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Pág.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 5
CONCLUSÃO ............................................................................................................. 37
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 41
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INTRODUÇÃO
Mesmo ocorrendo em épocas diferentes, uma analogia pode ser feita entre o discurso
supracitado e o da figura notável e de grande repercussão no âmbito educacional, o deputado
Rui Barbosa. Ele avaliou, no final do século XIX, que seria imprescindível para a formação
de uma população trabalhadora e produtiva a prática de uma educação higiênica e física desde
o primeiro ensino até o ensino superior, o que se daria pela Educação Física (PAIVA, 1985).
Vemos, portanto, uma permanência histórica da Educação Física. Nota-se que no
período da ditadura civil-militar, a EF permanece consonante aos ideais dos anos 20, pautados
no movimento higienista. Conforme Soares (2003), nesses anos, “médicos e educadores viam
a EF e os esportes como importantes fatores de higiene pessoal e de coesão social e os campos
de recreação e de esportes como possibilidade concreta de saneamento do meio” (p. 129).
1
Segundo Reis (2012), houve segmentos da população - civis – que apoiaram a instauração do regime ditatorial.
6
Soares, no mesmo texto, também salienta que os profissionais de EF nos anos 20 são
representados como anunciadores da saúde, vendedores de força e beleza, robustez e vigor.
Logo, apesar de muitos autores afirmarem que a EF foi um mecanismo propagador dos
ideais ditatoriais e desmobilizador de correntes contrárias ao governo, vemos uma
continuidade na função da Educação Física do início do século XIX e nos anos marcados pela
ditadura civil-militar. Ademais, alguns autores (SOARES, 2007; GÓIS JUNIOR &
LOVISOLO, 2003), destacam que essa permanência histórica não se restringiu até o período
civil-militar, afirmando que a Educação Física focada em práticas do movimento higiênico
está presente até os dias atuais.
Esses autores salientam que a única coisa que muda é a denominação das tendências,
porque essas mudanças de nomes valorizam seus profissionais ao passo que credencia ao
olhar leigo novas interpretações da área, caracterizando um “avanço” científico que provoca
uma legitimação dos argumentos e a valorização da intervenção desse profissional na
sociedade (GÓIS JUNIOR & LOVISOLO, 2003).
Dessa forma, a Educação Física ao adquirir status de anunciadores da saúde,
vendedores de força e beleza, robustez, vigor e formador de caráter alcança uma nova
importância na sociedade. Assim, houve um maior apelo da mesma pelos educadores.
Consequentemente, surge à necessidade de formar mão de obra qualificada na área. Pois, “no
Brasil do início do século XX não havia escolas de formação de educadores físicos, e o saber
dos professores geralmente se limitava à instrução prática” (GOELLNER, 2010, p. 528).
Para sustentar esse projeto da EF, cria-se então a Escola Nacional de Educação Física
e Desportos (ENEFD) na Universidade Brasil2, no Rio de Janeiro. De acordo com Pintor
(1995), a ENEFD nasce com a premissa de: “formar pessoal técnico em Educação Física
Desportiva (EFD); imprimir ao ensino de EFD, unidade teórica e prática; difundir
conhecimentos e realizar pesquisas sobre EFD, indicando os métodos mais adequados à sua
prática no país” (p. 67).
Ao longo do processo de formação de professores, inúmeros discursos de educação do
corpo são propagados buscando adequar os indivíduos aos objetivos almejados, como
pudemos perceber no caso da ENEFD. De acordo com Soares (2006):
Histórias das múltiplas formas de educação dos corpos, portanto, sejam na escola ou
em outros espaços de socialização dos indivíduos, são fundamentais para a
compreensão de espaços e tempos que formam e conformam indivíduos, grupos e
classes em uma dada sociedade e em um dado recorte temporal. (prefácio X).
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A ENEFD dará lugar a Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) na Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Esta é herdeira da Universidade Brasil.
