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Nome: Camila Lima dos Santos

Curso: Educação Física- Licenciatura


Data: 24/04/2022
Disciplina: Fundamentos Históricos Filosóficos da Educação Física
Tutor: Alfredo Feres Neto

Educação Física Progressista. De Paulo Guiraldelli Júnior. São Paulo: Edições Loyola,2007.

Paulo Ghiraldelli é filósofo, escritor e jornalista. Possui mestrado e doutorado em


Filosofia pela USP. É pós-doutor em Medicina Social pela UERJ. Também é mestre e doutor
em Filosofia e História da Educação pela PUC-SP. Graduado em Filosofia pela Mackenzie e
licenciado em Educação Física pela UFSCar. Livre docente e professor titular pela UNESP.
Lecionou em diversas universidades do país e esteve como pesquisador convidado na
Oklahoma State University (USA) e na University Of Auckland - Nova Zelândia. Atualmente
é membro da ISFP - International Society Philosophy. É editor do Contemporary Pragmatism
- periódico internacional. Coordenador e pesquisador do Centro de Estudos em Filosofia
Americana (CEFA) e trabalha no canal do filósofo (youtube.com/tvfilosofia).

O livro do professor Paulo Guiraldelli Jr. vai debater sobre as tendências e correntes da
educação física escolar brasileira. De uma forma que os docentes enxerguem os pontos
positivos da educação progressista. O professor mostra de forma detalhada e explicativa a
educação física higienista, militarista, pedagogista, competitivista e a popular, essa obra é um
auxílio para os professores que buscam levar a dimensão crítico-social para suas aulas, sendo
assim seus discentes terão contato com uma educação física que se importa não somente com
a aptidão física, mas que se importa em transmitir o valor e importância das práticas corporais,
como também busca dialogar com os alunos a importância de ser crítico, questionador, e ter
consciência social, política, cultural etc.
Guiraldelli Júnior (2007) apresenta as concepções de educação física uma por uma,
demonstrando as características fundamentais, e inicia-se pela educação física higienista. Esta
concepção tem início em 1889 no Império e se prolonga até 1930 período da primeira república,
para essa tendência cabe à educação física cuidar da saúde individual do indivíduo, formando
homens e mulheres sadios, fortes, resistentes entre outros. Para Ghiraldelli Júnior (2007), o
desenvolvimento da Educação Física higienista estava ligado às preocupações das elites com
os problemas advindos da crescente industrialização do período final do Império e de toda a
Primeira República. O Mestre em educação física Alan Camargo Silva, enriquece o conteúdo
aqui discutido em sua publicação.

As preocupações do pensamento liberal da elite brasileira com a saúde


objetivavam distanciar as classes sociais mais altas das mazelas sociais que
assolavam grande parte do país. Nesta época, houve um impulso significativo
da industrialização e consequentemente um avanço incompatível da
urbanização com a infraestrutura das grandes metrópoles. Este cenário
derivou um surto de inúmeras doenças, altos índices de mortalidade infantil,
bairros atravessados por uma série de problemas de saneamento básico, bem
como uma suposta falta de reflexão da população, sobretudo da parcela
referente aos trabalhadores operários, em relação às profilaxias e às condições
de saúde. (Alan Camargo Silva, EFDeportes, Revista Digital, 2012).
Então nesse contexto Caparroz (2005), cita que no caso específico da Educação Física
escolar, emergia a noção de intervenção que serviria “[...] para imprimir a ideia liberal, de que
a saúde, o bem-estar físico, o desenvolvimento do corpo forte, higiênico, é responsabilidade
individual e não consequência das condições sociais determinadas pela estrutura econômica,
política e social.” (p. 121). Então o que se pode ver sobre esta concepção é que ela é
extremamente ligada ao seu contexto histórico, sendo assim se faz muito importante abordar
ela, pois ainda se tem resquícios na contemporaneidade. Observamos também que o professor
Guiraldelli Jr. enriquece sua obra evidenciando alguns pontos como, a industrialização, o
discurso liberal, o capitalismo, entre outros que com certeza influenciaram na formação de uma
concepção de educação física higienista.

Avançando para a próxima tendência, a chamada educação física militarista, Guiraldelli


frisa que não se deve confundir a educação física militarista com a educação física militar, o
autor já introduz um ponto que chama a atenção, sobre as características dos liberais brasileiros,

Dizem que nossos liberais são “liberais de fachada” e que, uma vez
contrariados seus interesses, correm eles às portas dos quartéis na busca da
intervenção militar sobre a sociedade e o Estado. De fato, o pensamento liberal
brasileiro muitas vezes não encontra saídas senão na invocação do
militarismo. Particularmente, com a Educação Física esse dilema se verifica
historicamente. (Guiraldelli Jr., 2007).

