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Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclu-
siva metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado.
O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares.
O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de
forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo
complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades.
A seguir, apresentamos cada seção:

INCIDÊNCIA DO TEMA VIVENCIANDO


NAS PRINCIPAIS PROVAS
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu
De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreen-
vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos são de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos
principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras.
o território nacional. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvol-
vida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há
uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações
entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato
em seu dia a dia.
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção
tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques-
tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com-
pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas
que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua- APLICAÇÃO DO CONTEÚDO
dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados
e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem
que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compila-
dos, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e co-
mentados, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difí-
cil compreensão torne-se mais acessível e de bom entendimento
aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever,
a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula.

MULTiMÍDiA
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidado-
sa seleção de conteúdos multimídia para complementar o reper-
tório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreen-
ÁREAS DE
são, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc.
Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o apro- CONHECiMENTO DO ENEM
fundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao
imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o
estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas
de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm,
critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de
Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são
apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva
e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia.
Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resol-
CONEXÃO ENTRE DiSCiPLiNAS vê-las com tranquilidade.

Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela-


borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata
de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não
exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos
conteúdos de cada área, de cada disciplina. DiAGRAMA DE iDEiAS
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran-
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria-
gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão,
mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em
como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Mate-
suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aqueles
mática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com
que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de
essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do
esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas.
dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros,
Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da
sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o aluno consegue
aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos princi-
entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz
pais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organização dos
parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
estudos e até a resolução dos exercícios.

HERLAN FELLiNi
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2021
Todos os direitos reservados.

Autores
Alessandra Alves
Vinicius Gruppo Hilário

Diretor-geral
Herlan Fellini

Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista

Coordenador-geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa


iconográfica
Hexag Sistema de Ensino

Editoração eletrônica
Felipe Lopes Santos
Leticia de Brito Ferreira
Matheus Franco da Silveira

Projeto gráfico e capa


Raphael de Souza Motta

Imagens
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Shutterstock (https://www.shutterstock.com)

ISBN: 978-65-88825-68-6

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com
a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum
texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional,
ficamos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos
todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as
imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de
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apenas para fins didáticos, não representando qualquer tipo de recomenda-
ção de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.

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SUMÁRIO

GEOGRAFIA 1
Aulas 27 e 28: Agropecuária brasileira 6
Aulas 29 e 30: Tipos de indústria 33
Aulas 31 e 32: Industrialização do Brasil 46
Aulas 33 e 34: Transportes I 58

GEOGRAFIA 2
Aulas 27 e 28: Regiões socioeconômicas mundiais II: América Latina 76
Aulas 29 e 30: Regiões socioeconômicas mundiais III: Europa 87
Aulas 31 e 32: Regiões socioeconômicas mundiais IV: Rússia e Ásia central 103
Aulas 33 e 34: Regiões socioeconômicas mundiais V: China 124
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

Um dos temas preferidos do Enem é Geografia O processo de industrialização no Brasil é um tema


agrária. Atente-se principalmente aos conflitos muito cobrado. Estude as diferentes industrializa-
fundiários. ções no mundo e no Brasil.

A prova relaciona as mudanças sociais A prova da Unifesp não tem Geografia. A prova sempre traz uma questão relacionada
produzidas no uso de recursos naturais pela às principais estruturas da questão agrária
política de conservação da biodiversidade no no Brasil, chamando atenção aos problemas
Brasil e no mundo com as transformações fundiários.
da agricultura familiar em processos de
reestruturação agrária.

Desde o início do vestibular, tivemos apenas Temas de Geografia agrária costumam estar A prova busca uma postura crítica, tanto da Estude os principais conceitos, como os tipos
uma questão relacionada aos temas deste ligados a questões de meio ambiente. estrutura agrária no Brasil quanto do acelerado de indústria e os sistemas agrários.
livro. Contudo, não espere por surpresas e processo de industrialização.
empenhe-se em todos os temas.

UFMG

Apresenta muitos mapas e gráficos. Os temas É um vestibular que gosta bastante de Ge- A prova da CMMG não tem Geografia.
deste livro costumam estar relacionados aos ografia agrária, pedindo tudo em sua prova,
temas de urbanização e demografia. desde sistemas agrários a conflitos fundiários.

Fique atento a tudo: produção agrária e indus- Geografia agrária e indústria são temas recor- O processo de industrialização não foi
trial, conflitos fundiários e desindustrialização. rentes. Estude os principais conceitos. uniforme em todos os países, tampouco no
mesmo momento. Fique atento aos tipos de
industrialização e à forma como as empresas
se organizam entre si.
GEOGRAFIA 1

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exportadoras do mundo, em diversas espécies de cereais,
AULAS 27 E 28 frutas, grãos e outros. Desde o Estado Novo, com Getúlio
Vargas, cunhou-se a expressão “Brasil: celeiro do mundo”,
acentuando a vocação agrícola do país. Mas a agricultura
brasileira apresenta problemas e desafios que vão da refor-
ma agrária às queimadas, do êxodo rural ao financiamento
da produção, da rede escoadora à viabilização econômica da
AGROPECUÁRIA agricultura familiar, envolvendo, portanto, questões políticas,
sociais, ambientais, tecnológicas e econômicas.
BRASILEIRA
Dos cerca de 31 milhões de brasileiros que vivem na faixa
da pobreza, mais da metade está na zona rural. Nos últimos
25 anos do século XX, cerca de 30 milhões de moradores do
campo abandonaram ou perderam suas terras. Nesse tempo,
a grande maioria dos recursos de financiamento foi dirigida
COMPETÊNCIA: 4
para as oligarquias e grandes proprietários, atendendo ao
modelo de exploração intensiva das propriedades, formação
HABILIDADE: 16 de grandes monoculturas e áreas de pastagens que, com
o esgotamento da chamada revolução verde, acabou por
revelar uma série de problemas, como o uso excessivo de
agrotóxicos, a irrigação e o desmatamento descontrolados, a
Liberadas da necessidade de autofornecer-se em bens de agressão à cultura nativa, dentre outros.
consumo variados e bens de produção essenciais (força Com a redemocratização, o país teve, entre 1985 e 1988,
de tração, forragens, adubos, sementes, animais reprodu-
quase nove mil conflitos sociais no meio rural, com o assassi-
tores, utensílios, etc.), os estabelecimentos agrícolas se
especializaram. Elas abandonaram a multiprodução ve- nato de 1.167 pessoas por questões agrárias. Nesse período,
getal e animal para se dedicar, quase que exclusivamente, teve início um confronto que gerou, de um lado, os sindica-
a algumas produções destinadas à venda – aquelas que tos, os movimentos sociais e a Igreja católica (então no país
lhes eram mais vantajosas, tendo em vista as condições orientada pela chamada “opção preferencial pelos pobres”,
físicas e econômicas de cada região, e levando em conta com as comissões pastorais) e, de outro, os grandes proprie-
também os meios e as condições de produção peculiares tários, reunidos na UDR – União Democrática Ruralista, cujo
a cada estabelecimento. Assim, foi constituído um vasto
líder era Ronaldo Caiado. A mais famosa vítima desses con-
sistema agrário multirregional, composto por subsiste-
mas regionais especializados, complementares (regiões flitos foi o sindicalista Chico Mendes, no Acre, em 1988.
de grandes culturas, regiões de pradarias e de criação Segundo o pesquisador Bernardo Mançano, da Unesp, os
de gado leiteiro ou de corte, regiões vinícolas, regiões censos rurais realizados desde 1940 apontavam para a con-
de produção de legumes, regiões frutíferas, etc.). Esse
centração da terra, somente possível de ser revertida com o
sistema se intercalava com um conjunto de indústrias
extrativas, mecânicas e químicas situadas a montante da fim do êxodo rural e assentamento anual de 150 mil famílias.
produção agrícola e que lhe fornecia os meios de produ- Durante o governo Itamar Franco, o Incra (Instituto Nacional
ção. Havia a jusante também um conjunto de indústrias de Colonização e Reforma Agrária) realizou cerca de cem mil
e de atividades básicas que estocavam, transformavam e assentamentos anuais; nessa administração, foi instituído o
comercializavam seus produtos. rito sumário de desapropriação, vencendo um dos principais
MAZOYER, Marcel; ROUDART, Laurence. obstáculos para a medida, que era a sua demora.
Histórias das agriculturas do mundo.

1. Agricultura
A agricultura é, historicamente, umas das principais bases
da economia do Brasil, desde os primórdios da colonização
até o século XXI, evoluindo das extensas monoculturas para
a diversificação da produção. A agricultura é uma atividade
que faz parte do setor primário em que a terra é cultivada e
colhida para subsistência, exportação e comércio.
Produtora de cana-de-açúcar, inicialmente, e de café, depois, Integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST)
a agricultura brasileira apresenta-se como uma das maiores em passeata no Eixo Monumental, Brasília, DF

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As grandes transformações na produção em nível mundial,
por força dos avanços tecnológicos, apontam para uma de- para se ter alguma ideia da eficiência, isto é, do
manda cada vez menor de alguns fatores. Na indústria, isso rendimento da produção, sendo que o mais comum
é particularmente evidente quanto às matérias-primas. Com é a relação entre o total produzido e a área utili-
a industrialização cada vez maior da agricultura, tal tendên- zada. Quando um agricultor consegue aumentar a
cia se estende também ao campo, particularmente quanto à produção sem aumentar a área, significa dizer que,
terra. Considerando as transformações contidas no bojo da em relação ao fator área, esse produtor obteve um
agricultura capitalista, um dos aspectos da análise da peque- aumento na sua produtividade.
na produção foi o da inserção dessa categoria no contexto Outros elementos também devem ser considerados,
das mudanças tecnológicas. Ao pequeno produtor restou como a água consumida na irrigação, os fertilizantes
aderir ao pacote técnico, para que pudesse fazer parte do e agrotóxicos aplicados na plantação e a quantidade
novo modelo de desenvolvimento da agricultura. de energia consumida.

1.1.1. Escoamento da produção

multimídia: livro

A agricultura camponesa no Brasil –


Ariovaldo Umbelino de oliveira
Esse livro faz parte de uma nova produção geográfica
que vem procurando servir de instrumento para a trans-
formação do campo, denunciando o grande número
de conflitos, em geral sangrentos, que tem ocorrido no
Transporte de safra por rodovias:
campo e os assassinatos de lideranças sindicais, religio- exemplo de atraso na infraestrutura do Brasil
sas e de advogados.
O transporte das safras é um dos problemas estruturais en-
frentados pela agricultura no Brasil.
1.1. Infraestrutura agrícola Apesar de ser um dos maiores produtores agrícolas do
Dentre os principais itens infraestruturais que demandam mundo e um importante exportador de commodities, o
atenção pela atividade agrícola, estão o transporte, os Brasil sofre com a falta de qualidade de sua infraestrutura
estoques reguladores, a política de preço mínimo e a ar- de transportes. Essa ineficiência aumenta os custos da pro-
mazenagem. dução rural e reduz sua produtividade, sendo um entrave
para o desenvolvimento econômico do país.
Estradas não concluídas fazem com que, por exemplo,
Produção e produtividade o transporte de uma tonelada de soja até seu porto de
Dois termos muitos falados no espaço agrário são pro- exportação no Brasil seja quase três vezes mais caro que
dução e produtividade. Embora pareçam sinônimos, transportar a mesma quantidade do grão por distância se-
suas funções são bem diferentes. A produção tem a ver melhante nos Estados Unidos. Além disso, a falta de infra-
com o total produzido, sem considerar o rendimento da estrutura rodoviária impossibilita o escoamento de produ-
atividade produzida. Para exemplificar, podemos citar tos para exportação por portos mais eficientes – em alguns
um país que produziu 130 toneladas de algum cereal. casos, isso onera o produtor em até vinte vezes mais. É o
caso do porto de Santarém, que não é utilizado como por-
Sabemos o total produzido, mas não sabemos se houve
to de descarga por falta de uma boa estrutura rodoviária
ou não eficiência no processo produtivo.
ligando os municípios produtores à região, apesar de estar
Contudo, quando falamos em produtividade, estamos mais perto dos mercados consumidores estrangeiros. Por
relacionando o total produzido a algum outro elemento conta disso, o porto de Santos é o mais usado, ainda que
seja dezoito vezes mais caro que Santarém. No entanto,

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uma estrada conectando Cuiabá (MT) a Santarém reduziria 1.1.2. Armazenagem
custos de transporte em 54%.
A armazenagem agrícola é uma das etapas da produção
Com os altos custos em transporte devido à utilização da agricultura do país que apresentam necessidades de
de malha viária inadequada para grandes distâncias e investimento e ampliação.
serviços portuários caros e ineficientes, a soja brasileira
fica em desvantagem nas exportações, quando compa-
Pesquisas recentes levantam o problema do des-
rada à soja produzida nos outros dois principais países
compasso entre a produção de grãos no Brasil, de
produtores: Argentina e Estados Unidos. A Argentina,
1994 a 2003, passando de 76 milhões de toneladas
apesar de ter a rodovia como principal via de transpor-
para 123 milhões de toneladas, com um crescimento
te, tem menores distâncias a percorrer. Já nos Estados
de 62%, enquanto a capacidade de armazenagem
Unidos, assim como o Brasil, onde há grandes extensões avançou apenas 7,4%, segundo dados da Conab
a percorrer, a soja é transportada principalmente por hi- (Companhia Nacional de Abastecimento). O objetivo
drovia. O alto custo com transporte limita a expansão do estudo foi identificar as regiões críticas quanto
da agricultura devido ao impacto que tem sobre o custo à disponibilidade de espaço para melhor adequação
final de colocação dos produtos agrícolas nos merca- e expansão da armazenagem, principalmente nas
dos nacional e internacional. Para a soja produzida na propriedades rurais, visando fornecer ao produtor
região central do Brasil, os custos de transporte entre condições de reter sua produção para aproveitar as
Campo de Parecis (MT) e o porto de Paranaguá (PR) melhores épocas de comercialização, procurando
chegam a 30% do preço recebido. evitar também o congestionamento de armazéns,
silos e portos em períodos de safra.
É importante salientar que os programas governa-
mentais de apoio à pesquisa, como o de moderniza-
ção da frota de tratores, colhedoras e implementos
agrícolas, vêm contribuindo para o crescimento da
produção de grãos, elevando a produtividade, não
só nas novas fronteiras da região setentrional, mas
também nas zonas tradicionais do Sudeste-Sul, onde
ocorrem substituições de atividades, principalmente
em razão da elevada remuneração alcançada pela
Muitas áreas com grande potencial agrícola no Brasil soja nos últimos anos.
permanecem impossibilitadas de contribuir produtiva-
Estimativas concluem que a capacidade de armazena-
mente devido a dificuldades causadas pela falta de uma
gem do Brasil exige elevada soma de investimento de
adequada infraestrutura de transportes. Para atender às infraestrutura, uma vez que não tem acompanhado,
necessidades estratégicas da produção agrícola brasileira ao longo dos anos, o ritmo de crescimento das sa-
no que se refere à infraestrutura de transportes, é neces- fras. Estudos precedentes sobre o tema apontam que
sária a criação de uma rede intermodal de transporte, nunca houve de fato muita clareza sobre a prioridade
com o objetivo de viabilizar a produção e o escoamen- para o complexo armazenador brasileiro.
to de grãos, integrando racional e competitivamente as
áreas de produção e os centros de consumo no país, ou Nos últimos anos o explosivo crescimento da soja, co-
pontos para exportação/importação. locou o país como principal exportador mundial com
37 milhões de toneladas, à frente dos Estados Unidos
Na safra 2008/2009, por exemplo, a Federação da Agri- com 34 milhões de toneladas, com perspectivas de
cultura e Pecuária de Goiás (Faeg) denunciava o estado sucessivos ganhos nas próximas safras.
precário das estradas da região Centro-Oeste, algumas
com problemas desde 2005 e, a despeito de solicitações
às entidades governamentais, nada havia sido feito. A Na década de 1970, foi implantado o Programa Nacional
despeito disto, o governo federal elaborou, em 2006, o de Armazenagem – Pronazem, que previa a construção de
Plano Nacional de Logística e Transportes, destinado a armazenagens em nível de fazenda, intermediária e termi-
proporcionar um melhor escoamento da produção. A fal- nal. O programa, à época, financiou a expansão da capa-
ta de investimentos no setor, entretanto, continua a ser o cidade armazenadora em aproximadamente cinco milhões
principal problema na logística de escoamento. de toneladas. Com o advento das políticas neoliberais e

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dos desastres na condução da política econômica brasilei- de adequação e de localização das unidades existentes
ra, o setor teve baixo crescimento, motivado, entre outras precisam ser resolvidos.
coisas, pela extinção do Pronazem.
Outra questão importante é o atendimento da necessidade
Capitaneada pela soja, a expressiva expansão dos grãos de infraestrutura adicional para culturas em expansão (sorgo
dos últimos anos induziu substanciais investimentos para granífero e triticale), cujos produtos demandam silos especí-
ampliação da capacidade da rede de armazenagem, prin- ficos, bem como dos grãos geneticamente modificados, cuja
cipalmente por cooperativas e produtores agrícolas. Mes- produção exige igualmente um sistema próprio de guarda.
mo assim, sabe-se que ainda ocorrem sérios problemas de Daí a necessidade de novas pesquisas para um posiciona-
adequação e localização, com efeitos prejudiciais à com- mento sobre a situação atual e as perspectivas para a arma-
petitividade do agronegócio nacional. Desde a década de zenagem frente à nova geografia do Brasil rural.
1990, o poder público tem deixado de atuar diretamente
em áreas de infraestrutura, como é o caso da armazena- 1.1.3. Estoques reguladores e preço mínimo
gem. Como exemplo, pode-se citar a desmobilização pa-
Historicamente, os geradores de estoques reguladores de
trimonial da Conab, com a privatização de 38 armazéns.
alimentos eram uma das principais políticas públicas ado-
A demanda de armazenagem é de 155,2 milhões de tone- tadas pelas grandes nações do mundo, principalmente por
ladas, sendo 44,7 milhões de toneladas de produtos ensa- conta das oscilações de preços e do fantasma da fome.
cados que necessitam de armazéns convencionais, como é Entretanto, houve uma mudança profunda na política de
o caso do açúcar, algodão (caroço), amendoim, arroz, café comercialização: o avanço do liberalismo no comércio e a
beneficiado, feijão, girassol e mamona. Quanto aos produ- crise fiscal levaram ao desmonte do sistema de garantia
tos a granel, 114,5 milhões de toneladas, demandam silos de preços mínimos. Desde os últimos anos da década de
e graneleiros, como é o caso da aveia, centeio, cevada, mi- 1980, com a redução significativa das aplicações públicas
lho, soja, sorgo e trigo nacional e importado. fiscais e financeiras no setor agrícola, os principais instru-
As unidades federativas que lideraram a demanda total de mentos de política agrícola – crédito rural e preços mínimos
armazenagem brasileira em 2003 foram: Paraná (20,3%), – foram severamente sacrificados. A partir de 1995, os me-
São Paulo (15,7%), Rio Grande do Sul (14,8%), Mato canismos tradicionais de políticas foram substituídos pelo
Grosso (12,3%), Goiás (7,7%) e Minas Gerais (7,2%), per- contrato de opção, no qual o produtor adquire o direito de
fazendo um total de 78%. vender ao governo pelo preço mínimo, e pelo Programa
para Escoamento de Produto, adquirido pelo comprador.
Esses instrumentos, vigentes até hoje, demandam menos
recursos públicos, já que o governo paga apenas a diferen-
ça entre o preço mínimo e o preço de mercado.
Um bom exemplo da necessidade da formação de esto-
ques reguladores está na produção de álcool combustível
a partir da cana-de-açúcar. A grande variação de preços ao
Silo de armazenamento de grãos
longo do ano-safra, por razões climáticas e fitossanitárias,
Por falta de armazéns e silos, a produção precisa ser comer- justifica a formação de estoques.
cializada rapidamente. Segundo dados da Conab, apenas
Os estoques também visam assegurar estabilidade aos
11% dos armazéns estão nas fazendas (na Argentina, esse
rendimentos dos agricultores, além de impedir a flutuação
total é de 40%, na União Europeia, de 50%, e no Canadá
de preços das entressafras. Até a década de 1980, havia
chega a 80%). Isso força o agricultor a servir-se de tercei-
no país a implantação da chamada Política de Garantia de
ros para estocar sua produção. Fatores sazonais, como a
Preços Mínimos, que perdeu importância na política agrí-
quebra de safras e a defasagem cambial, descapitalizam o
produtor, que acaba não conseguindo investir na constru- cola a partir dos anos 1990, com a globalização. O principal
ção de silos. Com estes, poderia negociar sua produção em efeito é a instabilidade de preços dos produtos agrícolas.
condições mais favoráveis, e não quando da colheita ape-
nas. A situação brasileira permite dizer que os caminhões 1.2. Irrigação
se transformam em “silos sobre rodas”. Se a história das grandes civilizações pode ser contada se-
O crescimento da exploração agrícola em direção à re- gundo o desenvolvimento da exploração agrícola e da do-
gião Centro-Norte do país exigiu e continua a exigir maci- mesticação animal, a irrigação deve ser considerada como
ços investimentos na rede de armazenagem e nos modos a tecnologia que mais proveu prosperidade. A irrigação
de transporte, ao mesmo tempo em que os problemas consiste no maior uso da água no Brasil e no mundo e tem

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sido objeto de estudos próprios da ANA (Agencia Nacional 2006, com aumento de 52% tanto em estabelecimentos
de Águas) ou em parceria com a Embrapa. (502.425) quanto em área (6.903.048 hectares).
A irrigação no Brasil foi desenvolvida por meio do uso de
diferentes modelos. O envolvimento público na irrigação é
relativamente novo, enquanto o investimento privado tem
sido tradicionalmente responsável pelo desenvolvimento
da irrigação. A irrigação privada predomina nas regiões
povoadas do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde ocorre a
maior parte do desenvolvimento industrial e agrícola do
país. Na região Nordeste, os investimentos feitos pelo se-
tor público buscam estimular o desenvolvimento regional, Irrigação por gotejamento
em uma área propensa a secas e com graves problemas
sociais. Essas diferentes abordagens têm resultado em con-
sequências diversas: dos 120 milhões de hectares (ha) po-
tencialmente disponíveis para a agricultura, somente cerca
de 3,5 milhões de hectares estão atualmente irrigados,
embora as estimativas mostrem que 29 milhões desses
hectares sejam adequados para essa prática.

Irrigação por superfície

Como toda tecnologia empregada na produção agrícola, a


irrigação pode causar modificações ambientais e impactar
os recursos naturais (solo, recursos hídricos, fauna e flora).
Esses impactos, no meio ambiente, podem ter tanto uma
abrangência local (propriedade agrícola), regional (bacia
Irrigação por aspersão hidrográfica) ou mesmo nacional (poluição dos mares). As
questões que envolvem esses impactos devem ser vistas de
forma sistêmica, procurando considerar todas suas dimen-
sões relevantes para a produção agrícola (antes, durante e
depois) nos diversos compartimentos (água, solo, ar e siste-
mas vivos). As ações de captação e de disponibilização da
água, a sua distribuição, o seu uso e a sua descarga são di-
mensões relevantes para se avaliar os impactos ambientais.

Sistema de irrigação autopropelido

Em 1970, havia menos de 800 mil hectares de terras irriga-


das, usadas principalmente como arrozais no estado do Rio
Grande do Sul e menos intensivamente em algumas áreas
de irrigação pública na região Nordeste. Na verdade, a irriga-
ção somente deu certo, desde então, com a implementação
multimídia: vídeo
de políticas de investimento público em infraestrutura de Fonte: Globo
irrigação, transmissão e distribuição de energia, bem como Programa Globo Rural
financiamento de equipamentos e de despesas do dia a dia,
por meio de programas como o Programa de Irrigação do
Nordeste (Proine) e o Programa Nacional de Irrigação (Proni). 1.3. Gestão territorializada da agricultura
Conforme o Censo agropecuário, realizado pelo IBGE, em Gestão territorializada da agricultura é a proposta de estí-
2017, o uso de irrigação foi ampliado, se comparado ao de mulo ao ordenamento territorial da agricultura brasileira e

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o uso eficiente do solo. A maior capacidade de gestão das Como exemplo, cita-se o plano de safra 2011/2012, em que
atividades de agricultura, pecuária e silvicultura é funda- R$ 107 bilhões foram destinados à agricultura empresarial,
mental para conciliar as exigências de controle e abran- enquanto que apenas R$ 16 bilhões foram destinados aos
damento dos impactos ambientais, com o atendimento produtores familiares. Apesar disso, a agricultura familiar gera,
às demandas para produção de alimentos, agroenergia e em média, 38% da receita dos estabelecimentos agropecuá-
insumos florestais para a indústria. rios do país e emprega aproximadamente 74% dos trabalha-
dores agropecuários brasileiros.
Ela trata do estabelecimento de uma política que considere
nos diferentes potenciais produtivos e sua localização no O principal programa de incentivo à agricultura familiar é
território, oferecendo instrumentos que permitam monito- o Pronaf, que financia projetos ao pequeno produtor rural,
rar a situação agrícola por meio de ferramentas geoespa- com baixas taxas de juros.
ciais, considerando assimetrias no uso do solo em termos
de produtividade, tecnologias e demandas futuras. Com-
binando esses instrumentos a novas propostas no Plana Classificação das propriedades rurais
Safra no Programa Agricultura de Baixo Carbono e estudos § Módulo rural: é o imóvel rural que é, direta e
da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da pessoalmente, explorado pelo agricultor e sua fa-
República, a oferta de crédito poderá ser guiada à intensifi- mília e que absorve toda força de trabalho dessa
cação do uso de determinadas áreas, orientando o produ- família, garantindo-lhe a subsistência e o progres-
tor para a priorização de sistemas sustentáveis. so social e econômico. A área mínima fixada vai
depender da região, do tipo de exploração e do

2. Agricultura familiar número de pessoas da família. É, portanto, a di-


mensão mínima, ou seja, é indivisível.
no Brasil § Minifúndio: é uma propriedade de terra cujas di-
mensões não perfazem o mínimo para configurar
De acordo com a Constituição brasileira, considera-se
agricultor familiar aquele que desenvolve atividades eco- um módulo rural. As dimensões são mínimas por
nômicas no meio rural e que atende a alguns requisitos vários fatores, mas, principalmente, por causa da
básicos, tais como: não possuir propriedade rural maior situação regional onde os espaços são reduzidos.
que quatro módulos fiscais; utilizar predominantemente Está atrelada principalmente à economia de sub-
mão de obra da própria família nas atividades econô- sistência. A atividade econômica nos minifúndios
micas de propriedade; e possuir a maior parte da renda (agricultura familiar) responde por 70% do PIB
familiar proveniente das atividades agropecuárias desen- agrícola do Brasil, dedicando-se, principalmente, à
volvidas no estabelecimento rural. policultura para o mercado interno.

No ano de 2006, o IBGE realizou o Censo Agropecuário § Latifúndio por exploração: é o imóvel rural
Brasileiro. Nele, verificou-se a força e a importância da agri- cujas dimensões equivalem a 600 módulos rurais
cultura familiar para a produção de alimentos no país. Ela e que seja inexplorado em relação às suas possibi-
é responsável direta pela produção de grande parte dos lidades fiscais, econômicas e sociais do meio, com
produtos agrícolas brasileiros, contribuindo com a produ- fins especulativos.
ção de 84% da mandioca, 67% do feijão e 49% do milho. § Latifúndio por dimensão: é o imóvel que, ex-
Na década de 1990, a agricultura familiar cresceu cerca de plorado racionalmente ou não, possua dimensões
75%, contra apenas 40% da agricultura patronal. Isso se superior a 600 módulos rurais da região em que
deve, em grande parte, à criação do Programa Nacional de se situa.
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que abriu
uma linha especial de crédito para o financiamento do setor.
Aproximadamente 84,4% dos estabelecimentos agropecu-
ários do país são da agricultura familiar. Em termos absolu- 3. Evolução do agronegócio
tos, são 4,36 milhões de estabelecimentos agropecuários. Em função da possibilidade de enormes lucros em al-
Entretanto, a área ocupada pela agricultura familiar era de guns ramos da agropecuária, foi inaugurado um agros-
apenas 80,25 milhões de hectares, o que corresponde a sistema baseado no alto grau de capitalização e na
24,3% da área total ocupada por estabelecimentos rurais. organização empresarial: o agronegócio. O capital apli-
Apesar da importância da agricultura familiar para o país, as cado na agricultura pode ser gerenciado por empresas
políticas públicas adotadas ainda privilegiam os latifundiários. instaladas nas grandes cidades, ou seja, as fazendas

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funcionam como verdadeiras fábricas de alimentos ou em 1996), a taxa de câmbio real, que permitiu estabilidade
matérias-primas. de preços (a partir de 1999), o aumento da demanda dos
países asiáticos, o crescimento da produtividade das lavouras
Com altos investimentos em mecanização e biotecnologia,
e outros componentes, como a intercessão governamental
foi possível alcançar uma intensa produtividade. Baseada
junto à OMC para derrubar barreiras comerciais existentes
no tripé indústria de insumos (máquinas agrícolas, agro-
contra produtos brasileiros em países importadores.
tóxicos, sementes e fertilizantes), na agricultura moderna
e na agroindústria (transforma os produtos agrícolas em Este progresso do setor permitiu que a agricultura passasse
bens e alimentos processados), a expansão do agronegó- a representar quase um terço do PIB nacional. Esta avalia-
cio esteve ligada à modernização da agricultura, que criou ção leva em conta não somente a produção camponesa,
o chamado complexo agroindustrial. mas de toda a cadeia econômica: desde a indústria pro-
dutora dos insumos até aquela envolvida no seu beneficia-
mento final, transporte, etc.
Como vimos anteriormente, a formação desse com-
plexo agroindustrial teve origem na chamada Revo- Enquanto a agricultura propriamente dita apresentou, no
lução Verde, um conjunto de transformações no setor período de 1990 a 2001, uma queda na oferta de empre-
agropecuário que envolveu a adoção de inovações gos, o setor do agronegócio praticamente triplicou a oferta
tecnológicas e a incorporação de mais maquinários de empregos, que saltou de 372 mil para 1,082 milhão. O
no setor, além de mudanças nos padrões tradicionais número de empresas era, em 1994, de 18 mil e, em 2001,
de socialização (substituição de formas de trabalho saltou para quase 47 mil. Já a relação emprego/produtivi-
camponesa e familiar pelo assalariado). dade na agricultura apresentou um crescimento expressivo,
oposto à diminuição do número de trabalhadores.
Entretanto, um dos problemas da Revolução Verde é o
impacto que a agricultura moderna vem causando nos O setor agrícola brasileiro possui possibilidades de ampliar a
diversos países do mundo. Entre os problemas mais co- produção existente. Para tanto, há que se considerar as áreas
muns estão a contaminação do solo, o desgaste do solo em que podem haver expansão da fronteira agrícola, bem
pela opção da monocultura, o desmatamento, a conta- como o incremento daquelas subexploradas. Os fatores que
minação de trabalhadores e o esgotamento das reservas limitam essa expansão são infraestruturais, o surgimento de
de água para irrigação. Diante disso, vem se falando cada pragas em virtude das monoculturas, os problemas ambien-
vez mais na necessidade de uma Segunda Revolução tais gerados por práticas como o desmatamento, etc.
Verde, para criar mecanismos que minimizem esses pro-
blemas e tornem os sistemas agrícolas mais sustentáveis. 3.1. Agronegócio por regiões
As regiões do Brasil possuem ampla diversidade climática
Durante as décadas de 1980 e 1990, o Brasil assistiu a e, portanto, apresentam vocação agrícola e industrial com
uma grande evolução na sua produção agrícola: em uma problemáticas bastante diferentes, provocando, assim, par-
área praticamente igual à do início dos anos 1980, a pro- ticipações bem distintas no agronegócio.
dução praticamente dobrou no final do século XX.
No ano de 1995, o percentual da participação das regiões
brasileiras deu-se da seguinte forma no total do volume
do setor: Norte (4,2%), Nordeste (13,6%), Centro-Oeste
(10,4%), Sudeste (41,8%) e Sul (30,0%) – dados estes que
revelam a concentração nestas duas últimas regiões de mais
de 70% de todo o montante do agronegócio brasileiro. Este
quadro vem se alterando, com a pequena e gradual amplia-
ção da participação das regiões Centro-Oeste e Norte.

Colheitadeira em plantação de soja 3.1.1. Região Sul


Em 2010, a Organização Mundial do Comércio apontou o
Brasil como o terceiro maior exportador agrícola do mun-
do, atrás apenas dos Estados Unidos e da União Europeia.
Vários fatores levaram a este resultado, tais como a melho-
ria dos insumos utilizados (sementes, adubos, máquinas), as
políticas públicas de incentivo à exportação, a diminuição da
carga tributária (como a redução do imposto de circulação, Parreiral gaúcho

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Nos estados do Sul brasileiro (Rio Grande do Sul, Santa 3.1.3. Região Nordeste
Catarina e Paraná), houve considerável participação das
cooperativas. Os produtos de maior representatividade no No Nordeste brasileiro, região formada por nove estados
PIB agrícola do país são a avicultura e o arroz irrigado – (Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Gran-
que lideram –, e posições estáveis com o milho e o feijão de do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão), 82,9% da mão de
– já os produtos como soja, trigo, cebola, batata e outros obra do campo equivalem à agricultura familiar.
perderam as posições que ocupavam no ranking nacional.
O Sul é ainda o maior produtor de tabaco do país, que, por
sua vez, é o maior exportador mundial.
A vocação agrícola no Sul, incrementada a partir da década
de 1930, coincidiu com a integração com os setores indus-
triais da região. Enquanto nos demais estados as indústrias
tendem, na atualidade, à importação dos insumos, Santa
Catarina mantém um elevado grau de interdependência do
setor industrial com o agrícola.
No Rio Grande do Sul, é importante a participação do agro-
negócio familiar, derivado, sobretudo, do modelo de colo-
nização realizado, com expressiva representatividade no
PIB agrícola do estado. Outro fator importante é que esse
Plantação de palma
modelo proporciona um elevado grau de fixação do homem
no campo, bem como a interação entre os pequenos produ- A região é a maior produtora nacional de banana, respon-
tores. No ano de 2004, a região respondia por 14,4% da dendo pelo montante de 34% do total. Lidera, ainda, a
produção frutícola, ocupando o terceiro lugar do país. produção de mandioca, com 34,7% do total. É a segun-
da maior produtora de arroz, com uma safra estimada,
3.1.2. Região Sudeste em 2008, de um 1,114 milhão de toneladas, em que o
Em 1995, o Sudeste (Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janei- Maranhão tem majoritária participação (com 668 mil to-
ro e Espírito Santo) era responsável pela maior participação neladas). Também ocupa a segunda posição na produção
no montante do agronegócio do país, mas em tendência frutícola, com 27% da produção nacional.
de queda face a expansão das fronteiras agrícolas e a ins- Um dos grandes problemas da região Nordeste são as es-
talação de indústrias em outras regiões. tiagens prolongadas, mais fortes nos anos em que ocorre
O Sudeste é o maior produtor nacional de frutas, produzin- o fenômeno climático do El Niño. As estiagens provocam o
do 49,8% do total nacional, segundo os dados de 2004. A êxodo rural, a perda de produção, minimizados seus efeitos
região concentra 60% das empresas de software voltadas por meio de ações governamentais de emergência, através
para o agronegócio, conforme levantamento efetuado pela da construção de açudes e outras obras paliativas, como
Embrapa Informática Agropecuária (situada em Campinas, a transposição do rio São Francisco. As piores secas dos
SP). Quanto à exportação, o setor do agronegócio ocupava últimos anos foram as de 1993 (considerada a pior em 50
a segunda posição nacional, no período de 2000 a 2008, anos), 1998 e 1999.
ficando atrás da região Sul; o Sudeste representou 36%
do montante exportado de 308 bilhões de dólares – os O Censo Agro de 2017 indica um que a região Nordeste teve
produtos que mais se destacaram no comércio exterior na queda tanto no número de estabelecimentos agropecuários
região foram o açúcar (17,27%), o café (16,25%), papel e (menos 131.565) quanto na área (menos 9.901.808 ha –
celulose (14,89%), carnes (11,71%) e hortifrutícolas, com aproximadamente, o estado de Pernambuco).
destaque para o suco de laranja (10,27%).
3.1.4. Região Norte
A região Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia,
Roraima e Tocantins) tem como principal característica a
presença do bioma amazônico, em que a floresta tropical
é marcante (por sua presença em parte do Maranhão, este
é incluído nas ações de governo nessa região). O grande
desafio da região é aliar a rentabilidade e produtividade
Plantação de cana-de-açúcar em Avaré-SP com a preservação da floresta.

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A área cultivada na região, que compreende os estados de
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e o Distrito Federal,
em 2008, era de 15,1 milhões hectares, tendo avançado nos
primeiros anos do século XXI, sobretudo sobre áreas ante-
riormente dedicadas à pecuária. Dentre os principais fatores
que levaram a esse crescimento, conta-se a abertura de es-
tradas, que facilitou o escoamento da produção. Na fruticul-
tura, a participação da região, em dados de 2004, aponta o
último lugar no país, com 2,7% do total produzido.

3.2. Principais produtos


Oficina de horticultura em Manacapuru-AM Dada a sua grande variedade climática e extensão territo-
rial, o Brasil possui diversas áreas especializadas em deter-
A região já foi responsável, por um curto período, pela pro-
minados cultivos – por vezes, dentro de um mesmo estado
dução do mais importante produto de exportação brasilei-
da federação –, como na Bahia, em que se tem o cultivo de
ro, no final do século XIX e começo do XX, durante o ciclo
soja e algodão (na região oeste), cacau (no sul), frutas (no
da borracha, em que o extrativismo da seringueira gerou o
médio São Francisco), feijão (em Irecê), etc. Também um
avanço das fronteiras nacionais (conquista do Acre), até o
produto agrícola encontra-se em áreas distintas no territó-
contrabando da árvore pela Inglaterra e sua aclimatação
rio nacional – por exemplo, o arroz, que é plantado no Rio
em países asiáticos.
Grande do Sul, no sul do Maranhão e Piauí, em Sergipe e
É a segunda maior produtora nacional de banana, respon- nas regiões Norte e Centro-Oeste.
dendo por 26% do total. Também é a segunda na pro-
Alguns produtos, como trigo, arroz e feijão, não têm produ-
dução de mandioca (com 25,9% do total), ficando atrás
ção suficiente para atender à demanda interna; outros, como
somente do Nordeste. A produção de frutas ocupa a penúl-
a soja, são quase que exclusivamente produzidos para ex-
tima posição, respondendo por 6,1% da produção nacio-
portação (a soja é o principal produto exportado pelo agro-
nal, à frente apenas da região Centro-Oeste.
negócio brasileiro). Por ordem alfabética, apresentaremos a
seguir os principais produtos agrícolas do Brasil.
3.1.5. Região Centro-Oeste
3.2.1. Algodão
De 1960, quando teve início a mecanização agrícola do
país, até o começo do século XXI, a área plantada com
algodão decresceu, os preços caíram, mas a produção au-
mentou substancialmente.
A partir da década de 1990, o polo produtor deslocou-se
das regiões Sul e Sudeste para as regiões Centro-Oeste e
oeste da Bahia. Desde 2001, a produção deixou de atender
Alho irrigado em Catalão-GO apenas à demanda interna e passou-se a exportar o produto.

Há cerca de trinta anos, a região era quase desconhecida


em seu potencial econômico. O principal bioma é o cerra-
do, cuja exploração foi possível graças às pesquisas para
adaptação de novos cultivos de vegetais, como algodão,
girassol, cevada, trigo, etc., permitindo que, em 2004, vies-
se a se tornar a responsável pela produção de 46% da
soja, milho, arroz e feijão produzidos no país.
Essa é a região onde a fronteira agrícola brasileira teve
maior expansão. Durante as três últimas décadas do século
XX, sua agricultura teve um crescimento de cerca de 1,5
Algodão, plantado na região de cerrado da Bahia
milhão de toneladas de grãos por safra, saltando de uma
produção de 4,2 milhões para 49,3 milhões de toneladas, Com o ingresso do Brasil no mercado exportador de algodão,
em 2008 – um crescimento superior a 1.100%. logo surgiu o embate com os Estados Unidos, que, com os

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subsídios e taxações às importações do produto, mantinham o O cultivo do café iniciou-se no Brasil em 1727 e, já em
preço do algodão artificialmente baixo no mercado internacio- 1731, o país exportava o produto. Sua evolução como item
nal. A reivindicação brasileira foi levada à OMC (Organização do comércio exterior brasileiro atingiu o ápice em 1929,
Mundial do Comércio) no ano de 2002 e, com os recursos quando representava 70% de tudo que o Brasil exportava.
impetrados pelos estadunidenses, as sanções foram final- Embora sua importância como produto de exportação te-
mente decididas em 2009. Essa ação marcou a história do nha diminuído consideravelmente com a diversificação da
agronegócio brasileiro, segundo as palavras do ex-ministro da produção, em 2008 o café representou 2,37% das expor-
Agricultura Marcus Vinicius Pratini de Moraes: “(...) [a vitória tações do Brasil e 0,5% do PIB. Entre 2006 e 2009, o Brasil
na OMC foi] um dos momentos mais importantes do agro- exportou uma média de 28,3 milhões de sacas de café ao
negócio brasileiro. Mostramos ao mundo que, além de com- ano, o que fez do país o maior exportador mundial. Sua
petitivos, somos fortes”. No livro publicado pela Associação produção anual é de cerca de cem milhões de sacas, 25%
Brasileira dos Produtores de Algodão, a entidade privada dos do que é produzido no planeta.
produtores que, junto ao governo do Brasil, ingressou na OMC
A produção estimada para 2009 foi de mais de 39 mi-
com o processo contra os subsídios estadunidenses, intitulada
lhões de sacas, sendo o maior produtor o estado de Mi-
A saga do algodão: das primeiras lavouras à ação na OMC.
nas Gerais (mais da metade do produzido no país). O
cultivo ocupa uma área de 2,3 milhões de hectares, com
3.2.2. Arroz cerca de 6,4 bilhões de pés.
De exportador do grão, o Brasil passou, na década de 1980, O café de melhor qualidade do país é produzido na cidade
a importar o produto em pequenas quantidades para aten-
baiana de Piatã, onde o grão adquire um sabor especial e
der à demanda interna. Na década de 1990, tornou-se
único – segundo concurso que avalia o café gourmet, em
um dos principais importadores, atingindo no período de
novembro de 2009. As condições de altitude e clima per-
1997-1998 a dois milhões de toneladas, equivalentes a
mitiram à cidade da Chapada Diamantina ter outros três
10% da demanda. Uruguai e Argentina são os principais
produtores entre os dez melhores do Brasil.
fornecedores do cereal para o país.

3.2.4. Cana-de-açúcar

Cultivo de arroz em Rio do Sul, SC


Canavial em São Paulo
Em 1998, foi plantada uma área total de 3,845 milhões de
A cana-de-açúcar ocupa a terceira posição entre as cultu-
hectares, havendo uma redução, estimada em 2008, para
2,847 milhões de hectares. A produção, entretanto, saltou ras cultivadas no Brasil quanto à área, ficando atrás da soja
de 11,582 milhões de toneladas para, estimadas, 12,177 e do milho. O país é o maior produtor mundial, tendo colhi-
milhões de toneladas, no ano de 2008. do, na safra 2007/2008, 493,4 milhões de toneladas, dos
quais foram produzidos 31 milhões de toneladas de açúcar
e 22,5 milhões de metros cúbicos de álcool. Em números,
3.2.3. Café
o setor representa 1,5% do PIB; na exportação de etanol,
atinge a marca de 5 bilhões de litros e, na de açúcar, desti-
na ao comércio externo 20 milhões de toneladas.
A área cultivada, entre 1987 e 2008, evoluiu de 4,35 mi-
lhões de hectares para 8,92 milhões de hectares; no perí-
odo, a produtividade saltou de 62,31 t/ha para 77,52 t/
ha. As principais regiões produtoras são a Centro-Sul e a
Norte-Nordeste, que colheram, respectivamente, na safra
2007/2008, 431,225 milhões de toneladas e 57,859 mi-
Cultivo de café em fazenda no sul de Minas lhões de toneladas.

15
3.2.5. Feijão final de agosto; no Sudeste e Centro-Oeste, em outubro
e novembro; e no Nordeste, no início do ano. A segunda
O Brasil é o maior produtor mundial de feijão, respondendo
safra é feita nos estados do Paraná, São Paulo e no Cen-
por 16,3% do total produzido, que foi de 18,7 milhões de
tro-Oeste, com o milho cultivado fora do tempo, nos meses
toneladas, no ano de 2005, segundo a FAO (Organização
de fevereiro e março.
das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).
Historicamente, o grão é produzido por pequenos agri- No ano de 2006, a área plantada com o seu cultivo no
cultores, sendo que, nas últimas duas décadas, cresceu o Brasil foi de cerca de treze milhões de hectares, com uma
interesse por parte de integrantes do agronegócio, o que produção superior a 41 milhões de toneladas – produti-
gerou o aumento expressivo da produtividade, em alguns vidade considerada aquém da capacidade de produção e
casos superando os três mil kg/ha. das exigências do mercado.
O país foi, ainda em 2006, o terceiro maior produtor mun-
dial (atrás dos Estados Unidos e da China), sendo respon-
sável por 6,1% do milho produzido no planeta. O estado
que mais produz é o Paraná, com 25,72% do total.

3.2.7. Soja
A soja é, no Brasil, um dos principais itens da produção
agrícola, sendo o segundo maior produtor mundial e o
maior exportador mundial, movimentando sua cadeia pro-
dutiva de agronegócio. Nos anos de 2016 e 2017, a cultura
ocupou uma área de 33,890 milhões de hectares, o que
Cultivo de feijão em Avaré-SP
totalizou uma produção de 113,923 milhões de toneladas,
A área cultivada com feijão sofreu uma redução, no perí- tendo como maiores estados produtores Mato Grosso, Pa-
odo de 1984 a 2004, de cerca de 25%. Isto, entretanto, raná e Rio Grande do Sul.
não resultou na diminuição da produção, que teve au- Sua introdução no Brasil se deu no ano de 1882, e no início
mento de 16% no período. É cultivado em todo o país, do século XX a produção destinava-se à forragem animal.
havendo, portanto, dadas as diferenças climáticas, safras A partir de 1941, a produção de grãos superou a forragei-
durante todo o ano. ra, até tornar-se o principal objetivo da cultura, adaptada
Apesar de sua posição de liderança entre os produtores, ao país, principalmente após estudos do Instituto Agronô-
com safras equivalendo a três milhões de toneladas ao mico de Campinas.
ano, a produção do feijão não é suficiente para atender à O desenvolvimento efetivo da soja só ocorreu na década
demanda interna. Com isso, o Brasil importa cem mil tone- de 1970, impulsionado pela indústria de óleo e pelas ne-
ladas ao ano do produto. cessidades impostas pelo mercado mundial.
A produção de soja no Brasil não é tradicionalmente de inte-
3.2.6. Milho
resse interno, mas uma imposição determinada por grupos
externos que ditam o que nós devemos ou não produzir.
Até os anos 1980, concentrou-se na região Sul, nos esta-
dos do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Com
o desenvolvimento de culturas adaptadas ao solo e aos
diferentes climas, a produção estendeu-se ao Centro-O-
este, nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Goiás e Distrito Federal. No ano de 2008, as duas maiores
regiões produtoras, Centro-Oeste e Sul, foram responsáveis
por 83% da produção nacional de soja, com participação
Milharal em Campinas-SP
de 48% e 35%, respectivamente. No período de 1990
A produção brasileira se dá, basicamente, em duas épocas a 2008, a produção no Centro-Oeste avançou cerca de
ao ano: a safra, propriamente dita, durante os períodos de 340%, passando de 6,4 milhões de toneladas para 28,5
chuva; e a chamada “safrinha” – ou “de sequeiro” –, du- milhões de toneladas. A região Sul, por sua vez, teve um
rante a estiagem. O primeiro caso ocorre na região Sul, no acréscimo de aproximadamente 80% da produção no

16
mesmo período, e progrediu de 11,5 milhões de toneladas
para 20,4 milhões de toneladas.
Ao comparar o tamanho dos estabelecimentos nas duas
maiores regiões produtoras, verifica-se que a dimensão
média, obtida pela divisão da quantidade de hectares da
área colhida pela quantidade total de propriedades, é di-
ferente para os dois casos. De acordo com os dados do
Censo Agropecuário 2006, enquanto na região Sul os es-
tabelecimentos possuem tamanho médio inferior à metade
do verificado para o país, no Centro-Oeste o valor é cerca Voçoroca em Bauru, SP

de seis vezes maior que a média brasileira. Em virtude da erosão, há a necessidade da reposição de
O Centro-Oeste hoje é o segundo maior produtor de soja nutrientes ao solo, em consequência da sua perda. A ero-
do país, ocupando uma condição geopolítica que favorece são provoca ainda a perda da estrutura, textura e diminui-
ção das taxas de infiltração e retenção de água.
a produção. A produção de soja tem alcançado, a cada ano,
índices de produções cada vez mais elevados, decorrentes Os procedimentos usados comumente no preparo do plan-
da inserção constante de tecnologia que ignora as ques- tio, como a aração e o uso de herbicidas para o controle
tões de solo e climas. das ervas daninhas, acabam por deixar o solo exposto e
suscetível à erosão – quer pelo carregamento da camada
É inegável que a soja seja geradora de riqueza, mas tais
superficial (e mais rica em nutrientes), quer pela formação
riquezas encontram-se concentradas nas mãos de pou-
das voçorocas. A terra levada pela água provoca o assore-
cos. Deve-se também levar em consideração que esse tipo
amento de rios e reservatórios, ampliando, deste modo, o
de produção provoca sérios problemas ambientais, como impacto negativo no ambiente. Uma das soluções é o cha-
perda de solos, retirada da vegetação original, poluição mado plantio direto, prática ainda pouco divulgada no país.
dos solos e das águas, extinção das nascentes, morte de
animais silvestres que consomem cereais com substâncias
químicas, entre outros.

