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dos oportunistas
Como os oportunistas usam a condenação do maoísmo para
justificarem a sua posição parlamentarista e a análise errônea
da revolução brasileira
Marconne Oliveira
EDIÇÕES AO POVO BRASILEIRO
1
Índice
Agradecimentos – p. 3.
Primeiras palavras – p. 5
Entre miragens e espantalhos – p. 7
O anti-leninismo do PC Brasileiro é escancarado – p. 13
A mais candente deturpação: a questão parlamentar – p. 13
Como o leninismo entende a participação parlamentar (e o boicote) – p. 23
A Teoria Marxista da Dependência (TMD) é anti-leninista e é a justificativa
para o reformismo, a essência do parlamentarismo – p. 37
Revolução como miragem ou Revolução de Nova Democracia
anti-imperialista e ininterrupta até o socialismo? – p. 50
A revolução como miragem e a crítica do “etapismo”: negação do leninismo
e de todo o Marxismo – p. 50
A Revolução de Nova Democracia anti-imperialista e ininterrupta até o
socialismo – p. 56
A universalidade do maoísmo e nossas tarefas – p. 67
Conclusão – p. 71
Bibliografia – p. 73
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Agradecimentos
3
Os povos da América Latina não podem ficar à
espera de que a “competição pacífica” decida sobre
sua libertação. Estão sob o jugo impiedoso do
imperialismo norte-americano que, dia a dia,
intervém mais abertamente nos seus negócios
internos, põe e depõe governos, espezinha seus
sentimentos nacionais [...] A América Latina é
cenário de uma guerra surda entre o imperialismo
ianque e as massas populares. (Resposta à
Kruschev, Resolução do Comitê Central do Partido
Comunista do Brasil, publicada no jornal A Classe
Operária, 1º a 15 de Agosto de 1963).
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Primeiras palavras
Apesar de não ser a questão central do texto aqui escrito, talvez seja
proveitoso perguntarmo-nos primeiro algo simples: qual o medo de um partido,
dirigente ou quadro que se posicionam como revolucionários da crítica justa? A
posição covarde é uma posição comunista? Ora, de dois em dois anos, vemos as
formas mais bizarras de justificativa para a submissão à democracia burguesa
sendo proferidas a torto e a direito pelos ditos comunistas revolucionários
submissos ao oportunismo corrente dos partidos comunistas revisionistas e
mesmo aos partidos declaradamente ou mais palpavelmente pequeno-burgueses.
Vemos como esses agem para enganar a maior parte dos que estão se iniciando
no Marxismo e para manterem direta ou indiretamente a estagnação do povo.
Mesmo quando proclamam a revolução, proclamam-na apenas para dizer, logo
em seguida, que a participação eleitoral é uma necessidade essencial da
revolução. Quando condenam àqueles que criticam essa posição, dizem-se
revolucionários, reclamam seu papel de “vanguarda” de um povo que não os
conhece, seu desenvolvimento, sua busca “revolucionária” pela estratégia da
formação de conluios com partidos pequeno-burgueses e reformistas. Dizem que
os demais nada fazem por não participarem das eleições, quando o contrário é
que é a verdade. Confundem a atuação sensível que só importa à própria
burguesia reacionária e à setores da pequena-burguesia com práxis,
deslegitimando a desconfiança da maioria do povo quanto ao processo eleitoral e
quanto a todos os processos “democráticos” nas semi-colônias do imperialismo;
confundem o espontaneísmo e o dirigismo que o oportunismo das direções
ensejam com organização (e organização da classe trabalhadora!).
Normalmente se perdem quando perguntamos a eles onde estão seus
esforços para a formação de unidade popular fora das metrópoles, onde se
encontram esses esforços fora das ações pontuais (e reformistas, compensatórias,
mesmo que não plenamente condenáveis pela parte dos quadros e militantes que
as desenvolvem) com um ou outro setor geograficamente delimitado de forma
estrita dentro dessas próprias metrópoles. A partir daí surgem as condenações
vindas dos quadros mais alinhados com o oportunismo das direções e das
próprias direções. O medo se afirma. A retificação é jogada no lixo – e continuará
sendo. A linha revolucionária é negada e em seu lugar é afirmada a linha da
5
estagnação, contrarrevolucionária (historicamente provada como tal), como
correta. É a esse estado de coisas que criticaremos neste texto. Para desenvolver
essa crítica, tomaremos a princípio o exemplo das condenações desrespeitosas e
medíocres de um certo quadro do PC Brasileiro ao maoísmo, que vêm sendo
recorrentes ao longo desses últimos meses, e as alternativas pelo mesmo dadas
como a “linha revolucionária”. Partiremos do pressuposto um tanto gentil de que
essas críticas são desenvolvidas mediante um conhecimento ao menos teórico da
revolução e nessas bases tentaremos as rebater da forma mais completa possível.
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Entre miragens e espantalhos
7
então os “grandes revolucionários”: “nós temos uma estratégia revolucionária,
nós queremos unir as organizações revolucionárias, apenas esperamos pela crise
do capitalismo para, depois de consolidarmos nossa união com essas
organizações e de educarmos as massas, fazermos a revolução”. É essa a verdade?
Podem essas declarações que apontam para o futuro serem fruto de uma
construção presente? Que diz o passado sobre a linha seguida por esses? Que diz
o presente?
O PC Brasileiro, bastião do revisionismo no movimento comunista
brasileiro, reclama a linha revolucionária leninista. Assim os seus dirigentes e os
títeres da linha do partido legitimam entre os mais inocentes e bem-
intencionados sua mentira, sua miragem, angariam defensores, comprometem o
desenvolvimento de iniciantes no estudo da ciência do povo, estagnam a
formação de vanguardas consequentes e capazes de lidar com as contradições
reais do capitalismo no Brasil e do imperialismo. São tudo menos leninistas. Não
fazem senão negar concepções essenciais ao leninismo e o desenvolvimento do
leninismo pelo maoísmo, algo que já nele estava contido como necessidade e
como gérmen, por ser o mesmo um desenvolvimento consciente do Marxismo na
época imperialista. Negam ainda a elaboração do leninismo por seu real
sintetizador, o camarada Stalin2, adotando uma posição de exegese cacofônica da
obra de Lênin e laureando a essa com as interpretações dos “melhores trotskistas”
do Brasil e da história, disso têm orgulho pronunciado. O PC Brasileiro não
defende revolução alguma, muito menos uma de caráter leninista.
As crises do capitalismo apenas se amontoam e onde está o PC Brasileiro
com sua miragem? Quais ações tomou frente a essas crises? Utilizou-as para
desenvolver a consciência das massas ou qualquer coisa do tipo? Não! Colocou-
se em defesa do reformismo pequeno-burguês petista, posteriormente
“rompendo” com esse, apenas para agora se subordinar novamente a ele
indiretamente na disputa eleitoral. E chamam a isso leninismo, citam Lênin, em
sua leitura pífia do grande revolucionário e teórico, para justificar isso, o que é
pior que escarrar em seu corpo mumificado, é escarrar em suas ideias e em toda
2Ver: AO POVO BRASILEIRO – APB. Stalin não foi a reencarnação de Lúcifer, foi o
continuador do Marxismo-leninismo, o aplicou e desenvolveu. Ao Povo Brasileiro –
APB, 18 Set. 2020. Disponível em: < https://medium.com/@aopovobrasileiro/stalin-não-foi-a-
reencarnação-de-lúcifer-foi-o-continuador-do-marxismo-leninismo-o-aplicou-e-f7f1c1f6a7c8>.
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a linha leninista. A “unidade” que promovem com “organizações revolucionárias”
é uma unidade com organizações que representam as ideias mais atrasadas dos
setores mais atrasados da pequena-burguesia parlamentarmente, que causam a
infiltração dessas ideias em organizações com potencial revolucionário, que
praticam o entrismo trotskista sem qualquer vergonha. Além de escarrarem no
leninismo, desrespeitam as organizações que não se submetem a esse vergonhoso
processo as chamando de esquerdistas e anti-leninistas, seguindo a cartilha do
oportunismo.
Não apontam esses conluios para a revolução. Apontam para a reforma,
quando muito, ou para a contínua fascistização do Estado, mesmo que
indiretamente, como vemos agora, com a participação eleitoral sendo, bem
literalmente, uma legitimação desse processo por “vias democráticas”. A história
também não nos diz outra coisa. Os apoios do PCB à governos populistas na
primeira metade do século o levaram a se degenerar, com a linha de direita dentro
do Partido tomando conta por um bom tempo. O processo de retificação não foi
célere nem geral o suficiente. Houve o golpe militar. Novamente o PCB se
degenerou e aliou-se à partidos que “buscavam a via democrática”, ao invés de
apoiar a guerrilha contra a ditadura, algo que até hoje tomam como ao menos
meio correto, demonstrando a incapacidade para a autocrítica do atual PC
Brasileiro. Dizem sobre isso que “o momento era contrarrevolucionário”! Usam
essa estranha pseudo-crítica para justificarem o parlamentarismo tosco, a busca
da linha pacífica de cunho kruschevista e posteriormente eurocomunista. Após a
quase total desagregação do Partido, com a derrota completa de Prestes na busca
da menor autocrítica que fosse e com o fim da ditadura, o PC Brasileiro se
“reconstruiu” em bases de areia e passou a afirmar um centralismo democrático
e um leninismo que não lhe são próprios, dado o caráter ecletista, o seguidismo e
espontaneísmo que convivem em seu seio e o desprezo das pautas essenciais e
ainda atuais do leninismo dentro de todas as atitudes do Partido. Nem
historicamente nem no presente a linha eleitoreira e a postergação da revolução
para um determinado “momento revolucionário” buscado através de alianças
com governos populistas e reformistas e com partidos pequeno-burgueses não-
revolucionários ou “democráticos” deu certo.
Mas nos aprofundaremos mais nessa negação do leninismo e do próprio
Marxismo enquanto ciência revolucionária, da negação da revolução como coisa
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concreta, mais abaixo. Por enquanto basta que apresentemos a miragem, sua
manifestação mais sensível, uma vez que a profundidade é caráter da crítica e não
da própria miragem.
Falemos agora do espantalho. Qual é o espantalho da vez? Vêm esse
quadro e seu partido (basta ler os documentos do XIV e XV Congresso do PC
Brasileiro3) denunciando de forma pronunciada o mesmo espantalho que os
revisionistas do século XX quiseram denunciar, o que se torna bem visível até na
própria negação e crítica idealista da valorosa Guerrilha do Araguaia, onde bravos
homens e mulheres perderam sua vida. Nem mesmo a justa exaltação da coragem
desses conseguem fazer, apenas fazem a denúncia do PCdoB, à época a expressão
do anti-revisionismo no Brasil, que respondera à altura a carta de Kruschev
exaltando o capitulacionismo pcbista e seu parlamentarismo infantil e
inexplicável num momento de ditadura aberta e denunciando o maoísmo e a
crítica ao revisionismo soviético – abaixo a citaremos diretamente.
O PC Brasileiro, que nunca superou os sedimentos mais nocivos do
praxismo infantil na época do apoio aos governos populistas antes do meio do
século XX, de kruschevismo, na época da crise do Partido Comunista da União
Soviética (PCUS) e do Movimento Comunista Internacional (MCI) no XX
Congresso do PCUS, e de eurocomunismo, patrocinado nacionalmente por Carlos
Nelson Coutinho e importado do Partido Comunista Italiano (PCI)4, hoje retoma
à todo vapor suas críticas aos desenvolvimentos maoístas de análise científica da
sociedade brasileira e aos demais componentes universais da terceira fase do
Marxismo, o Marxismo-leninismo-maoísmo, a saber, a crítica do revisionismo, a
luta de duas linhas dentro do partido, a disputa pela constante retificação, a
Guerra Popular Prolongada e a Grande Revolução Cultural como a resolução justa
da luta de classes sob o socialismo. Negam ainda a Revolução de Nova
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Democracia, o que não é apenas anti-maoísta e, portanto, vai contra o caráter
científico do Marxismo, que está sempre a se atualizar revolucionariamente (e
apenas assim), mas também anti-leninista, como abaixo comprovaremos. Todos
esses desenvolvimentos passíveis de universalização do maoísmo pelo próprio
desenvolvimento do Marxismo-leninismo, como sintetizado por Stalin e pela III
Internacional leninista, são tomados pelo PC Brasileiro e pelo quadro que os
denuncia abertamente e de forma desrespeitosa com as organizações maoístas e
com os maoístas (para além do desrespeito com o Marxismo enquanto ciência)
como ideias pífias, conjunturais e locais. A realidade das lutas revolucionárias ao
redor do mundo atual não lhes importa. A realidade das revoluções que tomaram,
no século XX, as orientações de Mao e de seu pensamento dialético e universal
não lhes importa. O espantalho em que batem para justificar isso é um só e é a
mais errônea forma de olhar para o maoísmo: chamam ao maoísmo de
“etapismo”.
