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C ESTUDO

6
L
LINGUAGENS ORIENTADO
& CÓDIGOS
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
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Todos os direitos reservados

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Herlan Fellini

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CARO ALUNO

Desde 2010, o Hexag Medicina é referência na preparação pré-vestibular de candidatos às melhores


universidades do Brasil.
Você está recebendo o livro Estudo Orientado 4. Com o objetivo de verificar se você aprendeu os con-
teúdos estudados, este material apresenta nove categorias de exercícios a serem trabalhados como Estudo
Orientado (E.O.):
§§ E.O. Aprendizagem: exercícios introdutórios de múltipla escolha para iniciar o processo de fixação da
matéria dada em aula;
§§ E.O. Fixação: exercícios de múltipla escolha que apresentam um grau de dificuldade médio, buscando
a consolidação do aprendizado;
§§ E.O. Complementar: exercícios de múltipla escolha com alto grau de dificuldade;
§§ E.O. Dissertativo: exercícios dissertativos que seguem a forma da segunda fase dos principais vestibu-
lares do Brasil;
§§ E.O. Enem: exercícios que abordam a aplicação de conhecimentos em situações do cotidiano, preparan-
do o aluno para esse tipo de exame;
§§ E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp): exercícios de múltipla escolha das faculdades
públicas de São Paulo;
§§ E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp): exercícios dissertativos da segunda fase
das faculdades públicas de São Paulo;
§§ E.O. Uerj (Exame de Qualificação): exercícios de múltipla escolha, buscando a consolidação do
aprendizado para o vestibular da Uerj;
§§ E.O. Uerj (Exame Discursivo): exercícios dissertativos nos moldes da segunda fase da Uerj.

A edição 2019 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo a você um material moderno
e completo, um grande aliado para o seu sucesso nos vestibulares mais concorridos de Medicina.

Bons estudos!

Herlan Fellini
SUMÁRIO
ENTRE LETRAS
GRAMÁTICA
Aulas 23: Ortografia 7
Aulas 24: funções de “A”, “QUE” e “SE” 29
Aulas 25: Pontuação I 51
Aulas 26: Pontuação II 79

LITERATURA
Aulas 23: Segunda fase modernista no Brasil: poesia 109
Aulas 24: Terceira fase modernista 137
Aulas 25: Concretismo 157
Aulas 26: Poesia marginal e contemporâneo 167
Abordagem de GRAMÁTICA nos principais vestibulares.

FUVEST
O tema de maior incidência, presente neste material é Pontuação.

LD
ADE DE ME
D
UNESP
U

IC
FAC

INA

BO
1963
T U C AT U Os temas de maior incidência, presentes neste material são Pontuação e Funções de "a", "que"
e "se".

UNICAMP
O tema de maior incidência, presente neste material é Pontuação.

UNIFESP
Todos os temas do material têm alta incidência de aparição no vestibular.

ENEM/UFMG/UFRJ
O tema de maior incidência, presente neste material é Pontuação.

UERJ
O tema de maior incidência, presente neste material é Pontuação.
2 3 Ortografia

Competências Habilidades
1e5 1, 2, 3 e 17

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
E.O. Aprendizagem 3. (COL. Naval) Aumenta o número de adultos
que não consegue focar sua atenção em uma
única coisa por muito tempo. São tantos os
1. (IFSP) De acordo com a norma padrão da estímulos e tanta a pressão para que o en-
Língua Portuguesa, assinale a alternativa em torno seja completamente desvendado que
que todas as palavras devam ser acentuadas aprendemos a ver e/ou fazer várias coisas ao
de acordo com a mesma regra de acentuação mesmo tempo. Nós nos tornamos, à seme-
do vocábulo sublinhado na placa abaixo. lhança dos computadores, pessoas multita-
refa, não é verdade?
Vamos tomar como exemplo uma pessoa di-
rigindo. 4Ela precisa estar atenta aos veícu-
los que vêm atrás, ao lado e à frente, à ve-
locidade média dos carros por onde trafega,
às orientações do GPS ou de programas que
sinalizam o trânsito em tempo real, 6às in-
formações de alguma emissora de rádio que
comenta o trânsito, ao planejamento men-
tal feito e refeito várias vezes do trajeto que
deve fazer para chegar ao seu destino, aos
semáforos, faixas de pedestres etc.
Quando me vejo em tal situação, eu me lem-
bro que dirigir, após um dia de intenso tra-
a) Facil/animo (substantivo)/apendice balho no retorno para casa, já foi uma ativi-
b) Ingenuo/varzea/magoa (substantivo) dade prazerosa e desestressante.
c) Virus/alcoolatra/unico O uso da internet ajudou a transformar nos-
d) Alibi/antibiotico/monossilabica sa maneira de olhar para o mundo. Não mais
observamos os detalhes, por causa de nossa
e) Album/maniaco/amidala
ganância em relação a novas e diferentes in-
formações. Quantas vezes sentei em frente
2. (UTFPR) O texto abaixo apresenta inadequa- ao computador para buscar textos sobre um
ções, de acordo com a norma padrão. A(s) tema e, de repente, me dei conta de que es-
questão(ões) a seguir analisa(m) alguns tava em temas que em nada se relacionavam
desses problemas. com meu tema primeiro.
Aliás, a leitura também sofreu transforma-
No caminho de Montevideo, dirigindo pela
ções pelo nosso costume de ler na internet.
rota beira-mar obrigatóriamente voce vai
Sofremos de uma tentação permanente de
passar pelo porto de Montevideo, lá existe
um mercado muito sofisticado com ótimos pular palavras e frases inteiras, apenas para
restaurantes. Vale [à pena] uma parada para irmos direto ao ponto. O problema é que al-
almoçar no El Palenque, um dos melhores guns textos exigem a leitura atenta de pala-
restaurantes do Uruguai para comer carnes, vra por palavra, de frase por frase, para que
é incrivel lá dentro! Paramos para conhecer, faça sentido. 5Aliás, não é a combinação e a
mas não almoçamos no El Palenque dessa sucessão das palavras que dá sentido e bele-
vez, pois estavamos com o almoço marcado za a um texto?
na Bodega Bousa e depois a visita a vinicola. 3
Se está difícil para nós, adultos, focar nossa
Seguimos viagem pela rota 5 em direção a atenção, imagine, caro leitor, para as crian-
Bodega Bousa (fique atento as placas, pois ças. Elas já nasceram neste mundo de 8profu-
voce pode passar despercebido por elas). são de estímulos de todos os tipos; elas são
(Disponível em: http://cozinhachic.com/ exigidas, desde o início da vida, a dar conta
diario-de-viagemmontevideo-vinicolas-e- de várias coisas ao mesmo tempo; elas são
restaurantes. Acesso em 16/01/2017). estimuladas com diferentes objetos, sons,
imagens etc.
No texto há algumas palavras com erro de
Aí, um belo dia elas vão para a escola. Profes-
acentuação gráfica. Assinale a alternativa sores e pais, a partir de então, querem que
que registra todas elas com os erros corri- as crianças prestem atenção em uma única
gidos. coisa por muito tempo. E quando elas não
a) Obrigatoriamente, você, incrível, estávamos, conseguem, reclamamos, levamos ao médico,
vinícola, você. arriscamos hipóteses de que sejam portado-
b) Montevidéo, obrigatóriamente, você, pôrto, ras de síndromes que exigem tratamento etc.
estávamos, você. A maioria dessas crianças sabe focar sua
c) Você, incrível, estávamos, você, pôrto. atenção, sim. Elas já sabem usar progra-
d) Você, incrível, estávamos, vinícola, você. mas complexos em seus aparelhos eletrô-
e) Montevidéo, obrigatoriamente, você, incrí- nicos, brincam com jogos desafiantes que
vel, vinícola, você. exigem atenção constante aos detalhes e, se

9
deixarmos, passam horas em uma única ati- Ocorreu-lhe desde logo que ao americano po-
vidade de que gostam. deria parecer estranha tal amizade, e mais
Mas, nos estudos, queremos que elas pres- ainda incompatível com a ética ianque a ser
tem atenção no que é preciso, e não no que mantida nas funções que passara a exercer.
gostam. E isso, caro leitor, exige a árdua Lembrou-se num átimo que o americano em
aprendizagem da autodisciplina. Que leva geral tem uma coisa muito séria chamada
tempo, é bom lembrar. preconceito racial e seu critério de julga-
As crianças precisam de nós, pais e professo-
mento da capacidade funcional dos subor-
res, para começar a aprender isso. Aliás, boa
parte desse trabalho é nosso, e não delas. dinados talvez se deixasse influir por essa
Não basta mandarmos que elas prestem aten- odiosa deformação. Por via das dúvidas cor-
ção: isso de nada as ajuda. 13O que pode aju- respondeu ao cumprimento de seu amigo da
dar, por exemplo, é analisarmos o contexto maneira mais discreta que lhe foi possível,
em que estão 7quando precisam focar a aten- mas viu em pânico que ele atravessava a rua
ção e organizá-lo para que seja favorável a e vinha em sua direção, sorriso aberto e bra-
tal exigência. E é preciso lembrar que não se ços prontos para um abraço.
pode esperar toda a atenção delas por muito Pensou rapidamente em se esquivar – não
tempo: o ensino desse quesito no mundo de dava tempo: o americano também se detive-
hoje é um processo lento e gradual. ra, vendo o preto aproximar-se.
(SAYÃO, Rosely. Profusão de estímulos.
Era seu amigo, velho companheiro, um bom
Folha de S. Paulo, 11 fev. 2014.)
sujeito, dos melhores mesmo que já conhe-
Assinale a opção em que as palavras desta- cera – acaso jamais chegara sequer a se lem-
cadas recebem, respectivamente, a mesma brar que se tratava de um preto? Agora, com
classificação quanto à acentuação gráfica o gringo ali a seu lado, todo branco e sar-
que as palavras sublinhadas em “Se está di- dento, é que percebia pela primeira vez: não
fícil para nós, adultos [...]. Elas já, nasceram podia ser mais preto. Sendo assim, tivesse
neste mundo de profusão de estímulos[...].” paciência: mais tarde lhe explicava tudo, ha-
(ref. 3). veria de compreender. Passar fome era mui-
a) “Ela precisa estar atenta aos veículos que
to bonito nos romances de Knut Hamsun, li-
vêm atrás, ao lado e à crente, à velocidade
dos depois do jantar, e sem credores à porta.
média dos carros [...].” (ref. 4)
b) “Aliás, não é a combinação e a sucessão das Não teve mais dúvidas: virou a cara quando
palavras que dá sentido a um texto?” (ref. 5) o outro se aproximou e fingiu que não o via,
c) “[...] às informações de alguma emissora de que não era com ele.
rádio que comenta o trânsito, ao planeja- E não era mesmo com ele.
mento mental [...].” (ref. 6) Porque antes de 9cumprimentá-lo, talvez ain-
d) “[...] quando precisam focar a atenção e da sem 8tê-lo visto, o sambista abriu os braços
organizá-lo para que seja favorável a tal exi- para acolher o americano – também seu ami-
gência. E é preciso lembrar [...].“ (ref. 7) go.
e) “[...] profusão de estímulos [...]; elas são (SABINO, Fernando. A mulher do vizinho. 7. ed.
exigidas, desde o início da vida, a dar conta Rio de Janeiro: Record, 1962. p.163-4.)
de várias coisas [...].” (ref. 8)
Assinale a alternativa correta relativamente
4. (CFTSC) PRETO E BRANCO à acentuação gráfica das palavras sublinha-
das no texto.
Perdera o emprego, chegara a passar fome, a) O pronome ninguém (ref. 6) recebe acento
sem que 6ninguém soubesse: por constran- por ser uma monossílaba tônica terminada
gimento, afastara-se da roda 7boêmia escri-
em em.
tores, jornalistas, um sambista de cor que
vinha a ser o seu mais velho que antes costu- b) O substantivo boêmia (ref. 7) é acentuado
mava frequentar companheiro de noitadas. por ser palavra proparoxítona.
De repente, a salvação lhe apareceu na forma c) A combinação da forma verbal ter com o
de um americano, que lhe oferecia um em- pronome oblíquo o, resultou em tê-lo (ref.
prego numa agência. Agarrou-se com unhas 8), que é acentuado por se tratar de paroxí-
e dentes à oportunidade, vale dizer, ao ame- tona terminada em o.
ricano, para garantir na sua nova função d) A forma verbal cumprimentá (ref. 9) é acen-
uma relativa estabilidade. tuada porque, ao associar-se ao pronome o,
E um belo dia vai seguindo com o chefe pela
perdeu o r final, tornando-se uma oxítona
rua 10México, já distraído de seus passados tro-
peços, mas tropeçando obstinadamente no in- terminada em a.
glês com que se entendiam – quando vê do ou- e) O substantivo México (ref. 10) recebe acento
tro lado da rua um preto agitar a mão para ele. porque é uma palavra importada, que preci-
Era o sambista seu amigo. sa manter o acento original.

10
5. (IFAL) Assinale a alternativa em que as pa- a) estóico – proíbe – vôo
lavras, que completam a frase abaixo, estão b) hotéis – usuário – volátil
acentuadas corretamente. c) troféus – retórico – hífen
Os tabloides que eles __________, __________ d) herói – alcoólico – têm
manchetes curtas que todos __________.
a) leem – tem – veem 8. (IFAL) Cientistas americanos apresentaram
b) lêm – teem – vêm ontem resultados preliminares de uma va-
c) leem – têm – veem cina contra o fumo. O medicamento impede
d) leem – têm – vêm
que a nicotina – componente do tabaco que
e) lêm – tem – veem
causa dependência – chegue ao cérebro. Em
ratos vacinados, até da nicotina injetada
6. (COL. Naval) Em que opção a acentuação do deixou de atingir o sistema nervoso central.
termo destacado está correta? (O Globo,18/12/99.)
a) A prática da leitura constrói cidadãos capa-
zes de entender criticamente a realidade. Analise as afirmativas a seguir:
b) De acordo com o texto, pessoas que lêem, I. A palavra “cérebro” é paroxítona.
desenvolvem o raciocínio e falam melhor. II. “Cientistas” é, no texto, uma palavra
c) Quando o conferencista enfatizou a impor-
masculina, haja vista a concordância do
tância da leitura, foi ovacionado pela pla-
téia. adjetivo que a acompanha.
d) A ignorância prepotente deforma por estag- III. A palavra “até” é monossílabo tônico.
nação, pois o indivíduo pára de questionar. IV. A palavra “até” é oxítona terminada em
e) Se os livros são fundamentais na formação “e”, por isso é acentuada.
das pessoas, é bom que se averigúem as cau- V. No texto, há três palavras oxítonas que
sas da diminuição da leitura. não são acentuadas graficamente: dei-
xou, atingir e central.
7. (IFSUL) A partir da entrada em vigor do Estão corretas.
Acordo Ortográfico, a palavra assembleia a) apenas II e IV.
passou a ser grafada sem acento agudo. Qual b) apenas II, IV e V.
é a alternativa em que um ou mais vocábu- c) apenas I e III.
los, segundo as regras do Acordo Ortográfico, d) apenas III e V.
foi(ram) acentuado(s) INDEVIDAMENTE? e) apenas IV e V.

9. (IFSC)

Com relação à acentuação gráfica das palavras no texto, é CORRETO afirmar:


a) A palavra por (quinto quadrinho) deveria ter recebido acento diferencial por se tratar de uma forma verbal.
b) A palavra parabéns (terceiro quadrinho) recebe um acento diferencial porque está no plural.
c) A palavra ótima (terceiro quadrinho) recebe acento por ser proparoxítona.
d) A palavra me (primeiro quadrinho) deveria ter recebido acento, por ser monossílabo tônico terminado em e.
e) O acento na palavra é (terceiro quadrinho) pode ser classificado como diferencial, porque não há regra que
justifique seu uso.

1
0. (UTFPR) Em qual alternativa todas as palavras em negrito devem ser acentuadas graficamente?
a) Atraves de uma lei municipal, varias pessoas recebem ingressos gratis para o cinema.
b) É dificil correr atras do prejuizo sozinho.
c) Aqui, em Foz do Iguaçu, a dengue esta sendo um grande problema de saude publica.
d) O bisneto riscou os papeizinhos com o lapis.
e) O padrão economico do juiz é elevado.

11
E.O. Fixação O reconhecimento da homoafetividade como
união estável foi levado _____ efeito pelo
Supremo Tribunal Federal no ano de 2011,
1. (Imed) em decisão unânime e histórica. Agora esta
ADIANTE SEGUIU A JUSTIÇA é a realidade: homossexuais casam, têm fi-
Maria Berenice Dias lhos, ou seja, podem constituir família.
Ativismo judicial? Não, interpretação da Car-
Durante séculos, ninguém ­titubeava em res- ta Constitucional segundo um punhado de
ponder: família, só tem uma – a 2constituí- princípios fundamentais. É a Justiça cum-
da pelos sagrados laços do matrimônio. Aos prindo o seu papel de fazer justiça, mesmo
noivos era imposta a obrigação de se multi- diante da lacuna legal.
plicarem até a morte, mesmo na tristeza, na
Da inércia, passou o Legislativo, dominado
pobreza e na doença. Tanto que se falava em
por autointitulados profetas religiosos, a re-
débito conjugal.
agir.
Esse modelito se manteve, ao menos na apa-
Não foi outro o intuito do Estatuto da Fa-
rência, _____ expensas da integridade física
e psíquica das mulheres, que se mantinham mília, que acaba de ser aprovado pela co-
dentro de casamentos esfacelados, pois as- missão especial na Câmara dos Deputados
sim exigia a sociedade. Tanto que o casamen- (PL 6.583/2013). Tentar limitar o conceito
to era indissolúvel. As pessoas até podiam se de família à união entre um homem e uma
desquitar, mas não podiam se casar de novo. mulher, além de afrontar todos os princípios
Caso encontrassem um par, tornavam-se fundantes do Estado, impõe um retrocesso
concubinos e alvos de punições. social que irá retirar direitos de todos aque-
As mudanças foram muitas: vagarosas, mas les que não se encaixam neste conceito limi-
significativas. As causas, incontáveis. No tante e limitado.
entanto, o resultado foi um 10só. O conceito Mas _____ mais. Proceder ao cadastramento
de família mudou, se esgarçou. O casamento das entidades familiares e criar Conselhos
perdeu a sacralidade e permanecer dentro da Família é das formas mais perversas de
dele deixou de ser uma imposição social e excluir direito à saúde, à assistência psi-
uma obrigação legal. cossocial, à segurança pública, que são as-
Veio o 11divórcio. Antes, porém, o 12purgató- seguradas somente às entidades familiares
rio da separação, que exigia que se identi-
reconhecidas como tal. Limitar acesso à De-
ficassem causas, punindo-se os culpados. A
fensoria Pública e à tramitação prioritária
liberdade total de casar e descasar chegou
dos processos à entidade familiar definida
somente no ano de 2006.
na lei, às claras tem caráter punitivo.
A lei regulamentava exclusivamente o casa-
mento. Punia com o silêncio toda e qualquer O conceito de família mudou. E onde pro-
modalidade de estruturas familiares que se curar a sua definição atual? Talvez na frase
afastasse do modelo “oficial”. piegas de Saint-Exupéry: na responsabilida-
E foi assumindo a responsabilidade de jul- de decorrente do afeto.
(Zero Hora, Caderno PrOA, 27-09-2015.)
gar que os 14juízes começaram a alargar o
conceito de família. As mudanças chegaram Sobre o uso de acento gráfico em vocábulos
_____ Constituição Federal, que enlaçou no
do texto, analise as afirmações que seguem:
conceito de família, outorgando-lhes espe-
I. Em constituída (ref. 2) e juízes (ref. 14),
cial proteção, outras estruturas de convívio.
a letra i recebe acento gráfico por razões
Além do casamento, trouxe, de forma exem-
plificativa, a união estável entre um homem distintas.
e uma mulher e a chamada família parental: II. aparência (ref. 3) e purgatório (ref. 12)
um dos pais e seus filhos. recebem acento gráfico em virtude da
mesma regra.
Adiante ainda seguiu a Justiça. Reconheceu
III. As palavras só (ref. 10) e divórcio (ref.
que o rol constitucional não é exaustivo, e
continuou a reconhecer como família outras 11) são acentuadas a fim de marcar a so-
estruturas familiares. Assim as famílias ana- noridade da vogal o.
parentais, constituídas somente pelos filhos, Quais estão INCORRETAS?
sem a presença dos pais; as famílias paren- a) Apenas I.
tais, decorrentes do convívio de pessoas com b) Apenas II.
vínculo de parentesco; bem como as famílias c) Apenas III.
homoafetivas, que são as formadas por pes- d) Apenas I e II.
soas do mesmo sexo. e) Apenas I e III.

12
2. (IFPE) UMA REVISÃO DE DADOS RECENTES 3. (COL. Naval) Assinale a opção na qual as pa-
SOBRE A MORTE DE LÍNGUAS lavras foram acentuadas pelo mesmo motivo
que “aritméticos”, “prioritária”, “cálculos”
Linguistas preveem que metade das mais de e “Taubaté”, respectivamente.
mil línguas faladas no mundo desaparecerá a) rotatória, cólica, vermífugo, Maringá.
em um século – uma taxa de extinção que su- b) hebdomadário, ausência, andrógino, Itajaí.
pera as estimativas mais pessimistas quanto c) farmacêutico, ípsilon, síndrome, Piauí.
à extinção de espécies biológicas. (...) d) alaúde, húngaro, déspota, Grajaú.
Segundo a Unesco, 96% da população mun- e) anêmona, glúten, nômade, Tribobó.
dial falam só 4% das línguas existentes. E
apenas 4% da humanidade partilha o res-
tante dos idiomas, metade dos quais se en- 4. (IFSC) Texto 1: Livro
contra em perigo de extinção. Entre 20 e 30
Eu me livro daquele garoto chato
idiomas desaparecem por ano – uma média
Com um livro enfiado no meu nariz
de uma língua a cada duas semanas. (...)
Fingindo achar a história feliz.
A perda de línguas raras é lamentável por
(MARIA, Selma. Isso isso. São Paulo: Peirópolis, 2010. s/p.)
várias razões. Em primeiro lugar, pelo in-
teresse científico que despertam: algumas Texto 2
questões básicas da linguística estão longe
de estar inteiramente resolvidas. E essas lín-
guas ajudam a saber quais elementos da gra-
mática e do vocabulário são realmente uni-
versais, isto é, resultantes das características
do próprio cérebro humano.
A ciência também tenta reconstruir o per-
curso de antigas migrações, fazendo um le-
vantamento de palavras emprestadas, que
ocorrem em línguas sem qualquer parentes-
co. Afinal, se línguas não aparentadas par-
tilham palavras, então seus povos estiveram
em contato em algum momento.
Um comunicado do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) diz
que “o desaparecimento de uma língua e de
seu contexto cultural equivale a queimar um
livro único sobre a natureza”. Afinal, cada
povo tem um modo único de ver a vida. Por Considerando a posição da sílaba tônica e as
exemplo, a palavra russa mir significa igual- regras de acentuação das palavras, assinale a
mente “aldeia”, “mundo” e “paz”. É que, alternativa CORRETA:
como os aldeões russos da Idade Média ti- a) As palavras “garoto”, “história”, “feliz” e
nham de fugir para a floresta em tempos de “nariz”, do texto 1, são palavras proparoxí-
guerra, a aldeia era para eles o próprio mun- tonas, e “livro”, “dicionário”, “terminar” e
do, ao menos enquanto houvesse paz. “nunca”, do texto 2, são palavras oxítonas.
(Disponível em: <http://revistalingua.com.br/textos/116/a- b) As palavras “história”, do texto 1, e “dicio-
morte-anunciada-355517-1.asp>. Acesso em 28 set. 2015.) nário”, do texto 2, não deveriam estar acen-
tuadas, porque os acentos agudos não fazem
No início do texto, aparece a forma verbal
mais parte do português brasileiro.
“preveem”, que perdeu o acento circunflexo
c) A palavra “história”, do texto 1, é uma pa-
após o último acordo ortográfico. lavra paroxítona e está corretamente acen-
Assinale a única alternativa em que todas as tuada; e “você”, do texto 2, é uma palavra
palavras seguem o padrão de acentuação de- oxítona e deve ser acentuada da mesma for-
terminado pelo referido acordo. ma que “café”, “dendê”.
a) Eu fui à feira e comprei cinco pêras e três d) As palavras “história”, do texto 1, e “dicio-
maçãs. nário”, do texto 2, foram acentuadas corre-
b) A sonda espacial acabou de descobrir um tamente, mas possuem regras de acentuação
novo asteróide. diferentes, porque a primeira é considerada
c) Joana d’Arc é uma mártir da Guerra dos Cem paroxítona e, a segunda, proparoxítona.
anos. e) As palavras “nariz” e “feliz”, do texto 1, de-
d) Ele, estranhamente, saiu sem cumprimentar veriam estar acentuadas assim como as pa-
a platéia. lavras “terminar”, “ler”, “grosso” e “nunca”,
e) O Brasil acabou de enviar uma equipe de do texto 2, que deveriam receber acento cir-
pesquisa ao pólo Sul. cunflexo.

13
5. (IFSC) claridade do dia, sem que ninguém pudesse
evitá-la.
Moleques de carrinho corriam em todas as
direções, atropelando-se uns aos outros.
Queriam salvar as mercadorias que trans-
portavam. Não era o instinto de proprieda-
de que os impelia. Sentiam-se responsáveis
pelo transporte. E no atropelo da fuga, paco-
tes rasgavam-se, melancias rolavam, tomates
esborrachavam-se no asfalto. Se a fruta cai
no chão, já não é de ninguém; é de qualquer
um, inclusive do transportador. Em ocasiões
de assalto, quem é que vai reclamar uma
penca de bananas meio amassadas?
– Olha o assalto! Tem um assalto ali adiante!
O ônibus na rua transversal parou para as-
suntar. Passageiros ergueram-se, puseram o
nariz para fora. Não se via nada. O motoris-
ta desceu, desceu o trocador, um passageiro
Sobre o texto apresentado na tirinha é COR- advertiu:
RETO afirmar que: – No que você vai a fim de ver o assalto, eles
a) O pronome “vocês”, no primeiro quadrinho, assaltam sua caixa.
é acentuado por ser uma palavra paroxítona Ele nem escutou. Então os passageiros tam-
terminada em s. bém acharam de bom alvitre abandonar o ve-
b) A forma verbal “é”, que aparece no segundo ículo, na ânsia de saber, que vem movendo o
e quinto quadrinhos, é acentuada com base homem, desde a idade da pedra até a idade
na regra que manda acentuar as palavras do módulo lunar.
monossílabas tônicas terminadas em e (no Outros ônibus pararam, a rua entupiu.
quarto quadrinho não tem é). – Melhor. Todas as ruas estão bloqueadas.
c) O substantivo “país”, no segundo quadri- Assim eles não podem dar no pé.
nho, recebe acento porque é uma palavra – É uma mulher que chefia o bando!
oxítona terminada em is. – Já sei. A tal dondoca loura.
d) O substantivo “país”, no segundo quadri- – A loura assalta em São Paulo. Aqui é a mo-
nho, recebe acento diferencial para não ser rena.
– Uma gorda. Está de metralhadora. Eu vi.
confundido com o adjetivo “pais”.
– Minha Nossa Senhora, o mundo tá virado!
e) A regra que justifica o acento no pronome – Vai ver que está é caçando marido.
“ninguém”, que aparece no segundo e ter- – Não brinca numa hora dessas. Olha aí san-
ceiro quadrinhos, também justifica que se gue escorrendo!
acentue o advérbio “ontem”, opcionalmente. – Sangue nada, tomate.
Na confusão, circularam notícias diversas.
6. (IFSC) ASSALTO O assalto fora a uma joalheria, as vitrinas
tinham sido esmigalhadas a bala. E havia
Na feira, a gorda senhora protestou a altos joias pelo chão, braceletes, relógios. O que os
brados contra o preço do chuchu: bandidos não levaram, na pressa, era agora
– Isto é um assalto! objeto de saque popular. Morreram no míni-
Houve um rebuliço. Os que estavam perto mo duas pessoas, e três estavam gravemente
fugiram. Alguém, correndo, foi chamar o feridas.
guarda. Um minuto depois, a rua inteira, Barracas derrubadas assinalavam o ímpeto
atravancada, mas provida de admirável ser- da convulsão coletiva. Era preciso abrir ca-
viço de comunicação espontânea, sabia que minho a todo custo. No rumo do assalto, para
se estava perpetrando um assalto ao banco. ver, e no rumo contrário, para escapar. Os
Mas que banco? Havia banco naquela rua? grupos divergentes chocavam-se, e às vezes
Evidente que sim, pois do contrário como trocavam de direção: quem fugia dava mar-
poderia ser assaltado? cha à ré, quem queria espiar era arrastado
– Um assalto! Um assalto! – a senhora conti- pela massa oposta. Os edifícios de aparta-
nuava a exclamar, e quem não tinha escuta- mentos tinham fechado suas portas, logo
do escutou, multiplicando a notícia. Aquela que o primeiro foi invadido por pessoas que
voz subindo do mar de barracas e legumes pretendiam, ao mesmo tempo, salvar o pelo
era como a própria sirene policial, documen- e contemplar lá de cima. Janelas e balcões
tando, por seu uivo, a ocorrência grave, que apinhados de moradores, que gritavam:
fatalmente se estaria consumando ali, na – Pega! Pega! Correu pra lá!

14
– Olha ela ali! boêmia. Na definição de Antenor Nascentes:
– Eles entraram na kombi ali adiante! vida despreocupada e alegre, vadiação, es-
– É um mascarado! Não, são dois mascara- túrdia, vagabundagem. Aplicou-se depois o
dos! termo, especializadamente, à vida desorde-
Ouviu-se nitidamente o pipocar de uma nada e sem preocupações de artistas e escri-
metralhadora, a pequena distância. Foi um tores mais dados aos prazeres da noite que
deitar-no-chão geral, e como não havia es- aos trabalhos do dia. Eis um exemplo clássico
paço, uns caíam por cima de outros. Cessou o do que se chama degenerescência semântica.
ruído. Voltou. Que assalto era esse, dilatado De limpo gentílico – natural ou habitante da
no tempo, repetido, confuso? Boêmia – boêmio acabou carregado de todas
– Olha o diabo daquele escurinho tocando essas conotações desfavoráveis.
A respeito do substantivo boêmia, vale dizer
matraca! E a gente com dor de barriga, pen-
que a forma de uso, ao menos no Brasil, é
sando que era metralhadora!
boemia, acento tônico em -mi-. E é natural
Caíram em cima do garoto, que soverteu na
que assim seja, considerando-se que -ia é
multidão. A senhora gorda apareceu, muito
sufixo que exprime condição, estado, ocu-
vermelha, protestando sempre: pação. Conferir: alegria, anarquia, barbaria,
– É um assalto! Chuchu por aquele preço é rebeldia, tropelia, pirataria... Penso que so-
um verdadeiro assalto! bretudo palavras como folia e orgia devem
(ANDRADE, Carlos Drummond. Assalto. In: Para gostar ter influído na fixação da tonicidade de bo-
de ler. Vol. 3. SÃO PAULO: Ática, 1979. p. 12-14.)
emia. Notar também o par abstêmio/abste-
Em relação à acentuação gráfica, leia e anali- mia. Além do mais, a prosódia boêmia estava
se as seguintes afirmações: prejudicada na origem pelo nome 10próprio
Boêmia: esses boêmios não são os que vivem
I. As palavras notícias, relógio, ânsia e con-
na Boêmia...
trário são acentuadas por serem paroxíto-
(LUFT, Celso Pedro. Boêmios, Boêmia e boemia. In: O
nas e terminarem em ditongo.
romance das palavras. São Paulo: Ática, 1996. p. 30-31.)
II. Os vocábulos pé, lá, aí e já recebem acen-
to tônico por serem monossílabos tôni- Considere os pares de palavras abaixo.
cos. 1. puídos (ref. 7) e indivíduo (ref. 8)
III. As palavras veículo, módulo, ímpeto e 2. Boêmia (ref. 9) e próprio (ref. 10)
ônibus recebem acento gráfico por serem 3. deus-dará (ref. 11) e Daí (ref. 12)
proparoxítonas. Em quais pares as palavras respeitam a mes-
Assinale a alternativa CORRETA. ma regra de acentuação ortográfica?
a) Apenas as afirmações I e III são verdadeiras. a) Apenas 1.
b) Apenas a afirmação II é verdadeira. b) Apenas 2.
c) Apenas as afirmações I e II são verdadeiras. c) Apenas 3.
d) Apenas as afirmações II e III são verdadeiras. d) Apenas 1 e 2.
e) Todas as afirmações são verdadeiras. e) Apenas 1 e 3.

7. (UFRGS) No século XV, viu-se a Europa in- 8. (COL. Naval) Quando a rede vira um vício
vadida por uma raça de homens que, vin-
dos ninguém sabe de onde, se espalharam Com o titulo “Preciso de ajuda”, fez-se um
em bandos por todo o seu território. Gente desabafo aos integrantes da comunidade Vi-
inquieta e andarilha, deles afirmou Paul de ciados em Internet Anônimos: “Estou muito
Saint-Victor que era mais fácil predizer o dependente da web, Não consigo mais viver
........ das nuvens ou dos gafanhotos do que normalmente. Isso é muito sério”. Logo ob-
seguir as pegadas da sua invasão. Uns riso- teve resposta de um colega de rede. “Estou
nhos despreocupados: passavam a vida es- na mesma situação. Hoje, praticamente vivo
quecidos do passado e descuidados do futu- em frente ao computador. Preciso de ajuda.”
ro. Cada novo dia era uma nova aventura em O diálogo dá a dimensão do tormento pro-
busca do escasso alimento para os manter vocado pela dependência em Internet, um
naquela jornada. Trajo? No mais completo mal que começa a ganhar relevo estatístico,
........: ........ sujos e puídos cobriam-lhes os à medida que o uso da própria rede se disse-
corpos queimados do sol. Nômades, aventu- mina. Segundo pesquisas recém-conduzidas
reiros, despreocupados – eram os boêmios. pelo Centro de Recuperação para Dependên-
Assim nasceu a semântica da palavra boê- cia de Internet, nos Estados Unidos, a parce-
mio. O nome gentílico de 9Boêmia passou a la de viciados representa, nos vários países
aplicar-se ao 8indivíduo despreocupado, de estudados, de 5% (como no Brasil) a 10%
existência irregular, relaxado no vestuário, dos que usam a web – com concentração na
vivendo ao 11deus-dará, à toa, na vagabun- faixa dos 15 aos 29 anos. Os estragos são
dagem alegre. 12Daí também o substantivo enormes. Como ocorre com um viciado em

15
álcool ou em drogas, o doente desenvolve por se definir, a internet proporciona um
uma tolerância que, nesse caso, o faz ficar ambiente favorável para que eles se expres-
on-line por uma eternidade sem se dar conta sem livremente”. No perfil daquela minoria
do exagero. Ele também sofre de constantes que, mais tarde, resvala no vicio se vê, em
crises de abstinência quando está desconec- geral, uma combinação de baixa autoestima
tado, e seu desempenho nas tarefas de na- com intolerância à frustração. Cerca de 50%
tureza intelectual despenca. Diante da tela deles, inclusive, sofrem de depressão, fobia
do computador, vive, aí sim, momentos de social ou algum transtorno de ansiedade. É
rara euforia. Conclui uma psicóloga america- nesse cenário que os múltiplos usos da rede
na: “O viciado em internet vai, aos poucos, ganham um valor distorcido. Entre os que já
perdendo os elos com o mundo real até de-
têm o vicio, a maior adoração é pelas redes
sembocar num universo paralelo – e comple-
de relacionamento e pelos jogos on-line, so-
tamente virtual”.
bretudo por aqueles em que não existe noção
Não é fácil detectar o momento em que al-
de começo, meio ou fim.
guém deixa de fazer uso saudável e produ-
tivo da rede para estabelecer com ela uma Desde 1996, quando se consolidou o pri-
relação doentia, como a que se revela nas meiro estudo de relevo sobre o tema, nos
histórias relatadas ao longo desta reporta- Estados Unidos, a dependência em internet
gem. Em todos os casos, a internet era ape- é reconhecida – e tratada – como uma doen-
nas “útil” ou “divertida” e foi ganhando um ça. Surgiram grupos especializados por toda
espaço central, a ponto de a vida longe da parte. “Muita gente que procura ajuda ainda
rede ser descrita agora como sem sentido. resiste à ideia de que essa é uma doença”,
Mudança tão drástica se deu sem que os pais conta um psicólogo. O prognóstico é bom:
atentassem para a gravidade do que ocorria. em dezoito semanas de sessões individuais e
“Como a internet faz parte do dia a dia dos em grupo, 80% voltam a níveis aceitáveis de
adolescentes e o isolamento é um compor- uso da internet. Não seria factível, tampou-
tamento típico dessa fase da vida, a famí- co desejável, que se mantivessem totalmente
lia raramente detecta o problema antes de distantes dela, como se espera, por exemplo,
ele ter fugido ao controle”, diz um psiquia- de um alcoólatra em relação à bebida. Com a
tra. A ciência, por sua vez, já tem bem ma rede, afinal, descortina-se uma nova dimen-
peados os primeiros sintomas da doença. De são de acesso às informações, à produção de
saída, o tempo na internet aumenta – até conhecimento e ao próprio lazer, dos quais,
culminar, pasme-se, numa rotina de catorze em sociedades modernas, não faz sentido se
horas diárias, de acordo com o estudo ame- privar. Toda a questão gira em torno da dose
ricano. As situações vividas na rede passam,
ideal, sobre a qual já existe um consenso
então, a habitar mais e mais as conversas.
acerca do razoável: até duas horas diárias,
É típico o aparecimento de olheiras profun-
no caso de crianças e adolescentes. Quanto
das e ainda um ganho de peso relevante, re-
antes a ideia do limite for sedimentada, me-
sultado da frequente troca de refeições por
sanduíches – que prescindem de talheres e lhor. Na avaliação de uma das psicólogas, “Os
liberam uma das mãos para o teclado. Grada- pais não devem temer o computador, mas,
tivamente, a vida social vai se extinguindo. sim, orientar os filhos sobre como usá-lo de
Alerta outra psicóloga: “Se a pessoa começa forma útil e saudável”. Desse modo, reduz-
a ter mais amigos na rede do que fora dela, -se drasticamente a possibilidade de que, no
é um sinal claro de que as coisas não vão futuro, eles enfrentem o drama vivido hoje
bem”. pelos jovens viciados.
Os jovens são, de longe, os mais propensos a (Silvia Rogar e João Figueiredo. In: Revista
extrapolar o uso da internet. Há uma razão Veja, 24 de março de 2010.)
estatística para isso – eles respondem por
Assinale a opção cujas palavras são, respec-
até 90% dos que navegam na rede, a maior
tivamente, acentuadas pela mesma justifi-
fatia –, mas pesa também uma explicação de
fundo mais psicológico, à qual uma recen- cativa das que aparecem destacadas em “Na
te pesquisa lança luz. Algo como 10% dos avaliação de uma das psicólogas, ‘os pais não
entrevistados (viciados ou não) chegam a devem temer o computador, mas, sim, orien-
atribuir à internet uma maneira de “aliviar tar os filhos sobre como usá-lo de forma útil
os sentimentos negativos”, tão típicos de e saudável’.” (4° parágrafo)
uma etapa em que afloram tantas angústias a) Família, incluí-lo, saída.
e conflitos. Na rede, os adolescentes sentem- b) Prognóstico, atrás, fútil.
-se ainda mais à vontade para expor suas c) Plausível, alguém, factível.
ideias. Diz um outro psiquiatra: “Num mo- d) Alcoólatra, razoável, vício.
mento em que a própria personalidade está e) Múltiplos, amá-la, intolerância.

16
9. (UFRGS) Darwin passou quatro meses no 1
0. (EPCAR) QUARTO DE DESPEJO
Brasil, em 1832, durante a sua 2célebre via-
gem a bordo do Beagle. Voltou impressiona- “O grito da favela que tocou a consciência do
do com o que viu: “5Delícia é um termo 17in- mundo inteiro”
suficiente para exprimir as emoções sentidas 2 de MAIO de 1958. Eu não sou indolente. Há
por um naturalista a 8sós com a natureza em tempos que eu pretendia fazer o meu diario.
uma floresta brasileira”, escreveu. O Brasil, Mas eu pensava que não tinha valor e achei
11
porém, aparece de forma menos 21idílica que era perder tempo.
em seus escritos: “Espero nunca mais voltar ...Eu fiz uma reforma para mim. Quero tratar
a um 12país escravagista. O estado da enorme as pessoas que eu conheço com mais aten-
população escrava deve preocupar todos os ção. Quero enviar sorriso amavel as crianças
que chegam ao Brasil. Os senhores de escra- e aos operarios.
vos querem ver o negro romo outra espécie, ...Recebi intimação para comparecer as 8 ho-
mas temos todos a mesma origem.” ras da noite na Delegacia do 12. Passei o dia
Em vez do gorjeio do 6sabiá, o que Darwin catando papel. A noite os meus pés doiam
guardou nos ouvidos foi um som 3terrível tanto que eu não podia andar.
que o acompanhou por toda a vida: “13Até Começou chover. Eu ia na Delegacia, ia le-
hoje, se eu ouço um grito, lembro-me, com var o José Carlos. A intimação era para ele. O
dolorosa e clara memória, de quando pas- José Carlos tem 9 anos.
sei numa casa em Pernambuco e ouvi urros 3 de MAIO. ...Fui na feira da Rua Carlos de
14
terríveis. Logo entendi que era algum po- Campos, catar qualquer coisa. Ganhei bas-
bre escravo que estava sendo torturado,” tante verdura. Mas ficou sem efeito, porque
Segundo o 4biólogo Adrian Desmond, “a via- eu não tenho gordura. Os meninos estão ner-
gem do Beagle, para Darwin, foi menos 41im- vosos por não ter o que comer.
portante pelos 15espécimes coletados do que 6 de MAIO. De manhã não fui buscar agua.
pela 16experiência de testemunhar os horro- Mandei o João carregar. Eu estava contente.
res da escravidão no Brasil. De certa forma, Recebi outra intimação. Eu estava inspira-
ele escolheu focar na descendência comum da e os versos eram bonitos e eu esqueci de
ir na Delegacia. Era 11 horas quando eu re-
do homem justamente para mostrar que to-
cordei do convite do ilustre tenente da 12ª
das as raças eram iguais e, desse modo, en-
Delegacia.
fim, objetar àqueles que insistiam em dizer
...o que eu aviso aos pretendentes a política,
que os negros pertenciam a uma espécie di-
é que o povo não tolera a fome. É preciso co-
ferente e inferior à dos brancos”. Desmond
nhecer a fome para saber descrevê-la.
acaba de lançar um estudo que mostra a pai-
Estão construindo um circo aqui na Rua Ara-
xão abolicionista do cientista, revelada por guaia, Circo Theatro Nilo.
seus 7diários e cartas pessoais. “A extensão 9 de MAIO. Eu cato papel, mas não gosto.
de seu interesse no combate à ciência de Então eu penso: Faz de conta que estou so-
cunho racista 9é surpreendente, e pudemos nhando.
detectar um ímpeto moral por 10trás de seu 10 de MAIO. Fui na Delegacia e falei com o
trabalho sobre a evolução humana – uma Tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse
crença na ‘irmandade racial’ que tinha ori- que ele era tão amavel, eu teria ido na Dele-
gem em seu ódio ao escravismo e que o levou gacia na primeira intimação.
a pensar numa descendência comum.” (...) O Tenente interessou-se pela educação
(HAAG, C. O elo perdido tropical. Pesquisa dos meus filhos. Disse-me que a favela é um
FAPESP, n. 159, p. 80 - 85, maio 2009.)
ambiente propenso, que as pessoas tem mais
Assinale a alternativa em que as três pala- possibilidades de delinquir do que tornar-se
vras são acentuadas graficamente pela mes- util a patria e ao país. Pensei: se ele sabe
ma razão. disso, porque não faz um relatorio e envia
a) célebre (ref. 2) - terrível (ref. 3) - biólogo para os politicos? O Senhor Janio Quadros, o
(ref. 4) Kubstchek, e o Dr Adhemar de Barros? Agora
b) Delícia (ref. 5) - sabiá (ref. 6) - diários (ref. 7) falar para mim, que sou uma pobre lixeira.
c) sós (ref. 8) - é (ref. 9) - trás (ref. 10) Não posso resolver nem as minhas dificul-
d) porém (ref. 11) - país (ref. 12) - Até (ref. 13) dades.(...) O Brasil precisa ser dirigido por
e) terríveis (ref. 14) - espécimes (ref. 15) - ex- uma pessoa que já passou fome. A fome tam-
periência (ref. 16) bem é professora. Quem passa fome aprende
a pensar no proximo e nas crianças.
11 de MAIO. Dia das mães. O céu está azul
e branco. Parece que até a natureza quer
homenagear as mães que atualmente se

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sentem infeliz por não realizar os desejos a) “...as pessoas tem mais possibilidades de de-
de seus filhos. (...) O sol vai galgando. Hoje linquir...”
não vai chover. Hoje é o nosso dia. (...) A b) “Pretendia comprar um pouco de farinha
D. Teresinha veio visitar-me. Ela deu-me 15 para fazer um virado.”
cruzeiros. Disse-me que era para a Vera ir c) “Nas prisões os negros eram os bodes expia-
no circo. Mas eu vou deixar o dinheiro para torios.”
comprar pão amanhã, porque eu só tenho 4 d) “...os meus pés doiam tanto que eu não po-
cruzeiros.(...) Ontem eu ganhei metade da dia andar.”
cabeça de um porco no frigorifico. Comemos
a carne e guardei os ossos para ferver. E com
o caldo fiz as batatas. Os meus filhos estão E.O. Complementar
sempre com fome. Quando eles passam mui-
ta fome eles não são exigentes no paladar. 1. (IFSUL) Crônica parafraseada de uma Síria
(...) Surgiu a noite. As estrelas estão ocultas. em guerra
O barraco está cheio de pernilongos. Eu vou
acender uma folha de jornal e passar pelas Ela abre os olhos. Não fosse o cheiro horrível
paredes. É assim que os favelados matam de morte, o silêncio seria até agradável, mas
mosquitos. o olfato a lembra que não há paz – nem pes-
13 de MAIO. Hoje amanheceu chovendo. É soas, vizinhos, crianças. A trégua na manhã-
um dia simpatico para mim. É o dia da Abo- zinha não traz esperança. Tão somente lhe
lição. Dia que comemoramos a libertação permite descansar o corpo, mas não a mente.
dos escravos. Nas prisões os negros eram os As lembranças da noite anterior ainda pro-
duzem sobressaltos. Bombas, casas caindo e
bodes expiatorios. Mas os brancos agora são
soldados gritando.
mais cultos. E não nos trata com desprezo.
Levanta-se, bebe o pouco da água que restou
Que Deus ilumine os brancos para que os pre-
do copo ao lado da cama. Já não é tão lim-
tos sejam feliz. (...) Continua chovendo. E eu pa, nem farta como antes. Sempre um gosto
tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mes- amargo misturado com
mo assim, mandei os meninos para a esco- Abre a geladeira, e só encontra comida enla-
la. Estou escrevendo até passar a chuva para tada e congelada. E mesmo não tão congela-
mim ir lá no Senhor Manuel vender os ferros. da assim, já que os cortes diários de eletrici-
Com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz dade derretem as camadas de gelo.
e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou Os sobrinhos ainda dormem, e ela tenta orar.
sair. (...) Eu tenho dó dos meus filhos. Quan- Não consegue. A mente desconcentra-se fa-
do eles vê as coisas de comer eles brada: Viva cilmente. Em uma prece fragmentada, pede
a mamãe!. A manifestação agrada-me. Mas a Deus descanso e trégua. E faz a oração sem
eu já perdi o habito de sorrir. Dez minutos pensar muito. Não precisa; é a mesma oração
depois eles querem mais comida. Eu man- das últimas semanas.
dei o João pedir um pouquinho de gordura a Ela não quer sair de casa. Não é teimosia,
Dona Ida. Mandei-lhe um bilhete assim: é falta de opção. “Para onde ir?”, pergunta,
“Dona Ida peço-te se pode me arranjar um com uma voz desesperançosa. Está tão con-
pouquinho de gordura, para eu fazer sopa fusa que não consegue imaginar saídas.
para os meninos. Hoje choveu e não pude ca- Nem a piedade de enterrar os mortos o go-
verno permite. Cadáveres estão espalhados
tar papel. Agradeço. Carolina”
pelas ruas. As forças de Assad 3impediram de
(...) Choveu, esfriou. É o inverno que chega.
sepultar ou mesmo remover os restos mor-
E no inverno a gente come mais. A Vera co-
tais. Ou seja, mesmo viva, ela não tem como
meçou a pedir comida. E eu não tinha. Era fugir da morte escancarada diante de seus
a reprise do espetaculo. Eu estava com dois olhos. Não é fácil acreditar na vida, quando
cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de a realidade grita o contrário.
farinha para fazer um virado. Fui pedir um Se não podem sepultar os mortos, os sobre-
pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a viventes tentam ao menos ajudar a curar as
banha e arroz. Era 9 horas da noite quando feridas dos machucados. Não podem levá-los
comemos. aos hospitais da cidade, já que há um medo
E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava generalizado de que o governo prenda os fe-
contra a escravatura atual – a fome! ridos como se fossem prisioneiros de guerra.
(DE JESUS, Carolina Maria. Quarto de Despejo.) Resta improvisar atendimento nos campos.
Não bastasse a precariedade do atendimen-
Pode-se afirmar que um recorrente problema to, não há medicamentos suficientes.
encontrado no texto, no que se refere ao uso Rebeca, de 32 anos, é trabalhadora autôno-
da língua padrão, está relacionado à acen ma. Ou melhor, 4era. Agora já não sabe mais
tuação gráfica. Assinale a alternativa em que o que é e o que faz em sua cidade Damasco,
esse fato NÃO ocorre. capital da Síria.

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Crônica parafraseada do depoimento de uma aí a sua maior fraqueza, já que dessa vege-
moradora da capital da Síria (identificada tação foi destruída pelo homem. A ave, que
apenas pela letra “R”) ao jornal Folha de também era encontrada em Minas Gerais,
São Paulo, de quarta-feira, dia 25. A Síria hoje só pode ser vista no Espírito Santo.
está em revolta há 16 meses contra a dita- “A extinção está associada à destruição se-
dura de Bashar al-Assad. Nos últimos dias, o cular da Mata Atlântica, porque a espécie só
confronto contra os rebeldes se acirrou e as sobrevive em florestas muito bem conser-
mortes aumentaram. vadas”, diz o biólogo Edson Ribeiro Luiz,
(Disponível em: <http://ultimato.com.br/sites/ coordenador de projetos da SAVE Brasil, ONG
fatosecorrelatos/2012/07/26/cronica-parafraseada-de-
ligada à Bird Life International, que tem
uma-siria-em-guerra/>. Acesso em: 14 set. 2015.)
como foco a proteção das aves brasileiras.
Sobre a acentuação gráfica, são feitas as se- “Em território capixaba, onde existe apenas
guintes afirmações: um bloco de vegetação preservado, elas ten-
I. As palavras horrível, agradável e fácil se- dem a ficar ilhadas.”
guem a regra de acentuação gráfica das A luta para proteger a ave ganhou força no
oxítonas. mês passado, quando aconteceu no Estado o
II. Os vocábulos só, há e já recebem acento Avistar, principal evento de observação de
gráfico em decorrência de regras distin- pássaros do país. Tendo na saíra-apunhalada
tas. o seu símbolo, a festa foi o incentivo que
III. A presença ou a ausência do acento grá- faltava para que o Instituto Estadual de Meio
fico na palavra e é determinante para a Ambiente (IEMA) estabelecesse o prazo de
classificação gramatical desse vocábulo. março de 2016 para a constituição da re-
IV. As palavras levá-las, diários, contrário se- serva. A decisão final, porém, continua nas
guem a regra de acentuação gráfica das mãos do governo.
paroxítonas. (Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/
Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s) ambientalistaspressionam- governo-capixaba-a-proteger-
a) I, III e IV apenas. ave-sairaapunhalada>. Acesso em: 13/11/2015.)
b) II e IV apenas.
Quanto à acentuação das palavras, assinale a
c) I, II, III e IV.
afirmação verdadeira.
d) III apenas.
a) Os vocábulos “é”, “já” e “só” recebem acento
por constituírem monossílabos tônicos fe-
2. (ESPCEX) Assinale a alternativa cujo vocá- chados.
bulo só pode ser empregado com acento grá- b) As palavras “saíra”, “destruída” e “aí” acen-
fico.
tuam-se pela mesma razão.
a) Diálogo
c) Acentuam-se “simpática”, “centímetros”,
b) Até
“simbólica” porque todas as paroxítonas são
c) Análogo
acentuadas.
d) É
d) A palavra “tendem” deveria ser acentuada
e) Música
graficamente, como “também” e “porém”.
e) O nome “Luiz” deveria ser acentuado gra-
3. (IFAL) À beira da extinção, ave saíra-apu- ficamente, pela mesma razão que a palavra
nhalada tem rara chance de se recuperar na “país”.
natureza
A saíra-apunhalada (o nome faz referên- 4. (IFSUL)
cia à mancha vermelha no peito do pássa-
ro, que se assemelha a uma “punhalada”) é Texto 1
uma ave simpática de dez centímetros, com
O PREÇO DE SER DE VERDADE
plumagem branca e cinza. A alcunha, que
Fernanda Pinho
na origem só fazia referência ao visual da
espécie, agora serve bem como indicação Acabei de ler um livro que me marcou bas-
simbólica do perigo pelo qual passa a saíra: tante. Chama-se “A Extraordinária Garota
estimativas indicam que só existem 50 delas Chamada Estrela”, do autor Jerry Spinelli.
na natureza. Para protegê-la, ONGs e órgãos Estrela tem um rato de estimação, fica fe-
ambientalistas do governo lutam para que liz quando seu time faz cesta no basquete
seja criada uma reserva florestal de 5 mil (mas quando o outro time pontua, também),
hectares na região serrana capixaba. distribui cartões de aniversários para desco-
A saíra-apunhalada vive em bandos e se ali- nhecidos, usa as roupas de que gosta (e isso
menta de pequenos insetos e frutos. Ela vive pode ser um vestido que esteve na moda du-
no alto de florestas da Mata Atlântica, e está zentos anos atrás), tenta trazer um pouco de

19
alegria tirando canções de seu ukulele que Texto 2
leva sempre a tiracolo. Num primeiro mo-
mento, junto com o impacto de sua chegada COMO NASRUDIN CRIOU A VERDADE
Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din)
à escola nova, Estrela desperta simpatias.
Afinal, este livro nada mais é que uma deli-
– As leis não fazem com que as pessoas fi-
cada e verdadeira metáfora da vida.
quem melhores – disse Nasrudin ao rei.
E a princípio somos assim. Grandes admi-
– Elas precisam, antes, praticar certas coisas
radores da autenticidade. Capazes de fazer
de maneira a entrar em sintonia com a ver-
discursos inflamados defendendo a liberda-
dade interior, que se assemelha apenas leve-
de de cada um fazer o que quiser, respei- mente à verdade aparente. O rei, no entanto,
tar as próprias convicções, seguir o que seu decidiu que ele poderia, sim, fazer com que
coração manda, persistir nos seus sonhos, as pessoas observassem a verdade, que po-
manter relações com quem se sente à von- deria fazê-las observar a autenticidade – e
tade, construir seu próprio caminho. Lindo, assim o faria. O acesso a sua cidade dava-se
maravilhoso. Se ficar só no discurso, melhor através de uma ponte. Sobre ela, o rei orde-
ainda. nou que fosse construída uma forca. Quando
Porque, em algum momento, Estrela vai le- os portões foram abertos, na alvorada do dia
vantar suspeitas. “Ninguém pode ser tão le- seguinte, o chefe da guarda estava a postos
gal assim”. E da suspeita para a rejeição se em frente de um pelotão para testar todos os
passa num piscar de olhos. Por que ninguém que por ali passassem. Um edital fora ime-
pode ser “tão legal assim”? Porque ser legal diatamente publicado: “Todos serão interro-
demais implica ser diferente e a gente pode gados. Aquele que falar a verdade terá seu
até admirar pessoas que fazem tudo o que ingresso na cidade permitido. Caso mentir,
“dá na telha”, desde que mantenham uma será enforcado". Nasrudin, na ponte entre
distância de segurança de nós, por favor. alguns populares, deu um passo à frente e
começou a cruzar a ponte.
E, veja bem, quando eu falo de gente que
– Aonde o senhor pensa que vai? – pergun-
faz tudo o que “dá na telha”, eu não estou
tou o chefe da guarda.
me referindo a nada que possa machucar ou
– Estou a caminho da forca – respondeu Nas-
prejudicar o outro de alguma forma. Estou
rudin, calmamente. – Não acredito no que
falando de atitudes inocentes, mas que, por está dizendo!
sair da previsibilidade, são tratadas quase – Muito bem, se eu estiver mentindo, pode
como se fossem atos imperdoáveis. me enforcar.
Gente que dança como se ninguém estives- – Mas se o enforcarmos por mentir, faremos
se olhando, que ignora a uniformização das com que aquilo que disse seja verdade!
vitrines e faz a própria moda, que se recusa – Isso mesmo – respondeu Nasrudin, sentin-
a fazer social em ambientes inóspitos, que do-se vitorioso. – Agora vocês já sabem o que
fala a verdade quando questionada, que dá é a verdade: é apenas a sua verdade.
abraços de dez minutos, que ri na hora que (Disponível em: <http://metaforas.com.br/como-
tem vontade de rir, que chora na hora que nasrudin-criou-a-verdade>. Acesso em: 14 abr.2015.)
tem vontade de chorar, que fala “eu te amo”
Nos textos 1 e 2, aparecem várias palavras
quando sente que ama, que escolheu não
acentuadas graficamente.
perder tempo com quem lhe faz mal, que
Em que alternativa as palavras seguem a re-
muda o rumo da própria vida, que ignora
gra de acentuação das oxítonas?
as etiquetas e as convenções. Sabe essa gen- a) terá, juízo, ninguém.
te louca, sem noção, desvairada, sem juízo, b) fazê-las, através, será.
perturbada? Então, elas não são nada disso. c) vocês, construída, previsível.
São apenas pessoas autênticas e verdadeiras, d) imperdoáveis, metáfora, você.
que se respeitam muito (e só quem se res-
peita muito é capaz de respeitar o outro). 5. (IFAL) COMO PREVENIR A VIOLÊNCIA DOS
Elas não estão fazendo nada de mau. Nada ADOLECENTES
que irá prejudicar você ou quem quer que
seja. E por que te incomodam tanto? Bom, “(...) Quando deparo com as notícias sobre
apenas optaram optaram por fazer o que ti- crimes hediondos envolvendo adolescen-
nham vontade, e não o que você, preso em tes, como o ocorrido com Felipe Silva Caffé
seu mundo limitado e previsível, esperava. e Liana Friedenbach, fico profundamente
(Disponível em: <http://www.cronicadodia.com.
triste e constrangida. Esse caso é consequ-
br/2014/10/o-preco-de-ser-de-verdade-fernanda- ência da baixa valorização da prevenção pri-
pinho.html>. Acesso em: 7 abr. 2015.) mária da violência por meio das estratégias

20
cientificamente comprovadas, facilmente luta contra a mortalidade infantil, a desnu-
replicáveis e definitivamente muito mais trição e a violência intrafamiliar contou com
baratas do que a recuperação de crianças e a contribuição dessa enorme rede de solida-
adolescentes que comentem atos infracio- riedade da Pastoral da Criança. (...)”
nais graves contra a vida. “(...) A segunda área da maior importância
Talvez seja porque a maioria da população nessa prevenção primária da violência envol-
não se deu conta e os que estão no poder nos vendo crianças e adolescentes é a educação,
três níveis não estejam conscientes de seu
a começar pelas creches, escolas infantis e
papel histórico e de sua responsabilidade le-
gal de cuidar do que tem de mais importante de educação fundamental e de nível médio,
à nação: as crianças e os adolescentes, que que devem valorizar o desenvolvimento do
são o futuro do país e do mundo. raciocínio e a matemática, a música, a arte, o
A construção da paz e a prevenção da violên- esporte e a prática da solidariedade humana.
cia dependem de como promovemos o desen- As escolas nas comunidades mais pobres
volvimento físico, social, mental, espiritual e deveriam ter dois turnos, para darem con-
cognitivo das nossas crianças e adolescentes, ta da educação integral das crianças e dos
dentro do seu contexto familiar e comunitá- adolescentes; deveriam dispor de equipes
rio. Trata-se, portanto, de uma ação inter- multiprofissionais atualizadas e capacitadas
setorial, realizada de maneira sincronizada a avaliar periodicamente os alunos. Urgente
em cada comunidade, com a participação das é incorporar os ministérios do Esporte e da
famílias, mesmo que estejam incompletas ou Cultura às iniciativas da educação, com ati-
desestruturadas (...)” vidades em larga escala e simples, baratas,
“(...) Em relação às crianças e adolescentes facilmente replicáveis e adaptáveis em todo
que cometeram infrações leves ou modera- o território nacional. (...)”
das – que deveriam ser mais bem expressas “(...) Com relação à idade mínima para a
– seu tratamento para a cidadania deveria maioridade penal, deve permanecer em 18
ser feito com instrumentos bem elaborados e anos, prevista pelo Estatuto da Criança e do
colocados em prática, na família ou próxima Adolescente e conforme orientações da ONU.
dela, com acompanhamento multiprofissio- Mas o tempo máximo de três anos de reclu-
nal, desobstruindo as penitenciárias, verda- são em regime fechado, quando a criança ou
deiras universidades do crime. (...)” o adolescente comete crime hediondo, mes-
“(...) A prevenção primária da violência ini- mo em locais apropriados e com tratamento
cia-se com a construção de um tecido social multiprofissional, que urgentemente preci-
saudável e promissor, que começa antes do sam ser disponibilizados, deve ser revisto.
nascer, com um bom pré-natal, parto de qua- Três anos, em muitos casos, podem ser ab-
lidade, aleitamento materno exclusivo até solutamente insuficientes para tratar e pre-
seis meses e o complemento até mais de um parar os adolescentes com graves distúrbios
ano, vacinação, vigilância nutricional, edu- para a convivência cidadã. (...)”
cação infantil, principalmente propiciando o (Zilda Arns Neumann, 69, médica pediatra e sanitarista;
desenvolvimento e o respeito à fala da crian- foi fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da
ça, o canto, a oração, o brincar, o andar, o Criança. Publicado em: Folha de S. Paulo, 26/11/2003.).
jogar; uma educação para a paz e a nãovio-
lência. Foram retiradas do texto as seguintes palavras
A pastoral da criança, que em 2003 comple- acentuadas: ministérios, replicáveis, adaptá-
ta 20 anos, forma redes de ação para mul- veis, máximo, distúrbios, convivências.
tiplicar o saber e a solidariedade junto às Assinale a alternativa que melhor justifica a
famílias pobres do país, por meio de mais de acentuação gráfica.
230 mil voluntários, e acompanhou no ter- a) De todas as palavras destacadas, somente
ceiro trimestre deste ano cerca de 1,7 milhão “máximo” não se insere na mesma regra de
de crianças menores de seis anos e 80 mil acentuação gráfica.
gestantes, de mais de 1,2 milhão de famí- b) Todas as palavras mencionadas seguem o
lias, que moram em 34.784 comunidades de mesmo padrão ou regra de acentuação gráfica.
3.696 municípios do país. c) Com exceção de “máximo” e “convivência”,
O Brasil é o país que mais reduziu a mortali- que são proparoxítonas, as demais palavras
dade infantil nos últimos dez anos; isso, sem são acentuadas pelo mesmo motivo.
dúvida, é resultado da organização e univer- d) Três regras de acentuação contemplam as
salização dos serviços de saúde pública, da palavras supracitadas: a das proparoxítonas,
melhoria da atenção primária, com todas as a das paroxítonas terminadas em ditongos e
limitações que o SUS possa ainda possuir, as que terminam em hiato, que, no caso em
da descentralização e municipalização dos análise, trata-se da palavra “convivência”.
recursos e dos serviços de saúde. A intensa e) Todas são proparoxítonas.

21
E.O. Dissertativo que nunca escrevi, agora frequento a inter-
net com um Twitter.
Aviso: não tenho tuiter, não recebo tuiter,
1. (FGV) O artista Juan Diego Miguel apresenta não sei o que é tuiter.
a exposição Arte e Sensibilidade, no Museu E desautorizo qualquer frase de tuiter atri-
Brasileiro da Escultura (MUBE) de suas obras buída a mim a não ser que ela seja absoluta-
que acabam de chegar no país. mente genial. Brincadeira, mas já fui obri-
Seu sentido de inovação tanto em temas como gado a aceitar a autoria de mais de um texto
em materiais que elege é sempre de uma sen- apócrifo (e agradecer o elogio) para não cau-
sação extraordinária para o espectador. sar desgosto, ou até revolta. Como a daquela
Juan Diego sensibiliza-se com os materiais senhora que reagiu com indignação quando
que nos rodeam e lhes da vida com uma na- eu inventei de dizer que um texto que ela
turalidade impressionante, encontrando li- lera não era meu:
berdade para buscar elementos no fauvismo — É sim.
de Henri Matisse, no cubismo de Pablo Pi- — Não, eu acho que...
casso e do contemporâneo de Juan Gris. Uma — É sim senhor!
arte que está reservada para poucos. Concordei que era, para não apanhar. O
(Exposição: de 03 de agosto à 02 de
curioso, e o assustador, é que, em textos de
setembro das 10 às 19h.)
outros com sua assinatura e em tuiters fal-
Explique a importância da regra do acento sos, você passa a ter uma vida paralela den-
diferencial, baseando-se na frase – Juan tro das fronteiras infinitas da internet.
Diego sensibiliza-se com os materiais [...] e É outro você, um fantasma eletrônico com
lhes da vida com uma naturalidade impres- opiniões próprias, muitas vezes antagônicas,
sionante. sobre o qual você não tem nenhum controle,
— Olha, adorei o que você escreveu sobre o
2. (Fgv) Leia o texto. “Big Brother”. É isso aí!
"Cuidado com as palavras — Não fui eu que...
Uma moça se preparou toda para ir ao ensaio — Foi sim!
de uma escola de samba. (Luiz Fernando Veríssimo, http://oglobo.
globo.com, 30.01.2011. Adaptado.)
Chegando lá, um rapaz suado pede para dan-
çar e, para não arrumar confusão, ela aceita. * voyeurismo: forma de curiosidade mórbida
Mas o rapaz suava tanto que ela já não estava com relação ao que é privativo, privado ou
suportando mais. Assim, ela foi se afastando íntimo.
e disse:
– Você sua, hein!!! 3. (Uftm)
Ele puxou-a, lascou um beijo e respondeu: a) O que o contraste das grafias Twitter e tui-
– Também vô sê seu, princesa!!!" ter, em destaque no texto, revela sobre o
(www.mundodaspiadas.com/
ponto de vista do autor acerca desse meio de
arquivo/2006-2-1.html. Adaptado)
comunicação virtual?
a) Tendo como base a frase da moça, explique o b) É correto afirmar que o autor reage com bom
que ela quis dizer e o que o rapaz entendeu. humor e resignação diante do fato de lhe
b) Explique, do ponto de vista fonológico, o atribuírem a autoria de textos que não es-
que gerou a interpretação do rapaz. creveu? Justifique, transcrevendo e comen-
tando um ou mais trechos do texto.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
E dizem que rola um texto na internet com
minha assinatura baixando o pau no “Big COMPOSIÇÕES INFANTIS
Brother Brasil”.
O comportamento
Não fui eu que escrevi.
Não poderia escrever nada sobre o “Big Bro- O comportamento é uma coisa que a mamãe
ther Brasil”, a favor ou contra, porque sou diz que não suporta o meu mas eu é que não
um dos três ou quatro brasileiros que nunca entendo o dela. Uma hora ela me dá uma
o acompanharam. porção de beijinhos, outra hora ela me põe
O pouco que vi do programa, de passagem, de castigo o dia todo. Uma vez ela diz que eu
zapeando entre canais, só me deixou per- sou tudo lá na vida dela, outra vez ela grita:
plexo: o que, afinal, atraía tanto as pessoas "Que menino mais impossível, você vai ver
– além do voyeurismo* natural da espécie – só quando seu pai chegar!" Tem umas oca-
numa jaula de gente em exibição? siões que ela chora muito porque não sabe
Também me dizem que, além de textos meus mais o que fazer comigo e outras eu ouvo ela

22
dizendo pras visitas que "o meu, felizmente, Vamos ao que conta (e que foi objeto das
é muito bonzinho e muito carinhoso." Eu já mensagens de muitos leitores): por que se
desconfio que a mamãe é a médica e a monstra. acentua 'raízes', mas não se acentua 'raiz'?"
http://www.memoriaviva.com.br/ocruzeiro/ O (www2.uol.com.br/linguaportuguesa/artigos.)
CRUZEIRO, 3 maio 1959. Acesso: abril 2007.
a) Considerando o contexto social, cultural e
4. (Ufmg) REESCREVA esse texto, fazendo as ideológico, por que o erro do painel teve
adaptações necessárias para ajustá-lo à nor- grande repercussão?
ma padrão da língua escrita. b) Responda à pergunta que foi enviada ao pro-
fessor Pasquale por seus leitores.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
O artista Juan Diego Miguel apresenta a ex- 2. (Unesp) A questão toma por base uma pas-
posição Arte e Sensibilidade, no Museu Bra- sagem do romance Canaã, de Graça Aranha
sileiro da Escultura (MUBE) de suas obras (1868-1931), e uma tira de Henfil (1944-
que acabam de chegar no país. 1988).
Seu sentido de inovação tanto em temas
como em materiais que elege é sempre de CANAÃ
uma sensação extraordinária para o espec- – Hoje – disse Milkau quando chegaram a
tador.
um trecho desembaraçado da praia –, de-
Juan Diego sensibiliza-se com os materiais
vemos escolher o local para a nossa casa.
que nos rodeam e lhes da vida com uma na-
– Oh! não haverá dificuldade, neste deserto,
turalidade impressionante, encontrando li-
de talhar o nosso pequeno lote... – desden-
berdade para buscar elementos no fauvismo
hou Lentz.
de Henri Matisse, no cubismo de Pablo Pi-
– Quanto a mim, replicou Milkau, uma ligei-
casso e do contemporâneo de Juan Gris. Uma
ra inquietação de vago terror se mistura ao
arte que está reservada para poucos.
prazer extraordinário de recomeçar a vida
Exposição: de 03 de agosto à 02 de setembro das 10 às 19h.
pela fundação do domicílio, e pelas minhas
próprias mãos... O que é lamentável nesta
5. (Fgv) Nossa língua registra as palavras "es- solenidade primitiva é a intervenção inútil
pectador" e "expectador". Explique a dife- do Estado...
rença de sentido dessas palavras. – O Estado, que no nosso caso é o agrimensor
Felicíssimo...
– Não seria muito mais perfeito que a terra e
E.O. Dissertativas as suas coisas fossem propriedade de todos,
sem venda, sem posse?
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) – O que eu vejo é o contrário disto. É antes a
venalidade de tudo, a ambição, que chama a
ambição e espraia o instinto da posse. O que
1. (Unifesp) O Museu da Língua Portuguesa
foi inaugurado em São Paulo, em março de está hoje fora do domínio amanhã será a pre-
2006. Na ocasião, houve um erro num pai- sa do homem. Não acreditas que o próprio ar
nel, conforme a imagem: que escapa à nossa posse será vendido, mais
tarde, nas cidades suspensas, como é hoje a
terra? Não será uma nova forma da expansão
da conquista e da propriedade?
– Ou melhor, não vês a propriedade tornar-
se cada dia mais coletiva, numa grande ânsia
de aquisição popular, que se vai alastrando e
que um dia, depois de se apossar dos jardins,
dos palácios, dos museus, das estradas, se
estenderá a tudo?... O sentimento da posse
morrerá com a desnecessidade, com a su-
pressão da ideia da defesa pessoal, que nele
tinha o seu repouso...
– Pois eu – ponderou Lentz –, se me fixar
Sobre isso, Pasquale Cipro Neto escreveu: na ideia de converter-me em colono, dese-
"Na última segunda-feira, foi inaugurado jarei ir alargando o meu terreno, chamar a
o Museu da Língua Portuguesa. Na terça, a mim outros trabalhadores e fundar um novo
imprensa deu destaque a um erro de acen- núcleo, que signifique fortuna e domínio...
tuação presente num dos painéis do museu Porque só pela riqueza ou pela força nos
(grafou-se 'raiz' com acento agudo no 'i'). emanciparemos da servidão.

23
– O meu quinhão de terra – explicou Milkau Tomando como referência o sistema ortográ-
– será o mesmo que hoje receber; não o am- fico, explique por que o cartunista Henfil,
pliarei, não me abandonarei à ambição, fica- ao aportuguesar, com intenção irônica, a ex-
rei sempre alegremente reduzido à situação pressão inglesa my brother, colocou o acento
de um homem humilde entre gente simples. agudo em Bróder.
Desde que chegamos, sinto um perfeito en-
cantamento: não é só a natureza que me se- 3. (Unesp)
duz aqui, que me festeja, é também a suave
contemplação do homem. Todos mostram a O QUE EU LHE DIZIA
sua doçura íntima estampada na calma das Não sei se é certo ou não o que eu li outro dia,
linhas do rosto; há como um longínquo af- Onde, já não me lembra, ó minha noiva ama-
astamento da cólera e do ódio. Há em todos da:
uma resignação amorosa... Os naturais da – “A posse faz perder metade da valia
terra são expansivos e alvissareiros da feli- À cousa desejada.”
cidade de que nos parecem os portadores...
Os que vieram de longe esqueceram as suas Não sei se após haver saciado no meu peito,
amarguras, estão tranquilos e amáveis; não Quando houver de possuir-te, esta ardente
há grandes separações, o próprio chefe troca paixão,
no lar o seu prestígio pela espontaneidade Eu sentirei em mim, de gozo satisfeito,
niveladora, que é o feliz gênio da sua raça. Menor o coração.
Vendo-os, eu adivinho o que é todo este País
– um recanto de bondade, de olvido e de paz. Sei que te amo, e a teus pés a minh’alma
Há de haver uma grande união entre todos, abatida
não haverá conflitos de orgulho e ambição, Beija humilde e feliz o grilhão que a tortura;
a justiça será perfeita; não se imolarão víti- Sei que te amo, e este amor é toda a minha
mas aos rancores abandonados na estrada vida,
do exílio. Todos se purificarão e nós também Toda a minha ventura.
nos devemos esquecer de nós mesmos e dos
Talvez haja entre mim que os passos te
nossos preconceitos, para só pensarmos nos
acompanho,
outros e não perturbarmos a serenidade de-
E a abelha que a zumbir vai procurar a flor,
sta vida...
(Graça Aranha. Canaã, 1996.) – Alma ou asas movendo – o mesmo fluido
estranho, seja instinto ou amor;

Talvez o que eu presumo irradiação divina,


Minha nobre paixão, meu fervoroso afeto,
Por sua vez o sinta o verme da campina,
O inseto ao pé do inseto...
(ALBERTO DE OLIVEIRA. Poesias - segunda série.
Rio de Janeiro: H. Garnier, 1906, p. 20-21.)

No terceiro verso da quarta estrofe, o eu-


poemático escreve “o mesmo fluido estra-
nho”. Considerando que o vocábulo “fluido”
foi adequadamente empregado, explique por
que o poeta não poderia ter usado a forma
acentuada “fluído”.