3.2.8. Tabaco
O Brasil é segundo maior produtor mundial de tabaco e
o maior exportador de fumo desde 1993, com o fatura-
mento de cerca de 1,7 bilhão de dólares. O maior produtor
voltado para o mercado externo é o Rio Grande do Sul, e
a região Sul responde por 95% da produção nacional, que
exporta entre 60% e 70% do que produz.
No norte de Minas Gerais, leito do
rio São Francisco tomado pelo assoreamento

4. Agricultura e
4.2. Agrotóxicos
impacto ambiental
Existem quatro mil tipos de agrotóxicos que resultam em
cerca de quinze mil formulações distintas, dos quais oito
4.1. Problemas erosivos mil estão licenciadas no Brasil. São produtos como inseti-
Entre os problemas enfrentados pela agricultura brasilei- cidas, fungicidas, herbicidas, vermífugos e, ainda, solventes
ra, está a falta de cuidados referentes ao uso do solo e e produtos para higienização de instalações rurais, dentre
controle da erosão. Uma grande parte das regiões Sudes- outros. Seu uso indiscriminado provoca o acúmulo dessas
te e Nordeste do país é de formações rochosas graníticas substâncias no solo, na água (mananciais, lençóis freáticos,
e de gnaisse, sobre as quais se assenta uma camada de reservatórios) e no ar, afetando negativamente o meio am-
regolito, bastante suscetível à erosão e formação de vo- biente. No entanto, são largamente utilizadas para manter
çorocas. Autores como Bertoni e Lombardi Neto apontam as lavouras livres de pragas, doenças, espécies invasoras,
essa condição como um dos maiores riscos ambientais do tornando, assim, a produção mais rentável.
país, ao lado daquelas decorrentes da ação humana que O Brasil apresenta uma taxa de 3,2 kg de agrotóxicos por
são significativas. hectare – ocupando a décima posição mundial, para al-

17
guns estudos, e a quinta, em outros. O estado de São Pau- tério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, as lavou-
lo é o maior consumidor no país, sendo também o maior ras brasileiras utilizam pelo menos dez tipos de agrotóxicos
produtor (com cerca de 80% da produção nacional). Para considerados proibidos em outros mercados, como União
o controle dos efeitos danosos ao meio ambiente decor- Europeia e Estados Unidos.
rentes do uso dessas substâncias, são necessárias diver-
sas medidas, como a educação do agricultor, a prática do
plantio direto e o esforço de órgãos tecnológicos, como a 5. Transgênicos no Brasil
Embrapa, com o desenvolvimento de espécies mais resis- O Brasil ocupa a terceira posição mundial no uso de se-
tentes, do controle biológicos de pragas e de técnicas que mentes transgênicas. As principais culturas que usam dessa
minimizem a dependência desses produtos. biotecnologia são a soja, o algodão e, desde 2008, o milho.
Diversas ONG nacionais e internacionais com filiais no Brasil,
como o Greenpeace, movimentos como o MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) ou a Contag (Confe-
deração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) mani-
festaram-se contrários ao cultivo de plantas geneticamente
modificadas no país, expondo argumentos como a desvalori-
zação no mercado, a possibilidade de impacto ambiental ne-
gativo, a dominação econômica pelos grandes empresários,
Avião aplica agrotóxico em lavouras no Mato Grosso
dentre outros. Entidades ligadas ao agronegócio, entretanto,
No ano de 2007, os produtos que apresentaram maior índi- apresentam resultados de estudos efetuados pela Associa-
ce de contaminação por agrotóxicos foram tomate, alface e ção Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), nos anos
morango, sendo o agricultor o principal afetado. Isso acontece de 2007 e 2008, tendo como resultado “vantagens socio-
porque é baixa a conscientização do produtor e poucos são os ambientais observadas nos demais países que adotaram a
que cumprem as determinações legais para o uso dessas subs- biotecnologia agrícola há mais tempo”.
tâncias, como a de equipamento de proteção individual (EPI).
No país, a Justiça Federal tinha decidido que alimentos que
Em 2017, segundo o IBGE, 1.681.001 produtores utilizaram contivessem mais de 1% de transgênicos em sua compo-
agrotóxicos. Um aumento de 20,4% em relação a 2006. sição deveriam expor a informação em destaque nos seus
Segundo informações da Anvisa (Agência Nacional de Vigi- rótulos a fim de informar o consumidor; em 2015, a medi-
lância Sanitária), com base em dados da ONU e do Minis- da foi revogada.

18
6. Cultivo orgânico

Cultivo de alface orgânica na fazenda Malunga, no DF

A chamada agricultura orgânica visa à produção de alimentos sem uso de fertilizantes, agrotóxicos, agroquímicos, etc. O Censo
Agrícola de 2006 do IBGE registrou a existência de 90 mil estabelecimentos do tipo no Brasil, o que perfaz 2% do total; destes,
entretanto, apenas 5.106 possuem o certificado de produção orgânica.
Os orgânicos estão presentes, sobretudo, nas pequenas e médias propriedades, e a maioria dos produtores está organizada em
associações ou cooperativas. O estado com maior número de produtores é a Bahia (223), seguido por Minas Gerais (192), São
Paulo (86), Rio Grande do Sul (83), Paraná (79) e Espírito Santo (64). O programa Organics Brasil, constituído em 2005, visa
promover as exportações do setor.

7. Quadro geral da agricultura no Brasil


Café
Setor Agropecuário safra 2011

Produção no Brasil entre 2010 e 2011 Brasil: 43,4 milhões


da sacas
Soja
safra 2010/2011
Minas Gerais
maior estado produtor
74,8 milhões 22,1 milhões de sacas
de toneladas Fonte: CONAB

Mato Grosso Cana


maior estado produtor safra 2010/2011
20,1 milhões Brasil: 624,9 milhões
de toneladas de toneladas
Fonte: CONAB
MT São Paulo
maior estado produtor
MG 359,2 milhões
toneladas
MS Fonte: CONAB
Carne bovina SP
safra 2011
Brasil: 21,7 PR
milhões de abates Milho
safra 2010/2011
MS (estado com maior
número de abate) Brasil: 57,5 milhões de toneladas
maior estado produtor
Paraná
4,3 milhões de abates maior estado produtor
Fonte: Ministério
da Agricultura, 12,2 milhões de toneladas
Pecuária e Abastecimento Fonte: CONAB

Em 2004, viviam em áreas rurais não metropolitanas, segundo o IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Pnad
2004), 5,9 milhões de famílias em todo o Brasil. A participação da agricultura para o PIB brasileiro cresceu, no período

19
compreendido entre 2001 e 2004, passando de 8,4% para a laranja, a banana e a uva (57% da produção em fru-
10,1% – crescimento que foi favorecido pelos preços favo- tas); outros produtos integram a produção frutífera na-
ráveis de commodities (mercadorias de baixo valor agrega- cional, com menor expressão, como a manga, a maçã, a
do) e do câmbio. mamão e o abacaxi.
Em 2006, foram cultivados 62,3 milhões de hectares do O eucalipto – árvore introduzida da Austrália e adaptada
território. Aproximadamente 3,6 milhões de hectares foram no Brasil – é o principal item das culturas de florestamen-
irrigados, responsáveis por 69% de todo o consumo de água to, ocupando uma extensão de três milhões de hectares
doce no Brasil. A área total oficialmente cadastrada como no país, destinada à produção de celulose e para a meta-
destinada à agricultura perfaz um total de 360 milhões de lurgia (ferro-gusa).
hectares, mas que não é toda agricultável. Cerca de 29,5
milhões de hectares estariam aptos ao uso da irrigação.
7.1. Ranking geral do país
Principais culturas agrícolas do Brasil Em 2005, a agricultura brasileira ocupava o primeiro lugar
na produção e exportação de açúcar (42% da produção
4% 4% Soja mundial), etanol (51%), café (26%), suco de laranja (80%)
5%
Milho e tabaco (29%); segundo maior produtor e exportador de
6% soja em grãos (35% da produção mundial) e soja em farelo
42% Cana-de-açúcar
(25%); no milho era o quarto maior produtor e terceiro
Feijão
16% maior exportador (com 35% da produção), segundo dados
Arroz da USDA Foreign Agricultural Service and Global Trade In-
Trigo formation Services.
23%
Outros Segundo relatório da OMC referente a 2010, apesar de
80% da produção de grãos se localizar em áreas tempe-
Da área cultivada em 2006, 4,8% foram destinadas à radas, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial
fruticultura, responsável por 16,8% do rendimento da de exportação em produtos como açúcar, café, suco de la-
safra daquele ano, e que tem como principais produtos ranja, tabaco e álcool; e o segundo lugar em soja e milho.

Agricultura do Brasil
Quota mundial de 2009, %
Produção Exportação
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
1
Suco de laranja 1

1
Açúcar 1

2
Soja 2

3
Galinhas 1

1
Café
1

2
Carne 1

4
Porco 4

4
Milho 2

5
Algodão ranking mundial 4

Fonte: United States Department od Agriculture

20
8. Pecuária muitas vezes, mão de obra indígena. Entretanto, com uma
grande seca no Nordeste e a descoberta de minerais precio-
sos em Minas Gerais no final do século XVIII, o polo pecu-
arista no Brasil transferiu-se para as regiões Sudeste e Sul,
mais especificamente São Paulo e Rio Grande do Sul.
Atualmente, a produção pecuária de bovinos é partilha-
da, principalmente, pelo Centro-Oeste, Sudeste e Sul, ca-
bendo ao Nordeste o predomínio sobre as criações de
caprinos e muares. Os ovinos se concentram no Sul e
Nordeste (Rio Grande do Sul, Bahia e Ceará são os prin-
Vaqueiro acompanha o gado em travessias no período cipais produtores). Os suínos e as aves se concentram no
das cheias no pantanal mato-grossense.
Sudeste e no Sul. No entanto, o principal centro pecua-
Carne (bovina, bubalina, de aves, etc.), ovos, leite e mel são rista do Brasil é o estado do Mato Grosso, com o maior
os principais produtos alimentares oriundos da atividade rebanho bovino do Brasil. Também o Nordeste necessita
pecuária. Couro, lã e seda são exemplos de fibras usadas ser lembrado, pois a região conta com aquilo que se con-
na indústria de vestimentas e calçados. O couro também é vencionou chamar de “ilhas de modernidade”.
extensivamente usado na indústria de mobiliário e de au- A produção pecuária de caráter capitalista, com emprego
tomóveis. Alguns povos usam a força animal de bovídeos da mão de obra assalariada, expansão de pessoal na área
e equídeos para a realização de trabalho. Outros também administrativa e incorporação do progresso tecnológico,
usam o esterco seco (fezes secas) como combustível para o tais como os da biotecnologia, distribui-se e expande-se
preparo de alimentos. pelo território segundo diversos estímulos. De um lado,
existe a influência do Estado, mediante a criação de po-
líticas voltadas para a implantação de polos de desenvol-
vimento em áreas específicas do território brasileiro. Para
estas áreas, são criadas linhas de crédito especiais e ofe-
recidas assistência técnica, infraestrutura de transporte,
energia, comunicação, entre outras.

No Brasil, há mais de 700 empresas ligadas à cadeia do


couro: familiares, médias e grandes conglomerados.

O Brasil tem um rebanho de aproximadamente 193 milhões


de cabeças criadas em 220 milhões de hectares. Especialis-
tas afirmam que a pecuária brasileira irá criar 220 milhões multimídia: música
de cabeças em 150 milhões de hectares. A lotação média no
Fonte: Youtube
Brasil é de 0,8 ua/ha (unidade animal por hectare).
Morro velho – Elis Regina
Ocupação da área de pecuária no
Brasil em cabeças por hectare

9. Estrutura fundiária do brasil


Embora seja fundamental a compreensão das questões
econômicas, técnicas e sociais ligadas à agropecuária, o
elemento mais importante e indispensável para a realiza-
ção de todas as atividades no campo é a terra. Por esse
motivo não é possível realizar um estudo adequado da
economia rural de uma região ou país sem mencionar as
Fonte: Histórico dos Censos – IBGE / elaboração Bigma Consultoria condições de acesso à terra.
No Brasil, os pioneiros da pecuária foram os senhores da Nas sociedades atuais, a terra é regulamentada como pro-
Casa da Torre de Garcia d’Ávila, utilizando como vaqueiros, priedade privada. Entretanto, a propriedade privada sobre

21
a terra é relativamente recente na história humana e prin- histórico que se iniciou com a colonização e a aplicação das
cipalmente na história do Brasil. sesmarias, a plantation (que exigiu a incorporação de vastas
áreas de terras para suprir a grande demanda por gêneros
agrícolas, produzindo formas desiguais de acesso à terra).
Posse e propriedade
Contudo, o que marcou o grande problema de acesso à
A posse da terra tem a ver com o direito de uso sobre terra foi a implantação da Lei de Terras de 1850, que inau-
ela. O reconhecimento desse direito é bastante antigo gurou a propriedade privada da terra no Brasil, definindo
(direito romano utis possidetis), mas sempre esteve que as terras ainda não ocupadas passariam a ser proprie-
ligado ao uso, ou seja, o direito de posse é garantido dade do Estado e só poderiam ser adquiridas por meio de
a quem usa a terra. compra mediante pagamento à vista. Escravizados, mesmo
A propriedade, por sua vez, independe do uso, isto é, a que libertos, não teriam direito de compra.
terra pode ser propriedade de alguém, mesmo nunca A Constituição Republicana de 1889 foi outro elemento
tendo sido utilizada. importante na questão do acesso à terra no Brasil. Nesse
momento, as terra chamadas devolutas (terras públicas)
passaram à responsabilidade dos governos estaduais, mui-
A estrutura fundiária corresponde ao modo como as pro- tos dos quais passaram a utilizar esse poder em benefício
priedades rurais estão divididas, como estão dispersas no das elites locais, o que corroborou para a formação de inú-
território e seus respectivos tamanhos, facilitando a com- meros novos latifúndios no país.
preensão das desigualdades que acontecem no campo.
Essa divisão da terra acontece de acordo com o proces- A desigualdade da estrutura fundiária brasileira representa
so histórico e a legislação de cada Estado. Há países, por um dos principais problemas do meio rural brasileiro por-
exemplo, em que não há propriedade da terra, como é o que interfere diretamente na quantidade de postos de tra-
caso de Cuba e da China. Em outros países, embora exista balho, valor de salários e, automaticamente, nas condições
a propriedade da terra, podemos verificar que a estrutura de trabalho e de vida dos trabalhadores rurais.
fundiária é bem distribuída, como ocorre no Japão, Holan- No caso específico do Brasil, grande parte das terras do país
da, Coreia do Sul e França. encontra-se nas mãos de uma parcela mínima da população,
Contudo, em países da América Latina e na África, devido ou seja, dos latifundiários. Já os minifundiários são proprie-
às heranças coloniais, é bastante comum encontrarmos o tários de milhares de pequenas propriedades rurais espalha-
problema da concentração fundiária. A concentração da pro- das pelo país, algumas tão pequenas que, muitas vezes, não
priedade da terra no Brasil é consequência de um processo conseguem produzir renda e prover a subsistência familiar.

Distribuição de terras no Brasil de acordo com a área

Estrato de Imóveis Área


Área média (ha)
área (ha) Número % Número %
Menos de 10 1.874.969 34,10 8.834.571,15 1,46 4,7

10 a 100 2.863.773 52,08 95.186.129,26 15,72 33,2

100 a 1.000 978.462 12,34 181.757.801,33 30,02 267,9

1.000 a 10.000 79.228 1,44 194.821.102,90 32,18 2.459,0

10.000 a 100.000 1.878 0,03 43.467.154,54 7,18 23.145,4

Mais de 100.000 225 0,004 81.320.986,88 13,43 361.426,6

Total 5.498.535 605.387.746,06 110,1

Fonte: Incra. Sistema Nacional de Cadastro Rural (2012).

Diante dos números e das informações, fica evidente que, no Brasil, ocorre uma discrepância em relação à distribuição de
terras, uma vez que alguns detêm uma elevada quantidade de terras e outros possuem pouca ou nenhuma, aspectos esses
que caracterizam a concentração fundiária brasileira.

22
É importante conhecer os números que revelam quantas são Em pleno século XXI, a escravidão é registrada, principal-
as propriedades rurais e suas extensões: há pelo menos 50,5 mente, nos estados do Pará, Mato Grosso e Goiás. A reforma
mil estabelecimentos rurais inferiores a um hectare; juntas, agrária é outro problema muito polêmico no país; contudo,
elas ocupam no país uma área de 25,8 mil hectares, há tam- convém explicitar seu significado. Ela tem a finalidade de
bém propriedades de tamanho superior a 100 mil hectares, promover a divisão ou reorganização mais justa da terra. A
que juntas ocupam uma área de 24 milhões de hectares. questão agrária provoca uma grande tensão no campo.

Outra forma de concentração de terras no Brasil é prove-


niente também da expropriação, que significa a venda de § Posseiros são trabalhadores rurais que ocupam
pequenas propriedades rurais para grandes latifundiários e/ou cultivam terras devolutas ou não exploradas.
com intuito de pagar dívidas geralmente geradas em em- § Parceria é a junção entre dois trabalhadores ou
préstimos bancários. Como são muito pequenas e o nível produtores rurais, de acordo com a qual um possui
tecnológico é restrito, diversas vezes não alcançam uma a propriedade da terra e o outro apenas a força de
boa produtividade e os custos são elevados; dessa forma, trabalho, que cultiva a terra e depois divide uma
não conseguem competir no mercado, ou seja, não obtêm parte da produção com proprietário.
lucro. Esse processo favorece o sistema migratório do cam- § Arrendatário é o agricultor que não possui terra,
po para a cidade, denominado êxodo rural. mas tem recursos financeiros para arrendar ou alu-
A concentração de terra gar a propriedade por um período determinado.
50
*Nº de propriedades, % Área ocupada, % § Trabalhadores assalariados temporários são
47,86

40
44,42 trabalhadores rurais que recebem salário, mas
38,09 que trabalham apenas uma parte do ano, durante
34,16
30
as colheitas.
20
19,06
§ Grileiro: quem falsifica documentos para, ilegal-
mente, tomar posse de terras.
10
8,21
2,36 0,91 § Trabalho escravo no campo é o trabalho sem
0
- 10 ha 10 a 100 ha 100 a 1.000 + de 1.000 ha garantia de direitos trabalhistas, cujo trabalhador
Fonte: Censo Agropecuário do IBGE 2006, divulgado em 2009
*Não estão contabilizadas as propriedades agropecuárias sem declaração de área (4.93%) não recebe salário, pois tudo que é utilizado é co-
brado dele, desde a alimentação até as ferramen-
A problemática referente à distribuição da terra no Brasil tas de trabalho. Ele se endivida e fica impedido de
é produto histórico, resultado do modo como, no passado, ir embora.
ocorreu a posse de terras ou como foram concedidas.
A distribuição teve início ainda no período colonial com
a criação das capitanias hereditárias e sesmarias, carac-
terizada pela entrega da terra pelo dono da capitania a
quem fosse de seu interesse ou vontade; em suma, como
no passado a divisão de terras foi desigual, os reflexos são
percebidos na atualidade e é uma questão extremamente
polêmica e que divide opiniões.

9.1. O trabalho e a terra no Brasil


O subaproveitamento do espaço rural brasileiro é caracteri-
zado por uma baixa produtividade em relação aos outros pa-
“Resgatada”, a vítima do crime de escravidão tem direito
íses que possuem uma agricultura pautada na mecanização. a receber seguro-desemprego e participa de programas
O motivo que faz o Brasil ter uma baixa produtividade está que favoreçam sua reintegração social.

na predominância da prática da agropecuária tradicional. A fixação do trabalhador rural no campo depende de vários
Na maioria dos países desenvolvidos, as atividades agrope- fatores, pois não basta a simples redistribuição de terras
cuárias são desenvolvidas em propriedades rurais menores, para garantir o sucesso da reforma agrária; é preciso faci-
de base familiar, altamente produtivas e mecanizadas, vol- lidade na obtenção e pagamentos de créditos financeiros,
tadas para a produção de alimentos e matéria-prima para garantia de preços, condição de transportes, orientação
abastecer o mercado interno do país. técnica e infraestrutura.

23
9.2. Conflitos por terra e os
Objetivos específicos da Sappp
movimentos camponeses
§ Auxiliar os camponeses com despesas funerárias
Entre os principais conflitos por terra no início do século XX
– evitando que os falecidos fossem, literalmente,
estão Canudos e Contestado, que embora muitas vezes se-
despejados em covas de indigentes (caixão em-
jam lembrados como episódios que envolveram questões
prestado).
religiosas, estão diretamente voltados para uma questão
de luta pela terra. § Prestar assistência médica, jurídica e educacional
aos camponeses.
Com a decadência do modelo agroexportador, os confli-
tos no campo se tornaram mais intensos e sangrentos. A § Formar uma cooperativa de crédito capaz de li-
modernização agrícola também colaborou para o aumento vrar aos poucos o camponês do domínio do la-
das tensões no campo, uma vez que contribuiu para a con- tifundiário.
centração fundiária e diminuiu a necessidade de mão de
obra nas fazendas.
No Brasil, entre anos de 1940-1960, a efervescência po- Os camponeses (compostos por mais de 140 famílias)
lítica e o desenvolvimento de uma consciência de classe decidiram lutar, mas sabiam que, isolados no campo, não
desencadearam processos marcantes de mobilização das conseguiriam resistir por muito tempo. Resolveram, então,
massas, principalmente de trabalhadores do campo. buscar apoio na cidade e encontraram na figura do advo-
gado Francisco Julião o apoio e o respaldo jurídico de que
O primeiro grande movimento que marcou os conflitos no
tanto precisavam.
campo brasileiro foram as Ligas Camponesas. Com o lema
“reforma agrária na lei ou na marra, as Ligas Camponesas Francisco Julião, que já havia se pronunciado a favor dos
foram organizações de camponeses formadas pelo Partido camponeses, institucionalizou a associação. Graças a ele,
Comunista Brasileiro (PCB), a partir de 1945, e um dos mo- a Sappp passou a funcionar legalmente. Em 1959, eles
vimentos mais importantes em prol da reforma agrária e da conseguiram a desapropriação do engenho. A imprensa
melhoria das condições de vida no campo no Brasil. Elas foram rapidamente chamou a Sappp de Liga, fazendo referência
abafadas depois do fim do governo de Getúlio Vargas e só vol- ao antigo movimento criado pelo PCB.
taram a agir em 1954, inicialmente no estado de Pernambuco, Enquanto isso, o movimento espalhava-se pelo interior do
e posteriormente na Paraíba, no Rio de Janeiro e em Goiás. estado. A vitória dos galileus estimulou bastante as lideran-
O segundo período de existência da Liga começou no en- ças camponesas que sonhavam com uma reforma agrária.
genho Galileia, na cidade de Vitória de Santo Antão, em No início da década de 1960, as Ligas já haviam se difundi-
Pernambuco. Num contexto de crise da economia agrária, do pelo nordeste brasileiro, atingindo repercussão nacional e
agricultores do engenho organizaram a Sociedade Agrícola internacional no contexto da Revolução Cubana, em 1959.
e Pecuária de Plantadores de Pernambuco (Sappp), com o As reivindicações das Ligas Camponesas foram fortalecidas
objetivo inicial de garantir condições mais dignas de traba- com as medidas do governo do presidente João Goulart
lho. No entanto, o movimento foi acusado de subversivo e (1961-1964), as Reformas de Base, lançadas em 1963,
com finalidades políticas. cujo pilar da política para o campo era justamente a re-
Além de proibir sua atuação, o proprietário do engenho forma agrária. A ação das ligas camponesas pela reforma
aumentou o foro (em troca de cultivar a terra, os campo- agrária constituiu-se como mais um dos motivos encon-
neses deviam pagar uma quantidade fixa em espécie para trados pelos militares, apoiados pelas forças conservadoras
o proprietário) e ameaçando os trabalhadores de expulsão. do país, para executarem o golpe de Estado, em 1964.

Na tentativa de amenizar a tensão em torno da ques-


tão fundiária, o governo militar instituiu o Estatuto da
Terra, que, apesar de ter sido pouco aplicado para exe-
cução de ações de reforma agrária, criou novas formas
de se pensar a questão da propriedade da terra, sendo
que a principal novidade foi o reconhecimento da fun-
ção social da terra, ou seja, a propriedade da terra fica
condicionada pela maneira como ela será utilizada.

24
É com base nessa ideia que surge a noção de reforma área agricultável igual ou superior à dimensão do
agrária como um conjunto de medidas adotadas pelo módulo ou imóvel rural na respectiva zona, seja
Estado, no sentido de reordenar a propriedade e o uso mantido inexplorado em relação às possibilidades
da terra, com o objetivo de promover a justiça social, físicas, econômicas e sociais do meio, com fins
o aumento da produtividade e o desenvolvimento especulativos, ou seja deficiente ou inadequada-
econômico. E nesse processo inclui a desapropriação mente explorado, de modo a vedar-lhe a classifi-
de terras que não cumpram sua função social. Além cação como empresa rural.
disso, o Estatuto também definiu os primeiros parâ-
metros para avaliar o tamanho das terras e seu apro-
As Ligas Camponesas foram totalmente reprimidas du-
veitamento, criando a noção de módulo rural.
rante a ditadura militar e seus principais líderes, presos.
Módulo rural tem como finalidade primordial estabe- Entretanto, a reivindicação dos trabalhadores rurais pela
lecer uma unidade de medida que exprima a interde- distribuição de terras no Brasil foi novamente retomada na
pendência entre a dimensão, a situação geográfica dos década de 1980, podendo-se considerar o Movimento
imóveis rurais e a forma e as condições de seu apro- dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) como um continu-
veitamento econômico. Tomado como referência de di- ador da luta empreendida pelas ligas camponesas.
mensão econômica foi utilizado para a caracterização e
classificação dos imóveis rurais. Até o presente, essa ca-
tegoria é usada para a determinação do tamanho dos
lotes de terra a serem distribuídos à população benefi-
ciária de programas de reforma agrária e de assenta-
mento, levados a efeito em diferentes regiões do Brasil.
O conceito de módulo rural, utilizado como referên-
cia para a classificação dos diversos tipos de imóvel, multimídia: livro
tem sua área fixada para cada região, a partir das
características da produção agrícola regional (tipo de A geografia das lutas no campo –
exploração) e numa extensão direta do conceito de Ariovaldo Umbelino de Oliveira
propriedade familiar.
Livro combativo e denso, em que o engajamento não
Considerando-se, por sua vez, o conceito de proprieda- prejudica a objetividade e a paixão não cega o cientista.
de familiar, ou seja, o imóvel que, direta e pessoalmen- O geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira, professor
te explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva da USP, retoma e rediscute a história das lutas sociais no
toda força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e campo, o choque entre os “sem-terra” e proprietários
o progresso social e econômico, com área fixada para e a atitude governamental diante da questão agrária.
cada região e tipo de exploração, e, eventualmente, tra- Ilustrado com mapas e gráficos elucidativos em edição
balhado com a ajuda de terceiros, é que se estabelece atualizada, revista e ampliada.
que esse tipo de imóvel deve ter, no mínimo, um mó-
dulo, a área fixada em cada região para a propriedade
familiar constitui o próprio módulo rural. 9.3. O MST
Tem-se, a partir daí, a classificação dos imóveis rurais: Apesar de haver as mais variadas siglas, os movimentos
sociais do campo constituíram-se, historicamente, a partir
§ Minifúndio: quando tiver área agricultável infe-
de duas principais frentes: as Ligas Camponesas, entre as
rior à do módulo fixado para a respectiva região e
décadas de 1940 e 1960, e o Movimento dos Trabalha-
tipo de exploração.
dores Rurais Sem-Terra (MST), criado na década de 1980.
§ Latifúndio por dimensão: quando exceda, na
dimensão de sua área agricultável, a seiscentas
vezes o módulo médio do imóvel rural, da forma
como foi definido ou a seiscentas vezes a área
média dos imóveis rurais na respectiva zona.
§ Latifúndio por exploração: quando, não exce-
dendo o limite referido anteriormente, mas, tendo
O MST é o principal movimento social do campo na atualidade.

25
Em 1984, durante o período da redemocratização, os tra- ação da polícia militar. O confronto ocorreu quando 1.500
balhadores rurais, apoiados pela Comissão Pastoral da Ter- trabalhadores sem-terra acampados na região decidiram
ra, novamente se organizaram e fundaram o MST, durante fazer uma marcha em protesto contra a demora da desapro-
o primeiro congresso nacional do movimento realizado na priação de terras, principalmente as da fazenda Macaxeira.
cidade de Cascavel, no Paraná. A polícia militar foi encarregada de tirá-los do local, porque
estariam obstruindo a rodovia BR-155, que liga a capital Be-
O MST teve sua origem como oposição ao modelo de “re-
lém, ao sul do estado.
forma agrária” imposta pelo regime militar, que, entre outras
medidas, priorizava a colonização de terras devolutas em re-
giões remotas, com o objetivo claro e estratégico de exportar
o excedente populacional para essas regiões para integrá-las
economicamente ao resto do país (ocupar para não perder).
Desde a sua criação, o MST atua por meio da ocupação
de grandes latifúndios e terras improdutivas, construindo
assentamentos. Porém, é importante observar que esse é
apenas o seu método de ação, e não o seu objetivo final.
Após a ocupação, o movimento realiza pressão para que
o Estado ofereça condições de infraestrutura básica, como
rede elétrica e outros. Cruz marca o local do massacre em Eldorado dos Carajás, PA.

Cabe ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e O episódio se deu no governo do então governador Almir
Reforma Agrária) analisar a terra para definir se ela Gabriel. A ordem para a ação policial partiu do secretário
é improdutiva ou não. Contudo, essa produtividade de Segurança do Pará, Paulo Sette Câmara, que declarou,
considerada pelo Incra é bastante questionável, pois depois do ocorrido, que autorizara “usar a força necessária,
ela é medida através do Índice de Produtividade da inclusive atirar”. De acordo com os trabalhadores sem-terra
Terra, baseado no Censo Agropecuário do IBGE 1975 ouvidos pela imprensa na época, os policiais chegaram ao
(desatualizados e, portanto, ponto chave dos conflito), local jogando bombas de gás lacrimogêneo.
sendo atualizados apenas em 2009 no governo Lula. Segundo o legista Nelson Massini, que fez a perícia dos
Agora, levarão em conta a média de produtividade de corpos, pelo menos dez pessoas foram executadas à quei-
cada microrregião entre 1996 e 2007. ma-roupa. Sete lavradores foram assassinados por instru-
mentos cortantes, como foices e facões.
Ao mesmo tempo, o MST oferece apoio às famílias, criando
escolas e cursos de formação política e de técnicas de culti-
vo e agricultura familiar, estimulando, assim, a organização
dos pequenos produtores rurais em cooperativas.

multimídia: vídeo Em 17 de abril de 1996, 19 trabalhadores rurais sem-terra


foram assassinados no sul do Pará.

Fonte: Youtube
O comando da operação estava a cargo do coronel Mário
Raiz Forte – Documentário sobre o MST Colares Pantoja, que foi afastado no mesmo dia, ficando
30 dias em prisão domiciliar, determinada pelo governa-
dor do estado e, depois, libertado. Ele perdeu o comando
8.3.1. O caso de Eldorado dos Carajás do batalhão de Marabá. O ministro da Agricultura, Andra-
Em 17 de abril de 1996, no município de Eldorado dos Ca- de Vieira, encarregado da reforma agrária, pediu demis-
rajás, no sul do estado do Pará, ocorreu um massacre com são na mesma noite, sendo substituído, dias depois, pelo
o assassinato de dezenove trabalhadores sem-terra, pela senador Arlindo Porto.

26
Uma semana depois do massacre, o governo federal con- 228 anos e a 158 anos de reclusão, respectivamente, pelo
firmou a criação do Ministério da Reforma Agrária e indi- massacre, mas aguardam em liberdade os recursos dos
cou o então presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do seus advogados de defesa.
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Raul
Jungmann, para o cargo de ministro. José Gregori, que na
época era chefe de gabinete do então ministro da Justiça,
Nelson Jobim, declarou que “o réu desse crime é a polícia,
que teve um comandante que agiu de forma inadequada,
de uma maneira que jamais poderia ter agido”, ao avaliar
o vídeo do confronto.
O então presidente Fernando Henrique Cardoso deter-
minou que tropas do exército fossem deslocadas para a
região, em 19 de abril, com o objetivo de conter a escala- Desenho do cartunista Latuff,
ilustrando o massacre emEldorado de Carajás.
da de violência. O presidente pediu a prisão imediata dos
responsáveis pelo massacre. O Monumento Eldorado Memória, projetado pelo arqui-
teto Oscar Niemeyer para lembrar as vítimas do massacre
O ministro da Justiça, Nelson Jobim, juntou-se às autorida- dos trabalhadores sem-terra, inaugurado no dia 7 de se-
des policiais e ao judiciário, no Pará, a pedido do governo tembro de 1996, em Marabá, foi destruído dias depois. Um
federal, para acompanhar as investigações. O general Al- dos líderes do movimento rural do sul do Pará afirmou que
berto Cardoso, ministro-chefe da Casa Militar da Presidên- a destruição foi encomendada pelos fazendeiros da região.
cia da República, foi o primeiro representante do governo O arquiteto disse que já esperava por isto. “Aconteceu o
a chegar a Eldorado dos Carajás. mesmo quando levantamos o monumento em homena-
No começo de maio de 1996, o fazendeiro Ricardo Mar- gem aos operários mortos pelo exército na ocupação da
condes de Oliveira, de 30 anos, depôs, responsabilizando CSN, em Volta Redonda, no Rio de Janeiro”, comentou.
o dono da fazenda Macaxeira pelo massacre. Ele o acusou
de ter pago propina para que a polícia militar assassinas-
se os líderes dos trabalhadores sem-terra. Ele mesmo teria
sido procurado para contribuir com a coleta. O dinheiro se-
ria entregue ao coronel Mário Pantoja, comandante da PM
de Marabá, que esteve à frente da operação que resultou
no massacre. Nenhum fazendeiro ou jagunço foi indiciado
no inquérito policial.
Os 155 policiais militares que participaram da operação
foram indiciados sob acusação de homicídio pelo inquérito
policial-militar. Esta decisão foi tomada premeditadamente,
pois, pela lei penal brasileira, não há como punir um grupo, Monumento em memória das vítimas do massacre de
Eldorado dos Carajás, de Oscar Niemeyer
uma vez que a conduta precisa ser individualizada. Como
não houve perícia nas armas e projéteis para saber quais Ao longo do século XIX e XX, o campesinato passou por
policiais atingiram determinadas vítimas, os 19 homicídios profundas transformações que redefiniram suas práticas,
e as diversas lesões permanecem impunes. suas lutas e seus sujeitos. Na maioria delas, a cultura e o
modo de vida camponês estiveram em jogo, decorrente das
Em outubro do mesmo ano, o procurador-geral da Repúbli-
ca, Geraldo Brindeiro, determinou que a polícia federal re- transformações ocorridas por causa da expropriação que le-
constituísse o inquérito, pois estava repleto de imperfeições varam muitos destes homens e mulheres a migrarem para
técnicas. Nesse parecer, Brindeiro diz ainda que o governa- outros locais, no campo e na cidade. Porém, as especifici-
dor Almir Gabriel autorizou a desobstrução da estrada e dades formuladas nas experiências adquiridas na vida e na
que, portanto, tinha conhecimento da operação. No final luta fizeram com que a própria transformação do campesi-
do ano, o processo, que havia sido desdobrado em dois nato se tornasse mecanismo de sua existência. Os campo-
volumes, ainda estava parado no Tribunal de Justiça de Be- neses passaram assim a se organizar em diferentes movi-
lém, que trata dos crimes de lesões corporais, e no Fórum mentos e juntamente com a articulação de outros agentes
de Curionópolis, que ficou encarregado dos homicídios. Em mediadores, como a CPT, organizações sindicais e o MST,
maio de 2012, o coronel Mário Colares Pantoja e o major assumiram novas identidades no processo de luta pela volta
José Maria Pereira de Oliveira foram presos e condenados a e permanência na terra e da unidade familiar.

27
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Considerando a inter-relação nos processos que envolvem os sistemas agrícolas, fica evidente a participação de
áreas biológicas, exatas e humanas, tanto básicas como profissionalizantes. Na área biológica, há necessidade
de se conhecer os sistemas de produção vegetal, os fatores de rendimento e as anomalias bióticas e abióticas
com ênfase na diagnose, taxonomia e biologia dos agentes bióticos que impedem a expressão do rendimento
das culturas agrícolas. É fundamental a visão ecológica para que o ambiente seja respeitado. Deve-se entender
a ação dos defensivos nos organismos não alvos e seu comportamento em solo, água e atmosfera e o destino
correto de embalagens vazias, incluindo sua descontaminação e reciclagem. É preciso promover a visão taxico-
lógica para que o ser humano não se exponha aos defensivos durante o preparo da calda e sua aplicação ou
no consumo dos alimentos com resíduos; deve-se entender o significado de período de carência ou intervalo de
segurança, LMR (limite máximo de resíduos) e intervalo de reentrada, além de noções de seguranças e antídotos.

co povoadas. No Brasil, a fronteira agrícola, que antes se


localizava na região do cerrado, atualmente se encontra na
região Norte, adentrando a floresta Amazônica.
Para melhor compreender como ocorre a expansão da
fronteira agrícola, bem como os problemas a ela relacio-
nados, é preciso compreender a noção dos conceitos de
multimídia: música frente de expansão e frente pioneira.
Fonte: Youtube
Lamento sertanejo – Gilberto Gil

9.4. Fronteira agrícola no Brasil


A questão da fronteira agrícola no Brasil esbarra na ques-
tão ambiental, mas também revela a problemática situa-
ção social no meio rural.
Fronteira agrícola é uma expressão utilizada para designar
o avanço da produção agropecuária sobre o meio natural.
Trata-se de uma região na qual as atividades capitalistas
avançam sobre as grandes reservas florestais e áreas pou- Produção de soja na floresta Amazônica

28
§ A frente de expansão é o primeiro processo de ocu- Nessas situações emerge a figura do grileiro, ocorrendo
pação das áreas naturais, geralmente realizada por pe- muitos conflitos no campo envolvendo posseiros e grileiros
quenos produtores sobre terras devolutas (terrenos pú- (e também, em alguns casos, comunidades indígenas). Os
blicos no meio rural). Após dez anos de ocorrência dessa posseiros são, em geral, ligados a movimentos sociais do
ocupação, esses produtores – geralmente voltados para campo, como o MST, e os grileiros, geralmente vinculados
a agricultura orgânica e familiar – podem requerer a pos- aos grandes latifundiários e empresas rurais. Além disso, à
se oficial de suas terras por meio do usucapião. Esses medida que o agronegócio se expande, as pequenas pro-
pequenos produtores são chamados de posseiros. priedades são pressionadas ora para avançar ainda mais a
fronteira agrícola, ora para praticarem o êxodo rural, o que
§ A frente pioneira representa o avanço dos grandes
resulta na migração de uma grande quantidade de traba-
produtores rurais representantes do agronegócio, ou
lhadores rurais para as cidades.
seja, do grande capital, cujo objetivo é a produção co-
mercial interna e para a exportação. Em muitos casos, Diante desse avanço da fronteira agrícola, mas, principal-
essa frente expande-se através da grilagem (apro- mente, da frente pioneira, ocorrem três problemas princi-
priação ilegal) de terras devolutas ou de espaços pré-o- pais: a devastação da vegetação, a concentração de terras
cupados pelos posseiros. e a questão da produção de alimentos.

Estradas asfaltadas

Zonas modernizadas
Muito diversificadas

Razoavelmente diversificadas

Pouco diversificadas
Fronteira de modernização e eixos de progressão Número de habitantes
(cidades com 500.000 hab. ou mais)
9.785.640
Zonas menos modernizadas 5.850.540
Muito diversificadas 500.000

Pouco diversificadas

Espaços de baixa densidade 0 500 km

Fronteira pioneira e eixos de progressão

Fonte: Baseado no Anário Estatístico do Brasil, IBGE

Mapa com destaque para a fronteira agrícola ou pioneira

A devastação da vegetação é imediata, demonstrando que, à medida que as contradições sociais do campo avançam, mais o
meio natural é devastado. O cerrado, onde antes se encontrava a fronteira agrícola, foi ocupado ao longo de todo o século XX
e conheceu a sua quase completa devastação com a frente pioneira restando, atualmente, menos de 20% de sua vegetação
natural. Hoje, essa zona de expansão encontra-se sobre a Amazônia, que passa a ser então ameaçada.

29
A segunda questão refere-se ao aumento dos latifúndios, ou
seja, da concentração de terras, uma vez que o tamanho mé-
dio das propriedades privadas nas frentes pioneiras é mais
elevado do que os terrenos rurais no restante do território
nacional, formando verdadeiros “impérios” no meio agrário.
A partir dessa segunda questão desenvolve-se o terceiro
problema mencionado: a questão da alimentação. Geral-
mente, os grandes latifúndios voltam sua produção para o
mercado externo, enquanto os gêneros alimentícios básicos
são deixados de lado. Inúmeros estudos avaliam que mais da
metade da produção de alimentos voltada para consumo in-
terno no Brasil é realizada pelos pequenos produtores rurais,
destacando a importância desse tipo de propriedade para o
país. Com a extinção dos pequenos proprietários, a cultura
alimentar passa a sofrer as consequências.
A questão da fronteira agrícola sempre é alvo de muita po-
lêmica e carece de um debate mais qualificado, uma vez que
esse tema é tangencial a outras questões, como a devasta-
ção das reservas florestais, a reforma agrária e outros ele-
mentos do espaço social do campo.

multimídia: site

www.embrapa.br/
www.mst.org.br
www.incra.gov.br

30
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 16
Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.

As atividades agrícolas estão em constante processo de inovação para obter maior produtividade. Nesse con-
texto, durante a década de 1950, ocorreu de forma mais intensa o processo de modernização da agricultura
que envolveu um grande aparato tecnológico provido de variedades de plantas modificadas geneticamente
em laboratório, espécies agrícolas que foram desenvolvidas para alcançar alta produtividade, uma série de pro-
cedimentos técnicos com uso de defensivos agrícolas e de maquinários. A tecnificação promoveu a migração
forçada de milhares de famílias que viviam do trabalho na terra para os centros urbanos. Os impactos sobre as
populações tradicionais que viviam do trabalho na terra foi intenso, uma vez que, perderam o meio de produ-
ção – no caso os proprietários de terra – e a possibilidade de acesso à terra (arrendatários, agregados, etc.),
que sofreram maiores consequências, à medida que foram privados dos meios essenciais para a sobrevivência,
amontoando-se na periferia das cidades, sem qualquer alternativa de trabalho, que não fosse o trabalho tem-
porário do boia-fria em algumas épocas do ano e/ou trabalhos domésticos e braçais na cidade.

MODELO 1
(Enem)

Na charge faz-se referência a uma modificação produtiva ocorrida na agricultura. Uma contradição presente
no espaço rural brasileiro derivada dessa modificação produtiva está presente em:
a) expansão das terras agricultáveis, com manutenção de desigualdades sociais;
b) modernização técnica do território, com redução do nível de emprego formal;
c) valorização de atividades de subsistência, com redução da produtividade da terra;
d) desenvolvimento de núcleos policultores, com ampliação da concentração fundiária;
e) melhora da qualidade dos produtos, com retração na exportação de produtos primários.

31
ANÁLISE EXPOSITIVA
Nas últimas décadas, houve expressivo avanço do agronegócio no espaço rural brasileiro visando o abas-
tecimento dos mercados externos e da indústria. O crescimento deu-se, inclusive, sobre novas terras agri-
cultáveis e em decorrência da elevação da produtividade relacionada ao uso da biotecnologia (incluindo a
utilização crescente de transgênicos), mecanização e insumos (agrotóxicos e fertilizantes). A modernização
do setor não eliminou problemas tradicionais do espaço agrário brasileiro como a desigualdade social e a
concentração fundiária.

RESPOSTA Alternativa A

DIAGRAMA DE IDEIAS

INFRAESTRUTURA REVOLUÇÃO
AGRÍCOLA VERDE

• ESCOAMENTO • AGRONEGÓCIO
• ESTOQUES REGULADORES • AGROTÓXICOS
• PREÇO MÍNIMO • TRANSGÊNICOS
• ARMAZENAGEM • DESIGUALDADE FUNDIÁRIA

CONFLITOS
NO CAMPO

LIGAS
MST UDR
CAMPONESAS

32
Indústria: S.f. 1. Destreza ou arte na execução de uma
AULAS 29 E 30 trabalho manual; aptidão; perícia. 2. Profissão mecânica ou
mercantil; ofício. 3. Econ. A atividade secundária da econo-
mia, que engloba as atividades de produção ou qualquer
dos seus ramos, em contraposição às atividades agrícolas
(primárias) e a prestação de serviços (terciárias). 4. Econ.
Conjugação do trabalho e do capital para transformar a
TIPOS DE INDÚSTRIA matéria-prima em bens de produção e consumo. 5. O con-
junto das empresas industriais; o complexo industrial.

COMPETÊNCIA: 2

HABILIDADE: 18
multimídia: música
Fonte: Youtube
Três apitos – Noel Rosa

1. Introdução
O estilo de vida atual faz com que o ser humano tenha que
aprender a lidar com uma série de equipamentos. Não é
2. Tipos de indústria
mais possível imaginar, para grande parte da população
mundial, uma vida sem aparelhos que nos levam a estudar,
a trabalhar, a se divertir, a conversar – muitas vezes com
alguém que está do outro lado do mundo –, entre outras
atividades, tudo isso proporcionado pela indústria.
Mas o que é uma indústria? Aparentemente essa pa-
rece uma questão fácil de responder. Logo nos vem a
memória aquela construção enorme que existe próximo
da nossa casa, do nosso bairro, que produz uma de-
terminada mercadoria e que depois será oferecida no
mercado. Também nos parece claro que é uma empresa Pintura com “Fábrica no centro de Berlim”, de Eduard Biermann, 1847
que emprega um grande número de trabalhadores, os
Como sabemos, a Primeira Revolução Industrial ocorreu
chamados operários.
entre o final do século XVIII e começo do século XIX, na
Uma outra coisa que nos chama a atenção é sua consti- Inglaterra. Desde aquela época até os dias atuais, essa
tuição física: uma enorme estrutura onde se destaca uma atividade econômica caracterizou-se pelas mudanças
chaminé, que está sempre soltando fumaça, numa clara tecnológicas e pela variedade e quantidade de merca-
demonstração de que está funcionando. Muitas vezes a dorias produzidas.
responsabilizamos pela poluição provocada na cidade e
pelos danos que causam aos trabalhadores que nela tra- Cabe à indústria a transformação da matéria-prima em
balham e às populações que moram nos arredores. Essa produto por meio das máquinas, da energia e da força de
resposta não está de todo errada; entretanto, convém ob- trabalho humana, com a finalidade de ser comercializada
servarmos a diferença entre fábrica e indústria, conforme para as pessoas ou para outras indústrias. Essa comer-
nos indica o Dicionário Aurélio: cialização pode ser dividida e classificada em dois tipos:
indústria de base e de bens de consumo.
Fábrica: S.f. 1. Lugar ou estabelecimento onde se manu-
faturam utensílios, roupas, máquinas e várias outras mer- Os tipos de indústria envolvem as mais variadas classifica-
cadorias. 2. O pessoal de um desses estabelecimentos. 3. ções dos sistemas industriais e estão relacionados segundo
Construção de edifício ou parte do edifício; edificação. a atuação e produção de cada uma delas.

33
2.1. Indústrias de base
Indústria de base é o tipo de indústria que tem sua produ-
ção absorvida por outras indústrias, ou seja, produz máqui-
nas ou matéria-prima. Também chamadas de indústrias de
bens intermediários ou indústrias pesadas, incluem princi-
palmente os ramos siderúrgico, metalúrgico, petroquímico
e de cimento.
§ Indústria metalúrgica: tem uma grande dependên-
cia de matérias-primas, exige inversões muito elevadas
e ocupa muito o setor industrial. Ela proporciona lingo- Soldagem na linha de produção
de automóveis.
tes, forjados, tubos, pranchas de aço, ferro, alumínio e
outros metais com vistas a utilizá-los em outras fábricas. § Indústria de bens semiduráveis: produzem artigos
que oferecem uma vida útil média, como roupas, calça-
§ Indústria química: é a mais variada, que utiliza
dos, celulares entre outros.
uma gama maior de matérias-primas – combustíveis
sólidos, líquidos e gasosos, pirita, cal, sal, produtos
vegetais e animais, etc. A elaboração desses produtos
químicos é a mais complexa. Os produtos mais comuns
são fertilizantes, corantes, explosivos, plásticos, gomas,
borracha, detergentes, isolantes, fibras artificiais, produ-
tos fotográficos, produto farmacêutico, etc. Um tipo de
indústria química diferenciada é a refinaria de petróleo.
Portanto, é o tipo de indústria que trabalha e trata os pro-
dutos de sua origem em grande quantidade, com exclusão
de produtos agrícolas, para convertê-los em produtos se-
Fabricação de tela para telefone celular
mielaborados e que serão posteriormente utilizados para
a fabricação de outros bens destinados ao consumo final. § Indústria de bens não duráveis: encarregada pela
Trata-se de grandes quantidades de produtos brutos, pesa- produção de bens perecíveis, cuja durabilidade é rápi-
dos, para transformá-los em produtos semielaborados. da, como o ramo de alimentos e medicamentos.

Forno utilizado para aquecer os metais


Indústria alimentícia: processamento de frango.

2.2. Indústrias de bens de consumo


Nessa categoria industrial, o objetivo é a produção direcio- 3. Industrialização no mundo
nada ao consumidor final; para a fabricação de mercado-
A industrialização consiste em transformar um determi-
rias que atendam esse mercado, é preciso utilizar matéria-
nado espaço geográfico a partir da construção de indús-
-prima oriunda da indústria de base. Esse tipo de indústria
trias e de empresas direta e indiretamente ligadas a essas
divide-se em:
indústrias. Esse fenômeno provoca profundas alterações
§ Indústria de bens duráveis: responsável pela produ- socioespaciais, tanto acelerando a urbanização e o êxodo
ção de mercadorias de grande vida útil, ou seja, longa rural quanto alterando drasticamente a maneira de explo-
durabilidade, como automóveis e eletrodomésticos. ração e utilização dos recursos naturais.

