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Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em pe-
ríodo integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos
de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto
contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de
material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A
seguir, apresentamos cada seção:

incidência do tema nas principais provas vivenciando

De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu
vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão
principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas
o território nacional. para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para
evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida
a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma
preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre
aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em
teoria seu dia a dia.

Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção


tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques-
tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com-
pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas aplicação do conteúdo
que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua-
dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem
e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados,
que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e comenta-
dos, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil com-
preensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos
do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer
momento, as explicações dadas em sala de aula.
multimídia
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidadosa
seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório
do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com áreas de conhecimento do Enem
indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é en-
contrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao
temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o
sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, com conteúdos aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas
essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm,
em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de
o conhecimento do nosso aluno. Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são
apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva
e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia.
Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê-
conexão entre disciplinas -las com tranquilidade.

Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela-


borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata
de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não
exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos diagrama de ideias
conteúdos de cada área, de cada disciplina.
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria-
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem
mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los
conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Bio-
em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aque-
logia e Química, História e Geografia, Biologia e Matemática, entre
les que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio
outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade
de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas.
por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas
de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizan- Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo
do temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos
cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organiza-
grande engrenagem no mundo em que ele vive. ção dos estudos e até a resolução dos exercícios.

Herlan Fellini
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020
Todos os direitos reservados.

Autor
Márcio Cavalcanti de Andrade

Diretor-geral
Herlan Fellini

Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista

Coordenador-geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


Hexag Sistema de Ensino

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Imagens
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ISBN: 978-65-88825-05-1

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o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis-
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SUMÁRIO
ENTRE PENSAMENTOS: FILOSOFIA
Aula 1: Introdução à Filosofia grega 6
Aula 2: Filosofia de Atenas 13
Aula 3: Mito da caverna 18
Aula 4: Aristóteles 24
Aula 5: Filosofia medieval 30
Aula 6: Filosofia política 37
Aula 7: Filosofia moderna 44
Aula 8: Racionalistas 51
Aula 9: Empirismo 57
Aula 10: Iluminismo francês 65
Aula 11: Rousseau 72
Aula 12: Iluminismo alemão 79
Aula 13: O dever kantiano 86
Aula 14: Tempestade e ímpeto 92
Aula 15: Hegel 98
Aula 16: Utilitaristas 104
Aula 17: Materialismo filosófico 112
Aula 18: Schopenhauer 118
Aula 19: Nietzsche 124
Aula 20: Filosofia da Ciência 130
Aula 21: Fenomenologia do Conhecimento 135
Aula 22: Existencialismo 142
Aula 23: Escola de Frankfurt 149
Aula 24: Habermas 156
Aula 25: Hannah Arendt 162
Aula 26: A filosofia e o poder 167
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, fa-
vorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
FILOSOFIA: Incidência do tema nas principais provas

A prova contém interdisciplinaridade nas A abordagem do vestibular da USP é inter-


Ciências Humanas, com poucas questões disciplinar, de forma que a Filosofia é tratada
diretas na área da Filosofia, tendo preferência mais como um alicerce para a compreensão
por questões temáticas. da realidade.

A prova possui uma abordagem filosófica


A prova apresenta uma relação da Filosofia direcionada para os temas da redação, de A prova trata a Filosofia com um olhar
com a História. Diante disso, o candidato modo que os pensadores podem auxiliar no independente, não relacionando com História.
precisa relacionar as transformações histó- processo de desenvolvimento dos argumen- O seu enfoque é relacionar teorias e correntes
ricas em conjunto com as teorias tos dos candidatos. filosóficas associadas ou contrárias.
filosóficas.

A prova é direcionada para a prática da Medi-


cina. Assim, a Filosofia é cobrada de maneira
A prova cobra a disciplina de Filosofia de indireta, como a ética no campo médico, prin- A prova cobra a disciplina de Filosofia de A prova direciona diretamente para Filosofia,
forma indireta nas temáticas de redação. cipalmente nos temas de redação, que podem forma indireta nas temáticas de redação. com conceitos da história da Filosofia, e
auxiliar os candidatos a elaborarem melhor os é abordada de forma direta na prova de
seus argumentos nas redações. conhecimentos específicos conceitos
filosóficos.

UFMG

A prova trata a Filosofia com um olhar espe- A prova é apresentada conforme seu edital A prova cobra a disciplina de Filosofia de
cífico, possuindo um edital diferenciado com específico, na qual são relacionados alguns forma indireta nas temáticas de redação.
autores específicos. livros ou trechos de obras de filósofos.

A prova não direciona diretamente para a A prova não aborda a Filosofia. A prova não aborda a Filosofia.
Filosofia.
AULA Introdução à Filosofia grega
1
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

O mundo helenístico se beneficiou do momento histórico,


quando as cidades-Estados na Grécia antiga eram prós-
peros centros comerciais e culturais. Desse modo, favore-
ceu-se o desenvolvimento do pensamento humano, isto
é, ocorreu a supremacia do logos, que significa “palavra”,
“discurso”, “razão”.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Os pré-socráticos
Uma breve explicação dos primeiros pensa-
dores da Grécia antiga

Mapa do mundo helenístico


1.1. Tales de Mileto (624-546 a.C.)
Tales é um famoso matemático, mas pouco se conhece
sobre seus escritos, pois muitos se perderam ao longo do
tempo. Ele foi o primeiro a afirmar que a água era a origem
de todas as coisas, sendo a fonte originária de explicação
da physis. Infelizmente, só temos interpretação de outros
filósofos perante o seu pensamento.

Vista do Partenon, templo dedicado à deusa Atena,


construído no século V a.C., na Acrópole de Atenas

1. Período pré-socrático
ou cosmológico
Sendo uma explicação racional e sistemática diante da ori-
gem e da transformação da Natureza, a cosmologia nega
que as coisas tenham surgido do nada, pois a própria
Natureza está em transformação. Os pensadores desse Tales, o fundador de tal filosofia, diz ser água [o princípio]
período tiveram a preocupação de compreender a physis, (é por este motivo também que ele declarou que a terra
ou seja, os aspectos da Natureza ou da nossa realidade, está sobre água), levado sem dúvida a esta concepção por
que se encontra em movimento. Assim, o termo filósofo ver que o alimento de todas as coisas é úmido, e que o
significa “investigador da Natureza”. próprio quente dele procede e dele vive (ora, aquilo de que

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as coisas vêm é, para todos, o seu princípio). Por tal ob- mento consiste no caráter transitório e mutável das coisas
servar adotou esta concepção, e pelo fato de as sementes – para explicar esse pensamento, emerge a metáfora que
de todas as coisas terem a natureza úmida; e a água é o “não podemos nos banhar no mesmo rio duas vezes”.
princípio da natureza para as coisas úmidas.
Nos mesmos rios entramos e não entramos. Somos e
ARISTÓTELES não somos.
Metafísica, 1, 3. 983b (DK 11 a 12)

1.2. Anaximandro (610-547 a.C.)

HERÁCLITO

multimídia: livro
Fonte: Youtube
Introdução à história da Filosofia
CHAUÍ, Marilena. São Paulo: Companhia das
Letras, 2002.
No primeiro volume desenvolvido pela filóso-
fa brasileira Marilena Chauí, é apresentada,
de forma didática, a filosofia dos primeiros
pensadores na Grécia antiga.
multimídia: música
De sua vida pouco se sabe. Foi-lhe atribuída a confecção de
Fonte: Youtube
um mapa do mundo habitado. Anaximandro foi o primeiro
a formular o conceito de uma lei universal presidindo o pro- Tudo muda
cesso cósmico total, numa clara ampliação da visão de Tales. Guilherme Souza. Creio em ti (2016).

multimídia: livro
A sabedoria grega (III): Heráclito
Giorgio Colli. São Paulo: Paulus, 2013.
Nessa obra bilíngue, idealizada pelo professor
1.3. Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.) Giorgio Colli, são apresentados todos os frag-
mentos associados ao filósofo Heráclito, para
Heráclito preocupou-se com a questão da transformação, compreendermos na sua plenitude a filosofia
ou seja, da physis, e por sua forma tão concisa de escrita, do pensador de Éfeso.
ganhou o cognome de “o Obscuro”. A base de seu pensa-

7
1.4. Parmênides de Eleia (530-460 a.C.) Diante disso, o filósofo inaugura o pluralismo, que orienta
e ordena a Natureza; não mais um único elemento, como
O filósofo Parmênides concentrou seu pensamento no imo- pensavam os outros filósofos.
bilismo universal, indo contra o mobilismo de Heráclito. Seu Este (Empédocles) estabelece quatro elementos corporais,
único trabalho conhecido foi um poema intitulado “Sobre a fogo, ar, água e terra, que são eternos e que mudam au-
Natureza”, que sobreviveu apenas na forma de fragmentos. mentando e diminuindo mediante mistura e separação; mas
os princípios propriamente ditos, pelos quais aqueles são
Segundo Parmênides, o ser era uno, indivisível, pleno e movidos, são o Amor e o Ódio. Pois é preciso que os elemen-
eterno, de modo que não há espaço para o não ser. Visto tos permaneçam alternadamente em movimento, sendo ora
que, para o pensador, as coisas não surgiram do nada, isto misturados pelo Amor, ora separados pelo Ódio.
é, tudo que existe sempre existiu. ARISTÓTELES

Parmênides parece, neste ponto, raciocinar com mais penetração. Metafísica, 1, 3. 984a 8 (DK 31 A 28)
Julgando que fora do ser o não ser nada é, forçosamente admite
que só uma coisa é, a saber, o ser, e nenhuma outra.
1.6. Demócrito (460-370 a.C.)
ARISTÓTELES
Filósofo nascido na cidade de Mileto ou Abdera, Demócrito
Metafísica, 1, 5. 986b 18 (DK 28 A 24)
foi o maior expoente do atomismo. Segundo seu pensa-
mento, tudo o que existe na physis, ou seja, na Natureza,
1.5. Empédocles (490-430 a.C.) é composto por átomos, que eram partículas indivisíveis e
eternas. Seu método foi a observação.
Demócrito é o primeiro que excluiu rigorosamente todo ele-
mento mítico. E o primeiro racionalista.
NIETZSCHE
O nascimento da Filosofia na época da tragédia grega. Vol. XIX.

Empédocles foi um filósofo da cidade de Agrigento, na Si- multimídia: livro


cília, e seu pensamento consistia em que as coisas eram
constituídas por quatro elementos: fogo, terra, água e ar. Os pré-socráticos
Ele observa que o amor e o ódio aproximam e afastam Coleção “Os pensadores”. São Paulo: Abril,
os indivíduos, caracterizando-os como forças antagônicas 1999.
cósmicas. Isso quer dizer que o semelhante atrai o seme- Nessa compilação de textos dos primeiros fi-
lhante e o dessemelhante repulsa o dessemelhante, num lósofos da Grécia antiga, temos uma percep-
movimento eterno – assim, ao se ter harmonia, o amor ção das teorias desses pensadores.
prevalece e, caso tenha desequilíbrio, o ódio está atuando.

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DIAGRAMA DE IDEIAS

FILOSOFIA
PRÉ-SOCRÁTICA

OS PRIMEIROS
TALES EMPÉDOCLES
PENSADORES NA
GRÉCIA ANTIGA
TUDO É ÁGUA
A MISTURA DOS
ELEMENTOS
FORMAM A
SÃO PHYSIS
INVESTIGADORES DA
HERÁCLITO
NATUREZA (PHYSIS)

TUDO FLUI
DEMÓCRITO
BUSCAM EXPLICAR
OS FENÔMENOS DA
NATUREZA COM TUDO É
UMA ÚNICA PARMÊNIDES COMPOSTO
DEFINIÇÃO POR ÁTOMOS

O SER É OU
O SER NÃO É

DE UMA FORMA
ONTOLÓGICA E
COSMOLÓGICA

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Aplicando para 4. (UEL) Há, porém, algo de fundamentalmente novo
na maneira como os gregos puseram a serviço do seu

Aprender (A.P.A.) problema último – da origem e essência das coisas –


as observações empíricas que receberam do Oriente
e enriqueceram com as suas próprias, bem como no
1. (Unifesp) “Vamos, vou dizer-te – eu tu escuta e fixa o modo de submeter ao pensamento teórico e casual
relato que ouviste quais os únicos caminhos de investi- o reino dos mitos, fundado na observação das reali-
gação que há para pensar: um que é, que não é para não dades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o
ser. é caminho de confiança (pois acompanha a realida- nascimento do mundo.
de); o outro que não, que tem de não ser, esse te indico
ser caminho em tudo ignoto, pois não poderá conhecer JAEGER, W. Paideia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197.
o não ser, não é possível, nem indicá-lo [...]” Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação
PARMÊNIDES. Da Natureza. São Paulo: Loyola, 2002. entre mito e filosofia na Grécia, é correto afirmar:
a) Filosofia e mito sempre mantiveram uma relação de
Com base no fragmento, o autor:
interdependência, uma vez que o pensamento filosófico
a) faz um contraponto em relação aos pensamentos de necessita do mito para se expressar.
Heráclito, no qual contradiz a teoria de que tudo está em b) Apesar de ser pensamento racional, a filosofia se desvin-
uma constância perpétua de movimento e mudanças. cula dos mitos, de forma gradual.
b) faz um contraponto em relação aos pensamentos c) A filosofia representa uma ruptura radical em relação aos
do não ser, pois ser pode não ser, possibilitando o mitos, representando uma nova forma de pensamento ple-
conhecimento do não se conhecer. namente racional, desde as suas origens.
c) defende a teoria de que tudo está em uma cons- d) Em que pese ser considerada como criação dos gregos,
tância perpétua de movimento e mudanças. a filosofia se origina no Oriente sob o influxo da religião e
d) fundamenta que o ser, somente pode ser o que é, entre- apenas posteriormente chega à Grécia.
tanto, pode possibilitar o conhecimento da realidade através e) O mito já era filosofia, uma vez que buscava respostas para
do que não se sabe, fomentando o conhecimento do não ser. problemas que até hoje são objetos da pesquisa filosófica.
e) faz um contraponto a não identidade, pois o ser é
5. (UEL) De onde vem o mundo? De onde vem o univer-
impossível de saber ou compreender o que o constitui.
so? Tudo o que existe tem que ter um começo. Portanto,
2. (Enem) Na antiga Grécia, o teatro tratou de questões em algum momento, o universo também tinha de ter
como destino, castigo e justiça. Muitos gregos sabiam surgido a partir de uma outra coisa. Mas, se o universo
de cor inúmeros versos das peças dos seus grandes au- de repente tivesse surgido de alguma outra coisa, en-
tores. Na Inglaterra dos séculos XVI e XVII, Shakespeare tão essa outra coisa também devia ter surgido de algu-
produziu peças nas quais temas como o amor, o poder, ma outra coisa algum dia.
o bem e o mal foram tratados. Sofia entendeu que só tinha transferido o problema de
lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma coisa tinha de
Nessas peças, os grandes personagens falavam em ver- ter surgido do nada. Existe uma substância básica a partir
so e os demais em prosa. No Brasil colonial, os índios da qual tudo é feito? A grande questão para os primeiros
aprenderam com os jesuítas a representar peças de filósofos não era saber como tudo surgiu do nada. O que
caráter religioso. Esses fatos são exemplos de que, em os instigava era saber como a água podia se transformar
diferentes tempos e situações, o teatro é uma forma de em peixes vivos, ou como a terra sem vida podia se trans-
a) manipulação do povo pelo poder. formar em árvores frondosas ou flores multicoloridas.
b) diversão e de expressão dos valores e problemas da
GAARDER, J. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia
sociedade. das Letras, 1995. p. 43-44 (adaptado).
c) entretenimento popular.
d) manipulação do povo pelos intelectuais que com- Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgi-
põem as peças. mento da Filosofia, assinale a alternativa correta.
e) entretenimento, que foi superada e hoje é substitu- a) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenômenos
ída pela televisão. e as transformações da natureza e porque a vida é como
é, tendo como limitador e princípio de verdade irrefutável
3. Em relação ao fenômeno religioso e à história do de- as histórias contadas acerca do mundo dos deuses.
senvolvimento do homem, é correto afirmar que: b) Os primeiros filósofos da natureza tinham a con-
vicção de que havia alguma substância básica, uma
a) a manifestação do sagrado envolve os aspectos causa oculta que estava por trás de todas as transfor-
religiosos, que precedem a razão. mações na natureza e, a partir da observação, busca-
b) a razão possibilitou o desenvolvimento da religião. vam descobrir leis naturais que fossem eternas.
c) o sagrado é invenção para apenas conduzir as massas. c) Os teóricos da natureza, que desenvolveram seus siste-
d) o discurso racional criou a religião. mas de pensamento por volta do século VI a.C., partiram
e) a moral é inata ao âmago do homem e precede ao fenô- da ideia unânime de que a água era o princípio original
meno do sagrado, que está coligado à estrutura religiosa. do mundo por sua enorme capacidade de transformação.

10
d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem III. Nascimento e morte, no texto de Empédocles, são apre-
homérica do mundo e reforçou o antropomorfismo do sentados por meio de representações míticas que o filóso-
mundo dos deuses em detrimento de uma explicação fo retira de uma tradição religiosa presente ainda em seu
natural e regular acerca dos primeiros princípios que ori-
ginam todas as coisas. tempo. Essas imagens, consequentemente, se transpõem,
e) Para os pensadores jônicos da natureza – Tales, sem deixarem de ser místicas, em uma filosofia que quer
Anaxímenes e Heráclito –, há um princípio originário captar a verdadeira essência da realidade física.
único denominado “o ilimitado”, que é a reprodução
IV. O fragmento denota continuidade do pensamento mí-
da aparência sensível que os olhos humanos podem
observar no nascimento e na degeneração das coisas. tico no início da filosofia, pois estão presentes ainda o uso
de certas estruturas comuns de explicação.
6. (UEAP) (...) que é e que não é possível que não seja,/ é a) Apenas II, III e IV estão corretas.
a vereda da Persuasão (porque acompanha a Verdade); b) Apenas I, III e IV estão corretas.
o outro diz que não é e que é preciso que não seja,/ eu c) Apenas I e II estão corretas.
te digo que esta é uma vereda em que nada se pode
d) Apenas I e IV estão corretas.
aprender. De fato, não poderias conhecer o que não é,
e) Apenas I, II e IV estão corretas.
porque tal não é fatível./ nem poderia expressá-lo.
NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de 8. A filosofia ocidental teve início com os pensadores an-
Filosofia. São Paulo: Globo, 2005. teriores a Sócrates, por isso chamados de pré-socráticos,
dos quais a maioria viveu em colônias gregas distantes
O texto anterior expressa o pensamento de qual filósofo? de Atenas. Sobre esses pensadores, pode-se dizer:
a) Aristóteles, que estabelecia a distinção entre o a) Com os pré-socráticos, a filosofia se constitui numa ci-
mundo sensível e o inteligível. ência particular, e não mais no estudo da realidade total.
b) Heráclito de Éfeso, que afirmava a unidade entre b) A mitologia tradicional grega fazia parte das suas
pensamento e realidade. doutrinas.
c) Tales de Mileto, que afirmava ser a água o princípio c) Pitágoras e os seus discípulos dedicaram-se ao es-
de todas as coisas. tudo da política e recusaram a interferência da mate-
d) Parmênides de Eleia, que afirmava a imutabilidade mática no estudo da cosmologia.
de todas as coisas e a unidade entre ser e pensar, ser d) Heráclito defendeu a ideia de permanência subs-
e conhecimento. tancial e constante do ser, contra a noção de devir.
e) Protágoras, que afirmava que o homem é a medida e) Os naturalistas, ou fisiólogos da Jônia, dedicavam-se,
de todas as coisas, que o ser é e o não ser não é. sobretudo, ao estudo do cosmo, e muitos deles busca-
vam o princípio constitutivo do mundo em algum de
7. (Unicentro) Leia o fragmento de um texto pré-socrático. seus elementos: ar, água, terra, ou fogo.
“Ainda outra coisa te direi. Não há nascimento para ne- 9. (UFU) Heráclito de Éfeso viveu entre os séculos VI e
nhuma das coisas mortais, como não há fim na morte V a.C. e sua doutrina, apesar de criticada pela filosofia
funesta, mas somente composição e dissociação dos ele- clássica, foi resgatada por Hegel, que recuperou sua im-
portante contribuição para a dialética. Os dois fragmen-
mentos compostos: nascimento não é mais do que um tos a seguir nos apresentam este pensamento.
nome usado pelos homens.”
EMPÉDOCLES. Apud ARANHA; MARTINS. Filosofando:
“Este mundo, igual para todos, nenhum dos deuses e nenhum
introdução à Filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006, p. 86. dos homens o fez; sempre foi, é e será um fogo eternamente
vivo, acendendo-se e apagando-se conforme a medida.”
A respeito da relação entre mythos e logos (razão) no
início da filosofia grega, analise as assertivas e assinale “Para as almas, morrer é transformar-se em água; para a
a alternativa que aponta as corretas. água, morrer é transformar-se em terra. Da terra, contudo,
forma-se a água, e da água a alma.”
I. O fragmento acima denota a “luta de forças” opostas
De acordo com o pensamento de Heráclito, marque a
na massa dos membros humanos, que ora unem-se pelo alternativa incorreta.
amor – no início todos os membros que atingiram a corpo-
a) As doutrinas de Heráclito e de Parmênides estão
reidade da vida florescente –, ora em perfeito acordo sobre a imutabilidade do ser.
divididos pela força da discórdia, erram separados nas li- b) Para Heráclito, a ideia de que “tudo flui” significa
que nada permanece fixo e imóvel.
nhas da vida. Assim ocorre também com todos os outros
c) Heráclito desenvolve a ideia da harmonia dos con-
seres na natureza. trários, isto é, a permanente conciliação dos opostos.
II. A verdade filosófica apresenta-se no pensamento d) A expressão “devir” é adequada para compreen-
de Empédocles através de uma estrutura lógica muito dermos a doutrina de Heráclito.
distante da “verdade” expressa nos relatos míticos dos 10. (UFU) O fragmento seguinte é atribuído a Heráclito
gregos arcaicos. de Éfeso.

11
“O mesmo é em (nós?) vivo e morto, desperto e dormindo, com que nada seja igual ao que foi antes. No entanto, a
novo e velho; pois estes, tombados além, são aqueles e mudança não é caótica, pois há uma lei que rege o fluxo
aqueles de novo, tombados além, são estes”. eterno de todas as coisas, esta lei é o logos, que, segundo
Os pré-socráticos. 1. ed. São Paulo: Abril Cultural. 1973, p. 93. Heráclito, percebe como unidade aquilo que se apresenta
como multiplicidade. A unidade dada e percebida pelo
A partir do fragmento citado, escolha a alternativa que logos é uma unidade de tensões opostas que provoca
melhor representa o pensamento de Heráclito.
a harmonia. Finalmente, Heráclito afirma que o fogo é o
a) Não existe a noção de “oposto” no pensamento de símbolo de sua filosofia, pois representa como o funda-
Heráclito, pois todas as coisas constituem um único
mento e princípio (arché) de todas as coisas.
processo de mudança que expressa a concórdia e a
harmonia do “fluxo” contínuo da natureza.
b) A equivalência de estados contrários com “o
mesmo” exprime a alternância harmônica de polos
opostos, pela qual um estado é transposto no outro,
numa sucessão mútua, como o dia e a noite. Todas as
Coisas são “Um”, toda a multiplicidade dos opostos
constitui uma unidade, e todos os seres estão num
fluxo eterno de sucessão de opostos em guerra.
c) Se o morto é vivo, o velho é novo e o dormente
é desperto, então não existe o múltiplo, mas apenas
o como verdade profunda do mundo. A unidade pri-
mordial é a própria realidade da physis e a multiplici-
dade, apenas aparência.
d) A alternância entre polos opostos constitui um fluxo
eterno, regido pela “guerra” e pela “discórdia”, que
ocorre sem qualquer medida e proporção. A guerra entre
contrários evidencia que a physis é caótica e denota o
fato de que o pensamento de Heráclito é irracionalista.

11. Os fragmentos abaixo representam três temas


fundamentais que configuram o pensamento de
Heráclito de Éfeso.

“O deus é dia noite, inverno verão, guerra paz, saciedade


fome; mas se alterna como fogo, quando se mistura a in-
censos, e se denomina segundo o gosto de cada.”
“Por fogo se trocam todas (as coisas) e fogo por todas, tal
como por ouro mercadorias e por mercadorias ouro.”
Os pré-socráticos. São Paulo: Abril Cultural, 1973,
p. 85 e 87. Coleção “Os pensadores”.

A partir das citações acima:


a) explicite quais são esses temas; e
b) comente cada um deles, de modo a caracterizar a
filosofia de Heráclito.

Gabarito
1-A; 2-B; 3-A; 4-B; 5-B; 6-D; 7-A; 8-E; 9-A; 10-B
11.a) O eterno devir (fluxo); a luta dos contrários (opostos);
o fogo (símbolo da filosofia heraclitiana e do logos).
b) De acordo com Heráclito, tudo está em eterno devir,
toda a realidade é um processo constante de mudanças,
em que nada, a não ser a própria mudança, permanece.
A luta entre os contrários é o que mantém o eterno fluxo
de todas as coisas, fazendo, através da luta dos opostos,

12
AULA Filosofia de Atenas
2
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

A cidade-Estado de Atenas tornou-se um centro cultural, pensamento, pretendendo direcionar para uma análise do
feito este ocorrido no século de Péricles, época de maior indivíduo, e não mais para a compreensão da physis.
florescimento da democracia ateniense. Com o controle de
quaisquer ataques de outras cidades, Atenas se favoreceu
econômica e culturalmente, desenvolvendo a Filosofia.

1. Sofismo
Com o crescimento da polis grega, surgiu uma prática
educacional, em que os seus integrantes eram chamados
de sofistas, sábios que vendiam o conhecimento, mas di-
recionavam esse conhecimento conforme as suas próprias
convicções. Os principais sofistas foram Protágoras de Ab-
dera (490-421 a.C.), Górgias de Leontinos (487-380 a.C.), multimídia: vídeo
Pródico de Creos (465-395 a.C.), dentre outros. Apresenta-
Fonte: Youtube
vam-se como mestres da oratória, de modo que, para eles, 4 Lições de Platão / Filosofia #1
era possível ensinar as técnicas de oratórias e da persuasão
para qualquer cidadão. Devido a isso, muitos jovens procu- Esse vídeo questiona: quem foi o filósofo gre-
ravam os sofistas para alcançarem status na cidade, onde go Platão; quais são as lições platônicas mais
o logos era elemento fundamental. Afinal, numa cidade importantes e qual a sua relevância na atua-
democrática, o cidadão precisava saber falar e ser capaz de lidade; o que é eudaimonia; e como vencer a
persuadir os outros com o auxílio das palavras. mediocridade e ser feliz.

1.2. Dialética socrática


O método de investigação desenvolvido por Sócrates, co-
nhecido como dialética, consistia em alcançar a verdade
por meio do diálogo. O objetivo dessa dialética era desmas-
Parthenon carar a falsa sabedoria, chegando a um conhecimento da
natureza do homem.
1.1. Sócrates (469-399 a.C.) Dessa maneira, Sócrates dialogava com o intuito de justi-
ficar os conhecimentos, as virtudes ou as habilidades que
lhe eram atribuídos. Com os seus diálogos, ele acabava
fazendo com que o interlocutor expressasse suas opini-
ões, utilizando-se de questionamentos. O resultado dessas
conversas era apresentar a fragilidade das opiniões alheias.
Apesar de sua postura questionadora, Sócrates propagava
que era o cidadão mais ignorante da Grécia e, mediante
O filósofo ateniense foi um dos maiores críticos à prática isso, era necessário aprender com os outros, de forma que
do sofismo, pelo direcionamento da verdade pelo sofista, lhe foi atribuído a frase “só sei que nada sei”. Por conta de
além de discordar que eram filósofos, visto que não investi- suas conversas, realizadas nas praças públicas de Atenas,
gavam nada, só reproduziam fatos. Sócrates foi um marco junto ao seu modo de investigação, Sócrates questionava
na história da Filosofia, por modificar a investigação do os vícios e a corrupção na cidade grega.

13
A figura de Sócrates é bem mítica, pois nada escreveu em
vida. Tudo o que sabemos dele é derivado dos relatos de
seu discípulo mais famoso, o filósofo Platão, e de Aristófa-
nes, um dramaturgo grego que ridicularizava a figura de
Sócrates contra os sofistas.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Sócrates (1971)
Com direção do italiano Roberto Rossellini,
esta produção europeia é a cinebiografia do
filósofo Sócrates, em especial seu julgamento
e sua condenação à morte. multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Acabou sendo preso, com o pretexto de ofender os deu-
ses da cidade e corromper a juventude – esse momento é Sócrates: o homem que perguntava (parte 1)
contado na obra Apologia de Sócrates, do filósofo Platão. Sócrates nasceu em Atenas, provavelmente
Foi condenado à morte tomando um cálice de cicuta, um no ano de 470 a.C., e tornou-se um dos prin-
veneno extraído da planta conium maculatum. cipais pensadores da Grécia antiga. Podemos
afirmar que Sócrates fundou o que conhece-
mos hoje por Filosofia ocidental.

1.3. Das aparências ao mundo das ideias


Com o pensador ateniense Platão (428-354 a.C.), a Filo-
sofia ganhou uma característica epistemológica. Após a
morte de seu mestre, Platão fundou a Academia, um re-
cinto onde se discutiam diversos temas, da Matemática,
passando pela Astronomia e até a Música. Na Academia,
o conhecimento deveria ser baseado numa episteme, ou
“La mort de Socrate”
seja, numa ciência, com o intuito de ultrapassar o plano
Pintura de Jacques-Louis David (1787)
instável da opinião. Logo na entrada desse recinto, existia
um escrito:
“Que aqui não entre quem não souber geometria.”
Esta frase tinha uma definida intenção de valorização da
ciência, que se iniciava na Grécia, mas também, uma forma
de afastar os críticos que poderiam ter alguma intenção
negativa aos seus métodos filosóficos.

1.4. Reminiscência
Segundo o filósofo grego, o ato de conhecer as coisas signifi-
multimídia: música ca, necessariamente, o ato de lembrar, sustentando a hipóte-
se da reminiscência, contida no diálogo Ménon. Nesse diálo-
Fonte: Youtube
go, Sócrates demonstra que, através de um escravo, o homem
Consciência de Sócrates - José Ribeiro só precisa recordar as coisas que sua alma um dia aprendeu.

14
Nesse momento, Platão salienta que a alma é eterna. Teeteto: Como não?
Sócrates: E é pela sabedoria, eu penso, que os sábios são sábios.
Para o filósofo Platão, a concepção de mimesis significa “imi- Teeteto: Sim.
tação”. Nesse momento, o pensador faz uma separação do Sócrates: E isto difere em algo do conhecimento?
conhecimento e da arte, pautando a filosofia como o conhe- Teeteto: Isto o quê?
cimento baseado na verdade, enquanto a arte se postula na Sócrates: A sabedoria. Ou será que os que conhecem tais
reprodução, na imitação, de modo a construir uma posição coisas não são sábios?
Teeteto: Como não?
de superioridade e inferioridade entre esses elementos.
Sócrates: Então são o mesmo, o conhecimento e a sabedoria?
Sócrates: (...) ora, diz-me: aprender não é tornar-se mais Teeteto: Sim.
sábio acerca daquilo que se aprende? PLATÃO

DIAGRAMA DE IDEIAS

A FILOSOFIA
DE ATENAS

SÓCRATES PLATÃO

CRÍTICO AOS
SOFISTAS
O CONHECIMENTO
É EPISTEME

É PRECISO
COMPREENDER
O INDIVÍDUO
FUNDA A
ACADEMIA

MAIÊUTICA
TUDO SABEMOS,
SÓ PRECISAMOS
RELEMBRAR
UM MODO DE
INVESTIGAÇÃO

ATO DA
REMINISCÊNCIA
QUESTIONA
OS VÍCIOS E A
CORRUPÇÃO

É CONDENADO
À MORTE

15
Teeteto. 1903. [145d-e] futar as acusações e calúnias sofridas no processo de
seu julgamento.

Aplicando para III. Entre as acusações que Sócrates recebe, está a de “cor-
romper a juventude”.
Aprender (A.P.A.) IV. Sócrates é acusado de ensinar as coisas celestes e ter-
renas, a não acreditar nos deuses e a tornar mais forte a
1. O surgimento da Filosofia entre os gregos está asso-
ciado à passagem do pensamento mítico ao pensamen- razão mais débil.
to racional. A grande preocupação nesse momento era V. Sócrates nega que seus acusadores são ambiciosos e
com questões: resolutos e, em grande número, falam de forma persuasiva
a) à história. e persistente contra ele.
b) à tristeza humana.
c) ao cosmo. Assinale a alternativa que apresenta apenas as afirmativas
d) à religião. corretas.
e) à política. a) II, IV e V.
b) I, III e IV.
2. Sócrates inaugurou o período clássico da filosofia gre- c) I, III e V.
ga, também chamado de período antropológico. O pro- d) II, III e V.
blema do conhecimento passou a ser uma problemática
e) I, II e III.
central na filosofia socrática, pois “a briga” de Sócrates
com os sofistas tinha por objetivo resgatar o amor pela 5. (Unicamp) Apenas a procriação de filhos legítimos,
sabedoria e a valorização pela busca da verdade. Nesse embora essencial, não justifica a escolha da esposa. As
contexto, Sócrates inaugurou seu método que se funda- ambições políticas e as necessidades econômicas que
mentava em dois princípios básicos, que são: as subentendem exercem um papel igualmente podero-
a) a indução e a dedução das verdades lógicas. so. Como demonstraram inúmeros estudos, os dirigen-
tes atenienses casam-se entre si, e geralmente com o
b) a doxa e o logos convergindo para o conceito racional.
parente mais próximo possível, isto é, primos coirmãos.
c) a ironia e a maiêutica enquanto caminhos para É sintomático que os autores antigos que nos informam
conhecer a verdade através do autoconhecimento
sobre o casamento de homens políticos atenienses omi-
(conhecer-te a ti mesmo).
tam os nomes das mulheres desposadas, mas nunca o
d) o diálogo e a dúvida dialética. nome do seu pai ou do seu marido precedente.
e) a amizade e a justiça social.
CORBIN, Alain; et al. História da virilidade.
3. (UFU) A relação entre mito e filosofia é objeto de po- Vol. 1. Petrópolis: Vozes, 2014, p. 62.
lêmica entre muitos estudiosos ainda hoje. Para alguns, Considerando o texto e a situação da mulher na Atenas
a filosofia nasceu da ruptura com o pensamento mítico clássica, podemos afirmar que se trata de uma sociedade:
(teoria do “milagre grego”); para outros, houve uma a) na qual o casamento também tem implicações po-
continuidade entre mito e filosofia, ou seja, de alguma líticas e sociais.
forma os mitos continuaram presentes – seja como for-
b) que, por ser democrática, dá uma atenção especial
ma, seja como conteúdo – no pensamento filosófico.
aos direitos da mulher.
A partir destas informações, assinale a alternativa que c) em que o amor é o critério principal para a forma-
não contenha um exemplo de pensamento mítico no ção de casais da elite.
pensamento filosófico. d) em que o direito da mulher se sobrepõe ao interes-
a) Parmênides afirma: “Em primeiro lugar, criou (a di- se político e social.
vindade do nascimento ou do amor) entre todos os
deuses, a Eros (...)”. 6. (UEA) “O sofista” é um diálogo de Platão do qual par-
b) Platão propõe algumas teses, como a teoria da re- ticipam Sócrates, um estrangeiro e outros personagens.
miniscência e a transmigração das almas. Logo no início do diálogo, Sócrates pergunta ao estran-
c) Heráclito afirma: “As almas aspiram o aroma do Hades”. geiro a que método ele gostaria de recorrer para definir
d) Aristóteles divide a ciência em três ramos: o teoré- o que é um sofista.
tico, o prático e o poético. Sócrates: Mas dize-nos [se] preferes desenvolver toda a
4. (PUC) Leia os enunciados abaixo a respeito do pensa- tese que queres demonstrar, numa longa exposição ou em-
mento filosófico de Sócrates. pregar o método interrogativo?
I. O texto “Apologia de Sócrates”, cujo autor é Platão, Estrangeiro: Com um parceiro assim agradável e dócil,
apresenta a defesa de Sócrates diante das acusações Sócrates, o método mais fácil é esse mesmo; com um in-
dos atenienses, especialmente os sofistas, entre os terlocutor. Do contrário, valeria mais a pena argumentar
quais está Meleto. apenas para si mesmo.
II. Sócrates dispensa a ironia como método para re- Platão. “O sofista”. 1970 (adaptado).

16
É correto afirmar que o interlocutor de Sócrates escolheu, Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria das
do ponto de vista metodológico, adotar: ideias de Platão, é correto afirmar:
a) a maiêutica, que pressupõe a contraposição dos a) Deus é o criador último da ideia, e o artífice, en-
argumentos. quanto coparticipante da criação divina, alcança a
b) a dialética, que une numa síntese final as teses dos verdadeira causa das coisas, a partir do reflexo da
contendores. ideia ou do simulacro que produz.
c) o empirismo, que acredita ser possível chegar ao b) A participação das coisas às ideias permite admi-
saber por meio dos sentidos. tir as realidades sensíveis como as causas verdadeiras
d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão huma- acessíveis à razão.
na na prova de existência de Deus. c) Os poetas são imitadores de simulacros e, por in-
e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a possi- termédio da imitação, não alcançam o conhecimento
bilidade do saber humano. das ideias como verdadeiras causas de todas as coisas.
d) As coisas belas se explicam por seus elementos fí-
7. (UFU) O diálogo socrático de Platão é obra baseada sicos, como a cor e a figura, e na materialidade deles
em um sucesso histórico: no fato de Sócrates ministrar encontram sua verdade: a beleza em si e por si.
os seus ensinamentos sob a forma de perguntas e res-
e) A alma humana possui a mesma natureza das coi-
postas. Sócrates considerava o diálogo como a forma
sas sensíveis, razão pela qual se torna capaz de co-
por excelência do exercício filosófico e o único caminho
nhecê-las como tais na percepção de sua aparência.
para chegarmos a alguma verdade legítima.
10. (FCC) Sócrates é um dos personagens mais conheci-
De acordo com a doutrina socrática:
dos e influentes do pensamento ocidental. Embora não
a) a busca pela essência do bem está vinculada a uma tenha deixado nada escrito, suas ideias foram redigidas
visão antropocêntrica da filosofia. por um de seus discípulos, Platão, que lhe atribui a se-
b) é a natureza, o cosmos, a base firme da especulação guinte máxima: “a única coisa que sei é que nada sei”.
filosófica. Com essa máxima, Sócrates expressa que o caminho do
c) o exame antropológico deriva da impossibilidade do conhecimento
autoconhecimento e é, portanto, de natureza sofística. a) é impossível e todo o saber possível é uma ilusão.
d) a impossibilidade de responder (aporia) aos dilemas hu- b) depende da experiência e não de proposições teóricas.
manos é sanada pelo homem, medida de todas as coisas. c) desconsidera a opinião sobre assunto que se ignora.
8. (Unicamp) A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense d) pressupõe dar opinião sobre assunto que se ignora.
que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto de par- e) é limitado porque a razão humana não pode saber
tida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra tudo.
Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que
afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. Após
interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou
à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por
Gabarito
reconhecer a sua própria ignorância. O “sei que nada sei” 1-C; 2-C; 3-D; 4-B; 5-A; 6-A; 7-A; 8-A; 9-C; 10-E
é um ponto de partida para a Filosofia, pois:
a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se
mais sábio por querer adquirir conhecimentos.
b) é um exercício de humildade diante da cultura dos
sábios do passado, uma vez que a função da Filosofia
era reproduzir os ensinamentos dos filósofos gregos.
c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Fi-
losofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas
a partir de métodos rigorosos.
d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer
distante dos problemas concretos, preocupando-se
apenas com causas abstratas.
9. (UEL) Para esclarecer o que seja a imitação, na re-
lação entre poesia e o Ser, no Livro X de A República,
Platão parte da hipótese das ideias, as quais designam
a unidade na pluralidade, operada pelo pensamento.
Ele toma como exemplo o carpinteiro que, por sua arte,
cria uma mesa, tendo presente a ideia de mesa, como
modelo. Entretanto, o que ele produz é a mesa e não a
sua ideia. O poeta pertence à mesma categoria: cria um
mundo de mera aparência.

17
AULA Mito da caverna
3
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. O mundo das ideias Com essa concepção, Platão questiona a realidade do


mundo sensível, pois esse universo está em constante
Platão apresenta que o conhecimento é elaborado quando transformação, o que nos leva ao mundo das incertezas.
o indivíduo alcança a ideia, rompendo com as aparências,
enquanto que a opinião nasce da percepção da aparência.
Nesse instante, o filósofo compreende uma separação en-
tre dois mundos: o mundo inteligível e o mundo sensível.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Matrix (1999)
O filme trata de descrever um futuro distópi-
§ Mundo inteligível: o filósofo encontra os elementos
co na realidade, sendo uma realidade simula-
com o olhar da ciência.
da, chamada de matrix, que é um sistema de
§ Mundo sensível: o homem vê as coisas não muito computador que manipula a mente das pes-
claramente. soas. Na área filosófica, o filme apresenta um
eixo central baseado na alegoria da caverna.

2. Alegoria da caverna

Segundo Platão, o filósofo é o sujeito que consegue enxer-


Diante disso, existe um mundo conceitual, onde existem gar as coisas mais claramente do que as outras pessoas.
as ideias dos elementos que constituem o mundo o qual Para ilustrar essa ideia, surge a alegoria da caverna, conti-
conhecemos. Como exemplo, podemos imaginar um carro do no Livro VII de A República:
branco estacionado na esquina; cada indivíduo vai acabar
elaborando uma ideia fixa desse tal carro branco, algo Um grupo de pessoas acorrentado numa caverna só vê
semelhante a uma ideia primária. Desse modo, o mundo sombras e julga que elas são a realidade.
inteligível (conceitual) existe de uma forma anterior e mais Um homem consegue escapar das correntes e sai da ca-
efetiva do que no mundo sensível. verna. Lá fora, ele vê um mundo bem diferente, o mundo

18
real. Ele volta à caverna para contar a novidade ao resto
das pessoas, porém, ofuscado pela luz (da verdade), parece
2.2. Política
abobado. Com isso, os outros prisioneiros não acreditam Para o filósofo, todos os tipos de governo existentes no
na sua versão maluca e acabam matando o pobre infeliz. mundo são degenerados por natureza, pois a sua forma
original tende a ter uma versão degenerada, como pode-
mos observar abaixo.

Forma original Forma degenerada


Aristocracia Oligarquia

Monarquia Tirania

Democracia Anarquia

Diante disso, Platão defende que o melhor sistema de gover-


multimídia: vídeo no deveria ser a monarquia, associada com o saber filosófico,
visto que somente indivíduos que detêm o conhecimento po-
dem efetuar com melhor desempenho para o coletivo, sem
O mito da caverna: Platão
sofrerem as interferências do pensar e agir particular. Sendo
assim, os melhores governantes seriam os reis-filósofos.
2.1. A felicidade, segundo Platão
Para o filósofo grego Platão, o conceito de felicidade con-
sistia no resultado final de uma vida dedicada a um conhe-
cimento progressivo. Numa valorização pelo conhecimen-
to, Platão vai interligar a felicidade com a ciência.
Dessa maneira, o homem só atingirá a felicidade quando
abandonar o mundo sensível em direção ao mundo inteli-
gível. Isso ocorre, pois no mundo inteligível estão as ideias
perfeitas, como a beleza, a coragem, a justiça e a felicidade. multimídia: livro
Platão. Coleção “Os Pensadores”. São Paulo:
Abril Cultural, 1999.
Nessa obra, o filósofo ateniense trata de
diversos temas filosóficos, sociais e políti-
cos, que se demonstram entrelaçados.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube

Merlí
(Espanha, 2015, Netflix) – temporada 1, episódio 2
O novo professor de Filosofia do Ensino Mé-
dio, Merlí, utiliza de alguns métodos diferen- multimídia: música
tes de ensino, conseguindo abrir a mente de
Fonte: Youtube
seus alunos e trabalhar os preconceitos inter-
nos de cada um. Sombras da caverna
Dead Fish. Ponto Cego. Desk, 2019

19
Sócrates: Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem Glauco: Certamente.
a um tempo das cadeias e do erro em que laboravam. Imag- Sócrates: Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo
inemos um destes cativos desatado, obrigado a levantar-se de caminho áspero e escarpado, para só o liberar quando es-
repente, a volver a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a tivesse lá fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria
luz. Não poderia fazer tudo isso sem grande pena; a luz, sobre gritos lamentosos e brados de cólera? Chegando à luz do
ser-lhe dolorosa, o deslumbraria, impedindo-lhe de discernir os dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, ser-lhe ia
objetos cuja sombra antes via. Que te parece agora que ele possível discernir os objetos que o comum dos homens tem
responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto por serem reais?
fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade e voltado Glauco: A princípio nada veria.
para objetos mais reais, via com mais perfeição? Supõe agora Sócrates: Precisaria de algum tempo para se afazer à clari-
que, apontando-lhe alguém as figuras que lhe desfilavam ante dade da região superior. Primeiramente, só discerniria bem
os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. Não te parece que, as sombras, depois, as imagens dos homens e outros seres
na sua grande confusão, se persuadiria de que o que antes via refletidos nas águas; finalmente erguendo os olhos para a lua
era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados? e as estrelas, contemplaria mais facilmente os astros da noite
Glauco: Sem dúvida nenhuma. que o pleno resplendor do dia.
Sócrates: Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos do- PLATÃO
loridos para as sombras que poderia ver sem dor? Não as con- A República
sideraria realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados?

DIAGRAMA DE IDEIAS

PLATÃO

MUNDO DAS IDEIAS MITO DA CAVERNA POLÍTICA

ALEGORIA
MUNDO INTELIGÍVEL TODOS OS TIPOS
PARA ILUSTRAR
DE GOVERNOS SÃO
QUE POUCOS
DEGENERADOS
RAZÃO ALCANÇAM O
POR NATUREZA
MUNDO INTELIGÍVEL

MUNDO SENSÍVEL
FORMA FORMA
ORIGINAL DEGENERADA
SOMBRAS
ARISTOCRACIA OLIGARQUIA

MONARQUIA TIRANIA
DEMOCRACIA ANARQUIA

20
Aplicando para Assinale a alternativa correta.
a) A teoria das ideias não pode ser considerada uma
Aprender (A.P.A.) chave de leitura aplicável a todo pensamento platônico.
b) Como Sócrates, Platão desenvolveu uma ética racio-
1. (Uncisal) No contexto da Filosofia clássica, Platão e nalista que desconsiderava a vontade como elemento
Aristóteles possuem lugar de destaque. Suas concep- fundamental entre os motivadores da ação. Ele acredi-
ções, que se opõem, mas não se excluem, são ampla- tava que o conhecimento do bem era suficiente para
mente estudadas e debatidas devido à influência que motivar a conduta de acordo com essa ideia (agir bem).
exerceram, e ainda exercem, sobre o pensamento oci- c) Platão propõe um modelo de organização política da
dental. Todavia, é necessário salientar que o produto sociedade que pode ser considerado estamental e anti-
dos seus pensamentos se insere em uma longa tradição democrático. Para ele, o governo não deveria se pautar
filosófica que remonta a Parmênides e Heráclito e que pelo princípio da maioria. As almas têm natureza diver-
influenciou, direta ou indiretamente, entre outros, os sa, de acordo com sua composição, isso faz com que
racionalistas, empiristas, Kant e Hegel. os homens devam ser distribuídos de acordo com essa
Observando o cerne da filosofia de Platão, assinale nas natureza, divididos em grupos encarregados do governo,
opções abaixo aquela que se identifica corretamente do controle e do abastecimento da polis.
com suas concepções. d) Platão chamava o conhecimento da verdade de
a) A dicotomia aristotélica (mundo sensível vs. mundo doxa e o contrapõe a outra forma de conhecimento
inteligível) se opõe radicalmente às concepções de (inferior) denominada episteme.
caráter empírico defendidas por Platão. e) Para Platão, a essência das coisas é dada a partir
b) A filosofia platônica é marcada pelo materialismo da análise de suas causas material e final.
e pragmatismo, afastando-se do misticismo e de con-
4.(UEL) Platão, em A República, tem como objetivo
ceitos transcendentais.
principal investigar a natureza da justiça, inerente
c) Segundo Platão, a verdade é obtida a partir da à alma, que, por sua vez, manifesta-se como pro-
observação das coisas, por meio da valorização do tótipo do Estado ideal. Os fundamentos do pensa-
conhecimento sensível. mento ético-político de Platão decorrem de uma
d) Para Platão, a realidade material e o conhecimento correlação estrutural com constituição tripartite
sensível são ilusórios. da alma humana. Assim, concebe uma organização
e) As concepções platônicas negam veementemente social ideal que permite assegurar a justiça. Com
a validade do inatismo. base neste contexto, o foco da crítica às narrativas
2. (Unisc) Nos Livros II e III, Platão, através de Sócrates, poéticas, nos Livros II e III, recai sobre a cidade e
discute sobre as artes no contexto da educação dos guar- o tema fundamental da educação dos governantes.
diães. Já no Livro X, ele trata de vários tipos de práticas No Livro X, na perspectiva da defesa de seu projeto
artísticas, que devem ser consideradas na cidade como um ético-político para a cidade fundamentada em um
todo, não somente nas instituições pedagógicas. Nesse úl- logos crítico e reflexivo que redimensiona o papel
timo livro, Sócrates é duro ao afirmar que a poesia (imi- da poesia, o foco desta crítica se desloca para o in-
tativa) deve ser inteiramente excluída da cidade (595a). divíduo ressaltando a relação com a alma, compre-
endida em três partes separadas, segundo Platão: a
Em que obra essa recusa de Sócrates está registrada? racional, a apetitiva e a irascível.
a) No diálogo “Banquete”, de Platão, em que Sócra-
tes trata dos diversos tipos de arte. Com base no texto e na crítica de Platão ao caráter
b) No diálogo “Teeteto”, de Platão, em que Sócra- mimético das narrativas poéticas e sua relação com a
tes e esse personagem discutem sobre a natureza da alma humana, é correto afirmar:
arte, especialmente da poesia. a) A parte racional da alma humana, considerada superior
c) No diálogo “Timeu”, de Platão, em que Sócrates e responsável pela capacidade de pensar, é elevada pela
discorre sobre o tema da arte, reportando-se à natu- natureza mimética da poesia à contemplação do Bem.
reza da pintura e da poesia. b) O uso da mímesis nas narrativas poéticas para controlar
d) No diálogo “Político”, de Platão, em que Sócrates e dominar a parte irascível da alma é considerado exce-
apresenta a arte da política aos cidadãos atenienses. lente prática propedêutica na formação ética do cidadão.
e) No diálogo “República”, de Platão, no qual Sócrates afir- c) A poesia imitativa, reconhecida como fonte de
ma que a poesia pode levar à corrupção do caráter humano. racionalidade e sabedoria, deve ser incorporada ao
3. (Uenp) Platão foi um dos filósofos que mais influen- Estado ideal que se pretende fundar.
ciaram a cultura ocidental. Para ele, a filosofia tem um d) O elemento mimético cultivado pela poesia é jus-
fim prático e é capaz de resolver os grandes problemas tamente aquele que estimula, na alma humana, os
da vida. Considera a alma humana prisioneira do corpo, elementos irracionais: os instintos e as paixões.
vivendo como se fosse um peregrino em busca do cami- e) A reflexividade crítica presente nos elementos mi-
nho de casa. Para tanto, deveria transpor os limites do méticos das narrativas poéticas permite ao indivíduo
corpo e contemplar o inteligível. alcançar a visão das coisas como realmente são.

21
5. (Unesp) O que é terrível na escrita é sua semelhança 7. (IFSP) – Mas escuta, a ver se eu digo bem. O princípio
com a pintura. As produções da pintura apresentam- que de entrada estabelecemos que devia observar-se
-se como seres vivos, mas se lhes perguntarmos algo, em todas as circunstâncias, quando fundamos a cidade,
mantêm o mais solene silêncio. O mesmo ocorre com os esse princípio é, segundo me parece, ou ele ou uma das
escritos: poderíamos imaginar que falam como se pen- suas formas, a justiça. Ora nós estabelecemos, segundo
sassem, mas se os interrogarmos sobre o que dizem (...) suponho, e repetimo-lo muitas vezes, se bem te lem-
dão a entender somente uma coisa, sempre a mesma bras, que cada um deve ocupar-se de uma função na ci-
(...). E quando são maltratados e insultados, injustamen- dade, aquela para qual a sua natureza é mais adequada.
te, têm sempre a necessidade do auxílio de seu autor
Platão. A República. 7. ed. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 2001, p. 185.
porque são incapazes de se defenderem, de assistirem
a si mesmos. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a con-
Platão. Fedro ou Da beleza. cepção platônica de justiça na cidade ideal, assinale a
alternativa correta.
Nesse fragmento, Platão compara o texto escrito com a) Para Platão, a cidade ideal é a cidade justa, ou
a pintura, contrapondo-os à sua concepção de filoso- seja, a que respeita o princípio de igualdade natural
fia. Assinale a alternativa que permite concluir, com entre todos os seres humanos, concedendo a todos os
apoio do fragmento apresentado, uma das principais indivíduos os mesmos direitos perante a lei.
características do platonismo.
b) Platão defende que a democracia é fundamento
a) Platão constrói o conhecimento filosófico por meio de essencial para a justiça, uma vez que permite a todos
pequenas sentenças com sentido completo, as quais, no os cidadãos o exercício direto do poder.
seu entender, esgotam o conhecimento acerca do mundo. c) Na cidade ideal platônica, a justiça é o resultado
b) A forma de exposição da filosofia platônica é o natural das ações de cada indivíduo na perseguição
diálogo, e o conhecimento funda-se no rigor interno de seus interesses pessoais, desde que esses interes-
das argumentações, produzido e comprovado pela ses também contribuam para o bem comum.
confrontação dos discursos. d) Para Platão, a formação de uma cidade justa só é
c) O platonismo se vale da oratória política, sem com- possível se cada cidadão executar, da melhor maneira
promisso filosófico com a busca da verdade, mas diri- possível, a sua função própria, ou seja, se cada um fizer
gida ao convencimento dos governantes das Cidades. bem aquilo que lhe compete, segundo suas aptidões.
d) A poesia rimada é o veículo de difusão das ideias e) Platão acredita que a cidade só é justa se cada
platônicas, sendo a filosofia uma sabedoria alcança- membro do organismo social tiver condições de per-
da na velhice e ensinada pelos mestres aos discípulos. seguir seus ideais, exercendo funções que promovam
e) O discurso platônico tem a mesma natureza do dis- sua ascensão econômica e social.
curso religioso, pois o conhecimento filosófico modifi- 8. (UEL) Leia os textos a seguir.
ca-se segundo as habilidades e a argúcia dos filósofos.
“A arte de imitar está bem longe da verdade, e se executa
6. (UFPI) A respeito da cultura grega, leia as sínteses tudo, ao que parece, é pelo fato de atingir apenas uma peque-
filosóficas abaixo.
na porção de cada coisa, que não passa de uma aparição.”
I. A ciência, a moral e os credos religiosos eram criações PLATÃO. A República. 7.ed. Lisboa: Calouste-
humanas válidas para determinados grupos sociais em um Gulbenkian, 1993. p. 457 (adaptado).
determinado período. “O imitar é congênito no homem e os homens se compra-
II. Sua principal contribuição filosófica foi a Teoria das zem no imitado.”
Ideias, segundo a qual as ideias são a essência dos con- ARISTÓTELES. Poética. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural,
1991. p. 203. Coleção “Os pensadores” (adaptado).
ceitos e das coisas e, portanto, transcendentes ao homem,
que delas tem apenas um pálido reflexo. Com base nos textos, nos conhecimentos sobre estética
III. Defendia a existência de um conhecimento estável e e a questão da mimesis em Platão e Aristóteles, assinale
a alternativa correta.
válido para todos. Sua grande preocupação era o auto-
conhecimento que poderia ser obtido através da ironia a) Para Platão, a obra do artista é cópia de coisas fenomê-
nicas, um exemplo particular e, por isso, algo inadequa-
e da maiêutica. do e inferior, tanto em relação aos objetos representados
quanto às ideias universais que os pressupõem.
As sínteses que você acabou de ler podem ser associa-
das, respectivamente, a: b) Para Platão, as obras produzidas pelos poetas,
pintores e escultores representam perfeitamente a
a) Platão, Aristóteles e Sócrates. verdade e a essência do plano inteligível, sendo a ati-
b) Platão, sofistas e Aristóteles. vidade do artista um fazer nobre, imprescindível para
c) Sócrates, sofistas e Platão. o engrandecimento da pólis e da filosofia.
d) sofistas, Platão e Sócrates. c) Na compreensão de Aristóteles, a arte se restrin-
e) Platão, sofistas e Sócrates. ge à reprodução de objetos existentes, o que veda o

22
poder do artista de invenção do real e impossibilita nos caminhos do amor, ou por outro se deixar conduzir:
a função caricatural que a arte poderia assumir ao em começar do que aqui é belo e, em vista daquele belo,
apresentar os modelos de maneira distorcida. subir sempre, como que servindo-se de degraus, de um só
d) Aristóteles concebe a mimesis artística como uma
para dois e de dois para todos os belos corpos, e dos belos
atividade que reproduz passivamente a aparência das
coisas, o que impede ao artista a possibilidade de re- corpos para os belos ofícios, e dos ofícios para as belas
criação das coisas segundo uma nova dimensão. ciências até que das ciências acabe naquela ciência, que de
e) Aristóteles se opõe à concepção de que a arte é imitação nada mais é senão daquele próprio belo, e conheça enfim
e entende que a música, o teatro e a poesia são incapazes o que em si é belo.
de provocar um efeito benéfico e purificador no espectador. PLATÃO. O banquete. São Paulo: Editora 34, p. 147.
9. (Enem)
Em conformidade com a teoria platônica das ideias, responda:
a) As afirmações “do que é belo aqui” e “em vista
daquele belo” designam o quê, respectivamente?
b) Que ciência é esta que se encarrega “daquele pró-
prio belo” e conhece “enfim o que é em si belo”?

Gabarito
1-D; 2-E; 3-C; 4-D; 5-B; 6-D; 7-D; 8-A; 9-B; 10-D
11. a) A afirmação “do que é belo aqui” designa o mundo
sensível ou dos sentidos, aquele caracterizado pela doxa (opi-
No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado nião) e que possui caráter transitório, imperfeito e perecível,
apontando para o alto. Esse gesto significa que o co- sendo uma cópia do mundo inteligível ou das ideias. Já a
nhecimento se encontra em uma instância na qual o afirmação “em vista daquele belo” refere-se ao mundo das
homem descobre a: ideias ou formas, o inteligível, das essências eternas, imutá-
a) suspensão do juízo como reveladora da verdade. veis e perfeitas.
b) realidade inteligível por meio do método dialético.
b) Esta ciência é a dialética. Nesse caso, a dialética significa
c) salvação da condição mortal pelo poder de Deus.
o processo de busca e aquisição do conhecimento verda-
d) essência das coisas sensíveis no intelecto divino.
deiro ou o percurso da alma que vai das aparências ou
e) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade.
“sombras” do mundo sensível até as essências ou formas
10. (Enem) Trasímaco estava impaciente porque Sócra-
puras do mundo inteligível, culminando na ideia do Bem, a
tes e os seus amigos presumiam que a justiça era algo
real e importante. Trasímaco negava isso. Em seu enten- mais perfeita e causa de todas as outras.
der, as pessoas acreditavam no certo e no errado ape-
nas por terem sido ensinadas a obedecer às regras da
sua sociedade. No entanto, essas regras não passavam
de invenções humanas.
RACHELS, J. Problemas da Filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.
O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálo-
go A República, de Platão, sustentava que a correlação
entre justiça e ética é resultado de
a) determinações biológicas impregnadas na natureza
humana.
b) verdades objetivas com fundamento anterior aos in-
teresses sociais.
c) mandamentos divinos inquestionáveis legados das
tradições antigas.
d) convenções sociais resultantes de interesses humanos
contingentes.
e) sentimentos experimentados diante de determinadas
atitudes humanas.
11. (UFU) Leia o trecho abaixo extraído do diálogo pla-
tônico O banquete.

Eis, com efeito, em que consiste o proceder corretamente

23
AULA Aristóteles
4
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. Aristóteles (384-323 a.C.) Com a subida de Alexandre ao poder, Aristóteles retornou


a Atenas e, em 335 a.C., fundou sua própria escola, o Li-
Aristóteles foi o último e mais influente dos grandes filóso- ceu, que foi muito superior à Academia. Aristóteles ensi-
fos gregos. Nascido em Estagira, atual Grécia, foi mandado nava caminhando e, por causa desse hábito, os alunos do
por seu pai à Academia de Platão, onde permaneceu por Liceu ficaram conhecidos como peripatéticos, que significa
cerca de 20 anos. Depois, viajou muito e começou a desen- “os que passeiam”.
volver e a sistematizar as suas próprias ideias. Tornou-se o
crítico mais feroz do pensamento platônico.

multimídia: vídeo
multimídia: vídeo Fonte: Youtube
Ação e Razão – Aristóteles
Fonte: Youtube
Marco Zingano, professor da Faculdade de
Grandes Pensadores: Aristóteles
Filosofia da USP, trata das origens do concei-
Aristóteles é considerado o primeiro cientista da História. to de razão na filosofia clássica ateniense.

Em 343 a.C., Filipe da Macedônia chamou Aristóteles à


O filósofo deixou muitos escritos, sendo a maioria tratados
corte e confiou-lhe importante missão: a de educar seu fi-
bem fundamentados. Foi o primeiro a dividir e subdividir áre-
lho, Alexandre. Durante sete anos, o filósofo encarregou-se
as de investigação, sendo o primeiro a fazer uma classifica-
dessa missão, até a subida do jovem Alexandre ao poder.
ção do conhecimento, de modo que versou perante diferen-
O jovem imperador da Macedônia, já ganhando as titula- tes áreas, como biologia, retórica, lógica, ética, dentre outras.
ções de senhor do mundo conhecido, mencionou que “Se
a meu pai devo a minha existência, a meu preceptor devo à
arte de me saber conduzir. Se governo com alguma glória,
a ele sou devedor”.

Representação de Platão (à esquerda, apontando para


Alexandre, o Grande, foi educado por Aristóteles. cima) e de Aristóteles (que aponta para baixo)

24
A crítica para Platão consiste em analisar corretamente os 3. vida contemplativa: onde o ser busca os elementos
fenômenos da natureza, indo além da superficialidade in- dentro de si, o prazer intelectual – essa vida contém a
teligível, construindo uma nova concepção de conhecimen- essência da felicidade.
to. Entre seus textos temos:
§ A Física: a relação dos quatro elementos (terra, água,
ar e fogo) com o planeta Terra. Seus princípios não são
corretos, de modo que não descrevem nada com exati-
dão. Porém, essas estruturas auxiliaram outros experi-
mentos e tecnologias, com o método científico.
§ A Metafísica: textos compilados que foram batizados
após a morte do filósofo por seu discípulo, Andrônico
de Rodes. Aristóteles trata da ciência das causas pri- multimídia: vídeo
meiras do ser enquanto ser geral. O filósofo define qua-
Fonte: Youtube
tro causas das coisas:
Ética a Nicômaco
1. causa formal (a forma da coisa); Aristóteles. São Paulo: Martin Claret, 2008.
2. causa material (matéria de que uma coisa é feita);
3. causa eficiente (a origem da coisa); e § A Lógica: a lógica não é uma ciência, mas um instrumen-
4. causa final (a finalidade do objeto). to para o correto pensar. Aristóteles disse que o bloco de
construção básico de qualquer argumento era o silogismo;
Podemos utilizar como exemplo a obra O pensador, do es-
constituído por premissas e uma conclusão, desenvolven-
cultor francês Auguste Rodin.
do um primeiro estudo da linguagem de argumentação
baseada na coerência lógica. Logo, a lógica assim se torna
uma ferramenta na busca do conhecimento.

