Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SOCIAL,
ECONÔMICA E
POLÍTICA DO
BRASIL
Brasil urbano e
Brasil rural
Thiago Cavalcante dos Santos
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A Proclamação da República consolidou um projeto iniciado pelos cafeicultores
paulistas e pelo positivismo do exército brasileiro. A instauração do liberalismo
oligárquico foi decorrente de um desdobramento no cenário internacional. A
posição do Brasil na economia e na geopolítica internacional era de periferia na
divisão de abastecimento aos grandes centros, sobretudo os Estados Unidos, com
seu pan-americanismo, algo que pouco divergia da posição colonial brasileira. Do
mesmo modo, a questão do povo brasileiro inquietava intelectuais e o Estado, visto
que o branqueamento populacional era um projeto em um país majoritariamente
composto por pessoas escravizadas e descendentes livres.
Os impactos territoriais se faziam sentir em um país calcado em sua posição
agrária, com uma oligarquia que era responsável pelo surgimento e desenvol-
vimento das cidades e das vias de ligação no país, sobretudo com os barões
do café paulista. Estes, embora oligárquicos, davam conotações diferentes das
elites históricas do país, como a canavieira e a aurífera, já que eram os principais
2 Brasil urbano e Brasil rural
incentivadores dos espaços urbanos, ainda que de forma atrelada aos interesses
agroexportadores e monopolizadores do Estado.
Neste capítulo, você vai compreender como o processo de formação da Repú-
blica e de um novo ideal político se deu mediante o enfretamento e a permanência
de mentalidades aristocráticas que se confrontavam com o novo. Para tanto,
você vai estudar inicialmente a dinâmica do campo e os conflitos agrários. Em
seguida, você vai aprender sobre a dinâmica do espaço urbano, da embrionária
indústria e do operariado brasileiro, a partir das questões de caráter econômico,
político e social. Por fim, você vai estudar a ascensão de Getúlio Vargas, a partir
de 1930, e vai verificar as principais alterações nos quadros econômico, urbano
e operário brasileiros.
litoral e na serra. Eram uma elite mais nova que disputava o poder com os
monopolistas. Eram também chamados de chimangos, pica-paus ou legalistas.
O conflito entre federalistas e legalistas, entre 1893-1895, envolveu outros
estados como Paraná e São Paulo e foi tão decisivo que, embora o Governo
Federal tenha saído vitorioso, foi capaz de dar fim à República da Espada
(presidida apenas por militares como Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto)
e dar início à República Civil Oligárquica.
A dinâmica urbana
No Brasil, a República não aconteceu em 1889 — ela precisou acontecer
aos poucos. No interior, a aceitação da República não ocorreu de imediato,
conforme observa-se nas revoltas de Canudos e Contestado. Embora a elite
cafeeira tenha conduzido, junto com o exército, o golpe republicano e mantido
a estrutura socioeconômica, foi no incipiente espaço urbano que o valor
republicano foi realmente apregoado e idealizado.
Do latim coisa (res) de todos (publica), o conflito com vistas ao aperfei-
çoamento das leis e do comportamento tangenciou o caráter republicano.
Maquiavel (2009, p. 432) já dizia que “Não se pode com alguma razão chamar
esta república de desordenada quando nela existem tantos exemplos de virtù,
porque os bons exemplos nascem da boa educação, a boa educação das boas
leis e as boas leis daqueles tumultos que muitos condenam inadvertidamente”.
Vimos também que o período foi marcado, especialmente no Rio de Janeiro, pelo
rápido avanço de valores burgueses. Velhos monarquistas, como Taunay, expres-
savam, seu escândalo frente à febre de enriquecimento ao domínio absoluto de
valores materiais, à ânsia de acumular riquezas a qualquer preço, que tinham
dominado a capital da República.
