Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
GERENCIAMENTO DE CRISES
E CONFLITOS POLICIAIS
2
maioria dos países europeus). “Negociação Técnica: busca de solução com o uso
de recursos técnicos e doutrinários pelo negociador, que os aplica quando define
como negociável o evento Crítico” (Salignac, 2011, p. 124).
Vejamos mais uma definição esclarecedora das diferenças entre a
Negociação Tática (preparatória) e a Negociação Técnica, Pura ou Real.
1.1 Justificativa
3
população está cada vez mais atenta, mais informada e mais disposta a entender
e questionar as ações vinculadas ao Estado e à polícia.
Por tudo isso, a resposta que os órgãos de Segurança Pública precisam
ofertar sempre, em qualquer tipo de ocorrência e ainda mais em ocorrências que
envolvam a necessidade da doutrina de Gerenciamento de Crises Policiais (com
causadores do evento crítico, reféns, vítimas, suicidas armados ou não e
incidentes críticos com explosivos), reitera a necessidade de uma atualização
continuada no arcabouço de diretrizes e normas que irão ditar e sustentar os
rumos de um evento crítico.
5
Operações Especiais Policiais e ao Gerenciamento de Crises, também no Brasil
e no mundo.
Esta contextualização proposta pretende demonstrar a necessidade da
criação do Gerenciamento de Crises – por fatos históricos –, bem como do
contumaz desenvolvimento e solidificação do tema, em meio a crises policiais.
Para tanto, mergulhemos em breves relatos históricos que conjuntamente
pretendem robustecer o intento deste trabalho, qual seja: a incessante, fascinante
e saudável atualização de conceitos e doutrinas, em meio a uma sociedade em
constante estado de mudança, desenvolvimento, cobrança e criticismo.
Vale externar que, segundo Robert Peel, “a Polícia é a sociedade e a
sociedade é a Polícia” (Rolim, 2009, p. 70). Portanto, as necessidades e anseios
da sociedade precisam ser pensados e externados pela Polícia, pois ambos estão
amalgamados.
Pelo acima exposto, a preservação da vida – até mesmo antes da aplicação
da lei, em meio a um evento crítico –, precisa ser sempre objetivada e alcançada
pelo serviço policial, mediante uma doutrina atual e técnica (Rolim, 2009).
6
como Operações Especiais seria com o emprego de tropas especiais, ainda na
antiguidade, isto em 1.200 a.C., com a estratégia de se utilizar um objeto (no caso
o “Cavalo de Tróia”), para a inserção de soldados no interior das muralhas dos
seus inimigos (Souza, 2003).
7
Os verdadeiros COMANDOS foram criados, originalmente, em 08 de
junho de 1940, na Inglaterra. Durante a Segunda Guerra Mundial, os
ingleses viram-se ameaçados com a expansão e constantes vitórias dos
Alemães, cujo desenvolvimento poderia culminar com a própria invasão
da Grã-Bretanha. Visando incrementar as operações da Inglaterra na
guerra, o Ten.-Cel. DUDLEY CLARKE, inspirado nas técnicas de
guerrilhas e nas tropas paraquedistas alemãs (uma inovação na época),
sugeriu ao Alto Comando e ao Primeiro Ministro, a criação de tropas
especiais de assaltos, constituídas por pequenos grupos que atuariam
somente com seu equipamento e armamento individual, desenvolvendo
operações rápidas e simples dentro do território inimigo, como
sabotagens, incursões, destruições de pontos estratégicos, guerrilhas,
etc. Livre da burocracia e da dependência de apoio de grandes tropas
de infantaria ou artilharia, a operacionalidade e versatilidade desses
grupos seria a melhor possível. (Ikeda, 2001, p. 10)
9
ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, na Vila Militar, junto à atual sede da Brigada
Paraquedista, com duração de mais de 3 meses.
10
implementação meramente tática, não seria suficiente para dar uma resposta
adequada às situações de crises que vinham surgindo.
Por isso tudo, quando foi escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de
1972 a cidade de Munique, na Baviera (ironicamente o berço do nazismo
alemão), o país inteiro viu a chance de limpar sua ficha. Organizadores
logo batizaram o evento de “os Jogos da Paz” e a ideia era entrar
novamente para a história. Dessa vez, como a mais alegre e fraternal de
todas as Olimpíadas. Estava tudo preparado para ser uma grande festa.
