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Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em pe-
ríodo integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos
de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto
contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de
material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A
seguir, apresentamos cada seção:

incidência do tema nas principais provas vivenciando

De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu
vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão
principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas
o território nacional. para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para
evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida
a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma
preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre
aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em
teoria seu dia a dia.

Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção


tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques-
tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com-
pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas aplicação do conteúdo
que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua-
dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem
e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados,
que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e comenta-
dos, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil com-
preensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos
do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer
momento, as explicações dadas em sala de aula.
multimídia
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidadosa
seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório
do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com áreas de conhecimento do Enem
indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é en-
contrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao
temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o
sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, com conteúdos aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas
essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm,
em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de
o conhecimento do nosso aluno. Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são
apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva
e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia.
Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê-
conexão entre disciplinas -las com tranquilidade.

Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela-


borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata
de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não
exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos diagrama de ideias
conteúdos de cada área, de cada disciplina.
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria-
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem
mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los
conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Bio-
em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aque-
logia e Química, História e Geografia, Biologia e Matemática, entre
les que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio
outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade
de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas.
por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas
de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizan- Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo
do temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos
cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organiza-
grande engrenagem no mundo em que ele vive. ção dos estudos e até a resolução dos exercícios.

Herlan Fellini
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020
Todos os direitos reservados.

Autores
Alessandra Alves
Vinicius Gruppo Hilário

Diretor-geral
Herlan Fellini

Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista

Coordenador-geral
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Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


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Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Imagens
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ISBN: 978-65-88825-00-6

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o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis-
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SUMÁRIO
GEOGRAFIA
CARTOGRAFIA E CLIMA
Aulas 1 e 2: Movimentos da Terra 6
Aulas 3 e 4: Coordenadas geográficas e fuso horário 14
Aulas 5 e 6: Noções de cartografia 22
Aulas 7 e 8: Elementos do clima e fatores climáticos 34

GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA
Aulas 1 e 2: Introdução ao pensamento geográfico 46
Aulas 3 e 4: Geologia 56
Aulas 5 e 6: Geologia do Brasil e exploração mineral 66
Aulas 7 e 8: Geomorfologia: forças estruturais e esculturais 77
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômi-
H8
co-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos difer-
entes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia,
favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
CARTOGRAFIA e CLIMA:
Incidência do tema nas principais provas

Esses são temas que o Enem adora explorar, Os temas abordados neste caderno são
e nessas questões podem aparecer de tudo: pedidos com frequência nas provas da
textos-base, mapas e gráficos, principalmente FUVEST. É muito importante que o aluno
aqueles que chamam atenção para situações compreenda bem os conceitos de localização
do cotidiano. e cartografia.

A Unicamp costuma abordar esses temas em Este vestibular explora os temas desta frente Pede em seus exercícios os principais con-
seus vestibulares com o auxílio de mapas e de maneira bastante tradicional, principalmente ceitos, utilizando, muitas vezes, textos-base
esquemas, para que o aluno raciocine para no que tange a cartografia, onde as projeções para sua resolução. É vital que o aluno não
além do enunciado. cartográficas são recorrentes nas provas. saio do texto, pois a Unesp quer saber se
o candidato compreendeu por que aquele
texto foi escolhido.

Embora as provas versem sobre assuntos da As questões não apresentam surpresas, Essa prova presa sempre pela objetividade com As últimas provas mostraram um domínio de
atualidade, os temas desta frente aparecem principalmente quando se trata de geografia relação aos temas desta frente, na qual carto- conteúdo relacionado, principalmente, a fuso
vez por outra, apresentando um nível médio física, como climatologia, que aparece em grafia e clima merecem destaque especial. horário e noções de cartografia, além de trazer
de dificuldade, e sempre com material de quase todas as provas. elementos do clima e fatores climáticos.
apoio, como mapas e gráficos.

UFMG

Os candidatos precisam explorar os temas Clima é um tema certeiro nas provas da Este vestibular não apresenta em seu edital
desta frente e relacioná-los às questões Federal do Paraná. Estudar bem os conceitos mais recente e nem exige nas provas dos
regionais, pois é assim que os exercícios e aplicá-los em escala local é a chave para um últimos vestibulares questões relacionadas à
costumam aparecer. bom resultado. disciplina de Geografia.

A UERJ é um vestibular que utiliza muitos ma- Essa prova é bastante tradicional e conteu- O vestibular Souza Marques apresentou,
pas, para a maioria dos temas deste caderno, dista, orientada para todos os temas desta nos últimos anos, uma tendência a inserir
principalmente em questões discursivas. Para frente, ou seja, astronomia, cartografia e clima questões relacionadas à geografia física,
um bom desempenho nas provas, o aluno não estão sempre presentes. de forma bem equilibrada. Observa-se uma
pode deixar de exercitar leituras e exercícios concentração de temas sobre os elementos
com mapas. do clima e fatores climáticos.
AULAS Movimentos da terra
1e2
Competência: 2 Habilidade: 6

1. Introdução Do ponto de vista da ciência, a Terra possui um único mo-


vimento, que pode, dependendo de suas causas, ser divi-
É notável o fascínio que as pessoas sentem pelo céu. dido nos seguintes componentes:
Quem nunca admirou um pôr do sol ou ficou impres- § movimento de rotação em torno de seu eixo;
sionado com uma tempestade? Contudo, ainda hoje, os
fenômenos celestes que fazem parte do cotidiano não § movimento de translação em torno do Sol;
são compreendidos por grande parte da humanidade. § movimentos de precessão e de nutação;
O interesse pelos mistérios do Universo faz parte da
§ movimento dos polos;
natureza humana desde o começo da civilização. Ao
mesmo tempo em que a extensão e beleza do Universo § movimento em torno do centro de nossa galáxia.
é admirada, o desafio de conhecê-lo é instigante, pois, Os dois primeiros são os principais, pois suas influências
ao investigar o Cosmos, a humanidade está indagando podem ser sentidas diariamente.
também sobre a sua própria origem.
A luz e o calor do Sol durante o dia, o luar e as estrelas 2.1. Movimento de rotação
à noite, o ciclo das estações, a necessidade de se orien-
tar nos percursos de um lugar a outro e de estabelecer
uma cronologia para os acontecimentos foram motivos
suficientes para o homem tentar equacionar o Universo.

2. Movimentos da Terra
O movimento de rotação ocorre quando a Terra gira em torno
de si mesma, de oeste para leste, isto é, em torno de um eixo
imaginário que passa por seus polos. A duração do chamado
dia sideral, ou seja, o tempo necessário para a Terra comple-
tar uma volta em torno de seu eixo (360º exatos), é de 23
horas, 56 minutos, 4 segundos e 9 décimos. Em relação ao
Sol, o tempo de rotação médio, o chamado dia solar médio, é
de 24 horas. O dia solar é compreendido como o período en-
tre duas passagens sucessivas do Sol sobre o meridiano local
multimídia: vídeo e varia ao longo do ano, sendo sempre superior ao dia sideral.
É devido a isso que existe a sucessão de dias e noites, fa-
Fonte: Youtube
tor que desempenha um papel fundamental no equilíbrio da
Série “Cosmos”. Produzida pelo
temperatura e da composição química da atmosfera. A rota-
astrônomo Carl Sagan...
ção provoca a sensação de que o Sol se movimenta em rela-
O segredo dessa série de treze horas foi o talen- ção à Terra, de leste (nascente – levante) para oeste (poente);
to de comunicador de Sagan, capaz de desmiti- entretanto, é a Terra que se movimenta em relação ao Sol.
ficar o que até então fora informação científica
A velocidade desse movimento é de aproximadamente
inacessível. A versão escrita desse programa
1.666 km/h, ou 465 m/s, que é bastante elevada, porém
continua a ser o livro de divulgação científica
muito inferior à de outros astros do Universo. É interessan-
mais vendido da história.
te notar que a velocidade aumenta nas áreas próximas à

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linha do Equador, região em que o raio terrestre é maior. É comum que esses pontos sejam confundidos como a causa
Na cidade de Porto Alegre, por exemplo, a velocidade da das estações do ano, com o verão sendo relacionado ao periélio
rotação terrestre cai para 1.450 km/h. e o inverno ao afélio. No entanto, as estações do ano ocorrem
em função do movimento de translação associado à inclinação
Outros efeitos do movimento de rotação são: o formato geoide
do eixo de rotação, gerando variações na luminosidade.
da Terra, isto é, ela é achatada nos polos e expandida no Equa-
dor, não formando uma esfera perfeita; as correntes marinhas; a O plano formado pela órbita terrestre é denominado plano da
circulação atmosférica e o desnível entre os oceanos. elíptica. O eixo de rotação da Terra tem inclinação de, apro-
Na verdade, a Terra, assim como os demais planetas sola- ximadamente, 23º em relação à perpendicular desse plano.
res, gira em torno do próprio eixo porque não existe ne- Esse fato faz com que a luz do Sol atinja o planeta de forma
nhum tipo de força ou resistência capaz de parar a sua desigual, iluminando e aquecendo hemisférios e regiões em
rotação, que se perpetua. Acredita-se que, depois do sur- épocas diferentes, o que causa, por sua vez, a ocorrência das
gimento do Universo, os corpos celestes colidiram-se (e estações do ano: primavera, verão, outono e inverno.
ainda colidem-se) por várias vezes, o que fez com que os É também o movimento de translação da Terra o respon-
elementos constituintes dos planetas se mantivessem em sável pelo ano bissexto, que tem a duração de 366 dias.
movimentos giratórios. É importante considerar que nem Isso ocorre porque a duração do ano é sempre arredon-
sempre a rotação dos planetas é no sentido anti-horário, a dada para 365 dias, excluindo as 5 horas, 48 minutos e
exemplo de Urano e Vênus, que giram no sentido horário. 46 segundos que restam. A diferença é acertada a cada
quatro anos com o ano bissexto, incluindo o dia 29 de
2.2. Movimento de translação fevereiro no calendário.
A Terra, ao mesmo tempo em que gira em torno do seu eixo,
também realiza o movimento de translação, que consiste em
dar uma volta completa em torno do Sol. Para realizar esse 2.4. A influência da Lua na Terra
movimento, ela utiliza cerca de 365 dias – ou precisamente
365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos. O trajeto per- Até onde se sabe, a Terra é o único planeta do sistema
corrido com esse movimento é denominado órbita terrestre. solar em condições de abrigar vida da forma como ela
é conhecida. A Terra está a uma distância adequada do
A órbita terrestre é elíptica, onde o Sol está ligeiramente des- Sol, possui uma atmosfera rica em oxigênio e tem gran-
locado em relação ao centro do movimento. des quantidades de água. A partir do Sol, é o primeiro
A Terra está mais próxima do Sol entre 4 a 7 de janeiro e planeta que tem um satélite natural, a Lua.
mais distante entre 4 e 7 de julho.
Quando se fala sobre esse satélite, logo é lembrada
sua influência no movimento de subida e descida das
2.3. Periélio e afélio águas do mar, que é explicado pela lei da gravidade de
O periélio é o ponto da órbita de um corpo, seja ele planeta, Isaac Newton. A Lua não exerce sozinha essa influen-
asteroide ou cometa, que está mais perto do Sol. Quando um cia na maré. O Sol também tem um papel importante
corpo está no periélio, ele tem a maior velocidade de transla- nesse movimento, embora sua influência seja menor do
ção de toda a sua órbita. A distância entre a Terra e o Sol no que a da Lua, pois ele está mais distante da Terra.
periélio é de cerca de 147,1 milhões de quilômetros.
O afélio, por sua vez, é o ponto da órbita em que um planeta
ou um corpo está mais distante do Sol. Quando se trata de
um objeto que orbita uma estrela que não o Sol, esse ponto é
denominado apoastro. A distância entre a Terra e o Sol no afé-
lio é de cerca de 152,1 milhões de quilômetros. Quando um
astro está no afélio, ele tem a menor velocidade de translação
de toda a sua órbita, proporcionando invernos mais longos no Assim como o Sol e a Terra, a Lua não está em repou-
HS e verões mais longos no HN. so. Ela gira ao redor da Terra, que, por sua vez, gira
Movimento acelerado TERRA ao redor do Sol. E, da mesma forma que a Terra atrai
a Lua, a Lua atrai a Terra, mas com menos intensida-
SOL
Afélio
de. O efeito da atração da Lua não exerce nenhuma
Periélio
influência nos continentes, mas afeta os oceanos. A
influência da Lua
Movimento retardado

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provoca correntes marítimas que geram duas marés Durante a fase da lua nova, como o Sol está iluminando
altas e duas baixas diariamente. A diferença entre o lado oculto do satélite natural, a Lua não pode ser vista
marés pode ser quase imperceptível ou muito no- por nem durante o dia e nem durante a noite. Na fase da
tável, dependendo principalmente da posição dos
lua cheia, ela só aparece no horizonte celeste quando já
astros em relação à Terra, isto é, das fases da Lua,
está anoitecendo. Isso significa que a Lua pode ser vista
que são as seguintes:
de dia durante as fases minguante e crescente. A primei-
§ Lua nova: Sol, Lua e Terra estão alinhados, o ra só aparece pela manhã, e a segunda, depois do meio-
Sol e a Lua estão na mesma direção. A força
-dia, porque a minguante nasce imediatamente após o
de atração é somada e causa elevação máxi-
período da cheia, à meia-noite, permanecendo nos céus
ma da maré (maré de sizígia).
durante 12 horas. Já a Lua em sua fase crescente, mais
§ Lua minguante: a Lua está a oeste do Sol, quase comum, só pode ser vista durante as tardes porque ela só
formando um ângulo de 90° entre eles. A atração nasce na metade do dia, quando fica iluminada em cerca
é quase nula e causa a menor elevação da maré
de 50% de sua superfície durante as mesmas 12 horas.
(maré de quadratura).
A iluminação, além da reflexão da luz do sol, depende,
§ Lua cheia: o Sol, a Lua e a Terra estão ali- sobretudo, do grau de inclinação dos raios solares.
nhados novamente, só que agora a Terra
está entre o Sol e a Lua. A atração causa As diferenças dos horários de surgimento da Lua
novamente grandes elevações das marés no céu são explicadas pelo fato de, a cada dia, ela
(maré de sizígia). nascer 48 minutos mais tarde. Assim, à medida que a
§ Lua crescente: a Lua está a leste do Sol, qua- posição da Lua em relação aos raios do Sol vai se alte-
se formando um ângulo de 90°. Nessa fase, rando, mudam também as suas fases e o horário de seu
a gravitação da Lua se opõe à gravitação do aparecimento no horizonte.
Sol. Como a Lua está mais próxima da Terra, o
Sol não consegue anular totalmente a força
gravitacional da Lua, e a maré ainda apresenta
uma ligeira elevação (maré de quadratura).
3. Equinócio, solstício
§ Entretanto, esse jogo de forças não é igual em
e estações do ano
toda parte, pois o contorno da costa e as di- As estações do ano têm duração aproximada de três me-
mensões do fundo do mar também alteram a ses. A Terra recebe variadas quantidades de radiação solar
dimensão das marés. Em certas regiões abertas, por conta da sua inclinação e da sua órbita ao redor do Sol.
a água se espalha por uma grande área e sobe Assim, existem diferentes estações ao longo do ano, o que
só alguns centímetros nas marés máximas. Em influencia diretamente o tipo de vegetação e o clima de
outras, como um braço de mar estreito, o nível todas as regiões da Terra.
pode se elevar vários metros. Quatro pontos do trajeto de translação são significativos ao
Não raro, é possível ver a lua durante o dia. Em algu- longo do ano: dois solstícios e dois equinócios. Os dois equi-
mas vezes pela manhã, em outras pela tarde. É impor- nócios são os momentos nos quais os raios solares incidem
tante esclarecer que a lua está sempre presente no perpendicularmente no Equador. Dias 21 ou 22 de março e
céu, tanto durante o dia quanto durante a noite. O que 23 de setembro são datas que marcam, respectivamente, o
ocorre é que, devido ao fato de a Lua não apresentar início do outono e da primavera no hemisfério Sul e o início
luz própria, só é possível vê-la quando ela, de algum da primavera e do outono no hemisfério Norte.
modo, reflete a luz emitida pelo Sol.

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Já os solstícios são os momentos nos quais os raios sola-
res incidem perpendicularmente sobre um dos trópicos. Eles Durante esse fenômeno, o Sol se aproxima da linha
ocorrem em 22 de junho, no Trópico de Câncer (no hemisfé- do horizonte como se fosse o pôr ou o nascer do Sol,
rio Norte), e em 21 de dezembro, no Trópico de Capricórnio mas não desaparece totalmente. O fenômeno oposto é
(hemisfério Sul). Essas duas datas marcam, respectivamente, chamado de noite polar, em que o Sol não se encontra
o início do inverno e do verão no hemisfério Sul, e o início do visível durante 24 horas. Quando o “sol da meia-noite”
verão e do inverno no hemisfério Norte. No dia de solstício, ocorre no Polo Norte, a noite polar ocorre no Polo Sul
os raios solares tangenciam um dos polos, fazendo com que e vice-versa.
este tenha 24 horas de luz, e o outro, 24 horas de escuridão.

A noite civil polar, ou seja, quando é necessário man-


ter por mais de 24 horas consecutivas a iluminação
artificial para atividades no exterior, não ocorre em

multimídia: sites nenhum local da Europa continental ou do estado


norte-americano do Alasca, pois não existe qualquer
www.iag.usp.br parte dessas regiões com latitude superior a 72° 33’
N. A noite polar astronômica, ou seja, com escuridão
total, não ocorre em qualquer terra do hemisfério
norte, limitando-se ao oceano Ártico central.
Uma vez que no hemisfério sul não há assentamentos
permanentes suficientemente próximos do polo (salvo
as bases antárticas, habitadas por uns poucos cientistas
e militares), apenas Estados Unidos, Canadá, Groen-
lândia, Noruega, Suécia, Finlândia, Rússia e o extremo
norte da Islândia podem desfrutar desse fenômeno.
Ao Norte da Noruega, por exemplo, nunca anoitece

multimídia: música completamente no verão. Apesar de o Sol não estar ao


alto no céu, ele nunca chega a desaparecer total-
Fonte: Youtube mente e se mantém acima da linha do horizonte.
- A ciência em si – Gilberto Gil

O fenômeno do sol da meia-noite


O “sol da meia-noite” é um fenômeno natural obser-
vável ao norte do Círculo Polar Ártico (hemisfério nor-
“Sol da meia-noite” em alta, Noruega
te) e ao sul do Círculo Polar Antártico (hemisfério sul),
regiões onde o Sol é visível por 24 horas do dia, nas A natureza criou suas estratégias para sobreviver à noi-
datas próximas ao solstício de verão. A rotação da Ter- te e ao dia prolongado. Em diversas regiões habitadas,
ra, sua inclinação e a órbita solar fazem com que uma quando o Sol aparece, os pássaros e peixes se reprodu-
das extremidades do planeta permaneça constante-
zem, o gelo formado no inverno evapora e a vegetação
mente iluminada. Enquanto no Círculo Polar Ártico o
aproveita a luz e o calor, frutificando. No inverno, os ani-
Sol não se põe durante seis meses, no Círculo Polar
Antártico é a noite que dura mais tempo: de 20 de mais migram ou hibernam, o gelo volta a cobrir uma
março a 23 de setembro, o polo Norte está totalmente ampla e somente as espécies adaptadas permanecem.
voltado para a luz. Quanto mais próximo dos polos, Apesar de ser dia durante meses, nos extremos da Terra,
maior é o número de dias em que o Sol não se põe. porém, o gelo nunca some.

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Glossário:
§ Geoide: concebido idealmente como a forma da
Terra, que não é esférica e sim achatada nos polos
e bojuda no Equador.
§ Meridional ou austral: localizado ao Sul.
§ Setentrional ou boreal: localizado ao Norte.
§ Movimento de precessão: fenômeno físico que multimídia: Livros
consiste na mudança do eixo de rotação, causan-
Decifrando a Terra - Wilson Teixeira, Thomas Rich,
do um efeito giroscópico, observado nos movi-
Maria Cristina Motta de Toledo, Fabio Taioli
mento dos ponto de referência celeste.
O novo Decifrando a Terra interessa não só
§ Movimento de nutação: pequena oscilação peri-
aos estudantes universitários de diversas es-
ódica do eixo de rotação da Terra, com um ciclo de
pecialidades científicas, mas também a todos
18,6, anos causada pela força gravitacional da Lua
que desejam compreender os intrincados
sobre a Terra.
processos geológicos que ocorrem no Plane-
§ Zênite: ponto imaginário interceptado pelo eixo ta há 4,56 bilhões de anos.
vertical imaginário, traçado a partir da cabeça de
um observador (localizado sobre a superfície ter-
restre), que se prolonga até a esfera celeste.

multimídia: Livros
O ABCD da Astronomia e Astrofísica -
J. E. Horvath
A Astronomia constitui um “ponto de encon-
multimídia: música tro” da Física com a Matemática e com ou-
tras disciplinas. O presente trabalho oferece
Fonte: Youtube
- Linha do Equador – Djavan uma visão breve e atualizada de praticamen-
te todas as áreas da Astronomia, com espe-
cial ênfase na Astrofísica Estelar, Cosmologia
e a nascente Astrobiologia.

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VIVENCIANDO

O Planetário Professor Aristóteles Orsini, também conhecido como Plane-


tário do Ibirapuera, está localizado no Parque do Ibirapuera, na cidade de
São Paulo. Primeiro planetário do Brasil, foi inaugurado em 26 de janeiro de
1957. O observatório do Ibirapuera é uma grande atração para os fãs do
espaço sideral, pois todas as imagens de estrelas, planetas, constelações e
nebulosas são captadas por telescópios; trata-se, portanto, de imagens com
brilho e cores reais. É um excelente passeio para aqueles que desejam ter
uma noção melhor de astronomia.
O Museu Cósmico, também conhecido como Planetário de Santa
Cruz, é um museu brasileiro dedicado à Astronomia. Foi inaugurado
em 2008 no bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade do Rio
de Janeiro. Abriga uma cúpula equipada com um planetário moder-
no que simula fielmente imagens em movimento de um céu seme-
lhante ao que podemos observar durante uma noite clara, em local
livre de poluição atmosférica, auxiliado por dezenas de equipamentos
periféricos. Depois de sua inauguração, o Rio de Janeiro tornou-se a
“Capital Nacional de Cultura Planetária”, por possuir três museus ad-
ministrados pela Fundação Planetários do Rio de Janeiro. Localizado na
Estrada do Guandu, 4278-4282, é um ótimo passeio para os amantes
da Astronomia.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A Astronomia é o segmento da ciência que estuda os corpos celestes utilizando os conhecimentos científicos dis-
poníveis. Com exceção da Lua e de alguns planetas do Sistema Solar, todos os demais astros só podem ser estu-
dados por meio da luz que enviam para a Terra. Pelo estudo dessa luz é que que os Astrônomos conseguem obter
informações e elaborar os modelos e as teorias que procuram explicar os comportamentos, as estruturas físicas e as
composições químicas dos astros no Universo.
O estudo e a análise da luz recebida dos astros na forma de micro-ondas, ondas de rádio, radiação infravermelha, luz
visível, luz ultravioleta, raios X e raios Gama são feitos por meio da aplicação dos conhecimentos de Física, Matemática,
Química, etc.

11
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.

As Representações Gráficas, especialmente mapas e gráficos, são elementos importantes na aplicação de conteúdos
geográficos; no entanto, às vezes podem se tornar entraves à aprendizagem devido às dificuldades que os alunos en-
frentam em manipular esses instrumentos. O contexto mundial que ora se apresenta é caracterizado por uma intensa
gama de tecnologias que tem provocado transformações na economia, na política e na educação. Essas mudanças
trazem novas formas de ver e sentir o espaço geográfico, influenciando o ensino da Geografia, uma vez que essa dis-
ciplina tem a preocupação de fornecer ao aluno subsídios para que ele possa “entender” o mundo e fazer uma leitura
crítica ou mais atenta dessa “reorganização espacial e social”.
Considerando o Espaço Geográfico como objeto de estudo da Geografia, é interessante destacar alguns pontos rele-
vantes na aplicação desta linguagem. Seu papel não é de ilustrar uma aula e não se deve usar o gráfico pelo gráfico
ou o mapa como passatempo para os alunos. Ela deve ser um recurso de mediação para o melhor entendimento dos
conteúdos geográficos e, consequentemente, para a aquisição desses conhecimentos.

Modelo
(Enem) Um leitor encontra o seguinte anúncio entre os classificados de um jornal:

VILA DAS FLORES


Vende-se terreno plano medindo
200 m2. Frente voltada para
o sol no período da manhã.
Fácil acesso.
(443)0677-0032

Interessado no terreno, o leitor vai ao endereço indicado e, lá chegando, observa um painel com a planta a seguir,
onde estavam destacados os terrenos ainda não vendidos, numerados de I a V:

Considerando as informações do jornal, é possível afirmar


que o terreno anunciado é o
a) I.
b) II.
c) III.
d) IV.
e) V.

12
Análise expositiva: Esse exercício é um bom exemplo de como o Enem explora e mescla conceitos cartográficos e
D físicos, colocando-os em situações do cotidiano.
Dadas as condições geográficas do loteamento e observando a escala da planta, entre os terrenos voltados para o
leste, II, IV e V estão fazendo frente para o sol nascente, apenas o terreno IV, possui 200 m2 (10 m × 20 m).
Alternativa D

DIAGRAMA DE IDEIAS

MOVIMENTO
DA TERRA

ROTAÇÃO TRANSLAÇÃO

• DIAS E NOITES • SOLSTÍCIO


• FORMATO GEOIDE • EQUINÓCIO
• CORRENTES MARINHAS • ZONAS DE ILUMINAÇÃO
• CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA

13
Coodernadas geográficas
AULAS e Fuso Horário
3e4
Competência: 2 Habilidade: 6

1. Coordenadas geográficas O meridiano de Greenwich divide a Terra em dois hemis-


férios: ocidental e oriental. A partir dele, é possível traçar
Ao longo da história, o ser humano sempre sentiu a neces- diversos meridianos, até o limite de 180°, tanto para
sidade de se orientar e se localizar. Foi a partir do advento Oeste quanto para Leste, o que totaliza os 360° da “cir-
da escrita e dos mapeamentos que os recursos para orien- cunferência” da Terra. Ao lado do número do meridiano,
tação se desenvolveram com maior precisão. deve-se indicar Leste (E ou L) ou Oeste (W ou O). No
ponto de 180º (seja Leste ou Oeste), tem-se a linha inter-
Esses recursos são indicados por números que represen-
nacional de data (ou Linha Internacional de Mudança de
tam graus de circunferência, resultado do “fatiamento”
Data). É o meridiano oposto ao Meridiano de Greenwich,
do globo terrestre, segundo a divisão sexagesimal. É im-
atravessando o Pacífico.
portante lembrar que uma circunferência apresenta 360°;
além disso, cada grau tem sessenta minutos (60’), e cada
minuto, sessenta segundos (60”). 1.2. Paralelos
As coordenadas geográficas baseiam-se em diversas linhas A linha imaginária traçada na parte mais larga da Terra é o
imaginárias horizontais e verticais traçadas sobre o globo paralelo de zero grau (0°), cujos pontos são equidistantes
terrestre: os paralelos e os meridianos. dos polos. Ele foi denominado Equador, o principal parale-
lo, e divide o planeta em dois hemisférios, Norte e Sul.
Os outros paralelos são traçados seguindo a linha do Equa-
dor, tanto para o Norte quanto para o Sul. A cada um deles
é atribuído o número correspondente ao ângulo formado
com a linha do Equador, considerando o centro da Terra
como centro da “circunferência”. Assim, os polos estão
a 90° do Equador. Indica-se Norte (N) ou Sul (S) ao lado
do número do paralelo. Além do Equador, existem quatro
paralelos notáveis: no hemisfério Norte, há o Círculo Polar
multimídia: Livros Ártico (90° N) e o Trópico de Câncer (23° N); no hemis-
fério Sul, há o Círculo Polar Antártico (90° S) e o Trópico de
Cartografia básica – Paulo Roberto Fitzi
Capricórnio (23° S).
O uso de mapas e imagens de satélite é cada
MERIDIANOS PARALELOS
vez mais frequente no nosso dia a dia. A sua antimeridiano Polo norte 90º N Latitudes
180º
correta interpretação, no entanto, exige o domí- de Greenwich norte

nio de conceitos básicos nem sempre acessíveis


na literatura disponível em língua portuguesa. 0º
Greenwich

Equador

1.1. Meridianos
© César da Mata/Schäffer Editorial

Latitudes
0º sul
Longitudes Longitudes
Os meridianos são linhas imaginárias que ligam os Polos oeste leste

Norte e Sul, formando “meias circunferências” na Terra.


Também se fez necessária a escolha do meridiano de zero
grau (0°), por isso convencionou-se, para início da conta- 1.3. Latitude e longitude
gem, o meridiano que passa pela torre do observatório É necessário usar duas indicações para localizar qualquer
astronômico de Greenwinch, que é uma localidade na lugar na superfície terrestre de forma exata: as latitudes e
área metropolitana de Londres, capital da Inglaterra. as longitudes.

14
Fornecer as coordenadas geográficas de uma cidade sig-
nifica informar sua latitude e sua longitude.
§ Latitude é a distância, medida em graus, que separa a
linha do Equador de um ponto qualquer da superfície
terrestre. Ela varia de 0° a 90° ao Norte e ao Sul.
§ Longitude é a distância, medida em graus, do meridi-
ano de Greenwich a um ponto qualquer da superfície
da Terra. Ela varia de 0° a 180° a Leste ou a Oeste.

