Romantismo na poesia - sentimentalismo;

- subjetividade.
Profª Gislene Ramos Cronologia
Antes do Romantismo, o Iluminismo trouxe movimentação 1768 – Obras poéticas, Cláudio Manuel da Costa (Arcadismo).
cultural, buscou exaltar a razão e divulgou interesses de uma 1836 – Suspiros poéticos e Saudades, Gonçalves de Magalhães
burguesia em luta por melhor situação política. Mas o (Romantismo).
Iluminismo não foi uma unanimidade. O Romantismo fez 1881 – Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis
críticas aos iluministas afirmando que a razão não era a fonte (Realismo).
de tudo; tinha os seus limites.
Os temas fundamentais do Romantismo criam um mundo Contexto histórico
maravilhoso e ideal. Privilegia a subjetividade e chega a ser
visto por muitos como um ✯Europa:
estilo literário alienante, - Fim do absolutismo e criação dos Estados Nacionais.
pelo seu caráter de fantasia, - Surgimento da burguesia.
evasão e sentimentalismo ✯Brasil:
exacerbado. Com o - A vinda da família real.
Romantismo, definiu-se a - A independência do Brasil.
língua portuguesa na - Criação de universidades.
expressão literária, com uma - O surgimento do público leitor.
linguagem densamente
figurada. ❉ Acerca da cultura no Brasil, no final do século XIX é
Enquanto desenvolvimento importante saber que durante o Primeiro Reinado foram
temático e tratamento criados os cursos jurídicos e as primeiras faculdades de Direito
estilístico há o gosto pela do Brasil.
FRIEDRICH, Caspar David. O viajante
sobre o mar de névoa. A obra ilustra
expressão dos sentimentos,
sonhos e emoções que O Romantismo brasileiro revestiu-se de um expressivo
um dos principais traços do
Romantismo: o isolamento. agitam o mundo interior do cunho nacionalista. A Independência conquistada em 1822,
poeta; abandono gradual da reforçou a busca de elementos caracterizadores e
linguagem lusitana em favor da brasileira, tanto no vocabulário diferenciadores de nossa nacionalidade. Daí o forte sentimento
quanto nas construções sintáticas. de fidelidade à pátria e às suas tradições e a criação de símbolos
O movimento coincide com a democratização da arte, que pudessem ser incorporados à consciência nacional e
gerada pelas mudanças sociais, políticas e econômicas do passassem a representar o país. Entre eles, o índio, a natureza
século XVIII. Tornou-se a expressão artística de uma nova e a linguagem.
sociedade burguesa, em oposição à arte neoclássica da Fonte: MAIA. Português. São Paulo: Ática, 2005, p.222.
aristocracia. O Romantismo literário absorveu tendências do
liberalismo, que propiciou a liberdade nas artes e, Arcadismo X Romantismo
consequentemente, a expressão fora dos rígidos modelos Para expressar o que sente
precedentes. Foi inspirado pelas obras do francês Rousseau e - Finge-se de pastor; - Cria uma linguagem
pelo movimento alemão Sturm und Drag, que valorizava o - Invoca o ambiente individual, subjetiva: acento
folclórico, o popular e o nacional, em oposição ao bucólico (locus da inspiração.
universalismo clássico. amoenus)
Aspecto formal
✽No Romantismo brasileiro, constatamos, entre outras - Maior contenção - Maior liberdade formal;
características:
formal; - Vocabulário e sintaxe – mais
- apologia ao homem natural (índio);
- Vocabulário e sintaxe – brasileiro.
- aproximação entre o erudito e o popular;
influência lusitana. - Gosto pelas redondilhas.
- Culto à natureza
- culto pela morte; - Gosto pelo soneto e
- escapismo decassílabo.
- evasão no tempo e no espaço; Quanto ao conteúdo
- Fatalismo - Razão; - Emoção;
- Historicismo; - Objetivismo; - Subjetivismo;
- idealismo; - Universalismo; - Nacionalismo;
- Idealização da mulher; - Imitação da cultura - Valorização da cultura
- liberdade de criação greco-latina. popular.
- mal do século Natureza
- medievalismo; - Pano de fundo para - Mais real;
- nacionalismo;
idílios amorosos. - Interage com o eu lírico.