4. (Unesp) O acolhimento que dispensou aos


seus projetos o excelentíssimo senhor minis-
tro do Fomento Nacional, animou o russo a
improvisar novos processos que levantassem
a pecuária no Brasil. Xandu, com o cotovelo
direito sobre a mesa e a mão respectiva na
testa, considerava Bogóloff com espanto e
enternecido agradecimento.
– Ah! Doutor! disse ele. O senhor vai dar
uma glória imortal ao meu ministério.
– Tudo isso, Excelência, é fruto de longos e
acurados estudos.
Xandu continuava a olhar embevecido o russo
admirável; e este aduziu com toda convicção:

24
– Por meio da fecundação artificial, Excelên- Ergueu-se e trouxe Bogóloff até à porta do
cia, injectando germens de uma em outra gabinete, com o seu passo de reumático.
espécie, consigo cabritos que são ao mesmo Dentro de dias Grégory Petróvitch Bogóloff
tempo carneiros e porcos que são cabritos ou era nomeado diretor da Pecuária Nacional.
carneiros, à vontade. (Afonso Henriques de Lima Barreto. Numa e a Ninfa.)
Xandu mudou de posição, recostou-se na ca-
deira; e, brincando com o monóculo, disse: O MUNDO ASSOMBRADO PELOS DEMÔNIOS
– Singular! O doutor vai fazer uma revolução
nos métodos de criar! Não haverá objecções Sim, o mundo seria um lugar mais inter-
quanto à possibilidade, à viabilidade? essante se houvesse UFOS escondidos nas
– Nenhuma, Excelência. Lido com as últimas águas profundas, perto das Bermudas, devo-
descobertas da ciência e a ciência é infalível. rando os navios e os aviões, ou se os mortos
– Vai ser uma revolução!... pudessem controlar as nossas mãos e nos es-
– É a mesma revolução que a química fez na crever mensagens. Seria fascinante se os ad-
agricultura. Penso assim há muitos anos, olescentes fossem capazes de tirar o telefone
mas não me tem sido possível experimentar do gancho apenas com o pensamento, ou se
os meus processos por falta de meios; en- nossos sonhos vaticinassem acuradamente o
tretanto, em pequena escala já fiz. futuro com uma frequência que não pudesse
– O quê? ser atribuída ao acaso e ao nosso conheci-
– Uma barata chegar ao tamanho de um rato. mento do mundo.
– Oh! Mas... não tem utilidade. Esses são exemplos de pseudociência. Eles
– Não há dúvida. Uma experiência ao meu parecem usar os métodos e as descobertas
alcance, mas, logo que tenha meios... da ciência, embora na realidade sejam infié-
– Não seja essa a dúvida. Enquanto eu for is à sua natureza – frequentemente porque
ministro, não lhe faltarão. O governo tem se baseiam em evidência insuficiente ou
muito prazer em ajudar todas as tentativas porque ignoram pistas que apontam para
nobres e fecundas para o levantamento das outro caminho. Fervilham de credulidade.
indústrias agrícolas. Com a cooperação desinformada (e frequent-
– Agradeço muito e creia-me que ensaiarei emente com a conivência cínica) dos jornais,
outros planos. Tenho outras ideias! revistas, editoras, rádio, televisão, produ-
– Outras? fez em resposta o Xandu. toras de filmes e outros órgãos afins, essas
– É verdade. Estudei um método de criar ideias se tornam acessíveis em toda parte.
peixes em seco. (...)
– Milagroso! Mas ficam peixes? Não é preciso um diploma de nível superior
– Ficam... A ciência não faz milagres. A cousa para conhecer a fundo os princípios do ceti-
é simples. Toda a vida veio do mar, e, devido cismo, como bem demonstram muitos com-
ao resfriamento dos mares e à sua concentra- pradores de carros usados que fazem bons
ção salina, nas épocas geológicas, alguns dos negócios. A ideia da aplicação democrática
seus habitantes foram obrigados a sair para do ceticismo é que todos deveriam ter as
a terra e nela criarem internamente, para a ferramentas essenciais para avaliar efetiva
vida de suas células, meios térmicos e sali- e construtivamente as alegações de quem
nos iguais àqueles em que elas viviam nos se diz possuidor do conhecimento. O que
mares, de modo a continuar perfeitamente a ciência exige é tão somente que façamos
a vida que tinham. Procedo artificialmente uso dos mesmos níveis de ceticismo que em-
da forma que a cega natureza procedeu, pregamos ao comprar um carro usado ou ao
eliminando, porém, o mais possível, o factor julgar a qualidade dos analgésicos ou da cer-
tempo, isto é: provoco o organismo do peixe veja pelos seus comerciais na televisão.
a criar para a sua célula um meio salino e Mas as ferramentas do ceticismo em geral
térmico igual àquele que ele tinha no mar. não estão à disposição dos cidadãos de nossa
– É engenhoso! sociedade. Mal são mencionadas nas esco-
– Perfeitamente científico. las, mesmo quando se trata da ciência, que
Xandu esteve a pensar, a considerar um tem- é seu usuário mais ardoroso, embora o ce-
po perdido, olhou o russo insistentemente ticismo continue a brotar espontaneamente
por detrás do monóculo e disse: dos desapontamentos da vida diária. A nossa
– Não sabe o doutor como me causa admi- política, economia, propaganda e religiões
ração o arrojo de suas ideias. São originais (Antiga e Nova Era) estão inundadas de
e engenhosas e o que tisna um pouco essa credulidade. Aqueles que têm alguma coisa
minha admiração, é que elas não partam de para vender, aqueles que desejam influen-
um nacional. Não sei, meu caro doutor, como ciar a opinião pública, aqueles que estão no
é que nós não temos desses arrojos! Vivemos poder, diria um cético, têm um interesse
terra à terra, sempre presos à rotina! Pode ir pessoal em desencorajar o ceticismo.
descansado que a República vai aproveitar as (Carl Sagan. O Mundo Assombrado pelos Demônios.
suas ideias que hão de enriquecer a pátria. Tradução de Rosaura Eichemberg.)

25
PREOCUPAÇÃO COM CIGARRO.
QUE FAZER? Gabarito
Quando você acende um cigarro, acende
também uma preocupação? E.O. Aprendizagem
Bem, se você anda preocupado mas gosta
1. B 2. A 3. D 4. D 5. C
muito de fumar, quem sabe você muda para
um cigarro de baixos teores de nicotina e al- 6. A 7. A 8. B 9. C 10. A
catrão?
Quer uma ideia? Century.
Century é diferente dos outros cigarros de
baixos teores, por motivos fundamentais. E.O. Fixação
Century jogou lá embaixo a nicotina e o al- 1. E 2. C 3. E 4. C 5. B
catrão, mas não acabou com seu prazer de
fumar. 6. A 7. B 8. B 9. C 10. B
Isto só foi possível, evidentemente, graças
a uma cuidadosa seleção de fumos do mais
alto grau de pureza e suavidade.
E à competência do filtro especial High Air
E.O. Complementar
Dilution, consagrado internacionalmente. 1. D 2. C 3. B 4. B 5. A
Não é o cigarro sob medida para você tam-
bém?
Pense nisto.
(Texto de publicidade de cigarros de
E.O. Dissertativo
início da década de 1980.) 1.
A falta de acento na forma tônica dá (verbo
dar) leva o leitor a ler a preposição "de" con-
No quinto parágrafo do texto de Lima Bar- traída com o artigo "a", o que gera obscurida-
reto ocorre a palavra “germens”, paroxítona de e incoerência no texto e obriga o leitor a re-
terminada em “-ns”, que aparece grafada ler o trecho, buscando descobrir-lhe o sentido.
corretamente sem nenhum acento gráfico. 2.
Tomando por base esta informação, a) A moça quis dizer que o rapaz transpirava
a) explique a razão pela qual se escreve no plu- muito. O rapaz entendeu que ela estava
ral “germens” sem acento gráfico, enquanto
manifestando o desejo de ser dele.
a forma do singular “gérmen” recebe tal ac-
b) O rapaz entendeu a frase da moça - "Você
ento.
sua" – como se fosse "Vou ser sua". A
b) apresente outro vocábulo de seu conheci-
mento em que se observa essa mesma dife- confusão fonológica deveu-se ao fato de
rença de acentuação gráfica entre a forma do o rapaz ter tomado a frase da moça pela
singular e a forma do plural. pronúncia popular.
3.
a) O destaque do termo “tuiter” enfatiza a
falta de prática do autor na rede social a
que está associada a palavra inglesa “twit-
ter” provocada pelo desinteresse que o au-
tor nutre por esse tipo de comunicação.
b) Sim, Luís Fernando Veríssimo reage com
bom humor e resignação à autoria incor-
reta que lhe é atribuída. O fato de afirmar
que concordou só para não ser submetido
a violência física executada por uma se-
nhora confere humor ao texto e demonstra
a submissão do autor perante a situação.
4.
COMPOSIÇÕES INFANTIS
Comportamento
Minha mãe diz que não suporta o meu com-
portamento, mas eu é que não entendo o
dela. Uma hora, ela me dá uma porção de
beijinhos; outra hora, põe-me de castigo. Em
algumas ocasiões, ela fala que eu sou tudo
na vida dela, no entanto, em outras, ela grita
comigo, fala que sou um menino impossível
e que, quando o meu pai chegar, verei que

26
me acontecerá. Há umas ocasiões nas quais
ela chora muito por não saber o que fazer
comigo; em outras, eu a ouço dizer às visi-
tas que sou muito bonzinho e carinhoso. Por
isso, desconfio que a minha mãe seja a mé-
dica e a monstra.
5.
ESPECTADOR é substantivo; denomina aque-
le que presencia um fato, que observa algo
ou assiste a um espetáculo.
EXPECTADOR é adjetivo ou substantivo; refe-
re-se àquele que se mantém na expectativa,
à espera de algo.

E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1.
a) Por se tratar do museu da língua portu-
guesa.
b) A palavra "raiz" não deve ser acentuada
por ser uma oxítona terminada em "Z." –
ra-iz.
No caso de raízes, há o acento por haver
um "i" tônico, formando hiato, sozinho
na sílaba - ra-í-zes.
2. A colocação de acento agudo na palavra
“bróder” obedece à regra de acentuação das
palavras paroxítonas terminadas em “r”.
3. A forma acentuada da palavra fluído caracter-
iza o particípio do verbo fluir, e sua utilização
não é adequada ao contexto do poema. Além
disso, o texto é formado por quartetos rigoro-
samente metrificados, com estrofes de três
versos alexandrinos (ou dodecassílabos) e um
hexassílabo. Para manter a regularidade mé-
trica, o poeta utilizou o substantivo “fluido”
(com um ditongo, o que o caracteriza como
uma palavra de duas sílabas). Dessa maneira,
o verso apresenta a seguinte escansão:
Al/ma ou/a/sas/mo/ven/do o/mes/mo/flui/
do es/tra/nho
4.
a) Acentuam-se as palavras paroxítonas ter-
mindadas em “-n” ; por isso, acentua-
se gérmen. As palavras terminadas em
“-ns”, porém, acentuam-se quando são
oxítonas (parabéns, por exemplo). Ob-
serve-se que as palavras terminadas em
“-ens” são quase sempre formas de plural
das palavras que, no singular, terminam
em “-em”. A regra de acentuação das oxí-
tonas manda que elas sejam acentuadas
quando terminadas em “-em” seguido ou
não de “-s”. Conclusão: a regra para acen-
tuar gérmen é uma e a que faz com que
não se acentue germens é outra.
b) Hífen - hifens.

27
2 4 FUNÇÕES DE “A”, “QUE”
E “SE”

Competências Habilidades
1e5 1, 2, 3 e 17

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
E.O. Aprendizagem não acabou”, um tanto modificada pela mi-
nha mão, tornando-se: o sonho nunca acaba.
E minha cabeça já se transforma num muro
1. (G1 - cftmg ) Com o balanço do trem, seu todo branco.
quimono voejava suavemente por sobre o Desde os primórdios dos tempos, usamos a
jornal de Opalka, que, irritado, revirava os escrita como forma de expressão, os homens
olhos a cada vez que o tecido se sobrepunha das cavernas deixaram pichados nas rochas
ao texto que lia. diversos sinais. Num ato impulsivo, comprei
STIGGER, Veronica. Opisanie Œwiata. uma tinta spray, atravessei a rua chacoa-
São Paulo: SESI-SP, 2018. p. 37. lhando a lata e assim prossegui até chegar
à minha sala, abraçado pela ansiedade au-
O termo destacado acima apresenta sentido mentada a cada passo. Coloquei o dedo no
sintático equivalente à sua ocorrência no gatilho do spray e fiquei respirando fundo,
trecho juntando coragem e na mente desenhando a
a) “Bopp ensaiou falar, mas percebeu que primeira frase para pichar, um tipo de lema,
Opalka não estava prestando atenção.” (p. aquela do Lô Borges: “Os sonhos não enve-
36). lhecem” – percebo, num sorrir de canto de
b) “Seu ombro encostou no ombro de Opalka, boca, o quanto os sonhos marcam a minha
que o olhou de esguelha.” (p. 37). existência.
c) “Era a primeira vez que Opalka se via sozinho Depois arriscaria uma frase que criei e gosto:
em toda a viagem.” (p. 133). “A lagarta nunca pensou em voar, mas daí,
d) “Olhou para os próprios sapatos e viu que no espanto da metamorfose, lhe nasceram
também estavam gastos.” (p. 135). asas...”. Ou outra, completamente tola, me
ocorreu depois de assistir a um documen-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: tário, convencido de que o panda é um bi-
A(s) questão(ões) abaixo refere(m)-se ao cho cativante, mas vive distante daqui e sua
texto a seguir. agonia não é menor das dos nossos bichos.
Assim pensando, as letras duma nova picha-
Um muro para pichar ção se formaram num estalo: “Esqueçam os
pandas, salvem as jaguatiricas!”.
Em frente da minha casa existe um muro
No muro do cemitério, escreveria outra frase
enorme, todo branco. No Facebook, uma pos-
que gosto: “Em longo prazo estaremos todos
tagem me chama atenção: é um muro virtual mortos”, do John Keynes, que trago comigo
e a brincadeira é pichá-lo com qualquer frase desde os tempos da faculdade. Frases de tú-
que vier à cabeça. Não quero pichar o mundo mulos ganhariam os muros; no de Salvador
virtual, quero um muro de verdade, igual a Allende está consagrado, de autoria desco-
este de frente para a minha casa. Pelas ruas nhecida: “Alguns anos de sombras não nos
e avenidas, vou trombando nos muros espa- tornarão cegos.” Sempre apegado aos so-
lhados pelos quarteirões, repletos de frases nhos, picharia também uma do Charles Cha-
tolas, xingamentos e erros de português. Eu plin: “Nunca abandone os seus sonhos, por-
bem poderia modificar isso. que se um dia eles se forem, você continuará
“O caminho se faz caminhando”, essa frase vivendo, mas terá deixado de existir”.
genial, tão forte e certeira do poeta espa- Claro, eu poderia escrever essas frases num
nhol Antonio Machado, merece aparecer em livro, num caderno ou no papel amassado
diversos muros. Basta pensar um pouco e que embrulha o pão da manhã, mas o muro
imaginar; de fato, não há caminho, o cami- me cativa, porque está ao alcance das vistas
nho se faz ao caminhar. de todos e quero gritar para o mundo as fra-
De repente, vejo um prédio inteiro marcado ses que gosto; são tantas, até temo que me
por riscos sem sentido e me calo. Fui ten- faltem os muros. Poderia passar o dia todo
tar entender e não me faltaram explicações: pichando frases, as linhas vão se acabando e
é grafite, é tribal, coisas de difícil compre- ainda tenho tanto a pichar... “É preciso mui-
ensão. As explicações prosseguem: grafite é to tempo para se tornar jovem”, de Picasso,
arte, pichar é vandalismo. O pequeno vânda- “Há um certo prazer na loucura que só um
lo escondido dentro de mim busca frases na louco conhece”, de Neruda, “Se me esquece-
memória e, então, sinto até o cheiro da lama res, só uma coisa, esquece-me bem devagar-
de Woodstock em letras garrafais: “Não im- zinho”, cravada por Mário Quintana...
portam os motivos da guerra, a paz é muito Encerro com Nietzsche: “Isto é um sonho,
mais importante”. bem sei, mas quero continuar a sonhar”, que
Feito uma folha deslizando pelas águas cor- serve para exemplificar o que sinto neste
rentes do rio me surge a imagem de John momento, aqui na minha sala, escrevendo
Lennon; junto dela, outra frase: “O sonho no computador o que gostaria de jogar nos

31
muros lá fora, a custo me mantendo calmo, crônico em saneamento e pode-se caminhar
um olho na tela, outro voltado para o lado alguns passos em direção à garantia do aces-
oposto da rua. Lá tem aquele muro enorme, so a esses serviços como direito social. Nes-
branco e virgem, clamando por frases. Não se sentido destacamos as Conferências das
sei quanto tempo resistirei até puxar o ga- Cidades e a criação da Secretaria de Sanea-
tilho do spray. mento e do Conselho Nacional das Cidades,
Adaptado de: ALVEZ, A. L. Um muro para pichar. Correio que deram à política urbana uma base de
do Estado, fev 2018. Disponível em <https://www. participação e controle social.
correiodoestado.com.br/opiniao/leia-acronica-de-andre-luiz- Houve também, até 2014, uma progressiva
alvez-um-muro-para-pichar/321052/> Acesso em: ago. 2018. ampliação de recursos para o setor, sobretu-
do a partir do PAC 1 e PAC 2; a instituição
2. (Ita) Assinale a alternativa em que o item de um marco regulatório (Lei 11.445/2007 e
sublinhado NÃO é pronome relativo. seu decreto de regulamentação) e de um Pla-
a) a brincadeira é pichá-lo com qualquer frase no Nacional para o setor, o PLANSAB, cons-
que vier à cabeça truído com amplo debate popular, legitima-
b) ou no papel amassado que embrulha o pão do pelos Conselhos Nacionais das Cidades, de
da manhã Saúde e de Meio Ambiente, e aprovado por
c) são tantas, até temo que me faltem os muros decreto presidencial em novembro de 2013.
d) há um certo prazer na loucura que só um Esse marco legal e institucional traz aspectos
louco conhece essenciais para que a gestão dos serviços seja
e) que serve para exemplificar o que sinto neste pautada por uma visão de saneamento como
momento direito de cidadania: a) articulação da políti-
ca de saneamento com as políticas de desen-
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: volvimento urbano e regional, de habitação,
de combate à pobreza e de sua erradicação,
Política pública de saneamento básico: as de proteção ambiental, de promoção da saú-
bases do saneamento como direito de cida- de; e b) a transparência das ações, baseada
dania e os debates sobre novos modelos de em sistemas de informações e processos de-
gestão cisórios participativos institucionalizados.
Ana Lucia Britto A Lei 11.445/2007 reforça a necessidade de
Professora Associada do PROURB-FAU-UFRJ planejamento para o saneamento, por meio
da obrigatoriedade de planos municipais de
Pesquisadora do INCT Observatório das Metrópoles
abastecimento de água, coleta e tratamen-
to de esgotos, drenagem e manejo de águas
A Assembleia Geral da ONU reconheceu em pluviais, limpeza urbana e manejo de resí-
2010 que o acesso à água potável e ao es- duos sólidos. Esses planos são obrigatórios
gotamento sanitário é indispensável para para que possam ser estabelecidos contra-
o pleno gozo do direito à vida. É preciso, tos de delegação da prestação de serviços e
para tanto, fazê-lo de modo financeiramente para que possam ser acessados recursos do
acessível e com qualidade para todos, sem governo federal (OGU, FGTS e FAT), com pra-
discriminação. Também obriga os Estados a zo final para sua elaboração terminando em
eliminarem progressivamente as desigual- 2017. A Lei reforça também a participação e
dades na distribuição de água e esgoto entre o controle social, através de diferentes me-
populações das zonas rurais ou urbanas, ri- canismos como: audiências públicas, defini-
cas ou pobres. ção de conselho municipal responsável pelo
No Brasil, dados do Ministério das Cidades acompanhamento e fiscalização da política
indicam que cerca de 35 milhões de brasilei- de saneamento, sendo que a definição desse
ros não são atendidos com abastecimento de conselho também é condição para que pos-
água potável, mais da metade da população sam ser acessados recursos do governo fe-
não tem acesso à coleta de esgoto, e apenas deral.
39% de todo o esgoto gerado são tratados. O marco legal introduz também a obrigato-
Aproximadamente 70% da população que riedade da regulação da prestação dos ser-
compõe o déficit de acesso ao abastecimento viços de saneamento, visando à garantia do
de água possuem renda domiciliar mensal de cumprimento das condições e metas esta-
até 1/2 salário mínimo por morador, ou seja, belecidas nos contratos, à prevenção e à re-
apresentam baixa capacidade de pagamento, pressão ao abuso do poder econômico, reco-
o que coloca em pauta o tema do saneamento nhecendo que os serviços de saneamento são
financeiramente acessível. prestados em caráter de monopólio, o que
Desde 2007, quando foi criado o Ministé- significa que os usuários estão submetidos
rio das Cidades, identificam-se avanços im- às atividades de um único prestador.
portantes na busca de diminuir o déficit já FONTE: adaptado de http://www.assemae.org.br/artigos/

32
item/1762-saneamento-basico-como-direito-de-cidadania “(...) A prevenção primária da violência ini-
cia-se com a construção de um tecido social
saudável e promissor, que começa antes do
3. (Espcex) Em “ A Assembleia Geral da ONU nascer, com um bom pré-natal, parto de qua-
reconheceu em 2010 que o acesso à água po- lidade, aleitamento materno exclusivo até
tável (...)”, a palavra “QUE” encontra em- seis meses e o complemento até mais de um
prego correspondente em ano, vacinação, vigilância nutricional, edu-
a) “(...) os serviços de saneamento são presta- cação infantil, principalmente propiciando o
dos em caráter de monopólio, o que significa desenvolvimento e o respeito à fala da crian-
(...)” ça, o canto, a oração, o brincar, o andar, o
b) “Esses planos são obrigatórios para que pos- jogar; uma educação para a paz e a nãovio-
sam ser estabelecidos (...)” lência.
c) “(...) o que significa que os usuários estão A pastoral da criança, que em 2003 comple-
submetidos às atividades de um único pres- ta 20 anos, forma redes de ação para mul-
tador.” tiplicar o saber e a solidariedade junto às
d) “(...) 70% da população que compõe o deficit famílias pobres do país, por meio de mais de
de acesso ao abastecimento (...)” 230 mil voluntários, e acompanhou no ter-
e) “(...) e do Conselho Nacional das Cidades, que ceiro trimestre deste ano cerca de 1,7 milhão
deram à política urbana (...)” de crianças menores de seis anos e 80 mil
gestantes, de mais de 1,2 milhão de famí-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: lias, que moram em 34.784 comunidades de
Como prevenir a violência dos adolescentes 3.696 municípios do país.
O Brasil é o país que mais reduziu a mortali-
“(...) Quando deparo com as notícias sobre dade infantil nos últimos dez anos; isso, sem
crimes hediondos envolvendo adolescentes, dúvida, é resultado da organização e univer-
como o ocorrido com Felipe Silva Caffé e Lia- salização dos serviços de saúde pública, da
na Friedenbach, fico profundamente triste melhoria da atenção primária, com todas as
e constrangida. Esse caso é consequência da limitações que o SUS possa ainda possuir,
baixa valorização da prevenção primária da da descentralização e municipalização dos
violência por meio das estratégias cientifica- recursos e dos serviços de saúde. A intensa
mente comprovadas, facilmente replicáveis e luta contra a mortalidade infantil, a desnu-
definitivamente muito mais baratas do que trição e a violência intrafamiliar contou com
a recuperação de crianças e adolescentes que a contribuição dessa enorme rede de
comentem atos infracionais graves contra a solidariedade da Pastoral da Criança. (...)”
vida. “(...) A segunda área da maior importância
Talvez seja porque a maioria da população nessa prevenção primária da violência envol-
não se deu conta e os que estão no poder nos vendo crianças e adolescentes é a educação,
três níveis não estejam conscientes de seu a começar pelas creches, escolas infantis e
papel histórico e de sua responsabilidade le- de educação fundamental e de nível médio,
gal de cuidar do que tem de mais importante que devem valorizar o desenvolvimento do
à nação: as crianças e os adolescentes, que raciocínio e a matemática, a música, a arte, o
são o futuro do país e do mundo. esporte e a prática da solidariedade humana.
A construção da paz e a prevenção da violên- As escolas nas comunidades mais pobres
cia dependem de como promovemos o desen- deveriam ter dois turnos, para darem con-
volvimento físico, social, mental, espiritual e ta da educação integral das crianças e dos
cognitivo das nossas crianças e adolescentes, adolescentes; deveriam dispor de equipes
dentro do seu contexto familiar e comunitá- multiprofissionais atualizadas e capacitadas
rio. Trata-se, portanto, de uma ação inter- a avaliar periodicamente os alunos. Urgente
setorial, realizada de maneira sincronizada é incorporar os ministérios do Esporte e da
em cada comunidade, com a participação das Cultura às iniciativas da educação, com ati-
famílias, mesmo que estejam incompletas ou vidades em larga escala e simples, baratas,
desestruturadas (...)” facilmente replicáveis e adaptáveis em todo
“(...) Em relação às crianças e adolescentes o território nacional. (...)”
que cometeram infrações leves ou modera- “(...) Com relação à idade mínima para a
das – que deveriam ser mais bem expressas maioridade penal, deve permanecer em 18
– seu tratamento para a cidadania deveria anos, prevista pelo Estatuto da Criança e do
ser feito com instrumentos bem elaborados e Adolescente e conforme orientações da ONU.
colocados em prática, na família ou próxima Mas o tempo máximo de três anos de reclu-
dela, com acompanhamento multiprofissio- são em regime fechado, quando a criança ou
nal, desobstruindo as penitenciárias, verda- o adolescente comete crime hediondo, mes-
deiras universidades do crime. (...)” mo em locais apropriados e com tratamento

33
multiprofissional, que urgentemente preci- Era um corretor de imóveis querendo me
sam ser disponibilizados, deve ser revisto. vender um lançamento.
Três anos, em muitos casos, podem ser ab- − Qual era a urgência? − perguntei, irritado.
solutamente insuficientes para tratar e pre- − Bem... Estamos selecionando alguns clien-
parar os adolescentes com graves distúrbios tes e...
para a convivência cidadã. (...)” Conversa mole. As pessoas usam a pala-
Zilda Arns Neumann, 69, médica pediatra e sanitarista; vra “urgente” em mensagens de todo tipo.
foi fundadora e coordenadora nacional da Pastoral Ainda sou daqueles que se assustam de leve
da Criança. (Folha de S Paulo, 26/11/2003.) com um e-mail “urgente” para, logo depois,
descobrir que se trata de um assunto muito
corriqueiro. A palavra está perdendo a força.
4. (G1 - ifal) Na frase: “A intensa luta con- Daqui a pouco não vai significar mais nada.
tra a mortalidade infantil...” (7º parágrafo), A mesma coisa acontece com o verbo “reve-
em relação às palavras que a constituem, te- lar”. Abro uma revista e vejo: atriz “revela”
mos presente, respectivamente, as seguintes que vai pintar o cabelo de loiro. Isso é re-
classes ou categorias gramaticais: velação que se preze? Resultado: quando se
a) artigo, substantivo, substantivo, verbo, arti- quer realmente revelar algo se usa “denun-
go, substantivo, adjetivo.
cia” ou “confessa”.
b) artigo, adjetivo, substantivo, preposição, ar-
E vip? A sigla surgiu como abreviação de
tigo, substantivo, adjetivo.
“very important people”. Os vips tinham
c) pronome, adjetivo, substantivo, verbo, arti-
acesso preferencial a festas e eventos de
go, substantivo, adjetivo.
todo tipo. Obviamente, todo mundo quis ser
d) artigo, substantivo, verbo, preposição, arti-
tratado como vip. Alguns shows e camarotes
go, substantivo, adjetivo.
carnavalescos ficam lotados por manadas de
e) pronome pessoal oblíquo, adjetivo, substan-
vips. Para diferenciar “vips” entre si, nos
tivo.
lugares mais disputados surgiram chiqueiri-
nhos para os “supervips” ou “vips dos vips”.
5. (Ufal) Seria necessário QUE todos SE puses- Em resumo: “vip” não significa absoluta-
sem a agir e SE fizessem os reparos necessá- mente coisa nenhuma − somente que a pes-
rios. soa é rápida para descolar um convite com
Na frase anterior, as partículas QUE e SE pulseirinha.
classificam-se, respectivamente, como Os anúncios imobiliários são pródigos em
a) pronome relativo - conjunção condicional - detonar palavras. “Exclusivo” é um exemplo.
conjunção integrante Quase todos falam em “condomínio exclusi-
b) conjunção integrante - pronome oblíquo - vo”, “espaço exclusivo” (e não havia de ser,
partícula apassivadora se o proprietário está pagando?). De tão co-
c) pronome relativo - pronome oblíquo - con- mum, “exclusivo” deixou de ser “exclusivo”.
junção integrante Veio o “diferenciado”. Ou “único”. Mas como
d) conjunção integrante - conjunção condicio- um apartamento pode ser “diferenciado” ou
nal - partícula apassivadora “único” se está em um prédio com mais cin-
e) pronome relativo - pronome oblíquo - partí- quenta iguais?
cula apassivadora A palavra “amigo” é incrível. Implica uma
relação especial, mas a maioria fala em
“amigos” referindo-se a conhecidos distan-
6. (Mackenzie) "Na ata da reunião, registra-
tes. O mesmo ocorre com “abraço”. Terminar
ram-se todas as opiniões dos presentes."
a mensagem com um “abraço” era suficiente,
Assinale a alternativa que apresenta corre- pois era uma forma de oferecer nosso cari-
tamente a classificação da partícula SE, na nho à pessoa. Foi tão banalizado que agora
frase acima. se usa “grande abraço”, “forte abraço”, mas
a) índice de indeterminação do sujeito agora é pouco, pois já surgiu o “beijo no co-
b) pronome reflexivo (objeto direto) ração”. A seguir, o que virá?
c) partícula apassivadora Por que deixar que as palavras se desgastem?
d) conjunção subordinativa integrante Se o que têm de mais belo é justamente sua
e) palavra de realce história e o sentimento que contêm? Enfim,
tudo o que lhes dá realmente significado.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
(Walcyr Carrasco, Veja SP, 13.08.2008. Adaptado)
O desgaste das palavras

Sou um tonto. Dia destes recebi um recado 7. (G1 - ifsp) Considere as frases.
na secretária eletrônica pedindo retorno ur- I. Ainda sou daqueles que se assustam de
gente. Liguei. leve com um e-mail “urgente”...

34
II. ... para, logo depois, descobrir que se tra- 2miraculoso. A pessoa tem a mão decepada
ta de um assunto muito corriqueiro. por uma serra elétrica, e os médicos conse-
III. Isso é revelação que se preze? guirão fazer crescer uma 3nova no mesmo
lugar. Casas e carros serão feitos de 4mate-
Assinale a alternativa em que o pronome riais que podem consertar-se a si próprios.
proclítico está antes do verbo porque há, Um alimento em pó incolor com 90% de
como partícula atrativa, um pronome rela- proteína em sua fórmula poderá ser modifi-
tivo. cado para ter o sabor que se deseje. As pre-
a) I, apenas. visões acima podem parecer 1ousadas, mas,
b) II, apenas. no fundo, são até conservadoras. Membros
c) I e III, apenas. reimplantáveis? Os cientistas começaram
d) II e III, apenas. a regenerar a pele humana ainda nos anos
e) I, II e III. 70, e atualmente alguns laboratórios conse-
guem produzir válvulas cardíacas com base
8. (Mackenzie) em algumas poucas células. O dia chegará
em que substituir órgãos humanos defeitu-
I. "O velho sorriu-SE, deixando apenas es- osos será rotina. No campo dos materiais,
capar em tom de dúvida um significativo já existe um metal, o nitinol, que consegue
- Qual..." desamassar sua própria superfície sem
II. "Nada (...) SE conseguiu com a receita; o esforço. Basta aplicar um pouco de calor. A
mal continuou." comida milagrosa? Já existe. É um 5deriva-
III. - "- Só lhe direi, respondeu a comadre de- do da soja produzido pela empresa Archer
pois de alguma hesitação, SE me prome- Daniels Midland desde meados dos anos 80.
terdes guardar todo o segredo, que o caso 2 Pouca coisa se pode dizer sobre o futuro.
é muito sério." Não sabemos se nossos bisnetos vão passear
IV. "As três velhas conversaram por largo ou, um dia, viver em Marte. Também não sa-
tempo, não porque muitas coisas SE ti- bemos se será possível reanimar alguém que
vessem a dizer..." já morreu. Não sabemos quando teremos ro-
bôs, escravos, máquinas de orgasmo ou naves
Aponte a sequência correta quanto à classifi- para viajar no tempo. Sabemos apenas que,
cação morfológica da palavra SE nessas fra- sejam quais forem os milagres que o próximo
ses de Manuel Antônio de Almeida. milênio trouxer, eles serão possíveis graças
a) I - partícula expletiva, II - partícula apassi- ao mesmo gênio: o computador.
vadora, III - conjunção subordinativa condi- 3 Estamos chegando bem próximos de uma
cional, IV - pronome reflexivo. época em que os computadores serão capazes
b) I - partícula apassivadora, II - partícula ex- de desenhar cópias de si mesmos. Ou seja,
pletiva, III - conjunção subordinativa condi- eles não precisarão da ajuda humana para
cional, IV - pronome reflexivo. se reproduzir. Assustador? Talvez. Será uma
c) I - pronome reflexivo, II - partícula apassi- época em que, pela primeira vez na história
vadora, III - conjunção subordinativa inte- da humanidade, não seremos os seres mais
grante, IV - pronome reflexivo. inteligentes sobre a face do planeta. Para
d) I - partícula expletiva, II - partícula reflexi- alguns cientistas, estaremos entrando no
vo, III - conjunção subordinativa condicio- paraíso. Para outros, no inferno. Todos con-
nal, IV - pronome reflexivo. cordam que estamos cruzando rapidamente
e) I - partícula apassivadora, II - partícula apas- a fronteira do desconhecido. Computadores
sivadora, III - conjunção subordinativa con- já ensaiam formas primitivas de pensamen-
dicional, IV - partícula apassivadora. to autônomo.
4 Alguns 6cientistas já se preocupam em
garantir que os robôs do futuro tragam em
9. (Espcex) Em “Há também o que vai para se
sua programação um chip da bondade que
entregar, ser um com o Arpoador, mil-parti-
7os impeça de fazer mal à humanidade. As-
do.” a palavra “o”, grifada, é
sumem, assim, que não nos será possível
a) termo essencial da oração.
b) termo acessório da oração.
c) palavra expletiva.
d) termo integrante da oração.
e) pronome de interesse.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Uma visão do futuro

1 Estamos ÀS PORTAS de um milênio

35
sequer desligá-los8. Talvez estejam apenas alpinismo, é que devemos perscrutar o nosso
sonhando. Talvez, não. íntimo para desvendar as razões da aversão
[Adaptado de] Especial do Milênio (parte integrante que estraga um prazer que de outro modo
da Veja, ano 31, nº 51, 23 dez. 1998, p.126.) poderíamos ter. Há razões erradas para não
se gostar de uma obra de arte."
E. H. Gombrich
1
0. (Ufrn) Na estrutura
Também não sabemos SE será possível reani-
mar alguém que já morreu. 1. (Ita) Nas orações "e QUE Arte com A mai-
úsculo não existe" e "o QUE ele acaba de fa-
o vocábulo destacado corresponde, morfoló- zer...", as palavras em maiúsculo funcionam
gica e sintaticamente, ao que se encontra em respectivamente como:
destaque na opção: a) conjunção integrante e pronome relativo
a) Pouca coisa SE pode dizer com certeza sobre b) pronome relativo e pronome relativo
o futuro. c) conjunção integrante e conjunção integrante
b) Será uma época em QUE (...) não seremos os d) pronome relativo e conjunção integrante
seres mais inteligentes (...) e) conjunção aditiva e pronome demonstrativo
c) Alguns cientistas já SE preocupam em garan-
tir (...) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
d) Assumem, assim, QUE não nos será possível
sequer desligá-los. Política pública de saneamento básico: as
bases do saneamento como direito de cida-
dania e os debates sobre novos modelos de
E.O. Fixação gestão
Ana Lucia Britto
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Professora Associada do PROURB-FAU-UFRJ
SOBRE ARTES E ARTISTAS Pesquisadora do INCT Observatório das Metrópoles

"Uma coisa que realmente não existe é aqui- A Assembleia Geral da ONU reconheceu em
lo a que se dá o nome de Arte. Existem so- 2010 que o acesso à água potável e ao es-
mente artistas. Outrora, eram homens que gotamento sanitário é indispensável para
apanhavam terra colorida e modelavam tos- o pleno gozo do direito à vida. É preciso,
camente as formas de um bisão na parede para tanto, fazê-lo de modo financeiramente
de uma caverna; hoje, alguns compram suas acessível e com qualidade para todos, sem
tintas e desenham cartazes para os tapumes; discriminação. Também obriga os Estados a
eles faziam e fazem muitas outras coisas. eliminarem progressivamente as desigual-
Não prejudica ninguém chamar a todas essas dades na distribuição de água e esgoto entre
atividades arte, desde que conservemos em populações das zonas rurais ou urbanas, ri-
mente que tal palavra pode significar coisas cas ou pobres.
muito diferentes, em tempos e lugares di- No Brasil, dados do Ministério das Cidades
ferentes, e que Arte com A maiúsculo não indicam que cerca de 35 milhões de brasilei-
existe. Na verdade, Arte com A maiúsculo ros não são atendidos com abastecimento de
passou a ser algo de um bicho-papão e de água potável, mais da metade da população
um fetiche. Podemos esmagar um artista di- não tem acesso à coleta de esgoto, e apenas
zendo-lhe que o que ele acaba de fazer pode 39% de todo o esgoto gerado são tratados.
ser muito bom no seu gênero, só que não Aproximadamente 70% da população que
é "Arte". E podemos desconcertar qualquer compõe o déficit de acesso ao abastecimento
pessoa que esteja contemplando com prazer de água possuem renda domiciliar mensal de
um quadro, declarando que aquilo de que ela até 1/2 salário mínimo por morador, ou seja,
gosta não é Arte, mas algo muito diferente. apresentam baixa capacidade de pagamento,
Na realidade, não penso que existam quais- o que coloca em pauta o tema do saneamento
quer razões erradas para se gostar de um financeiramente acessível.
quadro ou de uma escultura. Alguém pode Desde 2007, quando foi criado o Ministé-
gostar de uma paisagem porque ela lhe re- rio das Cidades, identificam-se avanços im-
corda seu berço natal, ou de um retrato por- portantes na busca de diminuir o déficit já
que lhe lembra um amigo. Nada há de errado crônico em saneamento e pode-se caminhar
nisso. (...) Somente quando alguma recorda- alguns passos em direção à garantia do aces-
ção irrelevante nos torna parciais e precon- so a esses serviços como direito social. Nes-
ceituosos, quando instintivamente voltamos se sentido destacamos as Conferências das
as costas a um quadro magnífico de uma Cidades e a criação da Secretaria de Sanea-
cena alpina porque não gostamos de praticar mento e do Conselho Nacional das Cidades,

36
que deram à política urbana uma base de 2. (Espcex) “Nesse sentido destacamos as Con-
participação e controle social. ferências das Cidades e a criação da Secreta-
Houve também, até 2014, uma progressiva ria de Saneamento e do Conselho Nacional
ampliação de recursos para o setor, sobretu- das Cidades, que deram à política urbana
do a partir do PAC 1 e PAC 2; a instituição uma base de participação e controle social”.
de um marco regulatório (Lei 11.445/2007 e
No fragmento, o pronome relativo exerce a
seu decreto de regulamentação) e de um Pla-
função sintática de
no Nacional para o setor, o PLANSAB, cons-
truído com amplo debate popular, legitima- a) objeto direto e introduz uma explicação.
b) objeto direto e introduz uma restrição.
do pelos Conselhos Nacionais das Cidades, de
c) objeto indireto e introduz uma explicação.
Saúde e de Meio Ambiente, e aprovado por
d) sujeito e introduz uma restrição.
decreto presidencial em novembro de 2013.
e) sujeito e introduz uma explicação.
Esse marco legal e institucional traz aspectos
essenciais para que a gestão dos serviços seja TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
pautada por uma visão de saneamento como O CORPO DA MULHER
direito de cidadania: a) articulação da políti-
Coisa mais difícil é ser mulher. Não bastas-
ca de saneamento com as políticas de desen-
sem as surpresas que a fisiologia lhes impõe,
volvimento urbano e regional, de habitação, as sociedades criam regras para cercear-lhes
de combate à pobreza e de sua erradicação, a liberdade de ir e vir e padrões rígidos de
de proteção ambiental, de promoção da saú- comportamento e moralidade que não se
de; e b) a transparência das ações, baseada aplicam aos homens.
em sistemas de informações e processos de-
cisórios participativos institucionalizados. De todas as imposições sociais, a mais odiosa
A Lei 11.445/2007 reforça a necessidade de é a apropriação indébita do corpo feminino.
planejamento para o saneamento, por meio Não é por outra razão que cidadãos de mais
da obrigatoriedade de planos municipais de de 20 países se dão o direito de mutilar os
abastecimento de água, coleta e tratamen- genitais de suas filhas, na mais tenra idade.
to de esgotos, drenagem e manejo de águas São cirurgias cruentas, sem anestésicos nem
pluviais, limpeza urbana e manejo de resí- assepsia, a que o mundo assiste em silêncio
duos sólidos. Esses planos são obrigatórios acovardado, em nome do respeito às “tradi-
para que possam ser estabelecidos contra- ções culturais”.
tos de delegação da prestação de serviços e Nós, que nos intitulamos “civilizados”, não
para que possam ser acessados recursos do chegamos a esse nível de barbárie, no en-
governo federal (OGU, FGTS e FAT), com pra- tanto, repreendemos a menina de dois anos
zo final para sua elaboração terminando em quando leva a mão ao sexo ou senta com as
2017. A Lei reforça também a participação e pernas abertas.
o controle social, através de diferentes me-
Na piscina de um condomínio de classe mé-
canismos como: audiências públicas, defini- dia alta, em Cleveland, nos Estados Unidos,
ção de conselho municipal responsável pelo minha filha foi admoestada pela encarrega-
acompanhamento e fiscalização da política da da segurança por deixar minha neta sem
de saneamento, sendo que a definição desse a parte de cima do biquíni. O argumento?
conselho também é condição para que pos- Provocar os homens presentes. Uma criança
sam ser acessados recursos do governo fe- de cinco anos?
deral.
Na puberdade, com o cérebro inundado pela
O marco legal introduz também a obrigato-
testosterona, jamais alguém ousou sugerir
riedade da regulação da prestação dos ser-
que iniciação sexual levasse em conta o amor,
viços de saneamento, visando à garantia do
sentimento que mães e pais que se consi-
cumprimento das condições e metas esta-
deram avançados exigem das adolescentes.
belecidas nos contratos, à prevenção e à re- Sexo casual exalta a condição masculina, en-
pressão ao abuso do poder econômico, reco- quanto mancha a reputação da mulher. Não
nhecendo que os serviços de saneamento são é preciso graduação em filosofia pura para
prestados em caráter de monopólio, o que expor o paradoxo.
significa que os usuários estão submetidos
às atividades de um único prestador. Aos 12 ou 13 anos, idades em que o corpo
FONTE: adaptado de http://www.assemae.org.br/artigos/
ensaia com graça os primeiros passos em
direção mulher adulta, os interesses da in-
item/1762-saneamento-basico-como-direito-de-cidadania
dústria e da publicidade sexualizam com mi-
nishorts e camisetas decotadas, o modo de
vestir das meninas.

37
Quando saem às ruas com as roupas da moda de preto ficam com cara de senhoras, se os
exibidas na TV e nas revistas, elas são acu- tingem de loiro são xingadas de exibidas. Se
sadas de provocadoras, portanto sujeitas às vestem roupas em tons discretos são anti-
grosserias e ao risco de se tornarem vítimas quadas, se acompanham a moda das mais
dos instintos masculinos mais bestiais. jovens são ridículas, sem noção.
Ao ficar adultas, são forçadas a atender a As leitoras que me perdoem, mas na próxima
um padrão estético que privilegia a magreza encarnação prefiro nascer homem, outra vez.
doentia das top models. Sem levar em conta Drauzio Varella. www1.folha.uol.com.br/colunas/
os caprichos da genética, a mulher moderna drauziovarella/2017/06/1891661-o-corpo-da-
deve ser magra, sobretudo. A exigência de mulher.shtml. Acessado em 28-06-2017
exibir a ossatura acaba por lhes distorcer a
autoimagem. Passam a implicar com o pe-
queno acúmulo de gordura, com rugas in- 3. (Fcmmg) Assinale a alternativa cujo termo
significantes e com celulites só visíveis em destacado NÃO é um elemento coesivo.
posições acrobáticas sob o foco de luz. a) “... se acompanham a moda das mais jovens
são ridículas, sem noção.”
No passado, demonstrar interesse por uma b) “... se deixam os cabelos embranquecer são
mulher era elogiar sua beleza; hoje, dizer rotuladas de velhas...”
que está c) “... se decidem pintá-los de preto ficam com
mais magra é meio caminho andado. cara de senhoras...”
Nós, homens, somos complacentes com a au- d) “... se dão o direito de mutilar os genitais de
toimagem. O sujeito com 20 quilos a mais sai suas filhas...”
do banho enrolado na toalha, para na frente
do espelho, bate no abdômen avantajado e TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
se vangloria: “tô simpático, tô bonitão”. Está Leia o texto abaixo e responda à(s)
para nascer mulher com tamanha autocon- questão(ões).
fiança. A PIPOCA
Mas é na gravidez que fica demonstrada a Rubem Alves
superioridade fisiológica do organismo fe-
A culinária me fascina. De vez em quando eu
minino.
até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que
Produzem apenas um óvulo, enquanto nos sou mais competente com as palavras que
obrigam a ejacular 300 milhões de esperma- com as panelas. Por isso tenho mais escrito
tozoides, para que se deem ao luxo de esco- sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a
lher o mais apto. Daí em diante, por conta algo que poderia ter o nome de “culinária
própria, constroem uma criança de três qui- literária”. Já escrevi sobre as mais variadas
los, sem qualquer participação masculina. entidades do mundo da cozinha: cebolas,
ora-pro-nóbis, picadinho de carne com to-
Na gravidez nosso papel é tão desprezível
mate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, so-
que precisamos fazer exame de DNA para
pas, churrascos. Cheguei mesmo a dedicar
comprovar a paternidade.
metade de um livro poético-filosófico a uma
Apesar da irrelevância, no entanto, nós é meditação sobre o filme A festa de Babette,
que aprovamos as leis que as consideram que é uma celebração da comida como ritual
criminosas em caso de abortamento provo- de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações
cado. O sofrimento e as mortes das jovens e competências, nunca escrevi como chef.
submetidas a procedimentos realizados nas Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e
condições mais desumanas que possamos teólogo – porque a culinária estimula todas
imaginar não nos sensibilizam. essas funções do pensamento.
As comidas, para mim, são entidades oní-
Depois de passar décadas espremidas em
ricas. Provocam a minha capacidade de so-
trajes incômodos e de andar mal equilibra-
nhar. Nunca imaginei, entretanto, que che-
das em saltos de um palmo de altura, só lhes
garia um dia em que a pipoca iria me fazer
restam duas saídas: a cirurgia plástica ou o
sonhar. Pois foi precisamente isso que acon-
suicídio, providências nem sempre exclu-
teceu. A pipoca, milho mirrado, grãos redon-
dentes. Antes operar o rosto, aspirar a gor-
dos e duros, me pareceu uma simples mole-
dura abdominal ou partir deste mundo do
cagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões
que envelhecer.
metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto,
Às que ficam mais velhas não sobram alter- dias atrás, conversando com uma paciente,
nativas: se deixam os cabelos embranquecer ela mencionou a pipoca. E algo inesperado
são rotuladas de velhas, se decidem pintá-los na minha mente aconteceu. Minhas ideias

38
começaram a estourar como pipoca. Percebi, fogo continua a ser milho de pipoca, para
então, a relação metafórica entre a pipoca e sempre. Assim acontece com a gente. As
o ato de pensar. Um bom pensamento nas- grandes transformações acontecem quando
ce como uma pipoca que estoura, de forma passamos pelo fogo. Quem não passa pelo
inesperada e imprevisível. A pipoca se reve- fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São
lou a mim, então, como um extraordinário pessoas de uma mesmice e dureza assombro-
objeto poético. Poético porque, ao pensar ne- sas. Só que elas não percebem. Acham que
las, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
estouros e pulos como aqueles das pipocas Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quan-
dentro de uma panela. do a vida nos lança numa situação que nun-
Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. ca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora:
A pipoca tem sentido religioso? Pois tem. perder um amor, perder um filho, ficar do-
Para os cristãos, religiosos são o pão e o vi- ente, perder um emprego, ficar pobre. Pode
nho, que simbolizam o corpo e o sangue de ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade,
Cristo, a mistura de vida e alegria (porque depressão – sofrimentos cujas causas igno-
vida, só vida, sem alegria, não é vida...). ramos. Há sempre o recurso aos remédios.
Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento di-
e alegria devem existir juntas. Lembrei-me, minui. E com isso a possibilidade da grande
então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, transformação.
sábia poderosa do candomblé baiano: que a Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro
pipoca é a comida sagrada do candomblé... da panela, lá dentro ficando cada vez mais
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvol- quente, pense que sua hora chegou: vai mor-
vido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no rer. De dentro de sua casca dura, fechada em
meio dos meus milhos graúdos aparecessem si mesma, ela não pode imaginar destino
aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e diferente. Não pode imaginar a transforma-
trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, ção que está sendo preparada. A pipoca não
sob o ponto de vista do tamanho, os milhos imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem
da pipoca não podem competir com os mi- aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande
lhos normais. Não sei como isso aconteceu, transformação acontece: pum! − e ela apare-
mas o fato é que houve alguém que teve a ce como uma outra coisa, completamente di-
ideia de debulhar as espigas e colocá-las ferente, que ela mesma nunca havia sonha-
numa panela sobre o fogo, esperando que do. É a lagarta rastejante e feia que surge do
assim os grãos amolecessem e pudessem ser casulo como borboleta voante.
comidos. Havendo fracassado a experiência Na simbologia cristã o milagre do milho de
com água, tentou a gordura. O que aconte- pipoca está representado pela morte e res-
ceu, ninguém jamais poderia ter imaginado. surreição de Cristo: a ressurreição é o estou-
Repentinamente os grãos começaram a es- ro do milho de pipoca. É preciso deixar de
tourar, saltavam da panela com uma enorme ser de um jeito para ser de outro. “Morre e
barulheira. Mas o extraordinário era o que transforma-te!” − dizia Goethe.
acontecia com eles: os grãos duros quebra- Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá.
-dentes se transformavam em flores brancas Falando sobre os piruás com os paulistas
e macias que até as crianças podiam comer. descobri que eles ignoram o que seja. Al-
O estouro das pipocas se transformou, então, guns, inclusive, acharam que era gozação
de uma simples operação culinária, em uma minha, que piruá é palavra inexistente. Che-
festa, brincadeira, molecagem, para os risos guei a ser forçado a me valer do Aurélio para
de todos, especialmente as crianças. É muito confirmar o meu conhecimento da língua.
divertido ver o estouro das pipocas! Piruá é o milho de pipoca que se recusa a
E o que é que isso tem a ver com o candom- estourar. Meu amigo William, extraordinário
blé? É que a transformação do milho duro em professor-pesquisador da Unicamp, especia-
pipoca macia é símbolo da grande transfor- lizou-se em milhos, e desvendou cientifi-
mação porque devem passar os homens para camente o assombro do estouro da pipoca.
que eles venham a ser o que devem ser. O Com certeza ele tem uma explicação cientí-
milho da pipoca não é o que deve ser. Ele fica para os piruás. Mas, no mundo da poe-
deve ser aquilo que acontece depois do es- sia as explicações científicas não valem. Por
touro. O milho da pipoca somos nós: duros, exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se
quebra-dentes, impróprios para comer, pelo dá às mulheres que não conseguiram casar.
poder do fogo podemos, repentinamente, Minha prima, passada dos quarenta, lamen-
nos transformar em outra coisa − voltar a tava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder
ser crianças! metafórico dos piruás é muito maior. Piruás
Mas a transformação só acontece pelo poder são aquelas pessoas que, por mais que o fogo
do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo esquente, se recusam a mudar. Elas acham

39
que não pode existir coisa mais maravilhosa mesma forma que o “carinho” humano, ele
do que o jeito delas serem. Ignoram o dito de parece provocar a liberação de endorfinas.
Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê-la- 6
Geram-se, dessa forma, sensações de bem-
-á.” A sua presunção e o seu medo são a dura -estar tanto em homens como em outros ani-
casca do milho que não estoura. O destino mais.
delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Na pesquisa, publicada pelo periódico New
Não vão se transformar na flor branca macia. Scientist, os cientistas perceberam que ma-
Não vão dar alegria para ninguém. Termina- cacos de 25 anos tiveram uma redução de até
do o estouro alegre da pipoca, no fundo da do tempo de grooming quando comparados
panela ficam os piruás que não servem para com adultos de cinco anos. 7Se esse fenôme-
nada. Seu destino é o lixo. Quanto às pipocas no acontece em outros primatas, ele também
que estouraram, são adultos que voltaram a pode ter chegado a nós ao longo do caminho
ser crianças e que sabem que a vida é uma de formação da nossa espécie. 8Se chegou,
grande brincadeira... qual teria sido a vantagem evolutiva?
Disponível em http://www.releituras.
9
Durante muito tempo se especulou que esse
com/rubemalves_pipoca.asp. “encolhimento” social em humanos seria,
Acessado em 31 de mai. 2016. na verdade, resultado de um processo de en-
velhecimento, em que depressão, morte de
Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo amigos, limitações físicas, vergonha da apa-
Acordo Ortográfico. rência e menos dinheiro poderiam limitar as
novas conexões. 10Mas, pesquisando os ido-
4. (Efomm) Analisando os mecanismos de co- sos, se percebeu que ter menos amigos era
esão, assinale a opção em que o termo su- muito mais uma escolha pessoal do que uma
blinhado NÃO retoma o termo antecedente, consequência do envelhecer.
mas funciona como elemento sequencial ou Uma linha de investigação explica que essa
de conexão. redução dos amigos seria, na verdade, uma
a) Dedico-me a algo que poderia ter o nome de seleção dos mais velhos de como usar melhor
"culinária literária". o tempo. Mas outros especialistas defendem
b) Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um a ideia de que os mais velhos teriam menos
dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. recursos e defesas para lidar com estresse e
c) Um bom pensamento nasce como uma pipoca ameaças e, assim, 11escolheriam com mais
que estoura, de forma inesperada e impre- cautela as pessoas com quem se sentem mais
visível. seguros (os amigos) para passar seu tempo.
d) Para os cristãos, religiosos são o pão e o vi- BOUER, J. Jornal O Estado de São Paulo, caderno
nho, que simbolizam o corpo e o sangue de Metrópole, domingo, 26 jun. 2016, p. A23. Adaptado.
Cristo (...)
e) Ele deve ser aquilo que acontece depois do
estouro. 5. (Fmp) No trecho “Se esse fenômeno acon-
tece em outros primatas, ele também pode
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: ter chegado a nós ao longo do caminho de
Mais velho, poucos amigos? formação da nossa espécie.” (ref. 7), a pala-
vra destacada exerce a mesma função textual
Um curioso estudo divulgado na última se-
que em:
mana mostrou que a redução do número de
a) “No trabalho desenvolvido pelo Instituto de
amigos com a idade, tão comum entre os
Pesquisa com Primatas em Göttingen, Ale-
humanos, pode não ser exclusivo da nossa
espécie. 1Aparentemente, macacos também manha, se identificou uma redução de groo-
passariam por processo semelhante em suas ming” (ref. 2)
redes de contatos sociais, o que poderia su- b) “Se chegou, qual teria sido a vantagem evo-
gerir um caráter evolutivo desse fenômeno. lutiva?” (ref. 8)
2
No trabalho desenvolvido pelo Instituto c) “Durante muito tempo se especulou que esse
de Pesquisa com Primatas em Göttingen, ”encolhimento” social em humanos seria, na
Alemanha, se identificou uma redução de verdade, resultado de um processo de enve-
grooming (tempo dedicado ao cuidado com lhecimento” (ref. 9)
outros indivíduos, como limpar o pelo e ca- d) “Mas, pesquisando os idosos, se percebeu
tar piolhos) entre os macacos mais velhos da que ter menos amigos era muito mais uma
espécie Macaca sylvanus. 3Além disso, eles escolha pessoal do que uma consequência do
praticavam grooming em um número menor envelhecer.” (ref. 10)
de “amigos” ou parentes. e) “escolheriam com mais cautela as pessoas
4
Fazer grooming está para os macacos mais com quem se sentem mais seguros (os ami-
ou menos como o “papo” para nós. 5Da gos) para passar seu tempo.” (ref. 11)

40
6. (Fmp) No trecho “Geram-se, dessa forma, todas as marcas registradas,
sensações de bem-estar tanto em homens todos os logotipos do mercado.
como em outros animais.” (ref. 6) a forma Com que inocência demito-me de ser
verbal foi utilizada no plural, por respeito às eu que antes era e me sabia
exigências da norma-padrão da língua por- tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
tuguesa. Essa mesma flexão deve ser aplica- ser pensante, sentinte e solitário
da ao verbo destacado em: com outros seres diversos e conscientes
a) Com o aumento da depressão em pessoas de de sua humana, invencível condição.
diferentes idades, é necessário que se pro- Agora sou anúncio,
cedam a novos estudos sobre medicamentos ora vulgar, ora bizarro,
mais eficazes. em língua nacional ou em qualquer língua
b) Os estudos recentes desenvolvidos em insti- (qualquer, principalmente).
tutos de pesquisa permitem que se suspei- (...)
tem das causas prováveis do “encolhimento” Por me ostentar assim, tão orgulhoso
social. de ser não eu, mas artigo industrial,
c) Apesar de a imprensa divulgar constante- peço que meu nome retifiquem.
mente novos medicamentos, desconfiam-se Já não me convém o título de homem.
dos métodos utilizados nas pesquisas sobre Meu nome novo é coisa.
obesidade. Eu sou a coisa, coisamente.
d) Para detectar os reflexos mais prejudiciais do
“encolhimento” social em humanos, neces- 7. (G1 - cp2) No poema, nos versos “Em minha
sitam-se de estudos com maior número de calça está grudado um nome / que não é meu
indivíduos. de batismo ou de cartório”, a palavra “que”
e) Os pesquisadores concordam que é preciso evita repetição (versos 1 e 2).
que se empreguem muitos esforços para
investigar os processos relativos ao envelhe- Marque a alternativa em que essa palavra es-
cimento. teja fazendo o mesmo.
a) “Em minha camiseta, a marca de cigarro /
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: que não fumo, até hoje não fumei.” (versos
Eu, Etiqueta 6-7)
Carlos Drummond de Andrade b) “É doce estar na moda, ainda que a moda
/ seja negar minha identidade,” (versos 26-
Em minha calça está grudado um nome 27)
que não é meu de batismo ou de cartório, c) “Com que inocência demito-me de ser” (verso
um nome... estranho. 31)
Meu blusão traz lembrete de bebida d) “peço que meu nome retifiquem.” (verso 43)
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
que não fumo, até hoje não fumei. REDES SOCIAIS E COLABORAÇÃO EXTREMA: O
Minhas meias falam de produto FIM DO SENSO CRÍTICO?
que nunca experimentei Eugênio Mira
mas são comunicados a meus pés.
(...) Conectados. Essa palavra nunca fez tanto
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, sentido quanto agora. 1Quando se discutia
minha gravata e cinto e escova e pente, no passado sobre como os homens agiriam
meu copo, minha xícara, com o advento da aldeia global (...) não se
minha toalha de banho e sabonete, imaginava o quanto esse processo seria rápi-
meu isso, meu aquilo, do e devastador.
desde a cabeça até o bico dos sapatos, (...) quando McLuhan apresentou o termo,
são mensagens, em 1968, 2ele sequer imaginaria que não
letras falantes, seria a televisão a grande responsável pela
gritos visuais, interligação mundial absoluta, e sim a inter-
ordem de uso, abuso, reincidência, net, que na época não passava de um projeto
costume, hábito, premência, militar do governo dos Estados Unidos.
indispensabilidade, 3
A internet mudou definitivamente a ma-
e fazem de mim homem-anúncio itinerante, neira como nos comunicamos e percebemos
escravo da matéria anunciada. o mundo. Graças a ela temos acesso a toda
Estou, estou na moda. informação do mundo à distância de apenas
É doce estar na moda, ainda que a moda um toque de botão. 4E quando começaram a
seja negar minha identidade, se popularizar as redes sociais, 5um admirá-
trocá-la por mil, açambarcando vel mundo novo abriu-se ante nossos olhos.

41
Uma ferramenta colaborativa extrema, que I. “Copia-se sem o menor bom senso...”
possibilitaria o contato imediato com outras (ref. 11)
pessoas através de suas afinidades, fossem II. “...um admirável mundo novo abriu-se
elas políticas, religiosas ou mesmo geo- ante nossos olhos.” (ref. 5)
gráficas. Projetos colaborativos, revoluções III. “Ou se aceita a situação ou revolta-se.”
instantâneas... 6Tudo seria maior e melhor (ref. 10)
quando as pessoas se alinhassem na órbita IV. “O tempo passou, e essa revolução não se
de seus ideais. 7O tempo passou, e essa revo- instaurou”. (ref. 7)
lução não se instaurou. Assinale a análise correta.
Basta observar as figuras que surgem nos a) Em I, o “se” é uma partícula expletiva ou de
sites de humor e outros assemelhados. Co- realce.
nhecidos como memes (termo cunhado pelo b) Em II, o “se” é uma partícula integrante do
pesquisador Richard Dawkins, que repre- verbo.
sentaria para nossa memória o mesmo que c) Em III, o “se” foi utilizado para flexionar o
os genes representam para o corpo, ou seja, verbo na voz passiva sintética em ambas as
uma parcela mínima de informação), 8essas ocorrências.
figuras surgiram com a intenção de demons- d) Em IV, o “se” classifica-se como pronome
trar, de maneira icônica, algum sentimento apassivador.
ou sensação. 9Ao fazer isso, a tendência de
ter uma reação diversa daquelas expressas TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
pelas tirinhas é cada vez menor. Tudo fica Leia o conto “A cartomante”, de Lima Bar-
branco e preto. 10Ou se aceita a situação, reto (1881-1922), para responder à(s)
ou revolta-se. Sem chance para o debate ou questão(ões).
questionamento. Não havia dúvida que naqueles atrasos e
(...) atrapalhações de sua vida, alguma influên-
A situação é ainda mais grave quando um dos cia misteriosa preponderava. Era ele tentar
poucos entes criativos restantes na internet qualquer coisa, logo tudo mudava. Esteve
produz algum comentário curto, espirituoso
quase para arranjar-se na Saúde Pública;
ou reflexivo, a respeito de alguma situação
mas, assim que obteve um bom “pistolão1”,
atual ou recente... Em minutos pipocam có-
toda a política mudou. Se jogava no bicho,
pias da frase por todo lugar. 11Copia-se sem o
era sempre o grupo seguinte ou o anterior
menor bom senso, sem créditos. Pensar e re-
que dava. Tudo parecia mostrar-lhe que ele
fletir, e depois falar, são coisas do passado. O
não devia ir para adiante. Se não fossem as
importante agora é 12copiar e colar, e depois
costuras da mulher, não sabia bem como po-
partilhar. 13As redes sociais desfraldaram um
deria ter vivido até ali. Há cinco anos que
mundo completamente novo, e o uso que o
não recebia vintém de seu trabalho. Uma
homem fará dessas ferramentas é o que dirá
nota de dois mil-réis, se alcançava ter na
o nosso futuro cultural. 14Se enveredarmos
algibeira por vezes, era obtida com auxílio
pela partilha de ideias, gestando-as em nos-
de não sabia quantas humilhações, apelando
sas mentes e depois as passando a outros,
para a generosidade dos amigos.
será uma estufa mundial a produzir avan-
Queria fugir, fugir para bem longe, onde
ços incríveis em todos os campos de conhe-
a sua miséria atual não tivesse o realce da
cimento. Se, no entanto, as redes sociais se
prosperidade passada; mas, como fugir?
transformarem em uma rede neural de apoio
Onde havia de buscar dinheiro que o trans-
à preguiça de pensar, a humanidade estará
portasse, a ele, a mulher e aos filhos? Vi-
fadada ao processo antinatural de regressão.
ver assim era terrível! Preso à sua vergonha
O advento das redes sociais trouxe para per-
to das pessoas comuns os amigos distantes, como a uma calceta2, sem que nenhum códi-
os ídolos e as ideias consumistas mais arrai- go e juiz tivessem condenado, que martírio!
gados, mas aparentemente está levando para A certeza, porém, de que todas as suas in-
longe algo muito mais humano e essencial felicidades vinham de uma influência mis-
na vida em sociedade: o senso crítico. Será teriosa, deu-lhe mais alento. Se era “coisa
uma troca justa? feita”, havia de haver por força quem a des-
http://obviousmag.org/archives/2011/09/redes_
fizesse. Acordou mais alegre e se não falou
sociais_e_colaboracao_extrema_O_fim_do_senso_ à mulher alegremente era porque ela já ha-
critico-.htm. Adaptado. Acesso em: 21 fev 2017. via saído. Pobre de sua mulher! Avelhanta-
da precocemente, trabalhando que nem uma
moura, doente, entretanto a sua fragilidade
8. (Epcar (Afa) 2018) O vocábulo se exerce, na transformava-se em energia para manter o
língua portuguesa, várias funções. Observe casal.
seu uso nos excertos a seguir. Ela saía, virava a cidade, trazia costuras,

42
recebia dinheiro, e aquele angustioso lar ia se arrastando, graças aos esforços da esposa.
Bem! As coisas iam mudar! Ele iria a uma cartomante e havia de descobrir o que e quem atrasavam
a sua vida.
Saiu, foi à venda e consultou o jornal. Havia muitos videntes, espíritas, teósofos anunciados; mas
simpatizou com uma cartomante, cujo anúncio dizia assim: “Madame Dadá, sonâmbula, extralúci-
da, deita as cartas e desfaz toda espécie de feitiçaria, principalmente a africana. Rua etc.”.
Não quis procurar outra; era aquela, pois já adquirira a convicção de que aquela sua vida vinha
sendo trabalhada pela mandinga de algum preto-mina3, a soldo do seu cunhado Castrioto, que
jamais vira com bons olhos o seu casamento com a irmã.
Arranjou, com o primeiro conhecido que encontrou, o dinheiro necessário, e correu depressa para
a casa de Madame Dadá.
O mistério ia desfazer-se e o malefício ser cortado. A abastança voltaria à casa; compraria um ter-
no para o Zezé, umas botinas para Alice, a filha mais moça; e aquela cruciante vida de cinco anos
havia de lhe ficar na memória como passageiro pesadelo.
Pelo caminho tudo lhe sorria. Era o sol muito claro e doce, um sol de junho; eram as fisionomias
risonhas dos transeuntes; e o mundo, que até ali lhe aparecia mau e turvo, repentinamente lhe
surgia claro e doce.
Entrou, esperou um pouco, com o coração a lhe saltar do peito.
O consulente saiu e ele foi afinal à presença da pitonisa4. Era sua mulher.
(Contos completos, 2010.)

1
pistolão: recomendação de pessoa influente; indivíduo que faz essa recomendação.
2
calceta: argola de ferro que, fixada no tornozelo do prisioneiro, ligava-se à sua cintura por meio
de corrente de ferro.
3
preto-mina: indivíduo dos pretos-minas (povo que habita a região do Grand Popo, no Sudoeste
da África).
4
pitonisa: profetisa.

9. (Uefs 2018) Em “Onde havia de buscar dinheiro que o transportasse, a ele, a mulher e aos filhos?”
(3º parágrafo), o termo sublinhado refere-se ao substantivo “dinheiro” e exerce a função sintática
de
a) sujeito.
b) objeto direto.
c) objeto indireto.
d) adjunto adnominal.
e) adjunto adverbial.

1
0. (G1) Na oração "Contam-se casos curiosos sobre os índios.", o SE é:
a) pronome pessoal oblíquo;
b) índice de indeterminação do sujeito;
c) pronome apassivador;
d) pronome reflexivo;
e) pronome possessivo.

43
E.O. Complementar
1. (G1 - cps 2019) Observe as passagens:
I. “Candidato, me ajuda a comer, candidato!”
II. “Mas é claro que te ajudo! Tem aí um sanduíche para a gente dividir?”
Assinale a alternativa que apresenta a análise correta da função morfológica dos termos destaca-
dos nas passagens.
I. II.
ME A MAS QUE AÍ A
a) Pronome
Preposição Conjunção Conjunção Advérbio Artigo
pessoal
b) Pronome Pronome
Artigo Preposição Advérbio Preposição
indefinido relativo
c) Pronome Pronome Pronome
Conjunção Conjunção Advérbio
reflexivo relativo pessoal
d) Pronome Pronome Pronome
Preposição Preposição Artigo
pessoal reto relativo pessoal
e) Pronome Pronome Pronome
Conjunção Conjunção Preposição
pessoal pessoal demonstrativo

2. (Espcex) Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação da partícula “se”, na sequên-
cia em que aparece no período abaixo.
O maquinista se perguntava se a próxima parada seria tão tumultuada quanto a primeira, com
aquelas pessoas todas se debatendo, os bilhetes avolumando nas mãos do cobrador, os reclamos
que se ouviam dos mais exaltados.
a) objeto indireto – conectivo integrante – parte do verbo – partícula apassivadora
b) objeto direto – conectivo integrante – pronome reflexivo – partícula apassivadora
c) objeto direto – conjunção integrante – pronome recíproco – indeterminação do sujeito
d) objeto indireto – conjunção integrante – pronome reflexivo – partícula apassivadora
e) objeto direto – conectivo integrador – pronome oblíquo – partícula apassivadora

3. (Mackenzie) Aponte a alternativa que contém um QUE classificado morfologicamente como partí-
cula expletiva (ou de realce).
a) "A vida é tão bela que chega a dar medo."
b) "Havia uma escada que parava de repente no ar."
c) "Oh! Que revoada, que revoada de asas!"
d) "O vento que vinha desde o princípio do mundo / Estava brincando com teus cabelos..."
e) "Nós / é que vamos empurrando, dia a dia, sua cadeira de rodas."

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Quando a rede vira um vício

Com o titulo "Preciso de ajuda", fez-se um desabafo aos integrantes da comunidade Viciados em
Internet Anônimos: "Estou muito dependente da web, Não consigo mais viver normalmente. Isso
é muito sério". Logo obteve resposta de um colega de rede. "Estou na mesma situação. Hoje, pra-
ticamente vivo em frente ao computador. Preciso de ajuda." Odiálogo dá a dimensão do tormento
provocado pela dependência em Internet, um mal que começa a ganhar relevo estatístico, à medida
que o uso da própria rede se dissemina. Segundo pesquisas recém-conduzidas pelo Centro de Recu-
peração para Dependência de Internet, nos Estados Unidos, a parcela de viciados representa, nos
vários países estudados, de 5% (como no Brasil) a 10% dos que usam a web — com concentração
na faixa dos 15 aos 29 anos. Os estragos são enormes. Como ocorre com um viciado em álcool ou em
drogas, o doente desenvolve uma tolerância que, nesse caso, o faz ficar on-line por uma eternidade
sem se dar conta do exagero. Ele também sofre de constantes crises de abstinência quando está
desconectado, e seu desempenho nas tarefas de natureza intelectual despenca. Diante da tela do
computador, vive, aí sim, momentos de rara euforia. Conclui uma psicóloga americana: "O viciado
em internet vai, aos poucos, perdendo os elos com o mundo real até desembocar num universo
paralelo — e completamente virtual".
Não é fácil detectar o momento em que alguém deixa de fazer uso saudável e produtivo da rede

44
para estabelecer com ela uma relação doen- Unidos, a dependência em internet é reco-
tia, como a que se revela nas histórias rela- nhecida — e tratada — como uma doença.
tadas ao longo desta reportagem. Em todos Surgiram grupos especializados por toda
os casos, a internet era apenas "útil" ou "di- parte. "Muita gente que procura ajuda ainda
vertida" e foi ganhando um espaço central, resiste à ideia de que essa é uma doença",
a ponto de a vida longe da rede ser descrita conta um psicólogo. O prognóstico é bom:
agora como sem sentido. Mudança tão drás- em dezoito semanas de sessões individuais e
tica se deu sem que os pais atentassem para em grupo, 80% voltam a niveis aceitáveis de
a gravidade do que ocorria. "Como a inter- uso da internet. Não seria factível, tampou-
net faz parte do dia a dia dos adolescentes co desejável, que se mantivessem totalmente
e o isolamento é um comportamento típico distantes dela, como se espera, por exemplo,
dessa fase da vida, a família raramente de- de um alcoólatra em relação à bebida. Com a
tecta o problema antes de ele ter fugido ao rede, afinal, descortina-se uma nova dimen-
controle", diz um psiquiatra. A ciência, por são de acesso às informações, à produção de
sua vez, já tem bem mapeados os primeiros conhecimento e ao próprio lazer, dos quais,
sintomas da doença. De saída, o tempo na em sociedades modernas, não faz sentido se
internet aumenta — até culminar, pasme- privar. Toda a questão gira em torno da dose
-se, numa rotina de catorze horas diárias, de ideal, sobre a qual já existe um consenso
acordo com o estudo americano. As situações acerca do razoável: até duas horas diárias,
vividas na rede passam, então, a habitar no caso de crianças e adolescentes. Quanto
mais e mais as conversas. É típico o apare- antes a ideia do limite for sedimentada, me-
cimento de olheiras profundas e ainda um lhor. Na avaliação de uma das psicólogas, "Os
ganho de peso relevante, resultado da fre- pais não devem temer o computador, mas,
quente troca de refeições por sanduíches — sim, orientar os filhos sobre como usá-lo de
que prescindem de talheres e liberam uma forma útil e saudável". Desse modo, reduz-
das mãos para o teclado. Gradativamente, a -se drasticamente a possibilidade de que, no
vida social vai se extinguindo. Alerta outra futuro, eles enfrentem o drama vivido hoje
psicóloga: "Se a pessoa começa a ter mais pelos jovens viciados.
amigos na rede do que fora dela, é um sinal Silvia Rogar e João Figueiredo, Veja, 24
claro de que as coisas não vão bem".
de março de 2010. Adaptado.
Os jovens são, de longe, os mais propensos a
extrapolar o uso da internet. Há uma razão
estatística para isso — eles respondem por 4. (G1 - col. naval) Assinale a opção em que a
até 90% dos que navegam na rede, a maior palavra que não faz referência a um termo
fatia —, mas pesa também uma explicação que a antecede.
de fundo mais psicológico, à qual uma re- a) "[...] um mal que começa a ganhar relevo
cente pesquisa lança luz. Algo como 10% dos estatístico [...]". (1° parágrafo)
entrevistados (viciados ou não) chegam a b) "[...] o doente desenvolve uma tolerância
atribuir à internet uma maneira de "aliviar que, nesse caso [...]".(1° parágrafo)
os sentimentos negativos", tão típicos de c) "[...] resultado da frequente troca de refei-
uma etapa em que afloram tantas angústias
ções por sanduíches - que prescindem de ta-
e conflitos. Na rede, os adolescentes sentem-
lheres [...]". (2° parágrafo)
-se ainda mais à vontade para expor suas
d) "No perfil daquela minoria que, mais tarde,
ideias. Diz um outro psiquiatra: "Num mo-
resvala no vício se vê [...]".(3° parágrafo)
mento em que a própria personalidade está
e) "Não seria factível, tampouco desejável, que
por se definir, a internet proporciona um
se mantivessem totalmente [...]".(4° pará-
ambiente favorável para que eles se expres-
grafo)
sem livremente". No perfil daquela minoria
que, mais tarde, resvala no vicio se vê, em
geral, uma combinação de baixa autoestima TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
com intolerância à frustração. Cerca de 50% CINZAS DA INQUISIÇÃO
deles, inclusive, sofrem de depressão, fobia
social ou algum transtorno de ansiedade. É 1 Até agora fingíamos que a Inquisição
nesse cenário que os múltiplos usos da rede era um episódio da história europeia, que
ganham um valor distorcido. Entre os que já tendo durado do século XII ao século XIX,
têm o vicio, a maior adoração é pelas redes nada tinha a ver com o Brasil. No máximo,
de relacionamento e pelos jogos on-line, so- se prestássemos muita atenção, íamos ouvir
bretudo por aqueles em que não existe noção falar de um certo Antônio José - o Judeu, um
de começo, meio ou fim. português de origem brasileira, que foi quei-
Desde 1996, quando se consolidou o primei- mado porque andou escrevendo umas peças
ro estudo de relevo sobre o tema, nos Estados de teatro.

