejam tão graves para o
ofendido e que por isso o autor deveria receber um tratamento especial, mais voltado para a
resolução do problema, que possibilitasse atender ao anseio da vítima por uma resposta rápida e
visível.
Mas como definir estas infrações penais? Esta é uma questão importante para a
aplicação da lei 9.099/95, que estamos estudando até agora. A forma adotada foi definir as infrações
de menor potencial ofensivo com base na pena previstas. Segundo a Lei 11.313, de 28 de junho de
2006, que alterou o Art. 61 da Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995 Infrações de menor potencial
ofensivo são todas as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não-
superior a dois anos.
Assim, as infrações de menor potencial ofensivo estão tipificadas justamente na
legislação penal brasileira:
 Decreto-lei nº 6.259, de 10 de fevereiro de 1944, (Loterias);
 Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, (Estatuto da Criança e do Adolescente);
 Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, (Código de Defesa do Consumidor);
 Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, (Código de Trânsito Brasileiro);
 Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, (Meio Ambiente);
 Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. (Estatuto do Idoso);
 Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006 (Sisnad - prevenção do uso indevido, repressão à
produção e ao tráfico ilícito de drogas)
Como você pode imaginar com base na sua experiência, são muitos os crimes e
contravenções em que a Lei 9.099 é aplicada, e o estudo de todos pode ser complexo. Ainda mais
para o policial que tem que decidir na hora o que irá fazer.
Realmente a elaboração do Termo Circunstanciado exige que o policial estude ainda
mais o direito penal, e conheça melhor os tipos penais, seus requisitos e excludentes. Por outro lado,
as estatísticas confirmam aquilo que a experiência já indicava: no dia-a-dia os policiais que atuam na
rua lidam com um universo menor de crimes e contravenções, mais comuns e que precisam ser
conhecidas com certa profundidade por quem atua na atividade operacional. Mas é claro que isso
não livra você de continuar lendo e estudando sobre todas as infrações penais que podem ocorrer na
sua área de trabalho.
A seguir, veremos a descrição (tipificação) destas ocorrências mais comuns e alguns
aspectos específicos de cada uma delas para os quais você precisa ficar atento.

5.3. Principais infrações penais de menor potencial ofensivo, previstas no Código Penal
A seguir, serão apresentados os principais aspectos das infrações penais de menor
potencial ofensivo, mais comuns, tipificadas no Código Penal:

5.3.1. Lesão corporal (Art.129, caput, do CP)


Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
5.3.2. Lesão corporal culposa (Art. 129 § 6º do CP)
§ 6º. Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano.

Aspectos importantes:
 Considera-se lesão corporal qualquer ofensa à integridade física de uma pessoa e, quando
essa lesão é leve (de pequena gravidade) ou culposa (não intencional, ou seja, praticada sem
querer e independentemente de sua gravidade) é considerada infração de menor potencial
ofensivo.
 A ação penal é pública condicionada à representação da vítima (assunto tratado no Módulo 1
deste Curso) para as lesões corporais leves e lesões corporais culposas, por força do art. 88
da Lei nº 9.099/95. Neste caso, para condenação na Justiça, é necessária representação da
pessoa lesionada (vítima), ou seja, depende de que a vítima declare que quer a
responsabilização penal do autor da lesão. O policial pode esclarecer à vítima que, na Justiça,
ela poderá mudar de ideia e não dar seguimento ao processo.
 As lesões corporais leves são aquelas que não apresentam maior gravidade, pela
superficialidade e pequena extensão do ferimento, como é o caso dos arranhões,
hematomas e pequenos cortes. A gravidade da lesão, entretanto, será possível avaliar
através do que constar no boletim de atendimento médico, considerando-se a lesão descrita,
o atendimento realizado e a pronta liberação da pessoa lesionada.
 As lesões corporais culposas (que são aquelas em que o autor não tinha a intenção de ferir,
aquelas que foram praticadas sem querer, mas que aconteceram por falta de cuidado ou
atenção do autor), independentemente da maior ou menor gravidade do (s) ferimento (s)
produzido (s), a infração é considerada de pequeno potencial ofensivo.
 Nas lesões corporais culposas praticadas na direção de veículo automotor nos acidentes de
trânsito, é aplicável o art. 303 do CTB (Lei nº 9.503/97), que fixou em 2 anos de detenção a
pena máxima cominada, logo também é considerada de menor potencial ofensivo.
5.3.3. Calúnia (Art. 138 do CP)
Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§2º É punível a calúnia contra os mortos.

Aspectos importantes:
 Imputar significa atribuir, enquanto propalar significa propagar e divulgar significa tornar
público. Então o caput se aplica ao inventor da falsidade e o parágrafo único, a quem a
multiplica.
 Caluniar significa acusar de forma falsa uma pessoa de um crime.
 É elementar do tipo a falsidade, portanto o autor deve ter a intenção de praticar o falso;
acreditando ser verdadeira a imputação não há crime.
 O fato imputado deve ser definido como crime, ou seja, deve ser típico e ilícito. Além disso,
não pode ser genérico, pois o tipo exige divulgação de fato, certo e preciso.
 A calúnia se consuma quando terceira pessoa tem conhecimento do falso.
 Não há calúnia, por ausência do elemento subjetivo do delito, se é fruto de incontinência
verbal e provocada por explosão emocional no decorrer de acirrada discussão (TACrSP, RT
544/381).

5.3.4. Difamação (Art. 139 do CP)


Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

Aspectos importantes:
 Difamar é atribuir a uma pessoa um fato ofensivo a sua boa fama, ou seja, ofender a sua
imagem perante as demais pessoas em comunidade.
 Esse fato imputado à pessoa, ao contrário do que se dá no crime de calúnia, não precisa ser
falso nem pode ser definido como crime.
 Mesmo que verdadeiro o fato ofensivo à reputação, estará caracterizado o delito, exceto se
o imputado for funcionário público em razão do exercício de suas funções.
 A imputação deve ser de fato determinado e não de defeitos ou qualidades negativas de
determinada pessoa.
 É necessário, também, que esse fato chegue ao conhecimento de outra pessoa que não o
ofendido.
 De regra, a ação penal é de exclusiva iniciativa privada.
 Será pública condicionada se praticada contra o Presidente da República ou contra
funcionário público em razão de suas funções, exigindo requisição do Ministro da Justiça no
primeiro caso e representação do ofendido, no segundo.

5.3.5. Injúria (Art. 140 do CP)


Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
§ 1º. O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - Quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - No caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º. Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo
meio empregado, se considerem aviltantes;
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa, além da pena correspondente
à violência.

Aspectos importantes:
 Na injúria, ao contrário da calúnia e da difamação, não há imputação de fatos, mas a emissão
de conceitos negativos sobre a vítima, atingindo sua honra subjetiva, ou seja, o conceito de
honorabilidade que o ofendido tem a respeito de si mesmo.
 A injúria pode ser praticada de várias formas: gestos, palavras, sinais, atitudes, etc.
 É necessária que chegue ao conhecimento do ofendido ou de qualquer outra pessoa.
 Na injúria a ação penal é privada para a injúria simples (art. 140, caput) e pública
incondicionada para a injúria qualificada (art. 140, § 2º), quando da violência resultar lesão
corporal, por força do que dispõe o art. 145 do Código Penal.
 Está-se formando um entendimento de que a ação é pública condicionada no caso de
resultarem lesões corporais leves (art. 88 da Lei nº 9.099/95), mas, em princípio, na fase
policial, vai-se dar andamento à ocorrência, independentemente de representação por parte
da vítima, devendo a questão ser dirimida em juízo quanto à necessidade de representação.
 Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou
origem (§ 3º do art. 140), a infração deixa de ser de pequeno potencial ofensivo devido ao
estabelecimento de pena de um a três anos de reclusão para esse caso específico.

