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A condenação do maoísmo é a tática

dos oportunistas
Como os oportunistas usam a condenação do maoísmo para
justificarem a sua posição parlamentarista e a análise errônea
da revolução brasileira

EDIÇÕES AO POVO BRASILEIRO


2020

Marconne Oliveira
EDIÇÕES AO POVO BRASILEIRO

CAPA POR: @ROZEVIL

1
Índice

Agradecimentos – p. 3.
Primeiras palavras – p. 5
Entre miragens e espantalhos – p. 7
O anti-leninismo do PC Brasileiro é escancarado – p. 13
A mais candente deturpação: a questão parlamentar – p. 13
Como o leninismo entende a participação parlamentar (e o boicote) – p. 23
A Teoria Marxista da Dependência (TMD) é anti-leninista e é a justificativa
para o reformismo, a essência do parlamentarismo – p. 37
Revolução como miragem ou Revolução de Nova Democracia
anti-imperialista e ininterrupta até o socialismo? – p. 50
A revolução como miragem e a crítica do “etapismo”: negação do leninismo
e de todo o Marxismo – p. 50
A Revolução de Nova Democracia anti-imperialista e ininterrupta até o
socialismo – p. 56
A universalidade do maoísmo e nossas tarefas – p. 67
Conclusão – p. 71
Bibliografia – p. 73

2
Agradecimentos

Agradeço ao camarada Nathan pelas indicações de textos e pelo auxílio


prestado com prontidão na leitura de diversas partes deste texto na medida em
que ele era escrito. Me foram como sempre valorosos seu incentivo e sua amizade.
Agradeço também aos demais camaradas do Grupo de Estudos Ao Povo
Brasileiro, que leram diversas partes do texto enquanto eu o escrevia. O APB tem
sido uma boa experiência e tudo que dentro do grupo é conduzido vem sendo
conduzido por mim e por meus camaradas da organização com extrema alegria.
O desenvolvimento dos camaradas no APB, de forma geral, me serve sempre de
impulso para produzir cada vez mais e melhor e o meu desenvolvimento em todos
os âmbitos está plenamente atado ao de todos os do grupo, sendo o nosso
aprendizado um que pode ser dito de fato dialógico. Agradeço ao camarada
Rozevil, especialmente, por, com tanta presteza, aceitar fazer a capa para este
pequeno livro digital (que originalmente deveria ser apenas um texto). Agradeço
aos camaradas da organização da qual venho participando, pois todos eles me
auxiliaram na concretização de diversas questões que foram fundamentais para a
escrita deste texto e me ajudaram também no desenvolvimento de um maior
refinamento para empreender a justa crítica. Sou extremamente grato por isso.
Agradeço, por fim, à minha querida Morgana, por ter me ouvido por horas lendo
o texto a seguir, reclamando do cansaço e das dores nas costas e vituperando a
tela do computador. A paciência necessária para isso deve ser, de fato, gigantesca,
e não poderia deixar de dizê-lo.

3
Os povos da América Latina não podem ficar à
espera de que a “competição pacífica” decida sobre
sua libertação. Estão sob o jugo impiedoso do
imperialismo norte-americano que, dia a dia,
intervém mais abertamente nos seus negócios
internos, põe e depõe governos, espezinha seus
sentimentos nacionais [...] A América Latina é
cenário de uma guerra surda entre o imperialismo
ianque e as massas populares. (Resposta à
Kruschev, Resolução do Comitê Central do Partido
Comunista do Brasil, publicada no jornal A Classe
Operária, 1º a 15 de Agosto de 1963).

Na realidade, a particular rapidez e o caráter


singularmente repulsivo do desenvolvimento do
oportunismo não lhe garante de modo nenhum
uma vitória sólida, do mesmo modo que a rapidez
do desenvolvimento de um tumor maligno num
corpo são só pode contribuir para que o referido
tumor rebente mais cedo, livrando assim dele o
organismo. O maior perigo, neste sentido, são as
pessoas que não querem compreender que a luta
contra o imperialismo é uma frase oca e falsa se
não for indissoluvelmente ligada à luta contra o
oportunismo. (Vladimir Illich Lênin, O
imperialismo, fase superior do capitalismo, 1916).

4
Primeiras palavras

Apesar de não ser a questão central do texto aqui escrito, talvez seja
proveitoso perguntarmo-nos primeiro algo simples: qual o medo de um partido,
dirigente ou quadro que se posicionam como revolucionários da crítica justa? A
posição covarde é uma posição comunista? Ora, de dois em dois anos, vemos as
formas mais bizarras de justificativa para a submissão à democracia burguesa
sendo proferidas a torto e a direito pelos ditos comunistas revolucionários
submissos ao oportunismo corrente dos partidos comunistas revisionistas e
mesmo aos partidos declaradamente ou mais palpavelmente pequeno-burgueses.
Vemos como esses agem para enganar a maior parte dos que estão se iniciando
no Marxismo e para manterem direta ou indiretamente a estagnação do povo.
Mesmo quando proclamam a revolução, proclamam-na apenas para dizer, logo
em seguida, que a participação eleitoral é uma necessidade essencial da
revolução. Quando condenam àqueles que criticam essa posição, dizem-se
revolucionários, reclamam seu papel de “vanguarda” de um povo que não os
conhece, seu desenvolvimento, sua busca “revolucionária” pela estratégia da
formação de conluios com partidos pequeno-burgueses e reformistas. Dizem que
os demais nada fazem por não participarem das eleições, quando o contrário é
que é a verdade. Confundem a atuação sensível que só importa à própria
burguesia reacionária e à setores da pequena-burguesia com práxis,
deslegitimando a desconfiança da maioria do povo quanto ao processo eleitoral e
quanto a todos os processos “democráticos” nas semi-colônias do imperialismo;
confundem o espontaneísmo e o dirigismo que o oportunismo das direções
ensejam com organização (e organização da classe trabalhadora!).
Normalmente se perdem quando perguntamos a eles onde estão seus
esforços para a formação de unidade popular fora das metrópoles, onde se
encontram esses esforços fora das ações pontuais (e reformistas, compensatórias,
mesmo que não plenamente condenáveis pela parte dos quadros e militantes que
as desenvolvem) com um ou outro setor geograficamente delimitado de forma
estrita dentro dessas próprias metrópoles. A partir daí surgem as condenações
vindas dos quadros mais alinhados com o oportunismo das direções e das
próprias direções. O medo se afirma. A retificação é jogada no lixo – e continuará
sendo. A linha revolucionária é negada e em seu lugar é afirmada a linha da

5
estagnação, contrarrevolucionária (historicamente provada como tal), como
correta. É a esse estado de coisas que criticaremos neste texto. Para desenvolver
essa crítica, tomaremos a princípio o exemplo das condenações desrespeitosas e
medíocres de um certo quadro do PC Brasileiro ao maoísmo, que vêm sendo
recorrentes ao longo desses últimos meses, e as alternativas pelo mesmo dadas
como a “linha revolucionária”. Partiremos do pressuposto um tanto gentil de que
essas críticas são desenvolvidas mediante um conhecimento ao menos teórico da
revolução e nessas bases tentaremos as rebater da forma mais completa possível.

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Entre miragens e espantalhos

Os partidos revisionistas brasileiros e os quadros que se propõem a


repetir suas belas ou acusatórias palavras vazias não se contentam em
compreender mal o desenvolvimento do Marxismo na Revolução Chinesa e os
desenvolvimentos teórico-práticos do Presidente Mao Tsé-Tung, em especial,
compreendem mal também o próprio desenvolvimento ensejado na Revolução
Russa e o utilizam para criar formas desajustadas de analisar o Brasil, chamando
a isso de Marxismo-leninismo; não apenas compreendem mal um e o outro,
ainda, mas criam miragens de uma revolução brasileira a qual nunca chegam a
praticar (a qual fingem praticar por meios reformistas) e espantalhos para
deslegitimarem as justas críticas contra suas atitudes e teorias.
No decorrer do texto discutiremos, como foi dito, o que um certo quadro
do PC Brasileiro vem difundindo, demonstrando como suas palavras corroboram
e justificam essa crítica. Não o citaremos diretamente senão quando
extremamente necessário, uma vez que sua pessoa não nos é importante para este
propósito (nem mesmo o seu partido nos é tão importante, de fato); o que nos é
importante saber é como essa linha revisionista vem sendo afirmada
hodiernamente e o que nos importa em sua afirmação e divulgação massiva são
as pessoas afetadas por ela, aqueles que caem, infelizmente, no canto de sereia
dos “grandes revolucionários” e “grandes teóricos” que agem como títeres das
camarilhas oportunistas que tomaram conta desses partidos, desagregando e
promovendo a estagnação do povo, propondo a formação de uma “vanguarda” de
seguidistas e espontaneístas1 que convivam bem o suficiente para agirem como
cabos eleitorais deles e de partidos pequeno-burgueses de dois em dois anos.
Qual a primeira tarefa do revisionismo? Criar uma miragem de revolução.
Dizem alguns, os mais desavergonhados, um “horizonte revolucionário”. O
revisionismo só é revisionismo pois se diz revolucionário, essencialmente; ele é a
utilização do Marxismo para negar o Marxismo, e isso é uma constante. Dizem

1Ver: OLIVEIRA, Marconne. A linha revolucionária e a vanguarda a serviço do povo:


os quadros e sua justa exaltação, as lideranças e a elevação da consciência e da
prática da vanguarda. Ao Povo Brasileiro – APB, 30 Set. 2020. Disponível em:
<https://medium.com/@aopovobrasileiro/a-linha-revolucionária-e-a-vanguarda-a-serviço-do-
povo-os-quadros-e-sua-justa-exaltação-as-92eb53db6709>.

7
então os “grandes revolucionários”: “nós temos uma estratégia revolucionária,
nós queremos unir as organizações revolucionárias, apenas esperamos pela crise
do capitalismo para, depois de consolidarmos nossa união com essas
organizações e de educarmos as massas, fazermos a revolução”. É essa a verdade?
Podem essas declarações que apontam para o futuro serem fruto de uma
construção presente? Que diz o passado sobre a linha seguida por esses? Que diz
o presente?
O PC Brasileiro, bastião do revisionismo no movimento comunista
brasileiro, reclama a linha revolucionária leninista. Assim os seus dirigentes e os
títeres da linha do partido legitimam entre os mais inocentes e bem-
intencionados sua mentira, sua miragem, angariam defensores, comprometem o
desenvolvimento de iniciantes no estudo da ciência do povo, estagnam a
formação de vanguardas consequentes e capazes de lidar com as contradições
reais do capitalismo no Brasil e do imperialismo. São tudo menos leninistas. Não
fazem senão negar concepções essenciais ao leninismo e o desenvolvimento do
leninismo pelo maoísmo, algo que já nele estava contido como necessidade e
como gérmen, por ser o mesmo um desenvolvimento consciente do Marxismo na
época imperialista. Negam ainda a elaboração do leninismo por seu real
sintetizador, o camarada Stalin2, adotando uma posição de exegese cacofônica da
obra de Lênin e laureando a essa com as interpretações dos “melhores trotskistas”
do Brasil e da história, disso têm orgulho pronunciado. O PC Brasileiro não
defende revolução alguma, muito menos uma de caráter leninista.
As crises do capitalismo apenas se amontoam e onde está o PC Brasileiro
com sua miragem? Quais ações tomou frente a essas crises? Utilizou-as para
desenvolver a consciência das massas ou qualquer coisa do tipo? Não! Colocou-
se em defesa do reformismo pequeno-burguês petista, posteriormente
“rompendo” com esse, apenas para agora se subordinar novamente a ele
indiretamente na disputa eleitoral. E chamam a isso leninismo, citam Lênin, em
sua leitura pífia do grande revolucionário e teórico, para justificar isso, o que é
pior que escarrar em seu corpo mumificado, é escarrar em suas ideias e em toda

2Ver: AO POVO BRASILEIRO – APB. Stalin não foi a reencarnação de Lúcifer, foi o
continuador do Marxismo-leninismo, o aplicou e desenvolveu. Ao Povo Brasileiro –
APB, 18 Set. 2020. Disponível em: < https://medium.com/@aopovobrasileiro/stalin-não-foi-a-
reencarnação-de-lúcifer-foi-o-continuador-do-marxismo-leninismo-o-aplicou-e-f7f1c1f6a7c8>.

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a linha leninista. A “unidade” que promovem com “organizações revolucionárias”
é uma unidade com organizações que representam as ideias mais atrasadas dos
setores mais atrasados da pequena-burguesia parlamentarmente, que causam a
infiltração dessas ideias em organizações com potencial revolucionário, que
praticam o entrismo trotskista sem qualquer vergonha. Além de escarrarem no
leninismo, desrespeitam as organizações que não se submetem a esse vergonhoso
processo as chamando de esquerdistas e anti-leninistas, seguindo a cartilha do
oportunismo.
Não apontam esses conluios para a revolução. Apontam para a reforma,
quando muito, ou para a contínua fascistização do Estado, mesmo que
indiretamente, como vemos agora, com a participação eleitoral sendo, bem
literalmente, uma legitimação desse processo por “vias democráticas”. A história
também não nos diz outra coisa. Os apoios do PCB à governos populistas na
primeira metade do século o levaram a se degenerar, com a linha de direita dentro
do Partido tomando conta por um bom tempo. O processo de retificação não foi
célere nem geral o suficiente. Houve o golpe militar. Novamente o PCB se
degenerou e aliou-se à partidos que “buscavam a via democrática”, ao invés de
apoiar a guerrilha contra a ditadura, algo que até hoje tomam como ao menos
meio correto, demonstrando a incapacidade para a autocrítica do atual PC
Brasileiro. Dizem sobre isso que “o momento era contrarrevolucionário”! Usam
essa estranha pseudo-crítica para justificarem o parlamentarismo tosco, a busca
da linha pacífica de cunho kruschevista e posteriormente eurocomunista. Após a
quase total desagregação do Partido, com a derrota completa de Prestes na busca
da menor autocrítica que fosse e com o fim da ditadura, o PC Brasileiro se
“reconstruiu” em bases de areia e passou a afirmar um centralismo democrático
e um leninismo que não lhe são próprios, dado o caráter ecletista, o seguidismo e
espontaneísmo que convivem em seu seio e o desprezo das pautas essenciais e
ainda atuais do leninismo dentro de todas as atitudes do Partido. Nem
historicamente nem no presente a linha eleitoreira e a postergação da revolução
para um determinado “momento revolucionário” buscado através de alianças
com governos populistas e reformistas e com partidos pequeno-burgueses não-
revolucionários ou “democráticos” deu certo.
Mas nos aprofundaremos mais nessa negação do leninismo e do próprio
Marxismo enquanto ciência revolucionária, da negação da revolução como coisa

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concreta, mais abaixo. Por enquanto basta que apresentemos a miragem, sua
manifestação mais sensível, uma vez que a profundidade é caráter da crítica e não
da própria miragem.
Falemos agora do espantalho. Qual é o espantalho da vez? Vêm esse
quadro e seu partido (basta ler os documentos do XIV e XV Congresso do PC
Brasileiro3) denunciando de forma pronunciada o mesmo espantalho que os
revisionistas do século XX quiseram denunciar, o que se torna bem visível até na
própria negação e crítica idealista da valorosa Guerrilha do Araguaia, onde bravos
homens e mulheres perderam sua vida. Nem mesmo a justa exaltação da coragem
desses conseguem fazer, apenas fazem a denúncia do PCdoB, à época a expressão
do anti-revisionismo no Brasil, que respondera à altura a carta de Kruschev
exaltando o capitulacionismo pcbista e seu parlamentarismo infantil e
inexplicável num momento de ditadura aberta e denunciando o maoísmo e a
crítica ao revisionismo soviético – abaixo a citaremos diretamente.
O PC Brasileiro, que nunca superou os sedimentos mais nocivos do
praxismo infantil na época do apoio aos governos populistas antes do meio do
século XX, de kruschevismo, na época da crise do Partido Comunista da União
Soviética (PCUS) e do Movimento Comunista Internacional (MCI) no XX
Congresso do PCUS, e de eurocomunismo, patrocinado nacionalmente por Carlos
Nelson Coutinho e importado do Partido Comunista Italiano (PCI)4, hoje retoma
à todo vapor suas críticas aos desenvolvimentos maoístas de análise científica da
sociedade brasileira e aos demais componentes universais da terceira fase do
Marxismo, o Marxismo-leninismo-maoísmo, a saber, a crítica do revisionismo, a
luta de duas linhas dentro do partido, a disputa pela constante retificação, a
Guerra Popular Prolongada e a Grande Revolução Cultural como a resolução justa
da luta de classes sob o socialismo. Negam ainda a Revolução de Nova

3 Ver: PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO – PCB. Resoluções do XIV Congresso do


PCB!. Partido Comunista Brasileiro – PCB, 18 Mar. 2010. Disponível em:
<https://pcb.org.br/portal2/340/resolucoes-do-xiv-congresso-do-pcb/>; e também: PARTIDO
COMUNISTA BRASILEIRO – PCB. Resoluções do XV Congresso do PCB!. Partido
Comunista Brasileiro – PCB, 12 Mai. 2014. Disponível em:
<https://pcb.org.br/portal2/6591/resolucoes-do-xv-congresso-do-pcb/>.
4 Ver: OLIVEIRA, Marconne. O “fim da história” de esquerda e a democracia como

valor universal: apontamentos sobre o movimento comunista na história e na


atualidade e sobre a influência do eurocomunismo então e agora. Ao Povo Brasileiro
– APB, 11 Ago. 2020. Disponível em: <https://medium.com/@aopovobrasileiro/o-fim-da-
história-de-esquerda-e-a-democracia-como-valor-universal-apontamentos-sobre-o-
6f60ec93b667>.

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Democracia, o que não é apenas anti-maoísta e, portanto, vai contra o caráter
científico do Marxismo, que está sempre a se atualizar revolucionariamente (e
apenas assim), mas também anti-leninista, como abaixo comprovaremos. Todos
esses desenvolvimentos passíveis de universalização do maoísmo pelo próprio
desenvolvimento do Marxismo-leninismo, como sintetizado por Stalin e pela III
Internacional leninista, são tomados pelo PC Brasileiro e pelo quadro que os
denuncia abertamente e de forma desrespeitosa com as organizações maoístas e
com os maoístas (para além do desrespeito com o Marxismo enquanto ciência)
como ideias pífias, conjunturais e locais. A realidade das lutas revolucionárias ao
redor do mundo atual não lhes importa. A realidade das revoluções que tomaram,
no século XX, as orientações de Mao e de seu pensamento dialético e universal
não lhes importa. O espantalho em que batem para justificar isso é um só e é a
mais errônea forma de olhar para o maoísmo: chamam ao maoísmo de
“etapismo”.
Vemos, ao olharmos para o atual estado do PC Brasileiro, que eles não têm
vergonha nenhuma de tomarem para si na análise do Brasil as ideias putrefatas
provenientes de Trotsky e de sua camarilha de sabotadores da revolução,
justamente depurada do PCUS, reformuladas nacionalmente pelos “melhores
trotskistas do Brasil”, às quais o dito quadro tentou dar verniz leninista não faz
tanto tempo, ou as ideias de um Togliatti, precursor do eurocomunismo e da ideia
de “democracia como valor universal”, anti-leninista, repetida depois por
Coutinho que, abertamente, denunciou até mesmo seu texto por ser “leninista
demais” em seu mais puro revisionismo. Eles não têm a mínima vergonha de
promoverem em seu meio o ambiente propício para o trotskismo mais recente e
mais deteriorado proposto pelas teses “ecossocialistas”, que colocam Stalin como
um nacional-desenvolvimentista monstruoso e negam o caráter socialista da
União Soviética mesmo antes da degeneração do PCUS. O quadro em questão
chama a isso, num vídeo mais antigo, de “um Marxismo arejado” e diz que todas
as teorias podem conviver bem sem que entrem em conflito, mesmo que sejam
necessariamente opostas e antagonicamente opostas dentro da questão
revolucionária.
O maoísmo, contudo, não lhes é válido como desenvolvimento científico
do Marxismo e da luta revolucionária. Apenas os sabotadores, revisionistas e
marxistas de escritório são. A Revolução Chinesa, conduzida pelo Grande

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Timoneiro e pelo PCCh, não lhes é revolucionária o suficiente, mesmo tendo sido
a maior revolução conduzida no século XX. Ao tal do “patrimônio universal”
legado pelos “marxistas” não acrescentam eles o Pensamento Mao Tsé-Tung e o
maoísmo. Ignoram e desrespeitam o maoísmo e dizem ser apenas “etapismo” ao
mesmo passo que se estagnam num limbo de revisionismo ao reconhecerem
como corretas análises potencialmente contrarrevolucionárias do Brasil e ao
proporem “alianças pela revolução como horizonte” com partidos reformistas e
pequeno-burgueses, construindo este reformismo e nem ao menos chegando a o
conduzir, por sua falta de capilaridade.
A situação é de todo ridícula. E o maoísmo, as teses maoístas que
combatem a esse tipo de revisionismo, não lhes saem da boca, seja em suas
decisões congressuais, disfarçadamente, ou nos vídeos deste quadro,
pronunciadamente, exatamente por serem a maior e mais real ameaça contra o
oportunismo ensejado e nutrido dentro das lideranças do PC Brasileiro, bem
como antes, no fim da década de 50. Devemos dizer, se Kruschev ainda estivesse
vivo, estaria muito feliz!