Brasil urbano e Brasil rural 7
Para saber mais sobre esse período, leia a matéria intitulada “Inte-
resses políticos e descaso social alimentaram Revolta da Vacina em
1904”, disponível no site do jornal El País, que apresenta o processo de higieni-
zação na sociedade brasileira, sobretudo na capital, no começo do século XX.
O nacional-desenvolvimentismo de Vargas
(1930-1945)
A Crise de 1929 trouxe sérias consequências para a sociedade brasileira que
ultrapassaram as questões de caráter econômico. A política foi sacudida
pela instabilidade da relação entre Minas Gerais e São Paulo. Isso porque
Washington Luís decidiu apoiar a candidatura de Júlio Prestes, indicado pelos
paulistas, traindo os mineiros, que esperavam retornar ao poder depois de
revezarem com seus aliados cafeicultores.
Diante desse cenário, Minas Gerais se uniu a setores da sociedade brasileira
insatisfeitos com a República Civil Oligárquica e que visavam à adoção de
valores liberais na economia e na sociedade. Surgia, assim, a Aliança Liberal.
Encabeçada pelo gaúcho Getúlio Vargas, a Aliança Liberal conseguiu angariar
o apoio dos tenentes, bem como da classe média urbana dos grandes centros.
As tensões eleitorais e os fatos que se sucederam após o pleito, com a vitória
de Júlio Prestes e o assassinato de João Pessoa, vice de Vargas, geraram um
clima de instabilidade e insegurança política. Assim, o resultado das eleições
não foi validado, devido a suspeitas de fraudes, e acabou sendo dada vitória
a Getúlio Vargas, o que iniciou a fase conhecida como Governo Provisório
(1930-1934).
O início da Era Vargas foi marcado pela centralidade do poder político,
que caracterizou os 15 primeiros anos do conhecido “pai dos pobres” no
governo. O Código dos Interventores, em 1931, dava a Vargas controle sobre
as unidades federativas. Ao mesmo tempo, Vargas adotou medidas para
atender demandas de seus apoiadores, como o ensino público e gratuito,
atendendo algo que tramitava entre movimentos sociais e urbanos dos anos
1920, como o dos tenentes.
No plano econômico, a Era Vargas se iniciou com desenvolvimentismo
econômico, sendo caracterizada pelo intento em desenvolver o pátio industrial
e a infraestrutura com ampla interferência do Estado. Para tanto, destacou-
-se a construção das conhecidas indústrias de base, sendo a Companhia
Brasil urbano e Brasil rural 11
Referências
CARVALHO, J. M. de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São
Paulo: Companhia das Letras, 1987.
CUNHA, E. da. Os sertões. 37. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995.
FAUSTO, B. História concisa do Brasil. 3 ed. São Paulo: Edusp, 2018.
FRANCO JUNIOR, H. A dança dos deuses. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
HALL, M.; SPALDING, H. A. Classe trabalhadora urbana e os primeiros movimentos
trabalhistas na América Latina, 1880-1930. In: BETHEL, L. (org.). História da América
Latina: a América Latina após 1930: estado e política. São Paulo: Edusp, 2015. p. 283–330.
MAQUIAVEL, N. Discursos sobre a 1ª década de Tito Lívio. In: MARÇAL, J. Antologia de
textos filosóficos. Curitiba: Seed-PR, 2009. p. 426–451.
MONIZ, E. Canudos: a luta pela terra. São Paulo: Global, 2001.
ROXBOROUGH, I. A classe trabalhadora urbana e o movimenta trabalhista na América
Latina após 1930. In: BETHEL, L. (org.). História da América Latina: a América Latina
após 1930: estado e política. São Paulo: Edusp, 2015. p. 275–354.
Leituras recomendadas
CHALHOUB, S. Cidade febril: cortiços e epidemias na corte imperial. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 1996.
SEVCENKO, N. Orfeu extático na metrópole: São Paulo nos frementes anos 20. São
Paulo: Companhia das Letras, 1992.