- pessimismo
- primazia da emoção sobre a razão;
- religiosidade

Romantismo - Poesia “Você é único quando pensa diferente.” Pág. 1

 As gerações do Romantismo
Tradicionalmente, os autores da Poesia Romântica estão
divididos em 3 gerações, que se classificam, principalmente,
pela temática abordada. Esses poetas ora marcavam sua poesia
com um egocentrismo exacerbado, ora com uma volta ao
passado e valorização da nacionalidade ou com um caráter
político e social de contestação contra a escravidão.
Os nossos poetas deram uma tradução local aos valores da
literatura europeia: a dignidade do homem natural, a
exacerbação das paixões e os ideais libertários.
✮1ª: Nacionalista, Indianista.
- Nacionalismo: exaltação da pátria e
idealização da natureza.
- Índio: herói - elemento formador do povo
brasileiro.
- Religiosidade – predominância do
Catolicismo.
O nacionalismo é o traço que melhor caracteriza a literatura na
primeira geração romântica, sobretudo com o indianismo e a
descrição da natureza.
✮2ª: Byroniana, Ultrarromântica.
- Influências: Goethe e Lord Byron.
- Mal do século: Pessimismo, subjetivismo,
egocentrismo, atração pela morte.
Poetas: Álvares de Azevedo (mais
importante), Casimiro de Abreu, Junqueira
Freire e Fagundes Varela.
O poeta byroniano - Melancolia incurável; incompreendido por
todos; genial, mas desgraçado; tendência ao devaneio;
condenado à solidão; egocêntrico.
✮3ª: Social, Condoreira.
- Influência de Vitor Hugo (Os miseráveis, O
corcunda de Notre Dame).
- Poesia social e política;
- Descrever os males que assolam a
sociedade.
- Castro Alves – poeta mais importante.
1ª geração romântica
Gonçalves de Magalhães é considerado o fundador do
Romantismo Brasileiro pela publicação, em 1836, de Suspiros
Poéticos e Saudades.
Além de Gonçalves de Magalhães, outro significativo poeta
introdutor do Romantismo no país foi Manuel de Araújo Porto-
Alegre. Ambos pretenderam elaborar uma literatura de tom
nacionalista e idealizado, aspectos adequados para legitimar a
Independência do Brasil, conquistada em 1822.
👉 Gonçalves de Magalhães
“Cheio de amor pela Pátria
e de esperança em Deus,
e no futuro.”
GONÇALVES DE MAGALHÃES
(Domingos José, visconde de Araguaia),
escritor, diplomata e político brasileiro
(Rio de Janeiro, 1811 - Roma, 1882). Autor de poesia, ficção,
peças de teatro e ensaios filosóficos, foi um dos fundadores do
Romantismo - Poesia
movimento romântico no Brasil. Seus temas prediletos eram a
religião, a pátria e a natureza. Apesar de seu papel histórico,
não é reconhecido como grande poeta.
Diplomata e político de prestígio, exerceu importantes
funções no país e no exterior. Recebeu os títulos de barão e
visconde de Araguaia.
Obras: Poesias (1832), na qual estreia ainda como poeta
árcade; Discurso sobre a História da Literatura no Brasil (1836),
um manifesto do romantismo; Suspiros Poéticos e Saudades
(1836), versos autenticamente românticos; Confederação dos
Tamoios (1856), poema indianista que provocou inúmeras
polêmicas, em que acusavam o autor de retomar a tendência
classicista. Patrono da cadeira n.º 9 da Academia Brasileira de
Letras.
Suspiros poéticos e Saudades:
1ª parte - Suspiros poéticos: 43 poemas: cristianismo,
mocidade, fantasia e a própria poesia.
2ª parte – Saudades - 12 poemas: pátria, família, amigos.
👉 Gonçalves Dias (O poeta indianista)
“Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá.”
Foi com Gonçalves Dias que efetivamente se consolidou a
mais significativa escrita poética preocupada em retratar a
natureza e a origem do povo brasileiro, o que culminou em uma
estética da cor local e do indianismo. Em 1846, ao publicar
Primeiros Cantos, Gonçalves Dias anuncia a nova ideologia
romântica, que lutaria pela liberdade formal (fugindo a
regularidade métrica do Classicismo tanto cultuada pelos
árcades) e pela pluralidade temática, inclusive no que diz
respeito a representação da paisagem (novamente se vê uma
oposição aos poetas do Neoclassicismo, que construíam os
ambientes bucólicos a partir da cópia do cenário da Arcádia, ou
seja, de forma mais universal).