Vemos, ao olharmos para o atual estado do PC Brasileiro, que eles não têm
vergonha nenhuma de tomarem para si na análise do Brasil as ideias putrefatas
provenientes de Trotsky e de sua camarilha de sabotadores da revolução,
justamente depurada do PCUS, reformuladas nacionalmente pelos “melhores
trotskistas do Brasil”, às quais o dito quadro tentou dar verniz leninista não faz
tanto tempo, ou as ideias de um Togliatti, precursor do eurocomunismo e da ideia
de “democracia como valor universal”, anti-leninista, repetida depois por
Coutinho que, abertamente, denunciou até mesmo seu texto por ser “leninista
demais” em seu mais puro revisionismo. Eles não têm a mínima vergonha de
promoverem em seu meio o ambiente propício para o trotskismo mais recente e
mais deteriorado proposto pelas teses “ecossocialistas”, que colocam Stalin como
um nacional-desenvolvimentista monstruoso e negam o caráter socialista da
União Soviética mesmo antes da degeneração do PCUS. O quadro em questão
chama a isso, num vídeo mais antigo, de “um Marxismo arejado” e diz que todas
as teorias podem conviver bem sem que entrem em conflito, mesmo que sejam
necessariamente opostas e antagonicamente opostas dentro da questão
revolucionária.
O maoísmo, contudo, não lhes é válido como desenvolvimento científico
do Marxismo e da luta revolucionária. Apenas os sabotadores, revisionistas e
marxistas de escritório são. A Revolução Chinesa, conduzida pelo Grande
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Timoneiro e pelo PCCh, não lhes é revolucionária o suficiente, mesmo tendo sido
a maior revolução conduzida no século XX. Ao tal do “patrimônio universal”
legado pelos “marxistas” não acrescentam eles o Pensamento Mao Tsé-Tung e o
maoísmo. Ignoram e desrespeitam o maoísmo e dizem ser apenas “etapismo” ao
mesmo passo que se estagnam num limbo de revisionismo ao reconhecerem
como corretas análises potencialmente contrarrevolucionárias do Brasil e ao
proporem “alianças pela revolução como horizonte” com partidos reformistas e
pequeno-burgueses, construindo este reformismo e nem ao menos chegando a o
conduzir, por sua falta de capilaridade.
A situação é de todo ridícula. E o maoísmo, as teses maoístas que
combatem a esse tipo de revisionismo, não lhes saem da boca, seja em suas
decisões congressuais, disfarçadamente, ou nos vídeos deste quadro,
pronunciadamente, exatamente por serem a maior e mais real ameaça contra o
oportunismo ensejado e nutrido dentro das lideranças do PC Brasileiro, bem
como antes, no fim da década de 50. Devemos dizer, se Kruschev ainda estivesse
vivo, estaria muito feliz!
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O anti-leninismo do PC Brasileiro é escancarado
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reacionário que combatia a reforma agrária, a revolução Cubana, as
medidas contra a espoliação imperialista, o reatamento de relações com
a União Soviética e a legalidade do Partido Comunista.
Saudaram em 1961 a posse de Goulart como uma vitória do povo;
reclamaram plenos poderes aos gabinetes indicados por Jango;
declararam que Goulart contava com poderoso apoio popular e com um
dispositivo militar que lhe permitiam tomar sem receio as medidas
exigidas pelo povo. Mas Goulart demonstra, dia a dia, ser o chefe de um
governo entreguista e incapaz de resolver os problemas fundamentais
da Nação.
Disseram que as eleições parlamentares de outubro de 1962 poderiam
modificar profundamente a correlação de forças no Congresso Nacional
e abrir caminho para as transformações básicas na estruturação do país.
O resultado do pleito evidenciou que o Congresso saído daquelas
eleições é um dos mais reacionários que o país já teve.
Conclamaram o proletariado à greve geral para exigir que o senhor San
Tiago Dantas fosse designado Primeiro-Ministro de um hipotético
gabinete nacionalista e democrático. A vida provou que o senhor San
Tiago Dantas não passa de um agente do imperialismo norte-
americano, o intermediário na negociata das subsidiárias da Bond and
Share.
Convocaram o povo para votar NÃO no plebiscito de 6 de janeiro,
proclamando que desta maneira os eleitores estariam criando
condições para realizar a reforma agrária, acabar com a carestia e a
inflação e pôr em prática medidas contra o imperialismo. Depois do
plebiscito, Goulart, já no sistema presidencialista, prosseguiu em sua
antiga política: a carestia tornou-se mais acentuada, a reforma agrária
não se efetivou e novas concessões foram feitas aos monopolistas
ianques.
Mudaram o nome do partido e mutilaram seus princípios para
conseguir seu registro na Justiça Eleitoral. Passado mais de um ano
nem mesmo esse novo partido reformista obteve existência legal.
Esses fatos, além de muitos outros, comprovam plenamente a falência
da orientação seguida pelo Partido Comunista Brasileiro5.
14
Carlos Marighella morreria um lutador, antes de tudo. Que dizia ele sobre o
parlamentarismo pcbista?
15
A revolução, porém, aglutina as forças com rapidez e as instrui com a
mesma massa e as atrai com uma força irresistível para o programa
revolucionário, o único que exprime de modo conseguinte e concreto os
seus verdadeiros interesses, e seus interesses vitais.
Há no Brasil forças revolucionárias internas capazes de resistir à
ditadura e ir à luta. E é verdade que o pensamento leninista brota por
toda a parte onde o proletariado faz sentir sua influência.7
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sua saída, criticam a Ação Libertadora Nacional (ALN) com base no idealismo
histórico que circunda o Partido, reivindicam apenas a participação do mesmo no
momento de degeneração parlamentarista, mas não reconhecem a ruptura com
este momento, utilizam mesmo o fato de Marighella ter participado do
parlamento para justificarem a continuidade do erro na forma de inserção
parlamentar que busca o PC Brasileiro atual.
A ambos movimentos revolucionários dirigem uma crítica só, a crítica dos
oportunistas, a qual, de forma não-dissimulada, pode ser traduzida da seguinte
forma: “foram estúpidos por tentarem criar a revolução, a luta armada
revolucionária, num ambiente contrarrevolucionário”. Nem ao menos o respeito
pelos revolucionários que escolheram não participar da degeneração mais
completa do espírito do Partido eles mantêm, prestam-lhes “homenagem”
conspurcando seus nomes, seja desconsiderando seus esforços em troca da
afirmação de uma “correção histórica” do PCB que não existiu ou reclamando
seus nomes de forma a desconsiderar completamente a justa crítica por eles
empreendida. Isto já é indicativo de algo que se torna mais evidente ao
analisarmos a real atitude do PC Brasileiro atual frente à questão revolucionária
e à questão do parlamentarismo.
Significa a crítica à atitude do PC Brasileiro quanto aos movimentos
revolucionários da ALN e da Guerrilha do Araguaia uma exaltação completa e
cega destes para nós? Não. A transposição de algumas táticas que haviam dado
certo em Cuba por parte da ALN e a sua não-adesão ao que havia de mais novo
no pensamento e na prática marxista são criticáveis; a aplicação errônea da
Guerra Popular Prolongada (GPP) no Araguaia é criticável. Contudo, ambas as
coisas são criticáveis de um ponto de vista prático e, mais especificamente, tático.
Não são justificativas ou medidas de correção da atitude parlamentarista ou das
análises do PCB dos fins de 50 e da década de 60 quanto à revolução brasileira. A
disputa de duas linhas ocorreu, teorizada ou não, dentro do PCB de 50 até que
não pode mais ocorrer, pois a linha direita infligiu ao Partido a derrota completa
e a estagnação perniciosa, que deixou espaço para o revisionismo kruschevista
florescer. Assim se criou o PCdoB. Marighella, por sua vez, destoou desta linha
revisionista e abstratamente pacifista e colocou-se contra o Comitê Central por
persistir esse erro mesmo sob uma ditadura aberta. Uma análise que partiu desta
linha não pode ser historicamente demonstrada como correta por conta dos erros
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pontuais alheios que os levaram à derrota num momento de fascismo. De fato,
atestam apenas essas tentativas de desconsiderar os esforços revolucionários da
ALN e do PCdoB da época a covardia do PC Brasileiro atual, sua falta de interesse
numa real retificação.
Mas, como anda a situação parlamentar e revolucionária no PC Brasileiro?
Partamos do que é mais recente: as articulações eleitoreiras com o PSOL. O PSOL,
descrito pelo quadro que vem propagando a palavra do “leninismo” pcbista
contra o maoísmo como um “partido de vertentes”, é, de fato, e essencialmente,
uma organização pequeno-burguesa, que age hoje a reboque do petismo
decadente e não contém em si uma única gota de revolução enquanto
organização. Que hajam vertentes ditas revolucionárias (a maioria delas
trotskistas) ou não no Partido é irrelevante, uma vez que um partido ou é
revolucionário ou não é, ou compõe com o povo ou compõe com a reação, ou luta
pelo povo ou pelos anseios oportunistas de politiqueiros que querem se sentar na
mesa dos burgueses e latifundiários.
Diz o PC Brasileiro que essas articulações são feitas para a denúncia da
democracia burguesa, o que já não está, de forma alguma, no interesse do próprio
PSOL. Essa decisão é feita entre os dirigentes e isso é propagado para os
militantes para que o repitam incessantemente na espera de que se façam
verdadeiras as palavras. É mesmo a denúncia que lhes interessa? Onde a farão?
Pela maior parte, não há chance de que vençam, então essa denúncia não será
feita de dentro do parlamento (que não é a Duma!); nos meios de comunicação,
essa denúncia será reduzida ao mínimo tanto quantitativa quanto
qualitativamente, com as próprias limitações de tempo, legais e do “decoro
burguês” que cerceiam as mais parcas pautas progressistas tornando isso
inevitável e com a própria coligação com um partido pequeno-burguês
significando maiores concessões da parte dos próprios comunistas – concessões
essas que logo tornarão inútil todo esboço de denúncia; nos comícios,
panfletagens etc., a coligação novamente lhes faz ter que decidir entre angariarem
votos para si e para seus “companheiros” pequeno-burgueses ou denunciarem o
Estado burguês e, é consabido, a última opção nunca é tomada e as reformas são
propagadas com toda pompa como coisa revolucionária; nas demais ações
conjuntas, agem a reboque de um partido já reboquista e que só atua mediante
suas concepções pequeno-burguesas. Há algum ganho para a luta de classes
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nisso? É discutível. E o reboquismo em relação ao PSOL nada mais é que o
reboquismo em relação às pautas mais atrasadas da pequena-burguesia, o que,
por sua vez, é um reboquismo aos interesses da burguesia e dos latifundiários,
que são os promotores da estagnação dessa classe que vive sempre sob a tensão
entre o progressismo e a reação. No máximo haverá algum burburinho dentro da
pequena-burguesia e das juventudes para mais reformas inúteis e facilmente
reversíveis, que tentam conciliar o desejo do Estado em processo de fascistização
com as necessidades do povo apenas para garantirem os votos nas próximas
eleições.
Mas o que diz o próprio PC Brasileiro, com suas palavras, sobre as eleições?
Vejamos como coloca a questão Gabriel Lazzari, Secretário Político Nacional da
União da Juventude Comunista:
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fazermos denúncias e levarmos os interesses dos trabalhadores para a
opinião pública. Negar participar desses espaços – não para lhes dar
legitimidade, mas, ao contrário, para apontar seus limites – é se negar
a falar com uma ampla massa do povo trabalhador, que muitas vezes só
toma ciência das manobras burguesas através da publicização de uma
ou outra polêmica dentro do parlamento. Essas pequenas
oportunidades, os comunistas agarrarão para denunciar por dentro
como já o fazemos por fora. Assim, combinando a luta parlamentar com
a extraparlamentar, a luta de massas nos sindicatos, entidades
estudantis, movimentos sociais na cidade e no campo, poderemos
auxiliar na reorganização da classe trabalhadora – como já fazemos por
meio do Fórum Sindical, Popular e de Juventudes pelos Direitos Sociais
e Liberdades Democráticas, como já fazemos na defesa de um Encontro
Nacional da Classe Trabalhadora.9
9LAZZARI, Gabriel. Por que os comunistas se lançam às eleições. PCB, 30 Ago. 2020.
Disponível em: <https://pcb.org.br/portal2/26061/por-que-os-comunistas-se-lancam-as-
eleicoes/>.
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Que é o mais ridículo disso tudo? É que talvez tenha sido melhor mesmo
que o PC Brasileiro não tenha construído um movimento de massas contra o
golpe. Idealistas que são, possivelmente teriam confundido ir contra o golpe com
apoiar Dilma Roussef, esquecendo-se do aspecto imperialista do golpe
materialmente e da luta ideológica que está sendo empreendida contra qualquer
forma de “esquerda” e contra qualquer ideia “popular”, por mais pífia ou
mentirosa, que foram a maior causa do golpe – e os seus aliados do PSOL,
inclusive, legitimaram e aplaudiram essa luta material e ideológica em revoluções
coloridas como a da Ucrânia, agora um estado neonazista, o que já se anunciava,
legitimaram e aplaudiram a tentativa de revolução colorida em Hong Kong e
legitimam e aplaudem hoje o que ocorre na Bielorrússia. O golpe é um
seguimento claro da ideologia do “fim da história” do neoliberalismo, o maior
silenciamento das pautas progressistas ou que ao menos assim se assemelhem, a
destruição de qualquer ideal mais nacionalista da pequena e média burguesia e,
não por acaso, veio também acompanhado de uma maior subordinação cultural.