Segundo o autor essa concepção é influenciada pelo fascismo e tinha uma ideia central
o “aperfeiçoamento da raça”, seguindo assim as determinações impostas pelas falsas conclusões
encetadas pela biologia nazifascista. Daí a Educação Física funcionar como atividade
“aceleradora do processo de seleção natural”. Destaca também a ideia de utilizar a Educação
Física como meio primordial de forjar “máquinas humanas” a serviço da Pátria,
Guiraldelli,2007.

No texto é observado que esta concepção visa impor a toda a sociedade padrões de
comportamento estereotipados, frutos da conduta disciplinar, Guiraldelli,2007. Relacionando
esta abordagem com a anterior, percebe-se que ela também se preocupa com a saúde, tanto
pública e individual, o que diferencia é que o objetivo desta é uma busca por uma juventude
que que seja capaz de suportar o combate, a luta, a guerra, aqui se faz necessário relembrar o
contexto histórico que também vai influenciar, visto que era no período da chamada Era Vargas
e a Segunda Guerra Mundial, Guiraldelli Jr. em sua obra não se recolhe em falar abertamente
sobre esta concepção e suas características, podemos notar no seguinte trecho

a ginástica, o desporto, os jogos recreativos etc. só têm utilidade se visam à


eliminação dos “incapacitados físicos”, contribuindo para uma “maximização
da força e poderio da população”. A coragem, a vitalidade, o heroísmo, a
disciplina exacerbada compõem a plataforma básica da Educação Física
Militarista. (Guiraldelli,2007).
E assim finalizando o contexto e características da concepção militarista, frisando ainda
que ela forma um cidadão de certa forma “alienado”, ou seja, visa a formação do “cidadão-
soldado”, capaz de obedecer cegamente e de servir de exemplo para o restante da juventude
pela sua bravura e coragem, Guiraldelli (2007). Vale reforçar que de acordo com o autor que,
derrotado o nazifascismo após 1945, a educação física militarista foi obrigada a se reciclar, isto
não significa, de maneira alguma, que a prática da educação física, após a derrota do
nazifascismo, tenha-se livrado dos parâmetros impostos pela educação física militarista. De
fato, ainda hoje, em qualquer aula de educação física deste país, é possível encontrar resquícios
dos princípios norteadores da prática ginástica e desportiva fascista. (Guiraldelli Jr., 2007,
p.22).

Caminhando agora para a concepção da educação física pedagogicista, sendo esta uma
ganha força principalmente no período pós-guerra (1945-1964) uma concepção mais crítica que
as passadas, mas mesmo sendo crítica não podemos considerá-la de fato uma educação
progressista. Preocupada também com o público escolar, Guiraldelli aborda dizendo que esta
também é uma concepção que vai reclamar da sociedade a necessidade de encarar a educação
física não somente como uma prática capaz de promover saúde ou de disciplinar a juventude,
mas de encarar a educação física como uma prática eminentemente educativa. E uma das
características dela é que a ginástica, a dança, o desporto etc., são meios de educação do
alunado. São instrumentos capazes de levar a juventude a aceitar as regras de convívio
democrático e de preparar as novas gerações para o altruísmo, o culto a riquezas nacionais etc.
(Guiraldelli Jr., 1991, p.19).

O professor apresenta uma citação do professor Antônio Boaventura da Silva que foi
professor da Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo, que expõe e deixa claro
o liberalismo americano dos anos 50 na consciência dos teóricos responsáveis pela elaboração
e divulgação daquilo que estamos chamando de educação física pedagogicista.

(...) Segundo a Associação Nacional de Educação Física dos Estados


Unidos, são os seguintes os fins da educação: “Saúde, desenvolvimento de
habilidades fundamentais para a vida, formação de caráter e desenvolvimento
de qualidades dignas de um bom membro de família e bom cidadão,
aproveitamento sadio das horas livres ou de folga e, finalmente, preparação
vocacional (...)” Saúde: a educação física pode contribuir igualmente para a
saúde física e mental, através de atividades consideradas fisicamente
saudáveis e mentalmente estimulantes (...) Habilidades fundamentais: dentre
as habilidades fundamentais de toda sorte, de que o indivíduo necessita para
assegurar seu completo bem-estar e ajustamento, salientam-se as habilidades
físicas como uma necessidade fundamental em todas as idades (...) Caráter e
qualidades mínimas de um bom membro de família e bom cidadão: a educação
física é uma fase de trabalho escolar que particularmente se presta para o
desenvolvimento do caráter (...) Preparação vocacional: certos tipos de
atividades físicas, especialmente as competições desportivas, desenvolvem
controle emocional e qualidade de comando e liderança (...) Uso contínuo das
horas livres ou de folga: o mau aproveitamento desse tempo pode destruir a
saúde, reduzir a eficiência e quebrar o caráter, além de degradar a vida (...)
(Silva, 1950).
E ao final da abordagem sobre a concepção pedagogicista se tem a problemática dela,
mostrando um dos motivos desta concepção não ser tão desconstruída quanto parece, que não
é tudo lindo, afinal, não podemos esquecer que até os anos 50 o “Regulamento n. 7”, ou
“Método Francês”, era oficialmente obrigatório como diretriz da prática da Educação Física na
rede escolar brasileira, Guiraldelli,2007.