GONÇALVES DIAS (Antônio), poeta
romântico brasileiro (Caxias, MA, 1823
- no mar, perto de Guimarães, MA,
1864), o mais importante da corrente
indianista. Faz parte do grupo da
primeira geração de românticos, escola
de que foi representante muito
destacado no Brasil.
Cultivou, além da poesia, o teatro, a filologia, a etnografia e
a história. Poeta dos mais populares em nosso país, é também
dos mais estudados e influentes na área intelectual, tendo sido
o primeiro a utilizar as sugestões de nossa natureza tropical e
as tradições indígenas em nível artístico.
Nasceu no sítio Boa Vista, perto da vila Caxias, no Maranhão.
Estudou direito em Coimbra (Portugal). Participou de grupos
literários portugueses e começou a escrever em prosa e verso.
Voltou à capital da província e conheceu a menina Ana Amélia
Ferreira Vale, ele com 22 anos e ela com 14, o grande amor de
sua vida e a quem endereçaria alguns de seus mais inspirados
poemas de amor.
Trabalhou no Rio de Janeiro como professor e jornalista.
Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1849
ensinou latim e história do Brasil no Colégio Pedro II e fundou
“Você é único quando pensa diferente.” Pág. 2
com Araújo Porto Alegre e Joaquim Manuel de Macedo, a Onde canta o Sabiá.
revista Guanabara, divulgadora do romantismo em nossas
letras. Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Retornou em 1851 a São Luís, onde foi estudar, Sem que desfrute os primores
comissionado pelo governo o problema da instrução escolar e Que não encontro por cá;
profissional nas províncias do norte. No ano seguinte, pediu em Sem qu'inda aviste as palmeiras,
casamento Ana Amélia, mas foi rejeitado por preconceito, visto Onde canta o Sabiá.
que ele era bastardo e mestiço. Casou, em 1852, no Rio de
Janeiro com Olímpia Coriolana da Costa, casamento de I-Juca Pirama (Excerto)
conveniência e infeliz. Meu canto de morte, Meu pai a meu lado
Guerreiros, ouvi: Já cego e quebrado,
Foi nomeado oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros Sou filho das selvas, De penas ralado,
e embarcou para a Europa (1854), onde realizou pesquisas Nas selvas cresci; Firmava-se em mi:
educacionais e historiográficas de interesse para o Brasil. De Guerreiros, descendo Nós ambos, mesquinhos,
volta à corte, viajou muito por todo o norte, até atingir o Peru. Da tribo tupi. Por ínvios caminhos,
Cobertos d’espinhos
Regressou doente e partiu para a Europa, buscando
Da tribo pujante, Chegamos aqui!
tratamento. Ficou na Europa mais de dois anos. Em 1864,
pouco antes do inverno, decidiu voltar. O navio em que viajava, Que agora anda errante
naufragou e o poeta, única vítima do acidente a morrer, não Por fado inconstante, O velho no entanto
chegou a pisar a terra natal. É patrono de cadeira n.º 15 da Guerreiros, nasci; Sofrendo já tanto
Academia Brasileira de Letras. Sou bravo, sou forte, De fome e quebranto,
Sou filho do Norte; Só qu’ria morrer!
Principais obras: Primeiros Cantos, Segundos Cantos, Últimos Meu canto de morte, Não mais me contenho,
cantos, Os timbiras. Guerreiros, ouvi. Nas matas me embrenho,
Das frechas que tenho
Divisão da poesia de Gonçalves Dias Já vi cruas brigas, Me quero valer.
Lírica: Pátria, natureza, Deus, índio, o amor não correspondido. De tribos imigas,
Épica: Canta os feitos de índios valorosos, substitutos do herói
E as duras fadigas Com que me encontrei:
medieval.
Da guerra provei; O cru dessossego
Forma: versos melódicos, métrica e ritmo variados.