5.3.6. Ameaça (Art. 147 do CP)


Art. 147. Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.

Aspectos importantes:
 Ameaçar é procurar “meter medo” em alguém, intimidar alguém através de quaisquer meios,
como indica o enunciado legal.
 Há o crime, também, se posteriormente a ameaça é transmitida à vítima.
 A alegação de “processar” alguém, de “procurar a justiça” ou de pedir providências à
autoridade não caracterizam a ameaça, já que não constituem um “mal injusto”, mas tão-
somente o exercício de um direito.
 É crime de ação pública condicionada à representação da vítima.
 Jurisprudência selecionada: “O dano anunciado deve ser futuro, embora de próxima
realização, mas não deve produzir-se no próprio instante da ameaça, com o que o fato
tomaria outro caráter”. (TACRIM-SP, RT 569/377).
 Esta infração penal pode ser formulada por várias formas, ou seja, através de palavras,
gestos ou outros meios simbólicos (qualquer atitude ameaçadora que faça com que a vítima
identifique estar sendo intimidada), podendo, ainda, a intimidação, ser feita por escrito. Daí
a importância de o Policial consignar, ao confeccionar o relatório da ocorrência, quando do
preenchimento do TC, qual o meio utilizado pelo autor da infração e qual a expressão, ou
expressões ameaçadoras formuladas (quais as palavras ou frases, qual o gesto ou atitude
empregados, etc.). Se a ameaça for por escrito, deve ser apreendido o objeto que contenha o
escrito, para encaminhamento ao Juizado Especial.

5.3.7. Dano (Art. 163 do CP)


Art. 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
Aspectos importantes:
 O crime de dano só é punível a título de dolo, ou seja, quando é praticado com a intenção de
destruir, inutilizar ou deteriorar coisa pertencente à outra pessoa.
 O dano comum culposo está sujeito tão somente à responsabilidade na órbita do direito civil,
constituindo o exemplo típico dessa situação, o acidente de trânsito com danos materiais.
Não há no ordenamento jurídico brasileiro a responsabilidade criminal por dano comum
culposo, que é aquele praticado por falta de cuidado ou atenção do sujeito ativo.
 A ação penal é procedida mediante queixa – Ação Privada.
 O termo ”deteriorar” empregado pelo legislador engloba os danos menores do que a
completa destruição ou inutilização. Por exemplo, o amassamento da lataria de um carro que
não chega a destruí-lo nem inutilizá-lo, no entanto deprecia o valor do bem.
 Se o crime é praticado com violência ou grave ameaça à pessoa; com emprego de substância
inflamável ou explosiva (se o fato não constitui crime mais grave); por motivo egoístico ou
com prejuízo considerável para a vítima; contra o patrimônio da União, Estado, Município,
empresa concessionária de serviços públicos (transportes públicos, comunicações, etc.) ou
sociedade de economia mista (bancos e caixas econômicas federais e estaduais, são o
exemplo mais comum), a infração deixa de ser de menor potencial ofensivo em razão da
pena cominada para essas formas qualificadas do parágrafo único do art. 163.
 O dano deve ser considerado como fim em si mesmo e não como meio para a prática de
outro delito. Por exemplo, o arrombamento (danos na porta da casa) para a prática de furto.
Nesse caso o autor responderá por furto e não pelo dano.

5.3.8. Resistência (Art. 329 do CP)


Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário
competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 2 (dois) anos.
Parágrafo 1º Se o ato, em razão da resistência, não se executa
Pena - reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos
Parágrafo 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à
violência.

Aspectos importantes:
 Pratica o delito qualquer pessoa que se aponha à execução de ato legal, mesmo que esteja
sendo executado contra terceira pessoa. Comete o delito, por exemplo, quem intervém,
mediante violência ou ameaça, na atuação de policiais, que estão prendendo pessoa que
acabou de cometer um delito (JTACrSP 26/263). Também há o delito se for direcionado
contra pessoa que está auxiliando o agente público na execução do ato (JTACRIM 74/385).
 A oposição à execução do agente deve ser feita com violência ou grave ameaça (RT 525/353).
A violência aqui é física. A ameaça pode ser real (ex.: apontar uma arma de fogo) ou verbal.
 A execução do ato por parte do agente tem que ser legítima para configurar-se a resistência,
caso contrário não há o delito (RT 519/363).
 A pessoa que comete o delito deve ter consciência de que está se opondo a ato legal do
funcionário, ou seja, só se configura na modalidade dolosa.
 Se o ato em razão da resistência não se executa o crime deixa de pertencer aos de menor
potencial ofensivo, pois a pena alcança 3 (três) anos.
 O crime de resistência é punido sem prejuízo das penas referente às lesões que poderão ser
leves, graves ou gravíssimas, conforme prevê o art. 129 do CP.
5.3.9. Desobediência (Art. 330 do CP)
Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, e multa.

Aspectos importantes:
 Só se configura a desobediência quando a ordem do funcionário público é legal. Não poderia
ser diferente, pois o cidadão só é obrigado a fazer ou deixar de fazer aquilo que é legal.
Ordem ilegal não se cumpre.
 A ordem deverá ser dada diretamente pelo Funcionário Público, podendo ser utilizado
instrumento legal para a ordem como, por exemplo, através de mandado de busca.
 O Funcionário que dá a ordem deverá, ainda, ser competente para dar a ordem.
 Se o não cumprimento da ordem é seguido de violência ou ameaça, o delito é o do art. 329
(Resistência).
 Jurisprudência selecionada: a) “O crime de desobediência reclama que a ordem seja legal.
Acrescente-se: legalidade substancial, legalidade formal e autoridade competente. Além
disso, inexistirá delito havendo impossibilidade material de cumprimento da determinação”.
(STJ, RSTJ 28/178); b) “O simples desatendimento de uma regra de trânsito por si não
constitui crime de desobediência”. (TJSP, RT 518/347); c) “Desobediência. Caracterização.
Agente que, dirigindo sem habilitação legal, não atende ordem de parada emanada de
guarda de trânsito, evadindo-se do local”. (TACRIM-SP, RJ 218/129).

5.3.10. Desacato
Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.

Aspectos importantes:
 Desacatar significa humilhar, espezinhar, desprestigiar, ofender. O desacato admite qualquer
forma de execução como: palavras, gestos, ameaças, etc. Sujeito passivo primordial é o
Estado e de forma secundária o funcionário ofendido. Dessa forma, pouco importa, para
caracterizar o delito, se o funcionário se sentiu ou não ofendido.
 O dispositivo legal prevê duas hipóteses para que haja o desacato: a) que a ofensa seja feita
contra funcionário que esteja no exercício de suas funções, ou seja, que esteja trabalhando
(dentro ou fora da repartição) no momento em que é ofendido; b) que seja feita contra
funcionário que esteja de folga, desde que a ofensa se refira às suas funções.
 Qualquer pessoa pode cometer o delito, inclusive o próprio funcionário público, pois ao
ofender o outro se despe da qualidade de funcionário público e se equipara a um particular,
respondendo pelo delito. (TACRSP: “O funcionário público também pode ser sujeito ativo de
desacato, desde que despido dessa qualidade ou fora de sua própria função”. JTACRIM
70/372).
 Para a configuração do desacato as ofensas devem ser dirigidas na presença do funcionário
público, pois caso contrário o crime será o de injúria qualificada (art. 140 c/c o art. 141, II, do
CP).
 O crime de desacato é punido na modalidade dolosa, ou seja, na vontade de praticar a ação
ou proferir a palavra injuriosa com o propósito de ofender ou desrespeitar o funcionário a
quem se dirige.
 OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: A denúncia por crime de desacato deve descrever o meio de
execução, inclusive as palavras de baixo calão proferidas. Assim, o policial quando preencher
o relatório do Termo Circunstanciado deverá fazer constar todas as ofensas, gestos, ameaças,
etc. que lhe foram dirigidos.
5.4. Principais infrações penais de menor potencial ofensivo, previstas na Lei de
Contravenções Penais
5.4.1. Vias de fato
Art. 21 - Praticar vias de fato contra alguém:
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa, se o fato não
constitui crime.

