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Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclu-
siva metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado.
O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares.
O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de
forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo
complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades.
A seguir, apresentamos cada seção:

INCIDÊNCIA DO TEMA VIVENCIANDO


NAS PRINCIPAIS PROVAS
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu
De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreen-
vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos são de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos
principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras.
o território nacional. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvol-
vida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há
uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações
entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato
em seu dia a dia.
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção
tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques-
tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com-
pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas
que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua- APLICAÇÃO DO CONTEÚDO
dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados
e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem
que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compila-
dos, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e co-
mentados, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difí-
cil compreensão torne-se mais acessível e de bom entendimento
aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever,
a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula.

MULTiMÍDiA
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidado-
sa seleção de conteúdos multimídia para complementar o reper-
tório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreen-
ÁREAS DE
são, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc.
Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o apro- CONHECiMENTO DO ENEM
fundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao
imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o
estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas
de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm,
critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de
Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são
apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva
e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia.
Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resol-
CONEXÃO ENTRE DiSCiPLiNAS vê-las com tranquilidade.

Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela-


borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata
de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não
exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos
conteúdos de cada área, de cada disciplina. DiAGRAMA DE iDEiAS
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran-
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria-
gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão,
mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em
como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Mate-
suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aqueles
mática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com
que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de
essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do
esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas.
dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros,
Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da
sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o aluno consegue
aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos princi-
entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz
pais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organização dos
parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
estudos e até a resolução dos exercícios.

HERLAN FELLiNi
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2021
Todos os direitos reservados.

Autores
Alessandra Alves
Vinicius Gruppo Hilário

Diretor-geral
Herlan Fellini

Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista

Coordenador-geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa


iconográfica
Hexag Sistema de Ensino

Editoração eletrônica
Felipe Lopes Santos
Leticia de Brito Ferreira
Matheus Franco da Silveira

Projeto gráfico e capa


Raphael de Souza Motta

Imagens
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Shutterstock (https://www.shutterstock.com)

ISBN: 978-65-88825-78-5

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com
a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum
texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional,
ficamos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos
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SUMÁRIO

GEOGRAFIA

GEOGRAFIA 1
Aulas 35 e 36: Transportes II 6
Aulas 37 e 38: Urbanização 18
Aulas 39 e 40: Urbanização brasileira 34
Aulas 41 e 42: Fontes de energia I 50
Aulas 43 e 44: Fontes de energia II 61

GEOGRAFIA 2
Aulas 35 e 36: Regiões socioeconômicas mundiais VI: Japão 78
Aulas 37 e 38: Regiões socioeconômicas mundiais VII: Índia e Sudeste Asiático 91
Aulas 39 e 40: Regiões socioeconômicas mundiais VIII: Oriente Médio I 107
Aulas 41 e 42: Regiões socioeconômicas mundiais IX: Oriente Médio II 118
Aulas 43 e 44: Regiões socioeconômicas mundiais X: África 129
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

Geografia agrária, urbanização e indústria são O processo de industrialização é muito cobrado.


três dos temas preferidos do Enem. Atente-se aos Estude a relação da industrialização com o desen-
conflitos fundiários. volvimento dos meios de transportes no Brasil.

A prova relaciona todos os temas, principal- A prova da Unifesp não tem Geografia. A prova cobra muito a questão agrária no
mente a industrialização do Brasil e sua rela- Brasil, principalmente os conflitos fundiários.
ção com as oligarquias agrárias e a relação
disso com o transporte no país. A Unicamp
cobra também o tema da energia e recursos
sustentáveis.

Quase não ocorrem questões relacionadas a Relaciona temas da Geografia agrária com Apresenta temas como conflitos agrários e Cobra conceitos. Estude os tipos de indústria e
este livro. Costuma cobrar temas mais gerais questões ambientais. industrialização do Brasil, por meio de uma os sistemas agrários.
sobre aspectos sociais, e não temas muito perspectiva crítica.
específicos.

UFMG

Cobra bastante urbanização, sobretudo por Cobra, tradicionalmente, questões de Geogra- A prova da CMMG não tem Geografia.
meio da cartografia. fia agrária.

Cobra muito conflitos agrários e o atual Estude os conceitos de Geografia agrária e Atenção às discussões sobre industrialização.
processo de desindustrialização do Brasil. industrialização. Estude os conceitos, tipos de indústria e como
ocorrem no Brasil e no mundo.
GEOGRAFIA 1

5
Contando com 16.782 quilômetros de estradas de ferro
AULAS 35 E 36 em 1905, o Brasil atinge, em 1940, 108.594 quilômetros.
É a região Sudeste – sobretudo Minas Gerais e São Paulo
– que apresenta as maiores expansões e representa, nos
últimos anos, 37,27% do total da rede nacional.
SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil:
território e sociedade no início do século XXI.

TRANSPORTES II 1. Transporte ferroviário


O transporte ferroviário e a Revolução Industrial (século
XVIII) estiveram estritamente ligados. Esse meio de trans-
porte surgiu na Europa, mais precisamente na Inglaterra,
no século XIX, durante a segunda Revolução Industrial. Por
COMPETÊNCIA: 4 volta de 1850, nas proximidades de Londres, as locomo-
tivas a vapor atingiam até 70 km/h, uma velocidade alta
HABILIDADES: 16 e 17 para o desenvolvimento tecnológico daquele momento.
A primeira locomotiva da história pesava 10 toneladas, pu-
xava cinco vagões e carregava 70 passageiros. O primeiro
trecho de ferrovia foi criado em 27 de setembro de 1825,
na Inglaterra. A partir de então, esse meio de transporte espalhou-lhe por todo o mundo.
As locomotivas a vapor eram tocadas a carvão como fonte de energia. Logo após sua implantação, rapidamente essa tecno-
logia espalhou-se para outros lugares do mundo, principalmente para os Estados Unidos.

Locomotiva e tender da Tramway da Cantareira

Hoje em dia, o transporte ferroviário serve a todos os continentes, graças aos avanços tecnológicos produzidos e absorvidos
no século XX. Os trens modernos alcançam velocidades de até 250 km/h, como os TGV europeus.
A contribuição da revolução técnico-científica-informacional fez com que as ferrovias continuassem de grande valia no
sistema de transportes, em virtude de sua capacidade de transportar uma quantidade muito grande de carga de uma só
vez – algo que não ocorre, por exemplo, com o transporte rodoviário.
O custo por tonelada transportada é baixo, entretanto, os valores para a conservação e construção de ferrovias são elevados.
A utilização desse meio de transporte varia entre os países. Nos Estados Unidos e na Rússia, por exemplo, a maioria dos
fluxos das cargas é feita por meio das ferrovias. Na parte ocidental da Europa, as ferrovias têm seu uso bastante difundido
para o transporte de cargas e de pessoas.
As ferrovias são bastante utilizadas na Europa e em muitos países desenvolvidos, bem como em países muito populosos,
como Índia e China. Países da América latina e da África optaram pelas rodovias em vez das ferrovias – escolha essa, talvez,
não a melhor, uma vez que as ferrovias têm significativas vantagens: é o meio de transporte que permite a maior capacidade de

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transporte de cargas e de passageiros a um custo muito menor que as rodovias. Com um litro de combustível, um caminhão
transporta uma tonelada de carga por 25 quilômetros; nas ferrovias, essa distância passa para 86 quilômetros.

Aprenda mais
O grande passo para o desenvolvimento dos trens foi dado pelo inglês e engenheiro mecânico George Stephenson. Nas minas
de Killingworth, Stephenson construiu a sua primeira locomotiva, em 1814. A Blucher, como foi chamada, se destinava ao
transporte dos materiais das minas e conseguia puxar uma carga de 30 toneladas à velocidade de 6 km/h. Stephenson cons-
truiu a primeira linha férrea da história, entre Stockton e a região mineira de Darlington, inaugurada em 27 de setembro de
1825, com cerca de 61 km de comprimento. Quatro anos mais tarde, foi chamado para construir a linha férrea entre Liverpool e
Manchester, na qual foi usada uma nova locomotiva, a Rocket, que tinha uma nova caldeira tubular inventada pelo engenheiro
francês Marc Seguin e já atingia a velocidade de 30 km/h.
No início do século XIX, as rodas motrizes passaram a ser colocadas atrás da caldeira, aspecto que permitiu aumentar o
diâmetro das rodas e, consequentemente, o aumento da velocidade de ponta. O escocês James Watt, com a introdução
de várias alterações na concepção dos motores a vapor, muito contribuiu para o desenvolvimento das estradas de ferro.
Desde então, a evolução do trem e das linhas ferroviárias tornou-se efetiva. Na metade do século XIX, já havia milhares de
quilômetros de vias férreas por todo o mundo: na Inglaterra, havia 10 mil; e nos EUA, 30 mil − com a colonização do oeste,
tal cifra atingiu mais de 400 mil quilômetros, no início do século XX.
Num ápice, as locomotivas passaram do vapor à eletricidade. No dia 31 de maio de 1879, Werner von Siemens apresentou, na
Exposição Mundial de Berlim, a primeira locomotiva elétrica. No entanto, o seu desenvolvimento só foi significativo a partir de
1890. A história da locomotiva elétrica é polêmica: há quem atribua igualmente essa invenção tanto ao estadunidense Thomas
Davenport como ao escocês Robert Davidson.

Matriz de transportes no mundo

O Brasil também preferiu priorizar as rodovias, embora as ferrovias fossem uma ótima opção, uma vez que o país tem dimen-
sões continentais. Para o transporte de certos tipos de carga, como minério e grãos, as ferrovias são os meios de transporte
mais adequados. No entanto, a falta de investimentos em ferrovias, provavelmente provocada pela pressão da indústria
automobilística, fez com que a indústria ferroviária praticamente estacionasse.

1.1. As ferrovias no Brasil


O transporte ferroviário no Brasil foi predominante até o final do século XIX, quando, consolidado na região Sudeste, encar-
regava-se do escoamento do café e dos deslocamentos de mercadorias. A maior expansão se deu no Estado de São Paulo,
onde chegou a ter 18 ferrovias, sendo as maiores: a E.F. Sorocabana (2.074 km); a Mogiana (1.954 km); a E.F. Noroeste do
Brasil (1.539 km); e a Cia. Paulista de Estradas de Ferro (1.536 km); além da São Paulo Railway, que detinha a ligação com

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o porto de Santos. Juntas, elas permitiram o crescimento do material rodante. Um caso à parte é a TLSA (Transnordes-
Estado tanto no setor industrial quanto no agrícola. Além tina), que aumentou em seis vezes o seu investimento,
das ferrovias em São Paulo, outras ferrovias importantes apenas de 2009 a 2010, aportando 1,35 bilhão de reais
que surgiram nessa época se destacaram: a E.F. Vitória– no ano. Hoje, existem várias ferrovias em construção no
Minas (1903); a Ferrovia Madeira–Mamoré (1912); e a país – a principal delas é a Norte-Sul, com algumas eta-
expansão no sul, com a ligação entre Mafra, Corupá, Rio pas já concluídas e em operação.
Negro e São Francisco do Sul, que conectaram Curitiba aos
portos de São Francisco e Paranaguá (1917). A ligação en-
tre Ourinhos e Londrina aconteceu em 1935, chegando a
Apucarana, em 1942. Apesar do custo-benefício favorável,
nada impediu que, de 1950 até hoje, sua maior rede tenha
sido desativada e sucateada.

multimídia: livro

Na trilha das ferrovias – Bertholdo de Castro


Pelas janelas do trem que transportou o Brasil dos últi-
mos dois séculos passaram fracassos rotundos e vitórias
multimídia: música colossais. Entre os 14,5 quilômetros da primeira estrada
Fonte: Youtube de ferro, feita para conduzir a família real para o seu retiro
de Petrópolis, e a globalizada sofisticação tecnológica das
Trem das onze – Adoniram Barbosa
atuais ferrovias, alguns visionários foram maquinistas, en-
tre avanços e recuos, de uma das mais belas viagens da
Entretanto, o que se observou nas últimas décadas foi um história do país.
olhar especial por parte dos investidores e do Estado para
esse modal. O investimento anual das ferrovias aumen- Depois da privatização de boa parte das ferrovias nacio-
tou quatro vezes entre o período de 2003 e 2010, saltan- nais, na década de 1990, e da derrocada da Rede Ferro-
do de 1,07 bilhão de reais para 4,32 bilhões de reais por viária Federal (RFFSA), empresa estatal responsável por
ano. As principais investidoras foram: o grupo Vale, com administrá-las, a participação das ferrovias no transporte
1,31 bilhão de reais; o grupo ALL, com 928,7 milhões do Brasil chegou a crescer, apesar de atender a interesses
de reais; e a MRS, com 681 milhões de reais, todas no e deslocamentos muito específicos e limitados. Ainda hoje,
ano de 2010 e que mantiveram investimento constante a malha ferroviária nacional concentra-se nas regiões Sul
no período, focados em infraestrutura, superestrutura e e Sudeste.

O país possui hoje 30 mil km de ferrovias para tráfego, o que dá uma densidade ferroviária de 3,1 metros por km2; é bem
pequena em relação aos EUA (150 m/km2) e Argentina (15 m/km2). Apenas 2.450 km são eletrificados. As ferrovias apresen-
tam-se mal distribuídas e mal situadas, estando 52% localizadas na região Sudeste.

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Principais ferrovias brasileiras
GUIANA
SURINAME FRANCESA
VENEZUELA Boa GUIANA
COLÔMBIA Vista
ESTRADA DE FERRO
Principais Ferrovias
DO AMAPÁ
ESTRADA DE FERRO
E. F. TROMBETAS CARAJÁS
Macapá

Belém
São
CIA. FERROVIÁRIA
Luis
Manaus E. F. JARI DO NORDESTE
Fortaleza

Teresina

Natal
FERROVIA João
Porto NORTE SUL Pessoa
Velho
Rio Recife
Branco
Palmas
Maceió

Aracaju

PERU Salvador

FERRONORTE DF
Cuiabá
Goiânia
BOLÍVIA
FERROVIA FERROVIA CENTRO
NOVOESTE ATLÂNTICA
Belo
Campo
Horizonte
Grande
Vitória
FERROVIA
VITÓRIA MINAS
PARAGUAI São
Paulo Rio de
CHILE FERROESTE MRS
Oceano Pacífico Janeiro LOGÍSTICA
ARGENTINA Curitiba

Ferrovia Existente METRO SP METRO RJ


FERROBAN CPTM FLUMIRENS
Ferrovia Planejada Florianópolis
Companhia do Metropolitano do Distrito Federal
CPTM e Metrô SP Porto Alegre FERROVIA TEREZA
Metrô Fluminense CRISTINA

Companhia Brasileira de Trens Urbanos


URUGUAI AMÉRICA LATINA
LOGÍSTICA

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2. Transporte hidroviário
Fluxo de transporte marítimo no mundo

Densidade
Alto

Baixo

Dentre os meios de transportes, o mais antigo é o marítimo, que vem da antiguidade. No entanto, a marinha mercante
mundial cresceu efetivamente depois da Primeira Guerra Mundial (1917), resultado de inovações tecnológicas e significativa
evolução, tais como volume de carga a ser transportada nos navios, construção de embarcações especializadas no transporte
de diferentes cargas, aperfeiçoamento dos instrumentos de navegação e de combustível, etc.
Os grandes portos marítimos são dotados de sofisticada infraestrutura de maquinários, centros de armazenagem e
recursos de transporte. Rotterdam, na Holanda, é o porto com maior fluxo de mercadorias no mundo. Dele é escoada
praticamente toda a produção da União Europeia, e serve de porta de entrada para produtos importados de outros
continentes. Nos Estados Unidos, Nova Orleans e Nova Iorque são responsáveis pelo maior volume do escoamento e da
importação estadunidenses.
Os Estados Unidos construíram uma passagem no canal do Panamá, com o objetivo de ligar os oceanos Pacífico e Atlântico.
Com isso, a distância entre a costa leste da América e a Europa diminuiu, evitando que as embarcações fossem obrigadas,
como antes, a contornar a América do Sul. O canal permaneceu sob o domínio dos EUA até 1997, quando passou a ser
administrado pelo Panamá.

Os 5 maiores portos do mundo


1. Shanghai (China): o porto se estabeleceu como um dos maiores em movimentação de mercadorias nos últimos anos
e ainda vem numa crescente com relação a sua tecnologia e estrutura.

2. Ningbo (China): é o segundo maior porto da China e foi construído por meio da iniciativa entre Ningbo e Zhoushan.
O porto já ultrapassou a quantia de 450 mil toneladas em mercadorias movimentadas.

3. Singapura (Singapura): o porto mantém mais de 600 linhas de tráfego e contato com mais de 123 países espalhados
ao redor do mundo.

4. Rotterdam (Holanda): funcionando desde o século XIV, o porto se reestrutura a cada ano e se consolida como o maior
porto da Europa. Além disso, movimenta em torno de 300 mil toneladas em mercadorias.

5. Tianjin (China): com seus 120 km de extensão, 32 km de cais e mais de 150 berços de atracação, é um dos portos
mais importantes do mundo e fica no norte da China.

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de dragagem e, principalmente, de portos que possibilitem a
integração intermodal. As principais hidrovias do Brasil são a
Tietê–Paraná, a do rio São Francisco e a do Amazonas.

O navio Providence Bay, em um portão do canal do Panamá

O transporte hidroviário no Brasil é o que tem menos repre-


sentatividade e participação nos sistemas de deslocamen-
to nacional, o que é uma grande contradição, haja vista o Porto de Manaus
grande potencial que o país tem desse modal. O transporte
Quanto ao transporte marítimo – de vital importância para
hidroviário brasileiro é dividido nas modalidades fluvial e
as relações comerciais –, ele é responsável pela maior par-
marítima. O transporte marítimo é o mais importante, res-
te das trocas comerciais internacionais do Brasil, transpor-
pondendo por quase 75% do comércio internacional do
tando, principalmente, commodities agrominerais, veículos,
Brasil, enquanto que o transporte fluvial, embora mais eco-
máquinas e equipamentos de ponta. Cerca de 75% das
nômico e limpo, é subutilizado.
trocas comerciais internacionais brasileiras são transporta-
Costuma-se justificar a falta de investimentos nas hidro- das pelo mar.
vias brasileiras em virtude dos muitos rios de planalto,
De acordo com o itinerário realizado, o transporte marítimo
mais acidentados, que exigem obras de correção para fa-
pode ser:
cilitar o transporte. Eclusas foram construídas para superar
as diferenças de nível das águas nas barragens das usi- § de cabotagem: também chamado de “transporte
nas hidrelétricas – é o caso das eclusas de Tucuruí, no rio costeiro”, esse tipo de transporte é doméstico, posto
Tocantins, de Barra Bonita, no rio Tietê, e de Jupiá, no rio que é realizado somente entre os portos do território
Paraná. Outro motivo vem do fato de os rios de planície, nacional; e
embora facilmente navegáveis (Amazonas, São Francisco
e Paraguai), se encontrarem afastados dos grandes centros § internacional: também chamado de “transporte de
econômicos do Brasil. longo percurso”; o nome já indica que a distância é
maior, sendo esse realizado entre portos nacionais e
Por outro lado, a concentração de investimentos em ro- internacionais.
dovias privilegia áreas onde o mais indicado seria o in-
vestimento em hidrovias. O caso mais notório disso foi a Embora o país possua dimensões continentais e uma ex-
Transamazônica, uma estrada construída quase paralela- tensa costa litorânea, o transporte marítimo sofre com
mente ao rio Amazonas, que é de fácil navegação. O porto muitos problemas, como os altos custos de transporte, pre-
de Manaus, situado à margem esquerda do rio Negro, é o cariedade dos portos, fiscalização, burocracia, entre outros.
porto fluvial de maior movimento do Brasil e o com me- Por essas razões (que não justificam muito a subutilização),
lhor infraestrutura. Outros portos fluviais relevantes são: ainda é uma modalidade de transporte pouco explorada
de Itajaí, no rio Itajaí-açu, que transporta principalmente no Brasil, em comparação aos meios ferroviário e rodoviá-
máquinas e commodities; de Santarém, no rio Amazonas, rio. Vale destacar que os portos marítimos são construções
por onde se transportam, principalmente, grãos vindos do realizadas para receber pessoas e mercadorias (exportação
Centro-Oeste; e de Corumbá, no rio Paraguai, por onde é e importação), seja em navegação marítima nacional ou in-
escoado o minério de manganês. ternacional. No Brasil, existem cerca de 40 portos públicos,
No entanto, a partir dos anos 1980, sobretudo após a cria- dos quais se destacam:
ção do Mercosul, houve uma exigência pela implantação § Porto de Santos: situado nas cidades litorâneas pau-
de mais hidrovias para a integração do cone sul; apesar de listas de Santos e do Guarujá, esse é o principal porto do
os investimentos públicos para isso terem se elevado, ainda Brasil, apresentando a melhor infraestrutura e elevada
são insuficientes. Os trechos hidroviários mais importantes, movimentação, além de ser o maior da América latina.
do ponto de vista econômico, encontram-se no Sudeste e
no Sul do Brasil. O pleno aproveitamento de outras vias na- § Porto de Itajaí: situado na cidade de Itajaí, no es-
vegáveis depende da construção de eclusas, grandes obras tado de Santa Catarina, é considerado o segundo

11
maior porto do Brasil em relação à movimentação de 2.1. Portos marítimos (SEP)
cargas. Movimenta muitos tipos de mercadoria, com
destaque para os frangos congelados (maior porto A responsabilidade pela formulação de políticas e pela
execução de medidas, programas e projetos de apoio ao
exportador do país).
desenvolvimento da infraestrutura dos portos marítimos é
§ Porto do Rio de Janeiro: também é um dos mais da Secretaria de Portos da Presidência da República (SEP/
movimentados do país, localizado na baía de Guana- PR). A ela também compete participar do planejamento
bara, na cidade do Rio de Janeiro. Movimenta grande estratégico e da aprovação dos planos de outorgas, com
quantidade e variedade de cargas, como produtos ele- vistas à segurança e eficiência do transporte marítimo de
trônicos, automobilísticos, siderúrgicos e petroquímicos. cargas e passageiros.
Dos 34 portos públicos marítimos sob gestão da SEP, 16
§ Porto de Itaguaí (ou de Sepetiba): está situado na ci-
são delegados, concedidos ou autorizados pelos governos
dade de Itaguaí, no estado do Rio de Janeiro, sendo um dos
estaduais e municipais. Os outros 18 marítimos são admi-
maiores e mais movimentados portos da América Latina. nistrados diretamente pelas Companhias Docas, socieda-
§ Porto de Vitória: também sendo um dos mais im- des de economia mista cujo acionista majoritário é o go-
portantes do país, esse complexo portuário engloba os verno federal, razão pela qual são diretamente vinculadas
portos de Vitória, de Praia Mole e de Barra do Riacho. à Secretaria de Portos.
Ao todo, são sete as Companhias Docas brasileiras:
§ Porto de Paranaguá: localizado na cidade de Pa-
ranaguá, no estado do Paraná, é o maior porto de § Companhia Docas do Pará (CDP): administra os
produtos a granel da América Latina, sendo também portos de Belém, de Santarém e de Vila do Conde.
o maior do país em exportação de produtos agrícolas,
§ Companhia Docas do Ceará (CDC): administra o
sobretudo de soja.
porto de Fortaleza.
§ Porto de Rio Grande: inaugurado em finais do sé-
§ Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Co-
culo XIX, é considerado um dos principais portos da
dern): administra os portos de Natal e de Maceió e o
região Sul do País, situado na capital do Rio Grande
Terminal Salineiro de Areia Branca.
do Sul, Porto Alegre, o qual liga a lagoa dos Patos ao
oceano Atlântico. § Companhia Docas do Estado da Bahia (Codeba):
Os meios de transporte no Brasil precisam ser diversifica- administra os portos de Salvador, de Ilhéus e de Aratu.
dos para que haja menos dependência das rodovias nos § Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa):
deslocamentos de mercadorias e pessoas. É necessária a administra os portos de Vitória e de Barra do Riacho.
instalação de uma matriz multimodal, que disponha de
vários sistemas de transportes diferentes integrados. Outra § Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ):
necessidade é a melhor integração rumo ao oeste do País, administra os portos do Rio de Janeiro, de Niterói, de
em direção aos países sul-americanos e ao oceano Pacífico, Angra dos Reis e de Itaguaí.
com vistas a ampliar as trocas comerciais dentro do conti- § Companhia Docas do Estado de São Paulo (Co-
nente e em direção aos países asiáticos. desp): administra o porto de Santos.
Entre as vantagens da implantação de hidrovias, estão a
alta capacidade de transporte e o baixo custo de manu-
tenção e implementação. As desvantagens são a lentidão,
a falta de flexibilidade no transporte, as limitações ao tipo
de carga transportada e a excessiva dependência das con-
dições climáticas.
Apesar de relativamente barata, a implementação de
uma hidrovia pode ter custos variados, dependendo da
necessidade da infraestrutura a ser construída, como bar-
ragens e eclusas. Esse processo depende, sobretudo, da
construção de uma sinalização adequada para as embar-
cações, bem como de correções nos cursos de água que
Eclusa em operação na hidrovia Tietê-Paraná facilitem a circulação dos navios.

12
Porto de Porto de
Porto de Belém Porto de Vila do Conde
Manaus Macapá
Porto de Porto de Itaqui
Santarém Porto de Fortaleza
Terminal Salineiro de Areia Branca
Porto de Natal
Porto de Cabedelo
Porto do Recife
Porto de Suape
Porto de Maceió
Porto de Salvador
Porto de Aratu
Porto de Ilhéus
Porto de Barra do Riacho
Porto de Vitória
Porto de Forno
Porto de Niterói
Porto do Rio de Janeiro
Porto de Itaguai
Porto de Angra dos Reis
Porto de São Sebastião
Porto de Santos
Porto de Antonina
Porto de Paranaguá
Porto de São Francisco do Sul
Porto de Itajaí
Porto de Imbituba
Porto de Laguna
Porto de Estrela
Porto de Porto Alegre
Porto de Pelotas
Porto de Rio Grande

Apesar de apresentar baixos investimentos em hidrovias, o Brasil conta com as do rio Madeira, do Paraguai-Paraná, do
Tocantins-Araguaia, do rio São Francisco, do Solimões-Amazonas e a do Tietê-Paraná.

13
3. A qualidade do transporte aumentaram e sobrevalorizaram consideravelmente. As
populações migrantes foram obrigadas a buscar moradia
público no Brasil: protestos em zonas mais afastadas dos grandes centros, a recorrer às
favelas, às invasões e ocupações irregulares de todo o tipo.
O transporte público no Brasil é caracterizado por ônibus,
metrôs e trens, pelo menos nas grandes cidades e capitais. Nessas zonas segregadas, não houve investimentos pú-
De acordo com a Constituição Federal, esse serviço deve blicos em infraestrutura, o que gerou áreas muito depen-
ser administrado e mantido pelos municípios, à custa de dentes das regiões urbanas mais valorizadas. Os serviços,
investimentos estaduais e federais. bem como os empregos, concentraram-se nos bairros mais
nobres. Os trabalhadores obrigaram-se a se deslocar por
Ressalte-se que transporte público não diz respeito exclu- grandes distâncias em cidades cada vez mais “inchadas”
sivamente aos meios de transporte utilizados, mas à mobi- para trabalhar ou utilizar serviços públicos e privados.
lidade urbana como tal, à infraestrutura desse transporte,
como estações, terminais, etc. Isso explica a origem dos problemas do transporte público
no país, se bem que grave mesmo tenha sido a escolha da
O transporte público compreende a lógica urbana, sobre- classe dominante brasileira por um desenvolvimento capi-
tudo a das grandes metrópoles com maior concentração talista predatório: alta taxa de lucro do capital e falta de
populacional. Cidades maiores e com mais zonas segre- planejamento dos investimentos governamentais, que não
gadas necessitam de um transporte público mais amplo e assegurou a rotatividade desse capital, mas relegou a um
massificado para evitar a ocorrência de ônibus lotados e plano subalterno as demandas sociais de moradia, saúde,
insuficientes para atender à população. educação e mobilidade urbana.
De modo geral, o transporte público no Brasil é conside- Essa mobilidade urbana não foi acompanhada de uma po-
rado ruim e ineficiente, com passagens caras e ônibus fre- lítica nacional de investimentos que permitisse sua estrutu-
quentemente superlotados, em más condições de manu- ração, implantação e implementação.
tenção e conservação e que exigem dos passageiros tempo
demasiado de espera nos pontos.
Mas de onde surgiu esse problema? O processo de indus-
trialização do Brasil ocorreu tardia e lentamente em com-
paração ao da ampla maioria dos países subdesenvolvidos
e em desenvolvimento. As cidades cresceram descontrola-
damente em virtude do êxodo rural, resultado da mecani-
zação e da concentração de terras.
Milhares de manifestantes reunidos na Avenida
Paulista, em São Paulo, SP (jun./2013)

Os problemas de transporte urbano dizem respeito à lógi-


ca urbana, à mobilidade urbana. Mais do que melhorar o
serviço prestado e conter o preço das passagens, é preciso
democratizar os espaços das cidades, ampliando a mobili-
dade e descentralizando os investimentos em infraestrutu-
ra dos espaços nobres e centrais para as periferias e zonas
Estação da Luz, São Paulo, SP (dez./2014)
que concentram a maioria da população urbana.

Essa massa populacional encontrou no espaço das grandes


cidades dificuldades de permanência. Terrenos e imóveis

14
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS
Os problemas de mobilidade urbana, de movimentação de cargas, os impactos ambientais dos diversos meios de
transportes, a preocupação com a eficiência e pontualidade requerem estudos avançados interdisciplinares, inclusive
no campo da engenharia, que visam maior economia em uma rede de transportes com melhor desempenho multi-
modal. Nos últimos anos, o debate sobre a mobilidade urbana no Brasil vem se acirrando cada vez mais, haja vista
que a maior parte das grandes cidades do País vem encontrando dificuldades em desenvolver meios para diminuir a
quantidade de congestionamentos ao longo do dia e o excesso de pedestres em áreas centrais dos espaços urbanos.
Trata-se, também, de uma questão ambiental, pois o excesso de veículos nas ruas gera mais poluição, interferindo em
problemas naturais e climáticos em larga escala e também nas próprias cidades, a exemplo do aumento do problema
das ilhas de calor.

VIVENCIANDO

Para o aluno que tiver oportunidade, um excelente passeio é visitar o Museu do Transporte Público Gaetano Ferolla,
na Av. Cruzeiro do Sul, 780 – Canindé, São Paulo/SP. Inaugurado oficialmente em 20 de março de 1985, pelo prefeito
da época, Mário Covas, por iniciativa do ex-funcionário da CMTC, Gaetano Ferolla, recebeu o nome de Museu da
Companhia Municipal de Transportes Coletivos. O museu nos proporciona uma volta ao tempo na cidade de São
Paulo do século XIX, através de relíquias que revelam a evolução dos transportes urbanos da era charmosa. O museu
mantém seu acervo através de doações, tanto de instituições como de colecionadores.

15
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 16
Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.

HABILIDADE 17
Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
Podemos observar que, ao longo da história, alguns dos maiores esforços da sociedade tem sido no sentido
de garantir a redução significativa dos efeitos da distância entre os diferentes espaços da superfície terrestre.
Tais esforços fazem parte de processos de evolução, tanto das sociedades que buscam vencer a necessidade
de deslocamentos cotidianos, criando para isso formas de encurtar distâncias, como dos sistemas de transpor-
tes enquanto forma e processo consolidados que, ao longo do tempo, se mostram cada vez mais complexos
e articulados com o processo de organização socioespacial. Os percursos feitos a pé, o transporte muar e os
desenvolvimento dos diferentes modais nos ajudam a entender o processo de evolução dos transportes, num
contexto de mundo cada vez mais globalizado, no qual diferentes atores servem-se das redes e se utilizam dos
espaços para produzir e transformar o território nacional em um espaço nacional de economia internacional.
Nesse sentido, os diferentes transportes são fundamentais para o desenvolvimento e organização do território, uma
vez que, independentemente das suas escalas de implantação e uso, se em nível local ou nacional, participam do
processo de incremento da economia, à medida que são responsáveis pela movimentação e circulação de pessoas e
cargas, desempenhando, portanto, papel estratégico na intensidade e na forma com que as relações sociais, espaciais
e econômicas acontecem. Por esse motivo, na atualidade, vêm se tornando cada vez mais frequentes as análises dos
impactos do transporte na economia de diferentes países e regiões. As relações entre o desenvolvimento das infraestru-
turas de transporte e técnicas, assim como a análise dos modais presentes no espaço em cada momento histórico, nos
mostra o quanto o transporte pode ser considerado um dos elementos do desenvolvimento regional. Tal consideração
se explicaria pelo fato de que a infraestrutura de transportes tem uma série de impactos e benefícios sobre a sociedade.

MODELO 1
(Enem) A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que começa a ser construída apenas em 1905, foi criada, ao con-
trário das outras grandes ferrovias paulistas, para ser uma ferrovia de penetração, buscando novas áreas para
a agricultura e povoamento. Até 1890, o café era quem ditava o traçado das ferrovias, que eram vistas apenas
como auxiliadoras da produção cafeeira.
CARVALHO, D.F. Café, ferrovias e crescimento populacional: o florescimento da região noroeste paulista.
Disponível em: <www.historica.arquivoestado.sp.gov.br>. Acesso em: 2 ago. 2012.

Essa nova orientação dada à expansão ferroviária, durante a Primeira República, tinha como objetivo a:
a) articulação de polos produtores para exportação;
b) criação de infraestrutura para atividade industrial;
c) integração de pequenas propriedades policultoras;
d) valorização de regiões de baixa densidade demográfica;
e) promoção de fluxos migratórios do campo para a cidade.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A Ferrovia Noroeste do Brasil, ligando Bauru (SP) a Corumbá (MS), teve como objetivo a integração do território
a partir do avanço do povoamento, diferentemente das ferrovias que se concentravam majoritariamente ao
redor da zona produtora de café.

RESPOSTA Alternativa D

16
DIAGRAMA DE IDEIAS

BAIXA EFICIÊNCIA NO
TRANSPORTE DE CARGA

CAUSAS PRINCIPAIS

DESBALANCEAMENTO LEGISLAÇÃO E FISCALIZAÇÃO


DE MATRIZ DE TRANSPORTE INADEQUADAS

CAUSAS SECUNDÁRIAS

• BAIXOS PREÇOS DOS FRETES


RODOVIÁRIOS • REGULAMENTAÇÃO DO TRANSPORTE
• POUCAS ALTERNATIVAS AO MODAL • LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA E
RODOVIÁRIO INCENTIVOS FISCAIS
• BARREIRAS PARA INTERMODALIDADE • FISCALIZAÇÕES INEFICIENTES
• PRIORIZAÇÃO DO MODAL RODOVIÁ- • BUROCRACIA
RIO PELO GOVERNO

CAUSAS PRINCIPAIS

DEFICIÊNCIA DA INSEGURANÇA
INFRAESTRUTURA DE APOIO NAS VIAS

CAUSAS SECUNDÁRIAS

• BASE DE DADOS DO SETOR DE


TRANSPORTES • ROUBO DE CARGAS
• TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO • MANUTENÇÃO DAS VIAS
• TERMINAIS MULTIMODAIS

17
A vida das pessoas se modifica com a mesma rapidez com que
AULAS 37 E 38 se reproduz a cidade. O lugar da festa, do encontro, quase desa-
parecem; o número de brincadeiras infantis nas ruas diminui – as
crianças quase não são vistas; os pedaços da cidade são vendidos,
no mercado, como mercadorias; árvores são destruídas, praças
transformadas em concreto. Todavia, o mesmo modo de vida ur-
bano que expulsa das ruas as brincadeiras infantis, aprisionando
crianças e adolescentes, produz o seu inverso, e joga nas ruas
centrais da cidade ou nos cruzamentos de alta densidade crianças
URBANIZAÇÃO vendendo coisas ou roubando.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. A cidade.

1. As primeiras cidades
Um dos grandes debates das Ciências Humanas, desde o
COMPETÊNCIA: 4
século XIX, gira em torno da definição e conceituação de
”cidade”. A cidade pode ser analisada a partir de diversos
HABILIDADES: 18 e 19 prismas: O que significa cidade para nós? O que signifi-
cava cidade para os antigos? É possível realizarmos essa
apreensão? Com relação ao mundo grego, aparentemen-
te sim. As fontes textuais são claras quanto ao aparato
necessário para se poder denominar uma certa localidade cidade-Estado (aparato político) ou cidade (aparato físico). No
entanto, ao contrário do esperado, os estudiosos modernos não chegaram ainda a um acordo sobre a definição e os mo-
tores de produção nem da cidade-Estado nem da cidade grega. Vários estudos privilegiam aspectos diferentes, religiosos,
econômicos ou políticos. Contudo, a ampla produção acadêmica sobre o tema nos permite abraçar algumas hipóteses e
tentar estabelecer certos parâmetros norteadores.

18
O próprio termo “cidade” traz em si uma carga moder-
na, cheia de subentendidos que dificultam uma definição As primeiras aldeias sedentárias surgiram quando as
clara do que venha a ser, de fato, uma cidade. De ma- comunidades neolíticas estabeleceram-se num terri-
neira geral, alguns elementos são recorrentes nos estu- tório, dedicando-se, predominantemente, à criação de
dos: homogeneidade social, étnica e de crenças; questão animais e ao cultivo agrícola.
da posse de um território; defesa; divisão do trabalho e Entre as mais antigas cidades do mundo, podemos ci-
elementos de culto – estariam todos, em maior e menor tar Jericó e Beidha, que se desenvolveram a partir de
proporção, relacionados com o surgimento das cidades. primitivas vilas agrícolas. Ambas se situam na região da
A discussão acadêmica mormente centra-se sobre quais Palestina. Também merece destaque a cidade de Çatal
fatores foram preponderantes. Huyuk, que se situava na região da atual Turquia.
O sedentarismo leva os grupos sociais, de uma manei-
ra geral, a construírem assentamentos mais complexos,
de acordo com inúmeros fatores: políticos, econômicos,
sociais e, inclusive, demográficos. A cidade, nessa pers-
pectiva, constitui o nível máximo de elaboração de um as-
sentamento por um determinado grupo social. Impérios
da antiguidade ou países modernos, ambos baseiam-se
na existência de núcleos populacionais vivendo em cida-
des grandes e pequenas. No fundo, a definição de aldeia,
vilarejo, fortificação e outros que possam ser empregados
na descrição de um assentamento humano tem como pa- Vestígios arqueológicos mostram que, apesar de dis-
râmetro a cidade. tarem 800 quilômetros uma da outra, Jericó e Çatal
Huyuk comerciavam entre si. Çatal Huyuk (Colina da
Encruzilhada) foi descoberta por arqueólogos entre
1961 e 1963. É uma paisagem desértica, tipo estepe,
porém fértil, pois é de aluvião. As casas foram, outro-
ra, construídas com adobe feito de argila e palha, co-
locados em moldes de madeira e secos ao sol.
No entanto, uma das características mais espetacu-
lares das casas de Çatal Huyuk reside no fato de que
o acesso a todas as construções da cidade, casas ou
santuários era feito pelo teto, com auxílio de escada.
Com efeito, a arquitetura doméstica de Çatal Huyuk
ignora janelas, pelo menos quanto às construções até
agora exumadas.

As cidades coloniais, como Ouro Preto, em Minas Gerais,


refletem a concepção de exploração dos portugueses.

Muitas pesquisas mostram que as primeiras cidades


surgiram na Mesopotâmia (atual Iraque); depois, vieram
as cidades do vale do Nilo, do Indo, da região mediter-
rânea e da Europa e, finalmente, as cidades da China e
do Novo Mundo.
Embora as primeiras cidades tenham aparecido há mais
de 3.500 anos a.C., o processo de urbanização moderno
teve início no século XVIII, em consequência da Revolu-
Kalasasaia, Tiahuanaco – Bolívia
ção Industrial, desencadeada, inicialmente, na Europa.
No Terceiro Mundo, a urbanização é um fato bem recen- Na Idade Antiga, as cidades eram centros políticos e co-
te. Hoje, mais da metade da população mundial vive em merciais e era neles que geralmente se concentravam as
cidades, e o número tende a aumentar conforme se ace- grandes decisões de uma civilização e o poder que irra-
lera o desenvolvimento. diava delas. Nessa época, cidades como Babilônia, Roma,

19
Esparta e Atenas se destacavam como centros de atuação 2.1. Fatores atrativos e
política e de práticas de comércio. Na América do Sul, uma
das mais antigas cidades foi Tiahuanaco, atualmente terri-
fatores repulsivos
tório da Bolívia. O processo de industrialização promoveu, de modo simul-
tâneo, duas realidades: uma de atração pela cidade e outra
de expulsão do campo.
2. Urbanização
§ Fatores atrativos ocorrem por causa da urbanização
Entende-se por urbanização o processo de crescimento
causada pela atração da população do campo para as
da população urbana em comparação ao crescimento da
cidades em busca da maior oferta de emprego gerada
população rural. Isto é, a urbanização ocorre quando se ve-
pela industrialização, além da existência de melhores
rifica o crescimento das cidades e, especialmente, quando
condições de renda e de vida. O rápido e fácil acesso
as taxas de crescimento da população urbana são maiores
a produtos, bens de consumo e serviços, como esco-
que as taxas de crescimento da população residente nas
las e hospitais, além de uma maior interação cultural,
áreas rurais.
também podem ser listados como fatores atrativos da
urbanização.

§ Fatores repulsivos ocorrem quando a urbanização


acontece pela “expulsão” ou afastamento da popula-
ção do campo para as cidades, com uma migração em
massa, chamada de êxodo rural ou de migração cam-
po-cidade. Dentre os fatores repulsivos da urbanização,
podem-se citar a concentração fundiária (muita terra
nas mãos de poucos), os baixos salários do campo, a
mecanização das atividades agrícolas com a substitui-
Vista aérea da cidade de Londres, na Inglaterra ção da mão de obra, entre outros.
Os países desenvolvidos foram os primeiros a urbanizar-se
com a maior presença de fatores atrativos. Com a Revolu-
ção Industrial, ao longo do século XVIII, cidades como Lon-
dres e Paris transformaram-se em grandes centros urbanos;
porém, com uma grande carga de problemas sociais e mi-
séria acentuada, questão que só veio a ser atenuada pelas
reformas urbanas no século seguinte.

Vista aérea da cidade de Berlim, na Alemanha

O fenômeno da urbanização está diretamente ligado à


Revolução Industrial, ocorrida no século XVIII, a princípio
na Inglaterra e, mais tarde, em outras cidades da Europa e
também dos Estados Unidos.
É possível dizer que a urbanização é a representação do Industrialização e urbanização são fatores diretamente relacionados.
capitalismo, ou seja, da modernidade, que proporciona Ao atrair a população do campo para as cidades, as indús-
uma transição social fundamentada no setor primário trias visavam apenas eliminar a carência por mão de obra.
para os setores industrial, comercial e de serviços. A divi- Dessa forma, as fábricas instaladas nas cidades não pre-
são social e territorial do trabalho tende a intensificar-se tendiam, tampouco conseguiam, melhorar a qualidade de
à medida que as relações econômicas tornam-se mais vida das massas operárias que estavam se formando na-
complexas. O espaço urbano é, pois, a expressão mais quele período. Essas cidades cresceram de forma acelerada
dinâmica do espaço geográfico, uma vez que representa e desprovidas, por exemplo, de sistemas de saneamento
um aglomerado de práticas culturais, sociais, econômicas e esgoto. Os bairros operários, por sua vez, eram forma-
e outras em espaços justapostos entre si. dos por aglomerados de cortiços separados por vielas, nas

20
quais o esgoto corria a céu aberto e qualquer doença contagiosa rapidamente transformava-se em epidemia. Aos poucos, os
movimentos sindicais ganharam força e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho nas fábricas e melhorias
nos bairros operários.
Já os países subdesenvolvidos e emergentes só conheceram uma urbanização mais intensificada a partir de meados do
século XX, e muitos territórios ainda estão em fase inicial desse processo. Os principais fatores de urbanização são os repulsi-
vos, como a mecanização do campo e a concentração de terras, além de alguns atrativos, como a industrialização realizada,
predominantemente, pela instalação de empresas multinacionais estrangeiras.
A formação de grandes centros urbanos, chamados de metrópoles, caracteriza-se por ser uma área urbana que abrange
o espaço de várias cidades. Atualmente, as principais cidades do mundo são as chamadas cidades globais, com desta-
que para Nova Iorque, Tóquio, Londres, Berlim, e nos países emergentes, a Cidade do México, São Paulo, Rio de Janeiro,
Bombaim e Buenos Aires, além de muitos outros exemplos.
Distribuição das cidades globais

proporcionados, por exemplo, pelas revoluções industriais na


Europa, que esse continente concebeu o crescimento expo-
nencial de suas principais cidades, as mais industrializadas.
Ao mesmo tempo, o processo de urbanização intensifica o
consumo nas cidades, o que acarreta a produção de mais
mercadorias e o aumento do ritmo da atividade industrial.
multimídia: música A industrialização é um dos principais fatores de transfor-
Fonte: Youtube mação do espaço geográfico, ou seja, o capitalismo, pois ele
London calling – The Clash interfere nos fluxos populacionais, reorganiza as atividades
nos contextos da sociedade e promove a instrumentalização
das diferentes técnicas e meios técnicos, essenciais às ativi-
dades humanas. A atividade industrial, por definição, corres-
2.2. Industrialização e urbanização ponde ao arranjo de práticas econômicas em que o trabalho
Os processos de industrialização e urbanização estão intrin- e o capital transformam matérias-primas ou produtos de
secamente interligados. Foi com os avanços e transformações base em bens de produção e consumo.

