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23/06/2022 15:06 Comunismo e Ditadura

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Comunismo e Ditadura
Mao Tsé-tung

Novembro de 1920 - Janeiro de 1921

Nota: A presente tradução para o português foi realizada a partir da tradução inglesa do
conteúdo extraído das cartas enviadas por Mao Tsé-tung para Ts'Ai Ho-Sen entre novembro de
1920 e janeiro de 1921 presente em Selected Works of Mao Tse-tung: Volume VI disponíveis na
sessão em inglês do Marxists Internet Archive. A tradução e adaptação foram feitas respeitando e
mantendo o conteúdo e teor da mensagem presentes na fonte.
Tradução e Html: Eliabe Barbosa de Jesus
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.

Em sua palestra em Changsha, Russell(1) se posicionou em favor do


comunismo mas contra a ditadura dos trabalhadores e camponeses. Ele disse
que deveria ser empregado um método educativo para mudar a consciência das
classes opressoras, e que desta forma não seria necessário limitar a liberdade ou
ter de recorrer ao derramamento de sangue em uma guerra revolucionária.
Minha objeção para o ponto de vista de Russell pode ser resumida em poucas
palavras: Isso tudo é muito bonito na teoria, mas é inviável na prática. Educação
requer dinheiro, pessoas e ferramentas.

No mundo de hoje o dinheiro está inteiramente nas mãos dos capitalistas.


Aqueles que possuem o comando da educação são ou capitalistas ou esposas de
capitalistas. No mundo de hoje, as escolas e a imprensa, os dois instrumentos
mais importantes de educação, estão inteiramente sob o controle dos
capitalistas. Em suma, a educação do nosso mundo é a educação capitalista. Se
ensinarmos o capitalismo para as crianças, estas crianças, quando crescidas, irão
ensinar o capitalismo para a segunda geração. A educação seguirá então
permanecendo nas mãos dos capitalistas. E então os capitalistas terão seu
parlamento para passar as leis que protegerão a sua classe e que irão deixar em
desvantagem o proletariado; com o seu governo que aplicará as suas leis e que
irá forçar as proibições e desvantagens que virão em sequência. Eles possuem
exércitos e polícia para defender o bem-estar dos capitalistas e reprimir as
demandas do proletariado. Eles possuem bancos para servirem de repositores na
circulação de sua riqueza. Eles possuem fábricas, que são os instrumentos as
quais eles usam para monopolizar a produção de mercadorias. Portanto, se os
comunistas não conquistarem o poder político, não poderão ser capazes de
encontrar qualquer refúgio nesta terra.

Como então, diante dessas circunstâncias, poderiam eles comandar a


educação?

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Assim, os capitalistas irão continuar controlando a educação e glorificando o


capitalismo nas alturas, fazendo com que o número de convertidos para a
propaganda proletária comunista diminua dia após dia. Consequentemente, eu
acredito que esse método educativo seja inviável. Este é o meu primeiro
argumento. O segundo é que, baseado no princípio do hábito e na minha
observação da história humana, eu sou da opinião de que não se pode esperar
que os capitalistas se tornem comunistas...

Se alguém quiser usar o poder transformador da educação nestas pessoas,


não terá de forma alguma o controle de todo o aparato e nem mesmo de alguma
parte importante desses dois instrumentos de educação — escolas e imprensa —
mesmo que esse tenha uma boca e uma lingua e duas escolas e dois jornais
como meios de propaganda. Nada disso será suficiente para mudar a
mentalidade dos capitalistas, nem que ligeiramente. Como então pode alguém
esperar que esse último possa passar para o nosso lado? Isto é demais do ponto
de vista psicológico.

Do ponto de vista histórico, observa-se que nenhum déspota militar e


imperialista no curso da história jamais ficou conhecido por deixar as coisas
acontecerem livremente sem esse ter sido derrubado pelo povo. Napoleão I se
proclamou imperador e falhou. O mesmo com Napoleão III. Yuan Shikai falhou, e
o mesmo aconteceu com Duan Qirui. Com o que eu tenho dito e baseado no
ponto de vista psicológico e histórico, pode-se notar que o capitalismo não
poderá ser derrubado pela força de esforços tão fracos no domínio da educação.

Este é o segundo argumento. Ainda há um terceiro, na realidade o mais


importante: Se usarmos meios tão pacíficos para obter o objetivo do comunismo,
quando é que iremos obtê-lo? Vamos assumir que será necessário um século, um
século de eterna agonia do proletariado. Qual posição deveríamos tomar em face
desta situação? O proletariado é muitas vezes maior que a burguesia; se
assumirmos que o proletariado constitui dois terços da humanidade, então um
bilhão dos um bilhão e meio de habitantes são trabalhadores (temo que o
número seja muito maior), os quais durante esse século serão cruelmente
explorados pelo resto de capitalistas. Como poderemos aguentar isso? Além do
mais, desde que o proletariado têm se tornado consciente do fato de que
também deveria possuir a riqueza, e o fato de que o seu sofrimento é
desnecessário, o proletariado têm se encontrado descontente, a demanda por
comunismo tem surgido e se tornado um fato. Este fato nos confronta, e nós não
podemos fazê-lo desaparecer. Conscientes disso, nos colocamos a agir. Esta é a
razão, na minha opinião, da revolução russa e dos comunistas de cada país
crescerem a cada dia de maneira mais numerosa, poderosa e organizada. É um
resultado natural. Este é o meu terceiro argumento.

Há um outro ponto em relação às minhas dúvidas acerca do anarquismo.


Meu argumento pertence não meramente na impossibilidade de uma sociedade
sem forma de poder ou organização. Eu gostaria de mencionar apenas as
dificuldades na forma de estabelecimento de tal forma de sociedade e sua

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realização. Por todas as razões mencionadas, minha visão presente acerca do


liberalismo, do anarquismo e até mesmo da democracia é que estas coisas são
belas em teoria, mas não na prática.

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Notas de rodapé:

(1) Bertrand Russell. Filósofo britânico. Realizou uma palestra na cidade de Changsha, capital da
província de Hunan, em uma conferência educativa em outubro de 1920 antes de sua agenda
oficial em Pequim. (retornar ao texto)
Inclusão 04/08/2019

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