Aspectos importantes:
 Constitui vias de fato a execução de atos violentos contra outra pessoa com o objetivo de lhe
causar mal físico. Diferencia-se do crime de lesão corporal, pois não gera sinais da violência,
tais como rupturas da pele, hematomas, corrimento de sangue, entre outros, o que
configuraria pratica de lesão corporal.
 São atos que configuram as vias de fato: empurrões agressivos, arrancamento ou
rasgamento de vestes, puxões de cabelos, esbofeteamentos e outras atitudes afrontosas em
relação à vítima.
 Havendo ofensas só por palavras caracterizar-se-á o crime de injúria.
 Jurisprudência selecionada: a) “Só ocorre a contravenção de vias de fato quando houve
violência física real, embora sem vestígios. ” (RT 246/321); b) “A agressão a socos e pontapés,
de que não resulta em ferimentos na vítima caracteriza a contravenção de vias de fato. ” (RT
451/466).

5.4.2. Perturbação do trabalho ou do sossego alheios


Art. 42 - Perturbar alguém, o trabalho ou o sossego alheios:
I - Com gritaria ou algazarra;
II - Exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições legais;
III - abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;
IV - Provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que tem
guarda:
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa.

Aspectos importantes:
 Nesta contravenção, a perturbação deve ser coletiva. Assim, para a caracterização de que
está havendo uma perturbação coletiva do sossego, deve haver, no mínimo, três pessoas
incomodadas pela situação provocada pelo (s) autor (es) da infração.
 Cabe destacar que esta contravenção penal, assim como em todas as contravenções, a ação
penal é pública incondicionada, logo a identificação das “pessoas incomodadas” é necessária
para a caracterização do fato, não sendo preciso que exerçam seu direito de representação.

5.4.3. Perturbação da tranquilidade


Art. 65 - Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo
reprovável:
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa.

Aspectos importantes:
 Para que se configure a contravenção penal é preciso que a perturbação da tranquilidade
seja determinada por acinte (por “pirraça”, a fim de incomodar) ou motivo reprovável
(adverso aos sentimentos morais, sociais e jurídicos)
 No caso desta infração, diferente do que ocorre na contravenção do art. 42 (perturbação do
trabalho ou sossego alheios), em que a perturbação se caracteriza através de critérios bem
objetivos, há necessidade de que fique caracterizada qual a atitude de acinte ou motivo
reprovável pela qual se dá a perturbação do sossego, devendo constar no Relatório do
Boletim de Ocorrência lavrado pelo Policial a descrição da atitude.

5.5. Principais infrações penais de menor potencial ofensivo, previstas no Código Brasileiro de
Trânsito
5.5.1. Lesão Corporal Culposa na Direção de Veículo Automotor
Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Aspectos importantes:
 Comete esta infração penal o condutor de veículo automotor que ofender a integridade física
ou saúde de outrem em acidente de trânsito, de forma culposa (ou seja sem a intenção).
 Não ocorrendo danos físicos aos envolvidos no acidente, por maiores que sejam os danos
materiais causados não ocorre o cometimento de infração penal, devendo-se, somente,
confeccionar a documentação administrativa do acidente de trânsito, a fim de que os
interessados possam buscar o ressarcimento através de ação na esfera cível, se for o caso.
Portanto, o acidente de trânsito somente com danos materiais trata-se de um fato atípico.

5.5.2. Direção sem a devida Permissão ou Habilitação


Art. 309 - Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir
ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Aspectos importantes:
 Para a caracterização do delito é necessário que a direção inabilitada se dê em via pública.
 Não há o cometimento da infração no caso de o condutor não portar o documento de
habilitação, o que caracteriza somente infração administrativa de trânsito prevista no Art.
232 do CTB, uma vez que para caracterizar o crime de trânsito o condutor não deve ser
habilitado através do processo regular instituído em lei (art. 140 do CTB), ou que esteja com
o direito de dirigir cassado.
 A condução de veículo de categoria diferente daquela para a qual o motorista está habilitado
constitui apenas a infração administrativa do art. 143 do CTB.
 Para a configuração da infração, é exigido pelo tipo, também, que, além da falta de
habilitação, seja gerado, pela conduta, perigo de dano à segurança no trânsito. Dessa forma,
é desnecessário que, no caso concreto, tenha havido risco para certa e determinada pessoa,
bastando que a condução do veículo seja feita desrespeitando normas de segurança no
trânsito. Logo, se a condução do veículo é feita sem que o condutor gere perigo para o
trânsito em geral, não haverá responsabilização penal para o condutor não habilitado,
respondendo ele somente pela infração administrativa do art. 162, I, do CTB.
 Se o condutor exibe documento de habilitação falso, responde pelo crime de uso de
documento falso do art. 304 do Código Penal e se dirigia gerando perigo de dano, responde
também pelo crime de direção inabilitada deste art. 309. Se não gerava perigo de dano,
responderá pelo uso de documento falso e por infração administrativa de direção não
habilita do art. 162, I, do CTB.
5.5.3. Entrega da direção de veículo a pessoa não habilitada

Art. 310 - Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não
habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a
quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em
condições de conduzi-lo com segurança:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Aspectos importantes:
 Para a caracterização do delito é necessário que o fato seja flagrado em via pública.
 O tipo penal ocorre se o autor pratica uma das três ações: “permitir” (consentir, autorizar,
tolerar), “confiar” (depositar fé e “entregar” (passar para outrem), assim a conduta pode ser
praticada tanto por ação como por omissão, ou seja, tanto aquele que expressamente
permite, entrega ou confia o veículo a pessoa não autorizada quanto aquele que, sabendo
que a pessoa irá sair com o veículo a isso não se opõe ou toma providência no sentido de
impedi-la.
 A “pessoa não habilitada” que recebe o veículo para conduzir na via pública é aquela que
nunca teve Carteira de Habilitação ou Permissão para Dirigir. Se ela não está portando o
documento de habilitação ou está com o documento de habilitação com prazo de validade
vencido, apesar disso, para os efeitos penais, é considerada habilitada, respondendo
somente pelas infrações administrativas cometidas.
6. Procedimentos Policiais

Objetivos
 Descrever os passos mínimos recomendados para o Procedimento Policial Padronizado em
atendimentos policiais.

6.1. Introdução
Cada organização policial possui seus próprios procedimentos policiais padronizados
para o atendimento de ocorrências,
Dependendo da organização eles podem ser chamados de diretrizes operacionais,
instruções gerais, procedimentos operacionais padronizados, protocolos ou outras expressões
quaisquer.
Eles orientam com maior ou menor detalhe a sequência de decisões e procedimentos a
serem adotados pelos policiais nas diversas situações com que se defrontam, e variam de local para
local de acordo com a doutrina e as peculiaridades regionais.
Entretanto, de um modo geral, estes procedimentos policiais padronizados seguem uma
lógica que leva ao atendimento rápido, seguro e legal ao cidadão, preconizando passos muito
semelhantes aos integrantes da força policial.

6.2. Confirmar a localização e a natureza do atendimento


Ao receber a designação para um atendimento de ocorrência a primeira preocupação
será confirmar com detalhes a localização do atendimento ou do local para contato com o solicitante.
Além disso, obter todas as informações que possam auxiliar na identificação da natureza do
atendimento, que pode ser uma infração penal em andamento, um auxílio à comunidade ou um
acidente com vítimas, por exemplo.