21
Com o avanço nos sistemas de comunicação e transporte – das cidades, que apresentam crescimento, quanto no es-
fatores que impulsionaram a globalização –, praticamente paço rural, que vê uma gradativa diminuição de seu contin-
todos os povos do mundo passaram a consumir produtos gente populacional em termos proporcionais.
industrializados, independentemente da distância entre seu
No meio rural, o processo de industrialização interfere na
local de produção e o local de consumo. Estabelece-se, com
produção através da inserção de modernos maquinários
isso, uma rede de influências que atua em escala global.
no sistema produtivo, como tratores, colheitadeiras, seme-
Em virtude do processo de industrialização e de sua ampla adeiras e outros. Dessa forma, boa parte da mão de obra
difusão pelo mundo, incluindo boa parte dos países subde- anteriormente empregada é substituída por máquinas e
senvolvidos e emergentes, a urbanização cresceu a ponto técnicos qualificados em operá-las. Assim, boa parte dessa
de, segundo dados da ONU, o mundo ter se tornado, pela população passa a residir em cidades, que, por isso, tor-
primeira vez, majoritariamente urbano, isto é, com a maior nam-se cada vez maiores e mais povoadas. Vale lembrar
parte da população residindo em cidades, o que ocorreu a que a mecanização não é o único fator responsável pelo
partir de 2010. processo de migração em massa do campo para a cidade
– êxodo rural –, mas é um dos elementos mais importantes
nesse sentido.

multimídia: livro

Ensaios sobre a urbanização latino-


-americana – Milton Santos
Os textos que compõem Ensaios sobre a urbanização lati-
no-americana foram escritos no início da década de 1980,
e neles o autor já mostrava sua preocupação em trabalhar
com as concepções de desenvolvimento e de subdesen-
volvimento, que começaram a surgir na América latina a
partir da década de 1960. No livro, dedicou atenção es- A mecanização do campo contribui para o crescimento das cidades.
pecial às variáveis econômicas e às questões de método, Além disso, a industrialização das cidades faz com que elas
enfatizando a importância de estudar, o que ocorre dentro se tornem mais atrativas em termos de migrações internas,
do organismo urbano sem alijá-lo de seu contexto, de for- o que provoca o aumento de seus espaços graças à maior
ma a compreender as relações que a cidade mantém com oferta de empregos, tanto na produção fabril em si quanto
sua região, com seu país ou com o mundo, assim como o
no espaço da cidade, que demandará mais trabalho no se-
conteúdo de cada um desses organismos urbanos. Dos dez
tor comercial e também na prestação de serviços.
ensaios que compõem o livro, cinco são dedicados a ques-
tões teórico-metodológicas e os outros cinco são dedica- Não por acaso, os primeiros países a se industrializarem
dos a estudos de caso particulares, analisando os casos da foram também os primeiros a conhecer a urbanização em
Colômbia, do México, da Venezuela e do Peru. sua versão moderna, tornando-se territórios verdadeira-
mente urbano-industriais. Atualmente, esse processo vem
ocorrendo em países emergentes e subdesenvolvidos,
2.2.1. Mas como a industrialização como o Brasil, que passou por esse processo ao longo de
interfere na urbanização? todo o século XX. Segundo a ONU, até 2030, todas as re-
giões do mundo terão mais pessoas vivendo nas cidades
É errôneo pensar que a industrialização é o único fator
que impulsiona o processo de urbanização. Afinal, tal fe- do que no meio rural.
nômeno está relacionado também com outros eventos que O grande gargalo desse modelo é o crescimento acele-
envolvem dinâmicas macroeconômicas, sociais e culturais, rado das cidades, contribuindo para fomentar a macro-
além de fatores específicos do local. No entanto, a ativida- cefalia urbana, ou seja, o inchaço urbano, provocando
de industrial, como expressão do capitalismo, exerce uma problemas ambientais e sociais, além da ausência de
influência preponderante, pois ela atua tanto no espaço infraestruturas, crescimento da periferia e do trabalho

22
informal, excesso de poluição, entre outros problemas. Estima-se que em 2020 quase 900 milhões de pessoas estarão
vivendo em favelas, em condições precárias de moradia e habitação.
Os grandes aglomerados urbanos no mundo

outras, formando uma cadeia mais ou menos definida de


cidades dependentes e economicamente interligadas.
Essas relações econômicas estabelecem, inevitavelmente, a
consolidação de uma rede urbana que estrutura uma teia for-
mada por nós (as cidades) e os fluxos (sistemas de transporte
e telecomunicações). Essa estruturação é um fator que pode
multimídia: site ser diretamente associado ao processo da globalização.
Cidades globais representam os principais polos da hierarquia
http://labur.fflch.usp.br/ urbana internacional. Além de concentrarem elevados índices
populacionais, são quase todas megacidades (com mais de
10 milhões de pessoas) e apresentam uma complexa econo-
2.2.2. Hierarquia urbana mia. Ao longo da história, na maioria dos casos, as cidades
globais foram as primeiras a se industrializar no mundo ou,
A hierarquia urbana se refere à estrutura mundial de su- pelo menos, em seus países. Foram também as primeiras a ini-
bordinação e organização econômica das cidades e suas ciar o processo de desconcentração industrial que ainda está
redes. Ela é a ordem de organização entre os diferentes ocorrendo, passando a ser conhecidas por abrigar as principais
níveis de complexidade econômica das cidades. Como a sedes e centros de negócios das empresas multinacionais. É
própria ideia de hierarquia sugere, trata-se das relações de o caso de Nova Iorque, Tóquio, Paris, Londres, Buenos Aires,
dependência econômica exercidas por algumas cidades sobre Berlim, entre outros. No Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro.

23
uma posição atrativa no recebimento de investimen-
Metrópole tos, sobretudo de empresas estrangeiras. No entanto, o
nível econômico delas não lhes permite criar em torno
É uma cidade que, hierarquicamente, influencia uma
de si uma influência além de seus países ou regiões
rede urbana, ou seja, cidades que polarizam um gran-
territoriais próximas. São metrópoles nacionais Belo
de número de cidades. Entenda rede urbana como a
trama de uma rede de pesca, por exemplo, onde os
Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Brasília.
nós dessa rede são as cidades e os traçados são os
fluxos que saem de um nó para outro (fluxos econô-
micos, de capital, de pessoas, de serviços, de informa-
ções, de mão de obra). A migração pendular é uma
das principais características de uma metrópole.
Na antiga classificação do IBGE, tínhamos:

§ São Paulo e Rio de Janeiro, como metrópoles globais;

§ Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Fortale-


za, como metrópoles nacionais;

§ Manaus, Belém, Curitiba, Porto Alegre e Goiânia,


como metrópoles regionais.
Moderna, imponente e muito organizada,
Na nova classificação do IBGE, temos: Curitiba encanta logo no primeiro instante da visita.

§ Grande metrópole nacional: São Paulo (primeiro § Metrópoles regionais são cidades cuja importância
nível de gestão territorial); e domínio alcançam apenas o âmbito regional e es-
tão direta ou indiretamente subordinadas às metrópo-
§ Metrópole nacional: Rio de Janeiro e Brasília;
les nacionais e às cidades globais. Mesmo assim, são
§ Metrópoles: Belo Horizonte, Recife, Salvador, centros estratégicos, pois representam o elo de regiões
Fortaleza, Manaus, Belém, Curitiba, Porto Alegre e ou pontos afastados em relação aos grandes polos da
Goiânia (segundo nível de gestão territorial). economia mundial. São metrópoles regionais Goiânia,
Cuiabá, Campinas, Belém.
Desmetropolização é o processo pelo qual as cida-
des médias (de 100 mil a 500 mil habitantes) estão
com taxas de crescimento maiores, se comparadas às
grandes cidades (acima de 500 mil habitantes). Esse
processo está acontecendo por causa da desconcen-
tração industrial.

Vista área noturna de Campinas-SP

Abaixo dessas cidades, no contexto da hierarquia urbana,


Segundo a ONU, Tóquio continuará sendo a maior encontram-se cidades de menor porte, mas com relativa
metrópole do mundo nas próximas décadas.
influência local, tais como as cidades médias brasileiras,
§ Metrópoles nacionais são cidades que também que, apesar da menor importância, vêm atraindo muitas
apresentam uma complexa e avançada organização indústrias e contemplando índices de crescimento muito
econômica, uma grande quantidade de habitantes e acima da média das grandes cidades.

24
Adaptado de: SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos. Geografia Geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 1999.

2.2.3. Rede urbana


A rede urbana é formada pela integração de cidades em âmbito local, regional e global.

As redes de cidades expressam a integração entre os diferentes centros urbanos.

A rede urbana é o conjunto articulado de cidades e grandes centros urbanos que se integram em escalas mundial, regional
e local, por meio de fluxos de serviços, mercadorias, capitais, informações e recursos humanos. Essa rede estrutura-se por
meio de uma hierarquia, em que as cidades menores costumam ser relativamente dependentes das cidades maiores e eco-
nomicamente mais desenvolvidas.

25
O grau de integração de uma dada rede urbana de um A formação de redes urbanas pelo mundo não é uma novidade.
país é um indicativo de seu nível de desenvolvimento. A rede de cidades greco-romanas, que perdurou até a Idade
Em regiões economicamente mais dinâmicas, a ten- Média, é um exemplo. Por outro lado, foi com o advento da glo-
dência é uma maior interligação entre suas diferentes balização e da Terceira Revolução Industrial, a partir do final do
cidades, geralmente mais numerosas e com uma me- século XX, que esse fenômeno alcançou escala mundial, através
lhor infraestrutura. Por outro lado, países considerados da formação das chamadas cidades globais ou megalópoles.
subdesenvolvidos apresentam uma integração limitada
Na economia financeira atual, a formação de cidades glo-
entre suas cidades, organização territorial dispersa e
bais é algo crucial para o desenvolvimento dos países, pois
pouco coesa.
são nessas cidades que se instalam os principais centros
A rede urbana expressa, assim, a espacialização da divisão econômicos e onde a comunicação com os demais polos
territorial do trabalho e reprodução do capital, em que cada de desenvolvimento acontece. Forma-se, então, uma ver-
cidade ou centro urbano exerce uma função complementar dadeira rede de cidades globais, capazes de concentrar boa
para o todo dessa rede. Diante disso, um sistema de trans- parte da população mundial e de garantir o funcionamento
porte articulado e um sistema de informações avançado da economia globalizada. Observe no mapa a distribuição
permitem um melhor funcionamento operacional. dos principais polos econômicos do mundo na atualidade.

Diante do exposto, pode-se concluir que, à medida que a globalização expande-se, ampliam-se as centralidades em âmbito
mundial, com o surgimento de cada vez mais cidades globais. Isso poderá proporcionar melhor integração mundial das
finanças internacionais, além de dinamizar ainda mais a reprodução do capital e os parâmetros da globalização.

2.2.4. Conurbação
O processo de conurbação é um dos principais fatores determinantes para a formação das regiões metropolitanas. Entende-
-se por conurbação o “encontro” de duas ou mais cidades que formam um mesmo espaço geográfico. Isso ocorre quando
o crescimento dessas cidades é elevado e suas respectivas malhas urbanas integram-se, tornando-se um único meio urbano.

Formação
Formação de uma
de um região
região metropolitana
metropolitana
e de
e deuma
uma megalópole
megalópole 2

1 A A
A 1 B
B
B

C D
C D C

Metrópole
D
Metrópole (A)
(A) e cidades
junta-se às cidades
vizinhas B, C A região
B, C e D por
eD metropolitana (1)
conurbação
formando uma conecta-se à outra
região região metropolitana
metropolitana (1) (2) formando uma
megalópole

26
Ao compreender o que é e como ocorre a conurbação, pode-se notar a diferença entre cidade e espaço urbano. No caso
de municípios conurbados, o exemplo mais evidente é o de várias cidades diferentes formando um mesmo espaço urbano,
integrado econômica, social e estruturalmente, com um intenso fluxo de capitais, mercadorias e, principalmente, de pessoas.
A conurbação não é o único elemento constitutivo das regiões metropolitanas, mas, com certeza, é o principal, uma vez que esse
fenômeno costuma ocorrer a partir de grandes cidades e sua junção é feita com as chamadas “áreas de entorno” ou “cidades-
-satélites”. Assim, forma-se uma região metropolitana que, obviamente, estrutura-se a partir da metrópole, que se expande em
direção às cidades vizinhas.

Desenvolvimento urbano na região de Baltimore/Washington

Conurbação entre as metrópoles Boston, Nova Iorque, Filadélfia, Baltimore e Washington DC.

Em muitos casos, essas cidades são chamadas de “ci- eficiente sistema de transporte e comunicação. Trata-se,
dades-dormitórios”, uma vez que a maior parte de seus portanto, de um domínio regional territorial que costuma
moradores trabalha, estuda ou exerce a maioria de suas concentrar investimentos, atividades industriais e parte sig-
atividades (lazer, consultas médicas e negócios) nas me- nificativa da população de um país.
trópoles. Registra-se, então, uma grande atuação das cha-
Além disso, é importante lembrar que as megalópoles não
madas migrações pendulares nesses espaços. Apesar disso,
necessariamente apresentam áreas totalmente conurbadas
algumas dessas cidades-satélites conseguem uma relativa
entre todas as suas cidades, ou seja, seu agrupamento não
autonomia, que se configura à medida que dinamizam
é físico, mas econômico e territorial, o que justifica sua defi-
suas economias com a instalação de indústrias, ampliação
nição. Ademais, não se trata de um espaço exclusivamente
do comércio, serviços e geração de empregos.
urbano, uma vez que as atividades agropecuárias localizadas
No Brasil, o processo de conurbação das cidades é conside- nesses espaços também fazem parte de seu contexto.
rado recente, uma vez que suas industrialização e urbani-
zação são tardias. Assim, as primeiras cidades conurbadas A primeira megalópole a ser identificada na Era Moderna
(Rio de Janeiro e São Paulo) surgiram nas décadas de 1950 foi Nova Iorque, durante os estudos empreendidos pelo
e 1970. Alguns exemplos de cidades brasileiras que pas- geógrafo estadunidense Jean Gottman, nos anos 1960. O
saram pelo processo de conurbação são Belo Horizonte, alcance dessa zona intensamente urbanizada atingia, além
Goiânia, Curitiba (na verdade, praticamente todas as capi- de Nova Iorque, as metrópoles de Boston e Washington,
tais do País são conurbadas com outras cidades), além de produzindo uma alta complexidade logística e financeira
Londrina (PR), Campinas (SP) e muitas outras. em seus espaços. Gottman percebeu que, além do desen-
volvimento, essa megalópole concentrava quase 20% da
Megalópoles constituem-se como as mais complexas
população de todo o território dos Estados Unidos.
formações territoriais do espaço geográfico contempo-
râneo. São regiões de grande aglomeração populacional Atualmente, o maior exemplo de megalópole do mun-
constituídas pelo agrupamento de grandes regiões metro- do está no Japão, interligando as metrópoles de Tóquio,
politanas que se interligam não fisicamente, mas por um Osaka e Kitakyushu, além de centenas de outras cidades

27
que compõem seu entorno. Essa região abriga quase 80% da população japonesa, evidenciando o caráter altamente desen-
volvido de suas estruturas e de seus espaços.

Tokaido, no Japão, é uma das maiores megalópoles do mundo.

Inicialmente, as megalópoles referiam-se apenas aos países O termo megacidade foi um conceito usado pela ONU para
desenvolvidos, mas vem se estendendo aos países subde- se referir a toda e qualquer área urbana contínua formada
senvolvidos e em desenvolvimento, como Brasil e México. por mais de 10 milhões de habitantes. Em muitas cidades e
Na região Sudeste brasileira, encontra-se uma das maiores grandes metrópoles, o contingente populacional é tão ele-
megalópoles do mundo, envolvendo as metrópoles do Rio vado que chega a ser superior ao de muitos países, o que
de Janeiro e São Paulo, Campinas, Baixada Santista e todas explica a necessidade de utilização desse conceito.
as cidades circundantes, totalizando 232 municípios.
Em muitos casos, a constituição das megacidades não
A formação das megalópoles é a evidência das transfor- acontece somente em um município, mas em vários,
mações socioespaciais provocadas pelos avanços do meio formando áreas interligadas em um processo de co-
técnico-científico-informacional, além de corresponder às nurbação, quando as áreas urbanas de municípios di-
bases estruturais do processo de globalização, uma vez ferentes encontram-se. Esse processo é muito comum
que são nesses espaços que se concentram as principais no Brasil e também é responsável pela formação das
atividades econômicas e as sedes dos poderes das grandes regiões metropolitanas.
corporações mundiais; portanto, de reprodução do capital. A maior megacidade brasileira é a cidade de São Paulo,
Megacidades correspondem às áreas urbanas com a que reúne em sua região metropolitana uma população
maior quantidade de habitantes no planeta, o que gera superior a 20 milhões de habitantes, o que a torna a maior
uma série de problemas e desafios. do País. Além dela, há o Rio de Janeiro e algumas outras ci-
dades com potencial para serem megacidades, como Belo
Horizonte e Porto Alegre.
No mundo, a maior megacidade é Tóquio, também con-
siderada uma metacidade, pois possui uma população
superior a 30 milhões de habitantes. Sua área urbana ultra-
passa boa parte de seus limites municipais, estendendo-se
para várias áreas de entorno. No caso do Japão, essa inten-
sa aglomeração explica-se pela elevada densidade demo-
gráfica do país e pelo número limitado de locais habitáveis,
pois o relevo geologicamente jovem faz com que o país
abrigue um grande número de montanhas, vulcões e áreas
São Paulo, a principal megacidade brasileira de grande declividade.

28
de vida aos moradores de baixa renda, entre outros. Outra
necessidade é a busca por medidas de crescimento susten-
tável, uma vez que as megacidades, em geral, são centros
urbanos com elevados índices de poluição do ar, das águas
e dos recursos naturais em geral.
As cidades mundiais ou globais surgiram nos anos
1980, com a ideia de internacionalização de algumas cida-
des no mundo, sem relação com a densidade demográfica.
A expressão se refere ao grau de importância que essas
cidades ocupam no cenário mundial, em virtude da sua
importância econômica e política.
A cidade de Tóquio já se caracteriza como uma metacidade.
Elas têm importância econômica porque abrigam se-
Depois de Tóquio, a maior parte das megacidades do des de gigantescos impérios industriais e comerciais,
planeta encontra-se em países subdesenvolvidos e
as principais bolsas de valores, os grandes centros de
emergentes (12 entre as 21 existentes). O segundo lu-
difusão de informação, as melhores universidades do
gar pertence a Déli, na Índia; o terceiro, a São Paulo; e
mundo, entre outros segmentos importantes. E impor-
o quarto posto é de Mumbai, também na Índia, seguida
tância política porque são sedes das principais insti-
pela Cidade do México. Todas essas cidades encontram-
tuições financeiras internacionais, como o FMI, o Bird,
-se em países que experimentaram urbanizações recen-
tes, elevadas e aceleradas, além de haver concentração a OMC e também organizações, como a ONU, o que
de boa parte da população em áreas específicas de seus significa que essas cidades representam o palco de de-
respectivos territórios. cisões mundiais.

A dinâmica com que a urbanização e a formação das Nos países desenvolvidos, existem várias cidades que se
megacidades dos países pobres ocorreram foi responsá- inseriram nesses grupos – Nova Iorque, Tóquio, Frankfurt
vel pela deflagração de uma série de problemas sociais, e Londres são importantes centros de decisões político-
uma vez que o crescimento dessas cidades aconteceu -econômicas.
de forma muito mais intensa e acelerada do que suas As cidades mundiais já não possuem em sua malha urba-
estruturas permitiram suportar. Some-se a isso a gran- na as chaminés das indústrias e não estão voltadas para
de dependência econômica e os problemas de gestão a produção física; as fábricas estão em outras de menor
pública, que contribuíram para o crescimento das fa- importância “política”.
velas e áreas periféricas, além do não atendimento de
necessidades da população, como o saneamento básico
e outras.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Cidade dos homens
A série ambienta-se nas favelas do Rio de Janeiro. Na
trama, os dois protagonistas, Acerola e Laranjinha, vi-
venciam dilemas próprios da adolescência, tanto os
universais quanto aqueles relativos aos problemas es-
A expansão das favelas, invasões e áreas periféricas
são problemas comuns em várias megacidades. pecíficos das comunidades carentes do Rio de Janeiro.
São temas recorrentes o contraste entre ricos e pobres,
Desse modo, além de controlar seu crescimento acentua-
a problemática do poder paralelo estabelecido pelo trá-
do, as megacidades – sobretudo as dos países economica-
fico de drogas, a violência urbana, as dificuldades finan-
mente dependentes – possuem inúmeros desafios, como
ceiras e a cultura das favelas.
desenvolver infraestruturas básicas, garantir uma melhoria

29
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A cidade se constitui num considerável desafio aos estudiosos do ambiente urbano, principalmente quando se trata
de ambiente urbano-metropolitano. Abordá-la numa perspectiva interdisciplinar, tendo os problemas ambientais
como cerne das preocupações, impõe o exercício conjunto de diversos campos disciplinares.

Sede do FMI, em Washington DC

Nas importantes cidades estão localizadas as sedes e a proporcional de cidades adjacentes, formando grandes
diretoria das grandes empresas, que tomam decisões em metrópoles, embora isso não seja uma regra.
âmbito mundial. Nelas estão presentes centros de produ- De modo geral, pode-se dizer que as cidades globais exer-
ção de tecnologias, como criação de softwares, de novos cem uma função de coordenar as dinâmicas econômicas,
modelos de carros e aviões. políticas e burocráticas em todo o mundo ou em regiões
As cidades mundiais estão classificadas por sua importân- específicas, pois carregam consigo serviços especializados,
cia internacional, regional e continental. São também os centros tecnológicos e científicos, sedes de grandes bancos,
principais centros econômicos do mundo e estão divididas bolsas de valores, etc. A cidade de São Paulo, por exemplo,
em três níveis: alfa, beta e gama. exerce uma grande influência nos serviços, estruturas e ne-
gócios de toda a América do Sul; Nova Iorque, por sua vez,
Nos dias atuais, com a globalização em estágio avançado realiza a mesma influência em âmbito global.
de desenvolvimento e a maior conectividade da economia
internacional, a urbanização dos principais centros do capi- O que se percebe é que, mesmo as cidades mais desenvolvi-
talismo mundial vem ganhando novos contornos, assumin- das agrupam-se em hierarquias internas; há as que possuem
do a frente da hierarquia urbana em todo o planeta. Essas um grau de centralidade e poder maior do que as demais.
cidades com elevado grau de desenvolvimento estrutural, Por esse motivo, a rede de pesquisas GaWC (Globalization
econômico e político são classificadas como cidades globais. and World Cities) do Departamento de Geografia da Uni-
versidade de Loughborough, no Reino Unido, classificou as
Esses são, desse modo, os principais pontos ou “nós” que
129 cidades globais existentes, de acordo com seu grau de
formam a rede mundial que configura as dinâmicas da
desenvolvimento e infraestrutura, entre outros fatores.
globalização. Elas centralizam em torno de si as principais
decisões burocráticas, além de sediarem as principais em- Nessa subdivisão, as cidades foram segmentadas em alfa,
presas e instituições internacionais públicas e privadas. beta e gama, que, por sua vez, foram subdivididas em sub-
Na maioria dos casos, congregam um grande volume níveis intermediários. Observe o quadro:

30
Níveis principais
das cidades Subníveis Cidades globais
globais
Alfa ++ Londres e Nova Iorque
Alfa + Hong Kong, Paris, Cingapura, Xangai, Tóquio, Pequim, Sydney e Dubai

Alfa Chicago, Mumbai, Milão, Moscou, Frankfurt, Toronto, Los Angeles, Madri, Cidade do México, Amsterdã, Kuala Lum-
Alfa
pur e Bruxelas
Seul, Joanesburgo, Buenos Aires, Viena, São Francisco, Istambul, Jacarta, Zurique, Varsóvia, Washington, Mel-
Alfa –
bourne, Nova Déli, Miami, Barcelona, Bangkok, Boston, Dublin, Taipei, Munique, Estocolmo, Praga e Atlanta
Índia, Lisboa, Copenhage, Santiago, Dallas, Filadélfia, Atenas, Berlim, Bogotá, Cairo, Düsseldorf, Hamburgo,
Beta +
Houston, Manila, Montreal, Roma, Tel Aviv, Vancouver e São Paulo
Auckland, Beirute, Bucareste, Budapeste, Cidade do Cabo, Caracas, Chennai, Cantão (China), Cidade de Ho Chi Minh,
Beta
Beta Carachi, Kiev, Lima, Luxemburgo, Manchester, Mineápolis, Montevidéu, Oslo, Riade e Seattle
Abu Dhabi, Birmingham, Bratislava, Brisbane, Calcutá, Calgary, Casablanca, Cleveland, Colônia, Denver, Detroit,
Beta – Genebra, Cidade da Guatemala, Helsinque, Lagos, Manama, Monterrey, Nicósia, Osaka, Cidade do Panamá,
Perth, Port Louis, Rio de Janeiro, San Diego, San Juan (Porto Rico), Shenzhen, Sófia, Saint Louis e Stuttgart
Adelaide, Amã, Antuérpia, Baltimore, Belgrado, Bristol, Charlotte, Cincinnati, Doha, Edimburgo, Glasgow, Hanoi,
Gama + Hyderabad, Jidá, Cidade do Kuwait, Lahore, Nairóbi, Portland, Riga, San José (Costa Rica), San Jose (EUA), Tunis
e Zagreb
Almaty, Columbus, Edmonton, Guadalajara, Indianápolis, Kansas City, Leeds, Lyon, Phoenix, Pittsburgh, Quito,
Gama Gama
Rotterdam, San Salvador, Santo Domingo e São Petesburgo

Acra, Austin, Belfast, Colombo, Curitiba, Durban, George Town, Gotemburgo, Guayaquil, Islamabad, Ljubljana,
Gama – Marselha, Milwaukee, Mascate, Nagoya, Orlando, Ottawa, Porto, Porto Alegre, Pune, Richmond, Southampton,
Tallinn, Tegucigalpa, Turim e Wellington (Nova Zelândia)

Classificação das cidades globais, segundo a GaWC (2010)

31
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 18
Analisar os diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais.

HABILIDADE 19
Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropria-
ção dos espaços rural e urbano.

Atualmente, com a globalização em estágio avançado de desenvolvimento e a maior conectividade da econo-


mia internacional, a urbanização dos principais centros do capitalismo mundial vem ganhando novos contor-
nos, assumindo a frente da hierarquia urbana em todo o planeta. Essas cidades com elevado grau de desenvol-
vimento estrutural, econômico e político são classificadas como cidades globais. São, desse modo, os principais
pontos ou “nós” que formam a rede mundial que configura as dinâmicas da globalização. Elas centralizam
em torno de si as principais decisões burocráticas, além de sedes das principais empresas e instituições inter-
nacionais públicas e privadas. Além disso, na maioria dos casos, essas cidades congregam um grande volume
proporcional e cidades adjacentes, formando grandes metrópoles, embora isso não seja uma regra.
De modo geral, podemos dizer que as cidades globais exercem uma função de coordenar as dinâmicas eco-
nômicas, políticas e burocráticas em todo o mundo ou em regiões específicas, pois carregam consigo serviços
especializados, centros tecnológicos e científicos, sedes de grandes bancos, bolsas de valores, etc. A cidade de
São Paulo, por exemplo, exerce uma grande influência nos serviços, estruturas e negócios de toda a América do
Sul; Nova Iorque, por sua vez, realiza a mesma influência, porém em âmbito global.

MODELO 1
(Enem) Além dos inúmeros eletrodomésticos e bens eletrônicos, o automóvel produzido pela indústria fordista
promoveu, a partir dos anos 50, mudanças significativas no modo de vida dos consumidores e também na ha-
bitação e nas cidades. Com a massificação do consumo dos bens modernos, dos eletroeletrônicos e também do
automóvel, mudaram radicalmente o modo de vida, os valores, a cultura e o conjunto do ambiente construído.
Da ocupação do solo urbano até o interior da moradia, a transformação foi profunda.
MARICATO, E. Urbanismo na periferia do mundo globalizado: metrópoles brasileiras.
Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso em: 12 ago. 2009 (adaptado).

Uma das consequências das inovações tecnológicas das últimas décadas, que determinaram diferentes formas
de uso e ocupação do espaço geográfico, é a instituição das chamadas cidades globais, que se caracterizam por:
a) possuírem o mesmo nível de influência no cenário mundial;
b) fortalecerem os laços de cidadania e solidariedade entre os membros das diversas comunidades;
c) constituírem um passo importante para a diminuição das desigualdades sociais causadas pela polarização
social e pela segregação urbana;
d) terem sido diretamente impactadas pelo processo de internacionalização da economia, desencadeado a
partir do final dos anos 1970;
e) terem sua origem diretamente relacionada ao processo de colonização ocidental do século XIX.

32
ANÁLISE EXPOSITIVA
A complexidade crescente da economia mundial foi ajudada pela rápida evolução das comunicações e da
informática, que possibilitaram uma verdadeira revolução nos padrões de relação econômica e financeira, com
impactos sobre o preço da produção industrial e no preço dos produtos de consumo. Forma-se uma rede de
cidades mundiais interconectadas por processos financeiros. Trata-se de uma rede de cidades fortemente hi-
erarquizada, de acordo com seus níveis de produção, projeção, integração e fluxos comerciais, resultantes do
processo de globalização. Todo o processo repercute na organização das populações dessas cidades.

RESPOSTA Alternativa D

DIAGRAMA DE IDEIAS

URBANIZAÇÃO

FATORES ATRATIVOS FATORES REPULSIVOS

• INDUSTRIALIZAÇÃO
• EXISTÊNCIA DE EMPREGO • CONCENTRAÇÃO FUNDIÁRIA
• MELHORES CONDIÇÕES DE VIDA • MECANIZAÇÃO DO CAMPO
• MELHOR ACESSO A PRODUTOS E SERVIÇOS • BAIXOS SALÁRIOS
• MAIOR INTERAÇÃO CULTURAL

HIERARQUIA URBANA

CLÁSSICA ATUAL

METRÓPOLE NACIONAL METRÓPOLE REGIONAL

METRÓPOLE
METRÓPOLE REGIONAL CENTRO REGIONAL
NACIONAL

CENTRO REGIONAL CIDADE LOCAL

CIDADE LOCAL VILA

VILA

33
na colônia, os portugueses optaram por um processo de
AULAS 39 E 40 urbanização de pouca intervenção. Com isso, percebemos
que várias cidades coloniais obedecem ao relevo natural,
provocando um traçado desordenado que se estendia de
acordo com as necessidades imediatas de uso do espaço.
Contrastando com a imagem desalinhada, as cidades
daquele período reuniam as instituições que deveriam
URBANIZAÇÃO garantir o estabelecimento dos interesses metropolitanos.
BRASILEIRA As igrejas, as fortificações, os centros administrativos e os
redutos militares ocupavam uma posição de destaque, pois
reafirmavam a presença e o domínio lusitano.
No século XVIII, o espaço colonial brasileiro já contava com
algumas cidades com um grande número de habitantes.
COMPETÊNCIA: 4 Pelos fins daquele período, cidades como Salvador e Rio de
Janeiro já abrigavam populações superiores a 40 mil habi-
HABILIDADES: 18 e 19 tantes. Na região Nordeste, locais como São Luis e Recife
ultrapassavam a marca dos 20 mil moradores.
A desordem que caracteriza os núcleos urbanos coloniais
explica muito bem as péssimas condições de higiene da
Mais que a separação tradicional entre um Brasil urbano e um época e tem relação com outros problemas urbanos da
Brasil rural, há, hoje, no país, uma verdadeira distinção entre um atualidade. Somente no século XIX, outros modelos de
Brasil urbano (incluindo áreas agrícolas) e um Brasil agrícola (in- ocupação e ordenamento das cidades viriam a modernizar
cluindo áreas urbanas). No primeiro, os nexos essenciais devem-
esse quadro. Atualmente, muitas dessas cidades coloniais
-se, sobretudo, a atividades de relação complexas e, no segundo,
a atividades mais diretamente produtivas. integram o patrimônio histórico e cultural do Brasil.

SANTOS, Milton. Urbanização brasileira.

1. Introdução
Algumas pessoas pensam que o processo de desenvolvi-
mento dos primeiros núcleos urbanos no Brasil só aconte-
ceu após a ocupação do espaço rural brasileiro. No entanto,
apesar da exploração colonial caracterizada pela economia multimídia: livro
agroexportadora, historicamente, a formação dos núcleos
urbanos foi o primeiro modelo de ocupação do espaço A urbanização brasileira – Milton Santos
colonial, à qual está vinculada a função que as cidades
Nesse livro, Milton Santos apresenta uma síntese da urba-
tinham no interior do projeto de dominação colonial im-
nização brasileira como processo, forma e conteúdo. À luz
plantado pelos portugueses. A cidade servia, fundamental-
dos processos sociais, econômicos e territoriais, como os
mente, como um centro irradiador da cultura europeia. Ao
instrumentos centrais de análise, disserta sobre a reorgani-
mesmo tempo, deveria oferecer o suporte necessário para zação do território brasileiro, suas realidades e tendências,
que as instituições políticas e militares portuguesas pudes- buscando, sobretudo, o reconhecimento dos elementos de
sem melhor orientar o controle dos territórios explorados. estruturação do espaço, em suas diversas escalas de ação,
Dada essa primeira característica, temos que os primeiros núcle- notadamente das condições históricas geradas pelo siste-
os de ocupação urbana se concentraram nas regiões litorâneas. ma temporal pós-revolução tecnológica.
Essa escolha visava facilitar o escoamento dos produtos e rique-
zas que eram exportadas para o Velho Mundo. Com o passar
do tempo, graças à ação dos jesuítas e a descoberta de metais 2. Urbanização brasileira
preciosos, as cidades passaram a se estabelecer pelo interior.
As raízes da urbanização brasileira estão localizadas nos
Ao contrário dos espanhóis, que se preocupavam em re- primeiros centros urbanos surgidos no século XVI ao longo
produzir as formas de ocupação do espaço da metrópole do litoral, em virtude da produção do açúcar. Nos séculos

34
XVII e XVIII, a descoberta de ouro provocou o surgimento de vários núcleos urbanos, e, no século XIX, a produção de café
provocou o processo de urbanização. Em 1872, a população urbana era restrita a 6% do total de habitantes.
No início de século XX, a indústria desempenhou um importante papel no processo de urbanização. A partir da década de
1930, o País começou a industrializar-se. Como o trabalho no campo era árduo e a introdução da mecanização provocava
a perda de empregos, grande parte dos trabalhadores rurais foram atraídos para as cidades com o intuito de trabalhar no
mercado industrial que crescia. Esse êxodo rural elevou de forma significativa o número de pessoas nos centros urbanos. Atu-
almente, 80% da população brasileira vivem nas cidades, caracterizando o Brasil como um país urbano, industrial e agrícola.

Brasília: exemplo de planejamento urbano no Brasil

Ao longo das décadas, a população brasileira multiplicou-se, provocando o crescimento das cidades e a formação de imensas
malhas urbanas, ligando uma cidade a outra e criando as regiões metropolitanas – agrupamento de duas ou mais cidades.

Região metropolitana de São Paulo (2015)

35
O crescimento desenfreado dos centros urbanos provoca uma série de consequências, como o trabalho informal e o
desemprego decorrente de sucessivas crises econômicas. Outro problema muito grave provocado pela urbanização sem
planejamento é a marginalização dos excluídos que habitam áreas sem infraestrutura (saneamento, água tratada, pavi-
mentação, iluminação, policiamento, escolas, etc.) e, junto a isso, o aumento da criminalidade (tráfico de drogas, prosti-
tuição, sequestros, etc.).

Fonte: Tendências Demográficas, 2000. IBGE, 2001.

A falta de um plano diretor não só demanda problemas fazer com que a cidade seja um lugar saudável e agradável
sociais como também alterações ambientais. É o caso da de se viver é de todos os que nela habitam.
poluição provocada pelo lixo urbano, pois milhões de pes-
soas consomem e produzem os mais diversos detritos que,
diariamente, são depositados em lixões a céu aberto sem
receber nenhum tratamento; esse lixo transmite doenças e
polui o lençol freático, entre outros danos.
As cidades enfrentam, ainda, a poluição atmosférica prove-
niente da emissão de gases dos automóveis e das indústrias.
Esses gases provocam problemas de saúde, principalmente
respiratórios e, por fim, a poluição das águas, pois os dejetos multimídia: vídeo
das residências e das indústrias são lançados, sem tratamen- Fonte: Youtube
to, nos córregos e rios e, no período chuvoso, as cheias provo- São Sebastião do Rio de Janeiro -
cam a dispersão da poluição por toda a área metropolitana. A formação de uma cidade
Em suma, percebe-se que a maioria dos problemas ur- O documentário aborda o surgimento da cidade do
banos é, primeiramente, de responsabilidade do poder Rio de Janeiro e suas transformações ao longo dos
público, que, muitas vezes, é omisso em relação a essas anos que a tornaram o que é hoje. O filme é feito a
questões; em outros momentos, podemos apontar a pró- partir de imagens de arquivo, simulações em 3D, fil-
pria população como geradora de problemas, como o lixo magens atuais e depoimentos.
que é lançado em áreas impróprias. Na verdade, a tarefa de

36
§ Desemprego: provoca um grande crescimento no
Plano diretor número de pessoas que atuam no mercado informal,
além de promover o aumento da violência, pois muitas
O plano diretor é o mecanismo legal que visa orientar
pessoas, pela falta de oportunidades, optam pelo crime.
a ocupação do solo urbano. No Brasil, o plano diretor
é o instrumento básico da política de desenvolvimen- § Favelas: apresentam uma concentração de moradias
to e de expansão urbana, de acordo com a Constitui- insalubres, casebres e barracos em situação precária,
ção Federal e o Estatuto da Cidade. desprovidos de serviços públicos básicos.
A cidade, como espaço onde a vida moderna se de-
§ Cortiços: correspondem a moradias que abrigam um
senrola, tem suas funções sociais; entre elas, fornecer
grande número de famílias; são cômodos alugados em
moradia para as pessoas, trabalho, saúde, educação,
antigas casas situadas no centro urbano, em condições
cultura, lazer e transporte. Entretanto, o espaço da ci-
deterioradas; essa modalidade de moradia geralmente
dade é parcelado, sendo objeto de apropriação, tanto
oferece péssimas condições sanitárias e de segurança
privada (terrenos e edificações) como estatal (ruas,
aos seus moradores.
praças, equipamentos, etc.). Para um planejamento
adequado e racional é necessário propiciar desenvol- § Loteamentos populares: ocorrem em áreas perifé-
vimento econômico e social. E é partir daí que surgem ricas, cuja camada da população que habita esses lu-
os planos urbanísticos, com destaque para o Plano gares é de baixa renda; os lotes possuem preços aces-
Diretor Municipal. síveis e longos prazos para o pagamento. Esse tipo de
Dessa forma, seu objetivo geral é promover a ordena- habitação é quase sempre localizado em loteamentos
ção dos espaços habitáveis do município e estabele- clandestinos e as casas são construídas pelo próprio
cer uma estratégia de mudança no sentido de obter morador ou em forma de mutirão.
melhoria de qualidade de vida da comunidade local,
viabilizando o pleno desenvolvimento das funções
sociais do todo (a cidade) e das partes (cada proprie-
dade em particular). Seus objetivos específicos depen-
dem da realidade que pretendem transformar e serão
definidos caso a caso.
O Plano de Diretor Municipal consiste em uma lei mu-
nicipal e é condição para impor obrigações a proprietá-
rios de solo urbano não edificado, subutilizado ou não
utilizado, conforme estabelecido na Constituição Fede-
ral, de modo que não é possível a criação de projetos
urbanísticos de forma isolada e desvinculada do plano
diretor. Ele é um importante instrumento competente
para precisar a fluidez do conceito de função social da
propriedade. Isso significa que o conteúdo da função
social da propriedade é preenchido pelo plano diretor.
Sendo assim, a definição dessa função social passa ne-
cessariamente a depender de um planejamento urbano
geral, e não de uma decisão pontual, isolada.

Casario antigo transformado em cortiço,


no Pelourinho, em Salvador/BA
2.1. Problemas da urbanização
§ Enchentes: os centros urbanos caracterizam-se pe-
A grande aglomeração de pessoas nas cidades sem infra-
las extensas áreas cobertas por concreto e asfalto, o
estrutura suficiente para a população gera uma série de
que dificulta a infiltração da água da chuva no solo;
dificuldades de ordem socioambiental.
em grandes proporções, ocasionam um acúmulo muito
Diante desse contexto, podem-se enumerar os problemas grande de água e as galerias pluviais não conseguem
gerados pelo processo de urbanização ocorrido dentre absorver toda enxurrada, que invade residências, pré-
muitos anos, principalmente em países subdesenvolvidos: dios públicos, túneis e compromete o trânsito.

37
multimídia: música
Fonte: Youtube
Metrópole – Legião Urbana

Rio Branco sofre com as enchentes do verão de 2015.


2.2. Problemas sociais nas
Esses são alguns problemas vividos nas cidades brasi-
cidades brasileiras
leiras e em diversos países, pois todas as cidades pos- O processo de urbanização no Brasil intensificou-se a partir
suem problemas. da década de 1950. As atividades industriais expandiram-
-se, atraindo cada vez mais pessoas para as cidades.

multimídia: livro

A produção do espaço urbano –


Ana Fani Alessandri Carlos
A produção do espaço constitui um elemento central Praça da Sé, em São Paulo, na década de 1950
da problemática do mundo contemporâneo, tanto do A urbanização sem planejamento tem como consequência
ponto de vista da realização do processo de acumula- vários problemas de ordem social. O inchaço das cidades,
ção capitalista − e, por consequência, de justificativa
provocado pelo acúmulo de pessoas, e a falta de uma
das ações do Estado em direção à criação dos funda-
infraestrutura adequada geram transtornos para a popu-
mentos da reprodução − quanto do ângulo da (re)
lação urbana.
produção da vida, que se realiza em espaços-tempos
delimitados reais e concretos. As práticas de resistên- As grandes cidades brasileiras enfrentam diversos proble-
cia precisam ser pensadas com o recurso à construção mas. Destacam-se as questões da moradia, desemprego,
de um olhar teórico visceral e dialeticamente articu- desigualdade social, saúde, educação, violência e exclu-
lado, precisamente, com a práxis, em um movimento são social.
que revele o sentido e o fundamento dos conflitos que
O acesso à moradia com as devidas condições de infra-
se estabelecem hoje, em torno do espaço, como luta
estrutura (saneamento ambiental, asfalto, iluminação, etc.)
pelo direito à cidade.
não atinge todas as camadas da população brasileira. É
Os capítulos nele reunidos trazem e desenvolvem abor- cada vez mais comum o surgimento e a ampliação de fave-
dagens que se propõem a oferecer algum esclarecimento las desprovidas de serviços públicos. Outro agravante são
do tema. Correspondem a onze olhares sobre a mesma as pessoas que não conseguem obter renda suficiente para
temática, diversidade que emana tanto do fato de que a habitação e acabam utilizando as ruas da cidade como
seus recortes analíticos são múltiplos quanto da circuns- espaço de moradia.
tância de que as perspectivas teórico-conceituais adota-
das pelos autores são diversas, ainda que não necessa- A educação de baixa qualidade gera vários transtornos,
riamente divergentes. pois parte da população não consegue obter qualificação
profissional exigida pelo mercado de trabalho, cada vez

38
mais competitivo. Assim, há o aumento do desemprego
e intensificam-se atividades como as desenvolvidas por
vendedores ambulantes, coletores de materiais recicláveis,
flanelinhas, entre outras do mercado informal.
Os serviços públicos de saúde, na sua maioria, apresentam
problemas estruturais, com filas imensas e demoradas, au-
sência de aparelhos e medicamentos, pequeno número de
funcionários, ou seja, total desrespeito com o cidadão que
necessita desse serviço. Rua sem pavimentação no bairro da Cidade Tiradentes, em São Paulo

A segregação urbana é a representação ou reprodução es-


pacial e geográfica da segregação social e está relacionada
com o processo de divisão e luta de classes, em que à po-
pulação mais pobre resta residir em áreas mais afastadas e
menos acessíveis aos grandes centros econômicos. Esses es-
paços segregados, além do mais, costumam apresentar uma
baixa disponibilidade de infraestrutura, como pavimentação,
saneamento básico, espaços de lazer, entre outros.

Um dos maiores problemas do SUS


é a demora para o atendimento dos pacientes.

Um dos problemas urbanos que mais preocupa a popu-


lação atualmente é a violência, pois todos estão vulne-
ráveis aos crimes, principalmente nas grandes cidades
do Brasil. Diariamente, são noticiados assassinatos, as-
multimídia: vídeo
saltos, sequestros, agressões e outros tipos de violência.
Esse fato contribui bastante para que a população viva Fonte: Youtube
amedrontada, e o que é pior, muitos já não confiam na “ENTRE RIOS” - a urbanização de São Paulo
segurança pública.

O principal modelo apontado pela literatura especializa-


da – Jean Lojkine, Roberto Lobato Corrêa e Flávio Villaça
– para a causa da segregação urbana é o que parte da
oposição entre centro e periferia e constitui-se a partir da
formação de novas centralidades. Basicamente, as cidades
constituem-se a partir de seus sítios ou espaços centrais,
multimídia: música expandindo-se a partir de então. Nesse ínterim, as classes
economicamente mais abastadas tendem a se localizar nas
Fonte: Youtube
proximidades desse centro, uma vez que são esses os espa-
A cidade – Chico Science & Nação Zumbi ços mais caros e valorizados.

2.2.1. Segregação urbana


A segregação urbana é a reprodução dos imperativos so-
ciais no contexto de transformação do espaço das cidades.
Também chamada de segregação socioespacial, refere-se à
periferização ou marginalização de determinadas pessoas
ou grupos sociais por fatores econômicos, culturais, histó-
ricos e até raciais no espaço das cidades. No Brasil, alguns
exemplos de segregação urbana mais comuns são a for-
mação de favelas, habitações em áreas irregulares, cortiços Edifício de luxo localizado ao lado da comunidade de Paraisópolis,
e áreas de invasão. na cidade de São Paulo.

39
Com o passar do tempo, esses centros principais tornam-se proporciona uma maior mobilidade e atividade em seus
sobrecarregados e inchados, e a evolução das técnicas vai espaços, incluindo os trabalhadores que residem nas
permitindo que as práticas e serviços desloquem-se a partir periferias e que precisam se deslocar em grandes faixas
de novos subcentros. Eles vão se tornando mais valorizados, para exercerem seus ofícios.
o que encarece os preços dos terrenos e eleva os custos so- Nas chamadas “bordas” das cidades, amplia-se o cresci-
ciais, proporcionando o afastamento das populações mais mento desordenado dos bairros periféricos, além das fa-
pobres e a ocupação pela população mais rica. velas e das casas em áreas irregulares, como nas proxi-
O Estado age também nesse processo, no sentido de midades de cursos de água. Essas áreas são compostas
oferecer a esses centros as melhores condições de in- por pessoas com baixos salários, com poucas condições de
fraestrutura, com uma maior diversidade de transpor- renda e que não possuem outra opção, a não ser residir em
tes, praças, áreas de lazer, entre outras. Dessa forma, locais com pouca infraestrutura, o que caracteriza a segre-
essas áreas empregam mais do que as demais, o que gação urbana.
Domicílios com renda domiliar
ciliar Domicílios com renda domiliar
de até 2 salários mínimos de 20 ou mais salários minímos

Distritos
Em %

Até 10,00
De 10,01 até 20,00
De 20,01 a 30,00
De 30,01 a 40,00
40,01 a mais

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010. Projeção Estatística da Amostra.


Secretária Municipal de Desenvolvimento Urbano - SMDU/Depto. de Estatística e Produção de informação - Dipro.
Nota: 1 - As porcentagens indicam a relação entre domicílios de determinada faixa de renda e o número total de domicílios
permanentes. 2 - A distribuição domiciliar com até 2 salários mínimos inclui os domicilios sem rendimento.

