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Redação para

vestibular medicina
4ª edição • São Paulo
2019

L C
LINGUAGENS, CÓDIGOS

5
e suas tecnologias
Estudo da escrita - Redação
ENTRE FRASES Emily Cristina dos Ouros e Murilo de Almeida Gonçalves
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2019
Todos os direitos reservados.

Autores
Emily Cristina dos Ouros
Murilo de Almeida Gonçalves

Diretor geral
Herlan Fellini
Coordenador geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


Hexag Sistema de Ensino
Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Bruno Alves Oliveira Cruz
Eder Carlos Bastos de Lima
Iago Kaveckis
Letícia de Brito
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)

Impressão e acabamento
Meta Solutions

ISBN: 978-85-9542-XXX-X

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando qual-
quer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.

2019
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CARO ALUNO

O Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Desde 2010, são centenas de aprovações nos principais
vestibulares de Medicina no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e em todo Brasil. O material didático foi, mais uma vez, aperfeiçoado e seu conteúdo enri-
quecido, inclusive com questões recentes dos relevantes vestibulares de 2019.
Esteticamente, houve uma melhora em seu layout, na definição das imagens, criação de novas seções e também na utilização de cores.
No total, são 103 livros, 24 cadernos de Estudo Orientado e 6 cadernos de aula.
O conteúdo dos livros foi organizado por aulas. Cada assunto contém uma rica teoria, que contempla de forma objetiva e clara o que o aluno
realmente necessita assimilar para o seu êxito nos principais vestibulares do Brasil e Enem, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar.
Todo livro é iniciado por um infográfico. Esta seção, de forma simples, resumida e dinâmica, foi desenvolvida para indicação dos assuntos mais abordados nos
principais vestibulares, voltados para o curso de medicina em todo território nacional.
O conteúdo das aulas está dividido da seguinte forma:
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos, de cada coleção, tem como principal objetivo apoiar o estudante na resolução de questões propos-
tas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, completos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações
dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados, e compõem um conjunto abrangente de informações para o
estudante, que vai dedicar-se à rotina intensa de estudos.
TEORIA NA PRÁTICA (EXEMPLOS)
Desenvolvida pensando nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Nesses
compilados nos deparamos com modelos de exercícios resolvidos e comentados, aquilo que parece abstrato e de difícil compreensão torna-se mais acessível
e de bom entendimento aos olhos do estudante.
Através dessas resoluções é possível rever a qualquer momento as explicações dadas em sala de aula.
INTERATIVIDADE
Trata-se do complemento às aulas abordadas. É desenvolvida uma seção que oferece uma cuidadosa seleção de conteúdos para complementar o
repertório do estudante. É dividido em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas e livros para o aprendizado do aluno.
Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados. Há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões
de aplicativos que facilitam os estudos, sendo conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica. Tudo é selecionado com finos
critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso estudante.
INTERDISCIPLINARIDADE
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é elaborada, a cada aula, a seção interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares de
hoje não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada matéria.
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como biologia e química,
história e geografia, biologia e matemática, entre outros. Neste espaço, o estudante inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacio-
nam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o estudante consegue entender
que cada disciplina não existe de forma isolada, mas sim, fazendo parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
APLICAÇÃO NO COTIDIANO
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana no desenvolver do dia a dia, dificultando o
contato daqueles que tentam apreender determinados conceitos e aprofundamento dos assuntos, para além da superficial memorização ou “decorebas” de
fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios de aprendizagem com os conteúdos, foi desenvolvida a seção “Aplicação no Cotidiano”. Como o próprio nome já
aponta, há uma preocupação em levar aos nossos estudantes a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo que eles têm contato em seu
dia a dia.
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
Elaborada pensando no Enem, e sabendo que a prova tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, o estudante deve
conhecer as diversas habilidades e competências abordadas nas provas. Os livros da “Coleção vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas
habilidades. No compilado “Construção de Habilidades”, há o modelo de exercício que não é apenas resolvido, mas sim feito uma análise expositiva, descre-
vendo passo a passo e analisado à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurá-las na sua
prática, identificá-las na prova e resolver cada questão com tranquilidade.
ESTRUTURA CONCEITUAL
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Geramos aos estudantes o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles
é a estrutura conceitual, para aqueles que aprendem visualmente a entender os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e
fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos
ensinados no dia, o que facilita sua organização de estudos e até a resolução dos exercícios.
A edição 2019 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo ao aluno um material moderno e completo, um grande aliado para o seu
sucesso nos vestibulares mais concorridos de Medicina.
Herlan Fellini
SUMÁRIO
ENTRE FRASES
ESTUDO DA ESCRITA - REDAÇÃO
Aula 18: Interdisciplinaridade na redação 7
Aula 19: Adequação e precisão vocabular 1 27
Aula 20: Adequação e precisão vocabular 2 45
Aula 21: Imprecisões comuns em redações de vestibular:
proposta temática e coletânea 71
Aula 22: Imprecisões comuns em redações de vestibular:
estrutura 91
Redações extras 113
Prontuário 133
1 8 Interdisciplinaridade na
redação

L C
ENTRE
FRASES
8
Interdisciplinaridade na redação
A interdisciplinaridade costuma ser definida como a tentativa do homem de propor a interação entre
dois ou mais campos do conhecimento, através da relação de saberes que podem ser aproximados. Nesse sentido,
ao pensarmos na interdisciplinaridade na prova de redação, tratamos das referências a outros campos do conhe-
cimento que podem ser utilizadas para fortalecer os argumentos desenvolvidos ao longo do texto ou ainda para
realizar a introdução do tema.
Em se tratando da prova do ENEM, essa dimensão ganha ainda mais proeminência, já que que a compe-
tência 2 exige que os alunos demonstrem capacidade de “aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento
para desenvolver o tema”. Em outras palavras, a prova requer que os alunos relacionem a discussão temática com
informações de outros campos do saber, buscando articular essas informações com posicionamento adotado pelo
candidato.
Portanto, para ter um bom desempenho na redação e conseguir pontuação máxima nos critérios de reper-
tório e interdisciplinaridade, é fundamental que o aluno seja interessado em compreender o mundo atual a partir
de diferentes campos do conhecimento. A leitura constante de periódicos de referência e de textos literários e o
contato frequente com conceitos sociológicos, filosóficos e históricos garantem uma excelente articulação entre a
vida social cotidiana e outras áreas do saber.
Desse modo, fique atento: procure sempre estabelecer relações entre os temas que você discute nas aulas
de redação e o conhecimento teórico ou repertório cultural que você já possui. Veja se esses cruzamentos podem
reforçar os argumentos que você quer defender.

1. Qual é o critério para selecionar as referências?


a) Observe se a relação estabelecida, de fato, possui semelhanças com o tema ou argumento
discutido: Lembre-se de que não vale “forçar a barra”, isto é, realizar uma aproximação simples e
gratuita da temática discutida e a referência citada.

b) Dê preferência a autores com maior visibilidade em suas áreas: A validade dos seus argumen-
tos também considera a qualidade e pertinência do repertório utilizado. Na dúvida, lembre-se sempre
dos autores e conceitos abordados nas outras disciplinas do vestibular, como: geografia, física, filosofia,
sociologia, história, literatura etc.

c) Tenha certeza do nome do autor/obra/conceito que deseja utilizar: Caso decida tecer a compa-
ração, esteja seguro das informações apresentadas. Cuidado para não confundir os nomes dos autores,
como “Álvares de Azevedo” (2ª geração da poesia romântica) com “Aluísio Azevedo” (escritor naturalis-
ta); ou ainda, atribuir incorretamente a autoria de discursos: a oração “Governar é construir estradas”,
por exemplo, é de Washington Luís, e não de Juscelino Kubistchek como muitos costumam afirmar.

d) Fuja de citações “guarda-chuva”: Os bons alunos devem estabelecer relações, comparar os textos e
não adequar o discurso para “caber” num repertório.

2. Como utilizar as referências?


É sempre preciso lembrar que os conhecimentos das outras áreas – embora importantes para atingir a
pontuação máxima nos exames – não dever determinar quais argumentos você discutirá em seu texto. Em outras
palavras: é o argumento que seleciona a referência e não a referência que seleciona o argumento. Você incluirá
uma citação ou uma analogia na redação apenas se elas estiverem relacionadas aos argumentos discutidos ou à
temática proposta (uso de referências na introdução).

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Cuide para que seu texto não se torne um amontoado de informações desconexas de suas ideias, conforme
ressalta o manual do ENEM:
Utilize informações de várias áreas do conhecimento, demonstrando que você está atualizado em
relação ao que acontece no mundo. Essas informações devem ser usadas de modo produtivo no
seu texto, evidenciando que elas servem a um propósito muito bem definido: ajudá-lo a validar
seu ponto de vista. Isso significa que essas informações devem estar articuladas à discussão
desenvolvida em sua redação. Informações soltas no texto, por mais variadas e interessantes, per-
dem sua relevância quando não associadas à defesa do ponto de vista desenvolvido em seu texto.
Redação no Enem 2018 - Cartilha do participante

3. Áreas do saber comuns nas redações de vestibular


1.Literatura
Não é preciso mostrar ao corretor que você leu os romances ou poesias aos quais você faz referência.
Mencione apenas aquilo que é necessário para tecer a comparação. E cuidado: deixe claro que se trata de uma
obra de ficção.
George Orwell, em sua célebre obra “1984”, descreve uma distopia na qual os meios de comunicação são
controlados e manipulados para garantir a alienação da população frente a um governo totalitário. Entretanto,
apesar de se tratar de uma ficção, o livro de Orwell parece refletir, em parte, a realidade do século XXI, uma vez que,
na atualidade, usuários da internet são constantemente e influenciados por informações previamente selecionadas,
de acordo com seus próprios dados. Nesse contexto, questões econômicas e sociais devem ser postas em vigor, a
fim de serem devidamente compreendidas e combatidas.

Trecho extraído de redação nota mil do ENEM 2018. Fonte: Cartilha redação a mil.

2. Sociologia/ filosofia
Ao sustentar seus argumentos por meio de um repertório sociológico ou filosófico, não se esqueça de
relacioná-los ao contexto que você está estabelecendo. Não deixa a informação solta, e cuide que sua relação não
seja tão distante da temática abordada.
Em primeiro plano, urge analisar a falta de criticismo dos usuários mediante a internet. Nesse contexto, a
falta de percepção crítica acerca das informações adquiridas nas redes por parte dos indivíduos implica uma falsa
ideia de liberdade de escolha, já que os meios de comunicação definem a noção de mundo dos seus usuários. Com
efeito, tal conjuntura é análoga a “menoridade intelectual”, proposta por Kant, a qual caracteriza a falta de auto-
nomia dos indivíduos sobre seus intelectos, uma vez que a sociedade torna-se refém da manipulação de dados da
internet e, consequentemente, tem seu comportamento moldado.

Trecho extraído de redação nota mil do ENEM 2018. Fonte: Cartilha redação a mil.

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3. História
Ao se valer de dados históricos na redação, procure estabelecer relações temporais próximas. Evite tempo-
ralidades muito distantes, ou ainda contextos muito diferentes, como comparar a pré-história com a atualidade.
Sempre busque relações possíveis em que, realmente, haja uma semelhança com o contexto/argumento discutido.
Em meados do século XX, durante o período da Segunda Guerra Mundial, foi desenvolvida a internet. A
princípio, tal ferramenta tinha como objetivo facilitar a comunicação bélica e, por isso, era restrita a um determi-
nado grupo de pessoas. Entretanto, após o término da guerra a internet foi difundida e alcançou novos públicos.
Além disso, foram atribuídas novas funções à ferramenta que contribuíram para sua popularização. Atualmente, a
tecnologia virtual faz parte da vida da maior parte da população brasileira, seja para lazer, seja para trabalho. Con-
tudo, embora a internet ofereça acesso a todo tipo de conteúdo, ela se vale de mecanismos de controle de dados
que manipulam a disposição das informações. Dessa maneira, em razão do Capitalismo e do ensino tradicionalista,
a manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados da internet torna-se evidente e problemático.
Trecho extraído de redação nota mil do ENEM 2018. Fonte: Cartilha redação a mil.

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Aula 18 - A adoção no brasil
ACERVO
TEXTO 1

O descompasso que trava a adoção no Brasil


Número de pais cadastrados para adotar é cinco vezes maior que o de crianças. Novo sistema tenta quebrar

estereótipos.

A advogada catarinense Perla Duarte Moraes, de 40 anos, sempre quis adotar uma criança, apesar de poder ter filhos bioló-
gicos. Em 2016, o plano se concretizou, e a adoção fugiu do padrão brasileiro: a escolha foi por um menino de nove anos de idade.
O Cadastro Nacional de Adoção (CNA) aponta que apenas 5% dos cerca de 43 mil candidatos a pai e mãe adotivos
aceitam crianças de nove anos de idade ou mais. No entanto, é nesse grupo que estão mais de 60% das crianças aptas a serem
adotadas em abrigos no Brasil.
"As crianças pequenas de até três ou quatro anos de idade são adotadas de imediato, pois esse é o perfil preferidos dos
adotantes. As crianças maiores encontram certa resistência", afirma Halia Pauliv de Souza, que há mais de 20 anos ministra cursos
e escreve livros sobre preparação para pais e mães que pretendem adotar.
Esse descompasso é um dos fatores que mais contribuem para que o número de crianças em abrigos só cresça no País.
Hoje, são cerca de 8 mil crianças aptas para adoção, ou seja, o número de pais na fila para adotar é cinco vezes maior.
Especialistas apontam que as exigências dos pais mostram que ainda há uma idealização da adoção, o que atrapalha o
processo adotivo e impede que os candidatos tenham experiências como a de Moraes.
"Meu filho é tudo pra mim", diz a advogada após os dois primeiros anos de maternidade. Mas nem tudo é um conto de
fadas, reconhece. Ela conta que a decisão de adotar foi sendo construída aos poucos, lendo livros sobre o tema e fazendo os cursos
necessários para poder se cadastrar no CNA.
O processo de adoção do filho Antônio, hoje com 12 anos, durou cerca de um ano, período que Moraes considerou bom
para amadurecer e se preparar para a tarefa de ser mãe.
"Quem quer adotar precisa saber de todas as situações que tem que enfrentar. É como ter um filho biológico, com as
partes boas e ruins. Quando decidi adotar, fui à Vara da Infância de Florianópolis e iniciei todo o processo, inclusive com o curso
preparatório", conta Moraes.
"É importante essa etapa, porque não deixa espaço para falsas ilusões sobre o que é a adoção. Hoje sou muito feliz com
meu filho e acho que é porque passei por todo esse processo de preparação", diz a advogada.
Souza destaca que, após a decisão de adotar, além do curso obrigatório, é preciso continuar a preparação pessoal por meio
de leituras e frequentar grupos de apoio à adoção. E quando o filho chegar, deve-se buscar apoio nos grupos de pós-adoção. "Todo
esse apoio é oferecido gratuitamente no País", ressalta.
Com 80 anos de idade, a especialista ainda trabalha como voluntária em cursos preparatórios para futuros pais e mães
adotivos no Paraná. Ela defende que o processo de adoção seja ainda mais rigoroso, para dar mais segurança aos adultos e, prin-
cipalmente, para a criança.
No caso de Moraes e Antônio, que cumpriram todos os requisitos do processo adotivo, a experiência tem sido tão boa que
a advogada já pensa no segundo filho.

Novo sistema para aproximar pais e filhos

Dez anos se passaram desde que o CNA e o Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (CNCA) foram implantados no Brasil.
Nos primeiros três anos, mais de 3 mil adoções foram realizadas no País, mas esse número caiu com o passar do tempo.
O maior desafio atualmente é aproximar as crianças dos candidatos a pais, quebrando estereótipos. Para isso, um novo

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sistema começou a ser testado em maio deste ano em duas cidades do interior do Espírito Santo, Colatina e Cariacica. Até o final
do ano o modelo deve ser implementado em cidades maiores, como São Paulo.
Um dos magistrados que participa do grupo de trabalho multidisciplinar do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que elabo-
rou as mudanças no CNA, Iberê Castro Dias, de São Paulo, explica que uma das novidades do sistema é a possibilidade de os pais
verem fotos da criança que foi selecionada através do cadastro. Para ele, isso pode ajudar na flexibilização das exigências dos pais.
"A imagem é uma forma de aproximar o adulto da criança, de humanizar o processo adotivo. Só depois haverá o encontro
pessoal. Assim podemos mostrar crianças fora da faixa etária escolhida pelos pais. Se eles querem até oito anos de idade, às vezes
podem ver a foto de um menino ou menina de dez anos e mudar de ideia", diz o juiz.
Algo semelhante ocorreu no caso da adoção de Antônio por Moraes. Ela pretendia adotar uma criança até sete anos, mas
aceitou aumentar a idade durante o processo de preparação.
Castro Dias reforça que todas as etapas continuarão a ser exigidas no processo adotivo e que isso é importante para
minimizar problemas após o acolhimento, como de devolução de crianças - questão em que, segundo o juiz, a legislação brasileira
já avançou.
"Hoje o pai que adotou e devolveu pode ser obrigado a pagar tratamento psicológico para a criança por causa do trauma
que está causando e também uma pensão. É uma situação que ninguém quer, então temos que ser rigorosos no processo de seleção
justamente para diminuir esse tipo de ocorrência", afirma.

A criança idealizada e a real

A psicanalista Maria Luiza Ghirardi estudou a fundo o comportamento de pais e mães que pretendem adotar para a sua
tese de mestrado na USP. A pesquisa resultou no livro Devolução de crianças adotadas: um estudo psicanalítico, lançado em 2015.
Para Ghirardi, a expectativa dos pais adotivos em relação às crianças foi um dos principais fatores para casos em que houve devo-
lução.
"Os casos de devolução mostraram que muitas vezes há uma forte expectativa dos pais para que a criança solucione os
problemas dos adultos ou para que ela se encaixe na estrutura familiar oferecida. Essa expectativa normalmente gera metas inal-
cançáveis para ambos os lados, e com isso abre-se uma porta para o sentimento de fracasso", diz Ghirardi.
Já para a psicóloga da Vara da Infância de Natal, Ana Barbosa Maux, o processo de preparação dos pais e das crianças é
até mais importante do que a seleção. "Muito mais do que avaliar se alguém está apto para adotar, se faz necessário que as equipes
técnicas atuem na preparação dessas pessoas, através de momentos de reflexões, troca de experiências com outras famílias e apoio
psicossocial. Mas esses pretendentes também precisam realizar uma preparação pessoal, que envolve o engajamento subjetivo na
construção da parentalidade por adoção", orienta Maux.
Ghirardi reforça que apenas um controle maior nesse processo de seleção, com a orientação adequada, pode ajudar a
impedir ou a reduzir casos de adoção malsucedida. "O que vejo é que há uma importância cada vez maior de, ainda na preparação
para a adoção, o adulto entre em contato com todas as dificuldades que deve encontrar quando tiver uma criança adotada em casa.
Isso é ainda mais relevante quando a adoção é de jovens de mais idade, já adolescentes", diz.

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-descompasso-que-trava-a-adocao-no-brasil (25.07.2018)

TEXTO 2

Pensa em adotar filhos? Tire suas dúvidas

Promotora da Infância e Juventude responde perguntas que podem ajudá-lo a tomar uma decisão importante não apenas
para você, mas para a criança que espera um lar.

O caminho legal para adoção no Brasil é o Cadastro Nacional de Adoção, que consolida os dados de todas as Varas da
Infância e da Juventude referentes a crianças e adolescentes em condições de serem adotados e a pretendentes habilitados à ado-
ção. Cinara Vianna Dutra Braga, promotora da Infância e Juventude de Porto Alegre, esclarece algumas questões sobre o assunto:

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Quais são os passos para adotar uma criança?

Antes de qualquer coisa, a pessoa interessada pode entrar no site do Tribunal de Justiça, onde tem as informações dos
documentos necessários e um formulário para preenchimento. Daí a pessoa vai até o Juizado da Infância e da Juventude da sua
comarca, e então vai ser avaliada por uma equipe técnica de assistente social e psicólogo, onde vão ser tiradas dúvidas e será feita
uma preparação dessa pessoa – que pode ser alguém sozinho, pode ser um casal, pode ser um casal homoafetivo. O promotor de
Justiça vai dar seu parecer e o juiz, então, homologa a habilitação para adoção. A pessoa habilitada vai compor o cadastro nacional
de adoção, e, conforme a data de homologação da sentença de habilitação para adoção, você entra na fila.

Por que esses trâmites são necessários?

Porque ela vai ter a tranquilidade, quando receber a criança, de que os pais biológicos não vão procurar, de que não vai
haver aquela chantagem, de "ou tu me dá 'x' ou vou levar meu filho embora". Além disso, quando você se habilita, diz como é a
criança que você quer adotar, a idade aproximada, a raça, se pode ter problema de saúde tratável ou não... Você especifica a criança
à qual você se sente capacitado para dar todo o carinho e a atenção necessários.

Quanto tempo pode levar um processo de adoção?

O processo de adoção é célere, o que é demorado é chegar à criança para que possa ser adotada. A gente tem em acolhi-
mento institucional em torno de 1,1 mil crianças e adolescentes, mas temos tramitando em torno de 500 ações de destituição de
poder familiar, algumas delas tramitando já há um ano, enquanto o prazo legal seria de 120 dias. Todo mundo quer criança peque-
na, e muitas vezes a criança entra pequena no acolhimento, mas o processo é tão demorado que ela acaba se tornando grandinha
e sai da idade que todo mundo quer adotar.

Quando a criança tem irmãos, como se dá a adoção?

A gente, primeiro, busca no cadastro alguém que queira adotar a totalidade de irmãos. É muito difícil alguém que queira
adotar quatro irmãos, por exemplo. Primeiro se esgota o cadastro e, se não tem ninguém interessado, faz-se uma avaliação psico-
lógica das crianças para verificar a possibilidade do desmembramento e como seria o desmembramento. Normalmente a gente faz
de duplinhas. Não é matemático, não é por idade, é de acordo com as condições das crianças. E a gente tenta buscar casais que
concordem em manter a aproximação dos irmãos. Todo mundo quer criança pequena, e muitas vezes a criança entra pequena no
acolhimento, mas o processo é tão demorado que ela acaba se tornando grandinha e sai da idade que todo mundo quer adotar.

Se os pais não têm condições de cuidar de todos os irmãos, o que acontece?

É muito triste, as devoluções ocorrem. Quando é uma adoção já concluída, a gente ingressa com ação indenizatória, porque
o dano moral para essa criança, adolescente, é muito grande. Há casos em que a criança ficou mais de cinco anos com a pessoa, e
daí a pessoa simplesmente entende que não tem condições e devolve. Há necessidade de um apoio após a adoção, isso não existe
em Porto Alegre. A gente tem que criar esse serviço justamente para evitar a devolução de crianças e adolescentes. Porque se você
consegue desde o início identificar a dificuldade e auxiliar, talvez não conclua, anos depois, na devolução. Quando eu entro com o
pedido, o psicólogo avalia se eu tenho condições psicológicas e financeiras, isso tudo é conversado com o habilitado. De repente
o habilitado diz que tem condições de adotar trigêmeos, quadrigêmeos, daqui a pouco a equipe técnica indica que adotem um
ou dois. Também acontece de eu me habilitar para uma criança, e, no decorrer do tempo, vejo que tenho interesse de dois ou até
mesmo três. Daí posso alterar o perfil.
https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2018/05/pensa-em-adotar-filhos-

-tire-suas-duvidas-cjgwpn0p6035501paas545d1c.html (07.05.2018)

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TEXTO 3

Não ter família dói': crianças com mais de 3 anos esticam fila de espera por adoção

Em todo Brasil, 6 mil menores brasileiros sonham em ganhar uma família. Em Minas, são 636. Do outro lado, existem seis
vezes mais pessoas interessadas na adoção, mas a maioria não encontra o perfil que deseja e só faz prolongar a espera.
No princípio, o desejo era adotar um recém-nascido, independentemente da cor da pele ou do sexo. Mas a vida surpreende,
os dias ensinam e as expectativas foram atropeladas sem deixar qualquer frustração ao casal morador de Contagem, na Região
Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Hoje, Gilmar Pereira de Carvalho, de 58 anos, e Luciana de Freitas Barbosa Carvalho, de
38, estão felizes da vida como pais das irmãs biológicas Ana Luísa Barbosa Carvalho, de 13, e Thayná Barbosa Carvalho, de 8, que
vieram ao mundo em Patrocínio, no Alto Paranaíba, moraram em abrigo, mas encontraram no apartamento do Bairro Eldorado um
lar com aconchego, carinho e as “palavras certas, no momento certo, para educar”, conforme ressalta a mãe.
Gilmar e Luciana se conheceram em Portugal há 10 anos e se casaram há quatro no Brasil. Na época, Luciana falou do
sonho de ter filhos e, mesmo sem qualquer impedimento para gerar uma criança, considerava a adoção muito bem-vinda. O marido,
aposentado, já tinha filhos e um netinho, e foi o menino quem indicou o caminho a seguir: “Quando o vi correndo dentro de casa,
durante alguns dias em que ficou aqui, senti que não dava conta de um bebê de novo”, revela Gilmar, bem-humorado, com aval e
sorriso da mulher. Assim, os dois se candidataram à doação que foge ao padrão procurado pela maioria dos pretendentes – crianças
com até 3 anos de idade.
Em Minas, por exemplo, 53,7% dos interessados em adotar querem crianças com até três anos (veja quadro), de acordo
com dados do Cadastro Nacional de Adoção/Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Na
contramão dessa realidade, o casal de Contagem recebeu de coração e braços abertos as meninas Ana Luísa e Thayná, então com
10 e 5 anos. A irmã do meio, Brenda, de 9, foi adotada por uma família de Matozinhos, na RMBH, e as três se encontram um fim
de semana por mês, informam os pais.

(foto: Arte)

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A história da família Carvalho serve de exemplo para outros brasileiros ainda reticentes quanto à adoção, principalmente a
tardia (crianças maiores de 3 anos de idade), e fixos num perfil específico de criança. Segundo o CNJ, há, no Brasil, seis vezes mais
pessoas habilitadas ao processo do que crianças e adolescentes em condições de serem adotados – mesmo assim, são aproxima-
damente 6 mil menores em abrigos esperando uma família. Nesta situação, está o jovem R., que completará 18 anos em junho e
há mais de uma década espera pela adoção. As palavras transmitem emoção e clareza. “Toda criança ou adolescente de um abrigo
alimenta a vontade de ter uma família, receber carinho dos pais, mesmo não sendo os de sangue, e morar numa casa tranquila. Co-
migo não é diferente, mas, quer saber a verdade? Não tenho mais esperanças”, diz o jovem, abrigado na Unidade de Acolhimento
Institucional Casa dos Anjos, no Bairro Santa Mônica, na Região de Venda Nova.
O motivo para a discrepância entre os dados, de acordo com as autoridades, é que os adotantes procuram crianças bem
pequenas ou recém-nascidas, e boa parte dos menores disponíveis para adoção – em Minas eles somam 636 – se encontra no
grupo das chamadas adoções necessárias, ou seja, são maiores de 3 anos, têm necessidades especiais ou são grupos de irmãos,
que a Justiça procura não separar.

CAMINHADA Para tentar mudar comportamentos e estimular os mineiros, mostrando à sociedade que “famílias adotivas
são como todas as outras e o amor entre pais e filhos adotivos vai além dos laços consanguíneos”, será realizada hoje, às 9h, com
concentração na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul da capital, a 1ª Caminhada da Adoção, inciativa do Grupo de Apoio à
Adoção de Belo Horizonte (GAA/BH) e o Grupo de Apoio à Adoção de Santa Luzia (Gada), com suporte da Câmara de Dirigentes
Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), da Fundação CDL Pró-Criança e do TJMG.
A Caminhada da Adoção faz parte das ações do TJMG, por meio da Coordenadoria da Infância e da Juventude (Coinj), para
promover a adoção de crianças a partir de 3 anos, grupos de irmãos e crianças portadoras de necessidades especiais, durante a
Semana Nacional da Adoção. Além da atividade, será realizado, na terça-feira, o Seminário da Adoção Tardia, quando será lançado
o Projeto Apadrinhar, do TJMG e coordenado pela desembargadora Valéria Rodrigues Queiróz, superintendente da Coordenadoria
da Infância e da Juventude do TJMG-Coinj.
“Adotar uma criança é um ato de amor, não se trata de favor, muito menos de caridade. Deve prevaler o desejo de querer
ter um filho”, diz a diretora do GAA/BH (associação existente há 10 anos e sem fins lucrativos), advogada Larissa Jardim. A desem-
bargadora Valéria Rodrigues Queiróz, por sua vez, lamenta: “A procura por bebês para adoção ainda é muito maior, infelizmente.
Segundo dados do CNJ, 92,7% dos pretendentes à adoção, no Brasil, desejam crianças com idade entre zero e 3 anos. Contudo,
apenas 8,8% das crianças aptas à adoção têm essa idade”.

AMOR COMPLETO A vida de Gilmar e Luciana mudou completamente em outubro de 2016, quando as irmãs Ana Luísa
e Thayná foram viver em sua companhia e começaram a chamá-los de pai e mãe. “Até então, éramos nós dois e o cachorrinho Toby.
Um silêncio só, pois até ele é bem quietinho”, brinca Luciana olhando para o mascote da família, que foi prontamente “adotado”
pelas meninas. O processo de habilitação, na Justiça, teve o suporte do GAA/BH, e momentos de emoção superlativa. Ao lado,
Gilmar acrescenta que a chegada das duas foi “uma revolução completa para melhor”.
“Quando informada sobre as meninas, que estavam num abrigo em Patrocínio, meu coração disparou. E pensei: ‘encontrei
minhas filhas. Tenho certeza’”, conta Luciana, embora nem tivesse visto foto das garotas. No primeiro encontro, num fim de semana,
“tivemos certeza do que queríamos”. Ouvindo a conversa, mas prestando atenção também na tevê, Ana Luísa lembra que chorou
muito no início e depois foi se acostumando. “Fique feliz”, diz a adolescente, que pretende ser advogada, tem aulas particulares e
acompanhamento de uma psicóloga.
Thayná também ouve a conversa, na sala de casa, e, com jeitinho meigo, conta que ter um lar foi “muito legal”. Curiosa-
mente, ela lembra os traços de Luciana, que se orgulha da comparação física e conta que Ana Luísa se parece muito com a família do
marido. Luciana vai até a estante e volta com duas cartas recebidas no Dia das Mães. Na primeira, Thayná escreveu: “Você é minha
vida. Mãe linda e guerreira, forte e apaixonada. Mãe, eu adoro sua comida”. Na outra, foi a vez de Ana Luísa: “Você é a melhor
mãe. Sem você, não sei o que seria de mim”.

‘Não tenho mais esperança’, afirma R., de 17 anos, acolhido na Unidade de Acolhimento Institucional Casa

dos Anjos/Grupo de Desenvolvimento Comunitário (Gdecom), em BH


“Vou completar 18 anos em 19 de junho. Até lá, poderei ficar no abrigo. Depois, não sei que rumo vou tomar. Desde que
me entendo por gente, minha vida tem se dividido entre uma família aos pedaços, com muitos irmãos, e o acolhimento nos abrigos,

16
de onde não tenho o que reclamar. Estudo, estou no primeiro ano do ensino médio e quero ser advogado ou médico, mas a angústia
de não ter uma família me dói. Toda criança ou adolescente que mora em abrigo alimenta a vontade de ter uma família, receber
carinho dos pais, mesmo não sendo os de sangue, morar numa casa tranquila. Comigo não é diferente, mas, quer saber a verdade?
Não tenho mais esperança.
Quando eu era bem criança, minha mãe falava que me levaria ao parque, mas me deixava numa creche ou abrigo, não
me lembro muito bem. E não voltava para me buscar. Fui adotado pela primeira vez aos 6 anos, mas infelizmente não deu certo. O
casal brigou, se separou e voltei para minha família. O pior é que minha mãe bebia, arrumou um namorado que também bebia, e
resultado: um dia, cheguei em casa e eles estavam fazendo amor. Fiquei espantado com o que vi, pois era só um menino, né?, então
resolvi fugir. Subi no telhado e fui embora.
Aos 10 anos, retornei à vida no abrigo e só tenho a agradecer. Sinto aquela carência de amor de família, uma tristeza,
ansiedade, angústia. Seria bom que toda criança tivesse um pai e uma mãe, mesmo adotados. E não pensem que, por estar maior,
pode dar errado. Os de 17 anos ou perto dos 18, como é meu caso, têm mais responsabilidade, sabem o que fazem da vida, têm
vontade de amar. Só precisamos mesmo de ajuda. No fundo, no fundo, ainda tenho vontade de ser adotado”.
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/05/19/interna_gerais,1054909/seis-mil-co-
-nao-ter-familia-doi-criancas-com-mais-de-3-anos-esticam.shtml (19.05.2019)

É IMPORTANTE SABER
I. DADO ESTATÍSTICO RELEVANTE

O Cadastro Nacional de Adoção (CNA) aponta que apenas 5% dos cerca de 43 mil candidatos a pai e mãe adotivos aceitam
crianças de nove anos de idade ou mais. No entanto, é nesse grupo que estão mais de 60% das crianças aptas a serem ado-
tadas em abrigos no Brasil.
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-descompasso-que-trava-a-adocao-no-brasil (25.07.2018)

II. ARGUMENTO DE AUTORIDADE

A psicanalista Maria Luiza Ghirardi estudou a fundo o comportamento de pais e mães que pretendem adotar para a sua tese
de mestrado na USP. Para Ghirardi, a expectativa dos pais adotivos em relação às crianças foi um dos principais fatores para
casos em que houve devolução. "Os casos de devolução mostraram que muitas vezes há uma forte expectativa dos pais para
que a criança solucione os problemas dos adultos ou para que ela se encaixe na estrutura familiar oferecida. Essa expectativa
normalmente gera metas inalcançáveis para ambos os lados, e com isso abre-se uma porta para o sentimento de fracasso",
diz Ghirardi.
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-descompasso-que-trava-a-adocao-no-brasil (25.07.2018)

III. EXEMPLOS DO COTIDIANO

A advogada catarinense Perla Duarte Moraes, de 40 anos, sempre quis adotar uma criança, apesar de poder ter filhos bioló-
gicos. Em 2016, o plano se concretizou, e a adoção fugiu do padrão brasileiro: a escolha foi por um menino de nove anos de
idade: "Quem quer adotar precisa saber de todas as situações que tem que enfrentar. É como ter um filho biológico, com as
partes boas e ruins. Quando decidi adotar, fui à Vara da Infância de Florianópolis e iniciei todo o processo, inclusive com o curso
preparatório", conta Moraes. "É importante essa etapa, porque não deixa espaço para falsas ilusões sobre o que é a adoção.
Hoje sou muito feliz com meu filho e acho que é porque passei por todo esse processo de preparação", diz a advogada.
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-descompasso-que-trava-a-adocao-no-brasil (25.07.2018)

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IV. ATORES OU SITUAÇÕES QUE PODEM SER MOBILIZADOS NA DISCUSSÃO DO TEMA (PROPOSTA ENEM)
APRIMORAR OS PROCESSOS DE PREPARAÇÃO DOS PRETENDENTES

“Muito mais do que avaliar se alguém está apto para adotar, se faz necessário que as equipes técnicas atuem na preparação
dessas pessoas, através de momentos de reflexões, troca de experiências com outras famílias e apoio psicossocial. Mas esses
pretendentes também precisam realizar uma preparação pessoal, que envolve o engajamento subjetivo na construção da pa-
rentalidade por adoção”, orienta psicóloga da Vara da Infância de Natal, Ana Barbosa Maux.
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-descompasso-que-trava-a-adocao-no-brasil (25.07.2018)

V. CITAÇÃO

Nada é mais inadequado do que adotar uma criança e amá-la. Parece que uma criança adotada só consegue acreditar que é
amado após conseguir ser odiada.
Donald Winnicott, psicanalista inglês.