Todos os homens são mortais. • premissa 1


Sócrates é mortal. • premissa 2

Logo, Sócrates é mortal. • conclusão

§ Arte Poética: o filósofo, na Poética, examina as formas


de poesia – epopeia, comédia e tragédia –, que tentam imi-
tar a realidade, porém, de modos diferentes. A poesia é o
gênero literário que mais se aproxima da filosofia, pois tende
A causa formal é o formato dessa obra, de um homem
para o conhecimento do universal, que é o objetivo máximo
sentado; a causa material é o bronze; a causa eficiente é
da filosofia.
o escultor Rodin; e a causa final é a significação da obra.
§ Arte Política: o homem é um animal político – politi-
§ Ética a Nicômaco: neste texto direcionado ao seu fi-
kón zoón – que vive naturalmente em sociedade. Ao tratar
lho, Nicômaco, Aristóteles apresenta que a ética é algo
do tema em Política, Aristóteles, ao contrário de Platão, não
palpável, não sendo um elemento abstrato. Seguindo a
se interessa por idealizar uma cidade justa. Ele classifica as
teoria da justa-medida, ou seja, do equilíbrio, o filósofo
formas de governo em três: o governo de um só indivíduo
apresenta que, ao seguirmos esse equilíbrio em nossos
(monarquia), de alguns (aristocracia) e de todos (democracia).
atos particulares, conseguimos atingir a felicidade, sen-
Cada um desses regimes políticos apresenta vantagens e des-
do que existe uma inclinação para essa finalidade últi-
vantagens, formas boas e corrompidas. Diante desse estudo,
ma do ser humano. Entretanto, o conceito de felicidade
Aristóteles não questionou a escravidão e achava as mulheres
varia de indivíduo para indivíduo e de como é sua vida.
despreparadas para a liberdade e para os direitos políticos.
Para o filósofo, existem três tipos de vida:
1. vida dos prazeres: onde o ser se torna refém daquilo § A Arte: o filósofo entende que o Belo é o resultado da jus-
que deseja; ta-medida, da simetria. Assim, o Belo faz parte do ser humano,
2. vida política: onde o ser busca a honra pelo conven- podendo imitar a natureza, mas também abordar o impossível
cimento; e e o inverossímil, podendo completar o que falta na natureza.

25
Essas considerações tornam evidente que a cidade é uma
realidade natural e que o homem é, por natureza, um ani-
mal político (politikón zoón). E aquele que, por natureza
e não por mero acidente, não faz parte de uma cidade é
ou um ser degradado ou um ser superior ao homem; ele
é como aquele a quem Homero censura por ser sem clã,
sem lei e sem lar; um tal homem é, por natureza, ávido de
combates, e é como uma peça isolada no jogo de damas.
É evidente, assim, a razão pela qual o homem é um animal
político em grau maior que as abelhas ou todos os outros
animais que vivem reunidos. Dizemos, de fato, que a natu-
reza nada faz em vão, e o homem é o único entre todos os
multimídia: vídeo animais a possuir o dom da fala. (...) só ele sabe discernir
o bem e o mal, o justo e o injusto, e os outros sentimentos
Fonte: Youtube da mesma ordem; ora, é precisamente a posse comum
Happiness desses sentimentos que engendra a família e a cidade.
Needtobreathe. Hard Love. Atlantic, 2016 (...) o homem que é incapaz de viver em comunidade, ou
A canção questiona as nossas escolhas na busca que disso não tem necessidade porque basta-se a si pró-
prio, não faz parte de uma cidade e deve ser, portanto,
da felicidade.
um bruto ou um deus.
ARISTÓTELES
Arte Política. Livro I

DIAGRAMA DE IDEIAS

ARISTÓTELES

NOVA CONCEPÇÃO
NA BUSCA DO BEM
DO CONHECIMENTO

• RETÓRICA
• FÍSICA
O SER HUMANO • METAFÍSICA
PRECISA BUSCAR • LÓGICA
A JUSTA MEDIDA • POÉTICA

O EQUILÍBRIO EM
TODOS OS CAMPOS

26
Aplicando para ainda que em linhas gerais apenas, o que seja ele e
de qual das ciências ou faculdades constitui o objeto.

Aprender (A.P.A.) Ninguém duvidará de que o seu estudo pertença à


arte mais prestigiosa e que mais verdadeiramente se
pode chamar a arte mestra. Ora, a política mostra
1. (Enem) A felicidade é, portanto, a melhor, a mais no-
ser dessa natureza, pois é ela que determina quais as
bre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos
ciências que devem ser estudadas num Estado, quais
não devem estar separados como na inscrição existen-
são as que cada cidadão deve aprender, e até que
te em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa,
e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que ponto; e vemos que até as faculdades tidas em maior
amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas apreço, como a estratégia, a economia e a retórica,
mais excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós estão sujeitas a ela. Ora, como a política utiliza as
demais ciências e, por outro lado, legisla sobre o que
a identificamos como felicidade.
devemos e o que não devemos fazer, a finalidade
ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. dessa ciência deve abranger as das outras, de modo
Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais exce- que essa finalidade será o bem humano.
lentes atributos, Aristóteles a identifica como ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. ln: Pensadores.
a) a busca por bens materiais e títulos de nobreza. São Paulo: Nova Cultural, 1991 (adaptado).
b) a plenitude espiritual e ascese pessoal.
Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organi-
c) a finalidade das ações e condutas humanas. zação da polis pressupõe que
d) o conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.
a) o bem dos indivíduos consiste em cada um perse-
e) a expressão do sucesso individual e reconheci-
guir seus interesses.
mento público.
b) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são
2. (Enem) Segundo Aristóteles, “na cidade com o me- os portadores da verdade.
lhor conjunto de normas e naquela dotada de homens c) a política é a ciência que precede todas as demais
absolutamente justos, os cidadãos não devem viver na organização da cidade.
uma vida de trabalho trivial ou de negócios – esses d) a educação visa formar a consciência de cada pes-
tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis com as soa para agir corretamente.
qualidades morais –, tampouco devem ser agricultores e) a democracia protege as atividades políticas neces-
os aspirantes à cidadania, pois o lazer é indispensável sárias para o bem comum.
ao desenvolvimento das qualidades morais e à prática
das atividades políticas”. 4. (Enem) Ninguém delibera sobre coisas que não po-
dem ser de outro modo, nem sobre as que lhe é im-
VAN ACKER, T. Grécia: a vida cotidiana na cidade- possível fazer. Por conseguinte, como o conhecimento
Estado. São Paulo: Atual. 1994.
científico envolve demonstração, mas não há demons-
O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, per- tração de coisas cujos primeiros princípios são variáveis
mite compreender que a cidadania (pois todas elas poderiam ser diferentemente), e como
é impossível deliberar sobre coisas que são por neces-
a) possui uma dimensão histórica que deve ser criti- sidade, a sabedoria prática não pode ser ciência, nem
cada, pois é condenável que os políticos de qualquer arte: nem ciência, porque aquilo que se pode fazer é
época fiquem entregues à ociosidade, enquanto o capaz de ser diferentemente, nem arte, porque o agir e
resto dos cidadãos tem de trabalhar. o produzir são duas espécies diferentes de coisa. Resta,
b) era entendida como uma dignidade própria dos pois, a alternativa de ser ela uma capacidade verdadei-
grupos sociais superiores, fruto de uma concepção ra e raciocinada de agir com respeito às coisas que são
política profundamente hierarquizada da sociedade. boas ou más para o homem.
c) estava vinculada, na Grécia antiga, a uma percep-
ção política democrática, que levava todos os habi- ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
tantes da polis a participarem da vida cívica. Aristóteles considera a ética como pertencente ao cam-
d) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela po do saber prático. Nesse sentido, ela difere-se dos ou-
qual o tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado tros saberes, porque é caracterizada como
às atividades vinculadas aos tribunais.
a) conduta definida pela capacidade racional de escolha.
e) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita àqueles
que se dedicavam à política e que tinham tempo para b) capacidade de escolher de acordo com padrões
resolver os problemas da cidade. científicos.
c) conhecimento das coisas importantes para a vida
3. (Enem) Se, pois, para as coisas que fazemos existe do homem.
um fim que desejamos por ele mesmo e tudo o mais d) técnica que tem como resultado a produção de
é desejado no interesse desse fim; evidentemente tal boas ações.
fim será o bem, ou antes, o sumo bem. Mas não terá e) política estabelecida de acordo com padrões de-
o conhecimento, porventura, grande influência sobre mocráticos de deliberação.
essa vida? Se assim é, esforcemo-nos por determinar,

27
5. (UFPA) Tendemos a concordar que a distribuição iso- mesmo, não é em nada parte da cidade, embora seja quer
nômica do que cabe a cada um no estado de direito é o um animal, quer um deus.
que permite, do ponto de vista formal e legal, dar esta- ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
bilidade às várias modalidades de organizações institu-
ídas no interior de uma sociedade. Isso leva Aristóteles Texto II
a afirmar que a justiça é “uma virtude completa, porém Nenhuma vida humana, nem mesmo a vida de um eremita
não em absoluto e sim em relação ao nosso próximo” em meio à natureza selvagem, é possível sem um mundo
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: que, direta ou indiretamente, testemunhe a presença de
Abril Cultural, 1973, p. 332. outros seres humanos.
De acordo com essa caracterização, é correto dizer que ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense, 1995.
a função própria e universal atribuída à justiça, no es- Associados a contextos históricos distintos, os fragmen-
tado de direito, é: tos convergem para uma particularidade do ser humano,
a) conceber e aplicar, de forma incondicional, ideias caracterizada por uma condição naturalmente propensa à
racionais com poder normativo positivo e irrestrito. a) atividade contemplativa.
b) instituir um ideal de liberdade moral que não existiria se b) produção econômica.
não fossem os mecanismos contidos nos sistemas jurídicos. c) articulação coletiva.
c) determinar, para as relações sociais, critérios legais tão
d) criação artística.
universais e independentes que possam valer por si mesmos.
e) crença religiosa.
d) promover, por meio de leis gerais, a reciprocidade
entre as necessidades do Estado e as de cada cidadão 8. (UEA) A sabedoria do amo consiste no emprego que
individualmente. ele faz dos seus escravos; ele é senhor, não tanto por-
e) estabelecer a regência na relação mútua entre os ho- que possui escravos, mas porque deles se serve. Esta
mens, na medida em que isso seja possível por meio de leis. sabedoria do amo nada tem, aliás, de muito grande ou
de muito elevado; ela se reduz a saber manda o que o
6. (UFU) Em primeiro lugar, é claro que, com a expressão
escravo deve saber fazer. Também todos que a ela se
“ser segundo a potência e o ato”, indicam-se dois mo-
podem furtar deixam os seus cuidados a um mordomo,
dos de ser muito diferentes e, em certo sentido, opos-
e vão se entregar à política ou à filosofia.
tos. Aristóteles, de fato, chama o ser da potência até
mesmo de não-ser, no sentido de que, com relação ao ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.
ser-em-ato, o ser-em-potência é não-ser-em-ato.
O filósofo Aristóteles dirigiu, na cidade grega de Atenas,
REALE, Giovanni. História da Filosofia antiga.
Vol. II. São Paulo: Loyola, 1994, p. 349.
entre 331 e 323 a.C., uma escola de filosofia chamada de
Liceu. No excerto, Aristóteles considera que a escravidão:
A partir da leitura do trecho acima e em conformidade a) é um empecilho ao florescimento da filosofia e da
com a Teoria do Ato e Potência de Aristóteles, assinale a política democrática nas cidades da Grécia.
alternativa correta.
b) permite ao cidadão afastar-se de obrigações econômi-
a) Para Aristóteles, ser-em-ato é o ser em sua capaci- cas e dedicar-se às atividades próprias dos homens livres.
dade de se transformar em algo diferente dele mes- c) facilita a expansão militar das cidades gregas à me-
mo, como, por exemplo, o mármore (ser-em-ato) em dida que liberta os cidadãos dos trabalhos domésticos.
relação à estátua (ser-em-potência).
d) é responsável pela decadência da cultura grega,
b) Segundo Aristóteles, a teoria do ato e potência pois os senhores preocupavam-se somente em domi-
explica o movimento percebido no mundo sensível. nar os escravos.
Tudo o que possui matéria possui potencialidade (ca-
e) promove a união dos cidadãos das diversas pólis
pacidade de assumir ou receber uma forma diferente
gregas no sentido de garantir o controle dos escravos.
de si), que tende a se atualizar (assumindo ou rece-
bendo aquela forma). 9. (Unioeste) “A excelência moral, então, é uma dispo-
c) Para Aristóteles, a bem da verdade, existe apenas sição da alma relacionada com a escolha de ações e
o ser-em-ato. Isto ocorre porque o movimento verifi- emoções, disposição esta consistente num meio-ter-
cado no mundo material é apenas ilusório, e o que mo (o meio-termo relativo a nós) determinado pela
existe é sempre imutável e imóvel. razão (a razão graças à qual um homem dotado de
d) Segundo Aristóteles, o ato é próprio do mundo discernimento o determinaria)”.
sensível (das coisas materiais) e a potência se en-
contra tão-somente no mundo inteligível, apreendido Aristóteles
apenas com o intelecto.

7. (Enem) Sobre o pensamento ético de Aristóteles e o texto aci-


ma, seguem as seguintes afirmativas:
Texto I
Aquele que não é capaz de pertencer a uma comunidade I. A virtude é uma paixão consistente num meio-termo
ou que dela não tem necessidade, porque se basta a si entre dois extremos.

28
II. A ação virtuosa, por estar relacionada com a escolha, é
praticada de modo involuntário e inconsciente.
III. A virtude é uma disposição da alma relacionada com
escolha e discernimento.
IV. A virtude é um meio-termo absoluto, determinado pela
razão.
V. A virtude é um extremo determinado pela razão e pelas
paixões de um homem dotado de discernimento.
Das afirmativas feitas acima:
a) somente a afirmação I está correta.
b) somente a afirmação III está correta.
c) as afirmações II e III estão corretas.
d) as afirmações III e IV estão corretas.
e) as afirmações IV e V estão corretas.

10. (UEL) Leia o texto a seguir.

A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com


a escolha e consiste numa mediania, isto é, a mediania re-
lativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional
próprio do homem dotado de sabedoria prática.
Aristóteles. Ética a Nicômaco. Livro II. São
Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 273.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada


ética em Aristóteles, pode-se dizer que a virtude ética:
a) reside no meio termo, que consiste numa escolha
situada entre o excesso e a falta.
b) implica na escolha do que é conveniente no exces-
so e do que é prazeroso na falta.
c) consiste na eleição de um dos extremos como o
mais adequado, isto é, ou o excesso ou a falta.
d) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em
razão de preferências pragmáticas.
e) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com
o fato de que a natureza é que nos torna mais perfeitos.

Gabarito
1-C; 2-B; 3-C; 4-A; 5-E; 6-B; 7-C; 8-B; 9-B; 10-A

29
AULA Filosofia medieval
5
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

Durante o período que corresponde ao Império Ro-


mano e à Idade Média, a filosofia sofreu um processo 1. Agostinho (354-430 d.C.)
de reclusão ao acesso popular, estando cada vez mais Com Agostinho – figura mundana que, já adulto, se con-
reservada a poucos nichos intelectuais. Desse modo, verteu de livre vontade para o mundo espiritual –, a filo-
entre os séculos V e XV, a filosofia e a religião estive- sofia se mesclou com o cristianismo. Aurelius Augustinus
ram interligadas intimamente, tendo diversas correntes nasceu em Tagaste, atual Argélia, região que fazia parte do
filosófico-católicas que monopolizaram o conhecimento Império Romano.
nesse período.

Tendo imensa influência dos neoplatônicos – uma es-


Durante o período medieval, a filosofia cola filosófica com doutrina platônica –, Agostinho pro-
permaneceu no crivo da Igreja católica.
pôs uma conciliação entre fé e razão. Com a dualidade
platônica, o pensador medieval ressaltou que o conhe-
cimento se consolida quando o homem tem acesso ao
eterno, ao divino, ou seja, tem acesso ao mundo inteli-
gível platônico.

multimídia: livro
Filosofia medieval
STORCK, Alfredo de. São Paulo: Jorge Zahar
Editor, 2003.
Esse livro oferece um panorama da filosofia
no período medieval e analisa sua trans- multimídia: vídeo
missão, principais características e formas
Fonte: Youtube
literárias de expressão, mostrando que ela
não se resume à filosofia cristã. Quem foi Agostinho?

30
Para o pensador, Deus é eterno, portanto, está fora do É desta Cidade da Terra que surgem os inimigos dos
tempo; porém, para o homem, o tempo começou quando quais tem que ser defendida a cidade de Deus. Mui-
o mundo foi criado, enquanto para Deus, sempre existiu, tos deles, afastando-se dos seus erros de impiedade,
tornaram-se cidadãos bastante idôneos da Cidade
num eterno presente.
de Deus. Mas muitos outros ardem em tamanho ódio
Com o intuito de ilustrar esse procedimento, Agostinho contra ela e são tão ingratos aos manifestos benefí-
propôs uma cidade de Deus, feita com as virtudes do cios do Redentor, que hoje não moveriam contra Ele a
sua língua senão porque encontraram nos seus lugares
homem, e uma cidade do Diabo, constituída pelos vícios
sagrados, ao fugirem das armas inimigas, a salvação
do ser humano. Essa ideia está contida em sua obra mais da vida de que agora tanto se orgulham. Não são na
famosa, intitulada A cidade de Deus. Nesse instante, o fi- verdade estes romanos encarniçados contra o nome de
lósofo direciona os hábitos das pessoas, com o intuito de Cristo aqueles a quem os bárbaros pouparam a vida
conseguir a iluminação divina, isto é, ter acesso ao mundo por amor de Cristo? Disto dão testemunho os santuá-
inteligível platônico. rios dos mártires e as basílicas dos Apóstolos que aco-
lheram quantos aí se refugiaram, tanto cristãos como
estranhos, durante a devastação da Urbe l.
AGOSTINHO
A cidade de Deus. Lisboa: Calouste Gulbelkian, 1996, p. 99.

1.1. Patrística
A patrística é a doutrina religiosa elaborada pelos pais
ou padres da Igreja (por isso o nome), nos séculos II ao
VIII, que tinha como objetivo ordenar as verdades da fé,
para defender-se dos ataques dos hereges. Para conso-
lidar o dogma religioso, tem uma construção lógica das
ideias. Os inúmeros textos dessa doutrina almejavam
Ilustração do livro A cidade de Deus, de Agostinho orientar as ações dos indivíduos de dentro e de fora dos
muros da Igreja católica.
Essa cidade de Deus só pode ser conhecida através da
autoridade infalível da Igreja. Assim, Agostinho comenta
que o Estado deve subjugar-se ao poder do clero, demons-
trando que o ser humano pode atingir o entendimento
2. Pedro Abelardo (1079-1142)
mediante as leituras das Escrituras Sagradas, fato este que Na Idade Média, significou uma mudança do pensamen-
propicia a esse indivíduo a felicidade. Entretanto, nem to- to dos dominantes, seguiu-se o ideal de ora et labora
dos os homens recebem a graça das mãos de Deus, sendo (reza e trabalha). Assim, iniciou-se a “querela dos univer-
que somente alguns são predestinados à salvação. Agosti- sais”, a qual discutia a relação entre o nome e a coisa, a
nho se tornou o principal filósofo da patrística. linguagem e a realidade.

2.1. O nome da rosa


A palavra “rosa” pode sobreviver à morte ou ao desapare-
cimento da própria rosa; então, a palavra fala até de coisas
inexistentes. Como podemos entender isso? Nesse instan-
te, acontece uma questão ou querela de como os nomes
dos objetos não estão atrelados com os objetos. Os nomes
são elementos arbitrários que rotulam as coisas, não tendo
nenhuma relação direta com o próprio objeto. Um exemplo
disso são os nossos nomes de batismo, que foram escolhi-
multimídia: vídeo dos por outras pessoas, de forma arbitrária.

Fonte: Youtube Segundo Pedro Abelardo, os universais só existem no


Tarde te amei intelecto, mas, ao mesmo tempo, mantêm relação com
as coisas particulares, à medida que lhes dão significa-
Oração extraída das Confissões de Santo Agosti-
nho, X Livro, 38. do. Desse modo, é como significado que os universais
subsistem às coisas.

31
Em sua Summa contra gentilles, Aquino propõe-se a provar
para um não cristão, mediante um raciocínio natural, a im-
portância do cristianismo e a existência de Deus. Essa obra
é considerada um manual de teologia destinado a conver-
ter os muçulmanos, evitando, assim, o avanço do islã.
O intelecto humano, que das coisas sensíveis recebe o
conhecimento que é conatural, para intuir em si mes-
mo a essência divina, que transcende infinitamente
todas as coisas sensíveis, e até todos os entes, por
si mesmo não é capaz de atingir a essência divina.
Como, no entanto, o bem perfeito do homem consiste
em conhecer a Deus de algum modo, e para que uma
tão nobre criatura não fosse considerada totalmente
vã por não poder atingir o seu fim, foi-lhe dado um
caminho pelo qual pudesse elevar-se ao conhecimen-
Sua obra mais conhecida é Sic et Non (Sim e Não), a qual to de Deus, a saber: como todas as perfeições das
revitaliza a dialética, afirmando que esse processo era a coisas descem de Deus ordenadamente, de Deus que
via para a verdade e fazia bem à mente. Ficou famoso por é o vértice supremo de todas elas, também o homem,
partindo das coisas inferiores e subindo gradativa-
seu caso de amor com Heloísa, e acabou sendo castrado
mente, deve progredir no conhecimento de Deus, pois
como penalidade. também nos movimentos corpóreos há o caminho
pelo qual se desce e o caminho pelo qual se sobe,

3. Tomás de Aquino (1226-1274) distintos em razão do princípio e do fim.


TOMÁS DE AQUINO
Com Tomás de Aquino, existe um domínio comum à razão Suma contra os gentios. Porto Alegre: Sulina, 1990, p. 689.
e à fé. Diante de uma forte influência de Aristóteles, buscou

4. Escolástica
organizar todos os ramos do conhecimento em um sistema
completo. Foi um dos principais representantes da escolás-
tica, uma das escolas medievais. A escolástica foi o método utilizado nos recintos educacio-
nais da Idade Média, durante o século XI, principalmente
nas universidades. Seguindo um modelo romano de ensi-
no, eram ensinadas Gramática, Retórica, Dialética, Geome-
tria, Aritmética, Astronomia e Música.

A influência do aristotelismo na escolástica adentra no sé-


culo XII, salientando a concepção de divisão de matérias,
em que existem diversos tipos de conhecimento.

O pensamento de Aquino procura apresentar o equilíbrio


entre a fé e a razão. Para ele, quando há algum desacordo,
a razão é sempre o elemento que se apresenta em equívo-
co, pois a razão que se excede torna-se indiscreta e invade
o terreno exclusivo da fé, que são os mistérios divinos –
fato que provoca, devido à desconfiança, a impossibilidade
de demonstrar a existência de Deus. Tomás de Aquino será multimídia: vídeo
o representante máximo da escolástica. Fonte: Youtube
Com isso, o seu pensamento assumiu a condição de dou- Filosofia Medieval
trina oficial do catolicismo. O doctor angelicus acabou Agostinho e Tomás de Aquino
canonizado em 1323.

32
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A relação que a instituição religiosa teve com seus seguidores, orientando as ações e os seus hábitos, principalmente
a Igreja católica, teve uma influência gigantesca dos pensadores, com o intuito de orientar, criar normativas que não
contradissessem com o documento sagrado, além de propiciar aos seguidores uma confiança na palavra passada.
Aqui, vemos uma nítida interligação com a estrutura lógica da escrita, a fim de não causar uma invalidade nas prop-
osições apresentadas – conjunto com o domínio de um grupo perante outro, papel analisado com a sociologia, e sem
contar a ligação histórica dos fatos tratados.

33
DIAGRAMA DE IDEIAS

FILOSOFIA
MEDIEVAL

A RAZÃO ESTÁ
SUBORDINADA AOS
PRECEITOS DA FÉ

TOMÁS DE
AGOSTINHO
AQUINO
PEDRO
ABELARDO

INFLUÊNCIA ARIS-
INFLUÊNCIA TOTÉLICA
PLATÔNICA O NOME NÃO ESTÁ
ASSOCIADO
AO OBJETO
A FÉ NUNCA PODE
A ILUMINAÇÃO SER QUESTIONADA
HUMANA FAZ PELO
CONTATO DIVINO

A RAZÃO PODE SER


DEPENDENDO DE QUESTIONADA
NOSSAS AÇÕES
NO MUNDO

É PRECISO
DIVULGAR O
PENSAMENTO
MORAREMOS
CRISTÃO
DEPOIS DA VIDA

OU NA
CIDADE DE DEUS EVITANDO
O AVANÇO
MUÇULMANO
OU NA NA EUROPA
CIDADE DO DIABO

34
Aplicando para ao exercício de uma razão que se torna mais segura e
perspicaz com o apoio que recebe da fé.”

Aprender (A.P.A.) Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides et Ratio aos bispos da
Igreja católica sobre as relações entre fé e razão. 1998.
1. (Enem) Não é verdade que estão ainda cheios de “As verdades da razão natural não contradizem as verda-
velhice espiritual aqueles que nos dizem: “Que fazia
des da fé cristã.”
Deus antes de criar o céu e a terra? Se estava ocioso e
nada realizava”, dizem eles, “por que não ficou sem- Santo Tomás de Aquino (pensador medieval)
pre assim no decurso dos séculos, abstendo-se, como
Refletindo sobre os textos, pode-se concluir que
antes, de toda ação? Se existiu em Deus um novo mo-
vimento, uma vontade nova para dar o ser a criaturas a) a encíclica papal está em contradição com o pen-
que nunca antes criara, como pode haver verdadeira samento de santo Tomás de Aquino, refletindo a dife-
eternidade, se n’Ele aparece uma vontade que antes rença de épocas.
não existia?” b) a encíclica papal procura complementar santo To-
más de Aquino, pois este colocava a razão natural
AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
acima da fé.
A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor, c) a Igreja medieval valorizava a razão mais do que a
é um exemplo de reflexão filosófica sobre a(s) encíclica de João Paulo II.
a) essência da ética cristã. d) o pensamento teológico teve sua importância na
Idade Média, mas, em nossos dias, não tem relação
b) natureza universal da tradição.
com o pensamento filosófico.
c) certezas inabaláveis da experiência.
e) tanto a encíclica papal como a frase de santo To-
d) abrangência da compreensão humana. más de Aquino procuram conciliar os pensamentos
e) interpretações da realidade circundante. sobre fé e razão.
2. (Enem) Se os nossos adversários, que admitem a exis- 5. (UFF) A grande contribuição de Tomás de Aquino para
tência de uma natureza não criada por Deus, o Sumo a vida intelectual foi a de valorizar a inteligência huma-
Bem, quisessem admitir que essas considerações estão na e sua capacidade de alcançar a verdade por meio da
certas, deixariam de proferir tantas blasfêmias, como a razão natural, inclusive a respeito de certas questões da
de atribuir a Deus tanto a autoria dos bens quanto dos religião. Discorrendo sobre a “possibilidade de descobrir
males, pois sendo Ele fonte suprema de Bondade, nunca a verdade divina”, ele diz que há duas modalidades de
poderia ter criado aquilo que é contrário à sua natureza. verdade acerca de Deus. A primeira refere-se a verdades
AGOSTINHO. A natureza do Bem. Rio de da revelação que a razão humana não consegue alcan-
Janeiro: Sétimo Selo, 2005 (adaptado). çar, por exemplo, entender como é possível Deus ser uno
e trino. A segunda modalidade é composta de verdades
Para Agostinho, não se deve atribuir a Deus a origem que a razão pode atingir, por exemplo, que Deus existe.
do mal porque
A partir dessa citação, indique a afirmativa que melhor
a) o surgimento do mal é anterior à existência de Deus.
expressa o pensamento de Tomás de Aquino.
b) o mal, enquanto princípio ontológico, independe
de Deus. a) A fé é o único meio do ser humano chegar à verdade.
c) Deus apenas transforma a matéria, que é, por na- b) O ser humano só alcança o conhecimento graças à
tureza, má. revelação da verdade que Deus lhe concede.
d) por ser bom, Deus não pode criar o que lhe é opos- c) Mesmo limitada, a razão humana é capaz de alcan-
to, o mal. çar certas verdades por seus meios naturais.
e) Deus se limita a administrar a dialética existente d) A Filosofia é capaz de alcançar todas as verdades
entre o bem e o mal. acerca de Deus.
e) Deus é um ser absolutamente misterioso e o ser
3. Pedro Abelardo foi um filósofo medieval que parti- humano nada pode conhecer d’Ele.
cipou de uma acirrada disputa filosófica no século XII.
Essa disputa centrava-se sobre: 6. (UFU) A filosofia de Agostinho (354-430) é estreita-
a) a existência de Deus. mente devedora do platonismo cristão milanês: foi nas
b) o predomínio da fé sobre a razão. traduções de Mário Vitorino que leu os textos de Ploti-
c) a questão da existência dos universais. no e de Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximá-lo
do cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio, influen-
d) a presença do mal no mundo.
ciados por Plotino, que Agostinho venceu suas últimas
e) a morte da alma.
resistências (de tornar-se cristão).
4. (Enem) “(...) de modo particular, quero encorajar os PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental.
crentes empenhados no campo da filosofia para que ilu- In: CHÂTELET, François (Org.). A Filosofia medieval.
minem os diversos âmbitos da atividade humana, graças Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983, p. 77.

35
Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Platão, I. O apogeu da patrística aconteceu no século XIII com
por meio dos escritos de Plotino, o pensamento de Agos- santo Tomás de Aquino (1225-1274), que, retomando o
tinho apresenta muitas diferenças se comparado ao pen- pensamento de Platão, fez a síntese mais bem elaborada
samento de Platão. Assinale a alternativa que apresenta,
corretamente, uma dessas diferenças.
da filosofia com o cristianismo durante a Idade Média.
a) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o co- II. O pensamento filosófico medieval, a partir do século IX,
nhecimento verdadeiro, enquanto, para Platão, a ver- é chamado de escolástica. A filosofia escolástica tinha por
dade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano. problema fundamental levar o homem a compreender a
b) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mun- verdade revelada pelo exercício da razão, contudo apoiado
do das ideias, enquanto para Agostinho não existe nenhu- na Auctoritas, seja da Bíblia, seja de um padre da Igreja.
ma realidade além do mundo natural em que vivemos.
c) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para III. Para os nominalistas, o universal é apenas um conteúdo
Platão a alma não é imortal, já que é apenas a forma da nossa mente, expresso por um nome. O que significa
do corpo. dizer que os universais são apenas palavras, sem nenhuma
d) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, remi- realidade específica correspondente.
niscência, a alma reconhece as ideias que ela con-
templou antes de nascer; Agostinho diz que o conhe- IV. No conceitualismo de Pedro Abelardo, os universais são
cimento é resultado da Iluminação divina, a centelha conceitos, entidades mentais, que não existem na realida-
de Deus que existe em cada um. de, nem são meros nomes.
7. (Unesp) A vida cultural europeia, na Baixa Idade Média V. De acordo com a teoria da iluminação de santo Agos-
(dos séculos XI ao XV), pode ser caracterizada pelo(a): tinho, o ser humano recebe de Deus o conhecimento das
a) esforço de Ptolomeu para estruturar os conceitos verdades eternas. Tal como o sol, Deus ilumina a razão e
geográficos. torna possível o pensar correto.
b) multiplicação das universidades e difusão da ar-
quitetura gótica. Em verdade, santo Agostinho não conflita a fé com a ra-
c) deslocamento, de Córdoba para Paris, do centro de zão, sendo esta última auxiliar e subordinada da fé. Assi-
gravidade da cultura muçulmana. nale a alternativa que contém as afirmativas verdadeiras.
d) difusão do dogma escolástico baseado na negação a) I, II e III.
da união entre a fé e a razão para a busca da verdade. b) I, III e V.
e) decadência do ensino urbano seguido de sua c) II e V.
ruralização. d) I, II e IV.
8. Para Tomás de Aquino, filosofia e teologia são ciên- e) II, III, IV e V.
cias distintas porque: 10. (ESPM) No século XIII, surgiu a escolástica, corren-
a) a filosofia se funda no exercício da razão humana te filosófica que, a partir de então, dominou o pensa-
e a teologia na revelação divina. mento medieval.
b) a filosofia é uma ciência complementar à teologia.
AQUINO, Rubim Santos Leão de. História das sociedades:
c) a filosofia nos traz a compreensão da verdade que das comunidades primitivas às sociedades medievais.
será comprovada pela teologia.
d) a revelação é critério de verdade, por isso não se A escolástica:
pode filosofar. a) teve em santo Agostinho seu maior expoente e era
e) a teologia é a mãe de todas as ciências e a filo- teocêntrica.
sofia serve apenas para explicar pontos de menor b) teve em Alberto Magno seu maior expoente e re-
importância. futava o teocentrismo, pregando o antropocentrismo.
c) teve em Tomás de Aquino seu principal expoente
9. Durante a Idade Média, a questão dos universais foi
e foi uma tentativa de harmonizar a razão com a fé.
um dos grandes problemas debatidos pelos filósofos da
d) considerava que a razão podia proporcionar uma vi-
época. Realismo, conceitualismo e nominalismo foram
são completa e unificada da natureza ou da sociedade.
as soluções típicas do problema.
e) pregava o recurso racional da força, sendo este mais
Outra preocupação da época foi o da possibilidade ou importante do que o exercício da virtude ou da fé.
impossibilidade de conciliar fé e razão. Santo Agosti-
nho, sobre a relação fé e razão, protagonizou uma tese
que se pode resumir na frase Credo ut intelligam (Creio
para entender).
Gabarito
1-D; 2-D; 3-C; 4-E; 5-C; 6-D; 7-B; 8-A; 9-E; 10-C
A partir dos seus conhecimentos sobre a questão dos
universais e da filosofia medieval, identifique as propo-
sições verdadeiras.

36
AULA Filosofia política
6
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

Diante das transformações sociais e políticas que a Europa


passava durante a Baixa Idade Média – conjunto com os
ideais e as ações do Renascimento Cultural, que privilegia
o ser humano e as suas próprias criações –, emerge um
novo ramo na área da filosofia – a filosofia política –, que
se debruça perante os limites e a organização do Estado
frente ao indivíduo. O termo “política” já existia na polis
grega; porém, essa nova concepção representa um novo
olhar perante as relações da sociedade. Os pensadores com
maior destaque nessa área foram Maquiavel e Hobbes.
multimídia: livro
O príncipe
MAQUIAVEL, Nicolau. São Paulo: Editora
34, 2017.

Tendo uma experiência de análise histórica, em conjunto


com uma orientação de valorização do governante, Ma-
quiavel tem a preocupação de saber como os governantes
agem de fato e como essas atitudes podem garantir ou
1. Nicolau Maquiavel (1469-1527) não a sua permanência no poder.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Estátua de Maquiavel, de Lorenzo Bartolini, na
Galleria Degli Uffizi, em Florença O príncipe, de Maquiavel, com o historiador da
Unicamp José Alves de Freitas Neto
O filósofo da região de Florença é considerado um teórico
da política. Com uma observação perspicaz da história dos
governos, Maquiavel analisa as atitudes dos governantes e
como esse Estado é organizado. 1.1. A estrutura do poder para Maquiavel
Em sua obra mais conhecida, O príncipe (1513), Maquiavel O poder, segundo Maquiavel, foi adquirido pelo uso da
tinha como pretensão propiciar a união das províncias ita- força excessiva ou pela herança. Entretanto, não significa
lianas, para garantir a paz nessas terras. que esse poder ficará eternamente para esse ser, pois o

37
que vai garantir tal poder são suas ações no agrupamento
social. Desse modo, o principal objetivo desse governante
é perpetuar-se no poder.
Assim, para o pensador, a figura mais importante dessa
sociedade é o governante. Isso ocorre, pois esse indivíduo
possui algo que poucos têm: a virtù.
A virtù representa as qualidades que esse indivíduo terá
em determinadas situações, sendo ações ou atitudes que
devem ser tomadas rápidas, sem prejuízos ao seu maior
objetivo, sem precisar seguir qualquer moral religiosa.
multimídia: livro
Só que esse governante também precisa ter ao seu favor
a fortuna, ou seja, a sorte, de modo que ele não pode, de
forma alguma, renegar as situações de sorte que podem O príncipe (em quadrinhos)
surgir em seu caminho. Assim, para conseguir perpetuar-se Maquiavel. Roteiro de André Diniz. São
no poder, o bom governante precisa, necessariamente, unir Paulo: Escala, 2008.
a virtù e a fortuna.
A obra do filósofo Maquiavel foi adaptada
em quadrinhos.

Origina-se aí a questão aqui discutida: se é preferível ser


amado ou temido. Responder-se-á que se preferiria uma
e outra coisa; porém, como é difícil unir, a um só tem-
po, as qualidades que promovem aqueles resultados, é
muito mais seguro ser temido do que amado, quando
se veja obrigado a falhar numa das duas. Os homens
costumam ser ingratos, volúveis, dissimulados, covardes
e ambiciosos de dinheiro; enquanto lhes proporcionas
benefícios, todos estão contigo, oferecem-te sangue,
multimídia: vídeo bens, vida, filhos, como se disse antes, desde que a ne-
cessidade dessas coisas esteja bem distante.
Fonte: Youtube
NICOLAU MAQUIAVEL
Maquiavel, com o professor da USP Renato O príncipe. São Paulo: Coleção “Os Pensadores”, 1999, p. 106.
Janine Ribeiro

2. Thomas Hobbes (1588-1679)

O filósofo inglês Thomas Hobbes explanou a sua teoria


sobre a formação da sociedade. Foi um pensador jusna-
turalista, isto é, acreditava que os princípios e direitos dos
homens têm-se como ideia universal e imutável de justiça.
Hobbes foi uma das bases filosóficas para a consolidação
Maquiavel, pintura de Santi di Tito, século XV do absolutismo europeu.

38
Em seu livro O leviatã (1651), ele pretende compreender num monstro com poderes ilimitados. Aqui, Hobbes compa-
a formação da sociedade. Segundo o filósofo, no início, ra esse governante incontrolável, tendo o aval das leis cria-
os homens viviam no Estado de natureza, onde os seres das por ele próprio, com o monstro que dá título à sua obra,
sobrevivem num conflito de todos contra todos, onde a re- o leviatã (um peixe feroz citado no Antigo Testamento), que
gra máxima era a lei da sobrevivência. Nesse instante, a deve concentrar todo o poder em torno de si, para, assim,
competição entre os indivíduos fazia com que a paz ficasse ordenar todas as decisões da sociedade. Isso prejudica com-
cada vez mais longe do convívio humano. pletamente a consolidação do pacto social, perdendo com
isso o objetivo de preservação da paz entre os homens.
Para romper essa situação de guerra, os homens decidem
sair do estado de natureza e partir para a sociedade civil,
criando um pacto social entre os integrantes dessa comuni-
dade, visando à tranquilidade e à paz. O que fundamentará
esse pacto é o temor da morte, ou seja, visando a uma
preservação da vida, os integrantes do grupo decidem ce-
der suas forças (ou armas) para um líder soberano, que de-
veria cumprir com alguns deveres, como trazer a paz para
o grupo e o bem comum. Diante desse pacto, os homens
não devem se rebelar contra o governante escolhido, com
a intenção de fomentar a tranquilidade desejada.
multimídia: música
Fonte: Youtube
O lobo
Pitty. Admirável Chip Novo, DeckDisc, 2003.
Com uma nítida influência da filosofia de
Hobbes, a cantora Pitty apresenta como a
competição do homem pelo homem está
contida na sociedade.

multimídia: vídeo Diz-se que um Estado foi instituído quando uma mul-
tidão de homens concordam e pactuam, cada um com
Fonte: Youtube cada um dos outros, que a qualquer homem ou assem-
bleia de homens a quem seja atribuído pela maioria o
O leviatã, de Thomas Hobbes, por Yara Frateschi
direito de representar a pessoa de todos eles (ou seja,
de ser seu representante ), todos sem exceção, tanto os
que votaram a favor dele como os que votaram contra
2.1. O leviatã: o perigo do monstro ele, deverão autorizar todos os atos e decisões desse
homem ou assembleia de homens, tal como se fossem
Hobbes aponta que, nessa sociedade civil construída pelas
seus próprios atos e decisões, a fim de viverem em paz
ações humanas, insurge um líder supremo que precisa uti- uns com os outro e serem protegidos dos restantes ho-
lizar-se da força para se manter no poder. mens. É desta instituição do Estado que derivam todos
os direitos e faculdades daquele ou daqueles a quem o
poder soberano é conferido mediante o consentimento
do povo reunido. (...)
Pois uma doutrina contrária à paz não pode ser verda-
deira, tal como a paz e a concórdia não podem ser con-
trárias à lei da natureza. É certo que, num Estado onde,
devido à negligência ou incapacidade dos governantes
e dos mestres, venham a ser geralmente aceites falsas
doutrinas, as verdades contrárias podem ser geralmen-
te ofensivas. Mas mesmo a mais brusca e repentina
irrupção de uma nova verdade nunca vem quebrantar
O problema apontado nesse momento é que, tendo o poder
a paz: pode apenas às vezes despertar a guerra. Por-
legal nas mãos, o governante, se não tiver destreza, inclina- que aqueles que são tão desleixadamente governados
rá para um poder incontrolável, absoluto, transformando-se que chegam a ousar pegar em armas para defender

39
ou impor uma opinião, esses se encontram ainda em
condição de guerra. Sua situação não é a paz, mas
apenas uma suspensão de hostilidades por medo uns
aos outros. É como se vivessem continuamente num
prelúdio de batalha. Portanto compete ao detentor do
poder soberano ser o juiz, ou constituir todos os juízes
de opiniões e doutrinas, como uma coisa necessária
para a paz, evitando assim a discórdia e a guerra civil.
THOMAS HOBBES
O leviatã

DIAGRAMA DE IDEIAS

FILOSOFIA
POLÍTICA

MAQUIAVEL HOBBES

O GOVERNANTE A MONARQUIA
É A FIGURA É O MELHOR
IMPORTANTE DA SISTEMA POLÍTICO
SOCIEDADE

O ESTADO CIVIL
PRECISA TOMAR EVITA A MATANÇA
DECISÕES DE TODOS CONTRA
TODOS

O PRÍNCIPE É UM
SER COM VIRTÚ E PORÉM,
COM FORTUNA O PODER ABSOLUTO
PODE GERAR UM
MONSTRO SEM
LIMITES

40
Aplicando para d) naturalmente racional, vivendo em um estado
pré-social e portando seus direitos naturais.

Aprender (A.P.A.) e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas


com seus pares.
1. (UEL) A República de Veneza e o Ducado de Milão ao 3. (UFU) Em seus estudos sobre o Estado, Maquiavel bus-
norte, o reino de Nápoles ao sul, os Estados papais e a ca decifrar o que diz ser uma verità effettuale, a “ver-
república de Florença no centro formavam ao final do dade efetiva” das coisas que permeiam os movimentos
século XV o que se pode chamar de mosaico da Itália su- da multifacetada história humana/política através dos
jeita a constantes invasões estrangeiras e conflitos inter- tempos. Segundo ele, há certos traços humanos comuns
nos. Nesse cenário, o florentino Maquiavel desenvolveu e imutáveis no decorrer daquela história. Afirma, por
reflexões sobre como aplacar o caos e instaurar a ordem exemplo, que os homens são “ingratos, volúveis, simu-
necessária para a unificação e a regeneração da Itália. ladores, covardes ante os perigos, ávidos de lucro”. (O
príncipe, cap. XVII)
SADEK, M.T. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o
intelectual de virtù. In: WEFORT, F.C. (Org.). Clássicos da Para Maquiavel:
política. V. 2. São Paulo: Ática, 2003. p. 11-24 (adaptado).
a) a “verdade efetiva” das coisas encontra-se em pla-
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filoso- no especulativo e, portanto, no “dever-ser”.
fia política de Maquiavel, assinale a alternativa correta. b) fazer política só é possível por meio de um moralis-
mo piedoso, que redime o homem em âmbito estatal.
a) A anarquia e a desordem no Estado são aplacadas
c) fortuna é poder cego, inabalável, fechado a qualquer
com a existência de um príncipe que age segundo a
influência, que distribui bens de forma indiscriminada.
moralidade convencional e cristã.
d) a virtù possibilita o domínio sobre a fortuna. Esta
b) A estabilidade do Estado resulta de ações humanas
é atraída pela coragem do homem que possui virtù.
concretas que pretendem evitar a barbárie, mesmo que
a realidade seja móvel e a ordem possa ser desfeita. 4. Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que
c) A história é compreendida como retilínea, portanto, o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo
a ordem é resultado necessário do desenvolvimento e acaso. Essa opinião é muito aceita em nossos dias, devi-
aprimoramento humano, sendo impossível que o caos do às grandes transformações ocorridas, e que ocorrem
se repita. diariamente, os quais escapam à conjectura humana.
d) A ordem na política é inevitável, uma vez que o Não obstante, para não ignorar inteiramente o nosso
âmbito dos assuntos humanos é resultante da mate- livre arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte de-
rialização de uma vontade superior e divina. cida metade dos nossos atos, mas [o livre arbítrio] nos
e) Há uma ordem natural e eterna em todas as ques- permite o controle sobre a outra metade.
tões humanas e em todo o fazer político, de modo
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado).
que a estabilidade e a certeza são constantes nessa
dimensão. Em O príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do
2. (Enem) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demons-
amado que temido ou temido que amado. Responde- tra o vínculo entre o seu pensamento político e o huma-
-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque nismo renascentista, ao:
é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos
amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos definidores do seu tempo.
homens se pode dizer, duma maneira geral, que são in- b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos.
gratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lu- c) afirmar a confiança na razão autônoma como fun-
cro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, damento da ação humana.
oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quan- d) romper com a tradição que valorizava o passado
do, como acima disse, o perigo está longe; mas quando como fonte de aprendizagem.
ele chega, revoltam-se. e) redefinir a ação política com base na unidade entre
fé e razão.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.
5. “Daqui nasce um dilema: é melhor ser amado que
A partir da análise histórica do comportamento huma- temido, ou o inverso? Respondo que seria preferível ser
no em suas relações sociais e políticas, Maquiavel defi- ambas as coisas, mas, como é muito difícil conciliá-las,
ne o homem como um ser parece-me muito mais seguro ser temido do que ama-
a) munido de virtude, com disposição nata a praticar do, se só se pode ser uma delas [...]”
o bem a si e aos outros.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Portugal:
b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para
Publicações Europa-América, 1976, p. 89.
alcançar êxito na política.
c) guiado por interesses, de modo que suas ações são A respeito do pensamento político de Maquiavel, é cor-
imprevisíveis e inconstantes. reto afirmar que:

41
a) mantinha uma nítida vinculação entre a política e d) a guerra de todos contra todos surge com o Estado
os princípios morais do cristianismo. repressor. O homem não deve se submeter de bom
b) apresentava uma clara defesa da representação grado à violência estatal.
popular e dos ideais democráticos.
8. (Unioeste) “Com isto se torna manifesto que, duran-
c) servia de base para a ofensiva da Igreja em con-
te o tempo em que os homens vivem sem um poder
fronto com os poderes civis na Itália.
comum capaz de os manter a todos em respeito, eles
d) sustentava que o objetivo de um governante era a
se encontram naquela condição que se chama guerra; e
conquista e a manutenção do poder.
uma guerra que é de todos os homens contra todos os
e) censurava qualquer tipo de ação violenta por parte homens. [...] E os pactos sem a espada não passam de
dos governantes contra seus súditos. palavras, sem força para dar segurança a ninguém. Por-
6. (Unesp) A China é a segunda maior economia do tanto, apesar das leis da natureza (que cada um respei-
mundo. Quer garantir a hegemonia no seu quintal, ta quando tem vontade de respeitá-las e quando pode
como fizeram os Estados Unidos no Caribe depois da fazê-lo com segurança), se não for instituído um poder
guerra civil. As Filipinas temem por um atol de rochas suficientemente grande para nossa segurança, cada um
desabitado que disputam com a China. O Japão está de confiará, e poderá legitimamente confiar apenas em
plantão por umas ilhotas de pedra e vento, que a China sua própria força e capacidade, como proteção contra
diz que lhe pertencem. Mesmo o Vietnã desconfia mais todos”. (Hobbes)
da China do que dos Estados Unidos. As autoridades
de Hanói gostam de lembrar que o gigante americano Considerando o texto citado e o pensamento político
invadiu o México uma vez. O gigante chinês invadiu o de Hobbes, seguem as afirmativas abaixo:
Vietnã dezessete.
I. A situação dos homens, sem um poder comum que os
PETRY, André. O século do Pacífico. Veja, 24.04.2013 (adaptado). mantenha em respeito, é de anarquia, geradora de insegu-
A persistência histórica dos conflitos geopolíticos des- rança, angústia e medo, pois os interesses egoísticos são
critos na reportagem pode ser filosoficamente compre- predominantes, e o homem é lobo para o homem.
endida pela teoria:
II. As consequências desse estado de guerra generalizada
a) iluminista, que preconiza a possibilidade de um es-
tado de emancipação racional da humanidade.
são as de que, no estado de natureza, não há lugar para a
b) maquiavélica, que postula o encontro da virtude indústria, para a agricultura nem navegação, e há prejuízo
com a fortuna como princípios básicos da geopolítica. para a ciência e para o conforto dos homens.
c) política de Rousseau, para quem a submissão à von- III. O medo da morte violenta e o desejo de paz com
tade geral é condição para experiências de liberdade.
segurança levam os indivíduos a estabelecerem entre
d) teológica de santo Agostinho, que considera que o
processo de iluminação divina afasta os homens do si um pacto de submissão para a instituição do estado
pecado. civil, abdicando de seus direitos naturais em favor do
e) política de Hobbes, que conceitua a competição e a des- soberano, cujo poder é limitado e revogável por causa
confiança como condições básicas da natureza humana. do direito à resistência que tem vigência no estado civil
7. (UFU) Porque as leis de natureza (como a justiça, a
assim instituído.
equidade, a modéstia, a piedade ou, em resumo, fazer IV. Apesar das leis da natureza, por não haver um poder
aos outros o que queremos que nos façam) por si mes-
comum que mantenha a todos em respeito, garantindo a
mas, na ausência do temor de algum poder capaz de le-
vá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões paz e a segurança, o estado de natureza é um estado de
naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, permanente temor e perigo da morte violenta, e “a vida do
o orgulho, a vingança e coisas semelhantes. homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta”.
HOBBES, Thomas. O leviatã. Cap. XVII. São V. O poder soberano instituído mediante o pacto de sub-
Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 103. missão é um poder limitado, restrito e revogável, pois no
Em relação ao papel do Estado, Hobbes considera que: estado civil permanecem em vigor os direitos naturais à
a) o seu poder deve ser parcial. O soberano que nasce vida, à liberdade e à propriedade, bem como o direito à
com o advento do contrato social deve assiná-lo, para resistência ao poder soberano.
submeter-se aos compromissos ali firmados.
Das afirmações acima:
b) a condição natural do homem é de guerra de todos
contra todos. Resolver tal condição é possível apenas a) somente a I está correta.
com um poder estatal pleno. b) somente a I e III estão corretas.
c) os homens são, por natureza, desiguais. Por isso, a c) somente a II e IV estão incorretas.
criação do Estado deve servir como instrumento de d) somente a III e V estão incorretas.
realização da isonomia entre tais homens. e) somente a II, III e IV estão corretas.

42
9. (Enem) A importância do argumento de Hobbes está
em parte no fato de que ele se ampara em suposições Gabarito
bastante plausíveis sobre as condições normais da vida
humana. Para exemplificar: o argumento não supõe
1-B; 2-C; 3-D; 4-C; 5-D; 6-E; 7-B; 8-D; 9-C; 10-B
que todos sejam de fato movidos por orgulho e vaida-
de para buscar o domínio sobre os outros; essa seria
uma suposição discutível que possibilitaria a conclusão
pretendida por Hobbes, mas de modo fácil demais. O
que torna o argumento assustador e lhe atribui impor-
tância e força dramática é que ele acredita que pesso-
as normais, até mesmo as mais agradáveis, podem ser
inadvertidamente lançadas nesse tipo de situação, que
resvalará, então, em um estado de guerra.
RAWLS, J. Conferências sobre a história da filosofia
política. São Paulo: WMF, 2012 (adaptado).

O texto apresenta uma concepção de filosofia política


conhecida como
a) alienação ideológica.
b) microfísica do poder.
c) estado de natureza.
d) contrato social.
e) vontade geral.

10. (UFPA) “Desta guerra de todos os homens contra to-


dos os homens também isto é consequência: que nada
pode ser injusto. As noções de bem e de mal, de justiça
e injustiça, não podem aí ter lugar. Onde não há poder
comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. Na
guerra, a força e a fraude são as duas virtudes cardeais.
A justiça e a injustiça não fazem parte das faculdades
do corpo ou do espírito.
Se assim fosse, poderiam existir num homem que es-
tivesse sozinho no mundo, do mesmo modo que seus
sentidos e paixões.”
HOBBES, O leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 77.

Quanto às justificativas de Hobbes sobre a justiça e a


injustiça como não pertencentes às faculdades do cor-
po e do espírito, considere as afirmativas:

I. Justiça e injustiça são qualidades que pertencem aos ho-


mens em sociedade, e não na solidão.
II. No estado de natureza, o homem é como um animal:
age por instinto, muito embora tenha a noção do que é
justo e injusto.
III. Só podemos falar em justiça e injustiça quando é insti-
tuído o poder do Estado.
IV. O juiz responsável por aplicar a lei não decide em confor-
midade com o poder soberano; ele favorece os mais fortes.
Estão corretas as afirmativas:
a) I e II.
b) I e III.
c) II e IV.
d) I, III e IV.
e) II, III e IV.

43
AULA Filosofia moderna
7
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. Erasmo de Rotterdam Embora os homens costumem ferir a minha reputação


e eu saiba muito bem quanto o meu nome soa mal aos

(1466-1536) ouvidos dos mais tolos, orgulho-me de vos dizer que


esta Loucura, sim, esta Loucura que estais vendo é a úni-
ca capaz de alegrar os deuses e os mortais. (...)
Nascido Herasmus Gerritzsoon, o pensador humanista ne- Todos sabem que a infância é a idade mais alegre e agra-
erlandês faz uma crítica mordaz e feroz sobre a insensibi- dável. Mas, que é que torna os meninos tão amados? Que
lidade dos detentores do poder, sobre a perda dos valores é que nos leva a beijá-los, abraçá-los e amá-los com tanta
da vida, com uma sátira da sociedade dos séculos XV e afeição? Ao ver esses pequenos inocentes, até um inimigo
se enternece e os socorre. Qual é a causa disso? É a natu-
XVI. Assim, ele redigiu o seu Elogio da Loucura.
reza, que, procedendo com sabedoria, deu às crianças um
certo ar de loucura, pelo qual elas obtêm a redução dos
castigos dos seus educadores e se tornam merecedoras
do afeto de quem as tem ao seu cuidado. Ama-se a pri-
meira juventude que se sucede à infância, sente-se prazer
em ser-lhe útil, iniciá-la, socorrê-la. Mas, de quem recebe
a meninice os seus atrativos? De quem, se não de mim,
que lhe concedo a graça de ser amalucada e, por conse-
guinte, de gozar e de brincar? Quero que me chamem de
mentirosa, se não for verdade que os jovens mudam in-
teiramente de caráter logo que principiam a ficar homens
e, orientados pelas lições e pela experiência do mundo,
entram na infeliz carreira da sabedoria.
Nesse caso, a Loucura é uma deusa que se apresenta ERASMO DE ROTTERDAM
como condutora das ações humanas, ou seja, a Loucura Elogio da Loucura
domina o mundo, do modo que a felicidade suprema do
homem está nas loucuras que comete. Com isso, Loucura
é o próprio mundo que o homem construiu, pois os seres
2. Michel de Montaigne
se tornam medíocres e hipócritas.
A crítica maior recai sobre a Igreja, sua hierarquia e suas
(1533-1592)
instituições. Assim, Erasmo propõe o retorno da Igreja à O filósofo francês Michel de Montaigne faz filosofia como
simplicidade dos tempos iniciais. Foi considerado o homem quem conversa com um amigo. Reintroduzindo a ideia de
mais erudito de sua época. investigação crítica permanente, concebeu uma nova ma-
neira de descobrir o conhecimento.
Com formação em Direito, acabou adentrando na política,
sendo prefeito de Bordeaux, entre 1580 e 1581. No fim
da vida, escolheu a reclusão, a fim de escrever a sua maior
obra, intitulada Ensaios, uma compilação de textos de di-
versas temáticas abordadas, que foi iniciada em 1572.

multimídia: livro
Elogio da loucura
Erasmo de Rotterdam. Porto Alegre: L&PM,
2013.

44
Em seu ensaio mais famoso, intitulado Dos canibais,
Montaigne apresenta uma crítica aos europeus, em re-
lação às práticas com os povos do Novo Mundo. Para o
filósofo, os povos ameríndios são menos bárbaros que
os europeus, apontando, pela primeira vez, um respeito
cultural a outros povos e demonstrando que a única dife-
rença entre os povos do Novo Mundo e os europeus era
que aqueles não usavam calças.
Analisa o cotidiano constituído por homens “estranhos”
e “absurdos”, mas também “milagres”. O homem é um
ser verdadeiro em sua contínua mutação; equívocas são as
teorias e as convenções sociais e políticas que pretendem
aprisioná-lo em uma única imagem.

multimídia: livro
Discurso do método & Ensaios
DESCARTES, René. São Paulo: Editora Unesp,
2018.

multimídia: vídeo O ceticismo cartesiano consiste numa formulação sistemá-


tica, em que não se trata mais de duvidar por duvidar, mas
Fonte: Youtube
de examinar criteriosamente todas as coisas, a fim de nelas
Montaigne descobrir elementos sobre os quais possa recair alguma sus-
Apresentação da filosofia
peita. A dúvida de Descartes é uma metódica, ou seja, con-
duzida por um método rigoroso. As regras são as seguintes:
Ora, eu acho, para retomar meu assunto, que não há nada
de bárbaro e selvagem nessa nação, pelo que dela me re- 1. Só aceitar ideias claras e definidas.
lataram, senão que cada um chama de bárbaro o que não 2. Dividir cada problema em tantas partes necessárias
é de seu uso – como, em verdade, não parece que tenha- à solução.
mos outro padrão de verdade e de razão que o exemplo
3. Ordenar os pensamentos do simples ao complexo.
e a ideia das opiniões e usanças do país de onde somos.
Lá sempre a religião perfeita, o regime político perfeito, o 4. Verificar exaustivamente se existe alguma falha.
emprego perfeito e acabado de todas as coisas. Eles são
selvagens do mesmo modo que chamamos de selvagens
os frutos que a natureza, de si e de seu curso ordinário,
produziu. Lá onde, na verdade, estão os que alteramos
por nosso artifício e desviamos da ordem comum, estão
os que deveríamos antes chamar de selvagens. Naqueles
estão vivas e vigorosas as verdadeiras e mais úteis e natu-
rais propriedades, as quais abastardamos nestes, apenas
acomodando-as ao prazer de nosso gosto corrompido.
MICHEL DE MONTAIGNE
Dos canibais. São Paulo: Alameda, 2009, p. 51-52.

3. René Descartes (1596-1650) multimídia: vídeo


O francês René Descartes é considerado o pai da filosofia Fonte: Youtube
moderna. Na intenção de encontrar a certeza de alguma Filosofia da Educação – Descartes
coisa, o filósofo utiliza a sua maior arma – a dúvida –,
procurando, assim, uma base de certeza em suas próprias Esse pensamento está contido no Discurso do método, a
faculdades racionais. qual nota-se o caminho intelectual de Descartes: o homem

45
deve desconfiar de seus sentidos, pois eles podem nos enga- Em seguida, era necessário comprovar a existência de
nar; diante da dúvida, posso desconfiar do que estou a fazer Deus, para garantir que nossas ideias claras e definidas
agora. Posso estar a sonhar ou, então, um gênio maligno são verdadeiras e que não estamos sendo iludidos por
poderia estar a me iludir. Diante disso, como posso encontrar um gênio maligno. Se Deus é perfeito por ter uma causa,
a verdade? Ademais, com todo esse ceticismo, Descartes, no- o homem, por possuir inúmeros defeitos, não pode ser
tou que o único momento a qual não pode duvidar é quan- essa causa. Assim, Deus deve ser a causa de nossa ideia
do pensa, mesmo que pense estar sonhando ou se iludindo. de perfeição dele.
Assim, se duvido, penso e, ao pensar, logo, existo.
Desse modo, os sentidos fornecem primeiro a existência do
corpo, porém, a razão evidencia antes a certeza do cogito.
Portanto, diante esse enorme poder da mente, os homens
se tornam “como que senhores e possuidores da natureza”.
As obras de Descartes são escritas em francês, rompendo com
a tradição medieval da língua latina nos textos filosóficos.
Porém, logo em seguida, percebi que, ao mesmo tempo
que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se ne-
cessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, ao
notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão
sólida e tão correta que as mais extravagantes suposi-
ções dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo,
multimídia: vídeo julguei que podia considerá-la, sem escrúpulo algum, o
primeiro princípio da filosofia que eu procurava.
Fonte: Youtube
Mais tarde, ao analisar com atenção o que eu era, e ven-
René Descartes – Penso, logo, existo do que podia presumir que não possuía corpo algum e
Vídeo explicativo sobre a teoria cartesiana na que não havia mundo algum, ou lugar onde eu existis-
área da filosofia se, mas que nem por isso podia supor que não existia;
e que, ao contrário, pelo fato mesmo de eu pensar em
duvidar da verdade das outras coisas, resultava com bas-
Com isso, Descartes supôs que a essência do ser era o tante evidência e certeza que eu existia (...).
pensamento, e que a mente era separada do corpo. Sur- RENÉ DESCARTES
Discurso do método. São Paulo: Coleção
gira, assim, o problema mente–corpo, a qual o corpo “Os Pensadores”, 1999, p. 62.
tinha os seus próprios princípios de movimento, agindo
de forma mecânica.

multimídia: música
Fonte: Youtube
Penso logo existo
Inquérito. Mudança. 2010
A banda de rap Inquérito apresenta o pensa-
mento cartesiano de reflexão como fórmula de
marcação do ser humano na sociedade, sendo
uma forma de resistência.

46
DIAGRAMA DE IDEIAS

FILOSOFIA
MODERNA

ERASMO DE
DESCARTES
ROTTERDAM
MONTAIGNE

CRÍTICA FEROZ A
CETICISMO EM
INSENSIBILIDADE
BUSCA DA VERDADE
DOS PODERES INVESTIGAÇÃO
CRÍTICA
PERMANENTE

A LOUCURA DÚVIDA METÓDICA


DOMINA AS AÇÕES
ANALISA O
HOMEM MEDIANTE
AS SUAS AÇÕES
PENSO, LOGO
TRAZENDO COISAS EXISTO
NOVAS

SEPARAÇÃO
MENTE-CORPO

A MENTE DOMINA
O CORPO

47
Aplicando para incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha
vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera
Aprender (A.P.A.) crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um
saber firme e inabalável.”
1. (UFRN) Erasmo de Roterdam, autor de Elogio da Lou- DESCARTES, René. Meditações concernentes à primeira
cura (1511), obra em que criticava valores dominantes na Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).
sociedade de seu tempo, assim escreveu:
Texto II
No presente, o homem se faz pela posse da razão. Se
as árvores e as bestas selvagens crescem, os homens, “É o caráter radical do que se procura que exige a radica-
creiam-me, moldam-se. [...] E aquele que não permite lização do próprio processo de busca. Se todo o espaço
que seu filho seja instruído de forma conveniente, não é for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a
homem, nem seu filho se tornará um homem. partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria
A natureza, ao dar-vos um filho, vos presenteia com uma
dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que
criatura rude, sem forma, a qual deveis moldar para que
se converta em um homem de verdade. foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.”
(SILVA, F.L. Descartes: a metafísica da modernidade.
Esse fragmento textual sugere a vinculação de Erasmo São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).
de Roterdam ao:
A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam
a) escolasticismo, que tentava conciliar as verdades da re-
que, para viabilizar a reconstrução radical do conheci-
velação com aquelas formuladas pela pesquisa empírica.
mento, deve-se
b) liberalismo, que pregava a necessidade de uma so-
ciedade em que os homens construíssem, livremente, a) retomar o método da tradição para edificar a ciên-
seu destino. cia com legitimidade.
c) renascimento, que valorizava a pessoa humana e b) questionar de forma ampla e profunda as antigas
acreditava no poder de suas capacidades intelectuais. ideias e concepções.
d) universalismo, que desejava descobrir leis que c) investigar os conteúdos da consciência dos homens
pudessem explicar, cientificamente, o mundo. menos esclarecidos.
d) buscar uma via para eliminar da memória saberes
2. (Unesp) Todas as coisas humanas têm dois aspectos (...) antigos e ultrapassados.
para dizer a verdade todo este mundo não é senão uma e) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dis-
sombra e uma aparência; mas esta grande e interminá- pensam ser questionados.
vel comédia não pode representar-se de um outro modo.
Tudo na vida é tão obscuro, tão diverso, tão oposto, que 4. (Unicamp) A dúvida é uma atitude que contribui para
não podemos nos assegurar de nenhuma verdade. o surgimento do pensamento filosófico moderno. Nes-
te comportamento, a verdade é atingida através da su-
Erasmo de Roterdã. Elogio da loucura. pressão provisória de todo conhecimento, que passa a
Erasmo de Roterdã foi um dos primeiros pensadores a ser considerado como mera opinião.
contribuir para o surgimento da modernidade. Nesse A dúvida metódica aguça o espírito crítico próprio
texto, de 1509, pode-se considerar moderno: da Filosofia.
a) o elogio da loucura, vista como uma forma sofisti- BORNHEIM, Gerd. Introdução ao filosofar. Porto
cada de sensibilidade. Alegre: Editora Globo, 1970, p. 11 (adaptado).
b) o caráter obscuro e sombrio da vida, na qual o ho-
mem deve mover-se pela fé. A partir do texto, é correto afirmar que:
c) a ausência de verdades absolutas, em contraste com a) a Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e
as verdades do clero. verdade são conceitos equivalentes.
d) a ideia de que o mundo é uma comédia, e nós ho- b) a dúvida é necessária para o pensamento filosófico,
mens devemos nos divertir. por ser espontânea e dispensar o rigor metodológico.
e) a ideia de que o mundo é aparência, mera represen- c) o espírito crítico é uma característica da Filosofia e
tação do plano divino. surge quando opiniões e verdades são coincidentes.
d) a dúvida, o questionamento rigoroso e o espírito críti-
3. (Enem) co são fundamentos do pensamento filosófico moderno.