LONGITUDES LATITUDES

2. Zonas de iluminação
É usual substituir essa denominação por zonas climáti- multimídia: Livros
cas, o que é um equívoco, pois o clima não é o simples
resultado de maior ou menor exposição aos raios so- Mapas da Geografia e Cartografia Temática –
lares. A denominação “zonas de iluminação” é preferida Marcelo Martinelli
por geógrafos mais rigorosos. A diferença de temperatu-
O livro introduz o leitor no domínio das repre-
ra que se verifica do Equador aos polos é resultante da
sentações gráficas e apresenta os fundamentos
inclinação dos raios solares.
metodológicos da cartografia temática e da
Nas áreas próximas aos polos, onde a curvatura da Terra é Geografia em bases ligadas à comunicação vi-
mais acentuada, os raios do sol se distribuem por uma su- sual. É uma proposta inovadora que considera
perfície menor, determinando menor concentração de calor. o mapa da Geografia não apenas como uma
Nas baixas latitudes (próximas ao Equador), os raios so- ilustração de texto, mas um meio capaz de re-
lares tocam perpendicularmente a superfície do planeta, velar o conteúdo da informação.
determinando maior concentração e, consequentemente,
maior aquecimento. Temperaturas médias ocorrem nas lat-
itudes médias (entre os trópicos e os círculos polares). 3. Fuso horário
1. Zona Tropical ou Tórrida (ou de baixas latitudes) – No passado, a hora era uma característica extremamente
local. Os antigos viajantes precisavam acertar o relógio toda
situada entre os trópicos.
vez que chegavam a uma cidade nova. O acerto de horas era
2. Zona Temperada do Norte (ou de médias lati- feito através do sol: o meio-dia representava o ponto mais
tudes) – situada entre o Trópico de Câncer e o Círculo alto que a estrela alcançava. A partir da Revolução Industrial,
Glacial Ártico. com o barco e a locomotiva à vapor, as distâncias se encur-
taram, causando dificuldades para a determinação da hora.
3. Zona Temperada do Sul (ou de médias latitudes)
– situada entre o Trópico de Capricórnio e o Círculo Em 1884, representantes de 25 países se reuniram, em
Glacial Antártico. Washington, para determinar um sistema padronizado de
horas, e, assim, foram criados os fusos horários.
4. Zona Glacial Ártica (ou de altas altitudes) – situada
ao Norte do Círculo Glacial Ártico. Dividindo-se os 360º da “esfera” terrestre pelo número de
horas em que a Terra leva para completar seu movimento
5. Zona Glacial Antártica (ou de altas latitudes) – situ- de rotação, tem-se 15º (quinze graus), ou seja, a cada hora,
ada ao Sul do Círculo Glacial Antártico. a Terra gira 15º. Partindo desse raciocínio, o planeta foi divi-

15
dido em 24 fusos horários, correspondentes às 24 horas do Outra questão abordada na Conferência do Meridiano foi
dia e limitados por meridianos, distantes 15º uns dos outros. estabelecer um marco para a mudança do dia no planeta.
O meridiano 0º tem como referência o observatório de A partir de então, definiu-se o antimeridiano de Greenwich,
Greenwich, localizado no subúrbio de Londres, que pas- ou seja, a linha de longitude 180º, oposta ao meridiano
sou a simbolizar o primeiro meridiano internacional, base inicial, chamada Linha Internacional de Mudança de
para a determinação do horário legal, adotado em todo o Data. Esse meridiano divide um fuso em que todos os lug-
mundo. Como a Terra gira de Oeste para Leste, os fusos à ares têm a mesma hora, mas, a oeste da linha, a data está
leste de Greenwich têm as horas adiantadas em relação um dia na frente da data a leste.
ao fuso inicial. Os fusos situados à oeste, por sua vez, têm
as horas atrasadas em relação à hora de Greenwich.

Meridiano 0, marcado no Observatório Real


de Greenwich, a leste de Londres

3.1. Fuso horário legal


No mapa-múndi é possível observar que os limites dos meridianos não são respeitados estritamente. Existem variações de
acordo com cada país. Ou seja, o horário de determinadas áreas em alguns países não corresponde ao horário do fuso ao qual
pertencem. Há um limite prático entre os fusos, que seguem o contorno e os limites entre países ou entre as unidades adminis-
trativas em que alguns países se dividem, os chamados fusos legais.
Polo Norte

DIA

Oeste

Leste
NOITE
© Rafael Schäffer Gimenes/Schäffer Editorial

Polo Sul
3.2. Calculando os fusos: a lei de Aldrin
É possível calcular a hora em certas localidades sem a utilização de um mapa, desde que se saiba sua longitude e o horário
e a longitude de outro local, que será tomado como referência. O calculo é feito da seguinte maneira:
§ determina-se a diferença entre as longitudes dos dois lugares;
§ somam-se as duas longitudes caso estejam em hemisférios diferentes;
§ subtrai-se as longitudes caso estejam no mesmo hemisfério;
§ o resultado deve ser dividido por 15º;
§ o resultado dessa divisão será a diferença entre os horários de dois lugares. Esta deverá ser subtraída se o local estiver à
oeste, ou somada, para leste.
O método conhecido como lei de Aldrin determina a diferença de fusos horários entre dois locais.

16
Principais siglas Amazonas que fica a leste da linha que interliga Tabat-
inga e Porto Acre;
Sigla Significado Tradução Descrição
§ quarto fuso (UTC-5): Estado do Acre e a porção do
Refere-se a
Greenwich, onde Amazonas que fica a oeste da linha.
ficou definido
Tempo Médio
GMT Greenwich Mean Time por convenção a
de Greenwich
base para cálculo
Brasil: fuso horário
internacional de
horário. 70° O VENEZUELA 60° O GUIA NA 50° O
FRA NCESA
40° O
N
30° O
SURINA ME
COLÔMBIA
- 4:30 O L
GUIANA
RR
Hora oficial em
horas
OC S
AP EA
ST Standard Time Tempo Padrão Linha do Equador NO
cada fuso horário. AT

L Â

N
Alteração do

TI
AM PA

CO
MA CE
RN
horário de uma PB
PI
região, designado AC
PE
AL
apenas durante 10° S
RO
TO
SE 10° S

Daylight Saving Time Horário de


DST uma porção do PERU
MT BA
ou Summer Time Verão
ano, adiantan- DF
GO
do-se em geral BOLIVIA MG
uma hora no fuso MS ES

horário oficial local. 20° S


SP
20° S
PA RA GUA I RJ
Capricórnio
Trópico de

O
CHILE PR
Tempo

IC
T

PACÍFICO
N

OCEANO

Coordinated Universal Os fusos horários SC
AT
UTC
Universal Time Coordenado, são relativos a ele. ARGENTINA RS
N
O

A
tempo civil

E
Escala 1:40 000 000
30° S

C
400 200 0 400 km
30° S

O
URUGUA I
Projeção Policônica

Usado em as- 70° O 60° O 50° O 40° O 30° O

Tempo tronomia, tem por


- 5 horas - 4 horas - 3 horas -2 horas

UT Universal Time
Universal base a rotação da
Terra.
Jet lag
Tempo
International Sua base são os
IAT
Atomic Time
Atômico
relógios atômicos. O jet lag (também conhecido como doença do fuso
Internacional
horário) é a perda de ritmo e concentração ao se
Antes do Usados por povos
A.M./ Ante Meridiem/Post meio-dia/ que consideram
passar por fusos horários diferentes em pouco
P.M. Meridiem (do latim) Depois do um ciclo de 12 tempo. Seus sintomas consistem em irritabilidade,
meio-dia horas. cefaleia, taquicardia e alteração dos padrões de
Hora oficial do sono e fome. Esse tipo de alteração ocorre devido
HL — Hora Legal
país.
às mudanças de hábitos (hora de comer e de dormir,
por exemplo). Quando a diferença de horário entre o
3.3. Fusos horários do Brasil ponto de saída e o destino é superior a quatro horas,
O Brasil possui quatro fusos horários devido à sua grande os efeitos do jet lag se tornam mais evidentes.
extensão longitudinal. A maior parte do território fica no se-
Fonte: IBGE. Disponível em: <http://mapas.ibge.gov.br/
gundo fuso (atrasado em 3 horas em relação a Greenwich), politico-administrativo>. Acesso em: nov. 2014.
que corresponde à hora oficial do Brasil – ou horário de
Brasília. Nesse fuso, estão incluídas as regiões Sul, Sudeste,
Nordeste e parte das regiões Norte e Centro-Oeste. Para
evitar a existência de dois fusos dentro do mesmo Estado,
o limite prático dos fusos acompanha a divisão política do
país. Os fusos do Brasil são:
§ primeiro fuso (UTC-2): Atol das Rocas, Fernando
de Noronha, Arquipélago de São Pedro e São Paulo,
Trindade e Martim Vaz;
§ segundo fuso – horário de Brasília (UTC-3):
regiões Sul, Sudeste e Nordeste; Estados de Goiás, To- multimídia: música
cantins, Pará e Amapá; e o Distrito Federal;
Fonte: Youtube
§ terceiro fuso (UTC-4): Estados do Mato Grosso,
-Mapas do acaso- Engenheiros do Hawaí
Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e a parte do

17
3.4. Horário de verão No Brasil, a economia chegou a R$ 160 milhões, resul-
tados verificados durante o horário de verão 2011/2012,
O chamado horário de verão foi criado para aproveitar os uma redução da demanda de ponta da ordem de 2.555
dias mais longos do verão nas regiões de média e alta lat- MW – sendo 1.840 MW no subsistema Sudeste/Cen-
itudes. Cerca de 50 dias antes do solstício de verão, adian- tro-Oeste e 610 MW no subsistema Sul. O horário de
ta-se o relógio em 1 hora. Com essa mudança, as pessoas verão aumenta a segurança e diminui os custos de op-
passam a acordar mais cedo do que fariam normalmente. eração do sistema, possibilitando a redução da tarifa de
Uma pessoa que acorda às 8 horas, por exemplo, passa a energia elétrica para o consumidor.
acordar, no horário de verão, o equivalente às 7 horas sem
essa mudança. No entanto, a prática recebeu tanto aplausos quanto
críticas. Adiantar os relógios traz benefícios para o va-
Como os dias são mais longos, já há iluminação natural rejo, os esportes e outras atividades que exploram a luz
nesse horário. Dessa forma, a claridade do dia é aproveit- do sol depois da jornada de trabalho, mas pode trazer
ada desde seu início. No final da tarde, o Sol, que se poria problemas para o entendimento da tarde e para out-
normalmente às 19 horas, passa a se por às 20 horas.
ras atividades ligadas diretamente à luz solar, como a
A Alemanha, em 1916, foi o primeiro país a adotar o agricultura, por exemplo. Embora alguns dos primeiros
horário de verão. A partir daí, devido à Primeira Guerra proponentes do horário de verão tenham pensado que
Mundia, diversos países na Europa o adotaram. A econo- ele reduziria o uso de lâmpadas incandescentes duran-
mia de energia elétrica foi vista como um esforço de te a tarde – uma vez que a iluminação era o principal
guerra, propiciando a economia de carvão, principal fonte uso da eletricidade –, o clima moderno e os padrões
de energia da época. Nos Estados Unidos foi mais difícil de uso de aparelhos para refrigeração diferem bastan-
implementar o horário de verão devido à coincidência te. As pesquisas em relação a como o horário de verão
com a implantação do sistema de fusos horários em 1918 atualmente afeta o uso de energia têm sido limitadas
(por ocasião da Primeira Guerra Mundial). No Brasil, ele
e contraditórias.
foi adotado pela primeira vez em 1931, também com o
objetivo de economizar energia elétrica.
Em abril de 2019 o presidente Jair Bolsonaro assinou o
decreto que acabou com o horário de verão no Brasil.
Internacionalmente os estudos apontam três
benefícios do horário de verão: economia de ener-
gia, redução de acidentes nos horários de pico do
trânsito (que durante esse período possuem mais
iluminação natural) e redução de assaltos e crimes.
No caso brasileiro, é possível acrescentar um impor-
tante benefício: a possibilidade de armazenamento
de água nos reservatórios das hidrelétricas durante o multimídia: sites
verão para que essa água seja utilizada mais tarde,
durante os meses secos do inverno. www.inpe.br

Às vezes, as mudanças causadas pela medida complicam


a cronometragem e podem atrapalhar viagens, faturamen-
tos, manutenção de registros, dispositivos médicos, equipa-
mentos pesados e padrões de sono. Os softwares dos dis-
positivos contemporâneos podem frequentemente alterar
o horário automaticamente, mas as mudanças de políticas
por várias jurisdições de datas e horários do horário de
verão podem ser confusas.
multimídia: música
3.5. Horário de verão no mundo
Fonte: Youtube
-Terra- Caetano Veloso As sociedades industrializadas geralmente seguem um cro-
nograma baseado em relógios nas atividades do dia a dia

18
que não mudam no decorrer do ano. A coordenação do Ao redefinir simultaneamente todos os relógios de uma
transporte público e os horários de início do trabalho e da região para uma hora adiante ao horário padrão, os in-
escola, por exemplo, mantêm-se constantes durante o ano. divíduos que seguem essa rotina vão acordar uma hora
Por outro lado, as rotinas de trabalho e conduta pessoal antes do que acordariam de outro modo; eles vão iniciar
dos agricultores são geralmente governadas pelo tempo e completar as rotinas de trabalho uma hora antes e terão
em que a luz solar está visível e pelo horário solar aparente, sessenta minutos extras da luz do dia depois da jornada de
que pode mudar sazonalmente devido à inclinação axial trabalho. No começo de cada dia, entretanto, haverá uma
da Terra. A luz do dia dos trópicos norte e sul dura mais no hora de luz a menos, o que torna a política menos prática.
verão e menos no inverno, com o efeito tornando-se maior
à medida que nos afastamos dos trópicos.

multimídia: vídeo
Regiões que adotam o horário de verão
Regiões que já adotaram horário de verão, mas não usam atualmente Documentário - “Todo mapa tem um discurso”
Regiões que nunca adotaram horário de verão Levanta as principais questões simbólicas e
práticas sobre as regiões marginalizadas que
não pertecem ao mapa oficial da cidade

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
As Representações Gráficas há muito tempo são usadas pela disciplina geográfica, mas nem sempre proporcionam re-
sultados satisfatórios. Isso é decorrente, entre diversas razões, do uso de metodologias inadequadas para o ensino-apren-
dizagem. Às vezes, os mapas são usados para pintura ou até mesmo como meras ilustrações de um texto, deixando de
ser um material pedagógico. No caso dos gráficos, são pouco explorados por serem vistos como um material de difícil
compreensão pelos alunos. A Geografia é uma ciência que utiliza mapas e gráficos para o estudo do espaço, assim, quan-
to melhor este espaço for representado, melhor será entendido. De acordo com PASSINI. O ensino da Geografia e o de
Cartografia são indissociáveis e complementares: a primeira é conteúdo e a outra é forma. Não há possibilidade de se es-
tudar o espaço sem representá-lo, assim como não podemos representar um espaço vazio de informações (2007, p.148).
As Representações Gráficas são significativas para entender textos, ideias e dados de forma eficaz e sintetizada. Assim,
elas devem comunicar as informações instantaneamente, através de imagens visuais de forma monossêmica, isto é, sem
ambiguidade, permitindo uma única leitura.

19
Modelo
1. (Enem 2019) Os moradores de Utqiagvik passaram dois meses quase totalmente na escuridão

Os habitantes desta pequena cidade no Alasca – o estado dos Estados Unidos mais ao norte – já estão acostumados a longas noites sem
ver a luz do dia. Em 18 de novembro de 2018, seus pouco mais de 4 mil habitantes viram o último pôr do sol do ano. A oportunidade
seguinte para ver a luz do dia ocorreu no dia 23 de janeiro de 2019, às (horário local).

Disponível em: www.bbc.com. Acesso em: 16 maio 2019 (adaptado).

O fenômeno descrito está relacionado ao fato de a cidade citada ter uma posição geográfica condicionada pela
a) continentalidade.
b) maritimidade.
c) longitude.
d) latitude.
e) altitude.

Análise expositiva: A alternativa correta é [D], porque em razão da inclinação do eixo da Terra, as áreas de al-
D tas latitudes sofrem máxima variação de luminosidade nos solstícios de verão e inverno, resultando, dessa forma,
em longas noites no inverno. As alternativas incorretas são: [A] e [B], porque maritimidade e continentalidade são
reguladores térmicos e não de variação da incidência solar; [C], porque longitude é usada para cálculo de fuso
horário; [E], porque altitude é um fator que não define a variação da incidência solar.
Alternativa D

20
DIAGRAMA DE IDEIAS

FUSO HORÁRIO

PADRONIZAÇÃO DO
HORÁRIO MUNDIAL

BRASIL

1º FUSO: -2 HORAS GREENWICH 0º


2º FUSO: -3 HORAS (MERIDIANO CENTRAL)
3º FUSO: -4 HORAS
4º FUSO: -5 HORAS

OESTE LESTE

A HORA A HORA
DIMINUI AUMENTA

COORDENADAS
GEOGRÁFICAS

LATITUDE LONGITUDE

PARALELOS MERIDIANOS
• EQUADOR • GREENWICH
• TRÓPICO DE CÂNCER • LINHA INTERNACIONAL
• TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO DE MUDANÇA DE DATA
• CÍRCULO POLAR ÁRTICO • FUSO HORÁRIO
• CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO

21
Noções de cartografia
AULAS
5e6
Competência: 2 Habilidade: 6

1. Cartografia 1.1. Histórico


A Cartografia é a ciência da representação gráfica da super-
fície terrestre e tem como produto final o mapa. Entretanto,
os mapas e outros produtos realizados pela cartografia não
são cópias fiéis da realidade. Eles só seriam a reprodução
fiel da realidade caso fossem exatamente do tamanho real
da área mapeada, o que os tornaria inúteis e inviáveis. Com
efeito, os mapas são sempre a representação de parte da
realidade. É sempre necessário se perguntar o que um mapa
quer representar e qual é o seu objetivo. Com isso, os cartó-
grafos utilizam alguns recursos que visam facilitar o entendi-
mento e a interpretação das cartas.
É possível distinguir dois ramos dentro da cartografia: a
sistemática e a temática. A cartografia sistemática tem Mapa-múndi de Ptolomeu, 1486
como objetivo produzir mapas com o máximo de precisão
Desde épocas remotas até os dias atuais, o desenvolvi-
possível, ou, ao menos, com distorções controladas. Os ma-
mento da cartografia acompanhou o próprio progresso
pas topográficos, por exemplo, são produzidos pela carto-
da civilização.
grafia sistemática. A cartografia temática, por sua vez, tem
como objetivo a utilização de mapas de base, geralmente
produzidos pela cartografia sistemática, para a representa-
ção de temas variados da geografia física ou humana. Para
expressar os dados são utilizados símbolos, cores, gráficos
e as próprias formas e tamanhos das áreas representadas.

Mapa-múndi babilônico
O primeiro mapa de que se tem registro foi feito numa
tábua redonda de argila por volta de 2300 a.C. na re-
gião da Mesopotâmia (atual Iraque). Era apenas uma
representação de um rio, provavelmente o rio Eufrates,
circundando montanhas. Outros registros, datando de
1000 a.C., foram encontrados em tumbas no Egito e
representavam paisagens locais, trilhas e rios.

A representação feita pelos


babilônios é considerada o
primeiro mapa-múndi da
história, por representar o
mundo na concepção de
seus autores, mesmo que, na
verdade, a Terra seja bem di-
ferente do que foi registrado.

22
As guerras, as descobertas científicas, o desenvolvimento De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
das artes e ciências e os movimentos históricos que exi- tica (IBGE), “carta é a representação no plano, em escala
giam maior precisão na representação gráfica da superfície média ou grande, dos aspectos artificiais e naturais de uma
da Terra impulsionaram a evolução da cartografia. Mas foi área tomada de uma superfície planetária, subdividida em
na Grécia Antiga que se lançaram os primeiros fundamen- folhas delimitadas por linhas convencionais – paralelos e
tos da ciência cartográfica, quando Hiparco (160-120 a.C.) meridianos – com a finalidade de possibilitar a avaliação
utilizou, pela primeira vez, métodos astronômicos para de pormenores, com grau de precisão compatível com a
determinar a superfície da Terra e deu a primeira solução escala”. Ainda segundo o IBGE, “mapa é a representação
do problema relativo ao desenvolvimento da superfície da no plano, normalmente em escala pequena, dos aspectos
Terra sobre um plano, idealizando a projeção cônica. geográficos, naturais, culturais e artificiais de uma área to-
Todo o conhecimento geográfico e cartográfico da Grécia mada na superfície de uma figura planetária, delimitada
Antiga se condensa nos escritos do geógrafo e cartógrafo por elementos físicos, político-administrativos, destinadas
grego Cláudio Ptolomeu de Alexandria (90-168 d.C.). aos mais variados usos, temáticos, culturais e ilustrativos”.
Sua extraordinária obra em seis volumes apresenta os A distinção entre mapa e carta é um tanto convencional e
princípios da cartografia matemática, das projeções e dos subordinada à ideia de escala. Nota-se, contudo, certa pre-
métodos de observação astronômica. ferência pelo uso da palavra carta. Na verdade, o mapa é
apenas uma representação ilustrativa e pode perfeitamen-
Mais tarde, com o advento da agulha magnética, tor- te ser considerado um caso particular de carta.
nou-se possível a exploração dos mares e se intensificou
Dessa forma, o mapa é a representação da Terra, nos seus
o comércio para o Leste. Deu-se início, então, à epopeia
aspectos geográficos, naturais ou artificiais, que se destina
portuguesa dos descobrimentos. Além disso, Gutenberg
a fins culturais ou ilustrativos. Assim, ele não tem caráter
inventou a imprensa e foi fundada a Escola de Sagres.
científico especializado e é geralmente construído em esca-
No século XIX, iniciou-se o levantamento hidrográfico do la pequena, cobrindo um território mais ou menos extenso.
litoral brasileiro, um dos maiores destaques da história da
Carta, por sua vez, é a representação dos aspectos naturais
cartografia náutica do Brasil. Já no século XX, o emprego
ou artificiais da Terra, destinada a fins práticos da atividade
da aerofotogrametria e a introdução da eletrônica no instru-
humana, permitindo a avaliação precisa de distâncias, dire-
mental necessário para os levantamentos determinam uma
ções e localizações geográficas de pontos, áreas e detalhes.
grande revolução na cartografia.
É, portanto, uma representação similar ao mapa, mas de
A cartografia contemporânea busca acompanhar o progres- caráter especializado, construída com uma finalidade espe-
so em todos os ramos da atividade humana. Uma das princi- cífica e geralmente em escalas maiores.
pais características do século XXI é uma produção em massa,
O mapeamento é o conjunto de operações de levantamen-
no menor tempo possível e com precisão cada vez maior.
to, construção e reprodução das cartas de determinado
projeto. De acordo com a escala, é possível classificar os
1.2. Definições de mapas e cartas mapas e as cartas em:
§ cadastrais – escalas de 1:500 a 1:10.000;
§ topográficos – escalas de 1:25.000 a 1:250.000;
§ geográficos – escalas de 1:500.000 a 1:1.000.000.

1.3. Escala
“Uma enorme literatura discorre sobre a questão da
escala em geografia e, amiúde, converge para alimen-
tar um debate circular e tautológico. Atônitos, debruça-
mo-nos sobre esse problema – será um problema? – e
descobrimos a recorrência de três premissas centrais: a
crítica à analogia da escala geográfica com a cartográfi-
ca e, com frequência, a ausência ou recusa à elaboração
de uma proposta metodológica alternativa; a afirmação
Mapa do Brasil – regiões de que o valor da variável muda com a escala e, por fim,
a aceitação da escala como uma definição a priori na
Não existe uma diferença rígida entre os conceitos de mapa pesquisa geográfica.”
e carta, o que torna difícil estabelecer uma separação defini- SILVEIRA, Maria Laura. Escala geográfica: da ação ao
tiva entre o significado dessas designações. império? Revista Terra Livre, Goiânia, Ano 20.

23
Pode-se definir escala como a relação entre o tamanho do D = 200.000 × 20 = 4.000.000 cm ou 40 km
fato geográfico representado no mapa e o seu tamanho
real na superfície da Terra. Os mapas apresentam dois tipos Para saber a distância no mapa, aplica-se a fórmula d = D : E.
de escala: d = 4.000.000 ÷ 200.000 = 20 cm
§ Escala numérica: representada por uma fração, na
qual o numerador indica a distância no mapa, e o de- Quanto maior a escala, menor a área representada, o que
nominador indica a distância na superfície real. Uma possibilita a visualização de uma quantidade maior de
escala 1:100.000 (um por cem mil) significa que a su- detalhes. Veja alguns exemplos utilizados em mapas com
perfície representada foi reduzida 100 mil vezes. Nesse suas escalas correspondentes:
caso, 1 cm no mapa = 100.000 cm = 1.000 m = 1 km § Mapas de plantas cadastrais, usadas
na realidade. para identificação de lotes no
espaço urbano: 1:1.000 a 1:2.000.
§ Escala gráfica: é uma linha reta graduada, por meio
da qual se indica a relação da distância real com as § Mapas topográficos municipais:
distâncias representadas no mapa. Por exemplo: 1 cm 1:5.000 a 1:20.000.
= 100 km. § Mapas topográficos regionais:
1:50.000 a 1:250.000.
2 1 0 2 4 § Mapas de grandes regiões brasileiras:
1:500.000 a 1:2.000.000.
km © César da Mata/
Schäffer Editorial § Mapas de grandes países como o Brasil:
A fórmula para calcular a distância real entre dois pontos escalas menores que 1:5.000.000.
em um mapa é D = E × d, em que D é distância real, d é
a distância no mapa e E é a escala.
Assim, em um mapa de escala 1:200.000, se a distância
em linha reta entre dois pontos é de 20 cm (pode ser medi-
da com a régua), qual a distância real entre esses pontos?

COMPARAÇÃO ENTRE ESCALAS


nível de análise
tamanho área de território
aplicação área representada (número e quantidade
da escala representado
dos pormenores)
1:100
plantas de casas
1:200
1:500
plantas de arruamentos
1:1.000
1:1.000
plantas de bairros, grande escala
1:2.000 pequena (menor área repre-
cidades ou aldeias (igual ou superior grande (muitos pormenores)
1:5.000 sentada) escala descritiva
a 1:100.000)
1:10.000
mapas de grandes 1:25.000
propriedades (ru-
1:50.000
rais ou industriais),
províncias ou regiões 1:75.000
1:100.000
1:800.000
mapas de estados, 1:10.000.000 Pequena escala (in- pequeno (poucos grande (maior área repre-
países, continentes
1:90.000.000 ferior a 1/100000) pormenores) sentada) escala explicativa
ou do mundo
1:600.000.000

24
2. Construção e 2.3. Representação do relevo
Tanto o relevo terrestre quanto o submarino podem ser
interpretação dos mapas representados de várias formas – por cores (altitudes), ha-
churas, blocos-diagramas, etc. No entanto, as formas mais
2.1. Orientação no mapa usuais são as curvas de nível e o perfil topográfico.
A maioria dos mapas traz uma rosa dos ventos ou uma seta
As cores convencionadas pela Carta Internacional do Mundo
indicando o Norte. Quando não há essa indicação, conven-
(CIM) para mostrar as altitudes são as hipsométricas (verde,
cionou-se que o Norte está na parte superior do mapa.
amarelo, marrom, violeta, violeta-escuro e branco), que indi-
N cam as cotas acima do nível do mar, e as batimétricas (tom
azul), que indicam as cotas abaixo do nível do mar.
Alagoas: mapa hipsométrico

2.2. Elementos de um mapa


Um mapa representa o espaço a partir da visão vertical.
Os mapas do tipo topográfico representam todos os ele-
mentos visíveis do espaço, como área urbana, agricultura,
vias de transporte, hidrografia, tipos de vegetação, etc.
Eles são elaborados a partir de levantamentos topográfi-
cos realizados por empresas privadas ou órgãos governa-
Fonte: Governo do Estado de Alagoas. Acesso: Nov. 2014.
mentais, como o IBGE, e servem de base para outro tipo Fonte: Governo do Estado de Alagoas. Acesso: nov. 2014.
de mapa, o temático. Os mapas temáticos são represen-
tações de fenômenos naturais (clima, relevo, rochas, etc.) 2.4. Topografia e curvas de nível
ou socioeconômicos (população, indústria, urbanização,
etc.) mostrando seus aspectos quantitativos e/ou qualita- Em cartografia, curvas de nível, também denominadas
tivos. Um mapa deve conter: isoípsas, são linhas que unem pontos de igual altitude na
§ Título: informa o tema que está sendo representado. superfície representada. Os intervalos existentes entre es-
sas linhas são equidistantes, ou seja, sempre possuem a
§ Legenda: mostra o significado dos símbolos e é impor- mesma medida.
tante para explicar o que o mapa comunicou visualmente.
§ Escala: indica quantas vezes o mapa foi reduzido,
possibilitando o cálculo das distâncias e das dimensões
reais do espaço representado.

Exemplo de curva de nível e perfil topográfico

A interpretação das curvas de nível exige o conhecimento


de algumas noções básicas:
§ Quanto maior a declividade do terreno representado,
mais próximas são as curvas de nível; elas são mais afas-
tadas na representação de terrenos pouco íngremes.

25
§ Há sempre a mesma diferença de altitude entre duas Embora não seja um campo novo, a geomática representa
curvas de nível. uma evolução das técnicas cartográficas, abrangendo ou-
tros recursos utilizados também pela cartografia, como a
§ Pontos situados na mesma curva de nível têm a
topografia, a geodésia e a aerofotogrametria, juntamente
mesma altitude.
com novas técnicas de sensoriamento remoto, o GPS e o
§ Os rios nascem nas áreas mais altas e correm para as Sistema de Informação Geográfica (SIG). Ou seja, a geomá-
áreas mais baixas. tica utiliza dados coletados por satélites e por trabalho de
As curvas de nível raramente se cruzam e tendem a ser pa- campo que são reunidos e processados em computadores,
ralelas entre si. O cruzamento só ocorre quando há algum gerando produtos como mapas digitais ou bases de dados.
tipo de acidente geográfico incomum, como um barranco, O resultado mais completo obtido com o uso das técnicas
ou seja, quando elas se tocam, é porque uma determinada da geomática é o geoprocessamento ou SIG, que permite a
altitude encontra-se sobre a outra. superposição e o cruzamento de informações. Sua principal
Além dessas características, é possível notar que as curvas característica é integrar, em uma base única, informações
de nível jamais se bifurcam. Observe no exemplo abaixo: diversas – imagens, dados cartográficos, populacionais, etc.
– de forma que seja possível consultar, comparar e analisar
essas informações, além de produzir mapas.

