Você está na página 1de 120

1ª Série

Curitiba 2022

ENSINO MÉDIO LIVRO DO PROFESSOR | FILOSOFIA

PI_EM22_1_FIL_LU_LP.indd 1 09/09/2021 11:23:20


© 2022 – SAE DIGITAL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer
processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

FICHA CATALOGRÁFICA
S132

SAE, ensino médio: 1. série: filosofia: livro do professor : SAE DIGITAL S/A. -
1. ed. - Curitiba, PR : SAE DIGITAL S/A, 2022. 

120 p. : il. ; 28 cm.

ISBN 978-65-5995-068-3

1. Filosofia  (Ensino médio) - Estudo e ensino. I. Inteligência Educacional e


Sistemas de Ensino. II. Sistema de Apoio ao Ensino: o passo a frente.

CDD: 109
CDU: 316.7

Gerência de conteúdo educacional Rita Egashira Vanzela


Gerência editorial Tassiane Aparecida Sauerbier
Coordenação editorial Emanoelle Almeida
Edição Caroline Schlegel, Hector Ribeiro Molina, Maria Victória Ruy
Coordenação de Revisão Fabiana Teixeira Lima
Revisão Brunno Freire, Igor Spisila, Juliana Basichetti Martins, Ludmilla Borinelli, Marcela Batista
Martinhão, Marcela Vidal Machado, Pamela de Fátima Leal, Priscila Sousa, Thainara
Gabardo, Victor Truccolo
Cotejo Anna Karolina de Souza, Rafaella Ravedutti
Qualidade Mariana Chaves, Raul Jungles
Projeto gráfico Thiago Figueiredo Venâncio
Arte da capa Cinthia Satoko Fujii de Siqueira, Deny Mayer Machado, Scarllet Gabardo Anderson, Wagner
de Oliveira Ramari
Iconografia Ana Paula de Jesus Gonçalves Cruz, Paulo Gustavo Costa
Ilustrações Carlos Morevi, Deny Mayer Machado, Scarllet Gabardo Anderson
Supervisão de Produção Visual Marina Prado Pereira de Mello
Diagramação André Lima, Bruna Aparecida de Andrade, Bruno Gogolla, Fernanda Wolf, Flávia Sousa
Gonçalves, Gustavo Ribeiro Vieira, Kássio Nery, Luana Santos, Luciana Nesello Künzel, Luisa
Piechnik Souza, Maisa Leepkaln, Mariana Oliveira, Nadiny Silva, Raphaela Candido, Silvia
Santos, Tarliny Silva, Thiago Figueiredo Venâncio
Coordenação de processos Janaina Alves
Processos Luana Rosa de Souza, Vitor Ribeiro
Colaboração externa Clarice Yumi Yokoi Bogut (Diagramação), Estevam Cezar Maia Goulart (Diagramação)
Autoria Fernanda Tavares Paulino, Josemar Soares

Todos os direitos reservados.

SAE DIGITAL S/A.


R. João Domachoski, 5. CEP: 81200-150
Mossunguê – Curitiba – PR
0800 725 9797 | Site: sae.digital

PI_EM22_1_FIL_LU_LP.indd 2 16/09/2021 15:52:21


SUMÁRIO

Pilares pedagógicos..............................................................IV

Tecnologia digital relevante – SAE DIGITAL...................... V

Ensino Médio..........................................................................VI

Conhecimentos de Filosofia .............................................VIII

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 3 14/09/2020 12:27:41



Pilares pedagógicos
Os pilares pedagógicos do sistema de ensino do SAE Digital vêm ao encontro das habilidades espe-
radas dos aprendizes, expostos a um ambiente que exige leitura plural do mundo, caracterizada por
constantes mudanças nos campos científico, tecnológico e político.
Os desafios da atualidade preveem uma formação que priorize a capacidade de refletir e in-
terpretar as realidades local e global, bem como agir de acordo com as necessidades coletivas,
por meio do desenvolvimento da empatia, da resiliência e do senso de cooperação.
Para desenvolver habilidades que atendam a tão complexas necessidades, as estratégias do SAE
Digital estão fundamentadas em quatro pilares do trabalho pedagógico: protagonismo, rigor concei-
tual e conteúdo relevante, complexidade e saberes múltiplos e transformação da realidade.

Protagonismo
Uma prática pedagógica estruturada no protagonismo considera o estudante como centro do
processo de sua aprendizagem. Tem como ponto de partida os conhecimentos prévios que ele
possui para, a partir deles, promover o fortalecimento de sua identidade, a sua autonomia e o de-
senvolvimento das habilidades necessárias à concretização de seu projeto de vida e sua atuação
na sociedade com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Rigor conceitual e conteúdo relevante


Esse pilar, que abarca duas ideias complementares, corrobora o entendimento de que a edu-
cação deve sempre se pautar em bases conceituais do conhecimento acadêmico e científico. Na
era da informação, a escola assume o papel de propulsora da pesquisa para a escolha, a apropria-
ção e a produção do conhecimento por parte dos professores e dos estudantes, a fim de garantir
a sistematização dos processos de ensino e de aprendizagem pautados na relevância do currículo
e na precisão da cientificidade.

Complexidade e saberes múltiplos


O paradigma atual do conhecimento requer a superação da disposição estanque do currículo
escolar. Trazemos como proposta para o trabalho pedagógico o pilar complexidade e saberes
múltiplos visando ao desenvolvimento do pensamento complexo, que só se efetiva por meio de
um trabalho inter e transdisciplinar. Promover a religação dos saberes com vistas à formação de
leitores competentes e capazes de atuar em um cenário complexo é um dos compromissos impre-
teríveis dos quais a escola não pode se eximir.

Transformação da realidade
Com base no entendimento da educação como agente transformador da realidade, o sistema
de ensino do SAE Digital incorpora à sua proposta pedagógica um trabalho sistemático com te-
mas contemporâneos de relevância social que afetam a vida humana em escala local, regional e
global. Ao promover a consciência dos direitos e deveres de todo ser humano, o exercício pleno da
cidadania e a tomada de decisões para iniciativas concretas de impacto socioambiental, visamos
à manutenção do estado democrático de direito e à transformação da realidade.

Matriz de pilares do SAE

Rigor conceitual e Complexidade e Transformação da


Protagonismo
conteúdo relevante múltiplos saberes realidade

Mundo da ciência e da
Meu mundo Mundo revisitado Mundo transformado
tecnologia

Conhecimento de
Conhecimento científico Pensamento complexo Saberes ressignificados
mundo
PI_EM21_1_FIL_LU_LP

PI_EM21_1_FIL_LU_LP

Inter e
Conhecimento prévio Currículo escolar Ações transformadoras
transdisciplinaridade

Autonomia Compreensão Reflexão Iniciativa concreta

IV FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 4 14/09/2020 12:27:43



Tecnologia digital relevante – SAE DIGITAL
São recursos digitais – livros, atividades, jogos, realidade aumentada, vídeos, animações, apli-
cativos, plataforma adaptativa, avaliações, ferramentas de gestão escolar, de gestão da aprendi-
zagem e de desenvolvimento dos profissionais da Educação – concebidos com intencionalidade
pedagógica, integração à proposta e aos conteúdos dos materiais impressos e dinâmica eficiente,
a fim de que cumpram um papel efetivo no processo educativo, seja por meio
a) da interação do aluno com o conteúdo digital, que tenha como propósito contribuir com a sua
aprendizagem;
b) da sensibilização/motivação do aluno para a aprendizagem;
c) da promoção da apropriação de conceitos ou do desenvolvimento de habilidades e atitudes;
d) do controle do desempenho e das adaptações e personalizações necessárias a uma aprendizagem
significativa;
e) da gestão do desempenho e aprendizagem do aluno;
f ) da formação permanente do professor.

Outras considerações a
respeito de tecnologia
digital relevante
O projeto de Tecnologia Digital Relevante –
SAE Digital também tem como enfoque aproxi-
mar a produção do SAE Digital às metodologias
contemporâneas da aprendizagem:
●● Por desenvolver o conteúdo digital pro-
duzido em consonância com o material
impresso pode ser considerado como
um modelo híbrido de ensino.
●● Por promover a autonomia do aluno em
seu processo de aprendizagem, os ob-
jetos digitais podem ser considerados
como metodologia ativa.
●● Por promover o uso de diversas mídias
digitais, os objetos digitais podem con-
tribuir para o letramento digital.
●● Por ofertar feedbacks do desempe-
nho dos alunos, pode contribuir com
a regulação e a autorregulação da
aprendizagem.
PI_EM21_1_FIL_LU_LP

PI_EM21_1_FIL_LU_LP

FIL V

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 5 14/09/2020 12:27:47


Ensino Médio
Há alguns anos os documentos oficiais que regulam a educação básica preveem o currículo do
Ensino Médio organizado em quatro grandes áreas do saber:
● linguagem e suas tecnologias;
● matemática e suas tecnologias;
● ciências da natureza e suas tecnologias;
● ciências humanas e suas tecnologias.
A integração dos componentes curriculares em quatro grandes áreas atende à necessidade
educacional e social premente de superar a fragmentação do currículo escolar. Outras necessida-
des da sociedade do século XXI também estão presentes no documento da BNCC, como o desen-
volvimento de competências e habilidades e a formação integral dos estudantes.
Essas e outras diretrizes são contempladas nos pilares pedagógicos SAE Digital – Protagonismo;
Rigor conceitual e conteúdo relevante; Complexidade e saberes múltiplos; Transformação da rea-
lidade – que estão presentes nos livros que compõem a coleção do Ensino Médio. Elas podem
ser percebidas tanto no que tange à organização curricular integrada proposta pela BNCC, como
também no que diz respeito aos objetivos de aprendizagem nesse documento, conforme consta
no texto a seguir:
“O Ensino Médio deve atender às necessidades de formação geral indispensáveis ao exercício
da cidadania e construir `aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e
os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea’, como
definido na Introdução desta BNCC (p. 14; ênfases adicionadas).
Para atingir essa finalidade, é necessário, em primeiro lugar, assumir a firme convicção de
que todos os estudantes podem aprender e alcançar seus objetivos, independentemente de suas
características pessoais, seus percursos e suas histórias. Com base nesse compromisso, a escola
que acolhe as juventudes deve:
● favorecer a atribuição de sentido às aprendizagens, por sua vinculação aos desafios da reali-
dade e pela explicitação dos contextos de produção e circulação dos conhecimentos;
● garantir o protagonismo dos estudantes em sua aprendizagem e o desenvolvimento de suas
capacidades de abstração, reflexão, interpretação, proposição e ação, essenciais à sua auto-
nomia pessoal, profissional, intelectual e política;
● valorizar os papéis sociais desempenhados pelos jovens, para além de sua condição de estu-
dante, e qualificar os processos de construção de sua(s) identidade(s) e de seu projeto de vida;
● assegurar tempos e espaços para que os estudantes reflitam sobre suas experiências e
aprendizagens individuais e interpessoais, de modo a valorizarem o conhecimento, confia-
rem em sua capacidade de aprender, e identificarem e utilizarem estratégias mais eficientes
a seu aprendizado;
● promover a aprendizagem colaborativa, desenvolvendo nos estudantes a capacidade de tra-
balharem em equipe e aprenderem com seus pares; e
● estimular atitudes cooperativas e propositivas para o enfrentamento dos desafios da comu-
nidade, do mundo do trabalho e da sociedade em geral, alicerçadas no conhecimento e na
inovação.” (BNCC, 2018).

PI_EM21_1_FIL_LU_LP

PI_EM21_1_FIL_LU_LP

VI FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 6 14/09/2020 12:27:47



PI_EM21_1_FIL_LU_LP

PI_EM21_1_FIL_LU_LP

FIL VII

PI_EM21_1_FIL_LU_LP.indd 7 18/09/2020 14:23:55


Conhecimentos de Filosofia
Desde o seu nascimento com os gregos antigos, a Filosofia tenta responder àquelas perguntas mais profundas que
fazemos a nós mesmos, por exemplo: De onde as coisas vêm? Qual o sentido da existência? O que é conhecimento? Como
devo agir? Como devem proceder as ciências? O que é a verdade?
A Filosofia é a aventura fascinante do ser humano de tentar conhecer a si mesmo e ao mundo; e essa é uma aventura
que já atravessa muitos séculos, exigindo esforços de grandes pensadores, como Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes,
Kant, Nietzsche, Foucault, Hannah Arendt, entre muitos outros. Este livro propõe um percurso pelas ideias de tais homens
e mulheres mostrando que o que os move não são interrogações que habitam apenas a mente dos filósofos, mas sim
questões que são, no fundo, de toda a humanidade.
Estudar Filosofia ajuda a desenvolver nossa capacidade de compreensão do mundo, a qualificar o nosso senso crítico
e a aplicar o que aprendemos intelectualmente no cotidiano. Tudo isso é essencial para os dias atuais, pois vivemos em
um período complexo em que a globalização, a internet, o mercado de trabalho, a família, a sociedade e as relações inter-
pessoais são só alguns dos elementos dos quais os jovens têm de dar conta. Entender esses elementos de um modo mais
profundo certamente é essencial para se construir uma existência mais autônoma, crítica e responsável pelo aprimora-
mento da própria sociedade.
A Filosofia sempre teve implicações na trajetória da história humana. Cada período histórico, com suas grandes re-
voluções, costumes, modos de pensar e de viver, teve como pano de fundo a fundamentação de grandes autores que
pensavam sua própria época e que por vezes apontavam novos rumos para a história.
Na primeira série, será estudada a origem da Filosofia na Grécia Antiga. A mitologia é o ponto de partida para entender
o nascimento dessa ciência e, na sequência, estudar os grandes filósofos daquele período: os pré-socráticos, os sofistas,
Sócrates, Platão e Aristóteles, os mais célebres nomes da Filosofia grega, e, por fim, o helenismo. Serão estudadas as con-
siderações de Platão sobre a origem e o fundamento do conhecimento e a importância da educação para a formação do
Estado, bem como os principais pontos do pensamento lógico, ético e político de Aristóteles.
Será estudada, também, a Filosofia Medieval, analisando-se o fortalecimento da moral cristã com a fundamentação
de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, que tiveram influências diretas de Platão e Aristóteles, respectivamente.
Por fim, serão estudados o humanismo renascentista e a revolução científica – extraordinário período que rompe com
uma tradição de mais de mil anos com o surgimento da ciência moderna – abordando pensadores como Leonardo da
Vinci, Maquiavel, Galileu e Isaac Newton.
Na segunda série, será estudada a Filosofia da Idade Moderna à Contemporânea, iniciando com o estudo do racio-
nalismo e empirismo, com os pensadores Descartes, Spinoza, Bacon, Locke e Hume, para fundamentar as bases de uma
ciência metódica e objetiva.
Também serão estudados os filósofos do contrato social, uma vez que muito do que se entende por Estado, por socie-
dade civil, direito e liberdade vem da Idade Moderna, com Hobbes, Locke e Rousseau. As normas e as formas de organi-
zação da sociedade foram defendidas, criticadas e influenciadas por esses brilhantes filósofos modernos. Também serão
estudados os filósofos do idealismo, Kant e Hegel.
No período do século XIX, será trabalhado o surgimento de correntes de pensamento, como positivismo, utilitarismo
e marxismo, e a influência que ainda têm em nosso tempo. Depois, na passagem do século XIX para o século XX serão
estudados filósofos como Schopenhauer, Nietzsche e Bergson.
Por fim, serão estudados pensadores e ideias da Filosofia Contemporânea, como Husserl, Heidegger, Sartre, Hannah
Arendt, Foucault, entre outros filósofos contemporâneos, além de pensar em crises ocorridas na atualidade, como as
duas Guerras Mundiais, a Guerra Fria, os dilemas da globalização etc.
Vive-se uma época conturbada em que se observa a relativização de hábitos e valores que por séculos foram os alicer-
ces do comportamento humano. A razão moderna, as religiões, as ciências e o Estado não foram capazes de evitar tantas
crises que atingem as esferas social, econômica e política no mundo todo. Estudar o pensamento desses filósofos nos
faz entender melhor nosso próprio tempo, carregado de antagonismos, diversidade e incertezas. Por fim, será dedicada
atenção à Filosofia da Ciência, à alguns aspectos da Filosofia da Arte e da Pós-modernidade.
A terceira série tem caráter revisional, sendo abordados os conteúdos da primeira e segunda séries de modo mais
sucinto, sem perder a característica reflexiva da Filosofia.
PI_EM21_1_FIL_LU_LP

PI_EM21_1_FIL_LU_LP

VIII FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 8 14/09/2020 12:27:47


Filosofia – 1.a série
Livro Módulo Frente única

Mitologia e Teatro na Grécia Antiga


1
Busca pelo conhecimento • Poesia épica • Os mitos e a Filosofia

Os pré-socráticos: surge a filosofia


2 Passagem do mythos ao logos: o surgimento da filosofia • Pré-socráticos: explicando a
natureza e seus fenômenos

Sofistas e Sócrates
3
Do cosmos ao anthropos • Sofistas • Sócrates

Platão: o homem e a cidade ideais


4 Platão • Diálogos platônicos • Dimensões da justiça social em Platão • Papel da educação na
construção da cidade ideal • Justiça e bem: o rei filósofo de Platão

Filosofia de Aristóteles
5
Aristóteles: vida e obra • Divisão das ciências • Lógica aristotélica • Ética aristotélica • Política

Helenismo
6
Contexto histórico

Filosofia medieval
7 Santo Agostinho: a Patrística • Santo Tomás de Aquino: a Escolástica • Franciscanos: a crítica à Escolástica
tradicional

Período Renascentista
8
Contexto histórico
PI_EM21_1_FIL_LU_LP

PI_EM21_1_FIL_LU_LP

FIL IX

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 9 14/09/2020 12:27:47


Anotações

PI_EM21_1_FIL_LU_LP

X FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 10 14/09/2020 12:27:47


ALUNO
MATERIAL DO
PI_EM21_1_FIL_LU_LP

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 11 14/09/2020 12:27:50


Estrutura didática
Os livros da 1.ª e da 2.ª série apresentam uma organização de conteúdos e propostas de atividade que evidencia a
sequência didática da coleção e oferece ferramentas para auxiliar a prática dos professores e o estudo dos alunos.

Arrase no Enem: sempre


que o módulo trabalhar um
tema recorrente no Enem,
estará disponível por meio de
QR Code uma videoaula do
curso Arrase no Enem.

Seção Start: As atividades


propostas nas páginas de
abertura têm por objetivo
sensibilizar os alunos a res-
peito do conteúdo a ser ex-
plorado. Nelas são propostas
leituras, observação de ima-
gens e reflexões que servem
como ponto de partida para
a exploração do conteúdo e a
apreensão de novos saberes
e, também, para levantar
os conhecimentos prévios
dos alunos acerca do tema,
garantindo o protagonismo
do aluno em seu processo
de aprendizagem.

Desenvolvimento do conteúdo:
após o momento de sensibilização,
propomos o desenvolvimento do
conteúdo por meio de um texto teórico
construído alinhado aos pilares Rigor
conceitual e conteúdo relevante e
Complexidade e saberes múltiplos.

Terceira coluna: Nas colunas ex-


ternas das páginas encontram-se
as seções que complementam o
desenvolvimento do conteúdo. Essa
ampliação pode acontecer com indi-
cações de filmes, sites e livros, intro-
dução de exemplos, complementos
e curiosidades, indicação de pontos
de atenção, explicação de termos e
conceitos e sugestões de reflexões
de pesquisas.

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 12 14/09/2020 12:28:51


Seção Disciplina & sociedade/arte/cultura/meio ambiente/
tecnologia: nas seções que finalizam a exposição teórica dos módulos
são propostas atividades que propiciam a aplicação dos conceitos e,
em muitos casos, a reflexão, a análise e a construção de novos saberes.
As propostas podem indicar um trabalho coletivo com o objetivo de
estimular a interação com a comunidade em que se vive, alinhando-se aos
pilares de Complexidade e saberes múltiplos e Transformação da realidade.

Atividades: Concluindo a sequência didática dos


livros, os alunos são apresentados a um grupo de
questões dos mais relevantes vestibulares e do
Enem como forma de testar seus conhecimentos
e como autoavaliação. Elas são organizadas
em quatro seções: Resolvidos, Praticando,
Desenvolvendo habilidades e Complementares.
Dentro de cada uma das seções, as questões são
organizadas por seu grau de dificuldade. Todas
as seções apresentam questões fáceis, médias
e difíceis.
Na seção Desenvolvendo habilidades são
indicadas as competências e habilidades do Enem
exploradas em cada uma das questões.
Na seção Complementares há um grupo maior de
questões, dentre as quais encontram-se questões
desafio, conexões e discursivas.
Ainda na seção de atividades, você irá observar a
presença de QR Codes nas questões das últimas
provas do Enem. Esse QR code irá direcionar os
alunos para um vídeo no qual as questões são
comentadas.
Por fim, os QR Codes presentes ao final da seção de
atividades direcionam os alunos e os professores
aos gabaritos das questões, e os professores a
comentários de apoio e solucionários.

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 13 14/09/2020 12:28:55


CONHEÇA OS RECURSOS

DIGITAIS
PLATAFORMA ADAPTATIVA
ENTENDEU A AULA DE HOJE?
A plataforma adaptativa permite que você resolva exercícios encaminhados
pelo professor e revise o conteúdo visto na semana. Veja como é fácil:

Selecione a disciplina disponível e resolva


os 4 exercícios propostos na plataforma.

Caso seu desempenho esteja abaixo


Acesse o site ava.sae.digital
do esperado, você deverá assistir a
e insira seu login e senha.
2 uma videoaula sobre o conteúdo.

1 3
Após assistir à videoaula, 3 questões
4 deverão ser respondidas para finalizar
a tarefa e verificar seu aprendizado.

COMO VOCÊ E SUA FAMÍLIA ACOMPANHAM SEU DESEMPENHO?

Quando alguma atividade da plataforma adaptativa for agendada, aluno e responsável serão comunicados
por meio de um aplicativo. Além de enviar um lembrete da tarefa ao aluno, essa ferramenta permite ao
responsável o acompanhamento, em tempo real, do desempenho do estudante e o momento em que o
exercício é concluído.

As notificações serão enviadas quando:


Dmi T; Omelchenko; photka; Gts; GCapture/Shutterstock

• uma atividade for encaminhada; • Acesse a Play Store (Android) ou a App


Store (IOS) de seu smartphone e faça o
• restarem 24 horas para o encerra-
download do aplicativo SAE NOTIFICA.
mento do período para a atividade;
• No aplicativo, insira seu login e senha
• os exercícios forem resolvidos;
(aluno e responsável, conforme cadas-
• a tarefa não foi realizada. tro da escola).

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 14 14/09/2020 12:29:25


ARRASE NO ENEM
Quer acessar centenas de aulas para arrasar no ENEM?
Acesse a plataforma adaptativa com seu login e senha e clique em ARRASE NO ENEM. Você vai
encontrar inúmeras videoaulas com conteúdo completo para o ENEM.
E não acaba aí!
Você poderá contar com roteiros de estudos em formato PDF presentes em cada videoaula disponível.
Também é possível acessar as aulas pelos QRcodes presentes nas aberturas dos módulos.

SAE QUESTÕES
O QUE O ENEM ESTÁ AVALIANDO?
Com o aplicativo SAE QUESTÕES você poderá aprimorar seus estudos solucionando as questões
presentes nas edições da avaliação do ENEM.

TEMAS DA ATUALIDADE
Acessando o item “Atualidades” do aplicativo, é possível acompanhar o canal “DOBRADINHA SAE”, que traz,
semanalmente, um professor de redação juntamente com um professor de outra disciplina debatendo
temáticas da atualidade e dando dicas e sugestões de como escrever e estruturar uma boa redação.

QRCODE NAS QUESTÕES ENEM


As questões do ENEM possuem QR codes. Depois de resolver essas questões, confira o vídeo com a resolução
comentada. Para isso, acesse o item “Leitor QRcode” do aplicativo e posicione a câmera de seu smartphone em frente ao
código da questão. Para ter acesso a esse recurso, basta:

1. Baixar o aplicativo SAE QUESTÕES, disponível na Play Store (Android) e também


na App Store (IOS).

2. Fazer um cadastro informando um e-mail válido e elaborar uma senha de acesso.

SIMULADOR – TABELA PERIÓDICA

Em consonância com o Ano Internacional da Tabela


Periódica dos Elementos Químicos, declarado pela
ONU, apresentamos como Objeto Digital um simulador
da Tabela Periódica, que possibilita ao aluno e ao
professor interagirem de forma dinâmica e interativa
com os 118 elementos químicos.

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 15 14/09/2020 12:29:29


Organize seu estudo
O Ensino Médio é uma importante etapa de sua Outra etapa essencial para seu estudo autônomo
formação escolar e educacional, com a qual o SAE irá ocorre fora da escola: em casa ou em outro ambiente
ajudá-lo a se desenvolver em diferentes dimensões ao destinado a esse fim. Para esses momentos, aconselha-
longo dos três anos que estaremos juntos. -se uma série de atitudes que poderão ser ajustadas e

No entanto, vale salientar que nessa fase é muito proporcionarão um aproveitamento ideal do seu tempo

importante desenvolver um método de estudo. As ha- e energia.

bilidades a serem desenvolvidas e os conhecimentos a O local de estudo deve ser tranquilo e silencioso.
serem adquiridos e consolidados serão mais facilmen- Para que a sua concentração e a retenção do que se
te obtidos com uma metodologia de apoio e uma estra- estuda sejam maiores. Evite sons, música, televisão
tégia de estudo, estabelecidas conforme suas caracte- ou quaisquer outras distrações. Embora não pareça,
rísticas de disponibilidade de tempo, preferências por essas interferências podem atrapalhar, e muito, sua
horários, entre outras variáveis. concentração.

Há diferentes formas de organizar seu tempo Para quaisquer áreas do conhecimento, inicie seu
para estudar além daquele em que você está na sala estudo com uma rápida revisão do que foi desenvol-
de aula com seus professores e colegas. Há quem vido em sala de aula, tanto recorrendo ao seu mate-
prefira estudar assim que chega em casa (ou no am- rial do sistema SAE, quanto às anotações feitas em seu
biente destinado ao estudo), enquanto outros prefe- caderno. Dedique alguns minutos a isso. Em seguida,
rem ocupar-se com outras atividades e iniciar o estu- cumpra as atividades passadas pelos professores: as
do individual mais tarde. É uma opção pessoal. pesquisas da seção de fechamento dos capítulos (se

Entretanto, há determinadas atitudes que pode- houver) e, principalmente, os exercícios propostos.

rão ajudá-lo, independente de quaisquer variáveis. Procure fazer todas as questões ou atividades, pois a

Inicialmente, observe sua postura em sala de aula, du- quantidade deles é programada para que haja a fixa-

rante os trabalhos feitos em classe. ção dos conteúdos.

Ao iniciar as aulas, faça um “aquecimento” do con- O tempo de estudo também é muito importante.

teúdo: enquanto o professor prepara o ambiente de Procure destinar ao menos meia hora de estudo em

trabalho, realize uma rápida leitura daquilo que será casa para cada aula dada em sala de aula. Com isso, os

exposto na aula. Isso o ajudará a entender melhor os conteúdos a serem estudados não se acumulam e você

conteúdos e a sequência de ideias. Além disso, reco- evita trabalhos mais intensos e desgastantes nas datas

menda-se usar um caderno de anotações. Anotar os que antecedem as avaliações.

apontamentos feitos pelo professor é indispensável Lembre-se de que método de estudo é algo desen-
para seu estudo posterior. volvido individualmente e pode passar por ajustes.
Contudo nada substitui o trabalho feito pelo aluno so-
mado àquele desenvolvido na escola.

Bom estudo!

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 16 14/09/2020 12:29:31


ANUAL
SUMÁRI
FILOSOFIA

LIVRO
10
Mitologia e Teatro
Habilidades

na Grécia Antiga • H1 – Interpretar historicamente e/ou geograficamente

24
fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
• H2 – Analisar a produção da memória pelas sociedades
humanas.
Os pré-socráticos:
surge a filosofia • H3 – Associar as manifestações culturais do presente

35
aos seus processos históricos.
• H4 – Comparar pontos de vista expressos em diferentes
fontes sobre determinado aspecto da cultura.
Sofistas e Sócrates

47
Platão: o homem
• H5 – Identificar as manifestações ou representações
da diversidade do patrimônio cultural e artístico em
diferentes sociedades.
• H12 – Analisar o papel da justiça como instituição na
e a cidade ideais organização das sociedades.

61
Filosofia de
• H23 – Analisar a importância dos valores éticos na
estruturação política das sociedades.
• H24 – Relacionar cidadania e democracia na organização
Aristóteles das sociedades.

74
Helenismo

83
Filosofia Medieval

95 Período
Renascentista

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 9 14/09/2020 12:29:45


Mitologia e Teatro

EE
EEE
EEE
EEEE
PP

E
PPP
PPPP

na Grécia Antiga
PPPPPPPP

Busca pelo conhecimento • Poesia épica • Os mitos e a Filosofia


Filosofia
mód. 01/08

01
Filosofia
grega
clássica: do
mito ao logos

START

Quando dizemos que o pensamento filosófico-científico surge na Grécia Antiga no século VI a.C., caracteri-
zando-o como uma forma específica de o homem tentar entender o mundo que o cerca, isto não quer dizer que
anteriormente não houvesse também outras formas de se entender essa realidade. [...]
O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em
que vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e dos processos naturais e as origens deste povo,
bem como seus valores básicos. [...]
Por ser parte de uma tradição cultural, o mito configura assim a própria visão de mundo dos indivíduos, a
As perguntas da seção start sua maneira mesmo de evidenciar esta realidade. [...] Não há discussão do mito porque ele constitui a própria
têm o objetivo de introduzir visão de mundo dos indivíduos pertencentes a uma determinada sociedade, tendo portanto um caráter global
algumas das questões que
sempre intrigaram a hu- que exclui outras perspectivas a partir dos quais ele poderia ser discutido. Ou o indivíduo é parte dessa cultura e
manidade e foram o objeto aceita o mito como visão de mundo, ou não pertence a ela e, nesse caso, o mito não faz sentido para ele, não lhe
de estudo dos primeiros diz nada. A possibilidade de discussão do mito, de distanciamento em relação à visão de mundo que apresenta,
pensadores. Promover uma
conversa inicial, para diag- supõe já uma transformação da própria sociedade e, portanto, do mito como forma reconhecida de se ver o
nosticar os conhecimentos mundo nessa sociedade.
prévios dos alunos e pre-
pará-los para a abordagem
inicial da disciplina. (MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 19-20.)

Com base no texto e em seus conhecimentos, responda


arutm/W.Commons

às questões.

1. Qual a importância de conhecer?


Resposta pessoal.

2. Por que o ser humano busca o conhecimento?


Resposta pessoal.

3. Quantos tipos de conhecimento existem?


Resposta pessoal.

4. De onde surgiu toda a diversidade de seres que existem no mundo


EM21_1_FIL_01

Mosaico romano originário da Villa de Sentino. Cerca de 200-250 a.C. Gliptoteca de Munique, e fora dele?
Alemanha. Neste mosaico antigo é possível observar Urano (céu) e Gaia (terra) com seus filhos. Resposta pessoal.
Segundo a mitologia grega, a união do céu com a terra deu origem aos primeiros seres a habitar
o planeta: os titãs e as titânides.

10 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 10 14/09/2020 12:29:56



Busca pelo conhecimento
A Filosofia não foi a primeira manifestação t­ ransmitidas pelos próprios deuses, portanto,
do ser humano em busca do conhecimento. possuíam um valor de verdade e eram aceitos
Antes mesmo de seu surgimento, os mitos já como tal. Além disso, as narrativas mitológicas
representavam uma tentativa de explicar os eram consideradas sagradas e, geralmente,
fenômenos naturais e as condutas humanas. eram contadas por pessoas que possuíam au-
Portanto, antes de estudar a Filosofia, é preci- toridade dentro do grupo, como os sacerdotes.
so compreender os mitos. Nas narrativas mitológicas, os deuses pos-
Mas afinal, o que é um mito? suíam atributos humanos, como inveja, raiva,
A palavra mito origina-se da expressão gre- piedade, ciúme.
ga mythos, que significa narração, conto. É algo
que se conta, que se fala, é uma informação
transmitida oralmente de uma pessoa para
Mitologia grega
outra, de geração em geração. A mitologia grega é uma das mais fasci-
Os mitos são histórias que vêm de tem- nantes e complexas da história da humanida- Glossário
pos muito antigos e, em geral, envolvem tan- de e influenciou a formação de toda a cultura
ocidental. Não se sabe ao certo de onde ela Epistemológica: que se
to seres humanos quanto seres sobrenatu- refere a um conhecimento
rais, como deuses, gigantes e monstros. Não surgiu, nem como se estruturou, mas o fato é organizado e estruturado.
se sabe quem os inventou, pois suas origens que chegou até a atualidade devido aos poetas
remotas não permitem determinar um autor Hesíodo e Homero, os primeiros a registrá-la Observe
para essas narrativas. Além disso, diversos por escrito.
Os mitos existem porque
povos possuem mitologias que, muitas vezes, A mitologia grega narra os acontecimen-
o ser humano possui
assemelham-se. Além disso, os mitos possuem tos desde antes da origem do universo até um anseio natural pelo
função epistemológica e moral. sua formação e ordenação. Ela se divide em conhecimento. O modo ativo
três eras ou gerações: de ouro, de prata, e de de pensar, analisar, refletir,
●● Função epistemológica: oferece expli- criar, e assim modificar a
cação para um fenômeno ou aconteci- bronze, além de narrar também a passagem
realidade, coloca os seres
mento, como uma tempestade ou o sur- do caos para o cosmos, bem como a geração humanos em uma condição
gimento do Universo. dos homens. de querer entender as
coisas, compreender os
Do caos ao cosmos
●● Função moral: explica a razão de de- fenômenos que os cercam.
terminadas ações serem consideradas
corretas e louváveis e outras não. Um Antes do surgimento do universo, reinava o Glossário
exemplo de mito com valor moral seria caos absoluto, também identificado com o va- Caos (do grego Kaos):
uma história que explicasse o valor do zio ou vácuo. Os primeiros seres que existiam significa a primeira etapa da
trabalho. eram os deuses primordiais, que surgiram no criação do universo, em que
Os mitos surgiram devido à necessidade tudo já existia, mas estava
momento da criação, e a partir dos quais toda
desorganizado e caótico.
humana de explicar os fenômenos do mundo. a diversidade de seres e fenômenos do mundo
Cosmos (do grego Kosmos):
Por que o dia se sucede à noite? Por que a lua passaram a existir. Por esse motivo, Caos é o significa ordem, harmonia,
muda de forma ao longo de um período regu- primeiro deus primordial a existir. e corresponde ao momento
lar de tempo? De onde vêm as estrelas? Para Dentre os deuses primordiais, além de em que o caos inicial se
as primeiras sociedades, todos esses aconte- ordenou harmonicamente
Caos, estão: Gaia (terra), Urano (céu), Nix (noi- e passou a existir tal qual
cimentos só poderiam ter uma origem divina te), Éter (ar), Tártaro (inferno ou submundo), ele é.
e sobrenatural. Ananque (destino), Eros (amor) e Tésis (criação).
O conjunto de vários mitos de determina-
underworld/Shutterstock

da cultura ou povo chama-se mitologia. Esta


reflete as principais características de um
povo, já que fornece as crenças e os valores
reconhecidos por aquela cultura. Cada mitolo-
gia possui seus mitos envolvendo o surgimen-
to do Universo, do homem, do trabalho, das
guerras, das tempestades, entre tantas outras
questões.
Dessa forma, temos a mitologia grega, a
mitologia egípcia, a mitologia celta, a ­mitologia
dos povos orientais e também as mitologias
EM21_1_FIL_01

dos povos indígenas que ajudaram a formar a


cultura brasileira.
Outro ponto muito importante é que
os mitos não precisavam ser comprovados,
pois acreditava-se que eram mensagens O mundo sempre foi um mistério para a humanidade e, desde o princípio, buscou-se explicar como
tudo passou a existir.

FIL 11

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 11 14/09/2020 12:30:01



Sailko/W.Commons

CABOFERRI, Giovan Francesco (sobre o desenho de LOTTO, ­Lorenzo).


Magnum Chaos. 1524-1531. Afresco. Basílica de Santa Maria Maior,
­Bérgamo (Itália).

Geração de ouro
A primeira geração da mitologia grega é a
de ouro e corresponde aos filhos dos deuses
primordiais. Alguns desses filhos foram gera-
dos espontaneamente por um só deus, outros,
pela união de dois deuses – como Gaia, filha
apenas do Caos, e Éter, filho de Nix (noite) e
Érebo (trevas).
Na extensa lista das divindades da geração
de ouro estão aqueles que correspondem aos
elementos da natureza, como das montanhas
e bosques, das pastagens, dos pomares, do
dia, da noite, assim como as divindades que
BOUGUEREAU, William-Adolphe. A noite. 1883. Museu de Hillwood,
representam estados de espírito, como as da Washington D.C. (EUA). Dos filhos que Nix gerou sozinha, muitos re-
tristeza, da violência, dos vícios etc. presentam ações morais boas (prudência, ética, cuidado etc.) ou más
(inveja, ciúme, fome etc.).

Geração de prata
Glossário A segunda geração da mitologia grega é a de prata, corresponde à criação dos titãs (masculino)
e titânides (feminino) e outros seres monstruosos, como os gigantes e os ciclopes.
Ciclopes: monstros de
um olho só, responsáveis Segundo contam as histórias, Urano (gerado por Gaia) tornou-se marido dela e, juntos, tive-
pela forja dos relâmpagos. ram muitos filhos. Urano, então, tornou-se o primeiro senhor do Cosmos e, também, o primeiro
Foram imortalizados após a grande tirano.
titanomaquia, empreendida
mais tarde por Zeus. Entre os filhos de Urano e Gaia está o titã Cronos (que representa o tempo e que, mais tarde,
destronou seu despótico pai).
Mat/W.Commons

Saiba mais

Titãs: Oceano, Ceos, Crio,


Hiperíon, Jápeto, Cronos.
Titânides: Téia, Réia, Mne-
mósina, Febe, Tétis.
EM21_1_FIL_01

EM21_1_FIL_01

VASARI, Giorgio. Cronos castrando Urano. 1580. Afresco. Sala di Cosimo, Pallazzo Vechio, Itália.

12 FIL

EM21_1_FIL_01.indd 12 09/04/2021 09:36:55



● Era de bronze: nesse período, viveu a
Geração de bronze raça de bronze, mais inteligente que a
Saiba mais

Atlas, filho do titã Jápeto, foi


A terceira geração da mitologia grega é a de anterior, porém eram guerreiros que
condenado por Zeus a carre-
bronze e corresponde aos filhos dos titãs. portavam armas e escudos de bronze, gar o mundo nas costas.
contudo acabaram matando uns aos
Quando o titã Cronos destronou seu pai
outros e também foram parar no Sub-
(Urano), tornou-se igualmente despótico, pois
mundo.
uma profecia dizia que ele seria destronado
por um de seus filhos. Temendo que a profecia ● Era de ferro: Zeus insistiu em criar mais
se concretizasse, Cronos, que era casado com uma raça, a de ferro, que era composta
Reia, passou a devorar os próprios filhos. Sua por homens que trabalhavam e tinham
esposa, no entanto, conseguiu salvar um deles noção do bem e do mal. A raça de ferro
desse trágico fim, entregando-o às ninfas para foi salva pelo titã Prometeu, contra a fú-
criá-lo. Esse filho era Zeus. ria dos deuses. Então, ele ensinou a raça
de ferro a arte da medicina e da nave-
Mais tarde, Zeus enfrentou seu temível pai
gação, bem como o sacrifício de animais
e todos os titãs, o que ficou conhecido como
para reverenciar aos deuses.
titanomaquia. Vencidos, os titãs foram apri-
sionados no Tártaro (inferno). Depois de ven- ● Era dos homens: depois de receberem
cer os gigantes, Zeus enfrentou ainda uma das o fogo de Prometeu, os seres humanos
mais difíceis batalhas, empreendida contra o foram amaldiçoados pelos deuses e ex-
gigante Tifão (deus dos ventos), vencendo-o e pulsos da Terra. Prometeu e sua esposa,
tornando-se, então, o novo senhor do cosmos. Mirra, foram pedir ajuda ao oráculo de
Delfos, onde foram aconselhados a jo-
A geração de bronze corresponde aos Glossário
garem os ossos de seus ancestrais para
doze deuses do Olimpo, a saber: Zeus,
trás das costas. Então, eles pegaram as Deuses do olimpo: também
Hera, Poseidon, Atena, Ares, Deméter, Apolo, conhecidos como deuses
pedras do chão, que vieram de Gaia (a
Ártemis, Hefesto, Afrodite, Hermes e Dioniso. olímpicos, eram aqueles
deusa mãe), e, para cada pedra lançada,
que habitavam o Monte
IMG Stock Studio/Shutterstock

surgiu um ser humano. Olimpo e que compõem o


A partir da explicação desses mitos pode- panteão grego.
mos compreender de maneira mais clara como
auxiliaram na formação cultural da Grécia
Antiga. Com isso, podemos sintetizar que os
mitos foram essenciais no processo de educa-
ção do homem grego. Ou seja, toda a constru-
ção grega posterior envolvendo a literatura, a
política, o direito e mesmo a Filosofia tem, em
grande parte, influência do legado mitológico
deixado por estas narrativas que atravessa-
ram tantos séculos.
Estátua de Zeus, o mais importante dos doze deuses do Olimpo.
mnbart/W.Commons

Geração dos homens


A obra Teogonia, do poeta grego Hesíodo,
narra o surgimento dos deuses e também dos
seres humanos ou seres mortais. Segundo re-
lata o poeta, os seres humanos passaram por
cinco grandes eras, que correspondiam às cin-
co raças.
● Era de ouro: corresponde ao período
anterior à luta de Zeus com Cronos.
Nessa fase, os mortais viviam em plena
harmonia entre si e com a natureza. Não
havia fome, velhice ou doenças, nem
precisavam trabalhar. A morte se asse-
melhava a uma grande noite de sono.
Nessa era viveu a raça de ouro.
● Era de prata: depois que Zeus venceu
seu pai, Cronos, surgiu a raça de prata,
EM21_1_FIL_01

EM21_1_FIL_01

caracterizada pela violência, ignorância e


falta de reverência aos deuses do Olim-
po. Irado, Zeus enviou os homens de
prata para o Submundo. FÜGER, Heinrich Friedrich. Prometeu leva o fogo à humanidade.
1817. Óleo sobre tela.

FIL 13

EM21_1_FIL_01.indd 13 09/04/2021 09:36:57



Glossário
Poesia épica
Outro aspecto relevante para a influência dos mitos na educação grega foi o registro escrito
Areté: o termo em portu-
guês que mais se aproxima de suas histórias. Como já foi dito, os mitos são narrativas orais que passam de geração em gera-
de Areté é virtude, a ação ção. Contudo, em dado ­momento, passaram a representar tamanha força na formação do caráter
que busca a perfeição grego que as principais histórias começaram a ser registradas. Os responsáveis por esses regis-
e harmonia. tros foram os grandes poetas gregos Homero e Hesíodo, considerados por muitos estudiosos os
primeiros a registrar por escrito as narrativas que até então eram orais.
Saiba mais
A poesia épica, também conhecida como epopeia, é um gênero literário que se caracteriza
A questão existencial pela narrativa de diversas histórias curtas, dentro de um contexto mais amplo. Essas histórias
em Aquiles geralmente se relacionam com os feitos de deuses, semideuses e heróis da mitologia. As obras de
A história de Aquiles permi- Homero (Ilíada e Odisseia) são consideradas as mais antigas epopeias do Ocidente e chegaram até
te-nos compreender melhor a atualidade praticamente intactas e completas.
a ideia de destino para os
gregos, com a questão da Naquela época, os poetas eram considerados pessoas com dons divinatórios especiais, pois
responsabilidade de cada acreditava-se que os poemas eram recebidos por uma espécie de iluminação divina, como se
pessoa perante o próprio fossem ditadas pelos deuses. A poesia épica, juntamente com o teatro, teve fundamental impor-
destino.
tância no processo de educação na Grécia Antiga, pois, por meio desses cantos, comumente ence-
Se Aquiles não fosse à guer-
nados nos teatros, eram passados os valores necessários para tornar as pessoas mais virtuosas.
ra, viveria eternamente, mas
não faria nada de grandioso
em sua vida. Se fosse à
Homero

ChrisO/Shutterstock
guerra, morreria, mas seria
lembrado eternamente
como um herói. Aquiles Homero foi um lendário poeta épico que teria vivido na
enfrenta suas dúvidas e vai Grécia Antiga no século VIII a.C. Escreveu duas das principais
à Guerra de Troia, ou seja, obras da Antiguidade: Ilíada e Odisseia, que mostravam gran-
prefere uma vida breve, mas de preocupação com a formação ética e espiritual do homem,
repleta de heroísmo e feitos descrevendo as mais diversas situações passadas na vida,
extraordinários a uma vida
longa e sem realizações. sempre enfatizando um modo de viver com base nas virtudes
Para os gregos isso simboli- do homem, usando os mitos como forma de educar o povo.
zava duas coisas: A primeira grande obra escrita por Homero foi Ilíada, que
Imortalidade: é muito maior trata de um modelo de vida dentro de um estado de guerra,
que uma ideia de viver
“eternamente” ou “viver mas sempre tendo em vista a busca pela excelência, que os
para sempre”. É imortal o gregos chamavam de Areté.
homem lembrado eterna- Pouco se sabe sobre a vida de Homero, que viveu no sé-
mente por seus feitos em
vida. Ou seja, Aquiles, ainda
culo VIII a.C. O que se sabe é que ele não foi testemunha dos
que morto, eternizou-se por fatos narrados nas suas obras Ilíada e Odisseia, pois estes
Busto de Homero. Século I ou II d.C. Mármore.
suas façanhas na Guerra acontecimentos ocorreram cerca de quatro séculos antes de British Museum, Londres (Inglaterra).
de Troia. sua existência.
Questão do destino: Aquiles
já tinha seu futuro decre-
tado, mas a forma como Ilíada
tudo isso se desenrolaria
dependeria de sua escolha: A história narra a guerra cujo es-

Trest/W.Commons
lutar ou não. Nesse sentido, topim foi o fato de Páris, príncipe troia-
deuses determinavam as no, ter raptado a esposa de Menelau,
condições da existência de monarca grego. Disposto a recuperar
cada um, mas não o final,
não aquilo que eu faço com
sua esposa, Menelau pede a ajuda de
a vida que recebi, nem todas Agamêmnon, seu irmão, e logo os de-
as decisões. mais reinos gregos se juntam em bata-
lha contra os troianos. Nessa obra sur-
Marie-Lan Nguyen/W.Commons

ge a figura do herói, como aquele que


supera seus limites e é capaz de atos
grandiosos.
A temática central da obra diz res-
peito à ira de Aquiles, semideus e gran-
de herói da Guerra de Troia. Ele mata
Heitor, o Príncipe troiano, depois de Corpo de Heitor sendo levado de volta à Troia. Cerca de 180-200 d.C. Alto relevo em
mármore. Museu do Louvre, Paris (França).
descobrir que Pátroclo, seu primo, havia
EM21_1_FIL_01

EM21_1_FIL_01

sido assassinado por ele. Aquiles era imortal, mas possuía um ponto vulnerável: o calcanhar, onde
acabou atingido por uma flecha disparada por Páris.
Aquiles na corte do rei Quando novo, recebeu uma profecia: viveria eternamente tendo uma vida comum ou, caso
­Licomede.
fosse a uma guerra, iria realizar grandes feitos, mas acabaria morrendo.

14 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 14 14/09/2020 12:30:32



forma que o sustento só poderia ser obtido com
Odisseia

lamkterty/W.Commons
a luta diária e incessante do trabalho no campo.
Esta obra de Homero narra o retorno de O trabalho garantia os alimentos para a so-
Odisseu, um grande guerreiro grego, da Guerra brevivência e a possibilidade de aumentar a ri-
de Troia para Ítaca, onde ficava sua casa. queza para ter uma vida confortável.
O que impediu o retorno ao seu lar logo de- Porém, outro fator tornava a situação ainda
pois do fim da guerra foi a arrogância de mais complicada: a luta contra a injustiça. Isso
Odisseu diante de Poseidon. pode ser evidenciado na própria experiência vi-
venciada pelo poeta. Quando o pai de Hesíodo
Martlos/W.Commons

morreu, iniciou-se um confronto judicial entre


ele e seu irmão, Perses, pela herança. Porém, Busto de Hesíodo.
Perses subornou os juízes e venceu o conflito.
O sentimento de inconformismo diante das
injustiças que aconteciam em sua época, em Glossário
que os mais ricos prevaleciam sobre os mais
Sirenas: figuras mitológicas
pobres, surgiria em seus poemas em tons dra-
que viviam nos mares.
máticos e desafiadores. Hesíodo não aceitava Eram meio pássaros e meio
as injustiças de seu tempo, e por isso se pôs mulheres e enfeitiçavam
TIEPOLO, Giovanni Domenico. O cavalo de Troia. 1760. Óleo sobre tela. não apenas como poeta, mas como educador os marinheiros com seu
The National Gallery, Londres (Inglaterra). Odisseu foi o grande herói de seu povo. canto sedutor, fazendo-os
da Guerra de Troia, devido a estratégia que usou para invadir a cidade: caírem no mar e morrerem
construir um cavalo de madeira monumental e oferecer de presente afogados.

vmert/W.Commons
para os troianos, mas, dentro do cavalo, estava todo o exército de
Odisseu, que acabou invadindo e tomando a cidade.
Odisseu acredita não precisar mais dos deu-
ses para conduzir a sua vida. Por causa disso,
Filmes
Poseidon, o deus do mar, atrasou por 20 anos
a chegada de Odisseu a Ítaca, sua terra natal,

Universal
como punição a este desrespeito. Foi somente
depois de superar a soberba que Odisseu pôde
rever sua esposa e seu filho, agora já adulto.
Perseguidos por Poseidon, Odisseu e sua tri-
pulação passaram por ­muitas provas para su-
perar a ira do deus dos mares, como enfrentar Helena de Troia – paixão
as Sirenas, desvencilhar-se da ninfa Circe e de e guerra
seus ardis e lutar contra o Ciclope. Por meio da Lousi Kato, ao norte de Kastria, Achaia, Grécia. Esta imagem mostra o Diretor: John Kent Harrison
solo grego, difícil para o cultivo.
astúcia e inteligência, Odisseu enfrentou cada Ano: 2003
Para Hesíodo, em sua época, apenas dois
um dos desafios Mostra as razões do surgi-
bens eram essenciais: trabalho e justiça. Nesse
Ricardo/W.Commons

com verdadeira are- mento da Guerra de Troia e


contexto, cada indivíduo deveria colocar todo como o destino influencia a
té (virtude), digna de
esforço para criar uma vida melhor, trabalhan- vida das pessoas. É excelen-
um herói.
do muito e buscando a justiça. te para evidenciar as ideias
Quando venceu do homem grego, como a
As duas principais obras de Hesíodo são honra e a lealdade a uma
a soberba, Odisseu
Teogonia e Os Trabalhos e os Dias. A primeira causa maior.
foi capaz de enten-
trata da origem dos deuses, do mundo e do
der que o homem
próprio homem. A segunda apresenta a condi- Hallmark
é apenas parte do
ção existencial do homem grego no momento
cosmos e que preci-
histórico em que foi escrita.
sa cultivar humilda-
de e respeito diante
das forças maiores Estátua de Poseidon. Cerca de 125-110 Os Trabalhos e os Dias A Odisseia
da natureza, repre- a.C. Mármore. Museu Arqueológico
Diretor: Andrei Konchalovski
Nacional, Atenas (Grécia). Poseidon, A obra está dividida em duas partes
sentadas pela figura deus grego que detinha o poder
sobre os mares e castigou Odisseu
­principais. Na primeira parte, Hesíodo mostra Ano: 1997
de Poseidon.
por sua arrogância. a necessidade da justiça e do trabalho para o Retrata as dificuldades que
Odisseu tem que enfrentar
Hesíodo
homem. Constam essas ideias na narrativa das
duas lutas, no mito de Prometeu e Pandora, no para conseguir voltar à sua
terra natal, após o término
mito das cinco raças e na sátira contra os reis, da Guerra de Troia. Esses
Hesíodo foi um poeta que viveu na Grécia iniciada pela fábula do falcão e o rouxinol. Já a desafios muito se asseme-
no final do século VIII a.C. ou início do século VII segunda parte corresponde a conselhos prag- lham às batalhas diárias de
EM21_1_FIL_01

EM21_1_FIL_01

a.C. Em sua obra, Hesíodo retrata a vivência do máticos e calendários relativos à agricultura cada pessoa para encontrar
camponês naquele período histórico. Em sua o caminho de realização.
e à navegação, incluindo observações morais
região, a terra era difícil de ser cultivada, de com caráter de crítica.

FIL 15

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 15 14/09/2020 12:30:45



Hesíodo enxergava o trabalho como a forma

cvat/W.Commons
de obter e cultivar a virtude em meio à existên-
cia sofrida destinada ao ser humano. Para ele, o
trabalho é uma necessidade humana, e a justiça,
um dever.
Dentro desta obra há ainda a história das
cinco idades do mundo, que demonstra cinco
momentos diferentes na história do homem,
conforme foi visto anteriormente.
Hesíodo possui um caráter prático. Não bus-
cou tratar de assuntos que não eram de seu
tempo, ou de falar sobre o belo, o perfeito, o
melhor.
Sabendo dos erros e das injustiças de sua
época, buscou uma maneira de educar o povo
a fazer diferente. Acreditava que os deuses ti-
nham abandonado os homens porque estes ti-
nham se tornado corruptos, e que a única salva-
ção seria o duro e constante trabalho na terra.
Nessa luta com a terra, o homem também
trava uma batalha com suas ideias, pois há mu-
danças de comportamentos e pensamentos,
que são espelhados nos próprios poemas ao
se denunciar a corrupção e a injustiça daquele POLLAIUOLO, Antonio del. Hércules e a Hidra. 1475. Têmpera sobre
madeira. Galeria Uffizi, Florença (Itália). Hesíodo também escreveu uma
tempo. obra chamada Escudo de Hércules.

Os mitos e a Filosofia
Observe Por meio dos mitos buscava-se encontrar explicações para os fenômenos naturais e sociais.
Em outras palavras, os povos primitivos, e também os gregos, acreditavam que os mitos conti-
O mito não é uma coisa do
passado, pois ainda hoje nham verdades sobre o mundo e a vida em suas narrativas influenciadas pelos deuses. No en-
ele é usado para explicar tanto, a partir de certo momento, começou-se a pensar que essa “verdade” das coisas não mais
fenômenos que ainda fogem estaria nos mitos, mas nos próprios fenômenos. Por exemplo, em vez de se tentar explicar o
da possibilidade de uma surgimento do relâmpago a partir de uma narrativa, é necessário estudar o próprio fenômeno do
explicação científica. As len-
das, o folclore regional, os relâmpago. Essa passagem será decisiva para o nascimento da Filosofia como explicação racional
milagres etc., são exemplos das coisas.
disso. Por outro lado, é importante notar que o surgimento da Filosofia não causou a ruptura e o es-
quecimento da mitologia. No decorrer da história da Filosofia, é possível notar que filósofos como
Platão não pouparam esforços em utilizar mitos para explicar suas ideias. Na obra A República, de
Platão, podemos encontrar o mito da caverna e o mito de Er, que compõem as ideias de constru-
ção da cidade existentes na obra.
O mito segue como uma forma de compreensão e interpretação do mundo, e sempre que o
estudamos podemos identificar uma representação da realidade muito profunda em suas histó-
rias que, por mais fantásticas que pareçam, guardam ensinamentos que nos colocam em contato
com a origem, a essência e o movimento do universo do qual fazemos parte.

Glossário
Os mitos no século XX
Nacionalismo: é uma exalta-
ção do sentimento nacional, Hoje em dia, ainda é comum buscar explicações fictícias para fenômenos que não consegui-
a ponto de se criar uma mos compreender. Pensemos na figura do boitatá, por exemplo, representado na maioria das
preferência significativa por vezes como uma cobra de fogo que queima todos aqueles que tentam incendiar as matas e flores-
tudo aquilo que é da nação
tas. A existência desse mito pode ser explicada pela ciência por meio do fogo-fátuo, que é forma-
a qual se pertence. A política
interna de um Estado nacio- do pelos gases inflamáveis que emanam dos pântanos e dos restos mortais de grandes animais.
nalista se volta totalmente Esses gases, vistos de longe, se assemelham ao fogo em movimento.
para o desenvolvimento de
Além de explicação das coisas, existem ainda hoje mitos que nascem da busca por uma ori-
seu poderio. Ocorre uma
EM21_1_FIL_01

EM21_1_FIL_01

nacionalização de todas as gem, um passado remoto em que tudo era perfeito. Essa busca pelas origens fez com que, no fim
atividades do país, seja a do século XIX, surgissem os nacionalismos. O despertar do nacionalismo que buscava as raízes
indústria seja o comércio. de sua nação foi transformado em propaganda política. A figura do arianismo, da raça pura, é um
exemplo, que foi representado pelos alemães e depois difundido pelo regime nazista. O ariano
era ao mesmo tempo o herói e o ancestral, seria um ser puro, que precisava ser resgatado para
que houvesse a reestruturação da sociedade.