45
2 Mas não dá mais para escamotear. Acabou aos trabalhos forçados na Sibéria. De nada
de se realizar um congresso que começou em adiantou aquele imperador chinês ter quei-
Lisboa, continuou em São Paulo e Rio, rea- mado todos os livros e ter decretado que a
valiando a Inquisição. O ideal seria que esse história começasse com ele.
congresso tivesse se desdobrado por todas as 7 A história recomeça com cada um de nós,
capitais do país, por todas as cidades, que apesar dos reis e das inquisições.
tivesse merecido mais atenção da televisão e (Affonso R. de Sant'Anna. A RAIZ QUADRADA
tivesse sacudido a consciência dos brasilei- DO ABSURDO. Rio de Janeiro, Rocco, 1989, p.
ros do Oiapoque ao Chuí, mostrando àqueles 196-198.)
que não podem ler jornais nem frequentar
as discussões universitárias o que foi um dos 5. (Cesgranrio 1991) "O ideal seria QUE esse
períodos mais tenebrosos da história do Oci- congresso tivesse se desdobrado por todas as
dente. Mas mostrar isso, não por prazer sa- capitais do país, por todas as cidades, QUE
domasoquista, e sim para reforçar os ideais tivesse merecido mais atenção da televisão e
de dignidade humana e melhorar a debilita- tivesse sacudido a consciência dos brasilei-
da consciência histórica nacional.
ros do Oiapoque ao Chuí, mostrando àqueles
..................................................................
QUE não podem ler jornais nem frequentar
.....................
as discussões universitárias o que foi um dos
3 Calar a história da Inquisição, como ain-
períodos mais tenebrosos da história do Oci-
da querem alguns, em nada ajuda a história
dente."
de instituições e países. Ao contrário, isto
pode ser ainda um resquício inquisitorial. E Assinale a classificação CORRETA das pala-
no caso brasileiro essa reavaliação é inesti- vras em destaque, respectivamente:
mável, porque somos uma cultura que finge a) pronome relativo / conjunção integrante /
viver fora da história. conjunção integrante.
4 Por outro lado, estamos vivendo um mo- b) pronome relativo / conjunção integrante /
mento privilegiado em termos de reconstru- conjunção consecutiva.
ção da consciência histórica. Se neste ano c) conjunção integrante / conjunção integran-
(1987) foi possível passar a limpo a Inquisi- te / pronome relativo.
ção, no ano que vem será necessário refazer d) conjunção integrante / conjunção consecu-
a história do negro em nosso país, a propó- tiva / conjunção comparativa.
sito dos cem anos da libertação dos escravos. e) conjunção consecutiva / pronome relativo /
E no ano seguinte, 1989, deveríamos nos pronome relativo.
concentrar para rever a "república" decreta-
da por Deodoro. Os próximos dois anos pode-
riam se converter em um intenso período de
pesquisas, discussões e mapeamento de nos-
sa silenciosa história. Universidades, funda- E.O. Objetivas
ções de pesquisa e os meios de comunicação
deveriam se preparar para participar desse (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
projeto arqueológico, convocando a todos:
"Libertem de novo os escravos", "proclamem TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
de novo a República". Leia o excerto do “Sermão do bom ladrão”,
5 Fazer história é fazer falar o passado e o de Antônio Vieira (1608-1697), para res-
presente criando ecos para o futuro. ponder à(s) questão(ões) a seguir.
6 História é o anti-silêncio. É o ruído
emergente das lutas, angústias, sonhos, Navegava Alexandre [Magno] em uma pode-
frustrações. Para o pesquisador, o silêncio da rosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a
história oficial é um1 silêncio ensurdecedor. Índia; e como fosse trazido à sua presença
Quando penetra nos arquivos da consciência um pirata, que por ali andava roubando os
nacional, os dados e os feitos berram, cla- pescadores, repreendeu-o muito Alexandre
mam, gritam, sangram pelas prateleiras. En- de andar em tão mau ofício; porém ele, que
gana-se, portanto, quem julga que os arqui- não era medroso nem lerdo, respondeu as-
vos são lugares apenas de poeira e mofo. Ali sim: “Basta, Senhor, que eu, porque roubo
está pulsando algo. Como num vulcão apa- em uma barca, sou ladrão, e vós, porque rou-
rentemente adormecido, ali algo quer emer- bais em uma armada, sois imperador?”. As-
gir. E emerge. Cedo ou tarde. Não se destrói sim é. O roubar pouco é culpa, o roubar mui-
totalmente qualquer documentação. Sempre to é grandeza: o roubar com pouco poder faz
vai sobrar um herege que não foi queima- os piratas, o roubar com muito, os Alexan-
do, um judeu que escapou ao campo de con- dres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir
centração, um dissidente que sobreviveu as qualidades, e interpretar as significações,

46
a uns e outros, definiu com o mesmo nome: TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
[...] Se o rei de Macedônia, ou qualquer ou- Leia o conto “A moça rica”, de Rubem
tro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o la- Braga (1913-1990), para responder à(s)
drão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo questão(ões) a seguir.
lugar, e merecem o mesmo nome.
Quando li isto em Sêneca, não me admirei A madrugada era escura nas moitas de man-
tanto de que um filósofo estoico se atrevesse gue, e eu avançava no 1batelão velho; rema-
a escrever uma tal sentença em Roma, rei- va cansado, com um resto de sono. De lon-
ge veio um 2rincho de cavalo; depois, numa
nando nela Nero; o que mais me admirou, e
choça de pescador, junto do morro, tremulou
quase envergonhou, foi que os nossos ora-
a luz de uma lamparina.
dores evangélicos em tempo de príncipes
Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a
católicos, ou para a emenda, ou para a caute-
moça que eu encontrara galopando na praia.
la, não preguem a mesma doutrina. Saibam
Ela era corada, forte. Viera do Rio, sabíamos
estes eloquentes mudos que mais ofendem
que era muito rica, filha de um irmão de um
os reis com o que calam que com o que dis-
homem de nossa terra. A princípio a olhei
serem; porque a confiança com que isto se
com espanto, quase desgosto: ela usava cal-
diz é sinal que lhes não toca, e que se não
ças compridas, fazia caçadas, dava tiros, saía
podem ofender; e a cautela com que se cala é
de barco com os pescadores. Mas na segunda
argumento de que se ofenderão, porque lhes
noite, quando nos juntamos todos na casa de
pode tocar. [...]
Joaquim Pescador, ela cantou; tinha bebido
Suponho, finalmente, que os ladrões de que cachaça, como todos nós, e cantou primeiro
falo não são aqueles miseráveis, a quem a uma coisa em inglês, depois o Luar do sertão
pobreza e vileza de sua fortuna condenou a e uma canção antiga que dizia assim: “Esse
este gênero de vida, porque a mesma sua mi- alguém que logo encanta deve ser alguma
séria ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. santa”. Era uma canção triste.
O ladrão que furta para comer não vai nem Cantando, ela parou de me assustar; cantan-
leva ao Inferno: os que não só vão, mas le- do, ela deixou que eu a adorasse com essa
vam, de que eu trato, são os ladrões de maior adoração súbita, mas tímida, esse fervor
calibre e de mais alta esfera [...]. Não são confuso da adolescência – adoração sem es-
só ladrões, diz o santo [São Basílio Magno], perança, ela devia ter dois anos mais do que
os que cortam bolsas, ou espreitam os que eu. E amaria o rapaz de suéter e sapato de
se vão banhar, para lhes colher a roupa; os basquete, que costuma ir ao Rio, ou (murmu-
ladrões que mais própria e dignamente me- rava-se) o homem casado, que já tinha ido
recem este título são aqueles a quem os reis até à Europa e tinha um automóvel e uma co-
encomendam os exércitos e legiões, ou o go- leção de espingardas magníficas. Não a mim,
verno das províncias, ou a administração das com minha pobre 3flaubert, não a mim, de
cidades, os quais já com manha, já com for- calça e camisa, descalço, não a mim, que não
ça, roubam e despojam os povos. Os outros sabia lidar nem com um motor de popa, ape-
ladrões roubam um homem, estes roubam nas tocar um batelão com meu remo.
cidades e reinos: os outros furtam debaixo Duas semanas depois que ela chegou é que a
do seu risco, estes sem temor, nem perigo: encontrei na praia solitária; eu vinha a pé,
os outros, se furtam, são enforcados: estes ela veio galopando a cavalo; vi-a de longe,
furtam e enforcam. meu coração bateu adivinhando quem po-
(Essencial, 2011.) deria estar galopando sozinha a cavalo, ao
longo da praia, na manhã fria. Pensei que
1. (Unesp 2018) “[...] os ladrões de que falo ela fosse passar me dando apenas um adeus,
não são aqueles miseráveis, a quem a pobre- esse “bom-dia” que no interior a gente dá a
za e vileza de sua fortuna condenou a este quem encontra; mas parou, o animal resfo-
gênero de vida [...].” (3º parágrafo) legando e ela respirando forte, com os seios
agitados dentro da blusa fina, branca. São as
Os termos destacados constituem, respecti- duas imagens que se gravaram na minha me-
vamente, mória, desse encontro: a pele escura e suada
a) um artigo, uma preposição e uma preposi- do cavalo e a seda branca da blusa; aquela
ção. dupla respiração animal no ar fino da ma-
b) uma preposição, um artigo e uma preposi- nhã.
ção. E saltou, me chamando pelo nome, conver-
c) um artigo, um pronome e um pronome. sou comigo. Séria, como se eu fosse um ra-
d) um pronome, uma preposição e um artigo. paz mais velho do que ela, um homem como
e) uma preposição, um artigo e um pronome. os de sua roda, com calças de “palm-beach”,
relógio de pulso. Perguntou coisas sobre

47
peixes; fiquei com vergonha de não saber a) 1. pronome relativo, 2. conjunção integran-
quase nada, não sabia os nomes dos peixes te, 3. pronome relativo, 4. conjunção inte-
que ela dizia, deviam ser peixes de outros grante;
lugares mais importantes, com certeza mais b) 1. conjunção integrante, 2. pronome relati-
bonitos. Perguntou se a gente comia aque- vo, 3. pronome relativo, 4. conjunção inte-
les cocos dos coqueirinhos junto da praia – grante;
e falou de minha irmã, que conhecera, quis c) 1. pronome relativo, 2. pronome relativo,
saber se era verdade que eu nadara desde a 3. conjunção integrante, 4. conjunção inte-
ponta do Boi até perto da lagoa. grante;
De repente me fulminou: “Por que você não d) 1. conjunção integrante, 2. pronome rela-
gosta de mim? Você me trata sempre de um tivo, 3. conjunção integrante, 4. pronome
modo esquisito...” Respondi, estúpido, com relativo;
a voz rouca: “Eu não”. e) 1. pronome relativo, 2. conjunção integran-
Ela então riu, disse que eu confessara que te, 3. conjunção integrante, 4. pronome re-
não gostava mesmo dela, e eu disse: “Não é lativo.
isso.” Montou o cavalo, perguntou se eu não
queria ir na garupa. Inventei que precisava TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
passar na casa dos Lisboa. Não insistiu, me As questões a seguir tomam por base o se-
deu um adeus muito alegre; no dia seguinte guinte fragmento do diálogo Fedro, de Pla-
foi-se embora. tão (427-347 a.C.). Fedro
Agora eu estava ali remando no batelão, para
ir no Severone apanhar uns camarões vivos
SÓCRATES: – Vamos então refletir sobre o
para isca; e o relincho distante de um cavalo
me fez lembrar a moça bonita e rica. Eu dis- que há pouco estávamos discutindo; exami-
se comigo – rema, bobalhão! – e fui reman- naremos o que seja recitar ou escrever bem
do com força, sem ligar para os respingos de um discurso, e o que seja recitar ou escrever
água fria, cada vez com mais força, como se mal.
isto adiantasse alguma coisa. FEDRO: – Isso mesmo.
SÓCRATES: – Pois bem: não é necessário que
(Os melhores contos, 1997.)
o orador esteja bem instruído e realmente
1
batelão: embarcação movida a remo. informado sobre a verdade do assunto de
2
rincho: relincho. que vai tratar?
3
flaubert: um tipo de espingarda. FEDRO: – A esse respeito, Sócrates, ouvi o
seguinte: para quem quer tornar-se orador
2. (Unesp 2018) “Duas semanas depois que consumado não é indispensável conhecer o
ela chegou é que a encontrei na praia soli- que de fato é justo, mas sim o que parece
tária; eu viajava a pé, ela veio galopando a justo para a maioria dos ouvintes, que são os
cavalo”(4º parágrafo) que decidem; nem precisa saber tampouco o
que é bom ou belo, mas apenas o que parece
Os termos sublinhados constituem, respec- tal – pois é pela aparência que se consegue
tivamente, persuadir, e não pela verdade.
a) artigo, preposição, artigo. SÓCRATES: – Não se deve desdenhar, caro
b) artigo, preposição, preposição. Fedro, da palavra hábil, mas antes refletir
c) pronome, artigo, artigo. no que ela significa. O que acabas de dizer
d) pronome, preposição, preposição. merece toda a nossa atenção.
e) pronome, artigo, preposição. FEDRO: – Tens razão.
SÓCRATES: – Examinemos, pois, essa afirma-
3. (Fuvest) "É da história do mundo que (1) ção.
as elites nunca introduziram mudanças que FEDRO: – Sim.
(2) favorecessem a sociedade como um todo. SÓCRATES: – Imagina que eu procuro persu-
Estaríamos nos enganando se achássemos adir-te a comprar um cavalo para defender-
que (3) estas lideranças empresariais teriam -te dos inimigos, mas nenhum de nós sabe o
motivação para fazer a distribuição de ren- que seja um cavalo; eu, porém, descobri por
das que (4) uma nação equilibrada precisa acaso uma coisa: “Para Fedro, o cavalo é o
ter." animal doméstico que tem as orelhas mais
O vocábulo que está numerado em suas qua- compridas”...
tro ocorrências, nas quais se classifica como FEDRO: – Isso seria ridículo, querido Sócra-
conjunção integrante e como pronome rela- tes.
tivo. Assinalar a alternativa que registra a SÓCRATES: – Um momento. Ridículo seria
classificação correta em cada caso, pela or- se eu tratasse seriamente de persuadir-te
dem: a que escrevesses um panegírico do burro,

48
chamando-o de cavalo e dizendo que é mui- é justo, o que parece justo, os que decidem,
tíssimo prático comprar esse animal para o o que é bom ou belo, o que parece tal. Em
uso doméstico, bem como para expedições todos esses contextos, o relativo que exerce
militares; que ele serve para montaria de a mesma função sintática nas orações de que
batalha, para transportar bagagens e para faz parte. Indique-a.
vários outros misteres. a) Sujeito.
FEDRO: – Isso seria ainda ridículo. b) Predicativo do sujeito.
SÓCRATES: – Um amigo que se mostra ridí- c) Adjunto adnominal.
culo não é preferível ao que se revela como d) Objeto direto.
perigoso e nocivo? e) Objeto indireto.
FEDRO: – Não há dúvida.
SÓCRATES: – Quando um orador, ignorando a TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
natureza do bem e do mal, encontra os seus Leia o trecho extraído do artigo “Cosmolo-
concidadãos na mesma ignorância e os per- gia, 100”, de Antonio Augusto Passos Videi-
suade, não a tomar a sombra de um burro ra e Cássio Leite Vieira, para responder à(s)
por um cavalo, mas o mal pelo bem; quando, questão(ões) a seguir.
conhecedor dos preconceitos da multidão,
“Vou conduzir o leitor por uma estrada que
ele a impele para o mau caminho,
eu mesmo percorri, árdua e sinuosa.” A frase
– nesses casos, a teu ver, que frutos a retóri-
– que tem algo da essência do hoje clássico
ca poderá recolher daquilo que ela semeou?
A estrada não percorrida (1916), do poeta
FEDRO: – Não pode ser muito bom fruto.
norte-americano Robert Frost (1874-1963)
SÓCRATES: – Mas vejamos, meu caro: não nos
– está em um artigo científico publicado há
teremos excedido em nossas censuras contra
cem anos, cujo teor constitui um marco his-
a arte retórica? Pode suceder que ela respon-
tórico da civilização.
da: “que estais a tagarelar, homens ridícu-
Pela primeira vez, cerca de 50 mil anos de-
los?
pois de o Homo sapiens deixar uma mão com
Eu não obrigo ninguém – dirá ela – que ig-
tinta estampada em uma pedra, a humanida-
nore averdade a aprender a falar. Mas quem
ouve o meu conselho tratará de adquirir pri- de era capaz de descrever matematicamente
meiro esses conhecimentos acerca da verda- a maior estrutura conhecida: o Universo. A
de para, depois, se dedicar a mim. Mas uma façanha intelectual levava as digitais de Al-
coisa posso afirmar com orgulho: sem as mi- bert Einstein (1879-1955).
nhas lições a posse da verdade de nada ser- Ao terminar aquele artigo de 1917, o físico
virá para engendrar a persuasão”. de origem alemã escreveu a um colega di-
FEDRO: – E não teria ela razão dizendo isso? zendo que o que produzira o habilitaria a
SÓCRATES: – Reconheço que sim, se os argu- ser “internado em um hospício”. Mais tarde,
mentos usuais provarem que de fato a retóri- referiu-se ao arcabouço teórico que havia
ca é uma arte; mas, se não me engano, tenho construído como um “castelo alto no ar”.
ouvido algumas pessoas atacá-la e provar O Universo que saltou dos cálculos de Eins-
que ela não é isso, mas sim um negócio que tein tinha três características básicas: era fi-
nada tem que ver com a arte. O lacônio de- nito, sem fronteiras e estático – o derradeiro
clara: “não existe arte retórica propriamente traço alimentaria debates e traria arrependi-
dita sem o conhecimento da verdade, nem mento a Einstein nas décadas seguintes.
haverá jamais tal coisa”. Em “Considerações Cosmológicas na Teoria
da Relatividade Geral”, publicado em feve-
(Platão. Diálogos. Porto Alegre: Editora Globo, 1962.)
reiro de 1917 nos Anais da Academia Real
Prussiana de Ciências, o cientista construiu
4. (Unesp) “... para quem quer tornar-se ora- (de modo muito visual) seu castelo usando
dor consumado não é indispensável conhecer as ferramentas que ele havia forjado pouco
o que de fato é justo, mas sim o que parece antes: a teoria da relatividade geral, finali-
justo para a maioria dos ouvintes, que são os zada em 1915, esquema teórico já classifica-
que decidem; nem precisa saber tampouco o do como a maior contribuição intelectual de
que é bom ou belo, mas apenas o que parece uma só pessoa à cultura humana.
tal...” Esse bloco matemático impenetrável (mesmo
para físicos) nada mais é do que uma teoria
Neste trecho da tradução da segunda fala de que explica os fenômenos gravitacionais. Por
Fedro, observa-se uma frase com estrutu- exemplo, por que a Terra gira em torno do
ras oracionais recorrentes, e por isso plena Sol ou por que um buraco negro devora avi-
de termos repetidos, sendo notável, a este damente luz e matéria.
respeito, a retomada do demonstrativo o e Com a introdução da relatividade geral, a te-
do pronome relativo que em o que de fato oria da gravitação do físico britânico Isaac

49
Newton (1642-1727) passou a ser um caso
específico da primeira, para situações em Gabarito
que massas são bem menores do que as das
estrelas e em que a velocidade dos corpos é
muito inferior à da luz no vácuo (300 mil
E.O. Aprendizagem
1. B 2. C 3. C 4. B 5. B
km/s).
Entre essas duas obras de respeito (de 1915 6. C 7. C 8. A 9. D 10. D
e de 1917), impressiona o fato de Einstein
ter achado tempo para escrever uma peque-
na joia, “Teoria da Relatividade Especial e
Geral”, na qual populariza suas duas teo-
E.O. Fixação
rias, incluindo a de 1905 (especial), na qual 1. A 2. E 3. D 4. B 5. B
mostrara que, em certas condições, o espaço 6. E 7. A 8. D 9. A 10. C
pode encurtar, e o tempo, dilatar.
Tamanho esforço intelectual e total entrega
ao raciocínio cobraram seu pedágio: Einstein
adoeceu, com problemas no fígado, icterícia E.O. Complementar
e úlcera. Seguiu debilitado até o final daque- 1. A 2. A 3. E 4. E 5. C
la década.
Se deslocados de sua época, Einstein e sua
cosmologia podem ser facilmente vistos
como um ponto fora da reta. Porém, a his-
E.O. Objetivas
toriadora da ciência britânica Patricia Fara (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
lembra que aqueles eram tempos de “cos-
1. B 2. D 3. D 4. A 5. B
mologias”, de visões globais sobre temas
científicos. Ela cita, por exemplo, a teoria da
deriva dos continentes, do geólogo alemão
Alfred Wegener (1880-1930), marcada por
uma visão cosmológica da Terra.
Fara dá a entender que várias áreas da ci-
ência, naquele início de século, passaram a
olhar seus objetos de pesquisa por meio de
um prisma mais amplo, buscando dados e hi-
póteses em outros campos do conhecimento.
Folha de S. Paulo, 01.01.2017. Adaptado.

5. (Unesp 2017) Em “Vou conduzir o leitor por


uma estrada que eu mesmo percorri, árdua e
sinuosa.” (1º parágrafo), o termo destacado
exerce a mesma função sintática do trecho
destacado em:
a) “[...] o derradeiro traço alimentaria deba-
tes e traria arrependimento a Einstein nas
décadas seguintes.” (4º parágrafo)
b) “Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva
dos continentes [...].” (10º parágrafo)
c) “[...] o cientista construiu (de modo muito
visual) seu castelo usando as ferramentas
que ele havia forjado pouco antes [...].” (5º
parágrafo)
d) “Seguiu debilitado até o final daquela dé-
cada.” (9º parágrafo)
e) “Se deslocados de sua época, Einstein e
sua cosmologia podem ser facilmente vistos
como um ponto fora da reta.” (10º parágra-
fo)

50
2 5 Pontuação I

Competências Habilidades
1, 6 e 8 1, 2, 3, 4, 18, 27
e 29

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
E.O. Aprendizagem E gritou para um enfermeiro que ia passan-
do e que nem o ouviu:
- Você aí, ô, branquinho, onde é que se doa
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: sangue?
UM DOADOR UNIVERSAL Procurei intervir:
- Atenda a freguesa... O marido dela...
Tomo um táxi e mando tocar para o hospital - Já sei: quebrou a perna e não pode andar
do Ipase. Vou visitar um amigo que foi ope- direito.
rado. O motorista volta-se para mim: - Teve alta hoje. - acudiu a mulher, pressen-
- O senhor não está doente e agora não é tindo simpatia.
hora de visita. Por acaso é médico? Ultima- - Não custa nada – insisti. - Ele precisa de
mente ando sentindo um negócio esquisito táxi. A esta hora...
aqui no lombo... - Eu queria doar sangue - vacilou ele. - A
- Não sou médico. gente não pode nem fazer uma caridade,
Ele deu uma risadinha. poxa!
- Ou não quer dar uma consulta de graça, - Deixa de fazer uma e faz outra, dá na mes-
hein, doutor? É isso mesmo, deixa para lá. ma.
Para dizer a verdade, não tem cara de médi- Pensou um pouco, acabou concordando:
co. Vai doar sangue. - Está bem. Mas então faço o serviço com-
- Quem, eu? pleto: vai de graça. Vamos embora. Cadê o
- O senhor mesmo, quem havia de ser? Não capenga?
tem mais ninguém aqui. Afastou-se com a mulher, e em pouco passa-
- Tenho cara de quem vai doar sangue? va de novo por mim, ajudando-a a amparar o
- Para doar sangue não precisa ter cara, bas- marido, que se arrastava, capengando.
ta ter sangue. O senhor veja o meu caso, - Vamos, velhinho: te aguenta aí. Cada uma!
por exemplo. Sempre tive vontade de doar Ainda acenou para mim, de longe, se despe-
sangue. E doar mesmo de graça, ali no duro. dindo.
Deus me livre de vender meu próprio san-
SABINO, Fernando. Um doador universal. Disponível
gue: não paguei nada por ele. Escuta aqui em: <<http://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/
uma coisa, quer saber o que mais, vou doar fernando-sabino/fernando-sabino-um-doador-
meu sangue e é já. universal-1.538>>. Acesso: 08 maio 2017.
Deteve o táxi à porta do hospital, saltou ao
mesmo tempo que eu, foi entrando:
- E é já. Esse negócio tem de ser assim: a 1. (G1 - ifpe) Releia os excertos seguintes, ex-
gente sente vontade de fazer uma coisa, pois traídos do texto:
então faz e acabou-se. Antes que seja tar-
de: acabo desperdiçando esse sangue meu I. Não sou médico.
por aí, em algum desastre. Ou então morro e II. Ou não quer dar uma consulta de graça,
ninguém aproveita. Já imaginou quanto san- hein, doutor?
gue desperdiçado por aí nos que morrem? III. Para dizer a verdade, não tem cara de
- E nos que não morrem? - limitei-me a médico.
acrescentar. IV. Para doar sangue não precisa ter cara.
- Isso mesmo. E nos que não morrem! Essa V. Ele tinha razão, não era hora de visitas.
eu gostei. Está se vendo que o senhor é moço
Atentando para o uso da vírgula, assinale a
distinto. Olhe aqui uma coisa, não precisa
única alternativa que preserva o sentido ori-
pagar a corrida.
ginal expresso pela frase no texto.
Deixei-me ficar, perplexo, na portaria (e ele
a) Ele tinha razão, não, era hora de visitas.
tinha razão, não era hora de visitas) enquan-
b) Ou, não, quer dar uma consulta de graça,
to uma senhora reclamava seus serviços:
hein, doutor?
- Meu marido está saindo do hospital, não
c) Para dizer a verdade, não, tem cara de médi-
pode andar direito...
co.
- Que é que tem seu marido, minha senhora?
d) Para doar sangue, não, precisa ter cara.
- Quebrou a perna.
e) Sou médico, não.
- Então como é que a senhora queria que ele
andasse direito? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
- Eu não queria. Isto é, queria... Por isso é A(s) questão(ões) a seguir estão relaciona-
que estou dizendo - confundiu- se a mulher. das ao texto abaixo.
- O seu táxi não está livre?
- O táxi está livre, eu é que não estou. A se- André Devinne procura cultivar a inge-
nhora vai me desculpar, mas vou doar san- nuidade – uma defesa contra tudo 1o que
gue. Ou hoje ou nunca. 2
não entende. 3Pressente: há alguma coisa

53
irresolvida que 4está em parte alguma, mas II. Substituição do ponto e vírgula da refe-
os nervos sentem- 1. Quem sabe seja uma es- rência 6 por ponto final.
pécie de vergonha. Quem sabe o medo enig- III. Substituição do ponto final da referência
mático dos quarenta anos. Certamente não 14 por vírgula.
é a angústia de se ver lavando o carro numa
tarde de sábado5, um homem de sua posi- Desconsiderando eventuais ajustes no em-
ção. É até com delicadeza que se entrega ao prego de letras maiúsculas e minúsculas,
sol das três da tarde, agachado, sem camisa, quais propostas estão corretas?
esfregando o pano sujo no pneu, num ritual a) Apenas I.
disfarçado em que evita formular seu tran- b) Apenas II.
quilo desespero. Assim: ele está numa guer- c) Apenas I e II.
ra, mas por acaso6; de onde está, submerso d) Apenas II e III.
na ingenuidade, 7à qual 8se agarra sem saber, e) I, II e III.
não consegue ver o inimigo. 9Talvez não haja
nenhum. 3. (Espcex) Leia os versos abaixo e assinale a
10
– Filha, não fique aí no sol sem camisa. alternativa que apresenta o mesmo emprego
A menina recuou até a sombra. Agachou-se, das vírgulas no primeiro verso.
olhos negros no pai.
11
– Você vai pra praia hoje? “Torce, aprimora, alteia, lima
André Devinne contemplou o pneu lavado: A frase; e, enfim,”
um bom trabalho.
(Olavo Bilac)
12
– Não sei. Falou com a mãe?
– Ela está pintando. a) “E, ao vir do sol, saudoso e em pranto”
A filha tem o mesmo olhar da mãe, 13quando b) “O alvo cristal, a pedra rara,/ O ônix prefi-
Laura, da janela do ateliê, observa o mar da ro.”
Barra, transformando aquela estreita faixa c) “Acendeu um cigarro, cruzou as pernas, es-
de azul acima da Lagoa, numa outra faixa, talou as unhas,...”
de outra cor, mas igualmente suave, na tela d) “Uns diziam que se matou, outros, que fora
em branco. Um olhar que investiga sem ferir para o Acre.”
– que parece, de fato, ver o que está lá. e) “Mocidade ociosa, velhice vergonhosa.”
Devinne espreguiçou-se esticando as per-
nas14. Largou o pano imundo no balde, sen-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
tou-se e olhou o céu, o horizonte, as duas
faixas de mar, o azul da Lagoa, vivendo mo- A MAÇÃ DE OURO
mentaneamente o prazer de proprietário.
Lembrou-se da lição de inglês – It’s a nice A Apple supera a Microsoft em valor de mer-
day, isn’t it? – e tentou 2 de imediato, mas cado, premiando o espírito visionário e li-
era tarde: o corpo inteiro se povoou de lem- bertário de Steve Jobs
brança e ansiedade, exigindo explicações.
Estava indo bem, a professora era uma mu-
12
A Microsoft e a Apple vieram ao mundo
lher competente, agradável, independente. praticamente ao mesmo tempo, em meados
Talvez justo por isso, ele tenha cometido dos anos 1970, criadas na garagem de jovens
aquela estupidez. Sem pensar, voltou a ca- estudantes. Mas as empresas não trilharam
beça e acenou para Laura, que do janelão do caminhos paralelos. A Microsoft desenvolveu
ateliê respondeu- 3 com um gesto. A filha o sistema operacional mais popular do mun-
insistiu: do e rapidamente se tornou uma das maiores
– Pai, você vai pra praia? corporações americanas, rivalizando com gi-
Mudar todos os assuntos. gantes da velha indústria. A Apple, ao con-
– Julinha, o que é, o que é? Vive casando 15e trário, demorou a decolar. 14Fazia produtos
está sempre solteiro? inovadores, mas que vendiam pouco. 4Isso
Ela riu. começou a mudar quando Steve Jobs, um de
– Ah, pai. Essa é fácil. O padre! seus fundadores, 6que fora afastado nos anos
TEZZA, C. O fantasma da infância. Rio de 80, assumiu o comando criativo da empresa,
Janeiro: Ed. Record, 2007. p. 9-10. em 1996. 11A Apple estava à beira da falência
e só ganhou sobrevida porque recebeu um
10
aporte de 150 milhões de dólares de Mi-
2. (Ufrgs) Considere as seguintes propostas de crosoft. Jobs iniciou o lançamento de produ-
alteração de sinais de pontuação no texto. tos 8genuinamente revolucionários nas áreas
que mais crescem na indústria de tecnolo-
I. Substituição da vírgula da referência 5 gia. Primeiro com o iPod e a loja virtual iTu-
por ponto e vírgula. nes. Depois vieram o iPhone e, agora, o iPad.

54
Desde o início de 2005, o preço das ações 5. (Udesc) Nas alterações da frase “o Leonar-
da empresa foi multiplicado por oito. 3Na do, em uniforme de Sargento de Milícias,
semana passada, a Apple alcançou o cume. recebeu-se na Sé com Luisinha”, uma das
15
Tornou-se a companhia de tecnologia mais alternativas apresenta incorreção quanto ao
valiosa do mundo, superando a Microsoft. emprego formal da vírgula, bem como alte-
13
Na sexta-feira, a empresa de Jobs tinha va- ração de sentido em relação à frase original.
lor de mercado de 233 bilhões de dólares, Assinale-a.
contra 226 bilhões de dólares da companhia a) Em uniforme de Sargento de Milícias, o Leo-
de Bill Gates. nardo encontrou-se na Sé com Luisinha.
2
A Marca, para além da disputa pessoal entre b) O Leonardo, encontrou-se na Sé com Luisi-
os 7maiores gênios da nova economia, coroa nha em uniforme de Sargento de Milícias.
a estratégia definida por Jobs. Quando ele c) Encontrou-se na Sé, e em uniforme de Sar-
retornou à Apple, tamanha era a descrença gento de Milícias, o Leonardo com Luisinha.
no futuro da empresa que Michael Dell, fun- d) Na Sé, e em uniforme de Sargento de Milí-
dador da Dell, afirmou que o melhor a fazer cias, o Leonardo encontrou-se com Luisinha.
era fechar as portas e devolver o dinheiro a e) Encontrou-se o Leonardo, em uniforme de
5
seus acionistas. Hoje, a Dell vale um décimo Sargento de Milícias, na Sé com Luisinha.
da Apple. 1O mérito de Jobs foi ter a 9presci-
ência do rumo que o mercado tomaria. 6. (Espm) Assinale a frase que apresente o me-
BARRUCHO, Luís Guilherme & TSUBOI, Larissa. A maçã de lhor uso das vírgulas:
ouro. In: Revista Veja, 02 de jun. 2010, p.187. Adaptado. a) Com o desenvolvimento econômico a parti-
cipação dos serviços sofisticados, aumenta e,
em consequência, a participação da indús-
4. (Epcar (Afa) Assinale a alternativa em que tria de transformação cai.
o uso da vírgula se dá pela mesma razão da b) Com o desenvolvimento econômico, a parti-
que se percebe no trecho abaixo. cipação dos serviços sofisticados aumenta, e
em consequência, a participação da indús-
“A Microsoft e a Apple vieram ao mundo pra-
tria de transformação cai.
ticamente ao mesmo tempo, em meados dos
c) Com o desenvolvimento econômico, a par-
anos 1970, criadas na garagem de jovens es-
ticipação dos serviços sofisticados aumenta,
tudantes.” (ref. 12)
e, em consequência, a participação da indús-
a) “A Marca, para além da disputa pessoal en-
tria de transformação cai.
tre os maiores gênios da economia, coroa a
d) Com o desenvolvimento econômico, a parti-
estratégia definida por Jobs.” (ref. 2)
cipação dos serviços sofisticados aumenta, e,
b) “Na sexta-feira, a empresa de Jobs tinha va-
em consequência a participação da indústria
lor de mercado de 233 bilhões de dólares,
de transformação cai.
contra 226 bilhões de dólares...” (ref. 13)
e) Com o desenvolvimento econômico, a parti-
c) “... Fazia produtos inovadores, mas que ven-
cipação dos serviços sofisticados aumenta e
diam pouco.” (ref. 14)
em consequência, a participação da indús-
d) “Tornou-se a companhia de tecnologia mais
tria de transformação, cai.
valiosa do mundo, superando a Microsoft.”
(ref. 15) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
A(s) questão(ões) a seguir está(ao)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
relacionada(s) ao texto abaixo.
CAPÍTULO 48
É preciso estabelecer uma distinção radical
Conclusão feliz entre um “brasil” escrito com letra minúscu-
la, nome de um tipo de madeira de lei 1ou de
[...] uma feitoria interessada em explorar uma
Passado o tempo indispensável do luto, o terra como outra qualquer2, 3e o Brasil que
Leonardo, em uniforme de Sargento de Mi- designa um povo, uma 4nação, um conjun-
lícias, recebeu-se na Sé com Luisinha, assis- to de valores, escolhas e ideais de vida. O
tindo à cerimônia a família em peso. “brasil” com b minúsculo é apenas um ob-
jeto sem vida5, pedaço de coisa que morre e
Daqui em diante aparece o reverso da meda- não tem a menor condição de 6se reproduzir
lha. Seguiu-se a morte de Dona Maria, a do como sistema. 7Mas o Brasil com B maiúsculo
Leonardo-Pataca, e uma enfiada de aconteci- é algo muito mais complexo.
mentos tristes que pouparemos aos leitores, Estamos interessados em responder esta
fazendo aqui o ponto final. pergunta: afinal de contas, o que faz o brasil,
ALMEIDA, Manuel Antonio de. Memórias de um Sargento BRASIL? Note-se que se trata de uma per-
de Milícias. Rio de Janeiro: Ediouro, p. 121. gunta relacional que, tal como faz a própria

55
sociedade brasileira, quer juntar e não di- referência 10 por ponto final.
vidir. Queremos, 8isto sim, descobrir como
é que eles se ligam entre 9si10; como é que Desconsiderando eventuais ajustes no em-
cada um depende do outro; e 11como os dois prego de letras maiúsculas e minúsculas,
formam uma realidade única que existe con- quais propostas estão corretas, no contexto
cretamente naquilo que chamamos de “12pá- do parágrafo em que ocorrem?
tria”. a) Apenas I.
13
Se a condição humana determina que todos b) Apenas II.
os homens devem comer, dormir, trabalhar, c) Apenas I e III.
reproduzir-se e rezar, essa determinação d) Apenas II e III.
não chega ao ponto de especificar também e) I, II e III.
qual comida ingerir, de que modo produzir TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
e para quantos deuses 14ou espíritos rezar. Leia o texto abaixo e responda à(s)
É precisamente aqui, nessa espécie de zona questão(ões).
indeterminada, mas necessária, que nascem
as diferenças e, nelas, os estilos, os modos Leitura - leituras: quando ler (bem) é pre-
de ser e estar; os “15jeitos” de cada grupo ciso
humano. 16Trata-se, sempre, da questão de “[...] Alguns leitores ao lerem estas frases
identidade. (poesia citada) não compreenderam logo.
Como se constrói uma identidade social? Creio mesmo é impossível compreender in-
Como um povo se transforma em Brasil? 17A teiramente à primeira leitura pensamentos
pergunta, 18na sua discreta singeleza, permi- assim esquematizados sem uma certa práti-
te descobrir algo muito importante. É que, ca.”
no meio de uma multidão de experiências
Mário de Andrade – Artista
dadas a todos os homens e sociedades, al-
gumas necessárias à própria sobrevivência “Eu sou um escritor difícil
– como comer, dormir, morrer, reproduzir-se Que a muita gente enquizila,
etc. – outras acidentais ou históricas –, 19o Porém essa culpa é fácil
Brasil ter sido descoberto por portugueses e De se acabar duma vez:
não por chineses, a geografia do Brasil ter É só tirar a cortina
certas características, falarmos 20português Que entra luz nesta escurez.”
e não 21francês, a família real ter se trans- Mário de Andrade – Lundu do escritor difícil
ferido para o Brasil no início do século XIX
etc. –, cada sociedade (e cada ser humano) No eterno criar e recriar da atividade verbal,
apenas se utiliza de um número limitado de a criatividade, a semanticidade, a intersub-
“22coisas” (e de experiências) 23para se cons- jetividade, a materialidade e a historicidade
truir como algo único. são propriedades essenciais da linguagem,
24
Nessa perspectiva, a chave para entender a indispensáveis a todos os atos da fala, sejam
25
sociedade brasileira é uma 26chave dupla. eles presente, passados ou futuros.
27
E, 28para mim, a capacidade relacional — Porém, é a atividade semântica que inter-
do antigo com o moderno – tipifica e sin- medeia a conexão dos seres humanos com o
gulariza a sociedade brasileira. Será preciso, mundo dos objetos, estabelecendo a relação
29
portanto, discutir o Brasil como uma 30mo- entre o EU e o Universo, e, junto com a alte-
eda. Como algo que tem dois lados. 31E mais: ridade (relação do EU com o Outro, de cará-
como uma realidade que nos tem 32iludido, ter interlocutivo), permite a identificação da
precisamente porque 33nunca lhe propuse- linguagem como tal, pois a linguagem existe
mos esta questão relacional e reveladora: não apenas para significar, mas significar al-
afinal de contas, como se ligam as duas faces guma coisa para o outro.
de uma mesma moeda? O que faz o 34brasil, A semanticidade possibilita o indivíduo
35
Brasil? conceber e revelar as coisas pertencentes ao
Adaptado de: DAMATTA, R. O que faz o brasil, mundo do real e da imaginação. Logo, é ao
Brasil? A questão da identidade.
mesmo tempo significação, modo de conce-
In:_____. O que faz o brasil, Brasil? Rio
ber, ou melhor, uma configuração linguística
de Janeiro: Rocco, 1986. p. 9-17.
de conhecimento, uma organização verbal
do pensamento, e designação ou referência,
7. (Ufrgs) Considere as seguintes propostas de aplicação dos conceitos às coisas extralin-
alteração de sinais de pontuação no texto. guísticas. [...].
I. Supressão da vírgula na referência 2. No processo de leitura do texto, para que
II. Substituição da vírgula na referência 5 o leitor se aproprie desse(s) sentido(s), é
por travessão. necessário que ele domine não apenas o có-
III.
Substituição do ponto e vírgula na digo linguístico, mas também compartilhe

56
bagagem cultural, vivências, experiências, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
valores, correlacione os conhecimentos cons- O homem deve reencontrar o Paraíso...
truídos anteriormente (de gênero e de mun- Rubem Alves
do, entre outros) com as novas informações
expressas no texto; faça inferências e com- Era uma família grande, todos amigos. Vi-
parações; compreenda que o texto não é uma viam como todos nós: moscas presas na
estrutura fechada, acabada, pronta; perceba enorme teia de aranha que é a vida da ci-
as significações, as intencionalidades, os dade. Todos os dias a aranha que é a vida
dialogismos, o não dito, os silêncios. da cidade. Todos os dias a aranha lhes ar-
Em resumo, é fundamental que, por meio rancava um pedaço. Ficaram cansados. Re-
de uma série de contribuições, o interlocutor solveram mudar de vida: um sonho louco:
colabore para a construção do conhecimento. navegar! Um barco, o mar, o céu, as estrelas,
Assim, ler não significa traduzir um sentido os horizontes sem fim: liberdade. Venderam
já considerado pronto, mas interagir com o o que tinham, compraram um barco capaz de
outro (o autor), aceitando, ou não, os propó- atravessar mares e sobreviver tempestades.
sitos do interlocutor. Mas para navegar não basta sonhar. É preci-
Profª Marina Cezar – Revista Villegagnon. so saber. São muitos os saberes necessários
Ano IV. Nº 4. 2009 – Texto adaptado. para se navegar. Puseram-se então a estudar
cada um aquilo que teria de fazer no barco:
8. (Esc. Naval) No trecho a seguir. manutenção do casco, instrumentos de na-
“No eterno criar e recriar da atividade ver- vegação, astronomia, meteorologia, as velas,
bal, a criatividade, a semanticidade, a in- as cordas, as polias e roldanas, os mastros, o
tersubjetividade, a materialidade e a his- leme, os parafusos, o motor, o radar, o rádio,
toricidade são propriedades essenciais da as ligações elétricas, os mares, os mapas...
linguagem [...]” (1º parágrafo) Disse cero o poeta: Navegar é preciso, a ciên-
cia da navegação é saber preciso, exige apa-
Assinale a opção em que o comentário acerca relhos, números e medições. Barcos se fazem
do uso dos sinais de pontuação está correto, com precisão, astronomia se aprende com o
tendo em vista a norma-padrão. rigor da geometria, velas se fazem com sa-
a) A primeira vírgula separa o sujeito do res- beres exatos sobre tecidos, cordas e ventos,
tante da frase, as demais separam os apos- instrumentos de navegação não informam
tos. mais ou menos. Assim, eles se tornaram
b) As vírgulas separam, respectivamente, um cientistas, especialistas, cada um na sua –
adjunto adverbial a termos de mesma função juntos para navegar.
sintática. Chegou então o momento de grande decisão
c) Todas as vírgulas poderiam ser retiradas, – para onde navegar. Um sugeria as geleiras
pois não há necessidade de pausas no tre- do sul do Chile, outro os canais dos fiordes
cho. da Noruega, um outro queria conhecer os
d) É igualmente correto usar ponto e vírgula no exóticos mares e praias das ilhas do Pacífico,
lugar de cada vírgula presente no trecho. e houve mesmo quem quisesse navegar nas
e) Pode-se usar um travessão no lugar da pri- rotas de Colombo. E foi então que compreen-
meira vírgula e manter as demais sem preju- deram que, quando o assunto era a escolha
ízo. do destino, as ciências que conheciam para
nada serviam.
9. (Espcex (Aman)) Marque a opção que justi- De nada valiam, tabelas, gráficos, estatísti-
fica a colocação do ponto e vírgula e da vír- cas. Os computadores, coitados, chamados a
gula utilizados por José de Alencar no perío- dar seu palpite, ficaram em silêncio. Os com-
do. putadores não têm preferências – falta-lhes
“Depois Iracema quebrou a flecha homici- essa sutil capacidade de gostar, que é a es-
da; deu a haste ao desconhecido, guardando sência da vida humana. Perguntados sobre o
consigo a ponta farpada.” porto de sua escolha, disseram que não en-
a) O ponto e vírgula indica citação e a vírgula tendiam a pergunta, que não lhes importava
indica locução. para onde se estava indo.
b) O ponto e vírgula separa oração coordenada Se os barcos se fazem com ciência, a navega-
e a vírgula separa oração reduzida. ção faz-se com sonhos. Infelizmente a ciên-
c) O ponto e vírgula indica citação e a vírgula cia, utilíssima, especialista em saber como
separa termos da oração. as coisas funcionam, tudo ignora sobre o
d) O ponto e vírgula separa oração coordenada coração humano. É preciso sonhar para se
e a vírgula marca mudança de sujeito. decidir sobre o destino da navegação. Mas
e) O ponto e vírgula indica enumeração e a vír- o coração humano, lugar dos sonhos, ao
gula separa termos da oração. contrário da ciência, é coisa preciosa. Disse

57
certo poeta: Viver não é preciso. Primeiro E em todas essas perguntas sentimos o eco
vem o impreciso desejo. Primeiro vem o im- intimista: não preciso de me preocupar com
preciso desejo de navegar. Só depois vem a o todo, ele tomará conta de si mesmo.
precisa ciência de navegar. Em nossas escolas é isso que se ensina: a
Naus e navegação têm sido uma das mais precisa ciência da navegação, sem que os
poderosas imagens na mente dos poetas. estudantes sejam levados a sonhar com as
Ezra Pound inicia seus Cânticos dizendo: E estrelas. A nau navega veloz e sem rumo. Nas
pois com a nau no mar/ assestamos a qui- universidades, essa doença assume a forma
lho contra as vagas... Cecília Meireles: Foi, de peste epidêmica: cada especialista se de-
desde sempre, o mar! A solidez da terra, mo- dica com paixão e competência, a fazer pes-
nótona/ parece-nos fraca ilusão! Queremos a quisas sobre o seu parafuso, sua polia, sua
ilusão do grande mar / multiplicada em suas vela, seu mastro.
malhas de perigo. E Nietzsche: Amareis a Dizem que seu dever é produzir conhecimen-
terra de vossos filhos, terra não descoberta, to. Se forem bem-sucedidas, suas pesquisas
no mar mais distante. Que as vossas velas serão publicadas em revistas internacionais.
não se cansem de procurar esta terra! O nos- Quando se lhes pergunta: Para onde seu bar-
so leme nos conduz para a terra dos nossos co está navegando?, eles respondem: Isso
filhos... Viver é navegar no grande mar!
não é científico. Os sonhos não são objetos
Não só os poetas: C. Wright Mills, um soci-
de conhecimento científico.
ólogo sábio, comparou a nossa civilização a
E assim ficam os homens comuns abandona-
uma galera que navega pelos mares. Nos po-
dos por aqueles que, por conhecerem mares
rões estão os remadores. Remam com preci-
e estrelas, lhes poderiam mostrar o rumo.
são cada vez maior. A cada novo dia recebem
Não posso pensar a missão das escolas, co-
novos, mais perfeitos. O ritmo da remadas
acelera. Sabem tudo sobre a ciência do re- meçando com as crianças e continuando com
mar. A galera navega cada vez mais rápido. os cientistas, como outra que não a da reali-
Mas, perguntados sobre o porto do destino, zação do dito poeta: Navegar é preciso. Viver
respondem os remadores: O porto não nos não é preciso.
importa. O que importada é a velocidade com É necessário ensinar os precisos saberes da
que navegamos. navegação enquanto ciência. Mas é necessá-
C Wright Mills usou esta metáfora para des- rio apontar com imprecisos sinais para os
crever a nossa civilização por meio duma destinos da navegação: A terra dos filhos dos
imagem plástica: multiplicam-se os meios meus filhos, no mar distante... Na verdade,
técnicos e científicos ao nosso dispor, que a ordem verdadeira é a inversa. Primeiro, os
fazem com que as mudanças sejam cada vez homens sonham com navegar. Depois apren-
mais rápidas; mas não temos ideia alguma dem a ciência da navegação. É inútil ensi-
de para onde navegamos. Para onde? Somen- nar a ciência da navegação a quem mora nas
te um navegador louco ou perdido navega- montanhas.
ria sem ter ideia do para onde. Em relação O meu sonho para a educação foi dito por
à vida da sociedade, ela contém a busca de Bachelard: O universo tem um destino de fe-
uma utopia. Utopia, na linguagem comum, licidade. O homem deve reencontrar o Paraí-
é usada como sonho impossível de ser rea- so. O paraíso é o jardim, lugar de felicidade,
lizado. Mas não é isso. Utopia é um ponto prazeres e alegrias para os homens e mulhe-
inatingível que indica uma direção. res. Mas há um pesadelo que me atormenta:
Mário Quintana explicou a utopia com um o deserto. Houve um momento em que se
verso: Se as coisas são inatingíveis... ora!/ viu, por entre as estrelas, um brilho chama-
não é um motivo para não querê-las... Que do progresso. Está na bandeira nacional... E,
tristes os caminho, se não fora/ A mágica quilha contra as vagas, a galera navega em
presença das estrelas! Karl Mannheim, ou- direção ao progresso, a uma velocidade cada
tro sociólogo sábio que poucos leem, já na vez maior, e ninguém questiona a direção.
década de 1920 diagnosticava a doença da E é assim que as florestas são destruídas, os
nossa civilização: Não temos consciência de rios se transformam em esgotos de fezes e
direções, não escolhemos direções. Faltam- veneno, o ar se enche de gases, os campos
-nos estrelas que nos indiquem o destino. se cobrem de lixo – e tudo ficou feio e triste.
Hoje, ele dizia, as únicas perguntas que são Sugiro aos educadores que pensem menos
feitas, determinadas pelo pragmatismo da
nas tecnologias do ensino – psicologias e
tecnologia (o importante é produzir o obje-
quinquilharias – e tratem de sonhar, com os
to) e pelo objetivismo da ciência (o impor-
seus alunos, sonhos de um Paraíso.
tante é saber como funciona), são: Como pos-
so fazer tal coisa? Como posso resolver este Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo
problema concreto em particular? E conclui: Acordo Ortográfico.

58
1
0. (Efomm 2018) Nos fragmentos que se se- A Noruega associa as baixas taxas de reinci-
guem, é possível a presença de uma vírgula, dência ao fato de ter seu sistema penal pau-
EXCETO no fragmento da alternativa tado na reabilitação e não na punição por
a) É necessário ensinar os precisos saberes da vingança ou retaliação do criminoso. A re-
navegação enquanto ciência. abilitação, nesse caso, não é uma opção, ela
b) Infelizmente a ciência, utilíssima, especia- é obrigatória. Dessa forma, qualquer crimi-
lista em saber ‘como as coisas funcionam’, noso poderá ser condenado à pena máxima
tudo ignora sobre o coração humano. prevista pela legislação do país (21 anos),
c) Em nossas escolas é isso que se ensina: a e, se o indivíduo não comprovar estar total-
precisa ciência da navegação, sem que os mente reabilitado para o convívio social, a
estudantes sejam levados a sonhar com as pena será prorrogada, em mais 5 anos, até
estrelas. que sua reintegração seja comprovada.
d) Primeiro, os homens sonham com navegar. O presídio é um prédio, em meio a uma flo-
Depois aprendem a ciência da navegação. resta, decorado com grafites e quadros nos
e) Todos os dias a aranha lhes arrancava um corredores, e no qual as celas não possuem
pedaço. Ficaram cansados. grades, mas sim uma boa cama, banheiro
com vaso sanitário, chuveiro, toalhas bran-

E.O. Fixação
cas e porta, televisão de tela plana, mesa,
cadeira e armário, quadro para afixar papéis
e fotos, além de geladeiras. Encontra-se lá
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: uma ampla biblioteca, ginásio de esportes,
Noruega como Modelo de Reabilitação de Cri- campo de futebol, chalés para os presos re-
minosos ceberem os familiares, estúdio de gravação
de música e oficinas de trabalho. Nessas ofi-
O Brasil é responsável por uma das mais al- cinas são oferecidos cursos de formação pro-
tas taxas de reincidência criminal em todo o fissional, cursos educacionais, e o trabalha-
mundo. No país, a taxa média de reincidên- dor recebe uma pequena remuneração. Para
cia (amplamente admitida, mas nunca com- controlar o ócio, oferecer muitas atividades,
provada empiricamente) é de mais ou me- de educação, de trabalho e de lazer, é a es-
nos 70%, ou seja, 7 em cada 10 criminosos tratégia.
voltam a cometer algum tipo de crime após A prisão é construída em blocos de oito celas
saírem da cadeia. cada (alguns dos presos, como estuprado-
Alguns perguntariam "Por quê?". E eu per- res e pedófilos, ficam em blocos separados).
gunto: "Por que não?" O que esperar de um Cada bloco tem sua cozinha. A comida é for-
sistema que propõe reabilitar e reinserir necida pela prisão, mas é preparada pelos
aqueles que cometerem algum tipo de cri- próprios detentos, que podem comprar ali-
me, mas nada oferece, para que essa situação mentos no mercado interno para abastecer
realmente aconteça? Presídios em estado de seus refrigeradores.
depredação total, pouquíssimos programas Todos os responsáveis pelo cuidado dos de-
educacionais e laborais para os detentos, tentos devem passar por no mínimo dois
praticamente nenhum incentivo cultural, e, anos de preparação para o cargo, em um
ainda, uma sinistra cultura (mas que diverte curso superior, tendo como obrigação funda-
muitas pessoas) de que bandido bom é ban- mental mostrar respeito a todos que ali es-
dido morto (a vingança é uma festa, dizia tão. Partem do pressuposto que, ao mostra-
Nietzsche). rem respeito, os outros também aprenderão
Situação contrária é encontrada na Noruega. a respeitar.
Considerada pela ONU, em 2012, o melhor A diferença do sistema de execução penal
país para se viver (1º no ranking do IDH) e, norueguês em relação ao sistema da maio-
de acordo com levantamento feito pelo Ins- ria dos países, como o brasileiro, americano,
tituto Avante Brasil, o 8º país com a menor inglês, é que ele é fundamentado na ideia
taxa de homicídios no mundo, lá o sistema de que a prisão é a privação da liberdade, e
carcerário chega a reabilitar 80% dos crimi- pautado na reabilitação e não no tratamento
nosos, ou seja, apenas 2 em cada 10 presos cruel e na vingança.
voltam a cometer crimes; é uma das meno- O detento, nesse modelo, é obrigado a mos-
res taxas de reincidência do mundo. Em uma trar progressos educacionais, laborais e com-
prisão em Bastoy, chamada de ilha paradisí- portamentais, e, dessa forma, provar que
aca, essa reincidência é de cerca de 16% en- pode ter o direito de exercer sua liberdade
tre os homicidas, estupradores e traficantes novamente junto à sociedade.
que por ali passaram. Os EUA chegam a re- A diferença entre os dois países (Noruega e
gistrar 60% de reincidência e o Reino Unido, Brasil) é a seguinte: enquanto lá os presos
50%. A média europeia é 50%. saem e praticamente não cometem crimes,

59
respeitando a população, aqui os presos humana do trabalho é a mundanidade.
saem roubando e matando pessoas. Mas es- A ação, única atividade que se exerce direta-
sas são consequências aparentemente cola- mente entre os homens sem a mediação das
terais, porque a população manifesta muito coisas ou da matéria, corresponde à condi-
mais prazer no massacre contra o preso pro- ção humana da pluralidade, ao fato de que
duzido dentro dos presídios (a vingança é homens, e não o Homem, vivem na Terra e
uma festa, dizia Nietzsche). habitam o mundo. Todos os aspectos da con-
LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista, diretor-presidente dição humana têm alguma relação com a po-
do Instituto Avante Brasil e coeditor do Portal lítica; mas esta pluralidade é especificamen-
atualidadesdodireito.com.br. Estou no blogdolfg.com.br.
te a condição – não apenas a conditio sine
** Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga
qua non, mas a conditio per quam – de toda
e pesquisadora do Instituto Avante Brasil.
a vida política. Assim, o idioma dos romanos
FONTE: Adaptado de http://institutoavantebrasil.com.br/
noruega-como-modelo-de-reabilitacao-de-criminosos/. – talvez o povo mais político que conhecemos
– empregava como sinônimas as expressões
Acessado em 17 de março de 2017.
“viver” e “estar entre os homens” (inter ho-
mines esse), ou “morrer” e “deixar de estar
entre os homens” (inter homines esse desi-
1. (Espcex (Aman) 2018) Assinale a alternati-
va em que o emprego da vírgula é opcional. nere). Mas, em sua forma mais elementar,
a) "Partem do pressuposto que, ao mostrarem a condição humana da ação está implícita
respeito, os outros também aprenderão a até mesmo em Gênesis (macho e fêmea Ele
respeitar." os criou), se entendermos que esta versão
b) "O detento é obrigado a mostrar progressos, da criação do homem diverge, em princípio,
para provar que pode ser reincluído na so- da outra segundo a qual Deus originalmente
ciedade." criou o Homem (adam) – a ele, e não a eles,
c) "Os EUA chegam a registrar 60% de reinci- de sorte que a pluralidade dos seres huma-
dência, o Reino Unido, 50%." nos vem a ser o resultado da multiplicação4.
d) "Para controlar o ócio, oferecer muitas ativi- A ação seria um luxo desnecessário, uma ca-
dades de educação é a estratégia." prichosa interferência com as leis gerais do
e) "Cada bloco contém uma cozinha, comida comportamento, se os homens não passas-
fornecida pela prisão e preparada pelos pre- sem de repetições interminavelmente repro-
sos." duzíveis do mesmo modelo, todas dotadas da
mesma natureza e essência, tão previsíveis
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: quanto a natureza e a essência de qualquer
A CONDIÇÃO HUMANA outra coisa. A pluralidade é a condição da
A Vita Activa e a Condição Humana ação humana pelo fato de sermos todos os
mesmos, isto é, humanos, sem que ninguém
Com a expressão vita activa, pretendo desig- seja exatamente igual a qualquer pessoa que
nar três atividades humanas fundamentais: tenha existido, exista ou venha a existir.
1
labor, trabalho e ação. Trata-se de ativida- As três atividades e suas respectivas condi-
des fundamentais porque a cada uma delas ções têm íntima relação com as condições
corresponde uma das condições básicas me- mais gerais da existência humana: o nasci-
diante as quais a vida foi dada ao homem mento e a morte, a natalidade e a mortali-
na Terra. dade. O labor assegura não apenas a sobrevi-
O labor é a atividade que corresponde ao vência do indivíduo, mas a vida da espécie. O
processo biológico do corpo humano, 2cujos trabalho e seu produto, o artefato humano,
crescimento espontâneo, metabolismo e emprestam certa permanência e durabilida-
eventual declínio têm a ver com as necessi- de à futilidade da vida mortal e ao caráter
dades vitais produzidas e introduzidas pelo efêmero do corpo humano. A ação, na medi-
labor no processo da vida. A condição huma- da em que se empenha em fundar e preser-
na do labor é a própria vida. var corpos políticos, cria a condição para a
3
O trabalho é a atividade correspondente ao lembrança, ou seja, para a história. O labor
artificialismo da existência humana, exis- e o trabalho, bem como a ação, têm também
tência esta não necessariamente contida no raízes na natalidade, na medida em que sua
eterno ciclo vital da espécie, e cuja mortali- tarefa é produzir e preservar o mundo para
dade não é compensada por este último. O o constante influxo de recém-chegados que
trabalho produz um mundo “artificial” de vêm a este mundo na qualidade de estra-
coisas, nitidamente diferente de qualquer nhos, além de prevê-los e levá-los em conta.
ambiente natural. Dentro de suas frontei- Não obstante, das três atividades, a ação é a
ras habita cada vida individual, embora esse mais intimamente relacionada com a condi-
mundo se destine a sobreviver e a transcen- ção humana da natalidade; o novo começo
der todas as vidas individuais. A condição inerente a cada nascimento pode fazer-se

60
sentir no mundo somente porque o recém- em ocasião semelhante, insiste em que a
-chegado possui a capacidade de iniciar algo mulher foi criada “do homem” e, portanto,
novo, isto é, de agir. Neste sentido de inicia- “para o homem”, embora em seguida atenue
tiva, todas as atividades humanas possuem um pouco a dependência: “nem o varão é
um elemento de ação e, portanto, de natali- sem mulher, nem a mulher sem o varão” (1
dade. Além disto, como a ação é a atividade Cor.11:8-12). A diferença indica muito mais
política por excelência, a natalidade, e não que uma atitude diferente em relação ao pa-
a mortalidade, pode constituir a categoria pel da mulher. Para Jesus, a fé era intima-
central do pensamento político, em contra- mente relacionada com a ação; para Paulo, a
posição ao pensamento metafísico. fé relacionava-se, antes de mais nada, com a
A condição humana compreende algo mais salvação. Especialmente interessante a este
que as condições nas quais a vida foi dada respeito é Agostinho (De civitate Dei xii.21),
ao homem. Os homens são seres condicio- que não só desconsidera inteiramente o que
nados: tudo aquilo com o qual eles entram é dito em Gênesis 1:27, mas vê a diferença
em contato torna-se imediatamente uma entre o homem e o animal no fato de ter sido
condição de sua existência. O mundo no qual o homem criado unum ac singulum, enquan-
transcorre a vita activa consiste em coisas to se ordenou aos animais que “passassem
produzidas pelas atividades humanas; mas, a existir vários de uma só vez” (plura simul
constantemente, as coisas que devem sua iussit existere). Para Agostinho, a história
existência exclusivamente aos homens tam- da criação constitui boa oportunidade para
bém condicionam os seus autores humanos. salientar-se o caráter de espécie da vida ani-
Além das condições nas quais a vida é dada mal, em oposição à singularidade da exis-
ao homem na Terra e, até certo ponto, a par- tência humana.
tir delas, os homens constantemente criam
as suas próprias condições que, a despeito DAS VANTAGENS DE SER BOBO
de sua variabilidade e sua origem humana,
possuem a mesma força condicionante das O bobo, por não se ocupar com ambições,
coisas naturais. O que quer que toque a vida tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo.
humana ou entre em duradoura relação com O bobo é capaz de ficar sentado quase sem
ela, assume imediatamente o caráter de con- se mexer por duas horas. Se perguntado por
dição da existência humana. É por isso que que não faz alguma coisa, responde: "Estou
os homens, independentemente do que fa- fazendo. Estou pensando.".
çam, são sempre seres condicionados. Tudo Ser bobo às vezes oferece um mundo de saí-
o que espontaneamente adentra o mundo da porque os espertos só se lembram de sair
humano, ou para ele é trazido pelo esforço por meio da esperteza, e 1o bobo tem origi-
humano, torna-se parte da condição huma- nalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.
na. O impacto da realidade do mundo sobre O bobo tem oportunidade de ver coisas que
a existência humana é sentido e recebido os espertos não veem. Os espertos estão
como força condicionante. A objetividade do sempre tão atentos _____I_____ espertezas
mundo – o seu caráter de coisa ou objeto – e alheias que se descontraem diante dos bo-
a condição humana complementam-se uma à bos, e estes os veem como simples pessoas
outra; por ser uma existência condicionada, humanas. O bobo ganha utilidade e sabedo-
a existência humana seria impossível sem as ria para viver. O bobo nunca parece ter tido
coisas, e estas seriam um amontoado de ar- vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um
tigos incoerentes, um não mundo, se esses Dostoievski.
artigos não fossem condicionantes da exis- _____II_____ desvantagem, obviamente.
tência humana. Uma boba, por exemplo, confiou na pala-
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Tradução
vra de um desconhecido para _____III_____
de Roberto Raposo: Editora da Universidade de compra de um ar refrigerado de segunda
São Paulo, 1981. pp. 15-17 (texto adaptado). mão: ele disse que o aparelho era novo, pra-
ticamente sem uso porque se mudara para
4
Quando se analisa o pensamento político a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra
pós-clássico, muito se pode aprender verifi- o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não
cando-se qual das duas versões bíblicas da funciona. Chamado um técnico, a opinião
criação é citada. Assim, é típico da diferença deste era de que o aparelho estava tão es-
entre os ensinamentos de Jesus de Nazareth tragado que o conserto seria caríssimo: mais
e de Paulo o fato de que Jesus, discutindo valia comprar outro. Mas, em contrapar-
a relação entre marido e mulher, refere-se tida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé,
a Gênesis 1:27 “Não tendes lido que quem não desconfiar, e portanto estar tranquilo,
criou o homem desde o princípio fê-los ma- enquanto o esperto não dorme à noite com
cho e fêmea” (Mateus 19:4), enquanto Paulo, medo de ser ludibriado. O esperto vence com

61
úlcera no estômago. O bobo não percebe que e) "Até tu, Brutus?" (Das vantagens de ser bobo,
venceu. referência 2).
Aviso: não confundir bobos com burros. Des-
vantagem: pode receber uma punhalada de TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
quem menos espera. É uma das tristezas que Leia este texto para responder à(s)
o bobo não prevê. César terminou dizendo a questão(ões) a seguir.
célebre frase: "2Até tu, Brutus?". SAUDADE DE ESCREVER
Bobo não reclama. Em compensação, como
exclama! Apesar da concorrência (internet, celular), a
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, de- carta continua firme e forte. Basta uma fo-
vem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido lha de papel, selo, caneta e envelope para
esperto não teria morrido na cruz. que uma pessoa do Rio Grande do Norte, por
O bobo é sempre tão simpático que há es- exemplo, fique por dentro das fofocas re-
pertos que se fazem passar por bobos. Ser gistradas por um amigo em São Paulo, dois
bobo é uma criatividade e, como toda cria- dias depois. “Adoro receber cartas, fico super
ção, é difícil. Por isso é que os espertos não ansiosa para descobrir o que está escrito”,
conseguem passar por bobos. Os espertos ga- conta Lívia Maria, de 9 anos. Mas ela admi-
nham dos outros. Em compensação os bobos te que faz tempo que não escreve nenhuma
ganham a vida. Bem-aventurados os bobos cartinha. “As últimas foram para a Angélica
porque sabem sem que ninguém desconfie. e para um dos programas do Gugu.”
Aliás não se importam que saibam que eles Isabela, de 9 anos, lembra que, quando mo-
sabem. rava em Curitiba, no Paraná, trocava corres-
Há lugares que facilitam mais _____IV_____ pondência com sua amiga Raquel, que vive
pessoas serem bobas (não confundir bobo em Belo Horizonte, Minas Gerais. “Eu ficava
com burro, com tolo, com fútil). Minas Ge- sabendo das novidades e não gastava dinhei-
rais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, ro com telefonemas.”
quantos perdem por não nascer em Minas! Já Amanda, de 10 anos, também gosta de
3
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, vo- receber cartinhas, mas prefere enviar e-
ando por cima das casas. É quase impossível -mails. “Atualmente estou conversando com
evitar o excesso de amor que o bobo provoca. meu primo que está nos Estados Unidos via
É que só o bobo é capaz de excesso de amor. computador, já que a mensagem chega mais
E só o amor faz o bobo. rápido e não pago interurbano.”
LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Disponível TOURRUCCO, Juliana. Saudade de escrever. O Estado de
em: http://www.revistapazes.com/das-vantagens- São Paulo, p.5, 25 jul.1998. Suplemento infantil.
de-ser-bobo/. Acesso em 10 de maio de 2017.
Originalmente publicado no Jornal do
Brasil em 12 de setembro de
3. (G1 - ifal 2018) O adjunto adverbial vem,
normalmente, no final da frase, mas ele
pode aparecer em outra posição, basta que se
2. (Ime 2018) Marque a opção em que a regra indique esse deslocamento com a vírgula. A
usada para a colocação das vírgulas é a mes- colocação inadequada do adjunto adverbial,
ma encontrada no trecho abaixo destacado: porém, poderá prejudicar a compreensão da
frase. É o que acontece na fala da Amanda,
(…) cujos crescimento espontâneo, metabo- no texto. Das cinco reestruturações apresen-
lismo e eventual declínio têm a ver com as tadas nas alternativas a seguir, uma conti-
necessidades vitais produzidas e introduzi- nua com problema. Marque-a.
das pelo labor no processo da vida (A condi- a) Atualmente, via computador, estou conver-
ção humana, referência 2). sando com meu primo que está nos Estados
a) (…) labor, trabalho e ação (A condição hu- Unidos.
mana, referência 1). b) Atualmente estou, via computador, conver-
b) O trabalho é a atividade correspondente ao sando com meu primo que está nos Estados
artificialismo da existência humana, exis- Unidos.
tência esta não necessariamente contida no c) Atualmente estou conversando, via compu-
eterno ciclo vital da espécie (…) (A condi- tador, com meu primo que está nos Estados
ção humana, referência 3). Unidos.
c) o bobo tem originalidade, espontaneamente d) Atualmente estou conversando com meu
lhe vem a ideia (Das vantagens de ser bobo, primo, via computador, que está nos Estados
referência 1). Unidos.
d) Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, vo- e) Via computador, atualmente estou conver-
ando por cima das casas (Das vantagens de sando com meu primo que está nos Estados
ser bobo, referência 3). Unidos.

62
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 12
Em 1948 13foi proclamado 14o Estado de Is-
A(s) questão(ões) refere(m)-se ao texto a rael. Meu pai abriu uma garrafa de vinho – o
seguir: melhor vinho do armazém –, brindamos ao
acontecimento. E não saíamos de perto do
TEXTO rádio, acompanhando _____3_____ notícias
da guerra no Oriente Médio. Meu pai estava
Proibido para menores de 50 anos. Nos úl-
entusiasmado com o novo Estado: em Israel,
timos meses, em meio ao debate sobre as
explicava, vivem judeus de todo o mundo,
reformas na Previdência, um ponto acabou
judeus brancos da Europa, judeus pretos da
despertando a atenção. Afinal, existem em-
África, judeus da Índia, isto sem falar nos
pregos para quem tem mais de 50 anos? Pen-
beduínos com seus camelos: tipos muito es-
durar as chuteiras nem sempre é fácil. Às
quisitos, Guedali.
vezes, pode significar uma quebra tão gran-
Tipos esquisitos – aquilo me dava ideias.
de na rotina que afeta até mesmo o emocio-
Por que não ir para Israel? 15Num país de
nal. Foi a partir de uma experiência familiar
gente tão estranha – e, 16ainda por cima,
nesta linha que o paulistano Mórris Litvak
em guerra – eu certamente não chamaria
criou a startup MaturiJobs. Trata-se de uma
a atenção. Ainda menos como combatente,
agência virtual de empregos, especializada
entre a poeira e a fumaça dos incêndios. Eu
em profissionais com mais de 50 anos.
me via correndo pelas ruelas de uma aldeia,
(Revista Isto é Dinheiro. Mercado de
empunhando um revólver trinta e oito, ati-
Trabalho. Maio/2017. p. 6.)
rando sem cessar; eu me via caindo, 17varado
de balas. 18Aquela, sim, era a 19morte que eu
almejava, morte heroica, esplêndida justifi-
4. (Ita 2018) “Nos últimos meses, em meio ao
cativa para uma vida miserável, de monstro
debate sobre as reformas na Previdência, um 20
encurralado. E, caso não morresse, poderia
ponto acabou despertando a atenção.” Na
viver depois num kibutz . Eu, que conhecia
frase transcrita, as vírgulas foram utilizadas
tão bem a vida numa fazenda, teria muito a
para
fazer ali. Trabalhador dedicado, os membros
a) realçar a escrita formal em contraste à escri-
do kibutz terminariam por me aceitar; numa
ta informal.
nova sociedade há lugar para todos, mesmo
b) separar um termo complementar da oração
os de patas de cavalo.
principal.
Adaptado de: SCLIAR, M. O centauro no
c) marcar a sobreposição de várias informações
jardim. 9. ed. Porto Alegre: L&PM, 2001.
intercaladas.
d) indicar o deslocamento da informação se-
cundária em relação à principal.
5. (Ufrgs 2018) Assinale a proposta de mu-
e) antecipar o tempo e o espaço físico da infor- dança no emprego de vírgula que mantém a
mação principal. correção e o sentido do enunciado original.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: a) Colocação de vírgula imediatamente após
experiências (ref. 4).
A(s) questão(ões) a seguir está(ão) b) Colocação de vírgula imediatamente após
relacionada(s) ao texto abaixo. Felizmente (ref. 7).
c) Colocação de vírgula imediatamente após
1
– Temos sorte de viver no Brasil – dizia meu que (ref. 11).
pai, depois da guerra. – Na Europa 2mataram d) Colocação de vírgula imediatamente após
3
milhões de judeus. país (ref. 15).
Contava as 4experiências que 5os médicos e) Colocação de vírgula imediatamente após
nazistas faziam com os prisioneiros. Dece- morte (ref. 19).
pavam-lhes as cabeças, faziam-nas encolher
– à maneira, li depois, dos índios Jivaros. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
6
Amputavam pernas e braços. Realizavam Texto 1
estranhos transplantes: uniam a metade HÁ ESCRITORES QUE SE QUEIXAM, MAS ES-
superior de um homem _____1_____ meta- CREVER SÓ ME TRAZ ALEGRIA
de inferior de uma mulher, ou aos quartos
traseiros de um bode. 7Felizmente 8morriam Passei dois anos escrevendo o livro que aca-
9
essas atrozes quimeras; 10expiravam como bo de terminar. 1A tarefa não foi realizada
seres humanos, não eram obrigadas a viver em tempo integral, mas nos momentos livres
como aberrações. (_____2_____ essa altura que ainda me restam.
eu tinha os olhos cheios de lágrimas. Meu Há escritores que precisam de silêncio, soli-
pai pensava 11que a descrição das maldades dão e ambiente adequado para a prática do
nazistas me deixava comovido.) ofício. 2Se fosse esperar por essas condições

63
teria demorado 20 anos para publicá-lo, Dante Alighieri. Depois do que disseram es-
tempo de vida de que não disponho, infe- ses e outros gênios, que livro valeria a pena
lizmente. ser escrito?
Por força da necessidade, aprendi a escrever A resposta encontrei em "On Writing", que
em qualquer lugar em que haja espaço para reúne entrevistas e textos de Ernest Hemin-
sentar com o computador. gway sobre o ato de escrever. Em conversa
Por exemplo, nas salas de embarque durante com um estudante, Hemingway diz que ao
as viagens de bate-e-volta que sou obrigado escritor de nossos tempos cabem duas alter-
a fazer. Consigo me concentrar apesar das nativas: escrever melhor do que os grandes
vozes esganiçadas que anunciam os voos, os mestres já falecidos ou contar histórias que
atrasos, as trocas de portões, a ordem nas nunca foram contadas.
filas, os nomes dos retardatários. De fato, se eu escrevesse melhor do que Ma-
Os avisos vêm aos berros como se fossem chado de Assis, poderia recriar personagens
destinados a uma horda de deficientes au- como Dom Casmurro ou descrever com mais
ditivos; mal termina um, começa outro. Sus- poesia o olhar de ressaca de Capitu.
peito de uma conspiração das companhias Restava a outra alternativa: a vida numa
aéreas contra a integridade dos tímpanos cadeia com mais de 7.000 presidiários, na
dos passageiros. cidade de São Paulo, nas últimas décadas
3
Embora com dificuldade, sou capaz de es- do século 20, não poderia ser descrita por
crever no meio daqueles idiotas que xingam Tchékhov, Homero ou pelo padre Antonio
as secretárias pelo celular, alguns dos quais Vieira. O médico que atendia pacientes no
o fazem andando nervosamente de um lado Carandiru havia dez anos era quem reunia as
para outro, 4com a intenção declarada de condições para fazê-lo.
atazanar o maior número possível de cir- Seguindo o mesmo critério, publiquei outros
cunstantes. livros. Às cotoveladas, a literatura abriu es-
São executivos de terno que empregam adje- paço em minha agenda. Há escritores talen-
tivos fortes: incompetente, burra, ignoran- tosos que se queixam dos tormentos e da an-
te. Escutei um deles dizer: "Contratei você gústia inerentes ao processo de criação. Não
para cumprir ordens, se fosse para pensar é o meu caso, escrever só me traz alegria.
escolhia outra pessoa". Nunca os ouvi che- Diante da tela do computador, fico atrás das
gar perto desse tom ao falar com o chefe, palavras, encontro algumas, apago outras,
ocasiões identificáveis pela voz melosa e corrijo, leio e releio até sentir que o texto
submissa. está pronto. Às vezes, ficou melhor do que
Mal o avião levanta voo, puxo a mesinha e eu imaginava. Nesse momento sou invadido
abro o computador. Estou nas nuvens, às por uma sensação de felicidade plena que
portas do paraíso celestial. O telefone não vai e volta por vários dias.
vai tocar, ninguém me cobrará o texto que Drauzio Varella
prometi, a presença na palestra para a qual Disponível em:http://www1.folha.uol.com.br/
fui convidado, os e-mails atrasados, nenhum colunas/drauziovarella/2017/05/1883616-ha-
escritores-que-se-queixam-mas-escrever-so-me-
ser humano me pedirá para apoiar um proje-
to e não descobrirei que me incluíram num traz-alegria.shtml Acesso em 18 de ago 2017.

grupo de WhatsApp em que os 300 partici-


pantes dão bom dia uns aos outros.
Já escrevi por 13 horas consecutivas num TEXTO 2
voo de volta da Ásia. Num retorno de Salva-
dor, escrevi uma coluna como está sentado Nove manias adotadas por grandes autores
na primeira fila, ao lado de um bebê com dor mundiais na hora de escrever
de ouvido que chorou sem dar um minuto de Antonio Prata, escritor e colunista da Folha,
trégua. Só ficou quietinho, quando o coman- precisa de silêncio. E prefere digitar numa
dante anunciou que o pouso em Guarulhos cadeira dobrável, com o notebook no colo.
fora autorizado. Quando viaja, inclusive, despacha o apetre-
Minha carreira de escritor começou com cho nas bagagens. Mas quando o transporte
"Estação Carandiru", publicado quando eu não é possível... “Eu escrevo em qualquer
tinha 56 anos. Foi tão grande o prazer de canto, desde que, sim, haja algum silêncio”.
contar aquelas histórias, que senti ódio de
mim mesmo por ter vivido meio século sem (...)
escrever livros. Uma vez começado um livro, o escritor fran-
A dificuldade vinha da timidez e da autocrí- cês Alexandre Dumas, autor de clássicos
tica. Para mim, o que eu escrevesse seria fa- como “Os Três Mosqueteiros”, trabalhava
talmente comparado com Machado de Assis, dia após dia, noite após noite, sem cessar,
Gógol, Faulkner, Joyce, Pushkin, Turgenev, até ver concluído o trabalho. Também não

64
admitia interrupção, fosse lá de quem fos- c) deveria haver uma vírgula após o objeto di-
se... reto “um movimento afastado”.
d) deveria haver uma vírgula após a forma ver-
(...) bal “recoloca”.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ e) o segmento “em primeiro plano” é um ad-
ilustrada/2016/07/1795149-no-dia-nacional-do-
escritor-conheca-manias-e-costumes-de-grandes-
junto adverbial intercalado e poderia estar
autores.shtml Acesso em 20 de ago de 2017. entre vírgulas.