VI. LEGISLAÇÃO:

A criança e o adolescente em programa de acolhimento institucional ou familiar poderão participar de pro-


grama de apadrinhamento.

§ 1º O apadrinhamento consiste em estabelecer e proporcionar à criança e ao adolescente vínculos externos à instituição para
fins de convivência familiar e comunitária e colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos social, moral, físico, cognitivo,
educacional e financeiro.

§ 2º Podem ser padrinhos ou madrinhas pessoas maiores de 18 (dezoito) anos não inscritas nos cadastros de adoção, desde
que cumpram os requisitos exigidos pelo programa de apadrinhamento de que fazem parte. (Promulgação de partes vetadas )

§ 3º Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou adolescente a fim de colaborar para o seu desenvolvimento.

§ 4º O perfil da criança ou do adolescente a ser apadrinhado será definido no âmbito de cada programa de apadrinhamento,
com prioridade para crianças ou adolescentes com remota possibilidade de reinserção familiar ou colocação em família adotiva.

§ 5º Os programas ou serviços de apadrinhamento apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude poderão ser executados
por órgãos públicos ou por organizações da sociedade civil.

§ 6º Se ocorrer violação das regras de apadrinhamento, os responsáveis pelo programa e pelos serviços de acolhimento deverão
imediatamente notificar a autoridade judiciária competente.”
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13509.htm'

VII. DIREITOS HUMANOS

Para o desenvolvimento completo e harmonioso de sua personalidade, a criança precisa de amor e compreensão. Criar-se-á,
sempre que possível, aos cuidados e sob a responsabilidade dos pais e, em qualquer hipótese, num ambiente de afeto e de
segurança moral e material, salvo circunstâncias excepcionais, a criança da tenra idade não será apartada da mãe. À sociedade
e às autoridades públicas caberá a obrigação de propiciar cuidados especiais às crianças sem família e aquelas que carecem
de meios adequados de subsistência. É desejável a prestação de ajuda oficial e de outra natureza em prol da manutenção dos
filhos de famílias numerosas.
Declaração Universal dos Direitos da Criança.

18
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Removido

Fonte: TvCultura

Filme Lion

Quando tinha apenas cinco anos, o indiano Saroo (Dev Patel) se per-
deu do irmão numa estação de trem de Calcutá e enfretou grandes
desafios para sobreviver sozinho até de ser adotado por uma família
australiana. Incapaz de superar o que aconteceu, aos 25 anos ele de-
cide buscar uma forma de reencontrar sua família biológica.

Filme Aprovado para adoção

O órfão Jung nasceu na Coreia do Sul em 1965, e foi encontrado va-


gando pelas ruas de Seul até ser resgatado por um policial e adotado
por uma família belga. Seu formulário de adoção continha pouquís-
simas informações, pouca coisa além do nome e da menção "cor da
pele: mel". Décadas mais tarde, ele retorna pela primeira vez ao seu
país de origem e reflete sobre sua trajetória, sobre as dificuldades de
adaptação e sobre sua difícil questão identitária... Como Jung se tor-
nou cartunista, ele decide compor sua biografia tanto com imagens de
arquivo quanto com desenhos feitos por ele mesmo.

20
LER

Livros

O filho de mil homens – Vitor Hugo Mãe


Valter Hugo Mãe agora na Biblioteca Azul com prefácio de Alberto Manguel
A solidão, para Crisóstomo, é um filho que não se tem. Aos quarenta anos,
o pescador decide buscar o que lhe falta. Vai encontrar no jovem Camilo,
órfão de uma anã, a chance de preencher a metade vazia, e em Isaura,
enjeitada por não ser virgem, a possibilidade de ser mais do que completo

Acabadora – Michela Murgia


Sardenha, anos 1950. A pequena Maria Listru é o que se chama de filha
d’alma. Nascida em uma família sem condições de sustentá-la, aos seis
anos de idade é adotada por Bonaria Urrai, uma mulher mais velha, solitária
e calada, mas muito respeitada no vilarejo em que vivem. Desde cedo, Maria
aprende o ofício de tia Bonaria, costureira. Mas a mulher esconde uma outra
vocação, proibida e controversa. Bonaria é uma acabadora, aquela que faz
o sofrimento cessar. Para os habitantes de Soreni, ela é aquela que visita as
pessoas que estão no fim da vida e ajuda o destino a se cumprir. Acabadora
é um livro fascinante.

Devoluçao De Crianças Adotadas – Maria Luiza de Assis Moura


Ghirardi
A obra contém reflexões acerca de um tema muito polêmico e pouco discu-
tido- A devolução de crianças adotadas. Além disso, o livro faz parte da Co-
leção Departamento Formação em Psicanálise, que reúne obras produzidas
a partir de eventos científicos e culturais organizados por esse departamen-
to, assim como de reflexões sobre a clínica psicanalítica contemporânea e
de estudos desenvolvidos por seus integrantes. Tema delicado e ainda pou-
co pesquisado, a devolução é, frequentemente, disparadora de importantes
angústias para todos os envolvidos.

21
Proposta ENEM
TEXTO 1
Criado em abril de 2008, o Cadastro Nacional de Adoção é uma ferramenta criada para ajudar juízes das
varas de infância e da juventude a cruzar dados e localizar pretendes para adotar crianças aptas à adoção.
O cadastro é preenchido pela Justiça de cada estado e os dados são unificados. Ou seja, com o cadastro,
um casal de Rondônia consegue localizar uma criança disponível para adoção no Rio Grande do Sul.
Em março de 2014, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) autorizou que estrangeiros e brasileiros residen-
tes no exterior também participem do cadastro. O objetivo é aumentar a adoção de crianças mais velhas, que estão
fora do perfil desejado pelos brasileiros.

http://g1.globo.com/brasil/noticia/2014/03/entenda-como-funciona-o-cadastro-nacional-de-adocao.html (24.03.2014). Adaptado

TEXTO 2

https://www.facebook.com/cnj.oficial/ (16.10.17)

22
TEXTO 3
No Distrito Federal existem cerca de 130 crianças e adolescentes esperando para serem adotados e 543
famílias habilitadas no cadastro local para a adoção. No entanto, a maioria das crianças e adolescentes não se
encaixa no perfil pretendido por essas famílias.
Os motivos principais, segundo a Vara da Infância e Juventude (VIJ), são a idade, o número de irmãos e
problemas de saúde. Cerca de 90% das famílias ainda buscam crianças menores de 3 anos para adotar.
Para aumentar as chances de adoção desses meninos e meninas, a Vara da Infância e da Juventude do
Distrito Federal (VIJ) criou o projeto "Em busca de um lar". O objetivo é a chamada busca ativa de pretendentes à
adoção, ou seja, encontrar famílias para crianças e adolescentes que têm o perfil preterido pelos adotantes.
Para encontrar essas famílias, foram produzidos vídeos e fotos. São os "candidatos a filhos" que se apre-
sentam para possíveis pais
Segundo a psicóloga da Seção de Colocação em Família Substituta da VIJ, Niva Campos, seis crianças e
adolescentes participam da campanha, em um primeiro momento. Todas autorizaram o uso da própria imagem e
quiseram participar do “Em busca de um Lar”.
“Sabemos do risco que o uso da imagem poderia causar, mas entendemos esse projeto como uma oportu-
nidade de dar visibilidade a essas crianças."
Para Niva, divulgar a imagem é uma chance que elas têm de serem conhecidas e de encontrarem uma nova
família. Antes de participar do projeto, cada uma foi assistida pela equipe de psicólogos da Vara da Infância.
https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2019/05/17/campanha-para-adocao-de-criancas-mais-
-velhas-mostra-quem-sao-meninos-e-meninas-abrigados-no-df.ghtml (17.05.2019)

TEXTO 4
Se de quem dá à luz um filho os relatos são de muita dificuldade, por que com um filho adotivo seria dife-
rente? A história de adoção do menino Jorge Oliveira, 15 anos, adotado aos 8 anos, é o exemplo do arco dramático
(com final feliz) por que passam (alguns ou muitos...) mães, pais e filhos de adoção, marcados pela desconfiança
inicial, resistência e, finalmente, aceitação do amor familiar.
“Ele aprontava muito. Tinha hora que eu tinha que olhar no meio da cara dele e dizer: ‘Se você está pensan-
do que eu vou te devolver, eu não vou, não importa o que você faça’”, conta Ana Paula Lourenço de Oliveira, 35
anos. “Ele já tinha sido adotado pequenininho com as duas irmãs mais velhas, e os três foram devolvidos. Depois,
os três foram apadrinhados. O apadrinhamento das meninas culminou com a adoção, mas o dele, não. Foi o único
devolvido, mais uma vez.” Ele se achava burro, feio e tudo de ruim no universo. Trabalhamos a autoestima dele,
‘deixa seu cabelo crescer, você é bonito, sua pele é linda, vamos lá, você consegue’. O primeiro ano dele na escola
particular foi um trabalho de todo mundo, mobilizei a escola toda. E lembro que ele ficou em recuperação em todas
as matérias e, quando ele passou de ano, foi um chororô. Ele foi tão vitorioso.”
https://www.gazetaonline.com.br/noticias/cidades/2017/12/quando-o-despreparo-

-resulta-na-devolucao-do-adotado-1014112554.html (26.12.2017)

PROPOSTA ENEM
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação,
redija texto dissertativo-argumentativo na modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema CAMI-
NHOS PARA PROMOVER A ADOÇÃO TARDIA NO BRASIL apresentando proposta de intervenção, que respeite
os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa
de seu ponto de vista.

23
Proposta – Vestibular
TEXTO 1
Um evento realizado no Pantanal Shopping, em Cuiabá, reuniu crianças de 4 a 17 anos. Segundo uma re-
portagem da BBC Brasil, 18 adolescentes acima de 12 anos desfilaram em uma passarela. Na plateia, cerca de 200
pessoas acompanharam o evento. Segundo uma reportagem do site de notícias do Mato Grosso Olhar Direto, essa
é a segunda edição do evento, que ocorreu no dia 21 de maio de 2019. De acordo com o site, o evento foi reali-
zado pela Ampara (Associação Matogrossense de Pesquisa e Apoio à Adoção), em parceria com a seção estadual
da Comissão de Infância e Juventude da Ordem dos Advogados do Brasil, que o divulgou em sua conta do Twitter.
À nossa reportagem, a presidente da Comissão da Infância e Juventude da OAB do Mato Grosso, Tatiane
de Barros Ramalho, descreveu o evento da seguinte maneira: “Será uma noite para os pretendentes - pessoas que
estão aptas a adotar - poderem conhecer as crianças, a população em geral poderá ter mais informações sobre
adoção e as crianças em si terão um dia diferenciado em que elas irão se produzir, cabelo, roupa e maquiagem para
o desfile. Na última edição, dois adolescentes, um de 14 e o outro de 15, foram adotados. E esperamos novamente
dar visibilidade a essas crianças e adolescentes que estão aptas a adoção. E como sempre dizemos: o que os olhos
veem o coração sente”.
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/05/22/Quais-as-cr%C3%ADticas-ao-desfile-de-

-crian%C3%A7as-para-ado%C3%A7%C3%A3o-em-Cuiab%C3%A1 (22.05.2019)

TEXTO 2
Na quarta-feira, 22, a Defensoria Pública de Mato Grosso publicou nota pela qual “repudiam veemente-
mente” o evento de promoção a adoção ocorrido no Pantanal Shopping. “A intenção desta Nota não é descarac-
terizar a relevância das instituições idealizadoras. O evento, com a intenção de dar “visibilidade a crianças e ado-
lescentes de 4 a 17 anos que estão aptas para adoção”, em verdade, as expõe ainda mais à situação de extrema
vulnerabilidade social."
A Defensoria destacou o risco de que muitas das crianças e adolescentes que desfilaram não sejam ado-
tadas, "o que pode gerar sérios sentimentos de frustração, prejuízos à autoestima e indeléveis impactos psicoló-
gicos". Por fim, afirma que a grande exposição pode levar à objetificação e passar uma ideia de mercantilização.
https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI302929,91041-Desfile+de+adolescente

s+que+aguardam+adocao+e+alvo+de+duras+criticas (24.05.2019)

24
TEXTO 3
Exibir órfãos a um desfile é erotizar o abandono, num movimento contrário às campanhas contra o abuso e
a exploração de menores. É rasgar em pedacinhos o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e transformá-lo
em confetes e serpentinas.
É promover um leilão. É organizar uma venda coletiva. Em vez de roupas e produtos, é possível oferecer
lances para levar vidas indefesas para a casa.
Como se os pequenos fossem escravos. Como se os pequenos fossem obrigados a mostrar os dentes. Como
se os pequenos fossem obrigados a rebolar, dançar e girar para atrair o interesse. Como se as nossas crianças
fossem absolutos objetos de consumo.
https://gauchazh.clicrbs.com.br/colunistas/carpinejar/noticia/2019/05/desfile-de-horrores-cjvzsuf9k073y01mamyi-

v11m9.html?fbclid=IwAR2mBlpVPku98eYI4kuZMf1Acw4vlxwyN68vl-CrpuowoO9-8nnQxa17Y0U (22.05.2019)

TEXTO 4
Para aumentar as chances de adoção desses meninos e meninas, a Vara da Infância e da Juventude do
Distrito Federal (VIJ) criou o projeto "Em busca de um lar". O objetivo é a chamada busca ativa de pretendentes à
adoção, ou seja, encontrar famílias para crianças e adolescentes que têm o perfil preterido pelos adotantes.
Para encontrar essas famílias, foram produzidos vídeos e fotos. São os "candidatos a filhos" que se apre-
sentam para possíveis pais
Segundo a psicóloga da Seção de Colocação em Família Substituta da VIJ, Niva Campos, seis crianças e
adolescentes participam da campanha, em um primeiro momento. Todas autorizaram o uso da própria imagem e
quiseram participar do “Em busca de um Lar”.
“Sabemos do risco que o uso da imagem poderia causar, mas entendemos esse projeto como uma oportu-
nidade de dar visibilidade a essas crianças."
Para Niva, divulgar a imagem é uma chance que elas têm de serem conhecidas e de encontrarem uma nova
família. Antes de participar do projeto, cada uma foi assistida pela equipe de psicólogos da Vara da Infância.
https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2019/05/17/campanha-para-adocao-de-criancas-mais-
-velhas-mostra-quem-sao-meninos-e-meninas-abrigados-no-df.ghtml (17.05.2019)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a
norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema
DIVULGAÇÃO DA IMAGENS DE CRIANÇAS PARA ADOÇÃO: ENTRE A IMPORTÂNCIA DA AÇÃO SOCIAL
E OS LIMITES DA EXPOSIÇÃO

25
1 9 Adequação e precisão
vocabular I

L C
ENTRE
FRASES
28
Adequação e precisão vocabular I
Esta e a próxima aula têm o objetivo de descrever algumas das principais inadequações no uso da língua
em textos de vestibular. Esses usos, apesar de comuns, precisam ser evitados, já que destoam do emprego culto
da escrita exigido na maioria dos exames. Portanto, fique atento à sua redação e releia-a sempre, supervisionando
com atenção e cuidado as escolhas lexicais da composição do texto.

1. linguagem coloquial
Durante a escrita da redação, seja pelo nervosismo ou pela falta de vocabulário em mente, muitos alunos
constroem sentenças recheadas de coloquialismos, isto é, uso de termos da modalidade informal, geral-
mente associados à língua falada. Para evitar essas construções, é preciso aprender a reconhecer o uso da
coloquialidade dentro do texto e possuir bom repertório lexical capaz de substituir tais inadequações.
Observe os usos empregados abaixo e suas respectivas possibilidades de correção.
INADEQUADO ADEQUADO
O problema se dá porque ... O problema ocorre em virtude
Um dos grandes desafios é que muitas pessoas são Um dos grandes desafios é o fato de muitas pesso-
preconceituosas ... as reproduzirem preconceitos...
O Estado tem que elaborar propostas... O Estado deve elaborar propostas...
Muitos alunos se deixam levar pelas propagandas... Muitos alunos são induzidos pelas ...
Essa situação acaba acontecendo... Essa situação ocorre...
A manipulação, cada vez mais, está sendo baseada... A manipulação, cada vez mais, é baseada...
A medicina alternativa irá ser uma medida positiva... A medicina alternativa é/será uma medida positi-
va...
Boa parte dos professores desiste de lecionar, coisa Boa parte dos professores desiste de lecionar, o que
que tem ocorrido com certa frequência... ocorre com certa frequência...
Está mais do que comprovado que as empresas ig- Muitas empresas ignoram...
noram...
A nível de esporte, o futebol é ... Em se tratando de esporte, o futebol é...
Em outros tópicos desta e da outra aula, você verá mais casos da coloquialidade.

2. Clichês
O clichê é uma palavra ou expressão que apresenta um senso comum em uma língua. Nas redações de
vestibular, tais construções surgem com o intuito de impressionar o corretor e causar um efeito positivo na leitura
do texto. No entanto, elas apenas o depreciam, já que o uso constante e cristalizado não surpreende e nem inova
a ideia construída ao longo da redação.
Exemplos de clichês comuns no vestibular:

É fundamental que a sociedade reúna todas as suas forças e combata a desigualdade...


Só assim, a sociedade poderá viver cheia de esperanças...
É preciso pensar positivo nas questões
Portanto, ainda há uma luz no fim do túnel. Basta que o governo federal atue...
Essa relação é extremamente importante para a ....
É preciso criar coragem, e enfrentar os problemas...

29
3. Adjetivos inadequados
Muitas vezes, no momento da construção das opiniões dentro de uma redação, alguns alunos empregam
adjetivos inadequados ao texto dissertativo-argumentativo exigido nos exames. Essas palavras denotam apenas a
emoção do autor, sem cumprir sua função de atribuir uma avaliação, a ser comprovada pelos argumentos apre-
sentados.
Adjetivos a serem evitados nas construções argumentativas:

É absurda a negligência por parte do Estado...


Essas situações são fruto do puro descaso das empresas...
Essa tragédia trouxe prejuízos incalculáveis e inestimáveis para a população....
É incrível a capacidade dos sujeitos de fingir em determinadas situações...
Essa é a triste situação em que vivem milhares de moradores da...
Grande parte dos trabalhadores são submetidos a terríveis condições de vida...
O cenário do tráfico humano, no Brasil, é cruel...

Adjetivos bons para o texto as construções argumentativas

Boa parte do Estado é negligente ao negar o direito...


Isso ocorre em virtude de políticas públicas ineficazes...
Parte da sociedade é conivente com as ações...
As ações vinculadas à cultura são inexpressivas...
A adoção de uma postura crítica é essencial aos sujeitos...
Há uma publicidade abusiva que leva milhares de consumidores a...
Esse problema permanece em virtude da saúde pública deficitária...
A sociedade brasileira está estruturada por ideais moralistas e por atitudes antiéticas.
O consumo consciente no Brasil ocorre de modo insipiente.

4. Generalizações
Sabe-se que a generalização é uma ferramenta problemática para construir ideias em diferentes âmbitos da
vida social. Isso porque, ao generalizar, apaga-se as heterogeneidades existentes nos sujeitos, nos grupos sociais,
nos conceitos, etc. No entanto, ao escrever a redação, muitos alunos tendem a se valer dessas construções para
expor seu posicionamento e seus argumentos.
Assim, fique atento às formas de generalização mais comuns nas redações e supervisione seu texto sempre,
evitando que elas apareçam.

EVITE OS TERMOS PARA EVITAR AS GENERALIZAÇÕES, EMPREGUE AS


EXPRESSÕES PARTITIVAS COM MUITA CAUTELA.
Todos os alunos são... Boa parte dos alunos...
Nenhum político é capaz de... Poucos políticos...
As pessoas sempre excluem... Muitas vezes, as pessoas...
As políticas públicas nunca funcionam... As políticas públicas raramente funcionam...
Apenas os brasileiros reproduzem essa diretriz... Há uma parte dos brasileiros que reproduz essa...

30
EXPRESSÕES PARTITIVAS
BOA PARTE...
GRANDE PARTE...
PARTE...
*A MAIOR PARTE ...
*A MAIORIA...
*MUITOS...
*MUITAS...

* OBSERVE SE, DE FATO, ESSAS PARCELAS SÃO VERÍDICAS OU COMPROVÁVEIS...

5. Economia verbal
Nos textos de redação, é fundamental prezar pela objetividade e pela clareza das ideias. Essas diretrizes
também são observadas pelos avaliadores no emprego que os alunos fazem dos verbos na redação. Muitas vezes,
o uso de locuções verbais, ou de construções verbais acompanhadas de substantivos poderiam ser substituídas por
apenas um verbo, deixando o texto mais objetivo e preciso.
Portanto, sempre que possível, prefira sempre as formas simples. Deixe as locuções apenas para os momen-
tos em que elas forem essenciais ao sentido do texto.

A decisão estará prejudicando... A decisão prejudicará...


Cabe ao governo realizar uma avaliação... Cabe ao governo avaliar...
Parte da população tem desconfiança das medidas... Parte da população desconfia...
Esse cenário vai de encontro à definição do filósofo ... Esse cenário contraria a definição do filósofo...
As redes sociais tornaram mais simples a vida dos As redes sociais simplificaram a vida...
usuários...
Desse modo, a sociedade vai estar mais informada... Desse modo, a sociedade estará mais informada...

6. Forma positiva
Para garantir a objetividade e clareza em seu texto, também é essencial prezar pelas formas positivas ao
redigir alguns verbos. Em outras palavras, trata-se de evitar o uso do adverbio “não” vinculado a alguns verbos.
Veja os exemplos abaixo e observe como a supressão da partícula negativa aprimora a compreensão do
período:

Boa parte das verbas não chegam na hora nos insti- Boa parte das verbas chegam atrasadas aos institu-
tutos... tos...
Muitos professores dizem que não são responsáveis... Muitos professores negam a responsabilidade...
A políticas públicas não são eficazes... As políticas públicas são ineficazes...
Parte da população não conhece as leis... Parte da população desconhece as leis...
Essas medidas não incluem a população... Essas medidas excluem a população...
As empresas não aprovam candidatos que não são As empresas reprovam candidatos incapazes de es-
capazes de escrever um texto simples. crever um texto simples...

31
AULA 19: O AUTODIAGNÓSTICO
NA SAÚDE BRASILEIRA
ACERVO
TEXTO 1
Os perigos do autodiagnóstico e da automedicação por pesquisas no Google

Quem nunca se automedicou? A prática é muito comum, principalmente quando surgem sintomas considerados simples
pelo paciente, como coceiras e dores no corpo. A saída é quase sempre perguntar às pessoas mais próximas, principalmente aos
mais velhos, referências de remédios que possam aliviar os incômodos. Mas, na era digital, os conselhos dos mais experientes co-
meçam a perder espaço para a ferramenta de busca na internet: o Google. Uma pesquisa britânica divulgada recentemente mostrou
que 25 por cento das mulheres na Inglaterra utilizam o Google como pesquisa para autodiagnóstico. Os perigos dessa prática são
diversos: desde efeitos colaterais até a piora no quadro da doença.
O gerente de Monitoramento e de Fiscalização de Medicamentos da Anvisa, Tiago Rauber, alerta para os riscos da autome-
dicação. ”A automedicação é um tipo de prática não recomendada por nenhuma autoridade de saúde no Brasil. Esse tipo de prática
acarreta uma série de riscos como, por exemplo, você mascarar os sintomas de uma doença, e ter uma dificuldade de diagnosticar
corretamente, futuramente essa enfermidade. Pode acarretar também, maior número de intoxicações. Além do mais, temos a ques-
tão de você não fazer realmente o tratamento efetivo daquela enfermidade. Então, todos esses elementos corroboram a tese de que
essa é uma prática altamente perigosa, e que temos tido resultados bastante complicados”, alerta Tiago.
O gerente da Anvisa, Tiago Rauber, destaca que o uso de medicamento precisa sempre ser acompanhado por um profissio-
nal de saúde. ”Qualquer sintoma, qualquer problema, por mais simples que seja, ele pode ser o início de um diagnóstico de uma
enfermidade mais complexa. Então, todo tipo de sintoma necessita um atendimento de um profissional habilitado, de um médico.
Medicamento não é um bem de consumo qualquer, não é uma caneta, não é uma camiseta. Medicamento tem uma série de bene-
fícios, mas ele também tem riscos”, ressalta o gerente.
Tiago Rauber alerta ainda para os riscos do estoque de medicamentos em casa, a chamada farmacinha caseira que se
forma pelo uso indiscriminado de remédios. Além dos riscos da automedicação, essa prática pode levar a pessoa a ingerir o medi-
camento vencido, o que piora ainda mais os sintomas de quem fizer uso do remédio.

http://www.blog.saude.gov.br

TEXTO 2
Como pacientes e médicos encaram o compartilhamento de informações?

Em pesquisa realizada pela WebMD, 89% dos pacientes acreditam que o uso de uma tecnologia em saúde seria positivo
para ajudar o médico em um diagnóstico. Já entre os médicos, a aceitação é menor, de 69%, mostrando maior resistência do como
clínico que dos pacientes. Em sequência, foi perguntado aos médicos se os pacientes deveriam usar ferramentas para realizar auto-
diagnostico e somente 17% disseram que sim.
A pesquisa foi realizada com 1102 profissionais de saúde e 1406 usuários do Medscape. Dentro do grupo, foi perguntado
sobre tecnologia em saúde para 827 médicos, 156 enfermeiros que atendem, 85 enfermeiros comuns, 107 assistentes de médicos
e 235 estudantes de medicina.

32
Quase a mesma porcentagem de pacientes (64%) e profissionais (63%) citaram que, se a tecnologia existe, os smartpho-
nes poderiam ser usados para coletas remotas de sangue. Menos de 70% dos médicos acreditam que o smartphone e as consultas
remotas podem substituir consultas físicas e 63% disseram que isso pode acontecer em casos de problemas de pele. Para os pro-
blemas nos olhos, o resultado foi de 49% e para aparelho auditivo, 54%.
96% dos médicos acreditam que o paciente tem de ter acesso a informação do seu histórico, por meio do prontuário
eletrônico (EHR). 89% dos pacientes acreditam que têm o direito a ver todos os registros feitos pelo médico durante a consulta!
enquanto somente 64% dos médicos acreditam que isso deve ser feito.
Todos estes dados mostram a imaturidade do sistema de saúde frente à tendência da informação compartilhada e do uso
de tecnologia no dia a dia. Ter este tipo de discussão entre as partes é de extrema importância para o desenvolvimento e a imple-
mentação da tecnologia em saúde.

http://saudebusiness.com/noticias/como-pacientes-e-medicos-encaram-o-compartilhamento-de-informacoes/ (25.09.2014)

TEXTO 3

TEXTO 4

Conforme a própria definição, a publicidade influência o julgamento de usuários e prescritores sobre medicamentos. Vários
estudos têm demonstrado que propagandas são empregadas como fonte de informação pelos prescritores, sendo consideradas
determinantes da prescrição (LEXCHIN, 2002; JONES, 2001). Dentre as intervenções fundamentais para se promover um uso mais
racional destes produtos, proposta pela Organização Mundial de Saúde, estão à informação independente sobre medicamentos e
a regulamentação da promoção de medicamentos a fim de assegurar que a mesma seja ética e imparcial. Todas as informações
utilizadas para promover um medicamento devem ser precisas, verídicas, informativas, atuais e comprováveis (OMS, 2002). Diversos
estudos visando à análise da qualidade de peças publicitárias, em diferentes veículos de comunicação, têm sido realizados conside-
rando as regulamentações e recomendações internacionais.
“Análise da publicidade de medicamentos veiculada em Goiás - Brasil” Revis-
ta Eletrônica de Farmácia Vol 2(2), 80-86, 2005. ISSN 1808-0804

33
TEXTO 5
Automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros
A pesquisa foi feita pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF). Quase metade (47%) se automedica pelo menos uma vez por
mês, e 25% faz todo dia ou pelo menos uma vez por semana.
Quase metade dos brasileiros se automedica pelo menos uma vez por mês e 25% o faz todo dia ou pelo menos uma vez
por semana. Esses dados fazem parte de uma pesquisa feita pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF). De acordo com o estudo, a
automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros.
As mulheres são as que mais usam medicamentos por conta própria, pelo menos uma vez ao mês – 53%. Familiares,
amigos e vizinhos são os principais influenciadores na escolha dos medicamentos usados sem prescrição (25%).
Os perigos da automedicação
A automedicação é quando há o uso de remédios sem a avaliação de um profissional de saúde. Quando usado de forma
errada, o medicamento pode ter um efeito desastroso. Por isso, é sempre importante consultar um profissional antes de fazer uso
de qualquer remédio.
As consequências do uso indiscriminado de medicamentos ocorrem a longo e médio prazo:
1. Os analgésicos, por exemplo, não curam enxaqueca e podem até piorar.

2. Antitérmicos podem mascarar algo mais grave, como uma infecção.

3. Anti-inflamatórios podem sobrecarregar os rins.

4. Uso de vitaminas só é indicado se a pessoa tiver uma carência específica e precisar de reposição.

5. Antiácidos e remédios para dor de estômago podem encobrir algo mais sério, como úlceras e gastrites.

6. Xarope pode mascarar uma pneumonia.


https://g1.globo.com/bemestar/noticia/2019/05/13/automedicacao-e-um-habito-
-comum-a-77percent-dos-brasileiros.ghtml (13.05.2019)

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É IMPORTANTE SABER
I. DADO ESTATÍSTICO RELEVANTE

A pesquisa foi feita pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF). Quase metade (47%) se automedica pelo menos uma vez por
mês, e 25% faz todo dia ou pelo menos uma vez por semana.
https://g1.globo.com/bemestar/noticia/2019/05/13/automedicacao-e-um-
-habito-comum-a-77percent-dos-brasileiros.ghtml (13.05.2019)

I. DADO HISTÓRICO RELEVANTE

No Brasil, até 2010, antes da publicação da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 44/2010, os antibióticos eram vendidos li-
vremente, sem necessidade de retenção de receita médica, em farmácias e drogarias, e muitas vezes vendidos até mesmo sem a
prescrição médica. Esta dispensação sem controle e os casos de resistência bacteriana descritos nos últimos anos colaboraram
para elaboração de uma Resolução que obrigasse a retenção de receita, para que seja realizado um controle maior sobre a pos-
sível evolução que as bactérias podem sofrer ao longo dos tratamentos, tornando-se bactérias mais resistentes a antibióticos
Controle da dispensação de antibióticos – panorama atual no brasil. Http://www.cpgls.pucgoias.edu.
br/8mostra/artigos/saude%20e%20biologicas/controle%20da%20dispensa%c3%87%c3%83o%20
de%20antibi%c3%93ticos%20%e2%80%93%20panorama%20atual%20no%20brasil.pdf

II. ARGUMENTO DE AUTORIDADE

O gerente de Monitoramento e de Fiscalização de Medicamentos da Anvisa, Tiago Rauber, alerta para os riscos da automedica-
ção. ”A automedicação é um tipo de prática não recomendada por nenhuma autoridade de saúde no Brasil. Esse tipo de prática
acarreta uma série de riscos como, por exemplo, você mascarar os sintomas de uma doença, e ter uma dificuldade de diagnosti-
car corretamente, futuramente essa enfermidade. Pode acarretar também, maior número de intoxicações. Além do mais, temos
a questão de você não fazer realmente o tratamento efetivo daquela enfermidade. Então, todos esses elementos corroboram a
tese de que essa é uma prática altamente perigosa, e que temos tido resultados bastante complicados”, alerta Tiago.
http://www.blog.saude.gov.br

III. EXEMPLOS DO COTIDIANO

Em meio à discussão sobre a disposição dos MIPs para fora do balcão, muitas farmácias paulistas, apesar de uma lei aprovada
no Estado permitir a disposição desses medicamentos no autosserviço, os mantêm atrás do balcão.

A Revista do Farmacêutico ouviu profissionais que estão à frente de drogarias e que mantiveram os medicamentos fora do
alcance do consumidor, justamente por entenderem a importância da orientação do farmacêutico.

Sócia-responsável da Drogaria Popular, em Atibaia (SP), dra. Maria Luzia Bondança focou na saúde ao manter sua postura. “Na
minha drogaria os MIPs estão fora do alcance do consumidor e não pretendo mudar isso, apesar da RDC da Anvisa permitir.
Os pacientes já se acostumaram a pedir orientação, perguntam sobre o risco de interação. É uma facilidade a mais para que eu
possa informá-los e por conta disso não mudarei meu posicionamento”.
http://portal.crfsp.org.br/component/content/article/268-revista-107/3820-capa.html (Julho de 2012)

35
V. CITAÇÃO

Não há nada na natureza que não seja venenoso. A diferença entre remédio e veneno está na dose de prescrição.
Paracelso, cientista suíço do século XVIII.

VI. DIREITOS HUMANOS

A saúde consta na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, no artigo XXV, que define que todo ser humano tem
direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habita-
ção, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis. Ou seja, o direito à saúde é indissociável do direito à vida, que tem
por inspiração o valor de igualdade entre as pessoas.