(Gwercman, 2005, p. 76)
12
Sobre a ação, Silva comenta: “Na pista uma emboscada foi armada, com
policiais no interior do Boeing e atiradores postados em locais destacados” (2016,
p. 33).
Ainda quanto à execução operacional do que foi planejado, já na pista da
base aérea de Fürstenfeldbruck, Silva (2016, p. 33): “Quando os helicópteros
transportando terroristas e reféns apareceram, os policiais que estavam no interior
da aeronave a abandonaram sem informar os outros membros do esquadrão.”
Os sequestradores perceberam que algo estava ocorrendo de maneira
diferente do que havia sido combinado. O avião que os levaria ao Egito, estava
vazio, sem qualquer tripulante a bordo. Neste instante, os dois sequestradores
que estavam verificando o avião – precursores – retornaram ao helicóptero. Logo
foi possível ouvir disparos contra os sequestradores e, na sequência, disparos dos
sequestradores em direção aos reféns.
13
terroristas se tornariam cada vez mais espetaculares – foi ali que se
aprendeu a atrair a atenção da mídia. (Gwercman, 2005, p. 77)
Essa situação crítica fez com que as demais polícias pensassem em qual
seria a resposta delas, caso o Massacre de Munique ocorresse nos seus
respectivos países. Surgiram, assim, diversos grupos de Operações Especiais
Policiais em todo o mundo.
14
(que estava deficitário), mas também a dialética que uma situação com reféns
necessitava.
Surgiram, como visto, diversos grupos táticos especializados, mas também
emergiu e se consolidou a necessidade de uma doutrina específica para se
gerenciar os eventos críticos vindouros (Cruz, 2008).
15
Durante um incidente que ficou conhecido como o tiroteio em Surrey
Street, um suspeito de barricada começou a atirar nos policiais da LAPD
que responderam a um chamado policial telefônico, e algumas
deficiências táticas tornaram-se evidentes. No momento em que a
fumaça se dissipou, três policiais, um espectador e o suspeito ficaram
feridos. Assim, Daryl F. Gates, percebeu que a polícia teria de criar outro
método para lidar com franco-atiradores ou criminosos barricados que
disparavam indiscriminadamente. (Story, 2018, tradução nossa)
1 Black Guerrilla Family: organização revolucionária formada por presos e egressos com o objetivo
de enfrentar o racismo, conseguir dignidade para os encarcerados e combater o governo dos
Estados Unidos. (Duarte, 2016)
2 Entenda-se que, no episódio da rebelião no presídio de Attica, em momento algum está se
falando de Negociação em Crises, pois o embrião da Negociação em Crises nasceu em Nova
Iorque (1973), mediante o Capitão da Polícia de Nova Iorque, Frank Bolz e o policial psicólogo
Harvey Schlossberg (Call, 2008, p. 3).
17
A falta de protocolo para gerenciar a crise, evidenciada por não ser um
policial quem realizava as conversações com os rebelados, bem como pelas
declarações de Russell Oswald para imprensa, pouco acertadas e intempestivas,
trouxeram grandes dificuldades para se chegar a um final aceitável e pacífico da
rebelião em Attica.
18
O saldo de mortos e feridos da rebelião marcou os Estados Unidos.
Enxergou-se que era necessário um outro tipo de resposta em situações
envolvendo reféns. Era necessário um protocolo, uma doutrina para o
gerenciamento destes tipos de situações.
19
estratégias e táticas para atendimento das crises então vigentes – o primeiro
programa dos Estados Unidos a ressaltar um processo de negociação tranquila
em vez de uma abordagem ríspida”.
Como uma evolução lógica para as ações trágicas, antes expostas,
percebeu-se a necessidade de uma alternativa diferente das tradicionais.
20
REFERÊNCIAS
BETINI, E. M.; TOMAZI, Fabiano. COT: Charlie, Oscar, Tango: por dentro do
Grupo de Operações Especiais da Polícia Federal. São Paulo: Ícone, 2010.
BOLZ, F. A.; HERSHEY, E. Hostage Cop. New York: Rawson, Wade Publishers,
1979.
21
GWERCMAN, S. Munique, 1972. Superinteressante, 31 dez. 2005. Disponível
em: <https://super.abril.com.br/historia/munique-1972/>. Acesso em: 23 jul. 2019.
23