2.6. Aerofotogrametria
Também denominada fotogrametria, é a técnica de ela-
boração de cartas com base em fotografias aéreas e com
a utilização de aparelhos e métodos estereoscópicos, que
permitem a representação de objetos em um plano e sua
visão em três dimensões.
Alguns detalhes são essenciais para a representação de
fotografias aéreas, como o tamanho e a forma da área es-
tudada ou a tonalidade e as sombras existentes nas fotos.
Exemplo de uma área maior representada em curvas de nível Os tipos de fotografias aéreas mais usados são os mosai-
Produzir mapas topográficos em curvas de nível, princi- cos cartográficos, as montagens de fotografias aéreas e as
palmente de áreas extensas, requer muito trabalho na ortofotocartas, imagens com escala precisa em que podem
coleta de dados, como o das altitudes, envolvendo uma estar representadas curvas de nível, ruas, limites, etc.
rigorosa precisão matemática. Entretanto, com os avanços
tecnológicos no campo da cartografia, tanto com a aerofo-
togrametria quanto com as projeções de satélites, muitas
vezes esse tipo de mapa é produzido quase que automati-
camente, o que facilita estudos geológicos e geomorfológi-
cos da superfície terrestre.

2.5. Geomática: a cartografia


computadorizada
O século XXI traz consigo o uso generalizado da geomá-
tica, definida pela International Standards Organization
como “o campo de atividade que integra todos os meios
utilizados para a aquisição e o gerenciamento de dados
espaciais necessários às operações científicas, administrati-
vas, legais e técnicas envolvidas no processo de produção
Técnica de aerofotogrametria
e gerenciamento da informação espacial”.
Em outras palavas, é possível definir a geomática como a Embora muito utilizado para fins de mapeamento, esse mé-
ciência e a tecnologia de coletar, interpretar e utilizar infor- todo, assim como qualquer outro método de representação
mações geográficas. da superfície terrestre, oferece algumas limitações. Nesse

26
caso, as limitações se referem à interpretação das imagens
obtidas, que exigem perícia do intérprete para reconhecer
e diferenciar objetos, principalmente porque a forma dos
objetos (meio pelo qual se faz o reconhecimento) pode ser
alterada de acordo com a perspectiva da máquina na hora
do registro da imagem (fotografia) ou mesmo devido às
características de interação da radiação eletromagnética
com o alvo ou o conjunto observador-sensor.
Outra dificuldade dessa técnica está na instabilidade do
voo, principalmente quando feito em uma região onde
venta constantemente. Quando a aerofotogrametria é feita
com o objetivo de mapear o local, é traçado um plano de Satélites artificiais
voo, de forma que as fotos sejam tiradas “em faixas” que
cubram, paralelamente, todo o terreno. Para isso, o ideal Sensores remotos podem ser colocados em aero-
seria manter o voo em linha reta e a uma altura constante, naves, foguetes e balões para obter imagens da
mas isso nem sempre é possível, o que causa pequenas dis- superfície da Terra; contudo, essas plataformas são
torções nas fotos. operacionalmente caras e limitadas. Uma solução
No Brasil, o levantamento aerofotogramétrico deve para esse caso é utilizar satélites artificiais para ins-
ser previamente autorizado pelo Ministério da Defesa. talar esses sistemas. Um satélite pode ficar girar em
Além disso, ele só pode ser realizado por empresas es- órbita da Terra por um longo tempo e não precisa
pecializadas em tal finalidade ou por entidades do go- de combustível para isso; alem do mais, a sua altitu-
verno, devendo ser informada a localização e a área de de permite que sejam obtidas imagens de grandes
abrangência do levantamento. extensões da superfície terrestre de forma repetitiva
e a um custo relativamente baixo. Os satélites arti-
2.7. Sensoriamento remoto ficiais são plataformas estruturadas para suportar o
funcionamento de instrumentos de diversos tipos, e,
O sensoriamento remoto é uma tecnologia de obtenção de por essa razão, elas são equipadas com sistemas de
imagens e dados da superfície terrestre por meio da capta- suprimento de energia (painéis solares que conver-
ção e registro da energia refletida/emitida pela superfície, tem a energia radiante do Sol em energia elétrica e
sem que haja contato físico entre o sensor e a superfície a armazena em baterias), de controle de tempera-
estudada (por isso é denominado remoto). tura, de estabilização, de transmissão de dados, etc.
Os sensores óptico-eletrônicos usados para a captura dessa
energia funcionam como se fossem uma câmera fotográfi-
ca (captam e registram a radiação – luz – emitida/refletida 2.8. Tecnologia de posicionamento
pelo objeto) que tirasse fotos da superfície terrestre, só que global (GPS)
os sensores são um pouco mais sofisticados. GPS é a abreviatura de Global Positioning System, ou em
As câmeras fotográficas convencionais captam apenas o português, Sistema de Posicionamento Global. Trata-se de
espectro de luz visível (de ondas longas), já os sensores um sofisticado sistema de navegação e posicionamento
utilizados no sensoriamento remoto costumam captar global que informa com precisão a latitude, a longitude e
outras bandas (uma delas é o infravermelho, que é muito a altitude de um local, permitindo o mapeamento de rotas
marítimas e terrestres, redes de transmissão de energia elé-
importante para o estudo das vegetações, por exemplo).
trica, correntes marítimas, ecossistemas, bem como o mo-
Quando a imagem for capturada, ela será analisada, nitoramento de desastres ambientais em qualquer ponto.
transformada em mapas ou constituirá um banco de O GPS é constituído por três segmentos: espacial, de con-
dados georreferenciados, caracterizando o que é cha- trole e utilizador. O espacial é composto por 24 satélites
mado de geoprocessamento. distribuídos em seis planos orbitais. O segmento de con-
trole é responsável pelo monitoramento das órbitas dos
O satélite é o veículo mais utilizado para captura de ima-
satélites. Por fim, o segmento do utilizador é o receptor
gens em sensoriamento remoto. Isso ocorre devido a sua GPS, responsável pela captação dos sinais fornecidos pelos
melhor relação de custo-benefício, uma vez que ele pode satélites. Esse sistema de navegação possibilita, por meio
passar anos em órbita da Terra. de satélites artificiais, a obtenção de informações sobre

27
a localização geográfica em qualquer lugar da superfície
terrestre e em qualquer hora do dia. Atualmente existem 3. A representação da Terra
dois sistemas de posicionamento por satélite em pleno fun- sobre uma superfície plana
cionamento: o GPS, desenvolvido e mantido pelos Estados
Unidos, e o Glonass, desenvolvido na Rússia. A China está
e sua problemática
desenvolvendo um sistema denominado Compass. O Gali- Ainda hoje, a cartografia se depara com um grande desa-
leo europeu é outro sistema em fase de implantação. fio: mesmo considerando todos os processos científicos e
tecnológicos de representações espaciais da Terra, a pro-
blemática é a representação com exatidão do planeta so-
bre uma superfície plana.
A Terra é “esférica”, mas os papéis são planos. Com isso,
representar em um desenho a superfície do planeta obri-
ga a fazer ajustes para que um objeto tridimensional seja
representado de forma bidimensional. Em outras palavras,
toda e qualquer tentativa de representar uma geoide em
uma superfície plana causa algum tipo de deformação.
2.9. Sistema de Informações Geográfico (SIG) De modo geral, é possível afirmar que a única forma rigorosa
Trata-se de sistemas destinados ao tratamento de dados de representar a superfície da Terra é por meio de globos,
referenciados espacialmente. Esses sistemas manipulam nos quais se conservam exatamente as posições relativas
diversas fontes, como mapas, imagens de satélites, ca- de todos os pontos, e as dimensões são apresentadas em
dastros, etc., permitindo a recuperação e a combinação uma escala única. Contudo, a representação “perfeita” da
de informações, além da realização dos mais diversos Terra e os detalhes que o mundo moderno exige obrigariam
a construção de um globo de proporções gigantescas, tendo
tipos de análises.
praticamente o mesmo tamanho da Terra, o que impossibili-
A sobreposição de mapas é uma maneira de se obter ta o processo de tal representação.
informações comparadas colocando um mapa sobre o
Os cartógrafos, buscando solucionar ou amenizar as mais
outro. A sobreposição de um ou mais mapas é um recur-
diversas deformidades nas representações cartográficas
so interessante quando se busca apresentar e comparar da Terra, criaram as projeções cartográficas, que consis-
diferentes dados e informações referentes a uma mesma tem em um conjunto de linhas que forma uma rede de
região, em um único mapa. A representação de informa- coordenadas, sobre a qual são representados os elementos
ções em mapas diferentes não impede a comparação en- do mapa: terras, cidades, mares, rios, etc. Os sistemas de
tre elas; entretanto, a vantagem de sobrepô-las em um projeções cartográficas são classificados quanto ao tipo de
só mapa se deve à possibilidade de verificar exatamente superfície adotada e ao grau de deformação da superfície.
os pontos ou as áreas de ocorrência de cada informação,
Entretanto, é importante ressaltar que nenhum tipo de
facilitando a comparação visual entre elas.
projeção escolhida para representar a Terra evitará deforma-
ções. Elas valorizarão alguns aspectos da superfície represen-
Fontes de Dados Camadas de Dados
Arruamento
tada e farão com que as distorções sejam conhecidas.

4. Principais projeções
Edificações cartográficas
4.1 Quanto à superfície
Cobertura Vegetal
4.1.1 Projeção cônica
A superfície terrestre é representada num cone envolvendo o
Dados Integrados globo terrestre. Os paralelos formam círculos concêntricos, e
os meridianos são linhas retas que convergem para os polos.
As deformações ocorrem à medida que se afastam do para-
Fonte: Governo dos EUA, 2015.
lelo padrão (paralelo de contato com o cone). A projeção é
utilizada para representar áreas continentais (como regiões
Esquema de um SIG e continentes).

28
§ Projeção conforme: preserva os ângulos e deforma
as áreas.
§ Projeção equivalente: preserva as áreas e altera
os ângulos.
§ Projeção afilática: não conserva propriedades, mas
minimiza as deformações em conjunto (ângulos, áreas

© César da Mata/Schäffer Editorial


e distâncias).
§ Projeção equidistante: as distâncias se preservam,
e as áreas e os ângulos (consequentemente, a forma)
são deformados.

4.2.1 Projeção de Mercator


ou cilíndrica conforme
4.1.2 Projeção cilíndrica
Conserva a forma dos continentes, direções e ângulos,
mas altera a proporção das superfícies, principalmen-
© Pearson Prentice Hall, Inc.

te as regiões de alta latitude. Essa projeção é a mais


apropriada à navegação marítima. É denominada eu-
rocêntrica (imperialista), uma vez que exagera de modo
estratégico as latitudes de 60º N/S, causando, assim,
uma deformidade de quase 100%.
© César da Mata/Schäffer Editorial

A superfície terrestre é representada num cilindro envolven-


do o globo terrestre. Os paralelos e os meridianos são linhas
retas que convergem entre si. As deformações ocorrem à
medida que se aumentam as latitudes. É geralmente utiliza-
da para representações do globo, como mapas-múndi.

4.1.3 Projeção azimutal, plana ou polar


Também denominada projeção plana, é uma projeção
usada geralmente para a representação das áreas polares,
pois parte sempre de um ponto para a representação da(s)
área(s) – por isso é usada para pequenas áreas. Pode ser
de três tipos: polar, equatorial e oblíqua (chamada também
de horizontal).

Projeção de Mecator
© César da Mata/Schäffer Editorial

4.2.2 Projeção de Peters ou


cilíndrica equivalente
Equador

Eq
ua

Conserva as áreas das superfícies representadas,


do
r

apesar de distorcer suas formas. O alemão Arno Peters


(1916-2002) considerava que os mapas eram uma das
4.2 Quanto às propriedades manifestações simbólicas da submissão dos países do
E possível minimizar as deformações ocorridas pela planifica- Terceiro Mundo. Peters combateu a imagem de supe-
ção da superfície terrestre no que se refere às áreas, às distân- rioridade dos países do Norte representada nos planis-
cias e aos ângulos, mas nunca aos três ao mesmo tempo. férios derivados da projeção de Mercator. A sua argu-

29
mentação era a de que todos os países deveriam ser
retratados no mapa-múndi de forma fiel à sua área, isto
é, de forma equivalente.
© César da Mata/Schäffer Editorial

Projeção de Mollweide

4.2.5 Projeção de Goode, que altera


a de Mollweide
Projeção de Peters Trata-se de uma projeção descontínua, uma vez que tenta
eliminar várias áreas oceânicas. Goode (1862-1932) coloca
os meridianos centrais da projeção correspondendo aos me-
4.2.3 Projeção de Robinson ou afilática ridianos quase centrais dos continentes para alcançar maior
Com o intuito de aperfeiçoar as características da projeção exatidão.
de Mercator nas superfícies das regiões de alta latitude, Ar-
thur H. Robinson (1915-2004) criou, em 1963, a sua pro-
jeção. Trata-se uma projeção afilática, que não preserva as
áreas, as formas ou as distâncias. No entanto, as distorções
não são muito extremas, produzindo assim um planisfério
bem equilibrado em termos visuais. Observe que os me-
ridianos são linhas curvas e os paralelos são linhas retas.

Projeção de Goode

4.2.6 Projeção de Holzel


© César da Mata/Schäffer Editorial

Projeção equivalente, seu contorno elipsoidal faz refe-


rência à forma aproximada da Terra, que tem um ligeiro
achatamento nos polos.

Projeção de Robinson

4.2.4 Projeção de Mollweide


A projeção elaborada por Karl Mollweide (1774-1825)
é do tipo equivalente, ou seja, conserva o tamanho das
áreas, mas altera as suas formas. Nessa projeção, os para- Projeção de Holzel
lelos são linhas retas, e os meridianos, linhas curvas. Sua
área é proporcional à da esfera terrestre, tendo a forma
elíptica. As zonas centrais apresentam grande exatidão,
tanto em área quanto em configuração, mas as extremi-
dades apresentam grandes distorções. Karl Mollweide,
muito conhecido não somente pela projeção que elabo-
rou, mas também pelas grandes realizações no campo
das equações matemáticas, buscava uma forma de corri-
gir a projeção de Mercator, uma vez que essa era muito
útil para navegações, porém pouco recomendada para
análises sobre os continentes por alterar as suas escalas.

30
VIVENCIANDO

Mapoteca – Biblioteca Mário de Andrade


A Mapoteca é formada por uma coleção especial com cerca de sete mil cartas geográficas e mapas políticos, históri-
cos, físicos e geológicos e ainda por cerca de 4.300 volumes de atlas históricos e geográficos.
Vale destacar a coleção de 34 mapas e planos manuscritos do final do século XVIII, de várias partes do Brasil. Tam-
bém estão disponíveis as plantas da cidade de São Paulo do período de 1810 a 1870, que constituem importante
fonte de pesquisa para estudos históricos.
O atendimento ou visitação voltado a essa coleção está localizado em sala do 1.º andar da Biblioteca Mário de
Andrade, localizada na Rua da Consolação, número 94, no centro de São Paulo.

Sala de consulta de mapas. Acervo da Biblioteca Mário de Andrade

A Mapoteca do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro é formada por um acervo em que o foco é a cartografia his-
tórica, principalmente do Brasil. Ela retrata os traços geográficos que foram se delineando e definindo pelos grandes
geógrafos, cartógrafos e viajantes.

A maior parte do acervo foi doada pelo Imperador Dom Pedro II, chamada Coleção Teresa Cristina, tendo como
principal destaque o Livro que da Razão do Estado do Brasil, de Diogo de Campos Moreno, ilustrado pelo cos-
mógrafo João Teixeira Albernaz; e a segunda das maiores coleções foi doada pelo político e historiador Manuel
Barata, enriquecida por mapas manuscritos, cartas náuticas e atlas de Gerard Van Keulen. Localizada na Avevida
Augusto Severo, n.º 8, no bairro da Glória, no Rio de Janeiro. Trata-se de um lugar fascinante para quem deseja
se aprofundar nos estudos cartográficos.

31
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Qualquer mapa é uma representação geométrica plana bastante simplificada da superfície terrestre ou de uma parte
dela, isto é, qualquer mapa é uma representação matemática da superfície terrestre geográfica.
O
N

P M
 i
A’
n
R

m
A
A

Calculando as medidas da Terra

Nos últimos tempos, a Matemática tornou-se mais relevante na Geografia para o desenvolvimento dos Sistemas de
Informação Geográfica (SIG). A modelagem matemática de diversos fenômenos na superfície da Terra abriu, por meio
do SIG, um importante campo da disciplina, o que permitiu uma maior interação com outros ramos da Geografia,
como a hidrologia,climatologia, geomorfologia e geografia econômica.
Ordenada

6
y
A
G 5

B
3

C 2

1
F
x
abscissa
-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7

-1

-2

D -3

-4 E

-5

-6

Cálculo cartográfico

32
multimídia: Livros
multimídia: sites Gráficos e mapas – Marcelo Martinelli

www.inpe.br A proposta básica dessa obra volta-se para


o ensino-aprendizagem de gráficos e mapas.
Destina-se, fundamentalmente, aos estudan-
tes de graduação interessados nessa temática.

DIAGRAMA DE IDEIAS

CARTOGRAFIA

ELEMENTOS
DO MAPA
GEOMÁTICA

• SIG
• GPS
TÍTULO LEGENDA ESCALA
• SENSORIAMENTO REMOTO
• AEROFOTOGRAMETRIA

33
Elementos do clima e
AULAS fatores climáticos
7e8
Competência: 2 Habilidade: 6

“O clima, entendido como a manifestação habitual da at- Para tentar estabelecer o clima de um local, é preciso ob-
mosfera num determinado ponto, é um dos importantes servar os padrões do tempo durante, no mínimo, trinta
recursos naturais à disposição do homem e foi considerado anos, o que é chamado de normal climatológica.
matéria de interesse comum da humanidade por decisão
da ONU em 1989. É um dos principais fatores responsáveis
pela repartição dos animais e vegetais sobre o globo.”
CONTI, José Bueno; ANGELO-FURLAN, Sueli.

É importante conhecer cada vez mais sobre as condi-


ções do tempo de uma determinada região, cidade ou
país. Hoje em dia, aparelhos ultraprecisos e o uso de
imagens de satélite indicam as condições do tempo
multimídia: Livros dentro de um certo período. Assim, é possível prever a
formação de furacões e seu deslocamento, a chegada
Clima e Meio Ambiente – José Bueno Conti de frentes frias, as tempestades de neve, os períodos
de estiagem ou de chuvas intensas, as geadas e mui-

1. Clima e tempo
tos outros fenômenos. Isso possibilita que se tomem
atitudes preventivas para minimizar os efeitos de tais
É possível dizer que clima e tempo são a mesma coisa? fenômenos, além de permitir que se saiba a intensidade
Quando, em determinado momento do dia, afirma-se que com que eles se darão. Por exemplo, em 1975, o Brasil
está nublado ou abafado, o objetivo é se referir ao tempo, teve uma grande quebra na safra de café devido a uma
isto é, às condições atmosféricas ou meteorológicas num geada fortíssima que arrasou os cafezais no Sudeste e
determinado momento. áreas do Centro-Oeste. Os prejuízos foram incalculáveis.

Como se sabe, as condições atmosféricas podem mudar


de um instante para outro, e, nesse caso, o tempo já não
será o mesmo. Em São Paulo, no verão, é muito comum
o céu estar limpo às duas horas da tarde e desabar uma
grande chuva às quatro horas. Isso significa que o tem-
po é algo momentâneo, de curta duração. Tempo é a
condição atmosférica de um determinado lugar em um
dado momento.
Contudo, quando se afirma que Manaus é uma cidade
quente e úmida, o intuito é se referir ao clima dessa cida-
de, ou seja, ao seu modo permanente de ser. Manaus é e multimídia: música
continuará sendo uma cidade quente e úmida. O clima é
algo duradouro, permanente, que não muda de um mo- Fonte: Youtube
mento para outro. Clima é a sucessão habitual dos tipos - Segue o seco – Marisa Monte
de tempo num determinado lugar da superfície terrestre.

34
O que é a normal climatológica?
Normal climatológica é o valor padrão reconhecido
de um elemento meteorológico, considerando a mé-
dia de sua ocorrência em uma determinada região,
por um número determinado de anos. “Normal” sig-
nifica a distribuição dos dados dentro de uma faixa
de incidência habitual. Os parâmetros podem incluir
temperaturas, pressão, precipitação, ventos, tempo-
rais, quantidade de nuvens, porcentagem de umida-
de relativa, entre outros. As normais compreendem multimídia: música
até então três momentos: Fonte: Youtube
§ 1901-1930: primeira normal climatológica - Chove chuva – Jorge Ben Jor

§ 1931-1960: segunda normal climatológica


§ 1961-1990: terceira normal climatológica
1.1. Elementos do clima
Os elementos do clima são grandezas (variáveis) que cons-
§ 1991-2020: quarta normal climatológica (ainda
em avaliação e registro)
tituem o estado da atmosfera. Esse conjunto de variáveis
descreve as condições atmosféricas em uma dada região e
Sempre que se afirma que determinado dia, mês, es-
instante. São eles:
tação ou ano foi seco ou úmido, é preciso comparar
com a média climatológica do local.
1.1.1. Radiação solar
Uma parte da energia em forma de radiação eletromagné-
tica emitida pelo Sol é interceptada pelo sistema Terra-at-
mosfera e convertida em outras formas de energia, como
calor e energia cinética da circulação atmosférica. A ener-
gia solar não é distribuída igualmente sobre a Terra. Cada
camada absorve uma quantidade diferente de radiação
solar. Ao chegar à Terra, a radiação é parcialmente absorvi-
Atualmente, a ocorrência de geadas é previsível pelos servi- da pelos gases que compõem a atmosfera, pelo vapor de
ços de meteorologia, e o alerta faz com que os agricultores água e por partículas sólidas em suspensão. Outra parcela
tomem providências para que elas não destruam as plan- é absorvida pela superfície e irradiada para a atmosfera na
tações. Apesar do aperfeiçoamento da técnica da previsão forma de calor que aquece a troposfera.
meteorológica, ainda não é possível obter informações e
dados que permitam fazer previsões de longa duração. Essa distribuição desigual é responsável pelas correntes oce-
ânicas e pelos ventos que, transportando calor dos trópicos
para os polos, procuram atingir um balanço de energia. As
O que é tempo atmosférico? causas dessa distribuição desigual são: os movimentos da
Tempo atmosférico ou meteorológico é o estado atual Terra em relação ao Sol, a distribuição das superfícies sólidas
da atmosfera em uma determinada região e instante,
e líquidas (a água absorve e libera calor mais lentamente) e
a configuração do relevo.
sendo caracterizado pelas condições de temperatura,
umidade, nebulosidade, deslocamento do ar (vento), As estações são causadas pela inclinação do eixo de rotação
radiação, chuva, etc. Como essas variáveis são dinâ- da Terra. Essa inclinação faz com que a orientação da Terra
micas, o tempo sofre constantes modificações.
em relação ao Sol mude continuamente enquanto a Terra
gira em torno do Sol. Por exemplo, o Hemisfério Sul se inclina
A palavra “clima“ deriva do grego e significa “in- para longe do Sol durante o inverno brasileiro e em direção
clinação”, referindo-se à curvatura da Terra, que ao Sol durante o verão. Isso significa que a altura do Sol, ou
condiciona em grande parte os diferentes tipos cli- seja, o ângulo de elevação do Sol acima do horizonte, para
máticos terrestres. uma dada hora do dia (ao meio-dia, por exemplo) varia no
decorrer do ano. No hemisfério de verão as alturas do Sol

35
são maiores, os dias mais longos e há mais radiação solar.
No hemisfério de inverno, as alturas do Sol são menores, os Albedo
dias mais curtos e há menos radiação solar. A quantidade
Ao incidir sobre qualquer corpo, a radiação solar vai,
total de radiação recebida depende não apenas da duração
em maior ou menor quantidade, sofrer uma mudança
do dia como também da altura do Sol. Como a Terra é curva,
a altura do Sol varia com a latitude. Quanto menor a altura de direção, sendo reenviada para o espaço por refle-
solar, mais dispersa e menos intensa será a radiação. xão. A fração de energia refletida por uma superfície
em relação ao total de energia nela incidente (expres-
so em percentagem) é conhecida como albedo.
Veja os albedos de diferentes superfícies:

Tipos de Albedos Albedos


superfície mínimos máximos
Água profunda 0,04 0,08
Solo úmido
0,05 0,15
escuro
Solo claro 0,15 0,25
Solo seco 0,20 0,35
Área branca 0,30 0,40
Grama,
0,15 0,25
Outro fator importante que determina a distribuição vegetação baixa
desigual de energia solar pela superfície é o albedo. Savana 0,20 0,30
Floresta 0,10 0,25
Neve 0,35 0,90

A variabilidade do albedo pode ser explicada pelo uso


do solo ou pela composição das superfícies. Dessa for-
ma, a neve tem um dos maiores índices de albedo,
devido à sua superfície branca, que reflete de maneira
eficiente os raios solares incidentes. Já o asfalto tem
um dos menores índices de albedo devido à sua co-
loração e composição. Isso faz com que ambientes
multimídia: sites urbanos sejam muito desconfortáveis termicamente.

www.inmet.gov.br
1.1.2. Temperatura do ar
Calor e temperatura são conceitos distintos. Calor é defi-
nido como a energia cinética total dos átomos e molécu-
las que compõem uma substância. Temperatura é a me-
dida da energia cinética média das moléculas ou átomos
individuais. A temperatura de um copo de água fervente,
por exemplo, é a mesma que a da água fervente de um
balde. Entretanto, o balde de água fervente possui mais
energia que o copo de água, ou seja, a quantidade de
calor depende da massa do material, a temperatura não.
A temperatura do ar é variável de acordo com os seguin-
multimídia: música tes fatores: radiação solar, massas de ar, aquecimento
Fonte: Youtube diferencial do continente e da água, correntes oceânicas,
- Felicidade – Marcelo Jeneci altitude e posição geográfica.

36
No inverno, o desconforto humano com o frio é inten- ser carregadas pelo vento, tanto no sentido ascendente
sificado pelo vento, que afeta a sensação de tempera- quanto descendente. Quando a nuvem é forçada a se
tura. O vento não apenas aumenta o resfriamento por elevar, ocorre um resfriamento e as gotículas de água
evaporação, mas também aumenta a taxa de perda podem ser total ou parcialmente congeladas. Quan-
de calor sensível devido à constante troca de ar aque- do os ventos forçam a nuvem para baixo, ela pode se
cido junto ao corpo por ar frio. dissipar pela evaporação das gotículas de água. Dessa
forma, a constituição da nuvem depende de sua tempe-
ratura e altitude. Ela pode ser formada por gotículas de
1.1.3. Umidade do ar água e cristais de gelo ou, exclusivamente, por cristais
de gelo em suspensão no ar úmido.
Trata-se da presença de vapor de água no ar. As principais
maneiras de descrever quantitativamente a presença de Existem vários tipos de nuvem, entre eles:
vapor d’água no ar são a umidade absoluta e a umidade § Cirrus: aspecto delicado, sedoso ou fibroso, cor
relativa (U.R.), que é a relação entre a quantidade de água branca brilhante. Ficam a 8 mil metros de altitu-
existente no ar (umidade absoluta) e a quantidade máxima de, numa temperatura a 0 °C. Por isso são cons-
que poderá haver na mesma temperatura (saturação). Isso tituídas de microscópicos cristais de gelo.
significa que, em vez de indicar a real quantidade de vapor
§ Stratus: muito baixas, em camadas uniformes e
de água no ar, esse índice indica quão próximo o ar está de
suaves, cor cinza; coladas à superfície formam o
se tornar saturado. Quando o ar está saturado, a umidade
nevoeiro; apresentam topo uniforme (ar estável)
relativa é de 100%. Veja o gráfico:
e produzem chuvisco (garoa).
Variação diurna de temperatura e da U.R. § Cumulus: são massas individuais com contor-
80%
16 nos bem definidos; apresentam precipitação em
14 forma de pancadas.
R
12
de elativa
UMIDADE RELATIVA

ida ra
TEMPERATURA (°C)

70% tu 10
Um ra
pe 8
m
Te
60%
6
4
1.1.5. Tipos de chuvas
2 A quantidade de vapor de água que o ar é capaz de reter
0
50% -2
antes de ele condensar (ou seja, transformar-se em gotícu-
12 2 4 6 8 10 2 4 6 8 10 12
las de água e formar nuvens, nevoeiros ou chuva) depende
AM PM da temperatura do próprio ar: quanto mais quente, maior
O gráfico mostra que em temperaturas mais elevadas é ne- a quantidade de vapor de água que o ar suporta sem con-
cessário mais vapor d’água para atingir a saturação. densar. Quando o ar condensa e forma nevoeiro (próximo
à superfície) ou uma nuvem (em alturas mais elevadas), a
umidade relativa do ar é 100%, pois ele já está saturado,
1.1.4. Precipitação isto é, já tem todo o vapor de água que pode conter naque-
Em meteorologia, precipitação descreve qualquer tipo de la temperatura. À medida que o ar esquenta, sem a adição
fenômeno relacionado à queda de água do céu. Isso inclui de mais vapor de água, a quantidade de vapor que o ar
neve, chuva e chuva de granizo. A precipitação é uma parte comporta antes de condensar também aumenta e, assim,
fundamental do ciclo hidrológico, sendo responsável por a umidade relativa do ar cai.
retornar a maior parte da água doce ao planeta.

Como se formam as nuvens?


