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PRÉ-VESTIBULAR
LIVRO DO PROFESSOR
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© 2006-2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do
detentor dos direitos autorais.
ISBN: 978-85-387-0573-4
CDD 370.71
Disciplinas Autores
Língua Portuguesa Francis Madeira da S. Sales
Márcio F. Santiago Calixto
Rita de Fátima Bezerra
Literatura Fábio D’Ávila
Danton Pedro dos Santos
Matemática Feres Fares
Haroldo Costa Silva Filho
Jayme Andrade Neto
Renato Caldas Madeira
Rodrigo Piracicaba Costa
Física Cleber Ribeiro
Marco Antonio Noronha
Vitor M. Saquette
Química Edson Costa P. da Cruz
Fernanda Barbosa
Biologia Fernando Pimentel
Hélio Apostolo
Rogério Fernandes
História Jefferson dos Santos da Silva
Marcelo Piccinini
Rafael F. de Menezes
Rogério de Sousa Gonçalves
Vanessa Silva
Geografia Duarte A. R. Vieira
Enilson F. Venâncio
Felipe Silveira de Souza
Fernando Mousquer
Projeto e
Produção
Desenvolvimento Pedagógico
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Modernismo
2. geração: prosa
a
Cândido Portinari.
Romance de 30 é uma denominação genérica
que se dá às obras escritas entre as décadas de 1930
a 1970, por uma geração de escritores provenientes
das classes oligárquicas rurais decadentes com o
fim da República Velha. Todas as obras dessa gera-
ção têm em comum um caráter fortemente crítico.
Tais textos mantêm semelhanças com a estética
realista do final do século XIX, agregando algumas
das liberdades conquistadas pelos modernistas de
1922. Entretanto, saliente-se que tais obras estão,
esteticamente, mais próximas do Realismo que do
Modernismo.
Por isso, preferiu-se aqui utilizar a nomenclatura
do crítico José Hildebrando Dacanal, por ser uma Café, de Candido Portinari.
classificação que não estabelece conflito com as ca-
racterísticas essenciais dessas obras literárias. No ano de 1945, fim da II Guerra Mundial,
Getúlio deixa o poder, é o fim do Estado Novo, que
Contexto histórico começara em 1937 e que, às custas de um regime
ditatorial altamente opressor e populista, que perse-
guiu incessantemente intelectuais e políticos de es-
A década de 1930 nem começa e já temos um
querda, ao mesmo tempo que promovia espetáculos
abalo econômico de proporções mundiais, que afeta
de fervoroso patriotismo para as camadas populares,
diversos setores da economia brasileira da época, é
moderniza a economia brasileira.
a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, no ano
de 1929. No Brasil e no mundo diversos empresários No contexto ocidental vê-se a instauração, em
entram em bancarrota, sem chances de recuperação. diversos países, de regimes totalitários. Na Itália,
Milhões de dólares somem das mãos dos poderosos observa-se o fascismo com Mussolini, na Alemanha,
como a água a escorrer pelo ralo. o nazismo com Hitler, na Espanha, o franquismo ou
fascismo com Franco e em Portugal, o salazarismo
Um ano depois, em nosso país, acontece a Re-
ou fascismo, com Salazar.
volução de 30, elevando ao poder o gaúcho Getúlio
Vargas, que se manteria na presidência por quinze O mundo passa por um período de extrema
anos seguidos. É o fim da República Velha e das conturbação social. Os artistas desse tempo não
oligarquias cafeeiras. poderiam fechar os olhos para tamanho caos e levam
à sua arte uma ideologia. A real democracia, os di-
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nasceu no ano de 1910, tencial da jovem Conceição, uma mulher culta e ca-
em Fortaleza. Viveu ridosa, com ideologias simpatizantes do socialismo.
com sua família entre Seu dilema está em entregar-se a seu amor, Vicente
a cidade e o campo. (jovem rústico proprietário de terras) ou seguir na
Aos quinze anos já sua luta engajada pela filantropia, dedicando-se às
colaborava em jornais. vítimas da seca. Necessariamente a escolha implica-
No ano de 1930, lança ria o abandono de uma das alternativas, pois eram
o livro O Quinze, obra dois mundos diferentes, o rural e o urbano. A jovem
que impressionou a acaba, mesmo tendo consciência de seu sofrimento
crítica da época e alçou e solidão, por continuar sua luta contra a miséria.
a escritora aos grandes
expoentes da literatu- O Quinze
ra brasileira. Filiou-se
Rachel de Queiroz.
no Partido Comunista Chegou a desolação da primeira fome. Vi-
Brasileiro, deixando-o nha seca e trágica, surgindo no fundo sujo dos
tempos depois, após divergência em relação à publi- sacos vazios, na descarnada nudez das latas
cação de outro livro seu. Torna-se, em 1977, a primeira raspadas.
mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras. – Mãezinha, cadê a janta?