No contexto brasileiro, o direito à saúde foi uma conquista do movimento da Reforma Sanitária, refletindo na criação do Siste-
ma Único de Saúde (SUS) pela Constituição Federal de 1988, cujo artigo 196 dispõe que “A saúde é direito de todos e dever
do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação”.
https://pensesus.fiocruz.br/direito-a-saude (Acesso em03.06.2019

36
37
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Sabe o que é a Cybercondria? Doença surgiu na modernidade

Fonte: TerraTV

Vídeo Por que tomar medicamentos por conta própria é perigoso?

Fonte: DrauzioVarella

LER
Artigo Riscos da automedicação | Entrevista - Drauzio Varella

Muita gente não vê problemas em tomar um remédio por


conta própria, mas riscos da automedicação podem ser
graves ou até fatais.

38
Proposta ENEM
TEXTO 1
Automedicação é o ato de tomar remédios por conta própria, sem orientação médica. Muitas vezes vista
como uma solução para o alívio imediato de alguns sintomas pode trazer consequências mais graves do que se
imagina.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/255_automedicacao.html

TEXTO 2

http://portal.anvisa.gov.br/(Acessado em 03.06.2019)

TEXTO 3

http://novaerafarma.blogspot.com/2016/03/automedicacao.html (Março de 2016)

40
TEXTO 4
Será que esta atitude dos pacientes decorre da dificuldade de ter acesso a uma consulta médica, falta de co-
nhecimento das perigosas consequências de ingerir uma droga sem prescrição ou apenas um hábito tão arraigado
em nosso cotidiano que deixamos de refletir sobre isto? Segundo pesquisa do Instituto Hibou, realizado em 2014
com 1.216 moradores do estado de São Paulo, mesmo tendo consciência dos malefícios da ingestão excessiva ou
inadequada, 45% da população acredita que automedicar-se só é prejudicial no caso de remédios identificados
com tarja vermelha ou preta.
http://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/especial-publicitario/medecell-do-brasil/desligue-a-dor/noti-

cia/2016/08/automedicacao-e-pratica-comum-em-mais-de-90-da-populacao.html (08.08.2016)

TEXTO 5
O Brasil é uma estrela em ascensão no cenário político e econômico mundial. Porém, um país não faz a
transição entre o subdesenvolvimento e um estágio de desenvolvimento que desperte o mínimo de respeito inter-
nacional sem se desvincular de algumas nódoas do passado que, impregnadas na cultura nacional, insistem em se
manter presentes a despeito dos ventos de mudança.
Um exemplo disso, no caso brasileiro, é a prática da automedicação. Como a cultura é o resultado da
dinâmica social, a automedicação no Brasil tem raízes profundas no subdesenvolvimento. A população brasileira,
penalizada historicamente pela falta de acesso aos serviços básicos de saúde, encontrou na automedicação uma
tentativa de solução para seus problemas de saúde, muitas vezes com resultados sepulcrais.

http://portal.crfsp.org.br/component/content/article/268-revista-107/3820-capa.html (Julho de 2012)

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o
tema O PROBLEMA DA AUTOMEDICAÇÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA, apresentando proposta de inter-
venção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos
e fatos para defesa de seu ponto de vista.

41
Proposta – Vestibular
TEXTO 1
Os perigos do autodiagnostico e da automedicação
Atualmente, a internet tem sido uma faca de dois gumes no que se trata da automedicação. “É positivo que
o paciente seja bem informado e busque informações sobre a sua saúde”, comenta. Souza explica ainda que a
curiosidade do indivíduo facilita a relação com o médico. “Mas, ele (o paciente) deve ter cuidado nesse processo”,
ressalta.
E não é para menos: as informações também podem induzir uma pessoa a um autodiagnóstico errado
devido a falta de credibilidade da internet. Para se ter um exemplo, o Centro Universitário de Volta Redonda (RJ),
analisou 1.152 vídeos no Youtube sobre cardiologia e constatou que apenas 4% deles tinham conteúdos corretos.
“A internet tem coisas boas e tem coisas que não são aproveitáveis. Às vezes, pode ser difícil para uma pessoa
selecionar as informações e por isso ela corre o risco de começar uma automedicação sem ouvir um profissional”,
diz o professor Cláudio de Souza.
Quando mal administrado ou ingerido em doses acima do saudável, os medicamentos podem causar lesões
hepáticas irreversíveis, causando inflamação do fígado e afetando suas funções. Pulmões, rins e até o cérebro tam-
bém são órgãos que podem ser afetados pela automedicação irresponsável.
(https://site.medicina.ufmg.br/inicial/os-perigos-do-autodiagnostico/) (01.08.2014)

TEXTO 2
Especialistas alertam sobre os perigos que os "cibercondríacos" estão correndo ao acreditar mais
no que a internet diz do que nos médicos

Basta colocar os termos “sintomas”, “dor de cabeça” e “febre” no buscador on-line para que o “ Dr. Google
” mostre que essas são características comuns em casos de meningite, gripe ou dengue. Aí fica por conta do usuário
escolher a doença que melhor se identifica e a sentença está dada.
Parece exagero, mas muitas pessoas estão “resolvendo” seus problemas de saúde desta forma. Esse com-
portamento está fazendo com que os médicos fiquem preocupados com o que eles estão chamando de “cibercon-
dríacos”, aqueles pacientes que se autodiagnosticam por meio de pesquisas na internet.
De acordo com a professora e clínico geral Helen Stokes-Lampard, presidente do Royal College of General
Practitioner, muitas pessoas acabam acreditando que têm tal doença, uma vez que foi “diagnosticada” pelo Google
e isso está atrapalhando o trabalho dos profissionais da saúde.
Em outros países, especialistas já advertiram que esses pacientes estão colocando o National Health Service,
algo como “Serviço Nacional de Saúde” do Reino Unido, em risco, já que a quantidade de pessoas que colocam em
dúvida o trabalho do clínico geral só aumenta.
Em entrevista à revista “Pulse”, a professora Stokes-Lampard chegou a dizer que "o Dr. Google está pre-
sente em 80% das consultas” que ela tem agora. "Sinto que precisamos levantar os problemas que esse compor-
tamento pode trazer ao paciente e trabalhar isso com cada um, particularmente. Temos que ser ousados e esse é
um desafio para todos nós da área da saúde", completou.
http://saude.ig.com.br/2017-10-04/dr-google-cibercondriacos.html (10.04.2017)

42
TEXTO 3

“Acesso a informações de saúde na internet: uma questão de saúde pública”? Re-


vista Associação Medicina Brasileira 2012; 58(6):650-658

TEXTO 4
Helena Garbin, que há quatro anos defendeu tese de doutorado sobre o uso da internet para obtenção de
informações em saúde, lembra que o acesso a informações técnicas e científicas ou vinda de pares pode facilitar
a percepção de sinais de alerta para quadros agudos, agilizando a busca por atenção em saúde. “Também o co-
nhecimento ampliado sobre seu próprio estado de saúde pode ser benéfico para um indivíduo, em especial para
portadores de adoecimento crônico, por permitir uma melhor compreensão de seu adoecimento e de seu corpo e
uma melhor observação das alterações no seu organismo”, diz, constatando que isso possibilita que ele se torne
mais ativo em seu tratamento e consciente do autocuidado. Contudo, ela pondera, alguns estudos ainda apontam
que a informação obtida pode gerar estresse e sofrimento diante das reais possibilidades de evolução de determi-
nadas patologias e até colaborar para seu agravamento. “Além do risco de informações erradas e incompletas, é
sabido que as pessoas tendem a acreditar em diagnósticos raros e graves encontrados na rede (e não somente na
rede) para suas queixas comuns”.
https://portal.fiocruz.br/noticia/habito-de-buscar-informacoes-na-web-provoca-mudancas-na-relacao-medico-paciente (27.12.2016)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a
norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

O AUTODIAGNÓSTICO NA SAÚDE BRASILEIRA: ENTRE A NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO E USO IN-


DISCRIMINADO DOS MEDICAMENTOS

43
2 0 Adequação e precisão
vocabular II

L C
ENTRE
FRASES
46
Adequação e precisão vocabular II
Nesta aula, continuaremos a conhecer imprecisões e inadequações comuns em textos escritos na norma
culta. Novamente, trazemos sugestões de aprimoramento para que você possa obter pontuação máxima em todas
as competências ligadas à língua, à coesão e à coerência de seu texto.

1. Queísmo
O vocábulo que, na língua portuguesa, assume diferentes classes gramaticais. Ele pode funcionar como
pronome relativo (Alunos que trabalham...), conjunção coordenativa (Onde está, que não a vejo), conjunção inte-
grante (É fundamental que a população...),substantivo (Ela apresenta um quê de intelectual ), e ainda está presente
em uma série de locuções conjuntivas muito usadas nas redações de vestibular(já que, para que, ainda que, tão...
que). Esse leque de funções leva os candidatos a reproduzir a palavra “que” em grande quantidade, depreciando
a qualidade do texto.
Diante disso, é fundamental aprender formas de evitá-lo em sua redação. Os tópicos abaixo apresentam
exemplos de como reconhecê-lo e suprimi-lo de seu texto.

A) Trocar orações adjetivas por adjetivos:

Há pessoas que não sabem ler nem escrever... Há pessoas analfabetas...


Isso ocorre com pessoas que se dedicam ao trabalho... Isso ocorre com pessoas dedicadas ao trabalho...
Alunos que tem curiosidade... Alunos curiosos...
Parte do Estado elabora políticas que não são eficien- Parte do Estado elabora políticas ineficientes...
tes...

B) Trocar oração adjetiva por um aposto:

Pedro Gouveia, que é coordenador do projeto em Bra- Pedro Gouveia, coordenador do projeto em Brasília,
sília, afirma... afirma...
Ana Flavia Caldeira, que supervisiona o trabalho dos Ana Flavia Caldeira, supervisora do trabalho dos en-
engenheiros, descreve a dificuldade... genheiros, descreve a dificuldade...
Os alunos da Escola João Pessoa, que participam do Os alunos da Escola João Pessoa, participantes do
projeto Aluno Nota Dez, estudam ... projeto Aluno Nota Dez, estudam ...

C) Substituir uma oração inteira por um termo nominal correspondente:

É fundamental que medidas sejam criadas... É fundamental a criação de medidas...


Não se pode admitir que esses profissionais sejam Não se pode admitir a responsabilização desses fun-
responsabilizados... cionários...
É necessário torcer para que se construa uma nova É necessário torcer pela construção de uma nova po-
política... lítica...
Muitos cidadãos têm medo que os direitos sejam re- Muitos cidadãos temem a revogação dos direitos...
vogados...
Um exemplo que comprova essa situação é... Um exemplo dessa situação é...

47
D) Reduzir as orações (INFINITIVO ou PARTICÍPIO)

É fundamental que o crescimento do desemprego seja É fundamental acompanhar o crescimento do desem-


acompanhado mensalmente. prego mensalmente.
As pessoas precisam que as políticas sejam estabele- As pessoas precisam das políticas estabelecidas de
cidas de modo justo. modo justo.
É injusto que novas vítimas sejam criminalizadas por É injusto criminalizar novas vítimas por essa razão.
essa razão.

2. Concordância verbal e nominal


Outra dificuldade muito presente nas redações é a concordância de nomes e verbos. É comum encontrar
esses desvios gramaticais mesmo em redações avaliadas com nota máxima, já que muitos deles são dificilmente
perceptíveis. Portanto, é preciso atenção. Sempre releia o rascunho de seu texto procurando por quaisquer proble-
mas de construção gramatical.
Erros comuns:

VERBO HAVER Embora houvessem muitos proble- Embora houvesse muitos proble-
No sentido de “existir”, é sempre mas, ... mas, ...
singular.
Como consequência, surge as difi- Como consequência, surgem as
SUJEITO POSPOSTO AO VERBO culdades de se relacionar em dife- dificuldades de se relacionar em
rentes âmbitos da vida social. diferentes âmbitos da vida social.
NÚCLEO DO SUJEITO DISTAN- As dificuldades surgidas durantes As dificuldades surgidas durantes
TE DO VERBO os primeiros meses de gestação os primeiros meses de gestação
Embora o sujeito seja extenso, ele – sobretudo quando se trata de – sobretudo quando se trata de
sempre deverá concordar com o uma gravidez de risco – revela o uma gravidez de risco – revelam
verbo em pessoa e número. quanto... o quanto...
A invisibilidade desse grupo social A invisibilidade desse grupo social
NÚCLEO DO SUJEITO DISTANTE – excluído da escola, da família e – excluído da escola, da família e
DO PREDICATIVO DO SUJEITO do trabalho – é reforçado a cada do trabalho – é reforçada a cada
dia... dia...
VERBO TER (PLURAL) As vítimas tem medo de denun- As vítimas têm medo de denun-
O presente, na 3ª pessoa do plural, ciar... ciar...
leva acento diferencial.
VERBO VIR (PLURAL) Nesses casos, a família e a escola Nesses casos, a família e a escola
O presente, na 3ª pessoa do plural, vem em segundo plano. vêm em segundo plano.
leva acento diferencial.
Muitas vezes, não existem políticas Muitas vezes, não existem políticas
de desenvolvimento urbano, ca- de desenvolvimento urbano, capa-
ADJETIVOS NÃO FLEXIONADOS
paz de promover o acesso efetivo zes de promover o acesso efetivo à
à moradia digna... moradia digna...
É necessário a adoção de novas É necessária a adoção de políti-
ADJETIVOS NÃO FLEXIONADOS
políticas... cas...

48
3. Advérbios
Embora os advérbios sejam importantes em muitas situações na escrita da redação – seja para marcar o
tempo, o espaço ou o modo dos verbos – seu emprego precisa ser comedido. O excesso ou mau uso de advérbios
torna o texto poluído e prolixo. A dica é usar apenas quando houver necessidade. Os advérbios de oração, por
exemplo, podem ficar fora do texto.

Felizmente, há pessoas que pensam diferente. Há pessoas que pensam diferente.


Os gestores da educação, certamente, conhecem os Os gestores da educação conhecem os problemas das
problemas das instituições públicas. instituições públicas.
É importante valorizar os profissionais realmente dis- É importante valorizar os profissionais dispostos a
postos a combater esse preconceito. combater esse preconceito.
Logo, sem dúvida nenhuma, é preciso criar alternati- Logo, é preciso criar alternativas no combate à explo-
vas no combate à exploração sexual. ração sexual.

4. Voz ativa
Outra maneira de garantir clareza aos textos é optar, sempre que possível, pela voz ativa, isto é, quando o
sujeito é o agente da ação do verbo. Elas também colaboram com a clareza e objetividade dos textos.

Muitas empresas estão sendo ameaçadas de perder... Muitas empresas correm risco de perder...
Uma nova forma de articulação econômica está sendo Os moradores do bairro de Sobradinho preparam uma
preparada pelos moradores do bairro Sobradinho. nova forma de articulação política.
Boa parte da população habitante das margens dos O Estado ignorou boa parte da população habitante
rios foi ignorada pelo Estado ... das margens dos rios...
Parte da população de muitos estados foi atingida por Essa doença atingiu parte da população de muitos
essa doença. estados...

5. Regência
Ao se valer do uso de verbos transitivos indiretos e de alguns nomes, o aluno precisa estar atento à regência
de cada um deles. Assim como os desvios de concordância, as inadequações referentes à regência são por vezes
imperceptíveis aos olhos dos candidatos. Logo, vale apena apostar em bastante treino e em muita atenção.
Observe abaixo os principais desvios à norma:

VERBO ASSISTIR
Boa parte da iniciativa privada não Boa parte da iniciativa privada não
No sentido de “dar assistência”,
assiste a seus colaboradores... assiste seus colaboradores...
ele é transitivo direto.
A proposta refere-se as institui- A proposta refere-se às institui-
VERBO REFERIR-SE
ções privadas, bancos públicos e ções privadas, aos bancos públicos
Exige preposição “a”
terceiro setor. e ao terceiro setor. *
Os problemas na saúde pública os Os problemas na saúde pública
VERBO TRANSITIVO INDIRETO
quais a população está habituada com os quais a população está
POSTERIOR AO OBJETO.
a lidar... habituada a lidar...

49
A formação educacional que a A formação educacional da qual
população necessita passa por a população necessita passa por
graves problemas... graves problemas...
A reforma trabalhista que o Brasil A reforma trabalhista pela qual o
passou recentemente... Brasil passou recentemente...

* Lembre-se de manter o paralelismo sintático reproduzindo a preposição a cada entrada do complemento verbal.

ATENTE-SE À REGÊNCIA NOMINAL


a) Substantivos: contrário a
acesso a, de, para dedicado a
alusão a, de desfavorável a
atenção a, com, para com digno de
aversão a, para, por habituado a
capacidade de, para impossível de
obediência a impróprio para
respeito a, com, para com imune a
independente de, em
b) Adjetivos: inerente a
acessível a, para inexorável a
acostumado a, com insensível a
análogo a necessário a
apto a, para negligente em
capaz de, para possível de
certo de prejudicial a
comum a, de responsável por
contente com, de, em, por situado a, em, entre.

6. Pronomes relativos
Para garantir a coesão e a coerência dentro do texto, os candidatos devem utilizar pronomes relativos ao
longo da redação. No entanto, é fundamental estar atento aos usos e funções de cada um deles. Abaixo, selecio-
namos as inadequações mais comuns no vestibular.

ONDE – Refere-se apenas a lugares físicos. Em outros casos, pode ser substituído por “no qual/
na qual/em que”
A população desalentada vive uma situação onde a esperança de conseguir um emprego não existe mais.
A população desalentada vive uma situação na qual a esperança de conseguir um emprego não existe mais.

Essa produção começou numa época onde as pessoas não tinham tanta escolaridade.
Essa produção começou numa época em que as pessoas não tinham tanta escolaridade.

50
CUJO – Estabelece relação de posse. A concordância em gênero e número é feita com a palavra
posterior ao pronome.
Os problemas que a responsabilidade pertence ao governo deixam de ser mencionados.
Os problemas cuja responsabilidade pertence ao governo deixam de ser mencionados.

Os projetos que os textos foram reprovados estão em análise.


Os projetos cujos textos foram alterados estão em análise.

7. Períodos longos
Muitas vezes, os alunos se esquecem de encerrar seus períodos com pontos finais, e, portanto, passam a
subordinar as orações tornando a leitura da redação confusa. Portanto, lembre-se da dica: é melhor um texto coeso
e coerente construído por períodos curtos que um texto recheado de períodos longos de difícil compreensão. Além
do mais, os períodos curtos diminuem consideravelmente o risco de possíveis problemas com conjunções, vírgulas
e concordâncias.
Observe os exemplos a seguir:

PERÍODO LONGO PERÍODO DIVIDIDO


O descaso do Estado com os moradores de rua leva O descaso do Estado em relação aos moradores
estes a consequências graves, estando sujeitos a de rua traz consequências graves para este grupo
diferentes doenças e ainda correm risco de sofrer social. Isso porque, em primeiro lugar, eles continu-
violência da sociedade civil ou de perder seus pou- am a correr risco de contraírem doenças e de serem
cos bens nas apreensões feitas pela guarda civil dos vítimas da violência proveniente da sociedade civil.
municípios. Além disso, muitos deles estão sujeitos a sofrer a
apreensão de seus bens pela guarda civil dos mu-
nicípios.

A produção científica também não é valorizada pela A produção científica também não é valorizada pela
sociedade civil brasileira, pois parte da população sociedade civil. Isso ocorro porque parte da popu-
desconhece a importância das pesquisas científicas, lação desconhece a importância das pesquisas e
como mostra uma pesquisa da Ministério da Ciên- até mesmo dos resultados produzidos no país. Uma
cia, tecnologia e Informação que revelou que 71% pesquisa da Ministério da Ciência, tecnologia e In-
dos interessados na área não sabem o nome de formação comprova tal situação ao revelar que 71%
cientistas ou instituições científicas do país. dos interessados na área não sabem o nome de per-
sonalidades ou de instituições científicas do país.

51
Aula 20 – O encarceramento materno
ACERVO
TEXTO 1

Mães presas apesar de proibição legal


Tribunais ignoram novas proteções legais a mães de crianças e de pessoas com deficiência e mulheres grávidas, acusadas
de crimes não violentos

Uma mulher detenta com quatro de suas cinco crianças chora durante visita à Peniten-
ciária Talavera Bruce no Rio de Janeiro, em 23 de Novembro de 2017

Mães de crianças e de pessoas com deficiência e mulheres grávidas, acusadas de crimes não violentos, permanecem atrás
das grades, apesar da proibição expressa na lei. A análise dos dados disponibilizados por meio de um pedido de acesso à informação
revela que os tribunais têm sido lentos na implementação das novas proteções legais voltadas às mães e gestantes, em alguns casos
ignorando-as completamente.
Em 2018, uma série de decisões do Supremo Tribunal Federal e uma nova lei impuseram novos limites ao poder dos juízes
de decretar prisão preventiva de mães e mulheres grávidas. A lei agora exige prisão domiciliar em vez de prisão preventiva para
gestantes, mães de pessoas com deficiência e mães de crianças de até 12 anos, exceto quando acusadas de crimes praticados
mediante violência ou grave ameaça, ou de crimes contra seus dependentes.
No entanto, dados de 2018 mostram que milhares de mulheres que aparentemente teriam direito a essas proteções per-
maneceram atrás das grades sob prisão preventiva. Dados mais recentes, somente sobre o Rio de Janeiro, indicam que o problema
persistiu em 2019.
“A lei brasileira não poderia ser mais clara: mães de crianças pequenas ou de pessoas com deficiência e mulheres grávidas
não devem permanecer atrás das grades enquanto aguardam julgamento por crimes não violentos”, disse Maria Laura Canineu,
diretora da Human Rights Watch no Brasil. "No entanto, há sinais preocupantes de que alguns juízes estão ignorando essas prote-
ções, fazendo com que mães que não foram condenadas por um crime passem o Dia das Mães em celas insalubres e superlotadas,
quando deveriam estar em casa com suas famílias".

52
Os últimos dados disponíveis do Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça (DEPEN) – obtidos pela
Human Rights Watch por meio de um pedido de acesso à informação – mostram que, em setembro de 2018, juízes haviam determi-
nado a soltura de menos de um terço das mulheres que deveriam responder em liberdade, exceto em casos “excepcionalíssimos”.
Com isso, mais de 6.000 permanecem atrás das grades aguardando julgamento.
Embora dados nacionais sobre o período após setembro de 2018 não estejam disponíveis, a Human Rights Watch teve
acesso a dados mais recentes que foram coletados pela Defensoria Pública do estado do Rio de Janeiro para verificar se lá houve
alguma mudança. Entre 13 de agosto e 18 de dezembro de 2018, a Defensoria Pública do Rio identificou 53 mulheres que deve-
riam ser submetidas à prisão domiciliar em vez de prisão preventiva, estando ausentes circunstâncias “excepcionalíssimas”. Juízes
mantiveram 43 (81%) delas em prisão preventiva, concedendo prisão domiciliar a apenas 10 (19%).
Em 19 de dezembro, o Brasil adotou uma lei restringindo ainda mais os casos em que os juízes podem legalmente submeter
mulheres grávidas e mães à prisão preventiva. De 19 de dezembro de 2018 até o final de fevereiro de 2019, defensores públicos no
Rio identificaram 39 mulheres que deveriam, sem exceção, ter sido submetidas à prisão domiciliar em vez de prisão preventiva sob
a nova lei. No entanto, juízes determinaram a prisão preventiva para 31 (79%) e prisão domiciliar para apenas 8 (21%).
Em janeiro, por exemplo, um juiz do Rio de Janeiro decretou a prisão preventiva de uma mãe que foi acusada de tráfico de
drogas, argumentando que ela colocava em risco e prejudicava o desenvolvimento dos filhos devido a sua atividade criminosa – em-
bora essa atividade criminosa não tivesse sido provada no processo. O juiz concluiu que ela era um "mau exemplo" para as crianças.
O direito internacional determina que quando o risco de fuga, de interferência nas provas ou de segurança exige que as
autoridades estabeleçam condições para a liberdade provisória, medidas não privativas de liberdade devem ser utilizadas quando
possível, substituindo a prisão preventiva, que deve ser o "último recurso". Nos termos do artigo 9(3) do Pacto Internacional sobre
os Direitos Civis e Políticos (PIDCP), a prisão preventiva “não deverá constituir a regra geral”.
O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais exige “as mais amplas proteção e assistência possí-
veis” à família. A Convenção sobre os Direitos da Criança observa que as crianças precisam de cuidados e salvaguardas especiais, e
exige que autoridades avaliem e considerem o melhor interesse da criança em todos os assuntos que as concernem.
As Regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas Não Privativas de Liberdade para Mulheres
Infratoras, conhecidas como Regras de Bangkok (2010), que foram citadas pelo STFem sua decisão de fevereiro de 2018, enfatizam
que “ao sentenciar ou aplicar medidas cautelares a uma mulher gestante ou a pessoa que seja fonte principal ou única de cuidado
de uma criança, medidas não privativas de liberdade devem ser preferidas sempre que possível e apropriado, e que se considere
impor penas privativas de liberdade apenas a casos de crimes graves ou violentos”.

“A lei brasileira não poderia ser mais clara: mães de crianças pequenas ou de pessoas com deficiência e mulheres

grávidas não devem permanecer atrás das grades enquanto aguardam julgamento por crimes não violentos”

Desde o começo de 2018, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso à época adotaram medidas robustas e efetivas para
proteger os direitos de gestantes e mães que aguardam julgamento, e para proteger os direitos de seus dependentes. Os juízes
devem aplicá-las, disse a Human Rights Watch.
"Os requisitos são claros. Se estiverem presentes, as prisões mantidas nessas condições são ilegais", disse o juiz Luís
Lanfredi, Coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de
Medidas Socioeducativas do Conselho Nacional de Justiça, à Human Rights Watch. “Reformas na legislação exigem uma mudança
na mentalidade e na tomada de decisão pelos juízes. O Conselho Nacional de Justiça está comprometido em ajudá-los a adotarem
esses critérios em suas decisões”.

Novas Medidas Robustas para Proteger Gestantes e Mães

Em fevereiro de 2018, o Supremo Tribunal Federal determinou que mulheres grávidas, mães de crianças ou adultos com deficiên-
cia, e mães de crianças de até 12 anos devem aguardar julgamento em prisão domiciliar, e não nos presídios, quando acusadas de crimes
não violentos e quando não cometeram crimes contra seus filhos, a menos que os juízes considerem que o caso apresenta circunstâncias
“excepcionalíssimas”. A decisão não impediu que, nessas mesmas circunstâncias, juízes determinem a liberdade provisória.

53
A decisão introduziu proteções que foram muito além daquelas estabelecidas em 2016 por meio de uma lei que havia
concedido aos juízes ampla autoridade para determinar prisão domiciliar, em vez de prisão preventiva, a gestantes e mulheres e
homens com filhos de até 12 anos ou que fornecem cuidado “imprescindível” a crianças e adultos com deficiência.
Em sua decisão de fevereiro de 2018, a Suprema Corte identificou no sistema prisional o “descumprimento sistemático”
dos direitos das mulheres e de seus filhos devido a “degradantes” condições prisionais que violam a Constituição. O tribunal obser-
vou que dois terços das mulheres grávidas na prisão têm cuidados pré-natais inadequados, e que as crianças nascidas em prisões
por vezes são mantidas em celas e depois abruptamente separadas das mães. O tribunal também destacou os impactos perniciosos
do encarceramento da mulher no bem-estar físico e psíquico das crianças.
Em outubro de 2018, o ministro Ricardo Lewandowski, que foi o relator na decisão de fevereiro de 2018, já havia determi-
nado em outro caso que “a concepção de que a mãe que trafica põe sua prole em risco e, por este motivo, não é digna da prisão
domiciliar, não encontra amparo legal”. E, em janeiro de 2019, Lewandowski também afirmou que a reincidência “em princípio [...]
não afasta a regra de substituição da prisão preventiva pela domiciliar”.
Em dezembro de 2018, o Brasil reforçou essas proteções reconhecidas judicialmente ao adotar a Lei 13.769/2018. Esta lei
tornou obrigatória aos juízes a concessão de prisão domiciliar em vez de prisão preventiva da mulher gestante ou que for mãe ou
“responsável” por crianças de até 12 anos ou pessoas com deficiência de qualquer idade, exceto as acusadas de crimes violentos
ou de crimes contra seus dependentes. A decisão anterior do Supremo Tribunal Federal havia permitido que os juízes negassem a
prisão domiciliar somente em “situações excepcionalíssimas", as quais deveriam ser devidamente justificadas pelos juízes. A lei,
no entanto, tornou obrigatória a prisão domiciliar ao invés de prisão preventiva em todas as circunstâncias, sem ressalvar casos
“excepcionais”.

Condições prisionais

O Departamento Penitenciário Nacional disse à Human Rights Watch que seus dados mais recentes sobre o número total
de mulheres encarceradas são de junho de 2016. Naquele ano, mais de 42.000 mulheres eram mantidas em instalações construídas
para abrigar 27.000 pessoas. 45% das mulheres detidas – 19.000 – aguardavam julgamento.
Enquanto a lei brasileira exige que prisões tenham seções especiais para gestantes e mulheres com bebês de até seis meses
de idade, apenas 16% das unidades prisionais tinham essa infraestrutura até junho de 2016. E apenas 3% contavam com creches
para crianças menores de 7 anos, também exigidas por lei. Apenas um ginecologista estava disponível para cada 1.500 mulheres
encarceradas.
Em outubro de 2016, a Human Rights Watch documentou as condições ilegais de encarceramento na prisão feminina do
Bom Pastor, em Recife. Além disso, os cuidados pré-natais eram deficientes e os pós-natais literalmente inexistentes. Pesquisadores
da Human Rights Watch entrevistaram várias mães que choravam enquanto seguravam seus bebês, temendo o momento em que os
filhos completariam seis meses de idade e, então, seriam retirados de seus cuidados pelos agentes penitenciários, já que o estabele-
cimento não tinha instalações para mantê-los. As crianças eram encaminhadas para cuidados de familiares ou abrigos.
Mulheres presas preventivamente eram mantidas nas mesmas celas que presas condenadas em Bom Pastor, em violação
à lei brasileira e aos padrões internacionais.

Ausência de implementação de proteções

Após a decisão de fevereiro de 2018, o Departamento Penitenciário Nacional solicitou às secretarias estaduais de adminis-
tração penitenciária que estimassem o número de mulheres presas que atendiam aos critérios estabelecidos pelo Supremo Tribunal
Federal. Também solicitou o número de mulheres que, de fato, foram submetidas à prisão domiciliar. As secretarias estimaram que,
em setembro de 2018, 9.245 mulheres em prisão preventiva desde a decisão do STF atendiam aos critérios, mas que os juízes
haviam concedido prisão domiciliar para apenas 3.073, menos de um terço.
Até setembro de 2018, juízes em alguns estados, incluindo Paraíba, Piauí e Maranhão, haviam aplicado a decisão da Supre-
ma Corte em mais casos do que estimado inicialmente pelas secretarias. Mas em outros estados, os juízes praticamente ignoraram
a decisão. Juízes do Rio Grande do Sul a aplicaram em 9% dos casos elegíveis estimados e, no Acre, apenas em 2%. Juízes em São
Paulo, o estado com o maior sistema prisional do Brasil, a aplicaram em somente 46% dos casos estimados.

54
No Rio de Janeiro, as autoridades penitenciárias estimaram em setembro de 2018 que 491 mulheres presas cumpriam os
critérios do STF, mas os juízes haviam concedido prisão domiciliar a apenas 60 (12%).
Alguns juízes negaram prisão domiciliar com base no que parecem ser interpretações equivocadas da decisão da Suprema
Corte.
Em São Paulo, em março de 2018, um juiz de segunda instância recusou a conceder prisão domiciliar a uma mulher acusa-
da de tráfico de drogas com um filho de 11 anos de idade. O juiz disse que o objetivo da decisão da Suprema Corte era “proteger a
primeira infância, principalmente das crianças que nascem nos presídios, o que não é o caso da paciente, cujo filho é um pré-adoles-
cente”. No entanto, a decisão do STF aplica-se igualmente às mães de crianças de até 12 anos, nascidas dentro ou fora da prisão,
e não apenas a mães de crianças na “primeira infância”, e aplica-se ainda a mães de pessoas com deficiência de qualquer idade.
Alguns juízes continuaram a negar a prisão domiciliar mesmo após a adoção da lei de dezembro de 2018, que eliminou seu
poder discricionário de classificar um caso como “excepcionalíssimo” e, portanto, merecedor de prisão preventiva.
Em janeiro de 2019, uma juíza do Rio negou a prisão domiciliar a uma mãe citando a suposta presença de drogas na casa.
"Não há dúvidas de que as crianças que residem com ela possuem muito mais risco com sua liberdade do que com a imposição de
sua prisão, quando poderão ser acolhidas, temporariamente, por um parente próximo", afirmou a juíza.
Os juízes do Rio de Janeiro fizeram esse tipo de avaliação com base em relatórios policiais e breves interações com as
detidas em audiências de custódia, sem qualquer contribuição de psicólogos ou assistentes sociais, disse a Defensoria Pública do
Rio à Human Rights Watch.
A Defensoria constatou que entre agosto de 2018 e janeiro de 2019 quase 70% das mulheres que foram mantidas em
prisão preventiva após serem detidas, mesmo preenchendo os requisitos da prisão domiciliar, eram acusadas de tráfico de drogas.
Em fevereiro de 2019, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que os juízes devem ter o poder de negar prisão domiciliar em
casos excepcionais, conforme os riscos que a mulher possa apresentar aos seus filhos ou à sociedade, contestando a lei de dezembro
de 2018 que elimina a discricionariedade para negar a prisão domiciliar em casos excepcionais. As decisões do Tribunal Superior de
Justiça podem ser objeto de recurso para o Supremo Tribunal Federal.
Em março de 2019, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro pediu ao Supremo Tribunal Federal a concessão de prisão domi-
ciliar a 20 mulheres que satisfaziam os critérios, mas foram presas preventivamente, e sugeriu que as Corregedorias instaurassem
procedimentos disciplinares contra juízes que não cumprem a decisão do Supremo Tribunal Federal de fevereiro de 2018 e a lei de
dezembro de 2018.
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/12/politica/1557696833_169304.html (07.06.2019)

TEXTO 2
Número de presas grávidas ou lactantes diminui nos últimos 5 meses

De janeiro a maio de 2018, houve uma queda de 38,5% no número de mulheres grávidas ou lactantes cumprindo pena no sistema
prisional. FOTO: Gláucio Dettmar/Agência CNJ

De janeiro a maio de 2018, houve queda de 38,5% no número de mulheres grávidas ou lactantes cumprindo pena no sis-
tema penal brasileiro. Em janeiro havia 740 grávidas ou lactantes sob custódia do Estado. Os dados do Cadastro Nacional de Presas
Grávidas ou Lactantes, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), revelaram que o total de presas nessas condições era, em maio, de
455, dos quais 264 grávidas e 191 lactantes. Acesse aqui o Cadastro.
As informações coletadas pelos tribunais do Brasil, desde outubro de 2017, permitem que o Judiciário conheça e acompa-
nhe, continuadamente, a situação das mulheres encarceradas. O sistema foi criado, de forma inédita, no ano passado, por determi-
nação da presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, que tem procurado adequar a atuação do
Judiciário à perspectiva de gênero e dar visibilidade a essa questão no sistema prisional.