As nuvens são formadas por gotículas de água conden-
sada, oriunda da evaporação da água na superfície do
planeta, ou cristais de gelo que se formam em torno de
núcleos microscópicos, geralmente de poeira suspensa Representação dos diferentes tipos de chuva

na atmosfera. Depois de formadas, as nuvens podem


§ As chuvas convectivas ou de convecção (I) são

37
típicas da região intertropical, principalmente na Zona
Equatorial, e de verão, no interior dos continentes, devido § Geada: quando a temperatura do ar está abaixo da
às altas temperaturas. O calor do Sol esquenta o ar, que temperatura de congelamento, o vapor d’ água su-
tende a subir e a esfriar enquanto sobe. Dessa forma, o blima (passa do estado gasoso direto para o sólido)
vapor de água contido no ar esfria e precipita. A evapo- e forma uma fina camada de cristais de gelo nas
ração também é intensa; assim, esse ar que sobe carrega superfícies ou nas folhagens expostas. As condições
muita umidade; à medida que aumenta a quantidade de ideais para a formação de geada são: advecção da
vapor no ar, aumenta também a instabilidade, ou seja, o Massa Polar Atlântica (mPa), relevo baixo (ar frio
ar está à beira de atingir o ponto de saturação. A umida- acumulado), céu sem nuvens, sem vento e ar limpo.
de elevada de tal forma atingirá níveis muito altos por § Neblina ou nevoeiro: forma-se quando o ar
volta das 15/16 horas, desencadeando tempestades e quente e úmido entra em contato com o solo frio e
aguaceiros. A chuva manifesta-se intensamente e é de perde calor em forma de vapor. Na neblina, é pos-
curta duração, sendo fácil identificá-la, pois decorrem sível ter uma visibilidade para além de 1 km. No
de nuvens brancas, densas e algodoadas, os cúmulos. nevoeiro, a visibilidade é menor.
Quando há muita umidade, o branco torna-se cinza-es-
curo e a nuvem ganha o nome de cumulonimbus, que
verterá sua carga de modo particularmente intenso,
acompanhada de tormenta, raios e, às vezes, granizos.
As chuvas são ditas de convergência, pois as massas de
ar sobem com a ajuda de ventos alísios, que convergem
para as áreas equatoriais.
§ As chuvas frontais (II) resultam do encontro de duas
massas de ar com características distintas de temperatura
e umidade. A partir desse choque, a massa de ar quente
sobe e o ar esfria, aproximando-se do ponto de satu-
ração, originando nuvens e, é claro, chuva. São do tipo multimídia: vídeo
chuvisco, à passagem de uma frente quente; e do tipo
aguaceiro, de frente fria. Essas precipitações são típicas Fonte: Youtube
em áreas de baixa pressão, principalmente nas zonas Documentário When the Le-
dos trópicos ou temperadas, onde ocorrem o encontro vees Broke: A Requiem in...
das massas de ar polares com as massas de ar tropicais. A Requiem in Four Acts (Quando os Diques
Caracteriza-se uma frente fria quando ocorre precipita- Rompem / Um Réquiem em Quatro Atos) do ci-
ção pelo ar frio procedente dos polos. Contudo, também neasta americano Spike Lee. O trabalho é uma
poderá ser causada por um processo oposto: uma frente homenagem humana e histórica à cidade de
quente e úmida que atropela massas de ar em região fria. Nova Orleans, que sofreu com o furacão Katry-
§ As chuvas orográficas ou de relevo (III) são as que na, e ao mesmo tempo mostra o protesto contra
derivam de uma subida forçada do ar, quando, no seu o governo do presidente George W. Bush e as
trajeto, apresenta-se uma cadeia de montanhas. Ao su- feridas sociais deixadas pelo desastre natural.
bir, o ar esfria, o ponto de saturação diminui, a umidade
relativa aumenta e dá-se a condensação e, consequente-
mente, a formação de nuvens e chuva. Essas chuvas são
1.1.6. Pressão atmosférica
frequentes nas áreas de relevo acidentado, ao longo de Trata-se da força exercida pelo ar em um determinado
serras, de onde sopram ventos úmidos. Um bom exemplo ponto da superfície. Está intimamente relacionada à tem-
de obstáculo orográfico é a Serra do Mar em São Paulo. peratura, ao vapor d’água, à altitude e à latitude. As altas
pressões resultam da descida do ar frio. A rotação da Terra
faz o ar, ao descer, circular à volta do centro de alta pressão.
Processos de saturação em baixos níveis
Quanto mais baixa a altitude, maior a pressão atmosféri-
§ Orvalho ou sereno: é um fenômeno físico que resul- ca. As baixas pressões são causadas pela elevação do ar
ta da condensação de vapores d’água presentes no quente. À medida que o ar, ao subir, arrefece, o seu vapor
ar; os vapores formam gotículas quando entram em de água transforma-se em nuvens, que podem produzir
contato com superfícies de temperatura mais baixa. chuva, neve ou tempestade. Quando o ar quente se eleva,
cria-se, por baixo dele, uma zona de baixa pressão. Baixas

38
pressões normalmente significam tempestades. Ao mesmo Como no Equador os raios solares incidem perpendicular-
tempo, existe ar superior que se desloca para substituir o ar mente à superfície, o aquecimento do ar é maior e, sendo
quente em elevação, o que dá origem aos ventos. ele mais quente, a pressão atmosférica é mais baixa. Assim,
a variação latitudinal estabelece uma divisão do globo em
cinco zonas térmicas: zona tropical, temperada do norte,
Força de Coriolis
temperada do sul, glacial Ártica e glacial Antártica.
A força de Coriolis é provocada pelo movimento de
rotação da Terra. Ela altera o movimento de um corpo 2.2. Altitude
para a direita, no Hemisfério Norte, e para a esquerda,
A altitude interfere nas condições climáticas à medida que va-
no Hemisfério Sul. Como isso ocorre? É que o plane-
ria. Quando há um aumento da altitude, a temperatura cai a
ta gira com uma velocidade angular constante. Assim,
uma razão de 0,5º a 1º a cada 100 metros aproximadamente.
quando um objeto que não esteja conectado à Terra
A pressão atmosférica também diminui com o aumento da
se move para o Norte ou para o Sul, a velocidade de
altitude, isso porque ocorre uma rarefação do ar, que, mesmo
rotação do planeta vai interferir na posição final do ob-
sendo mais frio, exerce pequena pressão sobre a superfície.
jeto. Por exemplo, imagine uma viagem de avião em
linha reta de São Paulo a Brasília. Como o planeta gira
de oeste para leste, se a rotação da Terra não for com-
pensada e o voo prosseguir numa trajetória retilínea, a
aeronave poderá chegar a Goiânia, cidade que está à
esquerda do destino original, e não a Brasília.

O aumento da altitude faz com que o ar se torne mais ra-


refeito e frio.

2.3.Massas de ar
As massas de ar são grandes porções atmosféricas que pos-
suem características próprias de temperatura e umidade. A
1.1.7. Velocidade e direção do vento formação das massas de ar está relacionada à influência que
recebe das áreas onde se originam. Por exemplo, se uma
O vento consiste na circulação da atmosfera. Os ventos são
grande porção atmosférica tem sua origem no oceano, ela
denominados a partir da direção de onde eles sopram. Um
será úmida e, se ainda for uma região tropical, será quente.
vento norte sopra do norte para o sul; um vento leste sopra de
Essas grandes massas de ar se deslocam dos locais de maior
leste para oeste. Assim, a direção do vento é o ponto cardeal
pressão para os locais de menor pressão, o que produz o
de onde vem o vento: N, NE, E, SE, S, SW, W e NW. As medidas
encontro delas. Nesse encontro, elas não se misturam, isto
básicas do vento referem-se à sua direção e velocidade.
é, uma empurra a outra de tal forma que aquela que avança
com mais intensidade faz com que a outra retroceda, impon-
2. Fatores climáticos do ao meio ambiente suas características. A zona de contato
entre duas massas de ar distintas recebe o nome de frente
Os fatores climáticos são os agentes causais que condicio- ou superfície frontal.
nam os elementos do clima. Fatores geográficos como lati-
tude, altitude, continentalidade/maritimidade e tipos de cor-
rente oceânica (fria ou quente) interferem nos elementos do
clima. A radiação solar, embora anteriormente considerada
como um elemento do clima, também pode ser considerada
como um fator climático, uma vez que pode influenciar na
variação diária da temperatura do ar.

2.1. Latitude
Quanto maior a latitude (distanciamento do Equador),
mais baixa a temperatura e maior a pressão atmosférica.

39
2.4. Correntes marítimas Essas diferenças de temperatura, entre as massas de águas
oceânicas e os continentes, e a velocidade de aquecimento
Correntes marítimas são porções dos oceanos que possuem e resfriamento, são fundamentais para a mecânica de mo-
velocidade, salinidade, temperatura e densidade próprias. São vimentação do ar na atmosfera e das águas nos oceanos,
muito importantes, pois são responsáveis pelo equilíbrio tér- que recobrem dois terços do planeta.
mico (distribuição da temperatura) na Terra. Podem ser quen-
tes ou frias, dependendo da região geográfica em que se
originam. As correntes quentes correm das regiões tropicais
para as altas latitudes, amenizando o clima nessas regiões,
e as correntes frias originam-se nas áreas polares e correm
para as zonas quentes, causando queda de temperatura. Elas
interferem também na umidade do ar, pois, quando as mas-
sas de ar quente passam sobre uma corrente fria, resfriam-se,
ocorrendo condensação e chuvas. Veja a figura a seguir. À noite ocorre um processo inverso ao que se
verifica durante o dia: a brisa marítima.

2.6. Relevo
A configuração e a disposição do relevo (efeito orográfico)
podem causar interferências sobre o clima, na medida em
que facilitam ou dificultam a circulação do ar atmosférico.
Em algumas regiões do planeta, são encontrados verdadei-
ros obstáculos à penetração das massas de ar.
Nos EUA, por exemplo, a costa oeste é ocupada pelas ca-
Todas as regiões litorâneas são banhadas por correntes deias orogênicas terciárias das montanhas Rochosas, que
marinhas. O mar realiza uma função termorreguladora so- dificultam a penetração de umidade do Pacífico, tornando
bre o clima do litoral. o clima do oeste estadunidense árido e semiárido. Outro
exemplo da interferência do relevo ocorre na América do
2.5. Maritimidade e Sul. O corredor formado pelas planícies e pelas terras bai-
continentalidade xas situadas entre os Andes e os planaltos do Leste, como
o Pantanal e a Amazônia, facilita a passagem de ar polar
A distribuição das massas líquidas (oceanos) e das massas
durante o inverno no Hemisfério Sul, causando o fenôme-
sólidas (continentes) às vezes exerce influência intensa na
no da friagem na Amazônia ocidental.
temperatura, pois o comportamento térmico das rochas
(meio sólido) é diferente do comportamento da água (meio
líquido). Os continentes aquecem e esfriam mais rapidamen-
te que os oceanos. A consequência disso é que as variações
de temperatura (amplitude térmica) nos primeiros são mais
acentuadas do que nos segundos, que aquecem e perdem
calor mais lentamente. Nas regiões próximas ao litoral, por
exemplo, o calor liberado pelos oceanos ajuda a manter as
temperaturas mais elevadas durante a noite nas estações
mais frias, quando a insolação é menor. Esse fenômeno é
denominado efeito de maritimidade. Já as regiões afastadas
do mar sofrem o efeito de continentalidade: a superfície, por
irradiação, perde rapidamente o calor recebido da insolação,
por isso registra amplitudes térmicas maiores. 2.7. Vegetação
As florestas tropicais, como a floresta Amazônica, são um
O mar funciona como um verdadeiro regulador exemplo de como a vegetação influencia no clima. Por cau-
térmico devido à sua grande capacidade de aquec- sa da umidade, elas propiciam um maior índice de chuvas
imento e perda de calor muito mais lento que o das nessas regiões fazendo baixar as temperaturas. Além disso,
áreas continentais. quanto mais densa for a vegetação, mais dificuldade have-
rá para os raios solares chegarem à superfície.

40
VIVENCIANDO

Uma dica importante para facilitar a compreensão dos temas estudados é observar e procurar entender, durante uma
viagem para a praia ou para altitudes elevadas, alguns fatores climáticos e como eles influenciam nas atividades do
dia a dia dos moradores das diferentes localidades observadas. Outra dica é observar os mapas meteorológicos dos
telejornais.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Apesar dos dois ramos do conhecimento possuírem um caráter interdisciplinar, a Meteorologia costuma estar mais
atrelada à Física, enquanto a Climatologia é mais relacionada à Geografia. Entretanto, um bom climatologista e um
bom meteorologista precisam possuir um amplo conhecimento sobre ambas as áreas.

41
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Desde quando a humanidade passou a se organizar em grandes comunidades, ela alterou a natureza de forma
a assegurar a sobrevivência e garantir o próprio conforto. A agricultura, a pecuária e a construção de cidades, por
exemplo, modificam diretamente a natureza. Dessa forma, transformam características geográficas, como vegetação,
permeabilidade do solo, absortividade e refletividade da superfície terrestre, além de alterar as características do solo,
do ar atmosférico e das águas, tanto pluviais e fluviais como subterrâneas. A alteração do espaço preexistente para a
habitação humana, na criação de cidades e grandes metrópoles, causa variação climática de diversas formas. As gran-
des cidades e metrópoles possuem diferenças climáticas fundamentais das áreas de campo próximas. As temperaturas
de verão e inverno são maiores, a umidade relativa é menor, a quantidade de poluentes no ar é muitas vezes maior, a
quantidade de nuvens e nevoeiro e as precipitações são maiores do que em áreas de campo próximas; já a velocidade
dos ventos e a radiação diminuem. Assim, pode-se concluir que as modificações no ambiente para a instalação de
cidades densamente povoadas causam alterações no clima e na qualidade ambiental percebida. Problemas como chu-
vas intensas e torrenciais, inundações, queda de morros, ventania em determinados locais, assim como a instabilidade
climática são efeitos da alta densidade populacional e das transformações ambientais.

Modelo
(Enem) Em 1872, Robert Angus Smith criou o termo “chuva ácida”, descrevendo precipitações ácidas em Manches-
ter após a Revolução Industrial. Trata-se do acúmulo demasiado de dióxido de carbono e enxofre na atmosfera que,
ao reagirem com compostos dessa camada, formam gotículas de chuva ácida e partículas de aerossóis. A chuva
ácida não necessariamente ocorre no local poluidor, pois tais poluentes, ao serem lançados na atmosfera, são
levados pelos ventos, podendo provocar a reação em regiões distantes. A água de forma pura apresenta pH 7, e,
ao contatar agentes poluidores, reage modificando seu pH para 5,6 e até menos que isso, o que provoca reações,
deixando consequências.
Disponível em: http://www.brasilescola.com. Acesso em: 18 maio 2010 (adaptado).

O texto aponta para um fenômeno atmosférico causador de graves problemas ao meio ambiente: a chuva ácida (pluviosidade com pH baixo).
Esse fenômeno tem como consequência
a) A corrosão de metais, pinturas, monumentos históricos, destruição da cobertura vegetal e acidificação dos lagos.
b) A diminuição do aquecimento global, já que esse tipo de chuva retira poluentes da atmosfera.
c) A destruição da fauna e da flora e redução de recursos hídricos, com o assoreamento dos rios.
d) As enchentes, que atrapalham a vida do cidadão urbano, corroendo, em curto prazo, automóveis e fios de cobre da rede elétrica.
e) A degradação da terra nas regiões semiáridas, localizadas, em sua maioria, no Nordeste do nosso país.

Análise expositiva: O exercício demonstra como o fenômeno da chuva ácida é um grave problema de
A degradação ambiental que teve origem a partir do grande crescimento dos centros urbanos altamente
industrializados.
A produção industrial tem sido crescente desde o século XIX até hoje e, com isso, a atmosfera recebe
quantidades crescentes de gases estufa e resíduos industriais variados. A chuva ácida é um exemplo desse
tipo de poluição.
Alternativa A

42
DIAGRAMA DE IDEIAS

ELEMENTOS DO CLIMA FATORES CLIMÁTICOS


(VARIÁVEIS) (MODIFICAM OS ELEMENTOS)

RADIAÇÃO SOLAR LATITUDE

TEMPERATURA ALTITUDE

PRESSÃO
MASSA DE AR
ATMOSFÉRICA

CORRENTES
VENTO
MARINHAS

MARITIMIDADE E
CONTINENTALIDADE
UNIDADE

RELEVO
PRECIPITAÇÃO

VEGETAÇÃO

43
GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA:
Incidência do tema nas principais provas

É importantíssimo que o aluno considere Atentem-se ao tema “recursos minerais” combinado


todos os temas possíveis de exercícios, sem- com macroestructuras geológica, a FUVEST adora
pre, é claro, dando ênfase às relações destes essa relação.
temas com o cotidiano.

Podemos esperar da Unicamp questões para Para a UNIFESP, geografia física não é uma A Unesp explora muito bem os principais
todos esses temas. O candidato deve, entretanto, surpresa. Temas como geologia aparecem conceitos, chamando atenção para as questões
atentar-se mais nos conceitos de geologia. em questões que também traram de meio ambientais relacionadas aos temas das aulas.
ambiente e recursos minerais

Os temas desta frente não aparecem bem Dois temas importantes que são pedidos neste Essa prova costuma propor questões que As últimas provas demonstraram pouco interesse
distribuídos na prova do Einstein, mas mesclados vestibular são geologia e geomorfologia. É relacionam os fenômenos físicos aos impactos nesta frente, com raras questões relacionadas à
em uma mesma questão, como em questões importante estudar os principais conceitos sobre ambientais. Leituras, interpretações de notícias geologia e solos, de modo geral.
cuja base conceitual é geologia e as alternativas relevo e base geológica, pois as alternativas e textos científicos se somam às questões com
pedem um conhecimento de pedologia. exigem um entendimento bem específico que muita frequência.
podem levar o candidato ao erro.

UFMG

A base de formulação das questões da UEL quase Como a Geografia tem um perfil multidisciplinar, Este vestibular não apresenta em seu edital mais
sempre está em tópicos regionais, muitas vezes é importante dedicar-se aos conceitos desta recente e nem exige nas provas dos últimos
se sobrepondo às de geografia física de outras frente, de maneira integrada, sempre compreen- vestibulares questões relacionadas à disciplina
regiões do Brasil e do mundo. dendo os conteúdos em escala local. de Geografia.

Dos temas desta frente, os mais recorrentes em A dica para o conteúdo desta frente é compre- O vestibular Souza Marques apresentou, nos
provas da UERJ são Geomorfologia e Geologia, ender os elementos físicos e estabelecer uma últimos anos, uma tendência a inserir questões
sendo que, neste último, o aluno necessita conexão com os problemas ambientais. relacionadas à geografia física, de forma bem
compreender uma carga conceitual muito ex- equilibrada. Observa-se uma concentração de
tensa, principalmente no que se refere à escala temas sobre as forças estruturais e esculturais
geológica e aos acontecimentos da geomorfologia.
mais importantes.

45
AULAS Introdução ao pensamento geográfico
1e2
Competência: 6 Habilidade: 26

1. Ciência e Geografia mento filosófico. No início, era conhecida como História


Natural ou Filosofia Natural. Os maiores contribuintes do
“[...] a Geografia foi no início tanto uma filosofia como início do desenvolvimento dessa disciplina foram Tales de
uma ciência, filosofia de que os geógrafos alemães, Mileto, Heródoto, Eratóstenes, Hiparco, Aristóteles, Estra-
como os historiadores, se serviram com fins políticos. Ela bão e Ptolomeu. Com a expansão grega promovida por
foi muitas vezes utilizada como um meio de propaganda Alexandre da Macedônia (Alexandre, o Grande), o interes-
nacional ou internacional, uma arma de combate entre se pelo estudo das novas terras colonizadas cresceu bas-
Estados e Impérios, talvez mais ainda que a História. tante devido aos fatores práticos que o conhecimento da
Seja como for, ela ainda arca com as consequências de matéria proporcionava, como o incremento das técnicas de
sua juventude e das condições econômicas, sociais e po- navegação, que contribuiriam para uma atividade comer-
líticas nas quais se desenvolveu. Pelo fato de ter seus cial mais intensa, bem como as melhorias que a Geografia
próprios métodos, a geografia, mais que nenhuma outra adicionava à agricultura, indicando épocas, climas e solos
ciência, sofreu as influências ideológicas em curso [...]” ideais a um melhor cultivo.
Jean Dresch No período do auge do Império Romano, a Geografia
contribuiu com mais uma série de conhecimentos, como o
“périplo”, ou seja, a descrição dos portos, rotas e escalas
que os navegantes da época dispunham para realizar o co-
mércio, tão necessário ao funcionamento do Império, e que
também lhes garantia uma proteção mililtar mais eficaz.
Durante a Idade Média, árabes como Edrisi, Ibn Battuta
e Ibn Khaldun aprofundaram e mantiveram os antigos
conhecimentos gregos. As viagens de Marco Polo espa-
lharam pela Europa o interesse pela Geografia. Durante a
Renascença e ao longo dos séculos XVI e XVII, as grandes
multimídia: vídeo viagens de exploração reviveram o desejo de bases teóricas
mais sólidas e de informações mais detalhadas. A Geogra-
Fonte: Youtube
phia Generalis, de Bernardo Varenius, e o mapa-múndi, de
As Montanhas da lua
Gerard Mercator, são exemplos importantes disso.
Mountains of the moon é um filme de 1990
A segunda gênese resultou da institucionalização da Geogra-
que narra a verídica história da expedição
fia como ciência, e isso não se deu por acaso na Alemanha.
de dois oficiais britânicos – Richard Francis
Algumas condições propiciaram o surgimento da Geografia
Burton e John Hanning Speke – em busca da
moderna na Alemanha: um território fragmentado em deze-
fonte do Rio Nilo.
nas de pequenos reinos; o desejo de expansão imperialista,
O homem, impulsionado por fins de sobrevivência, econô- constitutivo do capitalismo. A origem científica da Geografia
micos ou políticos e até por curiosidade, sempre se pre- se deu na Alemanha do século XIX, à luz dos trabalhos de
Alexander Von Humboldt e Karl Ritter, que contribuíram para
ocupou em conhecer o meio em que se desenvolve sua
que a Geografia se estabelecesse em bases científicas. Ape-
vida. Uma ambição que está associada principalmente à
sar de Humboldt não ser geógrafo e tão pouco ter se pre-
necessidade de sobrevivência, presente ao longo da histó-
ocupado em sistematizar seus conhecimentos geográficos,
ria da humanidade.
por meio de escolas, sua contribuição foi importante para a
A primeira gênese da Geografia surgiu na Grécia antiga, Geografia. Os alemães têm sua importância na consolidação
onde se desenvolveu como ciência e método de pensa- da Geografia enquanto ciência, especialmente por estabe-

46
lecerem fundamentos científicos autênticos, ou seja, a Geo- os recursos da cartografia. Nesse princípio, o importante
grafia deixou de ser uma simples descrição do Planeta para é localizar fenômenos na superfície terrestre.
se transformar em uma ciência baseada na investigação das
§ Princípio da analogia ou geografia geral: formu-
relações entre natureza e sociedade.
lado por Paul Vidal de La Blache e Karl Ritter. Segundo
O intuito aqui não foi fazer um resgate profundo da histó- eles, após a área ser observada e delimitada, o geó-
ria do pensamento geográfico, mas apenas situá-lo sucin- grafo deve compará-la com outras áreas buscando as
tamente no tempo e no espaço. Assim, é possível falar em semelhanças e as diferenças existentes.
“Geografias” no plural, pois muitos estudantes aprende-
§ Princípio da causalidade: princípio formulado por
ram essa ciência sob diferentes perspectivas.
Alexander Von Humboldt, que propõe explicar as cau-
Entendendo a evolução das ciências sociais como resultado sas do fato observado.
das transformações da própria sociedade, fica fácil compre-
ender as mudanças conceituais que ocorreram na Geogra-
fia, que hoje pode ser hoje definida como uma ciência que
busca explicar o espaço como resultado da dinâmica social.
O espaço geográfico deve ser entendido como resultado
da relação entre homem, natureza e trabalho, elementos
considerados o tripé da Geografia.
A Geografia é definida por alguns autores como o estudo
das relações entre o homem e o meio, ou dito de outra
forma, entre a sociedade e a natureza. Dentro dessa con-
cepção, aparecem pelo menos três visões diferentes do
objeto: alguns autores vão apreendê-lo como sendo as
influências da natureza sobre o desenvolvimento da hu-
manidade; outros autores, mantendo a ideia da Geografia
como estudo da relação entre o homem e a natureza, vão Alexander Von Humboldt
definir o objeto como a ação do homem na transformação § Princípio da conexão ou interação: formulado
desse meio. E tem aqueles autores que concebem o objeto pelo francês Jean Brunhes, esse princípio estabelece
como a relação em si, com os dados humanos e os naturais que os fatos geográficos, físicos ou humanos nunca
possuindo o mesmo peso. Para esses, o estudo buscaria aparecem isolados; estão sempre interligados por elos
compreender o estabelecimento, a manutenção e a ruptura de relacionamento. Seu objetivo é identificar e analisar
do equilíbrio entre o homem e a natureza. Isso mostra o as relações existentes.
quanto é complexa a definição da Geografia.
§ Princípio da atividade: também formulado por
A Geografia renovada não se prende a uma visão tão es- Brunhes, o princípio da atividade estabelece o caráter
tanque da visão das ciências, não coloca barreiras tão rígi- dinâmico do fato geográfico que deve ser estudado em
das entre as disciplinas; logo, não possui uma necessidade seu passado para poder ser compreendido no presente
tão premente de formular uma definição formal de objeto. e se ter uma imagem do seu futuro.
A situação da Geografia tradicional é bem diferente, pois
ela se apoia totalmente nos fundamentos positivistas, que
pedem para legitimar a autoridade de uma ciência, uma 1.2. Espaço geográfico
definição precisa do objeto. A Geografia Renovada busca O objeto de estudo da ciência geográfica nem sempre foi
sua legitimidade na operacionalidade ou na relevância so- fácil de ser definido. Essa disciplina de síntese, que reúne co-
cial de seus estudos. nhecimento de diversas outras áreas, transitou, ao longo de
sua história, por diferentes leituras acerca de seu papel no
1.1. Princípios da Geografia campo das ciências e na interpretação da realidade, fruto
de diferentes escolas filosóficas que a influenciaram. Como
Para a Geografia ser considerada como ciência, fez-se vimos anteriormente, podemos encontrar desde abordagens
necessária a fixação de princípios metodológicos que lhe mais naturalistas e descritivas, herança do positivismo e do
conferiram caráter científico. São eles: determinismo alemão do século XIX, até da escola francesa,
§ Princípio da extensão: formulado por Friedrich Rat- do estudo dos diferentes gêneros de vida, também do século
zel. Segundo ele, o geógrafo, ao estudar um fato ou área, XIX, ambas fortemente marcadas pela perspectiva do impe-
deve proceder a sua localização e delimitação, utilizando rialismo e do neocolonialismo europeu da época.

47
Atualmente, sabe-se que há uma ciência geográfica que
se propõe a superar o descritivismo e o localizacionismo.
Seu arcabouço teórico e seu método de análise permitem
um leitura crítica do mundo, oferecendo elementos para o
entendimento da realidade mais ampla nas escalas local,
nacional e global. Seu objeto de estudo é o espaço geo-
gráfico, um produto social, fruto das interações sociais e
naturais da superfície terrestre.
Contudo, não há um consenso entre os geógrafos sobre o
que seria, exatamente, o espaço geográfico, haja vista que
muitos deles orientam-se a partir de diferentes correntes
de pensamento que apresentam perspectivas diversas. Milton Santos
Para a corrente da Nova Geografia, por exemplo, o espaço
geográfico corresponde à organização da sociedade e seus Para o geógrafo Milton Santos, estamos vivenciando um
elementos sobre o meio. período histórico de grandes avanços científicos e tecno-
lógicos, que teve início na década de 1950, chamado de
Certos autores, como Richard Hartshorne, defendem que Terceira Revolução Industrial. Esse período é caracterizado
o espaço geográfico é apenas uma construção intelectual, pela integração efetiva entre ciência, tecnologia e produ-
não existe de fato na sociedade. No caso, seria uma con- ção, ou seja, a descoberta científica passa a ter aplicação
cepção da forma como nós enxergamos a realidade, no imediata no processo produtivo. É a fase em que despon-
sentido de apreender como acontece a espacialização da tam segmentos industriais de alta tecnologia, como os de
sociedade e tudo o que por ela foi construído. telecomunicação (telefonia, robótica e transmissão televia),
Para Milton Santos, o espaço geográfico é um conjunto de além do aeroespacial (criação de satélites artificiais e avi-
sistemas de objetos e ações, isto é, os itens e elementos ões). O geógrafo definiu-o como período técnico-cien-
artificiais e as ações humanas que manejam tais instru- tífico-informacional.
mentos no sentido de construir e transformar o meio, seja
ele natural ou social.
Os geógrafos humanistas afirmam que o conceito de espaço
geográfico estaria atrelado à questão subjetiva, cultural e in-
dividual. Nesse sentido, o espaço é o local de morada dos se-
res humanos, o meio de vivência onde as pessoas imprimem
suas marcas diariamente, proporcionando novas leituras à
medida que a compreensão do mundo se modifica.
Podemos perceber, portanto, que dentro de algumas multimídia: Livros
definições existentes, esse conceito possui várias vi-
sões conflitantes entre si. No entanto, há um consen- A Natureza do Espaço – Milton Santos
so: o espaço geográfico representa a intervenção do Obra interdisciplinar que oferece um trata-
homem sobre o meio, ou seja, um produto (que, de- mento pioneiro às relações entre a técnica e
pendendo da abordagem, pode também ser um pro- o espaço e entre o espaço e o tempo, bases
dutor) das relações humanas e suas práticas sobre o para a construção de um sistema de concei-
substrato natural. tos coerentemente formulado, objetivando
Se ao longo de um rio, por exemplo, constrói-se uma pon- definir o espaço geográfico e seu papel ativo
te, estamos provocando a alteração da paisagem local, o na dinâmica social.
que representa a expressão do espaço geográfico. Se em
uma cidade adotam-se medidas de revitalização de áreas A revolução tecnológica, que conectou pessoas e mercados
degradadas, temos aí a transformação do espaço. Desse em todo o mundo, provocando impactos econômicos, so-
modo, tudo o que é construído pelo homem é, notada- ciais, geográficos e culturais, também ampliou as desigual-
mente, geográfico: hidrelétricas, cidades, campos agrícolas, dades entre povos e territórios. A velocidade com que se tem
sistemas de irrigação, entre outros elementos, que são as acesso às informações cria novas formas de produzir e agir
construções mais visíveis do espaço geográfico. sobre o espaço, criando o que chamamos de ciberespaço.