9. (Eear) De acordo com o significado de cada


6. (G1 - ifsul 2018) As vírgulas nos períodos sentença, marque a opção que apresenta
abaixo foram empregadas pelo mesmo moti- erro em relação à presença ou ausência da
vo, EXCETO em: vírgula.
a) Consigo me concentrar apesar das vozes es- a) Eu que não sou o dono da verdade sei que o
ganiçadas que anunciam os voos, os atrasos, senhor está certo.
as trocas de portões, a ordem nas filas, os b) Maria foi a pessoa rara que escolheu a casa
nomes dos retardatários. dos pais.
b) São executivos de terno que empregam adje- c) Meu avô Tobias, que foi meu modelo de pai,
tivos fortes: incompetente, burra, ignoran- faleceu quando eu era menino.
te. d) Dona Jorgina, que dedicou-se inteiramente
c) O telefone não vai tocar, ninguém me cobra- ao trabalho aos outros, era muito respeitada
rá o texto que prometi, a presença na pa- pelos mais novos da família.
lestra para a qual fui convidado, os e-mails
atrasados, nenhum ser humano me pedirá TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
para apoiar um projeto e não descobrirei que Leia o texto abaixo e responda
me incluíram num grupo de WhatsApp em à(s) questão(ões).
que os 300 participantes dão bom dia uns
A PIPOCA
aos outros.
Rubem Alves
d) Num retorno de Salvador, escrevi uma colu-
na como está sentado na primeira fila, ao
lado de um bebê com dor de ouvido que cho- A culinária me fascina. De vez em quando eu
rou sem dar um minuto de trégua. até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que
sou mais competente com as palavras que
com as panelas. Por isso tenho mais escrito
7. (Espcex (Aman)) Marque a alternativa cor-
sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a
reta quanto ao emprego da vírgula, de acor-
algo que poderia ter o nome de “culinária
do com as normas gramaticais.
literária”. Já escrevi sobre as mais variadas
a) Ele pediu, ao motorista que parasse no ho- entidades do mundo da cozinha: cebolas,
tel. ora-pro-nóbis, picadinho de carne com to-
b) A vida como diz o ditado popular é breve. mate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, so-
c) Da sala eu vi sem ser visto todo o crime pas, churrascos. Cheguei mesmo a dedicar
acontecendo. metade de um livro poético-filosófico a uma
d) Atletas de várias nacionalidades, participa- meditação sobre o filme A festa de Babette,
rão da maratona. que é uma celebração da comida como ritual
e) Meus olhos, devido à fumaça intensa, ardiam de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações
muito. e competências, nunca escrevi como chef.
Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e
8. (Espm) A reivindicação do massacre na teólogo – porque a culinária estimula todas
Charlie Hebdo pela facção da al-Qaeda na essas funções do pensamento.
Península Arábica recoloca em primeiro pla- As comidas, para mim, são entidades oníri-
no um movimento afastado da mídia pelos cas. Provocam a minha capacidade de sonhar.
sucessos militares da Organização do Estado Nunca imaginei, entretanto, que chegaria
Islâmico. um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar.
Le Monde Diplomatique Brasil, 04.02.2016. Pois foi precisamente isso que aconteceu.
A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e
Das afirmações abaixo sobre o uso da vírgu- duros, me pareceu uma simples molecagem,
la, assinale a única correta: brincadeira deliciosa, sem dimensões me-
a) o segmento “pela facção da al-Qaeda na Pe- tafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias
nínsula Arábica” é um adjunto adnominal e atrás, conversando com uma paciente, ela
deveria estar entre vírgulas. mencionou a pipoca. E algo inesperado na
b) poderia haver uma vírgula após o sujeito “A minha mente aconteceu. Minhas ideias co-
reivindicação do massacre na Charlie Hebdo”. meçaram a estourar como pipoca. Percebi,

65
então, a relação metafórica entre a pipoca sempre. Assim acontece com a gente. As
e o ato de pensar. Um bom pensamento nas- grandes transformações acontecem quando
ce como uma pipoca que estoura, de forma passamos pelo fogo. Quem não passa pelo
inesperada e imprevisível. A pipoca se reve- fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São
lou a mim, então, como um extraordinário pessoas de uma mesmice e dureza assombro-
objeto poético. Poético porque, ao pensar ne- sas. Só que elas não percebem. Acham que
las, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
estouros e pulos como aqueles das pipocas Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quan-
dentro de uma panela. do a vida nos lança numa situação que nun-
Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. ca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora:
A pipoca tem sentido religioso? Pois tem. perder um amor, perder um filho, ficar do-
Para os cristãos, religiosos são o pão e o vi- ente, perder um emprego, ficar pobre. Pode
nho, que simbolizam o corpo e o sangue de ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade,
Cristo, a mistura de vida e alegria (porque depressão – sofrimentos cujas causas igno-
vida, só vida, sem alegria, não é vida...). ramos. Há sempre o recurso aos remédios.
Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento di-
e alegria devem existir juntas. Lembrei-me, minui. E com isso a possibilidade da grande
então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, transformação.
sábia poderosa do candomblé baiano: que a Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro
pipoca é a comida sagrada do candomblé... da panela, lá dentro ficando cada vez mais
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvol- quente, pense que sua hora chegou: vai mor-
vido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no rer. De dentro de sua casca dura, fechada em
meio dos meus milhos graúdos aparecessem si mesma, ela não pode imaginar destino
aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e diferente. Não pode imaginar a transforma-
trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, ção que está sendo preparada. A pipoca não
sob o ponto de vista do tamanho, os milhos imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem
da pipoca não podem competir com os mi- aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande
lhos normais. Não sei como isso aconteceu, transformação acontece: pum! − e ela apare-
mas o fato é que houve alguém que teve a ce como uma outra coisa, completamente di-
ideia de debulhar as espigas e colocá-las ferente, que ela mesma nunca havia sonha-
numa panela sobre o fogo, esperando que do. É a lagarta rastejante e feia que surge do
assim os grãos amolecessem e pudessem ser casulo como borboleta voante.
comidos. Havendo fracassado a experiência Na simbologia cristã o milagre do milho de
com água, tentou a gordura. O que aconte- pipoca está representado pela morte e res-
ceu, ninguém jamais poderia ter imaginado. surreição de Cristo: a ressurreição é o estou-
Repentinamente os grãos começaram a es- ro do milho de pipoca. É preciso deixar de
tourar, saltavam da panela com uma enorme ser de um jeito para ser de outro. “Morre e
barulheira. Mas o extraordinário era o que transforma-te!” − dizia Goethe.
acontecia com eles: os grãos duros quebra- Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá.
-dentes se transformavam em flores brancas Falando sobre os piruás com os paulistas
e macias que até as crianças podiam comer. descobri que eles ignoram o que seja. Al-
O estouro das pipocas se transformou, então, guns, inclusive, acharam que era gozação
de uma simples operação culinária, em uma minha, que piruá é palavra inexistente. Che-
festa, brincadeira, molecagem, para os risos guei a ser forçado a me valer do Aurélio para
de todos, especialmente as crianças. É muito confirmar o meu conhecimento da língua.
divertido ver o estouro das pipocas! Piruá é o milho de pipoca que se recusa a
E o que é que isso tem a ver com o candom- estourar. Meu amigo William, extraordinário
blé? É que a transformação do milho duro em professor-pesquisador da Unicamp, especia-
pipoca macia é símbolo da grande transfor- lizou-se em milhos, e desvendou cientifi-
mação porque devem passar os homens para camente o assombro do estouro da pipoca.
que eles venham a ser o que devem ser. O Com certeza ele tem uma explicação cientí-
milho da pipoca não é o que deve ser. Ele fica para os piruás. Mas, no mundo da poe-
deve ser aquilo que acontece depois do es- sia as explicações científicas não valem. Por
touro. O milho da pipoca somos nós: duros, exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se
quebra-dentes, impróprios para comer, pelo dá às mulheres que não conseguiram casar.
poder do fogo podemos, repentinamente, Minha prima, passada dos quarenta, lamen-
nos transformar em outra coisa − voltar a tava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder
ser crianças! metafórico dos piruás é muito maior. Piruás
Mas a transformação só acontece pelo poder são aquelas pessoas que, por mais que o fogo
do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo esquente, se recusam a mudar. Elas acham
fogo continua a ser milho de pipoca, para que não pode existir coisa mais maravilhosa

66
do que o jeito delas serem. Ignoram o dito de é necessário nenhum Grande Irmão para
Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê-la- despojar a população de autonomia, matu-
-á.” A sua presunção e o seu medo são a dura ridade ou história”, escreveu Postman. “Ela
casca do milho que não estoura. O destino acabaria amando sua opressão, adorando as
delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. tecnologias que destroem sua capacidade de
Não vão se transformar na flor branca macia. pensar. Orwell temia aqueles que proibiriam
Não vão dar alegria para ninguém. Termina- os livros. Huxley temia que não haveria mo-
do o estouro alegre da pipoca, no fundo da tivo para proibir um livro, pois não haveria
panela ficam os piruás que não servem para ninguém que quisesse lê-los. Orwell temia
nada. Seu destino é o lixo. Quanto às pipocas aqueles que nos privariam de informação.
que estouraram, são adultos que voltaram a Huxley, aqueles que nos dariam tanta que
ser crianças e que sabem que a vida é uma seríamos reduzidos à passividade e ao egoís-
grande brincadeira... mo. 5Orwell temia que a verdade fosse escon-
Disponível em http://www.releituras. dida de nós. Huxley, que fosse afogada num
com/rubemalves_pipoca.asp. mar de irrelevância.”
Acessado em 31 de mai. 2016.
6
No futuro pintado por Huxley, (...) não há
Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo mães, pais ou casamentos. O sexo é livre. A
Acordo Ortográfico. diversão está disponível na forma de jogos
esportivos, cinema multissensorial e de uma
1
0. (Efomm) Em todos os períodos que se se- droga que garante o bem-estar sem efeito
guem há a possibilidade de colocação de vír- colateral: o soma. Restaram na Terra dez áre-
gula, EXCETO em as civilizadas e uns poucos territórios selva-
a) A sua presunção e o seu medo são a dura gens, onde 7grupos nativos ainda preservam
casca do milho que não estoura. costumes e tradições primitivos, como famí-
b) Repentinamente os grãos começaram a es- lia ou religião. “O mundo agora é estável”,
tourar, saltavam da panela com uma enorme diz um líder civilizado. “As pessoas são fe-
barulheira. lizes, têm o que desejam e nunca desejam
c) Na simbologia cristã o milagre do milho de o que não podem ter. Sentem-se bem, estão
pipoca está representado pela morte e res- em segurança; nunca adoecem; 8não têm
surreição de Cristo (...) medo da morte; vivem na ditosa ignorância
d) Com certeza ele tem uma explicação cientí- da paixão e da velhice; não se acham sobre-
fica para os piruás. carregadas de pais e mães; 9não têm esposas,
e) De vez em quando eu até me até atrevo a nem filhos, nem amantes por quem possam
cozinhar. sofrer emoções violentas; são condicionadas
de tal modo que praticamente não podem
deixar de se portar como devem. E se, por
E.O. Complementar acaso, alguma coisa andar mal, há o soma.”
10
Para chegar à estabilidade absoluta, foi
necessário abrir mão da arte e da ciência.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
“A felicidade universal mantém as engrena-
MAIS QUE ORWELL, HUXLEY PREVIU NOSSO
gens em funcionamento regular; a verdade
TEMPO
e a beleza são incapazes de fazê-lo”, diz o
Hélio Gurovitz
líder. “Cada vez que as massas tomavam o
poder público, era a felicidade, mais que a
Publicado em 1948, o livro 1984, de George verdade e a beleza, o que importava.” A ver-
Orwell, saltou para o topo da lista dos mais dade é considerada uma ameaça; a ciência e
vendidos (...) 1A distopia de Orwel, mesmo a arte, perigos públicos. Mas não é necessá-
situada no futuro, tinha um endereço certo rio esforço totalitário para controlá-las. To-
em seu tempo: o stalinismo. (...) 2O mundo dos aceitam de bom grado, fazem “qualquer
da “pós-verdade”, dos “fatos alternativos” sacrifício em troca de uma vida sossegada” e
e da anestesia intelectual nas redes sociais de sua dose diária de soma. “Não foi muito
mais parece outra distopia, publicada em bom para a verdade, sem dúvida. Mas foi ex-
1932: Admirável mundo novo, de Aldous Hu- celente para a felicidade.”
xley. No universo de Orwell, a população é con-
3
Não se trata de uma tese nova. Ela foi le- trolada pela dor. No de Huxley, pelo prazer.
vantada pela primeira vez em 1985, num “Orwell temia que nossa ruína seria causa-
livreto do teórico da comunicação america- da pelo que odiamos. Huxley, pelo que ama-
no Neil Postman: Amusing ourselves to de- mos”, escreve Postman. Só precisa haver cen-
ath (4Nos divertindo até morrer), relembra- sura, diz ele, se os tiranos acreditam que o
do por seu filho Andrew em artigo recente público sabe a diferença entre discurso sério
no The Guardian. “Na visão de Huxley, não e entretenimento. (...) O alvo de Postman,

67
em seu tempo, era a televisão, que ele jul- envelhecimento delas e, talvez, as de outros
gava ter imposto uma cultura fragmentada e tecidos e órgãos do corpo.
superficial, incapaz de manter com a verda- Na pesquisa, cientistas da Universidade
de a relação reflexiva e racional da palavra de Newcastle, no Reino Unido, analisaram
impressa. 11O computador só engatinhava, e amostras de células da pele de vinte e sete
Postman mal poderia prever como celulares, doadores com entre seis e anos, tiradas de
tablets e redes sociais se tornariam – bem locais protegidos do Sol, para determinar
mais que a TV – o soma contemporâneo. Mas se havia alguma diferença no seu compor-
suas palavras foram prescientes: “O que afli- tamento com a idade. 3Eles verificaram que,
gia a população em Admirável mundo novo quanto mais velha a pessoa, menor era a
não é que estivessem rindo em vez de pen- atividade de suas mitocôndrias, as “4usinas
sar, mas que não sabiam do que estavam rin- de energia” de nossas células. 5Essa queda,
do, nem tinham parado de pensar”. porém, 6era esperada, já que há décadas a
Adaptado, Revista Época nº 973 – 13 redução na capacidade de geração de energia
de fevereiro de 2017, p. 67. por essas 7organelas celulares e na sua efici-
ência neste trabalho com o tempo é uma das
Distopia = Pensamento, filosofia ou processo principais vertentes nas teorias sobre enve-
discursivo caracterizado pelo totalitarismo, lhecimento.
autoritarismo e opressivo controle da socie- /.../
dade, representando a antítese de utopia.
BAIMA, César. O Globo, 27 de fev. 2016, p. 24.
(BECHARA, E. Dicionário da língua portuguesa. 1ª ed.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2011, p. 533).

2. (Epcar (Afa) 2017) Observe o uso da vírgula


1. (Epcar (Afa) 2018) Assinale a alternativa nos trechos abaixo destacados:
em que a análise dos termos presentes no I. “O tempo passa, e com ele os sinais da
excerto abaixo está de acordo com o que idade vão se espalhando...” (ref. 1)
prescreve a Gramática Normativa da Língua II. “... ficam estampados em nossa pele, e
Portuguesa. rostos, na forma...” (ref. 2)
III. “Eles verificaram que, quanto mais velha
“A distopia de Orwell, mesmo situada no fu- a pessoa, menor era a atividade de suas
turo, tinha um endereço certo em seu tem- mitocôndrias...” (ref. 3)
po: o stalinismo.” (ref. 1) IV. “Essa queda, porém, era esperada...”
a) O período é composto por três orações, sen- (ref. 5)
do duas subordinadas e uma coordenada. V. “... era esperada, já que há décadas a re-
b) “... mesmo situada no futuro...” é classifica- dução na capacidade de geração de ener-
da como oração subordinada adverbial tem- gia...” (ref. 6)
poral reduzida de particípio.
c) “... o stalinismo” é um aposto que se refe- Assinale a opção que apresenta uma análise
re ao termo imediato que o antecede – “seu correta.
tempo”. a) No fragmento I, o uso da vírgula é facul-
d) As vírgulas servem para isolar a oração su- tativo, tendo em vista que introduz uma ora-
bordinada adverbial que está inserida em ção coordenada sindética aditiva.
b) A vírgula foi utilizada nos excertos II e
sua oração principal.
III pelo mesmo motivo: isolar termos expli-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: cativos.
Leia o texto a seguir e responda à(s) c) O uso da vírgula, em IV, justifica-se pela
questão(ões). presença de um termo interferente.
d) A presença de oração subordinada adver-
PROMESSA CONTRA SINAIS DA IDADE bial, no fragmento V, justifica o uso da vír-
1
O tempo passa, e com ele os sinais da ida- gula.
de vão se espalhando pelo nosso organismo.
Entre eles, os mais evidentes 2ficam estam- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
A doença do amor
pados em nossa pele, e rostos, na forma de
Luiz Felipe Pondé
rugas, flacidez e perda de elasticidade. Um
estudo publicado ontem no periódico cien- Existe de fato amor romântico? Esta é uma
tífico Journal of Investigative Dermatology, pergunta que ouço quando, em sala de aula,
no entanto, identificou um mecanismo mo- estamos a discutir questões como literatura
lecular em células da pele que pode estar por romântica dos séculos 18 e 19. 1Quando o
trás deste processo, abrindo caminho para público é composto de pessoas mais madu-
o desenvolvimento de novos tratamentos ras, a tendência é um certo ceticismo, mui-
para, se não impedir, pelo menos retardar o tas vezes elegante, apesar de trazer nele a

68
marca eterna do desencanto. o amor romântico numa escala universal e
Quando o público é mais 2jovem há uma ten- capaz de 14conviver com um apartamento de
dência maior de crença no amor românti- dois quartos, pago em cem anos.
co. 3Alguns diriam que 4essa crença é típica Não, o amor cortês seria algo que deveríamos
da idade jovem e inexperiente, assim como temer justamente por seu caráter intempes-
crianças creem em Papai Noel. tivo e avassalador. Sempre fora do casamen-
Mas, em matéria de amor romântico, melhor to, teria contra ele a condenação da norma
ainda do que ir em busca da literatura dos social ou religiosa que, aos poucos, 15levaria
séculos 18 e 19 é ir 5à fonte primária 6: a li- as suas vítimas à destruição, psicológica ou
teratura europeia medieval, verdadeira fon- física.
te do amor romântico. A literatura conhecida Para os medievais, um homem arrebatado
como amor cortês. por esse amor tomaria decisões que destrui-
Especialistas no assunto, como o suíço Denis riam seu patrimônio. A mulher perderia sua
de Rougemont, suspeitavam que a literatura reputação. Ambos viriam, necessariamente,
medieval criou uma verdadeira expectativa a morrer por conta desse amor, fosse ele em
neurótica no Ocidente sobre o que seria o batalha, por obrigação de guerreiro, fosse
amor romântico em nossas vidas concretas, fugindo do horror de trair seu melhor ami-
fazendo com que 7sonhássemos com algo que, go com sua até então fiel esposa. Ela mor-
na verdade, nunca existiu como experiência reria eventualmente de tristeza, vergonha
universal. 8Dos castelos da Provence francesa e solidão num convento, buscando a paz de
do século 12 ao cinema de Hollywood, terí- espírito há muito perdida. A distância físi-
amos perdido o verdadeiro sentido do amor ca, social ou moral, proibindo a realização
medieval, que seria uma doença da qual de- plena desse desejo incessante como tortura
vemos fugir como o diabo da cruz. cotidiana.
Para além dos céticos e crentes, a literatura O poeta mexicano Octavio Paz, que dedicou
medieval de amor cortês é marcante pela sua alguns textos ao tema, entendia que a lite-
descrição do que seria esse pathos amoro- ratura medieval descrevia o embate entre
so. Uma doença, uma verdadeira desgraça virtude e desejo, sendo a desgraça dos apai-
para quem fosse atingindo em seu coração xonados a maldição de ter que 16pôr medida
por tamanha tristeza. André Capelão, autor nesse desejo 17(nesse amor fora do lugar),
da época (Tratado do Amor Cortês, ed. Mar- em meio à insuportável culpa de estar doen-
tins Fontes), sintetiza esse amor como sendo te de amor.
uma 9"doença do pensamento". Doença essa Texto adaptado. Foi publicado em 16 de maio de
que podemos descrever como uma forma de 2016 na Folha de S. Paulo. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/
obsessão em saber o que ela está pensando, luizfelipeponde/2016/05/1771569-a-doenca-
o que ela está fazendo nessa exata hora em do-amor.shtml>. Acesso em: 21 set. 2016.
que penso nela, com o que ela sonha à noi-
te, como é seu corpo por baixo da roupa que
a veste, o desejo incontrolável de ouvir sua 3. (G1 - ifsul 2017) No que diz respeito ao
voz, de sentir seu perfume. Mas a doença emprego dos sinais de pontuação, é correto
avança: sentir o gosto da sua boca, beijá-10la afirmar que
por horas a fio. a) falta uma vírgula depois de jovem (ref. 2)
11
Mas, quando em público, jamais deixe nin- para separar a oração subordinada adverbial
guém saber que se amam. Capelão chega a anteposta à principal.
supor que desmaios femininos poderiam ser b) os dois-pontos presentes na referência 6 têm
indicativos de que a infeliz estaria em pre- por finalidade sinalizar uma enumeração de
sença de seu desgraçado objeto de amor in- itens.
confessável. A inveja dos outros pelos aman- c) as aspas utilizadas na expressão doença do
tes, apesar de 12condenados a 13tristeza pela pensamento (ref. 9) indicam ironia.
interdição sempre presente nas narrativas d) os parênteses presentes na referência 17 iso-
(casados com outras pessoas, detentores de lam um exemplo de desejo pelo amado.
responsabilidades públicas e privadas), se
dá pelo fato que se trata de uma doença en- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
cantadora quando correspondida. O anjo Rafael
Nada é mais forte do que o desejo de estar Machado de Assis
com alguém a quem você se sente ligado,
mesmo que a milhares de quilômetros de Cansado da vida, descrente dos homens, des-
distância, sem poder trocar um único olhar confiado das mulheres e aborrecido dos cre-
ou toque com ela. dores, 1o dr. Antero da Silva determinou um
O erro dos modernos românticos teria sido a dia despedir-se deste mundo.
ilusão de que esses medievais imaginariam Era pena. O dr. Antero contava trinta anos,

69
tinha saúde, e podia, se quisesse, fazer uma facilmente lhes escapa das unhas.
bonita carreira. Verdade é que para isso fora É justamente o que vou fazer.
necessário proceder a uma completa reforma Tenho ao pé de mim uma pistola, pólvora
dos seus costumes. Entendia, porém, o nosso e bala; com estes três elementos reduzirei
herói que o defeito não estava em si, mas a minha vida ao nada. Não levo nem deixo
nos outros; cada pedido de um credor inspi- saudades. Morro por estar enjoado da vida e
rava-lhe uma apóstrofe contra a sociedade; por ter certa curiosidade da morte.
julgava conhecer os homens, por ter tratado Provavelmente, quando a polícia descobrir o
até então com alguns bonecos sem consciên- meu cadáver, os jornais escreverão a notícia
cia; pretendia conhecer as mulheres, quando do acontecimento, e um ou outro fará a esse
apenas havia praticado com meia dúzia de respeito considerações filosóficas. Impor-
regateiras do amor. tam-me bem pouco as tais considerações.
O caso é que o nosso herói determinou ma- Se me é lícito ter uma última vontade, quero
tar-se, e para isso foi à casa da viúva Laport, que estas linhas sejam publicadas no Jornal
comprou uma pistola e entrou em casa, que do Commercio. Os rimadores de ocasião en-
era à rua da Misericórdia. contrarão assunto para algumas estrofes.
Davam então quatro horas da tarde. O dr. Antero releu o que tinha escrito, corri-
O dr. Antero disse ao criado que pusesse o giu em alguns lugares a pontuação, fechou
jantar na mesa. o papel em forma de carta, e pôs-lhe este
– A viagem é longa, disse ele consigo, e eu sobrescrito: Ao mundo.
não sei se há hotéis no caminho. Depois carregou a arma; e, para rematar a
Jantou com efeito, tão tranquilo como se ti- vida com um traço de impiedade, a bucha
vesse de ir dormir a sesta e não o último que meteu no cano da pistola foi uma folha
sono. 2O próprio criado reparou que o amo do Evangelho de S. João.
estava nesse dia mais folgazão que nunca. Era noite fechada. O dr. Antero chegou-se à
Conversaram alegremente durante todo o janela, respirou um pouco, olhou para o céu,
jantar. No fim dele, quando o criado lhe trou- e disse às estrelas:
xe o café, Antero proferiu paternalmente as – Até já.
seguintes palavras: E saindo da janela acrescentou mentalmen-
3
– Pedro, tira de minha gaveta uns cinquenta te:
mil-réis que lá estão, são teus. Vai passar a – Pobres estrelas! Eu bem quisera lá ir, mas
noite fora e não voltes antes da madrugada. com certeza hão de impedir-me os vermes da
– Obrigado, meu senhor, respondeu Pedro. terra. Estou aqui, e estou feito um punhado
– Vai. de pó. É bem possível que no futuro século
Pedro apressou-se a executar a ordem do sirva este meu invólucro para macadamizar a
amo. rua do Ouvidor. Antes isso; ao menos terei o
O dr. Antero foi para a sala, estendeu-se no prazer de ser pisado por alguns pés bonitos.
divã, abriu um volume do Dicionário filosó- Ao mesmo tempo que fazia estas reflexões,
fico e começou a ler. lançava mão da pistola, e olhava para ela
Já então declinava a tarde e aproximava-se com certo orgulho.
a noite. A leitura do dr. Antero não podia 6
– Aqui está a chave que me vai abrir a porta
ser longa. Efetivamente daí a algum tempo deste cárcere, disse ele.
levantou-se o nosso herói e fechou o livro. 7
Depois sentou-se numa cadeira de braços,
Uma fresca brisa penetrava na sala e anun- pôs as pernas sobre a mesa, à americana,
ciava uma agradável noite. Corria então o firmou os cotovelos, e segurando a pistola
inverno, aquele benigno inverno que os flu- com ambas as mãos, meteu o cano entre os
minenses têm a ventura de conhecer e agra- dentes.
decer ao céu. Já ia disparar o tiro, quando ouviu três pan-
4
O dr. Antero acendeu uma vela e sentou-se cadinhas à porta. Involuntariamente levan-
à mesa para escrever. 5Não tinha parentes, tou a cabeça. Depois de um curto silêncio
nem amigos a quem deixar carta; entretan- repetiram-se as pancadinhas. O rapaz não
to, não queria sair deste mundo sem dizer a esperava ninguém, e era-lhe indiferente
respeito dele a sua última palavra. Travou da
falar a quem quer que fosse. Contudo, por
pena e escreveu as seguintes linhas:
maior que seja a tranquilidade de um ho-
Quando um homem, perdido no mato, vê-
mem quando resolve abandonar a vida, é-lhe
-se cercado de animais ferozes e traiçoei-
sempre agradável achar um pretexto para
ros, procura fugir se pode. De ordinário a
prolongá-la um pouco mais.
fuga é impossível. Mas estes animais meus
O dr. Antero pôs a pistola sobre a mesa e foi
semelhantes tão traiçoeiros e ferozes como
abrir a porta.
os outros, tiveram a inépcia de inventar
uma arma, mediante a qual um transviado

70
4. (G1 - ifce 2016) Em “Não tinha parentes, em algumas cidades do Canadá e dos Estados
nem amigos a quem deixar carta; entretan- Unidos, um mínimo de vida associativa tem
to, não queria sair deste mundo sem dizer a garantido a sobrevivência de jornais edita-
respeito dele a sua última palavra” (referên- dos em português, mantidos pelas próprias
cia 5), o uso do ponto e vírgula se justifica comunidades de origem portuguesa e brasi-
porque leira.
a) indica um esclarecimento, resultado ou re- Adaptado de: ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O
sumo do que se disse. português como língua de emigrantes. In:___. O
português da gente: a língua que estudamos a língua
b) trata de sujeitos diferentes.
que falamos. São Paulo: Contexto, 2006. p. 42-43.
c) anuncia uma enumeração.
d) alonga a pausa de conjunções adversativas,
substituindo, assim, a vírgula.
5. (Ufrgs 2014) Desconsiderando questões de
e) separa orações coordenadas não unidas por
emprego de letra maiúscula, assinale a alter-
conjunção, que guardem relação entre si.
nativa em que se sugere um deslocamento
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: de adjunto adverbial que preservaria tanto a
correção quanto o sentido do segmento ori-
Entre as situações linguísticas que o portu- ginal.
guês já viveu em seu contato com outras lín- a) Colocação de Para o leitor brasileiro (ref.
guas, cabe considerar uma situação que se 9) entre vírgulas, imediatamente após aqui
realiza em nossos dias: 4aquela em que ele (ref. 5).
é uma língua de emigrantes. 9Para o leitor b) Deslocamento de entretanto (ref. 10) para
brasileiro, 18soará talvez estranho que fale- imediatamente após partindo (ref. 11).
mos 5aqui do português como uma língua de c) Passagem de também (ref. 12) para imedia-
EMIGRANTES, pois o Brasil foi antes de mais tamente após e (ref. 13).
nada um país para 6o qual se dirigiam em d) Deslocamento de normalmente (ref. 14) para
massa, durante mais de dois séculos, pessoas imediatamente após usar (ref. 15).
nascidas em vários países europeus e asiá- e) Colocação de Em geral (ref. 16) entre vírgu-
ticos; assim, para a maioria dos brasileiros, las, imediatamente após é (ref. 17).
a 19representação mais natural é a da con-
vivência no Brasil com IMIGRANTES vindos

E.O. Dissertativo
de outros países. Sabemos, 10entretanto, que,
nos últimos cem anos, muitos falantes do
português foram buscar melhores condições
de vida, 11partindo não só de Portugal para 1. (Pucrj) Os filósofos chineses viam a realida-
o Brasil, mas 12também desses dois países de, a cuja essência primária chamaram tao,
para a América do Norte 13e para vários paí- como um processo de contínuo fluxo e mu-
ses da Europa: em certo momento, na década dança. Na concepção deles, todos os fenôme-
de 1970, viviam na região parisiense mais nos que observamos participam desse pro-
de um milhão de portugueses – uma popula- cesso cósmico e são, pois, intrinsecamente
ção superior 21à 7que tinha então a cidade de dinâmicos. A principal característica do tao
Lisboa. Do Brasil, têm 1__________ nas últi- é a natureza cíclica de seu movimento inces-
mas décadas muitos jovens e trabalhadores, sante; a natureza, em todos os seus aspectos
20
dirigindo-se aos quatro cantos do mundo. – tanto os do mundo físico quanto os dos do-
A existência de comunidades de imigrantes mínios psicológico e social –, exibe padrões
é sempre uma situação delicada 22para os cíclicos. Os chineses atribuem a essa ideia de
próprios imigrantes e 23para o país que os padrões cíclicos uma estrutura definida, me-
recebeu: 14normalmente, os imigrantes vão a diante a introdução dos opostos yin e yang,
países que têm interesse em 15usar sua força os dois polos que fixam os limites para os
de trabalho, mas qualquer oscilação na eco- ciclos de mudança: “Tendo yang atingido seu
nomia faz 24com que os nativos 2__________ clímax, retira-se em favor do yin; tendo o
8
sua presença como indesejável; as diferen- yin atingido seu clímax, retira-se em favor
ças na cultura e na fala podem alimentar do yang”.
preconceitos e desencadear problemas reais
de diferentes ordens. Na concepção chinesa, todas as manifesta-
16
Em geral, proteger a cultura e a língua ções do tao são geradas pela interação di-
do imigrante não 17é um objetivo prioritá- nâmica desses dois polos arquetípicos, os
rio dos países hospedeiros, mas no caso do quais estão associados a numerosas imagens
português tem havido 3__________. Em certo de opostos colhidas na natureza e na vida
momento, o português foi uma das línguas social. É importante, e muito difícil para
estrangeiras mais estudadas na França; e, nós, ocidentais, entender que esses opostos

71
não pertencem a diferentes categorias, mas nasceu Rosa, a primeira filha de Antônio e
são polos extremos de um único todo. Nada Eulália? Bom. A verdade era que a criança
é apenas yin ou apenas yang. Todos os fe- tinha nascido pouco mais de um ano após
nômenos naturais são manifestações de uma o casamento. Dona Henriqueta cortara-lhe
contínua oscilação entre os dois polos; todas o cordão umbilical com a mesma tesoura de
as transições ocorrem gradualmente e numa podar com que separara Pedrinho da mãe.
progressão ininterrupta. A ordem natural é E era assim que o tempo se arrastava, o sol
de equilíbrio dinâmico entre o yin e o yang. nascia e se sumia, a lua passava por todas as
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Editora fases, as estações iam e vinham, deixando
Cultrix. 1982. Tradução de Álvaro Cabral, pp. 32-33. sua marca nas árvores, na terra, nas coisas
e nas pessoas.
Mantendo o sentido dos trechos em desta- E havia períodos em que Ana perdia a conta
que, reescreva-os atendendo ao que é solici- dos dias. Mas entre as cenas que nunca mais
tado. Faça as modificações necessárias. lhe saíram da memória estavam as da tarde
em que dona Henriqueta fora para a cama
a) Não use gerúndio: com uma dor aguda no lado direito, ficara se
“Tendo yang atingido seu clímax, retira-se retorcendo durante horas, vomitando tudo o
em favor do yin; tendo o yin atingido seu que engolia, gemendo e suando de frio.
clímax, retira-se em favor do yang”.
Érico Veríssimo. O tempo e o Vento, “O Continente”, 1956.

b) Inicie por “A interação”.


“Na concepção chinesa, todas as manifesta- 2. (Fgv) Observe o emprego da vírgula nas
ções do tao são geradas pela interação dinâ- passagens destacadas a seguir e responda ao
mica desses dois polos arquetípicos.” que se pede.

c) Proponha uma nova pontuação para o trecho - “Foi em 86 mesmo ou no ano seguinte que
abaixo, substituindo apenas o sinal de ponto nasceu Rosa, a primeira filha de Antônio e
e vírgula e os travessões. Eulália?” (3º parágrafo)
“A principal característica do tao é a natu- - “E era assim que o tempo se arrastava, o sol
reza cíclica de seu movimento incessante; a nascia e se sumia, a lua passava por todas as
natureza, em todos os seus aspectos – tanto fases, as estações iam e vinham, deixando
os do mundo físico quanto os dos domínios sua marca nas árvores, na terra, nas coisas e
psicológico e social –, exibe padrões cícli- nas pessoas.” (4º parágrafo)
cos.”
a) O que justifica o emprego da vírgula na pas-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: sagem do 3º parágrafo?
Leia o texto para responder à(s) questão(ões) b) Que diferença há nas duas construções do 4º
a seguir. parágrafo para explicar o emprego das vírgu-
Muitos anos mais tarde, Ana Terra costu- las?
mava sentar-se na frente de sua casa para
pensar no passado. E no pensamento como 3. (Fgv) Leia o texto.
que ouvia o vento de outros tempos e sentia
Amorim, pede pra sair
o tempo passar, escutava vozes, via caras e
lembrava-se de coisas... O ano de 81 trouxera O fracasso das negociações comerciais de
um acontecimento triste para o velho Mane- Doha ecoa a falência verbal que levou o mi-
co: Horácio deixara a fazenda, a contragosto nistro das Relações Exteriores, Celso Amo-
do pai, e fora para o Rio Pardo, onde se casa- rim, a entrar nas reuniões com o pé esquerdo
ra com a filha dum tanoeiro e se estabelecera e a sair delas com a autoridade destroçada
com uma pequena venda. Em compensação por duas declarações de natureza intrinseca-
nesse mesmo ano Antônio casou-se com Eu- mente perversa.
lália Moura, filha dum colono açoriano dos
("Veja", 06.08.2008)
arredores do Rio Pardo, e trouxe a mulher
para a estância, indo ambos viver num puxa- a) Explique o título do texto, associando-o às
do que tinham feito no rancho. informações apresentadas.
Em 85 uma nuvem de gafanhotos desceu so- b) Se fosse retirada a vírgula do título do tex-
bre a lavoura deitando a perder toda a co- to, haveria alteração de sentido? Justifique
lheita. Em 86, quando Pedrinho se aproxi- a sua resposta.
mava dos oito anos, uma peste atacou o gado
e um raio matou um dos escravos.
Foi em 86 mesmo ou no ano seguinte que

72
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Amelinha - (Que vai aderindo, qual partici-
passe de um jogo...) 4Um ruído terrível...
PRIMEIRO ATO Benedito - Ah, eu imagino! (T.) 26E o seu de-
sespero? Hem, moça?
Amelinha - (Virando-se para a mãe) 6Ed-
Amelinha - Ah, como eu sofri dentro do ca-
mundo está inocente. Sem culpa.
minhão...
Valdelice - (Fazendo-a calar) Não repita
Valdelice - (Surpresa, à filha) Você nunca me
30
essa asneira. (Pausa) 13Temos de pressioná-
falou antes em caminhão. Que carro é esse?
-lo, minha filha. 14Você não tem idade para
Amelinha - (Indiferente) O caminhão, mãe...
perceber a ruindade dos homens. Você foi
Caminhão Ford.
12
se-du-zi-da.
[...]
Amelinha - (Sentando-se) 3Seduzida?! Mas
Benedito - 25E depois? Hem? Depois?
eu sei que não é verdade!
Amelinha - (Enlevada, mais fantasiosa) Ele
Valdelice - A história tem de ser diferente...
me apertava em seus braços fortes, sem mais
Trate de se convencer 31disso.
querer me soltar. (Tom) Meu Deus, era bom,
[...]
mas eu sofria. (Pausa) Eu me sentia tonta,
Amelinha - 9Não me sinto bem em dizer o
desfalecida, principalmente pelo som infer-
que não fiz...
nal dos botijões... E por cima de tudo, eu ti-
Agente - Aprenda 21a primeira lição: 2às ve-
nha medo de morrer.
zes a verdade não é a que se conhece, mas
Benedito - (Animando-a) Mais, mais, vai
a outra... (Pausa) É ir por mim. (Notando o
para a primeira página.
laço de fita da moça) Pra que este laço?
Amelinha - Paramos num lugar distante,
Amelinha - Foi ideia da mamãe.
como se diz mesmo? ... ermo... (Pausa) Onde
Valdelice - Não a quero desgraciosa diante da
era? Onde? Ainda hoje me pergunto, sem
autoridade.
resposta... (Pausa. T.) Nem sei direito. 23Mas
Agente - (Compenetrado) Nada de 1lacinho
sei que havia uma árvore muito frondosa, e
de fita! Você não é anjo de procissão. (Tom)
tinha um rio largo, perto... e... acho que ha-
Quem perde a honra não se interessa por en-
via também uma cabana. Um velho pescador
feite. (Ríspido) 15Tire-o.
estava sentado, longe, longe, numa pedra...
Amelinha - (Indecisa) 10Mas eu... eu...
Valdelice - 17Minha filha, você está descre-
Agente - (Arrebata-lhe o laço) Bobagem!
vendo o calendário da sala de jantar!
(Pausa). 22Retire também 35o ruge, o batom...
[...]
28
Tenho de prepará-la para impressionar o
Benedito - E depois, e depois?
delegado, o juiz, todo mundo. Do contrário,
Amelinha - 7Ele começou a puxar o zíper do
ninguém defenderá você. (Tom) Assanhe os
meu vestido.
cabelos.
Valdelice - 18Mas você não tem vestido de zí-
SEGUNDO ATO per!!!
Benedito - Vá contando, me agrada! É maté-
Benedito - 29(À Amelinha, que continua as- ria de primeira página.
sustada, mas impressionada com a situação Amelinha - 8Por fim, rasgou minha combina-
que vive). Então, você acabou sendo enga- ção de "nylon".
nada? (Ela aquiesce) 11Levou-a no caminhão Valdelice - "Nylon"?! Você nunca usou 32isso!
da entrega sistemática, não foi? (Ela confir- [...]
ma) Vá ver que era um caminhão Ford. (Ao Valdelice - (Como se tudo fosse um sonho)
Permanente) Ford! A influência nefasta do Agora que você está mais calma, me diga
capitalismo internacional! (Pausa) E os boti- mesmo como é a história do caminhão, dos
jões? Balançavam? Sacudiam? (Pausa) Esta- botijões vazios... Onde você conseguiu 33tudo
vam cheios... ou vazios? isso?
Amelinha - (Num sopro) Vazios... Amelinha - E eu sei, mamãe?! 27Simpatizei
Benedito - (Eufórico) Vazio! (Pausa, em com o moço, e dei de imaginar tudo. (Pausa.
explosão) Vibravam, não? (Dramatizando) T) Será que o meu retrato vai sair bonito no
Imagino como não eram ruidosos! (T) Táti- jornal?
ca de cinema americano, "noir", de péssima [...]
qualidade. (Pausa) E o carro? Corria veloz? E Edmundo - (Principia a falar com indecisão,
você, gritava? procurando achar as palavras) 24Amelinha,
Amelinha - (Voz débil, a confirmar) Gritava. eu... queria que você compreendesse... Por
[...] favor, 16conte ao Delegado o que em verdade
Benedito - (A Amelinha) Então estavam va- se passou 19entre nós dois... Sei que você é
zios os botijões (Ela concorda) Vazios... E o direita... (Pausa) Fale.
carro corria, em disparada, não? (Ela aquies- Amelinha - (Em tom indefinido, como se na
ce) E fazia aquele ruído... verdade vivesse outro personagem) 5Será

73
que você já esqueceu?
Edmundo - Esqueceu o quê? Não compreen- E.O. Objetivas (Unesp,
do.
Amelinha - Oh, Edmundo... Vocês, homens, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
esquecem tão ligeiro! TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Edmundo - 20Mas não esqueci nada! Lembro Leia o trecho extraído do artigo “Cosmolo-
que você me chamou à sua casa. E me abraça- gia, 100”, de Antonio Augusto Passos Videi-
va, me queria... E eu então não pude resistir. ra e Cássio Leite Vieira, para responder à(s)
[...] questão(ões) a seguir.
Amelinha - Oh, ao menos hoje, não seja cí-
nico! O caminhão, os botijões vazios! Vamos, “Vou conduzir o leitor por uma estrada que
não diga que não se lembra! Você me carre- eu mesmo percorri, árdua e sinuosa.” A frase
gou, eu não queria... Me convidou para ver – que tem algo da essência do hoje clássico
os enfeites da boleia, e, de repente, acionou A estrada não percorrida (1916), do poeta
o motor, partiu veloz. Ah. Foi quando eu gri- norte-americano Robert Frost (1874-1963)
tei, gritei: 34Não faça isso. Edmundo! Pare! – está em um artigo científico publicado há
Pare! E você correndo, nem me deu atenção! cem anos, cujo teor constitui um marco his-
Edmundo - (Ao Delegado) Isso não! Ao me- tórico da civilização.
nos a verdade! Pela primeira vez, cerca de 50 mil anos de-
CAMPOS, Eduardo. A donzela desprezada. In:________. Três pois de o Homo sapiens deixar uma mão com
peças escolhidas. Fortaleza: Edições UFC, 2007, p.187-221. tinta estampada em uma pedra, a humanida-
de era capaz de descrever matematicamente
a maior estrutura conhecida: o Universo. A
4. (Ufc) Dentre algumas funções, A VÍRGULA é façanha intelectual levava as digitais de Al-
empregada para separar: bert Einstein (1879-1955).
Ao terminar aquele artigo de 1917, o físico
(1) Vocativo;
de origem alemã escreveu a um colega di-
(2) Repetições;
zendo que o que produzira o habilitaria a
(3) Termos coordenados;
ser “internado em um hospício”. Mais tarde,
(4) Oração adjetiva de valor explicativo;
referiu-se ao arcabouço teórico que havia
(5) Orações coordenadas aditivas proferidas com
construído como um “castelo alto no ar”.
pausa.
O Universo que saltou dos cálculos de Eins-
Observe, nas passagens do texto transcritas tein tinha três características básicas: era fi-
a seguir, o emprego das vírgulas, identifique nito, sem fronteiras e estático – o derradeiro
a razão pela qual foram utilizadas e, em se- traço alimentaria debates e traria arrependi-
guida, de acordo com o código apresentado, mento a Einstein nas décadas seguintes.
preencha os parênteses, estabelecendo a cor- Em “Considerações Cosmológicas na Teoria
relação adequada entre o uso e a regra. da Relatividade Geral”, publicado em feve-
1. ( ) "E depois, e depois?" (ref. 25). reiro de 1917 nos Anais da Academia Real
2. ( ) "E o seu desespero? Hem, moça?" (ref. Prussiana de Ciências, o cientista construiu
26). (de modo muito visual) seu castelo usando
3. ( ) "Temos de pressioná-lo, minha filha" as ferramentas que ele havia forjado pouco
(ref. 13). antes: a teoria da relatividade geral, finali-
4. ( ) "Simpatizei com o moço, e dei de imagi- zada em 1915, esquema teórico já classifica-
nar tudo" (ref. 27). do como a maior contribuição intelectual de
5. ( ) "Tenho de prepará-la para impressionar uma só pessoa à cultura humana.
o delegado, o juiz, todo mundo" (ref. 28). Esse bloco matemático impenetrável (mesmo
6. ( ) "(À Amelinha, que continua assusta- para físicos) nada mais é do que uma teoria
da, mas impressionada com a situação que que explica os fenômenos gravitacionais. Por
vive.)" (ref. 29). exemplo, por que a Terra gira em torno do
Sol ou por que um buraco negro devora avi-
5. (Ufc) A VÍRGULA também é empregada para damente luz e matéria.
isolar adjuntos adverbiais. Com base nesse Com a introdução da relatividade geral, a te-
conhecimento, transcreva, da fala de Bene- oria da gravitação do físico britânico Isaac
dito, uma frase em que a vírgula está em- Newton (1642-1727) passou a ser um caso
pregada para isolar um adjunto adverbial de específico da primeira, para situações em
modo. que massas são bem menores do que as das
estrelas e em que a velocidade dos corpos é
muito inferior à da luz no vácuo (300 mil
km/s).
Entre essas duas obras de respeito (de 1915

74
e de 1917), impressiona o fato de Einstein educação, isto é, pela cooperação voluntária,
ter achado tempo para escrever uma peque- mobilizada pela opinião pública esclarecida.
na joia, “Teoria da Relatividade Especial e Está claro que essa opinião pública terá de
Geral”, na qual populariza suas duas teo- ser formada à luz dos melhores conhecimen-
rias, incluindo a de 1905 (especial), na qual tos existentes e, assim, a pesquisa científi-
mostrara que, em certas condições, o espaço ca nos campos das ciências naturais e das
pode encurtar, e o tempo, dilatar. chamadas ciências sociais deverá se fazer a
Tamanho esforço intelectual e total entrega mais ampla, a mais vigorosa, a mais livre, e
ao raciocínio cobraram seu pedágio: Einstein a difusão desses conhecimentos, a mais com-
adoeceu, com problemas no fígado, icterícia pleta, a mais imparcial e em termos que os
e úlcera. Seguiu debilitado até o final daque- tornem acessíveis a todos.
la década. Anísio Teixeira, Educação é um direito. Adaptado.
Se deslocados de sua época, Einstein e sua
cosmologia podem ser facilmente vistos
como um ponto fora da reta. Porém, a his- 2. (Fuvest) Dos seguintes comentários linguís-
toriadora da ciência britânica Patricia Fara ticos sobre diferentes trechos do texto, o
lembra que aqueles eram tempos de “cos- único correto é:
mologias”, de visões globais sobre temas a) Os prefixos das palavras “imposição” e “im-
científicos. Ela cita, por exemplo, a teoria da parcial” têm o mesmo sentido.
deriva dos continentes, do geólogo alemão b) As palavras “postulado” e “crença” foram
Alfred Wegener (1880-1930), marcada por usadas no texto como sinônimas.
uma visão cosmológica da Terra. c) A norma-padrão condena o uso de “essa”,
Fara dá a entender que várias áreas da ci- no trecho “essa opinião”, pois, nesse caso, o
ência, naquele início de século, passaram a correto seria usar “esta”.
olhar seus objetos de pesquisa por meio de d) A vírgula empregada no trecho “e a difusão
um prisma mais amplo, buscando dados e hi- desses conhecimentos, a mais completa” in-
póteses em outros campos do conhecimento. dica que, aí, ocorre a elipse de um verbo.
Folha de S. Paulo, 01.01.2017. Adaptado.
e) O pronome sublinhado em “que os tornem”
tem como referente o substantivo “termos”.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


1. (Unesp) Emprega-se a vírgula para indicar,
Leia uma passagem do livro A vírgula, do fi-
às vezes, a elipse do verbo: “Ele sai agora:
lólogo Celso Pedro Luft (1921-1995).
eu, logo mais.”
Evanildo Bechara. Moderna gramática portu- A vírgula no vestibular de português
guesa, 2009. Adaptado.
“Mas, esta, não é suficiente.”
Verifica-se a ocorrência de vírgula para in- “Porque, as respostas, não satisfazem.”
dicar a elipse do verbo no seguinte trecho: “E por isso, surgem as guerras.”
a) “Entre essas duas obras de respeito (de 1915 “E muitas vezes, ele não se adapta ao meio
e de 1917), impressiona o fato de Einstein em que vive.”
ter achado tempo para escrever uma peque- “Pois, o homem é um ser social.”
na joia [...]” (8º parágrafo) “Muitos porém, se esquecem que...”
b) “[...] em certas condições, o espaço pode “A sociedade deve pois, lutar pela justiça so-
encurtar, e o tempo, dilatar.” (8º parágrafo) cial.”
c) “[...] a teoria da relatividade geral, finali-
zada em 1915, esquema teórico já classifi- Que é que você acha de quem vírgula assim?
cado como a maior contribuição intelectual
Você vai dizer que não aprendeu nada de
de uma só pessoa à cultura humana.” (5º pontuação quem semeia assim as vírgulas.
parágrafo) Nem poderá dizer outra coisa.
d) “[...] Einstein adoeceu, com problemas no
fígado, icterícia e úlcera.” (9º parágrafo) Ou não lhe ensinaram, ou ensinaram e ele
e) “Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos não aprendeu. O certo é que ele se formou no
continentes, do geólogo alemão Alfred We- curso secundário. Lepidamente, sem maio-
gener [...]” (10º parágrafo) res dificuldades. Mas a vírgula é um “objeto
não identificado”, para ele.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
A essência da teoria democrática é a supres- Para ele? Para eles. Para muitos eles, uma
são de qualquer imposição de classe, funda- legião. Amanhã serão doutores, e a vírgula
da no postulado ou na crença de que os con- continuará sendo um objeto não identifica-
flitos e problemas humanos — econômicos, do. Sim, porque os três ou quatro mil menos
políticos, ou sociais — são solucionáveis pela fracos ultrapassam o vestíbulo... Com vírgula

75
ou sem vírgula. Que a vírgula, convenhamos, As frases em que o problema de virgulação
até que é um obstáculo meio frágil, um ris- foi resolvido adequadamente estão contidas
quinho. Objeto não identificado? Não, objeto apenas em:
invisível a olho nu. Pode passar despercebi-
a) I e II.
do até a muito olho de lince de examinador...
b) I e III.
— A vírgula, ora, direis, a vírgula... c) I, II e III.
d) I, II e IV.
Mas é justamente essa miúda coisa, esse ris- e) II, III e IV.
quinho, que maior informação nos dá sobre
as qualidades do ensino da língua escrita. 4. (Fuvest) Em qual destas frases a vírgula foi
Sobre o ensino do cerne mesmo da língua: empregada para marcar a omissão do verbo?
a frase, sua estrutura, composição e decom- a) Ter um apartamento no térreo é ter as van-
posição. tagens de uma casa, além de poder desfrutar
de um jardim.
Da virgulação é que se pode depreender a b) Compre sem susto: a loja é virtual; os direi-
consciência, o grau de consciência que tem, tos, reais.
quem escreve, do pensamento e de sua ex- c) Para quem não conhece o mercado financei-
pressão, do ir-e-vir do raciocínio, das hesi- ro, procuramos usar uma linguagem livre do
tações, das interpenetrações de ideias, das economês.
sequências e interdependências, e, linguisti- d) A sensação é de estar perdido: você não vai
camente, da frase e sua constituição. encontrar ninguém no Jalapão, mas vai ver
a natureza intocada.
As vírgulas erradas, ao contrário, retratam a
e) Esta é a informação mais importante para a
confusão mental, a indisciplina do espírito,
preservação da água: sabendo usar, não vai
o mau domínio das ideias e do fraseado.
faltar.
Na minha carreira de professor, fiz muitos
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
testes de pontuação. E sempre ficou clara a
Leia o excerto do “Sermão do bom ladrão”,
relação entre a maneira de pontuar e o grau
de Antônio Vieira (1608-1697), para res-
de cociente intelectual.
ponder à(s) questão(ões) a seguir.
Conclusão que tirei: os exercícios de pontua-
Navegava Alexandre [Magno] em uma pode-
ção constituem um excelente treino para de-
rosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a
senvolver a capacidade de raciocinar e cons-
Índia; e como fosse trazido à sua presença
truir frases lógicas e equilibradas.
um pirata, que por ali andava roubando os
Quem ensina ou estuda a sintaxe — que é pescadores, repreendeu-o muito Alexandre
a teoria da frase (ou o “tratado da constru- de andar em tão mau ofício; porém ele, que
ção”, como diziam os gramáticos antigos) não era medroso nem lerdo, respondeu as-
— forçosamente acaba na importância das sim: “Basta, Senhor, que eu, porque roubo
pausas, cortes, incidências, nexos, etc., ele- em uma barca, sou ladrão, e vós, porque rou-
mentos que vão se espelhar na pontuação, bais em uma armada, sois imperador?”. As-
quando a mensagem é escrita. sim é. O roubar pouco é culpa, o roubar mui-
to é grandeza: o roubar com pouco poder faz
Pontuar bem é ter visão clara da estrutura os piratas, o roubar com muito, os Alexan-
do pensamento e da frase. Pontuar bem é go- dres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir
vernar as rédeas da frase. Pontuar bem é ter as qualidades, e interpretar as significações,
ordem, no pensar e na expressão. a uns e outros, definiu com o mesmo nome:
[...] Se o rei de Macedônia, ou qualquer ou-
3. (Unesp) As frases abaixo correspondem a tro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o la-
tentativas de corrigir o erro de virgulação drão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo
apontado por Celso Pedro Luft na série de lugar, e merecem o mesmo nome.
exemplos que apresenta. Quando li isto em Sêneca, não me admirei
tanto de que um filósofo estoico se atrevesse
I. “Porque as respostas não satisfazem.” a escrever uma tal sentença em Roma, rei-
II. “E, muitas vezes, ele não se adapta ao nando nela Nero; o que mais me admirou, e
meio em que vive.” quase envergonhou, foi que os nossos ora-
III. “Pois o homem é, um ser social.” dores evangélicos em tempo de príncipes
IV. “A sociedade deve, pois, lutar pela justiça católicos, ou para a emenda, ou para a cau-
social.” tela, não preguem a mesma doutrina. Sai-
bam estes eloquentes mudos que mais ofen-
dem os reis com o que calam que com o que

76
disserem; porque a confiança com que isto
se diz é sinal que lhes não toca, e que se não Gabarito
podem ofender; e a cautela com que se cala é
argumento de que se ofenderão, porque lhes
pode tocar. [...]
Suponho, finalmente, que os ladrões de que
E.O. Aprendizagem
falo não são aqueles miseráveis, a quem a 1. E 2. D 3. C 4. B 5. B
pobreza e vileza de sua fortuna condenou a
6. C 7. B 8. B 9. B 10. A
este gênero de vida, porque a mesma sua mi-
séria ou escusa ou alivia o seu pecado [...].
O ladrão que furta para comer não vai nem
leva ao Inferno: os que não só vão, mas le- E.O. Fixação
vam, de que eu trato, são os ladrões de maior 1. B 2. A 3. D 4. D 5. B
calibre e de mais alta esfera [...]. Não são
só ladrões, diz o santo [São Basílio Magno], 6. D 7. E 8. E 9. A 10. A
os que cortam bolsas, ou espreitam os que
se vão banhar, para lhes colher a roupa; os
ladrões que mais própria e dignamente me-
recem este título são aqueles a quem os reis
E.O. Complementar
encomendam os exércitos e legiões, ou o go- 1. D 2. D 3. A 4. D 5. E
verno das províncias, ou a administração das
cidades, os quais já com manha, já com for-
ça, roubam e despojam os povos. Os outros E.O. Dissertativo
ladrões roubam um homem, estes roubam 1.
cidades e reinos: os outros furtam debaixo a) Considerando que o gerúndio está no ver-
do seu risco, estes sem temor, nem perigo: bo “tendo” que aparece duas vezes no pe-
os outros, se furtam, são enforcados: estes ríodo, a reescrita ficaria: “Quando yang
furtam e enforcam. atinge seu clímax, retira-se em favor do
(Essencial, 2011.)
yin; quando o yin atinge o seu clímax,
retira-se em favor do yang” ou “A partir
do momento em que o yang atinge seu
5. (Unesp) Verifica-se o emprego de vírgula clímax, retira-se em favor do yin; a partir
para indicar a elipse (supressão) do verbo do momento em que o yin atinge seu clí-
em: max, retira-se em favor do yang”.
a) “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em b) Considerando que “a interação dinâmi-
uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais ca entre os dois polos arquetípicos” é o
em uma armada, sois imperador?” (1º pará- agente do período na voz passiva, ao pas-
grafo) sar esse termo para o início da oração,
b) “O ladrão que furta para comer não vai nem pode-se formar um período na voz ativa,
leva ao Inferno: os que não só vão, mas tornando o agente da passiva agora sujei-
levam, de que eu trato, são os ladrões de to da ativa: “A interação dinâmica desses
maior calibre e de mais alta esfera [...].” (3º dois polos arquetípicos gera todas as ma-
parágrafo) nifestações do tao na concepção chinesa”.
c) “O roubar pouco é culpa, o roubar muito é c) O ponto e vírgula pode ser substituído por
grandeza: o roubar com pouco poder faz os um ponto final, indicando o fim de uma
piratas, o roubar com muito, os Alexandres.” ideia e início de outra, agora em novo
(1º parágrafo) período. Os travessões cumprem a função
d) “Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, de agregar uma informação, assim como
fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, os parênteses. Dessa forma, pode-se rees-
o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e crever assim: “A principal característica
merecem o mesmo nome.” (1º parágrafo) do tao é a natureza cíclica de seu movi-
e) “Os outros ladrões roubam um homem, estes mento incessante. A natureza, em todos
roubam cidades e reinos: os outros furtam os seus aspectos (tanto os do mundo físi-
debaixo do seu risco, estes sem temor, nem co quanto os dos domínios psicológico e
perigo: os outros, se furtam, são enforcados: social), exibe padrões cíclicos.
estes furtam e enforcam.” (3º parágrafo)

77
2.
a) No 3º parágrafo, ocorre um aposto: a
E.O. Objetivas (Unesp,
expressão “a primeira filha de Antônio Fuvest, Unicamp e Unifesp)
e Eulália” explica o termo antecedente 1. B 2. D 3. D 4. B 5. C
(“Rosa”), daí a obrigatoriedade do em-
prego da vírgula.
b) No 4º parágrafo, o primeiro trecho é for-
mado por um encadeamento de orações
coordenadas, com elementos que indicam
o modo pelo qual “o tempo se arrastava”:
por intermédio de uma gradação, “o sol
nascia e se sumia”, “a lua passava por to-
das as fases” e, de forma mais ampla, “as
estações iam e vinham”.
Já o segundo trecho é um encadeamento
de termos com mesma função sintática,
uma série de adjuntos adverbiais.

3.
a) O título do texto remete ao filme "Tropa
de Elite", que foi um fenômeno de popu-
laridade em 2007.
No filme, sempre que o personagem Capi-
tão Nascimento queria tirar do seu gru-
po um integrante incompetente, gritava:
"Pede pra sair!". Sugere-se, dessa forma,
a incompetência do mencionado minis-
tro, que teria demonstrado inépcia ao fa-
zer declarações que teriam comprometido
sua autoridade nas negociações de Doha.
b) Sim, pois, da maneira como o título foi
apresentado, entende-se uma exortação
para que Celso Amorim peça para sair -
das negociações de Doha ou do Ministé-
rio. Sem usar a vírgula, o verbo deixaria
de estar no imperativo (pede, segunda
pessoa do singular) e passaria a ser uma
forma do presente do indicativo (tercei-
ra pessoa do singular); Amorim, por sua
vez, deixaria de ser um vocativo e passa-
ria a sujeito de pede. Assim, a frase dei-
xaria de ser exortativa e passaria a ser
declarativa.

4.
(2) - (1) - (1) - (5) - (3) - (4).

5.
"E o carro corria, em disparada, não?"

78
2 6 Pontuação II

Competências Habilidades
1, 6 e 8 1, 2, 3, 4, 18, 27
e 29

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
E.O. Aprendizagem as decisões financeiras, concentrando-se no
impacto limitado de cada decisão e não no
seu efeito mais geral. Ele também mostrou
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: como a aversão a uma perda pode explicar
Leia o texto para responder à(s) questão(ões) por que as pessoas valorizam muito mais o
a seguir. mesmo item quando são proprietárias do
ECONOMIA COMPORTAMENTAL LEVA O NOBEL que quando não o são, fenômeno chamado
“efeito de doação”.
Norte-americano Richard H. Thaler diz que As teorias de Thaler explicam, ainda, porque
‘para fazer uma boa análise em economia as resoluções de ano-novo podem ser difí-
deve-se ter em mente que as pessoas são hu- ceis de se manter e analisam a tensão entre
manas’ o planejamento de longo prazo e a ação no
curto prazo. Sucumbir à tentação de cur-
Richard H. Thaler recebeu o Prêmio Nobel de to prazo é uma razão importante pela qual
Economia pelas suas contribuições no campo muitas pessoas fracassam em seus planos de
da economia comportamental. O professor poupar para quando forem idosas, ou fazer
Thaler, nascido em 1945, em East Orange, escolhas de estilo de vida mais saudáveis, de
New Jersey (EUA), trabalha na Faculdade acordo com a pesquisa de Thaler. Ele também
de Administração da Universidade Booth demonstrou o quanto mudanças aparente-
de Chicago. Segundo o comitê do Nobel, ao mente pequenas na forma como os sistemas
anunciar o prêmio em Estocolmo, Thaler é funcionam, ou como um “empurrãozinho”
pioneiro na aplicação da psicologia ao com- (“nudging”) – termo que ele inventou –
portamento em economia e em explicar como pode ajudar as pessoas a exercer melhor o
as pessoas tomam decisões econômicas, às autocontrole quando, por exemplo, estão
vezes, rejeitando a racionalidade. economizando para a aposentadoria.
Sua pesquisa, disse o comitê, levou o campo O professor Thaler teve uma rápida parti-
comportamental em economia, de um papel cipação no filme A Grande Aposta, ao lado
secundário, para a corrente principal da pes- da atriz e cantora Selena Gomez, no qual ele
quisa acadêmica e mostrou que o fator tinha usou a economia comportamental para aju-
importantes implicações para a política eco- dar a explicar as causas da crise financeira.
nômica. Quando perguntaram a ele sobre sua “curta
Thaler disse, nesta segunda-feira, 9, que a carreira em Hollywood”, brincou se dizen-
premissa básica de suas teorias é a seguinte: do desapontado pelo fato de suas façanhas
“Para fazer uma boa análise em economia como ator não terem sido mencionadas no
deve-se ter em mente que as pessoas são hu- resumo de suas realizações quando o prêmio
manas”. Quando lhe perguntaram como gas- foi anunciado.
taria o dinheiro (cerca de US$ 1,1 milhão) Por que o trabalho de Thaler foi importante?
do prêmio, respondeu: “Esta é uma pergun- Seu trabalho forçou os economistas a lida-
ta bem divertida”. E acrescentou: “Tentarei rem com as limitações da análise tradicional
gastá-lo da forma mais irracional possível” com base no pressuposto de que as pessoas
O prêmio de Economia foi criado em 1968 são atores racionais. Ele também tem sido
em memória de Alfred Nobel e é concedido excepcionalmente bem-sucedido ao influen-
pela Academia Real de Ciências da Suécia. ciar diretamente políticas públicas. Uma
As linhas principais de estudos econômicos das contribuições mais importantes é a sua
em grande parte do século 20 basearam-se influência sobre a mudança dos planos de
na hipótese simplificada de que as pessoas aposentadoria nos quais os funcionários se
se comportavam racionalmente. Os econo- inscrevem automaticamente e nas apólices
mistas entendiam que isso não era literal- que oferecem aos funcionários a opção de
mente real, mas argumentaram que estava aumentar as contribuições ao longo do tem-
bem próximo disso. po. Ambos refletem a visão de Thaler de que
O professor Thaler desempenhou um papel a inércia pode ser usada para moldar resul-
central ao se distanciar desse pressuposto. tados benéficos sem impor limites à escolha
Ele não só defendeu que os seres humanos humana.
são irracionais, o que é algo óbvio, mas tam- APPELBAUM, Binyamin. Disponível em: <http://
bém de pouca ajuda. Em vez disso, ele mos- economia.estadao.com.br/noticias/geral,nobel-
de-economia-2017-vai-para-um-dos-fundadores-
trou que as pessoas saem da racionalidade da-economia-comportamental,7000203479>.
de maneiras coerentes, portanto seu com- Acesso em: 11 out. 2017. Adaptado.
portamento ainda pode ser antecipado.
O comitê do Nobel descreveu como a teoria
de Thaler sobre “contabilidade mental” ex-
plica de que forma as pessoas simplificam

81
1. (G1 - ifpe 2018) As aspas são amplamente importantes. Quem guardará o sigilo? Ou não
utilizadas no texto, mas não pelas mesmas haverá sigilo? O sigilo médico será mantido
razões. Analise o uso das aspas nas passa- ou valerá o direito público à informação?
gens abaixo e assinale o caso em que tal uso Os conflitos serão reinventados ou serão os
indica ironia. mesmos? A solução para os problemas será a
a) Thaler disse [...] que a premissa básica de de sempre?”, indagou.
suas teorias é a seguinte: “Para fazer uma Ética – Na perspectiva do médico legista e
boa análise em economia deve-se ter em professor da Universidade de Brasília (UnB),
mente que as pessoas são humanas”. (3º pa- Malthus Galvão, embora acredite que algu-
rágrafo). mas mudanças serão inevitáveis e necessá-
b) Quando lhe perguntaram como gastaria o di- rias, é preciso defender os princípios fun-
nheiro (cerca de US$ 1,1 milhão) do prêmio, damentais instituídos pelo Código de ética
respondeu: “Esta é uma pergunta bem diver- médica (CEM).
tida”. (3º parágrafo). “As novas mídias devem ser entendidas
c) Quando perguntaram a ele sobre sua “curta como um sistema de interação social, de
carreira em Hollywood”, brincou se dizen- compartilhamento e criação colaborativa
do desapontado pelo fato de suas façanhas de informação nos mais diversos formatos
como ator não terem sido mencionadas no e não podemos perder essa oportunidade”,
resumo de suas realizações quando o prêmio destacou. Ele lembra, por exemplo, que des-
foi anunciado. (9º parágrafo). de a Resolução CFM 1.643/2002, que define
d) [...] (“nudging”) – termo que ele inventou e disciplina a prestação de serviços através
– pode ajudar as pessoas a exercer melhor da telemedicina, alguns avanços colaborati-
o autocontrole quando, por exemplo, estão vos já foram possíveis.
economizando para a aposentadoria. (8º pa- Galvão apresentou ainda preceitos da Re-
rágrafo). solução CFM 1.974/2011 e também da Lei
e) O comitê do Nobel descreveu como a teoria do Ato Médico (12.842/2013), chamando a
de Thaler sobre “contabilidade mental” ex- atenção para alguns cuidados que o médico
plica de que forma as pessoas simplificam deve ter ao divulgar conteúdo de forma sen-
as decisões financeiras, concentrando-se no sacionalista. “Segundo o CEM, é vedada a di-
impacto limitado de cada decisão e não no
vulgação de informação sobre assunto médi-
seu efeito mais geral. (7º parágrafo).
co de forma sensacionalista, promocional ou
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: de conteúdo inverídico. A internet deve ser
Era digital desafia exercício profissional usada como um instrumento de promoção da
saúde e orientação à população”, reforçou.
“A medicina não sobreviverá ao velho mé-
Editorial do Jornal Medicina – Publicação oficial do Conselho
todo do médico de família, mas terá que se
Federal de Medicina (CFM). Brasília, jul. 2017, p. 7.
adaptar”. A afirmação é do desembargador
do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
Territórios (TJDFT), Diaulas Costa Ribeiro,
2. (Fac. Albert Einstein - Medicin 2018) No
proferida durante a mesa-redonda “Panora-
primeiro parágrafo do editorial do CFM, as
ma atual das mídias sociais e aplicativos na
aspas são empregadas, respectivamente,
medicina contemporânea”. Para ele, as novas
para demarcar
tecnologias trazem desafi os que precisam
a) críticas tanto ao Tribunal de Justiça quanto
ser colocados em perspectiva para garantir a
à mesa-redonda de Diaulas Costa Ribeiro.
ética e o sigilo.
“Possivelmente vamos chegar a uma medici- b) o dizer tal e qual foi proferido por Diaulas
na sem gosto, distanciada, mas que também Costa Ribeiro e o título da mesa-redonda.
funciona. Talvez este não seja o fim, mas um c) o velho método do médico de família e o es-
recomeço”, ponderou Ribeiro. Segundo ele, tado das mídias sociais na medicina atual.
antes de gerar um novo modelo de atendi- d) o uso de modernas tecnologias na medicina
mento médico, o “dr. Google” – termo que e a fala do desembargador do TJDFT.
utilizou para indicar as buscas por informa- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
ções médicas na internet – gerou um novo De Caetano a Guimarães Rosa, veja as refe-
tipo de paciente, que passou a conhecer mais rências de Cármen Lúcia
sobre as doenças e, por isso, exige um novo em seu discurso de posse
relacionamento com seu médico. POR LUMA POLETTI | 13/09/2016 10:00
O desembargador ainda reforçou a necessi-
dade de se rediscutir questões como o uso Ao longo de seu discurso de posse, a mi-
da internet nessa relação médico-paciente e nistra Cármen Lúcia, que assumiu a presi-
a segurança do sigilo médico neste cenário. dência do Supremo Tribunal Federal nesta
“Precisamos refletir sobre algumas questões segunda-feira (12), citou trechos de canções

82
de Caetano Veloso, Titãs, além de versos de lembrado por Cármen Lúcia. "Em tempos
Cecília Meirelles, Carlos Drummond de An- cujo nome é tumulto escrito em pedra, como
drade, Paulo Mendes Campos e fez menção a diria Drummond, os desafios são maiores.
Riobaldo, personagem de Grande Sertão: Ve- Ser difícil não significa ser impossível. De
redas, clássico de Guimarães Rosa e uma das resto, não acho que para o ser humano exis-
mais. A escolha das referências musicais da ta, na vida, o impossível", disse a ministra,
ministra dá pistas sobre sua visão acerca do em referência ao poema "Nosso tempo", do
atual momento sociopolítico. Citando o can- escritor mineiro.
tor e compositor Caetano Veloso, presente na A sucessora de Ricardo Lewandowski con-
sessão – que interpretou em voz e violão o cluiu o discurso citando um terceiro escritor
hino nacional – Cármen Lúcia concordou que mineiro: Paulo Mendes Campos. "O Judiciá-
"alguma coisa está fora da ordem". rio brasileiro sabe dos seus compromissos e
"Caetanos e não caetanos deste Brasil tão de suas responsabilidades. Em tempo de do-
plural concluem em uníssono: alguma coi- res multiplicadas, há que se multiplicarem
sa está fora de ordem, fora da nova ordem também as esperanças, à maneira da lição de
mundial", disse a ministra. "O que nos cum- Paulo Mendes Campos", disse Cármen Lúcia,
pre, a nós servidores públicos em especial, é em referência "Poema Didático", de Paulo
questionar e achar resposta: de qual ordem Mendes Campos.
está tudo fora...", acrescentou. Disponível em: http://congressoemfoco.uol.com.br/
O cantor já se posicionou contra o governo noticias/de-caetano-a-guimaraes-rosa-vejaas-referencias-
de-carmen-lucia-em-seu-discurso-de-posse/.
do presidente Michel Temer, nos bastidores
da cerimônia de abertura das Olimpíadas de
Acesso em: 26 set.2016. [Adaptado]
2016.
A nova presidente do STF também citou a
música "Comida", da banda Titãs. "Cumpre-
3. (Pucsp) "Riobaldo afirmava que 'natureza
-nos dedicar-nos de forma intransigente e
da gente não cabe em nenhuma certeza'. Mas
integral a dar cobro ao que nos é determi-
parece-me que a natureza da gente não se
nado pela Constituição da República e que
aguenta em tantas incertezas. Especialmen-
de nós é esperado pelo cidadão brasileiro, o
te quando o incerto é a Justiça que se pede e
qual quer saúde, educação, trabalho, sossego
que se espera do Estado".
para andar em paz por ruas, estradas do país
e trilhas livres para poder sonhar além do Nesse trecho do terceiro parágrafo da parte
mais. Que, como na fala do poeta da música Versos, Luma Poletti emprega as aspas sim-
popular brasileira, ninguém quer só comida, ples dentro das aspas duplas para
quer também diversão e arte". a) identificar com as simples o texto de Guima-
Um dos compositores da canção citada é Ar- rães Rosa e as duplas a fala de Riobaldo.
naldo Antunes, que também se posicionou b) evidenciar com as simples o discurso de Cár-
contra o impeachment de Dilma Rousseff men Lúcia e com as duplas pensamento de
nas redes sociais. Riobaldo.
Versos c) assinalar com as simples o dizer de Riobaldo
Cármen Lúcia também citou versos da escri- e com as duplas o discurso da ministra.
tora Cecília Meireles, ao dizer que "liberdade d) indicar com as simples a natureza da gente e
é um sonho que o mundo inteiro alimenta" com as duplas o discurso de Cármen Lúcia.
– da obra Romanceiro da Inconfidência, lan-
çada em 1953. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
"Se, no verso de Cecília Meireles, a liberdade TEXTO DE REFERÊNCIA PARA A(S)
é um sonho, que o mundo inteiro alimenta, QUESTÃO(ÕES) SEGUINTE(S).
parece-me ser a Justiça um sentimento, que O que você faz com o seu tempo?
a humanidade inteira acalenta", discursou a
ministra. Estudo mostra que 35% dos brasileiros se di-
Mais adiante em seu discurso, Cármen Lúcia zem escravos das rotinas. Novas tecnologias
fez menção a um personagem do livro Gran- e acúmulo de tarefas dão a sensação de mais
de Sertão: Veredas, do escritor mineiro (tal velocidade. O estudo analisou, pela primeira
como a ministra) Guimarães Rosa. "Riobaldo vez, como os brasileiros fazem uso e como se
afirmava que 'natureza da gente não cabe em relacionam com o tempo, destacando dife-
nenhuma certeza'. Mas parece-me que a na- renças regionais e determinando perfis com
tureza da gente não se aguenta em tantas base nas entrevistas.
incertezas. Especialmente quando o incerto Foram identificados dois tipos de pessoas:
é a Justiça que se pede e que se espera do aquelas que se relacionam com o tempo ob-
Estado", disse a nova presidente do STF. servando a passagem na vida e outros que
Em seguida, outro escritor mineiro foi interagem diretamente com o cotidiano.

83
“A pessoa que se sente escrava é aquela que está sempre correndo atrás do tempo perdido. Geral-
mente, acumula muitas tarefas sem conseguir se planejar para a execução”, explica Silvia Cervelli-
ni, diretora executiva de negócios do Ibope Inteligência.
Mas o tempo está passando mais rápido hoje do que na época de nossos avós? O que mudou, diz
Lauro Luiz Samojeden, chefe do Departamento de Física da UFPR, é que, com a celeridade das in-
formações e o acúmulo de tarefas, a sensação é de que o tempo está passando com mais velocidade.
Foram as máquinas e as novas tecnologias que deram um novo ritmo ao uso do tempo pelos ho-
mens, explica o professor de Filosofia da PUCPR, Jelson Oliveira. Para ele, as máquinas surgiram
com a promessa de abreviar o tempo de produção, mas essa estratégia deu mais tempo para que
fossem acumuladas novas tarefas – a pesquisa mostra que 22% dos brasileiros dizem realizar ati-
vidades simultâneas, índice que na Região Sul é de 43,5%.
“A tecnologia abreviou o tempo, mas fez com que as pessoas estejam conectadas sempre, amplian-
do a sensação de mais tarefas e menos tempo. Esse novo ritmo está moldando as relações humanas,
incluindo nos relacionamentos uma desculpa pronta: a falta de tempo”, acrescenta Oliveira.
Fonte: Ibope Inteligência. Infografia: Fabiane Lima/Gazeta do Povo (acessado em 23.03.2014)

4. (G1 - utfpr) Em relação ao texto, considere as seguintes afirmativas sobre a pontuação:


I. No segundo parágrafo, os dois pontos (:) foram usados para introduzir uma explicação.
II. No terceiro parágrafo, as aspas são empregadas para indicar uma citação.
III. No quarto parágrafo, o ponto de interrogação pode ser substituído pelo ponto de exclamação
sem prejuízo para o sentido do texto.

Está(ão) correta(s) apenas:

a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

5. (G1 - cftrj) O recurso expressivo usado na tirinha está corretamente explicado na alternativa:
a) A gíria “joça” carrega valor apreciativo.
b) A onomatopeia “Primm! Primm!” reproduz o som da televisão ligada.
c) As reticências em “Perdi tudo...” reforçam a tristeza da personagem.
d) As exclamações em “Atende essa joça!!!” expressam euforia da personagem.