Nas ondas mendaces Do pai fraco e cego,
O mais famoso poema do Romantismo brasileiro, "Canção
do exílio", foi publicado na primeira parte dos Primeiros Cantos, 💡 Não esqueça:
denominada de "Poesias Americanas" - título que evidencia a Na poesia indianista de Gonçalves Dias observa-se a imagem
necessidade de cantar a nova América que se tornava heroica e nobre do índio brasileiro.
independente. A exaltação da terra natal em oposição ao
cenário estrangeiro é a grande preocupação de Gonçalves Dias, 2ª geração romântica
como exemplifica o seu mais canônico poema: 👉 Álvares de Azevedo (O poeta da
morte e da solidão)
“Foi poeta – sonhou e amou na vida.”
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras, ÁLVARES DE AZEVEDO (Manuel
Onde canta o Sabiá; Antônio), poeta brasileiro (São Paulo,
As aves que aqui gorjeiam, 1831 - São Paulo, 1852). Figura muito
Não gorjeiam como lá. importante da geração de ultrarromânticos no Brasil. Sua obra,
muito personalista, é de grande importância no movimento
Nosso céu tem mais estrelas, poético nacional de rebeldia contra os padrões literários
Nossas várzeas têm mais flores, portugueses.
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores. Cursou o Colégio Pedro II e, aos 16 anos, estava na Faculdade
de Direito, na qual iniciou sua produção literária conhecida.
Em cismar, sozinho, à noite, Não chegou a formar-se, porque morreu de tuberculose no 5º
Mais prazer encontro eu lá; ano do curso. Em seus escritos estão claras, de um lado, as
Minha terra tem palmeiras, influências dos grandes românticos, especialmente do poeta
Onde canta o Sabiá. inglês Byron, e de outro, as preocupações espirituais e
ideológicas de seu tempo: a dúvida, o tédio, o sofrimento e a
Minha terra tem primores, morte, a rebeldia, o anticlericalismo. Durante muito tempo seu
Que tais não encontro eu cá; público leitor foi o estudantil.
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá; Importante destacar que a obra de Álvares de Azevedo teve
Minha terra tem palmeiras, como eixo central, além do amor frustrado, a morte e o tédio
Romantismo - Poesia “Você é único quando pensa diferente.” Pág. 3
de viver. Traz, assim, a marca da adolescência, pois o poeta
morreu aos 21 anos de idade.
Álvares de Azevedo, contraditoriamente outros românticos,
examina, por vezes, o mundo sem a exacerbação afetiva e
descreve a vida com surpreendente senso de humor e na
ironia.
Principais obras: Lira dos vinte anos (poesia / única obra que o
poeta preparou em vida para publicação), Noite na taverna
(contos), Macário (teatro).
Temas:
- Evasão: fantasia, sonho, morte.
- Amor: idealização, sensualidade.
- Góticos: macabros, fantásticos.
Lira dos vinte anos
- Ariel – bem: mostra um adolescente casto, sentimental,
ingênuo, sonhador, idealiza a mulher, medo de amar, morte.
- Caliban – mal: mostra um mundo decadente, cheio de
viciados, bêbados, prostitutas, andarilhos solitários e sem
destino e a mulher é real, sensual.
✎Cuidado, leitor, ao voltar esta página!
Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. Vamos
entrar n'um mundo novo, terra fantástica, verdadeira ilha
Barataria de D. Quixote, onde Sancho é rei, e vivem
Panúrgio, Sir John Falstaff, Bardolph, Fígaro e o Sganarello
de D. João Tenório: - a pátria dos sonhos de Cervantes e
Shakespeare.
Quase que depois de Ariel esbarramos em Caliban.
A razão é simples. É que a unidade deste livro se funda n'uma
binomia. Duas almas que moram nas cavernas de um
cérebro pouco mais ou menos de poeta escreveram este
livro, verdadeira medalha de duas faces.
(Prefácio à segunda parte da Lira dos Vinte anos)
Cervantes e Shakespeare foram retomados pelos poetas
românticos como escritores ideais. Às vezes, os românticos
viam neles exemplos de genialidade não contaminada pela
civilização. “Vamos entrar n'um mundo novo, terra fantástica”:
o Romantismo ainda estava muito ligado a uma visão mágica
do mundo, em que atuavam forças sobrenaturais e poderes
superiores ao homem. O poeta procurava enfrentar e desafiar
essas forças.
Ariel e Caliban são dois personagens de A Tempestade, de
Shakespeare. O primeiro é um espírito leve, belo e leal. O
segundo, feio, desajeitado e mau-caráter. No Romantismo,
ambos os tipos de personagens são essenciais à poesia. “É que
a unidade deste livro se funda n'uma binomia”: esse é um dos
temas do Romantismo, que via unificarem-se no poeta as
características de anjo e de demônio, por exemplo. Um dos
grandes temas dessa binomia é o sósia, ou seja, a ideia de que
pode haver alguém exatamente igual num lugar diferente do
mundo.
