Você está na página 1de 81

Apresentação

O texto que apresentamos ao leitor brasileiro é o célebre Informe de


Dimitrov feito em 2.8.35 no VII Congresso Mundial da Internacional
Comunista (Comintern).
Este Informe, que viria desempenhar um papel dos mais importantes na
história do movimento comunista mundial, reflete muito mais que seu
valor intrínseco, pois na verdade é produto de uma situação das mais
delicadas da história da humanidade e por isto é muito mais que uma
simples intervenção de um dirigente comunista, mesmo em se tratando do
Secretário da IC.
O leitor brasileiro, principalmente os mais jovens, tem sido obsequiado
com um longo jejum forçado quanto à leitura de textos importantíssimos
que dizem respeito à história do movimento comunista e/ou socialista,
sendo impedido deste modo de conhecer as vicissitudes e glórias que
marcaram o desenvolvimento da luta pelo socialismo em escala mundial, o
que provoca, sem dúvida, um sério prejuízo para uma criteriosa e honesta
aferição das decisões e posicionamentos que ao correr da história foram
tomados em nome desta luta.
De fato, excetuando-se uma época heroica da luta socialista em nosso
país, por incrível que pareça, no decorrer do período Vargas, muito pouco
se editou em termos de textos e documentos históricos do movimento
socialista. É verdade que após 64, com a derrubada do castelo populista,
onde o pensamento socialista seja de que matiz fosse, estava sempre a
reboque, o movimento editorial brasileiro marchou no sentido de publicar
obras importantes do pensamento socialista, mas mesmo assim o descuido
com documentos de tal ordem foi ainda acentuado e imperdoável. A
censura tupiniquim se deve em parte esta lacuna, mas não foi a principal
causa. Existe uma resistência inexplicável no seio do pensamento de
esquerda brasileiro em perder tempo com ensaios, estudos e publicações de
tal tipo. Antes de se conhecer textos como este é mais cômodo e atual ler
textos modernos.
O resultado disto é que discute-se muito em torno de textos modernos e
desconhece-se a concreticidade histórica que os textos mais antigos
transmitem e refletem.
Não se trata de tomar dos clássicos as lições e ensinamentos que possam
transmitir e aplicá-los mecanicamente às nossas ações cotidianas de luta.
Ao contrário, a experiência que os clássicos podem nos transmitir são
exatamente aquelas que permitem redefinir estas ações, teórica e
praticamente, a cada momento histórico concreto. Neste sentido é que a
publicação do texto de Dimitrov é altamente importante.
Até 1934 Stálin ainda mantinha uma atitude reticente quanto ao avanço
do fascismo.
Fiel à sua política de construção do socialismo em um só país, ele
procurava minimizar este avanço, pois o importante era preservar a
segurança interna da União Soviética.
A seu favor pode ser argumentado que sofrendo hostilidades de todo o
mundo capitalista, principalmente da França e da Inglaterra, desejava
manter a URSS neutra, indiferente às divergências entre as potências
capitalistas. Mas, mesmo assim, é de se estranhar que no seio do partido
bolchevique não se manifestasse uma correta avaliação da situação. Do seu
exílio somente Trotsky esbravejava contra esta posição.
Em 1934 Stálin rompeu seu silêncio. Durante o XVII Congresso do
PCUS ele fez referência ao avanço fascista, mas mesmo aqui ainda
considerava o fascismo como algo passageiro, uma fraqueza do
capitalismo. Contudo, deu alguns passos à frente: passou à defesa do
sistema de Versalhes, aderiu à Liga das Nações. Em 1935 tentou criar com
os adversários ocidentais de Hitler um pacto de defesa: recebeu Eden,
Laval e até Benes.
Dando uma guinada ainda mais forte, destitui o secretário da IC,
Manuilski e indica para o cargo a G. Dimitrov, o herói da luta antifascista,
arrancado das prisões nazistas com o julgamento de Leipzig. A primeira
intervenção do novo secretário é o informe que apresentamos.
Até então, refletindo a política de Stálin, a Internacional Comunista
defendia posições que consideravam o fascismo e a social-democracia
como almas gêmeas. De repente, surge a virada: pregam-se as frentes
populares e a social-democracia é considerada aliada natural na luta contra
o perigo fascista. Até mesmo setores liberais da burguesia são considerados
então como aliados.
Esta mudança brusca da política da IC causa uma série de dificuldades:
em primeiro lugar, a aliança com os comunistas era sempre vista com
desconfiança pelos aliados. De um lado a social-democracia estigmatizada
com os ataques comunistas resistia muito a aceitar a repentina mudança; do
outro, a burguesia liberal tinha pavor em se aliar aos comunistas, pois
temia que na luta antifascista, fortificados, eles passassem à luta
anticapitalista.
Todavia, mesmo assim, a política de frentes populares avançou. Na
Espanha e na França obtém um grande sucesso eleitoral e em outros países
se fortalecia como movimento de massas. Stálin tenta frear este ímpeto. Na
Espanha a situação chega ao paradoxo: o fascismo intervém diretamente,
os republicanos buscam ajuda e Stálin se vê impedido de dá-la em nome da
sua política de não intervenção. A saída é a criação de brigadas
internacionais, onde a participação individual de comunistas lutando ao
lado dos republicanos é uma demonstração do Internacionalismo
proletário.
Neste ponto a ambígua política de Stálin começa a rachar. De um lado,
diante da contínua resistência da França e Inglaterra em firmar uma
aliança, ele pouco a pouco se aproxima de Hitler, chegando até ao pacto de
39. Do outro, a prática de ação política de massa desenvolvida pelos
comunistas em toda a Europa em aliança com os demais setores
antifascistas, empurra o movimento cada vez mais para a oposição
antifascista e, como tal, anti-Stálin.
Seria desta prática, que sairiam os movimentos de resistência que,
consumada a invasão nazista, iriam desempenhar formidável papel na luta
contra o fascismo e nos quais os comunistas jogaram importante papel,
emergindo depois, após a vitória aliada, como movimento de massa forte e
com largo apoio popular em seus países.
Outro ponto que devemos destacar quanto à política de frentes populares
antifascistas é aquele que diretamente se relaciona com nossa história.
Não bastasse o fato de que o Brasil é nominalmente citado ao lado da
Índia e da China, no item Frente Única Anti-imperialista, onde se fez uma
leve menção à Aliança Nacional Libertadora, devemos lembrar que nesta
época Prestes vivia na União Soviética e havia aderido ao Partido.
Seria a partir daí que o Secretariado Sul-Americano da IC, localizado em
Montevidéu, tomaria as medidas para influir em todos os PCs sul-
americanos para aderirem à política de frente populares e adotarem a luta
anti-imperialista, que de resto não era assim tão inovadora neste caso, pois,
desde 1926, este mesmo órgão já havia preconizado este tipo de luta para a
América Latina, sobretudo tomando como modelo a experiência da China
(ver Caio Prado in Revolução Brasileira).
Daí, Prestes, o herói da Coluna, o formidável tático e estrategista militar,
retornar ao Brasil e lançar-se na luta legal da ANL.
Contudo, mesmo considerando estas diretrizes, mesmo considerando o
relativo êxito que a Aliança estava conseguindo, o que teria levado então à
tentativa desesperada do golpe militar e da luta armada consubstanciada no
movimento de 35, a famosa Intentona Comunista?
Em recente artigo jornalístico Paulo Sérgio Pinheiro sugere que dentro
da IC os duros, representado pela corrente Manuilski, que continuava no
seu Secretariado, não descartavam a hipótese da luta armada e que esta era
uma segunda opção, a ser usada onde as condições se mostrassem
favoráveis. Mais recentemente, Prestes, na sua primeira entrevista
publicada na imprensa brasileira após-64 dá outra explicação: a intentona
teria sido uma precipitação, mas foi um movimento antifascista, pois o
avanço Integralista, com cobertura de Vargas, era uma ameaça. Contando
com mais facilidade de penetração nas forças armadas que na classe
operária, julgaram então que este seria o melhor meio de impedir o avanço
do fascismo. Aqui caberiam algumas indagações: teria sido a formação
militar de Prestes fator importante para que, naquela época, acreditasse
mais no golpe armado que na ação de massas preconizada pela Aliança, via
política de frentes populares, à qual ele, mesmo participando, desprezava?
Em que medida dentro do próprio PCB, outros elementos dirigentes
estariam comprometidos com a linha Manuilski sugerida por Paulo Sérgio
Pinheiro? Tudo isto é ainda multo confuso e só será explicado claramente
quando pudermos ter a história do movimento comunista brasileiro e
particularmente a história da Intentona.

Os editores
Capitulo I: O Fascismo e a Classe Operária
Camaradas: Já o VI Congresso da Internacional Comunista prevenira o
proletariado internacional sobre a gestação de uma nova ofensiva fascista,
chamando-o à luta contra ela. O Congresso salientou que
"quase em toda parte existem tendências fascistas e germes de
um movimento fascista em forma mais ou menos desenvolvida."
Sob as condições da profundíssima crise geral do capitalismo, do
revolucionamento das massas trabalhadoras o fascismo passou à ofensiva
declarada. A burguesia dominante cada vez mais procura sua salvação no
fascismo para empregar medidas excepcionais de espoliação contra os
trabalhadores, para preparar uma guerra imperialista de rapina e de assalto
contra a União Soviética, para preparar a escravização e divisão da China e
impedir, por meio de tudo isto, a revolução.
Os círculos imperialistas tentam descarregar todo o peso das crises sobre
os ombros dos trabalhadores. Para isto, necessitam do fascismo.
Tratam de resolver o problema dos mercados mediante a escravização
dos povos débeis, mediante o aumento da opressão colonial e uma nova
partilha do mundo por meio da guerra. Para isto, necessitam do fascismo.
Tentam atalhar o crescimento das forcas da revolução por meio da
destruição do movimento revolucionário dos operários e camponeses e do
assalto militar à União Soviética, baluarte do proletariado mundial. Para
isto, necessitam do fascismo.
Em uma série de países — particularmente na Alemanha — estes
círculos imperialistas conseguiram, antes da viragem decisiva das massas
para a revolução, infligir ao proletariado uma derrota e instaurar a ditadura
fascista.
Mas a característica da vitória do fascismo é precisamente a
circunstância de que esta vitória mostra, por um lado, a debilidade do
proletariado, desorganizado e paralisado pela politica divisionista social-
democrata de colaboração de classe com a burguesia, e, por outro lado,
revela a debilidade da própria burguesia, que tem medo que se realize a
unidade de luta da classe operária, teme a revolução e não está em
condições de manter sua ditadura sobre as massas com os antigos métodos
da democracia burguesa e do parlamentarismo.
***
O fascismo no Poder, camaradas, é, como acertadamente o definiu o XIII
Pleno do Comitê Executivo da Internacional Comunista, a ditadura
terrorista descarada dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e
mais imperialistas do capital financeiro.
A modalidade mais reacionária do fascismo é o fascismo de tipo alemão.
Tem a ousadia de chamar-se nacional-socialismo, apesar de não ter nada de
comum com o socialismo. O fascismo hitleriano não é apenas um
nacionalismo burguês, é um chauvinismo bestial. É o sistema de governo
do banditismo político, um sistema de provocações e torturas contra a
classe operária e os elementos revolucionários da massa camponesa, da
pequena burguesia e dos intelectuais. É a crueldade e a barbárie medievais,
a agressividade desenfreada contra os demais povos e países.
O fascismo alemão atua como tropa de choque da contrarrevolução
internacional, como incendiário principal da guerra imperialista, como
iniciador da cruzada contra a União Soviética, a grande pátria dos
trabalhadores de todo o mundo.
O fascismo não é uma forma de Poder estatal que esteja, como se
pretende, por cima de ambas as classes do proletariado e da burguesia,
como afirmou, por exemplo, Otto Bauer. Não é a pequena burguesia
sublevada que se apoderou do aparelho do Estado, como declara o
socialista inglês Brailsford. Não; o fascismo não é um poder situado por
cima das classes, nem o poder da pequena burguesia ou do
lumpemproletariado sobre o capital financeiro. O fascismo é o Poder do
próprio capital financeiro. É a organização do ajuste de contas terroristas
com a classe operária e a parte revolucionária dos camponeses e dos
intelectuais. O fascismo em política exterior é o chauvinismo em sua forma
mais brutal que cultiva um ódio bestial contra os demais povos.
É preciso salientar de modo especial este caráter verdadeiro do fascismo
porque a dissimulação da demagogia social deu ao fascismo, numa série de
países, a possibilidade de arrastar consigo as massas da pequena burguesia
desajustadas pela crise, e até alguns setores das camadas mais atrasadas do
proletariado que jamais seguiriam o fascismo se tivessem compreendido
seu verdadeiro caráter de classe, sua verdadeira natureza.
O desenvolvimento do fascismo e a própria ditadura fascista revestem-
se, nos diversos países, de formas diferentes, segundo as condições
históricas, sociais e econômicas, as particularidades nacionais e a posição
internacional de cada país. Em alguns países, principalmente onde não
conta com uma ampla base de massas e onde a luta entre os diversos
grupos no campo da própria burguesia fascista é bastante dura, o fascismo
não se decide imediatamente a acabar com o parlamento e permite aos
demais partidos burgueses, assim como à social-democracia, certa
legalidade. Noutros países, onde a burguesia dominante teme a próxima
eclosão da revolução, o fascismo estabelece seu monopólio político
ilimitado, ora de golpe e bordoada, ora intensificando cada vez mais o
terror e o ajuste de contas com todos os partidos e agrupamentos rivais. Isto
não faz com que o fascismo, no momento em que se agrava de um modo
especial sua situação, deixe de estender sua base para combinar — sem
alterar seu caráter de classe — a ditadura terrorista descarada com uma
grosseira falsificação do parlamentarismo.
A ascensão do fascismo ao Poder não é uma simples troca de um
governo burguês por outro, mas a substituição de uma forma estatal da
dominação de classe da burguesia, a democracia burguesia, por outra: a
ditadura terrorista declarada. Passar por alto esta diferença seria um erro
grave que impediria o proletariado revolucionário de mobilizar as mais
amplas camadas dos trabalhadores da cidade e do campo para lutar contra a
ameaça da tomada do Poder pelos fascistas assim como de aproveitar as
contradições existentes no campo da própria burguesia. Não obstante, não
menos grave e perigoso é o erro de não apreciar suficientemente o
significado que têm para a instauração da ditadura fascista as medidas
reacionárias da burguesia que se intensificam atualmente nos países da
democracia burguesa, medidas que reprimem as liberdades democráticas
dos trabalhadores, restringem e falseiam os direitos do parlamento e
agravam as medidas de repressão contra o movimento revolucionário.
Camaradas, não é possível representar a subida do fascismo ao Poder de
uma forma tão simplista e fácil, como se um comitê qualquer do capital
financeiro tomasse a resolução de implantar em tal ou qual dia a ditadura
fascista. Na realidade, o fascismo chega geralmente ao Poder em luta
recíproca, às vezes exasperada, com os antigos partidos burgueses ou com
determinada parte destes em luta até no seio do próprio campo fascista, que
muitas vezes conduz a choques armados, como vimos na Alemanha,
Áustria e outros países. Tudo isto, no entanto, não diminui a significação
do fato de que, antes da instauração da ditadura fascista, os governos
burgueses atravessam habitualmente uma série de etapas preparatórias e
realizam uma série de medidas reacionárias que facilitam diretamente o
acesso do fascismo ao Poder. Todo aquele que não lutar nestas etapas
preparatórias contra as medidas reacionárias da burguesia e contra o
fascismo em ascensão não estará em condições de impedir a vitória do
fascismo, senão que, pelo contrário, a facilitará.
Os chefes da social-democracia encobriram e ocultaram às massas o
verdadeiro caráter de classe do fascismo e não lutaram contra as medidas
reacionárias cada vez mais graves da burguesia. Sobre eles pesa grande
responsabilidade histórica, pelo fato de, nos momentos decisivos da
ofensiva fascista, uma parte considerável das massas trabalhadoras da
Alemanha e de diversos outros países fascistas não reconhecer no fascismo
a fera sedenta de sangue do capital financeiro, seu pior inimigo, e destas
massas não estarem preparadas para fazer-lhe frente.
De onde nasce a influência do fascismo sobre as massas? O fascismo
consegue atrair para si as massas, porque apela de forma demagógica para
suas necessidades e exigências mais candentes. O fascismo não só instiga
os preconceitos profundamente arraigados nas massas, como especula
também com os melhores sentimentos destas, com sua sede de justiça, e, às
vezes, até com suas tradições revolucionárias. Por que os fascistas alemães,
esses lacaios da grande burguesia e inimigos mortais do socialismo, se
fazem passar perante as massas por socialistas e apresentam sua subida ao
Poder como uma revolução? Porque se esforçam em explorar a fé na
revolução, a atração pelo socialismo que vive no coração das amplas
massas trabalhadoras da Alemanha.
O fascismo age a serviço dos interesses dos imperialistas mais
agressivos, porém se apresenta diante das massas disfarçado em defensor
da nação ultrajada e apela para o sentimento nacional ferido, como fez, por
exemplo o fascismo alemão, que arrastou consigo as massas com a palavra
de ordem de Contra Versalhes!
O fascismo aspira à mais desenfreada exploração das massas, porém,
delas se aproxima com uma demagogia anticapitalista, muito hábil,
explorando o ódio profundo dos trabalhadores contra a burguesia rapinante,
contra os bancos, os trustes e os magnatas financeiros, e lançando as
palavras de ordem mais sedutoras em determinado momento para as
massas que não alcançaram a maturidade política. Na Alemanha: o bem
comum está acima do bem particular, na Itália: nosso Estado não é um
Estado capitalista e sim um Estado corporativo; no Japão: por um Japão
sem exploradores; nos Estados Unidos: pela divisão das riquezas, etc.
O fascismo entrega o povo à voracidade dos elementos mais
corrompidos e venais, mas apresenta-se diante dele com a reivindicação de
um governo honrado e insubornável. Especulando com a profunda
desilusão das massas em relação aos governos da democracia burguesa, o
fascismo se indigna hipocritamente em face da corrupção (veja-se, por
exemplo, o caso Barmat e Sklaret, na Alemanha; o caso Staviski, na França
e outros).
O fascismo atrai, no interesse dos setores mais reacionários da
burguesia, as massas decepcionadas que abandonam os antigos partidos
burgueses impressiona estas massas pela violência de seus ataques contra
os governos burgueses, por sua atitude irreconciliável com os antigos
partidos da burguesia.
Deixando atrás todas as outras variedades de reação burguesa, por seu
cinismo e sues mentiras, o fascismo adapta sua demagogia às
características nacionais de cada país e inclusive às características das
diferentes camadas sociais dentro de um mesmo país. E as massas da
pequena burguesia e uma parte dos operários levados ao desespero pela
miséria, o desemprego forçado e a insegurança de sua existência, se
convertem em vítimas da demagogia social e chauvinista do fascismo.
O fascismo chega ao Poder como o partido de choque contra o
movimento revolucionário do proletariado, contra as massas populares em
efervescência, porém representa sua subida ao Poder como um movimento
revolucionário dirigido contra a burguesia, em nome de toda a nação e para
salvar a nação. (Recordemos a marcha de Mussolini sobre Roma, a
marcha; de Pilsudski sobre Varsóvia, a revolução nacional-socialista de
Hitler na Alemanha, etc.).
Mas qualquer que seja a máscara com que se disfarce, qualquer que seja
a forma em que se apresente, qualquer que seja o caminho por que suba ao
Poder,
• o fascismo é a mais feroz ofensiva do capital contra as massas
trabalhadoras;
• o fascismo é a reação feroz e a contrarrevolução;
• o fascismo é o pior inimigo da classe operária e de todos os
trabalhadores.
***
O fascismo prometeu aos operários um salário justo; na realidade, lhes
deu um nível de vida ainda mais baixo, mais miserável. Prometeu trabalho
aos desempregados; e no final de contas lhes proporcionou mais fome e um
trabalho servil: o trabalho forçado. Na verdade, o fascismo converte os
operários e os desempregados em párias da sociedade capitalista,
desprovidos de prerrogativas, destrói seus sindicatos, arrebata-lhes o direito
de greve e de imprensa operária, envolve-os pela força nas organizações
fascistas, rouba-lhes os fundos dos seguros sociais, converte as fábricas e
as oficinas em quartéis onde reina o despotismo desenfreado dos
capitalistas.
O fascismo prometeu à juventude trabalhadora abrir-lhe um caminho
amplo para um porvir esplendoroso. Na realidade, trouxe à juventude
dispensa em massa das fábricas, campos de trabalho e exercícios militares
incessantes, visando uma guerra de rapina.
O fascismo prometeu aos empregados, aos modestos funcionários, aos
intelectuais, assegurar-lhes a existência acabar com a onipotência dos trusts
e com a especulação do capital bancário. Na prática, trouxe-lhes maior
desespero e insegurança no dia de amanhã, os submeteu a uma nova
burocracia formada por seus partidários mais obedientes; criou uma
ditadura insuportável dos trusts e semeou em proporções nunca vistas a
corrupção e a decomposição.
O fascismo prometeu aos camponeses arruinados e depauperados acabar
com a vassalagem das dividas, suprimir o pagamento das rendas e até
expropriar sem indenização a terra dos latifundiários em favor dos
camponeses sem terra e arruinados. Na realidade, entrega os camponeses
trabalhadores à escravidão sem precedentes dos trusts e do aparelho do
Estado fascista e aumenta até o indizível a exploração das grandes massas
camponesas pelos grandes agricultores, os bancos e os usuários.