34
Quando se aborda a questão da industrialização mun-
dial, fala-se de um processo que ocorreu de forma ex-
tremamente desigual pelo planeta. Enquanto os países
de industrialização clássica desenvolveram-se tecnologi-
camente a partir de meados do século XVIII e ao longo
do séculos, os países de industrialização tardia vivencia-
ram esse fenômeno apenas a partir do século XX, sendo
que alguns deles ainda hoje não podem ser considerados
como industrializados.
A Inglaterra foi o país onde ocorreu a chamada Primeira
Quadriciclo Ford, 1896.
Revolução Industrial. O artesanato e a manufatura criaram
as condições de disciplinarização da mão de obra, de am- A partir da segunda metade do século XX, aconteceu a
pliação dos mercados, de intensificação das trocas, do acú- Terceira Revolução Industrial ou Revolução Técnico-científi-
mulo de capital nas mãos de um reduzido número de pes- ca-informacional. Esse processo de desenvolvimento ainda
soas ligadas ao comércio e à manufatura, da organização se encontra em curso e é responsável pela informatização
dos Estados nacionais de uma legislação de favorecimento das sociedades e pelo desenvolvimento dos transportes,
aos investidores e controle dos trabalhadores. comunicação, biotecnologia e informação. Com isso, as
Na Primeira Revolução Industrial, as técnicas baseavam-se chamadas multinacionais ou empresas globais se dis-
na operação da máquina a vapor, cuja fonte de energia seminaram pelo mundo, propiciando a industrialização de
principal era o carvão. Essa etapa ocorreu na Europa e países subdesenvolvidos, ou em vias de desenvolvimento,
provocou profundas alterações no espaço das cidades, que que até então produziam apenas matérias-primas para as
passaram a crescer de forma acelerada em virtude da gran- nações desenvolvidas.
de oferta de empregos e da mecanização do campo, que
foi um dos fatores que provocaram o êxodo rural (migração
em massa da população do campo para as cidades).

O sistema de produção permite ainda fabricar modelos diferentes ao


A Primeira Revolução Industrial foi mesmo tempo, deixando a programação da fábrica muito mais flexível.
marcada pelo uso de máquinas a vapor.
Nesse contexto, deu-se o encurtamento das distâncias e da
Na Segunda Revolução Industrial, durante a segun- aceleração das atividades, ocorrendo a compressão espaço-
da metade do século XIX, ocorreu um novo ciclo de ino- -tempo. Com isso, o fordismo foi substituído pelo toyotismo,
vação tecnológica, e o petróleo tornou-se a principal fon-
em que não há mais a produção em massa, e sim conforme
te de energia, o que acontece ainda hoje, mesmo com as
a demanda do mercado. Além disso, o trabalho é menos re-
inovações industriais posteriores. A mão de obra passou a
petitivo, sendo flexibilizado, com um mesmo empregado de-
ser mais qualificada, uma vez que as formas de produção
sempenhando várias funções ao longo da cadeia produtiva.
tornaram-se mais complexas, com maquinários movidos
a energia elétrica e com um maior grau de complexidade. Como reflexo do desenvolvimento industrial, percebemos
Nesse período, impôs-se o modelo de produção fordista, que os países considerados desenvolvidos são justamente
caracterizado pelo trabalho repetitivo nas fábricas, a in- aqueles que primeiro se industrializaram. Com isso, seus es-
trodução da esteira que submeteu o trabalhador ao tem- paços geográficos sociais, embora apresentem contradições
po da máquina, o maior controle dos trabalhadores e a e desigualdades, são mais modernos em relação aos países
produção em grandes quantidades. periféricos ou em desenvolvimento. Além disso, mesmo com

35
as grandes multinacionais se espalhando por todo o mundo, Segundo Taylor, a administração deve incumbir-se de ana-
são os países ricos que abrigam suas sedes – sobretudo as lisar o processo de trabalho em seus mínimos detalhes,
chamadas cidades globais, como Nova Iorque e Londres – e propor e testar novas formas de realizá-lo e transmiti-las
dominam as principais formas de tecnologia. aos operários em forma de padrões hierárquicos rígidos
de execução, assegurados pela elaboração de normas,
instruções, regras de procedimento, prêmios, sanções, etc.
Deve também escolher e treinar o “melhor homem“ para
realizar cada tarefa do processo de trabalho, atendendo
às disposições previamente estabelecidas por meio de
previsões e planejamento.
Segundo Simone Weil, filósofa francesa que se tornou
multimídia: vídeo operária da Renault para escrever sobre o cotidiano den-
tro das fábricas, o patrão não tem apenas a propriedade
Fonte: Youtube
da fábrica, das máquinas, o monopólio dos processos de
Tempos Modernos – Charles Chaplin fabricação e dos conhecimentos financeiros e comerciais
Essa obra-prima cômica encontra o icônico Vagabundo a respeito de sua fábrica, mas também pretende ter o
empregado em uma fábrica, onde as máquinas Inevitá- monopólio do trabalho e dos tempos de trabalho. Nas
vel e Completamente o dominam e vários percalços o palavras da própria escritora: “Taylor substitui o chicote
levam para a prisão. Entre suas passagens pela prisão, pelos escritórios e pelos laboratórios, com a cobertura da
ele conhece e faz amizade com uma garota órfã. ciência“. Em outras palavras, aplica-se uma conotação
científica à arte de organizar e comandar.

4. Sistemas de produção ou 4.2. Fordismo


formas de organização Com Henry Ford, a grande novidade técnica e em ter-
mos de organização da produção no chão de fábrica foi
produtiva do trabalho a introdução da esteira rolante, que ao fazer o trabalho
chegar ao trabalhador numa posição fixa, conseguiu dra-
Enquanto o sistema de “fábrica“ foi responsável pela in-
máticos ganhos de produtividade. A implementação do
trodução do princípio de separação entre trabalho manual
fordismo não significou apenas um novo modo de organi-
e intelectual no processo de trabalho, a organização da
zação racional do trabalho e da produção, mas também a
“gerência científica“ (ou administração científica), incum-
constituição de um novo modo de vida. Do mesmo modo
biu-se de retirar dos operários, e transferir para os capitalis-
que os princípios do taylorismo caminhavam em direção
tas, o controle de cada fase e atividade dentro do processo
ao controle do trabalho, também o fordismo tinha como
de trabalho, como também de seu modo de execução, ba-
seu fundamento o controle do processo de trabalho. Mais
seado até então em um conhecimento prático advindo da
experiência e tradição do ofício. do que uma ruptura, o fordismo representou a continui-
dade e intensificação do processo de controle da força
A viabilização da administração científica do processo de de trabalho viva que já havia iniciado com o taylorismo.
trabalho, com sua função ao mesmo tempo gerencial (ad- No entanto, apesar do fordismo incorporar elementos do
ministração das condições materiais da produção) e coerci- taylorismo na sua dinâmica, é possível estabelecer dife-
tiva (disciplinação do trabalho), no entanto, só foi alcançada renças fundamentais entre ambos.
após longo processo de concentração e centralização de
capitais que possibilitou a absorção dos custos inerentes ao O intuito de Ford não era apenas dominar a força de tra-
aumento da escala de produção, à introdução de inovações balho, mas conquistar a adesão dos trabalhadores. Se a
tecnológicas e à manutenção de equipes administrativas. grande inovação no aspecto técnico-produtivo foi a imple-
mentação da esteira rolante, no aspecto ideológico foi o
reconhecimento explícito de que: Produção de massa sig-
4.1. Taylorismo nificava consumo de massa, um novo sistema de reprodu-
O taylorismo constitui-se num método para aumentar a pro- ção da força de trabalho, uma nova política de controle e
dutividade do trabalho por meio da padronização das ativi- gerência da força de trabalho, uma nova estética e uma
dades, da contenção dos custos operacionais e do melhor nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade
aproveitamento do tempo de execução do trabalho, tornan- democrática [...]. O fordismo equivaleu ao maior esforço
do-o, portanto, mensurável e melhor controlável pelo capital. coletivo para criar, com velocidade sem precedentes, e com

36
uma consciência de propósito sem igual na história, um o mundo familiar e o mundo do trabalho. Esse é um fator
novo tipo de trabalhador e um novo tipo de homem. Os cultural que interferirá nos padrões de produção que sur-
novos métodos de trabalho são inseparáveis de um modo girão no Japão no pós-guerra. Outro fator é que o Japão
específico de viver e de pensar a vida (HARVEY, 1992: 121). havia saído destruído da segunda guerra mundial e hou-
A principal diferença entre o fordismo e o taylorismo é que ve, por parte do governo, um forte apelo ao trabalho para
o fordismo tinha um projeto de hegemonia. Ele não queria a reconstrução do país e para reerguer a economia. Esse
apenas dominar a força de trabalho, ele queria conquistar quadro cultural e histórico contribuiu para o surgimento
sua adesão. Hegemonia não é só dominação, hegemonia de um novo padrão de produção, que se diferenciou em
é capacidade de direção, quem dirige é quem é capaz de muitos aspectos do taylorismo-fordismo, denominado
conquistar a adesão dos outros. A hegemonia começa toyotismo ou ohnismo. O toyotismo, como via japonesa
quando se conquista, sobretudo, a adesão dos trabalha- de expansão e consolidação, é uma forma de organi-
dores. Daí a ideia de pacto social ou compromisso social zação do trabalho que nasceu na Toyota, no Japão do
entre a classe capitalista e a classe trabalhadora. Mas, é pós-1945, e que, muito rapidamente se propaga para as
preciso que essa hegemonia extrapole os muros da fábrica grandes companhias daquele país.
e se torne uma hegemonia social. Aí entra o Estado como Os traços mais marcantes do toyotismo se dividem em
provedor de políticas públicas e sociais, com investimento quatro dimensões:
na saúde, na educação e no lazer. O Estado do bem-es-
tar social, enquanto Estado provedor, configura-se, então, 1. Sistema de emprego: adotado pelas grandes empresas,
como um emblema do padrão de produção fordista. é constituído pelo chamado emprego vitalício, pela promoção
por tempo de serviço e a admissão do trabalhador não é rea-
Percebe-se que o fordismo se configurou como um novo lizada para um posto de trabalho, mas para a empresa, num
padrão de produção e demorou quase meio século para determinado cargo, ao qual corresponde um salário.
se estruturar e maturar suas consequências para o mundo.
Esse novo padrão de produção teve consequências mar- 2. Sistema de organização e gestão do trabalho:
cantes para o sistema capitalista de produção e criou um just-in-time – produzir no tempo certo, na quantidade exa-
padrão de organização do trabalho, assim como um novo ta; kanban – placas ou senhas de comando para reposi-
estilo de vida e, junto com ele, um novo tipo de homem ção de peças e estoques; qualidade total – envolvimento
que, em alguma medida, perdura até os dias de hoje. dos trabalhadores para a melhoria da produção; trabalho
em equipe – a organização do trabalho está baseada em
4.3. Toyotismo grupo de trabalhadores polivalentes que desempenham
múltiplas funções.
Em todo o período pós-guerra existiu uma fase caracte-
rizada por um contínuo crescimento dos ganhos de pro- 3. Sistema de representação sindical: os sindicatos
dutividade, os famosos 30 anos gloriosos do fordismo, e por empresa são integrados à política de gestão do traba-
no final dos anos 1960 e início de 1970 esse crescimento lho. Os cargos assumidos na empresa confundem-se com
ininterrupto da produtividade é sucedido por um período os do sindicato.
de queda da produtividade. No âmbito do processo de tra- 4. Sistema de relações interempresas: são relações
balho, constata-se a reação da classe trabalhada contra os muito hierarquizadas entre as grandes empresas e as pe-
métodos de exploração do trabalho. A classe trabalhadora quenas e médias. Ocorre subcontratação de pequenas e
já se encontrava desgastada pelos modos de intensificação microempresas extremamente precárias e instáveis. Essa
do processo de trabalho, o que gerou uma verdadeira re- rede de subcontratação é fundamental para o modelo ja-
volta por parte das camadas proletárias, marcada por um ponês de produção. Além do que existe uma hierarquia en-
aumento do absenteísmo, do turn-over, da dilapidação, tre as grandes e médias e pequenas empresas que colocam
das sabotagens, das greves. estas últimas em posição de subordinação.
Nesse momento de crise dos EUA, inicia-se uma reorde- Muitas dessas características vão ser absorvidas pelas in-
nação do mercado com ameaças da perda de hegemonia dústrias ocidentais, principalmente americanas, que ainda
estadunidense no plano econômico. Concomitantemente, junto com características do padrão de produção fordista,
a economia japonesa já começava a despontar com um vão iniciar um novo tipo de acumulação e produção no
crescimento fabuloso, sustentada em altos índices de pro- sistema capitalista que é a chamada acumulação flexível.
dutividade do trabalho. Diante da crise do fordismo, as empresas capitalistas vão
A cultura japonesa não erigiu uma distinção clara e níti- buscar, na incorporação de algumas características do mo-
da, como no mundo ocidental racional-burocrático, entre delo japonês, saídas para a queda do nível de produtivida-

37
de e acumulação, essas saídas terão como consequência Isso gerou mudanças estruturais. Nessa linha, o operário
um profundo processo de flexibilização do mundo do tra- tem um papel completamente diferente daquele que tem
balho. O just-in-time, o kanban, os CCQ (círculos de con- no fordismo, e ainda mais importante que no toyotismo:
trole de qualidade) são formas, antes de tudo, de eliminar aqui é ele quem dita o ritmo das máquinas, conhece todas
os tempos mortos da produção. O trabalho em equipe, a as etapas da produção, é constantemente reciclado e par-
suposta não separação entre execução e concepção tendo ticipa, através do sindicatos, de decisões no processo de
em vista que o modelo japonês demanda a participação montagem da planta da fábrica.
do trabalhador, seu saber e iniciativa no processo de traba-
lho é, antes de tudo, uma forma de expropriação do saber
do trabalhador. Se alguns pensadores consideram que o 5. Tipos de industrialização
modelo japonês recuperou a unidade entre concepção e Em virtude das alterações de espaço geográfico provoca-
execução, permitindo ao trabalhador usar sua capacidade das pela industrialização, novos elementos passam a fa-
de iniciativa e criatividade. zer parte da vida das pessoas, nas cidades e no campo.
Eleva-se a demanda por energia e o consumo médio da
população, além da intensificação ou aceleração do pro-
cesso de urbanização. Desse modo, é notória a inferência
de que as indústrias constituem um dos mais importantes
atores de produção e transformação do espaço, bem como
de exclusão, desigualdades e destruição do meio ambiente.
Ao longo do tempo, ocorreram três processos distintos de
multimídia: livro modelos industriais vivenciados por diferentes países e lo-
calidades. Essas tipificações estão relacionadas a fatores
econômicos e políticos relacionados ao desenvolvimento
Geografia Industrial do Mundo – Pierre George
das nações pelo mundo. Os principais tipos, no que se refere
A economia agrícola, sob suas múltiplas formas, esten- ao modelo, são: industrialização clássica, planificada e tardia.
deu-se por todo o globo, ao contrário da economia in-
dustrial, que se desenvolveu de forma essencialmente A industrialização clássica é característica dos países desenvolvi-
descontínua quanto às implantações materiais, pois sua dos, ocorrendo ao longo da I Revolução Industrial naqueles que
influência financeira e social tende a ser universal. eram considerados os principais centros econômicos e políticos do
planeta. Seu início se deu na Inglaterra e se disseminou por outras
partes do mundo, como a França, os Estados Unidos e o Japão.
4.4. Volvismo Inicialmente, essa industrialização provocou uma série de
O volvismo, ou sistema reflexivo de produção, é um sistema problemas urbanos, principalmente aqueles relacionados
de produção industrial pós-fordista introduzido pela Volvo à marginalidade da classe trabalhadora que, até então,
(montadora sueca) na década de 1990. não dispunha de direitos trabalhistas. Atualmente, os pa-
íses que passaram por esse tipo de industrialização são os
Em linhas gerais, a indústria sueca é caracterizada interna-
principais precursores de novas tecnologias e inovações no
mente pelo seu altíssimo grau de informatização e auto-
campo produtivo.
mação, e externamente pela forte presença dos sindicatos
trabalhistas e mão de obra altamente qualificada. No caso A industrialização planificada ocorreu nos países do antigo
das fábricas da Volvo, é ainda marcada por um alto grau de “segundo mundo” socialista, durante o século XX. Corres-
experimentalismo, sem o qual talvez não fosse possível ter ponde às economias de Estado, como nas repúblicas que inte-
introduzido tantas mudanças. graram a ex-União Soviética, além de China e outras nações.
O volvismo surgiu como resultado de várias inovações con- Nesses países – que em algumas perspectivas não são consi-
juntamente postas em prática, com a particularidade da derados socialistas, mas “capitalistas de Estado”, as institui-
participação constante dos trabalhadores. As exigências do ções financeiras e industriais, bem como os meios e instrumen-
mercado competitivo forjaram melhorias, mas o que fez a tos nelas utilizados, são de propriedade estatal, não havendo
diferença no caso da Volvo foram características claramente propriedade privada. A industrialização também se deu de
particulares da sociedade sueca. Além dos sindicatos for- forma acentuada, interligando as diferentes regiões em uma
tes, o alto grau de automação das fábricas no país faz com elevada interdependência de serviços e infraestrutura, além
que desde há tempos os jovens rejeitem serem vistos como de apresentar um êxodo rural um pouco mais controlado em
“acessórios das máquinas”, como no taylorismo o seriam. função das reformas sociais aplicadas no meio agrário.

38
manifestação de inúmeras contradições sociais, como as
favelas e outras moradias precárias, além de inúmeros pro-
blemas de caráter socioambientais urbanos.

Indústria açucareira

Já a industrialização tardia ou periférica encontra-se


em curso em muitos países e é predominante em economias
subdesenvolvidas ou emergentes. Esses países começaram
a dinamizar as suas práticas industriais apenas a partir da Favela nos arredores de São Paulo
segunda metade do século XX (alguns deles ainda nem ini-
ciaram esse processo de forma mais intensificada), o que
justifica, em partes, o atraso tecnológico por eles vivenciado.
6. Concentração e
Esse tipo de industrialização, diferentemente dos outros desconcentração industrial
dois, não ocorre pela ação das indústrias nacionais, e sim A observação de um mapa-múndi da distribuição geográfica
pela iniciativa privada estrangeira, geralmente represen- das indústrias mostra que, particularmente no caso dos paí-
tada por grandes corporações multinacionais. Por esse ses capitalistas, elas se acham bastante concentradas espa-
motivo, não há avanços em uma produção tecnológica, cialmente. Isso ocorre em virtude das indústrias procurarem
cujo conhecimento e desenvolvimento se faz pelo capital se localizar nas áreas que oferecem a maior quantidade ou
estrangeiro oriundo dos países desenvolvidos. a melhor combinação possível de fatores necessários à pro-
Esse processo provocou uma urbanização extremamente dução (fontes de energia, mão de obra, transporte, capitais,
acelerada e um êxodo rural descontrolado em função do mercado consumidor, etc.). Em outras palavras, as concen-
processo de mecanização do campo, que substituiu, em trações industriais e financeiras ocorrem porque as indústrias
grande parte, os trabalhadores rurais por máquinas. A con- procuram obter o menor custo possível de produção para ter
sequência é o crescimento desordenado das cidades e a o máximo possível de lucros.

Principais áreas industriais do mundo

Existem concentrações industriais tão grandes que constituem verdadeiros complexos, tal a quantidade e variedade dos tipos
de indústrias. O maior de todos, conhecido como manufacturing belt (cinturão das indústrias), encontra-se no nordeste dos

39
Estados Unidos. Além dele, destacam-se também as grandes concentrações industriais da Europa Ocidental e do Japão. No
Brasil, a maior concentração industrial localiza-se na região Sudeste, particularmente na Grande São Paulo.
Regiões industriais nos EUA

6.1. Concentrações financeiras mercado. A Microsoft é um exemplo de monopólio mundial


na área de software. O monopólio estatal geralmente ocorre
Além da concentração espacial ou geográfica, existe tam- no caso de produtos estratégicos (energia elétrica, petróleo
bém a concentração financeira ou, digamos, a concentração e outros) ou de serviços públicos (transportes, comunicação,
econômica ou empresarial. Essa forma de concentração co- correios, etc.). No Brasil, encontramos monopólio estatal em
meçou a acentuar-se no final do século XIX com a formação diversos setores ou atividades, tais como petrolífero, ferroviá-
de trustes e cartéis para monopolizar o mercado (capitalismo
rio, correios e telégrafos e nuclear.
monopolista). No século XX, e, sobretudo, nos dias atuais,
essas concentrações estão representadas pelas conhecidas
multinacionais (ou transnacionais), gigantescas empresas 6.1.2. Oligopólio
que dominam a maior parte do mercado mundial. É o domínio do mercado por um pequeno grupo de empre-
Embora atualmente o monopólio total seja raro (o oligo- sas. No Brasil, um bom exemplo é o da indústria automobi-
pólio é mais comum), e proibido pela legislação de grande lística, onde apenas quatro empresas dominam o mercado.
parte dos países, o que se verifica na prática é o emprego Nos Estados Unidos, 70% do mercado automobilístico é
de vários artifícios ou expedientes (cartéis, acordos, consór- dominado por três empresas (GM, Ford e Chrysler).
cios, pulos, etc.) por parte dos grandes grupos empresariais,
com a finalidade de dominarem o mercado. 6.1.3. Truste
Vamos ver, então, o que é o monopólio e o oligopólio, bem Truste é um tipo de estrutura empresarial que procura domi-
como os principais tipos de concentrações financeiras ou nar todas as etapas da cadeia produtiva de um determinado
empresariais (truste, cartel, conglomerado e holding) volta- produto, desde a extração da matéria-prima até o ponto final
dos para o domínio de mercado. da comercialização desse produto. Embora proibido por lei
em muitos países, continua existindo na prática, ainda que
6.1.1. Monopólio de modo disfarçado (truste do petróleo, do fumo etc.). O pro-
É o domínio do mercado de um determinado produto ou blema fundamental dos trustes é que, ao monopolizarem o
serviço por uma única empresa ou pelo Estado na fase do mercado, impedem a prática da livre concorrência.
capitalismo financeiro, quando apenas uma empresa domi- No caso do Brasil, a questão da livre concorrência passou
na um mercado, a livre concorrência é quebrada. A tendência a ser regulamentada por lei desde 1962 (lei nº 4.137),
em situações monopolistas é de que essas grandes empre- cabendo ao Conselho Administrativo de Defesa Eco-
sas cresçam cada vez mais e absorvam enormes fatias do nômica (Cade) a aplicação da referida lei. Já obsoletos

40
tanto a lei como o Cade e diante da necessidade de o governo criar mecanismos mais eficientes de defesa econômica
devido à implantação da política de liberação de preços, o ex-presidente da República Fernando Collor editou, em 2
de agosto de 1990, uma medida provisória instituindo a Lei de Defesa da Livre Concorrência (Lei Antitruste). O órgão
encarregado desse assunto é o Departamento Nacional de Proteção e Defesa Econômica (Dnpde), que absorveu toda
a estrutura do antigo Cade.

6.1.4. Conglomerado
É composto por um conjunto de empresas do mesmo grupo que atuam nos mais variados segmentos da economia. Dife-
rentemente do truste, que corresponde às empresas que atuam no mesmo segmento, o conglomerado caracteriza-se pela
diversidade de atuação. Essa diversificação é útil em situação de crise econômica por exemplo, pois se as empresas estão em
segmentos variados, umas serão mais atingidas que outras, preservando-se assim a lucratividade média do conglomerado.
O Grupo Rockefeller (estadunidense) é um dos maiores conglomerados do mundo. Dele participam algumas das maiores
multinacionais (Esso, TBM, GE, Alcoa), além de inúmeras outras grandes empresas (Boeing, Kodak, Caterpillar, etc.) e um
dos maiores bancos do mundo, o Chase Manhattam Bank. No Brasil, o maior conglomerado empresarial nacional privado
é o Grupo Votorantim, formado por mais de noventa empresas espalhadas por dezoito estados e empregando mais de 50
trabalhadores. Em 1983, o Grupo Votorantin estava incluído entre os quinhentos maiores do mundo.

6.1.5. Cartel A Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca) e As


Sete Irmãs do Petróleo são exemplos de cartéis.
É um acordo ou associação de várias empresas inde-
pendentes ou autônomas para controlar ou dominar a
produção e o mercado de determinado(s) produto(s). Tem
caráter geralmente internacional e, em alguns casos, é
formado até mesmo por países, as empresas e países que
compõem um monopólio fazem acordos secretos entre si,
inviabilizando a concorrência e estipulando o preço que
melhor lhes convier. O cartel, embora proibido, é pratica-
do, em geral, por meio de ação coordenada sigilosamente
entre grandes empresas.
Apesar de os participantes do cartel manterem sua auto-
nomia, ficam obrigados a aceitar as regras estabelecidas Logotipos das empresas envolvidas em um dos maiores
pelo grupo (divisão do mercado, preços estabelecidos, etc.). cartéis do mundo: As Sete Irmãs do Petróleo

41
6.1.6. Holding Seus objetivos e formas de atuação foram claramente ex-
postos por um executivo estadunidense: “É nosso objetivo
Holding é uma empresa ou organização que controla ou- estar presente em todo e qualquer país do mundo, países
tras empresas mediante a aquisição majoritária das suas da cortina de ferro, a Rússia ou a China. Nós, na Ford Mo-
ações. Sua função básica não é produzir, mas sim admi- tor Company, olhamos o mapa do mundo como se não
nistrar as outras empresas. As multinacionais normalmente existissem fronteiras. Não nos consideramos basicamente
são controladas por uma holding, que pode estar situada uma empresa americana. Somos uma empresa multinacio-
no país-sede ou em outro país. nal. E, quando abordamos um governo que não gosta dos
A Pirelli, por exemplo, possui instalações em inúmeros países Estados Unidos, nós sempre lhe dizemos: ‘De quem você
(inclusive no Brasil, onde produz pneus, materiais elétricos, gosta? Da Grã-Bretanha? Da Alemanha? Nós temos várias
cabos, mangueiras, etc.), é administrada pela holding Société bandeiras. Nós exportamos de todos os países’“ (Dicioná-
Internationale Pirelli S/A, situada na Suíça, embora a sede rio de Economia, p. 291-292).
da Pirelli seja em Milão (Itália). No Brasil, a Autolatina, que Considerando-se apenas as duzentas maiores empresas
controla a Ford e a Volkswagen, é um exemplo de holding. multinacionais, a soma de suas vendas em 1982 (três tri-
lhões de dólares) foi superior à produção de bens e serviços
6.2. Multinacionais ou transnacionais de 130 países do Terceiro Mundo (cerca de dois trilhões de
dólares em 1980). Das duzentas maiores multinacionais,
Conhecidas também como empresas internacionais ou 116 delas estão sediadas em apenas cinco países: EUA (80),
transnacionais, são grandes empresas que, a partir de uma Japão (35), Inglaterra (18), Alemanha (17) e França (16).
base nacional (matriz), atuam em diversos outros países
através de filiais ou subsidiárias. No Brasil, segundo a revista Exame, 1989, das cinquenta
maiores indústrias por vendas, 25 são estrangeiras, sendo
que as multinacionais dominam nove setores da economia
(material de transporte, farmacêutico, automóveis, informá-
tica, autopeças, higiene e limpeza, eletrônica etc.), além da
presença marcante em outros seis setores. No Japão, é mui-
to comum as multinacionais se unirem para formar grandes
conglomerados (os chamados zaibatsu), que praticamente
controlam a economia do país. Os seis maiores conglome-
rados japoneses controlam cerca de 50% do comércio ex-
terior do país (exportações e importações).

42
6.3. Desconcentração industrial essas passaram a buscar cidades, geralmente médias ou
pequenas, que ofereçam melhor infraestrutura urbana,
Desconcentração industrial é o nome dado ao processo com área disponível para a expansão de suas atividades e
que se caracteriza tanto pela diminuição do ritmo de cresci- onde os governos municipais concedam incentivos fiscais.
mento da indústria nos grandes centros urbanos como pelo
aumento do número de empresas que preferem transferir
suas atividades, instalando novas unidades de produção
em cidades menores, geralmente localizadas no interior.
Com a superconcentração do capital nas enormes manchas
urbanas, acabou ocorrendo uma forte elevação no preço
dos imóveis, o congestionamento das redes de transporte
e comunicações, esgotamento de reservas de matérias-pri- multimídia: site
mas e energia e a elevação do custo de mão de obra.
Esses fatores fizeram com que houvesse uma reorgani-
www.ibge.gov.br
zação na distribuição geográfica das indústrias, em que

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A expansão das indústrias está diretamente relacionada ao processo


de urbanização e crescimento demográfico nas cidades, pois esse
fenômeno exerce grande poder de atração para a população rural,
fato que desencadeia os fluxos migratórios para as cidades. Outros
aspectos da industrialização são desenvolvimento de infraestrutura,
transporte, comunicação, diversos ramos de serviços, degradação
ambiental, entre outros.

43
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 18
Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais.

A especialização dos indivíduos nasce com a sociedade moderna e urbana. Afinal, o camponês do período me-
dieval, para produzir o necessário para seu consumo e subsistência, dependia de sua habilidade e técnica com
as ferramentas à disposição. Esse momento histórico marca uma sociedade em que cada indivíduo, apesar da
interdependência social, é o principal responsável por produzir o que vai consumir. Nesse período, dada a autos-
suficiência da sociedade, a primeira forma de organização da produção foi o artesanato, em que o artesão era o
dono dos meios de produção (instalações, ferramentas manuais e matéria-prima), realizando todas as etapas do
processo de produção. Com o passar do tempo e, principalmente, devido ao crescimento populacional que gerou
o aumento do consumo, o trabalho artesanal foi dando lugar a outras formas de organização da produção.
A partir do século XV, com o surgimento de novos mercados, resultado da expansão marítimo-comercial e do
surgimento de novos polos de produção, a necessidade de expandir ainda mais a produção levou ao surgi-
mento da manufatura. Nesse sistema produtivo, o artesão perdeu o controle de suas ferramentas e passou a
trabalhar para o comerciante, que tinha interesse em incentivar a produtividade para elevar seus ganhos.
Na segunda metade do século XVIII, o processo de Revolução Industrial levou à substituição da manufatura
pela maquinofatura. A maquinofatura (fábricas) é o sistema de produção que cria espaços de trabalho onde
o artesão se torna obsoleto e é substituído por um novo tipo de trabalhador: o operário; este tem a necessi-
dade de vender sua força de trabalho nas cidades como forma de garantir sua sobrevivência, submetendo-se
ao trabalho industrial, cujo ritmo passa a ser determinado pela máquina. É importante salientar que, nessa
primeira fase da Revolução Industrial, as transformações tecnológicas ocorreram dentro do âmbito da linha de
produção, sendo o operário o principal responsável por cuidar das máquinas, embora não fosse ele o seu dono.
Dessa forma, consolidou-se a separação entre trabalho e meios de produção. A Revolução Industrial, em suas
várias etapas, concretizou o sistema capitalista, que predomina em nossos dias.

MODELO 1
(Enem) A evolução do processo de transformação de matérias-primas em produtos acabados ocorreu em três
estágios: artesanato, manufatura e maquinofatura.
Um desses estágios foi o artesanato, em que se:
a) trabalhava conforme o ritmo das máquinas e de maneira padronizada;
b) trabalhava geralmente sem o uso de máquinas e de modo diferente do modelo de produção em série;
c) empregavam fontes de energia abundantes para o funcionamento das máquinas;
d) realizava parte da produção por cada operário, com uso de máquinas e trabalho assalariado;
e) faziam interferências do processo produtivo por técnicos e gerentes com vistas a determinar o ritmo de produção.

44
ANÁLISE EXPOSITIVA
A capacidade humana de manusear objetos em conjunto com um cérebro grande o suficiente para promo-
ver associações, entre outros aspectos, possibilitou ao homem ao longo do tempo que ele se destacasse
no reino animal e criasse a civilização. O artesanato está entre as primeiras formas de trabalho do homem.

RESPOSTA Alternativa B

DIAGRAMA DE IDEIAS

INDÚSTRIAS

INDÚSTRIAS INDÚSTRIAS DE
DE BASE BENS DE CONSUMO

• SIDERURGIA • DURÁVEIS
• METALURGIA • NÃO DURÁVEIS
• PETROQUÍMICA • SEMIDURÁVEIS
• QUÍMICA

TIPOS DE CONCENTRAÇÕES
INDUSTRIALIZAÇÃO FINANCEIRAS

• CLÁSSICA • TRUSTE
• PLANIFICADA • MONOPÓLIO
• PERIFÉRICA • OLIGOPÓLIO
• PLATAFORMAS DE • CARTEL
EXPORTAÇÃO • CONGLOMERADO
• HOLDING

45
te, para a intensa e rápida urbanização do território, bem
AULAS 31 E 32 como para as concentrações econômica, populacional, de
infraestrutura e de investimentos financeiros.
Foi como política de Estado, a partir da década de 1930, que
o processo de industrialização teve início no Brasil, quando
a dependência econômica das exportações de matérias-pri-
INDUSTRIALIZAÇÃO mas, levou a economia do país a sucumbir em razão da crise
de 1929. Esse processo de industrialização intensificou-se
DO BRASIL com o chamado Plano de Metas, na década de 1950, provo-
cando a ampliação da produção industrial brasileira.
No entanto, a concentração industrial foi absolutamente
desigual, ocorrendo, sobretudo, na região Sudeste do Bra-
sil, principalmente, na cidade de São Paulo, em função de
COMPETÊNCIA: 4 sua posição geográfica estratégica e da herança econômi-
ca criada pela produção cafeeira, que lhe conferiram uma
HABILIDADE: 18 ligação com o oeste do estado e com o porto de Santos
através das ferrovias.

A industrialização se manifestou através da modernização


escalonada, isto é, setorial, de todo o organismo econômi-
co, seguindo uma ordem fácil de determinar e que pode
ser inferida de sua própria motivação primária, isto é, do
fato de resultar de um esforço de substituição, a saber:
uma ordem inversa. Noutros termos, nossa industrialização
começou por onde, pela ordem natural das coisas, devera
terminar, isto é, pelo suprimento interno de bens de consu- Navio Porto Iguaçu descarregando carvão dos EUA no
porto de Santos, um dos principais portos do Brasil.
mo ou, mais precisamente, de bens finais, abordando, esca-
lonadamente, através de sucessivos ciclos, os suprimentos A partir da década de 1950, a indústria automobilística ins-
de produtos e de infraestrutura. talada nessa região foi fundamental para a concentração do
parque industrial brasileiro na capital paulista e em sua re-
Ignácio Rangel, A dinâmica da dualidade brasileira
gião metropolitana. Tais processos provocaram uma rápida e
precária urbanização, bem como a explosão de movimentos
1. Introdução migratórios advindos das diferentes regiões do Brasil.

O processo de industrialização no Brasil, e por conseguinte O resultado foi o grande surto populacional da região Su-
da mudança de uma sociedade rural e agrária para uma deste. Em 1872, São Paulo contava com cerca de 32 mil
urbana e industrial, iniciou-se na segunda metade do sé- habitantes e era a décima maior cidade brasileira; ao final
culo XIX, ganhou impulso nas primeiras décadas do século do século XX, já se tornara a maior metrópole do país e a
XX e teve um grande salto no período pós-Segunda Guerra quarta maior do mundo, com mais de 12 milhões de habi-
Mundial. Tal processo apresentou várias fases de declínio tantes e com a região metropolitana, 20 milhões.
e crescimento da atividade industrial, mas o traço comum A produção industrial da capital paulista e de seu entorno
a todas elas foi a presença, em maior ou menor grau, de representava, na década de 1970, quase a metade de toda
ações do Estado impulsionando a formação e a consolida- a produção industrial nacional.
ção do parque industrial brasileiro.
Todavia, a partir da década de 1980 em diante, houve es-
O espaço industrial brasileiro, assim como em todas as re- forços governamentais que se preocuparam em proporcio-
giões, tem as mesmas características gerais do processo de nar uma desconcentração industrial do país, fato que só se
industrialização sob o capitalismo. O processo de criação e efetivou claramente a partir da década de 1990. Apesar
instalação de indústrias em um território produz o espaço, disso, São Paulo continuou na liderança nacional industrial,
transformando-o e conferindo-lhe uma nova lógica e no- muito em virtude de sua modernização e ampliação do
vos significados. A industrialização contribui, principalmen- aparato tecnológico e industrial.

46
Nos últimos 40 anos, a economia brasileira passou por significativas transformações na sua estrutura produtiva. A indústria se
consolidou como o setor mais dinâmico da economia e a pauta de exportação se diversificou. No entanto, nos anos recentes, a
trajetória de crescimento do Brasil está relativamente inferior a dos demais países da América Latina com estrutura produtiva seme-
lhante e também inferior à taxa de crescimento mundial, sinalizando uma perda de dinamismo frente a economias concorrentes.
Brasil: indústria

1.1. Industrialização no Brasil


O processo de industrialização começou no Brasil con-
comitantemente em quase todas as regiões. Foi no
Nordeste que se instalaram, após a reforma tarifária
de 1844, as primeiras manufaturas têxteis modernas
e, ainda em 1910, o número de operários têxteis des-
multimídia: vídeo sa região se assemelhava ao de São Paulo. Entretanto,
Fonte: Youtube superada a primeira etapa de ensaios, o processo de
Um Sonho Intenso industrialização tendeu naturalmente a concentrar-se
nessa região. A etapa decisiva de concentração ocor-
Um Sonho Intenso é um documentário brasileiro dirigi-
reu, aparentemente, durante a Primeira Guerra Mundial,
do por José Mariani, que fala sobre a história da Econo-
época em que teve lugar a primeira fase de aceleração
mia do Brasil e dos problemas socioeconômicos do país,
do desenvolvimento industrial [...].
do final da República Velha aos dias atuais.
Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil

47
O Brasil é considerado um país emergente ou em desenvol- de ferro instaladas em São Paulo e Minas Gerais. Depois
vimento. No entanto, seu processo industrial e tecnológico da independência, o reconhecimento pelas potências euro-
está atrasado em relação às nações que vivem o processo peias só se tornou possível mediante a concessão de tarifas
de industrialização desde seu início. especiais (como a tarifa Alves Branco) para os produtos bri-
tânicos, concessão que vigorou até 1844. Podemos dizer,
Nos últimos trinta anos do século XIX, o Brasil passou por uma
portanto, que a produção industrial nesse período tinha
série de mudanças econômicas, sociais e políticas, que propi-
ainda um caráter artesanal.
ciaram o início do desenvolvimento de algumas indústrias.
Esse conjunto de mudanças ocorreu, particularmente, nas re-
lações de trabalho, com a adoção do trabalho assalariado a
partir da abolição da escravidão (1888) e da adoção de uma
política de imigração. A política imigratória, adotada pelo go-
verno imperial e, em especial, pela Província de São Paulo
(depois estado), desde os anos 1860, resultou no ingresso
de uma população de estrangeiros no Brasil, principalmen-
te europeus, como italianos, espanhóis, alemães, poloneses,
mais tarde os japoneses, dentre outras nacionalidades, que
vieram para compor o mercado de trabalho de homens li-
vres, além de contribuírem com o povoamento do país, como Os engenhos de produção de açúcar fazem
Brasil.
parte da primeira etapa da indústria no
ocorreu na região Sul. Ao mesmo tempo, a proclamação da
República (1889) foi um importante acontecimento político
porque estabeleceu um estatuto jurídico para adequar o país
às novas condições de exploração do trabalho, dos contratos
de propriedade e das exigências de reprodução do capital.
O processo de preparação para o capitalismo industrial no
Brasil, de modo geral, passou por quatro etapas:

multimídia: vídeo
1.1.1. Primeira etapa
Fonte: Youtube
Ocorreu entre 1500 e 1808. Como sabemos, a atividade in-
A modernidade chega a vapor - MEC
dustrial no Brasil teve início no período colonial. Sua história,
entretanto, não se caracteriza por uma evolução sistemática. Em meados do século XIX, a Europa sofre profundas trans-
As atividades agrícolas e o extrativismo absorviam os poucos formações com a Revolução Industrial. Naquele período, o
capitais e a mão de obra, só dando margem, naquele período, Brasil ainda era um país rural, mas as novidades acabaram
às indústrias caseiras, à agroindústria do açúcar, a pequenas chegando aqui, transformando os serviços urbanos.
indústrias no litoral, e aos estaleiros em que se construíam em-
barcações de madeira. A população era extremamente rarefei- 1.1.2. Segunda etapa
ta, mesmo ao longo da costa; as dificuldades de transporte,
Corresponde a uma fase entre os anos de 1808, com a che-
decorrentes das distâncias; o regime da escravidão e do latifún-
gada da família real portuguesa ao Brasil, até a chamada Re-
dio, e a própria política da metrópole, que proibia, em 1766, a
volução de 1930. A partir de 1808, era permitida a implan-
prática do ofício de ourives, e por carta régia de 1785, todas as
tação de indústria no país, de acordo com alguns requisitos,
manufaturas de fumo, panos e bordados, foram outros tantos
entre eles, a criação, em 1828, de um tributo com taxas de
obstáculos a qualquer surto de manufaturas de valor.
15% para mercadorias importadas e, em 1844, da taxa tri-
Tal situação se prolongou através do primeiro e do segundo butária que foi para 60%, denominada de tarifa Alves Bran-
reinado, quando ainda faltavam todos os elementos para co. Outro fator determinante foi a expansão da economia
uma indústria autônoma, concentrada e mecanizada, que cafeeira para o chamado Oeste Paulista e o aparecimento
procura a proximidade das fontes de energia, de matéria- de um conjunto de ricos fazendeiros que passaram a diver-
-prima, da clientela, dos transportes e, sobretudo, da mão sificar seus empreendimentos econômicos, investindo numa
de obra. Na verdade, só depois da transferência da corte incipiente industrialização e no setor financeiro, promovendo
de D. João para o Brasil foram revogados os editos que ve- uma dinamização da economia brasileira. As primeiras em-
davam até a existência de depósitos de salitre, fechavam presas limitavam-se à produção de alimentos, tecidos, velas e
as fábricas têxteis e mantinham a proscrição das fundições sabão. Em suma, tratava-se de produtos que não exigiam um

48
grande investimento tecnológico. É importante lembrar que a
cafeicultura do Oeste Paulista investiu, em aliança com os ca- No período da Primeira Guerra Mundial, instalaram-se
pitais ingleses, principalmente em infraestrutura, construindo no Brasil cerca de 5.940 empresas industriais, com-
estradas de ferro e modernizando os portos. preendendo-se aí a produção de uns trinta artigos
novos. Mas dentre essas indústrias não figurava a in-
dústria mecânica nem os bens fundamentais capazes
de possibilitar a criação da base industrial do país.

1.1.3. Terceira etapa


Período entre os anos de 1930 e 1955. A indústria rece-
beu muitos investimentos provenientes dos capitais dos
ex-cafeicultores e estrangeiros e também em logística.
Houve ampliação e construção de vias de circulação de
mercadorias, matérias-primas e pessoas, adequadas ao de-
Ilustração da chegada da família real no Brasil, 1808.
Pintura em óleo de Cândido Portinari, de 1952 senvolvimento dos meios de transporte, que facilitaram a
distribuição de produtos para várias regiões do país – mui-
tas ferrovias que, anteriormente, transportavam café, nessa
Um antigo empregado de firma britânica no Bra- etapa passaram a servir aos interesses industriais.
sil, que conseguiu estabelecer-se e expandir seus
Na década de 1940, pela primeira vez o valor da produ-
negócios, tornando-se um homem de finanças que
ção industrial brasileira ultrapassou o da produção agrí-
acompanhava o surto industrial da Europa, Irineu
cola, elevando-se a 13 milhões de contos de réis, contra
Evangelista de Souza, teve o descortino de ten-
8,590 milhões.
tar o caminho da indústria, sem levar em conta,
entretanto, o grave obstáculo que representava o Verdadeiramente, só na década de 1940 o Brasil logrou
escravismo, inviável à criação de um mercado na- a primeira iniciativa industrial de vulto, que iria servir de
cional. Não obstante isso, registraram-se algumas base a uma modificação na sua estrutura econômica.
Esta se verificou em face de circunstâncias criadas pela
iniciativas no campo da indústria. Surgiu a fundição
Segunda Guerra Mundial. Necessitando instalar bases
de tubos de encanamento de água do rio Maracanã,
aéreas no território brasileiro para o trânsito dos seus avi-
no Rio de Janeiro. O estaleiro montado na Ponta da
ões de guerra para a África e Europa, os EUA negociaram
Areia, em Niterói, ampliou a construção naval do
a implantação de uma unidade siderúrgica que veio a
país, fabricando setenta navios em pouco mais de
dez anos. Ligada ao impulso dos serviços urbanos, cri-
constituir a Companhia Siderúrgica Nacional, pertencen-
ou-se a primeira empresa de iluminação a gás.
te ao Estado. A usina de Volta Redonda desempenhou, de
fato, o papel de célula-mater da indústria pesada nacio-
Organizou-se uma companhia de navegação no rio nal, propiciando ao longo de sua atividade, a criação de
Amazonas. Em 1870, estimou-se em 742 mil contos novas indústrias e a expansão siderúrgica.
de réis, quantia avultada para a época, a produção
industrial do Brasil. O governo monárquico, todavia, Outro passo importante no sentido de uma industriali-
voltava-se mais para as obras públicas do que para zação autônoma foi a instituição do monopólio estatal
prestigiar as iniciativas da indústria privada nacional do petróleo, mediante a criação da Petrobras por meio
e o surgimento e consolidação de um empresariado da lei 2.004, de 3 de outubro de 1953. A descoberta do
vinculado aos interesses do país. lençol petrolífero do Lobato, na Bahia, em 1937, propi-
ciou uma modificação no código de minas e a posterior
Construíram-se, desse modo, portos para atender às
instituição do Conselho Nacional do Petróleo, a fim de
necessidades do comércio externo. As estradas de fer-
ro se prolongaram, mas só a partir de 1870, vindo a orientar o problemas do ponto de vista brasileiro. Foi
interessar capitais ingleses e desempenhar um papel instalada a Companhia Siderúrgica Nacional, construída
mais dinâmico na economia do país. Instalaram-se entre os anos de 1942 e 1947, área fundamental para
companhias de força elétrica, de bondes, de tele- o sistema produtivo industrial, uma vez que abastecia
fones, de luz, de telégrafos, por iniciativa do capital as indústrias com matéria-prima, notadamente aço. Em
estrangeiro ou vindo a ser concedidas a este. 1953, foi instituída uma das mais importantes empresas
estatais: a Petrobras.

49
No fim do século XX, houve um razoável crescimento
econômico promovendo uma melhoria na qualidade de
vida da população brasileira, além de mais acesso ao
consumo. Houve também a estabilidade da moeda, além
de outros fatores que foram determinantes para o pro-
gresso gradativo do país.

1.2. Transnacionais
O processo de globalização do capital cumpre o movi-
Getúlio Vargas assina a Lei 2.004, mento histórico de expansão territorial e da sua cons-
no dia 3 de outubro de 1953, e cria a Petrobras. tante acumulação, metamorfoseado sob várias formas.
Ao mesmo tempo, o desenvolvimento tecnológico foi
1.1.4. Quarta etapa fundamental para que o capital se tornasse globalizado,
Teve início por volta de 1955 e ainda está em vigor. Foi no particularmente o capital financeiro. Como parte desse
governo do presidente Juscelino Kubitschek, que implan- processo, as empresas e indústrias passaram a não se
tou uma política econômica permitindo a entrada de recur- concentrar num mesmo local. Houve uma nova divisão
sos em forma de empréstimos e também em investimentos internacional do trabalho e das etapas da produção ex-
com a instalação de empresas multinacionais. Com o golpe pandido pelo mundo, em busca acelerada de novos mer-
militar, em 1964, as medidas econômicas voltadas para a cados consumidores, bem como de mão de obra mais ba-
liberdade de investimento de capitais estrangeiros – finan- rata, de matérias-primas, de aumento da lucratividade do
ceiro e industrial – tomaram novo fôlego, comprometendo capital. Essas empresas são denominadas transnacionais.
o crescimento autônomo e resultando numa maior depen- Com base nas características descritas acima, surgiram
dência econômica, industrial e tecnológica em relação aos as primeiras empresas transnacionais no final do século
países de economias consolidadas.
XIX, mas que só obtiveram destaque após a Segunda
Em 1970, o objetivo da economia brasileira era deixar de Guerra Mundial, em 1945. As nações mais desenvolvi-
depender exclusivamente da substituição das importações, das, Estados Unidos, Canadá, Japão e a União Europeia,
ultrapassar a fase da exportação de gêneros alimentícios abrigam a maioria das sedes das transnacionais, que
e matérias-primas da produção primária e ampliar a pauta instalam suas filiais em vários países, sobretudo nos
exportável com variados produtos industriais. As metas míni- subdesenvolvidos e nos emergentes. O Brasil, por exem-
mas estabelecidas para o período 1970-1973 estabeleciam plo, possui várias filiais dessas empresas: McDonald’s,
o crescimento anual de 9% a 11% para a indústria manufa- Burger King, Coca-Cola, Pepsi, Carrefour, Unilever, entre
tureira e a mineração; 9% a 11% para a indústria siderúrgi- tantas outras.
ca; 7% a 9% para o setor enérgico. Influindo fortemente na
composição da taxa de crescimento industrial da América La- Porém, a partir da década de 1970, empresas com sede em
tina, em que ocupa o primeiro lugar, em 1973, o Brasil divide nações emergentes passaram a atuar no mercado global,
com a Argentina, a Colômbia e o México, a responsabilidade inclusive em países desenvolvidos. O Brasil tem se destaca-
por 80% da produção industrial dessa parte do mundo. do no cenário internacional, visto que houve uma intensa
expansão da área de atuação de suas empresas. Durante
a década de 1970, havia cerca de 70 filiais de empresas
brasileiras instaladas no exterior; em 2010, esse número
chegou a 350.
A estabilidade política e econômica e o fortalecimento da
moeda nacional (real) foram fatores determinantes para o
sucesso das empresas brasileiras em terras internacionais.
Em 2008, os investimentos brasileiros no exterior foram de
152 bilhões de dólares, superior aos investimentos estran-
geiros aplicados no país. De acordo com o Banco Central, o
Brasil ocupa o 12º lugar no ranking dos maiores investido-
O presidente Juscelino Kubitschek, durante conferência res do mundo, à frente da Austrália, dos países Baixos, da
sobre o desenvolvimento econômico e as metas do
Governo, no Clube Militar do Rio de Janeiro, RJ. China e da Federação Russa.