Não querem os imperialistas que desenvolvamo-nos enquanto povo nacional e
por isso acabam com nossas fronteiras material e ideologicamente, promovendo
o neocolonialismo anunciado abertamente e com pompa nos jornais
estadunidenses desde os anos 90 como algo benéfico.
Não seria a primeira vez que o PC Brasileiro incorre nesse tipo de idealismo
de que falamos, continuando, nos últimos anos. Vejamos o que disseram sobre a
soltura de Lula: “O Partido Comunista Brasileiro (PCB) saúda a vitória
democrática parcial representada pela liberdade do ex-presidente Lula”10. Que
vitória democrática pode ser denotada na soltura de Lula para um partido que
não subordine à democracia o seu “socialismo como horizonte”? Que democracia
é essa que defendem? A mesma democracia que defendiam na época do
eurocomunismo, obviamente, aquela que é “valor universal” e plenamente anti-
leninista (a que tentam se esforçar para dizerem que criticam, mas nunca de fato
quiseram abandonar). Lula está livre e a extrema-direita não sofreu derrota
alguma por isso, muito menos o povo viu qualquer democracia de fato para si
nisso.
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Um outro ponto poderia ser comentado no texto, sobre a questão das
práticas parlamentares e extra-parlamentares, mas é melhor que deixemos isso
para quando formos falar das concepções de fato leninistas sobre a atuação
parlamentar. Por enquanto, vamos nos voltar para um período anterior, em 2018,
quando Mauro Iasi, membro do Comitê Central do PC Brasileiro, disse:
11 IASI, Mauro. Eleições 2018: a armadilha do voto útil e o desafio da esquerda. PCB,
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O engodo é tão claro e tão historicamente repetitivo que chega a ser tedioso
ter de fazer essa crítica – e legitimar o seguimento de um processo golpista por
motivo tão porco é um sinal de caducidade muito maior do que meras palavras
podem descrever. O que o parlamentarismo hodierno do PC Brasileiro nos
demonstra é tudo menos leninismo, nos demonstra a falta de um PCdoB maoísta,
de um Marighella, nos demonstra a necessidade da crítica mais radical e
impiedosa da camarilha oportunista que quer se passar por vanguarda do povo,
dirigentes da vanguarda do povo, que engana os seus militantes e só não consegue
enganar o povo pois o povo nunca chegou a conhece-la de fato e todos os pseudo-
esforços pela “denúncia” pararam nos limites exatos que fingiam querer
denunciar. Isto, ao menos, está suficientemente demonstrado. Agora devemos
fazer o contraponto e trazer a concepção de fato leninista de participação
parlamentar, e consequentemente a concepção leninista de boicote.
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texto, alguns outros do próprio Lênin e de Stalin serão discutidos para
adentrarmos na questão parlamentar. É óbvio que os oportunistas, à sua moda,
sempre poderão dizer que algo que Lênin disse num determinado momento é
válido universalmente e que outras coisas que disse não são válidas para o Brasil
atual ou que Stalin não continuou a linha leninista, mas, devemos evitar nos
prender na análise dos malabarismos e interpretativismos dos oportunistas e a
questão sobre Stalin já foi suficientemente respondida alhures.
Que dizem as teses sobre a questão parlamentar da Internacional
Comunista leninista? Logo de início elas expõem o problema da evolução política
do capitalismo como a causa da modificação das necessidades da atuação
parlamentar dos comunistas, considerando que a “maior estabilidade” dos
Estados mediante o “aumento contínuo das forças produtivas e” o “alargamento
do domínio da exploração capitalista” causou nos partidos comunistas uma maior
tendência para a inserção dentro do processo reformista, aumentando a
predominância do “programa mínimo” frente ao objetivo final e,
consequentemente, desenvolvendo-se “o arrivismo parlamentar, a corrupção, a
traição aberta ou camuflada dos interesses mais elementares da classe
operária”12. Assim, ao mesmo tempo que o apelo ao reformismo cresce, as
reformas têm cada vez menos sentido prático, pois as formas prototípicas que
garantem a maior exploração e conformação, seja esta última o fruto da maior
violência nas nações oprimidas ou da maior dissimulação nas nações
imperialistas, já foram estabelecidas.
Em nosso tempo, especificamente, o neoliberalismo é a concretização
última disto: o neoliberalismo recrudesce a exploração nas nações oprimidas,
podendo mesmo retrair os “privilégios” da aristocracia do proletariado nas
nações imperialistas conjunturalmente (e utilizando esse fato para propagar o
chauvinismo que é, necessariamente, a outra face da globalização – basta que
consideremos a Guerra ao Terror ou, mesmo antes disso, a classificação dos EUA
pelos seus líderes de Estado como uma terra de um “povo eleito”), desvincula do
povo todas as pautas populares, subordinando-as à questão democrática da
burguesia, quando muito, estabelece a soberania limitada por um lado, o das
nações oprimidas, e a suprema soberania pelo outro, o das nações imperialistas,
24
principalmente dos EUA e de algumas nações da União Europeia (UE), seja por
meios militares (instalação de bases estratégicas, compra de bases estratégicas,
como a de Alcântara etc.) ou por intermédio de organizações
intergovernamentais, de organizações não-governamentais, das diversas formas
de integração econômica ou por quaisquer outros meios possíveis, e recria as
condições necessárias para a pilhagem colonial das nações que buscam sua
independência através da condenação internacional de seus líderes e da injeção
de dinheiro em organizações fantoche, por vezes abertamente fascistas. Enquanto
tudo isso acontece, o reformismo ganha ou tenta ganhar voz frente ao desespero
dos povos oprimidos, declarando das nações imperialistas a maior certeza ou
incerteza da vitória enquanto dissimula a irmandade com o inimigo e
encontrando eco nas nações oprimidas dentro das organizações pequeno-
burguesas. Sobre isso, diz Nelson Werneck Sodré: “O neoliberalismo busca
embalar as consciências com palavras sonoras e vazias. O povo, a cada dia mais
pobre, procura compreender a razão de sua miséria. Assim avança, às vezes
tragicamente, o processo político brasileiro em nossos dias”13.
Ora, podemos dizer que os partidos comunistas são imunes a isso? Foi
imune o Partido Comunista dos Estados Unidos ao chauvinismo? Não afirmam
eles, ao tentarem se desvincular das acusações de reformismo socialdemocrata,
que as reformas pavimentam a estrada para o socialismo e ignoram a exata tese
leninista que já discutimos? Não negam eles a violência revolucionária da forma
mais veemente e afirmam que a questão socialista é apenas a de concretização
das “liberdades” constitucionais americanas?14 Não é esta a mesma Constituição
que toma como legal ainda hoje a escravidão nas prisões? Ora, este é o resultado
da consolidação política do Parlamento burguês sob o imperialismo e
principalmente do parlamentarismo neoliberal para estes partidos tornados
inescrupulosos e achacados pelo oportunismo que se dizem comunistas nas
nações imperialistas.
Deveríamos nós sermos tão ingênuos e pensarmos que a mesma coisa não
se dá sob outra forma aqui? Sob a forma oposta, em alguns aspectos, e sob forma
idêntica, em outros? Mais palpavelmente vemos que o chauvinismo é substituído
<https://www.cpusa.org/article/five-myths-about-the-cpusa/>.
25
por submissão completa e desejada nos partidos de corrente pequeno-burgueses,
que esses partidos fazem caso com os ataques imperialistas onde quer que haja
qualquer forma de luta popular ou nacionalista em grande parte das vezes. Vemos
que a questão democrática como pautada pela burguesia limita, igualmente, as
“radicais” declarações dos políticos, as suas “radicais” ações e gestos. Nos
partidos comunistas propriamente ditos, verificamos quando o oportunismo
tomou conta também facilmente. Seja de forma anunciada ou dissimulada, eles
repetem a Bernstein e aos eurocomunistas. Dizem a revolução de boca, mas não
a preparam em ação; propagandeiam a democracia do povo, mas defendem a
instituição democrática da burguesia com unhas e dentes, comemorando sua
restauração (e mesmo sua parcial restauração) sem esforçarem-se minimamente
para a destruírem através do aprofundamento da consciência de suas rachaduras
extemporâneas – consciência construída na própria luta ativa. Mas isso veremos
melhor no decorrer de nosso estudo das teses leninistas.
Continuemos. Dizem as teses:
26
diferença entre isso e o petismo ou o psolismo? É que o petismo venceu e o PSOL
ao menos tem mais apoio das camadas médias. Esses partidos oportunistas não
radicalizam nem em teoria nem em ação as pautas pequeno-burguesas às quais
se subordinam na prática eleitoreira de dois em dois anos, pois a mera declaração
da revolução vindoura não é ainda uma radicalização teórica e a mera agitação se
desprendida de uma concepção materialista da revolução é infértil. Nenhuma das
ações que praticam é, por si só, condenável, contudo, tendo-se em conta o caráter
de classe de um partido comunista, todas elas se tornam condenáveis e negam o
Marxismo.
É nessa negação do Marxismo, da luta real, que negam ainda de uma
última forma, não tendo a mínima solidariedade com as lutas populares
revolucionárias e não integrando suas fileiras por “discordâncias teóricas” ou
coisas do tipo, preferindo agir junto aos partidos pequeno-burgueses,
concordando mais teoricamente, de fato, com eles (abaixo, ao tratarmos da
questão revolucionária propriamente dita, falaremos mais disso), que vivem os
partidos oportunistas; é essa negação que gera a cupidez parlamentarista, a
prostituição das pautas proletárias, a cafetinagem dos militantes de base e dos
quadros. Dizem aos militantes: “esqueçam da realidade que vos cerca, das lutas
que ocorrem agora no seio do povo contra a burguesia, contra o latifúndio, contra
o imperialismo, esqueçam a greve dos Correios, o genocídio anunciado contra a
LCP, não pensem no desenvolvimento da luta real, no treinamento para luta real,
é chegada a hora de virar votos para tal ou qual partido que é nosso aliado na
busca do ‘Poder Popular’, esta é a tarefa do Partido” e completam ainda: “se lhes
perguntarem, temos uma estratégia socialista, obscura que seja, distante que
esteja, imóvel que permaneça sempre, está dito nas decisões congressuais”. E os
votos de esquerda tornam-se sempre na política de direita, como já dizia
Saramago16, mas, aparentemente, a época de apoio mais aberto ao Partido dos
Trabalhadores (PT) apenas lhes ensinou como dissimular o apoio ao
neoliberalismo de esquerda e às pautas pequeno-burguesas um pouco melhor
com o palavreado comunista.
A hora da revolução ainda não soou para eles exatamente pois, sempre que
o povo age revolucionariamente, os dirigentes tapam seus ouvidos e com seus
27
tentáculos pequeno-burgueses tapam também os ouvidos dos militantes de base
e dos quadros, repetindo a atitude que teve o PCB com a guerrilha do Araguaia,
com Marighella e a ALN, com a China revolucionária (os cãezinhos de Kruschev
das lideranças talvez ainda sonhem com as sobras da mesa da União Soviética
social-imperialista) e com tudo que combatia essa ideia de que a hora da
revolução é outra. Não dizem e por vezes dizem o contrário, mas repetem na
prática as teses de convivência pacífica de Kruschev. Nem mesmo renovarem a
explicação da atitude conseguem, tão presos estão na década de 60, dizem que o
momento é contrarrevolucionário. A isso devemos responder: todos os
momentos o serão se não construirmos a revolução ou apoiarmos a revolução
onde ela está sendo construída revolucionariamente. O PC Brasileiro e os partidos
oportunistas em geral não constroem a revolução, a empurram com a barriga
para um horizonte cada vez mais distante enquanto o povo morre na praia; não
apoiam a revolução, são reformistas e apoiam os reformistas, eles e os reformistas
pequeno-burgueses se dão tapinhas nas costas pelas “conquistas” parlamentares
e, secretamente, sabem que têm entre si plena identidade.
A tão reclamada tática leninista para a revolução, reclama a ela o nosso
quadro, reclamam as decisões congressuais do PC Brasileiro, encontra-se já, em
tão pouco tempo, tão esvaziada do caráter leninista. Mas, a coisa fica pior. A tática
revolucionária leninista é a da organização para a insurreição contra o Estado, a
tática da formação de um estado-maior proletário capaz de destruir todo o
aparato estatal burguês. Dizem as teses “o partido dirigente do proletariado deve,
regra geral, fortificar todas as posições legais, ter pontos de apoio secundários da
sua ação revolucionária e subordiná-los ao plano da campanha principal, quer
dizer, à luta de massas”17. É isto que ocorre no PC Brasileiro e nos demais partidos
oportunistas? Não desenvolvem esses partidos lutas de massas senão de forma
deturpada e mediante o próprio reboquismo, não ganham eles a mínima
capilaridade, por não terem esses partidos ligação com as massas (e por outros
motivos), o desenvolvimento dessas lutas de massas é, pelos próprios,
subordinado à participação eleitoral; em suma, invertem a tese leninista e não a
levam nem às primeiras consequências, quanto lá às últimas. Será que se
esqueceram que “Só têm valor as plataformas que coroam um prolongado
28
trabalho de agitação revolucionária, que tenham dado plena resposta
à todas as questões do movimento”18? Não, não é uma questão de esquecimento,
mas sim de escolha que poderia ser dita aventureira se não tivesse objetivo
oportunista determinado.