16 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 16 14/09/2020 12:30:54



No Brasil, vive-se um momento de ressignificação, de busca por uma verdadeira identidade Biografia
cultural. A herança mitológica deixada pelos indígenas e pelos povos africanos, juntamente com a
Werner Jaeger (1888-1961)
herança cultural trazida pelos imigrantes, como os italianos, os alemães e os japoneses, associa-
escreveu o livro Paideia – a
ram-se entre si e acabaram por reconfigurar-se, constituindo uma essência única característica formação do homem grego,
do povo brasileiro. em que o foco de estudo é
o modelo de formação do

O teatro na Grécia Antiga


homem grego.

Observe
Foi observada anteriormente a importância dos mitos na educação do homem grego. Primeiro
eles eram transmitidos oralmente de geração em geração. Depois, passaram a ser registrados e O teatro grego era repre-
cantados pelos poetas. Posteriormente, os gregos seguiram adiante. sentado por atores, todos
homens, e o coro.
O período do século VI a.C. ao século IV a.C. é caracterizado pela difusão das grandes peças
Os atores usavam máscaras,
de teatro, a atividade cultural favorita dos gregos antigos. Mas esses espaços não eram apenas de feitas de diversos materiais
diversão, eram sobretudo espaços de educação, pois ajudavam o indivíduo a praticar as virtudes e indicavam as caracterís-
e exercer a cidadania plena. Werner Jaeger, um autor alemão importantíssimo por apresentar ticas do personagem – se
o processo histórico e cultural de formação do homem grego desde as poesias de Homero e era trágico ou cômico ou
mulher. O coro era um grupo
Hesíodo, descreve o teatro da Grécia Antiga como um espaço de pedagogia para os indivíduos.
de atores, sem individuação,
Segundo Jaeger, o teatro possui várias dimensões da existência. Destacam-se: que comentava coletiva-
mente as ações representa-
●● Dimensão psicológica: retratada nos di-

tmnco/W.Commons
das na peça.
lemas existenciais vividos pelos perso-
O coro era um grupo de
nagens e que, inclusive, serão motivo de pessoas localizado em lugar
estudo de autores consagrados muitos à parte do cenário, não
séculos depois. Exemplos de tragédias intervindo diretamente na
gregas desse tipo são: Édipo Rei, de Sófo- história, mas sempre dialo-
gava com os personagens,
cles, e Medeia, de Eurípedes. estimulando-os, criticando-
●● Dimensão religiosa: seu objetivo era -os, enaltecendo-os, entre
­demonstrar que o ser humano é ape- outras ações.
nas parte do cosmos, e por isso não

portta/W.Commons
era completamente livre, pois precisava
aprender a conhecer a força do destino,
influenciado pelos deuses. Exemplo: a
obra ­Prometeu acorrentado, de Ésquilo. JALABERT, Charles. Édipo e Antígona. 1842. Óleo sobre tela. Museu de
Belas-Artes da Marselha (França). Antígona conduz seu pai Édipo Rei, que
●● Dimensão social: as obras mesclam ele- cegou a si mesmo depois de descobrir que era o assassino de seu pai.
mentos políticos e jurídicos. O teatro gre-
go servia também para promoção de valores democráticos e do bem comum. A comédia de
Aristófanes enquadra-se aqui, uma vez que realiza várias críticas sociais, bem como obras de Representação de máscara
Eurípedes, como As suplicantes, na qual a decisão democrática do povo sobre determinado pro- teatral grega do deus Dionísio,
de II a.C.
blema que envolvia a cidade é uma das primeiras obras com teor preponderantemente político.
Glossário
A origem da palavra “teatro” é alvo de grandes discussões até hoje. Para alguns estudiosos,
ela significaria “como deus se manifesta diante do povo”. Era como se todos os espectadores dos Catarse: do termo grego
teatros gregos assistissem a uma aula de psicologia e filosofia dos próprios deuses. Por isso di- kathársis, significa purifica-
ção da alma provocada na
ziam que os teatros gregos eram tão emocionantes, pois mexiam com emoções internas que todo plateia pelo sofrimento vi-
cidadão experimentava, promovendo na plateia o que se chama catarse. O teatro grego divide-se venciado pelos personagens
em dois gêneros: a tragédia e a comédia. teatrais. Era uma espécie
de estado de êxtase para

Tragédias
expurgar os sofrimentos
da vida e renovar as forças
para enfrentar obstáculos
As tragédias situam-se na constante relação entre o homem e o divino. Sempre há um herói futuros.
trágico que recebe indicações dos deuses de como deve agir em sua vida (pode ser por meio de
chupdbal/W.Commons

uma profecia ou mesmo de uma conversa direta com um deus). Mas esse herói, por algum motivo
pessoal, decide não seguir a orientação divina, e por isso comete crimes ou erros trágicos que
trazem sofrimento para ele, sua família e sua cidade.
As grandes tragédias gregas originaram-se das festas em homenagem ao deus do vinho,
Dionísio. Inclusive os eventos eram acompanhados por procissões e sacrifícios. Com o tempo, os
festivais foram crescendo tanto em popularidade que se tornaram por si só eventos de grande
importância cultural para o povo grego.
EM21_1_FIL_01

EM21_1_FIL_01

Os principais autores das tragédias gregas foram: Ésquilo, Sófocles, Eurípedes.


Ésquilo nasceu em 525 a.C. na cidade de Elêusis, próxima à Atenas. Foi considerado o funda-
dor do estilo poético conhecido como tragédia e suas principais obras são: Os persas, Prometeu Busto de Ésquilo.
acorrentado, Agamêmnon, Eumênides e Coéforas. Na obra de Ésquilo, os deuses são personagens
presentes o tempo inteiro, advertindo as pessoas como devem agir.

FIL 17

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 17 14/09/2020 12:31:06



Sófocles nasceu em Atenas, provavelmente em 495 a.C., e morreu

Ricardo/W.Commons
Filmes
na mesma cidade, no ano 406 a.C. Escreveu várias peças, porém ape-
Cult Classic

nas sete chegaram aos dias atuais: Ajax, Antígona, As Traquíneas, Édipo
Rei, Electra, Filoctetes e Édipo em Colono. Sófocles aprofunda os dilemas
humanos do cotidiano abordados por seu antecessor Ésquilo. Na obra
de Sófocles, os deuses já não são personagens tão presentes, manifes-
tam-se com mensagens ocultas transmitidas por meio de profecias.

Édipo Rei A mensagem divina aparece na forma do destino, isto é, cada pes-
soa possui um caminho antes determinado pelos deuses e é preciso
Diretor: Pier Paolo Pasolini
conhecê-lo para não cair em sofrimento. As principais obras sobre
Ano: 1967
Édipo compõem a Trilogia Tebana: Édipo Rei, Édipo em Colono e
Apresenta a história de
Antígona.
Édipo partindo de uma
relação com a atualidade. Eurípedes, considerado o autor que es-
Carlios/W.Commons

Busto de Sófocles.
É excelente para demons- creveu o maior número de obras trágicas
trar como a história das
da Grécia, viveu entre 480 e 406 a.C. Em suas obras predomina a dis-
tragédias gregas pode ser
utilizada para evidenciar cussão sobre os dilemas humanos, sociais e políticos dentro da cida-
experiências do cotidiano de de. Este é o grande fato que o diferencia dos demais autores de tragé-
qualquer pessoa. dias. Eurípedes reduz a importância das questões divinas, trazidas por
Ésquilo, e das questões sobre o destino, por Sófocles, para adentrar em
Warner Brothers

um novo mundo, onde o homem é o membro da pólis.


Eurípedes foi considerado o autor que chegou mais perto da rea-
lidade social, ao buscar relatar a situação do cotidiano na sociedade,
aproximando-se de forma realista de seus problemas e suas dificulda-
Busto de Eurípides. des. Em suas obras expunha que nem sempre os nobres e guerreiros
Hamlet eram os heróis, mas que um cidadão comum também poderia se tornar um protagonista social.
Diretor: Kenneth Branagh Outra característica importante nas obras de Eurípedes é o valor conferido às personagens fe-
Ano: 1996 mininas, sempre apresentadas com bravura e força psicológica, revelando serem por vezes cruéis
Retrata a tragédia de e fascinantes.
Hamlet, de Shakespeare.

Comédias
Este filme demonstra como
as tragédias gregas influen-
ciaram a cultura, a literatura

Lorde/W.Commons
e a filosofia depois tantos As comédias são conhecidas até hoje como aquelas peças que con-
séculos. seguem levar o indivíduo ao humor, ao riso. Na Grécia Antiga, a co-
média tinha grande importância, pois possibilitava fazer uma crítica a
Glossário todas as esferas: política, econômica e social. Ninguém estava livre das
Pólis: é o termo que críticas da comédia: nobres, governantes, filósofos e até mesmo deu-
designava as cidades-Estado ses, todos eram alvos das comédias.
gregas, pois naquela época, O maior representante das comédias na Grécia Antiga foi Aristófanes
diferente de hoje, não
existiam cidades agrupadas (450-385 a.C.), que conseguia total atenção do povo com suas cenas ex-
que formavam um Estado, travagantes e suas sátiras bem elaboradas. Seu objetivo era chamar a
mas cada cidade em si era atenção do público para aquilo que estava ­acontecendo na política e na
autônoma em relação às cultura da cidade, como problemas de corrupção. Permitindo ao povo
outras, com seu exército,
sair da indiferença e começar a questionar a administração pública, as
política e costumes.
guerras e até mesmo os próprios hábitos. Uma de suas grandes comé-
Busto de Aristófanes.
dias chama-se Lisístrata. Essa obra foi escrita na época da Guerra do
Pesquise
Peloponeso, com intenção de promover de forma humorística a paz entre Atenas e Esparta. Uma
Atualmente a comédia é curiosidade quanto ao nome da personagem principal, que deu o nome à obra, é que no grego
usada por diversos seg- Lisístrata quer dizer “aquela que dissolve” ou “aquela que separa exércitos”.
RODKARV/Shutterstock

mentos, seja no marketing


para fazer a propaganda Teatro de Dionísio, na Grécia. Aqui foram encenadas tragédias
de determinado produto, de Sófocles e Eurípides.
seja no jornal por meio de
quadrinhos para fazer uma
crítica social ou política.
Encontre uma propaganda
ou tirinha de jornal em que
o humor é usado para trans-
mitir alguma informação e
explique qual a mensagem
EM21_1_FIL_01

transmitida. Apresente
essa pesquisa em um breve
texto, trazendo para sala o
material pesquisado e, sob
orientação do professor,
compartilhe com os colegas.

18 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 18 14/09/2020 12:31:32


FILOSOFIA E CULTURA
Atualmente, os filmes de super-heróis estão em voga no cinema; além da temática despertar
o interesse de um público bastante diversificado, os avanços tecnológicos permitem que os su-
perpoderes sejam realizados com perfeição, levando a plateia ao delírio. Mas qual será a relação
dos heróis modernos com a mitologia?
Leia o texto a seguir para responder às questões propostas.
Filme
Os heróis e a mitologia

20th Century Fox


Os gregos chamam-no de Hermes e os romanos de Mercúrio. Nós o chamamos de Flash. Os gregos o cha-
mam-no de Poseidon, os romanos de Netuno. Nós chamamos de Aquaman. A conexão entre os super-heróis
e a mitologia é fascinante. Muitos veem os super-heróis como os protagonistas na mitologia moderna. Mas
o que isso exatamente significa?
Um mito é uma maneira de se comunicar, desenvolvida por diversas culturas, por meio de histórias,
poemas ou até mesmo músicas. Geralmente essas histórias contam fatos sobre a vida dos indivíduos e en- Percy Jackson e o ladrão
de raios
sinamentos sobre onde estão localizados em meio ao universo. Contudo, é criado um paradoxo: por que
Diretor: Chris Columbus
precisamos de contos fantasiosos para relatar fatos tão simples do nosso cotidiano?
Ano: 2010
[...]
De modo descontraído,
Na verdade, a gente não PRECISA dessas histórias para conseguir entender temas tão profundos, mas eles demonstra vários aspectos
nos ajudam sem sombra de dúvidas. Os elementos fantásticos encontrados em mitos antigos nos ajudam a da mitologia grega. É uma
boa indicação para se
entendê-las. Em culturas geradas em torno de tradições orais, é mais simples lembrar dessas narrativas e é
familiarizar com os deuses,
mais fácil passá-las adiante. Para nós, o problema não é a comunicação, mas o compromisso com certeza é. suas relações entre si e com
Se nós queremos que jovens pensem em poder e responsabilidade, nós podemos só sentar a conversar. Ou o ser humano.
podemos dá-lo o Homem-Aranha. Na sua opinião, qual é o mais efetivo?

(FRANCISCO, Allan. Os heróis e a mitologia. Disponível em: <http://www.infogeekcorp.


com/2015/08/os-herois-e-mitologia.html>. Acesso em: 20 ago. 2018.)

1. Qual a relação entre os super-heróis modernos e a mitologia? As questões de 1 a 3 podem


ser debatidas em sala de
Tanto os super-heróis modernos quanto os da mitologia apresentam questões relacionadas à vida humana como um todo, aula antes do registro escrito
individual. Já a questão 4
possibilitando a reflexão sobre determinadas ações. pode ser apresentada por
voluntários na aula seguinte,
2. Por que, ainda hoje, os seres humanos necessitam de histórias fantásticas para explicar os fenômenos humanos? após pesquisa individual.

Porque as histórias fantásticas despertam o interesse e facilitam a compreensão sobre temas gerais.

3. Releia o último parágrafo do texto e responda, com suas palavras, à pergunta final presente nele.
Resposta pessoal. O aluno deve apresentar sua opinião sobre a diferença entre uma conversa sobre temas como poder e

justiça e um filme ou história em quadrinhos que apresente a mesma temática de forma fabulosa. É importante que o aluno

apresente argumentos bem estruturados e coerentes.

4. Qual é o seu super-herói favorito? Preencha a ficha a seguir e apresente sua resposta para a turma.

Cole uma imagem ou Nome: Quais são seus superpoderes:


desenhe seu super-herói
favorito
Quando e por quem foi criado: Quem é seu inimigo número 1:
MatiasDelCarmine/Shutterstock

Como obteve seus superpoderes: Quais os atributos humanos


(positivos e negativos) do seu
EM21_1_FIL_01

super-herói: Thor, personagem da mitologia


nórdica. Outras mitologias tam-
bém influenciaram a criação
de histórias em quadrinhos
e filmes

FIL 19

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 19 14/09/2020 12:31:36


Resolvidos 99 Resposta: E
a) Incorreto, pois o melodrama é um gênero que surgiu no século XVII.
1. Tentativa de definição do mito b) Incorreto, porque drama é uma forma genérica de nomear
[...] qualquer peça de caráter grave ou patético; e também porque
A definição que a mim, pessoalmente, me parece a menos im- pantomima é um gênero teatral que surgiu posteriormente na
perfeita, por ser a mais ampla, é a seguinte: o mito conta uma Roma Antiga.
história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo c) Incorreto apenas pelo drama, conforme foi descrito no item an-
primordial, o tempo fabuloso do “princípio”. Em outros termos, o terior, pois a tragédia é um dos gêneros criados na Grécia Antiga.
mito narra como, graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma
realidade passou a existir, seja uma realidade total, o Cosmo, ou d) Incorreto apenas pelo vaudeville, que é um gênero de entreteni-
apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um compor- mento surgido nos Estados Unidos no século XIX; a comédia foi
tamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa um dos gêneros criados na Grécia Antiga.
de uma “criação”: ele relata de que modo algo foi produzido e e) Correta, pois ambas, tragédia e comédia, foram criadas na Gré-
começou a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, do cia Antiga.
que se manifestou plenamente. Os personagens dos mitos são
os Entes Sobrenaturais. Eles são conhecidos sobretudo pelo que
fizeram no tempo prestigioso dos “primórdios”. Os mitos revelam,
Praticando
portanto, sua atividade criadora e desvendam a sacralidade (ou
1. O que são os mitos? Quais as razões de seu surgimento?
simplesmente a “sobrenaturalidade”) de suas obras. Em suma, os
mitos descrevem as diversas, e algumas vezes dramáticas, irrupções São histórias que vêm de tempos muito antigos e, em geral, envolvem tanto
do sagrado no Mundo. É essa irrupção do sagrado que realmente seres humanos quanto seres sobrenaturais, como deuses, gigantes e mons-
fundamenta o mundo e o converte no que é hoje. E mais: é em tros. Surgiram para oferecer explicação para um fenômeno ou para denotar
razão das intervenções dos Entes Sobrenaturais que o homem é o aspectos de comportamento.
que é hoje, um ser mortal, sexuado e cultural.
[...] 2. Leia a narrativa a seguir para responder ao que se pede.
Os Guarani contam que o processo de criação do mundo teve
(ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 1972. p. 9.)
início com Ñane Ramõi Jusu Papa ou “Nosso Grande Avô Eterno”,
De acordo com o texto lido e com seus conhecimentos sobre os que se constituiu a si próprio do Jasuka, uma substância originária,
mitos, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. vital e com qualidades criadoras. Foi quem criou os outros seres
divinos e sua esposa, Ñande Jari ou “Nossa Avó”, foi alçada do cen-
a) ( ) Os mitos são histórias fantasiosas que podem ser consi-
tro de seu jeguaka (...), o adorno ritual. Criou também a terra que
deradas de ficção.
então tinha o formato de uma rodela, estendendo-a até a forma
b) ( ) Chama-se mitologia aquela que foi inventada na Grécia atual; levantou também o céu e as matas. Viveu sobre a terra por
Antiga e disseminada para o restante do mundo. pouco tempo, antes que fosse ocupada pelos homens, deixando-a,
c) ( ) Segundo o autor, os mitos são tentativas de explicar como sem morrer, por um desentendimento com a mulher. Tomado de
as coisas passaram a existir e são tais quais a vemos hoje. profunda raiva causada por ciúmes, quase chegou a destruir sua
d) ( ) Os mitos possuem a mesma definição que a palavra própria criação que foi a terra, sendo impedido, contudo, por Ñande
religião. Jari com a entoação do primeiro canto sagrado realizado sobre a
terra, tomando como acompanhamento o takuapu: instrumento
e) ( ) A mitologia revela as irrupções do sagrado no mundo. feminino, feito de taquara, com aproximadamente 1,10m, que é
99 Resposta: golpeado no solo produzindo um som surdo que acompanha os
a) Falso. Os mitos, apesar de serem histórias fantasiosas, não são Mbaraka masculinos, espécie de chocalho de cabaça e sementes
ficção, porque possuem um caráter de verdade. específicas.
b) Falso. Todos os povos, do mundo todo, possuem seus mitos. A O filho de Ñane Ramõi, isto é, Ñande Ru Paven (“Nosso Pai de
mitologia grega é apenas uma dentre inúmeras outras. Todos”) e sua esposa Ñande Sy (“Nossa Mãe”), ficaram responsá-
veis pela divisão política da terra e o assentamento dos diferentes
c) Verdadeiro. Os mitos narram a origem da realidade total, como povos em seus respectivos territórios, criando montanhas para
o Cosmo, mas também de fragmentos da realidade, como o sur- delimitar o território guarani. Ñande Ru Paven roubou o fogo dos
gimento de seres, elementos, fenômenos e atitudes humanas. corvos e o entregou aos homens; criou a flauta sagrada (mimby
d) Falso. Apesar de muitas religiões apresentarem narrativas com apyka) e o tabaco (petÿ) para os rituais e foi o primeiro que morreu
características mitológicas, mito não é sinônimo de religião. na terra. Da mesma forma que seu pai, decidiu abandonar a terra
e) Verdadeiro. A mitologia explica, de forma fantasiosa, a origem em função de um desentendimento com sua esposa que estava
de tudo o que existe a partir de uma força divina e, portanto, grávida de gêmeos.
sagrada. [...]
2. (UEPB) “Uma das principais expressões da arte grega, o teatro, (Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Guarani_
Kaiow%C3%A1#Mitologia_e_rituais>. Acesso em: 20 ago. 2018.)
tem suas origens ligadas às Dionisíacas, festas em homenagem a
Dioniso, deus do vinho.” a) De acordo com a narrativa Guarani-Kaiowá, quem criou o
(Myriam Mota e Patrícia Braick, História das Cavernas mundo?
ao Terceiro Milênio, 2002. p. 65.)
A narrativa relata que o criador do mundo foi o “Nosso Grande Avô Eterno”,
Dois gêneros clássicos do teatro grego originaram-se destes fes-
tivais, são eles: proveniente de uma substância originária, vital e com qualidades criadoras.
a) melodrama e tragédia d) vaudeville e comédia b) Na narrativa, que outros seres e objetos foram criados?
b) drama e pantomima e) tragédia e comédia A terra, o céu, as matas, as montanhas, a organização política, a divisão dos
c) tragédia e drama
territórios, a flauta sagrada, o tabaco.

20 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 20 14/09/2020 12:31:36


c) Quais os atributos humanos da divindade criadora na mitologia Texto 2
Guarani-Kaiowá? Se você é o que você come, e consome comida industrializa-
Raiva e ciúmes. da, você é milho”, escreveu Michael Pollan no livro O Dilema do
OP: Chamar a atenção dos alunos para a questão do roubo do fogo, que apa- Onívoro, lançado este ano no Brasil. Ele estima que 25% da comida
rece na narrativa Guarani-Kaiowá. Comentar que, na mitologia grega, Prometeu industrializada nos EUA contenha milho de alguma forma: do
roubou o fogo dos deuses e entregou-o aos seres humanos, possibilitando que refrigerante, passando pelo Ketchup, até as batatas fritas de uma
estes se desenvolvessem tecnologicamente. Por isso, Prometeu foi punido pe- importante cadeia de fast food – isso se não contarmos vacas e
los deuses, sendo amarrado no topo de uma montanha, onde, diariamente, te-
ria seu fígado devorado por uma águia. Ressaltar que essas coincidências são galinhas que são alimentadas quase exclusivamente com o grão.
comuns ao se comparar a mitologia de diversos povos, de lugares e tempos O milho foi escolhido como bola da vez ao seu baixo preço no
distintos. Sobre mais informações sobre a cultura Guarani-Kaiowá, sugere-se o mercado e também porque os EUA produzem mais da metade do
site <http://www.maimuseu.com.br/musicais>, onde é possível contemplar os
instrumentos mencionados no texto e ouvir uma música desse povo. milho distribuído no mundo.
(Adaptado: BURGOS, P. Show do milhão: milho na comida agora vira
3. Quais são as gerações dos deuses da mitologia grega e quais as combustível. Super Interessante. Edição 247, 15 dez. 2007, p.33.)
características de cada uma?
A geração de ouro, composta pelos filhos dos deuses primordiais e corres-
Com base nos textos 1 e 2 e nos conhecimentos sobre as relações
pondiam aos elementos da natureza. A geração de prata, que corresponde entre organização social e mito, é correto afirmar.
à criação dos titãs, das titânides e de seres monstruosos, muitos deles a) Os deuses maias criaram os homens dotados de livre arbítrio
representando as virtudes e os vícios. A geração de bronze, que corresponde
aos filhos dos titãs e deu origem aos doze deuses do Olimpo. para, a partir dos princípios da razão e da liberdade, ordenarem
igualitariamente a sociedade. 
b) A exemplo das narrativas que predominavam no período
homérico da Grécia antiga, os mitos expressam uma forma de
4. Leia a fábula a seguir, contada por Hesíodo. conhecimento científico da realidade. 
O falcão e o rouxinol c) Na busca de um princípio fundante e ordenador de todas as
Certo dia, um falcão capturou em suas coisas, como ocorre na mitologia grega, a narrativa mítica
garras um rouxinol, que passou a gritar justifica as bases da legitimação de organização política e de
desesperadamente. Foi então que o falcão coesão social. 
disse: “Desgraçado, de que te adiantam os d) Assim como nos povos Quiché da Guatemala, também os mitos
teus gemidos? Encontras-te na posse de gregos procuram explicar a arché, a origem, a partir de um
quem é mais forte que tu, e elemento originário onde está presente o milho. 
seguir-me-ás onde qui-
ser levar-te. Depende e) Para certas tradições de pensamento, como a da escola de
de mim comer-te ou Frankfurt, o iluminismo representa a superação completa
deixar-te em paz”. do mito. 
No contexto da obra 2. C1:H1 (Unicentro) Os poemas homéricos têm por fundamento
de Hesíodo, qual o significado da fábula do falcão e do rouxinol? uma visão de mundo clara e coerente. Manifestam-na quase a
cada verso, pois colocam em relação com ela tudo quanto cantam
A fábula de Hesíodo critica a injustiça praticada pelos grandes senhores de de importante – é, antes de mais nada, a partir dessa relação que
seu período, que se aproveitavam do poder (seja social ou econômico) para
brincar com a vida das pessoas comuns. É uma das mais dramáticas repre- se define seu caráter particular. Nós chamamos de religiosa essa
sentações da injustiça na obra de Hesíodo. cosmovisão, embora ela se distancie muito da religião de outros
povos e tempos. Essa cosmovisão da poesia homérica é clara e
coerente. Em parte alguma ela enuncia fórmulas conceituais à
5. O que é a catarse? maneira de um dogma; antes se exprime vivamente em tudo que
É o objetivo e resultado final de todo grande teatro. É o sofrimento que tanto sucede, em tudo que é dito e pensado. E embora no pormenor
muitas coisas resultem ambíguas, em termos amplos e no essen-
os personagens como o público experimentam pelos erros cometidos. Mas cial, os testemunhos não se contradizem. É possível, com rigoroso
método, reuni-los, ordená-los, fazer lhes o cômputo, e assim eles
esse sofrimento é purificador, pois conscientiza a pessoa de que errou e
nos dão respostas explícitas às questões sobre a vida e a morte, o
agora é preciso mudar de atitude. homem e Deus, a liberdade e o destino (...).
(OTTO. Os deuses da Grécia: a imagem do divino na visão do espírito grego. 1ª
Ed., trad. [e prefácio] de Ordep Serra. – São Paulo: Odysseus Editora, 2005 - p. 11.)
Desenvolvendo Habilidades
Com base no texto, e em seus conhecimentos sobre a função dos
1. C1:H4 (UEL) mitos na Grécia arcaica, assinale a alternativa correta.
Texto 1
a) De acordo com os poemas homéricos, os deuses em nada
Eis aqui, portanto, o princípio de quando se decidiu fazer o ho- poderiam interferir no destino dos humanos e, assim, a deter-
mem, e quando se buscou o que devia entrar na carne do homem. minação divina (ananque) se colocava em segundo plano, uma
Havia alimentos de todos os tipos. Os animais ensinaram o vez que era o acaso (tykhe) quem governava, isto é, possuía a
caminho. E moendo então as espigas amarelas e as espigas brancas, função de ensinar ao homem o que este deveria escolher no
Ixmucaná fez nove bebidas, e destas provieram a força do homem. momento de sua livre ação. 
Isto fizeram os progenitores, Tepeu e Gucumatz, assim chamados. b) As poesias de Homero sempre mantiveram a função de educar
A seguir decidiram sobre a criação e formação de nossa primei- o homem grego para o pleno exercício da atividade racional
ra mãe e pai. De milho amarelo e de milho branco foi feita sua carne; que surgiria no século VI a.C., uma vez que, de acordo com histo-
de massa de milho foram feitos seus braços e as pernas do homem. riadores e helenistas, não houve uma ruptura na passagem do
Unicamente massa de milho entrou na carne de nossos pais. mito para o logos, mas sim um processo gradual e contínuo de
(Adaptado: SUESS, P. Popol Vuh: Mito dos Quiché da Guatemala sobre sua
enraizamento histórico que culminou no advento da filosofia. 
origem do milho e a criação do mundo. In: A conquista espiritual da América
Espanhola: 200 documentos – Século XVI. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 32-33.) 

FIL 21

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 21 14/09/2020 12:31:39


c) Os mitos homéricos serviram de base para a educação, forma- Complementares
ção e visão de mundo que o homem grego arcaico possuía. Em
seus cânticos, Homero justapõe conceitos importantes como 1. (Uenp) Sobre a religião dos gregos, assinale a alternativa correta.
harmonia, proporção e questionamentos a respeito dos prin- a) A mitologia está estritamente associada à religião.
cípios, das causas e do porquê das coisas. Embora todas essas
instâncias apresentavam-se como tal, os mitos não deixaram de b) A religião está associada à vida prática do grego, e transcende
lado o caráter mágico, fictício e fabular em que eram narrados.  o ritual para ordenar todos os gestos da existência. 
d) O mito já era pensamento. Ao formalizar os versos de sua poe- c) Na vida coletiva, era comum que o grego não fosse religioso.
sia, Homero inaugura uma modalidade literária bem singular d) A religião e a política não se misturavam entre os gregos.
no ocidente. As ações dos deuses e dos homens, por exemplo, e) Os deuses gregos são muito parecidos com os homens (pos-
sempre obedeceram a uma ordem pré-estabelecida, a qual suem características antropomórficas), por isso o grego não
sempre revelou uma lógica racional em funcionamento.  se sente inferior a eles.
e) Os mitos tiveram função meramente ilustrativa na educação 2. (Uenp) “Dividiu-se em três partes o Universo, e cada qual logrou sua
do homem grego, pois o caráter teórico e abstrato da cultura dignidade. Coube-me habitar o mar alvacento, quando se tiraram
grega apagou em grande parte os aspectos que se revelariam as sortes, a Hades couberam as brumosas trevas e coube a Zeus
relevantes na poesia grega.  o vasto Céu, no éter, e as nuvens. A terra ainda é comum a todos,
3. C1:H2 (UFU) (…) Assim, a magia e a mitologia ocupam a imensa assim como o vasto Olimpo”.
região exterior do desconhecido, englobando o pequeno campo Segundo o texto de Homero, a origem do Universo é explicada
do conhecimento concreto comum. O sobrenatural está em todas pela divisão feita por Cronos entre seus três filhos: Poseidon, Hades
as partes, dentro ou além do natural; e o conhecimento do sobre- e Zeus. A visão mítica revelada por relatos como esse permeou
natural que o homem acredita possuir, não sendo da experiência as sociedades gregas e romanas da Antiguidade e atribuiu um
direta comum, parece ser um conhecimento de ordem diferente caráter religioso a seu legado artístico e cultural. As religiões e
e superior. É uma revelação acessível apenas ao homem inspirado as mitologias são formas de explicar os mistérios do mundo que
ou (como diziam os gregos) ‘divino’ – o mágico e o sacerdote, o tiveram grande importância para a formação dos povos da Anti-
poeta e o vidente. guidade. A mitologia grega, por exemplo, criou narrativas sobre
(CORNFORD, F.M. Antes e Depois de Sócrates. Trad. Valter Lellis
a natureza, os sentimentos humanos presentes no imaginário do
Siqueira. São Paulo: Martins Fontes, 2001, pp.14-15.) mundo ocidental.
Dessa perspectiva, analise os enunciados a seguir:
A partir do texto acima, é correto afirmar que I. O mito de Prometeu continua sendo lembrado na atualidade,
a) o campo do conhecimento mítico limita-se ao que se manifesta representando a possibilidade do ser humano de desafiar os
no campo concreto comum. deuses e construir a cultura.
b) a magia e a mitologia não se confundem com o conhecimento II. O mito de Édipo tem relação com a ideia de destino e com a
concreto comum. dificuldade dos seres humanos diante das dificuldades da vida.
c) o conhecimento no mito, por ser uma revelação, é acessível III. Os deuses gregos eram poderosos e imortais, não tinham as
igualmente a todos os homens. fraquezas humanas e dominavam o mundo com sua astúcia.
d) o mito não distingue o plano natural do sobrenatural, sendo IV. Muitas obras da literatura grega se inspiraram nas histórias
o conhecimento do sobrenatural superior. vividas pelos mitos, com destaque especial para as obras de
4. C3:H11 (UEM-2015) No teatro grego a tragédia e a comédia eram Homero.
os dois principais gêneros teatrais, sobre os quais é correto afirmar: V. A mitologia grega se desenvolveu sem vínculos com a religião
(1) Nas apresentações das tragédias os atores usavam máscaras da época; os mitos e os deuses eram cultuados de forma total-
de couro, pano ou madeira. Além de auxiliar na amplificação mente independente. 
da voz, a máscara também permitia que o mesmo ator fizes- Assinale a alternativa correta:
se mais de um personagem durante a peça, sem revelar sua a) I, II, III são verdadeiras; IV e V são falsas. 
identidade ao público.
b) apenas V é falsa. 
(2) As comédias eram valorizadas pois proporcionavam ao pú-
c) todas são verdadeiras. 
blico de classe social menos favorecida momentos de diver-
são. Com esse intuito a comédia consagrou dramaturgos d) todas são falsas. 
como Ésquilo, Sófocles e Eurípides. e) apenas I é verdadeira. 
(3) Nas tragédias, além dos atores, um elemento fundamental 3. (Unimontes) O mito é parte integrante da história da humanidade.
do espetáculo era o coro, formado por um grupo de pessoas Cada indivíduo deve encontrar um aspecto do mito que se relacione
que faziam comentários, reflexões ou falas para, inclusive, com sua própria vida. Os mitos têm basicamente quatro funções. A
explicar acontecimentos anteriores. primeira é a função mística – e é disso que venho falando, dando
(4) Na tragédia grega a figura do herói é caracterizada por sem- conta da maravilha que é o universo, da maravilha que é você, e
pre cometer uma falha trágica que desencadeia o fio condu- vivenciando o espanto diante do mistério. Os mitos abrem o mundo
tor do espetáculo. Esse recurso objetiva mostrar a falha de para a dimensão do mistério, para a consciência do mistério que
caráter inerente a todo ser humano. subjaz a todas as formas. Se isso lhe escapar, você não terá uma
(5) Tanto na comédia como na tragédia o ponto central era a mitologia. Se o mistério se manifestar através de todas as coisas,
improvisação. Era comum os atores pararem no meio das o universo se tornará, por assim dizer, uma pintura sagrada. Você
peças para falar diretamente ao público, pedir sua opinião está sempre se dirigindo ao mistério transcendente, através das
e sugerir sua participação nelas. circunstâncias da sua vida verdadeira. A segunda é a dimensão
Soma ( ) cosmológica, a dimensão da qual a ciência se ocupa, mostrando
qual é a forma do universo, mas fazendo-o de uma tal maneira que

22 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 22 14/09/2020 12:31:39


o mistério, outra vez, se manifeste. Hoje, tendemos a pensar que
os cientistas detêm todas as respostas. Mas os maiores entre eles
dizem-nos: “Não, não temos todas as respostas. Podemos dizer-lhe
como a coisa funciona, mas não o que é”. Você risca um fósforo. O
que é o fogo? Você pode falar de oxidação, mas isso não me dirá
nada. A terceira função é sociológica – suporte e validação de de-
terminada ordem social. E aqui os mitos variam tremendamente,
de lugar para lugar. Você tem toda uma mitologia da poligamia,
toda mitologia da monogamia. Ambas satisfatórias. Depende de
onde você estiver. Foi essa função sociológica do mito que assumiu
a direção do nosso mundo – e está desatualizada. A quarta função
do mito, aquela, segundo penso, com que todas as pessoas deviam
tentar se relacionar – a função pedagógica, como viver uma vida hu-
mana sob qualquer circunstância. Os mitos podem ensinar-nos isso.
(CAMPBELL, J. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athenas, 1990. p. 32.)

Podemos afirmar que


a) o mito é uma experiência singular que continua dando sentido
à existência humana. 
b) os mitos pertencem somente a comunidades pouco evoluídas. 
c) o mito morreu e não diz mais nada para a sociedade. 
d) não necessitamos dos mitos e que eles são ultrapassados. 
4. (Unesp) Aedo e adivinho têm em comum um mesmo dom de
“vidência”, privilégio que tiveram de pagar pelo preço dos seus
olhos. Cegos para a luz, eles veem o invisível. O deus que os inspira
mostra-lhes, em uma espécie de revelação, as realidades que esca-
pam ao olhar humano. Sua visão particular age sobre as partes do
tempo inacessíveis às criaturas mortais: o que aconteceu outrora,
o que ainda não é. 
(Jean-Pierre Vernant. Mito e pensamento entre os gregos, 1990. Adaptado.)

O texto refere-se à cultura grega antiga e menciona, entre outros


aspectos,
a) o papel exercido pelos poetas, responsáveis pela transmissão
oral das tradições, dos mitos e da memória.
b) a prática da feitiçaria, estimulada especialmente nos períodos
de seca ou de infertilidade da terra.
c) o caráter monoteísta da sociedade, que impedia a difusão dos
cultos aos deuses da tradição clássica.
d) a forma como a história era escrita e lida entre os povos da
península balcânica.
e) o esforço de diferenciar as cidades-estados e reforçar o isola-
mento e a autonomia em que viviam.

GABARITO ONLINE
1. Faça o download do aplicativo SAE Questões ou qualquer aplicativo
de leitura QR Code.
2. Abra o aplicativo e aponte para o QR Code ao lado.
3. O gabarito deste módulo será exibido em sua tela.

FIL 23

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 23 14/09/2020 12:31:39


EE
Os pré-socráticos:
L
LL LLL

EEE
LLL

EEE
LL

EEEE
L LL

E
LLL
LLLL

surge a filosofia
LLLLLLLL

Passagem do mythos ao logos: o surgimento da filosofia • Pré-socráticos: explicando a natureza e seus fenômenos
Filosofia
mód. 02/08

02 Os filósofos
pré-socráticos

START

Observe as imagens e responda às questões.


Peter Gudella/Shutterstock

1. De onde vem toda a diversidade de seres que existe no mundo?

2. Que fator teria provocado o surgimento da vida?

Explorar as questões pro-


postas na seção Start numa
breve roda de conversa. São
questões introdutórias para
explicar o surgimento da
Filosofia e deve-se estimular 3. Qual o elemento primordial que originou todo o universo?
o conhecimento prévio
dos alunos, mesmo que as
hipóteses individuais sejam
ainda mal-estruturadas
ou ingênuas. Professor,
pergunte se os alunos já
tiveram essas dúvidas, se
buscaram respostas para 4. Que fatores motivaram o surgimento da Filosofia?
elas e, em caso afirmativo,
quais seriam elas. Procure
trazer também explicações
EM21_1_FIL_02

populares características do
local em que vivem (uma
lenda, uma crença, um mito)
como forma de relacionar as
questões ao contexto atual.

24 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 24 14/09/2020 12:31:48



Os pré-socráticos não

Passagem do mythos ao logos:


descartam a presença do
divino. O que eles refutam
é a explicação das coisas

o surgimento da filosofia
com base em alegorias e
testemunhos religiosos
ou mitológicos. Para esses
filósofos, se o ser humano
A filosofia surgiu na Grécia Antiga por volta
do século VI a.C. devido à transição do pensa-
Contexto histórico é dotado de razão, deve uti-
lizá-la para descobrir por si
próprio a verdade que, neste
mento mitológico para o cosmológico, iniciada A Grécia Antiga passava por um período contexto, está no mundo, na
pelos pré-socráticos. de transição de uma sociedade rural para ur- natureza.
bana. Vários fatores contribuíram para isso: na Glossário

Remzi/Shutterstock
política, a instituição de governos democráti-
cos, concedendo mais direitos e voz ao povo; Cosmológico: período em
que a explicação das coisas
no direito, o início do registro das leis por es- passa a ser buscada no
crito, garantindo que cada indivíduo pudesse próprio mundo, mais espe-
debater publicamente sobre estas; na econo- cificamente na natureza, e
mia, a criação da moeda, acelerando o desen- não mais em algo divino,
sobrenatural. Em grego,
volvimento do comércio; e, por fim, a própria
cosmos quer dizer ordem e
religião grega, por ser uma “religião pública” e logos significa razão, estudo.
naturalista. Pré-socrático: é o termo
empregado para se referir

Wikimedia Commons/ PHGCOM.


aos filósofos do período
Vista da cidade de Atenas. cosmológico, o que não
significa que todos viveram
O poeta Hesíodo, na Teogonia, lança as pri- necessariamente antes
meiras sementes que mais tarde originariam de Sócrates.
a filosofia. Essa obra é diferente dos demais Epistemológico: referente
mitos, porque ela não busca apenas apre- à epistemologia (estudo
sentar relatos que serviriam de fundamentos do conhecimento, seu
processo de aquisição, seu
epistemológicos ou morais para a cultura gre-
alcance e seus limites, e
ga, mas, sobretudo, relatar uma história que Moeda utilizada em Atenas , exibindo a cabeça da deusa Atena e um das relações entre o objeto
coruja.
explique como surgiu o mundo, os deuses e do conhecimento e aquele
os homens, ainda que baseada em princípios Outro fator importante foram as viagens que o busca).
divinos. Hesíodo tentou mostrar a origem das marítimas. A mitologia retratava apenas o ter-
Observe
coisas, o princípio de tudo, enfim, as causas ritório conhecido pelos gregos, de modo que
que depois geraram todas as demais coisas. A as terras mais distantes, inalcançáveis até en- Os cidadãos se sentiam de
busca por causas e princípios que expliquem tão, eram pintadas como repletas de mons- tal forma parte da pólis que
todas as coisas será justamente a tônica dos tros e seres fantásticos. As viagens marítimas os conceitos de pessoa ou
de propriedade individual
pré-socráticos. permitiram aos gregos chegar a esses lugares,
eram quase inexistentes.
O estudioso Nicola Abbagnano apresenta a descobrindo que lá não haviam os monstros
Na pólis os anseios da
inovação que foi a filosofia grega em contra- que contavam os velhos mitos. cidade eram os desejos
posição aos relatos religiosos e míticos. Para do ser humano. A ideia de
Michael Rosskothen/Shutterstock

propriedade individual e
ele esse é o ponto fundamental que define a do emprego do vocábulo
filosofia como criação grega. “pessoa” para designar o
indivíduo só se dará com
o surgimento do Império
Romano.
A filosofia grega, ao invés, é pesquisa. Esta
nasce de um ato fundamental de liberdade
frente à tradição, ao costume e a toda a cren-
ça aceita como tal. O seu fundamento é que
o homem não possui a sabedoria, mas deve
procurá-la: não é sofia mas filosofia, amor da Reconstituição computadorizada de uma trirreme grega. A trirreme era
uma embarcação da antiguidade que possuía três compartimentos para
sabedoria, perseguição direta no encalço da remos e remadores. Considerada um grande avanço tecnológico, ela
verdade para lá dos costumes, das tradições e possibilitou aos gregos conhecerem povos e culturas distantes, fato que
contribuiu para o surgimento da Filosofia.
das aparências.
Sintetizando o período grego do século
VI  a.C.: era um novo momento, que permitia
(ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. 4. ed. certa liberdade ao cidadão grego. Havia gran-
Tradução de: JARDIM, Conceição; LUCIO, Eduardo;
VALADAS, Nuno. Lisboa: Presença, 2001.)
de identificação entre o Estado e os cidadãos,
os indivíduos realmente sentiam-se parte da
A transição do pensamento mítico ao fi-
EM21_1_FIL_02

cidade (pólis). A liberdade de expressão e de


losófico exigiu ainda um contexto histórico
pensamento na pólis foi certamente elemento
específico, que envolve as condições sociais,
determinante para o desenvolvimento da filo-
culturais, políticas e econômicas vivenciadas
sofia, uma vez que exige dos indivíduos maior
naquele período na Grécia.
reflexão e raciocínio crítico.

FIL 25

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 25 14/09/2020 12:32:00



Biografia Esse cenário foi estimulante para o intelecto do povo grego, como afirma o importante estu-
dioso francês Jean-Pierre Vernant:
Jean-Pierre Vernant (1914-
2007) foi um antropólogo
francês que se especializou
No espaço de poucos séculos, a Grécia Antiga conheceu, em sua vida social e intelectual, mutações tão pro-
nos estudos da Grécia Anti-
ga, mais especificamente na fundas que foi possível ver nelas o nascimento do homem moderno, o advento do espírito como poder de re-
organização social, mitologia flexão crítica ou, em outras palavras, foi naquele momento que se teria produzido a passagem do mito à razão.
e tragédias gregas. Publicou
mais de quinze livros, como
As origens do pensamento (VERNANT, Jean-Pierre. Entre Mito e Política. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002. p. 55.)
grego e a trilogia Mito e pen- A conjunção de todos esses fatores foi determinante para o surgimento dos primeiros filóso-
samento entre os gregos, fos. Esses são justamente os pensadores que se maravilham diante das dúvidas provocadas pela
Mito e sociedade na Grécia
observação da natureza, como “qual o princípio da vida?”, e a partir daí não se contentam com as
antiga e Mito e religião na
Grécia antiga. respostas oferecidas pelos mitos. Esses filósofos são os pré-socráticos, que decidiram investigar
por si próprios a natureza e o mundo.
Devido ao nível de abstração
do conceito de phýsis,
sugira que alguns alunos
voluntários mencionem
Pré-socráticos: explicando a
algo da natureza que seja
considerado “incriado”, ou
seja, que já existe há tanto
natureza e seus fenômenos
tempo que é impossível que
um indivíduo finito possa Os pré-socráticos são divididos em várias escolas de pensamento, sendo que cada escola
determinar sua origem (mui-
tas dessas explicações, na mantém uma unidade, certa linha de raciocínio que todos os seus integrantes seguem, ainda que
atualidade, são oferecidas discordem em determinados pontos. Porém, para além de todas as escolas, há alguns conceitos
pelas ciências naturais).
Por exemplo: as pedras, as que estão presentes em toda manifestação da filosofia dos pré-socráticos, pois são conceitos que
plantas, os seres vivos, os podem muito bem ser considerados o ponto de partida e o de chegada das investigações desses
quatro elementos, os astros ilustres pensadores: phýsis, arché, cosmos e logos.
etc. Pode ser que haja rela-
tos associados a conceitos
religiosos, como “foi Deus
quem criou”. Se houver algu- Phýsis Kósmos
ma colocação nesse sentido,
explique que os pré-socrá- O termo phýsis significa natureza. Para os O terceiro conceito é kósmos, ou ordem. É a
ticos buscaram justamente pensadores pré-socráticos, a phýsis correspon- ideia do “todo”, mas não de um “todo” qualquer:
desvincular a ideia de um de a tudo o que não foi criado, ou seja, a tudo é a ideia de um “todo” perfeitamente harmônico.
princípio divino para tudo o
que existe, porque, segundo aquilo que possui uma potência autônoma ca- Cosmos, então, é a ordem, é a harmonia na-
esses pensadores, essas res- paz de conter, comunicar e organizar a vida. A
postas só poderiam estar no tural que existe no mundo. E é pelo fato de o
mundo, na natureza, naquilo natureza, portanto, era entendida como a po- mundo ser harmônico e ordenado que os pré-
que é e se manifesta aos tência material que rege a ordem de um todo -socráticos acreditavam que tudo pode ser ex-
seres humanos. harmônico. plicado a partir de princípios (arkhé) e da pró-
Glossário De forma geral, os pré-socráticos acredi- pria natureza (phýsis) deste mundo. Observa-
tavam que as respostas para suas dúvidas só se que é da procura dessa ordem natural que
Mundo físico: engloba tudo poderiam estar na natureza, ou seja, na phýsis. o período dos pré-socráticos na filosofia ficou
aquilo que tem matéria e
forma e ocupa um lugar no
Para eles, tornou-se urgente, então, investigar conhecido como período cosmológico.
espaço. Devido às carac- o mundo físico em busca de respostas para
terísticas do pensamento
dos primeiros filósofos,
suas dúvidas.
Lógos
eles também são chamados
de “físicos”. Arkhé Por fim, o último conceito importante é o
lógos, que não possui uma tradução próxima
Literalmente, o termo arkhé significa “pri- em português, pois possui diversos significa-
meiro princípio”. No pensamento dos filósofos dos, como discurso, razão, estudo. Em sínte-
pré-socráticos, significa dizer que o mundo e a se, o lógos seria o próprio discurso racional, a
realidade possuem um princípio material, en- tentativa de explicar as coisas a partir da pró-
contrado na natureza (phýsis), que teria dado a pria racionalidade humana, e não mediante a
origem a tudo o que existe. Cada filósofo des- autoridade religiosa de um sacerdote ou livro
se período encontrou um elemento primordial, sagrado. É a partir de nossa própria racionali-
que corresponde à arkhé, como energia gera- dade que devemos tentar entender o mundo,
dora do universo: o fogo, a terra, a água, o ar, as coisas e nós mesmos.
os átomos, o infinito, os números, e assim por
diante. A arché é a unidade originária que se A grande passagem do pensamento mito-
EM21_1_FIL_02

EM21_1_FIL_02

mantém sempre idêntica, independente das lógico para o filosófico pode ser sintetizada na
mudanças das coisas. passagem do mythos ao logos. O primeiro é um
discurso narrativo e alegórico; o segundo é um
discurso racional que busca no próprio mundo
a explicação de como este mundo existe.

26 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 26 14/09/2020 12:32:02



Escolas pré-socráticas
A Grécia antiga (aproximadamente séculos VI e V a.C.) era um conjunto de cidades-­Estados autôno- Proceda a leitura do mapa,
mas, que se espalhavam por várias regiões dos continentes europeu e asiático. Cada região reunia as indicando a localização
cidades-Estados que possuíam características semelhantes, como o processo de povoamento, confor- geográfica das escolas
pré-socráticas. É importante
me mostra o mapa a seguir. que os alunos compreen-
dam que o território da Gré-

Multimages
cia antiga era fragmentado
geográfica e culturalmente,
devido ao processo de
povoamento pelo qual
passou. Nos aspectos geo-
gráficos, enfatize o território
recortado por muitas ilhas
e arquipélagos e, também,
por um relevo igualmente
irregular, composto por
montanhas e solo mais
árido. Quanto aos aspectos
culturais, enfatize a diver-
sidade de povos presentes
na formação da Grécia, bem
como a autonomia política
das cidades-Estado, que,
não raro, vivam guerreando
entre si. Ou seja, não havia
uma unidade econômica,
política, cultural e geográfica
de “país” ou nação como
entendemos hoje. Os filóso-
fos antigos eram chamados
pelo primeiro nome, seguido
do nome da cidade em
que ele nasceu, como Tales
de Mileto, que nasceu em
Mileto, e assim por diante.
Outros pré-socráticos que
não se enquadram nas
escolas mencionadas são
Empédocles de Agrigento e
Anaxágoras de Clazômena.

Biografia

Tales de Mileto (final do


Por meio da análise do mapa, é possível ve-
rificar o quão fragmentado é o território grego.
Escola Jônica século VII a.C. e início do
século VI a.C.) nasceu em
Na verdade, não havia a noção de “país” como Tales de Mileto, fundador da Escola Jônica, Mileto. Além de filósofo, foi
é considerado o primeiro filósofo do Ocidente, considerado um dos Sete
é entendida hoje. Os fatores que permitiam
Sábios da Grécia Antiga.
identificar a origem grega dos cidadãos das pois é o primeiro pensador a buscar na phýsis a
diversas cidades-Estados eram a língua grega explicação para a origem das coisas.
Alguns filósofos são exce-
(mesmo com os diversos dialetos) e a religião. Tales afirmou que a água é o princípio de ção, como Heráclito de Éfe-
Um dos primeiros filósofos da história tudo. Ao recorrer a algo físico (a água) para ex- so, que nunca fundou nem
participou de uma escola
é Tales de Mileto; ele vivia em Mileto na Ásia plicar a origem das coisas, rompe com as expli- filosófica, tendo construído
menor, território que hoje compreende a atual cações de cunho mágico e mitológico. sozinho a sua filosofia, sem
Turquia. Naquela época, essa região era conhe- ter nem mesmo um mestre.
Segundo Tales, tudo vem da água,
Ernst Wallis/W.Commons

cida como Jônica, pois foi fundada pelo povo tudo se sustenta na água e tudo termi-
jônio. Por esse motivo, Tales é considerado o na na água, por isso todos os alimen-
fundador da Escola Jônica. Depois, outros tos são úmidos, até mesmo o calor é
pensadores surgiram na região da atual Itália úmido. Um dos caminhos que utilizou
(no sul e na Sicília), fundando as Escolas Eleata para chegar a essa conclusão foi ob-
e Pitagórica e em Abdera, na Trácia (onde servar um rio inundando a terra nas
hoje estão a Grécia, a Bulgária e a Turquia), a encostas. Notou a partir desse acon-
Escola Atomista. tecimento que a terra ficava mais fér-
Alguns filósofos pré-socráticos são estuda- til, permitindo que nascesse mais vida.
dos isolados das escolas, por possuírem carac- Outro dado relevante foi a obser-
terísticas muito específicas. Esse é o caso de vação de que todas as sementes pos-
Heráclito de Éfeso. suíam natureza úmida.
EM21_1_FIL_02

EM21_1_FIL_02

Tales de Mileto

FIL 27

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 27 14/09/2020 12:32:06



Diferente da Escola Jônica, os pitagóricos

chapho/Shutterstock
não tentaram identificar o princípio de todas
Saiba mais
as coisas em elementos como a água ou o ar,
A escola pitagórica origi- mas fizeram algo realmente surpreendente:
na-se como um tipo de tentar traduzir a realidade (phýsis) inteira em
ordem religiosa, organizada números!
sob regras precisas de
comportamento e convivên- Veja o que Aristóteles pensou sobre os
cia. Ela tinha por objetivo pitagóricos:
concretizar um modo de
vida por meio do qual a A água, que para Tales era o princípio de todas as coisas.
filosofia e a matemática Para Tales, a água era o princípio da vida e Os pitagóricos foram os primeiros que se
eram consideradas um meio do movimento, por isso estava ligada à ideia dedicaram às matemáticas e as fizeram progre-
de purificar a alma.
de alma. dir. Nutridos pelas mesmas, acreditaram que
As doutrinas pitagóricas
Para os gregos, portanto, a alma é aquilo os princípios delas fossem os mesmos prin-
eram consideradas secretas,
de modo que somente seus que “anima” a coisa, anima-a a mover-se por si cípios de todas as coisas que existem. E, uma
adeptos poderiam conhe- própria. Tales percebeu que a água estava pre- vez que na matemática os números são, por
cê-las. Entre as concepções sua natureza, os princípios primeiros, precisa-
abrangidas por Pitágoras
sente em tudo que se movia, então concluiu
que a água é o que movimenta a vida. mente nos números eles acreditaram ver, mais
encontram-se as de imor-
talidade e transmigração que no fogo, na terra e na água, muitas seme-
Depois de Tales, a Escola Jônica continuaria
(metempsicose) da alma. lhanças com as coisas que existem e se geram
com o seu discípulo Anaximandro de Mileto,
[...] e, além disso, como viam que as notas e os
e depois com Anaxímenes de Mileto. Para
4t/W.Commons

acordes musicais consistiam em números; e,


Anaximandro, a arkhé de todas as coisas seria
por fim, como todas as outras coisas, em toda a
o apeíron, que pode ser traduzido por indeter-
realidade, pareciam-lhes serem feitas à imagem
minado. O apeíron é o indeterminado, indivisí-
dos números e que os números fossem aquilo
vel e infinito que está presente em toda a na-
que é primeiro em toda a realidade, pensaram
BRONNIKOV, Fyodor. ­Pitagóricos tureza. O apeíron funcionaria como uma força
celebrando o nascer do Sol. que os elementos dos números fossem elemen-
da própria natureza que age gerando e modifi-
tos de todas as coisas, e que todo universo fosse
cando as coisas.
Observação harmonia e número.
Por fim, Anaxímenes de Mileto discordaria
É preciso ter um cuidado ao de ambos os predecessores ao afirmar que o
estudar os pitagóricos: para (ARISTÓTELES. Metafísica: texto grego com tradução
nós, os números são ope-
princípio de todas as coisas é o ar, que inunda e comentários de Giovanni Reale. Tradução de:
rações mentais, símbolos todo o espaço sustentando o mundo. O ar in- PERINE, Marcelo. v.2. São Paulo: Loyola, 2002. p. 27.)
que utilizamos para realizar clusive se transformaria em terra e água por Além da música, os pitagóricos identifica-
cálculos, contagens etc. condensação, e em fogo por rarefação. ram leis matemáticas na meteorologia, pois a
Já para os pitagóricos, os
passagem dos dias, estações e anos pode ser
Escola Pitagórica: a divindade
números eram componentes
da própria realidade, pois prevista e estudada matematicamente; tam-
todas as coisas são unida-
des e o mundo se organiza
dos números bém na astronomia e na biologia, pois a incu-
bação do feto segue uma regra matemática de
numa ordem harmônica
dias. Enfim, os pitagóricos viam uma ordem
PNC/W.Commons

e que pode ser estudada


matematicamente. É com os matemática em qualquer dimensão da vida
pitagóricos que se consolida que pudessem observar.
o entendimento de que o

SAE Digital S.A


universo é cosmos, é ordem.
E esse cosmos era estudado
por meio da arché que, para
os pitagóricos, é o número.

