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L C

ENTRE TEXTOS

Língua portuguesa para


vestibular medicina
4ª edição • São Paulo
2018

4
LINGUAGENS, CÓDIGOS
e suas t e c n o l o g i a s
tu ra e In te rp re ta ç ã o d e Texto
Gra mática, Litera ira
Almeira Go nçalves e Pércio Luis Ferre
Lucas Limberti, Murilo de
© Hexag Editora, 2017
Direitos desta edição: Hexag Editora Ltda. São Paulo, 2015
Todos os direitos reservados.

Autores
Lucas Limberti
Murilo de Almeida Gonçalves
Pércio Luis Ferreira
Diretor geral
Herlan Fellini
Coordenador geral
Raphael de Souza Motta
Responsabilidade editorial
Hexag Editora
Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista
Revisor
Rodrigo Luis Martins da Silva
Pesquisa iconográfica
Eder Carlos Bastos de Lima
Programação visual
Hexag Editora

Editoração eletrônica
Claudio Guilherme da Silva
Eder Carlos Bastos de Lima
Fernando Cruz Botelho de Souza
Matheus Franco da Silveira
Raphael Campos Silva
Raphael de Souza Motta

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)

Impressão e acabamento
Meta Solutions

ISBN: 978-85-9542-105-9

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra está sendo usado apenas para fins didáticos, não
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CARO ALUNO

O Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Desde 2010, são centenas de aprovações nos princi-
pais vestibulares de Medicina no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e em todo Brasil. O material didático foi, mais uma vez, aperfeiçoado e seu conteúdo
enriquecido, inclusive com questões recentes dos relevantes vestibulares de 2018.
Esteticamente, houve uma melhora em seu layout, na definição das imagens, criação de novas seções e também na utilização de cores.
No total, são 105 livros e 6 cadernos de aula.

O conteúdo dos livros foi organizado por aulas. Cada assunto contém uma rica teoria, que contempla de forma objetiva e clara o que o aluno

realmente necessita assimilar para o seu êxito nos principais vestibulares do Brasil e Enem, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar.

As aulas estão divididas da seguinte forma:


INFOGRÁFICO
Esta seção, de forma simples, resumida e dinâmica, foi desenvolvida para indicação dos assuntos mais abordados nos principais vestibulares,
voltados para o curso de medicina em todo território nacional.
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos, de cada coleção, tem como principal objetivo apoiar o estudante na resolução de questões
propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, completos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam
as explicações dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados, e compõem um conjunto abrangente de
informações para o estudante, que vai dedicar-se à rotina intensa de estudos.
TEORIA NA PRÁTICA (EXEMPLOS)
Desenvolvida pensando nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Nesses
compilados nos deparamos com modelos de exercícios resolvidos e comentados, aquilo que parece abstrato e de difícil compreensão torna-se mais aces-
sível e de bom entendimento aos olhos do estudante.
Através dessas resoluções é possível rever a qualquer momento as explicações dadas em sala de aula.
INTERATIVIDADE
Trata-se do complemento às aulas abordadas. É desenvolvida uma seção que oferece uma cuidadosa seleção de conteúdos para complementar
o repertório do estudante. É dividido em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas e livros para o aprendizado do
aluno. Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados. Há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até
sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, sendo conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica. Tudo é selecionado
com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso estudante.
INTERDISCIPLINARIDADE
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é elaborada, a cada aula, a seção interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares
de hoje não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada matéria.
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como biologia e
química, história e geografia, biologia e matemática, entre outros. Neste espaço, o estudante inicia o contato com essa realidade por meio de explicações
que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o estudante
consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas sim, fazendo parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
APLICAÇÃO NO COTIDIANO
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana no desenvolver do dia a dia, dificultando
o contato daqueles que tentam apreender determinados conceitos e aprofundamento dos assuntos, para além da superficial memorização ou “decorebas”
de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios de aprendizagem com os conteúdos, foi desenvolvida a seção "Aplicação no Cotidiano". Como o próprio
nome já aponta, há uma preocupação em levar aos nossos estudantes a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo que eles têm
contato em seu dia a dia.
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
Elaborada pensando no Enem, e sabendo que a prova tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, o estudante deve
conhecer as diversas habilidades e competências abordadas nas provas. Os livros da “Coleção vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas
dessas habilidades. No compilado “Construção de Habilidades”, há o modelo de exercício que não é apenas resolvido, mas sim feito uma análise expo-
sitiva, descrevendo passo a passo e analisado à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurá-las na sua prática, identificá-las na prova e resolver cada questão com tranquilidade.
ESTRUTURA CONCEITUAL
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Geramos aos estudantes o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um
deles é a estrutura conceitual, para aqueles que aprendem visualmente a entender os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas
mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos
principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita sua organização de estudos e até a resolução dos exercícios.
A edição 2018 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo ao aluno um material moderno e completo, um grande aliado para
o seu sucesso nos vestibulares mais concorridos de Medicina.

Herlan Fellini
ENTRE TEXTOS
GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
Aulas 27 e 28: Termos essenciais da oração 7
Aulas 29 e 30: Termos integrantes da oração 39
Aulas 31 e 32: Termos acessórios da oração 67
Aulas 33 e 34: Leitura de imagens 105

LITERATURA
Aula 14: Realismo no Brasil 153
Aula 15: Naturalismo no Brasil 205
Aula 16: Parnasianismo 245
Aula 17: Simbolismo 275
INFOGRÁFICO:
Abordagem da GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
nos principais vestibulares.

FUVEST - Todos os temas do material têm alta incidência de aparição no vestibular, com des-
taque para os termos essenciais e leitura de imagens.

ADE DE ME

UNICAMP - Todos os temas do material têm alta in-


LD D
U

IC
FAC

INA

cidência de aparição no vestibular, com destaque para


1963
BO
T U C AT U

os termos essenciais e leitura de imagens.

UNESP - Todos os temas do material têm


alta incidência de aparição no vestibular,
UNIFESP - Todos os temas do material têm alta in-
com destaque para os termos essenciais,
cidência de aparição no vestibular.
termos integrantes e leitura de imagens.

ENEM / UFRJ - Dentre os temas deste material, há, no Enem, maior incidência do
tema leitura de imagens.

UERJ - Todos os temas do material têm alta incidência de aparição no ves-


tibular, com destaque para os termos essenciais e leitura de imagens.
Aulas 27 e 28

Termos essenciais da oração


Competências 1, 6 e 8
Habilidades 1, 3, 4, 18, 25 e 27
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Termos essenciais da oração: sujeito e predicado
Sujeito é o termo que concorda, em número e pessoa, com o verbo da oração. Em grande número de casos, o
sujeito da oração é também o agente da ação expressa pelo verbo, mas essa não deve ser a base de definição
conceitual, uma vez que há orações para as quais não se pode atribuir ao sujeito essa função de agente.

Exemplos:
Ele viajou para o interior de São Paulo.
(viajou está no singular para concordar com ele. O conteúdo do verbo expressa uma ação.)

Eles viajaram para o interior de São Paulo.


(viajaram está no plural para concordar com eles. O conteúdo do verbo expressa uma ação.)

Ele está no interior de São Paulo.


(está está no singular para concordar com ele; no entanto, o conteúdo do verbo não expressa uma ação.)

Eles vivem no interior de São Paulo.


(vivem está no plural para concordar com eles; no entanto, o conteúdo do verbo não expressa uma ação.)

Observação: as gramáticas normativas determinam o sujeito e o predicado como termos essenciais; no


entanto, deve-se observar que o termo constante em toda oração é o verbo.

Exemplos:
Choveu o dia todo.
(verbo que indica um fenômeno natural.)

Chorou.
(verbo que indica uma ação e permite a possível identificação do sujeito através da desinência.)

Classificação do sujeito
O sujeito das orações pode ser determinado ou indeterminado.
1. Sujeito determinado é aquele que pode ser identificado com precisão a partir da concordância verbal. Ele
pode ser:
a) Simples, se apresentar apenas um núcleo (a palavra principal do sujeito, que encerra essencialmente
a significação) ligado diretamente ao verbo, estabelecendo uma relação de concordância com ele.
Exemplo: As pessoas saíram pelas ruas em protesto.
Observação: O sujeito é simples, se o verbo da oração referir-se a apenas um elemento, seja ele um
substantivo (singular ou plural), um pronome ou um numeral. Não confundir sujeito simples com a
noção de singular.
Exemplos:
O segundo andar possui sala de reunião.
Todos correram em direção ao ônibus.
b) Composto, se apresentar dois ou mais núcleos ligados diretamente ao verbo, estabelecendo uma rela-
ção de concordância com ele.
Exemplo: Brigadeiro e caipirinha são especialidades tipicamente brasileiras.

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2. Sujeito indeterminado: é aquele que, embora 3. Orações sem sujeito são formadas apenas pelo
existindo, não é possível determiná-lo nem pelo predicado e articulam-se a partir de um verbo
contexto, nem pela terminação do verbo. Há três impessoal. Por isso se diz que o sujeito é ine-
maneiras diferentes de indeterminar o sujeito de xistente. Observe a estrutura destas orações.
uma oração:
Exemplos:
a) com verbo na terceira pessoa do plu-
Havia borboletas no jardim.
ral, sem que ele se refira a nenhum termo
identificado anteriormente (nem em outra Nevou muito este ano em Santa Catarina.

oração). É possível constatar que essas orações não têm


Exemplos: sujeito. Constituem a enunciação pura e absolu-
Proibiram a entrada de menores. ta de um fato mediante o predicado apenas. O
Estão transferindo as crianças de lugar. conteúdo verbal não é atribuído a nenhum ser:
a mensagem centra-se no processo verbal. Os
b) com verbo na voz ativa e na terceira
casos mais comuns de orações sem sujeito da
pessoa do singular seguido do prono-
língua portuguesa ocorrem com:
me se, pronome esse que atua como índi-
ce de indeterminação do sujeito. Essa a) verbos que exprimem fenômenos da
construção ocorre com verbos que não apre- natureza: nevar, chover, ventar, gear, trove-
sentam complemento direto (verbos intran- jar, relampejar, amanhecer, anoitecer etc.
sitivos, transitivos indiretos e de ligação). O
Exemplos:
verbo obrigatoriamente fica na terceira pes-
Ventou muito no inverno passado.
soa do singular.
Amanheceu antes do horário previsto.
Exemplos:
Observação: Se usados na forma figurada,
Vive-se melhor após o avanço da tecnolo-
esses verbos podem apresentar sujeito deter-
gia. (verbo intransitivo)
minado.
Precisa-se de vendedores com prática.
(verbo transitivo indireto) Exemplos:
Choviam canivetes quando eles brigavam.
No dia da prova, sempre se fica nervoso.
(canivetes é o sujeito)
(verbo de ligação)
Já amanheci cansado. (eu é o sujeito)

c) com o verbo no infinitivo impessoal:


b) verbos ser, estar, fazer e haver, se usa-
Exemplos: dos para indicar uma ideia de tempo
Era penoso estudar Direito e Economia, si- ou fenômenos meteorológicos:
multaneamente.
É bom assistir a filmes antigos. Ser
Exemplos:
Importante: Se o verbo estiver na terceira É de noite. (período do dia)
pessoa do plural e fizer referência a elemen- Eram duas horas da manhã. (hora)
tos explícitos em orações anteriores ou pos-
Observação: Ao indicar tempo, o verbo ser
teriores, o sujeito é determinado.
varia de acordo com a expressão numérica
Exemplo: Ana e Gustavo foram a Miami. que o acompanha.
Compraram muitas roupas. (Nesse caso, o Exemplos:
sujeito de compraram é Ana e Gustavo. Ocor- É uma hora.
re sujeito oculto na segunda oração). São nove horas.

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Ao indicar data, o verbo ser pode ficar no
singular, subentendendo-se à palavra dia, ou
Predicado
pode ficar no plural, concordando com o nú- É o termo da oração que faz uma afirmação sobre o
mero de dias. sujeito; diz-se, portanto, que se trata de uma predicação
Exemplo: Hoje é, ou são, 15 de março. (data) sobre o sujeito. No caso das orações sem sujeito, a pre-
dicação é genérica. Tudo o que constitui as orações, à
Estar exceção do sujeito e do vocativo, faz parte do predicado.
Exemplos: Os predicados devem conter necessaria-
Está tarde. (tempo) mente um verbo, mas o núcleo do predicado (termo
Está muito quente. (temperatura) que detém o sentido propriamente) pode ser um verbo,
um nome ou a junção dos dois.
Fazer
Exemplos:
Exemplos:
Os dados mostram um aumento no número de
Faz dois anos que não o vejo. (tempo decor-
ciclovias. (sujeito: os dados) – (predicado: mos-
rido)
tram um aumento no número de ciclovias.
Fez 40 °C ontem. (temperatura)
O verbo é o núcleo do predicado por indicar o
conteúdo da predicação sobre o sujeito.)
Haver
Exemplos:
Os dados foram coletados no início do ano.
Não a vejo há anos. (tempo decorrido) (sujeito: os dados) – (predicado: foram coleta-
Havia muitos alunos naquela aula. (haver dos no início do ano. O núcleo é coletados,
com significado de existir) palavra que guarda a significação do predicado
ATENÇÃO! sobre o que está informado acerca do sujeito.)
Os verbos impessoais devem ser usados sem-
O instituto considerou irregular a coleta dos
pre na terceira pessoa do singular. Cuidado
dados. (sujeito: o instituto) – (predicado: consi-
com os verbos fazer e haver usados impessoal- derou irregular a coleta dos dados. Há dois
mente: não se deve empregá-los no plural. núcleos nesse predicado, uma vez que considerou
Exemplos: predica sobre o sujeito, mas irregular predica so-
bre a coleta dos dados. Portanto, há uma ação
Faz muitos anos que nos conhecemos.
direcionada ao sujeito, mas também há uma in-
Deve fazer dias quentes na Bahia.
formação sobre o que é alvo da ação. Vamos de-
Há muitas pessoas interessadas na vaga.
talhar como essa estrutura funciona. Nesse predi-
Houve muitas pessoas interessadas na vaga.
cado há um núcleo verbal e um núcleo nominal.)
Observação: O verbo existir é pessoal, por-
tanto, admite sujeito que concorda com ele. Tipos de predicado
Exemplos:
A partir de estruturas que se assemelham às dos exem-
Existiram grandes mestres da Arquitetura.
plos anteriores, podem-se classificar os predicados em
Existe uma biodiversidade muito rica na Ama-
três categorias:
zônia.
1. Predicado verbal tem, como núcleo, uma for-
Grandes mestres é o sujeito da primeira ora- ma verbal.
ção e uma biodiversidade muito rica na a) A estudante gosta de viajar nas férias.
Amazônia é sujeito da segunda, ambos do tipo Predicado: gosta de viajar nas férias
determinado e simples. Núcleo: gosta

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b) Todo domingo à tarde ele vai ao cinema.
Predicado: vai ao cinema
Núcleo: vai

2. Predicado nominal tem, como núcleo, uma forma nominal (adjetivo ou locução adjetiva).
Os verbos que ocorrem nos predicados nominais são sempre de ligação.
Importante: Os termos que constituem o núcleo dos predicados nominais denominam-se predica-
tivos do sujeito.

Exemplo: O filme foi emocionante.


Predicado: foi emocionante
Núcleo: emocionante (adjetivo que dá informação sobre o substantivo sujeito. Sintaticamente, esse adjeti-
vo recebe a função de predicativo do sujeito).

Exemplo: Ficaram animados com a programação para o final de semana.


Predicado: ficaram animados com a programação para o final de semana.
Núcleo: animados (adjetivo que dá informação sobre o sujeito oculto. Sintaticamente, este adjetivo recebe
a função de predicativo do sujeito).

3. Predicado verbo-nominal tem dois núcleos: um núcleo constituído de uma forma verbal e um núcleo
constituído de uma forma nominal.

Exemplo: Os alunos chegaram cansados.


Predicado: chegaram cansados
Núcleo verbal: chegaram
Núcleo nominal: cansados

Exemplo: Eles o julgaram responsável.


Predicado: o julgaram responsável
Núcleo verbal: julgaram
Núcleo nominal: responsável

Predicativo do sujeito e predicativo do objeto


É importante sistematizar a definição de predicativo, função sintática relacionada à ocorrência, nas orações, de
predicados nominais ou verbo-nominais. Denomina-se predicativo a palavra ou locução de natureza nominal que
constitui o núcleo de um predicado nominal ou o núcleo de um predicado verbo-nominal. O predicativo pode se
referir ao sujeito da oração – predicativo do sujeito –, no caso dos predicados nominais, ou ao objeto da oração –
predicativo do objeto –, no caso dos predicados verbo-nominais.
Exemplos:
Ana saiu enfurecida.
Predicado: saiu enfurecida
Núcleo: enfurecida (predicativo do sujeito)

Eles julgaram o criminoso culpado.


Predicado: julgaram o criminoso culpado
Núcleo verbal: julgaram
Núcleo nominal: culpado (predicativo do objeto)

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INTERATIVI
A DADE

ACESSAR

Sites “Critérios de identificação e conceituação da categoria gramatical de sujeito.”

www.ufjf.br/ufjf/?s=cleber+ata%C3%ADde

C
pib
load
rPa14
geNumber
Estrutura Conceitual
SINTAXE

PERÍODO SIMPLES

TERMOS TERMOS TERMOS


ESSENCIAIS INTEGRANTES ACESSÓRIOS

- Sujeito
- Predicato

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E.O. Aprendizagem
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

1. (Ifsc 2017) Considerando a tirinha, assinale Já pensou naquele país da Serra da Barriga?
(V) para o que for verdadeiro e (F) para o Sei que talvez não,
que for falso. É difícil imaginar uma terra (...)
Onde não fosse possível ver
( ) A fala da personagem no segundo quadri- 1
Criancinhas
nho pode ser reescrita da seguinte manei-
De dez, oito, seis anos
ra: “É isso mesmo. Ficarei aqui sentado
enquanto espero a vida me dar algo”, sem Voltando às quatro da manhã
que seu sentido seja modificado. Depois de vender chicletes e o último resquí-
( ) Em “Será que o mundo está assim porque cio de dignidade
está cheio de Miguelitos?”, a palavra em Nos cruzamentos da cidade.
destaque foi empregada em sentido figu- (...)
rado. Por menos que conte a história
( ) Em “Não estou entendendo, Miguelito.” Não te esqueço meu povo
O termo em destaque é o sujeito.
2
Se Palmares não vive mais
( ) No terceiro quadrinho, em “Será que o Faremos Palmares de novo.”
mundo está assim porque está cheio de LIMEIRA, José Carlos; SEMOG, Éle. Atabaques.
Miguelitos?”, há um erro de grafia na Rio de Janeiro: Ed. dos Autores, 1983.
palavra em destaque, pois ela está sendo
utilizada em uma frase interrogativa e 2. (Ifba 2017) A análise dos versos: “Se Pal-
deveria ser grafada como “por que”. mares não vive mais/ Faremos Palmares de
novo.” (ref. 2) permite afirmar corretamen-
Marque a alternativa que contém a sequência te que:
CORRETA das respostas, de cima para baixo. a) na segunda oração, a ausência de um sujeito
a) V – V – F – F.
explícito indica a indeterminação do mesmo.
b) V – F – V – F.
b) a primeira oração exerce função de sujeito
c) V – F – F – V.
em relação à segunda.
d) F – V – F – V.
c) tanto na primeira quanto na segunda ora-
e) F – V – V – V.
ção, o sujeito é composto.
d) o termo “faremos” sugere que há um sujeito
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
implícito na oração.
Leia o fragmento, abaixo, extraído do poema e) o sujeito oculto na segunda oração é uma
“Quilombos”, do poeta baiano José Carlos palavra substantivada.
Limeira.

“Te vejo meu povo feliz


Teu sonho querendo sentir
Se Palmares ainda vivesse
Pra Palmares teria que ir

Você já pensou se Domingos Jorge Velho e


sua malta
Não houvessem tido tanta sorte?

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Leia a charge abaixo para responder à(s) questão(ões) a seguir.

3. (Ifpe 2017) No que diz respeito à forma verbal “roubaram”, no segundo balão da charge, podemos
dizer que
a) possui um sujeito indeterminado, por isso, o verbo está na terceira pessoa do plural.
b) faz parte de uma oração sem sujeito, uma vez que o verbo é impessoal.
c) tem como núcleo de seu sujeito simples a palavra “giz”.
d) possui sujeito simples que, no caso, é o termo “professora”.
e) seu sujeito é a palavra “ética”, em negrito no balão anterior.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Leia o cartum e responda à(s) questão(ões).

4. (Cps 2017) Releia os períodos retirados do cartum.


“[...] quando acordei e descobri que meu computador estava sem conexão com a internet [...]”
Ao analisarmos esses períodos, percebemos que o sujeito correspondente às formas verbais desta-
cadas é oculto (ou desinencial), pois
a) possui um verbo impessoal.
b) possui mais de um núcleo exposto na frase.
c) possui somente um núcleo exposto na frase.
d) os verbos apresentam-se na 3ª pessoa do plural.
e) é indicado pela desinência verbal.

18
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO geral, são migrantes que deixaram suas ca-
sas em busca de melhores condições de vida
TRABALHO ESCRAVO É AINDA e de sustento para as suas famílias. Saem de
UMA REALIDADE NO BRASIL suas cidades atraídos por falsas promessas
de aliciadores ou migram forçadamente por
Esse tipo de violação não prende mais o in-
uma série de motivos, que podem incluir a
divíduo a correntes, mas acomete a liberda-
falta de opção econômica, guerras e até per-
de do trabalhador e o mantém submisso a
seguições políticas. No Brasil, os trabalhado-
uma situação de exploração.
res provêm de diversos estados das regiões
O trabalho escravo ainda é uma violação de Centro-Oeste, Nordeste e Norte, mas também
direitos humanos que persiste no Brasil. A podem ser migrantes internacionais de paí-
sua existência foi assumida pelo governo fe- ses latino-americanos – como a Bolívia, Pa-
deral perante o país e a Organização Inter- raguai e Peru –, africanos, além do Haiti e do
nacional do Trabalho (OIT) em 1995, o que Oriente Médio. Essas pessoas podem se des-
fez com que se tornasse uma das primeiras tinar à região de expansão agrícola ou aos
nações do mundo a reconhecer oficialmente centros urbanos à procura de oportunidades
a escravidão contemporânea em seu territó- de trabalho.
rio. Daquele ano até 2016, mais de 50 mil Tradicionalmente, o trabalho escravo é em-
trabalhadores foram libertados de situações pregado em atividades econômicas na zona
análogas à de escravidão em atividades eco- rural, como a pecuária, a produção de carvão
nômicas nas zonas rural e urbana. e os cultivos de cana-de-açúcar, soja e algo-
Mas o que é trabalho escravo contemporâ- dão. Nos últimos anos, essa situação também
é verificada em centros urbanos, principal-
neo? O trabalho escravo não é somente uma
mente na construção civil e na confecção
violação trabalhista, tampouco se trata da-
têxtil.
quela escravidão dos períodos colonial e
No Brasil, 95% das pessoas submetidas ao
imperial do Brasil. Essa violação de direitos
trabalho escravo rural são homens. Em geral,
humanos não prende mais o indivíduo a cor-
as atividades para as quais esse tipo de mão
rentes, mas compreende outros mecanismos,
de obra é utilizado exigem força física, por
que acometem a dignidade e a liberdade do
isso os aliciadores buscam principalmente
trabalhador e o mantêm submisso a uma si-
homens e jovens. Os dados oficiais do Pro-
tuação extrema de exploração.
grama Seguro-Desemprego de 2003 a 2014
Qualquer um dos quatro elementos abaixo é
indicam que, entre os trabalhadores liberta-
suficiente para configurar uma situação de dos, 72,1% são analfabetos ou não concluí-
trabalho escravo: ram o quinto ano do Ensino Fundamental.
TRABALHO FORÇADO: o indivíduo é obrigado Muitas vezes, o trabalhador submetido ao
a se submeter a condições de trabalho em trabalho escravo consegue fugir da situação
que é explorado, sem possibilidade de deixar de exploração, colocando a sua vida em ris-
o local seja por causa de dívidas, seja por co. Quando tem sucesso em sua empreitada,
ameaça e violências física ou psicológica. recorre a órgãos governamentais ou organi-
JORNADA EXAUSTIVA: expediente penoso zações da sociedade civil para denunciar a
que vai além de horas extras e coloca em ris- violação que sofreu. Diante disso, o governo
co a integridade física do trabalhador, já que brasileiro tem centrado seus esforços para o
o intervalo entre as jornadas é insuficien- combate desse crime, especialmente na fis-
te para a reposição de energia. Há casos em calização de propriedades e na repressão por
que o descanso semanal não é respeitado. meio da punição administrativa e econômica
Assim, o trabalhador também fica impedido de empregadores flagrados utilizando mão
de manter vida social e familiar. de obra escrava.
SERVIDÃO POR DÍVIDA: fabricação de dívidas Enquanto isso, o trabalhador libertado ten-
ilegais referentes a gastos com transporte, de a retornar à sua cidade de origem, onde
alimentação, aluguel e ferramentas de tra- as condições que o levaram a migrar perma-
balho. Esses itens são cobrados de forma necem as mesmas. Diante dessa situação, o
abusiva e descontados do salário do traba- indivíduo pode novamente ser aliciado para
lhador, que permanece sempre devendo ao outro trabalho em que será explorado, per-
empregador. petuando uma dinâmica que chamamos de
CONDIÇÕES DEGRADANTES: um conjunto de “Ciclo do Trabalho Escravo”.
elementos irregulares que caracterizam a Para que esse ciclo vicioso seja rompido,
precariedade do trabalho e das condições de são necessárias ações que incidam na vida
vida sob a qual o trabalhador é submetido, do trabalhador para além do âmbito da re-
atentando contra a sua dignidade. pressão do crime. Por isso, a erradicação
Quem são os trabalhadores escravos? Em do problema passa também pela adoção de

19
políticas públicas de assistência à vítima e 8. (Eear 2017) Na oração “Informou-se a no-
prevenção para reverter a situação de pobre- vidade aos membros e diretores do grupo”,
za e de vulnerabilidade de comunidades. qual é a classificação do sujeito?
Adaptado.SUZUKI, Natalia; CASTELI, Thiago. Trabalho a) Oculto
escravo é ainda uma realidade no Brasil. Disponível b) Simples
em: <http://www.cartaeducacao.com.br/aulas/
c) Composto
fundamental-2/trabalho-escravo-e-ainda-uma-
realidade-no-brasil/>. Acesso: 19 mar. 2017. d) Indeterminado

5. (Ifpe 2017) Em relação à forma verbal gri- 9. (Eear 2017) Relacione as colunas e, em se-
fada no trecho “Quando tem sucesso em guida, assinale a alternativa que apresenta a
sua empreitada, recorre a órgãos governa- sequência correta:
mentais ou organizações da sociedade civil I. Predicado Verbal
para denunciar a violação que sofreu.” (7º II. Predicado Nominal
parágrafo),é CORRETO afirmar que III. Predicado Verbo-nominal
a) tem como núcleo do sujeito o termo “em- ( ) Receava que eu me tornasse rancorosa.
preitada”. ( ) As irmãs saíram da missa assustadas.
b) o verbo grifado tem sujeito indeterminado, ( ) Da janela da igreja, os padres assistiam à
por não ser possível encontrá-lo na oração. cena.
c) o sujeito está posposto ao verbo, sendo ele a) II – I – III
“órgãos governamentais”. b) III – I – II
d) possui sujeito simples o qual, no caso, é “so- c) I – III – II
ciedade civil”. d) II – III – I
e) o sujeito é oculto, mencionado na oração
anterior e, portanto, pode ser compreendido 1
0. (Ifba) Leia a anedota de Ziraldo e indique a
pelo contexto. opção que corresponde aos tipos de predica-
do presentes na fala atribuída à professora,
6. (Ifba) Com base no trecho da música “Silên- obedecendo à ordem em que eles aparecem
cio de um minuto”, de Noel Rosa, analise as no texto.
quatro primeiras orações da estrofe a seguir A inspetora da escola visitando todas as tur-
e identifique o tipo de sujeito de cada uma mas quando o Juquinha levou um tombo no
delas. corredor e berrou todos os palavrões que co-
nhecia.
Não te vejo, nem te escuto,
Escandalizada, a inspetora perguntou:
o meu samba está de luto,
– Onde essa criança aprendeu tanto pala-
eu peço o silêncio de um minuto...
vrão?
Homenagem à história
E a professora, muito sem graça:
De um amor cheio de glória
– Aprendeu nada! Isso é dom natural.
Que me pesa na memória.
(Fonte: Ziraldo. Mais anedotinhas do Bichinho da Maçã.
Disponível em: http://www.vagalume.com. 10 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1993. p. 10-11)
br/maria-bethania/silencio-de-um-minuto.
html. Acesso em: 18.09.2015.
a) Nominal e Verbal.
a) Oculto, Oculto, Simples e Simples. b) Verbal e Nominal.
b) Simples, Simples, Oculto e Inexistente. c) Verbal e Verbo-Nominal.
c) Inexistente, Inexistente, Simples e Simples. d) Verbo-Nominal e Verbal.
d) Indeterminado, Indeterminado, Simples e e) Verbo-Nominal e Nominal.
Simples.

E.O. Fixação
e) Indeterminado, Indeterminado, Oculto e
Inexistente.

7. (Eear 2017) Assinale a alternativa em que o 1. (Ifsp) Com relação à classificação do sujeito,
se é índice de indeterminação do sujeito na assinale a alternativa correta.
frase. a) A oração: “Todos cantaram durante o even-
a) Não se ouvia o barulho. to” apresenta um exemplo de sujeito inde-
b) Perdeu-se um gato de estimação. terminado.
c) Precisa-se de novos candidatos militares. b) A oração: “A respeito desta informação, falo
d) Construíram-se casas e apartamentos na rua eu!” apresenta um exemplo de sujeito oculto
pacata. (determinado).
c) A oração: “Andavam devagar, em fila, nove
ou dez”, apresenta um exemplo de oração
sem sujeito.

20
d) A oração: “Falam por nós os desprovidos de e criatividade no uso de programas relacio-
justiça, os humildes de alma”, apresenta um nados às artes gráficas”, relata. Mas Beatriz
exemplo de sujeito composto. não esconde suas preocupações, que são as
e) A oração: “Não se falava dele na reunião”, mesmas de muitos pais e pesquisadores,
apresenta um exemplo de sujeito simples. preocupados com o uso excessivo da tecno-
logia no cotidiano de jovens e crianças. “Mi-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO nha preocupação é com o fato de os jovens
permanecerem o tempo todo conectados aos
Celular liberado smartphones. Considero que, 9dessa forma,
há o risco de os recursos de informática
Em 2010, a pesquisadora em Tecnologias
se tornarem os ‘protagonistas’ do processo
da Informação e Comunicação na Educação
quando, na verdade, o foco deve ser sempre
Glaucia da Silva Brito e o mestrando em
o recurso ‘humano’”, diz Beatriz.
Educação Marlon de Campos Mateus, ambos
Disponível em: http://revistaeducacao.uol.com.
da Universidade Federal do Paraná (UFPR), br. Acesso em: 24.09.2015. Adaptado.
realizaram uma pesquisa com professores
de um colégio estadual de Curitiba (PR). A
pergunta era: é possível usar os aparelhos 2. (Ifba) Na referência 2, pode-se afirmar so-
celulares dos alunos com propósito peda- bre a classificação morfossintática da pala-
gógico em sala de aula? A maioria não via vra “Tudo” que:
nenhuma utilidade nos aparelhos, e ainda a) é um predicado nominal.
os considerava como um empecilho em suas b) é o sujeito simples da oração.
aulas. Quatro anos depois, é crescente o nú- c) compõe o predicado da oração.
mero de professores que veem os celulares d) morfologicamente, pode ser classificada
com outros olhos. E muitos os estão usando como substantivo.
como aliados. e) constitui o sujeito indeterminado, uma vez
No Colégio Vital Brazil, de São Paulo (SP), que é impossível determinar quem pratica a
costuma-se dizer que a liberação do uso dos ação.
smartphones e outros aparelhos eletrônicos
em aula foi uma 1“necessidade”. A coorde- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
nadora pedagógica do ensino médio, Maria
Helena Esteves da Conceição, conta que, Leia a letra de música abaixo e responda ao
desde 2013, o uso dos aparelhos eletrônicos que se pede na(s) questão(ões) a seguir.
passou a ser feito em laboratórios e aulas O Segundo Sol
específicas, como artes e matemática. (...) (Cássia Eller)
Os pesquisadores da UFPR sugerem ainda
outras possibilidades de uso pedagógico dos Quando o segundo sol chegar
smartphones: pesquisas em dicionários on- Para realinhar as órbitas dos planetas
-line ou aplicativos, a câmera como recurso Derrubando com assombro exemplar
nas aulas de artes, as redes sociais com geo- O que os astrônomos diriam
localização para as aulas de geografia. 2Tudo Se tratar de um outro cometa
depende do propósito pedagógico e da dis-
ponibilidade do professor. Não digo que não me surpreendi
3
Mas será que esses aparelhos precisam ser Antes que eu visse você disse
usados em sala de aula? Não 4haveria outros E eu não pude acreditar
meios para chegar aos mesmos resultados de Mas você pode ter certeza
pesquisa? (...) Para incorporar os smartpho-
De que seu telefone irá tocar
nes nas classes, é preciso preparo dos profes-
Em sua nova casa
sores e planejamento para as aulas, acredita
Que abriga agora a trilha
Vanderlei Cardoso, professor e assessor de
Incluída nessa minha conversão
matemática do Colégio Vital Brasil.
Mãe do aluno 5David, do 9º ano do Colégio Eu só queria te contar
Bandeirantes, Beatriz Silva, 6aprova a utili- Que eu fui lá fora
zação dos aparelhos eletrônicos em aula, “já E vi dois sóis num dia
que fazem parte do dia a dia dessa nova ge- E a vida que ardia sem explicação
ração” e, segundo sua percepção, houve mu-
danças no processo de aprendizagem de seu Explicação, não tem explicação
filho. “Ele se tornou mais motivado para 7al- Explicação, não
gumas atividades escolares específicas nas Não tem explicação
8
quais usa os aparelhos e apresentou mais Explicação, não tem
autonomia para fazer pesquisa na internet Não tem explicação

21
Explicação, não tem ( ) “outra”
Explicação, não tem ( ) “a perfeição do rosto”
Não tem Assinale a alternativa que contém, de cima
Disponível em: http://letras.mus.br/cassia- para baixo, a sequência correta.
eller/12570/. Acesso em: 19.09.2015. a) V, V, V, F, F.
b) V, F, F, V, V.
3. (Ifba) As quatro primeiras orações da segun- c) F, V, V, V, F.
da estrofe apresentam os sujeitos classifica- d) F,V, F, F, V.
dos, respectivamente, em: e) F, F, V, V, V.
a) oculto, oculto, oculto, oculto.
b) oculto, oculto, simples, simples. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
c) simples, simples, simples, simples.
d) oculto, indeterminado, simples, simples. FELICIDADE CLANDESTINA
e) indeterminado, indeterminado, simples, Clarice Lispector
simples. Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO excessivamente crespos, meio arruivados.
Tinha um busto enorme, enquanto nós to-
Leia o fragmento do conto “A mulher rama- das ainda éramos achatadas. Como se não
da”, abaixo, e responda à(s) questão(ões) a bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por
seguir. cima do busto, com balas. Mas possuía o que
Em pouco, o jardim vestiu o cetim das fo- qualquer criança devoradora de histórias
lhas novas. Em cada tronco, em cada haste, gostaria de ter: um pai dono de livraria.
em cada pedúnculo, a seiva empurrou para Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até
fora pétalas e pistilos. E mesmo no escuro da para aniversário, em vez de pelo menos um
terra os bulbos acordaram, espreguiçando-se livrinho barato, ela nos entregava em mãos
em pequenas pontas verdes. um cartão-postal da loja do pai. Ainda por
Mas enquanto todos os arbustos se enfeita- cima era de paisagem do Recife mesmo, onde
vam de flores, nem uma só gota de vermelho morávamos, com suas pontes mais do que
brilhava no corpo da roseira. Nua, obedecia vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima
ao esforço do seu jardineiro que, temendo palavras como “data natalícia” e “saudade”.
viesse a floração romper tanta beleza, corta- Mas que talento tinha para a crueldade. Ela
va rente todos os botões. toda era pura vingança, chupando balas com
De tanto contrariar a primavera, adoeceu po- barulho. Como essa menina devia nos odiar,
rém o jardineiro. E ardendo de amor e febre nós que éramos imperdoavelmente boniti-
na cama, inutilmente chamou por sua amada. nhas, esguias, altinhas, de cabelos livres.
Muitos dias se passaram antes que pudesse Comigo exerceu com calma ferocidade o seu
voltar ao jardim. Quando afinal conseguiu se sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem no-
levantar para procurá-la, percebeu de longe tava as humilhações a que ela me submetia:
a marca da sua ausência. Embaralhando-se continuava a implorar-lhe emprestados os
aos cabelos, desfazendo a curva da testa, livros que ela não lia.
uma rosa embabadava suas pétalas entre os Até que veio para ela o magno dia de come-
olhos da mulher. E já outra no seio despon- çar a exercer sobre mim uma tortura chi-
tava. Parado diante dela, ele olhava e olhava. nesa. Como casualmente, informou-me que
Perdida estava a perfeição do rosto, perdida possuía As reinações de Narizinho, de Mon-
a expressão do olhar. Mas do seu amor nada teiro Lobato.
se perdia. Florida, pareceu-lhe ainda mais Era um livro grosso, meu Deus, era um livro
linda. Nunca Rosamulher fora tão rosa. E seu para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dor-
coração de jardineiro soube que nunca mais mindo-o. E completamente acima de minhas
teria coragem de podá-la. Nem mesmo para posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa
mantê-la presa em seu desenho. no dia seguinte e que ela o emprestaria.
(COLASANTI, M. Doze reis e a moça no labirinto do vento. Até o dia seguinte eu me transformei na pró-
12. ed. São Paulo: Global Editora, 2006. p. 26-28.) pria esperança da alegria: eu não vivia, eu
nadava devagar num mar suave, as ondas me
4. (Uel) Em relação à função sintática dos ter- levavam e me traziam.
mos sublinhados no texto, atribua V (exer- No dia seguinte fui à sua casa, literalmente
cem a função de sujeito) ou F (não exercem correndo. Ela não morava num sobrado como
essa função) aos itens a seguir. eu, e sim numa casa. Não me mandou en-
( ) “a floração” trar. Olhando bem para meus olhos, disse-me
( ) “a primavera” que havia emprestado o livro a outra meni-
( ) “a marca da sua ausência” na, e que eu voltasse no dia seguinte para

22
buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em pequena, pode ter a ousadia de querer.
breve a esperança de novo me tomava toda Como contar o que se seguiu? Eu estava es-
e eu recomeçava na rua a andar pulando, tonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho
que era o meu modo estranho de andar pelas que eu não disse nada. Peguei o livro. Não,
ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me não saí pulando como sempre. Saí andando
a promessa do livro, o dia seguinte viria, os bem devagar. Sei que segurava o livro gros-
dias seguintes seriam mais tarde a minha so com as duas mãos, comprimindo-o contra
vida inteira, o amor pelo mundo me espera- o peito. Quanto tempo levei até chegar em
va, andei pulando pelas ruas como sempre e casa, também pouco importa. Meu peito es-
não caí nenhuma vez. tava quente, meu coração pensativo.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia
secreto da filha do dono de livraria era tran- que não o tinha, só para depois ter o sus-
quilo e diabólico. No dia seguinte lá estava to de o ter. Horas depois abri-o, li algumas
eu à porta de sua casa, com um sorriso e o linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui
coração batendo. Para ouvir a resposta cal- passear pela casa, adiei ainda mais indo co-
ma: o livro ainda não estava em seu poder, mer pão com manteiga, fingi que não sabia
que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu onde guardara o livro, achava-o, abria-o por
como mais tarde, no decorrer da vida, o dra- alguns instantes. Criava as mais falsas difi-
ma do “dia seguinte” com ela ia se repetir culdades para aquela coisa clandestina que
com meu coração batendo. era a felicidade. A felicidade sempre iria ser
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. clandestina para mim. Parece que eu já pres-
Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto sentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia
o fel não escorresse todo de seu corpo gros- orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha
so. Eu já começara a adivinhar que ela me delicada.
escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Às vezes sentava-me na rede, balançando-
Mas, adivinhando-me mesmo, às vezes acei- -me com o livro aberto no colo, sem tocá-
to: como se quem quer me fazer sofrer esteja -lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma
precisando danadamente que eu sofra. menina com um livro: era uma mulher com
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, o seu amante.
sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: Com base no texto acima, responda à(s)
pois o livro esteve comigo ontem de tarde, questão(ões) a seguir.
mas você só veio de manhã, de modo que o
emprestei a outra menina. E eu, que não era 5. (Efomm) Assinale a opção em que a expres-
dada a olheiras, sentia as olheiras se cavan- são sublinhada NÃO é o sujeito da oração.
do sob os meus olhos espantados. a) Como contar o que se seguiu?
Até que um dia, quando eu estava à porta b) Até que veio para ela o magno dia de começar
de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a exercer sobre mim uma tortura chinesa.
a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia c) Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do
estar estranhando a aparição muda e diária livro (...)
daquela menina à porta de sua casa. Pediu d) No dia seguinte lá estava eu à porta de sua
explicações a nós duas. Houve uma confusão casa, com um sorriso e o coração (...)
e) Houve uma confusão silenciosa, entrecorta-
silenciosa, entrecortada de palavras pouco
da de palavras (...)
elucidativas. A senhora achava cada vez mais
estranho o fato de não estar entendendo. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se
para a filha e com enorme surpresa excla- 1 “Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, ar-
mou: mas este livro nunca saiu daqui de casa rumara-se. Chegara naquele estado, com a
e você nem quis ler! família morrendo de fome, comendo raízes.
E o pior para essa mulher não era a desco- Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazei-
berta do que acontecia. Devia ser a desco- ro, depois tomara conta da casa deserta. ELE,
berta horrorizada da filha que tinha. Ela nos a mulher e os filhos tinham-se habituado à
espiava em silêncio: a potência de perversi- camarinha escura, pareciam ratos - e a lem-
dade de sua filha desconhecida e a menina brança dos sofrimentos passados esmorecera
loura em pé à porta, exausta, ao vento das (...).
ruas de Recife. Foi então que, finalmente se 2 - Fabiano, VOCÊ é um homem, exclamou
refazendo, disse firme e calma para a filha: em voz alta.
você vai emprestar o livro agora mesmo. E 3 Conteve-se, notou que os meninos es-
para mim: “E você fica com o livro por quan- tavam perto, com certeza iam admirar-se
to tempo quiser.” Entendem? Valia mais do ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele
que me dar o livro: “pelo tempo que eu qui- não era um homem: era apenas um cabra
sesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou ocupado em guardar coisas dos outros. (...)

23
Olhou em torno, com receio de que, fora os b) O predicado em “Não é a bola alguma car-
meninos, ALGUÉM tivesse percebido a frase ta” e “é antes telegrama...” é verbal, pois os
imprudente. Corrigiu-a, murmurando: verbos indicam o estado da bola.
4 - Você é um bicho, Fabiano. c) O sujeito simples “brasileiro” da terceira es-
5 Isto para ele era motivo de orgulho. Sim trofe é retomado nas demais estrofes pelo
senhor, um bicho capaz de vencer dificuldades”. pronome “ele”.
d) O predicado da oração “Ele a faz ir”, na quar-
6. (Fei) Observe a oração: “Fabiano ia SATISFEI- ta e quinta estrofes, é verbo-nominal, pois
TO”. O termo em destaque assume a função de: indica ação e descreve a bola.
a) predicativo do sujeito
e) O substantivo “telegrama”, no último ver-
b) objeto direto
c) adjunto adverbial so do poema, é um adjunto adnominal de
d) adjunto adnominal “bola”.
e) agente da passiva
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
7. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa que FOLHA – Seus estudos mostram que, entre
classifica corretamente a sequência de pre- os mais escolarizados, há maior preocupação
dicados das orações abaixo. com a corrupção.
§§ Soa um toque áspero de trompa. O acesso à educação melhorou no país, mas
§§ Os estudantes saem das aulas cansados. a aversão à corrupção não parece ter aumen-
§§ Toda aquela dedicação deixava-o insensível.
tado. Não se vê mais mobilizações como nos
§§ Em Iporanga existem belíssimas grutas.
movimentos pelas Diretas ou no Fora Collor.
§§ Devido às chuvas, os rios estavam cheios.
Como explicar?
§§ Eram sólidos e bons os móveis.
a) verbal; verbo-nominal; verbo-nominal; ver- ALMEIDA – Esta questão foi objeto de gran-
bal; nominal; nominal de controvérsia nos Estados Unidos. Quanto
b) verbal; verbal; verbo-nominal; nominal; ver- maior a escolarização, maior a participação
bo-nominal; nominal política. Mas a escolaridade também cresceu
c) nominal; verbal; verbo-nominal; verbal; no- lá, e não se viu aumento de mobilização. O
minal; verbo-nominal que se discutiu, a partir da literatura mais
d) verbo-nominal; verbal; nominal; verbal; ver- recente, é que, para acontecerem grandes
bo-nominal; nominal mobilizações, é necessária também a par-
e) nominal; verbal; verbal; nominal; nominal;
ticipação atuante de uma elite política. No
verbo-nominal
caso das Diretas-Já, por exemplo, essa mobi-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO lização de cima para baixo foi fundamental.
O governador de São Paulo na época, Fran-
De um jogador brasileiro co Montoro, estava à frente da mobilização.
a um técnico espanhol No Rio, o governador Leonel Brizola liberou
João Cabral de Melo Neto as catracas do metrô e deu ponto facultati-
Não é a bola alguma carta vo aos servidores. No caso de Collor, foi um
que se leva de casa em casa: fenômeno mais raro, pois a mobilização foi
mais espontânea, mas não tão grande quan-
é antes telegrama que vai to nas Diretas. Porém, é preciso lembrar que
de onde o atiram ao onde cai.
Collor atravessava um momento econômico
Parado, o brasileiro a faz difícil. Isso ajuda a explicar por que ele caiu
ir onde há-de, sem leva e traz; com os escândalos da época, enquanto Lula
com aritméticas de circo sobreviveu bem ao mensalão. Collor não ti-
ele a faz ir onde é preciso; nha o apoio da elite nem da classe média
ou pobre. Já Lula perdeu apoio das camadas
em telegrama, que é sem tempo mais altas, mas a população mais pobre es-
ele a faz ir ao mais extremo.
tava satisfeita com o desempenho da econo-
Não corre: ele sabe que a bola, mia. Isso fez toda a diferença nos dois casos.
Telegrama, mais que corre voa. A preocupação de uma pessoa muito pobre
(Disponível em: <http://www.revista.agulha.nom.br/ está muito associada à sobrevivência, ao
futebol.html#jogador> Acesso em: 12 out. 2011.)
emprego, à saúde, à própria vida. Para nós,
da elite, jornalistas, isso já está resolvido e
8. (Ifpe) Quanto aos aspectos morfossintáticos outras questões aparecem como mais impor-
do texto, assinale a alternativa correta. tantes. São dois mundos diferentes.
a) O sujeito das duas primeiras estrofes é inde- (Adaptado de: GOIS, Antonio. Mais conscientes, menos
terminado, como se verifica pelos verbos “se mobilizados. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.
leva” e “atiram”. br//fsp/mais/fs2607200914.htm>. Acesso em: 26 jul. 2009).

24
9. (Uel) Considere o trecho: “Isso fez toda a 1
0. (Cftce) “... a repressão do uso de drogas é
diferença nos dois casos. A preocupação de uma política bem-intencionada” (ref. 6) -
uma pessoa muito pobre está muito asso- verifica-se que o predicado é:
ciada à sobrevivência, ao emprego, à saúde, a) verbal
à própria vida. Para nós, da elite, jornalis- b) nominal
tas, isso já está resolvido e outras questões c) verbo-nominal
aparecem como mais importantes. São dois d) nominal, porque o verbo é intransitivo
mundos diferentes”. e) verbal, porque o verbo é de ligação
As palavras grifadas são
a) predicados verbais.
b) núcleos do sujeito. E.O. Complementar
c) substantivos.
d) advérbios. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
e) adjetivos.
O filósofo e romancista Umberto Eco conce-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO deu uma entrevista ao Jornal El País em mar-
ço de 2015, pouco menos de um ano antes de
QUEM É O CRIMINOSO? sua morte. Na ocasião, o escritor falou sobre o
“Outro dia, durante uma conversa despre- conteúdo de seu último romance, Número Zero,
tensiosa, um dos líderes da Central Única uma ficção sobre o jornalismo inspirada na re-
de Favela (Cufa), entidade surgida no Rio alidade e sobre as relações da temática da obra
de Janeiro para representar os favelados do com a atualidade: o papel da imprensa, a Inter-
país, descrevia uma cena que presenciou du- net e a sociedade.
rante anos a fio em sua vida: ‘É o bacana da Pergunta: Agora a realidade e a fantasia têm
Zona Sul estacionar seu Mitsubishi no pé do um terceiro aliado, a Internet, que mudou
morro e comprar cocaína de um garotinho de por completo o jornalismo.
12 anos’. Em seguida, fez uma pergunta per- Resposta: A Internet pode ter tomado o lugar
turbadora: ‘Quem é o criminoso? O bacana do mau jornalismo... Se 1você sabe que está len-
da Zona Sul ou o garoto de 12 anos?’. E deu do um jornal como EL PAÍS, La Repubblica, Il
a resposta: ‘Para vocês, o garoto de 12 anos Corriere della Sera…, pode pensar que existe
tem de ser preso porque ele é um traficante um certo controle da notícia e confia. 2Por outro
de drogas. Para nós, tem de prender o bacana lado, se ³você lê um jornal como aqueles ves-
pertinos ingleses, sensacionalistas, não confia.
da Zona Sul porque ele está aliciando meno-
Com a Internet acontece o contrário4: confia em
res para o crime’. Não resta dúvida de que a
tudo porque não sabe diferenciar a fonte cre-
situação retrata um dilema poderoso: de um
denciada da disparatada. Basta pensar no su-
lado, tem-se uma vítima do vício induzida
cesso que faz na Internet qualquer página web
ao crime de comprar drogas e, de outro, tem-
que fale de complôs 5ou que 6invente histórias
-se uma vítima da pobreza e da desigualdade
absurdas: tem um acompanhamento incrível, de
5
induzida ao crime de vendê-las. Na cegueira
internautas e de pessoas importantes que as le-
legal em que vivemos, a solução é simples:
vam a sério.
prendem-se vendedor e comprador.
Pergunta: Atualmente é difícil pensar no
(...) mundo do jornalismo que era protagoniza-
Começa agora a surgir uma alternativa mais do, aqui na Itália, por pessoas como Piero
realista com a intenção do governo federal Ottone e Indro Montanelli…
de implantar a chamada 1’política de redução Resposta: Mas a crise do jornalismo no mundo
de danos’. Ou seja: em vez de punir os 3usu- começou nos anos 1950 e 1960, bem quando
ários, tratando-os como criminosos, passa-se chegou a televisão, antes que eles 7desapareces-
a encará-los como doentes e atendê-los de sem! Até então o jornal 8te contava o que acon-
modo a reduzir os riscos a que estão 4expos- tecia na tarde anterior, por isso muitos eram
tos - como a overdose, aids, hepatite e outras chamados jornais da tarde: Corriere della Sera,
doenças. É mais realista porque 6a repressão Le Soir, La Tarde, Evening Standard… Desde a
do uso de drogas é uma política bem-inten- invenção da televisão9, o jornal te diz pela ma-
cionada, na qual se pretende a purificação nhã o que você já sabe. E agora é a mesma coisa.
pela via da punição, mas que tem se mostra- O que um jornal deve fazer?
do sistematicamente falha. A ideia brasileira Pergunta: Diga o senhor.
- já em uso em outros países, e não apenas Resposta: Tem que se transformar em um se-
na Holanda - é um pedaço de bom senso e manário. Porque um semanário tem tempo, são
humildade. 2Encarar um viciado como doen- sete 10dias para construir 11suas reportagens.
te é um enfoque justo e generoso.” Se você lê a Time ou a Newsweek vê que vá-
André Petry. Revista VEJA, 24 de novembro de 2004, p. 50. rias pessoas 12contribuíram para uma história

25
concreta, que trabalharam nela semanas ou me- Sofrer: Colloque Sentimental. Perdoar: a can-
ses, enquanto que em um jornal tudo é feito tiga do berço, um dos solos de Minha Loucu-
da noite para o dia. Um jornal que em 1944 ra, das Enfibraturas do Ipiranga. Não conti-
tinha quatro páginas hoje tem 64, então tem nuo. Repugna-me dar a chave de meu livro.
que preencher obsessivamente com notícias re- Quem for como eu tem essa chave.”
petidas, cai na fofoca, não consegue evitar... A Mário de Andrade. Literatura Comentada,
crise do jornalismo, 13então, começou há quase p.131. Ed. Nova Cultural Ltda.
cinquenta anos e é um problema muito grave e
Tomando como base esse texto de Mário de
importante.
Andrade, assinale a única alternativa falsa
Pergunta: Por que é tão grave?
quanto às classes de palavras e suas flexões
Resposta: Porque é verdade que, como dizia He-
no uso da língua.
gel, a leitura dos 14jornais é a oração matinal do
a) Os verbos “escrever”, “cantar”, “urrar” e
homem moderno. E 15eu não consigo tomar meu
“chorar” têm como sujeito o substantivo
café da manhã se não folheio o jornal; mas é um
“Versos”, por isso estão no plural.
ritual quase afetivo e religioso, porque folheio
b) Em: “Versos cantam-se, urram-se, choram-
olhando os títulos, e por 16eles me dou conta
-se.”, o pronome “se” é índice de indetermi-
de que quase tudo já sabia na noite anterior.
nação do sujeito.
17
No máximo, leio um editorial ou um artigo de
c) A vírgula, em: “Quem não souber rezar, não
opinião. Essa é a crise do jornalismo contempo-
leia Religião.”, de acordo com os aspectos
râneo. E disso não sai!
básicos da pontuação, está empregada in-
Pergunta: Acredita de verdade que não?
devidamente, uma vez que não se separa o
Resposta: O jornalismo poderia ter outra fun-
sujeito do predicado.
ção. Estou pensando em alguém que faça uma
d) Os substantivos “Escalada”, “Colloque” e
crítica cotidiana da Internet, e é algo que acon-
“cantiga” são, respectivamente, núcleos dos
tece pouquíssimo. Um jornalismo que me diga:
objetos diretos do verbo “ler”, subentendido
18
“Olha o que tem na Internet, olha que coisas
em: “Desprezar: A Escalada. Sofrer: Colloque
falsas estão dizendo, reaja a isso, eu te mostro”.
Sentimental. Perdoar: a cantiga do berço...”
E isso pode ser feito tranquilamente. 19No en-
e) Se substituirmos a preposição “a”, em: “Ode
tanto, ainda 20pensam que o jornal é feito para
ao Burguês”, pela preposição “de”, teremos
que seja lido por alguns velhos senhores 21– já
o sentido de finalidade alterado para o sen-
que os jovens não 22leem – que ainda não usam
tido de posse.
a Internet. Teria que se fazer um jornal que não
se torne apenas a crítica da realidade cotidiana, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
mas também a crítica da realidade virtual. Esse
é um futuro possível para um bom jornalismo. Sem Facebook
(EL PAÍS. Caderno cultura. 30 de março de 2015. Disponível
em http://brasil.elpais.com/brasil/2015/03/26/ Das minhas relações mais próximas, só três
cultura/1427393303_512601.html. Acesso em 10 abr. 2016) comungam comigo não ter facebook. Não
pensem que tenho críticas, sou um entusias-
1. (Upf) Há, no texto, um recurso linguístico ta, apenas não quero usar. Pouco dou conta
usado para indeterminar o sujeito. Trata-se dos meus amigos, onde vou arranjar tempo
de um aspecto rico e complexo empregado para mais? Minha etiqueta me faz responder
no texto a fim de se construir uma referên- a tudo, teria que largar o trabalho se entras-
cia genérica. se na rede social. Só recentemente minhas
Esse recurso é percebido na seguinte ocor- filhas me convenceram que se não respon-
rência verbal: desse um spam ninguém ficaria ofendido.
a) “pensam” (ref. 20).
1
A 2cidade ganhou a parada. Acabou o peque-
b) “invente” (ref. 6). no mundo onde todos se conheciam, 3onde
c) “desaparecessem” (ref. 7). não se podia esconder segredos e pecados.
d) “contribuíram” (ref. 12). Viver na 4urbe é cruzar com desconhecidos,
e) “leem” (ref. 22). sentir a frieza do anonimato. Essa é a reali-
dade da maioria.
Meu 5apreço com as redes sociais é por acre-
2. (Ifal) O texto abaixo é referência para a
ditar que elas são um antídoto para o isola-
questão a seguir.
mento urbano. São uma novidade que imita
“Aliás versos não se escrevem para leitura de o passado, uma nova versão, por vezes mais
olhos mudos. Versos cantam-se, urram-se, rica, por vezes mais pobre, da antiga comu-
choram-se. Quem não souber cantar não leia nidade. Detalhe: não quero 6retroceder, a
Paisagem nº 1. Quem não souber urrar não simpatia é pelo resgate da nossa essência
leia Ode ao Burguês. Quem não souber re- social. Vivemos para o olhar dos outros, essa
zar, não leia Religião. Desprezar: A Escalada. é a realidade simples, evidente. 7Quem pensa

26
o contrário vai à conversa da literatura de importa que nos avaliem pela casca. 9Por
autoajuda, 8que idolatra a autossuficiência e dentro, sentia-se diferente, capaz de mudar
acredita que é possível ser feliz sozinho. É sempre, enquanto a situação exterior e fa-
uma ilusão tola. Nascemos para vitrine. miliar não mudava. Nisso está o espinho do
Quando checamos insistentemente para sa- homem: ele muda, os outros não percebem.
ber como reagiram às nossas postagens, Sua mulher não tinha percebido. Era a mes-
somos desvelados no pedido amoroso. 9O ma de há 23 anos, quando se casaram (quan-
viciado em rede social é 10obcecado pela so- to ao íntimo, é claro). 3Por falta de filhos, os
ciabilidade. Está em busca de um olhar, de dois viveram demasiado perto um do outro,
uma aprovação, precisa disso para existir. Ou sem derivativo. Tão perto que se desconhe-
vamos acreditar que a carência, o desespe- ciam mutuamente, como um objeto desco-
ro amoroso e a busca pelo reconhecimento nhece outro, na mesma prateleira de armá-
são novidades da internet? 11Sei que o face- rio. 10Santos doía-se de ser um objeto aos
book é o retrato da felicidade fingida, todos olhos de Dona Laurinha. Se ela também era
vestidos de ego de domingo, mas essa é a um objeto aos olhos dele? Sim, mas com a di-
demanda do nosso tempo. Critique nossos ferença de que Dona Laurinha não procurava
costumes, não o espelho. Sei também que as fugir a essa simplificação, nem reparava; era
redes são usadas basicamente para 12frivoli- de fato, objeto. Ele, Santos, sentia-se vivo e
dades, é certo, mas isso somos nós. Se a vida desagradado.
miúda de uma cidadezinha fosse transcrita,
1
Ao aparecerem nele as primeiras dores,
não seria diferente. Fofoca, sabedoria de al- Dona Laurinha penalizou-se, mas esse in-
manaque, dicas de produtos culturais, troca teresse não beneficiou as relações do casal.
de impressões e às vezes até um bom conse- Santos parecia 6comprazer-se em estar do-
lho, além de ser um amplificador veloz para ente. 11Não propriamente em queixar-se, mas
mobilizações. em alegar que ia mal. A doença era para ele
Também apontam que amigos virtuais não ocupação, emprego suplementar. O médico
da Alfândega dissera-lhe que certas formas
substituem os presenciais. 13Todos se dão
reumáticas levam anos para ser dominadas,
conta, e justamente usam a rede na espe-
exigem adaptação e disciplina. Santos come-
rança de escapar dela. O 14objetivo final é ser
çou a cuidar do corpo como de uma planta
visto e conhecido também fora. Usamos esse
delicada. E mostrou a Dona Laurinha a ne-
grande palco para ensaiar e se aproximar dos
voenta radiografia da coluna vertebral com
outros, fazer o que sempre fizemos. 15O face-
certo orgulho de estar assim tão afetado.
book é a nostalgia da aldeia e sua superação.
– Quando você ficar bom...
CORSO, Mário. Sem Facebook. Disponível em: http://
zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/ blogs/.
– Não vou ficar. Tenho doença para o resto
Acesso em: 31 de agosto de 2013. (adaptado) da vida.
Para Dona Laurinha, a melhor maneira de
curar-se é tomar remédio e entregar o caso
3. (ifba) A respeito das funções que os elemen- à alma de Padre Eustáquio, que vela por nós.
tos da língua exercem no texto, é verdadeiro: 2
Começou a fatigar-se com a importância que
a) O termo “obcecado” (ref. 10) é predicativo o reumatismo assumira na vida do marido.
de “viciado” (ref. 9). E não se amolou muito 12quando ele anun-
b) A palavra “onde” (ref. 3) é um pronome e se ciou que ia internar-se no hospital Gaffré e
refere à palavra “cidade” (ref. 2). Guinle.
c) A palavra “que” na oração “Sei que o face- – Você não sentirá falta de nada – assegurou-
book é o retrato da felicidade fingida” (ref. -lhe Santos. – Tirei licença com ordenado in-
11) é um pronome relativo. tegral. Eu mesmo virei aqui todo começo de
d) O sujeito da oração “que idolatra a autossu- mês trazer o dinheiro. Hospital não é prisão.
ficiência” (ref. 8) é “Quem pensa o contrá- – Vou visitar você todo domingo, quer?
rio” (ref. 7). – É melhor não ir. Eu descanso, você descan-
e) A oração “Todos se dão conta” (ref. 13) apre- sa, cada qual no seu canto.
senta um sujeito oculto. Ela também achou melhor, e nunca foi lá.
Pontualmente, Santos trazia-lhe o dinheiro
da despesa, ficaram até um pouco amigos
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
nessa breve conversa a longos intervalos. 4Ele
O Outro Marido chegava e saía curvado, sob a garra do reuma-
tismo que nem melhorava nem matava. A vi-
14
Era conferente da Alfândega – mas isso não sita não era de todo desagradável, desde que
tem importância. Somos todos alguma coi- a doença deixara de ser assunto. Ela notou
sa fora de nós; o eu irredutível nada tem a como a vida de hospital pode ser distraída: os
ver com as classificações profissionais. Pouco internados sabem de tudo cá de fora.

27
– Pelo rádio – explicou Santos. E os que leem o que escreve,
Um dia, ela se sentiu tão nova, apesar do Na dor lida sentem bem,
tempo e das separações fundamentais, que Não as duas que ele teve,
imaginou uma alteração: por que ele não fi- Mas só a que eles não têm.
cava até o dia seguinte, só essa vez? E assim nas calhas de roda
– 5É tarde – respondeu Santos. E ela não en- Gira, a entreter a razão,
tendeu se ele se referia à hora ou a toda a Esse comboio de corda
vida passada sem compreensão. É certo que Que se chama o coração.
vagamente o compreendia agora, e recebia (Obra poética, 1984.)
dele mais que a mesada: uma hora de com-
Para a correta compreensão da terceira es-
panhia por mês.
trofe, deve-se entender que o sujeito de
Santos veio um ano, dois, cinco. Certo dia
“Gira” é
não veio. 13Dona Laurinha preocupou-se. Não
a) “roda”.
só lhe faziam falta os cruzeiros; ele também
b) o poeta.
fazia. Tomou o ônibus, foi ao hospital pela
c) “Esse comboio de corda”.
primeira vez, em alvoroço. Lá ele não era co-
d) “a razão”.
nhecido. Na Alfândega informaram-lhe que
e) o leitor.
Santos falecera havia quinze dias, a senhora
quer o endereço da viúva?
– Sou eu a viúva – disse Dona Laurinha, es-
pantada.
E.O. Dissertativo
O informante olhou-a com incredulidade. 1. (Pucrj) A amizade, nos séculos XVIII e XIX,
Conhecia muito bem a viúva do Santos, Dona é aceita, valorizada, mas não está em evi-
Crisália, fizera bons piqueniques com o casal dência. O amor, o casal e a família ocupam
na Ilha do Governador. Santos fora seu par- o primeiro plano. As práticas de amizade
ceiro de bilhar e de pescaria. Grande praça. acrescentam-se a eles, desempenhando mui-
Ele era padrinho do filho mais velho de San- tas vezes papéis secundários. A amizade é
tos. Deixara três órfãos, coitado. alegria suplementar, marca de uma eleição,
E tirou da carteira uma foto, um grupo de não é uma instituição. Ela estabelece redes
praia. Lá estavam Santos, muito lépido, sor- de influência, inventa lugares de convivên-
rindo, a outra mulher, os três garotos. Não cia e laços de resistência enquanto se multi-
havia dúvida: era ele mesmo, seu marido. plicam para a maioria as oportunidades de
encontros e de interações.
Contudo, 7a outra
realidade de Santos era tão destacada da sua, Todos a dizem essencial: na verdade, é “aces-
que o tornava outro homem, completamente sória”. Seu exercício voluntário torna-lhe a
desconhecido, irreconhecível. existência mais frágil, mais submetida ao
– Desculpe, foi engano. 8A pessoa a que me acaso. Os valores da amizade parecem tan-
refiro não é esta – disse Dona Laurinha, des- to mais invocados quanto mais outras obri-
pedindo- se. gações, outras injunções tendem a limitar
(Carlos Drummond de Andrade) de fato a possibilidade do seu exercício. A
amizade no entanto se exerce, ela ocupa, é
4. (Espcex) “... a outra realidade de Santos era atuante. Esse exercício da amizade forma e
tão destacada da sua, que o tornava outro transforma: praticando-o, elaboram-se tanto
homem, completamente desconhecido, irre- o si mesmo quanto o entre-si. Indo ao en-
conhecível.” (ref.7) contro dos outros, é ao encontro de si mesma
Os termos sublinhados são que a pessoa se lança. Nela se conjugam a
a) núcleos do sujeito composto. alegria comum e o ethos, que eu gostaria de
b) núcleos do objeto direto. traduzir ao mesmo tempo como uso e como
c) predicativos do sujeito. fragmento de ética.
VINCENT-BUFFAULT, Anne. Da amizade: uma
d) predicativos do objeto.
história do exercício da amizade nos séculos XVIII
e) adjuntos adverbiais. e XIX. Trad. de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996. p. 9.
5. (FAMERP) Leia o poema de Fernando Pessoa a) O texto revela o caráter secundário da amiza-
para responder à questão de nos séculos XVIII e XIX, o que fica explí-
Autopsicografia cito em “O amor, o casal e a família ocupam
o primeiro plano. As práticas de amizade
O poeta é um fingidor. acrescentam-se a eles, desempenhando mui-
Finge tão completamente tas vezes papéis secundários.” Transcreva do
Que chega a fingir que é dor 2º parágrafo do texto o adjetivo que reitera
A dor que deveras sente. essa ideia.

28
b) Tendo em vista a regra básica de concordân- A Prefeitura disse que houve um equívoco
cia verbal, identifique o sujeito de “se mul- da empresa contratada, mas os artistas não
tiplicam”, no último período do 1º parágrafo acreditam que tenha sido “sem querer”.
do texto. Eles questionam qual seria o critério adota-
c) No texto, há o predomínio de um determina- do para pintar as paredes, já que a obra da
do tempo verbal. Identifique-o e explique o dupla tinha mais de 700 metros quadrados.
seu emprego. Os irmãos acabaram de voltar dos EUA, onde
tiveram suas obras expostas e nos últimos
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO meses também pintaram a fachada da Tate
Lisboa: aventuras Modern, em Londres.
Depois desse incidente, a Prefeitura da cida-
tomei um 1expresso de de São Paulo concluiu que os painéis de
cheguei de foguete grafite devem ser preservados. A ideia é que
subi num bonde seja criada uma comissão de grafiteiros para
desci de um elétrico produzir uma lista com os endereços dos pai-
pedi cafezinho néis que deverão ser preservados durante a
serviram-me uma bica limpeza da cidade.
quis comprar meias Na década de 80 surgiu o Profeta Gentileza,
só vendiam peúgas que fazia grafites com inscrições e textos sob
fui dar a descarga alguns viadutos do Rio de Janeiro. Após sua
disparei um autoclisma morte os murais foram apagados e pintados
gritei “ó cara!” de cinza, porém, com a crítica feita sobre a
responderam-me “ó pá!” atitude, puderam ser restaurados.
positivamente Para a restauração foi criada a ONG Rio com
as aves que aqui 2gorjeiam não gorjeiam Gentileza. O trabalho começou em 1999 e em
como lá maio de 2000 estava concluída e o patrimô-
(José Paulo Paes. A poesia está morta, mas juro que
nio preservado. A obra do poeta gerou um
não fui eu. São Paulo, Duas Cidades, 1988, p.40.) livro com as imagens de seus painéis e uma
música com seu nome, interpretada por Ma-
1
Expresso: trem de alta velocidade risa Monte.
2
Gorjeiam: cantam (http://jovem.ig.com.br/street/noticias/2008/07/30/
grafite_e_arte_1479987.html - acesso em 08/10/2011)
2. (Cp2) Na primeira estrofe do texto, que for-
Texto II
ma verbal não apresenta o eu lírico como seu
sujeito ou seu complemento? Gentileza
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Texto I
A palavra no muro
Grafite é arte? Ficou coberta de tinta
A prefeitura de São Paulo quer
preservar os desenhos Apagaram tudo
Carol Patrocinio Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
A discussão entre arte e poluição visual gira Tristeza e tinta fresca
em torno do grafite e da pichação desde que
o mundo é mundo. 1Os artistas se defendem Nós que passamos apressados
falando sobre a arte e as experiências em Pelas ruas da cidade
outros países, onde sua influência criativa é Merecemos ler as letras
reconhecida. As autoridades ainda não con- E as palavras de Gentileza
seguem diferenciar o que é arte e o que é
Por isso eu pergunto
sujeira. E no fim das contas, como fica essa
A você no mundo
situação?
Se é mais inteligente
No começo deste mês [julho de 2008], a pre-
O livro ou a sabedoria
feitura de São Paulo contratou uma empresa
para limpar os muros da cidade que tinham O mundo é uma escola
pichações. 2A empresa terceirizada seguiu as A vida é o circo
ordens e começou a passar tinta branca em Amor palavra que liberta
tudo, inclusive em uma das obras dos gra- Já dizia o Profeta
fiteiros mais aclamados da atualidade, Os (Marisa Monte. Cd Memórias, crônicas e
Gêmeos. declarações de amor. EMI, 2000)

29
3. (Cp2) Sabe-se que o sujeito indeterminado
é empregado quando não se quer ou não se E.O. UERJ
pode determiná-lo. No texto II, foi usada
uma marca de indeterminação do sujeito no Exame de Qualificação
verso “Apagaram tudo”. Por uma aproxima-
ção entre a ação de “limpar a cidade”, que TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
ocorre nos textos I e II, no entanto, é possí-
UM BOI VÊ OS HOMENS
vel determinar esse sujeito.
Transcreva do segundo parágrafo do texto I Tão delicados (mais que um arbusto) e correm
um substantivo que poderia ser núcleo do e correm de um para outro lado, sempre esque-
sujeito, caso ele fosse determinado. cidos
de alguma coisa. Certamente, falta-lhes
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO não sei que atributo essencial, posto se apre-
sentem nobres
Era conferente da Alfândega – mas isso não e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
tem importância. Somos todos alguma coi- até sinistros. Coitados, dir-se-ia que não escu-
sa fora de nós; o eu irredutível nada tem a tam
ver com as classificações profissionais. Pou- nem o canto do ar nem os segredos do feno,
co importa que nos avaliem pela casca. Por como também parecem não enxergar o que é
dentro, sentia-se diferente, capaz de mudar visível
sempre, enquanto a situação exterior e fa- e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam
miliar não mudava. Nisso está o espinho do tristes
homem: ele muda, os outros não percebem. e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
Sua mulher não tinha percebido. Era a Toda a expressão deles mora nos olhos - e per-
mesma de há 23 anos, quando se casaram de-se
(quanto ao íntimo, é claro). Por falta de fi- a um simples baixar de cílios, a uma sombra.
lhos, os dois viveram demasiado perto um Nada nos pelos, nos extremos de inconcebível
fragilidades,
do outro, sem derivativo. Tão perto que se
e como neles há pouca montanha,
desconheciam mutuamente, como um objeto
e que secura e que reentrâncias e que
desconhece outro, na mesma prateleira de
impossibilidade de se organizarem em formas
armário. Santos doía-se de ser um objeto aos
calmas,
olhos de Dona Laurinha. Se ela também era permanentes e necessárias. Têm, talvez,
um objeto aos olhos dele? Sim, mas com a certa graça melancólica (um minuto) e com isto
diferença de que Dona Laurinha não procu- se fazem
rava fugir a essa simplificação, nem repara- perdoar a agitação incômoda e o translúcido
va; era, de fato, objeto. Ele, Santos, sentia-se vazio interior que os torna tão pobres e care-
vivo e desagradado. cidos
(Carlos Drummond de Andrade, O outro marido.) de emitir sons absurdos e agônicos: desejo,
amor, ciúme
4. (Uftm) Com base no texto, responda: (que sabemos nós?), sons que se despedaçam e
a) Por que, para o narrador, o fato de Santos ser tombam no campo
conferente da Alfândega não tem importância? como pedras aflitas e queimam a erva e a água,
b) Reescreva o trecho – ... o eu irredutível nada e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa ver-
tem a ver com as classificações profissionais. dade.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião.10 livros
– fazendo os ajustes necessários para em- de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.)
pregar a expressão as classificações profis-
sionais como sujeito da oração. 1. (UERJ) É comum encontrar nos livros escola-
res a definição de predicado como aquilo que
5. (Ufal) A sala ficou vazia. Todos os homens se se declara sobre o sujeito de uma oração.
dirigiram para o curral. As mulheres foram Essa definição de predicado, entretanto, não
depois. Os vaqueiros decidiram, como já era é suficiente para identificá-lo em todas as
um pouco tarde, que os animais fossem mon- suas ocorrências.
tados de dois em dois. O exemplo em que NÃO se poderia identificar
Transcreva do texto: o predicado pela definição dada é:
1. uma oração sem sujeito. a) “falta-lhes / não sei que atributo essencial,”
2. uma oração na voz passiva. (v. 3-4)
b) “Toda a expressão deles mora nos olhos”
(v.11)
c) “neles há pouca montanha,” (v. 14)
d) “sons que se despedaçam” (v. 22)

30
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

O Brasil ainda não é propriamente uma na- PALAVRAS


ção. Pode ser um Estado nacional, no sentido “Veio me dizer que eu desestruturo a lingua-
de um aparelho estatal organizado, abran- gem. Eu desestruturo a linguagem? Vejamos:
gente e forte, que acomoda, controla ou di- eu estou bem sentado num lugar. Vem uma
namiza tanto estados e regiões como grupos palavra e tira o lugar de debaixo de mim. Tira
raciais e classes sociais. Mas as desigualda- o lugar em que eu estava sentado. Eu não fa-
des entre as unidades administrativas e os zia nada para que a palavra me desalojasse
segmentos sociais, que compõem a socieda- daquele lugar. E eu nem atrapalhava a pas-
de, são de tal monta que seria difícil dizer sagem de ninguém. Ao retirar de debaixo de
que o todo é uma expressão razoável das mim o lugar, eu desaprumei. Ali só havia um
partes - se admitimos que o todo pode ser
grilo com a sua flauta de couro. O grilo ferida-
uma expressão na qual as partes também se
va o silêncio. Os moradores do lugar se quei-
realizam e desenvolvem.
xavam do grilo. Veio uma palavra e retirou o
Os estados e as regiões, por um lado, e os
grilo da flauta. Agora eu pergunto: quem de-
grupos e as classes, por outro, vistos em con-
sestruturou a linguagem? Fui eu ou foram as
junto e em suas relações mútuas reais, apre-
palavras? E o lugar que retiraram de debaixo
sentam-se como um conglomerado heterogê-
de mim? Não era para terem retirado a mim
neo, contraditório, disparatado. O que tem
do lugar? Foram as palavras pois que deses-
sido um dilema brasileiro fundamental, ao
truturaram a linguagem. E não eu.”
longo do Império e da República, continua (BARROS, Manoel de. Ensaios fotográficos.
a ser um dilema do presente: o Brasil se re- Rio de Janeiro: Record, 2000.)
vela uma vasta desarticulação. O todo parece
uma expressão diversa, estranha, alheia às 3. (UERJ) As gramáticas em geral registram
partes. E estas permanecem fragmentadas, duas ocorrências que deixam o sujeito in-
dissociadas, reiterando-se aqui ou lá, ontem determinado: frases como “Falaram mal de
ou hoje, como que extraviadas, em busca de você”, em que o verbo aparece na terceira
seu lugar. pessoa do plural e não há sujeito reconhecí-
É verdade que o Brasil está simbolizado na vel, e frases como “Precisa-se de servente”,
língua, hino, bandeira, moeda, mercado, em que o pronome “se” na terceira pessoa do
Constituição, história, santos, heróis, mo- singular, indetermina o sujeito.
numentos, ruínas. Há momentos em que o O poema de Manoel de Barros, no entanto,
país parece uma nação compreendida como cria uma outra ocorrência de sujeito inde-
um todo em movimento e transformação. terminado, que aparece no seguinte trecho:
Mas são frequentes as conjunturas em que a) “Veio me dizer que eu desestruturo a lingua-
se revelam as disparidades inerentes às di- gem”
versidades dos estados e regiões, dos grupos b) “Vejamos: eu estou bem sentado num lugar”
raciais e classes sociais. Acontece que as for- c) “Ali só havia um grilo com sua flauta de cou-
ças da dispersão frequentemente se impõem ro”
àquelas que atuam no sentido da integração. d) “E o lugar que retiraram de debaixo de
As mesmas forças que predominam no âmbi- mim?”
to do Estado, conferindo-lhe a capacidade de
controlar, acomodar e dinamizar, reiteram
continuamente as desigualdades e os desen-
contros que promovem a desarticulação. E.O. UERJ
(IANNI, Octávio. A ideia de Brasil moderno.
São Paulo: Brasiliense, 1992.) Exame Discursivo
2. (UERJ) “o Brasil se revela uma vasta desarti- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
culação”
A organização do trecho acima disfarça a con- TEXTO I - ARTE DE AMAR
dição sintaticamente passiva do termo sujeito.
Para remover o disfarce e manter o sentido, Se queres sentir a felicidade de amar, esque-
ce a tua alma.
deve-se reescrever a sentença da seguinte for-
A alma é que estraga o amor.
ma:
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
a) O Brasil é percebido de maneira desarticulada.
Não noutra alma.
b) O Brasil indica sua desarticulação aos brasi-
Só em Deus - ou fora do mundo.
leiros.
As almas são incomunicáveis.
c) O Brasil é desarticulado em fragmentos dis-
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
sociados.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
d) O Brasil é mostrado como uma vasta desarti-
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira: poesias
culação. reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974.)

31
TEXTO II - MINERAÇÃO DO OUTRO serventias que pelo poder e valor que 5agre-
gavam ao homem da Europa cristã, de alma
Os cabelos ocultam a verdade.
lapidada pela cultura 3ocidental. O primeiro
Como saber, como gerir um corpo alheio?
trabalho que tiveram os castelhanos foi o de
Os dias consumidos em sua lavra
imediatamente afirmarem a inferioridade
significam o mesmo que estar morto.
daquele homem que se recusava a total sub-
Não o decifras, não, ao peito oferto, serviência à majestade de Deus e d’el Rei,
monstruário de fomes enredadas, através de concepções bastante convenientes
ávidas de agressão, dormindo em concha. a seus propósitos. O brilho do metal, como o
Um toque, e eis que a blandícia1 erra em tor- canto da sereia, tornou-os surdos a qualquer
mento, apelo contrário que não fosse o da ambição
pelo ouro e pela prata, tornando-os insen-
e cada abraço tece além do braço síveis a qualquer consideração humana no
a teia de problemas que existir “trabalho” de 1submetimento do indígena,
na pele do existente vai gravando. até o seu extermínio ou à redução, dos que
Viver-não, viver-sem, como viver sobreviveram, à condição de servos ou escra-
sem conviver, na praça de convites? vos nas fainas da mineração.
Os sucessos castelhanos atiçaram os colo-
Onde avanço, me dou, e o que é sugado nos portugueses a iniciarem suas buscas,
ao mim de mim, em ecos se desmembra; seja pelo encanto daquelas descobertas, seja
nem resta mais que indício, pelas fantasias que se criaram a partir de-
pelos ares lavados, las: de tesouros fabulosos perdidos nas en-
do que era amor e dor agora, é vício. tranhas generosas das Américas; de relatos
imprecisos de indígenas vindos do interior;
O corpo em si, mistério: o nu, cortina
de noções equivocadas da geografia do con-
de outro corpo, jamais apreendido,
tinente como a da proximidade do Peru; ou
assim como a palavra esconde outra
mesmo de alguns possíveis indícios concre-
voz, prima e vera, ausente de sentido.
tos, surgiram lendas como as de Sabarabuçu
Amor é compromisso
e as de Paraupava, que avivavam os colonos
com algo mais terrível do que amor?
na procura de pedras e metais preciosos.
- pergunta o amante curvo à noite cega,
(MENDES Jr., A., RONCARI, L. e MARANHÃO, R. Brasil
e nada lhe responde, ante a magia: história: texto e consulta. São Paulo. Brasiliense, 1979.)
arder a salamandra2 em chama fria.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988.) 2. (Uerj) Na construção do texto, empregam-
-se pronomes pessoais e possessivos que ora
1
blandícia – meiguice, brandura; afago, estabelecem relações indispensáveis à com-
mimo, carícia preensão do sentido, ora se tornam redun-
2
salamandra – animal anfíbio que, segundo dantes nesta função textual.
a mitologia, era capaz de viver no fogo sem a) Observe atentamente o trecho compreendi-
ser consumido do entre as ref. 2 e 3 do primeiro parágrafo
e indique os termos antecedentes de ELES
1. (Uerj) Transcreva os sujeitos de “vai gravan- (ref. 4) e do sujeito oculto de AGREGAVAM
do” (verso 11 - texto II) e “resta” (verso 16 (ref. 5).
- texto II). b) Transcreva dois trechos em que o possessivo
possa ser suprimido sem qualquer prejuízo
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO para a compreensão do texto.

A CORRIDA DO OURO

Duzentos anos de buscas foram necessários E.O. Objetivas


para que os portugueses chegassem ao ouro
de sua América. Aos espanhóis não se apre- (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
sentou o problema da procura e pesquisa
dos metais preciosos. 6Assim que desembar- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
caram no México, na Colômbia ou no Peru,
V – O samba
seus olhos mercantis foram ofuscados pelo
ouro e prata que os homens da terra osten- À direita do terreiro, adumbra-se* na escuri-
tavam nas suas armas, adornos e 7utensílios. dão um maciço de construções, ao qual às ve-
2
Junto às suas civilizações, o gentio havia zes recortam no azul do céu os trêmulos vis-
desenvolvido a exploração e o trabalho dos lumbres das labaredas fustigadas pelo vento.
metais, para 4eles mais preciosos pelas suas (...)

32
É aí o quartel ou quadrado da fazenda, nome sobre objetos inocentes que movem olhadu-
que tem um grande pátio cercado de senza- ras e risadinhas apreciáveis. Outras criticam
las, às vezes com alpendrada corrida em vol- de uma gorducha vovó, que ensaca nos bol-
ta, e um ou dois portões que o fecham como sos meia bandeja de doces que veio para o
praça d’armas. chá, e que ela leva aos pequenos que, diz,
Em torno da fogueira, já esbarrondada pelo lhe ficaram em casa. Ali vê-se um ataviado
chão, que ela cobriu de brasido e cinzas, dan- dandy que dirige mil finezas a uma senhora
çam os pretos o samba com um frenesi que idosa, tendo os olhos pregados na sinhá, que
toca o delírio. Não se descreve, nem se ima- senta-se ao lado. Finalmente, no sarau não é
gina esse desesperado saracoteio, no qual essencial ter cabeça nem boca, porque, para
todo o corpo estremece, pula, sacode, gira, alguns é regra, durante ele, pensar pelos pés
bamboleia, como se quisesse desgrudar-se. e falar pelos olhos.
E o mais é que nós estamos num sarau. Inú-
Tudo salta, até os crioulinhos que esper-
meros batéis conduziram da corte para a ilha
neiam no cangote das mães, ou se enrolam
de... senhoras e senhores, recomendáveis por
nas saias das raparigas. Os mais taludos vi-
caráter e qualidades; alegre, numerosa e es-
ram cambalhotas e pincham à guisa de sapos
colhida sociedade enche a grande casa, que
em roda do terreiro. Um desses corta jaca brilha e mostra em toda a parte borbulhar o
no espinhaço do pai, negro fornido, que não prazer e o bom gosto.
sabendo mais como desconjuntar-se, atirou Entre todas essas elegantes e agradáveis mo-
consigo ao chão e começou de rabanar como ças, que com aturado empenho se esforçam
um peixe em seco. (...) para ver qual delas vence em graças, encan-
José de Alencar, Til. tos e donaires, certo sobrepuja a travessa
Moreninha, princesa daquela festa.
(*) “adumbra-se” = delineia-se, esboça-se.
(Joaquim Manuel de Macedo. A Moreninha, 1997.)

1. (Fuvest) Na composição do texto, foram usa-


2. (Unifesp) Assinale a alternativa em que a
dos, reiteradamente,
eliminação do pronome em destaque impli-
I. sujeitos pospostos;
ca, contextualmente, mudança do sujeito do
II. termos que intensificam a ideia de movi-
verbo.
mento;
a) Ali vê-se um ataviado dandy [...].
III. verbos no presente histórico. b) [...] aqui uma, cantando suave cavatina,
Está correto o que se indica em eleva-se vaidosa nas asas dos aplausos [...].
a) I, apenas. c) O velho lembra-se dos minuetes e das canti-
b) II, apenas. gas do seu tempo [...].
c) III, apenas. d) [...] mesmo na ocasião em que a moça se
d) I e II, apenas. espicha completamente [...].
e) I, II e III. e) [...] daí a pouco vão outras, pelos braços de
seus pares, se deslizando pela sala [...].
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Um sarau é o bocado mais delicioso que te-
mos, de telhado abaixo. Em um sarau todo Nos últimos três anos foram assassinadas
o mundo tem que fazer. O diplomata ajus- mais de 140 mil pessoas no Brasil. Uma mé-
ta, com um copo de champagne na mão, os dia de 47 mil pessoas por ano. Uma parcela
mais intrincados negócios; todos murmuram, expressiva destas mortes, que varia de re-
e não há quem deixe de ser murmurado. O gião para região, é atribuída à ação da po-
velho lembra-se dos minuetes e das cantigas lícia, que se respalda na impunidade para
do seu tempo, e o moço goza todos os regalos continuar cometendo seus crimes. São 25 as-
da sua época; as moças são no sarau como sassinatos ao ano por cada 100 mil pessoas,
as estrelas no céu; estão no seu elemento:
índice considerado de violência epidêmica,
aqui uma, cantando suave cavatina, eleva-se
segundo organismos internacionais.
vaidosa nas asas dos aplausos, por entre os
Se os assassinatos com armas de fogo são
quais surde, às vezes, um bravíssimo inopina-
do, que solta de lá da sala do jogo o parceiro uma face da violência vivida na nossa socie-
que acaba de ganhar sua partida no écarté, dade, ela não é a única. Logo atrás, em ter-
mesmo na ocasião em que a moça se espicha mos de letalidade, estão os acidentes fatais
completamente, desafinando um sustenido; de trânsito, com cerca de 33 mil mortos em
daí a pouco vão outras, pelos braços de seus 2002 e 35 mil mortes por ano em 2004 e
pares, se deslizando pela sala e marchando 2005. Isto, sem falar nos acidentados não fa-
em seu passeio, mais a compasso que qual- tais socorridos pelo Sistema Único de Saúde,
quer de nossos batalhões da Guarda Nacio- que multiplicam muitas vezes os números
nal, ao mesmo tempo que conversam sempre aqui apresentados e representam um custo

33
que o IPEA estima em R$ 5,3 bilhões para o em São Paulo, a cidade macota lambida pelo
ano de 2002. igarapé Tietê.
A lista da violência alonga-se incrivelmente. (Mário de Andrade, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.
Sobre as mulheres, os negros, os índios, os
gays, sobre os mendigos na rua, sobre os mo- 4. (Unifesp) O sujeito da oração “Mandou o
vimentos sociais etc. Uma discussão num bo-
passarinho uirapuru” pode ser identificado
tequim de periferia pode terminar em mor-
por meio da análise do contexto linguístico
te. A privação do emprego, do salário digno,
interno. Trata-se de:
da educação, da saúde, do transporte públi-
co, da moradia, da segurança alimentar, tudo a) sujeito indeterminado.
isso pode ser compreendido, considerando b) “uirapuru” = sujeito expresso.
que incide sobre direitos assegurados por c) “passarinho” = sujeito expresso.
nossa Constituição, como tantas outras for- d) Ele (“o herói”) = sujeito oculto.
mas de violência. e) Ele (“o Negrinho do Pastoreio”) = sujeito
(Silvio Caccia Bava. Le Monde Diplomatique oculto.
Brasil, agosto 2010. Adaptado.)
5. (Fuvest) O caso triste, e digno da memória
3. (Unifesp) No período Uma parcela expressi- Que do sepulcro os homens desenterra,
va destas mortes, que varia de região para Aconteceu da mísera e mesquinha
região, é atribuída à ação da polícia, que se Que depois de ser morta foi rainha.
respalda na impunidade para continuar co- Para o correto entendimento destes versos
metendo seus crimes, as palavras sublinha- de Camões, é necessário saber que o sujeito
das referem-se, respectivamente, do verbo DESENTERRA é
a) à palavra parcela e tem a função de sujeito; a) OS HOMENS (por licença poétic.
à palavra polícia e tem a função de sujeito. b) ele (oculto).
b) à palavra mortes e tem a função de sujeito;
c) o primeiro QUE.
à palavra polícia e tem a função de sujeito.
c) à palavra parcela e tem a função de objeto; à d) o CASO TRISTE.
palavra polícia e tem a função de objeto. e) SEPULCRO.
d) à palavra parcela e tem a função de objeto; à
palavra ação e tem a função de sujeito.
e) à palavra parcela e tem a função de sujeito;
à palavra ação e tem a função de sujeito.
E.O. Dissertativas
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
Uma feita em que deitara numa sombra en- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
quanto esperava os manos pescando, o Ne-
A(s) próxima(s) questão(ões) toma(m) por
grinho do Pastoreio pra quem Macunaíma
base um poema de Luiz Gama (1830-1882),
rezava diariamente, se apiedou do panema
poeta, jornalista e líder abolicionista brasi-
e resolveu ajudá-lo. Mandou o passarinho
uirapuru. Quando sinão quando o herói es- leiro, nascido livre e vendido como escravo
cutou um tatalar inquieto e o passarinho pelo próprio pai, e um excerto da narrativa
uirapuru pousou no joelho dele. Macunaíma Doze anos de escravidão, de Solomon Nor-
fez um gesto de caceteação e enxotou o pas- thup (1808-1863), homem livre sequestrado
sarinho uirapuru. Nem bem minuto passa- em Washington em 1841 e submetido à es-
do escutou de novo a bulha e o passarinho cravidão em fazendas da Louisiana, livro que
pousou na barriga dele. Macunaíma nem se serviu de base ao roteiro do filme 12 anos de
amolou mais. Então o passarinho uirapuru escravidão, dirigido por Steve McQueen.
agarrou cantando com doçura e o herói en-
tendeu tudo o que ele cantava. E era que Ma- No cemitério de S. Benedito
cunaíma estava desinfeliz porque perdera a
Em lúgubre recinto escuro e frio,
muiraquitã na praia do rio quando subia no
bacupari. Porém agora, cantava o lamento do Onde reina o silêncio aos mortos dado,
uirapuru, nunca mais que Macunaíma havia Entre quatro paredes descoradas,
de ser marupiara não, porque uma tracajá Que o caprichoso luxo não adorna,
engolira a muiraquitã e o mariscador que Jaz da terra coberto humano corpo,
apanhara a tartaruga tinha vendido a pedra que escravo sucumbiu, livre nascendo!
verde pra um regatão peruano se chamando Das hórridas cadeias desprendido,
Venceslau Pietro Pietra. O dono do talismã Que só forjam sacrílegos tiranos,
enriquecera e parava fazendeiro e baludo lá Dorme o sono feliz da eternidade.

34
Não cercam a morada lutuosa deixá-lo viver. Se eu o matasse, minha vida
Os salgueiros, os fúnebres ciprestes, teria de pagar pelo crime — se ele vivesse,
Nem lhe guarda os umbrais da sepultura apenas minha vida satisfaria sua sede de vin-
Pesada laje de espartano mármore, gança. Uma voz lá dentro me dizia para fugir.
Somente levantado em quadro negro Ser um andarilho nos pântanos, um fugitivo
Epitáfio se lê, que impõe silêncio! e um vagabundo sobre a Terra, era preferível
— Descansam n’este lar 1caliginoso à vida que eu estava levando.
O mísero cativo, o desgraçado!... Doze anos de escravidão, 2014.

Aqui não vem rasteira a vil lisonja


1. (Unesp) Indique os termos que exercem a
Os feitos decantar da tirania,
função de sujeito nas orações que constituem
Nem ofuscando a luz da sã verdade
os versos das referências 5 e 6 do poema de
Eleva o crime, perpetua a infâmia. Luiz Gama e o que há de comum nesses ver-
Aqui não se ergue altar ou trono d’ouro sos no que se refere à posição que ocupam
Ao torpe mercador de carne humana. em relação aos respectivos predicados.
5
Aqui se curva o filho respeitoso
Ante a lousa materna, e o pranto em fio TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Cai-lhe dos olhos revelando mudo
Soneto de Fernando Pessoa /
A história do passado. Aqui nas sombras
Álvaro de Campos
Da funda escuridão do horror eterno,
6Dos braços de uma cruz pende o mistério, Quando olho para mim não me percebo.
Faz-se o 2cetro 3bordão, andrajo a túnica, Tenho tanto a mania de sentir
Mendigo o rei, o 4potentado escravo! Que me extravio às vezes ao sair
Primeiras trovas burlescas e outros poemas, 2000. Das próprias sensações que eu recebo.
1
caliginoso: muito escuro, tenebroso. O ar que respiro, este licor que bebo,
2
cetro: bastão de comando usado pelos reis. Pertencem ao meu modo de existir,
3
bordão: cajado grosso usado como apoio ao E eu nunca sei como hei de concluir
caminhar. As sensações que a meu pesar concebo.
4
potentado: pessoa muito rica e poderosa.
Nem nunca, propriamente reparei,
Doze anos de escravidão Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei
Houvera momentos em minha infeliz vida,
muitos, em que o vislumbre da morte como Tal qual me julgo verdadeiramente?
o fim de sofrimentos terrenos — do túmu- Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
lo como um local de descanso para um corpo Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
cansado e alquebrado — tinha sido agradável (Fernando Pessoa, Obra poética, Rio de Janeiro,
de imaginar. Mas tal contemplação desapare- Cia. J. Aguilar Ed., 1974, p. 301)
ce na hora do perigo. Nenhum homem, em
posse de suas forças, consegue ficar imper- 2. (Fuvest) “O ar que respiro, este licor que
turbável na presença do “rei dos horrores”. bebo, pertencem ao meu modo de existir.”
A vida é cara a qualquer coisa viva; o verme É composto o sujeito do verbo PERTENCEM.
rastejante lutará por ela. Naquele momento, a) Qual é esse sujeito composto?
era cara para mim, escravizado e tratado tal b) Qual a classificação das orações que acompa-
como eu era. nham cada membro desse sujeito?
Sem conseguir livrar a mão dele, novamente
o peguei pelo pescoço e dessa vez com uma TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
empunhadura medonha que logo o fez afrou- LXXII
xar a mão. Tibeats ficou enfraquecido e des- Uma Reforma Dramática
mobilizado. Seu rosto, que estivera branco de
paixão, estava agora preto de asfixia. Aque- Nem eu, nem tu, nem qualquer outra pes-
les olhos miúdos de serpente que exalavam soa desta história poderia responder mais,
tanto veneno estavam agora cheios de horror tão certo é que o destino, como todos os dra-
— duas órbitas brancas precipitando-se para maturgos, não anuncia as peripécias nem o
fora. desfecho. Eles chegam a seu tempo, até que
Havia um “demônio à espreita” em meu cora- o pano cai, apagam-se as luzes, e os especta-
ção que me instava a matar o maldito cão na- dores vão dormir. Nesse gênero há porventu-
quele instante — a manter a pressão em seu ra alguma coisa que reformar, e eu proporia,
odioso pescoço até que o sopro de vida se fos- como ensaio, que as peças começassem pelo
se! Não ousava assassiná-lo, mas não ousava fim. Otelo mataria a si e a Desdêmona no

35
primeiro ato, os três seguintes seriam da-
dos à ação lenta e decrescente do ciúme, e Gabarito
o último ficaria só com as cenas iniciais da
ameaça dos turcos, as explicações de Otelo e
Desdêmona, e o bom conselho do fino Iago:
E.O. Aprendizagem
“Mete dinheiro na bolsa.” Desta maneira 1. A 2. D 3. A 4. E 5. E
o espectador, por um, acharia no teatro a 6. A 7. C 8. B 9. D 10. B
charada habitual que os periódicos lhe dão,
porque os últimos atos explicariam o desfe-
cho do primeiro, espécie de conceito, e, por E.O. Fixação
outro lado, ia para a cama com uma boa im-
1. D 2. B 3. B 4. B 5. E
pressão de ternura e de amor:
6. A 7. A 8. C 9. E 10. B
CXXXV
Otelo

Jantei fora. De noite fui ao teatro. Repre-


E.O. Complementar
sentava-se justamente Otelo, que eu não vira 1. A 2. B 3. A 4. D 5. C
nem lera nunca; sabia apenas o assunto, e
estimei a coincidência. Vi as grandes raivas
do mouro, por causa de um lenço, - um sim- E.O. Dissertativo
ples lenço! - e aqui dou matéria à meditação 1.
dos psicólogos deste e de outros continen- a) O adjetivo é a palavra “acessória”.
tes, pois não me pude furtar à observação de b) O sujeito é “oportunidades de encontros
e de interações.”
que um lenço bastou a acender os ciúmes de
c) Há predomínio pelo presente do indica-
Otelo e compor a mais sublime tragédia des-
tivo para tratar até mesmo de ações do
te mundo. Os lenços perderam-se, hoje são
passado.
precisos os próprios lençóis, alguma vez nem
2.
A forma verbal é “vendiam”.
lençóis há, e valem só as camisas. Tais eram
Podemos observar que todos os outros verbos
as ideias que me iam passando pela cabeça,
apresentam o eu lírico como seu sujeito ou
vagas e turvas, à medida que o mouro rolava seu complemento. Os verbos que apresentam
convulso, e Iago destilava a sua calúnia. Nos o eu lírico como sujeito são: “tomei”, “che-
intervalos não me levantava da cadeira; não guei”, “subi”, “desci”, “pedi”, “quis”, “fui”,
queria expor-me a encontrar algum conhe- “disparei” e “gritei”. Todos na primeira pes-
cido. As senhoras ficavam quase todas nos soa e, portanto, com a primeira pessoa como
camarotes, enquanto os homens iam fumar. sujeito (no caso, o eu lírico). Os verbos que
Então eu perguntava a mim mesmo se algu- apresentam o eu lírico como complemento
ma daquelas não teria amado alguém que são “serviram-me” e “responderam-me”,
jazesse agora no cemitério, e vinham outras pois ambos apresentam o pronome oblíquo
incoerências, até que o pano subia e conti- “me” que indica que a primeira pessoa (eu
nuava a peça. O último ato mostrou-me que lírico) é objeto direto do verbo.
não eu, mas Capitu devia morrer. Ouvi as sú- 3.
O substantivo pode ser “prefeitura” ou “em-
plicas de Desdêmona, as suas palavras amo- presa”, pois no texto I é dito que a prefeitu-
rosas e puras, e a fúria do mouro, e a morte ra contratou uma empresa terceirizada para
que este lhe deu entre aplausos frenéticos “limpar” os muros que tivessem pichações e,
do público. assim, muitas obras foram apagadas.
Machado de Assis, Dom Casmurro 4.
a) Para o narrador, o que importava era a es-
3. (Fuvest) No último período do capítulo LX- sência e não a aparência (“Pouco importa
XII “espectador” acaba sendo sujeito de dois que nos avaliem pela casca. Por dentro,
verbos. sentia-se diferente, capaz de mudar sem-
a) Quais são esses verbos? pre, enquanto a situação exterior e fami-
b) Em que modo e tempo se encontram os verbos liar não mudava”).
b) As classificações profissionais nada têm a
ver com o eu irredutível.
5.
1. “já era um pouco tarde...” oração sem su-
jeito
2. “...os animais fossem montados de dois
em dois” (voz passiva)

36
E.O. UERJ
Exame Objetivo
1. C 2. D 3. A

E.O. UERJ
Exame Discursivo
1. vai gravando: existir
resta: indício
2.
a) Eles: gentio.
Agregavam: os metais.
b) - que os homens da terra ostentavam nas
suas armas, adornos e utensílios.
§§ mais preciosos pelas suas serventias
§§ Os sucessos castelhanos atiçaram os
colonos portugueses a iniciarem suas
buscas,

E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. E 2. A 3. A 4. E 5. C

E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1.
A referência 5 (“Aqui se curva o filho res-
peitoso”) apresenta como sujeito simples os
termos “o filho respeitoso”, cujo núcleo é o
substantivo “filho”.
A referência 6 (“Dos braços de uma cruz
pende o mistério”) apresenta como sujeito
simples os termos “o mistério”, cujo núcleo
é o substantivo “mistério”.
Em relação aos predicados de ambas as refe-
rências nota-se que o sujeito de cada oração
está posposto.
2.
a) “ar” e “licor” são os núcleos do sujeito
composto.
b) “que respiro” e “que bebo” são orações
subordinadas adjetivas restritivas.
3.
a) Achar e ir.
b) Acharia: futuro do pretérito do indicativo
Ia: pretérito imperfeito do indicativo
(mas tem valor de futuro do pretérito:
iria)

37
Aulas 29 e 30

Termos integrantes da oração


Competências 1, 6 e 8
Habilidades 1, 3, 4, 18, 25 e 27
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Termo integrantes da oração
Alguns verbos ou nomes presentes numa oração não têm sentido completo em si mesmo. Sua significação só se
completa com a presença de outros termos. A esses complementos, damos o nome de termos integrantes. São eles:

§§ complementos verbais (objeto direto e objeto indireto)


§§ complemento nominal
§§ agente da passiva

Antes de iniciar a conceituação sobre cada um deles, é importante compreender a noção de transitivida-
de. Alguns verbos têm a necessidade de se fazerem acompanhar de um objeto (direto ou indireto), que completa
o sentido de sua predicação. Dessa forma, se a oração finalizasse apenas no verbo, não haveria uma frase com
sentido completo em Português.
Aos verbos que necessitam de objetos diretos (completam sua significação sem a presença de pre-
posição), dá-se o nome de verbos transitivos diretos.
Aos verbos que necessitam de objetos indiretos (completam sua significação com a presença de preposi-
ção), dá-se o nome de verbos transitivos indiretos.
Aos verbos que necessitam de objeto direto e objeto indireto (ambos complementam sua signifi-
cação), dá-se o nome de verbos bitransitivos.
Aos verbos que apresentam sentido completo em si mesmo, dá-se o nome de verbos intransi-
tivos.
a) O diretor anunciou o fim da reunião. (verbo anunciar precisa do complemento o fim da reunião, para que
se construa uma frase com sentido pleno em Português.)
b) Os animais de estimação precisam de cuidados diários. (verbo precisar necessita do complemento de
cuidados diários, para que se construa uma frase com sentido pleno em Português.)
c) Os ministros informaram a nova política econômica aos trabalhadores. (verbo informar necessita do com-
plemento a nova política econômica e do complemento aos trabalhadores, para que se construa uma
frase com sentido pleno em Português.)
d) A criança dorme. (verbo dormir não necessita de complemento, pois enuncia um sentido pleno em si mes-
mo.)
1. Complementos verbais completam o sentido de verbos transitivos diretos e transitivos indiretos.
Objeto direto é o termo que completa o sentido do verbo transitivo direto, ligando-se a ele sem o auxílio da
preposição.
Exemplo: Os professores fizeram as resoluções dos exercícios.