A Alemanha será um país camponês ou não será nada, declarou
solenemente Hitler. Mas que têm obtido os camponeses da Alemanha sob
Hitler? Uma moratória que já está revogada? Ou a lei regulando o regime
hereditário das fazendas camponesas, que expulsa do campo milhões de
filhos e filhas de camponeses, convertendo-os em mendigos? Os
assalariados do campo veem-se convertidos em semi-servos, aos quais foi
arrebatado até o direito elementar de livre circulação. Aos camponeses
trabalhadores foi tirada a possibilidade de vender os produtos de sua
propriedade no mercado.
E na Polônia?
O camponês polaco — escreve o jornal polonês Czas —
emprega métodos e meios que só se aplicaram, seguramente, nos
tempos da Idade Média: conserva o fogo na estufa e o empresta a
seus vizinhos; divide em vários fragmentos os pavios de cera. Os
camponeses dão uns aos outros a água de sabão usada. Fervem os
barris de arenques para obter água salgada. Isto não é nenhum
conto, mas a verdadeira situação reinante no campo, da qual
qualquer pessoa pode convencer-se por si mesma.
E isto, camaradas, não o escreve nenhum comunista mas um jornal
reacionário polonês!
Isto não é tudo, mas não é pouco. Dia após dia, nos campos de
concentração da Alemanha fascista, nos porões da Gestapo (política
secreta), nas masmorras polacas, nos calabouços da polícia secreta búlgara
e finlandesa, na Glawnjatsçh de Belgrado, na Siguranza romana, nas Ilhas
italianas, os melhores filhos da classe operária, os camponeses
revolucionários, os que lutam por um futuro mais belo para a humanidade,
são submetidos a torturas violentas e zombarias tão repugnantes que diante
delas empalidecem os crimes mais abomináveis da polícia secreta czarista.
O criminoso fascismo alemão converte os maridos, em presença de suas
mulheres, em massas de carne sangrenta, envia às mães em pacotes postais
as cinzas de seus filhos assassinados. A esterilização se converteu num
meio política de luta. Aos presos antifascistas encerrados nas câmaras de
tortura inoculam pela força substancias venenosas, rompem-lhes as mãos,
arrancam-lhes os olhos, enforcam-nos, injetam-lhes água com uma bomba,
recortam-lhes cruzes gamadas na pele viva.
Tenho diante de mim um resumo estatístico do Socorro Vermelho
Internacional sobre os assassinados, feridos, presos, mutilados e torturados
mortalmente na Alemanha, Polônia, Itália, Áustria, Bulgária e Iugoslávia .
Somente na Alemanha, sob o governo dos nacional-socialistas, foram
assassinadas mais de 4.200 pessoas; detidas 317.800; e 218.600 operários,
camponeses, empregados e intelectuais antifascistas, comunistas, social-
democratas e membros das organizações cristãs de oposição foram feridos
e submetidos a torturas cruéis. Na Áustria, desde os combates de fevereiro
do ano passado, foram assassinadas 1.900 pessoas; 10.000 feridas e
mutiladas; e 40.000 operários revolucionários detidos pelo governo fascista
cristão. E este resumo está muito longe de ser completo.
É difícil encontrar palavras com que expressar toda nossa indignação ao
pensar nas torturas que hoje sofrem os trabalhadores em diversos países
fascistas. As cifras e fatos que assinalamos não refletem nem a centésima
parte do quadro verdadeiro da exploração e das torturas, do terror dos
guardas brancos, que enchem a vida cotidiana da classe operária nos
diversos países capitalistas. Nenhum livro, por volumoso que fosse,
poderia dar uma ideia clara das incontáveis bestialidades do fascismo
contra os trabalhadores. Com profunda emoção e ódio contra os verdugos
fascistas inclinamos as bandeiras da Internacional Comunista ante a
memória inolvidável de John Scheer, de Piede Schulze, de Lutgens, na
Alemanha; de Koloman, Walisch e Munichreiter, na Áustria; de Sallai e
Furst, na Hungria; de Kofardshiewe, Lutibrodski e Wovkow na Bulgária;
ante a memória dos milhares e milhares de operários comunistas, social-
democratas e sem partido, camponeses, representantes dos intelectuais
progressistas que deram sua vida lutando contra o fascismo.
Desta tribuna, saudamos o chefe do proletariado alemão e Presidente de
honra de nosso Congresso, o camarada Thaelmann. (Grande ovação; todos
os delegados se põem de pé). Saudamos os camaradas Rakosí, Gramsci
(grande ovação; todos os delegados se põem de pé), Antikainen, J. Panow.
Saudamos o chefe dos socialistas espanhóis Largo Caballero, encarcerado
pelos contrarrevolucionários, Tom Mooney, que conta já 18 anos de
cárcere, e todos os milhares de prisioneiros do capital e do fascismo
(grandes aplausos) e lhes gritamos: Irmãos de luta! Companheiros de
armas! Não vos esquecemos. Estamos convosco! Empregaremos todas as
horas de nossa vida, até a última gota de nosso sangue, para arrancar-vos e
para arrancar todos os trabalhadores do ignominoso regime fascista.
(Grande ovação, todos os delegados se põem de pé).
Camaradas: Já Lênin nos avisara que a burguesia pode conseguir, caindo
sobre os trabalhadores com o terror mais feroz, rechaçar durante um
período de tempo mais ou menos curto as forças crescentes da revolução,
mas que apesar disso não poderá salvar-se do naufrágio.
A vida — escrevia Lênin — seguirá seu curso. Pode a burguesia
arrebatar-se, enfurecer-se até o paroxismo, exceder-se, cometer
loucuras; vingar-se com antecedência dos bolcheviques e procurar
extermina (na Índia, na Hungria, na Alemanha, etc.) centenas de
milhares de bolcheviques do amanhã ou de ontem; ao proceder
assim, a burguesia procede como todas as classes condenadas pela
história ao naufrágio. Os comunistas devem saber que, aconteça o
que acontecer, o futuro lhes pertence. Por isto, podemos e devemos
associar, na grande luta revolucionária, o maior entusiasmo à mais
serena e sóbria apreciação das convulsões da burguesia.
Sim; se nós e o proletariado do mundo inteiro marcharmos com firmeza
pela senda que nos traçou Lenin, a burguesia se desmoronará, apesar de
tudo (aplausos).
***
Por que e de que modo pode triunfar o fascismo?
O fascismo é o pior inimigo da classe operária e dos trabalhadores. O
fascismo é o inimigo das nove décimas partes do povo alemão, das nove
décimas partes do povo austríaco, das nove décimas partes dos outros
povos dos países fascistas. Como e de que modo pode triunfar este inimigo
encarniçado?
O fascismo pode chegar ao Poder, antes de tudo, porque a classe
operária, graças à política de colaboração de classe com a burguesia
praticada pelos chefes da social-democracia, se achava dividida, política e
organicamente desarmada, frente à burguesia que desenvolve sua ofensiva,
e os Partidos Comunistas não eram suficientemente fortes para levantar as
massas e conduzi-las à luta decisiva contra o fascismo, sem a social-
democracia e contra ela.
Assim acontece! Que os milhões de operários social-democratas, que
agora sofrem com seus irmãos comunistas os horrores da barbárie fascista,
meditem seriamente sobre isto: se, no ano de 1918, quando estalou a
revolução na Alemanha e na Áustria, o proletariado alemão e austríaco não
tivesse seguido a direção social-democrata, de Otto Bauer, Friedrich Adler
e Renner, na Áustria; de Ebert e Scheidemann, na Alemanha, e sim
marchado pelo caminho dos bolcheviques russos, pela senda de Lênin, hoje
não haveria fascismo nem na Áustria, nem na Alemanha, nem na Itália,
nem na Hungria, nem na Polônia, nem nos Balcãs. Não seria a burguesia e
sim a classe operária a senhora da situação na Europa, desde há muito
tempo. (Aplausos).
Fixemo-nos, por exemplo, na social-democracia austríaca. A revolução
de 1918 elevou-a a uma altura enorme. Tinha o Poder em suas mãos; tinha
fortes posições dentro do exército, dentro do aparelho do Estado.
Apoiando-se nelas, poderia matar em germe o nascente fascismo, mas foi
cedendo sem resistência, uma após outra, as posições da classe operária.
Permitiu à burguesia fortalecer seu poder, anular a Constituição, limpar o
aparelho do Estado, o exército e a polícia de funcionários social-
democratas, arrebatar aos operários seus depósitos de armas. Permitiu aos
bandidos fascistas assassinar impunemente operários social-democratas,
aceitou as condições do acordo de Ruttenberg, que abriu as portas das
fábricas aos elementos fascistas. Ao mesmo tempo, os chefes da social-
democracia enganavam os operários com o programa de Linz, no qual se
previa a eventualidade do emprego da força armada contra a burguesia e a
instauração da ditadura do proletariado, assegurando-lhes que, se as classes
governantes apelassem para a violência contra a classe operária, o partido
responderia com o apelo à greve geral e à luta armada. Como se toda a
política de preparação do ataque fascista contra a classe operária não fosse
uma cadeia de atos de violência, encobertos por meio de formas
constitucionais! Mesmo nas vésperas dos combates de fevereiro e no
transcurso destes, a direção da social-democracia austríaca abandonou o
heroico Schitzbund, que lutava isolado das amplas massas, e condenou o
proletariado austríaco à derrota.
Era inevitável a vitória do fascismo na Alemanha? Não, a classe operária
alemã poderia tê-la impedido.
Mas, para isso, precisava ter conseguido estabelecer a frente única
proletária antifascista, obrigar os chefes da social-democracia a por fim a
sua cruzada contra os comunistas e aceitar as reiteradas propostas do
Partido Comunista sobre a unidade de ação contra o fascismo.
Não se devia ter dado por satisfeita, ante a ofensiva do fascismo e a
gradual liquidação das liberdades democrático burguesas, pela burguesia,
com as formosas resoluções da social-democracia, mas deveria ter
respondido com uma verdadeira luta de massas que estorvasse a realização
dos planos fascistas da burguesia alemã.
Não devia ter permitido a proibição da Liga de Combatentes da Frente
Vermelha (Rote Frontkampferbund), pelo governo Braun-Severing, mas
estabelecer contato de luta entra a Rot Frontkampferbund e a Reichsbanner
que abrangia quase um milhão de filiados e obrigar Braun e Severing a
armar ambas as organizações para repelir e destruir os bandos fascistas.
Precisava ter obrigado os dirigentes da social-democracia, que estavam à
frente do governo da Prússia, a tomar medidas de defesa contra o fascismo,
deter seus chefes, suprimir sua imprensa, confiscar-lhes os recursos
materiais e os recursos dos capitalistas que subvencionavam o movimento
fascista, dissolver suas organizações, tomar-lhes as armas, etc.
Além disso, precisava ter conseguido que se estabelecesse e ampliasse a
assistência social sob todas as formas, que se concedesse uma moratória e
subsídios aos camponeses atingidos pela crise, à custa de aumentos nos
impostos sobre os bancos e trusts, para garantir por este meio o apoio dos
camponeses trabalhadores. Nada se fez, por culpa da social-democracia
alemã, e, graças a isto, pode triunfar o fascismo.
Haviam de triunfar inevitavelmente a burguesia e a nobreza na Espanha
país onde as forças da insurreição proletária se combinam tão
vantajosamente com a guerra camponesa?
Os socialistas espanhóis estiveram representados no governo desde os
primeiros dias da revolução. Estabeleceram por acaso contato de luta entre
as organizações operárias de todas as tendências políticas, incluindo os
comunistas e os anarquistas? Fundiram a classe operária numa só
organização sindical? Acaso exigiram a confiscação de todas as terras dos
latifundiários, das igrejas e dos conventos em favor dos camponeses, para
conquistá-los para a revolução? Tentaram lutar pela autodeterminação
nacional dos catalães, dos bascos, pela libertação do Marrocos? Limparam
o exército de elementos monárquicos e fascistas, preparando a passagem
das tropas para o lado dos operários e dos camponeses? Dissolveram a
guarda civil, verdugo de todos os movimentos populares, tão odiada pelo
povo? Vibraram algum golpe contra o partido fascista de Gil Robles, contra
o poderio do clero católico? Não, não fizeram nada disto. Repeliram as
repetidas propostas dos comunistas sobre a unidade de ação contra a
ofensiva da reação dos burgueses e dos latifundiários e do fascismo.
Promulgaram uma lei eleitoral que permitiu à reação conquistar a maioria
nas Cortes e uma série de leis em que se decretavam duras penalidades
contra os movimentos populares, leis que servem agora para julgar os
heroicos mineiros das Astúrias. Fuzilaram por mão da guarda civil os
camponeses que lutavam pela terra, etc., etc.
Assim, a social-democracia preparou ao fascismo o caminho do Poder,
do mesmo modo na Alemanha, na Áustria e na Espanha, desorganizando e
levando a cisão às fileiras da classe operária.
Camaradas, o fascismo triunfou também porque o proletariado foi
encontrado isolado de seus aliados naturais. O fascismo pode triunfar
porque conseguiu arrastar consigo as grandes massas camponesas, graças
ao fato de a social-democracia, em nome da classe operária, ter feito uma
política que era no fundo anti-camponesa. O camponês via desfilar pelo
Poder uma série de governos social-democratas que personificavam, a seus
olhos, o poder da classe operária, mas nenhum deles lhes entregava a terra.
A social-democracia não incomodou em nada os latifundiários, resistiu às
greves dos operários agrícolas e a consequência disto foi que os operários
agrícolas da Alemanha, muito antes da subida de Hitler ao Poder,
abandonaram os sindicatos reformistas passando-se na maioria dos casos
para os Capacetes de Aço e para os nacional-socialistas.
O fascismo pode triunfar também porque conseguiu penetrar nas fileiras
da juventude, enquanto a social-democracia desviava a juventude operária
da luta de classes; o proletariado revolucionário não desenvolveu entre a
juventude o necessário trabalho de educação e não prestou a suficiente
atenção à luta por seus interesses e as aspirações especificas.
O fascismo captou a ânsia de atividade combativa aguçada entre a
juventude e atraiu uma parte considerável desta para seus destacamentos de
combate. A nova geração da juventude masculina e feminina não passou
pelos horrores da guerra. Sofre em sua pele todo o peso da crise
econômica, do desemprego forçado e da decomposição da democracia
burguesa. Não tendo perspectiva alguma para o futuro, setores
consideráveis da juventude se mostraram especialmente accessíveis à
demagogia fascista que lhes pintava um porvir sedutor se o fascismo
triunfasse.
Em relação a isto, muito menos devemos passar por alto a série de erros
cometidos pelos Partidos Comunistas, erros que refreavam nossa luta
contra o fascismo. Em nossas fileiras existia um imperdoável menosprezo
do perigo fascista, que ainda não se desvaneceu em muitos lugares.
Concepções do tipo das que antes podíamos encontrar em nossos Partidos,
como aquela de que a Alemanha não é a Itália, no sentido de que o
fascismo pode triunfar na Itália, mas sua vitória estava excluída na
Alemanha, por ser um país industrialmente mais desenvolvido, um país de
cultura muito elevada, com uma tradição de quarenta anos de movimento
operário, um país em que é impossível o fascismo; ou e concepção que se
mantém hoje de que nos países da democracia burguesa clássica não há
base para o fascismo, semelhantes concepções podiam e podem contribuir
para amortecer a vigilância diante do perigo fascista e dificultar a
mobilização do proletariado para a luta contra o fascismo.
Poderíamos citar também muitos casos em que os comunistas se viram
surpreendidos inopinadamente por um golpe fascista. Recordai-vos da
Bulgária onde, a direção de nosso Partido adotou uma posição neutra,
oportunista em sua essência, em relação ao golpe de Estado de 9 de junho
de 1923; da Polônia, onde, em maio de 1926, a direção do Partido
Comunista, que interpretou de uma maneira errônea as forças motrizes da
revolução polonesa, não soube distinguir o caráter fascista do golpe de
Estado de Pilsudski e foi a reboque dos acontecimentos; da Finlândia, onde
nosso Partido, baseando-se numa falsa ideia da fascistização lenta, gradual,
deixou produzir-se o golpe de Estado fascista preparado por um grupo
dirigente da burguesia, golpe de Estado que apanhou de surpresa o Partido
e a classe operária.
Quando o nacional-socialismo se tornou um movimento de massas
ameaçador na Alemanha, havia camaradas como Heinz Neumann, para os
quais o governo de Bruning já era o da ditadura fascista, que declaravam
carrancudos:
"Se o Terceiro Reich de Hitler chegar um dia, será somente a um
metro e meio debaixo da terra e com o poder operário, vencedor,
por cima dele."
Nossos camaradas da Alemanha menosprezaram durante muito tempo o
sentimento nacional ferido e a indignação das massas contra Versalhes;
observavam uma atitude desdenhosa com relação aos atritos dos
camponeses e da pequena burguesia; demoraram em estabelecer um
programa de emancipação social e nacional e quando o formularam não
souberam adaptá-lo às necessidades concretas e ao nível das massas. E nem
sequer souberam popularizá-lo amplamente entre elas.
A necessidade de desenvolver a luta de massas contra o fascismo foi
substituída em vários países pelos raciocínios estéreis sobre o caráter do
fascismo em geral e por uma estreiteza sectária a respeito da posição e
solução das tarefas políticas atuais do Partido.
Camaradas, se falamos das causas da vitória do fascismo, se salientamos
a responsabilidade histórica da social-democracia na derrota da classe
operária, se anotamos também nossos próprios erros na luta contra o
fascismo, não é simplesmente pelo prazer da remover o passado. Não
somos historiadores situados à margem da vida; somos militantes da classe
operária e estamos obrigados a dar uma resposta à pergunta que atormenta
a milhões de operários: É possível impedir, e por que meios, a vitória do
fascismo? E respondemos a esses milhões de operários: sim, camaradas,
pode fechar-se a passagem ao fascismo. É absolutamente possível. Isso
depende de nós mesmos, dos operários, dos camponeses, de todos os
trabalhadores!
Impedir a vitória do fascismo depende antes de tudo da atitude
combativa da própria classe operária, da coesão de suas forças num
exército combatente que lute unido contra a ofensiva do capital e do
fascismo. O proletariado, ao estabelecer sua unidade de luta, paralisaria a
influência do fascismo sobre os camponeses, sobre a pequena-burguesia
urbana, sobre a juventude e os intelectuais, conseguiria neutralizar uma
parte deles e fazer a outra passar para seu lado.
Em segundo lugar, depende da existência de um forte partido
revolucionário que saiba dirigir acertadamente a luta dos trabalhadores
contra o fascismo. Um partido que exorta sistematicamente os operários a
retroceder ante o fascismo e permite à burguesia fascista fortificar suas
posições, é um partido que conduz os operários inevitavelmente à derrota.
Em terceiro lugar, depende da política acertada da classe operária com
relação aos camponeses e às massas pequeno-burguesas da cidade. É
preciso aceitar estas massas tal como são e não como desejaríamos que
fossem. Só no decorrer da luta superarão suas dúvidas e vacilações, e, se o
proletariado as ajudar politicamente, se elevarão a um grau superior de
consciência e de atividade revolucionária.
Em quarto lugar, depende da atenção vigilante e da atuação oportuna do
proletariado revolucionário. não devemos deixar que o fascismo nos
surpreenda, nem deixar-lhe a iniciativa; é preciso vibrar-lhe os golpes
decisivos quando ainda não conseguiu concentrar suas forças; não lhe
permitir firmar-se; fazer-lhe frente a cada passo em que se manifeste; não
lhe permitir a conquista de novas posições; como se esforça com êxito, por
consegui-lo, o proletariado francês. (Aplausos).
Eis as condições mais importantes para impedir que o fascismo cresça e
suba ao Poder.
***
A ditadura fascista da burguesia é um poder feroz, porém precário. Em
que residem as principais causas da precariedade da ditadura fascista?
O fascismo, que pretende superar as divergências e as contradições
existentes no campo da burguesia, vem aguçar ainda mais estas
contradições. O fascismo tenta estabelecer seu monopólio político
destruindo violentamente os demais partidos. Mas a existência do sistema
capitalista, a existência de diferentes classes, a aprovação das contradições
de classe, conduzem inevitavelmente ao enfraquecimento e destruição do
monopólio político do fascismo. Não ocorre o mesmo no país soviético,
onde a ditadura do proletariado é exercida também por um partido
monopolista, mas onde este monopólio político corresponde aos interesses
da sociedade sem classes. Num país fascista, o partido dos fascistas não
pode manter por muito tempo seu monopólio, porque não está em
condições de propor-se a missão de suprimir as classes e as contradições de
classe. Suprime a existência legal dos partidos burgueses, mas alguns
destes continuam vivendo ilegalmente e o Partido Comunista avança
também dentro da ilegalidade, tempera-se e dirige a luta do proletariado
contra a ditadura. Deste modo o monopólio político do fascismo tem que
desmoronar necessariamente sob os golpes das contradições de classe.
Outra das causas da precariedade da ditadura fascista baseia-se em que o
contraste entre a demagogia anticapitalista do fascismo e a política de
rapinante enriquecimento da burguesia monopolista permite desmascarar a
natureza de classe do fascismo e vai enfraquecendo e reduzindo sua base
de massas.