50
Empresas transnacionais do Brasil atuam em vários seg-
Roraima
mentos: alimentício, aviação, construção civil, celulose, cos- Amapá

méticos, peças de automóveis, máquinas e equipamentos, Maranhão


tecnologia da informação, logística, mineração.
Amazonas Pará
Piauí
Entre os principais representantes do Brasil no mercado
internacional estão: Vale (mineração), Petrobras (petróleo Bahia
Acre
e gás), Gerdau (aço), Embraer (aviação), Votorantim (diver- Rondônia Tocantins

sificada), Camargo Corrêa (diversificada), Odebrecht (cons- Mato Grosso

trução e petroquímica), Aracruz (celulose e papel), Tigre


(construção), ALL (logística), Perdigão (alimentícia), Natura
(cosméticos), Sadia (alimentícia), Itautec (tecnologia da in-
formação), Sabó (peçasRoraima
de automóveis) e Amapá
WEG (máquinas
e equipamentos).
Maranhão Ceará
No entanto, a infraestrutura nacional, em razão da grande Rio Grande do Norte

influência da eliteAmazonas Pará


cafeeira do Sudeste brasileiro nos anos Piauí Paraíba
Pernambuco
anteriores, que detinha grande volume de capitais aplica- Alagoas
dos na região, encontrava-se limitada à região Sudeste, o Bahia
Sergipe

que favoreceu
Acre a formação
Rondônia de um processo de Tocantins
concentra-
ção industrial. Além disso, naquele momento,
Mato Grosso
a indústria
vivia um período caracterizado pela produção em massa,
as chamadas economias de aglomeração.
Zona de atuação da Sudam
Graças a esse contexto, o Sudeste brasileiro, com destaque
para a Região Metropolitana de São Paulo, passou a extrair Outra ação foi a autorização do governo federal para que os
e a angariar praticamente todos os recursos naturais, ao governos estaduais oferecessem incentivos fiscais às indús-
mesmo tempo em que contava com uma elevada concen- trias que se dispusessem a se estabelecer nos seus territórios.
tração populacional, grande quantidade de mão de obra e Essa política promoveu a chamada guerra fiscal ou guerra
de um amplo e diversificado mercado consumidor elevado. dos lugares, em que as unidades federativas, mediante isen-
ções de impostos e outros benefícios, passaram a competir
1.3. Desconcentração industrial pela manutenção de empresas em suas terras, a fim de di-
namizar suas economias e elevar a quantidade de empregos.
A partir da década de 1970, o poder público iniciou uma série
de planos com o objetivo de criar uma maior democratização Some-se a essas questões políticas e econômicas o fato de
no espaço industrial do país. Uma das medidas foi a criação que, com os avanços tecnológicos nos meios de transporte e
da Sudam e da Sudene. comunicações, não eram mais necessárias uma aglomeração

51
industrial, tampouco a proximidade entre indústria e mercado consumidor. Em razão disso, muitas empresas resolveram migrar
para regiões interioranas e cidades médias, longe dos problemas das grandes cidades e com condições de manutenção bem
mais vantajosas para o capital.
Porém, é precipitado afirmar, por exemplo, que cidades como São Paulo deixarão de se industrializar. Na verdade, o que
houve foi uma queda no crescimento do número de empresas no Sudeste brasileiro, se bem se trate de algo ainda muito
tímido que tende a se intensificar nos próximos tempos. Além disso, a capital paulista é um dos exemplos do processo de mo-
dernização produtiva, em que as antigas fábricas vão sendo gradualmente substituídas por frentes tecnológicas de serviços.
Brasil – Participação (em %) no crescimento do PIB industrial por estados (1985-1992)

Estado de São Paulo - eixos de industrialização

52
1.4. Fatores locacionais da indústria cada tipo de produto da indústria há um meio de trans-
porte adequado.
A atividade industrial é a principal fonte de atração de-
mográfica, urbana e econômica de determinado território. 2. Energia: infraestrutura de energia em uma dada re-
Mas o que interfere em sua localização? Por que uma gião, como disponibilidade, estrutura de transmissão e
indústria encontra-se em uma determinada localidade es- novas tecnologias.
pacial e não em outra? A resposta para essas questões é 3. Mercado consumidor: dimensão e características so-
chamada de fatores locacionais – vantagens competitivas cioculturais e econômicas do consumidor; acesso físico do
que as empresas e as indústrias veem em um determinado cliente ao produto mediante transporte.
local e que atraem seus respectivos investimentos.
4. Matérias-primas: é um fator locacional clássico, que
Na escolha da localização de uma indústria, são conside- compreende disponibilidade, tipo, qualidade, custo e trans-
rados todos os fatores benéficos a ela. Uma ressalva para porte de matéria-prima.
indústrias mineradoras, que se localizam em lugares onde
5. Mão de obra – força de trabalho: compreende dis-
a matéria-prima está disponível. Caso clássico são as in-
ponibilidade, produtividade, qualificação, grau de organiza-
dústrias do século XVIII, que deveriam ficar próximas à sua
ção, faixa salarial, regras jurídicas regionais.
matéria-prima de fonte energética: o carvão.
6. Incentivos fiscais: concedidos com isenções de im-
Atualmente, conforme a mudança nos tipos de indústria, sua
postos, ICMS, por exemplo, às indústrias, bem como con-
localização não será tão somente em função da proximidade
cessão de terrenos para a instalação da unidade produtiva
de sua matéria-prima. Porém, quais são os fatores locacionais?
da fábrica.
7. Ciclo do produto: para cada fase de produção de um
TRANSPORTES

INCENTIVOS FISCAIS
INCENTIVOS
TRANPORTES
MÃO
MÃODE OBRA/FORCA
DE OBRA/
objeto industrial existe uma lógica espacial, afirma o eco-
nomista George Benko. Um produto pode ter três fases de
FISCAIS DE TRABALHO
FORCA DE TRABALHO

produção: desenvolvimento; estandardização ou amadure-


cimento; e declínio. Cada fase requer um tipo de força de
MATÉRIAS PRIMAS
MATÉRIAS-PRIMAS ENERGIA
ENERGIA trabalho mais representativa e um local de produção mais
apropriado, segundo a lógica capitalista.
8. Disponibilidade de capital: sempre que necessário
CICLO DO PRODUTO CAPITAL
ao empresário para que tenha fôlego para novos investi-
mentos, bem como um ambiente propício para os negócios
CICLO DO PRODUTO MERCADO CAPITAL
CONSUMIDOR
MERCADO CONSUMIDOR

– relações financeiras – e para trocas de capitais – bancos,


empresas, etc.

1.5. Formação do operariado brasileiro


A Constituição Federal de 1891 preocupou-se muito pouco
com os problemas sociais. As relações de trabalho mantidas
entre empregadores e empregados nas indústrias e nas cida-
des eram estabelecidas pelas burguesias mercantil, industrial
multimídia: livro e financeira. O movimento operário ainda era muito inci-
piente, sem articulação nem forças políticas para impor suas
reivindicações quanto às condições salariais e de trabalho.
Espaço e indústria – Ana Fani Alessandri Carlos
Espaço e Indústria é um livro construído no processo A formação do operariado brasileiro efetivou-se priorita-
de luta travada no meio do movimento de renovação riamente por brasileiros oriundos de regiões pobres e pela
da Geografia. Nele, vivência, participação e discussão grande maioria de imigrantes estrangeiros – italianos, ale-
teórica se encontram. mães, japoneses, poloneses, entre outros –, uma vez que os
negros, particularmente os : ex-escravizados, foram ignora-
dos e repelidos do mercado de trabalho assalariado, me-
Pode-se enumerar oito deles: diante estratagemas revestidos de forte preconceito racial.
1. Transporte: envolve qualidade, disponibilidade e Suas primeiras articulações aconteceram a partir das ligas
meios de infraestrutura, custos e novas tecnologias. Para operárias e sociedades de resistência.

53
preocupação era a abolição da propriedade privada (bur-
guesa liberal), uma vez que “os recursos naturais da terra
pertencem a toda a sociedade, sua apropriação para fins
privados é furto”, pregavam.
As principais greves operárias ocorridas durante a Primeira
República foram articuladas pelos anarquistas e anarcos-
sindicalistas. Outro fato bastante presente era a grande
circulação de jornais anarquistas: A Lanterna, La Batta-
glia, o Semanário Avanti, entre outros. Os anarquistas
utilizavam a imprensa para propagar com mais eficácia as
ideias sociais de contestação da ordem social vigente e tor-
nar os operários conscientes politicamente.
Operários, de Tarsila do Amaral
Com a industrialização no Brasil, principalmente nas cida-
Suas principais reivindicações giravam em torno da melho- des do Rio de Janeiro e São Paulo, houve rápida urbaniza-
ria das condições de trabalho – menor jornada de traba- ção das cidades que cresceram sem nenhum planejamen-
lho, assistência ao trabalhador doente e acidentado –, de to, trazendo sérios problemas: falta de tratamento de água
melhores salários, de regulamentação dos dias de folga e e esgoto, notadamente em bairros operários e em cortiços,
pela melhoria das condições de vida – moradia, educação,
agravando a falta de higiene e proliferação de doenças.
alimentação e saúde. Outra luta travada pelos trabalhado-
Geralmente, os operários viviam precária e miseravelmente
res foi pela normatização e regulamentação dos direitos
com suas famílias nos cortiços ou habitações sublocadas.
relativos ao trabalho feminino e infantil.
A articulação política do operariado brasileiro teve início
com a vinda de teorias sociais advindas da Europa, o que
se explica pela composição do operariado, na sua maioria
de origem europeia (imigrantes). As principais teorias eram
o socialismo científico, de Marx e Engels, e o anarquismo,
de Godwin e Bakunin. À medida que as organizações ope-
rárias iam sendo formadas, constituía-se também a consci-
ência e o reconhecimento dos operários como classe social
multimídia: livro
e sua formação política, surgindo os primeiros movimentos
reivindicatórios e as primeiras greves. O socialismo exerceu Indústria e Território no Brasil
importante papel na articulação política dos operários. Em Contemporâneo – Rosélia Piquet
1906, fundou-se o Partido Socialista Brasileiro, de tradição Rompendo barreiras interdisciplinares, a autora apre-
marxista, que mostrou aos trabalhadores o antagonismo senta uma análise das mudanças ocorridas na econo-
de classe que move a história do capitalismo. O anarquis- mia brasileira durante o último meio século e suas impli-
mo teve mais importância na organização do movimento cações na ocupação do território nacional.
operário brasileiro, no início do século XX. Sua principal

54
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Um bom passeio para entender o processo de industrialização no Brasil é ir de trem até a vila de Paranapiacaba,
um distrito do município de Santo André, que surgiu como centro de controle operacional e residência para os
funcionários da companhia inglesa de trens São Paulo Railway. A estrada de ferro Santos-Jundiaí foi construída para
escoar a produção de café para o porto de Santos. A paisagem urbana de São Paulo e arredores, com a implantação
da estrada de ferro Santos-Jundiaí, foi impactada de várias formas. As estações ferroviárias começaram a concentrar
as primeiras atividades urbanas, como oficinas, armazéns e depósitos, e propagaram caminhos que interligavam
povoados, chácaras e sítios, vinculados à exploração mineral, florestal ou à produção agrícola. A centralidade da
cidade de São Paulo foi fortalecida – além de abrigar as famílias dos cafeicultores e os negócios do café, surgiram as
primeiras fábricas e indústrias que se tornariam a marca da metrópole paulistana por todo o século XX.

VIVENCIANDO

O processo de industrialização do Brasil remonta aos últimos decênios do século XIX. O seu ponto de partida
situa-se por volta da década de 1880, motivado essencialmente pela crise e abolição do trabalho escravo. Con-
ceituar esses fatos históricos é de vital importância para compreender como se deu esse processo e analisá-lo
sob a óptica da transformação do espaço geográfico.

55
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 18
Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais.

Além de interferir no meio econômico e comercial, a industrialização é considerada também como um dos
principais agentes de transformação e produção do espaço geográfico. Afinal, a geração de empregos diretos
e indiretos e a dinâmica financeira que isso produz são fatores atrativos, o que faz com que os deslocamentos
populacionais ocorram e o processo de urbanização, muitas vezes, se intensifique e se torne mais acelerado.
O Brasil, por exemplo, só se tornou um território predominantemente urbano quando conheceu, ao longo do
século XX, a consolidação de seu espaço industrial.

MODELO 1
(Enem) O fenômeno da mobilidade populacional vem, desde as últimas décadas do século XX, apresentando
transformações significativas no seu comportamento, não só no Brasil como também em outras partes do
mundo. Esses novos processos se materializam, entre outros aspectos, na dimensão interna, pelo redirecio-
namento dos fluxos migratórios para as cidades médias, em detrimento dos grandes centros urbanos; pelos
deslocamentos de curta duração e a distâncias menores; pelos movimentos pendulares, que passam a assu-
mir maior relevância nas estratégias de sobrevivência, não mais restritos aos grandes aglomerados urbanos.
OLIVEIRA, L.A.P.; OLIVEIRA, A.T.R. Reflexões sobre os deslocamentos populacionais no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2011 (adaptada).

A redefinição dos fluxos migratórios internos no Brasil, no período apontado no texto, tem como causa a
intensificação do processo de:
a) descapitalização do setor primário;
b) ampliação da economia informal;
c) tributação da área residencial citadina;
d) desconcentração da atividade industrial;
e) saturação da empregabilidade no setor terciário.

ANÁLISE EXPOSITIVA

A alternativa [D] está correta porque a mobilidade mencionada caracteriza o processo de desmetropoliza-
ção, resultado dentre outros fatores da desconcentração industrial a partir da década de 1990.

RESPOSTA Alternativa D

56
DIAGRAMA DE IDEIAS

INDUSTRIALIZAÇÃO
DO BRASIL

TIPOS DE
INDUSTRIALIZAÇÃO

• 1.ª FASE - INCIPIENTE


• 2.ª FASE - SEM TECNOLOGIA SUBSTITUIÇÃO DAS IMPORTAÇÕES
• 3.ª FASE - GETÚLIO INDÚSTRIAS DE BASE
• 4.ª FASE - JK INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA

FATORES
LOCACIONAIS

NOVA DIVISÃO DESCONCENTRAÇÃO


INTERNACIONAL DO TRABALHO INDUSTRIAL

57
desenvolvimento de uma rede de transporte suficiente tem
AULAS 33 E 34 sido um desafio contínuo para obter crescimento no desenvol-
vimento econômico, na mobilidade dos bens e principalmente
para participar da economia globalizada, e tem sido ultima-
mente bem oficializado pelas polícias do Brasil.
O objetivo específico do transporte é atender à demanda
TRANSPORTES I por mobilidade, já que o transporte só pode existir se movi-
mentar pessoas, cargas e informações. Caso contrário, não
tem propósito. Isso ocorre porque o transporte é predomi-
nantemente o resultado de uma demanda derivada; ocorre
porque outras atividades estão ocorrendo.
A distância, um atributo central do transporte, pode ser
representada de várias formas, desde uma simples distân-
COMPETÊNCIA: 4 cia euclidiana – uma linha reta entre dois locais – até o
que pode ser chamado de distância logística; um conjunto
HABILIDADES: 16 e 17 completo de tarefas necessárias para que a distância possa
ser superada. Qualquer movimento deve, portanto, consi-
derar sua configuração geográfica, que, por sua vez, está
ligada a fluxos espaciais e seus padrões.

Se os transportes marítimos sempre reforçaram a depen- O propósito exclusivo do transporte é superar o espaço,
dência em relação ao estrangeiro, os novos transportes ter- que é moldado por uma variedade de restrições físicas e
restres, a partir da Segunda Guerra Mundial, beneficiaram humanas, como distância, tempo, divisões administrativas
São Paulo, a metrópole industrial do país. As dificuldades e topografia. Conjuntamente, eles conferem uma fricção a
financeiras para o equipamento dos navios e o fato de vá- qualquer movimento, comumente conhecido como o atri-
to da distância (ou fricção do espaço). No entanto, essas
rias ferrovias terem sido levadas a tornar-se antieconômi-
restrições e o atrito que criam só podem ser parcialmente
cas aceleraram a instalação do império do caminhão.
circunscritos. À medida que isso é realizado existe um custo
SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil:
território e sociedade no início do século XXI.
que varia muito de acordo com fatores como a duração
da viagem, a capacidade de modos e infraestruturas e a
O Brasil entrou na era do caminhão, sem antes haver com- natureza do que está sendo transportado.
pletado o seu equipamento ferroviário. A rodovia antecipa-
-se ao trilho nas faixas pioneiras. Toma-lhe triunfalmente
a dianteira para as ligações com os grandes portos. Diz-se
que o condutor de caminhões é o bandeirante moderno.
MONBEIG, Peirre

1. Introdução
O transporte é um fator essencial do desenvolvimento e or-
denamento do território, seja ele em nível local ou regional,
ou seja, é uma das tecnologias do espaço mais fundamen-
tais para a economia.
Ao longo do tempo, a acessibilidade cresceu e isso levou a um
grande aumento na mobilidade da população. Essa tendência
vem desde a Revolução Industrial, apesar de ter sido signifi-
cativamente acelerada na segunda metade do século XX por
várias razões. Hoje, as sociedades dependem dos sistemas de
transporte para uma grande variedade de atividades. Essas
atividades incluem o transporte de pessoas para o local de Mapa do encolhimento do mundo através de inovações
suas atividades, suprimento das necessidades energéticas, no transporte: aniquilam o espaço através do tempo.

distribuição de bens e aquisição de necessidades pessoais. O

58
David Harvey, geógrafo britânico especialista em rela-
ções de globalização, retrata o mapa do encolhimento
do mundo. A transformação e a evolução dos transpor-
tes e da comunicação torna o mundo mais próximo
e menor funcionalmente falando. Por exemplo: duas
cidades que possuem aeroportos conectados acabam
ficando “mais próximas” do que cidades que não se
conectam por esse modal e, por isso, o deslocamento
leva mais tempo. Isso significa dizer que a evolução dos
transportes altera nossa percepção de espaço-tempo.

Hoje, a capacidade e a eficiência do transporte são impor- Navio carregado de contêineres no porto de Santos (SP, 2019)
tantes, por isso é importante conhecer a maneira mais rápi- § Fluvial: meio de transporte sobre águas de grandes
da de transportar pessoas e produtos e, por sua vez, é vital rios e lagos, que realiza a circulação de pessoas e mer-
entender a geografia das regiões em que essas pessoas e cadorias. Nas hidrovias, são transportados, prioritaria-
produtos estão se movimentando. mente, materiais não perecíveis, tais como carvão, areia
O transporte pode ser realizado por meio terrestre, aéreo e grãos, com baixo valor por peso, como é o caso do
ou aquático. Os tipos de transporte podem ser classificados minério de ferro.
da seguinte maneira:
§ Ferroviário: modalidade de transporte terrestre rea-
lizado por trens sobre trilhos, bastante vantajoso para
cargas pesadas, particularmente de matérias-primas.

Canal do Panamá

Trem de carga, Barra Mansa (RJ, 2019) § Aéreo: mobilidade bastante dinamizada e agilizada para
transporte de pessoas, mercadorias e matérias-primas no
§ Rodoviário: modalidade de transporte terrestre reali-
mundo, em virtude da evolução e das inovações ocorridas
zado por carros, caminhões ou ônibus, que se deslocam
nos meios de transporte. Permite a locomoção de pessoas
em ruas, rodovias ou estradas para o transporte de pes-
e mercadorias por aeronaves (aviões e helicópteros).
soas e mercadorias.

Rodoanel Mario Covas, Rodovia dos Bandeirantes (SP)

§ Marítimo: modalidade de transporte aquaviário para


deslocamento intercontinental de cargas e passageiros
por mares ou oceanos. Terminal de cargas, Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP, 2019)

59
curtos e rápidos. Nos países da União Europeia, o trans-
porte rodoviário é bastante difundido, com perspectivas de
crescimento, desencadeado entre as décadas de 1970 e de
1990, e de integração cada vez mais eficaz com o trans-
porte ferroviário. Nos Estados Unidos, o meio de transporte
mais usado é o rodoviário.
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
2.1. As rodovias no Brasil
Perrengue - O desafio da mobilidade em São Paulo O Brasil é considerado um país eminentemente rodovia-
rista, no qual predomina o modal rodoviário para des-
locamentos ao longo de toda a sua extensão territorial.
2. Transporte rodoviário Atualmente, o país tem em média 1,03 km de rodovias
pavimentadas e 7,35 km de rodovias não pavimentadas
por habitante, conforme apontam dados do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Vias propostas pelo Plano
Rodoviário Nacional (1944)

Os demais tipos de transporte – ferrovias e hidrovias – es-


tão, há muito, em segundo plano, mesmo comprovando
que costumam apresentar uma relação custo-benefício
A consolidação do transporte rodoviário ocorreu com o bem melhor. Enquanto um caminhão transporta 30 tonela-
desenvolvimento da indústria automobilística, nas primei- das de carga, com o mesmo custo um trem transporta 125
ras décadas do século XX. Os veículos de transporte são toneladas e as hidrovias, mais de 575 toneladas.
considerados símbolos do capitalismo, retratos do sistema Então, por que o Brasil investiu em rodovias, em detrimento
capitalista em expansão. dos demais tipos de transporte? O Brasil começou a inves-
Apesar de bastante difundido no mundo, o transporte tir de fato em rodovias somente ao longo do século XX. O
rodoviário envolve altos custos, se comparado aos trans- auge dessa política veio com o governo JK, pois o processo
portes ferroviário e hidroviário. O alto custo do frete é de industrialização, naquela época, demandava uma maior
decorrente do preço dos combustíveis e da manutenção integração territorial, o que incluía uma rede de transporte
periódica dos veículos e das vias terrestres. A infraestru- articulada por todo o território nacional. Fez-se então uma
tura necessária para seu funcionamento tem elevados opção desenvolvimentista sob a óptica capitalista, baseada
custos com construção e manutenção – notadamente, se na indústria automobilística. Juscelino Kubitschek implan-
em terrenos acidentados, que pressupõem a construção de tou um parque industrial para suporte das indústrias auto-
túneis, viadutos, pontes, aterros, entre outros. A principal mobilísticas atraídas para o país, construiu a capital Brasília
indicação do transporte rodoviário é para deslocamentos e estabeleceu a construção de várias rodovias importantes,

60
que consumiram praticamente todo o orçamento então Durante o regime militar, a política rodoviarista man-
destinado ao transporte terrestre. teve-se através do Programa de Integração Nacional
No pós-Segunda Guerra, dois elementos que considera- (PIN), que visava a uma maior ocupação do Centro-O-
mos estruturais ao modal rodoviário alargaram a sua base este e da Amazônia. Nesse período, foram construídas a
material, impulsionando ainda mais as dinâmicas territo- Perimetral Norte, a Cuiabá–Santarém e a polêmica Tran-
riais advindas da crescente mecanização à qual o país es- samazônica, que liga a região Nordeste à região Norte,
tava sendo submetida. O Plano Rodoviário Nacional (PRN), no sentido leste–oeste.
instituído pelo decreto nº 15.093/44, deu ao sistema rodo- Nesse contexto, elementos geopolíticos serão feitos pre-
viário uma condição de proeminência na fluidez territorial sentes na forma de se pensar o território nacional, e as vias
do país, e uma de suas preocupações era a alavancagem de circulação contêm elementos suficientes para corrobo-
de um processo de interiorização a partir de vias pioneiras. rar essa visão por seu caráter amplamente geoestratégico,
Outro fator fundamental à expansão rodoviária foi a cria- sobretudo por causa das dimensões continentais do Brasil,
ção do Fundo Rodoviário Nacional, em 1945, conhecido da extensão de suas fronteiras terrestres e do anseio em
como Lei Joppert, que vinculou parte predominante dos incrementar planos faraônicos de integração e ocupação
recursos arrecadados à construção e conservação rodo- territorial. Elemento que merece bastante destaque é a no-
viárias, definindo os mecanismos de transferência desses menclatura dada, em 1964, ao conjunto rodoviário segundo
recursos a estados e municípios. O setor rodoviário pas- sua disposição geográfica, indicada após o prefixo BR, como
sou a dispor de um mecanismo de financiamento sus- podemos observar no mapa:
tentado no longo prazo, que garantiu recursos a fundo
perdido para a construção, pavimentação e conservação Rodovias Radiais (BR-010 a BR-080)
de rodovias. O FRN inaugurou uma “onda rodoviária” em
todo o país, pois, a partir daí, quase todos os estados
constituíram os seus próprios departamentos de estradas
de rodagem, com a elaboração de seus respectivos planos
rodoviários estaduais. Antes do decreto-lei de 1945, ape-
nas São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e
Rio de Janeiro dispunham de alguma autarquia estadual
relacionada à matéria. A malha rodoviária que se estabe-
lece a partir desse contexto já afirmava um sentido geral
longitudinal e mais interiorizado da formação territorial,
sobrepondo-se ao direcionamento histórico litoral–inte-
rior desenhado desde os primórdios da colonização. So-
ma-se à essa determinação a extinção das tarifas comer-
ciais interestaduais, que foi um avanço fundamental no
processo de integração econômica do espaço nacional.
Rodovias Latitudinais (BR-210 a BR-293)

multimídia: livro

Geografia dos transportes no


Brasil – Moacir M.F. Silva
Sua contribuição para o estudo dos transportes é signi-
ficativa, principalmente nas décadas de 1940 e 1950,
quando a questão da integração territorial nacional re-
cebeu um grande destaque.

61
Rodovias Longitudinais (BR-101 a BR-174)
Programas especiais na área de transportes

§ Programa de Integração Nacional (PIN): prevê


a integração territorial “em seus aspectos de efetiva
posse de extensas áreas do nosso território, incor-
porando-as ao contexto nacional, através do des-
bravamento de áreas virgens e abertura de novas
fronteiras de desenvolvimento econômico e social,
mediante a construção de rodovias pioneiras que
complementarão o sistema de navegação fluvial. O
PIN compreende a constituição de uma rede rodo-
viária básica inter-regional entre as regiões Norte-
-Nordeste e Norte-Centro-Oeste, além de ligações
intrarregionais nessas mesmas zonas, perfazendo
Rodovias Diagonais (BR-304 a BR-393) cerca de 15 mil km, destacando-se a abertura das
polêmicas Transamazônica e Cuiabá-Santarém.
§ Programa de Redistribuição de Terras e de
Estímulo à Agroindústria do Norte e do Nor-
deste (Proterra): criado em 1971, foi tido como
complementação à rede rodoviária existente para
a promoção do acesso à terra e fortalecimento da
agroindústria nas áreas de atuação das Superin-
tendências do Desenvolvimento da Amazônia (Su-
dam) e do Nordeste (Sudene). Em poucas palavras,
o Proterra consistiu na pavimentação de 2.842 km
de estradas, destacando-se a Belém-Brasília (BR-
010, BR-153 e BR-226), a ligação Campina Gran-
de/PB-BR-316 (BR-104) e os trechos Capanema/
PA-Caxuxa/MA e Picos-Salgueiro da BR-316.
§ Rodovias radiais (BR-0xx): partem da capital federal § Programa de Desenvolvimento do Centro-
em direção aos extremos do Brasil. -Oeste (Prodoeste): também criado em 1971,
visou à ligação rodoviária dos estados do Centro-
§ Rodovias longitudinais (BR-1xx): cortam o Brasil
-Oeste aos principais centros de consumo, indus-
na direção norte-sul.
trialização e exportação do país, com implantação
§ Rodovias transversais (BR-2xx): cortam o Brasil na e pavimentação de 3.995 km. O plano anunciou a
direção leste-oeste. modernização da agropecuária no planalto cen-
§ Rodovias diagonais (BR-3xx): apresentam-se na tral, de acordo com os interesses da revolução
direção NO-SE ou NE-SO. verde e as orientações da Superintendência de
§ Rodovias de ligação (BR-4xx): apresentam-se em Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco).
qualquer direção, geralmente ligando rodovias fede- § Programa Especial para o Vale do São Fran-
rais; ou, pelo menos, uma rodovia federal a cidades ou cisco (Provale): criado no ano seguinte (1972),
pontos importantes; ou, ainda, às fronteiras terrestres. estabeleceu o incremento da navegação pelo rio
São Francisco, com a integração rodoferroviária
Estava assim desenhado o sistema de ações responsável
com o Centro-Sul, além da implantação de uma
pela materialização territorial de grandes obras rodoviárias
rede rodoviária de 4.794 km.
com o intuito declarado de estimular a ocupação dos cha-
mados “vazios demográficos” e/ou manobrar a integração § Programa de Corredores de Exportação: pre-
nacional, consubstanciado num pacote denominado Pro- viu o incremento logístico nos portos de Rio Gran-
gramas Especiais na Área dos Transportes, cujos planos de (RS), Paranaguá (PR), Santos (SP), Rio de Janei-
propostos atendem diretamente a objetivos geoeconômi- ro (RJ) e Vitória (ES) para fortalecer a capacidade
cos e/ou geopolíticos atrelados ao planejamento regional.

62
tes. Muitas delas apresentam péssimas condições, causam
de competição no mercado externo com uma infra- muitos acidentes e comprometem os custos para o escoa-
estrutura integrada entre os modais marítimo, ro- mento de produtos. Trata-se de um modal bastante oneroso
doviário e ferroviário. Foram melhorados os acessos para manutenção, que sempre exige mais gastos públicos e
rodoviários aos portos supracitados. mais direcionamento de verbas, o que nem sempre acontece.
§ Programa de Recuperação do Contorno da Atualmente, o Brasil é o quinto maior mercado da indústria
Baía de Guanabara: teve como objetivo melho- automobilística mundial, e cerca de 10 mil km do seu sis-
rar a ligação entre os estados da Guanabara e tema rodoviário são compostos por autoestradas, principal-
Rio de Janeiro, incluído em um plano diretor com mente no estado de São Paulo. No entanto, cerca de 30%
metas também nas áreas de saneamento básico de toda a extensão da malha viária brasileira estão muito
e urbanização. danificados pela falta de manutenção e apenas 96.353 km
estão pavimentados. Além disso, parte relevante das ligações
interurbanas no país, mesmo em algumas regiões de gran-
de demanda, ainda são constituídas por estradas de terra
ou com estado de conservação precário, especialmente nas
regiões Norte e Nordeste do país, o que resulta em prejuízos
para o transporte de cargas bem como acidentes e mortes.

Rodovia Transamazônica (BR-230), Rurópolis (PA, 2016)

Como resultado dessas políticas rodoviaristas, atualmente


mais de 62% do sistema de transporte brasileiro é rodoviá-
rio, em virtude da concentração de investimentos nesse setor. multimídia: música
O que, no entanto, não significa que haja estradas suficien- Fonte: Youtube
Música urbana – Capital Inicial

Brasil – 106.º colocação


Com o atual estado de saturação dos sistemas viários urbanos e metropolitanos, muitas cidades de médio e grande porte
têm se voltado para soluções que pretendem resolver o problema do transporte de pessoas e cargas, sendo a solução

63
mais comum a implantação de anéis viários. É interessan-
te notar que, quando se discute a implantação de uma dos Bandeirantes; a Rodovia Castelo Branco; o trecho
obra viária nas audiências públicas, dificilmente se dis- da BR-153, entre Itumbiara e Brasília; a Rodovia dos
cute o sistema operacional da via, como se isso fosse um Imigrantes; a Rodovia Washington Luís; a Rodovia
fato inconteste, e não um elemento passível de discussão. Ayrton Senna/Carvalho Pinto; e a Rodovia Osvaldo
Tomemos como exemplo o Rodoanel Mário Covas: seu Aranha, no trecho entre Porto Alegre e Osório.
projeto e implantação ficaram a cargo da Dersa, uma au-
tarquia com grande experiência em projetar e implantar
estradas de alto desempenho, classificadas, no jargão da 2.2. Rodoanel
área, como estradas classe 0, cuja proposta é ligar pontos
relativamente distantes, de forma rápida, sendo previstas O Rodoanel é um anel rodoviário de 176 quilômetros de ex-
velocidades de deslocamento superiores a 100 km/h. tensão que circunda a região central da Grande São Paulo.
Construído ao longo de duas décadas, conecta as 10 rodo-
vias estaduais ou federais que passam pela Grande São Pau-
Rodovias classe 0 lo, criando rotas alternativas que evitam, por exemplo, que
As autoestradas de maior nível técnico no Brasil são caminhões vindos do interior do estado com destino ao por-
definidas pelo DNIT (Departamento Nacional de Infra- to de Santos circulem pelas vias urbanas já congestionadas
estrutura de Transporte), atendem aos mais altos pa- da região metropolitana. A rodovia é dividida em quatro tre-
drões internacionais de desenho e são projetadas para chos (norte, sul, leste e oeste) construídos em etapas separa-
comportar velocidades de até 130 km/h. A declividade das e operados por duas concessionárias diferentes. Além da
máxima aceita em tais padrões é de 5% (em terrenos cidade de São Paulo, o Rodoanel cruza outras 16 cidades da
montanhosos) e raio máximo de curva de 665 metros região metropolitana: Santana de Parnaíba, Barueri, Carapi-
(para superelevação de 12%). As autoestradas atuais cuíba, Osasco, Cotia, Embu das Artes, Itapecerica da Serra,
no Brasil classificadas como classe 0 são: a Rodovia São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá, Ribeirão Pires,
Poá, Suzano, Itaquaquecetuba, Arujá e Guarulhos.

64
O grande objetivo do Rodoanel seria desviar o trânsito de
passagem pela região metropolitana de São Paulo, conec- Petrobras, com frequência diária, pelo fim da cobran-
tando as estradas que afluem à região metropolitana e ça de pedágio por eixo suspenso e pelo fim do PIS/
permitindo a passagem desse volume de tráfego de forma Cofins sobre o diesel. O preço dos combustíveis vinha
segregada, não sobrecarregando mais o sistema urbano aumentando desde 2017 e sua tributação represen-
interno a esse anel. Na proposta do Rodoanel, parte-se da ta 45% do preço final, sendo 16% referentes ao PIS/
premissa que o grande problema do tráfego das vias prin- Cofins, de competência da União. O preço ao consu-
cipais da região metropolitana é o tráfego de passagem. midor da gasolina brasileira estava na média mundial
na semana da greve, em valores absolutos, enquanto
No entanto, analisando-se todos os dados disponíveis so-
o diesel estava abaixo da média.
bre a região metropolitana da grande São Paulo, verifica-se
que um dos grandes focos de consumo de bens, gêneros A paralisação e os bloqueios de rodovias em 24 esta-
alimentícios e combustíveis no país, para se citar apenas dos e no Distrito Federal causaram a indisponibilidade
alguns dos elementos que fazem parte das necessidades de alimentos e remédios ao redor do país, escassez
básicas da civilização moderna, está na própria região me- e alta de preços da gasolina, com longas filas para
tropolitana, com seus mais de 20 milhões de habitantes, abastecer. Além disso, várias aulas e provas foram
ou aproximadamente 50% da população do estado de suspensas nas escolas, a frota de ônibus foi reduzida,
São Paulo. Para se entender melhor o que isso significa, voos foram cancelados em várias cidades, enormes
segundo o IBGE, a população apenas da cidade de São quantidades de alimentos foram desperdiçadas, além
Paulo, em 2013, já era estimada em quase 12 milhões de da morte de muitas aves e porcos por falta de ração.
habitantes, com um IDHM de 0,805, sendo nela gerados
aproximadamente 25% do PIB do Brasil.
Considerando esses fatos, compreende-se que o grande
problema é que muitos produtos de fato precisam entrar
na região metropolitana para abastecer a população e per-
mitir que ela desenvolva sua intensa atividade produtiva,
ou seja, o sistema interno de distribuição de bens e pessoas
é que se encontra sobrecarregado.
Dessa forma, afirmar que a implantação do Rodoanel Mário
Covas, com sua forma e sistema operacional propostos, cau-
sa um impacto significativo no alívio do trânsito da região
metropolitana, ao menos proporcional ao investimento feito,
O valor médio para cada 100 km em rodovias estaduais do Rio de
é ignorar tais dados. A classe viária adotada não apresenta Janeiro é de R$ 12,93; enquanto a média nacional é de R$ 9,04.
vantagens quando o objetivo é atender a grandes volumes
A partir dos anos 1990, processos de privatização das
de tráfego, pois isso ocorre em rodovias quando a velocidade
estradas brasileiras repassaram para a iniciativa privada a
está em uma faixa próxima a 50 km/h, no nível de serviço E,
manutenção e a transferência de custos para os usuários
como também, pelo número restrito de acessos, ela não per-
pagantes nas praças de pedágios. Esse processo continua
mite um sistema local de distribuição de pessoas e mercado-
em andamento, enquanto obras públicas tentam priorizar
rias, além de a tornar extremamente vulnerável a bloqueios
o acabamento de outras estradas e os investimentos em
localizados que venham a ocorrer por diversos fatores.
outros modais de transporte, com ênfase no ferroviário.

A crise do diesel
A greve dos caminhoneiros no Brasil, que teve início
na manhã do dia 21 de maio de 2018, também cha-
mada de crise do diesel, foi uma paralisação de ca-
minhoneiros autônomos com extensão nacional, du-
rante o governo federal de Michel Temer. Os grevistas
se manifestaram contra os reajustes frequentes e sem multimídia: música
previsibilidade mínima nos preços dos combustíveis, Fonte: Youtube
principalmente do óleo diesel, realizados pela estatal Rua de passagem – Lenine

65
Estrada do Pacífico
Também conhecida como Rodovia Interoceânica, é uma estrada binacional que liga o noroeste do Brasil ao litoral sul do
Peru, através do estado do Acre. A parte da Estrada do Pacífico que fica dentro do território brasileiro é identificada como
BR-317, enquanto, no Peru, é chamada apenas de Carretera Interoceanica.
A Estrada do Pacífico é o primeiro eixo multimodal Atlântico–Pacífico
na América do Sul. Além de favorecer a integração sul-americana, a cir-
culação de pessoas, o turismo e o comércio bilateral entre o Brasil e o
Peru, a estrada vai garantir o acesso dos produtos peruanos ao oceano
Atlântico e o acesso dos produtos brasileiros ao oceano Pacífico.
Essa integração física entre Brasil e Peru começou no início dos anos
2000 com a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-
-americana (Iirsa), projeto que busca conectar os países da América do
Sul nas áreas de transporte, energia e telecomunicações. Os produtos que passam pela rodovia são desde produtos primá-
rios, como soja, carne e minério de ferro, até produtos industrializados.

3. Transporte aéreo
Transporte aéreo no Brasil – movimento nos principais aeroportos
Evolução do movimento aeroportuário (passageiros pagos; empresas brasileiras e estrangeiras)
nos quatro aeroportos de maior movimento mais Santos Dumont e Campinas, de 2000 a 2011

Fonte: Anuário do Transporte Aéreo – 2011. Anac.

O uso desse tipo de transporte intensificou-se depois da Segunda Guerra Mundial, graças à expansão do comércio inter-
nacional e das empresas multinacionais e transnacionais. É o meio de deslocamento em massa mais rápido, ao percorrer
grandes distâncias em tempo reduzido.
A sua principal infraestrutura é o aeroporto, grande espaço físico que proporciona a saída (decolagem) e a entrada (aterrissa-
gem) de aeronaves. Nele, há espaços para manutenção das aeronaves, bagagens dos passageiros, carga e descarga de mer-
cadorias, locais de alimentação, etc. Nas últimas três décadas, a aviação civil ganhou significativo incremento, notadamente
o transporte de pessoas, devido à elevação das relações financeiras entre países, à modernização dos aviões e helicópteros
e à diminuição dos custos das passagens aéreas.

66
Transporte aéreo em 2014 o mineroduto Paragominas/Barcarena, Pará (250 km); e o
(milhões de passageiros) gasoduto Brasil-Bolívia, com 3.150 km de extensão (sendo
2.593 km em território brasileiro), considerado o maior da
América Latina e um dos maiores do mundo.
Uma implantação bastante positiva é o valor investido na
construção de dutos e tubulações, uma vez que o retorno em
relação ao capital investido é bastante rápido, graças à econo-
mia gerada por esse tipo de transporte, bem como aos poucos
impactos ambientais que gera. Em contrapartida, o valor da im-
plantação dos sistemas de tubulações e dutos é bastante alto.
Na tentativa de baratear os traslados internacionais, em- Segundo a localização de construção dos dutos, eles podem ser:
presas fabricantes de aviões pretendem criar modelos com
capacidade de transportar até 800 pessoas de uma só vez.
Apesar do enorme dinamismo que o transporte aeroviário
proporciona, seus custos são elevados: valores operacio-
nais, manutenção, combustíveis, entre outros.
O transporte de cargas, por sua vez, é razoavelmente limitado
em virtude do alto custo, bem como pela capacidade de car-
ga dos aviões. Não é possível carregar toneladas de soja em
aeronaves, como fazem os navios. É indicado para o transpor-
te de produtos perecíveis, leves e com urgência de entrega.

4. Transporte dutoviário § Subterrâneos: dutos não visíveis, de modo que estão


localizados abaixo da terra.
É o transporte por dutos e tubulações de produtos líqui-
dos ou gasosos. A infraestrutura desse sistema pode ser
instalada sobre o solo, no subsolo ou submarina.

Os primeiros oleodutos foram dos Estados Unidos, por § Aparentes: dutos visíveis, encontrados geralmente nas
volta de 1885, tecnologia que se intensificou e se propa- estações de abastecimento.
gou a partir do século XX, uma vez que permite conduzir
produtos por enormes distâncias. Os produtos são trans-
portados de uma área produtora para áreas consumidoras
ou exportadoras, como os portos. Dentre os produtos mais
transportados estão os minérios, o petróleo e o gás natural.
No Brasil, o transporte dutoviário surgiu na década de 50,
sendo pouco utilizado em comparação aos outros tipos. Se-
gundo a Agência Nacional de Transporte Terrestres (ANTT)
no país, cerca de 60% dos transportes é realizado por ro-
dovias, 20% por ferrovias, 13% por hidrovias e 4% por
dutovias. Merecem destaque o Oleoduto São Sebastião/
Paulínia (226 km) e de Angra dos Reis/Caxias (125 km);

67
§ Aéreos: dutos construídos suspensos no ar nos ter- bastante seguro e pode transportar grande quantidade de
renos que apresentam relevo acidentado, bem como carga (embora transporte pouca variedade de produtos)
para atravessar um rio ou um vale. por longas distâncias.
Na maior parte dos casos, não necessita de embalagens
para o transporte desses produtos. Curioso notar que os
dutos apresentam serviços continuados, ou seja, funcio-
nam 24 horas por dia. Outra vantagem do sistema duto-
viário é a diminuição de roubos e furtos de produtos, de
forma que muitos tubos estão imersos no solo.
Outras vantagens desse tipo de transporte é que ele apre-
senta fácil implementação e além disso, é bem econômico
uma vez que apresenta baixo custo operacional de trans-
§ Submarinos: dutos submersos no fundo do mar, ge- porte e de energia.
ralmente utilizados para o transporte de petróleo nas
Por outro lado, as desvantagens do transporte dutoviário
plataformas marítimas.
são: considerado um transporte lento (com velocidade de
Além de diminuir o tráfego de substâncias perigosas e a 2 km/h a 8 km/h) em relação aos outros, além de apre-
incidência de desastres ecológicos, o sistema dutoviário é sentar pouca flexibilidade de destinos e de produtos.

Sistema dutoviário brasileiro

DUTOS DE PETRÓLEO
DUTOS DE MERMADOS
REFINARIAS
UPGN’s Bacia de
TERMINAIS FLUVIAIS Guararema Campos
TERMINAIS MARÍTIMOS
Rio de Janeiro
TERMINAIS TERRESTRES
Santos
TERMINAIS LACUSTRE
ARMAZENADORAS
CAPITAIS

500km

68
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Os problemas de mobilidade urbana, de movimentação de cargas, os impactos ambientais dos diversos meios de
transporte, a preocupação com a eficiência e pontualidade requerem estudos avançados interdisciplinares, inclu-
sive no campo da engenharia, que visam maior economia em uma rede de transportes com melhor desempenho
multimodal. Nos últimos anos, o debate sobre a mobilidade urbana no Brasil vem se acirrando cada vez mais,
haja vista que a maior parte das grandes cidades do país vem encontrando dificuldades em desenvolver meios
para diminuir a quantidade de congestionamentos ao longo do dia e o excesso de pedestres em áreas centrais
dos espaços urbanos. Trata-se, também, de uma questão ambiental, pois o excesso de veículos nas ruas gera
mais poluição, interferindo em problemas naturais e climáticos em larga escala e também nas próprias cidades,
a exemplo do aumento do problema das ilhas de calor.

VIVENCIANDO

O modal rodoviário corresponde a 58% do transporte de carga do Brasil. De acordo com dados oficiais do
governo federal, o país detém, aproximadamente, 1,5 milhão de quilômetros de rodovias não pavimentadas,
contra cerca de 200 mil quilômetros de rodovias pavimentadas. Mesmo optando pelo rodoviarismo, as condi-
ções da maioria das estradas brasileiras de rodagem são precárias, no que diz respeito à qualidade da pista,
sinalização e segurança. Observar as rodovias ou mesmo as avenidas e ruas por onde passamos pode auxiliar
na compreensão desse tema.

69
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 16
Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
HABILIDADE 17
Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.

Podemos observar que, ao longo da história, alguns dos maiores esforços da sociedade tem sido no sentido de
garantir a redução significativa dos efeitos da distância entre os diferentes espaços da superfície terrestre. Tais
esforços fazem parte de processos de evolução, tanto das sociedades que buscam vencer a necessidade de deslo-
camentos cotidianos, criando para isso formas de encurtar distâncias, como dos sistemas de transportes enquanto
forma e processo consolidados que, ao longo do tempo, se mostram cada vez mais complexos e articulados com
o processo de organização socioespacial. Os percursos feitos a pé, o transporte muar e os desenvolvimento dos
diferentes modais nos ajudam a entender o processo de evolução dos transportes, num contexto de mundo cada
vez mais globalizado, no qual diferentes atores servem-se das redes e se utilizam dos espaços para produzir e
transformar o território nacional em um espaço nacional de economia internacional.
Nesse sentido, os diferentes transportes são fundamentais para o desenvolvimento e organização do território,
uma vez que independente das suas escalas de implantação e uso, se em nível local ou nacional, participam do
processo de incremento da economia, à medida que são responsáveis pela movimentação e circulação de pessoas
e cargas, desempenhando, portanto, papel estratégico na intensidade e na forma com que as relações sociais,
espaciais e econômicas acontecem. Por esse motivo, na atualidade, vêm se tornando cada vez mais comum as
análises dos impactos do transporte na economia de diferentes países e regiões. As relações entre o desenvolvi-
mento das infraestruturas de transporte e técnicas, assim como a análise dos modais presentes no espaço em
cada momento histórico, nos mostra o quanto o transporte pode ser considerado um dos elementos do desenvol-
vimento regional. Tal consideração se explicaria pelo fato de que a infraestrutura de transportes tem uma série de
impactos e benefícios sobre a sociedade.

MODELO 1
(Enem) De todas as transformações impostas pelo meio técnico-científico-informacional à logística de
transportes, interessa-nos mais de perto a intermodalidade. E por uma razão muito simples: o potencial
que tal “ferramenta logística” ostenta permite que haja, de fato, um sistema de transportes condizente
com a escala geográfica do Brasil.
HUERTAS. D.M. O papel dos transportes na expansão recente da fronteira agrícola brasileira.
Revista Transporte y Territorio. Universidade de Buenos Aires, n. 3, 2010 (adaptado).

A necessidade de modais de transporte interligados, no território brasileiro, justifica-se pela(s):


a) variações climáticas no território, associadas à interiorização da produção;
b) grandes distâncias e a busca da redução dos custos de transporte;
c) formação geológica do país, que impede o uso de um único modal;
d) proximidade entre a área de produção agrícola intensiva e os portos;
e) diminuição dos fluxos materiais em detrimento de fluxos imateriais.

70
ANÁLISE EXPOSITIVA
O Brasil, por apresentar um território continental, ou seja, de grande extensão, necessita de que os diferen-
tes meios de transporte sejam conectados (modais) – diminuindo os gastos de transporte de mercadorias
pelas empresas, reduzindo o tempo de deslocamento das partes interiores até o litoral para a exportação
e aos grandes centros urbanos.
A questão aborda o sistema de transporte, em que um dos principais desafios brasileiros para os próximos
anos é eliminar os gargalos no setor de infraestrutura que limitam a competitividade do país. O Brasil tem
urgência em recuperar, modernizar e aumentar a capacidade das infraestruturas, de modo a permitir o
crescimento da economia. O país foi a única nação de grande dimensão territorial que optou pelo modal
rodoviário, o que implica no aumento do custo. A interligação de modais de transporte no território brasi-
leiro justifica-se pelas distâncias e pela busca da redução dos custos de transporte.

RESPOSTA Alternativa B

71
DIAGRAMA DE IDEIAS

BAIXA EFICIÊNCIA NO
TRANSPORTE DE CARGA

CAUSAS PRIMÁRIAS

DEFICIÊNCIA DA INSEGURANÇA
INFRAESTRUTURA DE APOIO NAS VIAS

DESBALANCEAMENTO LEGISLAÇÃO E FISCALIZAÇÃO


DA MATRIZ DE TRANSPORTE INADEQUADAS

CAUSAS SECUNDÁRIAS

• BAIXOS PREÇOS DOS


FRETES RODOVIÁRIOS • REGULAMENTAÇÃO DO TRANSPORTE
• POUCAS ALTERNATIVAS AO • LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA E
MODAL RODOVIÁRIO INCENTIVOS FISCAIS
• BARREIRAS PARA INTERMODALIDADE • FISCALIZAÇÕES INEFICIENTES
• PRIORIZAÇÃO DO MODAL • BUROCRACIA
RODOVIÁRIO PELO GOVERNO

• BASE DE DADOS DO
SETOR DE TRANSPORTES • ROUBO DE CARGAS
• TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO • MANUTENÇÃO DAS VIAS
• TERMINAIS MULTIMODAIS

72
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

O Enem é extremamente interdisciplinar e acaba Nos temas de regionais do mundo, a prova ainda
tendo como foco principal promover reflexões permanece bem tradicional, com temas relaciona-
sobre a sociedade, a interação dela com o espaço e dos, principalmente, à Geografia física.
a visão crítica sobre as ações da humanidade.