O objeto direto pode ser constituído:


a) por um substantivo ou expressão substantivada.
Exemplos: O agricultor cultiva a terra.
Unimos o útil ao agradável.

b) pelos pronomes oblíquos o, a, os, as, me, te, se, nos, vos.
Exemplos: Espero-o na minha formatura.
Ela me ama.
Observação: Os pronomes oblíquos empregados no interior de um mesmo enunciado têm a função de
objeto direto pleonástico. Aqueles livros (objeto direto) na estante, eu os (objeto direto pleonástico do
mesmo verbo) comprei na loja nova do shopping.

41
Importante

Há casos em que o objeto direto pode vir acompanhado de preposição facultativa (objeto direto preposi-
cionado). Isso pode ocorrer:
§§ se o objeto for um substantivo próprio: Adoremos a Deus.
§§ se o objeto for representado por um pronome pessoal oblíquo tônico: Ofenderam a mim, não a ele.
§§ se o objeto for representado por um pronome substantivo indefinido: O diretor elogiou a todos.
§§ para evitar ambiguidade: Venceu ao inimigo o nosso colega. (se o objeto direto não viesse preposiciona-
do, o sentido da oração ficaria ambíguo, pois não poderíamos apontar com precisão o sujeito – o nosso
colega.)

§§ Objeto indireto é o termo que completa o sentido de um verbo transitivo indireto. Vincula-se indiretamen-
te aos verbos mediante uma preposição.
Exemplo: Gostava de Matemática e Física.

Importante
Algumas vezes, o objeto indireto vem antecedido de crase (à, àquele, àquela, àquilo). Isso ocorre se o
verbo exigir a preposição a, que acaba se contraindo com a palavra seguinte. Entregaram à mãe o presente.
(à = a preposição + a artigo definido)
Observação: Pode ocorrer também o objeto indireto pleonástico, que consiste na retomada do objeto
por um pronome pessoal, geralmente com a intenção de destacá-lo. Quero mostrar-lhes (objeto indireto), a todos
(objeto indireto pleonástico do mesmo verbo) as fotos que acabo de receber.

2. Complemento nominal – nomes (substantivos e adjetivos) e alguns advérbios, da mesma forma que os
verbos, podem exigir um complemento para integrar seu sentido. Tais complementos de nomes são chama-
dos complementos nominais e vêm sempre antecedidos por preposição.

§§ Substantivo complemento nominal


Exemplo: Ela tem orgulho da filha.

§§ Adjetivo complemento nominal


Exemplo: Ana estava consciente de sua escolha.

§§ Advérbio complemento nominal


Exemplo: O juiz decidiu favoravelmente ao acusado.
Observação: O complemento nominal representa o recebedor, o paciente, o alvo da declaração ex-
pressa por um nome. É regido pelas mesmas preposições do objeto indireto. Difere dele apenas porque,
em vez de complementar verbos complementa nomes (substantivos, adjetivos) e alguns advérbios ter-
minados em -mente. Os complementos nominais mantêm com os nomes o mesmo tipo de relação que
os objetos mantêm com os verbos transitivos. Eles são necessários para complementar o sentido dos
nomes. Observe estes grupos comparativos.
Exemplos: Compramos objetos novos para a casa. (os termos destacados são o complemento
verbal, do tipo objeto direto, do verbo transitivo direto comprar).
A compra dos objetos novos para a casa saiu cara. (os termos destacados são o com-
plemento nominal do substantivo compra.)

42
3. Agente da passiva é o termo da frase que pratica a ação expressa pelo verbo na voz passiva analítica
(construída com o verbo ser). Vem regido comumente da preposição por e eventualmente da preposição de.
Exemplo: A vencedora foi escolhida pelos jurados.
sujeito paciente voz passiva verbo Agente da passiva

Ao passar a frase da voz passiva para a voz ativa, o agente da passiva recebe o nome de sujeito:
Exemplo: Os jurados escolheram a vencedora.
sujeito verbo objeto direto

voz ativa

Exemplo: A empresa foi comprada pela concorrente.


sujeito paciente verbo Agente da passiva

voz passiva

O concorrente comprou a empresa.


sujeito verbo objeto direto
voz ativa

Observações:
a) O agente da passiva pode ser expresso por substantivos ou pronomes. O solo foi umedecido pela chuva.
(substantivo) Este livro foi escrito por mim. (pronome).
b) Embora o agente da passiva seja considerado um termo integrante, pode, muitas vezes, ser omitido. O
público não foi bem recebido. (pelos anfitriões, agente da passiva).

43
INTERATIVI
A DADE

LER

Livros

Iniciação à sintaxe do português – José Carlos de Azerdo

Além de um exame puramente gramatical, esse livro rediscute


conceitos, examina os mecanismos internos da língua portuguesa,
aborda o tema 'sintaxe e discurso' e finaliza com análises de
textos. Procurando fazer justiça à gramática tradicional e num
reexame crítico desta, aponta rumos e apresenta soluções de
análise, em um texto de valor para todos que se dedicam ao
estudo da língua portuguesa.

Sintaxe para educação básica – Celso Ferrarezi Junior

A ordenação, a organização das palavras e a construção das frases


são objeto de estudo da Sintaxe. Mas como despertar nos alunos
a vontade de aprender essa disciplina que ainda gera grande
dificuldade e, muitas vezes, vem associada apenas a decorar? O
professor Celso Ferrarezi Junior utiliza a linguagem descontraída
de sala de aula para mostrar que é possível ensinar Sintaxe
de forma eficaz e duradoura. Com uma configuração bastante
didática, este livro é excelente para professores do ensino básico,
mas também pode ser utilizado por qualquer pessoa que queira
aprimorar escrita e fala. Além de balões de dicas ao longo do
texto, a obra traz exercícios e respostas.

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Estrutura Conceitual
SINTAXE

PERÍODO SIMPLES

TERMOS TERMOS TERMOS


ESSENCIAIS INTEGRANTES ACESSÓRIOS

- Complemento verbal
objeto direto
objeto indireto
- Complemento nominal
- Agente da passiva

46
E.O. Aprendizagem parece compreendê-las. Representa compor-
tamentos pré-definidos como o de um psica-
nalista e responde com alguma lógica a ques-
1. (Ifal 2018) Considerando que o verbo estar tões menos profundas. Tudo pré-programado
pode ser interpretado como sendo verbo de e incapaz de evitar o inesperado.
ligação, se indica apenas um estado, ou ver- Enganar com o computador, como se vê, pode
bo intransitivo, se a estada em determina- ser possível. Calma. Ninguém se preocupe se
do local, assinale a opção em que, no par de a técnica parece dominar tudo e os técnicos
sentenças, o verbo estar seja verbo de liga- assumem ares de seres superpoderosos e úni-
ção na primeira sentença e verbo intransiti- cos receptáculos de um saber só entendido
vo na segunda. por eles, porque falam entre si numa lingua-
a) Astrogildo estava em casa. Ele estava cansado. gem cifrada e incompreensível.
b) Astrogildo estava cansado. Por isso ele esta- Tudo pode ser decodificado facilmente, e o
va em casa. que hoje perece intransponível não o será
c) Adalgiza está cansada. Ela está doente. logo mais. Basta ver a facilidade da criança-
d) Publílio está em casa. Ele está em Maceió. da com os computadores. Assim, termos como
e) Epafrodito está no sítio do tio. Ele está em inteligência artificial ainda servem apenas
Rio Largo. para ocultar a vontade de um domínio tec-
nicista sobre o saber universal e humanista.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Se é possível criar máquinas habilitadas no
domínio da lógica para resolver problemas
Inteligência o quê? estratégicos, não é possível dotá-las de atri-
butos inerentes à condição humana.
Inteligência vem da junção das palavras lati- Conforme defende L.H. Dreyfus (“intelligen-
nas inter (entre) legere (escolher). Por meio ce artificiele – Mythes et limites”, 1984),
da seleção e da escolha os humanos compre- existem quatro postulados bastantes discutí-
endem as coisas. veis quando se fala de inteligência- artificial:
Na idade média, os filósofos se referiam à in- o biológico (os impulsos cerebrais), o psico-
teligência como a parte superior da alma e lógico (a própria mente), o epistemológico
sua capacidade de conhecimento. Desde en- (relativo ao saber e às suas formulações) e o
tão, compõe um trio inseparável: memória- ontológico (os elementos determinados e in-
-inteligência-vontade. dependentes de todo contexto).
Quando se fala em inteligência artificial, nin- Na porta do século XXI, o desenvolvimento
guém pode deixar de lado esse ternário. É das tecnologias é exponencial, basta refletir
aterrorizante imaginar essas três atividades com tranquilidade para saber que a técnica
operando conjuntamente em outro local que ajuda, facilita e até resolve, mas não é tudo e
não o cérebro humano. nem pode superar o cérebro humano naquilo
Seria possível dotar um computador de razão? que ele tem de melhor – e pior: a razão – ou
Capaz de compreender, julgar, ter bom senso, desrazão.
juízo? A desafiadora expressão inteligência artifi-
Os computadores guardam ainda a base de cial, portanto pode enganar mais do que es-
seu desenvolvimento na década de 40, a ca- clarecer. Prefiro a reação de Millôr Fernandes
pacidade algorítmica, aptos para resolver cál- ao saber deste diálogo impertinente: “Me
culos científicos, mas não para analisá-los, chamem quando forem discutir a burrice na-
como se explica na “Enciclopédia Filosófica tural”.
Universal”,o local menos suspeito para uma Caio Túlio Costa in Folha de São Paulo, 23 jul. 2017.
consulta sobre máquinas teoricamente habi-
litadas a simular a inteligência. 2. (Ifba 2018) “A tecnologia tornou possível a
O computador tem conseguido ultrapassar o existência de grandes populações. Grandes popu-
homem na rapidez e na confiabilidade das lações agora tornam a tecnologia indispensável”
operações matemáticas, nas tarefas de rotina, (Joseph Krutch – escritor)
nos encadeamento lógicos. A máquina na qual
escrevi essa coluna, evidentemente, não com- Na citação acima, o termo “grandes popula-
preende o texto escrito nela. Pode até vertê-lo ções” aparece, respectivamente, com as se-
para outra língua, mas jamais vai poder en- guintes funções:
tender e traduzir em toda a sua profundidade a) Especificador do nome “existência” e sujeito
o significado doce e doloroso de uma palavra da forma verbal “tornam”.
como saudade, existente somente na língua b) Complemento do nome “existência” e sujeito
portuguesa. da forma verbal “tornam”.
Já inventaram programas de computador c) Especificador do nome “existência” e objeto
como o Elisa que “conversa” com as pessoas e da forma verbal “tornam”.

47
d) Complemento do nome “existência” e objeto Tintim por tintim. A menina muito dada
da forma verbal “tornam”. namoraria sim-sim por sim-sim. O gordo in-
e) Complemento do nome “existência” e espe- controlável progrediria pela vida quindim
cificador da forma verbal “tornam”. por quindim. O telespectador habitual vive-
ria plim-plim por plim-plim. E você e eu va-
3. (Cp2 2017) A inversão de termos sintáticos mos ganhando nosso salário tin por tin (olha
é um recurso que objetiva conferir maior ex- aí, a inflação já levou dois tins).
pressividade ao texto. Resolvido o mistério do tintim, que não é
“No verso “Já não me convém o título de ho- uma subdivisão nem de tempo nem de es-
mem.” (verso 44), o termo “o título de ho- paço nem de matéria, resta o triz. O Aure-
mem”, que está na ordem indireta, exerce lião não nos ajuda. "Triz", diz ele, significa
função sintática de por pouco. Sim, mas que pouco? Queremos
a) aposto. algarismos, vírgulas, zeros, definições para
b) sujeito. "triz". Substantivo feminino. Popular.
c) objeto direto.
"Icterícia." Triz quer dizer icterícia. Ou tere-
d) complemento nominal.
mos que mudar todas as nossas teorias sobre
o Universo ou teremos que mudar de assun-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
to. Acho melhor mudar de assunto.
O Universo já tem problemas demais.
Tintim
(VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comédias para ler
Durante alguns anos, o tintim me intrigou. na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.)
Tintim por tintim: o que queria dizer aqui-
lo? Imaginei que fosse alguma misteriosa 4. (Ifsp) Considere o recorte: “O Aurelião não
medida de outros tempos que sobrevivera ao nos ajuda.”. O trecho em destaque, de acordo
sistema métrico, como a braça, a légua, etc. com a norma padrão da Língua Portuguesa,
Outro mistério era o triz. Qual a exata defini- exerce a função sintática de:
ção de um triz? É uma subdivisão de tempo a) sujeito.
ou de espaço. As coisas deixam de acontecer
b) objeto direto.
por um triz, por uma fração de segundo ou
c) complemento nominal.
de milímetro. Mas que fração? O triz talvez
d) predicativo do sujeito.
correspondesse a meio tintim, ou o tintim a
e) adjunto adnominal.
um décimo de triz.
Tanto o tintim quanto o triz pertenceriam ao
obscuro mundo das microcoisas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Há quem diga que não existe uma fração mí-
A mulher e a casa
nima de matéria, que tudo pode ser dividido
e subdividido. Assim como existe o infinito Tua sedução é menos
para fora – isto é, o espaço sem fim, depois de mulher do que de casa:
que o Universo acaba – existiria o infinito pois vem de como é por dentro
para dentro. A menor fração da menor par-
ou por detrás da fachada.
tícula do último átomo ainda seria formada
por dois trizes, e cada triz por dois tintins, e Mesmo quando ela possui
cada tintim por dois trizes, e assim por dian- tua plácida elegância,
te, até a loucura. esse teu reboco claro,
Descobri, finalmente, o que significa tintim. riso franco de varandas,
É verdade que, se tivesse me dado o trabalho
de olhar no dicionário mais cedo, minha ig- uma casa não é nunca
norância não teria durado tanto. Mas o ób- só para ser contemplada;
vio, às vezes, é a última coisa que nos ocorre. melhor: somente por dentro
Está no Aurelião. Tintim, vocábulo onomato- é possível contemplá-la.
paico que evoca o tinido das moedas.
Originalmente, portanto, "tintim por tin- Seduz pelo que é dentro,
tim" indicava um pagamento feito minucio- ou será, quando se abra;
samente, moeda por moeda. Isso no tempo pelo que pode ser dentro
em que as moedas, no Brasil, tiniam, ao con- de suas paredes fechadas;
trário de hoje, quando são feitas de papelão
e se chocam sem ruído. Numa investigação pelo que dentro fizeram
feita hoje da corrupção no país tintim por com seus vazios, com o nada;
tintim ficaríamos tinindo sem parar e che- pelos espaços de dentro,
garíamos a uma nova concepção de infinito. não pelo que dentro guarda;

48
pelos espaços de dentro: população humana estressa a capacidade dos
seus recintos, suas áreas, sistemas naturais em manter sua estrutura e
organizando-se dentro funcionamento.
em corredores e salas, Os ambientes que as atividades humanas do-
minam ou criaram – incluindo nossas áreas
os quais sugerindo ao homem de vida urbanas e suburbanas, nossas terras
estâncias aconchegadas, cultivadas, nossas áreas de recreação, plan-
paredes bem revestidas tações de árvore e pesqueiros – são também
ou recessos bons de cavas, ecossistemas. O bem-estar da humanidade
depende de manter o funcionamento desses
exercem sobre esse homem
sistemas, sejam eles naturais ou artificiais.
efeito igual ao que causas:
Virtualmente toda a superfície da Terra é, ou
a vontade de corrê-la
em breve será, fortemente influenciada por
por dentro, de visitá-la.
pessoas, se não completamente sob seu con-
Disponível em: http://amoraroxa.blogspot. trole. 3Os humanos já usurpam quase metade
com.br/2008/02/mulher-e-casa-joo-cabral-de-
melo-neto.html. Acesso em: 24.09.2015 da produtividade biológica da biosfera. Não
podemos assumir essa responsabilidade de
forma negligente.
5. (Ifba) Fazendo a análise morfossintática da 4
A população humana se aproxima da marca
última estrofe, pode-se afirmar que, em “vi-
de 7 bilhões, e consome energia e recursos,
sitá-la”:
e produz rejeitos muito além do necessário
a) o verbo é intransitivo.
ditado pelo metabolismo biológico. Essas
b) o “la” é objeto indireto.
atividades causaram dois problemas relacio-
c) o acento agudo é facultativo.
nados de dimensões globais. O primeiro é o
d) o “la” é complemento nominal.
seu impacto nos sistemas naturais, incluin-
e) o “la” é pronome oblíquo e assume a função
do a interrupção de processos ecológicos e
de objeto direto.
a exterminação de espécies. O segundo é a
firme e constante deterioração do próprio
6. (Cps) Comida é o nome de uma das músicas ambiente da espécie humana à medida que
dos Titãs. Leia um fragmento dela. pressionamos os limites dentro dos quais os
ecossistemas podem se sustentar. 5Compre-
“A gente não quer só comida
ender os princípios ecológicos é um passo
A gente quer comida
necessário para lidar com esses problemas.
Diversão e arte
RICKLEFS, Robert E. A economia da natureza. 6. ed. Rio
A gente não quer só comida de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. p. 15. (Adaptado).
A gente quer saída
Para qualquer parte” (...)
(Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio Britto) (http:// 7. (Ueg) Comparando-se as frases “A população
tinyurl.com/lwl3v2c Acesso em: 31.07.2014. Adaptado) humana se aproxima da marca de 7 bilhões”
(ref. 4) e “Compreender os princípios ecoló-
Podemos afirmar que os termos “comida, di-
gicos é um passo necessário para lidar com
versão e arte”, nesse trecho, exercem sinta-
esses problemas” (ref. 5), verifica-se que os
ticamente a função de
trechos sublinhados desempenham a função
a) complemento nominal.
sintática de
b) sujeito composto.
a) sujeito em ambas as orações.
c) objeto indireto.
b) objeto na primeira oração e sujeito na se-
d) objeto direto.
gunda.
e) aposto.
c) objeto em ambas as orações.
d) sujeito na primeira oração e objeto na se-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO gunda.
OS HUMANOS SÃO UMA PARTE
IMPORTANTE DA BIOSFERA TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Felicidade Clandestina
As maravilhas do mundo natural atraem a
Clarice Lispector
nossa curiosidade sobre a vida e tudo que
nos cerca. Para muitos de nós, nossa curio- Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos
sidade sobre a Natureza e os desafios de seu excessivamente crespos, meio arruivados.
estudo são razões suficientes. 1Além disso, Tinha um busto enorme, enquanto nós todas
contudo, nossa necessidade de compreen- ainda éramos achatadas. (...) Mas possuía o
der a Natureza está se tornando mais e mais que qualquer criança devoradora de histórias
urgente, 2à medida que o crescimento da gostaria de ter: um pai dono de livraria. (...)

49
Ela toda era pura vingança, chupando balas Foi então que, finalmente se refazendo, dis-
com barulho. Como essa menina devia nos se firme e calma para a filha: você vai em-
odiar, nós que éramos imperdoavelmente prestar o livro agora mesmo. E para mim: “E
bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos li- você fica com o livro por quanto tempo qui-
vres. Comigo exerceu com calma ferocidade o ser.” Entendem? Valia mais do que me dar o
seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo
notava as humilhações a que ela me subme- o que uma pessoa, grande ou pequena, pode
tia: continuava a implorar-lhe emprestados ter a ousadia de querer.
os livros que ela não lia. Como contar o que se seguiu? Eu estava
Até que veio para ela o magno dia de come- estonteada, e assim recebi o livro na mão.
çar a exercer sobre mim uma tortura chi- Acho que eu não disse nada. Peguei o livro.
nesa. Como casualmente, informou-me que Não, não saí pulando como sempre. Saí an-
possuía As reinações de Narizinho, de Mon- dando bem devagar. (...) Chegando em casa,
teiro Lobato. não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para depois ter o susto de o ter. (...) Criava
para se ficar vivendo com ele, comendo-o, as mais falsas dificuldades para aquela coisa
dormindo-o. E, completamente acima de mi- clandestina que era a felicidade. A felicidade
nhas posses. Disse-me que eu passasse pela sempre ia ser clandestina para mim. Parece
que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia
sua casa no dia seguinte e que ela o empres-
no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu
taria. (...)
era uma rainha delicada. (...)
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente
(http://tinyurl.com/veele-contos Acesso
correndo. Ela não morava num sobrado como
em: 27.08.14. Adaptado)
eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar.
Olhando bem para meus olhos, disse-me que 8. (Fatec) Leia este fragmento: “Eu estava es-
havia emprestado o livro a outra menina, e
tonteada, e assim recebi o livro na mão.”
que eu voltasse no dia seguinte para buscá-
A função sintática do termo destacado nesse
-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve
período é
a esperança de novo me tomava toda e eu
a) complemento nominal.
recomeçava na rua a andar pulando, que era
b) objeto indireto.
o meu modo estranho de andar pelas ruas de
c) objeto direto.
Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a pro-
d) sujeito.
messa do livro, o dia seguinte viria, os dias
e) aposto.
seguintes seriam mais tarde a minha vida
inteira, o amor pelo mundo me esperava, an-
9. (Ifce) A preposição DE pode preceder di-
dei pulando pelas ruas como sempre e não
ferentes tipos de funções sintáticas, por
caí nenhuma vez.
exemplo, objeto indireto, como na frase Eu
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano
secreto da filha do dono da livraria era tran- preciso de você. O termo destacado também
quilo e diabólico. No dia seguinte lá estava exerce a função de objeto indireto em
eu à porta de sua casa, com um sorriso e o a) A construção de novas casas deve ser uma
coração batendo. Para ouvir a resposta cal- prioridade no governo atual.
ma: o livro ainda não estava em seu poder, b) Necessitamos de novas casas para abrigar a
que eu voltasse no dia seguinte. (...) E assim população.
continuou. Quanto tempo? Não sei. (...) Eu c) A necessidade de novas casas não pode ser
ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia esquecida pelo governo.
sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve d) A banca de madeira quebrou completamente.
comigo ontem, mas você só veio de manhã, e) A mesa de madeira está no outro cômodo.
de modo que o emprestei a outra menina.
(...) 1
0. (Insper)
Até que um dia, quando eu estava à porta
de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa
a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia
estar estranhando a aparição muda e diária
daquela menina à porta de sua casa. Pediu
explicações a nós duas. Houve uma confusão
silenciosa, entrecortada de palavras pouco
elucidativas. A senhora achava cada vez mais
estranho o fato de não estar entendendo. Até O que motivou o apito do juiz foi
que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a a) a necessidade de empregar a ênclise para se-
filha e com enorme surpresa exclamou: mas guir a norma padrão.
este livro nunca saiu daqui de casa e você b) o uso de um objeto direto no lugar de um
nem quis ler! (...) objeto indireto.

50
c) a opção pelo pronome pessoal oblíquo “o” que a indiscrição entre por um ouvido e saia
em vez de “a”. pelo outro, dando assim o pior castigo para o
d) a obrigatoriedade da mesóclise nessa cons- meu interlocutor: não passarei adiante nem
trução linguística. uma palavra.
e) a transgressão às regras de concordância no- Não recuso uma olhada na revista Caras, es-
minal relacionadas ao pronome. pecialista em entregar 4quem dormiu com
quem, quem traiu quem, quem faliu, quem
casou, quem separou. É a única publicação
do gênero que passa alguma credibilidade,
E.O. Fixação 5
porque sei que os envolvidos foram escuta-
dos, deram declarações por vontade própria,
deixaram-se fotografar. São fofocas profissio-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
nais, consentidas e quase sempre assinadas.
CPFL Energia apresenta: Planeta Sustentável Fofoca anônima é que é golpe baixo.
A fofoca nasce na boca de quem? Ninguém
É buscando alternativas energéticas renová- sabe. Ouviu-se falar. É uma afirmação sem
veis que a gente traduz nossa preocupação fonte, uma suspeita sem indício, uma levian-
com o meio ambiente dade órfã de pai e mãe. Quem fabrica uma
fofoca quer ter a sensação de poder. Poder o
Sustentabilidade é um 1conceito que 2só ga-
quê? Poder divulgar algo seu, ver seu “tra-
nha força quando 3boas ideias se transfor-
balho” passado adiante, provocando reações,
mam 4em grandes ações. É por acreditar 5nis-
mobilizando pessoas. Quem dera o criador da
so que nós, da CPFL, estamos desenvolvendo
fofoca pudesse contribuir para a sociedade
alternativas energéticas eficientes e renová-
com um quadro, um projeto de arquitetura,
veis e tomando as medidas necessárias para
um 6plano educacional, mas sem talento para
gerar cada vez menos impactos ambientais.
tanto, ele gera boatos.
A utilização da energia elétrica de forma
Quem faz intrigas sobre a vida alheia quer ter
consciente, o investimento em pesquisa e o
algo de sua autoria, uma obra que se alastre e
desenvolvimento de veículos elétricos, o em-
cresça, que se torne pública e que seja muito
prego de novas fontes, como a biomassa e a
comentada. Algo que lhe dê continuidade. É
energia eólica, e a utilização de créditos de
por isso que fofocar é uma tentação. Porque
carbono são preocupações que há algum tem-
nos dá, por poucos minutos, a sensação de ser
po já viraram ações da CPFL. E esta é a nossa
portador de uma informação valiosa que está
busca: contribuir para a qualidade de vida de
sendo gentilmente dividida com os outros.
nossos consumidores e oferecer a todos o di-
Na verdade, está-se exercitando uma pequena
reito de viver em um planeta sustentável.
maldade, não prevista no Código Penal. Fofo-
Revista Veja. 30 dez. 2009
cas podem provocar lesões emocionais. 7Por
mais inocente ou absurda, sempre deixa um
1. (Ifal) Releia o segundo parágrafo do texto
rastro de desconfiança. Onde há fumaça há
e observe os substantivos: “utilização”, “in-
fogo, acreditam todos, o que transforma toda
vestimento” e “emprego”, que, em todas as
fofoca numa verdade em potencial. Não há
situações, exigem o seguinte termo sintático
fofoca que compense. Se for mesmo verdade,
como complemento:
é uma bala perdida. Se for mentira, é um tiro
a) objeto direto.
b) objeto indireto. pelas costas.
c) adjunto adverbial. MEDEIROS, Martha. Almas gêmeas, 20 set. 1999.
Disponível em: <http://almas.terra.com.br/martha/
d) complemento nominal.
martha_2D_09.htm/>. Acesso em: 7 dez. 2005.
e) adjunto adnominal.
2. (Ifce) Os termos destacados no trecho
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
“Quando alguém se aproxima de mim, segu-
Fofoca: uma obra sem autor ra no meu braço e olha para o lado antes de
começar a falar, já sei que vem aí uma lama
O próprio som da palavra fofoca dá a ela um que não me diz respeito.” (ref. 2) desempe-
certo ar de frivolidade. Fofoca, mexerico, coi- nham, respectivamente, as funções de
sa sem importância. Difamação é crime, 1mas a) objeto indireto, complemento nominal e ob-
fofoca é só uma brincadeira. O que seria da jeto direto.
vida sem um bom diz que me diz que, não? b) objeto indireto, adjunto adverbial e sujeito.
Não. Dispenso fofocas e fofoqueiros. 2Quando c) complemento nominal, objeto indireto e ob-
alguém se aproxima de mim, segura no meu jeto direto.
braço e olha para o lado antes de começar a d) objeto indireto, objeto indireto e sujeito.
falar, já sei que 3vem aí uma lama que não me e) complemento nominal, adjunto adverbial e
diz respeito. Se não tiver como fugir, deixo objeto direto.

51
3. (Espcex) Assinale a alternativa que contém 6. (Mackenzie) Na frase de Otto Lara Resende,
um complemento verbal pleonástico. "Mineiro só é SOLIDÁRIO NO CÂNCER", a ex-
a) Assistimos à missa e à festa. pressão em destaque é:
b) As moedas, ele as trazia no fundo do bolso. a) predicativo do sujeito.
c) Deste modo, prejudicas-te e a ela. b) aposto.
d) Atentou contra a própria vida e dos passa- c) objeto direto.
geiros.
d) adjunto adverbial de modo.
e) Técnica e habilidade sobram-lhe e aos adver-
e) adjunto adnominal de MINEIRO.
sários.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO


4. (Uel) Relativamente A ESSE ASSUNTO, tenho
muito que dizer. Noruega como Modelo de Rea-
A expressão em destaque na frase anterior bilitação de Criminosos
classifica-se, sintaticamente, como:
a) objeto indireto. O Brasil é responsável por uma das mais al-
b) adjunto adverbial. tas taxas de reincidência criminal em todo o
c) adjunto adnominal. mundo. No país, a taxa média de reincidên-
d) objeto direto preposicionado. cia (amplamente admitida, mas nunca com-
e) complemento nominal. provada empiricamente) é de mais ou me-
nos 70%, ou seja, 7 em cada 10 criminosos
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO voltam a cometer algum tipo de crime após
saírem da cadeia.
INVESTIMENTO SEM RISCO Alguns perguntariam "Por quê?". E eu per-
gunto: "Por que não?" O que esperar de um
"Em julho do ano passado, EXAME encomen- sistema que propõe reabilitar e reinserir
dou ao jornalista 1Stephen Hugh-Jones, edi- aqueles que cometerem algum tipo de cri-
tor da seção de assuntos internacionais da me, mas nada oferece, para que essa situação
centenária revista inglesa The Economist, realmente aconteça? Presídios em estado de
um 2artigo para a edição especial sobre o pri- depredação total, pouquíssimos programas
meiro ano do Plano Real. (...) Aqui, chocou-o educacionais e laborais para os detentos,
profundamente a constatação de que quase praticamente nenhum incentivo cultural, e,
um quinto da população brasileira com ida- ainda, uma sinistra cultura (mas que diverte
de superior a 15 anos não sabia ler nem es- muitas pessoas) de que bandido bom é ban-
crever. Em números absolutos, isso significa dido morto (a vingança é uma festa, dizia
quase 20 milhões de pessoas materialmen- Nietzsche).
te incapacitadas, em função da ignorância, Situação contrária é encontrada na Noruega.
para fruir do desenvolvimento ou colaborar Considerada pela ONU, em 2012, o melhor
com ele. Essa cifra triplica caso sejam incluí- país para se viver (1º no ranking do IDH) e,
dos os chamados analfabetos funcionais, isto de acordo com levantamento feito pelo Ins-
é, aquelas pessoas que não completaram a tituto Avante Brasil, o 8º país com a menor
4ª série do primário. (...) Não se trata, ape- taxa de homicídios no mundo, lá o sistema
nas, de uma questão elementar de justiça. O carcerário chega a reabilitar 80% dos crimi-
sistema educacional brasileiro simplesmente nosos, ou seja, apenas 2 em cada 10 presos
não faz sentido do ponto de vista econômico. voltam a cometer crimes; é uma das meno-
As dezenas de milhões de brasileiros despro- res taxas de reincidência do mundo. Em uma
vidos de educação não têm (nem terão) chan- prisão em Bastoy, chamada de ilha paradisí-
ces reais de obter renda, não consomem mais aca, essa reincidência é de cerca de 16% en-
do que produtos básicos, não pagam impos- tre os homicidas, estupradores e traficantes
tos, não produzem bens ou serviços com real que por ali passaram. Os EUA chegam a re-
valor econômico, não estão aptos a ser empre- gistrar 60% de reincidência e o Reino Unido,
gados num número crescente de atividades". 50%. A média europeia é 50%.
(EXAME, 17/07/1996)
A Noruega associa as baixas taxas de reinci-
dência ao fato de ter seu sistema penal pau-
5. (Fei) Observe os termos indicados no texto: tado na reabilitação e não na punição por
"ao jornalista Stephen Hugh-Jones" (ref. 1) vingança ou retaliação do criminoso. A re-
e "um artigo" (ref. 2). Em análise sintática, abilitação, nesse caso, não é uma opção, ela
classificamos os termos destacados. respecti- é obrigatória. Dessa forma, qualquer crimi-
vamente como: noso poderá ser condenado à pena máxima
a) objeto direto e objeto indireto. prevista pela legislação do país (21 anos),
b) complemento nominal e objeto direto. e, se o indivíduo não comprovar estar total-
c) adjunto adverbial e aposto. mente reabilitado para o convívio social, a
d) objeto indireto e objeto direto. pena será prorrogada, em mais 5 anos, até
e) objeto indireto e adjunto adverbial. que sua reintegração seja comprovada.

52
O presídio é um prédio, em meio a uma flo- 7. (Espcex (Aman) 2018) Assinale o período
resta, decorado com grafites e quadros nos que contém agente da passiva:
corredores, e no qual as celas não possuem a) O Brasil é responsável por uma das mais al-
grades, mas sim uma boa cama, banheiro com tas taxas de reincidência criminal em todo o
vaso sanitário, chuveiro, toalhas brancas e mundo.
porta, televisão de tela plana, mesa, cadeira b) Há pouquíssimos programas educacionais e
e armário, quadro para afixar papéis e fotos, laborais para os detentos.
além de geladeiras. Encontra-se lá uma am- c) A comida é oferecida pela prisão, mas é pre-
pla biblioteca, ginásio de esportes, campo de parada pelos próprios detentos.
futebol, chalés para os presos receberem os d) Situação contrária é encontrada na Noruega.
familiares, estúdio de gravação de música e e) A reincidência é de cerca de 16% entre os
oficinas de trabalho. Nessas oficinas são ofe- homicidas, estupradores e traficantes que
recidos cursos de formação profissional, cur- por ali passaram.
sos educacionais, e o trabalhador recebe uma
pequena remuneração. Para controlar o ócio,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
oferecer muitas atividades, de educação, de
trabalho e de lazer, é a estratégia. O padeiro
A prisão é construída em blocos de oito celas
cada (alguns dos presos, como estupradores e Levanto cedo, faço a higiene pessoal, ponho
pedófilos, ficam em blocos separados). Cada a chaleira no fogo para fazer café e abro a
bloco tem sua cozinha. A comida é fornecida porta do apartamento − mas não encontro o
pela prisão, mas é preparada pelos próprios pão costumeiro. No mesmo instante me lem-
detentos, que podem comprar alimentos no bro de ter lido alguma coisa nos jornais da
mercado interno para abastecer seus refri- véspera sobre a “greve do pão dormido”. De
geradores. resto não é bem uma greve, é um lockout,
Todos os responsáveis pelo cuidado dos de- greve dos patrões, que suspenderam o traba-
tentos devem passar por no mínimo dois lho noturno; acham que obrigando o povo a
anos de preparação para o cargo, em um tomar seu café da manhã com pão dormido
curso superior, tendo como obrigação funda- conseguirão não sei bem o que do governo.
mental mostrar respeito a todos que ali es- Está bem. Tomo meu café com pão dormi-
tão. Partem do pressuposto que, ao mostra- do, que não é tão ruim assim. E enquanto
rem respeito, os outros também aprenderão tomo café vou me lembrando de um homem
a respeitar. modesto que conheci antigamente. Quando
A diferença do sistema de execução penal vinha deixar pão à porta do apartamento ele
norueguês em relação ao sistema da maio- apertava a campainha, mas, para não inco-
ria dos países, como o brasileiro, americano, modar os moradores, avisava gritando:
inglês, é que ele é fundamentado na ideia – Não é ninguém, é o padeiro!
de que a prisão é a privação da liberdade, e Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia
pautado na reabilitação e não no tratamento de gritar aquilo?
cruel e na vingança. Ele abriu um sorriso largo. Explicou que
O detento, nesse modelo, é obrigado a mos- aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe
trar progressos educacionais, laborais e com- acontecera bater a campainha de uma casa e
portamentais, e, dessa forma, provar que ser atendido por uma empregada ou por uma
pode ter o direito de exercer sua liberdade outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que
novamente junto à sociedade. vinha lá de dentro perguntando quem era;
A diferença entre os dois países (Noruega e e ouvir a pessoa que o atendera dizer para
Brasil) é a seguinte: enquanto lá os presos dentro: “não é ninguém, não senhora, é o
saem e praticamente não cometem crimes, padeiro”. Assim ficara sabendo que não era
respeitando a população, aqui os presos ninguém...
saem roubando e matando pessoas. Mas es- Ele me contou isso sem mágoa nenhuma,
sas são consequências aparentemente cola- e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis
terais, porque a população manifesta muito detê-lo para explicar que estava falando com
mais prazer no massacre contra o preso pro- um colega, ainda menos importante. Naque-
duzido dentro dos presídios (a vingança é le tempo eu também, como os padeiros, fazia
uma festa, dizia Nietzsche). trabalho noturno. Era pela madrugada que
LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista, diretor-presidente deixava a redação do jornal, quase sempre
do Instituto Avante Brasil e coeditor do Portal depois de uma passagem pela oficina - e
atualidadesdodireito.com.br. Estou no blogdolfg.com.br. muitas vezes saía já levando na mão um dos
** Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga
exemplares rodados, o jornal ainda quenti-
e pesquisadora do Instituto Avante Brasil.
FONTE: Adaptado de http://institutoavantebrasil.com.br/ nho da máquina, como pão saído do forno.
noruega-como-modelo-de-reabilitacao-de-criminosos/. Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tem-
Acessado em 17 de março de 2017. po! E às vezes me julgava importante porque

53
no jornal que levava para casa, além de re- 9. (Pucsp) No período:
portagens ou notas que eu escrevera sem as-
sinar, ia uma crônica ou artigo com o meu "Não brincara, não pandegara, não amara -
nome. O jornal e o pão estavam bem cedi- todo esse lado da existência que parece fugir
nho na porta de cada lar; e dentro do meu um pouco à sua tristeza necessária, ele não
coração eu recebi uma lição daquele homem vira, ele não provara, ele não experimentara",
entre todos útil e entre todos alegre; “não é
as últimas orações - "não vira", "não pro-
ninguém, é o padeiro!”.
vara", "não experimentara", têm a mesma
E assoviava pelas escadas.
organização sintática, e seus predicados são:
(Rubem Braga, Ai de ti, Copacabana. Rio de
Janeiro: Editora do Autor, 1960. Adaptado)
a) verbais, formados por verbos transitivos di-
retos, complementados por um objeto direto
8. (Ifsp) Considere o trecho em que a expressão explícito no período.
em destaque exerce a função de agente da b) verbais, formados por verbos intransitivos.
passiva. c) verbais, formados por verbos transitivos in-
Muitas vezes lhe acontecera bater a campai- diretos, complementados por um objeto in-
nha de uma casa e ser atendido por uma em- direto não explícito no período.
pregada ou por uma outra pessoa qualquer, e d) verbais, formados por verbos transitivos di-
ouvir uma voz... reto e indireto.
Assinale a alternativa em que o trecho em e) verbo-nominais, formado por verbos e predi-
destaque exerce a mesma função sintática. cativos do sujeito.
a) Esta é a avenida por onde passarão as es-
colas de samba. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
b) Ele fez tudo isso por você, a quem admira Nasce um escritor
muito.
c) Incomodou-o por semanas um problema O primeiro dever passado pelo novo profes-
que parecia sem solução. sor de português foi uma 7descrição tendo o
d) O vestido, que havia sido feito por um re- mar como tema. A classe inspirou, toda ela,
nomado estilista, impressionou a todos. nos encapelados mares de Camões, aqueles
e) Ela sentiu-se arrependida por ter respondi- nunca dantes navegados. O 5episódio do Ada-
do de forma indelicada ao funcionário. mastor foi reescrito pela 2meninada. Prisio-
neiro no internato, eu vivia na saudade das
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
4
praias do Pontal onde conhecera a liberdade
e o sonho. O mar de Ilhéus foi o tema de
Iria morrer, quem sabe naquela noite mes- minha descrição.
mo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Padre Cabral levara os deveres para corrigir
Levara toda ela atrás da miragem de estu- em sua cela. Na aula seguinte, entre risonho
dar a pátria, por amá-la e querê-la muito, e solene, anunciou a existência de uma vo-
no intuito de contribuir para a sua felicida- cação autêntica de escritor naquela sala de
de e prosperidade. Gastara a sua mocidade aula. Pediu que escutassem com atenção o
nisso, a sua virilidade também; e, agora que dever que 1ia ler. Tinha certeza, afirmou, que
estava na velhice, como ela o recompensava, o autor daquela página seria no futuro um
como ela o premiava, como ela o condecora- escritor conhecido. Não regateou elogios. 3Eu
va? Matando-o. E o que não deixara de ver, acabara de completar onze anos.
de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não Passei a ser uma personalidade, segundo os
brincara, não pandegara, não amara - todo cânones do colégio, ao lado dos futebolistas,
esse lado da existência que parece fugir um dos campeões de matemática e de religião,
pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, dos que 6obtinham medalhas. Fui admiti-
ele não provara, ele não experimentara. do numa espécie de Círculo Literário onde
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe 9
brilhavam 8alunos mais velhos. Nem assim
absorvia e por ele fizera a tolice de estudar deixei de me sentir prisioneiro, sensação
inutilidades. Que lhe importavam os rios? permanente durante os dois anos em que
Eram grandes? Pois se fossem... Em que lhe estudei no colégio dos jesuítas. 11Houve, po-
contribuiria para a felicidade saber o nome rém, 10sensível mudança na limitada vida do
dos heróis do Brasil? Em nada... O importan- aluno interno: o padre Cabral tomou-me sob
te é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lem- sua proteção e colocou em minhas mãos li-
brou-se das suas causas de tupi, do folklore, vros de sua estante. Primeiro "As Viagens de
das suas tentativas agrícolas... Restava disso Gulliver", depois clássicos portugueses, tra-
tudo em sua alma uma satisfação? Nenhu- duções de ficcionistas ingleses e franceses.
ma! Nenhuma! Data dessa época minha paixão por Charles
Lima Barreto Dickens. Demoraria ainda a conhecer Mark

54
Twain: o norte-americano não figurava entre Para que haja uma mudança neste quadro é
os prediletos do padre Cabral. preciso que a sociedade como um todo esteja
Recordo com carinho a figura do jesuíta convencida de que todos precisam contribuir
português erudito e amável. Menos por me para tanto, inclusive elegendo representantes
haver anunciado escritor, sobretudo por me que partilhem desta convicção e não estejam
haver dado o amor aos livros, por me ha- pensando somente nos seus benefícios pesso-
ver revelado o mundo da criação literária. ais.
Ajudou-me a suportar aqueles dois anos de Sobre a educação formal, aquela que pode ser
internato, a fazer mais leve a minha prisão, conseguida nos muitos cursos que estão se tor-
minha primeira prisão. nando disponíveis no Brasil, nota-se que mui-
AMADO, Jorge. O menino Grapiúna. Rio de tos estão se convencendo de que eles ajudam
Janeiro. Record. 1987. p. 117-20.
na sua ascensão social, mesmo sendo precá-
rios. O número daqueles que trabalham para
obter o seu sustento e para ajudar a família, e
1
0. (Ifce) A expressão “... alunos mais velhos.”
ao mesmo tempo se dispões a fazer um sacri-
(ref. 8) exerce a função de
fício adicional frequentando cursos até notur-
a) sujeito da forma verbal “brilhavam” (ref. 9).
nos, parece estar aumentando.
b) objeto indireto.
A demanda por cursos técnicos que elevam
c) agente da ação expressa pela forma verbal
suas habilidades para o bom exercício da pro-
“obtinham” (ref. 6).
d) agente da passiva. fissão está em alta. É tratada como prioridade
e) objeto direto. tanto no governo como em instituições repre-
sentativas das empresas. O mercado observa a
carência de pessoal qualificado para elevar a
E.O. Complementar eficiência do trabalho.
Muitos reconhecem que o Brasil é um dos pa-
íses emergentes que estão melhorando, a du-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO ras penas, a sua distribuição de renda. Mas,
Quando se pergunta à população brasileira, em para que este processo de melhoria do bem-
uma pesquisa de opinião, qual seria o proble- -estar da população seja sustentável, há que
ma fundamental do Brasil, a maioria indica se conseguir um aumento da produtividade do
a precariedade da educação. Os entrevistados trabalho, que permita, também, o aumento da
costumam apontar que o sistema educacional parcela da renda destinada à poupança, que
brasileiro não é capaz de preparar os jovens vai sustentar os investimentos indispensáveis.
para a compreensão de textos simples, ela- A população que deseja melhores serviços das
boração de cálculos aritméticos de operações autoridades precisa ter a consciência de que
básicas, conhecimento elementar de física e uma boa educação, não necessariamente for-
química, e outros fornecidos pelas escolas fun- mal, é fundamental para atender melhor as
damentais. suas aspirações.
[...] (YOKOTA, Paulo. Os problemas da educação no Brasil. Em
Certa vez, participava de uma reunião de pais http://www.cartacapital.com.br/educacao/os-problemas-
da-educacao-no-brasil-657.html - Com adaptações)
e professores em uma escola privada brasileira
de destaque e notei que muitos pais expressa-
vam o desejo de ter bons professores, salas de 1. (Col. naval) Assinale a opção na qual o termo
aula com poucos alunos, mas não se sentiam oracional foi classificado corretamente.
responsáveis para participarem ativamente a) “[...] inclusive elegendo representantes que
das atividades educacionais, inclusive custe- partilhem desta convicção e não estejam
ando os seus serviços. Se os pais não conse- pensando somente nos seus benefícios pes-
guiam entender que esta aritmética não fecha soais.” (5º §) (núcleo do predicado verbal)
e que a sua aspiração estaria no campo do mi- b) “[...] e notei que muitos pais expressavam o
lagre, parece difícil que consigam transmitir desejo de ter bons professores [...].” (2º §)
aos seus filhos o mínimo de educação. (predicativo do sujeito)
Para eles, a educação dos filhos não se baseia c) “O mercado observa a carência de pessoal
no aprendizado dos exemplos dados pelos pais. qualificado para elevar a eficiência do traba-
Que esta educação seja prioritária e ajude a lho.” (7º §) (objeto indireto)
resolver outros problemas de uma sociedade d) “[...] mas não se sentiam responsáveis para
como a brasileira parece lógico. No entanto, participarem ativamente das atividades educa-
não se pode pensar que a sua deficiência de- cionais, [...].” (2º §) (complemento nominal)
pende somente das autoridades. Ela começa e) “[...] parece difícil que consigam transmi-
com os próprios pais, que não podem simples- tir aos filhos o mínimo de educação.” (2º §)
mente terceirizar essa responsabilidade. (objeto direto)

55
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO [...] 5A mídia é apenas um, entre vários qua-
dros ou grupos de referência, aos quais um
A mídia realmente tem o indivíduo recorre como argumento para for-
poder de manipular as pessoas? mular suas opiniões. 6Nesse sentido, compe-
Por Francisco Fernandes Ladeira tem com os veículos de comunicação como
quadros ou grupos de referência fatores sub-
À primeira vista, a resposta para a pergun-
jetivos/psicológicos (história familiar, traje-
ta que intitula este artigo parece simples e
tória pessoal, predisposição intelectual), o
óbvia: sim, a mídia é um poderoso instru-
contexto social (renda, sexo, idade, grau de
mento de manipulação. A ideia de que o frá-
instrução, etnia, religião) e o ambiente in-
gil cidadão comum é impotente frente aos
formacional (associação comunitária, traba-
gigantescos e poderosos conglomerados da
lho, igreja). 7“Os vários tipos de receptor si-
comunicação é bastante atrativa intelectu-
tuam-se numa 8complexa rede de referências
almente. Influentes nomes, como Adorno
em que a comunicação interpessoal e a mi-
e Horkheimer, os primeiros pensadores a diática se completam e modificam”, afirmou
realizar análises mais sistemáticas sobre o a cientista social Alessandra Aldé em seu
tema, concluíram que os meios de comuni- livro A construção da política: democracia,
cação em larga escala moldavam e direciona- cidadania e meios de comunicação de mas-
vam as opiniões de seus receptores. Segundo sa. 9Evidentemente, o peso de cada quadro
eles, o rádio torna todos os ouvintes iguais de referência tende a variar de acordo com
ao sujeitá-los, autoritariamente, aos idênti- a realidade individual. Seguindo essa linha
cos programas das várias estações. No livro de raciocínio, no original estudo Muito Além
Televisão e Consciência de Classe, Sarah Chu- do Jardim Botânico, Carlos Eduardo Lins da
cid Da Viá afirma que o vídeo apresenta um Silva constatou como telespectadores do Jor-
conjunto de imagens trabalhadas, cuja apre- nal Nacional acionam seus mecanismos de
ensão é momentânea, de forma a persuadir defesa, individuais ou coletivos, para filtrar
rápida e transitoriamente o grande público. as informações veiculadas, traduzindo-as se-
Por sua vez, o psicólogo social Gustav Le Bon gundo seus próprios valores. 10“A síntese e as
considerava que, nas massas, o indivíduo conclusões que um telespectador vai realizar
deixava de ser ele próprio para ser um au- depois de assistir a um telejornal não podem
tômato sem vontade e os juízos aceitos pelas ser antecipadas por ninguém; nem por quem
multidões seriam sempre impostos e nunca produziu o telejornal, nem por quem assistiu
discutidos. 1Assim, fomentou-se a concepção ao mesmo tempo que aquele telespectador”,
de que a mídia seria capaz de manipular in- inferiu Carlos Eduardo.
condicionalmente uma audiência submissa, Adaptado de: http://observatoriodaimprensa.com.
passiva e acrítica. br/imprensa-em-questao/a-midia-realmente-tem-
Todavia, como bons cidadãos céticos, 2de- o-poder-de-manipular-as-pessoas/. (Publicado em
14/04/2015, na edição 846. Acesso em 13/07/2016.)
vemos duvidar (ou ao menos manter certa
ressalva) de proposições imediatistas e apa-
rentemente fáceis. As relações entre mídia 2. (Ita 2017) Marque a alternativa em que o
e público são demasiadamente complexas, verbo destacado está classificado correta-
vão muito além de uma simples análise mente quanto à transitividade.
behaviorista de estímulo/resposta. 3As men- VTD – verbo transitivo direto VTI –
sagens transmitidas pelos grandes veículos verbo transitivo indireto VI – verbo in-
de comunicação não são recebidas automa- transitivo
ticamente e da mesma maneira por todos os a) [...]devemos duvidar (ou ao menos manter
indivíduos. 4Na maioria das vezes, o discurso certa ressalva) de proposições imediatistas e
midiático perde seu significado original na aparentemente fáceis. – VTD (ref. 2)
controversa relação emissor/receptor. Cada b) Na maioria das vezes, o discurso midiático
indivíduo está envolto em uma “bolha ideo- perde seu significado original na controver-
lógica”, apanágio de seu próprio processo de sa relação emissor/receptor. – VTI (ref. 4)
individuação, que condiciona sua maneira c) A mídia é apenas um, entre vários quadros
de interpretar e agir sobre o mundo. Todos ou grupos de referência, aos quais um indi-
víduo recorre como argumento para formu-
nós, ao entramos em contato com o mundo
lar suas opiniões. – VTI (ref. 5)
exterior, construímos representações sobre a
d) Nesse sentido, competem com os veículos
realidade. Cada um de nós forma juízos de
de comunicação como quadros ou grupos de
valor a respeito dos vários âmbitos do real,
referência fatores subjetivos/psicológicos
seus personagens, acontecimentos e fenô-
[...] – VTD (ref. 6).
menos e, consequentemente, acreditamos
e) Evidentemente, o peso de cada quadro de
que esses juízos correspondem à “verdade”.
referência tende a variar de acordo com a
[...]
realidade individual. – VI (ref. 9)
56
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Marte é o Futuro Costureira receberá indenização de ex-noivo


Casamento adiado por 17 anos vale 20
O pouso na Lua não foi só o ápice da corrida salários para mulher "enganada"
espacial. Foi também o passo inicial do tur-
bocapitalismo que dominaria as três décadas 1 Belo Horizonte - 3Abandonada pelo noi-
seguintes. Dependente, porém, de matérias- vo depois de 17 anos de namoro, a costureira
-primas do século 19: aço, carvão, óleo. 5Lan- Nair Francisca de Oliveira está comemorando
çar-se ao espaço implicava algum reconhe- um ganho inusitado: o Tribunal de Alçada de
cimento dos limites da Terra. Ela era azul, Minas Gerais condenou o motorista aposen-
mas finita. Com o império da tecnociência, tado Otacílio Garcia dos Reis, de 54 anos,
ascendeu também sua nêmese, o movimento a pagar à ex-noiva uma indenização de 20
ambiental. Fixar Marte como objetivo para salários mínimos por danos morais. Ela re-
dentro de 20 ou 30 anos, hoje, parece 2tão ceberá ainda 30% do valor da casa que os
louco quanto chegar à Lua em dez, como dois estavam construindo juntos, em Passos,
determinou John F. Kennedy. 6Não há um sudoeste de Minas. "Estou cobrando pelo
imperialismo visionário como ele à vista, e tempo que fui enganada", diz ela.
isso é bom. 7A ISS (estação espacial inter- 2 Nair não revela a idade, diz apenas que
nacional) representa a prova viva de que tem mais de 40 anos. Ela lembra que, mais
certas metas só podem ser alcançadas pela do que o 1término do namoro, o que a fez
humanidade como um todo, não por 1nações decidir pela ação de danos morais foram as
forjadas no tempo das caravelas. 8Marte é o falsas palavras de Otacílio. Ao romper com a
futuro da humanidade. 9Ele nos fornecerá a noiva, ele disse que, além de não gostar dela,
experiência vívida e a imagem perturbadora sabia que não tinha sido o primeiro homem
de um planeta devastado, inabitável. Desti- de sua vida. "Me caluniou e humilhou mi-
no certo da Terra em vários milhões de anos. nha família", lamenta Nair, que não conse-
3
Ou, mais provável, em poucas décadas, 4se gue explicar como pôde ficar tantos anos ao
prosseguir o saque a descoberto da energia lado de uma pessoa que ela diz, agora, não
fóssil pelo hipercapitalismo globalizado, in- conhecer.
flando a bolha ambiental. 3 Otacílio foi longe ao explicar o motivo do
(Adaptado de: LEITE, M. Caderno Mais!. Folha de São fim do relacionamento. Disse à ex-noiva que
Paulo. São Paulo, domingo, 26 jul. 2009. p. 3.)
tinha por ela apenas um "vício carnal" e que
nenhum homem seria capaz de resistir aos
3. (Uel) Quanto à predicação verbal, é correto encantos de seu corpo bem feito. "Ele daria
afirmar: um bom ator", analisa Nair, lembrando que,
a) Em “Lançar-se ao espaço implicava algum a cada ano, a desculpa para não oficializar
reconhecimento” (ref. 5), o verbo implicar, a união mudava. A costureira confessa que
nesse contexto, é um verbo transitivo dire- nunca teve vontade de terminar o namoro,
to, por isso seu complemento não exige pre- mesmo tendo-o iniciado sem gostar muito
posição. de Otacílio. Ele teria insistido no relaciona-
b) Em “Não há um imperialismo visionário como mento. "Eu dei tempo ao tempo e acabei gos-
ele à vista” (ref. 6), o verbo haver é consi- tando dele", afirma, frustrada com o tempo
derado um verbo de ligação, pois estabelece perdido, especialmente pelo fato de não ter
relação entre sujeito e seu predicativo. tido filhos. "Engraçado, eu nunca evitei. Não
c) Em “A ISS (estação espacial internacional) sei por que não aconteceu."
representa a prova viva” (ref. 7), o verbo 4 Papéis - A história de Nair e Otacílio
representar é intransitivo, portanto, não ne- começou em 1975. Após quatro anos de na-
cessita complemento. moro, ficaram noivos e deram entrada nos
d) Em “Marte é o futuro da humanidade” (ref. papéis para o casamento religioso. Na oca-
8), o verbo ser é classificado como verbo sião, já haviam 2comprado um terreno, onde
transitivo direto e indireto, ou seja, possui construíram a casa, que, segundo Nair, foi
um complemento precedido de preposição e erguida com o dinheiro de seu trabalho de
outro não. costureira, com a ajuda dos pais e também
e) Em “Ele nos fornecerá a experiência vívida e com dinheiro de Otacílio. Hoje, o que seria o
a imagem” (ref. 9), o verbo fornecer é classi- lar dos dois é uma casa alugada. O advogado
ficado como verbo defectivo, pois não apre- de Nair, José Cirilo de Oliveira, pretende re-
senta a conjugação completa. querer uma indenização também pelo tempo
de aluguel.
5 "Fiquei satisfeito com a vitória de Nair,
não tanto pelo valor da indenização, mas

57
porque houve realmente a má intenção por inovações que enriqueceram e melhoraram
parte do ex-noivo", afirma Oliveira. Os juí- todas as nossas vidas. O mundo é imensura-
zes da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Alçada velmente melhor por causa de Steve."
também ficaram sensibilizados com o caso Jobs foi responsável por lançamentos de
da noiva abandonada. O relator do proces- equipamentos que mudaram o mundo, como
so, juiz Dorival Guimarães Pereira, justificou o Macintosh, o iPod, o iPhone e o iPad. Ele
sua decisão destacando que "o casamento sofreu por anos de uma forma rara de câncer
é o sonho dourado de toda mulher, objeti- pancreático e passou por um transplante de
vando com ele, a par da felicidade pessoal fígado.
de constituir um lar, também atingir o seu (...)
bem-estar social, a subsistência e o seu fu- Em 2004, Jobs foi submetido a uma cirurgia
turo econômico". para tratamento de câncer no pâncreas. Cinco
6 A costureira, entretanto, afirma que não anos mais tarde, precisou realizar um trans-
estava preocupada com os ganhos financei- plante de fígado. Os dois procedimentos são
ros do casamento. complicadíssimos e de elevado risco para a
(Roselena Nicolau - JORNAL DO BRASIL, 11/08/1996) vida do paciente.
(http://economia.estadao.com.br/noticias/negocos%20
4. (Pucrj) Aponte a opção em que a função sin- tecnologa,morre-steve-jobs-fundador-da-apple-e
revolucionario-da-tecnologia,87094,0.htm e www.geekaco.
tática do termo cujo núcleo está destacado com/apple-steve-jobs. Acessado em 10/10/11.)
NÃO está correta.
a) "... a pagar à EX-NOIVA uma indenização de
5. (ifal) No título da notícia: “Morre Steve Jobs,
20 salários mínimos..." (par. 1) - objeto in-
fundador da Apple e revolucionário da Tec-
direto
nologia”, fazendo-se uma análise sintática
b) "... mas porque houve realmente a má in-
desse período, é correto afirmar que:
tenção por parte do EX-NOIVO..." (par. 2) -
a) Steve Jobs é objeto direto.
agente da passiva
b) Steve Jobs é sujeito simples.
c) "Abandonada pelo NOIVO depois de 17 anos
c) Steve Jobs é aposto.
de namoro..." (par. 1) - agente da passiva
d) Steve Jobs é sujeito composto.
d) "Disse à EX-NOIVA que tinha por ela apenas
e) Steve Jobs é objeto indireto.
um vício carnal..." (par. 3) - objeto indireto
e) "Após quatro anos de namoro, ficaram NOI-
VOS..." (par. 4) - predicativo do sujeito TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

A ANIMALIZAÇÃO DO PAÍS
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Clóvis Rossi, Folha de São Paulo, 21 de fevereiro de 2006

Morre Steve Jobs, fundador da SÃO PAULO - No sóbrio relato de Elvira Loba-
Apple e revolucionário da Tecnologia to, lia-se ontem, nesta Folha, a história de
um Honda Fit abandonado em uma rua do
Rio de Janeiro "com uma cabeça sobre o capô
e os corpos de dois jovens negros, retalhados
a machadadas, no interior do veículo".
Prossegue o relato: "A reação dos moradores
foi tão chocante como as brutais mutilações.
Vários moradores buscaram seus celulares
para fotografar os corpos, e os mais jovens
riram e fizeram troça dos corpos".
À frente da empresa que criou, o executivo Os próprios moradores descreveram a alga-
foi o responsável pelo lançamento de apare- zarra à reportagem. "Eu gritei: Está nervoso
lhos que mudaram o mundo, como o iPad, o e perdeu a cabeça?", relatou um motoboy que
iPhone e o Macintosh. pediu para não ser identificado, enquanto
O Estado de S. Paulo um estudante admitiu ter rido e feito piada
ao ver que o coração e os intestinos de uma
CUPERTINO – Morreu, aos 56 anos, Steve Jobs, das vítimas tinham sido retirados e expostos
cofundador da Apple. Ele havia renunciado à por seus algozes.
presidência da empresa em agosto, após 14 "Ri porque é engraçado ver um corpo todo
anos no comando. "Estamos profundamen- picado", respondeu o estudante ao ser ques-
te entristecidos com o anúncio de que Steve tionado sobre a causa de sua reação.
Jobs morreu hoje", informou a empresa, em O crime em si já seria uma clara evidência
um pequeno comunicado. "O brilho, paixão de que bestas-feras estão à solta e à vonta-
e energia de Steve são fontes de inúmeras de no país. Mas ainda daria, num esforço de

58
auto-engano, para dizer que crimes bestiais por um virtual. 5Apesar disso, ele defende
ocorrem em todas as partes do mundo. sua moradia temporária com um carrancudo
Mas a reação dos moradores prova que não ressentimento.
se trata de uma perversidade circunstancial Hans Magnus Enzensberger. O vagão humano (fragmento).
e circunscrita. Não. O país perde, crescente- In: Veja 25 anos - reflexões para o futuro.
mente, o respeito à vida, a valores básicos,
ao convívio civilizado. O anormal, o patoló- 7. (Pucrs) Indique o tipo de relação estabeleci-
gico, o bestial, vira normal. "É engraçado", da entre o sujeito (Coluna I) e a ação expres-
como diz o estudante. sa pelo verbo (Coluna II).
O processo de animalização contamina a so-
ciedade, a partir do topo, quando o presi- COLUNA I
dente da República diz que seu partido está 1. O sujeito é agente da ação verbal.
desmoralizado, mas vai à festa dos desmo- 2. O sujeito é paciente da ação verbal.
ralizados e confraterniza com trambiqueiros 3. O sujeito é, ao mesmo tempo, agente e
confessos. Também deve achar "engraçado". paciente da ação verbal.
Alguma surpresa quando é declarado inocen-
te o comandante do massacre de 111 pesso- COLUNA II
as, sob aplausos de parcela da sociedade para ( ) "se instalaram" (ref. 6)
quem presos não têm direito à vida? São bes- ( ) "se abre" (ref. 7)
tas-feras, e deve ser "engraçado" matá-los. É ( ) "entram" (ref. 8)
a lei da selva, no asfalto. ( ) "se acomodem" (ref. 9)
( ) "não pode ser justificado" (ref.10)
6. (Pucsp) No trecho "Os próprios moradores A numeração correta dos parênteses, de cima
descreveram a ALGAZARRA à REPORTAGEM", para baixo, é
pode-se dizer que os dois termos DESTACA- a) 1 - 1 - 1 - 3 - 2
DOS são, respectivamente, b) 2 - 2 - 1 - 3 - 3
a) o sujeito e o predicado do verbo "descreve- c) 2 - 1 - 3 - 3 - 3
ram". d) 3 - 1 - 1 - 2 - 2
b) o adjunto adnominal e o adjunto adverbial e) 3 - 2 - 1 - 3 - 2
do verbo "descreveram".
c) o objeto direto e o objeto indireto do verbo TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
"descreveram".
d) o aposto e o vocativo do verbo "descreveram". Texto I
e) o complemento nominal e o agente da passi-
va do verbo "descreveram". "Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Não gorjeiam como lá.
1
Dois passageiros em uma cabine de trem. Gonçalves Dias
Apossaram-se das mesinhas, cabines e baga-
Texto II
geiros e +se instalaram à vontade. 11Jornais,
casacos e bolsas ocupam os assentos vazios. Minha terra tem macieiras da Califórnia
2
A porta 7se abre e 8entram dois outros via- onde cantam gaturamos de Veneza.
jantes. 3Não são vistos com bons olhos. Os Os poetas da minha terra
dois primeiros passageiros, 4mesmo que não são pretos que vivem em torres de ametista,
se conheçam, comportam-se com uma soli- os sargentos do exército são monistas, cubistas,
dariedade notável. Há uma nítida relutância os filósofos são polacos vendendo a prestações.
em desocuparem os assentos vazios 12e dei- A gente não pode dormir
xarem que os lançado recém-lançado-che- com os oradores e os pernilongos.
gados também 9se acomodem. A cabine do Os sururus em família têm por testemunha
trem tornou-se território seu, para disporem a Gioconda.
dele a seu bel-prazer, 13e cada novo passagei- Eu morro sufocado
ro que entra é considerado um intruso. Esse em terra estrangeira.
comportamento 10não pode ser justificado Nossas flores são mais bonitas
racionalmente - está arraigado mais a fundo. nossas frutas mais gostosas
(...) mas custam cem mil réis a dúzia.
O próprio vagão do trem é um domicílio Ai quem me dera chupar uma carambola de
transitório, um lugar que serve apenas para verdade
mudar de lugar. O passageiro é a negação da e ouvir um sabiá com certidão de idade!
pessoa sedentária. Trocou seu território real Murilo Mendes

59
8. (Faap) "As aves QUE aqui gorjeiam...". O menores. As células já crescidas se transfor-
pronome em maiúsculo é relativo; vem no mam em pequenas tiras de músculo de apro-
lugar de aves e exerce a função sintática de: ximadamente um centímetro de comprimen-
a) sujeito to e apenas alguns milímetros de espessura.
b) objeto direto As pequenas tiras são então coletadas e jun-
c) objeto indireto tadas em pequenos montes, coloridas e mis-
d) complemento nominal turadas com gordura.
e) agente da passiva O hambúrguer resultante deste processo foi
preparado e provado em uma entrevista co-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. letiva em Londres, há dois anos.
Pesquisadores querem colocar Um especialista gastronômico que provou a
carne artificial à venda em até 5 anos iguaria disse que o gosto estava "próximo da
carne, mas não era tão suculento", mas outro
Os cientistas da Universidade de Maastricht, disse que tinha gosto de um hambúrguer de
na Holanda, montaram uma nova companhia verdade.
para transformar a carne artificial em um Peter Verstrate disse à BBC que o hambúr-
hambúrguer que seja, segundo eles, mais sa- guer servido em 2013 ainda não era o pro-
boroso e barato. duto finalizado.
Dois anos atrás, a equipe de pesquisadores "Era proteína, fibra muscular. Mas carne é
mostrou um protótipo em Londres. Mas o cus- muito mais que isso – é sangue, é gordura,
to para a produção desse hambúrguer era al- tecido de ligação, e tudo isso soma ao gosto
tíssimo: cerca de 215 mil libras (mais de 1,2 e à textura."
milhão). "Se você quer imitar a carne, precisa fazer
"Estou confiante que, quando for oferecido todas estas coisas também – e você pode
como uma alternativa à carne, um número usar tecnologias de engenharia de tecido –,
cada vez maior de pessoas vai achar difícil mas ainda não tínhamos feito isso naquele
não comprar nosso produto por razões éti- momento", acrescentou.
cas", disse à BBC o diretor da nova empresa, Mosa Meat, a empresa que Verstrate esta-
Peter Verstrate. beleceu com Post e a Universidade de Ma-
"Acredito que vamos colocar (o produto) no astricht, quer sintetizar carne moída no la-
mercado em cinco anos", disse o professor boratório de forma que ela seja tão saborosa
Mark Post, que desenvolveu a carne artificial quanto a carne real e a um custo igual ao da
nos laboratórios da Universidade de Maas- carne moída vendida hoje.
tricht. Nos últimos dois anos, Post e sua equipe pro-
Post acrescentou que, inicialmente, o produ- grediram nas pesquisas, mas o cientista per-
to estaria disponível apenas sob encomenda, cebeu que, para colocar o produto no mer-
mas, quando a demanda pela carne artificial cado em um prazo de cinco anos, terá que
se estabelecer e o preço cair, deve chegar às acelerar os estudos.
prateleiras de supermercados. A Mosa Meat vai empregar 25 cientistas, téc-
nicos de laboratórios e gerentes. Um dos ob-
Células-tronco jetivos principais é descobrir como iniciar a
O hambúrguer artificial é feito a partir de produção em massa dessa carne.
células-tronco, aquelas que podem se desen- Os pesquisadores também vão analisar for-
volver em tecidos em diversas formas, tais mas de fazer costeletas usando impressoras
como nervos e pele. 3D. Mas vai demorar um pouco mais para co-
A maioria dos pesquisadores que trabalham mercializar esses produtos.
com células-tronco tenta cultivar tecido hu- http://www.bbc.com/portuguese/
mano para transplantes ou para substituir noticias/2015/10/151017_carne_artificial_mercado_fn
tecido muscular doente, células nervosas ou
cartilagem. 9. (Ifsp) Considere o recorte: “Um especialista
Mark Post, no entanto, usa essas células para gastronômico que provou a iguaria disse que
cultivar músculo e gordura para a fabricação o gosto estava ‘próximo da carne, mas não
dos hambúrgueres artificiais. era tão suculento’, mas outro disse que ti-
O processo começa com células-tronco retira- nha gosto de um hambúrguer de verdade”. O
das do músculo de uma vaca. No laboratório, trecho em destaque, de acordo com a norma
essas células são colocadas em uma cultura padrão da Língua Portuguesa, exerce a fun-
– uma solução – com nutrientes e elementos ção sintática de:
químicos que promovem seu aumento para a) objeto direto.
ajudá-las a crescerem e se multiplicarem. b) objeto indireto.
Três semanas depois os cientistas já estão c) sujeito.
com mais de um milhão de células-tronco, d) predicativo do sujeito.
que são divididas e colocadas em recipientes e) adjunto adnominal.

60
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO acarajé nas ruas de Salvador. Porque o Brasil
é tudo isso.
NÓS, OS BRASILEIROS E nem a cor de meu cabelo e olhos, nem meu
Uma editora europeia me pede que traduza sobrenome, nem os livros que li na infân-
poemas de autores estrangeiros sobre o Brasil. cia, 18nem o idioma que falei naquele tem-
Como sempre, 14eles falam da floresta ama- po além do português, 20me fazem menos
zônica, uma floresta muito pouco real, ali- nascida e vivida nesta terra de tão surpre-
ás. Um bosque poético, com 3"mulheres de endentes misturas: imensa, desaproveitada,
corpos alvíssimos espreitando entre os tron- instigante e (por que ter medo da palavra?)
cos das árvores, e olhos de serpentes hirtas maravilhosa.
(LUFT, Lya. Pensar e transgredir. Rio de
acariciando esses corpos como dedos amoro- Janeiro: Record, 2005, p. 49-51.)
sos". Não faltam flores azuis, rios cristalinos
e tigres mágicos. 1
0. (Cftmg) A função do substantivo destacado
11
Traduzo os poemas por dever de ofício, mas está corretamente identificada em:
com uma secreta - e nunca realizada - vonta- a) "Ué, mas no Brasil existem EDITORAS?" (ref.
de de inserir ali um grãozinho de realidade. 22) OBJETO DIRETO
19
Nas minhas idas (nem tantas) ao exterior, b) "[...] eles falam da FLORESTA amazônica
onde convivi sobretudo com escritores ou (...)" (ref. 14) OBJETO INDIRETO
professores e estudantes universitários - c) "Nunca imaginei que no Brasil houvesse PES-
portanto, gente razoavelmente culta -, fui SOAS cultas!" (ref. 23) SUJEITO
invariavelmente surpreendida com a pro- d) "A culminância foi a observação de uma
funda ignorância a respeito de quem, como CRÍTICA berlinense, num artigo sobre um
e o que somos. romance meu editado por lá (...)" (ref. 1)
5
- A senhora é brasileira?- comentaram es- COMPLEMENTO NOMINAL
pantados alunos de uma universidade ame-
ricana famosa. - Mas a senhora é loira!
13
Depois de ler num congresso de escritores
em Amsterdam um trecho de um dos meus ro-
E.O. Dissertativo
mances traduzido em inglês, 17ouvi de um se- 1. (G1 1996) Nas frases a seguir, o termo em
nhor elegante, dono de um antiquário famo- maiúsculo é um complemento. Indique se é
so, que segurou comovido minhas duas mãos: um complemento nominal ou complemento
7
- Que maravilha! 23Nunca imaginei que no
verbal:
Brasil houvesse pessoas cultas! a) Narrava SUCESSOS LONGOS.
21
Pior ainda, no Canadá alguém exclamou in- b) A narração de LONGOS SUCESSOS cansava os
crédulo: ouvintes.
6
- Escritora brasileira? 22Ué, mas no Brasil c) Misturava ASSUNTOS.
existem editoras? d) A mistura de ASSUNTOS complicava a expo-
1
A culminância foi a observação de uma crí-
sição.
tica berlinense, num artigo sobre um roman-
ce meu editado por lá, acrescentando, a al-
2. (G1) Nas frases a seguir, o termo em maiúscu-
guns elogios, a grave restrição: "porém 8não
lo é um complemento. Indique se é um com-
parece um livro brasileiro, pois não fala nem
plemento nominal ou complemento verbal:
de plantas nem de índios nem de bichos".
a) Tratava DOS BOIS.
12
Diante dos três poemas sobre o Brasil, es-
quisitos para qualquer brasileiro, 24pensei b) O tratamento DOS BOIS, na fazenda, estava a
mais uma vez que 4esse desconhecimento cargo de um veterinário.
não se deve apenas à natural (ou inatural) c) As Folias anunciavam A FESTA.
alienação estrangeira quanto ao geografica- d) O anúncio DA FESTA era feito pelas Folias.
mente fora de seus interesses, mas também
a culpa é nossa. 2Pois o que mais exportamos 3. (G1) Lembrando-se de que objeto indireto é
de nós é o exótico e o folclórico. complemento de um verbo transitivo indire-
15
Em uma feira do livro de Frankfurt, no es- to e complemento nominal são palavras que
paço brasileiro, o que se via eram livros (não completam o sentido de um nome (substan-
muito bem arrumados), muita caipirinha na tivo, adjetivo, advérbio), identifique, a se-
mesa, e televisões mostrando carnaval, fute- guir, os objetos indiretos e os complementos
bol, praia e... mato. nominais:
16
E eu, mulher essencialmente urbana, escri- a) Lembre-se, pelo menos, dos amigos.
tora das geografias interiores de meus per- b) Fez grandes investimentos em terras.
sonagens neuróticos, 9me senti tão deslocada c) A notícia agradou a todos.
quanto um macaco em uma loja de cristais. d) O orador fez alusão ao fato.
10
Mesmo que tentasse explicar, ninguém e) O gosto pela música vem desde criança.
acreditaria que eu era tão brasileira quanto f) Absteve-se de bebidas alcoólicas durante o
qualquer negra de origem africana vendendo carnaval.

61
4. (G1) Lembrando-se de que objeto indireto é toda a cultura cibernética, como uma forma
complemento de um verbo transitivo indire- de ser fiel ao livro e à palavra impressa. Mas o
to e complemento nominal são palavras que computador não eliminará o papel. Ao contrá-
completam o sentido de um nome (substan- rio do que se pensava há alguns anos, o com-
tivo, adjetivo, advérbio), identifique, a se- putador não salvará as florestas. Aumentou o
guir, os objetos indiretos e os complementos uso do papel em todo o mundo, e não apenas
nominais: porque a cada novidade eletrônica lançada no
a) Cuide de seus interesses que eu cuido dos mercado corresponde um manual de instru-
meus. ção, sem falar numa embalagem de papelão e
b) Temos confiança em nossos jogadores. num embrulho para presente. O computador
c) Já organizamos a resistência a qualquer ata- estimula as pessoas a escreverem e imprimi-
que inimigo. rem o que escrevem. Como hoje qualquer um
d) A assistência às aulas tem sido normal. pode ser seu próprio editor, paginador e ilus-
e) Naquela situação difícil recorremos ao diretor. trador sem largar o mouse, a tentação de pas-
f) Gostamos de pessoas sinceras. sar sua obra para o papel é quase irresistível.
Desconfio que o que salvará o livro será o
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. supérfluo, o que não tem nada a ver com
conteúdo ou conveniência. Até que lancem
A China detonou uma bomba e pouca gente computadores com cheiro sintetizado, nada
percebeu o estrago que ela causou. Assim que substituirá o cheiro de papel e tinta nas suas
abriu as portas para as multinacionais ofere- duas categorias inimitáveis, livro novo e livro
cendo mão de obra e custos muito baratos, o velho. E nenhuma coleção de gravações orna-
país enfraqueceu as relações de trabalho no mentará uma sala com o calor e a dignidade
mundo. Em uma recente análise, a revista de uma estante de livros. A tudo que falta ao
inglesa The Economist mostra que a entrada admirável mundo da informática, da ciberné-
da China, da Índia e da ex-União Soviética na tica, do virtual e do instantâneo acrescente-
economia mundial dobrou a força de trabalho. -se isso: falta lombada. No fim, o livro deverá
Com isso, o poder de barganha de sindicatos sua sobrevida à decoração de interiores.
do mundo inteiro teria se esfacelado. Prova- (O Estado de S. Paulo, 31.05.2015.)
velmente por isso, diz a revista, salários e be-
nefícios tenham crescido apenas 11% desde 1. (Unesp) Os termos “o uso do papel” e “um
2001 nas empresas privadas dos Estados Uni- manual de instrução” (1º parágrafo) se
dos, ante 17% nos cinco anos anteriores. identificam sintaticamente por exercerem
(Você s/a, setembro de 2005) nas respectivas orações a função de
a) objeto direto.
5. (Fgv) Considere o seguinte trecho do texto:
b) predicativo do sujeito.
Em uma recente análise, a revista inglesa "The c) objeto indireto.
Economist" mostra que a entrada da China, d) complemento nominal.
da Índia e da ex-União Soviética na economia e) sujeito.
mundial dobrou a força de trabalho.
Redija duas novas versões desse trecho, ado- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
tando a voz passiva,
a) com agente da passiva expresso em todo o Leia o excerto da crônica “Mineirinho” de
trecho; Clarice Lispector (1925-1977), publicada na
b) empregando pronome apassivador, somente revista Senhor em 1962, para responder à(s)
na passagem - Em uma recente análise, a re- questão(ões).
vista inglesa "The Economist" mostra. É, suponho que é em mim, como um dos re-
presentantes de nós, que devo procurar por
que está doendo a morte de um 1facínora.
E.O. Objetivas E por que é que mais me adianta contar os
treze tiros que mataram 2Mineirinho do que
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) os seus crimes. Perguntei a minha cozinhei-
ra o que pensava sobre o assunto. Vi no seu
rosto a pequena convulsão de um conflito,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
o mal-estar de não entender o que se sente,
A invasão o de precisar trair sensações contraditórias
por não saber como harmonizá-las. Fatos ir-
A divisão ciência/humanismo se reflete na redutíveis, mas revolta irredutível também,
maneira como as pessoas, hoje, encaram o a violenta compaixão da revolta. Sentir-se
computador. Resiste-se ao computador, e a dividido na própria perplexidade diante de

62
não poder esquecer que Mineirinho era pe- 2
Mineirinho: apelido pelo qual era conheci-
rigoso e já matara demais; e no entanto nós do o criminoso carioca José Miranda Rosa.
o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um Acuado pela polícia, acabou crivado de balas
pouco, vendo-me talvez como a justiça que se e seu corpo foi encontrado à margem da Es-
vinga. Com alguma raiva de mim, que esta- trada Grajaú-Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
va mexendo na sua alma, respondeu fria: “O
que eu sinto não serve para se dizer. Quem 2. (Unifesp) “Até que treze tiros nos acordam,
não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas e com horror digo tarde demais – vinte e oito
tenho certeza de que ele se salvou e já en- anos depois que Mineirinho nasceu – que ao
trou no céu”. Respondi-lhe que “mais do que homem acuado, que a esse não nos matem.”
muita gente que não matou”. (4º parágrafo)
Por quê? No entanto a primeira lei, a que Os termos “a esse” e “nos” constituem, res-
protege corpo e vida insubstituíveis, é a de pectivamente,
que não matarás. Ela é a minha maior ga- a) objeto indireto e objeto direto.
rantia: assim não me matam, porque eu não b) objeto indireto e objeto indireto.
quero morrer, e assim não me deixam ma- c) objeto direto preposicionado e objeto direto.
tar, porque ter matado será a escuridão para d) objeto direto preposicionado e objeto indireto.
mim. e) objeto direto e objeto indireto.
Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me
faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
um alívio de segurança, no terceiro me deixa
alerta, no quarto desassossegada, o quinto A(s) questão(ões) abordam uma passagem
e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo da peça teatral Frei Luís de Sousa, de Almei-
e o oitavo eu ouço com o coração batendo da Garrett (1799-1854).
de horror, no nono e no décimo minha boca
está trêmula, no décimo primeiro digo em Cena V – JORGE, MADALENA E MARIA
espanto o nome de Deus, no décimo segundo
chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me JORGE – Ora seja Deus nesta casa!
assassina — porque eu sou o outro. Porque (Maria beija-lhe o 1escapulário e depois a
eu quero ser o outro. mão; Madalena somente
Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, o escapulário.)
humilhada por precisar dela. Enquanto isso MADALENA – Sejais bem-vindo, meu irmão!
durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos MARIA – Boas tardes, tio Jorge!
essenciais. Para que minha casa funcione, JORGE – Minha senhora mana! A bênção de
exijo de mim como primeiro dever que eu Deus te cubra, filha! Também estou desas-
seja sonsa, que eu não exerça a minha revol- sossegado como vós, mana Madalena: mas
ta e o meu amor, guardados. Se eu não for não vos aflijais, espero que não há de ser
sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter es- nada. É certo que tive umas notícias de Lis-
quecido que embaixo da casa está o terreno, boa...
o chão onde nova casa poderia ser erguida. MADALENA (assustada) – Pois que é, que
Enquanto isso dormimos e falsamente nos foi?
salvamos. Até que treze tiros nos acordam, e JORGE – Nada, não vos assusteis; mas é bom
com horror digo tarde demais – vinte e oito que estejais prevenida, por isso vo-lo digo.
anos depois que Mineirinho nasceu – que ao Os governadores querem sair da cidade... é
homem acuado, que a esse não nos matem. um capricho verdadeiro... Depois de atura-
Porque sei que ele é o meu erro. E de uma rem metidos ali dentro toda a força da peste,
vida inteira, por Deus, o que se salva às ve- agora que ela está, se pode dizer, acabada,
zes é apenas o erro, e eu sei que não nos que são raríssimos os casos, é que por força
salvaremos enquanto nosso erro não nos for querem mudar de ares.
precioso. Meu erro é o meu espelho, onde MADALENA – Pois coitados!...
vejo o que em silêncio eu fiz de um homem. MARIA – Coitado do povo! Que mais valem
Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na as vidas deles? Em pestes e desgraças assim,
sua carne e me espantei, e vi a matéria de eu entendia, se governasse, que o serviço de
Deus e do rei me mandava ficar, até a úl-
vida, placenta e sangue, a lama viva. Em Mi-
tima, onde a miséria fosse mais e o perigo
neirinho se rebentou o meu modo de viver.
maior, para atender com remédio e amparo
(Clarice Lispector. Para não esquecer, 1999.)
aos necessitados. Pois, rei não quer dizer pai
1
facínora: diz-se de ou indivíduo que execu- comum de todos?
ta um crime com crueldade ou perversidade JORGE – A minha donzela Teodora! Assim é,
acentuada. filha, mas o mundo é doutro modo: que lhe
faremos?

63
MARIA – Emendá-lo. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
JORGE (para Madalena, baixo) – Sabeis que
mais? Tenho medo desta criança. O fim do marketing
MADALENA (do mesmo modo) – Também eu. A empresa vende ao consumidor — com a
JORGE (alto) – Mas enfim, resolveram sair: e web não é mais assim.
sabereis mais que, para corte e “buen retiro”
dos nossos cinco reis, os senhores governa- Com a internet se tornando onipresente, os
dores de Portugal por D. Filipe de Castela, Quatro Ps do marketing — produto, praça,
que Deus guarde, foi escolhida esta nossa preço e promoção — não funcionam mais.
boa vila de Almada, que o deveu à fama de O paradigma era simples e unidirecional:
suas águas sadias, ares lavados e graciosa as empresas vendem aos consumidores. Nós
vista. criamos produtos; fixamos preços; definimos
MADALENA – Deixá-los vir. os locais onde vendê-los; e fazemos anún-
JORGE – Assim é: que remédio! Mas ouvi o cios. Nós controlamos a mensagem. A inter-
resto. O nosso pobre Convento de São Paulo net transforma todas essas atividades.
tem de hospedar o senhor arcebispo D. Mi- (...)
guel de Castro, presidente do governo. Bom Os produtos agora são customizados em mas-
prelado é ele; e, se não fosse que nos tira do sa, envolvem serviços e são marcados pelo
humilde sossego de nossa vida, por vir como conhecimento e os gostos dos consumidores.
senhor e príncipe secular... o mais, paciên- Por meio de comunidades online, os consu-
cia. Pior é o vosso caso... midores hoje participam do desenvolvimen-
MADALENA – O meu! to do produto. Produtos estão se tornando
JORGE – O vosso e de Manuel de Sousa: por- experiências. Estão mortas as velhas concep-
que os outros quatro governadores – e aqui ções industriais na definição e marketing de
está o que me mandaram dizer em muito se- produtos.
gredo de Lisboa – dizem que querem vir para (...)
esta casa, e pôr aqui 2aposentadoria. Graças às vendas online e à nova dinâmica do
MARIA (com vivacidade) – Fechamos-lhes as mercado, os preços fixados pelo fornecedor
portas. Metemos a nossa gente dentro – o estão sendo cada vez mais desafiados. Hoje
3terço de meu pai tem mais de seiscentos questionamos até o conceito de “preço”, à
homens – e defendemo-nos. Pois não é uma medida que os consumidores ganham acesso
tirania?... E há de ser bonito!... Tomara eu a ferramentas que lhes permitem determi-
ver seja o que for que se pareça com uma nar quanto querem pagar. Os consumidores
batalha! vão oferecer vários preços por um produto,
JORGE – Louquinha! dependendo de condições específicas. Com-
MADALENA – Mas que mal fizemos nós ao pradores e vendedores trocam mais informa-
conde de Sabugal e aos outros governadores, ções e o preço se torna fluido. Os mercados,
para nos fazerem esse desacato? Não há por e não as empresas, decidem sobre os preços
aí outras casas; e eles não sabem que nesta de produtos e serviços.
há senhoras, uma família... e que estou eu (...)
aqui?... A empresa moderna compete em dois mun-
(Teatro, vol. 3, 1844.) dos: um físico (a praça, ou marketplace) e
um mundo digital de informação (o espaço
1
escapulário: faixa de tecido que frades e mercadológico, ou marketspace). As empre-
freiras de certas ordens religiosas cristãs sas não devem preocupar-se com a criação de
usam pendente sobre o peito. um web site vistoso, mas sim de uma grande
2
pôr aposentadoria: ficar, morar. comunidade online e com o capital de rela-
3
terço: corpo de tropas dos exércitos portu- cionamento. Corações, e não olhos, são o que
guês e espanhol dos séculos XVI e XVII. conta. Dentro de uma década, a maioria dos
produtos será vendida no espaço mercado-
3. (Unesp) “Nada, não vos assusteis; mas é lógico. Uma nova fronteira de comércio é a
bom que estejais prevenida, por isso vo-lo marketface — a interface entre o marketpla-
digo.” ce e o marketspace.
Em relação à forma verbal “digo”, os prono- (...)
mes oblíquos átonos “vo-lo” atuam, respec- Publicidade, promoção, relações públicas
tivamente, como etc. exploram “mensagens” unidirecionais,
a) objeto direto e objeto indireto. de um-para-muitos e de tamanho único,
b) objeto indireto e objeto direto. dirigidas a consumidores sem rosto e sem
c) objeto direto e predicativo do objeto. poder. As comunidades online perturbam
d) sujeito e objeto direto. drasticamente esse modelo. Os consumido-
e) sujeito e predicativo do sujeito. res com frequência têm acesso a informações

64
sobre os produtos, e o poder passa para o
lado deles. São eles que controlam as regras Gabarito
do mercado, não você. Eles escolhem o meio
e a mensagem. Em vez de receber mensagens
enviadas por profissionais de relações públi- E.O. Aprendizagem
cas, eles criam a “opinião pública” online. 1. B 2. B 3. B 4. B 5. E
Os marqueteiros estão perdendo o controle, e
isso é muito bom. 6. D 7. A 8. C 9. B 10. B
(Don Tapscott. O fim do marketing. INFO, São
Paulo, Editora Abril, janeiro 2011, p. 22.)

4. (Unesp) Nós criamos produtos; fixamos pre- E.O. Fixação


ços; definimos os locais onde vendê-los; e 1. D 2. D 3. B 4. E 5. D
fazemos anúncios. Nós controlamos a men-
sagem. 6. A 7. C 8. D 9. A 10. A
Nas orações que compõem os dois períodos
transcritos, os termos destacados exercem a
função de E.O. Complementar
a) sujeito.
1. A 2. C 3. A 4. B 5. B
b) objeto direto.
c) objeto indireto. 6. C 7. E 8. A 9. C 10. B
d) predicativo do sujeito.
e) predicativo do objeto.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.


E.O. Dissertativo
1.
De tudo que é nego torto a) verbal
Do mangue e do cais do porto b) nominal
Ela já foi namorada c) verbal
O seu corpo é dos errantes d) nominal
Dos cegos, dos retirantes 2.
É de quem não tem mais nada a) verbal
Dá-se assim desde menina b) nominal
Na garagem, na cantina c) verbal
Atrás do tanque, no mato d) nominal
É a rainha dos detentos 3.
Das loucas, dos lazarentos a) Lembre-se, pelo menos, DOS AMIGOS.
Dos moleques do internato
b) Fez grandes investimentos EM TERRAS.
E também vai amiúde
c) A notícia agradou A TODOS.
Co’os velhinhos sem saúde
d) O orador fez alusão AO FATO.
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade e) O gosto PELA MÚSICA vem desde criança.
E é por isso que a cidade f) Absteve-se DE BEBIDAS ALCOÓLICAS du-
Vive sempre a repetir rante o carnaval.
Joga pedra na Geni
a) objeto indireto
Joga pedra na Geni
b) complemento nominal
Ela é feita pra apanhar
c) objeto indireto
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um d) complemento nominal
Maldita Geni e) complemento nominal
(Chico Buarque. Geni e o zepelim.) f) objeto indireto
4.
5. (Unifesp) Indique a alternativa que apre- a) Cuide DE SEUS INTERESSES que eu cuido
senta a função sintática do verso De tudo que dos meus.
é nego torto. b) Temos confiança EM NOSSOS JOGADORES.
a) Adjunto adverbial de modo. c) Já organizamos a resistência A QUAL-
b) Objeto indireto. QUER ATAQUE INIMIGO.
c) Predicativo do sujeito. d) A assistência ÀS AULAS tem sido normal.
d) Adjunto adnominal. e) Naquela situação difícil recorremos AO
e) Complemento nominal. DIRETOR.
f) Gostamos DE PESSOAS SINCERAS.

65
a) objeto indireto
b) complemento nominal
c) complemento nominal
d) complemento nominal
e) objeto indireto
f) objeto indireto
5.
a) Voz passiva analítica:
Em uma recente análise, é mostrado pela
revista "The Economist" que a força de
trabalho foi dobrada pela entrada da Chi-
na, da Índia e da ex-União Soviética na
economia mundial.
b) Voz passiva sintética:
Em uma recente análise, mostra-se que a
entrada da China, da Índia e da ex-União
Soviética na economia mundial dobrou a
força de trabalho.

E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. E 2. C 3. B 4. B 5. E

66
Aulas 31 e 32

Termos acessórios da oração


Competências 1, 6 e 8
abilidades 1, 3, 4, 18, 25 e 27
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Termo acessórios da oração
Existem termos que, apesar de dispensáveis na estrutura básica da oração, são importantes para a compreensão do
enunciado. Ao acrescentarem informações novas, esses termos:
§§ caracterizam o ser;
§§ determinam os substantivos; e
§§ exprimem circunstância.
São termos acessórios da oração:
§§ o adjunto adverbial
§§ o adjunto adnominal
§§ o aposto
§§ o vocativo
Vejamos a seguinte oração:
Exemplo: Amanheceu.

Nessa oração, há predicado verbal formado por um verbo impessoal. Trata-se de uma oração sem sujeito.
O verbo amanheceu é suficiente para transmitir a mensagem enunciada. Seria possível, no entanto, ampliar as
informações contidas nessa frase:
Exemplo: Rapidamente amanheceu no campo.

A ideia central continua contida no verbo da oração com duas noções acessórias, circunstanciais, ligadas ao
processo verbal: o modo como amanheceu (rapidamente) e o lugar onde amanheceu (no campo). A esses termos
acessórios que indicam circunstâncias relativas ao processo verbal, damos o nome de adjuntos adverbiais.
Observe o que ocorre ao se expandir um pouco mais essa mesma oração.
Exemplo: Rapidamente amanheceu na pacata cidade do campo.

Há termos que se referem ao substantivo cidade, que o caracterizam, que lhe delimitam o sentido. Trata-se
de termos acessórios que se ligam a um nome, determinando-lhe o sentido. São chamados adjuntos adnominais.
Por fim, analise esta frase.
Exemplo: O mar estava calmo.

Nessa oração, o sujeito é determinado e simples: o mar. Há também um predicativo do sujeito (calmo),
relacionado ao sujeito pelo verbo de ligação (estava). Trata-se, portanto, de uma oração com predicado nominal.
Note que a frase é capaz de comunicar eficientemente uma informação. Nada impede, no entanto, de acrescentar
mais um pouco de conteúdo informativo:
Exemplo: O mar, azul e frio, estava calmo.

Além do núcleo do sujeito (o mar) há um termo que explica, que enfatiza esse núcleo: azul e frio. Esse
termo é chamado de aposto.