Além disto, a vitória do fascismo provoca o ódio profundo e a
indignação das massas, contribui para infundir-lhes espírito revolucionário
e imprime um poderoso impulso à frente única do proletariado contra o
fascismo. Realizando a política do nacionalismo econômico (autarquia) e
apropriando-se da maior parte das rendas da nação para a preparação da
guerra, o fascismo solapa toda a economia do país e aguça a guerra
econômica entre os Estados capitalistas. Imprime aos conflitos que surgem
no seio da burguesia o caráter de choques violentos e muitas vezes
sangrentos, minando, assim, a estabilidade do Poder estatal fascista aos
olhos do povo. Um poder que assassina seus próprios partidários, como
aconteceu na Alemanha, a 30 de junho do ano passado, um poder como o
fascista contra o qual luta de armas na mão outra parte da burguesia
fascista! (o Putsch nacional-socialista da Áustria, as lutas violentas de
diversos grupos fascistas contra os governos fascistas da Polônia, da
Bulgária, Finlândia e outros países), este poder não poderá manter durante
multo tempo sua autoridade aos olhos das amplas massas pequeno-
burguesas.
A classe operária precisa saber explorar as contradições e conflitos
existentes no campo da burguesia, mas não deve nutrir a ilusão de que o
fascismo pode asfixiar-se por si só. O fascismo não se destruirá
automaticamente. Só a atividade revolucionária da classe operária fará com
que os conflitos que surgem inevitavelmente no campo da burguesia sejam
aproveitados para minar a ditadura fascista e derrubá-la.
Ao liquidar os restos da democracia burguesa e elevar a violência
descarada a sistema de governo, o fascismo solapa as ilusões democráticas
e a autoridade da lei aos olhos das massas trabalhadoras. Isto acontece com
maior razão nos países como, por exemplo, a Áustria e Espanha, onde os
operários lutaram de armas nas mãos contra o fascismo. Na Áustria, a luta
heróica do Schitzbund e dos comunistas fez tremer desde o início, apesar
da derrota, a firmeza da ditadura fascista. Na Espanha, a burguesia não
conseguiu por uma mordaça fascista nos trabalhadores. As lutas armadas
da Áustria e da Espanha fizeram com que massas cada vez mais extensas
de classe operária adquirissem consciência da necessidade da luta
revolucionária de classes.
Apenas filisteus monstruosos, lacaios da burguesia, como o mais antigo
teórico da Segunda Internacional, Karl Kautsky, podem fazer censuras aos
operários e dizer-lhes que na Áustria e na Espanha não deveriam ter
empunhado as armas. Que aspecto apresentaria hoje o movimento operário
na Áustria a na Espanha se a classe operária destes países se tivesse
deixado guiar pelos conselhos traidores dos Kautsky? A classe operária
destes países sofreria uma profunda desmoralização em suas fileiras.
"Os povos — disse Lênin — não passam em vão pela escola da
guerra civil, É uma escola dura e em seu programa, se é completo,
entram também inevitavelmente os triunfos da contrarrevolução, a
ira dos reacionários enfurecidos, o ajuste de contas feroz do antigo
poder com os rebeldes, etc. Mas só os pedantes inveterados e os
espíritos mumificados podem choramingar, lamentando-se de que
os povos passem por esta escola cheia de tormentos; esta escola
ensina às classes oprimidas a fazer a guerra civil e lhes ensina
como triunfa a revolução, acumula nas massas dos escravos atuais
o ódio que os escravos atemorizados, torpes e ignorantes levam
eternamente no íntimo e que conduz os escravos já conscientes do
opróbrio de sua escravidão às façanhas históricas mais grandiosas."
A vitória do fascismo na Alemanha provocou, como é sabido uma nova
onda de ofensivas fascistas, que conduziu na Áustria à provocação de
Dolfuss, na Espanha a novas agressões da contrarrevolução contra as
conquistas revolucionárias das massas, na Polônia à reforma fascista da
Constituição e na França incitou os destacamentos armados dos fascistas a
uma tentativa de golpe de Estado em fevereiro de 1934. Mas esta vitória e
a fúria da ditadura fascista provocaram no plano internacional um
contramovimento de frente única proletária contra o fascismo. O incêndio
do Reichstag, que era o sinal para a ofensiva geral do fascismo contra a
classe operária, o assalto contra os sindicatos e outras organizações
operárias e sua espoliação, os gritos dos antifascistas torturados nas
masmorras dos quartéis fascistas, e nos campos de concentração revelam
palpavelmente às massas onde conduziu o jogo divisionista e reacionário
dos chefes da social-democracia alemã, que repeliram as propostas dos
comunistas para lutarem unidos contra o fascismo agressor, e os
convencem da necessidade de unificar todas as forças da classe operária
para a destruição do fascismo.
Na França, a vitória de Hitler imprimiu também um impulso decisivo à
criação de frente única da classe operária contra o fascismo. A vitória de
Hitler não originou nos operários somente temor pela sorte dos operários
alemães, não acendeu apenas o ódio contra os verdugos de seus irmãos de
classe alemães, como ainda fortaleceu sua decisão de não permitir de
nenhum modo que aconteça em seu país o que sucedeu com a classe
operária na Alemanha. A poderosa corrente para a frente única em todos os
países capitalistas põe em evidência que os ensinamentos da derrota não
passaram em vão. A classe operária começa a agir de um modo novo. A
iniciativa dos Partidos Comunistas na organização da frente única e a
abnegação sem limites dos comunistas, dos operários revolucionários na
luta contra o fascismo, aumentaram em proporções nunca vistas a
autoridade da Internacional Comunista. Ao mesmo tempo, desenvolveu-se
uma crise profunda no seio da Segunda Internacional, crise que se
manifesta com uma clareza especial e acentuada depois da bancarrota da
social-democracia alemã. Os operários social-democratas podem
convencer-se cada vez mais palpavelmente de que a Alemanha fascista,
com todos seus horrores e barbárie, é, em última análise, uma consequência
da política social-democrata de colaboração de classe com a burguesia.
Estas massas veem cada vez mais claro que o caminho pelo qual os chefes
da social-democracia levaram o proletariado não pode ser percorrido de
novo. Jamais se deu no campo da Segunda Internacional um transtorno
ideológico tão grande. No seio de todos os partidos social-democratas se
opera um processo de diferenciação. Em suas fileiras se destacam dois
campos básicos: junto ao campo existente dos elementos reacionários, que
tentam por todos os meios manter de pé o bloco da social-democracia com
a burguesia e repelem raivosamente a frente única com os comunistas,
começa a formar-se o campo dos elementos revolucionários que duvidam
da justeza da política de colaboração de classe com a burguesia, que lutam
pela criação de uma frente única com os comunistas e começam a passar-se
cada vez em maior escala para as posições da luta revolucionária de
classes.
Assim, o fascismo que surgiu como resultado da decadência do sistema
capitalista, atua, portanto, em última instância, como um fator de sua
ulterior decomposição. Assim, o fascismo que se impõe como dever
enterrar o marxismo, o movimento operário revolucionário, o que faz como
resultado da dialética da vida e da luta de classes é contribuir para que se
desenvolvam as forças destinadas a ser seus coveiros, os coveiros do
capitalismo. (Aplausos).
Capitulo II: A Frente Única da Classe Operária
contra o Fascismo
Camaradas: Milhões de operários e trabalhadores nos países capitalistas
perguntam a si mesmos: Como se pode impedir que o fascismo chegue ao
Poder e como derrotá-lo onde já triunfou? A Internacional Comunista
responde: o que é preciso fazer primeiro, por onde se há de começar, é criar
a frente única, estabelecer a unidade de ação dos operários em cada
empresa, em cada bairro, em cada região, em cada país, no mundo inteiro.
A unidade de ação do proletariado sobre um plano nacional e internacional:
eis aí a arma poderosa que capacita a classe operária não só para a defesa
eficaz, como também para a contraofensiva eficaz contra o fascismo,
contra o inimigo de classe.
***
Não é evidente que as ações conjuntas dos filiados aos Partidos e
organizações das duas Internacionais — a Internacional Comunista e a
Segunda Internacional — permitiriam às massas repelir o impulso fascista
e aumentariam o peso político da classe operária?
As ações conjuntas dos partidos de ambas as Internacionais contra o
fascismo não se limitariam a exercer uma influência sobre seus filiados
atuais, sobre os comunistas e os social-democratas; exerceriam também
uma influência poderosa sobre as fileiras dos operários católicos,
anarquistas e não organizados, até sobre aqueles que momentaneamente
são vítimas da demagogia fascista.
Mas ainda: a poderosa frente única do proletariado exerceria uma
enorme influência sobre todas as demais camadas do povo trabalhador,
sobre os camponeses, sobre a pequena burguesia urbana, sobre os
intelectuais. A frente única infundiria aos setores vacilantes fé na força da
classe operária.
Mas isto não é tudo. O proletariado dos países imperialistas tem seus
aliados potenciais, não só nos trabalhadores do próprio país, como também
nas nações oprimidas das colônias e semi-colônias. O fato do proletariado
achar-se dividido nos planos nacional e internacional e de uma parte dele
apoiar a política de colaboração com a burguesia, e sobretudo, seu regime
de opressão nas colônias e semi-colônias, afasta da classe operária os
povos oprimidos das colônias e semi-colônias e enfraquece a frente anti-
imperialista mundial. Cada passo que o proletariado das metrópoles
imperialistas dá pelo caminho da unidade de ação, disposto a apoiar a luta
de libertação dos povos coloniais, equivale a converter as colônias e semi-
colônias numa das reservas principais do proletariado mundial.
Finalmente, se levarmos em conta que a unidade de ação internacional
do proletariado se apoia na força sempre crescente do Estado proletário, do
País do Socialismo, da União Soviética, veremos que largas perspectivas
abre a realização da unidade de ação do proletariado nos planos nacional e
internacional.
A implantação da unidade de ação de todos os setores da classe operária,
qualquer que seja o Partido ou organização a que pertençam, é necessária
mesmo antes de se unificar a maioria da classe operária para a luta pela
derrocada do capitalismo e pelo triunfo da revolução proletária.
É possível realizar esta unidade de ação do proletariado nos diversos
países e no mundo inteiro? Sim, é possível, e o é imediatamente. A
Internacional Comunista não impõe para a unidade de ação nenhuma
espécie de condições, com exceção de uma elementar, aceitável para todos
os operários, a sabor: que a unidade de ação seja dirigida contra o
fascismo, contra a ofensiva do capital, contra a ameaça de guerra, contra o
inimigo de classe. Eis ai nossa condição.
***
Que podem objetar e que objetam os adversários da frente única?
Para os comunistas, a palavra de ordem da frente única não passa de uma
manobra, dizem uns. Mas, ainda que fosse uma manobra — respondemos
nós — por que não desmascarais esta manobra comunista participando
honradamente na frente única? Dizemos francamente: queremos a unidade
de ação da classe operária para que o proletariado se fortaleça em sua luta
contra a burguesia, para que, defendendo hoje seus interesses cotidianos
contra os ataques do capital, contra o fascismo, esteja amanhã em
condições de assentar os alicerces para sua definitiva emancipação.
Os comunistas nos atacam, dizem outros. Pois escutai: Já declaramos
repetidas vezes que não atacaremos ninguém, pessoas, organizações, nem
partidos, que combatam pela frente única da classe operária contra o
inimigo de classe. Mas, ao mesmo tempo, temos, no interesse do
proletariado e de sua causa, o dever de criticar as pessoas, organizações e
partidos que entorpecem a unidade de ação dos operários.
Não podemos formar a frente única com os comunistas, porque seu
programa é diferente, dizem os de mais longe. Mas afirmais que vosso
programa difere do dos partidos burgueses e isto não vos impediu, nem vos
impede, de fazer coalizões com estes partidos.
Os partidos democrático-burgueses são melhores aliados contra o
fascismo do que os comunistas, dizem os adversários da frente única e
defensores da coalizão com a burguesia. Mas, que nos ensina a experiência
da Alemanha? Lá os social-democratas formaram um bloco com estes
aliados melhores. Quais foram os resultados?
Se estabelecermos a frente única com os comunistas, os pequenos
burgueses se assustarão do perigo vermelho e se passarão para os fascistas,
ouvimos dizer com frequência. Acaso a frente única ameaça os
camponeses, os pequenos comerciantes, os artesãos, os trabalhadores
intelectuais? Não. A frente única ameaça a grande burguesia, os magnatas
financeiros, os latifundiários e demais exploradores cujo regime acarreta a
ruína completa de todos aqueles setores.
A social-democracia é partidária da democracia e os comunistas da
ditadura; por isso não podemos estabelecer a frente única com os
comunistas, dizem vários chefes social-democratas. Mas, será que nós vos
propomos agora uma frente única para proclamar a ditadura do
proletariado? Por enquanto não vos propomos semelhante coisa.
Que os comunistas reconheçam a democracia e atuem em sua defesa e
então estaremos dispostos à frente única. A isto respondemos: Nós somos
partidários da democracia soviética, a democracia dos trabalhadores, a
democracia mais consequente do mundo. Mas defendemos e
continuaremos a defender nos países capitalistas, palmo a palmo, as
liberdades democrático-burguesas, contra as quais atentam o fascismo e a
reação burguesa, pois assim o exigem os interesses da luta de classe do
proletariado.
Os pequenos partidos comunistas não contribuiriam nada com sua
participação na frente única realizada pelo Partido trabalhista, dizem, por
exemplo, os chefes trabalhistas da Inglaterra. não obstante, recordai-vos de
que o mesmo afirmavam os chefes social-democratas austríacos com
relação ao pequeno Partido Comunista da Áustria. E que demonstraram os
acontecimentos? Não era a social-democracia austríaca, com Otto Bauer e
Karl Renner à frente, quem tinha razão, e sim o pequeno Partido
Comunista austríaco, que salientou oportunamente o perigo fascista na
Áustria e chamou os operários à luta contra ele. E toda a experiência do
movimento operário ensina que os comunistas, ainda quo numericamente
sejam poucos, são o motor da atividade combativa do proletariado. Além
disto, não se deve esquecer que os Partidos Comunistas da Áustria e
Inglaterra não são somente as dezenas de milhares de operários filiados a
estes Partidos, senão partes do movimento comunista mundial, secções da
Internacional Comunista, a que pertence o Partido de um proletariado que
triunfou e que governa uma sexta parte do mundo.
Mas a frente única não impediu a vitória do fascismo no Sarre, objetam
os adversários da frente única. Curiosa lógica a desses senhores! Primeiro,
de sua parte fazem tudo para assegurar a vitória do fascismo e, depois, se
alegram malignamente de que a frente única, para a qual se deixaram
arrastar nos últimos momentos, não tenha conduzido os operários ao
triunfo.
Se formássemos, a frente única com os comunistas teríamos que sair dos
governos de coalizão e começariam a governar os partidos reacionários e
fascistas, dizem os chefes social-democratas que se sentam nos governos
dos diversos países. Mas acaso não participou a social-democracia alemã
de um governo de coalizão? Sim, participou. Não formou parte do governo
a social-democracia austríaca? Também fez parte. Não estiveram os
socialistas espanhóis em um governo, coligados com a burguesia? Sim,
também estiveram. E acaso a participação da social-democracia nos
governos burgueses de coalizão impediu nesses países o assalto do
fascismo contra o proletariado? Não, não o impediu. Está, pois, claro como
a luz do dia que a participação de ministros social-democratas nos
governos burgueses não constitui uma barreira contra o fascismo.
Os comunistas agem ditatorialmente, querem impor e ditar tudo. Não;
nós não impomos nem ditamos nada. Limitamo-nos a formular nossas
propostas, cuja realização estamos convencidos de que corresponde aos
interesses do povo trabalhador. E isto não é só um direito, senão um dever
de quantos atuem em nome dos operários. Tendes medo da ditadura dos
comunistas? Pois apresentemos conjuntamente com os operários todas as
propostas, as vossas e as nossas, discutamo-las conjuntamente, com os
operários todos, e escolhamos aquelas que sejam mais vantajosas para a
causa da classe operária.
Como se vê, estes argumentos contra a frente única não resistem à mais
leve crítica. São apenas pretextos dos chefes reacionários da social-
democracia que preferem a frente única com a burguesia à frente única do
proletariado.
Não, esses pretextos não prevalecerão! O proletariado internacional
pagou muito caro pelas consequências da cisão do movimento operário e
está cada vez mais convencido de que a frente única, a unidade de ação do
proletariado, tanto sobre o plano nacional como num plano internacional, é
necessária e perfeitamente possível. (Aplausos).
***
Qual é e qual deve ser o conteúdo principal da frente única, na etapa
atual?
A defesa dos interesses econômicos e políticos imediatos da classe
operária, sua defesa contra o fascismo, há de ser o ponto de partida e o
conteúdo principal da frente única em todos os países capitalistas.
Não nos devemos limitar a lançar simples apelos à luta pela ditadura
proletária, temos que encontrar e preconizar as palavras de ordem e formas
de luta que se deduzam das necessidades vitais das masas, do nível de sua
capacidade de luta em cada etapa de seu desenvolvimento.
Devemos indicar às massas o que hão de fazer hoje para defender-se da
exploração capitalista e da barbárie fascista.
Devemos conseguir que se estabeleça a frente única mais ampla por
meio de ações conjuntas das organizações operárias das diversas
tendências, para defender os interesses vitais das massas trabalhadoras.
Isto significa, em primeiro lugar, a luta conjunta por descarregar de um
modo efetivo as consequências da crise sobre os ombros das classes
dominantes; numa palavra, sobre os ombros dos ricos.
Significa, em segundo fugar, a luta conjunta contra todas as formas da
ofensiva fascista, pela defesa das conquistas e direitos dos trabalhadores,
contra a liquidação das liberdades democrático-burguesas.
Significa, em terceiro lugar, a luta conjunta contra o perigo cada vez
mais iminente da guerra imperialista, luta que dificultaria a preparação
desta guerra.
Devemos preparar sem descanso a classe operária para as mudanças
rápidas de formas e métodos de luta, ao variarem as circunstâncias. A
medida que cresça o movimento e se fortaleça a unidade da classe operária,
teremos que ir mais longe e preparar a passagem da defensiva à ofensiva
contra o capital, dirigindo-nos para a organização da greve política de
massas. Condição obrigatória desta greve é que nela tomem parte os
sindicatos principais de cada país.
Naturalmente, os comunistas não podem nem devem renunciar um só
minuto à sua tarefa própria e independente de educação comunista, de
organização e mobilização das massas. Não obstante, para assegurar aos
operários o caminho para a unidade de ação, é preciso conseguir ao mesmo
tempo firmar acordos a curto e a longo prazo sobre ações comuns com os
partidos social-democratas, os sindicatos reformistas e as demais
organizações dos trabalhadores contra o inimigo de classe do proletariado.
Nesses pactos, a atenção principal deve encaminhar-se para o
desencadeamento de ações de massas nos diversos lugares, que deveriam
ser realizadas pelas organizações de base mediante resoluções focais. Ao
mesmo tempo que cumprirmos lealmente as condições de todos os acordos
firmados com elas, desmascararemos implacavelmente qualquer sabotagem
cometida contra as atividades conjuntas por pessoas ou organizações que
tomem parte na frente única. A quantas tentativas se façam para frustrar os
acordos firmados — e estas tentativas possivelmente se farão —
responderemos apelando para as massas e continuando infatigavelmente a
luta pelo restabelecimento da unidade de ação violada.
Resta dizer que a realização concreta da frente única nos diversos países
se efetuará de diferentes modos e revestirá diferentes formas, segundo o
estado e o caráter das organizações operárias, seu nível político, a situação
concreta do país de que se trate, segundo as mudanças operadas no
movimento operário internacional, etc.
Estas formas podem ser, por exemplo: atividades conjuntas dos
operários, coordenadas para casos determinados e por motivos concretos,
por reivindicações isoladas ou sobre a base de uma plataforma geral; ações
coordenadas em determinadas empresas ou ramos industriais; ações
coordenadas sobre um plano local, regional, nacional ou internacional;
ações coordenadas para a organização de lutas econômicas dos operários,
para a realização de movimentos políticos de massas, para a organização da
autodefesa comum contra os assaltos fascistas; ações coordenadas para
ajudar os presos e suas famílias, para lutar contra a reação social; ações
conjuntas para a defesa dos interesses da juventude e das mulheres; na
defesa das cooperativas, da cultura, do esporte, etc.
Não obstante, seria ilusão dar-se por satisfeitos com firmar um pacto
sobre atividades conjuntas e criar comitês de ligação dos partidos e
organizações envolvidas na frente única, como acontece, por exemplo, na
França. Isto é apenas o primeiro passo. Os pactos são meios auxiliares para
a realização de ações conjuntas, mas não são ainda a frente única. Os
comitês de ligação entre as direções dos Partidos Comunista e Socialista
são necessários para facilitar a realização de atividades conjuntas, mas
estão muito longe de bastar para o desenvolvimento efetivo da frente única,
para arrastar as amplas massas à luta contra o fascismo.
Os comunistas e todos os operários revolucionários devem esforçar-se
por criar órgãos de classe de frente única à margem dos partidos, eleitos
(nos países de ditadura fascista, escolhidos entre as pessoas mais
prestigiadas no movimento de frente única) nas empresas, entre os
desempregados, nos bairros operários, entre a gente modesta da cidade e do
campo. Só estes órgãos podem abranger, no movimento de frente única, as
enormes massas não organizadas dos trabalhadores, contribuir para
desenvolver a iniciativa das massas na luta contra a ofensiva do capital,
contra o fascismo e a reação, para criar sobre esta base o extenso corpo de
ativistas operários da frente única, que é indispensável, e formar nos países
capitalistas centenas e milhares de bolcheviques sem partido.