Invisibilidade

Para a juíza auxiliar da presidência do CNJ Andremara dos Santos, a criação do Cadastro tirou da invisibilidade as presas
gestantes e as lactantes e respectivos filhos não apenas para o Judiciário, como para as outras instituições que integram o sistema

55
de justiça criminal. E também facilitou o cumprimento do Habeas Corpus número 143.641, concedido pelo STF, em fevereiro desse
ano, que determinou a substituição da prisão preventiva pela domiciliar de todas as mulheres presas, gestantes, puérperas, ou mães
de crianças e deficientes sob sua guarda, enquanto perdurar tal condição.
Só ficou fora os casos de crimes praticados por elas mediante violência ou grave ameaça contra seus descendentes ou em
situações excepcionalíssimas. Além de identificar cada uma das gestantes e lactantes sob custódia do Estado, o Cadastro também
tornou possível monitorar o local onde estão custodiadas, o tempo de gestação em que estão, a data de nascimento do filho que
está sendo amamentado, assim como a situação processual delas, permitindo as providências necessárias ao cumprimento das
políticas públicas e da legislação correspondentes.

Prisão domiciliar e medidas alternativas

A medida também prevê a cumulação da prisão domiciliar com medidas alternativas previstas no art. 319 do Código de
Processo Penal. Quando a prisão domiciliar se mostrar inviável ou inadequada, a decisão prevê que a pena seja substituída por
aquelas medidas, conferindo credibilidade à palavra da mãe, mas facultando ao magistrado requisitar a elaboração de laudo social,
sem prejuízo do cumprimento da decisão.

Condições de custódia das gestantes e lactantes

A primeira visita do CNJ aos presídios com grávidas e lactantes ocorreu em 18 de janeiro deste ano, em Vespasiano/MG,
com a presença da ministra Cármen Lúcia. Durante essa visita, a ministra conversou com as presas e chegou a dizer que, se o Judi-
ciário não tiver condições de deferir prisão domiciliar, “o Estado deve providenciar um local adequado para que a mulher possa ficar
custodiada até o término da gestação e o período de amamentação de seu filho”.
O CNJ vistoriou, entre janeiro e maio deste ano, 34 estabelecimentos penais de 26 unidades da Federação e contatou pes-
soalmente 391 presas. As visitas representam ação inédita do Poder Judiciário, ao conduzir um olhar e atuação especial em relação
à perspectiva de gênero na questão prisional.
As informações coletadas permitirão ao CNJ elaborar recomendações a serem adotadas pelos GMFs, varas criminais e de
execução penal em relação aos cuidados específicos às presas grávidas e lactantes.
A equipe do CNJ encontrou mães e crianças em acomodações precárias e recebendo alimentação inadequada, assim como
constatou a falta de ginecologistas e pediatras acessíveis para o atendimento pré-natal. Também foram identificadas boas práticas
em algumas unidades prisionais, mas essas eram minoria.
O único Estado não visitado pela equipe do CNJ foi o Amapá, pois não haviam presas grávidas ou lactantes até a data do
encerramento das visitas.

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Cadastro de Presas Grávidas e Lactantes

O sistema é alimentado mensalmente pelos Grupos de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário dos Estados
(GMFs). Eles recebem os dados do Sistema Prisional, das Varas Criminais e das de Execução Penal (VEPs), e verificam se há distor-
ções nas informações. Com os dados conferidos e corrigidos, informam ao CNJ até o 5º dia útil de cada mês subsequente.

http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/87060-numero-de-presas-gravidas-ou-lactantes-diminui-no-brasil-2 (26.06.2018)

TEXTO 3
No Brasil, filhos de mães encarceradas já nascem com direitos violados

Cada vez mais crianças nascem em presídios, aprisionadas entre o colo provisório das mães e as grades permanentes do Estado

Rebeca,de sete meses,não quer colo de estranhos. Em dezembro deixará a cela e fi-
cará com a família da mãe (Foto: Julia Rodrigues/ÉPOCA)

O estrondo do portão de ferro que se fecha marca o fim de mais um dia. Na cela, com não mais de 10 metros quadrados,
apertam-se objetos cobertos por mantas, uma cama protegida por um mosquiteiro e um guarda-roupa aberto com roupas de bebê
dobradas. Adesivos infantis decoram a parede e mantas em tons pastel ocultam as grades de ferro. Ali, na ala da amamentação na
Penitenciária Feminina de Pirajuí, em São Paulo, dormem Rebeca, de 7 meses, e sua mãe, Jaquelina Marques, de 23 anos. A menina
só vê o mundo exterior – árvores, carros, cachorros, homens – ao ser levada para consultas pediátricas. Normalmente, passa o tempo
todo com a mãe, ocupante temporária de uma das 12 celas no pavilhão.
Durante o dia, elas podem circular pela área. Doze bebês, suas mães e três gestantes prestes a dar à luz dividem o espaço.
Alguns brinquedos ficam espalhados pelo chão. No centro da ala, roupas das crianças secam num varal exposto ao sol. Na entrada,
duas celas fazem as vezes de copa e espaço de lazer – uma televisão de tubo transmite imagens esverdeadas. Em algum lugar da
cadeia, mulheres se comunicam aos gritos. “É esse inferno todos os dias”, suspira Jaquelina, com o cabelo amarrado numa trança
para amenizar o clima abafado.

57
A penitenciária fica a menos de dez minutos do centro de Pirajuí, a 390 quilômetros de São Paulo. Abriga mais de 1.200
presas (quase o dobro de sua capacidade), divididas em quatro pavilhões, uma ala de amamentação e um espaço para quem
cumpre pena em regime semiaberto. A maioria (1.034 mulheres) cumpre regime fechado. Predominam as condenadas por tráfico
de drogas.
Rebeca é a segunda filha de Jaquelina a nascer no cárcere. Sua mãe foi presa pela primeira vez em 2012, com 7 gramas
de maconha, acusada de tráfico – e estava grávida. “Quando descobri, parece que abriu um buraco em mim. Tinha o sonho de ser
mãe, mas não dentro deste lugar”, diz. Fumava maconha e cheirava cocaína. A residência onde foi presa, segundo os autos de seu
processo, servia para venda de drogas. Também consta uma agressão dela a uma mulher nesse mesmo local. Em 2014, saiu em
liberdade condicional e deu à luz um menino. Em 2016, foi presa novamente, sentenciada a pouco mais de cinco anos, após recorrer
da condenação e perder. Espera passar para o regime aberto no final de 2018. Pouco antes de voltar à penitenciária, seu marido
também foi preso, acusado de tentativa de homicídio.
Desde 2002, a legislação define que o usuário de drogas não deve ser sentenciado à prisão, mas a falta de critérios para
distingui-lo do traficante (que comete um crime hediondo) responde por boa parte dos encarceramentos. Em São Paulo, seis em
cada dez condenadas foram enquadradas como traficantes. “É muita cadeia para pouca droga”, diz Jaquelina, aninhando Rebeca
no colo. É comum que a primeira instância da Justiça condene a penas de cinco anos em regime fechado gente flagrada com peque-
no volume de drogas. Quem tem dinheiro para pagar bons advogados recorre a instâncias superiores, que levam em conta fatores
como bons antecedentes para baixar penas, explica Mário Luiz Bonsaglia, subprocurador-geral da República. Ele coordena a área do
Ministério Público Federal responsável por supervisionar o sistema prisional e alerta sobre a dificuldade que as defensorias públicas
têm para garantir assistência jurídica aos mais pobres. No momento, sem essa assistência, dispara a população de presas no país.
De 2000 para 2014, o índice de mulheres encarceradas no Brasil saltou de 6,5 para 36,4 a cada 100 mil, segundo esti-
mativa do Ministério da Justiça. Duas em cada três são negras, a maioria é pobre e cometeu crime não violento, usualmente sob
ordens de alguém, como o companheiro. Três em cada quatro dessas mulheres são mães. Entre elas, muitas têm filhos enquanto
cumprem pena (leia os quadros).
As que dão à luz na prisão raramente engravidam enquanto presas. “Todas as gestantes que tivemos no presídio já che-
garam nessa condição. Nenhuma engravidou aqui”, diz Graziella Costa, diretora da Penitenciária Feminina de Pirajuí, que funciona
há cinco anos. “As mulheres presas são abandonadas. Recebem poucas visitas. Visita íntima, então… se muito, umas 30 recebem.”
Graziella conhece as presas pelo nome. “Vai para o semiaberto, Marlene*?”, diz, ao adentrar a enfermaria da penitenciária no fim
da tarde, enquanto o eco das trancas preenche os corredores e entregam-se nas celas pães assados pelas presas. Para o padrão
brasileiro, a penitenciária não é ruim. Mas crianças não deveriam estar ali.
O Código de Processo Penal, no Artigo 318, permite que se substitua a prisão preventiva pela domiciliar para a mulher ges-
tante e com filho de até 12 anos incompletos, por decisão do juiz. Adriana Ancelmo, ex-primeira-dama do Rio de Janeiro e presa na
Operação Lava Jato, passou oito meses em prisão domiciliar por ter filho nessa faixa de idade (em 23 de novembro, foi determinado
que Adriana deveria voltar ao regime fechado). Mais de 40% das mulheres encarceradas no Brasil são presas provisórias. “Se se-
guíssemos a lei à risca, a maioria dessas mulheres grávidas ou com filhos, presas em situação provisória, não estaria encarcerada”,
diz Bruna Angotti, professora de Direito e coautora com Ana Gabriela Braga, doutora em criminologia, da pesquisa Dar à luz na som-
bra. “O processo não correu, elas têm possibilidade de estar em casa, mas seguem presas”, afirma Bruna. As instâncias superiores
defendem mais a opção de criança e mãe ficarem juntas em liberdade do que as instâncias inferiores, diz o subprocurador Bonsaglia.
Manter uma criança com a mãe na cadeia (mesmo que em ala especial) ou afastá-la da mãe gera efeitos ruins de toda sorte.
Não foi da noite para o dia que Midiã (hoje com 4 anos), irmã de Rebeca, despertou o afeto da mãe. Enquanto a menina
crescia em seu ventre, ainda sentia raiva por estar presa. Só após o nascimento da filha, descreve ela, sentiu “amor de mãe”. Mas,
mesmo com a menina nos braços, envolveu-se em uma discussão com outras presas e teve de cumprir castigo. Era “muito indiscipli-
nada”, reconhece. As agentes da penitenciária concordam, com um suspiro profundo ao relembrar o passado da presa. Midiã não
completou nem seis meses com a mãe – tempo mínimo de estada do bebê com a mãe na prisão, estabelecido por lei. Na prática,
vem sendo aplicado como prazo máximo. Jaquelina teve de entregar a menina à avó. Midiã separou-se da mãe aos gritos, para um
colo ainda desconhecido. Na segunda vez em que a mãe foi presa, Midiã e o irmão mais novo visitavam-na mensalmente por algum
tempo. A família interrompeu as visitas por considerá-las muito dolorosas.

58
Os sintomas da separação se manifestaram nas crianças. Midiã, quando saiu da cadeia com poucos meses, não aceitava
mais ser amamentada. O irmão dela, Adryan, estava aprendendo a falar quando a mãe foi presa pela segunda vez. Simplesmente
parou no meio do caminho. Com 3 anos, ele se expressa mais com acenos de cabeça do que com palavras. Na primeira visita à
mãe, colocou o braço no rosto para tapar os olhos – e nada o fez mudar de ideia. “Não me deu um abraço. Fui tentar pegar e ele
bateu em mim. Não quis ficar comigo de jeito nenhum”, diz Jaquelina. Agora em regime semiaberto, ela visita a família no interior,
a cerca de duas horas de Pirajuí, durante a “saidinha” nos feriados. Aos poucos, reaproximou-se dos filhos. Em uma dessas saídas,
ao terminar a visita à família, despediu-se do filho. O menino correu atrás dela – queria ir junto. “Ele ficou chorando tanto que deu
dó. Fiquei com a cabeça atordoada de deixar ele daquele jeito”, diz. “Não queria dar esse trabalho todo para a minha família.” No
final do ano, será a vez de Rebeca ser entregue aos cuidados da avó. O problema vem ganhando atenção crescente.
Em 30 de novembro, o Seminário Nacional sobre Crianças e Adolescentes com Familiares Encarcerados inaugurou uma
articulação nacional, a fim de promover apoio a esse grupo. A articulação, que reúne ONGs, associações, movimentos e redes,
fez contato com 200 crianças e adolescentes nessa situação. Apenas 36 aceitaram participar. Detectou-se um quadro previsível e
trágico. A prisão de familiares (geralmente mãe ou pai) acarreta fragilidade econômica e social. As crianças muitas vezes precisam
assumir tarefas domésticas e ganhar dinheiro. Seis apresentaram depressão. No ranking de discriminação, a escola aparece como o
principal espaço marcado por estigmas. “O cenário, na maioria das vezes, é que a escola quer que o menino saia de lá. A instituição
acredita que filho de bandido vai virar criminoso também”, diz Ana Paula Galdeano, uma das pesquisadoras que conduziram o
levantamento. A restrição de direitos básicos e prejuízo emocional para as crianças nessa situação ocorrem no Brasil e em vários
países vizinhos, segundo um estudo de 2012 da NNAPES, uma aliança de organizações latino-americanas que trabalha pela defesa
de filhos de pais encarcerados. Por isso é urgente aplicar as leis que já existem. “A legislação se preocupa com a criança, mais do
que com a mãe”, diz o subprocurador Bonsaglia.
No presídio de Pirajuí, na cela vizinha à da menina Rebeca, vive Lívia, com quase 6 meses de idade. Divide o espaço com a
mãe, Paula Bento, e com outra mulher e seu bebê, que dormem em um colchão ao lado da cama. Paula, de 31 anos, foi condenada
a sete anos, pela segunda vez por tráfico de drogas, e é mãe de quatro meninas. Não recebe visitas. “Minha família é rígida. Meu
pai avisou que não viria me visitar”, diz. Ela é articulada e tem a voz firme. A entonação só vacila ao falar sobre o dia em que terá de
entregar a filha. A psiquiatra Natalia Timerman, autora de Desterros – Histórias de um hospital-prisão, atendia mães encarceradas
no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário (CHSP). “Os casos mais comuns eram as angustiadas. Elas sentiam tristeza, medo da
hora da entrega, medo de não sobreviver sem o filho. Depois da entrega, tinham vontade de se matar”, diz. Lívia dorme bem nos
braços da mãe. É a segunda filha de Paula nascida na prisão e que será levada para os cuidados de um parente – a tia da criança,
que já tem três filhos. Duas de suas irmãs estão sob a guarda do avô e uma terceira mora com uma prima. O pai de Lívia também
está preso. Nenhuma das meninas sabe o real motivo da ausência da mãe. “Agradeço por elas serem amadas, por terem uma vida
que eu não poderia dar. Mas o pior sentimento é não ouvir sua filha chamar você de mãe”, diz.
A maioria dos filhos de mães encarceradas de São Paulo, oito em cada dez, estava com um familiar, segundo o levantamen-

59
to mais recente, de 2014, da Defensoria Pública do Estado (3% estavam em serviços de acolhimento, 2% com outros responsáveis
de fora da família e 1% foi adotado, entre outras situações). Nos casos em que a família não tem condições de cuidar da criança,
cabe a destituição da guarda.
São visíveis os cuidados da mãe com Sophia, de 1 ano e 2 meses. A menina ainda tem pouca firmeza nas pernas. Usa um
vestidinho branco com flores vermelhas e uma faixa com um enfeite de laço no cabelo. Está aprendendo a falar. Murmura palavras
curtas, algumas ainda sem sentido. Ri com facilidade quando ouve a mãe pedir um “bisou” ou cantar uma música em uma língua
que ela não entende. Aissata Bah, de 29 anos, veio da República da Guiné e seu idioma materno é o francês. Com a ajuda da mãe,
tenta se manter em pé. Dirige-se a ela em dúvida: “Tia...?”. A mãe balança a cabeça negativamente e a corrige com um sorriso
frouxo: “Mamá”. Há menos de uma semana, Sophia deixou o serviço de acolhimento, onde ficava sob o cuidado de “tias” e começa
a aprender a conviver com a mãe.
Aissata ficou grávida após chegar ao Brasil. Morava com o namorado quando foi presa por associação ao tráfico de drogas.
Diz que não sabia que ele traficava e nunca mais soube dele. Não entendia nem se expressava bem em português. Os pontos da
cesárea ainda incomodavam. Sophia ainda tinha 2 meses. Naquela mesma noite, foi levada para o serviço de acolhimento e para as
“tias”. “A Aissata deveria ter tido a possibilidade de permanecer com a filha quando foi presa”, afirma Viviane Balbuglio, advogada
do projeto Migrantes Egressas do Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (que ajuda imigrantes a lidar com a Justiça e se comunicar
com as famílias em outros países). “Ela foi encaminhada para uma penitenciária com espaço materno-infantil e teria direito a, no
mínimo, permanecer com a filha até os 6 meses de idade.”
Ao chegar à prisão, Aissata queria saber da filha. Não sabiam informar ou ela não conseguia compreender. Foi transferida
para a Penitenciária Feminina da Capital, no bairro de Santana, onde outras imigrantes a entendiam melhor. Continuava separada
da filha e o leite lhe vazava dos seios. “Não sabia se a minha filha estava bem, se ela estava com fome, se estava chorando.” Hoje,
ela dá risada e se expressa muito bem em português truncado e inglês afrancesado. Mas passou um período calada. “Fiquei três
meses sem ver minha filha, não falava português, era muito complicado. Quase fiquei louca”, diz. Ocupou a cabeça com o trabalho
na cozinha e carrega nos braços as manchas de queimaduras das panelas. Um dia, foi chamada pela assistente social para uma con-
versa. Passou por um bebê sem dar atenção. “Não reconheceu a sua filha?”, perguntaram. “Não podia acreditar. Olhei e reconheci
a manchinha que ela tinha no braço”, diz. Sophia crescera. Estavam separadas havia três meses.
Dali em diante, poderia receber a visita uma vez por mês. Um funcionário do serviço de acolhimento levava Sophia. Ainda
assim, Aissata preocupava-se por não poder acompanhar o crescimento da menina. Oito meses após a prisão preventiva, o juiz en-
tendeu que a medida se estendia por tempo demasiado e deu a Aissata o direito de responder ao processo em liberdade. Ela precisa
se apresentar à Justiça mensalmente até que sua sentença seja definida. Mudou-se para perto do abrigo da filha, em Brasilândia.
Podia vê-la todo dia, banhá-la e colocá-la para dormir. Aos poucos, a criança passou a reconhecê-la. As regras para a mãe levar a
menina consigo em alguns finais de semana tornaram-se mais flexíveis, até que uma decisão da Vara da Infância e da Juventude, no
final de novembro, permitiu o “desacolhimento” da menina, que passou a morar com a mãe. A decisão da Justiça ainda não saiu. O
Ministério Público pediu a absolvição de Aissata por entender que não há prova de participação dela no crime. Após a apresentação
da defesa, o juiz dará a sentença sobre o destino de Aissata – e, consequentemente, de Sophia.

60
Com exceção de mulheres que cometem crimes violentos (o que acarreta o afastamento entre mãe e criança), as presas
ficam com seus filhos em condições inadequadas num sistema carcerário superlotado. Bruna Angotti e Ana Gabriela Braga cunha-
ram o termo hipermaternidade: a mãe fica 24 horas por dia com a criança, normalmente durante um período de seis meses a um
ano, interrompendo todas as suas atividades para dar atenção exclusiva ao bebê. Essa presença em tempo integral priva o bebê de
interagir com mais adultos e crianças e o deixa menos preparado para momentos de separação da mãe.
Estender o período da criança na prisão configura uma violação de direitos. No entanto, o rompimento dessa convivência
para a retirada da criança também representa uma violência. “Há um problema muito grande de acesso à Justiça. Dificilmente se
garantem a essas mulheres os direitos que prevê a lei da maternidade”, afirma a professora de Direito Bruna. Atualmente, aguarda
julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido do Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos. O grupo solicita uma
decisão liminar de liberdade às mulheres submetidas à prisão cautelar e que sejam gestantes ou tenham filhos com até 12 anos. “A
avaliação que só leva em consideração os documentos dos autos é pouco responsável e alienada”, diz Nathalie Fragoso, uma das
advogadas que assina o documento. “O Judiciário brasileiro normalmente faz uma análise pouco atenta às necessidades femininas,
à gestação e às particularidades do encarceramento feminino.”
Nathalie se refere a um padrão extremamente repetitivo, exemplificado pela história de Bárbara*. Ela carregava um tijolo
de maconha no ônibus, quando o veículo foi parado numa blitz. Era um Dia dos Pais, em 2006, e ela estava a caminho de visitar
o marido em uma penitenciária no interior de São Paulo. Pretendia antes deixar a encomenda com compradores. Não chegou a
entregá-la. Com a prisão preventiva decretada, deixou em casa e aos cuidados da sogra os quatro filhos: Lucas*, à época com 9
anos, Júlio*, com 8, Douglas*, com 4, e Rodrigo*, com pouco mais de 1 ano. Bárbara cometeu crime a mando do marido, mesmo
tendo então um emprego formal. O trabalho de cuidar das crianças ficou primeiro com ela, depois com a sogra – a responsabilidade
quase sempre recai sobre uma mulher. Na prisão, ficou sabendo que estava grávida.
Só descobriu quando a barriga começou a crescer – o exame de corpo de delito não prevê teste de gravidez. Ao fazer
o primeiro exame de ultrassonografia, com cerca de seis meses de gestação, descobriu estar esperando gêmeas. Deu à luz duas
meninas. “Fui bem tratada no hospital, mas uma agente da penitenciária me prendeu algemada quando saiu para fumar”, diz. Teve
sorte em comparação com outras mães: não chegou a passar nem um mês com as filhas na prisão, porque a Justiça concedeu a ela
liberdade após um ano de prisão preventiva, enquanto aguardava sua sentença. O pai contratara para ela uma advogada particular.
No tempo em que esteve presa, a família do marido não quis que os filhos tivessem contato com ela. Depois de solta,
começou a reconquistar os meninos. Nesse meio-tempo, interrompeu as visitas ao marido. “Fiquei quase dois anos sem ir, porque
disseram que poderiam tirar a guarda das minhas filhas. Quando ele saiu da prisão, achou que eu o estava traindo”, diz. Nesse
período, diz ter apanhado do marido mais de uma vez.
Após a ocorrência de um assalto à empresa onde trabalhava, Bárbara foi chamada para prestar depoimento numa delega-
cia. Descobriu que a sentença havia saído e que havia sido condenada. Da delegacia, nem chegou a voltar para casa. O marido ficou
responsável pelo cuidado das crianças, sob supervisão da avó – a presença masculina é uma raridade nesses casos. No entanto, um
mês depois, ele foi encontrado morto no banheiro de casa.
Bárbara recebeu a notícia na prisão. Decidiu não receber mais visitas de parentes para tentar amenizar a saudade. Preen-
cheu os oito meses restantes de sua sentença com o trabalho, enquanto os quatro filhos mais velhos ficavam sob a guarda da avó
e as duas mais novas com a irmã. Depois de sair da prisão buscou ajuda de uma psicóloga e foi novamente tentar reconquistar
os filhos. Mas só um manifestava vontade de ficar com ela. “Os mais velhos falaram na minha cara que não queriam ficar comigo.
Um deles não quis até hoje voltar para casa”, diz. Bárbara mora com três filhos. Um ficou com a sogra. Está no 2o ano do curso
de administração em uma faculdade. As gêmeas ficam aos cuidados da irmã. “Homem não sabe cuidar de criança direito”, diz.
Ela não conversa com nenhum dos filhos sobre a vida acidentada que teve. As mais novas não sabem sobre o passado da mãe. A
família não quis conversar com a reportagem sobre o assunto. “Tentamos esquecer tudo o que aconteceu”, diz Bárbara. Hoje, ela
não deve mais à Justiça.
Muito do que as crianças vivem no período da ausência da mãe tem consequências imediatas, como os sintomas físicos
e psicológicos dos filhos de Jaquelina. No longo prazo, também acarreta sequelas para a família. Brenda, de 16 anos, mora com o
namorado em Rio das Ostras, no Rio de Janeiro. Tinha 4 anos quando a mãe cumpriu pena pela primeira vez. A mãe, Meirelaine, tem

61
sete filhos e foi presa duas vezes, condenada por tráfico de drogas. Na primeira vez que ela foi presa, Brenda, aos 4 anos, foi morar
com o pai e o irmão, que tinha 3. Meirelaine ficou longe por quase três anos e meio. Deu à luz na prisão. Aquele filho foi morar com
a avó. “Eu não compreendia muito. Depois de grande que vim entender”, diz Brenda.
Quando ela tinha 14 anos, Meirelaine passou mais um ano presa e deu à luz novamente. As crianças foram separadas para
ficar com seus respectivos pais. Brenda foi proibida de manter contato com os irmãos mais novos, sob alegações de que o pai deles
era alcoólatra e batia nas crianças.
Hoje livre do cárcere, Meirelaine não conseguiu livrar sua família das consequências: a comida já chegou a faltar e colocá-la
na mesa é ainda um desafio. Vive de bicos como pedreira ou empregada doméstica, além de receber uma pensão pequena do pai
dos filhos mais velhos. Tem dificuldades para recuperar os laços com os filhos. Cuida de quatro crianças sozinha – uma responsa-
bilidade repetidamente depositada apenas sobre mulheres. A história se repete de forma implacável. Meire tinha 16 anos quando
deu à luz Brenda. Brenda, com 16 anos, está grávida
https://epoca.globo.com/brasil/noticia/2017/12/no-brasil-filhos-de-maes-encar-
ceradas-ja-nascem-com-direitos-violados.html (15.12.2017)

É IMPORTANTE SABER
I. DADO ESTATÍSTICO RELEVANTE
Após a decisão de fevereiro de 2018, o Departamento Penitenciário Nacional solicitou às secretarias estaduais de ad-
ministração penitenciária que estimassem o número de mulheres presas que atendiam aos critérios estabelecidos pelo
Supremo Tribunal Federal. Também solicitou o número de mulheres que, de fato, foram submetidas à prisão domiciliar. As
secretarias estimaram que, em setembro de 2018, 9.245 mulheres em prisão preventiva desde a decisão do STF atendiam
aos critérios, mas que os juízes haviam concedido prisão domiciliar para apenas 3.073, menos de um terço.

II. DADO HISTÓRICO RELEVANTE


LEI Nº 2.040, DE 28 DE SETEMBRO DE 1871

Declara de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a data desta lei, libertos os escravos da Nação
e outros, e providencia sobre a criação e tratamento daqueles filhos menores e sobre a libertação anal de escravos.....

A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador e Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súbditos
do Império que a Assembleia Geral Decretou e ela sancionou a Lei seguinte:

Art. 1º Os filhos de mulher escrava que nascerem no Imperio desde a data desta lei, serão considerados de condição livre.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13769.htm

III. ARGUMENTO DE AUTORIDADE


“A lei brasileira não poderia ser mais clara: mães de crianças pequenas ou de pessoas com deficiência e mulheres grávidas
não devem permanecer atrás das grades enquanto aguardam julgamento por crimes não violentos”, disse Maria Laura
Canineu, diretora da Human Rights Watch no Brasil. "No entanto, há sinais preocupantes de que alguns juízes estão ig-
norando essas proteções, fazendo com que mães que não foram condenadas por um crime passem o Dia das Mães em
celas insalubres e superlotadas, quando deveriam estar em casa com suas famílias".

62
IV. EXEMPLOS DO COTIDIANO
Jessica foi detida grávida há uma semana, no sábado, dia 10, e encaminhada à carceragem do 8º Distrito Policial (Brás).
Ela saiu para dar à luz em um hospital no dia seguinte, no domingo, 11, e retornou dois dias depois com o bebê recém-
-nascido para a mesma cela de dois metros quadrados. Lá, permaneceu mais dois dias, quando foi transferida para a
Penitenciária Feminina de Santana, na zona norte de São Paulo.
https://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,mulher-que-ficou-presa-com-filho-recem-
-nascido-em-cela-deixa-penitenciaria-em-sao-paulo,70002193173 (17.02.2018)

V. ANALOGIA LITERÁRIA

Houve aqui luta, porque a escrava, gemendo, arrastava-se a si e ao filho. Quem passava ou estava à porta de uma loja,
compreendia o que era e naturalmente não acudia.

Arminda ia alegando que o senhor era muito mau, e provavelmente a castigaria com açoutes,--cousa que, no estado em
que ela estava, seria pior de sentir. Com certeza, ele lhe mandaria dar açoutes.

--Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos e fugir depois? Perguntou Cândido Neves.
Machado de Assis. "Pai contra mãe".

VI. CITAÇÃO
"A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar."
Martin Luther King Jr

VII. LEGISLAÇÃO:
LEI Nº 13.769, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2018.

Art. 1º Esta Lei estabelece a substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar da mulher gestante ou que for mãe ou
responsável por crianças ou pessoas com deficiência e disciplina o regime de cumprimento de pena privativa de liberdade
de condenadas na mesma situação.

Art. 2º O Capítulo IV do Título IX do Livro I do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal)
, passa a vigorar acrescido dos seguintes arts. 318-A e 318-B:

“ Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com
deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:

I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;

II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.”


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13769.htm

63
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Profissão Repórter 16/05/2018 Mães do Cárcere - Completo

Fonte:Youtube

Vídeo Nascer nas prisões | Impacto social

Fonte:Youtube

ACESSAR

Sites Mulheres em prisão

mulheresemprisao.org.br/

64
LER

Artigo Mães presas, filhos desamparados | Nascer na prisão

Mães presas, filhos desamparados: ma-


ternidade e relações interpessoais na
prisão

Nascer na prisão: gestação e parto atrás


das grades no Brasil

65
Proposta ENEM
TEXTO 1
O número de mulheres presas grávidas ou lactantes caiu de 740 em janeiro para 455 em maior, de acordo
com dados do Cadastro Nacional de Presas Grávidas ou Lactantes, do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) divulga-
dos nesta terça-feira (26). A diferença representa uma queda de 38,5%.
Para a juíza auxiliar da presidência do CNJ Andremara dos Santos, o cadastro facilitou o cumprimento de
decisão da Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) em fevereiro. Na época, o colegiado concedeu um
habeas corpus coletivo para converterc a prisão preventiva de todas as presas grávidas e mães de crianças de
até 12 anos em prisão domiciliar.
O cadastro é uma forma de aprimorar a qualidade dos dados, uma vez que as informações são muitas vezes
descentralizadas e incompletas nos estados.
https://www.huffpostbrasil.com/2018/06/26/numero-de-presas-gravidas-ou-lactantes-cai-de-740-para-455-em-5-meses_a_23468280/

TEXTO 2
Em 2018, uma série de decisões do Supremo Tribunal Federal e uma nova lei impuseram novos limites ao
poder dos juízes de decretar prisão preventiva de mães e mulheres grávidas. A lei agora exige prisão domiciliar
em vez de prisão preventiva para gestantes, mães de pessoas com deficiência e mães de crianças de até 12 anos,
exceto quando acusadas de crimes praticados mediante violência ou grave ameaça, ou de crimes contra seus de-
pendentes.
No entanto, dados de 2018 mostram que milhares de mulheres que aparentemente teriam direito a essas
proteções permaneceram atrás das grades sob prisão preventiva. Dados mais recentes, somente sobre o Rio de
Janeiro, indicam que o problema persistiu em 2019.
Em janeiro de 2019, por exemplo, um juiz do Rio de Janeiro decretou a prisão preventiva de uma mãe que
foi acusada de tráfico de drogas, argumentando que ela colocava em risco e prejudicava o desenvolvimento dos
filhos devido a sua atividade criminosa – embora essa atividade criminosa não tivesse sido provada no processo. O
juiz concluiu que ela era um "mau exemplo" para as crianças.
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/12/politica/1557696833_169304.html (12.05.2019)

66
TEXTO 3
A juíza auxiliar da presidência do CNJ Andremara dos Santos, que coordenou as visitas aos presídios, afirma
ainda que, apesar de existir uma política pública de assistência à saúde no sistema prisional que administra as
instalações de unidades básicas de saúde nos complexos penais e unidades materno-infantis, nem todas as uni-
dades penitenciárias dispõe de recursos. Mais uma vez observamos o não cumprimento dos direitos fundamentais
dispostos na Constituição Federal.
Muitas detentas relatam casos de aborto após hemorragia, tortura contra bebês, sede e fome dentro do
sistema prisional desumano em que se encontram. As celas com superlotação comportam duas vezes mais presas
do que o ideal segundo um relatório do Ministério dos Direitos Humanos . O relatório também traz informações
sobre detentas que pariram dentro da cela por conta da demora da escolta e até o caso de uma detenta grávida
de dois meses que sangrou por sete dias, desde a sua chegada à prisão. Com o término do sangramento, as presas
que partilhavam da mesma cela, afirmaram sentir um mau cheiro vindo do corpo dela – ela então descobriu depois
de uns dias que tinha sofrido um aborto.
http://www.justificando.com/2018/08/27/a-violacao-dos-direitos-humanos-das-mulheres-gravidas-no-carcere/ (27.08.2018)

TEXTO 4

Fonte: Pesquisa "Saúde materno-infantil nas prisões" Fundação Oswaldo Cruz e Ministério da Saúde. www.cnj.jus.br

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o
tema A CONDIÇÃO DAS MÃES NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO, apresentando proposta de inter-
venção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos
e fatos para defesa de seu ponto de vista.

