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CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
RESUMO ANGE REGINA EBELING
1. INTRODUÇÃO
Durante todo o século XX e início do século XXI as lutas pela igualdade étnico-racial
e também pelo respeito à diversidade têm sido constantes. Todavia, o predomínio de atitudes
e convenções sociais discriminatórias, em todas as sociedades, ainda é uma realidade tão
persistente quanto naturalizada.
Esse trabalho acadêmico do Centro Universitário CIDADE VERDE tem como
objetivos compreender como os escravos africanos e seus descendentes crioulos e mestiços
influenciaram em profundidade a formação cultural do País, desde a época em que este era
América portuguesa. Raros serão os aspectos de nossa cultura que não tenham sido moldados
com a ajuda da mão e da inteligência africanas e afro-brasileiras.
Na religião, música, dança, alimentação, língua, temos a influência negra, apesar da
repressão que sofreram as suas manifestações culturais mais cotidianas. E ainda perceber a
existência do preconceito, do racismo e da discriminação em relação aos negros na sociedade
brasileira, conscientizando-se da necessidade de transformar esta realidade para que a Lei nº
10.639/03, seja aplicada de fato na rede escolar brasileira.
Para Rocha (2008, p.57):
CULTURA AFRICANA
Ao tecer uma análise sobre a História do Brasil, percebe-se a estreita relação entre a
exploração do território e a exploração que os portugueses exerceram sobre os índios e mais
tarde sobre a diáspora africana. “O número de africanos trazidos entre o século 16 e meados
do século 19 são estimados para mais de 11 milhões de homens, mulheres e crianças que
foram transportados para as Américas” (ALBUQUERQUE; FRAGA FILHO, 2006, p. 39).
No entanto, o tráfico e a escravidão dos povos negros não ocorreram sem recusa e repressão.
As resistências e lutas dos povos africanos ocorreram pelas mais variadas formas
(LOUREIRO, 2004).
Segundo Santos (2012) os povos africanos que vieram trabalhar nas lavouras,
engenhos e minas de extração de ouro trouxeram suas tradições, línguas, valores, deuses e
crenças mesmo sofrendo pressões por parte da Igreja e senhores de escravos encontraram
estratégias para aproximar suas divindades e reelaborar seus mitos e sistemas religiosos. Suas
crenças subsistiram por meio de batuques, que para os senhores de escravos eram
divertimentos necessários para manter a paz na senzala. O mesmo alega que houve algumas
mudanças nas últimas décadas, mas que ainda existem preconceitos que descaracterizam a
religião afrobrasileira, o que precisa ser desconstruído e banido.
Destaca-se nesse contexto a Lei 10.639/03) que obriga o ensino da História da África e
da Cultura Africana e afro-brasileira nas escolas públicas e privadas (SANTOS 2012). O autor
ainda destaca que a cultura africana é um conjunto de manifestações artísticas produzidas
pelos povos da África subsaariana ao longo da história. Suas músicas como os sambas
originários dos sambas angolanos e danças de umbigadas congolesas utilizando barris,
colheres e pedaços de madeira ou 11 chifres que faziam adaptações visto que os instrumentos
eram considerados caros á produção musical africana.
O ensino da história proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais tem como finalidade
viabilizar o desenvolvimento do pensamento crítico, ajuda o educando a dar sentido ao mundo
que o rodeia e as experiências pessoais, a ampliar, a imaginação, a sensibilidade, e a
capacidade reflexiva. Conhecendo outras culturas, o aluno poderá perceber a relatividade
dos valores que estão enraizados nos seus modos de pensar e agir, que pode criar um campo
de sentido para a valorização do que lhe é próprio e favorecer a riqueza e a diversidade da
imaginação humana (PCN, 2001, Vol. 6, p.19). O conhecimento é fundamental para
humanização de um povo, cabe a escola o papel de desempenhar sua função no processo de
disseminar a história, arte e cultura africana e afro-brasileira.
As culturas africanas tiveram grande influência na formação cultural brasileira e a
diversidade de origem dos africanos escravizados no Brasil reflete diretamente a variedade de
povos existentes na África.
A maior parte destas populações era de origem Bantos, Nagôs e Jejes, Hauçás e Malês.
Muitos são os aspectos culturais que sofreram influência africana no país, entretanto,
podemos destacar:
O candomblé, religião afro-brasileira baseada no culto aos orixás, da qual surge a
umbanda.
Fonte: https://www.estudopratico.com.br/religioes-afro-brasileiras-origem-caracteristicas-e-
curiosidades/
Fonte: https://negraemovimento.com.br/2018/11/29/cultura-negra-pratos-brasileiros-influencia-africana/
Fonte:https://folhadolitoral.com.br/turismo/conheca-a-rota-das-tradicoes-e-cultura-africana-no-brasil/#
Muitas das chamadas artes tradicionais da África estão sendo ainda trabalhadas,
entalhadas e usadas dentro de contextos tradicionais. Mas, como em todos os períodos da arte,
importantes inovações também têm sido assimiladas, havendo uma coexistência dos estilos e
modos de expressão já estabelecidos com essas inovações que surgem. Confira algumas
fotografias de arte africana.
Fonte : htps://historiasdopovonegro.wordpress.com/talento/maos-negras/
Fonte: http://www.ehowenespanol.com/historia-mascaras-africanas-arcilla-sobre_355159/
Fonte: https://cultura.culturamix.com/regional/africa/cultura-africana
No entanto mais importante do que a lei, deve-se criar situações que desvendem a
contribuição do povo africano para a cultura brasileira, a fim de que os estudantes, além de
compreenderem essa importância, disseminem essa verdade incontestável, repeitem e
aceitem-na.