As atividades conjuntas dos operários organizados são o começo, são a
base. Mas não podemos perder de vista que a esmagadora maioria dos
operários é constituída pelas massas não organizadas. Assim, na França, o
total dos operários organizados, comunistas, socialistas e filiados aos
sindicatos de diferentes tendências, é no total, aproximadamente, de um
milhão e a estatística total de operários atinge onze milhões. Na Inglaterra,
pertencem aos sindicatos e aos partidos de todas as tendências uns cinco
milhões; mas a estatística total de operários é de quatorze milhões. Nos
Estados Unidos da América há, aproximadamente, cinco milhões de
operários organizados, mas o total de operários na América do Norte é de
trinta e oito milhões. E a mesma relação existe, pouco mais ou menos, em
outra série de países. Em tempos normais esta massa permanece,
substancialmente, à margem da vida política. Más na atualidade, está massa
gigantesca se põe cada vez mais em movimento, incorpora-se à vida
política, chega à discussão política.
A criação de órgãos de classe à margem dos partidos é a melhor forma
de realizar, ampliar e fortalecer á frente única na mesma base das
amplíssimas massas. Estes órgãos serão também o melhor baluarte contra
todas as tentativas dos adversários da frente única para romper a unidade
de ação alcançada pela classe operária.
***
Na mobilização das massas trabalhadoras para a luta contra o fascismo,
temos como tarefa especialmente importante a criação de uma extensa
frente popular antifascista, sobre a base da frente única proletária. O êxito
de toda a luta do proletariado está intimamente unido à criação da aliança
de luta do proletariado com os camponeses trabalhadores e com as massas
mais importantes da pequena burguesia urbana, que formam a maioria da
população, mesmo nos países industrialmente desenvolvidos.
O fascismo, em suas campanhas de agitação destinadas à conquista de
tais massas, tenta opor as massas trabalhadoras da cidade e do campo ao
proletariado revolucionário e assustar os pequenos burgueses com o
fantasma do perigo vermelho. Temos que devolver os tiros e indicar aos
camponeses trabalhadores, aos artesãos e aos trabalhadores intelectuais, de
onde os ameaça o verdadeiro perigo; temos que os fazer ver concretamente
quem joga sobre os camponeses a carga das contribuições e impostos,
quem os suga por meio de juros usurários, expulsa de seu terreno o
camponês e sua família e o condena ao desemprego e à mendicância.
Precisamos esclarecer objetivamente, explicar paciente e tenazmente, quem
arruína os artesãos à força de impostos e taxas de todo gênero, de rendas
pesadas e de uma concorrência insuportável para eles, quem atira à rua e
priva de trabalhos as extensas massas dos trabalhadores intelectuais.
Mas isto não basta.
O fundamental, o decisivo, para estabelecer a frente popular antifascista,
é a ação decidida do proletariado revolucionário em defesa das
reivindicações destes setores e, em particular, dos camponeses
trabalhadores, de reivindicações que estejam na razão dos interesses
primordiais do proletariado, combinando no decorrer da luta as aspirações
da classe operária com estas reivindicações.
Para a criação da frente popular antifascista, tem grande importância
saber abordar de maneira acertada todos os partidos e organizações que
envolvem uma parte considerável de camponeses trabalhadores e as massas
principais da pequena burguesia urbana.
Nos países capitalistas, a maioria destes partidos e organizações — tanto
econômicas como políticas — se encontra ainda sob a influência da
burguesia e acompanha esta. A composição social destes partidos e
organizações não é homogênea. Nela aparecem, ao lado dos camponeses
muito ricos; ao lado de pequenos comerciantes, homens de grandes
negócios; mas a direção está na mão dos últimos, os agentes do grande
capital. Isto nos obriga a dar a estas organizações um tratamento diferente,
levando em conta que, com frequência, a massa de seus filiados não
conhece a verdadeira face política de sua própria direção. Em determinadas
circunstâncias, podemos e devemos dirigir nossos esforços no sentido de
ganhar para a frente popular antifascista estes partidos e organizações ou
setores isolados deles apesar de sua direção burguesa. Assim acontece
atualmente na França, por exemplo, com o partido radical; nos Estados
Unidos, com as diversas organizações de granjeiros (farmers); na Polônia
com o Stronictwo Ludowe; na Iugoslávia com o Partido Camponês croata;
na Bulgária com a Liga dos Agricultores; na Grécia com os agraristas, etc.
Mas, independentemente disto, de que existam possibilidades de atrair
estes partidos e estas organizações para a frente popular, nossa tática tem
que ser orientada, sob quaisquer condições, no sentido de arrastar para a
frente popular antifascista os pequenos burgueses camponeses, artesãos,
etc., envolvidos neles.
Assim, pois, como vedes, temos que acabar por completo com o
menosprezo e a atitude depreciativa, que surgem com bastante frequência
em nossa situação, a respeito dos diversos partidos e organizações de
camponeses, artesãos e de massas da pequena burguesia urbana.
***
Em todos os países há problemas primordiais que numa determinada
etapa comovem as extensas massas e em torno dos quais deve desenvolver-
se a luta para estabelecer a frente única. Captar acertadamente estes pontos
fundamentais, estes problemas primordiais, significa assegurar e acelerar a
formação da frente única.
Tomemos, por exemplo, um país tão importante do mundo capitalista
como os Estados Unidos, Aqui, a crise pôs em movimento massas de
milhões de homens. O programa de saneamento do capitalismo foi a pique.
Massas imensas começam a afastar-se dos partidos burgueses e acham-se
atualmente na encruzilhada. O incipiente fascismo norte- americano tenta
canalizar o descontentamento e a desilusão destas massas para leitos
reacionário-fascistas. A peculiaridade do desenvolvimento do fascismo
norte-americano consiste em que, na fase atual age predominantemente em
forma de oposição contra o fascismo considerando-o uma corrente não
americana, importada do estrangeiro. Ao contrário do fascismo alemão,
que entrou em cena com palavras de ordem contrária à Constituição, o
fascismo norte-americano tenta apresentar-se como partidário da
Constituição e da democracia americana. Mas, se conseguir penetrar nas
amplas massas desiludidas dos antigos partidos burgueses, poderá
converter-se rapidamente num grave perigo.
E que significaria o triunfo do fascismo nos Estados Unidos? Para as
massas trabalhadoras significaria, naturalmente, uma acentuação
desenfreada do regime de exploração e a destruição do movimento
operário. E qual seria a significação internacional desta vitória do
fascismo? Os Estados Unidos não são — como é sabido — a Hungria, nem
a Finlândia, nem a Bulgária, nem a Letônia. A vitória do fascismo nos
Estados Unidos faria mudar essencialmente toda a situação internacional.
Nestas circunstâncias, pode o proletariado norte-americano dar-se por
satisfeito simplesmente com a organização de sua vanguarda consciente de
classe, que está disposta a marchar pelo caminho da revolução? Não.
É de todo evidente que os interesses do proletariado americano exigem
que todas as suas forças se desliguem sem demora dos partidos capitalistas.
É preciso encontrar os caminhos e as formas apropriadas para impedir a
tempo que o fascismo arraste consigo as amplas massas dos trabalhadores
descontentes. E aqui, temos que dizer que a forma apropriada às condições
da América do Norte poderia ser a criação de um partido de massas dos
trabalhadores, um partido de operários e granjeiros. Este partido seria uma
forma específica da frente popular de massas na América do Norte, uma
frente de oposição aos partidos dos trusts e dos bancos, e ao crescente
fascismo. Esse partido não seria naturalmente, nem socialista, nem
comunista. Mas terá que ser um partido antifascista e não deverá ser um
partido anticomunista. O programa deste partido deverá ser dirigido contra
os bancos, os trustes e os monopólios, contra os inimigos principais do
povo, que especulam com suas dores. Este partido só poderá cumprir sua
missão se defender as reivindicações mais vitais da classe operária, se lutar
por uma autêntica legislação social, pelo seguro contra o desemprego, para
que obtenham terra e sejam libertados do jugo das dívidas as aderentes
brancos e negros, se lutar pela anulação das dívidas dos granjeiros, pela
igualdade de direitos dos negros, por defender as reivindicações dos
antigos combatentes, os interesses dos membros das profissões liberais, dos
pequenos comerciantes e dos artesãos. E assim sucessivamente.
Compreende-se que um partido desse tipo terá de lutar por enviar
representantes às administrações autônomas locais e aos órgãos
representativos dos diversos Estados da União, assim como ao Congresso e
ao Senado.
Nossos camaradas dos Estados Unidos procederam acertadamente
tomando a iniciativa, de criar semelhante partido. Mas terão que adotar
medidas mais eficazes ainda, para que a criação de tal partido chegue a
conseguir as simpatias das próprias massas.
O problema da organização de um Partido de operários e granjeiros e seu
programa deve ser discutido em assembleias populares de massas, É
necessário desenvolver um movimento da maior amplitude para a criação
desse partido e colocar-se à frente deste movimento. Não se deve, de modo
algum, permitir que a iniciativa de sua organização cala em mãos daqueles
elementos que queiram explorar o descontentamento das massas de
milhões de homens desiludidos dos partidos burgueses — o democrático e
o republicano — para criar nos Estados Unidos um terceiro partido como
partido anticomunista, como um partido orientado contra o movimento
revolucionário.
Na Inglaterra, à organização fascista de Mosley passou, provisoriamente,
a último plano, como resultado das atividades de massas dos operários
ingleses. Mas não devemos fechar os olhos ante o fato de que o chamado
Governo nacional leva a cabo uma série de medidas reacionárias contra a
classe operária, mediante as quais se criam também na Inglaterra condições
que, chegada a ocasião, facilitarão à burguesia a passagem ao regime
fascista. Lutar contar o perigo fascista na Inglaterra, na etapa atual,
significa, antes de tudo, lutar contra o Governo nacional, contra suas
medidas reacionárias, contra a ofensiva do capital, pela defesa das
reivindicações dos desempregados, contra as diminuições de salário, pela
revogação das leis com que a burguesia inglesa piora o nível de vida das
massas.
Mas o ódio crescente da classe operária contra o Governo nacional
agrupa massas cada vez mais extensas sob a palavra de ordem da formação
de um novo governo trabalhista na Inglaterra. Podem os comunistas passar
por alto esse estado de ânimo nas amplas massas, que ainda têm fé no
governo trabalhista? Não, camaradas! Temos que encontrar o caminho para
estas massas e lhes dizermos francamente, como o fez o XII Congresso do
Partido Comunista inglês: Nós, comunistas, somos partidários do Poder
soviético, único Poder capaz de emancipar os operários do jugo do capital.
Mas quereis um governo trabalhista? Perfeitamente. Temos lutado e
lutaremos convosco para derrotar o Governo nacional. Estamos dispostos a
apoiar vossa luta pela formação de um novo governo trabalhista, apesar dos
dois anteriores não terem cumprido as promessas feitas pelo Partido
Trabalhista à classe operária. Não esperamos deste governo que realize
medidas socialistas. Mas em nome de milhões de operários formulamos a
exigência de que defenda os interesses econômicos e políticos mais
angustiantes da classe operária e de todos os trabalhadores. Vamos discutir
juntos um programa comum destas reivindicações e por em prática a
unidade de ação que o proletariado necessita para fazer frente à ofensiva
reacionária do Governo nacional, à ofensiva do capital e do fascismo e à
preparação da nova guerra. Os camaradas ingleses estão dispostos a atuar,
sobre estas bases, conjuntamente com as organizações do Partido
Trabalhista, nas próximas eleições parlamentares contra o Governo
nacional e também contra Lloyd George, que, a seu modo, tenta arrastar
consigo as massas contra a causa da classe operária em interesse da
burguesia inglesa.
Esta posição dos comunistas ingleses é acertada. Ajuda-lhes a
estabelecer a frente única de luta com as massas de milhões de homens das
Trade Unions inglesas e do Partido Trabalhista. Permanecendo sempre nas
primeiras linhas do proletariado combatente, mostrando às massas o único
caminho certo — o caminho da luta por abater revolucionariamente a
dominação da burguesia e para instaurar o Poder Soviético — os
comunistas não devem ao fixar suas tarefas políticas atuais, empenhar-se
em saltar as etapas necessárias do movimento de massas, ao longo do qual
as massas operárias superam, à base da própria experiência, suas ilusões e
passam para o lado do comunismo.
A França é, como se sabe, o país cuja classe operária há a todo
proletariado internacional exemplo de como é preciso lutar contra o
fascismo. O Partido Comunista francês pode servir a todas as Secções da
Internacional Comunista de exemplo de como se deve levar a cabo a tática
da frente única, e os operários socialistas franceses podem servir de
exemplo do que devem fazer hoje os operários social-democratas dos
demais países capitalistas em luta contra o fascismo. A significação da
manifestação antifascista celebrada em Paris a 14 de julho deste ano, na
qual tomaram parte melo milhão de homens, assim como as numerosas
manifestações efetuadas em outras cidades da França, é enorme. Isto já não
é simplesmente um movimento da frente única operária; é o começo de
uma ampla frente de todo o povo contra o fascismo.
Este movimento de frente única aumenta a fé da classe operária em suas
forças, fortalece nela a consciência de seu papel de guia em relação aos
camponeses, à pequena burguesia urbana, aos intelectuais. Estende a
influência do Partido Comunista sobre as massas operárias e com isso
enrijece o proletariado em sua luta contra o fascismo. Este movimento
desperta, a tempo, a atenção vigilante das massas diante do perigo fascista.
Será um exemplo contagiante para o desenvolvimento da luta antifascista
nos demais países capitalistas e exercerá uma influência animadora sobre
os proletários da Alemanha, algemados pela ditadura fascista.
É sem dúvida uma grande vitória, mas não decide ainda o resultado da
luta antifascista. A maioria esmagadora do povo francês está,
indubitavelmente, contra o fascismo. Mas a burguesia sabe dobrar,
recorrendo à força armada, a vontade dos povos. O movimento fascista
continua se desenvolvendo com desembaraço completo, com o apoio ativo
do capital monopolista, do aparelho estatal da burguesia, do estado maior
do exército francês e dos dirigentes reacionários do clero católico, baluarte
de toda reação. A mais forte organização fascista, a Cruz de Fogo, dispõe
atualmente de mais de 300.000 homens armados, cujo núcleo principal são
60.000 oficiais da reserva. Possui fortes posições na polícia, na
gendarmeria, no exército, na aviação e dentro de todo o aparelho do
Estado. As últimas eleições municipais põem em evidência que na França
não crescem somente as forças revolucionárias, como também as forças do
fascismo. Se o fascismo conseguir penetrar de um modo extenso entre os
camponeses e assegurar o apoio de uma parte do exército com a
neutralidade da outra, as massas trabalhadoras da França não poderão
impedir a subida dos fascistas ao Poder. Não esqueçais, camaradas, a
debilidade do movimento operário francês no terreno da organização,
debilidade que facilita o êxito da ofensiva fascista. não há nenhuma razão
para que a classe operária e todos os antifascistas da França se deem por
satisfeitos com os resultados já conseguidos.
Quais são as tarefas que se apresentam à classe operária da França?
• Primeira: Conseguir estabelecer a frente única não só no terreno
político, como também no econômico, para organizar a luta contra a
ofensiva do capital; quebrar com sua determinação a resistência que se
opõe à frente única nos cimos da Confederação Geral do Trabalho
reformista.
• Segunda: Conseguir a realização da unidade sindical da França:
sindicatos únicos sobre a base da luta de classes.
• Terceira: Arrastar ao movimento antifascista as extensas massas
camponeses, as massas da pequena burguesia, reservando um lugar
especial no programa da frente popular antifascista para sus
reivindicações vitais.
• Quarta: Firmar organicamente e prosseguir ampliando o
movimento antifascista desenvolvido, por melo da criação em massa de
órgãos da frente popular antifascista eleitos à margem dos partidos; de
órgãos que com sua influência abranjam massas mais extensas que os
partidos e organizações dos trabalhadores atualmente existentes na
França.
• Quinta: Conseguir, por sua pressão, a dissolução e o desarmamento
das organizações fascistas como organizações de conspiradores contra a
República e como agentes de Hitler na França.
• Sexta: Conseguir que se limpe o aparelho do Estado, o exército e a
polícia, dos conspiradores que preparam um golpe fascista.
• Sétima: Desenvolver a luta contra os chefes das camarilhas
reacionárias do clero católico, que são um dos baluartes mais
importantes do fascismo francês.
• Oitava: Envolver o exército com o movimento antifascista,
mediante a criação, dentro do exército, de comitês de defesa da
República e da Constituição, contra aqueles que querem servir-se do
exército para dar um golpe de Estado anticonstitucional (aplausos); não
permitir que as forças reacionárias da França façam fracassar o Pacto
franco-soviético, que defende a causa da paz contra a agressão do
fascismo alemão. (Aplausos).
E se o movimento antifascista na França conduzisse à formação de um
governo que lutasse contra o fascismo francês de um modo efetivo, não
apenas com palavras mas com fatos, que pusesse em prática o programa de
reivindicações da frente popular antifascista, os comunistas sem deixar de
ser inimigos irreconciliáveis de todo governo burguês, e partidários do
Poder Soviético, estariam dispostos, apesar de tudo, ante o crescente perigo
fascista a apoiar tal governo. (Aplausos).
***
Camaradas: A luta por estabelecer a frente única nos países onde os
fascistas estão no Poder é, talvez, o problema mais importante que temos
apresentado. Nesses, a luta se desenvolve, naturalmente, em condições
muito mais difíceis que nos países de movimento operário legal. Não
obstante, se oferecem nos países fascistas todas as premissas para a
formação de uma verdadeira frente popular antifascista na luta contra a
ditadura fascista, pois os operários social-democratas, católicos e de outras
tendências na Alemanha, por exemplo, podem reconhecer de um modo
mais imediato a necessidade de lutar unidos aos comunistas contra a
ditadura fascista. As amplas camadas da pequena burguesia e dos
camponeses, que já saborearam os frutos amargos da dominação fascista,
se sentem cada vez mais descontentes e desiludidas, o que facilita a tarefa
de arrastá-las ao movimento popular antifascista.
Nos países fascistas, especialmente na Alemanha e Itália, onde o
fascismo soube criar uma base de massas impondo violentamente suas
organizações aos operários e demais trabalhadores, a tarefa principal
consiste em saber combinar a luta contra o fascismo de fora com o trabalho
para miná-lo por dentro nos órgãos e organizações fascistas de massas. É
necessário estudar, assimilar e aplicar métodos e processos especiais,
apropriados às condições concretas destes países, que estimulem a rápida
decomposição da base de massas do fascismo e preparem a destruição da
ditadura fascista. É preciso estudar, assimilar e aplicar estes métodos e não
limitar-se a gritar: Morra Hitler! Morra Mussolini! Sim! Assimilá-los e
aplicá-los.
É uma tarefa difícil e complicada. Tanto mais difícil quanto nossas
experiências de luta eficaz contra a ditadura fascista são
extraordinariamente limitadas. Nossos camaradas italianos, por exemplo,
levam já aproximadamente treze anos lutando sob as condições da ditadura
fascista. Mas não conseguiram desenvolver uma verdadeira luta de massas
contra o fascismo, e por isto não puderam, infelizmente, ajudar muito neste
sentido, com experiências positivas, os Partidos Comunistas dos demais
países fascistas. Os comunistas alemães e italianos e os comunistas de
outros países fascistas, do mesmo modo que os membros das juventudes
comunistas fizeram maravilhas quanto ao heroísmo. Fizeram e fazem
diariamente sacrifícios enorme. Ante este heroísmo e estes sacrifícios,
todos nós nos inclinamos. Mas o heroísmo não basta. É necessário
combinar este heroísmo com o trabalho diário entre as massas, na luta
concreta contra o fascismo, para conseguir resultados mais tangíveis nesse
terreno. Em nossa luta contra a ditadura fascista, é particularmente
perigoso confundir os desejos com as realidades; é preciso partir dos fatos,
da situação concreta real.
E qual é hoje a realidade, por exemplo, na Alemanha?
Entre as massas crescem o descontentamento e a decepção pela política
da ditadura fascista, revestindo mesmo a forma de greves parciais e de
outras atividades. Apesar de todos seus esforços, o fascismo não conseguiu
conquistar politicamente as massas fundamentais dos operários; perde, e
perderá cada vez em maior proporção, até seus antigos partidários. Mas
temos que compreender que os operários que estão convencidos da
possibilidade de derrubar a ditadura fascista e dispostos a lutar desde hoje
mesmo por isso, de um modo ativo, são ainda, no momento, uma minoria.
Somos nós, os comunistas, e é o setor revolucionário dos operários social-
democratas. A maioria dos trabalhadores ainda não tem a consciência das
possibilidades reais e concretas e dos caminhos pelos quais pode derrubar-
se esta ditadura, e continua, no momento na expectativa, isto deve ser
levado em conta ao fixarmos nossos objetivos na luta contra o fascismo na
Alemanha e quando buscarmos, estudarmos e aplicarmos processos
especiais para derrotar e sacudir a ditadura fascista na Alemanha.
Para vibrar um golpe sensível na ditadura fascista, temos que conhecer
seus pontos mais vulneráveis. Onde está o tendão de Aquiles da ditadura
fascista? Em sua base social. Esta base é extraordinariamente heterogênea.