Texto I 5. (Enem) Nunca nos tornaremos matemáticos, por


exemplo, embora nossa memória possua todas as de-
“Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus
monstrações feitas por outros, se nosso espírito não for
primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verda- capaz de resolver toda espécie de problemas; não nos
deiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios
tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo

48
sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pa- 9. (UEL) O principal problema de Descartes pode ser for-
receríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias. mulado do seguinte modo: “Como poderemos garantir
que o nosso conhecimento é absolutamente seguro?”
DESCARTES, René. Regras para a orientação do espírito.
Como o cético, ele parte da dúvida; mas, ao contrário
Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera do cético, não permanece nela. Na Meditação Terceira,
o conhecimento, de modo crítico, como resultado da Descartes afirma: “[...] engane-me quem puder, ainda
a) investigação de natureza empírica. assim jamais poderá fazer que eu nada seja enquanto
eu pensar que sou algo; ou que algum dia seja verdade
b) retomada da tradição intelectual.
eu não tenha jamais existido, sendo verdade agora que
c) imposição de valores ortodoxos.
eu existo [...]”
d) autonomia do sujeito pensante.
e) liberdade do agente moral. DESCARTES. René. Meditações metafísicas. Meditação Terceira. São
Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 182. Coleção “Os Pensadores”.
6. (UFSJ) Ao analisar o cogito ergo sum – “penso, logo,
existo”, de René Descartes, conclui-se que: Com base no enunciado e considerando o itinerário se-
a) o pensamento é algo mais certo que a própria guido por Descartes para fundamentar o conhecimento,
matéria corporal. é correto afirmar:
b) a subjetividade científica só pode ser pensada a a) Todas as coisas se equivalem, não podendo ser discer-
partir da aceitação de uma relação empírica fundada níveis pelos sentidos nem pela razão, já que ambos são fa-
em valores concretos. lhos e limitados, portanto, o conhecimento seguro detém-
c) o eu cartesiano é uma ideia emblemática e repre- -se nas opiniões que se apresentam certas e indubitáveis.
sentativa da ética que insurgia já no século XVI. b) O conhecimento seguro que resiste à dúvida apre-
d) ele consegue infirmar todos os sistemas científicos senta-se como algo relativo, tanto ao sujeito como às
e filosóficos ao lançar a dúvida sistemático-indutiva próprias coisas que são percebidas de acordo com as cir-
respaldada pelas ideias iluministas e métodos inci- cunstâncias em que ocorrem os fenômenos observados.
pientes da revolução científica. c) Pela dúvida metódica, reconhece-se a contingência do
7. (UFU) Em O discurso sobre o método, Descartes afirma: conhecimento, uma vez que somente as coisas percebidas
por meio da experiência sensível possuem existência real.
“Não se deve acatar nunca como verdadeiro aquilo que d) A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões
não se reconhece ser tal pela evidência, ou seja, evitar acu- que se pode observar no debate perpétuo e universal
radamente a precipitação e a prevenção, assim como nun- sobre o conhecimento das coisas, sendo a existência
ca se deve abranger entre nossos juízos aquilo que não se de Deus a única certeza que se pode alcançar.
apresente tão clara e distintamente à nossa inteligência a
e) A condição necessária para alcançar o conheci-
ponto de excluir qualquer possibilidade de dúvida.”
mento seguro consiste em submetê-lo sistematica-
REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia: do humanismo mente a todas as possibilidades de erro, de modo que
a Descartes. São Paulo: Paulus, 2004. p. 289.
ele resista à dúvida mais obstinada.
Após a leitura do texto acima, assinale a alternativa correta.
10. (Unioeste) Considerando-se as primeiras linhas das
a) A evidência, apesar de apreciada por Descartes, Meditações sobre a filosofia primeira, de René Descartes:
permanece uma noção indefinível.
b) A evidência é a primeira regra do método carte- “Há já algum tempo dei-me conta de que, desde meus
siano, mas não é o princípio metódico fundamental. primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões por
c) Ideias claras e distintas são o mesmo que ideias verdadeiras e de que aquilo que depois eu fundei so-
evidentes. bre princípios tão mal assegurados devia ser apenas
d) A evidência não é um princípio do método cartesiano. muito duvidoso e incerto; de modo que era preciso
tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-
8. (FGV) Erasmo de Rotterdam (1467-1536) foi um dos -me de todas as opiniões que recebera até então em
pensadores mais influentes de sua época, sobretudo minha crença e começar tudo novamente desde os
porque em sua obra Elogio da Loucura defendeu, entre fundamentos, se eu quisesse estabelecer alguma coisa
outros aspectos: de firme e de constante nas ciências. (...) Agora, pois,
a) a tolerância, a liberdade de pensamento e uma te- que meu espírito está livre de todas as preocupações e
ologia baseada exclusivamente nos Evangelhos. que obtive um repouso seguro numa solidão tranquila,
b) a restauração da teologia nos termos da ortodoxia aplicar-me-ei seriamente e com liberdade a destruir em
escolástica, na linha de Tomás de Aquino. geral todas as minhas antigas opiniões”.
c) a reforma eclesiástica da Igreja segundo a proposta
de Savonarola, conforme sua pregação em Florença. É correto afirmar, sobre a teoria do conhecimento
d) o comunismo dos bens, teoria que influenciaria o cartesiana, que:
pensamento de Rousseau no século XVIII. a) Descartes não utiliza um método ou uma estraté-
e) a supremacia da razão do Estado sobre as regras gia para estabelecer algo de firme e certo no conhe-
definidas nos princípios da moral cristã. cimento, já que suas opiniões antigas eram incertas.

49
b) Descartes considera que não é possível encontrar Seguindo a ordem das razões, serão submetidos à crítica
algo de firme e certo nas ciências, pois até então esse os fundamentos do conhecimento, partindo do sensível
objetivo não foi atingido. (argumento dos sentidos), passando pela imaginação (ar-
c) Descartes, ao rejeitar o que a tradição filosófica
gumento do sonho) e chegando às verdades matemáticas
considerou como conhecimento, busca fundamentar
nos sentidos uma base segura para as ciências. (argumento do deus enganador e do gênio maligno). Sen-
d) ao investigar uma base firme e indestrutível para o do metódica, a dúvida converter-se-á em universal, e se
conhecimento, Descartes inicia rejeitando suas anti- dela não resultar um princípio positivo para fundamentar o
gas opiniões e utiliza o método da dúvida até encon- sistema da ciência, pelo menos não se tomará por verda-
trar algo de firme e certo. deiro o que for dubitável.
e) Descartes necessitou de solidão para investigar as
suas antigas opiniões e encontrar entre elas aquela b) Para Descartes, o pensamento aparece como uma evi-
que seria o verdadeiro fundamento do conhecimento. dência, resultante como logicamente necessária, do mé-
todo da dúvida. O pensamento não é instituído pela uni-
11. (UEL) Mas há algum, não sei qual, enganador mui
versalização da dúvida, pois ele é a própria condição de
poderoso e mui ardiloso que emprega toda sua indús-
tria em enganar-me sempre. Não há, pois, dúvida algu- duvidar. Após estender a dúvida a todos os fundamentos
ma de que sou, se ele me engana; e, por mais que me do conhecimento, dos mais incertos aos mais aparente-
engane, não poderá jamais fazer com que eu nada seja, mente seguros, o pensamento surgirá como uma evidên-
enquanto eu pensar ser alguma coisa. De sorte que, cia, cuja certeza é tão irrefutável, que sequer o gênio ma-
após ter pensado bastante nisto e de ter examinado ligno poderá fazer com que eu nada seja, enquanto pensar
cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir
ser algo. A solidez desta certeza servirá de fundamento ao
e ter por constante que esta proposição, eu sou, eu exis-
to, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a sistema das ciências.
enuncio ou que a concebo em meu espírito. 12. Para Descartes, a forma tradicional de adquirir o co-
DESCARTES, René. Meditações. Coleção “Os Pensadores”. nhecimento não deveria mais se fundamentar, mas sim
São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 100. seguir um ceticismo metodológico, com o intuito de atin-
A partir do texto e dos conhecimentos acerca de Descartes: gir-se um saber universal e válido. O fundamento ma-
temático consolida o pensamento de Descartes, com a
a) apresente o propósito e os graus da dúvida metódica; e
lógica matemática, as análises e sua investigação, para
b) demonstre como Descartes descobre que o pensa-
mento é a verdade primeira. se atingir o verdadeiro conhecimento.

12. (Unesp) Para René Descartes, o que fundamenta o


método universal para conhecer o mundo é a reta ra-
zão, que pertence a todos os homens, sendo “a coisa
mais bem distribuída do mundo”. Mas o que é essa reta
razão? “A faculdade de julgar bem e distinguir o ver-
dadeiro do falso é propriamente aquilo que se chama
bom senso ou razão, que é naturalmente igual em todos
os homens”. A unidade das ciências remete à unidade
da razão. E a unidade da razão remete à unidade do
método. O saber deve basear-se na razão e repetir sua
clareza e distinção, que são os únicos pressupostos irre-
nunciáveis do novo saber.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História
da filosofia. 1990 (adaptado).

Com base no texto, justifique por que o método de Des-


cartes aspira à universalidade. Explique a importância
da matemática para a produção de conhecimentos do-
tados de clareza e distinção.

Gabarito
1-C; 2-C; 3-B; 4-D; 5-D; 6-A; 7-C; 8-A; 9-E; 10-D
11. a) Em Descartes, a dúvida expressa a tentativa de
estabelecer um princípio firme e constante nas ciências.

50
AULA Racionalistas
8
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. Baruch de Espinoza
(1632-1677)
O filósofo holandês Espinoza foi um dos grandes raciona-
listas do século XVII. Em sua obra Tratado teológico-políti-
co (1670), o filósofo submete o Velho Testamento a uma
rigorosa crítica, baseando-se numa análise gramatical da
língua hebraica e na história do povo judeu. A conclusão
foi que o conteúdo bíblico não se refere à verdade, mas
apenas estabelece preceitos de conduta para guiar os ho-
mens, o que reduz a nada todo o esforço da teologia.
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Baruch Espinoza
Baruch Spinoza foi um dos grandes raciona-
listas da Filosofia moderna. Nasceu na cidade
de Amsterdã, nos Países Baixos, em 1632, e
faleceu na cidade de Haia, em 1677. Ele cres-
ceu na Holanda, em família judia e foi criado
para se tornar um rabino. Naquela época, a
Holanda era um dos principais centros da li-
berdade intelectual na Europa, atraindo pen-
sadores como Descartes e Locke.

Por causa de seu pensamento perante a religião, Espino-


Segundo Espinoza, existe uma só substância, que é um za sofreu dois atentados à sua vida (sobreviveu a ambos),
princípio científico unificador, figurando-se em Deus ou sendo um deles realizado por um religioso extremista.
Natureza, do modo que a mente e a matéria são apenas Espinoza foi um daqueles raros filósofos que, além de
atributos da substância única. acreditar no que dizia, era fiel a seus princípios. Che-
Deus é a causa primeira e eficiente de todas as coisas, gou a recusar uma cátedra de Filosofia em Heidelberg,
porém, isso não significa que seja o criador, pois, sendo posição que, por ser oficial, implicava aceitar ideias e
limitações oficiais. Para a sua subsistência, trabalhava
Deus a única substância, nada pode existir fora dele. As-
com polimentos de lentes.
sim, Deus é a causa do mundo, mas o mundo existe em
Deus, que é, por isso, causa imanente, isto é, causa que
produz efeito em si mesma. Em outras palavras, Deus é 1.1. Definições de Espinoza
Natureza (Deus sive Natura). I. Por sua causa entendo aquilo cuja essência implica a exis-
A filosofia de Espinoza tinha como propósito esclarecer a tência e cuja natureza só pode ser concebida como existente.
identidade existente entre nossa mente e a natureza. Essa II. Diz-se finita no seu gênero uma coisa que pode ser
identidade só acontece, quando conhecemos a nós mes- limitada por uma outra da mesma natureza. Por exemplo,
mos e a própria natureza, como uma coisa una. Diante dizemos que um corpo é finito porque concebemos sem-
disso, o conhecimento da natureza se concretiza quando pre um outro maior. Do mesmo modo, um pensamento é
entendemos a essência dos objetos. limitado por um outro pensamento. Mas nem um corpo

51
pode ser limitado por um pensamento nem um pensa-
mento por um corpo. 2. Gottfried Wiljhelm
III. Por substância entendo aquilo que existe em si e por si Leibniz (1646-1716)
é concebido, isto é, aquilo cujo conceito, para ser formado,
O filósofo alemão Leibniz é uma figura central na história
não precisa do conceito de uma outra coisa.
da matemática e da filosofia, que concebeu as ideias de
IV. Por atributo entendo aquilo que o intelecto percebe cálculo diferencial e integral, sem sofrer influência dos es-
como a essência da substância. tudos de Isaac Newton.
V. Por modo entendo aquilo que existe em outra coisa pela
qual também é concebido.
VI. Por Deus entendo o ente absolutamente infinito, isto é,
uma substância que consta de infinitos atributos, cada um
dos quais exprime uma essência eterna e infinita.

Leibniz escreveu prodigiosamente sobre muitos temas das


áreas filosófica e matemática. O filósofo procurou a harmo-
nia entre elementos aparentemente díspares: o mundo na-
tural e o mundo moral; o corpo e a alma; Platão e Aristóteles.
Em sua maior obra filosófica intitulada Monadologia, o
pensador apresenta como a natureza é constituída, de
modo a salientar uma lógica racional. A força motora da
Estátua representado o filósofo holandês
natureza é acionada por Deus, que também está contida
na própria natureza.
Destinada aos homens livres, o filósofo trata também sobre
a Ética, obra escrita em axiomas, no ano de 1677. Para Es-
pinoza, o que os indivíduos pensam reflete diretamente na
sua maneira de viver, colhendo frutos positivos ou negati-
vos de suas ações. Seguindo uma lógica racional, o filósofo
tenta provar a natureza racional de Deus.
Qualquer coisa natural pode conceber-se adequada-
mente, quer exista ou não exista, pelo que o princípio
da existência das coisas naturais, tal como a sua per-
severança na existência, não pode concluir-se da sua
definição. Com efeito a sua essência ideal depois de co-
meçarem a existir é a mesma que era antes de existirem.
Por conseguinte, da mesma forma que o princípio da sua multimídia: vídeo
existência não pode ser consequência da sua essência,
assim também a sua perseverança na existência o não Fonte: Youtube
pode ser. Porém, para continuarem a existir precisam da Monadologia
mesma potência de que precisam para começar a existir. Leibniz foi um filósofo e matemático alemão,
De onde se segue que a potência pela qual as coisas na- nascido em 1646 e falecido em 1716. Ele
turais existem, e pela qual consequentemente operam, desenvolveu o cálculo integral e diferencial,
não pode ser nenhuma outra senão a própria potência
mais ou menos na mesma época que New-
eterna de Deus.
ton. Leibniz também foi contemporâneo de
BARUCH DE ESPINOZA Hobbes, Spinoza e Locke.
Tratado lógico-político. São Paulo: Martins Fontes, 2009, p. 11.

52
Segundo Leibniz, todos os elementos da natureza são com-
postos por mônadas (do grego monas, que significa “uni-
dade”, o que é uno), concebidas como verdadeiros átomos
da natureza, elementos das coisas, fechadas, sem janelas,
reguladas, em seu funcionamento pela harmonia preestabe-
lecida, de modo que, cada mônada é diferente e reflete o
universo inteiro; porém, não está no espaço e nem no tempo.
Cada elemento que existente no universo é composto por
inúmeras mônadas, da sendo que alguns possuem mais multimídia: livro
que outras. Deus, por exemplo, também é composto por
mônadas, sendo uma substância infinita, perfeita, criadora A monadologia e outros escritos
de todas as coisas e da harmonia preestabelecida. As mô-
LEIBNIZ, Gottfried. São Paulo: Hedra, 2008.
nadas que compõem Deus, criam as mônadas da natureza.
A Mônada de que vamos falar aqui não é outra coisa se-
não uma substância simples, que entra nos compostos;
simples, quer dizer, sem partes.
Teod. §10 [Discurso preliminar, §10]: “(...) há necessaria-
mente substâncias simples e sem extensão, espalhadas
por toda a natureza (...)”
E é preciso que haja substâncias simples, visto que há
compostos. Efetivamente, o composto não é outra coi-
sa senão uma amálgama (amas) ou aggregatum dos
simples.
Ora, onde não há partes, não há extensão, nem figu-
ra nem divisibilidade possível. E estas Mônadas são os multimídia: música
verdadeiros Átomos da Natureza e, numa palavra, os
Elementos das coisas. Fonte: Youtube
Gita
Também não há dissolução a temer, e não há nenhuma
maneira concebível pela qual uma substância simples Raul Seixas. Gita. Universal Music, 1974.
possa perecer naturalmente. Na canção de Raul Seixas, notamos a essência in-
GOTTFRIED LEIBNIZ direta da monadologia de Leibniz, em que os ele-
Monadologia. Lisboa: Edições Colibri, 2016, p. 39. mentos da criação estão em todos os elementos.

53
DIAGRAMA DE IDEIAS

RACIONALISTAS

ESPINOZA LEIBNIZ

EXISTE UMA A NATUREZA


DEUS É NATUREZA HARMONIA ENTRE É CONSTITUÍDA
ELEMENTOS POR MÔNADAS
DÍSPARES

TODAS AS MÔNADA
SUBSTÂNCIAS NO CORPO-ALMA =
MUNDO ESTÃO UNIDADE
INTERLIGADOS PLATÃO-ARISTÓTELES

DEUS TEM
TUDO É UM MÔNADAS
PERFEITAS

QUE GERAM AS
MÔNADAS
IMPERFEITAS DOS
SERES DA NATUREZA

54
Aplicando para 3. (UFPA) No contexto da cultura ocidental e na história
do pensamento político e filosófico, as considerações

Aprender (A.P.A.) sobre a necessidade de valores morais prévios na or-


ganização do Estado e das instituições sociais sempre
foi um tema fundamental devido à importância, para
1. (UEL) A ideia ilusória da vontade livre deriva de per- esse tipo de questão, dos conceitos de bem e de mal,
cepções inadequadas confusas; a liberdade, entendida indispensáveis à vida em comum. Diante desse fato da
corretamente, no entanto não é o estar livre da necessi- história do pensamento político e filosófico, a afirma-
dade, mas sim a consciência da necessidade. ção de Espinosa, segundo a qual “Se os homens nas-
SCRUTON, Roger. Espinosa. São Paulo: Unesp, 2000. p. 41. cessem livres, não formariam nenhum conceito de bem
e de mal, enquanto permanecessem livres” (ESPINOSA,
Com base no texto e nos conhecimentos sobre liberda- 1983, p. 264), quer dizer o seguinte:
de em Espinosa, considere as afirmativas a seguir.
a) O homem é, por instinto, moralmente livre, fato que
I. A liberdade identifica-se com escolha voluntária. condiciona sua ideia de ética social.
b) Assim como o indivíduo é anterior à sociedade, a
II. A liberdade significa a capacidade de agir espontanea- liberdade moral antecede noções como bem e mal.
mente, segundo a causalidade interna do sujeito c) Os valores morais que servem de base para nossa
socialização são tão naturais quanto nossos direitos.
III. A liberdade e a necessidade são compatíveis.
d) Não poderíamos falar de bem e de mal se não nos
IV. A liberdade baseia-se na contingência, pois se tudo colocássemos além da liberdade natural.
no universo fosse necessário não haveria espaço para e) Não há nenhum vínculo necessário entre viver livre
ações livres. e saber o que são bem e mal.

Estão corretas apenas as afirmativas: 4. (Searh-RN) “Baruch Spinoza acreditava que os dog-
mas rígidos e os rituais vazios eram as únicas coisas que
a) I e II. ainda mantinham o cristianismo e o judaísmo vivos. Não
b) I e IV. acreditava que cada palavra da Bíblia fosse realmente
c) II e III. inspirada por Deus, mas que deveriam ser analisadas à
d) I, III e IV. luz de seu contexto genealógico. Dessa forma, Spinoza
e) II, III e IV. foi o primeiro a aplicar o que foi denominado de inter-
pretação _______________ da Bíblia.”
2. (Enem) A substância é um Ser capaz de Ação. Ela é
simples ou composta. A substância simples é aquela que Assinale a alternativa que completa corretamente a
não tem partes. O composto é a reunião das substân- lacuna da afirmativa anterior.
cias simples ou Mônadas. Monas é uma palavra grega
a) semântica
que significa unidade ou o que é uno. Os compostos ou
b) universalista
os corpos são Multiplicidades, e as Substâncias simples,
as Vidas, as Almas, os Espíritos são unidades. É preciso c) histórico-crítica
que em toda parte haja substâncias simples porque sem d) histórico-canônica
as simples não haveria as compostas, nem movimento.
5. (UEM) Diz Spinoza: “Proposição XXX: Nenhuma coisa
Por conseguinte, toda natureza está plena de vida.
pode ser má pelo que tem de comum com nossa nature-
LEIBNIZ, G.W. Discurso de metafísicas e outros textos. za, mas é má para nós na medida em que nos é contrária.
São Paulo: Martins Fontes, 2004 (adaptado). Demonstração: Chamamos mau o que é causa de Tristeza,
isto é, o que diminui ou reduz nossa potência de agir. Se,
Dentre suas diversas reflexões, Leibniz voltou sua aten- portanto, uma coisa, pelo que tem de comum conosco,
ção para o tema da metafísica, que trata basicamente fosse má para nós, essa coisa poderia diminuir ou reduzir
do fundamento de realidade das coisas do mundo. A o que tem de comum conosco, o que é absurdo. Coisa
busca por esse fundamento muitas vezes é resumida a alguma portanto pode ser má para nós pelo que tem de
partir do conceito de substância, que para ele se refere comum conosco, mas, ao contrário, na medida em que é
a algo que é má, isto é, na medida em que pode diminuir ou reduzir
a) complexo por natureza, constituindo a unidade mí- nossa potência de agir, ela nos é contrária.”
nima do cosmo. SPINOZA. In: MARCONDES, Danilo. Textos básicos
b) estabilizador da realidade, dada a exigência de de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 93.
permanência desta.
c) desdobrado no composto, em vez de gerá-lo unin- A partir do texto é correto afirmar:
do-se a outras substâncias simples. 01) Segundo o filósofo, é absurdo que uma coisa má
d) considerado simples e múltiplo a um só tempo, por tenha algo de comum conosco.
ser um todo indecomponível constituído de partes. 02) As coisas são consideradas más em função de sua
e) essencial na estrutura do que existe no mundo, própria natureza.
sem deixar de contribuir para o movimento. 04) As coisas más não reduzem a nossa potência de agir.

55
08) A tristeza é causada pelos efeitos das coisas más. a) Deus está morto, e ainda há pessoas que não acre-
16) O filósofo demonstra a contrariedade entre natu- ditam e nem compreenderam isso.
reza humana e maldade. b) Deus é um pai maldoso e intolerante, ao mesmo
tempo que ama e age com misericórdia.
6. (UEM) (...) muitas vezes lamentamos as nossas ações
c) Deus não é uma causa externa à realidade, pois se
e que, frequentemente, quando somos dominados por
manifesta através das leis da natureza e só através delas.
afecções contrárias, vemos o melhor e fazemos o pior,
nada os impediria de crer que todas as nossas ações são d) Deus é um ser que vive somente nas concepções da
livres. [...] Um homem embriagado julga também que é alma humana. É transcendente à natureza antropológica.
por uma livre decisão da alma que conta aquilo que, mais
10. (Fepese-SC) Sobre a ética em Espinosa, é correto
tarde, em estado de sobriedade, preferiria ter calado.
afirmar:
ESPINOSA, B. Ética III. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 179. a) Apresenta como seus fundamentos um conjunto de
virtude e vícios que reforçam os princípios do cristianismo.
Acerca da compreensão da liberdade para Espinosa,
b) Não menciona o pecado e o dever, mas fala em
assinale o que for correto.
fraqueza e força para pensar, ser e agir.
01) Espinosa se contrapõe à ideia de um ato comple- c) Fundado em Aristóteles afirma que a ética está sujeita
tamente gratuito. aos limites estabelecidos pelas fragilidades humanas.
02) Ser livre, para Espinosa, é ser causa adequada de d) Na sua obra Depois da Virtude procurou divulgar a
seus atos.
ideia de virtude na sociedade contemporânea.
04) O espinosismo, assim como o historicismo, ofere-
e) Responsável pela tradição filosófica do racionalismo
ce-nos um meio de converter a liberdade em neces-
ético na qual a razão humana ocupa lugar de destaque
sidade inelutável.
na vida ética.
08) O livre-arbítrio para Espinosa é o poder que temos
de escolher.
16) É livre o homem que atua pela única necessidade
de sua natureza.
Gabarito
1-C; 2-E; 3-D; 4-C; 5-(01 + 08 + 16 = 25); 6-(1 + 2 + 4 +
7. (Enem) Os filósofos concebem as emoções que se
combatem entre si, em nós, como vícios em que os ho- 16 = 23); 7-B; 8-D; 9-C; 10-B
mens caem por erro próprio; é por isso que se habitua-
ram a ridicularizá-los, deplorá-los, reprová-los ou, quan-
do querem parecer mais morais, detestá-los. Concebem
os homens, efetivamente, não tais como são, mas como
eles próprios gostariam que fossem.
ESPINOSA, B. Tratado político. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

No trecho, Espinosa critica a herança filosófica, no que


diz respeito à idealização de uma
a) estrutura da interpretação fenomenológica.
b) natureza do comportamento humano.
c) dicotomia do conhecimento prático.
d) manifestação do caráter religioso.
e) reprodução do saber tradicional.

8. (Seduc-RJ) Para Spinoza (MARCONDES, 1997), o ho-


mem livre se caracteriza como aquele que, ao contem-
plar a substância infinita, reconhece a necessidade do
curso natural das coisas e a ação livre é aquela que está
de acordo com:
a) a indignação do sujeito.
b) o isolamento do indivíduo.
c) a utilidade do pensamento.
d) a determinação das coisas.
e) o princípio da universalidade.

9. (Idecan-RN) Os filósofos racionalistas representa-


ram uma das vertentes da filosofia moderna. Dentre
eles, Baruch Spinoza possui um pensamento peculiar
a respeito de Deus. Assinale a alternativa referente à
concepção teológica de Spinoza.

56
AULA Empirismo
9
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

O empirismo é uma teoria do conhecimento que se de- filósofo, a mente humana é como uma tábula rasa que, aos
senvolveu na Idade Moderna, tendo como o seu principal poucos, é preenchida pelos dados da experiência.
direcionamento a experiência, na evidência para a forma-
ção de algum tipo de conhecimento e numa nítida oposi-
ção ao pensamento racionalista, que emerge no mesmo
período histórico.
Assim, os pensadores adeptos do empirismo valorizavam
as experiências sensoriais, constituindo um método cientifi-
cista com um processo indutivo. O empirismo desenvolveu-
-se na Inglaterra e seus principais nomes são os ingleses
John Locke, Francis Bacon e David Hume.
§ Indução: parte de muitos casos particulares para se
O conhecimento é o resultado das operações que a mente
chegar a uma lei geral.
realiza com as ideias, tanto da sensação como da reflexão,
§ Dedução: parte de um uma lei geral para se prever ca- procurando perceber o acordo ou o desacordo entre elas.
sos particulares.

multimídia: livro
Empirismo multimídia: vídeo
MEYERS, Robert G. São Paulo: Vozes, 2017. Fonte: Youtube
Esta obra traz uma introdução à tradição John Locke
empirista em filosofia. O livro examina as
mais importantes questões filosóficas sobre
o tema, mantendo distância suficiente das
complexidades acadêmicas acerca de Locke, 1.1. A política para Locke
Berkeley e Hume, para permitir aos leitores Locke afirma que o trabalho justifica a propriedade priva-
uma visão geral clara do empirismo, sem se da, a qual era natural. Essa ideia se baseava na noção de
perder em detalhes de disputas exegéticas que, desde que o trabalho do homem lhe pertencia, tudo
sobre filósofos específicos.
o que ele transformava com seu trabalho deveria tornar-se
seu. De fato, a propriedade é a principal razão porque os
homens deixam o estado de natureza e estabelecem o go-
1. John Locke (1632-1704) verno civil, com governo e regras preestabelecidas.
Considerado o pai do empirismo, o inglês John Locke apre- Assim, a ideia de se ter um contrato social seria a de pre-
sentou que a experiência é a única fonte das ideias. Para o servar a propriedade privada, ou seja, o direito natural dos

57
seres do grupo. Esse contrato foi feito de modo consentido, qualquer para mostrar como os homens chegam a uma
assim, nenhum membro da sociedade estaria acima do concordância universal acerca das coisas merecedoras
contrato social. de sua anuência. Suponho que isso pode ser feito.
JOHN LOCKE
Portanto, eis a razão de se ter um rei, leis e uma socieda- Ensaio acerca do entendimento humano. São
de civil regidos que usufruem de seus direitos inalienáveis, Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 37.
ordenados por Deus. Os quatro direitos inalienáveis são:
1. direito à vida; 2. Francis Bacon (1561-1626)
2. direito à liberdade; Considerado como o “primeiro dos modernos e último
3. direito à propriedade; e dos antigos”, o inglês Francis Bacon desenvolveu uma
ciência experimental, na intenção de descobrir ideias que
4. direito de revoltar-se contra leis e governantes injustos. pudessem ser úteis, tendo como principal referência a
Por ser aristocrático, Locke não defendia esses direitos aos filosofia de Aristóteles.
pobres e nem às mulheres.

Não há princípios inatos na mente humana


Para o filósofo, é necessário eliminar os “ídolos”, isto é,
A maneira pela qual adquirimos qualquer conhecimento as falsas noções, mediante a observação de um método
constitui suficiente prova de que não é inato. Consiste seguro e rigoroso, na intenção de desenvolver a ciência. Os
numa opinião estabelecida entre alguns homens que o ídolos para Bacon são:
entendimento comporta certos princípios inatos, certas
noções primárias, koinai énoiai, caracteres, os quais es- § ídolos da caverna: dificuldades da própria pessoa;
tariam estampados na mente do homem, cuja alma os § ídolos da tribo: tendência do grupo que direcionam o
receberá em seu ser primordial e os transportará consigo
indivíduo;
ao mundo. Seria suficiente para convencer os leitores
sem preconceito da falsidade desta hipótese se pudesse § ídolos do foro: significado atrelados às palavras,
apenas mostrar (o que espero fazer nas outras partes influenciando como entendemos o mundo; e
deste tratado) como os homens, simplesmente pelo
uso de suas faculdades naturais, podem adquirir todo § ídolos do teatro: limitações que fazem com que defen-
conhecimento que possuem sem a ajuda de impressões deremos uma única visão de um fato.
inatas e podem alcançar a certeza sem nenhuma destas
noções ou princípios originais.
O assentimento geral consiste no argumento mais im-
portante. Não há nada mais ordinariamente admitido do
que a existência de certos princípios, tanto especulativos
como práticos (pois referem-se aos dois), com os quais
concordam universalmente todos os homens. A vista
disso, argumentam que devem ser uniformes as impres-
sões recebidas pelas almas dos homens em seus seres
primordiais, que, transportadas por eles ao mundo, mos-
tram-se tão necessárias e reais como o são quaisquer de
suas faculdades inatas.
O acordo universal não prova o inatismo. O argumento
derivado do acordo universal comporta o seguinte incon- multimídia: vídeo
veniente: se for verdadeiro que existem certas verdades Fonte: Youtube
devido ao acordo entre todos os homens, isto deixará de Francis Bacon
ser uma prova de que são inatas, se houver outro meio

58
Em seu livro Novum organum, Bacon pretende desenvolver Desse modo, Hume conclui que “o costume é, pois, o
uma reforma total do conhecimento humano, baseando-se grande guia da vida humana”. Diante disso, ocorre a
na observação dos fenômenos naturais e do cumprimento destruição de todos os raciocínios baseados em hipóte-
das seguintes etapas: ses, pois, sem o apoio da experiência, esses raciocínios
tornam-se dogmáticos.
§ observação da natureza para a coleta de informações;
O conhecimento só pode ser resultado da associação de
§ organização racional dos dados recolhidos empirica-
ideias, isto é, da conexão de várias impressões por meio de
mente;
suas cópias, formando ideias complexas. A certeza só pode
§ formulação de explicações gerais (hipóteses) destina- ser uma crença, ou seja, uma repetição de experiências se-
das à compreensão do fenômeno estudado; e melhantes. Assim, o ceticismo, que sempre se guiou pela
§ comprovação da hipótese formulada mediante experi- razão, tem bases não racionais, como a crença e o hábito.
mentações repetidas. Isso significa que, desconfiando das convicções arraigadas
No seu pensamento, os “homens devem saber que, neste pelo hábito, o cientista deve apresentar suas teses como
teatro da vida humana, apenas Deus e os anjos podem ser probabilidades lógicas, e não como certezas irrefutáveis. Tal
espectadores”. Assim, saber é poder. atitude epistemológica, estendida ao convívio social, tor-
naria os homens mais tolerantes, democráticos e abertos.
Os ídolos e noções falsas que ora ocupam o intelecto
humano e nele se acham implantados não somente o
obstruem a ponto de ser difícil o acesso da verdade,
como, mesmo depois de seu pórtico logrado e descerra-
do, poderão ressurgir como obstáculo à própria instaura-
ção das ciências, a não ser que os homens, já precavidos
contra eles, se cuidem o mais que possam.
São de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente
humana. Para melhor apresentá-los, lhes assinamos no-
mes, a saber: Ídolos da Tribo; Ídolos da Caverna; Ídolos
do Foro e Ídolos do Teatro.
A formação de noções e axiomas pela verdadeira indu-
ção é, sem dúvida, o remédio apropriado para afastar e
repelir os ídolos. Será, contudo, de grande préstimo indi-
multimídia: vídeo
car no que consistem, posto que a doutrina dos ídolos Fonte: Youtube
tem a ver com a interpretação da natureza o mesmo que David Hume
a doutrina dos elencos sofísticos com a dialética vulgar.
FRANCIS BACON
Novum organum. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Empirista convicto e conhecedor da evolução científica de
sua época, Hume insiste sobre a impossibilidade do conhe-

3. David Hume (1711-1776) cimento ir além da experiência. A crítica à religião e a pos-


tura cética lhe valeram a acusação de ateísmo. A novidade
Nascido na Escócia e considerado o mais importante e do seu pensamento influenciou decisivamente os filósofos
influente dos empíricos britânicos, levando o empirismo à posteriores, seja para rejeitá-lo, seja para levar em conta
sua conclusão lógica, David Hume indica que os homens sua crítica à metafísica.
associam ideias e acreditam nessa associação por força do
hábito ou costume.

59
Este livro parece ter sido escrito obedecendo ao mesmo
plano de vários outros trabalhos, que têm tido grande
voga na Inglaterra, nos últimos anos. O espírito filosófico,
que tanto se desenvolveu nestas oito décadas em toda
a Europa, neste reino foi levado tão longe quanto em
qualquer outro. Nossos autores parecem até ter inau-
gurado um novo tipo de filosofia, que promete mais en-
tretenimento e proveito à humanidade do que qualquer
outro conhecido pelo mundo. A maioria dos filósofos da
Antiguidade que trataram da natureza humana mostrou
mais delicadeza de sentimentos, senso justo da moral,
ou grandeza de alma, que profundidade de raciocínio e
reflexão. Contentou-se em representar o senso comum multimídia: música
humano sob a mais viva luz e com a melhor forma de
pensamento e expressão, sem seguir sistematicamente Fonte: Youtube
uma cadeia de proposições, nem organizar as várias
Tente outra vez
verdades em uma ciência rigorosa. No entanto, vale a
pena ao menos perguntar se a ciência do homem não Raul Seixas. Novo Aeon. Philips Record, 1975.
comporta a mesma precisão de que se julgam suscetí- A música de Raul Seixas sintetiza o movimento
veis várias partes da filosofia natural. Parece haver toda dos empiristas, de repetir as ações para que se
a razão do mundo para supor que ela pode ser levada ao tenha validade.
mais alto grau de exatidão.
DAVID HUME
Resumo de um tratado da natureza humana. Porto
Alegre: Paraula, 1995, p. 35-37.

60
DIAGRAMA DE IDEIAS

EMPIRISMO

O CONHECIMENTO
SÓ É VÁLIDO COM
A EXPERIÊNCIA

LOCKE HUME

BACON

A MENTE É UMA O HÁBITO É O GUIA


TÁBULA RASA BUSCA DA VIDA HUMANA
REORGANIZAR O
CONHECIMENTO

QUE É PREENCHIDA QUE A


PELA EXPERIÊNCIA EXPERIÊNCIA VALIDA
PARA ISSO É PRE-
O CONHECIMENTO
CISO ELIMINAR
OS ÍDOLOS QUE
ATRAPALHAM O
SÓ O GÊNERO CONHECIMENTO
MASCULINO
TEM DIREITOS
NA SOCIEDADE

61
Aplicando para c) são legítimos representantes do criticismo quanto à
gênese do conhecimento.

Aprender (A.P.A.) d) concordam que conhecimento humano é impossí-


vel em relação às ideias e aos sentidos.
1. (Enem) Os produtos e seu consumo constituem a e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos
meta declarada do empreendimento tecnológico. Essa no processo de obtenção do conhecimento.
meta foi proposta pela primeira vez no início da Mo- 3. (Unicamp) A maneira pela qual adquirimos qual-
dernidade, como expectativa de que o homem poderia quer conhecimento constitui suficiente prova de que
dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, con- não é inato.
vertida em programa anunciado por pensadores como
Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano.
surgiu “de um prazer de poder”, “de um mero imperia- São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 13
lismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem
e de enriquecer sua vida, física e culturalmente. O empirismo, corrente filosófica da qual Locke fazia parte,
a) afirma que o conhecimento não é inato, pois sua
CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico:
aquisição deriva da experiência.
três enfoques. Scientiae Studia, São Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado).
b) é uma forma de ceticismo, pois nega que os conhe-
Autores da filosofia moderna, notadamente Descar- cimentos possam ser obtidos.
tes e Bacon, e o projeto iluminista concebem a ciência c) aproxima-se do modelo científico cartesiano, ao
como uma forma de saber que almeja libertar o homem negar a existência de ideias inatas.
das intempéries da natureza. Nesse contexto, a investi- d) defende que as ideias estão presentes na razão
gação científica consiste em desde o nascimento.
a) expor a essência da verdade e resolver definitiva-
4. (Unesp) Sendo os homens, conforme (...) dissemos,
mente as disputas teóricas ainda existentes.
por natureza, todos livres, iguais e independentes, nin-
b) oferecer a última palavra acerca das coisas que
guém pode ser expulso de sua propriedade e submeti-
existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia.
do ao poder de outrem sem dar consentimento.
c) ser a expressão da razão e servir de modelo para
outras áreas do saber que almejam o progresso. John Locke. Segundo tratado sobre o governo.
d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar
O patrimônio do pobre reside na força e destreza de
a natureza e eliminar os discursos éticos e religiosos.
suas mãos, sendo que o impedir de utilizar essa força e
e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos essa destreza da maneira que ele considerar adequada,
naturais e impor limites aos debates acadêmicos. desde que não lese o próximo, constitui uma violação
2. (Enem) pura e simples dessa propriedade sagrada.

Texto I Adam Smith. A riqueza das nações.

Experimentei algumas vezes que os sentidos eram engano- A partir da leitura dos textos, é correto afirmar que:
sos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em que já a) John Locke defende a democracia, isto é, a igual-
nos enganou uma vez. dade política entre os homens, ao passo que Adam
Smith privilegia o trabalho, portanto a desigualdade.
DESCARTES, R. Meditações metafísicas. São
Paulo: Abril Cultural, 1979. b) John Locke funda sua teoria política liberal na defe-
sa da propriedade privada, em sintonia com a defesa
Texto II da livre iniciativa proposta por Adam Smith.
c) o consentimento para evitar o poder centralizado
Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma
do rei, em John Locke, choca-se com a necessidade de
ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado, intervenção econômica, segundo Adam Smith.
precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta d) a monarquia absolutista é a base da teoria política
suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer im- de John Locke, enquanto o Estado não intervencionis-
pressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita. ta é o suporte da teoria econômica de Adam Smith.
HUME, D. Uma investigação sobre entendimento. e) para John Locke, o consentimento é garantido pela
São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado). divisão dos poderes harmonizando-se com a defesa
da propriedade coletiva de Adam Smith.
Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a
natureza do conhecimento humano. A comparação dos 5. (UEL) A figura do homem que triunfa sobre a natu-
excertos permite assumir que Descartes e Hume reza bruta é significativa para se pensar a filosofia de
Francis Bacon (1561-1626). Com base no pensamento
a) defendem os sentidos como critério originário para
de Bacon, considere as afirmativas a seguir.
considerar um conhecimento legítimo.
b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado I. O homem deve agir como intérprete da natureza para
de uma ideia na reflexão filosófica e crítica. melhor conhecê-la e dominá-la em seu benefício.

62
II. O acesso ao conhecimento sobre a natureza depende ouro, não fazemos mais do que juntar duas ideias consis-
da experiência guiada por método indutivo. tentes, ouro e montanha, que já conhecíamos. Podemos
conceber um cavalo virtuoso, porque somos capazes de
III. O verdadeiro pesquisador da natureza é um homem conceber a virtude a partir de nossos próprios sentimen-
que parte de proposições gerais para, na sequência e à luz tos, e podemos unir a isso a figura e a forma de um cava-
destas, clarificar as premissas menores. lo, animal que nos é familiar.

IV. Os homens de experimentos processam as informações HUME, D. Investigação sobre o entendimento


humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.
à luz de preceitos dados a priori pela razão.
Hume estabelece um vínculo entre pensamento e im-
Assinale a alternativa correta.
pressão ao considerar que
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
a) os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas. sensação.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. b) o espírito é capaz de classificar os dados da percep-
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. ção sensível.
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. c) as ideias fracas resultam de experiências sensoriais
determinadas pelo acaso.
6. (UEL) [...] é necessário, ainda, introduzir-se um mé-
todo completamente novo, uma ordem diferente e um d) os sentimentos ordenam como os pensamentos
novo processo, para continuar e promover a experiên- devem ser processados na memória.
cia. Pois a experiência vaga, deixada a si mesma [...] é e) as ideias têm como fonte específica o sentimento
um mero tateio, e presta-se mais a confundir os homens cujos dados são colhidos na empiria.
que a informá-los. Mas quando a experiência proceder
8. (Unioeste) John Locke afirma em Ensaio acerca do
de acordo com leis seguras e de forma gradual e cons-
entendimento:
tante, poder-se-á esperar algo de melhor da ciência. [...]
A infeliz situação em que se encontra a ciência humana “(...) é de grande utilidade para o marinheiro saber a
transparece até nas manifestações do vulgo. Afirma-se extensão de sua linha, embora não possa com ela son-
corretamente que o verdadeiro saber é o saber pelas dar toda a profundidade do oceano. É conveniente que
causas. E, não indevidamente, estabelecem- se quatro saiba que ela é suficientemente longa para alcançar o
coisas: a matéria, a forma, a causa eficiente, a causa fi- fundo dos lugares necessários para orientar sua viagem,
nal. Destas, a causa final longe está de fazer avançar as e preveni-lo de esbarrar contra escolhos que podem des-
ciências, pois na verdade as corrompe; mas pode ser de truí-lo. Não nos diz respeito conhecer todas as coisas,
interesse para as ações humanas. mas apenas as que se referem à nossa conduta. Se pu-
dermos descobrir aquelas medidas por meio das quais
BACON, F. Novo organum ou verdadeiras indicações
acerca da interpretação da natureza. uma criatura racional, posta nesta situação do homem
São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 72; 99-100. no mundo, pode e deve dirigir suas opiniões e ações
delas dependentes, não devemos nos molestar por que
Com base no texto e no pensamento de Francis Bacon outras coisas escapam ao nosso conhecimento”.
acerca da verdadeira indução experimental como inter-
pretação da natureza, é correto afirmar: Tendo em conta o texto acima e a teoria do conheci-
a) Na busca do conhecimento, não se podem encon- mento de Locke, é incorreto afirmar que:
trar verdades indubitáveis, sem submeter as hipóteses a) o homem, utilizando suas faculdades racionais,
ao crivo da experimentação e da observação. pode conhecer tudo sobre todas as coisas do mundo.
b) A formulação do novo método científico exige sub- b) o homem deve saber os limites da razão para ter
meter a experiência e a razão ao princípio de autori- conhecimento certo daquilo que é possível conhecer.
dade para a conquista do conhecimento. c) há certas coisas que a razão do homem não pode
c) O desacordo entre a experiência e a razão, prevale- conhecer.
cendo esta sobre aquela, constitui o fundamento para d) assim como o marinheiro guia sua viagem por uma
o novo método científico. sonda de tamanho conhecido, o homem deve orien-
d) Bacon admite o finalismo no processo natural, por tar sua conduta por aquilo que conhece.
considerar necessário ao método perguntar para que
as coisas são e como são. 9. (UFU) Em sua teoria do conhecimento, Tomás de Aqui-
e) O estabelecimento de um método experimental, no substitui a doutrina da iluminação divina pela da
baseado na observação e na medida, aprimora o mé- abstração, de raízes aristotélicas: a única fonte de co-
todo escolástico. nhecimento humano seria a realidade sensível, pois os
objetos naturais encerrariam uma forma inteligível em
7. (Enem) Todo o poder criativo da mente se reduz a nada potência, que se revela, porém, não aos sentidos que
mais do que a faculdade de compor, transpor, aumentar só podem captá-la individualmente – mas ao intelecto.
ou diminuir os materiais que nos fornecem os sentidos e INÁCIO, Inês C.; LUCA, Tânia Regina de. O pensamento
a experiência. Quando pensamos em uma montanha de medieval. São Paulo: Ática, 1988, p. 74.

63
Considerando o trecho citado, assinale a alternativa embargo, nem toda a sua experiência lhe deu qualquer
verdadeira. idéia ou conhecimento do poder secreto pelo qual um
a) O texto faz referência à influência de Aristóteles objeto produz outro; e tampouco é levado a fazer essa
no pensamento de Tomás de Aquino, que se opõe, inferência por qualquer processo de raciocínio. No en-
em muitos pontos, à tradição agostiniana, que tinha tanto, é levado a fazê-la. (...) Há algum outro princípio
influência de Platão. que o determina a tirar essa conclusão.
b) O texto expõe a doutrina da iluminação, formulada HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano.
por Tomás de Aquino para explicar a origem de nosso Coleção “Os Pensadores”. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
conhecimento.
Qual é o princípio a que Hume se refere acima? De acor-
c) Para Tomás de Aquino, a realidade sensível é ape-
do com o texto, aponte a sua relevância para a teoria
nas uma cópia enganosa da verdadeira realidade que
do conhecimento.
se encontra na mente divina.
d) Tomás de Aquino substitui a doutrina da ilumi-
nação pela teoria da abstração aristotélica, a fim de
mostrar que a fé em Deus é incompatível com as ver- Gabarito
dades científicas.
1-C; 2-E; 3-A; 4-B; 5-A; 6-A; 7-A; 8-A; 9-A; 10-(04 + 08 +
10. (UEM) Todas as ideias derivam da sensação ou re- 16 = 28)
flexão. Suponhamos que a mente é, como dissemos, um
11. Hume apresenta a noção de hábito. A relevância dessa
papel em branco, desprovida de todos os caracteres,
sem quaisquer ideias; como ela será suprida? (...) De noção para a teoria do conhecimento é que ela está se
onde apreende todos os materiais da razão e do co- contrapondo à noção de casualidade. Ele crê que o hábito
nhecimento? é de extrema importância para o conhecimento humano.
A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o
nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva
fundamentalmente o próprio conhecimento.
LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano.
São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 165.

Assinale o que for correto.


01) Para John Locke, embora nosso conhecimento se
origine na experiência, nem todo ele deriva da experi-
ência. No entendimento, existem ideias inatas abstra-
ídas das coisas pela reflexão.
02) Como seguidor de Descartes, John Locke assume a
diferença entre conhecimento verdadeiro, que é pura-
mente intelectual e infalível, e conhecimento sensível,
que, por depender da sensação, é suscetível de erro.
04) John Locke é o iniciador da teoria do conhecimento
em sentido estrito, pois se propôs, no Ensaio acerca do
entendimento humano, a investigar explicitamente a na-
tureza, a origem e o alcance do conhecimento humano.
08) Para John Locke, todo nosso conhecimento pro-
vém e se fundamenta na experiência. As impressões
formam as ideias simples; a reflexão sobre as ideias
simples, ao combiná-las, formam ideias complexas,
como substância, Deus, alma etc.
16) John Locke distingue as qualidades do objeto em
qualidades primárias (solidez, extensão, movimento
etc.) e qualidades secundárias (cor, odor, sabor etc.);
as primeiras existem realmente nas coisas, as segun-
das são relativas e subjetivas.

11. (UFU) Suponha-se, agora, que esse homem adquiriu


mais experiência e viveu no mundo o tempo suficien-
te para ter observado uma conjunção constante entre
objetos ou acontecimentos familiares: qual é o resulta-
do desta experiência? Ele infere imediatamente a exis-
tência de um objeto do aparecimento do outro. E, sem

64
AULA Iluminismo francês
10
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

O século XVIII costuma ser chamado de Idade do Iluminis- “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você
mo, por causa da disseminação de ideias racionais, pro- diz, mas defenderei até à morte o direito de você dizê-las.”.
gressistas, liberais e científicas. Surgida com o enfraqueci-
A filosofia, para o Voltaire, deveria ser útil, modificando o
mento do absolutismo, o iluminismo vem para combater
comportamento das pessoas.
todos os elementos atrelados ao sistema absolutista e a
influência da Igreja no comportamento das pessoas.
O iluminismo francês despontou como um movimento na
história da filosofia com características sociopolíticas que de-
sencadearam inúmeras transformações históricas e sociais.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Iluminismo: do antigo regime aos nossos dias
O iluminismo foi um movimento de ideias de-
senvolvido, essencialmente, no século XVIII e
que acabou levando ao fim do antigo regime
e aos movimentos de independência das co-
lônias na América. Este vídeo analisa o ilumi-
nismo no contexto do antigo regime, desde
o pensamento precursor de John Locke, se-
guindo pelos principais filósofos iluministas e
chegando à atualidade.

multimídia: música
1. Voltaire (1694-1778) Fonte: Youtube
Um dos mais famosos pensadores do iluminismo, o filóso- Deixa eu falar
fo francês François-Marie Arquet, conhecido como Voltaire,
Raimundos. Só no Forevis. WE Music, 1999
destacou-se pelas críticas que fez ao clero católico, à into-
lerância e à prepotência dos poderosos. Nessa faixa, a banda apresenta a ideia da
liberdade, apontando uma crítica contra as
Tornou-se marcante sua posição em defesa da liberdade de opressões que estão na nossa sociedade.
pensamento. Existe uma frase que é atribuída ao seu nome:

65
1.1. Cândido ou O otimismo (1758) Concebia a Natureza como um grande processo criativo,
com o homem como parte de um todo. O filósofo ressalta
Em seu livro mais famoso, intitulado Cândido, o homem a relatividade da cultura e a necessidade de mudança – o
não é um ser maldoso, “torna-se mau tal como se torna homem pode ser bom e feliz, contanto que se liberte das
doente”. O mal deixa de ser uma questão metafísica e teo- imposições das autoridades religiosas, metafísicas, filosó-
lógica para assumir uma dimensão humana. ficas ou políticas que teimam em contrariar a razão e a
Sendo um retrato satírico de seu tempo, essa obra situa al- natureza. Porém, seguir as leis da natureza não significa
guns fatos históricos, como o terremoto em Lisboa (1755) tornar-se seu prisioneiro, pois, a razão não é apenas a imi-
e a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), ao passo que faz tação da natureza, mas a capacidade de criação.
críticas, com bom humor, às regalias da nobreza, à intole- Em sua obra Sobrinho de Rameau, Diderot ataca o con-
rância religiosa e aos absurdos da Santa Inquisição. O per- formismo burguês.
sonagem mestre Pangloss é uma representação sarcástica
da filosofia otimista do pensador Gottfried Leibniz.
Assim, a história é a história do progresso, que avança à
medida que os homens vão se esclarecendo pelas luzes
da razão. Por isso, o filósofo luta contra os dogmas, a
superstição e o fanatismo.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Diderot
Roberto Romano, professor da Unicamp, co-
menta a filosofia de Diderot.

3. Montesquieu (1689-1755)
O objetivo de Charles Loms de Secondat, o barão de Mon-
tesquieu, é claro: destacar e analisar separadamente o
aspecto propriamente político e social do homem. Assim,

2. Denis Diderot (1713-1784)


Montesquieu quer demarcar o domínio próprio da política
e de sua ciência, que não se confunde com o da religião ou
Denis Diderot foi o principal expoente do projeto da Enci- o da moral. Para muitos que o interpretam, ele inaugura a
clopédia – uma obra que sintetiza as luzes: trata de filoso- sociologia política.
fia, ciências, artes, política, economia, geografia e técnicas.

66
Sua obra mais famosa, Do espírito das leis (1748), procura a Existe, portanto, uma razão primitiva; e as leis são as re-
“natureza e o princípio” subjacentes a diferentes tipos de lei. lações que se encontram entre ela e os diferentes seres,
Classificou formas de governo, de acordo com seu “princípio e as relações destes diferentes seres entre si.
Deus possui uma relação com o universo, como criador
animador”, de modo que o importante não é julgar os go- e como conservador: as leis segundo as quais criou são
vernos existentes, mas compreender a natureza e o princípio aquelas segundo as quais conserva. Ele age segundo
de cada espécie de governo. Montesquieu afirmava que: estas regras porque as conhece; conhece-as porque as
fez, e as fez porque elas possuem uma relação com sua
§ a virtude é o princípio de uma república;
sabedoria e sua potência.
§ a honra, o de uma monarquia; e Como observamos que o mundo, formado pelo mo-
vimento da matéria e privado de inteligência, ainda
§ o medo, o do despotismo. subsiste, é necessário que seus movimentos possuam
leis invariáveis; e se pudéssemos imaginar um mun-
do diferente deste ele possuiria regras constantes ou
seria destruído.
MONTESQUIEU
Do espírito das leis. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 11.

multimídia: livro
Do espírito das leis
Montesquieu. São Paulo: Saraiva, 2008.
Nessa obra, Montesquieu apresenta as bases
estruturais da divisão dos poderes, analisando
uma nova conjuntura política.

As leis, em seu significado mais extenso, são as relações


necessárias que derivam da natureza das coisas; e, neste
sentido, todos os seres têm suas leis; a Divindade possui
suas leis, o mundo material possui suas leis, as inteligên-
cias superiores ao homem possuem suas leis, os animais
possuem suas leis, o homem possui suas leis.
Aqueles que afirmaram que uma fatalidade cega pro-
duziu todos os efeitos que observamos no mundo pro-
feriram um grande absurdo: pois o que poderia ser mais
absurdo do que uma fatalidade cega que teria produzi-
do seres inteligentes?

67
DIAGRAMA DE IDEIAS

ILUMINISMO
FRANCÊS

PENSAMENTO
BURGUÊS QUE
SERÁ CONTRA O
ABSOLUTISMO

VOLTAIRE MONTESQUIEU

DIDEROT

MAIOR
LIBERDADE DE
PARTICIPAÇÃO
EXPRESSÃO
O CONHECIMENTO POPULAR NO
DEVE SER DIFUNDIDO GOVERNO

NINGUÉM DEVE
SER PUNIDO POR DIVISÃO DOS
EXPRESSAR A SURGE A PODERES
SUA OPINIÃO ENCICLOPÉDIA
• JUDICIÁRIO
• EXECUTIVO
• LEGISLATIVO

68
Aplicando para por virtude; àquele, porque contrai com seus escravos
toda sorte de maus hábitos e se acostuma insensivel-

Aprender (A.P.A.) mente a faltar contra todas as virtudes morais: torna-se


orgulhoso, brusco, duro, colérico, voluptuoso, cruel. Se
eu tivesse que defender o direito que tivemos de tornar
1. (Enem) Para que não haja abuso, é preciso organi- escravos os negros, eis o que eu diria: tendo os povos da
zar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo Europa exterminado os da América, tiveram que escravi-
poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o zar os da África para utilizá-los para abrir tantas terras. O
mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, açúcar seria muito caro se não fizéssemos que escravos
exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de execu- cultivassem a planta que o produz.
tar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as
(Montesquieu, Do espírito das leis)
divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma in- Com base nos textos, podemos afirmar que, para Mon-
dependente para a efetivação da liberdade, sendo que tesquieu,
esta não existe se uma mesma pessoa ou grupo exercer
a) o preconceito racial foi contido pela moral religiosa.
os referidos poderes concomitantemente.
b) a política econômica e a moral justificaram a escravidão.
MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São c) a escravidão era indefensável de um ponto de vista
Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).
econômico.
A divisão e a independência entre os poderes são con- d) o convívio com os europeus foi benéfico para os
dições necessárias para que possa haver liberdade em escravos africanos.
um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo e) o fundamento moral do direito pode submeter-se
político em que haja às razões econômicas.
a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas. 4. (Fuvest) “A autoridade do príncipe é limitada pelas
b) consagração do poder político pela autoridade religiosa. leis da natureza e do Estado... O príncipe não pode, por-
c) concentração do poder nas mãos de elites técnico- tanto, dispor de seu poder e de seus súditos sem o con-
-científicas. sentimento da nação e independentemente da escolha
d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às estabelecida no contrato de submissão (...)”
instituições do governo. DIDEROT, artigo “Autoridade política”, Enciclopédia, 1751.
e) reunião das funções de legislar, julgar e executar
nas mãos de um governante eleito. Tendo por base esse texto da Enciclopédia, é correto
afirmar que o autor:
2. (Enem) É verdade que nas democracias o povo parece
a) pressupunha, como os demais iluministas, que os
fazer o que quer; mas a liberdade política não consiste
direitos de cidadania política eram iguais para todos
nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o que é
os grupos sociais e étnicos.
independência e o que é liberdade. A liberdade é o direi-
b) propunha o princípio político que estabelecia leis
to de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão
para legitimar o poder republicano e democrático.
pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais
c) apoiava uma política para o Estado, submetida aos
liberdade, porque os outros também teriam tal poder.
princípios da escolha dos dirigentes da nação, por
MONTESQUIEU. Do espírito das leis. São Paulo: meio do voto universal.
Nova Cultural, 1997 (adaptado). d) acreditava, como os demais filósofos do Iluminis-
mo, na revolução armada como único meio para a
A característica de democracia ressaltada por Montes- deposição de monarcas absolutistas.
quieu diz respeito e) defendia, como a maioria dos filósofos iluministas,
a) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao os princípios do liberalismo político que se contrapu-
tomar as decisões por si mesmo. nham aos regimes absolutistas.
b) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à
5. (UFPR) A respeito do iluminismo, movimento filosófi-
conformidade às leis.
co que se difundiu pela Europa ao longo do século XVIII,
c) à possibilidade de o cidadão participar no poder e,
considere as seguintes afirmativas:
nesse caso, livre da submissão às leis.
d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que I. Muitos filósofos franceses, entre eles Montesquieu, Vol-
é proibido, desde que ciente das consequências. taire e Diderot, foram leitores, admiradores e divulgadores
e) ao direito do cidadão exercer sua vontade de acor- da filosofia política produzida pelos ingleses, como John
do com seus valores pessoais.
Locke com sua crítica ao absolutismo.
3. (Enem) Observe as duas afirmações de Montesquieu II. Quanto à organização do Estado, os filósofos iluministas
(1689-1755) a respeito da escravidão:
não eram contra a monarquia, mas contra as ideias de que
A escravidão não é boa por natureza; não é útil nem ao o poder monárquico fora constituído pelo direito divino e
senhor, nem ao escravo: a este porque nada pode fazer de que ele não poderia ser submetido a nenhum freio.