A história da África é muito maior do que aquilo que foi ensinado por anos. Abaixo
mostra a fotografia de um livro que pretende explorar algumas dessas histórias, dando
especial atenção para as sociedades africanas que estiveram diretamente relacionadas à
história brasileira.
Fonte: foto da autora
Mesmo após 130 anos do fim da escravidão, ainda não fizemos da Educação
um caminho para eliminar a desigualdade entre brancos e negros no Brasil. O acesso à
Educação de qualidade é um direito de todos os brasileiros mas, na prática, sabemos que
isso não acontece. Após 130 anos da abolição da escravidão no Brasil, a desigualdade
racial ainda persiste na nossa sociedade e, portanto, também dentro da escola pública.
Basta olhar os dados do Ensino Básico, onde se vê um cenário preocupante para a
juventude negra.
Segundo Nogueira (2006, p. 296);
Nogueira aponta que no Brasil acontece uma forma velada de preconceito, no intuito
de vislumbrar um igualitarismo racial, onde acaba por assumir um “caráter de atentado contra
um valor social que conta com o consenso de quase toda a sociedade brasileira, sendo por isso
evitada”.Dentro dessa proposta de resgatar e valorizar os aspectos da cultura afrobrasileira e a
fricana, o autor COUTINHO (1996, p. 382) estabelece que:
Anterior à orientação dos PCN, a cultura afro era invisível nos currículos escolares, e
apenas era revisitada quanto elemento do folclore brasileiro, durante o mês de agosto. Porém,
essa utilização longe de valorizar a cultura daquele continente, salientava, não raro, aspectos
reducionistas que a marginalizava.
Quase metade dos homens negros, de 19 a 24 anos, não concluíram o ensino médio,
diz o IBGE. Entre mulheres negras, índice chega a ser de 33%. Para especialistas, abandono
escolar tem raízes sociais
Quase metade dos jovens negros, de 19 a 24 anos, não conseguiram concluir o ensino
médio. De acordo com dados do IBGE de 2018, enquanto o índice de evasão escolar chega a
ser de 44,2% entre os homens, um recorte de gênero e raça revela ainda que sobre as mulheres
negras, da mesma faixa etária, o abandono escolar é uma realidade para 33% das jovens. Ao
Seu Jornal, da TVT, especialistas analisam que a exclusão escolar, cuja a média geral já é alta,
ao atingir principalmente a população negra, revela raízes sociais. Evasão escolar é maior
entre jovens negros. ‘É a violência do racismo’
Fonte: http://sinprominas.org.br/noticias/evasao-escolar-e-maior-entre-jovens-negros-e-a-violencia-do-racismo/
Uma coisa é aprender sobre países da África a partir de um livro de estudos sociais.
Outra é permitir que os alunos vejam, ouçam, sintam e conheçam itens interessantes,
como música, palavras e dialetos, contos populares, histórias pessoais de imigrantes,
instrumentos musicais, obras de arte, artesanato, alimentos, fotografias, tecidos e joias;
Levar oradores negros e que possam abordar o assunto delicadamente com as crianças
também pode ser uma opção. Peça aos alunos que preparem as perguntas com
antecedência;
Até mesmo funcionários da escola e alunos podem atuar como palestrantes. Visitas a
museus locais também são ótimos lugares de aprendizagem;
Artefatos, obras de arte e outros tesouros culturais são excelentes exemplos históricos
para os estudantes entenderem a importância de combater o racismo e a aprenderam o
valor da diversidade;
Festas, comidas e artes negras são importantes, mas não deixe de se aprofundar no
assunto para ajudar as crianças a entenderem as experiências do dia a dia;
Para os alunos maiores, discuta como etnia, religião, cultura, geografia e status
socioeconômico se cruzam, resultando em experiências de vida muito diferentes para
diferentes grupos de pesso;
Discuta opções de carreira que envolvam esse tipo de trabalho. Envolva as crianças
em todo o trabalho escolar e social da justiça social;
Fonte: https://tribunahoje.com/noticias/economia/2016/12/02/ibge-negros-sao-17-dos-mais-ricos-e-tres-quartos-
da-populacao-mais-pobre/
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Portanto, a diversidade das culturas africanas é um conteúdo que deve ser estimulado
nas instituições de ensino como caminho para evitar conceitos homogeneizantes e redutores
afinal toda a formação cultural do Brasil é fusão de etnias que juntas criaram uma nação
específica, particular. Nesse sentido, não reconhecer, discriminar ou encobrir o aporte
africano na cultura brasileira é incorrer em um erro irreparável. Cabe à escola desmistificar a
visão eurocêntrica que a sociedade tem do africano e afrodescendente, revelando as razões do
preconceito e distinguindo os diversos traços culturais existentes na cultura brasileira.
Propor uma educação voltada para a diversidade , desafia nos educadores a estar
atentos às diferenças econômicas, sociais e raciais e de buscar o domínio de um saber crítico
que permita interpretá-las.
Pensar em uma proposta educacional voltada a combater o racismo dentro das escolas,
será preciso rever o saber escolar e também investir na formação do educador, possibilitando-
lhe uma formação teórica diferenciada da eurocêntrica. A escola terá o dever de dialogar com
tais culturas e reconhecer o pluralismo cultural brasileiro.
FERRO, Marc. História das Colonizações. São Paulo: Companhia das letras, 1996 PAIXÃO,
Marcelo, CARVANI, Luiz M. (Orgs.). Relatório anual das desigualdades raciais no Brasil;
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https://www.geledes.org.br/conheca-atitudes-simples-para-combater-o-racismo-na-
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https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/o-papel-escola-na-desconstrucao-racismo-
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