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O anti-leninismo do PC Brasileiro é escancarado

A mais candente deturpação: a questão parlamentar

Por que seria a questão parlamentar agora a mais candente deturpação do


PC Brasileiro em relação ao leninismo? Não é apenas o momento eleitoral, onde
essa deturpação apresenta-se mais danosa, que nos leva a afirmar isso. De fato,
isso é secundário, uma vez que um erro pontual na questão parlamentar, se não
estiver aliado a outros erros e à total subserviência ao parlamentarismo, não
representa uma contradição tão grande que não possa ser resolvida na própria
luta. Contudo, como veremos, o erro na questão parlamentar do PC Brasileiro é a
manifestação mais candente e sensível dos erros gerais do Partido, tornando-se
em erro essencial uma vez que o Partido subordinou a esse erro todos os seus
demais processos de forma um tanto desavergonhada.
Tomemos primeiro, a título de comparação com a situação atual, dois
documentos históricos que deveriam fazer parte da formação de qualquer
militante consciente dentro do movimento popular brasileiro, por representarem
momentos de crítica necessária ao revisionismo e parlamentarismo infantil do PC
Brasileiro à época da movimentação pré-golpe ditatorial e ao parlamentarismo
utópico e não menos infantil que definiu a ação do Partido após esse golpe. O
primeiro documento consiste numa resposta do Comitê Central do Partido
Comunista do Brasil (PCdoB, à época maoísta) aos ataques do revisionista
Kruschev à organização e à exaltação do PCB kruschevista. No que tange à
questão eleitoral, diz o documento:

A prática tem demonstrado o quanto se desacreditou aos olhos das


grandes massas e das correntes democráticas o Partido Comunista
Brasileiro ao seguir uma orientação política oportunista.
Nos últimos anos da administração do senhor Juscelino Kubitschek, a
posição de Prestes e seus seguidores objetivava substituir no governo os
ministros reacionários por outros que eles apontavam como
nacionalistas. Com essa política apoiaram concretamente o
senhor Kubitschek, um dos maiores entreguistas da história da
República.
Nas eleições de 1960 foram fervorosos partidários da candidatura do
Marechal Lott, que apresentavam como a mais elevada expressão do
nacionalismo. Lott, no entanto, revelou-se de corpo inteiro como

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reacionário que combatia a reforma agrária, a revolução Cubana, as
medidas contra a espoliação imperialista, o reatamento de relações com
a União Soviética e a legalidade do Partido Comunista.
Saudaram em 1961 a posse de Goulart como uma vitória do povo;
reclamaram plenos poderes aos gabinetes indicados por Jango;
declararam que Goulart contava com poderoso apoio popular e com um
dispositivo militar que lhe permitiam tomar sem receio as medidas
exigidas pelo povo. Mas Goulart demonstra, dia a dia, ser o chefe de um
governo entreguista e incapaz de resolver os problemas fundamentais
da Nação.
Disseram que as eleições parlamentares de outubro de 1962 poderiam
modificar profundamente a correlação de forças no Congresso Nacional
e abrir caminho para as transformações básicas na estruturação do país.
O resultado do pleito evidenciou que o Congresso saído daquelas
eleições é um dos mais reacionários que o país já teve.
Conclamaram o proletariado à greve geral para exigir que o senhor San
Tiago Dantas fosse designado Primeiro-Ministro de um hipotético
gabinete nacionalista e democrático. A vida provou que o senhor San
Tiago Dantas não passa de um agente do imperialismo norte-
americano, o intermediário na negociata das subsidiárias da Bond and
Share.
Convocaram o povo para votar NÃO no plebiscito de 6 de janeiro,
proclamando que desta maneira os eleitores estariam criando
condições para realizar a reforma agrária, acabar com a carestia e a
inflação e pôr em prática medidas contra o imperialismo. Depois do
plebiscito, Goulart, já no sistema presidencialista, prosseguiu em sua
antiga política: a carestia tornou-se mais acentuada, a reforma agrária
não se efetivou e novas concessões foram feitas aos monopolistas
ianques.
Mudaram o nome do partido e mutilaram seus princípios para
conseguir seu registro na Justiça Eleitoral. Passado mais de um ano
nem mesmo esse novo partido reformista obteve existência legal.
Esses fatos, além de muitos outros, comprovam plenamente a falência
da orientação seguida pelo Partido Comunista Brasileiro5.

O segundo trecho que citaremos parte de um quadro expulso do PCB por


denunciar sua inércia e cupidez frente às ilusões da democracia burguesa, Carlos
Marighella, que entrou para a história como valoroso combatente, apesar de
alguns gostarem de lhe pintar ainda hoje como um parlamentarista qualquer e
ignorarem sua expulsão por discordar desta linha e por participar da Organização
Latino-Americana de Solideriedade (OLAS), que preconizava a luta armada6.

5 PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL – PCdoB. Resposta à Kruschev. MIA, 06 Set. 2011.

Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/tematica/1963/07/27.htm>.


6 DOLCE, Júlia. 47 anos da morte de Marighella: o legado do principal opositor da

ditadura militar. Brasil de Fato, 04 Nov. 2016. Disponível em:


<https://www.brasildefato.com.br/2016/11/04/47-anos-da-morte-de-marighella-o-legado-do-
principal-opositor-da-ditadura-militar>.

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Carlos Marighella morreria um lutador, antes de tudo. Que dizia ele sobre o
parlamentarismo pcbista?

As ilusões são justificadas em nome da propalada política ampla, em


nome do combate ao sectarismo e ao esquerdismo, enquanto se
despreza a luta em favor da ideologia do proletariado. Esquece-se o
papel do partido marxista, da sua independência de classe e cai-se no
reboquismo ante a burguesia.
Em vez de combater as ilusões, apressou-se a Executiva a combater o
revanchismo, adotando uma posição burguesa como se não devêssemos
ajustar contas com a ditadura à maneira proletária, ou seus crimes e
chamar seus autores à responsabilidade. Como se não devêssemos
apostar ao proletariado os criminosos golpistas, denunciar "à maneira
plebéia", segundo diria Marx em seu tempo.
[...]
A Executiva ainda pensa em infligir à ditadura derrotas eleitorais
capazes de debilitá-la. E dá grande importância ao MDB, apontado
como capaz de permitir aglutinação de amplas forças contra a ditadura.
Ou então apoia a "frente ampla" do Lacerda.
Não é isto querer desfazer-se da ditadura suavemente, sem ofender os
golpistas, unindo gregos e troianos?
Em vez de uma tática e estratégia revolucionárias, tudo é reduzido
aberta ou veladamente — a uma impossível e inaceitável saída pacífica,
a uma ilusória redemocratização (imprópria até no termo).
Parece não se ter compreendido Lenin, quando em "Duas táticas"
afirma que:
"os grandes problemas da vida dos povos se resolvem somente pela
força".
Em outra parte, falando sobre a vitória, acrescenta Lenin que esta:
"deverá apoiar-se inevitavelmente na força armada das massas, na
insurreição",
e não em tais ou quais instituições criadas "por via legal" e "pacífica".
Depois de tanto se ter falado que a violência das classes dominantes se
responderia com a violência das massas, nada foi feito para que as
palavras coincidissem com os atos. Esquece-se o prometido e continua-
se a pregar o pacifismo.
Falta o impulso revolucionário, a consciência revolucionária, que é
gerada pela luta.
A saída do Brasil — a experiência atual está mostrando — só pode ser a
luta armada, o caminho revolucionário, a preparação da insurreição
armada do povo, com todas as conseqüências e implicações que daí
resultarem.
É verdade que nossa influência, a dos social-democratas (quer dizer, a
dos comunistas), sobre a massa do proletariado ainda é muito
insuficiente; a dispersão, a falta de desenvolvimento, a ignorância do
proletariado e sobretudo dos camponeses, ainda são [texto truncado no
livro] velocidade. Cada passo dado no seu desenvolvimento desperta
terrivelmente enorme.

15
A revolução, porém, aglutina as forças com rapidez e as instrui com a
mesma massa e as atrai com uma força irresistível para o programa
revolucionário, o único que exprime de modo conseguinte e concreto os
seus verdadeiros interesses, e seus interesses vitais.
Há no Brasil forças revolucionárias internas capazes de resistir à
ditadura e ir à luta. E é verdade que o pensamento leninista brota por
toda a parte onde o proletariado faz sentir sua influência.7

Verificamos, logo de cara, entre as críticas do primeiro e do segundo


documento, uma ressonância gigantesca, o que atesta que a retificação do Partido
não ocorreu entre o meio de 1963 (de fato, desde o ano de 1958, que data a criação
do PCdoB após o desligamento de diversos quadros e membros do Comitê Central
do PCB, entre os quais Maurício Grabois, Pedro Pomar e João Amazonas), data
de publicação do primeiro, e os fins de 1966, data de publicação do segundo. De
fato, entre a preparação para o golpe militar, com o plebiscito para a transição
para o regime parlamentarista no governo de Jango sendo apenas um teatro, e o
marco de mais de dois anos e meio do golpe, o PCB nada havia aprendido e os
militantes consequentes todos debandavam do Partido ou tentavam empreender
a crítica de dentro, sendo rechaçados mesmo quando essa não era tão radical –
seria depois o caso do próprio Carlos Prestes, na época da adesão ao
eurocomunismo, que teria sua linha derrotada pelos elementos mais oportunistas
que se aglutinavam em torno do teoricismo infértil de Coutinho, Luís Werneck
Vianna, Leandro Konder etc.
Talvez seja de algum interesse verificar qual a atitude do PC Brasileiro
atual sobre essas justas críticas antes de adentrarmos na questão de se o estado
de então foi superado ou não. Ora, se por um lado o PCdoB da época é denunciado
ainda por sua ligação com o Pensamento Mao Tsé-Tung e com o maoísmo
enquanto é dissimulada a relação do PCB com o kruschevismo, se a brava
Guerrilha do Araguaia é desconsiderada como um mero erro completo enquanto
se exalta ainda o parlamentarismo8, por outro o PC Brasileiro atual e seus
papagaios não admitem a expulsão de Marighella e reivindicam para si a figura
do grande revolucionário, que de fato o foi, enquanto dissimulam os motivos de

7 MARIGHELLA, Carlos. Carta à Comissão Executiva do Partido Comunista


Brasileiro. MIA, 11 Jul. 2011. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/marighella/1966/12/01.htm>.
8 PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO - PCB. Breve balanço das polêmicas e

dissidências comunistas no Brasil. PCB, 16 Mai. 2013. Disponível em: <


https://pcb.org.br/portal2/4825/breve-balanco-das-polemicas-e-dissidencias-comunistas-no-
brasil-2/>.

16
sua saída, criticam a Ação Libertadora Nacional (ALN) com base no idealismo
histórico que circunda o Partido, reivindicam apenas a participação do mesmo no
momento de degeneração parlamentarista, mas não reconhecem a ruptura com
este momento, utilizam mesmo o fato de Marighella ter participado do
parlamento para justificarem a continuidade do erro na forma de inserção
parlamentar que busca o PC Brasileiro atual.
A ambos movimentos revolucionários dirigem uma crítica só, a crítica dos
oportunistas, a qual, de forma não-dissimulada, pode ser traduzida da seguinte
forma: “foram estúpidos por tentarem criar a revolução, a luta armada
revolucionária, num ambiente contrarrevolucionário”. Nem ao menos o respeito
pelos revolucionários que escolheram não participar da degeneração mais
completa do espírito do Partido eles mantêm, prestam-lhes “homenagem”
conspurcando seus nomes, seja desconsiderando seus esforços em troca da
afirmação de uma “correção histórica” do PCB que não existiu ou reclamando
seus nomes de forma a desconsiderar completamente a justa crítica por eles
empreendida. Isto já é indicativo de algo que se torna mais evidente ao
analisarmos a real atitude do PC Brasileiro atual frente à questão revolucionária
e à questão do parlamentarismo.
Significa a crítica à atitude do PC Brasileiro quanto aos movimentos
revolucionários da ALN e da Guerrilha do Araguaia uma exaltação completa e
cega destes para nós? Não. A transposição de algumas táticas que haviam dado
certo em Cuba por parte da ALN e a sua não-adesão ao que havia de mais novo
no pensamento e na prática marxista são criticáveis; a aplicação errônea da
Guerra Popular Prolongada (GPP) no Araguaia é criticável. Contudo, ambas as
coisas são criticáveis de um ponto de vista prático e, mais especificamente, tático.
Não são justificativas ou medidas de correção da atitude parlamentarista ou das
análises do PCB dos fins de 50 e da década de 60 quanto à revolução brasileira. A
disputa de duas linhas ocorreu, teorizada ou não, dentro do PCB de 50 até que
não pode mais ocorrer, pois a linha direita infligiu ao Partido a derrota completa
e a estagnação perniciosa, que deixou espaço para o revisionismo kruschevista
florescer. Assim se criou o PCdoB. Marighella, por sua vez, destoou desta linha
revisionista e abstratamente pacifista e colocou-se contra o Comitê Central por
persistir esse erro mesmo sob uma ditadura aberta. Uma análise que partiu desta
linha não pode ser historicamente demonstrada como correta por conta dos erros

17
pontuais alheios que os levaram à derrota num momento de fascismo. De fato,
atestam apenas essas tentativas de desconsiderar os esforços revolucionários da
ALN e do PCdoB da época a covardia do PC Brasileiro atual, sua falta de interesse
numa real retificação.
Mas, como anda a situação parlamentar e revolucionária no PC Brasileiro?
Partamos do que é mais recente: as articulações eleitoreiras com o PSOL. O PSOL,
descrito pelo quadro que vem propagando a palavra do “leninismo” pcbista
contra o maoísmo como um “partido de vertentes”, é, de fato, e essencialmente,
uma organização pequeno-burguesa, que age hoje a reboque do petismo
decadente e não contém em si uma única gota de revolução enquanto
organização. Que hajam vertentes ditas revolucionárias (a maioria delas
trotskistas) ou não no Partido é irrelevante, uma vez que um partido ou é
revolucionário ou não é, ou compõe com o povo ou compõe com a reação, ou luta
pelo povo ou pelos anseios oportunistas de politiqueiros que querem se sentar na
mesa dos burgueses e latifundiários.
Diz o PC Brasileiro que essas articulações são feitas para a denúncia da
democracia burguesa, o que já não está, de forma alguma, no interesse do próprio
PSOL. Essa decisão é feita entre os dirigentes e isso é propagado para os
militantes para que o repitam incessantemente na espera de que se façam
verdadeiras as palavras. É mesmo a denúncia que lhes interessa? Onde a farão?
Pela maior parte, não há chance de que vençam, então essa denúncia não será
feita de dentro do parlamento (que não é a Duma!); nos meios de comunicação,
essa denúncia será reduzida ao mínimo tanto quantitativa quanto
qualitativamente, com as próprias limitações de tempo, legais e do “decoro
burguês” que cerceiam as mais parcas pautas progressistas tornando isso
inevitável e com a própria coligação com um partido pequeno-burguês
significando maiores concessões da parte dos próprios comunistas – concessões
essas que logo tornarão inútil todo esboço de denúncia; nos comícios,
panfletagens etc., a coligação novamente lhes faz ter que decidir entre angariarem
votos para si e para seus “companheiros” pequeno-burgueses ou denunciarem o
Estado burguês e, é consabido, a última opção nunca é tomada e as reformas são
propagadas com toda pompa como coisa revolucionária; nas demais ações
conjuntas, agem a reboque de um partido já reboquista e que só atua mediante
suas concepções pequeno-burguesas. Há algum ganho para a luta de classes

18
nisso? É discutível. E o reboquismo em relação ao PSOL nada mais é que o
reboquismo em relação às pautas mais atrasadas da pequena-burguesia, o que,
por sua vez, é um reboquismo aos interesses da burguesia e dos latifundiários,
que são os promotores da estagnação dessa classe que vive sempre sob a tensão
entre o progressismo e a reação. No máximo haverá algum burburinho dentro da
pequena-burguesia e das juventudes para mais reformas inúteis e facilmente
reversíveis, que tentam conciliar o desejo do Estado em processo de fascistização
com as necessidades do povo apenas para garantirem os votos nas próximas
eleições.
Mas o que diz o próprio PC Brasileiro, com suas palavras, sobre as eleições?
Vejamos como coloca a questão Gabriel Lazzari, Secretário Político Nacional da
União da Juventude Comunista:

Esse difícil movimento é o que queremos: passar da defensiva à


ofensiva. Mas não apenas a classe trabalhadora está desmobilizada
(décadas de hegemonia do reformismo cobram seu preço na
consciência e na organização da classe), como ainda tem esperanças no
regime burguês, ainda mantém seus preconceitos democrático-
republicanos. A isso dizemos: é normal que assim o seja! Estranho seria
se os trabalhadores já não mais aceitassem essa farsa capitalista nas
suas ideias e aceitassem na prática. Ao contrário, inclusive, é por
desconfiarem, mesmo que seja um pouco, dessa farsa que muitos
votaram em Bolsonaro em 2018 – afinal, era dos poucos que se dizia
“inimigo do sistema”. Mal sabiam os milhões de trabalhadores que nele
votaram que era um inimigo, sim, mas da nossa classe.
Por que os jovens comunistas se lançam às eleições em 2020?
É nessa difícil conjuntura, cheia de atravancos e puxadas de tapete que
os capitalistas tentam dar contra os trabalhadores, que teremos as
eleições municipais em 2020. Essas eleições já começam como um jogo
de cartas marcadas: as últimas “reformas” eleitorais nada fizeram senão
diminuir o espaço dos partidos de esquerda que têm uma política
independente e privilegiar a fusão em torno dos grandes “buracos
negros” que são os partidos de direita. PSOL e PCdoB escaparam por
um triz da “cláusula de barreira” e mantiveram os espaços democráticos
concedidos pela burguesia. Nós, os comunistas do PCB, como em outros
momentos da história, fomos tolhidos do direito de receber fundo
partidário e de ter propaganda partidária veiculada. Os comunistas
brasileiros, aos olhos da burguesia, seguem sendo uma pedra no sapato.
Além disso, as coligações para disputas de eleições proporcionais, como
é o caso das Câmaras de Vereadores, também foram proibidas –
aumentando a pressão para fusões eleitoreiras em detrimento das
coligações apresentadas abertamente, como foram as que o PCB
desenvolveu nos últimos anos, principalmente ao lado dos
companheiros do PSOL.
O cerco está fechado e o circo (da democracia burguesa) está armado.
Como então farão os comunistas?
A primeira coisa que apontamos é que não podemos desprezar nenhum
espaço, nenhuma trincheira, nem um mínimo ponto de apoio para

19
fazermos denúncias e levarmos os interesses dos trabalhadores para a
opinião pública. Negar participar desses espaços – não para lhes dar
legitimidade, mas, ao contrário, para apontar seus limites – é se negar
a falar com uma ampla massa do povo trabalhador, que muitas vezes só
toma ciência das manobras burguesas através da publicização de uma
ou outra polêmica dentro do parlamento. Essas pequenas
oportunidades, os comunistas agarrarão para denunciar por dentro
como já o fazemos por fora. Assim, combinando a luta parlamentar com
a extraparlamentar, a luta de massas nos sindicatos, entidades
estudantis, movimentos sociais na cidade e no campo, poderemos
auxiliar na reorganização da classe trabalhadora – como já fazemos por
meio do Fórum Sindical, Popular e de Juventudes pelos Direitos Sociais
e Liberdades Democráticas, como já fazemos na defesa de um Encontro
Nacional da Classe Trabalhadora.9

A coisa toda é tragicômica. Primeiro se afirma a miragem, sempre ela.


Depois considera-se erroneamente o povo, ficando claro o distanciamento do
Partido desse. Diz o autor que o povo confia no regime burguês, em específico no
ritual mistificante das eleições, que é onde o PC Brasileiro deve, necessariamente,
se inserir para “orientar” esse povo estúpido. Depois, num lapso de realidade, se
fala da descrença relativa do povo confirmada por algo que ocorreu nas eleições
de 2018 (que deram seguimento ao golpe, fruto da subordinação do Brasil aos
interesses do imperialismo na guerra ideológica que se afirma em todos os
cantos), mas o que torna clara essa descrença para o jovem teórico nada tem a ver
com o fato de que os votos nulos, brancos e as abstenções somaram 30,7% da
participação popular nas eleições, o que lhe torna claro a descrença é apenas a
eleição de Bolsonaro – a qual é usada pelos oportunistas para justificarem sua
inserção num processo do qual a maior parte do povo participa mesmo para não
pagar multas, dada sua obrigatoriedade para todos com mais de 18 anos e menos
de 60. Nunca foi antes tão discutida a questão de uma maioria de votos nulos
anular ou não uma eleição quanto em 2018. Vivemos um momento quase análogo
à história escrita por Saramago em Ensaio sobre a lucidez, mas, mesmo assim, o
povo é analisado pelo grande teórico como um ajuntamento de cordeiros prontos
para o abate. Disfarça ele a incapacidade do próprio Partido de aglutinar um
movimento de massas contra a continuidade do golpe então, para justificar a
participação do Partido na continuidade da continuidade. A partir disso são
desenvolvidos todos os outros comentários e conclusões.

9LAZZARI, Gabriel. Por que os comunistas se lançam às eleições. PCB, 30 Ago. 2020.
Disponível em: <https://pcb.org.br/portal2/26061/por-que-os-comunistas-se-lancam-as-
eleicoes/>.