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Figueiredo. E, também, porque vários autores já reconheciam nesse período que havia uma
tendência de maior influência das ciências humanas e sociais no âmbito educacional e pela
necessidade da cientificidade da Educação Física.
Observou-se também a inexpressiva quantidade de pesquisas apresentadas sobre a
relação entre formação de professores e a educação do corpo no período destacado. Em
relação à formação de professores no período destacam-se: Ghiraldelli Junior (1988), Betti
(1991), Castellani Filho (1994), Bracht (1999, 2000), Taborda de Oliveira (2002, 2003, 2004).
Já sobre educação do corpo, parece que esta temática surge de modo disperso, como
pode ser observado nas contribuições de Vaz (2002, 2006), Soares & Fraga (2003), Moreno &
Segantini (2006), Soares (2006, 2011), Taborda de Oliveira (2006, 2011), Gomes & Silva
(2007), Goellner (2010), Taborda de Oliveira & Linhales (2011). Entretanto, não foi possível
detectar trabalhos referentes à temática de educação do corpo no processo de formação de
docentes.
Em relação à trajetória histórica da EEFD, um número irrisório de pesquisas foi
detectado. Desses, sobressaem-se os de Paiva (1985), Pintor (1995), Melo (1996) e Fonseca
(2009) que apesar de não serem trabalhos com o objetivo principal de resgatar a trajetória
histórica da Escola, lançam um olhar acerca do processo de construção da EEFD, ao longo de
seus estudos. Esse número inexpressivo impossibilitou um regaste histórico da instituição no
que se refere ao período proposto no presente estudo. Os trabalhos garimpados nessa pesquisa
discutiam apenas a construção da EEFD até sua transferência da Praia Vermelha ao novo
campus universitário da Ilha do Fundão, o que se deu em 1969.
Para melhor organizarmos a elaboração do trabalho e a execução do objetivo proposto,
foram desenvolvidos dois capítulos de fundamentação teórica, são eles: (a) Educação Física
na época da ditadura civil-militar: quadro histórico e (b) Educação do Corpo: limites e
possibilidades. O primeiro capítulo caracteriza-se por ser um balanço historiográfico da
Educação Física brasileira no período do regime ditatorial. Posteriormente, foi realizada uma
revisão literária a respeito do significado, dos limites e das possibilidades do termo educação
do corpo. Em seguida, são apresentados os procedimentos metodológicos e, por fim, a análise
dos dados derivados das fontes de pesquisa.
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo, buscou-se lançar um olhar acerca da Educação Física (EF) na época da
ditadura civil-militar, resgatando discussões, debates, tendências, além de algumas diretrizes e
leis tanto do sistema educacional quanto da própria EF. Isso, sem deixar de lado o panorama
econômico, social, político e do sistema educacional como um todo em que se encontrava
engajado o país.
No período entre 1950 e 1980, o Brasil passa por um intenso processo de
modernização, alterando-se toda fisionomia social, econômica e política do país. Entre essas
mudanças, destaca-se a inversão da relação da população rural/urbana, uma vez que em 1950,
a população rural representava 64% da total e a urbana apenas 36%, e em 1980, a rural passa
para 33% e a urbana 67% da população total (SILVA, 1990). Assim, a população urbana
torna-se predominante, consequentemente aceleram-se e intensificam-se as relações de
produção capitalista.
Porém, desde 1961, a alta inflação, que neste ano era de 47,7 % e em 1964 (ano do
golpe civil-militar) chegou a 91,9%, compromete o projeto de industrialização e
modernização que vigorava no país. E, a partir disso, surgiram diversas propostas para
“desbloquear” a economia brasileira, através, principalmente, da reforma agrária (SILVA,
1990). Consequente à alta inflação dá-se uma ampla paralisação dos investimentos privados
no país, resultando numa grande crise econômica. Essa situação afetou intensamente a
realidade brasileira, tornando insustentável a situação do país, principalmente a economia.
Isso abriu espaço para uma interferência no governo a fim de restabelecer a ordem econômica.