6.3. Deslocar com rapidez e segurança


Após a confirmação da natureza do atendimento e sua localização o policial deve
efetuar o deslocamento com rapidez compatível com o grau de urgência ou emergência da situação e,
principalmente, segurança. O atendimento que mais demora é aquele em que o policial não chega
porque sofreu um acidente automobilístico ou foi atropelado, você concorda?

6.4. Informar a chegada ao local e a avaliação inicial


Assim que chega ao local e faz a primeira avaliação da situação, normalmente o policial
é orientado a entrar em contato com sua central ou base de comunicação para relatar em rápidas
palavras sua chegada e confirmar as primeiras informações obtidas, permitindo que esta acompanhe
a evolução da situação e antecipe a necessidade de reforço da própria polícia ou de outras
organizações como bombeiros, socorristas, guinchos e peritos.

6.5. Socorrer vítimas e gerenciar os riscos


Com base nas informações recebidas da central ou base de comunicação o policial
identifica se há vítimas que necessitam de socorro e os riscos existentes no local do atendimento,
tomando medidas para que as vítimas recebam o socorro adequado e os riscos sejam reduzidos ou
eliminados. Isto pode incluir a prestação dos primeiros socorros, acionar equipes de emergência,
manter as luzes de emergência acionadas, sinalizar a área com cones, revistar e conter suspeitos,
retirar curiosos de locais perigosos, etc.
6.6. Organizar o local da ocorrência e os envolvidos
Ao mesmo tempo, ou na sequência, os policiais organizam a cena separando as partes
envolvidas, isolando locais de crime, afastando curiosos e outras medidas compatíveis com a
situação específica. Isto facilita ao policial o planejamento e execução de seus próximos passos.

6.7. Realizar os procedimentos legais


Nesta etapa, com a cena da ocorrência segura e as vítimas socorridas (quando há
vítimas a serem socorridas, é claro), são realizados os procedimentos legais de polícia, que vão desde
o registro dos fatos para providências (boletim de ocorrência) até a prisão em flagrante ou por
cumprimento de mandado judicial, podendo incluir identificação de testemunhas, coleta de provas e
evidências, preservação de local de crime, apreensão de veículos, emissão de notificação de trânsito,
etc. É nesta etapa que estão inseridos os procedimentos relativos ao Termo Circunstanciado quando
for o caso.

6.8. Documentar o atendimento


Normalmente, após a finalização dos procedimentos legais é necessário preencher
relatórios para documentar o atendimento realizado ou relatar o atendimento à base ou central de
comunicação para que esta faça a documentação.

6.9. Retornar ao serviço preventivo


Finalmente, o policial e sua equipe tomam as medidas necessárias para retornar ao
serviço preventivo, incluindo as medidas para fazer com que o local do atendimento retorne à
normalidade recolhendo cones, liberando o trânsito e retirando isolamentos entre outras medidas.
Às vezes também é necessária a reposição de material e formulários utilizados, o abastecimento de
veículos ou simplesmente o retorno à sua área de atuação. Este retorno é comunicado à central ou
base de comunicação.

6.10. Exercício
A partir da situação descrita no histórico distribuído pelo instrutor identifique as etapas do
atendimento preconizadas no Procedimento Policial.
7. Definindo o procedimento legal

Objetivos
 Enumerar os passos preconizados para a definição do procedimento legal a ser adotado em
uma ocorrência policial.
 Identificar em uma situação descrita, com auxílio do fluxograma, o procedimento legal a ser
adotado em uma ocorrência policial.

7.1. Introdução
Mantendo o foco do Programa de Treinamento, que é a elaboração do Termo
Circunstanciado em ocorrências envolvendo o flagrante de infrações penais de menor potencial
ofensivo, daqui para frente abordaremos apenas a etapa em que os procedimentos legais são
realizados, mas sempre mantendo em mente que todas as etapas, organizadas da forma como
apresentamos ou apresentadas de outra forma, são importantes.
A partir do que vimos nos módulos anteriores, podemos montar agora alguns passos ou
etapas para verificar se um atendimento preenche os requisitos para que se aplique o prescrito pela
Lei 9.099/95, elaborando o Termo Circunstanciado, solicitando os exames de corpo de delito
necessários e obtendo o compromisso do autor em comparecer em juízo para então liberar todos
ainda no local dos fatos.
Para facilitar, vamos avançar na tomada de decisão por meio de perguntas simples e
objetivas, cujas respostas indicarão os próximos passos

7.1.1. O fato é uma infração penal?


A primeira pergunta a ser respondida é se o fato, ou os fatos relacionados ao
atendimento é uma infração penal. Ela pode ser tanto um crime como uma contravenção, e devem
estar presentes os requisitos gerais que são a tipicidade e a antijuridicidade. Dependendo do crime
ou contravenção que você acredite estar presente na situação pode haver também requisitos
específicos para que ocorra a tipicidade e a antijuridicidade.
Não, o fato não é uma infração penal. Se após a avaliação você concluiu que o fato não
é uma infração penal, você deve buscar em outros procedimentos da PMRO as condutas
recomendadas para cada caso. Pode ser uma ocorrência de trânsito em que um auto de infração de
trânsito é lavrado, ou um auxílio à comunidade ou mesmo um simples caso de mediação e
orientação juntos aos envolvidos.
Sim, o fato é uma infração penal. Se após a avaliação você concluiu que o fato é uma
infração penal, ou seja, você conseguiu encaixar o caso concreto encontrado na ocorrência na
descrição de um tipo penal previsto na legislação, seja um crime ou contravenção, você deve fazer
uma nova pergunta.

7.1.2. Existe flagrante delito?


Se você concluiu que há uma infração penal, então agora precisa identificar se os
autores estão em flagrante delito.
Não, não existe o flagrante delito. Neste caso, apesar de haver ocorrido uma infração
penal (esta foi sua conclusão na pergunta anterior, você se lembra?) você concluiu que não há uma
situação de flagrante, seja porque a autoria é desconhecida, seja porque o autor se evadiu e a
perseguição foi interrompida ou porque apesar do possível autor estar presente a infração penal
ocorreu há muito tempo.
Nestes casos, normalmente o policial deverá acionar a polícia judiciária para que tome
medidas para a coleta de provas e evidências, visando apurar a materialidade e autoria da infração
penal.
Quando a presença desta não é possível, é importante que você, como policial que está
no local, reúna o máximo de informações e elabore um relato do que constatou (boletim de
ocorrência) para ser encaminhado à Polícia Judiciária.
Sim, existe o flagrante delito. Se, por outro lado, ao responder a segunda pergunta você
concluiu que existe o flagrante delito, então cabe a prisão do autor em flagrante. Lembre-se que do
ponto de vista jurídico a prisão em flagrante é um ato administrativo com caráter de medida cautelar
de natureza processual. É exercitado antes da ação processual contra quem se encontra em flagrante
delito, que pressupõe atos administrativos materiais, de intervenção física imediata para cessar a
prática de infração penal e atos administrativos formais, associados à lavratura do auto de prisão em
flagrante.
Cabe então a contenção física do autor a fim de que ele interrompa a prática de uma
infração penal. Entretanto, como vimos no segundo módulo, a partir da Lei 9.099/95 há tratamento
diferenciado para o flagrante delito em infrações penais de menor potencial ofensivo. Por isso,
precisamos fazer uma nova pergunta.