69
III. A descoberta da perspectiva e a valorização de temas reli- b) O poder judiciário tem força para administrar o execu-
giosos marcaram as expressões artísticas durante o iluminismo. tivo; o poder executivo tem força para conduzir o judiciá-
rio; o poder legislativo tem força para tutelar o judiciário.
IV. Em Portugal, o pensamento iluminista recebeu grande c) O poder legislativo aplica as leis; o poder executivo
impulso das descobertas marítimas. gerencia as normatizações e deliberações relacionadas à
administração do Estado; o poder judiciário aprova as leis.
Assinale a alternativa correta. d) O poder executivo cria as leis; o poder judiciário
a) Somente a afirmativa I é verdadeira. sanciona as leis; e o poder legislativo efetiva as leis
b) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras. na administração do Estado.
c) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras. 8. (Unesp) Governos que se metem na vida dos outros
d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras. são governos autoritários. Na história temos dois gran-
e) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras. des exemplos: o fascismo e o comunismo. Em nossa época
existe uma outra tentação totalitária, aparentemente mais
6. (UFF) O escritor e filósofo francês Voltaire, que viveu no invisível e, por isso mesmo, talvez, mais perigosa: o “totali-
século XVIII, é considerado um dos grandes pensadores tarismo do bem”. A saúde sempre foi um dos substantivos
do iluminismo ou século das luzes. Ele afirma o seguinte preferidos das almas e dos governos autoritários. Quem es-
sobre a importância de manter acesa a chama da razão: tudar os governos autoritários verá que a “vida cientifica-
mente saudável” sempre foi uma das suas maiores paixões.
“Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razão,
E, aqui, o advérbio “cientificamente” é quase vago porque
ainda renascem algumas cabeças da hidra do fanatismo.
o que vem primeiro é mesmo o desejo de higienização de
Parece que seu veneno é menos mortífero e que suas toda forma de vício, sujeira, enfim, de humanidade não
goelas são menos devoradoras. Mas o monstro ainda correta. Nosso maior pecado contemporâneo é não reco-
subsiste e todo aquele que buscar a verdade arriscar- nhecer que a humanidade do humano está além do modo
-se-á a ser perseguido. Deve-se permanecer ocioso nas “correto” de viver. E vamos pagar caro por isso porque um
trevas? Ou deve-se acender um archote onde a inveja mundo só de gente “saudável” é um mundo sem Eros.
e a calúnia reacenderão suas tochas? No que me tan-
ge, acredito que a verdade não deve mais se esconder Luiz Felipe Pondé. Gosto que cada um sente na boca não é da
conta do governo. Folha de S.Paulo, 14.03.2012 (adaptado).
diante dos monstros e que não devemos abster-nos do
alimento com medo de sermos envenenados.” Na concepção do autor, o totalitarismo:
Identifique a opção que melhor expressa esse pensa- a) é um sistema político exclusivamente relacionado
mento de Voltaire. com o fascismo e o comunismo.
a) Aquele que se pauta pela razão e pela verdade não b) inexiste sob a égide de regimes políticos institucio-
é um sábio, pois corre um risco desnecessário. nalmente democráticos e liberais.
b) A razão é impotente diante do fanatismo, pois esse c) depende necessariamente de controles de natureza
policial e repressiva dos comportamentos.
sempre se impõe sobre os seres humanos.
d) mobiliza a ciência para estabelecer critérios de na-
c) Aquele que se orienta pela razão e pela verdade
tureza biopolítica sobre a vida.
deve munir-se da coragem para enfrentar o obscuran-
tismo e o fanatismo. e) estabelece regras de comportamento subordinadas
à autonomia dos indivíduos.
d) O fanatismo e o obscurantismo são coisas do pas-
sado e por isso a razão não precisa mais estar alerta. 9. (UFF) Nos séculos XVI e XVII os conflitos religiosos se
e) A razão envenena o espírito humano com o fanatismo. disseminaram por toda a Europa provocando guerras
e impondo um ambiente de perseguição e fanatismo.
7. Montesquieu (1689-1755), na obra Do espírito das Diante desse contexto, o aparecimento de alternativas
leis, afirma: de paz envolveu o “princípio de tolerância” que pode
ser associado à seguinte opção:
“Quando os poderes legislativo e executivo ficam reuni-
dos numa mesma pessoa ou instituição do Estado, a li- a) As crenças e opiniões devem ser expressas somen-
berdade desaparece [...] Não haveria também liberdade te na intimidade.
se o poder judiciário se unisse ao executivo, o juiz pode- b) Os seres humanos devem respeitar as crenças e
ria ter a força de um opressor. E tudo estaria perdido se opiniões uns dos outros.
uma mesma pessoa ou instituição do Estado exercesse c) O Estado tem o dever de impedir que os seres hu-
os três poderes: o de fazer leis, o de ordenar a sua execu- manos adotem crenças e opiniões falsas.
ção e o de julgar os conflitos entre os cidadãos.” d) A opinião verdadeira tem o direito de se impor a
todos os seres humanos.
A partir dessas informações sobre a filosofia política e) A minoria deve adotar as opiniões e crenças da maioria.
de Montesquieu e a divisão que propõe do poder, é
correto afirmar: 10.(FGV) “O gênero humano é de tal ordem que não
pode subsistir, a menos que haja uma grande infinidade
a) O poder judiciário aplica as leis; o poder legislativo cria e
de homens úteis que não possuam nada.”
aprova as leis; o poder executivo executa normatizações e
deliberações referentes à administração do Estado. (Dicionário filosófico, verbete “igualdade”)

70
“O comércio, que enriqueceu os cidadãos na Inglaterra,
contribuiu para os tornar livres, e essa liberdade deu Gabarito
por sua vez maior expansão ao comércio; daí se formou
o poderio do Estado.”
1-D; 2-B; 3-E; 4-E; 5-B; 6-C; 7-A; 8-D; 9-B; 10-A

(Cartas inglesas) 11.

Sobre os trechos de Voltaire, é correto afirmar que o autor:


a) Racionalismo
a) define, com suas ideias, os interesses da burguesia b) Significa que defendiam que deixassem de utilizar pre-
como classe, no século XVIII: o comércio como con- ceitos da religião para interferir na política, educação, entre
dição para a acumulação de capital, a riqueza como outros. Defendiam a liberdade de expressão.
fator de liberdade e do poder de Estado e a proprie-
dade ligada à desigualdade. c) Os pensadores iluministas dirigiam suas críticas ao poder
b) crê, como filósofo iluminista do século XVIII, nas soberano, que eram a Igreja e o monarca absolutista.
igualdades social e política, pois a filosofia burguesa
elabora uma doutrina universalista que confunde a 12.
causa da burguesia com a de toda a humanidade. a) A formação do Estado moderno e da divisão dos poderes.
c) critica a centralização do poder na medida em que
ela breca a liberdade, impedindo o progresso das téc- b) Este texto está inserido na consolidação do Estado bur-
nicas e a expansão do comércio que geram riqueza, guês moderno e mudança do pensamento político.
e, ao mesmo tempo, aceita a propriedade como fun-
damento da igualdade.
d) considera que a burguesia não se constitui em uma
classe no século XVIII, e ela precisa do poder do Estado
centralizado para garantir a sua riqueza e, nessa medi-
da, aproxima-se da nobreza para obter apoio político.
e) defende, como representante da Ilustração, a li-
berdade ligada à ausência da propriedade e elabora
princípios universais, com direitos e deveres para to-
dos os homens, o que faz a igualdade econômica ser
o fundamento da sociedade.

11. (Unicamp) O pensamento iluminista do século XVIII


tem na Enciclopédia, dirigida por Diderot e d’Alembert,
uma obra de 35 volumes, editada entre 1751 e 1780,
que reúne a totalidade dos conhecimentos da época.
Por usarem os princípios da razão para questionar os
fundamentos da sociedade em que viviam, os enciclo-
pedistas foram considerados defensores de um pensa-
mento revolucionário.
a) Qual a característica principal do pensamento das
luzes?
b) O que significa afirmar que esses pensadores usa-
vam em suas críticas sociais os princípios da razão?
c) Contra quais valores da época se dirigiam as críti-
cas dos pensadores iluministas?

12. (Fuvest) Quando na mesma pessoa, ou no mesmo cor-


po de magistrados, o poder legislativo se junta ao exe-
cutivo, desaparece a liberdade (...). Não há liberdade se
o poder judiciário não está separado do legislativo e do
executivo (...). Se o judiciário se unisse com o executivo, o
juiz poderia ter a força de um opressor. E tudo estaria per-
dido se a mesma pessoa ou o mesmo corpo de nobres, de
notáveis, ou de populares, exercesse os três poderes: o de
fazer as leis, o de ordenar a execução das resoluções pú-
blicas e o de julgar os crimes e os conflitos dos cidadãos.
(Montesquieu, Do espírito das leis, 1748)

a) Qual o tema do texto?


b) Explique o contexto histórico em que foi produzido.

71
AULA Rousseau
11
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. Jean-Jacques Rousseau
(1771-1778)
Jean-Jacques Rousseau é o filósofo de maior destaque no
iluminismo – uma figura inconformista, inquieto, individua-
lista, mas também coletivista.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Rousseau (vida e obra)
Vídeo que trata sobre a vida e as obras do
filósofo Rousseau

Ele aponta que o homem, no estado civil, está preso às


amarras do Estado, às regras que direcionam o embate
do homem contra o homem, de maneira a fomentar a ga-
nância e a inveja entre os pares, caracterizando uma desi-
gualdade legalizada entre os homens. Assim, a crítica de
Rousseau se faz pelas amarras proporcionadas pelas leis
civis, que condicionam e perpetuam a existência da desi-
gualdade entre os homens.
Ao passo que Rousseau critica todas os elementos desse es-
No livro Discurso sobre a origem da desigualdade entre os tado civil, inclusive as ciências e as artes, que condicionam
homens, a figura do homem, para Rousseau, constitui em aos hábitos viciosos dos homens, destruindo as virtudes hu-
um ser bom, que diante das instituições do estado civil aca- manas, não apontando para uma valorização da racionalida-
ba corrompido. Demonstra nesse texto que a desigualdade de humana. Isso não quer dizer que o filósofo é contrário às
entre os homens origina-se com o início da propriedade ciências e às artes, ele só aponta que essas estruturas preci-
privada, fato este que provoca as disputas entre os seres. sam impedir que a corrupção humana seja menor.
No estado de natureza, por sua vez, os homens vivem
isolados, porém, são basicamente iguais. Neste estado, os
homens vivem por duas paixões: o desejo de autoconser-
vação e a piedade.
Desse modo, Rousseau demonstra que o homem primi-
tivo parecia viver em unidade orgânica consigo mesmo,
em total harmonia, ao passo que o homem moderno vivia
afastado da igualdade, apontando todos os passos que o
homem deu desde a liberdade no estado de natureza até a
vida desregrada e servil em sociedade.

72
1.1. O contrato social (1757)
Rousseau tenta estabelecer as condições de possibilidade de
uma sociedade legítima, estabelecendo, desde a sua origem,
as condições de uma sociedade legitimamente constituída.
Assim, a obediência às leis não poderá nunca se configu-
rar como a obediência a um homem ou a um grupo de
homens, mas como obediência a si mesmo, desde que as
leis tenham sido o resultado de uma decisão comum, que multimídia: livro
envolva a todos os membros da associação política. Pelo
O contrato Social
contrato social, todos os membros da associação assumem
a responsabilidade pelas deliberações públicas. O povo ad- ROUSSEAU, Jean-Jacques. São Paulo: L&PM,
quire a sua soberania e cada membro da associação se 2007.
transforma em um cidadão. Dessa maneira, o soberano é o
povo, pois os indivíduos, ao se submeterem pelo contrato
social, criam-se a si mesmos como povo.

multimídia: música
A culpa é de quem?
Pacto Social. Hasta La Lucha y Viva Zapata.
multimídia: vídeo Independente, 2018.
Fonte: Youtube A banda punk Pacto Social apresenta as de-
O contrato social – Resumo sigualdades criadas pelos acordos civis que
Vídeo que comenta sobre a obra O contrato naturalizam as desigualdades, estrutura tão
social, de Rousseau criticada por Rousseau.

Com isso, Rousseau propôs reformular a sociedade, que pre- 1.2. Emílio ou Da Educação (1762)
cisa criar seus regimentos internos, mas que visa a respeitar
Estruturado nessa nova conjuntura social, Rousseau apresen-
a natureza humana, ou seja, a conservação da liberdade e a
ta, no livro Emílio ou Da Educação, que, para a criação de uma
igualdade entre os homens. A fórmula rousseauniana con-
nova sociedade, era preciso criar um novo indivíduo, pensan-
siste em fomentar que o povo deve ser o principal agente
do na sua primeira formação – a infância. Assim, a criança
do Estado, e o governo deveria ser o representante desse
deveria ser preparada seguindo o acordo com a Natureza,
povo. Assim, as formas clássicas de governo – monarquia,
visando a um desenvolvimento progressivo de seus sentidos e
aristocracia e democracia – teriam um papel secundário em
de sua razão, com o intuito de reduzir a desigualdade social.
relação à representatividade do povo.
Nesse livro, ele expõe um direcionamento pedagógico para
cada estágio da vida, seguindo a dinâmica do livro, dividido
nos cinco capítulos. Nos dois primeiros capítulos, o filósofo
descreve que é preciso enfatizar o lado físico de sua educa-
ção até os doze anos, com o objetivo de aprender um ofício
manual. Nos capítulos III e IV, apresenta os estágios tran-
sitórios da adolescência, instante em que as faculdades da
razão do indivíduo começam a se consolidar. Já no capítulo V,
descreve a idade adulta, na qual emerge a Era da Sabedoria.

73
Essa estrutura pensada por Rousseau serviu para o nasci- os objetos que nos afetam é a educação das coisas.
mento do conceito moderno de infância, pois começou a Cada um de nós é, portanto, formado por três espécies
serem direcionadas ações específicas para diferentes eta- de mestres. O aluno em quem as diversas lições desses
mestres se contrariam é mal educado e nunca esta-
pas do jovem em sua formação, de modo a desencadear rá de acordo consigo mesmo; aquele em quem todas
um abandono da pedagogia escolástica tradicional, que visam ao mesmos pontos e tendem para os mesmos
moldava o homem, independente da idade. fins, vai sozinho a seu objetivo e vive em consequência.
Somente esse é bem educado.
1.3. O patrono da Revolução Francesa JEAN-JACQUES ROUSSEAU
Emílio ou Da Educação. São Paulo: Difel, 1979.
Durante os anos que constituíram a Revolução Francesa
(1789), os textos de Rousseau permeiam as mentes dos
burgueses, principalmente da ala mais radical – os jacobi-
nos. Essas ideias inovadoras de mudanças sociais serviram
de motivação para que os burgueses pudessem mudar o
sistema de governo e transformassem a sociedade francesa.

“A liberdade guiando o povo”, quadro do


francês Eugène Delacroix (1830)

O primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de


dizer: ‘Isso é meu’, e encontrou pessoas bastante simples
para crê-los, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil.
Quantos crimes, guerras, mortes, quantas misérias e hor-
rores não teria poupado ao gênero humano aquele que,
arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gri-
tado aos seus semelhantes: ‘Guardai-vos de escutar este
impostor; estais perdidos se esquecerdes que os frutos são
para todos, e que a terra é de ninguém!’ Mas existem um
grande indício de que as coisas aí já tivessem chegado ao
ponto de não poder mais continuar como estavam: pois
esta ideia de propriedade – provindo de muitas ideias an-
teriores, que não puderam nascer senão sucessivamente
– não se formou repentinamente no espírito humano (...).
JEAN-JACQUES ROUSSEAU
Discurso sobre a origem e dos fundamentos da desigualdade entre os
homens. In: Os Clássicos da Política. São Paulo: Ática, 2008, p. 201.

Nascemos fracos, precisamos de força; nascemos des-


providos de tudo, temos necessidade de assistência;
nascemos estúpidos, precisamos de juízo. Tudo o que
não temos ao nascer, e de que precisamos adultos,
é-nos dado pela educação. Essa educação nos vem
da natureza, ou dos homens ou das coisas. O desen-
volvimento interno de nossas faculdades e de nossos
órgãos é a educação da natureza; o uso que nos ensi-
nam a fazer desse desenvolvimento é a educação dos
homens; e o ganho de nossa própria experiência sobre

74
DIAGRAMA DE IDEIAS

ROUSSEAU

A SOCIEDADE É A SOCIEDADE
FORMADA CIVIL CONSOLIDA
A DESIGUALDADE
ENTRE OS SERES
HUMANOS
POR UM
CONTRATO SOCIAL

POIS TEM A
PROPRIEDADE
QUE ORDENA PRIVADA COMO
AS REGRAS CIVIS BASE
DESSE GRUPO

QUE PODE SER


MODIFICADO AO
LONGO DO TEMPO

75
Aplicando para cessidade da propriedade para garantir a subsistência.
e) A sociedade civil e a propriedade são expressões

Aprender (A.P.A.) da perfectibilidade humana, ou seja, da sua capaci-


dade de aperfeiçoamento.
1. (Unicamp) Leia o trecho a seguir. 3. (UFU) O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o
primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de
“O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a
dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente
ferros. O que se crê senhor dos demais não deixa de ser
simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, as-
mais escravo do que eles. (...) A ordem social, porém, é um
sassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero
direito sagrado que serve de base a todos os outros. (...)
humano aquele que, arrancando as estacas ou enchen-
Haverá sempre uma grande diferença entre subjugar uma
do o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: “Defen-
multidão e reger uma sociedade. Sejam homens isolados,
dei-vos de ouvir esse impostor; estarei perdidos se es-
quantos possam ser submetidos sucessivamente a um só,
quecerdes que os frutos são de todos e que a terra não
e não verei nisso senão um senhor e escravos, de modo
pertence a ninguém!”
algum considerando-os um povo e seu chefe. Trata-se,
caso se queira, de uma agregação, mas não de uma as- ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da
sociação; nela não existe bem público, nem corpo político. desigualdade entre os homens. São Paulo: Nova Cultural, 1997, p. 87.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensa-
[1762]. São Paulo: Abril, 1973, p. 28 e 36.
mento político de Rousseau, é correto afirmar:
Sobre Do contrato social, publicado em 1762, e seu au- a) A desigualdade é um fato natural autorizada pela
tor, é correto afirmar que: lei natural, independentemente das condições sociais
a) Rousseau, um dos grandes autores do Iluminismo, decorrentes da evolução histórica da humanidade.
defende a necessidade de o Estado francês substituir b) A finalidade da instituição da sociedade e do governo é
os impostos por contratos comerciais com os cidadãos. a preservação da individualidade e das diferenças sociais.
b) A obra inspirou os ideais da Revolução Francesa, c) A sociabilidade tira o homem do estado de natureza
ao explicar o nascimento da sociedade pelo contrato onde vive em guerra constante com os outros homens.
social e pregar a soberania do povo. d) Rousseau faz uma crítica ao processo de socializa-
c) Rousseau defendia a necessidade de o homem vol- ção, por ter corrompido o homem, tornando-o egoísta
tar a seu estado natural, para assim garantir a sobre- e mesquinho para com os seus semelhantes.
vivência da sociedade. e) Rousseau valoriza a fundação da sociedade civil,
d) O livro, inspirado pelos acontecimentos da Inde- que tem como objetivo principal a garantia da posse
pendência Americana, chegou a ser proibido e quei- privada da terra.
mado em solo francês.
4. (Mackenzie) Assinale a alternativa em que aparecem
2. (UEL 2018) Leia o texto a seguir. as principais ideias de Jean-Jacques Rousseau, em sua
obra O contrato social.
Por que só o homem é suscetível de tornar-se imbecil?
a) Cada homem é inimigo do outro, está em guerra
[...] O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o pri-
com o próximo e por esta razão cria o Estado para sua
meiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de
própria defesa e proteção.
dizer, isto é, meu e encontrou pessoas suficientemente
b) O Estado é uma realidade em si e é necessário con-
simples para acreditá-lo.
servá-lo, reforçá-lo e eventualmente reformá-lo, reconhe-
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e cendo uma única finalidade: sua prosperidade e grandeza.
os fundamentos da desigualdade entre os homens. 3. ed.
São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 243 e 259. c) O governante deve dar um bom exemplo para que
os súditos o sigam. Através da educação e de rituais,
Com base nos conhecimentos sobre sociedade civil, os homens de capacidade aprenderiam e transmiti-
propriedade e natureza humana no pensamento de riam os valores do passado.
Rousseau, assinale a alternativa correta. d) Que as classes dirigentes tremam ante a ideia de
a) A instauração da propriedade decorre de um ato legí- uma revolução! Os trabalhadores devem proclamar
abertamente que seu objetivo é a derrubada violenta
timo da sociedade civil, na medida em que busca aten-
da ordem social tradicional.
der às necessidades do homem em estado de natureza:
e) A única esperança de garantir os direitos de cada
b) A instauração da propriedade e da sociedade civil
indivíduo é a organização da sociedade civil, cedendo
cria uma ruptura radical do homem consigo mesmo e
todos os direitos à comunidade, para que seja politi-
de distanciamento da natureza.
camente justo o que a maioria decidir.
c) A fundação da sociedade civil é legitimada pela
racionalidade e pela universalidade do ato de instau- 5.(Unesp) Encontrar uma forma de associação que de-
ração da propriedade privada. fenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado
d) O sentimento mais primitivo do homem, que o leva com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-
a instituir a propriedade, é o reconhecimento da ne- -se a todos, só obedece, contudo, a si mesmo, perma-

76
necendo assim tão livre quanto antes. Esse, o problema A visão de Rousseau em relação à natureza humana,
fundamental cuja solução o contrato social oferece. [...] conforme expressa o texto, diz que
a) o homem civil é formado a partir do desvio de sua
Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o própria natureza.
seu poder sob a direção suprema da vontade geral, e
b) as instituições sociais formam o homem de acordo
recebemos, enquanto corpo, cada membro como parte
com a sua essência natural.
indivisível do todo.
c) o homem civil é um todo no corpo social, pois as
(Jean-Jacques Rousseau. Do contrato social, 1983.) instituições sociais dependem dele.
d) o homem é forçado a sair da natureza para se tor-
O texto apresenta características:
nar absoluto.
a) iluministas e defende a liberdade e a igualdade so- e) as instituições sociais expressam a natureza huma-
cial plenas entre todos os membros de uma sociedade. na, pois o homem é um ser político.
b) socialistas e propõe a prevalência dos interesses
coletivos sobre os interesses individuais. 8. (Unioeste) “Através dos princípios de um direito na-
c) iluministas e defende a liberdade individual e a necessida- tural preexistente ao Estado, de um Estado baseado
de de uma convenção entre os membros de uma sociedade. no consenso, de subordinação do poder executivo ao
d) socialistas e propõe a criação de mecanismos de poder legislativo, de um poder limitado, de direito de
união e defesa de todos os trabalhadores. resistência, Locke expôs as diretrizes fundamentais do
Estado liberal.”
e) iluministas e defende o estabelecimento de um
poder rigidamente concentrado nas mãos do Estado. (Bobbio)

6.(Unesp 2020) Cada um de nós põe em comum sua Considerando o texto citado e o pensamento político
pessoa e todo o seu poder sob a direção suprema da de Locke, seguem as afirmativas abaixo:
vontade geral, e recebemos, enquanto corpo, cada
membro como parte indivisível do todo. [...] um corpo I. A passagem do estado de natureza para a sociedade
moral e coletivo, composto de tantos membros quantos política ou civil, segundo Locke, é realizada mediante um
são os votos da assembleia [...]. Essa pessoa pública, contrato social, através do qual os indivíduos singulares,
que se forma, desse modo, pela união de todas as ou- livres e iguais dão seu consentimento para ingressar no
tras, tomava antigamente o nome de cidade e, hoje, o estado civil.
de república ou de corpo político, o qual é chamado por
seus membros de Estado [...]. II. O livre consentimento dos indivíduos para formar a so-
ciedade, a proteção dos direitos naturais pelo governo, a
(Jean-Jacques Rousseau. Os pensadores. 1983.) subordinação dos poderes, a limitação do poder e o direito
O texto, produzido no âmbito do iluminismo francês, à resistência são princípios fundamentais do liberalismo
apresenta a doutrina política do: político de Locke.
a) coletivismo, manifesto na rejeição da propriedade priva- III. A violação deliberada e sistemática dos direitos natu-
da e na defesa dos programas socialistas de estatização. rais e o uso contínuo da força sem amparo legal, segundo
b) humanismo, presente no projeto liberal de valorizar Locke, não são suficientes para conferir legitimidade ao di-
o indivíduo e sua realização no trabalho. reito de resistência, pois o exercício de tal direito causaria
c) socialismo, presente na crítica ao absolutismo monár- a dissolução do estado civil e, em consequência, o retorno
quico e na defesa da completa igualdade socioeconômica. ao estado de natureza.
d) corporativismo, presente na proposta fascista de unir
IV. Os indivíduos consentem livremente, segundo Locke,
o povo em torno da identidade e da vontade nacional.
em constituir a sociedade política com a finalidade de pre-
e) contratualismo, manifesto na reação ao Antigo Re-
gime e na defesa dos direitos de cidadania.
servar e proteger, com o amparo da lei, do arbítrio e da
força comum de um corpo político unitário, os seus inalie-
7. (Enem PPL) O homem natural é tudo para si mesmo; é a náveis direitos naturais à vida, à liberdade e à propriedade.
unidade numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona
consigo mesmo ou com seu semelhante. O homem civil
V. Da dissolução do poder legislativo, que é o poder no
é apenas uma unidade fracionária que se liga ao deno- qual “se unem os membros de uma comunidade para for-
minador, e cujo valor está em sua relação com o todo, mar um corpo vivo e coerente”, decorre, como consequên-
que é o corpo social. As boas instituições sociais são as cia, a dissolução do estado de natureza.
que melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua
existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir Das afirmativas feitas acima
o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular a) somente a afirmação I está correta.
não se julgue mais como tal, e sim como uma parte da b) as afirmações I e III estão corretas.
unidade, e só seja percebido no todo. c) as afirmações III e IV estão corretas.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou Da Educação. d) as afirmações II e III estão corretas.
São Paulo: Martins Fontes, 1999. e) as afirmações III e V estão incorretas.

77
9. (UFSM) Sem leis e sem Estado, você poderia fazer o Tomando como referência as ideias do texto, explique a
que quisesse. Os outros também poderiam fazer com diferença entre estado de natureza e estado civil.
você o que quisessem. Esse é o “estado de natureza”
descrito por Thomas Hobbes, que, vivendo durante as
guerras civis britânicas (1640-60), aprendeu em primei-
ra mão como esse cenário poderia ser assustador. Sem
Gabarito
uma autoridade soberana não pode haver nenhuma se- 1-B; 2-A; 3-D; 4-E; 5-C; 6-E; 7-A; 8-E; 9-C
gurança, nenhuma paz.
10. Segundo o filósofo Rousseau, é impossível sobre-
LAW, Stephen. Guia Ilustrado Zahar: Filosofia. viver no estado de natureza, apesar do ser humano ter
Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
uma liberdade, depois de vivenciar o estado civil, com
Considere as afirmações: regras – esse indivíduo não consegue mais retornar ao
I. A argumentação hobbesiana em favor de uma autorida- um estado primitivo.
de soberana, instituída por um pacto, representa inequivo- 11. Para Rousseau, existem muitas diferenças entre o es-
camente a defesa de um regime político monarquista.
tado de natureza e o estado civil. No estado de natureza,
II. Dois dos grandes teóricos sobre o estado de natureza”, o ser humano tem plena liberdade de agir, sem se limitar
Hobbes e Rousseau, partilham a convicção de que o afeto
ou ser punido de forma civil; enquanto no estado civil, o
predominante nesse “estado” é o medo.
ser humano ganha uma liberdade vigiada, o poder de ter a
III. Um traço comum da filosofia política moderna é a ide- propriedade privada, e se acostuma com as desigualdades
alização de um pacto que estabeleceria a passagem do
entre os homens.
estado de natureza para o estado de sociedade.
Está(ão) correta(s):
a) apenas I.
b) apenas II.
c) apenas III.
d) apenas I e II.
e) apenas II e III.

10. “A passagem do estado de natureza para o estado


civil determina ao homem uma mudança muito notá-
vel, substituindo na sua conduta o instinto pela justiça
e dando às suas ações a moralidade que antes lhe falta-
va. É só então que, tomando a voz do dever o lugar do
impulso físico, e o direito o lugar do apetite, o homem,
até aí levando em consideração apenas a sua pessoa,
vê-se forçado a agir baseando-se em outros princípios
e a consultar a razão antes de ouvir suas inclinações.”

ROUSSEAU. O contrato social. Livro I. Cap. VIII.

Nesse fragmento, Rousseau sublinha as implicações da


passagem do estado de natureza para o estado civil.
Explique por que seria impossível para o homem sobre-
viver em um estado de natureza.

11. O homem natural é tudo para si mesmo: ele é a uni-


dade numérica, o inteiro absoluto que só tem relação
com ele próprio ou com seu semelhante. O homem civil
é apenas uma unidade fracionária que depende do de-
nominador cujo valor está em sua relação com o inteiro,
que é o corpo social. As boas instituições são aquelas
que melhor sabem desnaturar o homem, tirar-lhe sua
existência absoluta para lhe dar uma relativa, e trans-
portar o eu para a unidade comum: de tal modo que
cada particular não se creia mais um, mas parte da uni-
dade, e apenas seja sensível no todo.
ROUSSEAU, Jean-Jacques, Oeuvres Complètes.
Pleiade, 1964 (fragmento).

78
AULA Iluminismo alemão
12
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

O processo histórico que expandiu o conhecimento huma- Para o filósofo alemão, o processo de obter conhecimento
no na região da Alemanha, entre os séculos XVII e XIX, pode ser adquirido tanto de forma empírica como racional,
teve um aparato mais ideológico, não desencadeando para unindo, pela primeira vez, correntes que caminhavam sepa-
futuras transformações sociais, como ocorreu no iluminis- radas na história da filosofia.
mo francês. Com um viés nacionalista, questionou o abso-
lutismo e a Igreja. O conceito “iluminismo”, na Alemanha, 1.1. A importância dos sentidos e da razão
surgiu com o filósofo Immanuel Kant.
Kant apresenta que os sentidos e a razão desempenham
papel fundamental na maneira do ser humano experimen-
tar o mundo. Para o filósofo, as experiências nos proporcio-
nam um tipo de conhecimento, como pensam os empiristas.
Entretanto, a razão também apresenta pressupostos rele-
vantes para a maneira como podemos descobrir o mundo.
Só que existem fatores condicionantes que determinam
como analisamos essa realidade – fatores racionalistas.
Um exemplo é se nos imaginarmos utilizando óculos com
lentes azuis, de modo que tudo o que vemos teria tons
“Kant e seus companheiros na mesa”, pintura de Emil Doerstling
azulados. As lentes azuis seriam a razão: fatores que condi-
cionam nossa percepção da realidade.
1. Immanuel Kant (1724-1804) Porém, nessa conjuntura de pensamento, o filósofo re-
O filósofo Immanuel Kant nasceu na cidade de Königsberg mete que esses pressupostos são subjetivos, isto é, se
(atual Kaliningrado). Ele foi responsável por desenvolver referem ao sujeito, a quem usa os óculos. Ao passo que,
uma síntese entre duas correntes filosóficas: o racionalis- estes pressupostos são o tempo e o espaço, ou seja, a
mo e o empirismo. experiência que praticamos desencadeará a formação do
nosso conhecimento.

multimídia: vídeo
A análise kantiana afirma que existia uma incompetência Fonte: Youtube
no racionalismo para demonstrar a existência, contrarian- Kant – a priori e a posteriori
do, em parte, a solução dada por Descartes para tal; e tam- Immanuel Kant categoriza o conhecimento,
bém com a incompetência do empirismo para demonstrar definindo duas formas: a priori e a posteiori.
como a experiência tornava-se conhecimento.

79
O filósofo distingue duas formas básicas do ato de conhecer:
§ O conhecimento empírico (a posteriori), fruto da ex-
periência – aquele que se refere aos dados fornecidos
pelos sentidos, isto é, que é posterior à experiência.
Exemplo: “Este livro tem a capa verde.”
§ O conhecimento puro (a priori), fruto apenas do racio-
cínio independente da experiência – aquele que não
depende de quaisquer dados dos sentidos, ou seja, que
é anterior à experiência. Nasce puramente de uma ope- A revolução kantiana consiste em mostrar que o objeto
ração racional. Exemplo: “Duas linhas paralelas jamais se regula pela faculdade de conhecer, ao invés de admi-
se encontraram no espaço.” tir que a faculdade de conhecer se regula pelo objeto. A
filosofia, assim, deveria investigar a possível existência de
certos princípios a priori que seriam responsáveis pela sín-
tese dos dados empíricos. Estes, por sua vez, deveriam ser
encontrados nas duas fontes de conhecimento, que seriam
a sensibilidade e o entendimento.
Assim, as ideias puras da razão são ilusões, pois pretendem
transformar o transcendental em transcendente (aquilo que
ultrapassa toda experiência possível). O transcendental –
as formas de intuição (espaço e tempo) e do entendimento
(as categorias) – é apenas a forma da objetividade, e não
o próprio objeto; é vazio de conteúdo e não significa em si.
A metafísica, então, não é nem sequer falsa ou fictícia,
é propriamente ilusão, esse vazio do não conhecimento,
que é produzido pelo uso ilegítimo dos conceitos. É por
tal ilegitimidade que a metafísica deve ser condenada no
tribunal da razão.

1.2. A revolução copernicana


Em seu questionamento lógico-transcendental, Kant atin-
ge, pela primeira vez, consciência de si mesmo. A solução
apresentada por ele para esta oposição entre o raciona-
lismo e o empirismo é chamada de “revolução coperni-
cana da filosofia”, numa alusão ao paradigma feito por
Copérnico na astronomia.
Kant salienta que a razão é inata, mas é uma estrutura es-
vaziada e sem conteúdo, que não depende da experiência
para existir. A razão fornece a forma do conhecimento e a
multimídia: vídeo
matéria é fornecida pelo conhecimento. Diante disso, esse Fonte: Youtube
conhecimento é racional e verdadeiro. Kant e a razão pura
Afirma também que não podemos conhecer a realidade O professor de Filosofia da Unicamp Daniel
das coisas e do mundo, o que ele trata de noumeno Omar Perez ressalta a crítica da razão pura e
(a coisa-em-si). Isso ocorre porque a razão humana só a razão prática.
pode conhecer aquilo que recebe em formas, como cor
e tamanho, e em categorias, como os elementos que
organizam o conhecimento. 1.3. As categorias do juízo
Com isso, Kant afirma que a realidade não está nas coisas, Segundo Kant, o intelecto possui doze categorias. A razão
mas em nós. Assim, vemos o mundo pela nossa razão, de- possui somente três ideias que não constituem objetos,
pois que as percepções passaram pelas categorias. mas são reguladoras das ações. São elas:

80
§ ideia psicológica (alma);
§ ideia cosmológica (do mundo como totalidade); e
§ ideia teológica (de Deus).
O juízo consiste na conexão de dois conceitos:
§ Juízo analítico: são juízos em que o predicado (B) pode
estar contido no sujeito (A) e, por isso, ser extraído por
uma análise. Isso significa que o predicado nada mais faz
do que explicar ou explicitar o sujeito. Exemplo: “Todo
triângulo tem três lados.”
§ Juízos sintéticos a posteriori: são aqueles em que o
predicado não está contido no sujeito, mas relacio-
na-se a ele por uma síntese. Esta, porém, é sempre
particular ou empírica, não sendo universal e neces-
sária, portanto, não servem para a ciência. Exemplo:
“Aquela casa é verde.”
§ Juízos sintéticos a priori: são juízos em que também
o predicado não é extraído do sujeito, mas que, pela
experiência, forma-se como algo novo, construído. No
entanto, essa construção deve permitir ou antever a pos-
sibilidade da repetição da experiência, isto é, a apriorida-
de, entendida como a possibilidade formal de construção
fenomênica, que permite a universalidade e a necessi-
dade dos juízos. A experiência aqui não é a mera depo-
sição de fenômenos na mente, em razão da sequência
das percepções, mas sim a organização da mente numa
unidade sintética daquilo que é recebido pela intuição.
O imperativo categórico procede em todas as suas ações,
de modo que a norma de seu proceder possa tornar-se
uma lei universal – este é o princípio universal que une
todos os homens, sendo uma lei inflexível.

81
DIAGRAMA DE IDEIAS

KANT

UNE O REVOLUÇÃO
RACIONALISMO COPERNICANA
COM O EMPIRISMO

O OBJETO SE
O PROCESSO DE
REGULA PELA
OBTENÇÃO DO
FACULDADE DE
CONHECIMENTO
CONHECER
TEM VÁRIAS
FORMAS

O INDIVÍDUO
APLICA SUA
CONHECIMENTO ANÁLISE
A PRIORI PERANTE O
OBJETO
PELA RAZÃO

CONHECIMENTO
A POSTERIORI

PELA
EXPERIÊNCIA

82
Aplicando para obra Crítica da razão pura, são denominadas, respecti-
vamente, juízo universal e juízo necessário e suficiente.

Aprender (A.P.A.) d) o registro mais contundente acerca do conhecimen-


to se faz a partir da distinção de dois juízos, a saber:
juízo analítico e juízo sintético ou juízo de elucidação.
1. (Uema) Fraqueza e covardia são as causas pelas quais
a maioria das pessoas permanece infantil mesmo ten- 4. (Unioeste) “Em todos os juízos em que for pensada
do condição de libertar-se da tutela mental alheia. Por a relação de um sujeito com o predicado (se considero
isso, fica fácil para alguns exercer o papel de tutores, apenas os juízos afirmativos [...]), essa relação é possí-
pois muitas pessoas, por comodismo, não desejam se vel de dois modos. Ou o predicado B pertence ao sujeito
tornar adultas. Se tenho um livro que pensa por mim; A como algo contido (ocultamente) nesse conceito A,
um sacerdote que dirige minha consciência moral; um ou B jaz completamente fora do conceito A, embora es-
médico que me prescreve receitas e, assim por diante, teja em conexão com o mesmo”.
não necessito preocupar-me com minha vida. Se posso
adquirir orientações, não necessito pensar pela minha (Kant)
cabeça: transfiro ao outro esta penosa tarefa de pensar.
Considerando o texto acima e a teoria do conhecimento
KANT, Immanuel. O que é a ilustração. In: WEFFORT, F. (Org.). de Kant, é incorreto afirmar que:
Os clássicos da política. V. 2, 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
a) os juízos sintéticos a posteriori são os mais impor-
Esse fragmento compõe o livro de Kant que trata da tantes para a teoria do conhecimento de Kant, pois são
importância da(o): contingentes e particulares, estando ligados a casos
empíricos singulares.
a) juízo.
b) Kant denomina o primeiro modo de relacionar sujeito e
b) razão. predicado de juízo analítico e o segundo, de juízo sintético.
c) cultura. c) o problema do conhecimento para Kant envolve res-
d) costume. ponder “como são possíveis os juízos sintéticos a priori?”.
e) experiência. d) os juízos analíticos, embora universais e neces-
sários, não fazem progredir o conhecimento, pois
2. (Enem) Até hoje admitia-se que nosso conhecimento
são tautológicos.
se devia regular pelos objetos; porém todas as tenta-
e) o juízo “Todos os corpos são extensos” é analítico,
tivas para descobrir, mediante conceitos, algo que am-
pois não há como pensar o conceito de corpo sem o
pliasse nosso conhecimento, malogravam-se com esse
conceito de extensão.
pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar
se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, 5. (Uncisal) Contrapondo ceticismo e dogmatismo, o cri-
admitindo que os objetos se deveriam regular pelo ticismo se apresenta como única saída para se repensar
nosso conhecimento. às questões pertinentes à metafísica. O criticismo deno-
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Lisboa:
mina a filosofia de:
Calouste-Gulbenkian, 1994 (adaptado). a) Hume.
b) Hegel.
O trecho em questão é uma referência ao que ficou co-
nhecido como revolução copernicana na filosofia. Nele, c) Kant.
confrontam-se duas posições filosóficas que: d) Marx.
e) Rousseau.
a) assumem pontos de vista opostos acerca da natu-
reza do conhecimento. 6. (UEL) Leia o texto a seguir.
b) defendem que o conhecimento é impossível, res-
tando-nos somente o ceticismo. Na primeira secção da Fundamentação da metafísica dos
c) revelam a relação de interdependência entre os da- costumes, Kant analisa dois conceitos fundamentais de sua
dos da experiência e a reflexão filosófica. teoria moral: o conceito de vontade boa e o de imperativo
d) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, categórico. Esses dois conceitos traduzem as duas condições
na primazia das ideias em relação aos objetos. básicas do dever: o seu aspecto objetivo, a lei moral, e o seu
e) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nos- aspecto subjetivo, o acatamento da lei pela subjetividade li-
so conhecimento e são ambas recusadas por Kant. vre, como condição necessária e suficiente da ação.
3. (UFSJ) Sobre a questão do conhecimento na filosofia DUTRA, D.V. Kant e Habermas: a reformulação discursiva da
moral kantiana. Porto Alegre: EdiPUC-RS, 2002, p. 29.
kantiana, é correto afirmar que:
a) o ato de conhecer se distingue em duas formas bá- Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria
sicas: conhecimento empírico e conhecimento puro. moral kantiana, é correto afirmar:
b) para conhecer, é preciso se lançar ao exercício do a) A vontade boa, enquanto condição do dever, consis-
pensar conceitos concretos. te em respeitar a lei moral, tendo como motivo da ação
c) as formas distintas de conhecimento, descritas na a simples conformidade à lei.

83
b) O imperativo categórico incorre na contingência de um mundo inteligível, e, visto que confundiam (o que era
um querer arbitrário cuja intencionalidade determina de desculpar a uma época ainda inculta) fenômeno e apa-
subjetivamente o valor moral da ação. rência, atribuíram realidade unicamente aos seres inteligí-
c) Para que possa ser qualificada do ponto de vista veis. De fato, se, como convém, considerarmos os objetos
moral, uma ação deve ter como condição necessária dos sentidos como simples fenômenos, admitimos assim
e suficiente uma vontade condicionada por interesses que lhe está subjacente uma coisa em si, embora não sai-
e inclinações sensíveis. bamos como ela é constituída em si mesma, mas apenas
d) A razão é capaz de guiar a vontade como meio conheçamos o seu fenômeno, isto é, a maneira como os
para a satisfação de todas as necessidades e assim nossos sentidos são afetados por este algo desconhecido”.
realizar seu verdadeiro destino prático: a felicidade. (Kant)
e) A razão, quando se torna livre das condições
subjetivas que a coagem, é, em si, necessariamente Sobre a teoria do conhecimento kantiana, conforme o
conforme a vontade e somente por ela suficiente- texto acima, seguem as seguintes afirmativas:
mente determinada.
I. Desde sempre, os filósofos atribuíram realidade tanto aos
7. (Uncisal) No século XVIII, o filósofo Emanuel Kant for- seres sensíveis quanto aos seres inteligíveis.
mulou as hipóteses de seu idealismo transcendental. Se-
gundo Kant, todo conhecimento logicamente válido ini- II. Podemos conhecer, em relação às coisas em si mesmas,
cia-se pela experiência, mas é construído internamente apenas seu fenômeno, ou seja, a maneira como elas afe-
por meio das formas a priori da sensibilidade (espaço e tam nossos sentidos.
tempo) e pelas categorias lógicas do entendimento. Des-
sa maneira, para Kant, não é o objeto que possui uma III. Porque podemos conhecer apenas seus fenômenos, as
verdade a ser conhecida pelo sujeito cognoscente, mas coisas em si mesmas não têm realidade.
sim o sujeito que, ao conhecer o objeto, nele inscreve
suas próprias coordenadas sensíveis e intelectuais. De IV. Os filósofos anteriores a Kant não diferenciavam fenô-
acordo com a filosofia kantiana, pode-se afirmar que: meno de aparência, e, assim, consideravam que o fenôme-
a) a mente humana é como uma tabula rasa, uma no não era real.
folha em branco que recebe todos os seus conteúdos
da experiência. V. As intuições puras da sensibilidade e os conceitos puros do
b) os conhecimentos são revelados por Deus para entendimento incidem apenas em objetos de uma experiência
os homens. possível; sem as primeiras, os segundos não têm significação.
c) todos os conhecimentos são inatos, não dependen-
Das afirmativas feitas acima:
do da experiência.
d) Kant foi um filósofo da antiguidade. a) apenas II e IV estão corretas.
e) para Kant, o centro do processo de conhecimento é b) apenas II, IV e V estão corretas.
o sujeito, não o objeto. c) apenas II, III, IV e V estão corretas.
d) todas as afirmativas estão corretas.
8. (Uema) Na perspectiva do conhecimento, Immanuel
Kant pretende superar a dicotomia racionalismo-empi- e) todas as afirmativas estão incorretas.
rismo. Entre as alternativas abaixo, a única que contém 10. (UEL) “O imperativo categórico é, portanto só um único,
informações corretas sobre o criticismo kantiano é: que é este: Age apenas segundo uma máxima tal que pos-
a) A razão estabelece as condições de possibilidade sas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.”
do conhecimento; por isso independe da matéria do
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos
conhecimento. costumes. Lisboa: Edições 70, 1995, p. 59.
b) O conhecimento é constituído de matéria e forma.
Para termos conhecimento das coisas, temos de orga- Segundo essa formulação do imperativo categórico por
nizá-las a partir da forma a priori do espaço e do tempo. Kant, uma ação é considerada ética quando:
c) O conhecimento é constituído de matéria, forma a) privilegia os interesses particulares em detrimento
e pensamento. Para termos conhecimento das coisas de leis que valham universal e necessariamente.
temos de pensá-las a partir do tempo cronológico.
b) ajusta os interesses egoístas de uns ao egoísmo
d) A razão enquanto determinante nos conhecimen- dos outros, satisfazendo as exigências individuais de
tos fenomênicos e noumênicos (transcendentais) prazer e felicidade.
atesta a capacidade do ser humano.
c) é determinada pela lei da natureza, que tem como
e) O homem conhece pela razão a realidade fenomêni-
fundamento o princípio de autoconservação.
ca porque Deus é quem afinal determina este processo.
d) está subordinada à vontade de Deus, que preesta-
9. (Unioeste) “Já desde os tempos mais antigos da filoso- belece o caminho seguro para a ação humana.
fia, os estudiosos da razão pura conceberam, além dos se- e) a máxima que rege a ação pode ser universalizada,
res sensíveis ou fenômenos, que constituem o mundo dos ou seja, quando a ação pode ser praticada por todos,
sentidos, seres inteligíveis particulares, que constituiriam sem prejuízo da humanidade.

84
11. (Unesp) Preguiça e covardia são as causas que ex- que faria a libertação da tutoria uma escolha ainda menos
plicam por que uma grande parte dos seres humanos, provável. Enfim, passar da menoridade para a maioridade é
mesmo muito após a natureza tê-los declarado livres da um ato de libertação do homem das relações de tutela que
orientação alheia, ainda permanecem, com gosto, e por
direcionam opressivamente o seu comportamento.
toda a vida, na condição de menoridade. É tão confortá-
vel ser menor! Tenho à disposição um livro que entende 12. Para o filósofo Kant, o termo menoridade refere-se
por mim, um pastor que tem consciência por mim, um à “incapacidade de servir-se do próprio intelecto sem a
médico que prescreve uma dieta etc.: então não preciso
guia de outro”, ou seja, a incapacidade do pensamento
me esforçar. A maioria da humanidade vê como muito
perigoso, além de bastante difícil, o passo a ser dado de se desenvolver fora de um quadro de restrições institu-
rumo à maioridade, uma vez que tutores já tomaram cionais representadas, ou seja, de desenvolver uma crítica
para si de bom grado a sua supervisão. Após terem pre- ou uma reflexão perante a realidade. No final do século
viamente embrutecido e cuidadosamente protegido XVIII, no contexto do iluminismo e do processo revolucio-
seu gado, para que estas pacatas criaturas não ousem nário francês, a Igreja perdeu influência e o Estado leigo
dar qualquer passo fora dos trilhos nos quais devem
ascendeu, criando-se, assim, as condições sociais para a
andar, os tutores lhes mostram o perigo que as ame-
aça caso queiram andar por conta própria. Tal perigo,
superação da “menoridade”.
porém, não é assim tão grande, pois, após algumas que-
das, aprenderiam finalmente a andar; basta, entretanto,
o perigo de um tombo para intimidá-las e aterrorizá-las
por completo para que não façam novas tentativas.
Immanuel Kant apud Danilo Marcondes. Textos básicos
de ética – de Platão a Foucault, 2009 (adaptado).

O texto se refere à resposta dada pelo filósofo Kant à


pergunta sobre “O que é o iluminismo?”. Explique o
significado da oposição por ele estabelecida entre “me-
noridade” e “autonomia intelectual”.

12. (Unesp) O iluminismo é a saída do homem de um


estado de menoridade que deve ser imputado a ele
próprio. Menoridade é a incapacidade de servir-se do
próprio intelecto sem a guia de outro. Imputável a si
próprios é esta menoridade se a causa dela não depen-
de de um defeito da inteligência, mas da falta de deci-
são e da coragem de servir-se do próprio intelecto sem
ser guiado por outro. Sapere aude! Tem a coragem de
servires de tua própria inteligência!
(Immanuel Kant, 1784)

Esse texto do filósofo Kant é considerado uma das mais


sintéticas e adequadas definições acerca do Iluminismo.
Justifique essa importância comentando o significado
do termo religião e da política.

Gabarito
1-B; 2-A; 3-A; 4-A; 5-C; 6-A; 7-E; 8-B; 9-B; 10-E
11. A oposição entre menoridade e maioridade (ou autono-
mia) é o recurso alegórico utilizado para falar sobre o estado
do homem e o movimento iluminista, que buscava retirar o
homem deste estado. O homem, segundo Kant, está aco-
modado. Preguiçoso e covarde, o homem continua, mesmo
depois de adquirir plenas capacidades de ser autônomo (de
se dar a própria lei), servo da consciência de outros, das pres-
crições de terceiros. Além da sua própria preguiça e covardia,
o ato mesmo de se tornar maior é visto como perigoso, o

85
AULA O dever kantiano
13
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. A maioridade intelectual as restrições às liberdades são bastante comuns (ainda


mais em sua época). Finalmente, o filósofo conclui que
Em sua obra O que é o esclarecimento?, o filósofo Imma- ter esclarecimento não se trata somente de se adquirir um
nuel Kant esclarece que, quando o indivíduo consegue pos- profundo conhecimento sobre determinado tema, mas sim
tular suas próprias ideias e críticas, ele atinge a maioridade combinar este conhecimento à conquista da autonomia e
intelectual, saindo de um estágio de menoridade, ou seja, da emancipação humana.
esse ser consegue sair da condição de incapacidade de fa-
zer uso da razão sem a orientação de outro indivíduo. Esse
alcance do esclarecimento não tem uma ligação direta com
2. A paz perpétua (1795)
a idade biológica desse sujeito. Em 1795, Kant escreveu essa obra, com o objetivo de apre-
sentar como os Estados nacionais poderiam estabelecer en-
tre si um quadro de paz perpétua, tendo como força motriz
a racionalidade, conjunto com os requisitos da maioridade
intelectual. Diante disso, todos os países devem respeitar
um pacto de não agressão, visando a uma ética universal,
que respeita todos os seres humanos existentes no Plane-
ta, sem violar as regras locais de seus respectivos países.

O interessante é que, para Kant, o culpado por essa condi-


ção pode ser o próprio indivíduo, no caso de sua motivação
ser a falta de coragem de utilizar-se da razão por si mesmo.
Para o filósofo, todo indivíduo vive uma situação de me- multimídia: livro
noridade em algum momento de sua vida: neste caso, a
A paz perpétua
menoridade é natural, pois é o mesmo que imaturidade.
O filósofo diz que nenhum ser humano nasce inteiramente Immanuel Kant. Porto Alegre: L&PM, 2016.
pronto para o raciocínio; uma criança demora até atingir a
autossuficiência, por exemplo.
Com essas teorias, Kant antevê as ações da Organização
Kant afirma que a comodidade e a covardia são os grandes das Nações Unidas (ONU), que visa a assegurar que os
motivos pelos quais tantos homens continuem presos à Estados compactuem um acordo de paz e não iniciem
menoridade – e frisa que, caso seja de sua vontade (e caso um conflito armado.
não haja barreiras para isso, como restrições à liberdade),
todo e qualquer homem é capaz de abandonar a menori-
dade e concluir o processo de esclarecimento.
Conforme dito anteriormente, Kant ressalta que, para ha-
ver esclarecimento, a liberdade é condição fundamental:
só se pode raciocinar se o direito ao questionamento for
amplamente garantido. O filósofo reconhece, contudo, que

86
3. A ética kantiana maneira descolada de suas próprias emoções. Ela ofereceu
ajuda ao pedinte porque sabia que aquilo era o certo a se
(ou a ética do dever) fazer, porque era seu dever (por essa razão, inclusive, a ética
kantiana também é chamada de ética do dever); a primeira
Kant também dedicou grande parte de sua obra a questões pessoa, por sua vez, ofereceu ajuda por pena, pela maneira
relativas à esfera moral. Segundo o filósofo, todo ser huma- como se sentiu. Da mesma forma, Kant veria alguém que
no sabe o que é certo e o que é errado: este conhecimento pratica boas ações para se promover socialmente ou ficar
é intrínseco à condição humana. Isso ocorre porque Kant bem aos olhos de Deus. Se esta é a motivação de suas boas
diz que todos somos dotados de uma razão prática, isto é, ações, ele diria, elas de nada valem.
de uma capacidade racional inata de discernir sobre o que
é certo e o que é errado.

multimídia: música
Fonte: Youtube

O caminho do bem
Tim Maia. Álbum: Racional Vol. 1. Seroma, 1976.
A música de Tim Maia salienta o dever kan-
O filósofo vai além: a capacidade de discernimento é tão
tiano, de que se utilizando de ações racionais,
inata quanto qualquer outra faculdade da razão – tal afir-
chegaremos ao bem universal.
mação tem desdobramentos importantes. O mais óbvio é o
fato de a ética kantiana ser baseada na ideia de que há algo
como uma lei moral universal, tão absoluta quanto qualquer
lei natural. Tal lei seria, segundo Kant, válida para qualquer
momento histórico, sociedade e situação, e seria também im-
4. A liberdade, para Kant
perativa, pois não se pode escapar dela. Kant a formula, por- A concepção de liberdade para Kant, não se liga à feli-
tanto, como um imperativo categórico, e um de seus maiores cidade, nem é determinada a um bem externo a ela – a
pressupostos, juntamente com a ideia de que a moralidade liberdade está atrelada ao homem. Diante disso, o bem é o
está relacionada à maneira universal de se agir, é a proibição que resulta da razão, à medida que ela determina a ação.
de se utilizar outrem como meios para atingir quaisquer ob- Assim, o homem precisa submeter-se às leis éticas, que vi-
jetivos: todos devem ser tratados como um fim em si mesmo. sem a um respeito universalista e que condicionem a esse
ser uma maioridade. Por isso, a liberdade para Kant é uma
Pode-se entender a lei moral kantiana como a manifestação autonomia para o sujeito.
da própria consciência humana – que também é intrínseca
a todo homem e não pode ser comprovada racionalmente, Dessa forma, a liberdade é a autonomia de cumprir seu
apesar de ser possível conhecê-la. Kant diz que muito mais dever, de acordo com as leis da natureza – com isso, somos
importante para a moralidade do que se perguntar o que donos de nós mesmos e de nossas ações.
fazer é se perguntar o motivo pelo qual se faz alguma coisa. Não deve considerar-se como válido nenhum tratado
de paz que se tenha feito com a reserva secreta de
Imaginemos a seguinte situação: uma pessoa é abordada elementos para uma guerra futura. Seria então, pois,
na rua por um pedinte e, ao sentir pena de sua situação, apenas um simples armistício, um adiamento das
lhe dá uma esmola. Uma segunda pessoa também é abor- hostilidades e não a paz, que significa o fim de todas
as hostilidades, e juntar-lhe o epíteto eterna é já um
dada pelo pedinte e, apesar de não se compadecer de sua
pleonasmo suspeitoso. As causas existentes para uma
situação, lhe oferece ajuda mesmo assim. Kant diria que a guerra futura, embora talvez não conhecidas agora
segunda pessoa agiu mais moralmente do que a primeira. nem sequer pelos negociadores, aniquilam-se no seu
Por quê? Simplesmente porque a segunda pessoa agiu de conjunto pelo tratado de paz, por muito que se possam

87
extrair dos documentos de arquivo mediante um es- dade de um ministro a complacência em tais deduções,
crutínio penetrante. – A restrição (reservatio mentalis) se o assunto se julgar tal como é em si mesmo. Se, pelo
sobre velhas pretensões a que, no momento, nenhuma contrário, a verdadeira honra do Estado se colocar, se-
das partes faz menção porque ambas estão demasia- gundo os conceitos ilustrados da prudência política, no
do esgotadas para prosseguir a guerra, com a perver- contínuo incremento do poder seja por que meios for,
sa vontade de, no futuro, aproveitar para este fim a então aquele juízo afigurar-se-á como escolar e pedante.
primeira oportunidade, pertence à casuística jesuítica IMMANUEL KANT
e não corresponde à dignidade dos governantes, do A paz perpétua. Corvilhã: LusoSofia Press, 2008, p. 4-5.
mesmo modo que também não corresponde à digni-

DIAGRAMA DE IDEIAS

KANT

O SER HUMANO DEVER EM SI NA


PODE CONSEGUIR BUSCA DE UM
SER INDEPENDENTE BEM UNIVERSAL

O HOMEM,
ATINGINDO A
UTILIZANDO DE
MAIORIDADE
SUA RAZÃO, TEM
INTELECTUAL
O DEVER

DE CONSTRUIR
COMEÇA A TER UM
UM CAMINHO
POSICIONAMENTO
SEGURO, QUE
CRÍTICO
RESPEITE A TODOS

ESSE ESTADO CONDICIONANDO


NÃO DEPENDE DA PARA UMA PAZ
IDADE BIOLÓGICA UNIVERSAL

88
Aplicando para d) Os súditos de um Estado Civil devem possuir igualdade
de ação em conformidade com a lei universal da liberdade.

Aprender (A.P.A.) e) Os súditos estão autorizados a transformar em vio-


lência o descontentamento e a oposição ao poder le-
gislativo supremo.
1. (UEL) As leis morais juntamente com seus princípios
não só se distinguem essencialmente, em todo o conhe- 3. (UFU) Autonomia da vontade é aquela sua proprieda-
cimento prático, de tudo o mais onde haja um elemento de graças à qual ela é para si mesma a sua lei (indepen-
empírico qualquer, mas toda a Filosofia moral repousa dentemente da natureza dos objetos do querer). O prin-
inteiramente sobre a sua parte pura e, aplicada ao ho- cípio da autonomia é, portanto: não escolher senão de
mem, não toma emprestado mínimo que seja ao co- modo a que as máximas da escolha estejam incluídas
nhecimento do mesmo (Antropologia). simultaneamente, no querer mesmo, como lei universal.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos
costumes. São
Paulo: Discurso Editorial, 2009. p. 73. costumes. Lisboa: Edições 70, 1986, p. 85.

Com base no texto e na questão da liberdade e autono- De acordo com a doutrina ética de Kant:
mia em Immanuel Kant, assinale a alternativa correta. a) O imperativo categórico não se relaciona com a ma-
a) A fonte das ações morais pode ser encontrada atra- téria da ação e com o que deve resultar dela, mas com
vés da análise psicológica da consciência moral, na a forma e o princípio de que ela mesma deriva.
qual se pesquisa mais o que o homem é, do que o que b) O imperativo categórico é um cânone que nos leva
ele deveria ser. a agir por inclinação, vale dizer, tendo por objetivo a
b) O elemento determinante do caráter moral de uma satisfação de paixões subjetivas.
ação está na inclinação da qual se origina, sendo as in- c) Inclinação é a independência da faculdade de apeti-
clinações serenas moralmente mais perfeitas do que as ção das sensações, que representa aspectos objetivos
passionais. baseados em um julgamento universal.
c) O sentimento é o elemento determinante para a d) A boa vontade deve ser utilizada para satisfazer os
ação moral, e a razão, por sua vez, somente pode dar desejos pessoais do homem. Trata-se de fundamento
uma direção à presente inclinação, na medida em que determinante do agir, para a satisfação das inclinações.
fornece o meio para alcançar o que é desejado. 4. (Unioeste) A necessidade prática de agir segundo este
d) O ponto de partida dos juízos morais encontra-se princípio, isto é, o dever, não assenta em sentimentos,
nos “propulsores” humanos naturais, os quais se dire- impulsos e inclinações, mas, sim, somente na relação
cionam ao bem próprio e ao bem do outro. dos seres racionais entre si, relação essa em que von-
e) O princípio supremo da moralidade deve assentar-se tade de um ser racional tem de ser considerada sempre
na razão prática pura, e as leis morais devem ser inde- e simultaneamente como legisladora, porque de outra
pendentes de qualquer condição subjetiva da natureza forma não podia pensar-se como fim em si mesmo. A ra-
humana. zão relaciona, pois, cada máxima da vontade concebida
como legisladora universal com todas as outras vonta-
2. (UEL) Kant, mesmo que restrito à cidade de Königs- des e com todas as ações para conosco mesmos, e isto
berg, acompanhou os desdobramentos das Revoluções não em virtude de qualquer outro móbil prático ou de
Americana e Francesa e foi levado a refletir sobre as qualquer vantagem futura, mas em virtude da ideia da
convulsões da história mundial. Às incertezas da Eu- dignidade de um ser racional que não obedece à outra
ropa plebeia, individualista e provinciana, contrapôs lei senão àquela que ele mesmo simultaneamente dá a
algumas certezas da razão capazes de restabelecer, ao si mesmo. [...] O que se relaciona com as inclinações e
menos no pensamento, a sociabilidade e a paz entre as necessidades gerais do homem tem um preço venal [...],
nações com vista à constituição de uma federação de aquilo, porém, que constitui a condição só graças a qual
povos – sociedade cosmopolita. qualquer coisa pode ser um fim em si mesma, não tem
ANDRADE, R.C. Kant: a liberdade, o indivíduo e a somente um valor relativo, isto é, um preço, mas um
república. In: WEFORT, F.C. (Org.). Clássicos da política. valor íntimo, isto é, dignidade.
V. 2. São Paulo: Ática, 2003, p. 49-50 (adaptado).
(Kant)
Com base nos conhecimentos sobre a filosofia política
de Kant, assinale a alternativa correta. Considerando o texto citado e o pensamento ético de
Kant, seguem as afirmativas abaixo.
a) A incapacidade dos súditos de distinguir o útil do
prejudicial torna imperativo um governo paternal para I. Para Kant, existe moral porque o ser humano e, em geral,
indicar a felicidade. todo o ser racional, fim em si mesmo e valor absoluto, não
b) É chamado cidadão aquele que habita a cidade, sen- deve ser tomado simplesmente como meio ou instrumento
do considerados cidadãos ativos também as mulheres
para o uso arbitrário de qualquer vontade.
e os empregados.
c) No Estado, há uma igualdade irrestrita entre os II. Fim em si mesmo e valor absoluto, o ser humano é pes-
membros da comunidade e o chefe de Estado. soa e tem dignidade, mas uma dignidade que é, apenas, re-

89
lativamente valiosa, por se encontrar em dependência das direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu
condições psicossociais e político-econômicas nas quais vive. próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento.
A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma
III. A moralidade, única condição que pode fazer de um ser tão grande parte dos homens, depois que a nature-
racional fim em si mesmo e valor absoluto, pelo princípio za de há muito os libertou de uma condição estranha,
da autonomia da vontade, e a humanidade, enquanto ca- continuem, no entanto, de bom grado menores duran-
paz de moralidade, são as únicas coisas que têm dignidade. te toda a vida.
KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: o que é
IV. As pessoas têm dignidade porque são seres livres e au- esclarecimento?Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado).
tônomos, isto é, seres que se submetem às leis que se dão
a si mesmos, atendendo imediatamente aos apelos de suas Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento,
inclinações, sentimentos, impulsos e necessidades. fundamental para a compreensão do contexto filosófi-
co da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empre-
V. A autonomia da vontade é o fundamento da dignidade gado por Kant, representa:
da natureza humana e de toda natureza racional e, por a) a reivindicação de autonomia da capacidade racio-
esta razão, a vontade não está simplesmente submetida à nal como expressão da maioridade.
lei, mas submetida à lei por ser concebida como vontade b) o exercício da racionalidade como pressuposto me-
legisladora universal, ou seja, se submete à lei na exata nor diante das verdades eternas.
medida e que ela é a autora da lei (moral). c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter
objetivo, de forma heterônoma.
Das afirmativas acima:
d) a compreensão de verdades religiosas que libertam
a) somente a I está incorreta. o homem da falta de entendimento.
b) somente a III está incorreta. e) a emancipação da subjetividade humana de ideolo-
c) II e IV estão incorretas. gias produzidas pela própria razão.
d) II e III estão incorretas.
7. (Enem) Um Estado é uma multidão de seres humanos
e) II, III e V estão incorretas.
submetida a leis de direito. Todo Estado encerra três
5. (UEM) O filósofo Immanuel Kant (1724-1804) esta- poderes dentro de si, isto é, a vontade unida em geral
belece uma íntima relação entre a liberdade humana e consiste de três pessoas: o poder soberano (soberania)
sua capacidade de pensar autonomamente, ao afirmar: na pessoa do legislador; o poder executivo na pessoa
do governante (em consonância com a lei) e o poder ju-
“Esclarecimento é a saída do homem da menoridade diciário (para outorgar a cada um o que é seu de acordo
pela qual é o próprio culpado. Menoridade é a incapaci- com a lei) na pessoa do juiz.
dade de servir-se do próprio entendimento sem direção
alheia. [...] É tão cômodo ser menor. Possuo um livro que KANT, Immanuel. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003.
faz as vezes do meu entendimento; um guru espiritual,
De acordo com o texto, em um Estado de direito:
que faz às vezes de minha consciência; um médico, que
decide por mim a dieta etc.; assim não preciso eu mes- a) a vontade do governante deve ser obedecida, pois é
mo dispensar nenhum esforço. Não preciso necessaria- ele que tem o verdadeiro poder.
mente pensar, se posso apenas pagar.” b) a lei do legislador deve ser obedecida, pois ela é a
KANT, Immanuel. Resposta à questão: o que é esclarecimento? In: representação da vontade geral.
Antologia de textos filosóficos. Curitiba: SEED-PR, 2009, p. 407. c) o Poder Judiciário, na pessoa do juiz, é soberano,
pois é ele que outorga a cada um o que é seu.
A partir do texto de Kant, é correto afirmar que: d) o Poder Executivo deve submeter-se ao Judiciário,
01) liberdade é não precisar de ninguém para nada. pois depende dele para validar suas determinações.
02) riqueza não é sinônimo de liberdade, como pobre- e) o Poder Legislativo deve submeter-se ao Executivo,
za não é sinônimo de escravidão. na pessoa do governante, pois ele que é soberano.
04) a justificativa para a falta de liberdade é a pouca 8. (UEL) O desenvolvimento não é um mecanismo cego
idade dos seres humanos. que age por si. O padrão de progresso dominante des-
08) a liberdade é, primeiramente, liberdade de pensamento. creve a trajetória da sociedade contemporânea em busca
16) a liberdade é resultado de um esforço pessoal in- dos fins tidos como desejáveis, fins que os modelos de
cômodo para libertar-se das amarras do pensamento. produção e de consumo expressam. É preciso, portanto,
rediscutir os sentidos. Nos marcos do que se entende
6. (Enem) Esclarecimento é a saída do homem de sua
predominantemente por desenvolvimento, aceita-se re-
menoridade, da qual ele próprio é culpado. A meno-
ver as quantidades (menos energia, menos água, mais
ridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendi-
eficiência, mais tecnologia), mas pouco as qualidades:
mento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o
que desenvolvimento, para que e para quem?
próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não
se encontra na falta de entendimento, mas na falta LEROY, Jean Pierre. Encruzilhadas do desenvolvimento. O impacto
de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a sobre o meio ambiente. LeMonde Diplomatique Brasil. jul. 2008, p. 9.