O que se dá em 1964 (FAUSTO, 2002; SILVA, 1990).
Em 1964, com a instalação do regime civil-militar no governo, houve a nova etapa de
modernização do país, dando continuidade aos governos de J. Kubitschek e Jânio Quadros,
visando desenvolver-se tanto no âmbito nacional quanto internacional através de um
planejamento do Estado. Para este desenvolvimento, a educação deveria responder,
adequadamente, às demandas crescentes da urbanização e industrialização do país
(CIAVATTA, 2002; SILVA, 1990).
Entretanto, aliado a essas demandas crescentes, a educação também sofria mudanças.
A partir dos anos 60, houve uma discussão em nível internacional no campo educacional que
questionava como as escolas e as universidades tratavam as bases da educação. Conforme
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Taborda de Oliveira (2003), essa discussão trazia a marca de uma crítica radical da cultura,
que ressoava com a mesma força que a crítica às formas políticas de gestão do globo,
manifestas na polarização da Guerra Fria. E, além disso, “políticas, economia e cultura
sofriam críticas radicais de intelectuais, políticos dissidentes, minorias políticas, étnicas e
sociais e, sobretudo naquele momento, de “uma” juventude apaixonada” (p. 154). Aliás,
pontuando, agora, a realidade nacional, os próprios estudantes brasileiros em meados da
década de 50 reivindicavam uma educação mais pautada na realidade, na técnica, na ciência, e
menos na obsoleta tradição livresca da universidade brasileira (TABORDA DE OLIVEIRA,
2003). Com isso, houve uma grande apologia, tanto dos civis quanto dos militares, à técnica e
a ciência para modificar a base da educação visando uma melhor preparação do indivíduo
para atender o mercado de trabalho.
Nesse contexto, a Lei n. 5692/71 estabelece a profissionalização universal e
compulsória, modificando o sistema de ensino vigente. Essa lei interviu para a desativação
das escolas técnicas, pois se entendiam que as habilitações profissionais deveriam ser
ministradas em toda e qualquer escola de 2º grau, sendo intrínseca ao seu papel na sociedade
(CIAVATTA, 2002). Isto deixa clara a intenção de ajustar a educação ao uso de técnicas,
almejando uma educação pautada na realidade que se volta para satisfazer o processo de
industrialização e urbanização do país.
A EF como toda educação brasileira, também, encontrava-se submersa nessa tensão
social. Contudo, a EF que, de acordo com Bracht (1999), foi constituída a partir de grande
influência das instituições militares e da medicina, ganha, em 1961, na iminência do golpe de
64 e sob os debates mundiais acerca da educação, contornos para uma afirmação em âmbito
nacional a partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LBD) da Educação Nacional
pela lei nº 4.024/61. Essa lei, em seu artigo 22, estabelece que “será obrigatória a prática da
educação física nos cursos primário e médio, até a idade de 18 anos” (BRASIL, 1961, não há
página por ser retirado de um endereço eletrônico). Mais tarde, em 1969, altera-se a redação e
a lei é estendida: será obrigatória a prática da educação física em todos os níveis e ramos de
escolarização, com predominância esportiva no ensino superior. (BRASIL, 1969).
Com essa afirmação a EF também se submete aos pilares (valorização das técnicas e
da ciência) propagados durante a ditadura, como menciona Taborda de Oliveira (2004):
“fazia-se apologia da técnica e da ciência em nome de um desenvolvimento tido como
indiscutível. A “modernização” – mote da ditadura militar – tinha chegado para ficar.” (p. 13).
Vale destacar que os ideais ditatoriais estavam propagados de maneira intensa em grande
parte da América, como ilustra Rouquié (1984): “em 1980, dois terços da população total da
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América considerada latina viviam em países de regimes militares ou sob o domínio militar”
(p.122). Assim, a EF, que nasceu sob o signo da técnica e do rendimento, alinhou-se, no
período do regime autoritário, aos ideais vigentes em todo campo educacional, sendo
elaboradas diversas políticas públicas para a EF brasileira.