67
Proposta – Vestibular
TEXTO 1
Em 2018, uma série de decisões do Supremo Tribunal Federal e uma nova lei impuseram novos limites ao
poder dos juízes de decretar prisão preventiva de mães e mulheres grávidas. A lei agora exige prisão domiciliar
em vez de prisão preventiva para gestantes, mães de pessoas com deficiência e mães de crianças de até 12 anos,
exceto quando acusadas de crimes praticados mediante violência ou grave ameaça, ou de crimes contra seus de-
pendentes.
No entanto, dados de 2018 mostram que milhares de mulheres que aparentemente teriam direito a essas
proteções permaneceram atrás das grades sob prisão preventiva. Dados mais recentes, somente sobre o Rio de
Janeiro, indicam que o problema persistiu em 2019.
Em janeiro de 2019, por exemplo, um juiz do Rio de Janeiro decretou a prisão preventiva de uma mãe que
foi acusada de tráfico de drogas, argumentando que ela colocava em risco e prejudicava o desenvolvimento dos
filhos devido a sua atividade criminosa – embora essa atividade criminosa não tivesse sido provada no processo. O
juiz concluiu que ela era um "mau exemplo" para as crianças.
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/12/politica/1557696833_169304.html (12.05.2019)

TEXTO 2
O Depen ( Departamento Penitenciário Nacional ) informou inicialmente que 10.693 mulheres poderiam ter
prisão domiciliar, mas que só 426 haviam sido soltas. Depois, o Depen disse que fez uma "busca ativa" de quem se
enquadrava nos parâmetros, e o número saltou para 14.750 - mas não há dados atualizados de quantas já foram
soltas.
A Defensoria Pública do estado do Mato Grosso do Sul afirmou que 448 faziam jus, mas só 68 foram soltas
no estado.
Já o Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos informou que a decisão vem sendo "desafiada" e que, em
São Paulo, 1.229 deixaram cárcere, mas 1.325 ainda podem sair. No Rio de Janeiro, 217 poderiam ir para casa, mas
só 56 foram atendidas. Já em Pernambuco, 111 presas faziam jus mas só 47 saíram.
https://g1.gl obo.com/politica/noticia/2018/10/25/stf-autoriza-prisao-domiciliar-para-todas-as-
-presas-por-trafico-que-forem-maes-ou-estiverem-gravidas.ghtml (25.10.2018)

68
TEXTO 3
A juíza auxiliar da presidência do CNJ Andremara dos Santos, que coordenou as visitas aos presídios, afirma
ainda que, apesar de existir uma política pública de assistência à saúde no sistema prisional que administra as
instalações de unidades básicas de saúde nos complexos penais e unidades materno-infantis, nem todas as uni-
dades penitenciárias dispõe de recursos. Mais uma vez observamos o não cumprimento dos direitos fundamentais
dispostos na Constituição Federal.
Muitas detentas relatam casos de aborto após hemorragia, tortura contra bebês, sede e fome dentro do
sistema prisional desumano em que se encontram. As celas com superlotação comportam duas vezes mais presas
do que o ideal segundo um relatório do Ministério dos Direitos Humanos . O relatório também traz informações
sobre detentas que pariram dentro da cela por conta da demora da escolta e até o caso de uma detenta grávida
de dois meses que sangrou por sete dias, desde a sua chegada à prisão. Com o término do sangramento, as presas
que partilhavam da mesma cela, afirmaram sentir um mau cheiro vindo do corpo dela – ela então descobriu depois
de uns dias que tinha sofrido um aborto.
http://www.justificando.com/2018/08/27/a-violacao-dos-direitos-humanos-das-mulheres-gravidas-no-carcere/ (27.08.2018)

TEXTO 4

Fonte: Pesquisa "Saúde materno-infantil nas prisões" Fundação Oswaldo Cruz e Ministério da Saúde. www.cnj.jus.br

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a
norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
ENCARCERAMENTO MATERNO: ENTRE O CUMPRIMENTO DOS DIREITOS E O DESCASO SOCIAL

69
70
2 1 Imprecisões comuns em re-
dações de vestibular: propos-
ta temática e coletânea

L C
ENTRE
FRASES
72
Imprecisões comuns em redações de vestibular:
proposta temática e coletânea

1. Leitura do recorte temático


Uma das falhas mais graves e mais comuns das redações é a má interpretação do recorte temático proposto,
o que leva à fuga ou ao tangenciamento do tema. Isso ocorre, muitas vezes, pela inexperiência do candidato ou por
sua falta de atenção quanto à importância da leitura nessa etapa na prova.
O recorte temático, somado aos textos da coletânea, tem a função de delimitar quais são as diretrizes
escolhidas pela banca para abordar o assunto. Dentre várias possibilidades de discussão, escolhe-se uma vertente,
geralmente restrita, que determina as principais relações a serem estabelecidas pelos candidatos. Prova dessa deli-
mitação pode ser vista nas redações nota mil do ENEM, em que boa parte dos autores escolhem argumentos muito
parecidos e próximos produzidos a partir da leitura atenta do recorte temático e da coletânea.
Quando essa leitura atenta não é realizada, os alunos podem fugir ou tangenciar o tema. A fuga total do
tema, que anula as redações em praticamente todos os exames, ocorre quando o candidato desenvolve uma ideia
que não foi proposta pela banca, isto é, aborda um viés que não está proposto nem pelo recorte, e pouco ou nada
proposto pela coletânea. A fuga parcial ocorre quando uma parte do recorte está contemplada, mas o texto ainda
traz argumentos que sustentem outra direção de análise. Embora ela não anule a redação, o candidato tem sua
nota seriamente comprometida.
Leia a observação que o prório INEP realiza a respeito da questão:
O tema constitui o núcleo das ideias sobre as quais a tese se organiza e é caracterizado por ser a delimi-
tação de um assunto mais abrangente. Por isso, é preciso atender ao recorte temático definido para evitar
tangenciá-lo ou, ainda pior, desenvolver um tema distinto do determinado pela proposta.
Redação no Enem 2018 - Cartilha do participante

Como resolver?

Para não fugir ao recorte temático proposto nos exames, é possível criar algumas estratégias:

1) TRANSFORMAR A PROPOSTA EM UMA OU MAIS PERGUNTAS;


Recorte temático Perguntas
Manipulação do comportamento do usuário Por que essa manipulação ocorre?
pelo controle de dados na internet Como essa manipulação é feita?
Quais são os caminhos? Por que eles não funcionam?
Caminhos para combater o racismo no Brasil
Por que ainda é preciso combater?
A persistência da violência contra a mulher na Por que a violência persiste?
sociedade brasileira Por que a tentativa de resolver não adiantou?
Demarcação de terras indígenas: entre o direi- Como a demarcação das terras é vista pelos povos?
to dos povos indígenas e o desenvolvimento E pelo agronegócio? Há um desequilibro na relação
do agronegócio no Brasil entre essas instâncias?

73
2) IDENTIFICAR AS PALAVRAS-CHAVES DO RECORTE TEMÁTICO E REFLETIR A RESPEITO DELAS
Recorte temático Palavras-chave
§§ Manipulação do comportamento (a mais impor-
Manipulação do comportamento do usuário
tante)
pelo controle de dados na internet
§§ Controle de dados (secundária)
§§ Caminhos
Caminhos para combater o racismo no Brasil §§ Combate ao racismo
§§ Brasil
§§ Persistência
A persistência da violência contra a mulher na
§§ Violência contra a mulher
sociedade brasileira
§§ Sociedade Brasileira
Demarcação de terras indígenas: entre o direi- §§ Demarcação
to dos povos indígenas e o desenvolvimento §§ Direito dos povos
do agronegócio no Brasil §§ Desenvolvimento do agronegócio

2. Leitura da coletânea
Outro erro comum cometido pelos alunos é deixar de ler a coletânea. Não se deve esquecer que a prova de
redação pressupõe a leitura e a compreensão dos textos, o que torna esta etapa obrigatória.
Além disso, erram também aqueles que optam apenas por trabalhar as ideias presentes em um dos textos,
sem atentar às discussões abordadas pelos outros. Geralmente, as bancas separam os textos em mais ou menos
fáceis de serem compreendidos, e, portanto, passam a avaliar melhor o candidato que conseguiu abordar as pro-
blemáticas desenvolvidas na maioria desses textos.

Como resolver?

§§ Partindo da leitura do recorte temático, procure ler a coletânea respondendo às perguntas realizadas;
§§ Destaque as informações mais relevantes (dados, exemplos, posicionamentos, leis, etc.)
§§ Procure estabelecer relações entre eles; compare-os. Se possível, escreva algumas orações para organizar
essa comparação.

NÃO SE ESQUEÇA DAS ETAPAS:


A) Brainstorm – Anote seu repertório pessoal e outros exemplos que vierem à cabeça e defina sua tese;
B) Seleção das ideias que serão discutidas – Avalie criteriosamente quais informações entrarão no texto;
C) Criar uma lista organizada – Organize seu texto num planejamento separado por tópicos a serem transfor-
mados em parágrafos.

3. Citação da coletânea (paráfrase)


Ao se valer da coletânea para compor seus argumentos, os alunos precisam estar atentos ao modo como as
informações ali presentes devem ser inseridas na redação. A maior parte das bancas examinadoras repudia a cópia
integral dos textos, já que ela não apresenta uma compreensão e apropriação autoral das informações oferecidas.
Convém ressaltar que não se deve fazer referências diretas à forma de exposição da coletânea, e sim citar o
texto como se ele fosse uma informação proveniente do repertório de informações do próprio candidato. Cabe ao

74
aluno compreender e interpretar os dados, inserindo-os em seu texto, caso julgue necessário. Uma boa dica para
tal situação, é o emprego de paráfrases.
Veja os exemplos:

PROBLEMAS REFERÊNCIAS INADEQUADAS REFERÊNCIAS ADEQUADAS


De acordo com reportagem pu-
REFERÊNCIA INCORRETA Segundo o texto 2...
blicada no Jornal O Globo, ...
Conforme se observa no gráfico Segundo dados do IBGE, 40% da
REFERÊNCIA INCORRETA
apresentado... população...
CÓPIA INTEGRAL
Lucas de Oliveira Souza, gradu-
Coletânea: "Nessa área de in-
ado em redes de computadores,
formática são necessárias muitas Para Lucas de Oliveira Souza,
afirma: "Nessa área de informá-
certificações, além da graduação. formado em redes de computa-
tica são necessárias muitas certi-
Se você só tem o básico, eles dores, as empresas discriminam
ficações, além da graduação. Se
olham com discriminação "Lucas os que possuem pouca formação.
você só tem o básico, eles olham
de Oliveira Souza, graduado em
com discriminação"
redes de computadores

4. Interpretações de dados estatísticos


Outro deslize comum nas redações do vestibular é a interpretação equivocada de gráficos e dados estatísti-
cos. Às vezes, os alunos extrapolam as inferências possíveis de serem feitas e constroem informações impertinentes
em relação aos textos apresentados. Portanto, é preciso cuidado ao analisar os dados disponíveis, cuidando em
reproduzir apenas os elementos prováveis dentro de uma estatística.
OBS: Jamais invente dados estatísticos! Esse recurso – além de impertinente, dada a sua falsa natureza – é
malvisto aos olhos do corretor.

INTERPRETAÇÃO INTERPRETAÇÃO
PROBLEMAS COLETÂNEA
INADEQUADA ADEQUADA
A maioria dos usuá-
GENERALIZAÇÃO 95% dos usuários... Todos os usuários...
rios...
Aproximadamente um
35 % dos eleitores ad-
65% não admiram a terço dos eleitores ad-
EXTRAPOLAÇÃO miram a ação do pre-
ação do prefeito... miram a ação do pre-
feito
feito.

75
Aula 21 - O conhecimento e a ciência em discussão
ACERVO
TEXTO 1
Por que as pessoas se apaixonam por pseudociências (e como os acadêmicos podem lutar contra isso)

Vieses cognitivos arraigados são a causa da crença em pseudociências, assim como o esnobismo invertido sobre o privilégio educa-
cional. Mas devemos lutar contra isso, diz cientista.

A pseudociência está em toda parte – na parte de trás do seu frasco de xampu, nos anúncios que aparecem em seu feed
do Facebook (e aos montes na internet), na TV, no nosso dia dia. Declarações ousadas em jargão científico multi-silábico dão a falsa
impressão de que elas estão apoiadas por pesquisas de laboratório e fatos concretos.
Pulseiras magnéticas que afirmam melhorar o seu desempenho esportivo, carboidratos que engordam, e todo o tipo de
comida que pode dar câncer.
Claro, nós cientistas aceitamos que às vezes as pessoas acreditam em coisas que não concordamos. E isso é bom. Ciência
está cheio de pessoas que não concordam com as outras. Se todos nós pensarmos exatamente da mesma maneira, poderíamos nos
aposentar e invocar a verdade do status quo.
Mas quando pessoas usam de práticas pseudocientíficas perigosas, como por exemplo, práticas de medicina alternativa e

homeopatia, é preciso intervir, entretanto, isto é um trabalho demasiado difícil. Mas, por quê?
Nações como o Reino Unido, por exemplo, tem um histórico de desconfiança da “elite social” e dos acadêmicos que estão
incluídos sob esse rótulo de privilégio. Muitas pessoas se irritam com a ideia de ouvir aqueles com graus elevados “corrigindo” os
menos privilegiados educacionalmente.

Acadêmicos têm uma reputação de serem arrogantes, condescendentes e intolerantes com aqueles cujas especialidades
diferem das suas. “Mas, para todos os acadêmicos esnobes que conheci, tem havido muitos humildes, envolventes, entusiastas que
amam o que fazem e gostam de falar sobre suas pesquisas.”, disse Sian Townson, doutora em bioquímica.
No entanto, quando um acadêmico/cientista inicia uma pesquisa, ele deverá lutar contra uma crença existente e contra
uma série de vieses cognitivos. Não acadêmicos também podem cair nestas armadilhas mentais. Listamo abaixo alguns exemplos
de vieses:
§§ Falácia dos custos irrecuperáveis é a razão pela qual as pessoas que já tenham desperdiçado dinheiro em bilhetes
para um péssimo filme também desperdiçam sua noite assistindo. Pode ser a razão que as pessoas comem certos alimentos,
mesmo que sejam ruins, ou se casam quando o relacionamento já se desgastou – é o desejo de justificar decisões anterio-
res usando o próximo. E isso significa que se as pessoas apostam em uma crença por muito tempo, e investem energia
e amor nas mesmas. Quanto maior o tempo de “investimento” em uma determinada crença ou pseudociência, mais forte
será a “pressão interna” para continuar acreditando. A falácia do custo irrecuperável é um tipo de erro sistemático mental
que é estudado tanto pela Psicologia Econômica quanto pela Economia Comportamental, mas também pode explicar o
apego às pessoas a certas crenças.
§§ Juntamente com o nosso amor por crenças, está o fato de sermos viciados em padrões, e dar sentido ao mundo no pro-
cesso de busca por estes padrões. Isso nos leva ao viés de confirmação e seleção: procuramos evidências para apoiar
uma determinada teoria, e ignoramos evidências que mostram o contrário. Dadas as milhões de coisas individualmente
observáveis que lhe acontecem todos os dias, é fácil escolher uma para provar uma ideia que você já tenha se apegado,
seja por superstição ou estereótipo.
§§ A vida cotidiana traz uma série de dados e, por vezes, o seu subconsciente resume-os de forma errada, e acabam fazendo
com que você possa cair na ilusão de agrupamento. A ilusão de agrupamento funciona da mesma forma que o fenômeno
da pareidolia, mas, ao invés de nosso cérebro enxergar padrões em imagens, ele enxerga padrões em pontos aleatórios ou

76
um aglomerado de pontos. Mas nossa tendência a enxergar padrões e impor uma ordem a dados aleatórios, torna esses
aglomerados muito sedutores. Esta ilusão podem nos levar a identificar padrões que não existem, e isto pode ocorrer no
nosso dia a dia de maneira mais comum do que possa imaginar. Por exemplo, foi identificado que, uma determinada região
caíram cerca de 5 meteoritos em um intervalo de 10 anos, em uma região de 5 km quadrados. Um grupo de “caçadores
de meteoritos” imediatamente irá fazer uma busca neste local e montar um acampamento a espera que caiam mais me-
teoritos. Eles, na verdade, caíram na ilusão de agrupamento, uma vez que meteoritos podem cair em qualquer lugar da
superfície do planeta e nunca em locais específicos.

§§ O Efeito Dunning-Kruger foi brutalmente resumido por Darwin como “ignorância gera confiança”. Quanto menos você
souber, mais provável você se tornará um “perito no assunto”. Por outro lado, quanto mais você sabe, o mais provável
que você a duvide de sua própria competência. Isto significa que algumas pessoas têm superiorida-
de ilusória, e alguns especialistas não conseguem explicar como eles conseguem convencer outras
pessoas (e eles mesmo) disso.
“Sempre que houver dinheiro envolvido, a ciência é jogada pela janela.” disse Christian Behrenbruch, professor do RMIT
University e que dedica pelo menos três horas por dia para combater a pseudociência.
“Por exemplo, muitas pessoas que investem dinheiro em pequenas empresas públicas geralmente não possuem o co-
nhecimento científico necessário e acabam caindo em seus próprios vieses cognitivos – uma vez que eles se viciam, continuarão
viciados.”
“A outra área é a saúde. Quando um paciente está com uma doença com poucas chances de cura e com cujas condições

de tratamento estão ficando cada vez mais escassas, a tendência a tentar qualquer tratamento alternativo, como a homeopatia e
outros métodos pseudocientíficos. A parte confusa desta equação é o conceito de esperança humana – e que, infelizmente, é o que
mina a ciência cada vez mais. Esperamos que algo funcione, acreditamos que algo vai funcionar.”
https://universoracionalista.org/por-que-pessoas-se-apaixonam-por-pseudociencias-
-e-como-os-academicos-podem-lutar-contra-isso/ (03.11.2017)

TEXT'O 2

Cientistas criam instituto para combater gastos públicos em 'pseudociências'


Dança de roda, homeopatia e outras 27 práticas contempladas pelo SUS, mas sem comprovação científica, serão fiscalizadas pela
instituição; iniciativa será lançada nesta quinta-feira e tem apoio de nomes como Drauzio Varella

RIO — Combater o gasto de dinheiro público em práticas sem eficácia comprovada marcará o início do trabalho do primei-
ro instituto brasileiro dedicado à defesa da sociedade contra pseudociências, denominação que engloba tudo aquilo que se veste de
científico embora fracasse em provar eficiência. São 29 casos, que vão da homeopatia a banhos inspirados em práticas dos homens
das cavernas ao observar animais feridos e hoje pagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Instituto Questão de Ciência (IQC)
será lançado nesta quinta-feira, dia 22, em São Paulo, e reúne integrantes da comunidade científica e dos hospitais Albert Einstein
e Sírio-Libanês, além de pró-reitores de pesquisa de USP, Unesp e Unicamp.
O IQC já nasce com o apoio de nomes reconhecidos como os médicos Drauzio Varella e Paulo Saldiva — que é diretor do
Instituto de Estudos Avançados da USP —, o químico Walter Colli e o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel.
À frente do instituto estarão a bióloga da USP e pós-doutora em microbiologia e genética molecular Natalia Pasternak
Taschner, o diretor do Instituto de Física Teórica da Unesp Marcelo Yamashita, o jornalista e escritor de divulgação científica Carlos
Orsi e o psicólogo e advogado Paulo Almeida, organizador do TEDxUSP.
A meta inicial é convencer o governo a deixar de obrigar o SUS a pagar por 29 práticas alternativas, como imposição de
mãos, dança circular e homeopatia. O IQC lançará um manual de informação sobre essas práticas com orientações de como detectar
quando uma terapia não consegue cumprir aquilo o que promete. A inspiração são entidades dos EUA (Center for Inquiry) e Reino
Unido (Sense about Science).

77
— Faltam recursos para diminuir as filas de atendimento de pacientes com câncer, doenças cardíacas e diabetes, ou para
melhorar as emergências. Mas há dinheiro para pagar por métodos incapazes de provar que funcionam (essas práticas). Isso é
socialmente injusto — condena Taschner. — Não se trata de proibir. O cidadão tem todo o direito de acreditar no que quiser. E se
desejar gastar o próprio dinheiro para se tratar com pílulas inertes, pedrinhas, flores, que o faça. Mas não é justo que o contribuinte
pague por isso. O dinheiro público, tão escasso, precisa ser usado com responsabilidade, com técnicas que comprovem sua eficácia,
por meios passíveis de verificação.
O IQC terá ainda um Observatório da Pseudociência, um serviço público e gratuito de fact-checking científico. Vai analisar
declarações de autoridades, celebridades, figuras públicas, anúncios publicitários e conteúdos jornalísticos. Gêmea siamesa das fake
news, a fake science prolifera enraizada na falta de conhecimento. A comprovação científica tem princípios de fácil entendimento.
Para provar que funciona, um método precisa que seus resultados e eficácia sejam mensuráveis e reproduzíveis. Alavancadas por
propagandas de celebridades e promessas de cura daquilo que é incurável, muitas pessoas são iludidas.
— O ser humano tem uma propensão natural de procurar soluções fáceis e mágicas, sem danos e ação rápida — avalia
Taschner. — Mas esse é o mundo dos milagres. Não o da vida real. O direito individual a essa busca não deve ser tolhido. Mas
os governos precisam empregar os recursos que captam do cidadão de forma racional, pagar por resultados e não por crenças e
promessas.
O Reino Unido, no qual o SUS é inspirado, e a Austrália baniram do sistema público de saúde terapias alternativas e práticas
que não conseguem comprovar eficácia, tais como homeopatia, cromoterapia e florais de Bach.
A Espanha lançou na semana passada um Plano Nacional de Proteção da Saúde contra pseudoterapias. O plano prevê a
eliminação das práticas não comprovadas dos serviços de saúde e os estabelecimentos privados que os oferecerem não poderão
se denominar centros de saúde. Em setembro, a Espanha pediu à União Europeia uma legislação mais dura contra a homeopatia.
O Brasil tem seguido na direção contrária. Há 12 anos o SUS paga pelas chamadas práticas integrativas. Em março deste
ano o então ministro da Saúde, o engenheiro Ricardo Barros, anunciou a inclusão de mais dez práticas ao SUS e disse que o Brasil
era líder na área, com 29 práticas integrativas oferecidas pelo SUS em 9.350 estabelecimentos em 3.173 municípios.
De fato, só o Brasil tem na lista das práticas pagas pelo poder público o uso de lama para facilitar o contato com o “Eu
interior” (geoterapia), dança de roda (dança circular) e passes “para a transferência de energia vital (Qi, prana) por meio das mãos”
(imposição de mãos), por exemplo.
O Brasil já financiou também pesquisas com a fosfoetanolamina, que fracassou ao ser testada em tratamento contra o
câncer. O caso é emblemático, observa Taschner, porque os pacientes que recorreram a essa substância deixaram de receber terapias
adequadas.
— Uma pessoa com câncer que deixa de se tratar com uma terapia testada e passa a recorrer a uma pseudocura perde
chance real de melhorar. Mesmo que o procedimento em si não seja tóxico, estará lhe roubando tempo de tratamento contra uma
doença em que cada dia faz diferença — destaca ela.
https://oglobo.globo.com/sociedade/cientistas-criam-instituto-para-combater-
-gastos-publicos-em-pseudociencias-23247547 (21.11.2018)

TEXTO 3

Alerta máximo contra as pseudociências


Crenças podem trazer prejuízos à vida de todos

Qual o problema de usar homeopatia contra o resfriado comum? Parece inofensivo. Consultar o horóscopo antes de sair
de casa, também. A situação fica um pouco mais nebulosa, porém, quando se tenta tratar uma doença grave à base de preparados
homeopáticos ou quando um trabalhador perde o emprego porque seu mapa astral é "incompatível" com o do chefe.
Muitas vezes envoltas numa aura afável de curiosidade inócua, pseudociências --crenças que reivindicam, de modo ile-
gítimo, o mesmo grau de confiabilidade das ciências-- podem prejudicar, de modo perverso, a vida de todos e também o planeta.

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O perigo se revela, por exemplo, quando indústrias ou setores específicos da sociedade, por motivos religiosos, políticos ou
econômicos, articulam-se para tirar proveito do baixo conhecimento que a população tem de como a ciência é feita, e também do
grande nível de desinformação presente no meio virtual.
Com a crescente polarização social, há cada vez mais políticos e influenciadores que propagam ideias pseudocientíficas,
ou até anticientíficas, utilizando, para tanto, estratégias conhecidas, que vêm sendo aprimoradas ao longo dos séculos, e que agora
ganham eficácia extra graças à internet e às novas formas de interação social.
Em seu livro "O Mundo Assombrado pelos Demônios", de 1995, Carl Sagan oferece um "kit de detecção de bobagens",
composto por oito estratégias para analisar criticamente alegações que se pretendem científicas.
Sagan, assim como outros autores, sugere que há elementos comuns que aparecem no discurso e na posição dos propa-
gadores de pseudociências. Aqui, oferecemos um quarteto de indicadores:
Evidência negativa: quando os argumentos a favor de uma ideia se resumem, exclusivamente, a alegações sobre erros, reais
ou imaginários, que existiriam nas ideias dos outros. Ainda que todos os outros estejam mesmo errados, isso não significa que a
opção oferecida é correta. Ela pode até estar mais errada que as demais.
Correlação e causa: apontar que, porque uma coisa varia de modo semelhante a outra, é causada pela outra. Isso nem
sempre é verdade: existem inúmeros exemplos de fenômenos desconexos que variam de modo similar durante algum tempo --por
exemplo, de 1999 a 2009 o número de mortes por afogamento em piscinas, nos EUA, seguiu a mesma tendência que o número de
filmes estrelados por Nicholas Cage.
Exemplos escolhidos a dedo: apresentar apenas casos que parecem confirmar suas ideias. Nenhum procedimento, estra-
tégia ou tratamento funciona em 100% das vezes. Quando o assunto é ciência, quem não leva as falhas em consideração, ou as
esconde na hora de apresentar resultados, é incompetente ou desonesto.
Apelo à antiguidade: alegar que uma ideia ou procedimento é adequado porque é usado há séculos. A história está repleta
de bobagens que sobreviveram ao teste das gerações, da teoria de que a Terra fica no centro do Universo ao uso de sangrias para
combater doenças infecciosas.
Essas táticas em geral vêm acompanhadas de linguagem rebuscada, frases de efeito e uma retórica que, direta ou indireta-
mente, acusa os críticos de serem parte de alguma grande conspiração. Hoje, não é difícil identificar quem usa, de modo sistemático,
tais ferramentas.
E as consequências podem ser graves. No Brasil, dinheiro público é desperdiçado em tratamentos de saúde que se baseiam
apenas em falsas correlações, na antiguidade e em exemplos escolhidos a dedo. A negação do aquecimento global e o criacionismo
se baseiam em evidência negativa. O movimento antivacina, movido a teorias da conspiração, leva ao ressurgimento de doenças.
Como, ao contrário da ciência legítima, pseudociências não têm compromisso com a realidade, elas se moldam com facili-
dade às preferências do público e ao espírito dos tempos. Isso as torna atraentes. Escapar dessa atração pode não ser fácil, mas é
cada vez mais necessário, pelo bem de nossa sociedade.
Marcelo Knobel - Reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) desde abril de 2017 e físico/ Carlos Orsi Jorna-
lista e diretor do Instituto Questão de Ciência

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2019/01/alerta-maximo-contra-as-pseudociencias.shtml (Janeiro de 2019)

TEXTO 4
'Einstein e Newton estavam errados': estimulada por políticos nacionalistas, 'pseudociência' avança
na Índia

Palestrantes de uma importante conferência realizada na Índia bateram de frente com a comunidade científica ao apresen-
tar uma série de teorias irracionais durante o evento.
Enquanto alguns acadêmicos indianos contestaram descobertas de Isaac Newton e Albert Einstein, outros argumentaram
que os antigos hindus inventaram a pesquisa com células-tronco.

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A mitologia hindu e as crenças religiosas estão cada vez mais presentes na agenda de discussões do Congresso Científico
Indiano, que acontece anualmente, indicando o avanço da chamada pseudociência.
Mas, de acordo com especialistas, as declarações feitas durante a 106º edição do evento, iniciada no dia 03 e encerrada
hoje, foram especialmente absurdas.
O diretor de uma universidade do sul do país citou um antigo texto hindu como prova de que a pesquisa com células-tronco
foi descoberta na Índia há milhares de anos.
Outro cientista de uma universidade no Estado de Tamil Nadu, no sul do país, afirmou aos participantes da conferência que
Isaac Newton e Albert Einstein estavam errados.
KJ Krishnan teria dito que Newton falhou em "entender as forças gravitacionais repulsivas" e que as teorias de Einstein
eram "enganosas".
Segundo ele, as ondas gravitacionais deveriam ser chamadas de "Ondas de Narendra Modi", uma referência ao primeiro-
-ministro do país.

Séria preocupação

A Associação Indiana de Congressos Científicos manifestou uma "séria preocupação" com as observações.
"Não concordamos com suas opiniões e nos distanciamos de seus comentários. Isso é lamentável", disse Premendu P.
Mathur, secretário-geral da entidade, à agência de notícias AFP.
"Há uma séria preocupação com esse tipo de declaração por parte de pessoas responsáveis", acrescentou.
De acordo com os críticos, embora os textos antigos devam ser lidos e apreciados, é um contrassenso sugerir que eles
representam a ciência.

O avanço da 'pseudociência'

O jornalista Soutik Biswas, correspondente da BBC News em Déli, na Índia, lembra que o país tem uma relação confusa
com a ciência.
"Por um lado, tem uma rica tradição de cientistas de destaque - o Bóson de Higgs, também conhecido como a 'partícula de
Deus', recebeu parte do nome em homenagem ao físico indiano Satyendra Nath Bose, contemporâneo de Einstein."
"O físico Ashoke Sen ganhou, por sua vez, o Fundamental Physics Prize, considerado um dos prêmios acadêmicos mais
respeitados do mundo", destaca.
Mas, segundo ele, o país também tem uma longa tradição de substituir a ciência por mitos, o que leva à cultura da pseu-
dociência.
"Muitos acreditam que, sob a gestão do partido nacionalista hindu BJP, do primeiro-ministro Narendra Modi, a pseudoci-
ência avançou da marginalidade para o 'mainstream'."
"O próprio Modi deu o tom em 2014 quando declarou que a cirurgia estética era praticada na Índia há milhares de anos",
completou.
Também em 2014, Modi afirmou em um encontro com profissionais de saúde em um hospital de Mumbai que a história
do deus hindu Ganesha - cuja cabeça de elefante está presa a um corpo humano - mostra que a cirurgia estética existia na Índia
na antiguidade.
Muitos ministros seguiram o exemplo dele fazendo declarações semelhantes.
No ano passado, o ministro da Educação, Satyapal Singh, disse em uma cerimônia de premiação de engenharia que os
aviões foram mencionados pela primeira vez no épico hindu Ramayana.
E que o primeiro avião a voar foi inventado por um indiano chamado Shivakar Babuji Talpade, antes dos irmãos Wright e
de Santos Dumont.
Em janeiro de 2017, o secretário da Educação do Estado de Rajastão, no oeste do país, declarou que era importante "en-
tender o significado científico" da vaca, já que era o único animal do mundo a inspirar e expirar oxigênio.
A principal cúpula científica da Índia também começou a convidar acadêmicos com inclinações nacionalistas hindus que

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fizeram afirmações igualmente bizarras.
"Essas alegações geralmente remontam a um passado hindu imaginário glorioso para reforçar o nacionalismo religioso. O
BJP e seus aliados linha dura misturaram por um longo tempo mitologia e religião para reforçar o hinduísmo político e o naciona-
lismo. Ao acrescentar ciência à mistura, dizem os críticos, só ajuda a propagar a ciência charlatã e corroer o pensamento científico",
explica o jornalista Soutik Biswas.
"Além disso, como diz o economista Kaushik Basu: 'Para uma nação progredir, é importante que as pessoas dediquem
tempo à ciência, matemática e literatura, em vez de gastar tempo mostrando que há cinco mil anos seus ancestrais faziam ciência,
matemática e literatura'", acrescenta.
https://www.bbc.com/portuguese/geral-46780542 (07.01.2019)

É IMPORTANTE SABER
I. DADO ESTATÍSTICO RELEVANTE

O Brasil tem seguido na direção contrária. Há 12 anos o SUS paga pelas chamadas práticas integrativas. Em
março deste ano o então ministro da Saúde, o engenheiro Ricardo Barros, anunciou a inclusão de mais dez
práticas ao SUS e disse que o Brasil era líder na área, com 29 práticas integrativas oferecidas pelo SUS em
9.350 estabelecimentos em 3.173 municípios.
https://oglobo.globo.com/sociedade/cientistas-criam-instituto-para-combater-
-gastos-publicos-em-pseudociencias-23247547 (21.11.2018)

II. ARGUMENTO DE AUTORIDADE


Enquanto a ciência convence pela razão, a pseudociência o faz pela repetição.
Cleanto Rogério Rego Fernandes Secretário Regional Adjunto Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
https://nossaciencia.com.br/artigos/as-diferencas-entre-ciencia-e-pseudociencia/

A ignorância gera confiança com mais frequência do que o conhecimento: são aqueles que sabem pouco,
e não aqueles que sabem muito, que tão positivamente afirmam que esse ou aquele problema jamais será
resolvido pela ciência.
Charles Darwin.

III. EXEMPLOS DO COTIDIANO

Palestrantes de uma importante conferência realizada na Índia bateram de frente com a comunidade cientí-
fica ao apresentar uma série de teorias irracionais durante o evento.

Enquanto alguns acadêmicos indianos contestaram descobertas de Isaac Newton e Albert Einstein, outros
argumentaram que os antigos hindus inventaram a pesquisa com células-tronco.

A mitologia hindu e as crenças religiosas estão cada vez mais presentes na agenda de discussões do Con-
gresso Científico Indiano, que acontece anualmente, indicando o avanço da chamada pseudociência.