90
Tendo como referência a relação entre desenvolvimen- e) O alcance da idade apropriada para uso da raciona-
to e progresso presente no texto, é correto afirmar que, lidade subjetiva.
em Kant, tal relação, contida no conceito de Aufklärung

Gabarito
(Esclarecimento), expressa:
a) A tematização do desenvolvimento sob a égide da
lógica de produção capitalista. 1-E; 2-D; 3-A; 4-C; 5-(02 + 08 + 16 = 26); 6-A; 7-B; 8-C;
b) A segmentação do desenvolvimento tecno-científico
9-A; 10-D
nas diversas especialidades.
c) A ampliação do uso público da razão para que se
desenvolvam sujeitos autônomos.
d) O desenvolvimento que se alcança no âmbito técni-
co e material das sociedades.
e) O desenvolvimento dos pressupostos científicos na
resolução dos problemas da filosofia prática.

9. (UEL)
90 milhões em ação, pra frente, Brasil, do meu coração.
Todos juntos, vamos, pra frente, Brasil, salve a seleção.
De repente é aquela corrente pra frente.
Parece que todo o Brasil deu a mão.
Todos ligados na mesma emoção.
Tudo é um só coração.
Todos juntos, vamos, pra frente, Brasil, Brasil,
Salve a seleção.

Canção: Pra frente Brasil/ Copa 1970


Autor: Miguel Gustavo

Na obra “Resposta à questão: o que é o esclarecimen-


to?”, Kant discute conceitos como uso público e privado
da razão e a superação da menoridade. À luz do pensa-
mento kantiano, o fenômeno contemporâneo do uso po-
lítico dos eventos esportivos:
a) torna o indivíduo dependente, já que a sua meno-
ridade impede o esclarecimento e a possibilidade de
pensar por si próprio.
b) forma o indivíduo autônomo, uma vez que amplia a
sua capacidade de fazer uso da própria razão para agir
autonomamente.
c) impede que o indivíduo pense de forma restrita, pois,
mesmo estando cercado por tutores, facilmente rompe
com a menoridade.
d) proporciona esclarecimento político das massas,
pois tais eventos promovem o aprendizado crítico me-
diante a afirmação da ideia de nacionalidade.
e) confere liberdade às massas para superar a depen-
dência gerada pela aceitação da tutela de outrem.

10. (Uema) No texto Que é “Esclarecimento”? (1783),


o que significa, conforme Kant, a saída do homem da
menoridade da qual ele mesmo é culpado?
a) O uso da razão crítica, exceto quando se tratar de
doutrinas religiosas.
b) A capacidade de aceitar passivamente a autoridade
científica ou política.
c) A liberdade para executar desejos e impulsos confor-
me a natureza instintiva do homem.
d) A coragem de ser autônomo, rejeitando, portanto,
qualquer condição tutelar.

91
AULA Tempestade e ímpeto
14
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. O sentimento vence a razão Esse movimento ficou marcado por combater a influência
francesa na cultura alemã. Com uma oposição ao Classicismo
No século XVIII, o movimento cultural que predominava na francês, a essência do movimento alemão consiste na criação
Europa era o iluminismo, que colocava a razão acima de baseada no impulso irracional, valorizando o sentimento.
tudo. Diante da sombra da Aufklärung, desenvolve-se na Destacam-se nesse período: os poetas alemães Schlegel
Alemanha (e em outras regiões da Europa), no final do sé- (1767-1845), Novalis (1772-1801); os escritores alemães
culo XVIII e início do XIX, uma nova forma de sensibilidade Schiller (1750-1805) e Goethe (1749-1832); os composi-
e de valores artísticos – surge o romantismo, cuja versão tores alemães Beethoven (1770-1827), Schumann (1810-
conceitual é o idealismo. 1856) e Brahms (1833-1897), o austríaco Schubert (1797-
Tudo começou com o Sturm und drang (Tempestade e ím- 1828) e o polonês Chopin (1810-1849).
peto), um movimento de jovens poetas alemães que reagiu
violentamente contra a aridez racionalista da Aufklärung,
enaltecendo o sentimento contra a razão. O nome Sturm
und drang deriva da peça homônima de Friedrich Klinger
(1752-1831).

multimídia: livro
Sofrimentos do jovem Werther
GOETHE, Johann Wolfgang. Porto Alegre:
L&PM Pocket, 2001.
Ao escrever Werther, em 1774, Johann Wolf-
gang Goethe alcançava sua primeira obra de
sucesso e dava início à prosa moderna na Ale-
multimídia: vídeo manha. Uma das mais célebres obras de Goe-
the, trata-se da história de uma paixão literal-
Fonte: Youtube
mente devastadora. Com enorme repercussão
Tempestade e ímpeto quando do seu lançamento, Werther foi um
Uma apresentação do movimento cultural testemunho de como a literatura tinha poder
contrário ao racionalismo alemão. de agir na sociedade.

92
As principais características desse movimento cultural são: a crítica aos racionalistas e aos iluministas é bem nítida e
direta. Essa postura radical, refere-se ao instante em que o
§ liberdade política, de expressão e de pensamentos;
ser humano, ao acreditar cegamente no poderio da razão,
§ individualismo e subjetivismo; se sente superior aos outros seres e acima da própria na-
§ gosto pelo mistério; tureza, criando uma dicotomia – de um lado, a natureza e,
de outro, a razão.
§ imaginação e sonho;
§ culto pelo exótico;
§ nacionalismo;
§ valorização do passado;
§ desejo de reforma e engajamento político.
A literatura alemã passa a ser original, com esse movimen-
to, espalhando uma nova forma de arte para o mundo.

Para o filósofo, só a arte pode reconciliar essas duas forças


(natureza e razão), porém, a arte, que não pode mais ser
ingênua – como era na Grécia antiga – deve ser, agora,
sentimental.
Sentimental significa para Schiler, o ato da reflexão pelo
qual o sujeito, ao voltar-se para si mesmo, se reconcilia com
multimídia: música a harmonia da totalidade.
Fonte: Youtube
Em sua obra Cartas sobre a educação estética do homem,
Marcha Fúnebre de 1794, apresenta essa ideia de educar o homem com o
Frédéric Chopin auxílio da arte.
As músicas de Chopin expressam um forte
sentimento, com diversas variações.

2. Da arte à liberdade
O poeta e filósofo Friedrich Schiller (1759-1805) acreditava
que os homens não estavam preparados para a liberdade,
pois não sabiam, de forma inata, como lidar em plenitude
com ela. Assim, é preciso educar o homem para a liberdade, Goethe e Schiller
através da arte. O ser humano é um indivíduo que participa

3. O problema da estética
tanto no mundo sensível como do inteligível, de modo que
existe uma oposição entre matéria e forma, necessidade e
liberdade – e esses conflitos geram um jogo de caráter lúdico A problemática da arte na filosofia não é um assunto sur-
que os reconcilie, tendo como objetivo o belo. A arte, nessa gido no período pós-iluminismo. Desde a Grécia antiga, os
medida, prenuncia a possibilidade da realização da liberda- pensadores tratavam em discutir essa temática.
de, pois ela possibilita os meios para alcançá-la.
Platão, por exemplo, criticava veementemente a arte, pro-
Segundo Schiller, a harmonia entre o homem e o mundo pagando-a como um elemento inferior à natureza, pois
foi rompida, quando o ser humano decidiu se ver diferente tenta imitar a própria natureza, a qual tratou de se utilizar
da ordem natural, com a ordenação racional e iluminista de da mimesis. Aristóteles, por sua vez, acredita que o belo
querer transformar e dominar a natureza. Nesse momento, não pode ser desligado do homem, e o que representará

93
a arte será a simetria, a proporção, ou seja, a justa medida. É mediante a cultura ou educação estética, quando se
Entretanto, para o filósofo Kant, o questionamento da arte é encontra no “estado de jogo” contemplando o belo, que
o homem poderá desenvolver-se plenamente, tanto em
diferente – ele não questiona em que medida uma obra de
suas capacidades intelectuais quanto sensíveis [...] “Pois,
arte pode nos comunicar ou se a arte tem um compromisso para dizer tudo de vez, o homem joga somente quando
com as coisas pensadas. Para Kant, os juízos de gosto, que é homem no pleno sentido da palavra, e somente é ho-
seriam a opinião das pessoas sobre a beleza, são relevantes, mem pleno quando joga”. No “impulso lúdico”, razão e
tornando o belo uma forma sensível e subjetiva. Como res- sensibilidade atuam juntas e não se pode mais falar da
tirania de uma sobre a outra. Através do belo, o homem
posta a esse pensamento, emergem os românticos alemães,
é como que recriado em todas as suas potencialidades e
que apresentam a arte como um caminho para reordenação recupera sua liberdade.
do mundo, guiando para um mundo sensível, onde o senti- FRIEDRICH VON SCHILLER
mento é algo bom para o ser humano. A educação estética do homem. São Paulo: Iluminuras, 2014, p. 14.

DIAGRAMA DE IDEIAS

TEMPESTADE NÃO TER MEDO


E ÍMPETO DE EXPRESSAR O
STURM UND DRANG SENTIMENTO

MOVIMENTO A HUMANIDADE
CULTURAL ALEMÃO TEM A RAZÃO,
MAS TAMBÉM É
GOETHE SENTIMENTO

CONTRÁRIO AS
LIMITAÇÕES
DA RAZÃO

É PRECISO
VALORIZAR O
SENTIMENTO

94
Aplicando para c) as leis da natureza sensível e da natureza racional
devem ser ambas submetidas às leis da beleza, reali-

Aprender (A.P.A.) zando plenamente a natureza humana.


d) o dever, por si só, não tem acesso ao homem sen-
sível, dependendo da beleza para que possa ter sobre
1. Há muito que dizer em favor das regras; quase os
ele uma força determinante.
mesmos argumentos que se poderão fazer a respeito
das leis da sociedade civil: um artista que se formar se- 4. (Coaero) Friedrich Schiller (1759-1805), autor de Sobre
gundo estas mesmas regras não produzirá jamais uma a educação estética da humanidade, diz que existe no ser
coisa absolutamente má; da mesma forma, aquele que humano um impulso que o liga a matéria, sujeitando-o
se regular pelas leis e atender ao decoro, nunca será um à natureza e um outro impulso, de ordem superior, que
vizinho muito insuportável nem um velhaco decidido. eleva o ser humano ao nível do pensamento racional e
Contudo, diga-se embora o que quiserem; as regras não que aspira à permanência e à imutabilidade. Para supe-
servem senão para destruir o verdadeiro sentimento e rar o dualismo matéria e espírito que tal divisão sugere,
a expressão da natureza. Não, o que digo não é em de- Schiller admite a existência de um terceiro impulso.
masia; as regras não fazem senão constranger; podem
tirar, é verdade, alguma coisa supérflua etc. Assinale a alternativa cuja afirmação se relaciona cor-
retamente com o terceiro impulso admitido por Schiller.
Goethe. Os sofrimentos do jovem Werther. [carta 8] 26 de maio.
a) Impulso do equilíbrio: busca manter uma neutralida-
Identifique a característica romântica mais evidente do de entre matéria e razão, possibilitando a boa capaci-
fragmento: dade do julgar.
a) egocentrismo. b) Impulso da realidade: faz o ser humano perceber a
tensão dialética existente entre forma e matéria, pos-
b) rejeição a regras e modelos.
sibilitando assim, a construção do real.
c) valorização da vida burguesa.
c) Impulso crítico: responsável por elaborar o senso
d) valorização do amor como sentido da vida. crítico humano, capacitando o homem a conhecer
e) inadaptação à realidade, desejo de evasão. o mundo possível de forma racional. Percebido por
Kant, não foi por ele conceituado.
2. Sobre os pressupostos históricos e filosóficos do Ro-
d) Impulso lúdico: concilia a matéria, presente aos
mantismo, considere as seguintes afirmações:
sentidos, com a forma, ato do pensamento, que pare-
I. Teve base no iluminismo, de modo que as obras românti- ce excluir o que é material e sensível. Exerce-se acima
cas são sempre despidas de subjetividade e baseiam-se tão das necessidades naturais e independe dos interesses
somente na produção de conhecimento racional. práticos. Apresenta-se como jogo estético.

II. Valoriza as emoções e as experiências sensoriais e, por 5. A noção de estética, quando formulada e desenvolvi-
conseguinte, da objetividade, característica que fez o movi- da nos séculos XVIII e XIX, concebia as artes como be-
las-artes e pressupunha que:
mento romântico ser conhecido como anti-iluminista.
I. A arte é uma atividade humana dependente da política,
III. Teve como marca inicial, em termos mundiais, a pu-
visto que a sua finalidade é servir os grupos economica-
blicação de Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe,
mente dominantes e dirigentes, isto é, aqueles que podem
romance escrito em cartas.
pagar pelas obras de arte.
Estão corretas as afirmativas:
II. A arte é produto da experiência sensorial ou perceptiva
a) I. (sensibilidade), da imaginação e da inspiração do artista
b) I e II.
como criador autônomo ou livre
c) I e III.
d) II e III. III. A finalidade da arte é desinteressada (não utilitária) ou
e) III. contemplativa. Em outras palavras, a obra de arte não está
a serviço do culto, nem da prática moral das virtudes, assim
3. Schiller, em A educação estética do homem numa sé-
rie de cartas, afirma que a cultura estética torna possí- como não está destinada a produzir objetos de uso e de
vel ao homem “aprender a desejar mais nobremente, consumo, e sim a propiciar a contemplação da beleza.
para não ser forçado a querer de modo sublime”.
IV. O belo é diferente do bom e do verdadeiro. O bem é ob-
A esse respeito, segundo o autor, é correto afirmar que: jeto da ética; a verdade, objeto da ciência e da metafísica;
a) o homem pode ir além do dever e cultivar sua
e a beleza, o objeto próprio da estética.
sensibilidade a ponto de seus desejos coincidirem ao Estão corretas apenas as afirmativas:
máximo com as exigências da moral.
b) as exigências da sensibilidade devem valer também a) I, III e IV.
no âmbito da moralidade, matizando a exigência da lei b) I, II e III.
moral e reconciliando dever e felicidade. c) II, III e IV.

95
d) III e IV. artes enquanto criações da sensibilidade tendo como
e) II e IV. finalidade o belo.
b) Desde seu nascimento como disciplina específica
6. (Unioeste) No curso dos séculos, reconheceu-se a exis- da filosofia, a Estética afirma a autonomia das artes
tência de coisas belas e agradáveis e de coisas ou fenô- pela distinção entre beleza, bondade e verdade.
menos terríveis, apavorantes e dolorosos (...). No século
c) Ainda que a obra de arte seja essencialmente par-
XVIII o universo do prazer estético divide-se em duas
ticular, em sua singularidade única ela oferece algo
províncias, a do Belo e a do Sublime (...). Tudo aquilo que
universal. Eis a peculiaridade do juízo de gosto: pro-
pode despertar ideias de dor e perigo, isto é, tudo aquilo
ferir um julgamento de valor universal tendo como
que seja, em certo sentido, terrível ou que diga respeito a
objetos terríveis, ou que atue de modo análogo ao terror objeto algo singular e particular.
é uma fonte de Sublime, ou seja, é aquilo que produz a d) A Estética não cabe apenas ocupar-se com o sentimen-
mais forte emoção que o espírito é capaz de sentir (...). to de beleza, mas também com o sentimento de sublime.
[Mas, o terror] só é deleitável quando há um distancia- e) Considerando que tanto o gosto do artista quanto
mento da coisa que faz medo, donde, uma espécie de os gostos do público são individuais e incomparáveis e
desinteresse em relação à ela. Dor e terror são causa de que, portanto, “gosto não se discute”, a Estética como
Sublime se não são realmente nocivos. disciplina da filosofia está destinada ao fracasso, pois
não é possível dar universalidade ao juízo de gosto.
(Umberto Eco)
8. (Unesp) A fonte do conceito de autonomia da arte é o
Acerca do Sublime, é correto afirmar que:
pensamento estético de Kant. Praticamente tudo o que
a) refere-se, exclusivamente, a puras criações da ima- fazemos na vida é o oposto da apreciação estética, pois
ginação, sem a presença de objetos externos. praticamente tudo o que fazemos serve para alguma coi-
b) ele se opõe ao Belo, por isso não é um problema sa, ainda que apenas para satisfazer um desejo. Enquan-
da Estética. to objeto de apreciação estética, uma coisa não obedece
c) este sentimento leva nossa natureza sensível a per- a essa razão instrumental: enquanto tal, ela não serve
para nada, ela vale por si. As hierarquias que entram em
ceber seus próprios limites, uma vez que a experiên-
jogo nas coisas que obedecem à razão instrumental, isto
cia do Sublime, diante dos espetáculos da natureza,
é, nas coisas de que nos servimos, não entram em jogo
ultrapassa nossa sensibilidade.
nas obras de arte tomadas enquanto tais. Sendo assim,
d) terremotos, tempestades, rochedos arrojados, fu- a luta contra a autonomia da arte tem por fim submeter
racões, vulcões em toda sua violência destrutiva e o também a arte à razão instrumental, isto é, tem por fim
oceano enfurecido são exemplos de Sublime e, quan- recusar também à arte a dimensão em virtude da qual,
to maior for o perigo, quanto mais próximo dele esti- sem servir para nada, ela vale por si. Trata-se, em suma,
ver o espectador mais intensa será a experiência, uma da luta pelo empobrecimento do mundo.
vez que a sensação de possuir o horror será maior.
Antônio Cícero. “A autonomia da arte”. Folha
e) nenhum artista tentou representar a experiência do de São Paulo, 13.12.2008 (adaptado).
sentimento do Sublime por saber de antemão que ele
é da ordem do irrepresentável. De acordo com a análise do autor:

7. (Unioeste) O nascimento da estética como disciplina a) a racionalidade instrumental, sob o ponto de vista
filosófica está indissoluvelmente ligado à mutação radi- da filosofia de Kant, fornece os fundamentos para a
cal que intervém na representação do belo quando este apreciação estética.
é pensado em termos de gosto, portanto, a partir do b) um mundo empobrecido seria aquele em que ocor-
que no homem irá logo aparecer como a essência mes- re o esvaziamento do campo estético de suas quali-
ma da subjetividade, como o mais subjetivo do sujeito. dades intrínsecas.
Com o conceito de gosto, efetivamente, o belo é ligado c) a transformação da arte em espetáculo da indústria
tão intimamente a subjetividade humana que se define, cultural é um critério adequado para a avaliação de
no limite, pelo prazer que proporciona, pelas sensações sua condição autônoma.
ou pelos sentimentos que suscita em nós. d) o critério mais adequado para a apreciação esté-
tica consiste em sua validação pelo gosto médio do
(...) Com o nascimento do gosto, a antiga filosofia público consumidor.
da arte deve, portanto, ceder lugar a uma teoria da
e) a autonomia dos diversos tipos de obra de arte
sensibilidade.
está prioritariamente subordinada à sua valorização
(Luc Ferry) como produto no mercado.

Assinale a alternativa que não está relacionada com a 9. (Uema) A concepção de arte tem mudado ao longo
Estética como disciplina filosófica. dos séculos. A arte como imitação da natureza e a arte
como expressão e construção são, respectivamente,
a) Estética e a tradução da palavra grega aisthetiké que
concepções dos seguintes períodos:
significa “conhecimento sensorial, experiência sensível,
sensibilidade”; só na modernidade, por volta de 1750, a) antigo e contemporâneo.
foi utilizada para referir-se aos estudos das obras de b) antigo e medieval.

96
c) medieval e moderno.
d) antigo e moderno.
e) moderno e contemporâneo.

Gabarito
1-B; 2-D; 3-A; 4-D; 5-C; 6-C; 7-E; 8-B; 9-A

97
AULA Hegel
15
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. Georg Wilhelm Friedrich ações e as ideias, algo como um movimento que atinge a
humanidade. O filósofo entende a realidade como espírito,
Hegel (1770-1831) como substância, mas também como sujeito.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Hegel e a razão dialética como justificação do
drama histórico – Parte I
Friedrich Hegel nasceu na cidade alemã de Stuttgart, em Com o Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva
1770. O seu pensamento foi determinante para a filosofia
contemporânea, apesar de difundi-lo de modo rebuscado
e num grau de complexidade elevada, sendo construída
no racionalismo – faz parte do círculo que corresponde ao
idealismo alemão.
Vivenciando as mudanças históricas de seu tempo, como a
Revolução Francesa (1789), Hegel observou o dinamismo
das coisas e como os atos e as ideias estão interligados,
de modo que não podemos separar tais elementos. Entre-
tanto, esses elementos podem sofrer alterações, por não
serem fixos, ao passo que o momento histórico carrega
consigo elementos culturais e ideais de tal período, sofren-
do mudanças ao longo do tempo. Assim, segundo o filóso-
fo, cada época tem seu próprio tipo de sabedoria, na qual
não podemos menosprezar o conhecimento do passado.
Aqui, vemos que, para Hegel, a filosofia e a história estão
entrelaçadas, sem uma separação nítida.
Tendo uma influência kantiana, Hegel salienta que a histó-
ria da humanidade é a história da emancipação dos indiví- multimídia: livro
duos, diante de uma elevação gradual de suas liberdades A dialética hegeliana: uma tentativa de
individuais, atingindo uma maioridade intelectual. Porém, compreensão
o que move essa elevação gradual é ocasionada pelo “es- De Fernando Guimarães Ferreira
pírito do tempo” (zeitgeist, em alemão) que impulsiona as

98
1.1. A dialética hegeliana ou grafia, mas o sentido que veicula. Na palavra atinge-se
o grau máximo de abstração, e o alcance das construções
Para Hegel, o movimento da história é o confronto de espirituais é praticamente infinito.
ideias diferentes, sendo um contínuo devir composto por
três momentos: tese, antítese e síntese. Assim, a arte é um momento do espírito, em que este procu-
ra adequar-se ao elemento sensível para expressar o saber.
É um movimento circular que não se fecha, ou seja, um
movimento em espiral, pois cada momento final, que seria
a síntese, se torna a tese de um movimento anterior, de
caráter mais avançado. Sendo que, para compreender essa
dialética, é necessário buscar o Absoluto, superando o en-
tendimento comum atingindo a certeza completa e global.

multimídia: livro
Introdução à história da Filosofia
O ensino da Filosofia segundo Hegel, de Pedro
Novelli

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS


Após a morte de Hegel, seus seguidores dividiram-se em
dois campos contrários:
§ os hegelianos de direita – discípulos diretos do filósofo,
na Universidade de Berlim, que defenderam o conser-
vadorismo político do período posterior à restauração
napoleônica. Alguns chegaram a defender, inclusive, o
nazismo, nas décadas de 1930 e 1940, na Alemanha.
§ os hegelianos de esquerda – interpretaram Hegel em
um sentido revolucionário, o que os levou a se aproxi-
marem do ateísmo, na religião, e ao socialismo, na po-
multimídia: vídeo lítica. Entre os hegelianos de esquerda, encontram-se
Fonte: Youtube Ludwig Feuerbach, David Friedrich Strauss, Max Stirner
Hegel e, o mais famoso de todos, Karl Marx.
Podemos compreender a dialética hegeliana como ana-
logia a uma soma vetorial. Quando somamos dois ve-
1.2. O espírito se expressa na arte tores, geramos um terceiro, que conserva, de alguma
Na arte, o saber se configura como expressão sensível do forma, as propriedades dos originais. Podemos pensar
espírito. O homem se liberta de sua sujeição natural, da na soma de um vetor A (tese) com um vetor B (antítese),
finitude entendida como submissão à natureza. O espírito gerando um novo vetor S (síntese), tal como representa-
vê-se livre para criar, e essa criação manifesta uma disposi- do na imagem abaixo.
ção para o absoluto.
Mas a arte, segundo Hegel, é ainda dependente da maté-
ria. Na escultura, arte simbólica por excelência, a liberdade
do espírito encontra o limite no material bruto. A liberdade
já é bem maior na música e na pintura, nas quais o grau
de abstração permite ao espírito uma ampla variabilidade
de formas expressivas. Mas é no domínio da palavra que se
realiza a liberdade expressiva da arte: a palavra não é som

99
DIAGRAMA DE IDEIAS

HEGEL

EXISTE UM DIALÉTICA
DINAMISMO NO HEGELIANA
MUNDO
• TESE
• ANTÍTESE
• SÍNTESE (TESE)
UM MOVIMENTO

ZEITGEIST
ESPÍRITO DO
TEMPO

100
Aplicando para 3. (UEM) “Marx e Hegel têm em comum a crítica à
exacerbação do individualismo egoísta moderno, bem

Aprender (A.P.A.) como das suas consequências, porém discordam quanto


às possibilidades de solução da questão. Um dos ele-
mentos fundamentais desse debate é a questão da so-
1. (UEM) O filósofo alemão Hegel (1770-1831) afir- berania política.”
ma que “É tarefa da filosofia conceber o que é, pois,
aquilo que é é a razão. No que concerne ao indivíduo, MARÇAL, J. (Org.). Antologia de textos filosóficos.
cada um é, de todo modo, um filho de seu tempo; do Curitiba: SEED-PR, 2009, p. 466.
mesmo modo que a filosofia é seu tempo apreendido
Sobre as relações entre indivíduo e Estado, assinale o
em pensamentos”.
que for correto.
HEGEL, G.W.F. Excertos e parágrafos traduzidos. In: 01) Karl Marx considera que a emancipação humana re-
MARÇAL, J. (Org.). Antologia de textos filosóficos.
Curitiba: SEED-PR, 2009, p. 314.
alizar-se-á na sociedade comunista, pois, nessa socieda-
de, o indivíduo não será mais submetido a um Estado e à
A partir do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s) divisão social do trabalho, podendo, dessa forma, passar
correta(s). do reino da necessidade ao reino da liberdade.
02) Para Karl Marx, a liberdade do indivíduo, como
01) A razão de algo é o conceito desse algo concebi-
concebida pelo Estado burguês, não passa de um for-
do filosoficamente pelo seu tempo.
malismo jurídico; é uma ficção da lei, pois o indivíduo
02) Aquilo que é, a essência de algo, é para o filósofo só pode ser livre quando a esfera da produção estiver
um conceito racional. sujeita ao controle daqueles que produzem.
04) O indivíduo, que é filho de seu tempo, do ponto 04) Para Hegel, o Estado deveria ser substituído pela
de vista filosófico, pensa os seus problemas a partir sociedade civil, pois essa pode representar os interes-
de seu momento histórico. ses coletivos e é capaz de garantir os interesses de
08) Os conceitos filosóficos, por serem determinados cada indivíduo.
historicamente, estão restritos ao seu tempo e à sua 08) Hegel critica as teorias políticas contratualistas, segun-
época, não sendo, pois, universais. do as quais os indivíduos isolados abandonam o estado
16) A reflexão filosófica está intimamente ligada ao de natureza para se reunirem em sociedade, por meio de
seu momento histórico, visto que leva esse mundo ao um pacto, a fim de formar artificialmente o Estado e ga-
plano do conceito. rantir a liberdade individual e a propriedade privada.
16) A filosofia política de Karl Marx fundamenta-se
2. (UEM) “A filosofia de Hegel constitui, assim, exemplo
numa nova antropologia, segundo a qual a nature-
de um grandioso e radical investimento especulativo,
za humana varia historicamente, pois o indivíduo se
qualificado como ideia de liberdade. Ao mesmo tempo
produz à medida que transforma a natureza pelo tra-
em que tem a pretensão de analisar a liberdade segundo
balho dentro de certas relações sociais de produção.
um modo conceitual (lógico-ontológico), quer, também,
compreendê-la como uma forma histórica de sua mani- 4. (UEG) Para Hegel, a razão é a relação interna e ne-
festação. Ou, dito de outro modo, sem abandonar o seu cessária entre as leis do pensamento e as leis do real.
caráter autorreferencial (subjetivo), o filósofo pretende Assim, ela é a unidade entre a razão subjetiva e a razão
efetivá-la na sua necessária forma institucional (objeti- objetiva. Hegel denominou essa unidade de espírito ab-
va). (...) Se a liberdade subjetiva não alcançar essa dimen- soluto. Dessa forma, um evento real pode expressar e
são e se circunscrever no âmbito dos interesses e desejos ser resultado das ideias que o precedem. Um exemplo
particulares dos indivíduos nas suas relações privadas, o da objetivação dessas ideias é o seguinte evento:
próprio princípio da liberdade se vê ameaçado.” a) A subida de Adolf Hitler ao poder na Alemanha,
MARÇAL, J. (Org.). Antologia de textos filosóficos. representando os ideais sionistas germânicos.
Curitiba: SEED-PR, 2009. p. 309. b) A queda de Dom Pedro I do trono brasileiro, repre-
sentando a crise do sistema colonial português.
Com base na citação anterior, assinale o que for correto.
c) A ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder, re-
01) O livre arbítrio constitui uma ameaça para a rea- presentando o ideal iluminista de igualdade social.
lização da liberdade. d) A coroação de Dom Pedro II no trono brasileiro,
02) A liberdade deve ser pensada em dois planos dis- representando a vitória dos ideais puritanos de moral.
tintos: o primeiro, autorreferencial ou subjetivo, e o
segundo, institucional ou objetivo. 5. (UEM) Hegel criticou o inatismo, o empirismo e o
04) A efetividade do Estado e das instituições sociais kantismo. Endereçou a todos a mesma crítica, a de não
constitui um obstáculo para os desejos particulares terem compreendido o que há de mais fundamental e
dos indivíduos. essencial à razão: o fato de ela ser histórica. Com base
nessa afirmação, assinale o que for correto.
08) O exercício da liberdade é característico de um
processo historicamente definido. 01) Ao afirmar que a razão é histórica, Hegel consi-
16) A liberdade é uma síntese da religião com o au- dera a razão como sendo relativa, isto é, não possui
toconhecimento. um caráter universal e não pode alcançar a verdade.

101
02) Não há para Hegel nenhuma relação entre a ra- III. a filosofia moderna é a primeira a reconhecer que, sen-
zão e a realidade. Submetida às circunstâncias dos do todos os seres humanos seres conscientes e racionais,
eventos históricos, a razão está condenada ao ceticis- todos têm igualmente o direito ao pensamento e a ver-
mo, isto é, “ao duvidar sempre”.
dade. Segundo Hegel, essa afirmação do direito ao pen-
04) A identificação entre razão e história conduz
Hegel a desenvolver uma concepção materialista da samento, unida à ideia da recusa de toda censura sobre
história e da realidade, negando entre ambas a possi- o pensamento e palavra, seria a realização filosófica do
bilidade de uma relação dialética. princípio da individualidade como subjetividade livre que
08) No sistema hegeliano, a racionalidade não é mais se relaciona livremente com a verdade.
um modelo a ser aplicado, mas é o próprio tecido do
real e do pensamento. O mundo é a manifestação da IV. a filosofia moderna está tão intimamente vinculada aos
ideia, o real é racional, e o racional é o real. fundamentos da práxis humana que a ação não pode ser
16) Karl Marx, ao afirmar, na ideologia alemã, que ignorada na determinação de seus critérios filosóficos. Para
não é a história que anda com as pernas das ideias, Hegel, os modernos foram os primeiros a entender que
mas as ideias é que andam com as pernas da história, esta prática, no entanto, não deve ser considerada apenas
critica, ao mesmo tempo, o idealismo e a concepção no sentido restrito da conduta pessoal, mas na acepção
da história de Hegel e dos neo-hegelianos.
mais abrangente de experiência humana em seus vários
6. (UEM) Segundo Georg Wilhelm Friedrich Hegel, a rea- aspectos, desde histórico até o nível psicológico.
lidade é a manifestação do espírito infinito ou absoluto,
que é necessariamente histórico, dialético e realizador Considerando as afirmações acima:
da unidade entre pensamento e mundo. Sobre a ma- a) apenas I, III e IV são corretas.
nifestação do espírito na arte, segundo a filosofia de b) apenas I, II e III são corretas.
Hegel, assinale o que for correto. c) apenas I é correta.
01) A arte, para Hegel, é a manifestação sensível do d) apenas II, III e IV são corretas.
espírito, isto é, a primeira forma de expressão do ab- e) apenas IV é correta.
soluto, sucedida pela religião e pela filosofia.
02) Entre as obras de arte, a poesia é a mais espiritual 8. (Unicentro) Relacione os fragmentos e argumentos
de todas, segundo Hegel, pois a matéria que utiliza é abaixo identificando-os com o pensamento político de
a linguagem. seu respectivo autor.
04) Para Hegel, a arte sempre renasceu e renascerá I. Na obra Filosofia do Direito, em que são desenvolvidas
eternamente, pois seu conteúdo histórico deve ser
as teorias sobre o Estado, encontramos uma crítica à tra-
atualizado ao longo do tempo.
08) A arte sacra (música-coral, arquitetura gótica, es-
dição jurisnaturalista típica dos filósofos contratualistas. Ao
culturas e afrescos) é, segundo Hegel, uma forma de contrário destas teorias, a obra em questão nega a ante-
arte perfeita, pois a religião é a base do artista. rioridade dos indivíduos na formação da sociedade, pois é
16) De acordo com o processo de autoconsciência do o Estado que fundamenta a sociedade, ou seja, não existe
espírito, Hegel classifica a arte em três momentos ou o homem em estado de natureza, pois o homem é sempre
formas: simbólica, clássica e romântica. um indivíduo social.
7. (Unicentro) Analise as assertivas e assinale a alter- Cf. ARANHA; MARTINS. Filosofando: introdução à
filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993, p. 234.
nativa que aponta a(s) correta(s). Em seu livro História
da Filosofia, Hegel (1770-1831) declara que a filosofia II. É verdade que nas democracias o povo parece fazer o
moderna pode ser considerada o nascimento da filoso-
que quer, mas a liberdade política não consiste nisso. Num
fia propriamente dita, porque nela, segundo Hegel, pela
primeira vez, os filósofos afirmam que: Estado, isto é, numa sociedade em que há leis, a liberdade
não pode consistir senão em poder fazer o que se deve
I. a filosofia é independente e não se submete a nenhuma querer não ser constrangido a fazer o que não se deve de-
autoridade que não seja a própria razão como faculdade sejar. Deve-se ter sempre em mente o que é independência
plena de conhecimento. Isto é, os modernos são os primei- e o que é liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo
ros a demonstrar que o conhecimento verdadeiro só pode o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo
nascer do trabalho interior realizado pela razão, graças o que elas proíbem não teria mais liberdade, porque os
a seu próprio esforço. Só a razão conhece e somente ela outros também teriam tal poder.
pode julgar a si mesma. Fragmento retirado da obra: Do espírito das
leis. São Paulo: Difel, 1962, p. 179.
II. a filosofia moderna realiza a primeira descoberta da
subjetividade propriamente dita porque nela o primeiro ato III. A ideia central da obra Segundo tratado sobre o go-
do conhecimento, do qual dependerão todos os outros, é a verno gira em torno do conceito de propriedade privada.
reflexão e consciência de si reflexiva. Inicialmente, este conceito é usado num sentido muito

102
amplo, indicando tudo o que pertence a cada indivíduo, II. a ação dos homens obedece a vontade divina que pre-
isto é, seu corpo, suas capacidades, seu trabalho, seus estabelece o curso da história.
bens, sua vida e liberdade. Segundo essa concepção, to-
III. no processo histórico, o pensar está subordinado ao
dos são proprietários, mesmo quem não possui bens, pois
real existente.
todos são proprietários de sua vida, de seu corpo, de seu
trabalho. Nessa obra, aparece a distinção entre o público IV. a ideia ou a razão se originam da força material de
e o privado, que devem ser regidos por leis diferentes, de produção e reprodução da história.
tal modo que o Estado não deve intervir, mas sim garantir Assinale a alternativa que contém somente assertivas
e tutelar o livre exercício da propriedade. corretas.
Cf. ARANHA; MARTINS. Filosofando: introdução à a) III e IV.
filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993, p. 219.
b) I e II.
IV. Nas minhas pesquisas cheguei à conclusão de que as c) II e III.
relações jurídicas – assim como as formas de Estado – não d) I e III.
podem ser compreendidas por si mesmas, nem pela dita
10. (UFU) Segundo Hegel, “Na história universal só se
evolução geral do espírito humano (...). A conclusão geral pode falar dos povos que formam um Estado. É preciso
a que cheguei (...) pode formular-se resumidamente assim: saber que tal Estado é a realização da liberdade, isto
na produção social de sua existência, os homens estabele- é, da finalidade absoluta, que ele existe por si mes-
cem relações determinadas, necessárias, independentes da mo: além disso, deve-se saber que todo valor que o
sua vontade, relações de produção que correspondem a homem possui, toda realidade espiritual, ele só o tem
mediante o Estado”.
um determinado grau de desenvolvimento das forças pro-
dutivas materiais. (...) O modo de produção da vida mate- HEGEL. Filosofia da História. 2. ed. Brasília:
Editora da UnB. 1998. p. 39-40.
rial condiciona o desenvolvimento da vida social, política e
intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que A interpretação do trecho citado permite afirmar que:
determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, a) o Estado é realidade espiritual, que ao mesmo tempo
determina sua consciência. é a garantia dos valores humanos, sendo a liberdade a
Fragmento retirado da obra: Contribuição à crítica da economia realização suprema da existência humana, pois ela é
política. São Paulo: Martins Fontes, 1977, p. 23. a síntese da vontade universal e da vontade subjetiva.
b) o Estado resulta da ação abstrata produzida por
Os fragmentos e argumentos acima correspondem ao uma força divina absoluta e superior às vontades hu-
pensamento político de quais filósofos? Preencha os manas que a ela se submetem.
parênteses com o número do argumento ou fragmento
c) o Estado é a limitação da liberdade, que é cerceada
que lhe é correspondente.
para que o Estado se coloque acima e à frente dos
( ) Karl Marx cidadãos no curso da história.
( ) Friedrich Hegel d) o Estado é a recondução do indivíduo e da espécie
( ) John Locke às condições naturais de existência, únicas capazes
( ) Montesquieu de garantir a liberdade como valor absoluto.

Assinale a alternativa correta.


a) I, II, III e IV. Gabarito
b) II, III, I e IV.
1-(01 + 02 + 04 + 16 = 23); 2-(02 + 08 = 10);
c) IV, III, II e I.
d) III, I, IV e II. 3-(01 + 02 + 08 + 16 = 27); 4-C; 5-(08 + 16 = 24);
e) IV, I, III e II.
6-(01 + 02 + 16 = 19); 7-B; 8-E; 9-D; 10-A
9. (UFU) Hegel, em seus cursos universitários de Filoso-
fia da História, fez a seguinte afirmação sobre a relação
entre a filosofia e a história: “O único pensamento que
a filosofia aporta é a contemplação da história”.
HEGEL, G.W.F. Filosofia da História. 2. ed.
Brasília: Editora da UnB, 1998, p. 17.

De acordo com a reflexão de Hegel, é correto afirmar


que:
I. a razão governa o mundo e, portanto, a história universal
é um processo racional.

103
AULA Utilitaristas
16
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

O utilitarismo é considerado como uma doutrina que afirma O pensador promulgou o princípio da utilidade como pa-
que as ações são boas quando tendem a promover a felici- drão de ação correta por parte dos indivíduos e pelo Es-
dade, ao passo que também podem produzir ações negati- tado, de modo que essas ações ganham uma validade/
vas quando não propiciar a felicidade. aprovação, quando desencadeiam a felicidade, enquanto
outras ações são inválidas/reprovadas, quando causam a
infelicidade ou a própria dor.
As características de sua filosofia são:
§ maior princípio de felicidade: promove a felicidade em
geral, sendo o princípio que aprova ou desaprova a ação;
§ o egoísmo universal: prevalece o pensar numa ação vol-
tada para o coletivo, seguindo uma lógica utilitarista;
§ identificação artificial dos interesses de alguém: diante
desta característica, o indivíduo entenderá o outro como
multimídia: vídeo relevante na sociedade, ou seja, os interesses de um é o
Fonte: Youtube mesmo de todos.
Utilitarismo na Unesp Segundo a filosofia de Bentham, o princípio da utilidade
Bentham e Mill: esses são os nomes que você é algo que não admite provas diretas, não sendo neces-
deve conhecer bem para entender melhor o sariamente um problema, pois alguns princípios explica-
liberalismo. O utilitarismo concilia a moral e a tivos devem começar em algum lugar, tendo como base
política para dar um novo sentido ao século a observação.
XIX: a produtividade.
Esse pensamento utilitarista apresenta vantagens numa

1. Jeremy Bentham (1748-1832) filosofia moral, pois permite que as decisões sejam discuti-
das por todos, com o mesmo interesse coletivo, o interesse
O filósofo inglês Bentham salientava que a natureza huma- do bem, visando à felicidade. Aqui, notamos uma orienta-
na era governada por dois elementos soberanos – prazer ção de que todos os sujeitos da sociedade são relevantes e
e dor –, num movimento constante de busca pelo prazer e iguais na construção de um bem coletivo. Com isso, a filo-
de fuga da dor. sofia moral, ou a ética, pode ser descrita como uma orien-
tação que dirige a ação do homem para maior quantidade
possível de felicidade.

104
A liberdade, para o filósofo, consistia na ausência da restri- ou instintivos. Essa condição é direcionada indutivamente,
ção, podendo ter uma liberdade plena, sem o impedimen- pois Mill questiona: “quem preferiria ser um jabuti feliz, vi-
to dos outros, sendo que essa liberdade não é “natural” vendo uma vida extremamente longa, do que ser uma pes-
(no sentido de existir antes da vida social), pois as pessoas soa vivendo numa vida normal?”.
sempre viveram em sociedades, isto é, essa liberdade surge
com o próprio sujeito.
A utilização das leis arbitrárias se torna negativa porque,
por natureza, restringe a liberdade do sujeito, sendo, na
sua essência, prejudicial ao indivíduo. Entretanto, a lei é
necessária para orientar a ordem social, e as boas leis se-
rão essenciais. Isso ocorre quando o controle pelo Estado
é limitado, deixando o indivíduo livre, pois o protegerá de
qualquer dano em sua liberdade e na própria liberdade co-
letiva. Isso dá uma utilidade positiva, pois expressa a von-
tade do soberano, que o próprio grupo social.
A contribuição de Mill para o utilitarismo está mais na for-
1.1. Pensamento contra a Declaração ma do que no conteúdo.
dos Direitos do Homem e do Cidadão
Bentham foi contrário às declarações do ideal contratua-
lista da Revolução Francesa – ao firmar um pacto de di-
reitos, limitando valores morais e éticos, priva o indivíduo
de viver a vida na sua totalidade, pois não há escolha
consciente e coletiva.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Liberdade de expressão, uma conversa sobre
Stuart Mill
multimídia: vídeo Os filósofos Paulo Ghiraldelli e Francielle
Chies conversam sobre o tema “liberdade de
expressão”, da obra Liberdade, de Stuart Mill.
Advogado do Diabo
Estados Unidos, 1997
Nesse filme, um jovem e brilhante advoga- 2.1. O princípio do dano
do enfrenta o dilema entre o sucesso na sua O princípio do dano assegura que cada indivíduo tem o di-
carreira profissional e valores humanos, em reito de agir como quiser, desde que suas ações não prejudi-
especial a honestidade. quem as outras pessoas. Se a ação afeta diretamente apenas
a pessoa que a está realizando, então a sociedade não tem
o direito de intervir. Entretanto, Mill argumenta que os indi-
2. John Stuart Mill víduos são prevenidos de fazer algo ruim para eles mesmo
princípio do dano, pois ninguém vive isolado e, feito dano a
(1806-1873) si mesmo, os outros serão, também, prejudicados.
O filósofo inglês Stuart Mill foi seguidor de Bentham, em-
bora discordasse de algumas de suas afirmações. 2.2. A liberdade do indivíduo
Para Mill, os prazeres possuem um quadro de satisfação, A liberdade de expressão, oral e escrita, é proeminente
como numa escala de valores. Por exemplo, o prazer intelec- entre as condições de um bom governo. Só que essa liber-
tual é de um tipo melhor que os prazeres que são sensuais dade, num governo popular, baseado no voto, não garante

105
a liberdade, pois um governo baseado na vontade popular
pode exercer a tirania. Assim, as restrições impostas ao in-
divíduo, seja pela lei ou pela opinião, deveriam ser basea-
das num princípio coletivo.
A liberdade é um bem em si mesmo como num meio para
a felicidade e o progresso.

multimídia: vídeo
Gattaca, a experiência genética
Estados Unidos, 1997
Filme de ficção científica ambientado no fu-
turo, que apresenta uma situação bastante
interessante: a personagem principal viola
as principais regras morais da sociedade na
qual vive, mas, apesar disso, suas ações são
legítimas, do ponto de vista ético.

Sob o título de Salários vamos considerar, primeiramen-


te, as causas que determinam ou alteram os salários da
mão de obra em geral, e, em segundo lugar, as diferen-
ças existentes entre os salários das diferentes ocupações.
Convém ter em mente essas duas classes distintas de
considerações e, ao discutir a lei salarial, proceder, em
primeiro lugar, como se não houvesse outro tipo de mão
de obra senão a mão de obra comum não qualificada
para trabalho medianamente duro e desagradável. Os
multimídia: livro salários, assim como outros elementos, podem ser regu-
lados tanto pela concorrência como pelo costume. Nesse
Menino do Engenho país há poucos tipos de mão-de-obra cuja remuneração
José Lins do Rego. Rio de Janeiro: José Olym- não seria mais baixa do que é se o empregador tirasse
pio, 2010. toda vantagem possível da concorrência.

Trata-se do romance apresentado no início do A concorrência, no entanto, deve ser considerada, no es-
capítulo, que traz uma série de questões que po- tágio atual da sociedade, como o principal regulador dos
dem ser debatidas a partir da ética e da moral. salários, e o costume ou caráter individual, apenas como
uma circunstância modificadora, e isso em um grau relati-
vamente baixo. Por conseguinte, os salários dependem so-
bretudo da procura e da oferta de mão de obra; ou então,
2.3. A crítica como se diz com frequência, da proporção existente entre
O pensamento de Mill sofre uma crítica porque, em seu zelo a população e o capital. Por população entende-se aqui
somente o número de trabalhadores, ou melhor, daqueles
pela liberdade e em sua oposição à extensão da interferência
que trabalham como assalariados; e por capital, somente
do Estado, ele deu pouca importância à justiça e ao bem-es- o capital circulante, e nem sequer este em sua totalida-
tar, elementos que podem comprometer a liberdade. de, senão apenas a parte gasta no pagamento direto de
Stuart Mill viu com entusiasmo o surgimento do socia- mão de obra. A isso, porém, devem-se acrescentar todos
lismo e acreditou que o mesmo seria vitorioso contra o os fundos que, sem serem capital, são pagos em troca de
trabalho tais como os vencimentos de soldados, criados
sistema da propriedade.
domésticos e todos os outros trabalhadores improdutivos.
Embora Bentham e Mill partam de um entendimento se- Infelizmente, não há maneira de expressar com um único
melhante em relação ao conceito de utilidade, o utilitaris- termo comum o conjunto daquilo que se tem denomina-
mo de Bentham enfatiza a moralidade da ação, enquanto do o fundo salarial de um país; e já que os salários da
o de Mill busca entender em que consistiria a avaliação mão de obra produtiva constituem quase a totalidade
moral da ação e a moralidade das próprias normas. desse fundo, costuma-se passar por cima da parte menor

106
e menos importante, e dizer que os salários dependem da
população e do capital. Será conveniente empregar essa
expressão, mas lembrando-se de considerá-la como elíp-
tica, e não uma afirmação literal da verdade integral. Res-
salvadas essas limitações inerentes aos termos, os salários
não somente dependem do montante relativo do capital e
da população, senão que, sob o domínio da concorrência,
não podem ser afetados por nenhuma outra coisa.
Os salários (naturalmente, no sentido de taxa geral dos
salários) não podem aumentar a não ser em razão de
um aumento do conjunto de fundos empregados para
contratar trabalhadores ou em razão de uma diminui-
ção do número daqueles que competem por emprego;
multimídia: vídeo
tampouco podem baixar, a não ser porque diminuem os Fonte: Youtube
fundos destinados a pagar mão de obra ou porque au- Filosofia política: o utilitarismo
menta o número de trabalhadores a serem pagos.
Curso Livre de Humanidades, com o professor
STUART MILL Luis Alberto Peluso, da PUC-Campinas
Princípios de economia política. São Paulo: Abril, 1996, p. 395-396.

107
DIAGRAMA DE IDEIAS

UTILITARISTA

AS AÇÕES
SÃO BOAS, POIS
PROMOVEM A
FELICIDADE
BENTHAM STUART MILL

O SER HUMANO OS PRAZERES


BUSCA O PRAZER DO HOMEM TEM
UM QUADRO DE
SATISFAÇÕES

PROCURA
EVITAR A DOR
PRINCÍPIO
DO DANO

PARA O BEM
COMUM
TODOS TEM O
DIREITO DE AGIR SEM
PROVOCAR DANOS
AS OUTRAS PESSOAS

108
Aplicando para civilizada, contra a vontade dele, consiste em prevenir
danos a terceiros. Não basta que se leve em conta o pró-

Aprender (A.P.A.) prio bem, físico ou moral, da pessoa”.


MILL, John Stuart. Da liberdade. São Paulo: Ibrasa, 1963.
1. (Enem PPL) O povo que exerce o poder não é sempre
o mesmo povo sobre quem o poder é exercido, e o fala- Este princípio, muito caro ao liberalismo político ra-
do self-government [autogoverno] não é o governo de dical, ficou conhecido como “princípio da liberdade”.
Com base na leitura do enunciado de Mill, escolha a
cada qual por si mesmo, mas o de cada qual por todo
alternativa correta.
o resto. Ademais, a vontade do povo significa pratica-
mente a vontade da mais numerosa e ativa parte do a) Os indivíduos têm total liberdade de ação e a socieda-
povo – a maioria, ou aqueles que logram êxito em se de jamais pode legitimamente reprimi-los, mesmo quan-
fazerem aceitar como a maioria. do suas ações venham a provocar danos aos demais.
b) A vontade do indivíduo é soberana, mas a sociedade
MILL, John Stuart. Sobre a liberdade. tem o direito legítimo de reprimir os vícios e os compor-
Petrópolis: Vozes, 1991 (adaptado).
tamentos autodestrutivos por parte de seus membros.
No que tange à participação popular no governo, a ori- c) Os indivíduos movidos por seus interesses pessoais
gem da preocupação enunciada no texto encontra-se na: agem de forma egoísta e a sociedade tem o direito
legítimo de regular suas ações em função dos valores
a) conquista do sufrágio universal.
estabelecidos pelos bons costumes.
b) criação do regime parlamentarista.
d) Os indivíduos têm o direito de fazer suas escolhas
c) institucionalização do voto feminino. pessoais, mesmo quando estas colidem com a visão de
d) decadência das monarquias hereditárias. mundo dominante e a sociedade só pode coibir tais es-
e) consolidação da democracia representativa. colhas quando estas provocarem danos a terceiros.
e) A salvaguarda do bem-estar físico ou moral do in-
2. (Unesp) Tradição de pensamento ético fundada pelos divíduo é o fundamento para que o poder possa ser
ingleses Jeremy Bhentam e John Stuart Mill, o utilitarismo legitimamente exercido sobre qualquer membro de
almeja muito simplesmente o bem comum, procurando uma sociedade civilizada, mesmo contra a sua vontade.
eficiência: servirá aos propósitos morais a decisão que
diminuir o sofrimento ou aumentar a felicidade geral da 4. (UEM) Entre o final do século XVII e o final do século
sociedade. No caso da situação dos povos nativos brasi- XIX, desenvolvem-se duas grandes concepções refe-
leiros, já se destinou às reservas indígenas uma extensão rentes à organização social e à ordem política, isto é,
de terra equivalente a 13% do território nacional, quase o liberalismo e o socialismo. Essas duas doutrinas di-
o dobro do espaço destinado à agricultura, de 7%. Mas a ferenciam-se tanto pelos princípios que fundamentam
mortalidade infantil entre a população indígena é o dobro a organização social e a ordem política, quanto por
da média nacional e, em algumas etnias, 90% dos inte- pretenderem atender aos interesses de classes sociais
grantes dependem de cestas básicas para sobreviver. Este divergentes. Assinale o que for correto.
é um ponto em que o cômputo utilitarista de prejuízos 01) Ao formular a teoria da propriedade privada
e benefícios viria a calhar: a felicidade dos índios não é como direito natural, o filósofo inglês John Locke es-
proporcional à extensão de terra que lhes é dado ocupar. tabeleceu um dos princípios que fundamentaram a
Veja, 25 out. 2013 (adaptado). organização social e a ordem política do liberalismo.
02) A revolta da Comuna de Paris, em 1871, foi uma
A aplicação sugerida da ética utilitarista para a popula- insurreição dos liberais contra o Estado que, ao de-
ção indígena brasileira é baseada em cretar leis para regulamentar o mercado, infringia o
a) uma ética de fundamentos universalistas que de- princípio do “deixai fazer, deixai passar”, ou seja, da
precia fatores conjunturais e históricos. não intervenção do Estado na economia.
b) critérios pragmáticos fundamentados em uma rela- 04) Karl Marx e Friedrich Engels ficaram conhecidos
ção entre custos e benefícios. como representantes do socialismo científico. Eles criti-
c) princípios de natureza teológica que reconhecem o caram os socialistas utópicos, tais como Charles Fourier e
direito inalienável do respeito à vida humana. Robert Owen, que acreditavam ser possível mudar a rea-
d) uma análise dialética das condições econômicas lidade social de maneira idealista e voluntarista, criando
geradoras de desigualdades sociais. comunidades-modelo.
e) critérios antropológicos que enfatizam o respeito 08) John Stuart Mill foi um dos poucos liberais que criti-
absoluto às diferenças de natureza étnica. cou as desigualdades sociais e políticas, a ponto de de-
fender o sufrágio universal contra o voto censitário e ser
3. (Unioeste) Segundo John Stuart Mill, a autoridade da um dos pioneiros na defesa da emancipação da mulher.
sociedade sobre o indivíduo deveria ser claramente limi- 16) Karl Marx e Friedrich Engels criticaram a democracia
tada. Visando estabelecer o justo limite da soberania do burguesa fundada no liberalismo, que, para eles, dissi-
indivíduo sobre si mesmo, ele afirma que “(...) o único mulava o poder político do capitalista proprietário dos
objetivo a favor do qual se possa exercer legitimamente meios de produção e legitimava o domínio sobre o ope-
pressão sobre qualquer membro de uma comunidade rariado expropriado.

109
5. (UEL) Leia o trecho a seguir. que teriam resultados de cursos alternativos de ação. O
utilitarismo de regras ensina que são corretas as ações
O objeto deste ensaio é defender [que] o único propósito que se conformam a regras de cuja observância geral re-
com o qual se legitima o exercício do poder sobre algum sulta um estado de coisas pelo menos tão bom quanto o
membro de uma comunidade civilizada contra a sua von- resultante de regras alternativas. (...). Para o consequen-
cialismo, o bem é logicamente anterior ao correto, no
tade é impedir dano a outrem.
sentido de que nenhum critério de correção pode ser es-
MILL, John Stuart. Sobre a liberdade [1859]. Petrópolis: Vozes, 1991. tabelecido antes que uma concepção de bem tenha sido
delineada. (...) Para o utilitarismo, o bem é a utilidade (...)
O trecho expressa:
a) o argumento jusnaturalista, encontrado também em (M.C.M. de Carvalho)
autores como Thomas Hobbes, para a criação do contra- Com base no texto, seguem as seguintes afirmativas:
to social que fundaria as bases de um Estado soberano.
b) a visão fascista, na qual o Estado surge como solu- I. Na concepção moral utilitarista, é necessário, nos juízos
ção para os conflitos e problemas existentes no inte- morais, levar em consideração as consequências resultan-
rior da sociedade civil. tes das ações praticadas.
c) a análise influenciada por Marx e Engels, na medi-
da em que se baseia nas classes sociais para identifi- II. Para o utilitarismo de regras, são consideradas boas as
car o raio de ação dos indivíduos na sociedade. ações conforme a regras cuja observância resulta num es-
d) o ideário positivista do século XIX, no qual há uma forte tado de coisas tão bom, ou melhor, do que o estado de
crítica à visão utilitarista da moral e da vida em sociedade. coisas resultante de regras alternativas.
e) uma preocupação característica do liberalismo do
século XIX, que buscava pensar os limites da ação do III. Na concepção ética utilitarista, o princípio fundamental
Estado em relação à vida particular dos indivíduos. é o princípio da utilidade.

6. (Enem) O edifício é circular. Os apartamentos dos IV. Na concepção ética utilitarista, nenhum critério de cor-
prisioneiros ocupam a circunferência. Você pode cha- reção no agir moral pode ser estabelecido com base numa
má-los, se quiser, de celas. O apartamento do inspetor determinada concepção de bem.
ocupa o centro; você pode chamá-lo, se quiser, de alo-
jamento do inspetor. A moral reformada; a saúde pre-
V. Há, em termos morais, apenas, uma única concepção utili-
servada; a indústria revigorada; a instrução difundida; tarista, por esta ser uma concepção moral deontológica.
os encargos públicos aliviados; a economia assentada,
Assinale a alternativa correta.
como deve ser, sobre uma rocha; o nó górdio da Lei so-
bre os Pobres não cortado, mas desfeito – tudo por uma a) Apenas I e IV estão corretas.
simples ideia de arquitetura! b) Apenas II e IV estão corretas.
c) Apenas IV e V estão incorretas.
BENTHAM, Jeremy. O panóptico. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
d) Apenas III e IV estão corretas.
Essa é a proposta de um sistema conhecido como panóp- e) Todas as afirmativas estão incorretas.
tico, um modelo que mostra o poder da disciplina nas
sociedades contemporâneas, exercido preferencialmente 8. (Ifam) O filósofo liberal John Stuart Mill, um dos princi-
pais expoentes do utilitarismo, colocou a liberdade como
por mecanismos
a “pedra de toque” de sua teoria política. Esta se baseia
a) religiosos, que se constituem como um olho divino no princípio de que:
controlador que tudo vê.
a) os interesses da maioria não podem ser conciliados
b) ideológicos, que estabelecem limites pela aliena- com os da minoria, já que no sistema democrático
ção, impedindo a visão da dominação sofrida. esta é governada por aquela.
c) repressivos, que perpetuam as relações de domina- b) a esfera da liberdade individual deve ser ampliada,
ção entre os homens por meio da tortura física. em nome do interesse próprio, a despeito de causar
d) sutis, que adestram os corpos no espaço-tempo danos à sociedade como um todo.
por meio do olhar como instrumento de controle. c) a liberdade se restringe ao direito do indivíduo de
e) consensuais, que pactuam acordos com base na participar como cidadão dos negócios públicos (do
compreensão dos benefícios gerais de se ter as pró- Estado), através da elaboração da lei.
prias ações controladas. d) o governo deve visar à felicidade para um número
cada vez maior de pessoas.
7. (Unioeste) O utilitarismo é um tipo de teoria teleoló- e) a liberdade, entendida como a não interferência do
gica (de telos que, em grego, significa “fim”) ou conse- Estado na esfera privada, é inconciliável com a igual-
quencialista porque sustenta que a qualidade de um ato/ dade entre os indivíduos na esfera pública.
regra de ação é função das consequências produzidas
pelo ato/regra em questão. O utilitarismo de atos estatui 9.(IFG) Na contramão das previsões que anunciaram a
que uma ação é correta se sua realização dá origem a morte da filosofia moral utilitarista, essa doutrina con-
estados de coisas pelo menos tão bons quanto aqueles tinua sendo um tema privilegiado no campo de estudos

110
sobre a ética. A que se deve atribuir a vitalidade atual Trecho 2
dos estudos sobre o utilitarismo?
A justiça segue sendo o nome adequado para certas utili-
a) É possível afirmar que, se o utilitarismo continua
dades sociais que são muito mais importantes e, portanto,
fecundando a reflexão ética em nossos dias, é porque,
à luz dessa doutrina, os direitos têm prioridade sobre mais absolutas e imperativas do que quaisquer outras con-
o bem. Por isso, na “era dos direitos”, para falar com sideradas como classe (embora não mais do que outras
Norberto Bobbio, é compreensível que as éticas dos possam sê-lo em casos particulares). Elas devem, por isso,
direitos busquem inspiração no utilitarismo. ser protegidas, como de fato naturalmente o são, por um
b) Os utilitaristas chegaram a um consenso na inter- sentimento diferente não só em grau mas em qualidade,
pretação do conceito de utilidade. Um conceito que distinto, tanto pela natureza mais definida de seus dita-
privilegia o interesse individual em detrimento do mes como pelo caráter mais severo de suas sanções, do
interesse geral e que leva a sério a pessoa humana.
sentimento mais moderado que se liga à simples ideia de
c) Não se pode ignorar que justiça e equidade estão
promover o prazer ou a conveniência dos homens.
suficientemente asseguradas na teoria utilitarista.
Daí a importância que essa teoria adquire no cenário Ibidem, p. 94.
atual. O utilitarismo não admite que minorias sejam
oprimidas e direitos humanos violados.
Com base na leitura desses dois trechos e considerando
d) Qualquer sistema ético deve promover o bem-estar outros elementos presentes no capítulo citado da obra
e preocupar-se com a minimização do sofrimento. Daí de Mill, responda:
a pertinência do utilitarismo, uma doutrina sensível às
preocupações distributivas, que não opõe princípio de a) Qual é o obstáculo ao princípio de utilidade que,
utilidade e princípio de equidade. segundo o autor, tem sido extraído da ideia de justiça?
e) O utilitarismo é um modelo ético desafiante que nos b) Qual é o argumento utilizado pelo autor para en-
leva a pensar sobre importantes questões da ética nor- frentar esse obstáculo e demonstrar que não há incom-
patibilidade entre as regras da justiça e o princípio da
mativa, da metaética e da teoria da ação. A doutrina
maior felicidade?
tem o mérito de considerar e ao mesmo tempo avaliar a
importância das consequências da ação humana, como
também de colocar em primeiro plano a satisfação das
necessidades e dos interesses humanos da maioria. Gabarito
10. (Enem) A moralidade, Bentham exortava, não é
1-E; 2-B; 3-D; 4-(01 + 04 + 08 + 16 = 29); 5-E; 6-D; 7-C;
uma questão de agradar a Deus, muito menos de fi- 8-D; 9-E; 10-D
delidade a regras abstratas. A moralidade é a tentati- 11.
va de criar a maior quantidade de felicidade possível
neste mundo. Ao decidir o que fazer, deveríamos, por- a) O obstáculo é a ideia de justiça, que é vista como um
tanto, perguntar qual curso de conduta promoveria a valor superior ao útil ou ao conveniente. Neste caso, a jus-
maior quantidade de felicidade para todos aqueles tiça tem de ser encarada como um senso natural, próprio
que serão afetados.
do ser humano.
RACHELS, J. Os elementos da filosofia moral.
Barueri-SP: Manole, 2006. b) Stuart Mill considera que a noção de justiça é um con-
junto de componentes de ordem emocional, como no caso
Os parâmetros da ação indicados no texto estão em con-
do ser humano defender-se de um mal, e racional, que está
formidade com uma
estritamente fundamentada na ideia de justiça que acarre-
a) fundamentação científica de viés positivista. ta aos seres humanos sentimentos mais intensos, como a
b) convenção social de orientação normativa.
segurança, aspectos dos mais desejáveis.
c) transgressão comportamental religiosa.
d) racionalidade de caráter pragmático.
e) inclinação de natureza passional.