Noite na taverna
Narrativas fantásticas, macabras contadas por um grupo de
jovens, reunidos em uma taverna e que representam a visão
ultrarromântica de Álvares de Azevedo.
Romantismo - Poesia
Narradores variados – cada um conta sua história. Estão em
profunda depressão e melancolia.
Temas: incesto, adultério, assassinatos. Mostram extremo
pessimismo em relação à vida: Mal do século.
Divisão da obra: Introdução, Solfieri (necrofilia), Bertram
(antropofagia), Gennaro (traição), Claudius (monogamia),
Johann (incesto), Último beijo de amor.
💡 Não esqueça que:
Álvares de Azevedo é autor de poemas românticos que
registram o fascínio pela ideia de morte.
👉 Casimiro de Abreu (O poeta da infância)
“Viste o lírio da campina?
Pois, divina,
Como o lírio assim sou eu!”
ABREU (Casimiro José Marques
de), poeta romântico brasileiro
(Capivari, RJ, 1839 - Indaiaçu, RJ,
1860). Seus poemas são simples e
ingênuos, e alguns deles, como Meus
Oito Anos, estão entre os mais
populares da literatura nacional.
Reunidos no livro Primaveras, falam de amores adolescentes,
da paisagem brasileira e da saudade da pátria. Casimiro
escreveu também um drama em versos, Camões e o Jau, que
chegou a ver representado em Portugal.
Em Portugal, de 1853 a 1857, escreveu a maior parte de sua
obra. De volta ao Brasil, ficou tuberculoso e morreu pouco
depois em Indaiaçu (RJ), hoje Casimiro de Abreu. Patrono da
cadeira 6 da ABL.
Temas: amor (associa-se à vida e sensualidade, ligada ao medo
de amar,) saudades, infância, solidão.
Ai! se eu te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas!...
Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos palpitante o seio!...
Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço
Anjo enlodado nos pauis da terra.
Depois... desperta no febril delírio,
Olhos pisados como um vão lamento,
Tu perguntaras: qu’é da minha c’roa?...
Eu te diria: desfolhou - a o vento!...
(Excerto do poema Amor e Medo)
“Você é único quando pensa diferente.” Pág. 4
👉 Junqueira Freire (O poeta angustiado)
JUNQUEIRA FREIRE (Luís José), poeta
brasileiro (Salvador, 1832 - id., 1855).
Seu lirismo tem como temas
predominantes as atribulações de sua
vida; sentimento religioso; erotismo
frustrado; obsessão pela morte.
Escreveu num estilo tenso e instigante,
refletindo um espírito atormentado por
uma viva sensualidade e por dúvidas religiosas. Seus versos
gozaram de enorme popularidade, e a crítica moderna tende a
valorizar seu papel dentro do romantismo.
Depois de sua morte foram publicados os volumes
Inspiração do Claustro (1855) e Contradições Poéticas.
Desejo
Se além dos mundos esse inferno existe,
Essa pátria de horrores,
Onde habitam os tétricos tormentos,
As inefáveis dores;
Se ali se sente o que jamais na vida
O desespero inspira:
Se o suplício maior, que a mente finge,
A mente ali respira;
Eu - que tenho provado neste mundo
As sensações possíveis;
Que tenho ido da afecção mais terna
Às penas mais incríveis;
Eu - que tenho arrostado imensas mortes,
E que pareço eterno;
Eu quero de uma vez morrer p'ra sempre,
Entrar por fim no inferno!
Que, de arrostar as dores desta vida,
Quase pareço eterno!
Estou cansado de vencer o mundo,
Quero vencer o inferno!
👉 Fagundes Varela (O poeta errante)
“Eu te juro que minha'lma
de tua alma escrava esta!
FAGUNDES VARELA (Luís Nicolau),
poeta brasileiro da época do
romantismo (Rio Claro, RJ, 1841 -
Niterói, RJ, 1875). Sua poesia, cheia de
musicalidade, constitui uma transição
entre os românticos que o precederam (Gonçalves Dias,
Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo) e a obra de Castro
Alves, que foi influenciado por Varela.