Adjunto adverbial
Como o próprio nome indica, trata-se de advérbio ou locução adverbial associados a verbos, adjetivos ou a outro
advérbio, acrescentando circunstâncias específicas (no caso de verbos) ou intensificando seu sentido no contexto.
Exemplos: Eles lutaram muito por seus direitos.
Ele é muito inteligente.
Falou-se muito mal daquele filme.

69
Nessas três orações, o termo “muito” é adjunto adverbial de intensidade.
No primeiro caso, muito intensifica a forma verbal lutaram, que é núcleo do predicado verbal.
No segundo, muito intensifica o adjetivo inteligente, que é o núcleo do predicativo do sujeito.
Na terceira oração, muito intensifica o advérbio mal, que é o núcleo do adjunto adverbial de modo.
Exemplos: Amanhã, vou de bicicleta ao trabalho.

Os termos em destaque estão indicando as seguintes circunstâncias:


§§ amanhã indica tempo
§§ de bicicleta indica meio
§§ ao trabalho indica lugar
Sabendo que a classificação do adjunto adverbial relaciona-se com a circunstância por ele expressa, esses
termos acima podem ser classificados, respectivamente, em: adjunto adverbial de tempo, adjunto adverbial de meio
e adjunto adverbial de lugar.
O adjunto adverbial pode ser expresso por:
a) advérbio: Ela dirige rapidamente.
b) locução adverbial: O grupo se perdeu na floresta.
c) oração: Quando o garoto chegar, avisem-me.

Classificação do adjunto adverbial

Há algumas circunstâncias que o adjunto adverbial pode expressar:

§§ acréscimo: Além de conhecimentos em Matemática, eram necessários também conhecimentos em


Química.
§§ afirmação: Ele viajará com certeza.
§§ assunto: Falávamos sobre cotas. (ou de cotas, ou a respeito de cotas).
§§ causa: Com a falta de chuvas, a seca propagou-se.
§§ companhia: Foi ao cinema com a namorada.
§§ concessão: Apesar da dificuldade do exercício, conseguiu resolvê-lo.
§§ condição: Sem autorização, a criança não poderá embarcar.
§§ conformidade: Seguem os relatórios, conforme o combinado (ou segundo o combinado).
§§ dúvida: Talvez seja melhor sair mais cedo.
§§ fim, finalidade: Viajei a trabalho.
§§ frequência: Sempre ocupava o mesmo lugar à mesa.
§§ instrumento: A redação deve ser feita à caneta.
§§ intensidade: A aluna estudava bastante.
§§ lugar: Estou em casa.
§§ matéria: A cadeira é feita de aço.
§§ meio: Atravessou a cidade de ônibus.
§§ modo: Fique à vontade para fazer seus comentários.
§§ negação: Não se deve esquecer o horário da consulta.
§§ tempo: O expediente é das 8h às 17h.

70
Adjunto adnominal

É o termo que determina, especifica ou explica um substantivo. O adjunto adnominal tem função adjetiva
na oração, a qual pode ser desempenhada por adjetivos, locuções adjetivas, artigos, pronomes adjetivos e numerais
adjetivos.
Exemplo: O médico prescreveu dois remédios ao paciente.
Sujeito objeto direto objeto indireto

Nessa oração, os substantivos médico, remédio e paciente são núcleos, respectivamente, do sujeito
determinado simples, do objeto direto e do objeto indireto. Ao redor de cada um desses substantivos, agrupam-se
os adjuntos adnominais:
O artigo o refere-se a médico;
O numeral dois refere-se ao substantivo remédios;
O artigo o (em ao), refere-se a paciente.
Observe como os adjuntos adnominais prendem-se diretamente ao substantivo a que se referem sem qual-
quer participação do verbo. Isso é mais bem observável se um substantivo for substituído por um pronome: todos
os adjuntos adnominais ao redor do substantivo têm de acompanhá-lo nessa substituição.
Exemplo: A grande plateia apreciou a peça de teatro.

Ao substituir plateia pelo pronome ela, obtém-se:


Exemplo: Ela apreciou a peça de teatro.

As palavras a e grande tiveram de acompanhar o substantivo plateia, uma vez que se trata de adjuntos
adnominais. O mesmo aconteceria caso o substantivo peça fosse substituído pelo pronome a.
Exemplo: A grande plateia apreciou-a.

Os adjuntos adnominais costumam ser expressos por:


§§ adjetivos: crianças tagarelas, políticos corruptos;
§§ locuções adjetivas: anéis de ouro, livro de histórias;
§§ artigos definidos e indefinidos: o papel, os papéis, um papel, uns papéis;
§§ pronomes possessivos: meu carro;
§§ pronomes demonstrativos: este carro;
§§ pronomes indefinidos: algum carro;
§§ pronomes Interrogativos: qual chave?;
§§ pronomes relativos: na biblioteca cujos livros estão em mau estado;
§§ numerais adjetivos: trezentos e cinquenta soldados.

Importante
A noção de que o adjunto adnominal é sempre parte de outro termo sintático, cujo núcleo é um substan-
tivo, é importante para diferenciá-lo do predicativo do objeto. O predicativo do objeto é um termo que se liga
ao objeto por intermédio de um verbo. Portanto, se houver substituição do núcleo do objeto por um pronome, o
predicativo permanecerá na oração, pois é um termo que se refere ao objeto, mas não faz parte dele.
Exemplo: Seu comportamento deixou os pais perplexos.

Nessa oração, "perplexos" é predicativo do objeto direto (os pais). Caso substituído esse objeto direto por
um pronome pessoal: Seu comportamento deixou-os perplexos. Observe que o termo "perplexos" refere-se ao
objeto, mas não faz parte dele.

71
Distinção entre adjunto adnominal e complemento nominal

É comum confundir o adjunto adnominal, na forma de locução adjetiva, com o complemento nominal. Para evitar
que isso ocorra, considere o seguinte:
a) Somente os substantivos podem ser acompanhados de adjuntos adnominais; os complementos nominais
podem ligar-se a substantivos, adjetivos e advérbios. O termo ligado por preposição a um adjetivo ou a um
advérbio só pode ser complemento nominal. Se não houver preposição ligando os termos, será um adjunto
adnominal.
b) O complemento nominal equivale a um complemento verbal, ou seja, mantém relação exclusivamente com
os substantivos cujos significados transitam. Portanto, seu valor é passivo, é sobre ele que recai a ação. O
adjunto adnominal tem sempre valor ativo.
Exemplo: Ana tem muito amor à mãe.

A expressão à mãe classifica-se como complemento nominal, uma vez que mãe é paciente de amar, recebe
a ação de amar.
Exemplo: Ana é um amor de mãe.
A expressão de mãe é adjunto adnominal, uma vez que mãe é agente de amar, pratica a ação de amar.

Aposto
É um termo que, acrescentado a outro termo da oração, tem a função de ampliar, resumir, explicar ou desenvolver
mais o conteúdo do termo ao qual se refere.
Exemplo: Ontem, domingo, passaram o dia no parque.

Domingo é aposto do adjunto adverbial de tempo "ontem". Diz-se que o aposto é sintaticamente equiva-
lente ao termo a que se relaciona porque pode substituí-lo:
Exemplo: Domingo passaram o dia no parque.

Verifica-se, portanto, que, se "ontem" for eliminado, o substantivo "domingo" assume a função de adjunto
adverbial de tempo.
Exemplo: Gosto de todos os tipos de música: rock, blues, chorinho, samba etc.
objeto indireto aposto do objeto indireto

Se for retirado o objeto da oração, seu aposto passa a exercer essa função:
Exemplo: Gosto de rock, blues, chorinho, samba, etc.
objeto indireto

Observação: O aposto tem a mesma função sintática do termo ao qual se relaciona.

Classificação do aposto

De acordo com a relação que estabelece com o termo a que se refere, o aposto pode ser classificado em:
a) explicativo: A Linguística, ciência da linguagem, fornece subsídios importantes para o conhecimento
da língua materna.
b) enumerativo: A vida se compõe de muitas coisas: amor, trabalho e dinheiro.
c) resumidor ou recapitulativo: Vida digna, cidadania plena, igualdade de oportunidades, tudo isso está
na base de um país melhor.
d) comparativo: Drummond e Guimarães Rosa são dois grandes escritores, aquele na poesia e este na
prosa.

72
Além desses, há o aposto especificativo, que difere dos demais porque não é marcado por sinais de
pontuação (vírgula ou dois-pontos). O aposto especificativo individualiza um substantivo de sentido genérico,
prendendo-se a ele diretamente ou por meio de uma preposição, sem que haja pausa na entonação da frase.
Exemplos: O poeta Carlos Dummond de Andrade criou obra de expressão simples.
A rua Augusta é um dos pontos turísticos de São Paulo.

Importante
Para não confundir o aposto de especificação com adjunto adnominal, observe esta frase. A obra de
Drummond é símbolo do movimento modernista. Nessa oração, o termo em destaque tem a função de adjetivo:
a obra drummoniana. É, portanto, um adjunto adnominal.

Observações:
a) Os apostos, em geral, destacam-se por pausas, indicadas na escrita por vírgulas, dois-pontos ou traves-
sões. Se não houver pausa, não haverá vírgulas. Acabo de ver a série Star Wars.
b) O aposto também pode vir precedido de expressões explicativas do tipo: a saber, isto é, por exemplo etc.
Algumas disciplinas, a saber, Física, Química e Matemática, demandam mais tempo de estudo.
c) O aposto pode aparecer antes do termo a que se refere. Código universal, a música não tem frontei-
ras.
d) O aposto que se refere ao objeto indireto, ao complemento nominal ou ao adjunto adverbial pode vir
precedido de preposição. Estava deslumbrada com tudo: com a cidade, com a casa nova, com a
vida que começava.

Vocativo
É um termo que não tem relação sintática com outro termo da oração. Não pertence, portanto, nem ao sujeito nem
ao predicado. É o termo que serve para chamar, invocar ou interpelar um ouvinte real ou hipotético. Em razão de
seu caráter, geralmente se relaciona à segunda pessoa do discurso.
Exemplo: Não se esqueça de marcar todas as respostas no gabarito, pessoal!
vocativo
Exemplo: A vida, minha filha, é feita de escolhas.
vocativo

Nessas orações, os termos destacados são vocativos: indicam e nomeiam o interlocutor a quem se está
dirigindo a palavra.
Observações: o vocativo pode vir antecedido por interjeições de apelo, tais como ó, olá, eh! etc.
§§ Ó mar salgado! Quanto do teu sal são lágrimas de Portugal. Olá prezado cliente! Entramos em contato para
apresentar novos produtos.

Distinção entre vocativo e aposto

O vocativo não mantém relação sintática com outro termo da oração.

Exemplo: Pessoal, vamos estudar mais.


Vocativo

O aposto mantém relação sintática com outro termo da oração.


Exemplo: A vida de Marylin Monroe, artista hollywoodiana, foi muito conturbada.
sujeito aposto

73
INTERATIVI
A DADE

REFLETIR

Poema / Poesia Epígrafe

Reflita sobre o emprego dos tempos verbais no poema de Manuel Bandeira. Qual relação semântica eles
estabelecem?

Epígrafe

Sou bem nascido. Menino,


Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.

Veio o mau gênio da vida,


Rompeu em meu coração,
Levou tudo de vencida,
Rugiu como um furacão,

Turbou, partiu, abateu,


Queimou sem razão nem dó –
Ah, que dor!
Magoado e só,
– Só! – meu coração ardeu:

Ardeu em gritos dementes


Na sua paixão sombria...
E dessas horas ardentes
Ficou esta cinza fria.

– Esta pouca cinza fria...


(Manuel Bandeira, In: A cinza das horas, 1917)

C
pib
load
rPa74
geNumber
Estrutura Conceitual
SINTAXE

PERÍODO SIMPLES

TERMOS TERMOS TERMOS


ESSENCIAIS INTEGRANTES ACESSÓRIOS

- Adjunto adverbial
- Adjunto adnominal
- Aposto
- Vocativo

76
E.O. Aprendizagem vaso sanitário, chuveiro, toalhas brancas e
porta, televisão de tela plana, mesa, cadeira
e armário, quadro para afixar papéis e fotos,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO além de geladeiras. Encontra-se lá uma am-
pla biblioteca, ginásio de esportes, campo de
Noruega como Modelo de Rea- futebol, chalés para os presos receberem os
bilitação de Criminosos familiares, estúdio de gravação de música e
O Brasil é responsável por uma das mais al- oficinas de trabalho. Nessas oficinas são ofe-
tas taxas de reincidência criminal em todo o recidos cursos de formação profissional, cur-
mundo. No país, a taxa média de reincidên- sos educacionais, e o trabalhador recebe uma
cia (amplamente admitida, mas nunca com- pequena remuneração. Para controlar o ócio,
provada empiricamente) é de mais ou me- oferecer muitas atividades, de educação, de
nos 70%, ou seja, 7 em cada 10 criminosos trabalho e de lazer, é a estratégia.
A prisão é construída em blocos de oito celas
voltam a cometer algum tipo de crime após
cada (alguns dos presos, como estuprado-
saírem da cadeia.
res e pedófilos, ficam em blocos separados).
Alguns perguntariam "Por quê?". E eu per-
Cada bloco tem sua cozinha. A comida é for-
gunto: "Por que não?" O que esperar de um
necida pela prisão, mas é preparada pelos
sistema que propõe reabilitar e reinserir
próprios detentos, que podem comprar ali-
aqueles que cometerem algum tipo de crime,
mentos no mercado interno para abastecer
mas nada oferece, para que essa situação re-
seus refrigeradores.
almente aconteça? Presídios em estado de
Todos os responsáveis pelo cuidado dos de-
depredação total, pouquíssimos programas
tentos devem passar por no mínimo dois
educacionais e laborais para os detentos,
anos de preparação para o cargo, em um
praticamente nenhum incentivo cultural, e,
curso superior, tendo como obrigação funda-
ainda, uma sinistra cultura (mas que diverte mental mostrar respeito a todos que ali es-
muitas pessoas) de que bandido bom é ban- tão. Partem do pressuposto que, ao mostra-
dido morto (a vingança é uma festa, dizia rem respeito, os outros também aprenderão
Nietzsche). a respeitar.
Situação contrária é encontrada na Noruega. A diferença do sistema de execução penal
Considerada pela ONU, em 2012, o melhor norueguês em relação ao sistema da maio-
país para se viver (1º no ranking do IDH) e, ria dos países, como o brasileiro, americano,
de acordo com levantamento feito pelo Ins- inglês, é que ele é fundamentado na ideia
tituto Avante Brasil, o 8º país com a menor de que a prisão é a privação da liberdade, e
taxa de homicídios no mundo, lá o sistema pautado na reabilitação e não no tratamento
carcerário chega a reabilitar 80% dos crimi- cruel e na vingança.
nosos, ou seja, apenas 2 em cada 10 presos O detento, nesse modelo, é obrigado a mos-
voltam a cometer crimes; é uma das meno- trar progressos educacionais, laborais e com-
res taxas de reincidência do mundo. Em uma portamentais, e, dessa forma, provar que
prisão em Bastoy, chamada de ilha paradisí- pode ter o direito de exercer sua liberdade
aca, essa reincidência é de cerca de 16% en- novamente junto à sociedade.
tre os homicidas, estupradores e traficantes A diferença entre os dois países (Noruega e
que por ali passaram. Os EUA chegam a re- Brasil) é a seguinte: enquanto lá os presos
gistrar 60% de reincidência e o Reino Unido, saem e praticamente não cometem crimes,
50%. A média europeia é 50%. respeitando a população, aqui os presos
A Noruega associa as baixas taxas de reinci- saem roubando e matando pessoas. Mas es-
dência ao fato de ter seu sistema penal pau- sas são consequências aparentemente cola-
tado na reabilitação e não na punição por terais, porque a população manifesta muito
vingança ou retaliação do criminoso. A re- mais prazer no massacre contra o preso pro-
abilitação, nesse caso, não é uma opção, ela duzido dentro dos presídios (a vingança é
é obrigatória. Dessa forma, qualquer crimi- uma festa, dizia Nietzsche).
noso poderá ser condenado à pena máxima LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista, diretor-presidente
prevista pela legislação do país (21 anos), do Instituto Avante Brasil e coeditor do Portal
atualidadesdodireito.com.br. Estou no blogdolfg.com.br.
e, se o indivíduo não comprovar estar total-
** Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga
mente reabilitado para o convívio social, a e pesquisadora do Instituto Avante Brasil.
pena será prorrogada, em mais 5 anos, até FONTE: Adaptado de http://institutoavantebrasil.com.br/
que sua reintegração seja comprovada. noruega-como-modelo-de-reabilitacao-de-criminosos/.
Acessado em 17 de março de 2017.
O presídio é um prédio, em meio a uma flo-
resta, decorado com grafites e quadros nos
corredores, e no qual as celas não possuem
grades, mas sim uma boa cama, banheiro com

77
1. (Espcex (Aman)) Em "A população manifesta correspondência com sua amiga Raquel, que
muito mais prazer no massacre contra o pre- vive em Belo Horizonte, Minas Gerais. “Eu
so", o termo destacado tem a função de: ficava sabendo das novidades e não gastava
a) Adjunto Adnominal dinheiro com telefonemas.”
b) Agente da Passiva Já Amanda, de 10 anos, também gosta de
c) Objeto Direto receber cartinhas, mas prefere enviar e-
d) Objeto Indireto -mails. “Atualmente estou conversando com
e) Complemento Nominal meu primo que está nos Estados Unidos via
computador, já que a mensagem chega mais
2. (Espcex (Aman)) Marque a alternativa corre- rápido e não pago interurbano.”
ta quanto à função sintática do termo grifa- TOURRUCCO, Juliana. Saudade de escrever. O Estado de
do na frase abaixo. São Paulo, p.5, 25 jul.1998. Suplemento infantil.

“Em Mariana, a igreja, cujo sino é de ouro, 3. (Ifal) Quanto à análise morfossintática dos
foi levada pelas águas”. elementos textuais, apenas uma alternativa
a) adjunto adnominal está errada, contrariando o que prescreve a
b) objeto direto norma padrão da Língua Portuguesa.
c) complemento nominal Assinale-a.
d) objeto indireto a) Na frase Basta uma folha de papel, selo,
e) vocativo caneta e envelope..., o verbo está no sin-
gular concordando com folha, o núcleo mais
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. próximo do sujeito composto.
b) O verbo Basta também poderia ficar no plu-
Saudade de escrever
ral se o sujeito composto fosse papel, selo,
Apesar da concorrência (internet, celular), a caneta e envelope.
carta continua firme e forte. Basta uma fo- c) Pelas regras ortográficas atuais, quando o
lha de papel, selo, caneta e envelope para prefixo termina por consoante, não se usa
que uma pessoa do Rio Grande do Norte, por o hífen se o segundo elemento começar por
exemplo, fique por dentro das fofocas re- vogal, sendo assim, a expressão superansio-
gistradas por um amigo em São Paulo, dois sa, no segundo parágrafo, deveria se consti-
dias depois. “Adoro receber cartas, fico super tuir num só vocábulo.
ansiosa para descobrir o que está escrito”, d) As expressões que, no texto, indicam a idade
conta Lívia Maria, de 9 anos. Mas ela admi- das crianças são aposto, razão por que vêm se-
te que faz tempo que não escreve nenhuma paradas dos termos antecedentes por vírgulas.
cartinha. “As últimas foram para a Angélica e) As expressões adverbiais no Paraná e Minas
e para um dos programas do Gugu.” Gerais, no terceiro parágrafo, funcionam
Isabela, de 9 anos, lembra que, quando como vocativo, por isso estão isoladas por
morava em Curitiba, no Paraná, trocava vírgulas.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Leia a tirinha que apresenta o diálogo entre Mafalda e seu pai e responda à(s) questão(ões).

4. (Cps) Na tirinha, Mafalda faz uso de um vocativo. Ela usa esse termo – que atua como uma forma
de chamamento de um interlocutor real ou hipotético – como forma de deixar evidente o seu in-
terlocutor.
Tendo isso em vista, assinale a alternativa que contenha o vocativo utilizado por Mafalda.
a) você
b) se
c) tão
d) papai
e) como

78
5. (Epcar (Cpcar)) Analise as afirmativas abaixo. Talvez pudesse haver um princípio de incên-
dio ou algum andaime em perigo ou alguém
prestes a pular. Não havia nada identificável
à vista e ele, através de operações bastante
lógicas, chegou à conclusão de que o único
suicida em potencial era ele próprio. Não
que já houvesse se cristalizado em sua men-
te, algum dia, tal desejo, embora como todo
mundo, de vez em quando... E digamos que
a pouca importância que dava a si próprio
não permitia que aflorasse seriamente em
seu campo de decisões a possibilidade de um
gesto tão grandiloquente. E que o instinto
cego de sobrevivência levava uma vantagem
de uns quarenta por cento sobre seu instin-
to de morte, tanto é que ele viera levando a
vida até aquele preciso momento sob as mais
adversas condições.
I. A vírgula utilizada depois da palavra In: MORICONI, Ítalo (org.). Os cem melhores contos
“contente” separa um vocativo, enquan- brasileiros do século. R. Janeiro: Objetiva, 2000.
to os dois pontos empregados depois de
“doente” introduzem apostos. 6. (Insper) Em “... não lhe passou pela cabeça
II. Na frase “Eu estaria sendo hipócrita”, há que pudesse ser ele o centro das atenções”,
dois verbos e duas orações. os pronomes pessoais destacados exercem,
III. O vocábulo “Aí” marca a coloquialidade do respectivamente, a função sintática de
diálogo e poderia ser substituído, em um a) objeto indireto, sujeito.
registro mais formal, pela expressão “des- b) complemento nominal, objeto direto.
se modo”, sem modificação do sentido. c) adjunto adnominal, sujeito.
IV. Em “analisar o que me deixa”, o pronome d) objeto indireto, predicativo do objeto.
“que”, sintaticamente, exerce a função e) adjunto adnominal, predicativo do sujeito.
de objeto direto.
Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
a) II.
b) I, II e IV. No português, encontramos variedades his-
c) I e III. tóricas, tais como a representada na canti-
ga trovadoresca de João Garcia de Guilhade,
d) III e IV.
ilustrada a seguir.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. Non chegou, madre, o meu amigo,
e oje est o prazo saido!
Ele se encontrava sobre a estreita marquise Ai, madre, moiro d’amor!
do 18º andar. Tinha pulado ali a fim de lim-
par pelo lado externo as vidraças das salas Non chegou, madre, o meu amado,
vazias do conjunto 1801/5, a serem ocupa- e oje est o prazo passado!
das em breve por uma firma de engenharia. Ai, madre, moiro d’amor!
Ele era um empregado recém-contratado da E oje est o prazo saido!
Panamericana – Serviços Gerais. O fato de Por que mentiu o desmentido?
haver se sentado à beira da marquise, com as Ai, madre, moiro d’amor!
pernas balançando no espaço, se devera sim- E oje, est o prazo passado!
plesmente a uma pausa para fumar a meta- Por que mentiu o perjurado?
de de cigarro que trouxera no bolso. Ele não Ai, madre, moiro d’amor!
queria dispensar este prazer, misturando-o
com o trabalho. 7. (Ifsp) No verso – Ai, madre, moiro d’amor!
Quando viu o ajuntamento de pessoas lá – a função sintática do termo madre é a se-
embaixo, apontando mais ou menos em sua guinte:
direção, não lhe passou pela cabeça que pu- a) sujeito.
desse ser ele o centro das atenções. Não es- b) objeto direto.
tava habituado a ser este centro e olhou para c) adjunto adnominal.
baixo e para cima e até para trás, a janela às d) vocativo.
suas costas. e) aposto.

79
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO deixaram-se fotografar. São fofocas profis-
sionais, consentidas e quase sempre assina-
Portal do Assinante Estadão. Aqui não há vi- das. Fofoca anônima é que é golpe baixo.
sitantes, só gente de casa.
A fofoca nasce na boca de quem? Ninguém
O Portal do Assinante Estadão é um lugar de- sabe. Ouviu-se falar. É uma afirmação sem
dicado especialmente a você, 24 horas por fonte, uma suspeita sem indício, uma le-
dia, feito para as pessoas se sentirem em viandade órfã de pai e mãe. Quem fabrica
casa. Veja alguns privilégios: entrega em uma fofoca quer ter a sensação de poder.
dois endereços, transferência temporária, Poder o quê? Poder divulgar algo seu, ver
interrupção de entrega, promoções exclusi- seu “trabalho” passado adiante, provocando
vas do Clube do Assinante, informações so- reações, mobilizando pessoas. Quem dera o
bre o jornal. Entre sem bater, fique à vonta- criador da fofoca pudesse contribuir para a
de e acesse. Afinal, a casa é sua. sociedade com um quadro, um projeto de ar-
8. (Mackenzie) É correto afirmar que quitetura, um 6plano educacional, mas sem
a) as orações "entrega em dois endereços, trans- talento para tanto, ele gera boatos.
ferência temporária,... informações sobre o Quem faz intrigas sobre a vida alheia quer
jornal", funcionando como aposto, sintetizam ter algo de sua autoria, uma obra que se
o conteúdo detalhado em "alguns privilégios". alastre e cresça, que se torne pública e que
b) as formas verbais "veja", "entre" , "fique" seja muito comentada. Algo que lhe dê con-
e "acesse" concordam com a expressão "as tinuidade. É por isso que fofocar é uma ten-
pessoas", empregada no início do texto. tação. Porque nos dá, por poucos minutos, a
c) no trecho "entrega em dois endereços", o sensação de ser portador de uma informação
segmento "em dois endereços" oferece uma valiosa que está sendo gentilmente dividida
circunstância de lugar à forma verbal "entre- com os outros. Na verdade, está-se exercitan-
ga", funcionando, portanto, como adjunto do uma pequena maldade, não prevista no
adverbial.
Código Penal. Fofocas podem provocar lesões
d) no trecho "Um lugar dedicado ESPECIAL-
emocionais. 7Por mais inocente ou absurda,
MENTE a você", o advérbio sugere, ao mesmo
sempre deixa um rastro de desconfiança.
tempo, exclusividade e preferência.
Onde há fumaça há fogo, acreditam todos,
e) no trecho "a casa é sua", o pronome posses-
o que transforma toda fofoca numa verdade
sivo "sua" funciona como adjunto adnomi-
em potencial. Não há fofoca que compense.
nal de "casa", tal como o artigo "a".
Se for mesmo verdade, é uma bala perdida.
Se for mentira, é um tiro pelas costas.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
MEDEIROS, Martha. Almas gêmeas, 20 set. 1999.
Disponível em: <http://almas.terra.com.br/martha/
Fofoca: uma obra sem autor
martha_2D_09.htm/>. Acesso em: 7 dez. 2005.
O próprio som da palavra fofoca dá a ela um
certo ar de frivolidade. Fofoca, mexerico, 9. (G1 - ifce) Os termos destacados no trecho
coisa sem importância. Difamação é crime, “Quando alguém se aproxima de mim, segu-
1
mas fofoca é só uma brincadeira. O que se- ra no meu braço e olha para o lado antes de
ria da vida sem um bom diz que me diz que, começar a falar, já sei que vem aí uma lama
não? que não me diz respeito.” (ref. 2) desempe-
Não. Dispenso fofocas e fofoqueiros. 2Quan- nham, respectivamente, as funções de
do alguém se aproxima de mim, segura no a) objeto indireto, complemento nominal e ob-
meu braço e olha para o lado antes de come- jeto direto.
çar a falar, já sei que 3vem aí uma lama que b) objeto indireto, adjunto adverbial e sujeito.
não me diz respeito. Se não tiver como fugir, c) complemento nominal, objeto indireto e ob-
deixo que a indiscrição entre por um ouvido jeto direto.
e saia pelo outro, dando assim o pior castigo d) objeto indireto, objeto indireto e sujeito.
para o meu interlocutor: não passarei adian- e) complemento nominal, adjunto adverbial e
te nem uma palavra. objeto direto.
Não recuso uma olhada na revista Caras, es-
pecialista em entregar 4quem dormiu com TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
quem, quem traiu quem, quem faliu, quem
CPFL Energia apresenta: Planeta Sustentável
casou, quem separou. É a única publicação
do gênero que passa alguma credibilidade, É buscando alternativas energéticas renová-
5
porque sei que os envolvidos foram escuta- veis que a gente traduz nossa preocupação
dos, deram declarações por vontade própria, com o meio ambiente

80
Sustentabilidade é um 1conceito que 2só ga- meditação sobre o filme A festa de Babette,
nha força quando 3boas ideias se transfor- que é uma celebração da comida como ritual
mam 4em grandes ações. É por acreditar 5nis- de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações
so que nós, da CPFL, estamos desenvolvendo e competências, nunca escrevi como chef.
alternativas energéticas eficientes e renová- Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e
veis e tomando as medidas necessárias para teólogo – porque a culinária estimula todas
gerar cada vez menos impactos ambientais. essas funções do pensamento.
A utilização da energia elétrica de forma As comidas, para mim, são entidades oníri-
consciente, o investimento em pesquisa e o cas. Provocam a minha capacidade de sonhar.
desenvolvimento de veículos elétricos, o em- Nunca imaginei, entretanto, que chegaria
prego de novas fontes, como a biomassa e um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar.
a energia eólica, e a utilização de créditos Pois foi precisamente isso que aconteceu.
de carbono são preocupações que há algum A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e
tempo já viraram ações da CPFL. E esta é a duros, me pareceu uma simples molecagem,
nossa busca: contribuir para a qualidade de brincadeira deliciosa, sem dimensões me-
vida de nossos consumidores e oferecer a tafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias
todos o direito de viver em um planeta sus- atrás, conversando com uma paciente, ela
tentável. mencionou a pipoca. E algo inesperado na
minha mente aconteceu. Minhas ideias co-
Revista Veja. 30 dez. 2009
meçaram a estourar como pipoca. Percebi,
então, a relação metafórica entre a pipoca
1
0. (G1 - ifal) Considerando a análise sintá- e o ato de pensar. Um bom pensamento nas-
tica dos termos no texto, avalie as corres- ce como uma pipoca que estoura, de forma
pondências abaixo e, após preencher com V inesperada e imprevisível. A pipoca se reve-
(verdadeiro) ou F (falso) as afirmações que lou a mim, então, como um extraordinário
seguem, assinale a alternativa em que se objeto poético. Poético porque, ao pensar ne-
encontra a sequência correlata de preenchi- las, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar
mento dos parênteses. estouros e pulos como aqueles das pipocas
( ) “conceito” (ref. 1) – predicativo do su- dentro de uma panela.
jeito;
Lembrei-me do sentido religioso da pipoca.
( ) “em grandes ações” (ref. 4) – objeto di-
A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.
reto;
Para os cristãos, religiosos são o pão e o vi-
( ) “nisso” (ref. 5) – objeto direto;
nho, que simbolizam o corpo e o sangue de
( ) “só” (ref. 2) – adjunto adverbial;
Cristo, a mistura de vida e alegria (porque
( ) “boas” (ref. 3) – adjunto adnominal.
vida, só vida, sem alegria, não é vida...).
a) V – F – F - F – F Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida
b) V – F – F – V - V e alegria devem existir juntas. Lembrei-me,
c) V – F – F – V - F então, de lição que aprendi com a Mãe Stella,
d) V – F – F – F - V sábia poderosa do candomblé baiano: que a
e) F – F – F - V – V pipoca é a comida sagrada do candomblé...
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvol-
E.O. Fixação vido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no
meio dos meus milhos graúdos aparecessem
aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO trataria de me livrar delas. Pois o fato é que,
sob o ponto de vista do tamanho, os milhos
A PIPOCA da pipoca não podem competir com os mi-
Rubem Alves lhos normais. Não sei como isso aconteceu,
mas o fato é que houve alguém que teve a
A culinária me fascina. De vez em quando eu ideia de debulhar as espigas e colocá-las
até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que numa panela sobre o fogo, esperando que
sou mais competente com as palavras que assim os grãos amolecessem e pudessem ser
com as panelas. Por isso tenho mais escrito comidos. Havendo fracassado a experiência
sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a com água, tentou a gordura. O que aconte-
algo que poderia ter o nome de “culinária ceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.
literária”. Já escrevi sobre as mais variadas Repentinamente os grãos começaram a es-
entidades do mundo da cozinha: cebolas, tourar, saltavam da panela com uma enorme
ora-pro-nóbis, picadinho de carne com to- barulheira. Mas o extraordinário era o que
mate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, so- acontecia com eles: os grãos duros quebra-
pas, churrascos. Cheguei mesmo a dedicar -dentes se transformavam em flores brancas
metade de um livro poético-filosófico a uma e macias que até as crianças podiam comer.

81
O estouro das pipocas se transformou, então, Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá.
de uma simples operação culinária, em uma Falando sobre os piruás com os paulistas
festa, brincadeira, molecagem, para os risos descobri que eles ignoram o que seja. Al-
de todos, especialmente as crianças. É muito guns, inclusive, acharam que era gozação
divertido ver o estouro das pipocas! minha, que piruá é palavra inexistente. Che-
guei a ser forçado a me valer do Aurélio para
E o que é que isso tem a ver com o candom- confirmar o meu conhecimento da língua.
blé? É que a transformação do milho duro em Piruá é o milho de pipoca que se recusa a
pipoca macia é símbolo da grande transfor- estourar. Meu amigo William, extraordinário
mação porque devem passar os homens para professor-pesquisador da Unicamp, especia-
que eles venham a ser o que devem ser. O lizou-se em milhos, e desvendou cientifi-
milho da pipoca não é o que deve ser. Ele camente o assombro do estouro da pipoca.
deve ser aquilo que acontece depois do es- Com certeza ele tem uma explicação cientí-
touro. O milho da pipoca somos nós: duros, fica para os piruás. Mas, no mundo da poe-
quebra-dentes, impróprios para comer, pelo sia as explicações científicas não valem. Por
poder do fogo podemos, repentinamente, exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se
nos transformar em outra coisa − voltar a dá às mulheres que não conseguiram casar.
ser crianças! Minha prima, passada dos quarenta, lamen-
tava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder
Mas a transformação só acontece pelo poder
metafórico dos piruás é muito maior. Piruás
do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo
são aquelas pessoas que, por mais que o fogo
fogo continua a ser milho de pipoca, para esquente, se recusam a mudar. Elas acham
sempre. Assim acontece com a gente. As que não pode existir coisa mais maravilhosa
grandes transformações acontecem quando do que o jeito delas serem. Ignoram o dito de
passamos pelo fogo. Quem não passa pelo Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê-la-
fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São -á.” A sua presunção e o seu medo são a dura
pessoas de uma mesmice e dureza assombro- casca do milho que não estoura. O destino
sas. Só que elas não percebem. Acham que delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira.
o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Não vão se transformar na flor branca macia.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quan- Não vão dar alegria para ninguém. Termina-
do a vida nos lança numa situação que nun- do o estouro alegre da pipoca, no fundo da
ca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: panela ficam os piruás que não servem para
perder um amor, perder um filho, ficar do- nada. Seu destino é o lixo. Quanto às pipocas
ente, perder um emprego, ficar pobre. Pode que estouraram, são adultos que voltaram a
ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, ser crianças e que sabem que a vida é uma
depressão – sofrimentos cujas causas igno- grande brincadeira...
ramos. Há sempre o recurso aos remédios. Disponível em http://www.releituras.com/rubemalves_
Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento di- pipoca.asp. Acessado em 31 de mai. 2016.
minui. E com isso a possibilidade da grande
Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo
transformação.
Acordo Ortográfico.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro
da panela, lá dentro ficando cada vez mais 1. (Efomm) Ao longo do texto o autor se vale de
quente, pense que sua hora chegou: vai mor- diferentes tipos de aposto. Assinale a única
rer. De dentro de sua casca dura, fechada em opção em que NÃO se encontra essa constru-
si mesma, ela não pode imaginar destino ção sintática:
diferente. Não pode imaginar a transforma- a) Sabedor das minhas limitações e competências,
ção que está sendo preparada. A pipoca não nunca escrevi como chef.
imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem b) A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e du-
aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande ros, me pareceu uma simples molecagem, brin-
transformação acontece: pum! − e ela apare- cadeira deliciosa (...)
ce como uma outra coisa, completamente di- c) Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a
ferente, que ela mesma nunca havia sonha- Mãe Stella, sábia poderosa do candomblé (...)
do. É a lagarta rastejante e feia que surge do d) Já escrevi sobre as mais variadas entidades
casulo como borboleta voante. do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nóbis,
Na simbologia cristã o milagre do milho de picadinho de carne com tomate feijão e ar-
pipoca está representado pela morte e res- roz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.
surreição de Cristo: a ressurreição é o estou- e) Meu amigo William, extraordinário professor-
ro do milho de pipoca. É preciso deixar de -pesquisador da Unicamp, especializou-se
ser de um jeito para ser de outro. “Morre e (...)
transforma-te!” − dizia Goethe.

82
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Acauã SOMOS TODOS ESTRANGEIROS


Luiz Gonzaga Volta e meia, em nosso mundo redondo,
colapsa o frágil convívio entre os diversos
Acauã, acauã vive cantando
modos de ser dos seus habitantes. 1Neste
Durante o tempo do verão
momento, vivemos uma nova rodada 2dessas
No silêncio das tardes agourando
com os inúmeros refugiados, famílias fugi-
Chamando a seca pro sertão
tivas de suas guerras civis e massacres. Eles
Chamando a seca pro sertão tentam entrar na mesma Europa que já ex-
Acauã, pulsou seus famintos e judeus. Esses movi-
Acauã, mentos introduzem gente destoante no meio
Teu canto é penoso e faz medo de outras culturas, estrangeiros que chegam
Te cala acauã, falando atravessado, comendo, amando e re-
Que é pra chuva voltar cedo zando de outras maneiras. Os diferentes se
Que é pra chuva voltar cedo estranham.
Toda noite no sertão
Fui duplamente estrangeira, no Brasil por
Canta o João Corta-pau
ser uruguaia, em ambos os países e nas es-
A coruja, mãe da lua
colas públicas por ser judia. A instrução era
A peitica e o bacurau tentar mimetizar-se, falar com o menor so-
Na alegria do inverno taque possível, ficar invisível no horário do
Canta sapo, gia e rã Pai Nosso diário.
Mas na tristeza da seca
Só se ouve acauã Certamente todos conhecem esse sentimen-
Só se ouve acauã to de sentir-se estrangeiro, ficar de fora, de
Acauã, Acauã... não ser tão autêntico quanto os outros, ou
não ser escolhido para o que realmente im-
porta. Na 3infância, tudo é grande demais,
2. (G1 - ifpe) Julgue as proposições, a seguir, amedronta e entendemos fragmentariamen-
quanto às relações sintático-semânticas es- te, como recém-chegados. Na puberdade,
tabelecidas tanto dentro de um mesmo perí- perdemos a familiaridade com nossos fami-
odo quanto entre os períodos constantes no liares: o que antes parecia natural começa
texto. __________ soar como estrangeiro. 4Na 5ado-
I. No trecho “Te cala acauã” (nono verso), lescência, sentimo-nos estranhos __________
deveria ser acrescentada uma vírgula an- quase tudo, andamos por aí enturmados com
tes de “acauã”, uma vez que essa palavra os da mesma idade ou estilo, tendo apenas
desempenha o papel de vocativo. uns aos outros como cúmplices para existir.
II. No verso “A coruja, mãe da lua”, a vírgu-
O fim desse desencontro deveria ocorrer no
la foi utilizada, justamente, para isolar o
começo da vida adulta, quando trabalhamos,
aposto “mãe da lua”. procriamos e tomamos decisões de repercus-
III. Por se tratar de sujeito posposto, seria são social. Finalmente 6deveríamos sentir-
provocado um erro de concordância se, -nos legítimos cidadãos da vida. 7Porém,
em “Canta o João Corta-pau / A coruja, julgamos ser uma fraude: 8imaginávamos
mãe da lua / A peitica e o bacurau”, fosse que os adultos eram algo maior, mais consis-
pluralizado verbo. tente do que sentimos ser. Logo em seguida
IV. Em “Na alegria do inverno / Canta sapo, disso, já começamos a achar que perdemos o
gia e rã”, deveria ser acrescentada uma bonde da vida. O tempo nos faz estrangeiros
vírgula depois de “inverno” para isolar __________ própria existência.
um adjunto adverbial.
Uma das formas mais simples de combater
V. No verso “Mas na tristeza da seca”, a con- todo esse 9mal-estar é encontrar outro para
junção foi utilizada para estabelecer uma chamar de diferente, de inadequado. 10Quem
relação de concessão com os dois versos pratica o bullying, quer seja entre alunos ou
anteriores. com os que têm hábitos e aparência distintos
São verdadeiras as afirmativas do seu, conquista momentaneamente a ilu-
a) II, IV e V. são da legitimidade. Quem discrimina arran-
b) I, III e V. ja no grito e na violência um lugar para si.
c) I, II e IV. Conviver com as diferentes cores de pele, in-
d) II, III e IV. terpretações dos gêneros, formas de amar e
e) I, II, III, IV e V. casar, vestimentas, religiões ou a falta delas,

83
línguas faz com que todos sejam estrangei- o parente, e quando vier a tristeza, e quando
ros. Isso produz a mágica sensação de inclu- a morte vier, o recado será o mesmo: – 5Ele
são universal: 11se formos todos diferentes, disse que ia tomar um cafezinho...
ninguém precisa sentir-se excluído. Movi-
Podemos, ainda, deixar o chapéu. Devemos
mentos migratórios misturam povos, a eli-
até comprar um chapéu especialmente para
minação de barreiras de casta e de precon-
deixá-lo. Assim dirão: – Ele foi tomar um
ceitos também. Já pensou que delícia se, no
café. Com certeza volta logo. O chapéu dele
futuro, entendermos que na vida ninguém é
está aí...
nativo. 12A existência de cada um é como um
barco em que fazemos um trajeto ao final do Ah! 6Fujamos assim, sem drama, sem triste-
qual sempre partiremos sem as malas. za, fujamos assim. A vida é complicada de-
Texto adaptado de Diana Corso, publicado em 12 de mais.
setembro de 2015. Disponível em: <http://wp.clicrbs.
com.br/opiniaozh/2015/09/12/artigo-somos-todos-estr Gastamos muito pensamento, muito senti-
angeiros/?topo=13,1,1,,,13>. Acesso em: 19 out. 2015 mento, muita palavra, O melhor é não estar.
Quando vier a grande hora de nosso destino
3. (G1 - ifsul) Na frase “Quem pratica o bullying, nós teremos saído há uns cinco minutos para
quer seja entre alunos ou com os que têm há- tomar um café. Vamos, vamos tomar um ca-
bitos e aparência distintos do seu, conquista fezinho.
momentaneamente a ilusão da legitimidade” BRAGA, Rubem. In.: O conde e o passarinho & Morro do
(ref. 10), a expressão em destaque represen- isolamento. Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 156-157.
ta a função sintática de
a) adjunto adnominal. 4. (G1 - ifsc) Considere as seguintes afirma-
b) complemento nominal. ções:
c) aposto. I. Em “Bem, cavalheiro, eu me retiro.” (re-
d) objeto indireto. ferência 3), o termo em destaque exerce
função sintática de aposto.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO II. Na frase “Ele disse que ia tomar um cafe-
zinho...” (referência 5), o verbo em des-
CAFEZINHO taque é transitivo.
III. Em “Ah, sim, mergulhemos de corpo e
Leio a reclamação de um repórter irritado alma no cafezinho.” (referência 4), a pa-
que precisava falar com um delegado e lhe lavra em destaque foi empregada no sen-
disseram que o homem havia ido tomar um tido conotativo.
cafezinho. Ele esperou longamente, e che- IV. Na oração “Tinha razão o rapaz de ficar
gou à conclusão de que o funcionário passou zangado.” (referência 1), o sujeito é
o dia inteiro tomando café. oculto.
1
Tinha razão o rapaz de ficar zangado. Mas Assinale a alternativa CORRETA:
com um pouco de imaginação e bom humor a) Todas as afirmações são verdadeiras.
podemos pensar que uma das delícias do gê- b) Somente I, II e III são verdadeiras.
nio carioca é exatamente esta frase: – Ele foi c) Somente I e II são verdadeiras.
tomar café. d) Somente II, III e IV são verdadeiras.
e) Somente II e III são verdadeiras.
A vida é triste e complicada. Diariamente é
preciso falar com um número excessivo de
pessoas. O remédio é ir tomar um “cafezi- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
nho”. 2Para quem espera nervosamente, esse
“cafezinho” é qualquer coisa infinita e tor- Grande parte dos avanços tecnológicos in-
turante. Depois de esperar duas ou três ho- tegra o processo evolutivo da comunicação,
ras dá vontade de dizer: – 3Bem, cavalheiro, conduzindo-nos para uma maior democrati-
eu me retiro. Naturalmente, o Sr. Bonifácio zação da informação e, 1consequentemente,
morreu afogado no cafezinho. do saber. A comunicação virtual introduz um
conceito de descentralização da informação
4
Ah, sim, mergulhemos de corpo e alma no
e do poder de comunicar. Todo computador,
cafezinho. Sim, deixemos em todos os lu-
conectado à internet, possui a capacidade de
gares este recado simples e vago: – Ele saiu
transmitir palavras, imagens, sons. Não se
para tomar um café e disse que volta já.
limita apenas aos donos de jornais e emis-
Quando a Bem-amada vier com seus olhos soras; qualquer pessoa pode construir um
tristes e perguntar: – Ele está? – alguém dará 2
site na internet, sobre qualquer assunto e
nosso recado sem endereço. Quando vier o propagá-lo de maneira simples. O espaço ci-
amigo, e quando vier o credor, e quando vier bernético tem se tornado um lugar essencial,

84
um futuro próximo de comunicação comple- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
tamente distinta da mídia clássica. [...].
A internet proporciona a interação entre Morre Steve Jobs, fundador da Apple e revo-
3
locutor e 4interlocutor, 5uma vez que, 6na lucionário da Tecnologia
rede, qualquer elemento adquire a possibi-
lidade de interação, havendo interconexões
entre pessoas dos mais diferentes lugares
do planeta, facilitando, portanto, o contato
entre elas, assim como a busca por opiniões
e ideias convergentes. Uma prova da efici-
ência da internet em construir esse ideal de
propagação de mensagens e opiniões está na
multiplicidade de temas que podem ser en-
contrados nela. Além dos 7sites, as listas de
discussão, 8que agregam pessoas interessa-
das em um dado assunto, também merecem
consideração.
À frente da empresa que criou, o executivo
É nesse ponto que a internet se sobressai, foi o responsável pelo lançamento de apare-
pois integra e condensa nela todos os re- lhos que mudaram o mundo, como o iPad, o
cursos de todas as formas de 9comunicação, iPhone e o Macintosh.
como jornal, por exemplo. Além de apresen- O Estado de S. Paulo
tar todas as funções do jornalismo, que, se-
gundo Beltrão são econômica, social educa- CUPERTINO – Morreu, aos 56 anos, Steve Jobs,
tiva e de entretenimento, 10ela é um meio de cofundador da Apple. Ele havia renunciado à
comunicação interativo. 11Além disso, há a presidência da empresa em agosto, após 14
questão da dinamicidade e da interativida- anos no comando. "Estamos profundamen-
de12: 13o espaço virtual, diferentemente de te entristecidos com o anúncio de que Steve
um texto de jornal ou revista em papel, está Jobs morreu hoje", informou a empresa, em
constantemente em movimento. um pequeno comunicado. "O brilho, paixão e
GALLI, Fernanda. Linguagem da internet: um meio de energia de Steve são fontes de inúmeras ino-
comunicação global. In: Hipertexto e gêneros digitais. vações que enriqueceram e melhoraram todas
MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antonio Carlos as nossas vidas. O mundo é imensuravelmen-
(Org.). São Paulo: Cortez, 2010, p. 151-2. (adaptado) te melhor por causa de Steve."
Jobs foi responsável por lançamentos de
5. (G1 - ifba) Quanto à função da vírgula no equipamentos que mudaram o mundo, como
trecho a seguir, marque a alternativa corre- o Macintosh, o iPod, o iPhone e o iPad. Ele
ta: sofreu por anos de uma forma rara de câncer
[...] o espaço virtual, diferentemente de pancreático e passou por um transplante de
um texto de jornal ou revista em papel, está fígado. (...)
constantemente em movimento (ref. 13). Em 2004, Jobs foi submetido a uma cirur-
a) Destacar o vocativo. gia para tratamento de câncer no pâncreas.
b) Indicar um aposto. Cinco anos mais tarde, precisou realizar um
c) Separar uma oração subordinada adjetiva ex- transplante de fígado. Os dois procedimen-
plicativa. tos são complicadíssimos e de elevado risco
d) Separar uma oração coordenada assindética. para a vida do paciente.
e) Enumerar termos de mesmo valor sintático. (http://economia.estadao.com.br/noticias/negocos%20
tecnologa,morre-steve-jobs-fundador-da-apple-e
revolucionario-da-tecnologia,87094,0.htm e www.geekaco.
com/apple-steve-jobs. Acessado em 10/10/11.)

6. (G1 - ifal) No título da notícia: “Morre Steve


Jobs, fundador da Apple e revolucionário da
Tecnologia”, fazendo-se uma análise sintática
desse período, é correto afirmar que:
a) Steve Jobs é objeto direto.
b) Steve Jobs é sujeito simples.
c) Steve Jobs é aposto.
d) Steve Jobs é sujeito composto.
e) Steve Jobs é objeto indireto.

85
7. (G1 - ifce) Na frase “Isto lhe será bastante Aliás, o instante do afundamento de um navio
útil”, o termo em destaque é um é um momento crucial para a sobrevivência
a) adjunto adverbial. daqueles tripulantes que conseguem saltar
b) complemento nominal. ou são jogados ao mar, pois o efeito da suc-
c) adjunto adnominal. ção pode arrastar para o fundo os tripulan-
d) predicativo do sujeito. tes que estiverem nas proximidades do navio
e) objeto indireto. no momento da submersão. Por sua vez, os
náufragos podem permanecer dias, semanas,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO em suas balsas à deriva, em um mar batido
pela ação dos ventos, continuamente borri-
Sobre o mar e o navio fadas pelas águas salgadas, sofrendo o calor
tropical escaldante ou o frio intenso das altas
Na guerra naval, existem ainda algumas pe-
latitudes, como nos mares Ártico, do Norte ou
culiaridades que merecem ser abordadas.
Báltico, cujas baixas temperaturas dos tem-
Uma delas diz respeito ao cenário das bata- pos invernais limitam cabalmente o tempo de
lhas: o mar. Diferente, em linhas gerais, dos permanência n’água dos náufragos, tornando
teatros de operações terrestres, o mar não fundamental para a sua sobrevivência a rapi-
tem limites, não tem fronteiras definidas, a dez do socorro prestado.
não ser nas proximidades dos litorais, nos es-
O navio também é um engenho de guerra
treitos, nas baías e enseadas.
singular. Ao mesmo tempo morada e local de
Em uma batalha em mar aberto, certamente, trabalho do marinheiro, graças à sua mobili-
poderão ser empregadas manobras táticas di- dade, tem a capacidade de conduzir homens
versas dos engajamentos efetuados em área e armas até o cenário da guerra. Plataforma
marítima restrita. Nelas, as forças navais po- bélica plena e integral, engaja batalhas, so-
dem se valer das características geográficas fre derrotas, naufraga ou conquista vitórias,
locais, como fez o comandante naval grego tornando-se quase sempre objeto inesquecí-
Temístocles, em 480 a.C. ao atrair as forças vel da história de sua marinha e país.
persas para a baía de Salamina, onde pôde (CESAR, William Carmo. Sobre o mar e o navio.
proteger os flancos de sua formatura, evitan- In: __________. Uma história das Guerras Navais:
o desenvolvimento tecnológico das belonaves e
do o envolvimento pela força naval numerica- o emprego do Poder Naval ao longo dos tempos.
mente superior dos invasores persas. Rio de Janeiro: FEMAR, 2013. p. 396-398)
As condições meteorológicas são outros fato-
res que também afetam, muitas vezes de for- 8. (Esc. Naval) Marque a opção em que a função
ma drástica, as operações nos teatros maríti- sintática do pronome relativo está correta-
mos. O mar grosso, os vendavais, ou mesmo mente indicada.
as longas calmarias, especialmente na era da a) “[...] que merecem ser abordadas.” (1º pará-
vela, são responsáveis por grandes transtor- grafo) – objeto direto
nos ao governo dos navios, dificultando fai- b) “[...] onde pôde proteger [...]” (3º parágra-
nas e manobras e, não poucas vezes, inter- fo) – adjunto adverbial
ferindo nos resultados das ações navais ou c) “[...] cujas baixas por afogamento [...]” (5º
mesmo impedindo o engajamento. É oportu- parágrafo) – aposto
no relembrar que o vento e a força do mar d) “[...] dos quais apenas três [...]” (5º pará-
grafo) – objeto indireto
destruíram as esquadras persa (490 a.C.),
e) “[...] que conseguem saltar [...]” (6º pará-
mongol (1281) e a incrível Armada Espanho-
grafo) – adjunto adnominal
la (1588), salvando respectivamente a Grécia,
o Japão (que denominou de kamikaze o vento
divino salvador) e a Inglaterra daqueles inva- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
sores vindos do mar. ‘London River’ é drama simples e emocio-
O cenário marítimo também é o responsável nante de tom político
pela causa mortis da maioria dos tripulantes André Barcinski. Crítico da Folha de São Paulo
dos navios afundados nas batalhas navais,
cujas baixas por afogamento são certamen- “London River” – “Destinos Cruzados” é um
te mais numerosas do que as causadas pelos filme simples e emocionante sobre como
ferimentos dos impactos dos projéteis, dos duas pessoas de origens totalmente diferen-
estilhaços e dos abalroamentos. Em maio de tes podem ser afetadas da mesma maneira
1941, o cruzador de batalha britânico HMS por uma tragédia.
Hood, atingido pelo fogo da artilharia do Bis-
marck, afundou, em poucos minutos, levando Brenda Blethyn (“Segredos e Mentiras”)
para o fundo cerca de 1400 tripulantes, dos vive Elisabeth, viúva que mora num sítio no
quais apenas três sobreviveram. interior da Inglaterra.

86
No dia 7 de julho de 2005, Elisabeth está as- o corpo núbil dela deu-lhe estátuas
sistindo à TV quando vê o noticiário sobre miraculosamente lindas!
atentados suicidas em Londres. Ela imedia- (Menotti del Picchia)
tamente liga para a filha, que mora na capi-
tal inglesa. Mas a filha não atende. TEXTO II
As horas passam, Elisabeth liga de novo, e INTERROGAÇÕES
nada. Preocupada, decide ir a Londres, pro-
curar a menina. 1- "Certa vez estranhei a ausência de espe-
lhos nos sonhos.
Enquanto isso, Ousmane (Sotigui Kouyaté,
2- Talvez porque neles não nos podemos ver,
veterano ator nascido em Mali e morto neste
como no velho conto do homem que perdeu
ano), um franco-africano mulçumano, tam-
a sombra.
bém vai para Londres, procurando o filho.
3- Pelo contrário, seremos tão nós mesmos
Como antecipa o título do filme em portu- a ponto de dispensar o testemunho dos re-
guês, os destinos dessas duas almas perdidas flexos?
vão se cruzar. A vida deles está, de alguma 4- Ou será tão outra a nossa verdadeira ima-
forma, conectada. gem - e aqui começa um arrepio de medo
O filme, até então um drama com ares de - que seríamos incapazes de a reconhecer
mistério, ganha um viés mais político, ex- naquilo que de repente nos olhasse do fundo
plorando temas como preconceito e a dificul- de um espelho?
dade de comunicação. Tanto Elisabeth quan- 5- Em todo caso, lá deve ter suas razões o
to Ousmane vão perceber que nada sabem misterioso cenarista dos sonhos..."
sobre o outro. (Mario Quintana)

Dirigido pelo franco-argelino Rachid Bou-


chareb, “London River” peca por um rotei-
1
0. (Unirio) Marque a opção INCORRETA quanto
ro um tanto esquemático, mas as atuações
à função sintática do termo em destaque.
contidas de Blethyn e Kouyaté (vencedor do
Urso de Ouro em Berlim) dão ao filme uma a) "...QUE a lua não recolheu na sua pressa no-
dignidade comovente. turna..." (texto I - l. 2) - objeto direto
(Folha de São Paulo, 01/10/2010)
b) "...o brilho DE UM OLHAR..." (texto I - l. 7)
- adjunto adnominal
c) "...o corpo núbil dela deu-LHE estátuas..."
9. (G1 - ifal) Os termos grifados no texto cons-
(texto I - l. 9) - objeto indireto
tituem, respectivamente:
a) agente da passiva, objeto indireto, aposto e d) "...que de repente NOS olhasse do fundo de
adjunto adverbial. um espelho?" (texto II - par. 4) - objeto di-
b) sujeito simples, objeto indireto, predicativo reto
do sujeito e complemento nominal. e) "...LÁ deve ter suas razões o misterioso ce-
c) sujeito simples, complemento nominal, narista dos sonhos..." (texto II - par. 5) -
aposto e adjunto adverbial. adjunto adverbial de lugar
d) agente da passiva, complemento nominal,
aposto e adjunto adverbial.
e) agente da passiva, objeto direto, aposto e
adjunto adverbial. E.O. Complementar
TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

TEXTO I Assinale a letra correspondente à alternati-


O Espelho va que preenche corretamente as lacunas da
frase apresentada.
É um retângulo de luar aquecido no quarto
- que a lua não recolheu na sua pressa no- 1. (Uel) Exerce a função de........o termo em
turna destaque na frase "Ninguém ficou SATISFEI-
Imitador como um plagiário TO com aquela medida".
decalca servilmente a imagem que reflete. a) complemento verbal
Não tem memórias. Não guarda b) adjunto adverbial
na sua glacial retina indiferente c) predicativo do sujeito
o brilho de um olhar e a flor de um gesto. d) sujeito
Entretanto e) complemento nominal

87
2. (Eear 2017) Leia: TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
I. Lembrou-se da pátria com saudades e de-
sejou sentir novamente os aromas de sua Encontros e Desencontros
terra e de sua gente.
II. A defesa da pátria é o princípio da exis- Hoje, jantando num pequeno restauran-
tência do militarismo. te aqui perto de casa, pude presenciar, ao
Assinale a alternativa que apresenta corre- vivo, uma cena que já me tinham descrito.
ta afirmação sobre os termos destacados nas Um casal de meia idade se senta à mesa vizi-
frases I e II. nha da minha. Feitos os pedidos ao garçom,
a) As frases I e II apresentam em destaque ad- o homem, bem depressinha, tira o celular
juntos adnominais. do bolso, e não mais o deixa, a merecer sua
b) As frases I e II apresentam em destaque atenção exclusiva. A mulher, certamente de
complementos nominais. saber feito, não se faz de rogada e apanha
c) A frase I apresenta em destaque um objeto um livro que trazia junto à bolsa. Começa a
indireto e a frase II apresenta em destaque lê-lo a partir da página assinalada por um
um complemento nominal. marcador. Espichando o meu pescoço incon-
d) A frase I apresenta em destaque um objeto veniente (nem tanto, afinal as mesas eram
indireto e a frase II apresenta em destaque coladinhas) deu para ver que era uma obra
um adjunto adnominal. da Martha Medeiros.
Desse modo, os dois iam usufruindo suas
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. gulodices, sem comentários, com algumas
reações dele, rindo com ele mesmo com
RETRATO postagens que certamente ocorriam em seu
Eu não tinha este rosto de hoje, celular. Até dois estranhos, postos nessa si-
Assim calmo, assim triste, assim magro, tuação, talvez acabassem por falar alguma
Nem estes olhos tão vazios, coisa. Pensei: devem estar juntos há algum
Nem o lábio amargo tempo, sem ter mais o que conversar. Cada
Eu não tinha estas mãos sem força, um sabia tudo do outro, nada a acrescentar,
Tão paradas e frias e mortas; nada de novo ou surpreendente. E assim ca-
Eu não tinha este coração minhava, decerto, a vida daquele casal.
Que nem se mostra. O que me choca, mesmo observando esta si-
Eu não dei por esta mudança, tuação, como outras que o dia a dia me ofe-
Tão simples, tão certa, tão fácil: rece, é a ausência de conversa. Sem conversa
– em que espelho ficou perdida eu não vivo, sem sua força agregadora para
a minha face? trocar ideias, para convencer ou ser conven-
MEIRELES, Cecília. Obra Poética de Cecília cido pelo outro, para manifestar humor, para
Meireles. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1958. desabafar sobre o que angustia a alma, em
suma, para falar e para ouvir. A conversa não
3. (Epcar (Afa)) Assinale a alternativa que é a base da terapia? Sei não, mas, atualmen-
apresenta uma análise correta. te, contar com um amigo para jogar conversa
a) Os termos “calmo”, “triste” e “magro” (v. fora ou para confessar aquele temor que lhe
2) acrescentam circunstâncias de modo ao está roubando o sossego talvez não seja fá-
verbo “ter” (do primeiro verso), exercendo, cil. O tempo também, nesta vida corre-corre,
pois, a função de adjuntos adverbiais de tem lá outras prioridades. Mia Couto é con-
modo. tundente: “Nunca o nosso mundo teve ao
b) A oração “que nem se mostra” (v. 8) está seu dispor tanta comunicação. E nunca foi
sintaticamente ligada ao substantivo cora- tão dramática a nossa solidão.” Até se fala
ção, caracterizando-o; portanto, essa oração muito, mas ouvir o outro? Falo de conversas
exerce a função sintática de adjunto adno- entre pessoas no mundo real. Vive-se hoje,
minal. parece, mais no mundo digital. Nele, até que
c) O verbo “dar” (v. 9) significa notar, perceber se conversa muito; porém, é tão diferente,
e classifica-se como verbo transitivo direto, mesmo quando um está vendo o outro. O
embora esteja ligado a seu complemento por compartilhamento do mesmo espaço, diria, é
meio de preposição. que nos proporciona a abrangência do outro,
d) O pronome pessoal “se” (v. 8) é recíproco e a captação do seu respirar, as batidas de seu
funciona como complemento do verbo mos- coração, o seu cheiro, o seu humor...
trar; já o pronome “que” (v. 11) é relativo e Desse diálogo é que tanta gente está sentindo
funciona como adjunto adverbial de lugar. falta. Até por telefone as pessoas conversam,
atualmente, bem menos. Pelo WhatsApp fica

88
mais fácil, alega-se. Rapidinho, rapidinho. queria perder esses encontros. Afinal, a vida
Mas e a conversa? Conversa-se, sim, repli- está passando tão depressa...
cam. Será? Ou se trocam algumas palavras? Adaptado de: UCHOA, Carlos Eduardo. Disponível
Quando falo em conversa, refiro-me àquelas em: http://carloseduardouchoa.com.br/blog/.
que se esticam, sem tempo marcado, sem
caminho reto, a pularem de assunto em as- 4. (G1 - col. naval) Assinale a opção na qual
sunto. O WhatsApp é de graça, proclamam. o termo oracional em destaque foi correta-
Talvez um argumento que pode ser robusto, mente classificado.
como se diz hoje, a favor da utilização desse a) “Ou se trocam algumas palavras?” (4º pará-
instrumento moderno. grafo) – objeto direto
b) “[...] assinalada por um marcador.” (1º pará-
Mas será apenas por isso? Um amigo me lem-
grafo) – complemento nominal
bra: no WhatsApp se trocam mensagens por
c) “[...] me oferece, é a ausência de conversas.”
escrito. Eu sei. Entretanto, língua escrita é
(3º parágrafo) – objeto indireto
um outra modalidade, outro modo de ativar
d) “[...] um amigo de tantas afinidades [...]”
a linguagem, a começar pela não copresença
(7º parágrafo) – adjunto adverbial
física dos interlocutores. No telefone, não
e) “[...] temor que lhe está roubando o sossego
há essa copresença física, mas esse meio de
[...]” (3º parágrafo) – adjunto adnominal
comunicação não é impeditivo de falante e
ouvinte, a cada passo, trocarem de papéis
e até mesmo de falarem ao mesmo tempo, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
configurando, pois, características próprias
da modalidade oral. Contudo, não se respira Quando se pergunta à população brasileira,
o mesmo ar, ainda que já se possa ver o ou- em uma pesquisa de opinião, qual seria o
tro. As pessoas passaram a valer-se menos problema fundamental do Brasil, a maioria
do telefone, e as conversas também vão, por indica a precariedade da educação. Os en-
isso, tornando-se menos frequentes. trevistados costumam apontar que o sistema
educacional brasileiro não é capaz de prepa-
Gosto, mesmo, é de conversas, de preferên- rar os jovens para a compreensão de textos
cia com poucos companheiros, sem pauta, simples, elaboração de cálculos aritméticos
sem temas censurados, sem se ter de esme- de operações básicas, conhecimento elemen-
rar na linguagem. Conversa sem compro- tar de física e química, e outros fornecidos
misso, a não ser o de evitar a chatice. Com pelas escolas fundamentais. [...]
suas contundências, conflitos de opiniões e
momentos de solidariedade. Conversa que é Certa vez, participava de uma reunião de
vida, que retrata a vida no seu dia a dia. No pais e professores em uma escola privada
grupo maior, há de tudo: o louco, o filósofo, brasileira de destaque e notei que muitos
o depressivo, o conquistador de garganta, o pais expressavam o desejo de ter bons pro-
saudosista... Nem sempre, é verdade, estou fessores, salas de aula com poucos alunos,
motivado para participar desses grupos. Po- mas não se sentiam responsáveis para par-
rém, passado um tempo, a saudade me bate. ticiparem ativamente das atividades educa-
cionais, inclusive custeando os seus serviços.
Aqueles bate-papos intimistas com um ami- Se os pais não conseguiam entender que esta
go tantas afinidades, merecedores que nos aritmética não fecha e que a sua aspiração
tornamos da confiança um do outro, esses estaria no campo do milagre, parece difícil
não têm nada igual. A apreensão abrangente que consigam transmitir aos seus filhos o
do amigo, de seu psiquismo, dos seus senti- mínimo de educação.
mentos, das dificuldades mais íntimas por
que passa, faz-no sentir, fortemente, a nossa Para eles, a educação dos filhos não se ba-
natureza humana, a maior valia da vida. seia no aprendizado dos exemplos dados pe-
los pais.
Esses momentos vão se tornando, assim
Que esta educação seja prioritária e ajude a
me parece, uma cena menos habitual nes-
resolver outros problemas de uma sociedade
tes tempos digitais. A pressa, os problemas
como a brasileira parece lógico. No entanto,
a se multiplicarem, as tarefas a se diversi-
não se pode pensar que a sua deficiência de-
ficarem, como encontrar uma brecha para
pende somente das autoridades. Ela começa
aquela conversa, que é entrega, confiança,
com os próprios pais, que não podem sim-
despojamento? Conversa que exige respeito:
plesmente terceirizar essa responsabilidade.
um local calminho, sem gritos, vozes esga-
niçadas, garçons serenos. Sim, umas tulipas Para que haja uma mudança neste quadro é
estourando de geladas e uns tira-gostos de preciso que a sociedade como um todo esteja
nosso paladar a exigirem nova pedida. Não convencida de que todos precisam contribuir

89
para tanto, inclusive elegendo representan-
tes que partilhem desta convicção e não es- E.O. Dissertativo
tejam pensando somente nos seus benefícios TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
pessoais.
Sobre a educação formal, aquela que pode Samba da bênção
ser conseguida nos muitos cursos que estão É melhor ser alegre que ser triste
se tornando disponíveis no Brasil, nota-se Alegria é a melhor coisa que existe
que muitos estão se convencendo de que eles É assim como a luz no coração
ajudam na sua ascensão social, mesmo sendo
Mas pra fazer um samba com beleza
precários. O número daqueles que trabalham
É preciso um bocado de tristeza
para obter o seu sustento e para ajudar a fa-
mília, e ao mesmo tempo se dispões a fazer É preciso um bocado de tristeza
um sacrifício adicional frequentando cursos Senão, não se faz um samba não
até noturnos, parece estar aumentando. Senão é como amar uma mulher só linda
A demanda por cursos técnicos que elevam E daí? Uma mulher tem que ter
suas habilidades para o bom exercício da Qualquer coisa além de beleza
profissão está em alta. É tratada como priori- Qualquer coisa de triste
dade tanto no governo como em instituições Qualquer coisa que chora
representativas das empresas. O mercado ob- Qualquer coisa que sente saudade
serva a carência de pessoal qualificado para Um molejo de amor machucado
elevar a eficiência do trabalho. Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Muitos reconhecem que o Brasil é um dos Feita apenas para amar
países emergentes que estão melhorando, Para sofrer pelo seu amor
a duras penas, a sua distribuição de renda. E pra ser só perdão
Mas, para que este processo de melhoria do
bem-estar da população seja sustentável, há Fazer samba não é contar piada
que se conseguir um aumento da produtivi- E quem faz samba assim não é de nada
dade do trabalho, que permita, também, o O bom samba é uma forma de oração
aumento da parcela da renda destinada à Porque o samba é a tristeza que balança
poupança, que vai sustentar os investimen- E a tristeza tem sempre uma esperança
tos indispensáveis. A tristeza tem sempre uma esperança
A população que deseja melhores serviços De um dia não ser mais triste não
das autoridades precisa ter a consciência de Feito essa gente que anda por aí
que uma boa educação, não necessariamente Brincando com a vida
formal, é fundamental para atender melhor Cuidado, companheiro!
as suas aspirações. A vida é pra valer
(YOKOTA, Paulo. Os problemas da educação no Brasil. Em E não se engane não, tem uma só
http://www.cartacapital.com.br/educacao/os-problemas-
da-educacao-no-brasil-657.html - Com adaptações)
Duas mesmo que é bom
Ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
5. (G1 - col. naval) Qual das orações abaixo traz
Com certidão passada em cartório do céu
o adjunto adnominal em destaque?
E assinado embaixo: Deus
a) “[...] qual seria o problema fundamental do
E com firma reconhecida!
Brasil, a maioria indica a precariedade da
A vida não é brincadeira, amigo
educação.” (1° §)
A vida é arte do encontro
b) “Para eles, a educação dos filhos não se ba-
Embora haja tanto desencontro pela vida
seia no aprendizado dos exemplos dados pe-
Há sempre uma mulher à sua espera
los pais.” (3° §)
c) “A demanda por cursos técnicos que elevam Com os olhos cheios de carinho
suas habilidades para o bom exercício da E as mãos cheias de perdão
profissão está em alta.” (7° §) Ponha um pouco de amor na sua vida
d) “[...] a compreensão de textos simples, ela- Como no seu samba
boração de cálculos aritméticos de operações Ponha um pouco de amor numa cadência
básicas, [...].“ (1° §) E vai ver que ninguém no mundo vence
e) “No entanto, não se pode pensar que a sua A beleza que tem um samba, não
deficiência depende somente das autorida-
des.” (4° §) Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia

90
Ele é negro demais no coração 3. (G1 - cp2) Uma índia Guajá amamenta um
(...) cateto, filhote de porco-do-mato, ato comum
Vinícius de Moraes. (http://letras.mus.br/vinicius- nesta tribo do Maranhão. Depois da caça,
de-moraes/86496. Acessado em 10/10/2013) quando os índios percebem que mataram a
fêmea e há filhotes órfãos, estes são levados
1. (G1 - cp2) No poema, quais são os dois vo- para a tribo e criados como filhos legítimos.
cativos usados pelo eu lírico, para dirigir-se É uma maneira de preservar a fauna.
ao leitor?

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO


Coisa da Antiga
Na 1tina, vovó lavou, vovó lavou
A roupa que mamãe vestiu quando foi batizada
E mamãe quando era menina teve que pas-
sar, teve que passar
Muita fumaça e calor no ferro de engomar
Hoje mamãe me falou de vovó só de vovó
Disse que no tempo dela era bem melhor
Mesmo agachada na tina e soprando no ferro
de carvão
Tinha-se mais amizade e mais consideração
Disse que naquele tempo a palavra de um
mero cidadão
Valia mais que hoje em dia uma nota de milhão
Disse afinal que o que é de verdade
Ninguém mais hoje liga
No primeiro período do texto, há um aposto
Isso é coisa da antiga, ai na tina...
relativo ao animal encontrado na foto.
Hoje o olhar de mamãe marejou só marejou Transcreva esse aposto.
Quando se lembrou do velho, o meu bisavô
Disse que ele foi escravo mas não se entre- TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
gou à escravidão
Sempre vivia fugindo e arrumando confusão TEXTO I
Disse pra mim que essa história do meu bi- Eu estava deitado num velho sofá amplo.
savô, negro fujão 3
Lá fora, a chuva caía com redobrado rigor
Devia servir de exemplo a "esses nego 2pai João" e ventava fortemente. A nossa casa frágil
Disse afinal que o que é de verdade parecia que, de um momento para outro,
ia ser arrasada. 1Minha mãe ia e vinha de
Ninguém mais hoje liga
um quarto próximo; removia baús, arcas; co-
Isso é coisa da antiga
sia, futicava. Eu devaneava e ia-lhe vendo o
Oi na tina...
perfil esquálido, o corpo magro, premido de
(Wilson Moreira e Nei Lopes -http://www.
letras.mus.br- acessado em 11/01/2013.)
trabalhos, as faces cavadas com os malares
salientes, tendo pela pele parda manchas es-
Vocabulário: curas, como se fossem de fumaça entranha-
1
Tina: vasilha grande usada para lavar roupa, da. 4De quando em quando, ela lançava-me
carregar água, tomar banho etc. os seus olhos aveludados, redondos, passi-
2
Pai João: pessoa submissa vamente bons, onde havia raias de temor ao
encarar-me. Supus que adivinhava os perigos
2. (G1 - cp2) No texto, são empregados adjun- que eu tinha de passar; sofrimentos e dores
tos adverbiais para se comparar a época an- que a educação e inteligência, qualidades
tiga com a atual. a mais na minha frágil consistência social,
Indique um adjunto adverbial referente a haviam de atrair fatalmente. 2Não sei que
cada uma dessas épocas. de raro, excepcional e delicado, e ao mesmo
a) época antiga: tempo perigoso, ela via em mim, para me
b) época atual: deitar aqueles olhares de amor e espanto, de
piedade e orgulho.
LIMA BARRETO. Recordações do escrivão Isaías Caminha. Rio
de Janeiro; Belo Horizonte: Livraria Garnier, 1989. p.26-27.

91
TEXTO II
TEIA de aranha, galho seco da roseira,
quem sou?
Luz calçada em alpargatas de prata
rapta as flores da fronha,
quem sou?
Pássaro que mora na neblina
destila seu canto de água limpa
– longe, sozinho –
me diga quem sou.
ROQUETTE-PINTO, Claudia. Corola. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000. p. 67.

4. (Uff) No texto I, vários recursos gramaticais são usados para garantir a progressão, a coesão e a
coerência.
Observe no texto o uso das expressões “Lá fora” (ref. 3) e “De quando em quando” (ref. 4). Em
seguida:
a) Identifique a função sintática exercida por cada uma;
b) Explique a importância dessas expressões para a progressão textual.

5. (G1 - cp2) Texto I


Lisboa: aventuras
tomei um ¹expresso
cheguei de foguete
subi num bonde
desci de um elétrico
pedi cafezinho
serviram-me uma bica
quis comprar meias
só vendiam peúgas
fui dar a descarga
disparei um autoclisma
gritei "ó cara!"
responderam-me "ó pá!"
positivamente
as aves que aqui ²gorjeiam não gorjeiam como lá
(José Paulo Paes. A poesia está morta, mas juro que não fui eu. São Paulo, Duas Cidades, 1988, p.40.)

¹Expresso: trem de alta velocidade


²Gorjeiam: cantam

Texto II

No texto II, há uma expressão e uma palavra que foram empregadas com o mesmo objetivo de “ó
cara” e “ó pá”, no texto I.
Transcreva-as.

92
E.O. UERJ já ninguém dorme tranquilo,
que a noite é um mundo de sustos.
Exame Discursivo Descem fantasmas dos morros,
vêm almas dos cemitérios:
1. (UERJ) Considere, nas passagens abaixo, as todos pedem ouro e prata,
orações iniciadas por preposição: e estendem punhos severos,
Olhou para o céu, certificando-se de que não mas vão sendo fabricadas
ia chover. (ref. 1) muitas algemas de ferro.
Clarete também teve o bom senso de não in- (MEIRELES, Cecília. Poesias completas. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.)
sistir, (ref. 2)
Aponte o valor sintático de cada uma dessas
1
peneiras de madeira
orações.
2
depuradas, selecionadas

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO 2. (UERJ) Há no poema de Cecília Meireles cons-


truções a que se atribui duplo sentido em vir-
ROMANCE II OU DO OURO INCANSÁVEL tude da natureza poética do discurso.
a) A expressão "Por ódio, cobiça, inveja" (v. 31)
Mil bateias1 vão rodando desempenha dupla função sintática. Aponte
sobre córregos escuros; a palavra responsável por essa ambiguidade
a terra vai sendo aberta e identifique as funções sintáticas dessa ex-
por intermináveis sulcos; pressão.
infinitas galerias b) Na última estrofe, narra-se uma sequência
penetram morros profundos. de ações que giram em torno da busca de
De seu calmo esconderijo, riqueza. O verso "e estendem punhos seve-
o ouro vem, dócil e ingênuo; ros" (v. 46) expressa, entretanto, um duplo
torna-se pó, folha, barra, sentido. Explique sua duplicidade dentro da
prestígio, poder, engenho... estrofe.
É tão claro! - e turva tudo:
honra, amor e pensamento. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
Borda flores nos vestidos, Texto I
sobe a opulentos altares,
traça palácios e pontes, ENTREVISTA COM JURANDIR FREIRE COSTA
eleva os homens audazes, (Entrevistador) "Quando você fala do amor nos
e acende paixões que alastram dias de hoje, parece identificar dois problemas
sinistras rivalidades. opostos e complementares: a) uma espécie de
Pelos córregos, definham utilitarismo sexual, em que os indivíduos se
negros, a rodar bateias. servem dos parceiros como quem consome pro-
Morre-se de febre e fome dutos; b) o mito do amor romântico, que con-
sobre a riqueza da terra: dena ao sofrimento as pessoas que se sentem
uns querem metais luzentes, incapazes de encontrar o parceiro ideal. Como
outros, as redradas2 pedras. essas duas distorções se combinam?

Ladrões e contrabandistas (Entrevistado) "De fato, o que parece ser an-


estão cercando os caminhos; tagônico, como você bem observou, no fundo
cada família disputa é complementar. Em função do crescente in-
privilégios mais antigos; dividualismo, queremos sempre descartar o
os impostos vão crescendo que nos causa problema, o que nos entedia, o
e as cadeias vão subindo. que é incapaz de despertar fortes sensações ou
grandes instantes de êxtase. É assim que esta-
Por ódio, cobiça, inveja, mos aprendendo a ser felizes, como, em épocas
vai sendo o inferno traçado. anteriores, aprendemos a ser felizes de outras
Os reis querem seus tributos, formas. No entanto, na raiz desse utilitarismo
- mas não se encontram vassalos. tosco existe a promessa oculta de que, um dia,
Mil bateias vão rodando, iremos encontrar alguém que preencha todos
mil bateias sem cansaço.
esses requisitos, ou seja, alguém que, de for-
Mil galerias desabam; ma permanente, seja interessante, excitante,
mil homens ficam sepultos; apaixonante, tolerante. Ora, esse alguém, todos
mil intrigas, mil enredos sabemos, não existe, exceto na ficção de nos-
prendem culpados e justos; sos ideais. Mas, embora todos saibam que esse

93
alguém não existe, ninguém pensa em desistir sempre que nova mente
de procurar, porque, sem ele, a vida perde todo acordares.
atrativo. Eis o impasse. Jamais encontramos a (...)
figura ideal de pessoa perfeita para amar, mas Acorda, meu bem, acorda:
não podemos dispensar a ilusão porque não são horas de vigilar
sabemos inventar outras formas de satisfação feliz quem menos recorda
pessoal, exceto a obsessão amorosa e sexual. e faz do tempo passar
monjolo-pêndulo-corda
No fundo, o triste resultado disso tudo é a des-
tocando um relógio de ar
crença, a amargura, o ressentimento, a inveja e
onde o momento concorda
a espera passiva e resignada do milagre amoro-
com ser eterno e findar!
so - que quase nunca chega - ou da morte, que,
Acorda, meu bem, acorda
com certeza, chega! Isso, fique claro, não sig-
e ajuda teu madrugar:
nifica "condenar" ou "menosprezar" a emoção
a mão do dia transborda
amorosa, o que seria uma tolice. Isso significa de coisas para te dar!
constatar que a via de satisfação amorosa atual
(CAMPOS, Geir. Antologia poética. Rio de
está condenada ao impasse, até que venhamos Janeiro: Léo Christiano Editorial, 2003.)
a inventar novos modos de amar. É porque fo-
mos habituados a pensar que o "amor é único, 3. (UERJ) No texto I, o entrevistado expõe as
universal, e sempre o mesmo de hoje em dia" ideias combinando declarações e opiniões
que não encontramos ânimo para imaginar no- suas e de outras pessoas. Enquanto formula
vos modelos de realização amorosa. Ora, o que seu raciocínio, ele recorre a contrastes, con-
procurei mostrar no trabalho é que isso, em ab- trapontos, ressalvas.
soluto, não é verdade. O romantismo amoroso Tomando por base o segundo parágrafo da
é uma invenção cultural recente, recentíssima, resposta do entrevistado,
na história da humanidade. Não temos por que a) transcreva dele um trecho que exemplifi-
imaginar que ele é a "última forma de amar" que a citação de uma declaração ou opinião
nem mesmo que seja a melhor." alheia e indique o recurso textual que a ca-
(Entrevista com Jurandir Freire Costa. In: CARVALHO, J. M. racteriza como citação;
de et alii. Quatro autores em busca do Brasil. Entrevistas
a José Geraldo Couto. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.)
b) cite os dois adjuntos adverbiais que expri-
mem, no primeiro período, um contraste
Texto II inerente à experiência humana.

CANTIGAS DE ACORDAR MULHER TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO


Vagueio aquém do teu sono
com alma de marinheiro Pensoroso:
feliz de chegar a um porto Vê - o mundo é belo. A natureza estende nas
sem previsão no roteiro, noites estreladas o seu véu mágico sobre a ter-
mais tonto de o descobrir ra, e os encantos da criação falam ao homem
que de lhe ser estrangeiro. de poesia e de Deus. As noites, o sol, o luar, as
Teu continente a dormir flores, as nuvens da manhã, o sorriso da infân-
- pouso de barco ligeiro - cia, até mesmo a agonia consolada e esperan-
para os relógios num tempo çosa do moribundo ungido que se volta para
avesso a qualquer ponteiro: Deus. (...) Quando tua alma ardente abria seus
nem sei se o fico vivendo voos para pairar sobre a vida cheia de amor,
ou se te acordo primeiro. que vento de morte murchou-te na fronte a
(...) coroa das ilusões, apagou-te no coração o fanal
Bom é sorrires, olhar do sentimento, e despiu-te das asas da poesia?
em mim: não vês Alma de guerreiro, deu-te Deus porventura o
o inimigo, o rival corpo inteiriçado do paralítico?
jamais. (...) Oh! Não! Abre teu peito e ama. Tu nunca
Na caça, não serás viste tua ilusão gelar-se na frente da aman-
a presa; não serás, te morta, teu amor degenerar nos lábios de
no jogo, a prenda. uma adúltera. Alma fervorosa, no orgulho
Partilharemos, sem meias de teu ceticismo não te suicides na atonia
medidas, do desespero. A descrença é uma doença
a espera, o arroubo, o gesto, terrível: destrói com seu bafo corrosivo o
o salto, o pouso, o sono aço mais puro. (...) Para os peitos rotos, de-
e o gosto desse rir senganados nos seus afetos mais íntimos,
dentro e fora do tempo onde sepultam-se como cadáveres todas as

94
crenças, para esses aquilo que se dá a to- Falará, coberta de luzes,
dos os sepulcros, uma lágrima! (...) A esses do alto penteado ao rubro artelho.
leva uma torrente profunda: revolvem-se na Porque uns expiram sobre cruzes,
treva da descrença como satã no infinito da outros, buscando-se no espelho.
perdição e do desespero! Mas nós, mas tu e (MEIRELES, Cecília. Poesias Completa. Rio de
eu que somos moços, que sentimos o futuro Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.)
nas aspirações ardentes do peito, que temos
a fé na cabeça e a poesia nos lábios, a nós o 5. (UERJ) Considere os pares de palavras:
amor e a esperança: a nós o lago prateado loura, morena / Maria, Madalena
da existência. Embalame-nos nas suas águas a) Explique, em uma frase completa, o contras-
azuis - sonhemos, cantemos e creiamos. te existente em cada par.
(AZEVEDO, Álvares de. Macário, Noites na Taverna e Poemas
b) Indique a classe gramatical e a função sintá-
Malditos. Rio de Janeiro, Francisco Alves 1983, p.138-9.)
tica de cada um desses pares de palavras na
VOCABULÁRIO: 2a estrofe do poema.
fanal = farol, guia
inteiriçado = rijo, imóvel
atonia = fraqueza
E.O. Objetivas
4. (UERJ) "Quando tua alma ardente abria seus
voos para pairar sobre a vida cheia de amor,
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
que vento de morte murchou-te na fronte a
coroa das ilusões, apagou-te no coração o fa- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
nal do sentimento, e despiu-te das asas da
poesia?" Leia o poema do português Eugênio de Cas-
a) Transcreva da frase acima o termo que o pro- tro (1869-1944) para responder às questões
nome possessivo "seus" retoma. Explique, a seguir.
em uma frase completa, a relação sintática
entre "seus" e " voos". MÃOS
b) Reescreva integralmente apenas a quarta Mãos de veludo, mãos de mártir e de santa,
oração colocando-a na ordem direta e subs-
o vosso gesto é como um balouçar de palma;
tituindo o pronome oblíquo por um pronome
o vosso gesto chora, o vosso gesto geme, o
possessivo. Faça somente as alterações ne-
vosso gesto canta!
cessárias.
Mãos de veludo, mãos de mártir e de santa,
rolas à volta da negra torre da minh’alma.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
Pálidas mãos, que sois como dois lírios do-
MULHER AO ESPELHO entes,
Hoje, que seja esta ou aquela, Caridosas Irmãs do hospício da minh’alma,
pouco me importa. O vosso gesto é como um balouçar de palma,
Quero apenas parecer bela, Pálidas mãos, que sois como dois lírios do-
pois, seja qual for, estou morta. entes...

Já fui loura, já fui morena, Mãos afiladas, mãos de insigne formosura,


já fui Margarida e Beatriz. Mãos de pérola, mãos cor de velho marfim,
Já fui Maria e Madalena. Sois dois lenços, ao longe, acenando por
Só não pude ser como quis. mim,
Duas velas à flor duma baía escura.
Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto, Mimo de carne, mãos magrinhas e graciosas,
se tudo é tinta: o mundo, a vida, Dos meus sonhos de amor, quentes e brandos
o contentamento, o desgosto? ninhos,
Por fora, serei como queira Divinas mãos que me heis coroado de espi-
a moda, que me vai matando. nhos,
Que me levem pele e caveira Mas que depois me haveis coroado de rosas!
ao nada, não me importa quando. Afilhadas do luar, mãos de rainha,
Mas quem viu, tão dilacerados, Mãos que sois um perpétuo amanhecer,
olhos, braços e sonhos seus, Alegrai, como dois netinhos, o viver
e morreu pelos seus pecados, Da minha alma, velha avó entrevadinha.
falará com Deus. (Obras poéticas, 1968.)

95
1. (Unesp 2016) Na última estrofe do poema, 2. (Unesp 2016) Em “Tales também previu um
os termos “Afilhadas do luar”, “mãos de rai- eclipse solar que ocorreu no dia 28 de maio
nha” e “Mãos que sois um perpétuo amanhe- de 585 a.C.” (3º parágrafo), o termo desta-
cer” funcionam, no período de que fazem cado exerce função de
parte, como a) adjunto adnominal.
a) orações intercaladas. b) adjunto adverbial.
b) apostos. c) sujeito.
c) adjuntos adverbiais. d) objeto indireto.
d) vocativos. e) objeto direto.
e) complementos nominais.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
A(s) questão(ões) a seguir toma(m) por
Leia o trecho extraído do livro A dança do
base uma passagem de um livro de José Ri-
universo do físico brasileiro Marcelo Gleiser
beiro sobre o folclore nacional.
para responder à(s) questão(ões) a seguir.
Curupira
Durante o século VI a.C., o comércio entre os
vários Estados gregos cresceu em importân- Na teogonia* tupi, o anhangá, gênio andan-
cia, e a riqueza gerada levou a uma melhoria te, espírito andejo ou vagabundo, destinava-
das cidades e das condições de vida. O centro -se a proteger a caça do campo. Era imagi-
das atividades era em Mileto, uma cidade- nado, segundo a tradição colhida pelo Dr.
-Estado situada na parte sul da Jônia, hoje a Couto de Magalhães, sob a figura de um vea-
costa mediterrânea da Turquia. Foi em Mileto do branco, com olhos de fogo.
que a primeira escola de filosofia pré-socrá-
Todo aquele que perseguisse um animal que
tica floresceu. Sua origem marca o início da
estivesse amamentando corria o risco de ver
grande aventura intelectual que levaria, 2 mil
Anhangá e a visão determinava logo a febre
anos depois, ao nascimento da ciência moder-
e, às vezes, a loucura. O caapora é o mesmo
na. De acordo com Aristóteles, Tales de Mileto
tipo mítico encontrado nas regiões central e
foi o fundador da filosofia ocidental.
meridional e aí representado por um homem
A reputação de Tales era legendária. Usan- enorme coberto de pelos negros por todo o
do seu conhecimento astronômico e meteo- rosto e por todo o corpo, ao qual se confiou
rológico (provavelmente herdado dos babi- a proteção da caça do mato. Tristonho e ta-
lônios), ele previu uma excelente colheita citurno, anda sempre montado em um porco
de azeitonas com um ano de antecedência. de grandes dimensões, dando de quando em
Sendo um homem prático, conseguiu dinhei- vez um grito para impelir a vara. Quem o en-
ro para alugar todas as prensas de azeite de contra adquire logo a certeza de ficar infeliz
oliva da região e, quando chegou o verão, os e de ser mal sucedido em tudo que intentar.
produtores de azeite de oliva tiveram que pa- Dele se originaram as expressões portugue-
gar a Tales pelo uso das prensas, que acabou sas caipora e caiporismo, como sinônimo de
fazendo uma fortuna. má sorte, infelicidade, desdita nos negócios.
Bilac assim o descreve: “Companheiro do
Supostamente, Tales também previu um
curupira, ou sua duplicata, é o Caapora, ora
eclipse solar que ocorreu no dia 28 de maio
gigante, ora anão, montado num caititu, e
de 585 a.C., que efetivamente causou o fim
cavalgando à frente de varas de porcos do
da guerra entre os lídios e os persas. Quando
mato, fumando cachimbo ou cigarro, pedin-
lhe perguntaram o que era difícil, Tales res-
do fogo aos viajores; à frente dele voam os
pondeu: “Conhecer a si próprio”. Quando lhe
vaga-lumes, seus batedores, alumiando o ca-
perguntaram o que era fácil, respondeu: “Dar
minho”.
conselhos”. Não é à toa que era considerado
um dos Sete Homens Sábios da Grécia Anti- Ambos representam um só mito com diferen-
ga. No entanto, nem sempre ele era prático. te configuração e a mesma identidade com o
Um dia, perdido em especulações abstratas, curupira e o jurupari, numes que guardam
Tales caiu dentro de um poço. Esse acidente a floresta. Todos convergem mais ou menos
aparentemente feriu os sentimentos de uma para o mesmo fim, sendo que o curupira é
jovem escrava que estava em frente ao poço, a representado na região setentrional por um
qual comentou, de modo sarcástico, que Tales “pequeno tapuio” com os pés voltados para
estava tão preocupado com os céus que nem trás e sem os orifícios necessários para as
conseguia ver as coisas que estavam a seus secreções indispensáveis à vida, pelo que a
pés. gente do Pará diz que ele é músico. O Curu-
(A dança do universo, 2006. Adaptado.) pira ou Currupira, como é chamado no sul,

96
aliás erroneamente, figura em uma infinida- consumado não é indispensável conhecer o
de de lendas tanto no norte como no sul do que de fato é justo, mas sim o que parece
Brasil. No Pará, quando se viaja pelos rios e justo para a maioria dos ouvintes, que são os
se ouve alguma pancada longínqua no meio que decidem; nem precisa saber tampouco o
dos bosques, “os romeiros dizem que é o que é bom ou belo, mas apenas o que parece
Curupira que está batendo nas sapupemas, tal – pois é pela aparência que se consegue
a ver se as árvores estão suficientemente persuadir, e não pela verdade.
fortes para sofrerem a ação de alguma tem-
SÓCRATES: – Não se deve desdenhar, caro
pestade que está próxima. A função do Curu-
Fedro, da palavra hábil, mas antes refletir
pira é proteger as florestas. Todo aquele que
no que ela significa. O que acabas de dizer
derriba, ou por qualquer modo estraga inu-
merece toda a nossa atenção.
tilmente as árvores, é punido por ele com a
pena de errar tempos imensos pelos bosques, FEDRO: – Tens razão.
sem poder atinar com o caminho de casa, ou
SÓCRATES: – Examinemos, pois, essa afirma-
meio algum de chegar até os seus”. Como se
ção.
vê, qualquer desses tipos é a manifestação
de um só mito em regiões e circunstâncias FEDRO: – Sim.
diferentes.
SÓCRATES: – Imagina que eu procuro persu-
(O Brasil no folclore, 1970.)
adir-te a comprar um cavalo para defender-
(*) Teogonia, s.f.: 1. Filos. Doutrina mística -te dos inimigos, mas nenhum de nós sabe o
relativa ao nascimento dos deuses, e que fre- que seja um cavalo; eu, porém, descobri por
quentemente se relaciona com a formação do acaso uma coisa: “Para Fedro, o cavalo é o
mundo. 2.Conjunto de divindades cujo culto animal doméstico que tem as orelhas mais
forma o sistema religioso dum povo politeísta. compridas”...
(Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI). FEDRO: – Isso seria ridículo, querido Sócrates.
SÓCRATES: – Um momento. Ridículo seria
3. (Unesp) [...] à frente dele voam os vaga-lu-
se eu tratasse seriamente de persuadir-te
mes, seus batedores, alumiando o caminho.
Eliminando-se o aposto, a frase em destaque a que escrevesses um panegírico do burro,
apresentará, de acordo com a norma-padrão, chamando-o de cavalo e dizendo que é mui-
a seguinte forma: tíssimo prático comprar esse animal para o
a) à frente voam os vaga-lumes, seus batedo- uso doméstico, bem como para expedições
res, alumiando o caminho. militares; que ele serve para montaria de
b) à frente dele voam os vaga-lumes batedores, batalha, para transportar bagagens e para
alumiando o caminho. vários outros misteres.
c) à frente dele voam seus batedores, alumian- FEDRO: – Isso seria ainda ridículo.
do o caminho.
d) à frente dele voam os vaga-lumes, alumian- SÓCRATES: – Um amigo que se mostra ridí-
do o caminho. culo não é preferível ao que se revela como
e) à frente dele voam os vaga-lumes, seus bate- perigoso e nocivo?
dores, alumiando. FEDRO: – Não há dúvida.
SÓCRATES: – Quando um orador, ignorando a
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO natureza do bem e do mal, encontra os seus
concidadãos na mesma ignorância e os per-
As questões a seguir tomam por base o se-
suade, não a tomar a sombra de um burro
guinte fragmento do diálogo Fedro, de Pla-
por um cavalo, mas o mal pelo bem; quando,
tão (427-347 a.C.). Fedro
conhecedor dos preconceitos da multidão,
SÓCRATES: – Vamos então refletir sobre o que ele a impele para o mau caminho,
há pouco estávamos discutindo; examinare-
– nesses casos, a teu ver, que frutos a retóri-
mos o que seja recitar ou escrever bem um
ca poderá recolher daquilo que ela semeou?
discurso, e o que seja recitar ou escrever mal.
FEDRO: – Não pode ser muito bom fruto.
FEDRO: – Isso mesmo.
SÓCRATES: – Mas vejamos, meu caro: não nos
SÓCRATES: – Pois bem: não é necessário que
teremos excedido em nossas censuras contra
o orador esteja bem instruído e realmente
a arte retórica? Pode suceder que ela respon-
informado sobre a verdade do assunto de
da: “que estais a tagarelar, homens ridículos?
que vai tratar?
FEDRO: – A esse respeito, Sócrates, ouvi o Eu não obrigo ninguém – dirá ela – que ig-
seguinte: para quem quer tornar-se orador nore averdade a aprender a falar. Mas quem

97
ouve o meu conselho tratará de adquirir pri- TEXTO III:
meiro esses conhecimentos acerca da verda-
Corrente, que do peito destilada,
de para, depois, se dedicar a mim. Mas uma Sois por dous belos olhos despedida;
coisa posso afirmar com orgulho: sem as mi- E por carmim correndo dividida,
nhas lições a posse da verdade de nada ser- Deixais o ser, levais a cor mudada.
virá para engendrar a persuasão”. Gregório de Matos, Aos mesmos sentimentos.
FEDRO: – E não teria ela razão dizendo isso?
TEXTO IV:
SÓCRATES: – Reconheço que sim, se os argu-
Chora, irmão pequeno, chora,
mentos usuais provarem que de fato a retóri-
Porque chegou o momento da dor.
ca é uma arte; mas, se não me engano, tenho A própria dor é uma felicidade...
ouvido algumas pessoas atacá-la e provar Mário de Andrade, Rito do irmão pequeno.
que ela não é isso, mas sim um negócio que
nada tem que ver com a arte. O lacônio de- TEXTO V:
clara: “não existe arte retórica propriamente Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira
dita sem o conhecimento da verdade, nem é esta,
haverá jamais tal coisa”. Que impudente na gávea tripudia?!...
(Platão. Diálogos. Porto Alegre: Editora Globo, 1962.) Silêncio! ... Musa! Chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto...
Castro Alves, O navio negreiro.
4. (Unesp) “... para quem quer tornar-se orador
consumado não é indispensável conhecer o
5. (Unifesp) No texto V, o sintagma "no teu
que de fato é justo, mas sim o que parece
pranto" desempenha a função sintática de
justo para a maioria dos ouvintes, que são os
adjunto adverbial. Esta mesma função vem
que decidem; nem precisa saber tampouco o
desempenhada por
que é bom ou belo, mas apenas o que parece a) perante a Morte (em I) e nos abismos (em I).
tal...” b) de lágrimas (em I) e do forte (em II).
Neste trecho da tradução da segunda fala de c) momento da dor (em IV) e uma felicidade
Fedro, observa-se uma frase com estrutu- (em IV).
ras oracionais recorrentes, e por isso plena d) em presença da morte (em II) e correndo di-
de termos repetidos, sendo notável, a este vidida (em III).
respeito, a retomada do demonstrativo o e e) Mal cruel (em I) e Na presença de estranhos
do pronome relativo que em o que de fato (em II).
é justo, o que parece justo, os que decidem,
o que é bom ou belo, o que parece tal. Em
todos esses contextos, o relativo que exerce E.O. Dissertativas
a mesma função sintática nas orações de que
faz parte. Indique-a. (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
a) Sujeito.
b) Predicativo do sujeito. 1. (Unicamp) Os enunciados abaixo são parte
c) Adjunto adnominal. de uma peça publicitária que anuncia um
d) Objeto direto. carro produzido por uma conhecida monta-
e) Objeto indireto. dora de automóveis.
UM CARRO QUE
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
ATÉ A ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE
TEXTO I: APROVARIA:
Perante a Morte empalidece e treme, ANDA MAIS
Treme perante a Morte, empalidece. E BEBE MENOS.
Coroa-te de lágrimas, esquece ELE CABE NA SUA VIDA. SUA VIDA CABE
O Mal cruel que nos abismos geme. NELE.
Cruz e Souza, Perante a morte. (Adaptado de Superinteressante, jun. 2009, p. 9.)