Faleceu em 2003.
– Cala a boca, menino! Já vem!
Suas principais obras são: O Quinze (1930);
– Vem lá o quê!
João Miguel (1932); Caminho das Pedras (1937); As
Três Marias (1939); Dora, Doralina (1974); Memorial Angustiado, Chico Bento apalpava os bol-
de Maria Moura (1992). sos... nem um triste vintém azinhavrado...
Lembrou-se da rede nova, grande e de
listras que comprara em Quixadá por conta do
Características e temas vale de Vicente.
Na obra de Rachel de Queiroz verifica-se a Tinha sido para a viagem. Mas antes dormir
relação entre dois mundos: o rural e o urbano. no chão do que ver os meninos chorando, com
Centrando-se no primeiro ela demonstra a ligação a barriga roncando de fome.
que possuem através das pessoas que saem do Estavam já na estrada do Castro. E se ar-
universo rural, símbolo da imobilidade social, para rancharam debaixo dum velho pau-branco seco,
o universo urbano, representação das perspectivas nu e retorcido, a bem dizer ao tempo, porque
de melhoria de vida pela possibilidade de ascensão aqueles cepos apontados para o céu não tinham
social. Sua narrativa diferencia-se, da maioria das nada de abrigo.
demais da geração de 1930, por apresentar leves O vaqueiro saiu com a rede, resoluto:
traços de intimismo e uma visão feminista em seus
– Vou ali naquela bodega, ver se dou um
relatos.
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jeito...
Dentre todas suas obras destaca-se O Quinze.
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José Lins do Rego mostra personagens da zona
Voltou mais tarde, sem a rede, trazendo uma
açucareira, homens corajosos que seguem à risca seu
rapadura e um litro de farinha:
código de honra e mulheres dóceis e submissas, víti-
– Tá aqui. O homem disse que a rede estava mas da sociedade patriarcal do início do século XX.
velha, só deu isso, e ainda por cima se fazendo
Os seus três primeiros romances – Menino de
de compadecido.
Engenho, Doidinho e Banguê – são narrativas de forte
Faminta, a meninada avançou; e até Moci- cunho memorialista. Todas apresentam o mesmo
nha, sempre mais ou menos calada e indiferente, personagem, autobiográfico, Carlos Melo, que é o
estendeu a mão com avidez. narrador.
Após haver dito no prefácio de Usina (1936)
Cândido Portinari.
que encerraria seus romances sobre o ciclo da cana-
-de-açúcar, volta atrás e lança a obra-prima de sua
carreira, Fogo Morto.
Fogo Morto
Essa obra é uma narrativa dividida em três
partes, cada uma delas centrando-se em um dos
personagens principais, que interagem entre si. O
autor quis, assim, mostrar um painel abrangente da
sociedade açucareira da época, focalizando a história
Os Retirantes, de Cândido Portinari (1944). em três personagens que são, cada um, representan-
te de um estrato social.
Fogo Morto marca o fim do memorialismo nas
José Lins do Rego obras referentes ao ciclo da cana-de-açúcar e é nar-
rado em terceira pessoa.
José Lins do Rego Caval-
Domínio público.
do autor. Podemos dizer então que os romances de prospere rapidamente. Paulo Honório torna-se um
Graciliano Ramos são romances sociais introspecti- rico fazendeiro e homem politicamente influente da
vos ou introspectivo-sociais – por isso a preferência região. Além disso, constrói uma igreja e uma escola
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dentro de São Bernardo, convidando para professor comunicação, faz com que sejam subjugados pelos
Luís Padilha, que após a perda das terras começa a mais poderosos, representados na figura do Soldado
simpatizar com ideais comunistas. Amarelo e do Patrão.