6. (Ufpr) Observe a pontuação do trecho a seguir:


Faz alguma diferença lavar a cabeça duas vezes como indicam as embalagens de xampu?
Não fique de cabelo em pé, mas você já deve ter gasto litros de produto à toa. Na prática, o que
importa é o tempo de permanência do xampu nos fios, e não a quantidade de aplicações. A ação
dos princípios ativos deve durar 3 minutos 1– o que também não depende da espuma, que apenas
dá a sensação de limpeza. Quando começou essa orientação 2(na década de 50), até havia uma
razão para repetir, já que não se lavava a cabeça com frequência. Só que os novos xampus são mais
eficientes e ninguém passa mais de uma semana sem usá-los 3(quer dizer, espero que você não
passe). (...)
(Galileu, jul. 2011, p. 21.)
Sobre a pontuação do trecho acima, considere as seguintes afirmativas:

84
1. Se substituíssemos o travessão (ref.1) Às 17h30, o texto voltou a ficar disponível,
por parênteses – fechados depois da pa- ao mesmo tempo em que era publicada re-
lavra “limpeza” – não haveria prejuízo de portagem que resumia as acusações da figu-
sentido nem de adequação à norma. rinista e ouvia o ator. Ele negava o que lhe
2. Os parênteses da referência 2 inserem havia sido imputado. A TV Globo dizia não
uma explicação ou especificação do que comentar assuntos internos, mas assegura-
foi dito. va que haveria apuração rigorosa, "ouvidos
3. Os parênteses da referência 3 são usados todos os envolvidos, em busca da verdade".
com intenção de fazer uma síntese do
que foi dito anteriormente. Houve mobilização de funcionárias da emis-
sora, que culminou em manifesto, cujo títu-
Assinale a alternativa correta. lo se tornaria emblemático em camisetas e
posts: "Mexeu com uma, mexeu com todas".
a) Somente a afirmativa 1 é verdadeira. Três dias depois do post original, a emissora
b) Somente a afirmativa 2 é verdadeira. divulgou a decisão de suspender José Mayer.
c) Somente a afirmativa 3 é verdadeira. Em carta, o ator assumiu ter errado e pediu
d) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadei- desculpas. Tropeçou ao resumir o episódio
ras. como "brincadeira" e tentar dividir sua cul-
e) As afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. pa com a geração de homens acima de 60
anos, como se fossem vítimas de uma cate-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
quese única e perversa.
A queda do poderoso machão
Paula Cesarino Costa A polêmica alcançou o topo das redes sociais,
OMBUDSMAN* da Folha de S.Paulo chegando a estar entre os dez assuntos mais
comentados do mundo no Twitter. A retira-
Folha de S.Paulo, 09/04/2017
da do ar do post pela Folha, sem explicação
Em janeiro de 2016, a Folha anunciou a es- imediata, mas deixando rastros digitais, ge-
treia de blog voltado à discussão das ques- rou reclamações e suscitou a elaboração de
tões de gênero e do chamado empoderamen- conjecturas:
to feminino. Nascido do movimento #Agora "Acredito que a Folha precisa explicar o que
É Que São Elas, em que mulheres ocuparam motivou a retirada. Se está compactuando
o espaço de colunistas homens nos jornais, o com uma operação abafa por parte da Globo
blog homônimo se somava a dezenas de ou- ou se apurou erros no relato", registrou um
tros. Interpretei como saudável a oferta de leitor. O editor-executivo da Folha, Sérgio
novos temas aos leitores do jornal. Dávila, diz que a Direção foi surpreendida
Neste espaço, já alertara de que os tempos de com o conteúdo e determinou sua retirada
redes sociais turbulentas sinalizavam a hora temporária até que o outro lado fosse ou-
de reinventar as páginas de opinião. Conta- vido. "Nesse intervalo, uma reportagem foi
bilizava, em agosto de 2016, 32 mulheres publicada para explicar o que havia aconte-
entre os 130 colunistas do jornal. cido. Não foi, portanto, sem qualquer expli-
cação", afirma.
Na madrugada da sexta, 31 de março, o
#Agora É Que São Elas publicou um post de Para Dávila, no caso concreto, não havia im-
potencial arrebatador nas redes sociais. O peditivo para que o procedimento-padrão de
post "José Mayer me assediou" foi coloca- ouvir o outro lado não fosse respeitado.
do no ar à 0h45. Nele, a figurinista Susllem
A Folha tem hoje 124 colunistas e 48 blo-
Tonani acusava o ator de tê-la assediado du- gs. Grande parte dos leitores não diferencia
rante oito meses na TV Globo. De manhã, o uns de outros. Mas, na estrutura interna do
texto já era lido e compartilhado nas redes jornal, blogueiros e colunistas são tratados
sociais. Por volta das 10h, a Folha tirou-o do de forma diferenciada. Todos os colunistas
ar sem dar explicação. são lidos por editores ou pelos secretários de
Cobrei do jornal, na crítica interna que cir- Redação antes que seus textos sejam publi-
cula em torno das 12h30, a obrigação de cados.
prestar satisfação ao leitor. Só às 14h22 foi Os blogs são acompanhados a posteriori,
publicada a justificativa para o sumiço do pela própria natureza de "diário" que a mo-
post: "O conteúdo foi retirado do ar porque dalidade comporta. Os autores cuidam dire-
desrespeitou o princípio editorial da Folha tamente da publicação dos textos.
de só publicar acusação após ouvir e regis-
trar os argumentos da parte acusada, salvo Argumenta Dávila que todos os que escre-
nos casos em que isso não for possível". vem na Folha, incluindo blogueiros, devem

85
submeter quaisquer acusações de prática ile- 7. (Pucsp) Indique em qual passagem as aspas
gal aos seus editores antes de publicá-las. são empregadas para assinalar o pronuncia-
mento do jornal:
É dever das titulares de um blog feminino e a) “José Mayer me assediou” [terceiro parágra-
feminista trazer a público, sabendo ser ver- fo]
dadeira, uma denúncia de prática machista. b) “O conteúdo foi retirado do ar porque des-
É dever do jornal trabalhar tal informação respeitou o princípio editorial da Folha de
e dar voz àquele que é acusado do que quer só publicar acusação após ouvir e registrar
que seja. os argumentos da parte acusada, salvo nos
casos em que isso não for possível” [quarto
O correto teria sido a publicação do texto ori-
parágrafo]
ginal no blog, com remissão simultânea para
c) (...) “ouvidos todos os envolvidos, em busca
reportagem produzida pelo corpo editorial
da verdade” [quinto parágrafo]
da Folha, submetida aos padrões exigidos
d) “Mexeu com uma, mexeu com todas” [sexto
pelo Manual de Redação de isenção, transpa-
parágrafo]
rência e equilíbrio. A retirada do ar explici-
tou falhas de comunicação e procedimento. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Um poderoso machão sucumbiu. Os tempos OGX poderá ficar com campos em caso de re-
são outros. Uma leitora, no entanto, lembrou cuperação
a ombudsman de que nesta semana a Ilus- “A OGX está bastante avisada que, em meio
trada ganhou três novos colunistas de hu- a tudo isso que ela está vivendo, ela tem
mor. Eles dividirão espaço com o consagrado que ter uma fiel observância ao contrato,
José Simão. Todos são homens. Também não tem que estar atenta para o cumprimento
há mulheres, por exemplo, no quadrado da das cláusulas contratuais”, afirmou Magda
charge da página 2 da Folha. Chambriard, diretora-geral da ANP.
Entre outras, as cláusulas abrangem forneci-
*Ombudsman é uma expressão de origem mento de garantias, realização dos planos de
sueca que significa "representante do ci- desenvolvimento, realização dos planos de
dadão". A palavra é formada pela união de avaliação, “enfim, todas as obrigações dos
"ombuds" (representante) e "man" (ho- contratos que ela tem, essa uma condição
mem). O termo surgiu em 1809, nos países ‘sine qua nom’”, completou Magda.
escandinavos, para designar um Ouvidor-Ge-
(Folha de SP, 17.10.2013)
ral do Parlamento, responsável em mediar e
tentar solucionar as reclamações da popula-
ção junto ao governo. 8. (Espm) Ainda se referindo à expressão
Hoje em dia, o ombudsman se transformou “sine qua nom”, o fato de haver no texto as-
em uma profissão presente em quase todas pas simples antes e aspas triplas depois se
as grandes e médias empresas, sejam pú- justifica por:
blicas ou privadas. A função do búds, como a) ocorrer uma transgressão gramatical (falha
também são conhecidos, é a de enxergar os do jornal).
problemas e pontos negativos de determina- b) tratar-se de uma expressão estrangeira no
da empresa ou instituição, a partir da ótica interior de uma citação.
do consumidor/cidadão, e tentar solucionar c) destacar uma expressão idiomática combina-
as crises de maneira imparcial. da com uma citação.
Dentro da imprensa, o ombudsman é o in- d) estar sendo empregado o sentido irônico da
termediador entre a editoria do jornal, por expressão.
exemplo, e seus leitores. Nos Estados Uni- e) tratar-se de um discurso direto dentro de
dos, a função de ombudsman surgiu nos anos uma citação.
1960. No Brasil, o cargo existe desde 1989,
quando o jornal Folha de S. Paulo publicou a TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
primeira editoria do seu ombudsman, que fi- Texto para a(s) questão(ões) a seguir
caria responsável em ser o porta-voz dos lei-
Eram tempos menos duros aqueles vividos
tores, solucionando e transmitindo as suas
na casa de Tia Vicentina, em Madureira, su-
reclamações para o jornal.
búrbio do Rio, onde Paulinho da Viola podia
Em muitas empresas o ombudsman é ligado
traçar, sem cerimônia, um prato de feijoada
ao departamento de Serviços Jurídicos.
- comilança que deu até samba, "No Pagode
Disponível em: https://www.significados.com.
br/ombudsman/. Acesso em: 13 maio 2017. do Vavá". Mas como não é dado a saudades
[Adaptado para fins de vestibular.] (lembre-se: é o passado que vive nele, não o
contrário), Paulinho aceitou de bom grado
a sugestão para que o jantar ocorresse em

86
um dos mais requintados italianos do Rio. A casos, ilustres: Rainha Elizabeth, Senador
escolha pela alta gastronomia tem seu preço. Kennedy, Gilberto Gil. Até mesmo Michael
Assim que o sambista chega à mesa redonda Jackson, quando gravou seu clipe na favela,
ao lado da porta da cozinha, forma-se um não permitiu a presença da mídia. A partir
círculo de garçons, com o maître à frente. de 2008, iniciou-se a era das celebridades e
[...] a exposição da favela para o mundo.
Paulinho conta que cresceu comendo o tri- Algumas perguntas, porém, precisam ser
vial. Seu pai viveu 88 anos à base de arroz, feitas e respondidas no momento em que o
feijão, bife e batata frita. De vez em quando, poder público pensa em investir nesse filão:
feijoada. Massa, também. "Mas nada muito o que é uma favela preparada para receber
sofisticado." turistas? Que 1“maquiagem” precisa ser
Com exceção de algumas dores de coluna, feita para que o turista se sinta bem? Que
aos 70 anos, goza de plena saúde. O músi- produtos os turistas querem encontrar ali?
co credita sua boa forma ao estilo de vida, O comércio local deve adaptar-se aos turistas
como se sabe, não dado a exageros e grandes ou servir aos moradores? Se o Morro não é
ansiedades. uma propriedade particular, se não tem um
T. Cardoso, Valor, 28/06/2013. Adaptado. dono, todo e cada morador tem o direito de
opinar sobre o que está se passando com o
seu lugar de moradia.
9. (Fgvrj) Considere estas afirmações sobre Essas e outras questões devem pautar o de-
elementos linguísticos presentes no texto: bate entre moradores e gestores públicos
I. O verbo “traçar” pertence a um registro sobre o turismo nas favelas pacificadas. Se
linguístico diverso do que predomina no os moradores não se organizarem e se não
texto. assumirem o protagonismo das ações de tu-
II. No trecho "um dos mais requintados ita- rismo e de entretenimento no Santa Marta,
lianos do Rio”, ocorre elipse de um subs- vamos assistir aos nativos — os de dentro
tantivo. — servindo de testa de ferro para empreen-
III. Com as aspas em "Mas nada muito sofis- dimentos e iniciativas dos de fora, às custas
ticado", o autor do texto imprime, a essa de uma identidade local que aos poucos vai
expressão, um tom irônico. perdendo suas características.
Tomar os princípios do turismo comunitário
Tendo em vista o contexto, está correto ape- — integridade das identidades locais, prota-
nas o que se afirma em gonismo e autonomia dos moradores — tal-
a) I. vez ajude-nos a encontrar estratégias para
b) II. receber os de fora sem sucumbir às regras
c) III. violentas de um turismo mercadológico.
d) I e II. Itamar Silva é Presidente do Grupo Eco — Santa Marta
e diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
e) II e III.
Econômicas (Ibase). Adaptado de: Jornal O Dia, 31/01/2013.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

TURISMO NA FAVELA: E OS MORADORES? 1


0. (G1 - cftrj) Quando escrevemos, dispomos,
Água morro abaixo, fogo morro acima e in- entre outros recursos, de vários sinais gráfi-
vasão de turistas em favelas pacificadas são cos: as aspas são exemplos disso. No texto,
difíceis de conter. Algo precisa ser feito para elas foram empregadas em “maquiagem”
que a positividade do momento não trans- (ref. 1) com a intenção de destacar que essa
forme esses lugares em comunidades “só pra palavra sofreu uma alteração de natureza:
inglês ver”. As favelas pacificadas tornaram- a) semântica.
-se alvo de uma volúpia consumidora poucas b) sintática.
vezes vista no Rio de Janeiro. O momento c) morfológica.
em que se instalaram as Unidades de Polícia d) fonética.
Pacificadora em algumas favelas foi como se
tivesse sido descoberto um novo sarcófago
de Tutankamon, o faraó egípcio: uma legião
de turistas, pesquisadores, empresários, co-
merciantes “descobriram” as favelas.
O Santa Marta, primeira favela a ter uma UPP
ao longo dos seus quase 80 anos, sempre re-
cebeu, na maioria das vezes de forma dis-
creta, visitantes estrangeiros. E, em alguns

87
E.O. Fixação brasileiras, e a mídia, certamente para obter
audiência e acesso, se não está endossando
diretamente, está sendo conivente com as
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: trapalhadas e enganações do 1estudante de
Psicologia Bruno Borges, de 25 anos.
A VOZ SUBTERRÂNEA 2
A Argentina tem Jorge Luis Borges. O Bra-
sil contenta-se com Bruno Borges, o 3pós-
Às vezes ouvia-se um canto surdo,
-adolescente fujão, que ficou desaparecido
que parecia vir debaixo da terra.
durante algum tempo, alegando que estava
Até que os homens da superfície,
em busca do conhecimento. (...) Suas ideias
para desvendar o mistério,
sobre filosofia e alquimia são lorota pura.
puseram-se a fazer escavações.
Ao desaparecer, 4o que o jovem estava bus-
Sim! eram os homens das minas,
cando? “Busquei o autoconhecimento. Na
que um desabamento ali havia aprisionado.
alquimia, dizemos que o operador procede
E ninguém suspeitava da sua existência, em busca da pedra filosofal”, afirma. O que
porque já haviam passado três ou quatro ge- isso quer dizer? Nada. 5É pura platitude, em-
rações! bromação. 6Qualquer livro primário discute o
Mas a luz forte das lanternas não os ofuscou: assunto de maneira mais densa.
eles estavam cegos Bruno Borges diz que está articulando um
– todos, homens, mulheres, crianças. projeto para mudar a vida das pessoas. Po-
Eles estavam cegos... e cantavam! rém, não explica o que é, exceto que se trata
QUINTANA, Mario. Baú de espantos. 1. ed. de “despertar para o mundo do conhecimen-
Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. to” e para a “investigação da verdade”. O po-
eta Goethe, 7que se considerava alquimista,
e o filósofo Nietzsche são precisos 8ao discu-
1. (Pucpr 2018) Os sinais de pontuação são
tir temas sobre os quais o estudante apenas
importantes elementos de expressividade
roça, possivelmente depois da leitura, não
em textos de caráter poético. Assim, em “A
de livros científicos, e sim de obras místicas
voz subterrânea”, é CORRETO afirmar que
– talvez de terceira categoria ou sem catego-
a) os pontos de exclamação nos versos 6 e 9
ria alguma.
têm a mesma finalidade, a saber, rechaçar
Questionado, Bruno Borges, o nosso Borges
a incredulidade do autor frente os eventos
“détraqué”, sustenta que seu projeto é “uma
apresentados.
missão”. O projeto e a missão, a rigor, não
b) os dois-pontos usados no verso 10 servem
são expostos de maneira cabal (anticientí-
para introduzir uma elucidação sobre a afir-
fico, ele avalia que não é preciso demons-
mação feita antes desse sinal, no mesmo
trar)9; eventualmente, o Menino do Acre
verso.
trata do tema de maneira elíptica, como se
c) o travessão do verso 12 introduz um diálogo
não soubesse do que está falando ou então
metafórico, por isso pode também ser enten- 10
estaria sonegando alguma coisa de caráter
dido como um elemento de realce.
seminal, que ainda não pode ser dita, sobre-
d) as reticências do verso 13 pervertem o mo-
tudo para os não iniciados.
mento de maior tensão do texto, criando um
Espécie de Policarpo Quaresma da filosofia,
paradoxo entre as duas orações do mesmo
vá lá, ou da alquimia, vá lá, Bruno Borges
verso.
sugere que está buscando “a verdade da
e) a vírgula do verso 6 possibilita a ordem in-
vida”. Entretanto, suas frases são ocas, as
direta da oração adjetiva do verso 7, pois in-
ideias são uma mistureba de frases de efeito
troduz uma explicação quando uma restrição
era esperada. e “conceitos” mal digeridos. (...) O que dizer
de um garoto que diz que conseguiu “lapidar
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: a pedra filosofal”? A única coisa que parece
A(s) questão(ões) a seguir refere(m)-se ao ter lapidado de verdade foi a paciência de
texto abaixo. jornalistas e de leitores e telespectadores e
sua própria cara de pau. (...) Ele fala em fé,
Menino do Acre talvez seja uma das maiores o que sugere que é, claro, um místico – e não
empulhações da história “mística” do Brasil um cientista precoce, ao estilo de Darwin e
O estudante de Psicologia de 25 anos é pro- Richard Dawkins. 11Mas certamente não che-
duto de uma grande jogada de marketing ga aos pés de Antônio Conselheiro e do Padre
que nem precisou de um Washington Olivet- Cícero.
to para criá-la Há místicos que buscam o autoconhecimento
durante anos e, às vezes, nada encontram.
O “Menino do Acre” talvez fique na histó- Pois o Menino do Acre, em apenas dois me-
ria como uma das grandes empulhações ses e sem pesquisas detidas e rigorosas,

88
alcançou seus objetivos, sua realização espi- a) As vírgulas que separam a oração “que se
ritual. Você leu certo: dois meses! 12O garoto considerava alquimista” (referência 7) jus-
deveria ser preparado pelos grandes labora- tificam-se porque evidenciam uma oração
tórios para 13“descobrir” um medicamento restritiva ligada ao nome Goethe que a ante-
que “cure” os pacientes que têm Aids. 14Se- cede.
ria um portento. É possível que, depois de b) No período “quem sabe, de Literatura – tal
quatro meses, o Menino do Acre poderia se o poder de sua imaginação” (referência 15),
candidatar ao Prêmio Nobel de Medicina ou, o sinal de travessão poderia ser substituído
15
quem sabe, de Literatura – tal o poder de por dois-pontos, sem que o sentido do texto
sua imaginação. Ou seja, se ele terminar os e sua correção gramatical fossem prejudica-
dias escrevendo autoajuda ou ficção cientí- dos.
fica, nem Paulo Coelho, o esperto-expert em c) Dada a posição que ocupa na oração, “A Ar-
tudo, ficará surpreso. (...) gentina” (referência 2), caracterizada como
16
O Quase-Adulto do Acre revela: “Alguns li- termo adverbial, deveria estar isolada por
vros”, dos 14, “talvez mereçam permanecer vírgula, se atendido o rigor gramatical.
ocultos”. Certos livros deveriam ser qualifi- d) As informações e a correção gramatical do
cados como terrorismo ecológico – um aten- texto seriam preservadas, caso, sem que fos-
tado às florestas –, então, talvez seja melhor sem feitas outras alterações, a conjunção co-
que fiquem ocultos. 17O Menino do Acre tal- ordenativa “Mas”(referência 11) fosse subs-
vez seja 18a jogada de marketing mais bem tituída pela conjunção aditiva “e”, grafada
urdida dos últimos anos, e 19sem a colabo- em letra minúscula, e o ponto final que a
ração de Duda Mendonça e Washington Oli- antecede fosse substituído por vírgula.
vetto. e) O uso do ponto e vírgula (;) na referência
(...) No final da entrevista, 20tão impressio- 9 poderia ser substituído por um ponto fi-
nado quanto um conto de Borges é impres- nal (.) sem prejuízo à compreensão da ideia,
sionante, o bom, o da Argentina, o Menino uma vez que separa orações independentes.
do Acre ensina aquilo que nem Marilena
Chauí (...) é capaz de ideologizar: “Por mais TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
que as pessoas não percebam, a partir de O MITO DO TEMPO REAL
agora, o conhecimento será mais valorizado.
Quanto mais conhecimento você tiver, mais O descompasso entre a velocidade das má-
influente será na sociedade”. Ora, o que sur- quinas e a capacidade de compreensão de
preende é que o Menino do Acre parece não seus usuários leva a um quadro de ansieda-
ter conhecimento algum, ao menos de ma- de social sem precedentes. Em blogs, redes
neira consistente e sistemática, e, mesmo sociais, podcasts e mensagens eletrônicas
assim, está se tornando tremendamente in- diversas todos pedem desculpas pela demo-
fluente, inclusive concedendo entrevista ao ra em responder às demandas de seus inter-
“Fantástico”, da TV Globo, e à maior revista locutores, impacientes como nunca. E-mails
semanal do país, a “Veja”. Não é pouca coisa, que não sejam atendidos em algumas horas
não. (...) acabam encaminhados para outras redes, em
Fico na dúvida, filosófica: o Menino do Acre um apelo público por uma resposta.
fica melhor no papel de alienista, de aliena- No desespero por contato instantâneo, tele-
do ou os dois? Ah, o modo como mesmerizou fones chamam repetidamente em horas im-
o país, 21atraindo jornalistas de todas as pla- próprias, mensagens de texto são trocadas
gas, alienados mesmo somos nós, que, quem madrugada adentro, conversas multiplicam-
sabe, esperamos o Messias, ainda que na for- -se por comunicadores instantâneos e toda
ma de um Borges piorado e sem “O Aleph”. ocasião – do trânsito ao banheiro, do eleva-
Borges, o “Adulto Portenho”, talvez esteja dor à cama, da hora do almoço ao fim de se-
certo ao ecoar Marco Polo: “O real não é mais mana – parece uma lacuna propícia para se
verdade do que o inventado”. resolver uma pendência.
(BELÉM, Euler de França. Menino do Acre talvez seja [...]
uma das maiores empulhações da história “mística” do A resposta imediata a uma requisição é cha-
Brasil. Disponível em: https://www.jornalopcao.com.br/
colunas-e-blogs/imprensa/menino-do-acre-talvez-seja-
mada tecnicamente de “tempo real”, mes-
uma-das-maiores-empulhacoes-da-historia-mistica-do- mo que não haja nada verdadeiramente real
brasil-102864/. Adaptado. Acesso em 01 set. 2017) nem humano nessa velocidade. O tempo
imediato, sem pausas nem espera, em que
tudo acontece num estalar de dedos é uma
2. (Upf 2018) No que concerne a aspectos se- ficção. Desejá-lo não aumenta a eficiência.
mântico-sintáticos do texto, está correto o Pelo contrário, pode ser extremamente pre-
que se afirma em: judicial.

89
Muitos combatem a superficialidade nas 3. (G1 - utfpr) Em relação à pontuação do tex-
relações digitais pelos motivos errados, to, considere as afirmativas a seguir.
questionando a validade dos “amigos” no I. No segundo parágrafo, o travessão foi
Facebook ou “seguidores” no Twitter ao empregado para isolar a explicação da
compará-los com seus equivalentes analógi- expressão anterior.
cos. O problema não está na tecnologia, mas II. No terceiro parágrafo, as aspas foram em-
na intensidade dispensada em cada intera- pregadas para ressaltar o valor significa-
ção. Seja qual for o meio em que ele se dê, tivo da expressão “tempo real”.
o contato entre indivíduos demanda tempo, III. No quarto parágrafo, os parênteses são
e nesse tempo não é só a informação pura e empregados para introduzir uma genera-
simples que se troca. Festas, conversas, lei- lização para a expressão anterior.
turas, relacionamentos, músicas e filmes de
Está(ão) correta(s) apenas:
qualidade não podem ser acelerados ou resu-
midos a sinopses. Conversas, ao vivo ou me- a) I.
diadas por qualquer tecnologia, perdem boa b) II.
parte de sua intensidade com a segmenta- c) III.
ção. O tempo empenhado em cada uma delas d) I e II.
é muito valioso; não faz sentido economizá- e) II e III.
-lo, empilhá-lo ou segmentá-lo. O tempo hu-
mano (que talvez seja irreal, se o “outro” for TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
provado real) é bem mais lento. Nossas vidas Leia o texto para responder à(s) questão(ões).
são marcadas tanto pela velocidade quanto CHUVA FORA DE ÉPOCA DÁ SÓ 18 DIAS DE
pela lentidão. ALÍVIO ÀS REPRESAS DA GRANDE SP
[...]
Essa quebra da sequência histórica faz com As primeiras duas semanas de setembro
que muitos processos pareçam herméticos trouxeram chuvas acima da média e amplia-
ou misteriosos demais. Quando não há uma ram em 50 bilhões de litros as reservas das
compreensão das etapas componentes de um principais represas da Grande São Paulo.
processo, não há como intervir nelas, pro- Todo esse volume, porém, representa ape-
pondo correções, adaptações ou melhorias. nas um ligeiro alívio nos agonizantes ma-
Tal impotência leva a uma apatia, em que nanciais e deverá ser todo consumido num
as condições impostas são aceitas por falta intervalo de apenas três semanas de estia-
de alternativa. Escondidos seus processos gem – como aconteceu nos últimos 18 dias
industriais, os produtos adquirem uma aura do mês de agosto.
quase divina, transformando seus usuários E é justamente essa a previsão dos climato-
em consumidores vorazes, que se estapeiam logistas para a próxima semana. Segundo es-
em lojas à procura do último aparelho ele- sas previsões, a região metropolitana e seu
trônico que se proponha a preencher o vazio entorno, onde estão os seis principais reser-
vatórios, terá bastante calor e quase nenhu-
que sentem.
ma chuva.
Incapazes de propor alternativas ou sugerir
Setembro é o último mês da estação seca,
mudanças, os consumidores são estimulados
iniciada em abril. A expectativa do governo
pela publicidade a um gigantesco hedonis-
Geraldo Alckmin (PSDB) é que as chuvas em
mo e pragmatismo. A facilidade de acesso à
grande volume voltem a partir de outubro
abundância leva a uma passividade e a um
– na última estação chuvosa, porém, elas só
pensamento pragmático que defende a ideia
vieram em fevereiro e março.
de “vamos aproveitar agora, pois quando
A Grande SP vive hoje a mais grave seca já
acontecer um problema alguém terá desco-
registrada.
berto a solução”, visível na forma com que
Fabrício Lobel (Disponível em http://www1.folha.
se abordam problemas de saúde, obesidade,
uol.com.br/cotidiano. Acesso em 15.09.2015)
consumo, lixo eletrônico, esgotamento de
recursos e poluição ambiental. Em alta ve-
locidade há pouco espaço para a reflexão. 4. (G1 - utfpr ) Sobre o texto, identifique como
Reduzidos a impulsos e reflexos, corremos o verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes
risco de deixar para trás tudo aquilo que nos afirmativas:
diferencia das outras espécies. ( ) A conjunção porém, no segundo parágrafo,
(Luli Radfahrer. Disponível em: http://www1. introduz uma ideia de oposição às informa-
folha.uol.com.br/colunas/luliradfahrer/1191007- ções do primeiro parágrafo.
o-mito-do-tempo-real.shtml.) ( ) No segundo parágrafo, o travessão ( – ) foi
empregado para introduzir um esclarecimen-
to à informação anterior.

90
( ) No terceiro parágrafo, o pronome indefinido Niemeyer, o físico Lattes? E os construtores
onde foi empregado para retomar o lugar, ci- de nossa indústria, como vieram eles ou seus
tado anteriormente . pais? Quem pergunta hoje, 10e que interes-
( ) No título da notícia, a palavra alívio recebe sa saber, se esses homens ou seus pais ou
acento por ser uma paroxítona terminada seus avós vieram para o Brasil como agricul-
em - a. tores, comerciantes, barbeiros ou capitalis-
Assinale a alternativa que apresenta a sequ- tas, aventureiros ou vendedores de gravata?
ência correta, de cima para baixo. Sem o tráfico de escravos não teríamos tido
a) F – V – F – V. Machado de Assis, e Carlos Drummond seria
b) F – F – V – V. impossível sem uma gota de sangue (ou uís-
c) F – V – V – F. que) escocês nas veias, 4e quem nos garante
d) V – V – F – F. que uma legislação exemplar de imigração
e) V – F – F – V. não teria feito Roberto Burle Marx nascer
uruguaio, Vila Lobos mexicano, ou Pancet-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
ti chileno, o general Rondon canadense ou
TEXTO
Noel Rosa em Moçambique? Sejamos humil-
1
José Leal fez uma reportagem na Ilha das des diante da pessoa humana: 5o grande ho-
Flores, onde ficam os imigrantes logo que mem do Brasil de amanhã pode descender
chegam. E falou dos equívocos de nossa polí- de um clandestino que neste momento está
tica imigratória. 2As pessoas que ele encon- saltando assustado na praça Mauá13, e não
trou não eram agricultores e técnicos, gente sabe aonde ir, nem o que fazer. Façamos uma
capaz de ser útil. Viu músicos profissionais, política de imigração sábia, perfeita, mate-
bailarinas austríacas, cabeleireiras lituanas. rialista14; mas deixemos uma pequena mar-
Paul Balt toca acordeão, Ivan Donef faz co- gem aos inúteis e aos vagabundos, às aven-
quetéis, Galar Bedrich é vendedor, Serof Ne- tureiras e aos tontos porque dentro de algum
dko é ex-oficial, Luigi Tonizo é jogador de deles, como sorte grande da fantástica 19lo-
futebol, Ibolya Pohl é costureira. Tudo 15gen- teria humana, pode vir a nossa redenção e a
te para o asfalto, “para entulhar as grandes nossa glória.
cidades”, como diz o repórter. (BRAGA, R. Imigração. In: A borboleta amarela.
6
O repórter tem razão. 3Mas eu peço licença Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1963)
para ficar imaginando uma porção de coisas
vagas, ao olhar essas belas fotografias que
ilustram a reportagem. Essa linda costurei- 5. (Ita) De acordo com as normas gramaticais
rinha morena de Badajoz, essa Ingeborg que de pontuação,
faz fotografias e essa Irgard que não faz coi- I. o travessão da referência 11 serve para
sa alguma, esse Stefan Cromick cuja única realçar uma conclusão do que foi dito an-
experiência na vida parece ter sido vender teriormente.
bombons 11– não, essa gente não vai aumen- II. os dois pontos da referência 12 podem
tar a produção de batatinhas e quiabos nem ser substituídos por ponto e vírgula.
16
plantar cidades no Brasil Central. III. a vírgula, em “está saltando assustado na
7
É insensato importar gente assim. Mas o praça Mauá, e não sabe”, referência 13,
destino das pessoas e dos países também é, pode ser excluída.
muitas vezes, insensato: principalmente da IV. o ponto e vírgula da referência 14 pode
gente nova e países novos. 8A humanidade ser substituído por ponto final.
não vive apenas de carne, alface e motores.
Estão corretas apenas
Quem eram os pais de Einstein, eu pergun-
to; e se o jovem Chaplin quisesse hoje en- a) I, II e III.
trar no Brasil acaso poderia? Ninguém sabe b) I, III e IV.
que destino terão no Brasil essas mulheres c) II e III.
louras, esses homens de profissões vagas. d) II, III e IV.
Eles estão procurando alguma coisa12: emi- e) III e IV.
graram. Trazem pelo menos o patrimônio de
sua inquietação e de seu 17apetite de vida. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
9
Muitos se perderão, sem futuro, na vaga- Leia o texto abaixo para responder à(s)
bundagem inconsequente das cidades; uma questão(ões).
mulher dessas talvez se suicide melancoli- RENÚNCIA
camente dentro de alguns anos, em algum
quarto de pensão. Mas é preciso de tudo para Chora de manso e no íntimo... Procura
18
fazer um mundo; e cada pessoa humana é Curtir sem queixa o mal que te crucia:
um mistério de heranças e de taras. Acaso O mundo é sem piedade e até riria
importamos o pintor Portinari, o arquiteto Da tua inconsolável amargura.

91
Só a dor enobrece e é grande e é pura. E as mãos do sono sobre meus olhos,
Aprende a amá-la que a amarás um dia. e as mãos de minha mãe sobre o meu sonho,
Então ela será tua alegria, e as estampas de meu catecismo
E será, ela só, tua ventura... para o meu sonho de ave!
A vida é vã como a sombra que passa... E isso tudo tão longe... tão longe...
Sofre sereno e de alma sobranceira, (LIMA, Jorge de. Poemas. Rio; São
Sem um grito sequer, tua desgraça. Paulo: Record, 2004, p. 39)
Encerra em ti tua tristeza inteira.
E pede humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira... 7. (G1 - ifal) Quanto à pontuação no poema,
BANDEIRA, Manuel. A cinza das horas. In: Estrela da vida
indique a única alternativa correta.
inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, p. 75.
a) As reticências reforçam no texto o caráter
seletivo, parcial e vacilante da memória,
bem como imprimem no poema um tom ain-
6. (G1 - ifal) A pontuação contribui para a pro- da mais saudosista e polissêmico.
dução dos efeitos de sentido no texto. So- b) As aspas que se põem antes e depois de al-
bre esse assunto, marque a alternativa que gumas frases marcam a fala da mãe.
apresenta uma afirmação incorreta, levando- c) As vírgulas presentes nos versos de dois a
-se em consideração as regras de pontuação quatro servem para separar orações coorde-
previstas na gramática normativa. nadas.
a) No trecho “E pede humildemente a Deus que d) A julgar pelo que ensina a gramática, no ex-
a faça”, admitir-se-ia o uso da vírgula para certo “Cheia de graça, o Senhor é convosco”
intercalar o termo “humildemente”. a vírgula é opcional.
b) O ponto, em versos como “Só a dor enobrece e) Embora as exclamações que aparecem no
e é grande e é pura.”, encerra ideias categó- texto não se vinculem à emoção do eu lírico,
ricas para as quais não se preveem contra- elas denunciam seu estado de espírito en-
-argumentações. quanto recorda o passado.
c) Do ponto de vista pragmático, o sinal dois TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
pontos, no segundo verso, serve para ex- VELHO MARINHEIRO
pressar uma explicação. Homenagem aos marinheiros
d) As reticências ao longo do texto criam uma
de sempre... e para sempre.
atmosfera intimista, sugestiva e de convite
à reflexão. 28
Sou marinheiro porque um dia, muito jo-
e) No verso “A vida é vã como a sombra que vem, estendi meu braço diante da bandeira
passa...”, poder-se-ia inserir uma vírgula e jurei lhe dar minha vida.
após a palavra “vida”, sem prejuízo sintático Naquele dia de sol a pino, com meu novo
e semântico do texto. uniforme branco, 21senti-me homem de ver-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: dade, como se estivesse dando adeus aos
Leia este texto e responda à(s) tempos de garoto. 29Ao meu lado, as vozes de
questão(ões) a seguir. outros jovens soavam em uníssono com a mi-
nha, vibrantes, e terminamos com emoção,
ORAÇÃO de peitos estufados e orgulhosos. 5Ao final,
minha mãe veio em minha direção, apres-
– “Ave Maria cheia de graça...” sada em me dar um beijo. 20Acariciou-me o
A tarde era tão bela, a vida era tão pura, rosto e disse que eu estava lindo de unifor-
as mãos de minha mãe eram tão doces, me. 6O dia acabou com a família em festa;
havia lá, no azul, um crepúsculo de ouro... 11
eu lembro-me bem, fiquei de uniforme até
lá longe... de tarde...
– “Cheia de graça, o Senhor é convosco, ben- Sou marinheiro, porque aprendi, naquela
dita! Escola, o significado nobre de companhei-
Bendita!” rismo. 7Juntos no sofrimento e na alegria,
Os outros meninos, minha irmã, meus ir- um safando o outro, leais e amigos. Apren-
mãos menores meus di o que é civismo, respeito e disciplina, no
brinquedos, a casaria branca de minha princípio, exigidos a cada dia; depois, como
terra, a burrinha do vigário pastando parte do meu ser e, assim, para sempre. 23A
junto à capela... lá longe... cada passo havia um novo esforço esperando
e, depois dele, um pequeno sucesso. 26Minha
Ave cheia de graça vida, agora que olho para trás, foi toda de
– “bendita sois entre as mulheres, bendito é pequenos sucessos. A soma deles foi a minha
o fruto do vosso ventre...” carreira.

92
19
No meu primeiro navio, logo cedo, percebi que servi já deu baixa. 17Quando saí de bor-
que era novamente aluno. Todos sabiam das do, parei no portaló, voltei-me para a ban-
coisas mais do que eu havia aprendido. Só deira, inclinei a cabeça... e, minha garganta
que agora me davam tarefas, incumbências, entalou outra vez.
e esperavam que eu as cumprisse bem. 2Pou- Isso é corporativismo; não aquele enxova-
co a pouco, passei a ser parte da equipe, a lhado, que significa o bem de cada um, pro-
ser chamado para ajudar, a ser necessário. tegido à custa do desmerecimento da insti-
8
Um dia vi-me ensinando aos novatos 12e tuição; mas o puro, que significa o bem da
dei-me conta de que me tornara marinheiro, instituição, protegido pelo merecimento de
de fato e de direito, um profissional! 32O na- cada um.
vio passou a ser minha segunda casa, onde 27
Sou marinheiro e, portanto, sou corpora-
eu permanecia mais tempo, às vezes, do que tivista.
na primeira. Conhecia todos, alguns mais Muitas vezes 25a lembrança me retorna aos
até do que meus parentes. Sabia de suas ma- dias da ativa e morro de saudades. 18Que bom
nhas, cacoetes, preocupações e de seus so- se pudesse voltar ao começo, vestir aquele
nhos. Sem dar conta, meu mundo acabava no uniforme novinho — até um pouco grande,
costado do navio. ainda recordo — Jurar Bandeira, ser beijado
9
A soma de tudo que fazemos e vivemos, pelo pela minha falecida mãe...
navio, 14é uma das coisas mais belas, que só 3
Sei que, quando minha hora chegar, no úl-
há entre nós, em mais nenhum outro lugar. timo instante, verei, em velocidade desco-
24
Por isso sou marinheiro, porque sei o que é nhecida, o navio com meus amigos, minha
espírito de navio. mulher, meus filhos, singrando para sempre,
Bons tempos aqueles das viagens, dávamos
indo aonde o mar encontra o céu... e, se São
um duro danado no mar, em serviço, postos
Pedro estiver no portaló, direi:
de combate, adestramento de guerra, dia e
– Sou marinheiro, estou embarcando.
noite. 30O interessante é que em toda nossa
Autor desconhecido. In: Língua portuguesa:
vida, 15quando buscamos as boas recorda- leitura e produção de texto. Rio de Janeiro:
ções, elas vêm desse tempo, das viagens e Marinha do Brasil, Escola Naval, 2011. p. 6-8)
dos navios. 16Até 13as durezas por que passa-
mos são saborosas 1ao lembrar, talvez por- Glossário
que as vencemos e fomos adiante.
- Portaló: abertura no casco de um navio, ou
É aquela história dos pequenos sucessos.
A volta ao porto era um acontecimento gos- passagem junto à balaustrada, por onde as
toso, sempre figurando a mulher. Primeiro a pessoas transitam para fora ou para dentro,
mãe, depois a namorada, a noiva, a esposa. e por onde se pode movimentar carga leve.
Muita coisa a contar, a dizer, surpresas de
carinho. A comida preferida, o abraço aper- 8. (Esc. Naval) Que opção analisa corretamente
tado, o beijo quente... e o filho que, na au- o uso das reticências em “O dia acabou com a
sência, foi ensinado a dizer papai. família em festa; eu lembro-me bem, fiquei
31
No início, eu voltava com muitos retratos, de uniforme até de tarde...” (ref. 6)?
principalmente quando vinha do estrangei- a) Destacam a interrupção de uma ideia do lo-
ro, depois, com o tempo, eram poucos, até cutor, para exprimir considerações acessó-
que deixei de levar a máquina. 10Engraçado, rias.
22
vocês já perceberam que marinheiro velho b) Marcam a suspensão da voz do autor, para
dificilmente baixa a terra com máquina foto- assinalar inflexões de natureza emocional.
gráfica? Foi assim comigo. c) Indicam que a ideia que o autor quer expri-
34
Hoje os navios são outros, os marinheiros mir deve ser preenchida com a imaginação
são outros - sinto-os mais preparados do que do leitor.
eu era - mas a vida no mar, as viagens, os d) Cortam a frase do locutor pela interferência
portos, a volta, estou certo de que são iguais. de outras informações que dão continuidade
Sou marinheiro, por isso sei como é. ao texto.
Fico agora em casa, querendo saber das coi- e) Assinalam que foram suprimidas possíveis
sas da Marinha. E a cada pedaço que ouço referências do autor, com a intenção de real-
de um amigo, que leio, que vejo, me dá um çar a última ideia enunciada.
orgulho que às vezes chega a entalar na gar-
ganta. 4Há pouco tempo, voltei a entrar em
um navio. Que coisa linda! 35Sofisticado, lim-
píssimo, nas mãos de uma tripulação que só
pode ser muito competente para mantê-lo
pronto. 33Do que me mostraram eu não sabia
muito. Basta dizer que o último navio em

93
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 27
Quero ter de volta o meu mundo simples
e comum, onde existam o amor, a solidarie-
QUERO VOLTAR A CONFIAR
dade e a fraternidade como bases. 28Vamos
Fui criado com princípios morais comuns. voltar a ser gente. A ter indignação dian-
Quando eu era pequeno, mães, pais, profes- te da falta de ética, de moral, de respeito.
sores, avós, tios, vizinhos eram autoridades Construir um mundo melhor, mais justo e
dignas de respeito e consideração. Quanto mais humano, onde as pessoas respeitem as
mais próximos ou mais velhos, mais afeto. pessoas.
23
Inimaginável responder de forma mal edu- Utopia9?
cada aos mais velhos, professores ou auto- Quem sabe.
ridades... 24Confiávamos nos adultos, porque Precisamos tentar.
todos eram pais, mães ou familiares da nossa Arnaldo Jabor. Disponível em: http://www.
rua, do bairro ou da cidade. Tínhamos medo pensador.uol.com.br/textos_de_arnaldo_
16
apenas do escuro, dos sapos, dos filmes de jabor/2/. Data de acesso: 30/04/2011.
terror10...
22
Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo
aquilo que perdemos. Tudo que os meus ne- 9. (G1 - epcar (Cpcar)) Assinale a alternati-
tos um dia enfrentarão. Pelo medo no olhar va em que há uma afirmação correta sobre a
das crianças, dos velhos, dos jovens e dos pontuação no texto.
adultos. Direitos humanos para os crimino- a) Das seis interrogações presentes no texto,
sos, deveres ilimitados para os cidadãos ho- (ref. 4, 5, 6, 7, 8, 9), apenas duas delas são
nestos. Não levar vantagem em tudo significa meramente retóricas, ou seja, visam induzir
ser idiota. 25Trabalhador digno e cumpridor o leitor a uma reflexão.
dos deveres virou otário. Pagar dívidas em b) As reticências (ref. 10 e 11), em ambas as
dia é ser tonto – anistia para corruptos e so- ocorrências, têm a mesma função: indicar a
negadores. supressão de elementos que não são citados
O que aconteceu conosco4? Professores mal- devido a sua irrelevância.
tratados nas salas de aula14; comerciantes c) As aspas que aparecem nas referências 12 e
ameaçados por traficantes15; grades em nos- 13 indicam citação direta e expressões estra-
sas janelas e portas. 1Que valores são esses5? nhas à língua, respectivamente.
Automóveis que valem mais que abraços. d) O ponto e vírgula, nas ref. 14 e 15, é usado
26
Filhas querendo uma cirurgia como presen- para enumerar constatações feitas pelo locu-
te por passarem de ano. Filhos esquecendo tor em relação à realidade atual.
o respeito no trato com pais e avós. No lu-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
gar de senhor, senhora, ficou 12“oi cara”, ou
A(s) questão(ões) a seguir
“como está, coroa”6? Celulares nas mochilas
refere(m)-se ao texto abaixo.
de crianças. “O que vais querer em troca de
um abraço7?” – “A diversão vale mais que um UM PAPA QUE ERA MULHER
diploma.” – “Uma tela gigante 20vale mais
que uma boa conversa.” – “21Mais vale uma Em plena Idade Média, na noite de 28 de ja-
maquiagem do que um sorvete.” – 13“Apare- neiro do ano 814, nascia em uma família de
cer do que ser.” Quando foi que tudo desapa- camponeses, na aldeia alemã de Ingelheim,
receu ou se tornou ridículo8? uma menina chamada Joana. Quando adulta,
Quero arrancar as grades da minha janela ela seria a única mulher a exercer a função
para poder tocar nas flores11... Quero me sen- de papa na história da humanidade. Filha de
tar na varanda e dormir com a porta aberta um missionário da Igreja Católica, a meni-
nas noites de verão. Quero a honestidade na foi criada sob os rígidos ditames da reli-
como motivo de orgulho. Quero a retidão gião, que naquela época reservava às mulhe-
de caráter, a cara limpa e o olhar “olho no res poucos direitos e lhes impunha muitas
olho”. Quero sair de casa sabendo a hora em proibições, como a alfabetização. Joana vi-
que estarei de volta, sem medo de assaltos veu questionando os cânones de seu tempo,
ou balas perdidas. Quero a vergonha na cara aprendeu o latim e o grego antes dos 10 anos
e a solidariedade. 2Onde a palavra valia mais de idade e aos 16 adotou a identidade do ir-
que um documento assinado. Quero a espe- mão morto numa batalha. Tudo isso para as-
rança, a alegria, a confiança de volta. Quero sumir funções eclesiásticas num monastério
calar a boca de quem diz: “temos que estar beneditino. Tornou-se papa entre 851 e 853
3
ao nível de” ao falar de uma pessoa. e morreu ao dar à luz uma criança quando
E viva o retorno da verdadeira 19vida, sim- tinha 42 anos.
ples como a chuva, limpa como o céu de pri- A sua curiosa e desconhecida trajetória já foi
mavera, leve como a brisa da manhã. E 17de- levada às telas na década de 1970 em um
finitivamente 18bela como cada amanhecer. filme protagonizado pela atriz Liv Ullman.

94
Agora, volta com mais apelo em uma produ- católicos descolados e bacanas é que o cor-
ção alemã dirigida pelo cineasta Sonke Wort- po de Cristo venha sem glúten. Uma hóstia
mann. O filme baseia-se no livro “Papisa Jo- "gluten free". O papa, seguramente uma
ana”, da escritora inglesa Donna Woolfolk pessoa desocupada, teve que se preocupar
Cross, que acaba de ser lançado no Brasil. A com o corpo de Cristo sem glúten. A commo-
autora construiu um romance sustentado por ditização da religião, ou seja, a transforma-
informações obtidas em arquivos da Igreja ção da religião em produto, um dia chegaria
e reconstituiu a vida de Joana. Segundo a a isso: que Jesus emagreça seus fiéis.
autora, a história da papisa era considera- Um segundo tipo de descolado e bacana é
da uma realidade até o século XVII, quando aquele pai que fica lambendo o filho pra todo
disputas religiosas teriam levado o Vatica- mundo achar que ele é um "novo homem".
no a ordenar a destruição das provas de sua Esse "novo homem" é, na verdade, um mito
existência. Na obra, Donna Cross lança mão pra cobrir a desarticulação crescente das
da criatividade, mas garante que conteve os relações entre homem e mulher. Homens
seus “saltos imaginativos”. cuidam de filhos há décadas, mas agora pai
RANGEL, N. Disponível em: https://istoe.com. que cuida de filho virou homem descolado
br/15441. Acesso em: 02 ago. 2018. (Adaptado). e bacana, com direito à licença-paternidade
de 40 dias, dada por empresas descoladas e
bacanas.
1
0. (G1 - cftmg 2019) Na última oração do tex- Além de tornar o emprego ainda mais caro
to, o emprego das aspas em “saltos imagina- (coisa que a lei trabalhista faz, inviabili-
tivos” tem a função de zando o emprego no país), a sorte dessas
a) sinalizar a coloquialidade da expressão. empresas é que as pessoas cada vez mais se
b) atribuir a ação à autora do romance. separam antes de ter filhos. As que não se
c) enfatizar uma intenção irônica. separam, por sua vez, ou têm um filho só
d) introduzir uma citação direta. ou um cachorro. Logo, fica barato posar de
empresa descolada e bacana. Queria ver se
a moçada fosse corajosa como os antigos e
tivesse cinco filhos por casal. Com o cresci-
E.O. Complementar mento da cultura pet, logo empresas desco-
ladas e bacanas darão licença de uma sema-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: na quando o cachorro do casal ficar doente. E
esse "direito" será uma exigência do capita-
DESCOLADOS E BACANAS ADOTAM VIRA-LA- lismo consciente. Aliás, descolados e bacanas
TAS E PEDEM HÓSTIA 'GLUTEN FREE' adotam cachorros vira-latas para comprovar
seu engajamento contra a desigualdade so-
A tipologia humana contemporânea chama a cial animal.
atenção pelo ridículo. Descolados e bacanas Um terceiro tipo de gente descolada e ba-
são pessoas que têm hábitos, afetos e dis- cana é o praticante de formas solidárias de
posições de alma mais avançados do que os economia. Este talvez seja o tipo mais des-
"colados" e os "canas". colado e bacana dos descritos até aqui nessa
Estes são gente que não consegue acompa- tipologia de bolso que ofereço a você, a fim
nhar os progressos sociais e se perdem dian- de que aprenda a se mover neste mundo con-
te das novas formas de economia, de sociabi- temporâneo tão avançado em que vivemos.
lidade e de direitos afetivos. Vejamos alguns Uma nova "proposta" (expressões como
exemplos dessa tipologia dos descolados e "proposta" e "projeto" são essenciais se você
bacanas. Se você não se enquadrar, não cho- quer ser uma pessoa descolada e bacana) é
re. Ser um "colado" ou "cana" um dia poderá oferecer sua casa "de graça" para pessoas
ascender à condição vintage, semelhante ao morarem com você. Calma! Se o leitor for al-
vinil ou ao filtro de barro. guém minimamente inteligente, desconfiará
A busca de uma alimentação saudável é um dessa proposta. Algumas dessas propostas
traço de descolados e bacanas. Um modo rá- ainda vêm temperadas com um discurso de
pido e preciso de identificá-los é usar a pa- "empoderamento" das mulheres que colabo-
lavra "McDonald's" perto deles. Se a pessoa rariam umas com as outras. Explico.
começar a gritar de horror ou demonstrar Imagine que uma mãe single ofereça um
desprezo, você está diante de um descolado quarto na casa dela para outra mulher em
e bacana. Se você não entender o horror e troca de ela cuidar do maravilhoso e criativo
o desprezo dela pelo McDonald's, você é um filho pequeno dessa mãe single. Entendeu?
"colado" e um “cana”. Sim, trabalho escravo empacotado pra pre-
Essa busca pela alimentação segura bateu sente.
na porta de Jesus, coitado. A demanda dos Gourmetizado dentro de um discurso de

95
"solidariedade feminina" e economia co- afirmação causou revolta. Muitas pessoas
laborativa. Na prática, você trabalharia em acusam o promotor de difundir a cultura
troca de casa e comida. Essa proposta é ainda do estupro. Em nota, o procurador-geral de
mais ridícula do que aquela em que você, jo- Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Marfan
vem, recebe a "graça" de trabalhar de graça Martins Vieira, informou ter instaurado in-
pra um marca famosa que combate a fome quérito para apurar a conduta do promotor,
na África em troca de experiência e para en- além de afastá-lo da banca examinadora “até
riquecer seu "book". Na China eles são mais a conclusão da apuração dos fatos”. Autor de
solidários do que isso, você ganharia pelo livros jurídicos, Joppert atua na Assessoria
menos um dólar. de Atribuição Originária em Matéria Crimi-
Sim, o mundo contemporâneo é ridículo de nal do Ministério Público, setor subordinado
doer. Com suas modinhas e terminologias à Subprocuradoria-Geral de Justiça de As-
chiques. Coitada da esquerda que abraça es- suntos Institucionais e Judiciais. O promotor
sas pautas criativas. Saudades do Lênin? divulgou nota em que afirma ter sido mal
(Por Luiz Felipe Pondé. Folha de S. Paulo, 31 de Julho de interpretado, já que se referia ao ponto de
2017). Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ vista do criminoso. “Ao me referir ao fato
luizfelipeponde/2017/07/1905751-descolados-ebacanas-
do executor do ato sexual coercitivo ter fi-
adotam-vira-latas-e-pedem-hostia-gluten-free.shtml
cado com a melhor parte”, estava tratando
da “opinião hipotética do próprio praticante
daquele odioso crime contra a dignidade se-
1. (Unioeste 2018) Considerando as palavras
xual”.
entre aspas no texto, assinale a alternativa
Adaptado de: GRELLET, F. Polêmica sobre estupro afasta
em que estas NÃO criam efeito de ironia so-
promotor. Folha de Londrina. 24 jun. 2016. Geral. p. 7.
bre os termos aspeados:
a) “E esse ‘direito’ será uma exigência do capi-
talismo consciente”.
2. (Uel) Com relação aos termos sublinhados
b) “Uma nova ‘proposta’ é oferecer sua casa ‘de
no texto, considere as afirmativas a seguir.
graça’ para pessoas morarem com você”.
I. As aspas usadas ao longo do texto mar-
c) “Expressões como ‘proposta’ e ‘projeto’ são
cam o discurso direto do promotor Ale-
essenciais se você quer se tornar uma pessoa
xandre Couto Joppert.
descolada e bacana”.
II. O termo “que” pertence à mesma classe
d) “Essa proposta é ainda mais ridícula do que
gramatical nas duas ocorrências apresen-
aquela em que você, jovem, recebe a ‘graça’
tadas.
de trabalhar de graça para uma marca famo-
III. A expressão “além de” reforça o caráter
sa”.
aditivo presente no período.
e) “Algumas dessas propostas ainda vêm tem-
IV. O termo “mal” modifica a palavra “inter-
peradas com um discurso de ‘empoderamen-
pretado”, atribuindo-lhe ideia de modo.
to’ das mulheres”.
Assinale a alternativa correta.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o texto a seguir e responda à(s) a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
questão(ões). b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
O promotor de justiça Alexandre Couto Jo-
d) Somente as afirmativas I, II e III são corre-
ppert foi afastado temporariamente da ban-
tas.
ca examinadora de um concurso para o Mi-
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corre-
nistério Público do Estado do Rio de Janeiro
tas.
e será alvo de uma investigação da própria
Promotoria. Examinador de Direito Penal, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
durante uma prova oral, ele narrou um caso O MITO DO TEMPO REAL
hipotético de estupro coletivo e disse que o
criminoso que praticou a conjunção carnal O descompasso entre a velocidade das má-
“ficou com a melhor parte, dependendo da quinas e a capacidade de compreensão de
vítima”. A prova é aberta ao público e algu- seus usuários leva a um quadro de ansieda-
mas pessoas gravaram a afirmação do pro- de social sem precedentes. Em blogs, redes
motor. “Um (criminoso) segura, outro apon- sociais, podcasts e mensagens eletrônicas
ta a arma, outro guarnece a porta da casa, diversas todos pedem desculpas pela demo-
outro mantém a conjunção – ficou com a ra em responder às demandas de seus inter-
melhor parte, dependendo da vítima – man- locutores, impacientes como nunca. E-mails
tém a conjunção carnal e o outro fica com o que não sejam atendidos em algumas horas
carro ligado pra assegurar a fuga”, narrou acabam encaminhados para outras redes, em
o promotor. Divulgada em redes sociais, a um apelo público por uma resposta.

96
No desespero por contato instantâneo, tele- hedonismo e pragmatismo. A facilidade de
fones chamam repetidamente em horas im- acesso à abundância leva a uma passividade
próprias, mensagens de texto são trocadas e a um pensamento pragmático que defen-
madrugada adentro, conversas multiplicam- de a ideia de “vamos aproveitar agora, pois
-se por comunicadores instantâneos e toda quando acontecer um problema alguém terá
ocasião – do trânsito ao banheiro, do eleva- descoberto a solução”, visível na forma com
dor à cama, da hora do almoço ao fim de se- que se abordam problemas de saúde, obesi-
mana – parece uma lacuna propícia para se dade, consumo, lixo eletrônico, esgotamento
resolver uma pendência. de recursos e poluição ambiental. Em alta
[...] velocidade há pouco espaço para a reflexão.
A resposta imediata a uma requisição é cha- Reduzidos a impulsos e reflexos, corremos o
mada tecnicamente de “tempo real”, mes- risco de deixar para trás tudo aquilo que nos
mo que não haja nada verdadeiramente real diferencia das outras espécies.
nem humano nessa velocidade. O tempo (Luli Radfahrer. Disponível em: http://www1.
imediato, sem pausas nem espera, em que folha.uol.com.br/colunas/luliradfahrer/1191007-
tudo acontece num estalar de dedos é uma o-mito-do-tempo-real.shtml.)
ficção. Desejá-lo não aumenta a eficiência.
Pelo contrário, pode ser extremamente pre-
judicial. 3. (G1 - utfpr) Em relação à pontuação do tex-
Muitos combatem a superficialidade nas to, considere as afirmativas a seguir.
relações digitais pelos motivos errados, I. No segundo parágrafo, o travessão foi
questionando a validade dos “amigos” no empregado para isolar a explicação da
Facebook ou “seguidores” no Twitter ao expressão anterior.
compará-los com seus equivalentes analógi- II. No terceiro parágrafo, as aspas foram em-
cos. O problema não está na tecnologia, mas pregadas para ressaltar o valor significa-
na intensidade dispensada em cada intera- tivo da expressão “tempo real”.
ção. Seja qual for o meio em que ele se dê, III. No quarto parágrafo, os parênteses são
o contato entre indivíduos demanda tempo, empregados para introduzir uma genera-
e nesse tempo não é só a informação pura e lização para a expressão anterior.
simples que se troca. Festas, conversas, lei-
turas, relacionamentos, músicas e filmes de Está(ão) correta(s) apenas:
qualidade não podem ser acelerados ou resu-
a) I.
midos a sinopses. Conversas, ao vivo ou me-
b) II.
diadas por qualquer tecnologia, perdem boa
c) III.
parte de sua intensidade com a segmenta-
d) I e II.
ção. O tempo empenhado em cada uma delas
e) II e III.
é muito valioso; não faz sentido economizá-
-lo, empilhá-lo ou segmentá-lo. O tempo hu-
mano (que talvez seja irreal, se o “outro” for 4. (Ufu) Uma barra: na era das mensagens de
provado real) é bem mais lento. Nossas vidas texto e das descrições de perfis no Twitter,
são marcadas tanto pela velocidade quanto ela se tornou um sinal de pontuação uni-
pela lentidão. versal para aqueles que querem descrever
[...] rapidamente suas atividades sociais (jantar/
Essa quebra da sequência histórica faz com drinques), as ambições de carreira (traba-
que muitos processos pareçam herméticos lho/diversão) e até mesmo os arranjos amo-
ou misteriosos demais. Quando não há uma rosos (amigo/amante).
compreensão das etapas componentes de um Mas, para alguns integrantes da geração Y
processo, não há como intervir nelas, pro- (aqueles nascidos entre 1980 e 2000), ela se
pondo correções, adaptações ou melhorias. transformou em uma espécie de marcador de
Tal impotência leva a uma apatia, em que identidade (advogada/atriz; relações públi-
as condições impostas são aceitas por falta cas/DJ; executiva/cozinheira) para aqueles
de alternativa. Escondidos seus processos que trabalham em dois (ou mais) mundos
industriais, os produtos adquirem uma aura diferentes.
quase divina, transformando seus usuários Ao contrário de legiões de americanos que
em consumidores vorazes, que se estapeiam têm vários empregos por necessidade, esses
em lojas à procura do último aparelho ele- jovens escolhem se esticar entre várias ati-
trônico que se proponha a preencher o vazio vidades. Enquanto um trabalho geralmente
que sentem. paga as contas, outro permite algo mais cria-
Incapazes de propor alternativas ou suge- tivo. Eles consideram esse coquetel de ativi-
rir mudanças, os consumidores são esti- dades essencial para o bem-estar e conside-
mulados pela publicidade a um gigantesco ram que se concentrar em apenas uma coisa

97
para o resto da vida é antiquado. promove alteração de sentido.
“Uma coisa para o resto da minha vida? Ab- b) O excerto “guitarrista da banda irlandesa
solutamente não”, diz Maxwell Hawes 4º, U2”, no 1º parágrafo, está entre vírgulas
25, que atualmente se alterna entre uma para separar o vocativo dos demais termos.
companhia de tecnologia para publicidade c) A inserção de uma vírgula antes da conjun-
em San Francisco e uma start-up (empresa ção “e” em “e vestindo o gorro preto”, no
iniciante) e de vestuário masculino. “Eu não penúltimo parágrafo, marcaria a mudança de
imagino como seria isso”. sujeito.
Folha de S. Paulo, 28 de dezembro de 2014. d) Os segmentos “cujo nome” e “cujo pai”, no
2º e último parágrafo, respectivamente, in-
A citação, entre aspas, presente no fim do troduzem explicações intercaladas no perío-
texto relaciona-se à ideia desenvolvida no do, por isso são marcados por vírgulas.
parágrafo anterior com o objetivo de apre- e) emprego das aspas no 1º e 3º parágrafos do
sentar um(a) texto marca a isenção do periódico que pu-
a) argumento de autoridade. blicou a notícia em relação às informações
b) estratégia de persuasão. marcadas por esse sinal de pontuação.
c) exemplificação como prova.
d) interlocução direta.

5. (Fac. Pequeno Príncipe - Medici 2016) Leia E.O. Dissertativo


o texto a seguir:
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
The Edge, do U2, faz história ao se apresen-
tar na Capela Sistina GERAÇÃO CANGURU
Gilberto Dimenstein
VATICANO – The Edge, guitarrista da banda
irlandesa U2, se tornou o primeiro roqueiro
Ao mapear novas tendências de consumo no
a tocar na Capela Sistina, local que descre-
Brasil, publicitários acreditam ter detectado
veu como "o salão paroquial mais bonito do
a "Geração Canguru". São jovens bem-suce-
mundo".
didos profissionalmente, têm entre 25 e 30
O músico, cujo nome de batismo é David
anos de idade e vivem na casa dos pais. O
Evans, cantou quatro músicas na noite de sá-
interesse neles é óbvio: compõem um nicho
bado para um público de 200 médicos, pes-
de consumidores com alto poder aquisitivo.
quisadores e filantropos que participaram de
uma conferência sobre medicina regenerati- Ainda na "bolsa" da mãe, eles mostram que
va no Vaticano. mudaram as fronteiras entre o jovem e o
Acompanhado por um coral de sete jovens adulto. Até pouquíssimo tempo atrás, um
irlandeses e vestindo o gorro preto que é marmanjão de 30 anos, enfiado na casa dos
sua marca registrada, ele tocou violão e can- pais, seria visto como uma anomalia, suspei-
tou um cover de “If it be your Will”, de Le- to de algum desequilíbrio emocional que re-
onard Cohen, além de versões das músicas tardou seu crescimento.
“Yahweh”, “Ordinary Love” e “Walk on”, do
U2. O efeito "canguru" revela que pais e filhos
The Edge, cujo pai morreu de câncer no mês estão mutuamente mais compreensivos e
passado e cuja filha superou uma leucemia, tolerantes, capazes de lidar com suas dife-
faz parte do conselho de fundações que tra- renças. Para quem se lembra dos conflitos fa-
balham para a prevenção do câncer. miliares do passado, marcados pelo choque
Disponível em: <http://oglobo.globo.com/ de gerações, os "cangurus" até sugerem um
cultura/musica/the-edge-do-u2-faz-historia- grau de civilidade. Não é tão simples assim.
ao-se-apresentar-na-capela-sistina>.
Acesso em: 01/05/2016. Estudos de publicitários divulgados nas úl-
timas semanas indicam um lado tumultuado
Os sinais de pontuação, quando bem empre- – e nem um pouco saudável – dessa relação
gados, contribuem para a expressividade dos familiar. Por trás das frias estatísticas sobre
textos e podem modificar o sentido das in- tendência do mercado, a pergunta que apa-
formações nele apresentadas. Sobre a pon- rece é a seguinte: até que ponto os brasilei-
tuação empregada na notícia a respeito do ros mais ricos estão paparicando a tal ponto
músico The Edge, é CORRETO somente o que seus filhos que produzem indivíduos com
se afirma em: baixa autonomia?
a) A inserção de uma vírgula antes do prono-
me relativo “que” em “que participaram de Ao investigar uma amostra de 1.500 mães
uma conferência (...)” é facultativa e não e filhos, no Rio e em São Paulo, a TNS

98
InterScience concluiu que 82% das crianças Todos sabemos como é difícil alguém pros-
e dos adolescentes influenciam fortemente perar, com autonomia, se não souber lidar
as compras das famílias. A pressão é espe- com a frustração. Muito se estuda sobre a
cialmente intensa nas classes A e B, cujas importância da resiliência – a capacidade de
crianças, segundo os pesquisadores, empre- levar tombos e levantar como um elemento
gam cada vez mais a estratégia das birras educativo fundamental.
públicas para ganhar, na marra, o objeto de
desejo. Professores contam, cada vez mais, como os
alunos não têm paciência de construir o co-
Com medo das birras, as mães tentam, se- nhecimento e desistem logo quando as tare-
gundo a pesquisa, driblar os filhos e não fas se complicam um pouco. Por isso, entre
levá-los às compras, especialmente nos su- outras razões, os alunos decepcionam-se ra-
permercados, mas, muitas vezes, acabam pidamente na faculdade que exige mais foco
cedendo. Os responsáveis pelo levantamento em poucos assuntos.
da InterScience atribuem parte do problema
Os educadores alertam que muitos jovens
ao sentimento de culpa. Isso porque, devido
têm dificuldade de postergar o prazer e bus-
ao excesso de trabalho, os pais ficam muito
cam a realização imediata dos desejos; res-
tempo longe de casa e querem compensar a
pondem exatamente ao bombardeamento
ausência com presentes.
publicitário, inclusive na ingestão de álcool,
Uma pesquisa encomendada pelo Núcleo Jo- como vamos testemunhar, mais uma vez, nas
vem da Abril detectou que muitos dos novos propagandas de cerveja neste verão. Daí o
consumidores vivem uma ansiedade tama- risco de termos "cangurus" que fiquem cada
nha que nem sequer usufruem o que levam vez mais na bolsa (e no bolso) dos pais.
para casa. Já estão esperando o produto que
P.S. – Em todos esses anos lidando com edu-
vai sair. É ninfomania consumista. Jovens
cação comunitária, posso assegurar que uma
relataram que nunca usaram, nem mesmo
das melhores coisas que as escolas de elite
uma vez, roupas que adquiriram. Aposen-
podem fazer por seus alunos é estimulá-los
tam aparelhos eletrodomésticos comprados
ao empreendedorismo social. É um notável
recentemente porque já estariam defasados.
treino para enfrentar desafios. Enfrentam-
Psicólogos suspeitam que essa atitude seja -se em asilos, creches e favelas os limites e
uma fuga para aplacar a ansiedade e a carên- as carências. Conheci casos e mais casos de
cia, provocadas, em parte, pela falta de li- alunos problemáticos que mudaram sua ca-
mite. Imaginando-se modernos, pais tentam beça ao desenvolver uma ação comunitária e
ser amigos de seus filhos e, assim, desfaz-se passaram, até mesmo, a valorizar o aprendi-
a obrigação de dizer não e enfrentar o confli- zado curricular.
to. O resultado é, no final, uma desconfiança, http://www1.folha.uol.com.br/folha/
explicitada pelos entrevistados, ainda maior dimenstein/colunas/gd121205.htm
em relação aos adultos.

Outro estudo, desta vez patrocinado pela 1. (Ufjf) Leia novamente:


MTV, detectou um início de tendência entre
“São jovens bem-sucedidos profissionalmen-
os jovens de insatisfação diante de pais ex-
te, têm entre 25 e 30 anos de idade e vivem
tremamente permissivos. Estão demandando
na casa dos pais. O interesse neles é óbvio:
adultos mais pais do que amigos. Para com-
compõem um nicho de consumidores com
plicar ainda mais a insegurança das crianças
alto poder aquisitivo.”
e dos adolescentes, a violência nas grandes
a) Com base na leitura do texto, identifique 3
cidades leva os pais, compreensivelmente, a
fatores que justificam o fato de esses jovens
pilotar os filhos pelas madrugadas, para sa-
apresentarem alto poder aquisitivo.
ber se não sofreram uma violência. Brincar
b) Qual é a função sintático-semântica do uso
nas ruas está desaparecendo da paisagem
dos dois pontos na última oração do período
urbana, ajudando a formar seres obesos,
acima destacado?
presos ao computador.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Há pencas de estudo mostrando como a brin-
cadeira, dessas em que nos sujamos, rala- ISRAEL, O BEM E O MAL
mos o joelho na árvore, ajuda a desenvolver Denis Russo Burgierman
a criatividade, o senso de autonomia e de
cooperação. É um espaço de estímulo à ima- Enquanto o país fundado pelas vítimas do
ginação. Holocausto transformou-se em vilão, a pátria

99
de Hitler virou exemplo de fofura. Afinal, os tratados apenas por números, e foram obri-
israelenses são bons ou maus? E os alemães? gados a referir-se aos guardas como “senhor
A resposta não está neles: está no ambiente. oficial correcional”. Nada de nomes.
Apenas seis dias depois, o Stanford Prison
Se um viajante do tempo saísse de 1950 e Experiment teve que ser encerrado prema-
viesse bater em 2014, e calhasse de lhe cair turamente, após vários prisioneiros sofre-
em mãos a pesquisa da BBC que mede a po- rem colapsos nervosos. A convivência entre
pularidade dos países, talvez achasse que os os dois grupos de rapazes comuns tinha
dados estavam de cabeça para baixo. Segun- degringolado para a hostilidade aberta. Os
do a pesquisa, realizada com 25 mil pesso- guardas abusaram de torturas, humilhações
as de 24 países, a nação mais popular que e atos de crueldade gratuita. Já os prisionei-
existe, vista por das pessoas como “uma ros sentiam-se impotentes, deprimidos e se
influência positiva” para o planeta, é a Ale- tornaram dissimulados e amargos.
manha. Já os países mais malvistos, consi- Ao fim do experimento, havia desaparecido
derados por mais da metade dos terráqueos qualquer sinal de empatia entre um lado e
como uma “influência negativa”, são Irã, Pa- outro. Um guarda resumiu como uns viam
quistão, Coreia do Norte e… Israel. os outros: “esqueci que os prisioneiros eram
O viajante do tempo não entenderia nada. gente”. Esse fenômeno é conhecido pelos
Os alemães, portadores da mesma carga ge- psicólogos como “desumanização”. Segundo
nética da nação que elegeu e apoiou Hitler Zimbardo, a desumanização desliga nosso
no mais horripilante projeto de genocídio senso moral. Em seu livro O Efeito Lúcifer,
industrial da história, transformaram-se nos ele explica que, quando isso acontece, pes-
fofos do mundo (e olha que a pesquisa foi soas comuns tornam-se capazes de cometer
realizada antes da Copa de 2014). E Israel, atrocidades.
fundado em 1948, em nome da liberdade, da Para que a desumanização ocorra, é impor-
justiça e da paz, pelas próprias vítimas do tante apagar a individualidade de quem está
nazismo, com amplo apoio dos progressistas, do outro lado. É o que revelou um outro ex-
disputa, hoje, a lanterna da vilania global perimento clássico, realizado em 1963 por
apenas com ditaduras fundamentalistas (e Stanley Milgram, na Universidade Yale. Nes-
olha que a pesquisa foi realizada antes que se estudo, os sujeitos de pesquisa tinham a
bombardeios israelenses matassem crianças tarefa de administrar choques elétricos em
palestinas brincando em Gaza). voluntários vistos através de um vidro (os
Se as pessoas que vivem em Israel e na Ale- voluntários na verdade eram atores fingin-
manha possuem os mesmos genes e as mes- do estrebuchar). Em alguns dos testes, uma
mas tradições de seus avós, que passaram pessoa na sala comentava de passagem que
pela guerra encarnando, respectivamente, os sujeitos tomando choques eram “legais”.
“o bem” e “o mal”, o que mudou em meros Em outros, o comentário era: “eles parecem
70 anos? Nosso viajante, se quisesse desco- animais”. Embora os atores fingindo levar
brir a resposta, poderia ajustar sua máquina choque fossem sempre os mesmos, os su-
do tempo para as 10 horas do dia 14 de agos- jeitos da pesquisa estavam muito mais dis-
to de 1971. postos a eletrocutar o outro quando ele era
Naquela manhã de sol, a tranquilidade da descrito como “animal”.
rica cidadezinha californiana de Palo Alto foi É que o primeiro passo para a desumaniza-
subitamente quebrada por uma visão rara: ção é rotular o sujeito do outro lado. A partir
policiais algemando um estudante branco e do momento em que acreditamos que o ou-
conduzindo-o firmemente ao banco de trás tro não é um ser humano, mas um animal,
da viatura, sob o olhar assustado dos vizi- tornamo-nos capazes de basicamente tudo.
nhos. Aquele seria o primeiro de nove jovens Um ambiente onde há uma grande desi-
levados presos. gualdade de poder – como uma prisão – é
Nenhum dos nove tinha cometido crime al- o lugar perfeito para que ocorra rotulagem
gum – eram estudantes saudáveis e comuns e, portanto, desumanização. É exatamente o
que tinham se voluntariado para uma pena que existe hoje no Oriente Médio, onde, na
de duas semanas numa prisão simulada, prática, todo um povo (os palestinos) virou
montada num porão da Universidade Stan- prisioneiro de um país (Israel).
ford, em troca de por dia. Os guardas des- O que as pesquisas mostram é que, nessas
sa prisão seriam 15 rapazes tão saudáveis e situações, não adianta procurar culpados.
comuns quanto os prisioneiros, contratados Não interessa saber quem começou a bri-
pelo mesmo salário. O autor da pesquisa, o ga ou quem tem mais razão – o que inte-
psicólogo Philip Zimbardo, definiu por sor- ressa é o ambiente. Enquanto os dois povos
teio quem seria guarda e quem seria prisio- se relacionarem como se estivessem numa
neiro. A partir daí, os prisioneiros seriam prisão, é inevitável que um não enxergue

100
a humanidade do outro. Os mais poderosos Zuckerberg não construiu tudo isso sozinho.
tendem a perder a compaixão pelo outro O Facebook só existe – e continuará existin-
lado, e acabam achando normal ser brutal. do – da forma como ele é porque o Congresso
Os menos poderosos tendem a acreditar que dos EUA nunca implementou um modelo re-
seus rivais são todos maus e precisam ser gulatório que protegesse satisfatoriamente a
destruídos. A única solução para uma situ- privacidade dos usuários de internet. Sem-
ação assim é mudar o ambiente. Foi o que pre que surgiram propostas nesse sentido,
a Alemanha fez nas últimas três décadas, elas foram sumariamente rechaçadas.
quando uma sociedade tolerante, igualitária ANTONIALLI, Dennys. Audiencias de Zuckerberg no
e largamente desmilitarizada foi instituída. Congresso dos EUA foram teatro de cúmplices. O Estado
Nós humanos fomos geneticamente progra- de S. Paulo. 12 abr. 2018. Disponível em: <https://
mados para acreditar que há pessoas boas e goo.gl/RP447U>. Acesso em: 12 abr. 2018.
más, e que um abismo separa umas das ou-
tras. A realidade é que o mal mora em cada Considerando-se o emprego das aspas no
um de nós. O primeiro passo para liberá-lo texto, discorra sobre a opinião do autor com
é acreditar que os inimigos são animais – relação aos temas abaixo. Indique outros
ou algum outro rótulo, como “reacionários”, elementos, retirados do texto, que justifi-
“comunistas”, “petralhas”, “tucanalhas”, quem sua resposta.
“macacos”, “argentinos”, “feminazis”, “fa- a) Facebook.
locratas”, “talibikers”, “burgueses”, “evan- b) Congresso norte-americano.
gélicos”, “judeus”, “terroristas”.
Isso dito, nosso viajante do tempo, depois 4. (Fgv) Leia o texto e, em seguida, atenda ao
de ter presenciado a carnificina da Segunda que se pede.
Guerra Mundial, talvez se assustasse ao ver o
tom desumanizador dos comentários no Fa- ESPIGAS CHEIAS OU CHOCHAS
cebook de 2014. Este é o momento de cair na real. Não há
BURGIERMAN, Denis Russo. Superinteressante. Disponível
muita saída para o drama da hora, senão
em:<http://super.abril.com.br>. Acesso em: 29 ago. 2014.
consertar o que está quebrado.
A economia vive de ciclos, curtos e longos.
Disso já se sabia desde José do Egito, filho
2. (Ufjf-pism 3) “Já os países mais malvistos,
de Jacó, que avisou o faraó de que sete anos
considerados por mais da metade dos terrá-
queos como uma ‘influência negativa’, são de vacas magras e de espigas chochas suce-
Irã, Paquistão, Coreia do Norte e… Israel.” deriam a sete anos de vacas gordas e espigas
a) O autor empregou as reticências para causar cheias.
que efeito argumentativo? Para enfrentar caprichos do setor produtivo
b) Reescreva a frase, mantendo o mesmo efeito desse tipo é que a humanidade aprendeu a
argumentativo, porém sem empregar as reti- fazer estoques, a empilhar reservas e criar
cências. fundos de segurança, também desde José do
Egito ou desde o escravo grego Esopo, o au-
tor da fábula da cigarra e da formiga.
3. (Ufu 2018) As interrupções frequentes e o
tom quase irônico dos congressistas deixa- Um dos grandes problemas da economia bra-
vam claro que estávamos assistindo ao mais sileira é o de que enfrenta agora brutal crise
bem produzido “puxão de orelha” da histó- fiscal sem que administradores previdentes
ria da internet. A imagem do jovem empre- tenham previsto a tragédia nem se prepara-
sário acuado, sendo constrangido perante os do para enfrentá-la.
“representantes do povo”, é poderosa: algo Celso Ming, http://economia.estadao.com.br, 04/05/2016.
está sendo feito.
O prazer quase sádico que se sente com a a) Tendo em vista o assunto desenvolvido no
reprimenda é justificável: em sua saga para texto, o que existe de comum entre a fábula
tornar o mundo mais “aberto e conectado”, de Esopo e a história bíblica de José do Egi-
o Facebook já errou muito. Com os erros, to?
costumam vir as desculpas e, com elas, algu- b) Entendido em seu sentido literal, o trecho
mas mudanças. O que não muda é o modelo “sem que administradores previdentes te-
de negócios da empresa que, graças à coleta nham previsto” contém uma incoerência. O
massiva de dados de usuários, pode oferecer emprego de aspas em uma das palavras des-
sofisticadas ferramentas de direcionamento se trecho, conferindo a ela um sentido espe-
de anúncios, serviço esse que é responsável cial, eliminaria a incoerência? Justifique.
por grande parte de sua invejável receita de
US$ 40,6 bilhões, só em 2017.
O que parece não ter ficado claro é que

101
5. (Ufu) O dino está nu ter a égua de minha mulher um filho, o meu
Coloquem penas nesse velociraptor vizinho José da Silva diz que é dele, só por-
que o dito filho da égua de minha mulher
“Se ele não tivesse dito que atualizaria os di- saiu malhado como o seu cavalo. Ora, como
nossauros, tudo bem”, reclama Maurilio Oli- os filhos pertencem às mães, e a prova disto
veira, um dos mais renomados paleoartistas é que a minha escrava Maria tem um filho
brasileiros. Ele, no caso, é Colin Trevorrow, o que é meu, peço a V. Sa. mande o dito meu
americano que assina a direção de Jurassic vizinho entregar-me o filho da égua que é de
World, quarto filme da franquia inaugurada minha mulher”.
em 1993 por Steven Spielberg. “E quando ele
fez essa promessa, anos atrás, toda a comu- JUIZ: É verdade que o senhor tem o filho da
nidade paleontológica sentiu um bem-estar”. égua preso?
As expectativas submergiram quando saiu
a divulgação do filme, semanas atrás. “Ga- JOSÉ DA SILVA: É verdade; porém o filho me
ranto que no Brasil fui um dos primeiros a pertence, pois é meu, que é do cavalo.
assistir ao trailer. Como fã, quero estar na JUIZ: Terá a bondade de entregar o filho a
primeira fila da primeira sessão. Mas como seu dono, pois é aqui da mulher do senhor.
paleoartista, alguém cujo trabalho é traduzir
em imagens a visão científica dos dinossau- JO SÉ DA SILVA: Mas, Sr. Juiz...
ros, tenho sérias reservas.”
A decepção começou já na cena inicial em JUIZ: Nem mais nem meios mais; entregue o
que surgem os protagonistas. “Aqueles bi- filho, senão, cadeia.
chos correndo junto com humanos, os rapto- (Martins Pena. Comédias (1833-1844), 2007.)
res” – ele se refere aos bípedes esverdeados
de bracinhos inúteis que trotam ao lado de 1. (Unifesp) O emprego das aspas no interior
um jipe de safári –, “aqueles bichos tinham da fala do escrivão indica que tal trecho
penas”. Informações como essa surpreendem a) reproduz a solicitação de Francisco Antônio.
o leigo incauto que conhece o Mesozoico b) recorre a jargão próprio da área jurídica.
apenas por intermédio de Hollywood e ainda c) reproduz a fala da mulher de Francisco An-
reluta em acreditar que dinossauros – de 60 tônio.
milhões de anos atrás – nunca perseguiram d) é desacreditado pelo próprio escrivão.
homens das cavernas de 6 milhões. e) deve ser interpretado em chave irônica.
DUARTE, Douglas. O dino está nu. Piauí. São Paulo,
ano 9, n. 100, p. 13, jan. 2015. (Fragmento) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o texto para responder a(s) questão(ões).
Com base na leitura do texto, explique
a) qual é a função das aspas empregadas ao Você conseguiria ficar 99 dias sem o Face-
longo do texto. book?
b) qual é o posicionamento do autor do texto
Uma organização não governamental holan-
em relação aos dizeres colocados entre as-
desa está propondo um desafio que muitos
pas, indicando outro elemento textual que
poderão considerar impossível: 1ficar 99
contribuiu para que você reconhecesse a
dias sem dar nem uma “olhadinha” no Face-
opinião do autor sobre o tema tratado.
book. O objetivo é medir o grau de felicidade
dos usuários longe da rede social.
O projeto também é uma resposta aos experi-

E.O. Objetivas (Unesp,


mentos psicológicos realizados pelo próprio
Facebook. A diferença neste caso é que o tes-
Fuvest, Unicamp e Unifesp) te é completamente voluntário.
Ironicamente, para poder participar, o usuá-
rio deve trocar a foto do perfil no Facebook e
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: postar um contador na rede social.
A(s) questão(ões) a seguir focalizam uma Os pesquisadores irão avaliar o grau de satis-
passagem da comédia O juiz de paz da roça fação e felicidade dos participantes no 33º
do escritor Martins Pena (1815-1848). dia, no 66º e no último dia da abstinência.
JUIZ (assentando-se): Sr. Escrivão, leia o ou- Os responsáveis apontam que os usuários do
tro requerimento. Facebook gastam em média 17 minutos por
dia na rede social. Em 99 dias sem acesso, a
ESCRIVÃO (lendo): Diz Francisco Antônio, soma média seria equivalente a mais de 28
natural de Portugal, porém brasileiro, que horas, 2que poderiam ser utilizadas em “ati-
tendo ele casado com Rosa de Jesus, trouxe vidades emocionalmente mais realizadoras”.
esta por dote uma égua. “Ora, acontecendo (http://codigofonte.uol.com.br. Adaptado.)