Para além disso, têm eles uma concepção completamente errônea do que
é se ligar com as massas, uma concepção trotskista, do mais vacilante trotskismo;
não o dizem, pois é necessário manter as aparências, mas comprovam suas
atitudes frente à primeira onda de petismo e agora frente ao reformismo psolista.
Que concepção seria essa? A de que a única coisa necessária é se estar ligado com
as massas, que a teoria, a ideologia revolucionária firme, é secundária. A isso
chama o nosso quadro de “Marxismo arejado” (de fato, um Marxismo levado pela
ventania, um Marxismo que nega toda a ciência revolucionária). Defendendo um
partido como o PT, achacado pelo trotskismo, pelo populismo, por toda sorte de
degenerações teórico-práticas que queriam se fazer passar por pautas
revolucionárias, a princípio, desligando-se mais ou menos dessa defesa após um
desenvolvimento crítico de aparências ou criado pelo ressentimento de terem
sempre ficado do lado de fora do jantar e, logo depois, passando a compartilhar
pautas com o PSOL (ora, eles mesmos reclamam que o programa do PSOL
aproxima-se do deles ao colocarem isso como condição da coligação), assim
vivem os oportunistas; podemos nós dizer que se importam com a teoria
revolucionária e com a firmeza? São vacilantes. Não criticam um “a” da dita
“Revolução Solidária” do politiqueiro Guilherme Boulos. É vergonhoso. E é ainda
mais um indicativo de que, sem conseguirem se afastar por um segundo do
oportunismo, subordinam tudo que desenvolvem teórica e praticamente à “pauta
mínima” da traição. Outras teses, as Teses acerca do movimento revolucionário
nos países coloniais e semi-coloniais, também da III Internacional leninista,
afirmam que se não denunciamos o reformismo de um traidor da causa de
libertação nacional (tais palavras são meio estranhas aos oportunistas, mas
finjamos que eles terão a boa vontade de as compreenderem), mesmo que esse
29
não seja um inimigo por completo, apenas fortalecemos a contradição entre esse
traidor e nós, deixando as massas a sua mercê19.
Adiantaria ainda dizermos aos oportunistas que a ação parlamentar “deve
estar totalmente subordinada aos objetivos e às tarefas da luta extra-parlamentar
das massas”20? Que “Todo o movimento de massas deve ser utilizado (greves,
manifestações, agitação no exército e na marinha, etc.); estabelecer-se-á com este
movimento um contato estreito”?21 Ora, esteve o PC Brasileiro mais ocupado com
as eleições ou com a greve dos Correios? Está ele tão ocupado com as eleições que
não pode organizar seus militantes para defender a Liga dos Camponeses Pobres
que sofrem agora mesmo, em Rondônia, os mais detestáveis ataques das forças
reacionárias do Estado? Deixará o PC Brasileiro que um genocídio ocorra contra
o povo sem que mova um dedo? É uma vergonha que um partido onde já foi
produzido tão belo texto propagandístico como o de Pedro Pomar, Contra a
guerra e a dominação imperialista ianque, em defesa da independência
nacional22, hoje, mesmo domesticamente, se acovarde tanto. É vergonhoso e
desrespeitoso com a memória dos tantos valorosos camaradas que ofereceram
suas vidas ao povo para o defender. É vergonhoso e desrespeitoso que ainda
tomem a malfadada mas honrosa alcunha de comunistas brasileiros.
Vejamos agora ainda outra coisa que dizem as supracitadas Teses acerca
do movimento revolucionário nos países coloniais e semi-coloniais:
30
O “Poder Popular” é o engodo eleitoreiro neoliberal de esquerda, a tática
reformista e covarde daqueles que enganam os pobres com falsas promessas de
melhoria de vida, visando, no máximo, instaurar um novo regime de estimulo ao
consumo. Não à toa ele está sendo “construído” pelos pequeno-burgueses e pelos
oportunistas agora, num momento tão crítico de nossa economia e num momento
tão crítico de nossa política, na qual nossa posição de semi-colônia, negada pelo
PC Brasileiro peremptoriamente, se afirma mais ainda. Os pequeno-burgueses
que se animam em apresentar as mais atrasadas pautas dessa franja de classe, as
mais vacilantes, e os oportunistas, juntam-se agora em Santa Aliança para
suavizarem o baque do golpe imperialista, da maior prostituição de nossas
riquezas e de nosso povo e dos ataques internos do latifúndio e da burguesia
compradora-burocrática contra o povo, sejam esses econômicos ou militares.
Devem suavizar a isso para que se mantenha de pé a ordem que de fato defendem:
a ordem da “democracia” sufocante dos latifundiários e burgueses compradores
e burocráticos, da ditadura da burguesia imperialista sobre toda a nação, a ordem
da dupla ditadura contra o povo brasileiro. Não ousam levantar a voz para
ascenderem no povo o espírito da derrubada real do Estado seja como seja,
apenas balbuciam teses pedagógicas, dizem: “devemos ensinar às massas”,
“mostrar às massas”, incorrendo ainda em outro erro denunciado pelo próprio
Lênin no texto Sobre a confusão entre política e pedagogia24. Nenhum dos
oportunistas nutrem ilusões sobre o caráter de um partido que apoiou o
neonazismo ucraniano, sabem bem com o que lidam e não são nem um pouco
leninistas ao proporem a aliança e a formação de “Poder Popular” com um partido
que nada tem de revolucionário. A III Internacional Leninista denunciou à todas
essas atitudes como atitudes de oportunistas.
Olhemos ainda para uma última citação das Teses sobre a questão
parlamentar,
24 LENIN, Vladimir Illich. Sobre a confusão entre política e pedagogia. MIA, 01 Mai.
31
brutalmente o Soviete de Petrogrado antes de tomar a direção da
insurreição; quando decidiram dissolver a Constituinte, deslocando
assim o centro de gravidade dos acontecimentos políticos para o III
Congresso dos Sovietes. Outras vezes, impõe-se o boicote das eleições e
o aniquilamento imediato pela força de todo o aparelho de Estado e da
camarilha parlamentar burguesa; ou por vezes, a participação nas
eleições combinada com o boicote do próprio Parlamento, etc.
25 LENIN, Vladimir Illich. Marxismo e reformismo. MIA, 25 Ago. 2016. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/lenin/1913/09/12.html>.
32
sua sobrevivência é parlamentarista; se defendessem o povo agora, não poderiam
atuar no parlamento, nem deveriam adentrar as eleições.
E por que não? Resta-nos ver a questão do boicote, que, já está
estabelecido, é uma possibilidade da qual o PC Brasileiro e os partidos
oportunistas não gostam de falar – e muito menos de ouvir. Primeiro analisemos
o que é o boicote na perspectiva leninista. Diz Lênin sobre o boicote da Duma:
Ora, devemos ainda esclarecer, para não tomar a posição dissimulada dos
oportunistas, que o motivo para que os bolcheviques não vissem ganho em
participar das eleições era bem claro: a atividade política estava cerceada, os
candidatos corriam mais risco de serem presos ou mortos que de ganharem a
atenção pública. Alguns poderiam dizer que essa não é nossa situação concreta.
E estariam meio certos. Por outro lado, passamos por um golpe em 2016 e em
2018 tivemos uma eleição que deu seguimento a esse golpe. O governo
entreguista e neoliberal de Dilma foi derrubado por não ser entreguista e
neoliberal o suficiente para o império e seus representantes das elites e dentro do
parlamento, foi derrubado e execrado por esses representantes dos interesses
imperialistas internamente como um governo “de esquerda” e “socialista” de
26 LENIN, Vladimir Illich. Devemos nós boicotar a Duma estatal?. MIA, 19 Fev. 2006.
33
forma ridícula, mas massivamente divulgada e as eleições se pautaram por este
golpe, foram decididas por ele. As pautas de esquerda, mesmo as reformistas, não
são apenas rechaçadas, mas completamente silenciadas pelo parlamentarismo
farsesco. Desde 2018, antes das eleições, vemos membros de partidos reformistas
mais radicalizados e membros de partidos oportunistas que desenvolvem
trabalhos mais importantes sendo brutalmente assassinados, vemos
revolucionários sendo atacados ainda agora em Rondônia. Sabe-se agora, mais
do que nunca, ou deveria ser sabido, que os EUA podem, a qualquer momento,
interferir em nossa “democracia” e mudar qualquer governante subserviente por
outro que saiba fazer mais truques. Em toda a América Latina os golpes, as
ameaças de golpe, as ameaças militares etc. fazem-se presentes, em todo o
mundo. E, o que é um dado importante e sempre ignorado por esses que pensam
terem superado a tese leninista da contradição entre imperialismo e nação, o povo
não mais vive no início do século XX, século de estabelecimento e cimentação das
democracias formais em muitas nações semi-coloniais e da transição
“democrática” para muitas semi-colônias “descolonizadas” pelos próprios
colonizadores imperialistas. Ignora-se esse dado pois ele não é cômodo, pois os
“revolucionários” dos partidos oportunistas e eleitoreiros precisam crer que o
povo ainda nutre as mesmas ilusões sobre as eleições.
Bastaria que saíssem de suas torres de marfim para conversarem com o
povo para saberem que mesmo quando a esmagadora maioria vota, quase
ninguém nutre esperanças sobre o processo eleitoral. Está na boca de todos que
de dois em dois anos, de quatro em quatro anos, entra um político e sai outro e
são todos eles iguais, corruptos, ladrões. Pensam os aspirantes a politiqueiros que
eles têm de ensinar isso ao povo com sua “pedagogia” revolucionária? Que
empáfia! Dizem alguns ainda que Bolsonaro se elegeu pelo ódio ao PT ou por
qualquer outro motivo, mas, a verdade é que foi, como apenas lobrigou o
dirigente da UJC, eleito pelo próprio ódio à política como ela é feita, foi eleito por
sua promessa populista de acabar com essa política e trazer uma outra, suas
bravatas contra o Congresso, contra o Supremo Tribunal Federal e contra tantos
âmbitos de negociatas foram apenas bravatas, mas a crença bem relativa do povo
nessas bravatas napoleônicas e o apoio a elas indicam que os elementos subjetivos
para a iniciação de uma violência contra o real sistema eleitoreiro, parlamentar e
legal do Estado latifundiário-burguês já florescem no seio do povo. A descrença
34
no reformismo é um dado bom e não mau. Para além disso, o que não diz o
dirigente, quase 31% da população votante escolheu nem ao menos se pronunciar
ativamente na disputa de 2018, 31,3 milhões nem ao menos compareceram às
urnas28, praticando um boicote passivo facilmente radicalizável. Os que ainda
legitimam as eleições de fato estão, mormente, dentro da pequena-burguesia
iludida e vacilante. Que caberia à um partido comunista fazer? Radicalizar
também a essa classe junto ao resto do povo e denunciar pelo boicote a farsa
eleitoral e a farsa da democracia dos cães latifundiários e burgueses burocrático-
compradores! Denunciar o golpe e a nossa posição de subordinação política
frente aos parasitas imperialistas! Que fazem os oportunistas, contudo?
Defendem com unhas e dentes que devem levar ao povo as “pautas socialistas”
mediante o conluio com partidos que defendem, entre todas as pautas mais
atrasadas da pequena-burguesia, a da democracia como valor universal e
ahistórico também! Subordinarem-se a esses partidos pequeno-burgueses
dissimuladamente na busca de um “Poder Popular” onde é pautada uma
“Revolução Solidária” dentro dos limites mais estreitos do parlamentarismo!
Que agitação pretendem fazer? Vejamos o que diz Stalin sobre o boicote,
seguindo o centralismo do Partido brilhantemente e de forma concreta, e
saberemos:
35
porque com essa "agitação com fatos" os partidários da participação
aprovam involuntariamente a existência da Duma e assim lhe reforçam
as bases. Como desejam refazer-se os companheiros desse enorme
prejuízo? Colocando as cédulas na urna? Nem vale a pena falar nisso.
[...]
A tática do boicote [...] traça uma fronteira nítida entre os
revolucionários e os não revolucionários que desejam salvar com o
auxílio da Duma as bases do velho regime. E traçar essa fronteira tem
uma grande importância para a educação revolucionária do povo.29
36
Que o povo prefira a direita a esquerda, que goste ou não dos comunistas,
conheça-os ou não no plano abstrato deveria ser irrelevante para um partido
compromissado com o povo. O partido deveria saber para onde se move o povo
e, a partir disso, perceber as formas de radicalização possíveis para as pautas
populares ao invés de tentar freia-las aliando-se aos pequeno-burgueses mais
vacilantes. Se o povo vai contra a instituição política latifundiário-burguesa, isso
é bom e deveria ser aproveitado onde for possível. Onde isso não for possível, por
outro lado, os comunistas devem criar as condições para que seja mediante a
denúncia clara e honesta da farsa eleitoral enquanto necessário.