TEXTO II: a) A menção à Organização Mundial da Saúde na


peça publicitária é justificada pela apresen-
Tu choraste em presença da morte? tação de uma das características do produto
Na presença de estranhos choraste? anunciado. Qual é essa característica? Expli-
Não descende o cobarde do forte; que por que o modo como a característica é
Pois choraste, meu filho não és! apresentada sustenta a referência à Organiza-
Gonçalves Dias, I Juca Pirama. ção Mundial da Saúde.

98
b) A peça publicitária apresenta duas orações Os velhos não morrem nunca e os jovens não
com o verbo caber. Contraste essas orações perdem sua força. É uma terra tão verde...
quanto à organização sintática. Que efeito é Altamira!
produzido por meio delas? (In: filme BYE BYE BRASIL (1979). Produzido por Lucy
Barreto. Escrito e dirigido por Carlos Diegues.)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

As questões seguintes tomam por base um 2. (Unesp) A primeira fala da Mulher Nordes-
soneto do poeta neoclássico português Boca- tina, em "Bye Bye Brasil", caracteriza-se pe-
ge (Manuel Maria Barbosa du Bocage, 1765- las interpelações em primeira pessoa, repe-
1805) e diálogos de uma sequência do filme tições de palavras e a retomada insistente
Bye Bye Brasil (1979), escrito e dirigido pelo dos mesmos conteúdos. Releia com atenção
cineasta brasileiro Carlos Diegues. o referido discurso direto e, em seguida,
a) indique uma frase em que ocorre repetição
CONVITE A MARÍLIA do elemento vocativo;
Já se afastou de nós o Inverno agreste b) explique o valor semântico que o vocábulo
Envolto nos seus úmidos vapores; "povo" representa na elocução emotiva da
A fértil primavera, a mãe das flores personagem.
O prado ameno de boninas veste:
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Varrendo os ares o sutil nordeste
Os torna azuis; as aves de mil cores
Esparsa - Ao desconcerto do Mundo.
Adejam entre Zéfiros e Amores,
(Luís de Camões)
E toma o fresco Tejo a cor celeste:
Vem, ó Marília, vem lograr comigo Os bons vi sempre passar
Destes alegres campos a beleza, No Mundo graves tormentos;
Destas copadas árvores o abrigo: E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Deixa louvar da corte a vã grandeza:
Em mar de contentamentos.
Quanto me agrada mais estar contigo
Cuidando alcançar assim
Notando as perfeições da Natureza!
O bem tão mal ordenado,
(BOCAGE. Obras de Bocage. Porto:
Lello & Irmão, 1968, p. 142.)
Fui mau, mas fui castigado,
Assim que só para mim
BYE BYE BRASIL Anda o Mundo concertado.
(In: REDONDILHAS - OBRAS COMPLETAS.
Mulher Nordestina: Rio de Janeiro: Aguilar, 1963, pp. 475-6.)
- Meu santo, minha família foi embora, meu
santo. Filho, nora, neto..., fiquei só com o Nós
meu velho que morreu na semana passada. (Cesário Verde)
Agora, quero ver o meu povo. Meu santo, me
diga, onde é que eles foram, meu santo? Ai daqueles que nascem neste caos,
E, sendo fracos, sejam generosos!
Lord Cigano: As doenças assaltam os bondosos
- E eu sei lá? Como é que eu vô saber? Quer
E - custa a crer - deixam viver os maus!
dizer... eu sei... eu... Eu tô vendo. Eu estou
(In: O LIVRO DE CESÁRIO VERDE. 9ª ed. Lisboa:
vendo a sua família, eles estão a muitas lé- Editorial Minerva, 1952, p. 122.)
guas daqui.
Mulher Nordestina: 3. (Unesp) Vocábulos como Bom e Bem, Mau e
- Vivos? Mal, em virtude da variedade de seu uso em
nossa língua, não podem ser classificados
Lord Cigano:
senão após se examinar o contexto de cada
- É, vivos, se acostumando ao lugar novo.
frase. Isto se verifica nos poemas em pauta.
Mulher Nordestina: Com base nestas observações:
- A gente se acostuma com tudo... Onde é a) aponte a classe e a função sintática de Bem,
que eles estão agora, meu santo? no sétimo verso de Camões;
Lord Cigano: b) aponte a classe e a função sintática de Mau,
- Ah, pera aí, deixa eu ver! Eu tô vendo: no oitavo verso de Camões.
eles estão num vale muito verde onde cho-
ve muito, as árvores são muito compridas e
os rios são grandes feito o mar. Tem tanta
riqueza lá, Que.. ninguém precisa trabalhar.

99
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
“Brancas rochas, pelas encostas, alastravam
FELICIDADE
a sólida nudez do seu ventre polido pelo ven-
to e pelo sol; outras, vestidas de líquen e de 1
Olhou para o céu, certificando-se de que não
silvados floridos, avançavam como proas de
ia chover.
galeras enfeitadas; e, de entre as que se api-
nhavam nos cimos, algum casebre que para – Passa já pra dentro, Jaú. Olha a carrocinha!
lá galgara, todo amachucado e torto, esprei-
Jaú, costelas à mostra e rabinho impertinen-
tava pelos postigos negros, sobre as desgre-
te, continuou impassível a se espichar ao
nhadas farripas de verdura, que o vento lhe
sol, num desrespeito sem nome à sua dona
semeara nas telhas. Por toda a parte a água
e numa ignorância santa das perseguições
sussurrante, a água fecundante... Espertos
municipais.
regatinhos fugiam, rindo com os seixos, de
entre as patas da égua e do burro; grossos ri- 2
Clarete também teve o bom senso de não in-
beiros açodados saltavam com fragor de pe- sistir, o que aliás era uma das suas mais evi-
dra em pedra; fios direitos e luzidios como dentes qualidades. Carregou mais uma vez
cordas de prata vibravam e faiscavam das a boina escarlate sobre o olhar 3cinemático,
alturas aos barrancos; e muita fonte, posta bateu a porta com força – té logo, mamãe!
à beira de veredas, jorrava por uma bica, – e desceu apressada, sob um sol de rachar
beneficamente, à espera dos homens e dos pedras, a extensa ladeira para apanhar o
gados...” bonde, pois tinha de estar às oito e meia,
sob pena de repreensão, na estação Sul da
4. (Unesp) Na oração "grossos RIBEIROS aço- Cia. Telefônica.
dados saltavam com fragor de pedra em pe- No bonde, afinal, tirou da bolsa o reloginho-
dra", o substantivo destacado ocupa o núcleo -pulseira e deu-lhe corda. Era um bom reló-
do sujeito (grossos RIBEIROS açodados). Ba- gio aquele. Também, era Longines e no rá-
seando-se neste comentário, analise a frase dio do vizinho, que se mudara, um sujeito
a seguir e indique as funções sintáticas que mal-encarado, ouvira sempre dizer que era
nela exercem os substantivos em destaque: o relógio mais afamado do mundo inteiro.
"Brancas rochas, pelas ENCOSTAS, alastra- Fora presente de seu Rosas quando ela mo-
vam a sólida NUDEZ do seu ventre polido rava na avenida. E, à falta de outra coisa, foi
pelo vento e pelo sol". remexendo o seu passado pequenino com a
lembrança do seu Rosas.
5. (Unicamp) A experiência que comprovou 4
Rosas. Que nome! Não lhe entrava na cabeça
a existência da partícula conhecida como que uma pessoa pudesse se chamar Rosas.
bóson de Higgs teve ampla repercussão na Nem Rosas, nem Flores. Que esquisitice, já
imprensa de todo o mundo, pelo papel fun- se viu?
damental que tal partícula teria no funcio-
namento do universo. Leia o comentário Arregalou os olhos fotogênicos.
abaixo, retirado de um texto jornalístico, e – Que amor!
responda às questões propostas.
Uma senhora ocupava o banco da frente, com
Por alguma razão, em língua portuguesa um chapéu, rico, de feltro, enterrado até às
convencionou-se traduzir o apelido do bóson
sobrancelhas. O solavanco da curva não a
como “partícula de Deus” e não “partícula
deixou ter inveja. Calculou o preço, assim
Deus”, que seria a forma correta.
por alto: cento e poucos mil-réis, no mínimo.
(Folha de São Paulo, São Paulo, 05/07/2012,
Caderno Ciência, p. 10.) Quase seu ordenado. Quase... E sem querer
voltou a seu Rosas.
a) Explique a diferença sintática que se pode
Fora ele quem lhe dera aquele reloginho. A
identificar entre as duas expressões mencio-
mãe torcera o nariz, nada, porém, dissera.
nadas no trecho reproduzido: “partícula de
Devia contudo ter pensado dela coisas bem
Deus” e “partícula Deus”.
feias. Clarete sorriu. 5O rapaz da ponta, com
b) Explique a diferença de sentido entre uma e
o Rio Esportivo aberto nas mãos e os olhos
outra expressão em português.
pregados nela, sorriu também. Clarete 6arru-
mou-lhe em cima um olhar que queria dizer:
idiota! e o rapaz zureta afundou os óculos
de tartaruga na entrevista do 7beque carioca
sobre o jogo contra os paulistas.

100
(...)
Praia de Botafogo. Meu Deus! Pendurou-se
Gabarito
nervosamente na campainha, saltou e atra-
vessou a rua sob o olhar perseguidor da ra-
paziada que ia no bonde.
E.O. Aprendizagem
1. E 2. A 3. E 4. D 5. C
Houve tempo em que Clarete se chamava
simplesmente Clara. Tinha, então, os cabelos 6. C 7. D 8. D 9. D 10. B
compridos, pestanas sem rímel, sobrance-
lhas cerradas, uma magreza de menina que
ajuda a mãe na vida difícil e um desejo in- E.O. Fixação
disfarçável de acabar com as sardas que lhe
1. A 2. C 3. B 4. E 5. B
8
pintalgavam as faces e punham no narizi-
nho arrebitado uma graça brejeira. 6. B 7. B 8. B 9. A 10. E
Trabalhava numa fábrica de caixas de pa-
pelão e vinha para a casa às quatro e meia,
quando não havia serão, doidinha de fome e E.O. Complementar
recendendo a cola de peixe. 1. C 2. C 3. B 4. E 5. A
Quando ela passava, os meninos buliam na
certa:
– Ovo de tico-tico! Ovo de tico-tico! E.O. Dissertativo
1.
Vocativo é um termo utilizado para fazer
Ela arredondava-lhes um palavrãozinho que um chamado ao interlocutor. No caso do po-
aprendera na fábrica com a Santinha e conti- ema, vê-se que o eu lírico utiliza “compa-
nuava a subir a ladeira comprida, rebolando, nheiro” para chamar seu interlocutor, como
provocante. (...) em “Cuidado, companheiro!” e usa também
“amigo”, como em “a vida não é brincadeira,
Verdade é que eles a chamavam de ovo de
amigo”. Nota-se que nos dois casos os termos
tico-tico, menos pelas sardas do que por
não têm nenhum tipo de relação sintática
despeito. Ela não dava confiança a nenhum
com o resto da oração, somente uma função
– vê lá!... – e no coração deles andava uma
de deixar claro quem é o interlocutor.
loucura por Clarete. Ai! se ela quisesse!... –
2.
Vocativo é um termo utilizado para fazer
suspiravam todos intimamente. Ela, porém,
um chamado ao interlocutor. No caso do po-
não queria, estava mais que visto. E eles fi-
ema, vê-se que o eu lírico utiliza “compa-
cavam se regalando amoravelmente com o nheiro” para chamar seu interlocutor, como
palavrãozinho jogado assim num desprezo em “Cuidado, companheiro!” e usa também
superior, pela boca minúscula que todas as “amigo”, como em “a vida não é brincadeira,
noites aparecia, tentadoramente se ofertan- amigo”. Nota-se que nos dois casos os termos
do, nos seus sonhos juvenis. não têm nenhum tipo de relação sintática
Marques Rebello. Contos reunidos. Rio de com o resto da oração, somente uma função
Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
de deixar claro quem é o interlocutor.
3
cinemático − que se movimenta em várias 3.
O aposto é “filhote de porco-do-mato”, pois
direções observa-se que o termo está entre vírgulas e
6
arrumar-lhe − dirigir-lhe apresenta uma explicação para o termo “ca-
7
beque − zagueiro teto”. Exerce, portanto, função de aposto ex-
8
pintalgar − pintar plicativo.
4.
a) A expressão “lá fora” é adjunto adverbial
de lugar e “de quando em quando” é ad-
junto adverbial de tempo. Ou: ambas são
adjuntos adverbiais.
b) Essas expressões servem para mostrar o
progresso da narrativa no tempo e no es-
paço.
Ou: Tais expressões mostram a sucessão
dos acontecimentos no espaço e no tem-
po, garantindo a progressão da narrativa.
Ou: As expressões, ao localizar a ação no
tempo e no espaço, contribuem para a

101
progressão textual, porque particulari- Predicativo do sujeito.
zam os lugares em que a ação se desen- Maria, Madalena
rola (lá fora opondo-se ao aqui dentro do Substantivo próprio.
espaço da casa) e indicam a passagem do Predicativo do sujeito.
tempo, que dinamiza a ação narrada.
Ou: Uma narrativa caracteriza-se por
sucessões de acontecimentos e transfor-
mações. No caso analisado, as expressões
E.O. Objetivas
destacadas mostram o desenrolar dos fa- (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
tos no tempo e no espaço e, com isso, ga- 1. D 2. C 3. D 4. A 5. A
rantem a progressão da narrativa.
5.
Expressão: “Ô, pai!”
Palavra: “fio”
As expressões “ó cara” e “ó pá” foram em- E.O. Dissertativas
pregadas como vocativo, isto é, com o objeti- (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
vo de chamar ou se dirigir a alguém. No qua- 1 .
drinho, a expressão “ô pai!” e a palavra “fio” a) O carro é personificado através das carac-
também são empregadas com essa função. A terísticas que lhe são atribuídas pelas ex-
primeira é utilizada por Chico Bento para se pressões “anda mais” e “bebe menos”, o
dirigir ao seu pai, e a segunda é utilizada que pressupõe a aprovação de uma orga-
pelo pai para se dirigir a Chico Bento. nização que tem por objetivo desenvolver
ao máximo possível o nível de saúde das
pessoas, combatendo a redução de inges-
tão de álcool e o sedentarismo.
E.O. UERJ b) Trata-se de dois períodos simples com
Exame Discursivo orações absolutas em que as palavras
“ele” e “vida” funcionam, respectiva-
1.
Valor sintático: objeto indireto/oração su-
mente, no primeiro como sujeito e adjun-
bordinada substantiva objetiva indireta
to adverbial e no segundo, como adjunto
certificando-se de que não ia chover. adverbial e sujeito. A disposição simétri-
VTI    OI ca e cruzada destes elementos provoca
Valor sintático: complemento nominal/ora- efeito de empatia entre produto e público
ção subordinada substantiva completiva no- a quem o anúncio se dirige, pois o carro,
minal além de ser acessível ao bolso do com-
Clarete também teve o bom senso de não insistir prador (ele cabe na sua vida), também
Suj. VTD OD CN atende às necessidades do seu cotidiano
2. (“sua vida cabe nele”).
a) Preposição: por. 2.
Agente da passiva e adjunto adverbial de a) Trata-se do vocativo "Meu santo" empre-
causa. gado com repetição em: "MEU SANTO,
b) Busca da riqueza e também privação da minha família foi embora, MEU SANTO";
liberdade. "MEU SANTO, me diga, onde é que eles
3. foram, MEU SANTO".
a) "O amor é único, universal e sempre o b) O vocábulo "povo" tem o valor semântico
mesmo de hoje em dia". de "família".
Uso de aspas 3.
b) Quase nunca a) Substantivo e objeto direto.
Com certeza b) Adjetivo e predicativo do sujeito.
4. 4. Encostas: núcleo do adjunto adverbial
a) "tua alma ardente". Nudez: núcleo de objeto direto.
"Seus" é adjunto adnominal ou determi- 5.
nante de "voos". a) Na expressão “partícula de Deus”, o seg-
b) Apagou o teu fanal do sentimento no coração. mento “de Deus” é uma locução adjetiva
Apagou o fanal do sentimento no teu coração. que caracteriza o substantivo “partícu-
Apagou o fanal do teu sentimento no coração. la”, exercendo a função sintática de ad-
5. junto adnominal, enquanto em “partícula
a) O primeiro par expressa um contraste fí- Deus”, o termo “Deus” é um substantivo
sico e o segundo, um contraste moral. próprio que individualiza o substantivo
b) loura, morena comum “partícula”, exercendo função
Adjetivo. sintática de aposto.

102
b) Ao excluir a preposição “de” da expres-
são “de Deus”, atribui-se valor específico
à partícula e ela mesma seria “Deus”, ou
seja, com capacidade para criar o univer-
so. No caso de se manter a preposição,
a partícula seria uma parte de Deus ou,
então, ela teria sido criada por Deus.
Aulas 33 e 34

Leitura de imagens
Competências 1, 6, 8 e 9
Habilidades 1, 3, 4, 18, 25, 27 e 29
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Quadrinho e tirinhas
As histórias em quadrinhos são um conjunto narrativo (entendido como uma forma de arte sequencial gráfica) que
mescla linguagem verbal (texto) e linguagem não verbal (imagem). É um gênero bastante popular entre crianças
e adolescentes, e tem se tornado cada vez mais popular também entre os adultos, especialmente pela capacidade
que as histórias possuem de representar uma quantidade significativa de situações sociais.
É um tipo de gênero que muitos tentam associar a outros rótulos, como, por exemplo, a literatura. Há aí um
equívoco, pois, na verdade, os quadrinhos possuem uma linguagem bastante autônoma, capaz de abarcar muitos
fenômenos de comunicação. O professor Paulo Ramos, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), especia-
lista em abordagens críticas de quadrinhos, explana com clareza o que devemos entender a respeito desse gênero:

“Quadrinho são quadrinhos. E, como tais, gozam


de uma linguagem autônoma, que usa mecanismos
próprios para representar os elementos narrativos.
Há muitos pontos comuns com a literatura, eviden-
temente. Assim como há também com o cinema, o
teatro e tantas outras linguagens.”
(Paulo Ramos, in: A leitura dos quadrinhos, Editora Contexto: 2014, pág 17.)

As histórias em quadrinhos são, em geral, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras veiculadas
em revistas e jornais. Aliás, tendo em vista as dimensões do vestibular (elaborado com provas que não possuem
grande espaço), o tipo mais comum de quadrinho que encontramos são as “tiras”.

As tiras
São entendidas como tiras os segmentos de história em quadrinhos publicados em jornais ou revistas num curto
espaço de página, habitualmente na horizontal (atualmente, há também formatos verticais ou com duas ou mais
tiras). É um gênero textual que surgiu nos Estados Unidos para dar conta da falta de espaço que havia nos jornais
para a publicação de cruzadas e outros passatempos. O nome "tira” (ou “tirinha", como a conhecemos no Brasil)
remete ao formato do texto, que parece um "recorte" horizontal de jornal.
Trata-se de um gênero textual que mais comumente apresenta temática humorística, mas também encon-
traremos (especialmente no vestibular) tirinhas de cunho social ou político, satíricas ou metafísicas (que propõem
reflexões existenciais). Vejamos alguns exemplos:

(Tirinha de humor – “Níquel Náusea” de Fernando Gonsales)

107
(Tirinha de crítica social – “Os malvados” de André Dahmer)

(Tirinha reflexiva dos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá)

Mais recentemente, as tiras (e os quadrinhos como um todo) têm sido objeto de inúmeras pesquisas sobre
comunicação em cursos de graduação e pós-graduação. Encontram-se com facilidade artigos e outras publicações
destinados aos estudos deste gênero. Por esse motivo, os quadrinhos tem sido muito explorados no vestibular.

Charges e cartuns
Charges e cartuns são elementos comunicativos que se assemelham aos quadrinhos por trabalharem com os cam-
pos de comunicação verbal (texto) e não verbal (imagem), mas, ao mesmo tempo, se diferenciam por não consti-
tuírem um processo narrativo. Tanto a charge, quanto o cartum, focalizam situações de comunicação específicas,
geralmente focalizadas em um único quadro.

A charge
Charge é um termo de origem francesa que significa “carga”. Recebe esse nome por conta da “carga” satírica que
sua informação comporta. A função da charge é relatar costumes humanos, satirizando situações que
são parte de um contexto cultural, político, econômico e social bastante específico. Por essa razão,
para que consigamos entender a charge, é necessário que conheçamos os “alvos” que elas procuram atingir; em
geral, pessoas ligadas à vida pública, como políticos, artistas, atletas, entre outros.
O fato de a charge tratar de contextos muito específicos faz com que ela possua um caráter mais perecível,
pois, fora de seu contexto de origem, ela provavelmente perderá parte de força comunicativa; no entanto, por conta
mesmo da relação contextual, funciona como um valoroso elemento de registro histórico.

108
Trata-se, portanto, de um gênero que, trabalhando com as linguagens verbal e não verbal, precisa estar em
consonância com os conhecimentos de mundo do interlocutor, uma vez que o entendimento da mensagem só será
efetivado se houver compreensão de contextos determinados.

(Charge de Laerte Coutinho cuja compreensão depende de conhecimento histórico sobre os processos de colonização em território brasileiro.)

(Charge de Arnaldo Angeli, que trata de contexto mais contemporâneo: o sucateamento da educação no Brasil.)

O cartum
O cartum é conhecido por ser uma espécie de anedota gráfica, que, assim como a charge, mescla linguagem verbal
e não verbal para atingir seus objetivos. A diferença crucial entre a charge e o cartum reside no fato de que sua
finalidade discursiva é a de satirizar costumes humanos, valendo-se de personagens que representam
pessoas comuns, sem que haja a preocupação com um contexto específico, atual ou momentâneo.
Em relação à charge, pode-se dizer que o cartum tem um caráter mais universal, pois aborda situações
atemporais, que seriam reconhecidas por qualquer pessoa, independentemente do contexto abordado.
Trata-se, portanto, de um gênero que, trabalhando com as linguagens verbal e não verbal, não depende de
conhecimento de mundo mais específico, pois aborda situações mais amplas. Vejamos alguns exemplos:

(Novamente um trabalho de Laerte. É possível notar que o tema do cartum tem caráter mais universal. Neste caso, percebemos um processo de prole-
tarização por conta da redução contínua de salários, algo que pode acontecer em qualquer lugar do mundo, a qualquer tempo.)

109
(No cartum acima, de Henfil, vemos uma crítica atemporal aos eleitores que votam de forma inconsciente,
sem realizar as devidas mediações sobre seus candidatos.)

Imagens
Podemos entender por imagem qualquer tentativa de representação, reprodução ou imitação da forma de uma
pessoa ou de um objeto, cujo objetivo é comunicar algo a partir de alguma intencionalidade. É um processo que
pode ser prioritariamente visual, ou pode também mesclar linguagem verbal e não verbal. O conceito de imagem
abarca todo e qualquer objeto que possa ser percebido, tanto visualmente, quanto esteticamente.
Historicamente, tivemos duas fortes teorias filosóficas que tentaram dar conta da “ideia” de imagem. A
primeira foi concebida por Platão, que considerava a imagem, como sendo uma projeção que aparecia em nossa
mente. Mais adiante, Aristóteles considerou a imagem como sendo um movimento de aquisição pelos sentidos,
a representação mental de um objeto real. Embora seja uma controvérsia bastante antiga, ela dura até os dias
de hoje, com acepções positivas, pois contribui para um entendimento mais amplo e preciso de um conceito que
envolve domínios ligados à arte, ao registro fotográfico, à pintura, ao desenho, à gravura ou qualquer outra forma
visual de expressão da ideia (propagandas, placas, infográficos, entre outros elementos).
No momento contemporâneo, há um grande volume de imagens circulando em nossa sociedade, que che-
gam até nossos olhos por meio de diversos estímulos visuais: anúncios publicitários, cartazes, ou qualquer outro
material impresso; os memes de internet, transmissões televisivas, obras artísticas, imagens arquitetônicas, e até
mesmo representações sagradas.

Linguagem visual e seus processos de análise


Realizar a análise de um estímulo visual requer bastante atenção ao seu conjunto. Se na análise discursiva preci-
samos estar atentos a outros fatores para além do texto, como quem é o autor, o gênero selecionado, a data da
publicação ou o período em que um trabalho foi realizado; para a análise visual devemos, também, considerar
tudo que compõe a imagem: se o tipo de traço remete a algum período, se é colorida ou em preto e branco, se sua
composição é simples ou mais complexa, suas marcas de autoria, entre outros fatores. Vejamos alguns elementos
imagéticos mais frequentes em vestibulares, e algumas orientações de análise:

a) Fotografias

As fotografias fazem a captação de um momento que, na maioria dos casos, é muito singular. Pode ser o registro de
um fato ou de uma pessoa, e muitas vezes consegue nos remeter a algum tipo de narrativa. É sempre importante levar
em conta, ao analisar uma fotografia, a questão da intencionalidade de quem realiza o registro, pois a imagem retra-
tada, ao mesmo tempo em que capta o real, reflete o ponto de vista de seu autor. Segundo o estudioso Roland Bar-
thes – que dentre os vários campos que adentrou (como linguística, sociologia, filosofia, crítica literária), realizou um

110
profundo estudo sobre a linguagem fotográfica – “a fotografia faz um registro histórico do momento, um instante que
não poderá ser reproduzido novamente, levando-se em consideração a época, os costumes e as tradições que ficam
eternizados no instante fotografado. É por isso única e de caráter documental”. Vejamos alguns registros famosos:

(De Robert Capa: A morte do soldado legalista - 1936. Registro de um soldado no momento em que foi atingido na cabeça por um tiro, durante a Guerra
Civil Espanhola. Muitos questionam a respeito da veracidade desse registro, se não seria apenas uma encenação).

Henri Cartier-Bresson
Foto da série momentos decisivos, cujo objetivo era captar situações cotidianas e simples.

111
b) Pinturas

A pintura refere-se genericamente à técnica de aplicar pigmentos de diversas origens em alguma superfície, a fim
de compor uma imagem. Este tipo de composição artística foi uma das principais formas de apreensão e represen-
tação da realidade e de seus dados materiais durante os períodos medieval e renascentista, passando por cons-
tantes alterações em suas abordagens posteriores. Historicamente, encontraremos técnicas de pintura de cunho
figurativo (uma representação pictórica de algum tema), ou abstratas (que não retrata objetos ou paisagens).
Ao analisarmos algum quadro, devemos levar em consideração não apenas aquilo que nele está representa-
do, mas também seu contexto de produção, pois existem marcas estéticas ligadas à motivações históricas bastante
específicas. Vejamos alguns exemplos de pinturas, com comentários a respeito de seus contextos:

Arte medieval

Madona e Filho, Berlinghiero, século XII.


(www.literaria.net/RP/L2/RPL2.htm)

(A arte medieval retratava temáticas religiosas ou ainda os retratos do trabalho no campo, pois estava diretamente ligada ao período histórico no qual
a fé cristã era considerada o centro da vida do homem, o teocentrismo. Do ponto de vista estético, tais pinturas não apresentavam tamanha preocupa-
ção com as dimensões da representação da realidade que serão objeto da arte renascentista).

Arte romântica

A maja nua, c. 1795-1800, Museu do Prado


(A arte romântica está aliada aos valores dramáticos e sentimentais próprios da literatura e da história do período; procurou evidenciar os efeitos
emotivos das pinturas, dando lugar principalmente aos temas históricos e religiosos).

112
Arte moderna

Edvard Munch - O Grito

(A arte moderna tem como objetivo romper com os padrões antigos. Os artistas modernos buscam novas formas de expressão para compor suas obras.
Desse modo, eles utilizam recursos como cores vivas, figuras deformadas, cubos e cenas sem lógica para demonstrarem a força da ruptura que deseja-
vam promover. São próprios dessa época os movimentos impressionista, expressionista, cubista, futurista, dadaísta e surrealista.)

Arte contemporânea

OITICICA, H. Metaesquema I, 1958. Guache s/ cartão 52 cm x 64 cm. Museu de Arte Contemporânea - MAC/USP.

(A Arte Contemporânea ou Arte Pós-Moderna é um movimento artístico que teve início na segunda metade do século XX, após a
Segunda Guerra Mundial. A disseminação da indústria cultural e a modificação da relação do homem com a arte, tornando-a mais popular,
proporcionou mudanças significativas no campo cultural.
Tais mudanças são responsáveis pelas características dessa nova tendência artística que são: abandono dos suportes tradicionais,
mistura de estilos artísticos, emprego de diferentes materiais, aproximação com a cultura popular, sobretudo, interação do espectador com a obra).

c) Gráficos e infográficos

A leitura de dados quantitativos em gráficos tem sido uma constante nos vestibulares. Isso porque, os gráficos, de
certa maneira, estão muito presentes na vida contemporânea, pois, por meio deles, conseguimos manipular gran-
des volumes de informações em curto espaço de tempo. Existem diversos tipos de gráficos: linhas, barras, pizzas etc.
Os gráficos trabalham com linguagem verbal e não verbal, pois além dos apelos visuais, são necessárias
informações que permitam identificar dados quantitativos (gradações, elevações, diminuições, demandas, entre
outras informações) que irão contribuir para a correta interpretação das informações. Em alguns casos, o gráfico
pode vir acompanhado de um texto que irá se valer dessas informações quantitativas para ratificar uma ideia, ou
mesmo para contrariá-la. Vejamos alguns exemplos de gráficos:

113
(Gráfico em pizza publicado na Folha de São Paulo, em 20/10/2010, com o objetivo de avaliar o que melhor representaria a cultura brasileira)

(Gráfico em arco publicado na Folha de São Paulo, em 22/07/2010, com o objetivo de verificar as variantes existentes no grau
de escolaridade dos eleitores brasileiros)

(Gráfico em linha publicado na Folha de São Paulo, em 26/10/2014, com o objetivo de evidenciar a desigualdade de renda entre homens e
mulheres na cidade de São Paulo).

114
Já os infográficos caracterizam-se por serem ilustrações de cunho explicativo, a respeito de um determi-
nado tema ou assunto. O termo “infográfico” surgiu da junção dos radicais info (informação) e gráfico (desenho,
imagem, representação visual). A partir daí é que temos a ideia de que o infográfico é um desenho ou imagem
(estímulo não-verbal) que, com o auxilio de um texto (estímulo verbal), explica ou informa sobre um assunto cuja
compreensão ficaria prejudicada se feita apenas por meio da escrita. Vejamos uma definição para esse gênero:
Tudo deve ser explicado, esclarecido e detalhado - de forma concisa e exata, numa linguagem tanto colo-
quial e direta quanto possível [...] O didatismo deve estender-se também à disposição visual do que é editado. [...]
A apreensão pelo leitor deve ser fácil, clara e rápida. [...] A rigor, tudo o que puder ser dito sob a forma de quadro,
mapa, gráfico ou tabela não deve ser dito sob a forma de texto. (SILVA, 2005 apud TEIXEIRA, 2011, p. 25).
Atualmente, os infográficos são bastante utilizados não apenas em meios impressos de comunicação, como
jornais, revistas, manuais de diversas ordens, mas também nos meios eletrônicos, como sites de internet ou mapas
informativos de shoppings. Vejamos alguns infográficos:

(Infográfico que aborda o consumo de água em itens variados utilizados cotidianamente)

(Infográfico que apresenta os procedimentos técnicos para alerta de tsunamis)

115
d) Capas de publicações

As capas de publicações têm sido muito trabalhadas no vestibular, não apenas por conta de seu caráter imagético,
mas também pelas possibilidades de manipulação linguística que operam. É muito comum – especialmente em
publicações de grande circulação, formadoras de opinião – que as composições de capa trabalhem elementos de
produção de sentido, dotados de forte intencionalidade.
Sempre é importante lembrar que as capas trabalharão os elementos verbais e não verbais de modo a
ratificar as intenções de alguma reportagem que será abordada na publicação. Esse caráter de intencionalidade
constantemente é pautado por uma linha editorial já específica, conhecida dos leitores (constantemente já se sabe
de antemão quais são as linhas ideológicas da publicação).

(Capa da revista científica Galileu)

(Capa da revista exame abordando crise econômica)

116
e) Cartazes e peças publicitárias

Os cartazes e peças publicitárias, muitas vezes, possuem intenções variadas. Não são apenas criados com o intuito
de vender produtos, mas também têm o objetivo de transmitir algum tipo de ideia da qual se espera algum tipo de
adesão. Podemos ter aí a divulgação de eventos, shows, promoções, feiras culturais, campanhas provisórias.
São gêneros que trabalham com elementos verbais e não verbais, cujo teor linguístico pode variar bas-
tante em função do teor informativo (informação mais séria, ou mais descontraída). Normalmente, teremos uma
linguagem que será bastante clara e objetiva, mas que também poderá valorizar elementos estilísticos (metáforas,
trocadilhos, ironia) que a tornem mais atrativa. Vejamos alguns exemplos:

(Temos aqui um cartaz referente a uma campanha contra violência doméstica, colocado em circulação pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco).

(Peça publicitária informativa do TSE, voltada para eleitores com limitações de mobilidade).

117
INTERATIVI
A DADE

LER

Livros
Toda Mafalda – Quino

Mafalda é apenas uma garotinha. Gosta de brincar, de dançar e odeia


tomar sopa. Mas, com apenas seis anos de idade, a menina criada
tem plena consciência do mundo em que vive, cheio de injustiças,
guerras e intolerância. Ela e sua turma gostam dos Beatles, mas ques-
tionam o insano universo dos adultos, suas manias e suas maneiras
de encarar o mundo e a realidade. Esta edição contém as tirinhas
publicadas por Quino, da primeira à última, e procuram mostrar, com
humor e carisma, que ser politizado e consciente não significa ser
pessimista, e, principalmente, não significa ser adulto.

Calvin & Haroldo - O Mundo É Mágico – Conrad

A tirinha conta a história de Calvin, um garoto hiperativo de seis anos


cujo melhor amigo é o tigre de pelúcia Haroldo – que ganha vida
quando não existe nenhum adulto por perto. Ao lado das fantasias e
brincadeiras da dupla, surgem questões sobre política, cultura, socie-
dade e a relação de Calvin com seus pais, colegas e professores, com
a sabedoria que os adultos só conseguem traduzir como ingenuidade.

118
LER

Blog
Niquel Náusea é uma tira criada pelo cartunista (e tambem veterinário)
brasileiro Fernando Gonsales em 1985. Os personagens possuem um humor
ácido, diversas vezes aproximando-se do humor negro e do nonsense. Seus
nomes são paródias de objetos ou situações. É frequentemente usado em
questões de vestibular por conta do alto teor de ironia presente em seus
textos.

Os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, nascidos no estado de São Paulo, atu-
almente estão entre os mais premiados quadrinistas brasileiros da atualida-
de. Já publicaram trabalhos nos EUA, Itália e Espanha. Foram os primeiros
brasileiros a ganharem o Prêmio Eisner de quadrinhos, o mais importante
do gênero. Suas tiras de cunho existencial, atualmente publicadas na Folha
de S.Paulo, têm sido incluídas em diversos vestibulares, especialmente o da
UERJ.

119
Estrutura Conceitual
LEITURA DE IMAGENS

NÃO VERBAL
EXCLUSIVAMENTE +
NÃO VERBAL VERBAL

- Fotografias - Tirinhas
- Pinturas - Charges
- Cartuns

120
E.O. Aprendizagem
1. (G1 - ifsc) Em relação ao gênero textual história em quadrinhos, analise as afirmações a seguir.
I. É obrigatório o uso de texto verbal em todos os quadrinhos da história.
II. As histórias em quadrinhos servem exclusivamente para a contação de piadas.
III. A mescla entre informações verbais e visuais é uma característica fundamental na constituição
das histórias.
IV. Por ser voltada ao público jovem, é imprescindível a presença de personagens adolescentes.
Assinale a alternativa CORRETA.
a) Somente III é verdadeira.
b) Somente I e IV são verdadeiras.
c) Somente III e V são verdadeiras.
d) Somente IV é verdadeira.
e) Somente I e II são verdadeiras.

2. (Ueg) Leia o fragmento e observe a imagem para responder à questão.


Meus brinquedos...
Coquilhos de palmeira.
Bonecas de pano.
Caquinhos de louça.
Cavalinhos de forquilha.
Viagens infindáveis...
Meu mundo imaginário
mesclado à realidade.
E a casa me cortava: “menina inzoneira!”
Companhia indesejável – sempre pronta
a sair com minhas irmãs,
era de ver as arrelias
e as tramas que faziam
para saírem juntas
e me deixarem sozinha,
sempre em casa.
CORALINA, Cora. Minha Infância. In: Melhores poemas de Cora Coralina. 3. ed. São Paulo: Global, 2008. p. 97.

O fragmento poético e a imagem entabulam diálogo ao retratarem episódios da infância,


a) transcorrida em brincadeira coletiva no fragmento e em brincadeira individual na imagem.
b) que se afigura como um período infeliz e irrealizado tanto no fragmento quanto na imagem.
c) que se mostra problematizada de modo realista no fragmento e feliz e idealizada na imagem.
d) que se afigura como uma etapa plena de realizações tanto no fragmento quanto na imagem.
e) transcorrida em brincadeiras solitárias e enfadonhas tanto no fragmento quanto na imagem.

121
3. (G1 - ifsc 2017) Texto 1

Texto 2
Isto sabemos: a Terra não pertence ao homem; o homem pertence à Terra.
Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas, como o sangue que une uma família. Há uma ligação
em tudo. O que ocorre com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não teceu o tecido da
vida: ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
Fragmento da Carta do Cacique americano ao Presidente dos Estados Unidos da América em 1855.
Disponível em: <http://comitepaz.org.br/chefe_seattle.htm>. Acesso em: 19 ago. 2016.

Considerando os textos 1 e 2 , assinale a alternativa CORRETA.


a) Os dois textos falam sobre doenças sanguíneas que atualmente afetam as pessoas de uma mesma fa-
mília.
b) Ambos os textos têm como tema a necessidade de cuidarmos do nosso Planeta.
c) Os dois textos têm como tema central as belezas naturais.
d) Os dois textos destacam os cuidados que o homem demonstra ter com a natureza.
e) Em ambos os textos, o Presidente dos Estados Unidos é criticado por suas atitudes contra a preservação
do planeta.

4. (Eear) Leia:

Marque a opção que apresenta correta interpretação da tirinha da Mafalda, personagem presente
no último quadrinho, de autoria do cartunista argentino Quino, em que Felipe, no primeiro qua-
drinho, mostra-se pensativo com a possibilidade de participar do serviço militar.
a) O menino, receoso do que poderá enfrentar no quartel, imagina situações complicadas a que se sub-
meterá e reage com a chegada de seu herói, de modo que seus gritos foram escutados por Mafalda.
b) O jovem menino, com medo do que o quartel lhe reserva, cria situações mentais em que, fatalmente,
não consegue êxito, conforme expresso no último quadrinho.
c) A possibilidade de poder contar com a presença física de seu herói no quartel retira, desde o início,
todo medo e ansiedade do jovem que deseja servir às Forças Armadas de seu país.
d) Embora com desejo de servir às Forças Armadas, a presença de Mafalda, no último quadrinho, reforça a ideia
de que as mulheres não concordam com o fato de o serviço militar obrigatório ser exclusivo para homens.

122
5. (Ita)

Analisando as duas tirinhas, NÃO se pode afirmar que


a) Calvin se revela incapaz de compreender o noticiário, diferentemente do pai de Mafalda.
b) Calvin e Mafalda, apesar de crianças, são críticos em relação ao conteúdo televisivo.
c) a reação de Calvin e a de Mafalda são diferentes diante do conteúdo televisivo.
d) ambas tratam da relação entre telespectador e mídia televisiva.
e) ambas apresentam personagens que questionam o noticiário veiculado pela TV.

6. (Espm)

A graça da tira acima se concentra no(a):


a) desapontamento do presidente da reunião, ao constatar um “ruído” na comunicação interna da em-
presa, devido à limitada capacidade interpretativa por parte dos subordinados.
b) fala irônica do superior de uma empresa, criticando a falta de compreensão, por parte de seus funcio-
nários, de uma linguagem figurada num memorando.
c) providência tomada por um dos participantes da reunião, depois de ter feito uma leitura lite¬ral de
um memorando.
d) repreensão enérgica do dirigente, dirigida a um dos elementos da palestra, por não entender mensa-
gem ambígua utilizada em informativo.
e) crítica subjacente no discurso do falante, direcionada a um dos presentes na reunião, por desconhecer
jargão comercial em aviso da empresa.

123
7. (G1 - ifpe) Leia a tirinha abaixo para res- I. O texto verbal, embora escrito, revela
ponder à questão. aproximação com a oralidade. A grafia da
palavra “nãm” evidencia esse aspecto.
II. Os falantes se utilizam de uma linguagem
com fortes marcas regionais, como, por
exemplo, a escolha da palavra “mainha”.
III. O diálogo entre mãe e filho revela o regis-
tro formal da linguagem, como podemos
perceber pela utilização das expressões
“venha cá pra eu...” e “que nem...”.
IV. O vocábulo “boizin”, formado a partir da
palavra inglesa “boy”, é uma marca lin-
guística típica de grupos sociais de jo-
vens e adolescentes.
V. Visto que todas as línguas naturais são
heterogêneas, podemos afirmar que a
fala de Júnio e sua mãe revelam precon-
ceito linguístico.
Estão CORRETAS apenas as afirmações conti-
das nas assertivas
a) I, II e IV.
Sobre a linguagem dos personagens da tiri- b) I, III e V.
nha, retirada da página do Facebook “Bode c) II, IV e V.
Gaiato”, avalie as assertivas abaixo. d) II, III e IV.
e) III, IV e V.

8. (G1 - ifal)

Pela ordem de aparecimento dos textos acima e, considerando o diálogo neles contido entre lin-
guagem verbal e linguagem não verbal, temos, respectivamente, as seguintes ideias:
a) o desemprego atinge níveis muito altos no país / as relações trabalhistas são injustas
b) o jornalismo também é atingido pelo desemprego / é necessário investir em mão de obra qualificada
c) o jornalismo é uma área profissional instável / o trabalhador é considerado um super-herói
d) as informações são velozes / há trabalhadores lentos
e) é preciso frieza no jornalismo / é necessário modernizar o trabalho

124
9. (G1 - cftmg)

A leitura do infográfico indica que


a) mulheres tendem a ser menos felizes do que homens.
b) jovens associam o envelhecimento ao aumento da dor.
c) os fatores de felicidade são mais intensos na juventude.
d) a percepção da felicidade é variável de acordo com a idade.

1
0. (G1 - cps) Para responder à questão, considere a tela Guernica, de Pablo Picasso (figura 1), pintada
em protesto ao bombardeio a cidade espanhola de mesmo nome, e a imagem criada pelo cartunista
argentino, Quino (figura 2).

Na cena criada por Quino, está presente a intertextualidade, pois


a) o humor surge em consequência da falta de dedicação e de empenho da faxineira no momento de
realizar as tarefas da casa.
b) a dona da casa é uma pessoa que aprecia pintura e possui várias obras de artistas cubistas em sua
residência.

125
c) as alterações realizadas pela faxineira na 1. (Ueg) Verifica-se que os versos e a pintura,
pintura de Picasso mantiveram a ideia origi- em razão das características que lhes são pe-
nal proposta pelo pintor para Guernica. culiares, pertencem respectivamente aos pe-
d) o cartunista reproduz a famosa pintura de ríodos
Picasso, inserindo-a em um novo contexto a) Árcade e Barroco
b) Romântico e Realista
que é a sala em desordem de uma residência.
c) Quinhentista e Naturalista
e) a faxineira irrita-se com a sujeira deixada
d) Modernista e Vanguardista
pelos adolescentes da casa os quais frequen-
temente realizam festas para os amigos.
2. (Ueg) Tendo por base a comparação entre o
poema e a pintura apresentados, verifica-se

E.O. Fixação que


a) o poema alude a questões de ordem social e
política, ao passo que a pintura faz referên-
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES cia a aspectos de teor material.
b) a pintura representa uma cena de teor espi-
Leia o poema e observe a pintura a seguir ritual, ao passo que o poema retrata elemen-
para responder à(s) questão(ões). tos concretos de uma paisagem pedregosa.
c) a pintura cristaliza um momento de louvor à
Destes penhascos fez a natureza força humana, ao passo que o poema discute
O berço, em que nasci: oh quem cuidara, questões atinentes à covardia do homem.
Que entre pedras tão duras se criara d) o poema sugere uma correspondência en-
Uma alma terna, um peito sem dureza! tre dureza da paisagem e dureza da alma,
ao passo que a pintura metaforiza questões
Amor, que vence os tigres, por empresa
mitológicas.
Tomou logo render-me ele declara
Centra o meu coração guerra tão rara,
3
. (Insper)
Que não me foi bastante a fortaleza
Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano:
Vós, que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei; que Amor tirano,
Onde há mais resistência mais se apura
COSTA, Claudio Manuel da. Soneto XCVIII.
Disponível em: <http://www.bibvirt.futuro.
usp.br>. Acesso em: 26 ago. 2015

A imagem acima, do aclamado fotógrafo


brasileiro Sebastião Salgado, mostra que as
fotografias, da mesma forma que os textos,
podem ser lidas e interpretadas. A opção de
colocar, no primeiro plano, figuras humanas
provoca no espectador uma atitude de
a) questionamento sobre a hostilidade da na-
tureza.
b) admiração pela beleza do cenário.
c) surpresa pelo jogo de luz e sombra.
d) mobilização para combater as injustiças so-
ciais.
e) reflexão sobre desamparo e fragilidade.

126
4. (Ueg) Analise as imagens.

No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro recebeu uma série de intervenções de moder-
nização e saneamento em sua infraestrutura urbana. Muitas foram as consequências das ações
governamentais, entre as quais a expulsão da população de suas casas no episódio conhecido como
“desmonte do Morro do Castelo”, que deu lugar à Avenida Central.
Uma comparação entre a fotografia e a charge revela que há
a) um contraste entre a desocupação do morro e a reforma destinada à elite econômica, que pode ser
observado pela expressividade do desenho e pela precisão na captação da imagem da nova avenida.
b) uma semelhança entre a expulsão da população do morro e a ocupação da nova avenida carioca, que
pode ser notada pela imprecisão do desenho e pela beleza do lugar registrado na imagem.
c) uma diferença entre a retirada da população de baixa renda da área central e a criação da nova aveni-
da, que pode ser constatada pelo uso da mesma linguagem visual nas duas imagens.
d) uma disparidade entre o exílio da população da área central e a instalação da nova avenida, que pode
ser vista pela semelhança da técnica de representação entre o desenho e o registro da imagem.

5. (Ueg) Analise a imagem.

A imagem retrata a morte de Tiradentes, um dos mais importantes personagens nacionais brasi-
leiros. Ela representa uma
a) concepção de composição e estética, na qual se nota a nítida influência das vanguardas modernistas.
b) intenção de imitar as pinturas da Idade Média, mostrando a semelhança de Tiradentes com Jesus Cristo.
c) tentativa de desconstruir a visão mítica sobre Tiradentes, retratando-o extremamente humanizado.
d) vinculação com as tradicionais pinturas históricas do século XIX, que idealizavam os heróis pátrios.

127
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Na minha frente, ficamos nos olhando. Eu também dançava agora, acompanhando o movimento
dele. Assim: quadris, coxas, pés, onda que desce olhar para baixo, voltando pela cintura até os om-
bros, onda que sobe, então sacudir os cabelos molhados, levantar a cabeça e encarar sorrindo. Ele
encostou o peito suado no meu. Tínhamos pelos, os dois. Os pelos molhados se misturavam. Ele es-
tendeu a mão aberta, passou no meu rosto, falou qualquer coisa. O que, perguntei. Você é gostoso,
ele disse. E não parecia bicha nem nada: apenas um corpo que por acaso era de homem gostando
de outro corpo, o meu, que por acaso era de homem também. Eu estendi a mão aberta, passei no
rosto dele, falei qualquer coisa. O que, perguntou. Você é gostoso, eu disse. Eu era apenas um corpo
que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o dele, que por acaso era de homem também.
(Adaptado de: ABREU, C. F. Terça-feira gorda. In: . Morangos mofados. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 51.)

6. (Uel) Consideradas as fotos e o trecho do conto de Caio Fernando Abreu, é correto afirmar:
a) Em cerca de 60 anos, a sociedade perdeu seus valores morais, mas a opressão do homem sobre a mulher
se mantém.
b) A homossexualidade passou recentemente a ter espaço na mídia, condenando comportamentos e in-
centivando preconceitos.
c) A arte permite a reflexão a respeito das contradições dos valores sociais e das transformações de pa-
drões morais.
d) O amor, hetero ou homossexual, perdeu seu espaço para as perversões sexuais exibidas pela mídia e
retratadas na literatura.
e) As interdições sociais são permitidas nas festividades, principalmente no carnaval e em comemorações
cívicas.

7. (G1 - ifal)

Pode-se depreender dessa charge somente que


a) a manifestação do filho de querer aprender a ler e a escrever demonstra, para a mãe, que ele só deseja
coisas que pertencem ao mundo dos ricos.
b) os atos da leitura e da escrita são, claramente para o garoto, uma forma de desagravo da desigualdade
social.
c) os estados oferecem, no geral, padrões similares de oportunidades educacionais para os estudantes
brasileiros.
128
d) a crescente qualidade do ensino nas regiões mais pobres do país tem permitido uma educação adequa-
da para as crianças de famílias que vivem à beira da miséria.
e) a escola é comumente vista como instrumento de melhoria da situação de vida, para uma população
nas condições das personagens envolvidas.

8. (Upe-ssa 2)

A propósito do texto acima e de seus recursos multimodais, analise as proposições a seguir.


I. Ao encobrir parte da cena, o primeiro quadrinho cria certa expectativa sobre quem é o interlo-
cutor de Mônica, o que só é mostrado no segundo quadrinho.
II. No segundo quadrinho, a identidade da mulher (uma bruxa) é apresentada principalmente por
meio de recursos não verbais.
III. Os traços em forma de semicírculo e ‘a poeira’ em movimento em torno da vassoura indicam
que esse objeto está ‘ligado’, é autônomo para se movimentar e, portanto, deve pertencer a uma
bruxa.
IV. O humor da tira tem relação com o fato de Mônica interrogar a bruxa com muita seriedade, à
procura de evidências de que ela é a dona da vassoura.
Estão CORRETAS:
a) I e III, apenas.
b) I, II e III, apenas.
c) I e IV, apenas.
d) II e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

9. (G1 - cp 2) A tirinha critica o fato de que as pessoas


a) não desejam mudanças nem querem viver num mundo melhor e mais harmônico.
b) desejam mudanças e estão dispostas a rever hábitos e comportamentos.
c) desejam mudanças, mas não estão dispostas a abandonar os hábitos de consumo.
d) não desejam mudanças, mas estão dispostas a um novo comportamento.

129
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Analise esta charge e responda.

1
0. (G1 - ifal) A palavra “escolarização” significa, de acordo com o Dicionário Aurélio, “s.f. Ação ou
efeito de escolarizar”, e esta, por sua vez, significa “v.t.d. Submeter ao ensino escolar”. Baseado
nesses conceitos, assinale a única alternativa que não corresponde a uma leitura possível da char-
ge.
a) A animação do primeiro garoto diante da manchete do periódico deve-se ao fato de que quase todos
os brasileiros, entre 5 e 17 anos, são alfabetizados, porque se submeteram ao ensino escolar.
b) Porque compra e lê jornal, entendendo claramente o conteúdo das notícias nele contidas, o primeiro
garoto é, necessariamente, um intelectual e tem padrão de vida melhor que o do amigo.
c) A informação do jornal na charge considera a escolarização apenas como um dado estatístico e não
como um processo de produção de conhecimento aliado ao de transformação social dos indivíduos.
d) Pela fala do segundo garoto, que demonstra falta de capacidade efetiva de leitura, para além da deco-
dificação, expõe-se a ideia de que a escolarização, considerada simplesmente como o acesso à escola
formal, não diminui os antagonismos sociais.
e) O fato de ambos os garotos saberem ler sugere que eles têm ou tiveram acesso ao ensino escolar, mas
que a aprendizagem se deu diferenciadamente entre os dois.

E.O. Complementar
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Leia o cartum e responda à(s) questão(ões).

130
1. (G1 - cps) O cartum lido trata de maneira cômica o problema vivenciado por um aluno. O humor
está baseado no fato de o aluno
a) não entender o tema da redação.
b) não ter permissão para usar o celular de seus familiares.
c) conseguir consertar seu computador que estava quebrado.
d) tratar como apavorante ficar sem acesso a dispositivos tecnológicos.
e) não poder terminar sua redação por conta da falta de energia elétrica.

2. (Uefs)

Considerando-se a análise dos pressupostos e subentendidos relacionados com os elementos ver-


bais e não verbais desse cartum de Caulos, é correto afirmar que nele está presente um recurso
estilístico denominado de
a) comparação, cotejando os valores e o lugar dos sujeitos em uma sociedade excludente.
b) paradoxo, sugerindo uma incompatibilidade ideológica referente aos que representam a força e a fra-
queza.
c) oximoro, explicitando, através de conceitos contrários, elementos que se complementam no contexto
público.
d) antítese, denunciando, por meio de figuras e vocábulos antagônicos, a desigualdade, a opressão e a
exploração social.
e) metonímia, substituindo os indivíduos e suas classes sociais por nomes que apresentam entre si ideias
contraditórias.

3. (Pucrs) Analise o gráfico com dados referentes aos países com mais cientistas no exterior.

A partir da análise do gráfico, pode-se concluir que


a) Suíça, Reino Unido e Holanda são os países com mais cientistas estrangeiros.
b) Espanha e Brasil estão à frente dos Estados Unidos na importação de cientistas estrangeiros.
c) quanto menor o percentual de cientistas no exterior, maior é o avanço tecnológico do país.
d) enquanto o Japão desponta como o país com menor percentual de cientistas no exterior, a Suíça
destaca-se como o maior exportador de cérebros.
e) a proximidade, no gráfico, do Brasil com os Estados Unidos sinaliza o fato de que o nosso desenvolvi-
mento tecnológico não está tão atrasado.

131
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Para responder à(s) questão(ões) a seguir, leia a tirinha abaixo.

4. (G1 - ifal) Considerando-se o que se expõe no texto da tirinha, qual das afirmações abaixo é incor-
reta?
a) A fala da personagem no primeiro quadrinho ecoa um discurso que assegura a posição social, política e
econômica das demais personagens, grupo de que, aparentemente, o orador não faz parte.
b) A fala das duas personagens no terceiro quadrinho revela a relação íntima entre variedade linguística de
prestígio e poder econômico e social.
c) A extrema formalidade e o preciosismo presentes na fala das personagens que integram a audiência podem
ser lidos como uma crítica ao uso de uma linguagem empolada como meio de embuste ideológico.
d) A recorrência à linguagem caricata e ao estereótipo faz parte do caráter argumentativo que marca essa tira.
e) Para a manutenção da desigualdade social, a participação da personagem que discursa no púlpito é nula, o
que se verifica na sua postura no segundo quadrinho.

5. (Upe-ssa 2) O Romantismo não é só um período literário, ele também é um movimento que abarca
as artes plásticas. Assim, analise as imagens a seguir.

132
Acerca dos textos acima, assinale com V as afirmativas Verdadeiras e com F as Falsas.
( ) É possível afirmar que esses textos têm em comum complexos valores ideológicos, próprios da
expressão plástica romântica.
( ) A Imagem 1 expressa uma das temáticas do Romantismo, isto é, a liberdade contra a tirania.
( ) A Imagem 2 dialoga com o Romantismo por tratar de uma temática cara aos românticos, que é
a exaltação do passado histórico e de caráter nacionalista.
( ) A Imagem 3 expressa, de forma dramática, a tragédia de um naufrágio. Nessa obra, é possível
identificar uma das características do Romantismo, a hipervalorização dos sentimentos, tanto
as do mundo físico natural como as emoções pessoais.
( ) A Imagem 4 dialoga com a obra de José de Alencar, O Uraguai, cuja protagonista é Iracema.
A sequência CORRETA, de cima para baixo é:
a) V – V – V – V – F
b) F – F – V – V – F
c) F – V – V – F – F
d) V – V – V – F – V
e) V – F – V – F – V

6. (G1 - ifba) Leia a tira a seguir e responda ao que se pede.

A tira “As cobras”, de autoria de Luis Fernando Veríssimo, expõe a opinião da lesma Flecha acerca
do machismo. Sobre isso, pode-se afirmar que:
a) explicitamente, Flecha se revela machista.
b) Flecha não possui, de fato, uma opinião formada a respeito da temática do machismo.
c) Flecha defende, em seus dois momentos de fala, um único ponto de vista, que é contrário a atitudes
machistas.
d) Flecha, através de uma opinião implícita, pode ser caracterizada como uma personagem que possui um
raciocínio machista.
e) a partir das duas falas, de forma explícita, podemos perceber a defesa de pontos de vista conflitantes
por parte da lesma Flecha.

7. (G1 - utfpr) Analise atentamente a charge e as assertivas sobre ela.

I. Inversamente ao texto verbal da charge, que registra o desejo feminino, a imagem mostra o
desejo do homem: “eliminar” mulheres com pensamentos como os expostos no primeiro qua-
drinho.
II. A imagem é apenas decorativa, pois o verdadeiro significado está na parte verbal do texto.
III. Trata-se de um texto que extrapola a linguagem verbal, combinando-a com imagens que dão
sustentação ao texto.

133
IV. A charge acima discute a questão de gênero, tão presente em nossa sociedade na atualidade.
V. Há um tom machista na charge, uma vez que evidencia que os desejos estabelecidos pela mu-
lher são prerrogativas masculinas.
Está(ão) correta(s) apenas:
a) III, IV e V.
b) I e II.
c) I, III e V.
d) III e IV.
e) III.

8. (G1 - epcar (Cpcar)) A partir da leitura da charge abaixo, é possível inferir que o/a

a) conceito da felicidade está de acordo com uma hierarquização de objetivos de vida.


b) último quadrinho adicionou um sentido falacioso no que se refere à conquista da felicidade.
c) conquista do Ipad torna-se o ideal de felicidade, que é alcançado pelo personagem da tira.
d) consumismo está indiretamente relacionado à busca da felicidade.

9. (G1 - ifal)

Analise a charge acima. Dela só não se pode inferir que


a) as carteiras enfileiradas e voltadas para a frente insinuam um modelo escolar tradicional, que dificulta a
troca de informações entre os estudantes.
b) a preocupação dos alunos que estão sentados, estudando, é a aprovação no vestibular e a competitivida-
de do mercado de trabalho.
c) ela é, considerando a fala da professora, uma crítica ao ensino que prioriza apenas a possibilidade de
ascensão dos indivíduos na hierarquia de prestígio social.
d) aquela aula, para a garotinha da janela, não reproduz o calor das ricas sensações da natureza.
e) os tapa-olhos usados pelos garotos sugerem o automatismo do ensino-aprendizagem naquele momento.

134
1
0. (Ufjf-pism 2) a) fruição coletiva.
b) estimulação do olhar.
c) projeção de imagens.
d) contemplação crítica.
e) interação com a obra.

2. (Enem PPL)
TEXTO I

Dentre as alternativas abaixo, qual concep-


ção de “jeitinho brasileiro” melhor corres-
ponde ao sentido expresso pela charge?
a) Desconhecimento da lei.
b) Conduta antiética.
c) Comportamento corrupto.
d) Capacidade de improvisação.
e) Falta de planejamento.

E.O. Enem
1. (Enem (Libras))
TEXTO II

Ao ser questionado sobre seu processo de


criação de ready-mades, Marcel Duchamp
afirmou:
– Isto dependia do objeto; em geral, era pre-
ciso tomar cuidado com o seu look. É muito
difícil escolher um objeto porque depois de
quinze dias você começa a gostar dele ou a
detestá-lo. É preciso chegar a qualquer coisa
com uma indiferença tal que você não tenha
nenhuma emoção estética. A escolha do re-
ady-made é sempre baseada na indiferença
visual e, ao mesmo tempo, numa ausência
total de bom ou mau gosto.
CABANNE, P. Marcel Duchamp: engenheiro do tempo
perdido. São Paulo: Perspectiva, 1987 (adaptado).

Relacionando o texto e a imagem da obra,


entende-se que o artista Marcel Duchamp,
ao criar os ready-mades, inaugurou um modo
de fazer arte que consiste em
a) designar ao artista de vanguarda a tarefa de
ser o artífice da arte do século XX.
b) considerar a forma dos objetos como ele-
mento essencial da obra de arte.
c) revitalizar de maneira radical o conceito
clássico do belo na arte.
Os registros fotográficos de Yard e Deep d) criticar os princípios que determinam o que
Walls apresentam uma característica comum é uma obra de arte.
a muitas obras de arte contemporânea, que e) atribuir aos objetos industriais o status de
se traduz no convite à obra de arte.

135
3. (Enem PPL) O gravador Oswaldo Goeldi recebeu fortes in-
fluências de um movimento artístico europeu
do início do século XX, que apresenta as ca-
racterísticas reveladas nos traços da obra de
a)

b)

Em 1956, o artista Flávio de Resende Car-


valho desfilou pela Avenida paulista com o
traje New Look, uma proposta tropical para o
guarda-roupa masculino. Suas obras mais co-
nhecidas são relacionadas às performances. A
imagem permite relacionar como característi-
cas dessa manifestação artística o uso
c)
a) da intimidade, da política e do corpo.
b) do público, da ironia e da dor.
c) do espaço urbano, da intimidade e do drama.
d) da moda, do drama e do humor.
e) do corpo, da provocação e da moda.

4. (Enem) TEXTO I

d)

TEXTO II
Na sua produção, Goeldi buscou refletir seu ca- e)
minho pessoal e político, sua melancolia e pai-
xão sobre os intensos aspectos mais latentes
em sua obra, como: cidades, peixes, urubus,
caveiras, abandono, solidão, drama e medo.
ZULIETTI, L. F. Goeldi: da melancolia ao inevitável. Revista
de Arte, Mídia e Política. Acesso em: 24 abr. 2017 (adaptado).

136
5. (Enem PPL) Na imagem e no texto do romance de Mar-
guerite Duras, os dois autorretratos apontam
para o modo de representação da subjetivi-
dade moderna. Na pintura e na literatura
modernas, o rosto humano deforma-se, des-
trói-se ou fragmenta-se em razão
a) da adesão à estética do grotesco, herdada
do romantismo europeu, que trouxe novas
possibilidades de representação.
b) das catástrofes que assolaram o século XX
e da descoberta de uma realidade psíquica
pela psicanálise.
c) da opção em demonstrarem oposição aos
limites estéticos da revolução permanente
trazida pela arte moderna.
d) do posicionamento do artista do século XX
contra a negação do passado, que se torna
prática dominante na sociedade burguesa.
e) da intenção de garantir uma forma de criar
obras de arte independentes da matéria pre-
A pintura Napoleão cruzando os Alpes, do ar- sente em sua história pessoal.
tista francês Jacques Louis-David, produzida
em 1801, contempla as características de um 7. (Enem)
estilo que
a) utiliza técnicas e suportes artísticos inova-
dores.
b) reflete a percepção da população sobre a re-
alidade.
c) caricaturiza episódios marcantes da história
europeia.
d) idealiza eventos históricos pela ótica de gru-
pos dominantes.
e) compõe obras com base na visão crítica de
artistas consagrados.

6. (Enem)

Texto I

O Surrealismo configurou-se como uma das


vanguardas artísticas europeias do início do
século XX. René Magritte, pintor belga, apre-
senta elementos dessa vanguarda em suas
produções. Um traço do Surrealismo presen-
te nessa pintura é o(a)
a) justaposição de elementos díspares, observa-
da na imagem do homem no espelho.
Texto II b) crítica ao passadismo, exposta na dupla ima-
gem do homem olhando sempre para frente.
Tenho um rosto lacerado por rugas secas e pro- c) construção de perspectiva, apresentada na
fundas, sulcos na pele. Não é um rosto desfei- sobreposição de planos visuais.
to, como acontece com pessoas de traços deli- d) processo de automatismo, indicado na repe-
cados, o contorno é o mesmo mas a matéria foi tição da imagem do homem.
destruída. Tenho um rosto destruído. e) procedimento de colagem, identificado no
DURAS, M. O amante. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1985. reflexo do livro no espelho.

137
8. (Enem)

Opportunity é o nome de um veículo explorador que aterrissou em Marte com a missão de enviar
informações à Terra. A charge apresenta uma crítica ao(à)
a) gasto exagerado com o envio de robôs a outros planetas.
b) exploração indiscriminada de outros planetas.
c) circulação digital excessiva de autorretratos.
d) vulgarização das descobertas espaciais.
e) mecanização das atividades humanas.

9. (Enem)

O objeto escultórico produzido por Lygia Clark, representante do Neoconcretismo, exemplifica o


início de uma vertente importante na arte contemporânea, que amplia as funções da arte. Tendo
como referência a obra Bicho de bolso, identifica-se essa vertente pelo(a)
a) participação efetiva do espectador na obra, o que determina a proximidade entre arte e vida.
b) percepção do uso de objetos cotidianos para a confecção da obra de arte, aproximando arte e realidade.
c) reconhecimento do uso de técnicas artesanais na arte, o que determina a consolidação de valores
culturais.
d) reflexão sobre a captação artística de imagens com meios óticos, revelando o desenvolvimento de uma
linguagem própria.
e) entendimento sobre o uso de métodos de produção em série para a confecção da obra de arte, o que
atualiza as linguagens artísticas.

138
1
0. (Enem)

A contemporaneidade identificada na performance / instalação do artista mineiro Paulo Nazareth


reside principalmente na forma como ele
a) resgata conhecidas referências do modernismo mineiro.
b) utiliza técnicas e suportes tradicionais na construção das formas.
c) articula questões de identidade, território e códigos de linguagens.
d) imita o papel das celebridades no mundo contemporâneo.
e) camufla o aspecto plástico e a composição visual de sua montagem.

E.O. UERJ - Exame de Qualificação


TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES

1. (UERJ) No primeiro quadrinho, a declaração feita pela personagem indica um pressuposto acerca
do universo escolar.
Esse pressuposto pode ser associado, na escola, à seguinte prática:
a) negação do patriotismo
b) intolerância à diversidade
c) desestímulo às indagações
d) reprovação de brincadeiras

2. (UERJ) Todo o raciocínio da personagem pode ser expresso na fórmula dedutiva “se A, então B”.
Para que essa fórmula esteja de acordo com o raciocínio da personagem, ela deve ser redigida da
seguinte maneira:
a) Se escolhemos onde nascer, então amar a pátria não é uma obrigação.
b) Se não escolhemos onde nascer, então amar a pátria é uma conveniência.
c) Se a professora se zanga com perguntas, então eu não devo fazer uma redação só com perguntas.
d) Se a professora não se zanga com perguntas, então eu posso fazer uma redação só com perguntas.

139
3. (UERJ) O uso de palavras que se referem a termos já enunciados, sem que seja necessário repeti-
-los, faz parte dos processos de coesão da linguagem.
Na pergunta feita no segundo quadrinho, uma palavra empregada com esse objetivo é:
a) nós
b) aqui
c) nossa
d) porque

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES

4. (UERJ) No último quadrinho, formula-se uma analogia moral, quando se sugere que não é possí-
vel ver tudo o que acontece à frente dos olhos.
A partir dessa analogia, pode-se chegar à seguinte conclusão:
a) a verdade absoluta não existe
b) a existência não tem explicação
c) o homem não é o centro do mundo
d) o curso da vida não pode ser mudado

5. (UERJ) As ausências da moldura e da imagem são recursos gráficos que contribuem para o sentido
do texto.
A relação entre esses recursos gráficos e a mensagem contida no terceiro quadrinho possui um
sentido de:
a) ironia
b) reforço
c) negação
d) contradição

6. (UERJ) O personagem presente no último quadrinho é um ácaro, um ser microscópico. Suas falas
têm relação direta com seu tamanho. No contexto, é possível compreender a imagem do persona-
gem como uma metonímia.
Essa metonímia representa algo que se define como:
a) invisível
b) expressivo
c) inexistente
d) contraditório

140
7. (UERJ)

No cartum apresentado, o significado da palavra escrita é reforçado pelos elementos visuais, pró-
prios da linguagem não verbal.
A separação das letras da palavra em balões distintos contribui para expressar principalmente a
seguinte ideia:
a) dificuldade de conexão entre as pessoas
b) aceleração da vida na contemporaneidade
c) desconhecimento das possibilidades de diálogo
d) desencontro de pensamentos sobre um assunto

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:

8. (UERJ) Em geral, nos textos em quadrinhos, o sentido é construído por elementos verbais e não
verbais.
Nestes quadrinhos, o uso apenas de balões de pensamento reforça, a respeito do herói, a seguinte
característica:
a) tom de revolta
b) orgulho ferido
c) condição solitária
d) sentimento de culpa

141
9. (UERJ) Nas falas do personagem há uma frase interrogativa. No contexto, essa frase tem a função de:
a) desfazer uma incerteza
b) relativizar uma opinião
c) buscar um interlocutor
d) demonstrar uma realidade

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

1
0. (UERJ) O quadro produz um estranhamento em relação ao que se poderia esperar de um pintor que
observa um modelo para sua obra. Esse estranhamento contribui para a reflexão principalmente
sobre o seguinte aspecto da criação artística:
a) perfeição da obra
b) precisão da forma
c) representação do real
d) importância da técnica

E.O. Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)


1. (Fuvest) Examine o cartum.

O efeito de humor presente no cartum decorre, principalmente, da


a) semelhança entre a língua de origem e a local.
b) falha de comunicação causada pelo uso do aparelho eletrônico.
c) falta de habilidade da personagem em operar o localizador geográfico.
d) discrepância entre situar-se geograficamente e dominar o idioma local.
e) incerteza sobre o nome do ponto turístico onde as personagens se encontram.

142
2. (Unesp) Na Europa, os artistas continuam a explorar caminhos traçados pelos primeiros pintores
abstratos. Mas a abstração desses artistas não é geométrica: sua pintura não representa nenhuma
realidade, tampouco procura reproduzir formas precisas. Cada artista inventa sua própria lingua-
gem. Cores, formas e luz são exploradas, desenvolvidas e invadem as telas. Traços vivos e dinâmi-
cos... Para cada um, uma abstração, um lirismo.
(Christian Demilly. Arte em movimentos e outras correntes do século XX, 2016. Adaptado.)

O comentário do historiador Christian Demilly aplica-se à obra reproduzida em:


a) b) c)

d) e)

3. (Unifesp) Tal vanguarda rompeu radicalmente com a ideia de arte como imitação da natureza, pre-
valecente na pintura europeia desde a Renascença. Seus principais adeptos abandonaram as noções
tradicionais de perspectiva, tentando representar solidez e volume numa superfície bidimensional,
sem converter pela ilusão a tela plana num espaço pictórico tridimensional. Múltiplos aspectos do
objeto eram figurados simultaneamente; as formas visíveis eram analisadas e transformadas em pla-
nos geométricos, que eram recompostos segundo vários pontos de vista simultâneos. Tal vanguarda
era e dizia ser realista, mas tratava-se de um realismo conceitual, e não óptico.
(Ian Chilvers (org). Dicionário Oxford de arte, 2007. Adaptado.)

Uma pintura representativa da vanguarda à qual o texto se refere está reproduzida em:
a) b) c)

d) e)

143
4. (Unifesp) Nesta obra, o observador é atraído por uma ideia poética: a de um objeto que assume a
substância do material em que se sente à vontade.
(Marcel Paquet. René Magritte: o pensamento tornado visível, 2000. Adaptado.)

Tal comentário aplica-se à seguinte obra do pintor belga René Magritte (1898-1967):
a) b) c)

d) e)

5. (Unicamp)

Pobre alimária
O cavalo e a carroça
Estavam atravancados no trilho
E como o motorneiro se impacientasse
Porque levava os advogados para os escritórios
Desatravancaram o veículo
E o animal disparou
Mas o lesto carroceiro
Trepou na boleia
E castigou o fugitivo atrelado
Com um grandioso chicote
(Oswald de Andrade, Pau Brasil. São Paulo: Globo, 2003, p.159.)

144
A imagem e o poema revelam a dinâmica do 7. (Unifesp) O mundo dessa pintura, como o
espaço na cidade de São Paulo na primeira dos sonhos, é ao mesmo tempo familiar e
metade do século XX. desconhecido: familiar, em razão do estilo
Qual alternativa abaixo formula corretamen- minuciosamente realista, que permite ao
te essa dinâmica? espectador o reconhecimento de uma figura
a) Trata-se da ascensão de um moderno mundo ou de um objeto pintados; desconhecido, por
urbano, onde coexistiam harmonicamente causa da estranheza dos contextos em que
diferentes temporalidades, funções urba- eles aparecem, como num sonho.
nas, sistemas técnicos e formas de trabalho, (Fiona Bradley. Surrealismo, 2001. Adaptado.)

viabilizando-se, desse modo, a coesão entre O comentário da historiadora de arte aplica-


o espaço da cidade e o tecido social. -se à pintura reproduzida em:
b) Trata-se de um espaço agrário e acomoda- a)
do, num período em que a urbanização não
tinha se estabelecido, mas que abrigava em
seu interstício alguns vetores da moderniza-
ção industrial.
c) Trata-se de um espaço onde coexistiam dis-
tintas temporalidades: uma atrelada ao rit-
mo lento de um passado agrário e, outra, b)
atrelada ao ritmo acelerado que caracteriza
a modernidade urbana.
d) Trata-se de uma paisagem urbana e uma
divisão do trabalho típicas do período co-
lonial, pois a metropolização é um processo
desencadeado a partir da segunda metade do
século XX.

6. (Unifesp)
c)

d)

e)

A conhecida pintura de Pedro Américo (1840-


1905) remete a um fato histórico relacionado
à seguinte escola literária brasileira:
a) Barroco.
b) Arcadismo.
c) Naturalismo.
d) Realismo.
e) Romantismo.

145
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES

Examine este cartum para responder à(s) questão(ões) a seguir.

8. (Fuvest) No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o


juízo emitido pela personagem seja considerado
a) incoerente.
b) parcial.
c) anacrônico.
d) hipotético.
e) enigmático.

9. (Fuvest) Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguin-
te recurso:
a) utilização paródica de um provérbio de uso corrente.
b) emprego de linguagem formal em circunstâncias informais.
c) representação inverossímil de um convívio pacífico de cães e gatos.
d) uso do grotesco na caracterização de seres humanos e de animais.
e) inversão do sentido de um pensamento bastante repetido.

1
0. (Unifesp) Leia a charge.

É correto afirmar que a charge visa


a) apoiar a atitude dos alunos e propor a liberação geral da frequência às aulas.
b) enaltecer a escola brasileira e homenagear o trabalho docente.
c) indicar a deflagração de uma greve e incentivar a adesão a ela.
d) recriminar os alunos e declarar apoio à política educacional.
e) criticar a situação atual do ensino e denunciar a evasão escolar.

146
E.O. Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. (Unesp) Examine a tira do cartunista argentino Quino (1932- ).

Pelo conteúdo de sua redação, depreende-se que o personagem Manuel Goreiro (o “Manolito”), além
de estudar, exerce outra atividade. Transcreva o trecho em que esta outra atividade se mostra mais
evidente.
No trecho “As lojas fecham mais tarde por quê não escurese mais tamcedo”, verificam-se alguns des-
vios em relação à norma-padrão da língua. Reescreva este trecho, fazendo as correções necessárias.
Por fim, reescreva o trecho final da redação (“nós ficamos muito mais contentes com a primavera
com a chegada dela”), desfazendo a redundância nele contida.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

A(s) questão(ões) a seguir toma(m) por base uma passagem de uma palestra de Amadeu Amaral
(1875-1929) proferida em São Paulo, em 1914, e uma charge de Dum.
Árvores e poetas
Para o botânico, a árvore é um vegetal de grande altura, composto de raiz, tronco e fronde, sub-
dividindo-se cada uma dessas partes numa certa quantidade de elementos: – reduz-se tudo a um
esquema. O botânico estuda-lhe o nascimento, o crescimento, a reprodução, a nutrição, a morte;
descreve-a; classifica-a. Não lhe liga, porém, maior importância do que aquela que empresta ao mais
microscópico dos fungos ou ao mais desinteressante dos cogumelos. O carvalho, com toda a sua cor-
pulência e toda a sua beleza, vale tanto como a relva que lhe cresce à sombra ou a trepadeira despre-
zível e teimosa que lhe enrosca os sarmentos1 colubrinos2 pelas rugosidades do caule. Por via de regra
vale até menos, porque as grandes espécies já dificilmente deparam qualquer novidade. Para o juris-
ta, a árvore é um bem de raiz, um objeto de compra e venda e de outras relações de direito, assim
como a paisagem que a enquadra – são propriedades particulares, ou terras devolutas. E há muita
gente a quem a vista de uma grande árvore sugere apenas este grito de alma: – “Quanta lenha!...”
O poeta é mais completo. Ele vê a árvore sob os aspectos da beleza e sob o ângulo antropomórfico3:
encara-a de pontos de vista comuns à humanidade de todos os tempos. Vê-a na sua graça, na sua
força, na sua formosura, no seu colorido; sente tudo quanto ela lembra, tudo quanto ela sugere, tudo
quanto ela evoca, desde as impressões mais espontâneas até as mais remotas, mais vagas e mais in-
definíveis. Dá-nos, assim, uma noção “humana”, direta e viva da árvore, – pelo menos tão verdadeira
quanto qualquer outra.
(Letras floridas, 1976.)
1
sarmento: ramo delgado, flexível.
2
colubrino: com forma de cobra, sinuoso.
3
antropomórfico: descrito ou concebido sob forma humana ou com atributos humanos.

147
2. (Unesp) Qual a intenção da personagem da charge ao se valer do argumento de que a floresta
invadiu suas terras? Analise tal argumento sob os pontos de vista lógico e ético.

3. (Unicamp)

A intervenção urbana acima reproduzida foi criada pelo Coletivo Transverso, um grupo envolvido
com arte urbana e poesia, que afixou cartazes como esses em muros de uma grande cidade.
a) Que outro texto está referido em “SEGURO MORREU DE TÉDIO”?
b) A relação entre os dois textos – o do cartaz e aquele a que ele remete - é importante para a interpre-
tação dessa intervenção urbana? Justifique sua resposta.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

A(s) questão(ões) a seguir tomam por base um trecho do artigo “Horror a aprender” (06.01.1957),
escrito pelo historiador e crítico literário Afrânio Coutinho (1911-2000), e uma tira do blogue
Blogloides.

Horror a aprender
Se quiséssemos numa fórmula definir a mentalidade mais ou menos generalizada dos que militam
na vida literária brasileira, não lograríamos descobrir outra que melhor se prestasse do que esta:
horror a aprender. Nosso autodidatismo enraizado, nossa falta de hábito universitário, fazem com
que aprender, entre nós, seja motivo de inferioridade intelectual. Ninguém gosta de aprender.
Ninguém se quer dar ao trabalho de aprender. Porque já se nasce sabendo. Todos somos mestres
antes de ser discípulos. Aprender o quê? Pois já sabemos tudo de nascença! Ignoramos essa ver-
dade de extrema sabedoria: só os bons discípulos dão grandes mestres, e só é bom mestre quem
foi um dia bom discípulo e continua com o espírito aberto a um perpétuo aprendizado. Quem sabe
aprender sabe ensinar, e só quem gosta de aprender tem o direito de dar lições. Como pode divul-
gar e orientar conhecimentos quem mantém o espírito impermeável a qualquer aprendizagem?
Nossos jovens intelectuais, em sua maioria, primam pelo pedantismo, autossuficiência e falta de
humildade de espírito. São mestres antes de ter sido discípulos. Saber não os preocupa, estudar,
ninguém lhes viu os estudos. É só meter-lhes na mão uma pena e cair-lhes ao alcance uma coluna
de jornal, e lá vem doutrinação leviana e prosa de meia-tigela. Não lhes importa verificar se estão
arrombando portas abertas ou chovendo no molhado.
(No hospital das letras, 1963.)

148
4. (Unesp) Considerando a natureza dos res-
pectivos gêneros textuais, estabeleça a dife-
Gabarito
rença entre o artigo e a tira quanto ao modo
de manifestarem seus julgamentos críticos. E.O. Aprendizagem
1. A 2. C 3. B 4. A 5. A
5. (Fuvest) Examine o seguinte anúncio publi-
citário: 6. C 7. A 8. A 9. D 10. D

E.O. Fixação
1. A 2. B 3. E 4. A 5. A

6. C 7. A 8. E 9. C 10. B

E.O. Complementar
1. D 2. D 3. D 4. E 5. A

6. D 7. A 8. B 9. B 10. D

E.O. Enem
1. E 2. D 3. E 4. A 5. D

6. B 7. A 8. C 9. A 10. C

E.O. UERJ
a) Qual é a relação de sentido existente entre a Exame Objetivo
imagem de uma folha de árvore e as expres- 1. C 2. B 3. B 4. C 5. B
sões “Mapeamento logístico” e “caminho”,
empregadas no texto que compõe o anúncio 6. A 7. A 8. C 9. B 10. C
acima reproduzido?
b) A que se refere o advérbio “aqui”, presente
no texto do anúncio?
E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. D 2. D 3. C 4. D 5. C

6. B 7. C 8. B 9. E 10. E

E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1.
O trecho “a gente não vende mais nada”
deixa implícita a referência à atividade de
Manuel Goreiro (“Manolito”): empregado de
comércio. Para transcrever o trecho mencio-
nado sem os desvios gramaticais típicos de
uma alfabetização ainda incipiente, tería-
mos a seguinte redação: as lojas fecham mais
tarde porque não escurece mais tão cedo. A
redundância presente no trecho final da re-
dação poderia ser suprimida com a seguinte
alteração: nós ficamos muito mais contentes
com a chegada da primavera.

149
2.
Ao afirmar que a floresta invadiu suas ter-
ras, a intenção da personagem da charge é
defender a expansão do agronegócio mesmo
às custas da destruição da natureza. A per-
sonagem coloca-se como vítima e a floresta,
como destruidora. Trata-se de uma inversão
do que, de fato, acontece, uma lógica absur-
da; mas que serve aos interesses do grupo
ruralista. Tal visão desrespeita a ética da
sociedade, pois interesses coletivos, a pre-
servação ambiental, são substituídos por in-
teresses privados, e a expansão do agronegó-
cio.
3.
a) O cartaz criado pelo Coletivo Transverso
faz referência ao provérbio popular: o se-
guro morreu de velho.
b) Não necessariamente, para entender a in-
tervenção não há necessidade de um co-
nhecimento prévio. Para a compreensão
do sentido da mensagem, basta entender
a mensagem atual: que muita segurança,
muitas vezes, leva a vida a uma rotina
tal que pode ser tediosa e, consequente-
mente, pouco criativa. Por outro lado, ao
saber da intertextualidade com o dito po-
pular, pode-se acrescentar mais agilidade
à compreensão da mensagem, já que são
ativadas relações vivenciais com o que
está escrito. O cartaz do grupo Coletivo
Transverso critica a segurança, compa-
rando-a com o comodismo, com a falta de
imaginação e o tédio.
4.
Os textos expressam a mesma visão crítica
sobre o comportamento da sociedade atual
relativamente ao conhecimento e exposição
de assuntos que acrescentem valor ao que
já foi investigado e publicado. O primeiro
apresenta tese, argumentação e conclusão,
configurando um texto dissertativo em lin-
guagem formal. O segundo texto, por se tra-
tar de uma tirinha, portanto texto verbal
e não verbal, utiliza linguagem coloquial e
“gírias”, como “saquei” e “povo cabeça”.
5.
a) As nervuras da folha assemelham-se a
desenhos de rotas e caminhos traçados
em mapas, relacionando-se, desta forma,
com a expressão “mapeamento logístico”,
no sentido de planejamento estratégico
para desenvolvimento de uma indústria
competitiva na região da Amazônia.
b) O advérbio “aqui” refere-se à imagem da
folha da planta amazônica e, metaforica-
mente, a toda a floresta.

150
INFOGRÁFICO:
Abordagem da LITERATURA nos principais vestibulares.

FUVEST - A maior parte das questões de literatura da Fuvest se refere às obras obrigatórias.
Neste caderno, você encontrará alguns desses exercícios de anos anteriores sobre Realismo no
Brasil, Naturalismo, Parnasianismo e Simbolismo. Os livros Memórias póstumas de Brás Cubas, de
Machado de Assis, e O cortiço, de Aluísio Azevedo, são contemplados nas escolas literárias deste
caderno e estão na lista de obras da Fuvest.

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UNICAMP - A maior parte das questões de literatura da Unicamp
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1963
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se refere às obras obrigatórias. Neste caderno, você encontrará al-
guns desses exercícios de anos anteriores sobre o Realismo no Bra-
sil, Naturalismo, Parnasianismo e Simbolismo.Atenção conto realista
“O espelho”, de Machado de Assis, que estão na lista de obras da
Unicamp.

UNESP - Como a Unesp não possui uma lista


obrigatória de livros, os exercícios desse vestibu-
UNIFESP - Como a Unifesp não possui uma lista obri-
lar contemplam os conhecimentos das escolas
gatória de livros, os exercícios desse vestibular con-
literárias, bem como de seus principais represen-
templam os conhecimentos das escolas literárias, bem
tantes. Neste caderno, estão presentes questões
como de seus principais representantes. Neste caderno,
sobre Realismo no Brasil, Naturalismo, Parnasia-
estão presentes questões sobre Realismo no Brasil, Na-
nismo e Simbolismo.
turalismo, Parnasianismo e Simbolismo.

ENEM / UFRJ - Como o Enem não possui uma lista obrigatória de livros, os exer-
cícios desse exame contemplam os conhecimentos das escolas literárias, bem como
de seus principais representantes.

UERJ - Neste caderno, você encontrará um estudo sobre o exame de qualificação da Uerj,
no que tange a um dos cinco livros escolhidos para o vestibular 2019. Faz parte deste ca-
derno o conto O Alienista, de Machado de Assis. Essa é uma das obras magnas do escritor e
representa o Realismo brasileiro na modalidade do romance psicológico.
Aula 14

Realismo no Brasil
Competência 5
Habilidades 15, 16 e 17
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Realismo no Brasil
O contexto brasileiro
A lição dos contemporâneos portugueses, notadamente Eça de Queirós, e franceses, Stendhal de preferência, foi
decisiva para os autores realistas brasileiros fortemente influenciados por eles.
A família burguesa já não era mais o
único foco da literatura, como havia aconte-
cido no Romantismo. Os realistas ocupavam-
-se de outras classes sociais e da alma delas.
A crise matrimonial, o papel da mulher nas
relações sociais e o operariado passam a ser
temas e personagens nessa literatura. Retra-
tar a vida em sociedade, descrever cenas, am-
bientes e comportamentos passa a fazer parte
considerável das obras literárias.
Registrar a realidade torna-se uma prio-
ridade. Os oportunismos disfarçados, as falsas
devoções e a moral de aparência são temas que
passam a integrar o universo do romance.
Tal como em Portugal, o Realismo/
Naturalismo no Brasil esteve muito ligado
às ideias estéticas, científicas e filosóficas
europeias – positivismo, darwinismo, natu-
rismo, cientificismo – que provocaram bas-
tante repercussão.
As mudanças que o tempo impôs
coincidiram, por sua vez, com o rápido declí-
Foto da rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, em 1863, no apogeu da Belle Époque. nio do Segundo Império de Pedro II, após a
Foi cenário de O livreiro da rua Ouvidor, conto de Machado de Assis. Guerra do Paraguai.

Não só o abolicionismo foi contemporâneo ao Realismo/Naturalismo. O movimento Republicano, em 1870,


também propunha trocar o trabalho escravo pela mão de obra imigrante.

Missa campal em 1888 comemora a abolição da escravatura e conta com a presença da Princesa Isabel.

155
As campanhas abolicionista e republicana tiveram início a partir de 1870 e formaram um movimento
político que dominou o Brasil e toda a América Latina, voltado para as grandes reivindicações urbanas que já
haviam triunfado nos Estados Unidos e na Europa. A aristocracia rural entrava em decadência e a monarquia
mostrava-se um regime superado.

O final do século XIX é um tempo de muitas transformações na vida brasileira. Em 1888, é abolida definitiva-
mente a escravidão. No ano seguinte, como resultado de um golpe militar, é proclamada a República. A Cidade
do Rio de Janeiro cumpre, em 1889, mais uma vez, um papel simbólico fundamental, pois é diante de sua Câ-
mara Municipal, dissolvido o parla-
mento do Império, que se dá a posse
dos membros do Governo Provisório
da República, em vias de institucio-
nalização. A República, porém, não
extirpará num passe da mágica as
mazelas do Brasil antigo, nem termi-
nará com as profundas contradições
sociais existentes no país. [...] O Rio
de Janeiro, como cenário do novo re-
gime, torna-se objeto de atenção das
preocupações cientificistas da época.
Movida pela ideologia do progresso,
a virada do século será marcada pela
ideia de modernização urbana – que
caracterizará todo o século XX.
[SANTOS, Afonso Carlos Mar-

ques dos. Do livramento ao Cos-

me Velho: o Rio de Machado de

Assis. Disponível em: <revistaipotes.ufjf.br>].

156
A literatura do final do Império
A literatura realista no Brasil foi marcada pelo registro do tipo brasileiro no fim do Império. Chamaram a atenção
romances e contos de Machado de Assis, bem como a obra de Raul Pompeia – aversão explícita aos padrões
conservadores da época.
Se ainda vingava a narrativa psicológica, crescia a produção
literária voltada para as realidades sociais. O romance naturalista
sublinhava os aspectos mais brutais desse meio e posicionava-se
face ao que expunha: denunciava, instigava a consciência do leitor,
solicitava opções. Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha, Inglês de Sou-
za e Júlio Ribeiro foram escritores naturalistas que se empenharam
na análise sociológica, de fora para dentro, e juntaram suas convic-
ções cientificistas ao Realismo.
O Realismo e o Naturalismo brasileiros são faces de uma
mesma moeda. As duas tendências importaram o comportamento
humano, as formas explicitadas do meio e do ambiente em que exis-
tiam, a hereditariedade que trazem da origem. Se o Realismo do-
cumentou apenas os aspectos que enxergou, o Naturalismo empe-
nhou-se em marcar posições. Se os realistas preferiram tão somente
indicar forças psicológicas que guiam comportamentos, os naturalis- Homenagem ao escritor Machado de Assis em selo do
tas preferiram denunciar a exploração do homem pelo homem e sua Correio

consequente animalização.

Principais autores

Machado de Assis

Órfão aos dez anos, o menino mestiço do Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, estudou em escolas públicas e
tratou de instruir-se por conta própria, interessado que era pela leitura.
Inteligente e esforçado, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) aproximou-se de intelectuais e
de jornalistas que lhe deram oportunidades. Aos dezesseis anos empregou-se na tipografia de Paula Brito. Aos

157
dezenove já era colaborador assíduo de jornais e revistas cariocas: Correio Mercantil, O espelho, Diário do Rio de
Janeiro, Semana Ilustrada, Jornal das Famílias.

Caricatura de Machado de Assis

Em 1867, foi nomeado oficial da Secretaria de Agricultura, enquanto sua carreira de escritor mostrava-se
cada vez mais promissora. Casou-se aos trinta anos com a portuguesa Carolina Xavier de Novais.
Na passagem do Império para a República, Machado de Assis já era um intelectual respeitável. Formado
escritor à luz do Romantismo, com o tempo enveredou para o Realismo, o que, a depender da fase, sua obra seja
caracterizada ou romântica, até 1880, ou realista, de então em diante.

Cronologia
§§ 1839 – Em 21 de junho nasce no Rio de Janeiro Joaquim Maria Machado de Assis, filho do brasileiro Fran-
cisco José de Assis e da açoriana Maria Leopoldina Machado de Assis, moradores do Morro do Livramento.
§§ 1849 – Depois do falecimento de sua mãe e de sua única irmã, Machado é amparado por sua madrinha.
§§ 1854 – Seu pai casa-se com Maria Inês da Silva, com quem Machado continuará vivendo após a morte de
Francisco José.
§§ 1855 – Publica seu primeiro poema, Ela, após tornar-se colaborador do jornal Marmota Fluminense, de
Francisco de Paula Brito.
§§ 1856 – Como aprendiz de tipógrafo, entra para a Tipografia Nacional.
§§ 1858 – Tem aulas de francês e latim com o professor padre Antônio José da Silveira Sarmento. Torna-se
revisor de provas de tipografia e da livraria do jornalista Paula Brito. Lá conhece membros da Sociedade
Petalógica: Manuel Antônio de Almeida, Joaquim Manoel de Macedo. Colabora nos jornais O Paraíba e
Correio Mercantil.
§§ 1859 – Colabora na revista O Espelho (publicada até janeiro de 1860) como crítico teatral.
§§ 1860 – A convite de Quintino Bocaiúva, passa a redator do Diário do Rio de Janeiro, sob os pseudônimos
Gil, Job e Platão. Resenhava debates do Senado, escrevia crítica teatral colaborava em A Semana Ilustrada.
§§ 1861 – Publica Desencantos (comédia) e Queda que as mulheres têm para os tolos (sátira).
§§ 1862 – Como sócio do Conservatório Dramático Brasileiro, exerce função não remunerada de auxiliar da
censura. É bibliotecário da Sociedade Arcádia Brasileira. Colabora em O Futuro, periódico quinzenal sob a
direção de Faustino Xavier de Novais.
§§ 1863 – Publica o Teatro de Machado de Assis, do qual constam duas comédias, O protocolo e O caminho
da porta. Passa a publicar contos no Jornal das Famílias.
§§ 1864 – Publica seu primeiro livro de versos, Crisálidas. Em julho firma contrato com B. L. Garnier para a
venda definitiva dos direitos autorais do livro.

158
§§ 1865 – Sócio fundador da Arcádia Fluminense.
§§ 1866 – Publica a comédia Os deuses de casaca e sua tradução do romance Os trabalhadores do mar, de
Victor Hugo. No fim deste ano, chega ao Rio de Janeiro a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais,
irmã do poeta Faustino Xavier de Novais e futura esposa de Machado.
§§ 1867 – É agraciado com a Ordem da Rosa, no grau de cavaleiro, e nomeado ajudante do diretor do
Diário Oficial.
§§ 1868 – Crítico consagrado, a pedido de José de Alencar, guia o jovem poeta Castro Alves no mundo das letras.
§§ 1869 – Casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novais.
§§ 1870 – Publica Falenas e Contos fluminenses.
§§ 1872 – Publica Ressurreição, seu primeiro romance.
§§ 1873 – Publica Histórias da meia-noite (contos) e Notícia da atual literatura brasileira: instinto de nacio-
nalidade (ensaio crítico). É nomeado primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas.
§§ 1874 – Publica A mão e a luva, seu segundo romance.
§§ 1875 – Publica Americanas, seu terceiro livro de poesias.
§§ 1876 – Entre agosto e setembro, publica o romance Helena no jornal O Globo. Colabora na revista Ilustra-
ção Brasileira e é promovido a chefe de seção da Secretaria de Agricultura.
§§ 1878 – Publica o romance Iaiá Garcia em O Cruzeiro e edita-o em livro. Em artigo no mesmo jornal publica
crítica ao romance O primo Basílio, de Eça de Queirós, que o nomeia defensor de seus direitos autorais, por
conta das edições clandestinas da obra no Brasil. Em licença por motivo de doença, permanece em Friburgo
de onde retorna em março do ano seguinte.
§§ 1879 – Publica na Revista Brasileira, o romance Memórias póstumas de Brás Cubas e na revista A Estação,
o romance Quincas Borba e A nova geração (estudo).
§§ 1880 – É designado Oficial de Gabinete do Ministério da Agricultura. Em comemoração ao tricentenário do
poeta português Luís de Camões, organizada pelo Real Gabinete Português de Leitura, sua comédia Tu, só
tu, puro amor... é representada no teatro Dom Pedro II.
§§ 1881 – Publica em livro Memórias póstumas de Brás Cubas. Escreve crônicas no jornal Gazeta de Notícias
e passa a ser oficial de gabinete do ministro da Agricultura. Publicada em livro a comédia Tu, só tu, puro
amor...
§§ 1882 –- Publica seu terceiro livro de contos, Papéis avulsos, do qual faz parte O alienista. Entra em licença
de três meses para tratar-se fora do Rio de Janeiro.
§§ 1884 – Publica em livro os contos de Histórias sem data e passa a morar na rua Cosme Velho, onde
residirá até a morte.
§§ 1886 – Publica o volume Terras, compilação para estudo da Secretaria da Agricultura, resultado do trabalho
de oito anos na Comissão de Reforma da Legislação das Terras.
§§ 1888 – Por decreto imperial é nomeado oficial da Ordem da Rosa.
§§ 1889 – Em 30 de março é promovido a diretor da Diretoria do Comércio, da Secretaria de Estado da Agri-
cultura, Comércio e Obras Públicas.
§§ 1891 – Publica em livro o romance Quincas Borba.
§§ 1892 – É promovido a diretor-geral da Viação da Secretaria da Indústria, Viação e Obras Públicas.
§§ 1895 – Araripe Júnior publica um perfil de Machado de Assis na Revista Brasileira, de José Veríssimo. Em
dezembro daquele ano, Machado passa a ser colaborador da revista.
§§ 1896 – Publica seu quinto livro de contos Várias histórias. Dirige a primeira sessão preparatória da fundação
da Academia Brasileira de Letras, ABL.

159
§§ 1897 – Participa da inauguração da ABL e é eleito seu primeiro presidente, cargo que ocupou por dez anos.
§§ 1899 – Publicado o romance Dom Casmurro e Páginas recolhidas, livro de contos, ensaios e teatro. Firma a
escritura de venda de toda sua obra a François Hippolyte Garnier.
§§ 1901 – Publica Poesias completas, das quais constam Crisálidas, Falenas, Americanas e a coletânea
Ocidentais.
§§ 1904 – Publica seu penúltimo romance Esaú e Jacó. Em janeiro, em Friburgo, morre Carolina Augusta Xavier
de Novais, dias antes de completarem 35 anos de casamento. Não tiveram filhos.
§§ 1906 – Dedica à mulher já falecida seu mais famoso soneto, A Carolina.
§§ 1908 – Publica seu nono e último romance, Memorial de Aires. Em 1o de junho entra em licença para tra-
tamento de saúde. Falece no dia 29 de setembro, aos 69 anos, no Rio de Janeiro. É enterrado conforme sua
determinação: na sepultura da esposa no Cemitério de São João Batista.