Ciente de sua posição social, Paulo Honório A falta de comunicação faz também com que
conclui que estava na hora de ter um herdeiro. Acaba ocorra outro fenômeno: a equalização entre o homem
conhecendo Madalena, jovem professora da cidade, e o animal. O vocabulário dos meninos faz com que
com quem vem a se casar, selando um ótimo negócio se comuniquem por sons guturais, não muito mais
(para o fazendeiro as pessoas eram mercadorias). desenvolvidos dos que a cadela Baleia produz. Fato
Madalena e sua tia, D. Glória, com quem Ho- que também revela tal equalização é os meninos
nório não simpatiza, vão morar em sua fazenda. (seres humanos) não possuírem um nome e a cadela
Os problemas não demoram a acontecer. Paulo não ter um nome próprio. Fabiano e Sinhá Vitória, para
admite o tratamento que Madalena, voltada a ideais conseguirem complementar com as palavras suas
socialistas, dá aos trabalhadores. ideias, fazem gestos, caretas e movimentos de bei-
ço. Fabiano ao longo do romance diversas vezes se
Extremamente possessivo, o rico proprietário
considera um bicho.
começa a ter ciúmes de Madalena. A professora não
suporta mais tal situação. Certo dia Honório encontra Essa condição indefinida, desarmônica, des-
um trecho de uma carta de sua esposa a qual pensa conjuntada se revela também na estrutura da obra.
ser dirigida a um amante. Ele agride Madalena e tira Graciliano construiu um romance fragmentário, onde
satisfações, ela, completamente apática nada faz. Na todos os capítulos, com exceção de “Mudança” e
noite posterior Madalena se suicida e Paulo Honório “Fuga” – respectivamente primeiro e último – não
vem a descobrir que aquele papel encontrado por precisam ser lidos na ordem em que aparecem.
ele era uma das folhas de uma carta de sua esposa São capítulos mais ou menos independentes que
dirigida a ele. formam no fim da história um grande painel das
desgraças por que passam os retirantes. O cronista
Algum tempo depois, já com São Bernardo
Rubem Braga classificou Vidas Secas como romance
em crise econômica devido às mudanças sociais
desmontável.
ocorridas com a Revolução de 30, com os vizinhos
avançando as cercas das suas terras e os funcioná- Fator importante em Vidas Secas é a demons-
rios o pondo na justiça, Paulo Honório encontra-se tração de um fenômeno social acontecido ainda na
sozinho. Indiferente ao que acontece e à presença primeira metade do século XX: a passagem do Brasil
do filho que teve com Madalena, começa a escrever Rural para o Brasil Urbano. A transição de uma es-
sua história (é nessa situação que ele reconstitui a trutura econômico-social de imobilidade para uma
história de sua vida). estrutura econômico-social de mobilidade, a qual
Fabiano e sua família irão em busca no último capí-
No triste final da obra, o narrador-protagonista
tulo do romance.
conclui que se pudesse voltar no tempo acabaria
caindo nos mesmos erros, fracassaria novamente,
por ser um homem bruto. Enredo
como consequência a escassez comunicativa. Tal um desentendimeto, acaba sendo preso pelo Soldado
falta de capacidade, para a articulação de ideias e de Amarelo. Na cadeia vê que para pessoas como ele,
(bichos), a esperança não existe.
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Sinhá Vitória As contas
Sinhá Vitória sonha em ter uma cama de lastro Fabiano vai acertar as contas com o Patrão.
de couro (aqui se revela a mediocridade de seus so- Recebe menos que havia calculado, sente-se in-
nhos, tamanha a impossibilidade de realizar algum), justiçado, entretanto não reclama com medo de
como a de Seu Tomás da Bolandeira. ser despedido. Pensa em todas as injustiças que já
Lembra do papagaio que tiveram de comer sofreu. Lembra-se do Soldado Amarelo e do fiscal da
durante a seca. Considerava-o inútil, pois não fala- prefeitura que lhe queria cobrar imposto por vender
va (observe-se que o motivo do papagaio não falar um porco.
devia-se ao silêncio de seus donos).
Soldado Amarelo
O Menino mais Novo Um dia Fabiano estava caçando e encontra-se
Incrivelmente admirado com o talento de seu no meio do caminho com o Soldado Amarelo. Pensa
pai para domar animais, o menino mais novo tenta em vingança. O soldado está completamente ame-
imitá-lo jogando-se em cima de um bode, o qual o drontado. Porém Fabiano, incapaz de um gesto contra
derruba. a “autoridade”, cede espaço e ensina o caminho para
o soldado.
É humilhado e ridicularizado pelo irmão. Porém,
sua tristeza logo passa e a fascinação pelo pai volta. O mundo coberto de penas
Um dia seria como ele.
A chegada da seca é anunciada com a vinda
O Menino mais Velho das aves de arribação. Fabiano mata algumas des-
sas para salgar a carne e preservá-las durante a
O Menino mais Velho havia escutado uma
viagem obrigatória que fariam com a volta do tempo
benzedeira falar “inferno”. Curioso para saber o
adverso.
que significava tal palavra, pergunta à sua mãe.