7.1.3. A infração é de menor potencial ofensivo?


Agora que você já contatou que há uma infração penal e que existe o flagrante delito, é
necessário verificar se a infração penal constatada é de menor potencial ofensivo. Segundo a Lei
11.313, de 28 de Junho de 2006, que alterou o Art. 61 da Lei 9.099/95, todas as contravenções
penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não-superior a dois anos. Suas ações seguintes
dependerão da resposta a esta pergunta: a infração é de menor potencial ofensivo?
Não, não é uma infração de menor potencial ofensivo. Se o fato que você está
atendendo é uma infração penal, existe a situação de flagrante delito, porém a infração não é de
menor potencial ofensivo, então você está diante de um crime que a legislação considera mais grave,
e manteve a prisão em flagrante como procedimento por parte do policial.
Entretanto, como vimos no primeiro módulo, há crimes que necessitam de uma
provocação da vítima para que o estado movimente sua capacidade de intervir punitivamente,
enquanto há outros em que isso ocorre por iniciativa do Estado independente de manifestação da
vítima (ação privada e ação pública).
Cabe então uma pergunta dentro da pergunta. A ação penal é pública incondicionada
ou, sendo condicionada ou privada o ofendido deseja se manifestar?
Se a resposta a esta pergunta for não, então deverá ser feito um registro da ocorrência
em um boletim de ocorrência, lavrado pelo próprio policial que fez o atendimento ainda no local da
ocorrência. Se a resposta a esta pergunta for sim, então deverá ocorrer a condução do autor preso
em flagrante delito para uma repartição policial onde será lavrado o Auto de Prisão em Flagrante.

Sim, é uma infração de menor potencial ofensivo. Voltando à pergunta principal, se o


fato que você está atendendo é uma infração penal, existe a situação de flagrante delito e esta
infração é de menor potencial ofensivo, então você está diante de uma situação para a qual a
legislação estabelece um procedimento diverso da prisão em flagrante: caso o autor dos fatos aceite
ser conduzido ao Juizado Especial Criminal (se houver plantão) ou assuma o compromisso de
comparecer ao Juizado Especial Criminal em data determinada, a ele não se imporá prisão em
flagrante.
Porém, assim como no caso anterior, há infrações penais de menor potencial ofensivo
que também necessitam de uma provocação da vítima para que o estado movimente sua capacidade
de intervir punitivamente, enquanto há outros em que isso ocorre por iniciativa do Estado
independente de manifestação da vítima (ação privada e ação pública).
Cabe então uma pergunta dentro da pergunta. A ação penal é pública incondicionada
ou, sendo condicionada ou privada o ofendido deseja se manifestar? Se a resposta a esta pergunta
for não, então deverá ser feito um registro da ocorrência em um boletim de ocorrência, lavrado pelo
próprio policial que fez o atendimento ainda no local da ocorrência. Se a resposta a esta pergunta for
sim, então deverá ser elaborado o Termo Circunstanciado, desde que ele assuma o compromisso de
comparecer ao Juizado Especial Criminal.

7.1.4. O autor assume o compromisso de comparecer em juízo?


Vejamos o que você já constatou para chegar até aqui: há infração penal, ela se
encontra em estado de flagrante delito, o flagrante trata de uma infração penal de menor potencial
ofensivo e o ofendido deseja apresentar queixa ou representação, ou isso não é necessário.
Estamos então diante de uma situação em que o autor tem o direito de não ver imposta
a ele a prisão em flagrante, nem arbitrada fiança desde que ele seja encaminhado ao juizado Especial
(nos lugares onde há plantão, como ocorre, por exemplo, em alguns estádios de futebol do Brasil) ou
se ele assumir o compromisso de comparecer ao Juizado Especial Criminal.
Neste caso há normalmente duas possibilidades finais.
 Não, o autor não deseja assumir o compromisso de comparecer ao Juizado Especial
Criminal. Se o autor não assumir o compromisso, então ele deixa de se enquadrar nos
requisitos da Lei 9.099/95, e ele deverá ser conduzido à repartição de polícia judiciária,
delegacia ou distrito policial, onde após as formalidades que vimos será lavrado o auto de
prisão em flagrante.
 Sim, o autor deseja assumir o compromisso de comparecer ao Juizado Especial Criminal.
Neste caso, o procedimento a ser seguido é a lavratura do Termo Circunstanciado, ainda
momento e no local dos fatos, pelo policial que atendeu a ocorrência, seguido da apreensão
do objeto da infração penal e da solicitação de exame de corpo de delito se for o caso.

7.2. Consolidando o que vimos


Apenas para relembrar, as perguntas propostas são:
 O fato é uma infração penal?
 Existe flagrante delito?
 A infração penal é de menor potencial ofensivo?
 A infração penal é de ação pública incondicionada ou o ofendido deseja se manifestar?
 O autor assume o compromisso de comparecer ao Juizado Especial Criminal?
E para entender, o Termo Circunstanciado será lavrado quando:
 Houver uma infração penal, em situação de flagrante delito, caracterizada como infração de
menor potencial ofensivo, em que a ação penal é pública incondicionada ou o ofendido
deseja se manifestar, e o autor assume o compromisso de comparecer ao Juizado Especial
Criminal.
8. Utilizando o Procedimento Policial Padronizado

Objetivos
 Descrever os três Procedimentos Policiais Padronizados aplicáveis aos procedimentos legais
em uma ocorrência policial.
 Identificar em uma situação descrita, com auxílio do fluxograma, o Procedimento
Operacional Padronizado aplicável aos procedimentos legais em uma ocorrência policial.

8.1. Introdução
Como vimos, a sequência de perguntas e resposta nos guia na direção da tomada de
decisão sobre o procedimento a ser adotado. Você já deve ter percebido que estamos agora no
centro do nosso curso, e que a competência para identificar se em uma determinada situação estão
os requisitos para a aplicação da Lei 9.099/95 e a elaboração do Termo Circunstanciado é
fundamental para o curso. Agora, vamos ver os procedimentos a serem adotados para as principais
situações caracterizadas quando seguimos a sequência anterior de perguntas e respostas.

ADVERTÊNCIA
Lembre-se, entretanto, que este é um guia e que nada substitui o julgamento de um
policial bem formado e experiente que está no local dos fatos. Por isso mesmo, os procedimentos
não serão explicitados, mas apenas enumerados.

8.2. Três Procedimentos Operacionais Padronizados

 Quando houver flagrante, de infrações de menor potencial ofensivo, de ação pública


incondicionada (vamos chamar este padrão de PPP 1 ou POP 01).
 Quando houver flagrante delito, de infração penal de menor potencial ofensivo, de ação
pública condicionada ou privada (vamos chamar este padrão de PPP 2 ou POP 02).
 Ocorrência com lavratura de Comunicação de Ocorrência Policial por falta de flagrância
(vamos chamar este padrão de PPP 3 ou POP 03).

8.3. Padrão de Procedimento Policial (PPP) nº 1 ou (POP) 01


Ocorrência de infração penal de menor potencial ofensivo, de ação pública
incondicionada, havendo flagrante. Ações para a administração da ocorrência:
a. Identificação da vítima, do autor e das testemunhas;
b. Encaminhamento das pessoas feridas a atendimento médico se for o caso;
c. Ciência de como se deram os fatos;
d. Prisão do autor da infração (Prisão Material);
e. Apreensão de instrumentos ou objetos usados na prática da infração se houver;
f. Solicitação de exame de corpo de delito, se necessário;
g. Lavratura do Termo Circunstanciado ou Comunicação de Ocorrência Policial pelo condutor
da ocorrência;
h. Liberação dos envolvidos, desde que o autor do fato assuma o compromisso de
comparecimento ao Juizado Especial Criminal;
i. Encaminhamento do Termo Circunstanciado lavrado ao Órgão específico.