Machado e Carolina: minha carola

“Ai, o amor de um poeta! Amor / Subido / Indelével, puríssimo, exaltado, /Amor eternamente convencido”

Machado de Assis e Carolina Novais viveram juntos durante 35 anos em perfeita harmonia. Um amor de verdade,
de carne e osso. Ela era portuguesa e mais velha que o escritor. Em carta, Machado escreve uma declaração: “Tu
não te pareces com as mulheres vulgares que tenho conhecido. Espírito e coração como os teus são prendas raras.
Como te não amaria eu?”.
No ano seguinte ao casamento foi publicado o primeiro volume dos Contos fluminenses. Mesmo sem
ter sido o grande sucesso do escritor, os contos apresentam uma das características de Machado: o diálogo
com o leitor e a ironia.

160
Machado continua notícia até hoje

Poema inédito de Machado de Assis é descoberto por pesquisador


Poema foi escrito quando Machado tinha apenas 17 anos.

Machado de Assis na juventude

Depois de mais de cem anos de sua morte, Machado de Assis (1839-1908) ainda continua a surpreender
o público e a crítica. Segundo a Folha de S. Paulo, Wilton Marques, professor do Departamento de Letras da
Universidade Federal de São Carlos e da Pós-graduação em Estudos Literários da Unesp de Araraquara, en-
controu um poema inédito do autor, escrito quando Machado tinha apenas 17 anos de idade.
O Grito do Ipiranga, nome do poema encontrado por Marques e publicado no Correio Mercantil, em
9 de setembro de 1856, possui 76 versos. Recheado de patriotismo e de exaltação ao Brasil, o poema é ainda
bastante influenciado pelo Romantismo chamado “heroico”. Trata-se, sem dúvida, de um Machado bem dife-
rente daquele que conhecemos, crítico e ácido, de obras políticas como Esaú e Jacó.
Machado de Assis publicou seu primeiro poema aos 15 anos e boa parte da sua juventude ainda é um
mistério. Foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras, teve sua obra traduzida para diversos
idiomas, incluindo o tcheco, sueco e estoniano, e é considerado o maior escritor da literatura nacional.
O poema passou despercebido durante mais de um século, mesmo sendo assinado como Joaquim Maria
Machado de Assis, ficando de fora de diversos volumes da obra completa do autor. Não se destacando, se-
gundo os estudiosos, esteticamente, o poema é importante por mostrar que Machado publicava em grandes
jornais já aos 17 anos e não aos 19, como antes se imaginava.
(Jéssica Borges, 14 mar. 2015. Disponível em: <cabineliteraria.com.br>. Acesso em: 23 mar. 2015).

161
Foi no jornal Marmota Fluminense que Machado de Assis estreou como escritor.

Primeira fase: ciclo romântico

Ao analisar os romances e os contos de Machado de Assis considerados românticos, já se revela a característica que
haveria de marcar sua obra. Os acontecimentos são narrados sem precipitação, entremeados de explicações aos
leitores por parte do narrador e cheios de considerações sobre os comportamentos. Seus personagens não são line-
ares como os dos demais românticos. Têm comportamentos imprevistos, fazem maquinações, não são transparen-
tes, mas interesseiros. A estrutura narrativa, no entanto, ainda é linear: tem começo, meio e fim bem demarcados.
Fazem parte do ciclo romântico as obras Ressurreição, A mão e a luva, Helena e Iaiá Garcia e os livros de
contos Histórias da meia-noite e Contos fluminenses.

162
Helena
No ano de 1859 morre o conselheiro Vale, figura de primeira classe da
sociedade do Segundo Reinado, homem bem relacionado e respeitado. Ele
deixa um filho, Estácio, de vinte e sete anos, e uma irmã, D. Úrsula, que
desde a morte da cunhada cuidará com desvelo da bela chácara em que
vivem, no Andaraí. A leitura do testamento revela uma segunda filha do
conselheiro Vale, Helena, nascida de uma união até então desconhecida
de toda a família. Enquanto Estácio aceita o último pedido do pai – levar
Helena para morar na chácara e tratá-la com muito carinho – D. Úrsula vê
na jovem uma intrusa e usurpadora. No entanto, o testamento é obedeci-
do. Helena sai do colégio interno para morar na chácara, onde começa a
mudar a vida de todos.
Helena e Estácio apaixonam-se, mas o rapaz sente-se culpado, acre-
ditando ser irmão da moça. Helena, contudo, sabe que não é filha de Vale. O
conselheiro teve um romance secreto com sua mãe e prometeu perfilhar a
menina e tratá-la com carinho. A atitude esquiva de Helena, que se encontra
às ocultas com seu pai legítimo, Salvador, faz com que se desconfie que ela
tem um amante.
No final, embora perdoada por Estácio, que descobre a verdade, Helena morre em consequência de uma
febre nervosa.

Capa do romance Helena

Segunda fase: ciclo realista


Com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881, Machado de Assis mudou o rumo de sua obra.
Amadureceu como escritor e passou a escrever para leitores mais exigentes. Seus personagens tornaram-se mais
elaborados, pois eram compostos à luz da Psicologia. Além disso, a técnica de composição do romance foi aperfei-
çoada: os capítulos e frases passam a ser mais curtos a fim de estabelecer maior contato com o leitor. Observa-se
também uma apurada análise da sociedade brasileira do final do Segundo Império, ambiente no qual o casamento
começa a ser um grande alvo da crítica tecida pelo autor.

163
As estruturas narrativas fogem à linearidade, entremeadas de digressões temporais, intromissões do narra-
dor e a análise apurada dos acontecimentos. Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro,
Esaú e Jacó, Memorial de Aires são romances do ciclo realista.
Além dos romances, Machado publica cerca de duzentos contos a partir de 1869, começando com os Con-
tos fluminenses, publicados em pleno Romantismo. Suas narrativas curtas estão reunidas em Histórias da meia-
-noite, Papéis avulsos, Histórias sem data, Várias histórias, Páginas recolhidas, Relíquias da casa velha.
Merecem destaque os contos A cartomante, Missa do galo, O alienista, O espelho, Cantiga de
esponsais, Noite de almirante, A igreja do diabo, entre outros.
A produção poética de Machado de Assis está reunida em Falenas, Crisálidas, Americanas, Ocidentais.
Destacam-se as peças de teatro Queda que as mulheres têm para os tolos, Quase ministros e Lição de botânica.

Machado versus Eça

Tudo teria começado em fevereiro de 1878, quando O Primo Basílio, de Eça, foi publicado no Brasil. A relação adúl-
tera de Luísa com o primo e as críticas demolidoras aos costumes da burguesia de Lisboa escandalizaram leitores
dos dois continentes.
Em dois artigos publicados em abril daquele ano, Machado fez severas restrições à trama. Apontou falhas
estruturais, condenou a inconsistência psicológica de Luísa e descreveu a relação entre os primos como “um
incidente erótico, sem relevo, repugnante, vulgar”.
Ao publicar os dois ensaios sobre Eça, Machado já era autor de quatro romances (Ressurreição, A Mão e a
Luva, Helena e Iaiá Garcia).
Mas o furacão Eça apareceu no meio do ca-
minho do comedido escritor brasileiro, o que levou
Machado a reformular seus romances.
Em dezembro de 1878, seriamente enfer-
mo, Machado, “bruxo do Cosme Velho” partiu para
uma temporada em Nova Friburgo. Voltou de lá três
meses depois, com o primeiro esboço de Memórias
póstumas de Brás Cubas, furacão ainda mais avassa-
lador que o de Eça.
A narrativa do “defunto autor”, irônica, frag-
mentária, inventiva, foi um divisor de águas na lite-
ratura nacional e inaugurou a grande fase do autor.
A chave dessa reinvenção abasteceu-se do
cânone literário – em Brás Cubas, o caldeirão inclui
a Bíblia, Xavier de Maistre, Sterne, Shakespeare e
muito mais – de forma despudorada.

O romance machadiano
O estilo

Elegância e certa contenção, rápidas pinceladas e muita discrição na composição da personagem, eis o estilo
machadiano. Adepto de personagens fortes, as narrativas revelam excepcional capacidade de observação do ser
humano e da sociedade, impressa, aliás, desde o início.
As lições que aprendeu dos românticos José de Alencar, Almeida Garrett, Victor Hugo e Swift levaram-no a
apenas organizar seus personagens de modo diverso ao deles.

164
Entrelinha

“No romance machadiano, praticamente não há frase que não tenha segunda intenção ou propósito espirituoso. A
prosa é detalhista ao extremo, sempre à cata de efeitos imediatos, o que amarra a leitura ao pormenor e dificulta
a imaginação do panorama. Em consequência, e por causa também da campanha do narrador para chamar a
atenção sobre si mesmo, a composição do conjunto pouco aparece”
(SCHWARZ, Roberto. In: Um mestre na periferia do capitalismo – Machado de Assis. p.18).

O olhar detrás das máscaras

Nos romances iniciais, Machado é um romântico crítico, um pouco diferente dos demais, característica singular que
haveria de constituir. O casamento não é a cura para todos males (como diziam os românticos), mas um tipo de
comércio, uma certa troca de favores.
Nos romances escritos após 1881, essa crítica social é acentuada e assume uma fina ironia ao contemplar
o casamento, o adultério, a exploração do homem pelo próprio homem. Acostumou-se a olhar detrás das máscaras
sociais, a desmascarar o jogo das relações sociais, a compreender a natureza humana mediante personagens com
penetrante espírito de análise. Nos indivíduos sempre há supostas intenções para objetivos reais. Disso, resultam
suas atitudes, veículos de satisfação pessoal para quem as pratica.

A criação de mulheres-símbolo

As mulheres ganham tratamento especial na obra machadiana. Não faltam as “dissimuladas”, as ambíguas, as
sensuais, as astuciosas, as dominadoras sem a fragilidade da mulher romântica. Não à toa carregam nomes bastan-
te sugestivos: Capitu, capitã (vem do sobrenome do deus dos mares na mitologia: Netuno Capitolino), comandante;
Sofia, sabedoria; Iaiá, patroa.
Nos contos, elas assumem o papel de fatais, adúlteras; recatadas, sedutoras, fascinantes...

165
Linguagem e ironia machadiana

E nós continuamos a ler o tal romance; com um pouco de irritação com esse narrador estranho e arrogante,
mas continuamos. Adiante, Brás Cubas, contando sua juventude (era na verdade um playboy rico e desocupado),
apaixona-se por uma prostituta de luxo, com quem gasta muito dinheiro (do pai, é claro). Este ficará furioso, mas
Brás Cubas, fingindo certa ingenuidade, nos conta: “Marcela amou-me por quinze meses e onze contos de réis”.
Esta curta frase é maravilhosa, pois, sem denegrir a moça diretamente, o protagonista nos afirma que o amor dela
era profissional, interesseiro, por dinheiro. Marcela não o amava: o autor construiu outra ironia, sugerindo que
entendêssemos o contrário do que disse.
E esse romance, tão famoso, vai por aí afora. É só diversão, embora, é claro, com um vocabulário do século
19, o que nem sempre é simples para nós. Na verdade, o tal Brás Cubas se exibe até no uso do vocabulário, ele
é pedante. Se prosseguirmos na leitura, conseguimos rir muito, pensando que os vários episódios vividos naquela
sociedade (por ele e por todos), são os mesmos nos tempos de hoje. E muitas ações sociais e morais são as mes-
mas... O pai de Brás Cubas, por exemplo, era um exibicionista. Dava festas muito ricas para ‘fazer barulho’, para
aparecer na sociedade. Quanta gente faz isso ainda hoje, não? Existem até revistas especializadas nessa exibição
de ricos e famosos.
(Márcia Lígia Guidin. Especial para a Página 3. Pedagogia & Comunicação (Atualizado em 13 dez. 2013).
Disponível em: < educacao.uol.com.br>.

Joaquim Maria Machado de Assis (1837-1908) era mulato e nasceu num morro do Rio de Janeiro, numa época
em que, no Brasil, os negros eram ainda escravos. Não teve educação formal, mal frequentou a escola primária.
Trabalhou desde cedo e aprendeu o que pôde. Uma das características mais atraentes e refinadas de Machado de
Assis é sua ironia, uma ironia que, embora chegue francamente ao humor em certas situações, tem geralmente
uma sutileza que só a faz perceptível a leitores de sensibilidade já treinada em textos de alta qualidade. Essa
ironia é a arma mais corrosiva da crítica machadiana dos comportamentos, dos costumes, das estruturas sociais.
Machado a desenvolveu a partir de grandes escritores ingleses que apreciava e nos quais se inspirou (sobretudo
o originalíssimo Lawrence Sterne, romancista do século XVIII).
(Disponível em: <webartigos.com/artigos>).

Humor inglês

Acabamos percebendo que as pessoas são as mesmas, que o mundo da hipocrisia e farsa social não mudou. Essa
sensação é parte do pessimismo machadiano de que tanto nos falam os livros. Não gargalhamos, apenas rimos em
silêncio, com o canto da boca, para nós mesmos. E esse sinal é o famoso humor inglês de que falam os estudiosos:
as piadas, as ironias são todas assim, inglesas; o defunto diz o que quer, fingindo não dizer.
Um dos momentos mais cruéis (sim, a ironia às vezes é cruel com os personagens) chama-se “A flor da moita”.
Sabe por quê? Quando pequeno, Brás havia presenciado um beijo às escondidas que um poeta casado dava numa
dama solteirona atrás de uma moita da mansão de seus pais. Pois bem, anos depois, conheceu a filha bastarda dessa
mesma senhora, a menina Eugênia. Era linda, educada, pura, mas coxa (manca). Eugênia ficou então sendo “a flor da
moita” porque foi concebida no amor ilícito. Por isso teria defeitos. Perceba que Brás é grosseiro, vulgar e deseducado.
Mas quem vai punir um defunto? Quem?
(Márcia Lígia Guidin. Especial para a Página 3. Pedagogia & Comunicação.
(Atualizado em 13 dez. 2013) Disponível em: < educacao.uol.com.br>. Acesso em: 14 de março 2015).

166
Digressão

Própria do discurso oratório, a digressão pode apresentar qualquer medida, aparecer em qualquer parte do texto
e em obras de qualquer outra natureza, sobretudo a poesia épica, o romance e o ensaio. Empregada desde a Anti-
guidade greco-latina, constitui expediente difícil de manejar, uma vez que pode comprometer a integridade da obra
em que se insere. Por isso, hoje em dia tende a ostentar sentido pejorativo, equivalente a “desvio”, “divagação”,
“subterfúgio”.
(Moisés Massaud. 2004, p. 125).

Tanto em Dom Casmurro (1899) quanto em Memórias póstumas de Brás Cubas, a narração é conduzida
por personagens que contam sua própria história e a comentam. Por trás de ambos está o escritor Machado de
Assis que, na verdade, conduz a narrativa como um todo. Acrescente-se que o narrador se vale, na construção do
texto, da utilização da narração em primeira pessoa, da participação, da técnica da digressão, do jogo de tempo
cronológico e psicológico, do frequente exercício da metalinguagem, da narração em ar de conversa, tudo isso
pontuado pelo humor e ironia.
(Disponível em: <webartigos.com/artigos>).

Um mestre na periferia do capitalismo


“Seja no plano da forma, através das interrupções, seja no plano do conteúdo,
através de anedotas e apólogos sobre a vaidade humana, a experiência visada
não muda. Observemos enfim que apólogos, anedotas, vinhetas, charadas, cari-
caturas, tipos inesquecíveis etc. – modalidades curtas, em que Machado carrega
a tinta na maestria – são formas fechadas em si mesmas, e neste sentido matéria
romanesca de segunda classe, estranha à exigência de movimento global própria
ao grande romance oitocentista”.
(SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo – Machado de Assis, p.51).

Memórias póstumas de Brás Cubas


Uma escrita renovadora

A posição de Machado de Assis na literatura brasileira é a de renovador – um abri-


dor de caminhos –, pois revolucionou a narrativa, atribuindo-lhe um tom de mais
verossimilhança e menos superficialidade, e foi além de seu tempo, imprimindo à
literatura um senso psicológico notável.
O caráter inovador de Memórias póstumas de Brás Cubas são as reflexões do
personagem, como elas se encadeiam e se misturam nos eventos em que ele vive.

Ilustração do capítulo “O vergalho”, de Memórias póstumas de Brás Cubas. Portinari.

167
Capítulo I – Óbito do autor

[...] expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de
Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui
acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce
que chovia – peneirava – uma chuvinha miúda, triste e constante tão constante e tão triste, que levou um daqueles
fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: – “Vós, que o
conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de
um dos mais belos caracteres que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe foi à
natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado”.
[...]

Memórias póstumas de Brás Cubas. Ilustração. Cândido Portinari.

Comentário

“Parece claro que a situação de ‘defunto autor’, diferente de ‘autor defunto’ (...) que não desmancha a verossimi-
lhança realista. A todo momento, Brás exibe o figurino do gentleman moderno, para desmerecê-lo em seguida, e
voltar a adotá-lo, configurando uma inconsequência que o curso do romance vai normalizar”
(SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo – Machado de Assis. p.19).

168
Capítulo XIV – O primeiro beijo

Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos,
eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como ostentasse certa arrogância, não se distinguia bem se era
uma criança com fumos de homem, se um homem com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e
audaz, que entrava na vida de botas e expostas, chicote na mão e sangue nas veias, [...]
Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado; e facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou
diante de mim a fronte pensativa, ou levantou para mim os olhos cobiçosos. De todas porém a que me cativou logo
foi uma... não sei se diga; este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é castíssimo. Mas vá lá; ou se há de
dizer tudo ou nada. A que me cativou foi uma dama espanhola. Marcela, a “linda Marcela”, como lhe chamavam
os rapazes do tempo. [...]
Era boa moça, lépida, sem escrúpulos, um pouco tolhida pela austeridade do tempo, que lhe não permitia
arrastar pelas ruas os seus estouvamentos e berlinda, luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e de rapazes. Naquele
ano, morria de amores por um certo Xavier, sujeito abastado e físico – um pérola [...]

Capítulo XVII – Do trapézio e outras coisas

Cena do filme Memórias Póstumas de Brás Cubas. Brás e Marcela.

Marcela amou-me durante meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze
contos, sobressaltou-se, achou que o caso excedia as falas de um capricho juvenil.
– Desta vez, disse ele, vais para Europa; vais cursar uma universidade, provavelmente Coimbra; quero-te
para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto: – Gatuno, sim senhor;
não é outra coisa um filho que me faz isto...
Sacou da algibeira os meus títulos de dívida, já resgatados por ele, e sacudiu-os na casa.
– Vês, peralta? É assim que um moço deve zelar o nome dos seus? Pensas que eu e meus avós ganhamos o
dinheiro em casas de jogo ou a vadiar pelas ruas? Pelintra! Desta vez ou tornas juízo, ou ficas sem coisa nenhuma.
Estava furioso, mas de um furor temperado e curto. Eu ouvi-o calado, e nada opus à ordem da viagem [...]

169
Capítulo XXVIII – Virgília?

Virgília? Mas então era a mesma senhora que alguns anos depois...? A mesma; era justamente a senhora,
que em 1869 devia assistir aos meus últimos dias, e que antes, muito antes, teve larga parte nas minhas mais
íntimas sensações. Naquele tempo contava apenas uns voluntários. Não digo já lhe coubesse a primazia da
beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, e, que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda
ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que
o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara,
financeira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, – devoção
ou talvez medo; creio que medo. Aí tem o leitor, em poucas linhas, retrato físico e moral da pessoa que devia
influir mais tarde na minha vida; era aquilo com dezesseis anos. Tu que me lês, se ainda fores viva, quando
estas páginas vieram à luz, – tu que me lês, Virgília amada, não reparas na diferença entre a linguagem de hoje
e a que primeiro empreguei quando te vi? Crê que era tão sincero então como agora; a morte não me tornou
rabugento, nem injusto.
– Mas, dirás tu, se você não guardou na retina da memória a imagem do que fui, como é que podes assim
discernir a verdade daquele tempo, e exprimi-la depois de tanto anos?
Ah! Indiscreta! Ah! Ignorantona! Mas é isso mesmo que nos faz senhores da terra, é esse poder de
restaurar o passado, para tocar a instabilidade das nossas impressões e a vaidade dos nossos afetos. Deixa
lá dizer o Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da
vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor
dá de graça aos vermes.

Capítulo CLX

Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui
califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar
o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas
Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e con-
seguintemente que sai quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério,
achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: – Não tive filhos,
não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
(ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: FTD. 1991).

Nos quadrinhos

Memórias Póstumas de Brás Cubas (em quadrinhos), o mais célebre romance


brasileiro de todos os tempos, revolucionário na forma fragmentária, no tempo
narrativo não linear, no estilo realista irônico, é, ao mesmo tempo, um dos mais
agudos retratos das elites brasileiras, além de repositório de algumas passagens
mais famosas da literatura em língua portuguesa.

170
No cinema

Depois de morrer, em pleno ano de 1869, Brás Cubas (Reginaldo Faria) decide narrar sua história e revisitar os fatos mais
importantes de sua vida a fim de se distrair na eternidade. Relembra de amigos como Quincas Borba (Marcos Caruso),
de sua displicente formação acadêmica em Portugal, dos amores de sua vida e do privilégio de nunca ter precisado
trabalhar na vida
(1h41–2001– Disponível em: <adorocinema.com/filmes/filme-120279/>. Acesso em: 22 mar. 2015).

Traiu ou não traiu? Eis a questão!

Dom Casmurro
Publicado em 1900, Dom Casmurro é um romance narrado em primeira pessoa. A partir de um flashback da velhi-
ce para a adolescência, Bentinho conta sua própria história.
Órfão de pai, cresceu num ambiente familiar muito carinhoso – tia Justina, tio Cosme, José Dias. Recebeu
todos os cuidados da mãe, D. Glória, que o destinara à vida sacerdotal.
Sem vocação, Bentinho não quis ser padre. Namora a vizinha Capitu e quer se casar com ela. D. Glória, presa a
uma promessa que fizera, aceita a idade inteligente de José Dias de enviar um escravo ao seminário para ser ordenado
no lugar do Bentinho.
Livre do sacerdócio, o moço forma-se em Direito e acaba casando-se mes-
mo com Capitu.
O casal vive muito bem. Bentinho vai progredindo, mantém amizade com
Escobar, antigo colega de seminário, e Sancha, sua esposa. A vida segue seu
curso. Nasce-lhe um filho, Ezequiel.
Escobar morre e, durante o enterro, Bentinho começa a achar Capitu es-
tranha. Surpreende-a contemplando o cadáver de uma forma que ele interpre-
ta como apaixonada.
A partir do episódio, Bentinho consome-se em ciúme e o casamento entra
em crise. Cada vez mais Ezequiel torna-se parecido com Escobar – o que preci-
pita em Bentinho a certeza de que ele não é seu filho. O casal separa-se, Capitu
e Ezequiel vão para a Europa e algum tempo depois ela morre.
Já moço, Ezequiel volta ao Brasil para visitar o pai, que comprova a se-
melhança do filho com Escobar. Ezequiel morre no estrangeiro. Cada vez mais fechado em sua dúvida, Bentinho
ganha o apelido de “Casmurro” e põe-se a escrever a história de sua vida.

171
Trecho de Dom Casmurro
Capítulo XXXII – Olhos de ressaca

Tudo era matéria às curiosidades de Capitu. Caso houve, porém, no qual não sei se aprendeu ou ensinou, ou se fez
ambas as coisas, como eu. É o que contarei no outro capítulo. Neste direi somente que, passados alguns dias do
ajuste com o agregado, fui ver a minha amiga; eram dez horas da manhã. D. Fortunata, que estava no quintal, nem
esperou que eu lhe perguntasse pela filha.
– Está na sala penteando o cabelo, disse-me; vá devagarzinho para lhe pregar um susto.
Fui devagar, mas ou o pé ou o espelho traiu-me. Este pode ser que não fosse; era um espelhinho de pataca
(perdoai a barateza), comprado a um mascate italiano, moldura tosca, argolinha de latão, pendente da parede,
entre as duas janelas. Se não foi ele, foi o pé. Um ou outro, a verdade é que, apenas entrei na sala, pente, cabelos,
toda ela voou pelos ares, e só lhe ouvi esta pergunta:
– Há alguma coisa?
– Não há nada, respondi; vim ver você antes que o Padre Cabral chegue para a lição. Como passou a noite?
– Eu bem. José Dias ainda não falou?
– Parece que não.
– Mas então quando fala?
– Disse-me que hoje ou amanhã pretende tocar no assunto; não vai logo de pancada, falará assim por alto
e por longe, um toque. Depois, entrará em matéria. Quer primeiro ver se mamãe tem a resolução feita...
– Que tem, tem, interrompeu Capitu. E se não fosse preciso alguém para vencer já, e de todo, não se lhe
falaria. Eu já nem sei se José Dias poderá influir tanto; acho que fará tudo, se sentir que você realmente não quer
ser padre, mas poderá alcançar?... Ele é atendido; se, porém... É um inferno isto. Você teime com ele, Bentinho.
– Teimo; hoje mesmo ele há de falar.
– Você jura?
– Juro! Deixe ver os olhos, Capitu.
Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não
sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e
examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram mi-
nhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um
pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que
entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...
[...]

172
Capítulo CXXII – O enterro

A viúva... Poupo-vos as lágrimas da viúva, as minhas, as da outra gente. Saí de lá cerca de onze horas; Capitu e
prima Justina esperavam-me, uma com o parecer abatido e estúpido, outra enfastiada apenas.
– Vão fazer companhia à pobre Sanchinha; eu vou cuidar do enterro.
Assim fizemos. Quis que o enterro fosse pomposo, e a afluência dos amigos foi numerosa. Praia, ruas, Praça
da Glória, tudo eram carros, muitos deles particulares. A casa não sendo grande, não podiam lá caber todos; mui-
tos estavam na praia, falando do desastre, apontando o lugar em que Escobar falecera, ouvindo referir a chegada
do morto. José Dias ouviu também falar dos negócios do finado, divergindo alguns na avaliação dos bens, mas
havendo acordo em que o passivo devia ser pequeno. Elogiavam as qualidades de Escobar. Um ou outro discutia o
recente gabinete Rio Branco; estávamos em março de 1881. Nunca me esqueceu o mês nem o ano.
Como eu houvesse resolvido falar no cemitério, escrevi algumas linhas e mostrei-as em casa a José Dias,
que as achou realmente dignas do morto e de mim. Pediu-me o papel, recitou lentamente o discurso, pesando as
palavras, e confirmou a primeira opinião; no Flamengo espalhou a notícia. Alguns conhecidos vieram interrogar-me:
– Então, vamos ouvi-lo?
– Quatro palavras.
Poucas mais seriam. Tinha-as escrito com receio de que a emoção me impedisse de improvisar. No tílburi
em que andei uma ou duas horas, não fizeram mais que recordar o tempo do seminário, as relações de Escobar,
as nossas simpatias, a nossa amizade, começada, continuada e nunca interrompida, até que um lance da fortuna
fez separar para sempre duas criaturas que prometiam ficar muito tempo unidas. De quando em quando enxugava
os olhos. O cocheiro aventurou duas ou três perguntas sobre a minha situação moral; não me arrancando nada,
continuou o seu ofício.
Chegando a casa, deitei aquelas emoções ao papel; tal seria o discurso.

Capítulo CXXIII – Olhos de ressaca

Aquarela. Elza Tamas.

Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele
lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva,
parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu
olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas
lágrimas poucas e caladas...
As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a futuro para a gente
que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também.
Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, se, o pranto nem palavras desta,
mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.
(ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: África, 1978).

173
Capitu

“Na construção de Machado, Capitu é a mulher que inverte o jogo: de oprimida passa a opressora, pois escolhe
Bentinho como quem vai tornar concreto o seu desejo e consegue trazê-lo para si; vive sua época e assume este
desejo como legítimo: quer ser rica, torna-se rica. É virtuosa, sim, pois é fiel ao que traçou para si. Mas nem quan-
do ama – pois ama Escobar! – compreende a natureza do pró-
prio desejo. Seu tropeço não é amar Escobar, mas não ser capaz
de colocar todo o seu Ser naquele propósito que desenhou para
si: uma parte dela ama quem não devia amar. Para Capitu, é im-
possível viver o amor, e seus desejos não se reconciliam; o desejo
possível (realizado com Bentinho, que lhe cobre a matéria) fica
de frente com o desejo impossível (amar plenamente Escobar) e
assim Capitu se revela. A grande traição que Dom Casmurro nos
mostra é, por fim, a da natureza: a aparência do filho, que expõe
o desejo fora do controle da anti-heroína gananciosa”.
(Mônica R. de Carvalho. Disponível em: <forademim.com.br>. Acesso em 22 mar. 2015).

Na música

O professor e músico Luiz Tatit criou esta espetacular canção que retrata Capitu, personagem atemporal de Macha-
do Assis. Faz menção à concepção de um feminino com arte que encanta com seu jeito atraente e misterioso. Vale
a pena escutá-la também na voz de Zélia Duncan.

Luiz Tatit

Capitu

De um lado vem você com seu jeitinho


Hábil, hábil, hábil
E pronto!
Me conquista com seu dom
De outro esse seu site petulante
WWW
Ponto
Poderosa ponto com
É esse o seu modo de ser ambíguo

174
Sábio, sábio
E todo encanto
Canto, canto
Raposa e sereia da terra e do mar
Na tela e no ar
Você é virtualmente amada amante
Você real é ainda mais tocante
Não há quem não se encante
Um método de agir que é tão astuto
Com jeitinho alcança tudo, tudo, tudo
É só se entregar, é não resistir, é capitular
Capitu
A ressaca dos mares
A sereia do sul
Captando os olhares
Nosso totem tabu mulher em milhares
Capitu
No site o seu poder provoca o ócio, o ócio
Um passo para o vício, o vício
É só navegar, é só te seguir, e então naufragar
Capitu
Feminino com arte
A traição atraente
Um capítulo à parte
Quase vírus ardente
Imperando no site
Capitu

Curiosidade

Bentinho que traiu Capitu?

Publiquei, através de anos, no Estadão, no O Dia, e no Jornal do Brasil – ao todo aproximadamente dois milhões de
exemplares – “pesquisa” sobre Dom Casmurro, a obra magna de Machado de
Assis. Como minha página era a capa exterior dos jornais citados, e o assunto
era picante – se Escobar, “herói” do romance, tinha ou não tinha comido a
Capitu, eterna e tola discussão entre beletristas –, devo ter alcançado pelo
menos cem mil desprevenidos. Bom, não apenas mostrei que Escobar comeu
a Capitu, como, não sei não, acho que tirei Dom Casmurro do “armário”.
Como não sou dos maiores – e nem mesmo dos menores – admira-
dores do bruxo, fundador da Academia Brasileira de Letras (“a Glória que
fica, eleva, honra e consola”, eu, hein, que frase!), não vou discutir a maciça,
inexpugnável web protecionista que se criou em torno dele. Não quero pole-
mizar (falta-me vontade e capacidade) com a candura que os erúditos (com
acento no ú, por favor) têm pra relação equívoca entre Capitu, a “dos olhos
Millôr Fernandes
175
de ressaca” (que Machado não explica se era ressaca do mar ou de um porre), e Escobar, o mais íntimo amigo de
Bentinho, narrador e personagem do livro (evidente alter ego do próprio Machado).
A desconfiança básica vem desde 1900, quando Machado publicou Dom Casmurro. Dom Casmurro é ou
não é corno, palavra cujo sentido de humilhação masculina – que ainda mantém bastante de sua força nesta época
de total permissividade – na época de Machado era motivo de crime passional, “justa defesa da honra”, e outros
desagravos permitidos pela legislação e pelos costumes.
Curioso que, ontem como hoje, o epíteto corna não se grudou à mulher. Ela é tola, vítima, “não sei como
suporta isso!”, “corneia ele também!”, mas o epíteto não colou.
Dom Casmurro sofre da dor específica umas 50 páginas do romance, envenenado pela hipótese da infide-
lidade de Capitu. Que dúvida, cara pálida? Capitu deu pra Escobar. O narrador da história, Bentinho/Machado, só
não coloca no livro o DNA do Escobar porque ainda não havia DNA. Mas fica humilhado, desesperado mesmo, à
proporção que o filho cresce e mostra olhos, mãos, gestos e tudo o mais do amigo, agora morto. Bentinho chega a
chamar Escobar de comborço (parceiro na cama).
Mas, pela nossa eterna pruderie intelectual, também ainda ridiculamente forte com relação a outro tipo de
relação, a homo, nunca vi ninguém falar nada das intimidades entre Bentinho e Escobar. É verdade que, na época,
Oscar Wilde estava em cana por causa do pecado que “não ousava dizer seu nome”.
Não fiz interpretações. Apenas selecionei frases – momentos – do próprio Dom Casmurro/Machado, da
edição da Editora Nova Aguilar. Leiam, e concordem ou não.
Pág. 868 “Chamava-se Ezequiel de Souza Escobar. Era um rapaz esbelto, olhos claros, um pouco fugidios,
como as mãos, como os pés, como a fala, como tudo.”
Mesma página “Escobar veio abrindo a alma toda, desde a porta da rua até o fundo do quintal. A alma da
gente, como sabes, é uma casa com janelas para todos os lados, muita luz e ar puro… Não sei o que era a minha.
Mas como as portas não tinham chaves nem fechaduras, bastava empurrá-las e Escobar empurrou-as e entrou. Cá
o achei dentro, cá ficou…”.
Pág. 876 “Ia alternando a casa e o seminário. Os padres gostavam de mim. Os rapazes também e Escobar
mais que os rapazes e os padres.”
Pág. 883 “Os olhos de Escobar eram dulcíssimos. A cara rapada mostrava uma pele alva e lisa. A testa é que era
um pouco baixa… mas tinha sempre a altura necessária para não afrontar as outras feições, nem diminuir a graça delas.
Realmente era interessante de rosto, a boca fina e chocarreira, o nariz fino e delgado.”
Mesma página “Fui levá-lo à porta… Separamo-nos com muito afeto: ele, de dentro do ônibus, ainda me
disse adeus, com a mão. Conservei-me à porta, a ver se, ao longe, ainda olharia para trás, mas não olhou.”
Mesma página “Capitu viu (do alto da janela) as nossas despedidas tão rasgadas e afetuosas, e quis saber
quem era que me merecia tanto.
– É o Escobar, disse eu.”
Pág. 887 “– Escobar, você é meu amigo, eu sou seu amigo também; aqui no seminário você é a pessoa que
mais me tem entrado no coração.
– Se eu dissesse a mesma cousa, retorquiu ele sorrindo, perderia a graça… Mas a verdade é que não tenho
aqui relações com ninguém, você é o primeiro, e creio que já notaram; mas eu não me importo com isso.”
Pág. 899 “Durante cerca de cinco minutos esteve com a minha mão entre as suas, como se não me visse
desde longos meses.
– Você janta comigo, Escobar?
– Vim para isto mesmo.”
Pág. 900 “Caminhamos para o fundo. Passamos o lavadouro; ele parou um instante aí, mirando a pedra de
bater roupa e fazendo reflexões a propósito do asseio; lembra-me só que as achei engenhosas, e ri, ele riu também.
A minha alegria acordava a dele, e o céu estava tão azul, e o ar tão claro, que a natureza parecia rir também co-
nosco. São assim as boas horas deste mundo.”

176
Pág. 901 “Fiquei tão entusiasmado com a facilidade mental do meu amigo, que não pude deixar de abraçá-
-lo. Era no pátio; outros seminaristas notaram a nossa efusão: um padre que estava com eles não gostou…”
Pág. 902 “Escobar apertou-me a mão às escondidas, com tal força que ainda me doem os dedos.”
Pág. 913 “Escobar também se me fez mais pegado ao coração. As nossas visitas foram-se tornando mais
próximas, e as nossas conversações mais íntimas.”
Pág. 914 “A amizade existe; esteve toda nas mãos com que apertei as de Escobar ao ouvir-lhe isto, e na
total ausência de palavras com que ali assinei o pacto; estas vieram depois, de atropelo, afinadas pelo coração, que
batia com grande força.”
Págs. 925/26 (Depois da morte de Escobar) “Era uma bela fotografia tirada um ano antes. (Escobar) estava
de pé, sobrecasaca abotoada, a mão esquerda no dorso de uma cadeira, a direita metida no peito, o olhar ao
longe para a esquerda do espectador. Tinha garbo e naturalidade. A moldura que lhe mandei pôr não encobria a
dedicatória, escrita embaixo, não nas costas do cartão: ‘Ao meu querido Bentinho o seu querido Escobar 20-4-70′.”
•••
P.S.: Mas, se vocês ainda têm dúvida, leiam a página 845 do fúlgido romance. Bentinho, ele próprio, fica
pasmo, e realizado, quando consegue dar um beijo (quer dizer, apenas uma bicota) em Capitu. É ele próprio quem
fala, entusiasmado com seu feito de bravura:
“De repente, sem querer, sem pensar, saiu-me da boca esta palavra de orgulho:
– Sou Homem!”
(Millôn Fernandes)(Disponível em: <blogdogusmao.com.br>. Acesso em: 22 mar. 2015.)

Nos quadrinhos – HQ

O amor (e o ciúme) de Bentinho por Capitu virou história em quadri-


nhos. A Editora Ática acaba de editar o clássico Dom Casmurro, escrito
por Machado de Assis em 1899, nesse formato, com arte de Rodrigo
Rosa e roteiro de Ivan Jaf. O lançamento integra a coleção Clássicos
Brasileiros em HQ.
Nos quadrinhos acima e abaixo, o ainda adolescente Bento San-
tiago entreouve a mãe falar que quer torná-lo padre, independente-
mente de sua nascente paixão pela vizinha Capitu. Dom Casmurro em
quadrinhos é fiel à manutenção do mistério original, no qual o caráter
ambíguo de Capitu merece destaque.
No fim do livro, o leitor conta com a seção bônus, com informa-
ções sobre o processo de construção da obra e curiosidades sobre o
contexto histórico brasileiro do Século 19. Com 88 páginas, Dom Cas-
murro em versão HQ.

No cinema
Bento (Marcos Palmeira) é um homem cujos pais, apreciadores de Machado de Assis, resolveram batizá-lo com este
nome em homenagem ao personagem homônimo do livro Dom Casmurro. Tantas vezes foi justificada a razão da
homenagem que Bento cresceu com a ideia fixa de que seria o próprio personagem e destinado a viver, exatamen-
te, aquela história. Até chamava sua amiga de infância no Rio de Janeiro, Ana (Maria Fernanda Cândido), de Capitu.
Seus amigos, conhecedores do seu sentimento de predestinação, apelidaram-no Dom. Bento e Ana separaram-se
quando a família do menino mudou-se para São Paulo. Já adulto, Bento reencontra Miguel, um amigo que Bento
conheceu antes de ele desistir da faculdade Engenharia. Miguel está em São Paulo para procurar modelos para um

177
clipe de uma Banda de Rock (Capital Inicial), que sua empresa está produzindo, e leva Bento para o estúdio, com
o pretexto de conhecê-la, mas na verdade é para aproximá-lo de sua assistente. É lá que “Dom” acidentalmente
reencontra sua Capitu e dali renasce o romance da infância, só que, agora, avassalador.
(Disponível em: <wikipedia.org>. Acesso em: 23 mar. 2015).

Minissérie

Capitu desenvolve-se a partir da promessa de Dona Glória (Eliane Giardini), mãe do protagonista Bentinho: depois
de perder um filho, ela jura fazer do próximo herdeiro um padre; mas Bentinho tem uma enorme paixão por sua
vizinha e melhor amiga Capitu, mas por causa da promessa eles não podem ficar juntos. Mesmo a contragosto,
Bentinho vai para o seminário, onde conhece Escobar, que vira seu melhor amigo. Antes de deixar o seminário, José
Dias ajuda Bentinho a ficar junto de sua amada. Já fora do seminário, vai estudar, forma-se advogado e casa-se
com Capitu. Escobar torna-se comerciante e casa-se com Sancha, amiga de infância de Capitu. O casal Escobar e
Sancha gera uma filha, Capituzinha. Dois anos depois, para a alegria de Bento e Capitu, nasce Ezequiel. Os casais
mantêm fortes laços de amizade. Num jantar na casa de Escobar, os quatro amigos planejam uma viagem para
a Europa. Em um momento a sós, Bentinho surpreende um olhar intenso de Sancha, o que dá vez a um diálogo
cheio de insinuações e uma troca ardorosa de apertos de mãos. Bentinho, fortemente atraído por Sancha, repele
o sentimento e fica mal ao perceber o desejo pela mulher do melhor amigo. A fatalidade marca a vida de Escobar,
que morre afogado no dia seguinte. A morte do amigo aumenta ainda mais a culpa e o ciúme de Bentinho, que,
atormentado, acredita ver no próprio filho, Ezequiel, a imagem do amigo por causa do ocorrido anteriormente.
(Disponível em: <wikipedia.org>. Acesso em: 22 mar. 2015).

O conto machadiano

Machado de Assis é autor de quase duzentos contos, cujas histórias revelam evolução das românticas, leves para
mais densas, intrigantes, que alcançam o patamar das obras-primas da Literatura brasileira.
A construção de um conto é, com certeza, muito mais difícil do que a construção de um romance, porque o conto:
§§ é uma narrativa curta e deve prender a atenção do leitor;
§§ deve ter um só e muito interessante conflito;
§§ deve provocar tensão e conduzir o leitor para um único efeito;
§§ deve manter um perfeito equilíbrio narrativo e;
§§ trabalha com poucas personagens, em tempo exíguo e em pequenos espaços.

178
Machado de Assis foi um contista extraordinário porque soube manejar
as regras do conto como ninguém. O núcleo temático e narrativo reduzido
e sua força expressiva altamente concentrada do conto machadiano flagra
aspectos psicológicos da natureza humana.
§§ Personagens fortes – as femininas ocupam lugar de destaque.
Como no romance, guardam as ambiguidades típicas do universo femi-
nino; têm força interior; estão no comando, são racionais e calculistas.
§§ Adultério – o tema é explorado implícita – apenas sugerido – e ex-
plicitamente.
§§ Temas psicológicos – a visão de mundo de Machado de Assis é a
mesma nos romances e nos contos. Nestes são uma versão em mi-
niatura do seu modo de interpretar a sociedade. São relatos sofridos,
pesados, recriadores da vida real, notadamente a carioca do final do
século. Prosa com boa dosagem de humor e de tragédia.
Trechos de contos:

Missa do galo

Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta.
Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu
iria acordá-lo à meia-noite.
A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Menezes, que fora casado em primeiras núpcias, com
uma de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem, quando vim de Mangara
para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. [...]
Boa Conceição! Chamavam-lhe “a santa”, e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os esquecimentos do
marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No
capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria um harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe, se a
julgo mal. Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era mediano, nem bonito nem feio. Era o que chamamos
uma pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo. Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse
amar. Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro. Era pelos anos de 1861 ou 1862. Eu já devia estar em Mangara-
tiba, em férias; mas fiquei até o Natal para ver “a missa do galo na Corte”. A família recolheu-se à hora do costume;
eu meti-me na sala da frente, vestido e pronto. Dali passaria ao corredor da entrada e sairia sem acordar ninguém.
Tinha três chaves a porta; uma estava com o escrivão, eu levaria outra, a terceira ficaria em casa.
– Mas, Sr. Nogueira, que fará você todo esse tempo? Perguntou a mãe de Conceição.
– Leio, D. Inácia.
Tinha comigo um romance, os Três Mosqueteiros; velha tradução creio do Jornal do Comércio. Sentei-me
à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um candeeiro de querosene, enquanto a casa dormia, trepei ainda
uma vez ao cavalo magro de D’Artagnan e fui-me às aventuras. Dentro em pouco estava completamente ébrio de
Dumas. Os minutos voavam, ao contrário do que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas,
mas quase sem dar por elas, um acaso. Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro veio acordar-me da leitura.
Eram uns passos no corredor que ia da sala de visitas à de jantar; levantei a cabeça; logo depois vi assomar à porta
da sala o vulto de Conceição.
– Ainda não foi? perguntou ela.
– Não fui, parece que ainda não é meia-noite.

179
– Que paciência!
Conceição entrou na sala, arrastando as
chinelinhas da alcova. Vestia um roupão bran-
co, mal apanhado na cintura. Sendo magra, ti-
nha um ar de visão romântica, não disparatada
com o meu livro de aventuras; fechei o livro;
ela foi sentar-se na cadeira que ficava defronte
de mim, perto do canapé. Como eu lhe pergun-
tasse se a havia acordado, sem querer, fazendo
barulho, respondeu com presteza:
– Não ! qual! Acordei por acordar.
[...]
– Eu gosto muito de romances, mas leio
pouco, por falta de tempo. Que romances é que
você tem lido?
Comecei a dizer-lhe os nomes de alguns.
Conceição ouvia-me com cabeça reclinada no
espaldar, enfiando os olhos por entre as pálpe-
bras meio-cerradas, sem os tirar de mim. De vez
em quando passava a língua pelos beiços, para
umedecê-los. Quando acabei de falar, não me
disse nada; ficamos assim alguns segundos. Em
seguida, vi-a endireitar a cabeça, cruzar os dedos e sobre eles pousar o queixo, tendo os cotovelos nos braços da
cadeira, tudo sem desviar de mim os grandes olhos espertos.
“Talvez esteja aborrecida”, pensei eu.
E logo alto:
– D. Conceição, creio que vão sendo horas, e eu...
– Não, não, ainda é cedo. Vi agora mesmo o relógio; são onze e meia. Tem tempo. Você, perdendo a noite,
é capaz de não dormir de dia?
– Já tenho feito isso.
– Eu, não perdendo uma noite, no outro dia estou que não posso, e meia hora que seja., hei de passar pelo sono.
Mas também estou ficando velha.
– Que velha o quê, D. Conceição?
Tal foi o calor da minha palavra que a fez sorrir. De costume tinha os gestos demorados e as atitudes tran-
quilas; agora, porém ergueu-se rapidamente, passou para o outro lado da sala e deu alguns passos, entre a janela
da rua e a porta do gabinete do marido. Assim, com o desalinho honesto que trazia, dava-me uma impressão sin-
gular. Magra embora, tinha não sei que balanço no andar, como quem lhe custa levar o corpo; essa feição nunca me
pareceu tão distinta como naquela noite. Parava algumas vezes, examinando um trecho de cortina o consertando
a posição de algum objeto no aparador; afinal deteve-se, ante mim, com a mesa de permeio. Estreito era o círculo
das suas ideias; tornou ao espanto de me ver esperar acordado; eu repeti-lhe o que ela sabia, isto é, que nunca
ouvira missa do galo na Corte, e não queria perdê-la.
– É a mesma missa da roça; todas as missas se parecem.
– Acredito; mas aqui há mais luxo e mais gente também. Olhe, a semana santa na Corte é mais bonita que
na roça. S. João não digo, nem Santo Antônio...

180
Pouco a pouco, tinha-se inclinado; fincara os cotovelos no mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos
espalhadas. Não estando abotoadas, as mangas caíram naturalmente, e eu vi-lhe metade dos braços, muitos claros,
e menos magros do que se poderiam supor. A vista não era nova para mim, posto também não fosse comum; na-
quele momento, porém, a impressão que tive foi grande. As veias eram tão azuis, que, apesar da pouca claridade,
podia contá-las do meu lugar. [...]
[...]
Havia também umas pausas. Duas outras vezes, pareceu-me que a via dormir; mas os olhos, cerrados por
um instante, abriam-se logo sem sono nem fadiga, como se ela os houvesse fechado para ver melhor. Uma dessas
vezes creio que deu por mim embebido na sua pessoa, e lembra-me que os tornou a fechar, não sei se apressada ou
vagarosamente. Há impressões dessa noite, que me aparecem truncadas ou confusas. Contradigo-me, atrapalho-
-me. Uma das que ainda tenho frescas é que em certa ocasião, ela, que era apenas simpática, ficou linda, ficou
lindíssima. Estava de pé, os braços cruzados; eu, em respeito a ela, quis levantar-me; não consentiu, pôs uma das
mãos no meu ombro, e obrigou-me a estar sentado. Cuidei que ia dizer alguma cousa; mas estremeceu, como se
tivesse um arrepio de frio voltou as costas e foi sentar-se na cadeira, onde me achara lendo. Dali relanceou a vista
pelo espelho, que ficava por cima do canapé, falou de duas gravuras que pendiam da parede.

181
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme Memórias póstumas

Após ter morrido, em pleno ano de 1869, Brás Cubas (Reginaldo Faria)
decide por narrar sua história e revisitar os fatos mais importantes de sua
vida, a fim de se distrair na eternidade. A partir de então, ele relembra
amigos como Quincas Borba (Marcos Caruso), de sua displicente
formação acadêmica em Portugal, dos amores de sua vida e, ainda, do
privilégio que teve de nunca ter precisado trabalhar em sua vida.

Filme O alienista

O livro O alienista é interessante e envolvente. O assunto abordado


na obra ainda é polêmico até os dias atuais. Seus personagens,
em especial o Dr. Simão, prendem a atenção de quem lê. Uma
verdadeira obra de arte de Machado de Assis.

Filme Dom

“Dom” é um filme brasileiro de 2003, do gênero drama e é uma


reimaginação da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. O filme
marca a estreia do roteirista e diretor Moacyr Góes no cinema.

Filme A cartomante

Rita, noiva de Vilela, se apaixona perdidamente pelo melhor amigo do


noivo. Em dúvida sobre seu futuro e para resolver seu dilema amoroso,
Rita decide consultar uma cartomante. Porém o que as cartas lhe
revelam indicam um caminho diferente do que diz sua psicóloga.

182
LER

Livros
Machado de Assis: literatura comentada, de Marisa Lajolo

Definir o que é, o que não é e o que pode ser literatura, depende


do ponto de vista, do sentido que a palavra tem para cada um, da
situação na qual se discute o que é literatura. Nesta obra, Marisa
Lajolo analisa a vida e a obra do mais famoso escritor da Literatura
Brasileira: Machado de Assis

A sereia e o desconfiado: ensaios críticos, de Roberto Schwarz

Nesse seu livro de ensaios, Roberto Schwarz, um dos nossos maiores


críticos literários, dá mostras ao leitor de como a crítica é capaz de
expor princípios que constituem a obra literária.

Ao vencedor as batatas, de Roberto Schwarz

No ensaio de abertura, “As ideias fora do lugar”, Roberto Schwarz reflete


sobre a comédia ideológica nacional representada pela disparidade
entre a sociedade escravista e as ideias do liberalismo europeu.

Um mestre na periferia do capitalismo, de Roberto Schwarz

Nesse trabalho, o crítico Roberto Schwarz aponta como as liberdades da


prosa machadiana da maturidade atendem à formalização das relações de
classe, cujo traço dominante é a ideologia ambivalente das elites brasileiras.

183
OBRAS

Pintura Belmino de Almeida - Arrufos

Belmino de Almeida, “Arrufos” (1887), óleo sobre tela, 89,1 cm x 116,1 cm.
Museu de Belas Artes, Rio de Janeiro.

184
APLICAÇÃO NO COTIDIANO

Entender e refletir sobre a obra de Machado de Assis é saber lidar com muitas das agruras da sociedade em que vive-
mos. O autor, de maneira genial, apontou os principais defeitos da classe social em plena ascensão em sua época que
era a Burguesia. O interessante é que o mundo liberal, pano de fundo da crítica machadiana, hoje se estabelece como
neoliberal e carrega as mesmas características, quiçá atenuadas, como as falsidades, corrupções, adultérios e relações
pautadas no interesse e na ambição humana, de sua crítica no final do século XIX em sua mais aguda fase realista.
Ter um olhar crítico para com a lógica de poder de nossos tempos foi, sem dúvida, o grande legado que Macha-
do de Assis deixa em suas obras. Com elegância ele destroça a pompa burguesa, com tapas de luva de pelica desnuda
o quão brega e interesseira é a articulação existencial dos detentores dos meios de produção de sua época e de hoje.

185
INTERDISCIPLINARIDADE

O final do século XIX é um tempo de muitas transformações na vida brasileira. Em 1888, é abolida definitivamente
a escravidão. No ano seguinte, como resultado de um golpe militar, é proclamada a República. A Cidade do Rio de
Janeiro cumpre, em 1889, mais uma vez, um papel simbólico fundamental, pois é diante de sua Câmara Municipal,
dissolvido o parlamento do Império, que se dá a posse dos membros do Governo Provisório da República, em vias
de institucionalização. A República, porém, não extirpará num passe de mágica as mazelas do Brasil antigo, nem
terminará com as profundas contradições sociais existentes no país. [...] O Rio de Janeiro, como cenário do novo
regime, torna-se objeto de atenção das preocupações cientificistas da época. Movida pela ideologia do progresso,
a virada do século será marcada pela ideia de modernização urbana – que caracterizará todo o século XX.”
[SANTOS, Afonso Carlos Marques dos. “Do livramento ao Cosme Velho: o Rio de Machado de Assis”.
Texto disponível em http://www.revistaipotes.ufjf.br/volumes/3/cap01.pdf.]

186
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 15 - Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção,


situando aspectos do contexto histórico, social e político.

Esta Habilidade pressupõe que o aluno tenha conhecimento das concepções artísticas vinculadas
ao primeiro aspecto da tríade analítica básica da arte literária (contexto, autor e obra), no caso o
conceito de linguagem utilizada pelos autores em escolas literárias diferentes, mas que se aproxi-
mam tematicamente. A construção dos procedimentos literários está ligada aos fatores estéticos
que podem levar em consideração a forma e/ou conteúdo do texto em relação à concepção
artística do contexto.

Modelo
(Enem) No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro
estilo de época: o Romantismo.
“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura
da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da bele-
za, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade
e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma
sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precá-
rio e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson, 1957.

A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao Romantismo está transcrita na alter-
nativa:
a) “(...) o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas (...)”
b) “(...) era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça (...)”
c) “Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, (...)”
d) “Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos (...)”
e) “(...) o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.“

187
Análise Expositiva

Habilidade 15
Machado de Assis faz uma sutil crítica aos românticos, que idealizavam a mulher, tornando-a
uma espécie de musa inatingível. Capitu era real e, assim como as mocinhas de sua idade,
possuía sardas e espinhas, mas nem por isso deixava de ser bela.
Alternativa A

Estrutura Conceitual

REALISMO NO BRASIL
A segunda metade do século XIX revelou um período de profundas
transformações no modo de pensar e agir das pessoas. Os problemas
e contradições sociais começaram a surgir em nome da Revolução
Industrial, fatores que influenciaram as artes e, claro, a literatura.

CA R ACT E R Í S T I CA S
◊ Objetivismo;
◊ Linguagem culta e direta;
◊ Narrativa lenta, que acompanha o tempo psicológico;
◊ Descrições e adjetivações objetivas, com a finalidade de captar a realidade de maneira fidedigna;
◊ Universalismo;
◊ Sentimentos, sobretudo o amor, subordinados aos interesses sociais;
◊ Herói problemático, cheio de fraquezas;
◊ Não idealização da mulher.

O marco do Realismo na Europa foi registrado,


em 1857, com a publicação do romance Madame
Bovary, do escritor francês Gustave Flaubert.

O início do Realismo no Brasil se dá com a


publicação das famigeradas Memórias póstumas
de Brás Cubas, de Machado de Assis.

Machado de Assis é o criador da Academia Bra-


sileira de Letras (ABL), na data de 20 de julho de
1897. É inspirada na Academia Francesa, fundada,
em 1634, pelo cardeal Richelieu.

188
E.O. Aprendizagem
1. (ITA) O texto abaixo é o início da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis.

Uma noite dessas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz
aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim,
falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode
ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os
olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos
no bolso.
[...] No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro.
Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afi-
nal pegou.
[...] Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que
lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos
de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se
não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo.

Considere as afirmações abaixo referentes ao trecho, articuladas ao romance:


I. O narrador já apresenta seu estilo irônico de narrar.
II. O narrador assume uma alcunha que o caracteriza ao longo do enredo.
III. Os eventos narrados no trecho inicial desencadeiam o conflito central da obra.
IV. O título Dom Casmurro não caracteriza adequadamente o personagem Bentinho.

Estão corretas apenas:


a) I e II.
b) I e III.
c) II e III.
d) II e IV.
e) III e IV.

2. (Insper) As imagens abaixo fazem parte do game “Filosofighters”. Inspirado em jogos de lutas, ele
propõe uma batalha verbal entre importantes filósofos. Nele os argumentos dos pensadores valem
como golpes, conforme se verifica na ilustração abaixo.

189
Relacione as teorias dos pensadores citados 4. Leia o texto e examine a ilustração:
ao excerto de Machado de Assis. Por defen-
ÓBITO DO AUTOR
der posição similar, infere-se que, no jogo,
o “filósofo” Quincas Borba NÃO poderia ser (...) expirei às duas horas da tarde de uma
adversário de: sexta-feira do mês de agosto de 1869, na
a) Aristóteles, pois ao definir a paz como “des- minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns
truição” e a guerra como “conservação”, sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era
Quincas Borba recupera a ideia de que “o solteiro, possuía cerca de trezentos contos e
homem é livre só dentro de regras”. fui acompanhado ao cemitério por onze ami-
b) Jean Paul-Sartre, pois, assim como o filósofo gos. Onze amigos! Verdade é que não hou-
existencialista, o mentor do Humanitismo ve cartas nem anúncios. Acresce que chovia
mostra que a necessidade de alimentação de- – peneirava – uma chuvinha miúda, triste
termina a obediência ou a violação às regras. e constante, tão constante e tão triste, que
c) Hobbes, pois a tese do Humanitismo reafir- levou um daqueles fiéis da última hora a
ma a ideologia do autor de “Leviatã”, enten- intercalar esta engenhosa ideia no discurso
dendo que o estado natural é o conflito. que proferiu à beira de minha cova: –”Vós,
d) Rousseau, pois defende os mesmos princí- que o conhecestes, meus senhores, vós po-
pios do filósofo iluminista, mostrando que, deis dizer comigo que a natureza parece
embora pareça ser uma solução, a guerra estar chorando a perda irreparável de um
traz grandes prejuízos à humanidade. dos mais belos caracteres que tem honrado
e) nenhum dos pensadores citados, pois Quin- a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas
cas Borba, ao contrário deles, prevê um des- do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem
tino promissor para a humanidade. o azul como um crepe funéreo, tudo isto é a
dor crua e má que lhe rói à natureza as mais
3. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus íntimas entranhas; tudo isso é um sublime
primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu louvor ao nosso ilustre finado.” (....)
cap.IX, vers. 1: “Não tenhas ciúmes de tua (Adaptado. Machado de Assis. Memórias póstumas
mulher, para que ela não se meta a enganar- de Brás Cubas. Ilustrado por Cândido Portinari. Rio
de Janeiro: Cem Bibliófilos do Brasil, 1943. p.1.)
-te com a malícia que aprender de ti”. Mas
eu creio que não, 1e tu concordarás comigo;
se te lembras bem da Capitu menina, hás de
reconhecer que uma estava dentro da outra,
2
como a fruta dentro da casca.
Machado de Assis, D.Casmurro

Considerado o fragmento no contexto do ro-


mance, assinale a alternativa correta.
a) O narrador onisciente, ao confirmar sua in-
segurança afetiva, dá pistas ao leitor de que
Capitu, mesmo adulta, manteve o comporta-
mento ingênuo da infância, tendo na verda-
de sido vítima da malícia do amigo Escobar.
b) O narrador protagonista, buscando a cumpli-
cidade do leitor (e tu concordarás comigo, ref.
1), afirma sua convicção de que a esposa, já
falecida, desde muito jovem já manifestara
indícios de um comportamento suspeito.
c) A ambiguidade do discurso de Bento Santia-
go converge para a expressão como a fruta
dentro da casca (ref. 2) que pode ser lida
tanto como prova da inocência da esposa Compare o texto de Machado de Assis com a
como, ao contrário, prova de sua culpa. ilustração de Portinari.
d) Valendo-se de um discurso tendencioso, o advo- É correto afirmar que a ilustração do pintor:
gado Bento Santiago evita ressalvas e modaliza- a) apresenta detalhes ausentes na cena descri-
ções na fala, expondo ao leitor inquestionáveis ta no texto verbal.
indícios da traição de sua mulher Capitu. b) retrata fielmente a cena descrita por Macha-
e) O discurso bíblico citado no início do fragmento do de Assis.
revela que o narrador, preocupado em caracte- c) distorce a cena descrita no romance.
rizar o comportamento da esposa infiel, omite d) expressa um sentimento inadequado à situação.
informações importantes acerca de si próprio. e) contraria o que descreve Machado de Assis.

190
5. (Ufrgs) Considere as seguintes afirmações Qual(is) está(ão) correta(s)?
sobre o romance Memórias Póstumas de Brás a) Apenas I.
Cubas de Machado de Assis. b) Apenas II.
I. Quando filiado a uma ordem religiosa, c) Apenas III.
Brás contrariou sua natureza interesseira d) I e III.
e sentiu-se verdadeiramente recompen- e) II e III.
sado ao diminuir a desgraça alheia.
8. No texto a seguir, Machado de Assis faz uma
II. Baseado na constatação de que, ao olhar
crítica ao Romantismo: Certo não lhe falta
para o próprio nariz, o indivíduo deixa de
imaginação; mas esta tem suas regras, o as-
invejar o que é dos outros, Brás teoriza
tro, leis, e se há casos em que eles rompem
sobre a utilidade da ponta do nariz para
as leis e as regras é porque as fazem novas, é
o equilíbrio das sociedades.
porque se chama Shakespeare, Dante, Goethe,
III. A teoria do Humanitismo de Quincas
Camões.
Borba foi fundamentada no episódio da
Com base nesse texto, notamos que o autor:
borboleta negra, que morreu nas mãos do
a) Preocupa-se com princípios estéticos e acre-
protagonista por não ser azul e bela.
dita que a criação literária deve decorrer de
Quais estão corretas?
uma elaborada produção dos autores.
a) Apenas I.
b) Refuga o Romantismo, na medida em que os
b) Apenas II.
autores desse período reivindicaram uma es-
c) Apenas I e II.
tética oposta à clássica.
d) Apenas I e III.
c) Entende a arte como um conjunto de princípios
e) I, II e III.
estéticos consagrados, que não pode ser mani-
6. (UCS) Memórias Postumas de Brás Cubas, de pulado por movimentos literários específicos.
Machado de Assis, inaugura a chamada se- d) Defende a ideia de que cada movimento lite-
gunda fase da produção literária do autor. rário deve ter um programa estético rígido e
A esse momento está também ligada a obra inviolável.
Dom Casmurro. e) Entende que o Naturalismo e o Parnasianis-
Em relação ao romance Dom Casmurro, ana- mo constituem soluções ideais para pôr ter-
lise a veracidade (V) ou a falsidade (F) das mo à falta de invenção dos românticos.
proposições abaixo.
( ) A ambiguidade e a incerteza permeiam 9. (Upe-ssa) TEXTO 1
as ações dos protagonistas e isso não é
amenizado nem mesmo no desfecho. Tinha dezessete anos; pungia-me um buço-
( ) Capitu, Bentinho, Sancha e Escobar for- zinho que eu forcejava por trazer a bigode.
mam os pares românticos da trama, mar- Os olhos, vivos e resolutos, eram a minha
cada pela busca de ascensão social. feição verdadeiramente máscula. Como os-
( ) O motivo principal que inicialmente im- tentasse certa arrogância, não se distinguia
pede Bentinho de namorar Capitu é o bem se era uma criança, com fumos de ho-
fato de ela pertencer a uma classe social mem, se um homem com ares de menino.
inferior à dele. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e audaz,
Assinale a alternativa que preenche correta- que entrava na vida de botas e esporas, chi-
mente os parênteses, de cima para baixo. cote na mão e sangue nas veias, cavalgando
a) V – V – V um corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel
b) V – F – F das antigas baladas, que o romantismo foi
c) V – F – V buscar ao castelo medieval, para dar com ele
d) F – F – F nas ruas do nosso século. O pior é que o es-
e) F – V – V tafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo
à margem, onde o realismo o veio achar, co-
7. (UPF) Leia as seguintes afirmações sobre a mido de lazeira e vermes, e, por compaixão,
obra Memórias póstumas de Brás Cubas, de o transportou para os seus livros.
Machado de Assis: Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abas-
I. A idealização das personagens é um traço tado; e facilmente se imagina que mais de
significativo do romance. uma dama inclinou diante de mim a fronte
II. Constata-se, na narrativa, uma ruptura pensativa, ou levantou para mim os olhos
com os lugares-comuns que caracteriza- cobiçosos. De todas porém a que me cati-
vam a linguagem no Romantismo. vou logo foi uma... uma... não sei se diga;
III. No romance, destaca-se a presença de este livro é casto, ao menos na intenção;
um narrador que é também o prota- na intenção é castíssimo. Mas vá lá; ou se
gonista da história e que se apresenta há de dizer tudo ou nada. A que me cativou
como defunto autor. foi uma dama espanhola, Marcela, a “linda

191
Marcela”, como lhe chamavam os rapazes do de uma brasileira mal-educada e sem escrú-
tempo. E tinham razão os rapazes. Era filha pulos de virtude! Imaginara-se talhado para
de um hortelão das Astúrias; disse-mo ela grandes conquistas, e não passava de uma
mesma, num dia de sinceridade, porque a vítima ridícula e sofredora!... Sim! no fim de
opinião aceita é que nascera de um letrado contas qual fora a sua África?... Enriquecera
de Madri, vítima da invasão francesa, feri- um pouco, é verdade, mas como? a que preço?
do, encarcerado, espingardeado, quando ela hipotecando-se a um diabo, que lhe trouxe-
tinha apenas doze anos. ra oitenta contos de réis, mas incalculáveis
Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
milhões de desgostos e vergonhas! Arranjara
a vida, sim, mas teve de aturar eternamente
TEXTO 2 uma mulher que ele odiava! E do que afinal
lhe aproveitar tudo isso? Qual era afinal a
Durante dois anos, o cortiço prosperou de sua grande existência? Do inferno da casa
dia para dia, ganhando forças, socando-se para o purgatório do trabalho e vice-versa!
de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, Invejável sorte, não havia dúvida!
inquieto com aquela exuberância brutal de O Cortiço, de Aluízio de Azevedo
vida, aterrado defronte daquela floresta im- Considerando as características temáticas e
placável que lhe crescia junto da casa, por
estilísticas dos textos 1 e 2, analise as pro-
debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e
posições a seguir.
mais grossas do que serpentes, minavam por
I. O Texto 1 é um trecho de um importante
toda a parte, ameaçando rebentar o chão em
torno dela, rachando o solo e abalando tudo. romance de Machado de Assis, o qual des-
Posto que lá na Rua do Hospício os seus negó- taca episódios da vida do próprio autor.
cios não corressem mal, custava-lhe a sofrer II. No Texto 1, é possível perceber costumes
a escandalosa fortuna do vendeiro “aquele do cotidiano burguês numa cidade do
tipo! um miserável, um sujo, que não pusera século XIX, levando o leitor a constatar,
nunca um paletó, e que vivia de cama e mesa pela postura individual do protagonista,
com uma negra!” um segmento social dosado de humor nas
À noite e aos domingos, ainda mais recru- suas próprias experiências.
descia o seu azedume, quando ele, recolhen- III. No Texto 2, é apresentado o comporta-
do-se fatigado do serviço, deixava-se ficar mento decadente da sociedade burguesa
estendido numa preguiçosa, junto à mesa da da segunda metade do século XIX, em que
sala de jantar, e ouvia, a contragosto, o gros- prevalece o interesse individual.
seiro rumor que vinha da estalagem numa IV. As personagens de Aluísio Azevedo, em O
exalação forte de animais cansados. Não Cortiço, são alicerçadas nas ideias de Tai-
podia chegar à janela sem receber no rosto ne, presas ao ambiente e à hereditarie-
aquele bafo, quente e sensual, que o embe- dade, limitadas pelas questões sociais e
bedava com o seu fartum de bestas no coito. pelo meio onde vivem suas experiências.
E depois, fechado no quarto de dormir, indi- Estão CORRETAS:
ferente e habituado às torpezas carnais da a) I, II, III e IV.
mulher, isento já dos primitivos sobressaltos b) I, III e IV, apenas.
que lhe faziam, a ele, ferver o sangue e per- c) II e III, apenas.
der a tramontana, era ainda a prosperidade d) II, III e IV, apenas.
do vizinho o que lhe obsedava o espírito,
e) II e IV, apenas.
enegrecendo-lhe a alma com um feio ressen-
timento de despeito.
Tinha inveja do outro, daquele outro portu-
guês que fizera fortuna, sem precisar roer E.O. Fixação
nenhum chifre; daquele outro que, para ser
mais rico três vezes do que ele, não teve de TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
casar com a filha do patrão ou com a bastar-
Antes de concluir este capítulo, fui à jane-
da de algum fazendeiro freguês da casa!
Mas então, ele Miranda, que se supunha a la indagar da noite por que razão os sonhos
última expressão da ladinagem e da esperte- hão de ser assim tão tênues que se esgarçam
za; ele, que, logo depois do seu casamento, ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo,
respondendo para Portugal a um ex-colega e não continuam mais. A noite não me res-
que o felicitava, dissera que o Brasil era uma pondeu logo. Estava deliciosamente bela, os
cavalgadura carregada de dinheiro, cujas ré- morros palejavam de luar e o espaço morria
deas um homem fino empolgava facilmente; de silêncio. Como eu insistisse, declarou-
ele, que se tinha na conta de invencível ma- -me que os sonhos já não pertencem à sua
treiro, não passava afinal de um pedaço de jurisdição. Quando eles moravam na ilha
asno comparado com o seu vizinho! Pensara que Luciano lhes deu, onde ela tinha o seu
fazer-se senhor do Brasil e fizera-se escravo palácio, e donde os fazia sair com as suas

192
caras de vária feição, dar-me-ia explicações Assinale:
possíveis. Mas os tempos mudaram tudo. Os a) se todas estiverem corretas.
sonhos antigos foram aposentados, e os mo- b) se apenas II e III estiverem corretas.
dernos moram no cérebro da pessoa. Estes, c) se apenas II estiver correta.
ainda que quisessem imitar os outros, não d) se apenas III estiver correta.
poderiam fazê-lo; a ilha dos Sonhos, como e) se todas estiverem incorretas.
a dos Amores, como todas as ilhas de todos
os mares, são agora objeto da ambição e da 4. (Mackenzie) Imagine a leitora que está em
rivalidade da Europa e dos Estados Unidos. 1813, na igreja do Carmo, ouvindo uma da-
Machado de Assis - D. Casmurro
quelas boas festas antigas, que eram todo o
palejavam: tornavam pálidos
recreio público e toda a arte musical. Sabem
1. (Mackenzie) Assinale a alternativa correta o que é uma missa cantada; podem imaginar
sobre “D. Casmurro.” o que seria uma missa cantada daqueles tem-
a) A linguagem concisa e objetiva do autor são pos remotos. Não lhe chamo a atenção para
recursos usados a fim de não prejudicar o os padres e os sacristãos, nem para o sermão,
desenvolvimento linear da narrativa. nem para os olhos das moças cariocas, que
b) O aproveitamento da mitologia segue o prin- já eram bonitos nesse tempo, nem para as
cípio da mimese (“imitação”) de tradição mantilhas das senhoras graves, os calções,
clássico-renascentista. as cabeleiras, as sanefas, as luzes, os incen-
c) A idealização da natureza é prova da influ- sos, nada. Não falo sequer da orquestra, que
ência que o Romantismo exerceu sobre o es- é excelente; limito-me a mostrar-lhes uma
tilo machadiano. cabeça branca, a cabeça desse velho que rege
d) A crítica ao determinismo cientificista é ín- a orquestra, com alma e devoção.”
dice do estilo naturalista de Machado de As-
O trecho anterior, que inicia CATINGA DE ES-
sis.
PONSAIS, extraordinário conto de Machado
e) A digressão permite ao narrador interromper
de Assis, apresenta uma das características
o fluxo narrativo para tecer comentários crí-
de sua prosa.
ticos em tom irônico.
Trata-se:
2. (Mackenzie) Sobre Machado de Assis, é IN- a) do pessimismo.
CORRETO afirmar que: b) do humor.
a) seus primeiros romances como RESSURREI- c) da denúncia da hipocrisia e do egoísmo.
ÇÃO e LAIÁ GARCIA apresentam traços ainda d) da análise psicológica do personagem.
ligados ao Romantismo. e) do leitor incluso.
b) sua poesia apresenta, muitas vezes, carac-
terísticas próprias do Parnasianismo como a TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
busca da perfeição formal e um vocabulário Algum tempo hesitei se devia abrir estas
elevado. memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é,
c) nos contos, não se percebem elementos que
se poria em primeiro lugar o meu nascimen-
o consagraram nos romances, como o pessi-
to ou a minha morte. Suposto o uso vulgar
mismo, negativismo e leitor incluso.
seja começar pelo nascimento, duas conside-
d) os romances de sua segunda fase tornam-
rações me levaram a adotar diferente méto-
-se totalmente realistas, evidenciando as ca-
do: a primeira é que eu não sou propriamen-
racterísticas que o diferenciam na literatura
te um autor defunto, mas um defunto autor,
brasileira.
para quem a campa foi outro berço; a segun-
e) em sua extensa obra, ainda se podem encon-
da é que o escrito ficaria assim mais galan-
trar peças de teatro, crônicas e ensaios
te e mais novo. Moisés, que também contou
3. (Mackenzie) Leia as afirmações a seguir: a sua morte, não a pôs no introito, mas no
I. DOM CASMURRO, MEMÓRIAS PÓSTUMAS cabo: diferença radical entre este livro e o
DE BRÁS CUBAS e QUINCAS BORBA são Pentateuco.
romances narrados em primeira pessoa. Dito isto, expirei às duas horas da tarde de
II. “Helena” e “Iaiá Garcia” encaixam-se na uma sexta-feira do mês de agosto de 1869,
primeira fase dos romances machadia- na minha bela chácara de Catumbi. Tinha
nos, apresentando ainda alguns aspectos uns sessenta e quatro anos, rijos e próspe-
ligados ao Romantismo. ros, era solteiro, possuía cerca de trezentos
III. Há exemplos do pessimismo e da ironia contos e fui acompanhado ao cemitério por
de Machado de Assis tanto em seus ro- onze amigos.
mances como em seus contos. Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.

193
5. (FGV-RJ) Ao configurar as Memórias póstu- II. Nas comparações com o “luncheon”, pre-
mas de Brás Cubas como narrativa em pri- sentes no excerto, o narrador revela ser o
meira pessoa, conforme se verifica no tre- capricho (ou arbítrio) o móvel dominante
cho, Machado de Assis: tanto de seu estilo quanto das ações que
a) deu um passo decisivo em direção ao Realis- relata.
mo, adotando os procedimentos mais típicos III. Na autocrítica do narrador, realizada com
dessa escola. ingenuidade no excerto, oculta-se a crítica
b) visa a criticar o subjetivismo romântico e os do realista Machado de Assis ao Naturalis-
excessos sentimentalistas em que este in- mo dominante em sua época.
correra. Está correto o que se afirma em:
c) deu a palavra ao proprietário escravista e a) I, apenas.
rentista brasileiro do Oitocentos, para que b) II, apenas.
ele próprio exibisse sua desfaçatez. c) I e II, apenas.
d) parodia as Memórias de um sargento de mi- d) II e III, apenas.
lícias, retomando o registro narrativo que as e) I, II e III.
caracterizava.
e) confere confiabilidade aos juízos do narra- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
dor, uma vez que este conhece os aconteci-
mentos de que participou. É interessante notar como, em Machado de
Assis, se aliavam e se irmanavam a superio-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO ridade de espírito, a maior liberdade inte-
rior e um marcado convencionalismo. Dois
CAPÍTULO 73 - O Luncheon* termos que se repelem, pensador e buro-
crata, são os que melhor o exprimem. Entre
O despropósito fez-me perder outro capítulo. Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas
Que melhor não era dizer as coisas lisamen- Borba, a vida nacional passara pelas profun-
te, sem todos estes solavancos! Já comparei das modificações da Abolição e da República.
o meu estilo ao andar dos ébrios. Se a ideia − Que pensa de tudo isso Machado de Assis?
vos parece indecorosa, direi que ele é o que indagava Eça de Queirós.
eram as minhas refeições com Virgília, na À queda da Monarquia, disse Machado no seu
casinha da Gamboa, onde às vezes fazíamos gabinete de burocrata, diante da conveniên-
a nossa patuscada, o nosso luncheon. Vinho, cia de tirar da parede o retrato do impera-
frutas, compotas. Comíamos, é verdade, mas dor:
era um comer virgulado de palavrinhas do- − Entrou aqui por uma portaria, só sairá por
ces, de olhares ternos, de criancices, uma outra portaria.
infinidade desses apartes do coração, aliás o Era o que tinha a dizer aos republicanos,
verdadeiro, o ininterrupto discurso do amor. atônitos com esse acatamento ao ato de um
Às vezes vinha o arrufo temperar o nímio regime findo.
adocicado da situação. Ela deixava-me, refu- Adaptado de: PEREIRA, Lúcia Miguel. Machado
giava-se num canto do canapé, ou ia para o de Assis. 6. ed. rev., Belo Horizonte: Itatiaia;
interior ouvir as denguices de Dona Plácida. São Paulo: EDUSP, 1988, p. 208
Cinco ou dez minutos depois, reatávamos
a palestra, como eu reato a narração, para
7. (PUC-CAMP) Nos romances maduros de Ma-
desatá-la outra vez. Note-se que, longe de
chado de Assis, de que são exemplos Memó-
termos horror ao método, era nosso costu-
rias póstumas de Brás Cubas e Quincas Bor-
me convidá-lo, na pessoa de Dona Plácida, a
sentar-se conosco à mesa; mas Dona Plácida ba, e diante das profundas modificações que
não aceitava nunca. foram a Abolição e a República, o narrador
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
machadiano
(*) Luncheon (Ing.): lanche, refeição ligeira, merenda. a) costuma discorrer longamente em apoio a
essas duas transformações históricas.
b) mostra-se inteiramente avesso a ambas, por
6. (FGV-RJ) Considere as seguintes afirmações serem contrárias às suas convicções.
sobre o excerto das Memórias póstumas de c) mantém-se um tanto distante, pois sua críti-
Brás Cubas, obra fundamental da literatura ca atua mais incisivamente pela ironia sutil.
brasileira: d) constitui, juntamente com o eu poético de
I. Depois de haver comparado seu estilo ao Castro Alves, o duo mais combativo das le-
andar dos ébrios, o narrador resolve com- tras do século XIX.
pará-lo também ao “luncheon”, peniten- e) posiciona-se com grande energia, abraçando
ciando-se, assim, dos vícios que praticara os mais altos ideais do positivismo que pre-
em vida – entre eles, o do alcoolismo. dominava na época.

194
E.O. Complementar Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
1. Sobre “Dom Casmurro”, de Machado de As-
sis, leia as afirmações a seguir e depois assi- E num recanto pôs um mundo inteiro.
nale a alternativa CORRETA: Trago-te flores, – restos arrancados
I. A obra mais conhecida de Machado de As-
Da terra que nos viu passar unidos,
sis tem como temática o adultério femi-
nino, a exemplo de outras narrativas suas São pensamentos idos e vividos.
contemporâneas.
Que eu, se tenho nos olhos mal feridos
II. O ciúme foi a causa da separação de Ben-
Pensamentos de vida formulados,
tinho e Capitu, pois o fato de que Eze-
quiel é filho de Bentinho fica comprovado São pensamentos idos e vividos.
(Machado de Assis)
na narrativa.
III. Ao criticar a sociedade de seu tempo, Ma-
chado de Assis desnuda as relações inter- 3. (Ibmecrj) Quanto à sua forma, podemos
pessoais, sempre egoístas, como acontece afirmar que o texto:
com Bentinho e Capitu. a) Apresenta versos regularmente rimados e
IV. Capitu, a mulher dissimulada, de olhos de
metrificados, bem ao gosto da tradição esté-
cigana oblíqua, não consegue dissimular
sua dor, por ocasião da morte de Escobar. tica clássica.
V. Dom Casmurro é o marco inicial do Rea- b) Apresenta versos livres e sem rimas, confor-
lismo brasileiro, de que Machado de Assis me a tendência moderna da poesia.
é o maior representante. c) É um soneto, forma poética desprestigiada
a) As afirmações I, III e IV estão corretas. pela tradição clássica.
b) As afirmações II, III e V estão corretas. d) Apresenta estrofação regular, típica de ron-
c) Somente a afirmação I está correta. dós.
d) Somente a afirmação V está errada.
e) Não contém preocupações formais.
e) Nenhuma das afirmações acima está errada.

2. A ficção realista de Machado de Assis, no sé-


culo XIX, 4. Todas as passagens de D.Casmurro, de Ma-
a) inaugura a literatura regionalista de proble-
chado de Assis, são exemplos da dissimula-
mática existencial.
b) continua uma literatura de caráter cientifi- ção de Capitu, na visão de Bentinho, EXCETO:
cista iniciada no Naturalismo. a) “A confusão era geral. No meio dela, Capitu
c) cria uma literatura que retrata os conflitos olhou alguns instantes para o cadáver tão
das camadas populares. fixa, tão apaixonadamente fixa, que não ad-
d) incorpora a temática da oposição entre meio mira-lhe saltassem algumas lágrimas poucas
urbano e meio rural. e caladas...”
e) antecipa o romance moderno de linha in- b) “– E você, Capitu, interrompeu minha mãe vol-
trospectiva. tando-se para a filha do Pádua que estava na
sala, com ela, – você não acha que o nosso Ben-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
tinho dará um bom padre?” “ - Acho que sim,
Joaquim Maria Machado de Assis é cronista, senhora, respondeu Capitu cheia de convicção.”
contista, dramaturgo, jornalista, poeta, no- c) “Capitu estava melhor e até boa. Confessou-
velista, romancista, crítico e ensaísta. -me que apenas tivera uma dor de cabeça
Em 2008, comemora-se o centenário de sua de nada, mas agravara o padecimento para
morte, ocorrida em setembro de 1908. Ma- que eu fosse divertir-me. Não falava alegre,
chado de Assis é considerado o mais canô- o que me fez desconfiar que mentia (...)”
nico escritor da Literatura Brasileira e dei- d) “Eu levantei-me depressa e não achei com-
xou uma rica produção literária composta de postura: meti os olhos pelas cadeiras. Ao
textos dos mais variados gêneros, em que se contrário, Capitu ergueu-se naturalmente
destacam o conto e o romance. e perguntou-lhe se a febre aumentara (...)
Segue o texto desse autor, em poesia. Como era possível que Capitu se governasse
tão facilmente e eu não?”
A Carolina
e) “Ouvimos passos no corredor; era D.Fortunata.
Querida, ao pé do leito derradeiro Capitu compôs-se depressa, tão depressa que,
Em que descansas dessa longa vida, quando a mãe apontou à porta, ela abanava a
Aqui venho e virei, pobre querida, cabeça e ria. Nenhum laivo amarelo, nenhu-
Trazer-te o coração do companheiro. ma contração de acanhamento (...)”

195
5
. (Ufrrj) O tema do ciúme foi abordado por Ma- 2. (UFV) Observe como o narrador inicia o pri-
chado de Assis em “Dom Casmurro:” meiro capítulo de “Memórias Póstumas de
Brás Cubas”:
“CAPÍTULO CXXXV
Algum tempo hesitei se devia abrir estas
OTELO
memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é,
Jantei fora. De noite fui ao teatro. Repre- se poria em primeiro lugar o meu nascimen-
sentava-se justamente Otelo, que eu não vira to ou a minha morte. Suposto o uso vulgar
nem lera nunca; sabia apenas o assunto, e seja começar pelo nascimento, duas conside-
estimei a coincidência. (...) O último ato rações me levaram a adotar diferente mé-
mostrou-me que não eu, mas Capitu deve- todo: a primeira é que eu não sou propria-
ria morrer. Ouvi as súplicas de Desdêmona, mente um autor defunto, mas um defunto
as suas palavras amorosas e puras, e a fúria autor , para quem a campa foi outro berço;
do morro, e a morte que este lhe deu entre a segunda é que escrito ficaria assim mais
aplausos frenéticos do público. galante e mais novo.
– E era inocente, vinha eu dizendo rua abai- (ASSIS, Machado de. “Obra completa.” In: COUTINHO,
xo; – que faria o público, se ela deveras fosse Afrânio, org. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. p. 513. v. I)
culpada, tão culpada como Capitu?” (...)
(ASSIS, Machado de. “Obra completa”. Rio, Aguilar, 1982.) Escreva, de forma concisa, sobre o narrador-
-personagem, Brás Cubas, apontando ele-
No fragmento acima, observa-se uma carac- mentos que justifiquem a postura revolucio-
terística recorrente nos romances machadia- nária de Machado de Assis, como iniciador
nos, que é a: do movimento literário realista.
a) crítica aos excessos sentimentais do perso-
nagem. 3. (UFMG) “Vim... Mas não; não alonguemos
b) ausência de monólogos interiores.
este capítulo. Às vezes, esqueço-me a escre-
c) preocupação com questões político-sociais.
ver, e a pena vai comendo papel, com gra-
d) abordagem de tema circunscrito à época re-
ve prejuízo meu, que sou autor. Capítulos
alista.
compridos quadram melhor a leitores pesa-
e) análise do comportamento humano.
dões; e nós não somos um público infólio,
mas in-12, pouco texto, larga margem, tipo
elegante, corte dourado e vinhetas... princi-
E.O. Dissertativo palmente vinhetas... Não, não alonguemos o
capítulo.”
1. (UFU) “NÃO HOUVE LEPRA REDIJA um pequeno texto justificando a ma-
Não houve lepra, mas há febres por todas es- neira como o narrador de MEMÓRIAS PÓSTU-
sas terras humanas, sejam velhas ou novas. MAS DE BRÁS CUBAS, de Machado de Assis,
Onze meses depois, Ezequiel morreu de uma considera o leitor.
febre tifoide, e foi enterrado nas imediações
de Jerusalém, onde os dois amigos da uni- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
versidade lhe levantaram um túmulo com A(s) questão(ões) deve(m) ser respondida(s)
esta inscrição, tirada do profeta Ezequiel, com base no fragmento textual a seguir, re-
em grego: ‘Tu eras perfeito nos teus cami- tirado do capítulo O debuxo e o colorido, do
nhos’. Mandaram-me ambos os textos, grego romance Dom Casmurro, de Machado de Assis.
e latino, o desenho da sepultura, a conta das
despesas e o resto do dinheiro que ele leva- Quando nem mãe nem filho estavam comi-
va; pagaria o triplo para não tornar a vê-lo. go o meu desespero era grande, e eu jurava
Como quisesse verificar o texto, consultei a matá-los a ambos, ora de golpe, ora deva-
minha Vulgata, e achei que era exato, mas gar, para dividir pelo tempo da morte todos
tinha ainda um complemento: ‘Tu eras per- os minutos da vida embaçada e agoniada.
feito nos teus caminhos, desde, o dia da tua Quando, porém, tornava a casa e via no alto
criação’. Parei e perguntei calado: ‘Quando da escada a criaturinha que me queria e es-
seria o dia da criação de Ezequiel?’ Ninguém perava, ficava 1desarmado e diferia o castigo
me respondeu. Eis aí mais um mistério para de um dia para outro.
ajuntar aos tantos deste mundo. Apesar de (Machado de Assis - Obra Completa. Organizada por
Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Aguilar, 1971.)
tudo, jantei bem e fui ao teatro.”
(Machado de Assis. “Dom Casmurro” - Cap. CXLVI)
4. (UFRN) A partir da fala do narrador-per-
Este capítulo de “Dom Casmurro” permite sonagem, reproduzida acima, caracterize o
classificar a narrativa de Machado de Assis relacionamento entre Bentinho (pai) e Eze-
como realista. Desenvolva essa ideia, com- quiel (filho) ao longo do romance. Justifique
provando-a com dois elementos do texto sua resposta.

196
5. (UFSCar) A questão baseia-se no texto a se- lágrimas. Talvez os 11modestos me arguam
guir, de Machado de Assis. esse defeito; fio, porém, que esse talento
Começo a arrepender-me deste livro. Não me 10hão de reconhecer os 12hábeis. Assim,
que ele me canse; eu não tenho que fazer; 5
a minha ideia trazia duas faces, como as
e, realmente, expedir alguns magros capí- medalhas, uma virada para o público, outra
tulos para esse mundo sempre é tarefa que para mim. De um lado, filantropia e lucro; de
distrai um pouco da eternidade. Mas o livro outro, 2sede de nomeada. Digamos: — amor
é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa da glória.
contração cadavérica; vício grave, e aliás ín- Um tio meu, cônego de prebenda inteira,
fimo, porque o maior defeito deste livro és costumava dizer que o amor da glória tem-
tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o poral era a perdição das almas, que só devem
livro anda devagar; tu amas a narração direi- cobiçar a glória eterna. 13Ao que retorquia
ta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este outro tio, oficial de um dos antigos terços
livro e o meu estilo são como os ébrios, gui- de infantaria, que o amor da glória era a
nam à direita e à esquerda, andam e param, coisa mais verdadeiramente humana que há
resmungam, urram, gargalham, ameaçam o no homem e, consequentemente, a sua mais
céu, escorregam e caem... genuína feição.
O trecho apresentado faz parte de “Memó- Decida o leitor entre o militar e o cônego; eu
rias póstumas de Brás Cubas”, obra que tem volto ao emplasto.
como narrador o falecido Brás Cubas. Daí Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás
poder-se entender que escrever distrai um Cubas. Obra completa, v. I. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1992, p. 514-5 (com adaptações).
pouco da eternidade.
a) O narrador tem toda a eternidade para es- Com relação ao texto acima, à obra Memórias
crever. O leitor, porém, tem um tempo di-
Póstumas de Brás Cubas e a aspectos por eles
ferente. Essa oposição estabelece que tipo
de relação entre a obra e o leitor, segundo o suscitados, julgue os itens subsequentes.
narrador? a) O compromisso do narrador com a verdade
b) O narrador compara seu estilo aos ébrios dos fatos, honestidade decorrente da vida
(bêbados), usando orações coordenadas e além-túmulo, e o seu interesse pela ciência
curtas. O que essas orações sugerem? e pela filosofia aproximam a narrativa de
Memórias Póstumas de Brás Cubas da forma
de narrar do Naturalismo, ou seja, da descri-
6. (UNB) O emplasto ção objetiva da realidade.
Um dia de manhã, estando a passear na b) As “arrojadas cambalhotas” (ref. 1) da
chácara, 3pendurou-se-me uma ideia no tra- ideia inventiva de Brás Cubas relacionam-
pézio que eu tinha no cérebro. -se à forma como Machado de Assis compôs
Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a per- esse romance, no qual o narrador intercala
near, a fazer as mais 1arrojadas cambalhotas. a narrativa de suas memórias com divaga-
Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, ções acerca de temas diversos, o que produz
deu um grande salto, estendeu os braços e as constante vaivém na condução do enredo.
c) A narrativa das diferentes faces de uma
pernas, 4até tomar a forma de um X: decifra-
mesma ideia expressa a singularidade do re-
-me ou devoro-te. alismo machadiano, que ultrapassa as con-
Essa ideia era nada menos que a invenção de venções realistas — focadas em desvelar as
um medicamento sublime, um emplasto an- razões econômicas das causas humanitárias
ti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa — e alcança dimensão mais profunda: a de
melancólica humanidade. desnudar o cinismo com que filantropia e
lucro são reduzidos a caprichos do defunto
6
Na petição de privilégio que então redigi, autor em sua “sede de nomeada” (ref. 2).
d) A partir de Memórias Póstumas de Brás
chamei a atenção do governo para esse re- Cubas, o conjunto da obra machadiana di-
sultado, verdadeiramente cristão. Todavia, vide-se em duas fases: a primeira é consti-
não neguei aos amigos as vantagens pecu- tuída por obras em que o foco narrativo é
niárias que deviam resultar da distribuição em terceira pessoa e o tema revela interes-
de um produto de tamanhos e tão profun- se pela sorte dos pobres, como em Helena,
dos efeitos. Agora, porém, que estou cá do por exemplo; a segunda é formada de obras
outro lado da vida, posso confessar 7tudo: o construídas a partir da perspectiva do narra-
que me influiu principalmente foi o gosto dor-personagem associado à classe dominan-
de 9ver impressas nos jornais, mostradores, te local, a exemplo de Dom Casmurro.
folhetos, esquinas e, enfim, nas caixinhas e) No trecho “pendurou-se-me uma ideia no
do remédio, 8estas três palavras: Emplasto trapézio que eu tinha no cérebro” (ref. 3),
Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a a combinação dos pronomes “se” e “me”
paixão do arruído, do cartaz, do foguete de exemplifica a variante padrão da língua

197
portuguesa à época do texto. No que se re- TRECHO 2
fere ao português contemporâneo, uma es-
trutura equivalente que manteria a ênfase “Um dia, andando a passeio com Diogo Mei-
no sujeito da oração e a correção gramatical reles, nesta mesma cidade Fuchéu, naquele
seria a seguinte: uma ideia pendurou-se no ano de 1552, sucedeu deparar-se-nos um
trapézio que eu tinha em meu cérebro. ajuntamento de povo, à esquina de uma rua,
f) Se considerada a noção de signo linguísti- em torno a um homem da terra, que dis-
co no trecho “até tomar a forma de um X: corria com grande abundância de gestos e
decifra-me ou devoro-te” (ref. 4), observa-se vozes. O povo, segundo o esmo mais baixo,
uma relação não arbitrária entre o significa- seria passante de cem pessoas, varões so-
do de “X” e o seu significante, assim como mente, e todos embasbacados.”
MACHADO DE ASSIS, J.M. O segredo do bonzo. In: “Papéis
acontece com o signo “ideia” no trecho “a
avulsos”. São Paulo: Martin Claret, 2007. p.102.
minha ideia trazia duas faces, como as me-
dalhas” (ref. 5). REDIJA um texto, caracterizando a posição
g) No trecho “Na petição de privilégio que en- do narrador em relação ao acontecimento
tão redigi” (ref. 6), o pronome tem a função narrado em cada um desses trechos.
de complemento do verbo.
h) O termo “tudo” (ref. 7) especifica e resume 9. (ITA) O texto abaixo é um dos mais impor-
as ideias evocadas na estrutura após o sinal tantes capítulos do romance “Dom Casmur-
de dois-pontos. ro”, de Machado de Assis. Leia-o com aten-
i) O termo “estas três palavras” (ref. 8) é com- ção e responda às perguntas seguintes.
plemento direto de “ver” (ref. 9) e sintetiza Capítulo 123: “Olhos de ressaca”
o termo coordenado que antecede essa ex- Enfim, chegou a hora da encomendação e da
pressão. partida. Sancha quis despedir-se do marido,
j) Em “hão de reconhecer” (ref. 10), o verbo e o desespero daquele lance consternou a
auxiliar denota tempo futuro e de obriga- todos. Muitos homens choravam também, as
toriedade de ação, o que ratifica, no nível mulheres todas. Só Capitu, amparando a viú-
estrutural, a oposição postulada pelo autor va, parecia vencer-se a si mesma. Consolava
entre “modestos” (ref. 11) e “hábeis” (ref. a outra, queria arrancá-Ia dali. A confusão
12). era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns
k) No texto, o vocábulo “sede” (ref. 2) significa instantes para o cadáver tão fixa, tão apai-
ânsia, desejo e distingue-se de sede, local xonadamente fixa, que não admira lhe sal-
tassem algumas lágrimas poucas e caladas...
onde funciona a representação principal de
As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as
firma ou empresa. No que se refere a esses
dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a
dois vocábulos, o acento tônico é o recurso
furto para a gente que estava na sala. Redo-
da língua com capacidade de discriminar os
brou de carícias para a amiga, e quis levá-la;
significados distintos.
mas o cadáver parece que a retinha também.
l) No trecho “Ao que retorquia outro tio, ofi- Momento houve em que os olhos de Capitu
cial” (ref. 13), observa-se oração adjetiva fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o
como elemento modificador do aposto, que pranto nem palavras desta, mas grandes e
inicia o período. abertos, como a vaga do mar lá fora, como
se quisesse tragar também o nadador da ma-
7. (UFMG) Leia estes trechos: nhã.
a) Como é o comportamento de Capitu no ve-
TRECHO 1 lório de Escobar? O que chama a atenção de
Bentinho no comportamento de Capitu?
“Tinham batido quatro horas no cartório do b) Por que essa passagem é importante no de-
tabelião Vaz Nunes, à Rua do Rosário. Os es- senvolvimento do romance de Machado de
creventes deram ainda as últimas penadas: Assis?
depois limparam as penas de ganso na ponta
de seda preta que pendia da gaveta ao lado;
fecharam as gavetas, concertaram os papéis,
arrumaram os autos e os livros, lavaram as
mãos; alguns, que mudavam de paletó à en-
trada, despiram o do trabalho e enfiaram o
da rua; todos saíram. Vaz Nunes ficou só.”
MACHADO DE ASSIS, J.M. O empréstimo. In: “Papéis
avulsos”. São Paulo: Martin Claret, 2007. p.120-121.

198
E.O. UERJ Olhou para ele a ver se lhe descobria essa
intenção torcida, mas a cara do filho tinha

Exame Discursivo
então o aspecto do entusiasmo. Pedro lia
trechos do discurso, acentuando as belezas,
repetindo as frases mais novas, cantando as
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO mais redondas, revolvendo-as na boca, tudo
com tão boa sombra que a mãe perdeu a sus-
O DISCURSO peita, e a impressão do discurso foi resolvi-
da. Também se tirou uma edição em folheto,
e o pai mandou encadernar ricamente sete
Natividade é que não teve distrações de es- exemplares, que levou aos ministros, e um
pécie alguma. Toda ela estava nos filhos, e ainda mais rico para a Regente.
agora especialmente na carta e no discurso. MACHADO DE ASSIS
Começou por não dar resposta às 1efusões Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.
políticas de Paulo; foi um dos conselhos do
conselheiro. Quando o filho tornou pelas fé- 1
efusão − manifestação expansiva de senti-
rias tinha esquecido a carta que escrevera. mentos
O discurso é que ele não esqueceu, mas quem 4
assentir − concordar
é que esquece os discursos que faz? Se são
bons, a memória os grava em bronze; se
1. (Uerj 2017) Natividade, que em tudo via a
ruins, deixam tal ou qual amargor que dura
muito. 2O melhor dos remédios, no segundo inimizade dos gêmeos, suspeitou que o in-
caso, é supô-los excelentes, e, se a razão não tuito de Pedro fosse justamente comprome-
aceita esta imaginação, consultar pessoas ter Paulo. Olhou para ele a ver se lhe des-
que a aceitem, e crer nelas. A opinião é um cobria essa intenção torcida, mas a cara do
velho óleo incorruptível. filho tinha então o aspecto do entusiasmo.
Paulo tinha talento. O discurso naquele dia Pedro lia trechos do discurso, acentuando
podia pecar aqui ou ali por alguma ênfase, e as belezas, repetindo as frases mais novas,
uma ou outra ideia vulgar e exausta. Tinha cantando as mais redondas, revolvendo-as
talento Paulo. Em suma, o discurso era bom. na boca, tudo com tão boa sombra que a mãe
Santos achou-o excelente, leu-o aos amigos perdeu a suspeita, e a impressão do discurso
e resolveu transcrevê-lo nos jornais. 3Nativi- foi resolvida. (ref. 5)
dade não se opôs, mas entendia que algumas
Nesse trecho, observa-se que Pedro, mesmo
palavras deviam ser cortadas.
com posição política contrária à de Paulo, lê
– Cortadas, por quê? perguntou Santos, e fi-
com entusiasmo o discurso do irmão, trocan-
cou esperando a resposta.
do de lugar com ele. Essa troca de papéis su-
– Pois você não vê, Agostinho; estas palavras gere uma crítica acerca da política daquela
têm sentido republicano, explicou ela relen- época. Explicite essa crítica. Aponte, ainda,
do a frase que a afligira. a relação de sentido que a oração sublinhada
Santos ouvia-as ler, leu-as para si, e não dei- estabelece com a anterior.
xou de lhe achar razão. Entretanto, não ha-
via de as suprimir.
– Pois não se transcreve o discurso.
– Ah! isso não! O discurso é magnífico, e não
E.O. Objetivas
há de morrer em S. Paulo; é preciso que a (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
Corte o leia, e as províncias também, e até
não se me daria fazê-lo traduzir em francês.
Em francês, pode ser que fique ainda melhor. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
– Mas, Agostinho, isto pode fazer mal à car- (…) Um poeta dizia que o menino é o pai do
reira do rapaz; o imperador pode ser que não homem. Se isto é verdade, vejamos alguns
goste... lineamentos do menino.
Pedro, que assistia desde alguns instantes ao Desde os cinco anos merecera eu a alcunha
debate, interveio docemente para dizer que de “menino diabo”; e verdadeiramente não
os receios da mãe não tinham base; era bom era outra coisa; fui dos mais malignos do
pôr a frase toda, e, a rigor, não diferia muito meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e
do que os liberais diziam em 1848. voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei
– Um monarquista liberal pode muito bem a cabeça de uma escrava, porque me nega-
assinar esse trecho, concluiu ele depois de ra uma colher do doce de coco que estava
reler as palavras do irmão. fazendo, e, não contente com o malefício,
– Justamente! 4assentiu o pai. deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não
5
Natividade, que em tudo via a inimizade satisfeito da travessura, fui dizer à minha
dos gêmeos, suspeitou que o intuito de Pe- mãe que a escrava é que estragara o doce
dro fosse justamente comprometer Paulo. “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos.