2.2.2. Favelização
A favelização é um fenômeno urbano diretamente relacionado à industrialização e possui raízes históricas. É o processo de
surgimento e crescimento do número de favelas em uma dada cidade. Trata-se de um problema social, pois tais moradias
constituem-se a partir das contradições econômicas, históricas e sociais, o que resulta na formação de casas sem planeja-
mento mínimo, resultantes de invasões e ocupações irregulares.

Vista da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro,


a maior do Brasil, segundo o IBGE

40
No entanto, ao contrário do que muitas pessoas imaginam, a favela não nasce “do nada”, ou “da preguiça” das pessoas
em procurar trabalho, ou “da ignorância” delas em habitar zonas irregulares de moradia, como os morros. É preciso deixar
de lado essa concepção preconceituosa e desinformada dos problemas que afetam a sociedade para que se possa realmente
compreender a questão.
A problemática da formação de favelas no espaço da cidade está diretamente ligada a dois fatores: a urbanização e
a industrialização.
A relação entre a industrialização e a formação de favelas tem origem, principalmente, no êxodo rural, que é a migração
em massa da população do campo para a cidade. Esse fenômeno é decorrente dos processos de mecanização do meio
rural e de concentração fundiária, ou seja, com a industrialização do campo, o homem foi substituído pela máquina, ao
mesmo tempo em que as terras passaram a se concentrar nas mãos de alguns capitalistas, e a população rural foi obri-
gada a buscar emprego em áreas urbanas.
Além disso, faz parte do processo de industrialização a urbanização e constituição das grandes cidades. As indústrias
se formam próximas e provocam a concentração dos trabalhadores nas suas redondezas, provocando, também, a
concentração nos centros urbanos daqueles que buscam moradia e melhores condições de vida, contribuindo para a
rápida urbanização e para a ocorrência da macrocefalia urbana. Esse fenômeno está presente no processo de indus-
trialização e urbanização do Brasil.
Não por acaso, as maiores cidades do Brasil são aquelas que apresentam o maior número de favelas, como São Paulo, Rio de
Janeiro e Belo Horizonte. Mas não se engane: a formação desse tipo de moradia não é resultante do excesso de população,
mas de sua concentração em função de diversos fatores, além de ser uma consequência direta das desigualdades econômi-
cas e históricas que se materializaram no processo de produção do espaço geográfico.
Informações divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dão conta de que o Brasil
já ultrapassou a marca de 11 milhões de pessoas morando em favelas, o que é equivalente a cerca de 6% da
população total, um número superior à população total de Portugal. Desse contingente de pessoas, 80% delas
são de regiões metropolitanas.
A origem das favelas, além de estar associada à industrialização e à urbanização das sociedades, também é uma consequên-
cia histórica do processo de escravismo que marcou a história do Brasil. Segundo uma pesquisa realizada pelo professor
doutor em Geografia, Andrelino Campos, a proibição do tráfico negreiro e o fim da escravidão estão diretamente associados
à formação das primeiras ocupações irregulares nos morros cariocas. Segundo aponta o pesquisador, os ex-escravizados,
além de serem a população mais pobre, passaram a habitar os morros que ficavam mais próximos de zonas que ofereciam
vagas no mercado de trabalho.
Portanto, podemos dizer que o processo de favelização revela as consequências das desigualdades socioeconômicas
que marcam a produção do espaço e contribuem para a segregação urbana e cultural das classes menos abastadas
da sociedade.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A cidade se constitui num considerável desafio aos estudiosos do ambiente urbano, principalmente quando
se trata de ambiente urbano-metropolitano. Abordá-la numa perspectiva interdisciplinar, tendo os problemas
ambientais como cerne das preocupações, impõe o exercício conjunto de diversos campos disciplinares.

41
42
2.2.3. Gentrificação

Entende-se por gentrificação o processo de revitalização Algumas imagens já se tornaram ilustrações clichês desse
dos espaços urbanos ou a aparente substituição de paisa- processo em grandes cidades como Nova Iorque, Berlim,
gens de caráter popular por construções típicas de áreas Londres: um jovem de barba saindo com sua bicicleta do-
nobres. Trata-se de um processo em que o espaço geográ- brável de uma nova rede de cafeterias onde passou a tar-
fico urbano transforma-se e ressignifica-se, sobretudo em de trabalhando, enquanto comerciantes locais vendem o
função da valorização acentuada e do enobrecimento de ponto do comércio que mantinham há décadas no bairro.
uma área antes considerada periférica.
Mas a gentrificação é mais plural e complexa que isso. Em
Imagine que a estrutura de um bairro histórico em decadên- São Paulo, assume contornos particulares, envolvendo am-
cia (que, apesar de estar bem localizado, é reduto de po- biciosos projetos de revitalização do centro, muitas vezes
pulações de baixa renda, edificações precárias e, portanto, questionados por sua lógica higienista em relação à popu-
desvalorizado) melhorou muito nos últimos anos: aumentou lação mais vulnerável dessas regiões.
a segurança pública e agora há parques, iluminação, ciclo- O termo gentrificação surgiu na década de 1960, em Lon-
vias, novas linhas de transporte, ruas reformadas, variedade dres, e advém da expressão inglesa gentry, que representa
de comércio, restaurantes, bares, feiras de rua, etc. as pessoas ricas ligadas à nobreza. O termo, cunhado pela
Entretanto, depois de todos esses melhoramentos, o valor socióloga Ruth Glass, surgiu de suas observações das di-
do aluguel dobrou, a conta de luz triplicou e as idas se- nâmicas populacionais na capital inglesa. Naquela época,
manais ao mercadinho da esquina ficaram cada vez mais pessoas de classes mais abastadas passaram a migrar para
caras, ou seja, junto com toda a melhora, o custo de vida bairros que antes eram predominantemente habitados
subiu tanto que não cabe mais no orçamento dos atuais pela classe trabalhadora mais pobre.
moradores. E o mais cruel de tudo é perceber que, enquan- O processo fez com que os custos de se viver nesses locais
to o antigo morador procura um novo bairro, pessoas de aumentassem consideravelmente. Logo, com o incremento
maior poder aquisitivo estão indo morar no seu lugar. dos preços de moradias e do custo de vida, essa população
acabou indiretamente sendo expulsa dessas regiões. A mu-
Não é de hoje, por exemplo, que o centro da cidade da
dança, além disso, trouxe consigo uma série de transforma-
maior metrópole da América do Sul é associado à pobreza,
ções na própria estrutura desses bairros, que perderam seu
violência e drogas. Ao mesmo tempo, porém, a cada ano
caráter anterior. Essa transformação decorre dos usos mais
se veem novas iniciativas que visam agir diretamente nessa
“precários“, tais como cortiços, mercados, bares, comércio
região, por meio dos mais variados interesses: a revitaliza-
local, para usos mais “sofisticados“: lofts, ateliers, redes de
ção de seus locais históricos, a realização de modalidades
supermercados, restaurantes e bistrôs gourmet e grandes
artísticas ou mesmo com a construção de grandes empre-
marcas. Justamente devido a essas especificidades, o pro-
endimentos imobiliários.
cesso de gentrificação, olhado rapidamente, se aproxima
A questão, contudo, está sempre permeada pelo debate e, muitas vezes, se mescla aos projetos de revitalização ur-
a respeito da gentrificação. Isso porque, segundo alguns, bana. A diferença, contudo, é que o primeiro está atrelado
essas melhorias e mudanças poderiam ocasionar o deslo- aos interesses imobiliários, enquanto que a revitalização se
camento involuntário da população que atualmente vive pauta em demandas sociais específicas. Logo, ainda que
nessas regiões. Algo que já foi constatado em outras ocasi- em alguns casos as obras urbanas se justifiquem pelo ideal
ões em diversos países. de beneficiarem a todos, esses projetos, não raro, são pen-

43
sados com foco especial nos interesses imobiliários e com do solo urbano por meio da promoção da cultura – a ani-
objetivos especulativos. mação cultural – não é mais uma iniciativa de pequenos
grupos boêmios, mas também uma estratégia deliberada
No caso de São Paulo, um dos exemplos mais emblemáti-
do poder público em retomar uma atmosfera cosmopolita
cos levantado por pesquisadores da área é o caso do bairro
das grandes cidades. Nesse interesse reside também a
da Vila Madalena. O mesmo vem ocorrendo na região da
percepção do centro como área com grande potencial de
Santa Cecília e também pode ser notado no projeto cha-
mercado.
mado “Centro Novo”.
Em vários locais do Brasil, percebe-se uma valorização dos
Ainda que o cenário descrito possa parecer com o que se
perímetros ao redor das áreas históricas após processos de
vê em outras grandes capitais do mundo, a maneira como
revitalização. Esse processo acaba, por sua vez, não apenas
a gentrificação ocorre entre países centrais e emergentes
afastando a população que antes vivia no local, mas tam-
segue caminhos bem particulares. A diferença fundamental
bém gerando perdas dos costumes e das culturas que ha-
reside na violência necessária para conseguir realizar tais
via antes ali. Isso contribui para uma certa perda simbólica
projetos. Como nos países periféricos as contradições são
dessa área cultural, que passa a preservar mais os prédios
mais agudas, a pobreza é massiva e precariedade visível,
do que o aspecto humano e a cultura imaterial que antes
despeja-se um número de pessoas, violam-se direitos hu-
havia. Nesse sentido, é fato que muitos turistas vislumbram
manos, despendem-se montantes de verbas públicas em
o que foi criado para agradá-los, dada a lógica que impera
operações cujo retorno é estranho ao grosso da população.
no processo de turistificação dos espaços.
A forma como se justificam essas intervenções urbanas é
também algo a ser notado. Na cidade de São Paulo, especificamente, a retomada do
centro, região de vários prédios com rico valor histórico, foi
realizada em um primeiro momento pelas camadas mais
populares. Contudo, esse retorno se deu em condição de
acentuada precariedade, através do uso de unidades habi-
tacionais em cortiços ou favelas e de empregos informais
e irregulares. Assim, cracolândia, sem-teto, sem-trabalho,
imigrantes, trabalhadores informais e irregulares são reco-
nhecidos como se fossem os agentes da degradação es-
pacial e social, podendo, e às vezes mesmo devendo, ser
eliminados, à medida que são representados como sujeitos
O processo de gentrificação vem ocorrendo do desvio do padrão social.
em vários bairros de São Paulo.-

Não à toa, muitos desses projetos abraçam a ideia de que


estão promovendo uma renovação ou uma revitalização.
Essa é a forma mais perversa, porque vem amparada por um
discurso oficial, com repercussões midiáticas e de marketing.
É uma narrativa da modernização que consegue apoio na
opinião pública, ocultando dessa equação a limpeza social,
valendo-se da criminalização da pobreza, além da já sabida
remoção de moradores e do comércio local.
Os projetos de revitalização urbana, em muitos casos, ten-
dem a focalizar os bairros mais centrais das cidades, devido
às facilidades de acesso e por já contarem com uma com-
plexa infraestrutura, ou locais com um rico patrimônio his-
Esquina da Alameda Cleveland com Rua Helvétia, uma das
tórico e turístico. Dessa forma, ainda que em determinadas regiões onde se concentra a vulnerabilidade social e o choque de
ocasiões o objetivo não seja beneficiar o capital especulati- intervenções urbanas. (Imagem: Google Street View, 2017)

vo, as obras acabam gerando por si só um processo seme- A situação do bairro da Luz, localizado no centro de São
lhante à gentrificação, já que, com a valorização do local, Paulo, é emblemática. Isso porque, em um primeiro mo-
a população originária não consegue mais manter-se ali. mento, optou-se por essa revitalização através dos aspec-
Essa valorização dos centros urbanos é uma tendência tos culturais. Hoje, contudo, a estratégia parece passar a
que pode ser observada desde os anos 1960 e 1970. ser a combinação entre a produção de unidades habi-
Contudo, agora existe uma particularidade: a valorização tacionais, em especial as de interesse social, bem como

44
a construção de equipamentos, serviços e infraestruturas
públicas. Isso aconteceu porque as propostas de cons-
truções culturais e públicas encontraram resistências à
sua plena realização – é a situação do Complexo Cultural
Luz. Seu projeto foi desenvolvido pelo laureado escritório
suíço Herzog et De Meuron, sem licitação ou concurso,
contratados por notório saber, pago com recursos públi-
cos. Posteriormente, esse projeto foi abandonado pelo
Governo do Estado de São Paulo, e seu terreno, desapro-
priado pelos recursos públicos, passou a ser destinado à
implementação da Parceria Público Privada (PPP) Casa
Paulista. Essa mudança sinalizaria, portanto, um desloca-
mento do âmbito cultural para o nível da habitação de in- O êxodo rural expulsou famílias inteiras do campo.
teresse social, como meio de valorização imobiliária mais A década de 1960 foi o período em que o Brasil, pela
efetiva. O programa Casa Paulista destina 80% de suas primeira vez, passou a ter uma população predominan-
futuras unidades à população que trabalha no centro e temente urbana, ou seja, a maior parte dos habitantes
apenas 20% à população que mora no centro – uma pre- passou a concentrar-se nas cidades. Atualmente, mais
cariedade que é acentuada à medida que a população de 80% dos habitantes do Brasil residem em cidades, na
vulnerável, residente e trabalhadora da região, que está lá sua maioria em grandes centros urbanos e capitais, como
localizada em função de relações precárias, de moradia e São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e
emprego, não conseguir acessar as políticas públicas em outras. Afinal, além de um acelerado êxodo rural, a ur-
função da impossibilidade de comprovação de emprego, banização brasileira contou com um acelerado processo
de renda, de moradia. de metropolização – concentração das populações nas
Ainda que a nova intervenção na região siga um viés ha- grandes metrópoles.
bitacional, acaba não incorporando as famílias de grande Esse foi um dos motivos responsáveis pela desigualdade
vulnerabilidade residentes em cortiços. Além disso, embora tanto em tamanho das cidades e número de habitantes
a Prefeitura tenha formado um Conselho Gestor para que quanto em níveis de avanço econômico e ofertas de in-
a população participe da elaboração do projeto, o gover- fraestrutura no espaço urbano brasileiro. A região Sudes-
no municipal apresentou para a população apenas a PPP te, dessa forma, abrange a maior parte dos habitantes e
como alternativa habitacional. O Conselho foi formado possui as maiores taxas de urbanização, com destaque
após uma Ação Civil Pública movida pela Promotoria de para os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, os quais
Habitação e Urbanismo do Ministério Público de São Paulo, contam com mais de 90% de seus habitantes vivendo
já que se tratava de uma Zona Especial de Interesse Social em cidades.
(ZEIS) com a obrigatoriedade da formação do Conselho.
Por outro lado, a região Norte e algumas áreas da região
Nordeste apresentam números mais modestos nesse sen-
2.3. Espaço urbano brasileiro tido. Os Estados menos urbanizados do Brasil são Pará,
O espaço urbano brasileiro foi profundamente marcado Maranhão e Piauí, enquanto outros apresentam números
pelas dinâmicas econômicas, sociais e políticas ocorridas pouco maiores, mas com índices populacionais baixos, o
no século XX e é caracterizado pela elevada concentração que torna suas cidades menores em termos demográficos,
populacional em torno das cidades do Sudeste. a exemplo do Acre e de Roraima.
O processo de urbanização no território brasileiro iniciou- Outro exemplo de Estado com pouca população e com
-se, de maneira mais concreta, a partir do final do século elevada urbanização é Goiás, graças à grande quanti-
XIX, com o início gradativo da industrialização no País. No dade de pessoas habitando a região metropolitana de
entanto, foi após os anos 1930 que a presença das indús- Goiânia e o entorno do Distrito Federal. Assim como os
trias tornou-se mais intensiva e a urbanização tornou-se dois Estados do Sudeste anteriormente mencionados, o
mais forte. A segunda metade do século XX assistiu ao território goiano é cerca de 90% composto por popula-
intenso êxodo rural ocasionado pela mecanização das ati- ções urbanas, mas seu número total de habitantes é de
vidades produtivas no meio rural, o que gerou um maior apenas 6,5 milhões de pessoas aproximadamente, bem
desemprego no campo e a grande leva de migrantes em menos que a capital paulista, que, sozinha, ultrapassa
direção às principais cidades do Brasil. os 11 milhões.

45
A densidade populacional mais elevada na região Sudeste cidades médias a receberem uma maior carga de investimen-
se deve às heranças econômicas e estruturais herdadas dos tos, indústrias, empregos e habitantes. No entanto, é um equí-
ciclos produtivos anteriores, sobretudo do auge do período voco pensar que as grandes metrópoles do País perderam a
cafeeiro da história da economia brasileira. Por esse moti- importância; pelo contrário, suas estruturas seguem moder-
vo, é nessa região que se encontram as duas únicas cidades nizando-se e, de cidades industriais, elas lentamente vão se
globais do País – São Paulo e Rio de Janeiro –, que, juntas, tornando centros burocráticos, concentrando a maior parte
formam uma megalópole, ponto de intensa aglomeração das sedes das grandes empresas nacionais e internacionais.
urbana com níveis internacionais de alcance produtivo.
Atrás das duas cidades globais estão as metrópoles nacio- 2.3.1. Regiões metropolitanas
nais, responsáveis por estabelecer articulações intensivas O processo de urbanização no Brasil foi muito concentrado,
com praticamente todo o território nacional: Belo Horizon- especialmente onde poucas cidades cresceram acelerada-
te, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza, Brasília e outras. Há, mente, tornando-se, em pouquíssimo tempo, verdadeiras
ainda, as metrópoles regionais, com destaque para Campi- metrópoles. Essas metrópoles, por concentrarem atividades
nas, Goiânia, Manaus, Florianópolis, entre outras. econômicas, culturais, políticas, infraestruturas e pessoas,
acabam por influenciar outros territórios, pois exercem o
comando por meio de seu denso meio técnico.
O crescimento horizontal das metrópoles fez com que suas
áreas urbanas se interligassem a municípios vizinhos, como
se tornasse uma única cidade. Essa integração recebe o
nome de conurbação. Os problemas de infraestrutura tor-
nam-se comuns a todos os municípios dessa mancha ur-
bana integrada. A partir disso, em 1973, o poder público
aprovou a lei que criou as regiões metropolitanas, isto é,
um conjunto de municípios contígeos, integrados socioes-
Fortaleza/CE é uma metrópole nacional. pacialmente a uma cidade central, com serviços públicos e
Após os longos ciclos de urbanização, êxodo rural e metropo- infraestruturas comuns.
lização vistos ao longo do século XX, o início do século XXI, Também são consideradas regiões metropolitanas as cha-
sobretudo nessa segunda década, circunscreve um gradativo madas “regiões integradas de desenvolvimento“ (ride),
processo de descentralização, com o crescimento das metró- composta por municípios de mais de um Estado e, portan-
poles de médio porte e a desmetropolização – passando as to, regidas por lei federal.

46
VIVENCIANDO

O olhar do habitante, aquele que circula apressado pelas ruas, muitas vezes deixa passar despercebido valores im-
portantes da paisagem urbana. A necessidade de desenvolver atividades com uma “velocidade” cada vez maior faz
com que deixemos de perceber as coisas que têm valor fundamental e, por consequência, provoca uma perda na
relação que se estabelece com o meio em que se vive. Em tom de parábola, Norton Juster se refere, em um conto, a
esse fenômeno:
“Há muitos anos, neste mesmo lugar, havia uma linda cidade, cheia de casas bonitas e lugares atraentes... As ruas
eram cheias de coisas maravilhosas para se olhar e as pessoas sempre paravam para olhar para elas. − Elas não
tinham nenhum lugar para ir?, pergunta Milo. − Claro que sim, mas, como você sabe, a razão mais importante de
se ir de um lugar para outro é ver aquilo que há entre os dois lugares... − Aí, um dia, alguém descobriu que, se você
não olhasse para nada e tomasse atalhos, você chegaria mais depressa. As pessoas tornaram-se obcecadas para
chegar lá, correndo, depressa, olhando para o chão. E, porque ninguém mais olhava para as coisas à sua volta, tudo
foi ficando cada vez mais feio e mais sujo e, como tudo foi ficando sujo e feio, as pessoas andavam cada vez mais
depressa, e então uma coisa muito estranha começou a acontecer. A cidade começou a desaparecer. Dia a dia, as
construções iam sumindo e as ruas desaparecendo. E as pessoas continuavam vivendo ali como sempre, nas casas,
em prédios e nas ruas, que já não estavam mais ali, porque ninguém notava nada.“
Assim como acontece na ficção, também as pessoas que habitam a cidade podem perder o contato com a cidade na
qual habitam. Na verdade, a cidade não deixa de existir, ela continua ali, mas a maneira pela qual as pessoas passam
a se relacionar com ela é que vem sendo alterada. O próprio olhar é alterado. James Hillman diz que a qualidade de
vida depende do direcionamento da atenção para algo que restaure a qualidade das imagens que percebemos ou
não no meio urbano. A capacidade de formar uma noção verdadeira das coisas, ou da cidade, depende de uma ob-
servação mais atenta e de uma resposta estética. Segundo ele, isso está diretamente relacionado com um ato básico
que foi esquecido: o caminhar, que foi trocado pela locomoção mecanizada. Ele define o ponto de vista de que este
ato de caminhar deva ser retomado para uma melhor relação entre o habitante e a cidade.

47
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 18
Analisar os diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais.

HABILIDADE 19
Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação
dos espaços rural e urbano.

A apropriação do espaço público na cidade ocorre por meio da relação existente entre os aspectos físicos do
espaço, sejam eles naturais e/ou construídos, com as articulações dos interesses sociais e econômicos, bem como
desejos e intenções das pessoas de se manifestarem favoráveis às possibilidades que determinados espaços lhes
oferecem. A forma como muitos espaços urbanos são construídos apresenta uma relação mais forte de perten-
cimento com a comunidade do que outras. Busca-se, assim, com este, entender por que determinados espaços
têm uma interação social mais estimulada e, consequentemente, são mais apropriados pela população e porque
determinadas áreas parecem ser mais inseguras e tendem a ser evitadas por pessoas com maior vulnerabilidade.
É importante ressaltar que as apropriações, mesmo quando intuídas e adaptadas, não implicam, necessariamente,
em inadequação ou indícios de marginalidade. Podem, ao contrário, indicar criatividade, capacidade de melhor
aproveitamento das infraestruturas públicas e fornecer subsídios que alimentem o projeto e a construção futura de
ambientes dessa natureza. Esse entendimento mostra como a apropriação dos espaços públicos ocorre nos bairros
urbanos, estrutura importante da cidade, pois é neles que a vida urbana acontece. O planejamento de bairros deve
então ser definido de acordo com seu tecido, com a vida e a interação de usos que geram, em vez de definido por
fronteiras formais, com comunidades fixas e inerentes.

MODELO 1
(Enem) Pense no crescimento tecnológico de sua cidade nos últimos 10 ou 15 anos e perceberá que, embora
ela tenha crescido, a maioria dos novos bairros é moradia de pessoas humildes que, ou foram expulsas da área
mais central pelo progresso técnico-científico, ou vieram do campo ou de outras regiões buscando melhores
condições de vida, mas agora residem em lugares desprovidos dos serviços básicos.
SOUZA, A.J. Texto e sugestões de atividades para abordar os conceitos de progresso e
desenvolvimento. In: Ciência Geográfica, AGB, dez. 1995 (adaptado).

Com as transformações ocorridas nas áreas rurais e urbanas das cidades pelo advento das tecnologias, as
pessoas procuram se beneficiar de novas formas de sobrevivência. Para isso, apropriam-se dos espaços irregu-
larmente. Diante dessa situação, o poder público deve criar políticas capazes de gerar:
a) adaptação das moradias para oferecer qualidade de vida às pessoas;
b) locais de moradia dignos e infraestrutura adequada para esses novos moradores;
c) mutirões entre os moradores para o melhoramento estético das moradias populares;
d) financiamentos para novas construções e acompanhamento dos serviços técnicos;
e) situações de regularização de seus terrenos, mesmo que em áreas inadequadas.

ANÁLISE EXPOSITIVA

O Estado, por meio de planejamentos eficazes, deve organizar espaços funcionais para a população de menor renda.

RESPOSTA Alternativa B

48
DIAGRAMA DE IDEIAS

URBANIZAÇÃO
BRASILEIRA

CANA
SÉC. XVI, XVII E XVIII
PRIMEIROS CENTROS URBANOS
MINERAÇÃO

CAFÉ
SÉCULOS XIX E XX
INDUSTRIALIZAÇÃO

CRESCIMENTO
POPULACIONAL

CRESCIMENTO
DAS CIDADES

PROBLEMAS NA
URBANIZAÇÃO

DESEMPREGO FAVELIZAÇÃO ENCHENTES POLUIÇÃO VIOLÊNCIA

49
A Geopolítica da Energia pode ser entendida como a aná-
AULAS 41 E 42 lise do conjunto dos elementos geopolíticos e estratégicos
que influenciam o controle de reservas de recursos ener-
géticos, das tecnologias de exploração, da infraestrutura
energética, do transporte e do uso final da energia ou
dos recursos energéticos. Esta modalidade de análise leva
em consideração a distribuição geográfica das principais
reservas de recursos energéticos e dos grandes centros
consumidores, ou ainda, dos países exportadores e impor-
FONTES DE ENERGIA I tadores de certos tipos de recursos energéticos. Considera,
ainda, o papel das disputas geopolíticas e estratégicas en-
tre os Estados importadores e os exportadores de recursos
energéticos, ou as disputas entre os grandes consumido-
res de energia, assim como as estratégias adotadas por
cada grupo de países ou grandes potências para garantir
sua própria segurança energética ou influenciar os demais
COMPETÊNCIA: 6 países no campo energético.
OLIVEIRA, Lucas Kerr de. Geopolítica energética dos países emergentes.
HABILIDADES: 26, 27 e 28
1. Introdução
Há um milhão de anos, as necessidades do homem pri-
mitivo eram relativamente poucas e relacionavam-se in-
trinsecamente à sua sobrevivência. Energeticamente, dependia das cerca de duas mil quilocalorias (kcal) extraídas dos
alimentos que conseguia obter a duras penas. Há sete mil anos, o homem dominava a energia de animais de tração:
um cavalo substituía a força de oito homens. Para o homem nômade primitivo, os recursos naturais eram aqueles que
estavam diretamente ao seu alcance. Com o tempo, dominou o fogo e passou a cortar lenha para se aquecer e cozinhar.
Com o aumento da população, há pouco mais de sete mil anos, foi necessário aumentar a produtividade na obtenção
dos recursos por meio da agricultura.
Estágios de desenvolvimento e consumo de energia

50
No começo da Idade Moderna (1400 d.C.), o homem pas- esses tipos de fontes de energia não são isentos de provo-
sou a utilizar as quedas-d’água e os ventos para moer trigo car impactos na natureza. Os biocombustíveis, por exem-
e realizar outras tarefas. A energia de origem fóssil também plo, produzem devastação ambiental no desenvolvimento
era utilizada, mas com baixa intensidade: carvão mineral das culturas que se constituem na suas matérias-primas,
que aflorava da terra aquecia ambientes e fornecia calor tais como cana-de-açúcar, eucalipto, mamona, entre ou-
para pequenas manufaturas, como a siderurgia. O petróleo tros, para cujo cultivo são necessárias imensas proprieda-
também aflorava, mas era praticamente desconhecido: era des rurais, denominadas monoculturas.
utilizado na iluminação quando o óleo de baleia se tor-
No caso das hidrelétricas, os problemas na geração de
nava escasso. Com a Revolução Industrial no século XVIII,
energia estão na construção das usinas, pois é necessário
o homem desenvolveu a máquina a vapor e multiplicou
represar uma grande quantidade de água que cobre, na
ainda mais suas capacidades na indústria e no transporte.
maior parte das vezes, imensas áreas de florestas, colocan-
A população cresceu e, junto, o consumo de energia. No
do em risco a fauna e a flora, além da emissão de gases
século XX, o homem tecnológico aprimorou a máquina a
provenientes da decomposição de animais e vegetais con-
vapor e desenvolveu motores de combustão interna movi-
tidos no fundo das represas. Outras vezes, destroem áreas
dos a gasolina e a diesel, que são derivados do petróleo.
de pequenas cidades e povoados, regiões indígenas, cau-
Alguns experimentos também foram realizados com óleos
sando danos culturais e econômicos irreparáveis. As ener-
vegetais, mas os derivados de petróleo eram bastante con-
gias solar e eólica produzem impactos quase insignifican-
fiáveis, abundantes, baratos, fáceis de estocar e de trans-
tes e são pouco utilizadas no Brasil.
portar. Vieram mais tarde os motores elétricos e a energia
nuclear, mas o mundo nunca mais rompeu sua relação de As fontes não renováveis correspondem a todo recurso na-
dependência com o petróleo. tural que não tem capacidade de se renovar ou se refazer.
Dentre os recursos finitos com previsões para esgotar total-
mente estão petróleo, carvão, urânio, xisto e muitos outros.
2. Fontes de energia Os recursos energéticos classificados como não renováveis
geralmente produzem poluentes superiores aos renováveis.
Os impactos podem surgir a partir da emissão de gases
dos veículos automotores, vazamentos em oleodutos, va-
zamentos de navios petroleiros, entre outros.

2.1. Energias limpas


As energias renováveis que não causam poluição pela emis-
são de substâncias são chamadas de energias limpas e in-
cluem: solar, eólica, geotérmica, maremotriz e hidráulica.
Os combustíveis fósseis são os meios de geração de
As fontes de energia podem ser classificadas em renová- energia mais utilizados atualmente. Eles incluem o petróleo
veis e não renováveis. Elas são extremamente importantes e seus derivados (gasolina, óleo diesel, etc.), o gás natural,
nas atividades humanas e dão origem aos combustíveis e à o xisto e o carvão mineral. Todos esses combustíveis foram
eletricidade, que servem para iluminar, movimentar máqui- gerados há milhões de anos pela decomposição de seres
nas e caminhões, entre outras aplicações. As energias faci- vivos, animais e vegetais.
litam o trabalho do homem, sendo utilizada para as tarefas São usados em usinas termelétricas em que a combus-
cotidianas, como levantar peso, apertar parafusos, mover tão desses combustíveis libera calor que aquece a água,
veículos, ferver água etc., ao mesmo tempo em que elas gerando vapor que movimenta uma turbina, produzindo
estão na origem de vários processos revolucionários na energia elétrica. São usados também nos automóveis mo-
história da humanidade. Para o desenvolvimento de suas vidos a motor de combustão.
atividades, os seres humanos necessitam efetivamente dos
No entanto, esses combustíveis são causadores de uma
recursos naturais. As fontes energéticas não são diferentes
série de problemas ambientais, em virtude dos gases
e dessa forma podem ser classificadas em dois tipos: fontes
poluentes que eles lançam na atmosfera no momento
renováveis e não renováveis.
de sua combustão. Na combustão completa, eles produ-
A primeira corresponde a todo recurso que tem a capa- zem o dióxido de carbono (CO2), que intensifica o efeito
cidade de se refazer ou não é limitado: biocombustíveis, estufa e agrava o problema do aquecimento global. Ele
hidrelétricas, energia solar, eólica, entre outras. No entanto, também pode reagir com a água da chuva, tornando-a

51
ácida. Na queima incompleta é produzido o monóxido No caso da energia necessária para a movimentação de
de carbono (CO), que também é um gás-estufa. Além veículos, o combustível é considerado limpo apenas no que
disso, várias impurezas são lançadas na atmosfera, diz respeito à não contribuição para a emissão de compos-
como os óxidos de enxofre, que produzem chuva ácida tos do carbono. No entanto, esses combustíveis interferem
muito forte, pois em contato com a água forma-se o sim nos ciclos de outros elementos químicos, como o ciclo
ácido sulfúrico (H2SO4). do nitrogênio. A fonte renovável para a produção de “com-
bustíveis limpos” é a biomassa, ou seja, os biocombus-
Somando-se a esses problemas ambientais, há o fato de
tíveis, que incluem o etanol e o biodiesel.
que os combustíveis fósseis não são renováveis; portanto,
um dia vão se esgotar.
2.1.1. Tipos de energia limpa
Por isso, os cientistas estão cada vez mais direcionando
suas pesquisas para os novos modelos energéticos. Um § Solar: recebemos do Sol uma quantidade dez mil ve-
modo de geração de energia mecânica ou elétrica é consi- zes maior de energia que a necessária para a população
derado limpo se não liberar substâncias poluentes para o mundial em um ano. Assim, toda essa energia pode ser
meio ambiente. É bem verdade que até o momento não se aproveitada por meio de painéis com células fotovoltai-
descobriu nenhuma forma de geração de energia que não cas. Essa energia térmica captada pode ser usada de
cause algum impacto na natureza; entretanto, no caso da modo direto em residências, como para aquecer a água
energia limpa, esse impacto restringe-se à região da cons- do chuveiro ou aquecer ambientes, e pode também ser
trução da usina. usada indiretamente para a geração de energia elétrica.

Esquema de funcionamento de uma usina solar

As principais vantagens são que, depois de prontas para uso, não geram poluição alguma, seu impacto ambiental é insigni-
ficante e sua manutenção é bem barata.
Entretanto, as desvantagens estão ligadas ao fato de que é necessário extrair e processar silício para produzir os painéis
solares, o que gera poluição (controlável); além disso, o custo ainda continua elevado, mas, à medida que essa tecnologia
avança, ela vem se tornando cada vez mais economicamente viável; seu rendimento é baixo e corresponde a apenas 25%,
principalmente porque seu sistema de armazenamento de energia é pouco eficiente, sua produção oscila conforme o clima
e, à noite, não existe produção.

§ Eólica: sua matéria-prima é o vento captado por uma turbina de duas ou três pás – hélices chamadas de eólias –
presas em um pilar. Seu rendimento depende da rapidez e constância dos ventos na região, o que requer uma análise
desses dados, antes desse sistema de energia ser implantado.
As vantagens principais da energia eólica são que o impacto ambiental é praticamente nenhum e o custo de geração de
eletricidade é baixo.

52
Infelizmente, algumas desvantagens também existem. Apesar de reduzidos, ainda há impactos ambientais na instalação
das usinas, causando alteração na paisagem local; ameaçando os pássaros (se as hélices forem colocadas em suas rotas de
migração); poluição sonora; e interferência em transmissões de rádio e TV.

Esquema do funcionamento de uma usina eólica

§ Geotérmica: a 64 km de profundidade da superfície da Terra, há uma camada denominada magma, em que a eleva-
díssima temperatura ferve a água dos reservatórios instalados no subterrâneo. Assim, a energia geotérmica se baseia na
captação do vapor gerado nesses reservatórios por meio de tubos e canos apropriados. Esse vapor faz lâminas de uma
turbina girar, cujo gerador transforma a energia mecânica em elétrica.

Esquema de funcionamento de uma usina geotérmica

53
§ Maremotriz: esse tipo de energia é produzido por meio da instalação de turbinas perto dos mares, que produzirão
energia elétrica por meio da energia potencial das ondas do mar. Porém, seu rendimento é baixo e o fornecimento de
energia não é contínuo.

Esquema de uma das maneiras para obtenção de energia por meio das marés

§ Hidráulica: esse tipo de energia é bem conhecido,


uma vez que é proveniente do movimento das águas.
Seu rendimento é muito superior aos já mencionados.
Porém, ela gera impactos ambientais imensos, incluin-
do destruição de ecossistemas, alteração de paisagens,
alagamentos, bloqueio nos rios e deslocamento da po-
pulação local.

Esquema de como funciona uma usina nuclear.

De maneira resumida, a energia elétrica produzida nas usi-


nas nucleares é resultado de uma reação de fissão nuclear,
que libera uma quantidade colossal de energia na forma
de calor. Esse calor faz a água ferver, cujo vapor aciona uma
turbina geradora que produz eletricidade.
A maior vantagem desse tipo de energia é a grande quan-
Esquema de funcionamento de uma usina hidrelétrica
tidade de energia elétrica gerada. No entanto, há os riscos
§ Nuclear: esse tipo de energia não é renovável e en- de acidentes, o custo elevadíssimo para sua implementa-
volve altos riscos de contaminação em caso de aciden- ção e a poluição térmica gerada pela água quente que vol-
tes ou de o lixo atômico não receber o tratamento e ta para os rios e lagos. Para saber mais sobre os riscos de
o destino adequados. Mas se tudo transcorrer correta- acidentes que as usinas nucleares oferecem à sociedade,
mente, a energia nuclear é considerada limpa, pois não basta ver o caso do acidente da usina de Chernobyl, em
causa poluição pela emissão de substâncias. Pripyat, na Ucrânia.

54
Funcionamento de uma usina de biomassa, através do resíduo da cana-de-açúcar

§ Biomassa: inclui o uso de matéria orgânica – restos de madeira, colheita, plantas, alimentos, animais e algas. É
constituída, principalmente, por elementos como carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e enxofre (em menores
proporções). Esse material orgânico pode ser transformado em combustíveis sólidos, líquidos e gasosos.
O etanol, por exemplo, é produzido a partir da cana-de-açúcar, do milho, entre outras fontes. O biodiesel é outro exemplo e pode
ser produzido a partir de gorduras animais ou óleos vegetais – soja, amendoim, algodão, lama (dendê), girassol, mamona, etc.
Esses biocombustíveis representam uma melhoria dos gases de carbono emitidos para a atmosfera, minimizando o problema
do efeito estufa e do aquecimento global, além de apresentarem menor teor de enxofre. Mas eles causam desmatamento e
aplicação de monoculturas.

2.2. Energias não renováveis


Suas fontes são não renováveis e dependem de processos em escala de tempo geológica ou de formação do sistema solar para
se tornarem disponíveis. É o caso do carvão mineral, do petróleo, do gás natural e da energia nuclear. Geralmente, esse tipo
de energia primária precisa ser transformada em energia secundária – como eletricidade, gasolina –, para então ser utilizada.

§ Petróleo: atualmente utilizado como principal fonte de energia, é um combustível fóssil produzido há milhões de anos
pela pressão de material orgânico e encontrado em algumas zonas do subsolo da Terra. O petróleo e o gás natural são
encontrados tanto em terra quanto no mar, principalmente nas bacias sedimentares (onde se encontram meios mais poro-
sos – reservatórios), mas também em rochas do embasamento cristalino. É de fácil transporte, mas seu potencial destruidor
do meio ambiente é muito grande, pois libera grande quantidade de CO2 para a atmosfera. É um dos grandes “vilões” do
chamado aquecimento global, por causa da sua grande utilização nos meios de transportes.

Recuperador Recuperação de Tintas, fibras sintéticas,


de vapores Indústria Patroquímica aromáticos cosméticos, dissolventes
Gasolinas
Alquilação plásticos, detergentes,
medicamentos,...

Óleo diesel
Conecção e petróleo
de iluminação
Combustível Cracking Combustível
para aviões industrial
catalítico

Ceras
Reservatório
Petróleo bruto Óleos
Forno
lubrificantes

Extracção Massas lubrificantes


solvente
Betume Cristalização

55
§ Gás natural: gás natural é a designação genérica de um combustível, cujo principal componente é o metano (CH4) – o
hidrocarboneto de cadeia mais simples. É proveniente de jazidas naturais localizadas em reservas que, geralmente, tam-
bém são fontes de petróleo, mas não necessariamente. Sua composição varia: além do metano, pode ser composto de
etano, propano, butano e hidrocarbonetos mais pesados.

Mapa da produção de gás natural (em m3/ano)

§ Carvão mineral: conhecido por sua coloração preta, o carvão perdeu espaço na matriz energética mundial
o carvão mineral é uma rocha sedimentar combustí- para o petróleo e o gás natural, com o desenvolvimen-
vel. Esse minério extraído do subsolo pelo processo de to dos motores a explosão. O interesse reacendeu-se
mineração é basicamente um combustível fóssil, cons- na década de 1970, em consequência, sobretudo, do
tituído por átomos de magnésio e carbono. Entre os choque do petróleo, e se mantém em alta até hoje.
diversos combustíveis produzidos e conservados pela Além da oferta farta e pulverizada, o comportamento
natureza sob a forma fossilizada, acredita-se ser o car- dos preços é outra vantagem competitiva. As cotações
vão mineral o mais abundante. do petróleo e derivados têm se caracterizado pela ten-
A formação desse combustível fóssil ocorreu há 300 dência de alta e extrema volatilidade.
milhões de anos, devido a galhos, troncos, folhas e De acordo com dados da International Energy Agency
raízes de grandes árvores que, depois de mortas, fo- (IEA), o carvão é a fonte mais utilizada para geração de
ram soterradas por sedimentos. Mas foi graças à alta energia elétrica no mundo, respondendo por 41% da
pressão e elevadas temperaturas que esses fragmen- produção total. Sua participação na produção global de
tos de vegetais gradativamente se transformaram em energia primária, que considera outros usos além da pro-
carvão mineral. dução de energia elétrica, é de 26%. A principal restrição
à utilização do carvão é o forte impacto socioambiental
O processo de transformação do carvão é definido em provocado em todas as etapas do processo de produção
estágios. A princípio, constitui-se a turfa, posteriormente e também no consumo. A extração, por exemplo, provoca
o linhito, depois o carvão betuminoso e, por fim, o an- a degradação das áreas de mineração. A combustão é
tracito, que é uma forma mais pura de carvão mineral, responsável por emissões de gás carbônico (CO2). Pro-
rico em carbono, compacto, duro e que não produz cheiro jetos de mitigação e investimentos em tecnologia (clean
durante a sua queima. coal technologies) estão sendo desenvolvidos para ate-
O carvão mineral foi uma das primeiras fontes de nuar esse quadro.
energia utilizadas em larga escala pelo homem. Sua O carvão é o combustível fóssil com maior disponibilidade
aplicação, na geração de vapor para movimentar as do mundo. As reservas totalizam 847,5 bilhões de tonela-
máquinas, foi um dos pilares da Primeira Revolução das, quantidade suficiente para atender à produção atual
Industrial, iniciada na Inglaterra, no século XVIII. Já no por 130 anos. Além disso, ao contrário do que ocorre com
fim do século XIX, o vapor foi aproveitado na produ- petróleo e gás natural, elas não estão concentradas em
ção de energia elétrica. Ao longo do tempo, contudo, poucas regiões.

56
Reservas mundiais de carvão mineral (em milhões de toneladas)

O volume extraído e produzido, porém, não é diretamente proporcional à disponibilidade dos recursos naturais. Relaciona-
-se, também, a fatores estratégicos, como a existência de fontes primárias na região e, em consequência, à maior ou menor
dependência da importação de combustíveis. Atualmente, o maior produtor mundial de carvão é a China, que, também
estimulada pelo ciclo de acentuado desenvolvimento econômico, tornou-se a maior consumidora do minério.

Consumo mundial de carvão mineral

No ranking dos maiores produtores de carvão também figuram os seguintes países: Estados Unidos (587,2 Mtep), Índia
(181,0 Mtep) e Austrália (maior exportador do minério do mundo, com 215,4 Mtep). A Rússia, o segundo maior em termos
de reservas, ocupa apenas o sexto lugar no ranking da produção e do consumo. Esse desempenho se relaciona à utilização
majoritária, nesse país, do gás natural.
Seja pelo alto custo e pelas dificuldades de transporte, seja porque o carvão se constitui em fator estratégico para a seguran-
ça nacional (por ser a principal fonte geradora de energia em vários países), o comércio internacional do mineral é pequeno
frente ao porte das reservas e produção.

2.3. Status atual da matriz energética mundial


As fontes fósseis de energia predominam até hoje na matriz energética mundial e de todos os países individualmente.
Em 2001, o mundo consumiu quase 80% de energias fósseis em um total de 10,2 bilhões de toneladas equivalentes de
petróleo. A principal delas é o petróleo (35% do total), mas as parcelas de carvão (23%) e gás natural (22%) também são
bastante significativas.

57
A energia nuclear, também não renovável, contribuiu alternativa, porém também finita: deve levar cerca de 60
com cerca de 7%. As fontes renováveis contribuíram com anos para se esgotar, mantido o atual ritmo de consumo.
os 13% restantes. Entretanto, pouco menos da meta- Muitas nações possuem vastas reservas de carvão pouco
de dessa parcela, 9% do total mundial, corresponde à exploradas, o que lhes garante o suprimento por mais 250
biomassa tradicional, basicamente à lenha queimada de anos, mas gera altos níveis de poluição. Novas descobertas
forma primitiva. Apenas 4% da matriz energética mun- e novas tecnologias de extração de recursos energéticos
dial foi suprida com a energia hidrelétrica (2%) e com de origem fóssil podem ampliar um pouco esses horizon-
as outras opções “modernas” (2%), como eólica, solar tes, mas o fato é que mais e mais dinheiro é e será gasto
e biocombustíveis. Cada habitante do planeta consumiu para buscar cada vez menos energia em locais cada vez
1,67 tonelada equivalente de petróleo (tep) em 2001. mais remotos. Os potenciais nucleares atuais são da ordem
Contudo, o consumo de energia é muito diferente entre de 80 anos, podendo se estender por centenas de anos.
países desenvolvidos (do grupo da Organização para a Entretanto, enquanto não vier uma revolução tecnológica
Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE) e os para a obtenção de energia nuclear será necessário o pe-
em desenvolvimento (chamados de não OCDE), tanto em tróleo. Além disso, após o acidente de Chernobyl em 1986,
as medidas de segurança para os novos reatores nucleares
quantidade quanto em qualidade.
e rejeitos radioativos requerem mais energia. As energias
Assim, países desenvolvidos consomem por habitante renováveis também possuem limites, mas esses estão lon-
quase cinco vezes mais que os em desenvolvimento: 4,7 ge de serem atingidos. O mundo possui vastos potenciais
contra 0,95 tep per capita. No mundo desenvolvido vi- em renováveis, muitos dos quais já estão ao alcance da
vem pouco mais de 1 bilhão de pessoas, que consomem tecnologia atual. É o que acontece com a hidreletricidade,
83% de sua energia por fontes fósseis, mais 11% de a energia eólica, os potenciais geotermais e, especialmente
eletricidade de origem nuclear, somente 6% da energia no mundo em desenvolvimento, a biomassa moderna.
é renovável. Já nos países em desenvolvimento vivem
Matriz energética mundial
quase 5 bilhões de pessoas, que utilizam 22% de energia 29%
renovável, principalmente a biomassa (cerca de 19% do Petróleo
Carvão Mineral
total); a energia nuclear ainda é pouco desenvolvida e os Carvão mineral
31% Petróleo Gás natural
combustíveis fósseis predominam.
Biomassa
Gás Natural
Cerca de metade do petróleo que o planeta possuía ori- Nuclear
Hidrelétrica
ginalmente já foi explorada. Restam cerca de 1 trilhão de
Biomassa 21% Outras renováveis
barris a explorar, o que deve se esgotar em cerca de 50 1%
2%
anos. Isso leva os países a prospectar e desenvolver ou- 5% 10%
Nuclear
tras opções energéticas. O gás natural é uma interessante

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

O aumento na complexidade dos problemas enfrentados pelas sociedades modernas enseja o tratamento dos mes-
mos em uma perspectiva interdisciplinar. Nesse ponto, a ciência geográfica, no âmbito da Geologia Aplicada, desem-
penha papel fundamental no sentido em que busca proporcionar uma gama de informações para a compreensão
de uma série de fenômenos ocorrentes na superfície terrestre e mesmo no interior dela, bem como oferece subsídios
para o entendimento acerca da importância e do valor econômico dos recursos naturais relacionados diretamente às
estruturas geológicas terrestres. A interdisciplinaridade da Geografia com a Geologia pode ser constatada à medida
que esta favorece a reflexão crítica acerca das mudanças que afetam nosso planeta, sobre as causas dos riscos
geológicos e suas consequências para a humanidade e fomenta a discussão atualíssima da questão dos recursos
disponíveis versus a sustentabilidade do planeta.