Abrange diferentes classes e diferentes setores da sociedade. O fascismo se
proclama representante exclusivo de todas as classes e camadas da
população: do fabricante e do operário, do milionário e do desempregado,
do latifundiário e do pequeno camponês, do grande capitalista e do artesão.
Finge defender os interesses de todos estes setores, os interesses da nação.
Mas como o fascismo é a ditadura da grande burguesia, tem que chocar-se
inevitavelmente, com sua base social de massas e tanto mais quanto,
precisamente sob a ditadura fascista se destacam com maior relevo as
contradições de classe entre a matilha dos magnatas financeiros e a
esmagadora maioria do povo.
Só poderemos levar as massas às lutas decisivas pela derrota da ditadura
fascista, se envolvermos os operários que se viram violentamente
impelidos para as organizações fascistas ou que ingressaram nelas por falta
de consciência de classe, nos movimentos mais elementares para a defesa
de seus interesses econômicos, políticos e culturais. Precisamente por isto,
os comunistas devem trabalhar dentro destas organizações como os
melhores defensores dos interesses cotidianos das massas de seus filiados,
tendo presente que, à proporção que os operários enquadrados nestas
organizações exigirem com maior frequência seus direitos e defenderem
seus interesses, se chocarão inevitavelmente com a ditadura fascista.
Baseando-se na defesa dos mais vitais interesses — e, nos primeiros
tempos, os mais elementares — das massas trabalhadoras da cidade e do
campo, será relativamente fácil encontrar uma linguagem comum que nos
una não só aos antifascistas conscientes, como também àqueles
trabalhadores que são ainda partidários do fascismo, mas que estão
enganados e descontentes com sua política, se queixam e procuram a
ocasião para manifestar seu descontentamento. Em geral, temos que levar
em conta que toda nossa tática, nos países da ditadura fascista, precisa ter
um caráter que não repugne ao simples partidário do fascismo, que não o
empurre de novo para os braços do fascismo, e sim que aprofunde o
abismo entre as camadas fascistas e as massas dos desiludidos e partidários
das correntes do fascismo entre as camadas trabalhadoras.
Não há motivo para preocupar-se, se a gente mobilizada em torno destes
interesses diários for tida como indiferente em política e mesmo como
partidária do fascismo. O importante para nós é arrastá-la ao movimento,
um movimento que talvez em seus começos não se desenvolva ainda
abertamente sob as palavras de ordem da luta contra o fascismo, porque
coloca estas massas frente à ditadura fascista.
A experiência nos ensina que acreditar que nos países de ditadura
fascista é absolutamente impossível atuar de um modo legal ou semilegal é
prejudicial e falso. Aferrar-se a este ponto de vista significa cair na
passividade, renunciar por completo a todo verdadeiro trabalho de massas.
Certamente, encontrar formas e métodos de atuação legal ou semilegal, sob
as condições da ditadura fascista, é um problema difícil e complicado. Mas,
como em tantas outras questões, também aqui a vida é a iniciativa das
próprias massas se encarregarão de indicar-nos o caminho, pois as massas
já nos deram uma série de exemplos que devemos generalizar e aplicar de
maneira organizada e oportuna.
É preciso acabar decididamente com o desprezo pelo trabalho dentro das
organizações fascistas de massas. Tanto na Itália como na Alemanha, e em
outros países fascistas, nossos camaradas encobriram sua passividade, e
com frequência mesmo a negativa direta de fato em trabalhar nas
organizações fascistas de massas, pretextando que opunham o trabalho nas
empresas à atuação dentro das organizações fascistas de massas. Na
realidade, dessa oposição esquemática resultou precisamente que tanto o
trabalho dentro das organizações fascistas de massas como o desenvolvido
nas empresas fosse extraordinariamente frouxo e até que, às vezes, não se
realizasse trabalho algum. Para os comunistas dos países fascistas é,
portanto, de especial importância estar em toda parte onde se encontrem as
massas. O fascismo arrebatou aos operários suas próprias organizações
legais. Impôs-lhes pela violência as organizações fascistas e nestas se
encontram as massas, seja de boa vontade ou à força. Estas organizações de
massas do fascismo podem e devem ser nosso campo legal ou semilegal de
operações no qual entraremos em contacto com as massas. Podem e devem
ser para nós um ponto de partida legal ou semilegal para a defesa dos
interesses cotidianos das massas. Para aproveitar essas possibilidades, os
comunistas deverão lutar por conseguir postos eletivos nas organizações
fascistas de massas para manter contacto com as massas, e livrar-se, de
uma vez para sempre, do preconceito de que esta tarefa é imprópria e
indigna de um operário revolucionário.
Na Alemanha existe, por exemplo, o sistema dos chamados delegados de
fábrica. Onde está escrito que devemos ceder o monopólio destas
organizações aos fascistas? Não podemos acaso tentar unir os comunistas,
social-democratas, católicos e outros operários antifascistas dentro das
empresas para que, ao votarem as listas dos delegados de fábrica, separem
os agentes declarados do patrão e incluam nelas outros candidatos que
gozem da confiança dos operários? A prática demonstrou que isto é
possível.
E não nos ensina também a prática que podemos exigir dos delegados de
empresas, em união com os operários social-democratas e outros operários
descontentes, uma verdadeira defesa dos interesses operários?
Observai a Frente do Trabalho da Alemanha ou os sindicatos fascistas da
Itália. Acaso não se pode exigir que os funcionários da Frente de Trabalho
sejam eleitos, em vez de designados de cima? Não se pode insistir em que
os órgãos dirigentes dos grupos locais deem conta de sua atuação às
assembleias de membros das organizações? Não se podem levar essas
reclamações por resolução do grupo, ao patrão, ao encarregado do trabalho,
aos órgãos superiores da Frente de Trabalho? Sim, pode-se fazer, com a
condição de que os operários revolucionários trabalhem efetivamente
dentro da Frente de Trabalho e lutem por conquistar postos na mesma.
Métodos de trabalho parecidos são também possíveis e necessários em
outras organizações desportivas, na organização A Força pela Alegria, na
Alemanha; no Dopo lavoro, na Itália; nas cooperativas, etc.
Recordareis, camaradas, a antiga lenda da tomada de Troia. A cidade de
Troia se tornara forte contra o exército sitiante por meio de uma muralha
intransponível, e os sitiantes, que tinham sofrido muitas baixas, só
alcançaram a vitória quando penetraram no interior, no coração mesmo do
inimigo, com auxílio do famoso cavalo de Troia.
Parece-me que nós, operários revolucionários, não devemos sentir
nenhum escrúpulo em empregar a mesma tática contra nossos inimigos
fascistas, que se defendem contra o povo por meio da muralha viva de seus
assassinos a soldo. (Aplausos).
Quem não compreender a necessidade de empregar tática semelhante a
respeito do fascismo, quem considerar tal atuação humilhante, poderá ser
um excelente camarada, porém, se me permitis que o diga, é um charlatão e
não um revolucionário; esse não saberá conduzir as massas à derrota da
ditadura fascista. (Aplausos).
O movimento de massas da frente única que vai germinando fora e
dentro das organizações fascistas da Alemanha, Itália e outros países nos
quais o fascismo conta com uma base de massas, partindo da defesa das
necessidades mais elementares, mudando de formas e palavras de ordem de
luta conforme esta luta cresça e se estenda, será o ariete que destruirá a
fortaleza da ditadura fascista, que, hoje, muitos talvez julguem
inexpugnável.
***
A luta pelo estabelecimento da frente única levanta outro problema
muito importante: o problema da frente única nos países em que estão no
Poder governos social-democratas ou governos de coalizão com
participação dos socialistas, como acontece, por exemplo na Dinamarca,
Noruega, Suécia, Tchecoslováquia e Bélgica.
É bem conhecida nossa atitude absolutamente negativa ante os governos
social-democratas, que são governos de conciliação com a burguesia. Mas,
apesar disso, não consideramos a existência de um governo social-
democrata ou de uma coalizão governamental do partido social-democrata
com os partidos burgueses como um obstáculo insuperável, para
estabelecer a frente única com os social-democratas, em determinadas
questões. Consideramos que também nesses casos é absolutamente
possível e necessária a frente única para a defesa dos interesses vitais do
povo trabalhador e para a luta contra o fascismo. Compreende-se que nos
países em que participam no governo representantes dos partidos social-
democratas, a direção social-democrata oponha a mais enérgica resistência
à frente única proletária. Compreende-se perfeitamente que seja assim.
Querem fazer ver à burguesia que são eles que sabem, melhor e mais
habilmente que ninguém, refrear o descontentamento das massas e
preservá-las da influência do comunismo. Mas o fato de que os ministros
social-democratas adotem uma atitude negativa ante a frente única
proletária, não justifica, de modo algum, o fato de que os comunistas nada
façam para a criação da frente única do proletariado.
Nossos camaradas dos países escandinavos continuam, com frequência,
o caminho da menor resistência, ao limitar-se a desmascarar a propaganda
do governo social-democrata. Isto é um erro. Na Dinamarca, por exemplo,
os chefes social-democratas há dez anos estão no governo e os comunistas
vieram repetindo dia após dia, durante dez anos, que este é um governo
burguês, capitalista. Deve supor-se que esta propaganda é conhecida dos
operários dinamarqueses. O fato de que, apesar disso, uma considerável
maioria vota no partido governamental social-democrata indica somente
que o desmascaramento de propaganda do governo pelos comunistas não
basta; mas não demonstra que estas centenas de milhares de operários
estejam contentes com todas as medidas do governo dos ministros social-
democratas. Não, não lhes agrada que o governo Social-democrata, com o
chamado convênio de crise, ajude os grandes capitalistas e latifundiários, e
não os operários e os camponeses pobres; que tenham suprimido com o
decreto promulgado em janeiro de 1933, o direito de greve. Não lhes
agrada que a direção social-democrata planeje uma perigosa norma
eleitoral antidemocrática, restringindo consideravelmente o número de
deputados. Não julgo equivocar-me ao afirmar que noventa e nove por
cento dos operários dinamarqueses não aprovam estas medidas políticas
dos chefes e ministros social-democratas.
Acaso os comunistas não podem chamar os sindicatos e organizações
social-democratas da Dinamarca a discutir tal ou qual questão da
atualidade, a emitir sua opinião a respeito delas e atuar em comum pela
frente única proletária, para a realização das reivindicações operárias?
Quando, o ano passado, em outubro, nossos camaradas dinamarqueses se
dirigiram aos sindicatos para agir contra a redução do subsídio de
desemprego e pelos direitos democráticos dos sindicatos, aderiram à frente
única umas cem organizações sindicais locais.
Na Suécia está no Poder, pela terceira vez, um governo social-
democrata; mas os comunistas suecos renunciaram praticamente, durante
multo tempo, a empregar a tática da frente única. Por que? Eram contrários
à frente única? Naturalmente que não. Eram, em princípio, partidários da
frente única, da frente única em geral, mas não percebiam sobre que
pontos, em que problemas, pela defesa de que reivindicações, se podia
estabelecer com êxito a frente única, e como e onde havia de apoiar-se.
Poucos meses antes de constituir-se o governo social-democrata, o partido
social-democrata se apresentou as eleições com uma plataforma em que
havia uma série de reivindicações que poderiam ter sido incluídas
justamente numa plataforma de frente única proletária, como, por exemplo,
estas palavras de ordem; Contra as tarifas aduaneiras! Contra a
militarização! É preciso acabar com a lentidão de trâmites no seguro de
desemprego! Assegurar aos velhos pensões suficiente para viver! Não
admitir a existência de organizações como o Munch-Corps! (organização
fascista). Abaixo a legislação antissindical de classe, exigida pelos partidos
burgueses!
Mais de um milhão de trabalhadores da Suécia votaram em 1932 por
estas reivindicações formuladas pela social-democrata, com a esperança de
que se converteriam em realidade estas reivindicações. Nada teria sido
mais lógico, naquela situação, nem podia corresponder em maior grau aos
desejos das massas operárias, do que o Partido ter se dirigido a todas as
organizações social-democratas e sindicais com a proposta de empreender
atividades conjuntas para levar à prática estas reivindicações lançadas pelo
partido social-democrata.
Se realmente se tivesse conseguido mobilizar as extensas massas, pára a
consecução de tais reivindicações formuladas pelos próprios social-
democratas e agrupar estreitamente numa frente única as organizações
operárias social-democratas e comunistas, não resta dúvida que a classe
operária sueca teria saído ganhando. Aos ministros social-democratas da
Suécia, isto não teria produzido grande alegria, naturalmente, pois neste
caso o governo se veria obrigado a satisfazer pelo menos algumas
reivindicações. Em todo caso, não teria ocorrido o que agora ocorre: que o
governo, em vez de suprimir as tarifas aduaneiras, elevou algumas, em vez
de restringir o militarismo aumentou o orçamento de guerra, e em vez de
anular toda a legislação dirigida contra os sindicatos apresentou ele mesmo
ao parlamento um projeto de lei deste gênero. É certo que o Partido
Comunista da Suécia desenvolveu uma boa campanha de massas, no
sentido da frente única proletária, a respeito do último problema,
conseguindo afinal que a própria fração parlamentar social-democrata se
visse obrigada a votar contra o projeto do governo e que no momento o
projeto fracassasse.
Os comunistas noruegueses procederam acertadamente ao convidar no
Primeiro de Maio as organizações do Partido Operário a celebrar
manifestações conjuntas e apresentar uma série de reivindicações, que
coincidiam no essencial com as reivindicações da plataforma eleitoral do
Partido Operário norueguês. E apesar deste passo a favor da frente única
ter se preparado de modo indeciso e a direção do Partido Operário
norueguês lhe ser contrária, independente disto foram realizadas
manifestações de frente única em trinta localidades.
Antes, muitos comunistas temiam que fosse uma manifestação de
oportunismo, de sua parte, não opor a toda reivindicação parcial dos social-
democratas suas próprias reivindicações, duas vezes mais radicais. Isto era
um erro ingênuo. Se por exemplo, os social-democratas reclamam a
dissolução das organizações fascistas, nós não temos que acrescentar: e a
dissolução da policia do Estado também (reivindicação que seria oportuno
formular em outras circunstâncias), mas devemos dizer aos operários
social-democratas: estamos dispostos a aceitar esta reivindicação de vosso
Partido como reivindicação de frente única do proletariado, e vamos lutar
até o fim por sua consecução. Empreendamos juntos a luta.
Também na Tchecoslováquia se podem e se devem aproveitar certas
reivindicações formuladas pela social-democracia tcheca e alemã, assim
como pelos sindicatos reformistas, para estabelecer a frente única da classe
operária. Quando a social-democracia exige, por exemplo proporcionar,
trabalho aos desempregados ou como já o vem exigindo desde 1917 — a
revogação das leis que restringem a autonomia dos municípios, é preciso
concretizar estas reivindicações em cada localidade e em cada distrito e
lutar de mãos dadas com as organizações social-democratas por sua
consecução efetiva. Se os partidos, em seus discursos, em termos gerais,
atacam os agentes do fascismo dentro do aparelho do Estado, é preciso
expor à luz do dia, por toda a parte, os porta-vozes fascistas concretos e
agir conjuntamente com os operários social-democratas para eliminá-los
das instituições do Estado.
Na Bélgica, os chefes do partido social-democrata, com Emile
Vandervelde à frente, entraram no governo de coalizão. Conseguiram este
êxito mediante uma longa e ampla campanha por duas reivindicações
principais: Primeira, derrogação dos decretos-leis, e, segunda, realização
do plano de De Man. A primeira questão é de grande importância. O
governo anterior havia promulgado um total de 150 decretos-leis
reacionários, que atiravam cargas extremamente pesadas sobre os ombros
do povo trabalhador. Apresentava-se o problema de revogá-los
imediatamente. Assim o exigia o Partido Social-democrata. Acaso o novo
governo revogou multo desses decretos-leis? Nem um só. Limitou-se a
atenuar um pouco alguns com objetivo de oferecer uma espécie de
indenização simbólica pelas promessas de grande envergadura feitas pelos
chefes socialistas da Bélgica (algo semelhante ao dólar simbólico que
algumas potências europeias ofereceram à América do Norte em
pagamento dos milhões de dólares de suas dívidas de guerra).
No que diz respeito à realização do pomposo plano De Man, a coisa
tomou para as massas social-democratas um aspecto inesperado. Os
ministros social-democratas declararam que antes de tudo era preciso
esperar o fim da crise econômica e realizar apenas as partes do plano De
Man que melhorassem a situação dos capitalistas, industriais e dos bancos
e que só então se poderia passar a pôr em prática as medidas tendentes a
melhorar a situação dos operários; mas quanto tempo terão que esperar os
operários a parcela de bem-estar que lhes promete o plano? Sobre os
banqueiros belgas já caiu uma verdadeira chuva de ouro. Foi implantada
uma desvalorização do franco belga em 28 por 100, e devido a esta
manipulação os banqueiros puderam apropriar-se como troféu de 4.500
milhões de francos, à custa dos que vivem do salário e das economias da
gente modesta. Como se harmoniza isto com o conteúdo do plano De Man?
Se se deseja conceder crédito à letra do plano, este promete perseguir os
abusos monopolistas e as manobras dos especuladores.
À base do plano De Man, o governo nomeou uma comissão de controle
sobre os bancos; mas, uma comissão composta de banqueiros que se
controlam a si mesmos alegre e despreocupadamente!
O plano De Man promete também muitas outras coisas boas: Redução
da jornada de trabalho, normalização dos salários, salário mínimo,
organização de um sistema completo de seguros sociais, extensão das
comodidades mediante a construção de novas casas, etc. São todas elas
reivindicações que nós, os comunistas, podemos apoiar. Devemos dirigir-
nos às organizações operárias da Bélgica e dizer-lhes: os capitalistas já
obtiveram bastante e até demasiado. Exijamos dos ministros social-
democratas que cumpram as promessas que fizeram aos operários. Unamo-
nos numa frente única para a defesa eficaz de nossos interesses. Senhor
ministro Vandervelde: nós apoiamos as reivindicações contidas na
plataforma para os operários, mas declaramos abertamente: Tomamos a
sério estas reivindicações; queremos fatos e não palavras vazias, e por esta
razão agrupamos centenas de milhares de operários para lutar por estas
reivindicações!
Desse modo, os comunistas, nos países onde existem governos social-
democratas, ao aproveitar as reivindicações concretas, oportunas tomadas
das plataformas dos próprios partidos social-democratas e as promessas
eleitorais dos ministros social-democratas como ponto de partida para
atividades conjuntas com os partidos e organizações social-democratas,
poderão depois desenvolver com maior facilidade uma campanha para
estabelecer a frente única, baseando-se já noutra série de reivindicações das
massas que lutam contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e a
ameaça de guerra.
Além disto, é preciso ter presente que se as atividades conjuntas com os
partidos e organizações social-democratas exigem dos comunistas, em
geral, uma critica mais séria, razoável, do social-democratismo como
ideologia, e prática da colaboração de classes com a burguesia, assim como
esclarecer infatigavelmente e com espírito de camaradagem os operários
social-democratas sobre o programa e as palavras de ordem do comunismo,
esta tarefa é de singular importância para a luta da frente única
precisamente nos países onde existem governos social-democratas.
***
Camaradas: A realização da unidade sindical, tanto sobre um plano
nacional como internacional, deve constituir a etapa mais importante na
consolidação da frente única.
Como é sabido, a tática divisionista dos chefes reformistas, foi levada
com maior exacerbação nos sindicatos. É explicável; aí sua política de
colaboração de classe com a burguesia encontrava seu resultado prático
diretamente nas empresas, à custa dos interesses vitais da massa operária.
Isto provocava, naturalmente, uma critica severa e encontrava a resistência
dos operários revolucionários dirigidos pelos comunistas, contra este modo
de agir. Eis aí porque a mais inflamada luta entre o comunismo e o
reformismo se desenrolou no terreno sindical.
Quanto mais difícil e complicada se tornava a situação do capitalismo,
mais reacionária era a política dos chefes dos sindicatos ligados à central
de Amsterdam e mais agressivas suas medidas contra todos os elementos
oposicionistas dentro dos sindicatos. Nem a própria instauração da ditadura
fascista na Alemanha, nem a ofensiva redobrada do capital em todos os
países capitalistas, diminuíram esta agressividade. Não é característico que
somente em um ano, em 1933, na Inglaterra, Holanda, Bélgica e Suécia se
lançassem as mais ignominiosas circulares destinadas a expulsar dos
sindicatos os comunistas e operários revolucionários?
Na Inglaterra, apareceu, em 1933, uma circular proibindo as seções
Sindicais de aderir às organizações contra a guerra e outras organizações
revolucionárias. isto foi o prelúdio à célebre Circular Negra do Conselho
Geral das Trade-Unions, pela qual todo conselho sindical que admitisse em
seu seio delegados que estivessem relacionados, sob uma ou outra forma,
com organizações comunistas era declarado fora da lei. E que dizer da
direção dos sindicatos alemães, que aplicou represálias inauditas contra os
elementos revolucionários dentro dos sindicatos?
Mas nossa tática não deve tomar como ponto de partida a conduta de
alguns chefes dos sindicatos ligados a Amsterdam, por muito grande que
sejam as dificuldades que esta conduta oponha à luta de classes, senão que
tem de partir, sobretudo, deste fato: Onde se encontram as massas
operárias? E aqui, temos que declarar abertamente: o trabalho dentro dos
sindicatos é a questão mais candente dos Partidos Comunistas. Devemos
conseguir que se dê uma viragem verdadeira no trabalho sindical, e colocar
como ponto central a questão da luta pela unidade sindical.