Demonstre a presença da
matemática no mundo.
As dimensões de uma
construção civil podem ser
traduzidas em números, o
tamanho de nossas roupas
é um conjunto de medida
e proporções matemáticas. Os números, para Pitágoras, eram a origem de todas as coisas.
A página que o aluno olha Pitágoras em detalhe no quadro Escola de Atenas.
O universo para os pitagóricos é um cos-
neste momento é regida por A Escola Pitagórica é a escola fundada por
regras matemáticas a fim de mos perfeito, harmônico como uma música
causar um efeito estético Pitágoras de Samos, uma ilustre figura que se perfeita, a tal ponto que para eles o universo
e que facilite o estudo. As tornou quase mística. Como Pitágoras não es- é ritmo, é proporção rítmica. Essa ideia retrata
células de nosso corpo
mudam e se regeneram creveu nada ou pelo menos nenhum de seus es- a intensidade de veneração que os pitagóricos
EM21_1_FIL_02

EM21_1_FIL_02

de tempos em tempos de critos chegou até nós, muitas histórias fantásti- possuíam pela música. Para eles, a música era
acordo com uma lógica que cas passaram a ser registradas em torno dele,
pode ser traduzida em nú- uma forma de purificação da alma, pois sendo
meros. O professor poderá transformando-o em filósofo, líder religioso e ela a manifestação da harmonia do universo,
também utilizar exemplo da grande sábio. O filósofo sempre esteve rodea- levaria as pessoas a entrar em contato com a
Proporção Áurea ou Número do de vários discípulos, chamados pitagóricos.
de Ouro. natureza das coisas.

28 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 28 14/09/2020 12:32:13



Escola Eleata: Parmênides

CHUpts/W.Commons
Acredita-se que Parmênides tenha vivido
entre a segunda metade do século VI a.C. e a
metade do século V a.C., em Eleia, na Grécia.
Foi fundador da escola chamada eleata, res-
ponsável por ter uma grande influência em
Glossário
todo o pensamento grego, pois, para muitos,
ele é um dos precursores da ontologia. Ontologia: do grego onto,
que significa ser, e logos,
Parmênides dizia que toda a sua men- estudo. É o estudo do ser,
sagem filosófica lhe era passada por meio daquilo que é essencial em
de uma deusa, da qual ele era um profeta e cada fenômeno.
­mensageiro. Essa mensagem consistia em uma É a parte da filosofia que
reveladora filosofia que distinguia três vias do estuda a natureza dos seres,
conhecimento: a da verdade pura, a da falsida- o ser enquanto ser.
de absoluta e a da opinião plausível. Ou seja,
quando o ser humano tenta conhecer a verda-
de, ele pode encontrar a verdade pura, pode
cair na completa falsidade ou pode situar-se
na opinião plausível. O objetivo é distinguir o
conhecimento, a falsidade e a opinião. E essa
distinção ocorre diante do grande princípio
parmenidiano: “o ser é e o não-ser não é”.

“O ser é e o não-ser não é”. Em um primei-


ro contato, essa sentença de Parmênides pa- Parmênides, detalhe do quadro Escola de Atenas.
rece difícil de ser compreendida! O que seria
o ser e o não-ser?
Escola atomista
Como ser podemos identificar a arché de O principal representante da Escola atomista é
Parmênides. O ser é tudo que existe, tudo que é. Demócrito de Abdera (c.460 a.C. – 370 a.C.).
Tudo que existe no mundo é algo. Tudo que fa- Demócrito concordava com Parmênides, sobre o
lamos, expressamos, ou mesmo pensamos, tam- ser e o não-ser, e acreditava que o universo é
bém é algo. O ser é o dado mínimo a qual todas as eterno e regido pelo acaso. Para Demócrito, o ser
coisas se resumem. corresponde ao átomo e o não-ser, ao vazio. Isso
Para Parmênides, o ser e o pensar coincidem, significa dizer que o vazio é o espaço entre os cor-
pois o pensar já é algo. Mas então tudo é ser? pos que possibilita a existência da multiplicidade,
Tudo que existe, sim. O não-ser não existe, e não do movimento e das mudanças (geração e cor-
pode ser pensado, porque se existisse seria ser. rupção dos seres). Já o átomo corresponde à me-
Eis o princípio: nada pode ser e não-ser ao mesmo nor partícula formadora dos corpos, sendo invisí-
tempo. vel, indivisível e esférica.

Everett - Art/Shutterstock
Algumas conclusões importantes: se o ser Atualmente, o conceito de
é, ele deve ser eterno e incriado, pois, se não átomo é diferente daquele pos-
for assim, significa que um dia ele não foi, logo tulado por Demócrito, principal-
o não-ser existiria, o que não faria sentido para mente no que diz respeito à sua
Parmênides. Também significa que o ser é imóvel, indivisibilidade. Hoje já sabe-se
pois caso se movimentasse teria que sair do seu que existem partículas menores
ser para outro, logo aquele ser se tornaria não- que os átomos (elétrons e nêu-
-ser, o que também é contraditório. Diante disto, trons) e também que os átomos
Parmênides afirma que a natureza é imóvel (tese podem ser quebrados, dividi-
imobilista). dos. Mesmo assim, a hipótese
de Demócrito merece reconhe-
Parmênides certamente ofereceu uma contri-
cimento, uma vez que ela foi
buição enorme à racionalidade ocidental, pois
postulada apenas teoricamente,
por meio do uso da razão ele demonstrou que é
sem os procedimentos de ob-
possível encontrar a verdade. A nossa própria es-
servação e experiências, nem
trutura de pensamento nos permite distinguir o
com uso de ferramentas, como
real do falso, o ser do não-ser.
EM21_1_FIL_02

EM21_1_FIL_02

é o caso das Ciências atuais. BRUEGGHEN, Hendrick. ­Demócrito. 1628. Óleo sobre tela.

FIL 29

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 29 14/09/2020 12:32:17



Heráclito: a realidade é

Btg/W.Commons
Saiba mais

“Um dos aspectos funda- movimento


mentais do saber que se
constitui nessas primeiras Heráclito de Éfeso não se enquadra em
escolas de pensamento, nenhuma das escolas pré-socráticas, não par-
sobretudo na escola jônica,
ticipava da vida pública. Viveu uma vida solitá-
é seu caráter crítico. Isto é,
as teorias aí formuladas não ria, não teve mestres diretos, orgulhando-se
o eram de forma dogmática, por ter adquirido sozinho seu conhecimento.
não eram apresentadas Ficou conhecido como “O Obscuro” devido à
como verdades absolutas e complexidade de seus textos. Apresentou uma
definitivas, mas como pas-
síveis de serem discutidas, ideia diferente, que ficou conhecida como tese
de suscitarem divergências mobilista.
e discordâncias, de permi- Heráclito chamou a atenção para a mobili-
tirem formulações e pro-
postas alternativas. Como
dade de todas as coisas, afirmando que nada
se trata de construções do é estável e imóvel, mas tudo se move, muda
pensamento humano, de e se renova constantemente. É uma posição
ideias de um filósofo – e não oposta àquela de Parmênides, que defendia a
de verdades reveladas, de imobilidade.
caráter divino ou sobrenatu-
ral –, estão sempre abertas

Johannes_Moreelse/W.Commons
à discussão, à reformulação,
a correções. O que pode
ser ilustrado pelo fato de
que, na escola de Mileto, os
dois principais seguidores
de Tales, Anaxímenes e Heráclito, detalhe do quadro Escola de Atenas.
Anaximandro, não aceitaram assim pelo fato de o fogo ser o exemplo claro
a ideia do mestre de que a do constante movimento. O fogo para ele não
água seria o elemento pri- é apenas o fogo em seu sentido físico, mas a
mordial, postulando outros
elementos, respectivamente própria ideia que o fogo representa: a do vir a
o ar e o apeiron, como ten- ser constante.
do essa função. Isso pode Observe as diferenças fundamentais entre
ser tomado como sinal de
que nessa escola filosófica
Parmênides e Heráclito.
o debate, a divergência e a
formulação de novas hipóte- PARMÊNIDES X HERÁCLITO
ses eram estimulados.” O princípio das coisas Simbolizava no fogo o
(MARCONDES, Danilo. Iniciação à his-
Heráclito, de Johannes Moreelse (1602-1634).
tória da filosofia: dos pré-socráticos era o ser. princípio das coisas.
a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, Esse constante movimento é marcado pelo
2007. p. 27.)
conflito dos contrários. As coisas frias se aque- O ser está em
O ser é imutável.
constante mudança.
cem, as coisas quentes se esfriam, as coisas
úmidas secam, as coisas secas umedecem, o A verdade está no
A verdade está no vir a
jovem envelhece, o vivo morre, e assim por ser, para além dos
ser, no movimento.
Observe diante. É na luta dos contrários, no vir a ser, que fenômenos.

Heráclito utiliza o fogo Heráclito busca explicar o princípio de toda a A linguagem jamais
A linguagem exprime
porque este está sempre realidade. Tudo muda, tudo flui, tudo está em pode captar o que é
o ser. Dessa forma o
mudando de posição – não constante movimento. a coisa, de forma que
logos pode captar a
podemos capturá-lo com o logos não exprime
as mãos ou lhe conferir A vida é constante mudança, é um eterno verdade.
o ser.
uma forma estática. O ser devir (vir a ser). A síntese perfeita dessa ideia
humano também é assim: está em sua célebre frase: “é impossível que O ser é e não é ao
O ser não pode ser
se viajarmos para um país, uma pessoa entre no mesmo rio duas vezes, mesmo tempo, pois
e não-ser ao mesmo
e anos depois quisermos tudo flui conforme a
repetir a viagem, por mais
porque da segunda vez, nem o rio nem a pes- tempo.
luta dos contrários.
que façamos as mesmas soa serão mais os mesmos”.
coisas, a viagem não será a Eis o vir a ser: eu sou e não sou ao mes-
mesma, pois nós mudamos Neste capítulo, vimos alguns dos principais
mo tempo. Para ser agora, preciso deixar de
como pessoa (temos mais filósofos pré-socráticos, aqueles pensadores
memórias, conhecimentos, ser o que era antes, ou
que realizaram a essencial passagem do pe-
hideto999/Shutterstodck

experiências), e os lugares seja, aquilo passa a ser o


ríodo mitológico para o cosmológico na Grécia
também mudaram. Mesmo não-ser.
em um intervalo de tempo Antiga. A filosofia grega, porém, não se encer-
menor isso se verifica. Se Logo, estamos sempre ra neles. Depois de investigar a natureza e ali
ao final do texto deste em processo de entrar encontrar tantas explicações contrárias, ora a
EM21_1_FIL_02

capítulo quisermos lê-lo de em não-ser para ser no- água, ora o fogo, ora os números, a filosofia vai
novo, ainda assim não será vamente. E é nesse senti-
a mesma coisa, pois já não passar a perguntar-se se não seria mais pru-
somos a mesma pessoa que do que Heráclito chega à dente, antes de investigar o mundo externo,
leu a primeira vez. conclusão de que o fogo conhecer a si mesmo: eis o período antropológi-
O fogo, princípio de todas as
é o princípio de todas as co, iniciado pela sofística e depois aprofundado
coisas, segundo Heráclito. coisas. E ele compreende por Sócrates.
30 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 30 14/09/2020 12:32:24


FILOSOFIA E CULTURA


1. O surgimento da Filosofia na Grécia antiga foi um dos frutos de um contexto histórico específico. Cite três Filme
fatores que contribuíram para o nascimento da Filosofia.

Linson Film
O aluno deve citar três dos seguintes fatores: revisão dos códigos de lei, surgimento da moeda, retomada da escrita alfabética,

florescimento urbano.

2. Os filósofos pré-socráticos buscaram o princípio originário de tudo o que existe e, cada um ao seu modo,
encontrou um elemento da natureza que teria dado origem à diversidade de seres. Pesquise a importância
dos seguintes elementos para a existência de vida no planeta Terra.
a) Água:
Esta atividade pode ser feita de forma interdisciplinar com as disciplinas de Biologia (água, ar e terra) e de História (fogo, Na natureza selvagem
Ano: 2007
especialmente no que concerne ao desenvolvimento das sociedades humanas). É imprescindível que os alunos percebam que
Diretor: Sean Penn
os quatro elementos são essenciais à vida na Terra. Um jovem estudante tem
um futuro promissor nos
b) Ar:
Estados Unidos. Mas decide
abandonar tudo que tem
para realizar uma grande
aventura rumo à liberdade.
Com apenas uma mochila
nas costas, esse jovem rapaz
irá buscar na natureza a
c) Terra:
explicação das coisas. O
espírito do protagonista
desse filme pode ser compa-
rado ao dos pré-socráticos:
não busca a verdade nas
instituições ou nas pessoas,
mas na própria natureza.
d) Fogo:

3. Complete o quadro a seguir com as informações solicitadas.


Escolas
Principal ­representante Arkhé Principais ideias A produção textual deve ser
pré-socráticas entregue em folha avulsa,
em data previamente agen-
A água é a origem do movimento dada. Considere no texto
Jônica Tales de Mileto Água dos alunos a consistência
que move todas as coisas.
dos argumentos e exemplos
utilizados para reforçar o
A realidade pode ser explicada posicionamento pessoal.
matematicamente por meio dos Na data da entrega, você
Pitagórica Pitágoras de Samos Números números. A música é um exemplo pode promover uma troca
de organização harmônica dos de ideias entre alunos que
números. concordam com Parmênides
e os que concordam com
Tudo o que existe é ser. O Heráclito. É possível separar
Eleata Parmênides de Eleia O ser não-ser não existe e não pode a turma em dois grupos,
ser pensado. considerando também a
possibilidade de haver ou-
O vazio (não-ser) é o espaço tros posicionamentos (como,
Atomista entre os corpos, e estes são com- por exemplo, não concordar
Demócrito de Abdera Os átomos e o vazio postos de minúsculas partículas com nenhum dos dois), de
chamadas átomos. forma que os grupos apre-
sentem seus argumentos e
exemplos, para defender o
4. Parmênides e Heráclito travaram um dos mais acalorados debates entre suas ideias. seu posicionamento. Fica
a seu critério solicitar um
Explique que ideias são essas. registro escrito que sintetize
Enquanto Parmênides defende a tese imobilista, em que o movimento e as mudanças são considerados ilusórios, Heráclito as ideias debatidas, em que
o aluno pode comentar se
EM21_1_FIL_02

ele mantém o ponto de vista


defende a tese contrária, do mobilismo, ou seja, o movimento, a mudança, a geração e a corrupção dos seres é o eterno devir inicial, se mudou alguma
coisa ou resolveu mudar
(vir a ser) que possibilita a existência de tudo. de ideia.
5. Com qual dos filósofos pré-socráticos você concorda: Parmênides ou Heráclito? Escreva um texto argumen-
tativo explicando o seu posicionamento, defendendo-o com argumentos e exemplos.

FIL 31

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 31 14/09/2020 12:32:26


Resolvidos Praticando
1. (UFSJ-2012) Sobre o princípio básico da filosofia pré-socrática, é 1. (UEL) Entre os ‘físicos’ da Jônia, o caráter positivo invadiu de chofre
correto afirmar que: a totalidade do ser. Nada existe que não seja natureza, physis. Os
a) Tales de Mileto, ao buscar um princípio unificador de todos os homens, a divindade e o mundo formam um universo unificado,
seres, concluiu que a água era a substância primordial, a origem homogêneo, todo ele no mesmo plano: são as partes ou os aspectos
única de todas as coisas. de uma só e mesma physis que põem em jogo, por toda parte, as
mesmas forças, manifestam a mesma potência de vida. As vias pelas
b) Anaximandro, após observar sistematicamente o mundo na-
quais essa physis nasceu, diversificou-se e organizou-se são perfei-
tural, propôs que não apenas a água poderia ser considerada
tamente acessíveis à inteligência humana: a natureza não operou
arché desse mundo em si e, por isso mesmo, incluiu mais um
‘no começo’ de maneira diferente de como o faz ainda, cada dia,
elemento: o fogo.
quando o fogo seca uma vestimenta molhada ou quando, num cri-
c) Anaxímenes fez a união entre os pensamentos que o antecede- vo agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e se reúnem.
ram e concluiu que o princípio de todas as coisas não pode ser
(VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 12. ed.
afirmado, já que tal princípio não está ao alcance dos sentidos.
Tradução de: FONSECA, de Ísis Borges B. Rio de Janeiro: Difel, 2002. p. 110.)
d) Heráclito de Éfeso afirmou o movimento e negou terminante-
mente a luta dos contrários como gênese e unidade do mundo, Com base no texto, assinale a alternativa correta.
como o quis Catão, o antigo. a) Para explicar o que acontece no presente é preciso compreen-
99 Resposta: A der como a natureza agia “no começo”, ou seja, no momento
original.
A alternativa A é a correta, pois Tales foi o primeiro filósofo da história
e, para ele, a origem de tudo é a água. A alternativa B é incorreta b) A explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação
porque Anaximandro defendia que a origem de tudo era o apeiron, de elementos sobrenaturais.
ou seja, um elemento indeterminado. A alternativa C é incorreta pois, c) O nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais
apesar de Anaxímenes negar o pensamento de seus predecessores, têm uma explicação natural e esta pode ser compreendida
representados nos itens A e B, ele atribuiu a arkhé ao ar. A alternativa racionalmente.
D é incorreta pois, apesar de Heráclito afirmar que o movimento é a d) A razão é capaz de compreender parte dos fenômenos natu-
origem de tudo, ele afirmou também que a luta dos contrários origi- rais, mas a explicação da totalidade dos mesmos está além da
nava o movimento e a mudança. capacidade humana.
2. (UEL) Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro 99 Anotações:
a afirmar a existência de um princípio originário único, causa de
todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio é a Os pré-socráticos passaram a indagar além das explicações mitológicas,
água. Essa proposta é importantíssima... podendo com boa dose buscando principlamente na natureza o fundamento racional da existência
de razão ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo
que se costuma chamar civilização ocidental. da vida.
(REALE, Giovanni. História da Filosofia: Antiguidade e
Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990. p. 29.)

A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filó-


sofos foram os chamados pré-socráticos. De acordo com o texto,
assinale a alternativa que expressa o principal problema por eles
investigado. 2. (UFU) Parmênides de Eleia, filósofo pré-socrático, sustentava que:
a) A ética, enquanto investigação racional do agir humano. I. o ser é.
b) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte. II. o não-ser não é.
c) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos cien- III. o ser e o não-ser existem ao mesmo tempo.
tíficos. IV. o ser é pensável e o não-ser é impensável.
d) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem Assinale:
do mundo. a) se apenas I, III e IV estiverem corretas.
e) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação. b) se apenas I, II e III estiverem corretas.
99 Resposta: D c) se apenas II, III e IV estiverem corretas.
A alternativa A está incorreta, pois a ética passou a ser uma preocu- d) se apenas I, II e IV estiverem corretas.
pação a partir dos sofistas e de Sócrates, ou seja, posteriormente ao
99 Anotações:
período cosmológico. A alternativa B está incorreta, pois a estética
surge a partir de Platão e Aristóteles, ou seja, posteriormente aos Parmênides é o filósofo da imobilidade. Defende que o ser é e o não-ser não
pré-socráticos. A alternativa C está incorreta, pois os procedimentos
científicos, tal qual os conhecemos hoje, surgiu apenas na Idade Mo- é e não pode ser pensado.
derna, ou seja, muitos séculos depois. A alternativa D está correta, pois
os primeiros filósofos buscaram explicações racionais para a origem de
tudo o que existe no universo (kósmos, em grego). A alternativa D está
incorreta, porque a filosofia política também surgiu posteriormente,
com Platão e Aristóteles.

32 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 32 14/09/2020 12:32:26


Desenvolvendo Habilidades politeísta, sem doutrina revelada, sem teoria escrita, isto é, um
sistema religioso, sem corpo sacerdotal e sem livro sagrado, apenas
1. C1:H2 (Enem-2017) A representação de Demócrito é concentrada na tradição oral, é isso que se entende por teogonia”.
semelhante à de Anaxágoras, na medida em que um (Filosofia / vários autores. Curitiba: SEED-PR, 2006. p. 18.)
infinitamente múltiplo é a origem; mas nele a determi-
nação dos princípios fundamentais aparece de manei- Sobre o surgimento da filosofia, assinale o que for correto.
ra tal que contém aquilo que para o que foi formado não é, abso- (1) Na Grécia Antiga, o conhecimento dos mitos era transmitido
lutamente, o aspecto simples em si. Por exemplo, partículas de pelos padres da Igreja.
carne e de ouro seriam princípios que, através de sua concentração,
(2) O livro do Gênesis repete o primeiro capítulo da Teogonia de
formam aquilo que aparece como figura.
Hesíodo, que trata da criação do mundo.
HEGEL, G. W. F. Crítica moderna. In: SOUZA, J. C. (Org). Os pré-
(3) A teogonia visa explicar a genealogia dos deuses e sua rela-
socráticos: vida e obra. São Paulo: Nova Cultural, 2000 (adaptado).
ção com os fenômenos do mundo.
O texto faz uma apresentação crítica acerca do pensamento de (4) A oralidade constitui a forma privilegiada de transmissão do
Demócrito, segundo o qual o “princípio constitutivo das coisas” pensamento mítico.
estava representado pelo (a) (5) O mito representa uma forma de pensamento religioso
a) número, que fundamenta a criação dos deuses. contrário à racionalidade filosófica de Platão e dos filósofos
b) devir, que simboliza o constante movimento dos objetos. pré-socráticos.
c) água, que expressa a causa material da origem do universo. Soma ( )
d) imobilidade, que sustenta a existência do ser atemporal.
e) átomo, que explica o surgimento dos entes. Complementares
2. C1:H2 (Enem-2015) A filosofia grega parece começar com 1. (UEG) A cultura grega marca a origem da civilização ocidental e
uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem ainda hoje podemos observar sua influência nas ciências, nas artes,
e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário na política e na ética. Dentre os legados da cultura grega para o
deter-nos nela e leva-la a sério? Sim, e por três razões: Ocidente, destaca-se a ideia de que 
em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a a) a natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e
origem das coisas; em segundo lugar, porque nela, embora apenas universais que podem ser plenamente conhecidos pelo nosso
em estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um. pensamento. 
NIETZSCHE, Friedrich. Crítica moderna. In: Os pré- b) nosso pensamento também opera obedecendo a emoções e
socráticos. São Paulo: Nova Cultural: 1999. sentimentos alheios à razão, mas que nos ajudam a distinguir
O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da o verdadeiro do falso. 
filosofia entre os gregos? c) as práticas humanas, a ação moral, política, as técnicas e as
a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elemen- artes dependem do destino, o que negaria a existência de
tos sensíveis em verdades racionais. uma vontade livre. 
b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres d) as ações humanas escapam ao controle da razão, uma vez que
e das coisas. agimos obedecendo aos instintos como mostra hoje a psicanálise. 
c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira 2. (UnB) No início do século XX, estudiosos esforçaram-se em mostrar
das coisas existentes. a continuidade, na Grécia Antiga, entre mito e filosofia, opondo-se
d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre a teses anteriores, que advogavam a descontinuidade entre ambos.
as coisas. A continuidade entre mito e filosofia, no entanto, não foi enten-
dida univocamente. Alguns estudiosos, como Cornford e Jaeger,
e) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o
consideraram que as perguntas acerca da origem do mundo e
que existe no real.
das coisas haviam sido respondidas pelos mitos e pela filosofia
3. C1:H1 (UFU-2015) Em nós, manifesta-se sempre uma e a mesma nascente, dado que os primeiros filósofos haviam suprimido os
coisa, vida e morte, vigília e sono, juventude e velhice. Pois a mu- aspectos antropomórficos e fantásticos dos mitos. 
dança de um dá o outro e reciprocamente. Ainda no século XX, Vernant, mesmo aceitando certa continuidade
Heráclito, fragmento 88. In: BORNHEIM, G. A. (Org.). Os filósofos entre mito e filosofia, criticou seus predecessores, ao rejeitar a ideia
pré-socráticos. São Paulo: Editora Cultrix, 1998. p. 41. de que a filosofia apenas afirmava, de outra maneira, o mesmo que
o mito. Assim, a discussão sobre a especificidade da filosofia em
Assinale a alternativa que explica o fragmento de Heráclito. relação ao mito foi retomada.
a) A oposição é a afirmação da força irracional que sustenta o Considerando o breve histórico acima, concernente à relação entre
mundo e explica a constante mudança de tudo que existe. o mito e a filosofia nascente, assinale a opção que expressa, de
b) A oposição dos contrários nada mais é que o equilíbrio das forças, forma mais adequada, essa relação na Grécia Antiga.
pois no mundo tudo é uno e constante, tudo mais é apenas ilusão. a) O mito é a expressão mais acabada da religiosidade arcaica, e a fi-
c) A mudança permite afirmar que a constância do mundo das losofia corresponde ao advento da razão liberada da religiosidade.
ideias é a única realidade, na qual as essências determinam tudo. b) O mito é uma narrativa em que a origem do mundo é apre-
d) A oposição é a confirmação de que a realidade é o eterno fluxo sentada imaginativamente, e a filosofia caracteriza-se como
de mudanças, e da tensão dos contrários nasce a harmonia e explicação racional que retoma questões presentes no mito.
a unidade do mundo. c) O mito fundamenta-se no rito, é infantil, pré-lógico e irracional,
e a filosofia, também fundamentada no rito, corresponde ao
4. C1:H3 (UEM-2015) “O nascimento da filosofia pode ser entendido
surgimento da razão na Grécia Antiga.
como o surgimento de uma nova ordem do pensamento, comple-
mentar ao mito, que era a forma de pensar dos gregos. Uma visão d) O mito descreve nascimentos sucessivos, incluída a origem do
de mundo que se formou de um conjunto de narrativas contadas ser, e a filosofia descreve a origem do ser a partir do dilema
de geração a geração [...]. Os mitos apresentavam uma religião insuperável entre caos e medida.

FIL 33

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 33 14/09/2020 12:32:28


3. (Unicentro) A passagem do Mito ao Logos na Grécia antiga foi fruto 5. (UFPE) As reflexões sobre o mundo e as relações sociais fazem parte
de um amadurecimento lento e processual. Por muito tempo, essas da construção da Filosofia, desde os seus primórdios. Na Grécia, o
duas maneiras de explicação do real conviveram sem que se tra- pensamento filosófico foi muito importante para a organização da
çasse um corte temporal mais preciso. Com base nessa afirmativa, sua sociedade e o estabelecimento de uma visão crítica de suas
é correto afirmar: manifestações culturais. Uma das figuras marcantes da Filosofia
a) O modo de vida fechado do povo grego facilitou a passagem Grega foi Parmênides, que:
do Mito ao Logos. a) defendia a concepção de um universo composto pelos quatro
b) A passagem do Mito ao Logos, na Grécia, foi responsabilidade elementos fundamentais da natureza (a água, o fogo, a terra,
dos tiranos de Siracusa. o ar) em constantes movimentos circulares.
c) A economia grega estava baseada na industrialização, e isso b) seguiu as teorias de Heráclito sobre a permanência do sagrado
facilitou a passagem do Mito ao Logos. e dos mitos, como princípios básicos da realização religiosa da
sociedade, em todos os tempos.
d) O povo grego antigo, nas viagens, se encontrava com outros
povos com as mesmas preocupações e culturas, o que contri- c) se posicionou contra as teorias políticas dos mais democratas,
buiu para a passagem do Mito ao Logos. pois achava a escravidão necessária para se explorar as riquezas
e facilitar a organização da economia.
e) A atividade comercial e as constantes viagens oportunizaram
a troca de informações/conhecimentos, a observação/assi- d) influenciou em muito o pensamento idealista da filosofia oci-
milação dos modos de vida de outros povos, contribuindo, dental, dando destaque à ideia de permanência e considerando
assim, de modo decisivo, para a construção da passagem do o movimento como uma ilusão dos sentidos. 
Mito ao Logos. e) estabeleceu orientações fundamentais para o pensamento de
Aristóteles, de quem foi mestre, articulando as bases de uma ló-
4. (Unioeste) O que há em comum entre Tales, Anaximandro e
gica dualista com a concepção de governo monárquico vitalício.
Anaxímenes de Mileto, entre Xenófanes de Colofão e Pitágoras
de Samos? “Todos esses pensadores propõem uma explicação
racional do mundo, e isso é uma reviravolta decisiva na história
do pensamento”.
(Pierre Hadot) 

Com base no texto e nos conhecimentos sobre as relações entre


mito e filosofia, seguem as seguintes proposições:
I. Os filósofos pré-socráticos são conhecidos como filósofos da
physis porque as explicações racionais do mundo por eles
produzidas apresentam não apenas o início, o princípio, mas
também o desenvolvimento e o resultado do processo pelo
qual uma coisa se constitui.
II. Os filósofos pré-socráticos não foram os primeiros a tratarem
da origem e do desenvolvimento do universo, antes deles já
existiam cosmogonias, mas estas eram de tipo mítico, des-
creviam a história do mundo como uma luta entre entidades
personificadas.
III. As explicações racionais do mundo elaboradas pelos pré-so-
cráticos seguem o mesmo esquema ternário que estruturava
as cosmogonias míticas na medida em que também propõem
uma teoria da origem do mundo, do homem e da cidade.
IV. O nascimento das explicações racionais do mundo são também
o surgimento de uma nova ordem do pensamento, comple-
mentar ao mito; em certos momentos decisivos da história da
filosofia as duas ordens de pensamento chegam a coexistir,
exemplo disso pode ser encontrado no diálogo platônico Timeu
quando, na apresentação do “mito mais verossímil”, a figura
mítica do Demiurgo é introduzida para explicar a produção
do mundo.
V. Tales de Mileto, um dos Sete Sábios, além de matemático e
físico é considerado filósofo – o fundador da filosofia, segundo
Aristóteles – porque em sua proposição “A água é a origem e
a matriz de todas as coisas” está contida a proposição “Tudo é
um”, ou seja, a representação de unidade.
Assinale a alternativa correta. 
a) As proposições III e IV estão incorretas. 
b) Somente as proposições I e II estão corretas.  GABARITO ONLINE
1. Faça o download do aplicativo SAE Questões ou qualquer aplicativo
c) Apenas a proposição IV está incorreta.  de leitura QR Code.
d) Todas as proposições estão incorretas.  2. Abra o aplicativo e aponte para o QR Code ao lado.
3. O gabarito deste módulo será exibido em sua tela.
e) Todas as proposições estão corretas. 

34 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 34 14/09/2020 12:32:29


EEEE
EEE
EEE
Sofistas e Sócrates

EEE
Do cosmos ao anthropós • Sofistas • Sócrates
Filosofia
mód. 03/08

03
Filosofia
grega
clássica:
Sócrates e
os sofistas

START

1. Leia a tirinha a seguir.

Bennet
A atividade pode ser feita
em casa ou em sala de aula,
a) O personagem da tirinha fica frente a frente consigo mesmo, mas uma parte dele não reconhece a conforme a necessida-
outra. Você acha que uma situação como essa pode acontecer no processo de autoconhecimento? de. Você pode solicitar
que alguns voluntários
Justifique sua resposta. apresentem suas respostas
e promover uma troca de
Resposta pessoal. O aluno deve considerar a possibilidade de haver um estranhamento de si no processo de ideias sobre o processo de
autoconhecimento como
autoconhecimento. Sócrates defendia.

Para o desenvolvimento
dos itens 2 e 3 organize um
debate em sala, questio-
nando o que é importante
e quais aspectos devem ser
abordados em um debate.
b) Na sua opinião, o que é necessário para iniciar o processo de autoconhecimento? Além de discutir quais téc-
nicas podem ser utilizadas
Resposta pessoal. O aluno pode mencionar alguns critérios necessários para o autoconhecimento, como buscar enten- para que seja realizado um
bom debate.
der os próprios sentimentos e pensamentos, desenvolver autoestima, estar ciente de seus desejos e das possibilida-

des de realizá-los etc.


VVV
VVV
VVV
VVVV

2. O que é mais importante: a verdade ou a validade de um argumento?


VVVVV
VV

3. Como convencer um público a aceitar determinados argumentos?

FIL 35

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 35 14/09/2020 12:32:39



Do cosmos ao anthropós
No início, a Filosofia

Frescts/W.Commons
surgiu com a busca in-
cessante por respostas
sobre a origem do mun-
do e os pré-socráticos,
os primeiros filósofos da
Antiguidade, propuse-
ram que essas respostas
poderiam ser encontra-
das na própria natureza.
Observe
Assim, eles inauguraram
Um dos fatores que in- o período que ficou co-
fluenciou essa mudança do nhecido como período
objeto de estudo da filosofia cosmológico.
foi justamente o crescimen-
to das cidades-Estado. Com Com o desenvolvi-
o aumento populacional, mento urbano crescente
começam a surgir mais e o aumento da complexi-
problemas referentes à
organização social, política e
dade das relações ­sociais,
econômica, e assim a filoso- outras questões passa-
fia passa a ser uma maneira ram a interessar os filó-
de resolver tais conflitos. sofos: como viver bem?
Qual o papel do cidadão
Glossário Deuses reunidos no Olimpo. A existência de conselhos entre os deuses demonstra como a questão dos
na pólis? Qual a melhor debates e das discussões públicas é um elemento importante para a cultura grega.
Retórica: é a arte do forma de governo? Como
discurso convincente, em elaborar um discurso apaixonado para convencer os outros sobre a ­importância de determinado
que o interlocutor deve assunto? Onde está a verdade? Quais as virtudes do bom cidadão e do bom governante?
convencer a plateia de suas
ideias, mesmo que elas Com estas e outras questões, inaugurou-se um novo período na Filosofia Antiga: o período
sejam falsas. O importante é antropológico, em que o foco de estudo não é apenas a natureza, mas o próprio ser humano em
usar bons argumentos para suas complexas formas de ser e existir; assim, nesse período, prevaleceram as discussões sobre
provocar a persuasão. ética, política, direito etc.
Os principais representantes deste período são os sofistas e Sócrates.
Observe
Os sofistas eram um grupo heterogêneo de pensadores que viajam de cidade em cidade en-
Os fundamentos da Sofística sinando aos cidadãos a arte da retórica. Foram muito criticados por toda a tradição filosófica,
podem ser assim resumidos: mas, atualmente, são vistos como parte importante no processo educativo da Grécia antiga e,
1. O interesse filosófico também, para a Filosofia, por meio dos inúmeros embates de ideias que travaram.
concentra-se no homem
e em seus problemas, o Sócrates, cidadão ateniense, figura enigmática, amado e odiado na Atenas de seu tempo, nun-
que os sofistas tiveram em ca deixou nada escrito. Tudo o que sabemos sobre ele, atualmente, se deve aos registros de seus
comum com Sócrates. alunos Platão e Xenofonte e, também, de alguns de seus críticos, como o comediante Aristófanes.
2. O conhecimento reduz-se Sócrates ficou conhecido por seu método dialógico, em que levava seus interlocutores a descobri-
à opinião e o bem, à rem-se na ignorância e a ansiarem pelo saber.
utilidade. Consequente-

Sofistas
mente, reconhece-se da
relatividade da verdade e
dos valores morais, que
mudariam segundo o lugar
e o tempo. Com a sofística, o essencial não é investigar os princípios que explicam a origem de todas as
3. Erística: habilidade em coisas, mas as dimensões que envolvem a vida humana em sociedade, como a ­retórica, a ética,
refutar e sustentar ao a política, o direito, a religião, a educação, a oratória, entre outras. Mas como se operou essa mu-
mesmo tempo teses
dança? Quem foram os sofistas?
contraditórias.
4. Oposição entre natureza e O termo sofista deriva de sophos, que significa sábio, ou ainda especialista do saber. Os sofistas
lei; na natureza, prevalece tornaram-se célebres por percorrerem as cidades educando membros da aristocracia e cobrando
o direito do mais forte. por seus ensinamentos, que em geral abordavam questões técnicas e práticas, úteis para a vida
(ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de
Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, em sociedade, abordando temas como artes, retórica e política.
2003. p. 918.)
A sofística surge em um período de conflitos sociais que tem como origem a crise da aristocra-
cia, a inserção de novos valores e costumes decorrentes do crescimento das cidades e do comér-
EM21_1_FIL_03

cio, e da ampliação da comunicação entre as cidades.

36 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 36 14/09/2020 12:32:46


Os sofistas faziam do seu saber uma profissão. Desse A sofística demonstrou que o ser humano só pode ma-
modo eles inovaram a abordagem dos problemas educati- nifestar seus pensamentos por meio da linguagem. Dessa
vos, utilizando seus ensinamentos como uma possibilida- forma, o pensamento e a linguagem, ou seja, o próprio lo-
de de ganho financeiro. Eles, como educadores, ensinavam gos, não são critérios para a verdade, pois são limitados ao
aos que estivessem dispostos a pagar, independentemen- ponto de vista de cada um. Assim, Protágoras apresenta
te de classe social, proporcionando uma maior liberdade sua grande inovação: se o pensamento se expressa por
de propagação do conhecimento. meio da linguagem, então ambos (pensamento e lingua-
Na atualidade não há registros escritos completos dos gem) só podem ser relativos àquele que pensa e fala. Ou
sofistas, portanto a maioria das informações que possuí- seja, a verdade é sempre relativa às experiências de cada
mos são as que foram transmitidas justamente por seus um. Esse é o sentido da célebre frase de Protágoras:
­adversários, como Sócrates e Platão. Sendo assim, torna-
-se mais difícil compreender os verdadeiros propósitos dos “O homem é a medida de todas as coi-
sofistas. sas, daquelas que são porque são e daque-
las que não são porque não são.”
Os sofistas são responsáveis pela relativização das ver-
dades propostas pelos pré-socráticos, demonstrando que
o ser humano não pode alcançar toda a verdade pelo lo- Com Protágoras, a verdade deixa de ser entendida
gos. Porém,  o  que  significava, afinal, dizer que a verdade como significado do saber absoluto e passa a ser percebi-
é relativa? Se não há qualquer verdade, tudo não passa de da como proveniente das experiências de cada um, de seu
opinião e visão particular desta ou daquela pessoa? Ou a modo particular de ver, interpretar e conhecer o mundo.
verdade é relativa somente a algo específico? E o que seria

Mtresk/W.Commons
esse algo? A resposta é difícil, porque nem os principais so-
fistas entraram em consenso sobre isso. Os sofistas mais
importantes foram:
●● Protágoras de Abdera (490 a.C. - 415 a.C.), cuja con-
tribuição para o conhecimento foi a relativização da
verdade.
●● Górgias (485 a.C. - 380 a.C.), proveniente de Leonti-
nos (atual Sicília, na Itália), contribuiu para inovações
na arte da retórica.

Protágoras de Abdera
Protágoras é considerado o maior dos sofistas pelos
estudiosos, e ele dedicou-se a enfrentar o problema que
se instalara na filosofia. Enquanto Parmênides defendeu
que o logos, o pensar, é a própria verdade; Heráclito negou Reprodução em alto relevo dos sofistas.
a possibilidade de o logos poder captar o ser, pois a lingua-
Ora, se não há verdade absoluta, e tudo é relativo ao
gem jamais conseguiria dizer o que uma coisa é. Criou-se,
ser humano, o cidadão grego entenderá que é mais impor-
assim, um dilema: afinal, é possível conhecer a verdade?
tante buscar a utilidade das coisas do que suas essências.
Qamnjk/W.Commons

Essa busca pela utilidade será revelada na própria pala-


vra. A palavra pode não exprimir verdade, mas certamente
pode se tornar um elemento fundamental na vida política:
o discurso bem fundamentado será o critério para definir
a verdade. Os sofistas defendem que em uma discussão
será considerada verdadeira aquela opinião que vencer o
debate de ideias, independente de ela ser verdadeira ou
falsa. Dessa forma, o indivíduo que desenvolver a melhor
argumentação acabará por estabelecer a verdade.
Essa elevação da arte retórica contribuiu com o desen-
volvimento da democracia na Grécia Antiga. A preocupa-
ção com o discurso e com as técnicas de argumentação,
aliada ao espírito crítico propagado por esses filósofos,
repercutiu na vida social e política da pólis (cada vez mais
urbana), e com o povo cada vez mais buscando conquistar
e realizar sua autonomia. A retórica sofística seduziu so-
O sofista Protágoras nasceu em Abdera, viajou para várias
EM21_1_FIL_03

cidades gregas e alcançou grande prestígio em Atenas.


bretudo os jovens, pois foi elemento importantíssimo para
todos aqueles que desejavam seguir uma carreira política,
nas assembleias e nos tribunais, onde a defesa da própria

FIL 37

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 37 14/09/2020 12:32:48



Górgias
opinião contra os argumentos alheios valia
tanto ou mais do que uma busca por princípios
verdadeiros.
Outro sofista de destaque foi Górgias, con-
O relativismo da verdade, por consequên- siderado o maior orador da Grécia, conhecido
Glossário cia, conduzirá ao relativismo moral. por trazer a arte retórica da Sicília para Atenas.
Niilismo: ponto de vista que Os sofistas partem da ideia de que a verda- Escreveu diversas obras, que chegaram até os
considera que as crenças de é relativa. Sendo a verdade relativa, a moral dias de hoje, como Encômio e Defesa.
e os valores tradicionais
são infundados e que não
também o será, afinal se não existe uma ver- Em seus ensinamentos, Górgias enfatizava
há qualquer sentido ou dade absoluta, não é possível que exista um o uso da persuasão absurda, ou seja, para ele,
utilidade na existência. critério que determine totalmente a moral; a as palavras tinham a força dos deuses e cau-
Paradoxo: pensamento, partir desse pensamento, os sofistas afirmam savam impactos físicos na plateia, na medida
proposição ou argumento que o critério que define o que é certo e o que em que provocavam fortes emoções. Por isso,
que contraria os princípios é errado deriva de convenções estabelecidas
básicos e gerais que costu- ensinava técnicas de oratória que beiravam a
mam orientar o pensamento pelo ser humano. teatralidade.
humano, ou desafia a Para alguns sofistas, como Protágoras, Concordou com o relativismo de Protágoras
opinião compartilhada existe uma verdade natural, e assim também
pela maioria. ao afirmar “as coisas que são para mim, são
uma moral natural. Porém, as leis e os costu- para mim, as coisas que são para ti, são para
mes seguidos, em geral, não se baseavam nes- ti”. Outra característica importante de Górgias
sa verdade natural, mas apenas em criações é o niilismo de suas ideias. Ele negava a pos-
humanas, convenções sociais que os seres hu- sibilidade de conhecer o ser, afirmando: “O ser
manos julgavam necessárias. Apesar de serem não existe; se existisse, não pode ser reconheci-
convenções, poderiam ser mudadas a qual- do; mesmo que fosse conhecido, não poderia ser
Biografia quer momento. comunicado a ninguém”. Costumava defender
Cícero (106  - 43 a.C.) foi O relativismo dos sofistas foi amplamente ideias absurdas e impopulares e ficou conheci-
um importante filósofo, criticado por Sócrates, o maior expoente do do como um mestre dos paradoxos.
linguista, tradutor e político
romano. Estudioso da filo-
período antropológico. Foi imortalizado pelo diálogo platônico
sofia grega, entre outros tra- que leva o seu nome, em que ele discute com
balhos foi responsável pela Sócrates a função e a importância da retórica.

Sócrates
criação de um vocabulário
filosófico em latim.

Nascido em 469 a.C. na cidade de Atenas,


Anton_Ivanov/Shutterstock

Sócrates foi emblemático para a história do


pensamento ocidental. Como Cícero diria mais
tarde, ele é o homem que trouxe a filosofia do
céu para a terra. A afirmação de Cícero tem
uma razão: antes do ateniense, os filósofos
investigavam a natureza, em busca dos princí-
pios que explicassem todas as coisas. Sócrates,
por sua vez, dedicou-se a entender como a
vida humana funcionava em sociedade: quais
eram os princípios que norteavam as ações hu-
manas, quais eram as virtudes e os vícios das
pessoas, a participação política do cidadão na
Ruínas do templo de Delfos, aonde as pessoas se dirigiam para consultar o Oráculo. pólis, bem como questões relacionadas com o
conhecimento. Ele divulgou a famosa inscrição
do portal do Oráculo de Delfos: “conhece-te a ti mesmo”, e a transforma no norte de sua filosofia:
Observe filosofar é ajudar o ser humano no processo de autoconhecimento. Tendo em vista essa necessi-
dade, a ética passa a ocupar lugar central em seu pensamento.
A ética é a disciplina da Fi-
losofia que estuda as ações
humanas. Por que o ser hu-
mano faz determinadas coi- [...] Sócrates teria sido um homem de caráter e inteligência singulares, imbuído de paixão pela honesti-
sas? Por que o ser humano dade intelectual e de rara integridade moral, em sua época ou em qualquer outra. Com insistência, buscava
vive em sociedade? O que respostas para perguntas que jamais haviam sido feitas, procurava derrubar pressupostos e crenças conven-
devemos fazer para viver cionais para provocar uma reflexão mais cuidadosa sobre as questões éticas; incansavelmente, forçava a si
bem com outras pessoas? O
que motiva o ser humano a próprio e a seus interlocutores a buscar um entendimento mais profundo sobre o que constituísse uma vida
realizar qualquer ação? boa. Suas palavras e feitos incorporavam a permanente convicção de que a autocritica libertaria a mente
EM21_1_FIL_03

EM21_1_FIL_03

A ética é prática – busca en- humana das cadeias da falsa opinião.


tender o ser humano como
ser vivente em sociedade.
(TARNAS, Richard. A epopeia do pensamento ocidental: para compreender as ideias que
moldaram nossa visão de mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. p. 47.)

38 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 38 14/09/2020 12:32:51



Antes de construir sua própria filosofia, re- A natureza de seus questionamentos en- Glossário
gistros mostram que Sócrates estudou a filo- cantou os jovens atenienses. Questões como: o
Método dialético: é o
sofia da natureza até os seus 30 anos, e a par- conceito de justiça, o valor da religião, a virtude
método utilizado por
tir dessa idade começou a se sentir insatisfeito e a verdade, eram debatidas em seus diálogos. Sócrates para provocar
com a respostas trazidas por ela. No entanto, Sócrates despertou inveja e o autoconhecimento do
Platão usa Sócrates como protagonista na raiva as autoridades políticas, o que acarretou interlocutor. O objetivo
é interrogar o outro com
maioria de seus diálogos. Porém, o Sócrates a abertura de um processo judicial contra o fi- várias perguntas até que o
que aparece nos primeiros diálogos escritos lósofo, concluído com a sua condenação à interlocutor consiga extrair
por Platão não é o mesmo Sócrates dos diálo- morte em 399 a.C. de si o ­conhecimento.
gos posteriores.

Dertmond/W.Commons
O Sócrates dos primeiros diálogos é “real”,
pois tratam-se de relatos verdadeiros de episó-
dios envolvendo Sócrates que o jovem Platão
anotou e transformou em livro, para difundir
a filosofia do seu mestre. Contudo, posterior-
mente, Platão amadureceu intelectualmente,
passando a conceber suas próprias ideias.
Nesses diálogos não está o Sócrates “real”, mas
o “personagem” Sócrates, que Platão utiliza
para apresentar sua própria filosofia.
Sócrates era conhecido por participar de
discussões em praça pública, abordando ques-
tões morais, políticas e epistemológicas. Seu
gosto pelos questionamentos tinha por obje-
tivo não só chegar à verdade, mas também au-
xiliar o interlocutor a mudar sua forma de pen-
sar e ver o mundo com outros olhos. Para isto
utilizava-se do método ­dialético, que por sua A Morte de Sócrates, de Hernandéz (1872). Sócrates foi condenado à morte por ingestão de cicuta, uma planta muito
venenosa. Um de seus discípulos armou um plano para que o mestre pudesse escapar, mas este recusou a proposta.
vez consistia na utilização de duas técnicas: a Sócrates acreditava que se fugisse e desrespeitasse a lei, estaria indo contra tudo o que havia defendido na sua
ironia e a maiêutica. filosofia, e sua vida teria sido em vão.

A ironia é utilizada por Sócrates por meio


O processo contra Sócrates foi eterniza-

Pedro Americo/W.Commons
de um jogo de perguntas pelo qual ele leva o
do ao ser registrado numa sequência de qua-
interlocutor a se contradizer, a compreender
tro diálogos escritos por Platão: Eutífron, que
que na verdade ignora aquilo que pensa saber
traz uma discussão sobre o valor da religião
e, desse modo, aceitar que não possui o co-
e o sentido da religiosidade, pois Sócrates era
nhecimento sobre o assunto. Sócrates sempre
acusado de não acreditar nos deuses gregos
inicia o diálogo fingindo não conhecer profun-
e introduzir divindades novas; Apologia de
damente o tema que quer analisar e engrande-
Sócrates, que apresenta a sua defesa perante
cendo a capacidade do interlocutor (por isso a
o Tribunal Ateniense diante das acusações que
ironia). Ao fingir não saber, Sócrates exige que
lhe foram feitas; Críton, que se desenrola entre
o interlocutor exponha sua opinião sobre de-
o julgamento e sua condenação, quando um
terminado tema.
amigo lhe procura dizendo que possui meios
O reconhecimento de não saber profunda- para tirá-lo clandestinamente de lá e assim sal-
mente o assunto tratado é o primeiro passo vá-lo da morte (proposta veementemente re-
iniciar a busca pelo conhecimento. Daí surge a Sócrates afasta Alcebíades do vício, de
cusada pelo filósofo); e Fédon, que traz o último Américo (1861).
célebre expressão socrática “só sei que nada diálogo antes de sua morte.
sei”, pois saber que não conhece é a primeira

Alma e autoconhecimento
coisa que se deve compreender.

em Sócrates
A maiêutica é o processo de questionamen-
tos pelo qual Sócrates conduz o interlocutor a
extrair de si mesmo o conhecimento, e encon-
Com Sócrates, surge uma nova visão e um
trar a verdade. Por meio da maiêutica, Sócrates
novo conceito para uma palavra que já era uti-
procura levar as pessoas a descobrirem os co-
lizada por vários poetas e escritores, a psyché,
nhecimentos que já possuem dentro de si, os Glossário
termo grego que traduzimos por “alma”. Desde
quais precisam apenas ser “despertos”, trazi-
Homero, passando pelos órficos, pelos físicos Órfico: relativo a Orfeu.
dos a luz. A maiêutica também ficou conhecida
e poetas, tem-se um significado para a palavra
como “parto das ideias”, visto que esse método
EM21_1_FIL_03

EM21_1_FIL_03

“alma”, porém sempre era um elemento inde-


faz os indivíduos trazerem à tona as verdades
finido. Para Sócrates, a alma é a melhor parte
presentes em seu interior por meio de inces-
do ser humano, ou seja, é o que o diferencia de
santes interrogações.
todos os outros seres.
A figura de Sócrates logo se tornou muito
popular.

FIL 39

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 39 14/09/2020 12:32:54



A obra se passa no encontro entre Eutífron,
Para o filósofo, “a alma coincide com a nossa que estava prestes a acusar seu pai por homi-
consciência pensante e operante, com a nossa cídio, e Sócrates, acusado de impiedade.
razão e com a sede da nossa atividade pensante Sócrates surpreende-se com Eutífron, por
e eticamente operante. [...] a alma é o eu cons- este ter movido uma ação contra alguém da
ciente, é a personalidade intelectual e moral.” própria família. Eutífron iria acusar seu pai de
ter assassinado um estrangeiro, devido a este
ter matado um dos criados da família. O jovem
(REALE, Giovanni. História da Filosofia
Eutífron afirma que fez isso por ser piedoso
Antiga. São Paulo: Loyola, 2002. p. 258.)
com os deuses, já que para os deuses não há
Percebe-se que a alma para diferença entre matar um estranho ou alguém
Ftresou/W.Commons

Sócrates está muito mais ligada à da família. Ambos são atos injustos e que de-
consciência, do que a uma concep- vem ser punidos.
ção religiosa, como a que usamos
Eutífron complementa que ser piedoso é
para “espírito”.
aquilo que agrada aos deuses e aos homens, e
A ideia de Sócrates é de que ímpio é o contrário.
a alma é a parte divina no ser hu-
Sócrates discorda, utilizando como exem-
mano, devendo ser cultivada a par-
plo a Ilíada, em que uma mesma ação pode
tir do conhecimento e da verdade.
agradar a um deus e desagradar a outro. Prova
Segundo o autor Werner Jaeger,
disso é que alguns deuses apoiavam os gregos
corpo e alma devem ser entendi-
e outros os troianos. Logo, como podemos di-
dos “como dois aspectos distin-
zer que podemos agradar aos deuses se nem
tos da mesma natureza humana”.
eles são unânimes naquilo que lhes agrada?
Nesses “aspectos distintos” surge a

234889/W.Commons
Mosaico romano que retrata animais ouvindo o ordem de valores apresentada por
personagem mitológico Orfeu. Existe a lenda de que Sócrates, na qual a alma aparece no
Orfeu retornou do Hades e depois teria fundado um
movimento chamado orfismo. É do orfismo que vem grau mais elevado e esta deve domi-
uma das principais concepções gregas sobre a alma,
o que influenciaria o pensamento filosófico posterior, nar o corpo. Portanto, a alma liga-se
sobretudo em Sócrates. ao corpo, mas é superior a ele.
A filosofia de Sócrates é a filosofia do au-
toconhecimento, que é o mesmo que dizer
“conhecimento da alma”. Por isso, afirma-se
que Sócrates trouxe definitivamente a filoso-
fia para dentro do ser humano. Ainda que os
sofistas tenham inaugurado o período antro-
pológico na filosofia, não buscaram entender o
ser humano individual, a alma, mas apenas os
seres humanos em geral, em suas relações so-
ciais, políticas etc. Para Sócrates, não há como
discutir justiça, virtude, política, sem antes co-
nhecer a si mesmo.
Esse novo sentido dado por Cena de Ilíada, em que Aquiles carrega o corpo de Heitor. Sócrates

Julgamento e condenação
Sócrates para o vocábulo utiliza essa obra homérica para demonstrar que os deuses não têm a
“alma” fará com que o mesma opinião sobre o valor das coisas. Desse modo, o que é piedade
termo seja amplamente para um pode não ser para outro.
usado pelas religiões e se
popularize. de Sócrates Disso decorre uma crítica importantíssima
de Sócrates à religião grega, que era retratar os
Platão escreveu diálogos que abordavam deuses como antropomorfos, ou seja, em for-
o julgamento, a condenação e a morte de mas humanas. Para Sócrates, isso significava
Sócrates, três deles serão abordados a seguir. rebaixar uma divindade à imperfeição huma-
na. Por esse motivo, ele recebeu a acusação de
Eutífron impiedade, conforme ele mesmo apresenta:

A obra Eutífron permite entender o porquê


Glossário de Sócrates ter sido processado e condenado, Não será essa, Eutífron, a razão pela qual eu
pois tudo gira em torno da acusação de impie- sou acusado: por que, sempre que alguém diz
Impiedade: descrença, dade, já que para alguns o filósofo era ateu e tais coisas sobre os deuses, eu as aceito com
irreligiosidade. dificuldade?
corrompia os jovens a não venerar os deuses
do panteão grego.
EM21_1_FIL_03

EM21_1_FIL_03

(PLATÃO. Eutífron, apologia de Sócrates, Críton.


4. ed. Tradução de: SANTOS, José Trindade. Lisboa:
Imprensa nacional – casa da moeda, 1983.)

40 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 40 14/09/2020 12:32:58



De certa forma, Eutífron representa a opi- mundo, dos seres humanos, dos deuses, da Glossário
nião geral dos gregos da época, que seria viver vida. Assim, aquele que sabe que não sabe é
conforme aquilo que mandam fazer os deuses certamente mais sábio que aqueles que nada Célebre: conhecido ou
comentado por muitos;
por meio dos velhos mitos e histórias. sabem e ignoram que não sabem nada. Essa que tem grande fama (caso
Durante o diálogo, Sócrates rebate as opi- é a explicação da célebre frase: “Só sei que célebre; artista célebre); afa-
niões de Eutífron, que ao final sente que fra- nada sei”. Para Sócrates, essa sua sabedoria mado; famigerado; famosos.
é o que despertava ódio em tantos ilustres de Distinto por suas qualidades
cassa e se despede, deixando a questão ina- louváveis; ilustre.
cabada e o filósofo frustrado. Sócrates levanta seu tempo.
a hipótese de que as pessoas sentem-se ame-

Versátil Home Video


drontadas a pôr à prova a própria concepção
do que pensam estar correto:

Que fazes, companheiro? Vais-te embora,


derrubando-me da minha grande esperança?
Como aprenderei contigo o que são e o que não
são as coisas piedosas? Como me irei livrar de
Meleto? Como mostrarei àquele que, junto de
Eutífron, me tornei sábio nas coisas divinas e
que, nem por ignorância improviso, nem ino-
vo acerca das divindades, mas que viverei uma
outra vida melhor?

(PLATÃO. Eutífron, apologia de Sócrates, Críton.


4. ed. Tradução de: SANTOS, José Trindade. Lisboa:
Imprensa nacional – casa da moeda, 1983.)