11. (UFMG) Leia estes dois trechos:

Trecho 1
Em todas as épocas do pensamento, um dos mais for-
tes obstáculos à aceitação da utilidade ou da felicidade
como critério do certo e do errado tem sido extraído da
ideia de justiça.
MILL, John Stuart. O utilitarismo. São Paulo:
Iluminuras, 2000. Cap. V, p. 69.

111
AULA Materialismo filosófico
17
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

Tendo como uma recusa do idealismo de Hegel, emergiu práticas, sendo uma relação menos abstrata, porém, ainda
o materialismo, uma visão material da realidade. Entre os longe da praticidade real.
contestadores, o pensador que teve maior destaque foi o
Sua estrutura filosófica consiste em valorizar o indivíduo
alemão Ludwig Feuerbach.
como elemento criador das ideias, ou seja, o pensamen-
to surge do homem, e não o ser humano que surge do
1. Ludwig Feuerbach (1804-1872) pensamento.

O pensamento do filósofo alemão Feuerbach se caracteriza O seu interesse filosófico está no processo de formação da
pelo materialismo, ateísmo e humanismo. O pensador ata- ideia de Deus no pensamento humano. A religião, para Feuer-
ca a ideia de imortalidade e afirmava que, após a morte, o bach, representa o reflexo fantástico da natureza humana. O
ser humano é absorvido pela natureza. seu pensamento pode ser resumido na máxima “Não é Deus
quem cria o homem, mas o homem quem criou Deus”.

Ele qualificou o idealismo de Hegel como uma “especula-


ção vazia”, pois não trata do ser real, das coisas reais e dos
homens concretos, sendo um pensamento muito abstrato
e fora da realidade necessária para o período histórico.
Essa estrutura de pensamento se fez pelo momento histó-
rico em que vivia o filósofo alemão, pois a Europa estava
passando por uma turbulenta mudança ideológica e de or-
dem prática. Em 1815, surgiu o Congresso de Viena, com o
objetivo de redesenhar o mapa político do continente, em
conjunto com uma onda de revoluções de cunho liberal e
nacionalistas, como as revoluções de 1820 e 1848. Assim, a
filosofia precisava associar-se com a realidade, precisava sair multimídia: livro
do campo das ideias e ir para o mundo prático.
A essência do cristianismo
Ludwig Feuerbach. São Paulo: Vozes, 2007.
2. A filosofia materialista Nesse livro, o autor revela que o verdadeiro
sentido da teologia é a antropologia, que não
Feuerbach propõe que a filosofia deveria partir do concreto,
há diferença entre a essência divina e a hu-
da realidade, de forma que o ser humano precisava ser con- mana, ou o sujeito, e que a diferença que se
siderado como um ser natural e social, e não só no campo estabelece entre os predicados teológicos e
ideológico. Só que, apesar de conter esse caráter mais práti- antropológicos não tem razão de ser.
co, essa filosofia ainda não atinge completamente as ações

112
2.1. O elo intermediário Entretanto, Marx e Engels se desencantaram com esse mate-
rialismo, pois observaram que a crítica de Feuerbach perante
O pensamento de Feuerbach constitui o elo intermediário a religião não passava de uma simples luta contra frases, não
entre a filosofia de Hegel e a de Marx. O materialismo de tendo uma efetividade concreta, a fim de destruir completa-
Feuerbach seria um materialismo metafísico, pois, repudian- mente essa dominação perante o ser humano.
do a dialética hegeliana; entretanto, não compreendia a im-
Segundo Marx e Engels, Feuerbach compreende o ho-
portância da atividade prática revolucionária.
mem como máquina, tornando-se incapaz de perceber o
Esse pensamento de Feuerbach influenciou a filosofia de mundo como processo, como matéria em via de desen-
Karl Marx e Friedrich Engels, que se utilizou da essência volvimento histórico.
fundamental do materialismo transformando-o em uma
teoria prática denominada materialismo histórico.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
A principal qualidade do pensamento de Feuerbach, des-
Clóvis de Barros – Porque o homem criou
tacada por Marx e Engels, foi ir contra as instituições po- Deus (Feuerbach e Marx)
líticas existentes na época, com a religião, a teologia e a
Nessa palestra, o filósofo Clóvis de Barros
metafísica, sendo um crítico a essas instituições pela força comenta sobre a criação de Deus, segundo o
da alienação diante dos indivíduos em sociedade, que con- pensamento de Feuerbach e de Marx.
dicionam de forma negativa os seres.

113
DIAGRAMA DE IDEIAS

MATERIALISMO
FILOSÓFICO

FEUERBACH

A FILOSOFIA PRECISA INFLUENCIARA O


TRATAR DE FATOS MATERIALISMO
CONCRETOS HISTÓRICO

A RELIGIÃO DOMINA
MARX
O SER HUMANO

ALIENAÇÃO
RELIGIOSA

É PRECISO
QUESTIONAR ESSA
ALIENAÇÃO

114
Aplicando para naturalmente, desconhece a atividade real, sensível, como
tal. Feuerbach quer objetos sensíveis – realmente distintos
Aprender (A.P.A.) dos objetos do pensamento, mas não apreende a própria
atividade humana como atividade objetiva. Por isso, em A
1. (UEM) Na obra A essência do cristianismo, Feuerbach essência do cristianismo, considera apenas o comportamen-
faz uma crítica à religião cristã. Para ele, o homem aliena to teórico como o autenticamente humano, enquanto que a
sua essência na religião, pois os seres humanos se esque-
práxis só é apreendida e fixada em sua forma fenomênica
cem de que foram os criadores da divindade e invertem a
relação quando acreditam que foram criados pelos deu- judaica e suja. Eis porque não compreende a importância da
ses. Assinale o que for correto. atividade “revolucionária”, “prático-crítica”.
01) Para Feuerbach, o verdadeiro fundamento do ho- De acordo com essa tese de Marx, não é correto afirmar
mem é apenas ele mesmo; assim, o único fundamen- que:
to absoluto de todo pensamento humano é o homem
a) o filósofo Feuerbach revela um desprezo pela prá-
como razão, como vontade, como coração.
tica (dissocia teoria e prática), defendendo que o ca-
02) A teoria da alienação religiosa de Feuerbach ofe- minho para a revolução é a via teórica. Ele almeja a
receu uma contribuição importante à filosofia políti- transformação intelectual.
ca, particularmente à de Marx.
b) a subjetividade é a força que move a realidade, e
04) Feuerbach critica a religião, todavia aceita a teo- esta não é só o que se apresenta aos nossos sentidos,
logia, pois acredita que ela pode nos conduzir a um mas é também resultado do trabalho humano.
conhecimento racional da essência de Deus.
c) o idealismo supera o realismo ingênuo do materialis-
08) A crítica de Feuerbach à alienação religiosa levou mo tradicional, mas cai no erro de reduzir a realidade do
Marx a aderir à filosofia existencialista de Feuerbach. conhecimento a resultado da atividade do pensamento.
16) Quando Marx declara que a religião é o ópio do d) o filósofo Feuerbach ignora o avanço operado pelo
povo, ele concorda com Feuerbach que a religião é idealismo de conceber o objeto do conhecimento como
uma alienação; para Marx, a religião amortece a com- resultado da atividade (ainda que do pensamento), e re-
batividade dos oprimidos e dos explorados, porque lhes torna à concepção do materialismo tradicional anterior.
promete uma vida feliz no futuro e no outro mundo.
e) a filosofia/ideologia alemã (Kant/Hegel) não concebe
2. (UFSM) O filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804- a realidade do conhecimento como resultado da ativida-
1872) afirmou a tese materialista de que o “homem é de humana, mas tão somente sob a forma da percepção.
aquilo que come”. Uma concepção semelhante foi de-
4. (UEG) Em sua 11ª tese sobre Feuerbach, Karl Marx
fendida posteriormente por Karl Marx. Qual(is) asser- (1818-1883) afirma que “Os filósofos até hoje inter-
ção(ões) a seguir expressa(m) corretamente essa ideia pretaram o mundo, cabe agora transformá-lo”. Muitos
materialista no pensamento de Marx? marxistas interpretaram mal a frase de Marx e abando-
naram livros, teoria e partiram para a prática, negligen-
I. A exploração do trabalhador pelos donos dos meios de
ciando o significado da noção de práxis em Marx. Nesse
produção é mantida pela consciência de classe. sentido, tem-se que:
II. A classe dominante tem como fim último a tomada do a) a tese marxista estimulava a prática e não a teoria, já que
poder através da ação do proletariado. a ideia de práxis privilegia o fazer em detrimento do pensar,
o que levaria à condenação da filosofia como teoria pura.
III. As relações econômicas determinam a consciência do b) a noção de práxis em Marx exige que a filosofia
homem como ser social. sempre permaneça nos limites do conhecimento te-
órico, pois a práxis humana deve ser conduzida por
Está(ão) correta(s): peritos técnicos e não por filósofos.
a) apenas III. c) a tese marxista criticava a filosofia por não favo-
b) apenas I e II. recer uma práxis revolucionária na qual toda prática
c) apenas II e III. suscita a reflexão, que por sua vez vai incidir sobre a
d) I, II e III. prática reorientando uma ação transformadora.
d) a ideia de práxis em Marx foi desvirtuada por aque-
3. Leia o texto abaixo, de autoria de Karl Marx. les que não perceberam que existe uma ruptura entre
teoria e prática, e que o trabalho intelectual deve pre-
O principal defeito de todo materialismo até aqui (incluído valecer sobre o trabalho manual.
o de Feuerbach) consiste em que o objeto, a realidade, a
5. (Funece) Marx, em sua 11ª tese, ad Feuerbach, ao afir-
sensibilidade, só é apreendido sob a forma de objeto ou de mar que “Os filósofos não fizeram mais que interpretar
percepção, mas não como atividade humana sensível, como o mundo de maneiras diferentes, o que importa é trans-
práxis, não subjetivamente. Eis porque ocorreu que o aspecto formá-lo” evidencia a filosofia como:
ativo, em oposição ao materialismo, foi desenvolvido pelo a) explicação verdadeira, que objetiva uma transforma-
idealismo – mas apenas abstratamente, pois o idealismo, ção social.

115
b) elemento do espírito absoluto, que se caracteriza entidades. O termo foi originalmente empregado por
como puro idealismo. Marx em referência à projeção dos poderes humanos
c) interpretação do mundo, que é dispensável ao pro- sobre os deuses. Mais tarde, ele empregou o termo para
cesso revolucionário. se referir à perda do controle por parte dos trabalhado-
d) proposição platônica, que considera como verda- res sobre a natureza da tarefa desempenhada e sobre
deiro, o mundo das ideias. os resultados de seu trabalho. Feuerbach utilizou esse
termo em referência à instituição de deuses ou forças
6. A teoria sociológica de Marx é marcada pela obser- divinas distintas dos seres humanos.
vação do modo de produção como determinante para a
organização social. Sobre as principais influências sofri- O texto se refere corretamente ao conceito de:
das por este autor para o desenvolvimento de seu pen-
a) ideologia.
samento sociológico, analise as seguintes sentenças:
b) anomia.
I. Para Hegel, o movimento parte da ideia, do pensamen- c) alienação.
to, para então desenvolver a matéria e gerar história, para d) magia.
Marx esta ordem é invertida. e) simulacros.

II. Para Feuerbach, a alienação do ser humano estava na 9. (UFPR) Ligia Marcia Martins (2008) afirma que é impos-
religião, e para Marx estava na alienação material origina- sível divorciar uma matriz psicológica do sistema filosó-
da pelo sistema capitalista. fico que media suas proposições. No caso da psicologia
histórico-cultural, também conhecida como psicologia
III. Marx desenvolve o materialismo dialético, onde a re- sócio-histórica, a formulação filosófica que lhe serve de
alidade existe a partir do mundo material, e não a partir esteio é a epistemologia marxiana, desenvolvida inicial-
do pensamento, pois este também é determinado pelas mente por Karl Marx (1818-1883) e Friederich Engels
condições materiais. (1820-1895). Em relação à essa epistemologia, considere
as seguintes afirmativas:
Assinale a alternativa correta.
a) Somente a afirmativa III está correta. I. O pressuposto do sistema filosófico proposto por Marx e
b) Somente as afirmativas I e II estão corretas. Engels é o materialismo e a lógica é a dialética.
c) As afirmativas I, II e III estão corretas. II. Esse sistema filosófico se opõe à lógica formal, funda-
d) As afirmativas I e III estão corretas. da numa série de princípios e elementos já presentes em
7. (UEM) A Filosofia apresentou como debate político, ao Aristóteles e que alcançam seu apogeu no século XVII com
longo da história, as questões da liberdade do indivíduo Francis Bacon e René Descartes. Entre esses princípios está
na sociedade, teorizando a finalidade do Estado e das o da não identidade e o princípio da contradição.
instituições sociais. Sobre a natureza do debate filosófico
acerca das questões políticas, assinale o que for correto. III. Com Hegel a dialética se constitui como método para
01) Em virtude da defesa da Igreja católica, a fundação do pensar o mundo enquanto movimento, na tentativa de su-
Estado moderno de direito é essencialmente dogmática, já perar a tradição intelectual que vem de Aristóteles. Mas é
que os teóricos da Idade Média faziam da união dos planos com Marx que a dialética aparece concretizada historica-
humano e divino a exigência central do republicanismo. mente sobre fundamentos materialistas, já que para Hegel
02) O debate político em torno dos ideais liberais e o primado é o espírito e a realidade encarnação das ideias.
socialistas se dá no interior de questões religiosas, pois
nem John Locke nem Thomas Hobbes desvinculam o IV. Em sua segunda tese sobre Feuerbach, texto de 1845,
debate político das questões metafísicas e morais. Marx afirma a “prática como critério da verdade”, isso sig-
04) A importância do projeto de Ludwig Feuerbach nifica que a partir da prática se constrói o conhecimento,
para a filosofia da época é seu profundo apego ao
prescindindo das categorias e instrumentos heurísticos
cristianismo de Hegel, razão pela qual defendeu, na
essência do cristianismo, a tese espiritualista de que o para entender a realidade.
Estado é o poder de Deus em nossas mãos. Assinale a alternativa correta.
08) Para Karl Marx, não basta reivindicar a liberdade
a) Somente a afirmativa I é verdadeira.
sem tomar decisões históricas e efetivas, capazes de
controlar os meios de produção e formar a consciên- b) Somente a afirmativa II é verdadeira.
cia de classe dos trabalhadores. c) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.
16) São conceitos fundamentais do marxismo os con- d) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.
ceitos de fetiche da mercadoria, alienação política, e) As afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras.
ação política transformadora e emancipação humana.
10. Na obra A ideologia alemã, Marx e Engels realizam
8. (Seduc) A noção de que nossas próprias habilidades, uma crítica às concepções idealistas de Feuerbach e lan-
enquanto seres humanos, são assumidas por outras çam as bases para sua compreensão marxista da história.

116
Assinale a alternativa que indica o primeiro pressu-
posto da análise histórica, sobre os quais os demais se
constroem.
a) A produção de ideias.
b) A criação de uma propriedade comunal.
c) O desenvolvimento da propriedade privada.
d) A organização dos homens e sua relação com a
natureza.
e) A divisão do trabalho como organização dos homens.

Gabarito
1-(01 + 02 + 16 = 19); 2-A; 3-E; 4-C; 5-A; 6-C;
7-(08 + 16 = 24); 8-C; 9-D; 10-D

117
AULA Schopenhauer
18
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. Arthur Schopenhauer Seus escritos só causaram algum impacto na filosofia ale-


mã, somente no fim do século XIX, pois o pensamento vi-
(1788-1860) gente era o hegeliano. Tendo influência kantiana, mediante
o processo de uma crítica permanente, Schopenhauer cri-
O polonês Arthur Schopenhauer foi criado para ser um tica a filosofia de Kant, em relação a coisa-em-si, de modo
homem de negócios, com estudos de línguas e viagens a que a realidade consiste em fenômenos e na coisa-em-si, o
outros países, como seu pai; porém, após o falecimento do que, para Kant, (a coisa-em-si) jamais será conhecida. Em
pai, o jovem polonês escolheu a Filosofia, para o desalento sua filosofia, Arthur Schopenhauer apresenta que o fenô-
de sua mãe. meno é uma manifestação da própria coisa-em-si.
Enfrentando diversas críticas maternas devido às suas es-
colhas, Schopenhauer adentrou em diversos embates com
a progenitora, alguns destes que se tornaram públicos e
degradantes para ambas as partes, recheados de insultos.

multimídia: livro
O mundo como vontade e representação
Arthur Schopenhauer. São Paulo: Unesp, 2015.
A obra máxima de Arthur Schopenhauer, que
associa a dialética de Kant com a visão pla-
tônica para definir suas constantes filosóficas.

1.1. O filósofo da representação


e da vontade

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube Em 1818, surge uma de suas maiores obras, intitulada O
O pensamento de Schopenhauer mundo como vontade e representação. Para o pensador
O professor de Filosofia Leandro Chevitarese fala alemão, tudo o que existe para mim é o que eu percebo,
sobre o pensamento de Arthur Schopenhauer. diante das formas a priori da minha própria consciência.
Numa relação subjetiva entre o objeto e o indivíduo, a qual

118
criamos a nossa representação diante do mundo. Assim, Essa sua postura de não domínio racionalizado das ações
não existe uma única resposta, nem uma única representa- humanas, que abrangem as nossas paixões, seja no
ção dos fenômenos, isto é, do mundo. Com isso, o mundo campo do “inconsciente”, procura resgatar uma definição
é um conjunto de representações. humanística do ser em si.
Numa aproximação com o pensamento oriental, o filósofo
polonês é o primeiro pensador ocidental a valorizar essa fi- 1.3.A arte como libertador da vontade
losofia. Não seguindo uma dualidade cartesiana entre razão
Nenhum outro filósofo valorizou a arte, pois é a arte que
e vontade, Schopenhauer define que a vontade é a essência
fornece um ponto de tranquilidade, de modo que, durante
da subjetividade, ou seja, é a própria essência do “eu”, isso
um curto período, conseguimos escapar do ciclo infinito da
para os animais se expressa como instinto.
luta e do desejo.
Para ele, essa vontade é a essência do mundo, causando a
A contemplação estética, para o filósofo, seria uma forma
dor no indivíduo. Sendo fruto de um descontentamento do
de escapar do sofrimento da realidade. A contemplação
próprio estado do ser, impulsionando uma realização que
leva o indivíduo a uma identificação com a essência do
não será alcançada, gerando, com isso, um arrependimento,
mundo, desencadeando nesse ser uma ruptura com a dor.
uma espécie de sofrimento. Para interromper essa ordena-
Schopenhauer valoriza a música como o maior condutor da
ção de vontade que gera sofrimento, Schopenhauer aponta
vontade, de uma forma individualizada e própria. Segundo
a arte como ferramenta de anulação da vontade no homem,
o pensador “a música exprime a mais alta filosofia numa
o que faz ele esquecer do seu sofrimento, e não extingui-lo.
linguagem que a razão não compreende.” Assim, a música
Com isso, o filósofo não extingue o sofrimento, ele apre- é a melhor forma da arte.
senta que é preciso saber que a razão não tem controle
total perante a vontade, mas é preciso saber conviver e
observar as coisas boas desse sofrimento.
Para Schopenhauer, causar mal às outras pessoas é tam-
bém causar mal a si próprio. Com isso, a moral básica scho-
penhaueriana consiste em ensinar a compaixão.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Schopenhauer
Esse vídeo apresenta como o pensamento de
Schopenhauer sofreu influência do budismo
multimídia: música e analisa uma nova postura sobre a vida.

Fonte: Youtube
Apresentado no primeiro livro como pura representa-
Livin’ La Vida Loca ção, objeto para um sujeito, consideramos o mundo no
segundo livro por sua outra face e verificamos como
Ricky Martin. Álbum: Livin’ La Vida Loca. Sony
esta é vontade, que unicamente se mostrou como o
Music, 1999. que aquele mundo é além da representação; em con-
Nessa canção, Ricky Martin apresenta, de for- formidade, denominávamos o mundo como represen-
ma sútil, como o impulso pode levar o indiví- tação, no todo ou em suas partes, a objetividade da
duo a agir sem a razão, levando-o para baixo. vontade, quer dizer: a vontade tornada objeto, i. e., re-
presentação. Recordamos também que tal objetivação
da vontade possuía graus numerosos, porém determi-
1.2. Reflexões sobre a Psicologia nados, em que, com clareza e perfeição gradualmente
crescente, a vontade surgia na representação, i. e., se
Schopenhauer apresenta em seu pensamento que o ser apresentava como objeto. Reconhecíamos as ideias de
humano não é um ser a qual a razão domina todas as suas Platão em tais graduações, na medida em que estas
ações, sendo um ser passional e fragmentado, sofrendo são as espécies determinadas, ou as formas e proprie-
ações de forças que fogem de seu controle. dades invariáveis originárias de todos os corpos natu-

119
rais, orgânicos ou inorgânicos, como também as forças
genéricas se manifestando conforme leis naturais. Tais
ideias, portanto, se manifestam em indivíduos e par-
ticularidades inumeráveis, comportando-se como mo-
delo para estas suas imagens. A multiplicidade de tais
indivíduos é concebível unicamente mediante o tempo
e o espaço, seu surgir e desaparecer unicamente me-
diante a causalidade, em cujas formas reconhecemos
somente as diversas modalidades do princípio de ra-
zão, princípio último de toda finitude, toda individua-
ção, forma geral da representação, tal como esta se dá
na consciência do indivíduo como tal.
ARTHUR SCHOPENHAUER multimídia: música
O mundo como vontade e representação. Livro III.
Fonte: Youtube

That’s How People Grow Up


Morrissey. Years of Refusal. Polydor Records, 2009.
Nesta música, Morrissey apresenta que, apesar
dos infortúnios que tivermos na vida, devemos
observar e aprender com os erros, para assim
melhorar as nossas próximas ações.

DIAGRAMA DE IDEIAS

SCHOPENHAUER

O SER HUMANO É O MUNDO


RAZÃO E IMPULSO É VISTO DIANTE
MINHA VONTADE,
SENDO UMA
REPRESENTAÇÃO
MAS A RAZÃO NEM
SEMPRE CONSEGUE
CONTROLAR OS
NOSSOS IMPULSOS EXISTEM INÚMERAS
REPRESENTAÇÕES
DO MUNDO

O QUE LEVA AO
SOFRIMENTO

A ARTE AJUDA
AO HOMEM A
SE LIBERTAR DA
VONTADE

120
Aplicando para d) essência do mundo, solução para o enigma do universo.
e) essência do mundo, a coisa em si que Kant tanto

Aprender (A.P.A.) problematizava.

4. (Enem) “Sentimos que toda satisfação de nossos de-


1. Schopenhauer considerou ser a “vontade” a última e sejos advinda do mundo assemelha-se à esmola que
mais fundamental força da natureza, que se manifesta mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã
em cada ser no sentido da sua total realização e sobrevi- a sua fome. A resignação, ao contrário, assemelha-se à
vência. O conceito de vontade deste filósofo diz respeito: fortuna herdada: livra o herdeiro para sempre de todas
a) a algo infinito, uno, indizível. as preocupações.”
b) a uma vontade finita, individual, ciente.
SCHOPENHAUER, Arthur. Aforismo para a sabedoria
c) ao mundo e que não seria mais do que represen- da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
tações, como síntese entre o subjetivo e o objetivo.
d) aos fundamentos transcendentais (assentados em O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradi-
Deus) dos valores mais caros de nossas vidas. ção filosófica ocidental, segundo a qual a felicidade se
e) à moral e aos valores existentes na sociedade que mostra indissociavelmente ligada à
lhe é contemporânea. a) consagração de relacionamentos afetivos.
b) administração da independência interior.
2. De acordo com o conjunto dos nossos pontos de vis-
ta, a vontade é não somente livre, mas também oni- c) fugacidade do conhecimento empírico.
potente; e produz não somente a sua conduta, como d) liberdade de expressão religiosa.
também o seu mundo; tal a vontade qual a ação e qual e) busca de prazeres efêmeros.
o seu mundo; ambas não são senão vontade consciente
de si própria e nada mais; a vontade se determina a si 5. Para Schopenhauer, a vontade é a raiz do mundo e da
mesma e determina com isto a conduta e o mundo, por conduta humana e, ao mesmo tempo, é a fonte de todos
isso que sem ela nada existe: Compreendida assim, a os sofrimentos. Isso ocorre porque a vontade é:
vontade é verdadeiramente autônoma; compreendida a) um querer irracional, que acaba por gerar a dor.
doutro modo, é heterogênea. b) algo racional, que proporciona o sofrimento.
SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade
e representação. Tomo IV (adaptado).
c) um desejo antigo, que abarca a dor.
d) um prazer, que quando atingido gera dor.
Segundo o pensamento de Schopenhauer, podemos in- e) um desejo suprimido, que proporciona o sofrimento.
ferir que:
6. Uma das máximas da filosofia de Schopenhauer con-
a) a vontade se manifesta no homem como um desejo.
siste em dizer que “viver é sofrer”. Essa afirmação é
b) a vontade é só uma manifestação da consciência
correta, pois o prazer:
em si e do mundo.
c) o desejo é uma autopreservação desvinculada da espécie. a) nunca surge na vida do ser humano, só o sofrimento.
d) a vontade é um querer consciente do mundo. b) sempre surge na vida do homem, igual ao sofrimento.
e) o desejo é representado como uma força controla- c) é um momento de curta duração na vida do ho-
da totalmente pela razão. mem, ao contrário do sofrimento.
d) é um momento de média duração na vida do ho-
3. Apresentado no primeiro livro como pura representa- mem, enquanto o sofrimento tem curta duração.
ção, objeto para um sujeito, consideramos o mundo no e) é um momento passageiro na vida humana, tal qual
segundo livro por sua outra face e verificamos como esta o sofrimento.
é vontade, que unicamente se mostrou como o que aque-
le mundo é além da representação; em conformidade, 7. Buscando argumentar a sua tese de que a vida do ser
denominávamos o mundo como representação, no todo humano é construída, em sua maior parte, pelo sofri-
ou em suas partes, a objetividade da vontade, quer dizer: mento, Schopenhauer afirma que:
a vontade tornada objeto, isto é, representação. a) a história nos mostra a vida dos povos e nada en-
SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como contra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar;
vontade e representação (adaptado). os anos de paz nos parecem apenas curtas pausas.
b) a história nos mostra a vida dos povos e só encon-
O conceito de representação na filosofia de Schope- tramos pequenos conflitos para nos relatar; os anos
nhauer significa: de paz nos parecem em longos períodos.
a) a forma que o homem se espelha no mundo, vejo c) a história nos mostra a vida dos povos e nada en-
aquilo que quero ver, ouço aquilo que quero ouvir. contramos a não ser momentos de tranquilidade; os
b) a forma que o homem se relaciona com o mundo, anos de conflitos nos parecem apenas curtas pausas.
utilizando-se de valores e moral. d) a história nos mostra a vida dos povos e nada en-
c) a forma que o homem é capaz de representar o contra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar;
mundo por intermédio de seus sentidos e intelecto. os anos de paz não existem.

121
e) a história nos mostra a vida dos povos e só encon- a) a interação entre a percepção e o nôumeno, ou
tramos guerras e conflitos, na mesma maneira a qual seja, o fenômeno.
encontramos momentos de paz. b) a essência do mundo, a coisa em si kantiana, percebi-
da imediatamente por intermédio de meu próprio corpo.
8. Na filosofia do alemão Arthur Schopenhauer, tido como
o arauto do pessimismo, podemos encontrar uma das me- c) a essência do mundo, amor, ódio, salvação.
lhores compreensões do que seja a felicidade. Entre as d) o querer racional de preservação dos outros mani-
cinquenta regras que se encontram esparsas pela obra do festa pela reprodução.
filósofo, destacam-se três: Primeira: estar ciente de que e) a angústia que guia o homem à felicidade a partir
só a dor é verdadeira. Ou seja, não requer nenhuma ilusão do impulso do instinto de sobrevivência.
acessória para existir. Usufruir um presente sem dor, em
vez de procurar o prazer num futuro improvável, é já uma 10. “No espaço infinito, inumeráveis esferas brilhantes.
forma de ser feliz, por mais que isso possa parecer sem Em torno de cada uma delas giram aproximadamente
graça aos olhos da civilização hedonista. “O homem sábio uma dúzia de outras esferas menores iluminadas pelas
não aspira ao deleite, e sim à ausência de sofrimento”, es- primeiras e que, quentes em seu interior, estão cobertas
creveu Schopenhauer, citando o grego Aristóteles. Segun- de uma crosta rígida e fria sobre a qual uma cobertura
da: evitar a inveja: ela tortura quem a nutre e, por esse lodosa deu origem a seres vivos que pensam; – eis aí a
motivo, causa infelicidade. “Você nunca será feliz enquan- verdade empírica, o real, o mundo”.
to se torturar por alguém ser mais feliz”, resumiu Sêneca. SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como
A crueldade apontada por Schopenhauer: “E, no entanto, vontade e como representação (adaptado).
nós estamos constantemente preocupados em despertar
inveja” Terceira: ser fiel a si próprio. Seguir as característi- Para Schopenhauer, ao contrário da tradição socrático-
cas e os pensamentos que o forjaram, assim como aceitar -cartesiana, a razão nada mais é do que uma ilusão. Mes-
as suas limitações, é essencial para o indivíduo resguar- mo que usemos a razão para organizar as representações
dar-se de frustrações. Trata-se de algo difícil, porque não do mundo, a verdade nunca será cognoscível. Tendo isso
raro somos tentados a enveredar por caminhos estranhos em vista, o que significa a representação para o filósofo?
a nós mesmos, mais adaptados às condições de quem in- a) A representação é a interpretação pessimista da realida-
vejamos. Diz o filósofo alemão: “Quando reconhecemos, de, que, a partir da vontade não satisfeita, gera angústia.
claramente, e de uma vez por todas, nossas qualidades e
b) A representação é manifestação, nos indivíduos, de
forças, bem como nossos defeitos e fraquezas, consegui-
suas vontades, onde cada um arremeda, dissimula e
mos fixar os nossos objetivos e nos resignamos com o
encena ações em busca de sua satisfação.
inatingível. Escapamos, dessa maneira, à mais terrível de
todas as dores: a insatisfação com nós mesmos, essa insa- c) Para Schopenhauer a representação são o conheci-
tisfação que é a consequência inelutável da ignorância da mento que obtemos a partir da experiência do mundo
própria individualidade”. a partir de juízos estéticos.
d) A representação se manifesta, para Schopenhauer,
Mario Sabino, A arte de ser feliz, Veja, 23.07.2014 (adaptado). como fenômenos sensíveis, considerados como enganosos
É correto afirmar que as ideias de Schopenhauer sobre pelo pensador e que devem ser ignorados em nome da
a felicidade: busca da verdade absoluta.
e) Na concepção da realidade dualista do autor (coisa em
a) estão dissociadas da busca por prazer e vinculadas
si e fenômenos) a representação é a manifestação da von-
ao conhecimento das próprias limitações.
tade (que é una e transcendental) objetivada no mundo
b) dependem principalmente de fatores externos à das ideias. Ou seja, a representação é o que a mente e a
vontade do indivíduo, os quais ele não pode afastar. consciência nos permitem ver da coisa-em-si.
c) baseiam-se em princípios éticos moralmente questio-
náveis, embora grande parte da sociedade os condene. 11.
d) afastam preocupações com o presente, para focar-
-se no futuro, como forma de evitar frustrações.
“Pensamentos no papel são como as pegadas de um ho-
e) recusam o sofrimento, entendido como antinatural mem na areia. É certo que podemos ver o caminho que ele
e negativo, apesar de inevitável nos dias atuais. tomou; mas para ver o que ele viu no trajeto, precisamos
usar os nossos próprios olhos.”
9. “Onde se descreve o procedimento mais original e mais
(Michel de Montaigne)
importante de minha filosofia, qual seja, a passagem, que
Kant declarara impossível, do fenômeno à coisa em si.”
“Quanto mais claro é o conhecimento do homem, quanto
SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como
vontade e como representação (adaptado).
mais inteligente ele é, mais sofrimento ele tem; o homem
que é dotado de gênio sofre mais do que todos.”
Apesar de ser grande devedor do pensamento kan- (Arthur Schopenhauer)
tiano, Schopenhauer abandona o otimismo da razão
abordando o mundo pelo pessimismo da Vontade. Para Estabeleça uma relação entre os textos de Michel de
ele, a vontade é: Montaigne e de Arthur Schopenhauer.

122
Gabarito
1-A; 2-A; 3-C; 4-B; 5-A; 6-C; 7-A; 8-A; 9-B; 10-E
11. Ambos acreditam que o conhecimento é construído
pelo próprio indivíduo por meio de conteúdo e pelas ex-
periências. Assimila mais aquele que é despertado para o
saber e que se limita ao conhecimento por imposição. O
indivíduo precisa vivenciar para aprender.

123
AULA Nietzsche
19
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. Friedrich Nietzsche Nietzsche escreveu, sob a forma de aforismos (máximas


ou sentenças curtas que exprimem um conceito), a maior
(1844-1900) parte de suas obras. O conjunto de suas obras revela como
preocupação básica uma crítica profunda e impiedosa à ci-
Após a leitura das obras de Schopenhauer, Friedrich Niet- vilização ocidental, crítica à massificação, à visão de mundo
zsche empreendeu uma crítica radical à moral. Desenvol- burguesa e ao conservadorismo cristão.
vendo uma crítica intensa aos valores morais, chegando à
conclusão de que não existem as noções absolutas de bem
e de mal. Para ele, as concepções morais surgem com os
1.1. Sócrates: o início da decadência
homens, a partir das necessidades dos homens. Assim, os Nietzsche acrescenta que a sociedade permanece nesse es-
seres humanos são os verdadeiros criadores dos valores tado doentio devido à continuidade de hábitos consolidados
morais, sobretudo nas religiões. pelos filósofos iniciados por Sócrates. A crítica perante os
Portanto, ao compreendermos que os valores presentes em pensadores atenienses aprofunda-se quando estes demons-
nossa vida são construções humanas, temos o dever de re- traram que era preciso seguir uma espécie de moral, um con-
fletir sobre nossas concepções morais e enfrentar o desafio junto pré-definido de valores, condicionando o belo, o certo e
de viver por nossa própria conta e risco. o errado para todos os integrantes da sociedade.
De modo que, foi com Sócrates o começo da decadência
humana, pois foi o pensador ateniense, com sua dialéti-
ca, que direcionava as conversas e moldava conforme os
seus próprios valores o rumo das falas, julgando os valores
morais dos seus interlocutores, colocando como o cami-
nho correto do pensamento, a sua interpretação dos fatos,
Além de conduzir o interlocutor a calar-se perante as impo-
sições ilusórias revestidas de verdade.

Entretanto, Nietzsche acreditava que só o filósofo pode-


ria curar os males da civilização – visto que o mundo está
multimídia: vídeo doente, pois os homens não estão sabendo viver –, sendo
que só os filósofos podem se colocar além dos juízos mo-
Fonte: Youtube
rais, e consegue enxergar que através da arte podemos nos
Friedrich Nietzsche, por Scarlett Marton
afastar da dor e do surgimento, fazendo o papel de um
A professora da USP Scarlett Marton, umas das
médico que pretende sanar os males. Mas essa categoria
maiores estudiosas do alemão Nietzsche, conver-
sa sobre o pensamento intempestivo do filósofo. de filósofo era baseada nos pensadores que aceitam as
críticas como algo positivo, como “investigadores”, e não

124
como a visão do filósofo construída após Sócrates, como ídolos, todos ilusórios, criados para o ser humano, com por
o dono da verdade absoluta. Seria numa concepção de fi- exemplo, as morais religiosas.
lósofo como o próprio Zaratustra, personagem criado por
Esses ídolos ilusórios foram impostos às pessoas indefesas
Nietzsche para ilustrar esse médico da sociedade.
por um poder opressor. Todos esses ídolos são moldados
e erguidos para serem cultuados e adorados; porém, só
mediante o ato de filosofar com o martelo, destruindo es-
ses falsos ídolos, é que os homens podem se encontrar em
sua completude, retirando de sua mente as falsas “verda-
des” que constituem a nossa sociedade. Com essa postura,
Nietzsche nos indica que a filosofia precisa se voltar para a
sua origem, que é de se questionar constantemente, sem
receio de errar.

1.2. A moral do senhor e a moral do escravo


Ao se debruçar sobre os valores que regem a sociedade,
Nietzsche analisa a existência de dois tipos de moral: a mo- multimídia: vídeo
ral do senhor e a moral do escravo. Fonte: Youtube
Seguindo uma polaridade, a moral do senhor consiste O Eterno Retorno e o além do homem
numa moral da força de vontade, voltada para um grupo De Oswaldo Giacóia Júnior
dominante, que almeja controlar e se impor perante os ou- O professor da Unicamp Oswaldo Giacóia Júnior
tros. Numa clara valorização de si, tendo um orgulho imen- comenta sobre a filosofia do alemão Nietzsche.
so de seus atos. Seria uma vontade de agir, de dominar as
ações coletivas.
Enquanto a moral do escravo, também denominada moral
1.4. O Apolíneo e o Dionisíaco
do rebanho caracteriza-se como os valores de rebaixamen- Segundo Nietzsche, na “A origem da Tragédia”, existe um
to coletivo, ressaltando uma essência de desqualificação fundamento para a norma cultural, mediante os elementos
perante o outro. Nesses valores está a obediência, o des- do dionisíaco e do apolíneo.
qualificar-se, humilhando-se perante os mandos dos ou-
Com um olhar estético, o filósofo alemão apresenta que o
tros. Nietzsche define essa moral, como a ação ressentida
dionisíaco é a afirmação triunfal da realidade. Sendo o cará-
de “dar a outra face”, de aceitar completamente passivo
ter mais racionalizado, controlado. As formas dionisíaca são
aos mandos e desmandos dos outros.
a tragédia e a música. tragédia é a transformação da reali-
Para o filósofo essa luta entre a moral do senhor e a moral dade em um fenômeno estético, mas sem cobrir a realidade.
dos escravos está presente nos nossos dias. E para superar
essa dicotomia era preciso reavaliar a moral, para corrigir
as inconsistências de ambas as morais. Num movimento
de transvaloração de todos os valores, ou seja, repensar
nos valores morais, sem recair num dualismo que arruinou
a sociedade anteriormente.

1.3. Filosofar com martelo


A filosofia nietzschiana consistia em filosofar com o marte-
lo nas mãos, isto é, um filosofar com o intuito de destruir os Apolo e Dionísio

125
Enquanto o apolíneo é a individualização, sendo um sím- “Uma coisa sou eu, outra são meus escritos... Aqui, antes
bolo de luz, de medida, de limite. De modo que, que nos faz de chegar a falar deles mesmos, quero tocar a questão da
resistir ao pessimismo através de uma ilusão da realidade compreensão ou da não-compreensão desses escritos. Eu
o faço de maneira tão relaxada quanto me parece ser con-
criada pela arte. A forma apolínea são a mitologia, as artes veniente: pois o tempo para essa questão por certo ainda
épicas e as artes plásticas. não chegou. O tempo não chegou nem mesmo para mim;
alguns apenas nascem postumamente... Um dia serão ne-
1.5. O Eterno Retorno cessárias instituições, nas quais será ensinando e vivido
como eu compreendo o ensino e a vida; quem sabe não
O conceito do Eterno Retorno representa aos ciclos re- serão instituídas, também, algumas disciplinas para a in-
petitivos da vida; pois estamos sempre presos aos fatos terpretação do Zaratustra.”
do fato, que acontecem no presente e terão uma repe- “Quando chegou aos trinta anos, Zaratustra deixou sua
tição no futuro. Com esse conceito, o filósofo questiona pátria e o lago de sua terra natal e partiu para as mon-
a ordem das coisas, não existindo uma bipolaridade tanhas. Lá permaneceu, nutrindo-se de seu espírito e de
sua solidão, sem se cansar. Dez anos se passaram. Seu
dos elementos.
coração, porém, mudou e, uma manhã, tendo-se levan-
tado com a aurora, pôs-se frente ao sol e assim lhe falou:
1.6. Assim falou Zaratustra Tu, grande astro! Que seria de tua sorte, se te faltassem
Em 1883, Nietzsche escreveu, segundo ele próprio, a sua aqueles a quem iluminas? (...)
maior contribuição para a humanidade, o livro “Assim Quando Zaratustra chegou à cidade mais próxima, situ-
Falou Zaratustra – um livro para todos e para ninguém”. ada à beira da floresta, encontrou uma grande multidão
reunida na praça pública porque havia sido anunciado
Nesse livro, o filósofo busca apresentar a necessidade da
que seria apresentado o espetáculo de um equilibrista
mudança na sociedade, alertando da hipocrisia que consti- na corda-bamba. Zaratustra se dirigiu então ao povo
tuem o homem e a sociedade. com estas palavras:
Com uma linguagem repleta de metáforas, guiada pelo Eu vos anunciou o além-do-homem. O homem existe
choque de paradoxos, o livro retrata o ermitão Zaratustra, para ser superado. Que fizestes para o superar? (...)
um personagem que após dez anos isolado nas monta- Entretanto, Zaratustra olhava a multidão e ficava assom-
nhas, decide contar para a sociedade a boa nova: “Deus brado. A seguir, assim falou:
está morto, e é a vez dos seres humanos”. O homem é uma corda estendida entre o animal e o
além-do-homem. Uma corda sobre o abismo.
Zaratustra também é o anunciador do “além do ho-
mem” (übermensch), um estágio que o ser humano Perigosa para percorrê-la, é perigoso ir por esse cami-
nho, perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar.
pode alcançar se souber viver bem, querendo sempre
O que é grande no homem é ele ser uma ponte e não
conhecer mais. uma meta. O que se pode amar no homem é ele ser uma
passagem e um declínio.”
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falava Zaratustra - um livro para todos
e para ninguém. São Paulo: Editora Escala, 2000, pp.15,17 e 19.

multimídia: livro
Assim falou Zaratustra
Friedrich Nietzsche. São Paulo: Companhia
das Letras, 2018.
Nessa obra o leitor reconhecerá, na lingua-
gem metafórica e alegórica dos discursos e
diálogos de Zaratustra, muitas das ideias de
valorização do ser humano, com uma ideia
de transmutação dos valores.

126
DIAGRAMA DE IDEIAS

NIETZSCHE

A SOCIEDADE O SER HUMANO


MODERNA ESTÁ PRECISA ELEVAR
DOENTE CRÍTICA A
O SEU ESTADO
FILOSOFIA

PORQUE O SER ATINGINDO O


POR DIRECIONAR
HUMANO NÃO VIVE ALÉM-DO-HOMEM
A VERDADE AOS
HOMENS

SÓ OBEDECE
ATUA COM A PRÓ-
OS VALORES DE
É PRECISO PRIA VONTADE
ORIGEM RELIGIOSA
QUESTIONAR INDEPENDENTE
DAS MASSAS

COM O INTUITO
DE DOMINAÇÃO FILOSOFAR COM UM
SOCIAL MARTELO NA MÃO

PARA QUEBRAR AS
IDEIAS IMPOSTAS

Aplicando para secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se


querem abrir, mas os abismos não nos querem tragar!

Aprender (A.P.A.) NIETZSCHE. F. Assim falou Zaratustra. Rio de Janeiro: Ediouro, 1977.

1. (ENEM) Vi os homens sumirem-se numa grande triste- O texto exprime uma construção alegórica, que traduz
za. Os melhores cansaram-se das suas obras. Proclamou- um entendimento da doutrina niilista, uma vez que:
-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é
a) reforça a liberdade do cidadão.
oco, tudo é igual, tudo passou! O nosso trabalho foi inú-
b) desvela os valores do cotidiano.
til; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau olhado ama-
releceu-nos os campos e os corações. Secamos de todo, e c) exorta as relações de produção.
se caísse fogo em cima de nós, as nossas cinzas voariam d) destaca a decadência da cultura.
em pó. Sim; cansamos o próprio fogo. Todas as fontes e) amplifica o sentimento de ansiedade.

127
2. (UFSJ) "A filosofia a golpes de martelo" é o subtítulo c) Leviatã, Genealogia da moral, Crepúsculo dos ídolos.
que Nietzsche dá à sua obra Crepúsculo dos ídolos. Tais d) Microfísica do poder, Genealogia da moral, Crepús-
golpes são dirigidos, em particular, ao(s): culo dos ídolos.
a) conceitos filosóficos e valores morais, pois eles são
6. (UFSJ) Nietzsche estampa a sua inconformidade e in-
os instrumentos eficientes para a compreensão e o
dignação quanto ao homem que se deixa levar pelos
norteamento da humanidade.
valores morais e religiosos instituídos. Assinale a alterna-
b) existencialismo, ao anticristo, ao realismo ante a se-
tiva que corretamente corrobora essa afirmação:
xualidade, ao materialismo, à abordagem psicológica de
artistas e pensadores, bem como ao antigermanismo. a) "Hoje, não desejamos o gado moral nem a
c) compositores do século XIX, como, Wolfgang Ama- ventura gorda da consciência".
deus Mozart, compositor de uma ópera de nome b) "O verme se retrai quando é pisado. Isso indica sa-
"Crepúsculo dos deuses", parodiada no título. bedoria. Dessa forma ele reduz a chance de ser pisado
d) conceitos de razão e moralidade preponderantes de novo. Na linguagem da moral: a humildade".
nas doutrinas filosóficas dos vários pensadores que o c) "À força de querer buscar as origens nos tornamos
antecederam e seus compatriotas e/ou contemporâ- caranguejos. O historiador olha para trás e acaba cren-
neos Kant, Hegel e Schopenhauer. do para trás".
d) "Há um ódio contra a mentira e a dissimulação que
3. (UFSJ) Na filosofia de Friedrich Nietzsche, é funda- procede duma sensível noção de honra; há outro ódio
mental entender a crítica que ele faz à metafísica. Nes- semelhante por covardia, já que a mentira é interdita
se sentido, é correto afirmar que essa crítica: pela lei divina. Ser covarde demais para mentir...".
a) tem o sentido, na tradição filosófica, de contenta-
mento, plenitude. 7. (UNESP) "Em algum remoto rincão do sistema solar cin-
b) é a inauguração de uma nova forma de pensar sem tilante em que se derrama um sem-número de sistemas so-
metafísica através do método genealógico. lares, havia uma vez um astro em que animais inteligentes
c) é o discernimento proposto por Nietzsche para le- inventaram o conhecimento.
var à supressão da tendência que o homem tem à
individualidade radical. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da história uni-
d) pressupõe que nenhum homem, de posse de sua versal: mas também foi somente um minuto. Passados pou-
razão, tem como conceber uma metafísica qualquer, cos fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os animais
que não tenha recebido a chancela da observação. inteligentes tiveram de morrer. Assim poderia alguém inven-
4. (UFSJ) Ao declarar que "a moral e a religião pertencem tar uma fábula e nem por isso teria ilustrado suficientemente
inteiramente à psicologia do erro", Nietzsche pretendeu: quão lamentável, quão fantasmagórico e fugaz, quão sem
a) destruir os caminhos que "a psicologia utiliza para finalidade e gratuito fica o intelecto humano dentro da natu-
negar ou afirmar a moral e a religião". reza. Houve eternidades em que ele não estava; quando de
b) criticar essa necessidade humana de se vincular a va- novo ele tiver passado, nada terá acontecido. Ao contrário,
lores e instituições herdados, já que "o Homem é forjado ele é humano, e somente seu possuidor e genitor o toma tão
para um fim e como tal deve existir". pateticamente, como se os gonzos do mundo girassem nele.
c) denunciar o erro que tanto a moral quanto a religião Mas se pudéssemos entender-nos com a mosca, perceberí-
cometem ao confundir "causa com efeito, ou a verda- amos então que também ela boia no ar (...) e sente em si o
de com o efeito do que se considera como verdade". centro voante deste mundo".
d) comprovar que "a moral e a religião estão no ima-
ginário coletivo, mas para se instalarem enquanto NIETZSCHE. O livro das citações. 2008.
verdade elas precisam ser avalizadas por uma ciência
Sobre o texto, é correto afirmar que:
institucionalizada".
a) seu teor acerca do lugar da humanidade na história
5. (UNIMONTES) O pensamento de Nietzsche (1844-1900) do universo é antropocêntrico.
orienta-se no sentido de recuperar as forças inconscien- b) o autor revela uma visão de mundo cristã.
tes, vitais, instintivas, subjugadas pela razão durante
c) o autor apresenta uma visão cética acerca da impor-
séculos. Para tanto, critica Sócrates por ter encaminha-
tância da humanidade na história do universo.
do, pela primeira vez, a reflexão moral em direção ao
controle racional das paixões. Nietzsche faz uma crítica d) ao comparar a vida humana com a vida de uma mosca,
à tradição moral desenvolvida pelo ocidente. Marque a Nietzsche corrobora os fundamentos de diversas teolo-
alternativa que indica as obras que melhor representam gias, não se limitando ao ponto de vista cristão.
a crítica nietzscheana. e) para o filósofo, a vida humana é eterna.
a) Para além do bem e do mal, Genealogia da moral, 8. (UFU) Friedrich Nietzsche (1844-1900) opõe à moral
Crepúsculo dos ídolos. tradicional, herdeira do pensamento socrático-platôni-
b) Para além do bem e do mal, Genealogia da moral, co e da religião judaica-cristã, a transvaloração de to-
República. dos os valores.

128
Conforme Aranha & Arruda (2000): “Ao fazer a crítica da B) Selecione uma frase do texto que apresenta a carac-
moral tradicional, Nietzsche preconiza a ‘transvaloração terística fundamental do cristianismo para Nietzsche.
de todos os valores’. Denuncia a falsa moral, ‘decaden- C) Com base na frase selecionada, explique se, para
te’, ‘de rebanho’, ‘de escravos’, cujos valores seriam a Nietzsche, o cristianismo é uma doutrina que nega ou
bondade, a humildade, a piedade e o amor ao próxi- que valoriza a força, a saúde e a vida.
mo”. Desta forma, opõe a moral do escravo à moral do
senhor, a nova moral.
ARANHA, M.L. de A.; MARTINS, M.H.P. Filosofando: Gabarito
introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2000, p. 286.
1-D; 2-D; 3-B; 4-C; 5-A; 6-A; 7-C; 8-D; 9-D; 10-C
Assinale a alternativa que contenha a descrição da
11.
“moral do senhor” para Nietzsche:
a) É caracterizada pelo ódio aos instintos; negação a) "Moral de escravo”: este é um dos conceitos-chave do
da alegria. pensamento nietzschiano, conforme o programa do vesti-
b) É negativa, baseada na negação dos instintos vitais. bular: "a moral do escravo é caracterizada pelo ódio dos
c) É transcendental; seus valores estão no além-mundo. impotentes".
d) É positiva, baseada no sim à vida.
b) Há mais de uma frase ou expressão que pode ser re-
9. (Ufsj 2012) Nietzsche identificou os deuses gregos tirada do texto para responder a esta pergunta, seguem
Apolo e Dionísio, respectivamente, como abaixo alguns exemplo:
a) complexidade e ingenuidade: extremos de um mesmo
1) "O cristianismo, por sua vez, esmagou e alquebrou com-
segmento moral, no qual se inserem as paixões humanas.
pletamente o homem, e o mergulhou como que em um
b) movimento e niilismo: polos de tensão na existên-
cia humana. profundo lamaçal";
c) alteridade e virtu: expressões dinâmicas de inter- 2) "[...] no sentimento de total abjeção, fazia brilhar de
venção e subversão de toda moral humana. repente o esplendor de uma piedade divina";
d) razão e desordem: dimensões complementares da
realidade. 3) "[...] de tal modo que o surpreendido, atendido pela gra-
ça, lançava um grito de embevecimento e por um instante
10. (UFFS – FEPESE – 2010) Para lidar com o tratamento acreditava carregar o céu inteiro em si". Observa-se, nesta
dos valores no pensamento de Nietzsche, o conceito da
frase, que o "surpreendido" é o fraco que se acredita forte
“morte de Deus” é essencial.
por "carregar o céu inteiro dentro de si".
Assinale a alternativa que reflete esse conceito. c) O cristianismo, para Nietzsche, nega o valor vida.
a) A morte de Deus desvaloriza o mundo. Nesse sentido, nega igualmente tudo o que a ele se
b) A morte de Deus gera necessariamente o super-homem. relaciona (saúde, criatividade, força). O objetivo de
c) A morte de Deus implica a perda das sanções so- Nietzsche é revalorizar o equilíbrio entre as forças ins-
brenaturais dos valores.
tintivas e vitais do homem que foram subjugadas pela
d) A morte de Deus exige o retorno a Apolo e a Dionísio.
filosofia socrático-platônica e pelas religiões.
e) A morte de Deus impossibilita a superação dos va-
lores hoje aceitos.

11. (UFU 2009/2 2a Fase): Leia atentamente o texto a


seguir.

“O cristianismo, por sua vez, esmagou e alquebrou com-


pletamente o homem, e o mergulhou como que em um
profundo lamaçal: então, no sentimento de total abjeção,
fazia brilhar de repente o esplendor de uma piedade divina,
de tal modo que o surpreendido, atendido pela graça, lan-
çava um grito de embevecimento e por um instante acredi-
tava carregar o céu inteiro em si.”
NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano. Col. Os
Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 59.

Com base no texto de Nietzsche, responda as seguintes


questões:
A) O cristianismo pode ser considerado "moral do es-
cravo" ou "moral do senhor"?

129
AULA Filosofia da Ciência
20
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. Karl Raimund Popper A ciência consiste em grande parte em solucionar os pro-


blemas. Para o filósofo uma teoria é científica somente se
(1902-1994) for refutável por um evento concebível. Assim, todo teste
é uma tentativa de refutá-la ou falsificá-la. De modo que,
O filósofo austro-britânico Karl Popper apresenta a ideia o filósofo estabelece uma distinção clara entre a lógica da
de que as ciências empíricas nunca pode ser provada, mas falseabilidade e sua metodologia aplicada. A lógica utiliza-
pode ser falsificada, isso significa que pode e deve ser exa- da é simples: se um único metal ferroso não é afetado por
minada por diversos experimentos decisivos. um campo magnético, não é possível que todos os metais
ferrosos sejam afetados por campos magnéticos.
Dessa forma, enquanto defende a falseabilidade como o
critério de demarcação para a ciência, Popper afirma que a
possibilidade de que, na prática, uma única prova conflitante
ou contrária nunca é metodologicamente suficiente para re-
futar uma teoria. Fato este que condiciona que teorias cientí-
ficas são frequentemente mantidas, embora tenham sofrido
o processo de refutação.

Popper faz uma distinção entre ciência e não-ciência, de


modo que afirma que a indução nunca é realmente utili-
zada na ciência e a indução está contida na não-ciência.
Segundo o filósofo não existe uma metodologia única es-
pecífica para a ciência.

O filósofo enfatiza que não existe um único caminho, nem


um único caminho para a teoria científica. A ciência se ini-
cia com problemas e não com observações, a observação
seria o segundo passo do método científico. Seguindo um
critério de Popper, a física, a química, entre outras, são ci-
ências; enquanto a psicologia é pré-ciência, e a astrologia
é uma pseudociência.

multimídia: vídeo 1.1. O Conhecimento


Fonte: Youtube O crescimento do conhecimento humano procede de nos-
sos problemas e de nossas tentativas de resolvê-los. Essas
Karl Popper – Ciência e pseudo-ciência tentativas devem ir além do conhecimento existente, re-
O vídeo apresenta a filosofia de Karl Popper e querendo um salto da imaginação. Por essa razão, Popper
sua teoria da falsificidade. dá ênfase especial ao papel desempenhado pela imagina-
ção criativa independente na formulação da teoria.

130
Os cientistas, para o filósofo, são solucionadores de proble-
mas, pois apresentam uma centralidade e uma prioridade
dos problemas.De modo que o solucionar o problema será
o primeiro passo para o início da ciência, seguindo um pro-
cesso dedutivo.
Esse processo dedutivo é formulado seguindo quatro etapas:
1. O primeiro é formal, um teste da consistência interna,
para que não ocorra nenhuma contradição.
2. A semiformal da teoria, buscando distinguir entre seus Segundo o filósofo existe uma pré-ciência, momento em que
elementos empíricos e lógicos. De modo que fique atento cada um faz o que bem entende. Entretanto, para ter uma
para distinguir elementos analíticos (a priori) e sintéticos (a ciência estruturada é preciso possuir um único paradigma.
posteriori).
Para Kuhn,o desenvolvimento de uma ciência não é unifor-
3. A comparação da nova teoria com as já existentes para me, alternando entre fases “normal” e “revolucionária”. A
constituir um avanço. Caso não tenha tal progresso, a nova ciência normal parece com a imagem cumulativa padrão
teoria não será adotada. do progresso científico, pelo menos na superfície. A ciência
4. O último passo é o teste de uma teoria pela aplicação normal desenvolve-se perante um paradigma, seja mecâ-
empírica das conclusões derivadas dela. Caso se mostre nica newtoniana ou de qualquer outra; enquanto a ciência
verdadeiras, essa teoria é validada; caso o contrário, o cien- revolucionária representa um novo paradigma, não sendo
tista começa sua busca por uma teoria melhor, o que não acumulativa, proporcionando uma revolução no desenvol-
significa que será totalmente abandonada essa teoria. vimento científico.
Para Popper não existe um único método para alcançar o Só que um paradigma pode gerar crises, quando começa-
conhecimento científico, sendo que esse procedimento crí- mos a enfrentar problemas no enfrentamento de dados
tico seria a essência da racionalidade, para assim eliminar observacionais ou experimentais. Cada paradigma verá o
as falsas categorias. mundo como composto de diferentes tipos de coisas.
"Um cientista, seja teórico ou experimental, formula
enunciados ou sistemas de enunciados e verifica-os um
a um. No campo das ciências empíricas, para particu-
larizar, ele formula hipóteses ou sistemas de teorias, e
submete-os a teste, confrontando-os com a experiência,
através de recursos de observação e experimentação.
A tarefa da lógica da pesquisa científica, ou da lógica
do conhecimento, é, segundo penso, proporcionar uma
análise lógica desse procedimento, ou seja, analisar o
método das ciências empíricas.
Que são, entretanto, esses 'métodos das ciências empíri-
cas'? A que damos o nome de 'ciência empírica'?
O Problema da Indução multimídia: vídeo
Segundo concepção amplamente aceita - a ser contes- Fonte: Youtube
tada nesse livro - , as ciências empíricas caracterizam-se
Thomas Kuhn- o fim da ciência
pelo fato de empregarem os chamados ‘métodos indu-
tivos’. De acordo com essa maneira de ver, a lógica da Nesse vídeo apresenta o pensamento científi-
pesquisa científica com a Lógica Indutiva, isto é, com a co de Thomas Kuhn.
análise lógica desses métodos indutivos."
A Lógica da pesquisa científica. Karl R. Popper. Kuhn rejeitou as visões tradicionais e as visões de Popper.
São Paulo: Cultrix, 1978, p.27
Isso ocorre pois a ciência só pode ter sucesso se houver um
forte compromisso da comunidade científica relevante com
2. Thomas Samuel suas crenças, valores e técnicas.

Kuhn (1922-1996) A constelação de compromissos compartilhados, é denomi-


nada de “matriz disciplinar”, que se torna um pré-requisito
O físico e filósofo da ciência estadunidense Thomas Kuhn para o sucesso da ciência normal. Esse conservadorismo da
desenvolveu estudos diante o procedimento científico. atitude do cientista, distingue Kuhn de Popper.

131
"Se a História fosse vista como um repositório para algo
mais do que anedotas ou cronologias, poderia produzir
uma transformação decisiva na imagem de ciência que
atualmente nos domina. Mesmo os próprios cientistas
têm haurido essa imagem principalmente no estudo das
realizações científicas acabadas, tal como estão regis-
tradas nos clássicos e, mais recentemente, nos manuais
que cada nova geração utiliza para aprender seu ofício.
Contudo, o objetivo de tais livros é inevitavelmente
persuasivo e pedagógico; um conceito de ciência deles
multimídia: livro haurido terá tantas probabilidades de assemelhar-se ao
empreendimento que os produziu como a imagem de
A Estrutura das Revoluções Científicas
uma cultura nacional obtida através de um folheto turís-
Thomas S. Kuhn. São Paulo: Perspectiva, 2018. tico ou um manual de línguas. Este ensaio tenta mostrar
Um dos aspectos mais interessantes de A Es- que esses livros nos têm enganado em aspectos funda-
trutura das Revoluções Científicas é a análise mentais. Seu objetivo é esboçar um conceito de ciência
do papel dos fatores exteriores à ciência na bastante diverso que pode emergir dos registros históri-
erupção desses momentos de crise e transfor- cos da própria atividade de pesquisa."
mação do pensamento científico e da prática A estrutura das revoluções científicas. Thomas S. Kuhn.
correspondente.
São Paulo: Perspectiva, 1998, pp.19-20.

DIAGRAMA DE IDEIAS

POPPER THOMAS KUHN

AS CIÊNCIAS PODEM A CIÊNCIA PRECISA


SER FALSIFICADAS TER UM PARADIGMA

EXISTE A CIÊNCIA DE MODO QUE AS


E A NÃO-CIÊNCIA CRISES DIRECIONAM
O ANDAMENTO
DA CIÊNCIA

NÃO EXISTE UM
MÉTODO PARA
A VALIDADE DA
ALCANÇAR O
CIÊNCIA SURGE COM
CONHECIMENTO
O COMPROMISSO
CIENTÍFICO

132
Aplicando para 4. Karl Popper, em "A lógica da investigação científi-
ca", se opõe aos métodos indutivos das ciências empí-

Aprender (A.P.A.) ricas. Em relação a esse tema, diz Popper: "Ora, de um


ponto de vista lógico, está longe de ser óbvio que es-
tejamos justificados ao inferir enunciados universais
1. (Uel 2005) "As experiências e erros do cientista con-
a partir dos singulares, por mais elevado que seja o
sistem de hipóteses. Ele as formula em palavras, e mui-
número destes últimos".
tas vezes por escrito. Pode então tentar encontrar bre-
chas em qualquer uma dessas hipóteses, criticando-a Fonte: POPPER, K. R. A lógica da investigação científica. Tradução
experimentalmente, ajudado por seus colegas cientis- de Pablo Rubén Mariconda. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p.3.

tas, que ficarão deleitados se puderem encontrar uma


Com base no texto e nos conhecimentos sobre Popper,
brecha nela. Se a hipótese não suportar essas críticas e
assinale a alternativa correta:
esses testes pelo menos tão bem quanto suas concor-
rentes, será eliminada". a) Para Popper, qualquer conclusão obtida por infe-
rência indutiva é verdadeira.
(POPPER, Karl. Conhecimento objetivo. Trad. de Milton
Amado. São Paulo: Edusp & Itatiaia, 1975. p. 226.) b) De acordo com Popper, o princípio da indução não
tem base lógica porque a verdade das premissas não
Com base no texto e nos conhecimentos sobre ciência e garante a verdade da conclusão.
método científico, é correto afirmar: c) Uma inferência indutiva é aquela que, a partir de
a) O método científico implica a possibilidade constante enunciados universais, infereenunciados singulares.
de refutações teóricas por meio de experimentos cruciais. d) A observação de mil cisnes brancos justifica, segundo
b) A crítica no meio científico significa o fracasso do Popper, a conclusão de que todos os cisnes são brancos.
cientista que formulou hipóteses incorretas. e) Para Popper, a solução para o problema do princí-
c) O conflito de hipóteses científicas deve ser resolvido pio da indução seria passar a considerá-lo não como
por quem as formulou, sem ajuda de outros cientistas. verdadeiro, mas apenas como provável.
d) O método crítico consiste em impedir que as hipó- 5.(Unicentro 2010) Consideremos o campo da episte-
teses científicas tenham brechas. mologia contemporânea; sob esse aspecto, podemos
e) A atitude crítica é um empecilho para o progresso afirmar que a posição de Thomas Kuhn (1922-1996),
científico. em relação à ciência, se contrapôs à concepção cien-
tífica de Karl Popper (1902-1994)? Assinale a alter-
2. (Uel 2011) Leia o texto a seguir. nativa correta.
[…] não exigirei que um sistema científico seja suscetível a) Sim, Kuhn se contrapôs à teoria de Popper ao negar
de ser dado como válido, de uma vez por todas, em sentido que o desenvolvimento da ciência se dê mediante o ide-
al de refutação. Ao contrário, Kuhn afirma que a ciência
positivo; exigirei, porém, que sua forma lógica seja tal que
progride pela tradição intelectual representada pelo pa-
se torne possível validá-lo através de recurso a provas em- radigma que é a visão de mundo expressa numa teoria.
píricas em sentido negativo […]. b) Não, Kuhn absorve a teoria da refutabilidade de
(POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. Trad. L. Hegenberg Popper ao desenvolver sua concepção de paradigma
e O. S. da Mota. São Paulo: Cultrix, 1972. p. 42.) científico. Para ambos, o que garante a verdade de um
discurso científico é sua condição de justificação, ou
Assinale a alternativa que corresponde ao critério de seja, quando uma teoria é justificada ela é corroborada.
avaliação das teorias científicas empregado por Popper.
c) Não, Kuhn argumentou que uma teoria, como para-
a) Falseabilidade digma, deve ser desenvolvida em vez de criticada, mo-
b) Organicidade tivo pelo qual ele não poderia opor-se ao pensamento
c) Confiabilidade de Popper. Sua tentativa será outra: tentar harmonizar
d) Dialeticidade aqueles pontos de vista que divergem do seu.
e) Diferenciabilidade d) Sim, Kuhn cedo abandonou o empirismo, classifican-
do-se como anarquista epistemológico. Dessa forma,
3. (Uel 2008) Considerando a solução apresentada por opôs-se não apenas à concepção metodológica de Po-
Karl Popper ao problema da indução nos métodos de pper como também de outros contemporâneos seus,
investigação científica, é correto afirmar que, para ele o como Lakatos, por exemplo. Diferentemente de Popper,
método científico: Kuhn anuncia que as teorias não são nem verdadeiras,
nem falsas, mas úteis.
a) é indutivo e racional.
e) Sim, diferentemente de Popper, para quem a física
b) é dedutivo e irracional.
newtoniana era considerada a imagem verdadeira do
c) é indutivo e irracional. mundo, tendo como pressupostos o mecanicismo e
d) não segue os padrões de racionalidade impostos o determinismo, Kuhn estabelece como paradigma
pela lógica. de sua concepção de ciência o irracionalismo de Hei-
e) é dedutivo e racional. senberg e seu princípio da incerteza.