20
Que é o mais ridículo disso tudo? É que talvez tenha sido melhor mesmo
que o PC Brasileiro não tenha construído um movimento de massas contra o
golpe. Idealistas que são, possivelmente teriam confundido ir contra o golpe com
apoiar Dilma Roussef, esquecendo-se do aspecto imperialista do golpe
materialmente e da luta ideológica que está sendo empreendida contra qualquer
forma de “esquerda” e contra qualquer ideia “popular”, por mais pífia ou
mentirosa, que foram a maior causa do golpe – e os seus aliados do PSOL,
inclusive, legitimaram e aplaudiram essa luta material e ideológica em revoluções
coloridas como a da Ucrânia, agora um estado neonazista, o que já se anunciava,
legitimaram e aplaudiram a tentativa de revolução colorida em Hong Kong e
legitimam e aplaudem hoje o que ocorre na Bielorrússia. O golpe é um
seguimento claro da ideologia do “fim da história” do neoliberalismo, o maior
silenciamento das pautas progressistas ou que ao menos assim se assemelhem, a
destruição de qualquer ideal mais nacionalista da pequena e média burguesia e,
não por acaso, veio também acompanhado de uma maior subordinação cultural.
Não querem os imperialistas que desenvolvamo-nos enquanto povo nacional e
por isso acabam com nossas fronteiras material e ideologicamente, promovendo
o neocolonialismo anunciado abertamente e com pompa nos jornais
estadunidenses desde os anos 90 como algo benéfico.
Não seria a primeira vez que o PC Brasileiro incorre nesse tipo de idealismo
de que falamos, continuando, nos últimos anos. Vejamos o que disseram sobre a
soltura de Lula: “O Partido Comunista Brasileiro (PCB) saúda a vitória
democrática parcial representada pela liberdade do ex-presidente Lula”10. Que
vitória democrática pode ser denotada na soltura de Lula para um partido que
não subordine à democracia o seu “socialismo como horizonte”? Que democracia
é essa que defendem? A mesma democracia que defendiam na época do
eurocomunismo, obviamente, aquela que é “valor universal” e plenamente anti-
leninista (a que tentam se esforçar para dizerem que criticam, mas nunca de fato
quiseram abandonar). Lula está livre e a extrema-direita não sofreu derrota
alguma por isso, muito menos o povo viu qualquer democracia de fato para si
nisso.

10 COMISSÃO POLÍTICA NACIONAL DO PCB. Nota política do PCB sobre a libertação de

Lula. PCB, 8 Nov. 2019. Disponível em: <https://pcb.org.br/portal2/24280/nota-politica-do-


pcb-sobre-a-libertacao-de-lula/>.

21
Um outro ponto poderia ser comentado no texto, sobre a questão das
práticas parlamentares e extra-parlamentares, mas é melhor que deixemos isso
para quando formos falar das concepções de fato leninistas sobre a atuação
parlamentar. Por enquanto, vamos nos voltar para um período anterior, em 2018,
quando Mauro Iasi, membro do Comitê Central do PC Brasileiro, disse:

Trata-se de uma tarefa que diz respeito a uma necessidade política do


país e, principalmente, dos trabalhadores. Compreender que o ciclo da
conciliação de classes se esgotou e é impossível retomá-lo sem derrotar
ainda mais os trabalhadores e a maioria da sociedade brasileira,
abrindo ainda mais o espaço para aventuras de extrema-direita. É
necessário pensar o Brasil rompendo os ditames do mercado, do capital
financeiro e do agronegócio. Para isso, é fundamental alterar profunda
e radicalmente as formas e instituições políticas, porque só assim
poderemos enfrentar verdadeiramente a direita e a extrema-direita,
porque é aí que reside o fundamento de seu poder. Por isso, são tão
fundamentais campanhas como a do companheiro Guilherme Boulos
do PSOL, PCB e MTST, que tem meu declarado apoio, assim como a
candidatura da companheira Vera Lúcia, do PSTU, independente de
nossas chances eleitorais.11

Ora, a prática de puxar votos para reformistas e pequeno-burgueses pode


parecer tentadora dado o estado atual da política burguesa, mas fantasia-la de
questão revolucionária, de problema essencial para a alteração profunda e radical
das formas e instituições políticas, já passa um pouco dos limites do aceitável e
destrói toda a sombra de honestidade que ainda poderíamos ver no Partido, fosse
por ingenuidade ou boa vontade. Guilherme Boulos nasce na política brasileira
como um reformista, que hoje é defensor de uma difusa e moralista “Revolução
Solidária”, adentrando um partido pequeno-burguês (de vertentes!) que jamais
propôs nem proporia qualquer ruptura com “as formas e instituições políticas”
atuais, pois é beneficiário destas, representa a vacilação reacionária da pequena-
burguesia e busca os ganhos conjunturais da pequena-burguesia em detrimento
dos proletários e camponeses, que tenta instituir uma moral pequeno-burguesa e
com essa dirigir as vontades políticas do povo, não conseguindo ao menos isso –
e aqui se encontra a ironia de que chamem aos maoístas de etapistas, mas
retornaremos à isso. Vera Lúcia, por sua vez, foi uma não-presença trotskista e o
melhor é que tenha sido assim.

11 IASI, Mauro. Eleições 2018: a armadilha do voto útil e o desafio da esquerda. PCB,

14 Dez. 2018. Disponível em: <https://pcb.org.br/portal2/20854/eleicoes-2018-a-armadilha-


do-voto-util-e-o-desafio-da-esquerda/>.

22
O engodo é tão claro e tão historicamente repetitivo que chega a ser tedioso
ter de fazer essa crítica – e legitimar o seguimento de um processo golpista por
motivo tão porco é um sinal de caducidade muito maior do que meras palavras
podem descrever. O que o parlamentarismo hodierno do PC Brasileiro nos
demonstra é tudo menos leninismo, nos demonstra a falta de um PCdoB maoísta,
de um Marighella, nos demonstra a necessidade da crítica mais radical e
impiedosa da camarilha oportunista que quer se passar por vanguarda do povo,
dirigentes da vanguarda do povo, que engana os seus militantes e só não consegue
enganar o povo pois o povo nunca chegou a conhece-la de fato e todos os pseudo-
esforços pela “denúncia” pararam nos limites exatos que fingiam querer
denunciar. Isto, ao menos, está suficientemente demonstrado. Agora devemos
fazer o contraponto e trazer a concepção de fato leninista de participação
parlamentar, e consequentemente a concepção leninista de boicote.

Como o leninismo entende a participação parlamentar (e o


boicote)

Apesar do que dizem os oportunistas ao transporem mecanicamente


citações de Lênin (a quem consideram como único ponto de verificação do
leninismo quando lhes é mais conveniente, cuja memória e cujas ideias
desrespeitam) para florearem seus textos, incorrendo no interpretativismo mais
tosco e pós-moderno, na falta de rigor filológico e na desonestidade patente,
reminiscências da herança de Coutinho e da camarilha eurocomunista, que
utilizavam Marx e até mesmo Lênin para justificarem suas mentiras sobre a
questão democrática, que utilizavam o Marxismo para negar o Marxismo, o
teoricismo velhaco para encurralar sofisticamente a justa prática e teoria
revolucionária, apesar do que dizem, o Marxismo-leninismo, o desenvolvimento
científico do Marxismo, que se deu revolucionariamente, como todo
desenvolvimento de uma ciência revolucionária e popular, tem posição clara
sobre a questão parlamentar, cimentada nas Teses sobre a questão parlamentar
da III Internacional Comunista, publicadas em Julho de 1920, escritas pelo
próprio Lênin e por Bukharin (este último, ainda não um traidor da revolução e
um sabotador dos processos de coletivização dentro do PCUS). Para além deste

23
texto, alguns outros do próprio Lênin e de Stalin serão discutidos para
adentrarmos na questão parlamentar. É óbvio que os oportunistas, à sua moda,
sempre poderão dizer que algo que Lênin disse num determinado momento é
válido universalmente e que outras coisas que disse não são válidas para o Brasil
atual ou que Stalin não continuou a linha leninista, mas, devemos evitar nos
prender na análise dos malabarismos e interpretativismos dos oportunistas e a
questão sobre Stalin já foi suficientemente respondida alhures.
Que dizem as teses sobre a questão parlamentar da Internacional
Comunista leninista? Logo de início elas expõem o problema da evolução política
do capitalismo como a causa da modificação das necessidades da atuação
parlamentar dos comunistas, considerando que a “maior estabilidade” dos
Estados mediante o “aumento contínuo das forças produtivas e” o “alargamento
do domínio da exploração capitalista” causou nos partidos comunistas uma maior
tendência para a inserção dentro do processo reformista, aumentando a
predominância do “programa mínimo” frente ao objetivo final e,
consequentemente, desenvolvendo-se “o arrivismo parlamentar, a corrupção, a
traição aberta ou camuflada dos interesses mais elementares da classe
operária”12. Assim, ao mesmo tempo que o apelo ao reformismo cresce, as
reformas têm cada vez menos sentido prático, pois as formas prototípicas que
garantem a maior exploração e conformação, seja esta última o fruto da maior
violência nas nações oprimidas ou da maior dissimulação nas nações
imperialistas, já foram estabelecidas.
Em nosso tempo, especificamente, o neoliberalismo é a concretização
última disto: o neoliberalismo recrudesce a exploração nas nações oprimidas,
podendo mesmo retrair os “privilégios” da aristocracia do proletariado nas
nações imperialistas conjunturalmente (e utilizando esse fato para propagar o
chauvinismo que é, necessariamente, a outra face da globalização – basta que
consideremos a Guerra ao Terror ou, mesmo antes disso, a classificação dos EUA
pelos seus líderes de Estado como uma terra de um “povo eleito”), desvincula do
povo todas as pautas populares, subordinando-as à questão democrática da
burguesia, quando muito, estabelece a soberania limitada por um lado, o das
nações oprimidas, e a suprema soberania pelo outro, o das nações imperialistas,

12 INTERNACIONAL COMUNISTA. Teses sobre a questão parlamentar. MIA, 10 Dez.

2019. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/tematica/1920/07/teses.htm>.

24
principalmente dos EUA e de algumas nações da União Europeia (UE), seja por
meios militares (instalação de bases estratégicas, compra de bases estratégicas,
como a de Alcântara etc.) ou por intermédio de organizações
intergovernamentais, de organizações não-governamentais, das diversas formas
de integração econômica ou por quaisquer outros meios possíveis, e recria as
condições necessárias para a pilhagem colonial das nações que buscam sua
independência através da condenação internacional de seus líderes e da injeção
de dinheiro em organizações fantoche, por vezes abertamente fascistas. Enquanto
tudo isso acontece, o reformismo ganha ou tenta ganhar voz frente ao desespero
dos povos oprimidos, declarando das nações imperialistas a maior certeza ou
incerteza da vitória enquanto dissimula a irmandade com o inimigo e
encontrando eco nas nações oprimidas dentro das organizações pequeno-
burguesas. Sobre isso, diz Nelson Werneck Sodré: “O neoliberalismo busca
embalar as consciências com palavras sonoras e vazias. O povo, a cada dia mais
pobre, procura compreender a razão de sua miséria. Assim avança, às vezes
tragicamente, o processo político brasileiro em nossos dias”13.
Ora, podemos dizer que os partidos comunistas são imunes a isso? Foi
imune o Partido Comunista dos Estados Unidos ao chauvinismo? Não afirmam
eles, ao tentarem se desvincular das acusações de reformismo socialdemocrata,
que as reformas pavimentam a estrada para o socialismo e ignoram a exata tese
leninista que já discutimos? Não negam eles a violência revolucionária da forma
mais veemente e afirmam que a questão socialista é apenas a de concretização
das “liberdades” constitucionais americanas?14 Não é esta a mesma Constituição
que toma como legal ainda hoje a escravidão nas prisões? Ora, este é o resultado
da consolidação política do Parlamento burguês sob o imperialismo e
principalmente do parlamentarismo neoliberal para estes partidos tornados
inescrupulosos e achacados pelo oportunismo que se dizem comunistas nas
nações imperialistas.
Deveríamos nós sermos tão ingênuos e pensarmos que a mesma coisa não
se dá sob outra forma aqui? Sob a forma oposta, em alguns aspectos, e sob forma
idêntica, em outros? Mais palpavelmente vemos que o chauvinismo é substituído

13 SODRÉ, Nelson Werneck. Imperialismo e neoliberalismo. MIA, 28 Nov. 2019.


Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/sodre/1996/10/imperialismo.htm>.
14 CPUSA. Five myths about the CPUSA. CPUSA, 14 Abr. 2020. Disponível em:

<https://www.cpusa.org/article/five-myths-about-the-cpusa/>.

25
por submissão completa e desejada nos partidos de corrente pequeno-burgueses,
que esses partidos fazem caso com os ataques imperialistas onde quer que haja
qualquer forma de luta popular ou nacionalista em grande parte das vezes. Vemos
que a questão democrática como pautada pela burguesia limita, igualmente, as
“radicais” declarações dos políticos, as suas “radicais” ações e gestos. Nos
partidos comunistas propriamente ditos, verificamos quando o oportunismo
tomou conta também facilmente. Seja de forma anunciada ou dissimulada, eles
repetem a Bernstein e aos eurocomunistas. Dizem a revolução de boca, mas não
a preparam em ação; propagandeiam a democracia do povo, mas defendem a
instituição democrática da burguesia com unhas e dentes, comemorando sua
restauração (e mesmo sua parcial restauração) sem esforçarem-se minimamente
para a destruírem através do aprofundamento da consciência de suas rachaduras
extemporâneas – consciência construída na própria luta ativa. Mas isso veremos
melhor no decorrer de nosso estudo das teses leninistas.
Continuemos. Dizem as teses:

Quando certos socialistas inclinados para o comunismo sublinham que


a hora da revolução ainda não soou nos seus países e se recusam a
romper com os oportunistas parlamentares, baseiam-se,
conscientemente ou não, na perspectiva de uma estabilidade relativa e
durável da sociedade imperialista pensando, por conseguinte, que uma
colaboração com os Turati e os Longuet dará bons resultados práticos
nas lutas pelas reformas.15

E o que dizem os partidos oportunistas? Que estão preparando a revolução, que


sua hora não despontou ainda, que os preparativos realmente revolucionários são
coisa de tresloucados, que quando o povo consciente reclama esta preparação, é
utópico, compreende mal a questão revolucionária. Acharam uma nova forma de
fazer o que já fizeram na década de 50, 60 e 70 com as questões levantadas pelos
anti-revisionistas: negar a luta real, as reais trincheiras. Negam a luta ao não
desenvolverem-na, negam-na ao adentrarem os espaços estritos em que atuam
com ilusões de derrubada do capitalismo mas sem uma estratégia revolucionária,
negam-na ao confiarem seus esforços pseudo-revolucionários ao
parlamentarismo, à causa estudantil e às dispersas formas de sindicalismo que
praticam, negam-na ao organizarem uma vanguarda que só se interessa na ou
que tem como linha diretiva a aplicação de paliativos nas massas. Qual a grande

15 INTERNACIONAL COMUNISTA, 2019.

26
diferença entre isso e o petismo ou o psolismo? É que o petismo venceu e o PSOL
ao menos tem mais apoio das camadas médias. Esses partidos oportunistas não
radicalizam nem em teoria nem em ação as pautas pequeno-burguesas às quais
se subordinam na prática eleitoreira de dois em dois anos, pois a mera declaração
da revolução vindoura não é ainda uma radicalização teórica e a mera agitação se
desprendida de uma concepção materialista da revolução é infértil. Nenhuma das
ações que praticam é, por si só, condenável, contudo, tendo-se em conta o caráter
de classe de um partido comunista, todas elas se tornam condenáveis e negam o
Marxismo.
É nessa negação do Marxismo, da luta real, que negam ainda de uma
última forma, não tendo a mínima solidariedade com as lutas populares
revolucionárias e não integrando suas fileiras por “discordâncias teóricas” ou
coisas do tipo, preferindo agir junto aos partidos pequeno-burgueses,
concordando mais teoricamente, de fato, com eles (abaixo, ao tratarmos da
questão revolucionária propriamente dita, falaremos mais disso), que vivem os
partidos oportunistas; é essa negação que gera a cupidez parlamentarista, a
prostituição das pautas proletárias, a cafetinagem dos militantes de base e dos
quadros. Dizem aos militantes: “esqueçam da realidade que vos cerca, das lutas
que ocorrem agora no seio do povo contra a burguesia, contra o latifúndio, contra
o imperialismo, esqueçam a greve dos Correios, o genocídio anunciado contra a
LCP, não pensem no desenvolvimento da luta real, no treinamento para luta real,
é chegada a hora de virar votos para tal ou qual partido que é nosso aliado na
busca do ‘Poder Popular’, esta é a tarefa do Partido” e completam ainda: “se lhes
perguntarem, temos uma estratégia socialista, obscura que seja, distante que
esteja, imóvel que permaneça sempre, está dito nas decisões congressuais”. E os
votos de esquerda tornam-se sempre na política de direita, como já dizia
Saramago16, mas, aparentemente, a época de apoio mais aberto ao Partido dos
Trabalhadores (PT) apenas lhes ensinou como dissimular o apoio ao
neoliberalismo de esquerda e às pautas pequeno-burguesas um pouco melhor
com o palavreado comunista.
A hora da revolução ainda não soou para eles exatamente pois, sempre que
o povo age revolucionariamente, os dirigentes tapam seus ouvidos e com seus

16 SARAMAGO, José. Folhas políticas. Brasil: Sabotagem, 2005.

27
tentáculos pequeno-burgueses tapam também os ouvidos dos militantes de base
e dos quadros, repetindo a atitude que teve o PCB com a guerrilha do Araguaia,
com Marighella e a ALN, com a China revolucionária (os cãezinhos de Kruschev
das lideranças talvez ainda sonhem com as sobras da mesa da União Soviética
social-imperialista) e com tudo que combatia essa ideia de que a hora da
revolução é outra. Não dizem e por vezes dizem o contrário, mas repetem na
prática as teses de convivência pacífica de Kruschev. Nem mesmo renovarem a
explicação da atitude conseguem, tão presos estão na década de 60, dizem que o
momento é contrarrevolucionário. A isso devemos responder: todos os
momentos o serão se não construirmos a revolução ou apoiarmos a revolução
onde ela está sendo construída revolucionariamente. O PC Brasileiro e os partidos
oportunistas em geral não constroem a revolução, a empurram com a barriga
para um horizonte cada vez mais distante enquanto o povo morre na praia; não
apoiam a revolução, são reformistas e apoiam os reformistas, eles e os reformistas
pequeno-burgueses se dão tapinhas nas costas pelas “conquistas” parlamentares
e, secretamente, sabem que têm entre si plena identidade.
A tão reclamada tática leninista para a revolução, reclama a ela o nosso
quadro, reclamam as decisões congressuais do PC Brasileiro, encontra-se já, em
tão pouco tempo, tão esvaziada do caráter leninista. Mas, a coisa fica pior. A tática
revolucionária leninista é a da organização para a insurreição contra o Estado, a
tática da formação de um estado-maior proletário capaz de destruir todo o
aparato estatal burguês. Dizem as teses “o partido dirigente do proletariado deve,
regra geral, fortificar todas as posições legais, ter pontos de apoio secundários da
sua ação revolucionária e subordiná-los ao plano da campanha principal, quer
dizer, à luta de massas”17. É isto que ocorre no PC Brasileiro e nos demais partidos
oportunistas? Não desenvolvem esses partidos lutas de massas senão de forma
deturpada e mediante o próprio reboquismo, não ganham eles a mínima
capilaridade, por não terem esses partidos ligação com as massas (e por outros
motivos), o desenvolvimento dessas lutas de massas é, pelos próprios,
subordinado à participação eleitoral; em suma, invertem a tese leninista e não a
levam nem às primeiras consequências, quanto lá às últimas. Será que se
esqueceram que “Só têm valor as plataformas que coroam um prolongado

17 INTERNACIONAL COMUNISTA, 2019.

28
trabalho de agitação revolucionária, que tenham dado plena resposta
à todas as questões do movimento”18? Não, não é uma questão de esquecimento,
mas sim de escolha que poderia ser dita aventureira se não tivesse objetivo
oportunista determinado.
Para além disso, têm eles uma concepção completamente errônea do que
é se ligar com as massas, uma concepção trotskista, do mais vacilante trotskismo;
não o dizem, pois é necessário manter as aparências, mas comprovam suas
atitudes frente à primeira onda de petismo e agora frente ao reformismo psolista.
Que concepção seria essa? A de que a única coisa necessária é se estar ligado com
as massas, que a teoria, a ideologia revolucionária firme, é secundária. A isso
chama o nosso quadro de “Marxismo arejado” (de fato, um Marxismo levado pela
ventania, um Marxismo que nega toda a ciência revolucionária). Defendendo um
partido como o PT, achacado pelo trotskismo, pelo populismo, por toda sorte de
degenerações teórico-práticas que queriam se fazer passar por pautas
revolucionárias, a princípio, desligando-se mais ou menos dessa defesa após um
desenvolvimento crítico de aparências ou criado pelo ressentimento de terem
sempre ficado do lado de fora do jantar e, logo depois, passando a compartilhar
pautas com o PSOL (ora, eles mesmos reclamam que o programa do PSOL
aproxima-se do deles ao colocarem isso como condição da coligação), assim
vivem os oportunistas; podemos nós dizer que se importam com a teoria
revolucionária e com a firmeza? São vacilantes. Não criticam um “a” da dita
“Revolução Solidária” do politiqueiro Guilherme Boulos. É vergonhoso. E é ainda
mais um indicativo de que, sem conseguirem se afastar por um segundo do
oportunismo, subordinam tudo que desenvolvem teórica e praticamente à “pauta
mínima” da traição. Outras teses, as Teses acerca do movimento revolucionário
nos países coloniais e semi-coloniais, também da III Internacional leninista,
afirmam que se não denunciamos o reformismo de um traidor da causa de
libertação nacional (tais palavras são meio estranhas aos oportunistas, mas
finjamos que eles terão a boa vontade de as compreenderem), mesmo que esse

18 LENIN, Vladimir Illich. A plataforma dos reformistas e a plataforma dos sociais-

democratas revolucionários. MIA, 01 Abr. 2016. Disponível em:


<https://www.marxists.org/portugues/lenin/1912/11/18.htm>.