Fique atento às particularidades econômicas A prova da Unifesp não tem Geografia. A estrutura das perguntas do vestibular da
dos países em questão. Unesp é semelhante às questões do Enem,
principalmente por sua distribuição de tópicos
e disciplinas. As duas avaliações contam com
muitos exercícios de interpretação e compre-
ensão de texto.

Embora seja recente, podemos observar que Costuma apresentar questões de política eco- É importante estudar a Europa e suas tensões Os acontecimentos mais recentes na Europa
esse vestibular preza por questões com enun- nômica, globalização e geopolítica, quando se políticas. O Brexit é um tema que pode são um tema que pode se destacar nesse
ciados pequenos, de fácil interpretação e que trata da Geografia geral. aparecer. vestibular.
buscam conteúdos bem atuais da Geografia
geral. Estude as crises econômicas que
aconteceram na América Latina
em 2019.

UFMG

É de extrema importância que o candidato te- A prova de Geografia costuma contar com um A prova da CMMG não tem Geografia.
nha conhecimento sobre as diferentes lógicas núcleo de temas sempre cobrados pela UFPR,
territoriais e da diversidade teórico-conceitual, como globalização e Geografia regional.
quando se trata de temas sobre regionaliza-
ção do espaço mundial.

Para os temas deste livro, o candidato deverá No que se refere à Geografia econômica, é A prova avalia, principalmente, a habilidade
ficar a par de assuntos da atualidade, como necessário compreender aspectos ligados à de leitura de textos de gêneros variados, rela-
mudanças territoriais recentes, as novas globalização. Entre os principais assuntos, des- cionando-os às suas condições de produção.
fronteiras e as crises econômicas. tacam-se a conteinerização das mercadorias,
fases da industrialização, medidas econômi-
cas e fluxos de informação.
GEOGRAFIA 2

75
de desenvolvimento econômico e a maioria delas apresen-
AULAS 27 E 28 ta graves problemas sociais.

REGIÕES
SOCIOECONÔMICAS
MUNDIAIS II: multimídia: livro
AMÉRICA LATINA
As veias abertas da América
Latina – Eduardo Galeano
COMPETÊNCIA: 2
No prefácio, escrito em agosto de 2010, especialmen-
te para essa edição de As veias abertas da América La-
HABILIDADE: 9 tina, Eduardo Galeano lamenta “que o livro não tenha
perdido a atualidade”.

Portanto, os países da América Latina estão distribuídos


1. Introdução pelas três regiões geográficas do continente: México (Amé-
rica do Norte) e todas as nações da América Central e do
O continente americano é o segundo mais extenso do pla-
Sul, com traços históricos e culturais semelhantes.
neta, com mais de 42 milhões km2, uma população com
aproximadamente 925,2 milhões de habitantes, distribu-
ídos em 35 países e em territórios sem plena autonomia
política, como a Guiana Francesa. México Cuba Rep. Dom.
Haiti
Belize
A divisão dessa grande porção continental é baseada na Guatemala Honduras
El Salvador
posição geográfica das terras americanas no globo terres- Nicarágua
Costa Rica Venezuela Guiana
tre: América do Norte, América Central e América do Sul. O Panamá Suriname
Colômbia Guiana
continente americano é dividido em América Anglo-Saxô- Equador
Francesa (FR)

nica e América Latina, em razão do idioma e dos elementos


históricos e culturais de cada uma delas. Peru Brasil
O processo de colonização no continente americano foi Bolívia
promovido pelos europeus: espanhóis, portugueses, britâ- Paraguai
nicos, holandeses e franceses, e uma das principais heran- Chile
ças dessa colonização é a língua. As nações colonizadas Uruguai
por países cujo tronco linguístico é o germânico (inglês) Argentina
pertencem à América Anglo-Saxônica. A América Latina,
por sua vez, é integrada pelos países de língua neolatina –
francês, português e espanhol.
Entretanto, apesar de ex-colônias de países de tronco lin-
América Latina
guístico germânico – inglês e holandês –, Suriname, Jamaica,
Trinidad e Tobago, entre outros, são considerados países da
América Latina, uma vez que mantêm características históri- 1.1. Aspectos naturais
cas e culturais semelhantes às dos latino-americanos.
Outro elemento importante para essa divisão são os as- 1.1.1. Relevo
pectos geopolíticos e socioeconômicos. Canadá e Estados O México apresenta um relevo montanhoso, cuja princi-
Unidos são as potências desenvolvidas do continente. As pal formação é a Sierra Madre, que se subdivide em duas
nações latino-americanas, por sua vez, estão em processo cristas, ocidental e oriental, e entre as duas encontra-se o

76
planalto Mexicano. A América Central, por sua vez, é a me- do país. Um dos fatores que agrava ainda mais a escassez
nor porção do continente e é subdividida em duas partes: hídrica é a contaminação dos rios por dejetos domésticos e
istmo, corredor continental, que liga os dois blocos maiores, industriais, problema que é agravado nas bacias hidrográ-
e as antilhas, que correspondem à porção insular, que, por ficas que atendem áreas densamente urbanizadas, como
sua vez, está subdividida em grandes antilhas (Cuba, Haiti, é o caso das bacias dos rios Tula, Moctezuma e Pánuco.
Jamaica, República Dominicana e Porto Rico) e pequenas No golfo do México, encontram-se as bacias dos rios Co-
antilhas, que correspondem a um grupo de microestados e atzacoalcos e Papaloapan, com forte poluição industrial,
possessões britânicas, francesas, estadunidenses e holande- urbana e agrícola, e ainda as bacias do Grijalva e do Usu-
sas (Bahamas, Martinica, Guadalupe, Granada, Santa Lucia, macinta (o mais volumoso do país). Ao norte, na fronteira
Barbados, entre outras). No istmo, o relevo constitui uma ir- com os Estados Unidos e desaguando no golfo do México
regularidade serrana e planáltica (sierras), que na realidade
em forma de grande delta, está o rio Bravo.
nada mais é do que um prolongamento do aspecto mon-
tanhoso que desce do México, sendo a vertente ocidental Os rios da América Central são, em geral, de pequeno por-
mais íngreme e acidentada, rebaixando-se à medida que a te; o destaque fica por conta da ligação que eles possibili-
geomorfologia avança para leste. tam no istmo entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
A costa leste da América do Sul é de planaltos de origem A América do Sul é caracterizada pelas maiores bacias
geológica muito antiga; por essa razão sofreu longos pro- hidrográficas do mundo, a começar pela do Amazonas, a
cessos erosivos e atualmente as características do relevo maior do mundo.
são relativamente planas, com altitudes modestas.
O grande potencial hídrico desse subcontinente é provenien-
No interior da América do Sul, há predominância de planal- te dos aspectos climáticos que predominam em grande parte
tos com pouca elevação e planícies. do território onde prevalecem os climas úmidos – equatorial
No extremo ocidente do subcontinente, o relevo é cons- e tropical úmido –, com altos índices pluviométricos.
tituído pelas grandes altitudes da cordilheira dos Andes,
que corresponde a um dobramento moderno oriundo do 1.1.3. Principais bacias hidrográficas
encontro entre a placa de Nazca e a placa Sul-america- da América do Sul
na, razão pela qual a região tem uma grande incidência
de abalos sísmicos. A cordilheira dos Andes estende-se da § Bacia Amazônica – localizada na floresta Amazôni-
Venezuela ao Chile, com aspectos distintos classificados ca, banha Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Ve-
em: Andes setentrionais úmidos, Andes centrais ou áridos e nezuela e Guiana.
Andes meridionais ou frios. § Bacia do Prata ou Platina – corresponde à união de
Golfo do três sub-bacias: Paraná, Paraguai e Uruguai.
México
Citlaltepetl
5 610 m
§ Bacia do rio São Francisco – fica totalmente em ter-
Mar do
Caribe ritório brasileiro e tem como rio principal o São Francisco.
Pico da Neblina
2 994 m
Is. Galápagos

Planície Amazônica
Co
rd
ilh ossa Pe
ei
F

ra
dos Andes

OCEANO
ru-Chile

Aconcágua
PACÍFICO 7 000 m

Estreito de Magalhães Is. Falkland


Terra (Malvinas)
do Fogo

Mapa físico da América do Sul

1.1.2. Hidrografia
No México, a hidrografia é pobre em boa parte do território,
por causa do clima semiárido que abrange o centro-norte Mapa da bacia do Prata

77
cerrado no planalto central brasileiro, o chaco no Paraguai
e Bolívia e os lhanos na Venezuela. Nas regiões de clima
tropical úmido predominam as florestas tropicais – floresta
Atlântica na costa brasileira.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Conflito das Águas
Mas enquanto Sebastian, com algo a dizer, pretende re-
contar a história do mito de Colombo, apresentando-o
como um homem obcecado por ouro, escravos caçador
e repressivo indiano; conta, apenas uma película com
um orçamento modesto que lhe foi atribuído, ou é ne-
cessária para disparar na Bolívia, um dos países mais
baratos com grandes populações indígenas. Deserto do Atacama, Chile (2013)

Nas regiões onde prevalece o clima subtropical, como no


sul do Brasil, no Uruguai e na Argentina, há vegetações
1.1.4. Clima e vegetação
como a mata dos pinhais, as estepes e as pradarias.
O clima no México é variado, com a ocorrência de clima ári-
O clima temperado ocorre em uma restrita parcela da Amé-
do no norte, clima temperado nas encostas montanhosas e
rica do Sul, no sul do Chile, cuja vegetação é de floresta
clima tropical no sul, sudeste e ao longo da linha costeira,
temperada.
onde as altitudes são modestas. A vegetação reflete a di-
versidade climática, variando desde as estepes no norte até
a floresta tropical no sul e sudeste.
A América Central fica na faixa tropical do planeta, portan-
to numa área quente e úmida. A vegetação é predominan-
temente de florestas tropicais.
Em razão da extensão territorial em sentido norte-sul, o con-
tinente está sob influência de duas zonas climáticas: a inter-
tropical e a temperada do sul. Dessa forma, os climas são Pradaria argentina (2014)
equatorial e tropical, além do mediterrâneo e temperado.
O relevo é um dos elementos mais importantes na compo- 1.2. Aspectos econômicos
sição dos climas. Ao longo de toda planície amazônica não
A base econômica dos países da América Latina está as-
há altitudes que impeçam a locomoção de massas de ar
sentada nas atividades produtoras do setor primário – pro-
quente ou frio, servindo assim como um corredor de pas-
dução agropecuária, extração vegetal, animal e mineral.
sagem de massas que seguem seu trajeto para interagir
com as características locais e assim dar origem às distintas Após a Segunda Guerra Mundial, países como Brasil, Mé-
variações climáticas. xico e Argentina industrializaram-se. Países que os abaste-
ciam de mercadorias industrializadas estavam em proces-
Além desses, na América do Sul há ainda os climas frios de
so de reconstrução obrigatória pela destruição da guerra.
montanha, característicos dos Andes; o semiárido, nos An-
Esses países conduziram sua autossustentação, conhecida
des central e no nordeste brasileiro; e o árido ou desértico,
como industrialização por substituição de importação.
na Patagônia (Argentina) e no Atacama (Chile).
Outra característica dos países latinos é a industrialização
O clima em grande parte é o equatorial e tropical, que pro-
tardia que ocorreu apenas no século XX, tendo em vista
porciona o desenvolvimento de grandes florestas do tipo lati-
que a Revolução Industrial teve início entre o final do sé-
foliadas, correspondentes à floresta equatorial, a Amazônica.
culo XVIII e o início do XIX. Foram necessários quase 100
As áreas de clima tropical correspondem aos territórios do anos de atraso, portanto, para que a grande dependência
Brasil, Paraguai, Venezuela e Colômbia. Há neles savanas, o financeira em relação aos países ricos (re)começasse.

78
desenvolvimento econômico. Os recursos foram destina-
dos principalmente para obras de infraestrutura – usinas
hidrelétricas, portos, rodovias, ferrovias –, além de forta-
lecer e criar novas empresas ligadas às indústrias de base
no ramo das metalúrgicas, siderúrgicas, petroquímicas e
de mineração.
multimídia: música Nesse cenário, fica evidente que países como Argentina
Fonte: Youtube e México, que se encontram em franco crescimento in-
Latinoamérica – Calle 13 dustrial, sejam os mais endividados da América Latina.
Atualmente, enfrentam grandes dificuldades agravadas
pela crise econômica mundial. O Brasil conseguiu qui-
1.2.1. As transnacionais na economia tar suas dívidas externas, usufruindo hoje uma situação
latino-americana razoavelmente privilegiada diante dos demais países lati-
no-americanos.
Elas ingressaram na América Latina, no século XX, graças
às condições favoráveis que ela oferecia: mão de obra farta As dívidas externas impedem que haja um desenvolvimen-
e barata, matéria-prima também farta, com concentração to pleno em países de economias frágeis, fato esse agrava-
de recursos naturais e leis ambientais pouco rigorosas, do a partir da década de 1970, quando os juros internacio-
mercado consumidor promissor em razão dos países popu- nais foram significativamente reajustados.
losos latino-americanos, isenção de impostos e incentivos
Distantes de alcançar o pagamento das dívidas, os países
fiscais para a instalação de indústrias.
endividados optaram pelo pagamento tão somente dos
As transnacionais dominam vários ramos industriais – au- juros, o que não ajuda a solucionar o problema. Essa situ-
tomobilístico, alimentício, siderúrgico, metalúrgico e eletro- ação só interessa às economias centralizadas; são elas que
eletrônico. Esse processo determinou as dificuldades para determinam os rumos da economia de países subdesenvol-
que surgissem empresas genuinamente nacionais. vidos permanentemente dependentes.
A grande maioria dos países latinos possui dívidas que
contraiu no processo de descolonização e encontrou gran- 1.3. A crise econômica e
des dificuldades para pagá-las em virtude dos altos juros e
de sua condição de produtores primários.
o modelo neoliberal
A maioria dos países latinos sempre conviveu com inflação
1.2.2. A dívida externa dos países – aumentos constantes de preço dos produtos e das taxas
latino-americanos de juros. Na década de 1980, não houve expectativa algu-
ma de melhora, independentemente do seguimento, razão
O endividamento externo é um legado comum de grande
pela qual ficou conhecida como a década perdida. O FMI
parte dos países latinos, que contraíram vultosas dívidas
(Fundo Monetário Internacional) fornece frequentemente
junto a instituições financeiras internacionais e países
empréstimos, o que eleva mais ainda o grau de dependên-
credores quando do início do processo de descoloniza-
cia dos países em desenvolvimento. O modelo neoliberal
ção, na tentativa de financiar os gastos pelo desligamen-
agravou a situação econômica mundial em virtude da glo-
to com as metrópoles.
balização, provocou desemprego, crescimento da pobreza
Por conta desses empréstimos, passaram a enfrentar difi- e elevação do custo de vida.
culdades intransponíveis para o pagamento deles, também
porque economicamente assentados na produção de pro- Em resumo: as questões apontadas são realidades comuns a
dutos primários, com baixo valor agregado, em competição todos os países latinos que tiveram histórias semelhantes e
desigual com produtos industrializados europeus, com alto de colonização de exploração, que se refletem na realidade
valor agregado. A balança comercial pendendo contra os atual. Embora cada um deles tenha suas particularidades, os
países latinos impossibilitava-lhes o crescimento econômi- problemas são os mesmos, provocados pelo desenvolvimen-
co significativo, o que os impedia de reunir recursos sufi- to desigual do capitalismo.
cientes para sanar as dívidas.
Diversos países que ingressaram de forma expressiva nas
1.3.1. Aliança do Pacífico
atividades industriais tiveram de estender ainda mais os A Aliança do Pacífico, formada por Chile, Colômbia, Mé-
valores e os prazos das dívidas, com o propósito de gerar xico e Peru, é um processo de integração econômico e

79
comercial, aberto, flexível e com metas claras e pragmá- Por sua vez, aumentar o comércio extra-Aliança é um objeti-
ticas, cujo principal objetivo é avançar na livre circulação vo de grande interesse, especialmente com a região Ásia-Pa-
de bens, serviços, capitais e pessoas. Esse ambicioso es- cífico, que concentra hoje quase 50% da população mundial,
forço não só procura aprofundar o comércio e o investi- 30% do PIB mundial e 30% do que se compra no planeta.
mento entre seus membros, mas também com o mundo. Também em serviços foi chave o acordo alcançado em
A Aliança do Pacífico firmou suas bases institucionais transporte marítimo, o que facilitará a cooperação e o
formalmente em junho de 2012 com o Acordo Marco, trânsito para cargas, complementando, assim, os acordos
assinado pelos quatro presidentes da República (Obser- já existentes com novas disciplinas. Em serviços aéreos,
vatório Paranal, Região de Antofagasta, no Chile). busca-se avançar rumo a sua liberalização, para, assim, im-
A Aliança surgiu sobre a base de aprofundar e comple- pulsionar a integração, fazendo mais expedito e eficiente o
mentar aquilo que os quatro países já tinham estipula- transporte de pessoas e carga.
do bilateralmente. Em forma paralela, a ideia foi gerar
espaços de integração relevantes em áreas não tradi- 1.3.2. Indústria
cionais. Assim, foram gerados acordos em educação O processo de industrialização começou na Inglaterra,
(intercâmbios e bolsas de estudos de pré-graduação);
no final do século XVIII. No século XIX, expandiu-se pela
cooperação científica (mudança climática); promoção
Europa, Estados Unidos e Japão. Mas tal processo acon-
conjunta nos mercados internacionais de bens, servi-
teceu de modo desigual de forma bastante particular.
ços e investimentos da região; escritórios comerciais
Países como México, Argentina e Brasil são considerados
conjuntos; cooperação consular e de embaixadas, para
de industrialização tardia ou retardatária, uma vez que
mencionar algumas conquistas.
ingressaram na industrialização quase cem anos após a
A Aliança do Pacífico tem uma estrutura baseada no prin- Primeira Revolução Industrial.
cípio do consenso. Nesse sentido, as muitas coincidências
Durante o século XIX, houve diversas tentativas de industria-
que compartilham os países facilitaram os acordos. É im-
lização nesses mesmos países da América Latina. Entretanto,
portante assinalar que existe um grande nível de compro-
todas foram frustradas, ou tiveram repercussões pouco ex-
misso, o qual se reflete nas sete reuniões de cúpulas dos
pressivas. As poucas indústrias que vingaram limitavam-se à
chefes de Estado, nos vários encontros de ministros de Re-
fabricação de bens de consumo não duráveis – velas, sabão,
lações Exteriores e de Comércio, e nas sucessivas reuniões
artigos de couro e lã, tecidos, alimentos, móveis, etc.
dos vice-ministros de Comércio e dos grupos técnicos.
Foi depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), da
crise de 1929 e da Segunda Guerra Mundial (1939-1945),
que o cenário internacional favoreceu um relativo desen-
volvimento industrial dos países latino-americanos.
À medida que a Primeira Guerra Mundial intensificava-se,
Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos, países indus-
trializados à época, passaram a diminuir o volume de expor-
multimídia: vídeo tação para a América Latina. Escassos os produtos industria-
Fonte: Youtube
lizados, algumas nações latinas passaram a fabricar produtos
que garantissem o abastecimento do mercado interno.
Diários de Motocicleta
Che Guevara (Gael García Bernal) era um jovem estu- A crise de 1929 também contribuiu para a industrialização
dante de Medicina que, em 1952, decide viajar pela da América Latina. Em crise, a economia estadunidense
América do Sul com seu amigo Alberto Granado (Ro- criou para os países latinos uma significativa dependência,
drigo de la Serna). A viagem é realizada em uma moto, uma vez que eles deixaram de receber capitais da venda de
que acaba quebrando após 8 meses. produtos agrícolas e matérias-primas. Sem dinheiro para
comprar produtos industrializados importados, Brasil, Ar-
gentina e México foram obrigados a fabricar seus produtos.
Com efeito, com uma população de 211 milhões de pes-
soas, um PIB de US$ 2,013 trilhões (um terço do PIB da Terminada a Segunda Guerra Mundial, grandes grupos em-
região) e um comércio global de US$ 1,104 trilhão, esti- presariais europeus, estadunidenses e japoneses buscaram
ma-se que a Aliança do Pacífico, em 2018, será a terceira uma nova forma de expansão comercial ao dispersarem
maior economia do mundo, segundo projeções do Fundo empresas multinacionais em direção a países da América
Monetário Internacional (FMI). Latina, África e Ásia.

80
Essa nova configuração internacional de produção deu-se Em suma, o desenvolvimento industrial da América Latina
por diversos fatores: mão de obra abundante e barata, fra- foi essencialmente vinculado às transnacionais.
gilidade sindical, riquezas em matérias-primas, imenso mer-
Países do Mercosul
cado consumidor, disponibilidade de infraestrutura oferecida
pelos países que recebiam as empresas, leis ambientais frá-
Venezuela
geis. Marcava-se assim uma nova etapa do capitalismo.

Brasil

Paraguai

População
Indústria maquiladora no México (2014) Uruguai
270 milhoes de habitantes
70% do total da América do Sul

As transnacionais exercem uma grande influência de or- Argentina PIB


dem econômica em praticamente todos os países da Amé- US$ 3,3 trilhões
83,2% do total da América do Sul

rica Latina, assim como ocorre na Ásia e na África.


Território
12,7 milhões de km2
No caso específico da América Latina, as transnacionais 72% do total da América po Sul

instalaram-se atraídas pelas condições favoráveis ofere-


cidas, bastante atrativas para as empresas. Dentre essas
condições é possível destacar:
Apesar da globalização, há nos países latinos uma pe-
§ Abundância de mão de obra que favorece a defasagem quena integração internacional. Na América Latina essa
salarial. Nesses países, os salários são baixos, ao con- integração se destaca pelo bloco econômico chamado
trário dos pagos nos países de origem das empresas. Mercosul, criado em 1991, formado por Brasil, Argentina,
§ Enorme potencial de recursos naturais usados como Uruguai, Paraguai, além de Chile e Bolívia, que participam
matéria-prima e adquiridos com baixos custos. como convidados. A Venezuela foi inserida no bloco no ano
de 2012 e suspensa no ano de 2016.
§ Grandes perspectivas de consumo, uma vez que há au-
mento da população, resultando em enorme mercado A formação de blocos econômicos é uma tendência mun-
consumidor que, consequentemente, deve absorver dial, pois fortalece os países diante do mercado global. No
parte da produção das empresas. Mercosul é praticado o acordo de união aduaneira, que
tem como objetivo fixar uma tarifa alfandegária externa
§ Diversos países concederam ainda infraestrutura oriun-
comum a todos os integrantes. Há discussões voltadas para
da de capitais estatais, favorecimentos tributários, fi-
a implantação de uma nova etapa no bloco, na qual seriam
nanciamentos, subsídios, entre outras facilidades.
liberadas totalmente as trocas comerciais de bens, capitais
Em face disso, as transnacionais começaram a se disper- e circulação de pessoas; porém, as diferenças socioeconô-
sar ao longo da América Latina, especialmente nas áreas micas têm impedido a consolidação desse acordo.
de maior desenvolvimento industrial, como Brasil, Argen-
Os impasses e desafios na consolidação do Mercosul são
tina e México.
estabelecidos a partir de medidas protecionistas adotadas
No contexto industrial, as transnacionais ocupam grandes pelos líderes dos países, cuja finalidade é proteger as eco-
espaços, uma vez que exercem domínios hegemônicos em nomias nacionais e seus empresários. O produto importado
determinados ramos de atividades, como a indústria auto- deve ser taxado de tributos para que o produto interno
mobilística, alimentícia, siderúrgica, metalúrgica, eletroele- tenha o melhor preço. No continente, o Brasil é a principal
trônica, farmacêutica, química e agroindústria. potência e exerce forte influência sobre os demais países.
A inserção em massa de transnacionais em grande parte dos Nos últimos anos vem sendo discutida a possibilidade de
países latinos impediu o surgimento de empresas nacionais. implantação de um bloco econômico mais abrangente com-
Aquelas ocuparam todo o mercado, como foi o caso da indús- posto pelas três Américas, do Norte, Central e do Sul, chama-
tria de automóveis – quase todas são de origem estrangeira. do Alca. O Mercosul promoveu um grande salto econômico

81
para os países membros. Com ele, o valor comercial cresceu 1.5. Subdesenvolvimento dos países latinos
300%, desde 1999. Pensa-se também em uma possível in-
tegração com a União Europeia, meta contrariada pelos Es-
tados Unidos, interessados na criação da Alca. A resistência
1.5.1. O espaço rural
criada pelos países latinos é alimentada pelo receio de que o Os contrastes do espaço agrário latino-americano são cau-
acordo sirva apenas aos interesses estadunidenses. sados principalmente pela disparidade tecnológica. Das duas
classes rurais, uma delas conta com todo aparato tecnológi-
co e a outra, com práticas rudimentares de produção. Nesse
cenário, há concentração fundiária (uma restrita parcela da
população detém a maior parte das áreas rurais) e monocul-
tura (herança da época colonial de todas as nações latinas).
As médias e pequenas propriedades são responsáveis pela
produção de alimentos para o mercado interno de abasteci-
multimídia: música mento dos centros urbanos. Essas propriedades têm baixa
Fonte: Youtube produtividade, ao passo que os produtores latifundiários têm
Antipatriarca – Ana Tijox alta produtividade graças ao investimento tecnológico e à
destinação de sua produção, o mercado internacional.

1.4. O narcotráfico na América Latina A concentração das terras ocorreu no período colonial,
quando da formação territorial, da distribuição de imensas
Na América do Sul, um dos maiores problemas enfren- propriedades rurais mantida por anos e anos. A concentra-
tados pelos países é o narcotráfico, que corresponde ao ção fundiária traz sérios problemas ao campo, que exigem
segundo ramo comercial do mundo, cujos principais pro- um programa voltado para a reforma agrária e o estabele-
dutores são latinos – Peru, Bolívia e Colômbia. Os não cimento de uma política agrícola.
produtores atuam na comercialização. A coca, principal-
mente, é cultivada, processada (para a fabricação da coca-
ína) e distribuída pelo mundo mediante as rotas do tráfico
1.5.2. Questão da terra e reforma
das quais o Brasil faz parte estratégica. agrária na América Latina
Uma correta reforma traria estabilidade social, melhoria na
qualidade de vida, geração de empregos, fixação do traba-
lhador no campo, redução da pobreza e da violência.
No entanto, as reformas agrárias na América Latina são
impossibilitadas por influência política. Parlamentares re-
presentantes da bancada ruralista e representantes dos
grandes proprietários rurais são contrários a medidas que
As Farc - Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
firam os interesses de seus representados. A falta de uma
A prática ilegal do narcotráfico se alinha a outras práticas política agrária eficiente fez surgir movimentos de luta pela
criminosas, ou seja, caminha ao lado de outras, o que se con- posse da terra, como o Movimento dos Trabalhadores Ru-
vencionou chamar de delitos conexos, como a lavagem rais Sem-Terra (MST) no Brasil.
de dinheiro, o tráfico de agentes químicos, o tráfico de armas,
corrupção nas esferas pública e privada, evasão fiscal, etc.
Esse conjunto de delitos é denominado crime organizado.
Na geografia do narcotráfico na América Latina, a Colômbia
é responsável por 80% da produção mundial de cocaína,
cuja matéria-prima (a folha de coca) tem origem no Peru,
que também abastece a produção boliviana. Nesses países
pobres, onde a globalização acirrou as diferenças entre paí-
ses ricos e pobres, por falta de opção, humildes camponeses
têm sido empurrados para os braços do narcotráfico. Como
a agricultura familiar está em recessão, esses camponeses
converteram sua produção para traficantes, que pagam um
bom preço pelo quilo da folha de coca. No entanto, esse
valor é ínfimo diante dos lucros do narcotráfico. Manifestação do MST, em Brasília, Distrito Federal, Brasil (2014)

82
VIVENCIANDO

Uma boa visita para se conhecer alguns aspectos da América Latina é ir ao Memorial da América Latina, um
centro cultural, político e de lazer, inaugurado em 18 de março de 1989 em São Paulo. O conjunto arquitetônico,
projetado por Oscar Niemeyer, é um monumento à integração cultural, política, econômica e social da América
Latina, situado em um terreno de 84.482 metros quadrados no bairro da Barra Funda. Seu projeto cultural foi
desenvolvido pelo antropólogo Darcy Ribeiro. É uma fundação de direito público estadual, com autonomia
financeira e administrativa, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura.

Do campo para a cidade, as semelhanças entre as ca-


racterísticas de urbanização dos países que compõem a
América Latina são evidentes. A partir do século XX, o
processo de êxodo rural – saída de pessoas do campo
para as cidades – inchou significativamente a popula-
ção dos núcleos urbanos; e o processo de urbanização
ocorreu graças principalmente ao desenvolvimento in-
dustrial, a modernização do campo, ao crescimento na-
multimídia: música
tural trazido pelo processo de metropolização. Ambos os Fonte: Youtube
processos, no entanto, são excludentes. A urbanização é Pal Norte – Calle 13
desordenada e provoca exclusão social – áreas de ricos
e de pobres –, a não geração de empregos suficientes e
o crescimento do setor informal.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
O Banheiro do Papa
multimídia: livro
1998, cidade de Melo, na fronteira entre o Brasil e o Uru-
guai. O local está agitado, devido à visita em breve do Papa.
Cem Anos de Solidão - Gabriel Garcia Márquez Milhares de pessoas virão à cidade, o que anima a popu-
Com nova tradução e projeto gráfico, o livro mais im- lação local, que vê o evento como uma oportunidade para
portante da obra de Gabriel García Márquez, vencedor vender comida, bebida, bandeirinhas de papel, souvenirs,
do prêmio Nobel de literatura em 1982, é relançado. medalhas comemorativas e os mais diversos badulaques.

83
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Devemos adotar uma perspectiva interdisciplinar com múltiplos instrumentos de análise e operar com categorias
de observação de situações de vida de grupos e de comunidades, bem como de temáticas inovadoras, com o
objetivo de produzir um pensamento crítico em relação aos problemas sociais e culturais dimensionados em
termos de tempo e espaço latino-americanos. O diálogo entre as áreas de Letras, Artes, História, Antropologia e
disciplinas afins tem como objetivo a interpretação dos processos de produção e circulação de saberes, em sua
articulação com as práticas e mobilidades sociais e culturais na América Latina.

84
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 9
Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas, em escala local,
regional ou mundial.

As organizações políticas e socioeconômicas internacionais da atualidade tiveram o seu surgimento, em sua maioria,
na segunda metade do século XX. No entanto, foi com a globalização e o fim da Guerra Fria que elas se consoli-
daram como importantes atores no cenário internacional, passando por um relativo período de fortalecimento. Em
virtude da recente ampliação da integração geoeconômica global, essas organizações tornaram-se atores impor-
tantes no cenário mundial, com a missão de estabelecer um ordenamento das relações intranacionais de poder e
influência política. Atuam na elaboração e regulação de normas, suscitam acordos entre países, buscam atender a
determinados objetivos, entre outras funções.

MODELO 1
(Enem) México, Colômbia, Peru e Chile decidiram seguir um caminho mais curto para a integração regional.
Os quatro países, em meados de 2012, criaram a Aliança do Pacífico e eliminaram, em 2013, as tarifas adua-
neiras de 90% do total de produtos comercializados entre suas fronteiras.
Adaptado de: OLIVEIRA, E. Aliança do Pacífico se fortalece e Mercosul fica à sua sombra. O Globo, 24 fev. 2013.

O acordo descrito no texto teve como objetivo econômico para os países-membros:


a) promover a livre circulação de trabalhadores;
b) fomentar a competitividade no mercado externo;
c) restringir investimentos de empresas multinacionais;
d) adotar medidas cambiais para subsidiar o setor agrícola;
e) reduzir a fiscalização alfandegária para incentivar o consumo.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A Aliança do Pacífico é um bloco econômico criado em 2012 com o objetivo de fortalecer a economia dos
países-membros por meio da integração com vistas a enfrentar a expansão do Mercosul e das importações
asiáticas na América do Sul e, portanto, fomentar a competitividade de seus integrantes no mercado externo.
Essa questão mostra, principalmente no texto de referência, como a criação da Aliança do Pacífico entrou
em uma nova etapa impulsionada por duas ambições: a integração entre os países latino-americanos e a
expansão para novos mercados.

RESPOSTA Alternativa B

85
DIAGRAMA DE IDEIAS

ASPECTOS
FÍSICOS

HIDROGRAFIA CLIMA RELEVO

• BACIA AMAZÔNICA • TROPICAL • MONTANHAS


• BACIA DO ORINOCO • EQUATORIAL RECENTES A OESTE
• BACIA DO PARANÁ • SUBTROPICAL • PLANÍCIES NO CENTRO
• PLANALTOS
ANTIGOS A LESTE

ASPECTOS POLÍTICOS
E HUMANOS

• SUBDESENVOLVIMENTO
• POLULAÇÃO CONCENTRADA EM CIDADES
• INDUSTRIALIZAÇÃO TARDIA
• EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS PRIMÁRIOS

86
o caso do Reino Unido, da Alemanha, da França e da Itália,
AULAS 29 E 30 membros do G-7, grupo dos países mais ricos do mundo.

2. Relevo
A geomorfologia do continente europeu é marcada pelo
REGIÕES predomínio de extensas planícies. Entre elas, destaca-
-se a planície Sarmática, localizada em terras asiáticas,
SOCIOECONÔMICAS interrompida por um extenso maciço antigo no sentido
MUNDIAIS III: EUROPA norte-sul, os montes Urais. A planície Germânica é uma
continuidade da planície Sarmática e, na França, é conhe-
cida como Baixa Saxônia. Além dessas, existem a planície
Húngara e a Finlandesa.
COMPETÊNCIA: 2 Os dobramentos modernos constituem os relevos mais ele-
vados da Europa. São eles: os Pirineus, que ocupam uma
HABILIDADE: 8 área de 450 km entre os limites territoriais da França com a
Espanha, com altitudes que atingem três mil metros; os Al-
pes, com extensão de 1,1 mil km, que atravessam o território
de França, Itália, Alemanha, Suíça e Áustria – seu ponto mais
elevado é o monte Branco, com 4,8 mil metros; os Apeninos
1. Introdução que percorrem o território italiano de norte a sul por aproxi-
madamente 1,5 mil km, com vulcões ativos; os Cárpatos que
O continente europeu ocupa uma área territorial de
atravessam Eslováquia, Polônia, Ucrânia e Romênia; o Cáu-
10.530.751 km2, que correspondem a apenas 7% das terras
caso, localizado entre os mares Negro e Cáspio, a Rússia, a
emersas do planeta, o que faz dele um dos menores con-
Geórgia, a Armênia e o Azerbaijão; e, por fim, os Alpes diná-
tinentes do mundo, atrás apenas da Oceania, e com uma
rios e os Balcãs, que se localizam no sudeste do continente.
particularidade: é fisicamente ligado à Ásia. Juntos, os conti-
nentes são conhecidos como Eurásia. Outro grupo de relevo acidentado são os maciços antigos,
constituídos por rochas cristalinas muito desgastadas for-
Outros definem a Europa não como um continente, mas
madas no Proterozoico. São eles: os Alpes escandinavos, os
como uma imensa península em razão de seu litoral recor-
montes Urais, Peninos e Pindos.
tado. O território desse continente limita-se ao norte com o
oceano Glacial; ao sul, com os mares Mediterrâneo e Negro; Mapa do relevo da Europa
a oeste, com o oceano Atlântico; e a leste, com os montes CÍ
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Mar da Groenlândia
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Urais, o rio Ural e o mar Cáspio.


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Mapa político do continente europeu


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MAR MEDITERRÂNEO
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Entre os muitos países do continente europeu, o de maior ter- 3. Hidrografia


ritório é a Rússia, que ocupa 40% da área total. Os demais Graças às condições climáticas da Europa, o curso e o volu-
40 países ocupam os restantes 60%. Apesar de relativamente me dos rios europeus são relativamente pequenos. Apesar
restritos, os territórios de muitos países europeus tornaram- dessas limitações, seus mananciais foram sempre muito
-se importantes potências políticas e econômicas mundiais. É importantes para as atividades desenvolvidas na região,

87
especialmente porque são rios navegáveis. É o caso do rio § Mediterrâneo: esse tipo de clima é típico do sul da
Reno, com 1,3 mil km de extensão, que nasce nos Alpes; do Europa, com verões quentes e invernos amenos em
Sena, com 770 km de extensão, cuja nascente fica a sudes- relação a outras regiões do continente. Nesse clima
te de Paris; do Ródano, com 800 km de extensão, nascido há duas estações bem definidas – verão seco e inver-
nos Alpes suíços; do Volga, com 3,5 km de extensão, que no chuvoso.
nasce a noroeste de Moscou; e do Danúbio, com mais de
Mapa do clima da Europa
2,8 mil km de extensão, que nasce nos Alpes alemães.
Polar
Frio de montanha

Temperado
Frio

Semiárido
Mediterrâneo

Rio Reno

A região dos Alpes é um divisor de águas, sendo, por


isso, a região de origem dos dois mais importantes
rios da Europa: o Reno, que deságua no mar do Nor-
te, e o rio Danúbio, que corre para leste e cuja foz é
no mar Negro. multimídia: música
Fonte: Youtube
Reconvexo – Caetano Veloso
4. Clima
A Europa fica na zona temperada da Terra, com climas
amenos. Dentre as particularidades de cada região, iden- 5. Vegetação
tificam-se diversos tipos de climas. A composição vegetativa da Europa é variada em razão
§ Clima de montanha: em áreas de relevo de grandes dos diferentes solos e climas.
altitudes, como os Alpes e Pireneus. Nessas áreas, as § Tundra: cobertura vegetal comum em regiões de
chuvas mansas e rápidas são bem distribuídas durante clima subpolar constituída por musgos, gramíneas,
todo o ano; os invernos são extensos e rigorosos com arbustos e líquens, flora proveniente da junção de
nevadas e geadas. fungos e algas.
§ Temperado oceânico: é formado por um elevado § Floresta conífera: composição vegetativa constitu-
índice pluviométrico, notadamente na primavera e no ída por pinheiros na franja litorânea da Noruega, no
inverno, com temperaturas amenas. centro-norte da Suécia e da Finlândia e em uma exten-
§ Temperado continental: próprio do centro e do sa área do centro-norte da Rússia.
leste da Europa, com chuvas menos incidentes que
§ Floresta temperada: conhecida por floresta caduci-
no temperado oceânico e com amplitudes térmicas
fólia, é composta por faias e carvalhos, que perde suas
mais elevadas.
folhas no inverno.
§ Subpolar: predomina em áreas próximas à região
§ Estepes: vegetação composta por herbáceas ou gra-
Ártica, onde há duas estações bem definidas: inverno
míneas provenientes de solos férteis.
extremamente rigoroso e longo, com temperaturas que
atingem –50 ºC, e verão bastante restrito, com tempe- § Vegetação mediterrânea: composta por xerófilas e
raturas que variam entre 16 ºC e 21 ºC. plantas típicas de regiões secas – maquis e garrigues.

88
Mapa da vegetação europeia Os vazios demográficos estão no norte da Europa, onde
Tundra
predominam temperaturas muito baixas, com invernos ex-
Floresta de coníferas

Floresta temperada
tremamente rigorosos e prolongados.
Mediterrânea

Pradaria O país mais populoso do continente é a Rússia, com cerca


Alta montanha
de 142 milhões de habitantes, seguido da Alemanha (80
milhões), da França (66 milhões), do Reino Unido (64 mi-
lhões), da Itália (61 milhões), da Espanha (48 milhões) e da
Ucrânia (44 milhões de habitantes). Apesar de mais popu-
losa, a densidade demográfica da Rússia é relativamente
baixa para o tamanho do território.
A Holanda tem a maior população relativa da Europa, com
15,9 milhões de habitantes, e densidade demográfica de
470 hab./km², seguida da Bélgica (312 hab./km²), da Ale-
6. Aspectos populacionais manha (82 hab./km²), do Reino Unido (59 hab./km²) e da
O Velho Continente, como a Europa também é conhe- Itália (57 hab./km²).
cida, tem uma população estimada em 750 milhões de No continente europeu há paisagens extremamente hu-
habitantes, número elevado se considerada a extensão manizadas, que modificaram intensamente os recursos
territorial relativamente limitada. A densidade demográfi- naturais, resultado do expressivo desenvolvimento econô-
ca é de 72 hab./km². mico e industrial. Essas grandes transformações deram-se
Essa população é constituída por maioria de brancos de com a Revolução Industrial.
diversos grupos étnicos, com destaque para anglo-sa- Mapa da densidade demográfica
xões, escandinavos, eslavos e germânicos. da Europa (2014)
A população está irregularmente distribuída no território
continental. Há áreas bastante povoadas, cuja densidade
fica acima dos 300 hab./km², e verdadeiros vazios demo-
gráficos, com densidade inferior a 1 hab./km². < 50 hab. por km 2

50 a 100 hab. por km 2

A área central da Inglaterra, a bacia baixa do Reno, na 100 a 150 hab. por km2

150 a 300 hab. por km2

Alemanha, e o vale do Pó, na Itália, são as regiões com 300 a 1000 hab. por km 2

> 1000 hab. por km 2


as mais altas densidades demográficas do continente. sem dados

Isso se deve à sua tradição industrial, além da grande


estrutura de serviços e comunicações. Essas regiões
caracterizam-se também pela descentralização urbana,
com uma população distribuída de forma mais equili-
brada entre diferentes cidades. No centro da Inglater-
ra, por exemplo, cidades como Liverpool, Manchester,
Leeds, Bradford e Sheffield dividem a população. É o
6.1. Envelhecimento da população
mesmo caso de Colônia, Düsseldorf, Duisburg, Essen e
Dortmund, na bacia do Reno, e Turim e Milão, no vale
do Pó. Porém, há casos de metrópoles que seguem
o tradicional modelo de urbanização centralizadora,
como Paris, Londres e Moscou. Enquanto essas loca-
lidades concentram grande densidade populacional,
há grandes áreas que, devido a distintas adversidades,
são quase desabitadas. Em geral, a Europa Ocidental
concentra altas taxas de população urbana, enquan-
to a Oriental, principalmente a região balcânica, tem
a maior concentração de pessoas no campo. Os pa-
íses mais urbanizados são Islândia (96,7%), Bélgica
(96,6%) e Holanda (90,5%).

89
às vezes, não tê-los. Até recentemente, países de todo o
mundo almejavam uma queda global da natalidade, que
ocorreu quando a população passou a envelhecer, o que
se tornou uma preocupação em virtude da superação do
número de idosos em relação ao de jovens. Seria possível
que a minoria sustentasse a maioria sem provocar grande
desequilíbrio das contas públicas sobrecarregadas pelos
sistemas previdenciários? Outro fator preocupante são as
mudanças estruturais nos serviços, como os de saúde, que
também ficam sobrecarregados, além dos custos elevados
no tratamento de doenças crônicas.

6.2. Urbanização
Parece que o Velho Continente transferiu esse nome para A Europa apresenta elevada taxa de urbanização, graças
sua população, que vem envelhecendo mais do que se à Revolução Industrial, que proporcionou profundas mu-
renovando. A elevação da expectativa de vida, que hoje danças de caráter social e econômico. Com a instalação
é de 77 anos, tem se combinado com o baixo índice de de indústrias nos centros urbanos, muitos trabalhadores
natalidade. As taxas de crescimento natural ou vegetativo foram atraídos, o que desencadeou o fenômeno migratório
encontram-se em decréscimo, o que não acontecia desde denominado êxodo rural – deslocamento de trabalhadores
a epidemia da peste negra e das grandes guerras. Alguns rurais para as cidades.
países europeus apresentam taxas de crescimento vege-
Diferentemente dos países em desenvolvimento, que so-
tativo quase negativo.
frem uma rápida urbanização e um aumento de megacida-
A Itália é um exemplo claro disso. A população com mais des em função das péssimas condições de vida no campo,
de 60 anos supera o número de pessoas com idade infe- na Europa as metrópoles são menores – apenas a Grande
rior a 20 anos, resultado, dentre outros fatores, do eleva- Paris se aproxima dos 10 milhões de habitantes – mas há
do poder aquisitivo, da urbanização e da nova postura da extensas conurbações, como a megalópole do Reno-Ruhr,
mulher com participação efetiva no mercado de trabalho. na Alemanha.
Em busca da qualificação profissional, a mulher perma-
Em se tratando de cidades globais ou metrópoles mun-
nece mais tempo estudando, deixando o casamento e a
diais, a Europa detém um número significativo delas. Tra-
formação de uma família para mais tarde.
ta-se de sedes de grupos financeiros, empresas multina-
cionais, organismos internacionais, centros de pesquisas,
universidades, além de palcos de decisões que repercu-
tem na esfera global.
Das 55 cidades globais no mundo, 22 são europeias,
isso mostra a importância dos centros urbanos daquele
continente.
multimídia: livro

Dilemas da Globalização na Europa Unificada


– Lília Gonçalves Magalhães Tavolaro
O enfoque de Lília Tavolaro sobre a União Europeia
tem como principal objetivo rever algumas das propo-
sições mais difundidas a respeito da globalização, bem
como fazer um balanço crítico de suas implicações
econômicas, políticas e socioculturais.

Atualmente, os casais demoram a ter filhos e quase sem-


pre isso acontece depois dos trinta anos, quando decidem, Londres é a maior metrópole do continente europeu.

90
Miniestados da Emilia-Romana e Marcas, no centro da Itália. In-
dústrias de produtos eletrônicos, serviços financei-
O continente europeu abriga 49 países com dimen-
ros e turismo são suas principais fontes de receitas.
sões bem variadas, como o maior país do mundo – a
Rússia – e o menor – o Vaticano. Os principados de
Mônaco, Andorra e Liechtenstein, as repúblicas de 6.3. Desemprego
Malta e San Marino e a cidade do Vaticano são na-
ções que têm dimensões inferiores a várias cidades O desemprego que se acentua na Europa, e em todo o mundo,
brasileiras. Entretanto, são pequenos países, deno- é proveniente de vários fatores, dentre eles a política econô-
minados miniestados, com elevado padrão socioe- mica neoliberalista conjugada ao acelerado processo de glo-
conômico e significativa atração turística. balização. Globalização essa que levou as empresas nativas
europeias a inserirem novas tecnologias de informática e ro-
§ Vaticano: com área de 0,44 km², o Vaticano é o bótica no sistema produtivo para enfrentarem os concorrentes
menor país do planeta. Sede da Igreja católica e
dispersos pelo mundo, bem como para produzirem a custos
residência oficial do papa, essa nação está situ-
mais baixos e automaticamente acumularem mais capitais.
ada na porção norte da cidade de Roma, capital
da Itália. Sua população é de apenas 826 habi- A perda de postos de trabalho proveniente da entrada des-
tantes e sua densidade demográfica ou popula- sas tecnologias se denomina desemprego estrutural, causa
ção relativa é de 1.877 hab./km². O turismo é sua principal desse processo na Europa.
principal fonte de receitas. Não menos importante foi a migração de empresas para
§ Mônaco: localizado na França, próximo da outros países ou continentes, que transferiram com elas a
fronteira com a Itália, Mônaco tem 2 km² e é o produção. Permanecem na Europa somente as sedes que
segundo menor país do mundo. Seu contingen- direcionam os rumos do empreendimento. Ao migrarem
te populacional é de aproximadamente 32 mil em busca de benefícios – isenção de impostos, mão de
habitantes e sua densidade demográfica, de 16 obra barata, leis ambientais frágeis, matéria-prima, entre
mil hab./km². A economia nacional baseia-se nas muitas outras –, as empresas deixaram de gerar emprego
atividades financeiras e no turismo. para os europeus, agravando o fenômeno do desemprego.
§ San Marino: tem extensão territorial de 61 km2 e Em busca do lucro crescente e constante, as empresas
abriga 31,3 mil pessoas. Situa-se entre as províncias capitalistas também buscam atender primeiramente seus
interesses, explorando ao máximo a classe trabalhadora.

Tabela com o desemprego nos principais países da Europa

91
6.4. Imigrantes O crescimento dessas migrações internacionais é gerado
pelo movimento do capital, particularmente da divisão
Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, vários países internacional do capital, denominado fatores de repulsão
europeus reconstruíram-se e destacaram-se no segmento e de atração. Os de repulsão dizem respeito àqueles que
industrial, como foi o caso da Alemanha e da França. Gra- contribuem para a saída rápida do migrante por razões
ças ao crescimento econômico derivado desse setor, essas econômicas, falta de recursos naturais, crises humanitá-
nações tornaram-se atrativas para trabalhadores, sobretudo rias ou ocorrências de guerras ou guerrilhas. Os fatores de
imigrantes. Num primeiro momento, os imigrantes eram atração estão relacionados às condições oferecidas pelos
oriundos da própria Europa – Portugal, Espanha, Itália e Gré- lugares de destino – estabilidade econômica, oferta de em-
cia. As vagas disponíveis nessas indústrias eram oferecidas a prego, melhor qualidade de vida, entre outros elementos.
trabalhadores sem qualificação profissional para trabalhos
sazonais. Em troca, recebiam baixos salários e os vínculos No caso da Europa, ambos os fatores estão combinados.
empregatícios eram frágeis ou até mesmo inexistentes. Os imigrantes de países subdesenvolvidos buscam no Ve-
lho Continente emprego, melhores condições de vida, fu-
Os imigrantes eram então desejados para suprir a mão de gindo da realidade econômica de seus países de origem.
obra necessária na economia que crescia. No entanto, a Segundo estimativas, seis milhões de estrangeiros vivem
partir dos anos de 1980 e 1990, em função da revolução legal ou ilegalmente na Europa.
tecnocientífica e da transferência das fábricas para países
em desenvolvimento, o desemprego aumentou, e, nesse
contexto, cresceram as pressões pelo fechamento das fron-
6.5. Xenofobia
teiras da Europa. Assim como os Estados Unidos, a Europa de hoje vem
recebendo muitos imigrantes, além da elevada migração
interna, graças à livre circulação de pessoas dos países-
-membros da União Europeia. Com isso, a xenofobia, que
é a aversão, o preconceito ou a intolerância a grupos es-
trangeiros, aumenta a cada dia.