Taborda de Oliveira (2003) cita que esse momento marca a expansão dos cursos
superiores no Brasil. Assim, o autor lista diversos fatores que colaboraram para expansão dos
cursos superiores de EF e consequentemente sua afirmação no cenário nacional:
A reforma universitária proposta pela lei 5.540/68, que expandiu a oferta de vagas
no ensino superior no Brasil; a expansão da escolarização obrigatória, no seu
aspecto quantitativo, que gerou a necessidade de mais escolas e, consequentemente,
a necessidade de mais professores para atender o aumento do número de vagas; a
mudança de referência paradigmática na Educação Física brasileira, que passa a
buscar cada vez mais uma identidade científica; o debate mundial sobre a
importância da Educação Física para a sociedade e sua vinculação com a
universidade; à organização crescente dos professores de Educação Física em torno
de sua necessidade de reconhecimento profissional e status social; a perspectiva
centralizadora e planejadora do poder central; a consolidação mundial do esporte
como forma de atividade física privilegiada (p. 154).
Assim sendo, Taborda de Oliveira (2004) afirma que, na época da ditadura no Brasil,
mais especificamente nos finais dos anos 60 e na década de 70, existia um grande debate
internacional sobre a importância da Educação Física para a sociedade e sua vinculação com a
universidade, discutindo-se a sua organização, finalidades, objetivos e métodos. A partir desse
debate e de todo contexto que cercava à época, o discurso, no Brasil, direcionava-se para a
necessidade de uma “maior padronização da formação inicial para professores de EF e o
combate à incúria que grassava nas práticas escolares naquele período” (TABORDA DE
OLIVEIRA, 2003, p. 158). Não obstante, indicava-se que a EF deveria ter um caráter
formativo e educativo, acentuando a importância da formação dos educadores e da pesquisa
científica. É importante mencionar que a produção do conhecimento na área pautava-se pelos
referenciais das Ciências Biomédicas, priorizando o corpo fracionado, medido por partes, e
13
3
Segundo Libâneo (1994), a racionalização do ensino consiste no uso de técnicas e meios mais eficazes para a
qualificação profissional, acarretando apenas verificações quantitativas dos objetivos.
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brasileira (CIAVATTA, 2002). Entretanto, não se nega “que, dada a “essência” de um regime
autoritário, a Educação Física no Brasil também foi pensada numa perspectiva de controle
social” (TABORDA DE OLIVEIRA, 2004, p. 13).
Desta maneira, com a valorização do esporte, vinculada ao grande “avanço científico
nas áreas de Fisiologia do Exercício, da Biomecânica, do Treinamento Desportivo etc.”
(GHIRALDELLI JUNIOR, 1988, p. 30), houve, não de forma monolítica, uma intensa
valorização de uma tendência Competitivista. Nesta tendência, o desporto refreia o conceito
de EF, tornando-se, sobretudo, uma verificação de performance. Ou seja, o desporto passa a
ser o significado da própria Educação Física.
Isto realça a consonância da EF com a educação em geral, pois esta concepção
competitivista alinha-se a alguns aspectos importantes, como a valorização do rendimento e
da ciência. Essa concepção Competitivista, também, ia ao encontro da nova etapa de
modernização do país, do ‘BRASIL GRANDE’, visionada pelo regime ditatorial e parte da
população, possibilitando mostrar a força do país através de feitos (aqui estão incluídos os
feitos esportivos, como a conquista de medalhas, recordes etc.) com abrangência internacional
e de passar a ideia de progresso tanto no desenvolvimento econômico quanto no campo social
do país (CASTELLANI FILHO, 1994). Portanto, o Brasil tornando-se uma potência esportiva
seria, também, um grande instrumento representativo do desenvolvimento social do país. Vale
salientar que essa modificação, apesar de não ser conclusiva, incidia-se de um consenso entre
a maioria dos especialistas da área, que viam nessa abordagem competitivista a melhor forma
para trabalhar a EF.