Muitos de nossos camaradas, passando por alto a atração dos operários
para os sindicatos, e ante as dificuldades que oferecia o trabalho dentro dos
sindicatos ligados a Amsterdam, não se detinham nesta complicada tarefa.
Falavam, invariavelmente, da crise orgânica dos sindicatos de Amsterdam,
de que os operários abandonavam os sindicatos, e perdiam de vista como
estes, depois de certa decaída no começo da crise econômica mundial,
começaram a crescer de novo. A particularidade do movimento sindical,
consistia precisamente em que a ofensiva da burguesia contra os direitos
sindicais, as tentativas feitas em uma série de países (Polônia, Hungria,
etc.) de refrear os sindicatos, a redução dos seguros sociais, o roubo dos
salários, obrigavam os operários, apesar de não haver uma resistência da
parte dos chefes sindicais reformistas contra tudo isto, a cerrar ainda mais
suas fileiras em torno dos sindicatos, pois os operários queriam e querem
ver no sindicato o defensor combativo de seus interesses de classe. Assim
se explica o fato de que nestes últimos anos tenham aumentado — na
França, Tchecoslováquia, Bélgica, Suécia, Holanda, Suíça, etc. — o
número de membros da maioria dos sindicatos ligados à Central de
Amsterdam. A Federação Americana do Trabalho teve aumentado também
consideravelmente nos últimos anos o número de seus filiados.
Se os camaradas alemães tivessem compreendido melhor a tarefa do
trabalho sindicai, da qual tão repetidamente lhes falava o camarada
Thaelmann, teriam tido indubitavelmente, dentro dos sindicatos, uma
posição melhor que a que na realidade tinham no momento de implantar-se
a ditadura fascista. Em fins de 1932, havia nos sindicatos livres apenas 10
por cento dos membros do Partido. E isto, apesar dos comunistas, depois
do VI Congresso mundial da Internacional Comunista, se terem colocado. à
frente de toda uma série de greves. Nossos camaradas escreviam na
imprensa acerca da necessidade de consagrar 90 por cento de nossas forças
ao trabalho dentro dos sindicatos. Mas, na prática, tudo se concentrava na
Oposição Sindical Revolucionária, que de fato se esforçava por suplantar
os sindicatos. E que aconteceu depois da tomada do Poder por Hitler? No
curso de dois anos, muitos de nossos camaradas se opuseram tenaz e
sistematicamente à palavra de ordem acertada da luta pela reconstrução dos
sindicatos livres.
Poderia mostrar exemplos parecidos de quase todos os demais países
capitalistas.
Não obstante, na luta pela unidade do movimento sindical nos países
europeus, já conseguimos as primeiras conquistas sérias. Ao dizer isto,
refiro-me à pequena Áustria, onde, por iniciativa do Partido Comunista,
foram lançadas as bases para um movimento sindical ilegal. Depois dos
combates de fevereiro, os social-democratas, com Otto Bauer à frente,
lançaram esta palavra de ordem: Os sindicatos livres só poderão
restabelecer-se depois da queda do fascismo. Os comunistas empreenderam
o trabalho de restabelecer os sindicatos. Cada fase desta tarefa era um
fragmento de frente única viva do proletariado austríaco. O
restabelecimento eficaz dos sindicatos livres na ilegalidade, foi uma derrota
séria para o fascismo. Os social-democratas não sabiam que fazer. Uma
parte deles tratava de entabular negociações com o governo. Outra parte
em vista de nossos êxitos, criou paralelamente alguns sindicatos ilegais
próprios. Mas só podia haver um caminho: ou capitular ante o fascismo, ou
marchar lutando, conjuntamente, contra o fascismo para a unidade sindical.
Sob a pressão das massas, a direção vacilante dos sindicatos paralelos,
criados pelos antigos chefes sindicais, se decidiu por uma unificação. A
base desta unificação é a luta irreconciliável contra a ofensiva do capital e
do fascismo e a salvaguarda da democracia dentro dos sindicatos.
Saudamos este fato da unificação dos sindicatos, que é o primeiro passo
desta natureza desde que se cindiu formalmente o movimento sindical
depois da guerra e que encerra portanto uma significação internacional.
A frente única, na França, serviu indubitavelmente de impulso
gigantesco para a realização da unidade sindical. Os dirigentes da
Confederação Geral do Trabalho refreavam e continuam refreando por
todos os meios a realização da unidade, ao contrapor ao problema
fundamental, que é o da política de classes dos sindicatos, questões de
importância secundária, subalterna ou meramente formal. Um êxito
indubitável da luta pela unidade sindical foi a criação de Sindicatos únicos,
sobre um plano local, sindicatos que, por exemplo, no ramo dos
ferroviários, abraçam quase as três quartas partes da massa de membros de
um e outro sindicato.
Combatemos decididamente pelo restabelecimento da unidade sindical
dentro de cada país e, sobre um plano internacional, advogamos por um
sindicato único em cada ramo de produção.
Trabalhamos por uma Central sindical única em cada país.
Lutamos por Centrais sindicais internacionais únicas por industrias.
Somos por uma internacional sindical única sobre a base de luta de
classes.
Combatemos por sindicatos de classe únicos como um dos baluartes
mais importantes da classe operária contra a ofensiva dó capital e do
fascismo. Ao fazer assim colocamos como única condição, para a
unificação dos sindicatos, lutar contra o capital, lutar contra o fascismo e
pela democracia sindical interna.
O tempo não espera. Para nós, o problema da unidade do movimento
sindical, tanto sobre um plano nacional como sobre um plano internacional,
é o problema da grande causa da unificação de nossa classe em poderosas
organizações sindicais únicas contra o inimigo da classe. Saudamos a
proposta dirigida nas vésperas do Primeiro de Maio deste ano pela
Internacional Sindical Vermelha à Internacional de Amsterdam, para
discutir conjuntamente o problema das condições, métodos e formas da
unificação do movimento sindical. Os chefes da internacional de
Amsterdam repeliram esta proposta, com o usado argumento de que a
unidade do movimento sindical só pode realizar-se dentro das fileiras da
internacional de Amsterdam que, seja dito de passagem, agrupa quase
exclusivamente organizações sindicais de uma parte dos países europeus.
Mas os comunistas, em seu trabalho dentro dos sindicatos, devem
prosseguir infatigavelmente a luta pela unidade do movimento sindical. À
missão dos Sindicatos Vermelhos e da Internacional Sindical Vermelha é
fazer quanto deles depender para que chegue o mais rápido possível á hora
da luta conjunta de todos os sindicatos contra a ofensiva do capital e do
fascismo, para que a unidade do movimento sindical se crie, apesar dá
tenaz resistência dos chefes reacionários da Internacional Sindical de
Amsterdam. Os Sindicatos Vermelhos e a Internacional Sindical Vermelha
devem receber de nós para isto toda espécie de apoio.
Nos países onde existem pequenos sindicatos vermelhos lhes
recomendamos que procurem ingressar nos grandes sindicatos reformistas,
exigindo liberdade para sustentar suas opiniões próprias, e a readmissão
dos membros expulsos; nos países onde existem paralelamente grandes
sindicatos vermelhos e reformistas, recomendamos que exijam a
convocação de um Congresso de unificação sobre a plataforma da luta
contra a ofensiva do capital e a salvaguarda da democracia sindical.
É preciso afirmar, do modo mais categórico, que o operário comunista, o
operário revolucionário que não pertence ao sindicato de massas de seu
ofício, que não luta por converter este sindicato reformista em uma
verdadeira organização sindical de classe, que não trabalha pela unidade do
movimento sindical sobre a base da luta de classes; este operário
comunista, este operário revolucionário, não cumpre com seu dever
proletário primordial. (Aplausos).
***
Camaradas: Salientei o papel que desempenha para a vitória do fascismo
a incorporação da juventude às organizações fascistas. Ao falar da
juventude, é necessário confessar francamente: temos desdenhado nossa
missão de arrastar as massas da juventude trabalhadora à luta contra a
ofensiva do capital, contra o fascismo e a ameaça de guerra; temos
desdenhado esta missão numa série de países. Não apreciamos
devidamente a enorme importância que tem a juventude para a luta contra
o fascismo. Não tivemos sempre no pensamento os interesses particulares,
econômicos, políticos e culturais da juventude. Menos ainda dedicamos
atenção ao problema da educação revolucionária da juventude.
Tudo isto o fascismo explorou muito habilmente em alguns países,
particularmente na Alemanha, para atrair a si grandes setores da juventude
contra o proletariado. É preciso não esquecer que o fascismo não colhe em
suas redes a juventude somente com o romantismo militarista. A uns dá
comida e roupas envolvendo-os em seus destacamentos; a outros dá
trabalho; funda até estabelecimentos chamados culturais para a juventude,
e deste modo se esforça por inspirar-lhe a crença de que o fascismo quer e
pode realmente dar à massa da juventude trabalhadora alimento e roupa,
instruí-la e assegurar-lhe trabalho.
Nossas Juventudes Comunistas continuam sendo, numa série de países
capitalistas, organizações predominantemente sectárias, desligadas das
massas. Sua debilidade principal reside em que se esforçam ainda em
copiar as formas e métodos de trabalho dos Partidos Comunistas, e
esquecem que as Juventudes Comunistas não são o Partido Comunista da
Juventude. Não percebem que são uma organização com tarefas especiais.
Seus métodos e formas de trabalho, de educação, de luta, hão de adaptar-se
ao nível concreto e às exigências da juventude.
Nossas camaradas juvenis deram exemplos inolvidáveis de heroísmo na
luta contra as violências fascistas e a reação burguesa. Mas carecem ainda
de capacidade para arrancar concreta e perseverantemente as massas da
juventude da influência inimiga. Isto se revela na resistência, não vencida
ainda até hoje, contra a necessidade de trabalhar dentro das organizações
fascistas e no modo, nem sempre ajustado, de abordar a juventude
socialista e outras juventudes não comunistas. De tudo isto cabe também
grande responsabilidade, naturalmente, aos Partidos Comunistas, que
devem dirigir e apoiar as Juventudes Comunistas em seu trabalho. Pois o
problema da juventude não é somente um problema das Juventudes
Comunistas, é um problema do movimento comunista em sua totalidade.
No campo da luta pela juventude, os Partidos Comunistas e as
organizações juvenis devem dar uma viragem verdadeira e resoluta. A
missão principal do movimento juvenil comunista, nos países capitalistas,
consiste em marchar valentemente pela senda da organização e da
unificação da jovem geração trabalhadora. Que exercem enorme influência
sobre o movimento juvenil revolucionário até os mais incipientes passos
dados nesta direção, temos a prova nos exemplos recentes da França e dos
Estados Unidos. Bastou que se empreendesse nestes países a realização da
frente única, para que imediatamente se conseguissem êxitos consideráveis.
Também é digna de atenção, no campo da frente única internacional, a
eficaz iniciativa do Comitê contra a Guerra e o Fascismo, de Par|s, de
chegar a uma colaboração internacional com todas as organizações juvenis
não fascistas.
Estes passos que foram dados com êxito, nos últimos tempos, no
movimento de frente única da juventude mostram, também, que as formas
de frente única da juventude não podem aplicar-se com sujeição a padrões,
não têm que ser forçosamente as mesmas que se dão na prática dos
Partidos Comunistas. As Juventudes Comunistas devem esforçar-se, por
todos os meios, em unificar as forças de todas as organizações não fascistas
de massas da juventude, até chegar à formação de diferentes organizações
conjuntas para a luta contra o fascismo, contra a inaudita privação de
direitos e a militarização da juventude, pelos direitos econômicos e
culturais das jovens gerações, por ganhar para a frente antifascista esta
juventude, onde quer que se encontre: nas empresas, nos campos de
trabalhos forçados, nas Bolsas de Trabalho, nos quartéis, na marinha, nas
escolas ou nas diferentes organizações esportivas, culturais e de outro
gênero.
Nossos jovens comunistas, ao mesmo tempo que desenvolvem e
fortalecem as Juventudes Comunistas, devem esforçar-se por criar
associações antifascistas das Juventudes Comunistas e Socialistas sobre a
plataforma da luta de classe.
***
Não menor que a referente à juventude é, camaradas, a insuficiente
compreensão que se manifesta a respeito do trabalho entre as mulheres
trabalhadoras, as operárias, as desempregadas, as camponesas e as
mulheres do lar. Se o fascismo despoja de tudo a juventude, por outro lado
escraviza a mulher de um modo especialmente implacável e cínico,
jogando com os sentimentos profundamente arraigados da mãe, da dona de
casa, da operária sem apoio, incertas do amanhã. O fascismo, que se
apresenta com o papel de filantropo, atira às famílias uma esmola
miserável e tenta com isso afogar os sentimentos amargos, provocados
especialmente entre as mulheres trabalhadoras, pela indizível escravização
a que as submete. Expulsa as operárias da produção. Envia ao campo, pela
força, as jovens necessitadas e as condena a converter-se em criadas
gratuitas dos camponeses ricos e dos latifundiários. Ao mesmo tempo que
promete à mulher um lar feliz, empurra-a, como nenhum outro regime
capitalista, no caminho da prostituição.
Os comunistas, e sobretudo nossas camaradas de Partido, devem ter
continuamente presente que não pode haver luta eficaz contra o fascismo
nem contra a guerra se não se arrastam a esta luta as extensas massas
femininas. E isto não se consegue somente com a agitação. Temos que
encontrar, atendendo a cada situação concreta, a possibilidade de mobilizar
as massas das mulheres trabalhadoras em favor de seus interesses e
reivindicações vitais: contra a carestia da vida, pela elevação dos salários,
segundo o princípio de para igual trabalho, igual salário, contra as
despedidas em massa, contra tudo que significa desigualdade de direitos e
contra a escravização fascista da mulher.
Em nossos esforços por arrastar a mulher trabalhadora ao movimento
revolucionário, não devemos recear a criação de organizações especiais de
mulheres, onde seja necessário fazê-lo. O preconceito de que é preciso
liquidar, nos países capitalistas, as organizações feministas que se acham
sob a direção dos Partidos Comunistas, por exigência da luta contra o
separatismo feminino no movimento operário, é um preconceito que
acarreta frequentemente grandes prejuízos.
É preciso procurar as formas mais simples e flexíveis para estabelecer o
contacto e a luta comum com as organizações femininas revolucionárias,
social-democrata, progressivas, antifascistas e anti-guerreiras. Temos que
conseguir, custe o que custar, que as operárias e as mulheres trabalhadoras
militem na frente única da classe operária e na frente popular antifascista,
fado a lado com seus irmãos de classe.
***
Uma importância extraordinária adquire, em relação com as
transformações operadas na situação internacional e doméstica de todos os
países coloniais e semicoloniais, o problema da frente única anti-
imperialista.
A respeito da criação de uma ampla frente única anti-imperialista nas
colônias e semi-colonias, é preciso levar em conta, antes de tudo, a
diversidade das condições sob as quais se desenvolve a luta anti-
imperialista das massas, o diferente grau de maturidade do movimento de
libertação nacional, o papel do proletariado neste movimento e a influência
do Partido Comunista sobre as extensas massas.
O problema se apresenta de modo diferente no Brasil e na Índia, na
China, etc.
No Brasil, o Partido Comunista, que, com a criação da Aliança Nacional
Libertadora, estabeleceu um princípio acertado para o desenvolvimento da
frente única anti-imperialista, tem que fazer todos os esforços para
continuar alargando no futuro esta frente, por meio da incorporação, em
primeiro lugar, das massas de milhões de camponeses, orientando-se para a
criação de destacamentos de um exército popular revolucionário,
entregues, sem reserva, à revolução, e trabalhar pela instauração do Poder
da Aliança Nacional Libertadora.
Na Índia, os comunistas devem participar em todas as atividades anti-
imperialistas de massas, sem excetuar aquelas a cuja frente marchem
nacional-reformistas, apoiá-las e estendê-las. Conservando sua
independência política e de organização, devem empreender um trabalho
ativo no seio das organizações ligadas ao Congresso Nacional da Índia e
contribuir para a cristalização de uma ala nacional revolucionária dentro
destas organizações, para continuar desenvolvendo sempre o movimento de
libertação nacional dos povos da Índia contra o imperialismo britânico.
Na China, onde o movimento popular conduziu à criação de distritos
soviéticos em importantes territórios do país e à organização de um
poderoso Exército Vermelho, a ofensiva rapace do imperialismo japonês e
a traição do governo de Nanking puseram em perigo a existência nacional
do grande povo chinês. Só os Soviets chineses podem atuar como centro de
unificação na luta contra a escravização e a divisão da China pelos
imperialistas, como centro de unificação que agrupe todas as forças anti-
imperialistas, para a luta nacional do povo chinês.
Aprovamos, portanto, a iniciativa de nosso valente Partido Comunista
irmão da China de criar a mais ampla frente única anti-imperialista contra o
imperialismo japonês e seus agentes chineses, com todas as forças
organizadas no território da China que estejam dispostas a desenvolver a
ofensiva pela salvação de seu país e de seu povo.
Estou certo de que expresso os sentimentos e ideias de todo nosso
Congresso ao declarar que enviamos nossa saudação fraternal e calorosa,
em nome do proletariado revolucionário do mundo inteiro, a todos os
Soviets da China, ao povo revolucionário chinês. (Grande ovação, todos os
delegados se põem de pé). Enviamos nossa calorosa saudação fraternal ao
heroico Exército Vermelho da China (grande ovação), provado em mil
batalhas. E afirmamos ao povo chinês que estamos firmemente decididos a
apoiar sua luta por libertar-se completamente de todos os rapaces
imperialistas e de seus agentes chineses. (Grande ovação e vivas, que
duraram muito tempo. Todos os delegados se põem de pé).
***
Camaradas: Tomamos um rumo decidido e audaz para a frente única da
classe operária, e estamos dispostos a segui-lo com a máxima
consequência.
Se nos perguntarem se nós, os comunistas, lutamos no terreno da frente
única somente por reivindicações parciais ou estamos dispostos a
compartilhar a responsabilidade, mesmo se se chegasse à formação de um
Governo sobre a base da frente única, diremos, com inteira consciência de
nossa responsabilidade: se considerarmos que pode surgir uma situação em
que a criação de um governo de frente única proletária ou de frente popular
antifascista seja não somente possível, mas indispensável, no interesse do
proletariado, aceitamos, com efeito, esta eventualidade. (Aplausos). E neste
caso, interviremos sem nenhuma vacilação em favor da criação desse
governo.
Não me refiro aqui ao governo que possa formar-se depois do triunfo da
revolução proletária. Evidentemente, não está excluída a possibilidade de
que, num país qualquer, imediatamente depois da derrubada revolucionária
da burguesia, se possa formar um governo soviético sobre a base do bloco
governamental do Partido Comunista com outro partido (ou sua ala
esquerda) que participe na revolução. É sabido que, depois da Revolução
de Outubro, o Partido vencedor, o Partido dos bolcheviques russos, fez
entrar no governo soviético os representantes dos social-revolucionários de
esquerda. Esta foi a particularidade do governo soviético, depois do triunfo
da revolução de Outubro.
Não se trata de um caso deste gênero, senão da possível formação de um
governo de frente única antes do triunfo da revolução soviética.
Que seria este governo? E em que situação poderia ser possível?
É, antes de tudo, um governo de luta contra o fascismo e a reação. Deve
ser um governo formado como consequência do movimento de frente única
e que não embarace de nenhuma maneira a atuação do Partido Comunista e
das organizações de massas da classe operária, senão ao contrário, que
tome enérgicas disposições contra os magnatas contrarrevolucionários da
fiança e seus agentes fascistas.
No momento oportuno, apoiando-se no movimento ascensional da frente
única, o Partido Comunista do país em questão se manifestará pela criação
de semelhante governo, sobre a base de uma plataforma antifascista
concreta.
Sob que condições objetivas será possível a formação de tal governo? A
esta pergunta, pode responder-se de um modo muito geral: sob as
condições de uma crise politica, em que as classes dominantes já não
estejam em condições de acabar com o poderoso ascenso do movimento
antifascista de massas. Mas isto é apenas uma perspectiva geral, sem a qual
só será possível, na prática, a formação de um governo de frente única.
Somente em presença de determinadas premissas especiais, pode ser
colocado na ordem do dia o problema da formação deste governo como
tarefa politicamente necessária. Parece-me que nisto reclamam a maior
atenção as seguintes premissas:
Primeiro: Quando o aparelho estatal da burguesia estiver bastante
desorganizado e paralisado para que a burguesia não possa impedir a
formação de um governo de luta contra a reação e o fascismo.
Segundo: Quando as mais amplas massas dos trabalhadores, e em
particular os sindicatos de massas, se levantarem, impetuosamente
contra o fascismo e a reação, mas não estiverem ainda preparadas para
lançar-se à insurreição com o fim de lutar sob a direção do Partido
Comunista pela conquista do Poder soviético.
Terceiro: Quando o processo de diferenciação e radicalização nas
fileiras da social-democracia e dos demais partidos que participam na
frente única tenha conduzido a que uma parte considerável dentro delas
exija medidas implacáveis contra os fascistas e demais reacionários,
lute de braços dados com os comunistas contra o fascismo e se
manifeste abertamente contra o setor reacionário e hostil ao comunismo
dentro de seu próprio partido.