Grupo de imigrantes no Mar Mediterrâneo,


perto da Líbia (2019)

Esses imigrantes vinham de várias partes do mundo, princi-


palmente de periferias próximas, como o norte da África, Ásia Charge do cartunista Carlos Latuff
(2008).
faz referência à xenofobia europeia
e leste europeu. Muitas vezes, esses imigrantes representa-
vam a pressão demográfica geradora de desemprego, que Dos anos 1980 para cá, movimentos xenófobos vêm cres-
passou a ser mais sentida depois da crise financeira de 2008. cendo gradativamente em razão das crises econômicas dos
anos 1990 e do aumento do desemprego em escala global.
Imigração – Europa
Segundo seus líderes e adeptos, essa aversão aos imigran-
tes não se deve a preconceitos de origem, mas à perda da
identidade cultural, da competitividade entre um nativo e
um imigrante – que se sujeita a menores salários e precárias
condições de trabalho, o que forçaria uma deflação geral.
Soma-se a isso a entrada da religião muçulmana na Europa,
vista como uma ameaça, principalmente após as ocorrências
do 11 de setembro nos EUA.
Graças às pressões de grupos xenófobos, o governo da Fran-
ça implantou medidas de restrição aos imigrantes africanos
e muçulmanos – oriundos de ex-colônias. Além da França,
outros países europeus desenvolvidos estabeleceram leis ex-
tremamente rigorosas para impedir a entrada de imigrantes.

92
Recentemente, os grupos de imigrantes que mais sofrem Apesar de a União Europeia ter criado, já em 1997, o
com a discriminação são os do leste europeu, a quem foi Observatório Europeu do Racismo e da Xenofobia, ainda
imposta a cobrança de vistos dificilmente concedidos pe- há muito para se avançar no Velho Continente no quesito
los entraves burocráticos. intolerância social e política contra estrangeiros. O mes-
mo desafio deve ser enfrentado pelos Estados Unidos e,
Essa discriminação por parte da população da Europa
mais recentemente, por países emergentes, que vêm se
Ocidental vem proporcionado o crescimento e a atuação
tornando novos vetores para a chegada de imigrantes à
dos grupos neonazistas, extremistas. Na Alemanha, já se
registram grande incidência de atentados a imigrantes. procura de melhores condições de vida.
Trata-se de uma questão extremamente complexa e de
difícil solução, uma vez que ela compreende problemas
econômicos, culturais, sociais e políticos.
Em razão disso, cresce a intolerância aos grupos estrangeiros,
com inúmeros casos de intolerância social, racial e religiosa.
Não obstante, a população europeia também se considera
ameaçada pelos estrangeiros, seja pela diminuição da oferta
de emprego, pelos percalços dos rumos da economia, pelo multimídia: site
envio de dinheiro para fora do país e consequente diminui-
ção da circulação econômica interna. Receios como esses in-
www.monde-diplomatique.fr
tensificaram-se durante a recente crise econômica financeira.

7. União Europeia
A União Europeia é o maior bloco econômico do mundo,
conhecido pela livre circulação de bens, pessoas e merca-
dorias e pela adoção de uma moeda única: o euro. A data
oficial da sua criação é o dia 7 de fevereiro de 1992.
1.º estágio: Benelux
O Benelux foi um bloco criado ainda durante a Segunda
Guerra Mundial – acrônimo formado pelas iniciais de seus
três países-membros: Bélgica (Be), Holanda (Ne, do inglês
Netherland) e Luxemburgo (Lux). O objetivo era integrar esses
três países em um mercado comum e único e reduzir as tari-
fas aduaneiras. Apesar da existência da atual União Europeia,
o Benelux ainda existe com o nome de “União Benelux”.

Cartaz eleitoral do partido nacionalista alemão diz 2.º estágio: Ceca (Comunidade Europeia do Car-
para imigrantes árabes: “Bom voo para casa”. vão e do Aço)
Outra questão que alimenta a xenofobia europeia diz respeito Há autores, economistas e cientistas políticos que não con-
ao crescimento de grupos partidários e políticos de extrema sideram o Benelux a origem da UE, mas a Ceca. Criada em
direita, partidários de ideologias antissemitas, conservadoras, 1952, era composta pelos países do Benelux, mais França,
fascistas. A emergência de posições desse tipo intensificou, Itália e Alemanha Ocidental. Em razão disso, também era
inclusive, medidas de Estado envolvendo atitudes xenófobas chamada de Europa dos Seis.
na Europa, como a construção do muro de Ceuta, construído A criação da Ceca esteve diretamente ligada ao Plano Schu-
pelos espanhóis na África para separar a cidade de Ceuta do
man – um planejamento econômico do governo francês
território marroquino e dificultar a entrada de migrantes.
para integrar a produção siderúrgica daqueles seis países. O
Outro exemplo de ação de xenofobia praticada pelos po- objetivo maior era estabelecer um acordo com a Alemanha
líticos refere-se às várias perseguições e tentativas de ex- Ocidental para que ambas compartilhassem a produção de
pulsão de milhares de ciganos, oriundos principalmente da carvão mineral e minério de ferro na região da Alsácia-Lore-
Romênia, pelos governos da França e da Itália, seja por na (França) e de Sarre (Alemanha). Localizadas na fronteira
extradição voluntária – mediante oferta de dinheiro –, seja dos dois países, tais regiões foram historicamente envolvidas
involuntária, à força. por disputas territoriais entre as duas nações.

93
A Ceca, portanto, caracterizou-se por uma integração do No dia 1.º de julho de 2013, a Croácia foi integrada à
mercado siderúrgico, com o objetivo de integrar industrial- União Europeia – Europa dos 28. Esse país da penín-
mente os seis países envolvidos. sula Balcânica, que antes fazia parte da extinta Iugoslávia,
3.º estágio: MCE (Mercado Comum Europeu) ou tinha um pedido de integração em tramitação desde 2003.
CEE (Comunidade Econômica Europeia) Foram, portanto, dez anos de negociações. Falta-lhe, ainda,
adotar o euro como moeda.
Com a fragmentação da Europa em vários Estados, os paí-
ses-membros da Ceca reconheceram que era necessário am-
pliar o mercado consumidor interno e acelerar o desenvolvi- 7.1. O euro
mento da produção industrial. Em vista disso, criou-se, em Os membros da União cresceram a partir dos seis Es-
1957, com o Tratado de Roma, o Mercado Comum Europeu, tados-membros fundadores: Bélgica, França, Alemanha
também chamado de Comunidade Econômica Europeia. (então Ocidental), Itália, Luxemburgo e Países Baixos, até
Além dos países da antiga Ceca, integravam o MCE: In- os atuais 28 membros, agrupados por sucessivos alar-
glaterra, Irlanda e Dinamarca, a partir de 1973; a Grécia, a gamentos. Quando esses países aderiram aos tratados,
partir de 1981; e Espanha e Portugal, a partir de 1986. Era agruparam a sua soberania em troca de representação
a Europa dos 12. nas instituições do bloco.

A CEE caracterizou-se pelo estabelecimento de uma livre Para aderir à UE, um país tem de cumprir os critérios de Co-
circulação de mercadorias, serviços e capitais, bem como penhaga, definidos no Conselho Europeu de Copenhaga,
foi o primeiro bloco econômico que franqueou a livre movi- em 1993. Os critérios requerem uma democracia estável,
mentação de pessoas entre os países-membros. Com o fim que respeite os direitos humanos e o Estado de direito; uma
da Guerra Fria, em 1989, a Alemanha Oriental também foi economia de mercado capaz de concorrer na UE e a aceita-
incorporada ao MCE. ção das obrigações de adesão, incluindo a legislação da UE.
A avaliação do cumprimento desses critérios por um país é
4.º estágio: Tratado de Maastricht
de responsabilidade do Conselho Europeu. Nenhum Estado-
Somente depois de criada a União Europeia, em 1991, com -membro chegou a deixar a União, embora a Groenlândia
o Tratado de Maastricht, todos os objetivos do Mercado (uma província autônoma da Dinamarca) tenha se retirado
Comum Europeu puderam ser alcançados: estabelecer a em 1985. O Tratado de Lisboa agora fornece um cláusula
livre circulação de pessoas, mercadorias, bens e serviços que lida com a forma como um membro pode deixar a UE.
entre os países-membros.
Em 1995, mais três países integraram a UE: Suécia, Finlândia
e Áustria. Tratava-se, a partir de então, da Europa dos 15.
Em 2004, integraram o bloco as ilhas de Malta e Chipre,
bem como alguns países do antigo bloco socialista soviético:
Polônia, Hungria, República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia e
Bulgária, e três antigos países da União Soviética: Estônia,
Letônia e Lituânia. Em 2007, Bulgária e Romênia também
aderiram ao bloco, que passou a se chamar Europa dos 27. Assinatura do Tratado de Maastricht, na cidade
de mesmo nome, Holanda (1992)
JAN MAYEN
(NOGUEGA)

Critérios de Copenhaga
ISLÂNDIA

Os Critérios de Copenhaga são as regras que definem


FINLÂNDIA

ARQUIPÉLAGO
SHETLAND (R.U)

NORUEGA RÚSSIA
se um país é elegível para aderir à União Europeia. Os
ÅLAND
(FINLÂNDIA)

SUÉCIA HIIUMAA
(ESTÔNIA)

SAAREMAA
(ESTÔNIA)

LETÔNIA

IRLANDA DO
NORTE (R.U)
DINAMARCA

BORNHOLM
ÖLAND
(SUÉCIA)
LITUÂNIA
RÚSSIA
critérios exigem que o Estado tenha instituições que
DINAMARCA

preservem a democracia e os direitos humanos, atue


IRLANDA
Ilha de Man
BIELORRÚSSIA

REINO
UNIDO POLÔNIA
PAÍSES
UCRÂNIA
com a economia de mercado e assuma suas obriga-
BAIXOS

ALEMANHA
BÉLGICA

LUXEMBURGO REPÚBLICA TCHECA

ções na União Europeia.


ESLOVÁQUIA MOLDÁVIA

AUSTRIA
HUNGRIA
FRANÇA Liechtenstein

SUIÇA
ESLOVÊNIA
ROMÊNIA
ESLOVÊNIA
CROÁCIA

Qualquer país que apresente a sua candidatura para


BÓSNIA E SÉRVIA
HERZEGOVINA
SAN MARINO
BULGÁRIA
MÔNACO MONTENEGRO

ITÁLIA
KOSOVO
ANDORRA
CÓRSEGA MACEDÔNIA

TURQUIA
aderir à União Europeia deve respeitar as condições
CIDADE DO
(FRANÇA) VATICANO
PORTUGAL
ESPANHA ALBÂNIA

GRÉCIA
SARDENHA
(ITÁLIA)

impostas pelo artigo 49.º e os princípios do n.º 1 do ar-


ILHAS BALEARES
(ESPANHA)
CHIPRE DECELEIA

SICÍLIA
ACROTÍRI

GIBRALTAR (ITÁLIA) CRETA


CEUTA (ESPANHA) PANTELÁRIA (GRÉCIA)
(ITÁLIA)
MELILHA

tigo 6.º do Tratado de Maastricht. Nesse contexto, em


(ESPANHA)
MALTA
MARROCOS ARGÉLIA TUNÍSIA

Mapa com os países que atualmente compõem a Europa dos 27.

94
A própria organização tem tradicionalmente usado os ter-
1993, o Conselho Europeu de Copenhaga formulou mos “comunidade” e, posteriormente, “união” para referir
critérios que foram reforçados quando do Conselho a si mesma. As dificuldades de classificação envolvem a
Europeu de Madri, em 1995. Para aderir à União Eu- diferença entre o direito nacional (em que os assuntos da
ropeia, um Estado deve cumprir três critérios: lei incluem pessoas físicas e jurídicas) e o direito internacio-
§ Critério político: a existência de instituições nal (em que os temas incluem os Estados soberanos e as
estáveis que garantam a democracia, o Estado organizações internacionais), mas também podem ser vis-
de direito, os direitos humanos, o respeito pelas tas à luz das diferentes tradições constitucionais estaduni-
minorias e a sua proteção. Para que o Conselho denses e europeias. Especialmente nos termos da tradição
Europeu decida a abertura das negociações, deve constitucional europeia, o termo federação é equiparado a
ser cumprido esse critério. um Estado federal soberano no direito internacional; logo
a UE não pode ser chamada de um Estado federal ou uma
§ Critério econômico: a existência de uma eco- federação, ao menos sem ter essa qualificação. Apesar de
nomia de mercado que funcione efetivamente e
não ser, propriamente, uma federação, a União Europeia
capacidade de fazer face às forças de mercado e à
é mais do que apenas uma associação de livre comércio.
concorrência da União.
No entanto, a organização é descrita como sendo uma
§ Critério acervo comunitário: a capacidade para instituição baseada em um modelo federativo. O Tribunal
assumir as obrigações decorrentes da adesão, in- Constitucional Alemão refere-se à União Europeia como
cluindo a adesão aos objetivos de união política, uma associação de Estados soberanos e afirma que para
econômica e monetária. tornar a UE uma federação seria necessário substituir a
constituição alemã. Outros afirmam que o bloco não vai se
transformar em um Estado federal, mas atingiu a maturida-
Os países candidatos oficiais à adesão ao bloco europeu de como uma organização internacional.
são: Albânia, Macedônia, Montenegro e Turquia. Bósnia
A União Europeia tem sete instituições: o Parlamento Euro-
e Herzegovina e Sérvia são oficialmente reconhecidos
peu, o Conselho da União Europeia, a Comissão Europeia, o
como potenciais candidatos. O Kosovo também é listado
Conselho Europeu, o Banco Central Europeu, o Tribunal de
como um potencial candidato, mas a Comissão Europeia
Justiça da União Europeia e o Tribunal de Contas Europeu.
não o considera como um país independente porque
Competências no controle e em alterações na legislação são
nem todos os Estados-membros o reconhecem como tal,
divididas entre o Parlamento e o Conselho da União Euro-
separado da Sérvia.
peia, enquanto as tarefas executivas são levadas a cabo
Quatro países, que não são membros da UE, que formam a pela Comissão Europeia e em uma capacidade limitada pelo
Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, sigla em in- Conselho Europeu (que não deve ser confundido com o Con-
glês), têm, em parte, comprometimentos com a economia e selho da União Europeia). A política monetária da zona do
os regulamentos da UE: Islândia, Liechtenstein e a Noruega euro é governada pelo Banco Central Europeu. A interpreta-
são uma parte do mercado único, através do Espaço Eco- ção, a aplicação da legislação da UE e os tratados são asse-
nômico Europeu, e a Suíça tem laços similares por meio de gurados pelo Tribunal de Justiça da União Europeia. O orça-
tratados bilaterais. As relações dos microestados europeus mento da UE é analisado pelo Tribunal de Contas Europeu.
(Andorra, Mônaco, São Marino e o Vaticano) com a UE in- Há também uma série de órgãos auxiliares que aconselham
cluem o uso do euro e de outras áreas de cooperação. a UE ou operam em uma área específica.
A classificação da União Europeia nos termos do direito
internacional ou constitucional tem sido muito debatida, 7.1.1. Criação do euro
muitas vezes à luz do grau de integração que é percebido, A criação de uma moeda única europeia tornou-se um
desejado ou esperado entre seus membros. Historicamen- objetivo oficial da Comunidade Econômica Europeia em
te, pelo menos, a UE é uma organização internacional e, de 1969. No entanto, foi somente com o advento do Tratado
acordo com alguns critérios, poderia ser classificada como de Maastricht, em 1993, que os Estados-membros foram
uma confederação, mas também tem muitos atributos de legalmente obrigados a iniciar a união monetária. O euro
uma federação, sendo que alguns chegam a classificá-la foi devidamente lançado por onze dos então quinze Esta-
como uma federação de Estados. Por essa razão, a organi- dos-membros da UE. Manteve-se uma moeda contábil até
zação, no passado, foi denominada como uma instituição 1.º de janeiro de 2002, quando as notas e moedas de euro
sui generis, embora também se argumente que essa desig- foram emitidas e começou a eliminação progressiva das
nação não é mais verdadeira atualmente. moedas nacionais na zona do euro, que até então consistia

95
em 12 Estados-membros. A Zona Euro (constituída pelos a plena adesão da Turquia à União Europeia. Entretanto, há
Estados-membros da UE que adotaram o euro) desde en- fatores que dificultam sua adesão.
tão cresceu para 18 países, sendo a Letônia o país mais
Primeiramente, um grande risco geopolítico: o território
recente que aderiu à moeda a 1.º de janeiro de 2014.
turco faz parte do Oriente Médio. Em razão dos atentados
O euro é projetado para ajudar a construir um mercado úni- frequentemente praticados na região e de sua grande ins-
co. Os seus objetivos são flexibilizar viagens de cidadãos e tabilidade política, há o temor dos países europeus de que
bens, eliminar problemas de taxa de câmbio, proporcionar a Turquia transforme-se em porta de entrada para grupos
transparência dos preços, criar um mercado financeiro único, terroristas na Europa.
estabilizar os preços e as taxas de juros baixas e possibilitar
Em segundo lugar, as diferenças culturais e religiosas islâmi-
uma moeda que seja usada internacionalmente e protegida
cas, na sua maioria, poderiam desencadear grandes movi-
contra choques pela grande quantidade de comércio interno
mentos de xenofobia e intolerância religiosa entre o público
na Zona Euro. Destina-se igualmente como um símbolo po-
europeu. O primeiro-ministro turco Abdullah Gul declarou
lítico de integração e de estímulo. Desde o seu lançamento,
que a Europa deveria provar que não era apenas um “clube
o euro tornou-se a segunda moeda de reserva do mundo,
cristão”. A Turquia argumenta que, mesmo com a população
com um quarto das trocas de reservas estrangeiras sendo
predominantemente islâmica, o Estado é inteiramente laico.
feitas com o euro. O euro e as políticas monetárias dos que
o adotaram, de acordo com a UE, estão sob o controlo do O mais complicado dos entraves tem a ver com a estrutura
Banco Central Europeu (BCE). política europeia, que está baseada no peso demográfico
de cada país. Num futuro breve, a Turquia será o país mais
O BCE é o banco central para a zona euro e, assim, controla
populoso da Europa, superando a Alemanha, e os euro-
a política monetária na área com uma agenda para manter
peus seriam obrigados a ceder à Turquia o maior número
a estabilidade de preços. Está no centro do Sistema Euro-
de cadeiras no Parlamento. Outra questão importante tem
peu de Bancos Centrais, que compreende todos os bancos
a ver com a proximidade da Turquia com os EUA. A Turquia,
centrais nacionais da UE e é controlado pelo seu Conselho
país-membro da Otan, é uma das principais aliadas dos
Geral, composto pelo presidente do BCE, que é nomeado
estadunidenses no mundo muçulmano. A Tuquia está di-
pelo Conselho Europeu, o vice-presidente do BCE e pelos
retamente envolvida com desentendimentos geopolíticos
governadores dos bancos centrais nacionais de todos os
com Síria, Irã, Grécia e Rússia. Sua entrada no bloco im-
27 Estados-membros da UE.
plica também uma aliança político-militar e a UE não está
disposta a enfrentar uma guerra para defender interesses
7.1.2. Brexit turcos no Oriente Médio. Outra questão importante é com
Um plebiscito popular votado pela população inglesa de- relação à imigração. Hoje na Alemanha já há mais de 1
cidiu algo histórico e inédito: a saída do Reino Unido da milhão de turcos, e com a “livre circulação de pessoas”,
União Europeia. Depois de 43 anos, 51,89% dos britânicos o número de imigrantes iria aumentar. Há perspectivas de
votaram pelo rompimento do bloco político-econômico eu- que as negociações prossigam. Outros países que aguar-
ropeu. Entre diversos motivos, o primordial é a questão da dam aprovação são Ucrânia e Macedônia.
imigração. O argumento central era de que o Reino Unido
não poderia controlar o número de pessoas entrando no 7.3. Aspectos econômicos
país enquanto continuasse no bloco. O casamento entre os
dois nunca foi tão pacífico. Alguns defensores desse rompi-
7.3.1. Indústria
mento alegam que as políticas impostas pelas regras e de-
cisões da União Europeia eram um grande gasto financeiro A condição atual de alto desenvolvimento industrial na
para o Reino Unido. Esse processo foi concluído em 2020. Europa Ocidental é decorrente de um processo histórico
nascido com a Revolução Industrial entre o final do século
XVIII e o início do século XIX. Em razão disso, a Europa
7.2. A questão turca
Ocidental é desenvolvida em relação à Europa Oriental,
Desde o final da década de 1990, a Turquia encontra-se na subdesenvolvida, composta por países da ex-URSS (União
fila de espera para uma possível aprovação de sua entrada das Repúblicas Socialistas Soviéticas).
no bloco europeu.
O setor industrial da Europa Ocidental é bastante desenvol-
No ano de 1995, a Turquia assinou um acordo de união adu- vido e diversificado, vai da indústria de base à tecnologia de
aneira com a União Europeia e, a 12 de dezembro de 1999, ponta, e o setor secundário é bastante variado. O grau de
foi reconhecida oficialmente como candidata. Em 3 de ou- industrialização e tecnologia europeu gerou dezenas de em-
tubro de 2005, foram iniciadas as negociações formais para presas multinacionais, grandes incorporações empresariais.

96
Na Europa Oriental, os países não acompanharam esse de- 7.3.2. O espaço agrário
senvolvimento; a industrialização foi tardia, aconteceu cerca
O espaço agrário na Europa Ocidental também é de ele-
de cem anos depois da Primeira Revolução Industrial. A in-
vado nível tecnológico, o que reduz o emprego da mão
dústria está ligada diretamente aos recursos energéticos e
de obra rural compõe a População Economicamente Ativa
minerais e necessitam de matéria-prima e fonte de energia
(PEA). Observe: Reino Unido (1,8%), Bélgica (2,3%), Ale-
para processá-los. Na Primeira Revolução Industrial, o princi-
manha (1,4%), França (2,9%). Paralelamente, o espaço
pal recurso energético foi o carvão, utilizado para abastecer
agrário europeu é caracterizado por um elevado índice de
as máquinas a vapor nas indústrias têxteis.
produtividade.
As indústrias instalaram-se próximos às áreas de extração
Agricultura e pecuária na Europa
de minérios. Só mais tarde, no final do século XIX, descobri-
ram-se as jazidas de petróleo e seu emprego no processo
produtivo e de transportes, e investiu-se em usinas hidrelé-
tricas e nucleares, que aceleraram o desenvolvimento eco-
nômico e industrial.
Mas o consumo de recursos minerais, energéticos e não
energéticos, renováveis e não renováveis provoca uma sé-
rie de impactos ambientais que comprometem as paisa-
gens naturais, o ar, a atmosfera, as águas, o solo, etc. Sem
falar nos resíduos industriais.
Essas alterações levaram a Europa Ocidental a sensibilizar-
-se por uma consciência ecológica em favor da preservação
da natureza, com forte aprovação da sociedade em geral.
A Europa é um continente extremamente urbano e indus-
trializado. Isso quer dizer que a grande maioria das pesso-
as vive em cidades, onde encontram as oportunidades de Agricultura comercial de cereais ou de algodão Pecuária intensiva (leite)
trabalho – setores secundário e terciário. Essa urbanização Agricultura e pecuária comercial (mecanizada)
Policultivo mediterrâneo
Exploração florestal, caça e pesca
Área sem agricultura

massificada foi resultado da mecanização do campo, a par- Pecuária de subsistência, nômade ou seminômade

tir da década de 1950. No século XIX, houve um grande


fluxo de migração de europeus para todos os continentes
em busca de uma nova vida, uma vez que as condições de
trabalho nas indústrias europeias eram precárias.
Sendo um continente urbano, configura-se como uma
densa e complexa rede urbana composta por um grande
número de cidades em espaço articulado com importância
comercial e industrial. Nelas, estão sediadas as sedes de
multimídia: música
organismos internacionais. Fonte: Youtube
A valsa do Danúbio azul

7.3.3. Produção agrícola


A produção agrícola europeia é importante e diversifica-
da, com solos geralmente férteis e cuidadosamente bem
aproveitados, sujeitos a técnicas adequadas e modernas
e com elevada produtividade.
Predomina a cultura de cereais, com destaque para o trigo,
produzido nos solos negros da Ucrânia (tchernoziom), da
Itália, da França, da Alemanha e da Rússia. Além do trigo,
Indústria automobilística ao longo do vale produzem-se centeio, aveia e cevada, importantes produ-
do rio Ruhr, Alemanha (2014) tos agrícolas das áreas temperadas.

97
O centeio substitui o trigo na fabricação do pão em áreas de 7.3.4. Pecuária
clima mais frio. A aveia é destinada à alimentação do gado,
pelo que recebe o nome de forrageira. A cevada é uma ma- Como a agricultura, a pecuária na Europa fornece grande
téria-prima básica apara a fabricação da cerveja. Os maiores variedade de produtos, da carne ao queijo e à manteiga. Pra-
produtores desses cereais são: Alemanha, França, Espanha, ticada principalmente de forma intensiva, o gado recebendo
Polônia e Reino Unido. E os principais produtores de batata cuidados técnicos que lhe proporcionam mais rendimentos.
são: Alemanha, França, Países Baixos, Reino Unido e Rússia. O rebanho mais numeroso é o de bovinos, criado principal-
Nas regiões europeias de clima mediterrâneo, sobressai o mente na Rússia, na Ucrânia, na Alemanha, na França, na
cultivo da oliveira, destinada à produção de azeitonas e Grã-Bretanha e na Polônia. Apesar de não possuírem reba-
de azeite. Portugal, Espanha, França e Itália destacam-se nhos tão numerosos, Dinamarca, Suíça e Países Baixos des-
como maiores produtores mundiais desses produtos, reco- tacam-se na criação de gado leiteiro. Nos Países Baixos, a
nhecidos internacionalmente por sua qualidade. produtividade de leite é superior a cinco mil litros ao ano por
cabeça de vaca, dos quais cerca de 75% são industrializados.
Outro destaque especial é o cultivo da videira, destina-
da à produção de vinhos. Alguns tipos de vinhos e de A título de comparação: enquanto o consumo de leite na
azeite só podem ser produzidos nesses países, graças União Europeia, no início da década de 1990, era de 810
às condições especiais do solo e do clima. Por isso mes- litros por habitante, no Brasil, esse consumo aproximava-se
mo, esses aspectos geográficos atribuem aos países da de 90 litros por habitante.
Europa mediterrânea condições especiais de mercado. No continente europeu criam-se também rebanhos de su-
O volume de colheitas da Europa é muito inferior ao da ínos e de ovinos. A Alemanha se sobressai como principal
América do Norte, da Ásia e da América do Sul. A produção criador de suínos, destinados ao fornecimento de carne
de milho, arroz e aveia é deficiente. A produção frutíco- para atender ao alto consumo da Alemanha e de toda a
la, bastante diversa, varia de região para região. Peras e Europa. Mas a produção é insuficiente para abastecer toda
maçãs são cultivadas em zonas temperadas e úmidas. As essa demanda, o que os obriga a importar essa carne. Os
frutas cítricas e as videiras são cultivadas no Mediterrâneo, ovinos, criados para a produção de lã, são das ilhas britâni-
graças as suas condições pedológicas, do solo, e climáticas. cas, da Romênia e da Espanha.
Produz-se grande quantidade de uvas que dão aos vinhos
Outra característica importante da agropecuária da União
qualidade excepcional.
Europeia são os subsídios concedidos pelos governos aos
agricultores: empréstimos a juros baixos e pagamentos
em longo prazo.
A criação, em 1962, da Política Agrícola Comum (PAC)
foi uma forma de os governos europeus protegerem seus
agricultores da concorrência externa e de manterem a
renda, o emprego agrícola e a estabilidade dos preços
dos alimentos. Esse apoio dado à agropecuária vem des-
de a década de 1960 e levou a Europa praticamente a se
tornar autossuficiente nos principais produtos alimenta-
res, mas não resolveu problemas como as disparidades
Vinhedo na costa do Mediterrâneo, a oeste de Camarga, França (2013)
entre países e regiões do continente.

Muitos dos problemas agrícolas da Europa decorrem da Nos anos 1990, esse programa começou a ser questiona-
falta de autonomia do continente no tocante aos cereais do no interior da União Europeia pelos que consideravam
para forragem, às gorduras vegetais e aos produtos tropi- os custos muito elevados (45 bilhões de dólares anuais).
cais. Sem condições climáticas e geográficas para concorrer A PAC também recebeu críticas internacionais da OMC
com os outros continentes nessa área, os governos euro- (Organização Mundial do Comércio) e dos EUA, que vem
peus subvencionam o cultivo de certos produtos, causando pressionando cada vez mais a redução do protecionismo
imensos desequilíbrios sociais para os países produtores, agrícola, que bloqueia a entrada de produtos de outros
sobretudo os de economia emergente e de Terceiro Mun- países no mercado europeu. A perspectiva de redução dos
do. A subvenção é uma maneira artificial de evitar a ruína subsídios agrícolas tem sido objeto de protesto em vários
dos agricultores europeus, além de servir para forçar o mer- países europeus, especialmente na França, maior produtor
cado internacional a flutuar de acordo com as aspirações agrícola da Europa Ocidental e onde há o maior número de
de lucratividade dos grandes grupos econômicos. agricultores beneficiados pelos subsídios.

98
Com tradição milenar na pecuária, os países nórdicos man- § Minério de ferro – destaque para a produção russa,
têm-na muito desenvolvida e de alta qualidade. A produção nos montes Urais, ucraniana, no Krivoi-Rog, francesa,
europeia de leite, queijo e manteiga atende à demanda do em Lorena), e sueca, na Lapônia.
continente e exporta o excedente. A avicultura abastece o mer-
§ Mercúrio – os maiores produtores mundiais são a Es-
cado de ovos e carne de forma praticamente autossuficiente.
panha, a Itália e a Rússia.

7.4. Principais produtos minerais

Plataforma de extração de petróleo

§ Carvão: largamente encontrado no continente – dobra-


mentos paleozoicos –, foi o elemento básico para a fi-
xação dos principais centros industriais. Principais bacias
carboníferas: Inglaterra, no vale do Clyde e em Yorkshire;
França, em Lorena e Passo de Calais; Alemanha, no vale
do Ruhr; Ucrânia, em Donbass; e Silésia, na Polônia.
§ Petróleo: as reservas encontradas não atendem à
enorme demanda da Europa Ocidental, à exceção do
Reino Unido. Destacam-se as bacias petrolíferas da
Europa Oriental: Rússia, Hungria, Romênia e Polônia;
e da Europa Ocidental: Mar do Norte – Reino Unido,
Holanda, Noruega e Alemanha.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Fogo no Mar
Posto avançado da crise dos refugiados na Europa, a
pequena ilha siciliana de Lampedusa teve seu destino
alterado drasticamente. De bucólica residência de uma
escassa população de 6 mil habitantes, em boa parte
dedicada à pesca e aos serviços turísticos, o local tor-
nou-se ponto de transição para as multidões de fugiti-
vos da África e do Oriente Médio.

99
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 8
Analisar a ação dos Estados nacionais, no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrenta-
mento de problemas de ordens econômica e social.

A migração internacional é um fenômeno que tem aumentado em todas as regiões do mundo, desde o fim da
Segunda Guerra Mundial. Atualmente, milhões de pessoas cruzam as fronteiras como parte de uma tendência da
globalização, que inclui o comércio de bens e serviços, investimentos e fluxos de capital e uma verdadeira explosão
de informações. No entanto, é preciso salientar que, apesar da migração estar ligada de diversas maneiras ao
comércio e ao investimento, ela se difere profundamente destes, pois os indivíduos se tornam parte do cenário
internacional, com a possibilidade de conquistar uma série de benefícios positivos, como o potencial de experiência
imediata e ganhos em seus rendimentos, visando melhorar suas condições de vida. Trata-se, portanto, de um fenô-
meno complexo e de grandes proporções, que atinge diretamente os contextos político-econômico e sociocultural
dos Estados, impondo-lhes desafios quanto à melhor gestão de políticas públicas, além de gerar a expectativa de
que as regiões receptoras sejam capazes de assegurar o respeito à diversidade cultural e à dignidade humana dos
imigrantes internacionais. Uma questão central e que influencia diretamente na forma como os governos europeus
lidam com esse fluxo crescente de pessoas é a diferença entre imigrantes e refugiados. A Convenção de Refugiados
de 1951, realizada após a II Guerra Mundial, define refugiado como uma pessoa que por medo de ser “perseguida
por motivos raciais, religiosos, de nacionalidade ou por fazer parte um grupo social ou ter determinada opinião
política não está disposta a se colocar sobre a proteção daquele país”.

MODELO 1
(Enem) Texto I
Mais de 50 mil refugiados entraram no território húngaro apenas no primeiro semestre de 2015. Budapes-
te lançou os “trabalhos preparatórios” para a construção de um muro de quatro metros de altura e 175
km ao longo de sua fronteira com a Sérvia, informou o ministro húngaro das Relações Exteriores. “Uma
resposta comum da União Europeia a este desafio da imigração é muito demorada, e a Hungria não pode
esperar. Temos que agir”, justificou o ministro.
Adaptado de: <www.portugues.rfi.fr>. Acesso em: 19 jun. 2015.

Texto II
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) critica as manifestações de xenofobia adota-
das pelo governo da Hungria. O país foi invadido por cartazes nos quais o chefe do executivo insta os imigrantes
a respeitarem as leis e a não “roubarem” os empregos dos húngaros. Para o ACNUR, a medida é surpreendente,
pois a xenofobia costuma ser instigada por pequenos grupos radicais e não pelo próprio governo do país.
Adaptado de: <http://pt.euronews.com>. Acesso em: 19 jun. 2015.

O posicionamento governamental citado nos textos é criticado pelo ACNUR por ser considerado um ca-
minho para o(a):
a) alteração do regime político;
b) fragilização da supremacia nacional;

100
c) expansão dos domínios geográficos;
d) cerceamento da liberdade de expressão;
e) fortalecimento das práticas de discriminação.

ANÁLISE EXPOSITIVA
Nos últimos anos, a crise migratória foi causada pelo aumento dos fluxos de refugiados do Oriente Médio e
da África em decorrência de guerras civis, conflitos étnicos e religiosos, além de problemas socioeconômicos.
Grande parte dos imigrantes e refugiados migrou em direção à União Europeia. Vários países do leste euro-
peu, como a Hungria, adotaram medidas de repressão e discriminação xenofóbica contra os imigrantes.
A construção de um muro de separação e a culpabilização dos imigrantes pelos problemas europeus são
práticas claramente discriminatórias, pois simplificam o problema do deslocamento de populações a somente
uma questão de gestão. Longe de resolver o problema, tal política termina por reforçar tensões sociais.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados critica a xenofobia do governo húngaro. Logo,
ele critica o incentivo à discriminação feita pelo próprio governo húngaro, pois esta é uma consequência
direta da xenofobia.

RESPOSTA Alternativa E

101
DIAGRAMA DE IDEIAS

ASPECTOS
NATURAIS

VEGETAÇÃO CLIMA RELEVO

• TUNDRA • OCEÂNICO • DOBRAMENTOS


• FLORESTA BOREAL • CONTINENTAL • PLANALTOS
• FLORESTA TEMPERADA • MEDITERRÂNEO • PLANÍCIES (PRE-DOMÍNIO)
• ESTEPES • POLAR

ASPECTOS
GERAIS

ECONOMIA DEMOGRAFIA

• FORTE • ALTA DENSIDADE DEMOGRÁFICA


• UNIÃO EUROPEIA • ALTA EXPECTATIVA DE VIDA
• ALEMANHA, FRANÇA E REINO • BAIXA TAXA DE MORTALIDADE
UNIDO (CONC. INDÚSTRIAS)
• TRANSPORTE MULTIMODAL

102
AULAS 31 E 32 1. Rússia
A Rússia ou Federação da Rússia é um país que abrange tanto
o continente asiático quanto o europeu. Sua capital é Moscou.
Longitudinalmente, seu território passa dos 9 mil quilômetros,
fazendo com que o país possua 11 fusos horários diferentes.
REGIÕES Em extensão latitudinal, chega a ter 4 mil quilômetro, apresen-
SOCIOECONÔMICAS tando, portanto, diferentes zonas climáticas.
No imenso território russo, vivem cerca de 140,8 milhões
MUNDIAIS IV: RÚSSIA de pessoas, distribuídas ao longo do país de maneira bas-
E ÁSIA CENTRAL tante irregular, uma vez que 78% da população encon-
tram-se na parte europeia. É grande a variedade étnica do
país, mas a principal é a russa.
COMPETÊNCIA: 2 O território russo possui uma enorme riqueza mineral, que
facilita a obtenção de matéria-prima e fontes energéticas. É
HABILIDADE: 7 o maior produtor de gás natural do mundo, cujas reservas
somam 23,5% da produção mundial. As reservas petrolífe-
ras somam 8,9% das reservas do planeta; é o terceiro maior
produtor desse minério fóssil. Seu subsolo é privilegiado em
É triste, apesar de alegre, em uma noite silenciosa de jazidas de minério de ferro, ouro, diamantes, entre outros mi-
verão, em um bosque sem voz, ouvir uma música russa. nerais não metálicos.
Aqui, encontramos tristeza sem limites e sem esperança. Na porção norte e no extremo leste, estão grande parte das jazi-
Aqui, também há invencível força e a marca imutável do das, o que dificulta sua extração e, principalmente, sua distribui-
destino; aqui, também há a predestinação do ferro, uma ção, em virtude da distância em relação aos centros industriais
das fundações primitivas da identidade nacional russa, situados em áreas europeias. A porção europeia da Rússia res-
pela qual muito do que parecia inexplicável na vida russa ponde por 15% do país, onde não há riqueza em minérios, mas
pode ser explicado. maior desenvolvimento econômico. A principal dificuldade para
(Aleksêi K. Tolstói) extração dos minerais é a falta de infraestrutura de transportes.

Mapa político da Rússia

Ilhas Franz Josef


Terra do Norte Ilhas Anju

Terra Nova

Mumansk Magadan

Moscou
RÚSSIA

Orenburg
Omsk Tchita
Makhatchkala
Vladivostok
CAZAQUISTÃO
CHINA Mar do
MONGÓLIA Japão

103
1.1. Aspectos físicos
1.1.1. Relevo
Relevo da Rússia

O relevo russo pode ser dividido em dois compartimentos de desgaste a que foi submetido, sendo que seu ponto mais
principais: um oeste, marcado por planícies; e um leste, ca- alto é o monte Naroda, com 1.895 metros de altitude. Os
racterizado por altas montanhas. Os dois compartimentos Urais são ricos em minerais metálicos. O ponto mais alto do
são divididos pelo rio Ienissei. território russo é o monte Elbrus, com 5.633 metros, localiza-
O compartimento oeste é constituído por duas grandes do na cordilheira do Cáucaso.
planícies: a planície Russa, que se estende do extremo oes- Há cordilheiras espalhadas ao longo das fronteiras meridio-
te russo até os montes Urais, à leste, e até o Cáucaso, ao nais do país, como as montanhas Altai. Nas partes orien-
sul; e a planície Siberiana Ocidental, que se inicia nos mon- tais, encontramos a cordilheira Verkhoyansk e os vulcões
tes Urais até o rio Ienissei. Nessas vastas planícies, distri- da península de Kamchatka, onde está o Klyuchevskaya,
buem-se alguns planaltos, onde podemos destacar, do lado considerado o vulcão ativo mais alto da Eurásia, com seus
ocidental, a planície Samártica, com os planaltos Central 4,7 mil metros de altura.
Russo e o do Volga e, do lado oriental, a planície da Sibéria
O litoral russo tem mais de 37 mil quilômetros de extensão,
Ocidental e o planalto da Sibéria Central. A maior parte da
topografia da planície Russa não chega aos 200 metros. abrangendo os oceanos Ártico e Pacífico e os mares Báltico,
A exceção fica com uma região circundante à cidade de Azov, Negro e Cáspio. Os mares de Barents, Branco, Kara,
Moscou. Já a planície Siberiana Ocidental só supera os 200 Laptev, Siberiano Oriental, Chukchi, Bering, Okhotsk e do
metros em sua porção sul, estando a maior parte da sua Japão estão ligados à Rússia pelos oceanos Ártico e Pací-
área abaixo dos 100 metros. fico. Entre as principais ilhas e arquipélagos russos estão
Nova Zembla, Terra de Francisco José, Severnaya Zemlya,
As grandes planícies russas são áreas de importante ativida- Nova Sibéria, Wrangel, Curilas e Sacalina. As ilhas Diome-
de agrícola, principalmente no que diz respeito à produção des – uma controlada pela Rússia e a outra, pelos Estados
de grãos, mas também na extração de petróleo e gás natural. Unidos – estão a apenas três quilômetros de distância uma
Os montes Urais, estrutura geológica antiga, não apresen- da outra; a ilha Kunashir está a cerca de 20 quilômetros de
tam altitudes muito elevadas em função do longo processo Hokkaido, no Japão.

104
1.1.2. Clima
Mapa: temperatura média russa

Temperatura média anual


-20

-10

+10

+20

Oimiakon
O pequeno povoado no
leste da República de
Sakha-lakútia (República
Federal da Rússia) se
situa a cerca de 3 mil km
do Polo Norte.
Segundo estatísticas
Sôtchi oficiais, o local é
A cidade está localizada na costa nordeste do mar Negro. Seus considerado o mais frio
resorts de clima subtropical eram muito populares na década da Terra. Mesmo assim,
de 1930, quando Iosef Stálin mandou construir ali na sua datcha e no verão a temperatura
pode chegar a 30 graus
proclamou Sôtchi como resort nacional. Em 2014, a cidade sediou
positivos.
os Jogos Olímpicos de Inverno.

O fato de a Rússia dominar quase metade da Europa e um superficiais do mundo. Seus lagos contêm aproximada-
terço da Ásia faz com que tenha vários climas diferentes. mente um quarto da água doce líquida do mundo. O
A região mais ao norte do país, a Sibéria, é a mais fria e maior e mais importante dos corpos-d’água doce russo
registra temperaturas por volta dos –40 °C ou –50 °C, é o lago Baikal: profundo, puro, antigo e de maior capa-
quando não chegando aos –60 °C, durante o inverno. No cidade do planeta. O Baikal, sozinho, contém mais de um
sul, onde há campos e estepes, o clima é mais quente com quinto da água doce superficial do mundo.
temperaturas que chegam a –8 °C.
O verão na Rússia também é variável de região para re-
gião, com temperaturas médias de 25 °C. Já houve casos
extremos de as temperaturas registrarem 45 °C.
O frio proveniente da Sibéria alastra-se não só por toda a
Rússia, como por quase toda a Europa e grande parte da
Ásia. A Rússia tem quatro climas: ártico, subártico, tempe-
rado e subtropical; e as estações do ano são caracterizadas
por invernos longos e rigorosos, primaveras temperadas,
verões curtos e quentes e outonos chuvosos.

1.1.3. Hidrografia
A Rússia tem milhares de rios e corpos-d’água, sendo
o país possuidor de um dos maiores recursos hídricos Lago Baikal

105
multimídia: música
Fonte: Youtube
Hino do partido bolchevic – Alexander Alexandrov

Outros grandes lagos incluem o Ladoga e Onega, dois


dos maiores lagos da Europa. Dos 100 mil rios do país,
o Volga é o mais famoso porque é o rio mais longo da Rio Ienissei
Europa e por seu importante papel na história do país. Os
rios siberianos Ob, Ienissei, Lena e Amur estão entre os
maiores rios do mundo.
Os maiores rios russos cortam a planície Siberiana e dre-
nam para o oceano Ártico. Por atravessarem grandes planí-
cies, esses rios são calmos e úteis para navegação, exceto
em períodos de congelamento. Em alguns pontos, ocorre a
formação de pântanos.

Rio Volga

1.1.4. Vegetação
Nos limites da porção europeia da Comunidade dos Es-
tados Independentes (CEI), encontram-se distintos tipos
de vegetação em virtude dos diferentes tipos de clima da
região. Ao norte, do golfo de Finlândia até os Urais, encon-
tra-se a taiga, com extensos bosques de pinhos, abetos,
larício, freixos, álamos tembladores e bétulas.
Rio Ob
Ainda no norte, na área banhada pelo Glacial Ártico, a tai-
ga cede lugar à tundra, em virtude do solo sempre gelado.
No alto verão, com cerca de 6 °C, aparecem os musgos,
líquens e árvores anãs, como as bétulas.

Rio Lena Taiga ou floresta boreal, na Sibéria, Rússia

106
Ao sul da taiga estão localizadas as terras negras. É a zona A situação financeira da Rússia era muito difícil, em virtude
mais fértil do país, considerada o ”celeiro” de grãos da da dependência que mantinha da Inglaterra e da França.
Rússia. Embora os invernos continuem sendo severos, os Em 1904, as greves nas regiões industriais foram engrossa-
verões são mais quentes, com frequentes precipitações, das com o apoio dos jovens estudantes universitários e da
onde há produção de cereais e a ocorrência de espécies aristocracia, num movimento de oposição que pressionava
herbáceas e a halófilas, que contrastam com a região sul, o governo czarista reivindicando reformas da atrasada es-
onde é necessária a irrigação artificial para se conseguir trutura social russa.
alguma colheita, mais intensificada ainda à beira do mar Tentando conter a crise que se agravava, Nicolau II anunciou
Cáspio, onde os terrenos são semidesérticos. a concessão de liberdade de imprensa, independência do
Poder Judiciário e tolerância religiosa, o que não atendia às
1.2. Aspectos históricos reivindicações dos diversos setores sociais. Os trabalhadores
organizaram-se em plataformas políticas e sindicatos, capa-
1.2.1. Rússia czarista zes de expressarem com mais vigor suas reivindicações.
No início do século XX, o Império Russo ainda era imenso No dia 22 de janeiro de 1905, os trabalhadores marcha-
e constituído por diferentes povos, línguas e tradições. Era ram em direção ao Palácio de Inverno com a intenção
governado pelo czar Nicolau II, um imperador que contava de apresentar suas reivindicações por melhores salários
com poderes absolutos e dizia-se governante por vontade e condições de trabalho. Na frente do palácio havia uma
de Deus. No final do século XIX, o império já começava a multidão de homens, mulheres, crianças e simpatizantes
mostrar pequenos avanços industriais, mas não o suficiente do movimento. Era uma manifestação pacífica por parte do
para que deixasse seu caráter agrário e arcaico. operariado, mas a autoridade militar russa resolveu, covar-
demente, dispersar os manifestantes à bala, quando não
quiseram se afastar dos arredores do palácio. O resultado
foi corpos massacrados e feridos sobre a neve.
Apesar da situação miserável, os trabalhadores tinham na
figura do czar um pai. A partir desse episódio, no entanto,
passaram a enxergá-lo como inimigo do povo russo. Esse
dia ficou marcado na história russa como o Domingo
Sangrento. Depois da tragédia, uma onda de greves to-
mou conta do império. A repressão do governo foi violenta
e numerosas sentenças de morte foram executadas.

Nicolau II, czar da Rússia (1894-1917) O Domingo Sangrento, em 22 de janeiro de 1905

No entanto, essa pequena industrialização foi suficiente No mesmo ano, 1905, foi convocada a Duma, uma assem-
para expulsar parte dos camponeses do campo para as bleia com representação das diversas tendências políticas.
cidades, engrossando o êxodo rural depois da abolição da O Império Russo travestia-se de regime constitucional e
servidão, em 1861. A vida dos camponeses nas cidades era parlamentar, mas os acordos firmados não foram cumpri-
extremamente difícil, dada a situação do comércio e da dos, o que possibilitou o recrudescimento do movimento
produção manufatureira e industrial restrita, o que tornava operário, ao mesmo tempo em que as ideias socialistas
pequena a oferta de trabalho. ganhavam força.

107
1.2.2. Crise e queda do czarismo operários), oportunidade em que discutiam os problemas
e o futuro da Rússia. Essas reuniões propiciaram a orga-
nização de protestos, greves e de atos contra o governo.
Reunidos no Partido Operário Social-Democrata, os tra-
balhadores entraram em contato com o ideário socialis-
ta, principalmente com as obras de Karl Marx e Friedrich
Engels. Em resposta à organização dos trabalhadores, o
governo russo reprimiu as instituições político-partidárias
por meio da Okrana, um destacamento policial criado
para reprimir qualquer manifestação social.

1.2.3. O processo revolucionário


e o governo de Lênin
Em fevereiro de 1917, uma onda de protestos e revoltas
populares pôs fim ao governo de Nicolau II. Formou-se
Nicolau II e sua família: últimos representantes da monarquia russa um governo provisório controlado por Alexander Kerenski,
No governo do czar Alexandre II (1855-1881), haviam sido um socialista de orientação reformista, integrante da ala
implementadas algumas medidas com o objetivo de iniciar menchevique do Partido Socialista, que defendia a ideia
o processo de modernização da Rússia. Alexandre II decre- de que o capitalismo deveria ser desenvolvido para então
estabelecer mudanças de cunho socialista. No entanto, os
tou o fim dos laços feudais (1861) e possibilitou a forma-
bolcheviques, facção de maior adesão popular do socia-
ção de uma classe de pequenos camponeses proprietários
lismo russo, tinham outra proposta.
de terras. Nos governos do fim do século XIX, outras me-
didas foram responsáveis por abrir a economia russa ao
investimento industrial de nações estrangeiras. Apesar das
medidas que visavam à modernização da Rússia nos mol-
des do capitalismo, os czares russos não foram suficiente-
mente hábeis para conduzir esse processo de mudanças. A
agricultura nacional sofreu fortes variações que foram res-
ponsáveis pela carestia dos alimentos e o empobrecimento
da população. Ao mesmo tempo, os operários sofriam com
as péssimas condições de vida. Por fim, a insatisfação da
burguesia nacional com os governos czaristas crescia.