58
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 28
Relacionar o uso das tecnologias com os impactos socioambientais em diferentes contextos histórico-
-geográficos.

Trata-se de um assunto extremamente estratégico no contexto geopolítico global, pois o desenvolvimento dos
países depende de uma infraestrutura energética capaz de suprir as demandas de sua população e de suas
atividades econômicas. As fontes de energia constituem-se também como uma questão ambiental, pois, a
depender das formas de utilização dos diferentes recursos energéticos, graves impactos sobre a natureza po-
dem ser ocasionados. Atualmente, grande parte da energia consumida no mundo é proveniente de fontes não
renováveis, porque as características dessas fontes são bem conhecidas, possuem um rendimento energético
elevado (poucas perdas de energia no processo de transformação), preços atrativos, geram muitos empregos e
possuem infraestrutura construída para geração e distribuição (usinas, dutos, ferrovias e rodovias).

MODELO 1
(Enem) Uma empresa vai fornecer 230 turbinas para o segundo complexo de energia a base de ventos, no
sudeste da Bahia. O Complexo Eólico Alto Sertão, em 2014, terá capacidade para gerar 375 MW (megawatts),
total suficiente para abastecer uma cidade de 3 milhões de habitantes.
MATOS, C. GE busca bons ventos e fecha contrato de R$ 820 mi na Bahia. Folha de S.Paulo, 2 dez. 2012

A opção tecnológica retratada na notícia proporciona a seguinte consequência para o sistema energético
brasileiro:
a) redução da utilização elétrica;
b) ampliação do uso bioenergético;
c) expansão das fontes renováveis;
d) contenção da demanda urbano-industrial;
e) intensificação da dependência geotérmica.

ANÁLISE EXPOSITIVA
O Complexo Eólico de Alto Sertão é uma área produtora de energia limpa e renovável, já que gera energia
a partir do vento, acrescentando mais uma alternativa à matriz energética brasileira e expandindo as fontes
renováveis em nosso território.
A questão aborda um dos assuntos muito recorrente no Enem nos últimos anos, que é a questão energética no
Brasil e no mundo – especificamente a questão da matriz energética nacional, que é uma das mais limpas do
mundo por ser quase 100% renovável, quando comparada com outras matrizes energéticas de outros países
ou até mesmo mundial. A busca incessante, por todos os países do mundo, de novas fontes energéticas é o
grande e real fato dos novos tempos. O Brasil ocupa posição destacada na corrida célere e técnica de soluções
para a crise energética e sem produzir poluição. O texto se refere à energia dos ventos e insere o quadro de
expansão das fontes renováveis.

RESPOSTA Alternativa C

59
DIAGRAMA DE IDEIAS

ENERGIA

FONTES FONTES NÃO


RENOVÁVEIS RENOVÁVEIS

HÍDRICA URÂNIO

CARVÃO
EÓLICA
MINERAL

PETRÓLEO E
SOLAR
SEUS
DERIVADOS

BIOMASSA
EMITE MUITOS
POLUENTES

CANA-DE- ÓLEO DE EMITE MENOS


LENHA
-AÇÚCAR PALMA POLUENTES

60
AULAS 43 E 44

FONTES DE ENERGIA II

COMPETÊNCIA: 6

HABILIDADES: 26, 27 e 28

1. Fontes de energia do Brasil


As fontes de energia são fundamentais para o de-
senvolvimento de um país, sendo a qualidade e o nível
de capacidade das fontes de energia de um determi-
nado local indicativos do grau de desenvolvimento da
região. Países com maiores rendas geralmente dis-
põem de maior poder de consumo energético.
No Brasil, não é diferente: à medida que o País se mo-
dernizou, o setor energético brasileiro foi se desenvol-
vendo. As principais fontes de energia do Brasil
Evolução da capacidade instalada por fonte de geração (GW e %)
atualmente são hidroelétrica, petróleo, carvão
mineral e biocombustíveis, além de algumas outras
utilizadas em menor escala, como o gás natural e a 1.1. Petróleo, uma fonte não renovável
energia nuclear.

A produção de petróleo do Brasil vem crescendo nos últimos anos.

61
O caráter não renovável do petróleo se explica pelo des- Santos, a cerca de 800 km do litoral santista. Sua explora-
compasso entre seu lento processo de formação e seu cres- ção teve início a partir de 2012 e é realizada majoritaria-
cente consumo. O petróleo é uma commodity, uma maté- mente por empresas privadas, por meio de leilões realiza-
ria-prima bruta com muitas aplicações, que incluem, além dos durante um período de tempo determinado em edital.
da geração de energia, a fabricação de remédios e outros.
A produção de petróleo no Brasil é marcada pelo
aumento acelerado do desempenho nos últimos anos. Há
cerca de 20 anos, o petróleo brasileiro era, em sua maio-
ria, oriundo de importações. Atualmente, o País já detém a
autossuficiência do produto, ou seja, já produz o suficiente
para atender ao mercado interno. Segundo dados da Petro-
bras, a produção brasileira atual é de mais de 2 milhões de
barris por dia. Esse desempenho coloca o Brasil na segun-
da posição na América latina (atrás apenas da Venezuela)
e em 17º no ranking mundial. Estima-se que, nos próximos
anos, apenas o Iraque apresentará um crescimento da
produção de petróleo superior à produção brasileira.
O petróleo do tipo light é o mais apropriado para as refina-
rias brasileiras, tipo esse que é mais encontrado nas jazidas
de outros países.
Em 2005, foram descobertas novas jazidas de petróleo na
camada do pré-sal, localizada abaixo do mar da bacia de

PROFUNDIDADE
2000 m

3000 m
Óleo está sob camada
Plataforma perfura
de sal que pode ter
abaixo da camada de
até 2 mil metros de
sal para extrair o óleo
espessura
5000 m
Essas reservas
estão localizadas
entre 5 mil e 7 mil
metros abaixo do
nível do mar
7000 m

Camada de pré-sal

A produção de petróleo no Brasil é realizada em nove bacias petrolíferas, das quais quatro merecem destaque:
1. Bacia de Campos: é a maior e principal bacia petrolífera brasileira. Localizada na região que se estende por todo o
litoral do Espírito Santo até o norte do Rio de Janeiro, é responsável por 80% da produção de petróleo no Brasil. Essa
bacia contribui com cerca de R$ 54 milhões de reais por ano para o produto interno bruto (PIB) do País.
2. Bacia de Santos: é a bacia petrolífera com maior potencial de crescimento do Brasil. É nela que se encontra a camada
pré-sal, recentemente descoberta e explorada a partir de 2012. Sua localização estende-se desde o litoral sul do Estado
do Rio de Janeiro até o norte de Santa Catarina.
3. Bacia do Espírito Santo: está localizada próxima às porções central e norte do Estado do Espírito Santo e ao litoral
sul da Bahia. Essa bacia destaca-se menos pela produção de petróleo e mais pela extração de gás natural e óleo.

62
4. Bacia do Recôncavo Baiano: é a segunda bacia petrolífera brasileira em volume de produção e a primeira a ser
explorada no Brasil (década de 1950). Localiza-se ao longo do estado da Bahia.

Bacias petrolíferas do Brasil

barragens para a construção de usinas iniciou-se no


Brasil a partir do final do século XIX, mas foi após a
Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que a adoção
de hidrelétricas passou a ser relevante na produção de
energia brasileira.
Apesar de apresentar o terceiro maior potencial hídrico do
multimídia: vídeo mundo (atrás apenas de Rússia e da China), o Brasil impor-
Fonte: Youtube ta parte da energia hidrelétrica que consome. Isso ocorre
Home em virtude de a maior hidrelétrica das Américas e segunda
O filme conta com imagens aéreas monumentais de di- maior do mundo, a usina de Itaipu, não ser totalmente bra-
versos lugares do nosso planeta. Uma frase marcante do sileira. Por encontrar-se na divisa do Brasil com o Paraguai,
filme, que reflete sua intenção é: “O nosso ecossistema 50% da produção da usina pertence ao país vizinho, que,
não tem fronteiras. Onde quer que estejamos, as nossas em razão da incapacidade de consumir esse montante,
ações terão repercussões”. A narração insere questões vende o excedente para os brasileiros. Além do mais, o Bra-
ambientais que dialogam com as paisagens: a evolu- sil também compra energia produzida pelas hidrelétricas
ção histórica dos seres humanos, a industrialização, a argentinas de Garabi e Yaceritá.
agricultura, a descoberta do petróleo, as extrações de
Muitos analistas consideram ser desnecessária a importa-
minerais, os hábitos de consumo criados e, principal-
ção de energia elétrica para completar o abastecimento do
mente, os impactos que estamos vivendo e viveremos
País e culpam a falta de investimento, uma vez que o Brasil
em decorrência disso.
só aproveita 25% do potencial hídrico existente. Por outro
lado, a construção de usinas esbarra em questões burocrá-
ticas – como o orçamento e planejamento administrativo
1.2. Hidrelétricas no Brasil – e em questões ambientais. A construção de barragens
As hidrelétricas no Brasil correspondem a 90% para a produção de energia pode causar sérios danos ao
da energia elétrica produzida no País. A instalação de meio ambiente.

63
multimídia: livro

Energia, recursos naturais e a prática do


desenvolvimento sustentável – Lineu Belico dos Reis;
Eliane A. Amaral Fadigas; Cláudio Elias Carvalho
A Coleção Ambiental, coordenada por Arlindo Philippi Jr.,
Usina hidrelétrica de Mauá, no Paraná, inaugurada em 2012
reúne resultados de estudos, pesquisas e experiências de
A produção de energia elétrica no Brasil é realizada por professores, pesquisadores e profissionais com reconhe-
dois grandes sistemas estruturais integrados: o sistema cida e expressiva atuação na área ambiental, oriundos
Sul-Sudeste-Centro-Oeste e o sistema Norte-Nordeste, que de conceituadas instituições de ensino e pesquisa, carac-
correspondem, respectivamente, a 70% e 25% da produ- terizando-se pelo tratamento multi e interdisciplinar que
ção de energia hidrelétrica no Brasil. esta área do conhecimento requer.
A partir de 1990, houve uma redução no investimento As obras contribuem tanto para a disseminação do
em construções de hidrelétricas no País. Em virtude da conhecimento em bases cientificamente sólidas e co-
política econômica neoliberal, fez-se a opção, em 1995, nectadas às intervenções reais da sociedade, quanto
por um amplo processo de privatização do setor elétri- para a ampliação das reflexões e dos debates sobre
co, com a perspectiva de que tal medida proporcionasse questões sociais, econômicas, políticas e ambientais,
ampliação de investimentos nesse setor. Entretanto, tais fundamentais para a formação, qualificação e capaci-
expectativas não foram atendidas e as consequências fo- tação de profissionais.
ram os sucessivos apagões e o estabelecimento de uma
Na nova edição (revisada e atualizada) desse livro, a
crise energética no Brasil, que culminou no racionamento
abordagem da integração da energia com temas liga-
de energia realizado em 2001.
dos aos recursos naturais e ao desenvolvimento sus-
Posteriormente, o governo brasileiro ampliou a realização tentável é realizada por meio da discussão e análise de
de estudos e de projetos para a ampliação de usinas hi- questões como: o elo entre a energia, a infraestrutura
drelétricas, passando a investir na construção principal- e a sustentabilidade; a energia no contexto global da
mente de usinas de pequeno porte, distribuídas por todo o infraestrutura; os recursos naturais; a matriz energética;
País. A preferência pela construção de pequenas usinas de- e as bases para um planejamento energético voltado ao
ve-se ao fato de elas gerarem menos impactos ambientais. desenvolvimento sustentável.

1.2.1. Vantagens e desvantagens da


produção de energia em hidrelétricas Entre as desvantagens, assinala-se o espaço ocupado pelo
represamento de rios para a construção das barragens.
Existe uma série de vantagens e desvantagens na constru- Esse espaço pode se dar em áreas de reservas florestais,
ção de barragens para a geração de energia a partir das
ricas em fauna e flora, que contribuem para a manutenção
hidrelétricas. Cabe ao governo e à população do país pesar
da vida em determinadas regiões. Além disso, a área ocu-
os pontos positivos e negativos para avaliar a necessidade
pada pode ser povoada por comunidades indígenas e po-
da expansão desse tipo de política energética.
pulações tradicionais, que veem nesse espaço não somente
Entre as vantagens, pode-se citar que a água é um recur- um local de moradia, mas também um espaço histórico e
so renovável – desde que seja garantida a preservação afetivo, longe do qual dificilmente iriam se adaptar. É im-
das nascentes dos rios. Em segundo lugar, o custo dessa portante lembrar também da quantidade de resíduos gera-
água é bem inferior ao de outros tipos de usina, como as dos nas atividades de manutenção dos equipamentos e o
termelétricas, as eólicas e as nucleares. Além disso, as hi- impacto gerado quando as florestas são inundadas, pois ao
drelétricas não geram poluentes na atmosfera, a exemplo se decomporem, produzem metano, um gás que contribui
das termelétricas. para o efeito estufa.

64
A construção de hidrelétricas requer o represamento de água em grandes extensões de área.

2.2. Carvão mineral

Fases da formação do carvão mineral

As reservas brasileiras são compostas pelo carvão dos tipos linhito e sub-betuminoso. As maiores jazidas situam-se nos estados
do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina e as menores, no Paraná e em São Paulo. As reservas brasileiras ocupam o 10º lugar no
ranking mundial, mas totalizam 7 bilhões de toneladas, correspondendo a menos de 1% das reservas totais. Contudo, o minério
brasileiro é pobre do ponto de vista energético e não admite beneficiamento nem transporte, em função do elevado teor de
impurezas. Isto faz com que sua utilização seja feita sem beneficiamento e na boca da mina. Essa aplicação restrita é resultante
de fatores como a vocação brasileira para utilização de fontes hídricas na produção de energia elétrica e a baixa qualidade da
maior parte do carvão nacional, o que impede o seu transporte por grandes distâncias e afeta o grau de rendimento da usina
termelétrica – uma vez que a quantidade de energia produzida é inferior àquela obtida com carvões de alto poder calorífico.
Além disso, também há restrições de natureza geopolítica (dependência de importações, por exemplo) e entraves tecnológicos
e econômicos que se refletem no custo da geração da eletricidade.
A produção brasileira é insuficiente, fazendo com que o País importe 50% do carvão produzido nos Estados Unidos, Austrá-
lia, África do Sul e Canadá. No Brasil, uma das principais jazidas encontra-se no Rio Grande do Sul, como as do vale do rio
Jacuí, cuja produção é consumida pelas usinas termelétricas locais.

65
No estado de Santa Catarina, é encontrada a maior pro-
dução de carvão, com destaque para o vale do rio Tuba-
rão. Nessa jazida, o minério é totalmente aproveitado pe-
las indústrias siderúrgicas localizadas na região Sudeste.

2.3. Biocombustíveis
Os biocombustíveis são fontes de energia do tipo reno-
vável que têm origem a partir de vegetais, como plantas,
sementes e frutos; por isso, também são chamados de
agrocombustíveis.
Jazida de carvão mineral
No Brasil, o principal biocombustível utilizado é o etanol,
Atualmente, cerca de 85% do consumo de carvão são para mas existem outros, como o biogás e o biodiesel. A ado-
o abastecimento das usinas termoelétricas, além de 6% ção dessas fontes de energia passou a ocorrer no País a
para a indústria de cimento, 4% para a indústria de papel partir da década de 1970. Em 2005, procurando ampliar
e celulose e 5% paras as indústrias de cerâmica, alimentos a produção de biocombustíveis, o governo lançou o Plano
e secagem de grãos. Nacional de Energia.

2.3.1. O etanol no Brasil


O etanol (álcool) passou a ser adotado como combustível no Brasil a partir da criação do Programa Nacional do Álcool
– Proálcool, em 1975, extraído da cana-de-açúcar. O auge do Proálcool foi em 1986, elaborado pelo governo federal em
virtude da crise do petróleo ocorrida em 1973, que ocasionou sucessivos aumentos do preço do barril naquele período.
Na década de 1990, o uso de automóveis movidos a álcool diminuiu bastante, sobretudo graças à queda do preço do pe-
tróleo, que se tornou mais rentável para o consumidor que o álcool. Além disso, a adoção do álcool trazia alguns problemas:

§ O grande número de terras destinadas para o plantio de cana-de-açúcar provocou a devastação de muitas áreas naturais
e reduziu o plantio de alimentos básicos – arroz e feijão.

66
§ A tecnologia não era favorável para esse tipo de com- de terras para o cultivo da cana-de-açúcar, somada à inven-
bustível, uma vez que os motores e equipamentos au- ção dos carros do tipo flex, que funcionam tanto a álcool
tomobilísticos apresentavam problemas com o álcool quanto a gasolina, deixando, portanto, de serem reféns das
– em temperaturas baixas, os carros tinham dificuldade oscilações do preço.
para funcionar.
Atualmente, o Brasil é um dos maiores produtores de etanol
§ O preço do álcool oscilava muito conforme as variações do mundo e o maior exportador do produto. A tecnologia
climáticas que alterassem os níveis de produção, o que utilizada no País é referência mundial em termos de alter-
deixava o mercado muito instável. nativas ao petróleo, a despeito das frequentes críticas de
grupos ambientais por conta da larga extensão das lavouras
de cana-de-açúcar que devastam florestas e vegetações em
nome do progresso.

2.3.2. O biogás no Brasil


Trata-se de um combustível gasoso produzido a partir da
extração de metano e outros gases. É possível transformar
em fonte de energia os gases emitidos no armazenamento
de lixo e restos orgânicos de animais.
Ainda é muito pouco utilizado no País; entretanto, existem
estudos aplicados, desde 1973, sobre a criação e utilização
de tecnologias que favoreçam seu uso e produção, sobre-
Charge de Zé Pas tudo visando ao aproveitamento do lixo urbano. Ele pode-
No início da década de 2000, no entanto, o álcool voltou a ria ser utilizado como gás de cozinha e como combustível
ser amplamente utilizado no País, graças, primeiramente, às para automóveis.
novas altas do petróleo e à posição do governo brasileiro de Entretanto, em virtude do alto custo da sua produção, o
se tornar menos dependente dessa fonte de energia, que biogás não parece ser um tipo de combustível que possa
é limitada e pode esgotar com o tempo. Além do mais, os ser utilizado em larga escala. No Brasil, o uso dele limita-se,
avanços tecnológicos permitiram um melhor aproveitamen- basicamente, a fazendas e sítios, para abastecer veículos e
to do etanol, que passou a demandar uma menor extensão equipamentos rurais.

1 Excrementos animais
e restos de alimentos
são misturados com
água no alimentador
do biodigestor

3 O gás metano
pode ser
encanado para
alimentar um
gerador ou
aquecedor
4 As sobras
servem
como
fertilizante

2 Dentro do biodigestor,
a ação das bactérias
decompõe
decompõem o lixo,
o lixo,
transformando-o
transformando o em gás
metano e adubo

Esboço do processo de produção do biogás

67
2.3.3. O biodiesel no Brasil
Adotado no Brasil a partir de 2004, visa diminuir a dependência nacional com o diesel, produto que vem sofrendo sucessivas
altas de preço nos últimos anos. As fontes de produção desse combustível são óleos vegetais (produzidos a partir de semen-
tes, principalmente da mamona) e restos de gorduras de animais. Trata-se de um produto biodegradável, que não polui ou
agride o meio ambiente.

O biodiesel é utilizado como combustível tanto em estado puro quanto misturado ao diesel comum. Em 2008, uma lei
federal tornou obrigatória a adição de 2% de biodiesel ao diesel comum, com o objetivo de diminuir o preço e os custos do
produto. Em 2010, o índice mínimo aumentou para 5%.
Segundo dados do governo federal, no final de 2011, graças à criação do programa de adoção do biodiesel, o Brasil deixou de
importar cerca de 7,9 bilhões de litros de diesel, o que corresponde a um ganho de US$ 5,2 bilhões na balança comercial do País.

2.4. Gás natural


É uma energia de origem fóssil, resultado da decomposição da matéria orgânica fóssil no interior da Terra, encontrado acu-
mulado em rochas porosas no subsolo, constituindo um reservatório e frequentemente acompanhado por petróleo.

68
Geralmente produzido de forma conjunta com o petróleo, é responsável por cerca de 10% do consumo nacional de
energia, na produção de gás de cozinha, no abastecimento de indústrias e usinas termoelétricas e na produção de com-
bustíveis automotores.

O gás natural é distribuído de forma segura pelos gasodutos.

Quimicamente definido como uma mistura de hidrocarbonetos parafínicos leves, à temperatura ambiente e pressão atmos-
férica, ele permanece no estado gasoso. É um gás inodoro, incolor, não tóxico e mais leve que o ar.
A composição do gás natural pode variar bastante; o gás metano é o principal componente, somado ainda ao etano, propa-
no, butano e outros gases em menores proporções. Apresenta baixos teores de dióxido de carbono, compostos de enxofre,
água, nitrogênio, denominados contaminantes do gás natural.
Origem do Gás Natural e Petróleo
Rocha-cobertura
Rocha impermeável que
impede a migração do
petróleo e do gás até a
à Rocha-cobertura
(impermeável)
superfície Gás

Petróleo Rocha-armazém

Rocha-armazém
Camada rochosa Água Água
permeável onde o
petróleo se acumula

Rocha-mãe

Rocha-mãe
Camada rochosa onde
o petróleo teve origem

Na área de transportes, pode ser utilizado em ônibus e au- impacto ambiental e substitui combustíveis mais po-
tomóveis, substituindo o óleo diesel, a gasolina e o álcool. luentes: óleos combustíveis, lenha e carvão.
Na indústria, o gás natural é utilizado como combustível
§ Facilmente transportado e manuseado, não requer
para fornecimento de calor, geração de eletricidade e de
estocagem, eliminando os riscos do armazenamento;
força motriz e como matéria-prima nos setores químico, distribuição feita de maneira segura por gasodutos.
petroquímico e de fertilizantes.
§ Mais leve do que o ar, o gás dissipa-se rapidamen-
2.4.1. Vantagens do gás natural te pela atmosfera em caso de vazamento; diferença
significativa do gás de cozinha (GLP), mais pesado
§ Combustão completa, que libera dióxido de carbono que o ar tende a se acumular junto ao ponto de
e vapor de água, ambos componentes não tóxicos; vazamento, facilitando, com isso, a formação de mis-
portanto, é uma fonte de energia limpa, produz baixo tura explosiva.

69
2.4.2. Desvantagens do gás natural local fixo para a destinação dos resíduos radioativos gera-
dos pela usina.
§ Combustível fóssil (formado há milhões de anos),
apresenta a desvantagem por ser uma energia não
renovável, portanto, finita. Também pode gerar gran-
des impactos ambientais quando há vazamentos em
plataformas e gasodutos, além de contaminantes alta-
mente tóxicos que têm de ser eliminados no processo
de refinamento.
multimídia: site
2.5. Energia nuclear
Recurso energético também utilizado no País, cujo uso foi http://www.mme.gov.br/
idealizado no início da década de 1960 e implantado a www.petrobras.com.br/pt/
partir de 1969, com a criação do Programa Nuclear Brasi-
leiro, sob o argumento de que a energia hidroelétrica, por
si só, não seria suficiente para conduzir a matriz energética
2.6. Energia eólica
do Brasil. Tal argumento mostrou-se falso, seja pela desco- Ainda bastante limitada, a produção de energia eólica no
berta da real capacidade hídrica do País (a terceira maior Brasil vem se expandindo cada vez mais rapidamente ao
do mundo), seja pela descoberta de novas formas de pro- longo dos últimos anos.
dução de energia, como os biocombustíveis.
Em 1981, foi inaugurada a primeira usina nuclear bra-
sileira, localizada na cidade de Angra dos Reis, no Rio
de Janeiro, razão pela qual foi denominada Angra 1.
Porém, por problemas técnicos, já foi desativada e, atual-
mente, não está em operação.
Posteriormente, graças a um acordo com a Alemanha, fo-
ram iniciados os projetos de Angra 2 e Angra 3, que deve-
riam entrar em funcionamento na década de 1980. Entre-
tanto, a usina de Angra 2 começou a operar em 2000. Já
a usina de Angra 3, que teve a sua obra iniciada em 1984, A produção de energia eólica vem crescendo rapidamente no Brasil.
está paralisada desde 2015 por causa de denúncias de cor- O Brasil é um país cuja produção de eletricidade baseou-se,
rupção, na Operação Lava-Jato. historicamente, na dependência de duas principais matri-
zes: a hidrelétrica, predominante e prioritária; e a termoelé-
trica, cuja maioria das usinas opera somente em tempos de
baixa da matriz principal. Assim, a expansão da energia
eólica no Brasil surge a partir da necessidade de diversi-
ficação das fontes energéticas, para que haja menos susce-
tibilidade a crises no setor e também gere menos impactos
ao meio ambiente.
Embora a produção de energia a partir dos ventos ainda
seja pouco representativa no Brasil, é perceptível a evolu-
ção do setor ao longo dos últimos anos. Em 2014, segundo
dados do governo federal, o Brasil ultrapassou a Alemanha,
Usinas Angra 1 (à esquerda) e Angra 2 (à direita),
no que se refere à expansão da energia eólica, atingindo
a única em funcionamento o segundo lugar mundial, atrás apenas da China, o maior
investidor em fontes energéticas no mundo, em razão de
Além dos altos gastos e do baixo nível produtivo (ape-
sua alta demanda.
nas 3% da produção nacional de eletricidade), as usinas
nucleares de Angra são duramente criticadas por grupos Em 2002, o governo brasileiro criou o Programa de Incenti-
ambientalistas em razão dos altos riscos em casos de aci- vo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – Proinfa, cujo
dentes ou vazamentos e pelo não estabelecimento de um objetivo era ampliar as matrizes que geram menos impactos

70
ambientais, dentre elas a eólica, a solar, a geotérmica e A região do Brasil com o maior potencial de produção de
outras. A partir de então, a expansão da energia eólica no energia elétrica a partir dos ventos é a Nordeste, com 75
Brasil ocorreu graças a parcerias entre o poder público e a GW, metade da capacidade de todo o País. Não por acaso,
iniciativa privada, por intermédio da realização de leilões a maioria das usinas encontra-se naquela região. Em se-
e concessões públicas para empresas interessadas, duran- gundo lugar, fica o Sudeste, com 29,7 GW; seguido pelo
te um período de aproximadamente 20 anos. O primeiro Sul, com 22,8 GW; o Norte, com 12,8 GW; e o Centro-Oes-
leilão ocorreu em 2009 e envolveu empreendimentos em te, com capacidade de 3,1 GW. O Nordeste, líder em pro-
cinco Estados da região Nordeste. dução de energia eólica, produz por dia, em média, 2.080
MW. O estado brasileiro que mais produz energia eólica é o
Embora a expansão do setor de energia eólica seja consi-
Rio Grande do Norte. Até 2013, tinha uma capacidade ins-
derável nos últimos anos, os dados revelam que os valores
talada de 1.339,2 MW e uma expectativa de crescimento
ainda são incipientes para se dizer que há um processo de para 3.654 MW até 2018.
diversificação energética em curso no Brasil. Com a con-
cretização de todos os projetos existentes, essa matriz será Além de ser importante no processo de diversificação da
responsável por apenas 8% de toda a eletricidade no País produção de eletricidade e diminuição da dependência
em um futuro próximo. de energia no Brasil, a expansão das fontes eólicas é ne-
cessária também por gerar menos impactos ambientais,
como os proporcionados pela ativação de termoelétri-
2.7. Produção de energia eólica cas. Por isso, os investimentos nessa e em outras fontes,
Todavia, alguns dados merecem destaque. Em 2003, o Bra- embora estejam se intensificando, precisam expandir-se
sil produzia somente 22 MW (megawatts) de eletricidade ainda mais, a fim de gerarem mais e melhores resultados
a partir de fontes eólicas, valor que aumentou para 602 e garantir mais e melhor desenvolvimento do País em ter-
MW, em 2009, e, aproximadamente, 1 GW (gigawatts), em mos de infraestruturas.
2011. Recentemente, em 2014, o País atingiu algo em tor-
no de 5 GW, com a expectativa de elevação para 13 GW Principais estados brasileiros em
até 2018. Apesar de relevantes, esses números ainda são produção de energia eólica
muito pequenos em face do potencial do território nacio-
Capacidade Potencial
nal, calculado em aproximadamente 140 GW. Estado eólica instalada energético em
Os investimentos vão mais que quadruplicar... em 2013 (MW) 2018 (MW)

Valor do investimento acumula- Rio Grande


1.339,2 3.654,2
do Norte
do no setor (em bilhões de reais)
Ceará 661,0 2,325

Bahia 587,6 1.978,9

Rio Grande do Sul 460,0 1978,9

Santa Catarina 236,4 236,4

Fonte: Associação Brasileira de Energia Eólica

2.8. Matriz energética mundial


A estrutura do consumo por fontes energéticas constitui
um dos aspectos-chave para analisar os desafios que en-
frentaremos no futuro. Essa estrutura, na qual o petróleo
O potencial de energia eólica no Brasil é mais intenso e os restantes combustíveis fósseis têm um peso signifi-
entre os meses de julho e dezembro, coincidindo com os cativo, está evidenciada na matriz energética de consumo
meses de menor intensidade de chuva. Isso coloca o ven- mundial de energia primária. Nesta seção constam os da-
to como uma grande fonte suplementar à energia gerada dos da referida matriz e sua evolução previsível, de acordo
por hidrelétricas. com a Agência Internacional de Energia – AIE.

71
Perspectiva de crescimento da demanda mundial de energia primária

Nuclear Nuclear
Outras Hidrelétrica Outras Hidrelétrica
5% 6%
renováveis 2% renováveis 3%
1% 4%
Petróleo Petróleo
Biomassa 31% Biomassa 27%
10% 11%
2011 2035
13.076 Mtep 17.386 Mtep

Carbono Carbono
29% Gás Natural 25% Gás Natural
21% 24%

Fonte: Agencia Internacional de la Energía (WEO 2013) y D. Secretaría Técnica de Repsol

Em escala mundial, os hidrocarbonetos proporcionam


mais da metade da energia primária consumida. Em par-
ticular, 32% do consumo energético primário global pro-
vém do petróleo, fonte energética mais utilizada.
Durante os próximos anos, não se esperam grandes
mudanças. Segundo a AIE, no cenário-base do World
Energy Outlook de 2013, o petróleo registrará uma con- multimídia: música
tração de cinco pontos percentuais na matriz energética
Fonte: Youtube
de 2035 em relação a 2011. O gás natural, por sua vez,
Herdeiros do futuro – Toquinho
alcançará uma participação de 24% da demanda ener-
gética total estimada em 17,3 milhões de toneladas
equivalentes de petróleo.

72
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 26
Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com
a paisagem.

HABILIDADE 27
Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos
históricos e/ou geográficos.

HABILIDADE 28
Relacionar o uso das tecnologias com os impactos socioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.

Trata-se de um assunto extremamente estratégico no contexto geopolítico global, pois o desenvolvimento dos
países depende de uma infraestrutura energética capaz de suprir as demandas de sua população e de suas
atividades econômicas. As fontes de energia constituem-se também como uma questão ambiental, pois, a
depender das formas de utilização dos diferentes recursos energéticos, graves impactos sobre a natureza po-
dem ser ocasionados. Atualmente, grande parte da energia consumida no mundo é proveniente de fontes não
renováveis, porque as características dessas fontes são bem conhecidas, possuem um rendimento energético
elevado (poucas perdas de energia no processo de transformação), preços atrativos, geram muitos empregos e
possuem infraestrutura construída para geração e distribuição (usinas, dutos, ferrovias e rodovias).

MODELO 1
(Enem) Nos últimos decênios, o território conhece grandes mudanças em função de acréscimos técnicos que renovam
a sua materialidade, como resultado e condição, ao mesmo tempo, dos processos econômicos e sociais em curso.
SANTOS, M.; SILVEIRA, M.L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2004 (adaptado).

A partir da última década, verifica-se a ocorrência no Brasil de alterações significativas no território, ocasionando im-
pactos sociais, culturais e econômicos sobre comunidades locais, e com maior intensidade, na Amazônia legal, com a:
a) reforma e ampliação de aeroportos nas capitais dos Estados;
b) ampliação de estádios de futebol para a realização de eventos esportivos;
c) construção de usinas hidrelétricas sobre os rios Tocantins, Xingu e Madeira;
d) instalação de cabos para a formação de uma rede informatizada de comunicação;
e) formação de uma infraestrutura de torres que permite a comunicação móvel na região.

ANÁLISE EXPOSITIVA
Nos últimos anos, a fronteira econômica avançou sobre a Amazônia legal, no que diz respeito aos meios ener-
géticos. Com a construção de gigantescas hidrelétricas, diversos hectares são destruídos pelos alagamentos das
áreas de barragem, já que os rios da Amazônia não são caudalosos, necessitando da técnica para transformar as
paisagens do norte do Brasil e o melhor aproveitamento energético das usinas. A questão aborda aspectos sobre o
processo de ocupação do território brasileiro na atualidade, especificamente da região amazônica. A ocupação e o
povoamento da Amazônia resultam de um longo processo histórico que se iniciou com a colonização e foi marcado
por inúmeros conflitos entre comunidades tradicionais e os exploradores. Nas últimas décadas, ocorreram altera-
ções significativas no território, ocasionando impactos sociais, culturais e econômicos, com a construção de rodovias,
projetos de extrações mineral e a construção de usina hidrelétricas, sobre os rios Tocantins, Xingu e Madeira.

RESPOSTA Alternativa C

73
DIAGRAMA DE IDEIAS

FONTES NÃO FONTES


RENOVÁVEIS RENOVÁVEIS

CARVÃO
MINERAL VENTOS

DIESEL
PETRÓLEO NÃO
MARÉS
EMITEM CO2
GASOLINA
MAIS
GÁS NATURAL SOL
CARAS

TERMELÉTRICAS HÍDRICA

BIOMASSA

• ATERROS • CARVÃO VEGETAL


• ESGOTO URBANO BIOGÁS • CANA-DE-AÇÚCAR ETANOL
• DEJETOS DE ANIMAIS • ÓLEO DE PALMA
BIODIESEL
• ÓLEO DE GIRASSOL
ALTERNATIVAS
CONVENCIONAIS

74
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

Cobra esse tema por meio de questões com A prova exige um amplo conhecimento sobre
interpretação de textos ou imagens. regiões socioeconômicas mundiais. Estude sempre
com um Atlas, para exercitar a noção cartográfica.

A prova compara e relaciona eventos políticos, Ocorrem bastantes questões de geopolítica A prova da Unifesp não tem Geografia.
sociais e econômicos. É necessário amplo relacionadas às regiões socioeconômicas
conhecimento desse tema e atenção às mundiais.
atualidades.

Não costumam cair questões específicas sobre Aborda aspectos socioeconômicos mundiais, Exige uma noção geral sobre regiões socioeco- Não cobra questões específicas sobre as
as regiões socioeconômicas. Estude a regio- de maneira geral, e as relações de poder em nômicas mundiais e cobra sua relação com os regiões socioeconômicas mundiais. Atente-se
nalização do espaço mundial e as diferenças escalas local, regional e mundial. aspectos da globalização. às relações culturais e de ordem social.
socioeconômicas, de maneira geral.

UFMG

Cobra conhecimentos sobre Geografia física. Cobra conhecimentos sobre regiões socioeco- A prova da CMMG não tem Geografia.
Atente-se também aos conflitos socioeconô- nômicas, de maneira geral, ligadas a imagens
micos de cada região. cartográficas.

Aborda aspectos específicos das regiões socio- Estude cada uma das regiões e seus aspectos Atenção aos conceitos e às discussões sobre a
econômicas mundiais. É necessário profundo físicos e socioeconômicos. regionalização do espaço mundial.
conhecimento.
GEOGRAFIA 2

77
AULAS 35 E 36 1. Japão

1.1. Aspectos físicos


O Japão é um arquipélago no Pacífico, separado da cos-
REGIÕES ta leste da Ásia (China e Coreias) pelo mar do Japão; ao
SOCIOECONÔMICAS sul, pelo mar da China Oriental (China e Taiwan); e ao
norte, pelo mar de Okhotsk, em direção à Rússia. Tem
MUNDIAIS VI: JAPÃO uma área total de 377,8 mil km², cuja superfície é in-
tensamente fragmentada. Seu território está distribuído
por mais de 6 mil ilhas, das quais Hokkaido, a mais
setentrional e fria, Honshu, a maior e mais populosa,
COMPETÊNCIA: 2 onde se localiza a capital, Shikoku, a menor e menos
populosa, e, finalmente, Kyushu, mais ao sul, são as 4
HABILIDADE: 8 ilhas principais.

O relevo do país é formado fundamentalmente por montanhas, constituído por uma secção da era Cenozoica – relativamen-
te recente, com menos de 65 milhões de anos – no nordeste – e uma secção originada entre as eras Mesozoica e Paleozoica
–, no sudeste, o que explica a carência de recursos minerais. A presença de minerais metálicos como ferro, ouro, manganês,
entre outros, está condicionada a formações geológicas antigas, com pelo menos dois bilhões de anos. Tal fator natural exigiu
do Japão a conquista de porções da Manchúria chinesa e da península da Coreia para sustentar o crescimento industrial
japonês entre o final do século XIX e o início do século XX.

78
Ainda sobre o relevo, o país está localizado próximo ao O clima, ao norte, recebe influência das massas frias e
contato entre quatro placas tectônicas: Filipinas, Pacífico, secas que se deslocam da Sibéria, da corrente fria de Oya
Euroasiática e Norte-americana. A maior parte do Japão Shivo (Curilas) e das monções de inverno, configurando
está situada em cima da placa Okhotsk, considerada por um clima temperado frio. Na porção central do país, pre-
muito tempo parte integrante da placa Norte-americana. domina o clima temperado oceânico, influenciado pela
Além da formação de cadeias montanhosas, essa locali- corrente quente de Kuro Shivo (corrente do Japão), que
zação torna o Japão um país bastante vulnerável à insta- ameniza as temperaturas no inverno. Ao sul, o clima
bilidade tectônica, a abalos sísmicos e tsunamis, nas mais predominante é o subtropical, influenciado pela corren-
diversas intensidades, além de vulcanismo ativo. Ele faz te quente e pelas monções de verão, que aumentam a
parte de uma zona conhecida como Círculo de Fogo do quantidade de chuvas.
Pacífico, que concentra os maiores vulcões em atividade
do planeta.

Primavera em jardim japonês de Kyoto (2014)

Em virtude das variações climáticas e das diferentes alti-


tudes, o Japão tem variedade de flora e fauna, que ocorre
Vulcão Sakurajima em erupção, janeiro de 2011
em áreas bastante restritas, uma vez altamente urbaniza-
Pesem estudos fundamentados em séculos de observa- do, com grande concentração populacional. Há localidades
ção e excelentes pesquisas geológicas, é praticamente em que a atividade agrícola acaba se confundindo com as
impossível prever um grande terremoto com antecedência paisagens naturais. Na ilha Kyushu, as monções de verão e
suficiente que permita a evacuação das áreas. Em 11 de a corrente quente Kuro Shivo contribuem para a formação
março 2011, ocorreu um tremor de 8,9 na escala Richter, de biodiversidade maior. Ao Sul, há florestas subtropicais
que desencadeou um tsunami com cerca de 10 metros de remanescentes e, na porção central, floresta decídua. Ao
altura. Entre muitos estragos, causou o acidente na usina norte, ocorrem as coníferas.
nuclear de Fukushima.
1.2. Aspectos históricos do Japão
A história do Japão foi construída a partir da ocupação do
arquipélago.
Chamada de nação insular, o Japão foi fortemente influen-
ciado pelo Império chinês, notadamente a língua, a escrita e
a cultura. Atualmente, destaca-se como um dos países mais
desenvolvidos do mundo e detém forte mercado de produ-
ção e distribuição de produtos eletrônicos e automobilísticos.
Rodovia japonesa destruída com o abalo sísmico
de 8,9 na escala Richter, janeiro de 2011 Durante sua história, o Japão teve grande participação na ex-
pansão territorial na região do Pacífico. Localizado no extre-
Como quase 80% do relevo japonês são formados por
mo leste da Ásia, ficou conhecido como Terra do Sol Nascente.
montanhas, as planícies litorâneas concentram a maioria
da população, onde se potencializam os recursos com a A Segunda Guerra Mundial deixou influências ocidentais
utilização de técnicas como a polderização (avanço de importantes no Japão. A aristocracia japonesa, de origem
aterros sobre o mar), principalmente, para aumentar as imperial, não foi capaz de manter a propriedade das terras
restritas terras agrícolas. Em razão da grande quantidade nas províncias que foram privatizadas. Foi nesse período
de áreas montanhosas, os rios japoneses são pouco exten- da história do Japão que predominou a imagem dos guer-
sos, mas intensamente aproveitados, principalmente para a reiros samurais, selecionados pelo império para proteger a
geração de energia e irrigação. ordem pública e as propriedades da coroa.

79
1.3. Da modernização Meiji à Descontentes com o xogunato e seu altos impostos, além
do forte desejo da reestruturação do poder do imperador,
democracia Taishô (1868-1926) camponeses, samurais (a casa militar dos xoguns) e forças
progressistas uniram-se para derrubar o regime.
1.3.1. O fim do domínio dos
Em 1867, teve início uma nova etapa na história do Ja-
xoguns (origem do xogum)
pão, a restauração Meiji. Aos 14 anos, o jovem Mut-
O comando das lutas para estabelecer a unidade política suhito Meiji assumiu o trono após a morte do imperador
do Japão cabia a um seii taishogun. A expressão foi depois Kômei, em 1866.
abreviada para shogun. No século XII, a força dos xoguns
passou a ameaçar seriamente os imperadores. Em 1185,
Ioritomo, chefe do clã dos Minamoto, destruiu a hegemo-
nia dos Taira e instalou uma ditadura militar: o “Xoguna-
to”. Foi mantido o imperador sem governar. Isso aconteceu
no momento em que o mundo ocidental acabava de expe-
rimentar as principais revoluções civis, como a francesa e a
americana (século XVIII). A economia capitalista em conso-
lidação necessitava cada vez mais de novos mercados, bem
como do japonês. O isolamento provocado após a instau-
ração do Xogunato Tokugawa contrariava as leis de oferta
e procura. Foi assim que começou a pressão internacional
para a abertura dos portos, na metade do século XIX. Sem
sucesso, entre os séculos XVIII e início do XIX, os navios
ingleses e russos tentaram quebrar o isolamento japonês.
Mas essa situação se modificaria. Mutsuhito Meiji, 122º imperador do Japão (retrato)

O imperador Meiji precisou promover mudanças radicais,


como a abolição da classe dos samurais. Modernizou o
país para atender às necessidades impostas pelo capitalis-
mo. Em 1890, foi instituído um governo constitucional nos
moldes da constituição alemã.
Meiji governou o Japão por 45 anos. Seu mérito foi for-
talecer internamente o país, modernizar rapidamente os
setores industriais, políticos e sociais, disseminar a efer-
vescência intelectual com a tradução e leitura dos clássi-
cos ocidentais.

Aliança Satsuma-Chôshu, do samurai


Saigo Takamori, do domínio Satsuma

A Aliança Satsuma-Chôshu, do samurai Saigo Takamori, do


domínio Satsuma, foi um dos mais poderosos feudos da
era Xogunato Tokugawa e Kido Takayoshi, outro conhecido
samurai do domínio Chôshu – um feudo japonês que de-
sempenhou importante papel no xogunato de Tokugawa.
Em 1853, o comodoro Matthew Galbraith Perry, a serviço
dos Estados Unidos, entregou uma mensagem ao emissá-
rio do xogum solicitando o fim do isolamento japonês. Em
31 de março de 1854, o Japão assinava o Tratado de Ka-
Família de imigrantes japoneses (México, início do século XX)
nazawa com os Estados Unidos, pelo qual liberava os por-
tos de Shimoda e Halodate para os navios estadunidenses. O fenômeno emigratório japonês durante o governo Meiji foi
Com a assinatura desse tratado e a abertura dos portos, consequência de grandes mudanças estruturais na socieda-
anunciava a chegada do imperialismo dos EUA na Ásia. de. Se, durante a era Tokugawa, os japoneses isolaram-se do

80
resto do mundo, com as mudanças radicais da era Meiji tudo fornecidos pela Alemanha, agora são fabricados pelos japo-
mudou de figura. Como exigência do desenvolvimento do neses, que conseguem impor seus produtos nos mercados. É
capitalismo, o trabalho rural transitou para o industrial com o caso dos produtos químicos, medicamentos, tintas e adu-
drásticas consequências, como a concentração urbana cau- bos. Dos ingleses, os japoneses tomam o mercado asiático
sada pelo êxodo rural, problema esse que a modernização de fiação e tecelagem.
do Japão obrigou-o a resolver com a emigração de parte da
Os grandes bancos japoneses são formados nesta época,
sua população, primeiramente para o Hawai, depois Peru e
devido, principalmente, ao crescimento do parque indus-
México e, a partir de 1908, para o Brasil.
trial. São grupos de créditos como o Mitsui, Mitsubishi,
O imperador Meiji morreu em 1912 e foi sucedido pelo Sumitomo, Yasuda e Daiichi.
príncipe Yoshihito, o imperador Taishô. É neste governo que O crescimento da economia japonesa foi temporário. Du-
o Japão participa da Primeira Guerra Mundial, ao lado dos rou o tempo necessário para a Europa se recuperar. Com o
aliados. Não foi um governo centralizador como o de Meiji, fim da guerra, os japoneses conheceram o reverso do su-
caracterizando-se pelo avanço das ideias democráticas. Os cesso capitalista. Os produtos japoneses perderam espaço
democratas queriam menos poder para o imperador e mais no mercado. Com isso, a recessão tomou conta da vida dos
para o povo. O sufrágio universal (direito de voto) se torna japoneses. Os democratas aproveitaram-se desse momen-
lei, em 1925, mas só beneficiou homens acima de 25 anos. to, promovendo a difusão das suas ideias.
Movimentos de cunho operário ganharam notoriedade ao
lado das ideias dos sindicalistas e socialistas. O fim da era Taishô, de altos e baixos, de democracia e
crescimento econômico, vai ser sucedida pela ascensão das
Entretanto, mal a democracia começa a criar raízes nos ideias nacionalistas, com o respaldo dos militares.
moldes ocidentais, ela tem morte prematura. Tal como o
cristianismo nos séculos XVI e XVII, a democracia é uma
ideia pouco atraente para a aristocracia japonesa que, ao
lado da classe dominante, não estava disposta e ceder par-
te do seu poder. O primeiro-ministro Hara Takashi assume
o cargo em 1918. Três anos foram suficientes para que um
atentado colocasse fim ao seu governo. Hara não era liga-
do nem à aristocracia nem à oligarquia “hambatsu”, que
apoiava o imperador.