Sua contribuição mais decisiva foi a chamada poesia da
natureza - o dilema romântico entre a cidade e o campo. Seus
principais temas: amor, pátria, religião, natureza.
A morte de seu primeiro filho arrastou-o à bebida e
acentuou sua misantropia (ódio à vida em público e às pessoas,
além de medo delas). Inquieto e torturado, procurava refúgio
na natureza. - Sua poesia atinge estados de contemplação
Romantismo - Poesia
mística ao mesmo tempo que apresenta traços de busca da
vida na cidade, cheia de vícios e sofrimentos.
- Obras: Noturnas, Vozes da América, Cantos e Fantasias,
Cantos Meridionais.
Deixa-me!
Quando cansado da vigília insana
Declino a fronte num dormir profundo,
Por que teu nome vem ferir-me o ouvido,
Lembrar-me o tempo que passei no mundo?
Por que teu vulto se levanta airoso,
Tremente em ânsias de volúpia infinda?
E as formas nuas, e ofegante o seio,
No meu retiro vens tentar-me ainda?
A quantos outros, inda os lábios quentes
De ardentes beijos que eu te dera então,
Não apertaste no vazio seio
Entre promessas de eternal paixão?
Deixa-me agora repousar tranquilo,
Deixa-me agora dormitar em paz,
E com teus risos de infernal encanto
Em meu retiro não me tentes mais!
3ª geração romântica
👉 Castro Alves (O poeta dos escravos)
“Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer...”
CASTRO ALVES (Antônio Frederico
de). Maior vulto do condoreirismo
(estilo poético grandiloquente, de
caráter social e político, patriótico) no país. Sua obra, das mais
lidas e populares, é cheia de lirismo, de um lado, e de ideais
humanitários, de outro. Utiliza uma linguagem pomposa, cheia
de hipérboles e antíteses, grandiosa e muito emocional. Sua
poesia é lírica amorosa – erotismo, amor, morte, sonho e social
e humanitária: observador dos problemas sociais: igualdade,
luta de classes, escravidão - busca soluções.
Mulher – na poesia de Castro Alves, evolui de uma
idealização para uma concretização das virgens sonhadas.
Antônio Frederico de Castro Alves é do sertão baiano. A
fazenda em que nasceu ficava a 41 km de Curralinho (hoje
Castro Alves). Estudou humanidades em Salvador, e, em 1864,
matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife. São desse
tempo algumas de suas poesias mais conhecidas (Navio
Negreiro, Vozes d'África) e os primeiros sintomas da
tuberculose que o matou aos 24 anos.
Entusiasmado pelo teatro e sua gente, apaixonou-se em
1866 por Eugênia Câmara, atriz portuguesa dez anos mais velha
que ele, mulher exuberante e livre. Para ela, escreveu seu único
texto para teatro, Gonzaga Ou a Revolução de Minas (publicado
em 1875).
“Você é único quando pensa diferente.” Pág. 5
 Sem terminar o curso, Castro Alves deixou Recife e partiu
para Salvador, onde foi encenada sua peça. Eugênia era a Deus do Boêmio! São da mesma raça
estrela. De viagem para São Paulo, passou pelo Rio de Janeiro, as andorinhas e o meu anjo louro...
onde recebeu a homenagem pública de José de Alencar e Fogem de mim se a primavera passa,
Machado de Assis. Matriculou-se no terceiro ano da Faculdade se já nos campos não há flores de ouro...
de Direito de São Paulo, mas abandonou-a em 1868.
O ciúme exagerado do poeta acabou por abalar sua relação Batem!... Que vejo! Ei-la afinal comigo...
com Eugênia Câmara. Castro Alves rompeu definitivamente Foram-se as trevas... fabricou-se a luz...
com seu grande amor e entrou em profunda depressão. Para Nini! Pequei... dá-me exemplar castigo!
distrair-se, passou a caçar. Em uma caçada, ao saltar um riacho, Sejam teus braços... do martírio a cruz.
sofreu um acidente: sua espingarda disparou, atingindo-o com
uma carga de chumbo no pé. O ferimento infeccionou-se, 👉 Sousândrade (Joaquim de SOUSA ANDRADE)
agravou-se a tuberculose e ele foi levado para o Rio de Janeiro, Embora poeta da época, a poesia de Sousândrade não se
onde amputaram-lhe o pé. A operação teve de ser a sangue encaixa nos moldes do Romantismo.