29
não seja um inimigo por completo, apenas fortalecemos a contradição entre esse
traidor e nós, deixando as massas a sua mercê19.
Adiantaria ainda dizermos aos oportunistas que a ação parlamentar “deve
estar totalmente subordinada aos objetivos e às tarefas da luta extra-parlamentar
das massas”20? Que “Todo o movimento de massas deve ser utilizado (greves,
manifestações, agitação no exército e na marinha, etc.); estabelecer-se-á com este
movimento um contato estreito”?21 Ora, esteve o PC Brasileiro mais ocupado com
as eleições ou com a greve dos Correios? Está ele tão ocupado com as eleições que
não pode organizar seus militantes para defender a Liga dos Camponeses Pobres
que sofrem agora mesmo, em Rondônia, os mais detestáveis ataques das forças
reacionárias do Estado? Deixará o PC Brasileiro que um genocídio ocorra contra
o povo sem que mova um dedo? É uma vergonha que um partido onde já foi
produzido tão belo texto propagandístico como o de Pedro Pomar, Contra a
guerra e a dominação imperialista ianque, em defesa da independência
nacional22, hoje, mesmo domesticamente, se acovarde tanto. É vergonhoso e
desrespeitoso com a memória dos tantos valorosos camaradas que ofereceram
suas vidas ao povo para o defender. É vergonhoso e desrespeitoso que ainda
tomem a malfadada mas honrosa alcunha de comunistas brasileiros.
Vejamos agora ainda outra coisa que dizem as supracitadas Teses acerca
do movimento revolucionário nos países coloniais e semi-coloniais:

A formação de um bloco entre o partido comunista e a oposição


nacional e reformista deve ser rejeitada; mas isto não exclui a
possibilidade de acordos temporários e da coordenação de atividades
anti-imperialistas, desde que as atividades da oposição burguesa
possam ser utilizadas para desenvolver o movimento de massas, e que
estes acordos não restrinjam a liberdade comunista de agitação e de
organização entre as massas. É claro que neste trabalho, os comunistas
devem levar a cabo a luta política e ideológica mais firme contra o
nacionalismo burguês e contra os sinais da sua influência no seio do
movimento operário.23

19 INTERNACIONAL COMUNISTA. Teses Acerca do Movimento Revolucionário nos


Países Colonias e Semi-Coloniais. MIA, 25 Mar. 2014. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/tematica/1928/09/teses_comintern.htm>.
20 INTERNACIONAL COMUNISTA, 2019.
21 INTERNACIONAL COMUNISTA, 2019.
22 POMAR, Pedro. Contra a guerra e a dominação imperialista ianque, em defesa da

independência nacional. MIA, 14 Jan. 2008. Disponível em:


<https://www.marxists.org/portugues/pomar/1949/09/07.htm>.
23 INTERNACIONAL COMUNISTA, 2014.

30
O “Poder Popular” é o engodo eleitoreiro neoliberal de esquerda, a tática
reformista e covarde daqueles que enganam os pobres com falsas promessas de
melhoria de vida, visando, no máximo, instaurar um novo regime de estimulo ao
consumo. Não à toa ele está sendo “construído” pelos pequeno-burgueses e pelos
oportunistas agora, num momento tão crítico de nossa economia e num momento
tão crítico de nossa política, na qual nossa posição de semi-colônia, negada pelo
PC Brasileiro peremptoriamente, se afirma mais ainda. Os pequeno-burgueses
que se animam em apresentar as mais atrasadas pautas dessa franja de classe, as
mais vacilantes, e os oportunistas, juntam-se agora em Santa Aliança para
suavizarem o baque do golpe imperialista, da maior prostituição de nossas
riquezas e de nosso povo e dos ataques internos do latifúndio e da burguesia
compradora-burocrática contra o povo, sejam esses econômicos ou militares.
Devem suavizar a isso para que se mantenha de pé a ordem que de fato defendem:
a ordem da “democracia” sufocante dos latifundiários e burgueses compradores
e burocráticos, da ditadura da burguesia imperialista sobre toda a nação, a ordem
da dupla ditadura contra o povo brasileiro. Não ousam levantar a voz para
ascenderem no povo o espírito da derrubada real do Estado seja como seja,
apenas balbuciam teses pedagógicas, dizem: “devemos ensinar às massas”,
“mostrar às massas”, incorrendo ainda em outro erro denunciado pelo próprio
Lênin no texto Sobre a confusão entre política e pedagogia24. Nenhum dos
oportunistas nutrem ilusões sobre o caráter de um partido que apoiou o
neonazismo ucraniano, sabem bem com o que lidam e não são nem um pouco
leninistas ao proporem a aliança e a formação de “Poder Popular” com um partido
que nada tem de revolucionário. A III Internacional Leninista denunciou à todas
essas atitudes como atitudes de oportunistas.
Olhemos ainda para uma última citação das Teses sobre a questão
parlamentar,

[...] admitir por princípio a ação parlamentar revolucionária não


implica de modo algum que se participe efetivamente em todos os casos
nas eleições e em determinadas assembléias parlamentares. Isso
depende de uma série de condições específicas. A saída dos comunistas
do Parlamento pode ser necessária em determinados momentos. É o
caso dos bolcheviques quando se retiraram do Pré-parlamento de
Kerensky com a finalidade de o atacar, de o paralisar e de lhe opor

24 LENIN, Vladimir Illich. Sobre a confusão entre política e pedagogia. MIA, 01 Mai.

2019. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/lenin/1905/06/confusao.htm>.

31
brutalmente o Soviete de Petrogrado antes de tomar a direção da
insurreição; quando decidiram dissolver a Constituinte, deslocando
assim o centro de gravidade dos acontecimentos políticos para o III
Congresso dos Sovietes. Outras vezes, impõe-se o boicote das eleições e
o aniquilamento imediato pela força de todo o aparelho de Estado e da
camarilha parlamentar burguesa; ou por vezes, a participação nas
eleições combinada com o boicote do próprio Parlamento, etc.

Dizem, portanto, as teses: nem sempre a participação é aconselhável.


Contudo, os oportunistas não aceitam a mínima consideração sobre a retirada de
candidaturas, sobre o boicote ou sobre a participação combinada com o boicote.
E por que isso? É tão fácil conhecer a motivação de um rato que corre atrás do
queijo como a de um oportunista que corre atrás do voto. O instinto do
oportunismo é o parlamentarismo. Nada teme mais um oportunista que perder a
capacidade de atuar parlamentarmente seja do lado de quem for. E esses
oportunistas, de pequenos que são, aceitam tão facilmente se subordinar aos
“partidos de corrente” que chega a ser um pouco entristecedor de ver.
“Constroem” com os reformistas declarados o “Poder Popular”, que é a destruição
do verdadeiro poder do povo. Tratam os reformistas pequeno-burgueses e
oportunistas com desdém o verdadeiro poder popular, atacam-no, à moda dos
liquidacionistas, denunciados por Lênin em Marxismo e reformismo25.
Desdenham das revoluções que ocorrem ao redor do mundo sob a bandeira do
maoísmo, não as estudam ou comentam senão com desdém ou mesmo com
ataques; desdenham da luta popular interna que se organiza, vence e resiste no
campo, que desapropria com as próprias mãos àqueles que, fosse pelos seus
aliados antigos e atuais, não haveriam sofrido um golpe sequer. Desdenham, de
fato, do campo como um todo, adotando posição trotskista sobre o assunto e,
quando muito, a posição dos partidos pequeno-burgueses. Podemos dizer que um
partido que desdenha de todas as revoluções em curso e de todo o ensejo
revolucionário em sua própria nação é revolucionário? Comunista? Não!
Devemos dizer o que é: um partido oportunista que despreza hoje a questão do
boicote como a todas as demais questões levantadas pelos revolucionários (não
veem eles a ciência do Marxismo como decorrência da luta revolucionária, mas
como o produto de grandes ideias tidas em torres de marfim) e a todas as
revoluções em curso pois seu instinto não é outro que a defesa da estagnação e

25 LENIN, Vladimir Illich. Marxismo e reformismo. MIA, 25 Ago. 2016. Disponível em:

<https://www.marxists.org/portugues/lenin/1913/09/12.html>.

32
sua sobrevivência é parlamentarista; se defendessem o povo agora, não poderiam
atuar no parlamento, nem deveriam adentrar as eleições.
E por que não? Resta-nos ver a questão do boicote, que, já está
estabelecido, é uma possibilidade da qual o PC Brasileiro e os partidos
oportunistas não gostam de falar – e muito menos de ouvir. Primeiro analisemos
o que é o boicote na perspectiva leninista. Diz Lênin sobre o boicote da Duma:

Um boicote ativo não significa meramente mantermos-nos fora das


eleições, mas expressa que faremos um extenso uso dos encontros
eleitorais para a agitação e organização dos Social-Democratas. Fazer
uso desses encontros significa ganharmos entrada tanto legalmente
(registrando na lista de eleitores) e ilegalmente, expondo a totalidade
do programa e as perspectivas socialistas, expondo a Duma como uma
fraude e um engodo e convocando para a luta por uma assembleia
constituinte. 26

Saber o que é o boicote, porém, é apenas metade da questão. Devemos saber


porque os bolcheviques boicotaram as eleições àquela época histórica (1906):

Por que nós recusamo-nos a tomar parte nas eleições?


Porque ao participar das eleições nós devemos involuntariamente
promover o credo do povo na Duma e enfraquecer a efetividade de
nossa luta contra esta forma travestida de representação popular.
A Duma não é um parlamento, é uma bastilha empregada pelo
despotismo. Nós devemos denunciar este fortim nos recusando a tomar
qualquer partido nas eleições.27

Ora, devemos ainda esclarecer, para não tomar a posição dissimulada dos
oportunistas, que o motivo para que os bolcheviques não vissem ganho em
participar das eleições era bem claro: a atividade política estava cerceada, os
candidatos corriam mais risco de serem presos ou mortos que de ganharem a
atenção pública. Alguns poderiam dizer que essa não é nossa situação concreta.
E estariam meio certos. Por outro lado, passamos por um golpe em 2016 e em
2018 tivemos uma eleição que deu seguimento a esse golpe. O governo
entreguista e neoliberal de Dilma foi derrubado por não ser entreguista e
neoliberal o suficiente para o império e seus representantes das elites e dentro do
parlamento, foi derrubado e execrado por esses representantes dos interesses
imperialistas internamente como um governo “de esquerda” e “socialista” de

26 LENIN, Vladimir Illich. Devemos nós boicotar a Duma estatal?. MIA, 19 Fev. 2006.

Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/lenin/1906/01/duma.htm>.


27 LENIN, 2006.

33
forma ridícula, mas massivamente divulgada e as eleições se pautaram por este
golpe, foram decididas por ele. As pautas de esquerda, mesmo as reformistas, não
são apenas rechaçadas, mas completamente silenciadas pelo parlamentarismo
farsesco. Desde 2018, antes das eleições, vemos membros de partidos reformistas
mais radicalizados e membros de partidos oportunistas que desenvolvem
trabalhos mais importantes sendo brutalmente assassinados, vemos
revolucionários sendo atacados ainda agora em Rondônia. Sabe-se agora, mais
do que nunca, ou deveria ser sabido, que os EUA podem, a qualquer momento,
interferir em nossa “democracia” e mudar qualquer governante subserviente por
outro que saiba fazer mais truques. Em toda a América Latina os golpes, as
ameaças de golpe, as ameaças militares etc. fazem-se presentes, em todo o
mundo. E, o que é um dado importante e sempre ignorado por esses que pensam
terem superado a tese leninista da contradição entre imperialismo e nação, o povo
não mais vive no início do século XX, século de estabelecimento e cimentação das
democracias formais em muitas nações semi-coloniais e da transição
“democrática” para muitas semi-colônias “descolonizadas” pelos próprios
colonizadores imperialistas. Ignora-se esse dado pois ele não é cômodo, pois os
“revolucionários” dos partidos oportunistas e eleitoreiros precisam crer que o
povo ainda nutre as mesmas ilusões sobre as eleições.
Bastaria que saíssem de suas torres de marfim para conversarem com o
povo para saberem que mesmo quando a esmagadora maioria vota, quase
ninguém nutre esperanças sobre o processo eleitoral. Está na boca de todos que
de dois em dois anos, de quatro em quatro anos, entra um político e sai outro e
são todos eles iguais, corruptos, ladrões. Pensam os aspirantes a politiqueiros que
eles têm de ensinar isso ao povo com sua “pedagogia” revolucionária? Que
empáfia! Dizem alguns ainda que Bolsonaro se elegeu pelo ódio ao PT ou por
qualquer outro motivo, mas, a verdade é que foi, como apenas lobrigou o
dirigente da UJC, eleito pelo próprio ódio à política como ela é feita, foi eleito por
sua promessa populista de acabar com essa política e trazer uma outra, suas
bravatas contra o Congresso, contra o Supremo Tribunal Federal e contra tantos
âmbitos de negociatas foram apenas bravatas, mas a crença bem relativa do povo
nessas bravatas napoleônicas e o apoio a elas indicam que os elementos subjetivos
para a iniciação de uma violência contra o real sistema eleitoreiro, parlamentar e
legal do Estado latifundiário-burguês já florescem no seio do povo. A descrença

34
no reformismo é um dado bom e não mau. Para além disso, o que não diz o
dirigente, quase 31% da população votante escolheu nem ao menos se pronunciar
ativamente na disputa de 2018, 31,3 milhões nem ao menos compareceram às
urnas28, praticando um boicote passivo facilmente radicalizável. Os que ainda
legitimam as eleições de fato estão, mormente, dentro da pequena-burguesia
iludida e vacilante. Que caberia à um partido comunista fazer? Radicalizar
também a essa classe junto ao resto do povo e denunciar pelo boicote a farsa
eleitoral e a farsa da democracia dos cães latifundiários e burgueses burocrático-
compradores! Denunciar o golpe e a nossa posição de subordinação política
frente aos parasitas imperialistas! Que fazem os oportunistas, contudo?
Defendem com unhas e dentes que devem levar ao povo as “pautas socialistas”
mediante o conluio com partidos que defendem, entre todas as pautas mais
atrasadas da pequena-burguesia, a da democracia como valor universal e
ahistórico também! Subordinarem-se a esses partidos pequeno-burgueses
dissimuladamente na busca de um “Poder Popular” onde é pautada uma
“Revolução Solidária” dentro dos limites mais estreitos do parlamentarismo!
Que agitação pretendem fazer? Vejamos o que diz Stalin sobre o boicote,
seguindo o centralismo do Partido brilhantemente e de forma concreta, e
saberemos:

Duas condições são necessárias a uma boa tática social-democrática: a


primeira é que não deve estar em contradição com o curso da vida social
e a segunda é que deve elevar cada vez mais o espírito revolucionário
das massas.
A tática da participação nas eleições está em contradição com o curso
da vida social, uma vez que a vida mina os alicerces da Duma e a
participação nas eleições reforça-a e portanto se contrapõe à vida.
[...]
É evidente que a agitação com fatos tem uma importância muito maior
que o esclarecimento oral. Justamente por isso comparecemos às
assembleias eleitorais populares, onde, em luta com os outros partidos,
nos choques com estes, poderemos demonstrar de maneira palmar ao
povo a perfídia da reação e da burguesia e assim "agitar com fatos" os
eleitores. E se os companheiros não estiverem satisfeitos com isso, se a
tudo isso acrescentarem ainda a participação nas eleições, será preciso
observar que as eleições em si mesmas — a distribuição ou a não
distribuição das cédulas — não acrescentam coisa alguma nem à
agitação "com fatos", nem à "oral". O prejuízo que daí deriva é grande

28KAFRUNI, Simone; FONSECA, Roberto. Votos brancos e nulos batem recorde na


eleição presidencial. Correio Braziliense, 28 Out. 2018. Disponível em:
<https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2018/10/28/interna_politica,715
908/votos-brancos-e-nulos-batem-recorde-na-eleicao-presidencial.shtml>.

35
porque com essa "agitação com fatos" os partidários da participação
aprovam involuntariamente a existência da Duma e assim lhe reforçam
as bases. Como desejam refazer-se os companheiros desse enorme
prejuízo? Colocando as cédulas na urna? Nem vale a pena falar nisso.
[...]
A tática do boicote [...] traça uma fronteira nítida entre os
revolucionários e os não revolucionários que desejam salvar com o
auxílio da Duma as bases do velho regime. E traçar essa fronteira tem
uma grande importância para a educação revolucionária do povo.29

Este texto é escrito na mesma condição do anterior, de Lênin, e já


verificamos como a situação atual justifica um boicote completo do mesmo tipo.
Stalin concretiza aqui uma regra geral da tática comunista: sua adaptação ao
rumo da sociedade, isto é, ao movimento das massas, a radicalização desse
movimento em movimento revolucionário, organizado. O boicote não descarta a
agitação e, dentro de um momento de descrédito mais ou menos geral da
instituição política, é, de fato, uma forma de atuação política na qual a agitação
pode muito melhor se desenvolver. Mas aos fariseus oportunistas não importa o
movimento das massas nem sua radicalização, apenas a “pedagogia”
revolucionária demagógica que lhes garantem os cargos. Assim, diz ainda Stalin:

Dizem: o boicote causará a ruptura entre a massa e o seu destacamento


de vanguarda, uma vez que somente o destacamento de vanguarda vos
seguirá no boicote, enquanto que a massa ficará com os reacionários e
com os liberais, que a arrastarão para o seu lado.
Respondemos que onde se produzir tal fenômeno, isto significa que a
massa simpatiza com outros partidos e em todo o caso não escolherá
como seus delegados os social-democratas, mesmo que participemos
das eleições. Admiti que as eleições, por si só, não podem tornar
revolucionária a massa! No que se refere à agitação pré-eleitoral, esta é
promovida por ambas as partes, com a diferença que os partidários do
boicote promovem uma agitação contra a Duma mais decidida e
implacável do que os defensores da participação nas eleições, porque
uma crítica áspera da Duma pode impelir a massa a abster-se das
eleições. E isso não entra nos planos dos defensores da participação nas
eleições. Se essa agitação tiver êxito, o povo unir-se-á em torno dos
social-democratas e quando estes o convidarem para o boicote
da Duma, o povo seguí-lo-á imediatamente e os reacionários ficarão
sozinhos com seus aristocratas delinqüentes. Se a agitação "não tiver
êxito", as eleições só trarão prejuízo, uma vez que nós, com a tática da
participação na Duma, seremos obrigados a aprovar a atividade dos
reacionários. Como vedes, o boicote é o melhor meio de unir o povo em
torno da social-democracia, onde, está claro, tal união for possível; e
onde ela for impossível, as eleições só trarão prejuízo.30

29 STALIN, Joseph. A Duma de Estado e a tática da social-democracia. MIA, 27 Dez.

2010. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/stalin/1906/03/08.htm>.