Indústria de máquinas pesadas Sumitomo

1.3.2. Do imperador Showa ao imperador


Akihito (1926 aos dias atuais)
Ao falar da era Showa, remete-se naturalmente ao impe-
rador Hirohito, nome que usava quando vivo, cujo governo
foi o mais longo do Japão moderno.

Imperador Taishô

No setor econômico, o Japão obteve sucesso durante o perí-


odo Taishô. Conseguiu monopolizar o mercado asiático, sem
a intromissão dos europeus. Devido ao desgaste provocado
pelo conflito de 1914 a 1918, a Europa estava debilitada.
Os industriais japoneses lançam-se a construir navios diante
da escassez mundial deste produto, e conseguem capitalizar
na indústria naval. Os produtos industrializados, antes Hirohito, imperador do Japão1 (1986)

81
Quando o imperador Showa recebeu o governo de seu an- Ainda não tinha amanhecido no Havaí, em 7 de de-
tecessor Taisho, a crise estava instaurada. O malogro da zembro de 1941, quando a aviação japonesa atacou a
democracia tinha criado condições para o fortalecimento base estadunidense de Pearl Harbor. Em seguida, de-
de forças paralelas. Para piorar, o crash da Bolsa de Nova clarou guerra aos Estados Unidos e à Inglaterra. Em
Iorque, em 1929, afetou a já debilitada economia japone- 1942, os japoneses davam sinais de debilidade nas
sa. O desemprego atingiu cifras assustadoras: dois milhões guerras do Pacífico.
de trabalhadores estavam fora das fábricas. Na zona rural,
Derrotado na guerra, o Japão teve de arcar com per-
o preço dos produtos agrícolas chegou ao ponto crítico.
das e dores, bem como foi obrigado a reconstruir e
Em contrapartida, os capitalistas acumularam muita ri-
adaptar o país à modernidade. Mas, antes, as forças
queza. Os partidos políticos viviam ameaçados pela cor-
aliadas ocuparam o Japão, em 1945, sob o comando
rupção. Nessa instabilidade econômica e política nasceu
e germinou o fascismo japonês. Tratava-se de um sistema do general Douglas MacArthur. O período de ocupa-
populista, centralizador e totalitário alicerçado na figura do ção dos EUA, que foi de 1945 a 1952, serviu para o
imperador como comandante, único caminho que poderia Japão retomar o caminho do desenvolvimento. Foram
conduzir o Japão para o desenvolvimento. eliminadas as ideias bélico-imperialistas e restaurada
a democracia. Tal democracia, foi uma das imposições
Em face do fracasso do sistema democrático, cada vez mais estadunidenses encaminhadas pelo general MacAr-
aumentava a influência dos militares. thur, comandante da ocupação. O Japão do pós-guer-
O incidente que vai reforçar a expansão imperialista japo- ra passa por drásticas mudanças de ordem política e
nesa, sob o comando dos militares, é o da Manchúria. A econômica, entre elas: fim da monarquia absoluta e
força japonesa estacionada naquela província desde 1919 adoção do regime parlamentarista monárquico; ado-
provocou, em 1931, uma explosão na Estrada de Ferro ção da democracia e criação de partidos políticos;
Sulmanchuriana, propriedade do governo japonês. A culpa renúncia ao militarismo; reforma agrária; dissolução
recaiu sobre os chineses, o que motivou o argumento ne- dos zaibatsus (grandes conglomerados japoneses, de
cessário para justificar uma agressão militar japonesa, que origem familiar).
passou a atacar cidades chinesas.
Algumas décadas foram necessárias para reinstalar o
A situação interna do Japão não era das melhores. Não Japão entre os países desenvolvidos. Se, no início, os
havia liberdade de expressão; líderes socialistas, operários produtos japoneses eram considerados baratos e ruins
e liberais desapareciam condenados ao ostracismo ou nos até pelos próprios japoneses, em pouco tempo, eles
porões da repressão. passaram a ameaçar os Estados Unidos e tornar o Ja-
Em razão das campanhas militares na China, a economia pão a segunda potência econômica. Os ensinamentos
japonesa encontrava-se dilapidada e o comércio exterior dos EUA de aumento de produtividade e melhoria de
impedido de se expandir por pressão dos aliados. Foi qualidade foram bem assimilados pelos japoneses, que
quando os Estados Unidos resolveram dar o golpe fatal. passaram a adotar métodos de trabalho hoje aprovei-
Em 1939, suspendeu a venda de matérias-primas – petró- tados no mundo inteiro: eliminação de desperdício no
leo e demais insumos industriais – para o Japão. Nenhum processo industrial. Na área comercial, muitos segmen-
acordo com o presidente Franklin Roosevelt foi possível. Do tos ultrapassaram os estadunidenses e invadiram as lo-
lado japonês, o endurecimento das posições deu-se com jas dos Estados Unidos.
o ministro da Guerra, general Tojo Hideki, que ascendeu
De 1926 a 1989, por 64 anos, portanto, o imperador
ao cargo de primeiro-ministro. Em vez de acordo com os
Showa governou um país que passou pela Segunda
Estados Unidos, preferiu a guerra.
Guerra Mundial, pela responsabilidade e peso da derro-
ta, experimentou os horrores da bomba atômica, à qual
se, seguiu um intenso trabalho para recuperar o país du-
rante e no pós-guerra. O imperador, até então conside-
rado uma divindade, declarou ser um homem de carne
e osso. Falando pelo rádio para todo o país para explicar
a derrota e, mais tarde, caminhando pelos destroços e
pedindo para que o povo tivesse esperança e força para
reconstrução, ele assumiu a condição de ser humano. Foi
a primeira vez que a grande maioria dos japoneses ouviu
Batalha entre atacantes e bombeiros, em Pearl Harbor ou viu seu líder de perto.

82
1.4. Aspectos populacionais
Japão: densidade populacional

Mapa de densidade populacional por prefeitura


Japão

A população do Japão, segundo dados de 2012, é estima- 1.5. Emigração


da em 127,6 milhões de pessoas, o décimo mais povoado
do mundo, resultado das altas taxas de crescimento ex-
perimentadas durante o final do século XIX e começo do
século XX.
Em geral, ela é bastante homogênea e composta por ja-
poneses étnicos. Há minorias étnicas indígenas, como os
ainus, e estrangeiros em busca de emprego. Em 2004, o
Ministério da Justiça estimou o número de estrangeiros
legais em quase dois milhões, entre coreanos, chineses,
taiwaneses, brasileiros e filipinos. Em menor número estão
peruanos, estadunidenses, ingleses, tailandeses, indoné-
sios, vietnamitas, australianos, canadenses, indianos, ira-
nianos e russos. Rua Galvão Bueno, bairro da Liberdade, São Paulo (2014)

83
Cerca de 6,63 milhões de japoneses vivem no exterior, das estatísticas japonesas é diferente do observado nos
dos quais aproximadamente 75 mil residem permanente- censos étnicos da América do Norte e de alguns países
mente em outro país, mais de seis vezes, hoje, o número europeus. No Reino Unido, por exemplo, pergunta-se a
dos que estavam nessa situação em 1975. Mais de 200 origem étnica ou racial de sua população, não a nacio-
mil japoneses foram para o exterior na década de 1990, nalidade dela. O Departamento de Estatística do Japão
para estudar, pesquisar ou trabalhar. Como o governo e ainda não faz esse tipo de pergunta, visto que o censo
as corporações do país buscaram a internacionalização, populacional registra a nacionalidade dos estrangeiros
um maior número de indivíduos foi diretamente afetado, em vez de sua origem étnica. No censo, os cidadãos
o que diminuiu a insularidade histórica do Japão. Apesar japoneses naturalizados e os nativos do Japão com ori-
dos benefícios da experiência de viver no exterior, indi- gens multiétnicas são considerados japoneses. Apesar
víduos que viveram fora do Japão por longos períodos da crença generalizada de que o Japão é um país etni-
frequentemente sofrem problemas de discriminação camente homogêneo, provavelmente seria mais correto
quando retornam. Há quem não os considere mais in- descrevê-lo como uma sociedade multiétnica.
teiramente japoneses. No começo da década de 1980, Na década de 1990 e no começo dos anos 2000, diploma-
esses problemas, principalmente o bullying das crianças tas japoneses assinaram acordos com países do sul da Ásia
que retornavam às escolas, tornaram-se um problema para obter cerca de 50 mil trabalhadores temporários para
público tanto no Japão como nas comunidades japone- trabalhar no Japão. Acordos semelhantes assinados com pa-
sas ao redor do mundo. íses da América, como Brasil, Uruguai, Chile, México e Peru,
conseguiram levar para o Japão 20 mil estrangeiros, dentre
1.6. Imigração eles descendentes de japoneses que podem, no futuro, ser
assimilados culturalmente pela população japonesa.
De acordo com o centro de imigração do Japão, o núme-
ro de residentes estrangeiros no país tem aumentado. A maioria dos brasileiros residentes no Japão são nikkeis
Excluídos os imigrantes ilegais e turistas que perma- (descendentes de japoneses ou cônjuges de nipo-brasilei-
necem no país por menos de 90 dias, os estrangeiros ros), que vivem e trabalham legalmente e são conhecidos
somavam 2,2 milhões, em 2008. Em 2010, esse número como decasséguis.
caiu para 2,1 milhões de pessoas. A maioria dos 230 O Brasil passou a receber imigrantes japoneses em 1908,
mil brasileiros era descendente de japoneses; 687 mil mas a maior parte deles chegou na década de 1930 e fi-
chineses e 565 mil coreanos. Essas três nacionalidades xou-se, sobretudo, em São Paulo. Hoje, a população nipo-
juntas contribuíam com cerca de 69,5% dos residentes -brasileira é de quase 1,5 milhão de pessoas, da qual mais
estrangeiros no país. de um milhão são mestiços. Formam a maior colônia de
Entre os imigrantes, o Japão aceita um fluxo de apro- descendentes japoneses do mundo. Muitos desses mesti-
ximadamente 15 mil novos cidadãos japoneses por ços ou cônjuges brasileiros têm imigrado para o Japão em
naturalização todo ano. O conceito de grupos étnicos busca de melhores condições de vida.

Imigração brasileira no Japão

O Brasil é o país com a maior colônia de japoneses e descendentes fora do Japão.

84
Imigração e incentivo ao aumento do número de filhos são importações abaixo da quota não sofrem restrições, mas
soluções sugeridas para prover trabalhadores jovens, que estão sujeitas a uma tarifa de 341 yenes por quilo. Hoje,
sustentariam a população idosa do país. Porém, políticas essa tarifa é estimada em 490% e tende a aumentar para
de apoio à imigração são impopulares, uma vez que o au- 778%, graças aos novos métodos de cálculo que serão in-
mento do índice de criminalidade é, muitas vezes, atribuído troduzidos como parte da Rodada de Doha.
aos novos moradores estrangeiros.

1.7. Aspectos econômicos


O Japão, um dos membros do G-8, cuja economia é a
terceira maior do mundo, por PIB nominal, com renda per
capita de US$ 36,8 mil (FMI, 2013), e a quarta maior em
paridade do poder de compra. A economia japonesa é
analisada pela pesquisa trimestral Tankan de sentimento
empresarial, conduzida pelo Banco do Japão.
É o terceiro maior produtor de automóveis do mundo, detém
as maiores indústrias de bens eletrônicos e, frequentemente,
um dos mais inovadores. É um dos líderes de registros de
patentes globais. Vem encarando uma competição crescente Agricultura de terraceamento ou jardinagem
com a China e a Coreia do Sul em produção de bens de Apesar de o Japão ser autossuficiente em arroz (exceto
alta tecnologia e de precisão: instrumentos ópticos, veículos para o processamento industrial) e trigo, o país impor-
híbridos e robótica. As regiões de Kanto e Kansai são os cen- ta cerca de 50% de sua demanda de grãos e outras
tros industriais manufatureiros da economia japonesa. culturas forrageiras, bem como a maior parte da carne
O Japão também é o maior país credor do mundo, cujo su- consumida. É o maior mercado consumidor dos produ-
peravit comercial anual detém um considerável excedente tos agrícolas da União Europeia. Maçãs são produzidas
internacional de investimentos. Os ativos financeiros priva- nas regiões de Tohoku e Hokkaido; peras e laranjas, em
dos (segundo maior do mundo) somam cerca de US$ 14,6 Shikoku e Kyushu.
trilhões, 13,7%. Em 2013, 62 empresas do Fortune Global
500 eram sediadas no Japão. Segundo o Fórum Econômico 1.7.2. Pesca (mundial e o Japão)
Mundial, o país é o nono no ranking de competitividade.
O Japão detém o segundo maior volume de toneladas de
peixes pescados do mundo, atrás apenas da China, com
1.7.1. Agricultura 11,9 milhões de toneladas, em 1989, e ligeiramente acima
O arroz é um produto essencial para o Japão, como mostra dos 11,1 milhões de toneladas, em 1980. Após a crise de
esse arrozal em Kurihara, Miyagi. Apenas 12% do territó- energia de 1973, a pesca no mar profundo diminuiu em
rio japonês é apropriado para o cultivo. Em virtude dessa relação ao volume anual pescado na década de 1980 e
falta de terra arável, utiliza-se um sistema de terraço para alcançou cerca de dois milhões de toneladas. A pesca em
se plantar em pequenas áreas. Consequentemente, o país mar aberto contribuiu com cerca de 50% do total de peixes
tem um dos maiores índices de produção por área quadra- capturados no final dos anos 1980.
da do mundo, o que o torna autossuficiente em produtos A pesca costeira com pequenos barcos, redes de pesca ou
agrícolas por volta de 50% em apenas 56 mil km² (14
técnicas de reprodução contribuíram com cerca de um terço
milhões de acres) cultivados. No espaço agrário japonês,
do total da produção do setor; a pesca em alto mar com bar-
além das técnicas do terraceamento, polderes e curvas de
cos de média proporção contribuiu com mais da metade da
nível, as propriedades agrícolas no país têm em média 1,7
produção total. O restante foi pescado por grandes barcos.
hectares e são de base familiar, devido a ampla reforma
Entre as várias espécies de frutos do mar pescados estão a
agrária promovida durante a reconstrução no pós-guerra.
sardinha, o atum, o caranguejo, o camarão, o salmão, o es-
O pequeno setor agrícola japonês, todavia, é altamente camudo, a lula, os mariscos, a cavala e o pargo. A pesca em
subsidiado e protegido, cuja regulação favorece o cultivo água doce responde a 30% da indústria pesqueira japonesa.
em pequena escala.
O Japão tem uma das maiores frotas pesqueiras do mundo
O arroz, importado e mais protegido, é sujeito a tarifas e contribui com cerca de 15% da pesca mundial. Algumas
de 490%, restringido a uma quota de apenas 7,2% do entidades acusam-no de pôr em risco de extinção alguns
consumo médio de arroz de 1960 a 1988. Legalmente, as peixes, como o atum, e de apoio comercial à pesca baleeira.

85
O atum é um dos principais pescados do Japão,
pois é a base da sua alimentação.

1.7.3. Indústria
A indústria manufatureira japonesa, altamente dependente de matéria-prima e combustível importados, é composta dos
setores eletrônicos de computadores, semicondutores de cobre, ferro e aço, petroquímico, farmacêutico, da construção naval,
aeroespacial, têxtil e alimentos processados.
Indústria

ferro e aço materiais de construção


máquinas e bens de metal têxtil e vestuário
engenharia elétrica madeira e/ou papel
equipamentos de transporte géneros alimentícios
e/ou construção naval
chemicals outros

Maior área industrial

1.7.4. Construção naval


O Japão dominou a construção naval mundial no final da década de 1980. Responde por mais da metade de todos os pedidos
no mundo. Seus competidores mais próximos são a Coreia do Sul e a Espanha, com 9% e 5,2%, respectivamente, do mercado.

86
Essa indústria foi atingida por uma longa recessão do crescimento foi de 8% em 1989, em virtude dos muitos gas-
final da década de 1970 até 1980, o que resultou em tos com a população idosa japonesa. Os fabricantes líderes
drástico corte no uso de fábricas e na força de trabalho. O desenvolveram novas drogas para doenças degenerativas e
reaquecimento do setor deu-se a partir de 1989, graças geriátricas. As empresas farmacêuticas estabeleceram redes
à demanda de outros países que precisavam substituir tripolares entre Japão, Estados Unidos e Europa ocidental, a
suas frotas antigas, e ao declínio súbito da indústria naval fim de coordenarem o desenvolvimento de produtos, inten-
na Coreia do Sul. Em 1988, as empresas japonesas de sificando com isso as fusões e as aquisições no exterior. A
construção naval receberam pedidos de 4,8 milhões de pesquisa e o desenvolvimento da biotecnologia progrediam
toneladas de navios, número esse que saltou para 7,1 com estabilidade, incluindo o lançamento de projetos mari-
milhões de toneladas, em 1989. nhos com a comercialização em grande escala a ocorrer na
década de 1990. Ela cobria uma ampla variedade de cam-
Embora encare a competição com a Coreia do Sul e China,
pos: agricultura, pecuária, farmácia, química, processamento
a indústria manufatureira de construção naval japonesa per-
de alimentos e fermentação industrial. Hormônios e prote-
manece avançada e bem-sucedida. Em 2004, o Japão perdeu
ínas humanas para uso farmacêutico foram pesquisados
sua posição de liderança na indústria para a Coreia do Sul.
mediante recombinação genética com bactérias, bem como
Desde então, sua participação no mercado vem caindo drasti-
melhoria das propriedades das enzimas bacterianas para
camente. A participação de mercado total dos países de toda
desenvolver a tecnologia de fermentação de aminoácidos,
a Europa caiu para apenas um décimo da Coreia do Sul, e
campo no qual o Japão é líder mundial. O governo adverte
os números dos Estados Unidos e outros países tornaram-se
os produtores japoneses, no entanto, contra o excesso de
mínimos. No entanto, a construção naval militar permanece
otimismo no que se refere à biotecnologia e bioindústria. As
dominada pelas empresas dos Estados Unidos e Europa.
pesquisas no Japão e no exterior intensificaram-se na dé-
cada de 1980, levando a disputas por patentes e forçando
1.7.5. Aeroespacial algumas empresas a abandonarem suas pesquisas.
A indústria aeroespacial recebeu um grande impulso em
Em 2006, o mercado farmacêutico japonês foi o segundo
1969, com a fundação da Agência Nacional de Desenvol-
maior do mundo, com vendas que chegaram a 60 bilhões
vimento Espacial, posteriormente Agência Japonesa de
de dólares, aproximadamente 11% do mercado mundial.
Exploração Aeroespacial. Ela se encarregou do desenvol-
vimento de satélites e veículos de lançamento. A indústria A indústria e as leis farmacêuticas são muito particulares,
militar japonesa, embora represente uma fatia pequena do regidas pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar.
PIB, é um setor importante da economia. Em 6 de janeiro de 2001, houve fusão do Ministério da
Saúde e do Bem-Estar com o Ministério do Trabalho,
1.7.6. Petroquímica como parte do programa do governo japonês para reor-
ganizar os ministérios.
A indústria petroquímica japonesa experimentou um cres-
cimento moderado no final da década de 1980, em razão
da expansão econômica estável. O maior crescimento veio
da produção de plásticos, poliestireno e polipropileno. Os
preços dos produtos petroquímicos permaneceram altos
graças à demanda crescente das economias em desenvol-
vimento, na Ásia.
Em 1990, esperava-se que a construção de complexos de
fábricas para produzir produtos baseados no etileno na
Coreia do Sul e na Tailândia aumentaria a oferta e redu-
ziria os preços. Em longo prazo, prevê-se que a indústria
petroquímica japonesa irá deparar-se com uma com-
petição intensa, resultado da integração dos mercados
interno e internacional e dos esforços dos outros países
asiáticos em alcançar o Japão.

1.7.7. Biotecnologia e indústria farmacêutica


As indústrias de biotecnologia e farmacêutica viveram um
crescimento intenso no final da década de 1980, cujo Sede de uma indústria farmacêutica em Tóquio, Japão

87
VIVENCIANDO

Um bom passeio seria uma visita ao Centro de Estudos Japoneses da USP, que fica na Cidade Universitária. O prédio
da Casa de Cultura Japonesa foi construído, em 1971, pela Aliança Cultural Brasil-Japão, atendendo à proposta
lançada pelo então reitor da USP, professor doutor Miguel Reale, que propunha a construção de espaços culturais de
diversos países, entre eles, Alemanha, Itália e Japão. A construção da Casa de Cultura Japonesa contou com doações
substanciais do governo japonês (Programa de Subvenções Especiais, Fundação Japão), Nippon Keidanren (Federa-
ção das Organizações Econômicas do Japão), Banpaku Kikin (Organização Comemorativa da Exposição Mundial de
1970), Nippon Usiminas e de entidades e pessoas físicas e jurídicas do Brasil e do Japão.

Fachada da Casa de Cultura Japonesa

88
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 8
Analisar a ação dos Estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfren-
tamento de problemas de ordem socioeconômica.

O controle de natalidade é visto em muitos países como uma solução para o crescimento populacional, a partir
de políticas públicas para o incentivo da diminuição do número de nascimentos no país, por meio de campa-
nhas, distribuição gratuita de contraceptivos, preservativos, entre outros. Essa ideia de utilizar o controle de
natalidade como método de diminuir os nascimentos vem das teorias malthusiana e neomalthusiana, teorias
demográficas que analisam o alto índice populacional de um país como o fator principal de seu baixo desen-
volvimento econômico, colocando em vista que os países com maiores índices de desenvolvimento econômico
têm baixo crescimento populacional, e conseguem esse fato a partir da utilização dos controles de natalidade.
Por outro lado, os controles de natalidade podem afetar as economias dos países após as fases de transição
demográfica, pois com a redução de natalidade em um país, a faixa etária de crianças diminui, e quando esse
montante de crianças estiver na fase adulta, o número de pessoas em idade ativa para o trabalho, mão de obra,
será baixo, diminuindo a quantidade de arrecadação governamental a partir da força de trabalho e, consequen-
temente, uma menor renda de produto interno bruto (PIB) dentro do país.

MODELO 1
(Enem) O número de filhos por casal diminui rapidamente. Para a maioria dos economistas, isso representa um
alerta para o futuro.

Uma consequência socioeconômica para os países que vivenciam o fenômeno demográfico ilustrado é a
diminuição da:
a) oferta de mão de obra nacional;
b) média de expectativa de vida;
c) disponibilidade de serviços de saúde;
d) despesa de natureza previdenciária;
e) imigração de trabalhadores qualificados.

89
ANÁLISE EXPOSITIVA
O declínio da taxa de fecundidade (número de filhos por mulher na idade fértil) em vários países foi decorrente
de fenômenos como o avanço da mulher no mercado de trabalho, urbanização e conquistas nos setores de
educação e saúde. Entre as consequências, a redução no porcentual de jovens e a perspectiva futura de di-
minuição da oferta de mão de obra.

RESPOSTA Alternativa A

DIAGRAMA DE IDEIAS

JAPÃO

HONSHU
ASPECTOS HISTÓRICOS
HOKKAIDO
4 PRINCIPAIS ILHAS
SHIKOKU
SHOGUNATO ERA MEIJE
KYUSHU

G7

ASPECTOS MAIOR CREDOR


SOCIOECONÔMICOS DO MUNDO

• CONSTRUÇÃO NAVAL
INDÚSTRIA
• AEROESPACIAL
(ALTA TECNOLOGIA)
• BIOTECNOLOGIA

90
AULAS 37 E 38 1. Índia

1.1. Aspectos físicos


REGIÕES O sul da Ásia possui três regiões topográficas distintas:
SOCIOECONÔMICAS § uma porção montanhosa, ao norte da Índia, forma-
MUNDIAIS VII: ÍNDIA E da pela cordilheira do Himalaia – com as mais altas
montanhas do mundo;
SUDESTE ASIÁTICO
§ Karakorum – uma cordilheira que se estende por 500
quilômetros e entre os rios Indo, a leste, e Yarkand, a
oeste – e Hindu Kush – a segunda maior faixa de
COMPETÊNCIA: 2 cordilheira do mundo, com 800 quilômetros de exten-
são, a oeste e ao sul do rio Yarkland, com as encostas
HABILIDADE: 7 voltadas para o sul; e

§ o planalto do Decã, na porção centro-sul.

91
Ao sul das montanhas está a planície Indo-gangética temperaturas e formação de um centro de baixa pressão.
(onde está a maior concentração populacional da Índia), Mares e oceanos com maior calor específico armazenam
uma faixa larga de terras baixas e relativamente planas. esse calor, favorecendo, assim, a formação de centros de
Essa planície aluvial foi criada pelos rios Indo, Ganges, alta pressão. No inverno, os centros de alta e de baixa pres-
Brahmaputra e seus afluentes e com o fluxo de muitos se- são invertem-se: a alta pressão permanece no continente e
dimentos vindos do Himalaia em direção ao mar. O Indo e a baixa, nos oceanos.
seus afluentes correm para o sul e oeste e deságuam no
mar Arábico. O Ganges, o Brahmaputra e seus afluentes
correm para o sul e leste e desembocam na baía de Benga-
la. Essas bacias favorecem a agricultura – historicamente
concentrada no plantio de várzea do arroz e, em terra firme,
com o cultivo do trigo e do algodão.
Ao sul da planície fica o planalto do Decã, uma área
relativamente plana entre as montanhas ocidentais de
Ghat. Elas separam o planalto do litoral e encontram-se no
sul, na ponta da península em forma triangular, conhecida
Atuação das monções na Índia, no inverno e no verão
como Índia peninsular. O Decã corresponde à maior porção
do território da Índia. Embora essenciais para a agricultura, as chuvas de mon-
ções, se muito intensas, agravam problemas sociais, como
enchentes urbanas e deslizamentos. Assim como grande
parte do Sudeste Asiático, a Índia tem áreas de concentra-
ção populacional classificadas como “formigueiros huma-
nos”, as habitações são precárias e o saneamento básico
não suporta as condições naturais do clima, notadamente
em julho, quando as precipitações são mais intensas.

Cordilheira do Himalaia, região entre a Índia e a China

1.2. Clima e vegetação


O clima é bastante variado, com temperaturas frias no alto
das montanhas, clima temperado no sopé das montanhas,
na planície do Ganges e nas áreas tropicais do planalto
do Decã. A Índia sofre influência do clima de monções, al-
ternando períodos de seca e chuva – monção é um termo
árabe que significa ”ventos sazonais”. No verão, esses Inundação provoca desabamento de edifícios no norte da Índia.
ventos sopram do mar e carregam umidade em direção Esses ambientes de umidade e calor favorecem a formação
ao continente, quando é chamado de monção úmida ou de florestas latifoliadas, no sul da Índia, em baixas latitudes,
de verão. No inverno, sopram do centro do continente para sujeitas à ação mais intensa dos raios solares, uma vez que
o mar e transmitem estiagem. Esse período é conhecido estão mais próximas da linha do equador. Na parte central,
como a monção seca ou de inverno. há savanas – vegetação característica de climas tropicais –,
Esse fenômeno está relacionado às diferenças de pressão que alternam uma estação seca (outono e inverno) e uma
atmosférica. Em geral, os ventos sopram de uma zona de estação chuvosa (primavera e verão). As savanas são for-
alta pressão em direção a uma zona de baixa pressão. madas por árvores de médio porte, regularmente dispersas
Durante o verão, como o calor específico do continente é entre campos naturais. Mais próximas das montanhas, ao
menor que as massas oceânicas, boa parte do calor é re- norte, encontram-se as coníferas – floresta homogênea e
fletido mais rapidamente, o que provoca aquecimento das formada por espécies de pinheiros.

92
1.3. Aspectos históricos Em 31 de dezembro de 1600, a rainha Isabel I da Inglaterra
outorgou uma carta real à Companhia Inglesa das Índias
O termo Índia Britânica é a denominação não oficial do Orientais para comercializar com o Oriente. Os primeiros
domínio colonial do Império Britânico sobre o subconti- navios da Companhia chegaram à Índia, em 1608, e apor-
nente indiano – área geográfica que inclui os territórios taram em Surat, hoje Guzarate.
atuais da Índia, Paquistão, Bangladesh (antigo Paquistão
Oriental) e Mianmar (antiga Birmânia). Também pode ser Quatro anos mais tarde, comerciantes ingleses derro-
designado pelo termo Raj Britânico. taram os portugueses numa batalha naval, com o que
ganharam a simpatia do imperador mongol Jahangir.
O período de dominação britânica (1558-1947) corres- Em 1615, o rei Jaime I enviou um embaixador à corte mon-
ponde ao período em que os direitos da Companhia gol, oportunidade em que negociaram um tratado de co-
Britânica das Índias Orientais foram transferidos para a mércio pelo qual a Companhia poderia estabelecer postos
coroa britânica (1947), quando o Reino Unido passou a comerciais na Índia em troca de bens europeus. A Com-
soberania sobre aquele território para os recém-criados panhia comercializava algodão, seda, salitre, índigo e chá.
Índia e Paquistão.
Em meados do século XVII, a Companhia já havia esta-
Sob o ponto de vista formal, o termo “Índia Britânica” belecido postos comerciais nas principais cidades indianas
aplicava-se apenas às porções do subcontinente gover- – Bombaim, Calcutá e Madras – e erguido a primeira fei-
nadas diretamente pela administração britânica em Deli e, toria em Surat, em 1612. Em 1670, o rei Carlos II outorgou
anteriormente, em Calcutá. Naquela época, a maior parte à Companhia das Índias Orientais os direitos de adquirir
do território do subcontinente sob influência britânica não território, formar exército, cunhar moeda e exercer jurisdi-
era governada diretamente pelos britânicos. Os chamados ção em áreas sob seu controle. Ao final do século XVII, a
“Estados principescos” eram nominalmente independen- Companhia havia se transformado num “país” no subcon-
tes, governados por marajás, rajás, thakurs e nababos, que tinente indiano, com considerável poder militar, político e
reconheciam no monarca britânico seu suserano feudal por administrativo. Havia três “presidências” – administrações
meio de tratados. coloniais regionais.

Áden passou a integrar a Índia Britânica a partir de 1839, Os britânicos estabeleceram-se definitivamente no subcon-
e a Birmânia, a partir de 1886 – ambos tornaram-se co- tinente quando tropas financiadas pela Companhia derro-
lônias separadas do Império Britânico, em 1937. Embora taram o nababo bengalês Siraj Ud Daulah, na batalha de
o Sri Lanka (antigo Ceilão) possa ser considerado parte Plassey, em 1757. As riquezas bengalesas foram expropria-
do subcontinente indiano, não integrava a Índia Britânica das, o comércio local foi monopolizado pela Companhia
e era governado como colônia britânica, diretamente de e Bengala tornou-se um protetorado sob controle direto
Londres, não pelo vice-rei da Índia. britânico. A fome (1769-1773) – provocada pela exigência
de fazendeiros de que artesãos bengaleses trabalhassem
O Estado Português da Índia e a Índia Francesa eram for- por remuneração irrisória – matou dez milhões de pessoas.
mados por pequenos enclaves costeiros governados por Catástrofe semelhante ocorreu quase um século depois,
Portugal e França, respectivamente. Foram integrados à quando o Reino Unido estendeu seu controle sobre o sub-
Índia, depois da independência. continente: 40 milhões de indianos morreram de fome em
meio ao colapso da indústria local.

1.3.1. Expansão territorial britânica


Em 1773, o parlamento britânico instituiu o cargo de go-
vernador-geral da Índia. Na virada para o século XIX, o
governador-geral, lorde Wellesley, passou a expandir os
domínios da Companhia em grande escala: derrotou Tipu
Sahib; anexou Mysore, na Índia meridional; e removeu a
influência francesa do subcontinente. Em meados daquele
século, o governador Dalhousie lançou a expansão mais
ambiciosa da Companhia – ao derrotar os siques nas guer-
ras anglo-siques, anexou o Panjabe e subjugou a Birmânia,
na segunda guerra anglo-birmanesa. Dalhousie também
Após a batalha de Plassey, Robert Clive tomou posse do tomou os pequenos Estados principescos de Satara, Sam-
domínio da Companhia das Índias Orientais na Índia. balpur, Jhansi e Nagpur, com base na chamada “doutrina

93
da preempção”, segundo a qual a Companhia poderia anexar qualquer principado cujo governante morresse sem herdeiros
do sexo masculino. A anexação de Oudh, em 1856, foi a última da Companhia e, no ano seguinte, ela assistiu à eclosão da
revolta dos cipaios.
Nesse período, a Inglaterra adotou uma política colonialista e imperialista, dominando várias regiões da África e da Ásia. Os
britânicos tinham como objetivo explorar os recursos minerais e a mão de obra dessas regiões, além de ampliar o mercado
consumidor para seus produtos industrializados.

1.3.1.1. Revolta dos Cipaios Havia rumores de que os cartuchos utilizados em um novo
rifle britânico eram revestidos por uma película de origem
bovina. No hinduísmo, a vaca é considerada um animal sa-
grado, e esse fato foi o estopim para o início do conflito. A
princípio, as tropas indianas venceram as tropas britânicas
e dominaram algumas províncias da região central e vá-
rias cidades importantes do norte da Índia. No entanto, em
1859, os britânicos aumentaram seu efetivo militar na re-
gião e sufocaram a revolta, implantando, a partir de então,
um sistema de controle mais rígido.

Rebeldes indianos executados durante a revolta dos Cipaios

A revolta dos Cipaios foi uma revolta armada, que teve


início 1857, contra a dominação e a exploração dos in-
gleses na Índia.
Os ingleses passaram a obrigar jovens indianos a participar
do exército da Companhia Britânica das Índias Orientai –
esses soldados eram conhecidos como cipaios. As péssi-
mas condições de trabalho, os baixos salários, além das
diferenças étnicas, religiosas e culturais entre os soldados
indianos e os oficiais britânicos fizeram crescer o sentimen- Visita do governador-geral da Índia, lorde Canning, ao marajá
to de revolta. de Jammu e Caxemira, Ranbir Singh, em 9 de março de 1987

94
Após sufocar a rebelião e retomar o controle da Índia, o restrições ao comércio interno, alta tributação de cidadãos
governo britânico dissolveu a Companhia e assumiu o go- indianos para financiar expedições malsucedidas no Afega-
verno direto da Índia. A rainha Vitória recebeu, em 1877, o nistão, medidas inflacionárias e exportações de safras in-
título de imperatriz da Índia. dianas de produtos básicos para o Reino Unido. A indústria
local indiana também não foi dizimada depois da revolta
Em Londres, criou-se o cargo de secretário de Estado para
de 1857, e as fomes continuaram até a independência, em
a Índia. O governador-geral – chamado de vice-rei, quan-
1947, como a Fome Bengalesa (1943-1944), que matou
do agia na qualidade de representante junto aos Estados
entre três e quatro milhões de indianos.
principescos regularmente soberanos –, sediado em Cal-
cutá, passou a chefiar a administração da Índia Britânica.
Eram-lhe subordinados os governadores das províncias. O
serviço civil da Índia foi, durante décadas, reservado aos
britânicos, até a década de 1910, quando se admitiram al-
guns poucos indianos.

multimídia: livro

A História da Civilização – Will Durant


Trata-se de um grande clássico de caráter universal pri-
mordial para a educação. Possui texto de fácil entendi-
mento que estimula o leitor a pensar e refletir sobre o
tema proposto.

1.3.2. Primórdios do autogoverno


No final do século XIX, os britânicos editaram as primeiras
medidas para permitir o envolvimento de indianos no go-
verno do subcontinente, como o Indian Councils Act (1892)
e o Government of India Act (1909). Foram oferecidos aos
Residência de um rico comerciante britânico na Índia, em 1895 indianos cargos de aconselhamento ao vice-rei e de repre-
sentação legislativa. Aos poucos, adotou-se o princípio ele-
Em 1858, o vice-rei anunciou que os tratados anteriores tivo para o preenchimento dos cargos legislativos centrais e
celebrados com os Estados principescos seriam honrados, provinciais, embora a elegibilidade fosse restrita às classes
renunciando, portanto, à “doutrina da preempção”. Cerca altas indianas. Entretanto, nem o governador-geral nem os
de 40% do território indiano e 20% a 25% da popula- governadores provinciais passaram a ser responsáveis pe-
ção permaneceram sob controle dos 562 príncipes, com rante os legislativos locais.
notável diversidade étnica e religiosa: muçulmanos, hindus,
Em 1885, formou-se o Partido do Congresso Nacional India-
siques etc. Sua propensão à pompa e circunstância tornou-
no, que buscava ampliar a participação indiana no governo.
-se proverbial, como atestam os sentidos figurados dos ter-
Em 1906, com objetivo similar, criou-se a Liga Muçulmana.
mos “marajá”, “nababo” e “principesco”, em português.
Seus territórios, no entanto, que variavam em dimensões
e riqueza, viram-se ultrapassados pelas transformações
1.3.3. Processo de independência
sociais e políticas que ocorreram em partes da Índia direta- O Movimento de Independência da Índia reuniu or-
mente administradas pelos britânicos. ganizações políticas, filosóficas e movimentos sociais, com
o objetivo comum e declarado de acabar com o domínio da
Depois de 1857, a Índia sofreu um período de calamidade
Companhia Britânica das Índias Orientais e depor a autori-
sem precedentes. Na segunda metade do século XIX, ocor-
dade imperial britânica.
reu algo como 25 episódios de fome, em Tâmil Nadu, Biar e
Bengala, causando a morte de 30 a 40 milhões de pessoas. Durante o início do século XIX, Rammohan Roy introduziu
As fomes resultavam de secas naturais e de políticas eco- a educação moderna na Índia. Swami Vivekananda foi o
nômicas e administrativas britânicas, como a transforma- principal arquiteto que projetou a rica cultura indiana para
ção de terras agrícolas locais em latifúndios estrangeiros, o Ocidente, no final do século XIX. Muitos líderes políticos

95
do país, dos séculos XIX e XX, dentre eles Mohandas K. Amritsar, em abril de 1919. Aquela tragédia galvanizou di-
Gandhi e Netaji Subhas Chandra Bose, foram influenciados rigentes políticos, como Jawaharlal Nehru (1889-1964) e
pelos ensinamentos de Swami Vivekananda. Para Netaji Mohandas Karamchand “Mahatma” Gandhi (1869-1948),
Subhas Chandra Bose, grande defensor da luta armada e seus seguidores a pressionarem por mudanças.
pela independência da Índia, Swami Vivekananda foi “o
Em 1935, uma revisão da situação constitucional indiana
criador da Índia moderna”; para Mohandas Gandhi, a in-
manteve a separação dos eleitores e estabeleceu a auto-
fluência de Swami Vivekananda aumentou seu “amor pelo
nomia das províncias, transformando os conselhos legisla-
seu país por mil”. Seus escritos inspiraram uma geração de
tivos em assembleias legislativas eleitas, das quais apenas
lutadores pela liberdade indiana.
alguns poucos assentos continuaram a ser preenchidos
mediante indicação, e perante as quais eram responsáveis
todos os ministros.

Cerimônia de coroação do rei Jorge V como imperador da Índia,


durante o Delhi Durbar de 1911

Jawaharlal Nehru (esquerda) tornou-se o primeiro


primeiro-ministro da Índia, em1947. Mahatma Gandhi
(direita) liderou o movimento pela independência.

Mapa do auge do Império Britânico, em 1919,


com a Índia Britânica destacada em violeta

Os primeiros movimentos de militantes políticos foram or-


ganizados em Bengala e adquiriram a forma de um mo-
vimento dominante no então recém-formado Partido do
Congresso Nacional Indiano (INC). No início do século XX, multimídia: vídeo
ocorreu uma abordagem política mais radical visando a
independência política proposta por líderes como Lal, Bal, Fonte: Youtube

Pal, Sri Aurobindo e V. O. Chidambaram Pillai. Gandhi


A importante contribuição da Índia com os esforços do África do Sul, 1893. Após ser expulso da 1ª classe de um
Império Britânico durante a Primeira Guerra Mundial esti- trem, o jovem e idealista advogado indiano Mohandas
mulou os indianos a exigir mais voz no governo. O Partido Karamchand Gandhi (Ben Kingsley) inicia um processo
do Congresso Nacional Indiano e a Liga Muçulmana fir- de autoavaliação da condição da Índia, que na época era
maram um acordo, propondo a reforma constitucional que uma colônia britânica, e seus súditos ao redor do planeta.
incluísse o conceito de eleitorados separados e a exigência
de autogoverno. Em 1919, o governo britânico ampliou a As últimas etapas da luta pela liberdade ocorreram a partir
autoridade dos conselhos legislativos central e provinciais,
da década de 1920, quando o Congresso adotou a política
mas o governador-geral continuou a ser responsável ape-
de não violência e de resistência civil. Muhammad Ali Jin-
nas perante Londres.
nah lutava pelos direitos das minorias indianas e por várias
As reformas de 1919 não satisfizeram as exigências políticas outras campanhas de Mohandas Karamchand Gandhi. Fi-
indianas. Os britânicos reprimiram a oposição e reinstituí- guras lendárias, como Subhas Chandra Bose e Bhagat Sin-
ram as restrições à imprensa e ao movimento reivindicató- gh, adotaram para o movimento de libertação uma prática
rio. Uma aparente violação das regras sobre ajuntamento política revolucionária. Poetas como Rabindranath Tagore
de pessoas levou ao massacre de Jalianwala Bagh, em e Kazi Nazrul Islam usaram a literatura, a poesia e a fala

96
como armas importantes para ampliar a consciência polí- em vigor, estabelecendo a República da Índia; o Paquistão
tica da população. O período da Segunda Guerra Mundial, permaneceu como um domínio até 1956.
entre os anos de 1939 e 1945, foi marcado pelo auge das
campanhas de movimentos políticos e sociais, como o Quit 1.4. Aspectos populacionais
India (liderado por “Mahatma” Gandhi) e o do Exército Atualmente, a Índia tem a segunda maior população do
Nacional Indiano (INA), liderado por Netaji Subhas Chan- mundo, ultrapassando a marca de 1,3 bilhão de habitantes.
dra Bose, que resultaram na retirada dos britânicos do país. Não obstante, as estimativas são de que, até 2035, ela ultra-
O movimento de independência da Índia foi um movimen- passe a China e assuma a liderança demográfica mundial.
to de massas que reunia vários segmentos da sociedade do A população indiana representa, atualmente, cerca de
país e passou por mudanças ideológicas. Embora a ideologia 15% dos habitantes do mundo, registrando um crescimen-
básica do movimento fosse o anticolonialismo, foi também to demográfico médio de 1,3% ao ano, contra os 0,6%
apoiado por uma visão de desenvolvimento econômico capi- registrados pela China. Tal crescimento é resultado de polí-
talista independente que teria de superar uma estrutura polí- ticas públicas que diminuíram as faixas de mortalidade no
tica secular, dando-lhe um caráter democrático, republicano e país desde os anos 1960. Considerando apenas os anos
capaz de instituir as liberdades civis. Após a década de 1930, 2000, a população cresceu 180 milhões de habitantes, e
o movimento assumiu uma forte orientação socialista, graças sua densidade demográfica é de 382 habitantes/km2.
à crescente influência de elementos de esquerda no INC e à Em virtude do rápido crescimento populacional e apesar da
fundação e crescimento do Partido Comunista da Índia. queda nas taxas de crescimento nas últimas décadas, ocor-
O trabalho desses movimentos políticos levou finalmente rem muitos abortos e infanticídios com crianças do sexo
à Lei de Independência da Índia, de 1947, que criou os feminino. Parte da população teme que o número elevado
domínios independentes da Índia e do Paquistão. A Índia de mulheres seja responsável pelo aumento descontrolado
permaneceu como um domínio da coroa britânica até 26 do número de habitantes e pela situação de escancarada
de janeiro de 1950, quando a constituição da Índia entrou discriminação vivida pelas mulheres na Índia.

Densidade demográfica indiana

A população indiana está concentrada na planície Indo-gangética, onde fica a capital Nova Delhi. Mumbai, o maior
aglomerado urbano da Índia, é uma cidade cujos problemas de metropolização, como crescimento e problemas am-
bientais, são típicos de países em desenvolvimento.

97
A composição étnica da Índia é bastante heterogênea, havendo um grande número de agrupamentos culturais diferen-
tes, o que caracteriza a grande diversidade e miscigenação. A única região do mundo com uma diversidade étnico-cultural
maior que a dos indianos é o continente africano.
Apesar dessa pluralidade, há três principais denominações culturais que fazem parte do território indiano: os hindus, com
mais de 70% da população; os drávidas, com 25%; e os mongóis, que somam 3% juntamente com outras etnias. Como
resultado da miscigenação, no país há 18 idiomas oficiais, dos quais os principais são o inglês, empregado em negócios
comerciais e burocráticos, e o hindi, falado por 30% da população.
Índia - dialetos
Tajiquistão

Jamu e Caxemira China


Afeganistão

Himachal Pradexe

Panjabe
Paquistão
Harianá Déli Arunachal Pradexe
Nepal
Siquim
Rajastão Utar Pradexe
Assão Nagalândia

Megalaia Manipur
Biar
Bangladesh
Jarcanda Bengala
Ocidental Tripurá Mizorão
Guzerate Madia Pradexe
Chatisgar Myanmar

Damão e Diu Orissa


Dadrá e Maarastra
Nagar Aveli Telanganá

Andra
Pradexe
Carnataca

Tâmil Nadu Pondicheri Andamão


e Nicobar
Laquedivas Kerala

Sri
Lanka

A maior parte da população, cerca de 80%, é hinduísta; 13% são muçulmanos, aproximadamente 155 milhões de pessoas,
que fazem da Índia o terceiro maior país islâmico do mundo. Há cerca de 2% de cristãos e outros tantos 2% de sikhs.
O índice de desenvolvimento humano da Índia, divulgado em 2012, não foi um dos mais animadores: com apenas 0,554, o
país ocupava a 136a posição mundial. Apesar dos elevados crescimentos econômicos que o país vem registrando, os gover-
nos não vêm adotando políticas públicas e sociais capazes de reverter esse crescimento em qualidade de vida e distribuição
de renda. O resultado é o elevado índice de pobreza: 35% dos indianos vivem com menos de um dólar por dia. A expectativa
de vida é de 63,5 anos apenas e mais de 200 milhões de habitantes encontram-se em quadro de pobreza crônica.