Mas, para que não digam que somos injustos os oportunistas, podemos
falar ainda das condições da participação. O camarada Stalin foi bem claro
também sobre isso:
31 STALIN, 2010.
37
parlamentar é, como já foi dito, a manifestação mais sensível e mais candente dos
erros do PC Brasileiro e dos partidos oportunistas, contudo, a essencialidade do
erro diz respeito à atuação destes partidos e não à fonte teórica de que bebem
grande parte deles. Esta seria a Teoria Marxista da Dependência (TMD), proposta
por Ruy Mauro Marini e companhia desde os interiores da Organização
Revolucionária Marxista Política Operária (POLOP), uma organização
extra-parlamentar de trotskistas e luxemburguistas criada na década de 60 e
originadora de tantas organizações trotskistas, partidárias ou não, quanto se
puder imaginar – sendo ainda adotada a linha da “crítica econômica” da POLOP
também na “corrente” luxemburguista do PSOL, encabeçada pelo revisionista
Nildo Ouriques e em outras “correntes” trotskistas deste partido pequeno-
burguês (e, não deveria ser necessário dizer, plenamente anti-leninista). Talvez
seja importante destacar, já de início, que a POLOP atuou, à época da formulação
de suas teorias, também dentro do PT, inclusive alçando o Partido à um patamar
de futuro partido revolucionário brasileiro ou ao menos como fator necessário do
amadurecimento de classe, como podemos ver em um documento da
organização:
Uma outra característica a que devemos nos atentar sobre essa organização de
oportunistas eleitoreiros é que para eles “As eleições representaram a hora da
verdade”33 no desenvolvimento deste “futuro partido revolucionário” ou fator de
desenvolvimento da consciência de classe. Ora, que isso nos aponta? O caráter
trotskista da POLOP, primeiramente, que é um caráter também anti-leninista. A
este caráter trotskista de teoria organizativa já nos atentamos antes: é a ideia de
que qualquer ligação com as massas significa um avanço, mesmo que essa se dê
38
sem a orientação de uma teoria revolucionária e leninista34. Assim, se admitem
as teorias pequeno-burguesas e a disputa coloca-se como secundária. Podemos
dizer que o PC Brasileiro atual age de forma diferente? Talvez seja mais do que a
trotskista TMD que adotam eles ou talvez o parlamentarismo infantil seja a
decorrência necessária e inevitável desta teoria reformista, como as ideias de
Martins apontam.
Após apresentar de onde surge a TMD, temos de apresentar o que ela é.
Que dizia Marini sobre o capitalismo na América Latina, ao qual denomina
“dependente” (dando a essa dependência especial conotação)? É fácil resumir sua
teoria em três eixos: i) diz-se que a divisão internacional do trabalho é
monopólica; ii) que a burguesia nas nações “dependentes” é sócia do capital
monopolista, desenvolvendo um capitalismo pleno e desenvolvido internamente;
e iii) que as nações “dependentes” de destaque desenvolvem “sub-imperialismo”
em relação às outras nações “dependentes”. O corolário dessa teoria é a conclusão
que decorre destes três eixos, a tática revolucionária que Marini e seus
companheiros da POLOP viriam a defender, bem como outras organizações
partidárias revisionistas: que o socialismo deve ser buscado “desde já”35. Ora,
apenas por essa conclusão já poderíamos denotar o caráter anti-leninista da
TMD, mas prossigamos por enquanto na análise de suas premissas.
Ora, é legítimo dizer que uma nação como a nossa, na visão de Marini
simplesmente “dependente”, tem seu capitalismo plenamente desenvolvido e
entra na lógica do capital monopolista, do imperialismo, por sua parte? Que
praticamos algum tipo de sub-imperialismo? Justifica-se dizer que
abandonamos completamente todas as características semi-feudais presentes em
nossa nação, segundo a TMD, entre os séculos XVI e XIX? Justifica-se a confusão
deliberada entre o que os maoístas chamam de pequenos e médios burgueses com
a burguesia burocrática e compradora? Ao analisarmos quais pensadores
concordam com o caráter dependente da América Latina, já temos por certo que
não há linha alguma traçada entre o inimigo e o caráter “marxista” da teoria senão
39
a tênue linha da proclamação de uma “necessidade revolucionária” e do
“socialismo sem etapas” que é apenas isso, um grito agonizante dos oportunistas,
uma vez que Fernando Henrique Cardoso e José Serra foram adeptos das ideias
essenciais da teoria, excetuando-se aquelas que tinha maior verniz
revolucionário. A história daria conta de derrotar praticamente a TMD com o
golpe contra Allende, adepto da teoria, com a crise da dívida externa, com a
recessão econômica e seus efeitos na América Latina, como o abandono dos
programas desenvolvimentistas e com as contrarreformas de FHC. O Consenso
de Washington poderia ter jogado a última pá de cal nessa teoria já em 1990,
contudo, os seus “pensadores” continuaram a defende-la. Apesar de exporem o
caráter nada dialético da “dialética da dependência”, essas informações, por si só,
não respondem ainda as nossas perguntas. Então, respondamo-las.
Para responder a primeira pergunta, devemos nos perguntar que é capital
financeiro. A resposta será que o capital financeiro é a junção do capital industrial
ao capital bancário, que essa fusão gera os monopólios e seu domínio sobre a
economia mundial, fazendo surgir uma oligarquia financeira, que a exportação
de capitais excedentes para as nações oprimidas toma precedência frente à
exportação de excedentes de mercadoria (e esses capitais são apropriados pela
burguesia compradora), gerando superlucros, que o capital financeiro encontra
seu terreno fértil na formação de carteis, trustes etc. a nível internacional e que,
pelo lado do conjunto das nações oprimidas, subdesenvolvidas, tidas como
dependentes por Marini, ocorre uma repartição completa do mundo entre as
potências imperialistas, formando territórios econômicos e territórios políticos
subordinados a nível nacional. Os atos de agressão que garantem essa transição
das colônias ou de países independentes para a posição de territórios econômicos
do imperialismo visam garantir o seu caráter de território político, isto é, seu
posicionamento semi-colonial frente às potências36. Podemos dizer, olhando para
a situação atual, que as guerras de agressão e as interferências do imperialismo
nessas nações tendem ao aumento da concentração de poder nos centros
imperialistas mundiais, como os EUA e a Alemanha, causando mesmo embates
de interesses entre nações imperialistas e anunciando um possível conflito inter-
imperialista num futuro não tão distante.
40
Mas isso ainda não comprova que não somos uma nação capitalista
desenvolvida e que não desenvolvemos o capital financeiro nacionalmente para
os adeptos da TMD. Não basta a eles a confirmação na realidade das palavras de
Mariategui, que dizia categoricamente que a penetração do capitalismo nas
nações latino-americanas apenas acentuava seu caráter semi-colonial. Dirão que
está superado esse ponto de vista. Que dizemos nós, então? Que toda a penetração
externa do capitalismo no Brasil, todo o desenvolvimento interno do capitalismo,
apenas acentuou nossa subordinação econômica e política frente ao império e
isso é coisa indiscutível, dado as eras de Juscelino Kubitschek, da ditadura, que
temos uma grande burguesia aliada ao latifúndio e ao imperialismo e que essa
burguesia se prostitui e prostitui nossas riquezas e nosso povo ao imperialismo.
Sem o surgimento de uma burguesia autônoma, sufocados primeiro pelo
monopólio comercial colonialista e depois pelo monopólio comercial de novo
tipo, imperialista, sem uma revolução burguesa minimamente apreciável,
41
e que não apresentam qualquer sombra de possibilidade de concorrerem com as
empresas e conglomerados monopolistas do imperialismo.
Aliado a isto, está um fato muito simples que os oportunistas reformistas
da TMD negam de forma mecânica, peremptória e ridícula: as relações de
exploração pré-capitalistas não deixaram de existir no campo. O latifúndio
técnico que substituiu entre 60-80 o latifúndio tradicional não excluiu a essas
formas e as aprofundou relativamente. Os latifundiários brasileiros detêm em
suas mãos 318 milhões de hectares de terra e mais da metade destas, 55%, é
improdutiva; os trabalhos análogos à escravidão, o trabalho servil dos
arrendatários e sub-arrendatários (meeiros, terceiros, quartistas e percentistas),
tão desonestamente chamado de agricultura familiar por aqueles que buscam o
justificar ou dar-lhe verniz moderno, dos trabalhadores em regime de barracão
(trabalho por dívida), entre outras formas pré-capitalistas de exploração que
negam a proletarização completa no campo, são ainda problemas que convivem
muito bem com a transformação da forma das propriedades rurais em
propriedades dos burgueses burocráticos e compradores brasileiros ou do capital
monopolista estrangeiro e servem essas contradições aos interesses do
imperialismo38. Para além disso, as formas de repressão policialesca e política no
campo recorrentemente retomam as práticas mais atrasadas e feudais de
organização social, demonstrando a incapacidade da tensão entre cidade e campo
afirmadas, pelo não-desenvolvimento da economia industrial, de gerar o
progresso na sociedade e de integrar os processos de desenvolvimento nos dois
extremos da sociedade.
Nossa nação, enquanto produtora de matéria prima e de alimentos, produz
para exportação, vendendo barato o que os escravos e servos, o que os operários
produzem, e compra de volta os produtos de maior valor agregado à preços
algumas vezes exorbitantes, no caso de tecnologias e algumas mercadorias, e em
outras à preços menores, reafirmando-se o monopólio comercial também aí.
Nosso mercado interno e o desenvolvimento independente de nossa indústria e
de nosso campo não ocorre de nenhuma forma palpável e minimamente linear.
Desenvolve-se a indústria conjunturalmente, o campo também, as relações de
38SOUZA, Jaílson de. Latifúndio e servidão: irmãos siameses. A Nova Democracia, Jul.
2020. Disponível em: <https://anovademocracia.com.br/no-233/13664-latifundio-e-servidao-
irmaos-siameses>.
42
exploração no campo permanecem sempre atrasadas, mesmo com a
proletarização também ocorrendo. Não se trata, portanto, de negar o
desenvolvimento do capitalismo, apenas de dizer que esse capitalismo não nos é
próprio nem nacional, muito menos plenamente desenvolvido.
Já se encontra respondida, portanto, a pergunta sobre o nosso pretenso
caráter sub-imperialista, que seria o sustentáculo da ideia de que desenvolvemos
capitalismo monopolista e da ideia correlata e decorrente de que nossa grande
burguesia tem algum interesse em ou capacidade de tornar-se autônoma frente
ao capital monopolista das nações imperialistas (ora, onde está a busca dessa
burguesia do desenvolvimento da indústria pesada, da indústria militar,
principalmente, que eram condições sine qua non do sub-imperialismo para o
teoricista Marini?). Não desenvolvemos sub-capitalismo e, de fato,
43
imperialista, e podem estar contra ou a favor do proletariado e dos camponeses,
tendo caráter vacilante, na questão da revolução nacional e da revolução
socialista. Vemos bem como essas classes não são confiáveis e devem estar
subordinadas ao proletariado e aos camponeses, mas também vemos que não
compõem, necessariamente, as fileiras inimigas em relação ao imperialismo. Sua
maior ou menor adesão ao progresso deve ser pesada e a forma de tratarmos a
essas classes é assim definida, não se excluindo qualquer opção mecanicamente
e sendo sempre necessário o embate contra suas ideologias mais vacilantes e mais
reacionárias, bem como a atenção aos seus caminhos, por vezes, traiçoeiros.
Assim, dado caráter subordinado e incompleto do desenvolvimento do
capitalismo nacional e dada a suserania do imperialismo frente à nossa grande
burguesia, dado ainda o não-desenvolvimento, estagnação e perene destruição de
nossa burguesia nacional, devemos bater mais um prego no caixão da TMD (a
realidade a enterrou antes mesmo de ser formulado, mas insistem em tentar
reanimar o cadáver), pois:
41 MARTINEZ, 2014, p. 9.
44
[...] o imperialismo tenta preservar e perpetuar as formas pré-
capitalistas de exploração (especialmente nas aldeias) que servem de
base à existência dos seus aliados reaccionários…
O aumento das fomes e das epidemias no seio do campesinato pobre; a
expropriação em massa da terra da população nativa, as condições de
trabalho desumanas (nas plantações e nas minas dos capitalistas
brancos, etc. …) que chegam a ser piores dos que as da escravatura
explícita – tudo isto exerce um efeito devastador sobre a população
colonial e conduz mesmo à morte de nações inteiras. A “missão de
civilização” dos Estados imperialistas nas colónias é na realidade a
missão de um carrasco.
[...]
A exploração capitalista em cada nação capitalista desenvolveu forças
produtivas. As formas coloniais específicas de exploração capitalista
impedem sempre o desenvolvimento das forças produtivas das
colónias, quer elas sejam manobradas pela burguesia Britânica,
Francesa ou por qualquer outra. As únicas construções feitas (caminhos
de ferro, portos, etc. …) são aquelas indispensáveis para o controlo
militar do país, para garantir o funcionamento da máquina fiscal e para
as necessidades comerciais do país imperialistas…
[...]