81
IV. ATORES OU SITUAÇÕES QUE PODEM SER MOBILIZADOS NA DISCUSSÃO DO TEMA (PROPOSTA ENEM)
AMPLIAÇÃO DE CANAIS DE COMUNICAÇÃO COM SELO DE QUALIDADE
A maior comunidade de divulgação científica da internet brasileira completa três anos de existência entrando
em nova fase, que começa a partir do dia 16 de maio. Somando hoje quase meio bilhão de visualizações e
quase 8 milhões de inscritos no YouTube, os canais com o selo SVBR (Science Vlogs Brasil) passarão a atrair
novos colaboradores com o objetivo de aumentar ainda mais seu alcance e ajudar o público na busca por
informação de qualidade e cientificamente embasada na web.
Criado como contraponto à recente onda de fake news e pseudociência no YouTube e em outras plata-
formas digitais, o SVBR tinha como missão inicial realizar a curadoria de canais com conteúdo científico e
conferir a eles um selo de qualidade e confiabilidade. A reunião dos canais numa grande comunidade, no
entanto, fomentou as colaborações entre os integrantes do selo e levou ao crescimento expressivo das ini-
ciativas, inclusive as que começaram praticamente do zero.
Desde a criação do SVBR, canais-membros como Ponto em Comum e BláBláLogia, por exemplo, saltaram de
poucas centenas ou nenhum inscrito para 150 mil e 170 mil seguidores, respectivamente. Outro campeão
de audiência com o selo, o Ciência Todo Dia, saiu de 100 mil inscritos em 2016 para 730 mil em maio de
2019. A comunidade inclui ainda pesos-pesados já tradicionais da divulgação científica do YouTube no país,
como o Canal do Pirula (quase 800 mil inscritos), Matemática Rio (1,5 milhão de assinantes) e Schwarza -
Poligonautas (quase 900 mil seguidores).
https://portal.if.usp.br/ifusp/pt-br/not%C3%ADcia/svbr-science-vlogs-brasil-entra-em-nova-fase (31.05.2019)

A diversidade de temas e perspectivas é outro ponto forte da iniciativa, que abrange tanto áreas tradicionais
das ciências naturais (astronomia, física, biologia) quanto ciências humanas (história, arqueologia, antropo-
logia) e um forte interesse por aspectos da cultura pop. Também se misturam nos canais jovens cientistas,
professores de ensino médio e jornalistas de ciência.

VII. CITAÇÃO

A) Conhecer é passar da aparência à essência, da opinião ao conceito. Do ponto de vista individual à ideia
universal.
Sócrates – Filósofo ateniense. (Sua obra é conhecida pelo relato de seus discípulos Aristóteles e Xenofonte)

B) Se os fatos são contra mim, pior para os fatos.


Nelson Rodrigues.

82
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Cuidado com as pseudociências | Coluna #112

Fonte:DrauzioVarella

Vídeo Science Vlogs Brasil

Fonte:Youtube

Filme O Fiel Jardineiro

O reservado diplomata britânico Justin Quayle se muda para o Quênia com sua
adorável jovem esposa Tessa, uma ativista pela justiça social. Quando Tessa é encon-
trada morta no deserto, as circunstâncias apontam para seu amigo, Dr. Arnold Bluhm,
mas é logo esclarecido que ele não é o assassino. De luto e zangado, Justin se pre-
para para descobrir a verdade por trás do assassinato e, no processo, ele desenterra
algumas revelações perturbadoras.

84
LER

Livros
O mundo assombrado pelos demônios – Carl Sagan
Professor de astronomia e ciências espaciais na Cornell University é autor
de dezenas de livros e artigos, o norte-americano Carl Sagan dedicou a vida
ao desenvolvimento e divulgação da ciência, recebendo diversos prêmios e
medalhas por essa contribuição. Preocupado com o vírus do analfabetismo
científico, que faz com que hoje muitos acreditem em explicações místicas
e ficções, Sagan reafirma o poder positivo e benéfico da ciência e da tec-
nologia, revidando com informações surpreendentes, transmitidas de forma
clara e irreverente.

Ciência e pseudociência – Ronaldo Pilati


Você, ser racional, já se pegou acreditando em superstições ou qualquer
coisa sem nenhuma evidência científica? Pois é, isso é muito mais comum
do que se imagina, pois somos máquinas de crenças, que antes de anali-
sar criticamente, acreditamos ou desacreditamos de forma automática e só
mais tarde procuramos raciocinar sobre a questão. E como combater essa
tendência e não passar vexame espalhando fake news por aí? A resposta
está neste livro do psicólogo e pesquisador Ronaldo Pilati: adquirir uma
postura científica de compreensão do mundo. Nestes tempos de excesso
de informações, muitas delas falsas, esta obra serve como um guia para se
aprender como avaliar criticamente aquilo que se lê e que se ouve por aí
sob o nome de “científico”. Esta obra fará você rever suas crenças. E sua
vida.

85
Proposta ENEM
TEXTO 1
Em carta aberta publicada na internet, o Conselho Federal de Psicologia do Brasil (CFP) criticou a novela O
Outro Lado do Paraíso, exibida pela Rede Globo, em especial o núcleo que envolve a personagem Laura, vivida por
Bella Piero. Antes, algumas cenas de internação já haviam gerado revolta entre psiquiatras. Na trama, Laura tem
dificuldades para ter intimidades com seu marido, Rafael, por conta de abusos sexuais que sofreu de seu padrasto
na infância. Ela busca ajuda profissional. Mas, em vez de ir a um psicólogo, procura sessões de hipnose e coaching,
o que é desaprovado pelo Conselho.
Na carta, a entidade reconhece que se trata de uma obra de ficção, mas que ainda assim é capaz de “formar
opinião” e presta um “desserviço à população brasileira ao tratar com simplismo e interesses mercadológicos” o
sofrimento da personagem, que foi abusada sexualmente em sua infância.
https://www.correiodoestado.com.br/variedades/abordagem-sobre-hipnose-e-coaching-em-novela-e-criticada/321147/ (09.02.2018)

TEXTO 2
Combater o gasto de dinheiro público em práticas sem eficácia comprovada marcará o início do trabalho
do primeiro instituto brasileiro dedicado à defesa da sociedade contra pseudociências, denominação que engloba
tudo aquilo que se veste de científico embora fracasse em provar eficiência. São 29 casos, que vão da homeopatia
a banhos inspirados em práticas dos homens das cavernas ao observar animais feridos e hoje pagas pelo Sistema
Único de Saúde (SUS). O Instituto Questão de Ciência (IQC) será lançado nesta quinta-feira, dia 22, em São Paulo,
e reúne integrantes da comunidade científica e dos hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês, além de pró-reitores
de pesquisa de USP, Unesp e Unicamp.
Faltam recursos para diminuir as filas de atendimento de pacientes com câncer, doenças cardíacas e diabe-
tes, ou para melhorar as emergências. Mas há dinheiro para pagar por métodos incapazes de provar que funcionam
(essas práticas). Isso é socialmente injusto — condena Natalia Pasternak Taschnera, bióloga da USP e pós-doutora
em microbiologia e genética molecular. — Não se trata de proibir. O cidadão tem todo o direito de acreditar no que
quiser. E se desejar gastar o próprio dinheiro para se tratar com pílulas inertes, pedrinhas, flores, que o faça. Mas
não é justo que o contribuinte pague por isso. O dinheiro público, tão escasso, precisa ser usado com responsabili-
dade, com técnicas que comprovem sua eficácia, por meios passíveis de verificação.
https://oglobo.globo.com/sociedade/cientistas-criam-instituto-para-combater­-
-gastos-publicos-em-pseudociencias-23247547 (21.11.2018)

86
TEXTO 3

https://es.olx.com.br/flor-do-espírito-santo/livros-e-revistas (Acessado em 14.06.19)

TEXTO 4
Nas mais diversas áreas, existem pessoas mal intencionadas e aproveitadores. Quando envolvemos ciência
e, especialmente saúde, pode ser muito difícil identificar se uma informação, tratamento ou profissional são de fato
éticos e estão embasados em evidências sólidas. Chamo de evidências sólidas resultados de pesquisas científicas
com alto rigor metodológico, isto é, avaliações realmente justas e bem feitas de uma determinada intervenção.
Abaixo, alguns indícios que sugerem que você está sendo enganado.
1- Retórica: o processo de tomada de decisão compartilhado entre médico e paciente é uma das prerroga-
tivas da Medicina atual. Para que uma pessoa possa optar entre este ou aquele procedimento é importante que
seja informada de maneira clara e compreensível. Linguagem excessivamente técnica muitas vezes é usada como
artifício para induzir o paciente a escolhas menos corretas, já que este é levado a acreditar que o profissional de
saúde detém conhecimento de ponta, quando não é verdade.
2- Pseudotítulos: no Brasil, médicos se tornam especialistas após realizarem estágio supervisionado em
programas de residência médica ou através de provas de título rigorosas ministradas por sociedades médicas re-
conhecidas pelo Conselho Federal de Medicina. Não raro, maus profissionais apresentam "pseudotítulos", isto é,
titulação conferida por "sociedades" não reconhecidas, muitas vezes criadas por eles próprios.
3- Falta de rigor científico: o método científico é rigoroso e hierarquiza os estudos de acordo com sua quali-
dade metodológica e força de evidência. Isto quer dizer que a conclusão de um estudo feito numa cultura de células
não tem o mesmo peso que a conclusão de um estudo realizado em grande número de pessoas. O mesmo serve
para estudos metodologicamente bem feitos e mal feitos. É comum que estudos ruins e de baixa qualidade sejam
usados para justificar as opiniões pessoais do mau profissional. Assim como estudos robustos e bem desenhados
são deixados de lado, se assim convier. É uma leitura viciada da literatura médica.
https://www.diabetes.org.br/publico/notas-e-informacoes/1757-doze-dicas-para-

-suspeitar-de-charlatanismo (Acessado em 14.06.2017)

OS RISCOS DE TRATAMENTOS ALTERNATIVOS PARA DOENÇAS E TRANSTORNOS NO BRASIL

87
Proposta – Vestibular
TEXTO 1
Em carta aberta publicada na internet, o Conselho Federal de Psicologia do Brasil (CFP) criticou a novela O
Outro Lado do Paraíso, exibida pela Rede Globo, em especial o núcleo que envolve a personagem Laura, vivida por
Bella Piero. Antes, algumas cenas de internação já haviam gerado revolta entre psiquiatras. Na trama, Laura tem
dificuldades para ter intimidades com seu marido, Rafael, por conta de abusos sexuais que sofreu de seu padrasto
na infância. Ela busca ajuda profissional. Mas, em vez de ir a um psicólogo, procura sessões de hipnose e coaching,
o que é desaprovado pelo Conselho.
Na carta, a entidade reconhece que se trata de uma obra de ficção, mas que ainda assim é capaz de “formar
opinião” e presta um “desserviço à população brasileira ao tratar com simplismo e interesses mercadológicos” o
sofrimento da personagem, que foi abusada sexualmente em sua infância.
https://www.correiodoestado.com.br/variedades/abordagem-sobre-hipnose-e-coaching-em-novela-e-criticada/321147/ (09.02.2018)

TEXTO 2

88
TEXTO 3

https://es.olx.com.br/flor-do-espírito-santo/livros-e-revistas (Acessado em 14.06.19)

TEXTO 4
A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) tem alertado a popu-
lação global para o perigo dos conflitos de interesse relacionados às pesquisas científicas de nutrição financiadas
por indústrias alimentícias.Segundo o assessor regional em nutrição e atividade física da OPAS/OMS, Fábio Gomes,
esse tema era tabu até bem pouco tempo atrás. “As pessoas falavam disso com a cabeça baixa. Discutir conflito
de interesses parecia coisa de extraterrestres”, disse na quinta-feira (27), durante o XXIV Congresso Brasileiro de
Nutrição, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
De acordo com o assessor da OPAS/OMS, há casos de pesquisas científicas financiadas pela indústria que
distorcem completamente os resultados. “Por meio de diversos estudos, a indústria tenta causar uma cegueira na
população. Um deles atrasou em mais de 30 anos nossa noção sobre os males causados pelo açúcar. Buscamos
identificar exatamente como essas distorções se dão em cada caso e como podem afetar as práticas profissionais
e as políticas públicas”, afirmou Gomes. O conflito de interesses é uma situação gerada pelo confronto entre
interesses públicos e privados, que comprometem o interesse coletivo ou influenciam, de maneira imprópria, o
desempenho da função pública.
https://nacoesunidas.org/onu-alerta-para-resultados-distorcidos-de-pesquisas-nutricao-financiadas-industria/ (28.10.2016)

89
TEXTO 5
O poder produz saber. Não há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber, nem
saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder.
Michel Foucault. Vigiar punir: nascimento da prisão.

A partir da leitura dos fragmentos de textos acima e do planejamento de seus argumentos sobre o tema, elabore
um texto ‘dissertativo-argumentativo’, com o uso da norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema

QUAL É O VALOR DO CONHECIMENTO NA SOCIEDADE DO SÉCULO XXI?

90
2 2 Imprecisões comuns em
redações de vestibular:
estrutura

L C
ENTRE
FRASES
92
Imprecisões comuns em redações de vestibular: estrutura
1. Parágrafo expositivo
A presença do parágrafo expositivo nas redações do vestibular é um dos entraves mais comuns e mais di-
fíceis de serem solucionados. Esse fator ocorre em função da pouco experiência de muitos alunos em dissertar de
modo argumentativo, isto é, evidenciado seu posicionamento a partir de opiniões.
Para evitar esse deslize, é fundamental compreender e revisar a estrutura dissertativa-argumentativa. Vale
lembrar que esse texto pressupõe um conjunto de posicionamentos, opiniões (ligados a persuasão), sustentado
por dados, fatos e informações (ligados à exposição/comprovação das opiniões e posicionamentos).
Assim, o fundamental é garantir o equilíbrio entre essas duas esferas em seu parágrafo, conforme os exem-
plos abaixo.

PARÁGRAFO EXPOSITIVO PARÁGRAFO ARGUMENTATIVO


Países de todo o mundo estão vivendo o crescimento A princípio, a falta de profissionais qualifica-
do envelhecimento populacional. Nas próximas dé- dos dificulta o contato do portador de surdez
cadas, a população mundial com mais de 60 anos com a base educacional necessária para a
vai passar de 841 milhões em 2014 para 2 bilhões inserção social. O Estado e a sociedade moderna
até 2050, segundo a Organização Mundial da Saúde têm negligenciado os direitos da comunidade surda,
(OMS). pois a falta de intérpretes capacitados para a tradu-
https://jornal.usp.br
ção educativa e a inexistência de vagas em escolas
inclusivas perpetuam a disparidade entre surdos e
ouvintes, condenando os detentores da surdez aos
menores cargos da hierarquia social.
(Trecho retirado da redação de Beatriz Albino Ser-
vilha– Redação nota mil – ENEM 2017)

Pelas estatísticas, nos países onde não há grandes Deve-se pontuar, de início, que o aparato es-
diferenças sociais, mesmo que sejam muito pobres, tatal brasileiro é ineficiente no que diz res-
a criminalidade é baixa. Em Gana, no oeste da África peito à formação educacional de surdos no
é eloquente, há 2,1 casos de homicídio para cada
país, bem como promoção da inclusão social
100 mil habitantes. No Brasil, segundo o Ministério
desse grupo. Quanto a essa questão, é notório que
da Saúde, a média de casos de homicídios, por ano,
o sistema capitalista vigente exige alto grau de ins-
por grupo de 100 mil habitantes, é 19,4.
trução para que as pessoas consigam ascensão pro-
https://www1.folha.uol.com.br. (Adaptado)
fissional. Assim, a falta de oferta do ensino de libras
nas escolas brasileiras e de profissionais especializa-
dos na educação de surdos dificulta o acesso desse
grupo ao mercado de trabalho. Além disso, há a falta
de formas institucionalizadas de promover o uso de
libras, o que contribui para a exclusão de surdos na
sociedade brasileira.
(Trecho retirado da redação de Larissa Fernandes Sil-
va de Souza– Redação nota mil – ENEM 2017)

93
PARÁGRAFO EXPOSITIVO PARÁGRAFO ARGUMENTATIVO
O telefone celular acompanha a maior parte dos Primeiramente, é notável que o acesso a esse
cidadãos das metrópoles. Crianças, adolescentes e meio de comunicação ocorre de maneira,
adultos passam horas do dia na frente do equipa- cada vez mais, precoce. Segundo pesquisa di-
mento. É comum observar – no metrô, nos restau- vulgada pelo IBGE, no ano de 2016, apenas 35%
rantes, nos ônibus e nas filas – homens e mulheres dos entrevistados, que apresentavam idade igual ou
diretamente conectados a jogos, sites, aplicativos e superior a 10 anos, nunca haviam utilizado a inter-
redes sociais. Até mesmo algumas escolas já incor- net. Isso acontece porque, desde cedo, a criança tem
poraram o celular como parte do material a ser utili- contato com aparelhos tecnológicos que necessitam
zado durante as aulas. da disponibilidade de uma rede de navegação, que
memoriza cada passo que esse jovem indivíduo
dá para traçar um perfil de interesse dele e, assim,
fornecer assuntos e produtos que tendem a agra-
dar ao usuário. Dessa forma, o uso da internet
torna-se uma imposição viciosa para relações
sócio-econômicas.
(Trecho retirado da redação de Clara de Je-
sus– Redação nota mil – ENEM 2018)

2. Ausência de coesão
Ao construir as orações, períodos e parágrafos do texto, o aluno precisa estar ciente da necessidade de
conectar cada uma dessas estruturas. Os pontos descontados em razão da coesão costumam ser altos e,
portanto, extremamente prejudiciais na somatória final da avaliação.
É fundamental fiscalizar a todo o tempo a manutenção da conexão entre os trechos. É possível se valer de
conectivos e verbos cumprir tal função (coesão sequencial) e também de pronomes, sinônimos, hiperônimos, ter-
mos genéricos a fim de retomar termos já expressos, mantendo uma coesão lógica dos fatos apresentados (coesão
referencial). Convém lembrar que os alunos são avaliados pela presença ou ausência dessas estruturas, conforme
mostra o comentário da banca do INEP a respeito de uma das redações nota mil do ano de 2017:

Há também um uso diversificado de recursos coesivos que garantem a fluidez de sua argumen-
tação por todo o texto, com a presença de articuladores tanto entre os parágrafos (“A princípio”,
“Além disso”, “portanto”) quanto entre as ideias dentro de um mesmo parágrafo (“Também”,
“Desse modo”, “pois”, “haja vista que”, “Ademais”; entre outros).
Redação no Enem 2018 - Cartilha do participante

94
SEM COESÃO BOM USO DA COESÃO
O ativismo digital aprimora o ativismo das ruas. Há Além disso, vale lembrar que o ativismo digital
uma rápida mobilização dos indivíduos, que passam aprimora o ativismo das ruas. Isso porque a inter-
a se organizar melhor e forma mais intensa. Em net possibilita uma rápida mobilização dos indivídu-
junho de 2013, em São Paulo, protestos foram or- os, que passam a se organizar melhor e de modo
ganizados pela internet e, em poucos dias, o povo mais intenso. Um exemplo dessa eficiência pôde
tomou conta das ruas, obrigando a prefeitura e o ser visto nas manifestações de junho de 2013 em
governo do estado a reduzirem as tarifas aumenta- São Paulo, situação em que os protestos organizados
das na época. A internet não se substitui o ativismo pelas redes somaram grande quantidade de pessoas
das ruas, ao contrário, fortalece ele. e obrigaram as autoridades a reverem as políticas
tarifárias de transporte da época. Logo, é possível
afirmar que o ativismo digital não substitui o enga-
jamento presencial, mas o amplia e o fortalece.

3. Ausência de coerência
A coerência nas redações do vestibular avalia a capacidade do texto em garantir a sequência lógica e do
encadeamento correto das ideias. No entanto, a ausência de planejamento e de delimitação da tese e dos
argumentos levam os alunos a construírem parágrafos incoerentes, com informações contraditórias e impertinentes
na maior parte das vezes.
É comum encontrar casos em que os candidatos resolvem escrever um argumento para cada texto da co-
letânea, numa clara tentativa de recriar as informações apresentadas sem o menor objetivo argumentativo. Como
resultado, cria-se um texto sem relação lógica, sem direcionamento, e que coloca numa sequência linear informa-
ções contraditórias, ou sem relação direta entre si.

Para evitar problemas de coerência em seu texto, lembre-se das estratégias abaixo:

§§ SEMPRE faça um planejamento de texto;


§§ Deixe sua tese muito clara para o leitor;
§§ Observe se os argumentos apresentados realmente contribuem para a defesa dessa tese;
§§ Verifique se os posicionamentos trabalhados em seu texto não estão em contradição;
§§ Cuide para que seu título também esteja coerente em relação ao conjunto do texto.

4. Presença de lacunas
Um dos problemas que leva parte dos alunos a não atingirem a nota máxima em muitas avaliações é pre-
sença de lacunas na construção do texto. Lacunas são as ausências criadas ao longo do texto, a partir de ideias
que foram apresentadas, mas não comprovadas ou discutidas. Para se ter uma ideia, a VUNESP estabelece a nota
máxima no critério GÊNERO/TIPO DE TEXTO E COERÊNCIA a partir da capacidade do candidato de não deixar lacu-
nas em seu texto: “Bom desenvolvimento dos argumentos: ainda que haja rara lacuna ou quebra, os argumentos
são justificados/desenvolvidos de modo a convergir para o ponto de vista defendido e há progressão argumentativa
(texto estratégico)”.

95
Observe as lacunas criadas no parágrafo abaixo e os comentários a respeito delas:

Outro aspecto que atesta o caráter inócuo dos votos nulos é o fato de eles, apesar
de sinalizarem uma insatisfação social em relação à conjuntura política, não produ-
zirem um incômodo efetivo sobre os governantes1. Ressalta-se que tal descontentamen-
to, por se expressar de maneira pouco frutífera, pode ser interpretada pelos políticos como um
sinal de apatia da sociedade2. Por conseguinte, reduz-se a pressão social que tais representantes
sofrem. Essa cobrança, quando feita de forma equilibrada, é indispensável aos governos repu-
blicanos democráticos, visto que orienta os governantes a tomarem decisões em acordo com os
interesses das sociedades que representam.
Avaliação de redações de vestibular: da teoria à prática. Artigo de Marcela Franco Fossey. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-18132018000201015&lng=pt&nrm=iso

1. Não há uma informação que comprove/ateste esse incômodo


2. A apatia em questão não é comprovada ou discutida, já que, em seguida, aparece a uma consequência
do fato.
O excerto acima foi retirado de um artigo científico, no qual a pesquisadora Marcela Franco Fossey comenta
a presença e ausência das lacunas no vestibular. Na redação desse candidato, segundo a autora, “é possível iden-
tificar uma superficialidade nos argumentos, exatamente pela falta de desenvolvimento dos dados, fatos e ideias
apresentados nos segundo e terceiro parágrafos.”

5. Inexistência da tese/tese
A inexistência da tese no texto dissertativo-argumentativo é um erro bastante grave para o gênero. Isso por-
que ele compromete toda a estrutura de desenvolvimento do texto, ao não apresentar um fio condutor que oriente
a apresentação das ideias. A maior parte dos vestibulares exige em seus manuais a presença de tal elemento, e
o avalia como fundamental para a construção da redação. A análise do próprio INEP feita para os textos nota mil
revela essa preocupação:

Nota-se também um pleno domínio do texto dissertativo-argumentativo, uma vez que a partici-
pante estrutura adequadamente sua redação, apresentando sua tese, argumentos que a corro-
boram e conclusão que encerra a discussão.
Redação no Enem 2018 - Cartilha do participante

Em síntese, não caprichar na tese é comprometer a estrutura macro de todo o texto, e ainda correr o risco
de perder pontos pelo não cumprimento do gênero. Portanto, lembre-se de seguir as dicas abaixo para a boa ela-
boração de sua tese:

RECOMENDAÇÕES PARA A ELABORAÇÃO DE UMA TESE

A tese é um posicionamento a respeito de um determinado tema e, portanto, pressupõe a explicitação de


julgamentos ou juízos, o que a caracteriza como um período argumentativo. Portanto, convém empregar palavras
que não sejam meramente descritivas, mas que carreguem em si um aspecto parcial acerca do tema desenvolvido.

Para facilitar a composição de sua tese, recomendamos algumas estratégias:

96
EXEMPLO
A ciência passou a ser/transformou-se num
a) Compor definições próprias a partir do uso objeto de controle da iniciativa a privada
de verbos de ligação: vinculada, exclusivamente, aos interesses dos
grandes mercados consumidores.
Todo esse contexto revela que vivência esco-
b) Tecer julgamentos: lar é essencial para a formação do indivíduo
e precisa, portanto, ser defendida.
Esse problema ainda ocorre em razão de polí-
c) Empregar adjetivos: ticas públicas ineficazes do uso problemático
das verbas privadas.

Aula 22 – A violência no contexto escolar


ACERVO
TEXTO 1

Violência na Escola: Como as escolas podem lidar com esse problema?


Índices alarmantes de violência entre alunos e agressões a professores levam à discussão sobre como o tema deve ser tratado e
combatido nas instituições escolares.

Uma pesquisa divulgada pelo Jornal do Comércio em abril deste ano trouxe números assustadores. Acompanhamento feito
em 25 escolas de Porto Alegre (RS), ao longo de dois anos, detectou que 42% dos alunos assumiram já ter sofrido algum tipo de
agressão na escola e 79% afirmou ter sido alvo de algum tipo de discriminação.
Os dados foram levantados pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e Secretaria Estadual de Educa-
ção (Seduc RS). O que mais choca é que essa realidade, apesar de registrada na capital gaúcha, não se restringe a ela e se espalha
por todos os estados brasileiros.
Matéria recente publicada pelo Portal G1 indica que o índice de agressões a professores nas escolas públicas paulistas,
neste ano, é o maior desde 2014. Só no primeiro trimestre, 64 casos já haviam sido registrados. Considerando o mesmo período em
2014, o número foi de 51. Durante todo o ano passado, foram 251 ocorrências.

Diante desse quadro terrível, fica a pergunta: como as instituições podem lidar com o problema da violência

escolar?

Quais são os tipos de violência escolar?


Em outubro de 2017, o Brasil foi surpreendido com a triste notícia de um aluno de colégio particular em Goiânia que abriu
fogo contra colegas de classe. Dois morreram e três ficaram feridos. Uma das colegas acabou paraplégica. O jovem foi preso e segue
detido em centro especializado para menores infratores.

97
Esse tipo de episódio faz com que, ao falar de violência escolar, os primeiros fatores que apontamos são uso de armas e
agressões físicas. Mas, o caso nos leva a outro tipo de problema, o bullying, também considerado como um tipo de violência na
escola. Além dele, há que incluir no rol o racismo e intolerância, bem como assaltos praticados nos arredores.

Vejamos como os tipos de violência escolar são classificados:

§§ violência física: agressões físicas, propriamente, ditas, como bater nos colegas e professores, espancamentos e casos
extremos, como uso de armas

§§ violência simbólica: quando tanto colegas quanto a própria escola promovem a indiferença quanto à sua capacidade
estudantil e laboral. Na maior parte das vezes, essa violência é originada por questões sociais

§§ violência doméstica: sim, agressões físicas, verbais e psicológicas praticadas por familiares fazem parte da violência
escolar. Isso porque seus reflexos são sentidos no ambiente da escola e podem ter consequências graves

§§ violência contra o patrimônio: depredação da estrutura física da escola, incluindo móveis e construções
Os quatro tipos podem, ainda, ser reunidos em três grupos maiores, sendo eles a violência contra a escola (depredação do
patrimônio e desvalorização do professor), violência da escola (instituição como excludente nos casos de orientação sexual, gênero,
raça e classes sociais) e violência na escola (relação entre aluno-aluno e aluno-professor).
A própria distinção dos tipos de violência nos ajuda a entender o que leva um aluno ou o próprio professor a cometer atos
violentos. São vários os fatores que desencadeiam em violência, como a desigualdade social, desvalorização de carreira, estrutura
familiar, condições emocionais do aluno, intolerância e bullying.
Como a escola pode lidar com a violência escolar?
Não há fórmula mágica para acabar com o problema da violência escolar. Mas, algumas estratégias podem e devem ser
adotadas no sentido de combater essa triste realidade.

Cuidado com a generalização

O primeiro passo é a escola não generalizar a raiz do problema. Não é prudente considerar que a principal causa da vio-
lência escolar é o bullying ou que, por ser uma instituição de comunidade carente, as chances de receber alunos transgressores é
maior (exemplo extremo de intolerância e preconceito).
A escola, executora de importante papel social, deve manter-se aberta ao diálogo com os alunos e toda a comunidade
escolar. Essa é a chamada gestão democrática, na qual a instituição constrói as regras que regem a escola de forma compartilhada
com quem está, de fato, envolvido nelas. É a melhor forma de reconhecimento e detecção de problemas.

Converse com os alunos

Em uma turma de alunos, sempre tem aquele mais calado, que anda cabisbaixo ou se isola dos demais. O grande erro é
achar que isso é uma característica de cada um quando, na verdade, esse tipo de comportamento pode esconder um grande pro-
blema. Portanto, é importante que professores e diretores estejam atentos.
Como profissionais em contato direto com os estudantes, é necessário que observem mudanças de comportamento. A
partir daí, tentar conversar com o aluno, ganhando a confiança que, nem sempre, conseguem em casa. No primeiro sinal de que
algo precisa ser resolvido, o passo seguinte é entrar em contato com os pais.

Interação com a família

Mais uma vez, mencionamos a importância do contato da escola com as famílias dos alunos. Isso vale tanto para reportar
algum problema que esteja acontecendo na instituição ou, ainda, para detectar se, de fato, algo está acontecendo no próprio am-
biente familiar da criança ou adolescente.
A premissa de que quem cresce em meio à violência tende a reproduzi-la é muito válida. A tendência é que o aluno
desconte o que recebe fora da escola em um colega ou professor. Por isso, investigar as raízes de um comportamento extremo é
fundamental para combatê-lo, tornando a escola um ambiente salutar.

98
Conscientização

Seu aluno sofre algum tipo de violência em casa e, por isso, a reproduz na escola? Talvez, seja a hora de orientar que a
família busque auxílio profissional. Da mesma forma, se o problema está na escola, é hora de trabalhar a questão em conjunto com
equipe e demais alunos no sentido de saná-lo.
Palestras, reuniões de pais e mestres, além de eventos de capacitação são verdadeiros aliados. A discussão de ideias pode
ajudar com o que o aluno prejudicado tome consciência de seu próprio valor, que a família analise as consequências de seus atos
e o agressor faça a autocrítica dos seus.
Tal integração encontra respaldo em dispositivos constitucionais, como o Estatuto da Criança e do Adolescente e Lei de
Diretrizes e Bases da Educação. A Constituição Federal, então, estabelece a necessidade de integrar família, sociedade, comunidade
e Estado no processo educacional, protegendo o aluno contra a violência, crueldade e opressão.
O trabalho conjunto traz resultados favoráveis a partir do momento em que todo o combate à violência iniciado na escola
tem sequência em casa. Juntos, pais e educadores devem zelar pela integridade física e moral dos alunos. A aproximação entre os
dois pilares formadores faz com que a comunidade escolar se torne mais segura.

Ações escolares efetivas


Dentro do contexto apontado, as escolas podem organizar ações efetivas de combate à violência nas escolas, tais como:
§§ policiamento para o controle e prevenção de assaltos nos arredores (afinal, a violência não acontece,
apenas, dentro das escolas)
§§ supervisão constante nas aulas e ambientes livres, como pátio, quadra e cantina
§§ estabelecer estratégias que combatem o abuso, tais como cursos, palestras, conferências, caixinhas de sugestões e matérias
de educação em valores
§§ identificação dos casos de agressão para posteriores providências
§§ Ações efetivas em casa
§§ Os pais, por sua vez, devem complementar as ações efetivadas na escola. A comunicação e transmissão de valores com os
filhos são basilares na luta contra a violência escolar, aliados a aspectos como:
§§ manter diálogo aberto com os filhos
§§ atenção a mudanças de comportamento
§§ interesse na vida dos filhos, procurando saber com quem andam, com o que brincam, o que leem e o que fazem nas horas
livres
§§ determine regras e limites para determinadas ações
§§ eduque-os para conviver em comunidade
O problema da violência escolar atinge a todos e, por isso, é responsabilidade de toda a comunidade extinguir o problema.
Por isso, a integração entre escola e comunidade, em especial, as famílias, é de suma importância na construção de um ambiente,
verdadeiramente, educacional.
https://escolaeducacao.com.br/violencia-escolar/ (Agosto de 2018)

99
TEXTO 2
Violência nas escolas é a principal preocupação dos alunos do Nordeste, Centro-Oeste e Sul, diz
pesquisador
Em audiência pública sobre a segurança nas escolas, os senadores da Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE)
ouviram especialistas, nesta terça-feira (14), e viram estudos que apontam a interferência da violência na aprendizagem de alunos
do ensino fundamental e médio. Eles mostraram como o medo de agressão e a cultura de preconceitos molda o sistema e afeta os
estudantes, muitas vezes superando a preocupação com a qualidade do ensino.
O diretor de Estratégia Política do movimento Todos pela Educação, João Marcelo Borges, comentou que, durante a discus-
são da medida provisória que estabeleceu o Novo Ensino Médio, a segurança — e não a qualidade do ensino — apareceu como o
principal ponto nas escolas das regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sul.
Representante do Conselho Federal de Psicologia, a psicóloga Marilene Proença Rebello defendeu a aprovação do substitu-
tivo do senador Flávio Arns (Rede-PR) ao PLC 60/2007 já aprovado pelo Senado. A proposta garante atendimento por profissionais
de psicologia e serviço social aos alunos das escolas públicas de educação básica.
— O projeto de lei está para votação no Plenário [da Câmara], mas infelizmente no Brasil precisamos que tragédias acon-
teçam para que algumas ações sejam tomadas — defendeu.
Ela se referia ao massacre ocorrido em março na escola estadual Raul Brasil, na cidade de Suzano (SP), em que dois jovens
assassinaram duas funcionárias da escola, cinco estudantes e depois se mataram.
Na pesquisa "Violência e Preconceitos na Escola", realizada pelo Conselho Federal de Psicologia entre 2013 e 2015, os
alunos denunciam a ausência de diálogo com diretores e coordenadores pedagógicos e uma cultura de violência que se manifesta
não apenas em agressões físicas, mas em xingamentos e bullying. Marilene Rebello defendeu, entre outros pontos, a substituição
do discurso repressivo pela escuta e diálogo e o fortalecimento da cooperação da comunidade escolar.
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/05/14/violencia-nas-escolas-e-a-principal-
-preocupacao-dos-alunos-do-nordeste-centro-oeste-e-sul-diz-pesquisador (14.05.2019)

TEXTO 3
‘Maioria das escolas criminaliza e tipifica sujeitos, sobretudo negros e pobres’
Miriam Krenzinger, coordenadora do Núcleo de Políticas de Prevenção da Violência e Educação em Direitos Humanos da UFRJ,
critica resposta criminal do Estado, que enviou três alunos de escola pública de Carapicuíba (SP) à Fundação Casa por jogar livros
e cadeiras em escola
Alunos jogam livros para o alto, lançam mesas de um lado para o outro da sala de aula e ignoram as falas de uma pro-
fessora, que quase é agredida. A cena é registrada em um video gravado na escola Escola Estadual Maria de Lourdes Teixeira, em
Carapicuíba, na Grande São Paulo, em 31 de maio. Como resposta, nove adolescentes de 13 anos passam um dia apreendidos no
1º DP da cidade e, após ouvidos no MP (Ministério Público), o juiz da Vara da Infância decide internar três deles na Fundação Casa,
a antiga Febem.
Até que ponto é correto tratar uma questão de educação por meio da segurança pública? A Ponte fez esta pergunta para
Rossieli Soares, secretário de Educação do Estado de São Paulo, e para a Miriam Krenzinger, professora do Programa de Serviço So-
cial da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Coordenadora do Núcleo de Políticas de Prevenção da Violência e Educação
em Direitos Humanos.
Para Miriam, levar a questão para o lado da segurança é um primeiro ato de criminalização de certas pessoas. “A questão
é que o sistema vai criando todo um processo de estigmatização, de seleção, e quase sempre com corte racial, socioeconômico de
classe territorial”, sustenta. “Quando se usa uma experiência dessas e já tipifica as pessoas dessa forma, não só pelos meios de
comunicação, mais os meios de educação e a política educacional, eles reproduzem todo o processo de criminalização primária”,
emenda.