Porém, vimos que a visão disciplinadora, calcada no adestramento físico e na saúde
física4 do indivíduo, advém desde os primórdios da Educação Física escolar brasileira. Bracht
(1999) nos diz que estes primórdios da EF, higiênicos e militaristas, teriam contribuído para a
construção de corpos saudáveis e dóceis, com o intuito de adequá-los ao processo produtivo
ou a uma política nacionalista. Góis Junior & Lovisolo (2003) são ainda mais enfáticos em
relação à Educação Física, argumentando que a EF continua, na atualidade, a buscar os
princípios e valores voltados para o desenvolvimento do hábito de atividades físicas
sistemáticas em prol da saúde. Logo, esta educação do corpo é fruto de uma construção
histórica da própria EF e não, unicamente, uma imposição do regime civil-militar.
Antes de relatar sobre essa construção, a partir da implantação da EF nas escolas
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A compreensão de saúde pela Organização Mundial de Saúde é dada pelo resultado das condições dignas de
vida, tanto na esfera biológico quanto na social (SOARES,1993). Esta compreensão é de 1986, na I Conferência
Internacional sobre Promoção da Saúde.
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brasileiras, Gerez & David (2009) apontam que, na Idade Contemporânea, o contexto era
marcado pelo desenvolvimento científico e industrial, pela ascensão da burguesia ao poder e
pela valorização dos ideais iluministas, portanto, como consequência, a escola precisa se
modernizar para acompanhar as mudanças sociais. Logo, o trabalhador deveria ser
“disciplinado” nos moldes do mundo burguês. Deste modo, em 1858, a EF escolar, no Brasil,
é implementada com o objetivo principal, a partir de seu “currículo ginástico” provenientes
dos métodos alemão, sueco e francês: a formação de uma geração forte, saudável (física e
moralmente), capaz de suportar, de modo disciplinado, a longa jornada de trabalho nas
fábricas, além de consolidar o sentimento nacionalista e patriótico entre a nação (GEREZ &
DAVID, 2009). Não se pode deixar de notar as semelhanças dos contextos da implantação da
EF escolar em 1858 e do período do regime civil-militar estudado, onde ambos destacam,
segundo a literatura pesquisada (TABORDA DE OLIVEIRA, 2002, 2003, 2004; GEREZ &
DAVID, 2009; GHIRALDELLI JUNIOR, 1988; CASTELLANI FILHO, 1994; BETTI,
1991), a EF buscando a aptidão física em prol de um desenvolvimento econômico e de uma
sociedade forte e saudável.
De tal modo, que quando se evidencia a realidade escolar da EF na ditadura, destaca-
se que esta esteve em consonância com os ideais propagados pelo campo educacional na
época, tanto pelo governo como por uma parcela da população, que viam a necessidade de
uma educação mais técnica para suprir a exigência do mercado de trabalho, como já fora
elucidado. Em relação a seu conteúdo, este foi sugerido a partir de diversas reflexões sobre a
área, com a escolha, não sem conflito, do esporte como o principal conteúdo. Mas, lembrando
as palavras de Taborda de Oliveira (2004), ”todo professor (...) tem pelo menos um espaço de
autonomia – a aula propriamente dita.” (p. 12). Ou seja, mesmo o esporte sendo sugerido
como um dos principais conteúdos por órgãos relacionados à EF e por parte de seus
especialistas, havia a possibilidade de preferência por outro conteúdo nas aulas de EF, como a
ginástica, jogos, danças, lutas etc.