Quando e em que países surgirá de fato uma situação semelhante na qual
se deem em grau suficiente estas premissas, é coisa que não se pode
predizer; mas enquanto esta perspectiva não desaparecer em nenhum país
capitalista, devemos tê-la em conta e não orientar e preparar para ela
somente a nós mesmos, mas orientar também a classe operária da maneira
adequada.
O simples fato de colocarmos em discussão este problema está
relacionado, naturalmente, com nosso modo de apreciar a situação e as
perspectivas próximas do desenvolvimento e com o auge efetivo do
movimento da frente única numa série de países, nestes últimos tempos.
Durante mais de dez anos, a situação que se apresentava nos países
capitalistas era tal, que a internacional Comunista não tinha motivo para
discutir um problema desta natureza.
Recordareis, camaradas, que em nosso IV Congresso, celebrado em
1922, e ainda no V Congresso, em 1924, se discutiu o problema da palavra
de ordem do governo operário ou operário e camponês. Aqui,
originariamente, se tratava, em substância, de um problema quase análogo
ao que se nos apresenta. Os debates que em torno desta questão se
promoveram naquela época, na Internacional Comunista, e especialmente
os erros políticos que se cometeram aqui, têm ainda hoje sua importância
para aguçar nossa atenção vigilante ante o perigo de desviar-se para a
direita ou para a esquerda da linha bolchevique, nesta questão. Por isso
quero salientar, em poucas palavras, alguns destes erros, com o fim de tirar
deles os ensinamentos necessários à política atual de nossos Partidos.
A primeira série de erros obedeceu, precisamente, a que o problema do
governo operário não se ligou clara e firmemente com a presença de uma
crise política. Graças a isto, os oportunistas de direita puderam interpretar a
coisa no sentido de que era preciso desejar a formação de um governo
operário apoiado pelo Partido Comunista em qualquer situação, por assim
dizê-lo, normal. Ao contrário, os ultra-esquerdistas só admitiam um
governo operário que se formasse única e exclusivamente mediante a
insurreição armada, depois da derrocada da burguesia. Ambas as coisas
eram falsas, e por isso, agora, para evitar a repetição de semelhantes erros,
mostramos com tanto cuidado a necessidade de levar em conta exatamente
as condições concretas e particulares da crise política e do auge do
movimento de massas sob as quais pode apresentar-se como possível e
politicamente necessária a formação de um governo de frente única.
A segunda série de erros obedeceu ao fato de que o problema do
governo operário não se ligou com o desenvolvimento do movimento
combativo de massas da frente única proletária. isto deu aos oportunistas
de direita a possibilidade de falsear o problema e reduzi-lo à tática sem
princípios de formação de um bloco com os partidos social-democratas, à
base de combinações puramente parlamentares. Os ultra-esquerdistas, ao
contrário, gritavam: Nada de coalizões com a social-democracia
contrarrevolucionária!, considerando como contrarrevolucionários, no
fundo todos os social-democratas.
Ambas as coisas eram falsas, e salientamos, agora, de uma parte, que
não queremos de modo algum um governo operário que seja,
simplesmente, um governo social-democrata ampliado. Preferimos, até
renunciar ao nome de governo operário e falar de um governo de frente
única que, por seu caráter político, é algo completamente distinto
fundamentalmente distinto de todos os governos social-democratas que
costumam chamar-se governos operários. Enquanto que os governos
social-democratas representam um instrumento da colaboração de classes
com a burguesia no interesse da conservação do sistema capitalista, o
governo de frente única é um órgão da colaboração da vanguarda
revolucionária do proletariado com outros partidos de luta contra o
fascismo é a reação. É evidente que se trata de duas coisas radicalmente
diferentes.
Por outra parte, frisamos que é necessário ver a diferença existente entre
os diversos campos da social-democracia. Como já salientamos, existe na
social-democracia um campo dos social-democratas de esquerda (sem
aspas), dos operários que se convertem em revolucionários. A diferença
decisiva entre os dois campos consiste, praticamente, em sua atitude ante a
frente única da classe operária. Os social-democratas reacionários são
contrários à frente única, caluniam o movimento de frente única, o sabotam
e decompõem, pois a frente única faz fracassar sua politica de conciliação
com a burguesia. Os social-democratas de esquerda são partidários da
frente única, defendem, desenvolvem e fortalecem o movimento de frente
única, visto que é um movimento de luta contra o fascismo e a reação, e
será sempre a força motriz que impelirá o governo de frente única a lutar
contra a burguesia reacionária. Quanto maior for a força com que se
desencadeie este movimento de massas, tanto maior será a força que levará
o governo à luta contra os reacionários. E quanto melhor organizado de
baixo estiver o movimento de massas e melhor for a rede dos órgãos de
classe da frente única situados à margem do partido nas empresas, entre os
desempregados, nos bairros operários, entre a gente modesta da cidade e do
campo, tanto maiores serão as garantias contra uma possível degeneração
da politica do governo de frente única.
A terceira série de conceitos errôneos que se manifestaram nos antigos
debates se referiam justamente à politica prática do Governo operário. Os
oportunistas de direita opinavam que o Governo operário devia manter-se
dentro do limite da democracia burguesa e, por conseguinte, não podia dar
nenhum passo que saísse deste marco. Por outro lado, os ultra-esquerdistas
renunciavam de fato a toda tentativa de formação de um governo de frente
única.
Em 1923, se pode ver, na Saxônia e na Turíngia, um quadro eloquente da
prática oportunista direitista de um Governo operário. A entrada dos
comunistas no governo da Saxônia, com o social-democratas de esquerda
(grupo Zeigner) não era por si um erro. Pelo contrário, este passo estava
completamente justificado pela situação revolucionária da Alemanha. Mas
os comunistas, ao participarem do governo, tinham que se aproveitar de
suas posições, antes de tudo, para armar o proletariado e não o fizeram.
Nem sequer confiscaram uma só das casas dos ricos, apesar da escassez de
casas Operárias ser tão grande, que muitos operários com mulher e filhos
não tinham onde abrigar-se. Não fizeram nada para organizar o, movimento
revolucionário de massas dos operários. Procederam em tudo como os
habituais ministros parlamentares dentro do limite da democracia burguesa.
Como é sabido foi este o resultado da política oportunista de Brandler e de
seus sequazes. O resumo de tudo foi uma bancarrota tal, que ainda hoje nos
vemos obrigados a referir-nos ao governo saxão como exemplo clássico de
como não devem agir os revolucionários no governo.
Camaradas: Exigimos de todo governo de frente única uma politica
completamente diversa. Exigimos-lhe que realize determinadas
reivindicações cardiais revolucionárias consoantes com a situação, como,
por exemplo, o controle da produção, o controle sobre os bancos, a
dissolução da polícia, sua substituição por uma milícia operária armada,
etc.
Há quinze anos, Lênin nos convidava a que concentrássemos toda a
atenção em procurar formas de transição ou de aproximação para a
revolução proletária. Poderá acontecer que o Governo de frente única seja,
numa série de países, uma das formas transitórias mais importantes. Os
doutrinários de esquerda passaram sempre de longe em relação a esta
indicação de Lênin, falando somente da meta, como propagandistas
limitados, sem preocupar-se jamais com as formas de transição. E os
oportunistas de direita tentaram estabelecer uma fase democrática
intermediária especial entre a ditadura burguesa e a ditadura do
proletariado, para sugerir à classe operária a ilusão de um pacífico passeio
parlamentar de uma ditadura a outra. A esta fase intermediária fictícia
chamavam também forma de transição, e invocavam inclusive o nome de
Lênin! Mas não foi difícil descobrir a fraude, pois Lênin falava de uma
forma de transição e de aproximação da revolução proletária, isto é, a
destruição da ditadura burguesa, e não de uma formá transitória qualquer
entre a ditadura burguesa e a proletária.
Por que atribuía Lênin significação tão extraordinariamente grande à
forma que revestisse a passagem à revolução proletária? Porque tinha
presente a lei fundamental de todas as grandes revoluções, a lei de que a
propaganda e a agitação por si sós não podem suprir nas massas sua
própria experiência política, quando se trata de atrair as massas
verdadeiramente extensas dos trabalhadores para o lado da vanguarda
revolucionária, sem o que é impossível a luta vitoriosa pelo Poder. O erro
habitual de tipo esquerdista é a crença de que com o aparecimento de uma
crise política (ou revolucionária), basta que a direção comunista lance a
palavra de ordem da insurreição revolucionária para que as grandes massas
a acompanhem. Não, até em presença de tais crises, as massas muito longe
estão do preparo para isso. Vímo-lo no exemplo da Espanha. Para ajudar as
massas de milhões a aprender o mais rapidamente possível, à base de sua
própria experiência, o que têm de fazer, onde podem encontrar a saída
decisiva e compreender que partido merece sua confiança; para isto são
precisas, entre outras coisas, palavras de ordem transitórias e formas
especiais de transição ou de aproximação da revolução proletária. Sem isto,
as amplas massas do povo que são presa das ilusões e tradições
democráticas pequeno-burguesas, poderão, até diante de uma situação
revolucionária, vacilar, perder tempo, vagar sem encontrar o caminho da
revolução e cair sob os golpes dos verdugos fascistas.
Por isso salientamos a possibilidade de formar, sob as condições da crise
política, um governo de frente única antifascista. Na medida em que este
governo desenvolver uma luta real e verdadeira contra os inimigos do povo
conceder liberdade de ação à classe operária e ao Partido Comunista, nós,
os comunistas, o apoiaremos por todos os meios e lutaremos na primeira
linha de fogo como soldados da revolução. Mas dizemos francamente às
massas: esse governo não trará a salvação definitiva . Esse governo não
estará em condições de destruir a dominação da classe dos exploradores, e
por esta razão não poderá eliminar definitivamente o perigo da
contrarrevolução fascista. Por conseguinte, é preciso preparar-se para a
revolução socialista! Só e exclusivamente o Poder soviético trará a
salvação!
Se analisarmos o desenvolvimento atual da situação internacional,
veremos que a crise política vai amadurecendo numa série completa de
países, isto condiciona a grande importância e atualidade de urna decisão
firme de nosso Congresso sobre o problema do Governo de frente única.
Se nossos Partidos souberem aproveitar para a preparação revolucionária
das massas, de um modo bolchevique, a possibilidade de formar um
governo de frente única e a luta em torno da formação e permanência no
Poder deste governo, esta será a melhor justificação de nosso rumo para a
criação de um governo de frente única.
***
Um dos aspectos mais fracos da luta antifascista de nossos Partidos
consiste em que não reagem suficientemente nem em seu devido tempo
contra a demagogia do fascismo e ainda hoje continuam tratando
levianamente os problemas da luta contra a ideologia fascista. Muitos
camaradas não acreditavam em absoluto que uma variedade tão reacionária
da ideologia burguesa como a ideologia do fascismo, que em seu absurdo
chega com muita frequência até o desvario, fosse capaz de conquistar
influência sobre as massas. Foi um grande erro. A avançadíssima
putrefação do capitalismo penetra até a própria medula de sua ideologia e
de sua cultura, e a situação desesperada das extensas massas do povo
predispõe certos setores ao contágio dos detritos ideológicos deste processo
de putrefação.
Não devemos menosprezar, de modo algum, esta força do contágio
ideológico do fascismo. Ao contrário, devemos travar por nossa parte uma
ampla luta ideológica, baseada numa argumentação clara e popular e de
uma maneira certa e bem meditada de abordar a peculiaridade da
psicologia nacional das massas do povo.
Os fascistas rebuscam na história de cada povo, para apresentar-se como
herdeiros e continuadores do que há de elevado e heroico em seu passado,
e exploram tudo o que humilha e ofende os sentimentos nacionais do povo
como arma contra os inimigos do fascismo. Na Alemanha se publicam
centenas de livros que não têm mais que uma finalidade: falsear ao modo
fascista a história do povo alemão.
Os ardentes historiadores nacional-socialistas se esforçam em apresentar
a história da Alemanha como se, por imperativo de uma lei histórica, se
visse correr como um fio de ligação, ao longo de 2.000 anos, a trajetória
que determinou a aparição no cenário da história do salvador nacional, do
Messias do povo alemão, do celebre cabo de pais austríacos. Todos os
grandes homens do povo alemão, em épocas passadas, são apresentados
nestes livros como fascistas, e todos os grandes movimentos camponeses
como precursores direto do movimento fascista. Mussolini se esforça
obstinadamente em tirar partido da figura heroica de Garibaldi. Os fascistas
franceses mostram Joana d’Arc como sua heroína. Os fascistas norte-
americanos apelam para as tradições da guerra da independência norte-
americana, para as tradições de Washington e de Lincoln. Os fascistas
búlgaros exploram o movimento de libertação nacional da década de 70 do
século passado e os heróis populares deste movimento, figuras tão,
queridas como Vasil Lewsky, Stejan Karadash, etc.
Os comunistas que julgam que tudo isto não tem nada que ver com a
causa da classe operária e nada fazem, a mínima coisa, para esclarecer
diante das massas trabalhadoras com toda fidelidade histórica e com um
verdadeiro sentido marxista-leninista, o passado de seu próprio povo para
entrosar a luta atual com as tradições revolucionárias de seu passado, esses
comunistas entregam voluntariamente aos falsificadores fascistas tudo o
que há de valioso no passado heroico da nação, para que enganem as
massas do povo. (Aplausos).
Não, camaradas! A nós afetam todos os problemas importantes, não só
do presente e do futuro, como também os que formam parta do passado de
nosso próprio povo, pois, os comunistas, não praticamos a política
mesquinha dos interesses gremiais dos operários. Não somos os
funcionários limitados das trade-unions nem os dirigentes dos grêmios
medievais de artesãos e oficiais. Somos os representantes dos interesses de
classe da mais importante e maior das classes da sociedade moderna, da
classe operária, que tem por missão emancipar a humanidade dos
tormentos do sistema capitalista, que já abateu o jugo do capitalismo e é ia
classe governante numa sexta parte do mundo. Defendemos os interesses
vitais de todos os setores trabalhadores explorados; isto é, da imensa
maioria do povo de todos os países capitalistas.
Nós, os comunistas, somos, por princípio, inimigos irreconciliáveis do
nacionalismo burguês, em todas as suas formas e variedades. Mas não
somos partidários do nihilismo nacional, nem podemos agir nunca, como
tais. A missão de educar os operários e todos os trabalhadores no espírito
do internacionalismo proletário é uma das tarefas fundamentais de todos os
Partidos Comunistas. Mas aquele que pensar que isto lhe permite, e mesmo
o obriga, a desprezar todos os sentimentos nacionais das grandes massas
trabalhadoras, está muito longe do verdadeiro bolchevique, e nada
compreendeu dos ensinamentos de Lênin sobre a questão nacional.
Lênin, que lutou sempre decidida e consequentemente contra o
nacionalismo burguês, em seu artigo Sobre o orgulho nacional dos grandes
russos, escrito no ano de 1914, nos deu um exemplo de como se deve
abordar o problema dos sentimentos nacionais. Eis aqui suas palavras:
"É alheio a nós, proletários conscientes de nacionalidade grande-
russa, o sentimento do orgulho nacional? Não, naturalmente que
não! Sentimos amor por nosso idioma e pelo país em que
nascemos; trabalhamos mais do que ninguém para que suas massas
trabalhadoras, isto é, as nove décimas partes de sua população, se
elevem à vida consciente dos democratas e socialistas. Aflige-nos
enormemente ver e sentir as injustiças, a opressão e o escárnio a
que submetem nosso belo país os verdugos do Czar, da nobreza e
dos capitalistas. Orgulha-nos que estas investidas tenham
encontrado resistência entre nós, entre os grandes russos; que
tenham saldo dentre eles um Radischev, os decabristas, os
revolucionários pequeno-burgueses da década de 70 do século
passado; que a classe operária de nacionalidade grã-russa tenha
criado, em 1905, um poderoso partido revolucionário de massas.
Invade-nos o sentimento de orgulho nacional ao ver que a
nacionalidade grande-russa soube criar também uma classe
revolucionária e demonstrou também que é capaz de dar à
humanidade exemplos grandiosos de luta pela liberdade e pelo
socialismo e não só grandes pogrons, fileiras de patíbulos,
calabouços de tortura, fomes terríveis e um atroz servilismo ante os
padres, o Czar, os latifundiários e os capitalistas.
Invade-nos o sentimento do orgulho nacional, e precisamente
por isso odiamos com especial força nosso passado de escravos... e
nosso presente de escravos, em que os próprios latifundiários,
ajudados pelos capitalistas, nos conduzem à guerra para estrangular
a Polônia e a Ucrânia, para sufocar o movimento democrático da
Pérsia e da China e pera fortalecer o bando dos Romanov, dos
Bobriniski e dos Purischkevich, que cobrem de opróbrio nossa
dignidade de grandes russos."
Assim se expressava Lênin a respeito do orgulho nacional.
Creio, camaradas, não ter procedido com equívoco quando, no processo
de Leipzig, diante da tentativa dos fascistas de caluniar o povo búlgaro
como um povo bárbaro, defendi a honra nacional das massas trabalhadoras
do povo búlgaro, que luta abnegadamente contra os usurpadores fascistas,
que são os verdadeiros bárbaros e selvagens (prolongados aplausos), e
quando declarei que não tenho nenhum motivo para envergonhar-me de ser
búlgaro e que, longe disso, estou orgulhoso de ser filho da heroica classe
operária búlgara. (Aplausos).
Camaradas: O internacionalismo proletário deve aclimatar-se, por assim
dizer, em cada país e lançar raízes profundas no solo natal. As formas
nacionais que revestem a luta proletária de classes, o movimento operário
em cada país, não estão em contradição com o internacionalismo
proletário, senão que, ao contrário, é precisamente sob estas formas que se
podem defender com êxito os interesses nacionais do proletariado.
É evidente que se precisa por em relevo, ante as massas, em toda parte e
em todas as ocasiões, e demonstrar de modo concreto, que a burguesia
fascista, sob o pretexto de defender os interesses de toda a nação, pratica a
política egoísta de opressão e exploração de seu próprio povo e a
exploração e a escravização dos demais povos. Mas não podemos limitar-
nos a isto. Ao mesmo tempo, temos que pôr em evidência, através das
próprias lutas da classe operária e nas intervenções do Partido Comunista,
que o proletariado, ao rebelar-se contra toda vassalagem e contra toda
opressão nacional, é o único e autêntico paladino da liberdade nacional e
da independência do povo.
Os interesses da luta de classes do proletariado contra os exploradores e
opressores de nossa pátria, não estão em choque com os interesses de um
futuro livre e feliz da nação. Ao contrário: a revolução socialista será a
salvação da nação, e lhe abrirá o caminho de um novo esplendor. Por isto,
porque a classe operária ao construir hoje suas organizações de classe e
firmar suas posições, ao defender contra o fascismo os direitos e liberdades
democráticas, ao lutar pela destruição do capitalismo, luta através de tudo
isto por esse futuro da nação.
O proletariado revolucionário luta por salvar a cultura do povo, por
redimi-la das cadeias do capital monopolista em putrefação, do fascismo
bárbaro que a violenta. Só a revolução proletária pode impedir o naufrágio
da cultura, elevar a cultura a um mais alto esplendor como verdadeira
cultura popular, nacional por sua forma e socialista por seu conteúdo, como
se está realizando a nossos olhos na União das Repúblicas Soviéticas.
O internacionalismo proletário não só não está em choque com a luta dos
trabalhadores de cada país, pela liberdade nacional, social e cultural, mas
além disto garante, graças à solidariedade proletária internacional e à
unidade de luta, o apoio necessário para triunfar nesta luta. Só em estreita
aliança com o proletariado vitorioso da grande União Soviética, poderá
triunfar a classe operária dos países capitalistas. Só lutando de mãos dadas
com o proletariado dos países imperialistas, poderão os povos coloniais e
as minorias oprimidas conseguir sua libertação. A aliança revolucionária da
classe operária dos países imperialistas com os movimentos de libertação
nacional das colônias e dos países dependentes é um elo absolutamente
indispensável na senda do triunfo da revolução proletária nos países
imperialistas, pois, como ensinava Marx, o povo que oprime outros povos
jamais pode ser livre.
Os comunistas que fazem parte de uma nação oprimida ou dependente
não poderão lutar com êxito contra o chauvinismo no seio de sua própria
nação, se ao mesmo tempo não puserem em evidência, na prática do
movimento de massas, que lutam realmente para redimir sua nação do jugo
estrangeiro. Por outro lado, os comunistas da nação opressora não poderão
também fazer o que é necessário para educar as massas trabalhadoras de
sua nação no espírito do internacionalismo, se não travarem uma luta
decidida contra a política de opressão de sua própria burguesia, pelo direito
completo das nações por ela escravizadas de dirigir livremente seus
destinos. Se não o fizerem, ajudarão menos ainda os trabalhadores das
nações oprimidas a colocar-se acima de seus preconceitos nacionalistas.
Somente atuando nesse sentido, demonstrando de um modo convincente
em todo nosso trabalho de massas que estamos tão livres do niilismo
nacional como do nacionalismo burguês, somente então poderemos travar
uma luta verdadeiramente eficaz contra a demagogia chauvinista do
fascismo.
Por isso tem importância tão grande a aplicação certa e concreta da
política nacional leninista. É uma premissa absolutamente indispensável
para lutar eficazmente contra o chauvinismo, principal instrumento da
influência ideológica dos fascistas sobre as massas. (Aplausos).