100
Ponte – Foi correta a ação de tratar como caso de segurança pública o ato de vandalismo em vez de uma questão

educacional?

Miriam Krenzinger – Tentar evitar qualquer tipo de qualificação, exemplo chamar de vandalismo ou ato infracional, ato
violento ou criminoso. A cena em si exige tempo interno e social para reflexão sobre o que ela revela. Pode revelar várias situações,
expressar o ápice de um caminho que se percorrer por horas, dias ou semanas.

Ponte – O que este ato de vandalismo diz sobre a relação alunos-escola?

Miriam Krenzinger – Quando a gente tipifica o ato e os enquadra como vândalos, já há um processo de criminalização e
essa construção, segundo estudos de criminologia em linha mais interacionista simbólica que trabalha a construção social do sujeito
dito como perigoso, se dá no processo de criminalização primária. Ela ocorre dentro do ambiente social familiar e educacional. A
escola tem um papel importante de criar processos de criminalização e que se dão ao tipificar determinados atos e sujeitos mais
perigosos, vândalos, que não conseguem se adaptar ao sistema vigente.

Ponte – Como isso acontece?

Miriam Krenzinger – A questão é que o sistema vai criando todo um processo de estigmatização, de seleção, e quase
sempre com corte racial, socioeconômico de classe territorial. Então, os mais jovens, os pobres que apresentam fracasso escolar, que
têm dificuldade de inserção no modelo tradicional competitivo que não consegue trabalhar com diversidade de dinâmicas culturais,
sociais e familiares, eles tendem a sofrer processo de exclusão escolar. A escola contribui para não acolher por não estar preparada
para lidar com essas novas demandas que representa a universalização da educação. Ela abarca todo tipo de família e território e
começa a receber uma população que historicamente estava à margem do sistema de educação, a mais pobre, negra e que vivencia
processos do racismo estrutural. Isso é importante: quem são os mais selecionados para serem definidos como vândalos? Os oriun-
dos das classes mais empobrecidas e de questão racial. Há segregação desses grupos, o que vai reproduzindo estigmas e processos
criminalizadores. Isso se constrói através de praticas que reforçam a dificuldade em aceitar e investir pedagogicamente em outro
modelo de educação, e através de práticas discursivas, como tipificar determinados atos como vandalismo. Esses grupos começam a
ser definidos como perigosos, possíveis criminosos, e se torna a construção social da criminalização. Quando se usa uma experiência
dessas e já tipifica dessa forma, não só meios de comunicação, mais os meios de educação e a política educacional, eles reproduzem
todo o processo de criminalização primária.

Ponte – Quem trabalha na escola diz que há falta de profissionais, como inspetores e professores mediadores.

Como este quadro deficitário de pessoal influencia em casos como esse?

Miriam Krenzinger – Os estudos indicam que as escolas, principalmente as públicas, estão mais deficitárias em termos
de infraestrutura técnica e material. O professor não consegue ser assistente social, psicólogo e orientador pedagógico. Ele está ali
em sala de aula e tem que lidar com múltiplas demandas, como falei da diversidade de segmentos que começam a frequentar a
escola, que deve estar preparada. Eles não trazem só necessidade de aprendizagem de português, matemática, geografia, trazem
necessidade de um ser social, que precisa estar ligado à saúde, à família, violência doméstica, do território, grupos armados… A es-
cola está em qual contexto territorial? Quais políticas sociais atravessam essa escola? Tem equipe de saúde, multiprofissional, quem
são os mediadores para dar suporte à professora e aos alunos? O ato em si de expressão de que alguma coisa está fora do contexto
de convivência de coleguismo, diálogo, de pacífica, expressa ausência de relações, de pactos, de autoridade, de várias coisas.

Ponte – De que modo podemos identificar essas demandas e preveni-las?

Miriam Krenzinger – Como enfrentar é o caminho e a pergunta ao mesmo tempo. Precisa de equipe multidisciplinar e
de uma equipe intersetorial com outras políticas sociais na escola pública. Como previne também exige um conjunto de ações, tanto
prevenção como o enfrentamento exige um olhar cuidadoso para evitar processos de estigmatização e de criminalização. Exige
atenção à professora, que se sente desprotegia, desamparada, desvalorizada… Para isso, precisa ter uma rede de profissionais e
de políticas que atravessem a escola, enquanto instituição, e que ela possa interferir sendo um polo articulador para preservar os
direitos dos jovens, da professora, de prevenção da violência. A escola tem protagonismo. A questão não pode ser tratada como

101
caso de polícia. Imagina se a polícia tenha que intervir em todas as expressões de rebeldia e tensão e também de agressão entre os
jovens? Para chegar a chamar a polícia, precisa ter várias tentativas antes. A polícia só em último caso, quando há risco de vida. A
situação ali poderia se agravar, mas não aparece no vídeo. Não posso ficar falando sobre uma coisa que não foi vista.

Ponte – Os alunos passaram uma noite na delegacia e por audiência de custódia, três sendo levados à Fundação

Casa. É uma resposta acertada para corrigir uma infração disciplinar?

Miriam Krenzinger – Não é uma questão que se resolve com uma ação vinculada ao campo da justiça criminal, acionan-
do conselho tutelar e levando para os órgãos da Justiça, deixando esses jovens de certa forma contidos no órgão que representa o
mecanismo punitivo. Mesmo que ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) não prevê punição, ele prevê formas de contenção,
que é a prisão, a custódia, e depois até podem receber a medida socioeducativa. Ou seja, se levou para a esfera judicial uma ação
que poderia ser mediada por outras vias. A resposta via segurança é punitivista e ela deveria ser a última alternativa, depois que se
esgotou todas as outras tentativas. Como não sei quais foram as outras tentativas, existe o apontamento de que há mediação de
conflitos, não sabemos se esse registro é o ápice de um fracasso de várias outras tentativas ou se é uma experiência nova na escola.
O vídeo não possibilita a chegar nessa conclusão e, sendo assim, a primeira resposta como pesquisadora é que há, sim, várias
estratégias e ferramentas para lidar com essa relação entre professor e aluno que, muitas vezes, é tensa pela questão de a escola
não conseguir fornecer alternativas para essa fase da adolescência, que é de ruptura, de muita irreverência, de rebeldia, que precisa
lidar com a energia e se extravasa de várias formas. Muitas vezes, não se tem espaço para cultura, para esporte… quais as políticas
que atravessam o espaço da educação? Da arte, do lazer, esporte, para que toda a energia possa ser canalizada.

Ponte – O que poderia ser feito?

Miriam Krenzinger – Antes de pensar em uma resposta via segurança pública e Justiça, temos que compreender os
mecanismos que estão sendo ativados dentro da escola como espaço de educação para além da educação formal, mas de for-
mação dos jovens como cidadãos que respeitam os espaços democráticos de convivência, as autoridades, a figura do professor,
e vice-versa. O que está acontecendo com a professora, a carga horária de trabalho, as condições, tem professores que têm três
vínculos empregatícios e chegam muito cansados, sem paciência. As condições materiais financeiras são desumanas. Tudo isso o
vídeo impossibilita de chegarmos à conclusão alguma. Podemos concluir que a resposta punitivista não é a primeira a ser dada, e
sim outras práticas vinculadas a Justiça mais restaurativa que deve ser construída e utilizada.

Ponte – Considera que o tratamento como caso de polícia aconteceu por serem alunos de escola pública e não de

colégio particular, onde poderia ser acionado psicólogos ou outros profissionais?

Miriam Krenzinger – Com certeza as escolas particulares tenham situações semelhantes, os professores reclamam
muito dificuldade de conseguir exercer o respeito e autoridade, até por que tem relação financeira. Os professores de escolas
privadas vivenciam muita ameaças de perder empregos e alunos exercem uma relação de poder abusiva financeiramente sobre os
profissionais por saber que suas famílias estão pagando aqueles atos e negligenciando e co-assumindo o desinteresse pela questão
da disciplina e responsabilidade. São outros dilemas que as escolas privadas apresentam, mas também apresentam dificuldade
de manejo na relação professor-aluno e adolescentes que estão na fase de transgredir regra, questionar as disciplinas. É fase de
desenvolvimento do ser humano e quando ele está afirmando a sua autonomia e, para tal, passa por processo de questionar as
regras vigentes. Isso é muito saudável. A gente tem que estar preparado enquanto espaço pedagógico de formação política, para
gerar espaço de crítica, de reflexão, da afirmação, mas do respeito, disciplina, do conseguir olhar para o outro, respeitar os colegas
e professores. É um desafio e essas imagens que são chocantes, inicialmente, elas suscitam um debate riquíssimo. O que a gente
precisaria enquanto sociedade, enquanto comunidade escolar, enquanto política de educação, é aproveitar essa experiência que é
trágica e desafiadora e exige respostas urgentes e firmes, claro, para proteger vida de alunos e professora, mas não sair com uma
resposta imediatista, impulsiva, passional de cunho vingativo e punitivista, que é o que mais observamos nos últimos tempos em
nível de sociedade brasileira, infelizmente.

102
Ponte – Há veículos de imprensa que chamaram os alunos de agressores, sendo que a própria professora disse

que “quase foi agredida”. Existe alguma influência por parte da cobertura de como a sociedade analisa o caso?

Miriam Krenzinger – Quando estamos na era digital e vivemos em uma sociedade em que as informações são comparti-
lhadas quase em tempo real, como imagens de tragédias e episódios intensos, muito violentos, nos chocam, mas não dá tempo de
processar, de entender o que as imagens revelam, o que os sons traduzem, e logo somos atropelados por outras imagens e outras
notícias. Isso faz com que a insegurança, pavor, medo, o pânico se amplifique. Essa imagem é totalmente coletada ali, sem edição, e
recorta uma cena que apresenta uma situação tensa, que expressa agressões verbais e manifestações de jovens. Temos que tentar
evitar qualificar essas cenas. Elas nos chocam e colocam em um sentimento de impotência e de referência de como lidar com o
vazio da falta de autoridade, do limite.
https://ponte.org/a-escola-criminaliza-e-tipifica-sujeitos-sobretudo-negros-e-pobres/ (06.06.2019)

TEXTO 4
ENTREVISTA ‘Algo se alterou na violência brasileira’, diz psicanalista
Para Christian Dunker, atentado de Suzano é a expressão de uma nova lógica: num país já violento, sobressai agora a performance
narcisista, uma ‘indução delirante’ que permeia a sociedade

Dois jovens abriram fogo na quarta-feira (13.03.2019) na escola estadual Raul Brasil, em Suzano, na região metropoli-
tana de São Paulo. O atentado, considerado o maior massacre dentro de uma escola no estado, acabou com dez pessoas mortas,
incluindo os atiradores, que se suicidaram.
Os autores do atentado eram ex-alunos da escola. Foram identificados como Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz
Henrique de Castro, de 25 anos. Estavam mascarados e munidos de um revólver calibre 38, uma machadinha e uma besta, arma
medieval de disparo de flecha.
Antes do atentado, exibiam fotos suas com armas em redes sociais e um deles chegou a dizer para um ex-aluno que
gostaria de repetir o massacre de Columbine, cidade americana do estado de Colorado, onde tiros de uma dupla de estudantes
fortemente armada deixaram 15 mortos, em 1999. A polícia investiga se a dupla brasileira planejou o ataque em fóruns extremistas
na internet.
“A tragédia de Suzano traz uma violência visceral contra uma instituição simbólica: o lugar onde se estuda, onde se dialoga,
onde se aprende”, disse o psicanalista Christian Dunker, professor livre docente do Instituto de Psicologia da USP, nesta entrevista
ao Nexo.
“Temos, portanto, uma violência que se ancora num discurso disponível na cultura atual, um discurso que legitima a vio-
lência e que recentemente se mostrou vencedor na sociedade brasileira: as armas são a cura para todos os males, são a força maior
a dar fim aos conflitos. Este é o fator que altera a equação”, afirmou. Confira os principais trechos da entrevista:

O atentado em Suzano não é o primeiro na história recente do Brasil. O sr. vê diferenças entre esses episódios e

a violência cotidiana no país?


CHRISTIAN DUNKER Há diferenças, sim. Até a tragédia de Realengo, na zona oeste do Rio, em 2011, dizia-se que atentados
e crimes “em massa” não aconteciam com tanta frequência no Brasil, apesar da violência cotidiana, apesar do armamento ilegal,
apesar da cultura militar. Isto é, apesar dos pesares, não vivíamos esse tipo de episódio. A violência foi se infiltrando paulatinamente
nas instituições onde antes não estava, por exemplo, as escolas. A partir daí, assistimos a uma escalada de assassinos em massa
nessas esferas, portando uma simbologia nova: eles estão atacando as pessoas e o que essas pessoas representam. Seguem a
lógica dos terroristas ao atirar um avião contra as Torres Gêmeas ou ao imaginar instalar uma bomba na Torre Eiffel. Algo se alterou
nessa equação, de tal forma que a tragédia desta manhã é substancialmente diferente da violência do cotidiano. A violência do
cotidiano vai do desagravo verbal à repressão policial, passando por agressões a mulheres e minorias. A tragédia desta manhã, por

103
outro lado, traz uma violência visceral contra uma instituição simbólica: o lugar onde se estuda, onde se dialoga, onde se aprende.
Temos, portanto, uma violência que se ancora num discurso disponível na cultura atual, um discurso que legitima a violência e que
recentemente se mostrou vencedor na sociedade brasileira: as armas são a cura para todos os males, são a força maior a dar fim
aos conflitos. Este é o fator que altera a equação.

Diante de tiroteios em escolas e universidades, vem à tona uma série de argumentos diferentes para tentar
compreendê-los: o acesso a armas, a cultura violenta de videogames e fóruns da internet, a existência de gangues

nos colégios, os efeitos do bullying. Esses fatores contribuem para a compreensão do fenômeno?
CHRISTIAN DUNKER Em geral, os fatores estão combinados. Mas eu diria que, além desses elementos, há um fator que
não podemos esquecer: a performance. Segundo os detalhes que já foram revelados na imprensa, os autores do atentado não
parecem, até agora, ter um perfil psicótico ou delirante. Ao contrário, programaram as ações como um teatro, com armas medievais.
Ao dizer que pretendiam repetir Columbine, inclusive, já denotam essa ideia de “encenar” e “exibir”, como se tudo não passasse
de um jogo divertido, com um efeito amargo de realidade. Movidos, talvez, por um tipo de narcisismo, uma vontade de ser notado
e “entrar para a história”. Reitero: também a questão da performance indica uma mutação do discurso dominante sobre o que é
a violência, e o que é a violência “aceitável”, “compreensível” ou “justificável” dentro da sociedade brasileira. Isso altera a nossa
realidade psíquica. E essa mutação promete ser muito nefasta, carregando, inclusive, um sentimento de escalada: a violência vem
aumentando, num ritmo acelerado e errático.

O que o alvo desses atentados simboliza?


CHRISTIAN DUNKER O que mais sensibiliza e indigna nesses atentados é gratuidade, isto é, a violência gratuita. Por outro
lado, está havendo uma alteração importante no ponto de vista subjetivo e intersubjetivo sobre o que é a escola. Cada vez mais,
esses espaços estão sendo vistos como lugares “tóxicos”. Por vários motivos, por exemplo: a escola era o último refúgio. Em uma
sociedade em que se diz que os políticos são todos corruptos, que a imprensa é mentirosa, que a ciência é fake news, a escola
também desmoronou. A escola agora também é um antro de corrupção, de doutrinação, de controle da mente dos outros. Também
é parte de um complô internacional. É a expressão do efeito de indução delirante que está permeando a sociedade. Combinado a
um discurso ascendente de carta branca para violência, temos um curto-circuito.

É possível evitar essas explosões de violência?


CHRISTIAN DUNKER Quando vivemos o acontecimento, imaginamos medidas pontuais para impedir que uma tragédia se
repita: já vão dizer que é preciso instalar detectores de metal nas escolas, dispensar professores e contratar vigias, etc. Isso ignora
que essas explosões são provocadas por uma série de fatores sistêmicos, parte de uma estrutura invisível e complexa: a ideia de que
a violência é legítima. Assim, o tratamento não pode ser punitivo, mas reeducativo. É preciso, portanto, uma mudança de discurso.
Vão dizer que isso é muito vago, mas é justamente fechar os olhos para as discussões complexas e as contradições da sociedade
humana que acaba varrendo essas questões de fundo para debaixo do tapete. Você se concentra tanto em confrontar inimigos
imaginários, e não se dá conta de impasses reais.
Sempre pensamos que o momento que vivemos é o auge de tudo, inclusive da violência. Eu diria que o Brasil é violento,
sim, e isso não deveria surpreender ninguém. O Brasil vive uma escalada de violência tangível, alavancada por um discurso. Não
deveria surpreender ninguém, por exemplo, que no dia seguinte à prisão dos acusados de matar Marielle Franco, um crime histórico,
simbólico, trágico, assistimos a um massacre brutal de estudantes. Entretanto, sempre nos surpreendemos. Quantos ainda precisam
acontecer para compreendermos que é preciso mudar o discurso sobre a violência?
https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2019/03/14/%E2%80%98Algo-se-alterou-na-
-viol%C3%AAncia-brasileira%E2%80%99-diz-psicanalista (14.03.2019)

104
É IMPORTANTE SABER
I. DADO ESTATÍSTICO RELEVANTE
Uma pesquisa global feita com mais de 100 mil professores e diretores de escola do segundo ciclo do ensino fundamental
e do ensino médio (alunos de 11 a 16 anos) põe Brasil no topo de um ranking de violência em escolas.

Na enquete da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 12,5% dos professores ouvidos
no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana.

Trata-se do índice mais alto entre os 34 países pesquisados - a média entre eles é de 3,4%. Depois do Brasil, vem a Estônia,
com 11%, e a Austrália com 9,7%.

Na Coreia do Sul, na Malásia e na Romênia, o índice é zero


http://g1.globo.com/educacao/noticia/2014/08/pesquisa-poe-brasil-em-topo-
-de-ranking-de-violencia-contra-professores.html (28.08.2014)

II. ARGUMENTO DE AUTORIDADE


Antes de pensar em uma resposta via segurança pública e Justiça, temos que compreender os mecanismos que estão
sendo ativados dentro da escola como espaço de educação para além da educação formal, mas de formação dos jovens
como cidadãos que respeitam os espaços democráticos de convivência, as autoridades, a figura do professor, e vice-versa.
O que está acontecendo com a professora, a carga horária de trabalho, as condições, tem professores que têm três víncu-
los empregatícios e chegam muito cansados, sem paciência. As condições materiais financeiras são desumanas. Tudo isso
o vídeo impossibilita de chegarmos à conclusão alguma. Podemos concluir que a resposta punitivista não é a primeira a
ser dada, e sim outras práticas vinculadas a Justiça mais restaurativa que deve ser construída e utilizada.
Miriam Krenzinger, coordenadora do Núcleo de Políticas de Prevenção da Violência e Edu-
cação em Direitos Humanos da UFRJ, em entrevista ao Jornal A ponte. https://ponte.org/a-
-escola-criminaliza-e-tipifica-sujeitos-sobretudo-negros-e-pobres/ (06.06.2019)

III. EXEMPLO DO COTIDIANO

Dois jovens abriram fogo na quarta-feira (13.03.2019) na escola estadual Raul Brasil, em Suzano, na região metropolita-
na de São Paulo. O atentado, considerado o maior massacre dentro de uma escola no estado, acabou com dez pessoas
mortas, incluindo os atiradores, que se suicidaram.

Os autores do atentado eram ex-alunos da escola. Foram identificados como Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e
Luiz Henrique de Castro, de 25 anos. Estavam mascarados e munidos de um revólver calibre 38, uma machadinha e uma
besta, arma medieval de disparo de flecha.
https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2019/03/14/%E2%80%98Algo-se-alterou-na-
-viol%C3%AAncia-brasileira%E2%80%99-diz-psicanalista (14.03.2019)

IV. ATORES OU SITUAÇÕES QUE PODEM SER MOBILIZADOS NA DISCUSSÃO DO TEMA (PROPOSTA ENEM)
ALTERAÇÃO NAS FORMAS DE CONVÍVIO NO AMBIENTE ESCOLAR

Na pesquisa "Violência e Preconceitos na Escola", realizada pelo Conselho Federal de Psicologia entre 2013
e 2015, os alunos denunciam a ausência de diálogo com diretores e coordenadores pedagógicos e uma
cultura de violência que se manifesta não apenas em agressões físicas, mas em xingamentos e bullying. Ma-
rilene Rebello, Representante do Conselho Federal de Psicologia, defendeu, entre outros pontos, a substitui-
ção do discurso repressivo pela escuta e diálogo e o fortalecimento da cooperação da comunidade escolar.
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/05/14/violencia-nas-escolas-e-a-principal-
-preocupacao-dos-alunos-do-nordeste-centro-oeste-e-sul-diz-pesquisador (14.05.2019)

105
VII. CITAÇÃO

A) Violência tem um caráter instrumental e se expressa no uso de meios, implementos, instrumentos, ferra-
mentas pelos quais a violência é exercida. Seu uso requer justificação. É sempre uma reação ao enfraqueci-
mento do poder; é o agir sem argumentar, sem o discurso.
(Arendt, Hanna (1958) A Condição Humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 10 edição, reimpressão 2005)

B) A violência é inerente ao homem. A violência tem mobilidade, pode circular, pode estar delegada ao Es-
tado ou retornar para o homem, mas é destrutiva se contenta-se em submeter o homem, não em matá-lo.”
(Sigmund Freud, In: Kunzler, Fernando & Conte, Bárbara organizado-
res. (2005) Pensando a Violência. São Paulo: Editora Escuta.)

VII. LEGISLAÇÃO:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colabora-
ção da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania
e sua qualificação para o trabalho.
Constituição Federal. https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_205_.asp

106
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme Pro dia nascer Feliz

Depoimentos de estudantes, sejam eles de colégios da rede pública ou par-


ticular, sobre medos e anseios no ambiente escolar. Adolescentes de 3 esta-
dos, de classes sociais distintas, falam de suas vidas na escola, seus projetos
e inquietações.

Filme Quando sinto que já sei

“Quando sinto que já sei” é um documentário independente que registra


novos modelos de educação em escolas no Brasil. A première do filme acon-
teceu no dia 29 de julho de 2014.
A obra reúne depoimentos de pais, estudantes, educadores e profissionais
de diversas áreas sobre a necessidade de mudanças no modelo convencio-
nal de escola – de carteiras enfileiradas, aulas de 50 minutos e avaliações
quantitativas.

Filme Entre os muros da escola

François Marin trabalha como professor de língua francesa em uma escola,


localizada na periferia de Paris. Ele e seus colegas de ensino buscam apoio
mútuo na difícil tarefa de fazer com que os alunos aprendam algo ao longo
do ano letivo. Marin tem na escola alunos problemáticos, violência, tensões
étnicas entre os alunos, o que testa sua paciência e, mais importante, sua
determinação como um educador.

Filme Entre os muros da escola

Documentário que investiga a fascinação dos americanos pelas armas de


fogo. Michael Moore, diretor e narrador do filme, questiona a origem dessa
cultura bélica e busca respostas visitando pequenas cidades dos Estados
Unidos, onde a maior parte dos moradores guarda uma arma em casa. En-
tre essas cidades está Littleton, no Colorado, onde fica o colégio Columbi-
ne. Lá os adolescentes Dylan Klebold e Eric Harris pegaram as armas dos
pais e mataram 14 estudantes e um professor no refeitório. Michael Moore
também faz uma visita ao ator Charlton Heston, presidente da Associação
108 Americana do Rifle.
ASSISTIR

Filme
Rainer é um professor a quem foi designada a tarefa de instruir seus estu-
dantes de Ensino Médio sobre o Estado Autocrático durante uma sessão às
lições longas. Um professor favorito entre as crianças, Rainer decide deixar
seus alunos desenvolver o assunto e pede a eles que construam sua pró-
pria autocracia. No entanto, quando as crianças formam um Estado-nação
similar com o da Alemanha nazista, os professores não sabem o que fazer.

LER

Artigo
PROGRAMA DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA
NAS ESCOLAS

LER

Livros
Violência Escolar – Jadir Cirqueira de Souza
O livro procura entrelaçar os principais paradigmas da Educação e do Direito
na perspectiva da violência escolar. Inicialmente, trata dos seculares pro-
blemas da educação que contribuem para a existência de atos infracionais
e graves situações de indisciplina que prejudicam o desenvolvimento do
processo de ensino-aprendizagem, além de gerarem sérios conflitos entre
professores, alunos e famílias.

O ateneu – Raul Pompeia


Publicado originalmente como folhetim na Gazeta de Notícias, na época
um importante jornal do Rio de Janeiro, “O Ateneu” foi muito bem recebido
pela crítica. E perduraria, como uma verdadeira joia do romance brasileiro,
ao tratar dos anos decisivos de um garoto e da vida escolar.
109
Proposta ENEM

TEXTO 1
Cenas de alunos brigando entre si, agredindo professores ou sendo atacados por profissionais que deveriam
ensiná-los são cada vez mais comuns nas redes sociais e em noticiários da TV.
Os casos acontecem desde os anos 1990 – quando surgiram as primeiras discussões de especialistas sobre o
assunto – e estão relacionados com o aumento da criminalidade nas grandes cidades, verificado na mesma época.
Na última década, contudo, os registros tornaram-se mais frequentes, além de ganharem notoriedade gra-
ças à divulgação na internet, em sites como o YouTube e o Facebook. Os vídeos são disseminados, muitas vezes,
pelos próprios jovens envolvidos nas agressões, como forma de conquistar status junto aos colegas.
http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/violencia-nas-escolas-
-das-ruas-para-a-sala-de-aula.htm (Acesso em 07.06.2019)

TEXTO 2

http://www.sismmac.org.br/noticias/2/informe-se/4339/violencia-nas-escolas-
-reproduz-a-desigualdade-e-violencia-da-sociedade *(13.05.2016)
TEXTO 3
“Reduzir toda a questão da violência ao bullying é um equívoco, porque foca somente no indivíduo.” A
ênfase no combate à violência, para a psicóloga Ângela Soligo – representante do Conselho Federal de Psicolo-
gia (CFP) – deve estar na ampliação de visões de mundo e da capacidade de reflexão. “Devemos educar para o
respeito.” E, para ela, o papel da Psicologia nessa questão é essencial. Com relação aos problemas vividos pelos
professores no espaço escolar, ela indaga: ”Como podemos esperar que crianças e jovens respeitem uma categoria
tão desrespeitada por nossos governos e sociedade?”
https://site.cfp.org.br/os-tres-tipos-de-violencia-na-escola/ (23.11.2017)

TEXTO 4
Quando começamos a pensar em guerra entre gangues, uma das primeiras palavras que nos vem à mente é
"violência". Isso porque "violência" e "jovens da periferia" são substantivos acostumados a participarem da mes-
ma frase no senso comum. Mas que tal se pensarmos que esses jovens nem sempre são os agentes da violência?
Se considerarmos que eles sofrem também desse mal, tanto o que vem das outras gangues quanto o que vem da
polícia, do governo, da sociedade ou de nós? A violência é algo que vem sempre de fora, de outro grupo.
Aline Souza Martins. “O outro lado da violência: escutando adolescentes envolvi-
dos na guerra do tráfico” Artigo. Conselho Regional de Psicologia de SP.

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o
tema O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA NO CONTEXTO ESCOLAR BRASILEIRO, apresentando proposta
de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argu-
mentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

111
Proposta – Vestibular
TEXTO 1
Dar notas para bom comportamento, revistar as mochilas de alunos e monitorar as escolas com mais regis-
tros de violência e tráfico de drogas. Essas são mudanças propostas pelo novo regimento em instituições de ensino
a serem implementadas da Rede Pública do Distrito Federal. Segundo o governo, as novas regras visam reforçar a
disciplina e, principalmente, a segurança nos colégios brasilienses.
Outra alteração prevista será a exigência de uma carteira digital de identificação dos alunos no acesso às
dependências da escola, sistema já está instalado no Centro de Ensino Fundamental 25 de Ceilândia. Segundo o
secretário de Educação, Rafael Parente, o modelo deverá ser expandido para toda rede até o final de 2020. O custo
será de aproximadamente R$ 4 milhões.As unidades ainda terão um botão de alerta para chamar a polícia em caso
de emergência, uma espécie de “botão do pânico”.
“Ninguém mais aguenta a violência dentro das escolas. Todo mundo quer colégios 100% seguros. Não
vamos mais aceitar drogas, violência, bullying e cyberbullying. Não vamos mais tolerar nenhum tipo de violência”,
assinala Parente.
Segundo o chefe da pasta, o regimento é duro, mas necessário. “Os alunos precisam passar por um choque
de realidade para saber que suas atitudes têm consequência. Quem estudar tem um futuro.”
https://www.metropoles.com/distrito-federal/escolas-do-df-terao-botao-do-panico-em-caso-de-violencia (29.05.2019)

TEXTO 2
“Quando você defende que a escola é violenta, você vai precisar de poder público e acaba tirando da escola
uma função que seria dela do ensino da convivência”, explica a professora especialista em clima escolar Telma
Vinha. Ela completa explicando que esse entendimento faz com que os profissionais apliquem indistintamente
os mesmos procedimentos disciplinares, geralmente de contenção ou para evitar, não vendo tais situações como
pedagógicas, as quais necessitariam de intervenções distintas que resultassem em aprendizagem.
Nos casos específicos de indisciplina, é interessante buscar a melhoria da relação professor-aluno, o estabe-
lecimento ou revisão do contrato e das expectativas compartilhadas e a revisão das ações pedagógicas que levem
os estudantes a conectarem-se novamente com as situações de aprendizagem. “Metodologias mais ativas podem
colaborar na diminuição das conversas paralelas, por exemplo”, comenta Telma.
Para que os estudantes cumpram as regras é essencial que eles a compreendam como legítimas. Isso acon-
tece quando a autoridade de quem a criou é reconhecida, há um entendimento de sua necessidade ou ainda houve
a participação democrática em sua elaboração. “Por essas razões, considero mais efetivo um esforço no sentido de
legitimar as regras junto aos alunos do que medidas de punição no seu descumprimento”, explica Telma.
https://novaescola.org.br/conteudo/14154/violencia-e-indisciplina-porque-nao-devemos-entende-las-como-sinonimos (29.11.2018)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a
norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

O AUMENTO DO CONTROLE DA DISCIPLINA É UMA MEDIDA EFICAZ PARA COMBATER A VIOLÊNCIA


NO CONTEXTO ESCOLAR?

112
L C ENTRE
REDAÇÕES EXTRAS

FRASES

Pratique mais

L C
ENTRE
FRASES
Propostas extras – ENEM
Proposta 1

TEXTO 1
O presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), Arthur Guerra de Andrade,
explica que o uso de bebida alcoólica por adolescente e jovens é frequente. Segundo o psiquiatra e especialista em
dependência química, a realidade é preocupante, especialmente porque muitos começam a ingerir a substância
ilícita com pouca idade. “O jovem acha que não vai ter problema e acredita que consegue lidar com a bebida. Os
pais ficam mais preocupados com as drogas ilícitas do que com as drogas lícitas. O problema é que existe algo cha-
mado pressão de grupo, ou seja, eles não bebem sozinhos, bebem porque os amigos também o fazem”, esclarece.
A presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), Ana Cecília Marques,
considera como problema a falta de fiscalização da lei que proíbe a venda de bebidas alcoólicas para menores
de 18 anos. “É necessária uma política voltada ao adolescente para que ele seja protegido desses fenômenos do
mundo moderno onde o acesso à bebida é fácil. Parece que nada mais funciona. A lei só não basta. É preciso que
ela venha acompanhada de outras coisas, que envolva a participação da família”, alega.