Aliás, nessa busca pela consolidação de um Estado poderoso e saudável, de um país
forte economicamente e de uma educação mais pautada na realidade, a Educação Física
juntamente com toda a escola passaram por inúmeras adaptações a fim de subsidiar esse
desenvolvimento. No entanto, no final dos anos 70 e na primeira parte dos anos 80, o país
estava passando por um período de transição processual entre regime ditatorial e democracia
no governo. Essa transição deu-se por diversos fatores, sendo alguns de ordem interna e
outros de ordem externa ao país, como por exemplo:
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postos pela complexidade social” (p. 32), sendo “um dos dispositivos mais mobilizados na
direção da consolidação da “modernidade”” (TABORDA DE OLIVEIRA, 2006, p. 16).
Nesse sentido, o corpo ganha destaque no processo de escolarização. Taborda de
Oliveira (2006) afirma que “o corpo era inscrito como possibilidade efetiva de conquista da
vontade, do pensamento e da ação dos indivíduos." (p. 12). Seguindo a mesma ideia, Gomes
& Silva (2007) salientam que o “homem é portador de determinações sócio-econômicas-
políticas, sensações, percepções e sentidos atribuídos às suas ações” (p. 2). Portanto, cabe-nos
perguntar: que determinações são essas?
Nesse ínterim, Soares (2006) afirma que o corpo e suas distintas expressões, “são
objetos de constante intervenção do poder” (prefácio XII), passando a ser um meio
imprescindível, a partir de diversas técnicas, para a chamada educação do corpo. Soares &
Fraga (2003) destacam que o corpo carece de uma sólida educação para poder traduzir, na
aparência, os códigos de civilidade, uma vez que, desde o século XVIII no Ocidente e mais
largamente a partir do século XIX, o discurso de que o corpo em sua exterioridade exprime
uma posição moral do indivíduo tem sido amplamente difundido.
Dessa maneira, os discursos sobre educação do corpo ajustam-se visando à
incorporação de determinadas visões e modelos de homem, erradicando tanto questões físicas
quanto comportamentais não condizentes com o modelo propagado. De tal modo que Gomes
& Silva (2007) enfatizam que a compreensão de corpo na atualidade, a partir dos significados
atribuídos aos modos de “viver bem” ou “viver mau”, podem influenciar os hábitos dos
indivíduos. Ademais, Vaz (2002) cita que diversos esforços pedagógicos têm sido
empreendidos para o controle e disciplinamento dos corpos, almejando incansavelmente o
alinhamento dos hábitos sociais ao modelo propagado. Um entre muitos desses esforços
pedagógicos centra-se, por exemplo, na questão do currículo, como nos aponta Taborda de
Oliveira (2006) ao afirmar que o currículo é um dos artefatos representativos da modernização
da escola.
Mas o que seria exatamente educação do corpo e como a literatura aborda a essa
expressão?
Referente à questão notou-se, a partir da revisão de literatura, que existe uma ampla
utilização dessa expressão, contudo, diversos significados foram identificados em seu
emprego. Moreno & Segantini (2006) em seus estudos já haviam despendido sua atenção para
a compreensão das possibilidades e limites desse termo. Suas análises apontam para uma
diversidade de significados, como: referindo-se à “civilidade, processo civilizatório, polidez,
educação dos comportamentos, pedagogia das boas maneiras, educação física, educação dos
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Esses inúmeros cuidados que caracterizam a boa forma, a beleza e a felicidade, bem
como analisado, são tratados como uma questão moral dentro da sociedade. Cada desvio
dessas formas e comportamentos – desvio da conduta padrão - são acusados e dignos de
notas, levando a um controle moral dos indivíduos em relação a si e ao coletivo. Conforme
Stephanou (2004) “o tom moral prevalece e recomendam-se, sob advertências, ameaças,
ironia ou zombaria, os procedimentos “naturalmente” adequados, apenas desapercebidos da
tola ignorância” (p. 3). Além de serem vistos como uma questão moral, existem diversos
mecanismos que ajudam na propagação desses valores, exibindo os que seriam o molde a ser
seguido, como por exemplo: a mídia, a escola, a ciência etc. Caracterizando alguns desses
valores, Taborda de Oliveira (2006) destaca questões indicativas do bom funcionamento do
organismo - anatomia, fisiologia, biomecânica, termodinâmica. Sendo assim, alguns dos
produtos da ciência moderna estão na base das preocupações sobre o caráter formativo do
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indivíduo. O autor ainda exalta que essa base biológica dos pressupostos compreende-se
devido à primazia das ciências da natureza.