[...] a partir do momento em que a exploração colonial pressupõe algum
encorajamento da produção colonial, ela é dirigida segundo linhas que
promovem e correspondem aos interesses da metrópole, e aos
interesses da preservação do seu monopólio colonial. Parte do
campesinato pode ser encorajado a plantar algodão, açúcar ou borracha
(no Sudão, em Cuba, em Java e no Egipto, etc.), mas isto é feito de
maneira a que não promova o desenvolvimento económico
independente do país colonial, mas pelo contrário, intensifica a sua
dependência relativamente á metrópole imperialista...
A verdadeira industrialização do país colonial – em particular a
construção de uma indústria que promova o desenvolvimento
independente das forças produtivas, é impedida e desencorajada pela
metrópole. Esta é a essência da escravização imperialista: o país
colonial é obrigado a sacrificar os interesses do seu desenvolvimento
independente e a transformar-se em apêndice econômico (agrário, de
matérias-primas, etc.) do capitalismo estrangeiro.
[...]
Por causa da intervenção imperialista (imposição de impostos,
importação de produtos industriais da metrópole, etc.), a
transformação das economias rurais em economias de dinheiro e de
mercadorias que causam o empobrecimento do campesinato, a
destruição da indústria artesanal, etc. avança muito mais rapidamente
do que nos países capitalistas. Por outro lado, a falta de
desenvolvimento industrial coloca limites á proletarização.
A enorme desproporção entre a rápida destruição das velhas formas
econômicas e o desenvolvimento lento das novas deu origem a fomes, a
sobrepovoação agrária e à extrema fragmentação da terra cultivada pelo
campesinato na Índia, na China, Na Indonésia, no Egipto, etc.…
As tentativas para introduzir reformas agrárias sem prejudicar o regime
colonial pretendem converter gradualmente o proprietário semi-feudal
no proprietário capitalista, criando assim uma classe de Kulaks. Na
prática, isto apenas conduz a uma maior pauperização da imensa
maioria dos camponeses e à paralisação do desenvolvimento do
45
mercado interno. É com base nestes processos económicos
contraditórios que as forças sociais mais importantes dos movimentos
coloniais se estão a desenvolver.
[...]
Durante o período do imperialismo, o papel desempenhado pelo capital
financeiro para conquistar o monopólio político e económico sobre as
colónias é particularmente importante. Isto é demonstrado pelos
números que traduzem a exportação do capital para as colónias. O
capital é usado primariamente no comércio; as suas funções são agiotas
e procuram preservar e fortalecer a máquina imperialista de repressão
do país colonial (através de empréstimos estatais, etc.) ou através do
controlo exercido sobre os órgãos dos estados semi-coloniais
governados pela burguesia nativa que são alegadamente
“independentes”.
A exportação de capital para as colónias acelera o desenvolvimento das
relações capitalistas. A parte que é investida na produção acelera até
certo ponto o desenvolvimento industrial; mas isto não promove a
independência; a intenção é antes a de aumentar a dependência da
economia colonial relativamente ao capital financeiro do país
imperialista...
A forma favorita de investimento agrícola são as grandes plantações
com o propósito de produzirem comida barata e de monopolizarem
grandes quantidades de matérias-primas. A transferência para as
colónias da maioria da mais-valia extorquida da mão-de-obra barata
dos escravos coloniais atrasa o crescimento da economia colonial, o
desenvolvimento das suas forças produtivas e constitui um obstáculo à
sua emancipação económica e política.42
Resta ainda alguma dúvida, tendo-se que esses problemas estão ainda
presentes nas nações oprimidas, todos eles, do caráter anti-leninista da TMD?
Qual teria sido o motivo para o nosso querido quadro afirmar que a TMD é um
seguimento do leninismo e uma superação destas teses da III Internacional se a
realidade objetiva onde elas revolucionariamente se desenvolveram não foi ainda
essencialmente superada? Oportunismo? Isso dirá o tempo e o povo melhor que
nós. O fato é que o Marxismo (ele diria não-arejado) não aceita confusões e
desonestidades teóricas e os marxistas não deveriam as aceitar, não deveriam as
propagar, não deveriam as ouvir senão com o mais crítico dos ouvidos. Nosso
querido quadro incorre numa inverdade completa para promover a linha
“revolucionária” de seu partido oportunista e eleitoreiro, a linha da estagnação.
O PC Brasileiro vem a adotando há algum tempo, sendo que ela foi criada de
forma revisionista no combate ao revisionismo kruschevista e eurocomunista do
PCB histórico, dando seguimento aos desenvolvimentos da
trotskista/luxemburguista POLOP. Que isso denuncia? Que o PC Brasileiro só
46
corrige seu revisionismo com mais revisionismo. Aceitaram eles as críticas dos
verdadeiros revolucionários maoístas que deram o sangue para o fim da ditadura
com que foram coniventes e aceitam agora a crítica dos maoístas que lutam a
guerra do povo? Não poderiam, dado o caráter oportunista do partido. Neste
sentido, a própria POLOP teve maior integridade, pois à época da ditadura
defendeu a luta armada, mesmo com concepções organizativas e perspectivas
teóricas errôneas.
Mas devemos estar atentos. O caráter trotskista da organização que
desenvolveu a “dialética da dependência” não é o suficiente ainda aos
oportunistas para que classifiquemos como trotskista a própria teoria! Não,
precisam de mais. Felizmente eles mesmos nos dão o que precisam, em seu
funambulismo oportunista. Nas decisões congressuais do PC Brasileiro, a teoria
do “desenvolvimento desigual e combinado”, do próprio Trotsky, consta como
termo utilizado diversas e diversas vezes. E por que isso? Essa tese é uma das
bases da TMD, influenciou seu desenvolvimento. Que tese é essa? A tese que,
contra toda a realidade, tenta afirmar que os elementos mais desenvolvidos do
capitalismo são inseridos nas nações subdesenvolvidas junto aos elementos de
atraso, isto é, que convivem as formas mais avançadas, as tecnologias avançadas
e todo o mais, junto com as formas menos avançadas. Tal teoria é simplista e
relativista, não dá conta da dinâmica completa de produção nas nações
oprimidas, despreza o papel do imperialismo e ainda move-se em direção oposta
à do leninismo ao desconsiderar a classificação política das nações oprimidas
como semi-colônias e a crítica da semi-feudalidade, aqui na América Latina
construída primeiramente por Mariátegui – outro pensador que nosso quadro
gosta de falsificar –, sendo sua conclusão mais aceita no campo do que deveria
ser uma revolução proletária a “Revolução Permanente”, tese historicamente
derrotada e renegada, tal como Trotsky, sabotador da revolução, informante do
nazi-fascismo.
Como poderia ser “mais evoluída a parte mais desenvolvida” da economia
capitalista numa nação como o Brasil? Que justifica essa afirmação? Decerto não
o fato de que uma de nossas maiores companhias estatais, a Petrobrás, refina seu
petróleo alhures para o comprar de volta! Decerto não o fato de que em nosso
campo tecnologias mais ou menos avançadas convivem bem com formas pré-
capitalistas de exploração do trabalho! Decerto não o fato de que as maiores
47
empresas e conglomerados de empresas administradas pela grande burguesia
brasileira são beneficiárias e subordinadas ao imperialismo! Decerto não o fato
de que o campo e a cidade não foram aqui, como nas nações imperialistas,
reunidos pelos desenvolvimentos do imperialismo e pelo desenvolvimento
tecnológico da agricultura! Seria o fato de que nossos insumos agrícolas e as
demais tecnologias aplicadas no campo são pelos latifundiários comprados dos
monopolistas e que isso aumenta ainda mais a monopolização da terra e a
concorrência interna às classes exploradoras que gera essa monopolização? Ora,
isso corrobora exatamente o contrário, a tese da semi-colonialidade! O
trotskismo, mais uma vez, se prova inútil e confuso, vacilante como o homem que
lhe dá nome. Mas, vejamos agora como essas teses atuam para promover o
parlamentarismo tosco.
A TMD, utilizada para negar a necessidade de um esforço primeiro contra
os resquícios de feudalismo em nossa sociedade e, principalmente, contra o
imperialismo e seus títeres nacionais, para que seja superada a contradição
dirigente do mundo, explicada pelo leninismo que os oportunistas fingem
defender como a contradição entre imperialismo e nação, aponta para um
socialismo “desde já” muitas vezes, mas esse socialismo desde já será buscado
depois, quando o “momento não for contrarrevolucionário”, segundo a tese do PC
Brasileiro, quando os trabalhadores forem ensinados pela “pedagogia
revolucionária” a se tornarem todos adeptos do oportunismo e das pautas
pequeno-burguesas de seus aliados, contra as quais não imprimem o menor
combate em nome da política de boa vizinhança – liberalismo puro e simples.
Será buscada a revolução quando todos os operários que se subordinam à
exploração das multinacionais que dominam a economia brasileira descobrirem
subitamente que vivem numa nação de capitalismo desenvolvido nacionalmente;
quando todos os engenheiros da Petrobras que desperdiçam seus currículos e
suas formações aprenderem que os elementos mais avançados do capitalismo
estão à sua porta e eles apenas não viam; quando a venda massiva de ativos da
Petrobras passar a significar, magicamente, a busca da autonomia econômica e o
sub-imperialismo que preconizava Marini; quando os camponeses... bem, o PC
Brasileiro não leva em conta os camponeses, são uma não-classe, senão quando
48
concordam com as teses de Marini (daí a grande solidariedade ao MST 43 e o
desprezo à LCP), mas, seguindo a “crítica” ao maoísmo, e ao leninismo,
consequentemente, os camponeses deveriam aprender que, de fato, não são
explorados de forma pré-capitalista, que não vivem sob regime de barracão ou
sob a “agricultura familiar” da fome; a burguesia nacional (pequena e média
burguesias), por seu lado, deve aprender que está em par de igualdade com os
grandes burgueses... exceto quando está sendo representada pelo PSOL. E que se
faz enquanto esse grande projeto pedagógico não é concretizado? Disputam-se as
eleições! Grande diferença da tese da POLOP sobre o PT enquanto possível
partido de vanguarda que isso tem. É nisso que resulta o “Marxismo arejado”?
Pois nos lembra muito esse resultado qualquer tática liquidacionista,
kruschevista ou eurocomunista, a diferença estando nas palavras utilizadas e não
na prática – e essa diferença nas palavras, já sabemos, é a verdadeira tática dos
oportunistas para manter exatamente onde está o regime explorador pelo engano
dos incautos.
43Ver: ASSUNÇÃO, Matheus Gringo de. Ruy Mauro Marini e a teoria marxista da
dependência. MST, 5 Jul. 2020. Disponível em: <https://mst.org.br/2020/07/05/ruy-
mauro-marini-e-a-teoria-marxista-da-dependencia/>.
49
Revolução como miragem ou Revolução de
Nova Democracia anti-imperialista e ininterrupta
até o socialismo?
50
[...] há uma possibilidade objectiva de um caminho não-capitalista de
desenvolvimento das colônias atrasadas – e essa possibilidade traduz-
se na transformação da revolução democrático-burguesa na revolução
proletária e socialista com a ajuda da ditadura proletária vitoriosa. No
contexto das condições objectivas favoráveis, esta possibilidade será
convertida em realidade, e o caminho para o desenvolvimento é
determinado apenas pela luta.44
A este caminho recusam os oportunistas, dizem que isso “caducou”, que a etapa
da revolução democrático-burguesa já foi atingida (por qual revolução
democrático-burguesa?) e que os que de fato lutam em suas nações e aqui no
Brasil estão malucos. São doidos desvairados os que reclamam uma revolução
agrária no Brasil para os oportunistas, pois essa, nunca tendo acontecendo, já
aconteceu e a TMD explica que aconteceu apesar da realidade. Que bela teoria
essa que determina a verdade das coisas independente de como elas são! Hegel
estaria feliz com o andar dos “marxistas” (e do marxiano de suspensório) do PC
Brasileiro. Mas ajamos como se a realidade importasse mais que a teoria, como
os indoutos que somos, e continuemos a analisar quais são as tarefas
democrático-burguesas segundo a III Internacional leninista:
51
Arguirão os oportunistas que qualquer destas coisas foi conquistada
mesmo sem o caráter proletário que lhes imprime o leninismo? Terão tal
desfaçatez? Nem mesmo a carga horária de trabalho de oito horas! O reformismo
é tão falho que ao menos que o trabalhador venda todos os seus domingos, exceto
um, no mês, a carga horária de trabalho aumenta em quase uma hora para além
do que é, em tese, permitido por lei, com jornadas de 12h ou mais podendo
também ocorrer por meio de acordos, com horas extras não sendo pagas de
acordo com a lei. E nossa economia cada vez mais vai para a mão dos americanos,
dos noruegueses, dos alemães... Que dirão os oportunistas? Sigamos na análise
das teses:
52
fala um “a” da unidade entre proletários e camponeses em todo o documento do
PC Brasileiro, enquanto as teses deixam claro que “O campesinato – como aliado
do proletariado – é uma força condutora da revolução”48 e que
53
nacional” (ele sabe o que é a burguesia nacional?) é nossa aliada maior ou ao
menos faz crer que por vermos a possibilidade de aliança com a burguesia
nacional somos ou seriamos ultimamente à ela subordinados, que daríamos
prioridade aos acordos com a burguesia. Aqui encontramos talvez a raiz da
mentira reacionária sobre “Os Dez Mandamentos de Lênin”, tendo em conta o
“leninismo” de nosso querido quadro e do PC Brasileiro que nos acusa de fazer
algo que eles mesmos vêm fazendo de dois em dois anos, que fazem agora ao
construírem com o PSOL o “Poder Popular”, a “Revolução Solidária” e a
“revolução cultural” antes da revolução por intermédio da “pedagogia
revolucionária”.