102
2. (Unifesp) Considere o enunciado a seguir: mas eu sumi na poeira das ruas...
- Eu também tenho algo a dizer,
[...] ficar 99 dias sem dar nem uma “olhadi-
mas me foge à lembrança...
nha” no Facebook. (ref. 1)
- Por favor, telefone, eu preciso beber
[...] que poderiam ser utilizadas em “ativi-
alguma coisa rapidamente...
dades emocionalmente mais realizadoras”.
- Pra semana...
(ref. 2)
- O sinal...
Nos dois trechos, utilizam-se as aspas, res- - Eu procuro você...
pectivamente, para - Vai abrir! Vai abrir!
a) indicar o sentido metafórico e marcar a fala - Prometo, não esqueço...
coloquial. - Por favor, não esqueça...
b) enfatizar o discurso direto e marcar uma ci- - Não esqueço, não esqueço...
tação. - Adeus...
c) marcar o sentido pejorativo e enfatizar o Paulinho da Viola.
sentido metafórico.
d) assinalar a ironia e indicar a fala de uma
pessoa. 4. (Fuvest) O uso reiterado das reticências na
e) realçar o sentido do substantivo e indicar letra da canção denota o propósito de mar-
uma transcrição. car, na escrita,
a) as interrupções que ocorreram na breve e
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: apressada conversa.
b) a ausência de interesse das personagens em
Ossian o bardo é triste como a sombra
dialogar.
Que seus cantos povoa. O Lamartine
c) a supressão de falas que poderiam parecer
É monótono e belo como a noite,
agressivas.
Como a lua no mar e o som das ondas...
d) a enumeração de acontecimentos que deram
Mas pranteia uma eterna monodia,
origem ao encontro.
Tem na lira do gênio uma só corda;
e) as omissões de fatos relevantes que as perso-
Fibra de amor e Deus que um sopro agita: nagens decidem ocultar.
Se desmaia de amor a Deus se volta,
Se pranteia por Deus de amor suspira.
5. (Fuvest) As aspas marcam o uso de uma pa-
Basta de Shakespeare. Vem tu agora,
lavra ou expressão de variedade linguística
Fantástico alemão, poeta ardente
diversa da que foi usada no restante da frase
Que ilumina o clarão das gotas pálidas
em:
Do nobre Johannisberg! Nos teus romances
a) Essa visão desemboca na busca ilimitada do
Meu coração deleita-se... Contudo,
lucro, na apologia do empresário privado
Parece-me que vou perdendo o gosto,
como o "grande herói" contemporâneo.
(...)
b) Pude ver a obra de Machado de Assis de vá-
(Álvares de Azevedo, "Lira dos vinte anos") rios ângulos, sem participar de nenhuma vi-
são "oficialesca".
c) Nas recentes discussões sobre os "fundamen-
3. (Fuvest) "Fibra de amor e Deus que um so- tos" da economia brasileira, o governo deu
pro agita:" (verso 7) ênfase ao equilíbrio fiscal.
Os dois pontos no final deste verso introdu- d) O prêmio Darwin, que "homenageia" mortes
zem uma estúpidas, foi instituído em 1993.
a) citação. e) Em fazendas de Minas e Santa Catarina, quem
b) explicação. aprecia o campo pode curtir o frio, ouvindo
c) enumeração. "causos" à beira da fogueira.
d) gradação.
e) concessão.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


SINAL FECHADO

(...)
- Me perdoe a pressa,
é a alma dos nossos negócios...
- Oh, não tem de quê,
eu também só ando a cem...
(...)
- Tanta coisa que eu tinha a dizer,

103
Gabarito 3.
a) Considerando-se o emprego irônico das
aspas e relacionando-as com outros ele-
mentos referenciados no texto, infere-se
E.O. Aprendizagem que o autor, mesmo reconhecendo o ca-
ráter "aberto e conectado" da rede social
1. C 2. B 3. C 4. D 5. C Facebook, critica a sequência de erros
e de mudanças que enfatizam "a cole-
6. D 7. B 8. B 9. D 10. A ta massiva de dados de usuários" como
"modelo de negócios".
b) O autor discorre sobre a posição ambígua
E.O. Fixação do Congresso Norte-americano partindo
do princípio que a represália ("puxão de
1. B 2. E 3. D 4. D 5. B orelha") não passava de uma encenação
6. E 7. A 8. E 9. D 10. B pelo fato de "os representantes do povo"
norte-americano nunca terem implemen-
tado um "modelo regulatório” que prote-
gesse a privacidade dos usuários de in-
E.O. Complementar ternet, o que facilitou a coleta de dados
1. C 2. C 3. D 4. C 5. D realizada pelo Facebook.

4.
E.O. Dissertativo a) Tanto a fábula quanto a história bíblica
1. mencionam a alternância entre períodos
a) Trata-se de jovens bem-sucedidos profis- de fartura e de escassez, assim como a
sionalmente, que pertencem a uma classe consequente necessidade de preparação
social sem problemas econômicos e que, para enfrentamento dos momentos de
apesar de adultos, ainda não moram em dificuldades. Esse apontamento pode ser
verificado a partir da menção de José do
espaço próprio. A ausência de responsa-
Egito, “filho de Jacó, que avisou o faraó
bilidades com a sobrevivência do cotidia-
de que sete anos de vacas magras e de
no, facilitada pelo excessivo protecionis-
espigas chochas sucederiam a sete anos
mo de pais, permite que grande parte do
de vacas gordas e espigas cheias” e da
salário, auferido pelo bom desempenho fábula, de conhecimento geral, segundo
profissional, seja direcionado para a a qual a formiga trabalha ao longo do ve-
aquisição de produtos oferecidos cons- rão, preparando-se para o momento do
tantemente em propagandas. inverno, o que não é feito pela cigarra.
b) O emprego dos dois-pontos é usado para b) O emprego das aspas em “previdentes”
indicar que tudo o que estiver adiante eliminaria a incoerência, pois a expres-
dele detalha ou explica a frase anterior. são passaria a ser lida como ironia: aque-
les que deveriam ter se preparado para
2. enfrentar uma situação difícil (os admi-
a) O uso das reticências cria o efeito ar- nistradores “previdentes”) não o foram.
gumentativo de quebra de expectativa,
como se demarcasse uma exclamação com 5.
o sentido de “pasme!”, “surpreendente- a) No texto, as aspas indicam a ocorrência
mente”, pois Israel é um país que tem um de discurso direto: referem-se às falas do
povo que historicamente foi visto como entrevistado pela revista Piauí.
vítima, sobretudo por conta do Holocaus- b) O autor do texto concorda com o posicio-
to, mas que hoje em dia integra o ranking namento do entrevistado. O paleoartista
dos países mais malvistos no mundo. aponta disparidades entre o resultado
b) Já os países mais malvistos, considerados dos estudos a respeito dos dinossauros
por mais da metade dos terráqueos como e a forma como eles são representados
pela indústria cinematográfica; a partir
uma “influência negativa”, são Irã, Pa-
disso, o jornalista emprega vocabulário
quistão, Coreia do Norte e, surpreenden-
que aponta a essa mesma direção, como
temente/por incrível que pareça/acredi-
“reclama”, “submergiram” e “decepção”.
te/pasme, Israel.

104
E.O. Objetivas (Unesp,
Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. A 2. E 3. B 4. A 5. E

105
Abordagem de LITERATURA nos principais vestibulares.

FUVEST
A maior parte das questões de literatura da Fuvest se refere às obras obrigatórias. Neste livro,
você encontrará importantes exercícios sobre as bases do Modernismo – escola literária de peso
na Fuvest, uma preparação necessária para o entendimento das gerações sequentes.

LD
ADE DE ME
D
UNESP
U

IC
FAC

INA

BO
1963
T U C AT U Como a Unesp não possui uma lista obrigatória de obras, os exercícios deste vestibular con-
templam os conhecimentos das escolas literárias, bem como de seus principais representantes.
Neste livro, estão presentes questões sobre pré--modernismo, as vanguardas do século xx, o
modernismo em portugal e os heterônimos de Fernando Pessoa.

UNICAMP
A maior parte das questões de literatura da Unicamp se refere às obras obrigatórias. Neste livro,
você encontrará alguns desses exercícios de anos anteriores sobre o Pré-modernismo, as vanguar-
das do século xx, o modernismo em portugal e os heterônimos de fernando pessoa.

UNIFESP
Como a Unifesp não possui uma lista obrigatória de obras, os exercícios deste vestibular con-
templam os conhecimentos das escolas literárias, bem como de seus principais representantes.
Neste livro, estão presentes questões sobre pré-modernismo, as vanguardas do século xx, o
modernismo em portugal e os heterônimos de Fernando Pessoa.

ENEM/UFMG/UFRJ
Como o Enem não possui uma lista obrigatória de obras, os exercícios deste exame contemplam
os conhecimentos das escolas literárias, bem como de seus principais representantes.

UERJ
Neste caderno, você encontrará um estudo sobre o exame de qualificação da Uerj sobre
Pré-Modernismo. Até o vestibular 2017, a Uerj não exigia o conhecimento de literatura portu-
guesa.
2 3 Segunda fase modernista
no Brasil: poesia

Competências Habilidades
2, 5 e 6 5, 15, 16 e 17
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L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
E.O. Aprendizagem De tudo quanto foi meu passo caprichoso na
vida, restará, pois o resto se esfuma, uma
pedra que havia em meio do caminho.”
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
MÃOS DADAS 2. Considere as seguintes afirmações sobre o
“Não serei o poeta de um mundo caduco. poema.
Também não cantarei o mundo futuro. I. No primeiro quarteto, o poeta pergunta
Estou preso à vida e olho meus companheiros. pelo legado que deixará para o país a que
Estão taciturnos mas nutrem grandes espe- deve tudo o que lhe é caro; no segundo
ranças. quarteto, há uma invocação um tanto
Entre eles, considero a enorme realidade. irônica do mundo, não se trata mais ape-
O presente é tão grande, não nos afastemos. nas do país: há uma ampliação da refe-
Não nos afastemos muito, vamos de mãos rência que atravessaria os limites geográ-
dadas. ficos para lidar com o mundo/realidade.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma II. A forma soneto e a referência a Orfeu, o
história, mitológico poeta grego capaz de encantar
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisa- a todos com o som da sua lira, revelam
gem vista da janela
que o modernismo de Drummond agora
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de
suicida, se associa com o parnasianismo, o que
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado permite ao poeta reivindicar uma posição
por serafins. fixa na tradição, em contraste com Orfeu,
O tempo é a minha matéria, o tempo presen- perplexo entre o talvez e o se.
te, os homens presentes, III. No último terceto, o poeta alega que,
A vida presente.” da sua trajetória um tanto instável,
ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião. 6ª ed.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1974. p. 55.
restará uma pedra que havia em meio do
caminho, o que equivale a uma paráfrase,
1. O poema “Mãos dadas” reflete um traço agora em registro formal e sério, dos
constante na obra de Drummond, que pode versos do célebre poema do início de sua
ser caracterizado por: carreira modernista: No meio do caminho
a) apresentar como tema uma poesia intimista,
tinha uma pedra/ tinha uma pedra no
voltada para o amor físico.
b) uma linguagem por intermédio da qual meio do caminho (...).
representa constantemente a sensualidade Quais estão corretas?
feminina. a) Apenas II.
c) uma visão do mundo na qual não há espaço b) Apenas III.
para ilusões. c) Apenas I e II.
d) uma tentativa de representar o mundo sem
d) Apenas I e III.
criticar a realidade.
e) uma visão onírica do seu mundo e do seu e) I, II e III.
tempo.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
A(s) questão(ões) a seguir refere(m)-se ao
Leia o poema Legado, de Carlos Drummond livro Nova Antologia Poética, de Vinicius de
de Andrade, abaixo. Moraes.
“Que lembrança darei ao país que me deu 3. (Cefet-MG) POÉTICA (II)
tudo que lembro e sei, tudo quanto senti? “Com as lágrimas do tempo
Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu
E a cal do meu dia
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.
Eu fiz o cimento
Da minha poesia
E mereço esperar mais do que os outros, eu?
Tu não me enganas, mundo, e não te engano
a ti. E na perspectiva
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu, Da vida futura
a vagar, taciturno, entre o talvez e o se. Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
uma voz matinal palpitando na bruma Não sei bem se é casa
e que arranque de alguém seu mais secreto Se é torre ou se é templo
espinho. (Um templo sem Deus.)

111
Mas é grande e clara 5. (Cefet-MG) Vinicius de Moraes, ao longo de
Pertence ao seu tempo sua trajetória de poeta, permitiu-se aderir a
− Entrai, irmãos meus!” diferentes tendências estéticas, sejam ante-
Rio, 1960 riores ou contemporâneas à sua obra.
NÃO apresentam os traços da estética indicada
Nesse poema, Vinicius de Moraes NÃO carac- os versos transcritos em:
teriza sua poética como: a) “E dentro das estruturas/ Via coisas, obje-
a) tradução da modernidade. tos/ Produtos, manufaturas./ Via tudo o que
b) busca de religiosidade. fazia/ O lucro do seu patrão/ E em cada coi-
c) experiência do corpo. sa que via/ Misteriosamente havia/ A marca
d) registro do cotidiano. de sua mão.” – PARNASIANISMO
e) espaço de encontro. b) “O teu perfume, amada – em tuas cartas/
Renasce azul...– são tuas mãos sentidas!/
Relembro-as brancas, leves, fenecidas/ Pen-
4. (Cefet-MG) dendo ao longo de corolas fartas.” – ROMAN-
TISMO
SONETO DE SEPARAÇÃO c) “Ah, jovens putas das tardes/ O que vos
“De repente do riso fez-se o pranto aconteceu/ (...) Em vossas jaulas acesas/
Silencioso e branco como a bruma Mostrando o rubro das presas/ Falando coisas
E das bocas unidas fez-se a espuma do amor/ E às vezes cantais uivando/ Como
E das mãos espalmadas fez-se o espanto. cadelas à lua/ Que em vossa rua sem nome/
Rola perdida no céu” – NATURALISMO
d) “– Era uma vez um poeta/ No morro do Ca-
De repente da calma fez-se o vento
valão/ Tantas fez que a dor-de-corno/ Bateu
Que dos olhos desfez a última chama com ele no chão/ Arrastou ele nas pedras/
E da paixão fez-se o pressentimento Espremeu seu coração/ Que pensa usted que
E do momento imóvel fez-se o drama. saiu?/ Saiu cachaça e limão” – MODERNISMO
e) “Tensos/ Pela corda luminosa/ Que pende
De repente, não mais que de repente invisível/ E cujos nós são astros/ Queimando
Fez-se de triste o que se fez amante nas mãos/ Subamos à tona/ do grande mar
E de sozinho o que se fez contente. de estrelas/ Onde dorme a noite/ Subamos”
– SIMBOLISMO
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante 6. (UFRN)O livro A Rosa do Povo, de Carlos
De repente, não mais que de repente.” Drummond de Andrade, publicado em 1945,
Oceano Atlântico, a bordo do Highland Patriot, a é considerado uma das obras mais notáveis de
caminho da Inglaterra, setembro de 1938. sua produção poética. Nessa obra, Drummond
atinge seu mais alto nível literário, inclusive
Sobre os recursos de linguagem empregados sem descuidar do momento histórico em que
na construção do poema, afirma-se: está inserido. Os textos abaixo são fragmentos
I. As semelhanças sonoras entre palavras dos poemas “O medo” e “Nosso tempo”, res-
como “espalmadas” e “espanto”, “bran- pectivamente:
co” e “bruma” exemplificam o uso de “Em verdade temos medo.
aliterações no texto. Nascemos escuro.
II. A repetição, ao longo do poema, da As existências são poucas:
expressão “de repente”, acentua a ideia Carteiro, ditador, soldado.
do espanto trazido pela separação. Nosso destino, incompleto.
III. O uso de algumas antíteses no texto
demonstra o contraste entre os momentos E fomos educados para o medo.
antes e depois da separação. Cheiramos flores de medo.
IV. No primeiro verso da segunda estrofe, a Vestimos panos de medo.
palavra “vento” metaforiza a tranquili- De medo, vermelhos rios
dade anterior à separação. Vadeamos.”
Estão corretas apenas as afirmativas: (O medo, p. 35
a) I e II.
b) I e IV. “O poeta
c) III e IV. Declina de toda responsabilidade
d) I, II e III. Na marcha do mundo capitalista
e) II, III e IV. e com suas palavras, intui-
ções, símbolos e outras armas
promete ajudar
a destruí-lo

112
como uma pedreira, uma floresta, 2. (PUC-RS) Leia o excerto do poema “Nosso
um verme.” tempo”, de Carlos Drummond de Andrade,
(“Nosso tempo”, p. 45) publicado na obra A Rosa do Povo, em 1945.

“Esse é tempo de partido,


Da leitura dos versos acima, afirma-se que
tempo de homens partidos.
essa obra poética:
a) funciona como instrumento de mi- Em vão percorremos volumes,
litância sociopolítica, que aler- viajamos e nos colorimos.
ta os homens sobre os riscos do A hora pressentida esmigalha-se em pó na
Socialismo. rua.
b) reflete sobre os problemas do mundo, mani- Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
festando-os numa espécie de ação pelo tes- As leis não bastam. Os lírios não nascem
temunho. da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
c) assume uma função política, orientando os na pedra.
homens a evitar os perigos da vida em socie-
dade. Visito os fatos, não te encontro.
d) serve como testemunho do pavor gerado no Onde te ocultas, precária síntese,
mundo capitalista, que descuida da nature- penhor de meu sono, luz
za. dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimo, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
E.O. Fixação a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.


1. (UFSM) Observe as seguintes estrofes do As coisas talvez melhorem.
poema “Coração numeroso”, de Carlos São tão fortes as coisas!
Drummond de Andrade: Mas eu não sou as coisas e me revolto.
“Mas tremia na cidade uma fascinação casas Tenho palavras em mim buscando canal,
compridas são roucas e duras,
autos abertos correndo caminho do mar irritadas, enérgicas,
voluptuosidade errante do calor comprimidas há tanto tempo,
mil presentes da vida aos homens indiferentes, perderam o sentido, apenas querem explo-
que meu coração bateu forte, meus olhos dir. [...]”
inúteis choraram.
Todas as afirmativas estão corretamente
O mar batia em meu peito, já não batia no cais.
associadas ao poema e seu contexto, EXCETO:
A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu
a) É perceptível, a partir da análise das ima-
a cidade sou eu
gens do poema, a influência de um tempo
sou eu a cidade
de guerra.
meu amor.”
b) A forma fragmentada, com versos livres e
Nos versos citados, a relação entre o eu lírico esquema irregular de rimas, espelha imagens
e o seu entorno é estreita – o que é confir- de um homem igualmente dilacerado, em cri-
mado pelas expressões sublinhadas. A partir se.
de tais observações, pode-se afirmar que a c) Ainda que viva em um mundo em crise, o
aproximação estabelecida entre o sujeito e a eu lírico não se indaga sobre a sua condição
cidade conota: neste mundo, o que confere a esse sujeito
a) a comoção do sujeito poético, cuja sensibili- um caráter de alienação frente ao tempo no
dade é despertada pela vitalidade que movi- qual está inserido.
menta a urbe. d) O verso Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos
b) a desumanização do sujeito poético, cujo traz uma ambiguidade marcante: ao mesmo
cotidiano frenético repete o ritmo do espaço tempo em que apresenta imagens que re-
urbano. sidem num plano concreto, do cotidiano,
c) a soberba do eu lírico, que se supõe tão também aponta para o campo metafórico,
grandioso e fascinante quanto a cidade.
da batalha.
d) a degradação do sujeito lírico que, assim
como a cidade, está “doente” por não receber e) A necessidade do levante do eu lírico se
a atenção das pessoas. materializa, na última estrofe, numa
e) a apatia do eu lírico que, assim como a cidade, imagem bélica: a explosão.
segue o seu rumo, imune ao caos urbano.

113
3. (UPF) Leia as seguintes afirmações sobre Vinicius e Baden:
Carlos Drummond de Andrade. a) “O amor que lhe quer seu bem”.
I. Em seus poemas, há lugar para o liris- b) “Vai morrer sem amar ninguém”.
mo e o sentimentalismo, mas não para o c) “O dinheiro de quem não dá”.
humor e a ironia. d) “É o trabalho de quem não tem”.
II. Na obra Alguma Poesia, há poemas em e) “E, se um dia ele cai, cai bem!”.
que as descrições são espelhos da vida
cotidiana que, por vezes, assumem a TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
condição de símbolo.
A FELICIDADE
III. Desde sua estreia, com Alguma poesia, o
escritor se afirmou como poeta moderno “Tristeza não tem fim felicidade sim.
por valorizar o prosaico e o irônico. A felicidade é como a pluma
Está CORRETO apenas o que se afirma em: que o vento vai levando pelo ar,
a) I. voa tão leve, mas tem a vida breve
b) II. precisa que haja vento sem parar.
c) I e III. A felicidade do pobre
d) I e II. parece a grande ilusão do carnaval
e) II e III.
a gente trabalha o ano inteiro
por um momento de sonho
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. pra fazer a fantasia
de rei ou de pirata ou jardineira
TEXTO 1
pra tudo se acabar na quarta-feira.
CANÇÃO DO TAMOIO
A felicidade é como a gota de orvalho
“(...) Porém se a fortuna,
numa pétala de flor,
Traindo teus passos, brilha tranquila
Te arroja nos laços depois de leve oscila
Do imigo falaz! e cai como uma lágrima de amor.
Na última hora A minha felicidade
Teus feitos memora, está sonhando nos olhos
Tranquilo nos gestos, da minha namorada
Impávido, audaz. É como esta noite, passando,
E cai como o tronco passando em busca da madrugada
Do raio tocado, Fale baixo por favor
Partido, rojado pra que ela acorde
Por larga extensão; alegre com o dia
Assim morre o forte! oferecendo beijos de amor.”
No passo da morte MORAES, Vinicius e JOBIM, Tom. As mais belas
serestas brasileiras. 9ª ed. Belo Horizonte:
Triunfa, conquista Barvalle Indústria Gráfica Ltda, 1989.
Mais alto brasão. (...)”
(Gonçalves Dias)
5. De acordo com a 3ª estrofe, só NÃO se pode
afirmar que:
TEXTO 2 a) o eu lírico possui felicidade no sonho com
BERIMBAU sua enamorada.
“Quem é homem de bem não trai b) nessa estrofe, observa-se a presença marcante
O amor que lhe quer seu bem. do tempo.
Quem diz muito que vai não vai c) a duração da felicidade percorre a noite, a
E, assim como não vai, não vem. madrugada e alcança o dia.
Quem de dentro de si não sai d) para o eu lírico a felicidade é um estado
Vai morrer sem amar ninguém,
permanente.
O dinheiro de quem não dá
É o trabalho de quem não tem,
Capoeira que é bom não cai 6. Nas duas primeiras estrofes, há uma tenta-
E, se um dia ele cai, cai bem!” tiva de se definir a felicidade, para isso o eu
(Vinicius de Moraes e Baden Powell) lírico vale-se de:
a) comparações.
4. (Insper) O modo como a morte é figurati- b) metáforas.
vizada no fragmento de Gonçalves Dias é c) metonímias.
semelhante ao seguinte verso da canção de d) hipérboles.

114
E.O. Complementar ideias de exclusão, parcialidade e precon-
ceito presentes no poema.
II. Os dois versos constituem um enunciado
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 5 QUESTÕES. que expressa uma afirmação de valor
individual ou particular.
PORTÃO III. Esse enunciado apresenta a estrutura lin-
guística do axioma (máxima, provérbio,
“O portão fica bocejando, aberto anexim): é breve, expressa um conceito
para os alunos retardatários. sobre a realidade, tem o objetivo de ensinar
Não há pressa em viver e emprega o presente do indicativo.
nem nas ladeiras duras de subir, Está correto o que se afirma apenas em:
1
quanto mais para estudar a insípida carti- a) II.
lha. b) I e III.
Mas se o pai do menino é da oposição, c) II e III.
à ²ilustríssima autoridade municipal, d) I.
prima por sua vez da ³sacratíssima
autoridade nacional, 4. (UECE) Atente ao que é dito sobre o vocábulo
4
ah, isso não: o vagabundo “insípida” (ref. 1).
ficará mofando lá fora I. Foi empregado na acepção de sem graça,
e leva no boletim uma galáxia de zeros. desinteressante, monótono.
A gente aprende muito no portão II. Foi empregado no seu sentido literal, não
fechado.” figurado.
ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Carlos
III. A mudança da posição desse adjetivo para
Drummond de Andrade: Poesia e Prosa. Editora
Nova Aguilar: 1988. p. 506-507. depois do substantivo não alteraria o
significado do substantivo.
1. (UECE) Observe a metáfora que inicia o poema Está correto o que se afirma somente em:
– “O portão fica bocejando” – e o que se diz a) I e II.
sobre ela. b) III.
I. Essa metáfora empresta ao portão facul- c) I e III.
dades humanas, constituindo, também d) II.
uma prosopopeia ou personificação. Por
outro lado, essa expressão aceita, ainda, 5. (UECE) Atente para o que se afirma sobre
a seguinte leitura: o portão represen- os versos “ah, isso não: o vagabundo ficará
ta metonimicamente a escola, com seus mofando lá fora/ e leva no boletim uma
valores criticáveis e seus preconceitos. galáxia de zeros” (ref. 4).
II. O emprego da locução verbal de gerún- I. Eles são construídos sobre duas metáfo-
dio “fica bocejando”, no lugar da forma ras hiperbólicas, isto é, metáforas que
simples boceja, dá à ação expressa pelo contêm um exagero.
verbo bocejar um caráter de continuidade, II. O pronome isso em “ah, isso não”, aponta
de duração. para um referente na cena enunciativa.
III. O gerúndio realça a própria semântica do III. O pronome isso, no poema, aponta para
verbo bocejar. o que é dito nos dois primeiros versos,
Está correto o que se afirma em: sintetizando-os.
a) I, II e III. Está correto o que se diz em:
b) I e III apenas. a) I e II.
c) II e III apenas. b) I, II e III.
d) I e II apenas. c) II e III.
d) I e III.
2. (UECE) Os dois superlativos (ref. 2 e 3)
emprestam ao poema um tom de:
a) ironia. E.O. Dissertativo
b) seriedade.
c) respeito. 1. (UFES)
d) espiritualidade.
TEXTO 1

3. (UECE) Considere as seguintes afirmações Romance II ou Do ouro incansável


sobre os dois versos finais. “[...]
I. A separação desses dois versos em uma De seu calmo esconderijo,
estrofe é um recurso que enfatiza as o ouro vem, dócil e ingênuo;

115
torna-se pó, folha, barra, certo trabalho de jardinagem. É verdade que
prestígio, poder, engenho... Turmalinas me compreendia pouco, e eu a
É tão claro! – e turva tudo: compreendia menos. Meus requintes espas-
honra, amor e pensamento. módicos eram um pouco estranhos a uma
[...] terra em que a hematita calçava as ruas,
Mil galerias desabam; dando às almas uma rigidez triste. Entretan-
to, meu nome em letra de forma comovia a
mil homens ficam sepultos;
pequena cidade, e dava-lhe esperança de que
mil intrigas, mil enredos
o meu talento viesse a resgatar o melancóli-
prendem culpados e justos; co abandono em que, anos a fio, ela se arras-
já ninguém dorme tranquilo, tava, com o progresso a 50 quilômetros de
que a noite é um mundo de sustos.” distância e cabritos pastando na rua.”
(Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles) ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos de aprendiz (*).
57. ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. p. 149-150.
TEXTO 2 (*) A resposta a esta questão independe
da leitura prévia dessa obra.
“Que iriam fazer? Retardaram-se, temero-
sos. Chegariam a uma terra desconhecida e
civilizada, ficariam presos nela. E o sertão TRECHO 2
continuaria a mandar gente para lá. O ser-
tão mandaria para a cidade homens fortes, “Alguns anos vivi em Itabira.
brutos como Fabiano, Sinha Vitória e os dois Principalmente nasci em Itabira.
meninos.” Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
(Vidas secas, de Graciliano Ramos) Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
TEXTO 3 E esse alheamento do que na vida é porosi-
dade e comunicação.
“AMBRÓSIO — Senhores, denuncio-vos um
criminoso. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
MEIRINHO — É verdade que tenho aqui uma vem de Itabira, de suas noites brancas, sem
ordem contra um noviço... mulheres e sem horizontes.
MESTRE —... Que já de nada vale. (Preven-
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
ção.)
TODOS — O Padre-Mestre! é doce herança itabirana.
MESTRE (para Carlos) — Carlos, o Dom Aba-
de julgou mais prudente que lá não voltás- De Itabira trouxe prendas diversas que ora
seis. Aqui tens a permissão por ele assinada te ofereço:
para saíres do convento. este São Benedito do velho santeiro Alfredo
CARLOS (abraçando-o) — Meu bom Padre- Duval;
-Mestre, este ato reconcilia-me com os frades. esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
MESTRE — E vós, senhoras, esperai da jus- este couro de anta, estendido no sofá da sala
tiça dos homens o castigo deste malvado. de visitas;
(Para Carlos e Emília:) E vós, meus filhos,
sede felizes, que eu pedirei para todos (ao este orgulho, esta cabeça baixa...
público:) indulgência!
AMBRÓSIO — Oh, mulheres, mulheres! (Exe- Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
cução.)” Hoje sou funcionário público.
(O noviço, de Martins Pena) Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Escolha uma das três obras acima: Romanceiro Mas como dói!”
ANDRADE, Carlos Drummond de. Confidência do
da Inconfidência, de Cecília Meireles; Vidas
itabirano. Obras completas. Poesia e prosa. 8. ed.
Secas, de Graciliano Ramos; O noviço, de Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. p. 57.
Martins Pena, e faça o que se pede:
a) Justifique o título da obra que você escolheu. Com base na comparação entre os trechos
b) Explique a relevância do trecho da obra lidos, explique como as características das
escolhida, abaixo transcrito, para a compre- cidades – no caso, Turmalinas e Itabira –
ensão dessa obra. se refletem na personalidade do narrador
(Trecho 1) e do poeta (Trecho 2).
2. (UFMG) Leia e compare estes trechos:
3. (UnB) Morte do Leiteiro
TRECHO 1
“Há pouco leite no país,
“Escrevi muito, não me pejo de confessá-lo. é preciso entregá-lo cedo.
Em Turmalinas, gozei de evidente notorie- Há muita sede no país,
dade, a que faltou, entretanto, para duração, é preciso entregá-lo cedo.

116
Há no país uma legenda, se era alegre, se era bom,
que ladrão se mata com tiro. não sei,
é tarde para saber.
Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata Da garrafa estilhaçada,
sai correndo e distribuindo no ladrilho já sereno
leite bom para gente ruim. escorre uma coisa espessa
Sua lata, suas garrafas que é leite, sangue... não sei.
e seus sapatos de borracha Por entre objetos confusos,
vão dizendo aos homens no sono mal redimidos da noite,
que alguém acordou cedinho duas cores se procuram,
e veio do último subúrbio suavemente se tocam,
trazer o leite mais frio amorosamente se enlaçam,
e mais alvo da melhor vaca formando um terceiro tom
para todos criarem força a que chamamos aurora.”
na luta brava da cidade. Carlos Drummond de Andrade

Na mão a garrafa branca Com relação ao poema Morte do Leiteiro,


não tem tempo de dizer de Carlos Drummond de Andrade, julgue os
as coisas que lhe atribuo itens a seguir.
nem o moço leiteiro ignaro. a) Nesse poema, foram utilizados recursos lite-
morador na Rua Namur, rários característicos do primeiro momento
empregado no entreposto modernista, tais como o humor e a paródia.
Com 21 anos de idade, b) Nos seis versos iniciais do poema, a impesso-
alidade poética é reforçada pelo emprego de
sabe lá o que seja impulso
orações sem sujeito ou com sujeito indeter-
de humana compreensão.
minado. Tal impessoalidade contrasta com a
E já que tem pressa, o corpo
aproximação entre narrador e personagem,
vai deixando à beira das casas
marcada, textualmente, pelo emprego do
uma apenas mercadoria.
pronome “Meu” no verso “Meu leiteiro tão
sutil”.
E como a porta dos fundos c) O autor emprega recursos linguísticos para
também escondesse gente expressar, de forma impessoal, a voz da
que aspira ao pouco de leite ideologia que fundamenta a atitude do
disponível em nosso tempo, senhor que atira no leiteiro sem refletir
avancemos por esse beco, sobre o real perigo de tal ato.
peguemos o corredor, d) O leiteiro é um personagem caracterizado no
depositemos o litro… poema sobretudo em sua dimensão psicoló-
Sem fazer barulho, é claro, gica, o que aproxima a estrutura do poema à
que barulho nada resolve. de um texto jornalístico.
e) O narrador enuncia os fatos de forma a
Meu leiteiro tão sutil aderir ao ponto de vista do senhor que mata
de passo maneiro e leve, o leiteiro por acidente, como se verifica na
antes desliza que marcha. forma sutil com que avalia como imprudente
É certo que algum rumor a ação do personagem que entrega leite em
sempre se faz: passo errado, domicílio.
vaso de flor no caminho, f) Pela maneira como são apresentados sentimen-
cão latindo por princípio, tos em um modelo poético sucinto e inspirado
ou um gato quizilento. na tradição clássica, o poema pode ser con-
E há sempre um senhor que acorda, siderado um diálogo de Carlos Drummond de
resmunga e torna a dormir. Andrade com a poesia do grupo de poetas
brasileiros que ficou conhecido como Gera-
Mas este acordou em pânico ção de 45.
(ladrões infestam o bairro), g) A imagem final do poema extrai sua eficá-
não quis saber de mais nada. cia estética do atrito entre a beleza de uma
O revólver da gaveta imagem comumente associada à esperança
saltou para sua mão. (aurora) e a condição trágica da inusitada
Ladrão? se pega com tiro. mistura de cores que resulta do assassinato
Os tiros na madrugada do leiteiro (leite e sangue).
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,

117
E.O. Enem A poesia de Cecília Meireles revela concep-
ções sobre o homem em seu aspecto existen-
cial. Em Cântico VI, o eu lírico exorta seu
1. (Enem) interlocutor a perceber, como inerente à
condição humana,
TEXTO I
a) a sublimação espiritual graças ao poder de se
POEMA DE SETE FACES
emocionar.
“Mundo mundo vasto mundo,
b) o desalento irremediável em face do cotidia-
Se eu me chamasse Raimundo
no repetitivo.
seria uma rima, não seria uma solução.
c) o questionamento cético sobre o rumo das
Mundo mundo vasto mundo,
atitudes humanas.
mais vasto é meu coração.”
d) a vontade inconsciente de perpetuar-se em
ANDRADE, C. D. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record,
2001 (fragmento).
estado adolescente.
e) um receio ancestral de confrontar a imprevi-
sibilidade das coisas.
TEXTO II
CDA (IMITADO)
3. (Enem) Aquele bêbado
“Ó vida, triste vida!
Se eu me chamasse Aparecida
dava na mesma.” — Juro nunca mais beber — e fez o sinal da
FONTELA, O. Poesia reunida. São Paulo: Cosac
cruz com os indicadores. Acrescentou: — Álcool.
Naify; Rio de Janeiro: 7Letras, 2006. O mais, ele achou que podia beber. Bebia
paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de
Orides Fontela intitula seu poema “CDA”, Mário Quintana. Tomou um pileque de Se-
sigla de Carlos Drummond de Andrade, e gall. Nos fins de semana embebedava-se de
entre parênteses indica “imitado” porque, Índia Reclinada, de Celso Antônio.
como nos versos de Drummond: — Curou-se 100% de vício — comenta-
a) apresenta o receio de colocar os dramas pessoais vam os amigos.
no mundo vasto. Só ele sabia que andava bêbado que nem
b) expõe o egocentrismo de sentir o coração um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no
maior que o mundo. meio de uma carraspana de pôr do sol no Le-
c) aponta a insuficiência da poesia para solu- blon, e seu féretro ostentava inúmeras coro-
cionar os problemas da vida. as de ex-alcoólatras anônimos.
d) adota tom melancólico para evidenciar a ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio
desesperança com a vida. de Janeiro: Record, 1991.
e) invoca a tristeza da vida para potencializar
A causa mortis do personagem, expressa no
a ineficácia da rima.
último parágrafo, adquire um efeito irônico
no texto porque, ao longo da narrativa, ocor-
2. (Enem) Cântico VI re uma:
a) metaforização do sentido literal do verbo
Tu tens um medo de “beber”.
Acabar. b) aproximação exagerada da estética abstra-
Não vês que acabas todo o dia. cionista.
Que morres no amor. c) apresentação gradativa da coloquialidade da
Na tristeza. linguagem.
Na dúvida. d) exploração hiperbólica da expressão “inúme-
No desejo. ras coroas”.
Que te renovas todo dia. e) citação aleatória de nomes de diferentes ar-
No amor. tistas.
Na tristeza.
Na dúvida. 4. (Enem)
No desejo. TEXTO I
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Antigamente
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno. Antigamente, os pirralhos dobravam a lín-
MEIRELES, C. Antologia poética, Rio de
gua diante dos pais e se um se esquecia de
Janeiro: Record. 1963 (fragmento). arear os dentes antes de cair nos braços de
Morfeu, era capaz de entrar no couro. Não
devia também se esquecer de lavar os pés,

118
sem tugir nem mugir. Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois
levava tunda. Ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates. Não ficava
mangando na rua nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse patavina da instrução
moral e cívica. O verdadeiro smart calçava botina de botões para comparecer todo liró ao copo
d’água, se bem que no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é que eram
um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de galinha. O
melhor era pôr as barbas de molho diante de um treteiro de topete, depois de fintar e engambelar
os coiós, e antes que se pudesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco.
ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de janeiro: nova Aguilar, 1983 (fragmento).

TEXTO II

Palavras do arco da velha


Expressão Significado
Cair nos braços de Morfeu Dormir
Debicar Zombar, ridicularizar
Tunda Surra
Mangar Escarnecer, caçoar
Tugir Murmurar
Liró Bem-vestido
Copo d’água Lanche oferecido pelos amigos
Convescote Piquenique
Bilontra Velhaco
Treteiro de topete Tratante atrevido
Abrir o arco Fugir
FIORIN, J. L. As línguas mudam. In: Revista Língua Portuguesa, n. 24, out. 2007 (adaptado).

Na leitura do fragmento do texto Antigamente constata-se, pelo emprego de palavras obsoletas,


que itens lexicais outrora produtivos não mais o são no português brasileiro atual. Esse fenômeno
revela que:
a) a língua portuguesa de antigamente carecia de termos para se referir a fatos e coisas do cotidiano.
b) o português brasileiro se constitui evitando a ampliação do léxico proveniente do português europeu.
c) a heterogeneidade do português leva a uma estabilidade do seu léxico no eixo temporal.
d) o português brasileiro apoia-se no léxico inglês para ser reconhecido como língua independente.
e) o léxico do português representa uma realidade linguística variável e diversificada.

5. (Enem) Verbo ser

QUE VAI SER quando crescer? Vivem perguntando em redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito,
um nome? Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo ou jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce? É terrível, ser? Dói? É bom? É triste? Ser: pronuncia-
do tão depressa, e cabe tantas coisas? Repito: ser, ser, ser. Er. R. Que vou ser quando crescer? Sou
obrigado a? Posso escolher? Não dá para entender. Não vou ser. Não quero ser. Vou crescer assim
mesmo. Sem ser. Esquecer.
ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.

A inquietação existencial do autor com a autoimagem corporal e a sua corporeidade se desdobra em ques-
tões existenciais que têm origem:
a) no conflito do padrão corporal imposto contra as convicções de ser autêntico e singular.
b) na aceitação das imposições da sociedade seguindo a influência de outros.
c) na confiança no futuro, ofuscada pelas tradições e culturas familiares.
d) no anseio de divulgar hábitos enraizados, negligenciados por seus antepassados.
e) na certeza da exclusão, revelada pela indiferença de seus pares.

119
6. (Enem) No poema “Procura da poesia”, Car- 8. (Enem)
los Drummond de Andrade expressa a con- SONETO DE FIDELIDADE
cepção estética de se fazer com palavras o
que o escultor Michelangelo fazia com már- De tudo ao meu amor serei atento
more. O fragmento a seguir exemplifica essa Antes e com tal zelo, e sempre, e tanto
afirmação. Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
“(...)
Penetra surdamente no reino das palavras. Quero vivê-lo em cada vão momento
Lá estão os poemas que esperam ser escritos. E em seu louvor hei de espalhar meu canto
(...) E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou ao seu contentamento.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
E assim, quando mais tarde me procure
tem mil faces secretas sob a face neutra
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.
pobre ou terrível, que lhe deres:
trouxeste a chave?”
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Carlos Drummond de Andrade. A rosa do
povo. Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14.
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Esse fragmento poético ilustra o seguinte (MORAES, Vinicius de. ANTOLOGIA
POÉTICA. São Paulo: Cia das Letras, 1992)
tema constante entre autores modernistas:
a) a nostalgia do passado colonialista revisita- A palavra mesmo pode assumir diferentes sig-
do. nificados, de acordo com a sua função na fra-
b) a preocupação com o engajamento político e se. Assinale a alternativa em que o sentido de
social da literatura. mesmo equivale ao que se verifica no 30. verso
c) o trabalho quase artesanal com as palavras, da 1ª estrofe do poema de Vinicius de Moraes.
despertando sentidos novos. a) “Pai, para onde fores, /irei também trilhan-
d) a produção de sentidos herméticos na busca do as mesmas ruas...” (augusto dos Anjos)
da perfeição poética. b) “Agora, como outrora, há aqui o mesmo con-
e) a contemplação da natureza brasileira na traste da vida interior, que é modesta, com a
perspectiva ufanista da pátria. exterior, que é ruidosa.” (Machado de Assis)
c) “Havia o mal, profundo e persistente, para o
qual o remédio não surtiu efeito, mesmo em
7. (Enem) doses variáveis.” (Raimundo Faoro)
O mundo é grande d) “Vamos de qualquer maneira, mas vamos
mesmo.” (Aurélio)
O mundo é grande e cabe
Nesta janela sobre o mar. 9. (Enem 1999) Quem não passou pela experi-
O mar é grande e cabe ência de estar lendo um texto e defrontar-se
Na cama e no colchão de amar. com passagens já lidas em outros? Os textos
O amor é grande e cabe conversam entre si em um diálogo constan-
No breve espaço de beijar te. Esse fenômeno tem a denominação de in-
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. tertextualidade. Leia os seguintes textos:
Rio de Janeiro. Nova Aguilar 1983.
I. Quando nasci, um anjo torto
Neste poema, o poeta realizou uma opção Desses que vivem na sombra
estilística: a reiteração de determinadas Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida
construções e expressões linguísticas, como (ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma
o uso da mesma conjunção para estabelecer Poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)
a relação entre as frases. Essa conjunção es-
II. Quando nasci veio um anjo safado
tabelece, entre as ideias relacionadas, um
O chato dum querubim
sentido de:
E decretou que eu tava predestinado
a) oposição. A ser errado assim
b) comparação. Já de saída a minha estrada entortou
c) conclusão. Mas vou até o fim.
d) alternância. (BUARQUE, Chico. Letra e música. São
e) finalidade. Paulo: Cia das Letras, 1989)

120
III. Quando nasci um anjo esbelto
Desses que tocam trombeta, anunciou: E.O. UERJ
Vai carregar bandeira.
Carga muito pesada pra mulher
Exame de Qualificação
Esta espécie ainda envergonhada.
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986)
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:

Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem SEPARAÇÃO


intertextualidade, em relação a Carlos Drum-
mond de Andrade, por: Voltou-se e mirou-a como se fosse pela últi-
a) reiteração de imagens. ma vez, como quem repete um gesto imemo-
b) oposição de ideias. rialmente irremediável. 1No íntimo, preferia
c) falta de criatividade. não tê-lo feito; mas ao chegar à porta 2sentiu
d) negação dos versos. que 14nada poderia evitar a reincidência da-
e) ausência de recursos. quela cena tantas vezes contada na história
do amor, que é a história do mundo. 10Ela o
1
0. (Enem) A discussão sobre gramática na clas- olhava com um olhar intenso, onde existia
se está “quente”. Será que os brasileiros sa- uma incompreensão e um anelo1, 15como a
bem gramática? A professora de Português pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e
propõe para debate o seguinte texto: que não deixasse de ir, por isso que era tudo
impossível entre eles.
(...)
PRA MIM BRINCAR
Seus olhares 4fulguraram por um instante um
contra o outro, depois se 5acariciaram terna-
Não há nada mais gostoso do que o mim su- mente e, finalmente, se disseram que não ha-
jeito de verbo no infinito. Pra mim brincar. via nada a fazer. 6Disse-lhe adeus com doçura,
As cariocas que não sabem gramática falam virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si
assim. Todos os brasileiros deviam de querer mesmo numa tentativa de secionar2 aqueles
falar como as cariocas que não sabem gramá- dois mundos que eram ele e ela. Mas 16o brus-
tica. co movimento de fechar prendera-lhe entre
- As palavras mais feias da língua portugue- as folhas de madeira o espesso tecido da vida,
sa são quiçá, alhures e miúde. e ele ficou retido, sem se poder mover do lu-
(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e gar, 11sentindo o pranto formar-se muito lon-
verso. Org: Emanuel de Moraes. 4a ed. Rio de ge em seu íntimo e subir em busca de espaço,
Janeiro, José Olympio, 1986. Pág.19)
como um rio que nasce.
Com a orientação da professora e após o de-
17
Fechou os olhos, tentando adiantar-se à
bate sobre o texto de Manuel Bandeira, os agonia do momento, mas o fato de sabê-la
alunos chegaram à seguinte conclusão: ali ao lado, e dele separada por imperativos
a) Uma das propostas mais ousadas do Moder- categóricos3 de suas vidas, 12não lhe dava
nismo foi a busca da identidade do povo forças para desprender-se dela. 8Sabia que
brasileiro e o registro, no texto literário, da era aquela a sua amada, por quem esperara
desde sempre e que por muitos anos buscara
diversidade das falas brasileiras.
em cada mulher, na mais terrível e dolorosa
b) Apesar de os modernistas registrarem as fa-
busca. Sabia, também, que o primeiro passo
las regionais do Brasil, ainda foram precon-
que desse colocaria em movimento sua má-
ceituosos em relação às cariocas.
quina de viver e ele teria, mesmo como um
c) A tradição dos valores portugueses foi a
autômato, de sair, andar, fazer coisas, 9dis-
pauta temática do movimento modernista.
tanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais.
d) Manuel Bandeira e os modernistas brasilei- 18
E no entanto ali estava, a poucos passos,
ros exaltaram em seus textos o primitivismo sua forma feminina que não era nenhuma
da nação brasileira. outra forma feminina, mas a dela, a mu-
e) Manuel Bandeira considera a diversidade dos lher amada, aquela que ele 7abençoara com
falares brasileiros uma agressão à Língua os seus beijos e agasalhara nos instantes
Portuguesa. do amor de seus corpos. Tentou 3imaginá-la
em sua dolorosa mudez, já envolta em seu
espaço próprio, perdida em suas cogitações
próprias − um ser desligado dele pelo limite
existente entre todas as coisas criadas.
13
De súbito, sentindo que ia explodir em lá-
grimas, correu para a rua e pôs-se a andar

121
sem saber para onde... Todas as experiências de sexo
MORAIS, Vinicius de. Poesia completa e são iguais.
prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1986. Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e
rondós são iguais
1
e todos, todos
1. (UERJ 2015) Sabia que era aquela a sua ama- 2
os poemas em verso livre são enfadonha-
da, por quem esperara desde sempre e que
mente iguais.
por muitos anos buscara em cada mulher, na
mais terrível e dolorosa busca. (ref. 8)
Neste trecho, existe um contraste que busca Todas as guerras do mundo são iguais.
acentuar o seguinte traço relativo à mulher Todas as fomes são iguais.
amada:
3
Todos os amores, iguais iguais iguais.
a) distância. Iguais todos os rompimentos.
b) intimidade. A morte é igualíssima.
c) indiferença. Todas as criações da natureza são iguais.
d) singularidade. Todas as ações, cruéis, piedosas ou indife-
rentes, são iguais.
2. (UERJ 2015) A hipérbole é uma figura empre- Contudo, o homem não é igual a nenhum ou-
gada na crônica de Vinícius de Morais para ca- tro homem, bicho ou coisa.
racterizar o estado de ânimo do personagem.
Essa figura está exemplificada em: Ninguém é igual a ninguém.
a) Ela o olhava com um olhar intenso, (ref. 10) 4
Todo ser humano é um estranho
b) sentindo o pranto formar-se muito longe em 5
ímpar.
seu íntimo (ref. 11) CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
c) não lhe dava forças para desprender-se dela. Nova reunião: 19 livros de poesia. Rio
(ref. 12) de Janeiro: José Olympio, 1985.
d) De súbito, sentindo que ia explodir em lágri- §§ best-sellers – livros mais vendidos
mas, (ref. 13)
§§ gazéis, virelais, sextinas, rondós – tipos
de poema
3. (UERJ 2015) Uma metáfora pode ser cons-
truída pela combinação entre elementos abs-
4. (UERJ 2013) Todos os amores, iguais iguais
tratos e concretos.
iguais. (ref. 3)
No texto, um exemplo de metáfora que se
A intensificação da repetição do termo iguais
constrói por esse tipo de combinação é: a)
no mesmo verso, relacionado a amores, en-
como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não
fosse e que não deixasse de ir, (ref. 15) fatiza determinada crítica que o poeta pre-
b) o brusco movimento de fechar prendera-lhe tende fazer.
entre as folhas de madeira o espesso tecido A crítica de Drummond se dirige às re-
da vida, (ref. 16) lações amorosas, no que diz respeito ao
c) Fechou os olhos, tentando adiantar-se à seguinte aspecto:
agonia do momento, (ref. 17) a) exagero.
d) E no entanto ali estava, a poucos passos, b) padronização.
(ref. 18) c) desvalorização.
d) superficialidade.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
5. (UERJ 2013) O título do poema anuncia a
Igual-Desigual noção de desigualdade.
Pela leitura do conjunto do texto, é possível
concluir que a desigualdade entre os homens
Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais. diz respeito principalmente a:
Todos os filmes norte-americanos são iguais. a) traços individuais.
Todos os filmes de todos os países são iguais. b) convicções políticas.
Todos os best-sellers são iguais c) produções culturais.
Todos os campeonatos nacionais e interna- d) orientações filosóficas.
cionais de futebol são
iguais. 6. (UERJ 2013) e todos, todos
Todos os partidos políticos os poemas em verso livre são enfadonhamen-
são iguais. te iguais. (ref. 1 e 2)
Todas as mulheres que andam na moda Os versos livres são aqueles que não se sub-
são iguais. metem a um padrão.

122
Considerando essa definição, identifica-se do que nós é alta. De qualquer forma, mais
nos versos acima a figura de linguagem de- inteligentes ou mais avançados tecnologica-
nominada: mente, nossa reação ao travar contato com
a) antítese. tais seres seria um misto de adoração e ter-
b) metáfora. ror. Se fossem muito mais avançados do que
c) metonímia. nós, a ponto de haverem desenvolvido tec-
d) eufemismo. nologias que os liberassem de seus corpos,
esses seres teriam uma existência apenas
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: espiritual. A essa altura, seria difícil distin-
gui-los de deuses.
Astroteologia
4
Por mais de 40 anos, cientistas vasculham
os céus com seus radiotelescópios tentan-
Aparentemente, foi o filósofo grego Epicuro do ouvir sinais de civilizações inteligen-
que sugeriu, já em torno de 270 a.C., que tes. (...) 5Infelizmente, até agora nada foi
existem inúmeros mundos espalhados pelo encontrado. Muitos cientistas acham essa
cosmo, alguns como o nosso e outros comple- busca uma imensa perda de tempo e de di-
tamente diferentes, muitos deles com cria- nheiro. As chances de que algo significa-
turas e plantas. tivo venha a ser encontrado são extrema-
3
Desde então, ideias sobre a pluralidade dos mente remotas.
mundos têm ocupado uma fração significati- Em quais frequências os ETs estariam en-
va do debate entre ciência e religião. Em um viando os seus sinais? E como decifrá-los?
exemplo dramático, o monge Giordano Bru- Por outro lado, os que defendem a busca
no foi queimado vivo pela Inquisição Roma- afirmam que um resultado positivo mudaria
na em 1600 por pregar, dentre outras coisas, profundamente a nossa civilização. A con-
que cada estrela é um Sol e que cada Sol tem firmação da existência de outra forma de
seus planetas. vida inteligente no universo provocaria uma
Religiões mais conservadoras negam a pos- revolução. Alguns até afirmam que seria a
sibilidade de vida extraterrestre, especial- maior notícia já anunciada de todos os tem-
mente se for inteligente. No caso do cristia- pos. Eu concordo.
nismo, Deus é o criador e a criação é descrita
9
Não estaríamos mais sós. Se os ETs fossem
na Bíblia, e não vemos qualquer menção de mais avançados e pacíficos, poderiam nos
outros mundos e gentes. Pelo contrário, os ajudar a lidar com nossos problemas sociais,
homens são as criaturas escolhidas e, por- como a fome, o racismo e os confrontos re-
tanto, privilegiadas. ligiosos. Talvez nos ajudassem a resolver
Todos os animais e plantas terrestres estão desafios científicos. 6Nesse caso, quão dife-
aqui para nos servir. 8Ser inteligente é uma rentes seriam dos deuses que tantos acredi-
dádiva que nos põe no topo da pirâmide da tam existir? Não é à toa que inúmeras seitas
vida. modernas dirigem suas preces às estrelas e
O que ocorreria se travássemos contato com não aos altares.
outra civilização inteligente? Deixando de Marcelo Gleiser. Folha de São Paulo, 01/03/2009
lado as inúmeras dificuldades de um contato
dessa natureza – da raridade da vida aos de-
safios tecnológicos de viagens interestelares 7. (UERJ) Science Fiction
– tudo depende do nível de inteligência dos
membros dessa civilização. O marciano encontrou-me na rua
1
Se são eles que vêm até aqui, não há dúvida e teve medo de minha impossibilidade humana.
de que são muito mais desenvolvidos do que Como pode existir, pensou consigo, um ser
nós. Não necessariamente mais inteligentes, que no existir põe tamanha anulação de
mas com mais tempo para desenvolver suas existência?
tecnologias. Afinal, estamos ainda na infân- Afastou-se o marciano, e persegui-o.
cia da era tecnológica: 7a primeira locomo- Precisava dele como de um testemunho.
tiva a vapor foi inventada há menos de 200 Mas, recusando o colóquio, desintegrou-se
anos (em 1814). no ar constelado de problemas.
Tal qual a reação dos nativos das Américas E fiquei só em mim, de mim ausente.
quando viram as armas de fogo dos euro-
Carlos Drummond de Andrade. Nova reunião.
peus, o que são capazes de fazer nos pare- São Paulo: José Olympio, 1983.
ceria mágica.
2
Claro, ao abrirmos a possibilidade de que O autor de Astroteologia caracteriza como
vida extraterrestre inteligente exista, a pro- um misto de adoração e terror a reação dos
babilidade de que sejam mais inteligentes homens caso encontrem alienígenas.

123
Em Science Fiction, o contato do homem com o 2. (UERJ) Em um dos versos do poema, obser-
alienígena é caracterizado de modo diferente. va-se uma aparente contradição entre dois
O verso que melhor expressa tal diferença é: termos.
a) O marciano encontrou-me na rua. (v. 1) Identifique esse verso e explique por que, de
b) e teve medo de minha impossibilidade hu- acordo com a leitura do texto, a associação
mana. (v. 2) entre os termos não é contraditória.
c) Precisava dele como de um testemunho. (v. 6)
d) Mas, recusando o colóquio, desintegrou-se. (v. 7) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Infância
E.O. UERJ Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Exame Discursivo Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
O sobrevivente
1No meio-dia branco de luz uma voz que
Impossível compor um poema a essa altura aprendeu
da evolução da humanidade. a ninar nos longes da senzala – e nunca se
Impossível escrever um poema – uma linha esqueceu
que seja – de verdadeira poesia. chamava para o café.
O último trovador morreu em 1914.
Café preto que nem a preta velha
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
café gostoso
café bom.
Há máquinas terrivelmente complicadas
para as necessidades mais simples.
Minha mãe ficava sentada cosendo
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
olhando para mim:
Paletós abotoam-se por eletricidade.
– Psiu... Não acorde o menino.
Amor se faz pelo sem-fio.
Para o berço onde pousou um mosquito.
Não precisa estômago para digestão.
E dava um suspiro... que fundo!

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta


2Lá longe meu pai campeava
muito para atingirmos um nível razoável de
no mato sem fim da fazenda.
cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto.
E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
Os homens não melhoraram
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
e matam-se como percevejos. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.
Os percevejos heroicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria 3. (UERJ)
um segundo dilúvio.
No meio-dia branco de luz uma voz que
(Desconfio que escrevi um poema.) aprendeu
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE a ninar nos longes da senzala – e nunca se
Nova reunião: 19 livros de poesia. Rio
de Janeiro: José Olympio, 1985.
esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
1. (UERJ 2011) Os dois primeiros versos enfa- café gostoso
tizam uma ideia que será desconstruída pela café bom. (ref. 1)
leitura integral do poema, caracterizando
uma ironia, expressa também no título. Identifique, na estrofe acima, dois traços
Transcreva o verso do texto que, em compara- característicos da estética modernista, um
ção com os dois primeiros, revela essa ironia. relacionado à linguagem e outro à forma do
Em seguida, estabeleça a relação entre o ver- poema. Cite também um exemplo para cada
so transcrito e o título. um desses traços.

124
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: 4. (UERJ) Quando lemos um texto, devemos
estar atentos, entre outras coisas, à seleção
ROMANCE II OU DO OURO INCANSÁVEL dos substantivos, verbos, adjetivos e conec-
tivos diversos utilizados na interligação das
Mil bateias1 vão rodando informações.
sobre córregos escuros; a) Nas duas primeiras estrofes do texto, a
a terra vai sendo aberta poetisa representa a extração do ouro
por intermináveis sulcos; mediante oito adjetivos, que formam dois
infinitas galerias grupos semanticamente contrastantes.
penetram morros profundos. Aponte os adjetivos componentes de cada
um desses grupos.
De seu calmo esconderijo,
b) “É tão claro! – e turva tudo:” (v. 11) e “já
o ouro vem, dócil e ingênuo;
ninguém dorme tranquilo, / que a noite é
torna-se pó, folha, barra,
um mundo de sustos”. (v. 41 - 42)
prestígio, poder, engenho...
Nos exemplos acima, as respectivas conjun-
É tão claro! – e turva tudo:
ções podem ser substituídas por outras sem
honra, amor e pensamento.
que se altere o sentido original do enuncia-
Borda flores nos vestidos, do. Reescreva estes exemplos substituindo
sobe a opulentos altares, convenientemente cada conjunção.
traça palácios e pontes,
eleva os homens audazes, 5. (UERJ) O poema de Cecília Meireles apresenta
e acende paixões que alastram um tom épico e revela afinidades com as pro-
sinistras rivalidades. postas que distinguiram a chamada geração de
30 da primeira geração modernista.
Pelos córregos, definham a) Indique duas características do poema
negros, a rodar bateias. relacionadas ao gênero épico.b) A p o n t e
Morre-se de febre e fome um aspecto em comum entre a perspecti-
sobre a riqueza da terra: va da autora sobre o país, revelada nesse
uns querem metais luzentes, texto, e a que predominou na obra de ro-
outros, as redradas2 pedras.
mancistas da geração de 30.
Ladrões e contrabandistas
estão cercando os caminhos; TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
cada família disputa
privilégios mais antigos; MULHER AO ESPELHO
os impostos vão crescendo
e as cadeias vão subindo. Hoje, que seja esta ou aquela,
Por ódio, cobiça, inveja, pouco me importa.
vai sendo o inferno traçado. Quero apenas parecer bela,
Os reis querem seus tributos, pois, seja qual for, estou morta.
- mas não se encontram vassalos.
Mil bateias vão rodando, Já fui loura, já fui morena,
mil bateias sem cansaço. já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Mil galerias desabam; Só não pude ser como quis.
mil homens ficam sepultos;
mil intrigas, mil enredos
prendem culpados e justos; Que mal faz, esta cor fingida
já ninguém dorme tranquilo, do meu cabelo, e do meu rosto,
que a noite é um mundo de sustos. se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Descem fantasmas dos morros,
vêm almas dos cemitérios: Por fora, serei como queira
todos pedem ouro e prata, a moda, que me vai matando.
e estendem punhos severos, Que me levem pele e caveira
mas vão sendo fabricadas ao nada, não me importa quando.
muitas algemas de ferro.
(MEIRELES, Cecília. Poesias completas. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.) Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
1
peneiras de madeira e morreu pelos seus pecados,
2
depuradas, selecionadas falará com Deus.

125
Falará, coberta de luzes, Onde avanço, me dou, e o que é sugado
do alto penteado ao rubro artelho. ao mim de mim, em ecos se desmembra;
Porque uns expiram sobre cruzes, nem resta mais que indício,
outros, buscando-se no espelho. pelos ares lavados,
(MEIRELES, Cecília. Poesias Completa. Rio de do que era amor e dor agora, é vício.
Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.)
O corpo em si, mistério: o nu, cortina
de outro corpo, jamais apreendido,
6. (UERJ) O poema de Cecília Meireles revela assim como a palavra esconde outra
uma mudança de perspectiva em relação à voz, prima e vera, ausente de sentido.
primeira geração modernista. Amor é compromisso
a) Explique, em uma frase completa, por com algo mais terrível do que amor?
que a temática deste poema difere da – pergunta o amante curvo à noite cega,
temática dominante na primeira fase do e nada lhe responde, ante a magia:
Modernismo. arder a salamandra2 em chama fria.
b) Cite duas características formais do po- (ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.
ema que acompanham esta mudança de Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988.)
atitude.
1
blandícia - meiguice, brandura; afago,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: mimo, carícia
2
salamandra - animal anfíbio que, segundo
a mitologia, era capaz de viver no fogo sem
TEXTO I - ARTE DE AMAR
ser consumido
Se queres sentir a felicidade de amar, esque-
7. (UERJ) Compare os poemas de Bandeira e
ce a tua alma.
Drummond para responder à questão.
A alma é que estraga o amor.
Indique, em no máximo duas frases comple-
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
tas, a diferença de pontos de vista em rela-
Não noutra alma. ção ao amor carnal.
Só em Deus – ou fora do mundo.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
As almas são incomunicáveis.
TEXTO I
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
SOBRE O TÚMULO DO MARECHAL LABATUT
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira: poesias
Foi ele neste campo o mestre e o guia
reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974.)
De uma raça de heróis em cujas veias
Fervia com o sangue o amor da Pátria!
TEXTO II - MINERAÇÃO DO OUTRO Aqui, por sobre as fronteiras inimigas
Passando como um raio
Os cabelos ocultam a verdade.
Que ao mesmo tempo espalha luz e morte,
Como saber, como gerir um corpo alheio?
Os servos fulminando,
Os dias consumidos em sua lavra
Sua espada de bravo a um bravo povo
significam o mesmo que estar morto.
Aqui viu esse povo
(RABELO, Laurindo. POESIAS COMPLETAS.
Não o decifras, não, ao peito oferto, Rio de Janeiro, INL, 1963.)
monstruário de fomes enredadas,
ávidas de agressão, dormindo em concha. TEXTO II
Um toque, e eis que a blandícia1 erra em tor-
mento, OS SERTÕES

e cada abraço tece além do braço Preso o jagunço válido e capaz de aguentar o
a teia de problemas que existir peso da espingarda, não havia malbaratar-se
na pele do existente vai gravando. um segundo em consulta inútil. Degolava-
-se; estripava-se. Um ou outro comandante
Viver-não, viver-sem, como viver se dava o trabalho de um gesto expressivo.
sem conviver, na praça de convites? Era uma redundância capaz de surpreender.

126
Dispensava-a o soldado atreito à tarefa. Me espalhar no carnaval.
Esta era, como vimos, simples. Enlear ao Não quero fazer exercício,
pescoço da vítima uma tira de couro, num Senão o estrangeiro pensa
cabresto ou numa ponta de chiqueirador; Que a gente está ameaçando,
impeli-la por diante, atravessar entre as bar- Declara guerra ao Brasil.
racas, sem que ninguém se surpreendesse; e Quero paz a vida inteira,
sem temer que se escapasse a presa, porque A guerra produz a dor,
ao mínimo sinal de resistência ou fuga um Dor de barriga e outras mais.
puxão para trás faria que o laço se anteci- Quero paz e quero amor.
passe à faca e o estrangulamento à degola. Chega dia de parada
Avançar até à primeira covanca profunda, o Já estou caindo de sono
que era um requinte de formalismo; e, ali No fim de duzentos metros:
chegados, esfaqueá-la. Nesse momento, con- Fico olhando pras mulatas,
forme o humor dos carrascos, surgiam li- Esqueci, saí da linha,
geiras variantes. Como se sabia, o supremo Felizmente não faz mal,
pavor dos sertanejos era morrer a ferro frio, O major também saiu.
não pelo temor da morte senão pelas suas Se algum dia a pátria amada
consequências, porque acreditavam que, por Precisar de meus serviços,
tal forma, não se lhes salvaria a alma. Trepo lá em cima do morro
4(...) Pronto. Sobre a tragédia anônima, Carregando os meus valores
obscura, desenrolando-se no cenário pobre e - A minha boa espingarda
tristonho das encostas eriçadas de cactos e pe- E um vidro de parati
dras, cascalhavam rinchavelhadas lúgubres, e Ou me escondo na floresta;
os matadores volviam para o acampamento. O estrangeiro não descobre,
Nem lhes inquiriam pelos incidentes da em- Desanimou, foi-se embora.
presa. O fato descambara lastimavelmente à E a paz reinou outra vez
vulgaridade completa. Os próprios jagunços, Em nosso gentil Brasil
ao serem prisioneiros, conheciam a sorte que Que Deus tenha sempre em paz.
os aguardava. Sabia-se no arraial daquele pro- (MENDES, Murilo. POESIA COMPLETA & PROSA.
Rio de Janeiro, Nova Aguiar, 1994.)
cesso sumaríssimo e isto, em grande parte,
contribuiu para a resistência doida que pa-
tentearam. Render-se-iam, certo, atenuando 8. (UERJ 1997) Todos os textos apresentam fi-
os estragos e o aspecto odioso da campanha, guras de soldados. Contudo, o modo de apre-
a outros adversários. Diante dos que lá esta- sentação destas figuras não é o mesmo.
vam, porém, lutariam até à morte. a) No texto I, Laurindo Rabelo idealiza a fi-
(CUNHA, Euclides da. OS SERTÕES. Rio gura do guerreiro, transformando o gene-
de Janeiro, Ediouro, s/d.) ral Labatut em herói.
Aponte o estilo de época a que correspon-
VOCABULÁRIO: de esta idealização do poeta.
malbaratar-se = desperdiçar b) No texto III, Murilo Mendes apresenta o
atreito = acostumado soldado como anti-herói – preguiçoso e
rinchavelhadas = gargalhadas covarde, sem a menor disposição de lutar
pela pátria.
TEXTO III Aponte o estilo de época a que correspon-
de esta apresentação do poeta.
CANÇÃO DO SOLDADO

Eu sou a guarda da pátria.


Sou amado pela pátria.
E.O. Objetivas
Mas não correspondo não. (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
Tenho um rabicho febril
Pela bandeira auriverde. 1. (Unifesp) Leia os versos de Cecília Meireles,
Se as cores desta bandeira
extraídos do poema Epigrama n.º 8.
Não fossem tão bonitinhas
“Encostei-me a ti, sabendo bem que eras so-
Eu não teria coragem.
O meu kaki é bem feitinho; mente onda.
No alto do meu bonet Sabendo bem que eras nuvem, depus a mi-
A glória se empoleirou, nha vida em ti.
Não há meio de sair. Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu
Eu quero paz e mais paz. destino frágil,
Quero acertar na centena, fiquei sem poder chorar, quando caí.”

127
O eu lírico reconhece que a pessoa em quem b) parte da força poética do texto provém da
depôs sua vida representável: associação da imagem tradicionalmente
a) uma relação incerta, por isso os desenganos positiva da rosa a atributos negativos, ligados
vividos seriam inevitáveis. à ideia de destruição.
b) um sentimento intenso, por isso tinha c) o caráter politicamente engajado do texto é
certeza de que não sofreria. responsável pela sua despreocupação com a
c) um caso de amor passageiro, por isso se elaboração formal.
sentia enganado. d) o paralelismo da construção sintática revela
d) uma angústia inevitável, por isso seria que o texto foi escrito originalmente como
melhor aquele amor. letra de canção popular.
e) uma opção equivocada, por isso sempre teve e) o predomínio das metonímias sobre as
medo de amar. metáforas responde, em boa medida, pelo
caráter concreto do texto e pelo vigor de sua
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. mensagem.

RECEITA DE MULHER
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES
“As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso Para as próximas questões, considere os ver-
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso sos abaixo dos poemas “Sentimento do mun-
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de do” e “Noturno à janela do apartamento”, de
[haute couture* Carlos Drummond de Andrade, ambos publica-
Em tudo isso (ou então dos no livro Sentimento do Mundo.
Que a mulher se socialize elegantemente em “esse amanhecer
azul, mais noite que a noite.”
[como na República Popular Chinesa). Carlos Drummond de Andrade. Sentimento do mundo.
Não há meio-termo possível. É preciso São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.12.
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas “Silencioso cubo de treva:
[pousada e que um rosto um salto, e seria a morte.
Adquira de vez em quando essa cor só en- Mas é apenas, sob o vento,
contrável no a integração na noite.
[terceiro minuto da aurora.”
Nenhum pensamento de infância,
Vinicius de Moraes.
nem saudade nem vão propósito.
* “haute couture”: alta costura. Somente a contemplação
de um mundo enorme e parado.
2. (Fuvest) No conhecido poema “Receita de A soma da vida é nula.
mulher”, de que se reproduziu aqui um Mas a vida tem tal poder:
excerto, o tratamento dado ao tema da beleza na escuridão absoluta,
feminina manifesta a: como líquido, circula.
a) oscilação do poeta entre a angústia do peca-
dor (tendo em vista sua educação jesuítica) Suicídio, riqueza, ciência...
e o impudor do libertino. A alma severa se interroga
b) conjugação, na sensibilidade do poeta, de e logo se cala. E não sabe
interesse sexual e encantamento estético, se é noite, mar ou distância.”
expresso de modo provocador e bem-humorado. Triste farol da Ilha Rasa. Idem, p. 71.
c) idealização da mulher a que chega o poeta
quando, na velhice, arrefeceu-lhe o desejo 4. (Unicamp) A visão de mundo do eu lírico
sexual. em Drummond é marcada pela ironia e pela
d) crítica ao caráter frívolo que, por associar-se dúvida constante, cujo saldo final é negativo
ao consumo, o amor assume na contempora- e melancólico (Triste farol da Ilha Rasa). Tal
neidade. perspectiva assemelha-se à do:
e) síntese, pela via do erotismo, das tendências a) personagem Leonardo, do romance Memórias
europeizantes e nacionalistas do autor. de um Sargento de Milícias.
b) personagem Carlos, da obra Viagens na
3. (Fuvest) Neste poema: minha terra.
a) a referência a um acontecimento histórico, c) narrador do romance O Cortiço.
ao privilegiar a objetividade, suprime o teor d) narrador do romance Memórias Póstumas
lírico do texto. de Brás Cubas.