133
6. (Unioeste 2009) "Segundo o filósofo da ciência Thomas Estão corretas apenas:
Kuhn, paradigma é um conjunto sistemático de métodos, a) II e III
formas de experimentações e teorias que constituem um b) I, II e IV
modelo científico, tornando-se condição reguladora da c) I e III
observação. […] A ciência normal, conforme Kuhn, fun-
d) I e IV
ciona submetida por paradigmas estabelecidos historica-
mente num campo contextual de problemas e soluções e) II, III e IV
concretas. […] Os paradigmas são estabelecidos nos mo- 10. (Uel 2006) Uma das afirmações mais conhecidas e
mentos de revolução científica […] Portanto, para Kuhn, citadas de Galileu, que reflete o novo projeto da ciência
a ciência se desenvolve por meio de rupturas, por saltos da natureza, é a seguinte: "A filosofia está escrita nes-
e não de maneira gradual e progressiva". (E. C. Santos) te grandíssimo livro que aí está aberto continuamente
diante dos olhos (digo, o universo), mas não se pode
Sobre a concepção de ciência de Kuhn, é incorreto afir-
entendê-lo se primeiro não se aprende a entender a
mar que
língua e conhecer os caracteres nos quais está escrito.
a) o desenvolvimento científico não se dá de modo
linear, cumulativo e progressivo. Ele está escrito em língua matemática, e os caracteres
b) o desenvolvimento científico possui momentos de re- são triângulos, círculos e outras figuras geométricas,
volução, de ruptura, nos quais há mudança de paradigma. meios sem os quais é humanamente impossível enten-
c) a ciência normal é o período em que a pesquisa der-lhe sequer uma palavra; sem estes trata-se de um
científica é dirigida por um paradigma. inútil vaguear por obscuro labirinto."
d) um exemplo de mudança de paradigma (revolução) (NASCIMENTO, Carlos Arthur R. De Tomás de Aquino a
na Astronomia e a substituição do sistema geocêntri- Galileu. 2. ed. Campinas: UNICAMP, 1998. p. 176.)
co aristotélico-ptolomaico pelo sistema heliocêntrico
copernicano-galilaico. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a con-
e) a ciência não está submetida, de forma alguma, às cepção de ciência em Galileu, é correto afirmar:
condições históricas. a) Ciência é o conhecimento fixo, estável e perene
da essência constitutiva da realidade, alcançável por
7. Qual era a formação inicial de Thomas Kuhn antes de meio da abstração.
se interessar pela história e filosofia da ciência?
b) A autonomia da explicação científica baseia-se em
a) Física Teórica argumentos de autoridade e princípios metafísicos
b) História que justificam a verdade imutável do mundo natural.
c) Filosofia c) A verdade natural é conhecida independente de
d) Química teorias e da realização de experiências, já que o fator
primordial da ciência é o uso da matemática para de-
8. Qual foi a principal obra de Thomas Kuhn e que causou cifrar a essência do mundo.
uma grande revolução na história e filosofia da ciência? d) A compreensão da natureza por meio de caracte-
a) História Filosófica da Ciência res matemáticos significa decifrar a obra da criação e,
b) A quebra dos paradigmas na história da ciência consequentemente, ter acesso ao conhecimento do
c) A estrutura das Revoluções Científicas próprio criador.
d) A Física de Aristóteles e) A ciência busca construir o conhecimento assenta-
do na razão do sujeito e no controle experimental dos
9. (Ufma 2006) Identifique as afirmativas que contêm fenômenos naturais representados matematicamente.
proposições corretas quanto à objetividade requisita-
da pelo conhecimento científico. A seguir, marque a
opção correta. Gabarito
I. A neutralidade científica necessária para a efetivação da 1-A; 2-A; 3-E; 4-B; 5-A; 6-E; 7-A; 8-C; 9-C; 10-E.
objetividade não pode ser pensada de forma absoluta.
II. O evento investigado pelo cientista possibilita sua plena
compreensão e, portanto, a obtenção de um conhecimento
infalível e verdadeiro.
III. A ciência avança por uma série de aproximações para
uma verdade objetiva jamais alcançada, sendo possível
afirmar apenas que há um certo grau de objetividade.
IV. O uso de métodos, testes, amostras significativas, pre-
servaria o rigor, garantindo por si só a objetividade do co-
nhecimento científico.

134
AULA Fenomenologia do Conhecimento
21
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. O que é Fenomenologia?
A fenomenologia é o estudo da consciência e dos objetos
da consciência. De modo que, o processo pelo qual somos
informados pelos sentidos sofre uma mudança em uma
experiência de consciência, em um fenômeno.
A Fenomenologia é uma corrente filosófica que concebe ao
pensamento a certeza de reter só o essencial do fenôme-
no em questão, seguindo de um método que alcance essa
essência. Apesar de conter traços existencialistas, a Feno-
menologia tem como objetivo ter uma solução prática para multimídia: vídeo
todo o subjetivismo intelectual. Essa corrente foi o filósofo Fonte: Youtube
Edmund Husserl, com o propósito de solucionar o caos in- Husserl e a Fenomenologia
telectual do final do século XIX e do início do século XX. Vídeo-aula sobre a filosofia de Husserl e a
fenomenologia

2. Edmund Husserl
(1859-1938)
O filósofo e matemático alemão Edmund Husserl rompe
com uma orientação positivista e desenvolve uma estrutu-
ra mais objetiva, a Fenomenologia, definindo-a como uma
filosofia transcendental-idealista.

2.1. O Método Fenomenológico


Primeiro passo dessa corrente, é ter ciência que para
Husserl sofre influência de Platão e Descartes, com uma compreender o fenômeno é preciso estar próximo dele,
análise de uma psicologia descritiva dos atos, implicando ou seja, deve-se ir às coisas mesmas, tendo uma atitude
uma nova concepção da subjetividade. A fenomenologia intelectual. Após isso, a próxima etapa seria a redução
de Husserl é uma meditação lógica, sem conter as incer- transcendental ou redução fenomenológica, que consiste
tezas da própria lógica, excluindo mediante o uso de uma em reduzir o problema para compreendê-lo melhor. Com
linguagem qualquer tipo de incerteza. Seu estilo filosófico isso, ocorre um entendimento, que se funda no rigor, va-
é direcionado para o interrogatório, o radicalismo e o ina- lorizando o ser na sua singularidade, tendo uma relevân-
cabamento essencial do fenômeno. cia com o que se manifesta.

135
O principal objetivo dessa corrente foi identificar os aspec-
tos invariáveis da percepção do objeto.
Num primeiro momento, duvida-se de se uma tal ciência
é em geral possível, Se põe em questão todo o conhe-
cimento escolhido como ponto de partida é, enquanto
conhecimento, posto em questão?
No entanto, esta é uma dificuldade meramente aparen-
te. O conhecimento não se nega nem se declara em todo
o sentido como algo de duvidoso pelo facto de se pôr em
questão. Questionam-se certas realizações que lhe são
atribuídas, mas fica ainda em aberto se as dificuldades
concernem a todos os tipos possíveis de conhecimen- multimídia: vídeo
to. Em todo o caso, se a teoria do conhecimento quiser
Fonte: Youtube
concentrar-se na possibilidade do conhecimento, tem de
ter conhecimentos sobre possibilidades cognitivas que, Merleau-Ponty: Filosofia e Percepção
como tais, são indubitáveis e, claro está, conhecimentos O professor de Filosofia da USP Franklin
no sentido mais estrito, a que cabe a apreensibilidade, e Leopoldo e Silva comenta sobre a teoria de
acerca a sua própria possibilidade cognitiva, cuja apre- Merleau-Ponty
ensibilidade é absolutamente indubitável.
A Ideia da Fenomenologia. Edmund Husserl. Rio
de Janeiro: Edições 70, 1989, pp.22-23.
3.1. O Corpo para Merleau-Ponty
3. Maurice Merleau- O corpo é a fonte de conhecimento, pois o corpo e o mun-
do são constituídos da mesma matéria, mas é mediante
Ponty (1908-1961) corpo que percebemos o mundo. E diante disso, consegui-
mos perceber tudo que está ao redor do mundo, e assim
O filósofo francês Merleau-Ponty desenvolve sua teoria sobre podemos realizar operações mentais, fantasiar, desejar e
a fenomenologia, tendo grande influência do pensamento atribuir significados às coisas.
de Edmund Husserl. Entretanto, ao desenvolver a sua própria
Merleau-Ponty desejava combater os empiristas e intelec-
filosofia, nega a doutrina de Husserl.
tualistas de sua época, que acreditavam numa separação
mente-corpo. Para o filósofo francês a percepção é ativa e
representa a primeira abertura do ser ao mundo da vida. Pois
não existe uma separação independente de corpo e mente,
o nosso corpo pode nos propiciar conhecimento, isso ocorre
porque não estamos no espaço e no tempo, mas somos no
espaço e no tempo. Com a mediação do corpo, as nossas
experiências são classificadas e organizadas, sendo um pro-
cesso que ocorre antes mesmo de nossa linguagem.

Para Merleau-Ponty, a construção teórica se faz na maneira


de se portar do corpo e na captação de impressões dos sen-
tidos. De modo que, o corpo era um organismo como uma
configuração integral a ser explorada. Com isso, o homem
seria o núcleo de debates sobre o conhecer, como é criado e
percebido em seu corpo. Merleau Ponty converte o processo
fenomenológico para uma modalidade existencial.

136
Seguindo essa lógica, para Merleau-Ponty não devemos 'ciência exata', mas é também um relato do espaço, do
pensar numa dicotomia (interior/exterior, corpo/mente); tempo, do mundo 'vividos'. É a tentativa de uma descrição
mas precisamos compreender uma unidade, a qual o corpo direta de nossa experiência tal como ela é, e sem nenhu-
ma deferência à sua gênese psicológica e às explicações
expressa e capta sensações desse mundo e reflete outros causais que o cientista, o historiador ou o sociólogo dela
tipos de sentimentos para o mundo. Com esse posiciona- possam fornecer, e todavia Husserl, em seus últimos traba-
mento o filósofo ultrapassou as visões de sua época, de lhos, menciona uma 'fenomenologia genética' e mesmo
modo que o ser humano não possui um corpo, ele é corpo. uma 'fenomenologia construtiva'.
Assim, a verdade não está contida somente no interior do MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção.
homem, ela está em toda parte, sendo a base da consciên- São Paulo: Martins Fontes, 199, p.1.
cia. O corpo se torna meio de comunicação com o mundo,
enquanto a experiência motora representa uma forma de
acessarmos esse mundo.
Concluímos que o corpo humano não é apenas um obje-
to estudo pela ciência; ele se torna base e condição para
a existência. Existe uma ligação dialética e inseparável da
mente com o corpo. No processo de aprendizagem do ser
humano, o movimento do corpo está intimamente inter-
ligado as habilidades da mente. Um exemplo disso, para
uma criança, mover-se é pensar. multimídia: livro
O Visível e o Invisível
Maurice Merleau-Ponty. São Paulo: Perspecti-
va, 2009
Dirigir o leitor para um domínio que os seus
hábitos de pensamento não tornam imediata-
mente acessível, persuadi-lo de que os concei-
tos fundamentais da filosofia.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Merleau-Ponty
A filósofa Marilena Chauí apresenta o pen-
samento de Merleau-Ponty e seus estudos
sobre o corpo.

Pode parecer estranho que ainda se precise colocar essa


questão meio século depois dos primeiros trabalhos de
Husserl. Todavia, ela está longe de estar resolvida. A fe-
nomenologia é o estudo das essências, e todos os pro-
blemas, segundo ela, resumem-se em definir essências:
a essência da percepção, a essência da consciência, por
exemplo. Mas a fenomenologia é também uma filosofia
que repõe as essências na existência, e não pensa que se
possa compreender o homem e o mundo de outra ma-
neira senão a partir de sua ‘facticidade’. É uma filosofia
transcendental que coloca em suspenso, para compre-
endê-las, as afirmações da atitude natural, mas é tam-
bém uma filosofia para a qual o mundo já está sempre
‘ali’, antes da reflexão, como uma presença inalienável,
e cujo esforço todo consiste em reencontrar este contato
ingênuo com o mundo, para dar-lhe enfim um estatuto
filosófico. É a ambição de uma filosofia que seja uma

137
DIAGRAMA DE IDEIAS

FENOMENOLOGIA

ESTUDO DA
CONSCIÊNCIA E MERLEAU-PONTY
DOS OBJETOS DA HUSSERL
CONSCIÊNCIA

PARA
COMPREENDERMOS
PAR ENTENDER OS OS FENÔMENOS
FENÔMENOS DO MUNDO

É PRECISO O CORPO VIRA


INTERAGIR COM FONTE DO
O OBJETO CONHECIMENTO

NÃO EXISTE
BUSCANDO UM SEPARAÇÃO
INTERROGATÓRIO MENTE-CORPO

NÃO EXISTE UMA TUDO FAZ PARTE


ÚNICA DEFINIÇÃO DE UM MESMO
DO OBJETO FENÔMENO

138
Aplicando para e) Para Merleau-Ponty nossas sensações são dadas iso-
ladamente à percepção e as relações entre elas são es-

Aprender (A.P.A.) tabelecidas a posteriori pela imaginação e pela fantasia.

3. (SEE-2007)“A metafísica não é uma construção de


1.(Enem-2018) O filósofo reconhece-se pela posse in- conceitos graça aos quais poderíamos tomar nossos
separável do gosto da evidência e do sentido da am- paradoxos menos sensíveis - é a experiência que temos
biguidade. Quando se limita a suportar a ambiguidade, deles em todas as situações da história pessoal e co-
esta se chama equívoco. Sempre aconteceu que, mesmo letiva e das ações que, ao assumi-los, os transforma-
aqueles que pretenderam construir uma filosofia abso- ram em razão. É uma interrogação que não comporta
lutamente positiva, só conseguiram ser filósofos na me- respostas que a anulem, mas somente ações resolutas
dida em que, simultaneamente, se recusaram o direito que a transladam sempre para mais longe. Não é o co-
de se instalar no saber absoluto. O que caracteriza o nhecimento que viria a terminar o edifício dos conhe-
filósofo é o movimento que leva incessantemente do cimentos; é o saber lúcido daquilo que os ameaça e a
saber à ignorância, da ignorância ao saber, e um certo consciência aguda de seu preço.”
repouso neste movimento.
(Maurice Merleau-Ponty, O Metafísico no Homem)
MERLEAU-PONTY, M. Elogio da filosofia.
Lisboa; Guimarães, 1998 (adaptado). Assinale a alternativa que expressa a concepção de me-
O texto apresenta um entendimento acerca dos ele- tafísica formulada por Merleau-Ponty no texto.
mentos constitutivos da atividade do filósofo, que se a) A metafísica é uma ciência exata.
caracteriza por b) A metafísica é impossível como conhecimento objetivo.
a) reunir os antagonismos das opiniões ao método dialético. c) A metafísica é o coroamento de todo o sistema do saber.
b) ajustar a clareza do conhecimento ao inatismo das d) A metafísica é um método para solucionar ques-
ideias. tões que estão além das fronteiras da ciência.
c) associar a certeza do intelecto à imutabilidade da e) A metafísica é uma constante interrogação pela
verdade. qual o homem enfrenta os paradoxos que estão en-
d) conciliar o rigor da investigação à inquietude do volvidos no conhecimento e na ação.
questionamento.
4.(Uem 2012) "O pensamento moderno, não por objeção
e) compatibilizar as estruturas do pensamento aos frontal, mas pelo desenvolvimento do próprio saber, leva
princípios fundamentais. a uma revisão das categorias clássicas, a uma reforma da
2. (SME-2007) "Iniciando o estudo da percepção, encon- ontologia clássica do sujeito e do objeto. O núcleo desse
tramos na linguagem a noção de sensação que parece desenvolvimento – que deve levar, por sua vez, a uma
imediata e clara: eu sinto o vermelho, o azul, o quente, o nova filosofia – consiste na descoberta de que a situação,
frio (...) A sensação pura será a experiência de um 'cho- seja do 'objeto', seja do 'sujeito', não é mais passível de
que' indiferenciado, instantâneo e pontual. Não é neces- exclusão da trama do conhecimento. Dito de outra for-
sário mostrar, já que os autores concordam com isso, que ma: o objeto 'verdadeiro', aquele de que a ciência tra-
essa noção não corresponde a nada de que tenhamos ta, não é mais aquele objeto absoluto de que falavam
experiência, que as mais simples percepções de fato que os clássicos, mas se torna, intrinsecamente, relativo. Em
conhecemos, em animais como o macaco e a galinha, suma, não há mais um objeto puro, em si, um objeto tal
versam sobre relações e não sobre termos absolutos". como o próprio Deus (isto é, um observador absoluto) o
veria. Também não há mais esse sujeito absoluto, aquele
Maurice Merleau-Ponty
que começava por afastar toda manifestação sensível,
O trecho acima resume as linhas gerais da análise que isto é, que começava por afastar, correlativamente, seu
o fenomenólogo Merlau-Ponty faz da percepção e, mais próprio corpo para colocar-se como puro espírito".
especificamente, da noção de "sensação", cara à filoso- (MOUTINHO, L. D. Merleau-Ponty: entre o corpo e a alma. In:
fia moderna. A partir dele é correto inferir que: Antologia de textos filosóficos. Curitiba: SEEDPR, 2009, p. 494.)
a) Merleau-Ponty retoma integralmente a noção mo-
Sobre a nova filosofia de que fala o texto, assinale o
derna de sensação adaptando-a sutilmente ao qua-
dro conceitual da fenomenologia. que for correto.
b) Merleau-Ponty nega a noção moderna de sensa- 01) A fenomenologia critica as distinções clássicas,
ção, pois, para ele, não há percepção "pura" e toda a tais como alma e corpo, sujeito e objeto, matéria e
percepção inclui a apreensão de relações. espírito, coisa e representação.
c) Para Merleau-Ponty a noção de sensação dos mo- 02) O ponto de vista de Deus não é mais possível,
dernos é apenas um erro de linguagem sem maiores nem necessário, para a renovação da filosofia.
conseqüências. 04) O positivismo é esta filosofia nova, pois revoga a
d) Para Merlau-Ponty a percepção tem início com im- ontologia clássica.
pressões sensíveis puras, desconectadas e sem rela- 08) Merleau-Ponty privilegia o corpo, pois, através dele, o
ções umas com as outras. homem constitui-se de uma consciência fática ou concreta.

139
16) A situação do objeto e do sujeito é relativa, pois a d) a totalidade das manifestações sensíveis está in-
fenomenologia é o retorno à isegoria dos gregos e ao cluída necessariamente em todo e qualquer "objeto
"meio termo" de Aristóteles. verdadeiro".

5. (Uem 2010) A fenomenologia é um dos fundamentos 7. Julgue os itens abaixo sobre o conceito de “corpo
da Filosofia de Maurice Merleau-Ponty. No âmbito da es- próprio” de Merleau-Ponty..
cola da fenomenologia, ele contesta princípios basilares
da Psicologia clássica, de cunho mecanicista-racionalista. I. Muda o foco da teoria cartesiana que afirma que o pen-
samento dá a certeza da existência.
Com base na afirmação acima, assinale o que for correto.
II. Desbanca teorias mecanicistas que entendem que o cor-
01) A sensação é concebida, por Merleau-Ponty, pelos po só tem sentido se for recheado com uma alma
efeitos que os estímulos externos dos objetos exer-
cem sobre os sentidos. O campo visual, por exemplo, III. O conceito de corpo próprio é ideia de que cada pessoa
é concebido como um mosaico de sensações desper- é um corpo que percebe, pensa e atua no mundo e sobre
tadas pelos estímulos do objeto sobre a retina. si mesmo.
02) Para Merleau-Ponty, a percepção é o conhecimen-
to sensorial de formas ou de totalidades organizadas
IV. Para Merleau-Ponty corpo próprio é a sede da percep-
e dotadas de sentido. ção da percepção do mundo e de mim mesmo possibilida-
04) Conforme um dos princípios da fenomenologia de única de existência concreta.
de Edmund Husserl, a consciência, para Merleau-Pon- V. Merleau-Ponty concorda com a máxima cartesiana que
ty, não exerce nenhuma atividade na produção de co-
afirma categoricamente “penso, logo existo”.
nhecimentos científicos.
08) Para Merleau-Ponty, a consciência de si é o re- Dentre as alternativas:
sultado de um esforço intelectual de conhecimento e a) Todas as alternativas estão corretas.
não depende da facticidade de nosso engajamento.
b) Apenas I e II estão corretas
16) Para Merleau-Ponty, imanência e transcendência
c) Apenas I, II, III e IV estão corretas
são conceitos antitéticos que se comunicam, dada a
d) Apenas III e IV estão corretas
configuração de nosso corpo no mundo.
e) Apenas III, IV e V estão corretas
6."Que declararei, digo eu, sobre mim que pareço con-
ceber com tanta nitidez e distinção esse pedaço de 8."Nascer é, simultaneamente, nascer do mundo e nascer
cera? Não conheço a mim mesmo não só com muito para o mundo. Sob o primeiro aspecto, o mundo já está
mais verdade e certeza, mas ainda com muito maior constituído e somos solicitados por ele. Sob o segundo
distinção e nitidez? Com efeito, se julgo que a cera é aspecto, o mundo não está inteiramente constituído e es-
ou existe pelo fato de eu a ver, por certo se segue bem tamos abertos a uma infinidade de possíveis. Existimos,
mais evidentemente que eu próprio sou, ou que eu porém, sob os dois aspectos ao mesmo tempo. Não há,
existo, pelo fato de eu a ver; pois pode ocorrer que o pois, necessidade absoluta nem escolha absoluta, jamais
que vejo não seja, de fato, cera; pode ocorrer também sou como uma coisa e jamais uma pura consciência [...].
que eu nem sequer tenha olhos para ver coisa alguma; Há um campo de liberdade e uma 'liberdade condicio-
mas não pode ocorrer, quando vejo ou (o que não mais nada', porque tenho possibilidades próximas e distantes
distingo) quando penso ver, que eu, que penso, não [...]. A escolha de vida que fazemos tem sempre lugar
seja alguma coisa." sobre a base de situações dadas e possibilidades aber-
tas. Minha liberdade pode desviar minha vida do sentido
(DESCARTES. Meditações metafísicas. Segunda meditação, §16) espontâneo que teria, mas o faz deslizando sobre este
sentido, esposando-o inicialmente para depois afastar-se
"Quando eu acredito ver a cera com os meus olhos, eu dele, e não por uma criação absoluta".
apenas penso, por meio das qualidades que meus sen-
tidos apreendem, a cera pura e sem qualidades que é a (MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. In: CHAUÍ,
fonte comum delas. Para Descartes, portanto, (...) a per- M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2011. 14.ª ed., p. 421).
cepção é apenas um começo de ciência ainda confusa."
Conforme a citação acima, é correto afirmar que a li-
MERLEAU-PONTY. Primeira Conversa berdade:

Decorre da interpretação de Merleau-Ponty da análise a) Identifica-se com o determinismo


do pedaço de cera feita por Descartes que: b) Não depende de um campo de possibilidades concretas.
c) Está relacionada apenas ao mundo físico.
a) o conhecimento humano consiste fundamental-
d) É a única verdade espírito humano.
mente em sua capacidade epistemológica sensível.
e) É absoluta e incorruptível.
b) a relação entre a percepção e a ciência correspon-
de à relação entre a aparência e a realidade. 10.(UEA- 2012) O existencialismo foi um movimento filo-
c) não é possível qualquer remissão à inteligência para sófico do século XX. Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre,
que ela descubra qualquer verdade sobre o mundo. Maurice Merleau-Ponty escreveram e publicaram livros

140
sobre o existencialismo. Embora houvesse diferenças en-
tre pensamentos e pensadores existencialistas, um prin-
cípio filosófico lhes era comum, segundo o qual
a) o homem está no topo da vida animada, depois de
ter passado por um longo processo de transformação
e de evolução.
b) o homem alcança a sabedoria quando adquire o
conhecimento das leis que regem a sua existência.
c) o prazer é o bem mais soberano do homem; os
prazeres naturais e necessários à existência devem
ser favorecidos.
d) a existência precede a essência; o homem é o que
ele faz de si mesmo por meio de seus atos.
e) o homem existe porque pensa; ele é, desde o início de
sua existência, um ser caracterizado pela racionalidade.

Gabarito
1-D; 2-B; 3-E; 4(01+02+08=11); 5(02+16=18); 6-B; 7-C;
8-A; 9-D.

141
AULA Existencialismo
22
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. Introdução nossas expectativas sejam realizadas. Assim, vivemos num


mundo onde tanto é possível a dor como o prazer, o bem
O Existencialismo é uma corrente filosófica, cunhada pelo como o mal, o amor como o ódio.
filósofo dinamarquês Kierkegaard, para tratar da condição
da existência humana, e pela busca das realizações das
escolhas desse indivíduo.
O pensamento existencialista defende, em primeiro lugar,
que a existência vem antes da essência. De modo que o
homem é livre para fazer a suas escolhas.

A relação do homem consigo mesmo é marcada pela in-


quietação e pelo desespero. Isso ocorre por duas razões: ou
multimídia: vídeo porque o homem nunca está plenamente satisfeito com as
possibilidades que realizou, ou porque não conseguiu reali-
Easy Ryder zar o que pretendia, fracassando diante de suas expectativas.
Estados Unidos, 1969 A relação do homem com Deus seria a única via para a
Conta a história de dois motociclistas que superação da angústia e do desespero.
viajam através do sul e sudoeste do Estados Dessa forma, a filosofia de Kierkegaard procura com-
Unidos, com o objetivo de alcançar a liberda- preender a existência do ser humano, a sua angústia e
de pessoal. o seu desespero.

2. Søren Kierkegaard
(1813-1855)
O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard contestou a
supremacia da razão como único instrumento capaz de
estabelecer a verdade, defendendo o conhecimento da fé
contra a supremacia da razão.
Em sua obra, o filósofo procurou analisar os problemas da
relação existencial do homem com o mundo, consigo mes-
mo e com Deus. multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
As relações do homem com o mundo são dominadas pela
Kierkegaard – Razão e Fé: Existencialismo
angústia. A angústia é estendida como o sentimento pro-
Vídeo que apresenta a filosofia existencialis-
fundo que temos ao perceber a instabilidade de viver num
mo de Kierkegaard
mundo de acontecimentos possíveis, sem garantia de que

142
3. Martin Heidegger presentificar. Não fosse o homem o constante destinatá-
rio do dom que brota do dá-Se-presença, não alcançaria

(1889-1976) ao homem aquilo que é alcançado no dom, nesse caso


o ser não apenas ficaria na ausência deste dom, nem
apenas também fechado, mas o homem permaneceria
O filósofo alemão Martin Heidegger buscou compreender excluído do âmbito e do alcance do: Dá-Se ser."
o sentido do ser, a sua essência. Para ele, o ente é a exis-
HEIDEGGER, Martin.Tempo e Ser. São Paulo: p.259
tência, o modo de ser do homem. O ser é a essência, aquilo
que determina a existência ou o modo de ser do homem.
4. Jean-Paul Sartre
(1905-1980)
O filósofo francês Jean-Paul Sartre consegue ser um pensador
cujas análises técnico-conceituais alcançam um rigor e uma
sistematicidade que se revestem muitas vezes de grande ari-
dez, o que não o impediu de ser, paradoxalmente, o mais
popular dos filósofos contemporâneos, e como romancista,
um escritor de forte imaginação e profunda originalidade.

Assim, o homem é um ente para o qual o seu próprio ser está


constantemente em jogo. Isso significa que o homem não é
algo definido, mas algo que se define num projeto sempre
retomado. O homem é um ente inacabado e a sua essência
confunde-se com o seu existir. Sendo que, o estar no mundo
não é um acidente, mas algo que efetivamente o constitui.
Ao passo que, o modo de ser do homem é o poder-ser, isto é,
fazer da vida sempre um projeto. multimídia: vídeo
Porém, o fato de estar no mundo compreendido como pos- Fonte: Youtube
sibilidade de ser, gera a angústia, que pode ser entendida Sartre e o existencialismo
como sentir-se no mundo em estado de carência ou de te- Nesse vídeo temos a filosofia existencialista
mor indeterminado. A angústia é a compreensão da preca- do francês Jean-Paul Sartre.
riedade da condição humana. A maneira de evitar a angústia
é mergulhar num cotidiano habitual que afaste o homem da
autenticidade de sua existência e o coloque na impessoali-
dade neutra de uma existência nivelada pela mediocridade.
Só que, para Heidegger, a vida cotidiana faz do homem um
ser preguiçoso e cansado de si próprio, que, acovardado
diante das pressões sociais, acaba preferindo vegetar na
banalidade e no anonimato, pensando e vivendo por meio
de ideias e sentimentos acabados e inalteráveis.
"Quem somos nós? Continuamos cautelosos com a res-
posta. Pois a situação poderia ser tal que se determinasse
o que caracteriza o homem enquanto homem, justamen-
te, a partir daquilo que agora devemos considerar: o ho-
mem, abordado pela presença, o qual, a partir de tal abor-
dagem, se presenta, ele mesmo, à sua maneira, a tudo Em sua filosofia Sartre, desenvolve que no homem a exis-
que se presenta e ausenta. tência vem antes da essência. Isso significa que não há
O homem está postado de tal modo, no interior da abor- uma predefinição do homem, como existe uma predefini-
dagem pela presença, que recebe como dom o presentar ção de um objeto fabricado. Assim, o homem nada é en-
que dá-Se, enquanto percebe aquilo que aparece no quanto não fizer de si alguma coisa, ou seja, o homem é

143
um projeto que pode vir-a-ser, mas que só será realizado entanto livre, porque uma vez lançado ao mundo é res-
conforme suas escolhas e decisões em sua vida. ponsável por tudo quanto fizer."
SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um
Dessa forma, o futuro está sempre aberto, e no próprio cur- humanismo. SãoPaulo: Abril, 1973, pp.15-16
so da existência é que o homem vai decidir acerca de seu
próprio destino. O homem é livre na exata medida em que
introduz o nada no mundo, e pode a partir disso construir o
seu presente. Daí a célebre frase: o homem está condenado
a ser livre.
O existencialismo de Sartre indica que tudo está por fazer,
e o homem será o futuro que puder construir. Não é, pois,
surpreendente que, diante da relevância da tarefa, se
tenha podido extrair do existencialismo a consequência
ética do desespero.

multimídia: música
Fonte: Youtube

Human
Rag’n’Bone Man. Human. Sony, 2017
Nessa canção de Rag’n’Bone a ideia do exis-
tencialismo está presente, pois nossas ações
intensificam consequências para os outros, e
multimídia: livro não podemos culpar ninguém por isso.

O existencialismo é um humanismo
Jean-Paul Sartre. São Paulo: Vozes, 2014
O existencialismo é um humanismo é um texto 5. Simone de Beauvoir
circunstancial no percurso intelectual de Sartre.
Ele antecede um novo ciclo em sua investiga- (1908-1986)
ção filosófica. As objeções à sua obra, que ele A filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir desenvol-
procura inventariar nessa conferência, por mais
ve o primeiro pensamento a favor da mulher na sociedade.
confusas e hostis que sejam, provocarão novas
questões que serão tratadas mais tarde, após
um livre amadurecimento, testemunhado, en-
tre outras coisas, por seus escritos póstumos.

"Dostoiévski escreveu: Se Deus não existisse, tudo seria


permitido. Aí se situa o ponto de partida do existencia-
lismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe,
fica o homem, por conseguinte, abandonado, já que não
se encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade a
que se apegue. Antes de mais nada, não há desculpas
para ele. Se, com efeito, a existência precede a essência,
não será nunca possível referir uma explicação a uma
natureza dada e imutável; por outras palavras, não há
determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Beauvoir formula como a relação que há milênios estru-
Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos tura a relação homem e mulher: o homem vê, a mulher é
diante de nós valores ou imposições que nos legitimem
vista; o homem é sujeito, a mulher é irremediavelmente
o comportamento. Assim, não temos nem atrás de nós,
nem diante de nós, no domínio luminoso dos valores, objeto. Crítica dos discursos existentes (biologia, psicaná-
justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas. lise, materialismo histórico), crítica da história, que mostra
É o que traduzirei que o homem está condenado a ser que “os homens sempre detiveram todos os poderes con-
livre. Condenado, porque não se criou a si próprio; e no cretos”, crítica das representações literárias (os propagados

144
“mitos” que veiculam imagens contraditórias, da mãe e
da prostituta), crítica das atitudes adotadas e nas quais a
mulher se aliena (o narcisismo, o amor), Beauvoir apela
enfim à alforria, à independência, acompanhado do an-
seio de um dia ver reinar não uma igualdade na diferença,
mas uma igualdade verdadeira.
Seu livro mais famoso, intitulado "Segundo Sexo", consiste
em denunciar o caráter sócio histórico vinculado à noção
de "mulher" e impedir qualquer redução desta última a
alguma natureza presumível.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Simone de Beauvoir
A própria filósofa Simone de Beauvoir co-
menta sobre o seu posicionamento feminista,
sobre a sua escolha de vida.

"Um homem não teria a ideia de escrever um livro sobre


a situação singular que ocupam os machos na huma-
nidade. Se quero definir-me, sou obrigada inicialmente
a declarar: 'Sou uma mulher'. Essa verdade constitui o
fundo sobre o qual se erguerá qualquer outra afirmação.
Um homem não começa nunca por se apresentar como
um indivíduo de determinado sexo: que seja homem, é
natural. É de maneira formal, nos registros dos cartó-
rios ou nas declarações de identidade, que as rubricas
masculino, feminino aparecem como simétricas. A rela-
ção dos dois sexos não é das duas eletricidades, de dois
pólos. O homem representa a um tempo o positivo e o
neutro (...). A mulher aparece como o negativo, de modo
que toda determinação lhe é imputada como limitação,
sem reciprocidade."
BEAUVOIR, Simone de. A mulher independente.
Rio de Janeiro: Agir Editora, 2008, p. 24.

145
DIAGRAMA DE IDEIAS

EXISTENCIALISMO

A EXISTÊNCIA VEM
ANTES DA ESSÊNCIA

KIERKEGAARD HEIDEGGER SARTRE

O HOMEM SOFRE O HOMEM É UM SOMOS FRUTOS DE


PORQUE NUNCA ENTE INACABADO NOSSAS ESCOLHAS
ESTÁ SATISFEITO

ESTAMOS
ELE PODE-SER
SE SENTE CONDENADOS
IMPERFEITO A SER LIVRES

A VIDA É SEMPRE
A RELAÇÃO COM UM PROJETO O FUTURO ESTÁ
DEUS FAZ O HOMEM SEMPRE ABERTO
SUPERAR A SUA
ANGÚSTIA

BEAUVOIR

SER MULHER NÃO


A MULHER ESCOLHE A MULHER PRECISA
SIGNIFICA SER
O SEU FUTURO SE TORNAR MULHER
SUBMISSA

146
Aplicando para d) O Existencialismo é, para Sartre, um Humanismo,
porque a existência do homem depende da essên-

Aprender (A.P.A.) cia de sua natureza humana, que a precede e que


é a liberdade.

1. O filósofo dinamarquês Søren Aabye Kierkegaard iden- 4. (Ufsj) Sobre a interferência de Jean-Paul Sartre na fi-
tificou três estádios distintos ou modos de existência. losofia do século XX, é CORRETO afirmar que ele
São eles: a) reconhece a importância de Diderot, Voltaire e Kant
a) Estádio empírico, estádio racionalista, estádio exis- e repercute a interferência positiva destes na noção de
tencialista; que cada homem é um exemplo particular no universo.
b) Estádio científico, estádio religioso, estádio jurídico; b) faz a inversão da noção essencialista ao apregoar
c) Estádio estético, estádio ético, estádio religioso. que o Homem primeiramente existe, se descobre, sur-
d) Estádio ético, estádio jurídico, estádio existencialista; ge no mundo e só após isso se define. Assim, não há
natureza humana, pois não há Deus para concebê-la.
e) Estádio estético, estádio técnico, estádio filosófico;
c) inaugura uma nova ordem político-social, segundo
2. (Ufu) Para J.P. Sartre, o conceito de “para-si” diz a qual o Homem nada mais é do que um projeto que
respeito se lança numa natureza essencialmente humana.
d) diz que ser ateu é mais coerente apesar de reco-
a) a uma criação divina, cujo agir depende de princí-
nhecer no Homem uma virtu que o filia, definitiva-
pio metafísico regulador.
mente, a uma consciência a priori.
b) apenas à pura manutenção do ser pleno, completo,
da totalidade no seio do que é. 5. (Ufsj) A angústia, para Jean-Paul Sartre, é
c) ao nada, na medida em que ele se especifica pelo a) tudo o que a influência de Shopenhauer determina
poder nadificador que o constitui. em Sartre: a certeza da morte. O Homem pode ser
d) a algo empastado de si mesmo e, por isso, não livre para fazer suas escolhas, mas não tem como se
se pode realizar, não se pode afirmar, porque está livrar da decrepitude e do fim.
cheio, completo. b) a nadificação de nossos projetos e a certeza de que
a relação Homem X natureza humana é circunstan-
3. (Ufu) Leia o excerto abaixo e assinale a alternativa que cial, objetiva, e pode ser superada pelo simples ato
relaciona corretamente duas das principais máximas do de se fazer uma escolha.
existencialismo de Jean-Paul Sartre, a saber: c) a certificação de que toda a experiência humana é
idealmente sensorial, objetivamente existencial e de-
"a existência precede a essência" terminante para a vida e para a morte do Homem em
"estamos condenados a ser livres" si mesmo e em sua humanidade.
d) consequência da responsabilidade que o Homem
Com efeito, se a existência precede a essência, nada tem sobre aquilo que ele é, sobre a sua liberdade,
poderá jamais ser explicado por referência a uma na- sobre as escolhas que faz, tanto de si como do outro
tureza humana dada e definitiva; ou seja, não existe e da humanidade, por extensão.
determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade.
Por outro lado, se Deus não existe, não encontramos 6. (Unioeste) “O que significa aqui o dizer-se que a exis-
já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a tência precede a essência? Significa que o homem pri-
nossa conduta. […] Estamos condenados a ser livres. meiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que
Estamos sós, sem desculpas. É o que posso expressar só depois se define. O homem, tal como o concebe o
dizendo que o homem está condenado a ser livre. Con- existencialista, se não é definível, é porque primeira-
denado, porque não se criou a si mesmo, e como, no mente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal
entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é como a si próprio se fizer. (…) O homem é, não apenas
responsável por tudo o que faz. como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como
ele se concebe depois da existência, como ele se deseja
SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo.
3ª. ed. S. Paulo: Nova Cultural, 1987. após este impulso para a existência; o homem não é
mais que o que ele faz. (…) Assim, o primeiro esforço do
a) Se a essência do homem, para Sartre, é a liberda- existencialismo é o de por todo o homem no domínio
de, então jamais o homem pode ser, em sua existên- do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade
cia, condenado a ser livre, o que seria, na verdade, de sua existência. (…) Quando dizemos que o homem
uma contradição. se escolhe a si, queremos dizer que cada um de nós se
b) A liberdade, em Sartre, determina a essência da escolhe a si próprio; mas com isso queremos também
natureza humana que, concebida por Deus, precede dizer que, ao escolher-se a si próprio, ele escolhe to-
necessariamente a sua existência. dos os homens. Com efeito, não há de nossos atos um
sequer que, ao criar o homem que desejamos ser, não
c) Para Sartre, a liberdade é a escolha incondicional, à
crie ao mesmo tempo uma imagem do homem como
qual o homem, como existência já lançada no mundo,
julgamos que deve ser”.
está condenado, e pela qual projeta o seu ser ou a
sua essência. Sartre.

147
Considerando a concepção existencialista de Sartre e o situação feminina e das relações entre mulheres e ho-
texto acima, é incorreto afirmar que mens na sociedade, em diversos aspectos.
a) o homem é um projeto que se vive subjetivamente.
A despeito de suas diversas configurações – liberal,
b) o homem é um ser totalmente responsável por sua
socialista, radical, pós-moderna etc., são bandeiras co-
existência.
muns às diversas agendas feministas
c) por haver uma natureza humana determinada, no
homem a essência precede a existência. a) a luta contra a discriminação sexual no trabalho,
d) o homem é o que se lança para o futuro e que é o combate à violência de gênero e a elaboração de
consciente deste projetar-se no futuro. uma grande teoria capaz de aglutinar as mulheres e
unificá-las no bojo da categoria universal “mulher”.
e) em suas escolhas, o homem é responsável por si pró-
prio e por todos os homens, porque, em seus atos, cria b) a luta contra as desigualdades assentadas sobre as
uma imagem do homem como julgamos que deve ser. diferenças sexuais dos sujeitos sociais; a igualdade de
oportunidades para mulheres e homens; o combate à
7. (Ufsj) “Subjetividade” e “intersubjetividade” são con- violência de gênero.
ceitos com os quais Sartre pontua o seu existencialismo. c) o combate à violência de gênero; a luta pela pre-
Nesse contexto, tais conceitos revelam que servação de guetos ocupacionais femininos e mascu-
a) o cogito cartesiano desabou sobre o existencialismo linos; a defesa de direitos sexuais e reprodutivos.
na mesma proporção com que a virtu socrática precipi- d) o combate à propriedade privada como mecanismo
tou-se sobre o materialismo dialético do século XX. de opressão de gênero; a defesa de direitos sexuais e
b) “Penso, logo existo” deve ser o ponto de partida reprodutivos; a luta contra a discriminação no trabalho.
de qualquer filosofia. Tal subjetividade faz com que o
Homem não seja visto como objeto, o que lhe confere
verdadeira dignidade. A descoberta de si mesmo o leva, Gabarito
necessariamente, à descoberta do outro, implicando
1-C; 2-C; 3-C; 4-B; 5-D; 6-C; 7-B; 8-C; 9-B
uma intersubjetividade.
c) o Homem é dado, é unidade, é união e é intersubjetivi-
dade; portanto, a sua existência é agregadora e desape-
gada da tão apregoada subjetividade clássica, por isso
mesmo tão crucial para Sartre.
d) não há um só lampejo de subjetividade que não tenha
se reinaugurado na intersubjetividade, isto é, na ideali-
dade que instrui as prerrogativas para se instalarem as
escolhas do sujeito, definindo-o.

8.(Enem) Ninguém nasce mulher; torna-se mulher. Ne-


nhum destino biológico, psíquico, econômico define a
forma que a fêmea humana assume no seio da socieda-
de; é o conjunto da civilização que elabora esse produto
intermediário entre o macho e o castrado que qualifi-
cam o feminino.
BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beau-


voir contribuiu para estruturar um movimento social
que teve como marca o(a)
a) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência
sexual.
b) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla
jornada de trabalho.
c) organização de protestos públicos para garantir a
igualdade de gênero.
d) oposição de grupos religiosos para impedir os ca-
samentos homoafetivos.
e) estabelecimento de políticas governamentais para
promover ações afirmativas.

9. (Ufu) A sociedade contemporânea abriga inúmeros


e diversificados movimentos sociais, dentre eles, os
movimentos feministas que visam à transformação da

148
AULA Escola de Frankfurt
23
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. Escola de Frankfurt 2. Max Horkheimer


(1895-1973)

O Instituto de Pesquisa Social, denominado tardiamen-


te como Escola de Frankfurt, foi fundado em 1923 pelo
economista Carl Grunberg, com o intuito de integrar a
questão social no âmbito das reflexões acadêmicas, numa
integração do pensamento de Karl Marx e do psicanalista
Sigmund Freud. 3. Theodor W. Adorno
Com a ascensão de Adolf Hitler ao poder alemão em 1935, (1903-1969)
o Instituto é fechado e seus intelectuais perseguidos, de-
vido as suas análises críticas a respeito do irracionalismo
nazista. Muitos de seus colaboradores se refugiaram nos
Estados Unidos e na Inglaterra, só retornando em 1950,
após o término da Segunda Guerra Mundial.
A proposta básica desse grupo era formular uma teoria crí-
tica da sociedade vigente, uma análise crítica da sociedade
burguesa, que desse conta das questões suscitadas, pelo
advento do fascismo, no campo capitalista, e do stalinis-
mo, no campo socialista. Entre os temas presentes em suas Os filósofos Theodor W. Adorno e Max Horkheimer elabora-
análises, destacam-se o autoritarismo, a origem da socie- ram a “Dialética do Esclarecimento”, publicada em 1947.
dade burguesa, a indústria cultural, o processo de desuma- Esta obra sustenta a tese de que os conceitos de mito e
nização do homem, entre outros. esclarecimento não traçam uma simples relação de oposi-
De um modo geral, essa escola pretende, apenas, exercer um ção, mas antes uma relação dialética, uma vez que o mito
papel de denúncia da realidade, e não apresenta uma pre- já comporta algum elemento da racionalidade do escla-
tensão de fechar uma teoria ou criar um pensamento único. recimento, enquanto no esclarecimento ainda permanece
Seu objeto é, assim, muito mais o de suscitar um tema para um conteúdo de irracionalidade mítica, que termina por
encaminhá-lo à barbárie.
a análise conjunta, podendo ser reaberto a qualquer instan-
te. Essa proposta de inacabamento do assunto proposto se Sendo uma crítica à ilusão do racionalismo, fundada no Ilu-
reflete na maneira pela qual o Instituto desenvolve seus tra- minismo, que seguindo apenas atos racionais tendem a atos
balhos, ou seja, a forma de ensaios, artigos e resenhas. contra a humanidade. Isso representa uma crítica da razão

149
instrumental. De modo que, a racionalidade mercadológica horário marcado e será possível ter o sagrado em domicílio.
ilude o indivíduo, dando-lhe uma falsa esperança de sucesso Com o esporte, é mais fácil comer pipoca à frente da TV do
e uma falsa condição de liberdade de escolhas, perante as que ir a um estágio, ou jogar aquela partida com os amigos.
poucas opções que temos. Como se vê, todas as emoções estão à venda, mas duram
pouco para que voltemos a comprar outras.
A filosofia dos frankfurtianos é conhecida como teoria crítica,
em oposição à teoria tradicional, representada pelos filóso-
fos desde Descartes e cujo racionalismo atingiu seu melhor
momento no Iluminismo. O que eles criticam? Eles sendo lei-
tores de Marx, Nietzsche, Freud e Heidegger, os pensadores
de Frankfurt sabem que não se adere à razão inocentemen-
te. Concluem que a razão, exaltada tradicionalmente por ser
"iluminada", também traz sombras em seu bojo, quando se
torna instrumento de dominação.

multimídia: música 3.2. Educação contra a barbárie


Fonte: Youtube Adorno apresenta que para evitar a barbárie, a sociedade
precisa ser pautada numa educação humanizadora, que
3ªdo Plural
condicione os seres humanos a serem emancipados e au-
Engenheiros do Hawaii. Surfando Karmas &
tônomos. De modo que, o passado não deve ser esquecido,
Dna. Universal Music, 2002.
mas é preciso lembrar para que o horror não aconteça mais.

3.1. A Indústria Cultural


Com a indústria cultural, nota-se que quase todas as merca-
dorias que estão à venda – música, dança, imagens, roupas
– trazem consigo a ideia de um estilo, que deve ser compra-
do ou – se isso não for possível – imitado.

multimídia: livro
Educação e Emancipação
Adorno, Theodor W. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1995
Nesse livro, uma compilação de diversas con-
versas do filósofo Theodor W. Adorno fez via
rádio, comentando sobre como a Educação
precisava combater a barbárie.
multimídia: música
4. Walter Benjamin
Fonte: Youtube

Muita estrela, para pouca constelação


Marcelo Nova e Raul Seixas. Álbum: Duplo (1892-1940)
Sentido. WEA, 1987.
O filósofo alemão Walter Benjamin discorre sobre a Arte,
que mesmo num mundo materialista e de puro consumo,
Assim, além das artes, a religião e o esporte também viraram contém ainda uma ‘aura’ de singularidade. Dessa forma, a
produtos. As pessoas deixam de praticar a religião e o espor- Arte precisa se desvincular do processo de reproduções que
te para assisti-los pela televisão. Para encontrar o sagrado, visam apenas o lucro, e se direcionar para humanizar o ser
não é mais necessário estar juntos com os demais fiéis e fa- humano, mediante provocações que desencadeiam uma au-
zer orações com eles, basta ligar a televisão ou o rádio no tonomia nesse indivíduo, ou seja, uma iluminação interna.

150
Benjamin afirma que o conhecimento é assegurado pelo O pretenso conteúdo é só uma pálida fachada; aquilo
despertar do homem, pela via da arte, em toda as suas que se imprime é a sucessão automática de operações
instâncias, na literatura, no cinema ou nas artes plásticas. reguladas. Do processo de trabalho na fábrica e no es-
critório só se pode fugir adequando-se a ele mesmo no
ócio. Disso sofre incuravelmente toda diversão. O prazer
congela-se no enfado, pois que, para permanecer prazer,
não deve exigir esforço algum, daí que deva caminhar
estreitamente no âmbito das associações habituais".
ADORNO, T; HOHKHEIMER, M.
A Indústria Cultural – o Iluminismo como mistificação das
massas. São Paulo: Paz e Terra, 2002, pp.30-31

5. Herbert Marcuse
(1898-1979) multimídia: vídeo
O filósofo alemão é o frankfurtiano que carrega mais proxi- Fonte: Youtube
midade com Freud, no seu livro “Eros e Civilização” (1955), Adorno na UEL
a qual o autor revisita as ideias da psicanálise, de modo a
criticá-la e relacioná-la a uma sociedade de classes que se
entorpece com a visão mercadológica.
Nesse livro, Marcuse apresenta que Eros, um deus relaciona-
do à beleza, assume um significado de instinto à vida, sendo
também uma luta contra os princípios de civilização, as nor-
mas da sociedade vigente, que representa o próprio capitalis-
mo. Assim, viver é ir contra as normas de civilidade humana.

"A diversão é o prolongamento do trabalho sob o ca-


pitalismo tardio. Ela é procurada pelos que querem se
subtrair aos processos de trabalho mecanizados, para
que estejam de novo em condições de enfrentá-lo. Mas,
ao mesmo tempo, a mecanização adquiriu tanto poder
sobre o homem em seu tempo de lazer e sobre sua fe-
licidade, determinada integralmente pela fabricação dos
produtos de divertimento, que ele apenas pode captar as
cópias e as reproduções do próprio processo de trabalho.

151
DIAGRAMA DE IDEIAS

ESCOLA DE
FRANKFURT

TEORIA CRÍTICA PRIMEIRA GERAÇÃO


A INDÚSTRIA
CULTURAL
• ADORNO
• HORKHEIMER
ANALISE CRÍTICA • MARCUSE
DA SOCIEDADE • BENJAMIN
TUDO VIROU
DO SÉCULO XX
MERCADORIA

SENDO PRODUZIDO
EM MASSA

A PROPAGANDA
ENCANTA O
PRODUTO PARA
SER VENDIDO

Aplicando para ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão da


audição. In: Adorno et all. Textos escolhidos. São Paulo:
Abril Cultural, 1978, p.190 (Coleção Os Pensadores.)
Aprender (A.P.A.) As redes sociais têm divulgado músicas de fácil memo-
1. (UEL) Leia o texto a seguir. O modo de comportamen- rização e com forte apelo à cultura de massa. A respeito
to perceptivo, através do qual se prepara o esquecer e o do tema da regressão da audição na Indústria Cultural
rápido recordar da música de massas, é a desconcentra- e da relação entre arte e sociedade em Adorno, assinale
ção. Se os produtos normalizados e irremediavelmente a alternativa correta:
semelhantes entre si, exceto certas particularidades a) A impossibilidade de uma audição concentrada e
surpreendentes, não permitem uma audição concen- de uma concentração atenta relaciona-se ao fato de
trada, sem se tornarem insuportáveis para os ouvintes, que a música tornou-se um produto de consumo, en-
estes, por sua vez, já não são absolutamente capazes cobrindo seu poder crítico.
de uma audição concentrada. Não conseguem manter a b) A música representa um domínio particular, quase
tensão de uma concentração atenta, e por isso se entre- autônomo, das produções sociais, pois se baseia no
gam resignadamente àquilo que acontece e flui acima livre jogo da imaginação, o que impossibilita estabe-
deles, e com o qual fazem amizade somente porque já o lecer um vínculo entre arte e sociedade.
ouvem sem atenção excessiva. c) A música de massa caracteriza-se pela capacidade

152
de manifestar criticamente conteúdos racionais ex- b) Na passagem do período burguês para a sociedade
pressos no modo típico do comportamento percep- de massas, o declínio da aura que ocorre na arte pode
tivo inato às massas. ser creditado a fatores sociais, como o desejo de ter
d) A tensão resultante da concentração requerida as coisas mais próximas e superar aquilo que é único.
para a apreciação da música é uma exigência ex- c) A perda da aura retira da arte o seu papel crítico no
tramusical, pois nossa sensibilidade é naturalmente interior da sociedade de consumo, isto ocorre porque
mais próxima da desconcentração. a reprodutibilidade técnica destrói a possibilidade de
e) Audição concentrada significa a capacidade de exposição das obras.
apreender e de repetir os elementos que constituem d) Desde o período medieval, o valor de exposição
a música, sendo a facilidade da repetição o que con- das obras de arte é fator preponderante, visto que
cede poder crítico à música. o desempenho de sua função religiosa exigia que a
arte aparecesse de forma bem visível aos espectado-
2. (Ufma) res que a cultuavam.
e) O cinema desempenha um importante papel políti-
"A rua era das mais animadas da cidade; por todo o co de conscientização dos espectadores, uma vez que
dia estivera cheia de gente. Mas agora, ao anoitecer, a seu caráter expositivo tornou-se cultual ao recuperar
multidão crescia de um minuto para outro; e quando se a dimensão aurática.
acenderam os lampiões de gás, duas densas, compactas
correntes de transeuntes cruzavam diante do café. Ja- 4. (Uel)
mais me sentira num estado de ânimo como o daquela
tarde; e saboreei a nova emoção que de mim se apossa- "Em suma, o que é a aura? É uma figura singular, com-
ra ante o oceano daquelas cabeças em movimento. Pou- posta de elementos espaciais e temporais: a aparição úni-
co a pouco perdi de vista o que acontecia no ambiente ca de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja.
em que me encontrava e abandonei-me completamente Observar, em repouso, numa tarde de verão, uma cadeia
à contemplação da cena externa." de montanhas no horizonte, ou um galho, que projeta
sua sombra sobre nós, significa respirar a aura dessas
(Walter Benjamin – Sobre alguns temas em Baudelaire)
montanhas, desse galho. Graças a essa definição, é fácil
O texto nos leva a uma compreensão de estética como: identificar os fatores sociais específicos que condicionam
o declínio atual da aura. Ele deriva de duas circunstâncias,
a) uma concepção de que o belo não está em uma
estreitamente ligadas à crescente difusão e intensida-
forma definida, mas na plasticidade do cotidiano.
de dos movimentos de massas. Fazer as coisas ‘ficarem
b) um estudo do caos humano representado pela mais próximas’ é uma preocupação tão apaixonada das
multidão e suas relações econômicas. massas modernas como sua tendência a superar o caráter
c) estabelecimento de um padrão de beleza para a único de todos os fatos através da sua reprodutibilidade".
obra de arte.
Fonte: BENJAMIN, W. “A obra de arte na era de sua
d) técnica de reprodução da obra de arte em massa. reprodutibilidade técnica”. In: Magia e Técnica, Arte e
e) imitação do mundo sensível. Política. Obras Escolhidas. Tradução de Sérgio Paulo
Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 170.
3. (Uel) Analise as imagens a seguir.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre Benja-
min, assinale a alternativa correta:
a) Ao passar do campo religioso ao estético, a obra de
arte perdeu sua aura.
b) Ao se tornarem autônomas, as obras de arte perde-
ram sua qualidade aurática.
c) O declínio da aura decorre do desejo de diminuir
a distância e a transcendência dos objetos artísticos.
d) O valor de culto de uma obra de arte suscita a
reprodutibilidade técnica.
As imagens I e II representam duas formas artísticas de um e) O declínio da aura não tem relação com as trans-
fenômeno que provocou mudanças significativas na arte, formações contemporâneas.
sobretudo a partir do século XX: a reprodutibilidade técnica. 5. (Uel) Leia o texto a seguir.
Com base nas imagens e nos conhecimentos sobre a O modo de comportamento perceptivo, através do
reprodutibilidade técnica em Walter Benjamin, é corre- qual se prepara o esquecer e o rápido recordar da mú-
to afirmar: sica de massas, é a desconcentração. Se os produtos
a) A reprodução das obras de arte começa no final normalizados e irremediavelmente semelhantes entre
do século XIX com o surgimento da fotografia e do si, exceto certas particularidades surpreendentes, não
cinema, pois até então as obras não eram copiadas, permitem uma audição concentrada, sem se tornarem
por motivos religiosos e místicos. insuportáveis para os ouvintes, estes, por sua vez, já

153
não são absolutamente capazes de uma audição con- b) Adorno e Horkheimer concordavam que o progres-
centrada. Não conseguem manter a tensão de uma so científico não consegue superar o mito, mas se
concentração atenta, e por isso se entregam resigna- torna um tipo de concepção mítica incapaz de dis-
damente àquilo que acontece e flui acima deles, e com criminar o que é certo do que é errado moralmente.
o qual fazem amizade somente porque já o ouvem c) Adorno e Horkheimer sustentavam que o crescente
sem atenção excessiva. avanço da racionalidade instrumental consistia num in-
cremento da capacidade humana de avaliar moralmente.
(ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão da d) Bacon apontava que o aumento da capacidade de
audição. In: Adorno et all. Textos escolhidos. São Paulo:
Abril Cultural, 1978, p.190. Coleção Os Pensadores.) domínio do homem sobre a natureza conduziria os
seres humanos a uma forma de dogmatismo.
As redes sociais têm divulgado músicas de fácil memo- e) Tanto Adorno e Horkheimer quanto Bacon viam o pro-
rização e com forte apelo à cultura de massa. gresso técnico e científico como a solução para os sofri-
mentos humanos e para as incertezas morais humanas.
A respeito do tema da regressão da audição na Indús-
tria Cultural e da relação entre arte e sociedade em 7. (Uel) Leia o texto de Adorno a seguir.
Adorno, assinale a alternativa correta.
a) A impossibilidade de uma audição concentrada e Se as duas esferas da música se movem na unidade da
de uma concentração atenta relaciona-se ao fato de sua contradição recíproca, a linha de demarcação que
que a música tornou-se um produto de consumo, en- as separa é variável. A produção musical avançada se
cobrindo seu poder crítico. independentizou do consumo. O resto da música séria é
submetido à lei do consumo, pelo preço de seu conteú-
b) A música representa um domínio particular, quase
do. Ouve-se tal música séria como se consome uma mer-
autônomo, das produções sociais, pois se baseia no li-
cadoria adquirida no mercado. Carecem totalmente de
vre jogo da imaginação, o que impossibilita estabelecer
significado real as distinções entre a audição da música
um vínculo entre arte e sociedade.
"clássica" oficial e da música ligeira.
c) A música de massa caracteriza-se pela capacidade
de manifestar criticamente conteúdos racionais ex- (ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão
da audição. In: BENJAMIN, W. et all. Textos escolhidos.
pressos no modo típico do comportamento percep-
2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1987. p. 84.)
tivo inato às massas.
d) A tensão resultante da concentração requerida Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensa-
para a apreciação da música é uma exigência ex- mento de Adorno, é correto afirmar:
tramusical, pois nossa sensibilidade é naturalmente
a) A música séria e a música ligeira são essencial-
mais próxima da desconcentração.
mente críticas à sociedade de consumo e à indústria
e) Audição concentrada significa a capacidade de cultural.
apreender e de repetir os elementos que constituem b) Ao se tornarem autônomas e independentes do con-
a música, sendo a facilidade da repetição o que con- sumo, a música séria e a música ligeira passam a real-
cede poder crítico à música. çar o seu valor de uso em detrimento do valor de troca.
6. (Uel) Leia o texto a seguir. c) A indústria cultural acabou preparando a sua pró-
pria autorreflexividade ao transformar a música ligei-
Francis Bacon, em sua obra Nova Atlântida, imagina ra e a séria em mercadorias.
uma utopia tecnocrática na qual o sofrimento huma- d) Tanto a música séria quanto a ligeira foram transforma-
no poderia ser removido pelo desenvolvimento e pelo das em mercadoria com o avanço da produção industrial.
aperfeiçoamento do conhecimento científico, o qual e) As esferas da música séria e da ligeira são separa-
permitiria uma crescente dominação da natureza e um das e nada possuem em comum.
suposto afastamento do mito. Na obra Dialética do
Esclarecimento, Adorno e Horkheimer defendem que 8. (Uel) Com base no pensamento estético de Adorno e
Benjamin, considere as afirmativas a seguir.
o projeto iluminista de afastamento do mito foi con-
vertido, ele próprio, em mito, caindo no dogmatismo e I. Apesar de terem o mesmo ponto de partida, a saber, a
em numa forma de mitologia. O progresso técnico-cien-
análise crítica das técnicas de reprodução, Adorno e Ben-
tífico consiste, para Adorno e Horkeheimer, no avanço
crescente da racionalidade instrumental, a qual é inca- jamin chegam a conclusões distintas. Adorno entende que
paz de frear iniciativas que afrontam a moral, como fo- a reprodutibilidade das obras de arte é algo negativo, pois
ram, por exemplo, os campos de concentração nazistas. transforma esta última em mercadoria; para Benjamin,
apesar de a reprodutibilidade ter aspectos negativos, uma
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o desen- forma de arte como o cinema pode ser usada potencial-
volvimento técnico-científico, é correto afirmar:
mente em favor da classe operária.
a) Bacon pensava que o incremento da racionalida-
de instrumental aliviaria as causas do sofrimento II. Para Adorno, o discurso revolucionário na arte torna esta
humano, apesar de a razão, a longo prazo, sucumbir forma de expressão humana instrumentalista, e isto significa
novamente ao mito. abolir a própria arte. Por seu turno, Benjamin considerava

154
que os novos meios de comunicação não deveriam ser subs- c) I e IV
tituídos, mas sim transformados ou subvertidos segundo os d) II, III, V
interesses da comunicação burguesa. e) I, III, IV e V

III. Para Adorno, a noção de aura na obra de arte preser- 10. (ENEM)
vava a consciência de que a realidade poderia ser melhor,
mas o processo de massificação da arte dissolveu tal noção Hoje, a indústria cultural assumiu a herança civiliza-
tória da democracia de pioneiros e empresários, que
e, com ela, a dimensão critica da arte. Para Benjamin, a per- tampouco desenvolverá uma fineza de sentido para os
da da aura destruiu a unicidade e a singularidade da obra desvios espirituais. Todos são livres para dançar e para
de arte, que perde o seu valor de culto e se torna acessível. se divertir do mesmo modo que, desde a neutralização
histórica da religião, são livres para entrar em qualquer
IV. Adorno vê positivamente a reprodutibilidade da arte, já
uma das inúmeras seitas. Mas a liberdade de escolha
que a obra de arte se transforma em mercadoria padroni- da ideologia, que reflete sempre a coerção econômica,
zada que possibilita a todos o acesso e o desenvolvimento revela-se em todos os setores como a liberdade de es-
do gosto estético autônomo; para Benjamin, a reprodução colher o que é sempre a mesma coisa.
tem como dimensão negativa essencial o fato de impossi- ADORNO, T; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento:
bilitar às massas o acesso às obras. fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro; Zahar, 1985

Assinale a alternativa correta. A liberdade de escolha na civilização ocidental, de acor-


a) Somente as afirmativas I e II são corretas. do com a análise do texto, é um(a):
b) Somente as afirmativas I e III são corretas. a) legado social.
c) Somente as afirmativas II e IV são corretas. b) patrimônio político.
d) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. c) produto da moralidade.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. d) conquista da humanidade.
e) ilusão da contemporaneidade
9. (Ufpa 2008) Desde Platão se discute a função sociocul-
tural da arte, o que confere à sua autonomia uma certa
relatividade. Recentemente, com a Escola de Frankfurt,
cunhou-se para a determinação social da arte termos
Gabarito
como “indústria cultural” e “cultura de massa”, porque, 1-A; 2-A; 3-B; 4-C; 5-A; 6-B; 7-D; 8-B; 9-C;10-E
como diz Theodor Adorno, no regime econômico capita-
lista sacrifica-se “o que fazia a diferença entre a lógica
da obra [de arte] e a do sistema social.” Com relação à
interpretação de Adorno sobre a função social da arte no
regime capitalista, considere as afirmativas abaixo:

I. Na sociedade capitalista, o desenvolvimento técnico-in-


dustrial conduziu à padronização do gosto em beneficio
do mercado.
II. Não há gozo da arte, na sociedade liberal, se a criação
for massificada.
III. Ao sacrificar a lógica da obra às determinações do sis-
tema, o artista está garantindo não só seu lucro como a
própria sobrevivência da arte, já que a nossa economia é
capitalista.
IV. Com a indústria cultural, ocorre a perda completa da
ideia de autonomia da arte.
V. Adorno não concorda com Platão quanto à ideia de que
a experiência estética, como acontece hoje em dia, neces-
sita de um nexo funcional para cumprir seu papel na vida
social e política do homem.
Estão corretas as afirmativas:
a) I e II
b) II e V

155
AULA Habermas
24
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. Jürgen Habermas (1929) 1.1. A Crítica à Escola de Frankfurt


O filósofo alemão Habermas pertence a Segunda Geração O filósofo alemão discordou de diversos pontos da Teoria Crí-
da Escola de Frankfurt. Com uma participação ativa no tica, principalmente e Adorno e de Horkheimer, como o uso
campo acadêmico, Habermas também teve intensa parti- da razão, a cultura e a democracia. Porém, o que mais lhe in-
cipação nos movimentos sociais de sua época. comodou foi o pessimismo contido na primeira geração frank-
furtiana, por salientar que a lógica capitalista entranhou toda
a produção humana, caracterizando todos os elementos em
Indústria Cultural, sem uma mudança drástica do ser humano.
A crítica de Habermas se faz diante ao direcionamento pro-
posto por Adorno e Horkheimer, que orienta a um irracio-
nalismo industrial. Por induzir a uma alienação em todos os
âmbitos na cultura humana, que só condiciona a uma prá-
tica repetitiva. Entretanto, segundo Habermas, seguir essa
ideia pode levar a se constituir uma sociedade vazia, sem
nenhuma perspectiva futura. Como se a vida estivesse fada-
da a um determinismo alienante. De modo a limitar a razão
humana, reduzindo a uma perversidade utilitarista.
Habermas demonstra articulações inovadoras em diversas
Para o filósofo alemão, Adorno e Horkheimer, confundiram
teorias, como o campo do direito, da moral e da educação.
um tipo particular de racionalização com a própria razão.
Pois, a razão possui uma função comunicativa. Isso repre-
senta que, dentro do processo da Indústria Cultural, não se
restringe somente ao plano da dominação, mas também
ao processo da comunicação, que não contém necessaria-
mente um viés ideológico.