Essa frase é emblemática, pois o poeta


Meleto é justamente um dos acusadores de
Sócrates. A fuga de Eutífron pode muito bem Cena do filme Sócrates, que mostra o julgamento do filósofo perante a cidade de Atenas. Sócrates aparece no canto
inferior esquerdo.
simbolizar a fuga da população em geral em
refletir acerca daquilo que Sócrates trouxe so- Em seguida, inicia-se a defesa sobre a prin-
bre os deuses. Em geral, as pessoas temem a cipal acusação, a de que Sócrates seria injusto
novidade e preferem permanecer nos hábitos por corromper os jovens ao negar a existência
e costumes de sempre. dos deuses e de tentar criar novas divindades.
Sócrates carregava uma ideia profunda Sócrates fez Meleto se contradizer, pois se
acerca de Deus, uma ideia que ainda não havia alguém acredita em deuses, ainda que sejam
surgido no mundo grego, a de um Deus puro, outros, não pode ser ateu.
perfeito e que se encontra no íntimo de cada
Porém, Sócrates percebeu que não con-
um, em uma parte divina: a alma. Porém, tal
seguia dissuadir os juízes da sua condenação,
concepção de Deus não era corroborada pela
o que de fato aconteceu, com um total de
opinião geral dos gregos de seu tempo, e por
280 votos por sua condenação e 230 por sua
isso Sócrates acabou condenado.
absolvição.
Sócrates deixou o tribunal, com as seguin-
Apologia de Sócrates tes palavras:
A obra Apologia de Sócrates (escrita por
Platão) traz o embate entre a sua defesa e a
É já tempo de partir – eu para morrer e vós
acusação de seus adversários. O centro da
para viver – qual de nós terá a melhor sorte, só
obra é a acusação de Sócrates não acreditar
o deus pode vê-lo com clareza.
nos deuses e, assim, corromper os jovens a fa-
zer o mesmo.
Sócrates inicia sua defesa lembrando uma (PLATÃO. Eutífron, apologia de Sócrates, Críton.
4. ed. Tradução de: SANTOS, José Trindade. Lisboa:
frase do Oráculo de Delfos. O Oráculo havia Imprensa nacional – casa da moeda, 1983.)
afirmado que Sócrates era o homem mais
sábio de todos. Para Sócrates, a sentença do A impressão que permanece é que Sócrates
Oráculo possui relação com o fato de ele re- entendeu ser inútil continuar lutando, pois as
EM21_1_FIL_03

EM21_1_FIL_03

conhecer que não sabe, enquanto os outros pessoas estavam resolvidas a condená-lo, as-
pensam que sabem alguma coisa. Ora, pen- sim poderia calar as verdades que vinha tra-
sam, mas na verdade nada sabem acerca do zendo ao público.

FIL 41

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 41 14/09/2020 12:33:00



Filmes Essa postura de resignação de Sócrates pode ser melhor entendida em outro diálogo, Críton,
que ocorre na prisão enquanto o filósofo espera o seu dia final.
LUCE

Georgios Kollidas/Shutterstock
Sócrates
Ano: 1971
Diretor: Roberto Rossellini
Retrata os grandes momen-
tos da vida de Sócrates,
desde os seus ensinamentos
nas ruas de Atenas até a
sua condenação à morte
por ingestão da cicuta. O
consagrado diretor Roberto
Rossellini capta de maneira
envolvente o cenário de
Atenas da época e reproduz
Morte de Sócrates, ilustração publicada na Revista Pittoresque em 1840, Paris.
com maestria a maiêutica
e a ironia de Sócrates. Ex-
celente para se familiarizar
com o autor.
Críton
Críton é um amigo de Sócrates que o visitou na prisão para explicar que elaborou um plano
United Artists

que permitiria ao filósofo fugir daquele local.


Críton procurou convencer Sócrates de que não era justo o filósofo continuar preso enquanto
poderia se salvar. Ele preocupava-se com o que a sociedade ateniense pensaria do caso, afirman-
do que os atenienses julgariam a questão de Sócrates como algo conduzido com falta de coragem.
Para Críton, a condenação de Sócrates era injusta, logo não seria injusta a fuga da condenação.
Sócrates trouxe a ideia de que não importa apenas viver, mas viver bem, o que seria igual a
Doze homens e uma
viver com honra e justiça, coisa que não aconteceria com o filósofo se este fugisse da sua conde-
sentença
nação. Iniciou-se, assim, uma discussão se o fato de tentar a escapatória seria justo ou injusto,
Ano: 1957
falando sobre as leis e o Estado. Deixando Críton sem falas, Sócrates terminou o diálogo descre-
Diretor: Sidney Lumet
vendo que a voz em sua mente, a voz da lei lembrava-lhe que:
Um homem está sendo
julgado pelo suposto as-
sassinato de seu pai. Quase
todos os jurados estão Se fugires, retribuindo assim o mal com o mal, e fazendo-o por tua vez, violando acordos e tratados que
inclinados a condená-lo, fizeste conosco, fazendo mal a esses a quem menos devia fazer, a ti próprio e aos amigos, à pátria e a nós,
exceto um, que acha que o nós te tornaremos a vida dura, e além, as nossas irmãs, no Hades, não te receberão bem, vendo que, por ti,
réu é inocente. Este então intentaste destruir-nos.
empreenderá uma batalha,
valendo-se da retórica e dos
instrumentos linguísticos (PLATÃO. Eutífron, apologia de Sócrates, Críton. 4. ed. Tradução de: SANTOS, José
para tentar provar a verdade Trindade. Lisboa: Imprensa nacional – casa da moeda, 1983.)
em que ele acredita. Assim
como Sócrates, que pro- Esse diálogo é dos mais enigmáticos, pois Sócrates argumenta que não se deve retribuir a
curou fazer com que seus injustiça da sua condenação com uma injustiça que seria a sua fuga. Se Sócrates traísse suas
ouvintes encontrassem a
próprias palavras, toda a sua filosofia seria desvalorizada. Fugindo, até conseguiria viver, mas o
verdade dos fatos por meio
da contradição, o persona- esforço de sua vida inteira teria sido desfeito por apenas um ato. Se aceitasse a condenação, em
gem principal deste filme algum momento toda essa história seria revisada, e Sócrates parecia saber que suas palavras
tem a tarefa semelhante de influenciariam muitas pessoas no futuro.
convencer 11 jurados de que
eles estão errados.
EM21_1_FIL_03

A morte de Sócrates, de Jacques-


-Louis David (1787).

42 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 42 14/09/2020 12:33:10


FILOSOFIA E SOCIEDADE


Leia o texto e realize a atividade.

Os sofistas surgem exatamente nesse momento de passagem da tirania e da oligarquia para a democracia.
São mestres da retórica e da oratória, muitas vezes mestres itinerantes, que percorrem as cidades-Estado
fornecendo seus ensinamentos, sua técnica, suas habilidades aos governantes e aos políticos em geral. Em- Essa atividade deve ser
realizada em casa, com um
bora sem formar uma escola ou grupo homogêneo, o que os caracteriza é muito mais uma prática ou uma prazo estabelecido para a
atitude comuns do que uma doutrina única. Há portanto uma paideia, um ensinamento, uma formação pela entrega. Orientar os alunos
a escolherem as propagan-
qual os sofistas foram responsáveis, consistindo basicamente numa determinada forma de preparação do das que sejam do interesse
cidadão para a participação na vida política. Sua função nesse contexto foi importantíssima e sua influência deles para realizar a análise.
muito grande, o que se reflete na forte oposição que sofreram por parte de Sócrates, Platão e Aristóteles. Os As questões propostas no
item b servem para orientar
sofistas foram portanto filósofos e educadores, além de mestres de retórica e oratória, embora esse papel a análise do aluno, podendo
lhes seja negado, p.ex. por Platão. ser ampliada a seu critério.
O importante é que os alu-
nos observem os recursos
gráficos, visuais e textuais
(MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 42.) em busca dos argumentos
utilizados na propaganda. Às
1. Os sofistas foram muito criticados pelos filósofos porque cobravam pagamento em troca de suas aulas e, vezes, o texto não é explíci-
também, porque eles não se preocupavam em buscar a verdade e o conhecimento, mas sim em estabelecer to, mas elementos gráficos,
como imagens, desenhos
um discurso convincente e persuasivo, conhecido como arte retórica. Na retórica, não havia o compromisso e efeitos visuais deixam
com a verdade do que é dito, mas com a validade do argumento. implícitos vários elemen-
Na atualidade, temos contato com diversos discursos persuasivos, cuja finalidade é convencer o interlocutor tos persuasivos. Havendo
de uma ideia. Um grande exemplo disso é a propaganda, cuja finalidade é convencer o consumidor de que possibilidade, essa atividade
pode ser complementada
o produto anunciado é o melhor do mercado, oferecendo várias razões interessantes para comprovar essa com uma segunda parte
ideia. Siga o roteiro para realizar uma pesquisa. voltada ao consumo e con-
a) Escolha, em revistas, jornais ou internet, uma propaganda de um produto que você tem interesse em sumismo, trazendo questões
sobre o modo de vida da
adquirir. Recorte ou imprima o anúncio e cole-o no caderno. atualidade. O texto argu-
b) Responda às questões a seguir. mentativo não precisa ter
compromisso com a verdade
•• Qual produto anunciado na propaganda você escolheu? (mas deve ser verossímil),
mas com a validade do
argumento, como na arte
retórica. Os alunos devem
•• Quais argumentos utilizados tornam a propaganda atraente? oferecer outras razões para
aquele ser o melhor produto
do mercado. A produção
escrita deve ser entregue na
data estipulada e pode fazer
•• O que mais chamou sua atenção na propaganda? parte da avaliação do aluno.

Boguslaw Mazur/Shutterstock
c) Escreva um texto argumentativo de 10 linhas complementando a propaganda com outros atributos
interessantes do produto anunciado e por que ele é o melhor do mercado em sua categoria. Lem-
bre-se: utilize-se das estratégias da retórica para construir seus argumentos.
EM21_1_FIL_03

FIL 43

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 43 14/09/2020 12:33:12


Resolvidos Praticando
1. (UFF-2011) A Apologia de Sócrates é o relato da defesa de Sócrates, 1. (UFU) O diálogo socrático de Platão é obra baseada em um sucesso
escrito pelo seu discípulo, Platão, diante do tribunal de Atenas. Um histórico: no fato de Sócrates ministrar os seus ensinamentos sob
dos assuntos abordados nessa obra é a relação entre ignorância e a forma de perguntas e respostas. Sócrates considerava o diálogo
conhecimento. Sócrates sentiu-se constrangido quando o oráculo como a forma por excelência do exercício filosófico e o único
de Delfos o proclamou como o “mais sábio de todos os homens”, já caminho para chegarmos a alguma verdade legítima. De acordo
que ele se achava, ao contrário, muito pouco sábio. Mas, ao con- com a doutrina socrática,
versar com pessoas que atribuíam a si mesmas muita sabedoria, a) a busca pela essência do bem está vinculada a uma visão
e ao constatar que elas eram tão ou mais ignorantes que ele, con- antropocêntrica da filosofia.
cluiu que devia ser mesmo o mais sábio, pois, ao menos, ele tinha
b) é a natureza, o cosmos, a base firme da especulação filosófica.
consciência de sua própria ignorância. Comente a declaração de
Sócrates de que a pior ignorância é não ter consciência dela e de c) o exame antropológico deriva da impossibilidade do autoco-
que o primeiro passo no caminho do conhecimento é reconhecer nhecimento e é, portanto, de natureza sofística.
a própria ignorância. d) a impossibilidade de responder (aporia) aos dilemas humanos
99 Resolução: é sanada pelo homem, medida de todas as coisas.
O enunciado desta questão, com base na Apologia de Sócrates, 99 Anotações:
de Platão, está concentrado no tema da busca pelo conhecimento A importância da figura de Sócrates para a filosofia é justamente por ter sido
propriamente dito. Assim, há diversas alternativas de respostas: o
estudante poderá fazer o relato da narrativa e exposição de Sócrates, aquele que fez com que o pensamento se direcionasse a ele mesmo.
poderá apontar suas consequências para a concepção de conheci- 2. (UFU-MG) Leia o trecho abaixo, que se encontra na Apologia de
mento associada a Sócrates e/ou a Platão, como poderá desenvolver Sócrates de Platão e traz algumas das concepções filosóficas de-
reflexões sobre o tema em geral, sem estar preso ao contexto doutri- fendidas pelo seu mestre.
nário e histórico da filosofia grega, cabendo perfeitamente aplicar
Com efeito, senhores, temer a morte é o mesmo que se supor sábio
esta reflexão ao mundo contemporâneo.
quem não o é, porque é supor que sabe o que não sabe. Ninguém
2. (UEM) Sócrates representa um marco importante da história da sabe o que é a morte, nem se, porventura, será para o homem o
filosofia; enquanto a filosofia pré-socrática se preocupava com o maior dos bens; todos a temem, como se soubessem ser ela o maior
conhecimento da natureza (physis), Sócrates procura o conheci- dos males. A ignorância mais condenável não é essa de supor saber
mento indagando o homem. Assinale o que for correto. o que não se sabe?
Platão, A Apologia de Sócrates, 29 a-b, In. HADOT, P. O que é
(1) Sócrates, para não ser condenado à morte, negou, diante a Filosofia Antiga? São Paulo: Ed. Loyola, 1999, p. 61.
dos seus juízes, os princípios éticos da sua filosofia.
(2) Discípulo de Sócrates, Platão utilizou, como protagonista da Com base no trecho acima e na filosofia de Sócrates, assinale a
maior parte de seus diálogos, o seu mestre. alternativa incorreta.
(3) O método socrático compõe-se de duas partes: a maiêutica a) Sócrates prefere a morte a ter que renunciar a sua missão, qual
e a ironia. seja: buscar, por meio da filosofia, a verdade, para além da mera
aparência do saber.
(4) Tal como os sofistas, Sócrates costumava cobrar dinheiro
pelos seus ensinamentos. b) Sócrates leva o seu interlocutor a examinar-se, fazendo-o tomar
consciência das contradições que traz consigo.
(5) Sócrates, ao afirmar que só sabia que nada sabia, queria,
com isso, sinalizar a necessidade de adotar uma nova atitu- c) Para Sócrates, pior do que a morte é admitir aos outros que
de diante do conhecimento. nada se sabe. Deve-se evitar a ignorância a todo custo, ainda
que defendendo uma opinião não devidamente examinada.
Soma (  )
d) Para Sócrates, o verdadeiro sábio é aquele que, colocado
99 Resolução:
diante da própria ignorância, admite que nada sabe. Admitir
(22) 02 + 04 + 16. o não-saber, quando não se sabe, define o sábio, segundo a
(01) Incorreta. Sócrates morreu justamente por defender os seus princí- concepção socrática.
pios, pois, para ele, era preferível “sofrer uma injustiça do que praticá-la”. 99 Anotações:
(02) Correta. Platão é o discípulo de Sócrates mais famoso, por causa Para Sócrates, a morte não é o maior dos males. O que prejudica uma vida
de seus diálogos. Outro discípulo de Sócrates que registrou por escrito
a vivência com o mestre foi Xenofonte. feliz e saudável é viver na ignorância, sem buscar o verdadeiro saber.
(04) Correto. O método dialético, na concepção socrática, possui 3. (Unicamp) A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no
duas etapas: a maiêutica, que consiste em levar os interlocutores a século V a.C., encontra o seu ponto de partida na afirmação “sei que
dar à luz as ideias (parto de ideias); e a ironia, que leva o interlocutor nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase foi uma
a reconhecer a própria ignorância, conduzindo-o ao conhecimento. resposta aos que afirmavam que ele era o mais sábio dos homens.
(08) Incorreto. A maior crítica dirigida aos sofistas é justamente a Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou à
acusação de serem interesseiros por cobrarem de seus alunos. Sócrates, conclusão de que ele se diferenciava dos demais por reconhecer a
ao contrário, dialogava com as pessoas no espaço público da pólis sua própria ignorância. O “sei que nada sei” é um ponto de partida
ateniense, sem cobrar nada. para a Filosofia, pois 
(16) Correta . Reconhecer a própria ignorância, para Sócrates, significa a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio
o início do aprendizado. por querer adquirir conhecimentos. 
b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do
passado, uma vez que a função da Filosofia era reproduzir os
ensinamentos dos filósofos gregos. 

44 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 44 14/09/2020 12:33:12


c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o c) contribuíram para o fortalecimento do sistema monárquico,
saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos visto que idealizaram um sistema de leis que beneficiou am-
rigorosos.  plamente a aristocracia rural, principalmente nas cidades de
d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante Tebas e Atenas. 
dos problemas concretos, preocupando-se apenas com causas d) foram perseguidos e condenados à morte, uma vez que prega-
abstratas.  vam o monoteísmo e questionavam qualquer tipo de Estado,
99 Anotações:
de lei e de autoridade sobre os homens. 
e) exerceram grande influência sobre os legisladores gregos, que
A busca pelo conhecimento é primordial na filosofia. Sócrates defendeu a adotaram medidas drásticas para a unificação do poder político
ideia de que reconhecer que nada sabe é o primeiro passo para prosseguir e para o desaparecimento das cidades-estado. 
nessa busca.
2. C1:H1(Enem-2017) Uma conversação de tal natureza
4. (UFU) Há um abismo imenso que separa esta escala de valores que
transforma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e
Sócrates proclama com tanta evidência e a escala popular vigente
embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à
entre os gregos e expressa na famosa canção báquica antiga:
atenção uma direção incomum: os temperamentais,
O bem supremo do mortal é a saúde; como Alcibíades, sabem que encontrarão junto dele todo o bem
O segundo, a formosura do corpo; de que são capazes, mas fogem porque receiam essa influência
O terceiro, uma fortuna adquirida sem mácula; poderosa, que os leva a se censurarem. É sobretudo a esses jovens,
O quarto, desfrutar entre amigos o esplendor da juventude. muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua orientação.
JAEGER, W. Paideia. São Paulo: Martins Fontes, 1995, pp. 528-529. (BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.)

Responda: O texto evidencia as características do modo de vida socrático,


a) O que é o homem para Sócrates? que se baseava na
a) contemplação da tradição mítica.
O homem não deve ser caracterizado por seus atributos exteriores
(saúde, corpo, riqueza ou vigor), mas sim pela sua parte interna, a saber, b) sustentação do método dialético.
sua alma (psyqué), na medida em que é precisamente sua alma que o c) relativização do saber verdadeiro.
distingue especificamente de qualquer outra coisa. O homem vivo é a
sua alma, o corpo é somente o conjunto de instrumentos ou ferramen- d) valorização da argumentação retórica.
tas das quais a alma se serve na vida. A vida só pode ser bem vivida se e) investigação dos fundamentos da natureza.
a alma estiver no controle do corpo. Isso significa pura e simplesmente
que em uma vida perfeitamente ordenada a alma ou inteligência tem o 3. C1:H1 (UNCISAL) Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou fa-
completo controle dos sentidos e das emoções.
moso por interpelar os transeuntes e fazer perguntas aos que se
achavam conhecedores de determinado assunto. Mas durante o
diálogo, Sócrates colocava o interlocutor em situação delicada,
levando-o a reconhecer sua própria ignorância. Em virtude de
b) Qual é a relação entre o que define o homem e a máxima délfica sua atuação, Sócrates acabou sendo condenado à morte sob
“Conhece-te a ti mesmo”? a acusação de corromper a juventude, desobedecer às leis da
cidade e desrespeitar certos valores religiosos. Considerando
Sócrates consegue que Alcibíades esteja de acordo em que para ter êxito essas informações sobre a vida de Sócrates, assim como a forma
na vida seja necessário cuidar de si mesmo para melhorar-se ou exer- pela qual seu pensamento foi transmitido, pode-se afirmar que
citar-se, e chega a demonstrar que não se pode melhorar e cuidar de sua filosofia
uma coisa a menos que se conheça a sua natureza Nesse sentido, uma
vida sem reflexão não vale a pena ser vivida. Mas essa reflexão deve ser a) transmitia conhecimentos de natureza científica. 
uma aplicação do logos – exercício racional – sobre as próprias virtudes b) baseava-se em uma contemplação passiva da realidade. 
que definem o ser humano em sua conduta e em sua relação dialógica
com as outras pessoas. O conhecimento do “eu” possibilita e instaura o c) transmitia conhecimentos exclusivamente sob a forma escrita
conhecimento do “outro”. Assim, na vida, não podemos conseguir uma entre a população ateniense. 
melhora de nós mesmos, a menos que primeiro possamos compreen-
der o que somos. Nosso primeiro dever é obedecer à ordem délfica d) ficou consagrada sob a forma de diálogos, posteriormente
“conhece-te a ti mesmo”, “pois uma vez que nos conheçamos, podemos redigidos pelo filósofo Platão. 
aprender a cuidar de nós” (Alcibíades, 128b-129a). e) procurava transmitir às pessoas conhecimentos de natureza
mitológica. 
4. C1:H1 (UEA) O sofista é um diálogo de Platão do qual participam
Sócrates, um estrangeiro e outros personagens. Logo no início
do diálogo, Sócrates pergunta ao estrangeiro, a que método ele
Desenvolvendo Habilidades gostaria de recorrer para definir o que é um sofista.

1. C5:H24 (PUC-Campinas) Na Grécia Antiga, um dos mais importantes Sócrates: — Mas dize-nos [se] preferes desenvolver toda a tese
representantes dos sofistas foi Protágoras de Abdera, que afirmava que queres demonstrar, numa longa exposição ou empregar o
que “o homem é a medida de todas as coisas”. No contexto histórico método interrogativo?
que marcou o século V a.C., os sofistas:  Estrangeiro: — Com um parceiro assim agradável e dócil, Sócra-
tes, o método mais fácil é esse mesmo; com um interlocutor. Do
a) forneceram elementos fundamentais para o desenvolvimento
contrário, valeria mais a pena argumentar apenas para si mesmo.
da democracia, por terem valorizado sobretudo o espírito
crítico, a palavra e as técnicas de argumentação.  (Platão. O sofista, 1970. Adaptado.)
b) desempenharam um papel importante na difusão das obras
de Homero, ao reforçarem a importância da mitologia e dos
deuses como elementos unificadores do povo grego. 

FIL 45

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 45 14/09/2020 12:33:13


É correto afirmar que o interlocutor de Sócrates escolheu, do ponto d) Sócrates desejava melhorar os seus concidadãos por meio da
de vista metodológico, adotar investigação filosófica. Para ele, isso implica não buscar “o que
a) a maiêutica, que pressupõe a contraposição dos argumentos. é”, mas aperfeiçoar “o que parece ser”. Por isso, diz o filósofo, o
fundamento da vida moral é, em última instância, o egoísmo,
b) a dialética, que une numa síntese final as teses dos contendores.
ou seja, o que é o bem para o indivíduo num dado momento
c) o empirismo, que acredita ser possível chegar ao saber por de sua existência.
meio dos sentidos.
4. (Unicentro) Sobre o pensamento socrático, analise as afirmativas
d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão humana na prova
e marque com V, as verdadeiras e com F, as falsas.
de existência de Deus.
( ) Sócrates é autor da obra Ética a Nicômaco.
e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a possibilidade do
saber humano. ( ) O pensamento socrático está escrito em hebraico.
( ) A ironia e a maiêutica são as bases de sua filosofia.
Complementares ( ) Sócrates não criticou o saber dogmático, sendo, por isso, con-
selheiro dos governantes de Atenas.
1. (UEG) No século V a.C., Atenas vivia o auge de sua democracia. Nesse ( ) Os diálogos platônicos são importantes textos filosóficos que
mesmo período, os teatros estavam lotados, afinal, as tragédias relatam, na maioria, o pensamento de Sócrates.
chamavam cada vez mais a atenção. Outro aspecto importante da A partir da análise dessas afirmativas, a alternativa que indica a
civilização grega da época eram os discursos proferidos na ágora. sequência correta, de cima para baixo, é a
Para obter a aprovação da maioria, esses pronunciamentos deve-
a) F V F V V
riam conter argumentos sólidos e persuasivos. Nesse caso, alguns
cidadãos procuravam aperfeiçoar sua habilidade de discursar. Isso b) V F V V F
favoreceu o surgimento de um grupo de filósofos que dominavam c) F F V F V
a arte da oratória. Esses filósofos vinham de diferentes cidades e d) V F F F V
ensinavam sua arte em troca de pagamento. Eles foram duramente
criticados por Sócrates e são conhecidos como e) F V V V F
a) maniqueístas (bem ou mal)
b) hedonistas (busca pelo prazer)
c) epicuristas
d) sofistas
2. (Unimontes)  Lembremos a figura de Sócrates. Dizem que era
um homem feio, mas, quando falava, exercia estranho fascínio.
Podemos atribuir a Sócrates duas maneiras de se chegar ao conhe-
cimento. Essas duas maneiras são denominadas de
a) doxa e ironia.
b) ironia e maiêutica.
c) maiêutica e doxa.
d) maiêutica e episteme.
3. (UFU) Em um importante trecho da sua obra Metafísica, Aristóteles
se refere a Sócrates nos seguintes termos:
Sócrates ocupava-se de questões éticas e não da natureza em sua
totalidade, mas buscava o universal no âmbito daquelas questões,
tendo sido o primeiro a fixar a atenção nas definições.
Aristóteles. Metafísica, A6, 987b 1-3. Tradução de
Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2002.

Com base na filosofia de Sócrates e no trecho supracitado, assinale


a alternativa correta.
a) O método utilizado por Sócrates consistia em um exercício
dialético, cujo objetivo era livrar o seu interlocutor do erro e
do preconceito − com o prévio reconhecimento da própria
ignorância −, e levá-lo a formular conceitos de validade uni-
versal (definições).
b) Sócrates era, na verdade, um filósofo da natureza. Para ele, a
investigação filosófica é a busca pela “Arché”, pelo princípio su-
premo do Cosmos. Por isso, o método socrático era idêntico aos
utilizados pelos filósofos que o antecederam (Pré-socráticos).
c) O método socrático era empregado simplesmente para ridicu-
larizar os homens, colocando-os diante da própria ignorância.
Para Sócrates, conceitos universais são inatingíveis para o GABARITO ONLINE
1. Faça o download do aplicativo SAE Questões ou qualquer aplicativo
homem; por isso, para ele, as definições são sempre relativas de leitura QR Code.
e subjetivas, algo que ele confirmou com a máxima “o Homem 2. Abra o aplicativo e aponte para o QR Code ao lado.
é a medida de todas as coisas”. 3. O gabarito deste módulo será exibido em sua tela.

46 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 46 14/09/2020 12:33:14


EE
Platão: o homem

EE
EEE
EEE
EEE
e a cidade ideais
Platão • Diálogos platônicos • Dimensões da justiça social em Platão Papel da educação na construção da cidade ideal •
Justiça e bem: o rei filósofo de Platão
Filosofia
mód. 04/08

04
Filosofia
grega
clássica:
a filosofia
de Platão

START

Leia o texto, reflita e responda às questões.

Platão distingue quatro formas ou graus de conhecimento, que vão do grau inferior ao superior: crença, opi-
nião, raciocínio e intuição intelectual. Os dois primeiros formam o que ele chama conhecimento sensível; os dois
últimos, conhecimento inteligível.
A crença é nossa confiança no conhecimento sensorial: cremos que as coisas são tal como as percebemos. A
opinião é nossa aceitação do que nos ensinaram sobre as coisas ou o que delas pensamos conforme nossas sensa-

Peshkova/Shutterstock
ções e lembranças. Esses dois primeiros graus nos oferecem apenas a aparência das coisas ou suas imagens e cor-
respondem à situação dos prisioneiros do Mito da Caverna. Por serem ilusórios, devem ser afastados por quem
busca o conhecimento verdadeiro; portanto, somente os dois últimos graus devem ser considerados válidos.
O raciocínio exercita nosso pensamento, purifica-o das sensações e opiniões e o prepara para a intuição in-
telectual, que conhece a essência das coisas, o que Platão denomina ideia. As ideias são a realidade verdadeira e
conhece-las é ter o conhecimento verdadeiro.

(CHAUI, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2013. p. 136.)


1. Tudo o que existe é real?
Resposta pessoal.

2. Tudo o que é real tem matéria?


Resposta pessoal.

3. Devemos confiar no conhecimento adquirido pelos cinco sentidos?


Resposta pessoal.

4. Onde reside a verdade?


Resposta pessoal.
O objetivo da atividade é apresentar as ideias de Platão acerca do conhecimento e instigar os alunos a transpor essas ideias à rea-
lidade deles; propondo, assim, uma investigação sobre o que é possível conhecer, como é possível o conhecimento, de que forma
ele se manifesta no dia a dia, entre outras questões.

FIL 47

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 47 14/09/2020 12:33:23



Platão
Observe Platão nasceu Platão destaca-se pela vasta quantidade

Creative Commons/Ricardo André Frantz.


O nome Platão faz alusão a em 427 a.C. e faleceu de obras que deixou e por ser um dos poucos
uma característica corpórea em 347 a.C. Foi um filósofos dessa época de que se tem tantos
do filósofo, que possuía os filósofo ateniense escritos preservados até a atualidade. Em ge-
ombros largos. Assim, utili- do período clássi- ral, as obras de Platão foram escritas na forma
zou-se a palavra platys, que
co da Grécia Antiga, de diálogos entre vários personagens, tendo
significa espaço largo.
sendo discípulo de Sócrates como figura principal.
Sócrates e poste-
riormente mestre de
Aristóteles. [...] é natural nascer no espírito dos filósofos
Platão fundou autênticos certa convicção que os leva a discor-
a “Academia” em rer entre eles mais ou menos nos seguintes ter-
Atenas, uma escola mos: há de haver para nós outros algum atalho
com o propósito de direto, quando o raciocínio nos acompanha
Busto de Platão. ensinar e desenvol- na pesquisa; porque enquanto tivermos cor-
ver a filosofia socráti- po e nossa alma se encontrar atolada em sua
ca e, posteriormente, a do próprio Platão. corrupção, jamais poderemos alcançar o que
Além de continuar os ensinamentos de seu almejamos. E o que queremos, declaremo-lo
mestre, Platão criou suas próprias teorias, re- de uma vez por todas, é a verdade.
lacionadas ao conhecimento, à ética, à estéti-
ca, à política, deixando um importante legado (PLATÃO, Fédon, 66b- 67b)
para a filosofia , fundamentando o pensamen-
to ocidental.

Diálogos platônicos
Observe

Conhecer a si mesmo
para Platão, tal como para
Sócrates, era conhecer a Há várias propostas de classificações das O filósofo analisa novamente as principais te-
própria alma. A alma é obras de Platão, e entre elas uma que as divide máticas abordadas em obras anteriores e, por
o instrumento capaz de em quatro fases, conforme os períodos da vida vezes, inclusive, muda de concepção sobre al-
acessar a Ideia, a verdade.
Por isso, em vez de se lançar do filósofo. Segundo essa classificação, há os guns assuntos.
a investigar desordenada- diálogos da juventude, de transição, da maturi-
mente as coisas externas,
e aí encontrar apenas
dade e da velhice.
Os diálogos da juventude, ou socráticos,
Teoria das ideias
cópias imperfeitas captadas
pelos sentidos, o homem são conhecidos por narrarem acontecimentos Desde o surgimento da Filosofia, no pe-
deve primeiro conhecer a reais da vida de Sócrates. Os diálogos desse ríodo arcaico, com os pré-socráticos, havia a
sua parte perfeita; depois período se caracterizam por não apresenta- preocupação em compreender a realidade,
será capaz de investigar a rem conclusões a respeito dos temas aborda- considerando as constantes mudanças pelas
essência das outras coisas.
dos. Em geral, encerram-se com o protagonis- quais ela passava, surgindo a questão, pos-
A argumentação socrática é
esta: se o homem é ignoran- ta Sócrates refutando os argumentos de seus ta pelo embate de ideias entre Heráclito e
te em relação a si mesmo, interlocutores, mas confessando que ele tam- Parmênides: o que muda e o que permanece
como poderia conhecer bém não consegue oferecer uma explicação na realidade que permite aos seres humanos
outras coisas? Isso pode ser construir um conhecimento seguro acerca de
exemplificado na expressão
para o tema estudado. A confissão de ignorân-
que se tornou célebre: “só cia por parte de Sócrates, nesses diálogos, pre- tudo?
sei que nada sei”. tende indicar que, antes de se partir em busca
EggHeadPhoto/Shutterstock

da verdade em coisas e situações externas, é


indispensável conhecer a si mesmo.
Observe Os diálogos de transição caracterizam-se
A obra A República é um pelo início da filosofia verdadeiramente platô-
dos livros mais estudados nica, isto é, deixa de apenas registrar vivências
e utilizados de Platão, pois de seu mestre e passa a desenvolver alguns de
apresenta a construção de seus próprios argumentos. A maçã, como todo ser sensível, nasce, cresce, se desenvolve e perece
uma cidade ideal, desde os porque está condicionada às leis materiais. Então, como saber que
princípios que nortearam Nos diálogos da maturidade, Platão con- uma maçã é uma maçã, se ela muda a todo instante? A questão entre
essa construção, passando o mobilismo de Heráclito (tudo muda) e o imobilismo de Parmênides
quista sua autonomia intelectual, passando (nada muda), levou Platão a elaborar a teoria das ideias, que propõe
EM21_1_FIL_04

EM21_1_FIL_04

pelas ideias de justiça e a desenvolver sua própria filosofia. É nesse uma resposta à essa questão.
organização que essa cidade
deveria ter, até as formas de período que são apresentadas obras como A
Dessa reflexão, surgiram novas perguntas
governo adequadas. República.
que levaram os pensadores, especialmente
Os diálogos da velhice caracterizam-se Platão, a considerarem que existe uma realida-
por uma revisão crítica de seu pensamento. de sensível, captada pelos cinco sentidos, que

48 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 48 14/09/2020 12:33:30



é inconstante, instável e fonte de enganos e no mundo sensível, é impossível ver um “gato Glossário
ilusões. Em contrapartida, existe também uma em geral”, mas sim gatos singulares.
Suprassensível: aquilo que
realidade suprassensível, ou seja, que está Assim, o conhecimento sensível, para não pode ser percebido
além daquilo que captamos pelos sentidos, Platão, não era uma fonte confiável para bus- pelos sentidos; que não é
que é constante, eterna, imutável. Essa reali- car o conhecimento, apesar de ser o ponto de acessível aos sentidos.
dade só poderia ser alcançada pelo intelecto. partida para tal propósito.
A partir desse ponto, Platão elaborou a fa-
mosa teoria das ideias para explicar como é
possível passar do conhecimento sensível, fon-
Mundo inteligível
te de enganos e ilusões, para o conhecimento O mundo inteligível, para Platão, é o mun- Reflita
inteligível ou das ideias, em que reside a ver- do das essências e não pode ser captado pelos
sentidos, porque ele é: Esta grande questão,
dade (alétheia). Influenciado por seu mestre,
sobre o que muda e o que
Sócrates, Platão defendia que a dialética era ●● imaterial, ou seja, não tem matéria; permanece sempre igual, foi
o caminho para atingir a ascensão do sensível a pedra de toque da teoria
●● imutável, pois será eternamente idênti-
para o inteligível. do conhecimento platônico,
co a si mesmo, já que não muda com o afinal, se tudo muda o
No diálogo Timeu, escrito no período da tempo; tempo todo, como seria
velhice, Platão utiliza-se de um mito para ex- possível conhecer aquilo
●● indivisível, pois cada ideia é única, e não
plicar como surgiu o mundo sensível. Segundo que existe, se no instante
múltipla, como os objetos sensíveis; seguinte não será mais o
essa alegoria usada por Platão, no início dos
●● e eterno, porque não é gerado nem cor- mesmo? Deveria haver algo
tempos, existiam apenas as ideias e um artí- essencial que permitisse
fice sumamente bom e inteligente, chamado rompido, assim como a alma humana.
reconhecer um ser ou
Demiurgo, criou todas as coisas que existem a No mundo inteligível, residem as ideias ou um objeto em quaisquer
partir das ideias iniciais. No entanto, a criação as formas puras (essências), ou seja, a ideia ge- circunstâncias. Surge, então,
do Demiurgo não era perfeita como as ideias ral que caracteriza um ser. Por exemplo, quan- a ideia de que existe algo
para além das aparências
que deram origem a tudo, pois eram apenas có- do falamos “gato”, muitos gatos particulares (do que é percebido) que
pias imperfeitas delas. Assim, segundo Platão, vêm à cabeça (branco, malhado, dócil, arisco, corresponderia à essência
surgiram dois mundos: o inteligível (perfeito) e Gato de Botas etc.). Mas quais são as carac- das coisas materiais. Essa
o sensível (imperfeito). terísticas em comum entre todos os gatos do dicotomia entre mundo ma-
terial –, ligado ao corpo, aos
mundo (real ou imaginado), que nos permitem
sentidos, às paixões e aos
Mundo sensível reconhecê-los como “gato”? Essa ideia geral de
“gato” seria a essência do “ser gato”. Todos os
apetites – e mundo imaterial
ligado às ideias e, portanto,
O mundo sensível, captado pelos cinco outros gatos do mundo sensível seriam indi- à alma – é de fundamental
sentidos, é o mundo em que vivemos, o mun- víduos gatos, com características e atributos importância para o entendi-
mento da teoria das ideias
do dos fenômenos, no qual existe uma infini- particulares, como nome, cor, forma, tamanho, de Platão.
dade de seres, crenças e opiniões. Para Platão, temperamento, tempo de vida etc. A esses atri-
o mundo sensível está relacionado ao corpo e butos do mundo sensível Platão chamou de
à sua incompletude, pois as paixões e os ape- predicados do sujeito gato, pois são as carac-
tites que regem o funcionamento corporal im- terísticas específicas de um gato em particular
pedem o acesso às ideias puras, que só podem e variam de gato para gato.
ser contempladas pela alma, ou seja, pelo inte- Observe
lecto. Além disso, o corpo é corruptível porque MUNDO INTELIGÍVEL
está condicionado às leis da matéria e passa Ideia ou essência de gato (gato em geral) A ideia geral de gato,
por diversas mudanças, do nascimento até sua representada por uma
silhueta, representa os
morte e desintegração. A alma, ao contrário,
Studio Barcelona/Shutterstock

atributos essenciais que


é eterna, imutável, indivisível e imaterial, por- nos permitem identificar um
tanto, apenas por meio dela seria possível co- gato qualquer do mundo
nhecer as formas puras do mundo inteligível. sensível (real ou imagina-
do), em contraste com a
multiplicidade de gatos do
Dessa forma, o mundo sensível mundo sensível, inclusive de
é uma cópia imperfeita do mundo um gato imaginado. Quanto
Ralf Juergen Kraft/Shutterstock

à figura do Gato de Botas,


inteligível.
Kasefoto/Shutterstock

ele é cópia da cópia da ideia


de gato, sendo, portanto, um
Para facilitar o entendimento, faça esta ati- simulacro. Para Platão, as
vidade: imagine um gato. No mundo, existem artes se enquadram nessa
categoria do simulacro
milhares de gatos: preto, branco, malhado, aris- (cópia da cópia, portanto,
co, manso, personagens como Gato de Botas, muito menos perfeita que
Garfield etc. Mas, quais são as características a ideia original) e, por isso
mesmo, foram tão criticadas
EM21_1_FIL_04

EM21_1_FIL_04

comuns a todos os gatos que existem (no mun- MUNDO SENSÍVEL


do real e imaginário), que nos permitem reco- por ele.
Gatos particulares, cópias imperfeitas da
nhecê-los como tal? Essas características ge-
ideia de “gato”, cujas características são pre-
rais são o que Platão chamava de ­essência do
dicados de um gato em particular
“gato”, ou o “gato em geral”. A questão é que,

FIL 49

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 49 14/09/2020 12:33:35



Para se chegar ao mundo inteligível, é necessário superar os enganos sensíveis, provenientes
dos sentidos, das opiniões e das crenças, em busca do raciocínio, até chegar ao inteligível, por
meio da contemplação.

Do sensível ao inteligível
Se no mundo sensível existe uma multiplicidade de seres particulares, então como seria pos-
sível conhecer as ideias puras ou essências de todos esses seres?
Platão, então, propõe duas respostas a essa questão: na primeira, ele estabelece um cami-
nho, um método, para essa ascensão do sensível ao inteligível: a dialética; na segunda, as ideias
puras residem na alma de cada pessoa e são relembradas no processo de conhecimento, fato que
ele chamou de reminiscência.

Dialética
Como visto anteriormente, Sócrates praticava a dialética nos diálogos que travava com seus
interlocutores, levando-os ao conhecimento de algo por meio da ironia e da maiêutica. Platão
trouxe a dialética socrática para a sua teoria das ideias, propondo que, para ascender ao conhe-
cimento inteligível seria necessário o diálogo, em que os interlocutores apresentam suas ideias,
em geral contrárias, para se formar um novo conhecimento. Assim, a cada par de ideias opostas,
surgia um novo conhecimento em direção ascendente às ideias puras.
Explique o processo dialé- O esquema a seguir apresenta as etapas da ascensão dialética do sensível ao inteligível, por
tico ascendente do sensível meio da análise de um triângulo. Ele deve ser lido de baixo para cima.
ao inteligível, representado
no esquema, mostrando
aos alunos que da imagem
de algo triangular – pois,
no mundo sensível, nunca alma Intuição Ideia: junção de todos
vemos um triângulo em intelectual os critérios anteriores
si, apenas seres triangu- ou ideia em forma de intuição.
lares – chega-se ao nome

Mundo inteligível
que pertence à esfera das
crenças e opiniões. Portanto,
pode variar de acordo com
a língua, por exemplo, até
o conceito, que, apesar de Conceito:
A

pertencer ao mundo inteli-


IC

gível, é inferior à ideia pura, Raciocínio, ou triângulo é um


ÉT

pois o raciocínio é a ligação pensamento discursivo polígono formado


AL

entre sensível e inteligível. por três lados.


DI

A essência do triângulo não


mudará jamais, indepen-
dentemente da época, do
lugar e das opiniões. Reforce
também a imaterialidade
da ideia, pois ela só pode Crenças e
Nome:
ser pensada, intuída, jamais opiniões; coisas
vista ou tocada. triângulo
sensíveis

Mundo sensível
Imagem:
Imagem das coisas
sensíveis, cópias
visão das ideias

Reminiscência
Ao contrário do corpo, a alma é eterna e imutável para Platão. Isso significa que ela
BMDC/W.Commons

não foi criada e nem será destruída. Sendo eterna, ela viverá para sempre, encarnando
em diferentes corpos materiais, mas permanecendo sempre idêntica a si mesma. Nela,
estão contidas as ideias puras, que deverão ser relembradas (anamnesis) a cada reen-
carnação. Assim, Platão, na obra A República, recorreu a outra alegoria para explicar
EM21_1_FIL_04

EM21_1_FIL_04

esse processo: a alegoria de Er.


Conta-se que o pastor Er foi para o Hades, como fazem os adivinhos e poetas.
Chegando lá, ele encontrou as almas dos mortos contemplando as ideias. Como as al-
mas devem reencarnar, elas são livres para escolher a forma de vida que querem viver
e, antes de voltar ao mundo sensível, elas passam por uma planície onde existem dois

50 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 50 14/09/2020 12:33:38



rios, dos quais deve-se escolher um para beber sendo que existe uma infinidade de outras coi- Reflita
de suas águas: o rio Léthe, responsável pelo es- sas fora da caverna. E quanto a nós, qual é a
quecimento e o rio Alétheia, responsável pelo O termo alétheia (verdade)
nossa sombra? Ver apenas sombras é ver ape-
é o negativo de léthe (que
não esquecimento, ou seja, pela lembrança das nas uma perspectiva da realidade. significa esquecimento).
ideias contempladas pela alma. Quem beber a Todos nós, na infância, fomos educados a Sendo assim, a verdade é
água do primeiro, não se lembrará das ideias gostar de algumas coisas, não gostar de ou- o não esquecimento, ou
puras, mas quem beber da água do segundo, a lembrança das ideias
tras, buscar algumas preferências e detestar puras. Para Platão, as ideias
lembrará em vida dessas ideias por meio da outras. Ou seja, fomos ensinados a ver apenas puras eram inatas. Será
educação e do aprendizado. uma parcela da realidade, e não a realidade que já nascemos com as
Assim, a alétheia, que significa verdade, completa. ideias prontas, precisando
relembrá-las? Ou todas as
está presente na alma dos seres humanos Assim, durante o restante da vida, sempre nossas ideias advêm das
desde sempre, como ideias inatas, mas preci- seguimos procurando as mesmas coisas e fu- experiências sensíveis?
sa ser relembrada pelo processo de educação gindo de outras. Na verdade, em grande parte Observe a obra de arte e o
(dialética). do tempo nos guiamos apenas pela memória. título dela, de autoria de
A alegoria da caverna nos permite muitas Isso é bastante complexo – pode-se citar um René Magritte.
interpretações. Primeiro se apresentará uma exemplo envolvendo padrões culturais.
abordagem existencial, para depois se relacio- A questão não é discutir quem tem razão,
nar às dualidades doxa (opinião) e epísteme mas que emitimos opinião, agimos e vivemos
(conhecimento), respectivamente mundo sen- sempre limitados à nossa formação cultural e
sível e mundo das ideias. Quem seriam aque- às experiências passadas – vivemos pela me-
las pessoas aprisionadas em uma realidade mória. Por que um jardineiro consegue ver
obscura, as quais apenas conseguem enxergar tantas belezas nas flores enquanto outras pes-
sombras e ainda imaginam que essas sombras soas que nunca tiveram contato com o jardim MAGRITTE, René. Isto não é uma
são a realidade? Uma premissa importante: simplesmente não veem beleza alguma? Esse maçã. Óleo sobre tela. 141 cm
Platão é discípulo de Sócrates e, tal como o x 100,8cm. Galeria ­Bruxelas
mesmo jardineiro talvez não consiga ver bele- (Bélgica).
mestre, nunca perde o horizonte da busca pelo za na construção de uma casa, enquanto um
autoconhecimento. Qual a relação da obra de
arquiteto ficará maravilhado. E a questão não arte e do título com a teoria
Sim, as pessoas aprisionadas na caverna é que vemos a casa e pensamos “ela não é bo- das ideias de Platão?
representam todos nós! Será que aquilo que nita” ou “ela é bonita”, mas que nós simples-
conhecemos e vivemos é de fato a realidade, mente não postulamos tal reflexão! Nós vemos
ou não passa de sombra? a casa e nada pensamos sobre ela! O indivíduo Essa questão pode ser de-
batida em sala de aula, para
Mas, afinal, o que significa a tal sombra nas é condicionado e limitado a pensar e agir de os alunos poderem expor
cavernas? A sombra, para aqueles habitantes acordo com as opiniões que constrói ou repro- seus pensamentos acerca
duz dos outros. da relação solicitada. A seu
da caverna, era a única coisa que conheciam, critério, a conclusão do de-
bate pode ser registrada em

Dimensões da justiça social em Platão


forma de texto argumenta-
tivo e apresentado em data
previamente estipulada.

Na obra puras, tornando a cidade reflexo da alma de


Museum Berlin/CreativeCommons

A República, seus cidadãos. Saiba mais


Platão entrela- A construção da cidade ideal tem como Platão tomou seu mestre
ça a teoria da ponto de partida os Livros I e II de A República, Sócrates como personagem
reminiscência, da maioria de seus escritos
dedicados à discussão sobre o que é a justiça.
a dualidade e, portanto, sempre resta
Isso porque a cidade ideal precisaria ser, acima a dúvida: o que Sócrates
sensível e inte- de tudo, uma cidade justa. Mas como seria pos- dizia era proveniente do
ligível, a oposi- sível construir uma cidade justa sem antes sa- verdadeiro Sócrates ou do
ção entre mun- ber o que é justiça? Quando há escândalos de personagem criado por
do sensível e Platão? Podemos responder
corrupção envolvendo políticos, quando não a essa dúvida observando
mundo das estamos satisfeitos com uma decisão proferi- a cronologia das obras de
Pintura em vaso grego representando um ideias, a defesa da pelo juiz em um processo judicial, sempre Platão. As obras de sua
jovem escrevendo em sua tábua. A educa- da imortalida- exclamamos: “Não foi justo!”. Parece que, de juventude trazem com maior
ção é ponto fundamental para a construção
de da alma, a ênfase as ideias de Sócrates,
do Estado ideal. algum modo, as pessoas concordam que a jus-
formação pelas como a necessidade de au-
tiça é a base da organização social e do Estado, toconhecimento. Já as obras
virtudes e as análises das questões políticas, que sem ela as coisas não podem ir bem. da maturidade e da velhice
tais como das formas de governo. Nessa obra, trazem em sua maioria as

Justiça e o corpo social


Platão expõe o modelo de cidade ideal, que ideias do próprio Platão,
deveria ser governada por um rei filósofo. que nesse caso usa Sócrates
mais como um personagem
EM21_1_FIL_04

EM21_1_FIL_04

A cidade se forma com os cidadãos e sua O Livro I de A República traz Sócrates, o para a reprodução de seus
prosperidade depende da ação destes, sendo personagem principal, dialogando com alguns pensamentos. Em A Repúbli-
necessário para seu progresso que as pessoas ca, os estudiosos entendem
sofistas, Céfalo, Polemarco e Trasímaco, acerca
que Sócrates é o persona-
se guiem por suas almas, ou seja, pela faculda- daquilo que estes entendiam por justiça. gem e não o Sócrates real.
de intelectiva que possibilita o acesso às ideias

FIL 51

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 51 14/09/2020 12:33:42



Céfalo afirma que a justiça consiste em necessariamente seria formada por cidadãos
“proferir a verdade e devolver o que se tomou perfeitos.
de alguém”. Para comprovar sua tese, Platão propõe
um desafio: planejar racionalmente a cidade

C4th B.C., State Hermitage Museum


perfeita, desde a sua origem. Surge então o
primeiro problema: por que os homens cons-
troem as cidades? Se deseja-se descobrir a ci-
dade perfeita, é preciso saber com que escopo
os homens decidem conviver em cidades.
A primeira resposta é: para atender a ne-
cessidades básicas. Ninguém é capaz de dar
conta de todas as atividades que a vida exige.
Assim, não há como alguém fazer sapatos, rou-
pas, bem como plantar, criar animais, e ainda
fabricar tantas outras coisas. Mas vivendo em
coletividade, todas essas necessidades podem
ser supridas facilmente. Dessa forma, cada
pessoa se dedica a uma função, e, por meio de
trocas e negócios, todos atendem aos interes-
ses e necessidades de todos. Ora, essa conclu-
são já levanta uma premissa fundamental: se a
Themis, deusa da Justiça, sentada em uma pedra, aconselha Zeus
cidade se faz por meio da relação entre as pes-
no trono. A pedra é provavelmente o centro de Delfos, lugar onde o soas, então a formação da cidade se faz não
oráculo profetizava. A justiça para os gregos era tão importante que
até mesmo Zeus, o maior dos deuses, ouvia os aconselhamentos somente na esfera individual, mas no aspecto
de Themis. das relações sociais. É a partir da cooperação
entre os cidadãos que podemos aprimorar a
Em seguida, Polemarco segue a discussão
cidade.
definindo que a justiça consiste em “fazer bem
aos amigos, e mal aos inimigos”, conceito re-

Jitloac/Shutterstock

fenghui/Shutterstock
futado por Sócrates, ao afirmar que em ne-
nhum caso é justo fazer mal a alguém, pois,
não é possível saber realmente quem é amigo
e quem é inimigo. Os amigos são aqueles que
nos ajudam, e os inimigos aqueles que nos pre-
judicam? Conhecemos realmente as pessoas a

pr2is/Shutterstock
ponto de podermos fazer essa divisão?
Já Trasímaco afirma que a justiça “é sim-
plesmente o interesse do mais forte”, concep-
ção que possibilita a identificação de alguém
ser considerado justo apenas pelo fato de es-
tar no poder, como é o caso dos governantes.
Nas imagens, podemos observar o trabalho de um ferreiro, um ce-
O problema desse argumento é que ele jus- ramista e uma artesão. Todos têm sua importância, pois vivendo em
tifica a violência de um tirano contra o povo. comunidade cada um pode se beneficiar do produto dos outros.
Sócrates contesta demonstrando que toda É preciso pensar a cidade como um corpo
ciência é produzida para servir a quem está só, onde cada cidadão é parte desse corpo.
em posição inferior, como é o exemplo da me- Logo, o sucesso desse corpo único depende
dicina, que serve ao doente e não ao médico. do sucesso daqueles que a compõem. Se uma
Assim, a política deve servir aos governados e parte não está bem, o corpo nunca estará, em
não aos governantes. sua totalidade, bem. Platão comparou a ciência
Após refutar os conceitos propostos, os in- política com a medicina, pois para ele há mui-
terlocutores interpelam Sócrates, exigindo-lhe tas semelhanças entre a saúde social e a saúde
que dê, então, um conceito apropriado para biológica. O corpo nunca estará completamen-
justiça. É aqui que o filósofo afirma que, para te saudável se um órgão estiver doente.
descobrir o que é a justiça, seria necessário Essa relação da totalidade com as partes
primeiro entender o que é a cidade, o Estado, que a compõem é de tal forma importante
bem como seus cidadãos, pois a justiça certa- para Platão que nos leva à discussão sobre a
mente serve a eles. Sem limitar-se a estudar Alma, pois, para o filósofo, os cidadãos podem
esta ou aquela cidade, pois elas não necessa- muito bem ser identificados como a “alma” da
EM21_1_FIL_04

EM21_1_FIL_04

riamente são justas! É preciso, então, desco- cidade. Agora é importante relacionar essa
brir o que é a verdadeira justiça, a qual só será questão com a construção do Estado ideal.
encontrada em uma cidade perfeita, pois esta

52 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 52 14/09/2020 12:33:55



Cabeça
Lopis/W.Commons
Corresponde à alma racional
Classe social: governantes
Função: administrar e governar a cidade
Virtude: sabedoria

Peito
Platão idealizava a cidade perfeita, com os comerciantes e artesãos
agindo com temperança, os soldados com coragem e os governantes Corresponde à alma irascível
com sabedoria. Classe social: guerreiros
Função: proteger a cidade
Em A República, Platão afirma que a alma
Virtude: coragem
é dividida em três partes: racional, irascível e
apetitiva. Cada uma corresponde a uma das
classes de pessoas que compõem a comunida-
de. Veja, no esquema a seguir, a relação entre
Anna Rassadnikova/Shutterstock
as virtudes da alma e a divisão de classes da Baixo ventre
cidade ideal de Platão. Corresponde à alma apetitiva
Classe social: artesãos e
A parte racional da alma, por ser a par- comerciantes
te que representa as atividades intelectuais Função: suprir as necessidades
da cidade e dos cidadãos
puras, situa-se na parte superior do corpo, a
Virtude: temperança
cabeça. Essa parte corresponde à primeira
das classes: aos governantes (ou guardiões).
O governante é o indivíduo que cultiva uma Temperança, coragem e sabedoria são três
formação diferenciada, tornando-se apto a ad- das quatro virtudes que, juntas, possibilitam a
ministrar a cidade. Por isso, a virtude da alma construção do Estado ideal. A quarta virtude
racional é a sabedoria. é a justiça. Cada uma das três corresponde a
A parte irascível situa-se na parte mediana uma classe (uma parte do corpo que é a cida-
do corpo humano (peito) e, por isso, se rela- de). A justiça corresponde ao exercício correto
ciona às paixões e emoções. A parte irascível da virtude da classe à qual a pessoa pertence,
corresponde à classe dos guerreiros, os “guar- ou seja, se for artesão ou comerciante, deverá
diões da cidade”. A virtude da parte irascível é ser temperante; se for guerreiro, corajoso; se
a coragem. Os militares, por serem responsá- for governante, sábio.
veis pela proteção da cidade, precisam superar O corpo humano só está em perfeita con- De nada adiantaria o
seus medos e agir sempre com coragem. dição quando todas as partes estão saudáveis. governante ser sábio se
A parte apetitiva vincula-se à parte inferior Da mesma forma, para a cidade ser justa, cada os guerreiros não fossem
corajosos ou os comercian-
(baixo-ventre), e está ligada aos apetites (tais classe deve realizar aquilo que lhe cabe. Com tes e artesãos temperantes,
como os instintos), correspondendo aos co- isso, entende-se a justiça como a mais impor- pois em algum momento
merciantes, artesãos e ao povo em geral. A vir- tante das quatro virtudes. a cidade seria derrotada
militarmente por outro
tude dessa parte é a temperança, pois, para se A justiça representa o domínio da parte povo, ou haveria problemas
utilizar adequadamente os instintos, é preciso na economia (citando um
racional da alma perante as partes irascível exemplo para o caso dos
dominá-los interiormente. e apetitiva. Por isso, uma cidade justa repre- comerciantes). A parte racio-
Dessa forma, se os artesãos e comercian- sentaria também uma cidade em que a alma nal da alma é a mais nobre
entre as três, bem como o
tes dominarem seus apetites, a cidade será racional prevalece sobre as demais. Isso não governante ocupa a função
temperante; se os guerreiros enfrentarem os significa que as outras partes não sejam im- de maior responsabilidade
perigos e medos, a cidade será corajosa; e se portantes, mas que, para serem utilizadas ade- perante o bem comum entre
todas as classes. Por isso,
o governante administrar tendo em vista a ra- quadamente, precisam estar ordenadas pela é necessário que a alma
zão, a verdade e o bem, a cidade será sábia. alma racional. racional e o governante
dominem as demais.

Visão panorâmica da Acrópolis de Atenas, Grécia.


