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Do

Romantismo ao
Realismo
Contos de Machado e muito
mais…
A mudança de eixo do pensamento humano

“O Romantismo era a apoteose do sentimento; o Realismo é a autonomia de


caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para
nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para
condenarmos o que houve de mau na sociedade.” (Eça de Queiroz)
“Não tive filhos não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”
(Brás Cubas – “Memórias Póstumas de Brás Cubas”)
O Realismo
 O realismo, movimento estético predominante no mundo ocidental na segunda
metade do século XIX, surgiu como uma onda de oposição à subjetividade e
ao individualismo da tendência artística anterior, o Romantismo. Com a
intenção de fazer da arte uma representação fidedigna e verossímil da
realidade, escritores, pintores, escultores, músicos e dramaturgos privilegiaram
a objetividade em suas obras, atentos à veracidade das situações cotidianas.
 Em 1857, Gustave Flaubert publicou “Madame Bovary”, marco do início do
Realismo no mundo.
 Em 1881, Machado de Assis publicava “Memórias póstumas de Brás Cubas”,
marco do início do Realismo no Brasil.
Marcas do Realismo
 Descrições de tipos sociais
 Temas sensíveis como adultério, miséria e falta de mobilidade social
 Objetividade
 Impessoalidade
 Críticas à hipocrisia e à moralidade da burguesia
 Tentativa de explicar o real, recorrendo muitas vezes à ciência ou ao
determinismo;
 Abordagem psicológica das personagens como composição da realidade que
veem.
O Realismo no Brasil

O movimento europeu era norteado pelas mudanças do avanço


industrial, que já alçava sua segunda etapa, o Brasil, por sua vez,
iniciava um lento processo de modernização, atravancado
pelo ranço colonial que se mantinha na política do Segundo Reinado e
na manutenção da mão de obra escrava. Em sua maioria, os escritores
realistas brasileiros foram republicanos e abolicionistas, não raro
abordando em suas obras esses ideais.
Machado de Assis e sua obra

 Machado de Assis é aclamado como o maior escritor brasileiro de todos os


tempos, principalmente pela riqueza com que explora as técnicas narrativas e
pelo retrato apurado da psique humana. Autor de romances, contos, crônicas,
peças de teatro e textos de crítica literária e teatral, além de poesias, sua prosa
realista, que lhe rendeu o posto de glória na literatura brasileira, passou a ser
produzida a partir de 1870.
Os contos (e romances) de Machado e suas
peculiaridades

1. Destruição da narrativa linear: o narrador torna-se o centro do eixo narrativo


e, portanto, a linearidade do enredo dissolve-se. Machado de Assis brinca com o
leitor, que é lançado ao meio de dúvidas em relação às personalidades ambíguas
das personagens.

2. Análise psicológica: o interior das personagens é desnudado e o modo de ver o


exterior muda conforme as reações psicológicas delas. Um grande exemplo disso é
o narrador em primeira pessoa de Dom Casmurro que, a todo momento, tenta
provocar e convencer o leitor de seu ponto de vista.
3. Aparência e essência: há sempre essa dualidade nas obras machadianas da segunda
fase. De um lado, vê-se o amor em contraponto à incapacidade de amar; a solidariedade
frente ao egoísmo; a autenticidade e a dissimulação; a luta entre os valores morais das
personagens; o racionalismo e o instinto. O mais interessante, porém, é que toda essa
análise não esgota a imensidão das ações humanas descritas nas obras.

4. Análise dos valores sociais: a ficção machadiana, ao focar no interior das personagens,
também permite desconstruir os valores das classes dominantes da sociedade brasileira. A
vida social que reverbera na obra de Machado de Assis permite discutir sobre diversos
temas, como o casamento, a escravidão e a política. Romances como Memórias Póstumas
de Brás Cubas e contos como Pai contra Mãe são o ápice da incisiva crítica social de
Machado.
5. Pessimismo: o pessimismo é presente em sua obra, mas essa visão pessimista do autor era
decorrente de um reflexão sem ilusões da realidade. Um exemplo clássico é o fechamento do
romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, no qual o protagonista afirma “não tive filhos,
não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”, após relembrar todos os anos de
sua vida fazendo parte da classe dominante fluminense.

6. Humor: Machado de Assis recebeu influências de autores ingleses como Jonathan Swift e
Laurence Sterne, especialmente no que diz respeito ao humor presente em sua obra. O leitor
ri, mas, no final, fica desolado com os fatos apresentados.
7. A desfaçatez de classe: por meio de personagens que estão em uma posição social
abastada, Machado de Assis consegue denunciar suas imoralidades, seus desvios. Brás Cubas,
por exemplo, apresenta diversos fatos em sua narração que evidenciam o descaramento moral
da época.

8. Perfeição expressiva: a linguagem machadiana é inventiva e com alto grau de refinamento.


Mesmo que parte de seu vocabulário pareça antigo, há uma sensação dominante de
modernidade estilística.
Características do gênero conto
 O conto pode ser definido como uma narrativa curta e
com um único conflito. Isso significa que, nessas histórias,
há poucos personagens, o tempo e o espaço são reduzidos ao essencial e,
além disso, o enredo (a sequência de ações pelas quais os personagens passam)
é marcado pela existência de um único acontecimento relevante. Dessa forma,
em geral, os contos apresentam apenas um clímax (aquele momento de maior
tensão da narrativa).
Leitura de contos:
“Um Apólogo” e “Conto de Escola”

 Um apólogo - http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000269.pdf
(narrativa em prosa ou verso, geralmente dialogada, que encerra uma lição moral, e em que
figuram seres inanimados, imaginariamente dotados de palavra)
 Conto de escola - http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000191.pdf
Vídeo-aula exemplificativa: um apólogo
 https://www.youtube.com/watch?v=XeOj9Y2GLJY
Exercícios preliminares
(análise “As peneiradoras de trigo”)
Sobre o quadro, responda:

1. Como se caracteriza o ambiente retratado no quadro?


2. Trata-se de um ambiente próprio da zona urbana ou da zona rural? Justifique sua resposta.
3. O que os personagens estão fazendo?
4. Que vínculos parece haver entre os personagens?
5. O que representa o trigo, para as personagens?
6. Na hierarquia social, que posição ocupavam as personagens do quadro?
7. O autor do quadro disse certa vez que jamais poderia pintar um ANJO, porque nunca vira
um. Como esta afirmação se relaciona com o movimento realista?

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