Providências na elaboração dos registros e documentos:


a. Registro dos dados de identificação dos envolvidos no formulário do Boletim;
b. No relatório iniciar com a descrição do ocorrido [O quê? Por quê? (...)], referenciar às
declarações pessoais dos envolvidos (ofendidos, testemunhas e autores), indicando se não
houver testemunhas. Por fim, concluir diante dos registros e constatações;
c. Registro da apreensão e descrição dos instrumentos ou objetos envolvidos ou utilizados na
prática da infração se houver, bem como a indicação do local em que serão depositados;
d. Tomada do compromisso de comparecimento do autor da infração, com subsequente
registro no boletim da modalidade Termo Circunstanciado e emissão das requisições de
exames de corpo de delito se for o caso. Havendo negativa do compromisso, registrar no
Boletim a modalidade de Prisão em Flagrante Delito/Apreensão e não emitir requisições de
exames de corpo de delito, as quais poderão ser emitidas pela polícia civil;
e. Identificação dos policiais que deram atendimento à ocorrência.

8.4. Padrão de Procedimento Policial (PPP) nº 2 ou (POP) 02


Ocorrência de infração penal de menor potencial ofensivo, de ação pública condicionada
ou privada, havendo situação de flagrante
Ações para a administração da ocorrência:
a. Identificação da vítima, do autor e das testemunhas;
b. Encaminhamento das pessoas feridas a atendimento médico, se for o caso;
c. Ciência de como se deram os fatos;
d. Prisão do autor da infração (Prisão Material);
e. Apreensão de instrumentos ou objetos usados na prática da infração, se houver;
f. Solicitação de exame de corpo de delito, se necessário;
g. Verificação da intenção de representar criminalmente contra o autor, pelo ofendido ou seu
representante legal;
h. Lavratura do Termo Circunstanciado (havendo a intenção da vítima em representar ou
prestar queixa) ou Comunicação de Ocorrência Policial (não havendo a intenção da vítima em
representar ou prestar queixa) pelo condutor da ocorrência;
i. Liberação dos envolvidos;
j. Encaminhamento do documento lavrado ao Órgão específico, para digitação.

Providências na elaboração dos registros e documentos:


a. Registro dos dados de identificação dos envolvidos no formulário de TC;
b. Referência às declarações pessoais dos envolvidos;
c. Relato dos acontecimentos constatados pelo policial;
d. Indicação da ausência de testemunhas, se for o caso;
e. Registro da apreensão e descrição dos instrumentos ou objetos envolvidos ou utilizados na
prática da infração, se houver;
f. Solicitação de exame de corpo de delito, se a infração deixou vestígios;
g. Tomada do pedido de representação ou queixa da vítima ou ofendido;
h. Tomada do compromisso de comparecimento do autor da infração;
i. Identificação dos policiais que deram atendimento à ocorrência;
j. Juntada do boletim ou atestado de atendimento médico ou hospitalar.
Nos casos de infrações penais em que a ação penal for pública condicionada à
representação ou de iniciativa privada: A vítima deve ser consultada sobre a vontade ou não de
representar contra o autor do fato. Caso a vítima não deseje representar contra o autor da infração
penal, deve ser dada ciência a ela, de forma clara e expressa, com a consignação por escrito no
relatório do Boletim de Ocorrência (colhendo o ciente da vítima) da necessidade de representação
ou queixa-crime para uma futura responsabilização do autor do delito, lavrando-se a Comunicação
de Ocorrência Policial (Registro Policial). Suprida a representação ou manifestada à vontade de
proceder contra o autor, lavra-se o Termo Circunstanciado.
ATENÇÃO! Nos flagrantes de infrações penais de menor potencial ofensivo, de ação
penal pública condicionada ou ação privada:
a. Havendo manifestação da vítima, da intenção de proceder contra o autor da ofensa
(representação ou queixa-crime):
 Lavratura do Termo Circunstanciado, pelo condutor da ocorrência.
 Colheita da assinatura da vítima no Termo de Representação.
 Colheita da assinatura do autor do fato no Termo de Compromisso de Comparecimento ao
JECrim. A assinatura poderá ser a rogo, quando o compromissado estiver impedido de firmá-
la.
 Havendo a negativa do autor do fato em comparecer ao JECrim, deverá ele ser conduzido à
DP para a lavratura do APFD.

b. Não havendo manifestação do ofendido, da intenção de proceder contra o autor da ofensa


(representação ou queixa-crime):
 Lavratura da Comunicação de Ocorrência, fazendo constar a manifestação do ofendido, no
sentido de não representar contra o autor do fato, assinalando no campo próprio do Boletim.
 Colheita da assinatura do ofendido, no corpo do Boletim de Ocorrência, alertando sobre o
prazo decadencial de 06 (seis) meses para eventual mudança de manifestação.
 Liberação do autor do fato.
 Encaminhamento do documento específico, para posterior remessa à Delegacia de Polícia da
circunscrição.

8.5. Padrão de Procedimento Policial (PPP) nº 3 ou (POP) 03


Ocorrência com lavratura de Comunicação de Ocorrência Policial por falta de flagrância.
Ações para a administração da ocorrência:
c. Identificação da vítima, do autor e das testemunhas;
d. Encaminhamento das pessoas feridas a atendimento médico, se for o caso;
e. Ciência de como se deram os fatos;
f. Tentativa de localização e identificação do autor da infração;
g. Apreensão de instrumentos ou objetos usados na prática da infração, se houver;
h. Solicitação de exame de corpo de delito, se a infração deixou vestígios, por Ofício do
atendente;
i. Lavratura da Comunicação de Ocorrência pelo atendente da ocorrência;
j. Liberação dos envolvidos;
k. Encaminhamento do documento lavrado ao Órgão específico, para digitação.

Providências na elaboração dos registros e documentos:


a. Registro dos dados de identificação dos envolvidos no formulário da Comunicação de
Ocorrência;
b. Referência às declarações pessoais dos envolvidos;
c. Relato dos acontecimentos constatados pelo policial;
d. Indicação da ausência de testemunhas, se for o caso;
e. Registro da apreensão e descrição dos instrumentos ou objetos envolvidos ou utilizados na
prática da infração, se houver;
f. Tomada do pedido de representação ou queixa da vítima ou ofendido, se Infração Penal de
Ação Penal Pública Condicionada ou Privada;
g. Dar ciência à vítima ou ofendido de que todas as informações por ela fornecidas serão
registradas no Sistema Operacional da Segurança Pública, onde serão investigadas pelo
órgão competente;
h. Identificação dos policiais que deram atendimento à ocorrência;
i. Registro das providências adotadas na tentativa de localização e identificação do autor da
infração;
j. Juntada do boletim ou atestado de atendimento médico ou hospitalar.
k. Entrega do protocolo de registro da ocorrência à parte interessada.
IMPORTANTE! Nos casos de flagrante de infrações penais de maior potencial ofensivo,
não deverá ser lavrado o Termo Circunstanciado, devendo as partes envolvidas serem conduzidas à
Delegacia de Polícia ou Distrito Policial para a formalização do Auto de Prisão em Flagrante Delito.
ATENÇÃO! Infrações penais quando ausente a situação de flagrante delito
a. O policial que atender a ocorrência (crimes de maior ou menor potencial ofensivo e
contravenções penais) irá fazer o registro, sem prejuízo das demais providências policiais.
b. Nas infrações de maior potencial ofensivo que exijam a realização de perícias, deverá ser
comunicado ao órgão policial civil da circunscrição, que, em comparecendo ao local, lavrará o
Boletim de Ocorrência e assumirá os procedimentos policiais. Na hipótese de a autoridade
policial civil não comparecer, o policial militar lavrará o Boletim Comunicação de Ocorrência,
consignando esta deliberação no histórico da ocorrência.
9. Elaboração do Termo Circunstanciado

Objetivos:
 Enumerar os principais grupos de informações de um Termo Circunstanciado.
 Descrever a sequência de registros a ser utilizada na elaboração do histórico do Termo
Circunstanciado.
 Descrever os aspectos mais importantes na elaboração do histórico do Termo
Circunstanciado.