Sinhá Vitória diz que é um lugar muito ruim. Não Fuga
conseguindo descrevê-lo para o filho, afasta-o com
A família de Fabiano deve seguir viagem. Ca-
um cascudo. Ele sai chorando e vai contar, com sua
minhando, vão nutrindo esperanças de uma vida
escassa linguagem, uma história para Baleia.
melhor. Planejam ir para uma cidade grande no Sul,
Inverno para lá viverem, envelhecerem e verem seus filhos
bem alimentados e na escola.
Com a chuva, o frio e a enchente, a família de Fa-
biano, à noite, tem de ficar em volta de uma fogueira.
Sinhá Vitória e Fabiano ficam conversando. O Menino Romance de exceção
mais Velho tenta entender o que o pai fala, porém,
como não consegue ver as expressões do rosto de De todos os romances de Graciliano Ramos, Vi
Fabiano, encoberto pela sombra, cansa-se e dorme. das Secas é o único que apresenta, por mais modesta
que pareça, uma visão de esperança, de mudança.
Festa Em romances como São Bernardo e Angústia –
Fabiano e a família vão para festa na cidade com romance que apresenta a degradação psicológica e
suas roupas novas. Os meninos impressionam-se a decadência econômica de Luís da Silva, narrador
com a quantidade de pessoas e também de coisas protagonista – o pessimismo é o que impera.
cujos nomes não sabiam. Sinhá Vitória sonha nova- Vidas Secas é um romance de exceção na obra
mente em ter sua cama de lastro de couro. Fabiano de Graciliano Ramos.
embebeda-se e dorme na calçada.
conto de Graciliano, e deu origem ao romance Vidas conhecido em todo o país. Nos anos de Estado Novo
Secas). o escritor viajou por toda a América Latina e Estados
Unidos. Nos anos de 1941 e 1942 viveu em Buenos
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Aires e Montevidéu. Em 1946, com a redemocrati- décadas de 1930 e 1970. Após essa época escreveu
zação, elegeu-se, por São Paulo, deputado estadual. romances de menor vigor e importância, que pouco
Firmou-se como o mais popular escritor brasileiro em acrescentam à produção anterior.
1958, com a publicação do romance Gabriela Cravo No romance proletário percebemos a adesão
e Canela, obra-marco da virada estética de Jorge de Jorge Amado ao comunismo. A utopia comu-
Amado. Faleceu em 2001. nista, por vezes, prejudica os relatos, tornando-os
romanticamente idealizados. Há o estabelecimento
Domínio público.
de uma relação maniqueísta entre os personagens,
sendo os integrantes das camadas marginais, vistos
como os homens eticamente superiores. Já os repre-
sentantes das classes abastadas são apresentados
como vilões.
Fator impressionante, desde as primeiras nar
rativas de Jorge Amado, é a capacidade que teve
de fixar os tipos das camadas marginais e semi-
marginais do povo baiano, como malandros, joga-
dores, vagabundos, prostitutas, meninos de rua,
marinheiros etc., formando um vasto panorama que
possibilita uma visão variada da cultura popular de
seu povo.
Exemplo definitivo dessa fase é o interessante
romance Capitães da Areia, em que vemos os meni-
nos de rua, os “capitães de areia”, sendo comple-
tamente idealizados. Eles acabam tendo destinos
surpreendentes, como o caso de Pirulito, que se torna
seminarista, Pedro Bala, o líder dos “capitães” vira
comandante de segurança de uma greve no porto e
Professor torna-se um pintor famoso.
Suas principais obras são: O País do Carnaval
(1931); Cacau (1933); Suor (1934); Jubiabá (1935); Mar No romance do ciclo do cacau, merece des-
Morto (1936); Capitães da Areia (1937); Terras do Sem taque Terras do Sem Fim, obra singular na carreira
Fim (1943); São Jorge do Ilhéus (1944); Seara Vermelha do escritor. Aqui Jorge Amado abandona a utopia
(1946); Os Subterrâneos da Liberdade (1954); Gabriela comunista para criar um romance de fundo histórico
Cravo e Canela (1958); Os Pastores da Noite (1964); revelador do mundo cacaueiro das primeiras décadas
As Mortes e o Triunfo de Rosalinda in Os Dez Manda do século XX (universo que o próprio escritor, em
mentos (1965); Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966); sua infância e juventude, viveu). Os personagens
Tenda dos Milagres (1970); Teresa Batista Cansada de deixam de ser idealizados e passam a representar os
Guerra (1972); Tieta do Agreste (1977); Farda, Fardão tipos verossímeis existentes na sociedade do cacau.
e Camisola (1979); O Menino Grapiúna (1982); Tocaia Coronéis audaciosos, advogados corruptos, jagun-
Grande – A Face Obscura (1984); O Sumiço da Santa ços assassinos, prostitutas, aventureiros, arrivistas
(1988); A Descoberta da América pelo Turcos (1994); formam um amplo panorama social.