128
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 5. (Fuvest) Embora o texto de Drummond e o
romance Capitães da Areia, de Jorge Amado,
O OPERÁRIO NO MAR
assemelhem-se na sua especial atenção às
“Na rua passa um operário. Como vai firme! classes populares, um trecho do texto que
Não tem blusa. No conto, no drama, no dis- NÃO poderia, sem perda de coerência formal
curso político, a dor do operário está na sua e ideológica, ser enunciado pelo narrador
blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, do livro de Jorge Amado é, sobretudo, o que
está em:
nos pés enormes, nos desconfortos enormes.
a) “Na rua passa um operário. Como vai firme!
Esse é um homem comum, apenas mais es- Não tem blusa.”
curo que os outros, e com uma significação b) “Esse é um homem comum, apenas mais
estranha no corpo, que carrega desígnios e escuro que os outros (...).”
segredos. Para onde vai ele, pisando assim c) “Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder
tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. oposicionista vociferando.”
d) “Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele
Adiante é só o campo, com algumas árvores, sabe que não é, nunca foi meu irmão, que
o grande anúncio de gasolina americana e os não nos entenderemos nunca.”
fios, os fios, os fios. O operário não lhe so- e) “Mas agora vejo que o operário está cansado
bra tempo de perceber que eles levam e tra- e que se molhou, não muito, mas se molhou,
zem mensagens, que contam da Rússia, do e peixes escorrem de suas mãos.”
Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na
Câmara dos Deputados, o líder oposicionis- 6. (Fuvest) Leia as seguintes afirmações
ta vociferando. Caminha no campo e apenas sobre o poema de Drummond, considerado no
repara que ali corre água, que mais adian- contexto do livro a que pertence:
I. No conjunto formado pelos poemas do livro,
te faz calor. Para onde vai o operário? Teria
a referência ao Morro da Babilônia — fei-
vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe
ta no título do texto — mais as menções
que não é, nunca foi meu irmão, que não ao Leblon e ao Méier, a Copacabana, a São
nos entenderemos nunca. E me despreza... Cristóvão e ao Mangue, — presentes em
Ou talvez seja eu próprio que me despreze outros poemas —, sendo todas, ao mesmo
a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de tempo, espaciais e de classe, constituem
encará-lo: uma fascinação quase me obriga a uma espécie de discreta topografia social
pular a janela, a cair em frente dele, sustar- do Rio de Janeiro.
-lhe a marcha, pelo menos implorar-lhe que II. Nesse poema, assim como ocorre em
suste a marcha. Agora está caminhando no outros textos do livro, a atenção à vida
mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de presente abre-se também para a dimensão
alguns santos e de navios. Mas não há ne- do passado, seja ele dado no registro da
história ou da memória.
nhuma santidade no operário, e não vejo
III. A menção ao “cavaquinho bem afinado”,
rodas nem hélices no seu corpo, aparente-
ao cabo do poema, revela ter sido nesse
mente banal. Sinto que o mar se acovardou livro que o poeta finalmente assumiu
e deixou-o passar. Onde estão nossos exérci- as canções da música popular brasileira
tos que não impediram o milagre? Mas agora como o modelo definitivo de sua lírica,
vejo que o operário está cansado e que se superando, assim, seu antigo vínculo com
molhou, não muito, mas se molhou, e peixes a poesia de matriz culta ou erudita.
escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e Está correto o que se afirma em:
me dirige um sorriso úmido. A palidez e con- a) I, apenas.
fusão do seu rosto são a própria tarde que se b) I e II, apenas.
decompõe. Daqui a um minuto será noite e c) III, apenas.
estaremos irremediavelmente separados pe- d) II e III, apenas.
las circunstâncias atmosféricas, eu em terra e) I, II e III.
firme, ele no meio do mar. Único e precário
agente de ligação entre nós, seu sorriso cada 7. (Fuvest) Guardadas as diferenças que sepa-
ram as obras a seguir comparadas, as tensões
vez mais frio atravessa as grandes massas lí-
a que remete o poema de Drummond derivam
quidas, choca-se contra as formações salinas,
de um conflito de:
as fortalezas da costa, as medusas, atravessa a) caráter racial, assim como sucede em A Cidade
tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma e as Serras.
esperança de compreensão. Sim, quem sabe b) grupos linguísticos rivais, de modo seme-
se um dia o compreenderei?” lhante ao que ocorre em Viagens na Minha
ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. Terra.

129
c) fundo religioso e doutrinário, como o que 2. (Unicamp)
agita o enredo de Til. POÉTICA I
d) classes sociais, tal como ocorre em Capitães “De manhã, escureço
da Areia. De dia, tardo
e) interesses entre agregados e proprietários, De tarde anoiteço
como o que tensiona as Memórias Póstumas De noite ardo
de Brás Cubas.
A oeste a morte
Contra quem vivo

E.O. Dissertativas Do sul cativo


O este é meu norte.
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) Outros que contem
Passo por passo
1. (Unicamp) Eu morro ontem
Os ombros suportam o mundo
“Chega um tempo em que não se diz mais: Nasço amanhã
meu Deus. Ando onde há espaço.
Tempo de absoluta depuração. – Meu tempo é quando.”
Tempo em que não se diz mais: meu amor. Nova York, 1950 (Vinicius de Moraes, Antologia poética.
Porque o amor resultou inútil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p.272.)

E os olhos não choram. a) A poesia é um lugar privilegiado para cons-


E as mãos tecem apenas o rude trabalho. tatarmos que a língua é muito mais produ-
E o coração está seco. tiva do que preveem as normas gramaticais.
Isso é particularmente visível no modo como
Em vão as mulheres batem à porta, não abrirás. o poema explora os marcadores temporais e
Ficaste sozinho, a luz apagou-se, espaciais. Comente dois exemplos presentes
mas na sombra teus olhos resplandecem no poema que confirmem essa afirmação.
enormes. b) As duas últimas estrofes apresentam uma opo-
És todo certeza, já não sabes sofrer. sição entre o eu lírico e os outros. Explique o
E nada esperas de teus amigos. sentido dessa oposição.

Pouco importa venha a velhice, que é a ve- 3. (Fuvest) Examine o seguinte texto para res-
lhice? ponder ao que se pede.
Teus ombros suportam o mundo POÉTICA
e ele não pesa mais que a mão de uma criança. “De manhã escureço
As guerras, as fomes, as discussões dentro De dia tardo
dos edifícios De tarde anoiteço
provam apenas que a vida prossegue De noite ardo
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo, A oeste a morte
prefeririam (os delicados) morrer. Contra quem vivo
Chegou um tempo em que não adianta morrer. Do sul cativo
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. O este é meu norte.
A vida apenas, sem mistificação.”
Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo.
Outros que contem
São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.51. Passo por passo:
Eu morro ontem
a) Na primeira estrofe, o eu lírico afirma cate-
goricamente que “o coração está seco”. Que Nasço amanhã
imagem, nessa primeira estrofe, explica o Ando onde há espaço
fato de o coração estar seco? Justifique sua - Meu tempo é quando.”
resposta. Antologia poética, Vinicius de Moraes.

b) O último verso (“A vida apenas, sem mis- a) Do ponto de vista da organização formal
tificação”) fornece para o leitor o sentido dada ao conjunto do poema, o poeta mos-
fundamental do poema. Levando-se em tra-se vinculado à tradição literária. Essa
conta o conjunto do poema, que sentido é afirmação tem fundamento? Justifique sua
sugerido pela palavra “mistificação”? resposta.

130
b) Do ponto de vista da mensagem configurada E o povo não tem dereito
no poema, o poeta expressa sua oposição até Nem de dizê a verdade.
mesmo a coordenadas fundamentais da expe- No Brasi de Baxo eu vejo
riência. Você concorda com essa afirmação? Nas ponta das pobre rua
Justifique sua resposta. O descontente cortejo
De criança quage nua.
4. (Unicamp) O poeta Vinicius de Moraes, Vai um grupo de garoto
apesar de modernista, explorou formas Faminto, doente e roto
clássicas como o soneto a seguir, em versos Mode caçá o que comê
alexandrinos (12 sílabas) rimados: Onde os carro põe o lixo,
Como se eles fosse bicho
SONETO DA INTIMIDADE Sem direito de vivê.

“Nas tardes de fazenda há muito azul demais. Estas pequenas pessoa,


Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora Estes fio do abandono,
Mastigando um capim, o peito nu de fora Que veve vagando à toa
No pijama irreal de há três anos atrás. Como objeto sem dono,
De manêra que horroriza,
Desço o rio no vau dos pequenos canais Deitado pela marquiza,
Para ir beber na fonte a água fria e sonora Dromindo aqui e aculá
E se encontro no mato o rubro de uma amora No mais penoso relaxo,
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos cur- É deste Brasi de Baxo
rais. A crasse dos marginá.

Fico ali respirando o cheiro bom do estrume Meu Brasi de Baxo, amigo,
Entre as vacas e os bois que me olham sem Pra onde é que você vai?
ciúme Nesta vida do mendigo
E quando por acaso uma mijada ferve Que não tem mãe nem tem pai?
Não se afrija, nem se afobe,
Seguida de um olhar não sem malícia e verve O que com o tempo sobe,
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma O tempo mesmo derruba;
Mijamos em comum numa festa de espuma.” Tarvez ainda aconteça
(Vinicius de Moraes, Antologia poética. São Que o Brasi de Cima desça
Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 86.) E o Brasi de Baxo suba.
a) Essa forma clássica tradicionalmente exigiu
tema e linguagem elevados. O “Soneto da Sofre o povo privação
intimidade” atende a essa exigência? Justi- Mas não pode recramá,
fique. Ispondo suas razão
b) Como os quartetos anunciam a identificação Nas coluna do jorná.
do eu lírico com os animais? Como os tercetos Mas, tudo na vida passa,
a confirmam? Antes que a grande desgraça
Deste povo que padece
Se istenda, cresça e redrobe,
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES O Brasi de Baxo sobe
E o Brasi de Cima desce.
A seguir, poema do repentista cearense Pata-
tiva do Assaré (1909-2002) e uma passagem
do livro O discípulo de Emaús de Murilo Men- Brasi de Baxo subindo,
des (1901-1975): Vai havê transformação
Para os que veve sintindo
BRASI DE CIMA E BRASI DE BAXO Abondono e sujeição.
Se acaba a dura sentença
“[...] E a liberdade de imprensa
Inquanto o Brasi de Cima Vai sê legá e comum,
Fala de transformação, Em vez deste grande apuro,
Industra, matéra prima, Todos vão tê no futuro
Descobertas e invenção, Um Brasi de cada um.
No Brasi de Baxo isiste
O drama penoso e triste Brasi de paz e prazê,
Da negra necissidade; De riqueza todo cheio,
É uma cousa sem jeito Mas, que o dono do podê

131
Respeite o dereito aleio.
Um grande e rico país Gabarito
Munto ditoso e feliz,
Um Brasi dos brasilêro,
Um Brasi de cada quá, E.O. Aprendizagem
Um Brasi nacioná
1. C 2. D 3. B 4. D 5. A
Sem monopolo istrangêro.”
(Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva). 6. B
Cante lá que eu canto cá. 6.ª Ed. Crato: Vozes/
Fundação Pe. Ibiapina/Instituto Cultural do Cariri. Rio
de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1986.)
E.O.Fixação
O DISCÍPULO DE EMAÚS
1. A 2. C 3. E 4. E
“A harmonia da sociedade somente pode-
rá ser atingida mediante a execução de um 5. D 6. A
código espiritual e moral que atenda, não só
ao bem coletivo, como ao bem de cada um. A
conciliação da liberdade com a autoridade é,
no plano político, um dos mais importantes
problemas. A extensão das possibilidades de E.O. Complementar
melhoria a todos os membros da sociedade, 1. A 2. A 3. B 4. C 5. D
sem distinção de raças, credos religiosos, opi-
niões políticas, é um dos imperativos da justi-
ça social, bem como a apropriação pelo Estado
dos instrumentos de trabalho coletivo.” E.O. Dissertativo
(Murilo Mendes. Poesia completa e prosa. Rio
de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994.) 1.
A obra de Cecília Meireles possui dezenas de
partes, exatamente 85, intituladas “romances”,
6. (Unesp) Relendo o primeiro período do frag- além de uma “Fala inicial” e “Cenário”, no
mento de Murilo, podemos até imaginá-lo começo, e de uma “Fala aos Inconfidentes
como uma resposta à sexta estrofe do poema mortos”, no fim. No conjunto, abordam-
de Patativa. -se muitos fatos e personagens envolvidos
Compare ambas as passagens e, a seguir, na história da Inconfidência Mineira, que
explique o que Murilo sugere para que na muitos historiadores preferem chamar de
sociedade se possa atingir, como diz um Conjuração Mineira, pois, em vez de “infi-
texto, Um Brasi de cada um, ou o outro texto, delidade” à Coroa, tratar-se-ia mesmo de
o bem de cada um. “conspiração”. Em forma de verso, aparecem,
ao longo dos romances que constituem o
Romanceiro, a força econômica do ouro, o
7. (Unifesp) Leia o poema de Murilo Mendes, trabalho escravo, as ideias contrárias à ad-
autor do Modernismo brasileiro, e responda. ministração portuguesa, as delações, a pri-
são dos rebeldes, as punições etc., assim
PRÉ-HISTÓRIA como alguns dos personagens de então,
como Chica da Silva, Joaquim Silvério, Cláu-
“Mamãe vestida de rendas dio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonza-
Tocava piano no caos. ga, Marília e, com destaque, Joaquim José da
Uma noite abriu as asas Silva Xavier – o Tiradentes.
Cansada de tanto som, A primeira estrofe mostra a imensa força do
Equilibrou-se no azul, ouro, que traz “prestígio, poder, engenho” e,
De tonta não mais olhou dada a cobiça dos homens, provoca a turva-
Para mim, para ninguém! ção – ou seja, a confusão – de “honra, amor
Cai no álbum de retratos.” e pensamento”. A segunda estrofe expres-
a) Identifique duas características da literatura sa não só a grande quantidade de pessoas
modernista presentes no poema. mortas no período, conhecido como “ciclo do
b) Transcreva duas passagens do poema nas ouro”, mas também o clima reinante, onde
quais se evidenciam imagens surrealistas. não se distinguem “culpados e justos”; a
arbitrariedade impera e as posturas críticas
não são suportadas.
O título do romance de Graciliano Ramos
indica, de imediato, a vida precária dos
sertanejos, uma vida “seca”, ou seja,
amparada no mínimo de condições materiais

132
e não materiais, com ausência ou escassez de de vivências itabiranas, constituindo o pa-
água, comida, educação, moradia, dinheiro radoxo de alguém que se diz orgulhoso e
etc. Por extensão, pode-se afirmar que tama- submisso ao mesmo tempo (“este orgulho,
nha “secura” se estende à própria lingua- esta cabeça baixa...”). Esta identificação não
gem, rarefeita, com que os personagens se se encontra em “Contos de Aprendiz”, pois
expressam. A positividade do termo “vida” em Turmalinas o poeta confessa-se incom-
esbarra na imagem negativa do sentido de preendido (“É verdade que Turmalinas me
“seco”, “secura”. compreendia pouco, e eu a compreendia me-
O trecho recortado é exatamente o fim do nos”), percebendo que as pessoas desculpa-
romance (capítulo “Fuga”), sugerindo uma vam a sua excentricidade, pois acreditavam
espécie de ciclo, de eterno retorno, que que o seu talento beneficiaria a cidade que
continuaria a saga da migração iniciada no crescia diferente do progresso.
primeiro capítulo (“Mudança”). A dúvida e a 3.
falta de perspectivas concretas (“Que iriam
a) Incorreto.
fazer?”) dos personagens ganham uma
b) Correto.
dimensão coletiva, quando se afirma que “o
c) Correto.
sertão continuaria a mandar gente para lá”,
d) Incorreto.
para a cidade. As “vidas secas” se referem,
e) Incorreto.
no romance, aos sertanejos despossuídos,
em constante deslocamento, e, em sentido f) Incorreto.
lato, a todos aqueles que de alguma forma g) Correto.
lutam pela sobrevivência diária. São incorretas as alíneas [A], [D], [E] e [F].
O Noviço é uma comédia teatral de Martins a) Embora o poema apresente elementos
Pena encenada pela primeira vez em 1845. formais característicos do primeiro mo-
O título significa aquele que passa um certo mento modernista, não expressa humor
tempo no convento preparando-se para pro- nem paródia. O autor salienta o cotidiano
fessar; no caso, o personagem Carlos. Este, da vida urbana que envolve as pessoas em
após seis meses, concluindo não ter vocação um clima de violência e medo. O poema
para o noviciado, foge, não sem antes dar desenvolve uma narrativa em que o per-
uma cabeçada no Abade. sonagem-leiteiro é descrito sem grandes
O trecho indicado encerra a peça, recheada de detalhes psicológicos, percebe-se apenas
uma série de peripécias típicas de uma comé- que se trata de uma pessoa simples, tra-
dia de costumes. Importa destacar, no trecho, balhador humilde, vítima do medo que se
o final infeliz para Ambrósio, o atrapalhado instaurou na cidade e no mundo.
vilão, que fugiu da esposa Rosa e agora quer d) O texto jornalístico usa predominan-
enganar a rica viúva Florência, e o final feliz temente a linguagem referencial, de
para Carlos, que recebe o perdão do Abade e caráter informativo, que visa a esclare-
vê-se livre para continuar seu namoro com cer de forma precisa e objetiva. Carlos
Emília, filha de Florência. A última fala de Drummond de Andrade usa recursos que
Ambrósio (“Oh, mulheres, mulheres!”) indica expressam subjetividade ao lamentar a
o lamento do inescrupuloso personagem, que sorte do personagem de quem se sente
leva hilariantes “bordoadas” de ambas as mu- próximo. O uso de reticências (“que é lei-
lheres – Florência e Rosa. te, sangue... não sei”) e a repetição do
2.
O passado ressurge na poesia de Drummond, pronome possessivo “meu” ao longo do
por exemplo, com Itabira, sua cidade natal, poema (“Meu leiteiro tão sutil/de passo
ora em tom irônico ora afetuoso, mas nun- maneiro e leve”, “Os tiros na madrugada/
ca com sentimentalismo fantasioso. É com liquidaram meu leiteiro”) demonstram
olhos de adulto que o autor relembra as im- envolvimento afetivo, o que o afasta das
pressões gravadas em sua memória e através características dos textos jornalísticos.
das quais justifica características pessoais e) O autor identifica-se com o leiteiro, la-
(“nasci em Itabira./Por isso sou triste, or- menta o tempo de medo que o mundo
gulhoso: de ferro”). O eu lírico associa sua vive, o sobressalto diário das pessoas
maneira de ser ao ambiente da cidade e ao simples, num cenário político perturba-
estilo com que escreve (“Noventa por cento dor, onde não pode haver neutralidade
de ferro nas calçadas./ Oitenta por cento de possível.
ferro nas almas./E esse alheamento do que f) O poema “Morte do leiteiro” não apresen-
na vida é porosidade e comunicação”), por ta influências da estética clássica, está
isso a sua poesia é antissentimental, seca, inserido na obra Rosa do Povo escrita en-
não-porosa… Mas a afetuosidade está pre- tre 1942 e 1945, quando os horrores da
sente na confissão de que a necessidade ínti- 2ª Guerra Mundial angustiavam a huma-
ma de amar e o hábito de sofrer são heranças nidade.

133
E.O. Enem §§ aproximação entre a poesia e a prosa:
No meio dia branco de luz uma voz que
1
. C 2
. A 3
. A 4
. E 5
. C aprendeu
a ninar nos longes da senzala – e nunca
6. C 7
. A 8
. C 9
. A 1
0. A se esqueceu
chamava para o café.
E.O. UERJ 4.
a) 10. grupo: escuros, intermináveis, infi-
Exame de Qualificação nitos e profundos.
1. D 2. D 3
. B 4. B 5. A 20. grupo: calmo, dócil, ingênuo e claro.
b) É tão claro! – mas turva tudo:
6. A 7. B Já ninguém dorme tranquilo, / pois (por-
que) a noite é um mundo de sustos.
5.
E.O. UERJ a) Algumas das características seriam:
Exame Discursivo §§ tema tratado com dignidade, sem irre-
1. A ironia está presente no último verso: “(Des- verência;
confio que escrevi um poema)”. Esta afirma- §§ vocabulário identificado com o uso da
ção colide com o que o eu lírico expressa nos língua em situações de formalidade;
primeiros versos, em que nega a possibilidade §§ abordagem de fatos históricos, encara-
de se fazer verdadeira poesia perante os acon- dos sob a perspectiva da coletividade.
tecimentos que oprimem o homem. Ao longo b) A poetisa aborda criticamente os proble-
do poema, o eu lírico questiona o mundo em mas do Brasil, enfocando as origens da
que vive e expõe as sensações conflitantes desigualdade social – tema frequente no
que concebe. O terceiro verso, “O último tro- romance regionalista a partir dos anos 30.
vador morreu em 1914”, alude ao início da 6.
Primeira Guerra Mundial e ao declínio de um a) A temática existencial, com preocupação
fazer poético que vai ter que ser substituído religiosa, deste poema não era comum na
por outro e cujo padrão estético se adivinha
poesia da primeira geração modernista.
nas estrofes subsequentes. O uso de “perceve-
b) Duas dentre as características formais:
jos”, de valor negativo, ao lado de “heroicos”,
§§ versos rimados e metrificados
de valor positivo, compõe uma antítese que
reforça semanticamente a ironia. §§ vocabulário elaborado
2. O verso “Inabitável, o mundo é cada vez mais §§ predomínio do uso da língua culta no
habitado” apresenta, aparentemente, uma seu registro formal
contradição. O poeta pretende evidenciar o 7. Para Manuel Bandeira, a realização amorosa
conflito da humanidade que se desenvolve só é bem sucedida quando se separa o corpo
tecnologicamente, mas vive a opressão de da alma.
um mundo mecanicista com o qual ele não se Drummond, por outro lado, não dissocia o
identifica (“Há máquinas terrivelmente com- corpo da alma na experiência amorosa, e vê
plicadas para as necessidades mais simples”). no corpo uma fonte de mistérios ou enig-
3. mas.
Um dos traços relacionados à linguagem e 8.
respectivo exemplo: a) Ao Romantismo.
§§ ausência de pontuação: b) Ao Modernismo.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
§§ frases nominais: E.O. Objetivas
Café preto que nem a preta velha (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp
café gostoso
café bom. 1. A 2. B 3. B 4. D 5. D
§§ linguagem coloquial:
6. B 7. D
que nem
Um dos traços relacionados à forma do poe-
ma e respectivo exemplo:
§§ versos livres / versos sem métrica regular:
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

134
E.O. Dissertativas amanhã”, ideias opostas configurem um
desvio da experiência regular que o leitor
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) tem das coisas. Este tem de pensar o po-
1. ema como um desvio do usualmente vis-
a) “O coração está seco” retoma um ver- to, para assim, reeinterpretar os sentidos
so anterior: “E os olhos não choram”, que o morrer e o nascer, por exemplo,
explicando-o. O coração está seco, pois adquirem no poema a partir dessa trans-
não há sensibilidade na vida do ser hu- gressão.
mano: não há emoções, não há decla-
rações afetivas (“Tempo em que não se 4.
diz mais: meu amor”); nada relacionado a) Nem a linguagem, nem o tema são eleva-
aos sentimentos foi considerado válido dos, apenas a forma é clássica. Apesar de
(“Porque o amor resultou inútil”). o título sugerir uma abordagem reflexiva
b) A leitura do poema indica que o senti- e solene sobre os sentimentos do eu líri-
do de “mistificação” é qualquer situação co, a linguagem é prosaica, assim como
o tema. Os primeiros versos do primei-
ilusória. Logo na primeira estrofe, o verso
ro quarteto apresentam um cenário que
“E as mãos tecem apenas o rude traba-
condiz com a exteriorização dos afetos
lho” ilustra o que é “A vida apenas, sem
mais profundos do eu lírico. Mas imedia-
mistificação”.
tamente a seguir, gestos grosseiros como
A vida tornou-se apenas um passar de
“mastigando um capim” e “sigo... peito
dias, em que nada mais tem importância,
nu” surpreendem o leitor que se depa-
inclusive seus aspectos negativos: “As
ra com o contraste de um texto de feição
guerras, as fomes, as discussões dentro
clássica e o linguajar rude que domina-
dos / edifícios / provam apenas que a
rá todo o poema. O uso de termos chulos
vida prossegue”.
(“mijada”), assim como os pleonasmos
2.
(“muito azul demais” e “peito nu de
a) O eu lírico explora contradições ao asso-
fora”) vulgarizam o conteúdo e contras-
ciar “escureço” a manhã, “tardo” a dia, tam com a formalidade do poema, sobre-
“anoiteço” a tarde, assim como “ardo” tudo por se tratar de um soneto.
a noite. Assim, as sensações vividas pa- b) Os quartetos mostram a identificação do
recem dissociar-se do cotidiano conven- eu lírico com os animais (“sigo pelo pas-
cional e revelam uma existência marcada to”, “peito nu de fora”, “mastigando ca-
pela emotividade. Espacialmente, confes- pim”, na primeira estrofe, “desço o rio
sa-se atraído pelo sul, lugar geralmente no vau dos pequenos canais”, na segun-
associado a calor e sensualidade, enquan- da) até se reafirmar nos tercetos, quando
to que o oeste lhe provoca rejeição pela as vacas e os bois o olham “sem ciúme”,
sensação de morte que sugere em oposi- homem e animais perfeitamente igua-
ção a “este”, local de nascimento e reno- lados nas suas necessidades fisiológicas
vação. (“mijada em comum”).
b) Enquanto que “outros” contabilizam a 5. Murilo Mendes tematiza a “conciliação da
vida pelos atos passados ou projetos de liberdade com a autoridade”, considerando
futuro, o eu lírico prefere a renovação essa oposição um problema importante a ser
constante (“nasço amanhã”) e a impre- resolvido no plano político. Enquanto que Pa-
visibilidade dos locais que vai percorrer tiva do Assaré focaliza a desigualdade social,
(“ando onde há espaço”). se indigna com os abusos do “dono do Podê”
3. e reclama das injustiças cometidas contra o
a) Sim, o poema, apesar de não ser decas- “Brasi de Baxo”, Murilo Mendes aponta para
sílado, é um soneto – formado por dois uma solução de caráter mais amplo (“exten-
quartetos e dois tercetos –, é metrificado são das possibilidades de melhoria a todos
e possui rimas. Assim, apesar de moder- os membros da sociedade”).
nista e de romper com alguns padrões 6. Murilo Mendes propõe “a execução de um
clássicos, possui características da tradi- código espiritual e moral que atenda, não
ção literária. só ao coletivo, mas ao bem de cada um”, ou
b) Vinicius de Moraes usa de transgressão seja, atenda a todos e não apenas a alguns.
para com as “coordenadas fundamen- Patativa do Assaré defende não só que os po-
tais da experiência” ao fazer com que, bres cresçam economicamente (“para os que
por meio de paradoxos, ou seja, por meio veve sintindo/Abandono e sujeição.”), mas
de ideias contrárias que são colocadas também reivindica liberdade de imprensa
em um mesmo nível no poema, “mor- (“E a liberdade de imprensa/Vai sê legá e
ro ontem” ao mesmo tempo que “nasço comum.”), ou seja, liberdade política.

135
7.
a) Duas características da literatura moder-
nista encontradas no poema podem ser
vistas pelo modo como o mesmo é cons-
truído, como se fosse um relato em pro-
sa, e pela ausência de rimas, já que os
escritores dessa época mantinham uma
forte crítica ao rigor formal da poesia,
manifestando seu interesse por uma po-
esia mais coloquial, que, muitas vezes, se
aproximava mais de uma conversa com
o leitor, manifestada, entre outros, pela
linguagem simples empregada.
b) Dois versos do poema que trazem ele-
mentos surrealistas podem ser vistos nos
versos “Mamãe vestida de rendas/ Tocava
piano no caos “ e “Cansada de tanto som,/
Equilibrou-se no azul”. O surrealismo tra-
zia a suas produções o inconsciente e o
sonho, por isso, ao falar de imagens que
remetem ao mundo onírico – já que não
se encontra algo parecido na realidade –,
esses versos acabam por aproximar-se da
linguagem surrealista.

136
2 4 Terceira fase modernista

Competências Habilidades
2, 5 e 6 5, 15, 16 e 17

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
E.O. Aprendizagem da água de copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. da brisa na água.

Paisagem do Capibaribe (II)


7
Domingo ela 4acordava mais cedo para ficar
Entre a paisagem
mais tempo sem fazer nada.
(fluía)
O pior momento de sua vida era 5nesse dia
de homens plantados na lama;
ao fim da tarde: caía em 2meditação inquie-
de casas de lama
ta, o vazio do seco domingo. Suspirava. 3Ti-
plantadas em ilhas
nha saudade de quando era pequena – farofa
coaguladas na lama;
seca – e pensava que fora feliz. Na verdade
paisagem de anfíbios de lama e lama
por pior a infância é sempre encantada, 6que
MELO NETO, João Cabral de. “O cão sem plumas”.
susto. Nunca se queixava de nada, sabia que Barcelona: O Livro Inconsútil, 1950.
as coisas são assim mesmo e – quem organi-
zou a terra dos homens? [...] 1Juro que não
posso fazer nada por ela. Afianço-8vos que 2. Da leitura deste poema, podemos destacar:
se eu pudesse melhoraria as coisas. Eu bem I. a imagem regionalista de denúncia da
sei que dizer que a datilógrafa tem o corpo miséria nordestina.
cariado é um dizer de brutalidade pior que II. a arquitetura do poema.
qualquer palavrão. III. uma poesia engajada na temática social.
Clarice Lispector, A hora da estrela IV. o cão é o rio que carrega os detritos de
sobrados e mocambos.
1. Nas alternativas abaixo, transcrevem-se Desses destaques conclui-se que:
adaptações de comentários críticos colhidos a) são corretos os itens I, III e IV.
em bibliografia especializada. Todos se refe- b) os itens II e III são incorretos.
rem à produção de Clarice Lispector, EXCETO: c) somente o item IV é incorreto.
a) A linguagem contém como que uma armadi- d) somente o item II é correto.
lha: a sua simplicidade enganosa. Nem pela e) todos os itens são corretos.
escolha dos vocábulos, nem por sua cons-
trução frásica parece ultrapassar um tom de TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
coloquialismo e de narração sem surpresas.
b) É essa existência absurda, ameaçadora e As questões adiante referem–se ao trecho de
estranha, revelando-se nos indivíduos e a Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa,
despeito deles, o único fundo permanente reproduzido a seguir. Nessa obra, a persona-
de encontro ao qual as personagens se des- gem Diadorim é uma mulher que se faz de
tacam e de onde tiram a densidade humana homem para entrar no bando de Riobaldo –
que as caracteriza. narrador da história – e vingar a morte de
c) Em sua ficção, o cotidiano é, a partir de cer- seu pai. Riobaldo só descobre isso depois da
to momento, completamente desagregado. morte de Diadorim.
d) Numa obra literária, para que o jogo da lin- Mas Diadorim, conforme diante de mim es-
guagem tenha a propriedade reveladora, é tava parado, reluzia no rosto, com uma be-
necessário que a linguagem, além de ser ins- leza ainda maior, fora de todo comum. Os
trumento da ficção, seja também, de certo olhos – vislumbre meu – que cresciam sem
modo, o seu objeto, como de fato ocorre nos beira, dum verde dos outros verdes, como o
textos da autora. de nenhum pasto. (...) De que jeito eu po-
e) O mito poético foi a solução romanesca ado- dia amar um homem, meu de natureza igual,
tada pela autora. Uma obra de tão aguda macho em suas roupas e suas armas, espa-
modernidade que, paradoxalmente, se nutre lhado rústico em suas ações?! Me franzi. Ele
de velhas tradições, as mesmas que davam à tinha a culpa? Eu tinha a culpa?
gesta dos cavaleiros feudais a aura do conví-
vio com o sagrado e o demoníaco. 3. As considerações do narrador mostram-no
confuso pelo fato de:
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. a) estar apaixonado sem ser correspondido.
b) não conseguir esconder o seu amor por Diadorim.
Paisagem do Capibaribe (I) c) perceber que nutria por Diadorim um amor
Aquele rio homossexual.
era como um cão sem plumas. d) sentir crescer o amor de Diadorim por ele.
Não sabia da chuva azul, e) ser ignorado por Diadorim, que não sabe de
da fonte cor-de-rosa, seu amor.

139
E.O.Fixação d) enfoca um tema de caráter intimista e ligado
à condição humana.
e) evidencia um problema de ordem social que
1. (UNEB) [...] Vinham vindo, com o trazer de atinge os mais pobres.
comitiva.
Aí, paravam. A filha – a moça – tinha pegado a 2. (UPF) Só se espiaram realmente quando as
cantar, levantando os braços, a cantiga não vi- malas foram dispostas no trem, depois de
gorava certa, nem no tom nem no se – dizer das trocados os beijos: a cabeça da mãe apareceu
palavras – o nenhum. A moça punha os olhos na janela.
no alto, que nem os santos e os espantados, vi- Catarina viu então que sua mãe estava enve-
nha enfeitada de disparates, num aspecto de lhecida e tinha os olhos brilhantes.
admiração. Assim com panos e papéis, de diver- O trem não partia e ambas esperavam sem
sas cores, uma carapuça em cima dos espanta- ter o que dizer. A mãe tirou o espelho da
dos cabelos, e enfunada em tantas roupas ainda bolsa e examinou-se no seu chapéu novo,
de mais misturas, tiras e faixas, dependuradas comprado no mesmo chapeleiro da filha.
– virundangas: matéria de maluco. A velha só Olhava-se compondo um ar excessivamente
estava de preto, com um fichu preto, ela batia severo onde não faltava alguma admiração
com a cabeça, nos docementes. Sem tanto que por si mesma. A filha observava divertida.
diferentes, elas se assemelhavam. Ninguém mais pode te amar senão eu, pen-
Soroco estava dando o braço a elas, uma de sou a mulher rindo pelos olhos; e o peso da
cada lado. Em mentira, parecia entrada em responsabilidade deu-lhe à boca um gos-
igreja, num casório. Era uma tristeza. Pare- to de sangue. Como se “mãe e filha” fosse
cia enterro. Todos ficavam de parte, a chusma vida e repugnância. Não, não se podia dizer
de gente não querendo afirmar as vistas, por que amava sua mãe. Sua mãe lhe doía, era
causa daqueles trasmodos e despropósitos, de isso. A velha guardara o espelho na bolsa,
fazer risos, e por conta de Soroco – para não e fitava-a sorrindo. O rosto usado e ainda
parecer pouco caso. Ele hoje estava calçado bem esperto parecia esforçar-se por dar aos
de botinas, e de paletó, com chapéu grande, outros alguma impressão da qual o chapéu
botara sua roupa melhor, os maltrapos. E es- faria parte. A campainha da Estação tocou
tava reportado e atalhado, humildoso. Todos de súbito, houve um movimento geral de an-
diziam a ele seus respeitos, de dó. Ele espon- siedade, várias pessoas correram pensando
dia: – “Deus vos pague essa despesa...” que o trem já partia: mamãe! disse a mulher.
O que os outros diziam: que Soroco tinha Catarina! disse a velha. Ambas se olhavam
tido muita paciência. Sendo que não ia sen- espantadas, a mala na cabeça de um carre-
tir falta dessas transtornadas pobrezinhas, gador interrompeu-lhes a visão e um rapaz
era até um alívio. [...] correndo segurou de passagem o braço de
Tomara aquilo acabasse. O trem chegando, a Catarina, deslocando-lhe a gola do vestido.
máquina manobrando sozinha para vir pegar Quando puderam ver-se de novo, Catarina
o carro. O trem apitou, e passou, se foi, o de estava sob a iminência de lhe perguntar se
sempre. [...] não esquecera de nada...
Ele se sacudiu, de um jeito arrebentado, de- – ...Não esqueci de nada? perguntou a mãe.
sacontecido, e virou, pra ir–s’ embora. Es- LISPECTOR, Clarice. Laços de família.
tava voltando para casa, como se estivesse
indo para longe, fora de conta. No texto acima, a autora:
Mas parou. Em tanto que se esquisitou, parecia a) emprega palavras comuns, por vezes combi-
que ia perder o de si, parar de ser. Assim num nadas de modo inesperado, para desvelar a
excesso de espírito, fora de sentido. E foi o que mentira constituinte de uma relação familiar
não se podia prevenir: quem ia fazer siso na- feita de frases e gestos convencionais.
quilo? Num rompido — ele começou a cantar, b) escolhe um vocabulário nobre e raro e uma
alterando, forte, mas sozinho para si – e era a sintaxe complexa e difícil para desvelar a
cantiga, mesma de desatino, que as duas tanto mentira constituinte de uma relação familiar
tinham cantado. Cantava continuando. feita de frases e gestos cerimoniosos.
ROSA, João Guimarães. “Soroco sua mãe, sua filha”. c) escolhe um vocabulário nobre e raro e uma
Primeiras estórias. 4. ed. Rio de Janeiro: José sintaxe complexa e difícil para ocultar a
Olyimpio, s.d. p. 16–18. mentira constituinte de uma relação familiar
feita de frases e gestos convencionais.
Guimarães Rosa, escritor inserido na chama- d) representa a corrente caótica da consciên-
da Geração de 45 — Modernismo Brasileiro cia de uma das personagens, abstendo-se de
—, apresenta uma obra de cunho universa- descrever os comportamentos banais, exte-
lista. O texto comprova isso porque: riormente observáveis.
a) se trata de uma prosa poética. e) representa, de modo cinematográfico, os
b) revela o pitoresco de uma cidade interiorana. comportamentos convencionais das perso-
c) é escrito numa linguagem rica em neologis- nagens, abstendo-se de revelar o mal-estar
mos. interior que alguma delas possa viver.

140
3. (AMAN) Leia o trecho abaixo: Do que eu mesmo me alembro, ele não figu-
“Não tenho uma palavra a dizer. Por que rava mais estúrdio nem mais triste do que os
não me calo, então? Mas se eu não forçar a outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa
palavra a mudez me engolfará para sempre mãe era quem regia, e que ralhava no diário
em ondas. A palavra e a forma serão a tábua com a gente – minha irmã, meu irmão e eu.
onde boiarei sobre vagalhões de mudez.” Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou
O fragmento, extraído da obra de Clarice Lis- fazer para si uma canoa.
pector, apresenta: Era a sério. Encomendou a canoa especial, de
a) uma reflexão sobre o processo de criação li- pau de vinhático, pequena, mal com a tabui-
terária. nha da popa, como para caber justo o remador.
b) uma postura racional, antissentimental, Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte
triste e recorrente na literatura dessa fase. e arqueada em rijo, própria para dever durar
c) traços visíveis da sensibilidade, característi- na água por uns 20 ou 30 anos. Nossa mãe ju-
ca presente na 2ª fase modernista. rou muito contra a ideia. Seria que, ele, que
d) a visão da autora, sempre preocupada com o nessas artes não vadiava, se ia propor agora
valor da mulher na sociedade. para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não
e) exemplos de neologismo, característica co- dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais
mum na 3ª fase modernista. próxima do rio, obra de nem quarto de légua:
o rio por aí se estendendo grande, fundo, ca-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: lado que sempre. Largo, de não se poder ver a
forma da outra beira. E esquecer não posso, do
Leia o trecho abaixo, de “Morte e Vida Seve- dia em que a canoa ficou pronta.
rina”, de João Cabral de Melo Neto. Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou
o chapéu e decidiu um adeus para a gente.
“– Severino retirante, Nem falou outras palavras, não pegou ma-
deixa agora que lhe diga: tula e trouxa, não fez a alguma recomen-
eu não sei bem a resposta dação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia
da pergunta que fazia, esbravejar, mas persistiu somente alva de
se não vale mais saltar pálida, mascou o beiço e bramou: – “Cê vai,
fora da ponte e da vida; ocê fique, você nunca volte!” Nosso pai sus-
(…) pendeu a resposta. Espiou manso para mim,
me acenando de vir também, por uns passos.
E não há melhor resposta Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de
que o espetáculo da vida: vez de jeito. O rumo daquilo me animava,
vê-la desfiar seu fio, chega que um propósito perguntei: – “Pai,
que também se chama vida, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?”
ver a fábrica que ela mesma, Ele só retornou a olhar em mim e me botou
teimosamente, se fabrica,” a bênção, com gesto me mandando para trás.
Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do
mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa
4. (AMAN) Em relação a esse fragmento, pode- e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se
-se ainda afirmar que: indo – a sombra dela por igual, feito um ja-
a) trata da impotência do homem frente aos caré, comprida longa.
problemas do sertão e da cidade. Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a
b) Severino representa todos os homens que nenhuma parte. Só executava a invenção de
são latifundiários. se permanecer naqueles espaços do rio, de
c) reflete sobre as dificuldades que o homem meio a meio, sempre dentro da canoa, para
encontra para trabalhar. dela não saltar, nunca mais. A estranheza
d) trata da temática que descarta a morte como dessa verdade deu para estarrecer de todo
solução para os problemas. a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os
e) é um texto bem simples e poético sobre o parentes, vizinhos e conhecidos nossos se
significado do amor da época. reuniram, tomaram juntamente conselho.
[...]
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: A gente teve de se acostumar com aquilo.
Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo
A terceira margem do rio nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro
por mim, que, no que queria, e no que não
Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, po- queria, só com nosso pai me achava: assun-
sitivo; e sido assim desde mocinho e menino, to que jogava para trás meus pensamentos.
pelo que testemunharam as diversas sensa- O severo que era, de não se entender, de
tas pessoas, quando indaguei a informação. maneira nenhuma, como ele aguentava. De

141
dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, abaixo, rio a fora, rio a dentro – o rio.
sereno, e nas friagens terríveis de meio-do- ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de
-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho Janeiro: José Olympio, Civilização Brasileira, Três,
1974, p. 51–56.
na cabeça, por todas as semanas, e meses, e
os anos – sem fazer conta do se-ir do viver.
Não pojava em nenhuma das duas beiras, 5. (Insper) A respeito da reação da mãe, diante
nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais da decisão do marido, é correto afirmar que
em chão nem capim. ela:
[...] a) revela indignação, uma vez que não com-
Sou homem de tristes palavras. De que era preende o motivo da atitude do marido.
que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu b) demonstra apatia, visto que tal atitude não
pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-- mudou radicalmente a rotina familiar.
rio, o rio – pondo perpétuo. Eu sofria já o c) manifesta desespero, pois a canoa construída
começo de velhice – esta vida era só o demo- parecia muito frágil para um rio tão perigoso.
ramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, d) demonstra desgosto, pois aquilo comprovava
cá de baixo, cansaços, perrenguice de reu- a suspeita de que ele enlouquecera.
matismo. E ele? Por quê? Devia de padecer e) mostra-se revoltada, porque o marido usou dos
demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos recursos financeiros da família para construir o
dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa barco.
emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na
levada do rio, para se despenhar horas abai- 6. (Insper) O sentimento de fracasso do nar-
xo, em tororoma e no tombo da cachoeira, rador revelado no último parágrafo pela
brava, com o fervimento e morte. Apertava expressão “Sou homem, depois desse fali-
o coração. Ele estava lá, sem a minha tran- mento?” tem como causa o acontecimento
quilidade. Sou o culpado do que nem sei, de relatado em:
dor em aberto, no meu foro. Soubesse – se a) “Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de
as coisas fossem outras. E fui tomando ideia. vez de jeito.”
Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa b) “Pai, o senhor me leva junto, nessa sua ca-
casa, a palavra doido não se falava, nunca noa?”
mais se falou, os anos todos, não se conde- c) “Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do
nava ninguém de doido. Ninguém é doido. mato, para saber.”
Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um d) “Tiro por mim, que, no que queria, e no que
lenço, para o aceno ser mais. não queria, só com nosso pai me achava:
Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao assunto que jogava para trás meus pensa-
por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava mentos.”
ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Cha- e) “Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi,
mei, umas quantas vezes. E falei, o que me me tirei de lá, num procedimento desatinado”
urgia, jurado e declarado, tive que reforçar
a voz: – “Pai, o senhor está velho, já fez o
seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece
mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo,
E.O. Complementar
quando que seja, a ambas vontades, eu tomo
o seu lugar, do senhor, na canoa! ...” E, as- 1. Explico ao senhor: o diabo vige dentro do
sim dizendo, meu coração bateu no compas- homem, os crespos do homem – ou é o ho-
so do mais certo. mem arruinado, ou o homem dos avessos.
Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo
n’água, proava para cá, concordado. E eu tre- nenhum. Nenhum! – é o que digo. O senhor
mi, profundo, de repente: porque, antes, ele aprova? Me declame tudo, franco – é alta
tinha levantado o braço e feito um saudar de mercê que me vejam – é de minha certa im-
gesto – o primeiro, depois de tamanhos anos portância. Tomara não fosse... Mas, não diga
decorridos! E eu não podia... Por pavor, ar-
que o senhor, assisado e instruído, que acre-
repiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de
lá, num procedimento desatinado. Porquanto dita na pessoa dele?!
que ele me pareceu vir: da parte de além. E O trecho anterior apresenta claras caracte-
estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão. rísticas da linguagem normalmente empre-
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que gada por ____________ em sua obra.
ninguém soube mais dele. Sou homem, de- Assinale a alternativa que completa correta-
pois desse falimento? Sou o que não foi, o mente a lacuna.
que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, a) Graciliano Ramos.
e temo abreviar com a vida, nos rasos do b) José Lins do Rego.
mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo c) Raquel de Queiroz.
da morte, peguem em mim, e me depositem d) Jorge Amado.
também numa canoinha de nada, nessa água
que não para, de longas beiras: e, eu, rio

142
e) João Guimarães Rosa. espelho distraidamente examinou de perto
as manchas no rosto. Em Alagoas chamavam-
2. “O período de 1930 a 1945 registrou a estreia -se ‘panos’, diziam que vinham do fígado.
de alguns dos nomes mais significativos do Disfarçava os panos com grossa camada de
romance brasileiro. Assim é que, refletindo o pó branco e se ficava meio caiada era me-
mesmo momento histórico e apresentando as lhor que o pardacento. Ela toda era um pou-
mesmas preocupações dos poetas da década co encardida pois raramente se lavava. De
de 30, encontramos autores que produzem dia usava saia e blusa, de noite dormia de
uma literatura de caráter mais construtivo, combinação. Uma colega de quarto não sa-
de maturidade, aproveitando as conquistas bia como avisar-lhe que seu cheiro era mur-
da geração de 1922 e sua prosa inovadora.” rinhento. E como não sabia, ficou por isso
Não pertence ao período acima: mesmo, pois tinha medo de ofendê-la. Nada
a) Clarice Lispector. nela era iridescente, embora a pele do rosto
b) Rachel de Queiroz. entre as manchas tivesse um leve brilho de
c) José Lins do Rego. opala. Mas não importava. Ninguém olhava
d) Graciliano Ramos. para ela na rua, ela era café frio. [...] Só eu
e) Jorge Amado. a amo.”
Clarice Lispector. “A hora da estrela”.
3. ”O jagunço Riobaldo conta sua vida nos cam-
pos gerais, onde tem destaque seu amor TEXTO B
por Diadorim. A história segue o ritmo dos “Uma nordestina
romances de cavalaria, fugindo aos padrões Ela é uma pessoa
do realismo. O livro é uma sucessão de fra- no mundo nascida.
ses evocativas de Riobaldo, numa cronologia Como toda pessoa
própria, frases curtas em que as palavras, fre- é dona da vida.
quentemente, aparecem em ordem inversa.”
O trecho acima refere-se a: Não importa a roupa
a) “São Bernardo”. de que está vestida.
b) “Fogo Morto”. Não importa a alma
c) “A Bagaceira”. aberta em ferida.
d) “Grande Sertão: Veredas”. Ela é uma pessoa
e) “Angústia”. e nada a fará
desistir da vida.
4. Nem o sol de inferno
I. Dentre as obras de José Lins do Rego, a terra ressequida
podemos citar: MENINO DO ENGENHO, O a falta de amor
MOLEQUE RICARDO e USINA. a falta de comida.
II. Erico Verissimo é contemporâneo de Ra- É mulher é mãe:
quel de Queiroz e Graciliano Ramos. rainha da vida.
III. A poesia concreta, ou Concretismo, im- De pés na poeira
pôs-se, a partir de 1956, como uma das de trapos vestida
expressões mais vivas e atuantes de nos- é uma rainha
sa vanguarda estética. e parece mendiga:
Quanto às afirmações anteriores, assinale: a pedir esmolas
a) se todas estão corretas. a fome a obriga.
b) se apenas I e II estão corretas.
c) se apenas II e III estão corretas. Algo está errado
d) se apenas I e III estão corretas. nesta nossa vida:
e) se todas estão incorretas. ela é uma rainha
e não há quem diga.”

E.O. Dissertativo
Ferreira Gullar. “Melhores poemas”.

a) Cite dois elementos constitutivos do poema


que contribuem para acentuar o seu caráter
1
. (UFU) Leia os textos a seguir.
de apelo “popular”.
b) Compare os textos e discorra sobre a descri-
TEXTO A ção da nordestina, considerando:
“Ela nascera com maus antecedentes e agora § as perspectivas diferentes do narrador e
parecia uma filha de um não-sei-o-quê com sujeito lírico.
ar de se desculpar por ocupar espaço. No § os aspectos convergentes das opiniões

143
do narrador e sujeito lírico. A partir da leitura do fragmento do conto
“Feliz aniversário” transcrito anteriormen-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: te, responda à seguinte pergunta: que rela-
ção pode ser estabelecida entre o título do
FELIZ ANIVERSÁRIO texto e o comportamento das personagens?
A família foi pouco a pouco chegando. Os
3. (UFU) Leia o trecho a seguir.
que vieram de Olaria estavam muito bem
“– Severino, retirante,
vestidos porque a visita significava ao mes-
o meu amigo é bem moço;
mo tempo um passeio a Copacabana. A nora
sei que a miséria é mar largo,
de Olaria apareceu de azul-marinho, com en-
não é como qualquer poço:
feites de paetês e um drapejado disfarçan-
mas sei que para cruzá-la
do a barriga sem cinta. O marido não veio
vale bem qualquer esforço.
por razões óbvias: não queria ver os irmãos.
– Seu José, mestre carpina,
Mas mandara sua mulher para que nem to-
e quando é fundo o perau?
dos os laços fossem cortados – e esta vinha
com o seu melhor vestido para mostrar que quando a força que morreu
não precisava de nenhum deles, acompanha- nem tem onde se enterrar,
da dos três filhos: duas meninas já de peito por que ao puxão das águas
nascendo, infantilizadas com babados cor- não é melhor se entregar?
--de-rosa e anáguas engomadas, e o menino – Severino, retirante,
acovardado pelo terno novo e pela gravata. o mar de nossa conversa
Tendo Zilda – a filha com quem a aniversa- precisa ser combatido,
riante morava – disposto cadeiras unidas ao sempre, de qualquer maneira,
longo das paredes, como numa festa em que porque senão ele alaga
se vai dançar, a nora de Olaria, depois de e devasta a terra inteira.
cumprimentar com cara fechada aos de casa, – Seu José, mestre carpina,
aboletou–se numa das cadeiras e emudeceu, e em que nos faz diferença
a boca em bico, mantendo sua posição ultra- que como frieira se alastre,
jada. “Vim para não deixar de vir”, dissera ou como rio na cheia,
ela a Zilda, e em seguida sentara-se ofen- se acabamos naufragados
dida. As duas mocinhas de cor-de-rosa e o num braço do mar miséria?”
menino, amarelos e de cabelo penteado, não João Cabral de Melo Neto. “Morte e vida severina”.
sabiam bem que atitude tomar e ficaram de Baseado nos versos anteriores, responda.
pé ao lado da mãe, impressionados com seu a) Além de ser escrito em versos, o trecho acima
vestido azul-marinho e com os paetês. apresenta outros recursos estilísticos que são
Depois veio a nora de Ipanema com dois ne- usados pela literatura. Cite e exemplifique
tos e a babá. O marido viria depois. E como DOIS desses procedimentos, que nos levam a
Zilda – a única mulher entre os seis irmãos considerar esse trecho como literário.
homens e a única que, estava decidido já b) Comente UMA crítica social implícita nesses
havia anos, tinha espaço e tempo para alo- versos.
jar a aniversariante –, e como Zilda estava
na cozinha a ultimar com a empregada os 4. (UFU) A revista “Cadernos de Literatura
croquetes e sanduíches, ficaram: a nora de Brasileira” perguntou a João Cabral de Melo
Olaria empertigada com seus filhos de cora- Neto se haveria algum aspecto de sua obra
ção inquieto ao lado; a nora de Ipanema na com o qual a crítica não havia trabalhado, ao
fila oposta das cadeiras fingindo ocupar-se que o poeta respondeu:
com o bebê para não encarar a concunhada “A crítica nunca se preocupa com o humor
de Olaria; a babá ociosa e uniformizada, com negro de minha poesia. Leia “Dois parla-
a boca aberta. mentos”, por exemplo. É puro humor negro.
E à cabeceira da mesa grande a aniversarian- Em “Morte e vida severina”, também existe
te que fazia hoje oitenta e nove anos. humor negro. Você lembra daquele trecho
LISPECTOR, Clarice. Laços de família. Rio de Janeiro: – Mais sorte tem o defunto,
José Olympio, 1979, pp. 59–60. irmãos das almas,
pois já não fará na volta
2. (PUC-RJ) Há trinta anos morria uma das a caminhada.”?
mais importantes escritoras brasileiras – Trecho da segunda cena da obra, em que Se-
Clarice Lispector. Sua obra, composta basi- verino encontra dois homens carregando um
camente de romances e contos, representa defunto.
uma tentativa de decifrar os mistérios da Explique, pelo contexto da obra, o “humor
criação e a densidade das relações humanas. negro” desses versos.

144
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. começo — como a morte parece dizer sobre
a vida — porque preciso registrar os fatos
(...) Como não ter Deus?! Com Deus existin- antecedentes.
do, tudo dá esperança: sempre um milagre é LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco,
possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem 1988 (fragmento).
Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a
vida é burra. É o aberto perigo das grandes e A elaboração de uma voz narrativa peculiar
pequenas horas, não se podendo facilitar – é acompanha a trajetória literária de Clarice
todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos Lispector, culminada com a obra A hora da
grave se descuidar um pouquinho, pois, no estrela, de 1977, ano da morte da escritora.
fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade
a gente não tem licença de coisa nenhuma! porque o narrador:
a) observa os acontecimentos que narra sob
Porque existe dor. E a vida do homem está
uma óptica distante, sendo indiferente aos
presa encantoada – erra rumo, dá em alei-
fatos e às personagens.
jões como esses, dos meninos sem pernas e
b) relata a história sem ter tido a preocupação
braços. (...) de investigar os motivos que levaram aos
Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas. eventos que a compõem.
c) revela-se um sujeito que reflete sobre ques-
5. (UFSCar) Uma das principais características tões existenciais e sobre a construção do
da obra de Guimarães Rosa é sua linguagem discurso.
artificiosamente inventada, barroca até cer- d) admite a dificuldade de escrever uma histó-
to ponto, mas instrumento adequado para ria em razão da complexidade para escolher
sua narração, na qual o sertão acaba univer- as palavras exatas.
salizado. e) propõe-se a discutir questões de natureza fi-
a) Transcreva um trecho do texto apresentado, losófica e metafísica, incomuns na narrativa
onde esse tipo de “invenção” ocorre. de ficção.
b) Transcreva um trecho em que a sintaxe uti-
lizada por Rosa configura uma variação lin- 2. (Enem 2016) A PARTIDA DE TREM
guística que contraria o registro prescrito
pela língua padrão. Marcava seis horas da manhã. Angela Prali-
ni pagou o táxi e pegou sua pequena valise.
Dona Maria Rita de Alvarenga Chagas Souza
E.O. Enem Melo desceu do Opala da filha e encaminha-
ram-se para os trilhos. A velha bem-vestida
e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía
1. (Enem) Tudo no mundo começou com um a forma pura de um nariz perdido na ida-
sim. Uma molécula disse sim a outra molé- de, e de uma boca que outrora devia ter sido
cula e nasceu a vida. Mas antes da pré-his- cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se
tória havia a pré-história da pré-história e a um certo ponto – e o que foi não impor-
havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. ta. Começa uma nova raça. Uma velha não
Não sei o quê, mas sei que o universo jamais pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado
começou. de sua filha que foi embora antes do trem
[…] partir. Ajudara-a antes a subir no vagão. Sem
Enquanto eu tiver perguntas e não houver que neste houvesse um centro, ela se coloca-
respostas continuarei a escrever. Como co- ra do lado. Quando a locomotiva se pôs em
meçar pelo início, se as coisas acontecem movimento, surpreendeu-se um pouco: não
antes de acontecer? Se antes da pré-pré-his- esperava que o trem seguisse nessa direção e
tória já havia os monstros apocalípticos? Se sentara-se de costas para o caminho.
Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e
esta história não existe, passará a existir.
perguntou:
Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois
— A senhora deseja trocar de lugar comigo?
juntos — sou eu que escrevo o que estou es-
Dona Maria Rita se espantou com a delica-
crevendo. […] Felicidade? Nunca vi palavra
deza, disse que não, obrigada, para ela dava
mais doida, inventada pelas nordestinas que no mesmo. Mas parecia ter-se perturbado.
andam por aí aos montes. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de
Como eu irei dizer agora, esta história será ouro, espetado no peito, passou a mão pelo
o resultado de uma visão gradual — há dois broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a
anos e meio venho aos poucos descobrindo Angela Pralini:
os porquês. É visão da iminência de. De quê? — É por causa de mim que a senhorita dese-
Quem sabe se mais tarde saberei. Como que ja trocar de lugar?
estou escrevendo na hora mesma em que sou LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite.
lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento).

145
A descoberta de experiências emocionais flor, nem aquela
com base no cotidiano é recorrente na obra flor-virtude – em
de Clarice Lispector. No fragmento, o narra- disfarçados urinóis).
dor enfatiza o(a):
a) comportamento vaidoso de mulheres de con- Flor é a palavra
dição social privilegiada. flor; verso inscrito
b) anulação das diferenças sociais no espaço no verso, como as
público de uma estação. manhãs no tempo.
c) incompatibilidade psicológica entre mulhe-
res de gerações diferentes.
Flor é o salto
d) constrangimento da aproximação formal de
da ave para o voo:
pessoas desconhecidas.
o salto fora do sono
e) sentimento de solidão alimentado pelo pro-
quando seu tecido
cesso de envelhecimento.
se rompe; é uma explosão
posta a funcionar,
3. (Enem 2016) como uma máquina,
PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA uma jarra de flores.
entra. MELO NETO, J. C. Psicologia da composição.
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).
e quer falar com você.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que A poesia é marcada pela recriação do objeto
ele está lá fora, mas não quero falar com ele. por meio da linguagem, sem necessariamen-
BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas te explicá-lo. Nesse fragmento de João Ca-
atenções. bral de Melo Neto, poeta da geração de 1945,
EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não! o sujeito lírico propõe a recriação poética de:
BENONA: Isso são coisas passadas. a) uma palavra, a partir de imagens com as
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuí- quais ela pode ser comparada, a fim de assu-
zo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo mir novos significados.
aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado. b) um urinol, em referência às artes visuais li-
Era uma boca a menos e um patrimônio a gadas às vanguardas do início do século XX.
mais. E o peste me traiu. Agora, parece que c) uma ave, que compõe, com seus movimen-
ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem tos, uma imagem historicamente ligada à
louco atrás dele, sedento, atacado de verda- palavra poética.
deira hidrofobia. Vive farejando ouro, como d) uma máquina, levando em consideração a re-
um cachorro da molest’a, como um urubu, levância do discurso técnico-científico pós-
atrás do sangue dos outros. Mas ele está en- -Revolução Industrial.
ganado. Santo Antônio há de proteger mi- e) um tecido, visto que sua composição depen-
nha pobreza e minha devoção. de de elementos intrínsecos ao eu lírico.
SUASSUNA, A. O santo e a porca.
Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (fragmento).
5. (Enem 2011) Quem é pobre, pouco se ape-
Nesse texto teatral, o emprego das expres- ga, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que
sões “o peste” e “cachorro da molest’a” con- nem os pássaros de rios e lagoas. O senhor
tribui para: vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, ri-
a) marcar a classe social das personagens. sonho e habilidoso. Pergunto: – Zé-Zim. por
b) caracterizar usos linguísticos de uma região. que é que você não cria galinhas-d’angola,
c) enfatizar a relação familiar entre as personagens. como todo o mundo faz? — Quero criar nada
d) sinalizar a influência do gênero nas escolhas não... – me deu resposta: — Eu gosto muito
vocabulares. de mudar... [...] Belo um dia, ele tora. Nin-
e) demonstrar o tom autoritário da fala de uma guém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu
das personagens. dou proteção. [...] Essa não faltou também à
minha mãe, quando eu era menino, no ser-
4. (Enem 2016) tãozinho de minha terra. [...] Gente melhor
Antiode do lugar eram todos dessa família Guedes,
Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos
Poesia, não será esse trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos
o sentido em que existindo em território baixio da Sirga, da
ainda te escrevo: outra banda, ali onde o de-Janeiro vai no São
Francisco, o senhor sabe.
flor! (Te escrevo: ROSA. J. G. Grande Sertão Veredas. Rio de
flor! Não uma Janeiro: José Olympio (fragmento).

146
Na passagem citada, Riobaldo expõe uma Com base no trecho de Morte e Vida Severina
situação decorrente de uma desigualdade (Texto I) e na análise crítica (Texto II), ob-
social típica das áreas rurais brasileiras mar- serva-se que a relação entre o texto poético
cadas pela concentração de terras e pela re- e o contexto social a que ele faz referência
lação de dependência entre agregados e fa- aponta para um problema social expresso
zendeiros. No texto, destaca-se essa relação literariamente pela pergunta “Como então
porque o personagem-narrador: dizer quem fala/ ora a Vossas Senhorias?”.
a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, A resposta à pergunta expressa no poema é
demonstrando sua pouca disposição em aju- dada por meio da
dar seus agregados, uma vez que superou a) descrição minuciosa dos traços biográficos
essa condição graças à sua força de trabalho. personagem-narrador.
b) descreve o processo de transformação de um b) construção da figura do retirante nordestino
meeiro — espécie de agregado — em pro-
como um homem resignado com a sua situação.
prietário de terra.
c) denuncia a falta de compromisso e a deso- c) representação, na figura do personagem-
cupação dos moradores, que pouco se envol- -narrador, de outros Severinos que compar-
vem no trabalho da terra. tilham sua condição.
d) mostra como a condição material da vida do d) apresentação do personagem-narrador como
sertanejo é dificultada pela sua dupla con- uma projeção do próprio poeta em sua crise
dição de homem livre e, ao mesmo tempo, existencial.
dependente. e) descrição de Severino, que, apesar de humil-
e) mantém o distanciamento narrativo condi- de, orgulha-se de ser descendente do coro-
zente com sua posição social, de proprietá- nel Zacarias.
rio de terras.

6. (Enem)
Texto I E.O. UERJ
O meu nome é Severino, Exame Discursivo
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
TEXTO I
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
– UAI, EU?
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria,
Se o assunto é meu e seu, lhe digo, lhe conto;
do finado Zacarias,
que vale enterrar minhocas? De como aqui
mas isso ainda diz pouco:
me vi, sutil assim, por tantas cargas d’água.
há muitos na freguesia,
No engano sem desengano: o de aprender
por causa de um coronel
prático o desfeitio da vida.
que se chamou Zacarias
Sorte? A gente vai – nos passos da história
e que foi o mais antigo
que vem. Quem quer viver faz mágica. Ain-
senhor desta sesmaria.
da mais eu, que sempre fui arrimo de pai
Como então dizer quem fala
bêbado. Só que isso se deu, o que quando,
ora a Vossas Senhorias?
deveras comigo, feliz e prosperado. Ah, que
MELO NETO, J. C. Obras completa. Rio de
Janeiro: Aguilar, 1994 (fragmento)
saudades que eu não tenha... Ah, meus bons
maus-tempos! Eu trabalhava para um senhor
Doutor Mimoso.
Texto II
Sururjão, não; é solorgião. Inteiro na fama
João Cabral, que já emprestara sua voz ao – olh’alegre, justo, inteligentudo – de cali-
rio, transfere-a, aqui, ao retirante Severi- bre de quilate de caráter. Bom até-onde-que,
no, que, como o Capibaribe, também segue bom como cobertor, lençol e colcha, bom
no caminho do Recife. A autoapresentação mesmo quando com dor-de-cabeça: bom,
do personagem, na fala inicial do texto, nos feito mingau adoçado. Versando chefe os so-
mostra um Severino que, quanto mais se de- lertes preceitos. Ordem, por fora; paciência
fine, menos se individualiza, pois seus tra- por dentro. Muito mediante fortes cálculos,
ços biográficos são sempre partilhados por imaginado de ladino, só se diga. A fim de
outros homens. comigo ligeiro poder ir ver seus chamados
SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos.
de seus doentes, tinha fechado um piquete
Rio de Janeiro: Topbooks, 1999 (fragmento). no quintal: lá pernoitavam, de diário, à mão,

147
dois animais de sela – prontos para qualquer TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
aurora.
Vindo a gente a par, nas ocasiões, ou eu Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu
atrás, com a maleta dos remédios e petre- pai e seus irmãos, 6longe, longe daqui, muito
chos, renquetrenque, estudante andante. depois da Vereda-do-Frango-d’Água e de ou-
Pois ele comigo proseava, me alentando, tras veredas sem nome ou pouco conhecidas,
cabidamente, por norteação – a conversa em ponto remoto, no Mutum. No meio dos
manuscrita. Aquela conversa me dava mui- Campos Gerais, mas num 1covoão em trecho
tos arredores. Ô homem! Inteligente como de matas, terra preta, pé de serra.
agulha e linha, feito pulga no escuro, como Miguilim tinha oito anos. Quando completa-
dinheiro não gastado. Atilado todo em saga- ra sete, havia saído dali, pela primeira vez:
cidades e finuras - é de “fimplus”! “de tintí- o Tio Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela,
nibus”... - latim, o senhor sabe, aperfeiçoa... para ser crismado no Sucuriju, por onde o
Isso, para ele, era fritada de meio ovo. O que bispo passava. Da viagem, que durou dias,
porém bem. ele guardara aturdidas lembranças, emba-
(ROSA, João Guimarães. Tutameia: terceiras raçadas em sua cabecinha. De uma, nunca
estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.) pôde se esquecer: alguém, que já estivera
no Mutum, tinha dito: – “É um lugar bonito,
entre 7morro e morro, com muita pedreira e
TEXTO II
muito mato, distante de qualquer parte; e lá
chove sempre...”
NO MEIO DO CAMINHO
Mas sua mãe, que era linda e com cabelos
pretos e compridos, se doía de tristeza de ter
No meio do caminho tinha uma pedra de viver ali.
tinha uma pedra no meio do caminho Queixava-se, principalmente nos demorados
tinha uma pedra meses chuvosos, quando carregava o tem-
no meio do caminho tinha uma pedra. po, tudo tão sozinho, tão escuro, o ar ali
era mais escuro; ou, mesmo na estiagem,
Nunca me esquecerei desse acontecimento qualquer dia, de tardinha, na hora do sol
na vida de minhas retinas tão fatigadas. entrar. – “Oê, ah, o triste recanto...” – ela
Nunca me esquecerei que no meio do caminho exclamava. Mesmo assim, enquanto esteve
tinha uma pedra fora, só com o Tio Terêz, Miguilim padeceu
tinha uma pedra no meio do caminho tanta saudade, de todos e de tudo, que às ve-
no meio do caminho tinha uma pedra. zes nem conseguia chorar, e ficava sufocado.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião. Rio de E foi descobrir, por si, que, umedecendo as
Janeiro: José Olympio, 1972.)
ventas com um tico de cuspe, aquela aflição
um pouco aliviava. Daí, pedia ao Tio Terêz
1. (UERJ) A obra de Guimarães Rosa, citado
que molhasse para ele o lenço; 4e Tio Terêz,
como grande renovador da expressão literá-
quando davam com um riacho, um 2mina-
ria, é também reconhecida pela contribuição
douro ou um poço de grota, sem se apear do
linguística, devido à utilização de termos re-
cavalo abaixava o copo de chifre, na ponta
gionais, palavras novas, não dicionarizadas, de uma correntinha, e subia um punhado
o que chamamos NEOLOGISMOS, especial- d’água. Mas quase sempre eram secos os ca-
mente para expressar situações ou opiniões minhos, nas chapadas, então Tio Terêz tinha
de seus personagens. uma cabacinha que vinha cheia, essa dava
a) Retire do primeiro parágrafo um exemplo de para quatro sedes; uma cabacinha entrelaça-
neologismo e explique, em uma frase com- da com cipós, que era tão formosa. – “É para
pleta, o seu sentido no texto. beber, Miguilim...” – Tio Terêz dizia, caçoan-
b) Compare o adjetivo “inteligentudo” (par. do. Mas Miguilim ria também e preferia não
2) com “barbudo”, “barrigudo”, “sortudo”. beber a sua parte, deixava-a para empapar o
Escreva duas formas da língua padrão – a lenço e refrescar o nariz, na hora do arrocho.
primeira com duas palavras; a segunda com Gostava do Tio Terêz, irmão de seu pai.
uma palavra – que equivalem semantica- 5
Quando voltou para casa, seu maior pensa-
mente ao neologismo “inteligentudo”. mento era que tinha a boa notícia para dar
à mãe: o que o homem tinha falado – que o
2. (UERJ) Depois de aposentar-se, José Maria Mutum era lugar bonito... A mãe, quando ou-
passa a contemplar a natureza e a percebê-la visse essa certeza, havia de se alegrar, ficava
de duas formas diferentes. consolada. Era um presente; e a ideia de po-
Transcreva do texto uma passagem que der trazê-lo desse jeito de cor, como uma sal-
exemplifique cada uma dessas percepções. vação, deixava-o febril até nas pernas. 3Tão
Em seguida, explique a diferença entre elas. grave, grande, que nem o quis dizer à mãe

148
na presença dos outros, mas insofria por ter c) uma contradição entre a ideia de extensão e
de esperar; e, assim que pôde estar com ela a de canavial.
só, abraçou-se a seu pescoço e contou-lhe, d) um paradoxo entre a ideia de nada e a de
estremecido, aquela revelação. imensidão.
GUIMARÃES ROSA e) um eufemismo entre a ideia de metro e a de
Manuelzão e Miguilim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. medida.
Vocabulário:
ref. 1: covoão – baixada estreita e profunda 2. (Unifesp) Nos versos iniciais do poema – Um
ref. 2: minadouro – olho d’água, quase sem- canavial tem a extensão / ante a qual todo
pre nascente de um córrego ou de um ribeirão metro é vão. –, metro é concebido como:
a) forma ineficaz de se medir a extensão de um
3. (UERJ 2009) Guimarães Rosa se caracteriza canavial.
pela linguagem instigante que encanta e des- b) forma de se medir corretamente um canavial.
concerta, permitindo ao leitor familiarizar-se c) meio de se dizer mais de um canavial do que
com o potencial criativo da Língua Portuguesa. só sua extensão.
Observe o fragmento do texto: d) tradução subjetiva da extensão de um ca-
“Tão grave, grande, que nem o quis dizer à navial.
mãe na presença dos outros, mas insofria por e) meio de se medir a extensão de um canavial
ter de esperar;” (ref. 3) com precisão.
Aponte o significado do prefixo da palavra
sublinhada e explicite, em uma frase com- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
pleta, o sentido dessa palavra.
A sensível

Foi então que ela atravessou uma crise que


E.O. Objetivas nada parecia ter a ver com sua vida: uma cri-
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) se de profunda piedade. A cabeça tão limi-
tada, tão bem penteada, mal podia suportar
perdoar tanto. Não podia olhar o rosto de um
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES. tenor enquanto este cantava alegre – vira-
va para o lado o rosto magoado, insuportá-
O nada que é vel, por piedade, não suportando a glória do
cantor. Na rua de repente comprimia o peito
Um canavial tem a extensão com as mãos enluvadas – assaltada de per-
ante a qual todo metro é vão. dão. Sofria sem recompensa, sem mesmo a
simpatia por si própria.
Tem o escancarado do mar Essa mesma senhora, que sofreu de sensibi-
que existe para desafiar lidade como de doença, escolheu um domin-
go em que o marido viajava para procurar
que números e seus afins a bordadeira. Era mais um passeio que uma
possam prendê-lo nos seus sins. necessidade. Isso ela sempre soubera: pas-
sear. Como se ainda fosse a menina que pas-
Ante um canavial a medida seia na calçada. Sobretudo passeava muito
métrica é de todo esquecida, quando “sentia” que o marido a enganava.
Assim foi procurar a bordadeira, no domingo
porque embora todo povoado de manhã. Desceu uma rua cheia de lama, de
povoa-o o pleno anonimato galinhas e de crianças nuas – aonde fora se
meter! A bordadeira, na casa cheia de filhos
que dá esse efeito singular: com cara de fome, o marido tuberculoso – a
de um nada prenhe como o mar. bordadeira recusou-se a bordar a toalha por-
João Cabral de Melo Neto. que não gostava de fazer ponto de cruz! Saiu
Museu de tudo e depois, 1988. afrontada e perplexa. “Sentia-se” tão suja
pelo calor da manhã, e um de seus praze-
1. (Unifesp) Ao comparar o canavial ao mar, a res era pensar que sempre, desde pequena,
imagem construída pelo eu lírico formaliza- fora muito limpa. Em casa almoçou sozinha,
-se em:
a) uma assimetria entre a ideia de nada e a de
anonimato.
b) uma descontinuidade entre a ideia de mar e
a de canavial.

149
deitou-se no quarto meio escurecido, cheia disse ao lançado recém–lançado–namorado:
de sentimentos maduros e sem amargura. – Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o
Oh pelo menos uma vez não “sentia” nada. senhor?
Senão talvez a perplexidade diante da liber-
dade da bordadeira pobre. Senão talvez um
sentimento de espera. A liberdade. Da segunda vez em que se encontraram caía
Clarice Lispector. Os melhores contos de Clarice uma chuva fininha que ensopava os ossos.
Lispector, 1996. Sem nem ao menos se darem as mãos cami-
nhavam na chuva que na cara de Macabéa
3. (Unifesp) O emprego do adjetivo “sensível” parecia lágrimas escorrendo.
como substantivo, no título do texto, revela Clarice Lispector, A hora da estrela.
a intenção de:
a) ironizar a ideia de sentimento, então desti- 4. (Fuvest) Neste excerto, as falas de Olímpico
tuído de subjetividades e ambiguidades na e Macabéa:
expressão da senhora. a) aproximam–se do cômico, mas, no âmbito
b) priorizar os aspectos relacionados aos senti- do livro, evidenciam a oposição cultural en-
mentos, como conteúdo temático do conto e tre a mulher nordestina e o homem do sul do
País.
expressão do que vive a senhora.
b) demonstram a incapacidade de expressão
c) explorar a ideia de liberdade em uma narra- verbal das personagens, reflexo da privação
tiva em que o efeito de objetividade limita a econômica de que são vítimas.
expressão dos sentimentos da senhora. c) beiram às vezes o absurdo, mas, no contexto
d) traduzir a expressão comedida da senhora da obra, adquirem um sentido de humor e
ante a vida e os sentimentos mais intensos, sátira social.
como na relação com a bordadeira. d) registram, com sentimentalismo, o eterno
e) dar relevância aos aspectos subjetivos das conflito que opõe os princípios antagônicos
relações humanas, pondo em sintonia os do Bem e do Mal.
pontos de vista da senhora e da bordadeira. e) suprimem, por seu caráter ridículo, a per-
cepção do desamparo social e existencial das
personagens.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
5. (Fuvest) Devo registrar aqui uma alegria. É
Ele se aproximou e com voz cantante de nor-
que a moça num aflitivo domingo sem farofa
destino que a emocionou, perguntou–lhe:
teve uma inesperada felicidade que era inex-
– E se me desculpe, senhorinha, posso con-
plicável: no cais do porto viu um arco–íris.
vidar a passear?
Experimentando o leve êxtase, ambicionou
– Sim, respondeu atabalhoadamente com
logo outro: queria ver, como uma vez em Ma-
pressa antes que ele mudasse de ideia.
ceió, espocarem mudos fogos de artifício. Ela
– E, se me permite, qual é mesmo a sua graça? quis mais porque É MESMO UMA VERDADE
– Macabéa. QUE QUANDO SE DÁ A MÃO, ESSA GENTINHA
Maca – o quê? QUER TODO O RESTO, O ZÉ-POVINHO SONHA
– Bea, foi ela obrigada a completar. COM FOME DE TUDO. E QUER MAS SEM DIREI-
– Me desculpe mas até parece doença, doen- TO ALGUM, POIS NÃO É?
ça de pele. Clarice Lispector, “A hora da estrela”.
– Eu também acho esquisito mas minha mãe
botou ele por promessa a Nossa Senhora da Considerando-se no contexto da obra o tre-
Boa Morte se eu vingasse, até um ano de cho destacado, é correto afirmar que, nele, o
idade eu não era chamada porque não tinha narrador:
nome, eu preferia continuar a nunca ser a) assume momentaneamente as convicções
chamada em vez de ter um nome que nin- elitistas que, no entanto, procura ocultar no
guém tem mas parece que deu certo – parou restante da narrativa.
um instante retomando o fôlego perdido e b) reproduz, em estilo indireto livre, os pensa-
acrescentou desanimada e com pudor – pois mentos da própria Macabéa diante dos fogos
como o senhor vê eu vinguei... pois é... de artifício.
– Também no sertão da Paraíba promessa é c) hesita quanto ao modo correto de interpretar
questão de grande dívida de honra. a reação de Macabéa frente ao espetáculo.
Eles não sabiam como se passeia. Andaram d) adota uma atitude panfletária, criticando
sob a chuva grossa e pararam diante da vi- diretamente as injustiças sociais e cobrando
trine de uma loja de ferragem onde estavam sua superação.
expostos atrás do vidro canos, latas, parafu- e) retoma uma frase feita, que expressa pre-
sos grandes e pregos. E Macabéa, com medo conceito antipopular, desenvolvendo-a na
de que o silêncio já significasse uma ruptura, direção da ironia.