9.1. Introdução
Nesta aula vamos abordar a elaboração em si do Termo Circunstanciado, ou seja, a
produção do documento. Para isto, é importante que você se recorde de alguns aspectos que
envolvem a produção deste relatório de ocorrência específico para o registro das situações
envolvendo infrações penais de menor potencial ofensivo, em flagrante delito, que sejam de ação
penal pública ou em que a vítima se manifeste por queixa ou representação.
Em primeiro lugar, a Lei 9.099/95 estabelece a elaboração do Termo Circunstanciado
como um relato dos fatos, que substitui a condução dos envolvidos ao Juizado Especial Criminal
quando isto não for possível no momento. Este relato então servirá de base para todos os
procedimentos que se seguirem, desde a composição pela transação penal até o oferecimento da
denúncia pelo Ministério Público, e por isso a sua elaboração é uma grande responsabilidade.
Por outro lado, ele não deve dificultar o que a legislação pretendia facilitar, nem
tampouco retardar o que o legislador desejava acelerar. Por isso, deve-se ter em mente os princípios
encontrados na Lei 9.099/95, para preencher este relato de forma simples e direta.
Embora cada Estado possa estabelecer um padrão próprio de formulário ou de
elaboração, de um modo geral todos registrarão um conjunto de informações muito parecidas,
mesmo que usando uma ordem ou apresentação diferentes.

9.2. Sobre o local e a forma de elaboração do Termo Circunstanciado


Exatamente por causa deste caráter de oralidade, informalidade, economia processual e
celeridade que o Termo Circunstanciado deverá ser elaborado preferencialmente no local dos fatos,
no momento da ocorrência, pelo policial que fez o atendimento. Dizemos que o Termo
Circunstanciado deverá ser feito “no capô da viatura”.
É claro que em situações específicas, onde haja perigo para os policiais ou envolvidos,
onde as condições meteorológicas não permitam ou mesmo onde haja uma facilidade muito próxima,
esta orientação pode ser flexibilizada, porém a condução dos envolvidos deve ser evitada como regra.

9.3. Dados básicos da ocorrência e qualificação dos envolvidos


Os dados básicos da ocorrência são registros que situam o momento e as circunstâncias
em que ocorreu o fato narrado, passando pelos dados do ilícito, o momento de sua comunicação ao
órgão policial e seus encaminhamentos. Se estruturados de forma a serem reunidos e organizados,
em formulários detalhados e com campos padronizados, possibilitam a classificação e análise dos
mesmos de forma isolada ou em conjunto, servindo de base para a produção de inteligência policial.

9.4. Dados gerais e identificadores da ocorrência:


Data/Hora do Fato: é referente à data/hora da ocorrência dos fatos, apuradas segundo as
circunstâncias (flagrada pela Gu, indicado por testemunhas ou outra parte etc.). Caso não seja
hipótese da Gu ter flagrado o fato e restar dúvida quanto à exatidão desta informação (data/hora),
este campo deve ser preenchido com a expressão “INCERTA”. Preencher dia/mês/ano e hora/minuto.
Data/Hora da Comunicação: relativas ao momento em que o CIOP/CO ou Policial Militar é
comunicado do fato ou em que momento que o flagrou.
Data/Hora do Atendimento: relativas ao momento inicial de realização dos procedimentos policiais
operacionais (geralmente corresponde ao momento em que a Gu chega ao local da ocorrência).
Data/Hora do Fechamento: associadas ao momento em que a Gu encerra os procedimentos
relativos ao atendimento da ocorrência e passa a ficar disponível para novo acionamento.

Fato
Natureza: apontar, de maneira resumida, o tipo penal e/ou a situação não delituosa responsável pela
presença da Polícia Militar.
Endereço: registrar o tipo (rua, avenida, estrada, etc.) e nome do logradouro, com informações sobre
o número da residência/estabelecimento onde ocorreu o fato ou em caso de fato ocorrido em via
pública o número da residência ou quilômetro em frente do qual ocorreu, o bairro e município.
Município: inserir o Município, ou se for o caso, o Distrito em que ocorreu o fato.
Ponto de referência: informar ponto de referência ou coordenada geográfica do local do fato.
Histórico: Relatório lavrado pelo policial militar que atender a ocorrência com descrição e conclusão
com base nas provas colhidas e nas oitivas realizadas em que deverão ser observados os seguintes
princípios:
 Fornecer ao Ministério Público e ao magistrado os elementos para instrução do feito e para
sentença;
 Ser objetivo, descritivo e sucinto, indicando todas as circunstâncias consideradas relevantes,
sua materialidade/autoria e as provas colhidas e fazendo uso das informações contidas nas
declarações prestadas pelo autor, ofendido e eventuais testemunhas.
 Direcionar a construção do relatório como forma de ENCERRAMENTO do atendimento da
ocorrência.
Providências adotadas: Seção do boletim de ocorrência destinado a registrar as providências
adotadas para dar consequência ao atendimento da ocorrência, tais como, condução a hospital,
solicitação de exames periciais, juntada de documentos, entre outros. Esta seção é composta dos
seguintes campos:
Documentos – assinalar os tipos de documentos correlatos que foram lavrados em virtude daquela
ocorrência policial
Na sequência desta seção são formulados os seguintes questionamentos:
Fotografado? Caso o local da infração tenha sido fotografado pela guarnição, assinalar SIM, do
contrário, assinalar a opção NÃO;
A Polícia Civil foi acionada? Caso a equipe da Delegacia de Polícia Civil responsável pela área em que
houve a prática do delito tenha sido acionada pela Guarnição PM ou pelo CIOP/CO, nos termos
previstos nesta resolução, consignar SIM, do contrário, marcar a opção NÃO;
Polícia Civil esteve no local? Se uma equipe da Polícia Civil esteve no local da infração, assinalar SIM,
do contrário, marcar NÃO;
O perito esteve no local? Se uma equipe do Instituto de Criminalística esteve no local da ocorrência,
assinalar SIM, do contrário, marcar NÃO.
Nome e Cargo do Responsável – Registrar o nome do responsável pela equipe da Polícia Civil e/ou
Instituto de Criminalística que foi contatada ou que esteve no local, consignando cargo, nome e
lotação.
No campo “outras providências” serão registradas todas as medidas adotadas pelos policiais
militares em virtude daquela ocorrência, como condução a hospital, juntada de documentos,
autuações, número da VTR de atendimento pré-hospitalar e etc.
Registrado por: Registrar posto/graduação, RE e nome do(s) atendente(s) da ocorrência, colhendo
suas assinaturas. Importante salientar que o(s) Policial(is) Militar(es) que atenderem a ocorrência
jamais figurarão como envolvido(s) e, sim, como atendentes da ocorrência, de modo que serão
qualificados apenas neste campo do BO. Caso o registro seja feito por policial militar diverso do que
atendeu a ocorrência, aquele deve inserir o nome do responsável pelo atendimento no histórico,
ficando responsável apenas pelo registro da ocorrência.