Os Velhos Marinheiros; A Morte e a Morte de Quincas Em Terras do Sem Fim vê-se a disputa entre co-
Berro D’água; A Completa Verdade Sobre as Discu ronéis: a família Badaró, que tem como líder o Sinhô
tidas Aventuras do Comandante Vasco Moscoso de Badaró, que justifica seus atos violentos através de
Aragão, Capitão de Longo Curso (1961); O Compadre interpretações estapafúrdias da Bíblia; e o pérfido e
de Ogun (1995). inescrupuloso Horácio Silveira e seus aliados. Eles
lutam pela Mata de Sequeiro Grande, região ainda
sem dono e com fama de muito fértil para o plantio
Características e temas de cacau.
A obra de Jorge Amado pode ser dividida Juntamente com a guerra pela Mata do Sequeiro
em três fases, cada uma referente a uma temática Grande, o escritor insere os dramas pessoais vividos
definida. São elas: o romance proletário, o romance por cada personagem. Don’Ana, irmã mais nova da
do ciclo do cacau e o romance (lírico) de costumes. família Badaró, apaixona-se por um aventureiro. Es-
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Essa classificação se aplica adequadamente às obras ter, mulher sentimentalmente solitária e romântica,
mais relevantes do autor, aquelas escritas entre as esposa de Horácio, mantém um caso extraconjugal
com o advogado Virgílo, que acaba sendo morto a
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mando do coronel. Tais dramas proporcionam mo- o imigrante. Decide casar-se com ela e transformá-la
mentos líricos numa narrativa que revela a violência numa dama da sociedade. Gabriela sente-se presa
da região de São Jorge dos Ilhéus. nessa condição e acaba traindo-o, sendo flagrada na
No final da história, Horácio, invade a fazenda cama com o amante. Acontece a separação, porém, a
de Sinhô Badaró, que é gravemente ferido, pondo um jovem ainda amava o estrangeiro, Nacib sede e vol-
fim e estabelecendo um vencedor à disputa. tam a viver juntos, sem casamento, sem as amarras
das convenções (é a glorificação do amor livre).
Os cacaueiros plantados na Mata de Sequeiro
Grande cresceram em apenas cinco anos, veja o No plano sócio-histórico temos a disputa entre
porquê: o passado e o futuro, o atraso e o progresso, repre-
sentado pelas figuras do Coronel Ramiro, símbolo da
Nasciam frutos enormes, as árvores car velha oligarquia rural e Mundinho Falcão, exporta-
regadas desde os troncos até os mais altos dor arrojado e perspicaz, que busca melhoramentos
galhos, cocos de tamanho nunca visto antes, a para a região. O progresso vence, Mundinho Falcão
melhor terra do mundo para o plantio de cacau, triunfa. Os tempos mudaram, o porto é construído,
aquela terra adubada com sangue. o mundo se abre.
Outra obra muito importante dessa fase, símbo-
As outras obras do ciclo do cacau são Cacau e lo da malandragem baiana e brasileira é a novela A
São Jorge dos Ilhéus. Morte e a Morte de Quincas Berro D’água, inseridos
Quanto ao romance (lírico) de costumes originalmente no livro Os Velhos Marinheiros, junta-
observa-se um gosto pelo popular. As classes popu- mente com A Completa Verdade sobre as Discutidas
lares simbolizam o último reduto de liberdade do ser Aventuras do Comandante Vasco Moscoso de Aragão,
humano, o derradeiro local onde uma pessoa pode Capitão de Longo Curso.
ser autêntica, verdadeira, longe das hipócritas con- O exemplar funcionário público aposentado
venções estabelecidas pelas classes mais altas. Seus Joaquim Soares da Cunha, sem explicação, aban-
romances aqui trocam o protesto da primeira fase e a dona a família, trocando-a pelos bares do subúrbio
crítica mais veemente da segunda pelo humor, pelo e pelas casas de prostituição. Torna-se um legítimo
erotismo, pela alegria do povo. malandro. Tempos depois, morre, e sua família vem
recuperar o corpo do falecido para voltar a ser o
Divulgação Editora Record.