30 STALIN, 2010.

36
Que o povo prefira a direita a esquerda, que goste ou não dos comunistas,
conheça-os ou não no plano abstrato deveria ser irrelevante para um partido
compromissado com o povo. O partido deveria saber para onde se move o povo
e, a partir disso, perceber as formas de radicalização possíveis para as pautas
populares ao invés de tentar freia-las aliando-se aos pequeno-burgueses mais
vacilantes. Se o povo vai contra a instituição política latifundiário-burguesa, isso
é bom e deveria ser aproveitado onde for possível. Onde isso não for possível, por
outro lado, os comunistas devem criar as condições para que seja mediante a
denúncia clara e honesta da farsa eleitoral enquanto necessário.
Mas, para que não digam que somos injustos os oportunistas, podemos
falar ainda das condições da participação. O camarada Stalin foi bem claro
também sobre isso:

Diferentemente das eleições de 1907, as eleições de 1912 coincidiram


com um despertar revolucionário entre os operários. Ao passo que
então a onda revolucionária refluía e triunfava a contrarrevolução, em
1912 levantou-se a primeira onda de uma nova revolução. Justamente
por isso, então, os operários foram votar sem entusiasmo e aqui e ali
haviam até boicotado as eleições; haviam-nas boicotado, por certo,
passivamente, mostrando, assim, que & boicote passivo é índice
indubitável de debilidade e depressão. Justamente por isso, agora, na
atmosfera da revolução ascendente, os operários foram votar com
grande interesse, alijando das costas a mole indiferença política. Antes,
mediante grandiosas greves contra as “interpretações”, não obstante
todos os expedientes policialescos e todos os obstáculos, os operários
lutaram para votar, lutaram para obter, e obtiveram, o direito de
participar das eleições. Esse é um índice indubitável de que o torpor
político passou, que a revolução saiu do ponto morto. É verdade que a
onda da nova revolução não é ainda bastante poderosa para tornar
possível que se apresente, suponhamos, o problema da greve geral
política. Mas já é tão forte que em alguns lugares é possível rasgar a teia
de aranha das “interpretações” para tornar mais animadas as eleições,
para organizar as forças do proletariado, para educar politicamente as
massas.31

A Teoria Marxista da Dependência (TMD) é anti-leninista e é a


justificativa para o reformismo, a essência do parlamentarismo

Cessam os oportunistas de negarem o Marxismo-leninismo em suas teses


sobre a participação parlamentar? Não poderiam. De fato, a participação

31 STALIN, 2010.

37
parlamentar é, como já foi dito, a manifestação mais sensível e mais candente dos
erros do PC Brasileiro e dos partidos oportunistas, contudo, a essencialidade do
erro diz respeito à atuação destes partidos e não à fonte teórica de que bebem
grande parte deles. Esta seria a Teoria Marxista da Dependência (TMD), proposta
por Ruy Mauro Marini e companhia desde os interiores da Organização
Revolucionária Marxista Política Operária (POLOP), uma organização
extra-parlamentar de trotskistas e luxemburguistas criada na década de 60 e
originadora de tantas organizações trotskistas, partidárias ou não, quanto se
puder imaginar – sendo ainda adotada a linha da “crítica econômica” da POLOP
também na “corrente” luxemburguista do PSOL, encabeçada pelo revisionista
Nildo Ouriques e em outras “correntes” trotskistas deste partido pequeno-
burguês (e, não deveria ser necessário dizer, plenamente anti-leninista). Talvez
seja importante destacar, já de início, que a POLOP atuou, à época da formulação
de suas teorias, também dentro do PT, inclusive alçando o Partido à um patamar
de futuro partido revolucionário brasileiro ou ao menos como fator necessário do
amadurecimento de classe, como podemos ver em um documento da
organização:

O surgimento do PT mudou a situação e colocou o problema da


formação do partido revolucionário em uma perspectiva mais concreta.
Não é que o PT já seja o partido revolucionário, ou que esteja às
vésperas de sua transformação em semelhante partido. Mas o PT,
produto legítimo das lutas de classe no país, ofereceu-se como
instrumento indicado para levar avante o processo de amadurecimento
e organização política da classe.32

Uma outra característica a que devemos nos atentar sobre essa organização de
oportunistas eleitoreiros é que para eles “As eleições representaram a hora da
verdade”33 no desenvolvimento deste “futuro partido revolucionário” ou fator de
desenvolvimento da consciência de classe. Ora, que isso nos aponta? O caráter
trotskista da POLOP, primeiramente, que é um caráter também anti-leninista. A
este caráter trotskista de teoria organizativa já nos atentamos antes: é a ideia de
que qualquer ligação com as massas significa um avanço, mesmo que essa se dê

32 MARTINS, Ernesto. O PT e o partido revolucionário. In: KAMEYANA, Ceici et al. POLOP:


Uma trajetória de luta pela organização independente da classe operária no Brasil. Centro de
Estudos Victor Meyer: Salvador, 2009. p. 256.
33 MARTINS, 2009, p. 254.

38
sem a orientação de uma teoria revolucionária e leninista34. Assim, se admitem
as teorias pequeno-burguesas e a disputa coloca-se como secundária. Podemos
dizer que o PC Brasileiro atual age de forma diferente? Talvez seja mais do que a
trotskista TMD que adotam eles ou talvez o parlamentarismo infantil seja a
decorrência necessária e inevitável desta teoria reformista, como as ideias de
Martins apontam.
Após apresentar de onde surge a TMD, temos de apresentar o que ela é.
Que dizia Marini sobre o capitalismo na América Latina, ao qual denomina
“dependente” (dando a essa dependência especial conotação)? É fácil resumir sua
teoria em três eixos: i) diz-se que a divisão internacional do trabalho é
monopólica; ii) que a burguesia nas nações “dependentes” é sócia do capital
monopolista, desenvolvendo um capitalismo pleno e desenvolvido internamente;
e iii) que as nações “dependentes” de destaque desenvolvem “sub-imperialismo”
em relação às outras nações “dependentes”. O corolário dessa teoria é a conclusão
que decorre destes três eixos, a tática revolucionária que Marini e seus
companheiros da POLOP viriam a defender, bem como outras organizações
partidárias revisionistas: que o socialismo deve ser buscado “desde já”35. Ora,
apenas por essa conclusão já poderíamos denotar o caráter anti-leninista da
TMD, mas prossigamos por enquanto na análise de suas premissas.
Ora, é legítimo dizer que uma nação como a nossa, na visão de Marini
simplesmente “dependente”, tem seu capitalismo plenamente desenvolvido e
entra na lógica do capital monopolista, do imperialismo, por sua parte? Que
praticamos algum tipo de sub-imperialismo? Justifica-se dizer que
abandonamos completamente todas as características semi-feudais presentes em
nossa nação, segundo a TMD, entre os séculos XVI e XIX? Justifica-se a confusão
deliberada entre o que os maoístas chamam de pequenos e médios burgueses com
a burguesia burocrática e compradora? Ao analisarmos quais pensadores
concordam com o caráter dependente da América Latina, já temos por certo que
não há linha alguma traçada entre o inimigo e o caráter “marxista” da teoria senão

34 AMAZONAS, João. O trotsquismo, corrente política contra-revolucionária. MIA, 22


Mar. 2016. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/amazonas/1984/05/01.htm>.
35 SOUZA, Davi. Teoria “Marxista” da Dependência: A raiz do reformismo brasileiro

(parte I). Davi Souza, 21 Jul. 2020. Disponível em:


<https://medium.com/@davi.souza6991/teoria-marxista-da-dependência-a-raiz-do-
reformismo-brasileiro-parte-i-8956b73fc497>

39
a tênue linha da proclamação de uma “necessidade revolucionária” e do
“socialismo sem etapas” que é apenas isso, um grito agonizante dos oportunistas,
uma vez que Fernando Henrique Cardoso e José Serra foram adeptos das ideias
essenciais da teoria, excetuando-se aquelas que tinha maior verniz
revolucionário. A história daria conta de derrotar praticamente a TMD com o
golpe contra Allende, adepto da teoria, com a crise da dívida externa, com a
recessão econômica e seus efeitos na América Latina, como o abandono dos
programas desenvolvimentistas e com as contrarreformas de FHC. O Consenso
de Washington poderia ter jogado a última pá de cal nessa teoria já em 1990,
contudo, os seus “pensadores” continuaram a defende-la. Apesar de exporem o
caráter nada dialético da “dialética da dependência”, essas informações, por si só,
não respondem ainda as nossas perguntas. Então, respondamo-las.
Para responder a primeira pergunta, devemos nos perguntar que é capital
financeiro. A resposta será que o capital financeiro é a junção do capital industrial
ao capital bancário, que essa fusão gera os monopólios e seu domínio sobre a
economia mundial, fazendo surgir uma oligarquia financeira, que a exportação
de capitais excedentes para as nações oprimidas toma precedência frente à
exportação de excedentes de mercadoria (e esses capitais são apropriados pela
burguesia compradora), gerando superlucros, que o capital financeiro encontra
seu terreno fértil na formação de carteis, trustes etc. a nível internacional e que,
pelo lado do conjunto das nações oprimidas, subdesenvolvidas, tidas como
dependentes por Marini, ocorre uma repartição completa do mundo entre as
potências imperialistas, formando territórios econômicos e territórios políticos
subordinados a nível nacional. Os atos de agressão que garantem essa transição
das colônias ou de países independentes para a posição de territórios econômicos
do imperialismo visam garantir o seu caráter de território político, isto é, seu
posicionamento semi-colonial frente às potências36. Podemos dizer, olhando para
a situação atual, que as guerras de agressão e as interferências do imperialismo
nessas nações tendem ao aumento da concentração de poder nos centros
imperialistas mundiais, como os EUA e a Alemanha, causando mesmo embates
de interesses entre nações imperialistas e anunciando um possível conflito inter-
imperialista num futuro não tão distante.

36SISON, José Maria. O imperialismo estadunidense e a resistência popular nas


Filipinas. Revista Nova Cultura, nº 4, Abr. 2014. p. 31.

40
Mas isso ainda não comprova que não somos uma nação capitalista
desenvolvida e que não desenvolvemos o capital financeiro nacionalmente para
os adeptos da TMD. Não basta a eles a confirmação na realidade das palavras de
Mariategui, que dizia categoricamente que a penetração do capitalismo nas
nações latino-americanas apenas acentuava seu caráter semi-colonial. Dirão que
está superado esse ponto de vista. Que dizemos nós, então? Que toda a penetração
externa do capitalismo no Brasil, todo o desenvolvimento interno do capitalismo,
apenas acentuou nossa subordinação econômica e política frente ao império e
isso é coisa indiscutível, dado as eras de Juscelino Kubitschek, da ditadura, que
temos uma grande burguesia aliada ao latifúndio e ao imperialismo e que essa
burguesia se prostitui e prostitui nossas riquezas e nosso povo ao imperialismo.
Sem o surgimento de uma burguesia autônoma, sufocados primeiro pelo
monopólio comercial colonialista e depois pelo monopólio comercial de novo
tipo, imperialista, sem uma revolução burguesa minimamente apreciável,

O capitalismo se desenvolve no Brasil sob completa hegemonia do


capital financeiro e exportação de capitais, fruto da política colonial dos
países imperialistas. Os capitais estrangeiros sugam as matérias
primas, força de trabalho e capacidade de consumo da nação,
remetendo para as matrizes os lucros aqui gerados. O Estado burguês-
latifundiário se alia aos capitais imperialistas e transferem as pesadas
arrecadações oriundas de impostos e taxações sobre o povo, aos bancos
e às empresas transnacionais. Constitui-se uma burguesia subalterna
ao imperialismo, associada, alimentada com recursos públicos.
Chamamos esta burguesia de burguesia burocrático-compradora ou
grande burguesia.37

As nossas empresas e conglomerados de empresas, por desenvolvidos que


sejam, e nunca atingem o desenvolvimento de um conglomerado realmente
imperialista, são plenamente subordinadas ao capital financeiro imperialista. A
grande maioria dessas empresas e conglomerados são de capital aberto e, mesmo
quando a penetração do capital dos burgueses compradores e burocráticos do
Brasil é maior, ela não é nacional, eles agem em sua maioria como testas de ferro
para os capitalistas norte-americanos, alemães etc. Assim, é ilegítimo dizer que
essas empresas integram de modo nacional a economia imperialista. Integram a
economia imperialista, de fato, mas apenas na medida em que são controladas
pelos imperialistas das nações da centralidade, que geram superlucros para eles

MARTINEZ, Gabriel. Crítica ao “etapismo” ou confusão revisionista?. Revista Nova


37

Cultura, nº 1, Fev. 2014. p. 7.

41
e que não apresentam qualquer sombra de possibilidade de concorrerem com as
empresas e conglomerados monopolistas do imperialismo.
Aliado a isto, está um fato muito simples que os oportunistas reformistas
da TMD negam de forma mecânica, peremptória e ridícula: as relações de
exploração pré-capitalistas não deixaram de existir no campo. O latifúndio
técnico que substituiu entre 60-80 o latifúndio tradicional não excluiu a essas
formas e as aprofundou relativamente. Os latifundiários brasileiros detêm em
suas mãos 318 milhões de hectares de terra e mais da metade destas, 55%, é
improdutiva; os trabalhos análogos à escravidão, o trabalho servil dos
arrendatários e sub-arrendatários (meeiros, terceiros, quartistas e percentistas),
tão desonestamente chamado de agricultura familiar por aqueles que buscam o
justificar ou dar-lhe verniz moderno, dos trabalhadores em regime de barracão
(trabalho por dívida), entre outras formas pré-capitalistas de exploração que
negam a proletarização completa no campo, são ainda problemas que convivem
muito bem com a transformação da forma das propriedades rurais em
propriedades dos burgueses burocráticos e compradores brasileiros ou do capital
monopolista estrangeiro e servem essas contradições aos interesses do
imperialismo38. Para além disso, as formas de repressão policialesca e política no
campo recorrentemente retomam as práticas mais atrasadas e feudais de
organização social, demonstrando a incapacidade da tensão entre cidade e campo
afirmadas, pelo não-desenvolvimento da economia industrial, de gerar o
progresso na sociedade e de integrar os processos de desenvolvimento nos dois
extremos da sociedade.
Nossa nação, enquanto produtora de matéria prima e de alimentos, produz
para exportação, vendendo barato o que os escravos e servos, o que os operários
produzem, e compra de volta os produtos de maior valor agregado à preços
algumas vezes exorbitantes, no caso de tecnologias e algumas mercadorias, e em
outras à preços menores, reafirmando-se o monopólio comercial também aí.
Nosso mercado interno e o desenvolvimento independente de nossa indústria e
de nosso campo não ocorre de nenhuma forma palpável e minimamente linear.
Desenvolve-se a indústria conjunturalmente, o campo também, as relações de

38SOUZA, Jaílson de. Latifúndio e servidão: irmãos siameses. A Nova Democracia, Jul.
2020. Disponível em: <https://anovademocracia.com.br/no-233/13664-latifundio-e-servidao-
irmaos-siameses>.

42
exploração no campo permanecem sempre atrasadas, mesmo com a
proletarização também ocorrendo. Não se trata, portanto, de negar o
desenvolvimento do capitalismo, apenas de dizer que esse capitalismo não nos é
próprio nem nacional, muito menos plenamente desenvolvido.
Já se encontra respondida, portanto, a pergunta sobre o nosso pretenso
caráter sub-imperialista, que seria o sustentáculo da ideia de que desenvolvemos
capitalismo monopolista e da ideia correlata e decorrente de que nossa grande
burguesia tem algum interesse em ou capacidade de tornar-se autônoma frente
ao capital monopolista das nações imperialistas (ora, onde está a busca dessa
burguesia do desenvolvimento da indústria pesada, da indústria militar,
principalmente, que eram condições sine qua non do sub-imperialismo para o
teoricista Marini?). Não desenvolvemos sub-capitalismo e, de fato,

Mesmo a presença dos capitais nacionais em outros países é mínima, se


comparado com a presença do capital estrangeiro no país [...] todo o
desenvolvimento capitalista que por aqui se deu, obedeceu a lógica do
desenvolvimento dos países imperialistas centrais”39.

Devemos ainda desfazer a confusão entre a grande burguesia burocrático-


compradora e a pequena e média burguesia, burguesia nacional, que fazem os
adeptos da TMD. Vejamos a visão de Mao sobre a burguesia nacional:

Mao definia a burguesia nacional chinesa como pequena e média


burguesia, classe que estava em contradição com o imperialismo, que
possuía, porém, um caráter dual: da mesma maneira que possuía
contradições com o imperialismo, temia o proletariado e a possibilidade
de uma revolução proletária. Essa definição explica muito bem a atitude
da burguesia nacional em diversos países asiáticos e latino-americanos,
não somente no século XX, mas também em nossos dias. E ao contrário
do que alguns possam pensar, essa não era somente a visão de Mao Tsé-
tung a respeito da realidade particular da China, mas sim de todos os
países dominados pelo imperialismo.40

A pequena e média burguesia, a burguesia nacional, não auferem seus lucros da


aliança com o imperialismo, nem desenvolvem essas franjas de classe
internamente, em suas propriedades, as relações de subordinação voluntária ao
capital financeiro estrangeiro. Elas se colocam contra o imperialismo na questão
do desenvolvimento do capitalismo nacional, que foi deformado pela penetração

39 MARTINEZ, 2014, p. 10.


40 MARTINEZ, 2014, p. 7.

43
imperialista, e podem estar contra ou a favor do proletariado e dos camponeses,
tendo caráter vacilante, na questão da revolução nacional e da revolução
socialista. Vemos bem como essas classes não são confiáveis e devem estar
subordinadas ao proletariado e aos camponeses, mas também vemos que não
compõem, necessariamente, as fileiras inimigas em relação ao imperialismo. Sua
maior ou menor adesão ao progresso deve ser pesada e a forma de tratarmos a
essas classes é assim definida, não se excluindo qualquer opção mecanicamente
e sendo sempre necessário o embate contra suas ideologias mais vacilantes e mais
reacionárias, bem como a atenção aos seus caminhos, por vezes, traiçoeiros.
Assim, dado caráter subordinado e incompleto do desenvolvimento do
capitalismo nacional e dada a suserania do imperialismo frente à nossa grande
burguesia, dado ainda o não-desenvolvimento, estagnação e perene destruição de
nossa burguesia nacional, devemos bater mais um prego no caixão da TMD (a
realidade a enterrou antes mesmo de ser formulado, mas insistem em tentar
reanimar o cadáver), pois:

Uma coisa é falar do desenvolvimento do capitalismo –


desenvolvimento este que não destruiu os elementos pré-capitalistas no
campo e neles se apoiam - outra coisa totalmente diversa é falar em
revolução burguesa dirigida por esta classe, pois tal tipo de revolução,
na etapa do imperialismo, já passou à história. Nos países em que a
revolução burguesa se processou desse modo, pelo alto, mesmo com a
aliança feita com os velhos elementos das classes dominantes e feudais,
gigantescas mudanças estruturais, como a Reforma Agrária, foram
efetuadas e a burguesia desses países converteram-se, de maneira
autônoma, em classes dominantes.41

Existem ainda mais dois a serem batidos: o caráter anti-leninista da teoria


(e pelo que foi discutido já comprovamos a atualidade do leninismo nessa
questão) e o seu caráter trotskista – não que uma coisa e outra não sejam a mesma
coisa no fim, como já provaram tantos textos de revolucionários consequentes,
mas, aos oportunistas que gostam de se disfarçarem de marxistas-leninistas
parecem não ser. Vejamos então o que dizem as teses leninistas sobre a situação
mundial frente ao desenvolvimento do imperialismo e como classificam essas
politicamente as nações oprimidas, dando ao mesmo tempo suas características
econômicas:

41 MARTINEZ, 2014, p. 9.

44
[...] o imperialismo tenta preservar e perpetuar as formas pré-
capitalistas de exploração (especialmente nas aldeias) que servem de
base à existência dos seus aliados reaccionários…
O aumento das fomes e das epidemias no seio do campesinato pobre; a
expropriação em massa da terra da população nativa, as condições de
trabalho desumanas (nas plantações e nas minas dos capitalistas
brancos, etc. …) que chegam a ser piores dos que as da escravatura
explícita – tudo isto exerce um efeito devastador sobre a população
colonial e conduz mesmo à morte de nações inteiras. A “missão de
civilização” dos Estados imperialistas nas colónias é na realidade a
missão de um carrasco.
[...]
A exploração capitalista em cada nação capitalista desenvolveu forças
produtivas. As formas coloniais específicas de exploração capitalista
impedem sempre o desenvolvimento das forças produtivas das
colónias, quer elas sejam manobradas pela burguesia Britânica,
Francesa ou por qualquer outra. As únicas construções feitas (caminhos
de ferro, portos, etc. …) são aquelas indispensáveis para o controlo
militar do país, para garantir o funcionamento da máquina fiscal e para
as necessidades comerciais do país imperialistas…
[...]
[...] a partir do momento em que a exploração colonial pressupõe algum
encorajamento da produção colonial, ela é dirigida segundo linhas que
promovem e correspondem aos interesses da metrópole, e aos
interesses da preservação do seu monopólio colonial. Parte do
campesinato pode ser encorajado a plantar algodão, açúcar ou borracha
(no Sudão, em Cuba, em Java e no Egipto, etc.), mas isto é feito de
maneira a que não promova o desenvolvimento económico
independente do país colonial, mas pelo contrário, intensifica a sua
dependência relativamente á metrópole imperialista...
A verdadeira industrialização do país colonial – em particular a
construção de uma indústria que promova o desenvolvimento
independente das forças produtivas, é impedida e desencorajada pela
metrópole. Esta é a essência da escravização imperialista: o país
colonial é obrigado a sacrificar os interesses do seu desenvolvimento
independente e a transformar-se em apêndice econômico (agrário, de
matérias-primas, etc.) do capitalismo estrangeiro.
[...]
Por causa da intervenção imperialista (imposição de impostos,
importação de produtos industriais da metrópole, etc.), a
transformação das economias rurais em economias de dinheiro e de
mercadorias que causam o empobrecimento do campesinato, a
destruição da indústria artesanal, etc. avança muito mais rapidamente
do que nos países capitalistas. Por outro lado, a falta de
desenvolvimento industrial coloca limites á proletarização.
A enorme desproporção entre a rápida destruição das velhas formas
econômicas e o desenvolvimento lento das novas deu origem a fomes, a
sobrepovoação agrária e à extrema fragmentação da terra cultivada pelo
campesinato na Índia, na China, Na Indonésia, no Egipto, etc.…
As tentativas para introduzir reformas agrárias sem prejudicar o regime
colonial pretendem converter gradualmente o proprietário semi-feudal
no proprietário capitalista, criando assim uma classe de Kulaks. Na
prática, isto apenas conduz a uma maior pauperização da imensa
maioria dos camponeses e à paralisação do desenvolvimento do