9.5. Dados gerais do envolvido


Participação Geral – assinalar a qualidade da participação do envolvido, dependendo do caso,
poderá ser assinalado mais de uma participação por envolvido (comunicante, ofendido, testemunha,
autor do fato ou a apurar):
Nome – Informar o nome completo do envolvido que está sendo qualificado;
Nome do pai: Informar o nome do Pai do envolvido;
Nome da mãe: Informar nome da Mãe do envolvido;
Alcunha: Informar o nome pelo qual o envolvido é conhecido vulgarmente. Muitas vezes esse nome
se refere a diminutivo ou conjunção de nome, nome de objeto, animal ou mesmo um adjetivo como
nome;
Nome falso: Anotar o nome pelo qual o envolvido se apresentou a autoridade policial, verbalmente
ou por meio de documento, que depois se constatou ser falso.
Nascimento – Informar a data de nascimento do envolvido;
Gênero – Informar o gênero (sexo) constante na carteira de identidade;
Nacionalidade: Informar o país de nascimento;
Naturalidade: Informar o Estado de nascimento;
Profissão – Informar a profissão do envolvido, preferencialmente de acordo com a Classificação
Brasileira de Ocupações – CBA (disponível no endereço
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/home.jsf);
CPF – Anotar o número do CPF do envolvido;
RG – Anotar o número da Carteira de Identidade do envolvido;
Data de emissão: Indicar a data de emissão da Carteira de Identidade (RG)
Órgão emissor: Indicar o órgão expedidor do documento com a designação da respectiva Unidade da
Federação.
UF – Informar a Unidade Federativa (Estado) de nascimento do envolvido.
CNH – Somente no caso de acidente de trânsito, indicar o número de registro da Carteira Nacional de
Habilitação ou Permissão para Dirigir, data de validade, Unidade da Federação (Estado) ou país de
expedição ou indicar NÃO HABILITADO, quando for o caso;
Estado Civil: Anotar o estado civil dentre os apresentados: solteiro, casado, união estável, viúvo,
divorciado, separado (judicial ou de fato), desquitado e não informado;
Grau de instrução: informar o grau de instrução do envolvido;
Cor da Pele: informar a cor da pele do envolvido;
Endereço Residencial: Registrar o tipo (Rua, Avenida, Servidão, Rodovia, etc.) e o nome do
logradouro e o número da residência;
Complemento: Registrar o complemento ao número da residência, tais como bloco, número do
apartamento, etc.;
Bairro – Indicar o bairro do endereço do envolvido;
Município – Indicar o município de residência do envolvido;
Estado: Indicar o Estado da Federação de residência do envolvido ou província, no caso de
estrangeiro;
País: Indicar o país de residência do envolvido;
Referência – Indicar um ponto de referência que seja significativo junto ao logradouro ou
comunidade da residência do envolvido;
Telefone: Registrar o número do telefone;
E-mail: Indicar o correio eletrônico, quando o envolvido possuir;
Endereço Comercial: Registrar o tipo (Rua, Avenida, Servidão, Rodovia, etc.) e o nome do logradouro
e o número do estabelecimento;
Complemento: Registrar o complemento ao número do estabelecimento comercial, tais como bloco,
número do apartamento, etc.;
Bairro – Indicar o bairro do endereço do estabelecimento comercial;
Município – Indicar o município de localização do estabelecimento comercial;
Estado: Indicar o Estado da Federação do estabelecimento comercial de trabalho do envolvido ou
província, no caso de estrangeiro;
País: Indicar o país do estabelecimento comercial de trabalho do envolvido;
Nome do estabelecimento: Informar o nome do estabelecimento onde trabalha o envolvido.
Referência – indicar um ponto de referência que seja significativo junto ao logradouro ou
comunidade do estabelecimento comercial de trabalho do envolvido;
Condições físicas – assinalar a opção que melhor expressa as condições físicas do envolvido;
Relato do envolvido: deixar que o envolvido relate, de próprio punho, sempre que possível, a sua
versão dos fatos.
Bens que portava consigo – preencher este campo somente se o envolvido for o autor do fato
entregue na Delegacia de Polícia ou outro órgão, no caso de Prisão/Apreensão. Nesta situação
registrar todos os pertences que o autor do fato portava consigo e foram entregues na Delegacia de
Polícia ou outro órgão, como peças de vestuário, dinheiro, objetos, etc.
Assinatura do envolvido: colher a assinatura do envolvido, impreterivelmente. Deve lembra-lo que a
assinatura apenas corrobora sua declaração.

9.6. Termo de manifestação do ofendido


Normalmente, a manifestação do ofendido é feita em outro formulário, que se junta ao
Termo Circunstanciado:
 Registrar o número do Termo Circunstanciado ao qual está atrelado este documento;
 Titular: Identificar o titular da representação;
 Assinatura: Colher assinatura do(s) ofendido (s);
 Manifestação: A manifestação do ofendido sobre interesse na representação ou queixa,
constará dos documentos produzidos apenas em caso de crime de ação penal pública
condicionada e ação penal de iniciativa privada, respectivamente, não sendo cabível quando
o crime for de ação penal pública incondicionada.

9.7. Termo de compromisso do(s) autor(es)


 Registrar o número do Termo Circunstanciado ao qual está atrelado este documento.
 Titular: Identificar o autor que está se comprometendo a comparecer ao Juizado especial
Criminal;
 Assinatura: Colher assinatura do autor;
 Compromisso: O compromisso será firmado por um texto padrão, comprometendo o autor a
comparecer ao Juizado Especial Criminal em uma data agenda naquele momento ou quando
for intimado.

9.8. Requisição de Exame de Corpo de Delito


Na aplicação direta da Lei 9.099/95 caberá ao agente policial a solicitação da perícia
para que se possa comprovar a materialidade do crime. A principal prova pericial é o exame de corpo
delito, pois é o conjunto de elementos que materializam o crime, podendo ser direto (quando a ação
criminosa deixa vestígios) ou indireto (quando não os deixa e deve ser suprida por outra prova).
Para o crime de lesões corporais, para efeitos da Lei 9099/95, o Auto de Exame de Corpo
de Delito pode ser suprido pelo boletim de atendimento médico ou mesmo o prontuário de
atendimento hospitalar. Todavia, deve sempre ser requisitado o exame de corpo de delito.

9.9. Termo de apreensão e/ou depósito


Registrar o número do Boletim de Ocorrência (Protocolo) ao qual está atrelado este
documento;
O campo APREENSÃO será sempre preenchido nos casos em que o material apreendido,
utilizado na prática delituosa, é de origem lícita ou com valor agregado, servindo como recibo para o
autor;
O campo DEPÓSITO será preenchido apenas nos casos que haja necessidade de
nomeação de Fiel Depositário, ou seja, quando o material apreendido for permanecer depositado
sob responsabilidade do próprio autor ou terceiro. Não há necessidade de preenchê-lo quando o
material for encaminhado à OPM.
Nos demais casos os materiais envolvidos na prática delituosa serão apreendidos e
descritos, preferencialmente, no próprio Boletim de Ocorrência e ficarão guardados na OPM até
encaminhamento à Justiça;
Também poderá será utilizado o TERMO DE APREENSÃO nos casos de bens apreendidos
em razão do exercício da polícia administrativa e recibo de bens de procedência legal com valor
agregado.
10. Exercitando a elaboração

Objetivos
 Elaborar um termo circunstanciado a partir de uma situação descrita.

10.1. Introdução
Agora que vimos alguns aspectos sobre a elaboração do Termo Circunstanciado, você
deve estar curioso para ver alguns modelos preenchidos e praticar, você mesmo, o preenchimento.
Como você percebeu, não é muito difícil, desde que tenha em mente os conceitos e as
recomendações aqui feitas.

10.2. Exercício
Leia o histórico que será entregue pelo instrutor, que descreve uma situação e verifique
as informações. Agora que você leu, releia focalizando sua atenção no relatório, que é um dos
aspectos de elaboração mais trabalhosa, pois precisa ser claro, completo e conciso, apesar de não ser
difícil. Elabore o termo circunstanciado sobre o fato, com todos os documentos necessários,
conforme ensinado!

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