Disponível em: http://www.cisa.org.br/userfiles/2015/CISA%20como%20fonte/CorreioBraziliense-290415.jpg (29.04.2015)

TEXTO 2
Nos bares, nas baladas e, muitas vezes, em casa, o álcool está sempre presente, mas o que é usado para
diversão também pode ser preocupante.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), divulgada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) em 2016, 55% dos alunos do 9º ano, entre 13 e 14 anos, já experimentaram bebida
alcoólica.
A pesquisa também revela que a proporção dos jovens que já experimentaram drogas ilícitas subiu de 230,2
mil para 236,8 mil. E que 21,4% já sofreram algum episódio de embriaguez na vida.
O professor Erikson Felipe Furtado, do Departamento de Neurociências e Ciência do Comportamento da
Faculdade de Medicina em Ribeirão Preto (FMRP) da USP, fala sobre os efeitos do álcool nos jovens.
Para ele, quanto mais cedo uma pessoa se envolve com consumo pesado de álcool, maior a probabilidade
de que venha a ter complicações. Entre os problemas da ingestão, estão coma alcoólico, indisciplina com compro-
missos e envolvimento em acidentes de trânsito.
https://jornal.usp.br/atualidades/aumenta-consumo-de-alcool-entre-adolescentes/ (04.12.2017)

115
TEXTO 3

Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense-IBGE)

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o
tema OS DESAFIOS PARA DIMINUIR O CONSUMO DE ÁLCOOL ENTRE MENORES, apresentando proposta
de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argu-
mentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

116
Proposta 2
TEXTO 1
O público alvo central do sistema de justiça criminal abrange um conjunto de características que constitui
o perfil socialmente identificável como sendo o do criminoso. Pessoas jovens, com baixa escolaridade, negras ou
pardas, moradoras de periferias e de baixa renda que, por não apresentarem as imunidades institucionais da classe
média e da classe alta, possuem mais chances de serem detidas, processadas e condenadas. O sistema de justiça
criminal reforça um perfil já socialmente estigmatizado.
http://diplomatique.org.br/35455-2/ (18.01.2017)

TEXTO 2
A legislação brasileira apregoa a recuperação do condenado, primando pelo respeito à dignidade humana,
funda-mento do estado democrático de direito. O espírito da lei, portanto, é sempre no sentido de apostar na recu-
peração da pessoa, dar oportunidade ao preso de reintegração à sociedade. Mas como criar condições efetivas para
que isso ocorra? A lei parece carregar em si um paradoxo: como esperar que indivíduos se adequem mais às regras
sociais segregando-os completamente da sociedade e inserindo-os em um microcosmo prisional com suas próprias
regras e cultura? (...) Em meio à grave questão social da criminalidade, a reincidência penal permanece como um
problema cru¬cial. Às críticas ao sistema carcerário enquanto “escola do crime”, soma-se o fato de que os progra-
mas voltados para reintegração social surtem um efeito muito limitado sobre a vida dos detentos. Além disso, tais
ações não alcançam os egressos do sistema, que deveriam ser um público primordial de programas dessa natureza.
(http://www.ipea.gov.br/participacao/images/pdfs/boletim_analisepolitico_06.pdf)

TEXTO 3

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre
o tema AS CONDIÇÕES PARA A REINTEGRAÇÃO DE PRESOS NO BRASIL, apresentando proposta de inter-
venção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos
e fatos para defesa de seu ponto de vista.

117
Proposta 3

TEXTO 1
O preconceito linguístico - o mais sutil de todos eles - atinge um dos mais nobres legados do homem, que é
o domínio de uma língua. Exercer isso é retirar o direito de fala de milhares de pessoas que se exprimem em formas
sem prestígio social. Não quero dizer com isso que não temos o direito de gostar mais, ou menos, do falar de uma
região ou de outra, do falar de um grupo social ou de outro. O que afirmo e até enfatizo é que ninguém tem o
direito de humilhar o outro pela forma de falar. Ninguém tem o direito de exercer assédio linguístico. Ninguém tem
o direito de causar constrangimento ao seu semelhante pela forma de falar.
A Constituição brasileira estabelece que "ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano
ou degradante''. Sendo assim, interpreto eu que qualquer pessoa que for vítima de preconceito linguístico pode
buscar a lei maior da nação para se defender. Até porque, sob essa ótica, o preconceito linguístico se configura
como um tratamento desumano e degradante - uma tortura moral.
(MARTA SCHERRE, linguista e pesquisadora do CNPQ)
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,ERT110515-17774,00.html (Acessado em 07.06.2019)

TEXTO 2
Inguinorança
Não, leitor, o título acima não está errado, segundo os padrões educacionais agora adotados pelo mal cha-
mado Ministério de Educação. Você deve ter visto que o MEC deu aval a um livro que se diz didático no qual se
ensina que falar "os livro" pode.
Não pode, não, está errado, é ignorância, pura ignorância, má formação educacional, preguiça do educador
em corrigir erros. Afinal, é muito mais difícil ensinar o certo do que aceitar o errado com o qual o aluno chega à
escola.
Os autores do crime linguístico aprovado pelo MEC usam um argumento delinquencial para dar licença para
o assassinato da língua: dizem que quem usa "os livro" precisa ficar atento porque "corre o risco de ser vítima de
preconceito linguístico".
Absurdo total. Não se trata de preconceito linguístico. Trata-se, pura e simplesmente, de respeitar normas
que custaram anos de evolução para que as pessoas pudessem se comunicar de uma maneira que umas entendam
perfeitamente as outras.
Tal como matar alguém viola uma norma, matar o idioma viola outra. Condenar uma e outra violação está
longe de ser preconceito. É um critério civilizatório.
Que professores prefiram a preguiça ao ensino, já é péssimo. Que o MEC os premie, é crime.
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1505201103.htm> (Acessado em 07.06.2019)

118
TEXTO 3
“É um verdadeiro acinte aos direitos humanos, por exemplo, o modo como a fala nordestina é retratada nas
novelas de televisão, principalmente da Rede Globo. Todo personagem de origem nordestina é, sem exceção, um
tipo grotesco, rústico, atrasado, criado para provocar o riso, o escárnio e o deboche dos demais personagens e do
espectador. No plano lingüístico, atores não nordestinos expressam-se num arremedo de língua que não é falada
em lugar nenhum do Brasil, muito menos no Nordeste. Costumo dizer que aquela deve ser a língua do Nordeste
de Marte! Mas nós sabemos muito bem que essa atitude representa uma forma de marginalização e exclusão.
(…) Se o Nordeste é “atrasado”, “pobre”, “subdesenvolvido” ou (na melhor das hipóteses) “pitoresco”, então,
“naturalmente”, as pessoas que lá nasceram e a língua que elas falam também devem ser consideradas assim…
Ora, faça-me o favor, Rede Globo!”
(Marcos Bagno “Preconceito Linguístico: o que é, como se faz” - 1999)

TEXTO 4

http://atividadesdeportugueseliteratura.blogspot.com/2015/05/variedade-linguis-
tica-normas-urbanas-de.html (Acessado em 07.06.2019)

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o
tema A PERSISTÊNCIA DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO NO BRASIL apresentando proposta de intervenção
que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos
para defesa de seu ponto de vista.

Proposta 4
TEXTO 1
A Lei 10.639/03 propõe novas diretrizes curriculares para o estudo da história e cultura afro-brasileira e
africana. Por exemplo, os professores devem ressaltar em sala de aula a cultura afro-brasileira como constituinte
e formadora da sociedade brasileira, na qual os negros são considerados como sujeitos históricos, valorizando-se,
portanto, o pensamento e as ideias de importantes intelectuais negros brasileiros, a cultura (música, culinária,
dança) e as religiões de matrizes africanas.
Disponível em: http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/lei-10639-03-ensino-historia-cultura-afro-brasileira-

119
TEXTO 2
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura
nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de
outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.
§ 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmen-
tos étnicos nacionais.
§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento
cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à:
I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
II - produção, promoção e difusão de bens culturais;
III - formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões;
IV - democratização do acesso aos bens de cultura;
V - valorização da diversidade étnica e regional.
https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_15.12.2016/art_215_.asp

TEXTO 3
Dentre os desafios dos tempos atuais para a preservação da identidade cultural do nosso país encontram-
-se a globalização e as consequências dela decorrentes. Em que pesem os aspectos positivos da mesma que,
implicitamente, traz em seu bojo o ideal de união e confraternização entre os povos, há que se destacar que não
se pode esquecer os aspectos particulares da cultura, da língua, das tradições de cada povo. Há que se destacar a
importância da identidade cultural de cada país.
Há quem defina a identidade nacional como um conceito que indica a condição social e o sentimento de
pertencer a uma determinada cultura. E muitos entendem que a cultura e a identidade estão inteiramente ligadas.
Portanto, trata-se de um exercício complexo determinar uma identidade nacional para um país formado de diversas
culturas, hábitos e povos oriundos de vários lugares do mundo.
Diante destes pontos que visam incentivar a reflexão sobre o assunto, ainda é preciso enfatizar a importân-
cia de se preservar a identidade da cultura brasileira, nos seus variados aspectos, inclusive nos que interagem com
a educação, independentemente da realidade econômica e política do nosso país.
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Educação e Cultu-

ra. http://cnteec.org.br/new/arquivos/2209 (Acesso em 07.06.2019)

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua for-
mação, redija texto dissertativo-argumentativo na modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o
tema A IMPORTÂNCIA DA DIVERSIDADE CULTURAL NA FORMAÇÃO DAS IDENTIDADES NO BRASIL
apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de
forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

120
Propostas extras – vestibular
Proposta 1

TEXTO 1

Um levantamento do Instituto Datafolha divulgado em maio de 2014 apontou que 61% dos eleitores são
contrários ao voto obrigatório. O voto obrigatório é previsto na Constituição Federal – a participação é facultativa
apenas para analfabetos, idosos com mais de 70 anos de idade e jovens com 16 e 17 anos.
Para analistas, permitir que o eleitor decida se quer ou não votar é um risco para o sistema eleitoral brasi-
leiro. A obrigatoriedade, argumentam, ainda é necessária devido ao cenário crítico de compra e venda de votos e à
formação política deficiente de boa parte da população.
“Nossa democracia é extremamente jovem e foi pouco testada. O voto facultativo seria o ideal, porque
o eleitor poderia expressar sua real vontade, mas ainda não é hora de ele ser implantado”, diz Danilo Barboza,
membro do Movimento Voto Consciente.
O sociólogo Eurico Cursino, da Universidade de Brasília (UnB), avalia que o dever de participar das eleições
é uma prática pedagógica. Ele argumenta que essa é uma forma de canalizar conflitos graves ligados às desigual-
dades sociais no país. “A democracia só se aprende na prática. Tornar o voto facultativo é como permitir à criança
decidir se quer ir ou não à escola”, afirma.
Já para os defensores do voto não obrigatório, participar das eleições é um direito e não um dever. O voto
facultativo, dizem, melhora a qualidade do pleito, que passa a contar majoritariamente com eleitores conscientes.
E incentiva os partidos a promover programas eleitorais educativos sobre a importância do voto.

(Karina Gomes. "O voto deveria ser facultativo no Brasil?". www.cartacapital.com.br, 25.08.2014. Adaptado.)

121
TEXTO 2
Há muito tempo se discute a possibilidade de instauração do voto facultativo no Brasil. Mas são diversos os
fatores que travam a discussão.
Atualmente, é a Lei no 4737/1965 que determina o voto como obrigatório no Brasil, além dos dispositivos e
pe- nas a quem não comparece ao pleito. Com a imposição, o país segue na tendência contrária ao resto do mundo.
Estudo divulgado pela CIA, que detalha o tipo de voto em mais de 230 países no mundo, mostra que o Brasil é um
dos (apenas) 21 que ainda mantém a obrigatoriedade de comparecer às urnas.
Para Rodolfo Teixeira, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB), a atual descrença na
classe política pode levar a uma grave deserção do brasileiro do processo eleitoral. O jurista Alberto Rollo, espe- cia-
lista em Direito Eleitoral e membro da comissão de reforma política da OAB de São Paulo, concorda e acredita que
o eleitor brasileiro ainda é “deficitário” do ponto de vista de educação política, sem ser maduro o suficiente para
entender a importância do voto: “Se [o voto facultativo] fosse implementado hoje, mais da metade dos elei- tores
não votaria. Isso é desastroso”, afirma.
O cientista político e professor da FGV-Rio Carlos Pereira pensa diferente. O especialista acredita que as
sete eleições presidenciais depois do fim da ditadura militar mostram que o momento democrático do Brasil está
consolidado. O voto facultativo seria mais um passo a uma democracia plena.
“O argumento de que o eleitor pobre e menos escolarizado deixaria de votar parte de um pressuposto da
vitimi- zação. É uma visão muito protecionista”, diz Pereira. “O eleitor mais pobre tem acesso à informação e é
politizado: ele sabe quanto está custando um litro de leite, uma passagem de ônibus, se o bairro está violento, se
tem de- semprego na família. É totalmente plausível que ele faça um diagnóstico e decida em quem votar e se
quer votar.”

(Raphael Martins. "O que falta para o Brasil adotar o voto facultativo?". http://exame.abril.com.br, 01.08.2017. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a
norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

O VOTO DEVERIA SER FACULTATIVO NO BRASIL?

122
Proposta 2
TEXO 1
A distribuição da riqueza é uma das questões mais vivas e polêmicas da atualidade. Será que a dinâmica
da acumulação do capital privado conduz de modo inevitável a uma concentração cada vez maior da riqueza e do
poder em poucas mãos, como acreditava Karl Marx no século XIX? Ou será que as forças equilibradoras do cres-
cimento, da concorrência e do progresso tecnológico levam espontaneamente a uma redução da desigualdade e a
uma organização harmoniosa da sociedade, como pensava Simon Kuznets no século XX?
(Thomas Piketty. O capital no século XXI, 2014. Adaptado.)

TEXTO 2
Já se tornou argumento comum a ideia de que a melhor maneira de ajudar os pobres a sair da miséria é
permitir que os ricos fiquem cada vez mais ricos. No entanto, à medida que novos dados sobre distribuição de
renda são divulgados*, constata-se um desequilíbrio assustador: a distância entre aqueles que estão no topo da
hierarquia social e aqueles que estão na base cresce cada vez mais.
A obstinada persistência da pobreza no planeta que vive os espasmos de um fundamentalismo do cresci-
men- to econômico é bastante para levar as pessoas atentas a fazer uma pausa e refletir sobre as perdas diretas,
bem como sobre os efeitos colaterais dessa distribuição da riqueza.
Uma das justificativas morais básicas para a economia de livre mercado, isto é, que a busca de lucro in-
dividual também fornece o melhor mecanismo para a busca do bem comum, se vê assim questionada e quase
desmentida.
* Um estudo recente do World Institute for Development Economics Research da Universidade das Nações Unidas relata que o 1% mais
rico de adultos possuía 40% dos bens globais em 2000, e que os 10% mais ricos respondiam por 85% do total da riqueza do mundo.
A metade situada na parte mais baixa da população mundial adulta possuía 1% da riqueza global.

(Zygmunt Bauman. A riqueza de poucos beneficia todos nós?, 2015. Adaptado.)

TEXTO 3
Um certo espírito rousseauniano parece ter se apoderado de nossa época, que agora vê a propriedade
privada e a economia de mercado como responsáveis por todos os nossos males. É verdade que elas favorecem a
concentração de riqueza, notadamente de renda e patrimônio.
Essa, porém, é só parte da história. Os mesmos mecanismos de mercado que promovem a disparidade – eles
exigem certo nível de desigualdade estrutural para funcionar – são também os responsáveis pelo mais extraordi-
nário processo de melhora das condições materiais de vida que a humanidade já experimentou.
Se o capitalismo exibe o viés elitista da concentração de renda, ele também apresenta a vocação mais
demo- crática de tornar praticamente todos os bens mais acessíveis, pelo aprimoramento dos processos produtivos.
Não tenho nada contra perseguir ideias de justiça, mas é importante não perder a perspectiva das coisas.
(Hélio Schwartsman. “Uma defesa da desigualdade”. Folha de S.Paulo, 14.06.2015. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a
norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

A RIQUEZA DE POUCOS BENEFICIA A SOCIEDADE INTEIRA?

123
Proposta 3
TEXTO 1
Entrou em vigor em julho de 2015, no Espírito Santo, a lei estadual que proíbe bares e restaurantes de
deixar o sal ex- posto, acessível para os clientes. O governo alega que a proibição é uma questão de saúde pública.
“É o Estado induzindo à mudança de comportamento com o olhar para a promoção da saúde e prevenção do
adoecimento das pessoas”, explicou a gerente da Vigilância Sanitária de Vitória, Flávia Costa.
(“Regulamentação de lei que proíbe sal em mesas é publicada no ES”. http://g1.globo.com. Adaptado.)

TEXTO 2
É função do Estado a promoção do bem-estar social. A moderna atividade econômica voltada para o con-
sumo mas- sificado e baseada na livre iniciativa exige a interferência estatal através de leis que a conciliem com o
respeito aos direitos sociais, como o direito à saúde. Na medida em que a produção de alimentos interfere de forma
direta e significativa na saúde da população que os consome, essa legislação torna-se essencial para a eficiência do
Estado. Intervindo assim nas relações de consumo, o poder público está assumindo uma política sanitária. E essa
legislação significa restrições para o fornecedor de produtos alimentícios. Dispõe a Constituição Federal que “a
saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução
do risco de doença”.
(João Lopes Guimarães Júnior. “Obesidade e proteção jurídica da saúde do consumidor”. www.mpsp.mp.br. Adaptado.)

TEXTO 3
A liberdade de escolha, um dos pilares de Estados democráticos, continua, cada vez mais, submetida à
tutela estatal. Os cidadãos são tratados como incapazes de decidirem o que é melhor para si. Tudo isto não é feito
em nome do simples autoritarismo, mas, supostamente, em nome do bem de cada um, como se fosse missão do
Estado exercer uma espécie de monopólio da virtude. Contudo, a associação entre leis restritivas ao consumo e o
autoritarismo do bem – pró-saúde, geralmente – não é nada saudável.
Se o consumo de um produto é proibido por seu suposto alto teor de sal ou de gordura, o que impede a
proibição dos doces, que causam cáries? Nada. Com proibições desse tipo, o recado é claro: o indivíduo não tem
o direito de viver conforme suas convicções, deve viver conforme o plano que o Estado desenha para ele. Uma
sociedade que renuncia à liberdade perde o seu bem mais precioso: a liberdade de escolha.
(Denis Lerrer Rosenfield. “Liberdade e tutela”. http://oglobo.globo.com. Adaptado.)

Com base nas informações dos textos e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, de acordo com
a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

A INTERVENÇÃO DO ESTADO NO CONSUMO DE ALIMENTOS:


PROMOÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA OU AMEAÇA À LIBERDADE DE ESCOLHA INDIVIDUAL?

124
Proposta 4

TEXTO 1
A Chega de Fiu Fiu é uma campanha lançada pelo projeto feminista Think Olga, que, para tentar entender
melhor o assédio sexual sofrido por mulheres em locais públicos, colocou no ar, em agosto de 2013, uma pesquisa
elaborada pela jornalista Karin Hueck. De 7 762 participantes, 99,6% delas afirmaram que já receberam cantadas.
Veja abaixo parte do resultado:
Onde você já recebeu cantadas? Quais cantadas você já ouviu em espaços públicos?
(era possível selecionar mais de uma opção) (era possível selecionar mais de uma opção)

(“Chega de Fiu Fiu: resultado da pesquisa”. www.thinkolga.com, 09.12.2013. Adaptado.)

TEXTO 2
O famoso “fiu fiu” em locais p3úblicos e outras cantadas não são elogios a quem são dirigidos. Trata-se de
uma forma de assédio sexual que passa despercebida, uma vez que está travestida de “flerte”. Como esse tipo de
assédio em locais públicos não é criminalizado na maioria dos países, grande parte das vítimas não denuncia os
ataques que sofre. Contra essa forma de assédio sexual, alguns países pelo mundo estão mudando a legislação
nacional e adotando medidas que criminalizam as “cantadas” em locais públicos e punem os agressores. O objeti-
vo é minimizar e acabar com a intimidação nas ruas - seja ela verbal ou por meio de contato físico com conotação
pejorativa.
(“Países multam cantadas de rua em até R$ 160 mil; veja leis”. www.noticias.terra.com.br, 16.06.2015. Adaptado.)

TEXTO 3
A boa cantada é a cantada permanente. Porque cantar, de fato, é espalhar pacientemente a devoção a todas
as mulhe- res como quem espalha sementes nos campos de lírios. Mesmo que elas digam, com aquela covinha no
sorriso, que você diz isso para todas. E claro que para cada uma fazemos um elogio, uma graça, não repetimos o
texto, o lirismo, o floreado. Porque amamos mesmo as mulheres. Basta ter o cuidado para não ser simplesmente
um chato que baba diante do melhor dos espetáculos: a existência delas.
(Xico Sá. “A arte da cantada permanente”. www.folha.uol.com.br, 02.10.2014. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma redação de gênero dissertativo,
empre- gando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
CANTADA EM LOCAIS PÚBLICOS: ASSÉDIO OU ELOGIO À MULHER?

125
Proposta 5

TEXTO 1
Foro privilegiado é um mecanismo de proteção concedido a determinadas autoridades por haver, segundo o
entendimento da lei, a necessidade de resguardar o exercício de determinada função ou mandato. A Constituição
Brasileira estabelece que todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país são iguais perante a lei, mas o foro
por prerrogativa de função, mais conhecido como foro privilegiado, pode ser considerado uma exceção a essa regra.
A análise de processos envolvendo pessoas que gozam de foro privilegiado é designada a órgãos supe-
riores, como o Supremo Tribunal Federal (STF), o Senado ou as Câmaras Legislativas. Acredita-se que, com isso,
pode-se manter a estabilidade do país mesmo com uma autoridade sendo alvo de investigação, e garantir isenção
em seu julgamento. No Brasil, entre as autoridades que têm o foro por prerrogativa de função, estão o presidente
da República, os ministros, todos os parlamentares, dentre outras. Atualmente, 22 mil autoridades no país têm o
direito ao foro privilegiado, que garante tratamentos diferentes a réus de processos, a depender da importância do
cargo da pessoa que é alvo de investigação e do tipo de infração a ser julgada.
Ana Elisa Santana, “Entenda o que é foro privilegiado”. http://www.ebc.com.br, 15.03.2016. Adaptado.

TEXTO 2
Representantes de associações de juízes, promotores e procuradores defenderam o fim do direito ao foro
privilegiado, durante audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Para
o presidente da Associação dos Juízes Federais, Roberto Carvalho Veloso, o foro acabou virando uma espécie de
instrumento para a impunidade, porque os julgamentos acabam demorando, e os crimes terminam por prescrever
ao longo do processo. O presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, João Ricardo dos Santos Costa,
concorda que os processos de pessoas com foro privilegiado acabam levando muito mais tempo para entrar em jul-
gamento e, por isso, defendeu a instrução e o julgamento em primeira instância*: “Esse tempo todo acaba dando
a sensação de impunidade, a instrução na primeira instância dá maior agilidade ao processo”.
Norma Reis Cardoso Cavalcanti, presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público,
acrescentou que há uma preocupação com a quantidade de pessoas que contam com a prerrogativa. Para a de-
putada Cristiane Brasil, o instrumento acaba sendo usado para favorecer a realização de práticas criminosas. “O
maior desejo da sociedade brasileira é acabar com a impunidade. O que mais faz a sociedade ficar com raiva dos
políticos é pensar que eles não são punidos pelos malfeitos cometidos. Então, temos que ter direitos iguais”, disse.
Luciano Nascimento, “Juízes e promotores defendem fim do foro privilegiado para au-

toridades”. http://agenciabrasil.ebc.com.br, 23.08.2016. Adaptado.

*instrução em primeira instância: Instrução é o momento do processo em que o Juiz colhe as provas para formar a sua convicção. A
primeira instância é a primeira jurisdição hierárquica, ou seja, o primeiro órgão da Justiça ao qual o cidadão dirige um pedido de solução
de conflito.

126
TEXTO 3
O foro especial por prerrogativa de função não é um privilégio, mas uma garantia, para amparar o responsá-
vel e a Justiça e para proteger seu processo e julgamento contra eventuais pressões que os supostos responsáveis
possam exercer sobre os órgãos jurisdicionais inferiores. Tal foro não é concedido à pessoa, mas lhe é dispensado
em atenção à importância ou relevância do cargo ou função que exerça. Cessada a função, desaparece o ‘privilé-
gio’. Nesse sentido, o foro especial assegura a imparcialidade dos órgãos, impedindo o uso indevido do Poder Judi-
ciário em conflitos político-eleitorais. Não por acaso, a ditadura militar suspendeu o que então se chamou o “privi-
légio do foro por prerrogativa de função”. Mais recentemente, a controvérsia acerca do programa de privatizações
levado a cabo na administração do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso é outro exemplo a ser citado. Como
observa o jornal O Globo, “naquele tempo, chegou a existir no Ministério Público, em Brasília, um esquema de pro-
curadores militantes dedicados a encaminhar acusações contra auxiliares de FHC. Depois, foi comprovado que pelo
menos um deles era movido por paixões partidárias.” O foro privilegiado serve então para resguardar o processo
de pressões naturais, já que é mais provável que um juiz de primeira instância – ou delegado, ou promotor – possa
ser influenciado quando julga altas autoridades do que um colegiado de magistrados experientes. Remeter esses
casos para autoridades policiais e judiciais mais graduadas reduz o risco de manipulações e perseguições políticas.
Newton Tavares Filho, “Foro Privilegiado: pontos positivos e negativos”. http://www2.camara.leg.br/, Julho 2016. Adaptado.

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a
norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

FORO PRIVILEGIADO: ENTRE A IMPUNIDADE E A GARANTIA DE IMPARCIALIDADE

Proposta 6
TEXTO 1

127
TEXTO 2
O mito de Sísifo
Sísifo era um pastor de ovelhas e filho de Éolo, o deus dos ventos. Era tido como a pessoa mais ardilosa
que já existiu. Morava num povoado chamado Éfira e, ao melhorar as condições do lugar, passou a chamá-lo de
Corinto, que mais tarde se tornou uma grande cidade. Casou-se com Mérope, filha do deus Atlas e que compõe
uma das plêiades.
Um dia, Sísifo percebeu que seu rebanho diminuíra. Estava sendo roubado. Então, marcou suas ovelhas,
seguiu o rasto delas e foi dar na casa de Autólico. Arrolou testemunhas da ladroagem e enquanto os vizinhos
discutiam sobre o roubo, rodeou a casa em busca de mais alguma ovelha e encontrou a filha do ladrão, Anticleia.
Seduziu-a e a engravidou, vingando-se do malfeitor.
Voltando para casa, Sísifo, que andava sempre escondido, presenciou Zeus, o deus do Olimpo, raptando
Egina, filha de Asopo. Não deu outra, aproveitando-se do fato, Sísifo, em troca da construção de um poço para sua
cidade, entregou o deus sedutor. Claro que Zeus ficou sabendo que Sísifo o tinha dedurado, então pediu que seu
irmão Efaístos o levasse para o Hades, mundo subterrâneo onde viviam as almas condenadas.
Pressentindo a fúria de Zeus, Sísifo pediu à esposa que não o enterrasse após sua morte e, chegando ao
Hades, armou uma cilada para Efaístos e o aprisionou. Conversou com Perséfone, a esposa do deus, e a persuadiu
a deixá-lo voltar e organizar o seu funeral, além de punir os que negligenciaram seu enterro. Ela lhe concedeu a
volta por apenas três dias. Mas, voltando à superfície, ele passou a viver normalmente com sua esposa, como se
nada tivesse acontecido.
Vendo aquele absurdo, pois ninguém deveria enganar a morte, Zeus ordenou que Hermes o conduzisse
novamente ao Hades e que lá recebesse um castigo exemplar. Deveria rolar uma enorme pedra morro acima, até o
topo. Porém, chegando lá, o esforço despendido o deixaria tão exangue que a pedra se lhe soltaria e rolaria morro
abaixo. No dia seguinte, o processo se daria novamente, e assim pela eternidade, como forma de envergonhá-lo
pela sua esperteza em querer enganar os deuses e a morte.
Disponível em: <http://www.saberepreciso.com/2013/02/o-mito-de-sisifo.html>. Acesso em: 17/05/2016. (Adaptado).

TEXTO 3
Cotidiano

Todo dia ela faz tudo sempre igual


Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã

Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar


E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café

Todo dia eu só penso em poder parar


Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão

128
Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão
(...)
Disponível em: <http://www.chicobuarque.com.br/letras/cotidian_71.htm>. Acesso em: 17/05/2016. (Excerto).

TEXTO 4
Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido.
Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a sena acumulada), topado
aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para Londrina,
casado com a Doralice, feito aquele teste…
Agora mesmo neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz – aliás, o nome do
bar é Imaginário – sentou um cara do meu lado direito e se apresentou:
- Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo.
E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo.
– Por quê? Sua vida não foi melhor do que a minha?
– Durante certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei à seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande
vida. Até que um dia...
– Eu sei, eu sei… disse alguém sentado ao lado dele.
Olhamos para o intrometido… Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que nós. Ele
continuou:
– Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o
futebol e foi ser um medíocre propagandista.
(...)
– Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.
Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas por versões de mim no serviço público,
uma mais desiludida do que a outra. As consequências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas, pequenas
traições, promoções negadas e frustração. Olhei em volta. Eu lotava o bar. Todas as mesas estavam ocupadas por
minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o
melhor aspecto, ali, era eu mesmo.
(...)
Se bom ou não, penso, é melhor viver do futuro que do passado!
VERISSIMO, L.F. Em algum lugar do paraíso. São Paulo: Objetiva, 2011, p. 48.

A partir da leitura dos fragmentos de textos acima e do planejamento de seus argumentos sobre o tema, elabore
um texto ‘dissertativo-argumentativo’, com o uso da norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema

OS EFEITOS DA ROTINA SOBRE OS INDIVÍDUOS

129
Proposta 7

TEXTO 1
Daqui nasce o dilema: vale mais ser amado do que temido, inverso? [...] parece-me mais seguro ser temido
do que amado, se só puder ser uma delas. Há uma coisa que se pode dizer, de maneira geral, de todos os homens:
que são ingratos, mutáveis, dissimulados, inimigos do perigo, ávidos de ganhar. Enquanto lhes fazes o bem, sio
teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida, os filhos, porque os riscos maiores estão no futuro; mas quando este
se aproxima, furtam-se, debandam, e o príncipe que se baseou somente em suas palavras [...] está de fato perdido.
As amizades que se conquistam com dinheiro ou favores, e não pelo coração nobre e altivo, terão seus efeitos, mas
são como se não as tivéssemos, pois de nada nos servem quando delas precisamos.
Adaptado de: MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Lisboa: Europa-América, 1976, 88-90.

TEXTO 2
Foi no âmbito da Lava Jato que o instrumento da delação premiada chegou aos colarinhos brancos. A troca
de informações entre juiz e réu evidenciou sua utilidade para desbaratar organizações criminosas que atuam nas
vísceras do Estado brasileiro. O criminoso consegue redução de pena, e as investigações têm seu avanço facilitado.
Quando as delações começaram a ser divulgadas, manifestou-se na opinião pública certa rejeição, as into-
leráveis à luz dos ensinamentos morais comuns. Não é reverenciável, de fato, a conduta do dedo-duro. No entanto,
as apurações jamais alcançariam a abrangência que alcançaram não fosse o uso massivo desse expediente. Em
março deste ano já se somavam 140 acordos de colaboração, e a fila de espera é longa.

Adaptado de; PUGCINA, Percival. Delações e colaborações. Gazeta do Povo. 26 jun. 2017.

TEXTO 3
Em acordo de delação premiada, o ex-governador Fulano relatou, segundo a Folha, que o Ministro Beltrano,
participou da montagem de um esquema para liberar dinheiro de precatórios [...] A Folha informa que Cicrano,
acusado de ser o operador do esquema fraudulento no ministério X, fechou um acordo com a PGR. [...] Nossa
reportagem foi informada de que o empresário entrou no acordo de delação premiada e leniência com o MPF de
Curitiba. Sim, ele entregará mais um comparsa.
Adaptado de: <https://oantagonista.com>. Acesso em: 10 set. 2017.

130
TEXTO 4
George Graham (1830-1904), advogado norte-americano, ficou conhecido por um pequeno julgamento
em Missouri (1870). O processo decorria da morte de Old Drum, o melhor cão de caça de um fazendeiro local. O
cachorro fora baleado por funcionários de um vizinho, desconfiado de que o animal andava matando suas ovelhas.
Quando Old Drum foi encontrado morto, seu dono resolveu processar o vizinho, contratando dois advogados, um
deles George Vest – que comoveu o júri com seu discurso Tributo a um cão.
Senhores jurados [...] o único amigo desinteressado que um homem pode ter neste mundo egoísta – aquele
que nunca é ingrato ou traiçoeiro – é o seu cão. O cão permanece com seu dono na prosperidade e na pobreza, na
saúde e na doença. Ele dormirá no chão frio, onde os ventos invernais sopram e a neve se lança impiedosamente,
se apenas o deixarem estar ao lado de seu dono. Ele beijará a mão que tem alimento a oferecer, ele lamberá as fe-
ridas e as dores que aparecem nos encontros com a violência do mundo. Quando todos os amigos o abandonaram,
ele permanecerá. Se a fortuna arrasta o dono para o exílio, sem amigos e sem abrigo, o fiel não pede mais do que
o privilégio de acompanhá-lo, a fim de protegê-lo contra o perigo. E quando a cena final se apresenta e a morte
leva o dono em seus braços, quando seu corpo é deixado no chão frio, não importa que todos os amigos sigam
seu caminho; lá, ao lado de sua sepultura, se encontrará o nobre cão, a cabeça entre as patas, os olhos tristes, mas
alertas, fiel e verdadeiro até a morte.
VEST, George Graham. Tributo a um cão. Disponível em: <Wikipédia>. Acesso em: 31 mar. 2017.

A partir da leitura dos fragmentos de textos acima e do planejamento de seus argumentos sobre o tema, elabore
um texto ‘dissertativo-argumentativo’, com o uso da norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema

O VALOR DA LEALDADE NAS RELAÇÕES HUMANAS

131
L C ENTRE
PRONTUÁRIO

FRASES

L C
ENTRE
FRASES
Prontuário
Meta 2019:

Conquistar uma vaga no curso de Medicina.


Para conquistar a sua meta, divida-a em objetivos menores. Assim, fica mais fácil acompanhar a sua evo-
lução:

Escrever redações nota dez.


Para atingir esse objetivo:

Escrever _____ redações por semana.

Minhas Notas
Semana 18 19 20 21 22
Check

Redações Extras
Extras 1 2 3 4 5 6
Original

Reescrita

Extras 7 8 9 10 11
Original

Reescrita

LEMBRE-SE:

As notas fazem parte de um processo. Cada uma representa uma avaliação


pontual.
É importante olhar para elas e autoavaliar-se para desenhar estratégias
que ajudem a melhorar seus textos.

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Data: ____/____/2019
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