Erico Verissimo
Domínio público.
tempo depois vivem um pacato caso de amor. Entre- oligarquia rural falida, estudou no colégio Cruzeiro
tanto, o jeito espontâneo de Gabriela de lidar com os do Sul, em Porto Alegre. Impossibilitado de cursar
homens, que a elogiavam constantemente, incomoda Medicina, pela dificuldade financeira da família, se
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vê obrigado a retornar para Cruz Alta e ajudar na A obra conta ficcionalmente a história da forma-
administração da farmácia que haviam adquirido. Em ção do Rio Grande do Sul pastoril. Tem como tema a
suas mãos, a farmácia faliu. Em condições financei- ascensão e a queda política dos grandes estancieiros,
ras precárias, vem com a esposa para Porto Alegre a classe dirigente.
no final da década de 1930. Um ano mais tarde, co- O Tempo e o Vento é composto pelos romances
meça a trabalhar na Editora Globo como tradutor e O Continente, O Retrato e O Arquipélago. Juntos eles
revisor. Na década de 1940 vai aos Estados Unidos, contam duzentos anos da história do Rio Grande
onde leciona Literatura Brasileira na Universidade do Sul através dos integrantes das famílias Terra
da Califórnia. Ainda nessa década, estreia a trilogia e Cambará. Diversos personagens participam dos
O Tempo e o Vento, sua obra-prima. Erico Verissimo acontecimentos históricos mais relevantes ocorridos
dividiu com Jorge Amado a preferência do público no estado e no Brasil. O Capitão Rodrigo Cambará
leitor brasileiro. Faleceu em 1975. (O Continente), por exemplo, participa da Revolução
Suas principais obras são: primeira fase – Cla Farroupilha e o Doutor Rodrigo Cambará (O Arqui
rissa (1933); Caminhos Cruzados (1935); Música ao pélago), bisneto do capitão, torna-se um dos líderes
Longe (1935); Um Lugar ao Sol (1936); Olhai os Lírios da Revolução de 30.
do Campo (1938); Saga (1940); O Resto É Silêncio Essa obra apresenta simultaneamente uma vi-
(1943). Segunda fase – O Tempo e o Vento (1949- são épica – a saga – da formação de um povo e uma
1961); Noite (1954); O Senhor Embaixador (1965); O visão crítica contra a violência utilizada para a his-
Prisioneiro (1967); Incidente em Antares (1971); Solo tória tomar seu rumo. Dessa forma, ao mesmo tempo
de Clarineta (memórias, 1973). que a coletividade é apresentada como corajosa e
heroica, é revelado seu lado violento e sanguinário.
Erico Verissimo sempre foi um pacifista.
Características e temas A narrativa é em terceira pessoa, narrador onis-
A obra de Erico Verissimo pode ser dividida ciente, apenas em alguns capítulos de O Arquipélago
temos a narração em primeira pessoa. A linguagem,
em duas fases. A primeira fase relaciona-se à vida
apesar de se tratar de um tema com localização
dos integrantes da classe média gaúcha. São ro-
muito bem definida, não é regional. Erico evita ex-
mances predominantemente urbanos, com algumas
pressões regionais, utilizando-as somente às vezes,
exceções. Interessante nas obras da primeira fase é
geralmente na voz de personagens integrantes das
a repetição de personagens em diferentes romances.
camadas populares.
O casal Clarissa e Vasco estão presentes em Música
ao Longe, Um Lugar ao Sol e Saga. Noel e Fernanda O Tempo e o Vento tem uma quebra da lineari-
aparecem em Caminhos Cruzados, Um Lugar ao Sol e dade cronológica. O autor permeia capítulos de uma
Saga. Esses dois casais acabam travando amizade. data mais avançada entre os demais. Veja o que
acontece em O Continente. Tal romance abrange um
Erico Verissimo utilizou em dois de seus roman- período que se estende do ano de 1745 – época das
ces – Caminhos Cruzados e O Resto É silêncio – a formações jesuíticas – até 1895 – período da Revolução
técnica do contraponto, criada pelo escritor inglês Federalista. Porém, não apresenta os acontecimentos
Aldous Huxley, na obra O Contraponto, traduzida por cronologicamente lineares. Ele faz o contraponto
Erico. Tal técnica narrativa consiste na justaposição temporal. Como isso se dá? O Continente é dividido
de situações e personagens sem um centro narrati- em sete capítulos, o capítulo “O Sobrado”, cronolo-
vo, onde tudo deságue, convirja. O autor faz jogos gicamente o último, é fragmentado em sete partes,
temporais. Dessa forma, não há um foco narrativo inserindo-se entre os demais capítulos. A ordem fica
estabelecido, mostrando-se simultaneamente diver- assim: “O Sobrado I”, “A Fonte”, “O Sobrado II”, “Ana
sas faces de uma dada realidade. Terra”, “O Sobrado III”, e assim por diante.