45
mercado interno. É com base nestes processos económicos
contraditórios que as forças sociais mais importantes dos movimentos
coloniais se estão a desenvolver.
[...]
Durante o período do imperialismo, o papel desempenhado pelo capital
financeiro para conquistar o monopólio político e económico sobre as
colónias é particularmente importante. Isto é demonstrado pelos
números que traduzem a exportação do capital para as colónias. O
capital é usado primariamente no comércio; as suas funções são agiotas
e procuram preservar e fortalecer a máquina imperialista de repressão
do país colonial (através de empréstimos estatais, etc.) ou através do
controlo exercido sobre os órgãos dos estados semi-coloniais
governados pela burguesia nativa que são alegadamente
“independentes”.
A exportação de capital para as colónias acelera o desenvolvimento das
relações capitalistas. A parte que é investida na produção acelera até
certo ponto o desenvolvimento industrial; mas isto não promove a
independência; a intenção é antes a de aumentar a dependência da
economia colonial relativamente ao capital financeiro do país
imperialista...
A forma favorita de investimento agrícola são as grandes plantações
com o propósito de produzirem comida barata e de monopolizarem
grandes quantidades de matérias-primas. A transferência para as
colónias da maioria da mais-valia extorquida da mão-de-obra barata
dos escravos coloniais atrasa o crescimento da economia colonial, o
desenvolvimento das suas forças produtivas e constitui um obstáculo à
sua emancipação económica e política.42

Resta ainda alguma dúvida, tendo-se que esses problemas estão ainda
presentes nas nações oprimidas, todos eles, do caráter anti-leninista da TMD?
Qual teria sido o motivo para o nosso querido quadro afirmar que a TMD é um
seguimento do leninismo e uma superação destas teses da III Internacional se a
realidade objetiva onde elas revolucionariamente se desenvolveram não foi ainda
essencialmente superada? Oportunismo? Isso dirá o tempo e o povo melhor que
nós. O fato é que o Marxismo (ele diria não-arejado) não aceita confusões e
desonestidades teóricas e os marxistas não deveriam as aceitar, não deveriam as
propagar, não deveriam as ouvir senão com o mais crítico dos ouvidos. Nosso
querido quadro incorre numa inverdade completa para promover a linha
“revolucionária” de seu partido oportunista e eleitoreiro, a linha da estagnação.
O PC Brasileiro vem a adotando há algum tempo, sendo que ela foi criada de
forma revisionista no combate ao revisionismo kruschevista e eurocomunista do
PCB histórico, dando seguimento aos desenvolvimentos da
trotskista/luxemburguista POLOP. Que isso denuncia? Que o PC Brasileiro só

42 INTERNACIONAL COMUNISTA, 2014.

46
corrige seu revisionismo com mais revisionismo. Aceitaram eles as críticas dos
verdadeiros revolucionários maoístas que deram o sangue para o fim da ditadura
com que foram coniventes e aceitam agora a crítica dos maoístas que lutam a
guerra do povo? Não poderiam, dado o caráter oportunista do partido. Neste
sentido, a própria POLOP teve maior integridade, pois à época da ditadura
defendeu a luta armada, mesmo com concepções organizativas e perspectivas
teóricas errôneas.
Mas devemos estar atentos. O caráter trotskista da organização que
desenvolveu a “dialética da dependência” não é o suficiente ainda aos
oportunistas para que classifiquemos como trotskista a própria teoria! Não,
precisam de mais. Felizmente eles mesmos nos dão o que precisam, em seu
funambulismo oportunista. Nas decisões congressuais do PC Brasileiro, a teoria
do “desenvolvimento desigual e combinado”, do próprio Trotsky, consta como
termo utilizado diversas e diversas vezes. E por que isso? Essa tese é uma das
bases da TMD, influenciou seu desenvolvimento. Que tese é essa? A tese que,
contra toda a realidade, tenta afirmar que os elementos mais desenvolvidos do
capitalismo são inseridos nas nações subdesenvolvidas junto aos elementos de
atraso, isto é, que convivem as formas mais avançadas, as tecnologias avançadas
e todo o mais, junto com as formas menos avançadas. Tal teoria é simplista e
relativista, não dá conta da dinâmica completa de produção nas nações
oprimidas, despreza o papel do imperialismo e ainda move-se em direção oposta
à do leninismo ao desconsiderar a classificação política das nações oprimidas
como semi-colônias e a crítica da semi-feudalidade, aqui na América Latina
construída primeiramente por Mariátegui – outro pensador que nosso quadro
gosta de falsificar –, sendo sua conclusão mais aceita no campo do que deveria
ser uma revolução proletária a “Revolução Permanente”, tese historicamente
derrotada e renegada, tal como Trotsky, sabotador da revolução, informante do
nazi-fascismo.
Como poderia ser “mais evoluída a parte mais desenvolvida” da economia
capitalista numa nação como o Brasil? Que justifica essa afirmação? Decerto não
o fato de que uma de nossas maiores companhias estatais, a Petrobrás, refina seu
petróleo alhures para o comprar de volta! Decerto não o fato de que em nosso
campo tecnologias mais ou menos avançadas convivem bem com formas pré-
capitalistas de exploração do trabalho! Decerto não o fato de que as maiores

47
empresas e conglomerados de empresas administradas pela grande burguesia
brasileira são beneficiárias e subordinadas ao imperialismo! Decerto não o fato
de que o campo e a cidade não foram aqui, como nas nações imperialistas,
reunidos pelos desenvolvimentos do imperialismo e pelo desenvolvimento
tecnológico da agricultura! Seria o fato de que nossos insumos agrícolas e as
demais tecnologias aplicadas no campo são pelos latifundiários comprados dos
monopolistas e que isso aumenta ainda mais a monopolização da terra e a
concorrência interna às classes exploradoras que gera essa monopolização? Ora,
isso corrobora exatamente o contrário, a tese da semi-colonialidade! O
trotskismo, mais uma vez, se prova inútil e confuso, vacilante como o homem que
lhe dá nome. Mas, vejamos agora como essas teses atuam para promover o
parlamentarismo tosco.
A TMD, utilizada para negar a necessidade de um esforço primeiro contra
os resquícios de feudalismo em nossa sociedade e, principalmente, contra o
imperialismo e seus títeres nacionais, para que seja superada a contradição
dirigente do mundo, explicada pelo leninismo que os oportunistas fingem
defender como a contradição entre imperialismo e nação, aponta para um
socialismo “desde já” muitas vezes, mas esse socialismo desde já será buscado
depois, quando o “momento não for contrarrevolucionário”, segundo a tese do PC
Brasileiro, quando os trabalhadores forem ensinados pela “pedagogia
revolucionária” a se tornarem todos adeptos do oportunismo e das pautas
pequeno-burguesas de seus aliados, contra as quais não imprimem o menor
combate em nome da política de boa vizinhança – liberalismo puro e simples.
Será buscada a revolução quando todos os operários que se subordinam à
exploração das multinacionais que dominam a economia brasileira descobrirem
subitamente que vivem numa nação de capitalismo desenvolvido nacionalmente;
quando todos os engenheiros da Petrobras que desperdiçam seus currículos e
suas formações aprenderem que os elementos mais avançados do capitalismo
estão à sua porta e eles apenas não viam; quando a venda massiva de ativos da
Petrobras passar a significar, magicamente, a busca da autonomia econômica e o
sub-imperialismo que preconizava Marini; quando os camponeses... bem, o PC
Brasileiro não leva em conta os camponeses, são uma não-classe, senão quando

48
concordam com as teses de Marini (daí a grande solidariedade ao MST 43 e o
desprezo à LCP), mas, seguindo a “crítica” ao maoísmo, e ao leninismo,
consequentemente, os camponeses deveriam aprender que, de fato, não são
explorados de forma pré-capitalista, que não vivem sob regime de barracão ou
sob a “agricultura familiar” da fome; a burguesia nacional (pequena e média
burguesias), por seu lado, deve aprender que está em par de igualdade com os
grandes burgueses... exceto quando está sendo representada pelo PSOL. E que se
faz enquanto esse grande projeto pedagógico não é concretizado? Disputam-se as
eleições! Grande diferença da tese da POLOP sobre o PT enquanto possível
partido de vanguarda que isso tem. É nisso que resulta o “Marxismo arejado”?
Pois nos lembra muito esse resultado qualquer tática liquidacionista,
kruschevista ou eurocomunista, a diferença estando nas palavras utilizadas e não
na prática – e essa diferença nas palavras, já sabemos, é a verdadeira tática dos
oportunistas para manter exatamente onde está o regime explorador pelo engano
dos incautos.

43Ver: ASSUNÇÃO, Matheus Gringo de. Ruy Mauro Marini e a teoria marxista da
dependência. MST, 5 Jul. 2020. Disponível em: <https://mst.org.br/2020/07/05/ruy-
mauro-marini-e-a-teoria-marxista-da-dependencia/>.

49
Revolução como miragem ou Revolução de
Nova Democracia anti-imperialista e ininterrupta
até o socialismo?

A revolução como miragem e a crítica do “etapismo”: negação


do leninismo e de todo o Marxismo

Já vemos que a tão clamada “revolução como horizonte” que o nosso


querido quadro e os embusteiros de seu partido proclamam não é mais que uma
revolução como miragem, que o horizonte que veem eles é um de
parlamentarismo, que subordinam eles a causa revolucionária às mais ridículas
pautas (a da vez é a Revolução Solidária de Boulos, retiram suas candidaturas
fadadas ao fracasso da disputa por ela!) e sujam o nome de Lênin em nome do
“leninismo” ao defenderem sua disputa parlamentar com base em teses
interpretadas ao gosto do oportunismo, que negam todas as partes essenciais da
revolução de tipo leninista e focam-se nessa parte não-essencial: a da disputa
parlamentar, que as táticas mais que admitidas do boicote e da participação junto
ao boicote não são ao menos discutidas e que a intrujice reformista que já fora
denunciada pela III Internacional como um problema do desenvolvimento do
parlamentarismo não é combatida, mas elevada ao status de coisa revolucionária
pelo PC Brasileiro, enquanto as alianças com um partido pequeno-burguês não-
revolucionário, igualmente denunciadas pela III Internacional, são concebidas
como fator de construção do “Poder Popular”. Já vemos claramente que a TMD,
sobre a qual constroem sua “estratégia revolucionária”, tem bases anti-leninistas,
trotskistas e surreais, que a própria realidade já deu conta de torna-la obsoleta no
momento de sua formulação, que suas teses são utilizadas apenas como ponto de
apoio para o parlamentarismo barato. Já vemos que o PC Brasileiro nunca
abandonou o kruschevismo, e onde o abandonou parcialmente, foi para admitir
revisionismos de novo tipo, como o eurocomunismo e, mais recentemente, a
TMD e a tese do desenvolvimento desigual e combinado.
Quais são as teses leninistas para as revoluções nas nações oprimidas pelo
imperialismo, coloniais e semi-coloniais? Sem embargos ou rodeios elas dizem:

50
[...] há uma possibilidade objectiva de um caminho não-capitalista de
desenvolvimento das colônias atrasadas – e essa possibilidade traduz-
se na transformação da revolução democrático-burguesa na revolução
proletária e socialista com a ajuda da ditadura proletária vitoriosa. No
contexto das condições objectivas favoráveis, esta possibilidade será
convertida em realidade, e o caminho para o desenvolvimento é
determinado apenas pela luta.44

A este caminho recusam os oportunistas, dizem que isso “caducou”, que a etapa
da revolução democrático-burguesa já foi atingida (por qual revolução
democrático-burguesa?) e que os que de fato lutam em suas nações e aqui no
Brasil estão malucos. São doidos desvairados os que reclamam uma revolução
agrária no Brasil para os oportunistas, pois essa, nunca tendo acontecendo, já
aconteceu e a TMD explica que aconteceu apesar da realidade. Que bela teoria
essa que determina a verdade das coisas independente de como elas são! Hegel
estaria feliz com o andar dos “marxistas” (e do marxiano de suspensório) do PC
Brasileiro. Mas ajamos como se a realidade importasse mais que a teoria, como
os indoutos que somos, e continuemos a analisar quais são as tarefas
democrático-burguesas segundo a III Internacional leninista:

as tarefas básicas gerais da revolução democrático-burguesa nas


colónias e nas semi-colónias devem ser concebidas da seguinte forma:
a. Mudança da relação de força a favor do proletariado;
emancipação do país do jugo do imperialismo (nacionalização das
concessões estrangeiras, dos caminhos de ferro, bancos, etc.) e o
estabelecimento da unidade nacional nos casos em que esta ainda não
exista; derrube do poder das classes exploradoras nas quais o
imperialismo se apoia; organização dos Sovietes de operários e de
camponeses e de um Exército Vermelho; estabelecimento da ditadura
proletária e do campesinato; consolidação da hegemonia do
proletariado;
b. Levar a cabo a revolução agrária; libertar os camponeses de todas
as formas de exploração e de opressão coloniais e pré-capitalistas;
nacionalização da terra; medidas radicais para melhorar a situação do
campesinato com o propósito de estabelecer a união económica e
política entre o campo e cidade;
c. Em paralelo com o desenvolvimento da indústria, dos
transportes, etc. e com o crescimento do proletariado, a extensão dos
sindicatos, o fortalecimento do partido comunista e a conquista de uma
situação firme entre as massas trabalhadoras, o dia de trabalho de oito
horas.45

44 INTERNACIONAL COMUNISTA, 2014.


45 INTERNACIONAL COMUNISTA, 2014.

51
Arguirão os oportunistas que qualquer destas coisas foi conquistada
mesmo sem o caráter proletário que lhes imprime o leninismo? Terão tal
desfaçatez? Nem mesmo a carga horária de trabalho de oito horas! O reformismo
é tão falho que ao menos que o trabalhador venda todos os seus domingos, exceto
um, no mês, a carga horária de trabalho aumenta em quase uma hora para além
do que é, em tese, permitido por lei, com jornadas de 12h ou mais podendo
também ocorrer por meio de acordos, com horas extras não sendo pagas de
acordo com a lei. E nossa economia cada vez mais vai para a mão dos americanos,
dos noruegueses, dos alemães... Que dirão os oportunistas? Sigamos na análise
das teses:

Juntamente com a luta de libertação nacional, a revolução agrária


constitui o eixo da revolução democrático-burguesa nos países coloniais
mais avançados. É por isso que os comunistas devem seguir o
desenvolvimento da crise agrária e a intensificação das contradições de
classe no campo com a maior atenção possível; eles devem fornecer
uma direcção revolucionária consciente ao descontentamento dos
operários e ao movimento camponês, dirigindo-o contra exploração e a
opressão imperialistas e contra o jugo das condições pré-capitalistas
sob as quais a economia camponesa sofre, declina e perece.46

Aqui já se descabelam os oportunistas com gritos de “Caducou! Foi


superado!” novamente. Seria preguiça, covardia ou simples revisionismo? O PC
Brasileiro diz:

[...] no campo [...] predomina a proletarização promovida pela grande


produção agrária oligopolista (o chamado agronegócio) associada à
formação de um proletariado precarizado, combinadas ou não com a
pequena propriedade dedicada à agricultura familiar ou com formas
coletivas de trabalho (cooperativas, assentamentos), as quais cada vez
mais são forçadas a se vincular ao mercado e à lógica do capital.47

Chamam eles ao regime de exploração de arrendatários e sub-arrendatários que


torna famélico grande parte do povo brasileiro de “agricultura familiar”!
Desconsideram o regime de barracões! Fingem que a escravidão é algo acidental!
Tudo isso para negarem o leninismo do qual fingem serem bastiões em suas rixas
caricatas com o PCdoB. E o pior é que chamam a negação estapafúrdia e
escancarada de superação (e aqui até mesmo Hegel se entristeceria já). Não se

46INTERNACIONAL COMUNISTA, 2014.


47PCB. A estratégia e a tática da revolução socialista no Brasil. PCB, 12 Ago. 2014.
Disponível em: <https://pcb.org.br/portal2/6591/resolucoes-do-xv-congresso-do-pcb/>. p. 2.

52
fala um “a” da unidade entre proletários e camponeses em todo o documento do
PC Brasileiro, enquanto as teses deixam claro que “O campesinato – como aliado
do proletariado – é uma força condutora da revolução”48 e que

O campesinato só pode atingir a sua emancipação sob a liderança do


proletariado, enquanto que o proletariado só pode conduzir a revolução
democrático-burguesa á vitória se estiver em união com o
campesinato49.

Assim seguem os oportunistas, enganando aos seus militantes de base,


cooptando quadros e mais quadros para a defesa acrítica das teses errôneas para
a revolução que conspurcam o nome do leninismo ao tentarem se passar por
desenvolvimentos do leninismo, engasgando em suas próprias palavras, unindo-
se aos elementos reacionários e eleitoreiros de partidos pequeno-burgueses e
trotskistas para praticarem sua “pedagogia revolucionária” que só chega nas
universidades e em alguns poucos sindicatos, para além do YouTube. Uma
autêntica revolução leninista em uma semi-colônia do imperialismo, como é o
Brasil, vitimado cada vez mais pelos ataques neoliberais e neocoloniais dos EUA,
depende da aliança entre operários e camponeses, da formulação correta da
questão agrária, da revolução agrária, de um partido com composição de classe
clara, da crítica às pautas pequeno-burguesas atrasadas, da subordinação das
pautas pequeno-burguesas aos interesses da classe trabalhadora. Nada disso faz
o PC Brasileiro, nada disso prepara ele, seja como luta ativa ou mesmo como
teoria. A estagnação carcomeu qualquer sombra de leninismo no partido e sua
reconstrução foi uma tentativa desesperada de embarcar na onda petista, que
apenas os levou mais longe do objetivo final, ao qual nem mais lobrigam de suas
torres de marfim.
É fato que dizem também que nós, maoístas, estamos errados e que Lênin
e a III Internacional leninista esteve errada em todas as suas formulações. Surge
novamente nosso espantalho do “etapismo” e já passa da hora de darmos cabo
dele. À revolução de caráter mesmo leninista, uma vez que as bases maoístas se
encontram nela e essencialmente as tarefas democráticas foram por ela definidas,
o nosso querido quadro vem chamando de uma tentativa de se implantar “mais
capitalismo” no Brasil. Seria isso um fato? Diz ele ainda que a “burguesia

48 INTERNACIONAL COMUNISTA, 2014.


49 INTERNACIONAL COMUNISTA, 2014.

53
nacional” (ele sabe o que é a burguesia nacional?) é nossa aliada maior ou ao
menos faz crer que por vermos a possibilidade de aliança com a burguesia
nacional somos ou seriamos ultimamente à ela subordinados, que daríamos
prioridade aos acordos com a burguesia. Aqui encontramos talvez a raiz da
mentira reacionária sobre “Os Dez Mandamentos de Lênin”, tendo em conta o
“leninismo” de nosso querido quadro e do PC Brasileiro que nos acusa de fazer
algo que eles mesmos vêm fazendo de dois em dois anos, que fazem agora ao
construírem com o PSOL o “Poder Popular”, a “Revolução Solidária” e a
“revolução cultural” antes da revolução por intermédio da “pedagogia
revolucionária”.
O nosso querido quadro vai além mesmo do que anunciam os oportunistas
de seu partido, dizendo abertamente exatamente o que o partido diz em teoria e
ação. Ele é o defensor do Marxismo arejado, crê que as teses leninistas e seu
desenvolvimento científico revolucionário podem ser descartados
impudicamente pois não existem “faróis do Marxismo” de fato; não existe, em
suas palavras, uma “verdade revelada”, crê ele que um Togliatti é tão aproveitável
(por que não seria para parlamentaristas inveterados?) quanto um Trotsky e um
Trotsky tanto quanto um Lênin (não um Stalin, pois ele, segundo o quadro, nada
teve que ver com o desenvolvimento do Marxismo-leninismo). O “Marxismo
arejado” ou Marxismo freestyle do estimado quadro ainda assim reclama o
“centralismo democrático” leninista! Qual centralismo democrático? Não é
possível o centralismo democrático num partido que nega em todos os âmbitos o
leninismo e adota apenas citações soltas de Lênin para justificar suas mentiras
parlamentaristas. O “Marxismo arejado” do valoroso quadro considera que
existem vantagens palpáveis mesmo em um partido de tendências como o de seus
aliados pequeno-burgueses. Enfim, de que serve esse “Marxismo arejado” ou
Marxismo freestyle na prática e na verdade? Serve para negar o Marxismo como
ciência, a verdade última de que o Marxismo apenas se desenvolve
cientificamente por intermédio da revolução, de que a revolução é sempre mais
científica que qualquer tese saída das entranhas da máquina de debulhar mentes
que é a universidade! Serve para afirmar o teoricismo infértil. Já dissemos antes
em extensão o que denota o caráter científico de uma linha revolucionária e o que

54
torna científica uma linha dentro da perspectiva revolucionária50 e apesar de não
ser nossa intenção nos repetir, devemos reafirmar que a mente pensante de um
indivíduo por si só não é capaz de desenvolver nada sem a prática revolucionária
real. Negar a isso seria negar novamente o leninismo e seria negar também ao
próprio Marx quando esse diz:

As armas da crítica não podem, de fato, substituir a crítica das armas; a


força material tem de ser deposta por força material, mas a teoria
também se converte em força material uma vez que se apossa dos
homens. A teoria é capaz de prender os homens desde que demonstre
sua verdade face ao homem, desde que se torne radical. Ser radical é
atacar o problema em suas raízes.51

Marx aqui já subordina visivelmente o desenvolvimento teórico à prática. E se


Marx é negado em um de seus aportes mais repetidos, que sobra do Marxismo,
afinal?
A crítica do “etapismo”, assim, não é uma crítica válida, não decorre de um
desenvolvimento revolucionário real, mas das lucubrações de teóricos
encastelados em suas torres de marfim ou enganados pelo revisionismo do PC
Brasileiro. É uma crítica pífia, que se enrola em sua tentativa de dizer-se leninista
ao negar o leninismo. Alguns dizem que o tal “etapismo” é uma tese stalinista,
para se desvencilharem ainda mais da realidade histórica. Outros dizem que é um
delírio maoísta. A III Internacional não nos deixa mentir, contudo, sobre a
necessidade uma revolução democrático-burguesa anti-imperialista e
subordinada aos interesses dos operários e camponeses que representaria a
tomada de um caminho palpável e ininterrupto até o socialismo. É a isto que
chama de “mais capitalismo” o prezado quadro? Poderíamos, em contrapartida,
dizer que sua organização de oportunistas nos quer dar mais imperialismo com a
ridícula TMD e com o parlamentarismo barato que promovem!
Desvencilhemo-nos, contudo, da mentira descarada e vergonhosa do
quadro do PC Brasileiro sobre as teses revolucionárias leninistas e maoístas, para

50 Ver: OLIVEIRA, Marconne. A linha revolucionária e a vanguarda a serviço do povo:

os quadros e sua justa exaltação, as lideranças e a elevação da consciência e da prática da


vanguarda. Ao Povo Brasileiro – APB, 30 Set. 2020. Disponível em:
<https://medium.com/@aopovobrasileiro/a-linha-revolucionária-e-a-vanguarda-a-serviço-do-
povo-os-quadros-e-sua-justa-exaltação-as-92eb53db6709>.
51 MARX, K. Introdução. In: Crítica da filosofia do direito de Hegel. MIA, 26 Mar. 2015.