O nosso querido quadro vai além mesmo do que anunciam os oportunistas
de seu partido, dizendo abertamente exatamente o que o partido diz em teoria e
ação. Ele é o defensor do Marxismo arejado, crê que as teses leninistas e seu
desenvolvimento científico revolucionário podem ser descartados
impudicamente pois não existem “faróis do Marxismo” de fato; não existe, em
suas palavras, uma “verdade revelada”, crê ele que um Togliatti é tão aproveitável
(por que não seria para parlamentaristas inveterados?) quanto um Trotsky e um
Trotsky tanto quanto um Lênin (não um Stalin, pois ele, segundo o quadro, nada
teve que ver com o desenvolvimento do Marxismo-leninismo). O “Marxismo
arejado” ou Marxismo freestyle do estimado quadro ainda assim reclama o
“centralismo democrático” leninista! Qual centralismo democrático? Não é
possível o centralismo democrático num partido que nega em todos os âmbitos o
leninismo e adota apenas citações soltas de Lênin para justificar suas mentiras
parlamentaristas. O “Marxismo arejado” do valoroso quadro considera que
existem vantagens palpáveis mesmo em um partido de tendências como o de seus
aliados pequeno-burgueses. Enfim, de que serve esse “Marxismo arejado” ou
Marxismo freestyle na prática e na verdade? Serve para negar o Marxismo como
ciência, a verdade última de que o Marxismo apenas se desenvolve
cientificamente por intermédio da revolução, de que a revolução é sempre mais
científica que qualquer tese saída das entranhas da máquina de debulhar mentes
que é a universidade! Serve para afirmar o teoricismo infértil. Já dissemos antes
em extensão o que denota o caráter científico de uma linha revolucionária e o que
54
torna científica uma linha dentro da perspectiva revolucionária50 e apesar de não
ser nossa intenção nos repetir, devemos reafirmar que a mente pensante de um
indivíduo por si só não é capaz de desenvolver nada sem a prática revolucionária
real. Negar a isso seria negar novamente o leninismo e seria negar também ao
próprio Marx quando esse diz:
Disponível em:<https://www.marxists.org/portugues/marx/1844/critica/introducao.htm>.
55
que possamos prosseguir e vejamos o que é a Revolução Democrática na visão
maoísta também:
52 MARTINEZ, 2014, p. 8.
53 MARTINEZ, 2014, p. 8.
56
Pensamento Mao Tsé-Tung, e sintetizada como parte integrante também do
maoísmo pelos comunistas revolucionários que lutaram contra o revisionismo
soviético após a morte do camarada Stalin e que lutam ainda hoje contra o
oportunismo dos partidos comunistas ao redor do mundo e pelo povo.
A teoria da Revolução de Nova Democracia é a única teoria revolucionária
clara em nosso tempo para as nações oprimidas, a única que não se desvirtua em
oportunismo parlamentarista ou em aventureirismo putchista. Ela é a
continuadora da linha marxista-leninista, como ficará ainda mais claro na
medida em que formos a colocando em suas bases reais, não desprezando os
aportes do Marxismo-leninismo nem os pensadores, propositores e
continuadores da linha marxista-leninista, mas elevando o Marxismo-leninismo,
concretizando ainda mais a questão revolucionária dentro da espiral dialética que
é a luta popular, da materialidade dessa espiral que antecede sua apreciação
histórica ou teórica.
Dizia sobre o Presidente Mao Tsé-Tung Chen Po-Ta:
A vitória de Mao Tsé-Tung na China foi determinada por seu compromisso com
o povo antes de tudo, e seu compromisso com o povo levou-o a ter um
compromisso real com o Marxismo-leninismo, com a ciência revolucionária do
proletariado, levando-o também a desenvolver essa ciência de forma minuciosa e
clara. Mao conduziu a revolução numa grande nação oprimida pelo imperialismo,
numa grande nação onde disputas inter-imperialistas vinham ocorrendo há
tempos, numa grande nação achacada pela Guerra do Ópio, pelo vício, pela
prostituição e por toda sorte de problemas comuns ainda hoje numa nação
miserável. Mao revolveu a nação chinesa, buscando em todos os cantos os
inimigos do povo no decorrer da Revolução de Nova Democracia, aplicando a
54 PO-TA, Chen. Mao Tsé-Tung e a revolução chinesa. MIA, 26 Jul. 2019. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/chen-po-ta/1951/mao/01.htm>.
57
estratégia da Guerra Popular Prolongada, conduzindo a Grande Marcha e
derrotando os reacionários do Kuomintang, continuou a combater os inimigos do
povo no decorrer da implantação do socialismo na China, aplicando a revolução
ininterrupta até o socialismo, e combateu-os ainda, ao brilhantemente analisar a
questão da restauração do capitalismo na União Soviética, dentro do próprio
socialismo, desenvolvendo a Grande Revolução Cultural Proletária, expressão
única e irreprimível da luta contra o revisionismo no seio do partido, pela
retificação do partido, e da justa resolução das contradições no seio do povo.
Sobre a Revolução Cultural, corolário da Revolução de Nova Democracia
ininterrupta até o socialismo, em específico, já comentava o grande
revolucionário e camarada Pedro Pomar, fiel combatente do revisionismo e do
oportunismo do PCB à sua época:
55POMAR, Pedro. Grandes êxitos da Revolução Cultural Proletária. MIA, 10 Jul. 2015.
Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/pomar/1968/mes/grandes.htm>.
58
oportunistas a ciência revolucionária e seu desenvolvimento científico último, o
Marxismo-leninismo-maoísmo? Porque se não a temerem, se não a combaterem
o oportunismo e o revisionismo correlatos serão destruído como sempre foram
quando o Pensamento Mao Tsé-Tung e o maoísmo foram aplicados.
Os maoístas não admitem em suas fileiras o oportunismo e o revisionismo,
apresentem-se eles como quiserem! Não aceitam os desvios sociais-democratas,
kautskistas, não aceitam o trotskismo sabotador e entrista, colaborador do
nazismo, da Agência Central de Inteligência americana, não aceitam o
kruschevismo e o eurocomunismo da convivência pacífica com a “democracia”
burguesa e com o imperialismo, capitulacionismo de novo tipo, não aceitam o
pós-modernismo, as formas deturpadas e individualistas de luta e as teorias
deturpadas e individualistas do pós-modernismo, não aceitam quaisquer formas
de revisionismo, e não aceitam o dogmato-revisionismo hoxhaíxta também. Os
maoístas pugnam em todos os momentos de sua militância, de uma forma ou de
outra, adotando tal ou qual método, tal ou qual forma, contra o revisionismo e
buscam resolver justamente, de forma democrática, as contradições no seio do
povo, enquanto reservam para os inimigos do povo o que lhes espera. E isto não
é demasiado brutal ou um desvio sectário, é o mínimo que se deve ser feito na
defesa da linha revolucionária e da ciência revolucionária do povo! O povo
defenderá a linha revolucionária, como vem defendendo sempre que ela é
justamente aplicada, independentemente do quão brutal os imperialistas e
revisionistas a pintarem. Mas os oportunistas tentam enganar seus militantes e
proclamar sua falsa democracia interna, negando novamente o Marxismo-
leninismo ao colocarem como valor abstrato, internamente também, a
democracia, “esquecendo-se” que tanto mais dentro do partido a democracia tem
conteúdo de classe e ou se aplica uma linha que busca o desenvolvimento e
resolução da luta de classes ou se aplica uma linha que suporta pacificamente o
imperialismo e a exploração da classe trabalhadora.
Que é, então, a Revolução de Nova Democracia anti-imperialista e
ininterrupta até o socialismo e como ela combate o oportunismo dos que
defendem seja o “socialismo desde já” seja a sua revolução como miragem? Chen
Po-Ta assim expõe a questão por trás da Revolução de Nova Democracia como
revolução de novo tipo:
59
Considerando as mudanças fundamentais trazidas para a história do
mundo pela Revolução Socialista de Outubro e as modificações na
história chinesa geradas pelo surgimento na arena política do
proletariado na China Moderna, Mao Tsé-tung escreveu que antes
destes fatos surgirem, a Revolução Chinesa era uma revolução
democrática de velho tipo; ou seja, dirigida pela burguesia e que, após
os acontecimentos, a Revolução Chinesa passou a ser uma revolução de
Nova Democracia, isto é, uma revolução dirigida pelo proletariado.
[...]
Mao Tsé-tung assinalou:
“o curso histórico da Revolução Chinesa se divide em duas etapas: a
revolução democrática e a revolução socialista”.
Ainda que em seu caráter social a primeira etapa que dá início a
Revolução Chinesa seja fundamentalmente democrático-burguesa, esta
"já não pertence a revolução de velho tipo dirigida exclusivamente pela
burguesia com o objetivo de estabelecer uma sociedade capitalista e um
estado sob a ditadura burguesa, mas agora pertence a uma revolução de
novo tipo que, dirigida inteiramente, ou em parte pelo proletariado,
aspira ao estabelecimento de uma sociedade de nova democracia e um
estado sob a ditadura conjunta de todas as classes revolucionárias".
Mao Tsé-tung definiu esta revolução na seguinte fórmula, clara e
simples:
“Uma revolução de Nova Democracia é uma revolução das grandes
massas do povo, dirigida pelo proletariado contra o imperialismo e o
feudalismo”.56
56 PO-TA, 2019.
60
tung sobre a Revolução Chinesa estava de completo acordo com os pontos de vista
de Lenin e Stalin e foi, precisamente, um desenvolvimento destes conceitos”57.
Mao sabia que, numa nação semi-colonial, a burguesia não tinha interesse
e temia uma revolução agrária e que apenas oportunistas fariam coro com esse
temor negando a necessidade da revolução agrária e da unidade sólida entre
proletários e camponeses. Mao, portanto, disse que a questão da unidade na
Revolução de Nova Democracia era a questão da unidade estreita entre os
proletários e os camponeses, da formação de uma aliança inquebrável entre os
proletários e os camponeses pobres e médios, da direção do proletariado e da
combatividade camponesa, da ditadura das classes progressistas até o socialismo
sob a direção do proletariado e da ditadura do proletariado sob o socialismo. A
era das revoluções democrático-burguesas de velho tipo havia acabado, o
imperialismo ditou isso em sua busca de hegemonia econômica mundial, criando
o capitalismo burocrático nas semi-colônias e consequentemente os exploradores
subordinados da burguesia burocrático-compradora; o leninismo apontava para
a Nova Democracia, para a revolução de novo tipo, que tem conteúdo de classe
definido e não tergiversa quanto às reivindicações do povo, que mantém no poder
o povo. Assim se iniciam as contribuições de Mao Tsé-Tung ao leninismo, com a
GPP sendo o sustentáculo da nova forma revolucionária, a estratégia político-
militar revolucionária da Revolução de Nova Democracia e a mais avançada
estratégia político-militar em todo o mundo.
A GPP na China teve um desenvolvimento de cerco das cidades pelos
interiores e esta tática demonstrou-se correta, garantindo a vitória do Exército de
Libertação Popular, o Exército Vermelho da China. Todos os inimigos do povo
chinês, apoiados pelos imperialistas, os grandes burgueses, os senhores feudais,
os próprios imperialistas, foram caindo um a um frente à força popular. A
militarização do partido, o estabelecimento de bases revolucionárias
militarmente supridas com homens e armas, o treinamento militar dos militantes
e dos quadros, o treinamento de lideranças, a aliança entre operários e
camponeses e a tarefa mais alta que os revolucionários chineses levavam como
sua insígnia de honra, servir ao povo de todo o coração, foram os elementos
indispensáveis da vitória da revolução chinesa, bem como a atenção plena e
57 PO-TA, 2019.
61
desassombrada ao objetivo geral desta tarefa: o fim da exploração do homem pelo
homem e a construção da sociedade socialista, e aos objetivos específicos dos
estágios materialmente necessários para se atingir esse objetivo geral, a saber, a
organização do povo em torno da luta contra a contradição principal do mundo
dominado pelo imperialismo, que é a oposição entre o imperialismo e a nação (e
portanto entre os elementos que suportam internamente o imperialismo e os
interesses nacionais, também), a definição das tarefas democráticas mediante a
análise das pautas populares e progressistas de todas as classes progressistas, a
subordinação das pautas progressistas das classes vacilantes (pequena e média
burguesias, principalmente) à direção da classe revolucionária por excelência, o
proletariado, e à busca do socialismo (todos os objetivos universais da fase de
transição socialista são aqui inseridos) e da sociedade sem classes, o comunismo,
e, por fim, a busca da revolução de Nova Democracia sob a direção do
proletariado, que significa a revolução ininterrupta até o socialismo. O inimigo
foi estudado em sua força e em sua debilidade e foi derrotado sem que se criasse
o ambiente demagógico da espera incessante pelo “momento revolucionário” que
os oportunistas gostam tanto e falar sobre. Desta forma, “Mao Tsé-tung aplicou a
dialética marxista-leninista aos problemas estratégicos da guerra revolucionária
com excepcional brilho e passo a passo provou que esta análise era correta”58.