Cardaf/Shutterstock
EM21_1_FIL_04

EM21_1_FIL_04

FIL 53

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 53 14/09/2020 12:34:00



Papel da educação na construção
da cidade ideal
O Estado ideal para Platão seria formado por três classes: os artesãos, que são aqueles res-
ponsáveis pelas tarefas referentes às primeiras necessidades da vida, tais como o suprimento
da alimentação e vestuário; os militares, que devem zelar pela segurança da cidade dos perigos
externos; e os governantes, que devem administrar e conduzir a cidade segundo a alma racional,
de modo a torná-la o mais virtuosa possível.
Cada indivíduo deve praticar a sua função dentro da classe que integra, sem interferir no tra-
balho dos outros. Este é um dos pilares da construção da cidade ideal, pois responsabiliza cada
cidadão a realizar o melhor que lhe cabe, sem prejudicar atividades alheias. Para que o coletivo se
realize com excelência, é preciso antes fazer a própria atividade individual com excelência.
Para Hesíodo, o trabalho era, sobretudo, uma questão de formação moral, que buscava evitar
que o indivíduo escolhesse o caminho dos vícios. Platão não exclui essa dimensão, mas também
demonstra que o trabalho integra o valor do indivíduo em contribuir com o bem comum.
Contudo, para que cada indivíduo cumpra bem a sua tarefa, é necessária uma educação con-
sistente. Assim, todos deveriam passar por uma educação geral, sendo formados nas variadas
virtudes, tornando-se aptos a servirem a cidade de modo adequado.
A justiça só pode ser alcançada a partir de um processo educativo em que a parte racional da
alma prevaleça sobre as partes irascível e apetitiva.
O desenvolvimento da alma racional é atribuído, especificamente, aos governantes, que, para
Platão, precisam ser filósofos.
O filósofo é o indivíduo mais preparado para governar, pois, em seu processo de formação,
é obrigado a educar-se na matemática, na ginástica, na música, na dialética, aprender a técnica
dos artesãos e inclusive defender a cidade por um determinado tempo como militar. O filósofo,
portanto, é o único capaz de ver a cidade como um todo e em suas várias dimensões.
A formação pelas virtudes exigiria uma vida de aprimoramento, a qual envolveria o aprendi-
zado por meio da ginástica e da música. Esses elementos eram importantes porque a ginástica
preparava o corpo, de modo a auxiliar a pessoa em relação à conservação da saúde orgânica e a
ter disciplina; e a música, envolvendo literatura e poesia, era importante para o preparo da alma,
trazendo uma formação regida pela ideia de estética.
DGLimages/Shutterstock

Rawpixel.com/Shutterstock

Alunos em uma competição esportiva e na biblioteca. Por meio do ensino, o cidadão grego poderia aprender as quatro virtudes para a construção
da cidade perfeita.

Chegamos, afinal, através de inúmeros obstáculos penosamente superados, a estabelecer que existem,
na cidade e na alma do indivíduo, princípios correspondentes e iguais em número. [...] E que a cidade seja
corajosa pelo mesmo princípio e do mesmo modo que o indivíduo? [...] Enfim, que tudo o que diz respeito
à virtude se encontre igualmente numa e noutro? [...]. Então, amigo Glauco, afirmaremos que a justiça tem
no indivíduo o mesmo caráter que na cidade.
EM21_1_FIL_04

EM21_1_FIL_04

(PLATÃO. A República. Tradução de: PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.)

A alma deve ser bem-educada, pois o corpo (irascível e apetitivo) é insaciável, e sobressai-se
diante da parte racional. Com uma educação disciplinada com base no estudo da música e da
ginástica, a alma conseguiria desviar dos desejos e prazeres do corpo.

54 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 54 14/09/2020 12:34:03



Concluindo, o Estado ideal de Platão abrange uma estrutura que permite aos cidadãos se
educarem tanto no sentido cívico quanto no estabelecimento de um contato com a própria alma,
de modo a buscar a sabedoria.
Quando a sabedoria, que representa a parte racional, governar as demais partes, torna-se
possível construir uma cidade justa.

Formas de governo
Depois de estruturar em classes e apresentar a formação necessária para a cidade ideal, é
importante apresentar a crítica platônica às formas de governo. O intuito é evidenciar a distinção
entre a cidade ideal e as cidades existentes.

Platão não se limita a dar conselhos ao Estado a partir da premissa de uma determinada forma de governo
ou, como os sofistas, a estabelecer polêmica sobre o valor das diferentes formas de Estado, mas aborda o
assunto de forma radical, tomando como ponto de partida o problema genérico da justiça.

(JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 2001.)

Platão, ao analisar as cidades de sua época, apresenta quatro formas de governo: a timocra-
cia, a oligarquia, a democracia e a tirania. Cada uma representa um estágio da imperfeição do
Estado ideal; sendo assim, a timocracia é a mais próxima da cidade perfeita, enquanto a tirania é
a mais distante. Cada passagem para uma forma de governo inferior se dá em um tipo de pertur-
bação na harmonia entre as partes da alma (racional, irascível e apetitiva). A crítica platônica re-
velará o ponto fraco de cada uma dessas formas de governo, demonstrando que o seu Estado
ideal as superaria.

Unknown/W.Commons
●● Timocracia (do grego timés, que significa
honra, e kratos, poder) é inspirada no mo-
delo da cidade de Esparta, voltada prin-
cipalmente à formação do cidadão guer-
reiro, que cultiva a virtude da coragem
e anseio por honra e glória. O governo
timocrático possui traços importantes,
como o respeito à autoridade, o cuidado
com a virtude guerreira por meio da gi- Ilustração da Guerra do Peloponeso, que envolveu Atenas e Esparta na
nástica e a abstenção de toda atividade disputa pela hegemonia do poder grego. Antes da guerra, Atenas era
uma sólida democracia. Durante a guerra, tornou-se uma Oligarquia por
lucrativa por parte da classe dominante. meio da tomada de poder do governo dos Trinta Tiranos (muitos dos
O que abala a timocracia é a avareza, in- quais eram parentes e amigos de Platão). A alternância de formas de
governo evidenciada por Platão pode ser percebida na história de várias
citando os indivíduos a fingirem se preo- cidades e Estados, como é o caso da Grécia.
cupar com o bem comum, quando na
verdade apenas guardam o luxo de forma privada. Além disso, a ausência de uma formação
pela música também não contribui com a harmonia da alma;
●● Oligarquia é a forma de governo em que há pessoas com grande número de riquezas (as
quais controlam o poder), porém outras na completa miséria. A separação entre ricos e
pobres facilita a prática de crimes, como o roubo, pois na ânsia pela riqueza pode-se recor-
rer a delitos. Na oligarquia, o vício, induzido pelas más ações, é a cobiça. Sem harmonia na
alma, a parte apetitiva não será controlada, abrindo espaço à busca desenfreada por tentar
satisfazer os mais variados impulsos. Além disso, o acúmulo de dinheiro facilita a satisfação
dos instintos; Quanto maior a riqueza, mais fácil é satisfazer os prazeres do corpo.
●● Democracia é o governo do povo, em que os cidadãos participavam das decisões políticas.
Como Platão se decepcionou com a democracia ateniense depois da condenação de Sócra-
tes, tornou-se o maior crítico desse sistema de governo. Para ele, a liberdade extremada e
desregrada levará o homem democrático a ora dedicar-se à política, ora ao esporte, ora às
artes, e assim por diante. Não há ordem e benefício nessas decisões, apenas uma vida apa-
rentemente livre, mas que no fundo não traz realização;
●● Tirania decorrente da democracia, pois, para Platão, em algum momento, o povo colocará
no poder um representante seu, que, por ser despreparado em relação às virtudes, fingirá
EM21_1_FIL_04

EM21_1_FIL_04

governar para o povo, quando na verdade pensa apenas em si próprio. Com o tempo, virá
resistência contra ele, que então se verá forçado a recorrer ao uso da violência física, dando
início ao governo tirano. O tirano nasce dos apetites contrários à lei, que não são dominados
pela parte racional da alma.

FIL 55

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 55 14/09/2020 12:34:04



Justiça e bem: o rei filósofo de Platão
A apresentação das formas de governo,
Joseph-Marie Vien/W.Commons

que denunciam o fato de todos os Estados se-


rem governos imperfeitos, nos conduz a uma
reflexão final: Como deve ser o governo? Quem
deve governar? A resposta de Platão é emble-
mática e polêmica: o filósofo.
Mas como o filósofo pode ser o governan-
te? Ora, se a parte mais nobre da alma é a parte
racional, e se aquele que cultiva a alma racional
de modo mais profundo é o filósofo, e se o filó-
sofo é aquele que se dedica a procurar o bem
e a verdade acima de tudo, tal definição já não
deveria causar tanto espanto.
Para Platão, os filósofos precisam se tornar
governantes ou os governantes se tornarem
filósofos. Em outras palavras, aquele que está
no poder deve se portar como filósofo.
O filósofo contempla a cidade em sua tota-
lidade. Ele teve uma formação que o obrigou
a aprender as variadas artes e ciências, a ter
um cultivo estético, a dominar a arte militar e
a combater como um verdadeiro soldado, se
Provavelmente não encontraremos nenhum exemplar do rei filósofo proposto por Platão em nossa história. Porém, fosse necessário. O filósofo teve muitos anos
muitos tentaram unir o preparo filosófico com a capacidade política, como é o caso do imperador romano Marco
Aurélio (121-180). No quadro, de Vien, Marco Aurélio aparece distribuindo pão à população. da vida dedicados à oportunidade de se tornar
governante.
O rei filósofo é o indivíduo que se aprimorou tendo em vista a verdade e o bem.
A cidade ideal é dialética com as cidades reais. Sendo assim, nenhum indivíduo é capaz de
entender tão adequadamente a cidade perfeita como o filósofo, de forma que ele pode fazer a
transformação da realidade existente para o modelo de Estado ideal.
Brigida Soriano/Shutterstock

Para facilitar o entendi-


mento desses parágrafos:
o homem democrático é o
antigo cidadão pobre que
lutou contra os ricos no
governo oligárquico. Depois
que alcança o poder e ins-
titui a democracia, tentará
satisfazer os seus impulsos.
Assim, o cidadão se lançará
a uma vida apenas na busca
por paixões. Como esse
cidadão não é preparado de
modo virtuoso, fará tudo de
EM21_1_FIL_04

modo desordenado e nunca


será feliz. E o fato de não Estátuas de Platão e Sócrates em frente ao edifício da Academia de Artes de Atenas, na Grécia.
ser preparado facilitará que
alguém que se aprimorou o
domine.

56 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 56 14/09/2020 12:34:10


FILOSOFIA E CULTURA


Filmes
No Livro VII da obra A República, Platão narra a famosa alegoria da caverna, em que descreve a
ascensão do mundo sensível para o inteligível. É possível estabelecer uma relação entre a alegoria

Warner Brothers
da caverna e o filme Matrix de 1999.
A alegoria da caverna pode ser relacionada com o filme Matrix (1999). Em Matrix, temos as pes-
soas que vivem em um ambiente virtual, acreditando que este é o verdadeiro mundo. Na realida-
de, essas pessoas estão dormindo e a energia de seus corpos serve para alimentar as máquinas,
que dominam o mundo real e projetam esse ambiente virtual na mente das pessoas. O mundo
virtual pode ser comparado ao mundo das sombras. O que se vê no mundo virtual são apenas
Matrix
projeções das verdadeiras pessoas, mesma ideia das sombras na parede da caverna de Platão.
Ano: 1999
O personagem principal, Neo, encontra dificuldades em se adaptar ao mundo real quando seu
corpo é “acordado”. É a mesma relação na alegoria da caverna quando o homem se depara com a Diretor: Irmãs Wachowski
luz solar. Outro personagem, Morpheus, alerta Neo de que muitas pessoas não estão preparadas Sinopse: no mundo de
Matrix, todas as pessoas
para sair do mundo virtual, e que a maioria delas inclusive defende aquele mundo. É a mesma
permanecem adormecidas
relação entre o prisioneiro liberto, mas que encontrou o mundo real e tenta convencer os outros e servem de bateria para
aprisionados de que eles veem apenas uma ilusão. dar energia ao mundo das
máquinas, que escravizou
a raça humana. Para se
assegurar que ninguém
Alegoria da caverna acorde, as máquinas criaram
um mundo virtual, a matrix,
Tanto a alegoria de Platão como [o filme] Matrix levantam a questão da felicidade, com a estrutura mais em que as pessoas vivem
ampla da relação entre nossa experiência ou estado de espírito subjetivo e a realidade. É uma tese platônica normalmente, acreditando
que a verdadeira liberdade e a felicidade dependem do conhecimento do que é real; segundo essa visão, uma estarem na realidade,
pessoa pode ter a ilusão de ser livre e feliz, mas ser de fato um escravo e infeliz. Essa mesma pessoa pode quando na verdade sua
consciência permanece em
estar completamente enganada ao atribuir a si própria a felicidade, usando a frase: “Sou feliz”. A felicidade estado de sono profundo.
deve ser semelhante ao conceito de saudável; também pode estar enganado quem diz “sou saudável”, ainda Alguns homens descobriram
que se sinta, pelo menos no momento, extremamente saudável, e não tem consciência [...] de um câncer essa situação, e lutam para
detectado. A tese é que a felicidade, a reflexão sobre o “eu” próprio e o mundo objetivo são inseparáveis. De se livrar da hegemonia das
modo semelhante, Matrix obviamente tem muito a ver com a questão do relacionamento entre nosso senso máquinas. Esse filme serve
para ilustrar a situação des-
subjetivo do “eu” (eu sou livre, sou feliz) e a “realidade” das experiências que estamos vivendo. crita por Platão no mito da
caverna, em que o homem
vive um estado de profunda
(GRISWOLD JR., Charles L. Felicidade e escolha de Cypher: a ignorância é felicidade? In: IRWIN, William ignorância sobre si mesmo.
(Org.). Matrix: bem-vindo ao deserto do real. São Paulo: Madras, 2002. p. 158-159.)

Warner Bros.
1. Assista ao filme Matrix e estabeleça relações com os seguintes elementos da alegoria da caverna:
•• interior da caverna:
mundo sensível
•• prisioneiros acorrentados:
pessoas ignorantes, sem conhecimento
A origem
•• sombras dos objetos na parede da caverna: Ano: 2010
objetos do mundo sensível Diretor: Christopher Nolan
•• prisioneiro liberto: Sinopse: Don Cobb, o prota-
gonista do filme, tem uma
filósofo profissão inusitada: rouba
informações de outras pes-
•• subida da caverna para o mundo exterior: soas invadindo seus sonhos.
educação e aprendizado pela dialética É possível sonhar dentro
do sonho inúmeras vezes, e
•• Sol: quanto mais isso se repete,
mais a pessoa fica vulnerá-
verdade vel a não mais distinguir a
•• O mundo fora da caverna: realidade do sonho. O filme
nos provoca a pensar: o que
mundo inteligível é verdade e o que é ilusão?
O que é o verdadeiro e como
2. Na atualidade, o que significa “viver na caverna”? Escreva um texto explicando essa situação aplicada a um o classificamos? Assim como
EM21_1_FIL_04

acontecimento rotineiro. em Matrix, pode-se fazer


A produção escrita deve apresentar alguma situação da atualidade que remeta à alegoria da caverna. A seu critério, o texto uma relação com as ideias
pode ser entregue em data previamente estipulada e compor a avaliação processual do aluno. da alegoria da caverna,
em que buscamos sair do
mundo das sombras para o
mundo das ideias.

FIL 57

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 57 14/09/2020 12:34:14


Resolvidos 99 Resposta: A
a) Correto. No mundo das ideias estão as essências de tudo o que
1. (Enem) existe.
b) Incorreto. O conhecimento sensível, captado pelos sentidos, é
considerado por Platão a fonte dos enganos e das ilusões.
c) Incorreto. Apesar de o conhecimento sensível não ser confiável,
ainda assim é possível aos humanos conhecerem as essências
ou ideias.
d) Incorreto. Não basta expor ideias diferentes, é necessário cons-
truir novas ideias que mesclem as ideias opostas originais.
e) Incorreto. Os filósofos devem viver em conformidade com as
ações virtuosas e não para os prazeres do mundo sensível.

No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado apontando Praticando


para o alto. Esse gesto significa que o conhecimento se encontra
em uma instância na qual o homem descobre a: 1. (Unesp) O que é terrível na escrita é sua semelhança com a pintura.
a) suspensão do juízo como reveladora da verdade. As produções da pintura apresentam-se como seres vivos, mas se
b) realidade inteligível por meio do método dialético. lhes perguntarmos algo, mantêm o mais solene silêncio.
c) salvação da condição mortal pelo poder de Deus. O mesmo ocorre com os escritos: poderíamos imaginar que falam
como se pensassem, mas se os interrogarmos sobre o que dizem
d) essência das coisas sensíveis do intelecto divino. [...] dão a entender somente uma coisa, sempre a mesma [...]. E
e) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade. quando são maltratados e insultados, injustamente, têm sempre
99 Resposta: B a necessidade do auxílio de seu autor porque são incapazes de se
defenderem, de assistirem a si mesmos.
a) Incorreto. Não há suspensão do juízo para se chegar à verdade.
(Platão, Fedro ou Da Beleza.)
b) Correto. O método dialético promove a ascensão do sensível ao
inteligível. Nesse fragmento, Platão compara o texto escrito com a pintura,
c) Incorreto. Para Platão, não é possível aos humanos tornarem-se contrapondo-os à sua concepção de filosofia. Assinale a alternativa
imortais por causa do corpo corruptível. Apenas a alma é eterna. que permite concluir, com apoio do fragmento apresentado, uma
d) Incorreto. As essências estão na alma de cada um, sendo neces- das principais características do platonismo.
sário praticar a dialética para ascender a elas. a) Platão constrói o conhecimento filosófico por meio de peque-
e) Incorreto. Para Platão, o mundo sensível era uma cópia imper- nas sentenças com sentido completo, as quais, no seu entender,
feita do inteligível, logo essa ordem intrínseca reside no mundo esgotam o conhecimento acerca do mundo.
inteligível. b) A forma de exposição da filosofia platônica é o diálogo, e o
conhecimento funda-se no rigor interno das argumentações,
2. (UEL) Você está acompanhando, Sofia? E agora vem Platão. Ele se produzido e comprovado pela confrontação dos discursos.
interessava tanto pelo que é eterno e imutável na natureza quanto
c) O platonismo se vale da oratória política, sem compromisso
pelo que é eterno e imutável na moral e na sociedade. Sim... para
filosófico com a busca da verdade, mas dirigida ao convenci-
Platão tratava-se, em ambos os casos, de uma mesma coisa. Ele
mento dos governantes das cidades.
tentava entender uma “realidade” que fosse eterna e imutável. E,
para ser franco, é para isto que os filósofos existem. Eles não estão d) A poesia rimada é o veículo de difusão das ideias platônicas,
preocupados em eleger a mulher mais bonita do ano, ou os toma- sendo a filosofia uma sabedoria alcançada na velhice e ensi-
tes mais baratos da feira. (E exatamente por isso nem sempre são nada pelos mestres aos discípulos.
vistos com bons olhos). Os filósofos não se interessam muito por e) O discurso platônico tem a mesma natureza do discurso reli-
essas coisas efêmeras e cotidianas. Eles tentam mostrar o que é gioso, pois o conhecimento filosófico modifica-se segundo as
“eternamente verdadeiro”, “eternamente belo” e “eternamente bom”. habilidades e a argúcia dos filósofos.
(GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. Tradução de: AZENHA 99 Anotações
JÚNIOR, João. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 98.)
A filosofia de Platão desenvolveu-se influenciada pelo método de seu mestre
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria das ideias
de Platão, assinale a alternativa correta. Sócrates, por isso propõe sempre a discussão das ideias.
a) Para Platão, o mundo das ideias é o mundo do “eternamente
verdadeiro”, “eternamente belo” e “eternamente bom” e é dis-
tinto do mundo sensível no qual vivemos.
b) Platão considerava que tudo aquilo que pode ser percebido 2. (UEL) Leia o texto, de Platão, a seguir:
diretamente pelos sentidos constitui a própria realidade das
“Logo, desde o nascimento, tanto os homens como os animais têm
coisas.
o poder de captar as impressões que atingem a alma por intermédio
c) Platão considerava impossível que o homem pudesse ter ideias do corpo. Porém relacioná-las com a essência e considerar a sua
verdadeiras sobre qualquer coisa, seja sobre a natureza, a moral utilidade, é o que só com tempo, trabalho e estudo conseguem os
ou a sociedade, porque tudo é sonho e ilusão. raros a quem é dada semelhante faculdade. Naquelas impressões,
d) Para Platão, as ideias sobre a natureza, a moral e a sociedade po- por conseguinte, não é que reside o conhecimento, mas no racio-
dem ser explicadas a partir das diferentes opiniões das pessoas. cínio a seu respeito; é o único caminho, ao que parece, para atingir
e) De acordo com Platão, o filósofo deve preocupar-se com as a essência e a verdade; de outra forma é impossível.”
coisas efêmeras e cotidianas do mundo, tidas por ele como as (PLATÃO. Teeteto. Tradução de: NUNES, Carlos Alberto.
mais importantes. Belém: Universidade Federal do Pará, 1973. p. 80.)

58 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 58 14/09/2020 12:34:16


Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria do conhe- 2. C1:H1 (UEL) — Mas a cidade pareceu-nos justa, quando existiam
cimento de Platão, considere as afirmativas a seguir. dentro dela três espécies de naturezas, que executavam cada
I. Homens e animais podem confiar nas impressões que recebem uma a tarefa de que lhe era própria; e, por sua vez, temperante,
do mundo sensível, e assim atingem a verdade. corajosa e sábia, devido a outras disposições e qualidades dessas
mesmas espécies.
II. As impressões são comuns a homens e animais, mas apenas
os homens têm a capacidade de formar, a partir delas, o co- — É verdade.
nhecimento. — Logo, meu amigo, entenderemos que o indivíduo, que tiver
na sua alma estas mesmas espécies, merece bem, devido a essas
III. As impressões não constituem o conhecimento sensível, mas
são consideradas como núcleo do conhecimento inteligível. mesmas qualidades, ser tratado pelos mesmos nomes que cidade.

IV. O raciocínio a respeito das impressões constitui a base para se (PLATÃO. A República. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira.
7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. p.190.)
chegar ao conhecimento verdadeiro.
Assinale a alternativa correta. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a justiça em Platão
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. é correto afirmar:
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas. a) As pessoas justas agem movidas por interesses ou por bene-
fícios pessoais, havendo a possibilidade de ficarem invisíveis
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
aos olhos dos outros.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
b) A justiça consiste em dar a cada indivíduo aquilo que lhe é de
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. direito, conforme o princípio universal de igualdade entre todos
99 Anotações os seres humanos, homens e mulheres.
c) A verdadeira justiça corresponde ao poder do mais forte, o qual,
Para Platão, o conhecimento verdadeiro está posto no mundo das ideias. quando ocupa cargos políticos, faz as leis de acordo com seus
Porém, para alcançá-lo é preciso pensar racionalmente sobre as impressões
e o mundo. interesses e pune aquele que lhe desobedece.
d) A justiça deve ser vista como uma virtude que tem sua origem
na alma, isto é, deve habitar o interior do homem, sendo inde-
Desenvolvendo Habilidades
pendente das circunstâncias externas.
1. C1:H1 (UEM) Sócrates: Imaginemos que existam pessoas morando e) Ser justo equivale a pagar dívidas contraídas e restituir aos de-
numa caverna. Pela entrada dessa caverna entra a luz vinda de mais aquilo que se tomou emprestado, atitudes que garantem
uma fogueira situada sobre uma pequena elevação que existe na uma velhice feliz.
frente dela. Os seus habitantes estão lá dentro desde a infância,
algemados por correntes nas pernas e no pescoço, de modo que 3. C1:H1 (Enem) Suponha homens numa morada subterrânea, em
não conseguem mover-se nem olhar para trás, e só podem ver forma de caverna, cuja entrada, aberta à luz, se estende sobre
o que ocorre à sua frente. [...] Naquela situação, você acha que todo o comprimento da fachada; eles estão lá desde a infância,
os habitantes da caverna, a respeito de si mesmos e dos outros, as pernas e o pescoço presos por correntes, de tal sorte que não
consigam ver outra coisa além das sombras que o fogo projeta na podem trocar de lugar e só podem olhar para frente, pois os gri-
parede ao fundo da caverna? lhões os impedem de voltar a cabeça; a luz de uma fogueira acesa
(PLATÃO. A República [adaptação de Marcelo ao longe, numa elevada do terreno, brilha por detrás deles; entre
Perine]. São Paulo: Scipione, 2002. p. 83.) a fogueira e os prisioneiros, há um caminho ascendente; ao longo
do caminho, imagine um pequeno muro, semelhante aos tapumes
Em relação ao célebre mito da caverna e às doutrinas que ele que os manipuladores de marionetes armam entre eles e o público
representa, assinale o que for correto. e sobre os quais exibem seus prestígios.
(1) No mito da caverna, Platão pretende descrever os primór-
(PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.)
dios da existência humana, relatando como eram a vida e a
organização social dos homens no princípio de seu proces- Essa narrativa de Platão é uma importante manifestação cultural
so evolutivo, quando habitavam em cavernas. do pensamento grego antigo, cuja ideia central, do ponto de vista
(2) O mito da caverna faz referência ao contraste ser e parecer, filosófico, evidendia o(a)
isto é, realidade e aparência, que marca o pensamento filo- a) caráter antropológico, descrevendo as origens do homem
sófico desde sua origem, e que é assumido por Platão em primitivo.
sua famosa teoria das Ideias. b) sistema penal da época, criticando o sistema carcerário da
(3) O mito da caverna simboliza o processo de emancipação sociedade ateniense.
espiritual que o exercício da filosofia é capaz de promover,
c) vida cultural e artística, expressa por dramaturgos trágicos e
libertando o indivíduo das sombras da ignorância e dos
cômicos gregos.
preconceitos.
d) sistema político elitista, provindo do surgimento da pólis e da
(4) É uma característica essencial da filosofia de Platão a distin-
democracia ateniense.
ção entre mundo inteligível e mundo sensível; o primeiro
ocupado pelas Ideias perfeitas, o segundo pelos objetos e) teoria do conhecimento, expondo a passagem do mundo
físicos, que participam daquelas Ideias ou são suas cópias ilusório para o mundo das ideias.
imperfeitas. 4. C1:H1 (Enem) Trasímaco estava impaciente porque Sócrates e os
(5) No mito da caverna, o prisioneiro que se liberta e contempla seus amigos presumiam que a justiça era algo real e importante.
a realidade fora da caverna, devendo voltar à caverna para Trasímaco negava isso. Em seu entender, as pessoas acreditavam
libertar seus companheiros, representa o filósofo que, na no certo e no errado apenas por terem sido ensinadas a obedecer
concepção platônica, conhecedor do Bem e da Verdade, é o às regras da sua sociedade. No entanto, essas regras não passavam
mais apto a governar a cidade. de invenções humanas.
Soma ( ) (RACHELS, J. O problema da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.)

FIL 59

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 59 14/09/2020 12:34:16


O sofista, Trasímaco, personagem imortalizado no diálogo A 3. (Unesp) Do lado oposto da caverna, Platão situa uma fogueira
República, de Platão, sustentava que a correlação entre justiça e – fonte da luz de onde projetam as sombras – e alguns homens
ética é resultado de que carregam objetos por cima de um muro, como num teatro de
a) determinações biológicas impregnadas na natureza humana. ­fantoches, e são desses objetos as sombras que se projetam no
fundo da caverna e as vozes desses homens que os prisioneiros
b) verdades objetivas com fundamento anterior aos interesses
atribuem às sombras. Temos um efeito como num cinema em que
sociais.
olhamos para a tela e não prestamos atenção ao projetor nem às
c) mandamentos divinos inquestionáveis legados das tradições caixas de som, mas percebemos o som como proveniente das
antigas. figuras na tela.
d) convenções sociais resultantes de interesses humanos con- (MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia, 2001.)
tingentes.
e) sentimentos experimentados diante de determinadas atitudes Explique o significado filosófico da Alegoria da Caverna de Platão,
humanas. comentando sua importância para a distinção entre aparência e
essência.
Complementares 4. (UFF) Em seu diálogo A República, Platão descreve na célebre
Alegoria da Caverna a situação de homens aprisionados desde a
1. (UEM) — Logo, a arte de imitar está muito afastada da verdade, infância no fundo de uma caverna e de tal forma que só podem
sendo que por isso mesmo dá a impressão de poder fazer tudo, olhar para uma parede em frente sobre a qual se projetam as
por só atingir parte mínima de cada coisa, simples simulacro. O sombras de bonecos colocados atrás destes homens. Um destes
pintor, digamos, é capaz de pintar um sapateiro, um carpinteiro homens se liberta, sai da caverna e aos poucos se acostuma com
ou qualquer outro artesão, sem conhecer absolutamente nada a luminosidade externa, começa a distinguir as coisas e por fim
das respectivas profissões. No entanto, se for bom pintor, com o descobre o Sol como a fonte da luz. Ele se dá conta, então, da ilusão
retrato de um carpinteiro, mostrado de longe, conseguirá enganar representada pelas sombras que ele e os outros tomavam como
pelo menos crianças ou pessoas simples e levá-las a imaginar que realidade. Exultante com sua descoberta, ele retorna à caverna para
se trata de um carpinteiro de verdade. relatar sua experiência, que é assim narrada por Sócrates:
— Como não? “Suponha que esse homem volte à caverna e retome o seu anti-
— Mas a meu ver, amigo, o que devemos pensar dessa gente é o go lugar. Desta vez, não seria pelas trevas que ele teria os olhos
seguinte: quando alguém nos anuncia que encontrou um indiví- ofuscados, ao vir diretamente do Sol? E se ele tivesse que emitir
duo conhecedor de todas as profissões e de tudo o que se pode de novo um juízo sobre as sombras e entrar em competição com
saber, e isso com a proficiência dos maiores especialistas, seremos os prisioneiros que continuaram acorrentados, enquanto sua
levados a suspeitar que falamos com um tipo ingênuo e vítima, sem vista ainda está confusa, seus olhos ainda não se recompuseram,
dúvida, de algum charlatão e imitador, e que se o tomou por sábio enquanto lhe deram um tempo curto demais para acostumar-se
universal foi apenas pelo fato de ser incapaz de fazer a distinção com a escuridão, ele não ficaria ridículo? Os prisioneiros não diriam
entre o conhecimento, a ignorância e a imitação. que, depois de ter ido até o alto, voltou com a vista perdida, que
não vale mesmo a pena subir até lá? E se alguém tentasse retirar os
(PLATÃO. A República, Livro X. In: MARÇAL, J. Antologia de seus laços, fazê-los subir, você acredita que, se pudessem agarrá-lo
textos filosóficos. Curitiba: SEED, 2009. p. 557-558.)
e executá-lo, não o matariam?”.
A partir do trecho citado e dos conhecimentos sobre a filosofia de Platão parece estar descrevendo a situação do “filósofo” quando
Platão, assinale o que for correto. este pretende esclarecer os demais seres humanos sobre o que
(1) Para Platão, a reprodução de algo não comporta a Verdade ele pensa ser a verdade.
desse algo, sua essência verdadeira. A partir desta narrativa de Platão, discorra sobre qual o papel do
“filósofo” no mundo contemporâneo.
(2) Para Platão, conhecer um objeto sensível implica tomar con-
tato apenas com o simulacro dele.
(3) Para Platão, a reprodução de algo espelha uma parte do ser
e não o que ele é verdadeiramente.
(4) Para Platão, a verdade de algo está para além de sua mani-
festação sensível.
(5) Para Platão, é impossível haver conhecimento de qualquer
coisa.
Soma ( )
2. (UFMG) A educação, disse eu, seria uma arte da reviravolta, uma
arte que sabe como fazer o olho mudar de orientação do modo
mais fácil e mais eficaz possível; não a arte de produzir nele o poder
de ver, pois ele já o possui, sem ser corretamente orientado e sem
olhar na direção que deveria, mas a arte de encontrar o meio para
reorientá-lo.
(Platão. A República, Livro VIII. 518 D.)

Na imagem proposta por Platão, sair da caverna representa a GABARITO ONLINE


educação como uma reviravolta. Com base na leitura desse trecho 1. Faça o download do aplicativo SAE Questões ou qualquer aplicativo
e em outras informações presentes nessa obra, explique o que de leitura QR Code.
2. Abra o aplicativo e aponte para o QR Code ao lado.
significa essa reviravolta. 3. O gabarito deste módulo será exibido em sua tela.

60 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 60 14/09/2020 12:34:18


EE
Filosofia de

EE
EEE
m
m

EEE
EEE

mm
mm
mm
m mm
Aristóteles

mmmmmmm
mm
Aristóteles: vida e obra • Divisão das ciências • Lógica aristotélica • Ética aristotélica • Política
Filosofia
mód. 05/08

05
Filosofia de
Aristóteles

START

Leia o trecho a seguir da obra de Aristóteles e responda às questões.

Todos os homens por natureza desejam saber. O prazer causado pelas sensações é a prova disto, pois, mesmo
fora de qualquer utilidade, elas nos agradam por elas mesmas, e, mais do que todas as outras, as sensações vi-
suais. De fato, não só para agir, mas mesmo quando não nos propomos nenhuma ação, a vista é, por assim dizer,
o que preferimos a todo o resto. A causa disto é que a vista é, de todos os sentidos, o que nos faz adquirir mais
conhecimentos e nos mostra o maior número de diferenças.

(ARISTÓTELES. Metafísica, Livro 1.)

Leia o trecho de abertura


1. O conhecimento sensível é importante para saber sobre o mundo? da obra Metafísica e abra
espaço para interpretações.
Em seguida, aborde as ques-
tões propostas, desafiando
os alunos a pensarem sobre
algumas das questões
que intrigaram Aristóteles.
Essas questões envolvem
2. A visão é a sensação mais prazerosa? Por quê? o conhecimento sensível
que, para Aristóteles, eram
imprescindíveis para chegar
ao conhecimento inteligível.

3. Somos naturalmente sociáveis ou devemos aprender a ser sociáveis?


Max4e Photo/Shutterstock

FIL 61

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 61 14/09/2020 12:34:35



Aristóteles: vida e obra
Saiba mais

O Liceu possuía a maior


biblioteca do mundo antigo,
Aristóteles foi um dos maiores pensadores da história da filosofia.

Gunnar Bach Pedersen/W.Commons


que serviu de modelo para
a construção da maior Ele inaugurou uma nova forma de filosofar. Se Sócrates e Platão foram
biblioteca da história: a os mestres que auxiliavam o discípulo a despertar dentro de si a verdade
Biblioteca de Alexandria. por meio do diálogo, Aristóteles foi o professor incansável, observador da
Além da compilação de
muitas obras antigas, a
natureza, catalogador dos fenômenos, sistematizador das observações.
biblioteca do Liceu possuía A sistematização e organização do conhecimento com objetivo cientí-
os mais variados objetos fico é um dos grandes diferenciais do filósofo, em relação aos pensado-
para os estudos de ciências
res que o antecederam.
naturais, como protóti-
pos de plantas e animais Aristóteles nasceu em Estagira (384/383 a.C. - 322 a.C.), na Macedônia.
exóticos, trazidos para ele Sua trajetória como filósofo pode ser dividida em três fases:
por Alexandre, o Grande, dos
locais por onde ele passava ●● Primeira fase: período que vai dos 18 aos 36 anos, quando ele in-
em suas conquistas. Depois gressa na Academia de Platão, em Atenas, tornando-se seu discí- Busto de Aristóteles
da derrubada do império pulo;
macedônico, Aristóteles
foi visto como traidor em ●● Segunda fase: inicia-se com a morte do mestre, Platão, em 347 a.C., quando Aristóteles reti-
Atenas e foi processado por ra-se da Academia e passa a viajar para outras localidades, conhecendo outros pensadores e
impiedade (mesma conde- observando sistematicamente vários fenômenos naturais, políticos etc. Em 342 a.C., o rei da
nação de Sócrates). Mas,
Macedônia convida o filósofo para ser o responsável pela educação de seu filho Alexandre,
ao contrário de Sócrates,
Aristóteles optou por fugir, que viria a ser um dos maiores conquistadores e políticos de todos os tempos;
pois acreditava que sua ●● Terceira fase: a partir de 334-335 a.C., quando o filósofo retorna a Atenas para fundar sua
condenação era tão injusta
escola filosófica, chamada Liceu.
quanto a de Sócrates. Ele foi
para a ilha de Eubeia, onde As obras aristotélicas podem ser divididas entre “exotéricas” e “esotéricas”.
morreu um ano depois e o
●● Obras exotéricas: em geral, compostas na forma de diálogo, e escritas visando ao público
Liceu ficou sob responsabi-
lidade de Teofrasto (até o geral, aos não iniciados na Filosofia, ou seja, quem não era aluno do Liceu. Concentram-se
ano de 287 a.C., quando veio os escritos sobre retórica, política e literatura;
a falecer). Até aproxima-
●● Obras esotéricas: são tratados filosóficos abordando as mais variadas temáticas, caracte-
damente 143 a.C., o Liceu
passou por vários dirigentes rizando-se como resultados de estudos sistemáticos. Essas obras eram dirigidas aos alunos
e foi saqueado diversas do Liceu, portanto, eram mais profundas e complexas. Concentram-se os escritos sobre ló-
vezes até que, no ano de gica, física e metafísica. A classificação e sistematização das obras aristotélicas esotéricas
529 da nossa era, deixou de é ainda alvo de grandes discussões entre os estudiosos. A seguir, tem-se um resumo da
existir por ordem de Justi-
niano, imperador bizantino organização mais comum. O conjunto das obras esotéricas ficou conhecido como Corpus
que instaurou o cristianismo aristotelicus, que era composto pelo conjunto de obras:
como religião oficial do ●● Órganon: são os tratados de lógica, Categorias, De Interpretatione, Analíticos primeiros,
império romano. Em 146 a.C.,
o império Romano invadiu a Analíticos segundos, Tópicos e refutações sofísticas. Aqui são estudadas questões como as
Grécia. Os romanos, então, características do raciocínio verdadeiro e falso, a forma de se pensar corretamente etc;
se apropriaram das obras ●● Obras de física e filosofia natural: Física, Do céu, Da geração e da corrupção e Meteoro-
e as levaram para Roma
e de lá, para a Biblioteca logia, História dos animais, Das partes dos animais, Do movimento dos animais e Da geração
de Alexandria. Aristóteles dos animais;
quase caiu no esquecimento ●● Obras de psicologia: De anima e vários textos menores sobre a alma;
na Europa fragmentada do
início da era cristã e foi vee- ●● Metafísica: obra mais importante, que reúne 14 livros sobre as causas e princípios pri-
mentemente recusado pela meiros de toda a realidade e, por isso, podemos considerá-la o trabalho mais importante
Igreja Católica no Período de Aristóteles;
Medieval por dois motivos:
o primeiro é que os pensa- ●● Obras de ética e política: Ética a Nicômaco, Grande ética, Ética a Eudemo e Política;
dores da Antiguidade grega ●● Obras sobre artes e história: Arte Retórica e Arte Poética.
eram vistos como pagãos e,
consequentemente, hereges;
e segundo, porque as obras
de Aristóteles que retorna-
vam à Europa eram advindas
Divisão das ciências
dos estudos, comentários e
Aristóteles buscou uma forma de organizar todo o conhecimento possível em três grandes
das traduções para o árabe,
o que não era aceito pela grupos.
Igreja. Foi só com Tomás ●● Ciências teoréticas: estudam tudo aquilo que existe independentemente da vontade e das
de Aquino (século XIII d.C.) ações humanas, como os fenômenos naturais, a geração e corrupção dos seres, o ser em ge-
que Aristóteles finalmente
EM21_1_FIL_05

EM21_1_FIL_05

retornou ao cenário do ral. São elas: a metafísica, a física e a matemática. Elas são consideradas ciências superiores,
conhecimento, mas, ainda por não estarem limitadas a um escopo específico, sendo a metafísica a mais importante de
assim, “cristianizado” pela todas as ciências, pois é a investigação das causas e dos princípios primeiros;
Escolástica.
●● Ciências práticas: investigam as ações humanas, consideradas individual e coletivamente.
São elas: a ética (na esfera individual) e a política (na esfera coletiva);

62 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 62 14/09/2020 12:34:40



●● Ciências poiéticas ou produtivas: visam à ação fabricadora, ou seja, orientam as ações hu- Observe
manas no sentido de produzir uma obra. São consideradas ciências produtivas a navegação,
Para os gregos, “ciência” era
a economia, a medicina, a poesia, a tecelagem, a metalurgia, ou seja, os inúmeros ofícios.
considerada o conhecimen-

Metafísica
●● Princípio ontológico: é a partir da subs- to teórico das coisas por
tância que se pode ser alguma coisa; meio do raciocínio. Para
Aristóteles, ciência é o co-
A obra Metafísica é formada por 14 livros, ●● Princípio lógico: a substância é a condi- nhecimento pelo raciocínio,
ção lógica para se falar sobre o ser; investigação científica. A
escritos em diferentes períodos da vida de
palavra grega usada nessa
Aristóteles. Pelo fato de não ser pensada como ●● Princípio epistemológico: a substância acepção é epistéme.
um bloco de textos encadeados, pode apre- é fundamento da realidade e do conhe-
sentar dificuldades de compreensão. A reu- cimento.
nião desses escritos em uma mesma obra não
foi realizada por Aristóteles, mas por estudio-
sos posteriores de sua obra. Eles perceberam
Causas primeiras (aitíta)
que os 14 livros possuíam em comum o estudo Como a metafísica é a ciência que investiga
da realidade que “está para além da física”, da as causas primeiras, Aristóteles concluiu que
matéria, ou seja, a realidade metafísica. existem quatro causas necessárias que dão Observe
origem à realidade e à possibilidade de conhe-
Pode-se sintetizar a investigação metafísi- A palavra “metafísica” foi
cê-la. São elas:
ca com as seguintes perguntas: quais são as empregada pela primeira
causas e os princípios primeiros que geraram vez por Andrônico de
Causa Rodes. “Metafísica” vem
toda a multiplicidade de seres que existem? O Definição Exemplo
aristotélica do grego metà tà physiká,
que é e como estudar o “ser enquanto ser”? que significa “aquilo que
Qual a substância primeira do ser? É a forma, isto

Yeamake/Shutterstock
está para além da física”. A
é, a essência ciência metafísica estuda
A obra Metafísica inicia-se com a frase: Causa do objeto. aquilo que está para além
formal Resposta à do mundo material.
Todos os homens por natureza desejam pergunta “o
­conhecer. que é?”. Cadeira.

Kutlayev Dmitry/Shutterstock
É o material do
Mas Aristóteles afirma que não basta dese-
qual o objeto é
jar o conhecimento; é necessário delimitá-lo, Causa
feito. Resposta
discriminá-lo, diferenciá-lo e reuni-lo. Ou seja, material
à pergunta “do
é necessário adotar uma atitude filosófica ca- que é feito?”. Madeira.
paz de ordenar os objetos do conhecimento
É o que

Fergus Coyle/Shutterstock
segundo critérios determinados. O ponto de
deu origem
partida desta investigação é a definição do es-
Causa ao objeto.
copo da metafísica: “o estudo do ser enquan-
eficiente Resposta
to ser”, ou, em outras palavras, a investigação à pergunta
daquilo que torna um ser aquilo que ele é. “quem?”. Marceneiro.
Aristóteles afirmou que esse estudo é o estudo
Kutlayev Dmitry/Shutterstock

da substância ou essência como princípio da


multiplicidade, da mudança, da unidade e de
sua inteligibilidade. É a finalidade
Saiba mais
Substância, para Aristóteles, é o suporte daquele
que recebe atributos, ou seja, o sujeito que re- objeto. A metafísica caracteriza-
Causa final
cebe predicados. Resposta à -se pelos aspectos lógico
pergunta “para Peça de (estrutura da realidade e
Os quatro princípios buscados por quê?”. mobília que do pensamento, conside-
Aristóteles para empreender a investigação serve para as rando o ser como verbo
metafísica são: conhecer os primeiros princí- pessoas se de ligação), ontológico (a
pios (arkhé), as causas primeiras (aitía), o su- substância como princípio
sentarem.
do ser enquanto ser) e
jeito (substrato, em grego hypokeímenon) e a epistemológico (por meio da
essência (ousía). investigação da substância,
Sujeito (hypokeímenon) é possível desenvolver o co-

Primeiros princípios (arkhé) Sujeito ou substrato é a tradução do termo


nhecimento científico, pois
só há ciência do universal).
Assim como os pré-socráticos, Aristóteles grego hypokeímenon que, na metafísica, s­ ignifica
também buscou o princípio de tudo o que o suporte que recebe as propriedades essen-
existe (arkhé), mas diferentemente daqueles, ciais do ser. Simplificando, é o sujeito que rece-
be predicados, mas que não é um predicado em
EM21_1_FIL_05

EM21_1_FIL_05

propôs que esse princípio primordial seria a


substância porque ela possui os seguintes si. Qualquer coisa que exista como sujeito está
princípios: condicionada à dez categorias de predicação:

FIL 63

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 63 14/09/2020 12:34:55



●● substância: nome ou substantivo, sobre fogo, perde sua forma e preserva sua matéria
o qual recai o verbo (homem, cavalo); (a cera derretida ainda é cera, mas não é mais
●● quantidade: quantos (três bolas, dois uma vela).
metros);
●● qualidade: adjetivos (azul, inteligente,

Vectorpocket/Shutterstock

Stock image/Shutterstock
sonolento) ou modos verbais (indicativo,
subjuntivo etc.);
●● relação: comparação (maior que, mais
perto de);
●● lugar: onde (na praça, em casa, no mer-
cado); A substância “vela” é o resultado da junção entre matéria (cera) e
●● tempo: quando (ontem, pela manhã, forma (formato de vela). A matéria não sofre mudança, pois continua
sendo cera, mesmo que derretida, mas a forma é mutável (a cera
agora); derretida não é mais uma vela).
●● estado: situação (sentado, correndo,
Observe
doente, saudável); Potência e ato
●● hábito: características que costuma
O sentido de “paixão” Até agora, Aristóteles definiu a causa mate-
apresentar (usa sapatos, penteado, rou-
para os filósofos gregos é rial dos seres (matéria) e a causa formal deles
diferente do sentido atual: pas coloridas);
(forma). Ainda falta definir a causa eficiente
não se trata de amor como ●● ação: ato do sujeito (amar, cortar, criar);
é entendido hoje, mas (como a forma se imprime na matéria?) e a cau-
trata-se daquele que sofre ●● paixão: o que sofre a ação (amado, cor- sa final (para que serve cada coisa que existe?).
uma ação, que é passivo, tado, criado). Sabe-se que a forma muda com o tempo,
paciente.
ou seja, se transforma: a semente vira árvore,
Essência (ousía) a árvore vira madeira, a madeira vira casa, o
botão vira flor, a noite vira dia. Ou seja, tudo
Nesse estudo, Aristóteles afasta-se da teo-
está em constante movimento (devir) e, segun-
Curiosidade ria das ideias de seu mestre, Platão, afirmando
do Aristóteles, os seres compostos de matéria
que a essência de cada coisa reside na própria
Ao afirmar que todos os e forma estão sujeitos a esse ciclo constante
seres tendem a realizar sua coisa, e não em um mundo separado, imaterial
de mudanças, que podem ser de dois tipos:
causa final, ou seja, tendem e perfeito, como o mundo das ideias platôni-
a atingir sua plenitude e co. Logo, Aristóteles propõe a investigação das ●● Mudança radical: quando a matéria per-
perfeição, Aristóteles está coisas como elas são, enquanto substância, ou de a forma ou recebe outra diferente.
afirmando que os seres Exemplo: quando a vela derrete, deixa
seja, compostas de matéria e forma.
possuem uma finalidade de ser vela e passa a ser cera derretida;
(thélos) específica. Esse pen-
samento é chamado, pelos Exemplo: a substância “escultura” é ●● Mudança de desenvolvimento: quando
estudiosos, de teleologia composta de matéria (mármore, madei- ocorre um desdobramento da forma
(thélos – fim, finalidade; ra, barro etc.) e de forma (projeto do es- contida na matéria. Exemplo: uma se-
logos – estudo do fim ou da
cultor – que pode ser um corpo humano, mente que vira árvore, um embrião que
finalidade, ou seja, estudo
da finalidade dos seres). um animal, um objeto etc.). vira uma pessoa.
Aristóteles se preocupou em compreender
a relação entre o ser e o movimento – o devir
rtem/Shutterstock

rawf8/Shutterstock

Celiafoto/Shutterstock

ou vir a ser. Pois bem, para Aristóteles, existe


uma condição necessária para que a causa
eficiente imprima a forma na matéria, e essa
condição é que todo o ser muda porque tende

= + a realizar plenamente a sua essência. Ou seja,


os seres buscam encontrar a finalidade, ou a
Substância (estátua) Matéria Forma causa final, de sua existência. Pode-se impri-
(mármore) (definida pelo escultor, mir a forma de mesa na madeira, mas não no
no exemplo, forma de fogo ou na água, porque a madeira contém em
cavalo) si o potencial de ser mesa; uma semente pode
vir a ser uma árvore, mas nunca um peixe ou
Para Aristóteles, a matéria não sofre mu- um gato. Logo, cada coisa que existe possui em
danças, ao contrário da forma, que pode mu- si mesmo a tendência a se realizar plenamente,
dar de acordo com as circunstâncias. Uma vela ou seja, a buscar sua finalidade última.
é feita de cera (matéria) moldada na forma de
Outro aspecto importante postulado por
“vela”, mas quando ela derrete com o calor do
Aristóteles é que a forma corresponde ao que
EM21_1_FIL_05

EM21_1_FIL_05

64 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 64 14/09/2020 12:35:15



o ser é, em ato – ao que ele é na atualidade; que existe é efeito de uma causa, ou seja, se
a matéria corresponde ao que ele pode vir a existe é porque foi gerado ou transformado
ser, ou o que ele é em potência. Acompanhe o por outro. E esse outro foi gerado por outro.
exemplo a seguir: Mas não podemos ir até o infinito, porque seria
necessária uma nova causa para explicar um
efeito. Então, deve haver uma primeira causa
que não é causada, que seria o primeiro prin-
Rvector, dumayne, IMissisHope, Kazakova Maryia/Shutterstock

cípio, que depois geraria vários efeitos que


se tornariam causas de outros efeitos. Esse
primeiro princípio é Deus. Deus é o primeiro
Relembrando
motor imóvel, que gera e move todos os ou-
tros seres, mas ele mesmo é imóvel, eterno Para retomar as quatro
DEVIR causas, podemos aplicá-las
e imutável.
ao exemplo da semente e da
Semente: Árvore: A metafísica é também uma ciência que en- árvore e dos artefatos pro-
em ato é a própria em ato é a própria caminha o ser humano a Deus, pois o permite duzidos pelo agente. Para
semente; árvore; que seja possível a potência
em potência, a em potência, a conhecer as verdades mais elevadas. Por isso,
se atualizar, depende de
semente poderá vir a árvore poderá vir a ser encerra-se esse estudo sobre a metafísica aris- inúmeros fatos acidentais,
ser uma árvore. mesa, cadeira, casa...
totélica citando este trecho: por exemplo, a semente
poderá não atualizar seu
Teologia
Essa passagem influenciará decisivamente
potencial “árvore” se cair
a construção da filosofia medieval, pois se tra- num solo infértil ou se não
Foi visto anteriormente, que a substância é ta da fundamentação lógica mais avançada até receber água, luz e nutrien-
a forma, que é suprassensível e informa o sen- então para explicar a necessidade da existên- tes suficientes para se de-
cia de Deus. Sem Deus, não haveria princípio senvolver. Da mesma forma,
sível. Porém, de onde vem a forma? Isto é, a a madeira da árvore pode
forma modela a matéria, mas quem modela a primeiro, e sem o princípio primeiro não tería-
ou não atualizar sua potên-
forma? E esse algo que modela a forma apenas mos uma primeira causa, logo tudo nos levaria cia “mesa”, “cadeira”, “casa”
pode ser suprassensível, pois a matéria não apenas a um efeito. Além da metafísica, outro dependendo da maneira
pode definir a forma. Nisso surge o argumen- estudo de Aristóteles influenciaria de modo in- que será apropriada por
tenso a história do pensamento ocidental: a ló- um agente. Nesse exemplo,
to aristotélico para provar a existência de uma estamos falando da causa
causa primeira para todas as coisas. Ora, tudo gica, disciplina que se encontra distribuída nas eficiente, que pode ou não
várias obras do Órganon. atualizar a potência da se-
mente e da madeira. A causa

Lógica aristotélica
eficiente da semente são as
condições propícias para ela
germinar; a causa eficiente
da madeira é o lenhador ou
Quais são as regras que definem a forma quanto nas afirmações universais não carpinteiro ou marceneiro
correta de se elaborar um raciocínio? A disci- há como dizer que existem pássaros que que vai beneficiar a matéria-
plina que trabalha com essa e outras questões não sejam animais. -prima “madeira”.
referentes à maneira correta de raciocinar é a Outra importante parte da lógica aristoté-
lógica, e Aristóteles foi seu fundador. O objeti- lica é o estudo dos silogismos, que seriam in-
vo é oferecer uma base sólida para a própria ferências dedutivas, que depois pressupõem
possibilidade do conhecimento. Como pensar outras inferências. Exemplo:
corretamente?
Nos Analíticos Primeiros, o filósofo aborda Todos os homens
o que ele entende por proposição, os enun- ← Primeira premissa
são mortais.
ciados compostos de sujeito e predicado, que
Sócrates é
afirmam ou negam algo, ou seja, dizem se algo ← Segunda premissa
homem.
é verdadeiro ou falso. Aristóteles lança as ba-
ses da lógica ocidental, criando inclusive o uso Logo, Sócrates é
← Conclusão
de letras nas formulações de enunciados. mortal.

Toda proposição precisa enunciar um pre-


dicado referente a um sujeito, por exemplo, Duas premissas verdadeiras levam a uma
“todos os pássaros são animais”. Nisso, elas se conclusão verdadeira.
dividem em: Depois, Aristóteles articulará ainda a lógica
●● proposições universais: referem à tota- dos axiomas nos Analíticos Segundos. Os axio-
lidade de sujeitos, como “todos os pássa- mas são os princípios que devem ser adquiri-
ros são animais”; dos por aqueles que querem aprender alguma
coisa. Portanto, essa parte da lógica é direcio-
●● proposições particulares: ocorrem
EM21_1_FIL_05

EM21_1_FIL_05

nada ao estudo da natureza do conhecimento.


quando se referem a apenas uma parte
Para Aristóteles, conhecer um objeto é desco-
dos sujeitos. Exemplo: “alguns animais
brir sua causa, e também que não é possível
são pássaros”. Nisso está implícito que
que determinada coisa seja de outra maneira.
há animais que não são pássaros, en-
Essas duas condições são fundamentais.

FIL 65

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 65 14/09/2020 12:35:21



O cientista, por exemplo, precisa saber por A metafísica e a lógica lançaram inúmeras
que o ser humano é bípede e por que não pode- bases para o conhecimento que se solidifica-
ria ser de outra forma. Contudo, isso apresenta ria nos séculos seguintes. As raízes do saber
novos problemas. Quando conheço a causa de científico ocidental são: causa e efeito, sendo
um fenômeno, precisaria saber a causa dessa que conhecer é conhecer a causa; ato e potên-
causa, e depois dessa, e assim por diante, mas cia; essência e acidente; entender os princípios
dessa forma iríamos ao infinito. Nunca encon- do fenômeno; entender por que isto é deste
traríamos, então, a causa primeira de um fato? modo e não de outro. São conceitos que se tor-
Aristóteles afirma que existem causas que se nariam atemporais e universais, de tal forma
justificariam por si mesmas, sem necessidade que os filósofos posteriores continuam a falar
de outras causas. Essas seriam as definições, de causas, de efeitos, de ato e potência, de es-
enunciados que alcançam a essência do fenô- sência, de acidente.
meno, a natureza do objeto. Aristóteles, portanto, mais do que o último
Para concluir, poderiam ser trazidos outros dos grandes filósofos gregos, é o fundador da
estudos aristotélicos, como a física, a biologia ciência ocidental como entendemos hoje. E
e a meteorologia. São todos estudos pioneiros, essa influência não se resume à busca pelo co-
em parte foram superados por estudiosos pos- nhecimento, mas também à vida prática.
teriores, por outro lado são a semente da pró-
pria ciência ocidental.