199
Prudêncio, um moleque de casa, era o meu mais de perto, com os meus olhos longos,
cavalo de todos os dias; punha as mãos no constantes, enfiados neles, e a isto atribuo
chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa que entrassem a ficar crescidos, crescidos e
de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma sombrios, com tal expressão que...
varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas Retórica dos namorados, dá-me uma compa-
a um e outro lado, e ele obedecia, — algumas ração exata e poética para dizer o que foram
vezes gemendo — mas obedecia sem dizer aqueles olhos de Capitu. Não me acode ima-
palavra, ou, quando muito, um — “ai, nho- gem capaz de dizer, sem quebra da dignida-
nhô!” — ao que eu retorquia: “Cala a boca, de do estilo, o que eles foram e me fizeram.
besta!” — Esconder os chapéus das visitas, Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me
dá ideia daquela feição nova. Traziam não
deitar rabos de papel a pessoas graves, pu-
sei que fluido misterioso e enérgico, uma
xar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões
força que arrastava para dentro, como a vaga
nos braços das matronas, e outras muitas fa-
que se retira da praia, nos dias de ressaca.”
çanhas deste jaez, eram mostras de um gê-
(Machado de Assis, “Dom Casmurro”.)
nio indócil, mas devo crer que eram também
expressões de um espírito robusto, porque No texto de Sabino, o narrador questiona a
meu pai tinha-me em grande admiração; e traição de Capitu. Lendo o texto de Machado,
se às vezes me repreendia, à vista de gente, pode-se entender que esse questionamento
fazia-o por simples formalidade: em particu-
decorre de:
lar dava-me beijos.
a) os fatos serem narrados pela visão de uma
Não se conclua daqui que eu levasse todo o
personagem, no caso, o narrador em primei-
resto da minha vida a quebrar a cabeça dos
outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas ra pessoa, que fornece ao leitor o perfil psi-
opiniático, egoísta e algo contemptor dos cológico de Capitu.
homens, isso fui; se não passei o tempo a b) a personagem ser vista por José Dias como
esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes “oblíqua e dissimulada”, o que gerou mal-
puxei pelo rabicho das cabeleiras. -estar no apaixonado de Capitu, deixando de
(Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.) vê-la como uma mulher de encantos.

1. (Unifesp) É correto afirmar que: c) a apresentação da personagem Capitu ser


a) se trata basicamente de um texto naturalis- feita no romance de maneira muito objetiva,
ta, fundado no Determinismo. sem expressão dos sentimentos que a vincu-
b) o texto revela um juízo crítico do contexto lavam ao homem que a amava.
escravista da época. d) os aspectos psicológicos de Capitu serem
c) o narrador se apresenta bastante sisudo e apresentados apenas pelos comentários de
amargo, bem ao gosto machadiano. José Dias, o que lhe torna a caracterização
d) o texto apresenta papéis sociais ambíguos muito subjetiva.
e) o amado de Capitu não conseguir enxergar
das personagens em foco.
nela características mais precisas e menos
e) os comportamentos desumanos do narrador
misteriosas, o que o faz descrevê-la de forma
são sutilmente desnudados.
bastante idealizada.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
Ultimamente ando de novo intrigado com o Tinha-me lembrado a definição que José Dias
enigma de Capitu. Teria ela traído mesmo o dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissi-
marido, ou tudo não passou de imaginação mulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas
dele, como narrador? Reli mais uma vez o dissimulada sabia, e queria ver se se podiam
romance e não cheguei a nenhuma conclu- chamar assim. Capitu deixou-se fitar e exa-
são. Um mistério que o autor deixou para a minar. Só me perguntava o que era, se nunca
posteridade. os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e
(Fernando Sabino, O bom ladrão.) a doçura eram minhas conhecidas. A demo-
ra da contemplação creio que lhe deu outra
2. (Unifesp) “Tinha-me lembrado a definição ideia do meu intento; imaginou que era um
que José Dias dera deles, “olhos de cigana pretexto para mirá-los mais de perto, com
oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que os meus olhos longos, constantes, enfiados
era oblíqua, mas dissimulada sabia, e que- neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar
ria ver se se podiam chamar assim. Capitu crescidos, crescidos e sombrios, com tal ex-
deixou-se fitar e examinar. Só me pergunta- pressão que...
va o que era, se nunca os vira; eu nada achei Retórica dos namorados, dá-me uma compa-
extraordinário; a cor e a doçura eram minhas ração exata e poética para dizer o que foram
conhecidas. A demora da contemplação creio aqueles olhos de Capitu. Não me acode ima-
que lhe deu outra ideia do meu intento; gem capaz de dizer, sem quebra da dignida-
imaginou que era um pretexto para mirá-los de do estilo, o que eles foram e me fizeram.

200
Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me
dá ideia daquela feição nova. Traziam não E.O. Dissertativas
sei que fluido misterioso e enérgico, uma
força que arrastava para dentro, como a vaga
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
que se retira da praia, nos dias de ressaca.
(Machado de Assis, Dom Casmurro.) 1. (Fuvest) Responda ao que se pede.
Qual é a relação entre o “sistema de filoso-
fia” do “Humanitismo”, tal como figurado
3. (Unifesp) Para o narrador, os olhos de Capi-
nas Memórias póstumas de Brás Cubas, de
tu eram “olhos de ressaca, como a vaga que
Machado de Assis, e as correntes de pensa-
se retira da praia, nos dias de ressaca”.
mento filosófico e científico presentes no
Entende-se, então, que ele:
contexto histórico-cultural em que essa obra
a) começava a nutrir sentimento de repulsa em
foi escrita? Explique resumidamente.
relação a ela, como está sugerido em [seus
olhos] “entrassem a ficar crescidos, cresci-
2. (Fuvest) No excerto abaixo, narra-se parte
dos e sombrios, com tal expressão que...”
do encontro de Brás Cubas com Quincas Bor-
b) se sentia fortemente atraído por ela, como
ba, quando este, reduzido à miséria, mendi-
comprova o trecho: “Traziam não sei que
gava nas ruas do Rio de Janeiro:
fluido misterioso e enérgico, uma força que
Tirei a carteira, escolhi uma nota de cinco
arrastava para dentro...”
mil-réis, – a menos limpa, – e dei-lha [a
c) passou a desconfiar da sinceridade dela,
Quincas Borba]. Ele recebeu-ma com os olhos
como está exposto em: “mas dissimulada
cintilantes de cobiça. Levantou a nota ao ar,
sabia, e queria ver se se podiam chamar as-
e agitou-a entusiasmado.
sim.”
— In hoc signo vinces!* bradou.
d) começava a vê-la como uma mulher comum,
E depois beijou-a, com muitos ademanes de
sem atrativos especiais, como demonstra o
ternura, e tão ruidosa expansão, que me pro-
trecho: “eu nada achei extraordinário...”
duziu um sentimento misto de nojo e lásti-
e) deixava de vê-la como uma mulher enig-
ma. Ele, que era arguto, entendeu-me; ficou
mática, como está sugerido em: “Olhos de
sério, grotescamente sério, e pediu-me des-
ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia
culpa da alegria, dizendo que era alegria de
daquela feição nova.”
pobre que não via, desde muitos anos, uma
nota de cinco mil-réis.
4. (Unifesp) Ao afirmar que Capitu tinha olhos — Pois está em suas mãos ver outras muitas,
de “cigana oblíqua”, José Dias a vê como disse eu.
uma mulher: — Sim? acudiu ele, dando um bote para mim.
a) irresistível. — Trabalhando, concluí eu.
b) inconveniente. * “In hoc signo vinces!”: citação em latim que
c) compreensiva. significa “Com este sinal vencerás” (frase que
d) evasiva. teria aparecido no céu, junto de uma cruz, ao
e) irônica. imperador Constantino, antes de uma batalha).
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
5. (Unicamp 2017) O romance Memórias pós-
a) Tendo em vista a autobiografia de Brás
tumas de Brás Cubas é considerado um di-
Cubas e as considerações que, ao longo de
visor de águas tanto na obra de Machado de
suas Memórias póstumas, ele tece a respei-
Assis quanto na literatura brasileira do sé-
to do tema do trabalho, comente o conselho
culo XIX. Indique a alternativa em que todas
que, no excerto, ele dá a Quincas Borba: “—
as características mencionadas podem ser
Trabalhando, concluí eu”.
adequadamente atribuídas ao romance em
b) Tendo, agora, como referência, a história de
questão.
D. Plácida, contada no livro, discuta sucinta-
a) Rejeição dos valores românticos, narrativa
mente o mencionado conselho de Brás Cubas.
linear e fluente de um defunto autor, visão
pessimista em relação aos problemas sociais.
b) Distanciamento do determinismo científico, 3. (Fuvest) No capítulo CXIX das Memórias
cultivo do humor e digressões sobre bana- póstumas de Brás Cubas, o narrador declara:
lidades, visão reformadora das mazelas so- “Quero deixar aqui, entre parêntesis, meia
ciais. dúzia de máximas das muitas que escrevi
c) Abandono das idealizações românticas, uso por esse tempo.” Nos itens a) e b) encon-
de técnicas pouco usuais de narrativa, su- tram-se reproduzidas duas dessas máximas.
gestão implícita de contradições sociais. Considerando-as no contexto da obra a que
d) Crítica do realismo literário, narração ini- pertencem, responda ao que se pede.
ciada com a morte do narrador-personagem, “Máxima”: fórmula breve que enuncia uma
tematização de conflitos sociais. observação de valor geral; provérbio.

201
a) “Matamos o tempo; o tempo nos enterra.” 5.
Pode-se relacionar essa máxima à maneira a) A obra é atemporal; e o leitor está sujeito
de viver do próprio Brás Cubas? Justifique a um tempo limitado: o da leitura.
sucintamente. b) As orações são “ilustrações” do andar de
b) “Suporta-se com paciência a cólica do próxi- um ébrio.
mo.” A atitude diante do sofrimento alheio, 6.
expressa nessa máxima, pode ser associada a) Incorreto.
a algum aspecto da filosofia do “Humanitis- b) Correto.
mo”, formulada pela personagem Quincas c) Correto.
Borba? Justifique sua resposta. d) Correto.
e) Correto.
f) Incorreto.
Gabarito g) Correto.
h) Incorreto.
i) Incorreto.
E.O. Aprendizagem j) Incorreto.
1. A 2. C 3. B 4. A 5. B k) Incorreto.
l) Correto
6. B 7. E 8. A 9. D Não são verdadeiras as avaliações respeitan-
tes aos itens [A], [F], [H], [I], [J] e [K],
pois:
E.O. Fixação Em [A], a narrativa de Memórias Póstumas
de Brás Cubas representa a vertente realis-
1. E 2. C 3. B 4. E 5. C
ta de cunho psicológico, a qual, ao invés de
6. B 7. C descrever a sociedade objetiva e detalhada-
mente, se concentra na visão de mundo de
seus personagens, expondo suas contradi-
E.O. Complementar ções. Assim, não se preocupa com a veracida-
de dos fatos, uma vez que pretende apenas
1. A 2. E 3. A 4. A 5. E gerar reflexões sobre o conflito da essência
do ser humano frente às circunstâncias do
mundo que o cerca.
E.O. Dissertativo Em [F], chama-se de “arbitrário” o sinal lin-
1. Machado de Assis apresenta a morte de seu guístico que nada contém em si mesmo da
filho, Ezequiel, de forma objetiva, sem emo- ideia que representa, estando o seu signifi-
ções. cado determinado pela relação que mantém
É com crueldade que se refere às despesas do com outros sinais. Ora os trechos citados
enterro de Ezequiel, afirmando que “pagaria constituem uma alegoria que explica a deci-
o triplo para não tornar a vê-lo”. são de Brás Cubas em inventar o emplastro:
2. Embora a enunciação de Brás Cubas paire no a ideia transforma-se em figura humana e
absurdo, pois um morto não fala, e sobretudo esta, na letra enigmática de um X, estabe-
não escreve, o personagem identifica-se na lecendo a incógnita cuja decifração depende
obra como um “defunto-autor”. Talvez Ma- exclusivamente do narrador. Assim, o sinal
chado, inovando sua técnica, entendesse que linguístico X não pode ser considerado “não
seu narrador merecia uma exceção, dado que arbitrário”.
ao figurar-se como morto, dava-lhe uma van- Em [H], as funções especificativas ou resu-
tagem: mostrar-se multifacetado. Enquanto mitivas são determinadas pelo aposto, sem-
morto caracterizava-se como ser inteligente; pre relacionado com termos anteriores. As-
e morto, um “debochado”, “palhaço”. sim, a estrutura enunciada depois dos dois
3. O narrador machadiano expõe ao leitor os pontos é que especifica o termo “tudo” e não
problemas da criação literária e da técnica o contrário;
narrativa, chamando-o a participar do pro- Em [I], o termo “estas três palavras” cons-
cesso narrativo. titui um objeto direto com um único núcleo,
4. Bentinho não sente uma afinidade com Eze- portanto, não coordenado. As três palavras
quiel. Após a morte de Escobar, começa a ver referidas serão mencionadas a seguir no
no filho Ezequiel a fisionomia, os gestos, a aposto enumerativo “Emplasto Brás Cubas”.
personalidade do amigo. Em [J], o verbo auxiliar denota tempo futuro
É enorme a crueldade de Bentinho com o e de obrigatoriedade, mas não está relacio-
filho ao tentar matá-lo, envenenando-o, ou nado estruturalmente à oposição “modestos
quando se refere às despesas de seu enterro, e “hábeis”. O narrador atribui a capacidade
afirmando que “pagaria o triplo para não o de percepção do seu talento apenas aos “há-
ver mais” . beis”, inteligentes e astutos.

202
Em [K], ambas as palavras são paroxítonas, 2.
portanto, não é o acento tônico que as di- a) O conselho de Brás Cubas a Quincas Borba
ferencia, mas sim o timbre da vogal tônica revela a hipocrisia do personagem-narra-
“e” que é fechado em sede quando significa dor que, nascido em família abastada e
ânsia, desejo e aberto em sede, local onde amparado pelos privilégios concedidos à
funciona a representação principal de firma elite burguesa do Segundo Reinado, nun-
ou empresa. ca teve de trabalhar para garantir a sua
7.
No texto I, o narrador mostra um tabelião sobrevivência.
honesto, observador, que fica só por traba- b) Brás Cubas assume comportamentos dife-
lhar por prazer, não apenas pelo salário, en- rentes relativamente a Quincas Borba e a
quanto os outros funcionários demonstram D. Plácida. Enquanto que ao primeiro, num
trabalhar pensando mais na vida que os es- gesto vaidoso e paternalista, dava uma
pera lá fora do que nas suas responsabilida- pequena esmola e aconselhava a trabalhar
des profissionais. para conseguir mais dinheiro, à segunda,
No texto II, o narrador mostra que o povo se movido pelo interesse em manter uma
ilude com palavras, quando ditas com vee- aliada para os seus encontros clandestinos
mência. com Virgília, oferecia quantias generosas
8. sem nenhum sentimento de culpa.
a) Capitu parece sofrer muito com a morte 3.
de Escobar, tenta consolar a viúva e olha a) Sim, a vida ociosa de Brás Cubas, a dis-
o defunto fixamente, dando a Bentinho a plicência com que encarou cada etapa da
ideia de que agia como se fosse a própria sua carreira profissional e a superficiali-
viúva. dade das relações afetivas com as pessoas
b) Porque o romance gira em torno dos ci- de quem se aproximou revelam um per-
úmes de Bentinho por Capitu. A cena no curso existencial sem valor ou qualidade.
velório fortalece o pensamento de Benti- O balanço final da sua vida, exposto no
nho com relação a uma traição da esposa capítulo “Das negativas”, apresenta um
com o amigo morto Escobar. narrador que analisa o gênero humano
com ceticismo e desprezo, confirmando
melancolicamente a máxima “Matamos o
E.O. UERJ tempo; o tempo nos enterra.”
b) O “Humanitismo” do filósofo Quincas
Exame Discursivo Borba defende a supremacia “do império
1.
A crítica acerca da política daquela época da lei do mais forte, do mais rico e do
que a troca de papéis sugere é que não há mais esperto”. Surge pela primeira vez,
uma oposição nítida entre os discursos mo- na prosa machadiana, para desnudar iro-
narquista e republicano. nicamente as teorias do Positivismo de
A relação de sentido que a oração sublinhada Auguste Comte, do Cientificismo do sé-
estabelece com a anterior é de consequência. culo XIX e do caráter desumano e anti-
ético da teoria de Charles Darwin acerca
da seleção natural da “lei do mais forte”
E.O. Objetivas se associada às ciências sociais. A frase
“Suporta-se com paciência a cólica do
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) próximo” é condizente com a filosofia
1. B 2. A 3. B 4. D 5. C do Humanitismo, já que privilegia tudo
o que seja em beneficio próprio e apregoa
a total indiferença ao sofrimento dos ou-
E.O. Dissertativas tros.

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)


1. O Humanitismo, sistema filosófico tão per-
feito que nasceu para arruinar todo arca-
bouço teórico da época, é uma crítica velada,
sobretudo ao Positivismo de Comte, que re-
sumia o mundo aos fenômenos observáveis.
Segundo Quincas Borba, a sobrevivência dos
mais aptos, ditada pela máxima a vida é
luta, era a força propulsora para as guerras e
para a fome, sempre convenientes aos mais
fortes e prejudicial aos mais fracos, uma crí-
tica também ao evolucionismo de Darwin.

203
Aula 15

Naturalismo no Brasil
Competência 5
Habilidades 15, 16 e 17
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Naturalismo no Brasil

Não é de hoje que a cidade do Rio de Janeiro é dividida entre ricos e pobres, morro e asfalto. Basta ler o romance
O cortiço (1890), obra-prima de Aluísio Azevedo (1857-1913), para perceber que os contrastes sociais já faziam
parte do dia a dia dos cariocas desde o século XIX. Ambientada nas vésperas da Abolição e da Proclamação da
República, a história revela um efervescente ambiente urbano, construído à luz da observação do cotidiano e sob a
influência da literatura francesa – notadamente do romance L’assommoir (A taberna), 1877, do francês Émile Zola
(1840-1902), inspirador do naturalismo francês do qual Azevedo é seguidor.

Contexto
Na tentativa de acabar com os cortiços no Rio de Janeiro, muitos pobres foram literalmente empurrados para longe
da cidade e para os morros, onde se formaram as favelas. O fim da escravidão e o início do período republicado
no Brasil foram marcados por
conflitos e revoltas populares
também no Rio de Janeiro. Em
1904, estourou um movimen-
to de caráter popular desenca-
deado contra a campanha de
vacinação obrigatória contra a
varíola, imposta pelo governo
federal.

207
Revolta popular

A revolta engrossava a cada dia, impulsionada pela crise econômica – desemprego, inflação e alto custo de vida. A
reforma urbana retirou a população pobre do centro da cidade, derrubando cortiços e habitações simples.
Espalhados pelas ruas, populares destruíam bondes e apedrejavam prédios públicos. Em 16 de novembro de
1904, o presidente Rodrigues Alves revogou a lei da vacinação obrigatória e mandou que o exército, a marinha e a
polícia acabassem com os tumultos.

Burguesia versus proletariado

A segunda metade do século XIX foi caracterizado pela consolidação do poder da burguesia, do materialismo e
do crescimento do proletariado. De um lado, o progresso, representado pelo crescimento das cidades; de outro, o
crescimento dos bairros pobres onde residiam os operários. Enquanto a burguesia lutava pelo dinheiro e pelo poder,
o operário manifestava sua insatisfação e promovia as primeiras greves. Nessa conjuntura nasceram e desenvolve-
ram-se as ciências sociais, preconizando o desenvolvimento científico, que levaram à substituição o idealismo e o
tradicionalismo pelo materialismo e racionalismo. O método científico passou a ser o meio de análise e compreen-
são da realidade. Teorias desse naipe deram fundamentos ideológicos à literatura realista-naturalista, quais sejam:
teoria determinista, de Hippolyte Taine (1825-1893), encarava o comportamento humano como determinado pela
hereditariedade, pelo meio e pelo momento; e a teoria evolucionista, de Charles Darwin (1809-1882) defendia a
tese de que o homem descende dos animais.
As características do naturalismo literário são ligadas à realidade da época cujo tom deixa de ser tão poético
e subjetivo, como nas escolas precedentes.
Os romances naturalistas revelam:

§§ veracidade – as narrativas buscam seus correspondentes na realidade;


§§ contemporaneidade – essa realidade retratava com fidelidade as personagens reais, vivas, não idealizadas;
§§ detalhismo – a caracterização das personagens e ambientes é minuciosa; o amor é materializado; e a
mulher passa a ser vista como objeto de prazer masculino;
§§ denúncia das injustiças sociais – levada pela função social da arte, a literatura denuncia o preconceito
e a ambição humanos;

208
§§ determinismo e causalidade – busca da explicação lógica para o comportamento das personagens;
consideração da soma de fatores que justificam suas atitudes; visão de mundo determinista e mecanicista;
homem próximo ao animal (zoomorfismo);
§§ linguagem popular e coloquial – emprego de termos e sentidos comuns aos das personagens cotidia-
nas; linguagem é simples, natural e clara;
§§ cientificismo – caracterização e análise objetivas das personagens, consideradas casos a serem analisados;
§§ personagens patológicas – mórbidas, adúlteras, assassinas, bêbadas, miseráveis, doentes, prostitutas
procuram comprovar a tese determinista sobre o ser humano.

Diferenças entre Realismo e Naturalismo

Realismo Naturalismo
§§ Visão determinista
§§ Mergulho psicológico §§ Cientificismo
§§ Retrato fiel da personagem §§ Zoomorfismo
§§ Personagem esférica §§ Classes dominadas (pobres e favelados)
§§ Materialização do amor §§ Emprego de termos técnicos
§§ Veracidade §§ Personagens patológicas e biológicas
§§ Classes dominantes (burguesia urbana) §§ Determinismo, evolucionismo, positivismo
§§ Influência de Gustave Flaubert (França) §§ Foco na terceira pessoa
§§ Conclusões tiradas pelos leitor §§ Romance de tese (experimental)
§§ Influência de Émile Zola (França)

Aluísio Azevedo
Aluísio Azevedo (1857-1913) deixou São Luís do Maranhão, onde nas-
ceu, aos dezenove anos e veio para o Rio de Janeiro. Lá morou com o
irmão, Artur Azevedo, e dedicou-se persistentemente ao desenho e à
pintura na Imperial Academia de Belas-Artes.
Aos vinte e um anos voltou a São Luís, onde passou a colaborar
na imprensa local. Em 1879, já havia lançado o romance romântico
Uma lágrima de mulher. Mas foi em 1881 que seu nome tornou-se
conhecido com a publicação do romance O mulato, cuja temática, bas-
tante criticada pela sociedade local, atacava o preconceito racial. Por
isso, Aluísio foi aconselhado a “pegar na enxada, em vez de ficar es-
crevendo”.
De volta para o Rio de janeiro, produziu folhetins românticos para jornais. Memórias de um condenado e Mis-
térios da Tijuca foram alguns deles ditados pelas necessidades de sobrevivência. Escreveu também obras mais bem
elaboradas à luz da estética realista-naturalista, como Casa de pensão e O cortiço, que consolidaram seu prestígio.
Em 1895 foi nomeado vice-cônsul em Vigo, na Espanha. Foi o início de uma atribulada carreira diplomática,
que o levaria a Locoama, no Japão, a La Plata, na Argentina, a Salto Oriental, no Uruguai, a Cardiff; na Inglaterra,
a Nápoles, na Itália e, finalmente, a Buenos Aires, na Argentina.

Fase romântica

Dentre os seus folhetins românticos destacam-se Uma lágrima de mulher; Memórias de um condenado ou A Con-
dessa Vésper; Filomena Borges; A mortalha de Azira; Mistério da Tijuca ou Girândola de amores.

209
Fase naturalista

Romances: O mulato; Casa de pensão; O homem; O coruja; O cortiço; O livro de uma sogra e os contos Demônios;
Pegadas; O touro negro.
Considerado o mais importante dos naturalistas brasileiros, em sua obra não há excesso de exploração da
patologia humana, como ocorre, por exemplo, na obra do francês Émile Zola.
Aluísio prefere a observação direta da realidade da qual ressalta, sobretudo, a influência que o meio exerce sobre
o homem, segundo a teoria determinista de Hippolyte Taine.

O cortiço
Nesse seu melhor romance naturalista, focaliza o proletariado urba-
no do Rio de Janeiro que vive num ambiente coletivo: um cortiço. Os
personagens são criados sob uma visão de conjunto cujo meio influi
categoricamente, despersonalizando-os e a tudo dominando.
O espaço é o elemento de destaque na obra que está intimamente
ligado aos personagens. Como o romance possui muitos deles, a coletivida-
de torna-se um fator preponderante na obra, o que faz com que O Cortiço
seja considerado um romance da multidão. As personagens espelham o
nascimento do proletariado no Rio de Janeiro, em fins do século XIX.

O cortiço
João Romão é um ganancioso comerciante de origem portuguesa, dono de
um armazém, de uma pedreira e de um terreno de bom tamanho, no Rio de
Janeiro, onde constrói casinhas de baixo custo para alugar.
Bertoleza, uma ex-escrava negra, vive com o português e o ajuda no
armazém.
Aos poucos, o cortiço que vai se formando e passa a incomodar o vizinho
Miranda, dono de uma loja próxima. Chefe de uma família composta pela es-
posa Estrela e pela filha Zulmira, Miranda sempre reclama da situação sórdida
do lugar. João Romão, por sua vez, também não aprecia o vizinho e com ele
mantém constante rivalidade.
Quando Jerônimo, um operário português que trabalha na pedreira, muda-
-se com a esposa Piedade para lá, a situação começa a sofrer alterações. Je-
rônimo apaixona-se pela mulata Rita Baiana, comprometida com o capoeirista
Firmo, morador de outro cortiço.
Com a evolução dessa paixão, Firmo e Jerônimo acabam se enfrentando e o português leva uma navalhada
do capoeirista. Nesse ínterim, João Romão começa a se interessar por Zulmira, filha do comerciante Miranda –
sonha casar-se com ela e mudar de condição social. Jerônimo, que acaba se juntando a Rita Baiana, arma uma
cilada para Firmo e o assassina a pauladas.
Moradores do cortiço vizinho, o “Cabeça-de-Gato”, ateiam fogo ao cortiço de João Romão, para vingar a
morte do capoeirista. O incêndio, indiretamente, auxilia o português, que o reconstrói, fazendo um cortiço mais
novo e mais próspero.
Com o tempo, João Romão aproxima-se cada vez mais de Miranda. Só resta tirar a escrava Bertoleza do cami-
nho. Ameaçada de voltar ao cativeiro, a negra suicida-se. João Romão casa-se com Zulmira.

210
Trechos de O cortiço
Capítulo III

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas
e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo. Como que se sentiam
ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz
loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão
ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostra-
vam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.
Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como
o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do
café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias;
reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham
choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons
de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns
quartos saiam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança
dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e
fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns
cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar;
via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do
casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo
da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas
das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demo-
ravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir,
despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.

211
Roupa estendida. (Óleo sobre tela, 67 CM X 82 cm. 1944. Eliseu Visconti.)
[...]
A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a “Machona”, portuguesa feroz, berradora, pulsos
cabeludos e grossos, anca de animal do campo. Tinha duas filhas, uma casada e separada do marido, Ana das
Dores, a quem só chamavam a “das Dores” e outra donzela ainda, a Nenen, e mais um filho, o Agostinho, menino
levado dos diabos, que gritava tanto ou melhor que a mãe. A das Dores morava em sua casinha à parte, mas toda
a família habitava no cortiço.
Ninguém ali sabia ao certo se a Machona era viúva ou desquitada; os filhos não se pareciam uns com os
outros. A das Dores, sim, afirmavam que fora casada e que largara o marido para meter-se com um homem do
comércio; e que este, retirando-se para a terra e não querendo soltá-la ao desamparo, deixara o sócio em seu lugar.
Teria vinte e cinco anos.
Nenen dezessete. Espigada, franzina e forte, com uma proazinha de orgulho da sua virgindade, escapando
como enguia por entre os dedos dos rapazes que a queriam sem ser para casar. Engomava bem e sabia fazer roupa
branca de homem com muita perfeição.
Ao lado da Leandra foi colocar-se à sua tina a Augusta Carne-Mole, brasileira, branca, mulher de Alexandre,
um mulato de quarenta anos, soldado de polícia, pernóstico, de grande bigode preto, queixo sempre escanhoado e
um luxo de calças brancas engomadas e botões limpos na farda, quando estava de serviço. Também tinham filhos,
mas ainda pequenos, um dos quais, a Juju, vivia na cidade com a madrinha que se encarregava dela. Esta madrinha
era uma cocote de trinta mil-réis para cima, a Léonie, com sobrado na cidade. Procedência francesa.
Alexandre em casa, à hora de descanso, nos seus chinelos e na sua camisa desabotoada, era muito chão
com os companheiros de estalagem, conversava, ria e brincava, mas envergando o uniforme, encerando o bigode
e empunhando a sua chibata, com que tinha o costume de fustigar as calças de brim, ninguém mais lhe via os
dentes e então a todos falava teso e por cima do ombro. A mulher, a quem ele só dava “tu” quando não estava
fardado, era de uma honestidade proverbial no cortiço, honestidade sem mérito, porque vinha da indolência do seu
temperamento e não do arbítrio do seu caráter.
Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um ferreiro chamado Bruno, portuguesa pequena e
socada, de carnes duras, com uma fama terrível de leviana entre as suas vizinhas.
Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a quem respeitavam todos pelas virtudes de que só ela
dispunha para benzer erisipelas e cortar febres por meio de rezas e feitiçarias. Era extremamente feia, grossa, triste,
com olhos desvairados, dentes cortados à navalha, formando ponta, como dentes de cão, cabelos lisos, escorridos
e ainda retintos apesar da idade. Chamavam-lhe “Bruxa”.

212
Depois seguiam-se a Marciana e mais a sua filha Florinda. A primeira, mulata antiga, muito séria e asse-
ada em exagero: a sua casa estava sempre úmida das consecutivas lavagens. Em lhe apanhando o mau humor
punha-se logo a espanar, a varrer febrilmente, e, quando a raiva era grande, corria a buscar um balde de água e
descarregava-o com fúria pelo chão da sala. A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sen-
suais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca. Toda ela estava a pedir homem, mas sustentava ainda a sua
virgindade e não cedia, nem à mão de Deus Padre, aos rogos de João Romão, que a desejava apanhar a troco de
pequenas concessões na medida e no peso das compras que Florinda fazia diariamente à venda.
Depois via-se a velha Isabel, isto é, Dona Isabel, porque ali na estalagem lhe dispensavam todos certa con-
sideração, privilegiada pelas suas maneiras graves de pessoa que já teve tratamento: uma pobre mulher comida de
desgostos. Fora casada com o dono de uma casa de chapéus, que quebrou e suicidou-se, deixando-lhe uma filha
muito doentinha e fraca, a quem Isabel sacrificou tudo para educar, dando-lhe mestre até de francês. Tinha uma
cara macilenta de velha portuguesa devota, que já foi gorda, bochechas moles de pelancas rechupadas, que lhe
pendiam dos cantos da boca como saquinhos vazios; fios negros no queixo, olhos castanhos, sempre chorosos en-
golidos pelas pálpebras. Puxava em bandós sobre as fontes o escasso cabelo grisalho untado de óleo de amêndoas
doces. Quando saía à rua punha um eterno vestido de seda preta, achamalotada, cuja saia não fazia rugas, e um
xale encarnado que lhe dava a todo o corpo um feitio piramidal. Da sua passada grandeza só lhe ficara uma caixa
de rapé de ouro, na qual a inconsolável senhora pitadeava agora, suspirando a cada pitada.
A filha era a flor do cortiço. Chamavam-lhe Pombinha. Bonita, posto que enfermiça e nervosa ao último
ponto; loura, muito pálida, com uns modos de menina de boa família. A mãe não lhe permitia lavar, nem engomar,
mesmo porque o médico a proibira expressamente.
[...]

Capítulo VII

[...]
Ela saltou em meio da roda, com os braços na cintura, rebolando as ilhargas e bamboleando a cabeça,
ora para a esquerda, ora para a direita, como numa sofreguidão de gozo carnal, num requebrado luxurioso que a
punha ofegante; já correndo de barriga empinada; já recuando de braços estendidos, a tremer toda, como se fosse
afundando num prazer grosso que nem azeite, em que se não toma pé e nunca se encontra fundo. Depois, como se
voltasse à vida, soltava um gemido prolongado, estalando os dedos no ar e vergando as pernas, descendo, subindo,
sem nunca parar com os quadris, e em seguida sapateava, miúdo e cerrado, freneticamente, erguendo e abaixando
os braços, que dobrava, ora um, ora outro, sobre a nuca, enquanto a carne lhe fervia toda, fibra por fibra, titilando.
[...]
O chorado arrastava-os a todos, despoticamente, desesperando aos que não sabiam dançar. Mas, ninguém
como a Rita; só ela, só aquele demônio, tinha o mágico segredo daqueles movimentos de cobra amaldiçoada;
aqueles requebros que não podiam ser sem o cheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz doce, quebrada,
harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante.
E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados.
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era
a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das
baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras[...].
(AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Ática, 1945).

213
Roda de samba. Heitor dos Prazeres.

Raul Pompeia
Raul D’Ávila Pompeia (1863-1895) tinha apenas dez anos quando
foi matriculado num internato, dirigido pelo doutor Abílio César Bor-
ges, o Barão de Macaúbas, no Rio de Janeiro. Após concluir os estu-
dos primários, entrou para o Imperial Colégio D. Pedro II, em 1879.
Em literatura, o adolescente admirava Flaubert e Zola e
deliciava-se com as ideias de liberdade aprendidas na Leitura de
Rousseau. No final do colégio, já tinha pronto seu primeiro romance:
Uma tragédia no Amazonas.
Em 1881, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo.
Três anos depois, já como jornalista consagrado, abolicionista e repu-
blicano, foi reprovado na Faculdade. Nesse tempo escrevera mais um
romance: As joias da Coroa.
Tomou, então, a decisão de se transferir para o Recife, onde
terminou o curso, em 1885, e começou a escrever o romance que
haveria de consagrá-lo: O Ateneu, publicado sob a forma de fo-
lhetim em 1888.

Biografia

Raul de Ávila Pompeia nasceu em Jacuecanga, Angra dos Reis(RJ) em 12 de abril de 1863, e faleceu na cidade
do Rio de Janeiro em 25 de dezembro de 1895. É o patrono da cadeira no 33 da ABL, por escolha do fundador
Domício da Gama.
Era filho de Antônio de Ávila Pompeia, homem de recursos e advogado, e de Rosa Teixeira Pompeia, que
pertencia à família de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Transferiu-se cedo com a família para a Corte e
foi internado no Colégio Abílio, dirigido pelo educador Abílio César Borges, o Barão de Macaúbas – o mesmo que,
em Salvador, educara Castro Alves e Rui Barbosa – estabelecimento de ensino que adquirira grande nomeada.
Passando do ambiente familiar austero e fechado para a vida no internato, recebeu Raul Pompeia um choque pro-
fundo no contato com estranhos. Logo se distinguiu como aluno aplicado, com o gosto dos estudos e leituras, bom

214
desenhista e caricaturista, que redigia e
ilustrava do próprio punho o jornalzinho
O Archote. Em 1879, transferiu-se para o
Colégio Pedro II, para fazer os prepara-
tórios, e onde se projetou como orador e
publicou seu primeiro livro, Uma tragédia
no Amazonas (1880).
Reprovado no terceiro ano, em
1883 seguiu com 93 acadêmicos para o
Recife e lá concluiu o curso de Direito,
mas não exerceu a advocacia. De volta
ao Rio de Janeiro em 1885, dedicou-se
ao jornalismo, escrevendo crônicas, fo-
lhetins, artigos, contos e participando
da vida boêmia das rodas intelectuais.
Nos momentos de folga escreveu O Ate-
neu, “crônica de saudades”, romance
de cunho autobiográfico, narrado em
primeira pessoa, contando o drama de um menino que, arrancado ao lar, é posto num internato da época.
Publicou-o em 1888, primeiro em folhetins, na Gazeta de Notícias, e, logo a seguir, em livro, que o consagrou
definitivamente como escritor.
Decretada a Abolição, em que se empenhara, passou a dedicar-se à campanha favorável à implantação
da República. Em 1889 colaborou em A Rua, de Pardal Mallet, e no Jornal do Comércio. Proclamada a Repú-
blica, foi nomeado professor de mitologia da Escola de Belas Artes e, logo a seguir, diretor da Biblioteca Na-
cional. No jornalismo revelou-se um florianista exaltado, grande jacobino que era, em oposição a intelectuais
do seu grupo, como Pardal Mallet e Olavo Bilac. Numa das discussões, surgiu um duelo entre Bilac e Pompeia.
Combatia o cosmopolitismo, achando que o militarismo, encarnado por Floriano Peixoto, constituía a defesa da
pátria em perigo. Referindo-se à luta entre portugueses e ingleses, desenhou uma de suas melhores charges: O
Brasil crucificado entre dois ladrões. Com a morte de Floriano, em 1895, foi demitido da direção da Biblioteca
Nacional, acusado de desacatar a pessoa do então Presidente da República, Prudente de Morais, no explosivo
discurso pronunciado em seu enterro. Rompido com amigos, caluniado em artigo de Luís Murat, sentindo-se
desdenhado por toda parte, inclusive dentro do jornal A Notícia, que não publicara o segundo artigo de sua
colaboração – o que, aliás, tratou-se de um simples atraso – pôs fim à vida, com um tiro no coração, no dia
de Natal de 1895.
A posição de Raul Pompeia, ficcionista de alturas geniais, na literatura brasileira é controvertida. A princípio
a crítica o julgou pertencente ao Naturalismo, mas as qualidades artísticas presentes em sua obra fazem-no aproxi-
mar-se do Simbolismo, ficando a sua arte como a expressão típica, na literatura brasileira, do estilo impressionista.
(Diposnível em: <academia.org.br/abl>. Acesso em: 22 mar. 2015).

215
O Ateneu
O romance O Ateneu tem cunho memorialista e ressalta-se em seu eixo fundamental o estudo psicológico de um
adolescente. O foco narrativo é centrado em Sérgio, personagem constantemente em conflito com os valores im-
postos pela direção do internato.

Surgem no romance os problemas criados pela educação convencional: a homossexualidade, as revoltas e


a corrupção.
Oscilando entre ser um diário e um romance, o livro é recheado das experiências do menino Sérgio no inter-
nato, dirigido pela mão de ferro do diretor Aristarco de Ramos.
Trata-se de quadros narrativos que vão sendo expostos ao leitor. Personagens e situações do colégio são
apresentados, desvendando-se um mundo de hipocrisias e falsidades em que até amigos tornam-se delatores. A
história do internato passa pela formação sexual e intelectual do adolescente como um reflexo da sociedade e
focaliza, ao mesmo tempo, a decadência do regime monárquico-escravocrata brasileiro.
No colégio há um sistema de “proteções”, estudantes mais velhos tomam a guarda de mais novos. O sistema
esconde todo tipo de baixeza, inclusive o assassinato provocado pela criada Ângela. A atmosfera saturada e falsa,
forjada pelo diretor Aristarco, contamina a todos, com exceção de D. Ema, esposa do diretor, que é pessoa de muito
boa vontade e vem a ser alvo de uma paixão platônica do menino Sérgio. A obra termina com um incentivo provo-
cado pelo estudante Américo.

Trechos de O Ateneu

Capítulo I

[...]

O diretor recebeu-nos em sua residência, com manifestações ultra de afeto. Fez-se cativante, paternal; abriu-
-nos amostras dos melhores padrões do seu espírito, evidenciou as faturas do seu coração. O gênero era bom sem
dúvida nenhuma; que apesar do paletó de seda e do calçado raso com que se nos apresentava, apesar da bondosa

216
familiaridade com que declinava até nós, nem um segundo o destituí da altitude de divinização em que o meu
critério embasbacado o aceitara.
[...]
Surpreendendo-nos com esta frase, untuosamente escoada por um sorriso, chegou a senhora do diretor,
D. Ema. Bela mulher em plena prosperidade dos trinta anos de Balzac, formas alongadas por graciosa magreza,
erigindo, porém, o tronco sobre quadris amplos, fortes como a maternidade; olhos negros, pupilas retintas de uma
cor só, que pareciam encher o talho folgado das pálpebras; de um moreno rosa que algumas formosuras possuem,
e que seria também a cor do jambo, se jambo fosse rigorosamente o fruto proibido. Adiantava-se por movimentos
oscilados, cadência de minueto harmonioso e mole que o corpo alternava. Vestia cetim preto justo sobre as formas,
reluzente como pano molhado; e o cetim vivia com ousada transparência a vida oculta da carne. Esta aparição
maravilhou-me.
Houve as apresentações de cerimônia, e a senhora com um nadinha de excessivo desembaraço sentou-se
ao divã perto de mim.
– Quantos anos tem? – perguntou-me.
– Onze anos...
– Parece ter seis, com estes lindos cabelos.
Eu não era realmente desenvolvido. A senhora colhia-me o cabelo nos dedos:
– Corte e ofereça a mamãe, aconselhou com uma carícia; é a infância que aí fica, nos cabelos louros... De-
pois, os filhos nada mais têm para as mães.
O poemeto de amor materno deliciou-me como uma divina música. Olhei furtivamente para a senhora. Ela
conservava sobre mim as grandes pupilas negras, lúcidas, numa expressão de infinda bondade! Que boa mãe para
os meninos, pensava eu. Depois, voltada para meu pai, formulou sentidamente observações a respeito da solidão
das crianças no internato.
[...]

Capítulo II

[...]

Os companheiros de classe eram cerca de vinte; uma variedade de tipos que me divertia. O Gualtério, miúdo, redon-
do de costas, cabelos revoltos, motilidade brusca e caretas de símio – palhaço dos outros, como dizia o professor;
o Nascimento, o bicanca, alongado por um modelo geral de pelicano,
nariz esbelto, curvo e largo como uma foice; o Álvares, moreno, cenho
carregado, cabeleira espessa e intonsa de vate de taverna, violento e
estúpido, que Mânlio atormentava, designando-o para o mister das
plataformas de bonde, com a chapa numerada dos recebedores, mais
leve de carregar que a responsabilidade dos estudos; o Almeidinha,
claro, translúcido, rosto de menina, faces de um rosa doentio, que se
levantava para ir à pedra com um vagar lânguido de convalescen-
te; o Maurílio, nervoso, insofrido, fortíssimo em tabuada: cinco vezes
três, vezes dois, noves fora, vezes sete?... Iá estava Maurílio, trêmulo,
sacudindo no ar o dedinho esperto... olhos fúlgidos, rosto moreno,
marcado por uma pinta na testa; o Negrão, de ventas acesas, lábios
inquietos, fisionomia agreste de cabra, canhoto e anguloso, incapaz
de ficar sentado três minutos, sempre à mesa do professor e sem-
pre enxotado, debulhando um risinho de pouca-vergonha, fazendo

217
agrados ao mestre, chamando-lhe bonzinho, aventurando a todo ensejo uma tentativa de abraço que Mânlio
repelia, precavido de confianças; Batista Carlos, raça de bugre, válido, de má cara, coçando-se muito, como se o
incomodasse a roupa no corpo, alheio às coisas da aula, como se não tivesse nada com aquilo, espreitando apenas
o professor para aproveitar as distrações e ferir a orelha aos vizinhos com uma seta de papel dobrado. Às vezes a
seta do bugre ricochetava até à mesa de Mânlio. Sensação; suspendiam-se os trabalhos; rigoroso inquérito. Em vão,
que os partistas temiam-no e ele era matreiro e sonso para disfarçar.
Dignos de nota havia ainda o Cruz, tímido, enfiado, sempre de orelha em pé, olhar covarde de quem foi
criado a pancadas, aferrado aos livros, forte em doutrina cristã, fácil como um despertador para desfechar as li-
ções de cor, perro como uma cravelha para ceder uma ideia por conta própria; o Sanches, finalmente, grande, um
pouco mais moço que o venerando Rebelo, primeiro da classe, muito inteligente, vencido apenas por Maurílio, na
especialidade dos noves fora vezes tanto, cuidadoso dos exercícios, êmulo do Cruz na doutrina, sem competidor na
análise, no desenho linear, na cosmografia.
[...]
(POMPEIA, Raul. O Ateneu. São Paulo: Ática, 1986.]

218
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme O cortiço

“O cortiço” é um filme brasileiro de 1978, do gênero drama, dirigido


por Francisco Ramalho Jr., com roteiro baseado no livro homônimo de
Aluísio Azevedo.

Filme Germinal

Durante o século XIX, os trabalhadores franceses eram explorados


pela aristocracia burguesa, que dava condições miseráveis para
seus empregados. Em uma cidade francesa, os trabalhadores de
uma grande mineradora decidem realizar uma greve e se rebelam
contra seus chefes, causando o caos.

LER

Livros

Aluísio Azevedo, de Antônio Dimas

Esse livro faz parte de um coleção que se destina não só a estudantes


– especialmente os do segundo grau e de cursos pré-universitários – e
professores, mas também a todas as pessoas interessadas em literatura.
Apresenta textos selecionados, análises histórico-literárias, biografias e
atividades de compreensão de texto.

220
OBRAS

Pintura Francisco A. de F. e Melo - Cerimônia de pr. da Const. republicana de 1891

“Cerimônia de promulgação da Constituição republicana de 1891”,


de Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo

221
APLICAÇÃO NO COTIDIANO

Algumas teorias deram fundamentos ideológicos à literatura do Realismo-Naturalismo, quais sejam a Teoria Determinista
(Hippolyte Taine, 1825-1893), que diz que o comportamento humano é determinado pela hereditariedade, pelo meio
e pelo momento e o Evolucionismo (Charles Darwin, 1809-1882), que defende a tese de que o homem descende dos
animais. Até hoje estas teorias são utilizadas para tomar decisões e constituir julgamentos sobre as premissas que circun-
dam a existência humana. Muitos, ainda hoje, pautam suas vidas em vieses religiosos e criacionistas, caso não seja este
seu pensamento, o uso destas teorias cientificistas do final do século XIX podem sustentar pontos de vistas racionalistas.

222
INTERDISCIPLINARIDADE

Revolta da vacina

As manifestações populares e conflitos espalham-se pelas ruas da capital brasileira. Populares destroem bondes,
apedrejam prédios públicos e espalham a desordem pela cidade. Em 16 de novembro de 1904, o presidente Rodri-
gues Alves revoga a lei da vacinação obrigatória, colocando nas ruas o exército, a marinha e a polícia para acabar
com os tumultos. Em poucos dias a cidade voltava a calma e a ordem.

223
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 15 - Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção,


situando aspectos do contexto histórico, social e político.

Esta Habilidade pressupõe que o aluno tenha conhecimento das concepções artísticas vinculadas
ao primeiro aspecto da tríade analítica básica da arte literária (contexto, autor e obra), no caso o
conceito de linguagem utilizada pelos autores em escolas literárias diferentes, mas que se aproxi-
mam tematicamente. A construção dos procedimentos literários está ligada aos fatores estéticos
que podem levar em consideração a forma e/ou conteúdo do texto em relação à concepção
artística do contexto.

Modelo
(Enem) Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de
lágrimas os cabelos e eu parti.
Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.
Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por
um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de
novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ate-
neu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia
da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o
império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferên-
cias em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos lugarejos,
caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido con-
curso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em
Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas,
amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfai-
mados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que não procuravam eram um belo dia sur-
preendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha
daquela marca para o pão do espírito.
POMPÉIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.

Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador revela um olhar sobre a inserção
social do colégio demarcado pela:
a) ideologia mercantil da educação, repercutida nas vaidades pessoais.
b) interferência afetiva das famílias, determinantes no processo educacional.
c) produção pioneira de material didático, responsável pela facilitação do ensino.
d) ampliação do acesso à educação, com a negociação dos custos escolares.
e) cumplicidade entre educadores e famílias, unidos pelo interesse comum do avanço social.

224
Análise Expositiva

Habilidade 15
A obra O Ateneu, de Raul Pompeia, critica as instituições de ensino, mostrando-as como um
negócio vantajoso do ponto de vista financeiro. O Naturalismo é um movimento literário da
segunda metade do século XIX, e uma de suas características é o romance de tese ou romance
experimental, que analisa a sociedade como um objeto científico.
Alternativa A

Estrutura Conceitual

NATURALISMO NO BRASIL
Na segunda metade do século XIX, surgem as teorias cientificistas,
que vão servir de base argumentativa para os autores em seus ro-
mances de tese (ou romances experimentais). São eles: positivismo,
darwinismo, determinismo social e comunismo.

Na Europa, o Naturalismo teve como marco inicial a publicação da obra


Germinal, em 1881, do escritor e teórico Émile Zola.

No romance naturalista, o narrador age como um cientista que observa


os fenômenos sociais como quem observa uma experiência científica,
inclusive zoomorfizando as personagens no ambiente da miséria.

O Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo apresentam aspectos


comuns: o resgate do objetivismo na literatura, o gosto pelas descri-
ções e o combate ao Romantismo.

O início do Naturalismo no Brasil se dá com a publicação de O mulato,


de Aluísio Azevedo.

Raul Pompéia se destacou no Naturalismo brasileiro. Destaque


para a obra O Ateneu, publicada em 1888, de caráter confessional e
memorialista.

225
E.O. Aprendizagem 3. (Ufrgs) No bloco superior abaixo, estão lis-
tados dois nomes de personagens da obra O
cortiço, de Aluísio Azevedo; no inferior, des-
1. (UFPE - adaptada) Os movimentos ou ten- crições dessas personagens.
dências literárias que surgiam na Europa le- Associe adequadamente o bloco inferior ao
trada alcançaram o Brasil através dos coloni- superior.
zadores portugueses e tiveram nomes que se 1. Pombinha
destacaram no continente americano. A esse 2. Rita Baiana
propósito, analise as afirmações a seguir. ( ) É loura, pálida, com modos de menina de
( ) No século XVII, o Barroco procurava, atra- boa família.
vés da ênfase na religiosidade, solucionar os ( ) Casa-se, a fim de ascender socialmente.
dilemas humanos. Esse movimento foi intro- ( ) Possui farto cabelo, crespo e reluzente.
duzido no Brasil pelos jesuítas, sendo seu ( ) Mantém personalidade inalterada ao lon-
representante capital Padre Antônio Vieira, go do romance.
cuja obra – Sermões – constitui um mundo ( ) Descobre, a certa altura do romance, sua
rico e contraditório. plenitude na prostituição.
( ) No século XVIII, floresceu o Arcadismo em A sequência correta de preenchimento dos
Minas Gerais, Vila Rica. Com o estabeleci- parênteses, de cima para baixo, é:
mento de relações sociais mais concentra- a) 2 – 1 – 1 – 2 – 1.
das, formou-se um público leitor, elemento b) 1 – 2 – 2 – 1 – 2.
importante para o desenvolvimento de uma c) 1 – 1 – 2 – 1 – 2.
literatura nacional. Entre o grupo de lite- d) 1 – 1 – 2 – 2 – 1.
ratos, destaca-se Tomás Antônio Gonzaga, e) 2 – 2 – 1 – 2 – 1.
autor da obra lírica Marília de Dirceu.
( ) O Naturalismo surgiu no século XIX, tendo 4. (ESPM)
sido, no Brasil, contemporâneo da Aboli-
ção e da República. O Mulato, de Aluísio de
Azevedo, foi o primeiro romance naturalista
brasileiro e o primeiro a abordar, de forma
crítica, o racismo, o reacionarismo clerical e
a estreiteza do universo provinciano no país.
( ) A oscilação entre imobilismo econômico e
modernização, na sociedade brasileira, foi (...) desde que Jerônimo propendeu para ela,
absorvida pela produção literária, o que fascinando-a com a sua tranquila seriedade
marcou os vinte primeiros anos do século de animal bom e forte, o sangue da mestiça
XX. Tendo em Olavo Bilac seu principal au- reclamou os seus direitos de apu­ração, e Rita
tor, o Parnasianismo procurou corresponder preferiu no europeu o macho de raça supe-
ao Realismo/Naturalismo na prosa e adotou, rior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo
como lema, a objetividade e impessoalidade às imposições mesológicas, enfarava a espo-
no tratamento dos temas sociais. sa, sua congênere, e queria a mulata, porque
a mulata era o prazer, a vo­lúpia, era o fruto
2. (UFG) No romance O cortiço, de Aluísio Aze- dourado e acre destes ser­ tões americanos,
vedo, tem-se a representação da prestação onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias
de serviços domésticos na sociedade carioca de macaco e onde seu corpo porejou o cheiro
do século XIX. Nesse sentido, a relação entre sensual dos bodes.
o enredo e o espaço do trabalho doméstico (Aluísio Azevedo, O Cortiço)
de tal período se expressa pelo fato de que:
a) Piedade se torna lavadeira no Brasil, de- Tendo em vista as características naturalis­
monstrando que os serviços domésticos tas e cientificistas, sobretudo do Determinis­
eram realizados por pessoas de diversas clas- mo, que predominam no romance O Cortiço,
ses sociais. o trecho (assinale o item não pertinente):
b) Bertoleza serve João Romão como criada e a) explicita a personagem que age de acor­do
amante, o que expressa a presença da cultu- com os impulsos característicos de sua raça.
ra escravista em ambiente urbano.
b) põe em evidência o zoomorfismo, em que se
c) Pombinha se muda para a casa de Léonie,
destacam os elementos instintivos de prazer,
comprovando a possibilidade de ascensão
social por meio da prostituição. sensualidade e desejo.
d) Rita Baiana se destaca como exímia dançari- c) faz alusão à competição entre os mais fortes
na, o que reafirma o exercício das atividades (europeus) e os mais fracos (bra­sileiros).
artísticas como uma especialidade feminina. d) ressalta o homem sucumbindo aos fatores
e) Nenen se especializa como engomadeira, o preponderantes do meio.
que mostra a incorporação do modelo fordis- e) condena veladamente o sexo e defende indi-
ta de produção ao ambiente familiar. retamente os princípios morais.

226
5. (UFG) As trajetórias das personagens do ro- a) o Barroco surge do conflito entre Teocentris-
mance O cortiço, de Aluísio Azevedo, são re- mo e Antropocentrismo e tem como resulta-
presentativas da força com que o meio age do uma poética dicotômica e instável emo-
sobre seus comportamentos. Afetadas por cionalmente. Já a prosa barroca, expressa
essa força, as personagens: nos sermões do Padre Vieira, não reflete esse
a) Albino e Leocádia se tornam promíscuas devi- conflito à medida que registra as relações
do às más influências dos amigos do cortiço. homem/entorno seguindo a ótica analítico-
b) João Romão e Bertoleza se anulam em nome -racional que deriva do pensamento calcado
da ambição de fazer progredir o cortiço. na razão.
c) Miranda e Estela se corrompem à medida que b) o Arcadismo apresenta o primado do sen-
se aproximam dos moradores do cortiço. timento em detrimento da razão. Autores
d) Jerônimo e Pombinha são transformadas como Cláudio Manuel da Costa e Tomás An-
pela sensualidade reinante no cortiço. tônio Gonzaga – este em especial na poesia
e) Firmo e Rita Baiana têm seu caráter modifi- lírica e épica – antecipam o sentimentalismo
cado pela malandragem própria dos habitan- amoroso que encontrará seu ápice no Ro-
tes do cortiço. mantismo. A poesia dos autores citados vem
impregnada, ainda, do forte senso de nação,
de onde derivará a vertente nacionalista de
6. (UFG) O contexto sócio-histórico do Brasil, no
nossa poesia do século XIX.
século XIX, evidencia-se no enredo do roman-
c) o Romantismo brasileiro apresenta divisão
ce O cortiço, de Aluísio Azevedo, por meio das:
temática tanto na prosa quanto na poesia.
a) práticas de trabalho na pedreira de João Ro- Nesta, a produção divide-se em três gera-
mão, que se baseiam na exploração de mão ções: Indianista-Nacionalista; Ultrarromân-
de obra excedente do processo de industria- tica-Byroniana-Mal do século e Social-Hugo-
lização no Rio de Janeiro. ana-Condoreira. A prosa se organiza sob as
b) condições de moradia do cortiço São Romão, temáticas indianista, histórica, regionalista
que reproduzem o modo de vida próprio do e urbana, sendo que o autor que mais se
principal tipo de habitação popular da então destaca nesses segmentos é Joaquim Manuel
Capital Federal. de Macedo.
c) disputas territoriais, que expressam, no con- d) o Realismo e o Naturalismo são contemporâ-
fronto entre os carapicus e os cabeças-de- neos. Embora derivados do mesmo contexto,
-gato, a violência característica dos primei- algumas das obras sofreram as influências de
ros cortiços cariocas. correntes cientificistas – como Determinis-
d) manifestações folclóricas, que representam, mo, Positivismo, Marxismo, a Psicanálise de
na dança, na música e na culinária dos mo- Freud – e apresentam características muito
radores do cortiço, o exotismo inerente ao particulares. No Realismo, há predomínio
povo brasileiro. dos aspectos psicológicos sobre a ação, e
e) correntes migratórias, que configuram o o Naturalismo apresenta a animalização do
cortiço São Romão como uma comunidade homem. Destacam-se Dom Casmurro e O cor-
formada por comerciantes portugueses em tiço como grandes obras desses períodos.
busca de ascensão social. e) O Modernismo no Brasil, à maneira do Ro-
mantismo, é segmentado em três gerações,
7. (USF) “Também conhecidos como escolas, que se organizam cronologicamente, a partir
correntes ou movimentos, os períodos lite- de 1922, quando da Semana de Arte Moder-
rários correspondem a fases histórico-cultu- na, até os dias de hoje, cuja produção retoma
rais em que determinados valores estéticos os princípios dos primeiros tempos moder-
e ideológicos resultam na criação de obras nistas. Destaca-se, na produção modernista,
mais ou menos próximas no estilo e na visão a obra de João Guimarães Rosa, Carlos Drum-
de mundo. Diferenciam-se do estilo de época mond de Andrade, Manuel Bandeira e Clarice
Lispector, entre outros.
por ter uma abrangência maior, englobando
circunstâncias como as condições do meio,
as influências filosóficas e políticas, etc.” 8. (Upe-ssa) Machado de Assis e Aluísio Azeve-
(Gonzaga, Sergius, Curso de literatura brasileira.
do, no mesmo ano, 1881, deram início, res-
2.ª ed. – Porto Alegre: Leitura XXI, 2007. p.12) pectivamente, ao Realismo e Naturalismo no
Brasil. O primeiro, com Memórias Póstumas
A partir da segmentação da produção literá- de Brás Cubas e o segundo, com O Mulato,
ria nacional, como descrita por Sergius Gon- embora o Cortiço é que tenha celebrizado o
zaga no excerto acima, nos aspectos que se autor maranhense. Sobre esses movimentos
referem a contexto histórico, características, literários, aos quais pertencem os textos,
autores e obras, é correto afirmar que leia o que se segue:

227
TEXTO 1 palmas da mão. As portas das latrinas não
descansavam, era um abrir e fechar de cada
Ao verme que primeiro roeu instante, um entrar e sair sem tréguas. Não
as frias carnes do meu cadáver se demoravam lá dentro e vinham ainda
dedico como saudosa lembrança amarrando as calças ou as saias; as crianças
estas Memórias Póstumas não se davam ao trabalho de lá ir, despacha-
vam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos,
TEXTO 2 por detrás da estalagem ou no recanto das
hortas.
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acor- O rumor crescia, condensando-se; o zunzum
dava, abrindo, não os olhos, mas a sua infi- de todos os dias acentuava-se; já se não des-
nidade de portas e janelas alinhadas. tacavam vozes dispersas, mas um só ruído
Um acordar alegre e farto de quem dormiu compacto que enchia todo o cortiço. [...]
de uma assentada sete horas de chumbo.
Como que se sentiam ainda na indolência de Analise as afirmativas a seguir:
neblina as derradeiras notas da última gui- I. O texto 1 é a dedicatória de Brás Cubas,
tarra da noite antecedente, dissolvendo-se que inicia suas memórias póstumas. Nes-
à luz loura e tenra da aurora, que nem um sa obra, o autor textual e narrador iro-
suspiro de saudade perdido em terra alheia. nicamente dedica suas memórias aos
Roupa lavada, que ficara de véspera nos cora- vermes. Trata-se de um aspecto inerente
douros, umedecia o ar e punha-lhe um farto à estética romântica, uma vez que nela
acre de sabão ordinário. As pedras do chão, encontra-se subjacente a ideia de morte.
esbranquiçadas no lugar da lavagem e em al- II. No texto 2, o narrador descreve o com-
guns pontos azuladas pelo anil, mostravam portamento da coletividade que forma o
uma palidez grisalha e triste, feita de acu- Cortiço. Note-se que nele há o privilégio
mulações de espumas secas. Entretanto, das do coletivo sobre o individual, elemento
portas surgiam cabeças congestionadas de peculiar ao Romantismo, o que não sur-
sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como preende o leitor, dado que o autor abra-
o marulhar das ondas; pigarreava-se gros- çou tanto a estética romântica quanto a
so por toda a parte; começavam as xícaras realista.
a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, III. Os dois textos, embora escritos por au-
suplantando todos os outros; trocavam-se de tores diferentes, apresentam as mesmas
janela para janela as primeiras palavras, os tendências estéticas. Ambos são realistas
bons-dias; reatavam-se conversas interrom- e criticam o comportamento da burgue-
pidas à noite; a pequenada cá fora traqui- sia que vivia na ociosidade explorando os
nava já, e lá dentro das casas vinham choros menos favorecidos.
abafados de crianças que ainda não andam. IV. O texto 1 tem por narrador a personagem
No confuso rumor que se formava, destaca- principal que conta a sua própria história
vam-se risos, sons de vozes que altercavam, e o faz com a “tinta da galhofa e a pena
sem se saber onde, grasnar de marrecos, can- da melancolia”, utilizando-se de um gra-
tar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns cejo de tom cômico, próximo do humor
quartos saíam mulheres que vinham pendu- negro de origem inglesa.
rar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, V. No texto 2, o relato é de um narrador ob-
e os louros, à semelhança dos donos, cumpri- servador que apresenta os acontecimen-
mentavam-se ruidosamente, espanejando-se tos de um ponto de vista neutro, porque
à luz nova do dia. não se envolve nem faz parte da história
Daí a pouco, em volta das bicas, era um zun- narrada. Seu discurso volta-se para a aná-
zum crescente; uma aglomeração tumultuosa lise dos elementos deterministas e das
de machos e fêmeas. Uns, após outros, lava-
patologias sociais, o que faz de O Cortiço
vam a cara, incomodamente, debaixo do fio
um texto naturalista.
de água que escorria da altura de uns cinco
palmos. O chão inundava-se.
Está CORRETO apenas o que se afirma em
As mulheres precisavam já prender as saias
a) I e II.
entre as coxas para não as molhar; via-se-
b) IV e V.
-lhes a tostada nudez dos braços e do pesco-
c) I, II e III.
ço, que elas despiam, suspendendo o cabelo
d) II e III.
todo para o alto do casco; os homens, esses
e) I, II e IV.
não se preocupavam em não molhar o pelo,
ao contrário, metiam a cabeça bem debaixo
da água e esfregavam com força as ventas
e as barbas, fossando e fungando contra as

228
9. (UEG) O texto de Aluísio Azevedo é representativo
do Naturalismo, vigente no final do século
XIX. Nesse fragmento, o narrador expressa
fidelidade ao discurso naturalista, pois
a) relaciona a posição social a padrões de com-
portamento e à condição de raça.
b) apresenta os homens e as mulheres melhores
do que eram no século XIX.
c) mostra a pouca cultura feminina e a distri-
buição de saberes entre homens e mulheres.
d) ilustra os diferentes modos que um indiví-
[...] magro e macilento, um tanto baixo, um
duo tinha de ascender socialmente.
tanto curvado, pouca barba, testa curta e
e) critica a educação oferecida às mulheres e os
olhos fundos. O uso constante dos chinelos
maus-tratos dispensados aos negros.
de trança fizera-lhe os pés monstruosos e
chatos; quando ele andava, lançava-os desai-
rosamente para os lados, como o movimento
dos palmípedes nadando. Aborrecia-o o cha-
E.O. Fixação
ruto, o passeio, o teatro e as reuniões em
que fosse necessário despender alguma coi- 1. (UFPE) A estética antirromântica iniciou-se
sa; quando estava perto da gente sentia-se na segunda metade do século XIX, com o Re-
logo um cheiro azedo de roupas sujas. alismo e aprofundou-se com o Naturalismo.
AZEVEDO, Aluísio de. O mulato. p. 17. In:< http://www. Sobre esses movimentos, analise as proposi-
dominiopublico.gov.br> Acesso em: 21 ago. 2014 ções a seguir.
( ) As transformações econômicas, científicas e
A pintura de Lasar Segall e o fragmento de ideológicas possibilitaram a revolução indus-
Aluísio de Azevedo, embora afastados no trial, na qual os valores burgueses e capita-
tempo, servem-se de motivos semelhantes, e listas suplantaram os valores românticos: a
caracterizam, respectivamente, o fantasia e o mito da natureza entram, assim,
a) Simbolismo e o Naturalismo em crise.
b) Arcadismo e o Colonialismo ( ) Surge, na literatura, o Realismo, movimento
c) Expressionismo e o Realismo em que o artista é, ao mesmo tempo, um
d) Romantismo e o Parnasianismo participante e um observador do mundo.
Esse aspecto conduz à representatividade
1
0. O mulato histórico-social e à análise psicológica dos
personagens, examinados à luz do raciona-
Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramá- lismo e da contemporaneidade.
tica do Sotero dos Reis; lera alguma coisa; ( ) Entre as características do Realismo brasilei-
sabia rudimentos de francês e tocava modi- ro, estão a objetividade, a impessoalidade e
nhas sentimentais ao violão e ao piano. Não o uso da linguagem regional.
era estúpida; tinha a intuição perfeita da ( ) O Naturalismo é um prolongamento do Re-
virtude, um modo bonito, e por vezes lamen- alismo, pois acrescenta uma visão cientifi-
tara não ser mais instruída. Conhecia muitos cista da existência, a qual inclui o determi-
trabalhos de agulha; bordava como poucas, e nismo do meio ambiente, do instinto e da
dispunha de uma gargantazinha de contralto hereditariedade.
que fazia gosto de ouvir. ( ) O Realismo teve sua primeira manifestação
Uma só palavra boiava à superfície dos seus importante com a publicação de “Memórias
pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de As-
transformando-se em tenebrosa nuvem, que sis, e o Naturalismo, com “Dom Casmurro”,
escondia todo o seu passado. Ideia parasita, do mesmo autor, ambos em 1881.
que estrangulava todas as outras ideias.
– Mulato! 2. (UFG) Leia o trecho a seguir.
Esta só palavra explicava-lhe agora todos E assim ia correndo o domingo no cortiço até
os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade às três da tarde, horas em que chegou mestre
do Maranhão usara para com ele. Explicava Firmo, acompanhado pelo seu amigo Porfiro
tudo: a frieza de certas famílias a quem vi- […].
sitara; as reticências dos que lhe falavam de [Firmo] Era oficial de torneiro, oficial peri-
seus antepassados; a reserva e a cautela dos to e vadio; ganhava uma semana para gastar
que, em sua presença, discutiam questões de num dia; às vezes, porém, os dados ou a ro-
raça e de sangue. leta multiplicavam-lhe o dinheiro, e então
AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Ática, 1996 (fragmento). ele fazia como naqueles últimos três meses:

229
afogava-se numa boa pândega com a Rita questões mais complicadas; o perfeito co-
Baiana. A Rita ou outra. “O que não faltava nhecimento que mostrava dos negócios, a
por aí eram saias para ajudar um homem a facilidade com que fazia, muitas vezes de
cuspir o cobre na boca do diabo!” memória, qualquer operação aritmética por
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 20. ed. muito difícil e intrincada que fosse.
São Paulo: Ática, 1997. p. 62. Não havia porém em Aurélia nem sombra do
ridículo pedantismo de certas moças, que
As aspas são um recurso gráfico que dão des-
tendo colhido em leituras superficiais algu-
taque a determinada parte de um texto. No
trecho transcrito de O cortiço, elas realçam mas noções vagas, se metem a tagarelar de
a) um pensamento do narrador, que exemplifica tudo.
(ALENCAR, José de. Senhora. SP: Editora Ática, 1980.)
a reputação de desregrado atribuída a Firmo.
b) uma fala de Firmo, que comprova seu relacio- TEXTO II
namento pândego com Rita Baiana.
c) um pensamento dos moradores do cortiço so- Aquela pobre flor de cortiço, escapando à es-
bre Firmo, que concorda com sua imagem de
tupidez do meio em que desabotoou, tinha
mulato vadio.
de ser fatalmente vítima da própria inteli-
d) uma fala de Rita Baiana, que reafirma a ideia
gência. À míngua de educação, seu espírito
do narrador a respeito da fama de mulheren-
trabalhou à revelia, e atraiçoou-a, obrigan-
go de Firmo.
do-a a tirar da substância caprichosa da sua
e) uma fala de Porfiro, que valida a perspecti-
fantasia de moça ignorante e viva a explica-
va determinista de ociosidade do elemento
ção de tudo que lhe não ensinaram a ver e
mestiço.
sentir.
(...)
3. (PUC-PR) Assinale a alternativa que contém Pombinha, só com três meses de cama fran-
a afirmação correta sobre o Naturalismo no
ca, fizera-se tão perita no ofício como a ou-
Brasil.
tra; a sua infeliz inteligência nascida e cria-
a) O Naturalismo usou elementos da natureza sel-
da no modesto lodo da estalagem, medrou
vagem do Brasil do século XIX para defender
admiravelmente na lama forte dos vícios de
teses sobre os defeitos da cultura primitiva.
largo fôlego; fez maravilhas na arte; parecia
b) A valorização da natureza rude verificada
adivinhar todos os segredos daquela vida;
nos poetas árcades se prolonga na visão na-
seus lábios não tocavam em ninguém sem
turalista do século XIX, que toma a natureza
tirar sangue; sabia beber, gota a gota, pela
decadente dos cortiços para provar os male-
boca do homem mais avarento, todo dinhei-
fícios da mestiçagem.
ro que a vítima pudesse dar de si.
c) O Naturalismo no Brasil esteve sempre ligado
(AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. SP: Editora Ática, 1997.)
à beleza das paisagens das cidades e do inte-
rior do Brasil.
d) O Naturalismo, por seus princípios cientí-
4. (Insper) Considerando as descrições pre-
ficos, considerava as narrativas literárias
sentes nos fragmentos transcritos, é correto
exemplos de demonstração de teses e ideias
afirmar que
sobre a sociedade e o homem.
a) o texto I filia-se ao Romantismo, uma vez
e) O Naturalismo do século XIX no Brasil difun-
que nele a heroína é reflexo, em grande me-
diu na literatura uma linguagem científica e
hermética, fazendo com que os textos literá- dida, das circunstâncias do ambiente em que
rios fossem lidos apenas por intelectuais. se criou.
b) o texto I filia-se ao Romantismo, já que nele
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO a figura feminina é descrita sob o prisma da
idealização.
TEXTO I c) o texto I filia-se ao Naturalismo, pois as
habilidades da personagem são naturais no
(...) No lampejo de seus grandes olhos par- meio em que vive.
dos brilhavam irradiações da inteligência. d) o texto II filia-se ao Realismo, já que a figura
(...) O princípio vital da mulher abandonava feminina é descrita de forma fiel à realidade
seu foco natural, o coração, para concentrar- do período histórico em que está inserida.
-se no cérebro, onde residem as faculdades e) o texto II filia-se ao Naturalismo, pois nele
especulativas do homem. a personagem constitui uma representação
(...) inequívoca do perfil feminino típico.
Era realmente para causar pasmo aos estra-
nhos e susto a um tutor, a perspicácia com
que essa moça de dezoito anos apreciava as

230
5. (IFSP) Considere os textos. 7. (FGV) Publicados quase simultaneamente,
“Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “O
Tinham uma perspectiva biológica do mundo Mulato”, ambos os romances praticamente
reduzindo, muitas vezes, o homem à condição inauguram dois movimentos literários no
animal, colocando o instinto sobre a razão. Os Brasil. Num deles predomina a profundida-
aspectos desagradáveis e repulsivos da condi- de da análise psicológica e, no outro, a pre-
ção humana são valorizados, como uma forma ocupação com as leis da hereditariedade e a
de reação ao idealismo romântico. influência do ambiente sobre o homem.
(OLIVEIRA, Clenir Bellezi de. Arte literária: Esses movimentos foram:
Portugal / Brasil. São Paulo: Moderna, 1999.) a) O Modernismo e o Pós-modernismo.
b) O Futurismo e o Surrealismo.
A sociedade é um grande laboratório onde o c) O Barroco e o Trovadorismo.
ser humano é observado agindo por instinto d) O Romantismo e o Ultra-romantismo.
e, portanto desprovido de livre-arbítrio. e) O Realismo e o Naturalismo.
Assinale a alternativa que informa o período
literário a que o texto se refere, um autor do 8. (ESPM) Observe o texto:
mesmo período e sua respectiva obra. (...) Aristarco todo era um anúncio. (...) o
a) Realismo, Machado de Assis, Dom Casmurro. olhar fulgurante sob a crispação áspera dos
b) Naturalismo, Aluísio Azevedo, O Cortiço. supercílios de monstro japonês, penetrando
c) Simbolismo, Cruz e Souza, Missal e Broquéis. de luz as almas circunstantes - era a edu-
d) Modernismo, Jorge Amado, Capitães da cação da inteligência; o queixo severamente
Areia. escanhoado, de orelha a orelha, lembrava a
e) Pós-modernismo, Guimarães Rosa, Grande lisura das consciências limpas - era a edu-
Sertão: Veredas. cacão moral. A própria estatura, na imobili-
dade do gesto, na mudez do vulto, a simples
6. (UFPE) O Realismo e o Naturalismo são mo- estatura dizia dele: aqui está um grande ho-
vimentos surgidos na segunda metade do sé- mem... não veem os côvados de Golias?!...
culo XIX, marcado por transformações eco- Raul Pompéia. “O Ateneu”
nômicas, científicas e ideológicas.
Sobre esses dois movimentos, assinale a al- O fragmento pertence à obra publicada em
ternativa incorreta. 1888, época em que se desenvolviam no
a) Para o escritor realista, a neutralidade dian- Brasil o Realismo e o Naturalismo, na pro-
te do tema é imprescindível. Para isso, usa sa. Considerando os períodos literários e o
a narrativa em terceira pessoa. O naturalista excerto em questão, assinale o que não está
observa também esse princípio, acrescen- de acordo:
tando uma aproximação das ciências expe- a) A linguagem acadêmica é utilizada por vá-
rimentais e da filosofia positivista. rios autores da época como Raul Pompéia,
b) O realismo brasileiro teve poucos seguidores incluindo-se aí Machado de Assis.
e uma de suas figuras marcantes foi Macha- b) As impressões subjetivas sobre a persona-
do de Assis. Euclides da Cunha, com “Os Ser- gem condizem com o princípio de registrar
tões”, foi outra figura de destaque no movi- as personagens e o ambiente a partir do que
mento. é percebido pelos sentidos.
c) O Naturalismo é considerado um prolonga- c) A caricaturização (ou deformação) da perso-
mento do Realismo, pois assume todos os nagem evidenciada pelos traços exagerados
princípios e as características deste, acres- faz do autor um vanguardista do Expressio-
centando-lhe, no entanto, uma visão cienti- nismo.
ficista da existência. No Brasil, o Naturalis- d) As comparações feitas à personagem são tra-
mo foi iniciado por Aluísio de Azevedo, que ços da tendência irônica que se opõe à idea-
publicou “O Mulato”, “Casa de Pensão” e “O lização romântica.
Cortiço”. e) O foco narrativo de 1a pessoa, abjurado pelo
d) Ambos, Machado de Assis e Aluísio de Aze- Realismo/Naturalismo, não está evidente no
vedo, iniciaram-se na estética romântica. trecho.
Posteriormente, o primeiro seguiu a estética
realista, e o segundo, a estética naturalista. 9. (Mackenzie) ... cara extensa, olhos rasos,
e) A fase realista de Machado de Assis pode ser mortos, de um pardo transparente, lábios
observada nos seus contos e romances. En- úmidos, porejando baba, meiguice viscosa
tre eles, se destacam “Memórias Póstumas de de crápula antigo.
Brás Cubas”, “Quincas Borba” e “Dom Cas- Raul Pompéia
murro”, obras em que abordou temas como
o adultério, o parasitismo social, a loucura e Quanto ao estilo, esse fragmento descritivo
a hipocrisia. destaca:

231
a) a tendência do Naturalismo em revelar, atra- inferno, onde em cada folha que se pisa há
vés do aspecto físico, traços do caráter. debaixo um réptil venenoso, como em cada
b) a tendência dos escritores realistas de cri- flor que desabotoa e em cada moscardo que
ticar a hipocrisia do comportamento aristo- adeja há um vírus de lascívia. Lá, nos sau-
crático. dosos campos da sua terra, não se ouvia em
c) a oposição entre “físico grotesco” e “moral noites de lua clara roncar a onça e o maraca-
sublime”, o que comprova sua característica já, nem pela manhã ao romper do dia, rilha-
romântica. va o bando truculento das queixadas, lá não
d) a concisão típica do Modernismo, comprova- varava pelas florestas a anta feia e terrível,
quebrando árvores; lá a sucuruju não choca-
da pelo uso comedido da adjetivação.
lhava a sua campainha fúnebre, anuncian-
e) o egocentrismo exacerbado, a irreverência e
do a morte, nem a coral esperava traidora o
a visão mórbida do mundo que caracterizam
viajante descuidado para lhe dar o bote cer-
o “byronismo” do século XIX. teiro e decisivo; 4lá o seu homem não seria
anavalhado pelo ciúme de um capoeira; 5lá
1
0. (UEL) A propósito de “O cortiço”, de Aluísio Jerônimo seria ainda o mesmo esposo casto,
Azevedo, é correto afirmar: silencioso e meigo; seria o mesmo lavrador
a) Trata-se de um importante exemplar do na- triste e contemplativo como o gado que à
turalismo brasileiro. Nele, as personagens tarde levanta para o céu de opala o seu olhar
são animalizadas e dominadas pelos instin- humilde, compungido e bíblico.
tos. A obra marca a história de trabalhado- I. A diferença entre a velha e a nova ter-
res pobres, alguns miseráveis, amontoados ra é marcada pela força da natureza que
numa habitação coletiva. transforma a vida e o comportamento
b) A narrativa é um retrato da sociedade bur- do homem.
guesa do século XIX e pode ser considerada II. Expressões como “cansada”, “enferma”,
uma das obras-primas da ficção romântica “frios e melancólicos”, nas referências
brasileira porque focaliza a heroína Rita 1, 2 e 3 respectivamente, assumem uma
conotação positiva para a mulher de Jerô-
Baiana em sua multiplicidade psicológica.
nimo, ao definirem o espaço da felicidade
c) Todo o livro é marcado pela desilusão e pelo
perdida na velha terra.
abandono dos ideais realistas. Defendendo
III. As ações dos animais, pintadas com os
os valores de pureza e retorno à vida pacata tons fortes do Naturalismo, narram os
do campo, há nele fortes indícios do Roman- perigos que Jerônimo e sua mulher vi-
tismo que se anunciava no Brasil. vem na selva.
d) Narrado em primeira pessoa, “O cortiço” é IV. A expressão “lá”, nas referências 4 e 5,
uma análise da psicologia e da situação dos indica o espaço das virtudes do marido,
imigrantes no Brasil. Os perfis psicológicos e da paz doméstica e de uma vida simples
as análises de comportamento conduzem a e tranquila.
história à idealização da mestiçagem brasi- Pela análise das afirmativas, conclui-se que
leira, representada pela ascensão social dos estão corretas apenas:
portugueses Jerônimo e João Romão. a) I e III.
e) O tema da mulher idealizada é constante b) II e III.
nessa obra. A figura da virgem sonhada é c) III e IV.
simbolizada pela lavadeira Rita Baiana e d) I, II e IV.
constitui uma forma de denúncia dos pro- e) II, III e IV.
blemas sociais, tão frequentes nos livros fi-
liados à estética naturalista. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES

[…] No confuso rumor que se formava, des-


E.O. Complementar tacavam-se risos, sons de vozes que alterca-
vam, sem se saber onde, grasnar de marre-
cos, cantar de galos, cacarejar de galinhas.
1. (PUC-RS) Para responder à questão, leia o
De alguns quartos saíam mulheres que vi-
fragmento do romance “O cortiço”, de Alu- nham pendurar cá fora, na parede, a gaiola
ísio Azevedo e as afirmativas que seguem. do papagaio, e os louros, à semelhança dos
E maldizia soluçando a hora em que saíra donos, cumprimentavam-se ruidosamente,
da sua terra; essa boa terra 1cansada, velha espanejando-se à luz nova do dia.
como que 2enferma; essa boa terra tranquila, Daí a pouco, em volta das bicas era um zun-
sem sobressaltos nem desvarios de juven- zum crescente; uma aglomeração tumultuosa
tude. Sim, lá os campos eram 3frios e me- de machos e fêmeas. Uns, após outros, lava-
lancólicos, de um verde alourado e quieto, e vam a cara, incomodamente, debaixo do fio
não ardentes e esmeraldinos e afogados em de água que escorria da altura de uns cin-
tanto sol e em tanto perfume como o deste co palmos. O chão inundava-se. As mulheres

232
precisavam já prender as saias entre as co- 4. (UFMS) Com relação à obra O cortiço, de Alu-
xas para não as molhar; via-se-lhes a tosta- ísio Azevedo, assinale a(s) proposição(ões)
da nudez dos braços e do pescoço, que elas correta(s).
despiam, suspendendo o cabelo todo para o 01) O escritor propõe uma pesquisa voltada ape-
alto do casco; os homens, esses não se pre- nas para o caráter das personagens e não
ocupavam em não molhar o pelo, ao contrá- para suas manias, taras e vícios.
rio, metiam a cabeça bem debaixo da água e 02) Baseada em métodos científicos, faz crítica
esfregavam com força as ventas e as barbas, à organização da família de forma pessoal e
fossando e fungando contra as palmas da subjetiva.
mão. As portas das latrinas não descansavam, 04) As personagens femininas surgem como ob-
eram um abrir e fechar de cada instante, um jetos no romance, descartáveis quando vis-
entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam tas, pelos homens, como estorvo ou obstá-
lá dentro e vinham ainda amarrando as cal- culo.
ças ou as saias; as crianças não se davam ao 08) De estilo ágil, jornalístico, apresenta léxico
trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, e sintaxe consoantes com o caráter objetivo
no capinzal dos fundos, por detrás da estala- da narração.
gem ou no recanto das hortas. 16) O narrador evidencia o comportamento hu-
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Rio de Janeiro: mano condicionado pelo meio, momento e
Otto Pierre, 1979. p. 44-45. raça.

2. (UFG) Considerados os papéis sociais das TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO


personagens do romance, a frase “era um
zunzum crescente” resume um aspecto con- Entretanto, a chuva cessou completamente, o
textual relevante para a configuração da sol reapareceu, como para despedir-se; andori-
cena retratada, pois: nhas esgaivotaram no ar; e o cortiço palpitou
a) demonstra a plasticidade sonora de um am- inteiro na trêfega alegria do domingo. Nas sa-
biente em que vozes dispersas, sem resso- las do barão a festa engrossava, cada vez mais
nância, deixam de ser distintas e são con- estrepitosa; de vez em quando vinha de lá uma
densadas em rumor. taça quebrar-se no pátio da estalagem, levan-
b) descreve uma cena típica de um grupo so- tando protestos e surriadas.
cial que reconhece seu discurso como arma A noite chegou muito bonita, com um belo luar
de resistência contra a elite dominante da
de lua cheia, que começou ainda com o crepús-
época.
culo; e o samba rompeu mais forte e mais cedo
c) envolve o leitor em uma atmosfera conflituo-
sa, em que homens e mulheres representam que de costume, incitado pela grande animação
opiniões divergentes diante da realidade im- que havia em casa do Miranda.
posta. Foi um forrobodó valente. A Rita Baiana essa
d) convida o leitor para um passeio panorâmico noite estava de veia para a coisa; estava inspi-
a uma sociedade envolta em sons bucólicos, rada! divina! Nunca dançara com tanta graça e
de referência árcade, que dão um tom singe- tamanha lubricidade!
lo ao ambiente. Também cantou. E cada verso que vinha da sua
e) revela traços fundamentais na caracteriza- boca de mulata era um arrulhar choroso de
ção de uma comunidade centrada em uma pomba no cio. E o Firmo, bêbedo de volúpia,
atmosfera que inspira suspense e fantasia. enroscava-se todo ao violão; e o violão e ele
gemiam com o mesmo gosto, grunhindo, ga-
3. (UFG) No trecho, as escolhas lexicais carac- nindo, miando, com todas as vozes de bichos
terizam as personagens como sensuais, num desespero de luxúria que pene-
a) transgressoras, conforme relata o trecho “as trava até ao tutano como línguas finíssimas de
crianças não se davam ao trabalho de ir lá, cobra.
despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos Jerônimo não pôde conter-se: no momento em
fundos”. que a baiana, ofegante de cansaço, caiu exaus-
b) seres inquietos, conforme indicam os senti- ta, assentando-se ao lado dele, o português se-
dos produzidos pelos pares de valor semân- gredou-lhe com a voz estrangulada de paixão:
tico opositivo “abrir e fechar” e “entrar e - Meu bem! se você quiser estar comigo, dou
sair”. uma perna ao demo!
c) contempladoras da natureza, conforme suge-
Aluísio Azevedo. O CORTIÇO. São Paulo: Abril Cultural, 1981.
re a menção às aves em “grasnar de marre-
cos” e “cantar de galos”.
d) animais, conforme demonstra a descrição das 5. (UnB) Entre as produções literárias mais ex-
ações em “suspendendo o cabelo para o alto pressivas da literatura brasileira, encontra-
do casco” e “esfregam com força as ventas”. -se O CORTIÇO, de Aluísio Azevedo, uma obra
e) indiferentes, conforme mostra a avaliação de essencial para o entendimento da sociedade
seu comportamento em “uns, após outros, brasileira no final do século passado. A par-
lavavam a cara, incomodamente, debaixo do tir do texto, julgue os itens a seguir como
fio de água”. verdadeiro(s) ou falso(s).

233
( ) O romance O CORTIÇO tem esse nome porque a) Em O cortiço, do escritor naturalista Aluí-
sua trama desenvolve-se durante um final sio Azevedo, livro publicado apenas três
de semana em uma favela de Salvador. anos antes da realização do “Caipira pican-
( ) Na passagem transcrita, o autor trata, de do fumo”, de Almeida Júnior, o sol aparece
forma valorativa, da música popular brasilei- como elemento definidor do meio brasileiro,
ra ao longo dos anos. estendendo a tudo e a todos sua influên-
( ) O efeito erótico associado à música é um dos cia determinante. Essa mesma preeminência
pontos enfatizados nesse trecho de O CORTI- do sol se manifesta na composição do qua-
ÇO. dro de Almeida Júnior, também ele, em sua
medida, tributário das teorias naturalistas?
Justifique sua resposta, exemplificando com
E.O. Dissertativo o tratamento dado à cor e à luz, no referido
quadro.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO b) Um crítico de arte* que analisou o quadro
em questão, estudando inclusive suas rela-
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acor- ções com o Naturalismo, escreveu que, em
dava, abrindo, não os olhos, mas a sua infi- “Caipira picando fumo”, “ a ênfase negativa
nidade de portas e janelas alinhadas. no determinismo do meio”, própria do natu-
[...] ralismo de Aluísio, é contrabalançada pela
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum “apreciação positiva desse mesmo ambiente
crescente; uma aglomeração tumultuosa de ma- e de seus personagens”.
chos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara,
Indique, na caracterização da personagem,
incomodamente, debaixo do fio de água que
um aspecto em que se manifesta essa “apre-
escorria da altura de uns cinco palmos. O chão
inundava-se. As mulheres precisavam já pren- ciação positiva” de que fala o crítico. Expli-
der as saias entre as coxas para não as molhar; que.
via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pes-
coço, que elas despiam, suspendendo o cabelo 3. (UFV) Considere as seguintes afirmativas:
todo para o alto do casco; os homens, esses não a) “Esforço-me por entrar no espartilho e
se preocupavam em não molhar o pelo, ao con- seguir uma linha reta geométrica: ne-
trário metiam a cabeça bem debaixo da água e nhum lirismo, nada de reflexões, ausente
esfregavam com força as ventas e as barbas, fos- a personalidade do autor.” Gustav Flau-
sando e fungando contra as palmas da mão. bert
(Aluísio Azevedo. O cortiço.) (Cf. BOSI, Alfredo. “História concisa da literatura
brasileira.” São Paulo: Cultrix, 1994. p.169)
1. (UFSCar) Aluísio de Azevedo pertence ao Na-
b) “Em “Thérese Raquin”, eu quis estudar
turalismo.
temperamentos e não caracteres. Aí está
a) Cite duas características desse estilo de época.
o livro todo. Escolhi personagens sobera-
b) Exemplifique, no texto, essas duas caracte-
namente dominadas pelos nervos e pelo
rísticas.
sangue, desprovidas de livre-arbítrio,
arrastadas a cada ato de sua vida pelas
2. (FGV) Observe este quadro, para responder
fatalidades da própria carne [...].” Émile
ao que se pede.
Zola
(Cf. BOSI, Alfredo. “História concisa da literatura
brasileira.” São Paulo: Cultrix, 1994. p.169)

Os princípios estéticos introduzidos por


Flaubert e Zola, respectivamente, os men-
tores do Realismo e do Naturalismo, servem
como parâmetro para que se possam estabe-
lecer as diferenças básicas entre essas duas
escolas literárias.
Reflita sobre as afirmações dos referidos es-
critores franceses e destaque os pontos con-
vergentes e divergentes entre as manifesta-
ções da prosa de ficção realista-naturalista
no Brasil.

234
E.O. UERJ – umas lascas, uns calhaus7 que não servem
para nada! É uma dor de coração ver estragar

Exame Discursivo assim uma peça tão boa! Agora o que hão
de fazer dessa cascalhada que aí está senão
macacos8? E brada aos céus, creia! ter pedra
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES desta ordem para empregá-la em macacos!
O vendeiro escutava-o em silêncio, aper-
Daí à pedreira restavam apenas uns cinquenta tando os beiços, aborrecido com a ideia da
passos e o chão era já todo coberto por uma quele prejuízo.
farinha de pedra moída que sujava como a cal. Aluísio Azevedo
Aqui, ali, por toda a parte, encontravam-se O cortiço. São Paulo: Ática, 2009.
trabalhadores, uns ao sol, outros debaixo
de pequenas barracas feitas de lona ou de Vocabulário:
folhas de palmeira. De um lado cunhavam 1
lajedos - pedras
pedra cantando; de outro a quebravam a pi- 2
picão, escopro, macete - instrumentos de
careta; de outro afeiçoavam lajedos1 a ponta trabalho
de picão2; mais adiante faziam paralelepípe- 3
cavouqueiro - aquele que trabalha em minas
dos a escopro2 e macete2. E todo aquele re- e pedreiras
tintim de ferramentas, e o martelar da for- 4
fralda - parte inferior
ja, e o coro dos que lá em cima brocavam a 5
escalavrado - golpeado, esfolado
rocha para lançar-lhe fogo, e a surda zoada 6
ciclópica - colossal, gigantesca
ao longe, que vinha do cortiço, como de uma 7
calhaus - pedras soltas
aldeia alarmada; tudo dava a ideia de uma 8
macacos - paralelepípedos
atividade feroz, de uma luta de vingança e
de ódio. Aqueles homens gotejantes de suor,
bêbedos de calor, desvairados de insolação, 1. (Uerj) O texto de Aluísio Azevedo, que faz
a quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a parte da estética naturalista, utiliza recur-
pedra, pareciam um punhado de demônios sos expressivos de sonoridade, como a ono-
revoltados na sua impotência contra o im- matopeia.
passível gigante que os contemplava com Considere o seguinte fragmento:
desprezo, imperturbável a todos os golpes E todo aquele retintim de ferramentas, e o
e a todos os tiros que lhe desfechavam no martelar da forja, e o coro dos que lá em
dorso, deixando sem um gemido que lhe cima brocavam a rocha para lançar-lhe fogo,
abrissem as entranhas de granito. O mem- e a surda zoada ao longe, que vinha do orti-
brudo cavouqueiro3 havia chegado à fralda4 ço, (2º parágrafo)
do orgulhoso monstro de pedra; tinha-o cara Indique dois exemplos do emprego da ono-
a cara, mediu-o de alto a baixo, arrogante, matopeia e justifique a sua presença no tex-
num desafio surdo. to naturalista.
A pedreira mostrava nesse ponto de vista o
seu lado mais imponente. Descomposta, com
o escalavrado5 flanco exposto ao sol, erguia- 2. (Uerj) “pareciam um punhado de demônios
-se altaneira e desassombrada, afrontando o revoltados na sua impotência contra o im-
céu, muito íngreme, lisa, escaldante e cheia passível gigante que os contemplava com
de cordas que mesquinhamente lhe escor- desprezo, imperturbável a todos os golpes
riam pela ciclópica6 nudez com um efeito de e a todos os tiros que lhe desfechavam no
teias de aranha. Em certos lugares, muito dorso”, (2º parágrafo)
alto do chão, lhe haviam espetado alfinetes Para caracterizar a pedreira, o narrador uti-
de ferro, amparando, sobre um precipício, liza várias vezes uma determinada figura de
miseráveis tábuas que, vistas cá de baixo, linguagem, como no trecho sublinhado acima.
pareciam palitos, mas em cima das quais uns Identifique essa figura de linguagem e um de
atrevidos pigmeus de forma humana equi- seus efeitos estilísticos. Transcreva, em segui-
libravam-se, desfechando golpes de picareta da, uma passagem do texto em que a pedreira
contra o gigante. é descrita sob uma perspectiva diferente.
O cavouqueiro meneou a cabeça com ar
de lástima. O seu gesto desaprovava todo
aquele serviço. 3. (Uerj) Aqueles homens gotejantes de suor,
– Veja lá! disse ele, apontando para certo bêbedos de calor, desvairados de insolação,
ponto da rocha. Olhe para aquilo! Sua gente (2º parágrafo)
tem ido às cegas no trabalho desta pedrei- O enunciado acima apresenta uma sequência
ra. Deviam atacá-la justamente por aquele de sensações.
outro lado, para não contrariar os veios da Aponte o valor semântico dessa sequência e
pedra. Esta parte aqui é toda granito, é a me- identifique no texto outro exemplo em que a
lhor! Pois olhe só o que eles têm tirado de lá disposição das palavras produza efeito similar.

235
E.O. Objetivas TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) Passaram-se semanas. Jerônimo tomava ago-


ra, todas as manhãs, uma xícara de café bem
grosso, à moda da Ritinha, e 1tragava dois
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
dedos de parati 2“pra cortar a friagem”.
Uma 3transformação, lenta e profunda, ope-
E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe
toda a alma pelos olhos enamorados. rava-se nele, dia a dia, hora a hora, 4revisce-
Naquela mulata estava o grande mistério, a rando-lhe o corpo e 5alando-lhe os sentidos,
síntese das impressões que ele recebeu che- num 6trabalho misterioso e surdo de crisá-
gando aqui: ela era a luz ardente do meio- lida. A sua energia afrouxava lentamente:
-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazia-se contemplativo e amoroso. A vida
fazenda; era o aroma quente dos trevos e das americana e a natureza do Brasil 7patentea-
baunilhas, que o atordoara nas matas brasi- vam-lhe agora aspectos imprevistos e sedu-
leiras; era a palmeira virginal e esquiva que tores que o comoviam; esquecia-se dos seus
se não torce a nenhuma outra planta; era o primitivos sonhos de ambição, para idealizar
veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti felicidades novas, picantes e violentas; 8tor-
mais doce que o mel e era a castanha do caju, nava-se liberal, imprevidente e franco, mais
que abre feridas com o seu azeite de fogo; amigo de gastar que de guardar; adquiria de-
ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagar- sejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se
ta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava preguiçoso, 9resignando-se, vencido, às im-
havia muito tempo em torno do corpo dele, posições do sol e do calor, muralha de fogo
assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as com que o espírito eternamente revoltado do
fibras embambecidas pela saudade da terra, último tamoio entrincheirou a pátria contra
picando-lhe as artérias, para lhe cuspir den- os conquistadores aventureiros.
tro do sangue uma centelha daquele amor se- E assim, pouco a pouco, se foram reforman-
tentrional, uma nota daquela música feita de do todos os seus hábitos singelos de aldeão
gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem
português: e Jerônimo abrasileirou-se. (...)
de cantáridas que zumbiam em torno da Rita
E o curioso é que, quanto mais ia ele caindo
Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosfo-
rescência afrodisíaca. nos usos e costumes brasileiros, tanto mais
Aluísio Azevedo, O cortiço. os seus sentidos se apuravam, 10posto que
em detrimento das suas forças físicas. Ti-
1. (Fuvest) O efeito expressivo do texto – bem nha agora o ouvido menos grosseiro para a
como seu pertencimento ao Naturalismo em música, compreendia até as intenções, poé-
literatura – baseia-se amplamente no pro- ticas dos sertanejos, quando cantam à viola
cedimento de explorar de modo intensivo os seus amores infelizes; seus olhos, dantes
aspectos biológicos da natureza. Entre esses só voltados para a esperança de tornar à ter-
ra, agora, como os olhos de um marujo, que
procedimentos empregados no texto, só NÃO
se habituaram aos largos horizontes de céu
se encontra a:
e mar, já se não revoltavam com a turbulenta
a) representação do homem como ser vivo em
interação constante com o ambiente. luz, selvagem e alegre, do Brasil, e abriam-
b) exploração exaustiva dos receptores senso- -se amplamente defronte 11dos maravilhosos
riais humanos (audição, visão, olfação, gus- despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras
tação), bem como dos receptores mecânicos. sem fim, donde, de espaço a espaço, surge um
c) figuração variada tanto de plantas quanto de monarca gigante, que o sol veste de ouro e ri-
animais, inclusive observados em sua interação. cas pedrarias refulgentes e as nuvens toucam
d) ênfase em processos naturais ligados à repro- de alvos turbantes de cambraia, num luxo
dução humana e à metamorfose em animais. oriental de arábicos príncipes voluptuosos.
e) focalização dos processos de seleção natural Aluísio Azevedo, O cortiço.
como principal força direcionadora do pro-
cesso evolutivo. 3. (Fuvest) Considere as seguintes afirmações,
relacionadas ao excerto de O cortiço:
2. (Fuvest) Em que pese a oposição programáti- I. O sol, que, no texto, se associa fortemente
ca do Naturalismo ao Romantismo, verifica- ao Brasil e à “pátria”, é um símbolo que per-
-se no excerto – e na obra a que pertence corre o livro como manifestação da natureza
– a presença de uma linha de continuidade tropical e, em certas passagens, representa
entre o movimento romântico e a corrente o princípio masculino da fertilidade.
naturalista brasileira, a saber, a: II. A visão do Brasil expressa no texto mani-
a) exaltação patriótica da mistura de raças. festa a ambiguidade do intelectual brasi-
b) necessidade de autodefinição nacional. leiro da época em que a obra foi escrita, o
c) aversão ao cientificismo. qual acatava e rejeitava a sua terra, dela
d) recusa dos modelos literários estrangeiros. se orgulhava e envergonhava, nela con-
e) idealização das relações amorosas. fiava e dela desesperava.