frio, pois não era conveniente usar um anestésico à base de Por ser ousado demais para o seu
clorofórmio mediante seu estado pulmonar. Sob ameaça de tempo, só foi compreendido quase cem
gangrena, regressou à Bahia, no final de 1869. Levou consigo o anos após o seu nascimento. Tendo
livro Espumas Flutuantes, único que viu publicado em vida sido quase apedrejado como louco, sua
(1870). Procurou melhorar de saúde em Curralinho, voltou a poesia só foi redescoberta pelos irmãos
Salvador e faleceu pouco depois. Campos, que viram nela processos
modernos de formação de palavras,
Castro Alves viveu sempre cercado de mulheres, amado e bem ao gosto da poesia concreta.
admirado pelas multidões, que arrebatava com sua palavra
inflamada. É o poeta mais apreciado do fim do romantismo. Sua Viveu 69 anos (um excesso para os românticos). Esteve
obra é mais de efeitos altissonantes que de conteúdo; durante longo tempo na Europa, onde se formou pela
entretanto, é sincera e atinge, em certas passagens, grande Sorbonne, e nos EUA. Presenciou nos EUA uma efervescência
expressividade. Após 1864, sua obra tomou posição política do capitalismo e uma democracia feroz como nenhum outro
francamente participante, inspirando-se nos ideais do século, romântico brasileiro. Morreu na penúria e quase
como justiça e liberdade. São assim as composições O Livro e a desconhecido. Sua obra é extremamente original para o
América, Pesadelo de Humaitá, Pedro Ivo, Ode ao Dous de período: plurilinguística, ousada, quase surrealista em alguns
Julho, Deusa Incruenta. aspectos.
Sousândrade foi um poeta participante, que lutou pelas
Sua visão da escravatura comoveu o público e conseguiu causas abolicionista e republicana. Principal obra: O guesa
atrair a admiração de contemporâneos seus e da crítica errante.
moderna. Mas parece estarem na poesia lírica seus melhores
momentos de criador: Murmúrios da Tarde, Ave de Arribação, Ser teu Great-Dog: e tu meu
O Laço de Fita, Hebreia, Adormecida, Os Três Amores, Quando Sírio!
Eu Morrer, Coup d'Étrier, Mocidade e Morte e nos poemas
Oh, borboleta-girassol!
inspirados por Eugênia Câmara, como O Tonel das Danaides,
Gênio-amor! oh, luz-delírio!
Hino ao Sono, O Gondoleiro de Amor e É Tarde.
Oh, tanta luz! tanto arrebol
Com exceção de Espumas Flutuantes, toda a obra de Castro (O riso-céus!) e o lume e o
Alves encontrava-se dispersa em jornais, revistas ou lírio
manuscritos quando o poeta morreu. Sua edição é, portanto, De teus cabelos de crisol!
póstuma: A Cachoeira de Paulo Afonso (1876), Os Escravos
(1883), Hinos do Equador (publicados na edição das Obras A última rosa desfolhava
Completas do poeta organizada por Afrânio Peixoto, em 1921). Do ar sobre mim; e eu via
então
Canção do Boêmio No tronco o nome iluminava
Que noite fria! Na deserta rua E a imagem tua era a visão;
tremem de medo os lampiões sombrios. Do anagrama Dog, God
Densa garoa faz fumar a lua,
estava
ladram de tédio vinte cães vadios.
Do amor em que há nenhum
Nini formosa! Por que assim fugiste?
Embalde o tempo à tua espera conto. senão.
Não vês, não vês?... Meu coração é triste, Great dog - Constelação de Cão-Maior: o velho tema de
como um calouro quando leva ponto. comparar as amantes às estrelas aparece renovado,
misturando duas línguas. O poema apresenta já traços do
A passos largos eu percorro a sala, Surrealismo, mesclando realidades em geral separadas. O
fumo um cigarro que filei na escola... anagrama Dog-God é usado para mostrar a posição livre do
Tudo no quarto de Nini me fala, poeta quanto à religião. A montagem das frases não obedece a
embalde fumo... tudo aqui me amola. um critério de clareza e muito menos de métrica de versos.

Romantismo - Poesia “Você é único quando pensa diferente.” Pág. 6