Comentando a posição de Stalin, que era a posição da Internacional
leninista e do próprio Lênin, Chen Po-Ta diz ainda:
58 PO-TA, 2019.
62
posição de direção na frente única nacional. Este princípio também foi
formulado e ratificado por Lenin e Stalin. 59
59 PO-TA, 2019.
63
[...]
A burguesia nacional não é uma força relevante na luta contra o
imperialismo. No entanto, esta oposição burguesa e reformista possui
um significado real e específico para o desenvolvimento do movimento
revolucionário – e isto tanto no sentido negativo como no positivo –
desde que tenha alguma influência sobre as massas.
O que importa acerca disto é que obstrui e atrasa o desenvolvimento do
movimento revolucionário, ao mesmo tempo que mantém as massas
trabalhadoras afastadas da luta revolucionária. Por outro lado, a
oposição burguesa ao bloco feudal e imperialista dominante pode
acelerar o despertar político das amplas massas trabalhadoras; os
conflitos abertos entre a burguesia nacional-reformista e o
imperialismo – apesar de em si mesmos serem irrelevantes em –
podem, sob certas condições, servir indirectamente como o ponto de
partida de grandes acções de massas revolucionárias.
É verdade que a burguesia reformista tenta impedir o avanço de
actividades de oposição. Mas onde quer que existam condições
objectivas para uma crise política profunda, as actividades da oposição
nacional e reformista – mesmo os seus conflitos insignificantes com
imperialismo que não têm qualquer ligação com a revolução – podem
adquiri grande importância.
Os comunistas devem aprender como utilizar cada conflito para os
expandir e para aumentar a sua relevância, para os ligar com a agitação
através de slogans revolucionários, para os espalhar entre as massas,
para conduzir as massas a manifestarem-se em defesa das suas próprias
reivindicações, etc.60
64
Sigamos. Mao e o PCCh sob sua direção nunca esconderam em teoria ou
na prática suas reais intenções, nunca dissmularam teórica ou praticamente que
a Revolução de Nova Democracia dirigida pelo proletariado em aliança estreita
com o campesinato era uma revolução ininterrupta ao socialismo, nunca
subordinaram seu programa máximo ao programa mínimo, nunca tiveram de
justificar a isso com ridículas desculpas como “o momento não é revolucionário”
ou “devemos educar o povo para a revolução fora dela”. Mao e o PCCh
construíram junto ao povo o momento revolucionário sem vacilar. Onde havia
vacilação, eles estavam lá para a atacar e destruir de forma democrática, mediante
uma educação revolucionária – e não uma educação para a revolução. Mao
considerou que “o período da revolução de Nova Democracia ‘é uma etapa
transitória necessária entre a derrubada da sociedade colonial, semicolonial e
semifeudal, e o estabelecimento da nova sociedade socialista’”61 e desfez todas as
confusões entre a etapa democrático-burguesa e a transição socialista, analisando
a totalidade da luta e as particularidades de seu desenvolvimento contraditório
corretamente. A partir disso, desenvolveu-se política e economicamente a
liderança indispensável do proletariado na revolução e o ponto de Mao sobre os
estágios da luta comprovou-se na prática. Podemos analisar a isso brevemente
considerando os ganhos da revolução, já na década de 50, para o proletariado e
para os camponeses:
61 PO-TA, 2019.
65
materiais sobre as quais se desenvolverá a produção, para lograr a
prosperidade, e são a força dirigente da economia social íntegra”.
As organizações de ajuda mútua, as cooperativas de produtores
agrícolas e as cooperativas de víveres e consumo das massas
camponesas, que se estabeleceram no curso da revolução de Nova
Democracia, também contém fatores socialistas e servem como formas
transitórias dirigindo o campesinato até o socialismo. É certo que
necessitamos de um longo espaço de tempo para realizar a
transformação socialista em todo o país. Mas este caminho foi aberto.
Nosso progresso está completamente assegurado, ainda que muitos
preparativos e lutas sejam necessários.62
62 PO-TA, 2014.
66
Marxismo-leninismo-maoísmo, devem ser estudados! As necessidades
revolucionárias de que falaram os leninistas, entre eles Mao, as necessidades das
revoluções nas semi-colônias são ainda as mesmas. O imperialismo não mudou
de caráter nem as suas semi-colônias mudaram de caráter e os desenvolvimentos
históricos desde a Revolução de Outubro e desde a Revolução Chinesa,
principalmente após a restauração capitalista na União Soviética e sua
progressiva restauração na China, apenas reafirmaram o neocolonialismo, o
imperialismo, como qualquer um pode facilmente concluir ao olhar para o nosso
próprio estado atual frente às potências.
67
outro aporte universal do maoísmo que lhes teria sido benéfico tempos atrás: a
justa luta de duas linhas dentro do partido. A estagnação revolucionária sempre
cria o revisionismo, mas sempre existem aqueles dispostos a lutar contra esta
monstruosidade insidiosa, este “Marxismo” que nega o Marxismo. Infelizmente,
foram expulsos ou obrigados a se retirarem nada gentilmente os que tentaram
disputar pela aplicação da linha correta dentro do PCB historicamente.
Nossa nação foi sempre achacada pela subjugação e não teve qualquer
desenvolvimento, seja econômico, militar, político, social ou ideológico,
autônomo enquanto nação. O Estado latifundiário-burguês é um títere do
imperialismo e adota apenas àquilo que o imperialismo dita como correto por
meio dos seus governos reacionários, de suas organizações intergovernamentais
etc. A maior ou menor evolução das formas dessa dominação em determinados
âmbitos nacionais e em conjunturas específicas não muda o caráter essencial da
mesma. Sob o imperialismo, somos território econômico e território político,
como a Ditadura Militar, não apenas defendida, mas organizada, financiada e
auxiliada pelo imperialismo estadunidense, e como o mais recente golpe, que
segue ativo, comprovam; como comprova a tresloucada venda de ativos da
Petrobras que ocorre dia sim dia não; como comprovam mesmo as modificações
legais, desde as mais divulgadas até as mais ínfimas, em nossos textos jurídicos;
e como tantas outras coisas poderiam também comprovar, não sendo difícil que
as achemos ao olharmos para a realidade. As instâncias capitalistas que aqui se
instalaram são de tipo burocrático, tanto nosso mercado quanto nossa produção
são dominados pelo inimigo externo, o imperialismo, e os burgueses
burocráticos, gestores da miséria, e compradores, beneficiários da importação de
capitais estrangeiros e do atraso, são apenas os seus aliados na luta contra o povo,
aglutinando o imperialismo às suas hostes defensoras do atraso que nos é
infligido também os senhores feudais modernos, os latifundiários, que são os
exportadores, monopolistas de terra, especuladores, exploradores de mão de obra
servil e escrava e defensores ferrenhos do atraso produtivo.
Tantos e tantos pensadores Brasileiros falaram sobre essa realidade,
apesar de os oportunistas quererem dizer que estamos importando, nós, teorias
“da China” (não são esses os mesmos que adoram importar teorias da França, do
Canadá, da Grécia, da Itália etc. da forma mais acrítica possível?). Nelson
Werneck Sodré, Alberto Passos Guimarães, Rui Facó, Pedro Pomar, Manoel
68
Lisboa, Maurício Grabois, João Amazonas e tantos outros defenderam a
independência brasileira frente ao imperialismo como necessidade primeira da
revolução, analisaram a situação brasileira frente ao imperialismo e a situação
interna, as classes exploradoras e progressistas, traçaram os perfis dessas classes.
Tantos desses não apenas estudaram, mas botaram em prática o que escreveram,
lutaram a justa luta do povo. A isso não podemos nunca desprezar ou dissimular.
Devemos apenas elevar a luta dos camaradas que quiseram libertar o Brasil e
abandonar a falsa luta dos oportunistas. Sem independência, com o monopólio
de terra ainda vigente, isto é, sem a mínima reforma agrária, e com o
desenvolvimento desprezível de nossas forças produtivas frente ao
desenvolvimento das nações imperialistas sendo ainda uma mera decorrência das
necessidades dessas nações, são os estudos desses autores, bem como o dos
aportes do Presidente Mao Tsé-Tung, muito necessários para o tracejar de
qualquer linha revolucionária no Brasil. A própria grande burguesia só nasceu no
Brasil pois assim quis e assim permitiu o imperialismo e agora ela sobrevive em
conexão umbilical com esse.
Nossas tarefas, as tarefas dos comunistas, se impõem, todas elas, pelo
nosso dever de servir ao povo. Se um partido não serve ao povo, se despreza um
ou mais aspectos da opressão contra o povo e se um partido faz troça da condição
de exploração do povo no campo, não é um partido comunista e não deveria
contar com comunistas em suas fileiras. Quais deveriam ser as tarefas de um
partido comunista numa nação semi-colonial? O partido comunista deveria, a
partir do reconhecimento da necessidade de uma Revolução de Nova Democracia
anti-imperialista e ininterrupta até o socialismo, definir as tarefas do estágio
democrático e do estágio socialista da revolução, visando a completa superação
da sociedade de classes.
Devem ser formadas na luta as alianças entre as classes progressistas do
povo e disputadas todas as ideias vacilantes das classes vacilantes, combatidos
todos os inimigos do povo infiltrados; deve ser disposta a estratégia universal da
GPP na Revolução de Nova Democracia e a tática mais apropriada para sua
aplicação no solo brasileiro; devem ser, conjuntamente, formados política,
ideológica e militarmente os lutadores da revolução; as forças armadas realmente
populares devem ser instituídas; devem ser destruídos os títeres do imperialismo
internamente e os ataques imperialistas contrarrevolucionários devem ser
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respondidos à altura; deve ser tornada plenamente revolucionária a pauta da
revolução agrária contra o latifúndio; devem ser nacionalizadas todas as
transnacionais e todos os grandes bancos; toda a dívida pública deve ser tida
como nula e toda a pilhagem especuladora deve ser destruída; deve ser instituída
a ditadura ampla do povo sob a direção do proletariado organizado no Partido
Comunista; as forças produtivas devem ser alavancadas continuamente; nossa
independência e nosso desenvolvimento independente devem ser defendidos a
todo custo; as contradições no seio do povo devem ser democraticamente
resolvidas por intermédio da Revolução Cultural e os inimigos do povo devem ser
expostos e destruídos; as classes exploradoras devem ser exterminadas como
classe; o revisionismo que visa restaurar o capitalismo na sociedade deve ser
punido; a reeducação dos elementos contrarrevolucionários deve ser constante;
a transição socialista deve ser preparada a todo momento mediante a superação
de cada estágio da Revolução de Nova Democracia; o povo deve ser sempre
servido de todo o coração.
70
Conclusão
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O PC Brasileiro não defende a luta popular. Não defende os focos de luta
popular em Rondônia, em Alagoas e em outros locais do Brasil. Desprezam as
direções oportunistas a Liga dos Camponeses Pobres que desenvolvem a justa
luta pela revolução agrária sob a égide do maoísmo. Para além disso, desprezam
as lutas do Partido Comunista do Peru-Sendero Luminoso (PCP-SL), aqui ao
lado, as lutas ao redor do mundo, na Índia, na Turquia, nas Filipinas, no Nepal,
analisam mal e de forma desrespeitosa a Guerrilha do Araguaia e a atuação da
Ação Nacional Libertadora, desprezam a luta armada e a necessidade da
militarização dos partidos e, por isso, sucumbem sempre no mesmo erro já
denunciado por tantos ao longo dos anos de existência do PC Brasileiro, por
Marighella, por Pedro Pomar, por Manoel Lisboa etc. Devemos lutar contra este
chamariz pequeno-burguês que é o PC Brasileiro e guardar as jovens mentes de
sua embusteira influência defendendo a luta do povo e declarando aos que ainda
têm alguma dúvida os aportes universais do maoísmo de forma clara e explícita.
O povo não será mais enganado pelos farsantes politiqueiros de direita ou que se
dizem de esquerda! Os comunistas servirão ao povo e à luta popular!
Torna-se nosso dever, portanto:
72
Bibliografia
CPUSA. Five myths about the CPUSA. CPUSA, 14 Abr. 2020. Disponível
em: <https://www.cpusa.org/article/five-myths-about-the-cpusa/>.
73
INTERNACIONAL COMUNISTA. Teses sobre a questão parlamentar.
MIA, 10 Dez. 2019. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/tematica/1920/07/teses.htm>.
74
MARIGHELLA, Carlos. Carta à Comissão Executiva do Partido
Comunista Brasileiro. MIA, 11 Jul. 2011. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/marighella/1966/12/01.htm>.
75
POMAR, Pedro. Grandes êxitos da Revolução Cultural Proletária. MIA,
10 Jul. 2015. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/pomar/1968/mes/grandes.htm>.
76
DEFENDAM A PRODUÇÃO DE teoria
REVOLUCIONÁRIA POPULAR E REALMENTE
INDEPENDENTE!
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