236
III. O narrador aceita a visão exótico-român- TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES
tica de uma natureza (brasileira) pode-
rosa e transformadora, reinterpretando-a As provocações no recreio eram frequentes,
em chave naturalista. oriundas do enfado; irritadiços todos como
Aplica-se ao texto o que se afirma em: feridas; os inspetores a cada passo precisa-
a) I, somente. vam intervir em conflitos; as importunações
b) II, somente. andavam em busca das suscetibilidades; as
c) II e III, somente.
suscetibilidades a procurar a sarna das im-
d) I e III, somente.
e) I, II e III. portunações. Viam de joelhos o Franco, pu-
xavam-lhe os cabelos. Viam Rômulo passar,
4. (Fuvest) Um traço cultural que decorre da lançavam-lhe o apelido: mestre-cuca!
presença da escravidão no Brasil e que está Esta provocação era, além de tudo, inverda-
implícito nas considerações do narrador do de. Cozinheiro, Rômulo! Só porque lembrava
excerto é a: culinária, com a carnosidade bamba, fofada
a) desvalorização da mestiçagem brasileira. dos pastelões, ou porque era gordo das en-
b) promoção da música a emblema da nação. xúndias enganadoras dos fregistas, disso-
c) desconsideração do valor do trabalho. lução mórbida de sardinha e azeite, sob os
d) crença na existência de um caráter nacional aspectos de mais volumosa saúde?
brasileiro. (...)
e) tendência ao antilusitanismo.
Rômulo era antipatizado. Para que o não ma-
nifestassem excessivamente, fazia-se temer
5. (Fuvest) O papel desempenhado pela perso-
pela brutalidade. Ao mais insignificante gra-
nagem Ritinha (Rita Baiana), no processo
sintetizado no excerto, assemelha-se ao da cejo de um pequeno, atirava contra o infeliz
personagem: toda a corpulência das infiltrações de gordura
a) Iracema, do romance homônimo, na medida solta, desmoronava-se em socos. Dos mais for-
em que ambas simbolizam o poder de sedu- tes vingava-se, resmungando intrepidamente.
ção da terra brasileira sobre o português que Para desesperá-lo, aproveitavam-se os meno-
aqui chegava. res do escuro. Rômulo, no meio, ficava ton-
b) Vidinha, de Memórias de um sargento de to, esbravejando juras de morte, mostrando
milícias, tendo em vista que uma e outra o punho. Em geral procurava reconhecer al-
constituem fatores decisivos para o desen- gum dos impertinentes e o marcava para a
caminhamento de personagens masculinas vindita. Vindita inexorável.
anteriormente bem orientadas. No decorrer enfadonho das últimas semanas,
c) Capitu, de Dom Casmurro, a qual, como a foi Rômulo escolhido, principalmente, para
baiana, também lança mão de seus encantos expiatório do desfastio. Mestrecuca! Via-
femininos para obter ascensão social. -se apregoado por vozes fantásticas, saídas
d) Joaninha, de A cidade e as serras, pois am- da terra; mestre-cuca! Por vozes do espaço
bas representam a simplicidade natural das rouquenhas ou esganiçadas. Sentava-se aca-
mulheres do campo, em oposição à beleza brunhado, vendo se se lembrava de haver
artificiosa das mulheres das cidades. tratado panelas algum dia na vida; a unani-
e) Dora, de Capitães da areia, na medida em midade impressionava. Mais frequentemen-
que ambas são responsáveis diretas pela re- te, entregava-se a acessos de raiva. Arreme-
generação física e moral de seus respectivos tia bufando, espumando, olhos fechados,
pares amorosos. punhos para trás, contra os grupos. Os rapa-
zes corriam a rir, abrindo caminho, deixando
6. (Fuvest) Os costumes a que adere Jerônimo rolar adiante aquela ambulância danada de
em sua transformação, relatada no excerto, elefantíase.
têm como referência, na época em que se (Raul Pompeia. O Ateneu.)
passa a história, o modo de vida
a) dos degredados portugueses enviados ao 7. (Unifesp) Indique a alternativa em que os
Brasil sem a companhia da família. fragmentos selecionados exemplificam, res-
b) dos escravos domésticos, na região urbana pectivamente, a manifestação clara do ponto
da Corte, durante o Segundo Reinado. de vista do narrador e a opinião do grupo, a
c) das elites produtoras de café, nas fazendas propósito de Rômulo.
opulentas do Vale do Paraíba fluminense. a) Cozinheiro, Rômulo! – Vindita inexorável.
d) dos homens livres pobres, particularmente b) Vindita inexorável. – Cozinheiro, Rômulo!
em região urbana. c) Mestre-cuca! – Vindita inexorável.
e) dos negros quilombolas, homiziados em re- d) Cozinheiro, Rômulo! – Mestre-cuca!
fúgios isolados e anárquicos. e) Mestre-cuca! – Cozinheiro, Rômulo!

237
8. (Unifesp) Considere as seguintes afirmações. endeusada e querida, prodigalizando martí-
I. A alcunha de mestre-cuca, recebida por rios, que os miseráveis aceitavam contritos,
Rômulo, advinha do fato de ter praticado, a beijar os pés que os deprimiam e as impla-
anteriormente, a arte culinária. cáveis mãos que os estrangulavam.
II. As agressões e humilhações sofridas por — Ah! homens! homens! ... sussurrou ela de
Rômulo eram essencialmente motivadas envolta com um suspiro.
por sua antipatia. No texto, os pensamentos da personagem
As reações de Rômulo às provocações
III. a) recuperam o princípio da prosa naturalista,
dos colegas variavam conforme as cir- que condena os assuntos repulsivos e bes-
cunstâncias. tiais, sem amparo nas teorias científicas, li-
De acordo com o texto, está correto o que se gados ao homem que põe em primeiro plano
afirma apenas em: seus instintos animalescos.
a) I. b) elucidam o princípio do determinismo pre-
b) II. sente na prosa naturalista, revelando os
c) III. homens e as mulheres conscientes dos seus
d) I e II. instintos em função do meio em que vivem
e) II e III. e, sobretudo, capazes de controlá-los.
c) trazem uma crítica aos aspectos animalescos
próprios do homem, mas, por outro lado, reve-
9. (Unifesp) Sobre o texto, é correto afirmar:
lam uma forma de Pombinha submeter a muitos
a) A atmosfera tensa presente no cotidiano do
deles para obter vantagens: eis aí um princípio
colégio era produto, sobretudo, da marcação
do Realismo rechaçado no Naturalismo.
cerrada dos inspetores, que intervinham nos
d) constroem uma visão de mundo e do homem
muitos conflitos.
b) Rômulo, devido às provocações que sofre, idealizada, o que, em certa medida, afronta
perde as certezas sobre si mesmo e assume o referencial em que se baseia a prosa natu-
um comportamento que oscila entre a an- ralista, que define o homem como fruto do
gústia e ataques de fúria. meio, marcado pelo apelo dos seus sentidos.
c) Alguns alunos, por serem muito suscetíveis, e) consubstanciam a concepção naturalista de
importunavam outros colegas, puxando-lhes que o homem é um animal, preso aos ins-
o cabelo ou colocando-lhes apelidos. tintos e, no que dizem respeito à sexualida-
d) A brutalidade física de Rômulo era a úni- de, vê-se que Pombinha considera a mulher
ca solução que encontrava para enfrentar a superior ao homem, e esse conhecimento é
chacota dos alunos mais fortes. uma forma de se obterem vantagens.
e) A unanimidade dos alunos em chamar Rômulo

E.O. Dissertativas
de cozinheiro fazia com que preponderasse sua
atitude de entregar-se ao acabrunhamento.

1
0. (Unifesp) Considere o trecho de O Cortiço, de
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
Aluísio Azevedo.
1. (Unicamp) Pensando nos pares amorosos, já
Uma aluvião de cenas, que ela [Pombinha]
se afirmou que “há n’O cortiço um pouco de
jamais tentara explicar e que até ali jaziam
esquecidas nos meandros do seu passado, Iracema coada pelo Naturalismo.”
(Antonio Candido, “De cortiço em cortiço”, em O discurso
apresentavam-se agora nítidas e transpa-
e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1993, p.142.)
rentes. Compreendeu como era que certos
velhos respeitáveis, cuja fotografia Léonie Partindo desse comentário, leia o trecho
lhe mostrou no dia que passaram juntas, abaixo e responda às questões.
deixavam-se vilmente cavalgar pela lourei- O chorado arrastava-os a todos, despoticamen-
ra, cativos e submissos, pagando a escravi- te, desesperando aos que não sabiam dançar.
dão com a honra, os bens, e até com a pró- Mas, ninguém como a Rita; só ela, só aquele
pria vida, se a prostituta, depois de os ter demônio, tinha o mágico segredo daqueles
esgotado, fechava-lhes o corpo. E continuou movimentos de cobra amaldiçoada; aqueles
requebros que não podiam ser sem o cheiro
a sorrir, desvanecida na sua superioridade
que a mulata soltava de si e sem aquela voz
sobre esse outro sexo, vaidoso e fanfarrão,
doce, quebrada, harmoniosa, arrogante, mei-
que se julgava senhor e que, no entanto, fora ga e suplicante. (...) Naquela mulata estava
posto no mundo simplesmente para servir o grande mistério, a síntese das impressões
ao feminino; escravo ridículo que, para go- que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz
zar um pouco, precisava tirar da sua mes- ardente do meio-dia; ela era o calor verme-
ma ilusão a substância do seu gozo; ao pas- lho das sestas da fazenda; era o aroma quente
so que a mulher, a senhora, a dona dele, ia dos trevos e das baunilhas, que o atordoara
tranquilamente desfrutando o seu império, nas matas brasileiras; era a palmeira virginal

238
e esquiva que se não torce a nenhuma outra superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, ce-
planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; dendo às imposições mesológicas, enfarava
era o sapoti mais doce que o mel e era a casta- a esposa, sua congênere, e queria a mulata,
nha do caju, que abre feridas com o seu azeite porque a mulata era o prazer, a volúpia, era
de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a la- o fruto dourado e acre destes sertões ame-
garta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava ricanos, onde a alma de Jerônimo aprendeu
havia muito tempo em torno do corpo dele, lascívias de macaco e onde seu corpo porejou
assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as o cheiro sensual dos bodes.
fibras embambecidas pela saudade da terra, Tendo em vista as orientações doutrinárias
picando-lhe as artérias, para lhe cuspir den- que predominam na composição de O cortiço,
tro do sangue uma centelha daquele amor se- identifique e explique aquela que se mani-
tentrional, uma nota daquela música feita de festa no trecho a e a que se manifesta no
gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem trecho b, a seguir:
de cantáridas que zumbiam em torno da Rita a) “o sangue da mestiça reclamou os seus direi-
Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosfo- tos de apuração”.
rescência afrodisíaca. Isto era o que Jerônimo b) “cedendo às imposições mesológicas”.
sentia, mas o que o tonto não podia conceber.
De todas as impressões daquele resto de do- 4. (Unicamp) Leia o seguinte comentário a res-
mingo só lhe ficou no espírito o entorpeci- peito de O Cortiço, de Aluísio Azevedo:
mento de uma desconhecida embriaguez, Com efeito, o que há n’ O Cortiço são for-
não de vinho, mas de mel chuchurreado no mas primitivas de amealhamento, a partir
cálice de flores americanas, dessas muito al- de muito pouco ou quase nada, exigindo
vas, cheirosas e úmidas, que ele na fazenda uma espécie de rigoroso ascetismo inicial e
via debruçadas confidencialmente sobre os a aceitação de modalidades diretas e brutais
limosos pântanos sombrios, onde as oiticicas de exploração, incluindo o furto (...) como
trescalam um aroma que entristece de sau- forma de ganho e a transformação da mu-
dade. (...) E ela só foi ter com ele, levando- lher escrava em companheira máquina.
-lhe a chávena fumegante da perfumosa be- (...) Aluísio foi, salvo erro meu, o primeiro
bida que tinha sido a mensageira dos seus dos nossos romancistas a descrever minu-
amores; assentou-se ao rebordo da cama e, ciosamente o mecanismo de formação da
segurando com uma das mãos o pires, e com riqueza individual. (...) N’ O Cortiço [o di-
a outra a xícara, ajudava-o a beber, gole por nheiro] se torna implicitamente objeto cen-
gole, enquanto seus olhos o acarinhavam, tral da narrativa, cujo ritmo acaba se ajus-
cintilantes de impaciência no antegozo da- tando ao ritmo da sua acumulação, tomada
pela primeira vez no Brasil como eixo da
quele primeiro enlace.
composição ficcional.
Depois, atirou fora a saia e, só de camisa,
(Antonio Candido, De cortiço a cortiço. In: O discurso e
lançou-se contra o seu amado, num frenesi a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1993, p. 129-3.)
de desejo doido.
*amealhar: acumular (riqueza), juntar (dinheiro) aos poucos
(Aluísio Azevedo, O Cortiço. Ficção Completa. Rio
de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 498 e 581.)
a) Explique a que se referem o rigoroso asce-
a) Na descrição acima, identifique dois aspectos tismo inicial da personagem em questão e as
que permitem aproximar Rita Baiana de Irace- modalidades diretas e brutais de exploração
que ela emprega.
ma, mostrando os limites dessa semelhança.
b) Identifique a “mulher escrava” e o modo
b) Identifique uma semelhança e uma diferen- como se dá sua transformação “em compa-
ça entre Jerônimo e Martim. nheira máquina”.

2. (Fuvest) Responda ao que se pede. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES


De que maneira, em O cortiço, de Aluísio
Azevedo, são encaradas as correntes de pen- Fragmento do romance O Ateneu, de Raul
samento filosófico e científico de grande Pompeia (1863-1895), em que o narrador
prestígio na época em que o romance foi es- comenta suas reações ao ensino que recebia
crito? Explique sucintamente. no colégio:
O ATENEU
3. (Fuvest) Considere o seguinte excerto de O
cortiço, de Aluísio Azevedo, e responda ao A doutrina cristã, anotada pela proficiência
que se pede. do explicador, foi ocasião de dobrado ensino
(...) desde que Jerônimo propendeu para ela, que muito me interessou. Era o céu aberto,
fascinando-a com a sua tranquila seriedade rodeado de altares, para todas as criações
de animal bom e forte, o sangue da mesti- consagradas da fé. Curioso encarar a gran-
ça reclamou os seus direitos de apuração, e deza do Altíssimo; mas havia janelas para
Rita preferiu no europeu o macho de raça o purgatório a que o Sanches se debruçava

239
comigo, cuja vista muito mais seduzia. E o 6. (Unesp) Nesta passagem de O Ateneu, ro-
preceptor tinha um tempero de unção na voz mance que a crítica literária ainda hesita
e no modo, uma sobranceria de diretor es- em classificar dentro de um único estilo li-
piritual, que fala do pecado sem macular a terário, a personagem narradora se refere ao
boca. Expunha quase compungido, fincando ensino de religião cristã, desenho e mate-
o olhar no teto, fazendo estalar os dedos, mática, mostrando atitudes diferentes com
num enlevo de abstração religiosa; expunha, relação aos conteúdos de cada disciplina.
demorando os incidentes, as mais cabeludas Releia o texto e, a seguir, explique a razão
manifestações de Satanás no mundo. Nem ao de a personagem narradora declarar, no pe-
menos dourava os chifres, que me não fizes- núltimo parágrafo, que prescindia do colega
sem medo; pelo contrário, havia como que o mais velho no aprendizado de desenho.
capricho de surpreender com as fantasias do
Mal e da Tentação, e, segundo o lineamento 7. (Unesp) Embora no uso popular a palavra
do Sanches, a cauda do demônio tinha tal- agouro apresente muitas vezes a acepção
vez dois metros mais que na realidade. In- de “previsão ruim”, seu significado origi-
sinuou-me, é certo, uma vez, que não é tão nal não tem essa marca pejorativa, mas,
feio o dito, como o pintam. simplesmente, o de prognóstico, previsão,
O catecismo começou a infundir-me o temor predição, augúrio. Leia atentamente o últi-
apavorado dos oráculos obscuros. Eu não acre- mo parágrafo do fragmento de O Ateneu e,
ditava inteiramente. Bem pensando, achava a seguir, explique, comprovando com base
que metade daquilo era invenção malvada do em elementos do contexto, em que sentido o
Sanches. E quando ele punha-se a contar his- narrador empregou a palavra agouro.
tórias de castidade, sem atenção à parvidade
da matéria do preceito teológico, mulher do 8. (Fuvest 2017) Considere o excerto em que
próximo, Conceição da Virgem, terceiro-luxú- Araripe Júnior, crítico associado ao Natura-
ria, brados ao céu pela sensualidade contra a lismo, refere-se ao “estilo” praticado “nesta
natureza, vantagens morais do matrimônio,
terra”, isto é, no Brasil.
e porque a carne, a inocente carne, que eu
só conhecia condenada pela quaresma e pelos
O estilo, nesta terra, é como o sumo da pi-
monopolistas do bacalhau, a pobre carne do
nha, que, quando viça, lasca, deforma-se, e,
beef, era inimiga da alma; quando retificava o
pelas fendas irregulares, poreja o mel dulcís-
meu engano, que era outra a carne e guisada
de modo especial e muito especialmente trin- simo, que as aves vêm beijar; ou como o áci-
chada, eu mordia um pedacinho de indigna- do do ananás do Amazonas, que desespera
ção contra as calúnias à santa cartilha do meu de sabor, deixando a língua a verter sangue,
devoto credo. Mas a coisa interessava e eu ia picada e dolorida.
colhendo as informações para julgar por mim a) O modo pelo qual o crítico explica a feição
oportunamente. que o “estilo” assume “nesta terra” indica
Na tabuada e no desenho linear, eu prescin- que ele compartilha com o Naturalismo um
dia do colega mais velho; no desenho, por- postulado fundamental. Qual é esse postula-
que achava graça em percorrer os capricho- do? Explique resumidamente.
sos traços, divertindo-me a geometria miúda b) As características de estilo sugeridas pelo
como um brinquedo; na tabuada e no siste- crítico, no excerto, aplicam-se ao romance
ma métrico, porque perdera as esperanças de O cortiço, de Aluísio Azevedo? Justifique su-
passar de medíocre como ginasta de cálculos, cintamente sua resposta.
e resolvera deixar a Maurílio ou a quem quer
que fosse o primado das cifras. 9. (Unesp) No fragmento de O CORTIÇO, de
Em dois meses tínhamos vencido por alto Aluísio Azevedo (1857-1913), há um trecho
a matéria toda do curso; e, com este prepa- em que se observa uma das posturas cien-
ro, sorria-me o agouro de magnífico futuro, tificistas do Naturalismo, o psicofisiologis-
quando veio a fatalidade desandar a roda. mo. Tal postura consiste em fazer com que
(Raul Pompeia. O Ateneu. Rio de Janeiro:
Biblioteca Universal Popular, 1963.) os traços físicos de um personagem estejam
em estreita relação com sua identidade psi-
5. (Unesp) No primeiro parágrafo, a persona- cológica, sua maneira de ser, no ambiente
gem Sanches, aluno mais velho que atuava narrativo. Levando em consideração este co-
como espécie de preceptor para os estudos mentário:
de Sérgio, o mais novo, se refere a duas en- a) Indique um traço físico de João Romão que
tidades da religião cristã, contextualizando está de acordo com a personalidade que lhe
valores opostos a cada uma delas. Identifi- confere o narrador.
que as duas entidades e os valores a que es- b) Interprete esse traço físico, à luz do caráter
tão respectivamente associadas. naturalista da obra.

240
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO descrições permite detectar não somente
diferenças nos planos físico e psicológico
“Não é possível idear nada mais puro e har- das duas mulheres, mas também no modo
monioso do que o perfil dessa estátua de como cada uma é concebida pelo respectivo
moça. narrador, segundo os princípios estéticos do
Era alta e esbelta. Tinha um desses talhes Romantismo e do Naturalismo. O resultado
flexíveis e lançados, que são hastes de lírio final, em termos de leitura, é o surgimento
para o rosto gentil; porém na mesma deli- de duas personagens completamente distin-
cadeza do porte esculpiam-se os contornos tas, vale dizer, duas mulheres que causam
mais graciosos com firme nitidez das linhas impressões inconfundíveis no leitor. Levan-
e uma deliciosa suavidade nos relevos. do em conta estas informações, procure re-
Não era alva, também não era morena. Tinha lacionar a diferença essencial entre as duas
sua tez a cor das pétalas da magnólia, quan- personagens com os princípios estéticos do
do vão desfalecendo ao beijo do sol. Mimosa Romantismo e do Naturalismo.
cor de mulher, se a aveluda a pubescência
juvenil, e a luz coa pelo fino tecido, e um
sangue puro a escumilha de róseo matiz. A Gabarito
dela era assim.
Uma altivez de rainha cingia-lhe a fronte,
como diadema cintilando na cabeça de um
anjo. Havia em toda a sua pessoa um quer E.O. Aprendizagem
que fosse de sublime e excelso que a abstraía 1. V-V-V-F 2. B 3. D 4. E 5. D
da terra. Contemplando-a naquele instante
6. B 7. D 8. B 9. C 10. A
de enlevo, dir-se-ia que ela se preparava
para sua celeste ascensão.”
(José de Alencar, DIVA. São Paulo: Saraiva, 1959. p. 17)

“Era muito bem feita de quadris e de om-


E.O. Fixação
bros. Espartilhada, como estava naquele mo- 1. V-V-F-V-F 2. B 3. D 4. B 5. B
mento, a volta enérgica da cintura e a suave 6. B 7. E 8. E 9. A 10. A
protuberância dos seios, produziam nos sen-
tidos de quem a contemplava de perto uma
deliciosa impressão artística.
Sentia-se-lhe dentro das mangas do vestido E.O. Complementar
a trêmula carnadura dos braços; e os pulsos 1. D 2. A 3. D 4. 04+08+16=28 5. F-F-V
apareciam nus, muito brancos, chamalotados
de veiazinhas sutis, que se prolongavam ser-
peando. Tinha as mãos finas e bem tratadas,
os dedos longos e roliços, a palma cor-de- E.O. Dissertativo
-rosa e as unhas curvas como o bico de um 1.
papagaio. a) Duas características do Naturalismo que se
Sem ser verdadeiramente bonita de rosto, encontram nesse trecho d’ O cortiço são o
era muito simpática e graciosa. Tez macia, zoomorfismo e o descritivismo objetivo.
de uma palidez fresca de camélia; olhos es- b) O zoomorfismo aparece em “aglomera-
curos, um pouco preguiçosos, bem guarneci- ção de machos e fêmeas”, “não molhar
dos e penetrantes; nariz curto, um nadinha o pelo”, “fossando” . A análise objetiva,
arrebitado, beiços polpudos e viçosos, à ma- voltada para elementos sensoriais, apare-
neira de uma fruta que provoca o apetite e ce em “fio de água que escorria da altura
dá vontade de morder. Usava o cabelo cofia- de uns cinco palmos”, “chão inundava-
do em franjas sobre a testa, e, quando queria -se”, “metiam bem debaixo da água e es-
ver ao longe, tinha de costume apertar as fregavam com força”, dentre outras.
pálpebras e abrir ligeiramente a boca.” 2.
(Aluísio Azevedo, CASA DE PENSÃO. 20ª a) Nas duas obras referidas o Sol ocupa po-
ed. São Paulo: Martins, s.d. p.87) sição central, tributário das teorias natu-
ralistas. Na tela, o sol atinge o “Caipira
picando fumo”, marcando não apenas a
1
0. (Unesp) Os dois trechos citados, que perten- paisagem (como se verifica pelas som-
cem a romances de José de Alencar (1829- bras) como também o Homem (a pele
1877) e Aluísio Azevedo (1857-1913), têm queimada). A impressão de quem vê o
em comum o fato de descreverem persona- quadro é que a luz solar tem presença
gens femininas. Um confronto entre as duas marcante.

241
b) A “apreciação positiva” apontada pelo
crítico de arte se dá pelo caipira plena-
E.O. Objetivas
mente integrado no meio em que está in- (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
serido: sua atividade de picar fumo para 1. E 2. B 3. E 4. C 5. A
próprio deleite é tranquilamente realiza-
da, apesar da grande luminosidade – o 6. D 7. D 8. C 9. B 10. E
sol não interfere negativamente em seu
cotidiano.
3.
Convergência: tanto o Realismo como o Na- E.O. Dissertativas
turalismo retratam o real, cuja fundamenta- (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
ção se encontra nos princípios do positivis- 1.
mo e do determinismo. São anti-românticos. a) Ambas são representantes da mulher bra-
Divergência: o Realismo faz uma interpreta- sileira, pois Iracema era uma índia nati-
ção indireta dos fatos; já o Naturalismo, uma va, detentora de sensualidade que atrai o
interpretação direta e avança até as últimas colonizador Martim, e Rita Baiana, uma
consequências. mulata que também provoca uma série de
impressões em Jerônimo, imigrante portu-
guês. Ambas representam “o grande mis-
E.O. UERJ tério, a síntese das impressões” que eles
receberam “chegando aqui”. No entanto,
Exame Discursivo enquanto Iracema é descrita por Alencar
1. A onomatopeia é uma figura da retórica que, como uma espécie de “vestal” índia que
através de imitação ou reprodução, aproxima se vai sacrificar na entrega amorosa, Rita
por semelhança o som de uma palavra à rea- Baiana é apresentada de forma animales-
lidade que representa, seja o canto dos ani- ca (“movimentos de cobra amaldiçoada”,
mais, o som dos instrumentos musicais ou “a lagarta viscosa”, “a muriçoca doida”).
o barulho que acompanha os fenômenos da b) Ambos são portugueses, sentem-se atraí-
natureza. “Retintim” expressa o ruído de ob- dos pela beleza e sensualidade da mulher
jetos metálicos que se chocam entre si e con- brasileira e sucumbem ao seus encantos.
tra a pedra, e “zoada”, o zumbido provocado No entanto, Martim submete Iracema, que
pelas vozes e ruídos que vinham do cortiço. abandona a sua tribo para o seguir e viver
2. Trata-se de personificação, prosopopeia ou com ele, como heroína romântica que morre
animismo, recurso expressivo que atribui pelo seu grande amor, enquanto Jerônimo
predicados humanos a seres inanimados abandona esposa, filha e trabalho, transfor-
ou irracionais. No texto, a pedreira é dotada mando-se em assassino e alcoólatra.
de vida, um gigante em duelo com os traba- 2.
O Cortiço foi baseado principalmente nas
lhadores descritos como “uns atrevidos pig- ideias do determinismo, em que o homem
meus de forma humana” que desfechavam é fruto do meio, cuja máxima “inquestioná-
golpes de picareta contra ele. No entanto, a vel” perdurou até o século XX. No cortiço,
imperícia dos trabalhadores provocava uma toda a classe operária era mostrada de modo
sensação de tristeza em Jerônimo que, como a se render ao que o próprio meio proporcio-
cavouqueiro experiente, notava o desperdí- nava de miséria, de promiscuidade, levando
cio na forma como trabalhavam e extraíam as personagens a adquirirem uma confor-
as pedras (“Esta parte aqui é toda granito, é mação quase animalesca chamada de zoo-
a melhor! Pois olhe só o que eles têm tirado morfismo. A visão darwinista da lei do mais
de lá – umas lascas, uns calhaus que não ser- forte também aparece na figura autoritária
vem para nada!”, “É uma dor de coração ver e egoísta de João Romão, representante de
estragar assim uma peça tão boa!”,” E brada uma burguesia cruel e tacanha capaz de ga-
aos céus, creia! ter pedra desta ordem para nhar pela exploração sem dó nem piedade,
empregá-la em macacos”). levando-nos também a ideias marxistas do
3. A descrição enfatiza o trabalho árduo dos lucro e da mais valia.
homens que trabalhavam na pedreira, sujei- 3.
tos ao calor e à sede. Em ordem crescente, o a) O trecho revela a influência do Determinis-
autor usa a gradação em progressão semân- mo. A personagem Rita Baiana é conduzi-
tica, para exprimir a intensidade desse es- da de acordo com as características da sua
forço. O mesmo recurso é utilizado imedia- raça (“o sangue da mestiça”). Era comum
tamente a seguir para descrever as ações que na época acreditar-se que algumas raças
provocavam essas sensações (“a quebrarem, eram superiores a outras. Rita Baiana, sen-
a espicaçarem, a torturarem a pedra”). do mestiça, trazia a mistura de duas raças.
Então, ela deixa de lado o homem da raça
inferior, para unir-se ao de raça superior:

242
o português, branco (“reclamou os seus di- posterior reflexão (“julgar ... oportunamen-
reitos de apuração”). É evidente que é uma te”). Como o narrador se considera inapto
visão racista, negada pela ciência de hoje. para o cálculo, diverte-se apenas com o dese-
No entanto, Aluísio, na obra, revela as con- nho (“divertindo-me a geometria miúda”) e
cepções de sua época. prescinde do auxílio de Sanches, útil apenas
b) A orientação doutrinária aqui é também no ensino da religião.
determinista, pois “Cedendo às imposi- 7. O contexto em que o termo se apresenta
ções mesológicas” revela o homem su- permite inferir a intenção positiva como o
cumbindo às imposições de seu meio. Je- narrador usou. Ao associar o complemento
rônimo, vivendo agora entre brasileiros, nominal “de magnífico agouro” ao predicado
abrasileira-se, ou seja, não tem forças “com este preparo, sorria-me”, exclui-se o
para resistir a algo maior do que o seu significado negativo, comum no uso popular.
livre-arbítrio: o meio social. 8.
4. a) O postulado fundamental que Araripe
a) O ascetismo rigoroso, esforço austero a que Júnior compartilha com o Naturalismo e
se refere o autor, caracteriza a personali- que explica a feição que o “estilo” assume
dade e a forma de vida a que se submete “nesta terra” é o determinismo de meio,
João Romão para ascender socialmente. tese segundo a qual o homem estaria con-
Suportando todo tipo de privação, exe- dicionado ao meio em que vive. As diver-
cutando trabalho pesado, sujeitando-se a sas referências a elementos do ambiente
uma vida sem conforto, pensava somen- brasileiro evidenciam essa tendência de-
te em enriquecer a qualquer custo. Para terminista: “sumo da pinha, que, quando
isso não se importava de roubar, mentir viça, lasca, deforma-se, e, pelas fendas
ou explorar os outros, obrigando os traba- irregulares”, “ácido do ananás do Ama-
lhadores a consumirem na sua venda ou zonas, que desespera de sabor, deixando
aproveitando-se da gratidão de Bertoleza a língua a verter sangue, picada e dolori-
enquanto esta lhe era conveniente. da”.
b) Bertoleza, acreditando que João Romão a b) Sim. O cortiço é um romance de tese,
tinha como amiga e confidente, entrega- cuja narrativa evidencia, de acordo com
-lhe as suas poupanças para pagar a sua as ideias deterministas, a influência do
alforria. Por gratidão, dedica-se inteira- meio sobre o ser humano. Jerônimo,
mente, trabalha de sol a sol como uma português, é conduzido a uma série de
escrava, além de lhe servir de amante. transformações em seus hábitos e cará-
Quando já não é mais conveniente aos ter, abrasileirando-se. Pombinha, moça
planos de João Romão, passa a ser des- pura, cede ao ambiente supersensual que
prezada, principalmente quando este a circunda, entre outros exemplos.
começa a pensar num conveniente casa- 9.
mento com a filha do Miranda, transfor- a) “Baixote, socado, de cabelos à escovinha,
mando-se assim em “companheira má- a barba sempre por fazer”: estes traços
quina”, “mulher objeto”. Finalmente, ao correspondem à sua mesquinhez.
descobrir que a carta de alforria era falsa b) João Romão age impelido pelas condi-
e que João Romão tencionava entrega-la ções biofisiológicas.
à polícia, opta pelo suicídio. 10. A personagem de Alencar é idealizada, divi-
nizada, como manda o ideário romântico. A
5.
As entidades referidas no primeiro parágra- personagem de Azevedo é mais terrena, mais
fo dizem respeito à dualidade Bem e Mal, sensual e descrita em detalhes que acentu-
contextualizadas na religião cristã através am a sua materialidade.
de Deus (“céu” e “Altíssimo”) e Demônio
(Satanás”, “chifres”, “cauda”). Enquanto ao
primeiro estão associados o Bem e as Vir-
tudes, ao segundo se associam o pecado e a
condenação: eterna (Inferno) ou temporária
(Purgatório).
6.
Sanches, o colega mais velho, é destacado
ironicamente por sua “proficiência” no ensi-
no da doutrina cristã, em cujas explicações o
narrador não acreditava piamente (“achava
que metade daquilo era invenção malvada”),
mas que, segundo o narrador, excitavam a
sua imaginação (“capricho de surpreender
com as fantasias do Mal”) e serviriam para

243
Aula 16

Parnasianismo
Competência 5
Habilidades 15, 16 e 17
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
O Parnasianismo

Parnaso. 1497. Andrea Mantegna.

Escola literária exclusiva da França e do Brasil, o Parnasianismo originou-se com as antologias poéticas publicadas
na França a partir de 1866, sob o título Le Parnasse contemporain (O Parnaso contemporâneo).
Os parnasianos interessaram-se apenas por poesia e foram guiados pela estética da “arte pela arte”, pro-
posta pelo precursor da escola, o poeta francês Théophile Gautier (1811–1872).
A “arte pela arte” estava voltada para o ideal clássico de beleza e harmonia de formas. Para os parnasianos,
a estrutura métrica e sonora de seus versos era perfeita, uma vez que predominava neles a técnica do bom versejar
em vez da inspiração.
No Brasil, o movimento é contemporâneo ao Realismo-Naturalismo, uma vez que os poetas parnasianos
compuseram suas obras entre o final do século XIX e o começo do século XX, adotando a moda importada da
França.
A partir de 1878, no Diário do Rio de Janeiro, os simpatizantes do Realismo entraram em polêmica aberta
contra os do Parnasianismo. Esse desentendimento ficou conhecido como Batalha do Parnaso e acabou servindo
para divulgar a estética parnasiana, logo alcunhada de “ideia nova”, nos meios artísticos do país.

Características da poesia parnasiana


§§ Objetividade no tratamento dos temas abordados, baseados na realidade sem subjetivismo e emoção.
§§ Impessoalidade do escritor que não interfere na abordagem dos fatos.
§§ Valorização da estética e busca da perfeição, da beleza em si e da perfeição estética.
§§ Preferência pelas rimas esteticamente ricas.
§§ Linguagem rebuscada e vocabulário vernáculo.
§§ Temas frequentes ligados à mitologia grega e à cultura clássica.
§§ Preferência pelos sonetos.
§§ Valorização da metrificação rigorosa dos versos.
§§ Valorização da descrição de cenas e objetos.

247
“Arte pela arte”
Em reação à emotividade excessiva do Romantismo, os parnasianos adotaram uma postura de objetividade e im-
passibilidade poéticas, um exercício da arte pela arte, e o culto à forma com a finalidade de alcançar a perfeição na
métrica, nas rimas preciosas e raras, no vocabulário, na descrição, na predileção por sonetos.
O resultado dessa postura estética foi uma poesia excessivamente descritiva cujos temas incidem em acon-
tecimentos históricos, em fenômenos naturais, em objetos, como este soneto de Alberto de Oliveira.

Vaso grego

Esta de áureos relevos, trabalhada


De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois… Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

Poeta de Teos: referência a Anacreonte, nascido em Teos, na Jônia


Colmada: coberta
Lavro: trabalho
Ignota: desconhecida
Anacreonte: poeta lírico do vinho e do amor

Emoções contidas
O apego ao equilíbrio clássico em contraposição ao exagero da poesia romântica pretendem levar o poema à obje-
tividade, a captar a verdadeira essência da poesia, à racionalidade. Temas universalistas, como o amor, a natureza,
o tempo e a própria poesia, dominam a poesia parnasiana.

Amor sensual
Os parnasianos preferem a exploração sensual do amor, que preza a mulher concreta, palpável, geralmente descrita
com minúcias cujo protótipo é Vênus, a deusa do amor na mitologia.

248
Parnasianos no Brasil
“A estética parnasiana cristalizou-se entre nós depois da publicação de Fanfarras, de Teófilo Dias, livro em que o
movimento antirromântico começa a se definir no espírito e na forma dos parnasianos franceses”, explica Manuel
Bandeira, em estudo dedicado ao movimento.
Coube, no entanto, à chamada tríade parnasiana, formada por Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e
Olavo Bilac, a consolidação do Parnasianismo brasileiro.

Olavo Bilac, à direita, Raimundo Correia, ao centro, e Alberto de Oliveira,


poetas conhecidos como a tríade parnasiana.

Alberto de Oliveira

A fidelidade à estética parnasiana e a perfeição dos versos do carioca Antônio Mariano Alberto de Oliveira (1857-
1937) foram reconhecidas em 1924, quando foi eleito o “segundo príncipe dos poetas brasileiros” – o primeiro foi
Olavo Bilac, em 1913. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.
Considerado um dos mais perfeitos parnasianos, sua poesia é descritiva, exalta a forma e a Antiguidade clássica.
Sua obra compreende os poemas de Canções românticas; Meridionais; Sonetos e poemas; Versos e rimas;
Poesias (primeira, segunda e terceira séries e póstuma).

249
Vaso chinês

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,


Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármore luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe? – de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura.
Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
(Alberto de Oliveira. Op. cit.)

Note que nesse soneto há “culto à forma”. Os versos são rigorosamente metrificados, com rimas raras obti-
das do aproveitamento sonoro de palavras de categorias gramaticais diferentes, bem como do uso de terminações
não comuns: “vendo-a” / “amêndoa”.

Segundo a ABL

Biografia

§§ Alberto de Oliveira (Antônio Mariano A. de O.), farmacêutico, professor e poeta, nasceu em Palmital de
Saquarema, RJ, em 28 de abril de 1857, e faleceu em Niterói, RJ, em 19 de janeiro de 1937.
§§ Fundador da Cadeira 8.
§§ Recebeu o Acadêmico Goulart de Andrade.
Era filho de José Mariano de Oliveira e de Ana Mariano de Oliveira. Fez os estudos primários em escola pú-
blica na vila de N. S. de Nazaré de Saquarema. Depois, cursou humanidades em Niterói. Diplomou-se em Farmácia,
em 1884, e cursou a Faculdade de Medicina até o terceiro ano, onde foi colega de Olavo Bilac, com quem, desde
logo, estabeleceu relações pessoais e literárias. Bilac seguiu para São Paulo, matriculando-se na Faculdade de
Direito, e Alberto foi exercer a profissão de farmacêutico. Deu o nome a várias farmácias alheias. Uma delas, e por
muitos anos, era uma das filiais do estabelecimento do velho Granado, industrial português. Casou-se em 1889, em
Petrópolis, com a viúva Maria da Glória Rebello Moreira, de quem teve um filho, Artur de Oliveira.
Em 1892, foi oficial de gabinete do presidente do Estado, Dr. José Tomás da Porciúncula. De 1893 a 1898,
exerceu o cargo de diretor geral da Instrução Pública do Rio de Janeiro. No Distrito Federal, foi professor da Escola
Normal e da Escola Dramática.
Com dezesseis irmãos, dos quais nove eram homens e sete, moças, todos com inclinações literárias, des-
tacou-se Alberto de Oliveira como a mais completa personalidade artística. Ficou famosa a casa da Engenhoca,
arrabalde de Niterói, onde o casal Oliveira residia com os filhos. Na década de 1880, era frequentada pelos mais

250
ilustres escritores brasileiros, entre os quais Olavo Bilac, Raul Pompéia, Raimundo Correia, Aluísio e Artur Azevedo,
Afonso Celso, Guimarães Passos, Luís Delfino, Filinto de Almeida, Rodrigo Octavio, Lúcio de Mendonça, Pardal
Mallet e Valentim Magalhães. Nessas reuniões, só se conversava sobre arte e literatura. Sucediam-se os recitativos.
Eram versos próprios dos presentes ou alheios. Heredia, Leconte, Coppée, France eram os nomes tutelares, quando
o Parnasianismo francês estava no auge.
Em seu livro de estreia, em 1877, as Canções românticas, Alberto de Oliveira mostrava-se ainda preso aos
cânones românticos. Mas sua posição de transição não escapou ao crítico Machado de Assis em um famoso ensaio,
de 1879, em que assinala os sintomas da “nova geração”. O antirromantismo vinha da França por uma plêiade
de poetas reunidos no Parnasse Contemporain, Leconte de Lisle, Banvill, Gautier. Nas Meridionais (1884), está o
momento mais alto de sua ortodoxia parnasiana. Concretiza-se o forte pendor pelo objetivismo e pelas cenas exte-
riores, o amor à natureza, o culto à forma, à pintura da paisagem, à linguagem castiça e à versificação rica. Essas
qualidades acentuam-se nas obras posteriores.
Em Sonetos e poemas E Versos e rimas, sobretudo, e nas coletâneas das quatro séries de Poesias (1900,
1905, 1913 e 1928), ele patenteou seu talento de poeta, de arte e de perfeita mestria. Foi um dos maiores cultores
do soneto em língua portuguesa. Com Raimundo Correia e Olavo Bilac, constituiu a trindade parnasiana no Brasil,
movimento inaugurado com Sonetos e rimas (1880) de Luís Guimarães, teria a sua fase criadora encerrada em
1893 com os Broquéis, de Cruz e Sousa, que abriram o movimento simbolista. Mas a influência do Parnasianismo,
sobretudo pelas figuras de Alberto e Bilac, faria-se sentir muito além do término como escola, estendendo-se até
a irrupção do Modernismo (1922).
Alberto de Oliveira envelheceu tranquilamente e pôde assistir ao fim da sua escola poética, com a mesma
grandeza, serenidade e fino senso estético, traços característicos da sua vida e de sua obra. O soneto que abre a
quarta série das Poesias (1928), “Agora é tarde para novo rumo / dar ao sequioso espírito;...” sintetiza bem sua
consciência de poeta e o elevado conceito que sustentou sua arte.
Durante toda a carreira literária, colaborou também em jornais cariocas: Gazetinha, A Semana, Diário do
Rio de Janeiro, Mequetrefe, Combate, Gazeta da Noite, Tribuna de Petrópolis, Revista Brasileira, Correio da Manhã,
Revista do Brasil, Revista de Portugal, Revista de Língua Portuguesa. Era um apaixonado bibliófilo; chegou a ter
uma das bibliotecas mais escolhidas e valiosas de clássicos brasileiros e portugueses, que doou à Academia Brasi-
leira de Letras
(Disponível em: <academia.org.br/abl>. Acesso em: 1º jun. 2015).

Raimundo Correia
O maranhense Raimundo da Mota de Azevedo Correia (1859-1911) iniciou sua car-
reira poética com Primeiros sonhos como romântico, seguidor das tendências de
Fagundes Varela, Casimiro de Abreu e Castro Alves. Depois assumiu o Parnasianismo
com Sinfonias, constituindo ao lado de Alberto de Oliveira e de Olavo Bilac a famosa
“tríade parnasiana”. Com a evolução de sua obra, Raimundo Correia chegou a ser
um pré-simbolista.
Com prefácio de Machado de Assis, Sinfonias caracteriza-se pela exaltação à
natureza, perfeição formal, cultura clássica, pessimismo e desilusão.

251
A temática concentra-se na exaltação das formas estruturais dos poemas, na contemplação da natureza, na
perfeição dos objetos, na métrica rígida. Em As pombas, exaltam-se as formas, a métrica perfeita e a natureza.

AS POMBAS

Vai-se a primeira pomba despertada ...


Vai-se outra mais ... mais outra ... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada ...

E à tarde, quando a rígida nortada


Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,


Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,


Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...

A CAVALGADA

A lua banha a solitária estrada...


Silêncio!... Mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem-se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.

São fidalgos que voltam da caçada;


Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada...

E o bosque estala, move-se, estremece...


Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha...

E o silêncio outra vez soturno desce...


E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha...
(Raimundo Correia. Poesias. Rio de Janeiro, Agir, 1976.)

252
Obras
§§ Primeiros Sonhos (1879);
§§ Sinfonias (1883);
§§ Versos e versões (1887);
§§ Aleluias (1891), Poesias (1898).
§§ Poemas famosos: Plenilúnio, Banzo, A cavalgada, Plena nudez, As pombas.

Segundo a ABL

Biografia

§§ Raimundo Correia (R. da Mota de Azevedo C.), magistrado, professor, diplomata e poeta, nasceu em 13 de
maio de 1859, a bordo do navio brasileiro São Luís, ancorado na baía de Mogúncia, MA, e faleceu em Paris,
França, em 13 de setembro de 1911.
§§ Fundador da Cadeira 5.
Foram seus pais o desembargador José Mota de Azevedo Correia, descendente dos duques de Caminha,
e Maria Clara Vieira da Silva. Vindo a família para a Corte, o pequeno Raimundo foi matriculado no Internato do
Colégio Nacional, hoje Pedro II, onde concluiu os estudos preparatórios em 1876. No ano seguinte, matriculou-se
na Faculdade de Direito de São Paulo, onde encontrou um grupo de rapazes: Raul Pompéia, Teófilo Dias, Eduardo
Prado, Afonso Celso, Augusto de Lima, Valentim Magalhães, Fontoura Xavier e Silva Jardim, todos destinados a ser
grandes figuras das letras, do jornalismo e da política.
No tempo de estudante, colaborou em jornais e revistas. Estreou na literatura em 1879, com Primeiros so-
nhos. Em 1883, publicou as Sinfonias, das quais faz parte um dos mais conhecidos sonetos da língua portuguesa,
“As pombas”. Esse poema valeu a Raimundo Correia o epíteto de “o poeta das pombas”, que ele tanto detestava.
Recém-formado, em fins de 1884, voltou para o Rio de Janeiro e foi logo nomeado promotor de justiça de São
João da Barra. Também foi juiz municipal e de órfãos e ausentes em Vassouras. Em 21 de dezembro daquele ano
casou-se com Mariana Sodré, de ilustre família fluminense.
Em Vassouras publicou poesias e páginas de prosa no jornal O Vassourense, do poeta, humanista e músico
Lucindo Filho, no qual também colaboravam Olavo Bilac, Coelho Neto, Alberto de Oliveira, Lúcio de Mendonça,
Valentim Magalhães, Luís Murat e outros. Em começos de 1889 foi nomeado secretário da presidência da província
do Rio de Janeiro, no governo do conselheiro Carlos Afonso de Assis Figueiredo. Após a proclamação da República
foi preso. No entanto, graças às suas notórias convicções republicanas, foi solto e nomeado juiz de direito em São
Gonçalo de Sapucaí, no Sul de Minas.
Em 22 de fevereiro de 1892 foi nomeado diretor da Secretaria de Finanças de Ouro Preto. Na então
capital mineira, foi também professor da Faculdade de Direito e publicou no primeiro número da revista que
ali se publicava As antiguidades romanas. Em 1897, no governo de Prudente de Morais, foi nomeado segundo
secretário da Legação do Brasil em Portugal. Lá edita suas Poesias em quatro edições sucessivas e aumentadas,
com prefácio do escritor português D. João da Câmara. Por decreto do governo, suprimiu-se o cargo de segundo-
-secretário, e o poeta voltou a ser juiz de direito. Em 1899, em Niterói passou a ser diretor e professor no Ginásio
Fluminense de Petrópolis.
Em 1900 voltou para o Rio de Janeiro como juiz de vara cível, cargo em que permaneceu até 1911. Por
motivos de saúde, partiu para Paris em busca de tratamento, onde veio a falecer. Seus restos mortais ficaram em
Paris até 1920. Naquele ano, juntamente com os do poeta Guimarães Passos, também falecido na capital francesa,
para onde fora à procura de saúde, foram transladados para o Brasil, por iniciativa da Academia Brasileira de Letras,
e depositados no cemitério de São Francisco Xavier, em 28 de dezembro de 1920.
Raimundo Correia ocupa um dos mais altos postos na poesia brasileira. Seu livro de estreia, Primeiros so-

253
nhos (1879), insere-se ainda no Romantismo. Já em Sinfonias (1883) nota-se o feitio novo que seria definitivo em
sua obra, o Parnasianismo. Segundo os cânones dessa escola, que estabelecem uma estética de rigor formal, ele foi
um dos mais perfeitos poetas da língua portuguesa. Formou com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac a famosa tríade
parnasiana. Além de poesia, deixou obras de crítica, ensaio e crônicas.
(Disponível em: <academia.org.br/abl>. Acesso em: 1o jun. 2015).

Olavo Bilac

O carioca Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (1865-1918) abandonou a Faculdade de Medicina no quinto
ano do curso, mudou-se para São Paulo e ingressou na Faculdade de Direito. Um ano depois voltou ao Rio de
Janeiro, onde se dedicou ao jornalismo e à literatura.
É membro fundador da Academia Brasileira de Letras na qual ocupou a cadeira no 15. Foi um dos principais
representantes do Movimento Parnasiano.
Sua primeira obra foi Poesias, publicada em 1888, que revela plena identificação do poeta com as propostas
parnasianas. Em temática variada, preferia temas greco-romanos. Descreve a natureza, sinais de sua herança romântica.
A poesia e a vida boêmia atraíram Olavo Bilac. A vida amorosa foi sempre tumultuada. Foi o “primeiro prín-
cipe dos poetas brasileiros”, título outorgado pela Revista Fon-Fon, em 1907. Fortaleceu seu nome em palestras
pelo país inteiro, em que pregava o patriotismo e combatia o analfabetismo.
Considerado um dos parnasianos mais radicais, destacou-se pela busca da perfeição formal na poesia. No
conjunto de sua obra, a coletânea Poesias destaca os poemas Panóplias, Via-láctea e Sarças de fogo, na primeira
edição, e O caçador de esmeraldas, Alma inquieta e Viagens, na segunda; Poemas infantis e Tarde.
Bilac também foi autor de Contos pátrios, em colaboração com Coelho Neto; Tratado de versificação, em
colaboração com Guimarães Passos; Através do Brasil, em colaboração com Manuel Bonfim; Crônicas e novelas.
No poema Profissão de fé, que serve de prefácio à obra Poesias, Bilac expõe os princípios do Parnasianismo
a partir da comparação entre o poeta e o ourives. Como o artesão, o poeta deve fazer de seu poema uma verda-
deira oficina da palavra, cuja impassibilidade e frieza pretendidas, no entanto, ele nem sempre conseguiu manter.
Entregava-se ao lirismo com bastante frequência.
[...]
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo

254
Faz de uma flor.
[...]
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
[...]
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
[...]
Porque o escrever – tanta perícia,
Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.
[...]
Em Poesias, publicado em 1888, havia trinta e cinco sonetos agrupados sob um único título: Via-Láctea.
Neles, já se observa o culto ao subjetivismo, influenciado pelo já findo Romantismo. Alguns desses sonetos estão
entre os melhores que Bilac escreveu.
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto


A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!


Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!


Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas”.

255
Obras

Poesias, 1888; Via Láctea (1888); Sarças de Fogo, (1888); Crônicas e novelas (1894); O Caçador de Esmeraldas
(1902); As viagens (1902), Alma Inquieta (1902); Poesias infantis (1904); Crítica e fantasia (1904); Tratado de ver-
sificação (1905); Conferências literárias (1906); Ironia e piedade (crônicas) 1916; e a obra póstuma Tarde (1919).

Curiosidade
Em 1906 apareceu pela primeira vez o hino à bandeira brasileira escrita pelo poeta Olavo Bilac, hino que se tornou
mais um elemento da identidade nacional brasileira.

Hino à Bandeira Nacional

Letra: Olavo Bilac


Música: Francisco Braga

Salve, lindo pendão da esperança,


Salve, símbolo augusto da paz!
Sua nobre presença à lembrança Contemplando o teu vulto sagrado,
A grandeza da Pátria nos traz. Compreendemos o nosso dever;
E o Brasil, por seus filhos amado,
Recebe o afeto que se encerra
Poderoso e feliz há de ser.
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra, Recebe o afeto que se encerra
Da amada terra do Brasil! Em nosso peito juvenil,
Em teu seio formoso retratas Querido símbolo da terra,
Este céu de puríssimo azul, Da amada terra do Brasil!

A verdura sem par destas matas, Sobre a imensa Nação Brasileira,


E o esplendor do Cruzeiro do Sul. Nos momentos de festa ou de dor,
Recebe o afeto que se encerra Paira sempre, sagrada bandeira,
Em nosso peito juvenil, Pavilhão da Justiça e do Amor!
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!

256
Segundo a ABL

Biografia

§§ Olavo Bilac (O. Braz Martins dos Guimarães B.), jornalista, poeta, inspetor de ensino, nasceu no Rio de Ja-
neiro, RJ, em 16 de dezembro de 1865, e faleceu, na mesma cidade, em 28 de dezembro de 1918. Um dos
fundadores da Academia Brasileira de Letras, criou a Cadeira no 15, que tem como patrono Gonçalves Dias
§§ Fundador da Cadeira no 15, recebeu o acadêmico Afonso Arinos.
Eram seus pais o doutor Braz Martins dos Guimarães Bilac e D. Delfina Belmira dos Guimarães Bilac. Após
os estudos primários e secundários, matriculou-se na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, mas desistiu no
quarto ano. Tentou a seguir o curso de Direito em São Paulo, mas não passou do primeiro ano. Dedicou-se desde
cedo, ao jornalismo e à literatura. Teve intensa participação na política e em campanhas cívicas das quais a mais
famosa foi em favor do serviço militar obrigatório. Fundou vários jornais de vida mais ou menos efêmera, como
A Cigarra, O Meio, A Rua. Na seção “Semana”, da Gazeta de Notícias, substituiu Machado de Assis. É o autor da
letra do Hino à Bandeira.
Jornalista político nos começos da República, foi um dos perseguidos por Floriano Peixoto. Teve de se es-
conder em Minas Gerais, quando frequentou a casa de Afonso Arinos, em Ouro Preto. De volta ao Rio foi preso. Em
1891 foi nomeado oficial da Secretaria do Interior do Estado do Rio. Em 1898, inspetor escolar do Distrito Federal,
cargo em que se aposentou pouco antes de falecer. Foi também delegado em conferências diplomáticas em 1907
e secretário do prefeito do Distrito Federal. Em 1916 fundou a Liga de Defesa Nacional.
Sua obra poética enquadra-se no Parnasianismo, que, na década de 1880, teve sua fase mais fecunda. Em-
bora não tenha sido o primeiro a caracterizar o movimento parnasiano, uma vez que só em 1888 publicou Poesias,
Olavo Bilac tornou-se o mais típico dos parnasianos brasileiros ao lado de Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.
Fundindo o Parnasianismo francês com a tradição lusitana, Olavo Bilac deu preferência às formas fixas
do lirismo, especialmente ao soneto. Nas duas primeiras décadas do século XX, seus sonetos eram decorados e
declamados em toda parte, nos saraus e salões literários comuns na época. Nas Poesias encontram-se os famosos
sonetos Via Láctea e Profissão de fé, nos quais codificou seu credo estético pelo culto ao estilo, pela pureza da
forma e da linguagem e pela simplicidade como resultado do lavor.
Ao lado do poeta lírico, há nele um poeta de tonalidade épica, expresso no poema O caçador de esmeraldas,
em que celebra os feitos, a desilusão e a morte do bandeirante Fernão Dias Pais.
Bilac foi um dos poetas brasileiros mais populares e mais lidos do país, razão pela qual também foi eleito o
“príncipe dos poetas brasileiros”, em concurso que a revista Fon-fon lançou em 1o de março de 1913. Anos mais
tarde, apesar da reação modernista contra sua poesia, Olavo Bilac ocupou posição de destaque na literatura bra-
sileira, como um dos mais típicos e perfeitos poetas do parnasianismo brasileiro. Foi notável conferencista, numa
época de moda das conferências no Rio de Janeiro e produziu também contos e crônicas.
(Disponível em : <academia.org.br/abl>. Acesso em 1o jun. 2015).

257
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme O caçador de esmeraldas

“O caçador de esmeraldas” é o título de um poema do poeta parnasiano


Olavo Bilac, baseado na história do bandeirante Fernão Dias Paes Leme.
Em meados do século XVII, Portugal estava envolvido em uma profunda
crise financeira e estendeu seu domínio sobre o território brasileiro, a
oeste, para procurar por pedras preciosas e ouro.

OBRAS

Pintura O espelho de Vênus, de Edward Burne Jones

“O espelho de Vênus”, de Edward Burne Jones

258
LER

Livros
Olavo Bilac: literatura comentada,
de Norma Seltzer Goldstein

O livro faz parte de um coleção que se destina não só a estudantes –


especialmente os do segundo grau e de cursos pré-universitários – e
professores, mas também a todas as pessoas interessadas em literatura.
Apresenta textos selecionados, análises histórico-literárias, biografias e
atividades de compreensão de texto.

Ensaio sobre o Parnasianismo brasileiro, de Duarte Montalegre

MONTALEGRE, Duarte de. Ensaio obre o Parnasianismo brasileiro,


seguido de uma breve antologia. Coimbra: Ed. Limitada. 1945. 187
págs.

Destinava-se este ensaio a ser lido, em notas tanto quanto possível


esquemáticas e gerais, na Semana Brasileira da Faculdade de Letras de
Coimbra, que não pôde realizar-se, em junho de 1942, por motivos de
doença do ilustre diretor do Instituto de Estudos Brasileiros, professor
doutor Rebêlo Gonçalves.

Usos e abusos da literatura na escola (Bilac e a literatura


escolar na República Velha), de Marisa Lajolo

Destinava-se este ensaio a ser lido, em notas tanto quanto possível esquemáticas
e gerais, na Semana Brasileira da Faculdade de Letras de Coimbra, que não pôde
realizar-se em Junho de 1942, por motivos de doença do Ilustre Director do
Instituto de Estudos Brasileiros, Prof. Doutor Rebêlo Gonçalves.

259
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 15 - Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção,


situando aspectos do contexto histórico, social e político.

Esta Habilidade pressupõe que o aluno tenha conhecimento das concepções artísticas vinculadas
ao primeiro aspecto da tríade analítica básica da arte literária (contexto, autor e obra), no caso o
conceito de linguagem utilizada pelos autores em escolas literárias diferentes, mas que se aproxi-
mam tematicamente. A construção dos procedimentos literários está ligada aos fatores estéticos
que podem levar em consideração a forma e/ou conteúdo do texto em relação à concepção
artística do contexto.

Modelo
(Enem)
MAL SECRETO
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasília: Alhambra, 1995.

Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o


soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em
sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que:
a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada.
b) o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social.
c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de inveja.
d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo.
e) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social.

260
Análise Expositiva

Habilidade 15
Raimundo Correia propõe uma reflexão que levanta a questão da dissimulação presente na
sociedade de sua época como projetada para tempos futuros. Logo, as pessoas vestem a más-
cara da face e tornam invisíveis os sofrimentos, autorizando tão somente que sejam passados
os falsos sorrisos e alegrias.
Alternativa A

Estrutura Conceitual

PARNASIANISMO

O Parnasianismo é estudado no Brasil e na França. Em Portugal,


por conta da óptica crítica de Antero de Quental, a poesia se
desenvolveu apenas no Realismo.

Em 1871, foi publicado o Parnasse Contemporain, uma revista


francesa que é considerada o início da escola na Europa.

Os “príncipes” da poesia parnasiana no Brasil compunham-se em


uma tríade: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.

Pontos fortes:
◊ Poucas figuras de linguagem ◊ Rima regular
◊ Preferência pelo soneto ◊ Rimas raras e artificiais
◊ Descritivo e narrativo

A chamada “arte pela arte” e o “ideal da torre de marfim” marcam


uma temática alienada aos problemas sociais por parte dos
parnasianos.

261
E.O. Aprendizagem e) O poema reflete os valores essenciais e pe-
renes da realidade, distanciando-se de um
compromisso com a afirmação da nacionali-
1. Não caracteriza a estética parnasiana: dade.
a) a oposição aos românticos e distanciamento das
preocupações sociais dos realistas. 3. (Ufsm) Observe as afirmativas a seguir:
b) a objetividade advinda do espírito cientificista, I. Nos sonetos de VIA LÁCTEA, há relevância
e o culto da forma. do amor sensual, vivido com exaltação.
c) a obsessão pelo adorno e contenção lírica. II. Sua poesia caracteriza-se pela eloquência
d) a perfeição formal na rima, no ritmo, no metro e
e pelo apuro formal.
volta aos motivos clássicos.
III. Em composições, como “As pombas”, é
e) a exaltação do “eu” e fuga da realidade presente.
admirado pelas combinações semânticas
e musicais dos versos.
2. (Uff) A PÁTRIA Refere(m)-se a Olavo Bilac
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nas- a) apenas I.
ceste! b) apenas II.
Criança! não verás nenhum país como este! c) apenas III.
Olha que céu! que mar! que rios! que flores- d) apenas I e II.
ta! e) apenas II e III.
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos
ninhos, Leia os versos de Olavo Bilac e responda
Que se balançam no ar, entre os ramos in-
quietos! Não se mostre na fábrica o suplício
Vê que luz, que calor, que multidão de in- Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
setos! Sem lembrar os andaimes do edifício:
Vê que grande extensão de matas, onde im-
pera Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Fecunda e luminosa, a eterna primavera! Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
4. Olavo Bilac e Alberto de Oliveira represen-
Quem com o seu suor a fecunda e umedece, tam um estilo de época de acordo com o qual:
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece! a) o valor estético deve resultar da linguagem
subjetiva e espontânea que brota diretamen-
Criança! não verás país nenhum como este:
te das emoções.
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
b) a forma literária não pode afastar-se das tra-
(Olavo Bilac)
dições e das crenças populares, sem as quais
As estéticas literárias, embora costumem não se enraíza culturalmente.
ser datadas nos livros didáticos com início c) a poesia deve sustentar-se enquanto forma
e término pós-determinados, não se deixam bem lapidada, cuja matéria-prima é um vo-
aprisionar pela rigidez cronológica. cabulário raro, numa sintaxe elaborada.
Assinale o comentário adequado em relação d) devem ser rejeitados os valores do antigo
à expressão estética do poema “A Pátria” de classicismo, em nome da busca de formas
Olavo Bilac (1865-1918). renovadas de expressão.
a) O poema transcende a estética parnasiana e) os versos devem fluir segundo o ritmo irre-
ao tratar a temática da exaltação da terra, gular das impressões, para melhor atender
segundo a estética romântica. ao ímpeto da inspiração.
b) O poema exemplifica os preceitos da estética
parnasiana e valoriza a forma na expressão
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
comedida do sentimento nacional.
c) O poema se antecipa ao discurso crítico da SONETO PARNASIANO E ACRÓSTICO EM
identidade nacional - tema central da esté- LOUVOR DE HELENA OLIVEIRA
tica modernista.
d) O poema se insere nas fronteiras rígidas da “Houve na Grécia antiga uma beleza rara
estética parnasiana, dando ênfase à perma- (Em versos de ouro o grande Homero celebrou-a),
nência do ideário estético, no eixo temporal Linda mais do que a mente humana imaginara,
das escolas literárias. E cuja fama sem rival inda ressoa.

262
Não a compararei porém (quem a compara?) Alegria e felicidade com certeza.
À que celebro aqui: a outra não era boa. Lá nesse lugar o amanhecer é lindo
O esplendor da beleza é sol que só me aclara com flores festejando mais um dia que vem
Luzindo sob o véu do pudor que afeiçoa. vindo
Onde a gente possa se deitar no campo
Inspiremo-nos, pois, não na Helena de Tróia, Se amar na selva, escutando o canto dos pás-
Versátil coração, frio como uma joia, saros.”
Em cujo lume ardeu uma cidade inteira.
Roberto e Erasmo Carlos estão falando de um
Inspiremo-nos, sim, de uma Helena mais lugar ideal, de um ambiente campestre, calmo.
pura.
Ronsard mostrou na sua uma flor de ternura: 7. (UFPE) É incorreto afirmar que, no Parnasia-
A mesma flor que orna esta Helena brasileira.” nismo:
(Manuel Bandeira) a) a natureza é apresentada objetivamente;
b) a disposição dos elementos naturais (árvo-
5. (Fatec) Apesar de ser modernista, Bandeira res, estrelas, céu, rios) é importante por
chama de parnasiano o seu poema porque: obedecer a uma ordenação lógica;
I. sua forma, o soneto metrificado com ri- c) a valorização dos elementos naturais torna-
mas ricas, caracteriza a poesia tipicamen- -se mais importante que a valorização da
forma do poema;
te parnasiana.
d) a natureza despe-se da exagerada carga
II. na sua descrição de Helena de Tróia e de emocional com que foi explorada em outros
Helena de Oliveira não há espaço para as períodos literários;
apreciações subjetivas características da e) as inúmeras descrições da natureza são fei-
poesia romântica que precedeu o parna- tas dentro do mito da objetividade absoluta,
sianismo. porém os melhores textos estão permeados
III. em seu elogio a Helena retoma uma per- de conotações subjetivas.
sonagem da antiguidade clássica, evitan-
do tratar da mulher comum. 8. (ACAFE) “Diferentemente do Realismo e do
Quanto a essas afirmações, deve-se concluir Naturalismo, que se voltavam para o exame e
que apenas: para a crítica da realidade, o Parnasianismo
a) I e II estão corretas. representou na poesia um retorno ao clássi-
b) I e III estão corretas. co, com todos os seus ingredientes: o prin-
c) II e III estão corretas. cípio do belo na arte, a busca do equilíbrio
d) II está correta. e da perfeição formal. Os parnasianos acre-
ditavam que o sentido maior da arte reside
e) I está correta.
nela mesma, em sua perfeição, e não na sua
relação com o mundo exterior.”
6. (Ufsm) Leia os versos de Raimundo Correia CEREJA; MAGALHÃES, 1999, p. 334.
e considere as afirmativas que se seguem.
Vai-se a primeira pomba despertada ... Sobre o Parnasianismo, assinale a alternati-
Vai-se outra mais ... mais outra ... enfim va correta.
[dezenas a) Os maiores expoentes do Parnasianismo, na
De pombas vão-se dos pombais, apenas poesia e na prosa, ocuparam-se da literatura
Raia a sanguínea e fresca madrugada ... indianista, na qual exaltavam a dignidade
do nativo e a beleza superior da paisagem
I. As rimas finais são intercaladas.
tropical.
II. A estrofe é marcada por aliterações e as- b) Um exemplo de poesia parnasiana é a obra
sonâncias. Suspiros poéticos e saudade, de Gonçalves
III. Os versos são decassílabos, à exceção do de Magalhães, na qual o poeta anuncia a re-
segundo que é alexandrino. volução literária, libertando-se dos modelos
românticos, considerados ultrapassados.
Está(ão) correta(s) c) Os parnasianos consideravam que certos
a) apenas I. princípios românticos, como a simplicidade
b) apenas II. da linguagem, valorização da paisagem na-
c) apenas I e II. cional, emprego de sintaxe e vocabulário
d) apenas II e III. mais brasileiros, sentimentalismo, tudo isso
e) I, II e III. ocultava as verdadeiras qualidades da poe-
sia.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO d) Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel
da Costa exemplificam a tendência de uma
“Além do horizonte, deve ter poesia pura, indiferente às contingências
Algum lugar bonito para viver em paz históricas, com sátira à mestiçagem e elogio
Onde eu possa encontrar a natureza à nobreza local.

263
9. (Upe-ssa 2) Em relação ao Parnasianismo e isso emitia uns sons de ódio: graças a Deus
ao Simbolismo, analise as proposições abai- que eu não preciso dormir no mesmo quar-
xo e assinale com V as Verdadeiras e com F to que você, graças a Deus que eu não vou
as Falsas. morar nunca mais com você. Vamos e não
( ) O Parnasianismo é uma manifestação vi- resmunga, exclamou o menino. 5E o sol já
gorosamente antirromantismo, por isso a não estava sumindo? Isso nenhum dos dois
presença do culto extremo da forma. perguntava porque estavam absortos na rai-
( ) A origem do Parnasianismo é na Ingla- va de cada um. A estrada era de terra e por
terra, onde foi lançada, em 1866, uma co- ela poucos passavam. Nem o menino nem a
letânea chamada Parnasse Contemporain. menina notavam que o sol começava a se pôr
( ) Sobre os poetas simbolistas, percebe-se e que os verdes dos matos se enchiam cada
que, na França, em Portugal e no Brasil, vez mais de sombras. Quando chegassem a
suas características são muito parecidas e Encantado o menino poria ela no Opala do
bem próximas dos poetas parnasianos. prefeito e ela nunca mais apareceria. Ele
( ) Os simbolistas preservaram a preocupa- não gosta de mim, pensou a menina cheia
ção com a versificação dos parnasianos, de gana. Ele deve estar pensando: o mundo
mas, desejosos de manter um clima de deveria ser feito só de homens, as meninas
mistério e fluidez, optaram por ritmos são umas chatas. 6O menino cuspiu na areia
musicais e insinuantes. seca. A menina pisou sobre a saliva dele e
( ) Missal e Broquéis são as mais importan- fez assim com o pé para apagar cuspe.
tes obras de Alphonsus de Guimaraens, 7
Até que ficou evidente a noite. 8E o menino
poeta que inicia o movimento simbolista disse a gente não vai parar até chegar em En-
no Brasil. cantado, 9agora eu proíbo que você olhe pros
A sequência CORRETA, de cima para baixo, é: lados, que se atrase. 10A menina não queria
a) V – V – V – F – V chorar e prendia-se por dentro porque dei-
b) V – F – F – V – F xar arrebentar uma lágrima numa hora des-
c) F – F – V – F – V sas é mostrar muita fraqueza, é mostrar-se
d) F – F – F – V – V muito menina. E na curva da estrada come-
e) V – V – V – V – F çaram a aparecer muitos caminhões apinha-
dos de soldados e a menina não se conteve
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO de curiosidade. 11Para onde vão esses solda-
dos? – ela balbuciou. 12O menino respondeu
João Gilberto Noll nasceu em Porto Alegre, ríspido. Agora é hora apenas de caminhar,
no ano de 1946. Além de contista e roman- de não fazer perguntas, caminha! A menina
cista, fez incursões pela literatura infantil. pensou eu vou parar, fingir que torci o pé, eu
Ganhou cinco prêmios Jaboti. João Gilberto vou parar. E parou. O menino sacudiu-a pelos
Noll faz uma literatura caracterizada pela ombros até deixá-la numa vertigem escura.
dissolução. Seus romances são concisos e Depois que a sua visão voltou a adquirir o
apresentam enredos episódicos sustentados lugar de tudo, ela explodiu chamando-o de
pela causalidade. Essa técnica difere da téc- covarde. Os soldados continuavam a passar
nica narrativa que estabelece o elo entre o em caminhões paquidérmicos. E ela não cho-
real e o ficcional. Os personagens de Noll são rava, apenas um único soluço seco. 13O meni-
seres não localizados e alijados da experiên- no gritou então que ela era uma chata, que
cia; muito embora lançados numa sucessão ele a deixaria sozinha na estrada que estava
frenética de acontecimentos e passando por de saco cheio de cuidar de um traste igual a
um sem número de lugares, o que vivem não ela, que se ela não soubesse o que significa
se converte em saber, em consciência de ser traste, que pode ter certeza que é um negó-
e de estar no mundo. cio muito ruim. A menina fez uma careta e
tremeu de fúria. Você é o culpado de tudo
Duelo antes da noite isso, a menina gritou. Você é o único culpa-
do de tudo isso. Os soldados continuavam a
1
No caminho a menina pegou uma pedra e passar.
atirou-a longe, o mais que pôde. 2O menino Começou a cair o frio e a menina tiritou ba-
puxava a sua mão e reclamava da vagareza lançando os cabelos molhados, mas o meni-
da menina. 3Deviam chegar até a baixa noite no dizia se você parar eu te deixo na beira
a Encantado, e o menino sabia que ele era da estrada, no meio do caminho, você não é
responsável pela menina e deveria manter nada minha, não é minha irmã, não é minha
uma disciplina. Que garota chata, ele pen- vizinha, não é nada.
sou. Se eu fosse Deus, não teria criado as E Encantado era ainda a alguns lerdos quilô-
garotas, seria tudo homem igual a Deus. 4A metros. A menina sentiu que seria bom se o
menina sentia-se puxada, reclamada, e por encantado chegasse logo para se ver livre do

264
menino. Entraria no Opala e não olharia uma
única vez pra trás para se despedir daquele E.O. Fixação
chato.
Encantado apareceu e tudo foi como o com- 1. (UNB) Vaso grego
binado. Doze e meia da noite e o Opala espe- Esta, de áureos relevos, trabalhada
rava a menina parado na frente da igreja. Os De divas mãos, brilhante copa, um dia,
dois se aproximaram do Opala tão devagari- Já de aos deuses servir como cansada,
nho que nem pareciam crianças. O motorista Vinda do
bigodudo abriu a porta traseira e falou: pode Olimpo, a um novo deus servia.
entrar, senhorita. Senhorita... o menino re-
Era o poeta de Teos que a suspendia
petia para ele mesmo. A menina se sentou
Então e, ora repleta ora esvazada,
no banco traseiro. Quando o carro começou a
A taça amiga aos dedos seus tinia
andar, ela falou bem baixinho: eu acho que
Toda de roxas pétalas colmada.
vou virar a cabeça e olhar pra ele com uma
cara de nojo, vou sim, vou olhar. E olhou. Depois... Mas o lavor da taça admira,
Mas o menino sorria. E a menina não resis- Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas
tiu e sorriu também. E os dois sentiram o Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,
mesmo nó no peito.
NOLL, João Gilberto. In: Romances e contos reunidos. Ignota voz, qual se da antiga lira
São Paulo: Companhia das Letras, 1997. Fosse a encantada música das cordas,
p. 690-692. (Texto adaptado).
Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.
Segundo Massaud Moisés, o conto é, do ponto Alberto de Oliveira. Poesias completas. In: Crítica. Marco
Aurélio de Mello Reis. Rio de Janeiro: EDUERJ, 197, p.144.
de vista dramático, univalente: contém um
só drama, uma só história, um só conflito A partir da leitura do soneto Vaso grego, as-
(oposição, luta entre duas forças ou persona- sinale a opção correta a respeito do trata-
gens), uma só ação. As outras características mento estético conferido aos mitos antigos
(limitação do espaço e do tempo; quantidade pela poética parnasiana.
reduzida de personagens; unidade de tom ou a) A recorrência a temas mitológicos atraía
de emoção provocada no leitor, concisão de o leitor comum e amenizava os efeitos de
linguagem) decorrem da unidade dramática. distanciamento impostos a ele pelo rebusca-
mento da linguagem parnasiana.
Com base nessas informações, resolva a b) Os mitos antigos são atualizados na poesia
questão a seguir. parnasiana e recebem um significado poéti-
co novo, que promove a ruptura efetiva com
1
0. (UECE) Há, na linguagem do conto, uma o passado e a tradição mítica.
tentativa de levar para a literatura a lingua- c) O tratamento estético dos mitos gregos na
gem popular. Considerando as assertivas se- poesia parnasiana aproxima o antigo mundo
guintes, que tratam desse fenômeno (o uso mitológico dos problemas imediatos e con-
da linguagem popular) relacionando-o aos cretos da vida social brasileira.
períodos literários, assinale a FALSA. d) A presença de elementos da arte e da mito-
a) Essa atitude teve no cenário literário do Ro- logia gregas no soneto apresentado está de
mantismo seu grande momento. O desejo de acordo com uma máxima do Parnasianismo:
independência no campo político, o avanço a arte pela arte.
dos ideais nacionalistas, o desejo de criar
uma língua portuguesa diferente do portu- 2. (UFRGS) Com relação ao Parnasianismo, são
guês falado em Portugal, tudo apontava para feitas as seguintes afirmações.
o mesmo anseio: uma nação independente e I. Pode ser considerado um movimento anti-ro-
com um caráter peculiar. mântico pelo fato de retomar muitos aspectos
b) Esse ideal foi esquecido durante o Realismo, do racionalismo clássico.
com escritores mais universalizantes, como II. Apresenta características que contrastam com
Machado de Assis. o esteticismo e o culto da forma.
c) O Simbolismo e o Parnasianismo reacende- III. Definiu-se, no Brasil, com o livro “Poesias”, de
ram o desejo da criação de uma língua brasi- Olavo Bilac, publicado em 1888.
leira. Quais estão corretas?
d) O Pré-Modernismo e o Modernismo avança- a) Apenas I.
ram na direção do sonho de criar a língua b) Apenas II.
nacional: criar uma língua que atendesse às c) Apenas I e III.
necessidades de uma nova civilização que se d) Apenas II e III.
formava do lado de cá do Atlântico. e) I, II e III.

265
3. (UFU) Leia o trecho seguinte, de “Triste fim c) O nome do movimento vem de um poema de
de Policarpo Quaresma”, que reproduz um di- Raimundo Correia.
álogo de Ricardo Coração dos Outros com Qua- d) Sua poesia é marcada pelo sentimentalismo.
resma e D. Adelaide. e) No Brasil, o Parnasianismo conviveu com o
“- Oh! Não tenho nada novo, uma composição
Barroco.
minha. O Bilac - conhecem? - quis fazer-me
uma modinha, eu não aceitei; você não enten-
de de violão, Seu Bilac. A questão não está em 6. (PUC-RS) Na esteira da busca ________, o
escrever uns versos certos que digam coisas Parnasianismo tende ao ________. Dessa for-
bonitas; o essencial é achar-se as palavras que ma, ________ a possibilidade de vínculo com
o violão pede e deseja. (...) a realidade.
- (...) vou cantar a Promessa, conhecem? a) da impessoalidade / dogmatismo / estabelece.
- Não - disseram os dois irmãos.
b) da perfeição formal / esteticismo / rejeita.
- Oh! Anda por aí como as “Pombas” do Rai-
mundo.” c) da perfeição formal / ilogismo / estabelece.
Lima Barreto. “Triste fim de Policarpo Quaresma”.
d) do psicologismo / ilogismo / refuta.
e) da impassibilidade / descritivismo / recupera.

Parta do trecho lido para marcar a alternativa TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
INCORRETA.
a) Olavo Bilac e Raimundo Correia deram vazão AS POMBAS
à sensibilidade pessoal, evitando como com-
Vai-se a primeira pomba despertada...
promisso único o esmero técnico e produziram
Vai-se outra mais... mais outra... enfim
uma poesia lírica amorosa e sensual (Olavo
Bilac), marcada por uma certa inquietação fi- [dezenas
losófica (Raimundo Correia). De pombas vão-se dos pombais, apenas
b) Bilac (Olavo Bilac), Raimundo (Raimundo Cor- Raia sanguínea e fresca a madrugada
reia) e Alberto de Oliveira formaram a “tríade E à tarde, quando a rígida nortada
parnasiana” da literatura brasileira, escreven- Sopra, aos pombais, de novo, elas, serenas
do uma poesia de grande qualidade técnica, Ruflando as asas, sacudindo as penas,
que concebia a atividade poética como a habi- Voltam todas em bando e em revoada...
lidade no manejo do verso.
c) O Parnasianismo, pela supervalorização da lin- Também dos corações onde abotoam,
guagem preciosa, pela busca da palavra exata, Os sonhos, um por um, céleres voam
do emprego da rima rica e da métrica perfeita, Como voam as pombas dos pombais;
foi um estilo literário de curta duração que se No azul da adolescência as asas soltam,
restringiu à elite literária do Rio de Janeiro. Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam
d) Assim como Ricardo, que deseja “a palavra que E eles aos corações não voltam mais...
o violão pede”, Lima Barreto acreditava que a
(Raimundo Correia)
linguagem literária clássica, formal, não era ade-
quada para o tipo de literatura que produzia:
marcada pela visão crítica, pela objetividade da 7. (Faap) Este poema de Raimundo Correia es-
denúncia, pela simplicidade comunicativa. pelham dois tipos de assunto: o ..................
em que a natureza nos aparece com uma fi-
delidade absolutamente realista, sem inter-
4. (Ufpe) O Arcadismo (no século XVIII) e o
ferência do poeta que apenas nos transporta
Parnasianismo (em fins do século XIX) apre-
sentam, em sua caracterização, pontos em para um quadro profundamente colorido e
comum. São eles: sonoro e o .................. , mostrando-nos o
a) bucolismo e busca da simplicidade de ex- homem vencido pelo destino.
pressão. a) árcade / socialista.
b) amor galante e temas pastoris. b) paisagista / coletivista.
c) ausência de subjetividade e presença da te- c) místico / filosófico.
mática e da mitologia greco-latina. d) pastoril / marxista.
d) preferência pelas formas poéticas fixas, e) descritivo / psicológico.
como o soneto, e pelas rimas ricas.
e) a arte pela arte e o retorno à natureza. 8. (Faap) A estrutura ordenada do poema nos
revela:
5. (FGV) Assinale a alternativa correta a res- a) liberdade formal.
peito do Parnasianismo: b) rigorismo formal.
a) A inspiração é mais importante que a técnica. c) abundância de versos alexandrinos.
b) Culto da forma: rigor quanto às regras de ver- d) desprezo pela pontuação tradicional.
sificação, ao ritmo, às rimas ricas ou raras. e) linguagem coloquial.

266
9. (Faap) Nunca poderia ter lido o poema “AS 2. (UFV) Leia as seguintes observações sobre a
POMBAS”, este mesmo que você acaba de ler: estética parnasiana:
a) Machado de Assis. I. O poeta parnasiano pretende ser um ar-
b) Aluísio Azevedo. tesão, um ourives que molda friamente
c) Tomás Antônio Gonzaga. o seu verso. Tal atitude de objetividade
d) Olavo Bilac. levou-o a preferir temas distantes no
e) Raimundo Correia. tempo. No aspecto formal, sua meta era a
perfeição, tendo sido o soneto a forma de
1
0. (PUC-RS) Para responder à questão, ler o composição predominante.
poema que segue, de Eduardo Guimaraens. II. O Parnasianismo legou-nos, em sua pro-
dução em poesia e prosa, obras cuja te-
Fim de Viagem mática é sentimental e amorosa. A mu-
lher surge como a Musa inspiradora de
Que vos importa ouvir a voz de um peregrino? versos ternos e afetivos, em meio à pai-
Pouco vale saber se cantei ou chorei; sagem brasileira com sua natureza típica
Se fiz mal, se fiz bem; se aceitei o destino; e exuberante.
Se gozei ou sofri; se amei ou se odiei. III. No Parnasianismo, a atitude de contenção
Sou uma sombra a mais no caminho divino... emotiva do poeta e a busca obsessiva da
E como apareci, desapareci. perfeição na métrica e nas rimas era tal,
que em um poema do modernista Manuel
Todas as alternativas que seguem estão asso- Bandeira, este fora comparado ao “sapo
ciadas ao poema, EXCETO: tanoeiro”, numa crítica à “arte pela arte”.
a) A vinculação do poeta ao Parnasianismo jus- Assinale agora a alternativa CORRETA:
a) Apenas a afirmativa I é verdadeira.
tifica a incidência do uso de figuras de lin-
b) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
guagem.
c) Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras.
b) As oposições constituem-se num dos recur-
d) Apenas a afirmativa II é verdadeira.
sos predominantes do poema.
e) Apenas a afirmativa III é verdadeira.
c) O último verso reforça a ideia de nascimento
e de morte, respectivamente.
3. (Ufal) As afirmações seguintes referem-se
d) O poema constrói-se a partir da metáfora da
ao Parnasianismo no Brasil:
“viagem”.
I. Para bem definir como entendia o traba-
e) O texto sugere um movimento subjetivo de
lho de um poeta, Olavo Bilac comparou-o
reflexão acerca das experiências vividas.
ao de um joalheiro, ou seja: escrever po-
esia assemelha-se à perfeita lapidação de
E.O. Complementar uma matéria preciosa.
II. Pelas convicções que lhe são próprias,
esse movimento se distancia da esponta-
1. (Ufrgs) Os parnasianos, na virada do século, neidade e do sentimentalismo que mui-
notabilizaram-se por: tos românticos valorizavam.
a) elaborarem poemas de métrica rigorosa nos III. Por se identificarem com os ideais da an-
quais a impessoalidade do sujeito lírico per- tiguidade clássica, é comum que os poe-
mitia a perspectiva filosofante e a visada tas mais representativos desse estilo alu-
descritiva. dam aos mitos daquela época.
b) denunciarem o autoritarismo da República
Velha e as más condições de vida da maioria Está correto o que se afirma em
da população da cidade do Rio de Janeiro. a) II, apenas.
c) revelarem perícia na elaboração de poemas b) I e II, apenas
de quatro a seis versos cujos temas princi- c) I e III, apenas
pais eram o amor não correspondido e as ca- d) II e III, apenas.
racterísticas da natureza nacional. e) I, II e III
d) escreverem longos poemas narrativos em
verso livre misturando mitos greco-latinos e 4. (UFU) Inania Verba
o cotidiano das modernas metrópoles. “....................................................
e) recusarem-se a participar da vida política no O pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:
início da República e por retomarem a lírica A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de
religiosa de tradição renascentista e barroca. neve...
E a Palavra pesada abafa a Ideia leve,
Que, perfume e clarão, refulgia e voava.

267
Quem o molde achará para a expressão de O ângelus plange ao longe em doloroso dobre.
tudo? O último ouro do sol morre na cerração.
Ai! Quem há de dizer as ânsias infinitas E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e
Do sonho? E o céu que foge à mão que se [pobre,
levanta? O crepúsculo cai como uma extrema-unção.
....................................................”
(Olavo Bilac, POESIAS) Agora, para além do cerro, o céu parece
Feito de um ouro ancião que o tempo
Indique a alternativa que NÃO ESTÁ de acor- [enegreceu...
do com o poema.
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,
a) O poeta parnasiano privilegiou a forma, a
maneira mais perfeita que encontrou para Como uma procissão espectral que se move...
efetivar sua arte, mesmo que, para isso, ele Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu...
tivesse que sacrificar suas emoções. Nesse Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros
sentido, os versos de Olavo Bilac são uma [chove.
crítica ao Parnasianismo. BILAC, Olavo. “Melhores poemas”. Seleção de
Marisa Lajolo. 4. ed. São Paulo: Global, 2003.
b) O poeta fala da luta entre ideias e palavras p. 105. (Coleção Melhores poemas).
e entre forma e conteúdo, quando estes fra-
cassam ao traduzirem nossos sentimentos. Vocabulário:
As estrofes citadas são um derramamento da fulvo: dourado
alma sobre essa luta, contrariando os precei- laivos: vestígios
tos parnasianos de contenção lírica. ocaso: pôr-do-sol
c) O tema básico das estrofes é o amor irreali- ângelus: hora da Ave-Maria
zado, que causa sofrimentos ao poeta. plange: chora, soa tristemente
d) Os versos são alexandrinos, muito apreciados dobre: toque dos sinos
pelos parnasianos. cerração: nevoeiro
e) O verso “E a Palavra pesada abafa a Ideia urbe: cidade
leve” contém uma antítese, que representa a cerro: colina, morro
contradição entre forma e conteúdo exposta cicia: murmura, sussurra
pelo poeta. espectral: fantasmagórico

No poema apresentado, Olavo Bilac tematiza


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
o declínio de uma época importante da his-
Mal Secreto tória brasileira.
a) Que época e que local são retratados no po-
“Se se pudesse, o espírito que chora,
ema?
Ver através da máscara da face,
b) Explique como se comporta a voz poética,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
relativamente à decadência apresentada.
Nos causa, então piedade nos causasse!”
(Raimundo Correia)
2. (Ufg) Leia o poema “Na Tebaida”, de Olavo
5. (Unirio) O fragmento apresentado no texto Bilac:
contém uma oposição semântica fundamen- NA TEBAIDA
tal entre o(a):
a) eulírico e o ser humano em geral. Chegas, com os olhos úmidos, tremente
b) eulírico e as pessoas que o invejam. A voz, os seios nus, – como a rainha
c) ser que chora e os demais seres humanos. Que ao ermo frio da Tebaida vinha
d) íntimo do ser humano e sua aparência. Trazer a tentação do amor ardente.
e) realidade exterior e o desejo humano. Luto: porém teu corpo se avizinha
Do meu, e o enlaça como uma serpente...

E.O. Dissertativo
Fujo: porém a boca prendes, quente,
Cheia de beijos, palpitante, à minha...
Beija mais, que o teu beijo me incendeia!
1. (Ufg-adaptado) Leia o texto.
Aperta os braços mais! que eu tenha a morte,
VILA RICA Preso nos laços de prisão tão doce!
Aperta os braços mais, – frágil cadeia
O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre;
Que tanta força tem não sendo forte,
Sangram, em laivos de ouro, as minas, que a
E prende mais que se de ferro fosse!
[ambição
BILAC, Olavo. “Melhores poemas”. Seleção de
Na torturada entranha abriu da terra nobre: Marisa Lajolo. 4. ed. São Paulo: Global, 2003.
E cada cicatriz brilha como um brasão. p. 66. (Coleção Melhores poemas).

268
Vocabulário: TEXTO PARA AS PRÓXIMAS QUATRO QUESTÕES
ermo: deserto, descampado
Tebaida: região do Egito AS VELHAS ÁRVORES

“Olha estas velhas árvores, - mais belas,


O texto literário apresentado apresenta uma
Do que as árvores moças, mais amigas,
construção do erotização. Com base no poe-
Tanto mais belas quanto mais antigas,
ma, responda:
Vencedoras da idade e das procelas...
a) Que voz enuncia a expressão do erótico?
b) Como a voz enunciadora representa o com- O homem, a fera e o inseto à sombra delas
portamento erótico da mulher? Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas,
E alegria das aves tagarelas...
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Não choremos jamais a mocidade!
XII Envelheçamos rindo! Envelheçamos
Sonhei que me esperavas. E, sonhando, Como as árvores fortes envelhecem,
Saí, ansioso por te ver: corria...
E tudo, ao ver-me tão depressa andando, Na glória da alegria e da bondade,
Soube logo o lugar para onde eu ia. Agasalhando os pássaros nos ramos,
E tudo me falou, tudo! Escutando Dando sombra e consolo aos que padecem!”
Meus passos, através da ramaria, BILAC, Olavo. Obra reunida, Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1996, p. 336.
Dos despertados pássaros o bando:
“Vai mais depressa! Parabéns!” dizia.

Disse o luar: “Espera! Que eu te sigo: 4. (UFRRJ) Quanto à forma, destaque uma ca-
racterística do Parnasianismo presente no
Quero também beijar as faces dela!”
poema.
E disse o aroma: “Vai que eu vou contigo!”

E cheguei. E, ao chegar, disse uma estrela: 5. (UFRRJ) Do ponto de vista da temática abor-
“Como és feliz! como és feliz, amigo, dada, o que se pode afirmar do Parnasiansis-
Que de tão perto vais ouvi-la e vê-la!” mo?

XIII 6. (UFRRJ)
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo a) Identifique a comparação feita pelo autor.
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entan- b) Destaque as passagens onde o autor empres-
to, ta às árvores características humanas.
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto... 7. (UFRRJ) Quem é o interlocutor do poema?
Cite uma marca gramatical que comprove
E conversamos toda a noite, enquanto quem é esse interlocutor.
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
8. (PUC-RJ) TEXTO I
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo! A pátria


Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?” Ama, com fé e orgulho, a terra em que nas-
E eu vos direi: “Amai para entendê-las! ceste!
Pois só quem ama pode ter ouvido Criança! não verás nenhum país como este!
Capaz de ouvir e de entender estrelas”. Olha que céu! que mar! que rios! que flores-
ta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
3. (Ufscar) Leia os dois sonetos de Olavo Bilac,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
que fazem parte de um conjunto de poemas
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos
chamado “Via Láctea” e responda:
ninhos,
a) Existe alguma relação de conteúdo entre es- Que se balançam no ar, entre os ramos in-
ses dois poemas? Por quê? quietos!
b) Em qual deles predomina o tipo textual de- Vê que luz, que calor, que multidão de in-
nominado narração? Por quê? setos!
Vê que grande extensão de matas, onde im-
pera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!

269
Boa terra! Jamais negou a quem trabalha seria dele, de graça, este ano.
O pão que mata a fome, o teto que agasalha... — Foi diferente. Tinha melhorias, projetos
Quem com o seu suor a fecunda e umedece, industriais, edifícios, plantações, laborató-
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece! rios.
Criança! não verás país nenhum como este: — Ruínas, tudo ruínas.
Imita na grandeza a terra em que nasceste! BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Não verás
BILAC, Olavo. Disponível em: <http://www. país nenhum (memorial descritivo). Rio de
literaturabrasileira.ufsc.br/_documents/poesias_infantis_ Janeiro: Editora Codecri, 1981, pp.73-4.
de_olavo_bilac-1.htm#APátria>. Acesso em: 10 jul. 2015.
a) A partir da leitura comparativa dos Textos 1
TEXTO II
e 2, determine os distintos sentidos de na-
ção e/ou pátria que aparecem em ambos.
— Tio, os conceitos de nação mudaram. O
b) Olavo Bilac é tradicionalmente considerado
que vale agora é o internacionalismo. A mul-
um dos mais importantes representantes do
tiplicidade. Aqui é um pedacinho. Você soma
Parnasianismo. Apesar disso, pode-se cons-
com os pedacinhos que temos por aí afora.
tatar que o poema “A pátria” não segue rigi-
Reservas no Uruguai, na Bolívia, pedação do
damente os pressupostos da estética parna-
Chile, na Venezuela. Cada savana na África,
siana. Comente, com suas próprias palavras,
quero ser transferido para a África, triplica
tal afirmação.
o soldo e a gente tem casa, comida, econo-
miza.
— Pois é, entregamos o nosso e fomos colo-
nizar outros territórios.
E.O. Objetivas
— Não é colonização, tio, é diferente. São (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
reservas multinternacionais. O mundo se
globaliza. 1. (Unifesp) Essa poesia não logrou estabelecer-
— Talvez eu seja velho, com ideias antigas -se em Portugal. De origem francesa, suas pri-
na cabeça. Mas queria meu país inteiro, não meiras manifestações datam de 1866, quando
um mundo de países dentro do meu, como um editor parisiense publica uma coletânea
acontece. Eu te contei daquela viagem. Quis de poemas; em 1871 e 1876, saem outras duas
chegar a Manaus e nunca cheguei. Não podia coletâneas. Os poetas desse movimento literá-
ir lá, fui rodeando, tive que voltar. Foi mais rio pregam o princípio da Arte pela Arte, isto
difícil atravessar a Rondônia do que conse- é, defendem uma arte que não sirva a nada e
a ninguém, uma arte inútil, uma arte voltada
guir permissão para cruzar a Bolívia.
para si própria. A Arte procuraria a Beleza e
— Sua visão é limitada, tio. O senhor pen-
a Verdade que existiriam nos seres concretos,
sa em termos individuais, restringe-se a um
e não no sentimento do artista. Por isso, o
regionalismo superado. Raciocine em termos belo se confundiria com a forma que o reves-
mais amplos. Nossa economia, por exemplo, te, e não com algo que existiria dentro dele.
nunca esteve tão forte. Daí vem que esses poetas sejam formalistas
— Forte? Ninguém tem dinheiro. O país en- e preguem o cuidado da forma artística como
dividado. Não há mais terras para plantio. exigência preliminar. Para consegui-lo, defen-
Tudo custa os olhos da cara, estamos impor- dem uma atitude de impassibilidade diante
tando tudo. das coisas: não se emocionar jamais; antes,
— Importamos pouca coisa. impessoalizar-se tanto quanto possível pela
— Pouquíssima. Sal, açúcar, minério de fer- descrição dos objetos, via de regra inertes ou
ro, xisto, feijão, eletricidade, papel, plásti- obedientes aos movimentos próprios da Natu-
cos. Quer a lista inteira? reza (o fluxo e refluxo das ondas do mar, o voo
— Não são importações, são acordos feitos dos pássaros, etc.). Esteticistas, anseiam uma
quando das negociações com as terras. arte universalista.
— Como é que você não enxerga? Importa- Em Portugal, tentou-se introduzir esse mo-
vimento; certamente, impregnou alguns
mos de nós mesmos. Mandamos buscar ali
poetas, exerceu influência, mas não passou
em cima, onde antes era o norte do Mato
de prurido, que pouco alterou o ritmo lite-
Grosso, o Maranhão, o Pará.
rário do tempo. Na verdade, o modo fortui-
— Lembre-se que as concessões não são to como alguns se deixaram contaminar da
eternas. Tem um prazo. nova moda poética revelava apenas veleida-
— Eu vi. O ano passado esgotou-se o prazo da de francófila, em decorrência de razões de
concessão para a Bélgica. E eles devolveram gosto pessoal ou de grupos restritos: faltou-
os trechos que mantinham em Goiás? Não, o -lhes intuito comum.
Esquema comprou. Comprou uma coisa que (Massaud Moisés. A literatura portuguesa, 1999. Adaptado.)