Entre outros mecanismos, Soares (2007, p. 14) alerta para a criação da disciplina
Educação Física (EF), que se constitui como um “valioso objeto de disciplinarização da
vontade, de adequação e reorganização de gestos e atitudes necessários à manutenção da
ordem”, a partir de estruturas e dispositivos que transmitem valores socialmente aceitos. A
mesma autora (2003) atrela a origem da EF aos exercícios físicos, principalmente a ginástica.
Ela afirma que com estes conteúdos busca-se a preservação e manutenção da saúde individual
e social, o que se configuraria na “construção de uma retidão de comportamentos e posturas”
(p. 4).
De acordo com Góis & Lovisolo (2003), a EF até hoje persiste na influência médico-
higienista, contribuindo para a formação de corpos saudáveis e dóceis. Essa visão da
funcionalidade da EF – ideia de possuir um corpo saudável através, principalmente, de
exercícios físicos - consiste com a ideia de que é preciso tornar os corpos úteis e
disciplinados. Esta característica acaba por promover uma legitimação social da Educação
Física. Essa legitimação ocorre porque o conhecimento, pautado na saúde, preenche a sua
essência: ser “útil, racional, despido de sentimento e capaz de produzir eficácia social” (LE
BRETON, 2011, p. 101).
Desse modo, a EF compartilha da ideia de que a saúde está fortemente ligada, quase
que unicamente, pela prática de atividades físicas. Assim, a Educação Física corrobora na
formação de símbolos para sociedade a partir de uma educação do corpo pautada,
principalmente, pelos conhecimentos das ciências da saúde. Contudo, é importante salientar
que nem toda educação do corpo remete-se ao conceito de adestramento, no sentido de
conformação/alienação, como se pode levar a pensar levianamente. Como bem analisou
Ghiraldelli Junior (2007), “não é porque o corpo adquire um lugar proeminente que a
educação se torna irracional ou um processo de adestramento” (p. 135).
Como já fora supracitado ao longo do texto, há muitos entendimentos pela
compreensão da expressão “educação corporal”. Por isso, certas dúvidas podem vir à tona.
Mas duas merecem atenção especial, são elas: qual a diferença entre educação e educação do
corpo? E, por que considerar a EF um objeto privilegiado na educação do corpo?
Referente à questão levantada, Le Breton (2011) indica que a existência humana é
corporal. Faz, portanto, sentido considerar a educação uma ação que age sobre o corpo. A
partir desta concepção de corpo, onde toda educação é corpórea, não haveria motivo para a EF
sobressair como um mecanismo privilegiado. Desconstruindo um pouco mais a utilização do
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termo educação do corpo, vê-se que a diferenciação dos termos educação e educação do corpo
torna-se um tanto problemática quando não há um prévio esclarecimento na literatura acerca
da expressão analisada.
Ainda analisando o contexto de a Educação Física possuir um papel privilegiado na
educação do corpo, Goellner (2010) demonstra que:
Desde meados do século XIX constata-se a importância das atividades físicas como
forma de potencializar a saúde dos brasileiros e das brasileiras, nos discursos da elite
política e cultural do país. Tal necessidade era indicada para o fortalecimento da
raça, pois a constituição homogênea do povo brasileiro passou a ser o pilar
fundamental de um projeto de humanidade centrado na eliminação de tudo aquilo
corporalmente intolerável. A crença na transformação da sociedade por meio da
educação do corpo adquiriu contornos mais sofisticados com a recorrência aos
preceitos da higiene e da eugenia, identificados como saberes científicos necessários
para a consolidação desse intento (p. 528).
com o corpo e com o movimento humano. Entretanto, precisa-se sublinhar que a educação do
corpo não se dá apenas na escola e muitos menos só na Educação Física.