48
Ratzel também elaborou o conceito de Espaço Vital, que
seria formado pelas condições espaciais e naturais para a
manutenção ou consolidação do poder do Estado sobre o
seu território. As condições naturais seriam para o fortaleci-
mento de uma dada sociedade ou povo, ou seja, aquelas po-
pulações que dispusessem de melhor espaço vital estariam
mais aptas a se desenvolver e a conquistar outros territórios.
Essa noção foi fundamental diante do contexto histórico da
multimídia: Livros Alemanha, que havia acabado de passar pelo seu processo
de reunificação e necessitava de uma base para se afirmar
Por uma Geografia Nova – Milton Santos enquanto Estado, com capacidade de crescimento, expan-
são e dominação.
“Por uma Geografia nova: da crítica da Geografia
a uma Geografia Crítica”, escrito pelo Professor
Doutor em Geografia Milton Santos em 1978, é
uma das obras mais amplas e bem acabadas sobre Mesmo que alguns autores dissessem que o Determi-
a geografia crítica no mundo! O livro se tornou nismo era uma ideologia criada pelas classes domi-
um clássico dentro da ciência, continuando atual nantes europeias para justificar o colonialismo, a tese
em nossos dias. O autor aponta os problemas de que as condições ambientais determinam em larga
que impedem a construção de uma geografia medida os processos históricos era muito bem aceita
orientada para uma problemática social mais entre teóricos ligados à esquerda política. Esse foi o
ampla e construtiva. exemplo de Karl Marx, segundo o qual o capitalismo
surgiu na Europa por causa das condições edáficas do
continente, conforme a seguinte passagem:
1.3. Determinismo geográfico “Uma natureza pródiga demais ‘retém o ho-
O Determinismo foi a escola que surgiu no final do século mem pela mão como uma criança sob tutela’;
XIX, no período de transição do capitalismo comercial para ela o impede de se desenvolver ao não fazer
a fase monopolista e imperialista. Para seus defensores, as com que seu desenvolvimento seja uma neces-
condições naturais, especialmente as climáticas e, dentro sidade de natureza. A pátria do capital não se
delas, a variação de temperaturas ao longo das estações encontra sob o clima dos trópicos, em meio a
do ano, determinam o comportamento do homem, interfe- uma vegetação luxuriante, mas na zona tem-
rindo na sua capacidade de progredir. E os países ou povos perada. Não é a diversidade absoluta do solo,
que estivessem localizados em áreas meteorológicas mais mas sobretudo a diversidade de suas qualida-
favoráveis cresceriam mais. O homem é considerado um des químicas, de sua composição geológica, de
produto do meio, portanto, a natureza seria o fator deter- sua configuração física, e a variedade de seus
minante do seu modo de vida. produtos naturais que formam a base natural
Seu principal defensor e organizador foi o geógrafo alemão da divisão social do trabalho e que excitam o
Friedrich Ratzel. As ideias deterministas favoreceram as homem, em razão das condições multiformes
diferentes formas de dominação política e econômica. As ao meio em que se encontra situado, a multi-
teorias naturais de Lamarck, sobre hereditariedade dos plicar suas necessidades, suas faculdades, seus
caracteres adquiridos, e as de Charles Darwin, sobre a so- meios e modos de trabalho.”
brevivência e adaptação dos indivíduos mais bem-dotados
face ao meio natural fortaleceram a base do Determinismo.

1.4. Possibilismo geográfico


O Possibilismo surgiu na escola francesa, com o geógrafo
Paul Vidal de La Blache. Seus defensores acreditam na pos-
sibilidade de haver influências recíprocas entre o homem e
o meio natural, e que o homem se adapta ao meio natural.
Como ser racional, o homem é elemento ativo e, portanto,
tem condições de modificar o meio natural e adaptá-lo às
Friedrich Ratzel suas necessidades.

49
Karl Ritter
Paul Vidal de La Blache

O Possibilismo surgiu na França em oposição ao Determi-


nismo ambiental. Seu objetivo era desmascarar o expan-
1.6. Nova Geografia
sionismo alemão ao criticar o conceito de Espaço Vital e,
ao mesmo tempo, viabilizar o colonialismo francês. Além
disso, queria abolir qualquer forma de determinação da
natureza, adaptando a ideia de que a ação humana é
marcada pela contingência.

1.5. Método regional


Método que enfatiza a diferenciação de área não a partir
das relações entre o homem e a natureza, mas a partir
da integração de fenômenos heterogêneos em uma dada
porção da superfície da Terra. Valorizado apenas a partir de multimídia: sites
1940, esse pensamento geográfico já era abordado pelo
filósofo Immanuel Kant e o geógrafo Karl Ritter no final do http://www.geografia.fflch.usp.br
século XVIII e na primeira metade do XIX, respectivamente.
A Geografia Regional procurava estudar as unidades com- A Nova Geografia, que surgia em meados da década de
ponentes da diversidade areal da superfície terrestre. Em 1950, tentando superar as dicotomias e os procedimen-
cada lugar, área ou região a combinação e a interação das tos metodológicos da Geografia Regional, desenvolveu-se
diversas categorias de fenômenos refletiam-se na elabora-
procurando incentivar e buscar um enquadramento maior
ção de uma paisagem distinta, que surgia de modo objeti-
da Geografia no contexto científico global. O aparecimento
vo e concreto. O estudo das regiões e das áreas favoreceu a
de novas perspectivas de abordagem estava integrado na
expansão da perspectiva regional ou cronológica, que teve
como êmulo e padrão as clássicas monografias da escola transformação profunda provocada pela Segunda Guerra
francesa. Preocupados em compreender as características Mundial nos setores científico, tecnológico, social e econô-
regionais, o geógrafo desenvolveu a habilidade descritiva, mico. Essa transformação, que abrangia o aspecto filosófi-
exercendo a caracterização já estabelecida por La Blache, co e metodológico, foi chamada de “revolução quantitati-
em 1913. Defrontando-se com os casos, a explicação ba- va e teorética da Geografia”. Algumas das metas básicas
seava-se no destrinchar a evolução histórica e estabelecer propostas por essa Nova Geografia eram: maior rigor na
a sequência das fases que culminaram nas características aplicação da metodologia científica, desenvolvimento de
atuais da referida área ou região. Levando em conta as teorias e principalmente uso de técnicas estatísticas e ma-
concepções de que o globo era um organismo coeren- temáticas para analisar os dados coletados e as distribui-
te, com as suas partes funcionando de modo integrador, ções espaciais dos fenômenos.
admitia-se que muitas unidades areais executavam uma
“função” em termos do conjunto. A cultura canavieira no Com a Geografia Quantitativa, os indicadores socioeconô-
Nordeste brasileiro era desenvolvida para abastecer o mer- micos são suscetíveis de serem expressos em termos nu-
cado europeu; os países-colônias forneciam matérias-pri- méricos, avaliando, assim, o grau de desenvolvimento entre
mas para os países imperialistas, e outras explicações simi- as nações, a análise de tabelas e de gráficos que explicam
lares podem ser arroladas para os mais diversos aspectos e a pobreza e a possibilidade de esconder a real causa do
categorias de fenômenos. subdesenvolvimento. A estagnação econômica do mundo

50
subdesenvolvido é tratada como uma etapa necessária, A Geografia Radical interessava-se pela análise dos
que deve ser superada em curto prazo, desde que essas na- modos de produção e das formações socioeconômicas.
ções adotem políticas que favoreçam a expansão do capi- Isso porque o marxismo considera como fundamental os
tal externo e ampliem as disparidades de desenvolvimento modos de produção, enquanto as formações socioeco-
entre nações e camadas sociais. nômicas espaciais (ou formações econômicas e sociais)
são as resultantes. As atividades dos modos de produção
O uso das técnicas de análise deve ser evidentemente in-
constroem e geram formações diversas. Cada modo de
centivado porque elas se constituem em ferramentas, em
produção, capitalista ou socialista, por exemplo, reflete-
meios para o geógrafo. O conhecimento dessas diversas
-se em formações socioeconômicas espaciais distintas,
técnicas (as simples, as multivariadas e as relacionadas
cujas características da paisagem geográfica devem ser
com a análise seriada e espacial) é básico para o geógra-
analisadas e compreendidas. Uma corrente que propu-
fo. No entanto, usar técnicas estatísticas, por mais sofis-
nha romper com a ideia de neutralidade científica para
ticadas que sejam, não é fazer Geografia. Se o geógrafo
fazer da Geografia uma ciência apta a elaborar uma críti-
coleta inúmeros dados e informações e os analisa através
ca radical à sociedade capitalista pelo estudo do espaço
do computador (por exemplo, usando a análise fatorial ou
e das formas de apropriação da natureza. Nesse sentido,
a discriminante), sem ter noção clara do problema a pes-
enfatizava a necessidade de engajamento político dos
quisar e se não dispuser de arsenal teórico e conceitual
geógrafos e defendia a diminuição das disparidades so-
que lhe permita adequadamente interpretar os resultados
cioeconômicas e regionais.
obtidos, estará apenas fazendo trabalho de mecanização,
mas nunca um trabalho geográfico.
2. Conceitos importantes
1.7. Geografia Crítica A linguagem geográfica, além dos princípios e das es-
A Geografia Crítica, de orientação marxista, manifestou-se colas geográficas, também necessita da formulação de
entre as décadas de 1960 e 1970, num ambiente contes- alguns conceitos-chave como pré-requisito para a análise
tatório nos Estados Unidos por causa da Guerra do Vietnã, de seus fenômenos. Esses conceitos são ferramentas de
da luta pelos direitos civis, do processo de descolonização análise do espaço e carregam forte grau de parentesco
da África, da crise da poluição e da urbanização. Preocu- entre si, pois todos se referem às ações humanas que
pada em ser crítica e atuante, entendia que a produção transformam esse espaço.
do espaço deriva do trabalho humano e assume formas
diferentes em função da diversidade de combinações dos 2.1. Conceito de Lugar
modos de produzir, circular e pensar.
“O homem não vê o universo a partir do universo, o ho-
mem vê o universo desde um lugar.”
Milton Santos

Para a Geografia, esse conceito está, nas principais abor-


dagens, vinculado a uma análise compreensiva e, portanto,
não objetiva e nem racionalista da realidade. Nesse senti-
do, ele se articula a partir da relação ou compreensão do
ser diante do espaço geográfico, ou seja, o lugar é o espaço
apropriado ou percebido pelas relações humanas.
É sabido que cada pessoa enxerga o mundo de uma
Karl Marx
determinada forma, porque isso se relaciona com o con-
A Geografia Crítica também visava ultrapassar e substituir a junto de experiências dos indivíduos ao longo do tempo,
Nova Geografia. Seus autores consideravam a Nova Geogra- suas concepções culturais e seus valores morais e até
fia como sendo pragmática, alienada, objetivada no estudo religiosos. Assim sendo, as análises geográficas pauta-
dos padrões espaciais e não nos processos e problemas so- das no conceito de lugar concebem o espaço analisado
cioeconômicos e com grande função ideológica. Dessa ma- não de uma maneira direta ou racional, mas por meio
neira, procurava analisar primeiramente os processos sociais, da compreensão humana e, muitas vezes, com base em
e não os espaciais, o oposto do que se costumava praticar na valores afetivos ou de identidade. É um tipo de análise
geografia teórica quantitativa. Nessa focalização, encontra- mais comum no âmbito da Geografia Cultural e da Ge-
-se implícito o esforço na tentativa de integrar os processos ografia da Religião, mas pode envolver outras áreas do
sociais e os espaciais no estudo da realidade. saber em questão.

51
2.2. Conceito de Paisagem fronteiras. Entretanto, nem sempre essas fronteiras são visíveis
ou bem delineadas. Na maioria das abordagens geográficas,
“Tudo aquilo que nós vemos, que a nossa visão alcança, o conceito de território está relacionado a uma configuração
é a paisagem [...]. Não apenas formada de volumes, mas de poder. É, por isso, uma área apropriada, uma porção do es-
também de cores, odores, movimentos, sons, etc.” paço geográfico onde uma relação hierárquica se estabelece.
Milton Santos
O território possui uma característica importante, que é a sua
Em algumas análises, a paisagem é diretamente definida multiplicidade em termos de tipificações e de escala. Ele pode
como o “aquilo que a visão alcança” ou como o “mundo abranger desde uma área muito restrita, como uma rua ou
conforme a sua aparência externa”. Portanto, a paisagem um terreno qualquer, até uma coalizão internacional compos-
costuma ser definida como formas que se revelam diante ta por forças militares de diversos países. Ao mesmo tempo,
dos nossos olhos na produção do espaço geográfico. seus tipos envolvem territorialidades militares, jurídicas (vin-
Outras concepções desse modelo são apresentadas a par- culadas ao Estado), naturais, culturais e até criminais, como
tir da contestação desse conceito. Em muitas abordagens os territórios de tráfico de drogas ou de grupos mafiosos.
acadêmicas, a paisagem é concebida não apenas a partir
da visão, mas da multissensorialidade, ou seja, da utiliza- 2.4 Conceito de Região
ção dos demais sentidos (tato, olfato, paladar e audição). Faz referência a uma área ou espaço que foi dividido obede-
Além disso, a paisagem é, muitas vezes, reveladora de cendo a um critério específico. Trata-se de uma elaboração
experiências e atrelada a fatores da expressão humana e racional humana para melhor compreender uma determina-
pessoais, o que lhe dá uma dimensão cultural. da área ou um aspecto dela. Portanto, as regiões podem ser
criadas para realizar estudos sobre as características gerais
de um território (as regiões brasileiras, por exemplo) ou para
entender determinados aspectos do espaço (as regiões geo-
econômicas do Brasil, para entender a economia brasileira).
Esse conceito, amplamente utilizado no senso comum, é
geralmente empregado para designar uma área do espaço
mais ou menos delimitada. Na Geografia, a região é defini-
da como uma porção superficial designada a partir de uma
Paisagem natural
característica que lhe é marcante ou que é escolhida por
aquele que concebe a região em questão. Assim, existem
regiões naturais, econômicas, políticas, entre muitas outras.
Portanto, a região não existe diretamente, mas é uma cons-
trução intelectual humana. No âmbito da Literatura, essa no-
ção está vinculada ao conceito de regionalismo, que expres-
sa o conjunto de costumes, expressões linguísticas e outros
valores que apresentam variação entre uma região e outra,
dando uma identidade coletiva para os diferentes lugares.
Paisagem modificada

2.3. Conceito de Território


“[...] o território é um nome político para o espaço de um
país. Em outras palavras, a existência de um país supõe
um território. Mas a existência de uma nação nem sempre
é acompanhada da posse de um território e nem sempre
supõe a existência de um Estado. Pode-se falar, portanto,
de territorialidade sem Estado, mas é praticamente impos-
sível nos referirmos a um Estado sem território.”
SILVEIRA, Maria Laura; SANTOS, Milton.
O Brasil, território e sociedade no início do século XXI.
multimídia: música
Fonte: Youtube
O território, um termo muito empregado no âmbito da polí-
- Gente Humilde – Chico Buarque
tica, é normalmente definido como uma área delimitada por

52
VIVENCIANDO

Espaços públicos de convivência e lazer são frequentemente abordados e estudados pela Geografia a partir da ideia
de lugar. Em alguns casos, estudos geográficos com base nessas premissas foram responsáveis pela mudança na
arquitetura de praças e espaços de lazer, especialmente por adequar tais locais à compreensão e percepção das pes-
soas e à ideia que elas tinham de como deveria ser o seu lugar. Se possível, veja fotos e observe as transformações
desses lugares na atualidade.

53
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.

A Geografia é uma ciência humana que estuda o espaço geográfico e suas composições, analisando a interação entre
sociedade e natureza. Essa área do conhecimento utiliza em suas abordagens uma série de conceitos que são con-
siderados básicos para a fundamentação de seus estudos. Em algumas análises, a paisagem é diretamente definida
como “aquilo que a visão alcança” ou o “mundo conforme a sua aparência externa”. Portanto, a paisagem costuma
ser definida como as formas que se revelam diante dos nossos olhos na produção do espaço geográfico.
Porém outras concepções desse modelo são apresentadas a partir da contestação desse conceito. Em muitas abor-
dagens acadêmicas, a paisagem é concebida não apenas a partir da visão, mas da multissensorialidade, ou seja, da
utilização dos demais sentidos (tato, olfato, paladar e audição). Além disso, a paisagem é, muitas vezes, reveladora de
experiências e atrelada a fatores da expressão humana e pessoais, o que lhe dá uma dimensão cultural.

Modelo
(Enem) Portadora de memória, a paisagem ajuda a construir os sentimentos de pertencimento; ela cria uma atmosfe-
ra que convém aos momentos fortes da vida, às festas, às comemorações.
CLAVAL, P. Terra dos homens: a geografia. São Paulo: Contexto, 2010 (adaptado).
No texto é apresentada uma forma de integração da paisagem geográfica com a vida social. Nesse sentido, a paisa-
gem, além de existir como forma concreta, apresenta uma dimensão
a) política de apropriação efetiva do espaço.
b) econômica de uso de recursos do espaço.
c) privada de limitação sobre a utilização do espaço.
d) natural de composição por elementos físicos do espaço.
e) simbólica de relação subjetiva do indivíduo com o espaço.

Análise expositiva: Nesse exercício o Enem busca mostrar as relações da vida humana com a paisagem e
E o quanto os elementos dessa paisagem estão carregados de uma dimensão simbólica, pois cada ser humano
entende e enxerga a mesma paisagem de maneiras diferentes.
A paisagem constitui a aparência do espaço, é o que se pode visualizar no horizonte, sendo composta por
elementos naturais e elementos artificiais produzidos pelo homem. Além da dimensão concreta, os elementos
da paisagem carregam uma dimensão simbólica e cultural, uma vez que a percepção da paisagem é individual
e carregada de elementos subjetivos. Duas pessoas que visualizam a mesma paisagem possivelmente não vão
descrevê-la da mesma maneira.
Alternativa E

54
DIAGRAMA DE IDEIAS

ESPAÇO
GEOGRÁFICO

PAISAGEM PAISAGEM
CULTURAL NATURAL

URBANA RURAL FLORESTAS, MATAS,


CAMPOS,
HUMANIZADO DESERTOS, ILHAS

LUGAR ESPAÇO
FÍSICO

DOMÍNIO
JURÍDICO DOMÍNIO
MORFOCLIMÁTICO

FAZENDAS CIDADES MONTANHAS


SÍTIOS BAIRROS PLANALTOS
CHÁCARAS TERRENOS PLANÍCIES
DEPRESSÕES

REGIÕES
GEOECONÔMICAS REGIÕES
NATURAIS

OCEANOS
TERRITÓRIO
MARES
PAÍSES PLANETA TERRA
CONTINENTES
ESTADOS
BACIAS

55
Geologia
AULAS
3e4
Competência: 6 Habilidade: 26

1. Aspectos geológicos: historia geológica começou. Isso aconteceu provavelmente


antes de 3,8 bilhões de anos, mas a prova disso não está
origem e evolução da Terra disponível, pois a erosão e o tectonismo destruíram pro-
vavelmente toda a rocha mais antiga que 3,8 bilhões de
Considerando que tenha havido uma única explosão, a Ter- anos. O começo do registro de rocha que existe atualmente
ra e os demais astros do Sistema Solar teriam se originado na Terra é do Arqueano.
de uma única massa homogênea que se fragmentou em
bilhões e bilhões de partes sob efeito da explosão.
Para a teoria que defende várias explosões, a massa inicial
era heterogênea e expandiu-se muito rapidamente com as
explosões. Entretanto, para outros astrônomos, essa massa
até poderia ser uniforme, mas, devido à queda brusca da
temperatura depois das explosões, ela teria ficado repleta Atração gravítica
Formação de
Acreção
Colisão de
ProtoplanetaD iferenciação

planetesimais planetesimais
de fraturas que a fragmentaram em bilhões de pedaços.
Baseando-se nessas hipóteses, e reunindo dados forneci- A temperatura aumenta devido:

dos pelas várias pesquisas realizadas na superfície lunar, os • impacto dos planetesimais
• compressão
astrônomos elaboraram a Teoria da Acreção (ou acrés- • desintegração radioativa
cimo) para explicar a formação da Terra e dos demais Diferenciação

corpos do Sistema Solar. Esses corpos teriam se formado


a partir da agregação de várias partículas que estariam gi- Ilustração da Teoria da Acreção ou Acréscimo
rando ao redor de um Sol primitivo. O Sol então se formou
dentro de uma nuvem de gás e poeira, e começou a se
submeter à fusão nuclear e a emitir luz e calor. As partícu-
las que orbitavam o Sol começaram a se unir em corpos
maiores, conhecidos como planetésimos, que continuaram
a agregar-se em planetas maiores. O material “restante”
deu origem a asteroides e cometas.
Como as colisões entre planetésimos grandes liberam mui-
to calor, a Terra e outros planetas seriam derretidos no co-
meço de sua história. A solidificação do material derretido
aconteceu enquanto a Terra começou a esfriar, ou seja, a
Terra começou a perder energia em forma de calor para o multimídia: Livros
espaço, processo que se desenvolve de fora para dentro.
Isso explicaria por que nosso planeta é envolvido por uma Geografia do Brasil - Jurandyr Luciano Sanchez Ross
espécie de casca sólida e contém em seu interior camadas Este livro é a mais moderna obra de refe-
com elementos em estado de fusão. rência no âmbito dessa disciplina. Desta-
Os meteoritos mais velhos e as rochas lunares têm, aproxi- ca-se pela abordagem interpretativa, que
madamente, 4,5 bilhões de anos, mas a rocha mais antiga determinou a escolha de certos temas con-
da Terra, conhecida atualmente, tem 3,8 bilhões de anos. siderados de suma importância no estudo
Por algum tempo, durante os primeiros 800 milhões de da geografia
anos de sua história, a superfície da Terra mudou de líquido
para sólido. Visto que a rocha dura formou-se na Terra, sua

56
1.1 As eras geológicas
A história geológica do planeta é dividida em fases chamadas eras geológicas, divididas em períodos.
Escala geológica
Era Período Eventos no Planeta Eventos no Brasil Datação (em milhões de anos)

§ Solidificação dos
minerais e formação
Azoica - das primeiras rochas - 4500 a 3800
cristalinas
§ Inexistência de vida
§ Formação das ro-
chas magmáticas e
Arque- metamórficas § Formação das serras do Mar e da Man-
tiqueira 3800 a 2500
ozoico § Formação dos escu-
Pré-cambriana dos cristalinos
Protero- § Formação das primei- § Formação dos escudos brasileiro e gui-
ras rochas sedimen- ano 2500 a 590
zoico tares
Cambriano 590 a 500
Ordovi- § Glaciação e diastro-
fismo 500 a 438
ciniano § Formação das bacias sedimentares an-
§ Rochas sedimentares tigas, do varvito de Itu (SP), e do carvão
Siluriano 438 a 408
Paleozoica e metamórficas mineral do sul do Brasil
Devoniano § Início da formação da bacia sedimentar 408 a 360
Início do processo de for- do Paraná e do São Francisco
Carbonífero 360 a 286
mação do carvão mineral
Permiano - 286 a 248
Triássico § Formação das bacias sedimentares do 248 a 213
Paraná, Sanfranciscana e do meio Norte
Jurássico 213 a 144
§ Grande atividade vul- § Formação das ilhas de Trindade, Martin
cânica Vaz e do arquipélago de Fernando de
Mesozoica Noronha e Penedos de São Pedro e São
§ Formação de baciais Paulo
Cretáceo sedimentares 144 a 65
§ Derrames basálticos na região Sul
§ Fomação do planalto arenito basáltico
Formação das grandes
Formação da bacia sedimentar (Ex.: bacia
Terciário cadeias de montanhas 65 a 2
sedimentar Amazônica)
Cenozoica (dobramentos modernos)
Surgimento do homem
Quaternário Formação da bacia sedimentar do Pantanal 2 a hoje
moderno

Pré-Cambriano ECHIPPUS MAMÍFEROS GIGANTES

MACACOS
Paleozóica
HIMALAIA E 60 milhões 36 milhões ALPES
MONTANHAS
PLANTAS
Mesozóica ROCHOSAS
TERRESTRES 400 milhões
65 milhões ANFÍBIOS
420 milhões PASTOS
Cenozóica
PEIXES
(Terciário) 350 milhões
ROCHAS 2,7 Bilhões 26 milhões
500 milhões MAIS INSETOS
Cenozóica FORMAS
ANTIGAS
(Quaternário) PRIMITIVAS
FORMAÇÃO SERRAS NEVADA
ROCHAS DA TERRA DA VIDA
ALGAS E 320 milhões E DAS CASCATAS
SEDIMENTARES 4,6 milhões BACTÉRIAS
ÚLTIMOS MAIS ANTIGAS 3,8 bilhões de anos RÉPTEIS
DINOSSAUROS PROTOZOÁRIOS 2 milhões
TRILOBITAS E ESPONJAS 1 bilhão
2 bilhões
APALACHES GRANDE CÃNION
PLANTAS COM FLORES 590 milhões 600 milhões
E URAIS
130 milhões PETRÓLEO
PLANTAS DE 230 milhões
E GÁS
SEMENTES
PÁSSAROS 150 milhões
180 milhões MAMÍFEROS
IDADES
GLACIAIS
DINOSSAUROS
MAMUTE

1 milhão

Escala geológica ilustrada em forma de espiral.

57
2. A estrutura da Terra Ela envolve a Terra e a protege. É dividida em cinco
camadas: troposfera, estratosfera, mesosfera, ionos-
fera e exosfera. A troposfera é a mais importante, mais
próxima da superfície terrestre (onde vive o homem e
ocorrem quase todos os fenômenos metereológicos).
§ Biosfera – é o conjunto de todos os ecossistemas da Ter-
ra; ela inclui a biota e os compartimentos terrestres com os
quais a biota interage (Litosfera, Hidrosfera e Atmosfera).

2.1. As camadas da estrutura


interna da Terra
multimídia: vídeo A estrutura da Terra é formada por camadas de diferentes
formações químicas (modelo 1) e físicas (modelo 2).
Como nasceu nosso planeta

O planeta Terra é um corpo dinâmico, com uma superfí-


cie que serve de suporte para a sobrevivência dos seres
humanos e demais seres vivos. Nessa superfície, também
chamada de litosfera ou crosta terrestre, encontram-se os
recursos minerais energéticos que alimentam as comple-
xas organizações econômicas. Na litosfera estão também
1) Modelo baseado na composição 2) Modelo baseado na rigidez dos materiais
os solos, as águas oceânicas e continentais, as formas de dos materiais do interior da Terra. do interior da Terra. (B) magma pastoso

relevo e os fenômenos climáticos que, em conjunto, interfe- (A) litosfera ou crosta terrestre

rem na ocupação e organização do espaço físico-territorial


para a instalação de complexos industriais, a formação de Os dados que se tem a respeito do interior da Ter-
cidades, as práticas agrícolas, entre outras atividades. ra foram obtidos através de perfurações para extrair
A superfície da Terra é composta por elementos diferentes: petróleo, e não ultrapassam os 5 mil metros ou 6 mil
metros de profundidade. Essas perfurações são exe-
sólidos, líquidos e gasosos. São eles:
cutadas em bacias sedimentares, não alcançando as
estruturas rígidas mais profundas.
A divisão da estrutura da Terra foi baseada princi-
palmente nos estudos sobre abalos sísmicos, pois o
Atmosfera comportamento das ondas sísmicas altera-se na pas-
Biosfera
sagem de uma camada para a outra em função da
natureza dos materiais.

Hidrosfera
O modelo atualmente aceito da estrutura interna do plane-
Litosfera ta revela três grandes camadas: o núcleo (NiFe), o manto
e a crosta terrestre (litosfera).
§ Litosfera – camada sólida da Terra formada por mi-
nerais e rochas, também chamada de crosta terrestre.
2.1.1. Núcleo
Para fins econômicos, sua utilização limita-se a poucos Acredita-se que o núcleo da Terra, formado por ní-
quilômetros de profundidade, de onde são extraídas quel e ferro, possua uma divisão entre núcleo exter-
algumas riquezas minerais. no e núcleo interno. Provavelmente o núcleo exter-
no encontra-se no estado líquido, envolvendo o núcleo
§ Hidrosfera – camada líquida formada por oceanos,
interno que, por estar submetido a altas pressões, este-
mares, rios e aquíferos, lagos subterrâneos e água. Os
ja no estado sólido, exibindo temperaturas superiores a
interesses do homem limitam-se a mais ou menos mil
5.000 ºC. Desse modo, a interação entre o núcleo externo e
metros de profundidade.
o interno parece ser a principal causa da formação do campo
§ Atmosfera – camada gasosa, formada por uma mis- geomagnético da Terra. A alta densidade do núcleo indica
tura de gases (oxigênio, gás carbônico e nitrogênio). que ele seria metálico, talvez formado por níquel e ferro.