Agora falando da concepção de uma educação física competitivista, ressaltando logo no


início algumas características e comparações, o autor menciona que assim como a educação
física militarista, a educação física competitivista também está a serviço de uma hierarquização
e elitização social. Seu objetivo fundamental é a caracterização da competição e da superação
individual como, valores fundamentais e desejados para uma sociedade moderna. (Guiraldelli
Jr., 1991, p.20).

Essa concepção tem uma abundância no viés político e histórico, considerando seu
contexto, sendo ele a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), momento este que essa concepção
foi reforçada, divulgada e fortalecida. O treinamento desportivo como destaque, junto com ele
a fortificação do processo de tecnização. Então se tinha nas escolas uma aula com foco no
desenvolvimento e descobrimento de novos atletas e o esporte funcionava como uma política
de pão e circo.

Segundo o governo ditatorial, fazia-se necessário eliminar as críticas internas


e deixar transparecer um clima de prosperidade, desenvolvimento e calmaria.
Os problemas políticos “desapareceram” com a censura à imprensa e com a
expulsão do país de brasileiros descontentes com um regime cada vez mais
opressivo. Os problemas deixavam de ter conotação política, dado que o
Governo anunciava soluções provindas da tecnoburocracia que,
“cientificamente”, gerenciava o país. (Guiraldelli Jr., 2007).

Tal concepção é aprofundada e criticada pelo professor quando ele afirma que a
concepção competitivista não se enraíza na prática e no cotidiano popular, de forma pura, e sim
mesclada com todas as outras tendências que, historicamente, foram fixando marcos no
pensamento social brasileiro. O culto ao atleta-herói, ao individualismo, é marca registrada
divulgada e glorificada pela imprensa. A ideia de “conquistar um lugar ao sol pelo esforço
próprio” é ilustrada a todo momento com os ídolos do desporto, principalmente aqueles
provindos dos lares mais pobres e que se destacam em grandes campeonatos nacionais e
internacionais e que, em verdade, escondem a verdadeira falta de oportunidade de
enriquecimento material e cultural em que vive a maior parte da população. (Guiraldelli Jr.
2007, p.32-33).

Partindo para a última concepção que o professor aborda, denominada como uma
concepção de educação física popular, que tem início após o fim da ditadura militar no Brasil,
o chamado período de redemocratização. É uma concepção voltada para a ludicidade,
cooperação, dança, ginástica, lazer, solidariedade e conta com a organização de todos para a
construção de uma sociedade democrática. O contexto histórico é de extrema importância, pois
com ele podemos ver os partidos políticos após a ditadura militar, com uma participação mais
ativa e preocupados com o sistema educacional, considerando o lazer e a educação física e ao
mesmo tempo reivindicando do poder público, mais escolas, mais quadras esportivas, entre
outras coisas. O autor salienta também, que é uma concepção que surge da prática social dos
trabalhadores, se tem então algumas influências como, o movimento operário e popular.

Esta obra é rica em elementos atuais, críticos, complementa-se com a parte histórica que
fornece uma base boa para criar um ambiente mais crítico e reflexivo. Este livro foi muito útil,
principalmente por abordar as concepções mais vistas e as menos vistas, buscando ressaltar as
características mais importantes e ligando elas com o passado e presente. O autor não julga as
concepções e nem cita que alguma esteja certa e por isso é a melhor, Guiraldelli nos ajuda sendo
com sua atitude inercia, de falar sem se expor e impor, com isso sua obra vem para auxiliar os
docentes e futuros discentes, falando da importância de conhecer a trajetória da educação física
e as suas concepções. Cada uma das concepções conta com pontos positivos e negativos, cabe
aos leitores se aprofundarem e terem uma atitude crítica.

Referências

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0835044927730501

Educação Física higienista: discursos historiográficos, Alan Camargo Silva. EFDeportes.com,


Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, agosto de 2012. http://www.efdeportes.com.
Disponível em: https://efdeportes.com/efd171/educacao-fisica-higienista-discursos.htm

GUIRALDELLI, Jr. Paulo. Educação Física Progressista. 10. Edição. São Paulo: Loyola, 2007.

Educação Física Popular. Disponível em: https://youtu.be/Lnz2rpB5wJQ

Tendências e abordagens pedagógicas da Educação Física escolar e suas interfaces com a saúde,
Heraldo Simões Ferreira, José Jackson Coelho Sampaio. Disponível em: EFDeportes.com,
Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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