Vladimir Lênin, principal líder da revolução bolchevique

Liderados por Lênin, autor da Teses de abril (uma série de


diretrizes para fundamentar um plano concreto na passa-
gem da revolução burguesa para a revolução socialista),
os bolcheviques defendiam a delegação de poder político
nas mãos dos sovietes e a instalação de uma ditadura do
proletariado. Apoiados por Leon Trotsky, organizaram um
exército incumbido de depor o governo menchevique. O
Exército Vermelho depôs o governo provisório e instalou o
Conselho Comissário do Povo, do qual Lênin era presiden-
te, Trotski, o comandante dos negócios estrangeiros, e Josef
Stalin, diretor dos negócios internos.
Lênin estatizou bancos e indústrias, fez a reforma agrá-
ria e acordos pelos quais a Rússia retirava-se da Primei-
Karl Marx e Friedrich Engels
ra Guerra, no Tratado de Brest-Litovski. Ao defenderem
No início do século XX, o operariado e os camponeses medidas de caráter popular, as forças reacionárias russas
passaram a se reunir nos chamados sovietes (conselhos tentaram derrubar o governo bolchevique. Mesmo com

108
o apoio de nações estrangeiras, os exércitos antirrevo- Sob a perspectiva política de Trotsky, a Rússia não deveria
lucionários não conseguiram vencer a determinação e o limitar seu processo revolucionário à nação russa. Trotsky
considerável contingente do Exército Vermelho. acreditava na revolução permanente, que deveria transfor-
mar a Rússia em incentivadora da expansão das revolu-
Politicamente, a Duma (Assembleia Nacional da Rússia)
ções socialistas pela Europa. Dessa forma, seria formado
estabeleceu um sistema unipartidário, o Partido Comunista
um bloco de países com os mesmos objetivos políticos e
da União Soviética, único instrumento de representação
interessados em cooperar economicamente entre si.
política do país. Nesse período, ganhou força a ideia de que
o novo governo deveria criar formas para que o processo Do lado oposto estava Stalin, defensor da circunscrição do
revolucionário socialista se expandisse pelas demais na- projeto revolucionário russo à teoria do socialismo num
ções do mundo. Paralelamente, o governo revolucionário, só país. De acordo com essa perspectiva política, a Rús-
preocupado em conter os possíveis traidores da revolução, sia deveria se centrar no desenvolvimento de suas forças
prendia e exilava adversários. produtivas e não se envolver diretamente com os levantes
revolucionários de outros países.
Em virtude dos gastos com a guerra civil, a Rússia não ti-
nha condições para implantar imediatamente um sistema O projeto internacionalista que fundamentava o socialis-
econômico socialista. Com o objetivo de superar as dificul- mo marxista defendido por Trotsky foi enfim derrotado por
dades econômicas, Lênin criou um plano conhecido como uma concepção política burocrata envolvida com a urgên-
a Nova Política Econômica (NEP), que permitia a convivên- cia das questões nacionais.
cia de práticas capitalistas com as incipientes experiências
A derrota definitiva de Trotsky foi selada no XIV Congresso
socialistas da economia russa. Lênin defendia a necessida-
do Partido Comunista Russo, em 1925, resultado da alian-
de dessa ação para que o país tivesse autonomia suficiente
ça entre Stalin e os demais líderes bolcheviques. O projeto
e alcançasse os estágios inicias do projeto socialista.
político da revolução permanente foi sepultado e substituí-
Com essas medidas, a economia russa demonstrava sinais de do pela estruturação de um enorme corpo burocrático vol-
recuperação e as ideias de Lênin pareciam tornar-se realidade. tado para a consolidação do socialismo russo. Como chefe
No entanto, a aparente estabilidade governamental não durou de Estado, Stalin determinou que Trotsky fosse expulso do
muito tempo. A morte de Lênin, em 1924, trouxe uma intensa partido, em 12 de novembro de 1927, exilado, em 1928, e
disputa política pela escolha do próximo dirigente do governo banido, em 1929.
socialista. De um lado, Trotsky defendia a expansão dos ideais
Depois de banido, Trotsky passou pela Turquia, França, No-
da Revolução Russa; de outro, Stalin acreditava na consolida-
ruega e México, em 1936, onde, a convite do artista plásti-
ção interna do socialismo soviético. Stalin venceu a disputa
co Diego Rivera – marido da também artista plástica Frida
pelo poder e deu novos rumos à revolução iniciada por Lênin.
Kahlo –, Trotsky passou a morar. Nunca deixou de produzir
e de agir intelectual e politicamente. Escreveu textos que
1.2.4. Revolução permanente denunciavam o desvirtuamento do processo revolucionário
versus socialismo num só país na Rússia e a desistência de ser um governo do proletaria-
Apesar dos resultados positivos do governo revolucionário, do, paralelamente às denúncias sistemáticas das arbitrarie-
os destinos da Rússia mostraram-se mais uma vez incertos dades e dos crimes cometidos por Stalin.
com a morte precoce de Lênin e a apresentação de outras
lideranças com projetos políticos distintos. Nesse contexto,
os socialistas russos preocupavam-se com a natureza de seu
projeto revolucionário. Foi nesse momento que se deflagrou
a divergência política entre os líderes Stalin e Trotsky.

Trotsky no exílio mexicano, entre Antonio Villalobos e Frida Kahlo, Jean


van Heijenoort e o coronel José Escudero Andrade, em abril de 1937.

De fato, governando de forma autoritária, Stalin empre-


endeu uma severa perseguição a todos os opositores do
Joseph Stalin, Vladimir Lênin e Leon Trotsky (1919) regime. Entre os anos de 1936 e 1938, vários intelectuais

109
e políticos foram condenados ou mortos durante os famo- Durante a segunda metade dos anos 1980, as exigências
sos “expurgos de Moscou”. Em 1940, sob ordens pessoais do capitalismo alimentaram o sentimento de insatisfação
dele, agentes policiais russos assassinaram Trotsky, exilado das populações sob o domínio da União Soviética, o que
no México. O socialismo num só país selava macabramente a obrigou a promover uma série de reformas.
sua vitória contra a revolução permanente.
Dentre as mudanças, uma delas era diminuir a interferência
soviética no leste europeu, o que levou aqueles países a
ganharem uma relativa independência. Lutando pela am-
pliação dessa independência, conseguiram outras formas
de governo e de regime político e econômico.
As políticas executadas a partir de 1985 por Mikhail Gor-
bachev tiveram como consequência o desmembramento
do bloco socialista soviético. Foi implantado um plano de
multimídia: livro recuperação da economia da União Soviética, denomina-
do perestroika (reconstrução), em virtude da crise econô-
Rússia: ascensão e queda de um mica que o país enfrentava. Com a decisão dos países in-
império – João Fabio Bertonha tegrantes do bloco socialista de não darem continuidade
ao regime político-econômico soviético, implantaram-se
O livro colabora com a história da Rússia em uma dire-
medidas e reformas que permitiram a integração inter-
ção diferente. Começando pela época dos czares, pas-
nacional da economia russa no mundo capitalista, com
sando pela era soviética e chegando ao pós-comunismo,
a finalidade de alcançar mais desenvolvimento e melhor
o autor procura esclarecer os dilemas da inserção russa
qualidade de vida para a população.
no mundo, desde o século XVI, e como Moscou traba-
lhou com os momentos de guerra e paz que, segundo
Bertonha, definem a identidade do país há séculos.

1.2.5. O fim da União Soviética


Terminada a Segunda Guerra Mundial, a Europa investiu
pesadamente no processo de reconstrução, sem muita
demora, para ingressar num período de desenvolvimen-
to industrial e econômico, salvo os países do leste euro-
peu, que nesse mesmo período enfrentaram sucessivas
crises financeiras.

Mikhail Gorbachev: responsável pela implantação


da perestroika e da glasnost na URSS

Durante o período de transição dos regimes de governos e


a queda do socialismo, aconteceram várias transformações e
mudanças. Dentre elas, a mais importante ocorreu na segun-
da metade da década de 1980: a queda do muro de Berlim,
em 1989, fato que marcou o fim da Guerra Fria e o início
do processo de reunificação da Alemanha, a partir de 1990.
A queda do muro de Berlim simbolizou o fim do mundo bipolar.
Todas as transformações ocorridas no processo de des-
A situação de penúria do pós-guerra que castigava aquela membramento político geraram mudanças nas relações
população provocou a deflagração de inúmeras manifes- diplomáticas entre os líderes das nações que integravam
tações contrárias às condições de vida do socialismo sob a o bloco socialista e o governo da União Soviética. Gra-
liderança da União Soviética. Todas as formas de manifes- ças à difusão de sentimentos de autonomia na região,
tações contra o governo e seu regime político eram repri- repúblicas tornaram-se independentes (1990) e a União
midas pelo uso da força e, não raro, com muita violência. Soviética chegou ao fim.

110
Em razão de seu enorme arsenal militar, a Federação Russa da dos preços do petróleo, as perspectivas não eram ani-
foi designada pela comunidade internacional para ocupar madoras. Em dezembro de 2008, a ministra da Economia,
o espaço da ex-União Soviética e reconhecida como tal Elvira Nabiullina, previu 2,4% de crescimento do PIB para
pelo Conselho de Segurança Permanente da Organização 2009, o índice mais baixo desde 1998 – ano fatídico da
das Nações Unidas. moratória russa.
Apesar da fragmentação da União Soviética e da unifica- A Rússia integra a área da Apec (Asia-Pacific Econo-
ção da Alemanha, a configuração cartográfica e geopolítica mic Cooperation), um bloco econômico que tem por
da região não terminou. Logo depois, houve a indepen- objetivo transformar o Pacífico numa área de livre co-
dência da Tchecoslováquia e da Iugoslávia. A situação po- mércio e englobar as economias asiáticas, americanas
lítica atual mostra que o leste europeu está sujeito ainda e da Oceania.
a outras divisões, principalmente em virtude dos conflitos
Desde meados da década de 1950, a população russa
étnico-religiosos.
possuía um padrão de vida melhor do que a população
do México, da Índia, do Brasil ou da Argentina. A taxa
de analfabetismo era próxima de zero; o ensino superior
apresentava respeitável grau de excelência e era economi-
camente acessível; o desemprego praticamente inexistia;
a igualdade entre os gêneros era das mais desenvolvidas
do mundo: mulheres e homens concorriam no mercado de
trabalho, com vantagem para as mulheres, principalmente
nas áreas científicas. Muitas famílias tinham automóveis,
TV, gravadores de cassetes e podiam viajar de avião, pelo
Reunião da Apec, na Rússia, em 2012 menos uma vez por ano, até os famosos balneários do
mar Negro. Mas a produção e distribuição de produtos
de consumo – particularmente de vestuário e alimentos
– eram relativamente ineficiente; faltava habitação em
muitas das áreas urbanas, e não eram raras as habitações
precárias e insalubres.
Desde o esfacelamento da União Soviética, no entanto,
em 1991, o caminho para a estabilização macroeconô-
multimídia: vídeo mica tem sido longo e difícil. Desde então e ao longo dos
Fonte: Youtube cinco anos seguintes, a região foi afetada por uma severa
Dr. Jivago – 1965 contração econômica, enquanto governo e parlamento
divergiram sobre a implementação das reformas. A base
O filme conta sobre os anos durante e após a revolu-
ção russa pela óptica de Yuri Zhivago (Omar Sharif), um industrial do país foi seriamente atingida. Com a crise fi-
médico e poeta. Yuri ficou órfão ainda criança e foi para nanceira do capitalismo, em 1998, resultante fundamen-
Moscou, onde foi criado. talmente da crise financeira do Sudeste Asiático, a Rússia
e o leste europeu foram seriamente abalados.
Depois da dissolução da URSS, provocada mais por ra-
1.3. Aspectos econômicos zões políticas e étnicas do que propriamente econômicas,
A Rússia possui importantes recursos naturais e humanos, a primeira recuperação russa, em virtude da sua adap-
que lhe conferem um importante potencial para o desen- tação às regras do livre mercado internacional, já se fez
volvimento econômico. sentir em 1997. Mas a crise financeira asiática de 1998 e
Quase duas décadas após o colapso da União Soviética, a crise internacional atingiram frontalmente a economia
a Rússia continua a investir em uma economia de merca- russa. Com o rublo significativamente desvalorizado, o
do moderna, com altas taxas de crescimento econômico. governo russo aumentou a taxa de juros. Mesmo assim,
Ao longo da década de 2000, a economia russa registrou a política econômica fracassou e a Rússia declarou uma
taxas de crescimento acima de 7%: 10% (2000); 8,1% moratória unilateral, que gerou perdas para os seus cre-
(2001 a 2004 e 2007); 6,4% (2005); 6,8% (2006); e, em dores internos e externos. O ano de 1998 ficou marcado
2008, cresceu 6% e foi a nona economia do mundo. No como o da crise financeira russa, quando houve intensa
entanto, diante da crise mundial do capitalismo e da que- fuga de capitais e recessão econômica.

111
UM GIGANTE AOS PEDAÇOS

A economina russa é 44% menor que em 1990

RENDA PER CAPITA DESEMPREGO INFLAÇÃO


(em dólares) (em porcentagem) 2 509 (em porcentagem)

11 12
3 220 10
2 740 9
8
6 840

2 215
131 22 11 85 35
1991 1997 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
A iniciativa privada já controla 70% do PIB e emprega 60% da mão de obra

EXPECTATIVA DE VIDA OGIVAS NUCLEARES


É o terceiro maior
O PIB russo de produtor de petróleo, com
69 338 bilhões Rússia 6 758
6,1 milhões de barris
anos corresponde a por dia, atrás somente
65 menos da metade
anos dos Estados Unidos
do brasileiro EUA 8 111 e da Arábia Saudita
1991 1999
Fonte: Banco Mundial
RESOLUÇÃO:
Fim da URSS provocou um retrocesso no quadro socioeconômico do país.
Constitui, ainda, a segunda potência nuclear do planeta.

A recuperação da economia começou em 1999, com longe de ser eficiente. Muitos bancos russos pertencem a
uma fase de rápida expansão e de crescimento do PIB grandes empresários ou oligarcas, que usam frequente-
a uma taxa média de 6,8% por ano, entre 1999 e 2004, mente seus fundos para financiar os próprios negócios.
apoiada nos preços mais altos do petróleo, no rublo mais O Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento
fraco, no aumento da produção industrial e na expansão e o Banco Mundial tentaram normalizar as práticas ban-
do setor de serviços. cárias, fazendo investimentos em ações ordinárias e na
Essa recuperação, a par de um renovado esforço gover- dívida, mas com sucesso muito limitado.
namental em 2000 e 2001 para fazer avançar a implan- O país enfrenta também um desenvolvimento econômico
tação das reformas estruturais, aumentou a confiança desigual entre as suas várias regiões. Enquanto a região de
das empresas e dos investidores para a segunda década Moscou, com seus 20 milhões de habitantes, é uma metró-
de transição. pole moderna, com setores de tecnologia de ponta e renda
No entanto, a Rússia continua dependente das exporta- per capita próxima à das economias mais fortes da Eurozo-
ções de matérias-primas, particularmente de petróleo, de na, as comunidades indígenas e rurais da Ásia vivem como
gás natural, de metais e de madeira, que correspondem a viviam no fim da Idade Média. A integração ao mercado
mais de 80% do total das exportações, o que deixa o país também se faz sentir noutras grandes cidades como São
vulnerável às oscilações dos preços do mercado mundial. Petersburgo, Kaliningrad e Ekaterinburg.
Nos primeiros anos do século XXI, a economia foi impul- Outro grande desafio enfrentado pelo setor financeiro é
sionada pelo crescimento do mercado interno, com índice estimular o investimento estrangeiro. O país beneficia-se
de 12% ao ano, entre os anos de 2000 e 2004. do aumento dos preços de petróleo, graças ao qual vem
Em 2004, o PIB atingiu 535 bilhões de dólares, possibili- sendo capaz de pagar uma boa parte da sua dívida exter-
tando que a economia russa passasse a ser a 16.ª econo- na. O reinvestimento dos lucros obtidos pela exploração
mia mundial. Moscou concentra 30% da produção do país. de recursos naturais em outros setores da economia tam-
bém é um problema.
Os formuladores da política econômica russa têm como
um dos seus maiores desafios o incentivo ao desenvol- A prisão, em 2003, de Mikhail Khodorkovski, um dos oligar-
vimento das pequenas e médias empresas. As empresas cas russos e, à época, o mais rico empresário do país, sob a
russas são dominadas por uma oligarquia empresarial, e acusação de fraude, evasão fiscal e corrupção, durante as
o sistema bancário recente apresenta um funcionamento grandes privatizações conduzidas pelo governo de Boris Yeltsin,

112
gerou certa desconfiança entre os investidores estrangeiros. preços do petróleo e derivados – principais produtos de
Depois de sete anos, Khodorkovski foi condenado a 14 anos exportação da Rússia –, resultou no colapso das contas
de prisão. Pesa sobre muitas fortunas atuais da Rússia a acu- externas. Sem conseguir novos empréstimos para pagar
sação de terem se beneficiado do processo de privatização as dívidas com vencimento de curto prazo, a Rússia de-
das estatais, adquirindo propriedades por um preço irrisório cretou uma moratória da dívida externa e desvalorizou
se comparado ao de mercado, ou da aquisição barata de con- sua moeda, o rublo. A crise russa de 1998 teve fortes
cessões governamentais. Alguns países chegaram a expressar consequências políticas e estratégicas, marcando o auge
sua preocupação com a aplicação “seletiva” da lei contra em- da decadência dos anos 1990 e o início da retomada do
presários individuais. crescimento – nos anos 2000. Essa situação estimulou o
sentimento de revolta na população, em virtude do de-
1.3.1. Evolução econômica semprego, da falta de serviços, dos altos preços dos ali-
mentos importados e do crescimento da pobreza extrema
nas zonas provincianas.

Vladimir Putin Extração de petróleo na região de Tatarstan,


da qual a economia russa é extremamente dependente.
Dissolvida a União Soviética, apesar dos benefícios da
A partir de 1999, com Putin no governo, a economia rus-
democracia, a Rússia foi lançada em uma grave crise. O
sa inaugurou uma fase de grande crescimento econômico.
processo de privatização da economia russa foi sempre
Entre 1999 e 2005, o produto interno bruto cresceu em
acompanhado pela suspeita de corrupção ativa e maciça
média cerca de 6,7% ao ano.
das empresas e das concessões estatais.
As razões desse crescimento foram a estabilidade política,
Há fortes indícios de que empresários, políticos e membros
que permitiu aumentar a confiança (interna e externa) no
das forças de segurança usaram suas posições privilegia-
governo, especialmente após o fim da guerra na Chechênia
das para obterem licenças de exportação de matérias-pri-
e do combate a algumas das poderosas máfias russas; a es-
mas, licenças de bancos privados para fazer negócio com
tabilização econômica, com o controle da inflação e a rene-
dinheiro estatal e decisões de privatização de empresas
gociação da dívida externa; uma moeda desvalorizada, que
estatais a seu favor. Analistas qualificados e acostumados
facilitou as exportações em quantidade e valor no mercado
a analisar processos de privatização afirmaram que Yeltsin
internacional de gás natural, petróleo e derivados da indús-
agiu precipitadamente ao decidir privatizar tudo e a baixo
tria petroquímica, agroquímicos (agrotóxicos e fertilizantes) e
custo, criando uma elite econômica que se tornou deten-
minerais metálicos, aço, ferramentas e máquinas pesadas; e
tora dos mais valiosos ativos russos. Isso provocou uma
a retomada dos investimentos estatais nas indústrias de alta
desvalorização acentuada da moeda e uma queda abrupta
tecnologia – informática, bélica e aeroespacial.
do nível de vida da população. As dívidas contraídas do
estrangeiro, a falta de serviços e bens e o atraso industrial O ministro das finanças desde 1997, Alexei Kudrin, esta-
obrigaram a Rússia a importar muito e exportar pouco de- beleceu várias leis de criação de barreiras aduaneiras para
vido ao descompasso entre oferta e procura. A transição fechar o fluxo importador. As pequenas e médias empresas
da economia planificada controlada pelo Estado para uma praticamente não podiam entrar na Rússia.
economia de mercado, altamente competitiva, foi bastante Assim, a Rússia passou a ser a 15.ª economia mundial
difícil, com altas taxas de desemprego, inflação, falta de e em constante crescimento. As exportações totalizaram
acesso a bens essenciais – alimentos e medicamentos – e 241,3 milhões de dólares e as importações foram de
crescimento negativo do PIB nos anos 1990. “apenas” 98,5 milhões de dólares. Entre 2004 e 2005, a
A crise asiática de 1997, que gerou uma rápida escassez Rússia obteve mais de 33% de lucros com as exportações.
de crédito no mercado internacional associada aos baixos Calcula-se que, em 2006, o investimento estrangeiro foi

113
de 23 milhões de dólares. Ainda segundo as estatísticas Um dos principais problemas da indústria russa foi o dire-
russas, o salário nominal mensal de 2006 era de 10, 9 mil cionamento na produção da indústria de base, relegando
rublos (aproximadamente 370 euros), mais de 25% do as indústrias de bens de consumo a um segundo plano, o
que em 2005. que determinou a baixa qualidade de seus produtos.

© Ranglen/Shutterstock
A Rússia tem a maior reserva de gás natural do mundo,
a segunda maior reserva de carvão e a oitava maior de
petróleo. Juntos representam 80% da economia nacional.
Porém, desde 2003, a exportação desses recursos vem di-
minuindo, dada a maior procura interna. Quanto à edu-
cação, a Rússia é considerada um dos países com maior
número de graduados nas áreas de ciências.

1.3.2. Agropecuária
A agropecuária russa tem recebido investimentos que vi-
sam ao seu aprimoramento. Após a Revolução de 1917,
as propriedades privadas foram transformadas em pro-
priedades coletivas e fazendas estatais para a exploração
agropecuária.
A União Soviética chegou a se tornar uma das maiores
potências agropecuárias do mundo. Com o fim do regime
soviético e a criação da Rússia, as terras do Estado foram
privatizadas.
Indústria de base
A partir da década de 1990, o país passou a investir na
A atividade industrial ainda enfrenta problemas em rela-
modernização de empresas agrícolas para a produção
ção à matéria-prima, pois, em virtude da fragmentação do
mundial de cevada, aveia, centeio, batata e trigo. O país
território, a independência de algumas repúblicas possibi-
também passou a comprar embriões e sêmen de animais.
litou-lhes a posse de jazidas, o que provocou o aumento
As medidas têm como objetivo aumentar a produção pe-
do preço da matéria-prima e, consequentemente, do custo
cuária e reduzir a dependência externa do país no forneci-
dos produtos industrializados.
mento de carnes para o mercado russo.
A Rússia produz tanto produtos primários, com pouco va-
lor, quanto produtos industrializados de tecnologia avança-
da e alto valor de mercado.

1.3.4. Energia
Nos últimos anos, a mídia tem se referido à Rússia como
uma “superpotência energética”, com as maiores reservas
mundiais de hidrocarbonetos. Em virtude dessas reservas,
o país é o maior exportador e o segundo maior produtor
de gás natural do mundo, ao mesmo tempo em que é o se-
gundo maior exportador e o maior produtor de petróleo do
Criação de gado na região de Arkhangelsk, Rússia planeta, embora dispute com a Arábia Saudita os números
referentes ao petróleo.
1.3.3. Indústria A Rússia possui também a segunda maior rede de gaso-
A região de maior concentração industrial da Rússia en- dutos do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos. Atu-
contra-se na parte europeia. Uma década após o fim do almente, muitos projetos de novos gasodutos estão sendo
socialismo, a economia e, particularmente, o setor indus- realizados, incluindo os gasodutos Nord Stream e South
trial ainda apresentavam características da política socia- Stream, que têm por objetivo transportar o gás natural à
lista, que deixou a Rússia atrasada tecnologicamente em Europa e o oleoduto da Sibéria e do Pacífico para o extre-
relação às nações capitalistas. mo Oriente, China, Japão e Coreia do Sul.

114
Rede de oleodutos e gasodutos que ligam a Rússia ao resto da Europa.

A Rússia é o terceiro maior produtor de eletricidade do mun- -leste, próximo aos montes Urais, e no sudoeste da Rússia
do e o quinto maior produtor de energia renovável – graças asiática. As áreas urbanas concentram 73% da população,
à produção hidrelétrica bem desenvolvida no país. Grandes enquanto 27% vivem na zona rural. A população total é de
usinas hidrelétricas são construídas na Rússia europeia ao 141,9 milhões de habitantes, de acordo com dados de 2010.
longo de grandes rios, como o Volga. A parte asiática da Rús-
A população russa atingiu 148,6 milhões em 1991, pouco
sia também possui um grande número de importantes usinas
antes da dissolução da União Soviética e começou a experi-
hidrelétricas; porém, o gigantesco potencial hidrelétrico da
mentar um rápido declínio a partir de meados dos anos 1990.
Sibéria e do extremo oriente russo permanece inexplorado.
O primeiro país a desenvolver a energia nuclear para fins Composição étnica (2012)
civis foi a Rússia, com a construção da primeira usina nuclear Russos 80,9%
de energia do mundo. Atualmente, o país é o quarto maior Tártaros 3,87%
produtor de energia nuclear, que é gerenciada pela estatal Ucranianos 1,41%
Rosatom Corporation. O setor está se desenvolvendo rapida- Basquírios 1,15%
mente, com o objetivo de aumentar a quota total de energia Chuvaches 1,05%
nuclear a partir dos 16,9% atuais para 23% até 2020. O Chechenos 1,04%
governo russo pretende investir 127 bilhões de rublos (5,42 Armênios 0,86%
bilhões de dólares) em um programa federal dedicado à pró- Outros 9,72%
xima geração de tecnologia de energia nuclear. Cerca de um
trilhão de rublos (42,7 milhões de dólares) deverá ser desti- Em 2009, a Rússia registrou um crescimento da popula-
nado do orçamento federal para a energia nuclear e para o ção pela primeira vez em 15 anos, com crescimento total
desenvolvimento da indústria até 2015. de 10,5 milhões. A Federação da Rússia recebeu 279.906
imigrantes no mesmo ano, dos quais 93% vieram de paí-
ses da Comunidade dos Estados Independentes. O núme-
1.4. Aspectos populacionais ro de emigrantes russos declinou de 359 mil, em 2000,
O grupo étnico russo compõe 79,8% da população do país, para 32 mil, em 2009. Há também uma estimativa de 10
além das diversas etnias. No total, 160 outros grupos étnicos milhões de imigrantes ilegais das ex-repúblicas soviéticas
e povos indígenas vivem dentro de suas fronteiras. Embora vivendo na Rússia. Cerca de 116 milhões de russos étni-
a população russa seja comparativamente grande, sua den- cos vivem na Rússia e cerca de 20 milhões moram em ou-
sidade é baixa em relação ao enorme tamanho do país. A tras repúblicas da antiga União Soviética, principalmente
densidade populacional é mais densa no centro e centro- na Ucrânia e no Cazaquistão.

115
Densidade populacional no território russo (2013)

Cerca de 78% dos russos vivem na Rússia europeia, se pessoas falam russo, seguido pelo tártaro (5,3 milhões) e
bem que apenas 25% do território do país fique na Europa. pelo ucraniano (1,8 milhão). O russo é a única língua ofi-
A constituição russa garante cuidados de saúde livres e uni- cial, mas a constituição dá às repúblicas o direito de fazer
versais para todos os cidadãos. No entanto, na prática, os sua língua nativa co-oficial ao russo.
serviços de saúde gratuitos são parcialmente restritos, devido
ao regime propiska (registro de local de residência). A Rússia
tinha mais médicos, hospitais e profissionais de saúde per ca-
pita que muitos países do mundo, mas, desde o colapso da
União Soviética, a saúde da população russa sofreu conside-
ravelmente, resultado das mudanças sociais, econômicas e de
estilo de vida. Essa tendência foi revertida apenas nos últimos
anos, com o aumento da expectativa de vida média.
A expectativa média de vida na Rússia, em 2009, era de
62,77 anos para os homens e 74,67 anos para as mulhe-
res. O maior fator que contribui para a expectativa de vida
relativamente baixa dos homens dá-se em virtude da alta
taxa de mortalidade em idade de trabalho por intoxicação,
álcool, tabagismo, acidentes de trânsito e crimes violentos.
Como resultado da grande diferença de gênero na expec- Difusão da língua russa: em verde escuro, o russo é o idioma oficial; em
verde claro, o russo é amplamente falado, mas não em caráter oficial.
tativa de vida e por causa do efeito duradouro do grande
número de vítimas na Segunda Guerra Mundial, o desequi- Apesar de sua grande dispersão, o idioma russo é ho-
líbrio entre os sexos permanece até hoje. mogêneo em toda a Rússia. O russo é a língua mais
Mas a Rússia apresenta uma taxa de natalidade maior do ampla em distribuição geográfica de toda a Europa e
que a da maioria dos países europeus – 12,4 nascimentos Ásia, além da língua eslava mais falada. Pertence à fa-
por mil, em 2008, contra 9,90 por mil, na União Europeia. mília das línguas indo-europeias e é um dos três últimos
No entanto, a taxa de mortalidade é substancialmente mais membros vivos das línguas eslavas orientais, ao lado do
elevada. Em 2009, era de 14,2 por mil pessoas, em compa- bielorrusso e do ucraniano. Exemplos escritos do esla-
ração com 10,28 por mil pessoas na UE. Em 2012, o índice vônico, que deu origem a todas as línguas eslavas, são
de nascimentos igualou-se ao de mortes, devido ao aumento atestados a partir do século X.
da fertilidade e da queda na mortalidade. Em 2009, a Rússia Segundo o Centro da Língua Russa, um quarto da litera-
registrou a taxa de natalidade mais elevada desde o colapso
tura científica do mundo é publicado em russo. O idioma
da ex-URSS: 12,4 nascimentos por mil habitantes.
também é aplicado como meio de codificação e armaze-
namento do conhecimento universal. Entre 60% e 70%
1.4.1. Diferenças linguísticas de todas as informações do mundo são publicadas nas
Os 160 grupos étnicos da Rússia falam cerca de cem idio- línguas inglesa e russa. O russo é também uma das seis
mas. De acordo com o censo de 2002, 142,6 milhões de línguas oficiais da Organização das Nações Unidas.

116
1.4.2. Religião de grandes religiões. A indução religiosa ocorre principal-
mente em linhas étnicas. Os cristãos ortodoxos são majo-
Cristianismo, islamismo, budismo e judaísmo são as religi-
ritariamente eslavos; os muçulmanos, predominantemente
ões tradicionais da Rússia, legalmente uma parte do “pa-
povos turcos; e budistas, os povos mongóis.
trimônio histórico” do país. As estimativas de fiéis variam
muito entre as fontes. Alguns relatórios apontam que o
número de ateus e agnósticos na Rússia esteja entre 16% 1.5. A questão da Crimeia
e 48% da população. As tensões na Crimeia estão ligadas às transformações
Criada através da cristianização da Rússia Kievana, no sé- políticas ocorridas na Ucrânia e aos interesses da União
culo X, a ortodoxia russa é a religião dominante no país, Europeia, Estados Unidos e Rússia.
com cerca de 100 milhões de seguidores, 95% dos quais
pertencentes à Igreja ortodoxa russa, ao lado de outras RÚSSIA
pequenas Igrejas ortodoxas. No entanto, a grande maioria
dos crentes ortodoxos não frequenta a igreja regularmente.
Existem também várias outras denominações cristãs meno-
res: católicos, armênios gregorianos e protestantes.

RÚSSIA
Crimeia

Localização da província da Crimeia, na Ucrânia

A situação de conflito que envolve a Crimeia – província


semiautônoma da Ucrânia, localizada em uma península
no sul do país – é reveladora das relações de tensão entre
ucranianos e russos desde a extinção da União Soviética.
Templo de Todas as Religiões, na cidade multicultural de Cazã A ampla maioria da população dessa região fala russo e
mantém-se mais vinculada a Moscou do que propriamente
Estatísticas de 2010, divulgadas pelo The Pew Forum on Reli-
a Kiev. Com as recentes transformações que marcaram a
gion and Public Life, mostram que 71% dos russos declaram-
política do país, a província da Crimeia transformou-se em
-se ortodoxos, 1,8% pertence a denominações protestantes,
0,5% é de católicos e 0,3% tem outras crenças cristãs. um território de extrema instabilidade política.

As estimativas do número de muçulmanos variam entre 7 a Os problemas internos da Ucrânia agravaram-se quando
9 milhões e 15 a 20 milhões de fiéis. Há também entre 3 e o então presidente, Viktor Yanukovich, rejeitou assinar um
4 milhões de imigrantes muçulmanos dos Estados pós-so- acordo com a União Europeia, que ampliaria as relações
viéticos, cuja maioria vive na região do Volga-Ural, no Cáu- do país com o bloco vizinho. Essa decisão atendia aos in-
caso, em Moscou, São Petersburgo e na Sibéria Ocidental. teresses da Rússia, uma vez que a Ucrânia é um dos seus
principais parceiros comerciais no continente europeu.
Religião Porcentagem Em resposta, grupos de oposição ao governo, constituídos
Ortodoxos russos 41% majoritariamente pela população que fala ucraniano e ha-
Sem religião 38% bita a porção central e oeste do país, iniciaram uma onda
Muçulmanos 6,5% de protestos pelas ruas das principais cidades. Os líderes
Outros cristãos 4,1% desse movimento são políticos ligados ao governo anterior
Outros ortodoxos 1,5% a Yanukovich e a partidos e movimentos de direita e de ex-
Neopagãos etengriistas 1,2% trema direita, com destaque para o Udar (soco), o Svoboda
Budistas 0,5% (liberdade) e o Setor Direito.
Outras religiões 1,7%
As revoltas sucederam-se, agravando a situação política e
Não declarados 5,5%
os motins, em que prédios públicos foram ocupados, ruas
incendiadas e a repressão aos manifestantes intensificada.
O budismo é tradicional em três regiões da Federação Em janeiro de 2014, o então primeiro-ministro Mykola Aza-
Russa: Buriácia, Tuva e Calmúquia. Moradores das regiões rov renunciou ao cargo e, no mês seguinte, o presidente
da Sibéria e do extremo oriente – Iacútia e Chukotka – Yanukovich fugiu para a Rússia, após a ocupação da sede
praticam o xamanismo, panteísmo e ritos pagãos, ao lado do governo pelos grupos opositores.

117
É preciso salientar que a razão da ação militar russa foi seu
interesse na região da Crimeia, anexada pela Ucrânia em
1954, quando o então líder soviético Nikita Khrushchev –
de origem ucraniana – cedeu-a em caráter amistoso. Essa
península é relevante do ponto de vista econômico e es-
tratégico, pois é uma importante via de ligação entre os
mares Negro e o de Arzov, bem como serve de entreposto
comercial para a Europa. É grande produtora de grãos e ali-
mentos industrializados. Por outro lado, a Europa e os Es-
tados Unidos objetivam diminuir a influência russa na zona
Líderes da oposição convocaram a ocupação formada pelas ex-repúblicas da antiga União Soviética.
do bairro governamental até a renúncia.

As regiões mais industrializadas e povoadas a leste e ao


sul, com grande quantidade de habitantes russos, obvia-
mente se opuseram aos manifestantes pró-Europa. Dessas
regiões, a província da Crimeia foi a que vivenciou mais
tensão e instabilidade política, agravadas com a atitude
do novo governo de revogar uma lei que garantia o russo
como idioma oficial local. Na cidade de Lugansk, manifestantes favoráveis à intervenção da Rússia
Tal atitude propiciou que grupos militares pró-Rússia assu-
missem o controle político da província e estabelecessem ali 2. Ásia central
uma zona de resistência ao novo governo ucraniano, nome-
As regiões do Extremo Oriente, Oriente Médio, Sudeste
ando Sergei Axionov primeiro-ministro do parlamento local.
Asiático, Ásia Setentrional, Ásia Ocidental, Ásia Meridional,
Em razão dessa situação, o presidente da Rússia, Vladimir
Ásia Oriental e Ásia Central formam o continente asiático.
Putin, teve aprovado no parlamento de seu país o pedido de
envio de tropas para Ucrânia. Com isso, os países da União A Ásia Central é um subcontinente constituído por cinco
Europeia e os Estados Unidos anunciaram o descontenta- países: Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Tajiquis-
mento com a decisão, iniciando uma política de um provável tão e Quirguistão. Juntos compõem uma área de 4 milhões
bloqueio econômico e/ou comercial à Rússia. de km2, dos quais o Cazaquistão ocupa o maior território,
com 2,7 milhões de km2.
No entanto, sob a argumentação de que era necessário
defender os direitos humanos da população russa na Ela tem uma superfície constituída por um relevo relativa-
Crimeia, foram enviadas tropas que rapidamente ocupa- mente plano, com planícies e planaltos de altitudes mo-
ram aeroportos e bases militares na província, com al- destas, salvo as regiões próximas à fronteira com países do
guns poucos focos de resistência. A maioria dos militares Oriente Médio, onde há montanhas.
ucranianos da região aliou-se a Moscou ou abandonou a O subcontinente apresenta uma composição vegetativa
Crimeia. Em resposta, os estadunidenses e europeus pro- bastante restrita. A vegetação é do tipo estepe, pobre em
meteram punir a Rússia pela ação realizada, considerada biodiversidade – flora e fauna –, característica provenien-
ilegítima pelos governos ocidentais. te do clima predominantemente árido e semiárido.

118
Tem uma característica climática que interfere na compo- Em relação à etnia, 52% da população é representada pe-
sição hidrográfica da região, com pequena quantidade de los quirguizes; 22%, por russos; 13%, por usbeques; 3%,
rios. Os principais rios são o Syr e Amu, que desembocam por ucranianos; e 2%, por germânicos.
no mar de Aral.
Localizado a noroeste do Uzbequistão e a oeste do Caza-
quistão, o mar de Aral tem sofrido grande impacto ambien-
tal desde a década de 1960: vem perdendo água, um dos
problemas ambientais mais graves do mundo. Esse proble-
ma está ocorrendo porque um de seus principais afluentes,
o rio Amu, teve seu curso desviado para atender às neces-
sidades de irrigação para o plantio de culturas de arroz e
algodão. Diante desse quadro, o mar de Aral passou a não
receber uma significativa quantidade de águas, o que vem A atividade predominante no país é a agricultura, com des-
provocando a diminuição de seu volume. taque para frutas, uva, cevada, trigo e toda cultura que se
desenvolve por meio de irrigação.
2.1. Cazaquistão Os recursos minerais mais explorados são petróleo, gás,
mercúrio, carvão e antimônio.
Localizado na Ásia Central, é o décimo país do mundo mais
extenso, com uma densidade demográfica das menores do No vale de Fergana, ao sul do Quirguistão, localiza-se o
mundo. Sua capital é a cidade de Astana. O país é constitu- setor agropecuário. Em 1991, essa nova república foi es-
ído por estepes, desertos e regiões montanhosas. A consti- tabelecida como Estado independente e democrático pelo
tuição étnica do Cazaquistão consta de 42% de cazaques Soviete Supremo do Quirguistão. Com isso, três Estados
e 37% de russos, tártaros e ucranianos. bálticos foram reconhecidos oficialmente pelo Quirguistão:
Estônia, Letônia e Lituânia.
As indústrias são fundamentais para a economia do país. A
mão de obra, o potencial hidrelétrico e térmico e os recur- O governo oficializou publicamente a instituição de uma nova
sos minerais são bem aproveitados. Chumbo, carvão mine- moeda, denominada som, que, ao lado de medidas econômi-
ral, bauxita, petróleo, cobre, prata e zinco são os recursos cas, fez com que a inflação caísse de 50% para 4% ao mês.
minerais de maior destaque. Na década de 1990, com o colapso do sistema estatal soviéti-
co, o PIB do Quirguistão despencou. Em 1994, um projeto de
privatização e abertura da economia adotado pelo país pro-
moveu a queda da inflação e crescimento de exportações, o
que, no entanto, não mudou a situação da população pobre.

2.3. Tadjiquistão
Em 1929, o Tadjiquistão, um dos países da Ásia Central, pas-
sou a pertencer à URSS. Dentre os países da Ásia Central, é
o de menor área. Sua capital é Duchambe, uma das maiores
do país. Também se caracteriza por ser montanhoso.
Criação de camelos no Cazaquistão
Em relação à etnia, 62% da população é de tadjiques e
Na agricultura, os principais produtos são algodão, trigo, mi- 24% de uzbeques, além de russos, ucranianos, tártaros e
lho, arroz, fumo, girassol, beterraba, vinicultura e fruticultura. quirquízes que formam a população do Tadjiquistão.
Com pastagens naturais muito extensas, a atividade pe-
cuária no país merece destaque: criam-se ovinos, bovinos,
equinos e camelos.

2.2. Quirguistão
É mais um dos países da Ásia Central, instituído em 1926, e
passou a fazer parte da URSS, em 1936. Sua capital é Bishkek,
uma das mais importantes cidades do país. O Quirguistão carac-
teriza-se por ser montanhoso, com altitude de 2,7 mil metros. Cidade de Duchambe, capital do Tadjiquistão

119
Ao longo da sua história, passou por guerras civis e cri- 2.5. Uzbequistão
ses econômicas e sociais, que levaram o Tadjiquistão a ser
considerado o país mais pobre da Ásia Central, a ponto de País da Ásia Central, tem sua capital na cidade de Tashkent,
a Cruz Vermelha fazer um apelo aos países estrangeiros, uma das principais do país. Em 1924, as fronteiras da Ásia
pedindo ajuda humanitária para evitar que a população do Central foram reconstituídas pelo governo soviético, que
Tadjiquistão não fosse exterminada pela fome. proclamou a República Socialista do Uzbequistão e ane-
xou-a à URSS, em 1925.
Nesse contexto, a economia do país não se desenvolveu;
a pobreza e a falta de investimentos públicos determi- Muitos canais e represas com modernos sistemas de irriga-
naram sérios problemas de saneamento básico, com ção foram introduzidos no país pelo Estado, com o intuito
aumento do índice de mortalidade infantil. Atividades de desenvolver o potencial agrícola da região. A partir de
como a agricultura e pecuária são importantes no país. 1956, a monocultura de algodão contribuiu muito para a
Na agricultura se destacam o trigo, a cevada, o algodão, a economia do país e para torná-lo o primeiro fornecedor de
fruticultura e a vinicultura, produzidos em grandes exten- algodão da URSS.
sões. Na pecuária, a criação de ovinos, bovinos, iaques,
camelos e a sericicultura destacam-se. Seu principal re-
curso natural é o potencial hidrelétrico.

2.4. Turcomenistão
Também localizado na Ásia Central, sua capital é a cidade
de Ashkhabad, uma das mais importantes do país. Passou
a integrar a URSS, após ser instituído como República, em
1924. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o país teve
um considerável crescimento econômico, graças à extração
de recursos minerais, petróleo e gás, e à colheita de algodão.
Etnicamente, a população do Turcomenistão é formada por
68% de turcomenos e 10% de uzbeques, além das mino- No Uzbequistão, mulheres e crianças chegam a trabalhar
rias de russos, cazaques e ucranianos. até dez horas por dia em sistema análogo à escravidão.

A economia do país vem sendo prejudicada em virtude da Etnicamente, a população do Uzbequistão é composta
escassez de recursos naturais, do clima severo e da insufi- por 71% de uzbeques, 8% de russos, além de tadjiques
ciente rede hidrográfica, usada exclusivamente para aten- e cazaques.
der às necessidades da população e irrigar as culturas de A agricultura e a pecuária são importantes atividades eco-
algodão e frutas. nômicas do país, com destaque para a cultura de algodão,
arroz, trigo, frutas e a criação de ovinos e bovinos. A in-
dústria desenvolve os setores de eletrônica, tratores, têxtil,
metalurgia, adubo e química.

Nativo do Turcomenistão com roupas tradicionais e seu dromedário

Com grandes áreas desertas, o setor agropecuário é exten-


so; criam-se ovinos, equinos e dromedários. Na indústria,
destacam-se os setores de química, fertilizante, têxtil, ali-
mentício, mecânica e vidro.

120
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 7
Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

Os recentes episódios relacionados ao aumento da presença militar da Otan no leste europeu, aos conflitos
na Síria e ao rearmamento russo mostram que o pensamento político das potências ainda resgata a rivalidade
da era bipolar. Em fevereiro de 2016, na Conferência de Munique, o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev,
afirmou o desgaste das relações russas com o Ocidente e declarou estar numa nova era da Guerra Fria. A Otan
tem instigado esse confronto ao continuar enviando suas tropas muito próximas à fronteira e à base naval
russa de Kaliningrado. Em janeiro de 2017, 1.200 soldados alemães se deslocaram para uma base militar na
Lituânia e cerca de 3 mil soldados do exército estadunidense, tanques e helicópteros Apache e Black Hawk
foram mobilizados para compor a segurança dos países aliados na Europa Oriental.
Mesmo com o fim da URSS, a Otan não deixou de revelar sua insegurança quanto ao futuro da Rússia. As per-
cepções de desconfiança trazidas pela era bipolar permanecem sólidas e acabam interferindo nas políticas ex-
ternas das partes envolvidas. Primeiro, a Aliança incitou um ambiente de tensão ao se engajar numa política de
portas abertas, que inclui novos membros do leste, como Polônia, República Tcheca e Hungria. Mais tarde, em
2008, outro capítulo de apreensão do pós-Guerra Fria surgiu quando os membros da Otan não reconheceram
a legitimidade das intervenções russas no conflito da Geórgia e da Ucrânia. O Ocidente priorizava um discurso
que assegurasse a soberania dos antigos territórios soviéticos e evitasse qualquer pretensão neoimperialista
russa. Por fim, a mais recente onda de conflitos na Síria colocou a Rússia e o Ocidente em lados opostos e na
iminência de um possível confronto direto. O governo de Bashar al-Assad recebeu o apoio russo, por um lado,
e críticas ocidentais, por outro, principalmente com os bombardeios russos sobre os rebeldes na região. Em
termos econômicos e militares, uma nova Guerra Fria nesse momento não representaria grandes ganhos para
ambas as partes. A Rússia, por exemplo, ainda se mantém dependente de capital e tecnologia ocidentais para
sua infraestrutura, o conflito geraria fuga de capitais e encolhimento do mercado de crédito. Além disso, países
como Armênia, Bielorrússia e Cazaquistão poderiam optar por minar seus acordos econômicos com os russos,
com o objetivo de não arruinar suas relações com o Ocidente. Por outro lado, significaria também um grande
custo militar e a retirada de tropas do Ocidente em outras áreas de influência, como a Ásia e Oriente Médio,
para obter melhor desempenho no confronto principal leste–oeste.

MODELO 1
(Enem) O fim da Guerra Fria e da bipolaridade, entre as décadas de 1980 e 1990, gerou expectativas de que
seria instaurada uma ordem internacional marcada pela redução de conflitos e pela multipolaridade.
O panorama estratégico do mundo pós-Guerra Fria apresenta:
a) o aumento de conflitos internos associados ao nacionalismo, às disputas étnicas, ao extremismo religioso e
ao fortalecimento de ameaças como o terrorismo, o tráfico de drogas e o crime organizado;
b) o fim da corrida armamentista e a redução dos gastos militares das grandes potências, o que se traduziu em
maior estabilidade nos continentes europeu e asiático, que tinham sido palco da Guerra Fria;
c) o desengajamento das grandes potências, pois as intervenções militares em regiões assoladas por con-
flitos passaram a ser realizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), com maior envolvimento de
países emergentes;

121
d) a plena vigência do Tratado de Não Proliferação, que afastou a possibilidade de um conflito nuclear como
ameaça global, devido à crescente consciência política internacional acerca desse perigo;
e) a condição dos EUA como única superpotência, mas que se submetem às decisões da ONU no que concerne
às ações militares.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A Nova Ordem Mundial começou com o término da Guerra Fria, em 1991 (fragmentação da União Soviética),
e se desenvolve até os dias atuais. A Nova Ordem é caracterizada pela globalização da economia capitalista,
multipolaridade econômica e geopolítica (G7, BRICS, G20, etc.), crescimento de conflitos étnicos, religiosos
(conflito entre civilizações) e separatistas, bem como pelo aumento da atividade terrorista no mundo.

RESPOSTA Alternativa A

122
DIAGRAMA DE IDEIAS

ASPECTOS ASPECTOS
FÍSICOS SOCIOECONÔMICOS

CLIMA POPULAÇÃO

• SUBPOLAR 145 MILHÕES


• TEMPERADO CONTINENTAL
• CONTINENTAL DENSIDADE
• MONTANHA DEMOGRÁFICA

8 hab/km2
RELEVO

• PLANÍCIES A OESTE RECURSOS


• ALTAS MONTANHAS A LESTE NATURAIS

PETRÓLEO E GÁS NATURAL


VEGETAÇÃO

ERA PUTIN
• TUNDRA
• TAIGA
• FLORESTA TEMPERADA

BRICS
HIDROGRAFIA

• RIOS DE PLANÍCIE
(ÚTEIS PARA NAVEGAÇÃO, CONFLITOS
EXCETO NO INVERNO) SEPARATISTAS

123
geomorfológico, a China divide-se em quatro regiões dis-
AULAS 33 E 34 tintas: oriental, noroeste, sudoeste e litorânea.
§ Região oriental – banhada por rios abundantes e
caudalosos, a região oferece as melhores condições de
vida na China: solos férteis e clima úmido favorecem a
agricultura e permitem altos índices de concentração
REGIÕES populacional. A planície do nordeste estende-se pela
SOCIOECONÔMICAS região histórica da Manchúria. É uma área muito fértil,
circundada por montanhas antigas: o grande Khingan,
MUNDIAIS V: CHINA no oeste; o pequeno Khingan, no norte; e os maciços
de Changbai, no sudeste. Repleto de falhas geológicas,
o território é muito instável. Em 1976, um abalo sísmico
causou a morte de centenas de milhares de pessoas. No
COMPETÊNCIA: 2 sul, encontra-se a grande planície, larga faixa de terra que
se prolonga de Pequim a Xangai. Essa fértil planície alu-
vial, cuja horizontalidade dificulta o escoamento dos rios,
HABILIDADE: 7
é interrompida pelo maciço de Shandong (Shantung),
cuja altitude máxima no Tai Shan chega a 1,5 mil me-
tros. A oeste dessa vasta planície, estendem-se regiões
acidentadas, os planaltos de Shanxi (Shansi) e Shaanxi
1. China (Shensi), de 1,2 mil metros a 1,6 mil metros, situados
nos dois lados do rio Huanghe (Huang Ho ou Amarelo).
Modelada pela erosão fluvial, essa zona intensamente
1.1. Aspectos físicos povoada acha-se coberta por loess, os solos mais fér-
A topografia chinesa caracteriza-se pela imponência e al- teis da China, tradicionalmente usados para a produção
tura de suas cadeias montanhosas em direção ao oeste e agrícola. Desde os anos de 1980, essa região abriga as
pela extensão que ocupa um terço do total do território. zonas econômicas especiais, áreas de produção de bens
Em razão do clima, da geologia e do desenvolvimento de consumo destinadas à exportação.