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Habermas Entrevista
(80 anos 18/jun/2009)
Entrevista com Jürgen Habermas, filósofo ale- multimídia: vídeo
mão, autor da Teoria da Esfera Pública. Áudio Fonte: Youtube
original em inglês do video youtube davidme-
Para entender o mundo contemporâneo:
me, com legendas em português. Habermas
Habermas
fala sobre a democracia deliberativa e a teo-
ria da ação comunicativa, agir comunicativo. O doutor Luís Mauro Sá Martinho comenta
sobre o pensamento de Habermas.

156
A estrutura da linguagem cotidiana possui na sua essência
uma exigência racional. Sendo a linguagem uma forma de
ação coletiva, pois existe uma compartilhamento objetivo
e subjetivo no campo social.

1.2. Teoria da Ação Comunicativa


A ação comunicativa é o uso da linguagem e da conversa-
ção como meio de se conseguir o consenso. A linguagem
por ser uma ação compartilhada. De modo que existem re-
gras no diálogo da ação comunicativa: a não contradição, multimídia: livro
a clareza de argumentação e a falta de constrangimento O discurso Filosófico da Modernidade
de ordem social.
Jürgen Habermas. São Paulo: Martins Fontes,
2000
Nessa obra, o autor reconstruí passo a passo
o discurso filosófico da modernidade, como
ponto de partida a perspectiva proposta pela
crítica neoestruturalista da razão.

1.4. O Legado de Habermas


O pensamento de Habermas ressoa em nosso mundo con-
temporâneo, no âmbito educacional a ação comunicativa
elabora uma forma interdisciplinar, num movimento con-
A verdade na ação comunicativa precisa ser compreendida
trário as estruturas positivistas de divisão do conhecimento.
como uma verdade intersubjetiva, e não mais uma verdade
Seguindo um movimento de que todos os campos do co-
subjetiva, que se adequa a realidade. Perdendo assim, o seu
nhecimento se conversam e se interagem ao mesmo tempo.
valor absoluto, tão consolidado historicamente na filosofia.
Isso significa que a verdade ganhou aspectos de uma cons- No campo político, por sua vez, sua teoria se torna a base
trução consensual entre as partes envolvidas, sendo aperfei- de uma democracia representativa, de modo que a ação
çoado na prática democrática. comunicativa desenvolve ações efetivas de uma ação cole-
tiva e voltada para uma mudança social.
Com isso, a razão comunicativa se torna uma resistência
perante a razão instrumental, com o intuito de resgatar a
importância da razão para avanços na sociedade. Numa
mudança que possibilitará ao homem a abrir espaço para
ser convencido por ideias melhores, num processo demo-
crático. Esse agir comunicativo pode ser a base ética de
uma sociedade.

1.3. O Rompimento com a Escola de


Frankfurt
Habermas defende que o projeto de modernidade não se
concretizou, havendo um potencial para a racionalização
do mundo. Essa postura de uma valorização da razão, faz
com que o filósofo rompa com a Escola de Frankfurt.
Em seus estudos fez várias críticas a vários pontos da teoria
marxista, como a centralidade do trabalho e a idealização
do proletariado como agente de transformação. Para ele, as
transformações na sociedade se fazem com uma centralida-
de da razão e com a ação comunicativa.

157
DIAGRAMA DE IDEIAS

HABERMAS

TEORIA DA AÇÃO SEGUNDA GERAÇÃO


COMUNICATIVA CRÍTICA À TEORIA DA ESCOLA DE
CRÍTICA FRANKFURT

A COMUNICAÇÃO
PODE GERAR A ESCOLA DE
CONHECIMENTO FRANKFURT INDUZ
A UMA ALIENAÇÃO

DIANTE UMA
PRÁTICA DEMO-
NEM SEMPRE A
CRÁTICA PLENA
IDEOLOGIA QUER
DOMINAR O POVO

Aplicando para modo como o diálogo é construído entre os indivíduos


numa sociedade democrática.

Aprender (A.P.A.) HABERMAS, J. O caos da esfera pública. Folha de São


Paulo, 13 ago. 2006, Caderno Mais!, p.4-5 (Adaptado)
1. (ENEM) "Uma norma só deve pretender validez quando
todos os que possam ser concernidos por ela cheguem (ou A partir dos conhecimentos sobre a ação comunicativa
possam chegar), enquanto participantes de um discurso prá- em Habermas, considere as afirmativas a seguir:
tico, a um acordo quanto à validade dessa norma".
I. A manipulação das opiniões impede o consenso ao usar
Habermas, J. Consciência moral e agir comunicativo. os interlocutores como meios e desconsiderar o ser huma-
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.
no como fim em si mesmo.
Segundo Habermas, a validez de uma norma deve ser
estabelecida pelo (a): II. A validade do que é decidido consensualmente assenta-
-se na negociação em que os interlocutores se instrumen-
a) Liberdade humana, que consagra a vontade.
b) Razão comunicativa, que requer um consenso. talizam reciprocamente em prol de interesses particulares.
c) Conhecimento filosófico, que expressa a verdade. III. Como regra do discurso que busca o entendimento,
d) Técnica científica, que aumenta o poder do homem. devem-se excluir os interlocutores que, de algum modo,
e) Poder político, que se concentra no sistema partidário. são afetados pela norma em questão.
2. (UEL) Leia o texto a seguir. IV. O projeto emancipatório dos indivíduos é construído a
A utilização da Internet ampliou e fragmentou, simul- partir do diálogo e da argumentação que prima pelo en-
taneamente, os nexos de comunicação. Isto impacta no tendimento mútuo.

158
Assinale a alternativa correta: c) compreende a atitude conservacionista que o siste-
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. ma econômico adota em relação ao ambiente.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. d) implica a instrumentalização dos recursos tecnoló-
gicos em benefício da redução da poluição.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
e) refere-se à atitude de retorno do homem à vida natu-
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
ral, observando as leis da natureza e sua regularidade.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
5. (UEL) Leia o texto a seguir.
3. (UEG) "Uma moral racional se posiciona criticamente
em relação a todas as orientações da ação, sejam elas O ser humano, no decorrer da sua existência na face
naturais, autoevidentes, institucionalizadas ou ancora- da terra e graças à sua capacidade racional, tem de-
das em motivos através de padrões de socialização. No senvolvido formas de explicação do que há no intuito
momento em que uma alternativa de ação e seu pano de estabelecer um nexo de sentido entre os fenômenos
de fundo normativo são expostos ao olhar crítico dessa e as experiências por ele vivenciados. Essas vivências,
moral, entra em cena a problematização. A moral da ra- à medida que são passíveis de expressão através das
zão é especializada em questões de justiça e aborda em construções simbólicas contidas na linguagem, apre-
princípio tudo à luz forte e restrita da universalidade." sentam um caráter eminentemente social.
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre (HANSEN, Gilvan. Modernidade, Utopia e Trabalho.
facticidade e validade. v. I. Trad. Flávio
Beno Siebeneichler. Londrina: Edições Cefil, 1999. p.13
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. p. 149
Com base na obra Molhe Espiral, no texto e nos conhe-
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a moral cimentos sobre o pensamento de Habermas, assinale a
em Habermas, é correto afirmar: alternativa correta:
a) A formação racional de normas de ação ocorre a) A linguagem, em razão de sua dimensão material,
independentemente da efetivação de discursos e da inviabiliza a (re)produção simbólica da sociedade.
autonomia pública.
b) As construções simbólicas se valem do apreço ins-
b) O discurso moral se estende a todas as normas de trumental e do valor mercantil.
ações passíveis de serem justificadas sob o ponto de
c) A importância do simbólico na sociedade decorre de
vista da razão.
sua adequação aos parâmetros funcionais e técnicos.
c) A validade universal das normas pauta-se no con-
d) A dimensão simbólica da sociedade é inerente à
teúdo dos valores, costumes e tradições praticados no
forma como o homem assegura sentido à realidade.
interior das comunidades locais.
e) A forma de expressão dos elementos simbólicos na
d) A positivação da lei contida nos códigos, mesmo
arena social deve atender a uma utilidade prática.
sem o consentimento da participação popular, garan-
te a solução moral de conflitos de ação. 6. (UEL) Leia o texto a seguir:
e) Os parâmetros de justiça para a avaliação crítica
de normas pautam-se no princípio do direito divino. Habermas distingue entre racionalidade instrumental
e racionalidade comunicativa. A racionalidade comuni-
4. (UEL) Elaborada nos anos de 1980, em um contexto cativa ocorre quando os seres humanos recorrem à lin-
de preocupações com o meio ambiente e o risco nu- guagem com o intuito de alcançar o entendimento não
clear, a Ética do Discurso buscou reorientar as teorias coagido sobre algo, por exemplo, decidir sobre a maneira
deontológicas que a antecederam. Um exemplo está correta de agir (ação moral). A racionalidade instrumen-
contido no texto a seguir. tal, por sua vez, ocorre quando os seres humanos utilizam
as coisas do mundo, ou até mesmo outras pessoas, como
De maior gravidade são as consequências que um con- meio para se alcançar um fim (raciocínio meio e fim).
ceito restrito de moral comporta para as questões da
ética do meio ambiente. O modelo antropocêntrico pa- Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria
rece trazer uma espécie de cegueira às teorias do tipo da ação comunicativa de Habermas, é correto afirmar:
kantiano, no que diz respeito às questões da responsa- a) Contar uma mentira para outra pessoa buscando
bilidade moral do homem pelo seu meio ambiente. obter algo que desejamos e que sabemos que não re-
HABERMAS, Jürgen. Comentários à Ética do Discurso. Trad. de ceberíamos se disséssemos a verdade é um exemplo
Gilda Lopes Encarnação. Lisboa: Instituto Piaget, 1999, p.212 de racionalidade comunicativa.
b) Realizar um debate entre os alunos de turma da
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a Ética faculdade buscando decidir democraticamente a me-
do Discurso, é correto afirmar que a ética: lhor maneira de arrecadar fundos para o baile de for-
a) abrange as ações isoladas das pessoas visando ade- matura é um exemplo de racionalidade instrumental.
quar-se às mudanças climáticas e às catástrofes naturais. c) Um adolescente que diz para seu pai que vai dormir na
b) corresponde à maneira como o homem deseja cons- casa de um amigo, mas, na verdade, vai para uma festa
truir e realizar plenamente a sua existência no planeta. com amigos, é um exemplo de racionalidade comunicativa.

159
d) Alguém que decide economizar dinheiro durante a) O crescimento das forças produtivas e a eficiência
vários anos a fim de fazer uma viagem para os Esta- administrativa conduzem à organização das relações
dos Unidos da América é um exemplo de racionalida- sociais baseadas na comunicação livre de quaisquer
de instrumental. formas de dominação.
e) Um grupo de amigos que se reúne para decidir de- b) A liberação do potencial emancipatório do desenvolvi-
mocraticamente o que irão fazer com o dinheiro que mento da técnica e da ciência depende da prevenção das
ganharam em um bolão da Mega Sena é um exemplo disfuncionalidades sistêmicas que entravam a reprodução
de racionalidade instrumental. material da vida e suas respectivas formas interativas.
7. (UEL) Leia o texto a seguir: c) O desenvolvimento da ciência e da técnica, enquanto
forças produtivas, permite estabelecer uma nova forma
Na tradição liberal, a ênfase é posta no caráter impes- de legitimação que, por sua vez, nega as estruturas da
soal das leis e na proteção das liberdades individuais, ação instrumental, assimilando-as à ação comunicativa.
de tal modo que o processo democrático é compelido d) Com base na irredutibilidade entre trabalho e in-
pelos (e está a serviço dos) direitos pessoais que garan- teração, a luta pela emancipação diz respeito tanto
tem a cada indivíduo a liberdade de buscar sua própria ao agir comunicativo, contra as restrições impostas
realização. Na tradição republicana, a primazia é dada pela dominação, quanto ao agir instrumental, contra
ao processo democrático enquanto tal, entendido como as restrições materiais pela escassez econômica.
uma deliberação coletiva que conduz os cidadãos à pro- e) A racionalização na dimensão da interação social sub-
cura do entendimento sobre o bem comum. metida à racionalização na dimensão do trabalho na práxis
social determina o caráter emancipatório do desenvolvi-
ARAÚJO, L. B. L. Moral, direito e política. “Sobre a Teoria do
Discurso de” Habermas. In: OLIVEIRA, M.; AGUIAR, O. A.; mento das forças produtivas e do bem-estar da vida hu-
SAHD, L. F. N. de A. e S. (Orgs.). Filosofia Política Contemporânea. mana.
Petrópolis: Vozes, 2003. p. 214-235 (Adaptado)
9. (ENEM) O conceito de democracia, no pensamento de
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filoso- Habermas, é construído a partir de uma dimensão pro-
fia política na teoria do discurso, é correto afirmar que cedimental, calcada no discurso e na deliberação. A le-
Habermas: gitimidade democrática exige que o processo de toma-
a) privilegia a ideia de Estado de direito em detrimen- da de decisões políticas ocorra a partir de uma ampla
to de uma democracia participativa. discussão pública, para somente então decidir. Assim, o
b) concede maior relevância à autonomia pública, caráter deliberativo corresponde a um processo cole-
opondo-se à autonomia privada. tivo de ponderação e análise, permeado pelo discurso,
c) ignora tanto a autonomia privada quanto a públi- que antecede a decisão.
ca, substituindo-as pela utilidade das normas morais. VITALE, D. Jürgen Habermas, modernidade e democracia
d) enfatiza a compreensão individualista e instrumen- deliberativa. Cadernos do
CRH (UFBA), v. 19, 2006 (Adaptado)
tal do papel do cidadão na lógica privada do mercado.
e) concilia, na mesma base, direitos humanos e so- O conceito de democracia proposto por Jürgen Ha-
berania popular, reconhecendo-os como distintos, bermas pode favorecer processos de inclusão social.
porém complementares. De acordo com o texto, é uma condição para que isso
aconteça o(a):
8. (UEL) Leia o texto a seguir: a) participação direta periódica do cidadão.
b) debate livre e racional entre cidadãos e Estado.
Em Técnica e Ciência como “ideologia”, Habermas
apresenta uma reformulação do conceito weberiano de c) interlocução entre os poderes governamentais.
racionalização pela qual lança as bases conceptuais de d) eleição de lideranças políticas com mandatos tem-
sua teoria da sociedade. Neste sentido, postula a distin- porários.
ção irredutível entre trabalho ou agir instrumental e in- e) controle do poder político por cidadãos mais es-
teração ou agir comunicativo, bem como a pertinência clarecidos.
da conexão dialética entre essas categorias, das quais
deriva a diferenciação entre o quadro institucional de 10. (IFRS 2010) Habermas figura como um dos filósofos
uma sociedade e os subsistemas do agir racional com mais discutidos na atualidade através da Teoria da Ação
respeito a fins. Segundo Habermas, uma análise mais Comunicativa, que busca inspirar uma Nova Teoria Crí-
pormenorizada da primeira parte da Ideologia Alemã tica. Ele, enquanto herdeiro da Escola de Frankfurt, dia-
revela que “Marx não explicita efetivamente a conexão loga com as perspectivas dialética e fenomenológica,
entre interação e trabalho, mas sob o título nada espe- buscando fundamentar a Ética do Discurso na teoria do
cífico da práxis social reduz um ao outro, a saber, a ação agir comunicativo. Nessa direção, Habermas nos remete
comunicativa à instrumental”. para a necessidade de construir uma nova racionalida-
de, mais ampla e radicalmente crítica, que ele denomi-
HABERMAS, J. Técnica e ciência como “ideologia”.
Lisboa: Edições 70, 1994. p.41-42 (Adaptado) na de racionalidade ético-comunicativa.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensa- Nessa perspectiva de Construção da Razão Comunicati-
mento de Habermas, é correto afirmar: va, Habermas concebe que a exigência primeira é:

160
a) a mudança do paradigma transitando da filosofia Com base no texto e nos conhecimentos sobre Haber-
da consciência para o paradigma da linguagem. mas, apresente os princípios do cognitivismo e do for-
b) a realização da Époche, colocando toda percepção malismo que caracterizam a Ética do Discurso.
do mundo natural em suspenso.
c) o resgate da ética cristã, pautada na justiça e igual-
dade social.
d) praticar a rivalidade de posições para vencer o ar-
Gabarito
gumento mais forte. 1-B; 2-B; 3-B; 4-B; 5-D; 6-D; 7-E; 8-D; 9-B; 10-B; 11-A.
e) a disputa de teses contrárias para acirrar os conflitos. 12. A ética do discurso, como o próprio Habermas afirma,
11. (Enem) “Na regulação de matérias culturalmente delica- alia-se à razão prática kantiana. Em linhas gerais, a ética
das, como, por exemplo, a linguagem oficial, os currículos da do discurso implica as mesmas características da moral
educação pública, o status das Igrejas e das comunidades
kantiana, a saber, o cognitivismo, o formalismo e o univer-
religiosas, as normas do direito penal (por exemplo, quanto
ao aborto), mas também em assuntos menos chamativos, salismo. Destas características, a questão em tela cobra o
como, por exemplo, a posição da família e dos consórcios cognitivismo e o formalismo. O cognitivismo requer que as
semelhantes ao matrimônio, a aceitação de normas de se- questões de ordem prático-moral possam ser fundamen-
gurança ou a delimitação das esferas pública e privada — tadas racionalmente. Isso implica que as questões práticas
em tudo isso reflete-se amiúde apenas o autoentendimen-
podem ser justificadas, na medida em que o agente apre-
to ético-político de uma cultura majoritária, dominante por
motivos históricos. Por causa de tais regras, implicitamente sente as razões pelas quais sua ação foi realizada em uma
repressivas, mesmo dentro de uma comunidade republica- ou outra direção. Defende-se que há, no âmbito da ação,
na que garanta formalmente a igualdade de direitos para uma pretensão de validade normativa análoga à pretensão
todos, pode eclodir um conflito cultural movido pelas mino- de verdade requerida para os fatos objetivos.
rias desprezadas contra a cultura da maioria.”
O aspecto formal da ética do discurso indica que ela não
HABERMAS, J. A inclusão do outro: estudos de
teoria política. São Paulo: Loyola, 2002.
fornece conteúdos materiais nem normas concretas, mas
apenas um critério formal para a averiguação, via discurso,
A reivindicação dos direitos culturais das minorias, como
exposto por Habermas, encontra amparo nas democra- daquelas normas e regras que podem encontrar aceitabili-
cias contemporâneas, na medida em que se alcança: dade entre os possíveis concernidos, ou seja, aqueles que
a) A secessão, pela qual a minoria discriminada obteria suportarão o peso de normas acordadas. Nesse aspecto,
a igualdade de direitos na condição da sua concentra- valendo-se do discurso como condição de tematização da
ção espacial, num tipo de independência nacional. validade normativa, a ética do discurso se ampara em re-
b) A reunificação da sociedade que se encontra frag- gras discursivas estabelecidas universalmente para validar
mentada em grupos de diferentes comunidades étni- o consenso fático alcançado em relação a determinada
cas, confissões religiosas e formas de vida, em torno
norma. Assim, o consenso fático alcançado tem sua valida-
da coesão de uma cultura política nacional.
c) A coexistência das diferenças, considerando a pos- de estendida aos concernidos.
sibilidade de os discursos de autoentendimento se
submeterem ao debate público, cientes de que esta-
rão vinculados à coerção do melhor argumento.
d) A autonomia dos indivíduos que, ao chegarem à vida
adulta, tenham condições de se libertar das tradições de
suas origens em nome da harmonia da política nacional.
e) O desaparecimento de quaisquer limitações, tais como
linguagem política ou distintas convenções de comporta-
mento, para compor a arena política a ser compartilhada.
12. (UEL) Leia o texto a seguir:
Desde o início dos anos oitenta, a ética discursiva de
Jürgen Habermas teve como proposta reformular o
programa universalista da moral kantiana com base em
uma teoria da competência comunicativa. Ao substituir
a regra do imperativo categórico pelo princípio de uma
argumentação moral racional, a ética do discurso perse-
gue a redefinição dos traços dentontológico, cognitivis-
ta e formalista do ponto de vista moral.
LANGLOIS, L. Discurso Moral e Discurso Ético segundo
Habermas: uma distinção fundada? In. ARAÚJO, L. B. L.;
BARBOSA, R. J. C. (org.) Filosofia Prática e Modernidade.
Rio de Janeiro: EDUERJ, 2003. p.53 (Adaptado)

161
AULA Hannah Arendt
25
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

1. Hannah Arendt professor Martin Heidegger, que orientará seus estudos.


Os dois mantiveram um relacionamento, que foi dura-
(1906-1975) mente criticado devido ao apoio de Heidegger ao Partido
Nazista, e consequentemente, ao antissemitismo.
Sendo uma observadora do movimento nacionalista que
percorrerá a Europa, Arendt vivenciará as transformações
ocorridas na sociedade europeia, com o aumento da intole-
rância religiosa, o autoritarismo e a xenofobia. Esse período
histórico influenciará definitivamente a sua filosofia.

A filósofa alemã, de origem judia, é uma das raras vozes


femininas no cenário da filosofia política. Iniciou muito jo-
vem aos estudos, tendo contato com os filósofos clássicos,
como Kant, Rousseau e Marx. Sua educação foi pautada
pelas boas condições financeiras da sua família. Foi expulsa
de uma instituição de ensino por liderar um boicote a um multimídia: vídeo
professor que havia a insultado. Preparou-se sozinha para
Fonte: Youtube
entrar na universidade.
Hannah Arendt
O professor Franklin Leopoldo e Silva apre-
senta a problemática apresentada pela filó-
sofa Hannah Arendt

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Para refletir sobre Hannah Arendt
Um breve resumo do pensamento da filósofa
alemã Hannah Arendt

Adentra na Universidade de Berlim, em 1924. Transfe-


re-se para a Universidade de Marburg, onde conhece o

162
1.1. A Banalidade do Mal dos judeus na política mundial – e o que propagavam
como principal alvo – a perseguição dos judeus no mun-
Hannah Arendt trata da questão do horror na sociedade, do inteiro – foi considerado pela opinião pública mero
consolidada como uma mera repetição do homem. Essa per- pretexto, interessante truque demagógico para conquis-
tar as massas.
ca da consciência do indivíduo perante o seu semelhante,
propicia a esse ser uma prática do mal sem reflexão. Assim, a É bem compreensível que não se tenha levado a sério o
filósofa remete que o mal está enraizado em quem o pratica, que os próprios nazistas diziam. Provavelmente não existe
aspecto da história contemporânea mais irritante e mais
gerando uma não identificação como o próximo, e conse-
mistificador do que o fato de, entre tantas questões políti-
quentemente, uma mera ação sem juízo. cas vitais, ter cabido ao problema judaico, aparentemente
Esse conceito de banalidade do mal, está inserido na obra insignificante e sem importância, a duvidosa honra de pôr
em movimento toda uma máquina infernal."
"Eichmann em Jerusalém", a qual Arendt analisa o julga-
mento do oficial nazista Adolf Eichmann, militar responsável ARENDT, Hannah.
Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.25
por organizar a logística do transporte de judeus para os
campos de concentração. Sua defesa, o oficial afirmou que
fez só por cumprir ordens e fazer o seu trabalho, e não por
odiar os judeus. Nesse caso, Arendt analisa que a falta de
uma reflexão nas suas próprias ações, faz o homem agir sem
consciência e tende a criar e reproduzir o mal, ou seja, o
próprio horror, como uma mera engrenagem mecânica. Ba-
nalizando o mal nas ações cotidianas.
Diante disso, o mal banal fica caracterizado como a ausên-
cia do pensamento, desencadeando a privação de respon-
sabilidade. Com isso, é possível a compreensão da violên-
cia nas sociedades contemporâneas, que atinge grupos e
indivíduos nessa sociedade. Um processo de violência que
aumenta significativamente nos últimos tempos.

multimídia: livro
Entre o passado e o futuro
Hannah Arendt. São Paulo: Perspectiva, 2011
Nesse livro, a filósofa ilumina a reflexão polí-
tica do século XX, com inquietações sobre a
memória e as ações humanas no cotidiano.

"Muitos ainda julgam que a ideologia nazista girou em


torno do antissemitismo por acaso, e que desse acaso
nasceu a política que inflexivelmente visou perseguir e,
finalmente, exterminar os judeus. O horror do mundo
diante do resultado derradeiro, e, mais ainda, diante do
seu efeito, constituído pelos sobreviventes sem lar e sem
raízes, deu à ‘questão judaica’ a proeminência que ela
passou a ocupar na vida política diária. O que os nazistas
apresentaram como sua principal descoberta – o papel

163
DIAGRAMA DE IDEIAS

HANNA ARENDT

BANALIDADE DO MAL REGIMES


TOTALITÁRIOS

PERDA DA POR BANALIZAR


CONSCIÊNCIA OS ATOS SOCIAIS

OS ATOS REPETIDOS CONJUNTO COM


SEM PENSAR NOS FORMAS DE
OUTROS VIOLÊNCIA

GOVERNOS
CONTROLAM AS
AÇÕES HUMANAS
NO ÂMBITO
POLÍTICO

Aplicando para 2. (SEDUC-RJ) Hannah Arendt, em “A Condição Huma-


na”, aponta que os modos pelos quais os seres huma-

Aprender (A.P.A.) nos se manifestam uns aos outros, não como meros ob-
jetos físicos, mas enquanto homens, são:
1. (SEDUC RJ) Durante o século XX, a filósofa Hannah a) arte e linguagem
Arendt afirmou que existe uma antiga resposta para a b) ação e discurso
pergunta sobre o sentido da política tão simples e con- c) liberdade e expressão
cludente, que poderia dispensar outras respostas por d) trabalho e discurso
completo. De acordo com o que explana Hannah Arendt e) ação e liberdade
em O que é política?, esse sentido da política é:
3. (SEDF)
a) o poder
b) a administração A pluralidade humana, condição básica da ação e do
c) a liberdade discurso, tem o duplo aspecto da igualdade e da dife-
d) a igualdade rença. Se não fossem iguais, os homens seriam incapa-
e) o bem zes de compreender-se entre si e aos seus ancestrais, ou

164
de fazer planos para o futuro e prever as necessidades c) É o que não aparece, é o reino do obscuro, do irre-
das gerações vindouras. Se não fossem diferentes, se levante, da mais aguda limitação.
cada humano não diferisse de todos os que existiram, d) É o que permanece em função de poucos, totalitário.
existem ou virão a existir, os homens não precisariam
do discurso ou da ação para se fazerem entender. 6. Hannah Arendt foi o pensamento de enfrentamento
aos regimes totalitarista no século XX. De maneira que
Hannah Arendt. A condição humana. Rio de Janeiro: esses regimes desencadeiam um (a):
Forense Universitária, 2003, p. 188 (Adaptado)
a) falta de humanidade entre os seres, feita pelo con-
Considerando o que diz Hannah Arendt nesse texto, as- tato constante em sociedade.
sim como a filosofia política contemporânea, as afirma- b) direcionamento ao crescimento da consciência co-
ções estão corretas, exceto a: letiva, para ordenação social.
a) Nas sociedades democráticas, o papel do Estado c) participação coletiva nas escolhas dos governantes,
é extinguir os conflitos para construir uma sociedade na preservação da sociedade.
igualitária. d) perigo devido ao isolamento dos seres humanos,
b) No mundo contemporâneo, o trabalho, se não aten- numa sociedade massificada.
de aos esquemas de exploração, rompe com os deter- e) mal para a sociedade, devido as atitudes e ações
minismos que podem ser visualizados nas leis naturais. democráticas na sociedade.
c) O neoliberalismo, em sua estrutura, guia-se pelas
regras do livre mercado, pelo estado minimalista e 7. (INÉDITA) “Nada caracteriza melhor os movimentos
pela abolição de reservas de mercado. totalitários em geral — e principalmente a fama de que
desfrutam os seus líderes — do que a surpreendente
d) Em uma perspectiva ideológica, o liberalismo en-
facilidade com que são substituídos. Stálin conseguiu
tende a democracia como regime político que se uti-
legitimar-se como herdeiro político de Lênin à custa de
liza da lei e da ordem para garantir os interesses e as
amargas lutas intrapartidárias e de vastas concessões
liberdades individuais.
à memória do antecessor. Já os sucessores de Stálin
4. (POLITEC MT) De acordo com a filósofa Hannah Aren- procuraram substituí-lo sem tais condescendências,
dt, o totalitarismo é uma forma de governo essencial- embora ele houvesse permanecido no poder por trin-
mente diferente de outras formas de opressão política ta anos e dispusesse de uma máquina de propaganda,
conhecidas, como o despotismo, a tirania e a ditadura. desconhecida ao tempo de Lênin, para imortalizar o seu
Considerando as características e as expressões históri- nome. O mesmo se aplica a Hitler, que durante toda a
cas do totalitarismo no século XX, assinale a afirmativa vida exerceu um fascínio que supostamente cativava a
incorreta: todos, e que, depois de derrotado e morto, está hoje tão
completamente.”
a) O totalitarismo procura reforçar a distinção entre
esfera pública e esfera privada. ARENDT, H. Origens do Totalitarismo (Adaptado)
b) Nazismo e stalinismo são dois exemplos históricos Nesse trecho podemos perceber o pensamento de Han-
de regimes totalitários. nah Arendt que remete a uma:
c) A propaganda é um meio importante para a difu-
a) explicação dos regimes que se fundamentam em
são da ideologia oficial nos governos totalitários. uma ideologia, no terror e na mobilização das massas.
d) terror é um princípio fundamental da ação política b) crítica aos regimes opressores existentes nas socie-
totalitária. dades europeias.
5. (COPASA) Um tema contemporâneo que faz parte das c) reflexão sobre a banalidade dos horrores que o ho-
nossas reflexões é a cidade como espaço cívico. Segundo mem faz perante o próprio homem.
Otília Arantes (1993), a principal inspiração de revaloriza- d) análise perante os horrores da Segunda Guerra
ção da vida pública vem de Hannah Arendt que foi bus- Mundial, se limitando a tratar das sensações humanas.
car na polis grega o modelo a partir do qual é possível e) orientação para as futuras gerações das consequ-
julgar as transformações modernas da esfera pública. A ências desses regimes para a sociedade europeia.
transição do antigo para o moderno desfez essa distri- 8. (UEL)
buição harmoniosa das funções sociais, alargando inde-
finidamente o território privado conforme se implantava "O que era sem precedentes não era a perda do lar, mas
a propriedade burguesa. Essa prática não só debilitou a impossibilidade de encontrar um novo lar. De súbito re-
como propiciou o declínio do caráter público da liberda- velou-se não existir lugar algum na terra aonde os emi-
de. grantes pudessem se dirigir sem as mais severas restrições,
nenhum país ao qual pudessem ser assimilados, nenhum
Assinale a alternativa que apresenta a definição correta território em que pudessem fundar uma nova comunidade
que Hannah Arendt dá para o "privado": própria [...] A calamidade dos que não têm direitos não
decorre do fato de terem sido privados da vida, da liberda-
a) É o cerceamento da coletividade, absoluto e restrito. de ou da procura da felicidade, nem da igualdade perante
b) É o direito de usar, gozar e dispor de uma coisa, a lei ou da liberdade de opinião – fórmulas que se destina-
a princípio de modo absoluto, exclusivo e perpétuo. vam a resolver problemas dentro de certas comunidades

165
– mas do fato de já não pertencerem a qualquer comu- a) Ser político - trabalho; homo faber - fabricação;
nidade [...] A privação fundamental dos direitos humanos animal laborans - ação.
manifesta-se, primeiro e acima de tudo, na privação de b) Ser político - ação; homo faber - trabalho; animal
um lugar no mundo que torne a opinião significativa e a laborans - fabricação.
ação eficaz. Algo mais fundamental do que a liberdade c) Ser racional - ação; homo economicus - trabalho;
e a justiça, que são os direitos do cidadão, está em jogo homo ludens - diversão.
quando deixa de ser natural que um homem pertença à
d) Ser político - ação; homo faber - fabricação ; ani-
comunidade em que nasceu."
mal laborans - trabalho.
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo: anti- e) Ser racional - contemplação; homo economicus -
semitismo, imperialismo, totalitarismo. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989. p. 227, 229, 230 ação; homo laborans - trabalho.

Com base no texto, é correto afirmar: 11. (UFMG)


a) Obter o reconhecimento por uma comunidade é Leia este trecho: Eu quero dizer que o mal [...] não tem
condição básica para o gozo de direitos. profundidade, e que por esta mesma razão é tão terri-
b) A condição em que se encontra o apátrida é igual velmente difícil pensarmos sobre ele [...] O mal é um
à condição de escravo. fenômeno superficial [...] Nós resistimos ao mal em não
c) Ser privado da vida é menos importante que ser nos deixando ser levados pela superfície das coisas, em
privado da liberdade. parando e começando a pensar, ou seja, em alcançando
d) Ao apátrida é garantida ressonância às suas opini- uma outra dimensão que não o horizonte de cada dia.
ões mais significativas. Em outras palavras, quanto mais superficial alguém for,
e) Ser um apátrida é ser reconhecido como um indiví- mais provável será que ele ceda ao mal.
duo com direitos fora de seu país de origem.
ARENDT, H. Carta a Grafton, apud ASSY, B. Eichmann,
9. (ADAPTADO) Banalidade do Mal e Pensamento em Hannah Arendt. in: Jardim,
e.; Bignotto, N. (org.). Hannah Arendt, diálogos, reflexões,
memórias. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001. p. 145.

A partir da leitura desse trecho, REDIJA um texto, argu-


mentando a favor de ou contra esta afirmativa:

Para se prevenir o mal, é preciso reflexão.

Gabarito
1-C; 2-B; 3-A; 4-A; 5-C; 6-D; 7-A; 8-A; 9-D; 10-D
11. (UFMG) A resposta pode ser tanto positiva como nega-
tiva. De modo que se o argumento for a favor: O mal é uma
ação impulsiva própria de animais irracionais que agem e re-
agem sem a mediação da inteligência. O que torna o homem
Conforme a definição de banalidade do mal, segundo um ser humano é a sua capacidade de pensar antes de agir,
Hannah Arendt, o comportamento apontado na ima- portanto, diante de uma situação adversa é necessário refletir
gem acima é causado principalmente pela: e, a partir desta reflexão, agir ponderadamente calculando as
a) não compreensão da dignidade do outro envolvido consequências e medindo todos os passos para não se correr
na situação representada. o risco de cometer alguma maldade. Como disse Eurípedes,
b) incapacidade de se colocar no lugar do outro para
"A razão pode lutar corpo a corpo com os terrores, e derru-
entender suas razões.
c) descrença no Estado como apaziguador de proble- bá-los." E Caso o argumento for contra: O mal não é uma
mas de convivência. intenção ou reflexão racional, ele é uma ação efetiva que se
d) falta de reflexão crítica na tomada de decisão de dá entre os homens no trato de suas relações. Contra ele, é
punir o criminoso necessário agir com virtude moral praticando efetivamente a
e) ausência do senso de coletividade na solução do justiça, tomando atitudes corajosas, decidindo com prudência
problema da violência. no sentido de restabelecer ou estabelecer uma ordem que
10. Hannah Arendt reflete a respeito de três ativida- permita a convivência pacífica entre os homens. Todo avanço
des humanas que são vinculadas a três formas de vida científico e tecnológico, frutos do pensamento e da razão, já
humana. Tal relação esquemática é central na filosofia se mostraram produtores de guerras e ferramentas destruido-
daquela pensadora e em sua crítica da sociedade con-
temporânea. Assinale a alternativa que relaciona, corre- ras nas mãos de interesses escusos. Por isso, pensar, refletir,
tamente, aqueles modos de vida e atividades humanas. contemplar boas ideias não extirparão o mal.

166
AULA A filosofia e o poder
26
1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
Competências: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 10, 11, 12, 13, 15, 16,
20, 22, 23, 24 e 25

O campo filosófico teve ampla abertura para discutir di- desenvolvimento da convivência pacífica. Tendo como
versos temas. Tendo como referência as transformações da base consolidada os direitos humanos e a paz, de modo
sociedade e o dinamismo, os estudos filosóficos também que são assegurados juridicamente todos os direitos
precisaram se adequar a pós-modernidade. Não perdendo desse homem. Quando isso não ocorre não existe demo-
o seu caráter questionador, mas apontando novos pontos cracia, e consequentemente não há espaços para que se
de análises e novas problemáticas. Com isso surgem novos possa resolver os conflitos sociais de uma forma pacífica.
atores nesse campo, como o italiano Norberto Bobbio e o
francês Gérard Lebrun.

1. Norberto Bobbio
(1909-2004)
O filósofo italiano Norberto Bobbio conseguiu unir a sua
teoria com a sua ação cotidiana. Tendo uma postura críti-
ca, Bobbio terá atrelado aos seus atos a política, tal qual
Aristóteles menciona na Grécia Antiga, numa associação
do “zoón politikón”. Vivenciou o autoritarismo, a ditadura
comunista e a bipolaridade partidária na Europa. multimídia: vídeo
Fonte: Youtube

Norberto Bobbio
Entrevista com o ex-ministro das Relações Ex-
teriores e atual presidente da Fundação de Am-
paro à Pesquisa do Estado de São Paulo, Celso
Lafer, sobre o livro que ele escreveu sobre a
vida e a obra do filósofo italiano Norberto.

1.1. A Política
Segundo Bobbio a política, entendida como prática huma-
na, conduz a poder. Esse poder estaria interligado às ideias
de posse dos meios para que um homem tenha vantagem
perante o outro. Entretanto, é preciso pensar em sua le-
gitimação, seja no âmbito familiar (como por exemplo o
O pensador surge, ainda jovem, se posicionando contrário poder do pai ou da mãe), na esfera governamental (como
ao fascismo, fato este que levaria a prisão por cerca de 20 por exemplo, no autoritarismo de um rei ou um déspota)
meses. Tendo um posicionamento antiliberal na política e an- ou pelo poder passado pela própria população, que elege
ti-socialista na economia, Bobbio analisa a política tentando um governante temporário. Isso nos condiciona que exis-
romper de todo e qualquer autoritarismo e falta de demo- tem várias formas de poder: o poder econômico, o poder
cracia para se pensar o homem e o ambiente onde este vive. simbólico, o poder ideológico e o poder político.
O conceito de democracia para o filósofo consiste em Esse último poder, o político, detém a exclusividade da
um sistema de regras que permitem a instauração e o força, para organizar a sociedade.

167
2. Gerard Lebrun
(1930-1999)
O filósofo francês Gérard Lebrun desenvolve o seu pensa-
mento em volta do poder. Em sua maior obra, intitulada
“O que é o poder”, o autor analisa esse conceito, mas não
de uma forma à exaustão, mas para dialogar com alguns
pensadores clássicos, como Thomas Hobbes, Jean Bodin,
Nicolau Maquiavel e Michel Foucault.

A política não tem uma única finalidade ou um único aspec-


to, podem variar conforme as metas de cada grupo social.
Entretanto, aqui não é um relativismo simplório, mas uma
observação que pode ter inúmeros variações conforme o
tempo histórico. Porém, um fim mínimo à essa política é o
uso da força para assegurar a integridade nacional; mas não
pode ter como finalidade o poder pelo poder.
Segundo o Lebrun, existem e subsistem diversas formas de
Para Bobbio existe uma relação entre política e moral, pois
poder, que notamos durante o nosso cotidiano. Tendo com
ambas estão ligadas a práxis, ou seja, a ação humana. E
isso diferentes proporcionais conforme a nossa análise; po-
devido a isso, provocam crises no âmbito particular e no
rém, essas relações coexistem simultaneamente.
âmbito coletivo, pois nem sempre essas o que é certo para
um lado é exatamente correto para o outro. Posso compre-
ender isso, como ações morais que são apolíticas e ações
políticas que podem ser imorais.
Para o filósofo a política seria a razão do Estado, enquanto
a moral seria a razão do indivíduo. De modo que é preciso
pensar numa autonomia da ação política que não deve ser
direcionada pela razão individual, com o intuito de realmen-
te refletir o coletivo, isto é, pensar no conceito de Estado.
multimídia: livro
O que é poder
LEBRUN, Gérard. São Paulo: Brasiliense (Cole-
ção Primeiros Passos), 2004.
"Em suma, a força é a canalização da potência,
é a sua determinação. E é graças a ela que se
pode definir a potência na ordem das relações
sociais ou, mais especificamente, políticas".

Para o filósofo, existem cinco relações de poder, numa in-


ter-relação do sujeito com o grupo. Essas relações são:
Apresentação do monstro: o conceito do termo "políti-
ca" carrega consigo a força, canalizando a potência de uma
ação. Com o passar do tempo, os homens se acostumaram
a obedecer a um líder, ao tal ponto que "ser cidadão = ser

168
obediente", num adestramento foucaultiano, que condicio- O Último Chefe: o individualismo contemporâneo pode le-
na os cidadãos a seguirem normas e condutas de obediên- var a passar o poder para os representantes legais, que não
cia. Essa construção lógica consolidada por Aristóteles na Po- se importaram com esses cidadãos. A problemática aponta-
lítica, a qual os limites do cidadão se dão dentro da cidade, da pelo autor, é que o poder atual está revestido por forças
ordenado pelo seu governante; que depois seria ratificada econômicas, sociais e políticas que direcionam os cidadãos
por Hobbes, no Leviatã. de um grupo a seguirem ideologias que apontam diversos
“nortes” para esse ser, mas afastam esse indivíduo de qual-
Um exemplo desse poder, nota-se quando o cidadão acos-
quer participação efetivamente política.
tumado com algumas regras, acredita que o governante,
como detentor oficial do poder executivo, vai realizar to- Um exemplo dessa relação de poder denota no indivíduo
dos os comandos programados. Nesse momento, o sujeito uma anulação plena nesse ser, a tal ponto que o sujeito
possui uma ingenuidade de acreditar que, ele não é figura não vê nenhuma possibilidade de interferirem sua realida-
relevante, na participação política. de. Isso ocorre, porque o sujeito acredita que o seu papel
não existe, devido às forças governamentais que tiraram
O Leviatã contra a cidade grega: A formação pensada
qualquer tipo de relevância individual na sociedade.
por Hobbes direciona que poder do Soberano é superior
aos poderes existentes dos seus súditos. O poder grego es-
tava associado ao cidadão, que queria viver bem numa so-
ciedade, pois vivia a cidade; entretanto, o homem moderno
não participa da cidade, só vive nela.
O direito remete a utilidade das coisas que quero. Desse
modo, a soberania é o único pilar de sustentação do corpo
político, visto que os homens se inclinam a seguir ordens,
a seguir a razão, mesmo que seja a razão do mais forte.
Um exemplo dessa relação pode ser notada na submissão
completa do cidadão diante das ações do governante atual.
O Leviatã e o Estado Burguês: as mudanças que a multimídia: vídeo
modernidade fez com os cidadãos transfigurou o Estado Fonte: Youtube
burguês, que modificou as relações sociais e políticas, as-
sociando-as com as relações econômicas. O que é Poder – Parte 1
Apresentação da obra de Gérard Lebrun e
Separando esse cidadão de uma participação efetiva do Es-
suas discussões sobre o poder.
tado, que é guiado por instituições. Diante disso, o indivíduo
se insere no “estado civil” e se prende às amarras impostas
pelas autoridades. Sendo que essa prisão é revestida de uma
liberdade “natural” para que esse ser permaneça anestesia-
do e repetindo as ações condicionadas.
O exemplo típico desse poder, o sujeito acomodado em
associar todas as relações sociais sendo relações econômi-
cas, se vê afastado de qualquer interferência política, acaba
condicionado a repetir as suas ações cotidianas. E quando
faz algo, é meramente uma troca de favores.
A Comédia Liberal: o liberalismo fomentou as liberdades
civis, inserida numa esfera econômica. A crítica apontada
pelo autor é a ilusão construída pelo liberalismo, que ilude o
cidadão de um Estado que ele não participa, só é usado por
este, sendo manipulado.
Um exemplo dessa relação de poder, observamos quando
o indivíduo veste a camisa de um partido ou de um movi-
mento e sai para uma manifestação; porém, esse mesmo
sujeito não sabe as reais reivindicações da manifestação.

169
DIAGRAMA DE IDEIAS

BOBBIO LEBRUN

A POLÍTICA ESTÁ
ATRELADA AOS O QUE É O PODER?
NOSSOS ATOS

TEM VÁRIAS
TEM VÁRIOS
FINALIDADES NA
TIPOS DE PODERES
POLÍTICA

O INDIVÍDUO
CONFORME AS METAS PARECE TER UMA
DE CADA GRUPO PARTICIPAÇÃO
NA POLÍTICA

A HUMANIDADE SENDO DOMINADO


PRECISA PENSAR E OU IMPEDIDO DE TER
AGIR PARA O UMA PARTICIPAÇÃO
COLETIVO NA POLÍTICA

Aplicando para a) Sob a perspectiva do filósofo político Norberto


Bobbio, entre contradições e graves questões de

Aprender (A.P.A.) nosso tempo, a grande atenção dada ao reconhe-


cimento dos direitos humanos representa algo
construtivo na busca da edificação de sociedades
1. (PUCCAMP) Segundo o filósofo político Norberto humanas e democráticas.
Bobbio (1992), no meio das contradições e das graves
b) É do nosso tempo a questão do reconhecimen-
questões que atravessam o nosso tempo, a preocupa-
to dos direitos humanos, sinal que a construção
ção pelo reconhecimento dos direitos humanos consti-
de sociedades humanas e democráticas, das quais
tui um sinal positivo na busca da construção de socie-
tratam o filósofo Norberto Bobbio, está sendo bus-
dades humanas e democráticas.
cada positivamente ainda que com contradições e
Vera Maria Ferrão Candau. Direito à educação, diversidade graves problemas.
e educação em direitos humanos. In: Educação & Sociedade:
c) Em tempo de contradições e graves questões, a
Revista de Ciências da Educação/CEDES − v. 33, n. 120,
jul.− set. 2012 − São Paulo: Cortez; Campinas: CEDES
preocupação pela preservação dos direitos humanos
é uma que o filósofo político Norberto Bobbio apon-
A redação que, mantendo a correção e a clareza origi- ta para sinalizar a positiva construção de sociedades
nais, respeita o conteúdo da frase acima é: humanas e democráticas.

170
d) Contradições e graves questões atuais, como definidas 3. (UNESPAR) Ainda de acordo com a discussão entre
pelo filósofo político Norberto Bobbio, são obstáculos na Direita e Esquerda, a partir da discussão apresentada
construção de sociedades humanas e democráticas, que por Norberto Bobbio, no texto que se intitula de Direita
tem de positivo o reconhecimento dos direitos humanos. e Esquerda: razões e significados de uma distinção polí-
e) O pensamento dominante na maior parte da socie- tica, assinale a alternativa correta. Para tanto, considere
dade atual acerca do reconhecimento dos direitos hu- a seguinte assertiva de Norberto Bobbio:
manos, mesmo com contradições e graves questões,
“Sempre me considerei um homem de esquerda, e portanto
é sinal da positividade da busca da construção de so-
sempre atribuí ao termo esquerda uma conotação positiva,
ciedades humanas e democráticas, pelo pensamento
mesmo agora em que a esquerda é cada vez mais hostili-
do filósofo político Norberto Bobbio.
zada, e ao termo direita, uma conotação negativa, mesmo
2. (UNESPAR) O debate em torno da esquerda e da di- hoje em que a direita está sendo amplamente revalorizada.”
reita, no século XX, tem sido no sentido de caracterizar BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda: razões e significados de
dois blocos políticos, ou ainda, diferenciar ideologias uma distinção política. São Paulo: Editora Unesp, 1995, p.140

partidárias, bem como posições políticas, sobretudo, no a) Direita é, segundo Norberto Bobbio, algo negativo,
que corresponde à dicotomia entre correntes reacioná- pois, do ponto de vista político, dentre muitas coisas,
rias e revolucionárias. Entretanto, existe um certo redu- busca, por meio do ideário marxista, revolucionar as es-
cionismo político quando se pensa política sobre essa truturas sociais e políticas da sociedade contemporânea.
divisão de direita e de esquerda. Com isso, pode se di- b) Esquerda é, segundo Norberto Bobbio, algo po-
zer que, historicamente, tem-se a divisão ideológica de sitivo, pois, do ponto de vista político, busca a con-
dois blocos políticos: o de direita e o de esquerda. Por servação da ordem e da estrutura social, a partir das
direita, pode-se entender grupos políticos que susten- tradições e dos bons costumes.
tam discursos conservadores, mas isso é, sobretudo no c) Direita e Esquerda são, segundo Norberto Bobbio,
século XX, um reducionismo político. Norberto Bobbio, construções ideológicas que, na sociedade contem-
no texto que se intitula de Direita e Esquerda: razões porânea, sobretudo depois da queda do Muro de
e significados de uma distinção política, faz a seguinte Berlim, não retratam a realidade política mas, espe-
observação: cificamente, posições ideológicas que se caracterizam
como conservadoras e revolucionárias.
"O homem de direita é aquele que se preocupa, aci- d) Norberto Bobbio se define como um pensador da
ma de tudo, em salvaguardar a tradição, o homem de direita e, por isso, atribui à direita uma conotação
esquerda, ao contrário, é aquele que pretende, acima positiva, mesmo sabendo que, na sociedade contem-
de qualquer outra coisa, libertar seus semelhantes porânea, sobretudo no momento atual, há profundas
das cadeias a eles impostas pelos privilégios de raça, hostilizações para com a noção de direita.
casta, classe etc". e) Não se pode falar de uma distinção entre direita e
BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda: razões e significados de esquerda, segundo Norberto Bobbio, pois tais concei-
uma distinção política. São Paulo: Editora Unesp, 1995, p.97 tos são frutos da Revolução Francesa e serviram, exclu-
sivamente,para responder àquele momento histórico.
I. Direita, segundo Norberto Bobbio, corresponde a uma
visão humanista que, dentre outras coisas, tem uma pro- 4. (UFPR) Segundo Norberto Bobbio (Estado, Governo e
funda influência do pensamento marxista, a saber, visão sociedade), o problema da relação entre direito e poder
define os limites do exercício de poder pelo Estado. Isto
humanista e revolucionária. é, define que “leis” coagem o soberano na imposição
II. Esquerda representa, segundo Norberto Bobbio, uma de suas decisões sobre o povo. Para Bobbio, historica-
mente, alguns “limites internos” ao exercício do poder
visão conservadora, ou seja, tem por base a defesa das tra-
estatal foram constituídos.
dições e dos bons costumes.
Neste sentido, considere as seguintes afirmativas:
III. Direita e Esquerda representam, no pensamento de
Norberto Bobbio, disputas ideológicas que ultrapassam os I. A relação dos Estados soberanos entre si (guerra, impe-
limites do reducionismo político e, acima de tudo, assegu- rialismo, etc.).
ram uma maneira de se pensar a ciência política,a partir II. A imposição de leis naturais.
de uma realidade, que, desde os gregos aos dias atuais, é
orquestrada de forma plena em todo o ocidente. III. A divisão de poderes.
IV. A constitucionalização de leis fundamentais.
De acordo com os enunciados apresentados acima, as-
sinale a alternativa correta: Assinale a alternativa correta:
a) Apenas a alternativa I está correta. a) Somente a afirmativa III é verdadeira.
b) Apenas a alternativa II está correta. b) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.
c) Apenas a alternativa III está correta. c) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.
d) Todas as alternativas, I, II e III, estão corretas. d) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
e) Nenhuma das alternativas está correta. e) Todas as afirmativas são verdadeiras.

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5. (UFPR) Segundo Norberto Bobbio (Estado, governo 7. (ENEM) Um dos teóricos da democracia moderna,
e sociedade), o “problema em determinar a origem e Hans Kelsen, considera elemento essencial da democra-
o aparecimento do Estado...” implica nas seguintes cia real (não da democracia ideal, que não existe em
condições: lugar algum) o método da seleção dos líderes, ou seja,
a eleição. Exemplar, neste sentido, é a afirmação de um
I. A longevidade histórica do Estado é solucionável em ter- juiz da Corte Suprema dos Estados Unidos, por ocasião
mos empíricos e sociológicos. de uma eleição de 1902: "A cabine eleitoral é o templo
das instituições americanas, onde cada um de nós é um
II. A longevidade histórica do Estado não é solucionável sacerdote, ao qual é confiada a guarda da arca da alian-
em termos empíricos e sociológicos. ça e cada um oficia do seu próprio altar".

III. A longevidade do Estado é determinada pela própria BOBBIO, N. Teoria geral da política. Rio de
Janeiro: EIsevier, 2000 (adaptado)
definição conceitual do que se entende por Estado.
As metáforas utilizadas no texto referem-se a uma con-
IV. Quanto mais restrita a definição de Estado menor a
cepção de democracia fundamentada no(a)
longevidade do Estado e vice-versa.
a) justificação teísta do direito.
Assinale a alternativa correta: b) rigidez da hierarquia de classe.
a) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras. c) ênfase formalista na administração.
b) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras. d) protagonismo do Executivo no poder.
c) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras. e) centralidade do indivíduo na sociedade.
d) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
8. (UEMA) Do exposto pelo filósofo Gérard Lebrun, po-
e) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras. de-se afirmar que, do ponto de vista político, o conceito
de poder e de força significa
6. (UEL) De acordo com Norberto Bobbio, “ao lado do
problema do fundamento do poder, a doutrina clássi- a) obter consenso das pessoas em torno de uma ideia.
ca do Estado sempre se ocupou também do proble- b) insuflar os indivíduos na realização de suas ações.
ma dos limites do poder, problema que geralmente é c) delimitar o comportamento de um grupo social.
apresentado como problema das relações entre direi- d) exigir o comando das relações sindicais.
to e poder (ou direito e Estado)”. e) conseguir subsídios junto aos partidos políticos.
BOBBIO, N. Estado, Governo e Sociedade: para uma teoria 9. (UFPR-2019) Escreve Gerard Lebrun: “Com efeito, o
geral da política. Tradução de Marco Aurélio Nogueira.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000, p. 93-94 que é política? A atividade social que se propõe a ga-
rantir pela força, fundada geralmente no direito, a se-
Os limites do poder no Estado democrático de direito gurança externa e a concórdia interna de uma unidade
moderno são estabelecidos: política particular (conforme descreve Julien Freund em
Qu’estce que la Politique). Não é dogmaticamente que
I. Pela autonomia constitucional entre os poderes judiciá- eu proponho esta definição (outras são possíveis), mas
rio, legislativo e executivo. simplesmente para ressaltar que, sem o uso da noção de
força, a definição seria visivelmente defeituosa. Se, numa
II. Por normas legais, definidas por processos legítimos, democracia, um partido tem peso político, é porque tem
que regulam e estabelecem direitos e deveres tanto para força para mobilizar um certo número de eleitores. Se um
sindicato tem um peso político é porque tem força para
governantes quanto para os indivíduos na sociedade.
deflagrar uma greve. Assim, força não significa necessa-
III. Por normas legais que subordinam os poderes judiciário riamente a posse de meios violentos de coerção, mas de
meios que permitam influir no comportamento de outra
e legislativo ao poder executivo e asseguram a prevalência
pessoa. A força não é sempre (ou melhor, é raríssimamen-
dos interesses do partido majoritário. te) um revólver apontado para alguém”.
IV. Por normas legais que assegurem que todos os ci- (LEBRUN, Gerard. O que é poder. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 04.)
dadãos tenham garantias individuais mínimas, como o
Qual é a relação entre força e política expressa pelo au-
direito à defesa, direito a ir e vir e direito a manifestar
tor nesse excerto?
suas opiniões.
a) Não há relação direta entre força e política, pois nenhu-
A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é: ma se apresenta como componente essencial que permita
explicar as diferentes formas de exercício do poder.
a) I e III
b) A política e a força anulam-se enquanto categorias
b) II e IV
que pretendem explicar as diferentes noções de poder
c) I, II e III hoje existentes. O poder, por sua vez, é formado ex-
d) I, II e IV clusivamente pela força, seja militar ou civil, pois ele
e) I, III e IV é manifestação simbólica das estruturas de repressão.

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c) Significa afirmar que as estruturas de poder instru-
mentalizam a força e a política como forma de man- Gabarito
ter um determinado modelo de governança. A relação
entre elas se dá nessa condição: força e política só
1-A; 2-E; 3-C; 4-C; 5-B; 6-D; 7-E; 8-A; 9-D; 10-C
existem, de fato, quando as estruturas de poder, ou 11.
seja, o governo, considera tais estruturas necessárias
para a manutenção de uma determinada ordem insti- a) Sob tal aspecto, podemos ver que o totalitarismo im-
tucional repressiva. planta a anulação das liberdades democráticas para que,
d) Força e política não são conceitos excludentes ou dessa forma, nenhum tipo de oposição tenha voz na esfe-
contrários. Para que a política seja exercida, é neces- ra pública. O cidadão passa a ser controlado não apenas
sária uma capacidade de mobilização, consentimento
pelo aspecto universal e genérico das leis, mas também é
e construção de hegemonia por quem deseja agir po-
liticamente. Assim, a força implica o poder de que se controlado em suas liberdades individuais através do poli-
dispõe na construção de maiorias políticas. ciamento e a delação daqueles que incorporam os ditamos
e) A relação entre política e força se expressa na des- do Estado Totalitário.
tituição do poder e na construção das resistências nos
b) O lugar dos meios de comunicação no regime totalitá-
movimentos sociais e nos sindicatos. A política e a
força física são instrumentos usualmente presentes rio pode ser visto sobre duas perspectivas. Por um lado,
na militância partidária como forma de questionar o o totalitarismo implementa uma forte censura interessa-
exercício do poder. da em evitar qualquer tipo de manifestação crítica que se
oponha ao regime. Por outro, utiliza desses mesmos meios
10. Nunca acreditei que um estudante pudesse orien-
tar-se para a filosofia porque tivesse sede da verdade: a de comunicação para promover uma imagem positiva do
fórmula é vazia. É de outra coisa que o jovem tem neces- governo e alicerçar o apoio das maiorias através de textos,
sidade: falar uma língua de segurança, instalar-se num imagens e sons de grande impacto.
vocabulário que se ajuste ao máximo às "dificuldades"
(no sentido cartesiano), munir-se de um repertório de to-
poi, em suma, possuir uma retórica que lhe permitirá a
todo instante denunciar a "ingenuidade" do "cientista"
ou a "ideologia" de quem não pensa como ele.
G. Lebrun

Ao pensar o ensino de filosofia a partir dessa perspecti-


va, Favaretto destaca que
a) todo aluno está apto a filosofar, já que se trata,
fundamentalmente, de um exercício de retórica.
b) a vivência dos alunos e o debate sobre suas ide-
ologias constituem o ponto de partida de qualquer
projeto atual de ensino de filosofia.
c) os alunos, através da leitura e da interpretação fi-
losófica, educam-se para o domínio desta linguagem.
d) perdemos por completo a noção da história da
filosofia como uma evolução na busca da verdade,
restando-nos apenas a abordagem temática.
e) a filosofia deve progressivamente voltar-se para o
desenvolvimento das competências da retórica e da
expressão lingüística.

11. “Cheguei tarde à cultura militante. Pertenço a uma


geração que saiu do fascismo, que não deixava nenhu-
ma escolha entre a apologia e o silêncio...”
(Fonte: BOBBIO, Norberto. O Tempo da Memória: de
Senectude e Outros Escritos Autobiográficos. Trad. Daniela
Versiani. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 91)

A partir do depoimento acima apresentado, expli-


que como nos regimes totalitários se estabelecem
as relações entre:
a) O Estado e a organização da Sociedade Civil.
b) O Estado e os Meios de Comunicação de Massa.

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