58
As principais subdivisões da Terra SIMA), que recobre toda a superfície do planeta, e a crosta
Espessura ou Densidade continental ou superior, que fica sobre a oceânica. Não
Massa existe crosta superior sobre os oceanos, apenas a crosta in-
raio (Km) média (g/cm3)
Crosta ferior, com espessuras que variam de 4 a 8 quilômetros. Na
7 7,0 × 1024 2,8 crosta continental predominam silicatos de alumínio (SIAL),
oceânica
com espessura que varia de 30 a 70 quilômetros. É for-
Crosta
40 1,6 × 1025 2,7 mada de rochas – granitos, migmatitos, basaltos e rochas
continental
sedimentares –, semelhantes às que afloram na superfície.
4,08 × O que diferencia as rochas de cada subcamada da litosfera
Manto 2870 4,6
1027 é a idade delas. As dos fundos oceânicos raramente ultra-
1,88 × passam 250 milhões de anos; as da crosta terrestre podem
Núcleo 3480 10,6 chegar a 4,5 bilhões de anos.
1027
1,39 ×
Oceanos 4 1,0
1024
Oceano
Atmosfera - 5,1 × 1021 - Crosta terrestre (SIAL)
Crosta oceânica (SIMA)

5,98 ×
Terra 6371 5,5 Manto
1027
Fonte: Estrutura da Terra, S.P. Clark Jr., 1973
Crosta terrestre e crosta oceânica

2.1.2. Manto A Terra está em constante movimento – um dinamismo


composto por duas forças opostas chamadas forças
O manto, encontrado em estado pastoso ou magmático,
endógenas (internas), que ocorrem no interior do pla-
é responsável por 80% do volume total do planeta. As per-
neta, no núcleo ou no manto, responsáveis pelas estru-
turbações geológicas que atingem a crosta, como terremo-
tos e vulcanismos, são provocadas pela pressão exercida turas que sustentam as formas superficiais da litosfera; e
por ele. Para entender melhor: o magma (composto essen- forças exógenas (externas), que correspondem à ação
cialmente de silicatos de magnésio), que é expelido pelas dos ventos, chuvas, geleiras e outros fenômenos exter-
erupções vulcânicas, é componente do manto. O manto nos, que produzem o desgaste e a modificação (modela-
terrestre estende-se desde cerca de 30 km de profundi- gem) constante do relevo. A atual disposição das massas
dade até 2.900 km abaixo da superfície (transição para o continentais e a movimentação ocorridas na superfície
núcleo). Ele difere da crosta pelas suas características de terrestre, chamadas de tectonismo, relacionam-se intrin-
composição química e de seu comportamento mecânico, secamente com a dinâmica interna do planeta, ou seja,
traduzido pela existência de uma alteração súbita (uma de- dizem respeito à Teoria das placas tectônicas.
scontinuidade) nas propriedades físicas dos materiais, que
ficou conhecida como descontinuidade Mohorovičić
ou descontinuidade de Moho. Essa descontinuidade
marca a fronteira entre a crosta e o manto.
3. A gênese das rochas
As rochas são agregados naturais de minerais e formam
a parte essencial da crosta terrestre. Sua origem pode ser
Evidências sísmicas mostram que, em algumas
regiões cratônicas, a crosta continental está dividida orgânica ou inorgânica e apresentam composição química
em duas partes maiores pela descontinuidade de definida.
Conrad, que marca um pequeno aumento das ve- As rochas se classificam em três grandes grupos con-
locidades sísmicas nessa profundidade, e separa as
forme sua origem e características minerais de textura:
rochas de densidade menor na crosta superior das
rochas de maior densidade na crosta inferior. a. magmáticas ou ígneas
b. sedimentares
2.1.3. Crosta terrestre c. metamórficas
A crosta terrestre é subdividida em duas camadas ou
crostas: a crosta oceânica ou inferior (de constituição ba- Uma rocha pode se transformar em outra do mesmo tipo
sáltica, com predomínio de silicatos de magnésio e ferro – ou de tipo diferente.

59
VIVENCIANDO

As rochas estão mais presentes no nosso dia a dia do que imaginamos. O basalto (rocha magmática extrusiva), por
exemplo, é utilizado na produção de brita, usada na composição do asfalto de ruas e estradas. Procure saber sobre
uma aplicação econômica de alguns tipos de rochas.

3.1. Rochas magmáticas ou ígneas Quanto mais lento for o resfriamento do magma, maio-
res serão os cristais de rocha – os minerais. As rochas
Ao se formar, o planeta Terra era pouco mais do que uma ígneas plutônicas são compostas por cristais de minerais
bola de lava. Não havia a litosfera como a conhecemos macroscópicos, como o granito, cujo nome diz respeito à
hoje. As rochas magmáticas foram formadas em am- sua textura granular; os grãos dos minerais que compõem
biente com temperaturas muito elevadas, o que permitiu a essa rocha são bem perceptíveis: quartzo, mica, feldspato
existência de materiais rochosos em fusão (magma). Essas entre outros. O granito é o tipo mais comum de rocha
rochas, como o próprio nome indica, formadas pela len- intrusiva na Terra.
ta solidificação (cristalização) do magma pastoso, ficaram
conhecidas como rochas ígneas (do latim ignis, fogo). A
maioria dos geólogos acredita que, durante certo tempo,
toda a crosta terrestre foi constituída desse tipo de rocha e
que todas as restantes originam-se delas.
Dentro das rochas ígneas existe uma diferença básica: des-
de o início, algumas se resfriaram rapidamente em contato
com a atmosfera primitiva do globo. Ainda hoje, o magma
lançado de vulcões ativos esfria rapidamente em contato
com a atmosfera. Por outro lado, houve uma parte do mag-
ma que estava no interior do planeta, um pouco abaixo da
superfície, que também se solidificou, de modo muito mais
lento do que a parcela em contato direto com a atmosfera.
multimídia: sites
O granito, o diabásio e o basalto, muito antigos e resisten-
tes, são exemplos desse tipo de rocha. https://www.historiadomundo.com.br/inca

§ Rochas intrusivas ou plutônicas


Durante sua ascensão à superfície, o magma vai abrindo es-
§ Rochas extrusivas ou vulcânicas
paço por entre a litosfera – intrusões magmáticas – e pode
parar junto a câmaras magmáticas próximas à superfície Rochas que resultam da solidificação rápida do material
sem alcançá-la. Nessas câmaras, a lava esfria devagar e dá magmático (lava) quando em contato com a atmosfe-
origem às rochas plutônicas. Depois de muito tempo, a ero- ra. Nos vulcões, o magma atinge a superfície da crosta
são e o intemperismo acabam deixando expostas essas ro- e entra em contato com a temperatura ambiente, res-
chas que há milhões ou bilhões de anos eram subterrâneas. friando-se rapidamente. Como a solidificação é pratica-
mente instantânea, os cristais não têm tempo para se
desenvolver – são muito pequenos e invisíveis a olho
nu. Eles têm textura afanítica (sem cristais macroscópi-
cos): seus grãos só podem ser observados com a ajuda
do microscópio; ou textura vítrea, cujos minerais não
podem ser individualizados nem mesmo se observados
ao microscópio. Os basaltos são as rochas vulcânicas
Granito mais comuns.

60
3.2. Rochas sedimentares
As rochas da superfície terrestre são alteradas de forma
contínua por agentes naturais, como a água em seus vá-
rios estados, os gases atmosféricos, a ação dos seres vivos
e as variações de temperatura. Os produtos resultantes da
alteração paisagística, por sua vez, poderão ser detríticos
(pedras soltas, areia, fração fina dos solos), ou também se
dissolver na água. Em conjunto com a alteração das ro-
chas, acontece o processo erosivo, que arranca e desloca
Basalto
os materiais rochosos previamente alterados. As rochas
sedimentares podem ser provenientes da erosão de ro-
Como os derrames ocorrem intermitentemente, a chas preexistentes e da precipitação de substâncias –
superposição de camadas assume o aspecto de pla- processo químico no qual se forma um sólido insolúvel
nos de estratificação. As vulcânicas dão respostas dentro de uma solução química – ou, ainda, de material
distintas aos processos de desgaste. A intensidade da correspondente a conchas e esqueletos de organismos
rede de fraturas, falhas e planos de acamamento ou mortos. Fragmentos de minerais e rochas, de animais e
de posição são fatores estruturais muito importantes de vegetais ou de precipitados químicos em soluções
na diminuição da resistência ao desgaste das rochas aquosas são conhecidos como sedimentos – detrito são
vulcânicas. Como exemplo, podem-se tomar os pa- carregados na erosão.
drões de relevo que ocorrem no Sul do Brasil, nos
derrames por fissuras de lavas vulcânicas da bacia do
Paraná. Nessa área o relevo é intensamente disseca-
do, apresentando-se com grande quantidade de vales
fluviais estreitos e profundos e vertentes em forma de
patamares. A elevada densidade de vales está asso-
ciada às linhas de fratura e falhas, e os patamares,
aos acamamentos dos diversos derrames vulcânicos.
As rochas ígneas, em geral, oferecem grande resistên-
cia ao desgaste, tanto por ação física como pela ação
química da água.
multimídia: sites
ROSS, J. L. S.: Geografia do Brasil. São Pau-
lo. Ed. 2005. Edusp. p. 40.
https://www.historiadomundo.com.br/asteca

As áreas-fonte de sedimentos costumam ser porções ele-


vadas da superfície terrestre que regularmente se deposi-
Cinzas vulcânicas
Rocha extrusiva tam e se acumulam em porções deprimidas da superfície,
Lava
Rocha intrusiva
conhecidas como bacias sedimentares. Na maioria das
Nuvem piroclástica: torrente
de lava quente, poeira e gás
vezes, são compostas de rios, lagos, lagoas, praias, fundos
oceânicos e dos arredores desses locais. As bacias sedi-
Fissura

Dique ou filão de magma


mentares tendem a afundar lentamente. Por causa disso,
A lava escorre pelo
respiradouro lateral
os sedimentos mais novos são depositados sobre os mais
Lacólito: massa de magma
que empurra as camadas
A lava sobe pela
chaminé central antigos, que ficam preservados da erosão que predomina
de rocha
na superfície. Isso resulta em uma pilha de rochas de di-
Sill: deposição do magma
entre camadas de rocha
Câmara magmática extinta
ferentes idades, desenvolvidas pelas transformações que
ocorrem com os sedimentos depois de soterrados. Elas
revelam a história da região na etapa do tempo em que
Câmara magmática
houve subsidência (deposição) e acumulação de sedimen-
Esquema ilustrando a formação das rochas tos. Pelo fato de as camadas mais profundas depositaram-
magmáticas (intrusivas e extrusivas) -se primeiro, pode-se estabelecer a cronologia dos eventos.

61
Assim é possível traçar a evolução das espécies de animais Grandes depósitos de carvão mineral foram formados de
e plantas ao longo do tempo e saber, por exemplo, quais florestas que morreram e foram cobertas há milhões de
dinossauros existiram simultaneamente em uma região, pelo anos. Nesses locais não havia oxigênio suficiente para a
conhecimento das relações entre as camadas que contêm os decomposição dos detritos. Dependendo da profundida-
fósseis que essas formas de vida deixaram. de, diferentes tipos de carvão foram compostos da tem-
peratura e das concludentes transformações químicas.
Esses processos sempre ocorreram na superfície terres-
Quanto mais antigos e escuros forem, pegarão fogo mais
tre; por isso existem rochas sedimentares de diferentes
facilmente. No Brasil, as reservas de carvão encontram-se
idades e de diversos ambientes de sedimentação. Cada
nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio
ambiente resulta em rochas de variados tipos e aspectos,
Grande do Sul, apesar de o produto não ser considerado
que dependem também do material constituinte. A maior
de boa qualidade.
parte das rochas sedimentares é do tipo clástico, em que
se destacam os arenitos, os argilitos e os conglomerados. Se os materiais provenientes de plantas e animais são en-
Essas são as rochas principais na constituição das bacias terrados em profundidade e temperatura suficientes, eles
sedimentares e as que mais influenciam as formas de rel- se transformam quimicamente em petróleo e gás natural.
evo nesse tipo de estrutura. As rochas sedimentares oferecem informações sobre a
história do ambiente em que se encontram. O xisto, por
exemplo, constituído por minúsculos grãos de lama e argi-
§ Rocha sedimentar dentrítica ou clástica: ro-
la, forma-se exclusivamente em águas calmas ou no fundo
cha gerada por detritos ou partículas de material
do mar. Já as rochas calcárias são formadas próximas de
sólido de rocha e solo, que são transportados,
depositados e litificados em diversos ambientes
recifes de corais ou onde há movimento nas águas que
de sedimentação. trazem os sedimentos, como praias ou canais de rios. É im-
portante lembrar que um mar que existiu em outras épocas
§ Rocha sedimentar química: pode ser orgânica
pode não existir mais nos dias de hoje. O Oriente Médio,
(calcário, dolomito e carvão) e inorgânica (sílex,
atualmente tão abundante em petróleo, já foi um fundo
um precipitado de sílica, e concreções lateríticas,
precipitadas de ferro). oceânico em eras geológicas anteriores.

Sedimentação num lago


Identificar uma rocha sedimentar é muito fácil. Ela é
ou num mar
composta de sedimentos e de várias camadas – por isso
é também chamada de rocha estratificada. O arenito, por
exemplo, é empregado em construções e na pavimentação Mais recente
Mais antiga
de ruas. Se for pura, é formada apenas do mineral quartzo.
Outro tipo de rocha comum é a calcária, formada de con-
chas, esqueletos de animais e plantas. Os espaços entre es- Ilustração de Bacia Sedimentar, local de ocorrência
das rochas sedimentares.
ses sedimentos são preenchidos por fluidos – água ou óleo
–, ou por calcita – carbonato de cálcio cristalizado –, que
funcionam como cimento. Regiões onde existem depósitos 3.3. Rochas metamórficas
de rochas calcárias já estiveram há muito tempo cobertas
pelo mar. São numerosas no Brasil e oferecem pouca resis- As rochas metamórficas são rochas resultantes de um pro-
tência à ação do vento e da água. cesso de alteração das condições originais do ambiente
onde se deu sua gênese. Elas são provenientes das trans-
formações (metamorfismos) sofridas pelas rochas mag-
máticas, pelas rochas sedimentares ou por outras rochas
metamórficas. Essas mudanças ocorrem em função das
condições de temperatura e pressão no interior da Terra.
A rocha transformada adquire novas características, muda
sua composição e forma outros minerais estáveis nas no-
vas condições vigentes. Essas modificações equivalem ba-
sicamente a reajustes da composição química e da textura
das rochas em consequência das novas condições físico-
Arenito em Paria Canyon-Vermillion Cliffs Wilderness, Arizona, EUA. -químicas – pressão e temperatura – do meio.

62
Nessas rochas, uma das características que mais se desta-
As rochas se fundem ao longo de um determinado cam é o plano de xistosidade. As falhas e as fraturas são
intervalo de temperatura, visto que são compostas de linhas de menor resistência de massa rochosa e nelas os
vários minerais que possuem faixas de temperaturas processos erosivos atuam com maior intensidade. Dessa
de fusão diferentes. forma, os vales fluviais, serras e morros tendem a ficar ali-
nhados nas direções impostas pela rocha.

Um exemplo comum de rochas metamórficas são os már- Devido a sua origem e grau de transformação algumas ro-
mores, formados da pressão sobre rochas calcárias que se chas podem ser mais ou menos resistentes. O quartzito, por
recristalizam. Eles podem ser brancos ou coloridos e apre- exemplo, oferece grande resistência à erosão, enquanto o
sentam por base grãos de calcita. gnaisse e o migmatito tem um grau de resistência menor.
Ciclo das rochas

Mármore

No esquema abaixo, é possível observar a chamada “au-


réola de metamorfismo”, em que as rochas preexistentes,
por pressão dos materiais superficiais, entram em contato
com essa porção do interior da Terra e acabam modifican-
do sua estrutura molecular.

Anel de metamorfismo

multimídia: música
Fonte: Youtube
Transformação de rochas
Tempo rei - Gilbeto Gil
preexistentes em rochas metamórficas

63
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A química está presente diretamente no estudo das rochas, na composição química dos minerais e dos solos.

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.

A importância da compreensão sobre o comportamento e a dinâmica da litosfera está no fato de ela ser o local de
atuação direta das atividades humanas, sendo transformadora e transformada por tais práticas. É sobre essa camada
que o homem constrói e reconstrói o seu espaço geográfico, retira os minerais, pratica o uso e a exploração dos solos,
entre outras coisas.

64
Modelo
(Enem) De repente, sente-se uma vibração que aumenta rapidamente; lustres balançam, objetos se movem sozinhos e
somos invadidos pela estranha sensação de medo do imprevisto. Segundos parecem horas, poucos minutos são uma
eternidade. Estamos sentindo os efeitos de um terremoto, um tipo de abalo sísmico.
ASSAD, L. Os (não tão) imperceptíveis movimentos da Terra. ComCiência: Revista Eletrônica de Jornalismo
Científico, no 117, abr. 2010. Disponível em: http://comciencia.br. Acesso em: 2 mar. 2012.

O fenômeno físico descrito no texto afeta intensamente as populações que ocupam espaços próximos às áreas de
a) alívio da tensão geológica.
b) desgaste da erosão superficial.
c) atuação do intemperismo químico.
d) formação de aquíferos profundos.
e) acúmulo de depósitos sedimentares.

Análise expositiva: O fenômeno físico descrito é chamado de abalo sísmico ou terremoto: um tremor da
A superfície terrestre que acontece próximo às áreas de contato de placas tectônicas convergentes. O terre-
moto é um dos fenômenos da natureza que mais causa preocupações no homem, pois suas consequências
podem ser extremamente profundas, tanto para as sociedades e suas construções como para a própria
Terra, como o tremor do solo, tsunamis, surgimento de falhas, deslizamentos de terra, além da destruição
das construções feitas pelas sociedades.
O “alívio de tensão geológica” refere-se a um abalo sísmico ou terremoto, cuja origem dá-se em profun-
didade (hipocentro). As ondas sísmicas atingem a superfície (epicentro) e se propagam, podendo causar
danos socioeconômicos.
Alternativa A

DIAGRAMA DE IDEIAS

ASPECTOS GEOLÓGICOS DA TERRA

ESTRUTURA INTERNA NÚCLEO


DA TERRA

MANTO

CROSTA
TERRESTRE

PROVÍNCIAS
ROCHAS
GEOGRÁFICAS

• DOBRAMENTOS MODERNOS
• BACIA SEDIMENTAR
• ESCUDOS CRISTALINOS
METAMÓRFICA SEDIMENTAR MAGMÁTICA

• QUÍMICA • PLUTÔNICA
• CLÁSTICA • VULCÂNICA

65
Geologia do Brasil e
AULAS exploração mineral
5e6
Competência: 6 Habilidade: 29

1. Uma breve história da Portanto, houve uma multiplicação de pesquisas e ações


governamentais e institucionais para otimizar a extração e
exploração mineral prolongar a vida útil dos recursos, já que volumes gigantes-
cos de bens minerais, que não são renováveis, estão sendo
A história da humanidade está ligada à utilização de re- rapidamente extraídos de seus depósitos.
cursos retirados da natureza. Sem os recursos de materiais
A conservação do recurso mineral, ou melhor, o prolonga-
minerais, incluindo a água e os solos, e os recursos energé-
mento de sua vida útil para atendimento das necessidades
ticos, a humanidade não teria como subsidiar seu crescente
da crescente população mundial, evitando os excessos de um
desenvolvimento tecnológico. No início da civilização, nos-
consumo ambicioso, é uma atitude necessária para garantir
sos antepassados utilizavam lascas de quartzo para con-
o suprimento de insumos minerais praticamente imprescin-
feccionar instrumentos rudimentares de caça ou de luta, e
díveis à manutenção de uma forma de desenvolvimento sus-
hoje, esse mineral ainda é usado para transformar a natu-
tentável. Dentro dessa perspectiva, muitos metais têm sido
reza e produzir um amplo conjunto de objetos, alguns até
atualmente produzidos por meio de técnicas de reciclagem
sofisticados, como os transistores ou cabos de fibra óptica.
com a utilização de bens manufaturados sucateados, bem
Desde a Idade da Pedra Lascada, a humanidade passou por como outros, que são mais escassos na natureza, vêm sendo
vários estágios de desenvolvimento das técnicas de descober- substituídos por metais mais abundantes. Essa atitude per-
ta de usos e transformações das substâncias naturais. Hoje mitirá que preservemos por mais tempo os recursos minerais,
em dia, a aplicação de técnicas modernas, e muitas vezes bas- diminuindo assim o impacto ao meio ambiente.
tante refinadas, permitiu descobrir, obter e transformar bens
O registro geológico do Brasil evidencia ambientes férteis
minerais em bens manufaturados, tornando assim a vida mais
em todo o tempo geológico, do Arqueano ao Holoceno,
confortável. E uma infindável diversidade de tipos de minerais
que contém importantes acumulações de bens minerais,
e rochas vem sendo utilizada em quantidade crescente.
algumas das quais já transformadas em minas. Por para-
As substâncias minerais, metálicas e não metálicas, os doxal que possa parecer, são os atrasos, as deficiências e
combustíveis fósseis e as pedras preciosas passaram a fa- demais dificuldades que vêm inibindo a exploração mine-
zer parte inalienável da vida moderna. Essa dependência, ral e impedindo o pleno desenvolvimento da mineração
às vezes imperceptível, mantém e aprimora nossa quali- no Brasil até o momento, o que se permite afirmar que
dade de vida. Entretanto, algumas vezes a sociedade tem ainda é elevado o potencial para descobertas de novos
uma imagem nociva da mineração, porque ela transforma depósitos minerais no Brasil. Dentre os pontos negativos
a paisagem rapidamente ao mobilizar imensas quantida- destacam-se: baixo conhecimento geológico do território
des de material e gerar uma enorme porção de resíduos nacional e de nossas províncias minerais, pequenos inves-
não utilizados. Sendo assim, procura-se levar cada vez mais timentos realizados em pesquisa mineral no país, projetos
à população, por meio de programas de educação ambien- de exploração mineral realizados apenas em superfície ou
tal, o conhecimento sobre a importância dos recursos mi- a pequena profundidade, carência de infraestrutura viária,
nerais. O apoio da população às iniciativas de redução do legislação mineral pouco amigável e alto custo Brasil. Duas
desperdício de bens minerais pode retardar os problemas principais províncias metalogenéticas brasileiras e quatro
de escassez ou exaustão dos depósitos. Paralelamente, conjuntos de distritos mineiros, dentre as centenas existen-
a demanda de bens minerais para as futuras gerações é tes no país, são responsáveis pela maior parte das minas e
pauta de estudo dos governos, pois as acumulações eco- depósitos minerais de porte significativo: Província Mineral
nômicas de substâncias minerais úteis constituem porções Ferro-Aurífera do Quadrilátero Ferrífero (MG), Província Mi-
muito restritas nos continentes. Além do mais, é necessá- neral Polimetálica de Carajás (PA), distritos de greenstones
rio para a formação de qualquer bem mineral um perío- belts auríferos de Goiás, Bahia e Minas Gerais, e distritos
do de tempo muito maior do que aquele decorrido desde de maciços básico-ultrabásicos de Goiás, Bahia e Pará. São
que começamos a utilizar as primeiras lascas de quartzo. essas províncias e distritos minerais que fazem com que os

66
estados de Minas Gerais, Pará, Goiás e Bahia sejam res- Basicamente, é a porção das placas continentais que, du-
ponsáveis pela produção de 80%, em valor, das commodi- rante um período mínimo de 100 milhões de anos, não
ties minerais brasileiras. sofre ações diretas do tectonismo e do vulcanismo, o que
caracteriza a sua estabilidade. É composto de rochas cris-
Nesta aula, o recurso mineral será abordado do ponto de
talinas (magmáticas e metamórficas).
vista essencialmente geológico, mostrando como se for-
mam as concentrações minerais. Também será visto o pa-
pel importante dos recursos minerais como fonte comer-
cial necessária a uma infinidade de produtos industriais.

Entenda os termos
Depósito mineral – grande concentração de qual-
quer substância mineral com teores e geometria co-
nhecida e com potencial interesse econômico. Os escudos são estáveis, mas não significa dizer que eles
não passam por transformações. Porém, neles, os agentes
Jazida – grande concentração de qualquer substân- endógenos ou internos de transformação do relevo prati-
cia mineral com teores e geometria conhecida e com camente não atuam. Por isso, as rochas são, externamente,
valor econômico comprovado. muito desgastadas em virtude da ação dos agentes exter-
Mina –uma jazida em lavra, ainda que paralisada nos ou exógenos, tais como a água, o vento e o clima. As-
(temporariamente). sim, o relevo das áreas onde se localizam os escudos
costuma abranger, em geral, regiões de planaltos com
Lavra – conjunto de operações coordenadas, obje- baixas altitudes e algumas depressões relativas.
tivando o aproveitamento industrial da jazida até o
beneficiamento Os escudos são divididos em dois tipos principais de estru-
turas: os crátons cristalinos e as plataformas.
Os crátons são tipos de escudos que afloraram na superfí-
cie, ou seja, não foram recobertos por outros tipos de es-
truturas geológicas. Neles ocorrem os minerais metálicos,
principalmente os que se formaram no Proterozoico. Os
recursos minerais são muito importantes por seu uso em
processos industriais, principalmente porque a natureza
não repõe em tempo humano o que as sociedades retiram.
Quando uma rocha contém um alto teor de algum mine-
ral de valor econômico, é chamada de minério. Quando os
minérios se concentram em um determinado ponto, temos
uma jazida mineral. Aproximadamente 36% do território
multimídia: música brasileiro é formado por escudos cristalinos. Destes, 4%
são do Proterozoico.
Fonte: Youtube
Riquezas do meu Brasil – Candeia Essas estruturas geológicas estão distribuídas da seguinte
forma no planeta: no continente americano aparecem os
escudos das Guianas, o brasileiro e o canadense; no conti-
2. As macroestruturas nente africano, o Saariano; na Europa, o Russo-Fernosândi-
co; na Ásia, o siberiano, o chinês e o indiano; e na Austrália,
e suas características o escudo australiano.
As macroestruturas do relevo terrestre estão representadas pe-
los escudos cristalinos, pelas bacias sedimentares e pelas cadeias 2.2. Bacia sedimentar
orogenéticas; esta última não ocorre no território brasileiro.
As bacias sedimentares começaram a se constituir efe-
tivamente na era Paleozoica. Os territórios que compõem
2.1. Escudos cristalinos a América do Sul estavam em altitudes bem mais baixas
Tipo de estrutura geológica caracterizada, em geral, pela sua naqueles tempos – há cerca de 500 milhões de anos. Hoje,
estabilidade e composição antiga, tendo se constituído duran- nossas bacias correspondem a 64% da estrutura geológi-
te o período Pré-cambriano, há mais de dois bilhões de anos. ca brasileira – Amazônica, Meio Norte (Maranhão e Piauí)

67
e Paranaica (Paraná) –, que no início eram formadas por estende por cerca de 200 km pelas margens do rio Amazo-
depósitos de material marinho. Quando o fenômeno da nas, apresentando uma profundidade de 4 km, em alguns
epirogênese provocou o levantamento do continente su- trechos, e uma superfície de 2 milhões de km2. Essa bacia é
perior ao mar, elas ficaram emersas e unidas em território um espelho do ato de agentes do relevo – rios, temperatura
contínuo, como também passaram a ser preenchidas com e chuvas. Por toda a extensão das margens do rio Amazonas
material continental. e de seus principais afluentes, as rochas sedimentares são
bem atuais, pois pertencem ao período quaternário da era
Cenozoica – fases pleistocênica e holocênica. Esses terrenos
pleistocênicos e holocênicos representam a verdadeira planí-
cie Amazônica e são mais conhecidos como várzeas. Quanto
mais distantes desses eixos fluviais mais antigos serão os
terrenos sedimentares da bacia amazônica, ora do período
terciário (cenozoico), ora do paleozoico (áreas de contato
com os escudos cristalinos).
A bacia do Paraná sofreu, parcialmente, uma das glacia-
ções pelas quais passou a Terra, a permocarbonífera, que
corresponde a dois períodos do paleozoico – e foram
nesses terrenos que se formaram as jazidas carbonífe-
ras. Essa bacia também aparece separada em algumas
classificações, um terceiro tipo de terreno na estrutura
geológica brasileira: os vulcânicos. Assim são chamados
porque nessa mesma época de início da formação dos do-
bramentos modernos, na era mesozoica, abriram-se fraturas
Enquanto a formação das bacias sedimentares levou milhões na bacia sedimentar do Paraná, pelas quais subiram lavas
de anos para se materializar, as placas tectônicas continua- básicas – fluidas, que percorrem grandes extensões. Foi das
ram se movimentando e a dinâmica da Terra seguiu seu cur- macroerupções às formações de rochas extrusivas, como o
so. Áreas que antes se encontravam no fundo dos oceanos diabásio e o basalto, que, por ação do intemperismo físico
transformaram-se em áreas continentais, inclusive as zonas e químico ao longo do tempo geológico, originou-se o solo
em que se formaram as bacias sedimentares, apesar de a fértil da terra roxa. O arenito, que já predominava antes da
maior parte delas ainda se encontrar no fundo dos oceanos. atividade vulcânica, ficou rajado por manchas basálticas,
Durante esse processo de constituição das bacias sedimen- razão do nome do altiplano que abrange o oeste paulista e
tares muitos corpos ou restos de animais mortos e mate- a maior parte do Paraná: Planalto Arenito-Basáltico.
riais orgânicos foram “enterrados” pelos sedimentos que
foram depositados no fundo dos oceanos. E, conforme as
condições de temperatura e pressão, parte dos restos des- No mesozoico (período cretáceo) ocorreu a última fase de
ses materiais foi conservada, e deu origem aos fósseis. deposição extensiva nas bacias sedimentares do Brasil,
Contudo, quando a pressão e as temperaturas (geralmente com exceção da amazônica, que recebeu sedimentos ao
influenciadas pelo aquecimento provocado pelas camadas longo do Terciário. No Cenozoico (Terciário) o continente
mais baixas da Terra) são elevadas, a tendência é que esses sul-americano sofreu em seu conjunto soerguimentos
restos orgânicos passem pelo processo de litificação e se tor- orogenéticos na borda ocidental (cordilheira dos Andes) e
nem líquido. Assim, conforme as condições de armazenamen- epirogenético em todo o restante. Esse soerguimento atin-
to, esse material acumula-se e transforma-se em petróleo. giu o território brasileiro de modo desigual, sendo que al-
gumas áreas foram mais levantadas e outras bem menos.
Segundo alguns estudiosos, as bacias sedimentares com- Esse processo, associado à tectônica de placas, soergueu
põem a memória do planeta, pois à medida que elas vão tanto as áreas dos crátons como os antigos cinturões oro-
se formando, fragmentos do período em que elas se forma-
genéticos e bacias sedimentares. Por meio da epirogênese
ram são conservados. Por isso, o estudo dessas formações
terciária que as bacias sedimentares ficaram em níveis al-
rochosas torna-se fundamental para se conhecer um pou-
timétricos elevados e surgiram as escarpas das serras do
co mais sobre o passado geológico da Terra.
Mar e da Mantiqueira por falhas geológicas. A partir desse
A disposição das camadas estratificadas horizontalmente processo tectônico desencadeou-se um prolongado e ge-
em quase todo o Brasil bem como as profundidades de- neralizado desgaste erosivo que atuou sobre as bordas das
monstram a antiguidade de nossas bacias sedimentares. É bacias sedimentares provocando as depressões periféricas.
o caso evidente da bacia sedimentar do Amazonas, que se

68
2.3. Cadeias orogenéticas: Na figura A, podemos notar as consequências do encontro
entre placas convergentes, em que a mais pesada afunda
dobramentos modernos e a mais leve se eleva, formando, sobre essa última, enru-
gamentos que dão origem aos dobramentos modernos e
às cadeias de montanhas. A figura B permite-nos visualizar
mais de perto como os processos endógenos do tectonis-
mo provocam o soerguimento do relevo e a sua conse-
quente ondulação.
É possível concluir que, por serem formações geologica-
mente recentes, os dobramentos modernos sofreram em
menor grau a ação dos agentes externos ou exógenos de
transformação da superfície, o que ajuda a explicar o fato
Cadeias do Himalaia de seu relevo ser mais acidentado.

