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A SEGUNDA GERAÇÃO

MODERNISTA DO BRASIL:
POESIA (1930 – 1945)
OPERÁRIOS (1933), DE
TARSILA DO AMARAL,
DEMONSTRA A
INCLINAÇÃO DA ARTE
PELOS TEMAS SOCIAIS
NA DÉCADA DE 30.
PONTO DE VISTA HISTÓRICO E POLÍTICO

• Em 1930 inaugura no Brasil um novo período;


• O desgaste da República do Café com leite, caracterizando a primeira República, os conflitos
gerados pelas insurreições militares, a crise política das Oligarquias e a quebra da Bolsa de Nova
York, deflagra a Revolução de 30;
• É início da Era Vargas, marcada pela preocupação em promover a conciliação entre os setores
agrários e urbanos e em diversificar o capital, concentrado no café;
• A tendência à industrialização acentua-se remodelando a nossa estrutura econômica
agroexportadora. A modernização dos engenhos açucareiros do Nordeste faz parte desse quadro
geral de mudanças e constitui um dos grandes temas da prosa neorrealista da época.
TERMOS CULTURAIS

• Trata-se de um momento de busca de novos caminhos:


Filosóficos;
Sociais;
Políticos;
Existenciais;

• Na literatura, a segunda geração do Modernismo é a expressão desse momento.


CARACTERÍSTICAS DA SEGUNDA GERAÇÃO
MODERNISTA
• Diante desses significativos acontecimentos, Carlos Drummond de Andrade
publicou, em 1945, um poema intitulado "Nosso tempo", que revela o estado de
ânimo da parcela mais consciente da sociedade:
“Este é tempo de partido,
tempo de homens partidos.
Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.

Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.


As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.”
(...)
A poesia da 2ª fase modernista percorreu um caminho de amadurecimento. No aspecto
formal, cultivava tanto os versos brancos e livres quanto as formas tradicionais. O verso livre
foi o melhor recurso para exprimir sensibilidade do novo tempo, caracterizava-se como uma
poesia de questionamento: da existência humana, inquietação social, religiosa, filosófica e
amorosa.
CARACTERÍSTICAS

• PREOCUPAÇÃO SOCIAL: necessidade de compreender o mundo transformado pela


guerra.
• LINGUAGEM: versos livres e brancos, mas o poeta pode ser formal.
• POESIA INTIMISTA: questão espiritual ou reflexão amorosa
PRINCIPAIS AUTORES
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira - MG, em 31 de outubro de 1902.
De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo
Horizonte e, com os jesuítas, no Colégio Anchieta de Nova Friburgo- RJ, de onde
foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a
carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os
adeptos locais do incipiente movimento modernista Mineiro.

Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade
de Ouro Preto, em 1925. Fundou, com outros escritores, A Revista, que, apesar da vida breve,
foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Em 1930, publicou "Alguma
Poesia", seu primeiro livro, numa edição de 500 exemplares. Ingressou no serviço público e,
em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo
Capanema, ministro da Educação, até 1945 .
Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954, colaborou como cronista no
Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.
Representação do cotidiano / nega toda forma de fuga à realidade / cético /
presente (solução: união e trabalho coletivo). Maior nome da poesia
contemporânea, Drummond produziu extensa obra, em que a poesia de
enfoque social e a poesia relativa ao indivíduo se mesclaram e se fundiram.
Um dos temas recorrentes de sua poesia é a reflexão sobre a função do poeta, como é
possível observar no texto Mãos dadas.

Não serei o poeta de um mundo caduco.


Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos.


Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente .
Dentre as inúmeras obras publicadas por Drummond,
podem-se destacar: Alguma poesia (1930), Sentimento do
mundo (1940), A rosa do povo (1945), Claro enigma (1951),
Lição de coisas (1962), Cadeira de balanço (1966),
Boitempo & A falta que ama (1983), O elefante (1983),
Corpo (1984), Amar se aprende amando (1985), História de
dois amores (infantil), Farewell (1996).
MURILO MENDES
Murilo Monteiro Mendes era filho de Onofre Mendes e Eliza M. de Barros Mendes. Fez seus
primeiros estudos em Juiz de Fora e, depois, no Colégio Salesiano de Niterói. Seu primeiro
livro, "Poemas", foi publicado em 1930, com o qual ganhou o prêmio Graça Aranha. No
mesmo ano já saiu "Bumba-meu-Poeta" e, em 1933, "História do Brasil".

Entre as principais obras de Murilo estão História do Brasil (1932), A poesia em pânico
(1938), O visionário (1941), e As metamorfoses (1944).
Características dos seus poemas: sátira / poemas- piada / poesia religiosa / “Tempo e
Eternidade” (parceria com Jorge de Lima) / consciência do caos / ordena o caos: lógica,
criatividade, libertação do trabalho poético).

No Poema espiritual , pode-se observar a criatividade de Murilo Mendes, capaz de elaborar


imagens que associam religiosidade e sensualidade (“Na Igreja há pernas, seios, ventres e
cabelos”)
Poema espiritual
Eu me sinto um fragmento de Deus
Como sou um resto de raiz
Um pouco de água dos mares
O braço desgarrado de uma constelação.