270
As informações apresentadas no texto refe- c) na contestação dos valores sociais ... simbo-
rem-se à literatura: listas.
a) simbolista, cuja busca pelo Belo implicou a d) no extremo rigor formal ... parnasianos.
liberdade na expressão dos sentimentos. O e) na expressão dos conflitos humanos ... sim-
texto deixa claro que essa literatura alcançou bolistas.
notável aceitação entre os poetas da época.
b) simbolista, cuja preocupação com a expres- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
são do sentimento filia-se à tradição poética
Arte suprema
do Renascimento. O texto deixa claro que
Tal como Pigmalião, a minha ideia
essa literatura teve um desenvolvimento tí-
Visto na pedra: talho-a, domo-a, bato-a;
mido na cena literária portuguesa.
E ante os meus olhos e a vaidade fátua
c) parnasiana, cuja preocupação com a objeti-
Surge, formosa e nua, Galateia.
vidade a opõe ao subjetivismo romântico. O
texto deixa claro que essa literatura não se Mais um retoque, uns golpes... e remato-a;
impôs na cena literária portuguesa. Digo-lhe: “Fala!”, ao ver em cada veia
d) parnasiana, cuja liberdade de expressão e Sangue rubro, que a cora e aformoseia...
cujo compromisso social permitem funda- E a estatua não falou, porque era estatua.
mentar a Arte pela Arte. O texto deixa cla-
ro que essa literatura teve pouco espaço na Bem haja o verso, em cuja enorme escala
cena literária portuguesa. Falam todas as vozes do universo,
e) realista, cuja influência da tradição clássica é E ao qual também arte nenhuma iguala:
fundamental para se chegar à perfeição. O texto
Quer mesquinho e sem cor, quer amplo e terso,
deixa claro que essa literatura teve uma disse-
Em vão não e que eu digo ao verso: “Fala!”
minação irregular na cena literária portuguesa.
E ele fala-me sempre, porque e verso.
(Júlio César da Silva. Arte de amar. São Paulo:
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
Companhia Editora Nacional, 1961.)

Leia os versos de Olavo Bilac e responda. 4. (Unesp) O soneto Arte suprema apresenta as
características comuns da poesia parnasia-
Não se mostre na fábrica o suplício na. Assinale a alternativa em que as carac-
Do mestre. E, natural, o efeito agrade, terísticas descritas se referem ao parnasia-
Sem lembrar os andaimes do edifício: nismo.
Porque a Beleza, gêmea da Verdade, a) Busca da objetividade, preocupação acentu-
Arte pura, inimiga do artifício, ada com o apuro formal, com a rima, o rit-
É a força e a graça na simplicidade mo, a escolha dos vocábulos, a composição
e a técnica do poema.
2. (Unifesp) Os versos denunciam b) Tendência para a humanização do sobrenatu-
a) vocabulário simples e pouca preocupação com ral, com a oposição entre o homem voltado
as qualidades técnicas do poema, já que as para Deus e o homem voltado para a terra.
sugestões sonoras não estão neles presentes. c) Poesia caracterizada pelo escapismo, ou seja,
b) emoção expressa racionalmente, embora seja pela fuga do mundo real para um mundo ideal
bastante evidente o caráter subjetivo na caracterizado pelo sonho, pela solidão, pelas
construção das imagens. emoções pessoais.
c) a busca da perfeição na expressão, visando ao d) Predomínio dos sentimentos sobre a razão, gosto
universalismo, como exemplificam os termos pelas ruínas e pela atmosfera de mistério.
Beleza e Verdade, grafados com maiúsculas. e) Poesia impregnada de religiosidade e que faz
d) o afastamento da realidade social, decorren- uso recorrente de sinestesias.
te de uma visão idealizada do mundo, des-
crito por metáforas pouco objetivas.
e) a forma de expressão pouco idealizada, re- E.O. Dissertativas
sultante de uma concepção de mundo mar-
cada pela complexidade que, nos versos, se (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
manifesta em vocabulário seleto.
TEXTOS PARA AS PRÓXIMAS TRÊS QUESTÕES
3. (Unifesp) Nos versos, apresenta-se uma con-
cepção de arte baseada ___________, própria TERCETOS
Olavo Bilac.
dos poetas __________.
Na frase, os espaços devem ser preenchidos por Noite ainda, quando ela me pedia
a) na expressão dos sentimentos ... românticos. Entre dois beijos que me fosse embora,
b) na sugestão de sons e imagens ... parnasianos. Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:

271
“Espera ao menos que desponte a aurora! 2. (Unesp) Aponte um aspecto do mesmo poe-
Tua alcova é cheirosa como um ninho... ma que o aproxima da estética romântica.
E olha que escuridão há lá fora!
3. (Unesp) O que pode ser afirmado sobre o
Como queres que eu vá, triste e sozinho, texto de Lupicínio Rodrigues que o descre-
Casando a treva e o frio de meu peito! veria distante da estética parnasiana?
Ao frio e à treva que há pelo caminho?!

Ouves? é o vento! é um temporal desfeito!


Não me arrojes à chuva e à tempestade! Gabarito
Não me exiles do vale do teu leito!

Morrerei de aflição e de saudade... E.O. Aprendizagem


Espera! até que o dia resplandeça, 1
. E 2. A 3
D 4
. C 5
. E
Aquece-me com a tua mocidade!
6. C 7. C 8. C 9. B 10. C
Sobre o teu colo deixa-me a cabeça
Repousar, como há pouco repousava...
Espera um pouco! deixa que amanheça!” E.O. Fixação
1. D 2
. C 3 C 4
. C 5. B
- E ela abria-me os braços. E eu ficava.
(In: Bilac, Olavo. ALMA INQUIETA, POESIAS. 13ª ed. 6
. B 7
. E 8
. B 9
. C 10. A
São Paulo: Livr. Francisco Alves, 1928, pp. 171-72)

ELA DISSE-ME ASSIM


Lupicínio Rodrigues.
E.O. Complementar
1. A 2
. C 3
. E 4 C 5
. D
Ela disse-me assim
Tenha pena de mim, vá embora!
Vais me prejudicar
Ele pode chegar, está na hora! E.O. Dissertativo
1.
E eu não tinha motivo nenhum a) A época representada é a do declínio do
Para me recusar, ciclo do ouro. O local retratado é Vila
Mas aos beijos caí em seus braços Rica/Ouro Preto, em Minas Gerais.
E pedi pra ficar. b) Em “Vila Rica”, a voz poética apresenta,
em tom melancólico, a decadência de Vila
Sabe o que se passou
Rica.
Ele nos encontrou, e agora?
2.
Ela sofre somente porque
a) A voz que enuncia a expressão do erótico
Foi fazer o que eu quis.
é a de um eu-lírico masculino
E o remorso está me torturando b) No poema, a voz enunciadora representa
Por ter feito a loucura que fiz. o comportamento erótico da mulher como
Por um simples prazer, fui fazer aprisionador do homem, em um jogo de
Meu amor infeliz. resistência e de entrega por parte deste.
(Samba-canção gravado por José Bispo dos 3.
Santos, o Jamelão. Continental, 1959.) a) Os poemas fazem referência ao luar, às
estrelas, às constelações, à Via-Láctea.
Há sentimentalismo em ambos os textos,
1. (Unesp) Embora seja considerado um dos sonho, fantasia e diálogos com estrelas.
mais típicos representantes do Parnasianis- b) Ambos são narrativos. Nos dois, há perso-
mo brasileiro, cuja estética defendeu explici- nagem, ação, tempo, espaço.
tamente no célebre poema “Profissão de Fé”, 4.
Uma das características do Parnasianismo que
Olavo Bilac revela em boa parcela de seus po- aparece no poema é o culto à forma. Cons-
emas alguns ingredientes que o afastam da truído como um soneto, esse poema de Olavo
rigidez característica da escola parnasiana e Bilac apresenta versos decassílabos e rimas
o aproximam da romântica. Partindo desta próprias, sendo que estas se constroem de ma-
consideração: neiras diferentes nos quartetos e no tercetos.
Identifique duas características formais do Nos quartetos, o primeiro verso rima com o
poema de Bilac que sejam tipicamente par- quarto e o segundo rima com o terceiro, am-
nasianas. bos na mesma estrofe. Já no caso dos tercetos,

272
as rimas não estão na mesma estrofe. A rima
encontrada no primeiro verso do primeiro ter-
E.O. Objetivas
ceto rima com o primeiro verso do segundo e, (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
assim, sucessivamente, como acontece com o 1. C 2. C 3. D 4. A
verso “Não choremos jamais a mocidade!”, do
primeiro terceto, que rima com “Na glória da
alegria e da bondade,” do segundo. E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
5.
O Parnasianismo tinha como proposta estéti- 1.
O rigor métrico do poema, que se compõe
ca retratar a “arte pela arte”, o que supunha de decassílabos, e a rima encontrada ao fi-
trazer como temática a seus poemas o que nal dos versos podem ser consideradas duas
tivesse relação com o que se considerava ser características do Parnasianismo que apare-
o Belo, entendido como o valor estético que cem nesse poema de Olavo Bilac, já que essa
uma determinada obra possui. Esse valor de- estética literária, dentre outras característi-
veria ser buscado pelo trabalho com a lingua- cas, prezava o culto à forma.
gem através da forma do poema e também 2.
Esse poema de Olavo Bilac, ao retratar o
através da escolha dos temas a serem retrata- amor de um eu-lírico por sua amada em ver-
dos. A escolha da Natureza como temática, a sos carregados de sentimento e emoção, ain-
fim de fugir da realidade e dos problemas da da que a forma como esse amor é retratado
vida, vinculando a ambição atrelada ao “ide- na estética romântica e no poema seja dife-
al da torre de marfim”, mostra como o po- rente, se aproxima da estética romântica ao
ema retratava temas considerados sublimes, retratar esse tipo de emoção que o eu-lírico
ao invés de trazer temas cotidianos que po- sentia com a presença de sua amada.
deriam fazer refletir sobre questões sociais. 3.
A canção de Lupicínio Rodrigues não se
O culto à natureza foge ao social e, assim, estrutura através de um soneto que possui
atinge o ideal de beleza que os parnasianos como métrica a medida do decassílabo. Por
tinham como principal desejo de busca. essas duas características, percebemos que
6. a canção se distancia da estética parna-
a) O autor compara o envelhecimento das ár- siana, além é claro, do tom mais coloquial
vores com o envelhecimento das pessoas. que ela apresenta com relação ao poema
b) Árvores moças, árvores amigas, árvores de Olavo Bilac.
que consolam, árvores que têm sentimen-
tos como os homens.
7.
Primeiramente, o autor se dirige ao leitor
somente. Depois, ele se inclui. Olha... (se-
gunda pessoa) Não choremos... Envelheça-
mos... (primeira pessoa do plural)
8.
a) O poema de Bilac concentra-se na ideia
de pátria como uma construção idealiza-
da e ufanista. O texto de Loyola Brandão
traz uma perspectiva oposta ao ponto de
vista único do texto 1, construindo-se
no diálogo/confronto entre as opiniões
das personagens. O autor contemporâneo
problematiza criticamente o conceito de
nação/pátria e a internacionalização dos
interesses políticos e econômicos.
b) O poema “A pátria” não segue, em seu
tom retórico, os pressupostos da esté-
tica parnasiana, pois apresenta forte
sentimentalismo (“Criança! não verás
nenhum país como este!”), nacionalis-
mo idealizado (“Criança! não verás país
nenhum como este: / Imita na grandeza
a terra em que nasceste!”) e valorização
da natureza local (Olha que céu! que mar!
que rios! que floresta! / A Natureza, aqui,
perpetuamente em festa, / É um seio de
mãe a transbordar carinhos.”).

273
Aula 17

Simbolismo
Competência 5
Habilidades 15, 16 e 17
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Nascido na França, o Simbolismo ocorreu em um momento de transição entre os sé-
culos XIX e XX, em contraposição ao Realismo e ao Naturalismo. No intenso contato
com a cultura, a mentalidade, as artes e a religiosidade orientais, os artistas daquela
época mergulharam nesses valores distintos do pensamento ocidental, mais racional,
e espelharam em suas criações essa outra visão de mundo. As produções do período
são subjetivas, posto que o artista buscava voltar para dentro de si à procura de zo-
nas mais profundas, numa viagem interior de resultados imprevisíveis.

Período de transição entre séculos


O Simbolismo correspondeu a uma resposta artística à crise de civilização burguesa da Europa industrializada. Foi
uma revolta contra a ideologia tecnocrática do Naturalismo e contra certos dogmas, como o determinismo, por
exemplo, segundo os artistas da época, sufocavam a criatividade.
Essa luta foi instintiva e afetiva, bem como pessimista. O artista dos últimos anos do século XIX negava os
valores da sociedade burguesa de forma problemática e autodilacerante, e, além disso, parecia estar descontente
consigo mesmo.
A arte simbolista apresentou significativa elaboração estética. Apesar de se referir a um mundo decadente,
suas formas eram bastante refinadas: procuram servir de refúgio ao artista diante de um mundo marcado pelas
práticas burguesas.
Por valorizar o mundo inteiro e os valores espirituais, a atitude da arte simbolista é subjetivista, muito se-
melhante a dos românticos da metade do século XIX. Porém, os simbolistas vão mais além, atingindo as camadas
do inconsciente e do subconsciente. Eles retomam o misticismo, o sonho, a fé, numa tentativa de encontrar novos
caminhos.
Na trilha do desconhecido, o movimento explora a possibilidade de estabelecer relações entre o mundo
visível e o invisível, o universo que se pode sentir, mas não revelar, exceto pela representação de sensações.
De acordo com o determinismo, os acontecimentos na vida de uma pessoa, bem como suas vontades, es-
colhas e comportamentos, eram causados por influência do meio. Em razão disso, as pessoas eram consideradas
resultado direto do meio, destituídas de plena liberdade, decisão e escolha.
Nascido nesse mesmo contexto, o Impressionismo, movimento artístico francês caracterizou-se pelo estilo
fundamentalmente sensorial, no qual a natureza era encarada não de forma objetiva, mas interpretada. Prevalecia,
portanto, a verdade do artista.

Decadentismo e Simbolismo
Gauguin impressionista. Gauguin simbolista.

Influenciados pelo misticismo provindo do intercâmbio com as artes, os pensamentos e as religiões orientais, os
artistas do final do século XIX foram tachados de “decadentes”, em alusão à decadência dos valores estéticos
vigentes: Naturalismo e Parnasianismo.
Por volta de 1880, espalhou-se a ideia de decadentismo, bastante relacionada à figura do francês Charles
Baudelaire (1821-1867), poeta místico, libertino e ferozmente crítico. Os “decadentes” eram poetas em crise, dizia-se.
O decadentismo era um estado de revolta contra a sociedade burguesa e seus falsos conceitos. Sthéfane
Mallarmé (1842-1898) e Jean Moréas (1856–1910), poeta de origem grega, escreveram um artigo/manifesto de-
nominado Le symbolisme, em 1886, denominação que haveria de prevalecer para denominar o novo estilo literário.

277
Nesse manifesto, Moréas, pseudônimo de Ioannes Papadiamtopoulos, apresenta o Simbolismo como resultado
da própria evolução da literatura, evolução essa, segundo ele, cíclica. Caracterizam-no as metáforas estranhas e o
vocabulário novo harmonicamente sustentado e aberto à valorização do ritmo. A poesia simbolista é “inimiga do ensi-
namento, da declamação, da falsa sensibilidade, da descrição objetiva e procura vestir a ideia de uma forma sensível”.
Em razão disso, caberia à poesia simbolista a representação estática, a construção literária despreocupada
com a fluência do tempo, uma poesia narrativa ou discursiva; caso contrário, perderia sua pureza.
Para os simbolistas, a linguagem poética deveria apresentar-se mediante sugestões, mediante linguagem
indireta e figurada, que sugerisse conteúdos emotivos e sentimentais sem, entretanto, narrá-los ou descrevê-los.

Bases filosóficas do Simbolismo


O gosto pelo mistério das coisas, a tentativa de captar a realidade secreta do universo, de encontrar uma “alma”
na natureza têm bases filosóficas em algumas doutrinas daquele contexto.

278
Doutrina do incognoscível
É alicerçada no pensamento do filósofo inglês Hebert Spencer (1820-1903) cujo
ponto de partida é o registro daquilo que escapa à explicação das ciências experi-
mentais, como as verdades ligadas ao conhecimento religioso, por exemplo.

Doutrina do irracionalismo pessimista

É alicerçada no pensamento do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860),


o qual via uma única forma de superar a condição miserável do ser humano: a liber-
tação da vontade individual mediante o alcance de um estado estético puro, desin-
teressado.

Doutrina do espírito inconsciente

É alicerçada no pensamento do filósofo alemão Eduard Von Hartmann (1842-1906),


que radicalizou o pessimismo de Schopenhauer: fatigada de querer, a humanidade
estaria ansiando voltar ao nada imaginário. A “alma do mundo“ seria o espírito
inconsciente.

Características da literatura simbolista


A teoria das correspondências

Baudelaire

279
Por volta de 1855, o poeta francês Charles Baudelaire introduziu sugestões proporcionadas por textos ambíguos, mis-
teriosas correspondências apresentadas num sistema de analogias. Em As flores do mal, a ideia de que tudo no mundo
tem correspondência entre si e pode ser explicitado por símbolos está magistralmente expressa no soneto Correspon-
dências. Nele, as imagens aproximam-se em cenários naturais, têm significação simbólica e falam aos sentidos.

A Natureza é um templo onde vivos pilares


Podem deixar ouvir confusas vozes: e estas
Fazem o homem passar através de florestas
De símbolos que o veem com olhos familiares.

Como os ecos além confundem seus rumores


Na mais profunda e mais tenebrosa unidade,
Tão vasta como a noite e como a claridade,

Harmonizam-se os sons, os perfumes e as cores.


Perfumes frescos há como carnes de criança
Ou oboés de doçura ou verdejantes ermos
E outros ricos, triunfais e podres na fragrância

Que possuem a expansão do universo sem termos


Como o sândalo, o almíscar, o benjoim e o incenso
Que cantam dos sentidos o transporte imenso.
(Charles Baudelaire. As flores do mal. Trad. Jamil Almansur Haddad. São Paulo: Circulo do Livro, 1995.]

No soneto, as correlações ou correspondências mostram-se nas comparações e metáforas que se referem


aos sentidos humanos: tato, visão, paladar e notadamente olfato: perfumes frescos como carnes de crianças; per-
fumes podres, perfumes doces com oboés, perfumes verdes.
A noção de correspondência é fundamental para explicar as produções do final do século XIX. Há corres-
pondências sensoriais entre a música, a pintura e a literatura.

A realidade ambígua
Os símbolos sugerem ideias ambíguas, resultado da tessitura artística na construção do poema,como a célebre
“alquimia verbal” pregada pelo poeta francês Rimbaud (1854–1891). À poesia permite-se qualquer mistura de
correspondências que conduza a um estado universal e abra caminho para a aproximação entre as artes: literatura
e música, literatura e pintura.

Adormecido no vale

É um vão de verdura onde um riacho canta


A espalhar pelas ervas farrapos de prata
Como se delirasse, e o sol da montanha
Num espumar de raios seu clarão desata.
Jovem soldado, boca aberta, a testa nua,
Banhando a nuca em frescas águas azuis,

280
Dorme estendido e ali sobre a relva flutua,
Frágil, no leito verde onde chove luz.

Com os pés entre os lírios, sorri mansamente


Como sorri no sono um menino doente.
Embala-o, natureza, aquece-o, ele tem frio.
E já não sente o odor das flores, o macio
Da relva. Adormecido, a mão sobre o peito,
Tem dois furos vermelhos do lado direito.
(Arthur Rimbaud. Trad. Ferreira Gullar.)

Arthur Rimbaud (1854-1891) publicou em vida apenas a obra Uma temporada


no inferno (1873). Poesias (1871) e Iluminações (1873) são publicações póstu-
mas. Nelas observa-se uma aproximação sinestésica entre palavras, sons, cores
e odores, característica marcante do Simbolismo.

A musicalidade, antes de qualquer coisa


O poeta simbolista francês Paul Verlaine (1844-1896) defendia a aproximação da poesia com a música. Em razão
disso, há poemas simbolistas que apresentam inovações métricas, como a ruptura das regras de versificação rigoro-
samente observadas pelos parnasianos, o deslocamento e a atenuação do acento tônico do verso, que lhes trazem
bastante fluidez e musicalidade.

Canção de outono

Estes lamentos
Dos violões lentos
Do outono
Enchem minha alma
De uma onda calma
De sono.
E soluçando
Pálido, quando
Soa a hora,
Paul Verlaine
281
Recordo todos
Os dias doidos
De outrora.

E vou à toa
No ar mau que voa
Que importa?
Vou pela vida,
Folha caída
E morta.
(Paul Verlaine. Trad. Guilherme de Almeida.)

Metáforas e analogias sensoriais


Na poesia simbolista, são frequentes as metáforas e as analogias sensoriais. No plano da interpretação, a alusão
aos órgãos dos sentidos remete às correspondências entre mundo material e mundo imaterial simbolicamente
sugerido. Sob o ponto de vista da sonoridade, o emprego de aliterações, das repetições de palavras e de versos
conferem ao verso simbolista extraordinária musicalidade, sugestão significativa e possibilidades de interpretação.

Sinfonias do ocaso

Musselinosas como brumas diurnas


Descem do acaso as sombras harmoniosas,
Sombras veladas e musselinosas
Para as profundas solidões noturnas.
Sacrários virgens, sacrossantas urnas,
Os céus resplendem de sidéreas rosas,
Da lua e das Estrelas majestosas
Iluminando a escuridão das furnas.
Ah! por estes sinfônicos ocasos
A terra exala aromas de áureos vasos,
Incensos de turíbulos divinos.
Os plenilúnios mórbidos vaporam...
E como que no Azul plangem e choram
Cítaras, harpas, bandolins, violinos...

CRUZ E SOUZA, In Broquéis, 1893

Musselinosas: transparentes como o tecido chamado musselina, leve e sedoso.


Sidérias: celestiais
Furnas: cavernas
Turíbulos: vasos onde se queimam incensos
Plenilúnios: noites de lua cheia.

282
Simbolismo em Portugal
O marco inicial do Simbolismo em Portugal foi Oaristos, de Eugênio de Castro, em 1890. O prefácio traz um verda-
deiro programa de estética simbolista, com base nas ideias do poeta francês Jean Moréas.
O término do Simbolismo português deu-se em 1915, quando Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro
lançaram a revista Orpheu, que deu início ao movimento modernista.

Principais autores
Eugênio de Castro

Formado em Letras pela Faculdade de Coimbra, por volta de 1889, o português


Eugênio de Castro e Almeida (1869-1944) envolveu-se com a publicação de
duas revistas acadêmicas: Os insubmissos e Boêmia nova, ambas defensoras do
Simbolismo francês.
Com a publicação da obra Oaristos (1890) definiu algumas características
da nova escola, como o uso de rimas novas e raras, novas métricas, aliterações,
sinestesias e vocabulário musical. Essa técnica tem inspiração em Paul Verlaine:
busca intensa de musicalidade, como neste poema Um sonho.

Na messe, que enlourece, estremece a quermesse...


O sol, o celestial girassol, esmorece...
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos...

As estrelas em seus halos


Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves.

Flor! enquanto na messe estremece a quermesse


E o sol, o celestial girassol esmorece,
Deixemos estes sons tão serenos e amenos,
Fujamos, Flor! à flor destes floridos fenos...

283
Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...
[...]
Messe: colheita
Esmorece: desmaia
Cantinela: cantiga suave, monótona
Halo: auréola
Cornamusas: gaita de foles
Crotalos: instrumento musical semelhante a castanholas
Cítolas: instrumento egípcio de percussão
Cítaras: alaúdes
Sistros: o mesmo que liras

Camilo Pessanha

Camilo Almeida Pessanha (1867-1926) é considerado o melhor, mais autêntico e


inovador poeta simbolista português cujo trabalho influenciou modernistas pos-
teriores, como Fernando Pessoa.
Distante da tendência neorromântica dos escritores do seu tempo, incor-
porou procedimentos muito semelhantes aos do francês Verlaine, ao aproximar a
poesia da música. Sua visão de mundo é pessimista, a partir da óptica da ilusão
e da dor. Sente-se um verdadeiro exilado no mundo, sob a impressão de uma
verdadeira desintegração de seu ser.

Caricatura de Pessanha. Jorge Santos.

Sua obra mais importante, Clepsidra – relógio de água –, tem poemas que se destacam pela musicalidade
e pelo caráter dramático dos temas.

284
Clepsidra

Publicado postumamente, em 1920, o título desse livro refere-se a um instrumento semelhante à ampulheta, dois
cones interligados, usado para medição de tempo. O tempo é medido com base na velocidade de escoamento da
água do cone superior para o inferior.
De posse dessa metáfora para intitular sua obra, Camilo Pessanha chama a atenção para o tempo que flui
e para o tema da obra: a perda, a efemeridade de tudo quanto passa, a inutilidade da vida, a dor, o medo, a rea-
lidade ambígua. Predominante na obra é a ideia de que o ser humano só atinge as aparências, nunca a essência
das coisas.
Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...

De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.

Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas, (ouçam)!

285
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...
Trêmulos astros,
Soidões lacustres...
– Lemes e mastros...
E os alabastros

Dos balaústres!
Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
– Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.
(Camilo Pessanha. Clepsídra. Lisboa: Ática, 1945.)

Caminho
I
Tenho sonhos cruéis: n’alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro


Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...

Porque a dor, esta falta d’harmonia,


Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d’agora,

Sem ela o coração é quase nada:


– Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.
(Massaud Moisés. A literatura portuguesa através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1971.)

Simbolismo no Brasil
O Simbolismo brasileiro desenvolveu-se paralelamente ao Parnasianismo, portanto no mesmo contexto histórico-
-cultural. Todavia, desenvolveu-se fora do Rio de Janeiro, com a publicação de duas obras do poeta catarinense Cruz e
Sousa: Missal e Broqueis, ambas de 1893, e terminou com a publicação de Canaã, de Graça Aranha, em 1902.

286
Como o Parnasianismo, o movimento simbolista também se projetou no século XX, sendo que sua influência
estendeu-se pelo Pré-modernismo e Modernismo, considerando que houve modernistas neossimbolistas.
O decadentismo do final do século XIX reflete-se no Simbolismo do Brasil, se se considerarem estas três
orientações que o nortearam.
§§ Orientação humanístico-social adotada por Cruz e Sousa e continuada mais tarde por Augusto dos
Anjos: preocupação com os problemas transcendentais do ser humano.
§§ Orientação místico-religiosa adotada por Alphonsus de Guimaraens: temas religiosos distantes do eso-
terismo europeu.
§§ Orientação intimista-crepuscular adotada por pré-modernistas e modernistas, como Olegário Mariano,
Guilherme de Almeida, Ribeiro Couto, Manuel Bandeira e Cecília Meireles: temas relacionados com o coti-
diano, sentimentos melancólicos e gosto pela penumbra.
A produção em prosa não vingou no Simbolismo brasileiro, mesmo com a poesia em prosa de Cruz e Sousa,
por exemplo. Ficou voltado para a poesia em um momento histórico em que o país estava marcado por frustrações,
falta de perspectivas, angústias.

Cruz e Sousa
Embora nascido escravo, João da Cruz e Sousa (1861-1898) teve educação refinada, aprendeu francês, latim e
grego no Ateneu Provincial, em Santa Catarina, graças à proteção de uma família aristocrática. Numa sociedade
eminentemente branca, padeceu diversas formas de pressão social e preconceitos.
Fixou-se no Rio de Janeiro em 1886 onde viveu bastante pobre e discriminado pela origem étnica. Ficou
conhecido como “Cisne negro” e “Dante Negro”. Teve o valor reconhecido somente após a morte.
Missal e Broqueis, marcos iniciais do Simbolismo no Brasil, foram publicados em 1893. Sua obra poética
conta ainda com Faróis, Últimos sonetos e Evocações (poesia em prosa).
A temática de sua poesia é caracterizada pela busca do transcendente, ao lado do sentimento trágico da
existência. Além das inovações métricas, sua obra introduz uma combinação de vocábulos que resultaram em curio-
sas associações de concreto e abstrato, cujo efeito sugere analogias e correspondência importantes, bem como
recursos sonoros, sinestesias e repetições de efeito melódico.

287
Missal

Escritos em prosa, os poemas de Missal ainda não alcançam a qualidade musical, a plasticidade, a sugestão, a
sublimidade e a alquimia verbal de suas realizações posteriores. Vale mais como registro do que como referência
do Simbolismo no Brasil. Influenciada pela poesia em prosa de Charles Baudelaire.

Broqueis

São 54 sonetos, forma poética preferida pelo autor neste livro. O branco está presente em diversos jogos e matri-
zes, a luminosidade do luar e da neblina; a neve, as imagens vaporosas, os cristais, criando um universo delicado.
Sinestesias, assonâncias e aliterações qualificam os poemas.

Antífona

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras


De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...
[...]
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
[...]

288
Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.
[...]
Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.
[...]
(Cruz e Sousa. Poesias completas. Rio de Janeiro: Ouro, 1957.)

Antífona: pequeno verso que se canta antes e depois de um salmo


Turíbulos: vasos para queimar incenso
Aras: altares
Réquiem: ritual para mortos
Diafaneidades: transparências
Fuljam: brilhem

Alabastros: rochas muito brancas, translúcidas

Alphonsus de Guimarães
O “Solitário de Mariana”, como era conhecido, Afonso Henriques da Costa
Guimarães (1870-1921) viveu grande parte de sua vida em Minas Gerais,
onde exerceu a magistratura. Marcado pela morte de sua noiva, Constan-
ça, quando ambos tinham dezoito anos, Alphonsus de Guimaraens jamais a
esqueceu, embora tenha se casado e sido pai de catorze filhos. A morte da
noiva despertou nele um sentimento religioso que o acompanharia na poesia,
a começar pelos títulos das obras: Kyriale, Setenário das dores de Nossa Se-
nhora, Dona Mística, Pauvre Lyre, Pastoral aos crentes do amor e da morte...
Além da religião, seus poemas exploram os temas da natureza e da arte, que
de alguma forma se relacionam com o da morte.

289
A catedral

Entre brumas, ao longe, surge a aurora,


O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:


“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O astro glorioso segue a eterna estrada.


Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a benção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:


“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

Por entre lírios e lilases desce


A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a luz a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu tristonho
Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:


“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O céu e todo trevas: o vento uiva.


Do relâmpago a cabeleira ruiva

290
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino chora em lúgubres responsos:


“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”
(Alphonsus de Gimaraens. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1985.)

Hialino: semelhante ao vidro

Arrebol: o nascer do sol

Ebúrnea: marfim

Obras de Alphonsus de Guimaraens


§§ Setenário das dores de Nossa Senhora (1899);
§§ Dona mística (1899);
§§ Câmara ardente (1899);
§§ Kiriale (1902);
§§ Mendigos (1920);
§§ Pauvre Lyre (1921);
§§ Pastoral aos crentes do amor e da morte (1923);
§§ Poesias (Nova Primavera, Escada de Jacó, Pulvis) (1938).

291
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme Sonhos, de de Akira Kurosawa

São oito segmentos que revelam um alto grau de simbolismo: no primeiro,


“A raposa”, uma criança é avisada pela mãe que não deveria ir à floresta
quando há chuva e sol, pois é a época do acasalamento das raposas, que
gostam de serem observadas. Mas ele desobedece os conselhos e observa
as raposas, atrás de uma árvore.

Filme Cruz e Sousa - o poeta do Desterro

Drama biográfico sobre o poeta João da Cruz e Sousa, simbolista


brasileiro. Descendente de escravos, Cruz e Sousa recebeu a melhor
educação possível e decide mudar-se para o Rio de Janeiro em
busca de reconhecimento para sua obra.

Filme Eclipse de uma paixão

Em 1871, Paul Verlaine (David Thewlis), um renomado poeta, convida


o jovem Arthur Rimbaud (Leonardo DiCaprio) para morar com ele e
sua esposa em Paris.

292
LER

Livros
O Simbolismo (1893-1902), de Massaud Moisés

Massaud Moisés (São Paulo, 9 de abril de 1928) foi professor titular


da Universidade de São Paulo (USP), Brasil, de 1973 a 1995, ano em
que se aposentou. Ele escreve brilhamente sobre a escola literária do
Simbolismo nessa obra crítica.

Cruz e Sousa, de Tasso da Silveira

Esse livro reúne as mais belas poesias do maior poeta simbolista


brasileiro: Cruz e Souza.

OBRAS

Pintura O anjo ferido, de Hugo Simberg

O anjo ferido, de Hugo Simberg

293
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 15 - Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção,


situando aspectos do contexto histórico, social e político.

Esta Habilidade pressupõe que o aluno tenha conhecimento das concepções artísticas vinculadas
ao primeiro aspecto da tríade analítica básica da arte literária (contexto, autor e obra), no caso o
conceito de linguagem utilizada pelos autores em escolas literárias diferentes, mas que se aproxi-
mam tematicamente. A construção dos procedimentos literários está ligada aos fatores estéticos
que podem levar em consideração a forma e/ou conteúdo do texto em relação à concepção
artística do contexto.

Modelo
(Enem)
VIDA OBSCURA
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro
ó ser humilde entre os humildes seres,
embriagado, tonto de prazeres,
o mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste no silêncio escuro
a vida presa a trágicos deveres
e chegaste ao saber de altos saberes
tornando-te mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sofrimento inquieto,
magoado, oculto e aterrador, secreto,
que o coração te apunhalou no mundo,
Mas eu que sempre te segui os passos
sei que a cruz infernal prendeu-te os braços
e o teu suspiro como foi profundo!
SOUSA, C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1961.

Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo brasileiro, Cruz e Souza transpôs para seu liris-
mo uma sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada. No soneto, essa percepção traduz-
-se em:
a) sofrimento tácito diante dos limites impostos pela discriminação.
b) tendência latente ao vício como resposta ao isolamento social.
c) extenuação condicionada a uma rotina de tarefas degradantes.
d) frustração amorosa canalizada para as atividades intelectuais.
e) vocação religiosa manifesta na aproximação com a fé cristã.

294
Análise Expositiva

Habilidade 15
Trata-se de um soneto simbolista, cujas características são compatíveis com a obra de Cruz
e Souza como um todo: são a da crítica dos excluídos, da dor de se viver em um mundo de
indiferença, de injustiça e de miséria. No poema, o eu lírico lamenta o fim de uma existência
que passou despercebida pela vida por conta de sua humilde condição social, a despeito do
seu sofrimento e de suas privações.
Alternativa A

Estrutura Conceitual

SIMBOLISMO

O precursor do Simbolismo no Brasil foi o escritor Cruz e Souza


com a publicação de suas obras Missal (prosa) e Broquéis (poe-
sia), ambas em 1893.

A obra Oaristos, de Eugenio de Castro, publicada no ano de 1890, é o marco


inicial do Simbolismo em Portugal.

A obra Clepsidra, de Camilo Pessanha, é uma das mais destacadas obras do


Simbolismo português.

Alphonsus de Guimaraens é o pseudônimo de Afonso Henrique da Costa


Guimarães. O escritor é um dos nomes mais importantes do Simbolismo
no Brasil. Uma curiosidade é que, no ano de 1919 (dois anos antes de sua
morte), ele recebe uma visita inusitada: Mário de Andrade bate em sua porta,
na cidade de Mariana (MG), para fazer uma leitura de Edgard Alan Poe.

Pontos fortes:
◊ Sugestão e subjetividade;
◊ Religiosidade e misticismo;
◊ Transcendentalismo;
◊ Inconsciente, subconsciente, loucura e mundo onírico;
◊ Metáforas, sinestesias, aliterações e assonâncias.

295
E.O. Aprendizagem Assinale:
a) se apenas I e III estiverem corretas.
b) se apenas I estiver correta.
1. (UFMG) Com base na leitura de “Broquéis”, c) se todas estiverem corretas.
de Cruz e Sousa, é INCORRETO afirmar que se d) se todas estiverem incorretas.
trata de uma poesia e) se apenas III estiver correta.
a) de tendência naturalista, que se compraz na
descrição mórbida dos sentimentos, embora 4. Assinale a alternativa que não se refere ao
mostre otimismo em relação ao homem. Simbolismo.
b) próxima da música, não apenas no plano te- a) Na busca de uma linguagem exótica, colorida,
mático, mas, sobretudo, no trabalho deta- musical, os autores não resistem, muitas ve-
lhista da sonoridade. zes, à ideia de criar novos termos.
c) abstrata, pois se afasta de situações cotidia- b) Ocorre grande interesse pelo individual e pelo
nas e, além disso, exprime um intenso senti- metafísico.
mento de dor e de angústia. c) Há assuntos relacionados ao espiritual, místi-
d) de atmosfera intensamente misteriosa, cria- co, religioso.
da pelo forte impulso de transfiguração da d) Nota-se o emprego constante de aliterações e
realidade imediata. . assonâncias.
e) Busca-se uma poesia formalmente perfeita,
impassível e universalizante.
2. Assinale a alternativa em que aparece um
trecho do Simbolismo brasileiro.
5. ”Ah! plangentes violões dormentes, mornos,
a) Vejo através da janela de meu trem
Soluços ao luar, choros ao vento...
os domingos das cidadezinhas,
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
com meninas e moças, Bocas murmurejantes de lamento.
e caixeiros e caixeiros engomados que vêm olhar ..................................................................
os passageiros empoeirados dos vagões. Sutis palpitações à luz da lua.
b) E não há melhor resposta Anseio dos momentos mais saudosos,
que o espetáculo da vida: Quando lá choram na deserta rua
vê-la desfiar seu fio, As cordas vivas dos violões chorosos.
que também se chama vida,
Quando os sons dos violões vão soluçando,
ver a fábrica que ela mesma,
Quando os sons dos violões nas cordas ge-
teimosamente se fabrica,...
mem,
c) Ai! Se eu te visse no calor da sesta
E vão dilacerando e deliciando,
A mão tremente no calor das tuas, Rasgando as almas que nas sombras tremem.
Amarrotado o teu vestido branco, ..................................................................
Soltos cabelos nas espáduas nuas! ... Vozes veladas, veludosas vozes,
Ai! Se eu te visse, Madalena pura, Volúpias dos violões, vozes veladas,
Sobre o veludo reclinada a meio Vagam nos velhos vórtices velozes
Olhos cerrados na volúpia doce, Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”
Os braços frouxos - palpitante o seio!
As estrofes anteriores, claramente represen-
d) Eu amo os gregos tipos de escultura:
tativas do_____, não apresentam _____.
Pagãs nuas no mármore entalhadas;
Não essas produções que a estufa escura
Das normas cria, tortas e enfezadas. Assinale a alternativa que completa correta-
e) Brancuras imortais da Lua Nova, mente AS DUAS lacunas anteriores.
frios de nostalgia e sonolência... a) Romantismo – sinestesia
Sonhos brancos da Lua e viva essência b) Simbolismo – aliterações e assonâncias
dos fantasmas noctívagos da Cova. c) Romantismo – musicalidade
d) Parnasianismo – metáforas e metonímias
e) Simbolismo - versos brancos e livres
3. Leia as afirmações a seguir:
I. Misticismo, amor e morte caracterizam a
obra de Alphonsus de Guimaraens. 6. (UFRRJ) Leia o fragmento a seguir do poe-
II. A poesia de Cruz e Sousa apresenta as- ma “Evocações” de Alphonsus de Guimara-
pectos ligados ao subjetivismo e angús- ens:
tia pessoal, evoluindo para posições mais “Na primavera que era a derradeira,
universalizantes. Mãos estendidas a pedir esmola
III. O Simbolismo nega o cientificismo, valori- Da estrada fui postar-me à beira.
zando as manifestações metafísicas e es- Brilhava o sol e o arco-íris era a estola
pirituais. Maravilhosamente no ar suspensa”

296
Como se sabe, Alphonsus de Guimaraens é Dormências de volúpicos venenos
tido como um dos mais importantes repre- Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...”
sentantes do Simbolismo no Brasil. No frag- a) valorização da forma como expressão do belo e a
mento acima, pode-se destacar a seguinte busca pela palavra mais rara .
característica da escola à qual pertence: b) linguagem rebuscada, jogos de palavras e jo-
a) bucolismo, que se caracteriza pela participa- gos de imagens, característica do cultismo.
ção ativa da natureza nas ações narradas. c) incidência de sons consonantais (aliterações)
b) intensa movimentação e alta tensão dramá- explorando o caráter melódico da linguagem .
tica. d) pessimismo da segunda geração romântica,
c) concretismo e realismo nas descrições. marcada por vocábulos que aludem a uma
d) foco no instante, na cena particular e na im-
existência mais depressiva.
pressão que causa.
e) lírica amorosa marcada pela sensualidade
e) tom poético melancólico, apresentando a
explícita que substitui as virgens inacessí-
natureza como cúmplice na tristeza.
veis por mulheres reais, lascivas e sedutoras.

7. (ITA) Leia os seguintes versos:


1
0. (ITA) Leia com atenção as duas estrofes a
Mais claro e fino do que as finas pratas seguir e compare-as quanto ao conteúdo e à
O som da tua voz deliciava... forma.
Na dolência velada das sonatas
I
Como um perfume a tudo perfumava.
“Mas que na forma se disfarce o emprego
Era um som feito luz, eram volatas Do esforço; e a trama viva se construa
Em lânguida espiral que iluminava, De tal modo que a ninguém fique nua
Brancas sonoridades de cascatas... Rica mas sóbria, como um templo grego.”
Tanta harmonia melancolizava.
II
(SOUZA, Cruz e. “Cristais”, in “Obras completas.”
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 86.)
“Do Sonho as mais azuis diafaneidades
que fuljam, que na Estrofe se levantem
Assinale a alternativa que reúne as caracte- e as emoções, todas as castidades
rísticas simbolistas presentes no texto: Da alma do Verso, pelos versos cantem.”
a) Sinestesia, aliteração, sugestão. Comparando as duas estrofes, conclui-se que:
b) Clareza, perfeição formal, objetividade. a) I é parnasiana e II, simbolista.
c) Aliteração, objetividade, ritmo constante. b) I é simbolista e II, romântica.
d) Perfeição formal, clareza, sinestesia.
c) I é árcade e II, parnasiana.
e) Perfeição formal, objetividade, sinestesia.
d) I e II são parnasianas.
e) I e II são simbolistas.
8. Para as Estrelas de cristais gelados
As ânsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
De nuvens brancas a amplidão vestindo...
E.O. Fixação
(Cruz e Sousa)
1. (Udesc) Cavador do Infinito
Assinale a opção em que expresse incorre­ Com a lâmpada do Sonho desce aflito
tamente a análise do poema:
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
a) As “nuvens brancas” mencionadas suge­rem as
Vai abafando as queixas implacáveis,
vestes tradicionais de noiva.
Da alma o profundo e soluçado grito.
b) A aliteração do /s/ em “As ânsias e os dese­jos
vão subindo” produz cacofonia. Ânsias, Desejos, tudo a fogo escrito
c) Os “cristais gelados” estão de acordo com a Sente, em redor, nos astros inefáveis.
frialdade do espaço sideral. Cava nas fundas eras insondáveis
d) As “Estrelas”, com maiúscula alegorizante, po- O cavador do trágico Infinito.
dem significar uma dimensão huma­na superior.
e) Galgar “azuis e siderais noivados” é ima­gem E quanto mais pelo Infinito cava
que remete ao anseio de atingir um mundo Mais o Infinito se transforma em lava
espiritual. E o cavador se perde nas distâncias...
Alto levanta a lâmpada do Sonho
9. Leia a estrofe que segue e assinale a alterna- E com seu vulto pálido e tristonho
tiva correta, quanto às suas características. Cava os abismos das eternas ânsias!
“Visões, salmos e cânticos serenos SOUZA, Cruz e. Últimos Sonetos.
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes... www.dominiopublico.gov.br.

297
Analise as proposições em relação ao soneto entre valores tradicionalistas, ligados
“Cavador do Infinito”, de Cruz e Souza. à consciência medieval, e valores pro-
I. A leitura do poema leva o leitor a inferir gressistas, que surgem com o avanço do
que o cavador do infinito é a representa- racionalismo burguês.
ção da imagem do próprio poeta, ou seja, ( ) Os árcades idealizam a vida no campo,
um autorretrato do poeta simbolista. por meio da poesia de temática pasto-
II. Da leitura do poema infere-se que a me- ril, construída com ideias claras e sim-
táfora está centrada na lâmpada do so- plicidade estilística.
nho, a qual se refere à imaginação oníri- ( ) Para o escritor simbolista, a poesia deve
ca do poeta e ilumina o seu inconsciente. preocupar-se com a representação da
III. O sinal de pontuação – reticências – no vida objetiva, os fatos em desenvolvi-
verso 11, acentua o clima indefinível, le- mento na realidade, enquanto à prosa
vando o leitor a inferir sobre a situação – o cabe a representação estática, isto é,
drama vivido pelo eu lírico. uma construção literária na qual não
IV. No plano formal, o uso de letra maiúscula aparece o fluir do tempo.
em substantivos comuns é uma caracterís- ( ) A arte literária parnasiana prima pela
tica do Simbolismo, como ocorre em: “So- clareza sintática e pela correção e no-
nho” (versos 1 e 12), “Ânsias” e “Desejos” breza do vocabulário, bem como pelas
(verso 5); “Infinito” (versos 8 e 9). Usada composições de caráter eminentemente
como alegoria, a letra maiúscula tenciona confessional.
dar um sentido de transcendência, de va- A sequência correta de preenchimento dos
lor absoluto. parênteses, de cima para baixo, é:
V. Da leitura do poema e do contexto literário a) V – V – V – F.
simbolista, infere-se que o título do poema b) F – V – F – V.
“Cavador do Infinito” reforça a ideia a que c) V – V – F – F.
o soneto remete: o poeta simbolista busca d) V – V – F – V.
a transcendência, a transfiguração da rea-
e) F – F – V – V.
lidade cotidiana para uma dimensão meta-
física, que é uma característica da estética
simbolista. 4. (UFRGS) Leia o poema “Siderações”, de
Assinale a alternativa correta. Cruz e Souza.
a) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
Para as estrelas de cristais gelados
b) Somente as afirmativas I, III e V são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas II, III, IV e V são As ânsias e os desejos vão subindo,
verdadeiras. Galgando azuis e siderais noivados,
d) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras. De nuvens brancas a amplidão vestindo...
e) Todas as afirmativas são verdadeiras.
Num cortejo de cânticos alados
2. (Unirio) (Fragmento) Os arcanjos, as cítaras ferindo,
Busca de palavras límpidas e castas, Passam, das vestes nos troféus prateados,
Novas e raras de clarões ruidosos, As asas de ouro finamente abrindo...
Dentre as ondas mais pródigas mais vastas
Dos sentimentos mais maravilhosos. Dos etéreos turíbulos de neve
(Cruz e Sousa) Claro incenso aromal, límpido e leve,
Ondas nevoentas de visões levanta...
Assinale a afirmativa IMPROCEDENTE com
relação ao texto. E as ânsias e desejos infinitos
a) Refere-se ao fazer poético. Vão com os arcanjos formulando ritos
b) Expressa sentimentos mais profundos. Da eternidade que nos astros canta...
c) Apresenta elementos sensoriais relativos a
A respeito do poema, é correto afirmar que:
som e cor.
a) o poeta idealiza seus desejos, projetando-os
d) Apresenta musicalidade marcada pelos es-
para uma instância inatingível.
quemas rítmico e rímico.
b) o poema emprega descrições nítidas que ga-
e) Há equilíbrio na utilização de metáforas.
rantem uma compreensão exata dos versos.
3. (UPF) Leia as seguintes afirmações sobre os c) o poeta expõe a sua avaliação sobre a reali-
períodos literários e assinale com V as ver- dade objetiva, utilizando imagens da natu-
dadeiras e com F as falsas. reza em linguagem precisa e direta.
( ) A arte literária barroca emprega figuras d) o poema, em forma de epigrama, traduz uma
de linguagem que indicam oposições, visão materialista do amor e da sensualidade.
evidenciando a presença de um homem e) se trata da descrição de fantasias e aluci-
dividido entre as coisas celestes e as nações apresentadas nos moldes de ficção
coisas terrenas, ou seja, um conflito científica.

298
5. (PUC-RS) Leia o poema “Encarnação”. 7. (UFPA) “CREPUSCULAR”
Carnais, sejam carnais tantos desejos, Há no ambiente um murmúrio de queixume,
carnais, sejam carnais tantos anseios, De desejos de amor, dais comprimidos...
palpitações e frêmitos e enleios, Uma ternura esparsa de balidos,
das harpas da emoção tantos arpejos... Sente-se esmorecer como um perfume.
Sonhos, que vão, por trêmulos adejos, As madressilvas murcham nos silvados
à noite, ao luar, intumescer os seios E o aroma que exalam pelo espaço,
láteos, de finos e azulados veios
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
de virgindade, de pudor, de pejos...
Nervosos, femininos, delicados.
Sejam carnais todos os sonhos brumos
Sentem-se espasmos, agonias dave,
de estranhos, vagos, estrelados rumos
Inapreensíveis, mínimas, serenas...
onde as Visões do amor dormem geladas...
Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
Sonhos, palpitações, desejos e ânsias O meu olhar no teu olhar suave.
formem, com claridades e fragrâncias,
a encarnação das lívidas Amadas! As tuas mãos tão brancas danemia...
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
Com base no poema e em seu contexto, afir- É este enlanguescer da natureza,
ma-se: Este vago sofrer do fim do dia.
I. A atmosfera onírica, a sugestão através
de símbo­los, a musicalidade das palavras Camilo Pessanha é considerado o expoente
por meio da alite­ração são características máximo da poesia simbolista portuguesa. Os
que permitem associar o poema à escola seus versos reúnem o que há de mais mar-
simbolista. cante nesse estilo de época por traduzirem
II. O eu lírico, em tom quase de súplica, am- sugestões, imagens visuais, sonoras e esta-
biciona a concretização daquilo que pen- dos de alma, além de notória ausência de
sa e deseja. elementos que se detenham em descrição ou
III. O autor do poema também escreveu as
em referência objetiva.
obras Missal e Broquéis. Seu nome é Al-
phonsus de Guimaraens. É correto afirmar que os versos do soneto
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são “Crepuscular” transcritos nas opções, a se-
a) I, apenas. guir, traduzem as considerações postas nes-
b) III, apenas. ses comentários, com exceção de:
c) I e II, apenas. a) “Uma ternura esparsa de balidos,”
d) II e III, apenas. b) “As madressilvas murcham nos silvados”
e) I, II e III. c) “É este enlanguescer da natureza,”
d) “Há no ambiente um murmúrio de queixume,”
6. (ITA) O poema abaixo traz a seguinte carac- e) “Este vago sofrer do fim do dia.”
terística da escola literária em que se insere:
Violões que Choram... 8. (UEPA) Respirando os ares da modernida-
Cruz e Sousa
de literária, a estética simbolista revela-se
uma reação artística à referencialidade que
Ah! plangentes violões dormentes, mornos, violentamente restringe a palavra poética ao
soluços ao luar, choros ao vento... mundo das coisas e conceitos. No intuito de
Tristes perfis, os mais vagos contornos, libertar a linguagem poética, o Simbolismo
bocas murmurejantes de lamento. explora diversos recursos sensoriais a fim de
sugerir mistérios. Simbolista, Alphonsus de
Noites de além, remotas, que eu recordo, Guimaraens escreve muitos textos que ape-
noites de solidão, noites remotas lam para o símbolo visual, a imagem, carre-
que nos azuis da Fantasia bordo, gado de insinuações de misticismo e morte.
vou constelando de visões ignotas. Marque a alternativa cujos versos se relacio-
nam ao comentário acima.
Sutis palpitações à luz da lua,
a) Queimando a carne como brasas,
anseio dos momentos mais saudosos,
Venham as tentações daninhas,
quando lá choram na deserta rua
Que eu lhes porei, bem sob as asas,
as cordas vivas dos violões chorosos. A alma cheia de ladainhas.
[...] b) Quando Ismália enlouqueceu,
a) tendência à morbidez. Pôs-se na torre a sonhar...
b) lirismo sentimental e intimista. Viu uma lua no céu,
c) precisão vocabular e economia verbal. Viu outra lua no mar.
d) depuração formal e destaque para a sensua- c) Encontrei-te. Era o mês... Que importa o
lidade feminina. mês? agosto,
e) registro da realidade através da percepção Setembro, outubro, maio, abril, janeiro ou
sensorial do poeta. março,

299
Brilhasse o luar, que importa? ou fosse o sol E apesar disso, crês? nunca pensei num lar
já posto, Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
No teu olhar todo o meu sonho andava esparso. Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
d) Lua eterna que não tiveste fases, E nunca te escrevi nenhuns versos român-
Cintilas branca, imaculada brilhas, ticos.
E poeiras de astros nas sandálias trazes...
Nem depois de acordar te procurei no leito,
e) Venham as aves agoireiras,
De risada que esfria os ossos... Como a esposa sensual do Cântico dos Cân-
Minh’alma, cheia de caveiras, ticos.
Está branca de padre-nossos. Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
9. (UESC) Ah! lilásis de Ângelus harmoniosos,
Que me penetra bem, como este sol de In-
Neblinas vesperais, crepusculares,
verno.
Guslas gementes, bandolins saudosos,
Plangências magoadíssimas dos ares... Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Serenidades etereais d‘incensos, Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
De salmos evangélicos, sagrados, Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Saltérios, harpas dos Azuis imensos, Eu não sei se é amor. Será talvez começo.
Névoas de céus espiritualizados. Eu não sei que mudança a minha alma pres-
[...] sente...
É nas horas dos Ângelus, nas horas Amor não sei se o é, mas sei que te estre-
Do claro-escuro emocional aéreo, meço,
Que surges, Flor do Sol, entre as sonoras Que adoecia talvez de te saber doente.
Ondulações e brumas do Mistério. (PESSANHA, Camilo. Clepsidra. São Paulo: Núcleo, 1989.)
[...]
Apareces por sonhos neblinantes
Com requintes de graça e nervosismos, 1
0. (Fatec) No poema, o eu lírico demonstra que
fulgores flavos de festins flamantes, a) apresenta uma atração explicitamente física
como a Estrela Polar dos Simbolismos. e carnal pela pessoa citada.
CRUZ e SOUSA, João da. Broquéis. Obra completa.
b) possui plena antipatia por versos românti-
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 90.
cos, pois a razão realista é o que o move.
Marque V ou F, conforme sejam as afirmati- c) resiste à mudança que sua alma imagina,
vas verdadeiras ou falsas. Os versos de Cruz pois ele não dá espaço para sentimentos.
e Sousa traduzem a estética simbolista, pois d) procura abrigo quando já está curado, pen-
apresentam sando em não ser um devedor à pessoa ama-
( ) descrição sintética do mundo imediato. da.
( ) uso de recursos estilísticos criando ima- e) possui várias dúvidas a respeito de seu sen-
gens sensoriais. timento, o qual apresenta uma série de con-
( ) enfoque de uma realidade transfigura-
tradições.
da pelo transcendente.
( ) apreensão de um dado da realidade su-
gestivamente ambígua.
( ) imagens poéticas que tematizam o amor E.O. Complementar
em sua dimensão física.
A alternativa que contém a sequência corre- TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES
ta, de cima para baixo, é a:
a) F V V V F ISMÁLIA
b) V F F V F
c) V F V V F Quando Ismália enlouqueceu,
d) V F V F F Pôs-se na torre a sonhar...
e) V F V F V Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
No sonho em que se perdeu,
Leia o poema de Camilo Pessanha para res-
Banhou-se toda em luar...
ponder à(s) questão(ões) a seguir.
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
INTERROGAÇÃO
E, no desvario seu,
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar, Na torre pôs-se a cantar...
Se alguma dor me fere, em busca de um abri- Estava perto do céu,
go; Estava longe do mar...

300
E como um anjo pendeu 4. (UFV) Considere as alternativas abaixo, re-
As asas para voar... lativas ao Simbolismo:
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar... I. No plano temático, o Simbolismo foi mar-
cado pelo mistério e pela inquietação
As asas que Deus lhe deu mística com problemas transcendentais
Ruflaram de par em par... do homem. No plano formal, caracteri-
Sua alma subiu ao céu, zou-se pela musicalidade e certa quebra
Seu corpo desceu ao mar... no ritmo do verso, precursora do verso
(Alphonsus de Guimaraens) livre do modernismo.
II. O Simbolismo, surgido contemporane-
1. Relacione o poema Ismália a estes versos de
amente ao materialismo cientificista,
Carlos Drummond de Andrade:
enquanto atitude de espírito, passou ao
Não serei o poeta de um mundo caduco.
largo dos maiores problemas da vida na-
Também não cantarei o mundo futuro.
cional. Já a literatura realista-naturalista
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
acompanhou fielmente os modos de pen-
Estão taciturnos mas nutrem grandes espe- sar das gerações que fizeram e viveram a
ranças. Primeira República.
Entre eles, considere a enorme realidade. III. O Simbolismo, com Cruz e Sousa e Al-
O presente é tão grande, não nos afastemos. phonsus de Guimaraens, nossos maiores
Não nos afastemos muito, vamos de mãos poetas do período, legou-nos uma produ-
dadas ção poética que se caracterizou pela bus-
É correto afirmar que ca da “arte em arte”, isto é, uma preocu-
a) ambos colocam em destaque o tema da loucura. pação com o verso artesanal, friamente
b) apenas os versos de Drummond apresentam moldado. Devido a essa tendência à ob-
a ideia do esvaziamento do “eu”. jetividade na composição, o movimento
c) os poemas se opõem, já que Drummond pro- também se denominou “decadentista”.
põe uma poesia ligada à realidade. Assinale a alternativa CORRETA:
d) ambos retratam a angústia dos seres incom- a) I é falsa; II e III verdadeiras.
preendidos pelos seus companheiros. b) I, II e III são verdadeiras.
e) apenas em Ismália é possível identificar o c) I é verdadeira; II e III, falsas.
desejo de um futuro melhor. d) I e II são verdadeiras: III é falsa.
e) I e III são falsas; II, verdadeira.
2. Coloque V (verdadeiro) ou F (falso) para as
afirmações que seguem.
5. (UFG) Leia o poema de Cruz e Sousa.
( ) Os temas centrais de Ismália, bem mar-
cados nas duas primeiras estrofes, são ACROBATA DA DOR
o amor e a saudade. Gargalha, ri, num riso de tormenta,
( )  Um dos mais significativos poemas Como um palhaço, que desengonçado,
simbolistas, Ismália aborda a dualida- Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de entre corpo e alma. De uma ironia e de uma dor violenta.
( ) A partir de um jogo intertextual, o po-
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
ema de Alphonsus de Guimaraens pa-
Agita os guizos, e convulsionado
rodia o drama de Narciso diante do es-
Salta, “gavroche”, salta, “clown”, varado
pelho.
Pelo estertor dessa agonia lenta...
A sequência correta é:
a) F, V, F. Pedem-te bis e um bis não se despreza!
b) V, V, F. Vamos! retesa os músculos, retesa
c) V, F, F. Nessas macabras piruetas d’aço...
d) F, F, V. E embora caias sobre o chão, fremente,
e) V, F, V. Afogado em teu sangue estuoso e quente,
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.
3. No primeiro verso do poema, o conector ex- SOUSA, Cruz e. “Broquéis, Faróis e Últimos
pressa circunstância de: sonetos”. 2a. ed. reform., São Paulo: Ediouro,
a) condição. 2002. p. 39-40. (Coleção super prestígio).
b) tempo.
Vocabulário:
c) concessão. “gavroche”: garoto de rua que brinca, faz estripulias
d) causa. “clown”: palhaço
e) efeito. estertor: respiração rouca típica dos doentes terminais
estuoso: que ferve, que jorra

301
Uma característica simbolista do poema apre- 3. (PUC-RJ) TEXTO 1
sentado é a:
a) linguagem denotativa na composição poética. O Assinalado
b) biografia do poeta aplicada à ótica analítica. Cruz e Sousa
c) perspectiva fatalista da condição amorosa.
d) exploração de recursos musicais e figurativos.
e) presença de estrangeirismos e de barbarismos Tu és o louco da imortal loucura,
o louco da loucura mais suprema.
A terra é sempre a tua negra algema,
E.O. Dissertativo prende-te nela extrema Desventura.

Mas essa mesma algema de amargura,


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
mas essa mesma Desventura extrema
O ASSINALADO faz que tu’alma suplicando gema
e rebente em estrelas de ternura.
Tu és o louco da imortal loucura,
o louco da loucura mais suprema.
Tu és o Poeta, o grande Assinalado
A terra é sempre a tua negra algema,
que povoas o mundo despovoado,
prende-te nela a extrema Desventura.
de belezas eternas, pouco a pouco.
Mas essa mesma algema de amargura,
mas essa mesma Desventura extrema
Na Natureza prodigiosa e rica
faz que tu’alma suplicando gema
toda a audácia dos nervos justifica
e rebente em estrelas de ternura.
Tu és Poeta, o grande Assinalado os teus espasmos imortais de louco!
que povoas o mundo despovoado,
de belezas eternas, pouco a pouco. Texto 2
Na Natureza prodigiosa e rica
toda a audácia dos nervos justifica Casablanca
os teus espasmos imortais de louco!
(SOUSA, Cruz e. Poesia completa. Florianópolis:
Te acalma, minha loucura!
Fundação Catarinense de Cultura, 1981. p. 135) Veste galochas nos teus cílios tontos e ha-
[bitados!
1. (UFRJ) O título do texto – “O ASSINALADO” Este som de serra de afiar as facas
– remete a uma concepção de poeta que se não chegará nem perto do teu canteiro de
associa, a um só tempo, às correntes estéti- taquicardias...
cas do Simbolismo e do Romantismo. Apre-
sente essa concepção. Estas molas a gemer no quarto ao lado
Roberto Carlos a gemer nas curvas da Bahia
2. (UFG) Leia os fragmentos do poema “Violões O cheiro inebriante dos cabelos na fila em
que choram...”, de Cruz e Sousa. [frente no cinema...
[..]
Vozes veladas, veludosas vozes, As chaminés espumam pros meus olhos
Volúpias dos violões, vozes veladas, As hélices do adeus despertam pros meus
Vagam nos velhos vórtices velozes [olhos
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. Os tamancos e os sinos me acordam depressa
[...] na madrugada feita de binóculos de gávea
Velhinhas quedas e velhinhos quedos, e chuveirinhos de bidê que escuto rígida nos
Cegas, cegos, velhinhas e velhinhos, lençóis de pano
Sepulcros vivos de senis segredos, CESAR, Ana Cristina. A teus pés. São
Eternamente a caminhar sozinhos; Paulo: Brasiliense, 1982, p.60.
[...]
a) Determine as diferenças no emprego da lin-
SOUSA, Cruz e. “Broquéis, Faróis e Últimos
sonetos”. 2a ed. reformulada. São Paulo: Ediouro,
guagem e na concepção formal entre os po-
2002. p. 78 e 81. (Coleção Super Prestígio). emas de Cruz e Sousa e Ana Cristina César.
b) Indique a figura de linguagem presente no
Com base na leitura desses fragmentos, ex- seguinte verso do texto 2: “Os tamancos e
plicite a figura de linguagem predominante os sinos me acordam depressa na madrugada
nas estrofes e explique sua função na estéti- feita de binóculos de gávea”.
ca simbolista.

302
E.O. Enem a) “É um velho paredão, todo gretado,
Roto e negro, a que o tempo uma oferenda
Deixou num cacto em flor ensanguentado
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES E num pouco de musgo em cada fenda.”
b) “Erguido em negro mármor luzidio,
Epígrafe* Portas fechadas, num mistério enorme,
Numa terra de reis, mudo e sombrio,
Murmúrio de água na clepsidra** gotejante, Sono de lendas um palácio dorme.”
Lentas gotas de som no relógio da torre, c) “Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Fio de areia na ampulheta vigilante, Casualmente, uma vez, de um perfumado
Leve sombra azulando a pedra do quadrante*** Contador sobre o mármor luzidio,
Assim se escoa a hora, assim se vive e morre... Entre um leque e o começo de um bordado.”
Homem, que fazes tu? Para que tanta lida, d) “Sobre um trono de mármore sombrio,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta Num templo escuro e ermo e abandonado,
ameaça? Triste como o silêncio e inda mais frio,
Procuremos somente a Beleza, que a vida Um ídolo de gesso está sentado.”
É um punhado infantil de areia ressequida, e) “Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
Um som de água ou de bronze e uma sombra De luares, de neves, de neblinas!...
que passa... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
(Eugênio de Castro. “Antologia pessoal
Incensos dos turíbulos das aras...”
da poesia portuguesa”)

(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 5 QUESTÕES


mais alto; tema.
(**) Clepsidra: relógio de água. Leia o poema do português Eugênio de Cas-
(***) Pedra do quadrante: parte superior de tro (1869-1944) para responder às questões
um relógio a seguir.
de sol.
MÃOS
1. (Enem) A imagem contida em “lentas gotas
de som” (verso 2) é retomada na segunda Mãos de veludo, mãos de mártir e de santa,
estrofe por meio da expressão: o vosso gesto é como um balouçar de palma;
a) tanta ameaça. o vosso gesto chora, o vosso gesto geme, o
b) som de bronze. [vosso gesto canta!
c) punhado de areia.
Mãos de veludo, mãos de mártir e de santa,
d) sombra que passa.
e) somente a Beleza. rolas à volta da negra torre da minh’alma.

2. (Enem) Neste poema, o que leva o poeta a ques- Pálidas mãos, que sois como dois lírios do-
tionar determinadas ações: humanas (versos 6 e [entes,
7) é a: Caridosas Irmãs do hospício da minh’alma,
a) infantilidade do ser humano. O vosso gesto é como um balouçar de palma,
b) destruição da natureza. Pálidas mãos, que sois como dois lírios do-
c) exaltação da violência. [entes...
d) inutilidade do trabalho.
e) brevidade da vida. Mãos afiladas, mãos de insigne formosura,
Mãos de pérola, mãos cor de velho marfim,
Sois dois lenços, ao longe, acenando por
E.O. Objetivas [mim,
Duas velas à flor duma baía escura.
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
Mimo de carne, mãos magrinhas e graciosas,
1. (Unifesp) O Simbolismo é, antes de tudo, Dos meus sonhos de amor, quentes e brandos
antipositivista, antinaturalista e anticienti- [ninhos,
ficista. Com esse movimento, nota-se o des- Divinas mãos que me heis coroado de espi-
pontar de uma poesia nova, que ressuscitava [nhos,
o culto do vago em substituição ao culto da Mas que depois me haveis coroado de rosas!
forma e do descritivo.
(Massaud Moisés. A literatura portuguesa, 1994. Adaptado.)
Afilhadas do luar, mãos de rainha,
Mãos que sois um perpétuo amanhecer,
Considerando esta breve caracterização, as- Alegrai, como dois netinhos, o viver
sinale a alternativa em que se verifica o tre- Da minha alma, velha avó entrevadinha.
cho de um poema simbolista. (Obras poéticas, 1968.)

303
2. (Unesp) Verifica-se certa liberdade métrica 7. (Unifesp) Leia o soneto de Cruz e Sousa.
na construção do poema. Na primeira estro-
Silêncios
fe, tal liberdade comprova-se pela
a) construção do hendecassílabo fora dos rígi- Largos Silêncios interpretativos,
dos modelos clássicos. Adoçados por funda nostalgia,
b) variedade do verso decassílabo e do verso Balada de consolo e simpatia
alexandrino. Que os sentimentos meus torna cativos;
c) presença de um verso com número menor de
sílabas que os alexandrinos. Harmonia de doces lenitivos,
d) desobediência aos padrões de pontuação tra- Sombra, segredo, lágrima, harmonia
dicionais do decassílabo. Da alma serena, da alma fugidia
e) presença de dois versos com número maior Nos seus vagos espasmos sugestivos.
de sílabas que os alexandrinos.
Ó Silêncios! Ó cândidos desmaios,
3. (Unesp) “Alegrai, como dois netinhos, o vi- Vácuos fecundos de celestes raios
ver / Da minha alma, velha avó entrevadi- De sonhos, no mais límpido cortejo...
nha.”
Considerados em seu contexto, tais versos Eu vos sinto os mistérios insondáveis
a) reforçam o modo negativo como o eu lírico Como de estranhos anjos inefáveis
enxerga a si mesmo. O glorioso esplendor de um grande beijo!
b) evidenciam o ressentimento do eu lírico (Cruz e Sousa. Broquéis, Faróis, Últimos Sonetos, 2008.)
contra os familiares.
A análise do soneto revela como tema e re-
c) assinalam uma reaproximação do eu lírico
cursos poéticos, respectivamente:
com a própria família. a) a aura de mistério e de transcendentalida-
d) atestam o esforço do eu lírico de se afastar de suaviza o sofrimento do eu lírico; rimas
da imagem obsessiva das mãos. alternadas e sinestesias se evidenciam nos
e) reafirmam o otimismo manifestado pelo eu versos de redondilha maior.
lírico ao longo do poema. b) o esforço de superação do sofrimento coe-
xiste com o esgotamento das forças do eu
4. (Unesp) A musicalidade, as reiterações, as lírico; assonâncias e metonímias reforçam os
aliterações e a profusão de imagens e me- contrastes das rimas alternadas em versos
livres.
táforas são algumas características formais
c) a religiosidade como forma de superação do
do poema, que apontam para sua filiação ao
sofrimento humano; metáforas e antíteses
movimento reforçam o negativismo da desagregação
a) romântico. existencial nos versos livres.
b) modernista. d) a apresentação da condição existencial do
c) parnasiano. eu lírico, marcada pelo sofrimento, em uma
d) simbolista. abordagem transcendente; assonâncias e
e) neoclássico. aliterações reforçam a sonoridade nos versos
decassílabos.
5. (Unesp) Indique o verso cuja imagem signi- e) o apelo à subjetividade e à espiritualidade
fica “trazer sofrimentos, padecimentos”. denota a conciliação entre o eu lírico e o
a) “O vosso gesto é como um balouçar de pal- mundo; metáforas e sinestesias reforçam o
ma,” sentido de transcendentalidade nos versos
b) “Divinas mãos que me heis coroado de espi- de doze sílabas.
nhos,”
c) “Duas velas à flor duma baía escura.”
d) “Mãos de pérola, mãos cor de velho marfim,”
e) “Sois dois lenços, ao longe, acenando por
E.O. Dissertativas
mim,” (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
6. (Unesp) Na última estrofe do poema, os ter- 1. (Unifesp) Leia o poema.
mos “Afilhadas do luar”, “mãos de rainha” De linho e rosas brancas vais vestido,
e “Mãos que sois um perpétuo amanhecer” sonho virgem que cantas no meu peito!...
funcionam, no período de que fazem parte, És do Luar o claro deus eleito,
como das estrelas puríssimas nascido.
a) orações intercaladas.
b) apostos. Por caminho aromal, enflorescido,
c) adjuntos adverbiais. alvo, sereno, límpido, direito,
d) vocativos. segues radiante, no esplendor perfeito,
e) complementos nominais. no perfeito esplendor indefinido...

304
As aves sonorizam-te o caminho... Carta a Manuel Bandeira, S.Paulo, 28-III-31
E as vestes frescas, do mais puro linho Manú, bom-dia. Amanhã é domingo pé-de-ca-
e as rosas brancas dão-te um ar nevado... chimbo, e levarei sua carta, (isto é vou ainda
No entanto, ó Sonho branco de quermesse! relê-la pra ver si a posso levar tal como está,
Nessa alegria em que tu vais, parece ou não podendo contarei) pra Alcântara com
que vais infantilmente amortalhado! Lolita que também ficarão satisfeitos de sa-
(Cruz e Sousa. Sonho Branco.) ber que você já está mais fagueirinho e o aci-
dente não terá consequência nenhuma. Esse
a) Identifique o movimento literário ao qual caso de você ter medo duma possível doença
está associado o poema, apontando uma ca- comprida e chupando lentamente o que tem
racterística típica dessa tendência.
de perceptível na gente, pro lado lá da morte,
Transcreva um verso ou fragmento do poema
que exemplifique sua resposta. é mesmo um caso sério. Deve ser danado a
b) Liste, de um lado, dois substantivos e, de ou- gente morrer com lentidão, mas em todo caso
tro, quatro adjetivos, dispersos ao longo do sempre me parece inda, não mais danado, mas
poema para criar sua atmosfera luminosa e sem vergonhosamente pueril, a gente morrer
etérea, ao gosto do movimento literário em de repente. Eu jamais que imagino na morte,
que se insere. Identifique os versos que, em creio que você sabe disso. Aboli a morte do
certo momento, criam uma tensão em relação mecanismo da minha vida e embora já esteja
à trajetória pura e vivificante do poema, in- com meus trinta e oito anos, faço projetos pra
troduzindo uma nota sombria em sua atmos- daqui a dez anos, quinze, como si pra mim a
fera. morte não tivesse de “vim”... como todos pro-
nunciam. A ideia da morte desfibra danada-
2. (Unifesp) Leia os versos de Cruz e Sousa. mente a atividade, dá logo vontade da gente
Ó meu Amor, que já morreste, deitar na cama e morrer, irrita. Aboli a noção
Ó meu Amor, que morta estás! de morte prá minha vida e tenho me dado
Lá nessa cova a que desceste bem regularmente com esse pragmatismo
Ó meu Amor, que já morreste, inocente. Mas levado pela sua carta, não sei,
Ah! nunca mais florescerás? mas acho que não me desagradava não me pôr
Ao teu esquálido esqueleto, em contacto com a morte, ver ela de perto, ter
Que tinha outrora de uma flor tempo pra botar os meus trabalhos do mundo
A graça e o encanto do amuleto em ordem que me satisfaça e diante da infalí-
Ao teu esquálido esqueleto vel vencedora, regularizar pra com Deus o que
Não voltará novo esplendor? em mim sobrar de inútil pro mundo.
a) Identifique no poema dois aspectos que re- (MÁRIO DE ANDRADE. Cartas de Mário de
metem ao Romantismo. Andrade a Manuel Bandeira. Rio de Janeiro:
b) Exemplifique, valendo-se de elementos tex- Organização Simões, 1958, p. 269-270.)
tuais, por que, em certa medida, os poetas
simbolistas, como Cruz e Souza, se aproxi- 3. (Unesp) Os dois textos apresentados focali-
mam dos parnasianos. zam, sob pontos de vista distintos, a relação
entre a vida e a morte ou entre a vida e a
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES eternidade. Releia atentamente o soneto de
Cruz e Sousa e, partindo do pressuposto de
ALMA FATIGADA que o Simbolismo brasileiro desenvolveu e
ampliou algumas características do Roman-
Nem dormir nem morrer na fria Eternidade! tismo, identifique no desenvolvimento do
mas repousar um pouco e repousar um tanto, conteúdo do soneto, sobretudo no desejo
os olhos enxugar das convulsões do pranto, manifestado nos últimos três versos, uma
enxugar e sentir a ideal serenidade. característica típica do Romantismo.
A graça do consolo e da tranquilidade
de um céu de carinhoso e perfumado encanto, 4. (Unesp) Tomando por base o soneto como um
mas sem nenhum carnal e mórbido quebranto, todo e considerando que Cruz e Sousa foi um
sem o tédio senil da vã perpetuidade. poeta simbolista, aponte a relação de sentido
que há entre os termos “carnal” (sétimo ver-
Um sonho lirial d’estrelas desoladas,
so) e “argilas” (décimo quarto verso).
onde as almas febris, exaustas, fatigadas
possam se recordar e repousar tranquilas!
Um descanso de Amor, de celestes miragens,
onde eu goze outra luz de místicas paisagens
e nunca mais pressinta o remexer de argilas!
(CRUZ E SOUSA. Obra completa. Rio de Janeiro:
Editora José Aguilar, 1961, p. 191-192.)

305
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Descamba o sol nas púrpuras do ocaso.
As rosas morrem. Como é triste aqui!
O Estilo O fado incerto, os vendavais do acaso...
Marulha o pranto pelas faces. I.
O estilo é o sol da escrita. Dá-lhe eterna pal-
pitação, eterna vida. Cada palavra é como A noite tomba. O outono chega. As flores
que um tecido do organismo do período. No Penderam murchas. Tudo, tudo é pó.
estilo há todas as gradações da luz, toda a Não mais beijos de amor, não mais amores...
escala dos sons. Ó sons de sinos a finados! O.
O escritor é psicólogo, é miniaturista, é pin- Abre-se a cova. Lutulenta e lenta,
tor - gradua a luz, tonaliza, esbate e esfumi- A morte vem. Consoladora és tu!
nha os longes da paisagem. Sudários rotos na mansão poeirenta...
O princípio fundamental da Arte vem da Na- Crânios e tíbias de defunto. U.
tureza, porque um artista faz-se da Nature- In: GUIMARAENS, Alphonsus de. Obra Completa.
za. Toda a força e toda a profundidade do Rio de Janeiro: Aguilar, 1960. p. 506.
estilo está em saber apertar a frase no pulso,
domá-la, não a deixar disparar pelos mean- 6. (Unesp) No poema A E I O U, as vogais que
dros da escrita. encerram cada uma das cinco estrofes são uti-
O vocábulo pode ser música ou pode ser tro- lizadas não apenas para efeito de rima, mas
vão, conforme o caso. A palavra tem a sua para assumir valores simbólicos em relação às
anatomia; e é preciso uma rara percepção fases da vida do homem descritas em cada es-
estética, uma nitidez visual, olfativa, palatal trofe. Releia o poema e, a seguir, aponte:
e acústica, apuradíssima, para a exatidão da a) O valor simbólico que A e U apresentam, res-
cor, da forma e para a sensação do som e do pectivamente, na primeira e na última estrofes.
sabor da palavra. b) Uma característica da poética do Simbolismo
(ln: CRUZ E SOUSA. Obra completa. Outras evocações.
que explique esse efeito buscado e obtido
Rio de Janeiro: Aguilar, 1961, p. 677-8.) pelo poeta.

5. (Unesp) Quando um jornalista diz “Edmun- TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES
do foi um leão em campo”, serviu-se de uma
As questões a seguir tomam por base um tex-
metáfora: a palavra “leão”, com base numa
to do poeta simbolista brasileiro Alphonsus
relação analógica ou de semelhança, foi em-
de Guimaraens (1870-1921).
pregada, segundo se diz tradicionalmente,
em “sentido figurado”. Uma amplificação ERAS A SOMBRA DO POENTE
desse procedimento consiste na alegoria,
isto é, no uso de uma série de metáforas Eras a sombra do poente
concatenadas sintática e semanticamente. Em calmarias bem calmas;
A possível cassação de um político desones- E no ermo agreste, silente,
to pode ser assim relatada, alegoricamente: Palmeira cheia de palmas.
“Esse homem público navega em mar tem-
Eras a canção de outrora,
pestuoso e seu barco pode naufragar antes
Por entre nuvens de prece;
mesmo de avistar o porto.” Fundamentan- Palidez que ao longe cora
do-se nestes conceitos e exemplos, aponte E beijo que aos lábios desce.
a metáfora que ocorre na primeira frase do
texto de Cruz e Sousa; Eras a harmonia esparsa
Em violas e violoncelos:
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO E como um voo de garça
Em solitários castelos.
AEIOU Eras tudo, tudo quanto
Manhã de primavera. Quem não pensa De suave esperança existe;
Em doce amor, e quem não amará? Manto dos pobres e manto
Começa a vida. A luz do céu é imensa... Com que as chagas me cobriste.
A adolescência é toda sonhos. A. Eras o Cordeiro, a Pomba,
O luar erra nas almas. Continua A crença que o amor renova...
O mesmo sonho e oiro, a mesma fé. És agora a cruz que tomba
Olhos que vemos sob a luz da lua... À beira da tua cova.
(“Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte”, 1923.
A mocidade é toda lírios. E. In: GUIMARAENS, Alphonsus de. POESIAS - I.
Rio de Janeiro: Org. Simões, 1955, p. 284.)

306
7. (Unesp) O texto em pauta, de Alphonsus Nem toda a frase em toda a língua ajusta.
de Guimaraens, apresenta nítidas caracte- Ponde um belo nariz, alvo de neve,
rísticas do simbolismo literário brasileiro. Numa formosa cara trigueirinha
Releia-o com atenção e, a seguir, (Trigueiras há, que às louras se avantajam):
a) aponte duas características tipicamente sim- O nariz alvo, no moreno rosto,
bolistas do poema; Tanto não é beleza, que é defeito.
b) com base em elementos do texto, comprove Nunca nariz francês na lusa cara,
sua resposta. Que é filha da latina, e só latinas
Feições lhe quadram. São feições parentas.
8. (Unesp) A reiteração é um procedimento (ln: ELÍSIO, Filinto. Poesias. Lisboa: Livraria
que, aplicado a diferentes níveis do discur- Sá da Costa-Editora, 1941, p. 44 e 51.)
so, permite ao poeta obter efeitos de musi-
O Estilo
calidade e ênfase semântica. Para tanto, o
escritor pode reiterar fonemas (aliterações, O estilo é o sol da escrita. Dá-lhe eterna pal-
assonâncias, rimas), vocábulos, versos, es- pitação, eterna vida. Cada palavra é como
trofes, ou, pelo processo denominado “para- que um tecido do organismo do período. No
lelismo”, retomar mesmas estruturas sintá- estilo há todas as gradações da luz, toda a
ticas de frases, repetindo alguns elementos escala dos sons.
e fazendo variar outros. Tendo em vista estas O escritor é psicólogo, é miniaturista, é pin-
observações, tor - gradua a luz, tonaliza, esbate e esfumi-
a) identifique no poema de Alphonsus um des- nha os longes da paisagem.
ses procedimentos. O princípio fundamental da Arte vem da Na-
b) servindo-se de uma passagem do texto, de- tureza, porque um artista faz-se da Nature-
monstre o processo de reiteração que você za. Toda a força e toda a profundidade do
identificou no item a. estilo está em saber apertar a frase no pulso,
domá-la, não a deixar disparar pelos mean-
dros da escrita.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO O vocábulo pode ser música ou pode ser tro-
vão, conforme o caso. A palavra tem a sua
As questões seguintes tomam por base um anatomia; e é preciso uma rara percepção
fragmento do poema Em Defesa da Língua, estética, uma nitidez visual, olfativa, palatal
do poeta neoclássico português Filinto Elísio e acústica, apuradíssima, para a exatidão da
(1734-1819), uma passagem de um texto em cor, da forma e para a sensação do som e do
prosa do poeta simbolista brasileiro Cruz e sabor da palavra.
(ln: CRUZ E SOUSA. Obra completa. Outras evocações.
Souza (1861-1898) e uma passagem de um
Rio de Janeiro: Aguilar, 1961, p. 677-8.)
texto em prosa do poeta modernista brasilei-
ro Tasso da Silveira (1895-1968). Técnicas
EM DEFESA DA LÍNGUA
A técnica artística, incluindo a literatura, se
Lede, que é tempo, os clássicos honrados; constitui, de começo, de um conjunto de nor-
Herdai seus bens, herdai essas conquistas, mas objetivas, extraídas da longa experiên-
Que em reinos dos romanos e dos gregos cia, do trato milenário com os materiais mais
Com indefesso estudo conseguiram. diversos. Depois que se integra na consciên-
Vereis então que garbo, que facúndia cia e no instinto, na inteligência e nos nervos
Orna o verso gentil, quanto sem eles do artista, sofre profunda transfiguração. O
É delambido e peco o pobre verso. artista “assimilou-a” totalmente, o que sig-
............................................................... nifica que a transformou, a essa técnica, em
Abra-se a antiga, veneranda fonte si mesmo. Quase se poderia dizer que subs-
Dos genuínos clássicos e soltem-se tituiu essa técnica por outra que, tendo nas-
As correntes da antiga, sã linguagem. cido embora da primeira, é a técnica perso-
Rompam-se as minas gregas e latinas nalíssima, seu instrumento de comunicação e
(Não cesso de o dizer, porque é urgente); de transfiguração da matéria. Só aí adquiriu
Cavemos a facúndia, que abasteça seu gesto criador a autonomia necessária, a
Nossa prosa eloquente e culto verso. força imperativa com que ele se assenhoreia
Sacudamos das falas, dos escritos do mistério da beleza para transfundi-lo em
Toda a frase estrangeira e frandulagem formas no mármore, na linha, no colorido, na
Dessa tinha, que comichona afeia linguagem.
O gesto airoso do idioma luso. A técnica de cada artista fica sendo, desta ma-
Quero dar, que em francês hajam formosas neira, não um “processo”, um elemento exte-
Expressões, curtas frases elegantes; rior, mas a substância mesma de sua origina-
Mas índoles diferentes têm as línguas; lidade. Inútil lembrar que tal personalíssima

307
técnica se gera do encontro da luta do artista do dono da casa por charutos, lírios e velas,
com o material que trabalha. espalhados pelos ambientes sociais. Sobre o
(ln: SILVEIRA, Tasso da. Diálogo com as raízes (jornal de fim fundo branco do piso e dos sofás, surgem os
de caminhada). Salvador: Edições GRD-INL, 1971, p, 23.) toques de cores vivas nas paredes e nos ob-
jetos. “Percebi que a personalidade do meu
9. (Unesp) Ao abordar o estilo em literatura, cliente é forte. Não tinha nada a ver usar
Cruz e Sousa acaba conceituando-o com base tons suaves”, diz Nesa César, a profissional
em alguns pressupostos da própria poética escolhida para fazer a decoração.
do Simbolismo. Com base nesta observação, Quando o dia está bonito, sair para a varan-
a) aponte um fundamento do movimento sim- da é expor-se a um banho de sol, pois o piso
bolista presente na argumentação do poeta; claro reflete a luz. O espaço resgata um pe-
b) interprete, em função do contexto, o que daço do Mediterrâneo, com móveis brancos e
quer dizer o poeta com a frase: “O escritor é paredes azuis. “Parece a Grécia”, diz a filha
psicólogo, é miniaturista, é pintor - gradua do proprietário. Ele, um publicitário carioca
a luz, tonaliza, esbate e esfuminha os longes que adora sol e festa, acredita que a alma do
da paisagem.” apartamento está ali.
(MEDEIROS, Edson G. & PATRÍCIO, Patrícia. A alma do
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO apartamento mora na varanda. ln: Casa Cláudia. São
Paulo, Editora Abril, nº. 4, ano 23, abril/99, p. 69-70.)

As questões a seguir se baseiam no soneto Saudosa Maloca


Solar Encantado, do poeta parnasiano Ví-
tor Silva (1865-1922), num fragmento de Se o sinhô não tá lembrado,
uma reportagem da revista “Casa Cláudia” Dá licença de contá
(abril/1999) e na letra do samba Saudosa Que aqui onde agora está
Maloca, de Adoniran Barbosa (1910-1982). Esse adifício arto
Era uma casa veia,
Solar Encantado Um palacete assobradado.
Foi aqui, “seu” moço,
Só, dominando no alto a alpestre serrania, Que eu, Mato Grosso e o Joca
Entre alcantis, e ao pé de um rio majestoso, Construímos nossa maloca
Dorme quedo na névoa o solar misterioso, Mais, um dia,
Encerrado no horror de uma lenda sombria. - Nóis nem pode se alembrá -,
Ouve-se à noite, em torno, um clamor lamen- Veio os homens c’as ferramentas,
toso, O dono mandô derrubá.
Piam aves de agouro, estruge a ventania,
E brilhando no chão por sobre a seiva fria, Peguemos todas nossas coisas
Correm chamas sutis de um fulgor nebuloso. E fumos pro meio da rua
Preciá a demolição
Dentro um luxo funéreo. O silêncio por Que tristeza que nóis sentia
tudo... Cada tauba que caía
Apenas, alta noite, uma sombra de leve Duía no coração
Agita-se a tremer nas trevas de veludo... Mato Grosso quis gritá
Mais em cima eu falei:
Ouve-se, acaso, então, vaguíssimo suspiro, Os homens tá c’a razão,
E na sala, espalhando um clarão cor de neve, Nóis arranja otro lugá.
Resvala como um sopro o vulto de um vam- Só se conformemos quando o Joca falô:
piro. “Deus dá o frio conforme o cobertô”.
(SILVA, Vítor. ln: RAMOS, P.E. da Silva. Poesia parnasiana E hoje nóis pega paia nas gramas do jardim
- antologia. São Paulo: Melhoramentos, 1967, p. 245.) E p’ra esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida, dim, dim,
A Alma do Apartamento Mora na Varanda
Donde nóis passemos dias feliz de nossa
vida.
No terraço de 128 m2, a família toma sol, re- (BARBOSA, Adoniran. ln: Demônios de Garoa - Trem das 11.
cebe amigos para festas e curte a vista dos CD 903179209-2, Continental-Warner Music Brasil, 1995.)
Jardins, em São Paulo. Os espaços generosos
deste apartamento dos anos 50 recebem luz 1
0. (Unesp) Tendo em mente que Vítor Silva foi
e brisa constantes graças às grandes janelas. poeta parnasiano quando o Simbolismo ou
Os aromas desse apartamento de 445 m2 de- Decadentismo já começava a ser exercitado
nunciam que ele vive os primeiros dias: o em nosso país, e por isso recebeu algumas
ar recende a pintura fresca. Basta apurar o influências do novo movimento, leia o poe-
olfato para também descobrir a predileção ma “Solar Encantado” e, em seguida,

308
a) mencione duas características tipicamente
parnasianas do poema;
E.O. Enem
b) identifique elementos do poema que denun- 1
. B 2
. E
ciam certa influência simbolista

E.O. Objetivas
Gabarito (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1
. E 2
. E 3
. A 4
. D 5
. B
E.O. Aprendizagem 6
. D 7
. D
1
. A 2
. E 3
. C 4
. E 5
. E
6
. D 7
. A 8
. B 9
. C 1
0. A
E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
E.O. Fixação 1.
a) O poema “Sonho Branco” pertence ao
1
. E 2
. E 3. C 4
. A 5. C Simbolismo. O poeta Cruz e Sousa utili-
6
. E 7
. B 8
. E 9
. A 10. E za vários recursos, como a musicalidade
e a sinestesia, duas características pró-
prias desse movimento. A temática da
dor inerente ao eu-lírico justifica a fuga
E.O. Complementar da realidade para o mundo transcendente,
1
. C 2
. A 3
. B 4
. D 5
. D simbolizada na figura do sonho feliz (És
do Luar o claro deus eleito, /das estrelas
puríssimas nascido”) que caminha para a
E.O. Dissertativo morte: “ó Sonho branco de quermesse! /
1.
A concepção de poeta que se refere ao Sim- Nessa alegria em que tu vais, parece/que
bolismo e ao Romantismo é a de um ser di- vais infantilmente amortalhado!”. É recor-
vino, ou melhor dizendo, de um gênio, uma rente também o uso de aliterações ( “vais
espécie de ser eleito entre outros com a ca- vestido,/ sonho virgem que cantas no meu
pacidade de indicar à humanidade aquilo peito”), assonâncias (“rosas brancas dão-
que não se percebe. -te um ar nevado”) e as rimas com esque-
2.
A principal figura de linguagem encontrada ma (abba abba ccd eed) que dão sonori-
dade ao poema. A integração associativa
nos fragmentos do poema “Violões que cho-
entre cores, perfumes e sons instrumen-
ram...” de Cruz e Souza é a aliteração. Atra-
talizam-se como recursos da evocação po-
vés dessa figura de linguagem, que repete as
ética simbolista, ampliando o significado
mesmas consoantes em todas as palavras, in-
usual das palavras através de sinestesias
tensifica-se o caráter musical (fonético) dos
(“caminho aromal, enflorescido”,” As
versos, criando um efeito sugestivo daquilo
aves sonorizam-te o caminho”).
que se descreve, típico dos poetas simbolistas.
b) Os substantivos “linho” e “rosas” apare-
3. cem mais de uma vez no decorrer do po-
a) A leitura comparativa dos textos 1 e 2 ema, assim como os adjetivos “brancas”,
mostra diferenças significativas entre “alvo” “puro” e “límpido” metaforizando
ambos. Em termos de utilização da lin- a ideia de sonho. A locução adversativa
guagem e concepção formal, pode-se afir- “No entanto”, por sua vez, que dá início
mar que o texto 1 privilegia a linguagem ao último terceto do soneto, e o termo
formal, a dicção grandiloquente e o uso “amortalhado”, que finaliza o poema, ex-
de formas fixas (o soneto), de versos pressam um corte no caminho de sonhos
metrificados (decassílabos) e de um es- do eu lírico, feliz e esperançosa, para co-
quema regular e simétrico de rimas. Ana locar a sensação negativa de que o mundo
Cristina César concebe o seu poema num onírico é ilusório e que não vai se realizar.
campo formal e linguístico completamen- 2.
te diferente. Podem-se observar no tex- a) A temática do amor e da morte, como dois
to 2 a utilização de um vocabulário mais polos inerentes à subjetividade do eu lí-
próximo da coloquialidade e a opção pela rico com relação a sua amada, são dois te-
liberdade formal, confirmada pelo uso mas presentes nesse poema que se apro-
dos versos livres e brancos. ximam do que retratava o Romantismo,
b) Personificação (prosopopeia), metáfora já que neste, muitas vezes, os poetas bus-
ou metonímia. cavam colocar em seus poemas a morte

309
como única solução para o amor que não extremo de uma total abertura, vogal A e
se conseguia alcançar. sua entonação aberta, ao fechamento to-
b) Neste poema, vemos a formalidade típi- tal por meio da morte com a vogal U.
ca dos parnasianos. Ao utilizar rimas no 7
final de cada verso, como demonstram os a) Musicalidade e misticismo religioso.
versos “Ó meu Amor, que já morreste” e b) Musicalidade: aliterações e assonâncias
“Lá nessa cova a que desceste” notamos a “Eras a sombra do poente”.
preocupação formal com a rima, pois isso Misticismo religioso: POMBA e CORDEIRO
ajuda na musicalidade própria dos poe- que são metáforas bíblicas.
mas simbolistas. Isso pode ser explicado 8.
pelo fato de que a formação de Cruz e a) Uma das figuras de linguagem que se en-
Sousa foi parnasiana e, mesmo sendo um contra no poema é a anáfora, que consis-
representante do Simbolismo, ainda con- te na repetição de uma mesma palavra ao
servava características do Parnasianismo. início dos versos
3.
O soneto “Alma fatigada”, retrata o senti-
b) O processo da anáfora pode ser encontra-
mento da estética do Romantismo (2a gera-
do nos seguintes versos: “Eras a canção
ção) ao mostrar que a solução aos tormentos
de outrora”/ “Eras a harmonia esparsa”/
do eu lírico que está no mundo, nele dese-
“Eras tudo, tudo quanto”, nos quais ve-
jando algumas coisas, como o amor de sua
mos a palavra “eras” sendo reiterada ao
amada, é a morte, pois essa aparece sempre
como a solução, como o descanso eterno da- início de cada verso, sugerindo os atribu-
quilo que em vida não se pode alcançar e que tos da amada morta, chegando à sublima-
é o motivo de tantas desventuras. Por isso, ção mística da mulher que é relacionada
por retratar o alívio que a morte pode trazer com o “Cordeiro” e a “Pomba”.
a essa “alma fatigada”, é que o poema de 9.
Cruz e Sousa se aproxima do Romantismo. a) O texto de Cruz e Sousa explicita duas
4.
A analogia entre os termos “carnal” e “argi- características notórias do simbolismo: a
las” remete ao universo material, associado musicalidade e o “cruzamento de sensa-
à morbidez e à dor. Essa analogia opõe-se ções”, a sinestesia. A exploração das pro-
ao mundo do sonho que os simbolistas evo- priedades sonoras da palavra, o trabalho
cam em seus poemas, pois nela encontra-se com a harmonia musical, através do em-
a realidade crua, enquanto que no sonho, a prego intensivo de aliterações, colitera-
realidade é imbuída daquilo que esses poe- ções, ecos, assonâncias é o que resulta da
tas acreditam ser o mundo ideal, pois nele proposta: “O vocábulo pode ser música ou
podem encontrar “outra luz de místicas pai- pode ser trovão, conforme o caso”, dentro
sagens”. da concepção simbolista que se entronca
5.
Em “O estilo é o sol da escrita”, sol está em- na tradição verlaineana da “Ia musique
pregado metaforicamente. A frase mostra avant toute chose.” A exploração intensi-
aproximação entre estilo e sol, pois o estilo va das sinestesias, das sensações simultâ-
seria para a escrita, assim como o sol para o neas, harmonizadas no mesmo ato da lin-
mundo, a fonte de “eterna palpitação, eter- guagem, fica evidente na passagem: “e é
na vida”. preciso uma rara percepção estética, uma
6. nitidez visual, olfativa palatal e acústica,
a) A vogal A simboliza a adolescência (“A apuradíssima, para a exatidão da cor da
adolescência é toda de sonhos”), o des- forma e para a sensação do som e do sa-
pertar da vida amorosa (“Quem não pen- ber da palavra” dentro da “teoria das cor-
sa em doce amor”) e sugere, através da respondências” que Baudelaire postulava
entonação da vogal A, o vigor da vida na no célebre soneto “Correspondences”.
fase da adolescência, onde se sonha mui- Cruz e Souza alude ainda à “percepção
to com aquilo que há de vir. A vogal U, estética”, colocando-se além do sensoria-
ao contrário, é tudo aquilo que a vogal lismo positivista, que informou a estética
A não sugere: é a vida que se extingue realista.
diante da morte (“Morre em u”), da qual b) Ao relacionar ao escritor os atributos do
todos os sonhos da adolescência ou foram “psicólogo”, voltado para o conhecimento
concretizados ou abandonados, não pos- da alma, da “psiquê” humana, do artesão
sibilitando ao sujeito sonhá-los de novo. (“miniaturista”) e do “pintor”, Cruz e
b) Há a presença da musicalidade. As vogais Souza postula que a arte deve ser a trans-
vão produzindo do A ao U a cadência, ou figuração, a (re)criação da natureza, na
seja, o ritmo da vida à morte, do vigor qual o escritor infunde seu estilo, conce-
da juventude ao desfalecimento da vida bido mais como disciplina (“saber aper-
que se extingue. Enfim, há um som que tar a frase no pulso, domá-la, não a deixar
se entoa através dessas vozes que vai do disparar pelos meandros da escrita”) do

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que como impulso, o que revela o débito
do poeta para com a preceptiva clássico-
-parnasiana, e o quanto ele se afastou da
vertente mais “delirante” e neoromânti-
ca do simbolismo.
Parafraseando: o poeta (à maneira dos
pintores impressionistas) gradua a luz,
esbate as formas e transfigura artistica-
mente a paisagem.
Vale observar que a teoria poética de Cruz
e Sousa, expressa no fragmento transcri-
to e ratificada em muitas outras de sua
autoria, é uma mescla “sui generis” da
teoria simbolista com a formação cientí-
fica de base naturalista e com o formalis-
mo residual dos parnasianos. “Cada pala-
vra é como que um tecido do organismo
do período” - é notória a aproximação en-
tre linguagem e biologia: a palavra está
para o período como o tecido está para
o organismo. O parentesco com o parna-
sianismo está na reafirmação da poesia
como fruto da elaboração, do esforço
intelectual do “saber apertar a frase no
pulso, domá-la...”, negação explícita da
“poesia-de-inspiração” dos românticos.
10.
a) Características parnasianas: descritivis-
mo minucioso (poesia-pintura); presen-
ça de rimas “ricas” ou antigramaticais
(“serrania”, substantivo/ “sombria”, ad-
jetivo / “ventania”, substantivo / “fria”,
adjetivo; “de leve”, locução adverbial /
“de neve”, locução adjetiva); tentativa de
“chave-de-ouro” para encerrar o soneto
(ver o último verso).
b) Elementos simbolistas: clima de mistério;
imagens e sonoridade sugestivas, gosto
do macabro.

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