98
A desigualdade social indiana acaba por dificultar o cresci-
mento econômico, limitando seu potencial de mercado. O
governo indiano, numa tentativa de reverter essa situação,
baixou decretos que estabeleceram a liberdade de consumo
para dalits e sudras (castas que constituem a base da pirâ-
mide social indiana), com o objetivo de aumentar o mercado
consumidor. As castas consideradas inferiores acabam fican-
do com subempregos e profissões com baixas qualificações. multimídia: livro
Os processos de industrialização e urbanização contribuíram,
de certa forma, para mudar essa estrutura social.
A Índia desde 1980 – Sumit Ganguly e Rahul Mukherji
Com o mérito de apresentar a história indiana dos últimos
trinta anos de maneira clara e organizada, alternando aná-
lises do passado recente com recuos para apresentar o de-
senvolvimento indiano desde a pós-independência.

1.4.1. Aspectos econômicos


Após a descolonização europeia, o seguimento industrial
da Índia tem crescido de forma significativa.
A Índia de hoje figura como uma economia emergente.
Festival hindu de Maha Shivaratri, realizado em homenagem Segundo o Fundo Monetário Internacional, o país é a 12.ª
a Shiva, o deus da criação e da destruição
economia do mundo.
O país vem apresentando um crescimento anual de cerca
Sistema de castas indiano de 6,3% nos últimos anos. Dentre os principais fatores
desse crescimento estão as multinacionais instaladas em
seu território, levadas pela reserva de mão de obra de
baixo custo e pelo enorme mercado consumido.
brâmanes Destaca-se pela produção industrial de tecnologia de ponta:
xátrias eletroeletrônicos, agroindustriais, informática (maior produ-
tora de softwares do mundo) e biotecnologia. São produtos
vaixás que concorrem diretamente com as indústrias de países de-
sudras senvolvidos, sem contar sua significativa representatividade
na produção industrial de base (siderúrgica e química) e têxtil.
dalits
Devido ao expressivo crescimento econômico, com expressi-
O sistema de castas indiano contribui ao milenar siste- vo crescimento no PIB, a Índia foi incluída no acrômio BRICS,
ma de estratificação social do hinduísmo, baseando a criado em 2001 pelo economista Jean O´neil, para caracteri-
divisão do trabalho a partir da hereditariedade. zar países de grandes dimensões, potenciais de consumo em
Embora tenha sido oficialmente abolido após a inde- elevação e de acelerado crescimento econômico.
pendência, esse sistema ainda permanece na tradição
cultural do país.

A terrível herança colonial herdada pelo país, bem


como o resultado do desenvolvimento do capitalis-
mo na região, somado à condição de dependência
e subdesenvolvimento, tornam as condições de vida
extremamente desfavoráveis. Seguindo-se o ritmo dos
países emergentes, como o Brasil e a China, mais do
que o crescimento econômico, é preciso ampliar o de- A Índia é dona de uma crescente indústria automobilística e
senvolvimento social. fabrica o carro mais barato do mundo, o Tata Nano.

99
O acelerado crescimento econômico da Índia, no entan- A Índia é a 13.ª nação produtora de serviços, que emprega
to, foi barrado em virtude de questões geopolíticas com o 23% da força de trabalho e continua em rápido crescimento:
Paquistão. Além disso, em 1997, ocorreu a crise da Ásia, 7,5%, entre 1991-2000, em contrapartida aos 4,5%, entre
cujo desempenho econômico desacelerou e caiu. Só não 1951-1980. Os serviços representaram 55% do PIB, em
foi maior graças ao grande mercado interno que consome 2007. A tecnologia da informação e business process out-
muitos de seus produtos. sourcing estão entre os setores que mais crescem: 33,6%,
entre 1997-1998 e entre 2002-2003. Contribuiu com 25%
A indústria representa 28% do PIB e emprega 14% da for-
do total das exportações do país, entre 2007-2008. No sul
ça de trabalho total. Em números absolutos, ocupa o 12.º
do país, a cidade de Bangalori abriga um importante centro
lugar no mundo na produção da fábrica nominal, de acor-
de pesquisa de tecnologia da informação. Isso se dá em fun-
do com dados da CIA World Fatbook. Graças a reformas
ção da alta qualificação dos trabalhadores desse segmento
econômicas, em 1991 – eliminação de restrições de impor-
e pela infraestrutura industrial implementada pelo governo.
tação, concorrência externa, privatização de indústrias do
setor público, liberação do FDI (Foreign Direct Investiment),
melhoria da infraestrutura, expansão da produção de fast 1.4.2. Mineração
moving consumer goods –, o setor industrial indiano pas- Os diferentes minérios formam um segmento importante
sou por mudanças significativas, resultado das mensagens na economia da Índia, com o país explorando 79 tipos de
de liberalização. O setor privado indiano foi confrontado minérios (excluindo os combustíveis e recursos atômicos)
com o aumento das concorrências interna e externa, den- entre 2009-2010, incluindo minério de ferro, manganês,
tre elas importações chinesas mais baratas. mica, bauxita, cromita, sal, calcário, asbesto, fluorita, gipsi-
Adotou-se a minimização dos custos e renovação da ta, ocre, fosforita e areia por dióxido de silício.
gestão às custas de mão de obra barata e de novas tec-
nologias. No entanto, isso também reduziu a geração de 1.4.3. Agricultura
emprego até mesmo nas pequenas empresas. Depois da
A Índia é a segunda maior produtora agrícola do mundo,
agricultura, a produção têxtil é a segunda maior fonte de
em arroz, feijão, algodão, batata, trigo, que atende principal-
emprego, responsável por 20% da produção industrial e
mente o mercado interno. Emprega 52,1% de toda a força
empregadora de mais de 20 milhões de pessoas. Nos anos
de trabalho e, apesar de declínio de sua participação no PIB,
2004-2005, depois de libertar a indústria de limitações
ainda é o maior setor econômico e uma porção significativa
notadamente financeiras, o governo criou condições para
do desenvolvimento socioeconômico global da Índia. A pro-
vultosos investimentos de capitais nacionais e estrangeiros.
dução de soja por unidade de área de todas as culturas tem
No período entre 2004-2008, o investimento total ascen-
crescido desde 1950, graças à ênfase especial na agricultura
deu a 27 milhões de dólares. Em 2012, o governo esperava
alcançar os 38 milhões, montante esse que possibilitaria a dada pelos planos quinquenais e às melhorias contínuas em
criação de mais 17 milhões de empregos. Mas a demanda irrigação, tecnologia de aplicação de modernas práticas agrí-
por têxteis indianos nos mercados mundiais continuou a colas e às linhas de crédito e de subsídios à agricultura, des-
cair. Apenas durante o ano fiscal 2008-2009, a indústria de a Revolução Verde na Índia. Os principais Estados agríco-
têxtil e de vestuário seria forçada a cortar cerca de 800 mil las indianos são Uttar Pradesh, Punjabe, Haryana, Madhya
novos empregos dos dois milhões que havia para suavizar Pradesh, Andhra Pradesh, Bengala Ocidental e Maharashtra.
o impacto da crise global. A região de Ludhiana produz O total de recursos hídricos são utilizáveis, incluindo rios,
90% da lã indiana e é conhecida como a região inglesa de lagos, nascentes, córregos e aquíferos, que correspondem
Manchester, na Índia. A região de Tirupur ganhou o reco- a 1,12 milhão km3. Cerca de 39% da área total cultivada
nhecimento mundial como a principal produtora de meias, é irrigada. Águas interiores, rios, canais, lagoas e lagos e os
vestuário de malha, roupas casuais e roupas esportivas. recursos marinhos, costas leste e oeste do oceano Índico e
outros golfos e baías dão emprego a cerca de seis milhões
de pessoas no setor pesqueiro. Em 2008, a Índia tinha a
terceira maior indústria de pesca do mundo.
A Índia também é a maior produtora mundial de leite e tem
o segundo maior rebanho de gado do mundo, com 175
milhões de animais, mas por razões religiosas a carne não é
explorada comercialmente. A segunda maior produtora de
arroz, trigo, algodão, cana-de-açúcar e amendoim, frutas
Mulheres trabalhando na indústria têxtil, (10,9%) e produtos hortícolas (8,6%) e seda, da qual é a
segunda maior fonte de empregos na Índia maior consumidora (77 milhões de toneladas, em 2005).

100
2. Sudeste Asiático

O termo Tigres Asiáticos refere-se aos quatro países da Ásia – Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan – que, a partir
da década de 1970, alcançaram um acelerado desenvolvimento industrial e econômico. Em razão da agressividade adminis-
trativa e da localização desses países, eles receberam essa denominação.
Um conjunto de fatores foi responsável pelo desenvolvimento econômico dos Tigres Asiáticos. Esses países adotaram
um modelo industrial caracterizado como industrialização orientada para a exportação (IOE). Esse modelo econômico
fundamentalmente exportador requer uma produção diversificada e voltada para o mercado de países desenvolvidos. No
entanto, o consumo interno não é incentivado, uma vez que os impostos inseridos nos produtos são elevados.
À exceção da Coreia do Sul, os Tigres Asiáticos adotaram uma política de incentivos para atrair as indústrias transnacionais.
Foram criadas zonas de processamento de exportações (ZPE), com doações de terrenos e isenção de impostos pelo Estado.
O modelo sul-coreano baseou-se na instalação de chaebols, redes de empresas com fortes laços familiares. Quatro grandes
chaebols controlam a economia sul-coreana e têm forte atuação no mercado internacional: Hyunday, Daewoo, Samsung
e Lucky Gold Star. Somente na década de 1970, passou-se a instalar transnacionais na Coreia do Sul; entretanto, elas são
associadas a empresas do país.

Trigo
Chá Chá
Arroz
Cana-de- açúcar Café
Arroz
Trigo
Tabaco Leguminosas

Algodão
Cultivo
intensivo Café

Outros Arroz
cultivos Algodão
Cultura Posição Mundial

Pastagens Tabaco Leguminosas Primeiro

Chá Primeiro
Café
Florestas Trigo Segundo

Arroz Segundo
Terra Cana-de-açúcar Segundo
improdutiva Arroz
Tabaco Segundo

0 200 400 km Algodão Segundo

0 200 400 mi

101
Para o desenvolvimento econômico de Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan, foi necessário forte apoio dos gover-
nos, desenvolvimento de infraestrutura, transporte, comunicação e energia, além do financiamento das instalações indus-
triais e altos investimentos em educação e qualificação profissional.
Os lucros obtidos pelas indústrias nesses países ocorriam principalmente em virtude do exército industrial de reserva, da
grande quantidade de mão de obra disponível no mercado. Esse processo ocasiona a desvalorização dos salários pagos
pelos detentores do meio de produção, fato acompanhado por leis trabalhistas frágeis, às vezes inexistentes. Outros fatores
que contribuíram para o elevado crescimento dos Tigres Asiáticos foram os incentivos tributários e os baixos custos para
instalação de empresas oriundas de capitais externos.
Em consequência do grande desenvolvimento econômico dos Tigres Asiáticos, houve expansão em direção aos países vizi-
nhos do sudeste, o que proporcionou o processo de industrialização de Indonésia, Vietnã, Malásia, Tailândia e Filipinas, que
ganharam o apelido de Novos Tigres Asiáticos.
Além dos investimentos dos quatro Tigres originais, os Novos Tigres realizaram acordos comerciais com empresas dos Es-
tados Unidos, Japão e países europeus. Diversas pequenas indústrias surgiram: têxteis, calçadistas, de brinquedos e de
produtos eletrônicos. Com mão de obra menos qualificada, mas bem mais barata, esses países entraram definitivamente no
cenário econômico global, produzindo mercadorias sob encomenda, criadas e planejadas em outros países do mundo, sendo
inseridos no processo de divisão internacional do trabalho (DIT).

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A trajetória da civilização indiana tem início em 3300 a.C., período em que se encontram vestígios de um dos mais
antigos centros urbanos formados nas proximidades do rio Indo. Estudar a história da Índia auxilia nos estudos geo-
gráficos e proporciona uma compreensão do espaço atual do país.

102
VIVENCIANDO

Uma boa sugestão para ampliar o conhecimento do tema é discutir com colegas sobre as razões que fomentam
o separatismo nas diversas regiões da Índia e tentar compará-las com o Brasil, que, mesmo sendo maior, não vive
problemas nesse sentido.

103
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 7
Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

Devido ao imenso poder militar que esse tipo de armamento pode conferir a quem o possui, o controle
político das armas nucleares tem sido uma questão-chave desde que elas existem; na maioria dos paí-
ses, o uso da força nuclear só pode ser autorizado pelo chefe de governo ou chefe de Estado.
No final de 1940, a falta de confiança entre os Estados Unidos e a União Soviética impedia a realização
de acordos internacionais de controle de armas. O Manifesto Russell-Einstein foi publicado em Londres,
em 9 de julho de 1955, por Bertrand Russell, no meio da Guerra Fria. Ele destacou os perigos colocados
pelas armas nucleares e pediu aos líderes mundiais que buscassem resoluções pacíficas para os con-
flitos internacionais. Os signatários do manifesto incluem onze intelectuais e cientistas proeminentes,
como Albert Einstein, que o assinou poucos dias antes de sua morte, em 18 de abril de 1955. Na década
de 1960, estavam sendo tomadas medidas para limitar a proliferação de armas nucleares para outros
países e os efeitos ambientais de testes nucleares.
O Tratado de Interdição Parcial de Ensaios Nucleares (1963) restringiu todos os testes nucleares subter-
râneos para evitar a contaminação do meio ambiente pela radiação nuclear; enquanto o Tratado de Não
Proliferação de Armas Nucleares (1968) tentou colocar restrições sobre os tipos de atividade de que os
seus signatários poderiam participar, com o objetivo de permitir a transferência de tecnologia nuclear
não militar para os países-membros, sem medo de proliferação de armas.
As armas nucleares também foram controladas por acordos entre outros países. Muitas nações foram
declaradas zonas livres de armas nucleares, áreas onde a produção e a distribuição de armas nuclea-
res são proibidas por meio de tratados. O Tratado de Tlatelolco (1967) proibiu qualquer produção ou
utilização de armas nucleares na América latina e no Caribe, enquanto o Tratado de Pelindaba (1964)
proibiu armas nucleares em muitos países africanos. Em 2006, uma zona centro-asiática livre de armas
nucleares foi estabelecida entre as ex-repúblicas soviéticas da Ásia central. Em meados de 1996, o Tribu-
nal Internacional de Justiça, o mais alto tribunal da Organização das Nações Unidas (ONU), emitiu um
parecer consultivo preocupado com a “legalidade da ameaça ou uso de armas nucleares”. O tribunal
decidiu que o uso ou a ameaça de uso de armas nucleares seria uma violação de vários artigos da lei
internacional, incluindo a Convenção de Genebra, a Convenção de Haia, a Carta das Nações Unidas e a
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tendo em vista as características singularmente destrutivas
das armas nucleares, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha apelou aos Estados que garantissem que
essas armas nunca seriam usadas, independentemente se as considerassem legítimas ou não.
Além disso, houve outras ações específicas destinadas a desencorajar os países de desenvolver armas
nucleares. Na sequência dos testes efetuados por Índia e Paquistão em 1998, sanções econômicas fo-
ram (temporariamente) impostas contra ambos os países, embora nenhum dos dois fossem signatários
do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Um dos casus belli declarados para o início da Guerra do Iraque,
em 2003, foi uma acusação dos Estados Unidos de que o Iraque estava desenvolvendo ativamente ar-
mas nucleares (embora isso nunca tenha sido provado). Em 1981, Israel bombardeou um reator nuclear
que estava em construção em Osirak, no Iraque, no que chamou de uma tentativa de deter as ambições
nucleares do Iraque; em 2007, Israel bombardeou um outro reator que estava sendo construído na Síria.

104
MODELO 1
(Enem) Os efeitos abomináveis das armas nucleares já foram sentidos pelos japoneses há mais de 50 anos
(1945). Vários países têm, isoladamente, capacidade nuclear para comprometer a vida na Terra. Montar o seu
sistema de defesa é um direito de todas as nações, mas um ato irresponsável ou um descuido pode desestrutu-
rar, pelo medo ou uso, a vida civilizada em vastas regiões. A não proliferação de armas nucleares é importante.
No primeiro domingo de junho de 1998, Índia e Paquistão rejeitaram a condenação da ONU, decorrente da
explosão de bombas atômicas pelos dois países, a título de teste nuclear e comemorada com festa, especial-
mente no Paquistão. O governo paquistanês (país que possui maioria da população muçulmana) considerou
que a condenação não levou em conta o motivo da disputa: o território de Caxemira, pelo qual já travaram
três guerras desde sua independência (em 1947, do império britânico, que tinha o subcontinente indiano como
colônia). Dois terços da região, de maioria muçulmana, pertencem à Índia e um terço ao Paquistão.
Sobre o tempo e os argumentos, podemos dizer que:
a) a bomba atômica não existia no mundo antes de o Paquistão existir como país;
b) a força não tem sido usada para tentar resolver os problemas entre Paquistão e Índia;
c) a Caxemira tornou-se um país independente em 1947;
d) os governos da Índia e Paquistão encontram-se numa perigosa escalada de solução de problemas pela força;
e) diferentemente do século anterior, no início do século XX, o império britânico não tinha mais expressão mundial.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A questão das disputas fronteiriças entre Índia e Paquistão, a par de possuir um forte componente cultural
religioso pela maneira como tem sido tratada pelas grandes potências do mundo bipolar, pode ser classificada
como uma das últimas expressões da Guerra Fria. Porém, com um adicional perigoso, que é a crescente au-
tonomia do conflito, que parece escapar do pretenso controle ocidental. Os Estados Unidos apoiam a Índia em
detrimento do Paquistão, cujo perfil de apoio ao ideário muçulmano incomoda os estadunidenses.

RESPOSTA Alternativa D

105
DIAGRAMA DE IDEIAS

ÍNDIA E
SUDESTE ASIÁTICO

ÍNDIA

• DOBRAMENTOS
RELEVO • PLANALTO DO DECÃ
• PLANÍCIE INDO-GANGÉTICA
ASPECTOS
FÍSICOS
• FRIO DE MONTANHA
CLIMA
• TROPICAL DE MONÇÕES

IMPÉRIO
BRITÂNICO SUDESTE ASIÁTICO

ASPECTOS
HISTÓRICOS

PROCESSO DE • HONG KONG


INDEPENDÊNCIA TIGRES • CINGAPURA
TRADICIONAIS • COREIA DO SUL
ASPECTOS
• TAIWAN
SOCIOECONÔMICOS

• INDONÉSIA
PREDOMÍNIO DA NOVOS TIGRES • VIETNÃ
POPULAÇÃO URBANA • FILIPINAS
• MALÁSIA
• TAILÂNDIA
PAÍS EMERGENTE

QUESTÕES GEOPOLÍTICAS
(PAQUISTÃO)

106
Situado entre a África, a Ásia e a Europa, o Oriente Mé-
AULAS 39 E 40 dio tem limites aproximadamente iguais com cada uma
delas e tem os únicos pontos de contato que ligam esses
três continentes entre si.
CHALITA, Mansour. Esse desconhecido Oriente Médio.

REGIÕES 1. Oriente Médio


SOCIOECONÔMICAS O Oriente Médio fica no sudeste asiático, num entronca-
MUNDIAIS VIII: mento continental entre a Ásia, a África e a Europa. Sua
posição geográfica lhe confere grande valor geopolítico,
ORIENTE MÉDIO I pois é ponto de passagem entre o Ocidente e o Oriente
desde tempos remotos. Nó de passagem terrestre, com o
desenvolvimento do comércio marítimo, tornou-se tam-
COMPETÊNCIA: 2 bém ponto vital na ligação entre a Europa e a Índia, a
meio caminho entre os dois pontos. Daí a designação
HABILIDADE: 7 Oriente Médio, dada pelos europeus. A região é repleta
de pontos estratégicos.

Mapa político do Oriente Médio e seus pontos estratégicos


Bósforo

Dardanelos

Turquia

Chipre
n eo
err
â Síria
edit
ano

JJeeru
rM rusza
Líb

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Iraque Irã
Chat-el-Arab
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Israel
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Península
Canal de do Sinai
Jo

(Egito)
Suez Kuwait
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Golfo de Pé
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Ácaba ic
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Egito Arábia
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Emirados
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Iê r da
Ma
Estreito de
Bab-el-Mandeb
Golfo de Áden

107
§ Canal de Suez: liga o mar Mediterrâneo ao mar Ver- interferem no cenário geopolítico do Oriente Médio. A luta
melho. Construído no século XIX pelo arquiteto francês pelo petróleo, e pela água em alguns casos, provoca uma
Ferdinand Lessepz, caiu depois sob o domínio britânico série de divergências políticas entre os países do Oriente
e, na segunda metade do século XX, passou a ser con- Médio, o que torna essa área foco de conflitos armados.
trolado pelo Egito. Apesar de sua importância histórica O Oriente Médio delimita-se geograficamente com: os ma-
como rota comercial marítima entre a Europa e a Ásia, res Negro e Cáspio, ao norte; o mar Arábico, ao sul; e os
hoje já não comporta navios de grande calado. mares Vermelho e Mediterrâneo, a oeste. O litoral é consti-
§ Bab-el-Mandeb: estreita passagem entre a penínsu- tuído pelas penínsulas Arábica e da Ásia Menor.
la Arábica e a África, é uma importante rota comercial A parte que compreende a península Arábica é limitada ge-
marítima, em parte atrelada ao canal de Suez. ograficamente pelo golfo Pérsico, a leste, e pelo mar Verme-
lho, a oeste. Não é fácil definir com precisão os países que
§ Golfo de Ácaba: é a principal saída marítima de Israel
pertencem integralmente ao Oriente Médio, uma vez que
para o sul.
muitos territórios compreendem dois continentes simultane-
§ Golfo de Áden: margeia o extremo sul da península amente. É o caso da Turquia, que está na Europa e na Ásia.
Arábica.
1.1. Aspectos naturais
§ Golfo de Omã: sua importância está em localizar-se
bem próximo ao golfo Pérsico. Como uma porção territorial do continente asiático, o relevo
dessa região é constituído basicamente pelos planaltos da
§ Estreito de Ormuz: é o único acesso marítimo ao Anatólia, Iraniano e da Arábia. Há também formações mon-
Golfo Pérsico. tanhosas provenientes de dobramentos modernos – montes
§ Golfo Pérsico: concentra em seu entorno as maiores Zagros, Elburz e Iêmen. Somem-se a essas unidades de re-
jazidas petrolíferas do mundo. levo as planícies que compreendem a planície da Mesopo-
tâmia (expressão grega é que significa “entre rios”), cuja
§ Chat-el-Arab: é um estuário formado pela confluên- maior extensão fica no Iraque, entre dois importantes rios –
cia dos rios Tigre e Eufrates e que desemboca no golfo Eufrates e Tigre. Na foz do rio Jordão, na fronteira entre Israel
Pérsico. e Jordânia, encontra-se a depressão do mar Morto.

§ Estreito de Bósforo: estreita passagem, com aproxi- Os climas da região são predominantemente árido e semiá-
madamente 700 metros de largura, que liga o mar Ne- rido, com temperatura elevada e pouquíssima incidência de
gro ao mar de Mármara. Fronteira entre a Ásia e a Euro- precipitações. Há uma significativa variação de temperatura
pa, é em suas margens que fica a capital turca, Istambul. (amplitude térmica) entre o período diurno (com até 50 °C)
e noturno (abaixo de 0 °C). As suas regiões mais úmidas
§ Estreito de Dardanelos: passagem entre o mar de restringem-se às áreas litorâneas com climas mediterrâneos
Mármara e o mar Mediterrâneo. de verões quentes e secos e invernos frios e chuvosos.
Ocupa uma área de 7,2 milhões de km2. Foi justamen- A planície da Mesopotâmia é uma das raras áreas úmidas
te nesse subcontinente que emergiram as civilizações do Oriente Médio, em função do derretimento de neve no
precursoras da humanidade, mais precisamente no alto curso dos rios Tigre e Eufrates, que acaba provocando
território onde hoje está o Iraque, antes chamado de inundações no baixo curso, tornando-o pantanoso.
Mesopotâmia. Lá, nasceram as primeiras cidades de
que se tem registro – há cerca de cinco mil anos. No
Oriente Médio, estão: Afeganistão, Arábia Saudita,
Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Irã,
Iraque, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Síria,
Turquia e Egito. Somadas as populações desses países
citados, são 260 milhões de habitantes.
A região atrai os olhos do mundo por dois motivos: tra-
ta-se de uma área bastante instável politicamente; e de
um subsolo com a maior reserva mundial de petróleo, que
aguça o interesse das grandes nações europeias, dos Es-
tados Unidos e do Japão. Frequentemente, essas nações Deserto de Wadi Rum, na Jordânia

108
Mapa físico do Oriente Médio

Adaptado de: Simielli, Geoatlas

Mar Morto
Apesar do nome, o mar morto não é mar e nem está morto. Trata-se, na verdade, de uma fossa tectônica que formou um
lago com uma água muito salgada, sendo, por isso, chamado também de lago Asfaltite. Recebeu esse nome em função
da afirmação de que, nesse local, não é possível haver vida. No entanto, sabe-se que há sim ao menos uma forma de vida
habitando essas águas, a bactéria Haloarcula marismortui.

109
O índice de salinidade do mar morto é um dos maiores do planeta. Para se ter uma ideia, a média da quantidade de sal nos
oceanos é de 35 g para cada litro de água, enquanto no mar Morto a média é de 300 g. Por causa disso, além de dificultar
a proliferação de formas de vida macroscópicas, o mar Morto é denso o suficiente para impedir que um corpo afunde nele,
sendo possível boiar facilmente em suas águas. Ele está localizado no Oriente Médio, entre os territórios de Israel, Palestina
e Jordânia, sendo alimentado, principalmente, pelo rio Jordão. Sua área é de 1.020 km2, com 82 km de extensão, 18 km de
largura e uma profundidade máxima de 377 metros.
A elevada salinidade de suas águas deve-se a condições químicas e geográficas. Sua localização é em uma área com clima
bastante seco (semiárido, ao norte, e desértico, ao sul), fazendo com que as águas evaporem muito rapidamente, conser-
vando os minerais que nelas se encontravam. Outro fator é a elevada profundidade (cerca de 400 m abaixo do nível do mar,
a depressão mais profunda do planeta) o que favorece o escoamento de sedimentos e minerais.
Atualmente, existe o temor de que o mar Morto esteja, literalmente, morrendo. Isso porque, em função dos desvios e usos
das águas do rio Jordão, além dos elevados índices de evaporação, seus níveis estão diminuindo. Contribui também para
agravar a situação o fato de suas águas estarem sendo usadas por Israel e Jordânia, que realizam seu consumo após o
processo de dessalinização.
Por esse motivo, está em construção o aqueduto “Canal da Paz”, que faria uma ligação entre o mar Morto e o mar Vermelho,
que ajudaria a abastecer suas águas. A importância desse grande lago de água salgada está em seu potencial turístico, muito
aproveitado tanto pelos israelenses quanto pelos jordanianos. Além disso, ele é responsável por amenizar as baixíssimas taxas
de umidade do ar que atingem a região onde se encontra.

Em razão da adversidade climática, o subcontinente do Oriente Médio é pobre em vegetação; no entanto, é possível encon-
trar, em lugares mais secos, plantas do tipo xerófilas e estepes em áreas de clima árido. Graças ao clima temperado de regiões
mais úmidas e mediterrâneas, há vegetação arbustiva, campos e pradarias.

1.1.1. Água escassa


Paralelamente às maiores reservas de petróleo do mundo (cerca de 60%), no Oriente Médio há a menor quantidade de água
potável disponível para consumo doméstico, atividades industriais e agrárias. Em razão disso, esse imprescindível recurso natural
foi, é e será um dos principais fatores de disputas geopolíticas na região.
Escassez de água no mundo

Não avaliado

Escassez econômica de água Pouca ou nenhuma escassez de água

Escassez física de água Próximo da escassez física de água

Os analistas políticos afirmam que essa falta de água será a principal causa dos conflitos no século XXI, a começar pelo
Oriente Médio. A região conta com 5% da população mundial, mas apenas 1% das reservas de água do planeta. A cota
atual de consumo de água pelos habitantes é de aproximadamente 1,5 mil m3. Estimativas do Banco Mundial dão conta de
que, em 2025, essa taxa cairá para 700 m3.

110
A falta de água e o acesso aos recursos hídricos há muito O caráter geopolítico da água naquela região vai muito além
são fatores geopolíticos de conflito na região do Oriente de um simples recurso natural para tornar-se alvo de um dos
Médio entre judeus e árabes. Somem-se a eles a posse por mais cobiçados elementos territoriais em todo o mundo.
território e conflitos entre diferentes troncos étnico-religio-
sos. Foi nesse contexto que esteve em disputa o acesso e 1.2. Religião e povos
o controle do curso do rio Jordão, dos lençóis freáticos da
Cisjordânia e do mar da Galileia.
Outro foco de tensão faz Turquia, Síria e Iraque enfrentaram-
-se pelo uso dos rios Tigre e Eufrates, que nascem em Ana-
tólia – território turco – e deságuam no golfo Pérsico. São
rios extremamente importantes para o abastecimento desses
países. No entanto, apenas a Turquia dispõe do uso e do con-
trole do montante dos rios, o que afeta as outras duas nações.

Meca é a cidade sagrada dos muçulmanos.


Turquia
O Oriente Médio é o berço das principais religiões monote-
ístas – judaísmo, cristianismo e islamismo. Antes de enten-
der as religiões, é necessário entender sobre os povos que
as profetizam no Oriente Médio. Nessa região, vive uma
variedade de etnias, como árabes, turcos, persas, hebreus,
Rio

Síria
Tig

curdos e armênios.
re

Iraque Pessoas do mesmo grupo étnico muitas vezes têm a mes-


Rio ma religião. No entanto, nem todo árabe é muçulmano e
Euf
rate nem todo muçulmano é árabe. Existem árabes cristãos e
s
muçulmanos persas, por exemplo. O islamismo teve início
no século VII e significa “submissão a Deus”; "muçulma-
nos", por sua vez, deriva da palavra árabe muslin e signifi-
ca “aquele que se submete”.
Os rios Tigre e Eufrates nascem na Turquia.

Na década de 1990, quando a Turquia represou parte do São países árabes: Arábia Saudita, Bahrein, Catar,
leito dos dois rios para construir a usina de Ataturk, enfren- Emirados Árabes, Egito, Iraque, Jordânia, Kuawait, Lí-
tou muitos protestos e até ameaças de invasão por parte bano, Omã, Síria e Iêmen.
da Síria e do Iraque. Ainda hoje, essa questão é muito polê- O Irã é persa e a Turquia é habitada por turcos. O povo
mica e pode ser causa de sérios problemas no futuro. curdo habita um entroncamento entre Turquia, Iraque,
Síria e Irã. Após a dissolução do Império Turco-Otoma-
Os rios Tigre e Eufrates nascem na Turquia, cortam a no, depois da Primeira Guerra Mundial, o povo curdo
Síria e, em sua maior parte, correm pelo Iraque. O rio não foi contemplado com um Estado, mas reivindica
Jordão tem sua foz no Líbano, recebe águas de nascen- sua independência e a criação do Curdistão nessa área.
tes na Síria e fica na fronteira entre Israel e Jordânia.
Para os muçulmanos, Maomé foi o último e o mais im-
Recentemente, Israel desenvolveu usinas de dessalinização portante dos profetas. Nasceu em Meca, em 570 d.C., e
de água, que consiste basicamente em retirar a água do passou a primeira parte de sua vida como mercador. No
mar e transformá-la em água potável, própria para consu- ano 610, em uma de suas viagens, quando tinha 40 anos,
mo. Detentor dessa tecnologia (altamente poluente), bem Maomé diz ter recebido a visita do anjo Gabriel, que lhe
como líder mundial em aproveitamento da água, apenas recitou os versos enviados por Deus, e que, mais tarde, se-
Israel dispõe dos recursos necessários para tanto. Dificil- riam reunidos e integrariam o Corão.
mente os demais países da região – subdesenvolvidos e Muitos habitantes de Meca rejeitaram a sua mensagem e
economicamente dependentes – adotariam tais recursos começaram a persegui-lo. Em 622, Maomé foi obrigado a
em futuro próximo. deixar Meca e se mudou para Medina (ou Yatreb), numa

111
migração conhecida como “Hégira”. Nessa cidade, Mao-
mé tornou-se chefe da primeira comunidade muçulma-
na. Antes de sua morte em 632, Maomé tinha unificado
praticamente todo o território sob o signo de uma nova
religião, o islã.
A divisão islâmica tem raízes na morte do profeta, pois como
ele não deixou descendentes homens e nenhum discípulo
indicado, houve uma cisão no seio do movimento: os xiitas
multimídia: livro
e os sunitas. Os partidários de Ali (Shiat Ali), primo-genro do
profeta, passaram a defender que a única liderança legíti- Oriente Médio - Marcos A. Morais
ma para o islã deveria vir da linhagem direta de Maomé, e Esse livro, longe da pretensão de esclarecer todos os pro-
se tornaram xiitas. Já os sunitas assumiram uma visão mais blemas do Oriente Médio, visa expor, principalmente, ao
ortodoxa e pragmática do islã, após a morte do profeta. Di- leitor em geral e, em especial, ao aluno do Ensino Médio e
ferentemente dos xiitas, eles reconhecem as lideranças dos de cursos pré-vestibulares.
primeiros califas (chefes de Estado) que assumiram a comu-
nidade islâmica após 632, e não apenas Ali.

1.3. A produção do petróleo

Participação do Oriente Médio na produção de petróleo, em escala mundial

deles, são praticamente as únicas fontes de receita. Numa


região constituída basicamente por desertos e com climas
adversos, impróprios para a agricultura, a maior riqueza
disponível é mesmo o petróleo. As maiores jazidas de pe-
tróleo do Oriente Médio se concentram no golfo Pérsico e
na Mesopotâmia; juntas somam cerca de 65% de todas as
multimídia: vídeo reservas do mundo. Dentre os maiores produtores de pe-
tróleo estão: Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait, Emirados
Fonte: Youtube
Árabes Unidos, Catar e Bahren.
Promessas de um Novo Mundo - B.Z. Goldberg
A imensa reserva de petróleo no subcontinente, aliada a
Em vez de se concentrar nos acontecimentos políticos, outros fatores políticos e econômicos, favoreceu, em 1960,
esse documentário retrata os conflitos no Oriente Médio a criação da Opep – Organização dos Países Expor-
sob a perspectiva de sete crianças palestinas e israelen- tadores de Petróleo, um dos maiores cartéis do mundo.
ses que vivem em Jerusalém.
Atualmente, a Opep produz aproximadamente 40% e
exporta 70% de todo petróleo extraído no mundo. Seus
A economia dos países do Oriente Médio está vinculada principais mercados são Alemanha, França, Japão e Esta-
diretamente à extração e ao refino do petróleo. Em alguns dos Unidos. O fato de essas grandes potências serem as

112
principais compradoras da Opep favorece a interferência 1.4. Agricultura
delas no cenário geopolítico do Oriente Médio. A Opep
está sediada em Viena, na Áustria. Fazem parte dela onze Para o desenvolvimento da agricultura, são necessárias
países, seis dos quais são do Oriente Médio: Arábia Sau- condições naturais favoráveis, como fertilidade, umida-
dita, Emirados Árabes Unidos, Irã, Iraque, Kuwait, Catar, de e temperatura. No Oriente Médio, elas são adver-
Argélia, Líbia, Nigéria, Indonésia e Venezuela. sas em decorrência dos climas árido e semiárido, que
prevalecem em praticamente todos os países do sub-
continente. Há necessidade de empregar um conjunto
de técnicas agrícolas – irrigação, correção, rodízio de
culturas, entre outras – para se obter um mínimo de cul-
tura agrícola satisfatória, o que nem sempre acontece.
Em geral, os cultivos são desprovidos de tecnologia e
resultam em baixa produtividade.

Iraniano observa o complexo petroleiro de Arak-Irã.

Maiores reservas de petróleo


(em bilhões de barris)
Venezuela 300,8

Arábia Saudita 266,4

Canadá 169,7

Irã 158,4

Iraque 142,5
Plantação de limão, em Israel
Kuwait 101,5
Pesem essas adversidades, no Oriente Médio há sim im-
Emirados Árabes Unidos 97,8
portantes áreas cultivadas. A Turquia produz tabaco, algo-
Rússia 80 dão, oliveiras e cítricos, nas planícies costeiras da península
Turca, áreas razoavelmente úmidas. No interior, cultivam-se
Líbia 48
cevada e trigo.
Nigéria 37
Em áreas próximas à planície da Mesopotâmia, que com-
Fonte: Agência de Informações de Energia dos EUA (2017) preende as bacias hidrográficas dos rios Tigre e Eufrates,
os solos férteis, graças às cheias dos rios, são favoráveis
às promissoras produções de cereais. Com as cheias, as
margens ficam cobertas de sedimentos – restos de ani-
mais, plantas e outros micro-organismos –, que adubam
naturalmente os solos. A Arábia Saudita produz tâmaras
e cereais, em áreas próximas ao mar Vermelho, significa-
tivamente úmidas. No Iêmen, se produz café.
Cítricos, uvas e azeitonas, culturas bem mediterrâneas,
multimídia: vídeo
são produzidos na Síria, Líbano, Jordânia e Israel, pro-
Fonte: Youtube dutor agrícola destacável no Oriente Médio. Mesmo com
Kedma - Haim Hazaz, Taufik Zayad dificuldades impostas pelo clima e por outros determi-
Em 1948, sete dias antes da criação do Estado de Isra- nantes naturais, o país tem obtido grandes resultados.
el, o navio Kedma chega à Palestina com um grupo de Aplicam-se tecnologias avançadas, especialmente na irri-
judeus refugiados da Europa, encontrando uma guerra gação. Cerca de 50% da produção agrícola de Israel tem
local entre as tropas inglesas e o exército secreto ju- origem em fazendas coletivas, denominadas kibutzim,
deu, que os impede de desembarcar. que funcionam graças à participação voluntária firmada
no sistema de cooperativa.

113
Os israelenses investiram em tecnologia triturando as
rochas do deserto de Negeu, implementando projetos os mais idealistas, os melhores soldados, os mais sio-
de irrigação junto ao rio Jordão e convertendo deser- nistas e os que não se preocupam com as futilidades
tos em áreas de grande produtividade. Muitos kibutzim da vida.
foram estrategicamente instalados em zonas de litígio Nunca foram mais que 8% da população israelen-
para garantir a posse de terra à Israel no conflito com se, mas pareciam ser mais da metade. Abba Eban,
os palestinos. ex-chanceler israelense, se refere aos membros dos
kibutzim como a “reserva moral” da sociedade isra-
elense. Por alguns eram chamados de “o sal da so-
Os kibutzim
ciedade”, em alusão a um tempero simples, barato,
Kibutz são associações comunitárias que surgiram em pouco sofisticado, mas sem o qual a comida não tem
Israel, no início do século XX. Os Kibutz surgiram do gosto. Até o início dos anos de 1980 esse era o perfil
movimento socialista-sionista, que na realidade muito do kibutznik (membro de um kibutz). Hoje as coisas
pouco tinha de religioso. O grande elo de união entre são um pouco distintas.
as pessoas era o sentimento de povo e de nacionalis-
Os kibutzim têm uma importância singular na história
mo, pois a religião judaica nunca esteve em primeiro
do sionismo: serviram para colonizar o território, para
plano. Os territórios que deram origem aos Kibutz fo-
receber imigrantes e para produzir alimentos em difí-
ram comprados do Império Turco-Otomano e de ára-
ceis épocas de boicote e racionamento. Serviram para
bes que viviam na região. O objetivo do movimento
demonstrar a todos que há algo mais importante que
sionista era comprar o máximo de terras possíveis e o
as aspirações individuais do sujeito: o coletivo. Seguin-
do movimento kibutziano era trabalhar a terra e tor-
do a lógica marxista de extremo coletivismo e despre-
nar os kibutz locais autossustentáveis, onde se pudes-
zo às instituições burguesas, os kibutzim tinham como
se plantar, colher, criar animais. Naquela época, esta
objetivo extinguir as fronteiras entre cidade e campo
era a forma mais sensata de se sustentar e obter lucro.
e transformar Israel em um país socialista. O lema era
Todo lucro era dividido igualmente entre os membros
“dar o que se pode, receber o necessário”. Entre os
dos kibutz.
anos 1910 e 1980, a ideia do kibutz foi executada
com grande sucesso. Se não transformou Israel em
socialista, deu sentido ao sionismo para muita gente.
Os kibutzim desenvolveram uma forma de praticar
o judaísmo, com comemorações especiais das festas
judaicas (chaguim), práticas seculares de eventos reli-
giosos, como o bar-mitzvah. Deram valor ao sionismo,
quando colocaram o Estado acima de tudo.
Entretanto, a crise econômica, aliada ao corte de investi-
mentos públicos do governo Beguin (Likud), prejudicou
a economia dos kibutzim. O fim do boicote árabe e a paz
Os assentamentos agrícolas de Biluim, nos anos de
1880, foram os pioneiros do movimento kibutz. com o Egito possibilitaram que alimentos entrassem no
país a preço mais barato que o produzido pelos kibut-
Da concepção inicial até os dias de hoje, muita coisa zim. A opção por muitos dos “filhos do kibutz” de dei-
mudou. O kibutz tradicional agrícola, uma proprie- xarem o local rumo à cidade, somada às mudanças em
dade coletiva em todos os seus aspectos, já quase suas regras, configuram outra crise, de caráter ideológi-
não existe mais. Não há nada mais sionista que o co. No fim dos anos 1970, muitos kibutzim começaram a
kibutz. Parte fundamental da história do movimento terceirizar serviços, privatizar seu campo e suas fábricas
sionista e do Estado de Israel, os kibutzim (plural de e eliminar a parte de suas normas marxistas, como o lar
kibutz) foram a experiência mais romântica e de su- das crianças (beit ieladim) e o refeitório comunal (chadar
cesso no país. Durante anos, jovens idealistas faziam haochel). É inegável a importância dos kibutz na forma-
aliá (migração) e iam viver em um kibutz. Voluntá- ção e sustentação inicial do Estado de Israel, porém, e
rios se inscreviam para participar de alguma maneira como de fato era esperado, kibutz hoje em dia são orga-
desta experiência. Os membros dos kibutzim eram nizações muito mais comerciais e comprometidas em se
vistos de forma quase mística pela sociedade, como manter do que em conservar ideologias.

114
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
A Fonte das Mulheres
Em um pequeno vilarejo, situado entre o Norte da África e
o Oriente Médio, as tradições islâmicas são seguidas a ris-
ca. Entre elas, a existência da mulher como procriadora é
regra básica, mas existe uma que faz com que elas sejam
as responsáveis por buscar água em um local distante e
de difícil acesso, restando para os homens a tarefa de ma-
tar o tempo bebendo e falando da vida.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Compreender os diversos aspectos que envolvem o Oriente Médio e o mundo muçulmano exige análises detalhadas,
embasamento teórico e percepção para distinguir entre os fatos e os exageros. Os estudos nessa área são ainda fraca-
mente desenvolvidos no Brasil, não existindo tantos grupos de pesquisas ou publicações a respeito. Por essas razões, é
comum que as discussões sobre o universo islâmico provoquem mal-entendidos e reforcem a crença em mitos.

Mesquita Mohammad: templo islâmico xiita, no bairro do Brás, em São Paulo-SP

115
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 7
Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

Tradicionalmente, somente o Estado figurava como sujeito de direitos e obrigações, portanto o único detentor
de personalidade internacional. Entretanto, na contemporaneidade, em virtude de uma nova configuração do
Direito Internacional, faz-se necessário acrescentar outros sujeitos como parte desse novo cenário, a saber: as
organizações internacionais e os indivíduos.
Quando surgiu, em 1945, como sucessora da Liga das Nações, a ONU tinha como premissa principal a ma-
nutenção da paz mundial. Embora tenha falhado, é inegável a importância das agências especiais, com forte
atuação em áreas essenciais, como a Unctad, o PNUD, a Unicef, entre outras.

MODELO 1
(Enem) Palestinos se agruparam em frente a aparelhos de televisão e telas montadas ao ar livre em Ramalah,
na Cisjordânia, para acompanhar o voto da resolução que pedia o reconhecimento da chamada Palestina como
um Estado observador não membro da Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo era esperar pelo
nascimento, ao menos formal, de um Estado palestino. Depois da aprovação da resolução, centenas de pessoas
foram à praça da cidade com bandeiras palestinas, soltaram fogos de artifício, fizeram buzinaços e dançaram
pelas ruas. Aprovada com 138 votos dos 193 da Assembleia Geral, a resolução eleva o status do Estado pales-
tino perante a organização.
Adaptado de: Palestinos comemoram elevação de status na ONU com bandeiras e
fogos. Disponível em: http://folha.com. Acesso em: 4 dez. 2012.

A mencionada resolução da ONU referendou o(a):


a) delimitação institucional das fronteiras territoriais;
b) aumento da qualidade de vida da população local;
c) implementação do tratado de paz com os israelenses;
d) apoio da comunidade internacional à demanda nacional;
e) equiparação da condição política com a dos demais países.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A alternativa D está correta porque, em 2012, a ONU reconheceu a Palestina como Estado observador não
membro, ressaltando o apoio da comunidade internacional à luta histórica do país em ser reconhecido no âm-
bito político internacional, a despeito de protestos de países como Estados Unidos e Israel.
A existência de um Estado Nacional depende do reconhecimento da comunidade internacional. Assim, a
aprovação do status da Palestina como Estado observador corresponde a mais um importante passo no senti-
do da sua existência formal. A população palestina vive como refugiada dentro do território do Estado árabe,
requerendo o reconhecimento do seu próprio Estado, desde 1948. O reconhecimento da Palestina pela ONU
como Estado observador das organizações reflete o apoio de parte significativa da comunidade internacional
à demanda palestina.