A matéria pensa por ordem de Deus,


Transforma-se e evolui por ordem de Deus.
A matéria variada e bela
É uma das formas visíveis do invisível.
Cristo, dos filhos do homem és o perfeito.

Na Igreja há pernas, seios, ventres e cabelos


Em toda parte, até nos altares.
Há grandes forças de matéria na terra no mar
e no ar
Que se entrelaçam e se casam reproduzindo
Mil versões dos pensamentos divinos.
A matéria é forte e absoluta
Sem ela não há poesia.

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JORGE DE LIMA
Nos anos 1920 publicou vários livros de poemas, entre os quais "O Mundo do
Menino Impossível" e "Essa Negra Fulô", que é o título de seu poema mais
conhecido. Em 1930 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde lecionou na
Universidade do Brasil e na Universidade do Distrito Federal. Em 1935 foi eleito
vereador, ocupando depois a presidência da Câmara dos Vereadores.
Características de seus textos: parnasiano / poesia social / poesia religiosa /
desigualdade social.
ESSA NEGRA FULÔ

Ó Fulô! Ó Fulô!
Ora, se deu que chegou(Era a fala da Sinhá)

(isso já faz muito tempo)


— Vai forrar a minha cama
pentear os meus cabelos,
no banguê dum meuvem avôajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!
uma negra bonitinha,Essa negra Fulô!
chamada negra Fulô.Essa negrinha Fulô!
ficou logo pra mucama
Essa negra Fulô! pra vigiar a Sinhá,
pra engomar pro Sinhô!
Essa negra Fulô! (...)
A elaboração rítmica e a incorporação de variedades linguísticas são qualidades
significativas dos poemas de Jorge de Lima que focalizam os resquícios da
escravidão e a desigualdade dos modos de vida da população, especialmente da
nordestina. O autor também escreveu poemas de cunho religioso, que apresentam
fortes traços de misticismo.
Algumas das principais obras são: Essa negra Fulô (1928), Poemas escolhidos
(1932), A túnica inconsútil (1938), Poemas negros( 1947), Obra poética (1950),
Invenção de Orfeu (1952).
CECÍLIA MEIRELES
Filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil S.A., e de D.
Matilde Benevides Meireles, professora municipal, Cecília Benevides de Carvalho Meireles
nasceu em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Foi a única sobrevivente dos
quatros filhos do casal. O pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e sua mãe, quando
ainda não tinha três anos.

Falece no Rio de Janeiro em 9 de novembro de 1964, sendo-lhe prestadas grandes homenagens


públicas. Seu corpo é velado no Ministério da Educação e Cultura. Recebe, ainda em 1964, o
Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro "Solombra", concedido pela Câmara Brasileira do Livro. 
Sua obra poética é caracterizada pela reflexão filosófica, musicalidade dos versos, atmosfera
fluida e etérea; entre seus temas mais caros estão a transitoriedade das coisas, a efemeridade da
vida, a fugacidade do tempo. É considerada a principal voz feminina da poesia brasileira.
MOTIVO

 
Se desmorono ou se edifico,
Eu canto porque o instante existe
se permaneço ou se desfaço,
e a minha vida está completa.
- Não sei, não sei. Não sei se
Não sou alegre nem sou triste:
fico ou passo.
sou poeta.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Irmão das coisas fugidias, Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
não sinto gozo nem tormento.
- mais nada.
Atravesso noites e dias ***************************************
no vento.
Nesse poema Cecília Meireles reflete sobre sua função como poeta.

Principais obras: Viagem (1939), Vaga música (1942), Romanceiro da


Inconfidência (1953), Canções (1956), e Ou isto ou aquilo (1964).
VINICIUS DE MORAES
Vinicius de Moraes (19 de outubro de 1913 - 9 de julho de 1980) foi um diplomata, dramaturgo,
jornalista, poeta e compositor brasileiro. Carioca, conhecido como Poetinha, participou também
da MPB, desde a Bossa-Nova, até sua morte. Um dos mais populares poetas brasileiros.
Em 1933 publicou seu primeiro livro de poemas, integra-se ao grupo de poetas religiosos que se
formou no Rio de Janeiro entre as décadas de 1930 e 1940.

Características: neossimbolista / renovação caótica da década de 30 / tom religioso / sensualismo


erótico (prazer da carne X formação religiosa) / valorização do presente / felicidade X
infelicidade / inspiração poética: tristeza.

Algumas de suas principais obras são: Ariana, a mulher (1936), Poemas, sonetos e baladas
(1946), Orfeu da Conceição (teatro, 1956), Livros de sonetos (1957), Antologia poética (1960).
Os requintados sonetos em que Vinicius reflete sobre o amor são um dos pontos altos de sua produção.
Modernizando uma das mais conhecidas formas clássicas de composição poética, o poeta carioca se empenhou em
traduzir as contradições inerentes ao sentimento amoroso, bem como as suas dimensões sensual e carnal.

Vamos observar essas características no soneto a seguir:

Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento


Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento


E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

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