Ética aristotélica
A influência da filosofia aristotélica no pen- ●● vida prazerosa: quando a felicidade é
samento ocidental não se resume às investi- entendida como a satisfação de praze-
gações sobre a teoria do conhecimento, mas res. No entanto, para Aristóteles, viver
também sobre a filosofia prática, que não bus- em busca da realização dos prazeres
ca postular como o ser humano pode conhecer iguala a existência humana à existência
ou pensar, mas como deve agir, como alcançar animal, pois estes também vivem para
a própria realização na existência. satisfazer os prazeres do corpo. Sendo
A filosofia prática aristotélica divide-se em o ser humano um animal racional, mais
ética e política, sendo que cada uma é trabalha- elevado que os demais, não pode redu-
da em obra própria, diferentemente do mestre zir a felicidade a uma vida prazerosa;
Platão, que articulava ambas simultaneamente ●● vida política: felicidade está na vida po-
em várias obras. Assim, A República abordava lítica e consiste na conquista da honra e
tanto questões éticas (o conceito de justiça e a do reconhecimento. O problema é que a
formação pelas virtudes) como assuntos polí- honra é algo sempre conferido por ou-
ticos, tais como a crítica às formas de governo tros, tratando-se, portanto, de um bem
existentes. A ética de Aristóteles é desenvolvi- externo;
da em três obras: Ética Eudêmia, Grande Ética e ●● vida contemplativa: seria viver confor-
Ética a Nicômaco. A mais importante é a última, me o que é característico do ser huma-
ficando célebre como a ética aristotélica. no: a razão e a atividade da alma confor-
me a razão. Para ser feliz, o ser humano
Ética a Nicômaco deve realizar a obra à qual tende, qual
seja, viver a vida conforme a virtude.
A ética aristotélica busca compreender
como o ser humano pode viver melhor e isso Descartando as duas primeiras opiniões
significa, para Aristóteles, realizar a causa final sobre o que é a felicidade, Aristóteles defen-
da existência humana. Mas qual é a causa final, de a terceira, que afirma que a realização da
ou a finalidade, da existência humana? A reali- vida feliz está na prática habitual das virtudes
zação do máximo bem, ou seja, alcançar a coi- racionais. O ser humano que vive pelas virtu-
sa mais importante da vida humana. E qual é des obtém o prazer em si mesmo, pela própria
esse máximo bem? Ou, ainda, o que é um bem? construção da vida, e não prazeres específicos
ligados a determinadas atividades. E também
O bem é aquilo para o qual tendem as o ser humano virtuoso se sente feliz por aquilo
ações humanas. Toda ação humana é realizada que ele mesmo faz, e não por uma gratificação
tendo em vista vários bens que, em última ins- externa, como seria na vida política. Contudo,
tância, resultam na felicidade, pois tudo que Aristóteles afirma que as virtudes apenas não
EM21_1_FIL_05

EM21_1_FIL_05

se faça é para buscar aquilo que se imagina ser são suficientes para uma vida feliz, mas tam-
uma vida melhor. Surge, então, a necessidade bém os bens exteriores, pois parece difícil rea-
de definir o que é a felicidade. Aristóteles parte lizar grandes ações sem a ajuda de riqueza,
de opiniões gerais de seu tempo sobre o que amigos, objetos, poder político etc.
seria a felicidade e encontra três sentidos dife-
rentes para defini-la:

66 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 66 14/09/2020 12:35:22



Aristóteles divide as virtudes em dois Aristóteles enfatiza que a virtude nunca
grupos: existe na falta ou no excesso dos impulsos,
●● virtudes éticas: ligadas ao controle das mas sim na justa medida que equilibra a falta
paixões e aos impulsos do corpo. São e o excesso deles, pois toda atitude extrema,
numerosas e devem ser aprendidas pelo seja pela falta, seja pelo excesso, é considerada
hábito. É na repetição constante de um um vício.
ato virtuoso que a virtude se internali-
za no ser humano. Aquele que pratica A virtude, para Aristóteles, é a jus-
habitualmente atos corajosos, torna-se ta medida (mediania) de uma ação, sem
corajoso; falta nem excesso.
●● virtudes intelectuais: são puramente

haryigit/Shutterstock
racionais. Também chamadas de “dia-
noéticas”, são ligadas à parte mais eleva-
da da alma, a alma racional. Porém esta,
por sua vez, possui duas partes, a razão
prática e a razão teorética. A virtude da
primeira é a sabedoria (phrónesis) e a da
segunda é a sapiência (sophia). A sabe-
doria é a correta condução da vida pelo As virtudes, para Aristóteles, são a justa medida, a exata
proporção ou o meio-termo entre os impulsos da paixão
ser humano, que aprende a distinguir o e a atividade racional do ser humano.
bem do mal, o certo do errado, e assim
descobre os melhores caminhos para al-
Observe a classificação das virtudes na ta-
cançar os escopos pretendidos.
bela a seguir.

MEIO-TERMO

VÍCIO POR FALTA VIRTUDE VÍCIO PELO EXCESSO

Covardia Coragem Temeridade

Insensibilidade Temperança Intemperança

Avareza Prodigalidade Esbanjamento

Modéstia Respeito próprio Vaidade

Descrédito próprio Veracidade Orgulho

Moleza Prudência Ambição

Enfado Amizade Condescendência

Malevolência Justa indignação Inveja

Por meio da virtude ética, o ser humano o cume esteja na vida contemplativa, é ne-
sabe o que é correto fazer, e por meio da sabe- cessário passar pela vida ativa. Esta, porém,
doria, sabe como alcançar esse fim. A outra vir- apresenta outras dificuldades, pois está con-
tude intelectual é a sapiência, que consiste não dicionada ao agir. A ação moral começa com a
em deliberar sobre ações do cotidiano, mas em distinção entre dois tipos de ação:
conhecer as coisas mais elevadas do universo, ●● ações voluntárias: são aquelas em que
que estão acima do ser humano. A máxima o princípio da ação está no próprio agen-
felicidade situa-se justamente no exercício da te e este conhece as circunstâncias em
sapiência que, por conhecer verdades maiores que a ação se desenvolve. Em outras pa-
que o ser humano, o aproxima de Deus e das lavras, as ações voluntárias são aquelas
verdades eternas. A forma de vida mais eleva- que estão condicionadas a uma escolha,
da, para Aristóteles, é a vida contemplativa. a uma decisão no momento de agir;
Contudo, para alcançar essa máxima felici- ●● ações involuntárias: são aquelas em
dade, a vida dedicada apenas à contemplação que o indivíduo é coagido a agir de de-
não é suficiente. É preciso realizar também os terminada forma ou age ignorando as
atos virtuosos conforme a perfeição. Embora circunstâncias que envolvem a ação.
EM21_1_FIL_05

EM21_1_FIL_05

FIL 67

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 67 14/09/2020 12:35:33



A justiça é outra virtude estudada por O elemento fundamental para a adequada
Aristóteles, que a divide em: aplicação da justiça legal é a equidade. A pro-
●● justiça distributiva: a exata proporção blemática da lei está em sua aplicação de modo
na divisão dos bens da pólis; justo a cada caso particular, pois ela não pode
prever todas as possibilidades que as relações
●● justiça corretiva: busca a justa repar-
humanas venham a produzir. A equidade apa-
tição pelo mérito individual. A justiça
rece como uma forma de justiça superior à
corretiva deve se valer do mérito de
justiça legal, pois visa a dar a melhor solução
cada pessoa, pois parte do fato de que
aos conflitos que a lei escrita se vê incapaz de
as pessoas não são iguais. A justiça se-
resolver.
ria então a distribuição de coisas iguais
às pessoas iguais. Não se trata de uma Para concluir a exposição sobre a Ética a
desigualdade forçada às pessoas, como Nicômaco, os livros VIII e IX tratam da amiza-
se uns naturalmente fossem melhores de, e o livro X dos prazeres, ambas condições
que os outros, mas de uma questão de fundamentais para o ser humano alcançar a
mérito pessoal. felicidade.
A ligação entre justiça e meio-termo é esta- A amizade é tão importante para a vida
belecida também na fixação da lei, que acaba que, segundo Aristóteles, quando ela é verda-
por ser uma proporcionalidade que define o deira, não é necessária a justiça, pois esta se-
que é justo e o que é injusto em determinada ria, em certo modo, uma disposição amistosa.
cidade, o que é certo e o que é errado. Bem Há três espécies de amizade:
diferente é a justiça natural, que não está res- ●● pelo prazer: quando as pessoas se apro-
trita àquilo que está escrito em leis, e que, ximam para obter prazer juntas, como
portanto, só pode ser aplicada a determinado aqueles amigos que só vemos quando
povo. A justiça legal é mutável, pois, para ser vamos às festas;
alterada, basta modificar a lei. A justiça natural

Leremy/Shutterstock
é imutável, pois vem desde sempre. A justiça
natural consistiria em um conjunto de princí-
pios ditados pelos deuses, pela própria nature-
za e pela razão humana, e por isso devem ser
obedecidos por todos os povos.
●● pela utilidade: quando as pessoas se
Chodyra Mike/Shutterstock

aproximam para realizar uma tarefa,


como os colegas de trabalho.

Leremy/Shutterstock

●● perfeita: quando as pessoas se unem


pelo amor fraternal, importando-se real-
mente pelo que o outro pensa, fala, sen-
te e faz.
A justiça é até hoje representada por uma figura
feminina de olhos vendados que segura uma balança.
TaLaNoVa/Shutterstock

A venda nos olhos significa que a justiça é cega, ou


seja, não julga pelas aparências, e a balança repre-
senta a justa medida ou a mediania na hora de tomar
decisões.

Política
A obra Política é um dos primeiros tratados família, na qual alguns indivíduos se unem para
sistemáticos sobre as relações políticas, de po- facilitar as atividades básicas de sobrevivên-
der etc. Se a ética aristotélica visa a levar o indi- cia. Quando várias famílias se unem, forma-se
EM21_1_FIL_05

EM21_1_FIL_05

víduo à felicidade individual, a política tem por uma aldeia e a união de várias aldeias conduz à
finalidade alcançar o bem comum, isto é, gerar criação do Estado. Com isso, Aristóteles afirma
felicidade e desenvolvimento a todos. que é errado entender o Estado como criação
A origem do Estado está na necessidade na- artificial do ser humano, mas sim como uma
tural do ser humano em se associar com seus necessidade natural, pois somente no Estado o
semelhantes. A comunidade mais primitiva é a ser humano pode ser realmente feliz, somente

68 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 68 14/09/2020 12:35:41



ali pode desenvolver todas as suas potencia- Em dimensões territoriais, o Estado não
lidades. Isso é de tal forma importante que, pode ser tão pequeno nem tão grande. Se
para o filósofo, o ser humano é um “animal po- muito pequeno, haveria poucas possibilida-
lítico” – além de animal racional –, e o indivíduo des de os cidadãos desfrutarem de cultura e
que não vive em comunidade ou é uma besta outras artes, pois existiria pouca disponibili-
ou um deus, pois ou está muito abaixo das po- dade; se muito grande, incentivaria a busca
tencialidades humanas ou muito acima delas. pelo luxo excessivo.
Aristóteles também critica Platão e sua no- A educação seria elemento fundamental
ção de Estado ideal. Para o estagirita, o Estado no Estado aristotélico, tal como já era no pla-
ideal, ainda que fosse possível de ser alcan- tônico e também deveria ser encarregada pelo
çado, não era em sua totalidade desenhado Estado. A educação se iniciaria pelo corpo, de-
como previra Platão. Entre as várias críticas é pois passaria pelos apetites e, por fim, culmi-
possível citar a rejeição de Platão à proprie- naria nas atividades da razão. As faculdades
dade privada. Para Aristóteles, elas são fontes do corpo e apetitivas deveriam ser guiadas a
de prazeres, pois são obtidas com o labor e a servirem a razão e, por isso, a educação aris-
dedicação do cidadão. De qualquer forma, con- totélica é, sobretudo, uma educação moral. O
corda que deve haver uma educação a incenti- cidadão deveria ser formado para ser primeiro
var os indivíduos a não procurarem de modo guerreiro, depois magistrado ou governante. A
excessivo a riqueza. obra Política não foi preservada em sua totali-
Assim, a política de Aristóteles reveste-se dade, tendo sido perdidas as análises sobre a
do mesmo realismo que se revela no restan- educação científica e tecnológica.
te da filosofia aristotélica. Diferentemente de

Jean Leon Gerome Ferris/W.Commons


Platão, Aristóteles está sempre mais preocu-
pado não em realizar o ideal, a perfeição, mas
o melhor possível, aquilo que está acessível
ao ser humano aqui e agora. Mais válido que
arquitetar um Estado ideal é analisar os vários
Estados reais existentes e, a partir daí, pensar
formas de aprimorá-los.
Comstock Complete.

Pintura de Jean Leon Gerome Ferris (1895), onde Aristóteles aparece


ensinando Alexandre.
De qualquer forma, parece evidente que
essas educações não seriam direcionadas
ao preparo somente tecnicista, mas à for-
mação de valores elevados para a alma.
Para Aristóteles, a felicidade do cidadão e do
Estado é indissociável. Não há Estado justo e
A ágora de Atenas, local onde havia os debates políticos sobre o feliz sem cidadãos prosperando. Os indivíduos
destino da cidade.
não são preparados para fazerem ­f uncionar a
Os livros VII e VIII da Ética a Nicômaco apre- máquina do Estado, mas para aprimorarem
sentam a exposição de Aristóteles sobre como a cidade e, assim, fazerem o mesmo com as
EM21_1_FIL_05

EM21_1_FIL_05

deveria ser o Estado. O Estado precisa ser po- próprias vidas.


puloso o suficiente para garantir que todos
possam satisfazer suas necessidades, mas não
tão populoso a ponto de ameaçar a ordem e o
bom governo.

FIL 69

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 69 14/09/2020 12:35:49


FILOSOFIA E CIÊNCIA


Observe Leia o texto a seguir, sobre a relação entre o pensamento de Aristóteles e a Neurociência.

Pensamento de Aristóteles
segue influente no mundo
contemporâneo [...]
Filósofo grego pensou da Vivemos numa época que requer abertura de horizontes. A ideia não é nova. Aristóteles começa a Metafí-
biologia à lógica, passando sica falando a respeito de sensações e memórias, e sua teoria da ciência tem isso por base. Como ele também
pela metafísica diz, filosofa-se a partir da admiração surgida quando se presta atenção no modo de ser das coisas. Hoje, é
Estética, ética, metafísica, espantoso pensar que uma porção de matéria cinzenta sinta e pense, imagine e ame, e então produza filoso-
astronomia, biologia e
fias e obras de arte, por exemplo, ou ainda seja capaz de pensar a respeito de si própria.
filosofia foram alguns dos
temas e dos campos de O homem se surpreende com a incomensurabilidade da diagonal, mas, se é preciso, como Aristóteles diz,
interesse do pensador terminar no estado oposto e melhor, para o homem que sabe Geometria nada poderia causar mais espanto
grego Aristóteles, ainda
do que a diagonal tornar-se comensurável. Disso, surgiam novas questões e impasses, e assim a Geometria
no século IV a.C.  Muitas
de suas reflexões foram grega foi levada adiante. Agora, diante de um órgão excepcionalmente complexo como o cérebro, certas
pioneiras e serviram como questões não mais surpreendem, mas o caminho a percorrer é tão vasto que fará a surpresa do geômetra
ponto de partida para os parecer pequena, embora ela esteja na origem da Filosofia.
conhecimentos atuais.
Outras, porém, permanecem
relevantes, seja porque são (KICKHÖFEL, Eduardo. As neurociências: questões filosóficas. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014. p. 51-52.)
obras clássicas e merecem
a leitura, seja porque ainda 1. O texto inicia-se com uma menção à obra Metafísica, de Aristóteles, comentando que a “ideia não é nova”.
permanecem atuais.
Que ideia é essa e como ela influencia a Neurociência, na atualidade?
“A influência do pensamen-
to de Aristóteles nos dias A ideia refere-se à abertura de novos horizontes, necessária para a construção do conhecimento. Essa ideia de Aristóteles
de hoje é muito maior do
que imaginamos. A nossa continua válida na atualidade, pois, para conhecer, é preciso estar aberto a novas ideias.
forma de compreender o
mundo é influenciada pelo
pensamento de Aristóteles.
A própria forma como estru-
turamos o nosso raciocínio é 2. Segundo o texto, como a Geometria grega foi levada à diante?
profundamente influenciada
por Aristóteles, inclusive Diante de novas questões e impasses. O objetivo dessa questão é mostrar como o conhecimento é construído ao longo do tem-
quando consideramos que
estamos tirando uma con- po, sempre dialogando com pensamentos anteriores e atuais, criando ideias e impasses que impulsionam outras descobertas.
clusão. Isso que chamamos
hoje de raciocínio lógico tem Esse é o processo dialético.
uma forte influência de Aris-
tóteles”, diz a doutora em
Filosofia pela Universidade 3. Por que, diante das descobertas sobre o cérebro humano, “a surpresa do geômetra” parecerá pequena?
Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) Cíntia Martins Dias. Porque o estudo do cérebro revelará muitas descobertas que ainda nem podemos imaginar, ou seja, promoverá uma verdadeira
O raciocínio lógico a que
Cíntia se refere está relacio- abertura de novos horizontes.
nado ao que ficou conhecido
como lógica aristotélica, por
meio da qual é possível se
tirar conclusões a partir de
premissas verdadeiras, den-
tre outras leis que permiti-
riam a dedução. Aristóteles
não foi apenas o pioneiro
no estudo da lógica, como
agsandrew/Shutterstock

suas reflexões nesta área


continuam válidas.
(Disponível em: <http://redeglobo.glo-
bo.com/globociencia/noticia/2011/10/
pensamento-de-aristoteles-segue-in-
fluente-no-mundo-contemporaneo.
html>. Acesso em: 29 jun. 2018.)

70 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 70 14/09/2020 12:35:55


Resolvidos Praticando
1. (UFU) Aristóteles rejeitou a dicotomia estabelecida por Platão entre 1. (UEM-2015) “É pois com direito que a filosofia é também chamada
mundo sensível e mundo inteligível. No entanto, acabou fundindo a ciência da verdade: o fim da [ciência] especulativa é, com efeito,
os dois conceitos em um só. Esse conceito é a verdade, e o da [ciência] prática, a ação; porque, se os práticos
a) a forma, aquilo que faz com que algo seja o que é. É o princípio consideram o como, não consideram o eterno, mas o relativo e o pre-
de inteligibilidade das coisas. sente. E nós não conhecemos o verdadeiro sem [conhecer] a causa.”
b) a matéria, enquanto princípio indeterminado de que o mundo (ARISTÓTELES. Metafísica (L. II, cap. 1). Coleção Os
físico é composto, e aquilo de que algo é feito. Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 39-40.)

c) a substância, enquanto aquilo que é em si mesmo e enquanto A partir do texto citado, assinale o que for correto.
é suporte dos atributos. (1) Para Aristóteles, a verdade deve ser eterna e imutável.
d) o Ato Puro ou Primeiro Motor Imóvel, causa incausada e causa (2) Segundo Aristóteles, a filosofia é a única ciência verdadeira.
primeira e necessária de todas as coisas.
(3) Conhecer a causa de uma ação é conhecer a sua verdade.
99 Resposta: C
(4) Para Aristóteles, a verdade de algo se conhece por meio das
O item A está incorreto, pois a forma, para Platão, era a ideia. O item causas desse algo.
B está incorreto, pois a matéria é um princípio determinável. O item
C está correto, pois a substância, como substrato (Hypokheimenón) (5) Para Aristóteles, a ciência prática volta suas atenções para
é o suporte dos atributos, pois ela é o composto de matéria e forma. como as coisas estão dispostas e não para as causas destas.
O item D está incorreto, porque a teoria do Primeiro Motor Imóvel foi Soma (25 ) (01 + 08 + 16)
elaborada por Aristóteles. 99 Anotações

2. (UEL) A busca da ética é a busca de um “fim”, a saber, o do homem. Aristóteles concluiu que existem quatro causas necessárias que dão origem à
E o empreendimento humano como um todo envolve a busca
de um “fim”: “Toda arte e todo método, assim como toda ação e realidade e à possibilidade de conhecê-la.
escolha, parece tender para um certo bem; por isto se tem dito,
2. (UFU) No livro V da Metafísica, Aristóteles serviu-se das seguintes
com acerto, que o bem é aquilo para que todas as coisas tendem”.
palavras para definir acidente:
Nesse passo inicial de a Ética a Nicômaco está delineado o pensa-
mento fundamental da Ética. Toda atividade possui seu fim, ou em Acidente significa: (1) o que adere a uma coisa e dela pode ser
si mesma, ou em outra coisa, e o valor de cada atividade deriva afirmado com verdade, porém não necessariamente, nem habitual-
da sua proximidade ou distância em relação ao seu próprio fim. mente; por exemplo, se alguém ao cavar um buraco para plantar
uma árvore, encontra um tesouro. Esse fato – o encontro do tesou-
(PAIXÃO, Márcio Petrocelli. O problema da felicidade em Aristóteles: ro – é um acidente para o homem que cavou o buraco, pois nem
a passagem da ética à dianoética aristotélica no problema da
uma coisa provém necessariamente da outra ou vem depois dela,
felicidade. Rio de Janeiro: Pós-Moderno, 2002. p. 33-34.)
nem é habitual descobrir tesouros quando se planta uma árvore.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a ética em Aristó- (ARISTÓTELES. Metafísica [livro V, 30, 1025a 1-25] Trad. de
teles, considere as afirmativas a seguir. Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969, p. 140.)
I. O “fim” último da ação humana consiste na felicidade alcançada
Com base na descrição de Aristóteles apresentada, explique qual
mediante a aquisição de honrarias oriundas da vida política.
é a causa responsável pelo acidente.
II. A ética é o estudo relativo à excelência ou à virtude própria do
homem, isto é, do “fim” da vida humana. O estudante deverá argumentar sobre o que é efêmero e transitório, sobre o
III. Todas as coisas têm uma tendência para realizar algo, e nessa inesperado que é o acidente. Mas que, em si, não afeta a essência do que se
tendência encontramos seu valor, sua virtude, que é o “fim”
de cada coisa. quer. O acidente é o que transcorre em um percurso e que não é esperado,
IV. Uma ação virtuosa é aquela que está em acordo com o dever, mas que, ainda assim, não altera a essência da ação que se quereria praticar.
independentemente dos seus “fins”.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e IV. 3. (UEM-2012) Na Metafísica, Aristóteles afirma: “O ser se diz de muitos
b) II e III. modos, mas se diz em relação a um termo único e única natureza
e não de modo equívoco. [...] uns são ditos ser porque são subs-
c) III e IV.
tâncias, outros porque são afecções de substâncias, outros porque
d) I, II e III. são um caminho para a substância, ou destruições, privações,
e) I, II e IV. qualidades, causas produtivas ou geradoras para a substância ou
99 Resposta: B
do que é dito relativamente da substância, ou são negações de
uma delas ou da substância; por esta razão dizemos inclusive que
O item I está incorreto, pois as honras dependem sempre da aprovação o não ser é não ser”.
dos outros. O item II está correto, pois a ética aristotélica estabelece a
causa final da existência humana, ou seja, a felicidade. O item III está (ARISTÓTELES. Metafísica, livro IV, cap. 2. In: FIGUEIREDO, V. Filósofos na
sala de aula. Volume 3. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2008. p. 33-34.)
correto, pois as virtudes são o fim último das ações humanas. O item IV
está incorreto, pois, para Aristóteles, a virtude não deve ser imposta de A partir do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).
fora, mas deve partir da consciência de cada um em praticar o bem.
(1) Um ser pode ser a negação de uma substância.
(2) Do ser pode-se gerar uma substância, sem que isso que a
gerou seja necessariamente uma substância.

FIL 71

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 71 14/09/2020 12:35:57


(3) A substância é anterior e prioritária ao ser. Em Aristóteles, o conceito de virtude ética expressa a
(4) A substância é necessariamente um ser. a) excelência de atividades praticadas em consonância com o
(5) Uma das exigências da definição de ser é que ela seja bem comum.
unívoca. b) concretização utilitária de ações que revelam a manifestação
Soma ( 27 ) (01 + 02 + 08+ 16) de propósitos privados.
99 Anotações c) concordância das ações humanas aos preceitos emanados
A metafísica de Aristóteles afirma a substância ou essência como princípio
da divindade.
da multiplicidade, da mudança, da unidade e de sua inteligibilidade. Subs- d) realização de ações que permitem a configuração da paz
tância, para Aristóteles, é o suporte que recebe atributos, ou seja, o sujeito interior.
que recebe predicados.
e) manifestação de ações estéticas, coroadas de adorno e beleza.
4. (Enem) Quanto à deliberação, deliberam as pessoas sobre tudo?
São todas as coisas objetos de possíveis deliberações? Ou será a 3. C1:H1 (Enem-2014)
deliberação impossível no que tange a algumas coisas? Ninguém TEXTO I
delibera sobre coisas eternas e imutáveis, tais como a ordem do Olhamos o homem alheio às atividades públicas não
universo; tampouco sobre coisas mutáveis como os fenômenos dos como alguém que cuida apenas de seus próprios inte-
solstícios e o nascer do sol, pois nenhuma delas pode ser produzida resses, mas como um inútil; nós, cidadãos atenienses, decidimos as
por nossa ação. questões públicas por nós mesmos na crença de que não é o debate
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Edipro, 2007. Adaptado.) que é empecilho à ação, e sim o fato de não se estar esclarecido
pelo debate antes de chegar a hora da ação.
O conceito de deliberação tratado por Aristóteles é importante
para entender a dimensão da responsabilidade humana. A partir (TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso.
Brasília: UnB, 1987. Adaptado.)
do texto, considera-se que é possível ao homem deliberar sobre
a) coisas imagináveis, já que ele não tem controle sobre os acon- TEXTO II
tecimentos da natureza.
Um cidadão integral pode ser definido por nada mais nada menos
b) ações humanas, ciente da influência e da determinação dos que pelo direito de administrar justiça e exercer funções públicas;
astros sobre as mesmas. algumas destas, todavia, são limitadas quanto ao tempo de exer-
c) fatos atingíveis pela ação humana, desde que estejam sob cício, de tal modo que não podem de forma alguma ser exercidas
seu controle. duas vezes pela mesma pessoa, ou somente podem sê-lo depois
d) fatos e ações mutáveis da natureza, já que ele é parte dela. de certos intervalos de tempo prefixados.
coisas eternas, já que ele é por essência um ser religioso. (ARISTÓTELES. Política. Brasília: UnB, 1985.)
99 Anotações
Comparando os textos I e II, tanto para Tucídides (no século V a.C.)
Uma das virtudes definidas por Aristóteles é a virtude intelectual, denomina-
da sapiência, que consiste não em deliberar sobre ações do cotidiano, mas quanto para Aristóteles (no século IV a.C.), a cidadania era definida
em conhecer as coisas mais elevadas do universo, que estão acima do ser pelo(a)
humano. a) prestígio social.
b) acúmulo de riqueza.
Desenvolvendo Habilidades c) participação política.
1. C1:H4 (Enem-2012) Pode-se viver sem ciência, pode-se adotar d) local de nascimento.
crenças sem querer justificá-las racionalmente, pode-se desprezar e) grupo de parentesco.
as evidências empíricas. No entanto, depois de Platão e Aristóteles, 4. C1:H1 (Enem-2013) A felicidade é, portanto, a melhor,
nenhum homem honesto pode ignorar que uma outra atitude a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses
intelectual foi experimentada, a de adotar crenças com base em atributos não devem estar separados como na inscrição
razões e evidências e questionar tudo o mais a fim de descobrir existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais
seu sentido último. justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”.
(ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes ativida-
filosofia. São Paulo: Odysseus, 2002.) des, e entre essas a melhor, nós a identificamos como felicidade.
Platão e Aristóteles marcaram profundamente a formação do (ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.)
pensamento Ocidental. No texto, é ressaltado importante aspecto
Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atribu-
filosófico de ambos os autores que, em linhas gerais, refere-se à
tos, Aristóteles a identifica como
a) adoção da experiência do senso comum como critério de
a) busca por bens materiais e títulos de nobreza.
verdade.
b) plenitude espiritual e ascese pessoal.
b) incapacidade de a razão confirmar o conhecimento resultante
de evidências empíricas. c) finalidade das ações e condutas humanas.
c) pretensão de a experiência legitimar por si mesma a verdade. d) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.
d) defesa de que a honestidade condiciona a possibilidade de se e) expressão do sucesso individual e reconhecimento público.
pensar a verdade.
e) compreensão de que a verdade deve ser justificada racionalmente. Complementares
2. C1:H1 (Enem) Ao falar do caráter de um homem não dizemos que
1. (UEM-2012) Na Ética a Nicômaco, Aristóteles afirma: “Então, quan-
ele é sábio ou que possui entendimento, mas que é calmo ou tem-
do a amizade é por prazer ou por interesse mesmo, duas pessoas
perante. No entanto, louvamos também o sábio, referindo-se ao
más podem ser amigas, ou então uma pessoa boa e outra má, ou
hábito; e aos hábitos dignos de louvor chamamos virtude.
uma pessoa que não é nem boa nem má pode ser amiga de outra
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1973.).

72 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 72 14/09/2020 12:35:58


qualquer espécie; mas pelo que são em si mesmas é óbvio que aos seres humanos, só é possível levar uma vida constituída
somente pessoas boas podem ser amigas. Na verdade, pessoas por momentos de felicidade decorrentes da satisfação dos
más não gostam uma da outra a não ser que obtenham algum desejos e paixões que não se subordinam à atividade racional.
proveito recíproco” IV. A eudaimonia (felicidade) é um certo modo de vida constituído
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Filosofia. Vários de uma atividade ou de ações por via da razão e conforme
autores. Curitiba: SEED-PR, 2006, p. 123.) a ela, sendo o bem melhor para o homem o exercício ativo
das faculdades da alma em conformidade com a excelência
A partir do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). (virtude) que deve estender-se por toda a vida.
(1) A amizade comporta uma esfera de interesses particulares. V. A excelência (virtude) humana, como realização excelente da
(2) A amizade, em alguns casos, é consequência de condicio- tarefa humana, reside no exercício ativo da racionalidade, pois
nantes pessoais dos amigos. a função própria de um homem bom é o bom e nobilitante
(3) As amizades desinteressadas não existem, visto que alguém exercício desta atividade ou na prática destas ações em con-
sempre tem a ganhar na relação. formidade com a virtude, sendo este o bem humano supremo
e a última finalidade desiderativa humana.
(4) A amizade interessada entre pessoas más também é
amizade. Das afirmativas feitas acima
(5) A amizade é falsa quando não há interesse ou prazer na a) somente a afirmação I está incorreta.
relação. b) somente a afirmação III está incorreta.
Soma ( ) c) as afirmações III e V estão corretas.
2. (UFPA) Tendemos a concordar que a distribuição isonômica do que d) as afirmações I e III estão corretas.
cabe a cada um no estado de direito é o que permite, do ponto e) as afirmações II, III e IV estão corretas.
de vista formal e legal, dar estabilidade às várias modalidades de
organizações instituídas no interior de uma sociedade. Isso leva
Aristóteles a afirmar que a justiça é “uma virtude completa, porém
não em absoluto e sim em relação ao nosso próximo”
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 332.)

De acordo com essa caracterização, é correto dizer que a função


própria e universal atribuída à justiça, no estado de direito, é
a) conceber e aplicar, de forma incondicional, ideias racionais com
poder normativo positivo e irrestrito.
b) instituir um ideal de liberdade moral que não existiria se não
fossem os mecanismos contidos nos sistemas jurídicos.
c) determinar, para as relações sociais, critérios legais tão univer-
sais e independentes que possam valer por si mesmos.
d) promover, por meio de leis gerais, a reciprocidade entre as
necessidades do Estado e as de cada cidadão individualmente.
e) estabelecer a regência na relação mútua entre os homens, na
medida em que isso seja possível por meio de leis.
3. (Unioeste-2013) “... a função própria do homem é um certo modo
de vida, e este é constituído de uma atividade ou de ações da alma
que pressupõem o uso da razão, e a função própria de um homem
bom é o bom e nobilitante exercício desta atividade ou a prática
destas ações [...] o bem para o homem vem a ser o exercício ativo
das faculdade da alma de conformidade com a excelência, e se há
mais de uma excelência, em conformidade com a melhor e a mais
completa entre elas. Mas devemos acrescentar que tal exercício ati-
vo deve estender-se por toda a vida, pois uma andorinha só não faz
verão (nem o faz um dia quente); da mesma forma um dia só, ou um
curto lapso de tempo, não faz um homem bem-aventurado e feliz”.
Aristóteles.

Considerando o texto citado e o pensamento ético de Aristóteles,


seguem as afirmativas abaixo:
I. O bem mais elevado que o ser humano pode almejar é a
­eudaimonia (felicidade), havendo uma concordância geral que
o bem supremo para o homem é a felicidade, e que bem viver
e bem agir equivale a ser feliz.
II. A eudaimonia (felicidade) é sempre buscada por si mesma e
não em função de outra coisa, pois o ser humano escolhe o
viver bem como a mais elevada finalidade e por nada além do
próprio viver bem. GABARITO ONLINE
III. Definindo a eudaimonia (felicidade) a partir da função própria 1. Faça o download do aplicativo SAE Questões ou qualquer aplicativo
de leitura QR Code.
da alma racional e do exercício ativo das faculdades da alma 2. Abra o aplicativo e aponte para o QR Code ao lado.
em conformidade com a excelência (virtude) conclui-se que, 3. O gabarito deste módulo será exibido em sua tela.

FIL 73

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 73 14/09/2020 12:35:59


EE
DD

EEE
DDD

EEE
DD

EEEE
Helenismo
DD
DD

E
DDD
DDD
DDDDDDDD

Contexto histórico
Filosofia
mód. 06/08

06 Helenismo

START

“Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões
em que evitamos muitos prazeres, quando deles advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que
consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos
essas dores por muito tempo.
Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhi-
dos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser evitadas. Convém, portanto, avaliar todos
os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos
um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem”.

Epicuro. Carta a Meneceu.

A partir das ideias do texto e das suas reflexões, responda às questões.

1. Na sua vida, há prazeres dos quais você abre mão por entender que este sacrifício
vale a pena? Quais?
Resposta pessoal.

2. Como deve se dar, segundo Epicuro, a relação entre a vida e o prazer?


O prazer, para Epicuro, é o elemento central da vida humana. Contudo, a busca pelo

prazer não se dá de forma inconsequente, uma vez que o pensamento epicurista

defende que os prazeres e os sofrimentos cumprem diferentes funções em diferentes

momentos, trazendo benefícios e danos, a depender do modo como são buscados.


M
MMM
MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

EM21_1_FIL_06

Epicuro foi um filósofo grego do período


helenístico e desenvolveu uma corrente
filosófica que tinha como premissa a bus-
ca pela felicidade. Essa corrente filosófica
ficou conhecida como epicurismo.

74 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 74 14/09/2020 12:36:19



Contexto histórico
Biografia

Alexandre, o Grande: filho


e sucessor de Filipe II, rei
O Helenismo é o período da Filosofia que O fim do período clássico da Filosofia – o da Macedônia, e o mais
se estende do ano 323 a.C., com a morte de período de Sócrates, Platão e Aristóteles – ilustre discípulo de Aristó-
Alexandre, o Grande, até o fim da república deixou uma impressão negativa sobre o hele- teles. Empreendeu a maior
romana, em 27 a.C. Isso significa que a pólis nismo e muitos estudiosos o viam com maus campanha expansionista da
Antiguidade.
antiga, a democracia ateniense, a filosofia e o olhos. Somado a essa ideia, pouquíssimo
ideal do homem grego passaram por profun- material desse período resistiu ao tempo e o
Glossário
das transformações – a pólis e a democracia, que conhecemos, hoje, são raros fragmentos
por exemplo, deixaram de existir, embora a e doxografias sobre os autores helenísticos. Doxografia: compilado de
hegemonia cultural grega tenha assumido no- Novas descobertas e pesquisas têm valoriza- interpretações sobre as
vos contornos, ganhado território e recebido do o helenismo, desfazendo muitos desses ideias de um determina-
do autor.
influências do oriente. preconceitos.
Acompanhe a linha do tempo a seguir, para entender as profundas mudanças pelas quais a
Grécia passou do final do período clássico até o início do helenismo.
Segundo Marilena Chaui,
novos estudos indicam
que o Período Helenístico
perdurou até o século V
d.C., incluindo pensadores
romanos (Cícero, Sêneca,
Lucrécio e Marco Aurélio) e
Guerra do Peloponeso Filipe II Alexandre, o Grande obras escritas em latim. No
(431 a.C. – 404 a.C.) (382 a.C. – 336 a.C.) (336 a.C. – 323 a.C.) entanto, para o livro didá-
tico, optamos por abordar
Conflito armado entre O rei Filipe II da Após o assassina- as escolas mais conhecidas
as duas principais cidades- Macedônia vence Atenas to de Filipe II, o seu filho do período, a saber, o
ceticismo, estoicismo e
-Estados da Grécia antiga, e outras cidades-Estados Alexandre Magno assume epicurismo.
que disputavam a hege- gregas, passando a gover- o poder com apenas 20
monia: Atenas, que era o ná-las e uni-las para lutar anos de idade. Alexandre,
centro cultural e a maior contra os persas e outros o Grande, como ficou co-
potência naval da época, povos bárbaros. Inicia-se nhecido, dá continuidade
e Esparta, que era uma um período de expansão ao expansionismo de seu
potência militar de costu- macedônica e Atenas vol- pai e torna-se o maior
mes mais austeros. Após ta a prosperar, apesar de conquistador de terras da
27 anos de uma guerra perder a liberdade políti- Antiguidade, chegando
sangrenta, assolada pela ca da qual fora exemplo até o leste asiático e o nor-
fome e pela peste, Esparta em outras épocas. Filipe II deste africano. Por onde
venceu Atenas, pondo fim empreende um ambicio- passou, fundou importan-
à democracia ateniense. so projeto de expansão tes cidades, sendo a mais
Os espartanos apoiaram dos domínios macedôni- importante Alexandria,
um golpe da oligarquia cos, difundindo a cultura no Egito. Além disso,
em Atenas, que ficou co- grega pelos territórios Alexandre difundiu a cultu-
nhecido como Tirania conquistados. ra grega por onde passou, Glossário
dos Trinta. Nesse mesmo assim como absorveu ele-
Gunnar Bach Pedersen/Shutterstock

período, as colônias gre- mentos da cultura orien- Tirania dos Trinta: governo
oligárquico que substituiu a
gas da Ásia menor foram tal. Morreu em batalha, democracia de Atenas, após
entregues aos persas por invicto, na Babilônia, em a perda da Guerra do Pelo-
Esparta, em troca de ouro 323 a.C. Após a sua morte, poneso. Alguns dos tiranos
para financiar a guerra. seu reino passou por inú- eram parentes e amigos de
meras guerras civis até ser Platão, que pertencia à mais
Voropaev Vasiliy/Shutterstock

alta aristocracia ateniense


dissolvido em pequenos da época.
estados.
Berthold Werner
EM21_1_FIL_06

FIL 75

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 75 14/09/2020 12:37:02



Alexandre, o Grande, ao longo de suas conquistas expansionistas, promoveu uma verdadeira
expansão da cultura grega e iniciou um processo de fusão com a cultura dos povos conquistados,
uma vez que ele tinha uma política de tolerância, seguindo os princípios de:
●● respeito à religião e às instituições políticas dos povos conquistados;
●● incentivo a casamentos entre vencedores e vencidos;
●● abertura à participação militar de persas em seus exércitos;
●● combate à desigualdade entre os povos.
Como consequência do expansionismo de Alexandre, surgiu a cultura helenística.

Características gerais do Helenismo


A política expansionista de Alexandre, o Grande, favoreceu a formação da chamada cultura
Jastrow/W.Commons

helenística, que consiste na mescla do pensamento grego com o oriental. O território que com-
preendia a Grécia antiga era chamado Hélade e, consequentemente, os gregos se autodenomina-
vam helenos, por isso se fala em helenismo ou cultura helenística.
Diferentemente do período clássico, que era influenciado pela vida pública e política, o pe-
ríodo helenístico passou, gradativamente, a se preocupar com a vida privada e individual. Novas
questões surgiram e modificaram o pensamento filosófico, que passou a investigar como ter
uma vida plena e feliz, apesar das intempéries e disputas políticas. Surgiram diversas escolas,
cada qual com suas próprias características, como o ceticismo, o estoicismo e o epicurismo. Em
geral, as escolas helenísticas dialogavam com os clássicos da Filosofia, especialmente Platão e
Aristóteles, ainda que os criticando e propondo novas ideias a partir das deles.
A escultura Grupo de Laocoonte De maneira geral, o Helenismo possui as seguintes características:
dos escultores Agesandro,
Atenodoro e Polidoro, data ●● Áreas de estudo – a filosofia helenística dividiu seus estudos de acordo com a proposta de
aproximadamente de 40 a.C. e
está localizada no Museu do Xenócrates, dirigente da Academia de Platão, em: lógica (estudo do raciocínio e do discurso
Vaticano. É um grande exemplo racional), física (estudo da natureza e da ontologia) e ética (estudo da natureza humana, da
da arte helenística.
vida plena e feliz).
●● Naturalismo ético – ao contrário de Platão e Aristóteles, os helenistas entendiam a lógica, a
física e a ética como áreas correlacionadas. Isso significa ­dizer que não é possível haver uma
ética sem uma física nem uma física sem a lógica. Assim, surgiu o que ficou conhecido como
naturalismo ético, ou seja, a ideia de que os princípios fundamentais da ação humana são
determinados pela natureza. Nesse sentido, a ética era a mais importante das três áreas de
estudo, pois ela conduziria à sophía (sabedoria).
●● Materialismo – diferentemente do platonismo e aristotelismo, a filosofia helenística recusa
a existência de entidades imateriais, como as Ideias de Platão ou o Intelecto de Aristóteles,
consideradas desnecessárias para compreender as estruturas e os fenômenos da natureza.
Nesse sentido, preocupavam-se muito mais com a vida prática do que com a vida contem-
plativa.
●● Sistemas ou doutrinas – como as três áreas de estudo dos filósofos helenísticos são corre-
lacionadas, o conteúdo da sua filosofia passa a ser organizado em sistemas ou doutrinas de
acordo com a orientação teórica que possuíam.
●● Fundação de escolas – os pensadores helenísticos se caracterizaram pela fundação de
escolas onde suas doutrinas seriam ensinadas. As escolas helenísticas se identificavam de
acordo com a posição teórica que defendiam, pois entendiam esse posicionamento como
uma questão de preferência por uma maneira específica de viver, ou seja, por uma questão
de escolha sobre o bem viver.
Sendo assim, a Filosofia Helenística se ocupou basicamente em definir regras racionais e uni-
versais para a conduta humana, cujo exemplo máximo seria a figura do filósofo como sábio ou
homem virtuoso, que está acima dos infortúnios da vida e em constante busca pela felicidade.
Para esses filósofos, a felicidade é uma espécie de sabedoria de vida. A Filosofia, nesse contex-
to, passa a ser medicina da alma, uma terapia para o bem viver.
A seguir, veremos as principais escolas helenísticas e suas características, a saber: ceticismo,
epicurismo e estoicismo.
EM21_1_FIL_06

EM21_1_FIL_06

76 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 76 14/09/2020 12:37:05



Ceticismo Glossário

Gimnosofistas: ascetas hin-


Do grego skepsis, que significa exame, o dus que viviam em estado

Thomas Stanley/Shutterstock
ceticismo defendia a ideia de que não havia contemplativo, completa-
mente nus, sobrevivendo
possibilidade de se formar um conhecimento
com o que a natureza lhes
seguro sobre a realidade. Pirro de Élida (365- oferecesse. Desprezavam
275 a.C.), fundador da escola cética, participou os bens materiais porque
da campanha de Alexandre, o Grande, na Ásia, acreditavam que eles
onde teve contato com os gimnosofistas, com prejudicavam a pureza do
pensamento.
os quais aprendeu a praticar ativamente a in-
diferença (adiaphoría) perante os tumultos da
Saiba mais
vida humana. Por isso, o ceticismo também é
conhecido como pirronismo. Para Epicuro, o sentido da
Assim como Sócrates, Pirro não deixou vida é o prazer e a finalida-
de do ser humano é atingir
nada escrito, sendo que o que se conhece a felicidade (eudaimonia).
sobre ele provém dos registros de seu aluno, Para isto, a Filosofia surge
Tímon de Flionte (320-230 a.C.). como instrumento prático
cujo papel é assegurar
O ceticismo rejeitava o pensamento de a tranquilidade de alma
Platão sobre o mundo inteligível em vez disso, (ataraxia) e a ausência da
concebia os objetos captados pela percepção dor corporal (aponía), além
sensível como fenômenos, ou seja, como aqui- de libertar o homem de
seus maiores medos. Dessa
lo que aparece aos sentidos sem uma essência
forma, no epicurismo, a fe-
anterior que os definam. Rejeitou, também, a licidade encontra-se dentro
distinção que Parmênides fez entre o ser e o do próprio homem, e sua
não-ser, deixando essa questão afastada de aquisição depende apenas
suas investigações (no processo conhecido dele. Esse estado de alma
Pirro de Élida, inaugurador da escola cética, defendia a impossibili- pode ser alcançado através
como epoché, como será visto a seguir). dade do ­conhecimento.
de condutas específicas que
Veja como Pirro e os céticos abordaram as áreas de estudo do helenismo: Epicuro postulou e transmi-
tiu aos seus alunos.
●● Física: definir a natureza das coisas. Para os céticos, as coisas não possuíam uma origem es-
O prazer é visto como um
tável, como as ideias platônicas; ao contrário, essa origem é instável, incerta e indeterminada bem supremo e último
e, por isso mesmo, não é possível distinguir o verdadeiro do falso a respeito dela. para o qual devem estar
●● Lógica: neutralização do juízo e indiferença. Devido à instabilidade e incerteza da origem das direcionadas todas as ações
de um indivíduo. Assim, este
coisas, o melhor a fazer é abster-se do julgamento (epoché, que, em grego, significa suspen- fim consiste numa forma
são do juízo), ou seja, manter-se sem opinião (indiferente). de livrar a alma humana da
●● Ética: silêncio, ausência de paixão e tranquilidade da alma. A aphasía (silêncio) é a recusa de dor e dos sofrimentos, por
isso, deve ser mediado, e
definições sobre o que é ou não é, é a suspensão do juízo afirmativo e negativo. A apatheia jamais descontrolado ou em
(ausência de paixão) é o estado imperturbável, em que se abstém de classificar os aconteci- excesso. Conforme Botelho
mentos como bons ou maus. Por fim, a ataraxia (tranquilidade da alma) é o estado em que menciona (2015, p. 128):
se vive o momento presente, sem se preocupar com o passado ou com o futuro, alcançando “Epicuro, de fato, afirmava
que o prazer é a fonte de
o silêncio interior. Esse estado de tranquilidade da alma é a felicidade do sábio.
todo bem; mas acrescentava
que a busca de prazeres
Epicurismo excessivos geralmente leva
ao sofrimento. Sua doutrina
pregava o autodomínio
Linha de pensamento fundada por Epicuro (341-270 a.C.), pensador ateniense que elevou o humano e a apreciação má-
prazer ao nível da sabedoria – o que gerou muita polêmica ao redor dessa escola. xima das pequenas alegrias
Epicuro, assim como Pirro, dizia ser necessário buscar da vida”.
LefterisPapaulakis/Shutterstock

(Disponível em: <http://www.acervofi-


a felicidade, praticando a aponia (ausência de dor física) e a losofico.com/o-prazer-na-filosofia-de-
-epicuro>. Acesso em: 31 ago. 2018.)
ataraxia (ausência de dor na alma, ou tranquilidade da alma).
Para Epicuro, existem quatro males que dão origem ao so-
frimento humano: o medo dos deuses, o medo da morte, o Ressaltar a abordagem
tipicamente helenística das
medo do sofrimento e o medo da dor – todos eles alimenta- três áreas de estudo (física,
dos por crenças infundadas, que, por sua vez, geram paixões lógica e ética) e da correla-
ção entre elas. Enfatizar que
insensatas. Então, é necessário enfrentar esses medos para a ética é superior às demais.
evitar o sofrimento e se aproximar da felicidade, pois, para Outro aspecto importante é
Epicuro, a arte de viver consiste numa sabedoria prática, sobre o conceito de epoché,
que seria retomado no final
que conduz ao sumo bem: o prazer – não o prazer sensual, do século XIX e início do
EM21_1_FIL_06

EM21_1_FIL_06

mas aqueles prazeres que afastam a insatisfação e a insta- XX, pelos fenomenologistas
bilidade constantes. Ele dizia, ainda, que era necessário fugir (especialmente Edmund
Husserl).
dos prazeres desnecessários, como beber uma taça de vinho.

Busto de Epicuro

FIL 77

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 77 14/09/2020 12:37:11



Epicuro comparou os seres humanos aos animais e concluiu que ambos buscavam o prazer e
afastavam a dor. Assim, as próprias sensações são a fonte do conhecimento e as interpretações
que fazemos delas são a causa do engano. Afastou, também, a ideia da existência de uma causa fi-
nal para tudo o que existe, como dizia Aristóteles, retomando a hipótese de Leucipo e Demócrito:
tudo o que existe é feito de átomos e de vazio, o que dá origem ao movimento.
O maior medo de todos, o medo da morte, é para Epicuro infundado, pois a morte não é nada
em relação ao homem “ou ela existe e ele não existe, ou ele existe e ela não existe”, ou seja, não
Saiba mais
há motivos para temer a morte, porque ela é ausência de sensação. Os únicos bens imortais para
Os estoicos dizem que o os humanos são aqueles que não podem ser desvinculados deles, como a amizade.
mundo é uma unidade
que contém em si todos
Resumindo o pensamento epicurista em seu caráter terapêutico, pode-se dizer que:
os seres; dizem que ele é
governado por uma natureza
viva, racional e inteligente, “a lucidez sobre o destino e a prática da temperança proporcionam ao homem um quádruplo remédio: os
e que esse governo dos deuses não devem ser temidos; a morte não nos diz respeito; o sofrimento e a dor são suportáveis (senão,
seres que possui é eterno e perdemos a consciência); a felicidade é acessível”.
procede por certa sequência
e ordem, já que coisas
anteriores se tornam causas (BARAQUIN, Noëlla; LAFFITTE, Jacqueline. Dicionário universitário dos filósofos. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 95.)
para as que ocorrem depois.

Estoicismo
Desse modo, tudo está
ligado e não há nenhum
evento no mundo do qual
não se siga outro, como sua Fundada por Zenão de Cítio (336-264 a.C.), a Escola Estoica perdurou por quase cinco séculos,
consequência; e um evento até o século II d.C., com pensadores romanos, como Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio. O nome es-
posterior não pode estar toicismo provém de stoá, que em grego significa pórtico; como Zenão era estrangeiro em Atenas,
desassociado de eventos
anteriores, a ponto de não não podia adquirir imóveis na cidade e, portanto, ele ensinava sob um pórtico que havia na ágora,
ser uma consequência de em que qualquer pessoa podia passar.
um deles. Mas de tudo que Em linhas gerais, o estoicismo buscava a sabedoria pela harmonia do
acontece se segue alguma
outra coisa, que dela neces- homem com o divino. Zenão de Cítio, no campo da física, acredita-
sariamente depende como va que o mundo é um Todo uno, pleno e totalmente determinado,
Paolo Monti/W.Commons

de uma causa, e tudo que como um grande organismo animado – o que corresponderia ao
acontece tem algo anterior divino. Por isso, o estoicismo é determinista. O cosmo, para ele,
de que depende, como de
é um logos universal ou alma de deus. Tudo para ele é corpo,
uma causa.
exceto os quatro incorpóreos: o vazio, o tempo, o lugar e o
Pois nada no mundo existe
e acontece sem uma causa, discurso, que seriam espécies de pseudorrealidades que
porque nada nele está afetam apenas a superfície dos corpos, mas não sua pro-
desvinculado e separado de fundidade. Em outras palavras, os quatro incorpóreos são
tudo o que aconteceu antes. passageiros, enquanto o mundo é eternamente o mesmo.
Pois o mundo, eles dizem,
seria desarticulado e dividi- Outra ideia importante do estoicismo é o pensamento
do, e não mais permanece- chamado de inatismo, ou seja, não existe conhecimento
ria uma unidade, governado antes da experiência sensível, ou seja, os conceitos deri-
sempre conforme uma única
vam da experiência vivida – conceito que seria retomado
ordem e organização, se
nele fosse introduzida uma com os empiristas, no início da Idade Moderna. Na lógica
mudança sem causa [...] estoica, o juízo de fato toma lugar de proposições formais,
Eles dizem, com efeito, que pois ela é consequencialista, ou seja, as implicações são
ocorrer algo sem uma causa a manifestação dos acontecimentos (se é dia, há claridade
é tão impossível quanto algo por exemplo).
ocorrer a partir do que não
existe. Sendo de tal forma, Por fim, no campo da ética, os estoicos defendiam
o governo da totalidade dos uma vida o mais próxima possível da natureza, por isso
seres ocorre infinitamente, ficou conhecida como ética naturalista. Como o ser hu-
de modo evidente e sem
mano é dotado de razão e de paixão, é necessário de-
cessar [...]
senvolver o autocontrole para expurgar as emoções
Eles dizem que o próprio
destino, a natureza e a razão destrutivas e, assim, compreender o logos universal
de acordo com o qual o todo ou a alma divina. Para isso, é necessário atingir a ata-
é governado, é deus, e que raxia, ou seja, a tranquilidade da alma, aceitando os
está em todos os seres e infortúnios da vida como inevitáveis e se conforman-
acontecimentos, assim uti-
do com o destino para alcançar a liberdade. É na von-
lizando a natureza própria
de todos os seres para o tade de fazer o bem que cada um se torna coerente
governo do todo. consigo mesmo.
EM21_1_FIL_06

(AFRODÍSIA, Alexandre de. Sobre o


destino, 191, 30 – 192, 28. In: FIGUEIRE-
DO, Vinicius de (org.). Filosofia: temas
e percursos. São Paulo: Berlendis &
Vertecchia, 2016. p. 228-229.)
Busto de Zenão de Cítio, fundador da Escola Estoica.

78 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 78 14/09/2020 12:37:33


FILOSOFIA E CULTURA

Leia um trecho da música Get up, Stand Up, de Bob Marley, um dos maiores expoentes do
Reggae jamaicano.

Get up, stand up: stand up for your rights! Levante, resista: lute pelos seus direitos!
Get up, stand up: stand up for your rights! Levante, resista: lute pelos seus direitos!
[...] [...]
You can fool some people sometimes Vocês podem enganar algumas pessoas algumas
But you can’t fool all the people all the time vezes
So now we see the light Mas não podem enganar a todos o tempo todo
We’re gonna stand up for our rights! Então agora nós vemos a luz
E vamos lutar por nossos direitos!

A partir da interpretação da música e do que você estudou no capítulo, responda às questões.

1. A música de Bob Marley sugere que as pessoas adotem uma determinada postura de vida com relação ao
mundo e ao seu entorno. A concepção contida na música se assemelha ou se distancia da concepção da
filosofia cética sobre o mundo?
Apesar de a resposta ser relativamente pessoal em virtude do caráter interpretativo, espera-se que o aluno consiga captar
a grande diferença que há entre a concepção contida na música e o Ceticismo. Este está pautado na indiferença e na
neutralidade frente ao caos do mundo, ao passo que há na música um chamado à ação, isto é, ao posicionamento crítico
frente ao mundo.

2. Ao analisar os pensamentos contidos na música e aqueles propostos pelo Ceticismo, qual você acha que
contribui mais para a vida em sociedade? Por quê?
Resposta pessoal.