Os dobramentos modernos, também conhecidos como ca- “Dobramentos antigos” é uma expressão não mais fre-
deias orogênicas ou cinturões orogênicos, são estruturas geo- quente para se referir aos crátons ou escudos cristalinos
lógicas que resultaram das ações do tectonismo e correspon- (conhecidos também por maciços antigos), ou seja, os es-
dem à formação de cadeias montanhosas, que apresentam cudos cristalinos nada mais são do que dobramentos com
as maiores altitudes do planeta. Em geral, são compostos por formação geológica antiga. Por esse motivo, eles tiveram
rochas magmáticas e metamórficas. Como exemplo temos a mais tempo para sofrerem alterações em suas composi-
Cordilheira dos Andes, na América do Sul, e a Cordilheira do ções e passarem pelos efeitos das ações dos agentes exó-
genos de modelagem do relevo.
Himalaia, na Ásia, onde se encontra o monte Everest.
As cadeias orogênicas antigas do Brasil são provenientes
Do ponto de vista do tempo geológico, os dobramentos
da ação de vários diastrofismos.
modernos são considerados de origem recente, com cerca
de 250 milhões de anos desde o início de sua formação. § O diastrofismo Laurenciano, que atuou no nosso ter-
Sua localização ocorre, na maior parte, em regiões com re- ritório no final do Arqueozoico e deu origem às for-
lativa instabilidade geológica, devido ao fato de se origina- mações elevadas das serras do Mar e da Mantiqueira,
rem do choque e da interação entre duas placas tectônicas. localizadas na faixa Atlântica;
Observe os esquemas a seguir. § O diastrofismo Huronino, do final do Proterozoico, que
originou a serra do Espinhaço (MG) e a chapada Dia-
Figura A mantina (BA); e
§ O diastrofismo Caledoniano, na era Paleozoica, que deu
origem ao dobramento antigo do Araguaia-Tocantins.

3. As riquezas econômicas
do Brasil numa abordagem
geológico-estrutural
3.1. Minerais metálicos
Figura B

Ações tectônicas das placas convergentes

69
3.1.1. Ferro 3.1.2. Manganês
O ferro é o mais importante recurso mineral da economia O Brasil é o grande exportador desse produto de gran-
brasileira do qual cerca de 70% destina-se à exportação. de utilização industrial na composição do aço e na
A maior extração desse produto ocorre em Minas Gerais, fabricação de pilhas. Merecem destaque as seguintes
numa área denominada Quadrilátero Ferrífero, que com- localidades:
preende as cidades de Belo Horizonte, Santa Bárbara, Ma-
§ Marabá, Itupiranga e Carajás (PA);
riana e Congonhas do Campo.
§ Quadrilátero Ferrífero (MG);
A maior jazida ferrífera do Brasil e do mundo, que ocupa a
segunda posição de extração no cenário nacional, encon- § Maciço do Urucum (MS).
tra-se na serra dos Carajás (Pará). Para o escoamento e a As infraestruturas criadas para dar suporte à produ-
exploração do ferro de Carajás, foi criada uma infraestru- ção de ferro também são aproveitados no escoamen-
tura: o porto de Itaqui (MA), a hidrelétrica de Tucuruí e a to do manganês.
estrada de ferro de Carajás.
BRASIL E MUNDO:
O Maciço do Urucum (ou Morro do Urucum), no Mato Gros-
PRINCIPAIS ÁREAS EXTRATIVAS DE MANGANÊS
so do Sul, é outro local de extração cuja produção abastece
principalmente o Paraguai, a Argentina e a Bolívia. % do total % do total
No Brasil No mundo
nacional mundial

Pará 61,6 China 21,2

Minas Gerais 18,6 Ucrânia 20,3


Mato Grosso África
15,8 13,8
do Sul do Sul
Outros 4,2 Brasil 9,9

A serra do Navio foi uma espécie de enclave ou possessão


minero-territorial dos EUA no Brasil. A Icomi, Indústria e
Comércio de Minério S.A., e a multinacional estadunidense
Bethlehen Steel Corp, detiveram os direitos de exploração
do manganês da serra do Navio de 1957 a 2003. A Icomi
também controlava a estrada de ferro do Amapá e o porto
Santana, em Macapá, responsáveis pelo escoamento da
produção para o exterior.
No entanto, ao encerrar a concessão da exploração ante-
cipadamente em 1998, as jazidas já estavam esgotadas;
continham apenas resíduos e minérios de baixo teor.
Isso provocou a demissão em massa e resultou em um gran-
de desastre ambiental: o arsênio. Essa substância, oriunda
de rejeitos de manganês, contaminou o lençol freático e os
igarapés da Amazônia provocando muitas doenças.

3.1.3. Nióbio
Nióbio, o elemento metálico de mais baixa concentração na
crosta terrestre, é encontrado na natureza a uma proporção
de 24 partes por milhão. Considerado o mais leve dos metais
refratários, é utilizado principalmente em ligas ferrosas (tão
poderoso que é utilizado na escala de 100 gramas para cada
tonelada de ferro). Esse metal cria aços bastante resistentes
que são utilizadas em tubos de gasodutos, motores de aero-
planos, propulsão de foguetes e outros chamados supercon-
dutores, além de ser usado na soldagem, na indústria nuclear,

70
na eletrônica, nas lentes ópticas, nos tomógrafos, etc. Cada bio. É o fato de a indústria brasileira não ter tecnologia para
vez mais essencial à tecnologia atual por ser altamente resis- produzir mercadorias de alto valor agregado a partir do metal.
tente às altas temperaturas e à corrosão, o Nióbio, número
41 na tabela periódica, é alvo de muitas polêmicas. De vez 3.1.4. Bauxita
em quando, a discussão sobre nióbio volta a público como
uma possível salvação para a economia brasileira. O fato de PRINCIPAIS PRODUTORES DE BAUXITA
o nosso país ter as maiores reservas de nióbio do mundo e % do total % do total
No Brasil No mundo
vendê-lo muito barato é usado como argumento para colo- nacional mundial
cá-lo como esperança de aumento do Produto Interno Bruto Pará 88,8 Austrália 35,3
(PIB) brasileiro. E sendo o Brasil o maior exportador mundial Minas Gerais 10,8 Guiné 15,2
de nióbio, ele poderia aumentar os preços, e os outros países Outros 0,4 Jamaica 10,0
poderiam ser obrigados a aceitar. De fato, o Brasil tem 98% Brasil 9,2
das reservas de nióbio atualmente conhecidas no mundo,
que estão presentes no Amazonas, em Goiás e em Minas A maior jazida encontra-se no vale do rio Trombetas, no
Gerais. Realmente, conforme o Plano Nacional de Mineração município de Oriximiná, no Pará. A bauxita é o principal
2030 (PNM – 2030), publicado pelo Ministério de Minas e minério de alumínio utilizado na indústria automobilística
Energia em 2011, o Brasil responde por 98% da produção e aeronáutica.
mundial desse metal.
Nos anos 1960, quando a primeira reserva de nióbio foi des- 3.1.5. Cassiterita
coberta no Brasil, sua aplicação ainda não era conhecida.
Esse minério, que aparece em forma de cristais tetragonais,
Hoje em dia ele é utilizado para tornar as ligas metálicas
é utilizado como liga na fabricação de aço, folha de flandre
muito mais fortes e maleáveis. Praticamente, tudo o que é
e estanho, principalmente.
eletrônico ou leva aço fica melhor acrescido de nióbio, como
os carros, as turbinas de avião, os aparelhos de ressonância
magnética, os mísseis, os marcapassos, as usinas nucleares, PRINCIPAIS PRODUTORES DE CASSITERITA
os sensores de sondas espaciais... Os foguetes da empresa
americana SpaceX (os mais avançados do mundo), o LHC (o % do total % do total
No Brasil No mundo
maior acelerador de de partículas do planeta) e o D-Wave nacional mundial
(primeiro computador quântico) também contêm nióbio. To- Amazonas 57,8 China 33,9
dos querem nióbio, e o Brasil é o país que tem o equivalente Rondônia 42,2 Indonésia 24,3
a 842 milhões de toneladas desse elemento metálico. Peru 11,1

Portanto, temos um metal raro, com importantes aplicações Brasil 8,9

na indústria – uma matéria-prima essencial para produtos


variados, inclusive para aqueles de alto valor tecnológico.
O nióbio, no entanto, é substituível por outros metais. Se o
3.2. Outros recursos e a posição
Brasil passar a cobrar um valor que o mercado internacio- do Brasil na participação mundial
nal não esteja disposto a pagar, é possível que esse ma-
terial seja trocado por vanádio ou titânio, cujas reservas
estão presentes em outros países. POSIÇÃO E PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NA PRODUÇÃO MUNDIAL
Um ponto importante a considerar é que a indústria mun-
dial não tem necessidade de utilizar mais nióbio, pois Mineral Posição Participação (%)
poucas quantidades do metal são suficientes para que ele Nióbio 1.º 90,9
cumpra sua função. Logo, colocar mais nióbio no mercado
Ferro 2.º 18,3
resultaria em queda do preço, já que não haveria mais au-
Manganês 2.º 14,8
mento da demanda.
Bauxita 3.º 10,8
Outro limitador é que o Brasil não exporta produtos derivados Caulim 3.º 5,5
do nióbio. “Nós repetimos nosso velho ciclo: vendemos maté- Estanho 4.º 9,5
ria-prima e compramos produtos prontos. Vendemos nióbio e Vermiculita 4.º 4,2
compramos fios de tomógrafos, por exemplo”, explica o pes- Grafita 4.º 5,0
quisador Leandro Tessler, do Instituto de Física da Unicamp. O Magnésia 5.º 10,5
grande obstáculo, portanto, não é o preço cobrado pelo nió-

71
ALUMÍNIO (t)
POSIÇÃO E PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NA PRODUÇÃO MUNDIAL
Brasil 13.846.272

Mineral Posição Participação (%) ESTANHO (t)


Talco 5.º 8,0 AM 16.625
Zinco 7.º 1,6 RO 10.768
Cromo 7.º 3,7
MG 79
Fosfatados 8.º 2,9
Brasil 27.472

3.3. PRINCIPAIS MINERAIS METÁLICOS CHUMBO (t)


E NÃO METÁLICOS MG 11.611

Produção beneficiada 2000 Brasil 13.400

FERRO (t) OURO (t)


PA 17.2
MG 138.718.996
MG 16.4
PA 43.231.882
Brasil 214.610.000 Brasil 63.3

MANGANÊS (t) CALCÁRIO (t)


PA 1.366.906 MG 25.376.464

MG 604.022 SP 18.436.013
MS 136.901
Brasil 71.914.433
Brasil 2.192.000

ÁGUA MARINHA (t)


COBRE (t)
SP 766.557
PA 134.000
GO 15.937 MG 149.056
Brasil 149.937
Brasil 1.673.704
NÍQUEL (t)
GO 1.647.938

MG 213.128
Brasil 1.861.116

PRATA (t)
PA 15,7
MG 1,8
GO 3,5
Brasil 41

SAL MARINHO (t)


RN 4.050.000 multimídia: sites
RJ 220.000
Brasil 4.460.00
http://www.igc.usp.br/
ALUMÍNIO (t) http://www.sbgeo.org.br/
PA 8.553.270 http://www.dnpm.gov.br/
MG 2.307.272

72
O petróleo está localizado tanto em áreas continentais, nas
bacias sedimentares, como em áreas submarinas, chama-
das de plataformas continentais.
Uma plataforma continental é constituída de um prolon-
gamento da área continental. Sua largura média é 70 km,
com uma profundidade máxima de 200 m.

20 campos com maior produção de petróleo

multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Ouro, Riquezas da Terra... Como Surgiu

3.4. Combustíveis fósseis


3.4.2. Gás Natural
3.4.1. Petróleo BRASIL: PRODUÇÃO DE GÁS
NATURAL (MILHÕES DE M3)
O termo petróleo, a rigor, envolve todas as misturas na-
turais de compostos de carbono e hidrogênio, os chama- RJ 54%
dos hidrocarbonetos, que incluem o óleo e o gás natural, AM 19%
embora seja também empregado para designar somente BA 9%
os compostos líquidos. Na natureza ele ocupa os vazios RN 9%
existentes entre grãos de areia e rocha, ou pequenas fen- CE-SE/ES-SP 6%
das com intercomunicações. Sua formação ocorre em re- AL 3%
giões deprimidas da crosta terrestre depois do acúmulo de
sedimentos trazidos pelos agentes erosivos. A teoria mais 3.4.3. Carvão mineral
aceita é a de sua origem orgânica, ou seja, da deposição
O carvão mineral, além de ser insuficiente no Brasil, apresenta bai-
de matéria orgânica e do seu consequente soterramento
xo teor colorífico, alto teor de umidade, cinzas e sulfeto de ferro.
em condições de falta de oxigênio, altas pressões e tem-
peraturas. A matéria-prima é a grande diferença que há PRODUÇÃO DE CARVÃO NO BRASIL
entre a formação do carvão mineral e dos hidrocarbonetos: Santa Catarina 62,8%
no carvão temos o predomínio do material lenhoso e nos Rio Grande do Sul 36,4%
hidrocarbonetos, das algas – o que é definido principal-
Paraná 0,8%
mente pelo ambiente de sedimentação.

Fonte: TEIXEIRA, Wilson et ai. (Orqs.). Decifrando a Terra. São Paulo:


Oficina de Textos, 1998. p. 474.

73
VIVENCIANDO

A tradição escolar se vale da fragmentação e da compartimentalização e incide sobre a maneira de inter-


pretar o mundo. De acordo com isso, para se aprender o objeto é preciso dividi-lo em partes, o que em mui-
tos casos impossibililta a reconstrução das peças, isto é, surge a dificuldade de remontagem do quebra-cabe-
ça. Nesse sentido, o todo se perde na atuação do detalhe em relação ao particular. Portanto, é preciso estudar
exploração mineral, por exemplo, e estabelecer as relações entre os diversos saberes oferecidos, como a química, a
história e a biologia.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Os sistemas naturais, ou o que é chamado de “natureza”, estão hoje completamente humanizados pelas sociedades. O
uso que fazemos do que se convencionou chamar de “recursos naturais” transformou os objetos naturais em humanos,
pois lhes atribuímos funções, utilidades e sentidos, sejam simbólicos (culturais ou políticos), sejam econômicos ou práticos.
No âmbito simbólico, temos a noção de território, um espaço pertencente a um determinado povo, em que nem sempre
há mudanças concretas na paisagem. No entanto, no campo econômico ou prático, as modificações na paisagem são
bastante visíveis. Uma vez que incorpora a natureza à sua vida pelo desenvolvimento de sistemas técnicos, o homem
diminui sua dependência em relação aos entraves que essa natureza opõe a seu domínio técnico e, contraditoriamente,
aumenta sua dependência em relação aos recursos que ela oferece a sua sobrevivência. Observemos, por exemplo, como
os minerais estão presentes no nosso cotidiano, como o sal que adicionamos a nossa comida (proveniente da halita
mineral), os comprimidos de antiácido (feitos a partir do mineral calcite). São precisos muitos minerais para fazer algo
tão simples como um lápis de madeira. O “chumbo” é feito a partir de grafite e minerais de argila; o latão é uma liga
metálica de cobre e zinco, e as cores que a tinta tem são formadas por pigmentos e enchimentos feitos a partir de uma
variedade de minerais. Um telefone celular é feito de dezenas de diferentes minerais, originários de minas do mundo todo.
Os carros, as estradas em que nos deslocamos, os edifícios onde vivemos, e os fertilizantes utilizados para produzir
os nossos alimentos são todos feitos com minerais. Nos Estados Unidos, cerca de três trilhões de toneladas de com-
modities minerais são consumidos a cada ano para sustentar o padrão de vida de 300 milhões de cidadãos – o que
corresponde a cerca de dez toneladas de materiais minerais consumidos por pessoa, a cada ano.

74
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as
29 mudanças provocadas pelas ações humanas

A extração de recursos da natureza é uma atividade muito antiga, baseada na necessidade de sobrevivên-
cia do homem e no desenvolvimento da sociedade. A presença de recursos minerais em uma determinada
área está associada ao longo histórico geológico da terra. Normalmente os minerais encontram-se agre-
gados a rochas, entretanto em alguns casos aparecem em concentrações maiores, o que possibilita sua
melhor exploração no nível econômico.
A exploração das riquezas no solo do Brasil se confunde com a própria história nacional. Da busca por
ouro e pedras preciosas no leito dos rios a escavações gigantescas com toda tecnologia à disposição, lá
se vão séculos de uma atividade que colocou o país entre os maiores produtores de minério do mundo. A
geologia do Brasil tem destaque mundial pela quantidade e diversidade de recursos minerais encontrados
no subsolo brasileiro, o que faz do país um importante produtor de bens minerais.

Modelo
(Enem) As plataformas ou crátons correspondem aos terrenos mais antigos e arrasados por muitas fases de erosão. Apre-
sentam uma grande complexidade litológica, prevalecendo as rochas metamórficas muito antigas (Pré-Cambriano Médio e
Inferior). Também ocorrem rochas intrusivas antigas e resíduos de rochas sedimentares. São três as áreas de plataforma de
crátons no Brasil: a das Guianas, a Sul-Amazônica e a do São Francisco.
ROSS, J. L. S. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1998.

As regiões cratônicas das Guianas e a Sul-Amazônica têm como arcabouço geológico vastas extensões de escudos cristali-
nos, ricos em minérios, que atraíram a ação de empresas nacionais e estrangeiras do setor de mineração e destacam-se pela
sua história geológica por
a) apresentarem áreas de intrusões graníticas, ricas em jazidas minerais (ferro, manganês).
b) corresponderem ao principal evento geológico do Cenozoico no território brasileiro.
c) apresentarem áreas arrasadas pela erosão, que originaram a maior planície do país.
d) possuírem em sua extensão terrenos cristalinos ricos em reservas de petróleo e gás natural.
e) serem esculpidas pela ação do intemperismo físico, decorrente da variação de temperatura.

Análise expositiva: Os Escudos Cristalinos (Crátons) formaram-se no Éon Pré-Cambriano, sendo formados princi-
A palmente por rochas magmáticas intrusivas (granito) e metamórficas. As porções que se originaram na Era Protero-
zoica são muito ricas em minerais metálicos, como ferro e manganês. É o caso de áreas de exploração mineral, como
Carajás (PA) e Quadrilátero Ferrífero (MG).
(Alternativa A)

75
DIAGRAMA DE IDEIAS

GEOLOGIA

PROVÍNCIAS GEOLÓGICAS

DOBRAMENTOS
ESCUDOS CRISTALINOS BACIAS SEDIMENTARES
MODERNOS

ROCHAS MAGMÁTICAS
ROCHAS SEDIMENTARES
E METAMÓRFICAS

MINERAIS
HIDROCARBONETOS
METÁLICOS

76
Geomorfologia: forças
AULAS estruturais e esculturais
7e8
Competência: 6 Habilidades: 26 e 29

1. A dinâmica do relevo 2.1. Teoria da tectônica de


A crosta terrestre está em constante processo de mudança.
placas: o tectonismo
Diariamente, os sismógrafos registram mais de mil peque- As duas principais explicações sobre a dinâmica do pla-
nos abalos sísmicos que, em sua maioria, não são sentidos neta, como a deriva continental e a teoria das correntes
por nós, mas constituem uma prova da grande atividade no de convecção, foram questionadas por cientistas em mea-
interior do Planeta. dos do século XX, provocando novas investigações com o
objetivo de encontrar mais evidências que comprovassem
No âmbito do conhecimento geomorfológico está inserida
a proposta de Alfred Lothar Wegener, ou seja, a teoria da
a ideia de que o modelado terrestre evolui como resulta-
deriva continental.
do da influência exercida pelos processos morfogenéticos.
Nessa perspectiva, o relevo que percebemos e analisamos A teoria das correntes de convecção e a deriva dos conti-
é apenas uma etapa inserida em outra, mais longa, de fa- nentes apoiaram-se na hipótese de que o comportamento
ses passadas e futuras. As experiências em modelos redu- do manto corresponde ao dos materiais líquidos e gasosos,
zidos, por exemplo, a observação da ação marinha sobre que tendem a subir para a superfície quando aquecidos e ir
as praias, a ação pluvial sobre as vertentes, a do material para o fundo quando esfriados. O mesmo acontece com o
carregado pelos rios, demonstram os pontos que assinalam ar atmosférico e também com a água, quando submetida
a ativa esculturação das formas de relevo. a aquecimento.

Os agentes modificadores do relevo podem, certamente, O material mais profundo do manto e do núcleo, que apre-
ser divididos em dois grandes grupos, de acordo com as senta temperaturas mais altas, sobe em direção à superfí-
origens de suas ações: os agentes estruturais (internos) e cie, enquanto as camadas mais próximas da litosfera, es-
os agentes esculturais (externos). tando mais frias, são conduzidas por pressão para o interior
da Terra. Esse mecanismo faz com que os continentes, que
Os agentes estruturais, como o tectonismo, o vulcanismo e fazem parte da litosfera, sejam conduzidos de acordo com
os abalos sísmicos ocorrem no interior da Terra e atuam de esse movimento.
forma temporária e concentrada.
Os agentes esculturais, como o intemperismo, as
águas correntes, o mar, o vento, os animais, o homem,
modificam externamente a crosta terrestre e atuam de
forma constante.
O contínuo antagonismo das forças internas com as forças
externas é que moldam e modificam constantemente o re-
Depois da Segunda Guerra Mundial, com o aperfeiçoa-
levo terrestre.
mento dos equipamentos para localizar submarinos, foi
possível aprimorar os mapas do fundo oceânico e locali-
2. Agentes internos zar ambientes com forte atividade geológica, responsáveis
pelo deslocamento de terras. Essa descoberta entrou em
(estruturais) conflito com o modelo vigente à época, que apresentava
Os agentes internos, endógenos ou endodinâmicos a litosfera como sendo uma crosta rígida, fixa e contínua.
estruturais, são responsáveis pela formação ou modi- A partir daí, foi possível então identificar que a litosfera é
ficação da fisionomia do relevo. Esses agentes estão constituída por duas crostas: a oceânica e a continental,
ligados ao movimento das placas tectônicas e aos fe- que se situam em blocos ou placas que permitem movi-
nômenos magmáticos. mentos verticais e laterais.

77
Assim nasceu a teoria da tectônica de placas, que vem ao encontro de uma outra, formulada por A. Wegener, no final do
século XIX, quando, ao observar a coincidência do contorno do continente africano e do americano, considerou que esses já
estiveram unidos e que, por deriva, teriam se separado. A concepção de Wegener foi reforçada pelas contribuições de H. Hess,
em meados do século XX, a respeito da expansão do assoalho oceânico, com a descoberta de Vine Matheus referente ao
magnetismo das rochas dos fundos oceânicos e pelas informações obtidas de pesquisas dos fundos oceânicos nas últimas
décadas. A teoria da tectônica de placas surgiu com o argumento de que a litosfera (crosta continental e oceânica) está divi-
dida em doze placas tectônicas que flutuam sobre o manto, um substrato pastoso, às vezes mais fluido, que as movimenta.
Essas placas não têm a mesma dimensão nem são fixas. Seus limites são determinados, aproximadamente, pela presença de
linhas de forte atividade sísmica e vulcanismo.
Os limites dos continentes não coincidem necessariamente com os limites das placas. O deslocamento dessas placas provoca
várias deformações e fenômenos em seus contornos, como o surgimento de cadeias montanhosas, falhamentos, vulcanis-
mos e terremotos. As áreas geologicamente instáveis da crosta terrestre, como os Andes, as Rochosas e o Himalaia, nada
mais são do que locais onde ocorrem colisões ou seccionamentos de placas.

78
Quando se movimentam na horizontal, as placas tectônicas
podem se aproximar (movimentos convergentes) ou se afastar
(movimentos divergentes). Os movimentos convergen-
tes correspondem ao choque de duas placas tectônicas que
se movimentam uma no sentido da outra, como é o caso na
cordilheira dos Andes, na América do Sul: a crosta oceânica
situada na placa de Nazca, no oceano Pacífico, movimenta-
-se de encontro à crosta continental da placa Sul-Americana.
A placa de Nazca, que possui densidade maior e espessura
Dorsal Mesoatlântica
menor em relação à placa Sul-Americana, mergulha sob ela
em direção ao manto – fenômeno denominado de subducção. É possível verificar em um mapa-múndi físico que a distri-
Resultado: a crosta continental se eleva e forma uma cadeia buição das cordilheiras e das áreas vulcânicas não é caó-
de montanhas, a cordilheira. Como o manto encontra-se com tica ou puramente casual, ao contrário, obedecem a uma
temperaturas elevadas, a placa de Nazca funde-se à medida determinada lógica. A maior parte das mais altas cadeias
que afunda no manto, tornando-se parte dele e caracterizan- de montanhas do globo está posicionada nas bordas de
do uma região de destruição de placas. No movimento di- placas, nos oceanos. Nelas são encontradas as fossas sub-
vergente, as placas tectônicas, quando se afastam, formam marinas com 8,5 a 11 mil metros de profundidade – as
regiões geradoras de placas. A principal consequência disso é áreas mais profundas dos oceanos, praticamente encosta-
a abertura do oceano Atlântico. O Brasil afasta-se do conti- das nos continentes. As cadeias montanhosas submarinas
nente africano em média três centímetros ao ano. Qual seria estão no meio dos oceanos, quase sempre na metade do
a razão disso? No meio do oceano Atlântico, no limite entre caminho entre um continente e outro, distribuídas longi-
as placas Sul-Americana e Africana, há uma abertura na litos- tudinalmente – como meridianos –, com picos que, às ve-
fera que faz o assoalho oceânico movimentar-se. Isso faz com zes, emergem e formam ilhas vulcânicas. O nome “Dorsal
que o magma, ao se solidificar em função das temperaturas Meso-Oceânico” foi formado de: dorsal (dorso, espinha) e
mais baixas do que as do interior da Terra, dê origem a uma meso-oceânico (no meio dos oceanos).
nova placa. Como esse processo de ascensão do magma é
frequente, formam-se cadeias montanhosas submarinas, as Rift Valley
dorsais Meso-Oceânicas. Nesse caso, a dorsal Mesoatlântica.
O vale do Rift ou grande vale do Rift, também conhe-
cido como vale da Grande Fenda, é um complexo de
Dorsal Oceânica, também chamada de dorsal Subma- falhas tectônicas criado há cerca de 35 milhões de
rina, dorsal Meso-oceânica ou crista Média Oceânica, é anos com a separação das placas tectônicas africa-
a designação dada em Oceanografia Física às grandes na e arábica, um rift. Uma estrutura que se estende
cadeias de montanhas submersas nos oceanos que re- no sentido norte-sul por cerca de 5.000 km, desde o
sultam do lento afastamento das placas tectônicas. São norte da Síria até o centro de Moçambique, com uma
grandes elevações submarinas situadas na parte central largura entre 30 e 100 km, e com uma profundidade
dos oceanos da Terra, com uma altura média de 2.000 a de algumas centenas a milhares de metros.
3.000 metros acima dos fundos oceânicos circundantes.
A seção norte forma o vale do rio Jordão, que se es-
Na sua região central apresentam um rift, cuja aparência
tende do mar da Galileia (ao norte) até o mar Morto
geral é a de um sulco axial percorrendo longitudinalmen-
(ao sul). O vale do Rift continua para o sul, através
te a dorsal, ao longo do qual são emitidas lavas prove-
do Wadi Arabah, golfo de Ácaba e mar Vermelho. Na
nientes da ascensão do magma do manto sublitosférico.
desembocadura sul do mar Vermelho, o Rift tem uma
bifurcação, formando o Triângulo de Afar: o golfo de
Aden, ao leste, corresponde à divisão entre a penínsu-
la da Arábia e África e continua como parte da cordi-
lheira Central do oceano Índico; o outro ramo segue
para o sudoeste através do Djibouti, para formar o
vale do Rift Oriental, que abrange a Etiópia, o Quênia,
a Tanzânia, o lago Niassa e o rio Chire, terminando no
Zambeze.
Na Tanzânia, um pouco ao norte do lago Niassa, o vale
Distribuição mundial das dorsais oceânicas divide-se mais uma vez, com um ramo que segue para

79
Além das placas convergentes e divergentes, existem os
o noroeste e depois para o norte, formando o lago chamados limites transformantes – um tipo de limite
Tanganyika, que faz a fronteira entre a República De- entre placas tectônicas em que elas deslizam e roçam uma
mocrática do Congo, a Tanzânia e o Burundi. A seguir na outra. Normalmente não há nem destruição nem cria-
tem o lago Kivu, que separa o Ruanda do Congo, o lago ção de crosta. Esse movimento classifica-se como horizon-
Eduardo e o lago Alberto, com uma das nascentes do te direito ou esquerdo. Boa parte dos limites transforman-
rio Nilo, que o separam do Uganda e que é chamado tes ocorrem nos fundos oceânicos, onde eles provocam o
Rift Ocidental ou Albertino, onde se encontra a maioria movimento lateral de cristas ativas. Porém, os limites trans-
dos grandes lagos africanos, já mencionados. O lago
formantes mais conhecidos encontram-se em terra, como
Vitória encontra-se entre os dois ramos do vale do Rift.
o complexo da falha de San Andreas, localizado na costa
As bordas do vale do Rift são formadas por cordilheiras da América do Norte.
onde se encontram os pontos mais altos do continente,
incluindo os montes Virunga, Mitumba e Ruwenzori.
Muitos dos seus picos têm (ou tiveram no passado) ati-
vidade vulcânica, como os montes Kilimanjaro, Quênia,
Karisimbi, Nyiragongo, Meru e Elgon, assim como as
Crater Highlands na Tanzânia. O vulcão Ol Doinyo Len-
gai, o único vulcão de natrocarbonatite no mundo, con-
tinua ativo. Outra zona vulcânica extremamente ativa é
o Triângulo de Afar, no Djibouti.
No Quênia, o vale é mais profundo a norte de Nairobi, e
possui lagos menos profundos, mas com elevado conte-
údo mineral, como o lago Magadi, é quase soda sólida
(carbonato de sódio) e os lagos Elmenteita, Baringo, Bo-
goria e Nakuru, extremamente alcalinos; o lago Naivasha A falha de San Andreas
tem fontes de água doce, o que lhe permite ter uma
elevada biodiversidade. A parte final do vale junta-se for-
mando o lago Niassa, um dos mais profundos do mundo,
2.2. Vulcanismo
alcançando os 706 metros de profundidade. Ele separa Vulcanismo é a atividade geológica que envolve qualquer
o Malawi da província moçambicana do Niassa e logo processo ou conjunto de fenômenos relacionados com o
chega ao vale do Rio Zambeze, onde acaba o vale do Rift. derramamento ou movimentação do magma, gases e ou-
Se continuar a separação das placas, dentro de alguns tros materiais advindos do interior da Terra para a superfí-
milhões de anos, a África Oriental será inundada pelo cie. Suas atividades estão quase sempre relacionadas com
oceano Índico e uma grande ilha será formada com a a movimentação das placas tectônicas, e são mais comuns
região leste da costa de África. nas zonas de encontro entre duas placas diferentes.
No vale do Rift tem sido depositados, ao longo dos anos,
sedimentos provenientes da erosão das suas margens,
o que tornou o ambiente propício à conservação de des-
pojos orgânicos. Por isso, foram feitas nesse ambiente
importantes descobertas antropológicas, especialmente
em Piedmont, no Quênia, onde foram encontrados os
ossos de vários hominídeos, considerados antepassados
do homem atual. O achado mais importante, de Donald
Johanson, foi um esqueleto quase completo de um aus-
tralopitecíneo, que foi chamado “Lucy”.