Disponível em:<https://www.marxists.org/portugues/marx/1844/critica/introducao.htm>.

55
que possamos prosseguir e vejamos o que é a Revolução Democrática na visão
maoísta também:

A Revolução Democrática Anti-imperialista, apesar de, em seu


conteúdo, conter vários elementos das antigas revoluções burguesas,
não pode ser considerado meramente uma revolução burguesa. É certo
que tarefas elementares como a reforma agrária não constituem tarefas
propriamente socialistas, porém não é este o problema. Junto com a
reforma agrária radical, que destrói o latifúndio e os elementos pré-
capitalistas no campo, distribuindo a terra para quem nela trabalha, a
Revolução Democrática Anti-imperialista impõe um duro golpe ao
imperialismo, por isso uma das suas principais tarefas é expropriar o
capital imperialista, bem como os seus aliados internos, a saber, a
burguesia burocrática-compradora.52

Há aí algo de diferente do que já ditava o leninismo? Veremos logo o que maoísmo


desenvolve das teses leninistas, mas, por enquanto, temos resumidas as teses já
discutidas da III Internacional leninista bem em nossa frente. Comprova-se isso
ainda no fato de que: “Findada a fase democrática e anti-imperialista da
revolução, com o proletariado já no poder e edificando um novo estado, esta
revolução passa a fase socialista, por isso ser chamada de ‘ininterrupta’”53. Ora, a
concepção revolucionária maoísta, portanto, de forma alguma fará concessões ou
negociatas com a burguesia (chamariam os sábios oportunistas a NEP de uma
concessão aos burgueses sem caráter proletário também?) e o Estado a ser
construído deve ter caráter proletário. A China de Mao Tsé-Tung foi exemplo vivo
da pertinência desse tipo de revolução. A própria União Soviética, por outros
meios, o fora antes. Estes são exemplos revolucionários, não teóricos, e portanto
podem ser de difícil apreensão pelos oportunistas do PC Brasileiro.

A Revolução de Nova Democracia anti-imperialista e


ininterrupta até o socialismo

Chega o momento, portanto, de defendermos fielmente e inexoravelmente


àquilo que os oportunistas atacam de forma tão covarde e desavergonhada: a
Revolução de Nova Democracia anti-imperialista e ininterrupta até o socialismo,
formulada prática e teoricamente pelo Presidente Mao Tsé-Tung, parte do

52 MARTINEZ, 2014, p. 8.
53 MARTINEZ, 2014, p. 8.

56
Pensamento Mao Tsé-Tung, e sintetizada como parte integrante também do
maoísmo pelos comunistas revolucionários que lutaram contra o revisionismo
soviético após a morte do camarada Stalin e que lutam ainda hoje contra o
oportunismo dos partidos comunistas ao redor do mundo e pelo povo.
A teoria da Revolução de Nova Democracia é a única teoria revolucionária
clara em nosso tempo para as nações oprimidas, a única que não se desvirtua em
oportunismo parlamentarista ou em aventureirismo putchista. Ela é a
continuadora da linha marxista-leninista, como ficará ainda mais claro na
medida em que formos a colocando em suas bases reais, não desprezando os
aportes do Marxismo-leninismo nem os pensadores, propositores e
continuadores da linha marxista-leninista, mas elevando o Marxismo-leninismo,
concretizando ainda mais a questão revolucionária dentro da espiral dialética que
é a luta popular, da materialidade dessa espiral que antecede sua apreciação
histórica ou teórica.
Dizia sobre o Presidente Mao Tsé-Tung Chen Po-Ta:

Mao Tsé-tung é o expoente mais representativo das forças na China.


Sua maior contribuição à Revolução Chinesa é a de ter integrado a
verdade universal do marxismo-leninismo com a prática revolucionária
concreta e a de ter resolvido de uma maneira correta e brilhante os
numerosos problemas que surgiram no transcurso da revolução.
Desenvolveu criativamente a ciência do marxismo-leninismo,
aplicando-a às condições chinesas e as do Oriente, e levou desta
maneira o povo chinês à vitória.54

A vitória de Mao Tsé-Tung na China foi determinada por seu compromisso com
o povo antes de tudo, e seu compromisso com o povo levou-o a ter um
compromisso real com o Marxismo-leninismo, com a ciência revolucionária do
proletariado, levando-o também a desenvolver essa ciência de forma minuciosa e
clara. Mao conduziu a revolução numa grande nação oprimida pelo imperialismo,
numa grande nação onde disputas inter-imperialistas vinham ocorrendo há
tempos, numa grande nação achacada pela Guerra do Ópio, pelo vício, pela
prostituição e por toda sorte de problemas comuns ainda hoje numa nação
miserável. Mao revolveu a nação chinesa, buscando em todos os cantos os
inimigos do povo no decorrer da Revolução de Nova Democracia, aplicando a

54 PO-TA, Chen. Mao Tsé-Tung e a revolução chinesa. MIA, 26 Jul. 2019. Disponível em:

<https://www.marxists.org/portugues/chen-po-ta/1951/mao/01.htm>.

57
estratégia da Guerra Popular Prolongada, conduzindo a Grande Marcha e
derrotando os reacionários do Kuomintang, continuou a combater os inimigos do
povo no decorrer da implantação do socialismo na China, aplicando a revolução
ininterrupta até o socialismo, e combateu-os ainda, ao brilhantemente analisar a
questão da restauração do capitalismo na União Soviética, dentro do próprio
socialismo, desenvolvendo a Grande Revolução Cultural Proletária, expressão
única e irreprimível da luta contra o revisionismo no seio do partido, pela
retificação do partido, e da justa resolução das contradições no seio do povo.
Sobre a Revolução Cultural, corolário da Revolução de Nova Democracia
ininterrupta até o socialismo, em específico, já comentava o grande
revolucionário e camarada Pedro Pomar, fiel combatente do revisionismo e do
oportunismo do PCB à sua época:

A Revolução Cultural Proletária veio demonstrar a importância


histórico-mundial do pensamento de Mao Tsé-Tung, como o
marxismo-leninismo de nosso tempo. O povo chinês, armado com o
pensamento de Mao Tsé-Tung, alcançará todos os seus nobres
objetivos.55

Ainda assim, os revisionistas insistem em tentar enxovalhar o nome de


Mao e o maoísmo com suas mentiras. Dizem que Mao errou nisso ou naquilo, que
buscou exportar a revolução, dizem que o Pensamento Mao Tsé-Tung era
somente aplicável na China e o maoísmo é um delírio, dizem que a adesão dos
revolucionários brasileiros ao maoísmo foi o motivo de sua desgraça, dizem que
a “verdade revelada”, enfim, não é coisa séria, que não existem faróis do
Marxismo. Dizem tudo isso os revisionistas para justificarem sua incompreensão
do maoísmo, sua incapacidade para a revolução, sua incapacidade para a auto-
crítica e para a retificação reais, seu ecletismo e revisionismo atuais. Os
“marxistas arejados” e “marxianos” oportunistas condenam o maoísmo em nome
da exaltação do “livre-pensamento” de esquerda, que lhes é mais apetecível, pois
não conduzem de fato um partido marxista em nenhuma acepção do termo, mas
sim agem como bibliotecários da revolução – e nesta biblioteca não faltam
censuras tácitas às teorias realmente revolucionárias, não faltam interpretadores
que veem no texto tudo menos o que está escrito também. Por que temem os

55POMAR, Pedro. Grandes êxitos da Revolução Cultural Proletária. MIA, 10 Jul. 2015.
Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/pomar/1968/mes/grandes.htm>.

58
oportunistas a ciência revolucionária e seu desenvolvimento científico último, o
Marxismo-leninismo-maoísmo? Porque se não a temerem, se não a combaterem
o oportunismo e o revisionismo correlatos serão destruído como sempre foram
quando o Pensamento Mao Tsé-Tung e o maoísmo foram aplicados.
Os maoístas não admitem em suas fileiras o oportunismo e o revisionismo,
apresentem-se eles como quiserem! Não aceitam os desvios sociais-democratas,
kautskistas, não aceitam o trotskismo sabotador e entrista, colaborador do
nazismo, da Agência Central de Inteligência americana, não aceitam o
kruschevismo e o eurocomunismo da convivência pacífica com a “democracia”
burguesa e com o imperialismo, capitulacionismo de novo tipo, não aceitam o
pós-modernismo, as formas deturpadas e individualistas de luta e as teorias
deturpadas e individualistas do pós-modernismo, não aceitam quaisquer formas
de revisionismo, e não aceitam o dogmato-revisionismo hoxhaíxta também. Os
maoístas pugnam em todos os momentos de sua militância, de uma forma ou de
outra, adotando tal ou qual método, tal ou qual forma, contra o revisionismo e
buscam resolver justamente, de forma democrática, as contradições no seio do
povo, enquanto reservam para os inimigos do povo o que lhes espera. E isto não
é demasiado brutal ou um desvio sectário, é o mínimo que se deve ser feito na
defesa da linha revolucionária e da ciência revolucionária do povo! O povo
defenderá a linha revolucionária, como vem defendendo sempre que ela é
justamente aplicada, independentemente do quão brutal os imperialistas e
revisionistas a pintarem. Mas os oportunistas tentam enganar seus militantes e
proclamar sua falsa democracia interna, negando novamente o Marxismo-
leninismo ao colocarem como valor abstrato, internamente também, a
democracia, “esquecendo-se” que tanto mais dentro do partido a democracia tem
conteúdo de classe e ou se aplica uma linha que busca o desenvolvimento e
resolução da luta de classes ou se aplica uma linha que suporta pacificamente o
imperialismo e a exploração da classe trabalhadora.
Que é, então, a Revolução de Nova Democracia anti-imperialista e
ininterrupta até o socialismo e como ela combate o oportunismo dos que
defendem seja o “socialismo desde já” seja a sua revolução como miragem? Chen
Po-Ta assim expõe a questão por trás da Revolução de Nova Democracia como
revolução de novo tipo:

59
Considerando as mudanças fundamentais trazidas para a história do
mundo pela Revolução Socialista de Outubro e as modificações na
história chinesa geradas pelo surgimento na arena política do
proletariado na China Moderna, Mao Tsé-tung escreveu que antes
destes fatos surgirem, a Revolução Chinesa era uma revolução
democrática de velho tipo; ou seja, dirigida pela burguesia e que, após
os acontecimentos, a Revolução Chinesa passou a ser uma revolução de
Nova Democracia, isto é, uma revolução dirigida pelo proletariado.
[...]
Mao Tsé-tung assinalou:
“o curso histórico da Revolução Chinesa se divide em duas etapas: a
revolução democrática e a revolução socialista”.
Ainda que em seu caráter social a primeira etapa que dá início a
Revolução Chinesa seja fundamentalmente democrático-burguesa, esta
"já não pertence a revolução de velho tipo dirigida exclusivamente pela
burguesia com o objetivo de estabelecer uma sociedade capitalista e um
estado sob a ditadura burguesa, mas agora pertence a uma revolução de
novo tipo que, dirigida inteiramente, ou em parte pelo proletariado,
aspira ao estabelecimento de uma sociedade de nova democracia e um
estado sob a ditadura conjunta de todas as classes revolucionárias".
Mao Tsé-tung definiu esta revolução na seguinte fórmula, clara e
simples:
“Uma revolução de Nova Democracia é uma revolução das grandes
massas do povo, dirigida pelo proletariado contra o imperialismo e o
feudalismo”.56

Assim, conduziu Mao uma revolução contra os elementos contraditórios


da sociedade chinesa em relação ao povo, antagônicos ao povo, isto é, contra o
feudalismo, contra o imperialismo e, ainda, contra o capitalismo burocrático,
propagado pelas Quatro Grande Famílias e encabeçado por Chiang Kai-Shek,
sendo apoiado pelas grandes massas, principalmente pelos camponeses, que
formavam a maior parte do povo chinês, mas também pelo proletariado, pelos
intelectuais e pela pequena-burguesia. Essas eram as forças fundamentais da
revolução chinesa, enquanto o proletariado era sua força dirigente. Mao conduziu
uma análise da formação histórica das classes na China que garantiu sua correção
na análise das forças fundamentais da revolução chinesa. Considerando o que
ditava o leninismo e o que passou a propor com os desenvolvimentos
revolucionários na China, Índia, Indonésia, Egito etc., isto é, considerando o
desenvolvimento revolucionário do leninismo, “A visão do camarada Mao Tsé-

56 PO-TA, 2019.

60
tung sobre a Revolução Chinesa estava de completo acordo com os pontos de vista
de Lenin e Stalin e foi, precisamente, um desenvolvimento destes conceitos”57.
Mao sabia que, numa nação semi-colonial, a burguesia não tinha interesse
e temia uma revolução agrária e que apenas oportunistas fariam coro com esse
temor negando a necessidade da revolução agrária e da unidade sólida entre
proletários e camponeses. Mao, portanto, disse que a questão da unidade na
Revolução de Nova Democracia era a questão da unidade estreita entre os
proletários e os camponeses, da formação de uma aliança inquebrável entre os
proletários e os camponeses pobres e médios, da direção do proletariado e da
combatividade camponesa, da ditadura das classes progressistas até o socialismo
sob a direção do proletariado e da ditadura do proletariado sob o socialismo. A
era das revoluções democrático-burguesas de velho tipo havia acabado, o
imperialismo ditou isso em sua busca de hegemonia econômica mundial, criando
o capitalismo burocrático nas semi-colônias e consequentemente os exploradores
subordinados da burguesia burocrático-compradora; o leninismo apontava para
a Nova Democracia, para a revolução de novo tipo, que tem conteúdo de classe
definido e não tergiversa quanto às reivindicações do povo, que mantém no poder
o povo. Assim se iniciam as contribuições de Mao Tsé-Tung ao leninismo, com a
GPP sendo o sustentáculo da nova forma revolucionária, a estratégia político-
militar revolucionária da Revolução de Nova Democracia e a mais avançada
estratégia político-militar em todo o mundo.
A GPP na China teve um desenvolvimento de cerco das cidades pelos
interiores e esta tática demonstrou-se correta, garantindo a vitória do Exército de
Libertação Popular, o Exército Vermelho da China. Todos os inimigos do povo
chinês, apoiados pelos imperialistas, os grandes burgueses, os senhores feudais,
os próprios imperialistas, foram caindo um a um frente à força popular. A
militarização do partido, o estabelecimento de bases revolucionárias
militarmente supridas com homens e armas, o treinamento militar dos militantes
e dos quadros, o treinamento de lideranças, a aliança entre operários e
camponeses e a tarefa mais alta que os revolucionários chineses levavam como
sua insígnia de honra, servir ao povo de todo o coração, foram os elementos
indispensáveis da vitória da revolução chinesa, bem como a atenção plena e

57 PO-TA, 2019.

61
desassombrada ao objetivo geral desta tarefa: o fim da exploração do homem pelo
homem e a construção da sociedade socialista, e aos objetivos específicos dos
estágios materialmente necessários para se atingir esse objetivo geral, a saber, a
organização do povo em torno da luta contra a contradição principal do mundo
dominado pelo imperialismo, que é a oposição entre o imperialismo e a nação (e
portanto entre os elementos que suportam internamente o imperialismo e os
interesses nacionais, também), a definição das tarefas democráticas mediante a
análise das pautas populares e progressistas de todas as classes progressistas, a
subordinação das pautas progressistas das classes vacilantes (pequena e média
burguesias, principalmente) à direção da classe revolucionária por excelência, o
proletariado, e à busca do socialismo (todos os objetivos universais da fase de
transição socialista são aqui inseridos) e da sociedade sem classes, o comunismo,
e, por fim, a busca da revolução de Nova Democracia sob a direção do
proletariado, que significa a revolução ininterrupta até o socialismo. O inimigo
foi estudado em sua força e em sua debilidade e foi derrotado sem que se criasse
o ambiente demagógico da espera incessante pelo “momento revolucionário” que
os oportunistas gostam tanto e falar sobre. Desta forma, “Mao Tsé-tung aplicou a
dialética marxista-leninista aos problemas estratégicos da guerra revolucionária
com excepcional brilho e passo a passo provou que esta análise era correta”58.
Comentando a posição de Stalin, que era a posição da Internacional
leninista e do próprio Lênin, Chen Po-Ta diz ainda:

Em agosto de 1927, refutando a posição dos trotskistas em relação a


China, Stalin escreveu que a premissa básica do leninismo sobre os
problemas dos movimentos revolucionários nos países coloniais e
dependentes, consistia em uma estrita distinção entre a revolução nos
países imperialistas e a revolução nos países que estão sob a opressão
imperialista de outros estados. A burguesia naqueles países é diferente
da burguesia nacional destes últimos. A diferença é que a burguesia nos
países imperialistas cumpre o papel de opressor perante outras nações,
sendo “contrarrevolucionária em todas as etapas da revolução”,
enquanto que a burguesia nacional nos países oprimidos pelo
imperialismo “até certo grau e por certo período pode apoiar o
movimento revolucionário de seu país, contra o imperialismo”.
Em outras palavras, nos países coloniais e semicoloniais é possível para
o proletariado estabelecer, sob determinadas condições históricas, uma
frente única revolucionária com a burguesia nacional. É evidente que
nesta frente única, o proletariado não deve ocultar sua posição
independente e deve manter firmemente a independência do
movimento operário. O proletariado deve esforçar-se para garantir sua

58 PO-TA, 2019.

62
posição de direção na frente única nacional. Este princípio também foi
formulado e ratificado por Lenin e Stalin. 59

Destarte, a posição de falso desespero dos oportunistas frente à questão da


aliança com a burguesia nacional, aliança essa que fazem eles apenas pela aliança
e não pela luta, coisa que Mao define, muito corretamente, como desvio de direita,
é, de fato, apenas uma negação do leninismo e uma prova de sua incapacidade
para compreender o que é a burguesia nacional. Ruy Mauro Marini, por exemplo,
incorre em diversas contradições internas em sua TMD por essa incompreensão.
Os integrantes da POLOP inauguraram o oportunismo parlamentarista hoje
adotado pelo PC Brasileiro, dando a este um caráter de entrismo trotskista, ao
aliarem-se ao PT. A classe revolucionária deve manter-se sempre independente
das vacilações dos seus aliados, mas não deve rechaçar as alianças se essas
ensejam lutas, e, portanto, é necessária a constante análise histórica do momento
revolucionário da classe trabalhadora que está sempre a se afirmar e das
disposições das classes vacilantes. E se quisermos nós prova do caráter
essencialmente leninista destas teses, devemos apenas olhar para as próprias
teses da Internacional sobre as alianças com as classes vacilantes:

Um encorajamento incorrecto à tendência nacional-reformista da


burguesia destes países coloniais pode dar origem a erros graves na
estratégia e na táctica dos partidos comunistas destes regiões.
[...]
A intelectualidade pequeno-burguesa e os estudantes são muito
frequentemente os representantes mais determinados não apenas dos
interesses específicos da pequena-burguesia, mas também dos
interesses objectivos e gerias de toda a burguesia nacional. Durante as
primeiras fases do movimento nacional, eles surgem muitas vezes como
porta-vozes da luta nacionalista. O seu papel neste movimento é
relativamente importante. Em geral, eles não representam os interesses
camponeses, porque o estrato social do que eles resultam está ligado
aos senhores feudais. Mas o avanço da onda revolucionária pode
conduzi-los ao movimento operário, ao qual eles aportam a sua
ideologia pequeno-burguesa hesitante. Só alguns deles conseguem
romper com a sua própria classe e compreender as tarefas da luta de
classes do proletariado, tornando-se assim defensores activos dos
interesses proletários. Frequentemente, os intelectuais pequeno-
burgueses dão à sua ideologia uma cor socialista ou até mesmo
comunista. Durante a luta contra o imperialismo, eles desempenharam
– e em certos países tais como a Índia e o Egipto ainda desempenham
– um papel revolucionário. O movimento de massas pode conduzi-los
ao campo da reacção mais extrema ou encorajar a expansão das
tendências utópicas e reaccionários no seu seio...