A linguagem utilizada pelo escritor se manterá O Continente
praticamente a mesma durante toda sua carreira, ba- Essa obra abrange 150 anos de história do Rio
seada quase que somente no nível culto, evitando-se Grande do Sul. É o romance que revela o estabeleci-
coloquialismos e regionalismos. mento de fronteiras do estado e a formação identitá-
A segunda fase da obra de Erico Verissimo co- ria do povo. A construção dessa identidade se dá a
meça com a publicação dos romances que compõem partir das figuras mais representativas da narração,
a trilogia O Tempo e o Vento. O escritor volta-se para destacando-se Ana Terra e o Capitão Rodrigo Camba-
o passado gaúcho, passado que em parte viveu em rá. Os Terra são os personagens pacíficos, centrados,
sua infância, para a partir daí, recompor a história da aqueles que se estabelecem, que permanecem na
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formação do estado na perspectiva das elites rurais terra. Já os Cambará são os impulsivos, guerreiros,
sul-rio-grandenses. lutadores, aqueles que vão à guerra lutar pela fixação
da fronteira.
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O nome O Continente não é por acaso, continen- Incidente em Antares
te significa literalmente “aquilo que contém”, logo, Após o sucesso de O Tempo e o Vento, Erico
na obra tem um sentido de constituição, de formação, deixa um pouco de lado a temática rural com os ro-
de aglutinação de um povo. mances Senhor Embaixador e O prisioneiro. Porém,
O Retrato em 1971, retorna ao mundo rural com Incidente em
O Retrato centra-se na figura do jovem doutor Antares, seu último romance.
Rodrigo Cambará, filho de Licurgo Cambará, que Dessa vez, a narrativa assume um tom crítico,
lutou na Revolução Federalista. Rodrigo é um jovem irônico e bem-humorado. Na primeira parte, temos
idealista, recém-formado na Faculdade de Medicina uma espécie de crônica histórica da cidade de An-
de Porto Alegre. tares e as disputas entre as duas famílias de poder,
Nesse romance temos demonstrada a transfor- os Campolargo e os Vacariano. Na segunda parte,
mação acontecida nas elites rurais gaúchas. Rodrigo temos a greve dos coveiros. Em consequência disso,
é um homem sofisticado proveniente de um meio sete mortos ficam insepultos. Eles retornam à cidade
rústico. É o caudilho ilustrado. e em praça pública revelam todos os “podres” dos
poderosos. A razão de serem defuntos os acusa-
O Retrato narra fatos acontecidos no período
dores deve-se ao fato de que, como estão mortos,
entre 1909 e 1915 e significa a fixação, a definição
não devem mais nada a ninguém, não sofreriam as
de uma estrutura social.
consequências do que dissessem.
O Arquipélago
Na verdade essa obra critica veementemente a
O Arquipélago abrange um período que vai de ditadura no Brasil. Podemos classificar tal obra como
1922 a 1945, centrando-se no período da Era Vargas romance político.
(1930-1945). O doutor Rodrigo Cambará, antes um
homem correto, torna-se um hipócrita, deixando-se
ser corrompido pelo Estado Novo, de ideologia con-
trária a seus antigos valores.
O romance tem também como protagonista 1. (FCC-SP) A obra de Jorge Amado, em sua fase inicial,
o escritor Floriano Cambará (filho de Rodrigo), aborda o problema da:
alter ego de Erico Verissimo. Floriano percebendo a
fragmentação de sua família em ilhas (que formam a) seca periódica que devasta a região do Piauí.
um arquipélago), busca através da arte recuperar o b) decadência da aristocracia da cana-de-açúcar
passado, como único meio de manter viva a memó- diante do aparecimento das usinas.
ria dos Terra-Cambará. Para isso decide escrever
um romance. No último parágrafo descobrimos que c) luta pela posse da terra na região cacaueira de
esse romance é O Tempo e o Vento, pois o parágrafo Ilhéus.
inicial de O Continente é idêntico ao último de O d) vida nas salinas, que destrói paulatinamente os tra-
Arquipélago (parágrafo este que está sendo escrito balhadores.
por Floriano).
e) aristocracia cafeeira, que se vê à beira da falência
Era uma noite fria de lua cheia. As estrelas com a crise de 19.
cintilavam sobre a cidade de Santa Fé, que
de tão quieta e deserta parecia um cemitério `` Solução: C
abandonado. O tema pela posse de terras na região cacaueira de Ilhéus
é abordado no romance Terras do Sem Fim.