Bob Marley (1945-1981) é o músico de


Reggae mais conhecido da história e
um dos principais artistas da música
do século XX. Seu engajamento com
relação aos problemas sociais fez com
que ele popularizasse o Reggae e o
movimento rastafári, que tinham como
base a busca pela paz, a igualdade
social e a liberdade.
Bob Marley & The Wailers
EM21_1_FIL_06

FIL 79

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 79 14/09/2020 12:37:37


Resolvidos III. Surgem nesse período a filosofia estoica, o epicurismo, o ceti-
cismo e o neoplatonismo.
1. (Unioeste-2011) No final do último século antes da era cristã, Estão corretas as afirmativas:
assistimos ao fortalecimento romano e sua política de expansão a) Todas elas.
territorial, para regiões do chamado crescente fértil. Percebemos,
nessas conquistas, uma forte presença da cultura grega. Isso se deve b) Apenas I e II.
a) à colonização grega, realizada nessas regiões à semelhança do c) Apenas III.
que ocorreu na Magna Grécia. d) Apenas II e III.
b) à forte presença do helenismo, depois das conquistas realizadas e) Apenas I.
por Alexandre da Macedônia. 99 Anotações:
c) ao esforço romano em ampliar a cultura grega para a referida
região. A filosofia helenista compreende o último período da filosofia clássica, com
d) à intensa dominação persa em território grego durante os as correntes: Estoicismo, Epicurismo e Ceticismo.
reinados de Xerxes e Dario.
e) à influência das instituições políticas gregas em diversos terri-
tórios tanto no Oriente quanto no Ocidente. 2. (UFSJ-2011) Sobre o ceticismo, é correto afirmar que
99 Resposta: B a) os céticos buscaram uma mediação entre “o ser” e o “poder-ser”.
O item A está incorreto, porque a colonização grega na Magna b) o ceticismo relativo tem no subjetivismo e no relativismo
Grécia ocorreu ainda no período arcaico e antigo, portanto anterior doutrinas manifestamente apoiadas em seu princípio maior:
ao último século antes da era cristã. O item B está correto, o texto toda interatividade possível.
se refere ao expansionismo empreendido por Alexandre, o Grande, c) Protágoras (séc. V a.C.), relativista, afirmou que “o Homem só
que difundiu a cultura grega em regiões da Ásia e da África. O item entende a natureza porque o conhecimento emana dela e
C está incorreto, porque os romanos incorporaram a cultura grega, nela se instala”.
oferecendo-lhe uma nova roupagem. O item D está incorreto, porque
os persas Xerxes e Dario não chegaram a dominar o território grego d) Górgias (485-380 a.C.) e Pirro (365-275 a.C.) são apontados
em sua totalidade – apenas na Ásia Menor. O item E está incorreto, como possíveis fundadores do ceticismo.
porque as instituições políticas gregas acabaram sendo extintas com 99 Anotações:
o império macedônico.
O ceticismo defendia a ideia de que não havia possibilidade de se formar um
2. (UEG-2011) Em meados do século IV a.C., Alexandre Magno assumiu
o trono da Macedônia e iniciou uma série de conquistas e, a partir conhecimento seguro sobre a realidade. São considerados seus fundadores:
daí, construiu um vasto império que incluía, entre outros territó- Górgias e Pirro.
rios, a Grécia. Essa dominação só teve fim com o desenvolvimento
de outro império, o romano. Esse período ficou conhecido como 3. (UEM-2013) “Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é
helenístico e representou uma transformação radical na cultura nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a
grega. Nessa época, um pensador nascido em Élis, chamado Pirro, morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara
defendia os fundamentos do ceticismo. Ele fundou uma escola de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição
filosófica que pregava a ideia de que: da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e
a) seria impossível conhecer a verdade. eliminando o desejo de imortalidade. Não existe nada de terrível
na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há
b) seria inadmissível permanecer na mera opinião.
nada de terrível em deixar de viver. É tolo, portanto, quem diz ter
c) os princípios morais devem ser inferidos da natureza. medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento,
d) os princípios morais devem basear-se na busca pelo prazer. mas porque o aflige a própria espera.”
99 Resposta: A (Epicuro, Carta sobre a felicidade [a Meneceu]. São Paulo: ed. Unesp, 2002,
p. 27. In: COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia. SP: Saraiva, 2006, p. 97.)
O item A está correto, pois os céticos acreditavam na impossibilidade
do conhecimento. O item B está incorreto, apesar de os céticos busca- A partir do trecho citado, é correto afirmar que
rem transcender as crenças e opiniões, para eles era uma questão de
(1) a morte, por ser um estado de ausência de sensação, não é
escolha a pessoa viver ou não na mera opinião. O item C está incorreto,
nem boa, nem má.
pois essa postura era dos estoicos. O item D está incorreto, pois essa
postura remete-se ao Epicurismo. (2) a vida deve ser considerada em função da morte certa.
(3) o tolo não espera a morte, mas vive apoiado nas suas sensa-
ções e nos seus prazeres.
Praticando
(4) a certeza da morte torna a vida terrível.
1. (UENP-2011) Julgue as afirmações sobre a filosofia helenista. (5) a espera da morte é um sofrimento tolo para aquele que a
I. É o último período da filosofia antiga, quando a  polis grega espera.
desaparece em razão de invasões sucessivas, por persas e roma- Soma ( 17 ) (01 + 16)
nos, sendo substituída pela cosmopolis, categoria de referência 99 Anotações:
que altera a percepção de mundo do grego, principalmente no
tocante à dimensão política. Para Epicuro, é necessário enfrentar os medos para evitar o sofrimento e se
II. É um período constituído por grandes sistemas e doutrinas que
aproximar da felicidade, pois a arte de viver consiste numa sabedoria prática,
apresentam explicações totalizantes da natureza, do homem,
concentrando suas especulações no campo da filosofia prática, que conduz ao sumo bem: o prazer. O medo da morte é infundado, pois ela é
principalmente da ética.
a ausência de sensação.

80 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 80 14/09/2020 12:37:37


Desenvolvendo Habilidades Assinale a sentença do filósofo grego Epicuro cujo significado é
o mais próximo da letra da canção “Filosofia”, composta em 1933
1. C1:H1 (Enem-2016) Pirro afirmava que nada é nobre por Noel Rosa, em parceria com André Filho.
nem vergonhoso, justo ou injusto; e que, da mesma a) É verdadeiro tanto o que vemos com os olhos como aquilo que
maneira, nada existe do ponto de vista da verdade; que apreendemos pela intuição mental.
os homens agem apenas segundo a lei e o costume, b) Para sermos felizes, o essencial é o que se passa em nosso
nada sendo mais isto do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo interior, pois é deste que nós somos donos.
com esta doutrina, nada procurando evitar e não se desviando do
que quer que fosse, suportando tudo, carroças, por exemplo, pre- c) Para se explicar os fenômenos naturais, não se deve recorrer
cipícios, cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos. nunca à divindade, mas se deve deixá-la livre de todo encargo,
em sua completa felicidade.
(LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988.)
d) As leis existem para os sábios, não para impedir que cometam
O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por: injustiças, mas para impedir que as sofram.
a) Desprezar quaisquer convenções e obrigações da sociedade. e) A natureza é a mesma para todos os seres, por isso ela não
b) Atingir o verdadeiro prazer como o princípio e o fim da vida fez os seres humanos nobres ou ignóbeis, e, sim suas ações
feliz. e intenções.
c) Defender a indiferença e a impossibilidade de obter alguma
certeza. Complementares
d) Aceitar o determinismo e ocupar-se com a esperança trans-
1. (UFSM-2013) A economia verde contém os seguintes princípios
cendente.
para o consumo ético de produtos: a matéria-prima dos produtos
e) Agir de forma virtuosa e sábia a fim de enaltecer o homem deve ser proveniente de fontes limpas e não deve haver desperdício
bom e belo. dos produtos. O Estado, entretanto, não impõe, até o presente mo-
2. C1:H1 (Enem-2014) Alguns dos desejos são naturais e mento, sanções àqueles cidadãos que não seguem esses princípios.
necessários; outros, naturais e não necessários; outros, Considere as seguintes afirmações:
nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã I. Esses princípios são juízos de fato.
opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não II. Esses princípios são, atualmente, uma questão de moralidade,
satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facil- mas não de legalidade.
mente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem
geradores de dano. III. A ética epicurista, a exemplo da economia verde, propõe uma
vida mais moderada.
(EPICURO DE SAMOS. Doutrinas principais. In: SANSON, V. F.
Está(ão) correta(s)
Textos de Filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974.)
a) apenas I. d) apenas II e III.
No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim b) apenas I e II. e) I, II e III.
a) alcançar o prazer moderado e a felicidade. c) apenas III.
b) valorizar os deveres e as obrigações sociais.
2. (UEM-2013) “O prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com
c) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação. efeito, nós o identificamos com o bem primeiro e inerente ao ser
d) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade. humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa e
e) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber. a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção
entre prazer e dor. Embora o prazer seja nosso bem primeiro e
3. C1:H3 (UFF) inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em
Filosofia que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o
O mundo me condena, e ninguém tem pena mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos
sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier
Falando sempre mal do meu nome
depois de suportarmos essas dores por muito tempo”.
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome (EPICURO. Carta sobre a felicidade. In: ARANHA, M. Filosofar com textos:
temas e história da filosofia. São Paulo: Moderna, 2012, p. 330.)
Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim A partir do trecho citado, assinale o que for correto.
Nesta prontidão sem fim (1) Todos os seres humanos buscam prazer sempre e em tudo,
Vou fingindo que sou rico evitando toda e qualquer dor.
Pra ninguém zombar de mim (2) Os prazeres imediatos anulam as dores que podem decorrer
Não me incomodo que você me diga desses.
Que a sociedade é minha inimiga (3) Dor e prazer não são contraditórios, pois de atos dolorosos
Pois cantando neste mundo podem advir situações prazerosas e vice-versa.
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo (4) A noção de prazer não está ligada somente à sensação
Quanto a você da aristocracia imediata, mas aos efeitos que uma ação pode gerar no ser
Que tem dinheiro, mas não compra alegria humano.
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente (5) A busca da felicidade na vida não se restringe a escolhas
Que cultiva hipocrisia. prazerosas, mas a ações que geram prazer, apesar de essas
conterem, às vezes, algumas doses de sacrifício.
Noel Rosa Soma ( )

FIL 81

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 81 14/09/2020 12:37:40


3. (UEM-2014) A lógica megárico-estoica distingue o válido (do ponto 6. (UNISC-2012) Nas suas Meditações, o filósofo estoico Marco Aurélio
de vista lógico) e o verdadeiro (do ponto de vista empírico), isto é, escreveu:
distingue a “apresentação formal” do enunciado e a “significação “Na vida de um homem, sua duração é um ponto, sua essência, um
material” de um argumento. Com base nessa distinção e nos co- fluxo, seus sentidos, um turbilhão, todo o seu corpo, algo pronto a
nhecimentos sobre o silogismo, assinale o que for correto. apodrecer, sua alma, inquietude, seu destino, obscuro, e sua fama,
(1) A utilização de letras do alfabeto para a formulação de pre- duvidosa. Em resumo, tudo o que é relativo ao corpo é como o fluxo
missas leva em conta o teor formal do enunciado. de um rio, e, quanto à alma, sonhos e fluidos, a vida é uma luta, uma
(2) A lógica formal não trata da semântica ou do significado breve estadia numa terra estranha, e a reputação, esquecimento. O
proposicional de uma inferência. que pode, portanto, ter o poder de guiar nossos passos? Somente
uma única coisa: a Filosofia. Ela consiste em abster-nos de contrariar e
(3) Enunciados verdadeiros estão classificados como válidos. ofender o espírito divino que habita em nós, em transcender o prazer
Enunciados falsos estão classificados como inválidos. e a dor, não fazer nada sem propósito, evitar a falsidade e a dissimula-
(4) O silogismo leva em conta a concatenação ou o encadea- ção, não depender das ações dos outros, aceitar o que acontece, pois
mento entre premissas que permitem inferir uma determi- tudo provém de uma mesma fonte e, sobretudo, aguardar a morte
nada conclusão. com calma e resignação, pois ela nada mais é que a dissolução dos
(5) A validade de um enunciado lógico não pode ser determi- elementos pelos quais são formados todos os seres vivos. Se não há
nada, pois os estoicos defendiam o ceticismo. nada de terrível para esses elementos em sua contínua transformação,
Soma ( ) por que, então, temer as mudanças e a dissolução do todo?”
Considere as seguintes afirmativas sobre esse texto:
4. (UEM-2015) “O prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com
I. Marco Aurélio nos diz que a morte é um grande mal.
efeito, nós o identificamos com o bem primeiro e inerente ao ser
humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa, e II. Segundo Marco Aurélio, devemos buscar a fama, a riqueza e
a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção o prazer.
entre prazer e dor. Embora o prazer seja nosso bem primeiro e III. Segundo Marco Aurélio, conseguindo fama, podemos trans-
inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em cender a finitude da vida humana.
que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o IV. Para Marco Aurélio, a filosofia é valiosa porque nos permite
mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos compreender que a morte é parte de um processo da natureza
sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier e assim evita que nos angustiemos por ela.
depois de suportarmos essas dores por muito tempo.”
V. Para Marco Aurélio, só a fé em Deus e em Cristo pode libertar
(EPICURO. Carta sobre a felicidade. In ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, o homem do temor da morte.
M. H. P. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2009, p. 251.)
VI. Para Marco Aurélio, o homem participa de uma realidade divina.
A partir desta citação de Epicuro, assinale o que for correto. Assinale a alternativa correta.
(1) Felicidade e infelicidade são estabelecidas pelos efeitos do a) Somente as afirmativas I e V estão corretas.
prazer e da dor.
b) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.
(2) O sentimento de prazer é inato à natureza humana.
c) Somente as afirmativas IV e VI estão corretas.
(3) Epicuro defende o prazer sem medidas.
d) Todas as afirmativas estão corretas.
(4) O prazer corporal é um mal causado pelo pecado original.
e) Somente a afirmativa IV está correta.
(5) O hedonismo de Epicuro não é imediatista, mas moderado.
Soma ( )
5. (UEM) As considerações científicas da antiguidade, com o desenvol-
vimento da matemática, da geometria, da astronomia, da medicina,
da física mecânica etc., representam o gênio e a capacidade humana
de compreender e explicar os fenômenos da natureza. Sobre a
ciência na antiguidade, assinale o que for correto.
(1) No pensamento pré-socrático, ciência e Filosofia estão uni-
das, pois o estudo da arché, princípio de todas as coisas,
envolve a consideração de questões que, hoje, poderíamos
chamar de científicas.
(2) No Egito e na Grécia antiga, o desenvolvimento da mate-
mática e da geometria está ligado ao conhecimento prá-
tico, cujo exemplo pode ser encontrado no teorema de
Pitágoras: “o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos
quadrados dos catetos”, que representa a possibilidade de
calcular a altura de uma pirâmide.
(3) O “juramento hipocrático”, que homenageia o pai da medici-
na, Hipócrates de Cós (século V a.C.), manifesta a prática de
concepções mágicas e supersticiosas com o corpo humano,
na origem da ciência médica.
(4) Entre os antigos, destaca-se um período de desinteresse dos ro-
manos pela ciência. Os romanos eram notáveis como civilização
essencialmente prática e pouco dada a especulações teóricas.
GABARITO ONLINE
(5) Após a morte de Alexandre, o Grande, a ciência matemática 1. Faça o download do aplicativo SAE Questões ou qualquer aplicativo
de Euclides, preocupada com o tao da física e o quantum da de leitura QR Code.
matéria, ocupa um lugar de destaque na cidade de Alexandria. 2. Abra o aplicativo e aponte para o QR Code ao lado.
3. O gabarito deste módulo será exibido em sua tela.
Soma ( )

82 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 82 14/09/2020 12:37:41


EEEE
EEE
EEE
Filosofia Medieval

EEE
Santo Agostinho: a Patrística • Santo Tomás de Aquino: a Escolástica • Franciscanos: a crítica à Escolástica tradicional
Filosofia
mód. 07/08
Filosofia

07
Medieval:
Santo
Agostinho e
Santo Tomás
de Aquino

START

O período medieval é marcado pela oposição entre fé e razão. Leia a frase de Santo Agostinho
e responda às questões.

“Aqueles que chegam a descobrir as verdades divinas não as conseguem senão após diuturna investigação.
Tal acontece devido às profundezas das mesmas, pois somente um longo trabalho torna o intelecto apto a
compreendê-las por via da razão natural.”

Santo Agostinho
1. Fé e razão podem contribuir para o conhecimento? A filosofia medieval surge da
necessidade da fundamen-
tação do cristianismo para
seu fortalecimento diante
das doutrinas pagãs. Com a
Patrística e, posteriormente,
com Santo Agostinho, tem-
-se o início da absorção de
2. O conhecimento é uma construção humana ou iluminação divina? conceitos da filosofia para o
campo da teologia.

3. É possível provar racionalmente a existência de Deus?


OSORIOartist/Shutterstock

FIL 83

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 83 14/09/2020 12:37:53



Santo Agostinho: a Patrística
Glossário A Patrística foi um movimento que perdu- mas maniqueístas, uma linha religiosa muito
O cristianismo deu o nome rou do século I ao VII d.C. e que tinha como difundida na época.
de p­ agãs a todas as doutri- ­objetivo principal promover a filosofia cristã Agostinho não se converteu ao cristianis-
nas de origem não cristã. diante do domínio da antiga filosofia greco-ro- mo por considerar esta religião melhor do
O maniqueísmo foi uma mana e outras filosofias de origem pagã. que o maniqueísmo, mas por ser sua verda-
doutrina dualista, pois divi-
dia o mundo em bem e mal,
Os principais intelectuais deste período fi- deira experiência espiritual. Ele sentiu em sua
tinha o objetivo de levar a caram conhecidos justamente como os “pais alma que no cristianismo havia encontrado a
doutrina cristã à perfeição. da Igreja”, pois suas ideias, conceitos e refle- verdade.
A junção do reino das trevas xões influenciaram a construção da tradição
com o reino da luz teria
O autor deixou cerca de 113 obras regis-
católica que se mantém até a atualidade. Esses tradas, entre elas tratados filosóficos e teoló-
gerado o mundo material,
que por essência é mau. pensadores fizeram o trabalho de relacionar a gicos, comentários sobre a Bíblia, sermões e
Caberia, então, aos homens fé e a tradição cristã com a razão e a filosofia cartas. Suas principais obras são: Confissões e
se salvarem buscando o grega, construindo o caminho para a comuni- A Cidade de Deus.
caminho da luz. cação entre a fé e a razão. Os pensamentos
de Platão e Aristóteles foram decisivos para
a construção da filosofia cristã, pois as ideias
dos principais representantes da filosofia me-
dieval foram fundamentadas justamente nos
dois maiores nomes da ­f ilosofia grega.
Santo Agostinho nasceu em 13 de novem-
bro de 354 d.C., na cidade de Tagaste, província
romana localizada no norte da África. Desde
criança foi alegre, inquieto, travesso e não gos-
tava dos estudos. Ao chegar à adolescência,
decidiu entregar-se aos estudos e aprender
Glossário toda a ciência da sua época. Tornou-se profes-
Retórica é a arte de sor de retórica em Milão, Roma e Cartago e,
persuadir valendo-se de com o tempo, tornou-se aberto para encontrar
instrumentos linguísticos. a “graça” pelo caminho da interioridade.

GOZZOLI. Santo Agostinho lendo a epístola de São


Paulo, século XV.
Em sua obra Confissões, Agostinho traz a
ideia de Deus como criador de todos os tem-
pos, pois precede todo o passado e domina
todo o futuro. Os anos para Deus existem si-
multaneamente, todos os seus anos são como
um só eterno dia, ao contrário do que ocorre
para os homens, que vivem os anos apenas du-
rante o tempo em que existem.

Teologia
Agostinho buscou apresentar a prova da
existência de Deus na obra O Livre-Arbítrio.
O ser humano conhece pela razão, que por
ser intelectiva é capaz de investigar, pensar,
GOZZOLI. Batismo de Santo Agostinho por Santo
Ambrósio de Milão, século XV. analisar e refletir. Enfim, ele observa o mundo
EM21_1_FIL_07

EM21_1_FIL_07

externo e com sua atividade intelectual é ca-


Santo Agostinho registrou sua autobiogra-
paz de descobrir quando algo é verdadeiro ou
fia em uma de suas principais obras: Confissões.
não é. Agostinho pergunta: “O que significa di-
Seus primeiros estudos não eram cristãos,
zer que algo é verdadeiro?”

84 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 84 14/09/2020 12:37:58



Com essa pergunta, Agostinho está admi- consciência de que se vive. O animal vive, mas Observe
tindo que essa verdade já existe e que nós ape- não sabe que vive, já o homem vive e sabe que
Na filosofia medieval
nas a descobrimos. Isto é, o homem não cria a vive. O homem possui uma alma intelectiva, di-
definida por Agostinho,
verdade, mas a encontra. ferente do animal. A alma possui também na- assim como na pintura de
Se essa verdade já existe, significa que al- tureza divina, sendo, assim, superior ao corpo. Michelangelo, Deus é quem
guém a criou. Com isso Agostinho tentou pro- cria e tem as respostas.
Na pintura, Adão parece
var que a razão humana pode, no máximo, entregue e quase sem vida
descobrir verdades que já existem além do que só será energizada ou
homem. Essa realidade além do homem e que revigorada com o toque
é certamente criada por alguma entidade inte- de Deus.
ligente, decorrendo daí a necessidade da exis-
tência de Deus.
Observe

Village Roadshow Pictures


MICHELANGELO. A criação de Adão, 1511. Detalhe da obra demonstra a
ligação do homem com Deus.
Aqui surge outra indagação importante:
se a natureza divina está presente no ser hu-
mano, por que ele não vive sempre pela razão
dada por Deus? Ou seja, como pode o homem
errar e pecar se nele há participação de Deus? Cena do filme Matrix (1999)
em que Morpheus oferece
Isso se responde pela questão do livre-ar- duas pílulas a Neo, uma
bítrio, que é a capacidade que Deus conferiu vermelha, que lhe mostrará
ao ser humano de fazer aquilo que deseja. Por toda a verdade sobre o
outro lado, o fato de ter liberdade para agir re- mundo virtual em que vive,
caso ele a tome, ou a azul,
sulta em responsabilidade de cada indivíduo
que fará com que ele retor-
perante suas ações. Deus conferiu a todos os ne a um estado de completa
homens a razão divina, porém, por vontade ignorância. Mesmo que para
própria, o homem pode escolher ir contra essa o espectador pareça óbvia a
vontade divina. escolha a ser feita por Neo,
BOTTICELLI, Sandro. Santo Agostinho, 1480. essa escolha deve partir
Afresco, 152 x 112 cm. Concluímos, então, que o homem possui dele: a decisão de querer
dentro de si uma razão divina que lhe indica ir em busca da verdade.
Para poder dizer o que seria Deus é neces-
o modo correto de agir, porém por opção pró- Isso significa que Neo tem
sária uma experiência espiritual e existencial, o livre-arbítrio para decidir
pois isso precisa ser vivenciado e não apenas pria muitas vezes prefere agir contra a própria seu futuro.
raciocinado intelectualmente. natureza, em desacordo com sua razão, princí-
pios morais etc.
Sendo assim, a graça é a salvação concedi-

Conhecimento
da por Deus aos homens, livrando-os do peca-

note_yn/Shutterstock
do pela iluminação. Bastante célebre é a frase
de Agostinho: “Senhor, livrai-me dos desejos da
carne, mas não ainda!”. O homem é pecador e A teoria do conhecimento de Santo
por isso precisa da graça divina para se salvar. Agostinho é elaborada numa forma de condu-
Na frase, notamos a ideia de que mesmo a sal- ção do homem a Deus. O conhecimento sensível
vação possui um tempo para ser concretizada. consiste na sensação provocada pelo contato
de um dos sentidos com um objeto corporal.
O homem pecador em Agostinho também Assim a visão conhece cores, o olfato conhece
pode ser representado na frase: “fallor, ergo odores, o tato conhece a textura de um objeto, O café tem um odor bastante
sum”, que traduzida ficaria: “engano-me, logo e assim por diante.
particular que podemos per-
ceber pelo nosso olfato. Reco-
existo”. Se o homem se engana, é porque dese- nhecer algo com esse sentido
ja conhecer, e se deseja conhecer, precisa estar O conhecimento se faz pelos sentidos cor- é o que podemos chamar de
póreos, mas a sensação provocada é operada conhecimento sensível.
vivo. É importante perceber que essa frase an-
tecipa-se em muitos séculos à famosa frase do pela alma. Ou seja, a impressão que temos do
filósofo francês René Descartes: “cogito, ergo odor, do contato, da visão, e que se processa
sum” (Penso, logo existo). em nossa mente é uma atividade da alma. O Biografia
estímulo ao conhecimento vem de fora, mas o
René Descartes (1596-1650)
Antropologia
verdadeiro conhecimento se faz dentro.
foi um filósofo francês
O verdadeiro conhecimento é aquele no que inaugurou a filosofia
qual sentimos em nosso interior a evidência da moderna.
Para Agostinho o ser humano é uma uni-
EM21_1_FIL_07

EM21_1_FIL_07

dade substancial de corpo e alma, tal como verdade. Ou seja, não é que alguém externo ou
os animais. Mas como então diferenciar o alguma coisa nos ensina algo, o externo ape-
ser humano do animal? A diferença está na nas nos estimula a descobrir a verdade. Essa é
a ideia do mestre interior.

FIL 85

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 85 14/09/2020 12:38:10



A cidade dos homens existe em qualquer
Para Agostinho, todos os seres humanos período histórico. Embora Agostinho analise,
têm um mestre interior na alma, que nos na obra, o Império Romano, a análise vale para
acompanha sempre. Podemos sentir sua qualquer sociedade, inclusive a de hoje. Na ci-
presença quando evidenciamos que algo é dade dos homens, as leis e os valores são mu-
verdade, quando não é, qual o nosso cami- táveis e temporários, o que é certo hoje pode
nho etc. ser errado amanhã. Além disso, é imperfeita,
pois é completamente humana, logo está su-
Então, o meio que o ser humano utiliza jeita aos mais variados vícios.
para conhecer é a alma, que por sua partici-
Já a cidade de Deus é a cidade perfeita onde
pação na essência divina conhece a verdade.
vigoram apenas os valores e virtudes procla-
Mas aqui cabe outra indagação: pode o ho-
mados por Deus, sendo essa a verdadeira pá-
mem conhecer tudo? Não, porque o homem
tria dos cristãos. Isso significa que apenas a
é criatura de Deus, e somente Deus conhece
cidade de Deus é importante?
todas as coisas. Ora, o homem é um ser tem-
poral e mutável, e a verdade é eterna e imu- Com toda certeza, não. Pois construir da
tável. Como então pode o homem conhecê-la? melhor maneira possível a cidade dos homens
Para Agostinho, o contato com Deus ilumina o é tarefa essencial de toda pessoa. Agostinho
homem e sua racionalidade possibilitando que ensina que a história também esconde desíg-
ele conheça a verdade. nios divinos, de forma que viver o presente e
melhorar a sociedade em que se vive é tam-
Com isso chegamos à relação entre fé e
bém seguir as leis divinas.
razão em Agostinho. Para o filósofo ambas
Relembrando A cidade de Deus representa os valores di-
são importantes, porque é preciso “crer para
A ideia de cidade dos conhecer” e “conhecer para crer”. É possível vinos, aquelas virtudes que toda pessoa deve
homens e cidade de Deus conhecer por meio da razão, mas sem a fé em cultivar no dia a dia. Eis a dupla moral: viver na
possui semelhança com a cidade dos homens, desenvolvendo-a, sem se
teoria de Platão do mundo Deus não se pode conhecer a verdade divina
imutável, por meio da iluminação. Por outro esquecer que a verdade não está nas socieda-
das ideias e do mundo
das sombras. lado, somente com a fé o homem não poderá des e leis temporais, mas na cidade de Deus,
compreender a iluminação de Deus, porque que representa o ideal de valores e virtudes
lhe faltará a razão para compreender intelec- emanadas de Deus.
tualmente a revelação divina.

Ética: a Cidade dos


“[...] a verdade é que, se o homem não serve

Homens e a Cidade de
a Deus, a alma não pode com justiça imperar
com o corpo, nem a razão sobre as paixões. E,

Deus se no homem individualmente considerado


não há justiça alguma, que justiça pode haver
A Cidade de Deus é a obra em que Agostinho em associação de homens composta de indiví-
sistematiza sua célebre ideia de que existem duos semelhantes?”
dois mundos: a cidade dos homens e a cidade
de Deus. (AGOSTINHO, Santo. A Cidade de Deus: contra os
A cidade dos homens é a civilização em que pagãos. Tradução de: LEME, Oscar Paes. Bragança
Paulista: Universitária São Francisco, 2003.)
vivemos, na qual seguimos as leis temporais,
feitas pelo Estado. A Cidade de Deus é o lugar
ideal, ao qual devem se voltar os corações de
todos os cristãos.

EM21_1_FIL_07

EM21_1_FIL_07

A Cidade de Deus, de Agostinho, 354-430 d.C.

86 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 86 14/09/2020 12:38:13



Santo Tomás de Aquino: a Escolástica
grande importância para a filosofia, por haver
muitas verdades que, embora acessíveis à ra-
zão, necessitam primeiramente serem aceitas
pela fé. Essas são as verdades elementares,
como a existência de Deus.
Por outro lado, a filosofia é de grande im-
portância para a teologia, pois a razão asse-
gura os fundamentos da fé, ao evidenciar que
esta pode ser demonstrada racionalmente.
Uma das verdades elementares que influencia
Observe
de maneira contundente a teologia cristã é a
prova da existência de Deus, demonstrada por
Tomás de Aquino por meio de cinco vias:

Santo Tomás de Aquino, ou Doutor Angélico, como


também ficou conhecido. Detalhe da obra de Carlo 1.ª Constata-se que no Universo existe
Crivelli (1476).
movimento. Considerando a relação entre
A Escolástica ocorreu entre os séculos IX causa e efeito, onde tudo que é movido é por
e XVI, período em que se desenvolveram os causa da ação de outro, existiria um primeiro
estudos e disciplinas que eram ensinados movente que deu causa ao primeiro movi-
em monastérios e catedrais e, mais tarde, mento e não foi movido por nenhum outro.
nas escolas medievais. O objetivo principal Este primeiro motor imóvel é o que chamam
da filosofia escolástica era harmonizar a fé de Deus.
com a ­ razão. O principal representante da 2.ª Considera que o mundo é ligado a uma
Escolástica foi Santo Tomás de Aquino. relação de causas eficientes, onde a todo
Tomás de Aquino nasceu no castelo de efeito é atribuída uma causa. Sendo assim,
Roccasecca, perto de Aquino, em 1225, faz-se necessária a existência de uma causa
iniciando seus estudos no Mosteiro de eficiente primeira, a qual seria Deus.
Monte Cassino. Continuou sua formação 3.ª Aparentemente, todas as coisas podem
na Universidade de Nápoles e depois na não existir, assim, haveria um tempo em que O triunfo de Santo Tomás de
Universidade de Paris, tornando-se profes- nenhuma existia, mas, nesse caso, não exis- Aquino sobre Averroes. Benozzo
Gozzoli. Essa pintura demonstra
sor e ensinando em diversas escolas. Foi um tiria nada até hoje, pois do nada, nada vem. a superação do pensamento
intelectual importantíssimo por harmonizar Por isso teria de haver um primeiro ser ne- árabe de Averróis (embaixo) por
Santo Tomás de Aquino (centro),
a filosofia de Aristóteles com a fé cristã. Da cessário que possa ser a causa dos outros. ao seu redor encontram-se
Platão (direita) e Aristóteles
vasta produção de Tomás de Aquino se so- Esse ser necessário seria Deus. (esquerda).
bressaem Comentários sobre As Sentenças, Os 4.ª Observando todas as coisas da nature-
Princípios, O Ente e A Essência, A Suma Teológica za percebemos que elas possuem diferentes
e também os comentários às principais obras graus de perfeição. Os animais são superio-
de Aristóteles. res às plantas e os homens são ­superiores Glossário
aos animais. Seguindo essa hierarquia, deve
haver um ser que tenha perfeição em grau Averróis (1126-1198) foi um
jurista, médico e influente
máximo. Esse ser seria Deus. filósofo árabe, grande
5.ª Fundamenta-se na ordem das coisas comentador de Aristóteles,
trazida pelo finalismo de Aristóteles, na qual responsável por integrar o
ideal islâmico com o pen-
tudo que acontece no Universo acontece por
samento grego. Influenciou
uma razão, havendo um ser inteligente res- Tomás de Aquino, porém
ponsável pela ordem universal, que opera a vários pontos de sua tese
finalidade dada às coisas existentes, esse ser foram refutados pelo santo.
responsável seria Deus.

Essas cinco vias, mesmo sendo diferentes,


seguem uma linha uniforme, todas elas per-
tencem a uma realidade concreta, e todas em-
Pintura de Laurentius de Voltolina que representa o ensino na Idade pregam o princípio de causalidade, que consiste
EM21_1_FIL_07

EM21_1_FIL_07

Média.
no fato de um ente ser causado pela ação de
Para Tomás de Aquino, a teologia não outro. Verifica-se que é impossível compreen-
substitui a filosofia, ambas são modos de se der completamente este mundo, sem admitir,
alcançar uma realidade única. A razão apa- acima dele, um princípio realmente existente
rece como uma natureza criada por Deus e a e atuante, que lhe fundamente a existência:
fé como a revelação de Deus. A teologia é de Deus.
FIL 87

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 87 14/09/2020 12:38:23



O que se conclui deste ponto é que tanto ao agir necessita tanto do pensar quanto do
a fé quanto a razão levam ao mesmo ponto, à querer. Tomás de Aquino divide as virtudes
verdade, porém, por métodos diferentes. A fi- em intelectuais: intelecto, ciência, sabedoria
losofia extrai seus argumentos das essências e prudência; e morais: justiça, temperança e
das coisas, enquanto a teologia parte sempre fortaleza.
da verdade revelada por Deus. A ciência é o hábito das conclusões dedu-
Na filosofia tomista, Deus é também o fun- tíveis dos princípios, que depende do intelec-
damento principal da teoria política e jurídica, to, que é o conhecimento dos princípios, das
como veremos a seguir com a apresentação formas. Ambos dependem da sabedoria, que
das “quatro leis”. julga convenientemente todas as coisas, se-
gundo as razões e princípios supremos. Já a

As quatro leis prudência diz respeito ao domínio prático, pois


não adianta saber o que é certo, é necessário
Para Tomás de Aquino, quatro leis regem o saber aplicá-lo às circunstâncias concretas. A
Universo: a lei divina (lex divina), a lei natural justiça regula o teor e a natureza dos atos ex-
(lex naturalis), a lei humana (lex humana) e, aci- ternos, a temperança regula a conduta interna
ma de todas, a lei eterna (lex aeterna). do homem e a fortaleza combate as paixões
Observe
que dificultam a ação.
●● Lei divina é a lei revelada por Deus aos
Tomás de Aquino retoma homens por meio das Sagradas Escritu-
a sua influência platônica,
sendo forma o mesmo ras.
conceito que ideia, como ●● Lei natural é a referência para a vida
essência inteligível de cada dos homens e dos animais. É a lei da na-
coisa. Assim, o intelecto é
a virtude que possibilita ao tureza.
homem conhecer a essência ●● Lei humana é toda lei criada pelo ho-
do objeto. mem, como as leis do Estado, por exem-
plo.
●● Lei eterna é a lei que provem da ra-
cionalidade de Deus e poucos homens
bem-aventurados podem conhecê-la,
entre eles Jesus Cristo, Moisés e os pro-
fetas. É a lei máxima porque tem Deus
como legislador.
Observe

Aristóteles também divide O Direito é a lei humana, tendo como


as virtudes em intelectuais função coibir o mal por meio da força e do BAYEU y SUBÍAS, Francisco. Tomás de Aquino Vencendo os Hereges.
e morais na obra Ética a
medo. As leis humanas são necessárias de-
Nicômaco, porém Tomás
de Aquino não as segue de vido à própria natureza humana, sociável e
maneira idêntica. naturalmente destinada à ordem política. “Na ciência do mestre está contido o que ele
gera na alma do discípulo, o conhecimento dos
princípios naturalmente evidentes é gerado
Ética em nós por Deus e estes princípios estão tam-
bém contidos na soberania divina e tudo que
Para Tomás de Aquino, todo ser humano é contrário a eles contraria a sabedoria divina
Glossário existe para um determinado fim, e além de e não pode estar em Deus. Logo, as verdades
tender a este fim, pode também conhecê-lo. recebidas pela revelação divina não podem ser
Beatitude é um sentimento
de extremo bem-estar, de Quando o ser humano realiza a sua finalidade, contrárias ao conhecimento natural.”
felicidade contemplativa em alcança a beatitude. O conhecimento e busca
proximidade com o divino. desse fim nas ações humanas é o estudo da éti-
(AQUINO, Tomás de. Suma Contra os Gentios. Tradução
ca de Tomás de Aquino. Para se chegar à beati- de: MOURA, Odilão. Porto Alegre: Sulina, 1990.)
tude é fundamental a prática das virtudes.
A virtude é a disposição para agir confor-
me a razão. A virtude é uma perfeição do ato
humano. Como o homem não é puro intelecto,
EM21_1_FIL_07

EM21_1_FIL_07

88 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 88 14/09/2020 12:38:26



Franciscanos: a crítica à Escolástica tradicional
Os séculos XI e XII viram despertar uma e simplicidade que havia sido propagada por
nova realidade na Idade Média. Foi um período Jesus Cristo. Disseminou suas ideias de forma
de decadência dos costumes, inclusive dentro itinerante, destoando do costume da época,
da Igreja. Várias pessoas criticavam as autori- em que os religiosos comumente se organiza-
dades religiosas, acusando-as de se aprovei- vam em mosteiros.
tarem do poder dado pelo Clero ao acumular
riquezas e pouco praticar os Mandamentos do
Evangelho.
Diante dessa decadência, vários movi-
mentos populares se rebelavam contra a au-
toridade da Igreja e, entre eles, sobressai-se
a figura de São Francisco de Assis, que defen-
dia a vida humilde e despojada de bens parti-
culares. O resultado da vida de pregações de
São Francisco é fantástico: de sua obra surge
uma série de seguidores, denominados fran-
ciscanos, que nos séculos seguintes passaram
a discutir racionalmente com a autoridade da
Igreja, ameaçando antigos dogmas e abrindo GOZZOLI, Benozzo. Pregação de São Francisco aos Animais e aos
Homens, 1452.
portas para uma nova concepção religiosa.
A identificação com São Francisco foi ta-
manha que em pouco tempo o número de
fiéis cresceu rapidamente, dando corpo ao
que depois se tornaria a ordem dos francis-
canos. Passados dois anos de sua morte, São
Francisco foi canonizado pela Igreja Católica.
A filosofia franciscana é importantíssima
para entendermos a passagem da Idade Média
para a Moderna, passando pelo Renascimento,
pois ela é o primeiro embate racional contra os
grandes dogmas da Igreja Católica, como ve-
remos agora ao apresentar brevemente seus
dois principais representantes: Duns Scott e
Guilherme de Ockham.

SASSETTA, Êxtase de São Francisco, 1437-1444.


São Francisco de Assis (1182-1226) nasceu
na cidade de Assis, na Itália, e teve uma juven-
tude confortável, já que seu pai era um comer-
ciante de tecidos. Tentou seguir a carreira do
pai e serviu também ao Exército, mas foi quan-
do recebeu o chamado divino, em um sonho,
a partir do qual São Francisco encontrou seu Van GENT, Duns Scott.
EM21_1_FIL_07

EM21_1_FIL_07

Duns Scott (1265-1308), escocês, lecionou na


caminho na religiosidade. Universidade de Paris e em Oxford. Sua obra foi
amplamente utilizada pelas escolas no século XVII
Acreditava na vida simples e desapegada e sua doutrina é constantemente utilizada para
dos bens materiais, baseando-se na humildade confrontar as ideias de Tomás de Aquino. Scott foi
beatificado em 1993 pelo Papa João Paulo II.

FIL 89

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 89 14/09/2020 12:38:30



Filmes
Duns Scott contribuiu notavelmente com a razão moderna, sendo uma dessas contribuições

Paramount Pictures
sua defesa da separação e da distinção entre filosofia e teologia. Para ele, a filosofia estuda o ente
e os conceitos especulativos, enquanto a teologia limita-se aos objetos da fé e aprofunda aquilo
que Deus nos revelou.
E as críticas de Scott não param por aí. O franciscano acusa a filosofia escolástica de ir contra
Deus ao postular a existência de uma ordem natural no Universo, e que esta ordem é racional.
Afirmar que Deus precisa criar uma ordem racional significa que Deus está submisso à raciona-
Irmão Sol, Irmã Lua lidade intelectualista do homem. Para Scott, Deus pode criar qualquer ordem. E isso se revela
Ano: 1972 inclusive nos Mandamentos do Antigo Testamento da Bíblia, como: “Não matarás”. Dizer que “Não
matarás” seria uma lei natural também significaria ir contra Deus, pois este poderia ter criado
Diretor: Franco Zeffirelli
qualquer outro mandamento. É incrível, portanto, como Duns Scott consegue abalar inclusive a
Sinopse: Retrata a vida
de São ­Francisco de Assis, moral cristã tradicional.
desde o momento em que Mas então ficaria a dúvida: Duns Scott autoriza os cristãos a desobedecerem às leis bíblicas? A
é tocado pela guerra e pela resposta é não. O objetivo de Duns Scott é que os cristãos aprendam a praticar a moral cristã não
doença que passam a asso-
lar o lugar onde ele vive, in- por racionalidade, mas porque são leis criadas por Deus, e por isso devem ser obedecidas. Não se
fluenciando sua decisão em discute o porquê do mandamento, apenas se pratica, por amor a Deus, e não por racionalidade.
levar uma vida espiritual, Em relação ao amor a Deus, aqui surge outra contribuição importantíssima de Scott: o con-
até a difusão de suas ideias
que culminam em uma ida a ceito de haecceitas, ou ecceidade. Para os escolásticos a natureza divina está na humanidade em
Roma para um diálogo com geral. Para Scott ela está na singularidade, ou seja, a essência divina se constitui de modo distinto
o Papa Inocêncio III. em cada pessoa.
Outro importante filósofo franciscano foi Guilherme de Ockham, que introduziu o nominalis-
Warner Bros

mo na filosofia. O nominalismo critica a filosofia por estudar apenas nomes, signos, símbolos. Isto
é, a filosofia não estuda o homem, mas o conceito de homem, a ideia de homem, não o homem
real.
O estudo desses signos, aliás, estaria tão repleto de símbolos e conceitos intermediários, que
grande parte deles torna-se desnecessária. Daí surge a célebre Navalha de Ockham, que podemos
sintetizar como um princípio de economia, isto é, para definirmos algo devemos utilizar apenas
O Nome da Rosa
aqueles requisitos essenciais, retirando, ou seja, cortando com a navalha todos os excedentes.
Ano: 1986 Quanto menos atributos precisarmos para explicar algo, melhor.
Diretor: Jean-Jaques Annaud
Mas como já afirmamos, a natureza de algo somente poderia ser alcançada pela fé. Esta é a
Sinopse: Em um mosteiro
famosa separação brusca entre filosofia e teologia, razão e fé, já iniciada por Duns Scott. A filoso-
no norte da Itália, no ano de
1327, uma série de assassina- fia estuda os signos, os conceitos universais, mas somente a fé acessa a verdade criada por Deus.
tos faz nascer o questiona- O efeito incrível que decorre dessa separação é que ela abre portas para as origens da ciência
mento: foram esses crimes
moderna. Se a filosofia e a razão possuem caminhos e objetos próprios para conhecer, totalmen-
praticados por um homem
ou foi obra do demônio? te separados da fé, significa também que a razão pode operar livremente sem se submeter às re-
Essa discussão fará levantar gras da teologia, como foi comum acontecer em toda a Idade Média. Sem essa separação é difícil
a questão sobre razão e fé, afirmar até que ponto seria possível toda a revolução científica e filosófica que apresentaremos
em que o monge franciscano no próximo capítulo.
William de Bakersville sai
em busca do autor desses
Guilherme de Ockham/W.Commons

assassinatos, mas é confron-


tado pelos dominicanos que
alegam que os crimes foram
praticados pelo demônio. O
filme traz uma inteligente
discussão entre os limites
da fé e da razão.
Versatil

Santo Agostinho
Ano: 1972 Guilherme de Ockham (1285-1347), inglês, ingressou ainda
Diretor: Roberto Rosselini jovem na Ordem Franciscana, onde dedicou seus estudos à
filosofia. Lecionou na Universidade de Oxford, onde conhe-
Sinopse: Filme do respei- ceu Duns Scott, tornando-se seu discípulo. Sua doutrina
EM21_1_FIL_07

tadíssimo diretor que já acabou ultrapassando a filosofia e a teologia, passando a


produziu outras biografias, ser utilizada nas discussões políticas e jurídicas.
como a de Sócrates. Retrata
o processo que levou Agos-
tinho a se tornar o bispo
de Hipona.

90 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 90 14/09/2020 12:38:41


FILOSOFIA E CULTURA


1. Leia as letras das canções a seguir para responder ao que se pede. Levar o áudio das duas
canções para ouvi-las com a
turma e tematizar cada uma
delas, separadamente, le-
Texto 1 Ô-ô  vantando as interpretações
No calor do verão  dos alunos. Em seguida,
Andar com fé solicitar a resolução dos
A fé tá viva e sã  exercícios propostos.
Gilberto Gil A fé também tá pra morrer
Andar com fé eu vou, [...]
que a fé não costuma “faiá” Texto 2
Que a fé tá na mulher Fé cega, faca amolada

Aline Macedo
A fé tá na cobra coral Milton Nascimento
Ô-ô Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada
Num pedaço de pão Agora não espero mais aquela madrugada
Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser faca amolada

Raymond Asseo
A fé tá na maré
Na lâmina de um punhal O brilho cego de paixão e fé, faca amolada
Deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo
Ô-ô Deixar o seu amor crescer e ser muito tranquilo
Na luz, na escuridão Brilhar, brilhar, acontecer, brilhar, faca amolada
Andar com fé eu vou, Irmão, irmã, irmã, irmão de fé, faca amolada
que a fé não costuma “faiá” Plantar o trigo e refazer o pão de cada dia Gilberto Gil e Milton Nascimento
Andar com fé eu vou, são dois grandes nomes da
Beber o vinho e renascer na luz de todo dia Música Popular Brasileira (MPB).
que a fé não costuma “faiá” A fé, a fé, paixão e fé, a fé, faca amolada Esses músicos tiveram um papel
Andar com fé eu vou, relevante no cenário político e
O chão, o chão, o sal da terra, o chão, cultural do Brasil, sendo referên-
que a fé não costuma “faiá” faca amolada cias até hoje.
Andar com fé eu vou, Deixar a sua luz brilhar no pão de todo dia
que a fé não costuma “faiá” Deixar o seu amor crescer na luz de cada dia
Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser
A fé tá na manhã 
muito tranquilo
A fé tá no anoitecer 
O brilho cego de paixão e fé, faca amolada

a) A questão da fé é debatida intensamente pela humanidade de vários modos. A filosofia e a música são
duas maneiras de explicitar reflexões e posicionamentos. Qual é a importância dada à fé pela Patrística,
pela Escolástica e pelos autores das músicas?
Em todos os casos há a centralidade da fé na condução da vida. No caso das correntes filosóficas, a fé é elemento

fundamental na busca pelo conhecimento do mundo e da verdade, ao passo que nas músicas, a fé se apresenta como

elemento do cotidiano.
b) Assinale as afirmativas verdadeiras.
(1) Enquanto no texto 1 a fé está em todos os lugares, no texto 2 ela está no pão de cada dia.
(2) Ambos os textos defendem a fé como fundamental para se acreditar na vida.
(3) Enquanto o texto 1 aborda a fé como essencial à vida, o texto 2 a aponta como perigosa, pois pode
gerar paixões cegas.
(4) No texto 1, a fé é infalível e no texto 2, é perigosa.
(5) Enquanto o texto 1 aponta a escolha do autor a viver em conformidade com a fé, o texto 2 aponta
as decisões humanas como fundamentais para a vida.
Soma (28 ) 04+08+16
c) Com qual dos textos anteriores você concorda? Justifique sua resposta.
EM21_1_FIL_07

FIL 91

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 91 14/09/2020 12:38:44


Resolvidos Praticando
1. (UFFS) Leia a seguinte passagem de Santo Agostinho: 1. (UFU) A Patrística, filosofia cristã dos primeiros séculos, poderia
“Incorre em erro a alma quando se identifica tanto a essas imagens ser definida como:
[exteriores], e, levada por tal amor, vem a considerar-se da mesma a) retomada do pensamento de Platão, conforme os modelos
natureza que elas.” teológicos da época, estabelecendo estreita relação entre
(A Trindade). filosofia e religião.
b) configuração de um novo horizonte filosófico, proposto por
Conforme o pensamento de Santo Agostinho, analise as afirmativas Santo Agostinho, inspirado em Platão, de modo a resgatar a
abaixo derivadas do trecho citado: importância das coisas sensíveis, da materialidade.
I. O amor nunca nos engana. c) adaptação do pensamento aristotélico, conforme os moldes
II. O erro deve-se à ação da própria alma. teológicos da época.
III. O erro acontece quando a alma se identifica com coisas ex- d) criação de uma escola filosófica, que visava combater os ata-
teriores a ela. ques dos pagãos, rompendo com o dualismo grego.
IV. A alma erra porque no pecado original foi abandonada por 99 Anotações:
Deus.
O maior representante da Patrística, Santo Agostinho, foi muito influenciado
V. A alma erra porque faz parte da natureza.
Assinale a alternativa correta. por Platão.
a) Somente as afirmativas II e III são corretas.
b) Somente a afirmativa V é correta.
c) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
d) Somente a afirmativa II é correta. 2. (PUC) Na sua obra Suma Teológica, Tomás de Aquino tenta conci-
liar os valores da fé com os valores da razão, levando em conta a
e) Somente a afirmativa III é correta.
filosofia de Aristóteles. Nesse sistema, a prudência aparece como
99 Resposta: A uma das virtudes indispensáveis para o bom agir do ser humano.
O item I está incorreto, porque o amor, caso identifique com as Sobre essa virtude é correto afirmar que:
imagens exteriores, pensa que possui a mesma natureza que elas. O I. A prudência se apresenta, ao lado da razão, como caminho para
item II está correto, pois o erro consiste em confundir o amor com as a felicidade, já que possibilita ao homem agir corretamente.
imagens exteriores (impressões). O item III está correto, a identificação
II. A prudência é um uso reto da razão aplicada ao agir humano.
entre a alma e as coisas exteriores a ela é a fonte do erro. O item IV está
incorreto, pois a alma, para Agostinho, é a parte divina que habita os III. A boa ação, guiada pela prudência, parte de uma análise correta
seres humanos. O item V está incorreto, a alma erra por errar o juízo. da realidade (uso da razão) e é essa análise que possibilita tomar
a decisão correta numa dada situação específica.
2. (UFU) Com efeito, existem a respeito de Deus verdades que ultra- IV. A prudência não é mais do que uma virtude que ajuda a decidir
passam totalmente as capacidades da razão humana. Uma delas é, o que fazer no futuro e de bem avaliar o que já foi feito. Sendo
por exemplo, que Deus é trino e uno. Ao contrário, existem verdades assim, ela não teria nenhuma aplicabilidade no presente.
que podem ser atingidas pela razão: por exemplo, que Deus existe,
que há um só Deus etc. a) Apenas as assertivas I e II estão corretas.
b) Apenas as assertivas I, II e III estão corretas.
(AQUINO, Tomás de. Súmula contra os gentios. Capítulo Terceiro:
A possibilidade de descobrir a verdade divina. Tradução de: c) Apenas as assertivas II e IV estão corretas.
BARAÚNA, Luiz João. São Paulo. Abril Cultural, 1979, p. 61.) d) Todas as assertivas estão corretas.
Para São Tomás de Aquino, a existência de Deus se prova: e) Apenas a assertiva IV está correta.
a) Por meios metafísicos, resultantes de investigação intelectual. 99 Anotações:
b) Por meio do movimento que existe no Universo, na medida
em que todo movimento deve ter causa exterior ao ser que Para Tomás de Aquino, a prudência diz respeito ao domínio prático, pois
está em movimento. não adianta saber o que é certo, é necessário saber aplicá-lo às circuns-
c) Apenas pela fé, a razão é mero instrumento acessório e dis-
pensável. tâncias concretas.

d) Apenas como exercício retórico.


99 Resposta: B
O item a está incorreto, pois, para Tomás de Aquino, apenas a razão Desenvolvendo Habilidades
não é suficiente para provar a existência de Deus. O item b está
correto, pois Deus seria o primeiro motor imóvel, que gera todos os 1. C3:H11 (Enem) Se os nossos adversários, que admitem a existência
seres mas não é gerado. O item c está incorreto, porque fé e razão se de uma natureza não criada por Deus, o Sumo Bem, quisessem
complementam e andam de mãos juntas. O item d está incorreto, admitir que essas considerações estão certas, deixariam de proferir
porque a retórica não garante a existência de Deus. tantas blasfêmias, como a de atribuir a Deus tanto a autoria dos
bens quanto dos males. Pois sendo Ele fonte suprema da Bondade,
nunca poderia ter criado aquilo que é contrário à sua natureza.
AGOSTINHO. A natureza do Bem. Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2005 (adaptado).

92 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 92 14/09/2020 12:38:45


Para Agostinho, não se deve atribuir a Deus a origem do mal porque A partir dessa citação, indique a afirmativa que melhor expressa o
a) o surgimento do mal é anterior à existência de Deus. pensamento de Tomás de Aquino.
b) o mal, enquanto princípio ontológico, independe de Deus. a) A fé é o único meio do ser humano chegar à verdade.
c) Deus apenas transforma a matéria, que é, por natureza, má. b) O ser humano só alcança o conhecimento graças à revelação
da verdade que Deus lhe concede.
d) por ser bom, Deus não pode criar o que lhe é oposto, o mal.
c) Mesmo limitada, a razão humana é capaz de alcançar certas
e) Deus se limita a administrar a dialética existente entre o bem
verdades por seus meios naturais.
e o mal.
d) A Filosofia é capaz de alcançar todas as verdades acerca de Deus.
2. C1:H2 (Enem) Enquanto o pensamento de Santo Agostinho re-
e) Deus é um ser absolutamente misterioso e o ser humano nada
presenta o desenvolvimento de uma filosofia cristã inspirada em
pode conhecer d’Ele.
Platão, o pensamento de São Tomás reabilita a filosofia de Aristó-
teles – até então vista sob suspeita pela Igreja –, mostrando ser
possível desenvolver uma leitura de Aristóteles compatível com a Complementares
doutrina cristã. O aristotelismo de São Tomás abriu caminho para
o estudo da obra aristotélica e para a legitimação do interesse 1. (UFU) O filósofo grego que maior influência exerceu sobre Santo
pelas ciências naturais, um dos principais motivos de interesse por Tomás de Aquino foi:
Aristóteles nesse período. a) Platão.
MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. b) Aristóteles.
c) Sócrates.
A Igreja Católica por muito tempo impediu a divulgação da obra
de Aristóteles pelo fato de a obra aristotélica d) Heráclito.
a) valorizar a investigação científica, contrariando certos dogmas e) Parmênides.
religiosos. 2. (UFU) Diz o profeta:
b) declarar a inexistência de Deus, colocando em dúvida toda a “Se não credes, não entendereis; certamente não diria isto se não
moral religiosa. julgasse necessário pôr uma diferença entre as duas coisas. Por-
c) criticar a Igreja Católica, instigando a criação de outras insti- tanto, creio tudo o que entendo [...]”.
tuições religiosas. (Sto. Agostinho. De Magistro. São Paulo: Abril
d) evocar pensamento de religiões orientais, minando a expansão Cultural, 1973. (Coleção “Os Pensadores”).)
do cristianismo.
Explique a ideia central desse fragmento a partir da relação entre
e) contribuir para o desenvolvimento de sentimentos antirreli- fé e razão no contexto da Filosofia Patrística.
giosos, seguindo sua teoria política.
3. (PUC-Campinas) Preparando seu livro sobre o imperador Adriano,
3. C3:H11 (Enem-2015) Ora, em todas as coisas ordenadas Marguerite Yourcenar encontrou numa carta de Flaubert esta frase:
a um fim, é preciso haver algum dirigente, pelo qual se “Quando os deuses tinham deixado de existir e o Cristo ainda não
atinja diretamente o devido fim. Com efeito, um navio viera, houve um momento único na história, entre Cícero e Marco
que se move para diversos lados pelo impulso dos Aurélio, em que o homem ficou sozinho”. Os deuses pagãos nunca
ventos contrários, não chegaria ao fim de destino, se por indústria deixaram de existir, mesmo com o triunfo cristão, e Roma não era o
do piloto não fosse dirigido ao porto; ora, tem o homem um fim, mundo, mas no breve momento de solidão flagrado por Flaubert o
para o qual se ordenam toda a sua vida e ação. Acontece, porém, homem ocidental se viu livre da metafísica – e não gostou, claro. Quem
agirem os homens de modos diversos em vista do fim, o que a quer ficar sozinho num mundo que não domina e mal compreende,
própria diversidade dos esforços e ações humanas comprova. sem o apoio e o consolo de uma teologia, qualquer teologia?
Portanto, precisa o homem de um dirigente para o fim.
(Luiz Fernando Veríssimo. Banquete com os deuses)
AQUINO, T. Do reino ou do governo dos homens: ao rei do Chipre. Escritos
políticos de São Tomás de Aquino. Petrópolis: Vozes, 1995 (adaptado). A compreensão do mundo por meio da religião é uma disposição
que traduz o pensamento medieval, cujo pressuposto é
No trecho citado, Tomás de Aquino identifica a monarquia como
o regime de governo capaz de a) o antropocentrismo: a valorização do homem como centro
do Universo e a crença no caráter divino da natureza humana.
a) refrear os movimentos religiosos contestatórios.
b) a escolástica: a busca da salvação através do conhecimento da
b) promover a atuação da sociedade civil na vida política.
filosofia clássica e da assimilação do paganismo.
c) unir a sociedade tendo em vista a realização do bem comum.
c) o panteísmo: a defesa da convivência harmônica de fé e razão,
d) reformar a religião por meio do retorno à tradição helenística. uma vez que o Universo, infinito, é parte da substância divina.
e) dissociar a relação política entre os poderes temporal e d) o positivismo: submissão do homem aos dogmas instituídos
­ spiritual.
e pela Igreja e não questionamento das leis divinas.
4. C1:H1 (UFF) A grande contribuição de Tomás de Aquino para a vida e) o teocentrismo: concepção predominante na produção inte-
intelectual foi a de valorizar a inteligência humana e sua capacidade lectual e artística medieval, que considera Deus o centro do
de alcançar a verdade por meio da razão natural, inclusive a respeito Universo.
de certas questões da religião. Discorrendo sobre a “possibilidade
4. (UFU) A filosofia de Agostinho (354 – 430) é estreitamente devedora
de descobrir a verdade divina”, ele diz que há duas modalidades
do platonismo cristão milanês: foi nas traduções de Mário Vitorino
de verdade acerca de Deus. A primeira refere-se a verdades da
que leu os textos de Plotino e de Porfírio, cujo espiritualismo de-
revelação que a razão humana não consegue alcançar, por exem-
via aproximá-lo do cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio,
plo, entender como é possível Deus ser uno e trino. A segunda
influenciados por Plotino, que Agostinho venceu suas últimas
modalidade é composta de verdades que a razão pode atingir, por
resistências (de tornar-se cristão).
exemplo, que Deus existe.
(PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental. In: CHÂTELET, François
(org.) A Filosofia medieval. Rio de Janeiro Zahar Editores: 1983, p.77.)