RESPOSTA Alternativa D

116
DIAGRAMA DE IDEIAS

DIVISÃO PALESTINA

ÁRABES: CISJORDÂNIA
SIONISMO E FAIXA DE GAZA

ESTADO DE JERUSALÉM DIVIDIDA


ISRAEL

CRIAÇÃO DO ESTADO
DE ISRAEL 1948

2.ª GERRA
MUNDIAL

HOLOCAUSTO

REVOLUÇÃO ISLÂMICA
AUMENTO DA IMIGRAÇÃO
DE JUDEUS

GOLFO PÉRSICO IRÃ X IRAQUE

GUERRA DO GOLFO

117
esse direito venha sendo exercido exclusiva e plenamente
AULAS 41 E 42 pelos israelenses. Em razão disso, não faltam guerras, grupos
terroristas, vidas perdidas e nenhuma paz duradoura.
A área de conflitos localiza-se nas proximidades do mar
Mediterrâneo e o foco principal deles é a cidade de Jerusa-
REGIÕES lém, destino de forte potencial turístico religioso e sagrado
para o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.
SOCIOECONÔMICAS
Tudo começou com o movimento sionista, movimento in-
MUNDIAIS IX: ternacional dos judeus para a criação do Estado de Israel.
ORIENTE MÉDIO II Durante e depois da segunda metade do século XIX, grande
quantidade de judeus migrou para os territórios da Palesti-
na, então habitados por cerca de 500 mil árabes. Para os ju-
deus, essa região tinha sido ocupada por eles até que foram
COMPETÊNCIA: 2 expulsos pelo Império Romano, no século III d.C., quando
teve início a diáspora (dispersão de judeus pelo mundo).
HABILIDADE: 7

Combatei, pela causa de Allah, aqueles que vos comba-


tem; porém, não pratiqueis agressão, porque Allah não
estima os agressores.
Corão sagrado, 190/2

1. Introdução
Como pudemos observar e estudar nas aulas anteriores so-
bre os aspectos naturais, o Oriente Médio circunscreve-se
como uma região nodal, pois está num ponto equidistante
de três continentes – África, Ásia e Europa –, configuran-
do-se como um ponto nevrálgico que foi, por séculos, o
termômetro dos mais variados interesses territoriais, mili-
tares e econômicos.
Tem sido alvo de disputa há séculos: no passado, pelos
impérios otomano, russo, britânico, alemão e francês; e a
partir da segunda metade do século XX, por grandes po-
tências políticas e econômicas. Nestas aulas, abordaremos
o Oriente Médio pelo prisma da regionalização geopolítica,
isto é, apesar de ele constituir uma unidade, percebe-se Mapa das divisões estabelecidas
nitidamente que a história da região, considerando princi- ONU, em 1947
pela partilha da

palmente os conflitos, possui duas vertentes: uma, em que


Terminada a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a ONU
se destaca a questão da Palestina; e a outra, em que o foco
foi encarregada de resolver a situação de conflitos entre pa-
são o golfo Pérsico e o petróleo.
lestinos e judeus. Em 1947, a ONU encaminhou a partilha
da Palestina em dois Estados: um judeu, com 14,1 mil km2,
2. A questão da Palestina correspondendo a 56% da Palestina e compreendendo uma
população de 1.008.800 habitantes, sendo metade compos-
Um dos conflitos que mais geram tensões e preocupação em ta por árabes e a outra metade por judeus; e um árabe, com
todo o mundo ocorre entre judeus e palestinos, no território 11,5 mil km2, correspondendo a 43% da Palestina e 814 mil
de enclave entre Israel e Palestina. Ambos os povos reivindi- habitantes. Os palestinos não aceitam a partilha, pois consi-
cam seu próprio espaço de soberania, embora, hoje em dia, deram um interferência indevida da ONU.

118
Em 1948, no entanto, Israel rejeitou o tratado e decla- Os subsequentes anos de derrotas palestinas, principal-
rou independência na região, criando o Estado de Israel mente na Guerra dos Seis Dias, demonstraram a superio-
e dando início ao processo de ocupação da Palestina. Em ridade militar dos israelenses, que também contavam com
1964, com a criação da Organização para a Liber- o apoio dos EUA. Numa tentativa de reaver os territórios
tação da Palestina – OLP, sob a liderança de Yasser perdidos, em 1973, Síria e Egito atacaram Israel de surpre-
Arafat, tiveram início as lutas pelos direitos perdidos pe- sa, mas a reação israelense mais uma vez forçou os árabes
los palestinos. O principal grupo político da OLP era o al a um cessar-fogo. Era o início da guerra do Yom Kippur. No
Fatah, moderado e em atividade até hoje. entanto, nessa guerra os árabes se utilizaram de um novo
Com a reação dos países árabes próximos contrários à cria- recurso: interromperam o fornecimento de petróleo aos
ção do Estado de Israel, em 1967 eclodiu a Guerra dos países alinhados com Israel provocando a crise mundial do
Seis Dias. Os israelenses tomaram a Faixa de Gaza e a petróleo. Mas a vitória árabe foi apenas política.
península do Sinai, do Egito, as colinas de Golã, da Síria, Je-
rusalém Oriental, da Jordânia, e a Cisjordânia, em apenas
seis dias. Até hoje, Israel ignora a resolução da ONU que
determinou, à época, a devolução desses territórios.

Yasser Arafat (1929-2004)

Capa da revista Veja, de 1973

Em 1979, mediado pelos Estados Unidos, Israel decidiu de-


volver a península do Sinai para o Egito, com o objetivo de
selar um acordo entre os dois países, chamado de Acordos
de Camp David. Com isso, o Egito tornou-se o primeiro
Estado árabe a reconhecer oficialmente o Estado de Israel, o
que não ficou sem reação dos demais países da região.
Em 1987, chegou ao auge a Primeira Intifada, uma
revolta espontânea da população árabe palestina contra
o Estado de Israel. O povo atacou com paus e pedras os
tanques e armamentos de guerra judeus. Israel reagiu
com dureza e desencadeou um massacre de palestinos,
com protestos da comunidade internacional, em razão do
peso desproporcional do uso da força nas áreas da Faixa
de Gaza e da Cisjordânia. No mesmo ano, foi criado o Ha-
mas (partido mais radical que a OLP), que passou a visar
à destruição completa do Estado de Israel, ao passo que o
Mapa dos territórios ocupados por Israel na Guerra dos Seis Dias. objetivo da OLP era apenas a criação do Estado palestino.

119
Em 2006, a vitória do Hamas sobre o al Fatah nas eleições
da Autoridade Nacional Palestina elevou novamente a ten-
são na região, intensificada pelo não reconhecimento do
pleito pelos EUA, União Europeia e demais países ocidentais.
Atentados terroristas, sobretudo com carros-bomba, prosse-
guiram contra Israel, que buscava tentativas para eliminar
definitivamente o Hamas. Embargos econômicos sobre Gaza
não deixavam de afetar em cheio a população civil.

Garoto palestino atirando pedras contra um tanque israelense


durante a Primeira Intifada.

Em meados da década de 1990, a situação aparentava ca-


minhar para o fim: Yasser Arafat, da OLP, e o então primeiro-
-ministro israelense Yitzhak Rabin firmaram os Acordos de
Oslo, mediados pelo presidente dos EUA à época, Bill Clin-
ton. Foi criada a Autoridade Nacional Palestina, responsável
pela administração do território da Palestina, que compreen-
dia a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Na prática, a ANP recebia
os repasses dos impostos que Israel arrecadava em território
palestino e cuidava da saúde, educação, transporte e turismo.
Mapa atual dos territórios palestinos, fragmentados e sem autonomia.
No entanto, em 1995, Yitzhak Rabin foi assassinado por
um extremista judeu, e a extrema direita ganhou força polí- Em 2008, com a mediação do Egito, um acordo de cessar-
tica em Israel. Os judeus não cederam mais à desocupação -fogo foi firmado entre o Hamas e Israel. Seis meses depois,
das áreas onde a população palestina ainda resistia, e os no entanto, sem que o acordo fosse renovado e sem que os
termos de paz dos Acordos de Oslo resultaram em fracasso. judeus interrompessem o bloqueio econômico sobre Gaza,
a região continua até hoje a ser alvo de novos conflitos e
ataques.
Em 2014, novas ofensivas aconteceram. Depois que três
jovens judeus foram assassinados em um ato atribuído ao
Hamas, cuja autoria foi negada, seguiu-se o assassinato de
um jovem palestino por um extremista judeu. Houve ataques
dos dois lados, com ampla vantagem de Israel, mais bem de-
fendido e mais bem armado. Enquanto cerca de 65 soldados
israelenses foram mortos, mais de dois mil palestinos, entre
militares e civis, sucumbiram no conflito. Em razão de mais
Rabin aperta a mão de Arafat, observados por Clinton, esse massacre, países ocidentais, dentre eles o Brasil, passa-
em acordo que foi assinado em 1995, em Oslo.
ram a questionar a atuação de Israel na região.
Em 2000, liderada pelo Hamas, houve uma Segunda Intifa-
da, à qual Israel respondeu novamente com dureza: demo-
liu casas de palestinos e deu início à construção do Muro
da Cisjordânia ou Muro de Israel (2002). Os conflitos foram
sangrentos e estenderam-se até 2004 com a morte do líder
do Hamas. Houve milhares de mortes de ambos os lados.
Firmaram-se acordos de paz que resultaram na desocupa-
ção por parte de Israel da Faixa de Gaza e da Cisjordânia,
medidas que renderam a Ariel Sharon, primeiro-ministro Mulher palestina plantando flores em granadas, como forma
israelense, o Nobel da Paz. de resistência na região de Ramallah, Cisjordânia.

120
2.1. A construção do muro
Os palestinos habitantes de Jerusalém foram “empurra-
dos” para guetos, na parte oriental da cidade. A proposta
inglesa e acatada pela ONU não levou em consideração
as possíveis divergências religiosas, políticas e econômicas
que a divisão da Palestina poderia causar.
Desde a criação do Estado de Israel, em 1948, até hoje,
a região de Jerusalém vem sendo palco de intermináveis
choques culturais e identitários, que já provocaram guerras,
intolerâncias e massacres contra o povo palestino.

Desenhos de Banksy, no lado palestino do muro,


Imagem aérea mostra vila palestina (à esquerda) e uma colônia
satirizam a política israelense.
judaica (à direita) separadas pelo muro israelense.

Em 29 de novembro de 2012 (65 anos depois da Resolu-


A primeira etapa da construção do Muro de Israel começou ção 181, referente à partilha da Palestina), após uma série
em 2004, com o objetivo de segregar Israel da região norte de debates e resoluções, a Assembleia Geral das Nações
da Cisjordânia. Várias regiões sofreram com o levantamen- Unidas, numa votação histórica, passou a reconhecer o Es-
to do muro: vilas ficaram sem áreas agrícolas; cidades fo- tado Palestino como um Estado observador não membro
ram isoladas sem identidade nacional, nem de Israel nem das Nações Unidas (status político igual ao do Vaticano),
da Cisjordânia. o que representa um reconhecimento implícito por parte
A principal justificativa da construção do Muro de Israel foi da comunidade internacional da existência da Palestina
o discurso da segurança. Israel isolaria os palestinos para sob comando árabe. Na votação em que eram necessários
evitar prováveis ataques a Jerusalém. O muro tem 721 km apenas 97 votos a favor, com o apoio de 139 países, capi-
de extensão, oito metros de altura, trincheiras com dois taneados na Europa pela França e tendo entre eles o Brasil,
Angola e Portugal, o Estado Palestino teve seu reconheci-
metros de profundidade, arames farpados e torres de vigi-
mento feito para participar das reuniões da Organização
lância a cada 300 metros. Tudo isso para ser intransponível.
como membro sem direito a voto. Além de Israel, os Esta-
A rigor, já foram construídos dois muros. Um deles cerca as dos Unidos, Canadá e a República Tcheca ficaram entre os
fronteiras da cidade de Jerusalém e bloqueia a livre pas- nove votos contrários (e 41 abstenções) à resolução.
sagem de palestinos para a parte ocidental de Jerusalém;
O novo status é principalmente simbólico, mas lideranças
e o outro, na parte externa, cerca e controla as colônias
palestinas argumentam que ele ajudará a delimitar o ter-
israelenses instaladas na Faixa de Gaza. ritório que quer para seu Estado próprio – gradativamente
Em 2004, o Tribunal Internacional de Justiça declarou a tomado pelo avanço dos assentamentos israelenses. Tam-
ilegalidade do muro e acusou a obra de separar e isolar bém pode ajudar que essa delimitação de território ganhe
aproximadamente 450 mil pessoas, além de algumas par- reconhecimento formal. A mudança também significa que
tes do muro invadirem territórios palestinos. Entretanto, palestinos poderão participar dos debates da Assembleia
se questionadas, autoridades políticas de Israel alegam Geral da ONU, aumentando suas chances de integrar
que o muro trouxe diminuição de conflitos, razão pela agências e entidades ligadas à Organização. Talvez o maior
qual não se pensa em retirá-lo. Se, do lado palestino, o temor de Israel seja o de que palestinos usem seu novo
muro é alvo de críticas contundentes, ele também passou status para entrar no Tribunal Penal Internacional e tentar
a ser alvo de artistas do mundo inteiro que grafitam nele acionar Israel judicialmente por supostos crimes de guerra
seus desenhos. Banksy, artista britânico, desenhou nele cometidos em territórios ocupados, como na Cisjordânia.
uma série de ilustrações satirizando a obra que segregou Atualmente, muitas questões dificultam a concretização da
os palestinos dos israelenses. criação do Estado da Palestina, incluindo aí a questão dos

121
colonos judeus incentivados por Israel. Além disso, os isra- Em 1979, pouco antes do início do conflito, o Irã passou
elenses detêm controle sobre recursos naturais e até sobre por uma grande transformação política conhecida como
a água e não parecem estar dispostos a ceder essa posse Revolução Islâmica, quando organizações religiosas
aos árabes. E isso sem falar na cidade de Jerusalém, consi- associadas a partidos esquerdistas e ao apoio popular
derada sagrada para os muçulmanos e reivindicada pelos derrubaram o regime pró-Ocidente do xá (monarca persa)
palestinos e que também não será cedida, sob nenhuma Reza Pahlevi. Instaurou-se um Estado teocrático islâmico e
hipótese, pelo Estado de Israel. de oposição à presença política dos países ocidentais e de
Israel. A maioria da população iraniana e o regime inau-
Consequentemente, os atentados terroristas e os confron-
gurado pelo aiatolá Ruhollah Khomeini tinham orientação
tos continuam ocorrendo, incluindo a forma como Israel
religiosa xiita, divisão do islã que compreendia cerca de
contra-ataca as ações do Hamas, muitas vezes com um uso
10% da população islâmica do mundo, mas de maioria no
desproporcional de força e poderio militar.
Irã, no Iraque e no Barein.

3. Geopolítica do Golfo Pérsico


Quando falamos em golfo Pérsico, se com relação ao pe-
tróleo o que temos diante de nós é um verdadeiro império
(cinco das maiores reservas do mundo estão na região),
em termos políticos estamos diante de um complexo amál-
gama de posicionamentos. Enquanto os países árabes O Iraque foi financiado pela Arábia Saudita e pelos
mantêm um peculiar alinhamento com os EUA, o Iraque Estados Unidos; o Irã, pela Síria e pela Líbia.
permanece um enigma e o Irã coloca-se em firme oposição
Ainda no final da década de 1960, o Iraque criou um go-
à política ocidental.
verno de cunho nacionalista graças ao partido Baath, cuja
Nessa equação, o único elemento constante é o petróleo, figura mais conhecida era a de Saddam Takriti Hussein. De
e a possibilidade de equilíbrio entre as partes é muito 1968 a 1979, Saddam foi o vice-presidente, assumindo a
difícil de se obter. É sabido que, desde as primeiras dé- presidência em seguida. Apesar de laico, o regime de Sad-
cadas do século passado, os países do golfo Pérsico já se dam Hussein, da seita sunita, impôs restrições à maioria da
estabeleciam como grandes produtores. A princípio, o in- população, composta por xiitas. Foram reprimidos, tiveram
vestimento estrangeiro foi recebido com passividade. No terras confiscadas e foram impostas a eles limitações à prá-
entanto, à medida que os Estados se familiarizavam com tica religiosa. Os curdos, outra etnia da região, não tiveram
a produção do petróleo, começavam também a enxergar sorte diferente.
a possibilidade de lucrar sem a incômoda interferência
Naquela oportunidade, as sociedades iraquiana e iraniana
estrangeira. E nesse momento os conflitos tornaram-se
contavam com os ganhos de uma década de crescimento
inevitáveis.
econômico graças à produção de petróleo, além de gran-
de poder militar, potencial favorável para o crescimento
3.1. Conflito Irã-Iraque econômico e social. Saddam Hussein, mesmo tendo con-
O conflito conhecido como guerra Irã-Iraque ocorreu seguido progressos significativos no desenvolvimento de
entre os anos de 1980 e 1988. Sob uma perspectiva um Estado iraquiano, acreditava que a nova liderança do
histórica, as rivalidades que culminaram na guerra es- Irã revolucionário xiita ameaçava o equilíbrio do Iraque e
tavam atreladas a uma das etapas do antigo conflito seu governo sunita, ao explorar as vulnerabilidades geoes-
árabe-persa pelo controle das terras férteis da planície tratégicas do Iraque, como as limitações de acesso mínimo
da Mesopotâmia. Com fronteiras em comum e localiza- ao golfo Pérsico.
dos na região da Mesopotâmia, ambos os países são A revolução iraniana preocupou os demais Estados do
palco de inúmeras disputas territoriais desde a antigui- golfo Pérsico, pois muitos muçulmanos apoiavam a opção
dade, quando foram povoados por assírios, babilônios, islâmica na política, o que atormentava os dirigentes locais.
persas e árabes. O fator fundamental desses conflitos é O pretexto de Saddam para declarar guerra ao Irã foram
de ordem natural: a configuração do relevo com áreas questões fronteiriças no entorno do estuário de Chat El
planas e solos férteis, favoráveis à agricultura, e bacias Arab, uma importantíssima zona petrolífera. Saddam ques-
hidrográficas de grandes rios perenes – Tigre e Eufrates tionou o protocolo de Argel (1975), que havia definido as
–, fenômeno raro numa região onde predominam cli- fronteiras entre os dois países nas mediações do estuário e
mas árido e semiárido. pretendia conquistar sua margem oriental.

122
Soldados estadunidenses em parada militar de comemoração
pela vitória na operação apelidada Tempestade no Deserto.

Os EUA foram aliados do Iraque na guerra Irã-Iraque, mas


lideraram as forças aliadas que pressionaram pela desocu-
Soldado iraniano vigia prisioneiros iraquianos com uma metralhadora. pação iraquiana do Kuwait. Passado o prazo dado pela ONU
Invadiu o Irã, em setembro de 1980, e a primeira fase da para a desocupação, as forças aliadas deram início à opera-
guerra foi marcada pelo avanço iraquiano. O Iraque teve ção Tempestade no Deserto, em 17 de janeiro de 1991. Foi o
apoio do Kuwait, dos EUA e da Grã-Bretanha; o Irã, por maior aparato militar em operação desde a Segunda Guerra
sua vez, contou com o apoio da Líbia e da Síria. O Iraque Mundial. Consistiu, primordialmente, de ataques aéreos e de
ofereceu um cessar-fogo ao Irã, pois não imaginava que lançamento de mísseis de cruzeiros. Durante a batalha, fo-
a guerra se prolongaria por tanto tempo, mas a postura ram realizadas mais de 116 mil viagens de ataque ao Iraque
inflexível de Khomeini fez com que o Irã recusasse a oferta. e lançadas mais de 85 mil toneladas de bombas.

A guerra durou oito anos e, quando chegou o armistício, Os ataques foram transmitidos por TV no mundo todo, com
as fronteiras continuavam as mesmas do início do conflito. a autorização das Forças Armadas dos EUA, que lideravam
A guerra destruiu a economia e a infraestrutura dos dois a coalizão. Os ataques a bases militares, campos de pouso,
países, sem contar as irreparáveis vidas humanas perdidas. pontes, prédios do governo e usinas foram acompanhados
Além disso, quem mais ganhou com essa guerra foi a in- por imagens ao vivo.
dústria bélica mundial, visto que os dois países eram abas- Sem capacidade técnico-militar para enfrentar os ataques,
tecidos com os mais modernos equipamentos militares, o a resposta do Iraque consistiu no lançamento de mísseis
que fez com que ambos se endividassem. Scud, de fabricação soviética, sobre os alvos localizados
em Israel e sobre as forças estadunidenses estacionadas
3.2. Primeira guerra do Golfo na Arábia Saudita.

Tratou-se de um conflito armado, no início de 1991, que No dia 24 de fevereiro de 1991, uma ofensiva aérea, ter-
opôs o Iraque, presidido por Saddam Hussein, e uma co- restre e marítima com duração de cem horas sufocou qual-
alização de forças aliadas lideradas pelos EUA. Além do quer possibilidade de reação pelo exército iraquiano. No
conflito em si, a guerra do Golfo também ficou marcada dia seguinte, os próprios iraquianos incendiaram centenas
pelas imagens de bombardeios liderados pelos EUA e pelo de seus poços de petróleo. As tropas aliadas conseguiram
despejo de milhares de litros de petróleo no golfo Pérsico, a forçar a retirada do Kuwait das forças de Saddam Hussein,
mando de Saddam, transmitidas ao vivo pela TV. em 26 de fevereiro. Um cessar-fogo, logo em seguida, im-
pediu que a capital iraquiana Bagdá fosse invadida e que
O motivo da guerra foi a invasão do Kuwait pelo Iraque, em Saddam Hussein fosse deposto.
1990. Os iraquianos nunca aceitaram a ideia de um Kuwa-
it independente. Para eles, o país nada mais é do que um
prolongamento da província de Basha. Em agosto de 1990,
Saddam ordenou que suas tropas invadissem o Kuwait.
A ONU manifestou-se contrária à ocupação do Kuwait pelo
Iraque e deu prazo até o início de janeiro de 1991 para
que o país fosse desocupado. O Conselho de Segurança da
ONU também impôs sanções econômicas ao Iraque, bem
como autorizou o uso de todas as forças necessárias para George Bush, presidente dos EUA, com oficiais militares,
a desocupação do país. durante a operação Tempestade no Deserto.

123
Durante essa batalha, as vítimas civis iraquianas foram consi- libertação do Kuwait, depois de ser invadido pelos exércitos
deradas efeitos colaterais. Até um abrigo antiaéreo foi bom- de Saddam Hussein, que pretendia anexá-lo. A declaração
bardeado, matando 315 pessoas, dentre elas 130 crianças. de guerra contra o Iraque pelos aliados apoiou-se na ten-
Às centenas, refugiados procuraram a Jordânia para escapar tativa de recuperação dos campos de petróleo tomados. Se
dos ataques. As baixas militares iraquianas chegaram a apro- vitorioso com a anexação do Kuwait, Saddam controlaria
ximadamente 200 mil. Dos aliados, morreram 148 soldados parte significativa do suprimento mundial de petróleo, bem
e outros 145 foram vítimas de fogo amigo. como, e pior, faria da Arábia Saudita seu próximo alvo.
Um desastre ambiental causado pela queima de centenas Eleito, George W. Bush, talvez motivado pelo legado do pai,
de poços de petróleo resultou em uma intensa poluição do bastante criticado por ter, supostamente, vencido a guerra do
ar, que se espalhou por milhares de quilômetros. Só dez Golfo, mas permitido que o ditador permanecesse no poder,
meses depois, o fogo foi definitivamente apagado. Milhões jamais escondeu seu objetivo de derrubá-lo de lá. Após os
de barris de petróleo foram despejados no golfo Pérsico e ataques terroristas de 11 de setembro, a motivação do presi-
contaminaram as águas do oceano Índico. Na zona costei- dente tornou-se ainda mais focada: na sua pregação contra
ra do Kuwait, morreram milhares de espécies animais que o terrorismo, ele apontava Saddam Hussein como uma das
habitavam a região. maiores ameaças à segurança da América e do mundo.
Apesar da esmagadora derrota na guerra do Golfo, Sad-
dam continuou no poder. Durante o conflito, o ditador ira-
quiano ameaçou o mundo. Havia suspeitas de que ele teria
utilizado armas químicas na guerra. Com o discurso de que
Saddam não fizesse isso novamente, as Nações Unidas exi-
giram, como parte do armistício, que o Iraque autorizasse a
ONU a inspecionar sua produção de armamentos.
Desde o final da guerra do Golfo, a disposição iraquiana
em cumprir essa exigência oscilava. Saddam restringia o
A primeira guerra do Golfo também foi chamada de Escudo no Deserto. acesso dos oficiais das Nações Unidas a algumas áreas, o
que alimentava a suspeita de que estivesse desenvolvendo
3.3. Segunda guerra do Golfo armas que não queria revelar ao mundo. Ao fim, em 1998,
o Iraque expulsou os inspetores da ONU e impediu seu re-
Ao tornar-se presidente dos Estados Unidos, George W. Bush torno ao país.
não escondia que um dos objetivos de sua política interna-
cional seria tirar do poder o presidente do Iraque, o ditador
Saddam Hussein, levado pela suspeita de que o Iraque esti-
vera envolvido nos ataques de 11 de setembro, bem como
de que Saddam apoiava o terrorismo internacional e os ho-
mens-bomba palestinos, do que Saddam não fazia segredo.

Saddan Hussein, 2002

Desde o ataque de 11 de setembro, especulava-se a proba-


bilidade de um ataque dos Estados Unidos contra o Iraque.

Ataques às torres gêmeas, em 11 de setembro 3.4. O dossiê britânico


de 2001, Nova Iorque/EUA
George W. Bush dava sinais de que os Estados Unidos es-
Há mais de uma década, o presidente, pai de George W. tavam se preparando para esse ataque. Acusava Saddam
Bush, liderava uma aliança militar contra o Iraque. Essa do fato (presumível) de estar desenvolvendo armas de
aliança incluía países europeus e árabes que lutavam pela destruição em massa. Saddam, por sua vez, não dava ouvi-

124
dos às ameaças e exigências estadunidenses. Quando, no 3.5. Os EUA preparam-se para o conflito
entanto, parecia que o ataque ao Iraque era iminente, os
iraquianos voltaram atrás. O general Amer al-Saadi, princi- Depois de desistir de encontrar alguma solução diplo-
pal conselheiro de Saddam em forças armadas, declarou mática para o conflito, os Estados Unidos prepararam-se
que o Iraque estaria disposto a autorizar os inspetores da para a guerra. O presidente Bush enviou uma resolução
ONU a voltarem ao país para investigar sua produção de ao Congresso estadunidense que, se aprovada, permitiria
armamentos. que o governo de Washington fizesse uso de todos os
meios, inclusive da força, para obrigar o Iraque a cumprir
Essa proposta iraquiana ocorreu após a publicação de um as ordens impostas pela ONU. Lançou sua nova estraté-
relatório do governo britânico, divulgado no dia 24 de gia de segurança nacional contra qualquer ameaça ao
setembro de 2002, em que o primeiro-ministro britânico país: “A América exige a destruição do armamento de
Tony Blair declarava: “Não tenho dúvidas de que a amea- destruição em massa. Considerando suas atitudes hostis
ça é grave e permanente, que Saddam Hussein progrediu do passado, o governo de Bagdá representa uma ameaça
na produção de armas de destruição em massa e que ele real aos Estados Unidos e ao mundo, por isso deve ser
precisa ser impedido”. combatido imediatamente”.
No entanto, diferentemente da guerra do Golfo, havia um
tímido apoio internacional para uma nova campanha mi-
litar contra o Iraque. Dentre os cinco membros permanen-
tes do Conselho de Segurança da ONU – Estados Unidos,
França, Grã-Bretanha, China e Rússia –, apenas a Grã-Bre-
tanha apoiava a posição estadunidense. Os demais países
pregavam a resolução do conflito com o retorno dos inspe-
tores da ONU ao país. Saddam Hussein havia dado indica-
ções de que autorizaria a volta dos inspetores, o que não
ocorria desde 1998. Não havia, portanto, necessidade de
Tony Blair e George W. Bush, 2003
uma nova resolução da ONU contra o Iraque; menos ainda,
Dentre outras constatações, o dossiê com 55 páginas, pre- uma segunda guerra do Golfo.
parado pelos serviços de inteligência britânico e estaduni-
Os oficiais estadunidenses duvidavam da eficácia de tais
dense, afirmava:
inspeções. As palavras do secretário de defesa dos Esta-
1. O Iraque continua a fabricar armas químicas e biológi- dos Unidos, Donald Rumsfeld, acerca das inspeções foram:
cas e tem planos de utilizá-las. “não vão funcionar”. A Casa Branca deixava claro seu ob-
jetivo de mudar a liderança no Iraque.
2. O Iraque está tentando obter tecnologia e material
para fabricar armas nucleares e há evidências de que Os críticos dos Estados Unidos denunciaram sistema-
o país tentou comprar quantidades significantes de ticamente os planos de Bush para o Iraque, alegando
urânio da África, apesar de não ter um programa civil que o governo de Washington praticava o imperialismo
de poder nuclear que exija esse material. moderno, abusando de seu poder para atacar países e
regimes que não aceitavam as imposições estaduniden-
3. O Iraque desenvolveu mísseis de longo alcance que
ses. Alegavam também que o governo de Washington
podem atingir nações europeias.
estava utilizando o conflito com o Iraque como estratégia
4. O Iraque aprendeu a ocultar equipamentos e docu- para chamar a atenção dos cidadãos para os problemas
mentação dos inspetores das Nações Unidas. internos: proximidade das eleições para o Congresso e
Esse dossiê forçou os Estados Unidos a recusar a última má trajetória econômica do governo. Uma vitória contra
oferta iraquiana de autorizar a inspeção. “Saddam Hussein Saddam Hussein poderia ajudar o Partido Republicano de
quer ganhar tempo com mais uma tentativa de enganar o Bush nas eleições para o Congresso.
mundo”, declarou a Casa Branca. Dias depois de fazer sua A política no Oriente Médio nunca foi simples. É possível
“incondicional” oferta para inspeção da ONU, os iraquianos que o Iraque tenha feito a oferta de permitir o retorno dos
passaram a impor condições: as inspeções teriam de respei- inspetores da ONU apenas para tentar isolar os Estados
tar a soberania iraquiana e os inspetores não poderiam visi- Unidos e enganar o mundo. Os russos já afirmaram que
tar “locais presidenciais”. Em outras palavras, a disposição a autorização iraquiana para a inspeção da ONU torna-
do Iraque passava de fato a ser condicional e limitada – seria va desnecessária uma nova guerra. E Saddam Hussein?
inspecionado tão somente o que eles permitissem. Pretendia convencer o mundo de que ele não desejava a

125
guerra, enquanto desenvolvia secretamente armas de des- As ações desses grupos têm sido fortemente condenadas
truição em massa? Nada disso ficou provado. por religiosos e lideranças islâmicas, que contrapõem à vio-
lência dos atentados a mensagem de paz contida no livro
sagrado da religião muçulmana. Portanto, embora muitos
queiram disseminar essa imagem, não há relação direta
entre islamismo e terrorismo.
Um dado importante a considerar é que os grupos do terror
possuem estratégias espaciais que tornam mais difícil o com-
bate às suas ações. Em geral, utilizam frações de diversos ter-
ritórios para treinamentos militares ou para alocar militantes
sem vínculos com governos ou lideranças políticas.
Valem-se das telecomunicações modernas, típicas da globa-
lização, para recrutar adeptos ou planejar e organizar ações.
Soldado observa área atingida por um míssil, durante
a segunda guerra do Golfo, 2004 (Iraque). Desse modo, formam-se grupos pequenos e ágeis, que atu-
am em redes geográficas – combatidos por forças militares
Em março de 2003, uma coalizão de países liderada pe-
de base territorial. E, não raro, com respostas inócuas.
los Estados Unidos e pelo Reino Unido invadiu o Iraque
para depor Saddam, depois que o presidente dos Estados O surgimento do grupo Estado Islâmico está associado
Unidos, George W. Bush, acusou o líder iraquiano de pos- tanto às divisões entre xiitas e sunitas como a recentes epi-
suir armas de destruição em massa e de ter ligações com sódios no mundo árabe-muçulmano.
a Al-Qaeda. O Partido Baath, de Saddam, foi dissolvido e Em 2010, um vendedor de frutas na Tunísia ateou fogo
a nação fez uma transição para um sistema democrático. ao próprio corpo para protestar contra extorsão praticada
Após sua captura, em 13 de dezembro de 2003 (na Ope- por policiais. Foi o estopim da Primavera Árabe, movimento
ração Red Dawn), o julgamento de Saddam ocorreu sob o pautado por intensas manifestações e revoltas populares
governo interino iraquiano. Em 5 de novembro de 2006, que sacudiu o norte da África e o Oriente Médio. Os mani-
ele foi condenado por acusações relacionadas ao assassi- festantes provocaram a queda de mandatários na Tunísia,
nato de 148 xiitas iraquianos, em 1982, e foi condenado à Egito, Líbia e Iêmen. Atingiram também Argélia, Marrocos,
morte por enforcamento. A execução de Saddam Hussein Bahrein, Omã e a Síria e, com menor intensidade, também
foi realizada em 30 de dezembro de 2006.
a Jordânia, Arábia Saudita, Irã, Iraque e Kuwait.
Na Síria, as revoltas desencadearam uma guerra civil a par-
3.6. A geografia do terror tir de 2011, opondo insurgentes e o governo de Bashar Al-
Os atentados são constantes em embates e conflitos inter- -Assad. De acordo com a ONU, mais de 400 mil pessoas já
nos, como os ocorridos no Paquistão e no Iraque, em con- foram mortas e outros 4,5 milhões imigraram para países
flitos no Cáucaso ou no embate histórico entre israelenses europeus na condição de refugiados.
e palestinos. Parte desses atentados é resultado da ação de
jihadistas (originário da expressão jihad, que foi interpreta- Os primeiros formaram-se de um leque de facções apoia-
da pelos extremistas como “guerra santa aos inimigos do das pela Arábia Saudita e pelo Ocidente e, numa aliança
islã“) – extremistas islâmicos que atacam alvos diversos inusitada, contando com ativistas ligados à Al Qaeda.
em cidades diversas de todo o planeta. O regime de Assad teve o apoio da corrente alauíta, de
Assim como no ataque às Torres Gêmeas em 2001, outras orientação xiita e à qual pertence a família do governante,
ações de grupos terroristas se voltam contra valores e íco- de minorias cristãs e de países como Rússia, China e Irã (este,
nes ocidentais, como sedes de jornais, estações de metrô e de maioria xiita). Divisões religiosas ajudam a explicar o fato
estabelecimentos comerciais, e até mesmo contra símbolos de sauditas e governo sírio estarem em lados opostos.
de civilizações da antiguidade, como a destruição de está- A guerra civil síria e as fragilidades do Iraque, abalado por
tuas assírias no Iraque promovida por membros do Estado guerras, pela presença estadunidense e atentados e agres-
Islâmico (EI), em 2015. sões entre sunitas e xiitas formaram o cenário ideal para
Entre as ações de grande violência ou elevado número de o surgimento do Estado Islâmico. Composto por sunitas
mortos e feridos estão as ocorridas em uma estação de extremistas de várias origens, milícias e ex-combatentes de
trem de Madri (Espanha), em 2004, e os ataques simultâ- diferentes nacionalidades, e jovens europeus recém con-
neos a casas de shows, restaurante e estádio de futebol, vertidos ao islamismo, o grupo rapidamente conquistou
em Paris, em novembro de 2015. frações dos territórios do Iraque e da Síria.

126
Ocuparam cidades importantes, como Raqa e Palmira (Sí- milhões de sírios deslocaram-se dentro do país, passan-
ria) e Mossul (Iraque). Proclamaram um califado (suces- do a viver em condições precárias. Retornaremos a esse
são, em árabe), regime comandado por um califa, chefe ponto mais adiante.
da nação e alçado a sucessor do profeta Maomé. Neste
A partir de 2015, gradativamente o EI passou a perder
califado moderno do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Bagh-
territórios, em especial no Iraque – que passou a con-
dadi foi nomeado “califa de todos os muçulmanos”. A
tar com a ajuda de bombardeios aéreos estadunidenses.
certa altura, sobretudo em 2014, o EI chegou a incorpo-
O mesmo se deu com os avanços das tropas sírias, com
rar em suas fileiras mais de 20 mil estrangeiros, oriundos
apoio russo. Nas fronteiras ao norte, as perdas se deve-
de mais de 50 países.
ram a investidas da Turquia, que combinou o combate ao
Segundo o Alto Comissariado da ONU para Refugiados EI com ataques a grupos da minoria curda. Um acordo
(Acnur), dados de 2015 registram que 4 milhões de sírios para o cessar-fogo entre as tropas de Bashar al-Assad e
saíram do país por causa dos conflitos. Parcelas foram os grupos que a ele se opõem, imposto por EUA e Rússia
para países vizinhos; outros tentaram chegar à Europa, em setembro de 2016, pode concentrar a partir daí esfor-
em percursos e travessias muito arriscados. Outros 7,6 ços para combater o EI na Síria.

127
DIAGRAMA DE IDEIAS

DIVISÃO PALESTINA

ÁRABES: CISJORDÂNIA
SIONISMO E FAIXA DE GAZA

ESTADO DE JERUSALÉM DIVIDIDA


ISRAEL

CRIAÇÃO DO ESTADO
DE ISRAEL 1948

2.ª GERRA
MUNDIAL

HOLOCAUSTO

REVOLUÇÃO ISLÂMICA
AUMENTO DA IMIGRAÇÃO
DE JUDEUS

GOLFO PÉRSICO IRÃ X IRAQUE

GUERRA DO GOLFO

128
AULAS 43 E 44 1. Introdução
A primeira noção que nos vem à mente, quando pensamos
em África, é a de um continente: uma porção de terra deli-
mitada por oceanos e mares e ligada ao Oriente pelo istmo
do Sinai. Não há dúvida de que o continente assim descrito
REGIÕES é facilmente identificável. Se detalharmos mais, podemos
mencionar algumas de suas características físicas. Olhando
SOCIOECONÔMICAS no sentido norte–sul, temos o mar Mediterrâneo, a cadeia do
Atlas, o Saara, a floresta tropical com seus rios, os desertos
MUNDIAIS X: ÁFRICA da Namíbia e do Calahari e o cabo da Boa Esperança. Por
mais que essa descrição pareça corresponder ao continente,
ela é incompleta. Ainda faltam inúmeras referências, como os
imensos rios, os picos, as cidades etc., que não se completa-
COMPETÊNCIA: 3 riam caso fizéssemos uma descrição no sentido leste–oeste.
A África costuma ser regionalizada de duas formas: a primei-
HABILIDADE: 14 ra valoriza a localização dos países e os dividem em cinco
grupos – Áfricas setentrional, ocidental, central, oriental e
meridional; a segunda regionalização – que vem sendo mui-
to utilizada – usa critérios étnicos e culturais (religião e etnias
predominantes em cada região) e é dividida em dois grandes grupos – África branca ou setentrional (formada pelos oito países
do norte, mais a Mauritânia e o Saara Ocidental) e a África negra ou subsaariana (formada pelos outros 44 países do continente).
Não é fácil fazer o agrupamento dos países da África em conjuntos que apresentem homogeneidade. Assim, para facilitar o
estudo, o continente pode ser dividido em cinco regiões principais: norte da África, África ocidental, África centro-ocidental,
África centro-oriental e África meridional.
Mapa político da África

Madeira (Por) TUNÍSIA


MARROCOS
Is. Canárias (Esp)

ARGÉLIA
LÍBIA EGITO
SAARA
OCIDENTAL

MAURITÂNIA
CABO VERDE
MALI NÍGER
CHADE ERITRÉIA
SENEGAL
GÂMBIA BURKINA SUDÃO
FASO DJIBUTI
GUINÉ-BISSAU GUINÉ
BENIN

NIGÉRIA SOMÁLIA
GANA
TOGO

SERRA LEOA COSTA SUDÃO ETIÓPIA


DO REPÚBLICA
LIBÉRIA MARFIM CENTRO AFRICANA DO SUL
CAMARÕES

GUINÉ EQUATORIAL UGANDA


CONGO QUÊNIA
SÃO TOMÉ GABÃO
& PRÍNCIPE REPÚBLICA RUANDA SEICHELLES
DEMOCRÁTICA BURUNDI
DO CONGO
TANZÂNIA Atol Aldabra
(SEI)

COMORES I. Agalega
ANGOLA (Maurício)
MALAUÍ Mayotte
ZÂMBIA (FRA)
OCEANO MOÇAMBIQUE
MADAGASCAR
ATLÂNTICO NAMÍBIA
ZIMBÁBUE

BOTSUANA

SUAZILÂNDIA
ÁFRICA LESOTO
DO SUL

129
tectônicas, fraturadas em algumas regiões e bastante des-
gastadas pela erosão.
Os pontos extremos da África continental são:

§ ao norte – cabo Branco, na Tunísia;


§ ao sul – cabo das Agulhas, na África do Sul;
multimídia: livro § a oeste – península do Cabo Verde, no Senegal;
§ a leste – cabo Hafun, na Somália.
História da África e dos africanos - Paulo
Fagundes Visentini, Luis Dario Teixeira Dentre os acidentes geográficos litorâneos, merecem des-
Ribeiro e Ana Lucia Danilevicz Pereira taque o golfo da Guiné, no Atlântico sul, e o estreito de
Gibraltar, entre o oceano Atlântico e o mar Mediterrâneo,
Essa obra busca motivar a sociedade a conhecer a expe-
riência do Continente Africano, que tanto contribuiu para junto da península Ibérica, na Europa. A leste do continen-
o desenvolvimento da humanidade. Esse conhecimento é te, está a península da Somália, também chamada de Chi-
indispensável para a superação de estereótipos e precon- fre da África, o golfo de Áden, formado por águas do ocea-
ceitos ainda vigentes em pleno século XXI. no Índico e limitado pela península Arábica, pertencente à
Ásia, e a ilha de Madagascar, que delimita importante via
de tráfego marítimo, o canal de Moçambique.

2. Aspectos físicos
2.1. Espaço natural
Com pouco mais de 30,3 milhões de km2, a África ocupa
20,3% da área total da terra firme do planeta Terra, sendo,
portanto, o terceiro continente mais extenso, atrás apenas
multimídia: livro
da Ásia e da América. É o segundo continente mais populo-
so, com cerca de 1,1 bilhão de habitantes, atrás apenas da
Ásia, e detém cerca de um sétimo da população do mundo, A geografia da Pele – Evaristo de Miranda
sendo composto por 54 países independentes e por ilhas, Com domínio absoluto da arte narrativa, além de um
como a da Madeira, pertencente a Portugal, e a de Ascen- olhar profundo, devassador da circunstância humana,
são, pertencente ao Reino Unido. Evaristo de Miranda escreve com brilhantismo sobre
a experiência no interior do Níger entre 1976 e 1979,
O continente africano é cercado pelos oceanos Atlântico,
mais especificamente no Sahel, zona de transição entre
a oeste, e Índico, a leste, além dos mares Mediterrâneo,
a savana e o deserto, onde esteve para conduzir uma
ao norte, e Vermelho, a nordeste. Seu litoral estende-se re-
pesquisa sobre desequilíbrios ecológicos e agrícolas.
gularmente por mais de 27 mil quilômetros, com poucos
recortes e ilhas, raras baías, golfos ou penínsulas, o que
torna difícil o aproveitamento para instalações portuárias. 2.2. Relevo
A África é cortada por três dos cinco paralelos terrestres: No relevo africano predominam imensos tabuleiros, planal-
Equador, trópico de Câncer e trópico de Capricórnio; além tos pouco elevados e considerável altitude média – cerca
do meridiano de Greenwich. Cerca de 80% de seu territó- de 750 metros. Nas regiões central e norte, estão os planal-
rio ficam na zona intertropical; a maior parte de suas terras tos intensamente erodidos, constituídos de rochas muito
localiza-se no hemisfério oriental (leste), e só uma pequena antigas e limitados por grandes escarpamentos.
parte delas, no hemisfério ocidental (oeste). O continente Há 200 milhões de anos, a África e a América do Sul fa-
possui cinco diferentes fusos horários. ziam parte do supercontinente de Gondwana. A separação
Está separada da Europa pelo mar Mediterrâneo e liga-se à formou o oceano Atlântico e isolou os dois continentes,
Ásia na sua extremidade nordeste pelo istmo de Suez. No que mantêm semelhanças de estrutura geológica e formas
entanto, ocupa uma única placa tectônica, ao contrário da de relevo.
Europa, que partilha com a Ásia a placa Euro-asiática. Sua Ao norte predomina a área planáltica, ampla e desértica
base geológica é formada por grandes e antigas placas – o Saara –, que se estende do oceano Atlântico ao mar

130
Vermelho. A maior formação rochosa dessa área são os montes Tibesti, no Chade, onde se localiza o pico culminante da
região, o Emi Koussi, com 3,4 mil metros. Além do deserto, a cadeia do Atlas também ocupa a região norte do Marrocos,
da Argélia e da Tunísia. Sua formação recente apresenta montanhas, cujos picos chegam a 4 mil metros de altura, e está
associada ao arco montanhoso do sul da Europa. Nessa região, o subsolo apresenta significativas reservas de petróleo, gás
natural, ferro, urânio e fosfato. Além disso, a cadeia do Atlas tem significativa importância para a geografia local, uma vez
que barra os ventos úmidos vindos do oceano.
No leste está uma de suas características físicas mais marcantes: uma falha geológica que se estende de norte a sul – o
grande vale do Rift, uma fenda tectônica em que se sucedem montanhas, algumas de origem vulcânica, com vulcões
extintos, como o Quilimanjaro, e ativos, como o Nabro, o Nyamuragira e o Nyiragongo, além de lagos de origem tectôni-
ca, formados pelo rebaixamento da crosta na área dos rifts e o seu posterior rebaixamento pelas águas, como os lagos
Vitória, Niassa e Tanganica. Em função de sua geologia antiga, o continente apresenta muitas depressões, como a de
Ngami, ao norte do deserto do Kalahari, em Botsuana. Lá estão localizados os maiores lagos do continente, circundados
por altas montanhas, como o monte Quilimanjaro, com 5,8 mil metros, o monte Quênia, com 5,19 mil metros, e o monte
Ruwenzori, com 5,1 mil metros.
Mapa hipsométrico do continente africano
10º O 0º 10º E 20º E 30º E 40º E 50º E
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Estreito de Gibraltar a
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Ao sul, onde estão os planaltos, elevam-se os montes Drakensberg, com poucos picos elevados acima dos três mil metros,
mas suficientes para barrar os ventos úmidos do oceano Índico, formando uma costa de climas mais amenos, do Níger e do
Congo. Ao longo do litoral estão as planícies costeiras, ocupando uma área menor que a dos planaltos.

131
A África não tem muitas ilhas ao seu redor. No Atlântico, há algumas formadas por picos submarinos – ilhas Canárias e ilha
da Madeira –, bem como os arquipélagos de São Tomé e Príncipe e de Cabo Verde. No Índico, encontra-se a grande ilha de
Madagascar e outras de extensão reduzida, como Comores, Maurício e Seychelles.

2.3. Hidrografia

abaulamento

crosta continental

litosfera

Fenda
vale

mar linear

dorsal
meso-oceânica

Fenda

crosta continental

crosta oceânica

O esquema mostra a formação do Rift Valley e dos grandes lagos africanos: Vitória, Niassa e Tanganica.