Capitulo III: O Fortalecimento dos Partidos
Comunistas e a Luta pela Unidade Política do
Proletariado
Camaradas: Na luta pelo estabelecimento da frente única cresce de um
modo extraordinário o papei dirigente dos Partidos Comunistas. Apenas o
Partido Comunista é na realidade o iniciador, o organizador, a força motriz
da frente única da classe operária.
Os Partidos Comunistas só podem assegurar a mobilização das amplas
massas trabalhadoras para lutar unidas contra o fascismo e a ofensiva do
capital, se fortalecerem suas próprias fileiras em todos os aspectos, se
desenvolverem sua iniciativa, se levarem a cabo uma política marxista-
leninista e uma tática adequada e flexível, que não esqueça a situação
concreta e a distribuição das forças da classe.
***
No período decorrido entre o VI e o VII Congressos, nossos partidos dos
países capitalistas cresceram sem dúvida alguma e se temperaram
consideravelmente. Mas seria um erro extremamente perigoso ficarmos
satisfeitos com isto. Quanto mais se estender a frente única da classe
operária, mais tarefas novas e complicadas se nos apresentarão, mais
teremos que trabalhar pelo fortalecimento politico e orgânico de nossos
partidos. A frente única do proletariado faz brotar um exército de operários
que só poderão cumprir sua missão se tiverem à sua frente uma força
dirigente que lhes indique seus objetivos e seus caminhos. Só um forte
partido proletário revolucionário pode ser esta força dirigente.
Quando nós, os comunistas, fazemos todos os esforços por estabelecer a
frente única, não o fazemos do ponto de vista mesquinho do recrutamento
de novos membros para os Partidos Comunistas. Mas justamente porque
queremos fortalecer seriamente a frente única devemos fortalecer também
em todos os aspectos os Partidos Comunistas e aumentar seus efetivos. O
fortalecimento dos Partidos Comunistas não representa uma interesse
fechado de partido, senão um interesse de toda a classe operária.
A unidade, a coesão revolucionária e a presteza combativa dos Partidos
Comunistas é o mais precioso capital, que não nos pertence somente a nós,
mas a toda classe operária. Associamos e continuaremos associando a
presteza para nos lançar à luta contra o fascismo, conjuntamente com os
Partidos e organizações social-democratas, com a luta irreconciliável
contra o social-democratismo como ideologia e também, por conseguinte,
contra toda penetração desta ideologia em nossas próprias fileiras.
Na realização decidida e audaz da politica da frente única, encontramos
em nossas próprias fileiras obstáculos que temos que vencer, custe o que
custar, no menor prazo possível.
Depois do VI Congresso da Internacional Comunista, levou-se a cabo
em todos os Partidos Comunistas dos países capitalistas uma luta tenaz
contra a tendência a adaptar-se oportunisticamente às condições da
estabilização capitalista e contra o contágio com as ilusões reformistas e
legalistas. Nossos Partidos limparam suas fileiras de toda espécie de
oportunistas de direita e com isso firmaram sua unidade bolchevique e sua
capacidade combativa. Com menos êxito se travou, e às vezes não se
travou de nenhum modo, a luta contra o sectarismo. O sectarismo não se
manifestava em formas primitivas e descaradas, como nos primeiros anos
de existência da internacional Comunista, e sim disfarçando-se com o
reconhecimento formalista das teses bolcheviques, freava o
desenvolvimento da política bolchevique de massas. Em nossos tempos o
sectarismo não costuma ser uma enfermidade infantil, como a qualificou
Lênin, mas um vício multo enraizado, e, sem nos curarmos dele, não
poderemos resolver o problema de criar uma frente única proletária e levar
as massas das posições do reformismo para a revolução.
Na situação atual o sectarismo, esse sectarismo enfatuado, como o
qualificamos em nosso projeto de resolução, entorpece, antes de tudo,
nossa luta pela realização dá frente única; sectarismo satisfeito de sua
estreiteza doutrinária e de seu alheiamento da vida real das massas;
satisfeito de seus métodos simplistas para resolver os problemas mais
complicados do movimento operário sobre a base de esquemas cortados
por um padrão; sectarismo que pretende saber tudo, e não julga necessário
aprender na escola das massas as lições do movimento operário; em uma
palavra, esse sectarismo, para o qual, como costuma dizer-se, tudo é
brinquedo de crianças. O sectarismo enfatuado não quer nem pode
compreender que colocar a classe operária sob a direção do Partido
Comunista é coisa que não se consegue automaticamente. O papel
dirigente do Partido Comunista nas lutas da classe operária precisa ser
conquistado. Para isto, não é necessário proclamar o papei dirigente dos
comunistas, senão que é preciso merecer, ganhar, conquistar a confiança
das massas operárias com um trabalho cotidiano de massas e uma politica
acertada. Isto só se consegue se nós os comunistas, em nosso trabalho
político, levamos seriamente em conta o verdadeiro nível da consciência de
classe das massas, seu grau de saturação revolucionária, se apreciamos
serenamente a situação concreta, não através de nossos desejos, senão
através da realidade. Temos que facilitar às amplas massas, pacientemente,
passo a passo, a transição para as posições do comunismo. Não devemos
esquecer jamais as palavras de Lênin, que nos advertiu com toda energia
que ... se trata precisamente de não considerar liquidado para a classe, para
as massas, o que está liquidado para nós.
Acaso agora, camaradas, há ainda em nossas fileiras poucos doutrinários
que na política de frente única só percebem, sempre e em toda parte, os
perigos? Para esses camaradas, toda frente única constitui um perigo
rotundo. Mas esta firmeza de princípios sectária, é apenas o transtorno
político ante as dificuldades da direção imediata da luta de classes.
O sectarismo se manifesta especialmente na apreciação exagerada da
maturidade revolucionária das massas, na apreciação exagerada do ritmo
com que se afastam das posições do reformismo, na tentativa de saltar as
etapas difíceis e os problemas complicados do movimento. Os métodos de
direção das massas se substituem frequentemente na prática pelos métodos
de direção de um grupo fechado de partido. Não se apreciava devidamente
a força, dos laços tradicionais entre as massas e suas organizações e
direções, a quando as massas não rompiam rapidamente estes laços,
adotava-se diante delas uma atitude tão brusca como frente a seus
dirigentes reacionários. A tática e as palavras de ordem se convertiam num
padrão válido para todos os países, e não se levavam em conta as
características da situação concreta em cada país determinada. Passava-se
por alto a necessidade de desenvolver no seio da própria massa uma luta
tenaz para ganhar sua confiança, descuidava-se a luta pelas reivindicações
parciais dos operários e o trabalho dentro dos sindicatos reformistas e das
organizações fascistas de massas. Suplantava-se frequentemente a política
da frente única, por simples apelos e pela propaganda abstrata.
As atitudes sectárias entorpeciam também a seleção acertada dos
homens, a educação e formação de quadros relacionados com as massas,
que gozassem da confiança destas, de quadros, com consequência
revolucionária e provados nas lutas de classe que soubessem associar à
experiência prática de trabalho de massas a firmeza de princípios do
bolchevique.
Desse modo, o sectarismo atrasou consideravelmente o crescimento dos
Partidos Comunistas dificultou a aplicação de uma autêntica política de
massas, entorpeceu a exploração das dificuldades do inimigo de classe para
fortificar as posições do movimento revolucionário, impediu a conquista
das amplas massas proletárias para os Partidos Comunistas.
Lutando do modo mais resoluto por extirpar e superar os últimos
vestígios do sectarismo enfatuado, temos que fortalecer por todos os meios
nossa atenção vigilante e nossa luta contra o oportunismo de direita e
contra todas as manifestações concretas, não esquecendo que o perigo
deste oportunismo crescerá à medida que se for desenvolvendo uma ampla
frente única. Já existem tendências para reduzir o papel do Partido
Comunista nas fileiras da frente única e reconciliar-se com a ideologia
social-democrata. (Não se deve perder de vista que a tática da frente única
é um método para persuadir praticamente os operários social-democratas
da justeza da política comunista e da falsidade da política reformista, e não
uma reconciliação com a ideologia e a prática social-democratas. A luta
eficaz por estabelecer a frente única exige de nós ineludivelmente uma luta
constante dentro de nossas próprias fileiras contra a tendência para reduzir
o papel do Partido, contra as ilusões legalistas, contra a orientação para o
espontaneismo e o automatismo, no que diz respeito à liquidação do
fascismo, como no que se refere à consecução da frente única, contra as
menores vacilações, chegado o momento da atuação resoluta.
***
Camaradas: O desenvolvimento da frente única de luta conjunta dos
operários comunistas e social-democratas contra o fascismo e a ofensiva do
capital, levanta também o problema da unidade política, do partido político
único de massas da classe operária. Os operários social-democratas se vão
convencendo cada vez mais, por experiência, de que a luta contra o inimigo
de classe exige uma direção política única, pois a dualidade de direção
dificulta o desenvolvimento e fortalecimento da luta em comum da classe
operária.
Os interesses da luta de classes do proletariado e o êxito da revolução
proletária, impõem a necessidade de que exista em cada país um partido
único do proletariado. Consegui-lo não é, naturalmente, tão fácil e simples.
Exige um trabalho e uma luta tenazes e tornará necessário um processo
mais ou menos longo. Os Partidos Comunistas, apoiando-se na crescente
inclinação dos operários para a unificação dos partidos social-democratas,
ou de algumas de suas organizações, com os Partidos Comunistas, devem
tomar em suas mãos com segurança e firmeza a iniciativa desta unificação.
A causa da unificação das forças da classe operária num partido proletário
revolucionário único, nestes momentos em que o movimento operário
internacional entra no período de liquidar a cisão, é nossa causa, é a causa
da Internacional Comunista.
Mas se, para estabelecer a frente única dos Partidos Comunistas e
Social-democrata, basta chegar a um acordo sobre a luta contra o fascismo,
contra a ofensiva do capital e contra a guerra, a criação da unidade política
só é possível sobre a base de uma série de condições concretas que tem um
caráter de princípio.
Esta unificação só será possível:
• Primeiro, com a condição de emancipar-se completamente da
burguesia e romper inteiramente o bloco da social-democrata com a
burguesia;
• Segundo, com a condição de que se realize previamente a unidade
de ação;
• Terceiro, com a condição de que se reconheça a necessidade da
destruição revolucionária da dominação da burguesia e da instauração
da ditadura do proletariado sob a forma de soviets;
• Quarto, com a condição de que se renuncie a apoiar a própria
burguesia numa guerra imperialista;
• Quinto, com a condição de que se erija o Partido sobre a base do
centralismo democrático, que assegura a unidade de vontade e de ação
e que já foi provado pela experiência dos bolcheviques russos.
Temos que esclarecer os operários social-democratas com paciência e
camaradagem, porque a unidade política da classe operária é irrealizável
sem estas condições. Com eles devemos julgar o sentido e a importância
destas condições.
Por que, para a realização da unidade política do proletariado, é
necessário emancipar-se completamente da burguesia e romper o bloco da
social-democracia com a burguesia?
Porque toda a experiência do movimento operário, e em particular a
experiência dos quinze anos de política de coalizão na Alemanha, pôs em
relevo que a política de colaboração de classes, a política de submissão à
burguesia, conduz à derrota da classe operária e à vitória do fascismo. E o
caminho da luta irreconciliável de classes contra a burguesia, o caminho
dos bolcheviques, é o único caminho seguro para o triunfo.
Por que estabelecer previamente a unidade de ação há de ser a premissa
da unidade política?
Porque a unidade de ação para repelir a ofensiva do capital e do
fascismo pode e deve conseguir se antes de se unificar a maioria dos
operários sobre a plataforma comum da destruição do capitalismo; para
chegar à unidade de ideias a respeito das mudanças e dos objetivos
fundamentais da luta do proletariado, sem a qual não se poderia unificar os
partidos, é preciso, por sua vez, um prazo de tempo mais ou menos longo.
E o melhor para chegar à unidade de ideias; criá-la na luta conjunta contra
o fascismo hoje mesmo. Propor em vez da frente única a unificação
imediata equivale a querer pôr o carro adiante dos bois e julgar que deste
modo o carro andará (Risos). Precisamente porque o problema da unidade
política não é para nós uma manobra, como é para muitos chefes social-
democratas, insistimos em que se realize a unidade de ação, como uma das
etapas mais importantes na luta pela unidade politica.
Por que é necessário reconhecer a destruição revolucionária da burguesia
e a instauração da ditadura do proletariado sob a forma do Poder soviético?
Porque a experiência do triunfo da grande revolução russa de Outubro,
de um lado, e, de outro, os amargos ensinamentos da Alemanha, Áustria e
Espanha, durante todo o período do após-guerra, provaram uma vez mais
que o triunfo do proletariado só é possível mediante a destruição
revolucionária da burguesia, e que a burguesia, antes de permitir que o
proletariado instaure o socialismo por via pacífica, afogará o movimento
operário num mar de sangue. A experiência da Revolução de Outubro
demonstrou com toda evidência que o conteúdo básico da revolução
proletária é o problema da ditadura do proletariado, cuja missão é esmagar
a resistência dos exploradores vencidos, armar a revolução para a luta
contra o imperialismo e conduzi-la até o triunfo completo do socialismo.
Para realizar a ditadura do proletariado como ditadura da esmagadora
maioria sobre uma minoria insignificante, sobre os exploradores — e
unicamente assim se realizar — são necessários os Soviets, que abrangem
todas as camadas da classe operária, as grandes massas camponesas e
demais trabalhadores, sem cujo despertar e incorporação à frente da luta
revolucionária será impossível assegurar o triunfo do proletariado.
Por que a negação de apoio à burguesia numa guerra imperialista é
condição para estabelecer a unidade política?
Porque a burguesia faz a guerra imperialista para alcançar seus objetivos
rapaces contra os interesses da maioria esmagadora dos povos, qualquer
que seja o pretexto sob o qual se faça a guerra. Porque todos os
imperialistas, ao mesmo tempo que se armam febrilmente para a guerra,
reforçam até o último limite a exploração e a opressão dos trabalhadores
dentro de seus próprios países. Apoiar a burguesia em semelhante guerra
significaria trair os interesses do país e da classe operária internacional.
Finalmente, por que erigir o Partido sobre a base do centralismo
democrático é condição para a unidade?
Porque somente um partido estabelecido na base do centralismo
democrático pode assegurar a unidade de vontade e de ação e levar o
proletariado ao triunfo sobre a burguesia, que dispõe de uma arma
poderosa como o aparelho centralizado. A aplicação do princípio do
centralismo democrático, sofreu uma brilhante prova histórica na
experiência do Partido Bolchevique russo, o Partido de Lênin.
Eis aí porque é necessário esforçar-se para conseguir a unidade política
sobre a base das condições apontadas.
Somos partidários da unidade política da classe operária. Por isso
estamos dispostos a colaborar do modo mais estreito com todos os social-
democratas que sejam partidários da frente única e que apoiem
sinceramente a unificação, de acordo com os princípios mencionados. Mas
precisamente por isso, porque somos partidários da unificação, lutaremos
decididamente contra todos os demagogos de esquerda que tentam explorar
a desilusão dos operários social-democratas para criar novos partidos ou
internacionais socialistas dirigidas contra o movimento comunista e que
agravam portanto a cisão da classe operária.
Saudamos a tendência crescente dos operários social-democratas para a
frente única com os comunistas. Vemos neste fato o aumento de sua
consciência revolucionária e um sinal de que se começa a superar a cisão
da classe operária. Considerando que a unidade de ação é uma necessidade
urgente e o caminho mais seguro para a criação da unidade política do
proletariado, declaramos que a internacional Comunista e suas Seções
estão dispostas a entrar em negociações com a Segunda Internacional e
suas respectivas Seções sobre a criação da unidade da classe operária na
luta contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e contra a ameaça de
uma guerra imperialista.
Conclusão
Camaradas: vou terminar meu informe. Como vedes, levando em conta
as mudanças operadas na situação desde o Vi Congresso e os ensinamentos
de nossa luta, e baseando-nos no nível já alcançado de consolidação de
nossos partidos, apresentamos agora de um modo novo uma série de
problemas, antes de tudo o da frente única e da aproximação da social-
democracia, dos sindicatos reformistas e das demais organizações de
massas.
Há sabichões a quem tudo isto parece um retrocesso de nossas posições
de princípio, uma viragem da linha do bolchevismo para a direita. Bem! A
galinha faminta, como dizemos na Bulgária, sonha sempre com milho.
(Risos, grandes aplausos).
Deixemos as galinhas políticas pensar como lhes pareça! (Risos, grandes
aplausos).
A nós, isto pouco interessa. O importante para nós é que nosso próprio
partido e as grandes massas de todo o mundo compreendam acertadamente
porque lutamos.
Não seriamos marxistas-leninistas, revolucionários, dignos discípulos de
Marx, Lênin, se não mudássemos de um modo congruente nossa política e
nossa tática de acordo com as mudanças operadas na situação e no
movimento operário mundial.
Não seriamos verdadeiros revolucionários, se não aprendêssemos da
própria experiência e da experiência das massas.
Queremos que nossos Partidos dos países capitalistas ajam e procedam
como verdadeiros partidos políticos da classe operária, que desempenhem
na realidade o papel de um fator politico na vida de seu país, que levem a
cabo continuamente uma ativa política bolchevique de massas e não se
limitem só à propaganda e à crítica, a lançar simples apelos à luta pela
ditadura proletária.
Somos inimigos de todo esquematismo. Queremos que se tenha em
conta a situação concreta de cada momento e de cada região dada e que não
se aja sempre e em toda parte de conformidade com um padrão
determinado; não queremos esquecer que a posição dos comunistas não
pode ser igual ali onde as condições são diferentes.
Queremos levar em conta serenamente todas as etapas do
desenvolvimento da luta de classes e do incremento da consciência de
classe das massas, saber encontrar e resolver em cada etapa as tarefas
concretas do movimento revolucionário que correspondem a ela.
Queremos encontrar uma linguagem comum com as mais extensas
massas para lutar contra o inimigo de classe; encontrar os caminhos pelos
quais a vanguarda revolucionária se sobreponha definitivamente a seu
isolamento das massas do proletariado e de todos os trabalhadores, e para
que a própria classe operária se sobreponha ao fatal isolamento de seus
aliados naturais na luta contra a burguesia, contra o fascismo.
Queremos arrastar massas cada vez mais amplas à luta revolucionária de
classe e atraí-las à revolução proletária partindo de seus interesses e
necessidades candentes e sobre a base de sua própria experiência.
Queremos, a exemplo de nossos gloriosos bolcheviques russos, a
exemplo do Partido guia da Internacional Comunista, do Partido
Comunista da União Soviética, associar ao heroísmo revolucionário dos
comunistas alemães, espanhóis, austríacos e de outros países, o autêntico
realismo revolucionário e acabar com os últimos restos de devaneio
escolástico em torno a problemas políticos sérios.
Queremos armar nossos Partidos em todos os aspectos para que possam
resolver os problemas políticos mais complicados que se lhes apresentem.
Para isto, é preciso elevar cada vez mais seu nível teórico, educá-los no
espírito vivo do marxismo-leninismo e não de um doutrinarismo morto.
Queremos extirpar de nossas fileiras o sectarismo enfatuado, que fecha
antes de tudo o caminho para as massas e impede a realização de uma
verdadeira política bolchevique de massas. Queremos reforçar por todos os
meios a luta contra todas as manifestações concretas do oportunismo de
direita, tendo presente que o perigo que surge deste lado crescerá
justamente ao levar à prática nossa política e nossa luta de massas.
Queremos que os comunistas de cada país tirem e aproveitem
oportunamente todos os ensinamentos de sua própria experiência, que é a
da vanguarda revolucionária do proletariado. Queremos que aprendam
quanto antes possível a nadar nas águas tempestuosas da luta de classes e
não que fiquem à margem, como espectadores e registradores das ondas
que se aproximam, esperando o bom tempo. (Aplausos).
Eis aí o que queremos.
E queremos tudo isto porque só por este caminho a classe operária, à
frente de todos os trabalhadores, estreitando suas fileiras num exército
revolucionário de milhões de homens, dirigido pela internacional
Comunista poderá cumprir com toda certeza sua missão histórica: varrer o
fascismo, e com ele o capitalismo, da face da terra.
Toda a sala se põe de pé e tributa uma estrondosa ovação ao camarada
Dimitrov.
Os delegados prorrompem em vivas ao camarada Dimitrov, em
diferentes idiomas.
Pessoa, poderosa, a internacional, cantada em todos os idiomas do
mundo e seguida de uma nova tempestade de aplausos.
Ouvem-se gritos de viva o camarada Dimitrov! Um hurra bolchevique
ao camarada Dimitrov, porta-bandeira do Komintern!
Um delegado grita, em búlgaro: Viva o camarada Dimitrov, heroico
campeão da internacional Comunista na luta contra o fascismo!
As delegações entoam suas canções revolucionárias: a italiana, a
Bandiera Rossa, a polaca, a Warchavianka, a francesa, La Carmagnole, a
alemã, o Wedding Vermelho, a chinesa, a Marcha do Exército Vermelho
chinês.
Table of Contents
Apresentação
Capitulo I: O Fascismo e a Classe Operária
Capitulo II: A Frente Única da Classe Operária contra o Fascismo
Capitulo III: O Fortalecimento dos Partidos Comunistas e a Luta pela
Unidade Política do Proletariado
Conclusão

Você também pode gostar