China: relevo

124
No sudeste, o relevo também é bastante irregular. É uma de Hangzhou, ao sul de Xangai; a baía próxima de
região com elevações inferiores a dois mil metros, cuja Cantão (Guangzhou na transliteração pinyin), flanque-
complexidade transforma-as num obstáculo difícil de trans- ada por Hong Kong e Macau; e a península meridional
por. A altitude máxima ocorre nos montes de Nanling (1,9 de Leizhou, defronte à ilha de Hainan.
mil metros). A oeste de Nanling, abre-se uma faixa mais
elevada composta de materiais calcários. Trata-se dos pla-
naltos de Yunnan e Guizhou (Kweichow), onde abundam
os fenômenos cársticos. Embora a altitude média seja in-
ferior a dois mil metros, os montes Dieqiang (Tiechiang), a
oeste, ultrapassam 3,6 mil metros.
§ Região noroeste – no relevo dela predominam os
planaltos. O de Sinkiang divide-se em dois grandes multimídia: livro
conjuntos por uma cordilheira que se estende em sen-
tido leste-oeste: os Tianshan ou montes Celestes, cuja
China contemporânea – Thierry Sanjuan
altitude máxima é o pico Pobedy, 7,4 mil metros. A
parte norte do planalto é formada pela depressão de Reformas graduais e sistemáticas foram mudando a
Dzungária, com altitude inferior a 500 metros. A par- China, tornando-a uma das grandes potências mundiais
te sul de Xinjiang é uma grande bacia com altitudes e um país em que todos estão mais atentos.
que oscilam entre 700 metros e 1,4 mil metros, cujo
setor central é constituído pelo deserto de Taklimaken,
1.1.1. Clima
um dos mais inóspitos do mundo. Rodeiam essa ba-
cia altas montanhas: os montes Kunlun, no sudoeste, A variedade de climas na China é determinada pela vasti-
os Tianshan, no norte, e, no leste, os montes Altun. O dão do território, pela elevada altitude de muitas regiões
planalto da Mongólia Interior, a leste de Xinjiang, é (que gera climas frios em latitudes baixas e atua como bar-
um território que atinge mil metros de altitude média reira à penetração do ar marítimo) e pela circulação atmos-
e cerca a República Popular da Mongólia. A topografia férica (o vento do noroeste parte do anticiclone siberiano,
é plana e o clima, árido, o que explica a formação de frio e seco no inverno, e os ventos monçônicos do sudeste,
desertos pedregosos e de dunas, como os de Gobi e quentes e úmidos no verão).
Mu Us. Essa região apresenta baixa densidade demo-
Na região oriental, os verões são quentes e úmidos e os
gráfica e minorias étnicas.
invernos, secos e frios. No nordeste da China (Manchúria)
§ Região sudoeste – os planaltos tibetanos do sudoes- predomina o clima continental: temperaturas muito bai-
te constituem um relevo complexo e muito acidentado, xas no inverno e altas no verão, com precipitações mode-
conhecido como teto do mundo. O planalto ocidental al- radas em torno de 700 mm anuais. Em direção ao sul, o
cança uma altitude superior a quatro mil metros, cercado inverno torna-se menos rigoroso, com cerca de –3,5 ºC,
de altíssimas montanhas: ao norte, os montes Kunlun, em janeiro (Pequim); e os verões são quentes (27 ºC em
onde se destaca o pico Muztag, com 7,7 mil metros; julho). As precipitações são abundantes na costa – mais
ao sul, o Transimalaia (ou Trans-himalaia), com o monte de mil mm anuais em Nanjing –, mas diminuem rumo ao
Gula (7,5 mil metros); e o Everest, ponto culminante do interior (600 mm/ano, em Pequim). No sudeste prevalece
planeta (8,84 mil metros), que faz fronteira com o Ne- o clima subtropical, úmido e quente. As precipitações ori-
pal. No extremo oeste dos Kunlun estende-se a bacia de ginadas das monções são profusas: 1,6 mil mm/ano, no
Qaidam, vasta região semidesértica com altitude média Cantão. As temperaturas são muito altas no verão – entre
de 2,7 mil metros. A China anexou o Tibete em 1951. É 27 ºC e 30 ºC) – e suaves no inverno (13 ºC). No oeste, o
onde nasce a maioria dos rios do Sudeste Asiático. clima fica mais seco à medida que se penetra no interior
§ Região litorânea – de norte a sul, até a baía de e mais frio à medida que se avança para o norte – de-
Hangzhou, o litoral é baixo e arenoso, formado pelo sertos frios de Taklimaken, Mu Us e Gobi. No sudoeste,
transporte de matéria aluvial do rio Amarelo e do Yang- a altitude acentua o frio e a aridez no planalto tibetano
zi ou Yangtze. Ao sul de Xangai, a costa torna-se muito quase desabitado. Os montes Tsinling, na China central,
rochosa, escarpada e recortada, e as reentrâncias mon- também exercem importante papel de divisor climático.
tanhosas chegam ao próprio mar. Os acidentes litorâ- Submetida a um clima de transição entre o semiárido do
neos mais importantes são as penínsulas de Liaodong norte e o subtropical do sul, essa região tem precipita-
e Shandong, que formam o golfo de Bo ou Zhili; a baía ções e temperaturas moderadas.

125
China: clima

1.1.2. Vegetação 1.1.3. Hidrografia


Determinada pelos solos e pelo clima, a vegetação chinesa Mapa: hidrografia
é muito variada. No nordeste, as planícies são forradas de
estepe densa, e as montanhas, cobertas de bosques mistos
de coníferas, carvalhos, bordos e bétulas. Ao sul, na grande
planície, o bosque natural foi substituído ao longo de mi-
lênios por culturas agrícolas. Na China central, abundam
espécies de grande valor econômico, como o bambu, o
tungue e outras árvores das quais se extraem óleos. Na
zona tropical do sul, são comuns as árvores de madeira
rígida, semelhantes às do sudeste asiático. Nas áridas regi-
ões norte-ocidentais, predominam a vegetação de estepe
fria e os bosques de coníferas; nas zonas mais elevadas, a
flora do tipo alpino.
Paisagens vegetais A China é banhada por numerosos rios, alguns muito cau-
dalosos, distribuídos de modo bastante irregular. A porção
oriental do país é bem irrigada pelos rios Yangzi, Amarelo
e Xijiang (Hsi Kiang), que desembocam no Pacífico. A parte
norte-ocidental, por sua vez, apresenta poucos e menos
importantes cursos fluviais. Alguns deles formam bacias
endorreicas (não deságuam no mar), como a do Tarim. Na
vertente do Pacífico, o rio mais setentrional é o Amur, que
serve de fronteira com a Rússia ao longo de mais de 1,6 mil
quilômetros, e desemboca em território russo. O Amarelo
´
nasce nos montes Kunlun. Em seus vales, floresceram os
primórdios da cultura chinesa. O rio Liao desemboca no
Florestas temperadas golfo de Bo, depois de percorrer 5,44 mil quilômetros. O
Florestas pluviais tropicais
Estepes Yangzi é o curso fluvial mais longo e caudaloso: tem 6,3
Desertos mil quilômetros de comprimento, nasce no Tibete e drena
Montanhas elevadas
Semiárido uma região habitada por centenas de milhões de pessoas.

126
Seus principais afluentes são os rios Huai, Han e Min. Os Seu IDH é considerado médio (0,687 – 101.º do ranking
rios Xijiang e Mekong terminam no Vietnã e deságuam mundial); Verificar com autores, pois a frase está confusa.
no mar da China meridional. No extremo sul-ocidental da A população chinesa está mal distribuída, com 90% da
China, na região do Tibete, nascem diversos rios que cor- população vivendo em menos de 20% de território, na
tam outras nações – Brahmaputra, Irrawaddy e Indo. Na região leste do país, com densidade demográfica superior
porção norte-ocidental, há bacias endorreicas alimentadas a 1.000 hab./km2.
por águas procedentes da fusão das neves, como no caso
da bacia do Tarim. É no rio Yang-Tsé-Kiang (ou rio Azul)
que foi construída a usina hidrelétrica de Três Gargantas, a
maior usina hidrelétrica do mundo. Sua construção foi jus-
tificada para aumentar a geração de energia; no entanto,
gerou graves impactos ambientais, principalmente porque
forçou o deslocamento de quase 1,4 milhão de pessoas.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Documentário: China Blue (2006)
Documentário sobre relações de trabalho na China
pós-globalização fala nas condições subumanas de
trabalho e nos desrespeitos sofridos pelos adolescentes
trabalhadores para atenderem às demandas de multi-
nacionais do Ocidente.

1.2.1. Grupos étnicos e línguas


1.2. Aspectos populacionais Han é o maior grupo étnico chinês; compreende cerca de
Com uma população oficialmente avaliada em 1,3 bilhão 91,5% da população total. Ele predomina em todos os seg-
de habitantes e uma taxa de crescimento de 0,6%, a China mentos da sociedade chinesa, instituições públicas, comércio
é bastante preocupada com seu crescimento populacional e empresariado. Criteriosamente, eles foram espalhados no
e vem tentado implementar uma política rigorosa de limi- país pelo governo chinês, controlando as decisões e a eco-
tação de nascimentos. A Lei do Filho Único foi adotada em nomia em geral. O restante da população está assim cons-
1979; em 2002, foi criada a Lei de Planejamento Familiar, tituída: zhuang (16 milhões), manchu (10 milhões), hui (9
que passou a permitir uma criança por família, com subsí- milhões), miao (8 milhões), uigur (7 milhões), yi (7 milhões),
dio para uma segunda criança, em certas circunstâncias, mongol (5 milhões), tibetano (5 milhões), buyi (3 milhões),
especialmente nas zonas rurais, com orientações mais flexí- coreano (2 milhões) e outras minorias étnicas.
veis para as minorias étnicas com pequenas populações. O Existem sete dialetos chineses principais e muitos subdiale-
cumprimento dessas leis varia e depende muito “das taxas tos. O mandarim ou chinês, falado por mais de 70% da po-
de compensação social” para evitar nascimentos extras. pulação, é o predominante. É ensinado em todas as escolas
A política oficial do governo opõe-se ao aborto ou à e veículo de imposição oficial das normas culturais. Cerca
esterilização forçada. A meta é estabilizar a população de dois terços do grupo étnico nativo han são falantes de
na primeira metade do século XXI. As projeções atuais mandarim; os demais, concentrados no sudoeste e sudes-
apontam para uma população de cerca de 1,6 bilhão em te da China, falam um dos outros seis principais dialetos.
2050. A expectativa de vida é de 73,47 anos (71,61 anos As línguas não chinesas faladas amplamente por minorias
para os homens e 75,52 anos para as mulheres). Segun- étnicas incluem o mongol, o tibetano e o uigur, bem como
do o governo chinês, 90% da população é alfabetizada e línguas turcas – no noroeste, na região de Xinjiang – e
há 22 óbitos/ano infantis para cada mil crianças nascidas. coreano – no nordeste, na região da Manchúria.

127
Grupos étnico-linguísticos

SINO-TIBETANO
Mandarim
1. Norte
2. Oriental
3. Sudoeste
INDO-EUROPEU
Sulista
1. Wu Tajik
2. Gan AUSTRO-ASIÁTICO
3. Xiang
Mon-Khmer
4. Min
5. Hakka ALTAI
6. Yue Turkic
1. Kazakh
Tibetano
1. Amdo 2. Uygur
2. Khams 3. Kirghiz
3. Dbusgtsang Mongol
Kam-Tai Manchu-Tungus
Miao-Yao Coreano

mais praticadas pelos chineses. Também denominado sis-


tema filosófico, o confucionismo é respeitado pelos que
se consideram ateus. A China tem cerca de 100 milhões
de budistas, 20 milhões de muçulmanos, 15 milhões de
protestantes e cinco milhões de católicos. Embora a Cons-
tituição chinesa reafirme a tolerância religiosa, de fato o
governo impõe restrições a práticas religiosas de organiza-
multimídia: vídeo
ções oficialmente não reconhecidas.
Fonte: Youtube
O Último Imperador - 1987
A saga de Pu Yi (John Lone), o último imperador da Chi-
na, que foi declarado imperador com apenas três anos e
viveu enclausurado na Cidade Proibida até ser deposto
pelo governo revolucionário, enfrentando então o mun-
do pela primeira vez quando tinha 24 anos.

1.2.2. Religião
Oficialmente, a maioria dos chineses é ateísta. O taoísmo
tradicional, o confucionismo e o budismo são as religiões Monges budistas no templo, Xangai, China (2020)

128
1.2.3. Urbanização

Apesar das restrições impostas pelo governo a fim de evitar absoluta entre 1990 e 2005, por outro, a urbanização chi-
um êxodo rural desenfreado, em janeiro de 2012 foram nesa é considerada excludente e desigual.
anunciados dados revelando que, pela primeira vez em
sua história, a população urbana da China superava a po- 1.2.4. Revolução chinesa
pulação rural: 51,27%, algo em torno de 700 milhões de
A China sempre foi um importante mercado consumidor
pessoas. Estimativas oficiais dão conta de que 300 milhões
e fornecedor de produtos ao Ocidente (seda e chá), ou
de pessoas devem migrar das zonas rurais para as áreas
seja, o território chinês por muito tempo esteve tomado
urbanas nas próximas décadas.
pela presença estrangeira. Entretanto, o comércio com a
China era deveras difícil, pois os chineses consideravam
os ocidentais como bárbaros e não se interessavam tanto
pelas suas mercadorias. Os ingleses, por sua vez, também
não se conformavam com o pequeno volume de venda
dos chineses e, por isso, voltaram-se para o comércio
do ópio, proibido na China desde 1729, pois o ópio era
tradicionalmente usado como remédio, mas passou a ser
usado como droga.
O contrabando de ópio pelos ingleses correspondia à me-
tade do total das exportações chinesas, ou seja, acabou en-
riquecendo a Companhia das Índias Orientais, diminuindo
a carga de outros produtos.
Até 2030, cerca de 300 milhões de chineses
devem radicar-se nas cidades. Em uma ocasião, o governo imperial chinês apreendeu um
carregamento de ópio e o jogou ao mar. A Grã-Bretanha,
A modernização estrutural do país não é um fato em todo
alugando prejuízos, iniciou uma série de retaliações que
o território chinês, que ainda precisa redistribuir a renda
culminaram nas Guerras do Ópio.
conquistada em três décadas de crescimento econômico
acentuado. Se, por um lado, a ONU reconhece que o núme- A primeira guerra aconteceu em 1840, quando os chineses
ro de pessoas consideradas muito pobres na China – que foram derrotados pelos britânicos, e, em 1942, a China se
vive com menos de US$ 1 ao dia – diminuiu muito com a viu obrigada a assinar o tratado de Nanquim, onde teve
retirada de 475 milhões de pessoas da zona de pobreza que pagar indenização cedendo Hong Kong aos ingleses.

129
Pelo tratado de Tientsin (1958), os chineses acabaram por selaram uma aliança para combater um inimigo comum: o
fazer concessões à França, à Grã-Bretanha, à Rússia e aos Japão, que invadiu a Manchúria, em atos que antecederam
EUA para a abertura de novos portos ao comércio, já que os a Segunda Guerra Mundial.
chineses admitiram a livre importação do ópio. A crescente
Durante o combate aos japoneses, os comunistas aumen-
influência ocidental no território chinês provocou reações
taram seu efetivo militar e territorial, promoveram a refor-
dos nacionalistas e, em 1910, os chineses nacionalistas
ma agrária nas terras conquistadas e ganharam apoio e
fundaram o Kuomitang (Partido Nacionalista) e passaram
simpatia da população, principalmente em áreas rurais.
a combater não só a presença estrangeira, como também
o fraco e cambaleante império. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, as tropas japone-
sas, derrotadas e enfraquecidas, renderam-se, e a aliança
Já nos anos de 1920, outra frente de resistência surgia: os
entre nacionalistas e comunistas também teve seu fim. A
comunistas, organizados em torno do recém-criado Partido
partir daí, entraram numa guerra civil que durou de 1945
Comunista Chinês, o PCC, sob a liderança de Mao Tsé-Tung.
a 1949, com a vitória dos comunistas, que fundaram a Re-
De 1934 a 1935, o Kuomitang iniciou um cerco aos co- pública Popular da China, pondo fim a quase 5 mil anos de
munistas, que fugiram em direção ao norte, num episódio império. Os nacionalistas, liderados por Kai-Shek, fugiram
conhecido como A Grande Marcha, que trouxe uma ex- para Ilha de Formosa (Taiwan), onde fundaram a República
pressiva notoriedade aos comunistas e seu líder. Em 1931, Nacionalista da China, que até então não é reconhecida
nacionalistas, liderados por Chiang Kay-Shek, e comunistas pela China continental.

1.2.5. China comunista


Guerra Civil chinesa: fase final (1947-1949)
Territórios conquistados pelos
comunistas chineses em:
Abril de 1947
Julho de 1948
Outubro de 1949
Avançado do exército
popular chines
Núcleo comunista
Capitais do governo
nacionalista chines
Ocupação soviética
Ocupação americana

Vitorioso em 1949, o Partido Comunista Chinês, liderado por Mao Tsé-Tung, aproximou-se da União Soviética pelo Tratado
de Amizade, Aliança e Ajuda, com o presidente Josef Stalin. Internamente, o novo governo adotou amplas medidas, como a
nacionalização das indústrias e a reforma agrária, em que grandes propriedades foram confiscadas pelo Estado e redistribuí-
das entre os camponeses. Anterior ao governo comunista, o primeiro plano quinquenal, anunciado em 1935 por Chou En-lai,
propunha uma nova linha geral de transição para o socialismo, priorizando a indústria pesada.
Em 1955, foi acelerada a coletivização da agricultura, com a organização de um milhão de cooperativas. Era o fim do capita-
lismo, quando se implantaram as três transformações socialistas básicas: expropriação da burguesia industrial, expropriação
do comércio urbano e instalação do movimento cooperativo no campo.

130
A mobilização da população foi geral. Até intelectuais e estu-
dantes foram conclamados a trabalhar no campo. Entretan-
to, mesmo com um crescimento de 65% da produção rural,
dificuldades obrigaram a correções de rumo. O projeto Gran-
de Salto teve resultados limitados. A interferência soviética
no processo de desenvolvimento chinês não era vista com
bons olhos pelos membros do PCC. A amizade durou pouco
tempo. A chamada crise Sino-Soviética culminou em 1960
no rompimento das relações entre os dois países.
Mao Tsé-Tung sofreu algumas derrotas nas disputas inter-
nas do PCC e foi afastado da presidência em 1958. O re-
torno de Mao, que nunca aceitou a derrota, aconteceu em
Em 1.º de outubro de 1949, Mao Tsé-Tung proclamou a 1966, num movimento que ficou conhecido como Revo-
fundação da República Popular da China, em Pequim.
lução Cultural, processo que conduziu as massas contra
Apesar de a produtividade industrial ter crescido 400% entre os opositores, com reorientações ideológicas e doutrinárias
1949 e 1959, os salários só aumentaram 52%. Aos primeiros tanto da população chinesa como dos próprios membros
sintomas de que o desenvolvimento socialista estava aquém do partido. Esse processo foi marcado pela extrema violên-
das exigências sociais e ameaçava o governo do Partido Co- cia e perseguição aos opositores.
munista, Mao Tsé-Tung proclamou uma liberalização interna. Após seu retorno, e praticamente sem nenhum opositor
Em maio de 1956 foi lançado o slogan: “Que cem flores desa- interno, Mao iniciou sua política interna e externa, com
brochem, que cem escolas de pensamento rivalizem entre si”. princípios marxistas. No final da década de 1960 e início
As críticas contra o governo cresceram. O Movimento das de 1970, a China já possuía a bomba atômica e lançou
Cem Flores intensificou-se, levando o governo a reagir com ao espaço seu primeiro satélite artificial, reafirmando os
uma ofensiva campanha antidireitista, que levou milha- avanços na tecnologia. Com a morte de Mao Tsé-Tung,
res de pessoas à prisão. Mao justificou-se dizendo que a em 1976, a China entrava numa nova era.
Campanha das Cem Flores objetivava “fazer as serpentes
saírem de suas tocas”. 1.2.6. China pós-Mao
Iniciado como um processo de democratização, o Mo- Em fins de 1976, Hua Kuofeng assumiu o governo chinês
vimento das Cem Flores acabou reforçando o poder do e imprimiu-lhe uma linha política de centro. Os partidários
Partido Comunista Chinês. Em agosto de 1957, decidiu-se de Chiang Ching (esposa de Mao Tsé-Tung) foram toma-
pelo programa de reformas chamado Grande Salto para dos como de extrema esquerda e os de Deng Xiaoping, de
Frente que, ao investir em subsídios econômicos para a direita. Em 1977, Deng Xiaoping foi reabilitado. À medida
agricultura, confirmava o predomínio da base camponesa que se deu sua ascensão no PCC, o grupo de Chiang Ching
do socialismo chinês. foi marginalizado, perseguido, preso e julgado em 1981.
Enquanto Chiang era condenada como responsável pelos ex-
cessos da Revolução Cultural, Deng Xiaoping, agora líder do
governo chinês, iniciava o período de desmaoização do país,
afastando seus adeptos do governo.

Cartaz do Movimento das Cem Flores (1957) Deng Xiaoping e Jimmy Carter, presidente dos EUA. Janeiro de 1979.

131
A prioridade do governo Deng era as quatro moderniza- sem glasnost”, fortalecendo a incógnita do rumo histórico
ções: da agricultura, da indústria, da defesa e das áreas chinês para o final do século XX e início do XXI.
de conhecimento. Essas medidas atraíram para a China
uma imensa onda de investimentos externos, fazendo
com que o país intensificasse o início da reversão agrária
maoísta. Na década de 1980, chegou a ter uma popula-
ção rural abaixo de 80%. Entre 1980 e 1995, atraiu mui-
tos investimentos estrangeiros, que chegaram a superar
170 bilhões de dólares.
No final de 1995, enquanto a China apresentava uma
população próxima de 1,2 bilhão de habitantes, seu PIB
Manifestante posta-se diante de tanques
alcançava 2,8 bilhões de dólares, consolidando um cres- na Praça da Paz Celestial, em junho de 1989.
cimento econômico superior aos 10% anuais. Da mesma
forma, as reservas de divisas do país alcançavam um vo- 1.2.7. A questão do Tibete
lume recorde de 58 bilhões de dólares, confirmando o de-
sempenho exportador. A partir de 1949, a China aderiu ao comunismo como re-
gime político-econômico. No ano seguinte, anexou ao seu
Mesmo atraindo a atenção mundial para seu progresso, território o Tibete, cuja autonomia passou a ser controlada
nem tudo era estabilidade. A disparidade do desenvolvi- pela China.
mento entre as províncias somava-se à inflação decorren-
te dos subsídios às empresas estatais, que dominavam a O Tibete fica a sudoeste da China. Seus habitantes sempre
metade da economia e sugavam quase 40% dos recursos foram adeptos do budismo. Naquela oportunidade, viviam
do governo. O crescimento da inflação bateu os 25%, em sob a liderança político-religiosa do supremo Dalai Lama.
1994. Em meio às medidas saneadoras, buscava-se um de-
créscimo inflacionário que foi alcançado nos anos seguin-
tes. Somando-se às dificuldades financeiras, a ineficiência
burocrática era acompanhada de corrupção e desperdícios
até se tornar o inimigo principal, oficialmente declarado
pelo governo. Era indispensável e necessária a estabilidade
exigida para o desenvolvimento.
Permaneciam, no entanto, duas incógnitas para a conti-
nuidade do desenvolvimento chinês: primeiro, a sucessão
de Deng Xiaoping por novas lideranças, afinadas ou não
com a continuidade da integração ao capitalismo globali-
zado; e segundo, a inerente contradição entre a abertura
econômica sem a correspondente abertura política. Jun-
tadas aos efeitos de uma economia de mercado, buscava-
-se mesclar o socialismo às necessidades do capitalismo,
se é que tal combinação seria possível, ao lado do cresci- Dalai Lama, líder espiritual e político do Tibete
mento das desigualdades sociais. Em 1950, os monges tibetanos revoltaram-se contra a do-
Confirmando a tendência capitalista, as pressões pela libera- minação chinesa. O resultado foi um grande fracasso, e os
ção política na China foram bastante expressivas na década revoltosos foram arrasados pelas tropas inimigas. Depois
de 1980, cujo ápice foi em abril de 1989 com a ocupação, disso, o líder espiritual Dalai Lama foi forçado a se retirar
pelos que reivindicavam a democratização do país, da Praça do país, quando se exilou na Índia.
da Paz Celestial, em Pequim. Como um novo “assalto ao Recentemente, não faltam apoios dos organismos interna-
céu”, busca do paraíso socialista, exigia-se liberdade de cionais para a consolidação da independência do Tibete,
manifestação e de imprensa, num movimento liderado por ainda sem sucesso, uma vez que ela feriria interesses da
estudantes. O governo sufocou o movimento à força. China na região.
Nos anos 1990, a China ampliou sua remodelação econô- Em 1989, o líder budista Dalai Lama recebeu o Prêmio
mica iniciada no governo Deng Xiaoping, mas manteve sem Nobel da Paz, o que reacendeu e estimulou a luta pela
alteração a estrutura política, a situação de “uma perestroika independência.

132
1.3. Aspectos econômicos Entretanto, muitas vezes, as leis locais exigem de uma mega-
empresa internacional que se instale na China, que adquira
Durante muito tempo, a China manteve as portas de seu seus componentes dos fornecedores locais. Outra questão
mercado fechadas para a inserção de capitais estrangei- importante é que, em todos os setores, tem liberdade para
ros, fato proveniente do regime socialista adotado no país. repartir os lucros obtidos na China, isto é, parte dos ganhos
Porém, desde os anos 1970, o sistema capitalista vem se deve ser reinvestido no próprio território chinês.
apropriando da China por opção própria. Com a abertura
Em virtude das opções e forma como se organiza a econo-
do mercado para o capitalismo mundial, houve crescimen-
mia chinesa, vários pesquisadores, analistas e profissionais
to da industrialização, com aumento, sobretudo, da produ-
ligados à economia consideram a China um país capitalis-
ção de bens de consumo.
ta, se bem que sob rigorosa intervenção do Estado (econo-
O acelerado desenvolvimento industrial da China fez com mia planificada).
que o país se tornasse um dos maiores produtores de bens Essa nova configuração da economia chinesa já apresenta
industrializados do mundo, somados a fatores determinan- significativas mudanças no espaço geográfico do país, alte-
tes para isso: implantação de zonas econômicas especiais, rações na vida de seus habitantes, como substituição da bi-
onde foram concedidas permissões para a entrada de capi- cicleta por carros, construção de shopping-centers, alteração
tais estrangeiros. Ao longo dessas zonas, criaram-se áreas de hábitos alimentares e do modo de vestir da população.
de livre comércio, medida adotada em decorrência de leis
O crescimento industrial vem proporcionando uma relati-
de incentivo, como redução parcial ou total de impostos.
va melhoria na qualidade de vida da população: melhores
China: regiões econômicas condições de moradia e de alimentação e acesso ao con-
sumo, especialmente de eletrodomésticos.
Cada vez mais, o povo chinês vem assumindo atitudes
consumistas: uso crescente do cartão de crédito, celular e
carro, o que lhe confere status social.
Em busca de melhores qualidades de vida que a cidade mos-
trava proporcionar, milhões de pessoas deixavam o campo.
Esse crescimento urbano acelerado e desordenado acabou
gerando problemas tanto ambientais (como poluição do ar
e aumento da produção de esgoto) como sociais (aumento
das desigualdades, violência e crimes).
A China vem passando por profundas transformações eco-
nômicas e sociais. A industrialização ocorrida nas últimas
décadas, assim como a crescente urbanização, elevou a de-
manda por alimentos e vem forçando o país a preocupar-se
cada vez mais com sua segurança alimentar. Devido à sua
estrutura fundiária, grande parte do meio rural chinês ainda
encontra dificuldades de expandir sua produção a partir dos
CENTRO DE DECISÃO, INOVADA
E FORTE INDUSTRIALIZAÇÃO
MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS
FRENTES PIONEIRAS
ganhos de escala derivados de processos de modernização
PERIFERIA AGRÍCOLA INTEGRADA ZES-ZONA ECONÔMICA ESPECIAL tecnológica. Essa realidade, associada a problemas ambien-
ÁREA DE INVESTIMENTO
PERIFERIA POUCO DESENVOLVIDA ESTRANGEIRO MACIÇO
CONFLITOS DE INDEPENDÊNCIA
tais, como a poluição e a escassez de água, tem levado a
A LESTE DA LINHA, 90% DA
POPULAÇÃO DO PAÍS
OU GUERRILHAS
FROTA NORTE-AMERICANA
China a reformar suas políticas agrícolas, assim como a
ELABORAÇÃO: SIMIELLI, 2009, com dados de Ouid 2005, BOUVET, 2004
e O Estado de SP, fev 2007 c 2009, M.E.Simielli
buscar alianças internacionais relacionadas ao agronegó-
cio. Contudo, mesmo a um custo significativamente mais
A redução de impostos por parte do governo tem como elevado, a China tem conseguido manter níveis adequados
objetivo atrair investimentos e inovações tecnológicas de de autossuficiência alimentar, acima de 95%. Nesse contex-
países desenvolvidos. Os principais investidores nas ZEE fo- to, vislumbram-se oportunidades para o Brasil que podem
ram os japoneses e os estadunidenses. Somam-se a esses auxiliar a implementação de estratégias direcionadas a um
comércio internacional qualificado e mais integrado às prin-
incentivos o fator tributário, a abundante e barata mão de
cipais cadeias do agronegócio chinês.
obra, cuja exploração não está sujeita à regulamentação,
e o enorme potencial de mercado interno (1,3 bilhão de É frequente a caracterização da China como um país de
pessoas) e leis ambientais frágeis. dimensões superlativas, e, no caso da agricultura, esse

133
adjetivo também é válido. Entre as culturas que apresen- do de sua balança comercial, passando de exportadora à
tam significância para o Brasil, o país asiático é o maior importadora de alimentos. Contudo, a despeito do cres-
produtor mundial de arroz e fumo, o segundo maior pro- cimento da produção e da importação de alimentos, as
dutor de trigo e milho e o quarto maior produtor de soja. mudanças de hábitos decorrentes da rápida urbanização
No início dos anos 2000, o ingresso da China na Organi- impactaram negativamente o valor nutricional ingerido
zação Mundial do Comércio (OMC) permitiu uma maior pelos agricultores chineses. Recente análise dos nutrien-
participação do país no comércio mundial de produtos tes consumidos pelas populações rurais de 30 regiões
agrícolas. Entre 2001 e 2008, as exportações e importa- chinesas, entre 1998 e 2010, concluiu que os gastos com
ções desses produtos cresceram, respectivamente, 170% bens não alimentícios e a manutenção da propriedade
e 225%. Durante esse período, buscando assegurar a dis- rural colaboraram para a redução do consumo de calorias
ponibilidade interna de alimentos, a China inverteu o sal- e proteínas por essas populações.

Nível de vida e abertura econômica na China

Outro aspecto a sublinhar é que foi apenas em 2008 que a maioria da população mundial passou a viver no meio urbano. Essa
mudança foi percebida há algumas décadas nos países industrializados, mas é uma realidade nova para alguns países em desen-
volvimento. A população brasileira deixou de ser predominantemente rural em 1964, porém o mesmo ocorreu na China somente
em 2011. Atualmente, 12 das 31 regiões da China ainda apresentam uma população predominantemente rural. O recente e in-
tenso êxodo rural chinês provocou uma drenagem da força de trabalho para o setor industrial, fato que pode ter colaborado para
uma relativa perda de vitalidade da agricultura no país. A migração do campo para a cidade acabou gerando problemas sociais
urbanos e rurais complexos. No campo, por exemplo, é relatada a apreensão quanto à existência de um significativo número de
idosos e crianças que não realizaram o êxodo rural, denominados pela literatura especializada como um contingente “deixado
para trás”. O governo chinês tem demonstrado preocupação em diminuir a diferença na renda per capita entre as populações
urbanas e rurais também como forma de extenuar as forças motoras de um êxodo rural despropositado de efetivo sentido eco-
nômico e geográfico. Têm-se buscado também formas de elevar indiretamente a renda dos produtores agrícolas, principalmente
através de serviços públicos relacionados à educação e à saúde, assim como investimentos na infraestrutura viária no meio rural.
Objetivos como o de diminuir as diferenças entre a vida no campo e na cidade, assim como a promoção da modernização
da agricultura chinesa, são peças fundamentais do New Socialist Countryside, implementado na primeira década dos anos
2000 pelo Governo Central chinês. Outro elemento que sugere haver uma grande preocupação com a situação do meio
rural chinês é o conteúdo do 13.º Plano Quinquenal, lançado em março do ano passado e que guiará os rumos do país
asiático até 2020. Gradualmente, a cada plano quinquenal, observam-se o abandono do padrão de crescimento econômico
induzido pelas exportações e pautado na terra, na mão de obra e em investimentos e a adoção de um novo paradigma de
desenvolvimento orientado ao consumo doméstico.

134
VIVENCIANDO

O Museu da Imigração do Estado de São Paulo é uma instituição pública vinculada à Secretaria de Estado da
Cultura de São Paulo. Está localizado na sede da extinta Hospedaria dos Imigrantes, na rua Visconde de Par-
naíba, 1316, no tradicional bairro da Mooca, na cidade de São Paulo. O museu possui forte tendência a ser um
ponto turístico altamente frequentado por pessoas de dentro e de fora da capital paulista.
O edifício é um patrimônio histórico tombado devido a sua importância para compreender os fluxos de imi-
gração no país. Por sua vez, o museu vem aprimorando seu trabalho, criando oportunidades para que seu
público entre em contato cada vez mais com as diferentes influências que compõem o cenário cultural das
cidades. Os primeiros chineses ingressaram no Brasil no início do século XIX motivados pelo desejo de Dom João
VI de introduzir a cultura de chá no país. Em 1812, o navio Vulcano chegou ao Rio de Janeiro com mais de 300
chineses cultivadores de ervas da Província de Hubei, conhecida pela cultura do chá-verde, trazendo mudas e
sementes de Macau para a fazenda da família imperial, local em que hoje se encontra o Jardim Botânico Real.
Os imigrantes foram registrados no Brasil com nomes portugueses e cristãos, e não com seus nomes originais.
Ainda que o cultivo do produto tenha sido considerado um fracasso, muitos trabalhadores chineses se levan-
taram diante das condições de trabalho precárias e outros tantos fugiram e se mantiveram na cidade como
vendedores ambulantes ou cozinheiros.

O atual plano quinquenal prevê uma série de instrumentos que iniciaram procedimentos de litígio contra a China em
que buscam, além de elevar a renda no campo e moder- relação às medidas de apoio interno ao setor agrícola. As
nizar a agricultura de maneira ecologicamente sustentável, medidas dizem respeito aos subsídios concedidos pela Chi-
a promoção de uma urbanização controlada de deter- na, especialmente para o trigo, o arroz e o milho.
minadas regiões, principalmente no noroeste, através da
Atualmente, os subsídios agrícolas assumem variadas for-
ampliação das permissões de residência urbana (hukou). O
mas, podendo ser concedidos aos produtores como con-
plano busca também dar novo sentido migratório para a já trapartida da produção agropecuária ou como forma de
saturada costa leste, onde os migrantes geralmente traba- garantia de uma renda agrícola básica, independentemen-
lham em condições precárias e sem direitos sociais básicos. te da produção realizada. Quando, por exemplo, um país
Esse fluxo demográfico permitirá que 100 milhões de chi- garante a compra de parcela da produção e fixa preços
neses rurais se estabeleçam em cidades até 2020. É prová- mínimos, dependendo do tamanho da produção do país,
vel que esse fluxo migratório reproduza alguns padrões já essa política pode gerar uma série de distorções no comércio
verificados na contemporaneidade chinesa para esse tipo internacional e na geografia mundial da agricultura. Em
de transição, principalmente a ocidentalização de hábitos razão desse tipo de política distorciva ao comércio, terras
alimentares. Dessa forma, pode-se inferir que, durante esse menos férteis podem passar a ser utilizadas, fato que ele-
período, haverá uma maior demanda por alimentos pro- varia, mais que proporcionalmente, a demanda mundial
cessados, carnes e lácteos, assim como uma maior procura por fertilizantes e agroquímicos. Estudos têm mostrado
por refeições realizadas fora dos domicílios. que o comércio internacional de alimentos deve conside-
A elevação da renda dos trabalhadores rurais através da rar, além dos valores monetários, a quantidade de terra e
adoção de políticas públicas, notadamente os subsídios água implícita nessas transações. Argumenta-se que uma
agrícolas, pode afetar o preço internacional dos alimentos, agricultura efetivamente globalizada otimizaria o uso dos
recursos naturais no mundo.
sobretudo quando a política é aplicada por um país grande
como a China. Em 2000, os subsídios representavam 2,77% No caso da China, as políticas de preços mínimos e compras
de toda receita agrícola chinesa, subindo para 21,34% em governamentais têm gerado problemas para a administração
2015. No entanto, a China já encontra resistências para a central do país. Além dos frequentes questionamentos quan-
continuidade dessa política de subsídios. No dia 13 de se- to à qualidade de seus estoques, é latente a dificuldade ad-
tembro de 2016, os Estados Unidos notificaram a OMC de ministrativa de armazenar quantidades cada vez maiores de

135
grãos. No caso do milho, por exemplo, o estoque equipara-se oriundas de processos de urbanização e elevação de renda,
à produção anual brasileira. Dado o gigantismo relacionado a exigirá ainda mais de seus escassos recursos naturais, no-
quase tudo na China, esse problema, aparentemente restrito tadamente terra arável e água. O Brasil tem condições de
ao país, tem gerado incertezas quanto às reais necessidades produzir essa cota adicional de alimentos para o povo chinês
alimentícias chinesas que se refletem em volatilidades nos a um custo ambiental significativamente menor.
preços internacionais e pressões sobre as fronteiras agrícolas
de seus parceiros comerciais. 1.3.1. A China como potência mundial
À guisa de conclusão, destaca-se que a magnitude e o rápido
crescimento do mercado chinês já constituem razão suficien-
te para os setores público e privado brasileiros, especialmen-
te os relacionados ao agronegócio, permanecerem atentos
à realidade econômica e social da China. Esse país tem de-
monstrado competência em sua tarefa de garantir seguran-
ça alimentar e bons níveis de autossuficiência ao longo dos
últimos anos. O Brasil, parceiro comercial indispensável para
a China, precisa ter profundo conhecimento da realidade ru-
ral do país asiático, pois é bastante provável que as melhores
oportunidades emergirão a partir de falhas nos planos chi-
neses para esse setor. A China, cuidadosa e pragmática em
suas decisões, tem procurado assegurar que o Brasil tenha
condições de permanecer provendo sua cota necessária para
a segurança alimentar chinesa. É o que sugerem, por exem-
plo, os recentes investimentos no Brasil da estatal chinesa
de alimentos Cofco. Protocolos de intenção de investimentos
na infraestrutura brasileira também denotam a preocupação
chinesa com os requisitos brasileiros para continuar sendo
Atualmente, a China é o país que mais cresce no mundo,
um parceiro indispensável e estratégico.
o que lhe confere uma posição de destaque no cenário
No que diz respeito aos subsídios, é provável que a China seja geopolítico mundial. Vem exercendo influência política,
forçada a realocá-los de maneira a enquadrá-los dentro da militar e econômica no cenário regional e internacional
chamada “Caixa Verde”, classificação da OMC para as medi- graças a fatores determinantes, como grande extensão
das que geram impactos mínimos nos preços e no comércio de seu território – o terceiro lugar em dimensão –, ele-
internacional. A União Europeia e os Estados Unidos levaram vadíssimo número de habitantes – cerca de 1,3 bilhão,
muitos anos para realizar a adaptação de seus subsídios den- o mais populoso do mundo – e dinamismo econômico
tro da Caixa Verde. O Brasil, país com histórico protagonismo – maiores índices de crescimento.
na OMC, mesmo contrário à política de subsídios, tem po-
Sua política interna está vincula a uma extrema centrali-
tencial para apresentar-se como aliado chinês nesse quesito,
zação do poder e sob domínio do único partido político,
principalmente devido às semelhanças entre a pobreza rural
o Partido Comunista, que coíbe todo e qualquer tipo de
chinesa e a brasileira. Portanto, toda forma de relacionamen-
movimento de caráter social – greves, manifestações, dis-
to de alto nível, como o grupo do BRICS – Brasil, Rússia, Índia,
cursos oposicionistas. Caso ocorra, é rigorosamente inter-
China e África do Sul –, deve ser utilizada com sagacidade
ceptado pelo uso da força.
pelo Brasil. É pouco provável que a China formalize algum
tipo de ruptura com as regras da OMC, mas é possível que ela No âmbito internacional, a China está obtendo mais força
precise de parceiros fortes para que as negociações agrícolas e participação nas decisões políticas, tanto que levou o país
nessa instituição não a forcem a absorver constrangimentos a usufruir o direito de ocupar uma cadeira permanente no
externos indesejáveis para o seu plano doméstico. Conselho de Segurança da ONU.
Outra possível brecha que pode abrir-se para o agronegócio Seu potencial militar tem contribuído para o incremento des-
brasileiro está relacionada aos custos inerentes à produção sa influência internacional; detém um exército e um diver-
agrícola ecologicamente sustentável e de baixo carbono sificado arsenal bélico numerosíssimos – bombas atômicas
proposta pelo atual plano quinquenal chinês. A expansão e mísseis. Domina tecnologias espaciais e fabrica satélites
agrícola chinesa necessária para atender sua demanda artificiais e foguetes. Tais fatores indicam que a China tem
crescente, assim como as mudanças de hábitos alimentares todos os requisitos para se tornar a maior potência mundial.

136
Terraços de arroz, Yunnan, China

Estudos apontam que, no século XXI, a China será essa


potência; perspectiva alicerçada nos índices de crescimento
econômico e no potencial político e militar do país.
Produção mineral chinesa: petróleo, chumbo, fósforo, tun-
gstênio, antimônio, molibdênio, manganês, estanho, carvão,
zinco, minério de ferro e bauxita; pecuária: aves, ovinos, ca-
prinos, suínos, bovinos, equinos, camelos e búfalos; indus-
trial: siderurgia, equipamentos eletrônicos, têxtil, automotiva,
fertilizantes químicos, alimentos processados, telecomunica-
ções, construção; e agrícola: arroz, milho, soja, cana-de-açú-
car, tabaco, milho, batata, batata-doce, legumes e verduras.
Apenas 7% do território chinês são cultiváveis.
A saga chinesa para alcançar o domínio mundial vai além
da esfera econômica. Até 2020, a China pretende competir
diretamente com o GPS, o que acabaria com a sua depen-
dência no sistema americano. Já no começo do ano que
vem, o Beidou, como o sistema chinês está sendo chama-
do, promete funcionar sob uma rede de 30 satélites, che-
gando a 35 em 2020.
O crescimento notável da China tem chamado a atenção de
muitos analistas. Alguns se preocupam que os chineses não se
tornarão “jogadores globais”, uma vez que atingirão um sta-
tus de domínio econômico. Essas preocupações vêm do fato
de que a China ainda mantém um regime antidemocrático.

137
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 7
Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

Para a Geografia, os espaços são “controlados”, caracterizados por territórios estabelecidos por Estados-nações
(área/fronteira de soberania, onde se pode aplicar a política local, por exemplo) e que apresentam características
distintas, como idioma, religião (que se encontra atualmente em dispersão, porém, em alguns espaços, apresen-
ta-se com maior nitidez), gastronomia, hábitos, cultura de forma geral, historicidades, etc. Para o historiador Eric
Hobsbawm, essas características são classificadas como critérios objetivos da existência da nacionalidade, ou
forma de explicar por que certos grupos se tornam “nações e outros não (identidade em comum)”.
Nessa ação concreta de controle, produção e significação do espaço pelos sujeitos sociais que as constroem, há
um entrecruzamento entre múltiplas dimensões, como a econômica, a política e a cultural.

MODELO 1
(Enem) No início de maio de 2014, a instalação da plataforma petrolífera de perfuração HYSY-981 nas águas
contestadas do mar da China meridional suscitou especulações sobre as motivações chinesas. Na avaliação
de diversos observadores ocidentais, Pequim pretendeu, com esse gesto, demonstrar que pode impor seu
controle e dissuadir outros países de seguir com suas reivindicações de direito de exploração dessas águas,
como é o caso do Vietnã e das Filipinas.
KLARE, M.T. A guerra pelo petróleo se joga no mar. Le Monde Diplomatique Brasil, abr. 2015.

A ação da China em relação à situação descrita no texto evidencia um conflito que tem como foco o(a):
a) distribuição das zonas econômicas especiais;
b) monopólio das inovações tecnológicas extrativas;
c) dinamização da atividade comercia;
d) jurisdição da soberania territorial;
e) embargo da produção industrial.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A China disputa com outros países asiáticos, como Vietnã, Filipinas e Malásia, várias ilhas no mar da China
meridional, entre as quais as ilhas Paracel. Constituem importantes litígios territoriais na atualidade. Trata-
-se de uma disputa por território, importantes rotas de navegação e recursos naturais, como petróleo e gás
natural, na região. A instalação pela China de uma plataforma petrolífera na região e a construção de ilhas
artificiais têm causado tensão geopolítica na região.

RESPOSTA Alternativa D

138
DIAGRAMA DE IDEIAS

CHINA

ASPECTOS
FÍSICOS

CLIMA HIDROGRAFIA

• DESÉRTICO IMPORTANTE HIDRELÉTRICA


• CONTINENTAL (TRÊS GARGANTAS)
• TEMPERADO
• TROPICAL
ASPECTOS
SOCIOECONÔMICOS

QUESTÕES POTÊNCIA
DEMOGRAFIA CHINA PÓS-MAO
SEPARATISTAS (TIBETE) EMERGENTE (BRIC)

• PAÍS MAIS POPULOSO


• PREDOMINANTEMENTE
URBANO
• DIVERSIDADE ÉTNICA

139
Competência 1 – Construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e reais.
H1 Reconhecer, no contexto social, diferentes significados e representações dos números e operações – naturais, inteiros, racionais ou reais.
H2 Identificar padrões numéricos ou princípios de contagem.
H3 Resolver situação-problema envolvendo conhecimentos numéricos.
H4 Avaliar a razoabilidade de um resultado numérico na construção de argumentos sobre afirmações quantitativas.
H5 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos numéricos.
Competência 2 – Utilizar o conhecimento geométrico para realizar a leitura e a representação da realidade e agir sobre ela.
H6 Interpretar a localização e a movimentação de pessoas/objetos no espaço tridimensional e sua representação no espaço bidimensional.
H7 Identificar características de figuras planas ou espaciais.
H8 Resolver situação-problema que envolva conhecimentos geométricos de espaço e forma.
H9 Utilizar conhecimentos geométricos de espaço e forma na seleção de argumentos propostos como solução de problemas do cotidiano.
Competência 3 – Construir noções de grandezas e medidas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano.
H10 Identificar relações entre grandezas e unidades de medida.
H11 Utilizar a noção de escalas na leitura de representação de situação do cotidiano.
H12 Resolver situação-problema que envolva medidas de grandezas.
H13 Avaliar o resultado de uma medição na construção de um argumento consistente.
H14 Avaliar proposta de intervenção na realidade utilizando conhecimentos geométricos relacionados a grandezas e medidas.
Competência 4 – Construir noções de variação de grandezas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano.
H15 Identificar a relação de dependência entre grandezas.
H16 Resolver situação-problema envolvendo a variação de grandezas, direta ou inversamente proporcionais.
H17 Analisar informações envolvendo a variação de grandezas como recurso para a construção de argumentação.
H18 Avaliar propostas de intervenção na realidade envolvendo variação de grandezas.
Competência 5 – Modelar e resolver problemas que envolvem variáveis socioeconômicas ou técnico-científicas, usando representações
algébricas.
H19 Identificar representações algébricas que expressem a relação entre grandezas.
H20 Interpretar gráfico cartesiano que represente relações entre grandezas.
H21 Resolver situação-problema cuja modelagem envolva conhecimentos algébricos.
H22 Utilizar conhecimentos algébricos/geométricos como recurso para a construção de argumentação.
H23 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos algébricos.
Competência 6 – Interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas, realizando previsão de
tendência, extrapolação, interpolação e interpretação.
H24 Utilizar informações expressas em gráficos ou tabelas para fazer inferências.
H25 Resolver problema com dados apresentados em tabelas ou gráficos.
H26 Analisar informações expressas em gráficos ou tabelas como recurso para a construção de argumentos.
Competência 7 – Compreender o caráter aleatório e não determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos ade-
quados para medidas, determinação de amostras e cálculos de probabilidade para interpretar informações de variáveis apresentadas em
uma distribuição estatística.
Calcular medidas de tendência central ou de dispersão de um conjunto de dados expressos em uma tabela de frequências de dados agrupados
H27
(não em classes) ou em gráficos.
H28 Resolver situação-problema que envolva conhecimentos de estatística e probabilidade.
H29 Utilizar conhecimentos de estatística e probabilidade como recurso para a construção de argumentação.
H30 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos de estatística e probabilidade.

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