Esquema ilustrativo de um vulcão em atividade

80
É possível classificar o vulcanismo em: primário – ligado
diretamente aos vulcões, e secundário – ligado a ativida- Ilhas vulcânicas
des vulcânicas em geral, como gêiseres, fontes termais, etc.
§ Hotspot: consiste numa zona singularmen-
Os vulcões são aberturas na crosta terrestre pelas quais te mais quente no manto. A instabilidade da
uma grande quantidade de magma é liberada – material fronteira entre o núcleo e o manto nessa zona
extremamente aquecido formado por rochas quase líqui- originou uma coluna de matéria quente que
das. As erupções acontecem devido à pressão oriunda do sobe pelo manto, constituindo uma pluma
interior da Terra que “empurra” o magma para cima. Em térmica. Ao atingir a litosfera, o material da
virtude dessa pressão, é comum haver alguns tremores nos pluma funde e o magma resultante derrete a
arredores de grandes vulcões pouco tempo antes de eles crosta oceânica, perde os seus gases, virando
entrarem em atividade. lava, que se transforma em basalto.
As erupções vulcânicas são classificadas em três tipos prin-
cipais: as efusivas (que emitem lava), as explosivas (que
emitem fragmentos de rocha sólida, chamados de piroclas-
tos) e as mistas (que emitem lavas e piroclastos). É impor-
tante lembrar que magma e lava são termos diferentes: o
primeiro é o conjunto de materiais sólidos em estado de
fusão, localizados no manto terrestre; o segundo é a trans-
formação do magma quando chega à superfície, perdendo
boa parte de seus gases.
O Havaí, a Islândia e os Açores são três exemplos.
As erupções vulcânicas, quando emitem um material
Tanto no Havaí como na Islândia, o hotspot con-
que se encontra em maior quantidade abaixo da crosta
tinuou derramando magma e uma montanha foi
terrestres, auxiliam o ser humano a compreender me-
crescendo até passar a superfície oceânica. A ilha
lhor como o planeta Terra se estrutura abaixo da super- de Kauai, no Havaí, foi a primeira a ser formada.
fície, em zonas onde o acesso e a obtenção de materiais Como a crosta oceânica está sempre sendo cons-
para estudo são dificultados. Dessa forma, muitas in- truída e destruída, e também se movendo, forma-
formações sobre a estrutura interna do planeta e o seu ram-se outras ilhas: Oahu, Molokai, Maui e a últi-
processo de formação advêm de dados coletados após ma, Havaí. O hotspot está por baixo do Havaí, com
as atividades vulcânicas. vulcões que ainda estão se formando.
Alguns vulcões que não estão mais em atividade são cons-
tantemente chamados de “adormecidos”. No entanto, al-
guns deles podem simplesmente “acordar” sem maiores
dificuldades, o que se explica pelo fato de as atividades vul-
cânicas ocorrerem desde a formação do planeta, há mais
de 4,5 bilhões de anos. Portanto, sua escala temporal é ge-
ológica, bem diferente da escala temporal histórica: alguns
vulcões não estão inativos, somente o seu ciclo de ativação
é que é longo, envolvendo centenas ou até milhares de
anos entre uma erupção e outra.
Pluma abaixo da Islândia

§ Vulcão submarino: durante a erupção do


vulcão submarino, ele expele a lava que arre-
fece e forma uma ilha, como a recém-forma-
da ao lado da ilha de Nishinoshima, no Japão,
ou a ilha de Surtsey, na Islândia.

A ação dos vulcões no relevo costuma ser bastante eviden-


te: envolve tanto verdadeiras catástrofes como contribui
Solidificação de lava vulcânica, dando origem ao basalto positivamente para as práticas humanas. As rochas oriun-

81
das da lava que se solidifica rapidamente na superfície são
chamadas de rochas ígneas ou magmáticas, das quais a
mais comum é o basalto. Quando se decompõem, essas
rochas dão origem às “terras roxas”, que são muito férteis.
Além disso, as cinzas emitidas nas erupções também aju-
dam a fertilizar os solos.
Além de modificar o relevo, os vulcões podem também alterar
o clima. Quando as cinzas são lançadas para muito alto, elas
podem sofrer uma menor influência da gravidade e pairar na
atmosfera durante muitos anos, bloqueando parte dos raios
solares e contribuindo para a diminuição das temperaturas. multimídia: vídeo
Em regiões oceânicas, as erupções podem provocar o aque-
cimento das águas e o surgimento de massas de ar quente. Fonte: Youtube
O Inferno de Dante
A compreensão das ações e dos efeitos do vulcanismo no
relevo e nas sociedades nos ajuda a entender a comple- No filme O Inferno de Dante, Harry Dalton
xidade e a inter-relação entre os diversos fenômenos que (Pierce Brosnan), um vulcanologista (perito
acontecem no interior e no exterior da Terra. em fenômenos vulcânicos), e Rachel Wando
(Linda Hamilton), a prefeita de Dante,
Os assoalhos oceânicos, principalmente os das dorsais sub-
uma pequena cidade, tentam convencer o
marinas, concentram parte significativa dos vulcões. Milha-
res de ilhas oceânicas se formaram por causa da atividade
conselho dos cidadãos e outros geólogos
vulcânica. A principal região vulcânica da Terra é o anel de
a declarar estado de alerta, pois um vulcão
dobramentos que cerca o oceano Pacífico, conhecido como muito próximo, que está inativo há vários
Círculo de Fogo do Pacífico, uma área que vai da cordilheira séculos, entrará em erupção. Mas interesses
dos Andes às Filipinas, passando pela costa ocidental da econômicos são contrariados com a notícia,
América do Norte e pelo Japão, onde se encontram cerca que pode afastar um grande empresário que
de três quartos dos vulcões ativos do mundo. pretende fazer investimentos que iriam gerar
800 empregos diretos na cidade.

2.3. Tectonismo ou diastrofismo


Tectonismo é um termo geral que abrange todos os movi-
mentos da crosta terrestre com origem em processos tec-
tônicos, como formação de bacias oceânicas, continentes,
planaltos e cordilheiras. Os movimentos tectônicos resul-
tam de pressões vindas do interior da Terra e que agem na
Círculo de Fogo do Pacífico crosta terrestre. Quando as pressões são verticais, os blo-
cos continentais sofrem levantamentos e rebaixamentos.
O diastrofismo (distorção) caracteriza-se por movimentos
lentos e prolongados que acontecem no interior da crosta
terrestre e produzem deformações nas rochas. Esse movi-
mento pode ocorrer na forma vertical (epirogênese) ou na
horizontal (orogênese).

2.3.1. Orogênese
São os movimentos geológicos que levam à formação
de montanhas ou cadeias montanhosas. Esses movi-
multimídia: vídeo mentos, produzindo por dobramentos e falhamentos
Fonte: Youtube resultantes do choque entre as placas, são considerados
Planeta Feroz:Vulcão [Dublado] Documentário rápidos em termos geológicos. O processo de orogenia
Discover... andina, por exemplo, iniciou-se no mesozoico e prolon-
gou-se até o cenozoico.

82
2.3.2. Epirogênese
Lento movimento de subida e descida de grandes porções
da crosta – provocado pela compensação de pressão que
um bloco da litosfera exerce sobre as áreas mais próximas
– causando sua elevação pelo princípio da isostasia.
A orogênese e a epirogênese não podem ser considerados
movimentos interdependentes e desarticulados. Os dois
movimentos resultam da deriva continental e do choque § Horst: bloco de terra elevado em relação às áre-
de placas tectônicas convergentes; em ambos ocorrem fa- as vizinhas, devido ao movimento combinado
lhamentos, fraturas de rochas e vulcanismo. de placas geológicas paralelas, cujo movimento
provoca o rebaixamento de terrenos vizinhos ou
a elevação de uma faixa de terreno entre elas.
§ Graben: depressão de origem tectônica, geral-
mente com a forma de um vale alongado, com
fundo plano, formada quando um bloco de uma
área fica rebaixado em relação à área circundante.

2.4. Sísmicos
Outro importante agente interno modelador do relevo são os
abalos sísmicos. Terremoto ou abalo sísmico é uma vibração
da superfície terrestre produzida por forças naturais situadas
no interior da crosta a profundidades variáveis. Embora a pa-
lavra terremoto seja mais utilizada para os grandes eventos
destrutivos, e que os menores sejam geralmente chamados
de abalos ou tremores de terra, todos resultam do mesmo
processo geológico de acúmulo lento e liberação rápida de
tensões. A diferença principal entre os grandes terremotos
e os pequenos tremores é o tamanho da área de ruptura, o
que determina a intensidade das vibrações emitidas.
O lento movimento da camada mais externa da Terra, cerca
de alguns centímetros por ano, produz tensões que vão
se acumulando em vários pontos. Essas tensões podem
ser compressivas ou expansivas, dependendo da direção
de movimento relativa entre as placas que compõem a
camada externa da Terra. Quando essas tensões atingem o
limite de resistência das rochas, ocorre uma ruptura.

O Horst e a Graben são os dois principais tipos de falhamentos.

O processo de orogenia andina iniciou-se no Mesozoico e


prolongou-se até o Cenozoico. Durante este último ocorreu
a epirogenia do continente sul-americano. Acompanhando
esses movimentos aconteceram, por exemplo, falhamentos
como os que geraram a escarpa da serra do Mar, da serra
multimídia: sites
da Mantiqueira (Horst), o médio vale do Paraíba (Grabem), http://volcano.si.edu/
o vulcanismo e as intrusões ao longo do litoral Pacífico.

83
Como se forma um tsunami

O movimento repentino entre os blocos de cada lado da rup-


tura gera vibrações que se propagam em todas as direções.
O plano de ruptura forma o que se chama de falha geoló-
gica. Os terremotos podem ocorrer quando há contato entre
Outro tipo de fenômeno relacionado com os abalos sísmicos,
duas placas (caso mais frequente) ou no interior de uma de-
é o tsunami, fenômeno que provoca o aparecimento de on-
las, como indicado na figura acima, sem que a ruptura atinja
das gigantes, longas e velocíssimas (900 km/h), que podem
a superfície. O ponto onde começa a ruptura e a liberação
atingir 50 metros de altura e avançar quilômetros adentro do
das tensões acumuladas chama-se hipocentro, e a distância
continente. Um terremoto de nove graus na escala Richter,
do foco à superfície é a profundidade focal. O tamanho do
com epicentro no oceano Índico, provocou um tsunami que
terremoto é medido por meio de uma escala de magnitude
chamada escala Richter – uma escala logarítmica que varia atingiu, em dezembro de 2004, o litoral de treze países e
de 0 a 10. Existe também a escala Mercalli, que classifica a deixou um saldo de mortes superior a 200 mil pessoas.
intensidade do tremor a partir dos efeitos sobre as pessoas, Mapa das zonas sísmicas
as construções e a natureza. Quando acontece uma ruptura 90 °
180 ° 150 ° 120 ° 90 ° 60 ° 30 ° 0° 30 ° 60 ° 90 ° 120 °

Nordvik
150 ° 180 °
90 °

no interior da Terra, são geradas vibrações sísmicas que se


60 ° 60 °

Vladivostok

propagam em todas as direções em forma de ondas. O mes-


Lanzhou

30 ° 30 °

mo ocorre, por exemplo, com uma detonação de explosivos 0° 0°

em uma pedreira, cujas vibrações, tanto no terreno quanto no 30 ° 30 °

ar (ondas sonoras), podem ser sentidas a grandes distâncias. Wellington

Essas ondas sísmicas é que causam danos perto do epicentro


60 ° 60 °
180 ° 150° 120° 90 ° 60° 30 ° 0° 30 ° 60 ° 90 ° 120 ° 150 ° 180 °

0 0,2 0,4 0,8 1,6 2,4 3,2 4,0 4,8 5,6

e podem ser registradas por sismógrafos em todo o mundo. Baixa Média Alta Muito alta

Fonte: Global Seismic Hazard Program

3. Agentes externos (esculturais)


O relevo terrestre encontra-se em permanente desenvol-
vimento. Suas formas criadas por agentes internos estão
constantemente sofrendo a ação dos chamados agentes
externos do relevo, que realizam um trabalho de mode-
lagem da paisagem terrestre. Esse trabalho é contínuo e
incessante. As forças exógenas correspondem à ação de
agentes naturais, como águas correntes, ventos, mares,
geleiras, seres vivos, entre outros. Apesar de essa ativi-
multimídia: letra e música dade abranger toda a superfície terrestre, é fundamental
Fonte: Youtube entender que, além do trabalho específico de cada um
Terremoto – João Bosco e Vinícius de Moraes deles, a participação de cada um difere bastante de acor-
do com a área em que atuam.

84
Os agentes externos esculturais mostram seus trabalhos
em duas formas básicas: o intemperismo e a erosão. O in-
temperismo é responsável pelo desgaste e/ou fragmenta-
ção das estruturas e a erosão é responsável pelo transporte
do material desagregado pelo intemperismo.

3.1. Intemperismo
O intemperismo é classificado de três maneiras: físico, quími-
co e biológico. O físico corresponde às transformações físi- Taça ou cálice, em Ponta Grossa, Paraná

cas, como a fragmentação, que posteriormente se depositará 3.2.2. Pluvial


numa outra região. Ele predomina em ambientes extremos,
A erosão pluvial é provocada pela retirada de material da
como desertos ou áreas congeladas. Com as variações térmi-
parte superficial do solo pelas águas da chuva. Essa ação
cas, os corpos dilatam-se e contraem-se em curtos períodos
é acelerada quando a água encontra o solo desprotegido
de tempo e acabam fragmentando-se, criando a possibilida- de vegetação. A primeira ação da chuva ocorre por meio
de de transporte desses fragmentos pela ação dos ventos ou do impacto das gotas d’água sobre o solo, provocando a
das águas, o que caracteriza a erosão. desagregação dos torrões e agregados do solo, lançando o
O intemperismo químico se caracteriza pela alteração quí- material mais fino para cima e para longe – fenômeno co-
mica de rochas ou de solos em soluções aquosas. Embora a nhecido como salpicamento. A força do impacto também
água da chuva seja naturalmente destilada, ela não é pura, força o material mais fino para ir abaixo da superfície, o
pois há gases importantes do ar dissolvidos nela: oxigênio que provoca a obstrução da porosidade (selagem) do solo
e gás carbônico. Esses gases, principalmente o carbônico, e aumenta o fluxo superficial e a erosão.
em contato com a água, formam ácidos com ações corrosi- A chuva é um dos agentes erosivos mais ativos. Provoca
vas que alteram quimicamente os minerais que compõem enchentes e enxurradas. Dependendo do grau de intensi-
as rochas e os solos. O intemperismo químico ocorre em dade das águas das chuvas, acontece a erosão pluvial do
regiões com alto índice pluviométrico, como as equatoriais, tipo superficial, laminar, de sulcos ou de ravinamento.
onde as chuvas são mais intensas.
A ação biológica também compõe ações intempéricas. A
ruptura de solos e rochas pela força das raízes de uma ár-
vore compõe o intemperismo físico-biológico. As atividades
orgânicas de bactérias e fungos, presentes na decomposi-
ção de animais ou vegetais, transformam quimicamente as
rochas e os solos e caracterizam o intemperismo químico-
-biológico.

3.2. Erosão (tipos)


3.2.1. Eólica (ventos)
A erosão eólica acontece de duas maneiras: por deflação
Ilustração esquemática do processo erosivo pluvial
e por corrosão. Na deflação, o vento faz uma varredura com foco para a formação de ravinas
de uma superfície e remove sedimentos soltos. Na cor-
rosão, o vento é pesado e carregado de partículas em 3.2.3.Fluvial
suspensão, por isso atua somente nas partes mais baixas
formando figuras em forma de “cogumelos” ou “taças”. A erosão fluvial é causada pelo desgaste provocado pelo per-
A acumulação eólica, por sua vez, é responsável pela curso que as águas dos rios fazem. Ela favorece a formação
formação de dunas e de loess – sedimento fértil de col- de planícies e ilhas em foz do tipo delta. As correntes de água
oração amarela. As dunas são montanhas de areia for- transportam materiais que são depositados em outros locais.
madas pela ação do vento e aparecem em litorais, áreas Essa erosão pode mudar o curso do rio, gerando os cha-
continentais e desertos. As dunas litorâneas podem ser mados meandros. Um exemplo da erosão fluvial é o Grand
fixas ou móveis – podem até mesmo soterrar grandes ex- Canyon, localizado no Arizona, Estados Unidos. Ele é resul-
tensões de terra, até cidades inteiras. tado da erosão fluvial do rio Colorado. É importante lem-

85
brar, que essas alterações no relevo levam muito tempo 3.2.5. Marinha ou abrasão
para acontecer, cerca de milhões de anos.
Um trabalho destrutivo ou construtivo como resultado da
ação do mar. Muito comum nos litorais de costas altas, é
provocado pela ação das ondas, que vão corroendo as ba-
ses e causando desabamentos.
O trabalho de acumulação marinha leva à formação de
restingas, recifes, tômbolos, lagunas, lagoas e praias – su-
perfícies cobertas de areia e localizadas em costa baixa. O
trabalho de destruição marinha provoca o surgimento de
barreiras e falésias, bem como a formação de praias.

O Grand Canyon é um exemplo de intemperismo físico com gênese fluvial.

3.2.4. Glacial
É o trabalho de formação do relevo feito pelas geleiras.
Ao descer de áreas mais altas para outras mais baixas,
o gelo pode causar a abertura de vales normalmente
chamados de fiordes, formados pela presença de an-
tigas geleiras. Nas áreas de acumulação formam-se as
morainas ou morenas.

Formação de falésias

3.2.6. Erosão acelerada (Antrópica)


Essa erosão decorre do agravamento dos processos natu-
rais de erosão em razão do mau uso do solo, como o culti-
vo com técnicas inadequadas.

Normalmente acontece quando, em épocas de tempera-


turas muito frias, a água que no verão penetrou entre as
rochas congela e acaba por quebrá-las devido ao aumento
de volume.

Erosão acelerada pela ação de mineradoras


Causada pelo Causada por fluidos Causada pela gravidade
vento
Movimento de massa

Erosão eólica Avalanche Escorrega- Solifluxão Rastejo


Água Erosão gracial mento

Água de
Chuva Oceano
escoamento

Erosão por Erosão costeira


impacto das
gotas

Escoamento superficial Escoamento subsuperficial

Erosão Erosão em
Erosão Erosão Erosão em condutos
em
laminar em ravinas e subterrâneos
canais
sulcos voçorocas (”pipe”)
fluviais
Fiordes, na Noruega

86
4. Unidades geomorfológicas § Inselberg: denominação usada por Bornhardt para
identificar as elevações ilhadas em clima semiárido.
Principais formas de relevo, relacionadas com a geomor- São como resíduos da pediplanação, semelhantes aos
fologia local: monodnocks, em climas áridos, quentes, semiáridos e
úmidos, esculpidos pelo intemperismo físico.

5. Relevo submarino
Os dois terços da superfície da Terra submersa nas águas
oceânicas eram praticamente desconhecidos até três dé-
§ Planícies: superfícies planas com até 300 metros de cadas atrás. As pesquisas geológicas e oceanográficas
altitude, onde os processos de deposição superam os permitiram um grande avanço no conhecimento a res-
de desgaste. Podem ser classificadas em planícies cos- peito do relevo, da litologia e da dinâmica geotectônica
teiras, quando o agente de sedimentação é o mar; flu- do fundo oceânico.
viais, quando um rio é responsável por sua formação; O entendimento do relevo do fundo oceânico, tal como
lacustres, formadas pela ação de um lago. hoje se apresenta, deve levar em conta a profundidade e
§ Planaltos: de origem cristalina ou sedimentar, são su- as formas predominantes. Dessa forma, divide-se o rele-
perfícies irregulares com mais de 300 metros de altitu- vo em três grandes unidades: margem continental; bacias
de, em que predomina o processo de erosão. oceânicas; sistemas de cordilheiras meso-oceânicas.

§ Depressões: superfícies mais ou menos planas em A margem continental corresponde aos terrenos subma-
que predomina o processo de erosão. Depressões rela- rinos que margeiam os continentes, os quais apresentam
tivas ficam acima do nível do mar e abaixo das regiões profundidades modestas, e estão associados à parte da
vizinhas. As depressões absolutas ficam no interior dos crosta continental ou siálica que se encontra submersa.
continentes, abaixo do nível do mar. Por ser uma área de contato entre a crosta continental e
a crosta oceânica, a margem continental apresenta ca-
§ Montanhas: formadas pelo tectonismo ou vulcanismo,
racterísticas peculiares que exigem uma divisão em duas
são formas de relevo com as maiores altitudes do planeta.
subunidades: plataforma continental e talude continental.
§ Serras: são terrenos muito trabalhados pela erosão,
Dependendo da profundidade, o relevo submarino tem
com altitude que varia de 600 a 3 mil metros de alti-
quatro partes:
tude; são formadas por morros ou cadeia de morros
pontiagudos ou mamelonares, de origem cristalina.
§ Escarpas: terrenos muito íngremes, com 100 a 800
metros de altitude, que existem na passagem de áreas
baixas para um planalto.
§ Tabuleiros: superfícies com 20 a 50 metros de alti-
tude em contato com o oceano, ocupam trechos do
litoral nordestino brasileiro. Em geral têm o topo muito
plano e declives abruptos na face voltada para o mar,
formando as chamadas falésias ou barreiras.
§ Chapadas: formações de origem sedimentar, constitu-
ídas por camadas de arenito e com o topo aplainado.
Encontram-se no Planalto Central. Exemplos: chapada
do Araripe e chapada do Apodi, no estado do Ceará. 5.1. Plataforma continental
§ Cuestas: formas de relevo assimétricas constituídas por A plataforma continental nada mais é do que uma continua-
uma sucessão alternada de camadas, com diferentes re- ção do continente, que não ultrapassa meros 200 metros de
sistências ao desgaste, inclinação formando um declive profundidade. É a parte mais facilmente explorada do relevo
suave no reverso e um corte abrupto ou íngreme na fren- submarino, por ser alcançada pelos raios solares com pouca
te da cuesta. A Ibiapaba, microrregião do Ceará, é um dificuldade e, obviamente, ser próxima à costa. É onde temos
exemplo de cuesta. a maior riqueza de cardumes e extração petrolífera.

87
5.1.1. Talude continental ou vertente continental 5.1.2. Região pelágica
Trata-se de uma parte do fundo oceânico de menor exten- Corresponde ao assoalho oceânico, com formações se-
são, correspondendo na realidade à área de término da melhantes às dos planaltos, das depressões e das cadeias
crosta continental. É uma faixa de transição entre a pla- montanhosas e tem profundidade em torno de 1 mil a 5
taforma continental e as grandes profundidades do fundo mil metros.
oceânico, isto é, as bacias oceânicas. Tem características
de relevo escarpado, cujas profundidades podem chegar 5.1.3. Região abissal
a 2.000 m.
Região com profundidade superior a 5 mil metros, marcada
A margem continental no oceano Atlântico é diferente da por densa escuridão, baixa temperatura e gigantesca pres-
que se encontra no Pacífico. Ela apresenta a plataforma são. É a menos conhecida das partes do relevo submarino.
continental, o talude e, na base deste último, pequenas ele-
vações relacionadas com os depósitos sedimentares. Neste
tipo de margem, a passagem do fundo oceânico da crosta
continental para a crosta oceânica ocorre sem a presença
de fossas submarinas ou atividade vulcânica, pois não há
cadeias de montanhas na parte emersa.
A margem continental no oceano Pacífico é diferente gene-
ticamente. Nela, a plataforma continental e o talude estão
presentes de modos distintos, definindo-se em três tipos:
cordilheriano, arco insular e atlântico.

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Margem continental do tipo Atlântico
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Margem continental do tipo Pacífico insular

88
VIVENCIANDO

Em grande parte dos casos, o vento modifica o relevo em regiões litorâneas e também desérticas. Ambas são áreas de
concentração de areia; assim sendo, o vento sopra deslocando-a de um lugar para outro. Tal fenômeno é responsável
pela formação das dunas. No entanto, a ação dos ventos não se limita a isso. Ela também desempenha influência
em casos em que a poeira disposta no ar é lançada em direção às rochas. Então, de maneira gradativa e lenta, o
relevo vai sendo modelado dando origem a esculturas naturais intrigantes. Propomos aqui que cada aluno observe
os lugares por onde passa e identifique os agentes externos que mais esculpem o relevo.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

É importante evidenciar a importância do estudo dos processos erosivos para a arquitetura, na medida em que os
edifícios são construídos sobre um terreno real, que tem uma modelagem geomorfológica específica, fruto, entre
outros aspectos, da ação das águas pluviais sobre a superfície do solo, que gera um processo que não se interrompe
com a conclusão das obras.

89
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida hu-
26 mana com a paisagem.

Relevo e sociedade formam diferentes faces de uma mesma composição estrutural, que responde pela interação das
atividades humanas com a cadeia de elementos naturais. Sendo assim, é impensável considerar um sem o outro, muito
embora a maior parte das paisagens geomorfológicas do nosso planeta tenha se constituído em períodos anteriores
à formação das primeiras civilizações. Nesse sentido, se considerarmos a influência e a mútua relação entre relevo e
sociedade, perceberemos o quanto os elementos naturais condicionam, em partes, as atividades humanas. Geralmen-
te, os agrupamentos humanos optam por estabelecer suas práticas em lugares planos ou naqueles menos inclinados
possíveis. Entretanto, com o desenvolvimento das diferentes técnicas, foram desenvolvidas formas de ocupar também
esses espaços, embora tal ocorrência nem sempre seja realizada de maneira sustentável.

Modelo
(Enem) De repente, sente-se uma vibração que aumenta rapidamente; lustres balançam, objetos se movem so-
zinhos e somos invadidos pela estranha sensação de medo do imprevisto. Segundos parecem horas, poucos minutos
são uma eternidade. Estamos sentindo os efeitos de um terremoto, um tipo de abalo sísmico.
ASSAD, L. Os (não tão) imperceptíveis movimentos da Terra. ComCiência: Revista Eletrônica de Jornalismo
Científico, n.o 117, abr. 2010. Disponível em: http://comciencia.br. Acesso em: 2 mar. 2012.

O fenômeno físico descrito no texto afeta intensamente as populações que ocupam espaços próximos às áreas de
a) alívio da tensão geológica.
b) desgaste da erosão superficial.
c) atuação do intemperismo químico.
d) formação de aquíferos profundos.
e) acúmulo de depósitos sedimentares.

Análise expositiva: O “alívio de tensão geológica” refere-se a um abalo sísmico ou terremoto, cuja origem se dá
A em profundidade (hipocentro). As ondas sísmicas atingem a superfície (epicentro) e se propagam, podendo causar
danos socioeconômicos.
(Alternativa A)

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DIAGRAMA DE IDEIAS

GEOMORFOLOGIA

RELEVO

AGENTES ESTRUTURAIS AGENTES ESTRUTURAIS


(INTERNOS) (EXTERNOS)

ABALOS
TECTONISMO VULCANISMO
SÍSMICOS

OROGÊNESE EPIROGÊNESE

EROSÃO
INTEMPERISMO
(TRANSPORTE)

• EÓLICA
• FLUVIAL
• PLUVIAL
FÍSICO QUÍMICO BIOLÓGICO • MARINHA
• GLACIAL

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