150
6. (Fuvest) Identifique a afirmação correta so- produzir à mão, domesticamente, os próprios
bre “A hora da estrela”, de Clarice Lispector: livros e os dos amigos. E, com tal “ginástica
a) A força da temática social, centrada na mi- poética”, como a chamava, tornou-se essa
séria brasileira, afasta do livro as preocupa- ave rara e fascinante: um editor artesanal.
ções com a linguagem, frequentes em outros Um livro recém-lançado, “Editores Artesa-
escritores da mesma geração. nais Brasileiros”, de Gisela Creni, conta a
b) Se o discurso do narrador critica principal- história de João Cabral e de outros sonha-
mente a própria literatura, as falas de Maca- dores que, desde os anos 50, enriqueceram a
béa exprimem sobretudo as críticas da per- cultura brasileira a partir de seu quarto dos
sonagem às injustiças sociais. fundos ou de um galpão no quintal.
c) O narrador retarda bastante o início da nar- O editor artesanal dispõe de uma minitipo-
ração da história de Macabéa, vinculando grafia e faz tudo: escolhe a tipologia, com-
esse adiamento a um auto questionamento põe o texto, diagrama-o, produz as ilustra-
radical. ções, tira provas, revisa, compra o papel e
d) Os sofrimentos da migrante nordestina são imprime – em folhas soltas, não costuradas
realçados, no livro, pelo contraste entre suas – 100 ou 200 lindos exemplares de um livri-
desventuras na cidade grande e suas lem- nho que, se não fosse por ele, nunca seria
branças de uma infância pobre, mas vivida publicado. Daí, distribui-os aos subscritores
no aconchego familiar. (amigos que se comprometeram a comprar
e) O estilo do livro é caracterizado, principal- um exemplar). O resto, dá ao autor. Os livrei-
mente, pela oposição de duas variedades ros não querem nem saber.
linguísticas: linguagem culta, literária, em Foi assim que nasceram, em pequenos livros,
contraste com um grande número de expres- poemas de – acredite ou não – João Cabral,
sões regionais nordestinas. Manuel Bandeira, Drummond, Cecília Mei-
reles, Joaquim Cardozo, Vinicius de Moraes,
Lêdo Ivo, Paulo Mendes Campos, Jorge de
7. (Fuvest) Considere as seguintes comparações
Lima e até o conto “Com o Vaqueiro Maria-
entre “Vidas secas” e “A hora da estrela”:
no” (1952), de Guimarães Rosa.
I. Os narradores de ambos os livros adotam
E de Donne, Baudelaire, Lautréamont, Rim-
um estilo sóbrio e contido, avesso a expan-
baud, Mallarmé, Keats, Rilke, Eliot, Lorca,
sões emocionais, condizente com o mundo Cummings e outros, traduzidos por amor.
de escassez e privação que retratam. João Cabral não se curou da dor de cabeça,
II. Em ambos os livros, a carência de lingua- mas valeu.
gem e as dificuldades de expressão, pre- Ruy Castro. Folha de S.Paulo, 17.08.2013. Adaptado.
sentes, por exemplo, em Fabiano e Ma-
cabéa, manifestam aspectos da opressão
8. (Unifesp) As informações do texto permitem
social.
afirmar que:
III. A personagem Sinhá Vitória (“Vidas se-
a) a edição artesanal, como a praticada por
cas”), por viver isolada em meio rural,
João Cabral de Melo Neto, permitiu que a
não possui elementos de referência que
cultura nacional fosse enriquecida com
a façam aspirar por bens que não possui;
obras de expressivos escritores.
já Macabéa, por viver em meio urbano,
b) as edições artesanais, como as de João Ca-
possui sonhos típicos da sociedade de
bral de Melo Neto, raramente se destinam à
consumo.
produção de obras literárias para pessoas dos
Está correto apenas o que se afirma em:
círculos íntimos de convivência dos autores.
a) I.
c) a edição artesanal é uma realidade específica
b) II. do Brasil, retratando a dificuldade que au-
c) III. tores como Vinicius de Moraes e Guimarães
d) I e II. Rosa tiveram para publicar suas obras.
e) II e III. d) a venda de uma edição artesanal se dá com
um grande volume de livros, razão pela qual
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: desperta grande interesse comercial e cultu-
ral dos editores no Brasil.
Poetas e tipógrafos e) os livreiros normalmente têm pouco inte-
resse por livros artesanais, como os de Ma-
Vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, nuel Bandeira e Cecília Meireles, por consi-
o poeta João Cabral de Melo Neto foi a um mé- derarem-nos uma forma menor de expressão
dico por causa de sua crônica dor de cabeça. artística.
Ele lhe receitou exercícios físicos, para “cana-
lizar a tensão”. João Cabral seguiu o conselho.
Comprou uma prensa manual e passou a

151
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.

A sensível Essa vida por aqui


é coisa familiar;
Foi então que ela atravessou uma crise que mas diga-me retirante,
nada parecia ter a ver com sua vida: uma cri- sabe benditos rezar?
se de profunda piedade. A cabeça tão limi- sabe cantar excelências,
tada, tão bem penteada, mal podia suportar defuntos encomendar?
perdoar tanto. Não podia olhar o rosto de um sabe tirar ladainhas,
tenor enquanto este cantava alegre – vira- sabe mortos enterrar?
va para o lado o rosto magoado, insuportá- João Cabral de Melo Neto, Morte e vida Severina.
vel, por piedade, não suportando a glória do
cantor. Na rua de repente comprimia o peito
1
0. (Fuvest) Neste contexto, o verso “defuntos
com as mãos enluvadas – assaltada de per-
encomendar” significa:
dão. Sofria sem recompensa, sem mesmo a
a) ordenar a morte de alguém.
simpatia por si própria.
b) lavar e vestir o defunto.
Essa mesma senhora, que sofreu de sensibili-
c) matar alguém.
dade como de doença, escolheu um domingo
d) preparar a urna funerária.
em que o marido viajava para procurar a bor-
e) orar pelo defunto.
dadeira. Era mais um passeio que uma neces-
sidade. Isso ela sempre soubera: passear. Como
se ainda fosse a menina que passeia na calça-
da. Sobretudo passeava muito quando “sentia” E.O. Dissertativas
que o marido a enganava. Assim foi procurar
a bordadeira, no domingo de manhã. Desceu (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
uma rua cheia de lama, de galinhas e de crian-
ças nuas – aonde fora se meter! A bordadeira, 1. (Unifesp) Leia o texto.
na casa cheia de filhos com cara de fome, o Quando chega o dia da casa cair – que, com
ou sem terremotos, é um dia de chegada in-
marido tuberculoso – a bordadeira recusou-
falível, – o dono pode estar: de dentro, ou de
-se a bordar a toalha porque não gostava de fora. É melhor de fora. E é a só coisa que um
fazer ponto de cruz! Saiu afrontada e perplexa. qualquer-um está no poder de fazer. Mesmo
“Sentia-se” tão suja pelo calor da manhã, e um estando de dentro, mais vale todo vestido
de seus prazeres era pensar que sempre, desde e perto da porta da rua. Mas, Nhô Augusto,
pequena, fora muito limpa. Em casa almoçou não: estava deitado na cama – o pior lugar
sozinha, deitou-se no quarto meio escurecido, que há para se receber uma surpresa má.
cheia de sentimentos maduros e sem amargu- E o camarada Quim sabia disso, tanto que
ra. Oh pelo menos uma vez não “sentia” nada. foi se encostando de medo que ele entrou.
Senão talvez a perplexidade diante da liber- Tinha poeira até na boca. Tossiu.
dade da bordadeira pobre. Senão talvez um – Levanta e veste a roupa, meu patrão Nhô
Augusto, que eu tenho uma novidade meia
sentimento de espera. A liberdade.
ruim, pr’a lhe contar.
Clarice Lispector. Os melhores contos de Clarice
E tremeu mais, porque Nhô Augusto se er-
Lispector, 1996.
guia de um pulo e num átimo se vestia. Só
depois de meter na cintura o revólver, foi
9. (Unifesp) A narrativa delineia entre as per- que interpelou, dente em dente:
sonagens da senhora e da bordadeira uma – Fala tudo!
relação de: Quim Recadeiro gaguejou suas palavras pou-
a) cumplicidade, entendida como ajuda entre cas, e ainda pôde acrescentar:
duas mulheres cujas vidas mostram–se tão – ... Eu podia ter arresistido, mas era negó-
distintas. cio de honra, com sangue só p’ra o dono, e
b) animosidade, marcada pela recusa afrontosa pensei que o senhor podia não gostar...
da segunda em atender ao pedido emergen- – Fez na regra, e feito! Chama os meus homens!
cial da primeira. Dali a pouco, porém, tornava o Quim, com
c) oposição, determinada pela superioridade nova desolação: os bate-paus não vinham...
social e econômica da primeira e a liberdade Não queriam ficar mais com Nhô Augusto...
da segunda. O Major Consilva tinha ajustado, um e mais
um, os quatro, para seus capangas, pagando
d) sujeição, fortalecida naturalmente pelas
bem. Não vinham, mesmo. O mais merecido,
condições econômicas da primeira, superio-
o cabeça, até mandara dizer, faltando ao respei-
res às da segunda.
to: – Fala com Nhô Augusto que sol de cima
e) incompreensão, decorrente do desejo da pri- é dinheiro!... P’ra ele pagar o que está nos
meira de que a segunda trabalhasse num dia devendo... E é mandar por portador calado,
de domingo. que nós não podemos escutar prosa de outro,

152
que seu major disse que não quer. depois passou a ilusão e enxergou a cara
– Cachorrada!... Só de pique... Onde é que toda deformada pelo espelho ordinário, o
eles estão? nariz tornado enorme como o de um palhaço
– Indo de mudados, p’ra a chácara do Major... de nariz de papelão. Olhou-se e levemente
– Major de borra! Só de pique, porque era ini- pensou: tão jovem e já com ferrugem.
migo do meu pai!... Vou lá! a) Neste trecho, o fato de parecer, a Macabéa,
João Guimarães Rosa. não se ver refletida no espelho liga-se ime-
A hora e vez de Augusto Matraga.
diatamente ao aviso de que seria despedi-
a) No sertão de Guimarães Rosa, frequen- da. Projetando essa ausência de reflexo no
temente faz-se referência a aspectos de um có- contexto mais geral da obra, como você a
digo de ética, de caráter tradicional, que rege a interpreta?
vida das personagens. Transcreva as duas falas b) Também no contexto da obra, explique por
do diálogo em que se menciona uma situação que o narrador diz que Macabéa pensou “le-
em que esse código não é quebrado. vemente”.
b) Indique duas palavras ou expressões presen-
tes nos diálogos entre as personagens que não 4. (Fuvest) No conto “A hora e vez de Augusto
correspondem à norma-padrão da língua. Com- Matraga”, de Guimarães Rosa, o protagonista
pare o modo como o autor emprega a língua é um homem rude e cruel, que sofre violenta
nos diálogos e no discurso do narrador, expli- surra de capangas inimigos e é abandonado
cando as diferenças entre os dois usos. como morto, num brejo. Recolhido por um
casal de matutos, Matraga passa por um len-
2. (Unicamp) Leia a seguinte passagem de “A to e doloroso processo de recuperação, em
hora e a vez de Augusto Matraga”: meio ao qual recebe a visita de um padre,
“O casal de pretos, que moravam junto com ele, com quem estabelece o seguinte diálogo:
era quem mandava e desmandava na casa, não – Mas, será que Deus vai ter pena de mim,
trabalhando um nada e vivendo no estadão. com tanta ruindade que fiz, e tendo nas cos-
Mas, ele, tinham-no visto mourejar até dentro tas tanto pecado mortal?
da noite de Deus, quando havia luar claro. – Tem, meu filho. Deus mede a espora pela
Nos domingos, tinha o seu gosto de tomar rédea, e não tira o estribo do pé de arrepen-
descanso: batendo mato, o dia inteiro, sem dido nenhum... (...) Sua vida foi entortada
sossego, sem espingarda nenhuma e nem
no verde, mas não fique triste, de modo ne-
nenhuma arma para caçar; e, de tardinha,
nhum, porque a tristeza é aboio de chamar
fazendo parte com as velhas corocas que re-
demônio, e o Reino do Céu, que é o que vale,
zavam o terço ou os meses dos santos. Mas
ninguém tira de sua algibeira, desde que
fugia às léguas de viola ou sanfona, ou de
você esteja com a graça de Deus, que ele não
qualquer outra qualidade de música que es-
regateia a nenhum coração contrito.
cuma tristezas no coração.”
a) A linguagem figurada amplamente emprega-
João Guimarães Rosa, “A hora e a vez de Augusto
Matraga”, em “Sagarana”. Rio de Janeiro: Ed. Nova da pelo padre é adequada ao seu interlocu-
Fronteira, 1984, p.359. tor? Justifique sua resposta.
b) Transcreva uma frase do texto que tenha
a) Identifique o casal que vive junto com o pro- sentido equivalente ao da frase “não rega-
tagonista da narrativa. teia a nenhum coração contrito.”
b) Explique o comportamento do protagonista
no trecho citado, confrontando-o com sua
trajetória de vida.
c) O que há de contraditório no descanso domi-
nical a que o narrador se refere?

3. (Fuvest) Leia este trecho de “A hora da es-


trela”, de Clarice Lispector, no qual Macabéa,
depois de receber o aviso de que seria despe-
dida do emprego, olha–se ao espelho:
Depois de receber o aviso foi ao banheiro
para ficar sozinha porque estava toda ator-
doada. Olhou-se maquinalmente ao espelho
que encimava a pia imunda e rachada, cheia
de cabelos, o que tanto combinava com sua
vida. Pareceu-lhe que o espelho baço e es-
curecido não refletia imagem alguma. Su-
mira por acaso a sua existência física? Logo

153
Gabarito E.O. Enem
1
. C 2
. E 3
. B 4
. A 5
. D
6
. C
E.O. Aprendizagem
1. E 2
. E 3
. C
E.O. UERJ
Exame Discursivo
E.O. Fixação 1.
1
. D 2
. A 3
. A 4
. D 5
. A a) Desfeitio
Na expressão “o desfeitio da vida”, pode-
6
. E -se ressaltar o sentido de que a vida não
tem feição ou configuração certa.
b) Uma dentre as formas:
§ muito inteligente
E.O. Complementar § bastante inteligente
1
. E 2
. A 3
. D 4
. A § bem inteligente
§ deveras inteligente
§ assaz inteligente
§ inteligentíssimo
E.O. Dissertativo 2.
O título do conto reflete com ironia o contras-
te entre a concepção tradicional de uma festa
1.
de aniversário e o comportamento das per-
a) Linguagem simples, repetições, contras-
sonagens. As atitudes e os sentimentos dos
tes (apesar de pobre, é rainha da vida).
membros da família, com exceção da própria
b) Para o narrador (primeiro texto), a nor-
aniversariante, indicam um clima de animo-
destina só é vista e amada por ele, não
sidade, hipocrisia e desagregação familiar.
tem valor para a sociedade. É uma pessoa
3.
Movimento para dentro
indefesa, fraca.
Uma das possibilidades:
Para o eu lírico (segundo texto), a nor-
§ O menino sofria por dentro.
destina, apesar das dificuldades da vida,
§ O menino não dava sinais aparentes do
é forte, valente, dona de sua própria vida.
seu sofrimento.
2. O título é uma ironia, pois há um contraste
§ O menino não queria demonstrar à mãe
entre a concepção tradicional de uma festa
seu sofrimento.
de aniversário e o comportamento das perso-
nagens. As atitudes dos componentes da fa-
mília demonstravam a hipocrisia que havia
entre eles, com exceção da aniversariante. E.O. Objetivas
3. (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
a) uso de conotação e de rimas.
1. D 2
. A 3
. B 4. C 5. E
Exemplos:
Rimas 6. C 7
. B 8. A 9. C 10. E
“sempre, de qualquer maneira,
porque senão ele alaga
e devasta a terra inteira”.
Conotação E.O. Dissertativas
“a miséria é mar largo,”
b) Fome, miséria, desigualdade.
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1.
4. O humor negro aparece na ironia feita em
a) “– ... Eu podia ter arresistido, mas era negó-
relação à sorte do defunto, que seria melhor
cio de honra, com sangue só p’ra o dono, e
do que a dos irmãos das almas, ou seja, mor-
pensei que o senhor podia não gostar... – Fez
rer é melhor do que a vida que se leva no
na regra, e feito! Chama os meus homens!”.
sertão.
Neste diálogo entre Quim Recadeiro e Ma-
5.
traga percebe–se a existência de um código
a) “Mas, se não tem Deus, há-de a gente
de conduta do sertão de Minas Gerais onde
perdidos no vai-vem, e a vida é burra”.
são ambientadas as narrativas de Guimarães
b) “...a gente perdidos...”
Rosa. As ofensas devem ser castigadas com a
“...é todos contra o acaso”.
morte e a vingança deve ser feita indivi-
dualmente pela pessoa ultrajada, ou seja,

154
o conflito deve envolver apenas ofendido e
ofensor. Assim, a atitude de Quim Recadeiro
é aprovada por Matraga, o que confirma a
justeza do ato.
b) No excerto “novidade meia ruim, pr’a lhe
contar”, o advérbio “meia” é usado no fe-
minino o que contraria a norma padrão que
considera esta classe invariável. Também
o verbo resistir é adaptado à oralidade na
transposição da fala em discurso direto (“Eu
podia ter arresistido”). Assim, Guimarães
Rosa transporta para os diálogos a forma de
falar do sertanejo, carregada de regionalis-
mos e expressões informais, como “fez na
regra”, “cachorrada” e “Só de pique”, ao
mesmo tempo que mantém a linguagem pa-
drão no discurso do narrador, em uma alqui-
mia verbal que funde erudito e popular.
2.
a) Augusto Matraga, fazendeiro violento e
beberrão, boêmio e desrespeitador, de-
pois de ser espancado por capangas, rola
despenhadeiro abaixo e é socorrido por
um casal de negros, Quitéria e Serapião.
b) Após ser salvo pelo casal, Matraga resol-
ve penitenciar-se da vida desregrada que
levava, dedicando-se ao trabalho e pro-
curando beneficiar seus salvadores. Esse
comportamento abnegado, desinteressa-
do e bondoso contrapõe-se ao que Matra-
ga fora no passado.
c) O descanso era viver sem sossego.
3.
a) A ausência da reflexão de Macabéa no
espelho representa falta de importância
existencial e social dessa personagem
alheia a tudo e a si mesma. É um ser de
“existência rala”, metaforizada nas ex-
pressões: “capim”, “feto jogado no lixo”,
“café frio”.
b) Macabéa, por não ter tido condições de es-
tudar, por ser pobre, ter vindo de um lugar
totalmente diferente, não tem consciência
da sua condição. Ela não reflete sobre sua
miséria, por isso a expressão “levemente
pensou”, indicando a fragilidade da sua
constatação.
4.
a) Sim, pois, penitente, Nhô Augusto se acha-
va dócil diante do estilo do padre, que era
marcado pela mistura de erudição e regio-
nalismo. Entretanto, o registro metafórico
do padre é compreensível em relação a sua
função de orientar os fiéis. Estes, geral-
mente, apreciam e recebem a linguagem
misteriosa da religião. Desse modo, as me-
táforas do padre, sem se distanciarem do
interlocutor, marcam uma distância neces-
sária entre o sagrado e o profano.
b) A frase é: “ ...não tira o pé de arrependi-
mento nenhum”.

155
2 5 Concretismo

Competências Habilidades
2, 5 e 6 5, 15, 16 e 17

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
E.O. Aprendizagem Mabe, registraram temas vinculados à realida-
de social com desenhos e composições gritan-
tes em grandes telas.
1. O texto a seguir é um claro exemplo de: e) O concretismo privilegiou elementos plásticos
relacionados à expressão figurativa em mu-
rais, tematizando tradições populares brasi-
leiras em manifestos com experiências intui-
tivas da arte.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

3. (UEG) Para a criação do poema “Lixo”, o au-


a) poesia-práxis.
tor lança mão de estímulos visuais:
b) poema concreto. a) complexos.
c) metalinguagem. b) comutativos.
d) poesia social. c) concêntricos.
e) poesia dadaísta. d) contraditórios.

2. (Uel) Analise a imagem a seguir: 4. (PUC-PR) A história da poesia brasileira no


século XX pode ser dividida em cinco mo-
mentos:
I. A coexistência do Parnasianismo e do
Simbolismo.
II. O Modernismo, iniciado oficialmente com
a Semana de Arte Moderna.
III. A Geração de 45.
IV. O Concretismo.
V. A poesia contemporânea.
Numere as características abaixo de acordo
com essa divisão e assinale a alternativa que
contém a sequência encontrada:
( ) Incorporação do espaço gráfico.
( ) Ruptura com o formalismo da estética
Fonte: SERPA, I. Arte brasileira. Colorama Artes
Gráficas, s/d p. 90.
anterior.
( ) O culto da forma, seja na técnica de com-
Com base na imagem e nos conhecimen- posição, seja na expressividade sonora.
tos sobre a arte brasileira contemporânea ( ) Misticismo e retomada da tradição for-
(1950-1980), é correto afirmar: mal.
a) A arte brasileira sofreu novas e diversas di- ( ) Metapoética e experimentalismo.
reções, quando artistas como Renina Katz a) II, III, IV, I e V.
e Lygia Clark ligaram-se a diferentes movi- b) IV, V, II, I e III.
mentos estéticos como o abstracionismo e o c) II, III, V, I e IV.
concretismo. d) IV, II, I, III e V.
b) O uso de materiais tradicionais permaneceu e) V, IV, II, I e III.
na concepção da arte ao priorizar temas
como animais estranhos e cavaleiros medie- 5. (UPE) De gramática e de linguagem
vais, ricos em detalhes realistas e pormeno-
res incrustados. E havia uma gramática que dizia assim:
“Substantivo (concreto) é tudo quanto indi-
c) Ligada à estética do realismo mágico e pro-
ca
pondo uma reconstrução ilógica da realida- Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, cane-
de, Tomie Ohtake compõe quadros com for- ta”.
mas e cores suaves. Eu gosto das cousas.
d) Preocupados com os princípios matemáti- As cousas sim!...
cos rígidos, os abstracionistas como Manabu As pessoas atrapalham.

159
Estão em toda parte. o uso da língua e suas relações lógico-
Multiplicam-se em excesso. -semânticas, e isso denota uma reflexão
As cousas são quietas. Bastam-se. mais cuidadosa de seus autores acerca da
Não se metem com ninguém. exploração científica e estética da palavra
poética.
[...] Estão CORRETOS os itens:
Eu sonho com um poema
a) I, II e III.
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua b) II, III e V.
boca, c) I, II e IV.
Um poema que te mate de amor d) II, IV e V.
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sen- e) III, IV e V.
tido:
Basta provares o seu gosto… 6. (UFU) lua à vista
Quintana, Mario. brilhavas assim
sobre Auschwitz?
desencontrários
LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos.
São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 78.
Mandei a palavra rimar,
Ela não me obedeceu. No Haicai acima:
Falou em mar, em céu, em rosa,
a) o eu lírico evoca um dos mais brutais geno-
Em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si, cídios do século XX, em que morreram mi-
A sílaba silenciosa. lhares de judeus, ciganos e homossexuais.
b) o autor elabora uma curiosa contradição
Mandei a frase sonhar, entre a lua e um centro de confinamento
e ela se foi num labirinto. militar, relembrando um dos mais famosos
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso. campos de concentração estabelecidos na
Dar ordens a um exército, Primeira Guerra Mundial.
Para conquistar um império extinto. c) Paulo Leminski apresenta uma das mais
Leminski, Paulo. Toda poesia. São Paulo: criativas antíteses da literatura brasileira,
Companhia das Letras, 2013. ao estabelecer um contraste surpreendente
entre a lua e Auschwitz, famoso campo de
Considere as informações a seguir sobre os
poemas de Mario Quintana (MQ) e Paulo concentração do Estado Sérvio.
Leminski (PL). d) o eu poético estabelece uma intrigante con-
I. Um dos efeitos poéticos obtidos por Ma- traposição metafórica, evocando tanto a
rio Quintana e Paulo Leminski se percebe ternura do luar como a crueldade de uma
na utilização diferenciada das palavras, prisão, relembrando um dos mais famosos
que transcendem a esfera do juízo lógico campos de extermínio, símbolo da Guerra
e deliberativo em ambos os textos. Fria.
II. O efeito poético também decorre do uso
de certas palavras de forma diferente da 7. (UFF) INIMIGO OCULTO
usual, como se pode observar em: “As
dizem que
cousas são quietas. Bastam-se. / Não se
metem com ninguém.” (MQ) e “Mandei a em algum ponto do cosmos
frase sonhar, / e ela se foi num labirin-
to.” (PL) (Le silence éternel de ces espaces infinis m’ef-
III. Uma das marcas da poesia de Quintana, fraie)*
poeta concretista, é a plurissignificação
das palavras em seu sentido denotativo, um pedaço negro de rocha
traço comum também à poesia de Paulo do tamanho de uma cidade
Leminski, autor de versos livres e bran- – voa em nossa direção –
cos, realizados à moda do Classicismo de
Camões. perdido em meio a muitos milhares de as-
teroides
IV. Em ambos os textos, as palavras se per- impelido pelas curvaturas do
sonificam em ações permeadas de idios- espaço-tempo
sincrasia e subjetividade, como o que se extraviado entre órbitas
lê em: “Eu sonho com um poema / Cujas e campos magnéticos
palavras sumarentas escorram / Como a voa
polpa de um fruto maduro em tua boca”, em nossa direção
(MQ) e “Mandei a palavra rimar, / Ela não
me obedeceu.” (PL) e quaisquer que sejam os desvios
V. Os poemas enfatizam, respectivamente, e extravios

160
de seu curso Mas o mato era mudo.
deles resultará Agora o poste se inclina para o chão − como
matematicamente alguém
a inevitável colisão que procurasse o chão para repouso.
Tivemos saudades de nós.
não se sabe se quarta-feira próxima Manoel de Barros
ou no ano quatro bilhões e cinquenta e dois Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.
da era cristã 1
arrulos − canto ou gemido de rolas e pombas
Ferreira Gullar
*(O silêncio eterno desses espaços infinitos me assusta)
1. (UERJ) O título Canção do ver reúne duas
Identifique a opção que apresenta a explica- esferas diferentes dos sentidos humanos:
ção adequada para o efeito de sentido resul- audição e visão.
tante do uso linguístico especificado. No entanto, no decorrer do poema, a visão
a) Nos versos “um pedaço negro de rocha” / predomina sobre a audição.
“voa em nossa direção” (versos 4-6), o uso Os dois elementos que confirmam isso são:
do pronome possessivo “nossa” rompe o vín- a) o imobilismo do poste e a saudade dos tem-
culo entre o eu lírico e os leitores. pos passados.
b) Em “dizem que” (verso 1), a expressão do b) a inclinação do poste e sua adoção pela pai-
sujeito gramatical, na terceira pessoa do sagem natural.
plural, sem antecedente textual claro, evi- c) a aparência do poste e a suposição do arrulo
dencia que o eu lírico se vale de uma outra
dos passarinhos.
voz para expressar o fato.
c) Nos versos “e quaisquer que sejam os desvios d) o silêncio do poste e a impossibilidade de
/ e extravios / de seu curso” (versos 14-16), transcrição musical.
o pronome possessivo “seu” se reporta ao
verso “em algum ponto do cosmos”. (verso 2)
d) O apagamento do objeto direto oracional em 2. (UERJ) A memória expressa pelo enuncia-
“não se sabe se” (verso 20) inviabiliza a re- dor do texto não pertence somente a ele.
ferência a “inimigo oculto”. (título) Na construção do poema, essa ideia é refor-
e) A combinação da preposição “de” com o pro- çada pelo emprego de:
nome “eles”, empregado como pronome pos- a) tempo passado e presente.
sessivo em “deles resultará” (verso 17), en- b) linguagem visual e musical.
caminha textualmente as consequências das c) descrição objetiva e subjetiva.
“curvaturas do espaço-tempo”. (versos 8-9) d) primeira pessoa do singular e do plural.

E.O. Fixação 3. (UERJ) No poema, o poste é associado à pró-


pria vida do eu poético.
Nessa associação, a imagem do poste se
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES: constrói pelo seguinte recurso da linguagem:
a) anáfora.
CANÇÃO DO VER b) metáfora.
c) sinonímia.
Fomos rever o poste. d) hipérbole.
O mesmo poste de quando a gente brincava
de pique
e de esconder.
1
Agora ele estava tão verdinho!
O corpo recoberto de limo e borboletas.
Eu quis filmar o abandono do poste.
O seu estar parado.
O seu não ter voz.
O seu não ter sequer mãos para se pronun-
ciar com
as mãos.
Penso que a natureza o adotara em árvore.
Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos1 de
passarinhos
que um dia teriam cantado entre as suas fo-
lhas.
Tentei transcrever para flauta a ternura dos
arrulos.

161
E.O. Complementar urbana contemporânea como é possível veri-
ficar no poema Ao shopping center:

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Pelos teus círculos


vagamos sem rumo
Poema obsceno
nós almas penadas
1 Façam a festa
do mundo do consumo.
2 cantem e dancem
3 que eu faço o poema duro
Do elevador ao céu
4 o poema-murro
5 sujo pela escada ao inferno:
6 como a miséria brasileira os extremos se tocam
7 Não se detenham: no castigo eterno.
8 façam a festa
9 Bethânia Martinho Cada loja é um novo
10 Clementina prego em nossa cruz.
11 Estação Primeira de Mangueira Salgueiro Por mais que compremos
12 gente de Vila Isabel e Madureira estamos sempre nus
13 todos
14 façam nós que por teus círculos
15 a nossa festa vagamos sem perdão
16 enquanto eu soco este pilão à espera (até quando?)
17 este surdo da Grande Liquidação.
18 poema PAES, José Paulo. Prosas seguidas de odes mínimas.
19 que não toca no rádio
20 que o povo não cantará Identifique e explique, no mínimo, três re-
21 (mas que nasce dele) cursos poéticos usados no texto acima para
22 Não se prestará a análises estruturalistas questionar o senso comum que afirma o sho-
23 Não entrará nas antologias oficiais pping center como um espaço de prazer nas
24 Obsceno grandes cidades.
25 como o salário de um trabalhador apo-
sentado TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
26 o poema
27 terá o destino dos que habitam o lado es- Desencontrários
curo do país    Mandei a palavra rimar,
28 – e espreitam. ela não me obedeceu.
GULLAR, F. Toda poesia.    Falou em mar, em céu, em rosa,
São Paulo: Círculo do Livro, s. d. p. 338. em grego, em silêncio, em prosa.
   Pareia fora de si,
1. (UEL) Os poemas de Ferreira Gullar se carac- a sílaba silenciosa
terizam por seu engajamento social.
   Mandei a frase sonhar
Assim, em relação ao eu lírico, considere as
e ela se foi num labirinto
afirmativas a seguir:
   Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
I. Solidariza com os trabalhadores e os mi-
Dar ordens a um exército
seráveis.
para conquistar um império extinto.
II. Considera o carnaval uma festa popular.
Paulo Leminski. GOES, F e MARING, A. (orgs.). Melhores
III. Defende a revolução subterrânea. poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2001.
IV. Critica os cantores populares.
Assinale a alternativa correta.    Mandei a palavra rimar,
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. ela não me obedeceu.
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.    Falou em mar, em céu, em rosa,
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. em grego, em silêncio, em prosa. (v. 1-4)
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. 2. No fragmento acima, o emprego da palavra
“prosa” possibilita duas interpretações dis-
tintas do verso sublinhado: uma que reafirma
E.O. Dissertativo o que ele expressa e outra que se opõe a ele.
Apresente essas duas possibilidades de in-
1. (UFU) Entre as características marcantes de terpretação.
Prosas seguidas de odes mínimas pode-se
ressaltar o olhar questionador que vários de
seus textos lançam sobre os dilemas da vida

162
E.O. UERJ parte das pessoas não sabe ler e é no fundo
muito ignorante, rol no qual incluo arbitra-

Exame de Qualificação riamente você, repito o que tantos já dizem


e vivem repetindo, como quem usa chupetas:
a realidade é, sim, muitíssimo mais inacre-
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: ditável do que qualquer ficção, pois esta re-
quer uma certa arrumação 3falaciosa, a que a
BEM NO FUNDO maioria dá o nome de verossimilhança. Mas
ocorre precisamente o oposto. Lê-se ficção
1no fundo, no fundo, para fortalecer a noção estúpida de que há
bem lá no fundo, sentido, lógica, causa e efeito lineares e ou-
2
a gente gostaria tros adereços que integrariam a vida. Lê-se
de ver 3nossos problemas ficção, ou mesmo livros de historiadores ou
resolvidos por decreto jornalistas, por insegurança, porque o absur-
do da vida é insuportável para a vastidão dos
a partir desta data, desvalidos que povoa a Terra.
João Ubaldo Ribeiro
aquela mágoa sem remédio
Diário do Farol. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
é considerada nula
e sobre ela − silêncio perpétuo 1
escusando-me − desculpando-me
2
truísmo − verdade trivial, lugar comum
extinto por lei todo o remorso, 3
falaciosa − enganosa, ilusória
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada, 3. (UERJ) Para justificar a repetição de algo já
e nada mais conhecido, o autor se baseia na relação que
mantém com os leitores.
mas problemas não se resolvem, Com base no texto, é possível perceber que
problemas têm família grande, essa relação se caracteriza genericamente
e aos domingos saem todos a passear pela:
o problema, sua senhora a) insegurança do autor.
e outros pequenos probleminhas b) imparcialidade do autor.
LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São c) intolerância dos leitores.
Paulo: Cia. das Letras, 2013. d) inferioridade dos leitores.

4. (UERJ) os truísmos são parte inseparável da


1. (UERJ) O poeta emprega dois termos dife-
boa retórica narrativa, até porque a maior
rentes para se aproximar do leitor: a gente
parte das pessoas não sabe ler (ref. 4)
(ref. 2) e nossos (ref. 3).
O narrador justifica a necessidade de truís-
O emprego de tais termos produz, em relação
mos pela dificuldade de leitura da maior
à percepção de mundo, o sentido de:
parte das pessoas.
a) idealização.
Encontra-se implícita no argumento a noção
b) explicitação.
de que o leitor iniciante lê melhor se:
c) universalização.
a) estuda autores clássicos.
d) problematização.
b) conhece técnicas literárias.
c) identifica ideias conhecidas.
2. (UERJ) A última estrofe apresenta imagens d) procura textos recomendados.
relacionadas à família.
Em relação ao conjunto do texto, a figuração
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
do casal com seus filhos pequenos remete à
ideia de: FUNÇÃO
a) angústia.
b) mudança. Me deixaram sozinho no meio do circo
c) continuidade. Ou era apenas um pátio uma janela uma rua
d) preocupação. uma esquina
Pequenino mundo sem rumo
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Até que descobri que todos os meus gestos
Pendiam cada um das estrelas por longos
1Escusando-me por repetir 2truísmo tão mar- fios invisíveis
telado, mas movido pelo conhecimento de E havia súbitas e lindas aparições como
que 4os truísmos são parte inseparável da aquela das longas tranças
boa retórica narrativa, até porque a maior E todas imitavam tão bem a vida

163
Que por um momento se chegava a esquecer
a sua cruel inocência de bonecas Gabarito
E eu dizia depois coisas tão lindas
E tristes
Que não sabia como tinham ido parar na mi-
nha boca
E.O. Aprendizagem
E o mais triste não era que aquilo fosse ape- 1. B 2
. A 3
. D 4
. D 5
. D
nas um jogo cambiante de reflexos 6. E 7
. B
Porque afinal um belo pião dançante
Ou zunindo imóvel
Vive uma vida mais intensa do que a mão
ignorada que o arremessou E.O. Fixação
E eu danço tu danças nós dançamos
1. D 2. D 3
. B
Sempre dentro de um círculo implacável de luz
Sem saber quem nos olha atenta ou distrai-
damente do escuro...
(QUINTANA, Mário. Antologia poética. Rio
de Janeiro: Editora do Autor, 1966.)
E.O. Complementar
1. A
5. (UERJ) No poema de Mário Quintana, a vida
é uma encenação num palco ou picadeiro, e o
homem um joguete submetido aos caprichos
da sorte. E.O. Dissertativo
Esta ideia é expressa metaforicamente pelo 1.
O poema faz uso de várias imagens que as-
seguinte trecho: sociam o shopping ao martírio religioso ou à
a) “todos os meus gestos / Pendiam (...) das condenação eterna da alma: “almas penadas”,
estrelas por longos fios invisíveis” (v. 4 - 5) “castigo eterno”, “prego em nossa cruz”, “va-
b) “por um momento se chegava a esquecer a gamos sem perdão” são os mais evidentes
sua cruel inocência de bonecas” (v. 8) núcleos de sentido metafórico presentes no
c) “Vive uma vida mais intensa do que a mão poema que dão ao consumo um caráter dolo-
ignorada que o arremessou” (v. 15) roso.
d) “E eu danço tu danças nós dançamos” (v. 16) Também podem-se citar intertextualidades
com a bíblia e o inferno de Dante (Divina co-
média), remetendo a aspectos apocalípticos.
Outros recursos: metonímias, como “almas
E.O. UERJ penadas” para representar os consumidores
e “shopping” representando toda a sociedade
Exame Discursivo de consumo. Pode-se também pensar nos re-
cursos fônicos, como rimas, enjambement, as
maiúsculas alegorizantes, como em “Grande
1. (UERJ) Já publiquei 10 livros de poesia; ao
Liquidação” (sugerindo O FIM), entre outros.
publicá-los me sinto como que desonrado e
2.
O poema “Desencontrários” propõe uma re-
fujo para o Pantanal onde sou abençoado a
flexão sobre o fazer poético, sobre o trabalho
garças.
do poeta com as palavras, que nem sempre
(v. 9-11)
obedecem à sua vontade e ao seu coman-
A palavra “onde”, sublinhada acima, remete do. Trata-se de um tema recorrente no uni-
a um termo anteriormente expresso. verso da poesia, e Paulo Leminski, nessa
Transcreva esse termo. versão para o tema, explora a ambiguidade
Nomeie também a classe gramatical de e a polissemia que as palavras podem con-
“onde”, substitua-a por uma expressão equi- ter, quando articuladas umas com as outras.
valente e indique seu valor semântico. A primeira interpretação, que reafirma o que
diz o verso, é a de que a palavra – instrumen-
2. (UERJ) Uma obra literária pode combinar to com o que o autor constrói o seu poema
diferentes gêneros, embora, de modo geral, – não obedece à ordem do poeta, pois o vocá-
um deles se mostre dominante. bulo prosa significa uma modalidade de texto
O poema de Manoel de Barros, predominan- em que não há rima. A segunda interpreta-
temente lírico, apresenta características de ção, que se opõe ao que diz o verso, é a de que
um outro gênero. a palavra obedece ao poeta, pois o vocábulo
Identifique esse gênero e cite duas de suas prosa rima com os vocábulos rosa e silenciosa
características presentes no poema. , presentes na primeira estrofe.

164
E.O. UERJ
Exame de Qualificação
1. C 2
. C 3
. D 4
. C 5
. A

E.O. UERJ
Exame Discursivo
1. O pronome relativo “onde” remete a “panta-
nal”, podendo ser substituído por “em que”
ou “no qual” para indicar o lugar onde acon-
tece a ação enunciada na oração principal.
2. Na medida em que enumera fatos em se-
quência temporal, como uma síntese de fatos
marcantes do seu trajeto de vida, o eu lírico
constrói um poema narrativo em que trans-
parecem as contradições (“Aprecio viver em
lugares decadentes”, “Fazer o desprezível ser
prezado é coisa que me apraz.”) e os conflitos
existenciais face ao mundo externo (“Estou na
categoria de sofrer do moral, porque só faço
coisas inúteis”). O uso da próclise no início de
orações (“Me criei no Pantanal de Corumbá”,
“Me procurei a vida inteira”) e a preferência
pelo verbo “ter” em vez de “haver” (“No meu
morrer tem uma dor de árvore”) denotam lin-
guagem coloquial, assim como o verso branco
reproduz o ritmo natural da fala.

165
2 6 Poesia marginal e
contemporânea

Competências Habilidades
2, 5 e 6 5, 15, 16 e 17

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
E.O. Aprendizagem 2. Quanto aos principais representantes da Poe-
sia Marginal brasileira, assinale a alternativa
que apresente os principais nomes que fize-
1. As aparências revelam ram parte do movimento literário em questão:
Afirma uma Firma que o Brasil a) Paulo Leminski, João Cabral de Melo Neto,
confirma: “Vamos substituir o Arnaldo Antunes e Adélia Prado.
Café pelo Aço”. b) Clarice Lispector, Adélia Prado, Torquato
Vai ser duríssimo descondicionar Neto e Paulo Leminski.
o paladar c) Arnaldo Antunes, Ferreira Gullar, Chacal e
Não há na violência Waly Salomão.
que a linguagem imita d) Paulo Leminski, Torquato Neto, Cacaso e
algo da violência Chacal.
propriamente dita? e) Francisco Alvim, José Agripino de Paula,
CACASO. As aparências revelam. In: WEINTRAUB, Fabio Ferreira Gullar e Clarice Lispector.
(Org). Poesia marginal. São Paulo: Ática, 2004. p. 61.
Para gostar de ler 39.
3. Sobre a Poesia Marginal, é incorreto afirmar:
Com base na leitura do poema, assinale a(s) a) Poesia Marginal foi uma designação dada à
proposição(ões) correta(s) acerca da Poesia poesia produzida pela chamada “geração mi-
Marginal. meógrafo”, incluindo poetas desconhecidos
cuja produção literária estava fora do eixo
I. Entre as temáticas das quais se ocupou Rio–São Paulo.
a poesia marginal da década de 1970,
havia espaço para painéis sociais, para b) A Poesia Marginal ficou conhecida por esse
a memória afetiva e a pesquisa poética nome porque seus poetas abandonaram os
e para o registro literário da intimidade. meios tradicionais de circulação das obras,
Sem grandes exageros, a única regra era comercializando seus livros (que eram mi-
atender aos princípios da norma padrão meografados) a baixo custo e vendendo-os
da língua. de mão e mão, dispensando assim o trabalho
II. Os versos “Vai ser duríssimo descondi- das grandes editoras.
cionar / o paladar” podem ser entendi- c) Entre suas principais temáticas estava a
dos metaforicamente como uma referên- preocupação com a forma e com a pesqui-
cia a sacrifícios impostos à população,
sa poética. Nota-se um cuidado extremo em
obrigada a acomodar-se a uma nova or-
atender aos princípios da norma-padrão da
dem econômica.
III. Nos poemas reunidos em Poesia margi- língua, produzindo assim uma literatura ca-
nal, os autores enfocam a denúncia e a nonicamente aceita pela Academia.
crítica social de uma maneira sisuda, sem d) A tradição marginal estendeu-se pelos anos
apelar para o humor, pois visam conferir de 1980, quando outros recursos foram ado-
credibilidade ao que é dito. tados, tais como a fotocópia e a produção
IV. A frase “Vamos substituir o Café pelo de fanzines.
Aço” pode ser interpretada como uma re- e) Nos Estados Unidos, o termo “poesia margi-
ferência à abertura do país para a expor- nal” é usado para designar a poesia produ-
tação de minérios, defendida por empre- zida pelos poetas chamados de beats, como
sários e pelo Governo à época da Ditadura Jack Kerouac e Allen Ginsberg.
Militar.
V. No primeiro e segundo versos, no jogo de
palavras “Afirma”, “Firma” e “confirma”, 4. POETAS VELHOS
repete-se o segmento firma; isso pode ser Bom dia, poetas velhos.
interpretado como uma referência à in- Me deixem na boca
fluência das grandes empresas nas políti- o gosto dos versos
cas estatais. mais fortes que não farei.
VI. Na estrofe final, observa-se como Cacaso
procura desvincular a linguagem das prá- Dia vai vir que os saiba
ticas sociais, ao propor que não há vio- tão bem que vos cite
lência nas palavras em si, mas apenas na como quem tê-los
realidade a que elas se referem. um tanto feito também,
a) II, IV e V. acredite.
b) I, III e V.
c) II, V e VI. Percebe-se que o poema de Paulo Leminski  tra-
d) I, II e IV.
va um diálogo temporal com os poetas que o
e) Apenas VI.
antecederam. A respeito do poema é correto
dizer que:

169
a) o diálogo produz uma linguagem que se con- Pote Cru, ele dormia nas ruínas de um convento
centra no plano emotivo, explorando a sub- Foi encontrado em osso.
jetividade do eu-lírico; Ele tinha uma voz de oratórios perdidos.
b)  há uma preocupação do eu lírico sobre seu BARROS, M. Retrato do artista quando coisa.
fazer poético, que deseja superar aqueles Rio de Janeiro: Record, 2002.
que o antecederam;
Ao estabelecer uma relação com o texto bí-
c) em “Dia vai vir que os saiba”, o termo desta-
blico nesse poema, o eu lírico identifica-se
cado realiza a coesão referencial, retomando
com Pote Cru porque:
o termo “poetas”, na primeira estrofe; a) entende a necessidade de todo poeta ter voz
d) em “mais fortes que não farei”, a negação de ora tórios perdidos.
revela a desistência do eu írico sobre a rea- b) elege-o como pastor a fim de ser guiado para
lização da poesia; a salvação divina.
e)  Na última estrofe, há uma reverência do eu c) valoriza nos percursos do pastor a conexão
lírico sobre os versos que o antecederam e a entre as ruínas e a tradição.
ideia de absorvê-los a ponto de reproduzi-los d) necessita de um guia para a descoberta das
como seus. coisas da natureza.
e) acompanha-o na opção pela insignificância
5. LOGIA E MITOLOGIA das coisas.
Meu coração
de mil e novecentos e setenta e dois
já não palpita fagueiro
sabe que há morcegos de pesadas olheiras
E.O. Fixação
que há cabras malignas que há TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
cardumes de hienas infiltradas
no vão da unha na alma Os textos 1 (manchete de capa da revista
um porco belicoso de radar Época de 26/08/2013), 2 (manchete de capa
e que sangra e ri da revista Veja de 28/08/2013) e 3 serão
e que sangra e ri analisados em conjunto, na perspectiva da
a vida anoitece provisória polifonia, do dialogismo e da intertextua-
centuriões sentinelas lidade, isto é, das relações mantidas entre
do Oiapoque ao Chuí. eles.
CACASO. Lero-lero. Rio de Janeiro: 7Letras; São Paulo:
Texto 1
Cosac & Naify, 2002.

O título do poema explora a expressividade


de termos que representam o conflito do mo-
mento histórico vivido pelo poeta na década
de 1970. Nesse contexto, é correto afirmar
que:
a) o poeta utiliza uma série de metáforas zoo-
lógicas com significado impreciso.
b) “morcegos”, “cabras” e “hienas” metafo-
rizam as vítimas do regime militar vigente.
c) o “porco”, animal difícil de domesticar, re-
presenta os movimentos de resitência.
d) o poeta caracteriza o momento de opressão
através de alegorias de forte poder de impacto. Texto 2
e) “centuriões” e “sentinelas” simbolizam os
agentes que garantem a paz social experi-
mentada.

6. Pote Cru é meu Pastor. Ele me guiará.


Ele está comprometido de monge.
De tarde deambula no azedal entre torsos de
cachorro, trampas, trapos, panos de regra, couros,
de rato ao podre, vísceras de piranhas, baratas
albinas, dálias secas, vergalhos de lagartos,
linguetas de sapatos, aranhas dependuradas em
gotas de orvalho etc. etc.

170
Texto 3 se foram
com sua alegria
Cair das nuvens (expressão popular)
1. Espantar-se, surpreender-se (com algo se foram
que é muito diferente do que se pensava
ou se desejava); perceber o próprio equí- Só então
voco ou engano. me perguntei
2. Decepcionar-se intensamente; desiludir- por que
-se. não lhes dera
3. Chegar de modo imprevisto; aparecer re- maior
pentinamente; cair do céu. atenção
Dicionário Caldas Aulete. se há tantos
http://aulete.uol.com.br/nuvem#ixzz2ggk52qoh e tantos
anos
não os via
1. (UECE) Assinale com V ou F, conforme seja crianças
verdadeiro ou falso o que é dito sobre o tex- já que
to 3. agora
( ) O aviãozinho de papel despencan- estão os três
do do alto é um recurso para dar com mais
mais força de persuasão à man- de trinta anos.”
Ferreira Gullar. “Melhores poemas”.
chete, cujos termos estão dispos-
tos um abaixo do outro, o que su- a) O poeta Ferreira Gullar é um escritor contem-
gere uma queda. porâneo que participou de vários movimen-
( ) É correto afirmar que a capa da revista tos de restauração da poesia, o que significa
Época emprega um recurso da poesia renovar sua estrutura, sua linguagem. Neste
concreta. poema, a linguagem prosaica, os versos li-
( ) O processo de construção da man- vres e a emoção espontânea são conquistas
chete de capa da revista Época inclui do concretismo.
substituição e acréscimo de elemen- b) Ferreira Gullar passa por várias experiências
tos linguísticos, em relação ao texto poéticas, encontrando a razão do poema na
fonte. comoção lírica. Em acordo com os preceitos
( ) O criador da manchete de Época fez da essência lírica, o poema apresenta dis-
um jogo com dois sentidos do termo tanciamento e objetividade do sujeito lírico
real, jogo que foi possível graças à com os fatos descritos.
mudança de gênero desse vocábulo. c) Em entrevista à revista “Língua portuguesa”
( ) Na manchete de Época, apresenta-se (São Paulo: Editora Segmento, 2006, nº 5), o
apenas uma das funções da lingua- poeta declara que esse poema é fruto de uma
gem: a função informativa. circunstância, de um impulso, pois sonhou
Está correta, de cima para baixo, a seguinte com a situação descrita nele. Desta forma, ao
sequência: descrever o sonho, pode-se afirmar que o gê-
a) F – F – V – V – F. nero épico prevalece nesse poema.
b) V – V – V – V – F. d) O olhar do poeta Ferreira Gullar contempla
c) V – F – F – F – V. grandes acontecimentos universais, peque-
d) F – F – F – V – V. nos fatos do cotidiano, cenas da vida do-
méstica, não raro, imprimindo sobre esses
2. (UFU) Leia o poema seguinte e assinale a episódios a consciência da efemeridade
alternativa correta. da vida. Nesse poema, a lembrança de um
“Filhos passado familiar provoca a reflexão dessa
A meu filho Marcos consciência.

Daqui escutei 3. A Júlio Prestes dava movimento e éramos


quando eles
explorados por um só. O jornaleiro. Dono da
chegaram rindo
e correndo banca dos jornais e das caixas de engraxar,
entraram do lugar e do dinheiro, ele só agarrava a gra-
na sala na. Engraxar, não; ele lá com seus jornais.
e logo Eu bem podia me virar na Estação da Luz.
invadiram também Também rendia lá. Fazia ali muito freguês de
o escritório subúrbio e até de outras cidades. Franco da
(onde eu trabalhava) Rocha, Perus, Jundiaí … Descidos dos trens,
num alvoroço marmiteiros ou trabalhadores do comércio,
e rindo e correndo

171
das lojas, gente do escritório da estrada de I. Os dois sujeitos femininos relacionados no
ferro, todo esse povo de gravata que ganha enunciado acima mantêm comportamen-
mal. Mas que me largava o carvão, o mocó, a tos culturais distintos no corpus social a
gordura, o maldito, o tutu, o pororó, o man- que dizem respeito porque estão distantes
go, o vento, a granuncha. A seda, a gaita, a um do outro quanto ao fator tempo.
grana, a gaitolina (…). Aquele um de que eu II. Ariano Suassuna representa em O Auto da
precisava para me aguentar nas pernas su- Compadecida uma mulher que só é rebel-
jas, almoçando banana, pastéis, sanduíches. de (sexualmente ela é infiel ao marido)
João Antônio porque ainda presa a regras rígidas que
determinam submissão e fidelidade fe-
Encontra-se, no texto: mininas ao homem, valor aparentemente
a) a tematização da vida do migrante nordesti- desconsiderado em Samba-Canção, uma
no, aspecto muito explorado pelos escritores vez que a mulher ali falando demonstra
modernistas da geração de 1930, como Jorge uma certa autonomia quanto à forma de
Amado e Graciliano Ramos. se relacionar afetivamente com o outro.
b) a sintaxe prolixa, em que predomina o uso III. A linguagem com que se apodera o eu lí-
de subordinação, e a abundância de neolo- rico de Samba-Canção demonstra uma li-
gismos, característica que também está pre- berdade típica das mulheres de hoje, que
sente no “regionalismo universalizante” de interpretam de forma igualitária a con-
Guimarães Rosa. quista do outro parceiro, não negando,
c) a tematização da violência praticada pelo mas não tornando muito importante o
menor abandonado nas grandes cidades, as- fato de a equação homem-mulher dar-se
pecto presente na literatura brasileira desde culturalmente na proporção de o homem
o início do século XX. conquistar e a mulher ser conquistada. É
d) uma linguagem marcada por índices de ora- pertinente afirmar que:
a) Estão corretas apenas as afirmativas I e III.
lidade, traço valorizado também pelos mo-
b) Estão corretas apenas as afirmativas II e I.
dernistas da primeira geração.
c) Estão corretas apenas as afirmativas II e III.
e) a linguagem regionalista do personagem e o
d) Estão corretas todas as afirmativas.
experimentalismo estético do narrador, que
e) Nenhuma afirmativa está correta.
refletem a principal tendência estilística da
prosa realista brasileira do século XIX.

4. A literatura muitas vezes entendida como


E.O. Complementar
também “espaço da confissão” proporciona
1. (UFPR) Leia o texto transcrito abaixo, que
ao leitor possibilidades de questionamen-
pertence ao livro Muitas vozes, de Ferreira
tos de ideias criadas, veiculadas e perpe- Gullar.
tuadas nas várias práticas socioculturais. A
MEU PAI
literatura contemporânea se apropria dessa
meu pai foi
possibilidade de questionamento e inves-
ao Rio se tratar de
te contra determinadas práticas sociais às
um câncer (que
vezes abusivas (inferiorização de sujeitos
o mataria) mas
diante de outros, negação dos diferentes),
perdeu os óculos
se compararmos tais práticas aos níveis de
na viagem
diálogos estabelecidos entre as sociedades e
seus membros hoje. Um dos grandes temas quando lhe levei
que percorre a literatura brasileira contem- os óculos novos
porânea diz respeito às formas como homens comprados na Ótica
e mulheres exercem papéis no corpus social Fluminense ele
em que se inserem. No poema Samba-Can- examinou o estojo com
ção, Ana Cristina Cesar constrói um eu lírico o nome da loja dobrou
que fala a partir do ponto de vista feminino. a nota de compra guardou-a
Ariano Suassuna descreve ao longo de seu no bolso e falou:
auto a imagem da mulher do padeiro. quero ver
Considerando estes dois textos como produ- agora qual é o
ções da literatura brasileira contemporânea sacana que vai dizer
(embora haja uma distância temporal em rela- que eu nunca estive
ção aos textos em questão), pode-se dizer que: no Rio de Janeiro

172
Assinale a alternativa correta. 5 – Volto do trabalho, a noite em meio,
a) Em “Meu pai”, por enfatizar logo na abertu- fatigado de mentiras.
ra uma doença que terminaria por matar um O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
homem, percebe-se uma crítica velada ao relógio de lilases, concretismo,
sistema de saúde do Brasil durante o Regime neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
Militar (1964–1985). 10 – que a vida
b) O caráter narrativo do texto faz com que ele eu a compro à vista aos donos do mundo.
não pertença propriamente ao gênero poético, Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
que se caracteriza por ser a expressão do eu. a poesia agora responde a inquérito policial-
-militar.
c) Ao tratar de um evento cotidiano, Ferreira
Digo adeus à ilusão
Gullar renovou a poesia brasileira, de tendên-
15 – mas não ao mundo. Mas não à vida,
cia dominantemente espiritual, introduzindo
meu reduto e meu reino.
nela temas antes considerados menos nobres. Do salário injusto,
d) “Meu pai” é uma exceção no livro Muitas da punição injusta,
vozes, já que nele não surge a forte crítica da humilhação, da tortura,
social que domina o livro. 20 – do terror,
e) Em “Meu pai”, como em outros poemas de retiramos algo e com ele construímos um ar-
Muitas vozes, o poeta lança mão da memória tefato
pessoal de fatos cotidianos para construir um poema
uma reflexão sobre a fugacidade da vida. uma bandeira
In: MORICONI, Italo (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros
2. (UFMG) Em “Poema sujo”, de Ferreira Gul- do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 117 e 267.
lar, leem-se, sobre a condição do poeta, as Com base na leitura dos poemas Emergência,
seguintes palavras: de Mário Quintana, e Agosto 1964, de Ferrei-
sozinho na tarde no planeta na história. ra Gullar, explique a concepção de poesia de
Associadas ao poema, essas palavras permitem cada sujeito poético e destaque, pelo menos,
todas as seguintes interpretações, EXCETO: dois recursos linguísticos que constituem
a) São indicativas da associação, central no li- imagens poéticas de cada texto. Justifique
vro, entre o individual e o coletivo, o cósmi- sua escolha.
co e o histórico.
b) São indicativas de um procedimento presen- TEXTOS PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES:
te no livro, que consiste em demarcar o tem- Texto 1
po pelas partes do dia. Epitáfio para um banqueiro
c) São indicativas de um sentimento de solidão negócio
que perpassa o livro, já que o poema foi es- ego
crito no exílio, em Buenos Aires. ócio
d) São indicativas do individualismo do poeta, cio
ao revelar sua posição de orgulhoso isola- o
mento das coisas do mundo. PAES, José Paulo. In: ARRIGUCCI JR., Davi. (org.).
Melhores poemas de José Paulo Paes. São Paulo: Global,
1998, p. 115.

E.O. Dissertativo Texto 2


Levei vários anos até conquistar o ócio, isso
1. (UFBA) Textos é importante para o poeta, ele não pode ter
EMERGÊNCIA a cabeça virada só para coisas a resolver. Fi-
Mário Quintana quei muitos anos arrumando minha vida,
Quem faz um poema abre uma janela. saldando dívidas, atendendo papagaio. Há
Respira, tu que estás numa cela oito anos, cheguei aqui pra Mato Grosso, to-
abafada, mei pé aqui. Agora estou vagabundo, tenho
esse ar que entra por ela. direito a isso. Herdei uma fazenda, em cam-
Por isso é que os poemas têm ritmo po aberto, terra nua, sou fazendeiro de gado,
— para que possas profundamente respirar. vaca, não sou “o rei do boi, do gado” mas
Quem faz um poema salva um afogado. vivo bem. Este é o meu caso: enquanto esta-
AGOSTO 1964 va tomando pé da fazenda não escrevi uma
Ferreira Gullar
linha. Mas sabemos de outros casos, como o
Dostoiévski, que escreveu perseguido por dí-
Entre lojas de flores e de sapatos, bares, vidas, ou o Graciliano Ramos, que além das
mercados, butiques, dívidas ainda tinha família pra criar.
viajo Barros, Manuel de. Entrevista a André Luís Barros.
num ônibus Estrada de Ferro – Leblon. Jornal do Brasil - Caderno Ideias, 24/08/1996, p. 8.

173
2. O texto 1, “Epitáfio para um banqueiro”, faz de pique
parte de um movimento literário de van- e de esconder.
guarda iniciado na década de 1950 e conhe- 1
Agora ele estava tão verdinho!
cido como concretismo ou poesia concreta. O corpo recoberto de limo e borboletas.
Liderado pelos irmãos Augusto e Haroldo de Eu quis filmar o abandono do poste.
Campos e por Décio Pignatari, o concretismo O seu estar parado.
representou uma reação à literatura feita no O seu não ter voz.
Brasil naquele momento histórico. Indique O seu não ter sequer mãos para se pronun-
uma característica que comprova a filiação ciar com
do poema de José Paulo Paes a esse movi- as mãos.
mento. Penso que a natureza o adotara em árvore.
Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos1 de
3. A partir de uma leitura comparativa dos tex- passarinhos
tos 1 e 2, determine o sentido empregado que um dia teriam cantado entre as suas fo-
para o termo “ócio” em ambos os textos. lhas.
Tentei transcrever para flauta a ternura dos
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES arrulos.
Mas o mato era mudo.
Leia atentamente o poema abaixo, de auto-
Agora o poste se inclina para o chão − como
ria de Cacaso:
alguém
que procurasse o chão para repouso.
Há uma gota de sangue no cartão postal
Tivemos saudades de nós.
Manoel de Barros
eu sou manhoso eu sou brasileiro Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.
finjo que vou mas não vou minha janela é
a moldura do luar do sertão 1
arrulos − canto ou gemido de rolas e pombas
a verde mata nos olhos verdes da mulata
1. (UERJ) O título Canção do ver reúne duas
sou brasileiro e manhoso por isso dentro esferas diferentes dos sentidos humanos:
da noite e de meu quarto fico cismando na audição e visão.
beira No entanto, no decorrer do poema, a visão
de um rio predomina sobre a audição.
na imensa solidão de latidos e araras
Os dois elementos que confirmam isso são:
lívido
a) o imobilismo do poste e a saudade dos tem-
de medo e de amor
pos passados.
Antonio Carlos de Brito (CACASO), Beijo na boca.
Rio de Janeiro, 7 Letras, 2000. p. 12.)
b) a inclinação do poste e sua adoção pela pai-
sagem natural.
4. Este poema de Cacaso (1944-1987) dialoga c) a aparência do poste e a suposição do arrulo
com várias vozes que falaram sobre a paisa- dos passarinhos.
gem e o homem brasileiros. Justifique a re- d) o silêncio do poste e a impossibilidade de
ferência ao “cartão postal” do título, através transcrição musical.
de expressões usadas na primeira estrofe.

5. O poema se constrói sobre uma imagem su- 2. (UERJ) A memória expressa pelo enuncia-
posta de brasileiro. Qual é essa imagem? dor do texto não pertence somente a ele.
Na construção do poema, essa ideia é refor-
6. Quais as expressões poéticas que desmentem çada pelo emprego de:
a felicidade obrigatória do eu do poema? a) tempo passado e presente.
b) linguagem visual e musical.
c) descrição objetiva e subjetiva.
E.O. UERJ d) primeira pessoa do singular e do plural.

Exame de Qualificação 3. (UERJ) No poema, o poste é associado à pró-


pria vida do eu poético.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES: Nessa associação, a imagem do poste se
constrói pelo seguinte recurso da linguagem:
CANÇÃO DO VER a) anáfora.
b) metáfora.
Fomos rever o poste. c) sinonímia.
O mesmo poste de quando a gente brincava d) hipérbole.

174
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 4. (UERJ) A crônica de Gregorio Duvivier é
construída em um único parágrafo com uma
É MENINA única frase. Essa frase começa e termina
pela mesma expressão: é menina.
Em termos denotativos, a menina, referida
É menina, que coisa mais fofa, parece com
no final do texto, pode ser compreendida
o pai, parece com a mãe, parece um joelho,
como:
upa, upa, não chora, isso é choro de fome,
a) filha da primeira.
isso é choro de sono, isso é choro de chata,
b) ideal de pureza.
choro de menina, igualzinha à mãe, achou,
c) mulher na infância.
sumiu, achou, não faz pirraça, coitada, tem
d) sinal de transformação.
que deixar chorar, vocês fazem tudo o que
ela quer, 2isso vai crescer mimada, eu queria
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
essa vida pra mim, dormir e mamar, aprovei-
ta enquanto ela ainda não engatinha, 3isso
FUNÇÃO
daí quando começa a andar é um inferno,
daqui a pouco começa a falar, daí não para Me deixaram sozinho no meio do circo
mais, ela precisa é de um irmão, foi só falar, Ou era apenas um pátio uma janela uma rua
olha só quem vai ganhar um irmãozinho, to- uma esquina
mara que seja menino pra formar um casal, Pequenino mundo sem rumo
ela tá até mais quieta depois que ele nasceu, Até que descobri que todos os meus gestos
parece que ela cuida dele, esses dois vão ser Pendiam cada um das estrelas por longos
inseparáveis, ela deve morrer de ciúmes, ele fios invisíveis
já nasceu falante, menino é outra coisa, des- E havia súbitas e lindas aparições como
de que ele nasceu parece que ela cresceu, já aquela das longas tranças
tá uma menina, quando é que vai pra creche, E todas imitavam tão bem a vida
ela não larga dessa boneca por nada, já po- Que por um momento se chegava a esquecer
dia ser mãe, já sabe escrever o nomezinho, a sua cruel inocência de bonecas
quantos dedos têm aqui, qual é a sua prince- E eu dizia depois coisas tão lindas
sa da Disney preferida, quem você prefere, o E tristes
papai ou a mamãe, quem é o seu namoradi- Que não sabia como tinham ido parar na mi-
nho, quem é o seu príncipe da Disney prefe- nha boca
rido, já se maquia nessa idade, é apaixona- E o mais triste não era que aquilo fosse ape-
da pelo pai, cadê o Ken, daqui a pouco vira nas um jogo cambiante de reflexos
mocinha, eu te peguei no colo, só falta ficar Porque afinal um belo pião dançante
mais alta que eu, finalmente largou a bone- Ou zunindo imóvel
ca, já tava na hora, agora deve tá pensando Vive uma vida mais intensa do que a mão
besteira, soube que virou mocinha, ganhou ignorada que o arremessou
corpo, tenho uma dieta boa pra você, a dieta E eu danço tu danças nós dançamos
do ovo, a dieta do tipo sanguíneo, a dieta Sempre dentro de um círculo implacável de luz
Sem saber quem nos olha atenta ou distrai-
da água gelada, essa barriga só resolve com
damente do escuro...
cinta, que corpão, essa menina é um peri-
(QUINTANA, Mário. Antologia poética. Rio
go, 1vai ter que voltar antes de meia-noite, o de Janeiro: Editora do Autor, 1966.)
seu irmão é diferente, menino é outra coisa,
vai pela sombra, não sorri pro porteiro, não 5. (UERJ) No poema de Mário Quintana, a vida
sorri pro pedreiro, quem é esse menino, se o é uma encenação num palco ou picadeiro, e o
seu pai descobrir, ele te mata, esse menino é homem um joguete submetido aos caprichos
filho de quem, cuidado que homem não pres- da sorte.
ta, não pode dar confiança, não vai pra casa Esta ideia é expressa metaforicamente pelo
dele, homem gosta é de mulher difícil, tem seguinte trecho:
que se dar valor, homem é tudo igual, segu- a) “todos os meus gestos / Pendiam (...) das
ra esse homem, não fuxica, não mexe nas estrelas por longos fios invisíveis” (v. 4 - 5)
coisas dele, tem coisa que é melhor a gente b) “por um momento se chegava a esquecer a
não saber, não pergunta demais que ele te sua cruel inocência de bonecas” (v. 8)
abandona, o que os olhos não veem o cora- c) “Vive uma vida mais intensa do que a mão
ção não sente, quando é que vão casar, ele tá ignorada que o arremessou” (v. 15)
te enrolando, morar junto é casar, quando é d) “E eu danço tu danças nós dançamos” (v. 16)
que vão ter filho, ele tá te enrolando, barriga
pontuda deve ser menina, é menina.
DUVIVIER, Gregorio. Folha de São Paulo, 16/09/2013.

175
E.O. UERJ paixões passavam longe do telefone de Zé Ma-
ria...

Exame Discursivo Como vencer a noite que mal começava?


(...)
O telefone toca. Quem será? (...)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Era engano! Antes não o fosse. A quem es-
taria destinada aquela voz carregada de ter-
TEXTO I nura? Preferia que dissesse desaforos, que o
xingasse.
1Durante mais de trinta anos, o bondezinho (...)
das dez e quinze, que descia do Silvestre, pa- Atirou-se de bruços na cama. E sonhou. So-
rava como burro ensinado em frente à casi- nhou que conversava ao telefone e era a voz
nha de José Maria, e ali encontrava, almoça- da mulher de há quinze anos... Foi andando
do e pontual, o velho funcionário. para o passado... Abriu-se-lhe uma cidade
Um dia, porém, José Maria faltou. O motor- de montanha, pontilhada de igrejas. E sem-
neiro batia a sirene. Os passageiros se impa- pre para trás – tinha então dezesseis anos –,
cientavam. Floripes correu aflita a avisar o ressurgiu-lhe a cidadezinha onde encontrara
patrão. Achou-o de pijama, estirado na pol- Duília. Aí parou. E Duília lhe repetiu calma-
trona, querendo rir. mente aquele gesto, o mais louco e gratuito,
– Seu José Maria, o senhor hoje perdeu a com que uma moça pode iluminar para sem-
hora! Há muito tempo o motorneiro está a pre a vida de um homem tímido.
dar sinal. Acordou com raiva de ter acordado, fechou os
– Diga-lhe que não preciso mais. olhos para dormir de novo e reatar o fio de so-
A velha portuguesa não compreendeu. nho que trouxe Duília. Mas a imagem esquiva
– Vá, diga que não vou... Que de hoje em lhe escapou, Duília desapareceu no tempo.
diante não irei mais. (...)
A criada chegou à janela, gritou o recado. E Toda vez que pensava nela, o longo e inex-
pressivo interregno* do Ministério que che-
o bondezinho desceu sem o seu mais antigo
gava a confundir-se com a duração defini-
passageiro.
tiva de sua própria vida apagava-se-lhe de
Floripes voltou ao patrão. Interroga-o com o
repente da memória. O tempo contraía-se.
olhar.
Duília!
– Não sabes que estou aposentado?
Reviu-se na cidade natal com apenas dezes-
(...)
seis anos de idade, a acompanhar a procissão
Interrompera da noite para o dia o hábito de
que ela seguia cantando. Foi nessa festa da
esperar o bondezinho, comprar o jornal da
Igreja, num fim de tarde, que tivera a grande
manhã, bebericar o café na Avenida, e insta-
revelação.
lar-se à mesa do Ministério, sisudo e calado,
Passou a praticar com mais assiduidade a ja-
até às dezessete horas.
nela. Quanto mais o fazia, mais as colinas
Que fazer agora?
da outra margem lhe recordavam a presença
Não mais informar processos, não mais preo-
corporal da moça. Às vezes chegava a dor-
cupar-se com o nome e a cara do futuro Mi-
mir com a sensação de ter deixado a cabeça
nistro.
pousada no colo dela. As colinas se transfor-
Pela primeira vez fartava a vista no cenário
mavam em seios de Duília. Espantava-se da
de águas e montanhas que a bruma fundia.
metamorfose, mas se comprazia na evocação.
(...)
(...)
4
Floripes serviu-lhe o jantar, deixou tudo ar-
Era o afloramento súbito da namorada (...).
rumado, e retirou-se para dormir no barraco
ANÍBAL MACHADO
da filha. A morte da porta-estandarte e Tati, a garota e outras
2
Mais do que nunca, sentiu José Maria naque- histórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.
la noite a solidão da casa. Não tinha amigos,
não tinha mulher nem amante. E já lera to- * Interregno: intervalo
dos os jornais. Havia o telefone, é verdade.
Mas ninguém chamava. Lembrava-se que cer- 1. (UERJ) Depois de aposentar-se, José Maria
ta vez, há uns quinze anos, aquela fria coisa, passa a contemplar a natureza e a percebê-la
pendurada e morta, se aquecera à voz de uma de duas formas diferentes.
mulher desconhecida. A máquina que apenas Transcreva do texto uma passagem que
servia para recados ao armazém e informa- exemplifique cada uma dessas percepções.
ções do Ministério transformara-se então
Em seguida, explique a diferença entre elas.
em instrumento de música: adquirira alma,
cantava quase. De repente, sem motivo, a voz
emudecera. E o aparelho voltou a ser na pa- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
rede do corredor a aranha de metal, 3sempre
calada. O sussurro da vida, o sangue de suas ESSA TERRA

176
Vagoroso e solitário, o Junco sobrevive às de lado. O lugar cresce como rabo de besta.
suas próprias mágoas, com a certeza de quem Tudo o mais é a espera, debaixo deste céu
já conheceu dias piores, e ainda assim con- descampado.
tinua de pé, para contar como foi. Em 1932 – Qualquer dia o Anticristo aparece. Será o
o lugar esteve para ser trocado do Estado da primeiro aviso. Depois o sol vai crescer, vai
Bahia para o mapa do inferno, na pior seca virar uma bola do tamanho de uma roda de
que já se teve notícia por essas bandas, hoje carro de boi e aí – dizia papai, dizia mamãe,
reverenciada em cada caveira de boi pendu- dizia todo mundo.
rada numa estaca, para dar sorte. (TORRES, Antônio. Essa Terra. Rio de Janeiro: Record, 2001.)
– O povo caía e morria de sede e fome, como
o gado. Era de cortar o coração. 2. (UERJ) Publicado nos anos 70, este romance
As primeiras chuvas de 33 prometiam a bo- de Antônio Torres demonstrou a atualidade
nança, mas ficaram só na promessa. O que de temas e situações abordadas na literatura
se viu mais tarde foi o dilúvio, a sezão e o
regionalista dos anos 30.
impaludismo: desta vez o povo caía e mor-
a) Aponte duas características da ficção regiona-
ria tremendo, de frio. Pior é na guerra, onde
lista presentes no texto.
filho chora e pai não vê – diz Caetano Jabá,
que não foi o único a seguir os passos de b) Em resposta à propaganda oficial sobre as van-
Antônio Conselheiro, embora tivesse sido o tagens dos “milagres econômicos”, o texto dei-
único a voltar vivo, para contar a história do xa entrever o caráter excludente dos processos
soldado raso que ele degolou com sua faqui- de modernização ocorridos no Brasil.
nha de capar fumo, enquanto o soldado co- Reproduza a passagem em que, por meio da
mia em paz um pedaço de carne de jabá com fala de um personagem, o texto denuncia
farinha seca, à beira de um riacho. Em vez de que, paralelamente à modernização do país,
uma medalha, deram-lhe um apelido e uma ocorrera na localidade um empobrecimento
enxada, com a qual ele cava o seu sustento, gradativo da população.
ainda hoje, aos cento e tantos anos de vida.
No ano dois mil esse mundo velho será quei-
mado por uma bola de fogo e depois só resta-
rá o dia do juízo – é o mesmo Jabá –, ensinan-
Gabarito
do as Sagradas Profecias, enquanto descansa
a culpa da morte que carrega nas costas. – E
eu sei que esse dia está perto. Ora vejam bem:
nossos avós tinham muitos pastos, nossos
E.O. Aprendizagem
pais tinham poucos pastos e nós não temos 1
. A 2
. D 3
. C 4. E 5
. D 6
. E
nenhum – os outros homens prestam muita
atenção em Caetano Jabá, ele viveu as ex-
periências da vida. – Isso também está nas
Sagradas Escrituras. Muitos pastos e poucos E.O. Fixação
rastos. Poucas cabeças, muitos chapéus. Um 1. B 2. D 3
. D 4
. C
só rebanho para um só pastor.
— Lá vêm os tabaréus do Junco - dizem os do
Inhambupe.
Diziam. Antigamente. Quando o pau-de-arara E.O. Complementar
coberto de lona parava na bomba de gasolina 1. E 2
. D
do Hotel Rex - a lotação de ano em ano, para
Nossa Senhora das Candeias. Agora a estrada
passa por fora. O Inhambupe já não tem mais
quem insultar.
Rezemos pela alma do finado Antônio Conse-
E.O. Dissertativo
1.
No texto Emergência, o poema é a janela da
lheiro. Muito lhe devemos. Quando esteve em
Inhambupe, ele foi apedrejado, sem dó nem alma. Através do poema, tanto o sujeito lí-
piedade. Rogou uma praga: rico quanto o leitor respiram, libertando-se
– Essa terra vai crescer que nem rabo de bes- de um cotidiano opressor. Assim, a poesia é
ta. concebida como libertação, daí as imagens da
O povo se indagou: “cela abafada” (sentimentos e fatos da vida
– Como é que rabo de besta cresce? que aprisionam o indivíduo) e da “janela”
– Para baixo. (meio que possibilita a entrada do elemento
– Mas todos os rabos crescem para baixo. salvador — “o ar”, ou seja, a poesia).
– Só que o da besta, quando cresce, o dono No texto Agosto 1964, defende-se que a poesia
corta. Para dar mais valor ao animal. deve estar articulada com os problemas do seu
O asfalto da estrada de Paulo Afonso não che- tempo, denunciando-os. A poesia não pode fi-
gou aqui mas também deixou o Inhambupe car alheia à realidade contemporânea do poeta,

177
mundo marcado pela violência social e políti-
ca. Nesse contexto, a poesia torna-se “arma de
E.O. UERJ
combate” pela transformação da realidade. Exame Discursivo
Nesse poema, encontram-se imagens como “a
poesia agora responde a inquérito policial- 1. José Maria contempla a natureza e percebe-a
--militar” (a arte vítima da censura), “um de duas formas distintas, o que é evidente
artefato” — a arte como instrumento de luta nas seguintes passagens: “Pela primeira vez
— e o poema como “uma bandeira”, como o fartava a vista no cenário de águas e mon-
estandarte que pode liderar, que pode ir à tanhas que a bruma fundia” e “As colinas se
frente, na liderança da luta por uma causa transformavam em seios de Duília”. Enquan-
social. to que na primeira a natureza é apresentada
2.
Espacialização do poema; Predominância da no seu aspecto físico ou geográfico, na se-
linguagem geométrica e visual; Valorização gunda, a percepção da natureza é influencia-
do conteúdo sonoro das palavras; Atomização da pelo desejo e pelo sonho do personagem.
das palavras. 2.
3.
O termo ócio é empregado com objetivos dife- a) Duas dentre as características:
rentes nos dois textos. Em “Epitáfio para um §§ denúncia do atraso econômico;
banqueiro”, o termo é utilizado para mostrar §§ contraste do meio rural com o meio ur-
criticamente o esvaziamento da vida do ban- bano;
queiro, a ausência de valores. Na entrevista §§ permanência de hábitos e costumes
do poeta Manuel de Barros, a palavra ócio é tradicionais;
empregada para ressaltar o valor da ociosida- §§ enfoque nos hábitos e no modo de fa-
de como condição fundamental para a criação lar de uma região;
poética. §§ destaque às formas de religiosidade
4.
O cartão postal fornece, normalmente, uma aproximadas ao fanatismo e ao mes-
visão positiva da realidade retratada e, mui- sianismo.
tas vezes, reforça visões tradicionais e es- b) “Ora vejam bem: nossos avós tinham
tereótipos dessa realidade. Cacaso, por um muitos pastos, nossos pais tinham poucos
complexo jogo de intertextualidades, retoma, pastos e nós não temos nenhum.”
na primeira estrofe, imagens consagradas so-
bretudo pela música e pela literatura (“luar
do sertão“, “a verde mata“, “olhos verdes da
mulata”).
5.
Trata-se da imagem do homem cheio de ma-
nhas, “malandro“ (“finjo que vou mas não
vou“), sonhador e avesso ao trabalho (“fico
cismando na beira de um rio”) e que, no ge-
ral, acredita-se feliz.
6.
Expressões como “lívido“ (pálido) e “medo“
opõem-se à imagem de um “eu“ feliz, pois
sugerem ao leitor momentos de dor e angús-
tia. Pode-se também interpretar que a antí-
tese entre os versos “(...) cismando na beira
de um rio“ (que sugere algo prazeroso) e “na
imensa solidão de latidos e araras“ (que su-
gere um momento que contradiz o anterior)
remete para este desmentido.

E.O. UERJ
Exame de Qualificação
1. D 2
. D 3
. B 4. A 5. A

178

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