Assim o autor revela-nos o sentido cíclico da
obra, leia a epígrafe, retirada da Bíblia, de O Tempo
e o Vento.
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do descansar os olhos em horizontes que fossem seus.
Rio Grande do Sul estabelecer fronteiras de língua
Tudo o que tinha era para comprar terras e mais terras.
espanhola, que exerceram forte influência na sua
herdara o Santa Rosa pequeno, e fizera dele um reino,
região.
rompendo os seus limites pela compra de propriedades
Responda. anexas. Acompanhava o Paraíba com várzeas extensas
a) Quais são os países que fazem fronteira com o e entrava caatinga adentro.”
estado mais ao sul do Brasil?
Assinale a alternativa correta correspondente ao texto
b) Com qual tipo de variação linguística o texto acima.
está lidando? a) Trata-se do romance A Bagaceira, de José Américo
de Almeida, no qual o narrador retrata a vida num
`` Solução: grande engenho de açúcar num período de seca.
Uruguai e Argentina. b) O trecho acima é do romance Vidas Secas, de Gra-
Variação Diatópica. ciliano Ramos; o narrador é Fabiano, um retirante
que, junto com a família, procura sua sobrevivência
e reflete sua infância.
c) Trata-se de um trecho do romance Menino de En-
genho, de José Lins do Rego; o narrador é Carlos
de Melo, que relembra sua infância vivida no enge-
1. (PUC-Rio) Na obra de José Lins do Rego, o memorialis- nho do avô.
mo da infância e da adolescência é apresentado numa
linguagem de: d) O autor desse trecho é Erico Veríssimo, que narra,
em Solo de Clarineta, suas memórias, lembrando
a) forte e poética oralidade. sua menina junto ao avô.
b) límpida e perfeita correção gramatical. e) O trecho acima pertence ao romance O Quinze, de
c) pesada e imitativa fala regional. Rachel de Queiroz, no qual o narrador descreve o
conflito vivido pela personagem Conceição, dividi-
d) fiel e disciplinada sintaxe tradicional. da entre o amor por um proprietário rural e a luta
e) original e reinventada expressão prosaica. contra a miséria dos sertanejos.
2. (FCC) Em 1928, a publicação de uma obra de José 5. (Fatec) O trecho a seguir foi extraído da terceira parte
Américo de Almeida abre caminhos para o romance do romance Fogo Morto, de José Lins do Rego.
regionalista, que o Modernismo iria desenvolver larga- “Nunca mais que cabriolé de seu Lula enchesse as
mente. Trata-se de: estradas com a música de suas campainhas. A família do
a) A Bagaceira. Santa Fé não ia mais à missa aos domingos. A princípio
correra que era doença no velho. Depois inventaram que
b) Luzia-homem. o carro não podia rodar, de podre que estava. Os cavalos
c) Porto Calendário. não aguentavam mais com o peso do corpo.”
d) Cangaceiros. Sobre essa obra, podemos afirmar que:
a) o romance é o retrato da desintegração de seres
e) Caetés.
humanos, da decadência de uma sociedade na
3. (UEL) A primeira manifestação da moderna literatura sub-região açucareira do nordeste brasileiro. O
regionalista brasileira representa-se na obra de ___ com encerramento das atividades do engenho Santa fé
o romance ___, que inaugura a prosa modernista. representa o fim de uma estrutura econômica.
a) Mário de Andrade – Macunaíma . b) o romance chama-se Fogo Morto porque aborda o
problema das queimadas nas plantações de cana
b) José Lins do Rego – Menino de Engenho.
de açúcar.
c) Rachel de Queiroz – O Quinze.
c) Fogo Morto enfoca viagem de uma família nordesti-
d) José Américo de Almeida – A Bagaceira. na que foge da seca em busca de um lugar melhor
para sobreviver.
e) Jorge Amado – Mar Morto.
d) em Fogo Morto, José Lins do Rego afasta-se do
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3. D
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