59 PO-TA, 2019.

63
[...]
A burguesia nacional não é uma força relevante na luta contra o
imperialismo. No entanto, esta oposição burguesa e reformista possui
um significado real e específico para o desenvolvimento do movimento
revolucionário – e isto tanto no sentido negativo como no positivo –
desde que tenha alguma influência sobre as massas.
O que importa acerca disto é que obstrui e atrasa o desenvolvimento do
movimento revolucionário, ao mesmo tempo que mantém as massas
trabalhadoras afastadas da luta revolucionária. Por outro lado, a
oposição burguesa ao bloco feudal e imperialista dominante pode
acelerar o despertar político das amplas massas trabalhadoras; os
conflitos abertos entre a burguesia nacional-reformista e o
imperialismo – apesar de em si mesmos serem irrelevantes em –
podem, sob certas condições, servir indirectamente como o ponto de
partida de grandes acções de massas revolucionárias.
É verdade que a burguesia reformista tenta impedir o avanço de
actividades de oposição. Mas onde quer que existam condições
objectivas para uma crise política profunda, as actividades da oposição
nacional e reformista – mesmo os seus conflitos insignificantes com
imperialismo que não têm qualquer ligação com a revolução – podem
adquiri grande importância.
Os comunistas devem aprender como utilizar cada conflito para os
expandir e para aumentar a sua relevância, para os ligar com a agitação
através de slogans revolucionários, para os espalhar entre as massas,
para conduzir as massas a manifestarem-se em defesa das suas próprias
reivindicações, etc.60

Mao, portanto, apenas aplicou e desenvolveu o leninismo também na


questão das alianças, enquanto o oportunismo hodierno aplica e desenvolve
qualquer coisa, o kruschevismo, a social-democracia, o reformismo, o
eurocomunismo, o trotskismo, menos o leninismo nessa questão. Ninguém
deveria gastar seu tempo defendendo tal estado de coisas, as mais duras críticas
devem ser dirigidas às lideranças oportunistas e aos seus títeres de maior vulto,
pois, caso não o façamos, nos tornamos liberais, defendemos apenas em abstrato,
e quando não nos é inconveniente, o Marxismo. Nenhum tipo de amizade,
carinho, respeito ou qualquer coisa que seja torna as lideranças oportunistas e
seus títeres menos oportunistas. Internamente não há mais o que se disputar na
maioria ou em todos os partidos oportunistas, eles já se perderam. A maior
afirmação crítica contra o estado atual das coisas é a reconstrução de um
verdadeiro Partido Comunista que sirva ao povo brasileiro e que saiba lutar
contra o sectarismo de esquerda, a luta sem alianças, e contra o desvio de direita,
a formação de alianças sem luta.

60 INTERNACIONAL COMUNISTA, 2014.

64
Sigamos. Mao e o PCCh sob sua direção nunca esconderam em teoria ou
na prática suas reais intenções, nunca dissmularam teórica ou praticamente que
a Revolução de Nova Democracia dirigida pelo proletariado em aliança estreita
com o campesinato era uma revolução ininterrupta ao socialismo, nunca
subordinaram seu programa máximo ao programa mínimo, nunca tiveram de
justificar a isso com ridículas desculpas como “o momento não é revolucionário”
ou “devemos educar o povo para a revolução fora dela”. Mao e o PCCh
construíram junto ao povo o momento revolucionário sem vacilar. Onde havia
vacilação, eles estavam lá para a atacar e destruir de forma democrática, mediante
uma educação revolucionária – e não uma educação para a revolução. Mao
considerou que “o período da revolução de Nova Democracia ‘é uma etapa
transitória necessária entre a derrubada da sociedade colonial, semicolonial e
semifeudal, e o estabelecimento da nova sociedade socialista’”61 e desfez todas as
confusões entre a etapa democrático-burguesa e a transição socialista, analisando
a totalidade da luta e as particularidades de seu desenvolvimento contraditório
corretamente. A partir disso, desenvolveu-se política e economicamente a
liderança indispensável do proletariado na revolução e o ponto de Mao sobre os
estágios da luta comprovou-se na prática. Podemos analisar a isso brevemente
considerando os ganhos da revolução, já na década de 50, para o proletariado e
para os camponeses:

Qual o principal fator socialista na esfera política, oriundo da vitória da


revolução de Nova Democracia? É a posição dirigente da classe operária
nos órgãos do poder estatal e nas forças armadas populares, como posto
no Programa Comum da Conferência Consultiva Política do Povo
Chinês.
Qual o principal fator socialista na esfera econômica, oriundo da vitória
da revolução de Nova Democracia? É a confiscação das empresas dos
imperialistas e capitalistas burocráticos e a transferência da
propriedade à república popular dirigida pela classe operária. Nas
palavras de Mao Tsé-tung, isto “permitirá a república popular controlar
os aspectos vitais da economia do país e capacitará a economia de
propriedade do estado para se converter no setor de direção da
economia nacional em seu conjunto. Este setor da economia tem um
caráter socialista e não capitalista”. O Programa Comum, de acordo com
os pontos de vista de Mao, também esclarece tal ponto. O Programa
estabelece: “a economia estatal é de natureza socialista. Todas as
empresas vinculadas a vida econômica do país e que exercem uma
influência dominante sobre a subsistência do povo, estarão sob o
controle unificado do estado. Os recursos estatais e as empresas são a
propriedade social do povo em seu conjunto, são as principais bases

61 PO-TA, 2019.

65
materiais sobre as quais se desenvolverá a produção, para lograr a
prosperidade, e são a força dirigente da economia social íntegra”.
As organizações de ajuda mútua, as cooperativas de produtores
agrícolas e as cooperativas de víveres e consumo das massas
camponesas, que se estabeleceram no curso da revolução de Nova
Democracia, também contém fatores socialistas e servem como formas
transitórias dirigindo o campesinato até o socialismo. É certo que
necessitamos de um longo espaço de tempo para realizar a
transformação socialista em todo o país. Mas este caminho foi aberto.
Nosso progresso está completamente assegurado, ainda que muitos
preparativos e lutas sejam necessários.62

Assim, mediante a aplicação e desenvolvimento do leninismo, Mao


libertou um quarto da população mundial junto ao PCCh e junto ao povo que o
Partido servia. Libertou ele a China primeiro de seu caráter semi-colonial,
derrotando gradualmente todo o dano causado pelo imperialismo
nacionalmente, derrotando os inimigos internos títeres do imperialismo e todas
as forças contrarrevolucionárias da grande burguesia compradora-burocrática e
dos senhores de terra. Ele analisou bem as contradições internas da China
enquanto nação semi-colonial e com caráter econômico interno semi-feudal no
campo e assim organizou a Revolução de Nova Democracia ininterrupta ao
socialismo, rebatendo todos os desvios que pretendiam preconizar uma revolução
de velho tipo ou uma pretensa “Revolução Socialista” sem estágios bem definidos
e sem alianças bem definidas. Ele estabeleceu a ditadura de todas as classes
progressistas contra os elementos de atraso, combatendo internamente também
esses elementos sob essa direção do proletariado.
Mao transformou o PCCh no Partido que foi, no Partido do povo, que tinha
como tarefa servir ao povo e como objetivo a implantação do socialismo e, enfim,
a completa destruição da sociedade de classes, imprimindo duros golpes à todas
as tentativas de restauração capitalista que surgiram com o revisionismo
soviético, desenvolvendo o estágio mais avançado da Revolução Socialista, a
Grande Revolução Cultural Proletária. Este é o legado do camarada Mao Tsé-
Tung e ele deve ser respeitado; mas, para além de respeitado, ou mesmo em
decorrência desse respeito, deve ser também estudado de maneira firme! Os
aportes do Pensamento Mao Tsé-Tung, sintetizados pelo Partido Comunista do
Peru (PCP) e pelo Partido Comunista das Filipinas (PCF), que dirigem ainda
Guerras Populares Prolongadas em suas nações, considerados hoje como o

62 PO-TA, 2014.

66
Marxismo-leninismo-maoísmo, devem ser estudados! As necessidades
revolucionárias de que falaram os leninistas, entre eles Mao, as necessidades das
revoluções nas semi-colônias são ainda as mesmas. O imperialismo não mudou
de caráter nem as suas semi-colônias mudaram de caráter e os desenvolvimentos
históricos desde a Revolução de Outubro e desde a Revolução Chinesa,
principalmente após a restauração capitalista na União Soviética e sua
progressiva restauração na China, apenas reafirmaram o neocolonialismo, o
imperialismo, como qualquer um pode facilmente concluir ao olhar para o nosso
próprio estado atual frente às potências.

A universalidade do maoísmo e nossas tarefas

Devemos, portanto, universalizar os aportes do maoísmo? É claro que sim!


Desperdiçaríamos um desenvolvimento gigantesco da teoria marxista-leninista
se não o fizéssemos e acabaríamos por cair na posição dos oportunistas cedo ou
tarde. O maoísmo é universal, pois a contradição entre o imperialismo e as nações
oprimidas é universal, pois a condição semi-colonial e muitas vezes os resquícios
de feudalidade ainda são impostos aos povos oprimidos. Como já dizia o PCdoB
(maoísta) em 1969, defendendo a aplicação da GPP no Brasil: “Onde há opressão,
torna-se inevitável a luta revolucionária”63, e a luta revolucionária deve tomar
sempre o caminho revolucionário correto, nunca o caminho da estagnação. A luta
deve ser aprendida e seus lutadores devem aprender com a derrota e com a
vitória. Apenas um oportunista recusa-se a aprender com a vitória e com a
derrota.
Somente a preparação militar, política e de massas pode garantir qualquer
avanço da causa revolucionária no Brasil. Todo o mais, as eleições etc., são
aspectos secundários e não deveriam ganhar tanta atenção; mas, os oportunistas
não se cansam de deixar ao léu o povo para ocuparem-se da distribuição de
panfletos para pequeno-burgueses, ou, melhor dizendo, da delegação dessas
tarefas humilhantes aos militantes bem-intencionados. Não à toa descartam

63COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL. Guerra Popular: O caminho


da luta armada no Brasil. MIA, 15 Mai. 2014. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/tematica/1969/01/luta.htm>.

67
outro aporte universal do maoísmo que lhes teria sido benéfico tempos atrás: a
justa luta de duas linhas dentro do partido. A estagnação revolucionária sempre
cria o revisionismo, mas sempre existem aqueles dispostos a lutar contra esta
monstruosidade insidiosa, este “Marxismo” que nega o Marxismo. Infelizmente,
foram expulsos ou obrigados a se retirarem nada gentilmente os que tentaram
disputar pela aplicação da linha correta dentro do PCB historicamente.
Nossa nação foi sempre achacada pela subjugação e não teve qualquer
desenvolvimento, seja econômico, militar, político, social ou ideológico,
autônomo enquanto nação. O Estado latifundiário-burguês é um títere do
imperialismo e adota apenas àquilo que o imperialismo dita como correto por
meio dos seus governos reacionários, de suas organizações intergovernamentais
etc. A maior ou menor evolução das formas dessa dominação em determinados
âmbitos nacionais e em conjunturas específicas não muda o caráter essencial da
mesma. Sob o imperialismo, somos território econômico e território político,
como a Ditadura Militar, não apenas defendida, mas organizada, financiada e
auxiliada pelo imperialismo estadunidense, e como o mais recente golpe, que
segue ativo, comprovam; como comprova a tresloucada venda de ativos da
Petrobras que ocorre dia sim dia não; como comprovam mesmo as modificações
legais, desde as mais divulgadas até as mais ínfimas, em nossos textos jurídicos;
e como tantas outras coisas poderiam também comprovar, não sendo difícil que
as achemos ao olharmos para a realidade. As instâncias capitalistas que aqui se
instalaram são de tipo burocrático, tanto nosso mercado quanto nossa produção
são dominados pelo inimigo externo, o imperialismo, e os burgueses
burocráticos, gestores da miséria, e compradores, beneficiários da importação de
capitais estrangeiros e do atraso, são apenas os seus aliados na luta contra o povo,
aglutinando o imperialismo às suas hostes defensoras do atraso que nos é
infligido também os senhores feudais modernos, os latifundiários, que são os
exportadores, monopolistas de terra, especuladores, exploradores de mão de obra
servil e escrava e defensores ferrenhos do atraso produtivo.
Tantos e tantos pensadores Brasileiros falaram sobre essa realidade,
apesar de os oportunistas quererem dizer que estamos importando, nós, teorias
“da China” (não são esses os mesmos que adoram importar teorias da França, do
Canadá, da Grécia, da Itália etc. da forma mais acrítica possível?). Nelson
Werneck Sodré, Alberto Passos Guimarães, Rui Facó, Pedro Pomar, Manoel

68
Lisboa, Maurício Grabois, João Amazonas e tantos outros defenderam a
independência brasileira frente ao imperialismo como necessidade primeira da
revolução, analisaram a situação brasileira frente ao imperialismo e a situação
interna, as classes exploradoras e progressistas, traçaram os perfis dessas classes.
Tantos desses não apenas estudaram, mas botaram em prática o que escreveram,
lutaram a justa luta do povo. A isso não podemos nunca desprezar ou dissimular.
Devemos apenas elevar a luta dos camaradas que quiseram libertar o Brasil e
abandonar a falsa luta dos oportunistas. Sem independência, com o monopólio
de terra ainda vigente, isto é, sem a mínima reforma agrária, e com o
desenvolvimento desprezível de nossas forças produtivas frente ao
desenvolvimento das nações imperialistas sendo ainda uma mera decorrência das
necessidades dessas nações, são os estudos desses autores, bem como o dos
aportes do Presidente Mao Tsé-Tung, muito necessários para o tracejar de
qualquer linha revolucionária no Brasil. A própria grande burguesia só nasceu no
Brasil pois assim quis e assim permitiu o imperialismo e agora ela sobrevive em
conexão umbilical com esse.
Nossas tarefas, as tarefas dos comunistas, se impõem, todas elas, pelo
nosso dever de servir ao povo. Se um partido não serve ao povo, se despreza um
ou mais aspectos da opressão contra o povo e se um partido faz troça da condição
de exploração do povo no campo, não é um partido comunista e não deveria
contar com comunistas em suas fileiras. Quais deveriam ser as tarefas de um
partido comunista numa nação semi-colonial? O partido comunista deveria, a
partir do reconhecimento da necessidade de uma Revolução de Nova Democracia
anti-imperialista e ininterrupta até o socialismo, definir as tarefas do estágio
democrático e do estágio socialista da revolução, visando a completa superação
da sociedade de classes.
Devem ser formadas na luta as alianças entre as classes progressistas do
povo e disputadas todas as ideias vacilantes das classes vacilantes, combatidos
todos os inimigos do povo infiltrados; deve ser disposta a estratégia universal da
GPP na Revolução de Nova Democracia e a tática mais apropriada para sua
aplicação no solo brasileiro; devem ser, conjuntamente, formados política,
ideológica e militarmente os lutadores da revolução; as forças armadas realmente
populares devem ser instituídas; devem ser destruídos os títeres do imperialismo
internamente e os ataques imperialistas contrarrevolucionários devem ser

69
respondidos à altura; deve ser tornada plenamente revolucionária a pauta da
revolução agrária contra o latifúndio; devem ser nacionalizadas todas as
transnacionais e todos os grandes bancos; toda a dívida pública deve ser tida
como nula e toda a pilhagem especuladora deve ser destruída; deve ser instituída
a ditadura ampla do povo sob a direção do proletariado organizado no Partido
Comunista; as forças produtivas devem ser alavancadas continuamente; nossa
independência e nosso desenvolvimento independente devem ser defendidos a
todo custo; as contradições no seio do povo devem ser democraticamente
resolvidas por intermédio da Revolução Cultural e os inimigos do povo devem ser
expostos e destruídos; as classes exploradoras devem ser exterminadas como
classe; o revisionismo que visa restaurar o capitalismo na sociedade deve ser
punido; a reeducação dos elementos contrarrevolucionários deve ser constante;
a transição socialista deve ser preparada a todo momento mediante a superação
de cada estágio da Revolução de Nova Democracia; o povo deve ser sempre
servido de todo o coração.

70
Conclusão

O combate ao revisionismo, seja do tipo que for, é um dos aportes


universais do maoísmo, desenvolvido na luta contra o revisionismo social-
imperialista soviético que trouxe, em última instância, o retorno do capitalismo à
grande nação revolucionária, criando o ambiente fértil para a miséria de todo o
povo novamente e para o adentrar dos tentáculos do imperialismo no primeiro
local onde este havia sofrido os mais duros golpes. O revisionismo é um câncer, o
oportunismo é um câncer e todas as suas manifestações devem ser extirpadas,
criticadas, seus defensores devem ser corrigidos de uma ou de outra forma, uma
hora ou outra. Isto não é muito duro, nem anti-democrático, é o mínimo que
devemos fazer como comunistas!
Na época atual, o revisionismo vem se manifestando, na maioria das vezes,
como oportunismo eleitoreiro, uma decorrência talvez do kruschevismo e do
eurocomunismo que dirigiram grande parte dos partidos a partir da década de 50
e 60. Não devemos nos deixar levar pelas belas palavras dos oportunistas, por
suas revoluções como miragem que querem se colocar como “revolução como
horizonte”, não devemos dar trégua aos que se subordinam às concepções
pequeno-burguesas de “Revolução Solidária” de um candidato oportunista
qualquer. Isso significaria a morte da crítica. Uma outra determinação do
revisionismo atual é que ele encontra nos meios de divulgação, nas mídias atuais,
um amplo local para sua difusão. Os oportunistas se aproveitam da vontade
revolucionária do povo e principalmente dos jovens e dos jovens estudantes para
contarem suas historinhas de ninar sobre a revolução socialista que nunca chega
nem nunca é preparada pela luta. Não devemos dar um passo para trás ao nos
depararmos com isso, devemos investir contra essas ideias, elevando a linha
revolucionária, a única linha revolucionária, que é científica e popular.
Neste texto buscamos dar conta de alguns aspectos do revisionismo do PC
Brasileiro e da manifestação sensível deste pela boca de um dos seus famosos
quadros. Buscamos o fazer não por qualquer desgosto com o dito quadro, mas
sim pelo conteúdo de suas falas, que vão além do desrespeito com a linha
revolucionária maoísta e defendem o oportunismo do seu partido
desavergonhadamente, que condenam o maoísmo para justificar a estagnação à
qual o PC Brasileiro quer nos condenar a todos.

71
O PC Brasileiro não defende a luta popular. Não defende os focos de luta
popular em Rondônia, em Alagoas e em outros locais do Brasil. Desprezam as
direções oportunistas a Liga dos Camponeses Pobres que desenvolvem a justa
luta pela revolução agrária sob a égide do maoísmo. Para além disso, desprezam
as lutas do Partido Comunista do Peru-Sendero Luminoso (PCP-SL), aqui ao
lado, as lutas ao redor do mundo, na Índia, na Turquia, nas Filipinas, no Nepal,
analisam mal e de forma desrespeitosa a Guerrilha do Araguaia e a atuação da
Ação Nacional Libertadora, desprezam a luta armada e a necessidade da
militarização dos partidos e, por isso, sucumbem sempre no mesmo erro já
denunciado por tantos ao longo dos anos de existência do PC Brasileiro, por
Marighella, por Pedro Pomar, por Manoel Lisboa etc. Devemos lutar contra este
chamariz pequeno-burguês que é o PC Brasileiro e guardar as jovens mentes de
sua embusteira influência defendendo a luta do povo e declarando aos que ainda
têm alguma dúvida os aportes universais do maoísmo de forma clara e explícita.
O povo não será mais enganado pelos farsantes politiqueiros de direita ou que se
dizem de esquerda! Os comunistas servirão ao povo e à luta popular!
Torna-se nosso dever, portanto:

DEFENDER O MARXISMO-LENINISMO DOS EMBUSTEIROS!

DEFENDER O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO DO MARXISMO-


LENINISMO, O MAOÍSMO!

COMBATER TODA A FORMA DE REVISIONISMO E O


OPORTUNISMO ELEITOREIRO!

DEFENDER AS REVOLUÇÕES EM CURSO E OS REVOLUCIONÁRIOS


APRISIONADOS E TORTURADOS PELO IMPERIALISMO!

DIVULGAR POR ONDE FORMOS A REVOLUÇÃO POPULAR DOS


POVOS OPRIMIDOS CONTRA OS COVARDES IMPERIALISTAS E SEUS
FANTOCHES!

SERVIR AO POVO DE TODO O CORAÇÃO!

72
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DEFENDAM A PRODUÇÃO DE teoria
REVOLUCIONÁRIA POPULAR E REALMENTE
INDEPENDENTE!

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