Uma vez que as regiões norte e sul são praticamente ocupadas por desertos, a África possui relativamente poucos rios.
Alguns, localizados em regiões tropicais e equatoriais, são muito extensos e volumosos; outros atravessam áreas desérticas,
tornando a vida possível ao longo de suas margens. Poucos deles são extensos.
O mais importante rio africano é o Nilo, que é o segundo mais extenso do mundo depois do Solimões–Amazonas, cujo com-
primento é superior a 6,5 mil km. Nasce nas proximidades do lago Vitória, percorre o nordeste africano e deságua no mar
Mediterrâneo, num delta com 20 mil km2, formando uma das mais importantes áreas agrícolas do continente.
Além do Nilo, o rio Congo fica na zona equatorial, com grande volume de água e elevado potencial hidrelétrico. Depois de
percorrer 4,4 mil km, desemboca no Atlântico, com a segunda maior vazão do mundo. Há ainda o rio Níger, que nasce na
Guiné, próximo ao oceano Atlântico, e corre para o interior, penetrando no Saara. Na metade do caminho, muda de direção e
cai numa longa e estreita planície em direção ao sul, desaguando no golfo da Guiné, depois de percorrer 4,1 mil km. Menos
extensos, mas igualmente relevantes, são os rios Zambeze, Senegal, Orange, Limpopo e Zaire.
Na África, há lagos, dos mais extensos e profundos, de origem tectônica e vulcânica; a maioria, situada a leste do continente:
o Vitória, terceiro maior do mundo, com quase 70 mil m2 de extensão; o Turkana, com cerca de 130 mil km² de área de bacia
hidrográfica; o Niassa, com 29,6 mil km² de extensão; e o Tanganica, com quase 1,5 mil metros de profundidade, o que

132
comprova com ênfase a grande falha geológica na qual se de até 1,4 mil mm ao ano. Nessas regiões, há duas esta-
alojaram os lagos. Milhares de pequenos lagos da região ções bem definidas: uma seca e outra chuvosa.
têm água contaminada por sais e ácidos provenientes dos O clima mediterrâneo manifesta-se em pequenos trechos
vulcões, o que inviabiliza seu uso pela população. dos extremo norte e sul do continente. É quente com in-
vernos úmidos, temperaturas amenas que variam entre 15
2.4. Clima ºC e 20 ºC. A pluviosidade na África é bastante desigual e
é a principal responsável pelas grandes diferenças entre as
A linha do Equador divide a África em duas partes distintas:
paisagens africanas. As chuvas ocorrem com abundância
o norte é bastante extenso no sentido leste–oeste; o sul,
na região equatorial, mas são insignificantes nas proximi-
mais estreito, afunila-se onde as águas do Índico encon-
dades do trópico de Câncer, onde se localiza o Saara, e do
tram-se com as do Atlântico. Quase três quartos do con-
trópico de Capricórnio, região em que se estende o Calaari.
tinente estão situados na zona intertropical da Terra, com
altas temperaturas e pequenas variações anuais.
Climas do continente africano

multimídia: música
Fonte: Youtube
Raiz de Glória – Z´África Brasil

Equatorial

Tropical

Desértico

Semiárido
2.5. Vegetação
Mediterrâneo

Frio de montanha
A vegetação africana é um reflexo do clima. As paisagens
distribuem-se pelo espaço geográfico, de acordo com os
Localizados no interior do território africano, os desertos tipos climáticos. Na porção equatorial, onde as chuvas são
ocupam grande parte do continente. Ao norte, estão o Dyif abundantes o ano inteiro, há florestas equatoriais densas,
e o Iguidi, na Líbia (nomes regionais do Saara); ao sul, o diversificadas e sempre verdes. À medida que avançam
da Namíbia (denominação local do deserto de Calaari). O para regiões mais secas, ao norte e ao sul, essas florestas
Saara ocupa um terço do território africano. Nele, são regis- vão perdendo a densidade e transformam-se em savanas,
tradas temperaturas superiores a 40 ºC. que é o tipo de vegetação mais abundante no continente.

O clima do continente é bastante diversificado e deter- Vegetação do continente africano


minado principalmente pela conjunção de dois fatores:
baixas altitudes e predominância de baixas latitudes.
Distinguem-se os climas equatorial, tropical, desértico e
mediterrâneo. As médias térmicas mantêm-se elevadas
durante o ano todo, exceto nos extremos norte e sul e
nos picos das montanhas mais altas.
O clima equatorial, quente e úmido o ano todo, compre-
ende parte da região centro-oeste do continente, com
temperaturas que variam entre 25 ºC e 30 ºC e índices
pluviométricos de até 3 mil mm ao ano. Em razão das altas
taxas de umidade relativa do ar e da abundância de chu- Mediterrânea

vas, praticamente não existe estiagem, o que proporciona Pradaria

a proliferação de florestas equatoriais. Deserto

Formações de regiões
O clima tropical quente com invernos secos domina quase semiáridas
Floresta pluvial
inteiramente as terras africanas. As temperaturas médias tropical e subtropical

Floresta estacional e savana


oscilam entre 22 ºC e 25 ºC com índices pluviométricos

133
As estepes aparecem entre as savanas e os desertos. À medida que alcançam áreas mais secas, tornam-se progressiva-
mente mais ralas, até se transformarem em desertos, onde ocorrem eventuais oásis, no quais se desenvolvem tamareiras,
arbustos e gramíneas. Finalmente, nos extremos do continente, há maquis e garrigues, conhecidos como vegetação
mediterrânea.

3. Aspectos históricos
Rotas dos navios negreiros (séculos XVI e XVII)

Ao longo da expansão ultramarina europeia dos tempos modernos (séculos XVI e XVII), portugueses e espanhóis estabe-
leceram no litoral africano entrepostos e feitorias destinadas a comercializar madeira, marfim, peles, ouro e, notadamente,
escravos. Um dos mais rentáveis empreendimentos europeus, quando da etapa mercantil do capitalismo dos séculos XVI a
XIX, foi a deportação de grandes contingentes populacionais negros em direção às áreas coloniais da América, onde eram
vendidos como escravos.
O monopólio desse comércio foi, sucessivamente, pertencendo a diversas nações. Inicialmente, aos países ibéricos, que for-
neciam mão de obra para as plantations açucareiras antilhanas e brasileiras; no século XVII, aos holandeses, que começaram
a participar do comércio até o século XVIII, quando cairia nas mãos dos ingleses.
O tráfico negreiro teve consequências extremamente negativas para a realidade socioeconômica africana: lutas tribais
internas; aniquilamento de tribos e reinos; e a decadência do artesanato africano provocada pela entrada de manufaturas
europeias. Sob o ponto de vista humano, o apresamento de escravos representou um verdadeiro desastre. Calcula-se
que cerca de 50 milhões a 200 milhões de negros morreram durante os quatro séculos de escravidão; 20% dos quais
pereceram durante as viagens para as áreas coloniais do Novo Mundo.
A Revolução Industrial, cuja primeira etapa teve início no século XVIII, impulsionou a eliminação do escravismo, uma vez
que houve urgência na liberação dos capitais investidos no tráfico negreiro para indústrias e outros negócios – infraestrutura
europeia e das colônias. Houve necessidade de ampliação dos mercados para os excedentes de mercadorias gerados pela
mecanização da produção.
Ao longo do século XIX, o continente africano tornou-se um privilegiado laboratório natural para pesquisas de cientistas
europeus. Por volta de 1830, o colonialismo ocidental ocupava somente a faixa litorânea do continente africano, aproxi-

134
madamente 10% de sua superfície total. Contudo, a partir O imperialismo também foi chamado de neocolonialismo.
dessa data, Inglaterra, França e Bélgica mostraram interes- Nações capitalistas com mais poder procuravam ampliar
se em penetrar o continente e ocupar essas regiões. Num sua dominação submetendo ao seu controle povos mais
primeiro momento, os exploradores usaram o pretexto da pobres. O imperialismo é a etapa expansionista da econo-
curiosidade científica; em seguida, vieram médicos, missio- mia capitalista já constituída, como foi o caso do capitalis-
nários religiosos, comerciantes e soldados: tinha início a mo comercial.
fase imperialista do capitalismo.
Interessadas principalmente na grande descoberta de
diamantes na África do Sul e na abertura do canal de
Suez, a partir de 1869, a nações europeias entenderam
a importância econômica da África e passaram a explo-
rar o continente. Era o início da disputa entre os países
europeus para controlarem os territórios africanos. Sem
faltarem acordos e estratégias militares para isso, Grã-
-Bretanha, Alemanha, França, Portugal, Holanda e Bélgi-
multimídia: música
ca foram seus grandes dominadores. As nações capitalis-
Fonte: Youtube tas europeias exploravam as matérias-primas dos países
África Nossa – Cesária Évora africanos e, para dar caráter legal à partilha da África e
regulamentá-la, convocaram a Conferência de Berlim,
em 1884, na qual se decidiu o direito de posse dos paí-
ses europeus sobre os territórios conquistados na África.
3.1. Expansão do neocolonialismo
Deveria ser respeitado e reconhecido pelos demais e cada
Durante o século XIX, em várias regiões do Planeta, nota- território ocupado teria uma autoridade que representas-
damente na África e na Ásia, o imperialismo foi uma es- se o país conquistador.
tratégia política necessária e empregada pelo capitalismo O imperialismo dilapidou a economia e a vida dos africa-
para o processo de expansão e dominação territorial, cul- nos, bem como reelaborou os preconceitos sob o manto de
tural, econômica e política. teorias científicas à luz das ideias de superioridade racial e
As nações capitalistas da Europa e da América do Norte usa- cultural. A partilha da África não respeitou os limites cul-
ram o cenário da Segunda Revolução Industrial para implan- turais dos povos africanos, fazendo com que populações
tar uma nova forma de colonização com o objetivo de impor milenarmente ligadas fossem separadas, enquanto que ou-
um estilo de vida entre nações subdesenvolvidas, a fim de tras, muitas vezes inimigas, fossem submetidas ao mesmo
descobrir e controlar riquezas minerais e fontes de energia. poder central.

135
Mapas do avanço do imperialismo europeu no continente africano (1880-1914)

Segunda Guerra Mundial e pelo apoio da ONU, que passou


a reconhecer seus direitos. Soma-se a isso a posição favo-
rável dos Estados Unidos e da União Soviética, que viam
nesse processo uma forma de ampliarem suas áreas de in-
fluência. No processo de descolonização firmaram-se duas
opções: a libertação por meio da guerra, em geral, com
multimídia: vídeo adoção do socialismo; ou a independência gradual conce-
bida pela metrópole, prometendo passar o poder político à
Fonte: Youtube elite local, que, articulada com o mundo capitalista, mante-
Montanhas da Lua ria a dependência econômica num regime neocolonialista.
Em 1860, o capitão Richard Burton (Patrick Bergin) e seu Em 1955, a Conferência de Bandung, na Indonésia,
colega John Speke (Iain Glen) realizam uma perigosa ex- reuniu seis países africanos e 23 asiáticos para debaterem
pedição: uma longa e acidentada jornada em busca da os problemas dos países pobres e exportadores de produ-
nascente do rio Nilo, em nome do Império Britânico da tos primários para os países ricos e industrializados. Pela
Rainha Victória. O filme mostra o primeiro encontro deles, primeira vez, os países do que se convencionou chamar de
o surgimento da amizade e seu fim após a jornada. Terceiro Mundo reuniam-se para debaterem seus problemas
herdados do colonialismo e alimentados pelo imperialismo
e posicionavam-se pelo “não alinhamento” com os Estados
3.2. Descolonização africana Unidos ou a União Soviética no conflito ideológico que tra-
Após a Segunda Guerra Mundial, a Europa foi envolvida por vavam no contexto da Guerra Fria. Ao mesmo tempo, decla-
um período de grande agitação política e social que se esten- raram-se a favor do anticolonialismo, contra o racismo e o
deu também pelas regiões em processo de descolonização. imperialismo, os quais se comprometiam a combater.
A partir de 1945, o ideal de independência dos povos co- A Conferência de Bandung mudou o eixo das discussões
lonizados transformou-se num fenômeno de massas. Países entre capitalismo e socialismo, o conflito leste–oeste, ex-
libertaram-se politicamente; no entanto, continuavam econo- pressão da Guerra Fria, pelo conflito norte–sul, entre os
micamente dependentes dos países colonizadores, que de- países industrializados ricos e os países pobres e exporta-
terminavam seu subdesenvolvimento, o terceiro-mundismo. dores de produtos primários. As nações reunidas em Ban-
dung definiram publicamente quatro objetivos básicos:
Entre 1950 e 1960, mais de 40 países africanos e asiáti-
cos conseguiram sua independência, impulsionados pelo 1. Ativar a cooperação e a boa vontade entre as nações
nacionalismo, pelo declínio do poderio europeu após a africanas e asiáticas e promover seus mútuos interesses.

136
2. Estudar os problemas econômicos, sociais e culturais Entre 1986 e 1987, o presidente Ronald Reagan, dos Es-
dos países participantes. tados Unidos, e a primeira-ministra Margareth Thatcher, da
Inglaterra, reuniram-se com Jonas Savimbi, subsidiando
3. Discutir a política de discriminação racial, o colonialis-
economicamente a Unita, na tentativa de desestabilizar o
mo e outros problemas que ameaçassem a sua sobe-
governo angolano. A FNLA, por sua vez, enfraquecida mili-
rania nacional.
tarmente, entrou em processo de extinção.
4. Definir a contribuição dos países africanos e asiáticos na
promoção da paz mundial e na cooperação internacional.
A Conferência de Bandung firmava a existência de um blo-
co multinacional não alinhado, denominado Bloco do Ter-
ceiro Mundo, com o objetivo de discutir as possibilidades
de superação do subdesenvolvimento, mas não conseguiu,
no entanto, definir uma política concreta de como vencê-lo
e superar a herança colonial.
Jonas Savimbi

Foi só com a distensão internacional do início dos anos


3.3. África portuguesa 1990 e o final da Guerra Fria que se aceleraram os acordos
As colônias ultramarinas portuguesas na África foram as para a normalização do país, quando governo e a Unita
que mais tardiamente conquistaram sua independência, entraram em entendimento.
todas após 1970. Desde a década de 1930, Portugal man-
Em Moçambique, a Frente de Libertação de Moçambique
tivera-se sob a ditadura de Antônio de Oliveira Salazar, que
(Frelimo), de inspiração socialista e liderada por Eduardo
por 40 anos conservou o país longe dos avanços econô-
Mondlane, iniciou, em 1962, a luta pela independência. Com
micos, políticos e sociais do período. Em meados dos anos
o assassinato de Mondlane por agentes portugueses, em
1970, ocorreram os movimentos de derrubada das últimas
1969, Samora Machel assumiu o comando do movimento,
ditaduras europeias – Grécia, Portugal e Espanha – e as
ocupando gradativamente o território moçambicano. Com a
lutas coloniais de libertação ganharam força.
revolução de 1974, Portugal acelerou as negociações para
libertação dessa colônia, reconhecendo sua independência
em 1975, com Samora Machel na presidência.
A África do Sul, governada por uma maioria branca e alinhada
Cabo Verde Guiné-Bissau com o bloco estadunidense nos anos 1980, procurou deses-
tabilizar o governo socialista de Samora Machel, por meio da
São Tomé
Resistência Nacional Moçambicana (Renamo). Apesar da as-
e Príncipe
sinatura, em 1984, do Acordo de Nkomati com a África do Sul,
Angola
que estabelecia a não agressão, os confrontos continuaram.
Moçambique

Países africanos que tiveram dominação portuguesa

Em Angola, o Movimento Popular pela Libertação da An-


gola (MPLA), fundando em 1956 por Agostinho Neto, iniciou
um movimento guerrilheiro contra o colonialismo salazarista,
embora outras organizações de libertação surgissem, como a
Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), liderada
por Holden Roberto, e a União Nacional pela Independên-
cia total de Angola (Unita), chefiada por Jonas Savimbi.
A Revolução dos Cravos, em 1974, que derrubou a ditadu-
ra fascista portuguesa, propiciou a assinatura do Acordo O cravo vermelho tornou-se o símbolo da
Revolução de Abril de 1974, em Lisboa, Portugal.
de Alvor, marcando a libertação angolana em 1975. En-
tretanto, a FLNA, apoiada pelo Zaire, ocupou o norte ango- Somente na década de 1990, depois de o país ter inicia-
lano, enquanto a Unita, apoiada pela África do Sul e com do uma abertura política, buscou-se estabelecer acordos
respaldo dos Estados Unidos, dominava o sul de Angola. entre o governo e guerrilheiros para a solução da questão

137
moçambicana. Em 1994, foram realizadas eleições mul- divergências de opositores e discordâncias quanto ao rumo
tipartidárias vencidas pelo líder da Frelimo e sucessor de do país, tornou-se um exemplo das potencialidades africanas.
Machel, Joaquim Chissano. O novo governo definiu como
prioridade a reconstrução de Moçambique, tendo em mãos
um país arrasado por 14 anos de luta pela independência e
seguida de mais 16 anos de guerra civil.
Em Guiné-Bissau e Cabo Verde, a rebelião contra o colo-
nialismo começou em 1961, sob a liderança de Amílcar Ca-
bral, do Partido Africano de Independência da Gui-
né e Cabo Verde (PAIGC), e que foi assassinado em 1973.
Luiz Cabral assumiu, então, a liderança do movimento e
proclamou a independência de Guiné-Bissau que, embora
Resistência armada, em luta pelo processo de independência
imediatamente reconhecida pela ONU, só foi oficializada
em 1974, depois da Revolução dos Cravos. Cabo Verde
separou-se de Guiné-Bissau em 1980, embora não desa- Apartheid
parecessem gestões para uma futura reunificação.
O Apartheid foi um dos regimes de discriminação
mais cruéis de que se tem notícia no mundo. Vigorou
na África do Sul, de 1948 até 1990, e durante todo
esse tempo esteve ligado à política do país. A antiga
constituição sul-africana incluía artigos que deixavam
clara a discriminação racial entre os cidadãos negros,
apesar de serem a maioria da população.

Facção da Frelimo, Moçambique (1972) 3.4. A origem do Apartheid


No final da década de 1980 e início dos anos 1990, os dois Em 1487, quando o navegador português Bartolomeu Dias
países integraram as transformações internacionais do fim dobrou o cabo da Boa Esperança, os europeus chegaram
da Guerra Fria, tendo Cabo Verde, em 1990, adotado o plu- à região da África do Sul. Nos anos seguintes, a região foi
ripartidarismo. Nas eleições de 1991, ampliou as liberdades povoada por holandeses, franceses, ingleses e alemães. Os
políticas e a abertura econômica. Da mesma forma, o PAI- descendentes dessa minoria branca estabeleceram leis,
CG, de Guiné-Bissau, deu inicio à abertura política em 1989, no começo do século XX, que garantiam seu poder sobre
pondo fim ao sistema de partido único. No início dos anos a população negra. Essa política de segregação racial, o
1990, deu-se o impasse pela realização de eleições livres em Apartheid, ganhou força e foi oficializada em 1948, quan-
Guiné, dado o radicalismo entre as várias facções políticas. do o Partido Nacional, dos brancos, assumiu o poder.
O domínio colonial e a turbulência política da descolonização O Apartheid atingia a habitação, o emprego, a educação
africana deixaram sérios impasses sociopolíticos no continen- e os serviços públicos. Aos negros negava-se o direito à
te: de um lado, o quadro de subdesenvolvimento e, de outro, a propriedade de terras, à participação política, à convivência
instabilidade industrial. Não foram raras as crises, catástrofes nas mesmas zonas residenciais dos brancos, ao casamento
sociais e políticas. Em Ruanda, grupos étnicos hutu (90% da e relações sexuais com brancos. Regularmente, os negros
população) e tutsis (10%) disputaram o poder, superdimen- trabalhavam nas minas, comandados por capatazes bran-
sionado as heranças coloniais. O resultado parcial foi mais de cos e viviam em guetos miseráveis e superpovoados.
um milhão de mortos e mais de 2,5 milhões de refugiados. Para lutar contra essas injustiças, os negros acionaram o
Até mesmo as gigantescas adversidades africanas, contudo, Congresso Nacional Africano – CNA, uma organização ne-
não conseguiram enterrar transformações que, na dinâmica gra clandestina liderada por Nelson Mandela. Após o mas-
histórica, guardaram algum potencial promissor na solução sacre de Sharpeville, o CNA optou pela luta armada contra o
dos principais problemas continentais. Foi o caso da África do governo branco, que levou Mandela a ser condenado à pri-
Sul, onde, sob liderança de Nelson Mandela, a luta contra o são perpétua, em 1962. Com isso, o Apartheid recrudesceu e
Apartheid (segregação racial) tornou-se vitoriosa depois de tornou-se ainda mais violento, chegando a definir territórios
séculos de dominação branca. Mandela tornou-se governan- tribais chamados bantustões, onde os negros eram distri-
te do país durante os anos 1990 e, mesmo com fortes buídos em grupos e ficavam amontoados nessas regiões.

138
4. Aspectos sociais
A população do continente africano alcança quase
1,3 bilhão de habitantes, cerca de 14% da população
mundial, com a maior taxa de crescimento demográfico,
2,3% ao ano, no período entre 2005 a 2010, de acordo
com o Fundo de População das Nações Unidas (Fnuap),
Massacre em Sharpeville, África do Sul (1960) registrando taxas anuais de natalidade de 4% e de mor-
talidade de 2%.
A partir de 1975, com o fim do império português na Áfri-
ca, lentamente começaram os avanços para acabar com o A distribuição da população pelo espaço do continente é
Apartheid. A comunidade internacional e a ONU pressio- muito irregular. O vale do Nilo, por exemplo, tem densi-
naram pelo fim da segregação racial. Em 1991, o então dade demográfica de 500 habitantes por km2, enquanto
presidente Frederik Willem de Klerk não teve outra saída: os desertos e as florestas são praticamente despovoados.
condenou oficialmente o Apartheid e libertou líderes políti- Outros pontos de alta densidade demográfica são o golfo
cos, entre eles Nelson Mandela. da Guiné, as áreas férteis em torno do lago Vitória e al-
guns trechos nos extremos norte e sul do continente. As
regiões das savanas, de maneira geral, são áreas de den-
sidades demográficas médias. Os países mais populosos
são: Nigéria, Egito, Etiópia, República do Congo, África do
Sul, Tanzânia e Sudão.
A cidade de Lagos tem a maior população da Nigéria, cer-
multimídia: vídeo ca de 13 milhões de habitantes, e é a que mais cresce no
continente africano. Dados relativos à população africana
Fonte: Youtube
são baseados em cálculos estimados, uma vez que os obs-
Um Grito de Liberdade táculos dos meios naturais e o subdesenvolvimento tornam
Na África do Sul dos anos 1970, Donald Woods, um jor- quase impossíveis recensear todos os habitantes do territó-
nalista branco, faz amizade com Stephen Biko, um cora- rio, muitos dos quais vivem em tribos inteiramente isoladas
joso ativista negro contra o apartheid. Biko é executado do mundo moderno.
em 1977 e Donald, exilado, dedica-se a divulgar a luta do Em quase todos os países africanos, a população rural é
amigo pela liberdade.
numericamente superior à urbana. É o caso da Argélia, Lí-
bia e Tunísia. Os países africanos exibem, em geral, carac-
A partir disso, outras conquistas foram obtidas: o Con- terísticas típicas de subdesenvolvimento: elevadas taxas de
gresso Nacional Africano foi legalizado; de Klerk e Man- natalidade e de mortalidade; e baixa expectativa de vida.
dela receberam o Prêmio Nobel da Paz (1993); uma nova
constituição não racial passou a vigorar; os negros ad- Na maior parte do continente, mais da metade dos tra-
quiriram direito ao voto; e, em 1994, foram realizadas as balhadores está na zona rural, o que indica a importância
primeiras eleições multirraciais na África do Sul, quando da economia rural para a população. Os recursos de pro-
Nelson Mandela tornou-se presidente do país. dução são simples, praticamente não mecanizados nem
tecnológicos.

Nelson Mandela Tunis, capital da Tunísia (2014)

139
4.1. Organização social entre si principalmente pelo aspecto físico, diferenças cul-
turais, religiões professadas e diversidade de línguas. Os
A maior parte da população africana é constituída por di- grupos mais importantes são os sudaneses, bantos, nilóti-
ferentes povos negros, mas há expressiva quantidade de cos, pigmeus, bosquímanos e hotentotes.
brancos que vivem principalmente na porção setentrional
A diversidade linguística é significativa. Línguas e dialetos
do continente, ao norte do Saara – por isso mesmo deno-
locais convivem com os idiomas introduzidos pelos coloni-
minada África branca. São principalmente árabes, egípcios
zadores europeus, em especial inglês, francês e africâner.
e berberes, entre os quais se incluem os etíopes e os tuare-
As condições de vida a que a maior parte da população
gues. Embora em menor quantidade, há também judeus e
está submetida são as piores. A África subsaariana é a
descendentes de europeus – também habitantes da África
região mais pobre do Planeta, com os piores indicadores
do Sul, em sua maioria originários das ilhas britânicas e dos
socioeconômicos conhecidos. Poucos países africanos cor-
Países Baixos.
respondem ao grupo médio de desenvolvimento humano,
Ao sul do Saara, a chamada África negra é povoada por como é o caso da Líbia. Quase todos os países do conti-
grande variedade de grupos negroides que se diferenciam nente estão no grupo de baixo desenvolvimento humano.

Mapa da diversidade linguística do continente africano

Afrikaans
Árabe
Inglês
Francês
Português
Espanhol
Swahili
outras línguas africanas

A ocorrência de conflitos e guerras vem agravando os problemas sociais do continente, causam a morte de milhões de
pessoas e desorganizam ainda mais a economia. A epidemia de aids já infectou milhões de pessoas. Todos os países
da África subsaariana possuem IDH considerado baixo. As taxas de mortalidade beiram os 13,5% e as de natalidade,
35,2%, o maior crescimento vegetativo do mundo: 2,17%. A qualidade de vida da população é decadente. Segundo
dados da ONU, cerca de 150 milhões de africanos não ingerem a quantidade mínima de calorias diárias e mais 23
milhões correm o risco de morrer de fome.

140
4.2. Etnias e faixas etárias
Cerca de 80% da população são formadas por diferentes grupos étnicos negros – bantos, sudaneses, bosquímanos, pigmeus,
nilóticos – que ocupam, principalmente, as regiões central e sul do continente, conhecidas como África negra. Os brancos –
berberes, árabes e caucasianos – habitam a região setentrional do continente, ao norte do Saara, razão pela qual essa região é
conhecida como África branca.
A maioria absoluta da população africana é formada por jovens, graças às elevadas taxas de natalidade no continente. A
expectativa de vida, no entanto, é baixa, em razão do subdesenvolvimento de grande parte dos países.

Mapa da expectativa de vida no continente africano (2017)

Expectativa de vida (anos em 2012)


78
73
60
55
51
49

N Índice estatístico
Jenks

W E
Mapa da expectativa de vida
no continente africano (2012)
S Fonte dos dados: CIA, IndexMundi
Elaboração: Alyson Bueno Francisco
0 600 1200 km
Data: 22/12/2013

Elaborado com Philcarto * 21/12/2013 22:50:54 * http://philcarto.free.fr

4.3. As duas Áfricas


A África apresenta grande diversidade étnica, cultural e peculiaridades físicas, que possibilitam a subdivisão do território
em África mediterrânea (Magreb) e África subsaariana. O Saara é a barreira natural do continente, bem como o islamismo,
religião predominante no Magreb. Na África mediterrânea, que é banhada pelo oceano Atlântico e pelo mar Mediterrâneo,
estão Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egito, cujas características físicas e humanas são semelhantes às do Oriente Médio.
O clima é desértico e a região é ocupada, desde o século VII, por povos árabes, responsáveis pela propagação do islamismo.
A atividade agrícola é desenvolvida com bastante eficiência nas regiões do vale do Nilo e na área conhecida como Magreb,
no noroeste do continente.
A África subsaariana compreende a maior parte do continente africano, cuja concentração populacional é bem maior, com
predominância da população negra. A diversidade cultural nessa região é imensa, com diferentes grupos étnicos cultural-
mente distintos: dialetos, danças, religiões etc.
Não raro, essa diversidade étnica gera conflitos entre diferentes grupos. Durante o processo de colonização, os europeus
não respeitaram as peculiaridades de cada grupo, que foram separados, estabelecendo territórios com grupos rivais. A
África Subsaariana continua vítima de problemas socioeconômicos. A fome e a desnutrição endêmicas castigam grande
parte dos habitantes.

141
A aids é outro fator agravante. Aproximadamente
70% dos portadores mundiais do vírus HIV estão na
África subsaariana. Cerca de um em cada três adultos
de Botsuana, Lesoto, Suazilândia e Zimbábue estão
infectados. Até 2020, em razão da doença, os países
africanos mais atingidos podem ter sua população re-
duzida em 25%. multimídia: vídeo
Soma-se a esses fatores a falta de apoio efetivo dos or- Fonte: Youtube
ganismos internacionais, que fazem com que a maioria
Hotel Ruanda
dos países africanos apresente baixa qualidade de vida,
demonstrada pelo índice de desenvolvimento humano Durante os conflitos políticos entre Hutus e Tutsis que ma-
(IDH). De acordo com o ranking do IDH de 2010, das taram quase um milhão de ruandenses em 1994, Paul Ru-
20 últimas posições, os países da África subsaariana sesabagina, gerente do Hotel des Milles Collines, na capital
ocupam 19. do país, toma a decisão corajosa de abrigar sozinho mais
de 1.200 refugiados.

4.4. Aids na África


Além dos inúmeros problemas sociais enfrentados pela África, nas últimas décadas a aids tem impedido o desenvolvi-
mento do continente. Iniciada nos anos 1980, a contaminação expandiu-se rapidamente; em 1990, já eram 10 milhões
de infectados.
Desde então até os dias atuais, o número de infectados elevou-se mais de quatro vezes – são aproximadamente 42 milhões
em todo o continente, 22 milhões de mortos e 13 milhões de órfãos.
O impacto da aids não se restringe à perda de vidas, mas também interfere e compromete diretamente a composição da
PEA dos países africanos, camada da população composta por adultos que se encontram inseridos no mercado de trabalho.
Na Zâmbia, morreram 1,3 mil professores em consequência da aids, o que corresponde a dois terços desses profissionais for-
mados em um ano. Estimativas revelam que até 2020 os países africanos deverão perder um quatro de sua força de trabalho.
Porcentagem de força de trabalho perdida para a aids

A África subsaariana responde por 70% dos casos de aids. No entanto, isso não quer dizer que a África islâmica esteja imune
aos profundos impactos decorrentes da doença. Os rumos da epidemia são determinados pelos aspectos sociais e pelas
iniciativas implantadas para contê-la. As perspectivas são pessimistas quanto ao número de contaminação. Calcula-se que
até 2025 a África tenha, aproximadamente, 200 milhões de pessoas contaminadas. Conclui-se, com isso, que o Ocidente é
muito mais alertado com campanhas preventivas do que a África, que é muito mais afetada.

4.5. Ebola
O ebola é uma doença muito grave transmitida pelo contato direto com o sangue e fluidos corporais de pessoas ou ani-
mais infectados. Os principais sintomas do ebola são febre, fraqueza, dores muscular e de cabeça, inflamação na garganta,

142
vômito, diarreia, coceira, insuficiências hepática e renal e Na África, os primeiros casos da doença foram relatados
hemorragias graves. em chimpanzés, gorilas, morcegos, antílopes e porcos-
A taxa de mortalidade do vírus do ebola alcança 90%. A -espinhos. Hoje, os morcegos frutívoros são os principais
epidemia propagou-se nas Áfricas ocidental e central. Desde hospedeiros naturais do vírus. A doença também pode ser
março de 2014, foram registrados 1,2 mil casos de ebola e transmitida por sêmen infectado. O diagnóstico do ebola
672 mortes em Guiné, Libéria e Serra Leoa. Trata-se de uma é complexo e deve ser feito com cinco exames labora-
das doenças mais mortais do mundo. Altamente infeccioso, o toriais. Os primeiros sinais da doença podem ser olhos
vírus foi registrado pela primeira vez em 1976, com surtos em avermelhados e erupções cutâneas.
Nzara, Sudão, Yambuku e República Democrática do Congo. A doença ainda não conta com um tratamento ou
Não raro, médicos e agentes de saúde são infectados du- vacina específicos. Os pacientes com ebola passam
rante o tratamento de pacientes doentes. Para manter con- por um processo de hidratação, manutenção dos ní-
tato com as pessoas portadoras do ebola, é preciso utilizar veis de oxigênio e pressão sanguínea e tratamento
luvas, máscaras e óculos de proteção. de infecções.

5. Aspectos econômicos
O continente africano é o menos desenvolvido economicamente. Os poucos polos de crescimento devem-se à exploração
mineral, na África do Sul, Líbia, Nigéria e Argélia, e, em menor escala, à industrialização, na África do Sul, uma das poucas
nações que alcançaram relativa estabilidade política e detém um quinto do PIB de toda a África.
A África é essencialmente agrícola. As monoculturas para exportação – café, cacau, algodão, amendoim – alternam-se com
lavouras de subsistência – rudimentar, itinerante e extensiva – milho, sorgo, mandioca, banana, feijão, pimenta, inhame e batata.
Planta-se em grandes extensões de terra cultivadas anos seguidos até o esgotamento do solo para, em outras áreas, repetir-se
o mesmo processo.

Áreas irrigadas Terras não cultivadas com


gado nômade
Agricultura mediterrânea Principais centros industriais
Plantações tropicais Petróleo
Estepes modificadas Gás
por pequenas plantações
Minerais
Florestas e savanas modificadas
por culturas de subsistência Principais áreas de pescas

143
Há três grandes formas de produção na zona rural africana: a comercial, voltada para o mercado urbano; a de subsistência,
voltada para as populações rurais; e a de plantations, voltada para o mercado de exportação. Frequentemente, as proprieda-
des estão sob o comando de grandes empresas agroindustriais, que encaminham os artigos agrícolas para o processamento
industrial.
A pecuária, por exemplo, raramente tem função comercial. Em razão das condições naturais pouco propícias, a criação de
gado bovino é uma atividade econômica de limitado alcance, em geral praticada de forma nômade ou extensiva. Destacável
é a criação de carneiros na África do Sul e na Etiópia, onde pequenos rebanhos são conduzidos por nômades nas regiões de
estepes. Nos países situados ao norte do Saara, criam-se camelos e dromedários, animais de grande porte utilizados como
meio de transporte. Rebanhos caprino e ovino também são significativos.
A caça, a pesca e a coleta de produtos naturais ainda constituem importantes fontes de renda para a grande parcela da
população africana. No extrativismo animal, figura em primeiro plano o comércio de couro e de peles. Nos países cobertos
parcialmente pela floresta equatorial, o extrativismo vegetal fornece madeiras, resinas, especiarias e óleo de palmeira; nos
países desérticos, tâmaras.
As criações de aves e suínos são bem reduzidas. Para isso, basta observar a pequena participação do continente nos reba-
nhos mundiais, o que, entre outros fatores, contribui para a má alimentação no continente africano.
O extrativismo é a principal fonte de renda da África, atividade essa intensificada no final do século XIX em consequência
do desenvolvimento da Revolução Industrial. Sempre associada aos interesses internacionais e uma vez que a indústria é
inexistente no continente, é o setor econômico mais desenvolvido e organizado e que usa as melhores tecnologias.

EXPLORAÇÃO DE RECURSOS COMÉRCIO DE ALIMENTOS


MINERAIS METÁLICOS Países exportadores de
amilentos
bauxíta (alumínio)
chumbo e zinco
cobre
estanho IPH (Índice de Pobreza Humana)
% da população privada do
ferro
progresso econômico e social.
manganês
níquel 20 - 40%
ouro
cobalto
40 - 60%
cromo
platina
Mais de 60%
MINERAIS NÃO METÁLICOS
Sem dados
diamante

MINERAIS ENERGÉTICOS
petróleo e gás natural
urânio
0 550 km
carvão

Apesar da diversidade de minerais encontradas em seu Reservas de recursos minerais na África


subsolo, a África se revela um continente pobre. A ex-
ouro África do Sul, Gana e Zimbábue
ploração das riquezas minerais fica a cargo de compa-
África do Sul, Botsuana e
nhias europeias ou estadunidenses que se instalaram diamante
República Popular do Congo
em regiões com boa infraestrutura, com equipamentos,
cobre República Popular do Congo e Zâmbia
técnicas e meios de transporte, com vistas exclusivas à
extração e exportação das riquezas em estado bruto manganês África do Sul e Gabão
para os países industrializados. A maior parte dos lucros petróleo Angola, Argélia, Gabão, Líbia e Nigéria
provenientes desse setor acaba sendo encaminhada
gás natural Argélia, Egito, Gabão, Líbia e Nigéria
para fora do continente.
antimônio África do Sul
Os subsolos africanos estão entre os mais ricos do mundo,
com 30% das reservas mundiais de recursos minerais – fosfato Marrocos
35% da produção mundial de urânio, 90% das reservas carvão mineral África do Sul
mundiais de platina, 75% das reservas mundiais de titânio.

144
O sistema de transportes é bastante precário e, de fato,
constitui um entrave ao desenvolvimento industrial. Não
há uma rede rodoviária e ferroviária que interligue eficaz-
mente suas regiões.
A União Africana pretende impulsionar a economia por
meio do programa Nova Parceria para o Desenvolvimento
multimídia: vídeo da África (Nepad), com o objetivo de atrair investimentos
estrangeiros que tragam o crescimento em troca da ado-
Fonte: Youtube
ção de políticas fiscais rigorosas pelos países. A iniciativa
Diamante de Sangue tem o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do
Quando a Guerra Civil se estabelece na década de 1990 Banco Mundial.
em Serra Leoa, dois homens, um branco sul-africano mer- Nos últimos anos, vêm aumentado os investimentos do
cenário e um pescador negro, se juntam em uma busca governo chinês no continente, que financia projetos de in-
para recuperar uma joia rara que tem o poder de trans- fraestrutura, como estradas de ferro e oleodutos. Dentre os
formar suas vidas. produtos mais interessantes estão o petróleo de Angola e
a platina de Zimbábue.

5.1. Indústria e transportes

Indústria têxtil, em Angola (2013)

À exceção da África do Sul, todos os países do continente


fazem parte do Terceiro Mundo, ou seja, subdesenvolvidos
e exibem os mesmos problemas característicos desse blo-
co, agravados ainda mais pelo fato de que, em boa parte
da África, a descolonização ocorreu recentemente.
A indústria africana é uma das mais pobres do mundo; par-
ticipa com apenas 26% do PIB da economia do continente.
O setor que mais se destaca é o da mineração, que constitui
a grande variedade de matérias-primas, infelizmente sem
promover a indústria africana, mas destinada ao mercado
externo. Atuando nesse panorama, as modestas indústrias
africanas dedicam-se ao beneficiamento de matérias-pri-
mas e de minérios para exportação. As poucas cidades que
apresentam algumas indústrias estão no litoral.
As indústrias têxteis e alimentícias voltadas para o merca-
do interno encontram-se em todos os países do continente,
ao passo que, na África do Sul, no Egito e na República
Democrática do Congo, estão instaladas as principais in-
dústrias de base – siderúrgicas, metalúrgicas, hidrelétricas.

145
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

O Museu Afro Brasil, localizado no Parque do Ibirapuera, tem um acervo de mais de seis mil obras, entre pinturas,
esculturas, gravuras, fotografias, documentos e peças etnológicas produzidas entre o século XVIII e os dias atuais.
O acervo abarca diversos aspectos dos universos culturais africanos e afro-brasileiros, abordando temas como a
religião, o trabalho, a arte, a escravidão, etc., uma vez que registra a trajetória histórica e as influências africanas na
construção da sociedade brasileira.

146
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 14
Comparar diferentes pontos de vistas, presentes em textos analíticos e interpretativos sobre situações ou
fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.

O processo de exploração do continente africano atingiu com intensidade o setor agrícola desde o século XIX.
Muitos ricos comerciantes e grandes companhias apoderaram-se das terras férteis, expulsando e, posteriormen-
te, explorando a população que ali vivia. O objetivo sempre foi implantar o sistema de plantation (latifúndios
monocultores voltados para exportação) para atender às necessidades europeias.
Gradualmente, a fome e a miséria tomaram conta do continente. A expropriação da terra e suas terríveis conse-
quências, associadas à tragédia da escravidão, deixaram marcas que se estendem até nossos dias. A agricultura
africana caracteriza-se ainda pelas formas mais rudimentares de produção. A pobreza dos países impede investi-
mentos para implantar técnicas mais avançadas. Nas regiões de florestas, grandes áreas estão sendo devastadas
para dar lugar a uma agricultura comercial do tipo plantation, comandada pelo café, amendoim e cacau, produtos
que atendem aos interesses dos grandes grupos transnacionais que exploram a agroindústria. Já na faixa medi-
terrânea, extremo norte da África, destacam-se os mesmos cultivos comerciais praticados no sul da Europa: frutas,
hortaliças e oliveiras. Em boa parte do continente, o sofrimento da população cresce à medida que aumenta o
processo de desertificação desencadeado pelo uso de técnicas impróprias pela agricultura de subsistência. Esse
fenômeno trágico ocorreu especialmente na região do Sahel (faixa entre o Saara e a região das savanas): a seca e o
consequente avanço do deserto foram tamanhos que provocaram crises agrícolas de proporções catastróficas, em
que centenas de milhares de pessoas morreram de fome. A partir da década de 1990, as chuvas aumentaram no
Sahel. A porção norte, sobretudo na Mauritânia, Burkina Fasso, Níger, Chade, Sudão e Eritreia, está agora recoberta
por vegetação em áreas antes consideradas estéreis. É uma espécie de frente verde que está atraindo de volta
agricultores expulsos pela seca para as cidades e campos de refugiados. Outra mudança está ocorrendo também
na forma como essa região passou a ser explorada. Programas patrocinados por entidades de ajuda humanitária e
agências da Organização das Nações Unidas estão ensinando os agricultores africanos a utilizar o solo da região.
A ideia é substituir as práticas predatórias do passado, como queimada, por métodos menos agressivos, como
adubagem orgânica e construção de cacimbas para recolhimento de água.

MODELO 1
(Enem) A singularidade da questão da terra na África colonial é a expropriação por parte do colonizador e as
desigualdades raciais no acesso à terra. Após a independência, as populações de colonos brancos tenderam
a diminuir, apesar de a proporção de terra em posse da minoria branca não ter diminuído proporcionalmente.
MOYO, S. A terra africana e as questões agrárias: o caso das lutas pela terra no Zimbábue. In: FERNANDES, B.M.;
MARQUES, M.I.M.; SUZUKI, J.C. (Orgs.). Geografia agrária: teoria e poder. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

Com base no texto, uma característica socioespacial e um consequente desdobramento que marcou o processo
de ocupação do espaço rural na África subsaariana foram:
a) exploração do campesinato pela elite proprietária e domínio das instituições fundiárias pelo poder público;
b) adoção de práticas discriminatórias de acesso a terra e controle do uso especulativo da propriedade
fundiária;
c) desorganização da economia rural de subsistência e crescimento do consumo interno de alimentos pelas famí-
lias camponesas;
d) crescimento dos assentamentos rurais com mão de obra familiar e avanço crescente das áreas rurais
sobre as regiões urbanas;
e) concentração das áreas cultiváveis no setor agroexportador e aumento da ocupação da população pobre
em territórios agrícolas marginais.

147
ANÁLISE EXPOSITIVA
Em vários países africanos que foram colônias de exploração, as melhores terras foram destinadas aos cultivos
voltados para exportação (café, cacau, amendoim, entre outros). Áreas com solos mais pobres foram ocupadas
pela agropecuária de subsistência com menor produtividade.

RESPOSTA Alternativa E

DIAGRAMA DE IDEIAS

ASPECTOS
FÍSICOS

RELEVO CLIMA VEGETAÇÃO

PREDOMÍNIO DE DESÉRTICO (SAARA) ESTEPES


TABULEIRO EQUATORIAL SAVANAS
TROPICAL TROPICAL (FLORESTAS)
MEDITERRÂNEO

IMPERIALISMO

ASPECTOS PROCESSOS DE
HISTÓRICOS DESCOLONIZAÇÃO

GUERRAS CIVIS

148
149
Competência 1 – Construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e reais.
H1 Reconhecer, no contexto social, diferentes significados e representações dos números e operações – naturais, inteiros, racionais ou reais.
H2 Identificar padrões numéricos ou princípios de contagem.
H3 Resolver situação-problema envolvendo conhecimentos numéricos.
H4 Avaliar a razoabilidade de um resultado numérico na construção de argumentos sobre afirmações quantitativas.
H5 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos numéricos.
Competência 2 – Utilizar o conhecimento geométrico para realizar a leitura e a representação da realidade e agir sobre ela.
H6 Interpretar a localização e a movimentação de pessoas/objetos no espaço tridimensional e sua representação no espaço bidimensional.
H7 Identificar características de figuras planas ou espaciais.
H8 Resolver situação-problema que envolva conhecimentos geométricos de espaço e forma.
H9 Utilizar conhecimentos geométricos de espaço e forma na seleção de argumentos propostos como solução de problemas do cotidiano.
Competência 3 – Construir noções de grandezas e medidas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano.
H10 Identificar relações entre grandezas e unidades de medida.
H11 Utilizar a noção de escalas na leitura de representação de situação do cotidiano.
H12 Resolver situação-problema que envolva medidas de grandezas.
H13 Avaliar o resultado de uma medição na construção de um argumento consistente.
H14 Avaliar proposta de intervenção na realidade utilizando conhecimentos geométricos relacionados a grandezas e medidas.
Competência 4 – Construir noções de variação de grandezas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano.
H15 Identificar a relação de dependência entre grandezas.
H16 Resolver situação-problema envolvendo a variação de grandezas, direta ou inversamente proporcionais.
H17 Analisar informações envolvendo a variação de grandezas como recurso para a construção de argumentação.
H18 Avaliar propostas de intervenção na realidade envolvendo variação de grandezas.
Competência 5 – Modelar e resolver problemas que envolvem variáveis socioeconômicas ou técnico-científicas, usando representações
algébricas.
H19 Identificar representações algébricas que expressem a relação entre grandezas.
H20 Interpretar gráfico cartesiano que represente relações entre grandezas.
H21 Resolver situação-problema cuja modelagem envolva conhecimentos algébricos.
H22 Utilizar conhecimentos algébricos/geométricos como recurso para a construção de argumentação.
H23 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos algébricos.
Competência 6 – Interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas, realizando previsão de
tendência, extrapolação, interpolação e interpretação.
H24 Utilizar informações expressas em gráficos ou tabelas para fazer inferências.
H25 Resolver problema com dados apresentados em tabelas ou gráficos.
H26 Analisar informações expressas em gráficos ou tabelas como recurso para a construção de argumentos.
Competência 7 – Compreender o caráter aleatório e não determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos ade-
quados para medidas, determinação de amostras e cálculos de probabilidade para interpretar informações de variáveis apresentadas em
uma distribuição estatística.
Calcular medidas de tendência central ou de dispersão de um conjunto de dados expressos em uma tabela de frequências de dados agrupados
H27
(não em classes) ou em gráficos.
H28 Resolver situação-problema que envolva conhecimentos de estatística e probabilidade.
H29 Utilizar conhecimentos de estatística e probabilidade como recurso para a construção de argumentação.
H30 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos de estatística e probabilidade.

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