FIL 93

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 93 14/09/2020 12:38:49


Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio dos
escritos de Plotino, o pensamento de Agostinho apresenta muitas
diferenças se comparado ao pensamento de Platão.
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, uma dessas
diferenças:
a) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o conhecimen-
to verdadeiro, enquanto, para Platão, a verdade a respeito do
mundo é inacessível ao ser humano.
b) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mundo das
Ideias, enquanto para Agostinho não existe nenhuma realidade
além do mundo natural em que vivemos.
c) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma
não é imortal, já que é apenas a forma do corpo.
d) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, reminiscência, a
alma reconhece as Ideias que ela contemplou antes de nascer;
Agostinho diz que o conhecimento é resultado da Iluminação
divina, a centelha de Deus que existe em cada um.

GABARITO ONLINE
1. Faça o download do aplicativo SAE Questões ou qualquer aplicativo
de leitura QR Code.
2. Abra o aplicativo e aponte para o QR Code ao lado.
3. O gabarito deste módulo será exibido em sua tela.

94 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 94 14/09/2020 12:38:49


MMMMMMMMM
MMMM

EE
Período
M MM
MMM

EE
MMM

EEE
MMMM M

EEE
M

EEE

MMM
MMM M
MMMM M
MMMM
Renascentista

MMMMMMM
M
Contexto histórico
Filosofia
mód. 08/08

08
Filosofia
Moderna: o
humanismo
de Maquiavel

START

Leia o texto e responda às questões.

As perguntas visam retomar


“Depois de longas investigações convenci-me, por fim, de que o Sol é uma estrela fixa rodeada de planetas que alguns conhecimentos
giram em volta dela e de que ela é o centro e a chama. Que, além dos planetas principais, há outros de segunda gerais sobre o Renascimen-
ordem que circulam primeiro como satélites em redor dos planetas principais e com estes em redor do Sol. [...] to, assim como propor a
reflexão sobre o papel da
Não duvido de que os matemáticos sejam da minha opinião, se quiserem dar-se ao trabalho de tomar conheci- Filosofia nesse período.
mento, não superficialmente, mas duma maneira profunda, das demonstrações que darei nesta obra. Se alguns
homens ligeiros e ignorantes quiserem cometer contra mim o abuso de invocar alguns passos da Escritura (Sa-
grada), a que torçam o sentido, desprezarei os seus ataques: as verdades matemáticas não devem ser julgadas
senão por matemáticos.”

Nicolau Copérnico

1. Quais os impactos da descoberta do heliocentrismo por Nicolau Copérnico?

Monumento em homenagem a
Copérnico, na Polônia.

2. Qual o papel da ciência e da matemática na transição da Idade Média para a Moderna?

3. O que aconteceu com a Filosofia nesse período de transição?

4. Quais outras ideias surgiram no Renascimento?


tterstock
lindasky/Shu

FIL 95

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 95 14/09/2020 12:39:09



Contexto histórico
Glossário O termo Renascimento por si só evoca ex- formam um estudo que os humanistas chama-
Renascimento foi um perío- pressões como “renovar”, “criar nova vida”, “re- vam de studia humanitatis ou studia humaniora,
do histórico entre meados tornar ao antigo esplendor”, ou seja, é como ou ainda, as litterae humanae.
do século XIV até meados do se esse período histórico significasse o renas-
século XVI que buscou res- cimento de uma época de luz em contraposi- Mas o que significavam essas disciplinas? O
gatar valores da antiguidade
ção à época de trevas que perdurou durante estudioso italiano Giovanni Reale afirma:
clássica para a incorporação
de valores humanistas. a Idade Média. Nesse contexto, renascer sig-
Desta forma, prevalecia o nifica o resgate da antiga civilização greco-ro-
antropocentrismo (homem Para os autores latinos (como ­Cícero), ‘hu-
mana, que amava a filosofia, as artes e tudo
como centro do Universo), manita’ significava aproximadamente aqui-
aquilo que diz respeito à dimensão espiritual
em relação ao teocentrismo lo que os helênicos indicavam com o termo
(Deus como centro do Uni- do ser humano.
‘paideia’, ou seja, a educação e formação do
verso), o racionalismo em O Renascimento é o período histórico homem. Ora, considerava-se que as letras, ou
relação à fé ou à experiência
sensível.
que marca a transição da Idade Média para a seja, a poesia, a retórica, a história e a filosofia
Moderna, caracterizado pelo esplendor das desempenhavam um papel essencial nessa obra
artes, das ciências e da filosofia. A retomada de formação espiritual.
Biografia de aspectos da cultura greco-romana se deu
Com efeito, são essas disciplinas que es-
de modo dinâmico, uma vez que os pensado- tudam a humanidade naquilo que ela tem de
Cícero foi um importante res renascentistas retomaram conceitos filo-
filósofo estoico do período peculiar, prescindindo de qualquer utilidade
romano do Helenismo, sóficos da antiguidade, dando-lhes uma nova pragmática. Por isso, mostram-se particular-
linguista, tradutor e político roupagem ao aplicarem-nos ao novo momento mente capazes não apenas de nos dar a conhe-
romano. Estudioso da filo- histórico que se iniciava. cer a natureza específica do próprio homem,
sofia grega, entre outros tra-
balhos, foi responsável pela Esse período foi marcado pela crescente mas também de fortalecê-la e potencializá-la:
criação de um vocabulário urbanização das cidades, pelo aquecimento em suma, mostram-se mais capazes do que to-
filosófico em latim. do comércio e pela crise da noção de Estado das as outras disciplinas a fazer o homem ser
relacionada à Igreja Católica. Grandes artistas aquilo que deve ser, precisamente em virtude
viveram nessa época, como Leonardo da Vinci de sua natureza espiritual específica.
e Michelangelo, assim como importantes filó-
sofos-cientistas, como Galileu e Copérnico. Na
(REALE, Giovanni. História da filosofia. p. 17.)
área da política, pensadores como Maquiavel,
Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau ino- Em síntese, compreendia-se naquela épo-
varam ao propor uma nova organização polí- ca que essas disciplinas estudavam o homem
tica às sociedades, voltada para a realidade e naquilo que o torna um ser único na natureza,
não mais para o ideal da cidade perfeita. que é esta capacidade de expressar o próprio
espírito. Somente o ser humano pode filosofar,
Um grupo de pensadores resolveu escrever
ser poeta, criar normas para viver em socieda-
e publicar todo o conhecimento até então pro-
de, construir a própria história. Essa é a dimen-
duzido numa coletânea chamada Enciclopédia.
são espiritual do ser humano. Os humanistas
A razão volta a ganhar um lugar central no pen-
entendiam que ao estudá-la seria possível
samento, uma vez que apenas ela poderia co-
aprimorar ainda mais o ser humano.
nhecer o mundo.
Veremos, a seguir, algumas característi-
cas e o percurso do pensamento no período
Renascentista.

Humanismo Renascentista
O que foi o humanismo renascentista? Seria
um tipo de filosofia? Um movimento artís-
tico? Seria toda a produção intelectual do
Renascimento? Pois bem, para responder a
essa dúvida, primeiro temos que entender o
que cada uma destas palavras (humanismo
e renascentista) representa individualmente. GIOTTO, Bondone di. N º 36 Cenas da Vida de Cristo 20.
Comecemos por humanismo. Lamentação, 1304-09. Afresco. 200 x 185 cm.
Giotto, artista considerado o precursor da pintura renascen-
EM21_1_FIL_08

EM21_1_FIL_08

A expressão humanista remonta ao sécu- tista, inovou ao introduzir a ideia de perspectiva na pintura
lo XV e era utilizada para referir-se a todo pro- desse período.
fessor ou cultor da gramática, retórica, ­poesia, O homem renascentista, portanto, sentia-
história e filosofia moral. Estas disciplinas -se como um verdadeiro renovador do espírito
humano. Cultivar o espírito greco-romano não

96 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 96 14/09/2020 12:39:14



Pico della Mirandolla
significava retornar ao passado, mas antes re-
cuperar a beleza e a espiritualidade devotadas
ao homem por aqueles povos e atualizá-las à
realidade dos séculos XIV e seguintes.

Resumidamente, pode-se dizer que:


Renascimento é o fenômeno histórico que
colocou o homem como centro dos esforços
intelectuais e espirituais, permitindo o nasci-
mento de uma nova luz.

Percurso histórico
Quadro que ilustra Pico della M
­ irandolla,
Petrarca séc. XVI. Autor desconhecido.
Giovanni Pico della Mirandolla (1463-1494)
enalteceu o homem como poucas vezes se viu
na história do pensamento ocidental. É dele
que surge a doutrina da dignidade do homem:
“magnum miraculum est homo”, ou “o homem é
um grande milagre”.
Pico della Mirandolla viu que todas as ou-
tras criaturas são determinadas a serem ape-
nas aquilo que são, já possuem uma essência
fixa que as impossibilita de se guiarem para
qualquer outra coisa. Assim, uma árvore, um
peixe ou um pássaro nunca sairão do ciclo de
vida do qual nasceram. Já o homem recebeu
uma natureza não predeterminada, que o pos-
sibilita construir-se, que o permite tanto rebai-
xar-se ao nível das feras como elevar-se acima
CASTAGNO, Andrea del. Francesco dos anjos. Pico della Mirandolla afirma, como
Petrarca, c. 1450. Afresco transferido
para a madeira. 247 x 153 cm. se fosse Deus falando:

O humanismo inicia-se no século XIV e, em


geral, credita-se como o seu primeiro expoente Eu não te dei, Adão, nem um lugar determi-
o poeta italiano Francisco Petrarca (1304-1374), nado, nem um aspecto próprio, nem qualquer
que reclamou a necessidade de os homens prerrogativa só tua, para que obtenhas e con-
olharem mais para dentro de si mesmos, e não serves o aspecto e as prerrogativas que deseja-
tanto para o mundo que os rodeava. res, segundo a tua vontade e os teus motivos. A
Para o italiano, os homens de seu tem- natureza limitada dos astros está contida den-
po esforçavam-se demais para entender os tro das leis por mim prescritas. Mas tu deter-
pássaros, peixes, feras, plantas, vales, rios, e minarás a tua sem estar constrito a nenhuma
­esqueciam-se do mais importante, que era o barreira, segundo o teu arbítrio, a cujo poder
próprio ser humano. Petrarca admirava-se eu te entreguei.
com as belezas naturais, porém não concorda- Coloquei-te no meio do mundo para que,
va que elas pudessem receber maior atenção daí, tu percebesses tudo o que existe no mun-
que a alma humana por parte dos pensadores do. Não te fiz celeste nem terreno, mortal nem
do seu tempo. imortal, para que, como livre e soberano artí-
Diz Petrarca: fice, tu mesmo te esculpisses e te plasmasses
na forma que tiveres escolhido. Tu poderás
degenerar nas coisas inferiores, que são brutas,
Eu, com efeito, me pergunto para que ser- e poderás, segundo o teu querer, regenerar-te
ve conhecer a natureza das feras, dos pássaros, nas coisas superiores, que são divinas.
dos peixes e das serpentes, mas ignorar ou não
procurar conhecer a natureza do homem, por
que nascemos, de onde viemos, para onde va- (REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da
EM21_1_FIL_08

EM21_1_FIL_08

mos. filosofia. 2.ed. São Paulo: Paulus, 1990. v. 2. p. 82.)

Se por um lado vários humanistas tentavam


retomar a cultura da filosofia clássica, ­havia
(REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da
Filosofia. 2.ed. São Paulo: Paulus, 1990. v. 2. p. 45.)
outros que desejavam criar uma nova cultura.
Entre eles estavam Maquiavel, Leonardo da
Vinci e Giordano Bruno.
FIL 97

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 97 14/09/2020 12:39:17



Nicolau Maquiavel
Observação os meios”, pois o príncipe pode inclusive uti-
lizar-se de meios cruéis contra a população,
Nicolau Maquiavel escreve
quando necessário. O cuidado que temos que

Tito/W.Commons
sua obra após o período
de exílio e prisão causado ter ao interpretar Maquiavel é que o italiano
sob acusação de traição à não era defensor do autoritarismo, do despo-
família Médici. O Príncipe tismo ou do uso da crueldade, esses meios só
é escrito em homenagem a seriam lícitos quando surgissem como as úni-
Lorenzo de Médici, para que
sirva de manual de como cas ou melhores vias. Nicolau Maquiavel pos-
governar. Uma maneira de, suía uma visão bastante peculiar dos homens.
assim, mostrar que as acu- Ele escreve:
sações feitas a ele no passa-
do poderiam ser falsas.

“Chegamos assim à questão de saber se é me-


lhor ser amado do que temido. A resposta é que
Nicolau Maquiavel seria desejável ser ao mesmo tempo amado e
temido, mas que, como tal combinação é difícil,
Nesse período seria publicado na Itália um
é muito mais seguro ser temido, se for preciso
tratado que modificaria para sempre a racio-
optar. De fato, pode-se dizer que os homens, de
nalidade ocidental: O Príncipe (1513), de Nicolau
modo geral, são ingratos, volúveis, dissimula-
Maquiavel (1469-1527), que até hoje empolga,
dos; procuram esquivar-se dos perigos e são
surpreende e ao mesmo tempo desconforta
gananciosos.”
tantas pessoas. Veja o que Alexandre Koyré,
um dos maiores estudiosos do Renascimento,
disse sobre a obra de Maquiavel: (MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São
Paulo: Martin Claret, 2008. p. 88.)

Com Nicolau Maquiavel, encontramo-nos


Maquiavel prepara o terreno para a che-
verdadeiramente em todo um outro mundo.
gada de uma nova época, com outras ideias,
A Idade Média está morta. Mais ainda: é como
outro tipo de sociedade, bem diferente da
se ela nunca tivesse existido. Nenhum de seus
Idade Média. Se na Idade Média prevalecia a fé
problemas – Deus, salvação, relação entre o
e a verdade era revelada por Deus, na Idade
mundo dos vivos e o além, justiça, fundamento
Moderna há o predomínio da razão e da ver-
divino do poder – existe para Maquiavel. Só há
dade conhecida por meio do método científico.
uma realidade: a do Estado; um fato: o poder; e

Leonardo da Vinci
um problema: como afirmar e conservar o po-
der no Estado.

(KOYRÉ, Alexandre. Estudos de história do


pensamento científico. 2.ed. Rio de Janeiro:
Forense Universitário, 1991. p. 20.)

Petrarca, Pico della Mirandolla e todos os


autores importantes do humanismo até ago-
ra citados contribuíram para a promoção do
­humanismo, porém sempre um ­humanismo
ainda muito ligado a Deus, à fé, à religião.
Trata-se de um humanismo renascentista que
ainda não havia se desgarrado completamente
da Idade Média. VINCI, Leonardo da. Auto retrato,
c. 1512. Giz vermelho sobre papel.
Maquiavel só tem uma preocupação em 33,3 x 21,3 cm.
mente: o que um soberano deve fazer para
Quando pensamos em Renascimento é
conquistar e depois conservar o poder em
quase certo que o primeiro nome que nos vem
suas mãos. O pensador italiano inaugura o
à mente é Leonardo da Vinci (1452-1519), que
realismo político, que pode ser sintetizado no
em sua genialidade resume o que é o “uomo del-
princípio da “verdade efetiva das coisas”, que
la Rinascenza” (o “homem do Renascimento”),
consiste naquilo de como as coisas são e não
alguém com conhecimentos e habilidades
como deveriam ser. É a realidade que importa,
múltiplas, capaz de ser pintor, arquiteto, ana-
e não o plano ideal de como seria o Estado ou
tomista, escultor, matemático, inventor, músi-
as pessoas. Com o realismo político, Maquiavel
EM21_1_FIL_08

EM21_1_FIL_08

co, entre outras capacidades fascinantes. Mas


desvincula a ética religiosa da ética política.
Leonardo também foi filósofo.
Para vencer nesta realidade política é es-
Para Leonardo, o homem está na ordem me-
sencial desenvolver a virtude do príncipe.
canicista de toda a natureza. Há uma ordem em
Maquiavel simplesmente quer que o soberano
todas as coisas, que certamente vem de Deus,
conserve o poder, e para isso os “fins justificam

98 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 98 14/09/2020 12:39:21



e isto basta para ele. A alma existe e é aquilo A matemática é o segundo momento do

Leonardo Da Vinci/W.Commons
que anima os corpos, tornando-os vivos. conhecimento, aquilo que Leonardo definia
Porém, Leonardo da Vinci não faz qualquer como cogitatione mentale (cogitação mental).
análise metafísica. O indivíduo que faz experiência e aprende a
construir determinado objeto não necessaria-
Para ele, é pela experiência e pela mate-
mente compreende o que fez. Para aquela ex-
mática que se pode conhecer a natureza, e
periência funcionar significa que há uma razão
não mais pela fé, pois a natureza possui uma
para isto, ou seja, uma explicação que diga por
ordem perfeitamente matemática. Leonardo
que funcionou. E esta explicação é matemática.
se definia como um “homem sem letras”, para
dizer que sua formação era prática, nas ofi- A elevação da experiência como fator fun-
cinas com grandes mestres artesãos, e não damental para o conhecimento é uma das mar-
trancafiado em bibliotecas como era de cos- cas da ciência moderna. Porém, isto se fez com
Estudos de Leonardo acerca da
tume entre os grandes pensadores da época. outro grande diferencial, este sim ausente em anatomia humana.
Foi nesse mundo prático que Leonardo desco- Leonardo: o método científico. Leonardo anali-
briu que a observação pelos sentidos ensinava sava a experiência com a matemática, mas a
muito ao homem. Era isso que ele chamava de matemática ainda não era o método científico,
esperientia, o saber prático, conectado ao mun- embora ela seja um elemento essencial para a
do. Não basta só discursar, é preciso produzir comprovação de experimentos.
o conhecimento por meio da aplicação prática
das teorias.
Leonardo Da Vinci/W.Commons

VINCI, Leonardo da. Estudo para a Última Ceia,


1494-95. Giz vermelho sobre papel. 26 x 39,2 cm

Biografia

Loius/W.Commons

VINCI, Leonardo da. A Última Ceia, 1495-1498. Têmpera sobre mural. 460 x 880 cm.
Giordano Bruno foi um frade
Acima, da esquerda para a direita: esboço feito em carvão de A Última Ceia; estudos de Leonardo sobre os apóstolos para o quadro. Abaixo, a
obra original, que demorou dois anos para ser concluída. dominicano e estudioso
de filosofia que acabou
morrendo na fogueira
Giordano Bruno condenado pela Inquisição
devido a várias de suas
A obra de Giordano Bruno (1548-1600) foi altamente polêmica, pois partia da aceitação da teo- ideias, contrárias aos
preceitos da Igreja Católica.
ria heliocêntrica de Copérnico e da infinitude do Universo. Para Bruno, o Universo é uno e origina-
EM21_1_FIL_08

EM21_1_FIL_08

Entre elas está a de que o


-se de uma causa ou mente suprema. Nós, porém, jamais poderemos entender completamente centro do Universo é o Sol e
este Princípio Supremo porque vemos apenas os efeitos do que ele criou, que é simplesmente que existem muitos outros
tudo, do Universo ao homem, passando por todas as coisas. Não vemos a causa, apenas o efeito. planetas tal como a Terra.
Seria a mesma situação se quiséssemos conhecer o escultor por sua estátua. A estátua é efeito, Acreditava que o Universo
era infinito.
o escultor é a causa.

FIL 99

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 99 14/09/2020 12:39:26



Bruno foi um entusiasta da descoberta de procura defender suas ideias, legitimando a
Copérnico, porém, tal como Leonardo da Vinci, possibilidade de conciliá-las com a revelação
também não foi um pensador moderno. Não religiosa. Por muito tempo suas obras foram
há um método científico em Bruno, nem uma inseridas no Index (livros proibidos da Igreja
explicação empírica. A cosmologia de Bruno Católica), por conterem pensamentos que se
é acima de tudo metafísica, ou seja, o filósofo distinguiam do pensamento do cristão.

A Revolução Científica
Por Revolução Científica entende-se geralmente o período que vai da publicação de De re-
volutionibus orbium coelestium, de Copérnico, em 1543 até a publicação de Philosophiae naturalis
principia mathematica de Newton, em 1687. Neste período o mundo modifica-se por completo,
não é apenas a antiga cosmologia de Aristóteles e Ptolomeu, corroborada pela tradição cristã,
que desaba, mas a própria imagem do mundo se renova.

Carlos/W.Commons

Astrhu/W.Commons
Ilustração da Teoria do Heliocentrismo proposta por Desenho que ilustra o Geocentrismo de Ptolomeu.
Copérnico, que marca o início da Revolução Científica.
Giovanni Reale oferece uma ideia desse impacto:

Biografia

Ptolomeu (90-168) foi um Durante os 150 anos que decorrem entre Copérnico e Newton, não é apenas a imagem do mundo que se
cientista grego que estudou transforma. Vinculada a essa transformação, dá-se também a mudança – que também foi lenta e tortuosa,
Matemática, Astrologia, mas decisiva – das ideias sobre o homem, sobre a ciência, sobre o homem de ciência, sobre o trabalho cien-
Astronomia, Geografia e
Cartografia. Sua teoria sobre tífico e as instituições científicas, sobre as relações entre ciência e sociedade, entre ciência e filosofia e entre
os astros foi amplamente saber científico e fé religiosa.
utilizada até o surgimento
do heliocentrismo de Nico-
lau Copérnico, no século XVI. (REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. 2.ed. São Paulo: Paulus, 1990. v. 2. p. 186.)

É notável, por exemplo, que de Ptolomeu (século I a.C.) até Copérnico (século XVI) o modelo as-
Biografia tronômico manteve-se o mesmo, mas apenas 60 anos depois da publicação da obra de Copérnico
nada mais além do fato de o Sol ser o centro restava de sua teoria, todo o restante havia sido
Werds/W.Commons

superado por pensadores posteriores. Porém, será que todo esse progresso seria possível sem
Copérnico, tendo em vista que antes dele tudo estava intacto por 15 séculos?

Nicolau Copérnico
Nicolau Copérnico (1473-1543) pode ser A cosmologia antiga, construída com bases
considerado o ponto de chegada da velha na física aristotélica e na matemática ptolomai-
cosmologia científica e o ponto de partida da ca, de um Universo estático e com a Terra ao
nova. Isto porque, embora sua obra conserve centro, não convencia Copérnico. Além disso,
Nicolau Copérnico foi um ainda vários princípios defendidos pelos ma- sendo um matemático, seus cálculos e ob-
astrônomo e matemático temáticos e astrônomos antigos, ela também servações dos movimentos dos planetas, por
polonês que desenvolveu
apresenta uma quebra de paradigma funda- exemplo, o conduziam a conclusões bastante
a teoria do heliocentrismo,
que coloca o Sol como mental: a Terra está em movimento e não é o diferentes daquelas que por séculos foram
centro do Universo. Estudou centro do Universo, o que constitui a necessi- difundidas.
EM21_1_FIL_08

EM21_1_FIL_08

Medicina, Direito, Filosofia dade de se repensar completamente o que se


e Matemática. Estudava o entendia por cosmologia.
céu a olho nu, já que em
seu tempo não existia o
telescópio ou a luneta.

100 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 100 14/09/2020 12:39:30



Em sua clássica obra, Sobre a revolução das escandalizando os seus contemporâneos.
esferas celestes, publicada apenas pouco depois Pesquisar com a ajuda de um instrumento sig-
de sua morte, Copérnico defendeu algumas te- nificava dizer que os olhos humanos não são
ses centrais que rebatiam a visão tradicional suficientes, não são perfeitos para a investiga-
acerca da Terra e do Universo naquele período: ção científica, seria duvidar da obra de Deus.
a Terra é esférica; o movimento dos corpos ce- Como aceitar que um instrumento feito pelo
lestes é uniforme, circular e perpétuo; a Terra homem (luneta) poderia trazer mais seguran-
gira em torno do seu eixo; o Universo é muito ça nas observações que o olho humano, é uma
mais vasto do que pensavam os antigos, além obra de Deus?
de outras argumentações.
Com o novo instrumento, Galileu revelou
aos homens tantas outras estrelas invisíveis
a olho nu, bem como a existência de monta-
nhas e vales na Lua. Essa descoberta demons-
trou que a Lua não é uma esfera perfeita e que
não possui superfície muito diferente da Terra.
Sendo assim, se a Lua se movimenta, por que
também a Terra não se movimentaria?
Para Galileu era evidente que a Terra se Observe
movimentava em torno de seu eixo, tal como
a Lua e os outros planetas, e que inclusive to-
dos giravam em torno do Sol. Para Galileu isto
é um fato, pois foi comprovado na prática, de
forma empírica, e não sob o testemunho de
MATEJKO, Jan. Conversa de Copérnico com Deus, 1872. uma autoridade tradicional, como Aristóteles
Por outro lado, Copérnico representava ou as Escrituras. Galileu não se baseou nos
também o final da antiga cosmologia, pois livros de papel, mas no livro da natureza, tal
como ele mesmo atesta em uma de suas céle- SUSTERMANS, Justus. Retrato de
grande parte de sua teoria ainda se baseava em Galileu Galilei.
concepções antigas. A ideia de corpos celestes bres passagens:
Galileu Galilei inventou
se movimentando é antiga, pois Ptolomeu já a o telescópio, enunciou o
defendera. princípio da inércia e passou
A filosofia está escrita neste imenso livro a utilizar a matemática para
Ainda que tenha sido apenas esta modifi- resolução de problemas da
que continuamente está aberto diante de nos-
cação, a Terra pelo Sol, os efeitos de Copérnico Física, o que seria essencial
sos olhos (estou falando do Universo), mas
foram profundos na história moderna, como para o posterior desen-
que não se pode entender se primeiro não se volvimento desta ciência.
veremos mais adiante. Sua teoria não modi-
aprende a entender sua língua e conhecer os Defendeu a teoria do helio-
ficou apenas o mundo da astronomia, mas a centrismo de Copérnico e
caracteres em que está escrito. Ele está escrito
cultura, a filosofia, o próprio modo do homem aprimorou o estudo do que
em linguagem matemática e seus caracteres são
ver a si mesmo e ao seu mundo. viria a se tornar o relógio
círculos, triângulos e outras figuras geométri- de pêndulo, além de outros

Galileu Galilei
cas, meios sem os quais é impossível entender feitos. Por suas invenções e
humanamente suas palavras: sem tais meios, descobertas foi condenado à
vagamos inutilmente por um escuro labirinto. prisão perpétua e retratação
A vida de Galileu Galilei (1564-1642) é o dra- pública pela Igreja Católica,
ma do nascimento da ciência moderna. Galileu além de ter todos os seus
transformou a si próprio em instrumento de livros listados no Index, a
luta contra a tradição dogmática que estabe- lista dos livros proibidos.
(REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da
filosofia. 2.ed. São Paulo: Paulus, 1990. v. 2. p. 186.)
Mesmo assim, conseguiu
lecia uma verdade absoluta, inquestionável. converter sua pena em
Galileu defendeu com todas as suas forças a O conhecimento deriva da matemática, confinamento, o que pos-
teoria copernicana, provando com demons- porque o mundo está escrito em linguagem sibilitou a continuidade de
trações concretas a sua verdade frente à seus estudos.
matemática. Assim, Galileu inaugura um novo
Física aristotélica-ptolomaica e as palavras das
Hgbter/W.Commons

período, o da ciência moderna, uma ciência


Escrituras. Copérnico defendera o heliocen- que está preocupada, sobretudo, com o co-
trismo com cálculos e argumentações, Galileu, nhecimento objetivo das coisas. Além disso,
ainda, acrescentou um elemento: a luneta. um conhecimento matemático pressupõe um
A partir de estudos de lentes Galileu de- conhecimento preciso e quantificado. Galileu
senvolveu diversas lunetas, que aumentavam se opõe à possibilidade de o homem poder
em várias vezes o alcance da visão humana e conhecer a essência das coisas, pois esta não
o tamanho dos objetos observados. Adiante pode ser mensurada, quantificada.
EM21_1_FIL_08

EM21_1_FIL_08

acabaria por desenvolver o primeiro modelo Mas como chegamos a um conhecimento


de telescópio, instrumento ainda mais pode- objetivo? Pelo método científico.
roso. Mais do que isto, Galileu trouxe o ins-
Para quantificar e precisar, ou seja, des-
trumento para dentro da pesquisa científica, Modelo de luneta utilizada por
crever de forma objetiva a coisa, requer-se um Galileu.
método, um caminho que estabeleça quando

FIL 101

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 101 14/09/2020 12:39:35



algo é objetivo. Esse método, em Galileu, utili- Copérnico tira a Terra e coloca o Sol no cen-
za-se de dois momentos: as sensatas experiên- tro do Universo. Mas não é apenas a Terra que
cias e as necessárias demonstrações. sai do centro, sai também o homem. Antes, a
As sensatas experiências são as experimen- Terra era considerada o centro do Universo,
tações que o cientista faz no mundo externo por ser a Terra o mundo dos homens, e nós
(observa o movimento dos planetas, calcula sermos o ponto mais alto da criação de Deus.
a queda de um objeto, descreve o compor- Se não somos o centro, nada impede que exis-
tamento de um animal etc.) e as necessárias tam tantos outros mundos pelo Universo. Mas
demonstrações são as argumentações que então será que não somos os únicos? E por que
partem de uma hipótese e, baseando-se nos Deus nunca falou destes outros mundos nas
experimentos, o cientista é capaz de realizar Escrituras? Esse tipo de reflexão foi particular-
conclusões. O método deve ser rigoroso, para mente empolgante para Giordano Bruno e sua
que persista apenas naquilo que é objetivo e concepção de mundo infinito, como vimos.
definitivo. Por um lado, então, temos as obser-

Andreas Cellarius/W.Commons
vações empíricas dos fatos e por outro temos
uma análise lógica e rigorosa destes fatos. Eis
o nascimento da ciência moderna.

Isaac Newton
KNELLER/W.Commons

Imagem que ilustra o Heliocentrismo proposto


por Copérnico.
Pois bem, a teoria de Copérnico foi ba-
seada em observações e cálculos, e não na
revelação de Deus inspirada pela fé, nem por
­comentários à obra de Aristóteles. Galileu mais
tarde consolidaria o novo mundo do saber,
que é o do saber da ciência experimental, feita
Isaac Newton
metodicamente com experimentos rigorosos
O último grande nome da Revolução e controlados, que compreende serem todas
Científica foi Isaac Newton (1643-1727), que as teorias passíveis de rejeição, mas que jun-
fundamentou as leis da mecânica clássica com tas ajudam a construir um conhecimento mais
a publicação da obra Philosophiae naturalis prin- sólido e seguro, pois é um saber que surge da
cipia mathematic, que contém as leis da gravita- observação do próprio mundo e não de repro-
ção universal e as três leis de Newton. Desta dução de comentários dos antigos filósofos.
forma, ele provou que as mesmas leis que Surge a ciência moderna, que é essen-
governavam os corpos celestes também eram cialmente pública e embasada no método
aplicadas aos objetos. Os registros históricos o ­científico. Método é um caminho de etapas e
caracterizam como uma pessoa simples, soli- experimentos que são notórios e comunicados
tária e introspectiva. Aprimorou o telescópio, ao grande público. Com isso, outros cientistas
descobriu a natureza das cores, estudando a podem continuar aquelas pesquisas. Sem esse
luz solar que, ao atravessar um prisma e com caráter público não teríamos os laboratórios,
o auxílio de outros mecanismos, decompõe-se as instituições científicas, as academias que
nas demais cores. Foi professor de Cambridge nos séculos seguintes se tornariam tão popu-
e membro do parlamento britânico. A sua lares. Em resumo, a ciência conquista a sua
morte é o marco histórico final da Revolução autonomia em relação à religião e à filosofia.
Científica, ao mesmo tempo em que se abrem A ciência agora pode procurar o conhecimento
as portas para o próximo grande evento que a por si própria.
história iria presenciar: o Iluminismo.
STILLFX/Shutterstock

O significado filosófico da
Revolução Científica
EM21_1_FIL_08

EM21_1_FIL_08

Apresentados os principais expoentes, é


importante agora analisarmos o significado
filosófico da Revolução Científica. Comecemos
pelas consequências que foram geradas:
Microscópio, instrumento largamente utiliza-
do para observação nos laboratórios.

102 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 102 14/09/2020 12:39:43



Até a Revolução Científica buscavam-se conhecimen- Filmes
tos que pretendiam ser saberes de essências, saberes

Fordkiu/W.Commons
conceituais definitivos, tal como defendia a metafísica de
Aristóteles. Era a busca pela substância, aquela parte que
define o que é o ser. No entanto, Galileu demonstrará que
esta procura muito provavelmente é infrutífera, pois no
máximo conseguimos descrever os fenômenos. A partir de
Galileu tornou-se mais importante descobrir aqueles ele-
mentos que podem ser observados e quantificados do que
Giordano Bruno
verdades absolutas. Como sintetiza Giovanni Reale: “não é
Ano: 1973
mais o que, mas o como; não é mais a substância, mas sim a
Diretor: Giuliano Montaldo
função, que as ciências galileana e pós-galileana passariam
a indagar”. As duas maiores correntes filosóficas da Idade Sinopse: Retrata o processo
contra Giordano Bruno, até
Moderna, o Racionalismo e o Empirismo, são amplamen- sua morte na fogueira em
René Descartes, filósofo racionalista. te influenciadas pela Revolução Científica e o advento do 1600. O filme traz várias
HALS, Frans. René Descartes, 1649. Óleo sobre tela. método. ideias de Giordano Bruno e
69 × 78 cm.
o espírito renascentista que
Como resumo, poderíamos dizer que a Revolução Científica foi a passagem do conhecimento com ele já eclodia, acaban-
das essências para o conhecimento dos fenômenos, buscando descrevê-los. É ainda a passagem do por afrontar as ideias
do discurso apenas filosófico e teológico para a experimentação, para a necessidade de se aplicar seculares da Igreja Católica.
no mundo as teorias e comprová-las com rigor e técnica, utilizando instrumentos sempre mais

Columbia Pictures.
precisos.

Carlos/W.Commons
Charles Singer/W.Commons

O Código Da Vinci
Ano: 2006
Diretor: Ron Howard
Sinopse: Apesar de ser um
romance policial, que se uti-
liza do Renascimento para o
enredo, é aconselhado para
se familiarizar com algumas
ideias desse período e de
Leonardo da Vinci.

Paramount Pictures.
Bússola de Galileu Reprodução do telescópio de Isaac Newton

Na Idade Média os grandes sábios eram os intelectuais teóricos das universidades e das igre-
jas. Na Idade Moderna passam a ser os homens técnicos e práticos no mundo externo, inventan-
do, testando e aplicando teorias na prática.
O método científico é a possibilidade de testar uma hipótese, que sempre parte da imagi-
Lutero
nação, da teoria, portanto, da intelectualidade, obedecendo sempre a etapas e procedimentos
Ano: 2003
rigorosos. Os testes podem ser aplicados e comprovados ou rejeitados, e os resultados descritos
Diretor: Eric Till
nos mínimos detalhes. O método garante um caminho, uma ordem de se fazer ciência e que in-
clusive permite que outros entendam o que o cientista fez, para depois contestá-lo ou aprofundar Sinopse: O filme traz a
história de Lutero, desde o
o trabalho iniciado. momento em que é quase
atingido por um raio e,
Representação de Galileu Galilei utilizan- acreditando este ser um
do um telescópio, em 1620, aproximada- chamado divino, dirige-se
mente. Artista desconhecido.
ao mosteiro onde passa
a praticar a religiosidade.
Porém, descontente com
algumas ideias da Igreja
Católica, passa a contestá-
-las, gerando as 95 teses de
contestação de preceitos
New York Public Library Picture Coll/Getty Images

da Igreja e divulgando-as à
população alemã.
EM21_1_FIL_08

EM21_1_FIL_08

FIL 103

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 103 14/09/2020 12:39:53


FILOSOFIA E SOCIEDADE


O texto a seguir apresenta dois conceitos fundamentais da política inaugurada por Nicolau
Maquiavel, com a obra O príncipe, comparadas ao esporte favorito dos brasileiros: o futebol. Mas
a análise é feita com base na derrota da seleção brasileira por 7 x 1 contra a Alemanha, na Copa
de 2014.

Virtù e fortuna
Muitos viram na goleada a vitória da técnica sobre o
instinto, mas do futebol nunca se exclui a sorte
Renato Janine Ribeiro, O Estado de S. Paulo

12 Julho 2014 | 16h00


[...]
Para Maquiavel, metade de nossas ações é governada pela fortuna, metade pela virtù. A fortuna é fácil
de entender: é o acaso, a sorte, favorável ou desfavorável. Já a virtù, palavra que vem do latim “vir”, varão,
designa o agir propriamente viril, varonil, ou seja, tudo que vem de uma deliberação madura e atenta de
como agir. Assim, metade do que vivemos se deve à sorte ou azar, à fortuna ou infortúnio, e a outra metade
tentamos, a duras penas, que resulte de nosso empenho, de nossa tentativa de pôr ordem - nossa ordem - na
bagunça do mundo. 
A tarefa humana, e sobretudo a do governante (que Maquiavel expõe em O Príncipe), é vencer e ganhar.
Mas, nisso, esbarramos no inesperado, no imponderável. [...]
Que tem o futebol a ver com isso? Tudo. Raro objeto é tão esquivo, tão elusivo quanto a bola. Ela quica,
numa adaptação curiosa do inglês kick, que significa usar o pé ou pés para chutar (palavra que, por sua vez,
vem do inglês shoot). Mas vejam a mudança: to kick descreve uma ação do jogador, enquanto “quicar” se
refere ao movimento da bola. O jogador chuta, numa reação elaborada ao longo de anos de treino e luta,
para acertar a meta. Já a bola “bate e volta”, como explica o Houaiss no verbete “quicar”, afetada pelo gra-
mado, o vento, sabe-se o que mais. To kick é virtù. Quicar é fortuna. Do inglês ao português, passamos da
ação deliberada, com um sujeito que planeja, para o azar do objeto, que adquire vida própria, furtando-se
ao que o jogador almejava. 
As mãos são melhores, para imprimir movimentos seguros, do que os pés. Com a mão sintonizamos
melhor direção e distância. O pé é mais forte, sim, mas chutar é uma arte difícil. Jogar com maestria usando
os pés é uma proeza. Um esporte com os pés provavelmente exige mais do que se usasse as mãos. Por isso,
quando um país adota o futebol como esporte de sua identidade nacional, quando o mundo o eleva a moda-
lidade esportiva dominante, país e mundo escolhem uma tarefa, uma missão mais difícil, mais nobre: talhar
um membro para a atividade à qual não é o mais adequado, alçar pela dificuldade os membros inferiores a
uma condição superior. O mundo vira de cabeça para baixo, o pé domina, como naqueles mapas quatro-
centistas em que o Sul está acima e o Norte, abaixo. É como o orador ateniense Demóstenes, que venceu a
gagueira, não facilitando, mas dificultando seus exercícios: para agravar o desafio, ele enchia de pedrinhas
a boca. O futebol, além de lidar com variáveis sobre as quais o controle é por princípio impossível (as da
fortuna), dificulta aquilo que seria mais passível de planejamento e deliberação - usando os pés em vez das
mãos. Acentua a fortuna, para exigir mais da virtù.
[...]

(Disponível em: <https://alias.estadao.com.br/noticias/geral,virtu-e-fortuna,1527392>. Acesso em: 10 jul. 2018.)

1. De acordo com o texto lido e com seus conhecimentos sobre o pensamento de Maquiavel, assinale V para
as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
( V ) Na obra O príncipe, Maquiavel fala sobre como o governante deve conquistar e manter-se no poder.
( V ) O bom governo do príncipe depende da fortuna e da virtú.
( V ) Comparando o futebol com o pensamento de Maquiavel, o autor do texto afirma que to kick (chutar)
equivale a virtú e quicar, a fortuna.
( F ) No futebol, to kick é a sorte ou o azar do time, enquanto quicar é uma virtude de cada jogador.
( V ) Virtú é uma ação deliberada e fortuna é a obra do acaso.

104 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 104 14/09/2020 12:39:56


Resolvidos Praticando
1. (Mackenzie) A respeito do período da Renascença, é correto afir- 1. (UEL-2013) Em 2012, o Vaticano permitiu o acesso do público a vá-
mar que: rios documentos, entre eles o Sumário do julgamento de Giordano
a) foi marcado pela invasão da Europa por diversos povos, pela Bruno e os Atos do processo de Galileu. As teorias desses estudiosos,
restrição do comércio e por uma maior divulgação dos dogmas junto com o Homem Vitruviano, são exemplos de uma profunda
da Igreja. transformação no modo de conceber e explicar o conhecimento
da natureza. Com base nos conhecimentos sobre a investigação
b) contribuiu para a afirmação dos valores da burguesia e, ao
da natureza no início da ciência moderna, particularmente em
mesmo tempo, por meio da difusão do Humanismo, incentivou
Galileu, atribua V (verdadeiro) ou F (falso) às afirmativas a seguir.
o desenvolvimento das ciências.
( ) A nova atitude de investigação rendeu-se ao poder de con-
c) fortaleceu o misticismo medieval e ampliou o predomínio da
vencimento argumentativo da Igreja, a ponto de o próprio
Igreja sobre as artes e ciências.
Galileu, ao abjurar suas teses, ter se convencido dos equívocos
d) a imprensa foi aperfeiçoada e contribuiu para o crescimento e da sua teoria.
a propagação das ideias da burguesia de coletivismo, depen-
( ) A observação dos fenômenos, a experimentação e a noção de
dência mútua e geocentrismo.
regularidade matemática da natureza abalaram as concepções
e) viu eclodirem os ideais iluministas da burguesia, por meio dos que fundamentavam a visão medieval de mundo.
métodos racionais de investigação, da filosofia e das artes.
( ) O abandono da especulação levou Galileu a adotar pressupos-
99 Resposta: B tos da filosofia de Aristóteles, pois esse pensador possuía uma
O item A está incorreto, pois as três características mencionadas concepção de experimentação similar à sua.
remetem à passagem da Idade Antiga para a Medieval. O item B ( ) O método de investigação da natureza restringia-se àquilo que
está correto, pois a burguesia é uma classe em ascensão, que pos- podia ser apreendido imediatamente pelos sentidos, uma vez
sibilitou o desenvolvimento do comércio, a difusão do Humanismo que o que está além dos sentidos é mera especulação.
e incentivo às ciências. O item C está incorreto, pois o Renascimento ( ) Uma das razões mais fortes para a condenação de Galileu foi
foi um período de ruptura lenta e gradual com os dogmas da Igreja, sua identificação da imperfeição dos corpos celestes, o que
elevando, assim, as ciências e as artes. O item D está correto sobre a contrariava os dogmas da Igreja.
invenção da imprensa, mas está incorreto com relação à descrição
Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo, a sequência
da burguesia: ao contrário do que se afirma, a burguesia disseminou
correta.
valores individualistas e apoiou o desenvolvimento das ciências, por-
tanto, desacreditando no geocentrismo. O item E está incorreto, pois a) V, V, V, F, F.
o movimento iluminista teve seu desenvolvimento posteriormente b) V, V, F, V, F.
ao Renascimento. c) V, F, V, F, V.
2. (UEL) “[...] a maneira pela qual Galileu concebe um método científico d) F, V, F, F, V.
correto implica uma predominância da razão sobre a simples expe- e) F, F, V, F, V.
riência, a substituição de uma realidade empiricamente conhecida
99 Anotações:
por modelos ideais (matemáticos), a primazia da teoria sobre os
fatos. Só assim é que [...] um verdadeiro método experimental pôde
Falso. A nova atitude de investigação não se rendeu ao poder da Igreja, pois
ser elaborado. Um método no qual a teoria matemática determina as investigações continuaram apesar da proibição. O próprio Galileu manteve
a própria estrutura da pesquisa experimental, ou, para retomar os clandestinamente suas pesquisas. Mesmo ao abjurar suas teses, não
próprios termos de Galileu, um método que utiliza a linguagem reconheceu os equívocos da sua teoria, mas o poder da Igreja. A atitude da
matemática (geométrica) para formular suas indagações à natureza Igreja diante desse novo modo de investigar a natureza não se pautava pelo
convencimento racional, mas pela força garantida pelo poder da autoridade.
e para interpretar as respostas que ela dá.”
Verdadeiro. Observação dos fenômenos, experimentação e a noção de regula-
(KOIRÉ, Alexandre. Estudos de história do pensamento científico. Tradução ridade matemática são os componentes do método de Galileu e tornaram-se
de: RAMALHO, Márcia. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991. p. 74.) a marca distintiva dos procedimentos explicativos da natureza na ciência mo-
derna. O resultado desse novo método de investigação da natureza consistiu
Com base no texto, é correto afirmar que o método científico de em abalar a cosmovisão medieval, pois instituiu-se pela recusa da autoridade
da Igreja em questões científicas e pela recusa da teoria física de Aristóteles.
Galileu:
Falso. A matemática não desempenhou uma função tão decisiva em Aris-
a) é experimental e necessita de uma instância teórica que an- tóteles quanto para os teóricos que investigaram a natureza no início da
tecede a experiência. ciência moderna. Além disso, a concepção aristotélica de experimentação era
distinta daquela de Galileu, pois o filósofo grego considerava o conhecimento
b) é um método segundo o qual a experiência interpreta a teórico/especulativo superior à investigação da natureza. Galileu foi um
natureza. crítico de Aristóteles.
c) é independente da experiência, pois a razão está afastada da Falso. Embora a observação dos fenômenos fosse um dos princípios da nova
mesma. atitude científica, isso não significava restringir a investigação ao que podia
ser captado pelos sentidos, pois, além da importância da matemática para
d) é um método no qual há o predomínio da experiência sobre a investigação, somava-se a isso a necessidade da criação ou do aperfei-
a razão. çoamento de instrumentos que “corrigiam” a imperfeição – limitação – dos
sentidos.
99 Resposta: A
Verdadeiro. A condenação de Galileu deveu-se à incompatibilidade entre as
O item A está correto, pois, apesar do caráter prático das ciências, suas explicações do funcionamento do mundo e aquelas dadas pela Igreja,
a teoria ainda precede a prática. O item B está incorreto, pois tanto que eram pautadas tanto pela Bíblia quanto pela filosofia de Aristóteles. Tal
incompatibilidade tornou-se mais evidente quando Galileu identificou, por
a experiência quanto a teoria, especialmente as rigorosas, como a meio do uso da luneta, “imperfeições” na lua. Tal descoberta não podia ser
matemática, interpretam a natureza. O item C está incorreto, pois o aceita pela Igreja, pois contrariava igualmente os ensinamentos da Bíblia e
método científico é experimental, mas não afasta a atividade racional as teorias da física aristotélica, segundo os quais os corpos celestes eram
do cientista. O item D está incorreto, pois tanto experiência quanto perfeitos.
razão são importantes para o conhecimento científico.

FIL 105

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 105 14/09/2020 12:39:56


2. (PUC-SP) 2. C1:H3 (Enem) Assentado, portanto, que a Escritura, em muitas
(...) Outras coisas que viu, mui numerosas, passagens, não apenas admite, mas necessita de exposições dife-
Pedem tempo que o verso meu não dura, rentes do significado aparente das palavras, parece-me que, nas
Pois lá encontrou, guardadas e copiosas, discussões naturais, deveria ser deixada em último lugar.
Mil coisas de que andamos à procura. (GALILEI, G. Carta a Benedetto Castelli. In: Ciência e fé: cartas de Galileu sobre o
Só de loucura não viu muito ou pouco acordo do sistema copernicano com a Bíblia. São Paulo: Unesp, 2009. Adaptado.)

Que ela não sai de nosso mundo louco. O texto, extraído da carta escrita por Galileu (1564-1642) há cerca
Mostrou-se-lhe também o que era seu, de 30 anos antes de sua condenação pelo Tribunal do Santo Ofício,
O tempo e as muitas obras que perdia, discute a relação entre ciência e fé, problemática cara no século
(...) Viu mais o que ninguém suplica ao céu, XVII. A declaração de Galileu defende que
Pois todos cremos tê-lo em demasia: a) a Bíblia, por registrar literalmente a palavra divina, apresenta
Digo o siso, montanha ali mais alta a verdade dos fatos naturais, tornando-se guia para a ciência.
Que as erguidas do mais que aqui nos falta. b) o significado aparente daquilo que é lido acerca da natureza
na Bíblia constitui uma referência primeira.
(ARIOSTO, Ludovico. Orlando Furioso. São Paulo: Atelier, 2002. p. 261.)
c) as diferentes exposições quanto ao significado das palavras
O trecho acima, de um livro de 1516, narra parte de uma viagem bíblicas devem evitar confrontos com os dogmas da Igreja.
imaginária à Lua. Lá, o personagem encontra o que não há na Terra d) a Bíblia deve receber uma interpretação literal porque, desse
e não encontra o que aqui há em excesso. Pode-se identificar o modo, não será desviada a verdade natural.
caráter humanista do texto na
e) os intérpretes precisam propor, para as passagens bíblicas,
a) certeza, de origem cristã, de que a reza (suplicar ao céu) é a
sentidos que ultrapassem o significado imediato das palavras.
única forma de se obter o que se busca.
b) constatação da pouca razão (siso) e da grande loucura existente 3. C1:H4 (Enem) O texto foi extraído da peça Tróilo e Créssida de
entre os homens. ­ illiam Shakespeare, escrita, provavelmente, em 1601.
W
“Os próprios céus, os planetas, e este centro reconhecem graus,
c) aceitação da limitada capacidade humana de fazer poesia (o
prioridade, classe, constância, marcha, distância, estação, forma,
verso meu não dura).
função e regularidade, sempre iguais; eis porque o glorioso astro
d) percepção do desleixo e da indiferença humanos (o tempo e Sol está em nobre eminência entronizado e centralizado no meio
as muitas obras que perdia). dos outros, e o seu olhar benfazejo corrige os maus aspectos dos
e) ambição dos homens em sua busca de bens (Mil coisas de que planetas malfazejos, e, qual rei que comanda, ordena sem entraves
andamos à procura). aos bons e aos maus.” (personagem Ulysses, Ato I, cena III).
99 Anotações: SHAKESPEARE, W. Tróilo e Créssida. Porto: Lello & Irmão, 1948. A
descrição feita pelo dramaturgo renascentista inglês se aproxima
O texto demonstra que existe mais razão na lua do que na Terra. da teoria a) geocêntrica do grego Claudius Ptolomeu.

A descrição feita pelo dramaturgo renascentista inglês se aproxima


da teoria
Desenvolvendo Habilidades a) geocêntrica do grego Claudius Ptolomeu.
b) da reflexão da luz do árabe Alhazen.
1. C1:H1 (Enem) A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que c) heliocêntrica do polonês Nicolau Copérnico.
continuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o Universo),
que não se pode compreender antes de entender a língua e co- d) da rotação terrestre do italiano Galileu Galilei.
nhecer os caracteres com os quais está escrito. Ele está escrito em e) da gravitação universal do inglês Isaac Newton.
língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e
4. C1:H2 (FGV) “Daqui nasce um dilema: é melhor ser amado que
outras figuras geométricas, sem cujos meios é impossível entender
temido, ou o inverso? Respondo que seria preferível ser ambas as
humanamente as palavras; sem eles, vagamos perdidos dentro de
coisas, mas, como é muito difícil conciliá-las, parece-me muito mais
um obscuro labirinto.
seguro ser temido do que amado, se só se puder ser uma delas (...).”
(GALILEI, G. O ensaiador. São Paulo: Abril Cultural,
(MAQUIAVEL, N. O Príncipe. 2ª ed., Trad., Mira-Sintra —
1978. (Coleção Os Pensadores).)
Mem Martins, Ed. Europa-América, 1976, p. 89.)
No contexto da Revolução Científica do século XVII, assumir a
A respeito do pensamento político de Maquiavel, é correto afirmar:
posição de Galileu significava defender a
a) Mantinha uma nítida vinculação entre a política e os princípios
a) continuidade do vínculo entre ciência e fé dominante na
morais do cristianismo.
Idade Média.
b) Apresentava uma clara defesa da representação popular e dos
b) necessidade de o estudo linguístico ser acompanhado do
ideais democráticos.
exame matemático.
c) Servia de base para a ofensiva da Igreja em confronto com os
c) oposição da nova física quantitativa aos pressupostos da
poderes civis na Itália.
filosofia escolástica.
d) Sustentava que o objetivo de um governante era a conquista
d) importância da independência da investigação científica
e a manutenção do poder.
pretendida pela Igreja.
e) Censurava qualquer tipo de ação violenta por parte dos gover-
e) inadequação da matemática para elaborar uma explicação
nantes contra seus súditos.
racional da natureza.

106 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 106 14/09/2020 12:39:57


Complementares
1. (UFPR) O Renascimento foi um período de alteração substancial no
panorama da cultura europeia. Assinale a alternativa que apresenta
Leonardo da Vinci (1452-1519) como representante exemplar desse
contexto renascentista.
a) O universo temático que marca a obra de Leonardo da Vinci
revela a sua principal característica como intelectual: a voca-
ção para tornar-se especialista de uma área em detrimento
das demais.
b) Há o reconhecimento de que a qualidade de seu trabalho se
deve a sua capacidade de distanciar-se das questões cotidianas
e refletir sobre as implicações do conhecimento teórico puro.
c) Leonardo da Vinci possuía aversão em relação ao traçado do
corpo humano, na medida em que este representava para ele
a imperfeição e os limites da criação divina.
d) O talentoso italiano ganhou notoriedade ao defender a tese
de que o artista deve afastar-se da reflexão filosófica para dar
vazão a sua criatividade no campo da arte.
e) Leonardo da Vinci articulou o saber técnico com o conhecimen-
to científico sobre a natureza das coisas e das artes humanas.
2. (UEM) O filósofo italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) afirma:
“Porque em toda cidade se encontram estes dois humores diversos:
e nasce, disto, que o povo deseja não ser nem comandado nem
oprimido pelos grandes e os grandes desejam comandar e oprimir
o povo; e desses dois apetites diversos nasce na cidade de um
desses três efeitos: ou o principado, ou a liberdade, ou a licença”.
(MAQUIAVEL, O Príncipe. São Paulo: Hedra, 2009, p. 109.)

A partir do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).


(1) O povo, ao não querer ser comandado, deseja comandar.
(2) É da natureza dos grandes, no caso os ricos, o desejo de do-
minar o povo, no caso os pobres.
(3) Povo e grandes formam dois grupos políticos distintos e an-
tagônicos em toda cidade.
(4) Os grandes se unem politicamente para se defenderem do
desejo de dominação do povo.
(5) O fenômeno descrito era restrito às cidades italianas do pe-
ríodo histórico do filósofo.
Soma ( )
3. (UFU) A respeito da fortuna, Maquiavel escreveu:
[...] penso poder ser verdade que a fortuna seja árbitra de metade
de nossas ações, mas que, ainda assim, ela nos deixe governar
quase a outra metade.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Tradução de Lívio Xavier. São Paulo:
Nova Cultural, 1987. Coleção “Os Pensadores”. p. 103.

Com base na citação, responda:


a) O que é a fortuna para Maquiavel?
b) Como deve agir o príncipe em relação à fortuna?
4. (Unicamp) Em 1566, Copérnico anunciava, em sua obra Sobre a
revolução das esferas celestes:
“[...] no primeiro livro descrevo todas as posições dos astros, assim
como os movimentos que atribuo à Terra, a fim de que este livro
narre a constituição geral do Universo”.
(GAOS, José. História de nuestra idea del mundo. Fondo
de Cultura Económica, 1992, p. 146. Adaptado.)

a) Em que a obra de Copérnico significou uma revolução na forma GABARITO ONLINE


como se via o mundo comparada à da Idade Média? 1. Faça o download do aplicativo SAE Questões ou qualquer aplicativo
de leitura QR Code.
b) Como o telescópio, inventado por Galileu em 1610, ajudava a 2. Abra o aplicativo e aponte para o QR Code ao lado.
confirmar as teses de Copérnico? 3. O gabarito deste módulo será exibido em sua tela.

FIL 107

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 107 14/09/2020 12:39:58


108 FIL

PG21LP315SDW0_MIOLO_EM21_1_FIL_LU_LP.indb 108 14/09/2020 12:40:01


Sem título-2 205 06/03/2020 19:42:38
Sem título-2 205 06/03/2020 19:42:38
Sem título-2 205 06/03/2020 19:42:38
Sem título-2 205 06/03/2020 19:42:38

Você também pode gostar