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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo objetivou uma melhor compreensão sobre qual educação do corpo foi
propagada no processo de formação de professores na Escola de Educação Física e Desportos
(EEFD), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no período do regime civil-
militar do governo do General Figueiredo (1979 – 1985).
Para investigar tais práticas realizou-se uma pesquisa de caráter teórico-empírico
empregando-se como fonte de informações para a coleta de dados, além do levantamento
bibliográfico, a análise de documentos. Especificamente serão analisadas atas de
Congregações, atas do Conselho Departamental da EEFD da UFRJ e os Ofícios Circulares.
Em relação ao levantamento bibliográfico, que tem por finalidade “colocar o
pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado
assunto” (LAKATOS & MARCONI, 1991, p. 183), este ocorreu através de diversos livros,
revistas, artigos de periódicos, teses e dissertações relacionados ao problema abordado.
Buscou-se, a partir da revisão literária, uma melhor compreensão de como a literatura
descreve o período de recorte, a fim de refletir sobre continuidades e rupturas e a consonância
entre os dados apresentados pelos documentos e os autores estudados.
Já para a pesquisa documental, como mencionado, recorreu-se às fontes primárias
escritas: as atas (de Congregação e do Conselho Departamental) e os Ofícios Circulares entre
1979 e 1985, a fim de assegurar tanto a validade quanto a fidedignidade do objeto de estudo.
Como bem define Lakatos & Marconi (1991), as fontes primárias de documentos oficiais
“constituem geralmente a fonte mais fidedigna de dados” (p. 178). Concordamos com
Bacellar (2011), quando afirma que “documento algum é neutro, e sempre carrega consigo a
opinião da pessoa e/ou órgão que o escreveu” (p. 63). Dessa forma, tivemos como
preocupação principal analisar os documentos lançando-lhes um olhar crítico e respeitando a
natureza de seu contexto histórico.
Estes documentos foram considerados fontes de estudo por serem registros dos
colegiados mais representativos da instituição em análise, onde as principais questões são
debatidas e deliberadas; e/ou por serem documentos de grande representatividade do cenário
da Educação Física a nível nacional. A Congregação, por exemplo, é a reunião que envolve
representantes de todos os segmentos da Escola: docentes, discentes, funcionários etc.. É
nesta reunião que são definidas as diretrizes da Escola. O Conselho Departamental
26
5
O Conselho Departamental não existe mais. Agora, as decisões são tomadas diretamente nas Congregações.
6
O Centro de Memória Inezil Penna Marinho foi criado em 2001 pelo Prof. Dr. Victor Andrade de Melo.
Atualmente está sob coordenação da historiadora Carolina Torres Alves de Almeida Ramos, e dentre outros
objetivos, se propõe a preservar e resgatar fontes documentais e orais da Escola de Educação Física e Desportos
(EEFD) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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Todos os cuidados necessários para a preservação dos documentos foram tomados, como por exemplo: o não
uso do flash, por ser danoso ao papel.
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8
Nem todos os documentos apresentam página e ano de publicação. A partir de agora, todos os documentos
citados que não contenham essas informações é porque não as apresentavam.
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Na mesma lei, a redação indicava que cada estabelecimento deveria fixar normas
específicas que disciplinem a concessão e o recebimento das transferências. Assim, a Escola
instituiu alguns critérios para a transferência de alunos, são eles:
1) Para funcionários e dependentes destes, deferimento automático, desde que
sejam aprovados na entrevista e no exame de aptidão física; 2) Intercâmbio
universitário desde que sejam aprovados na entrevista e no exame de aptidão
física; 3) Necessidade-capacidade – após analisa (sic) digo após a análise
minuciosa do currículo, constatação da existência de vaga e após aprovação na
entrevista e no exame de aptidão física (CONSELHO DEPARTAMENTAL, p.
33 – 34, reunião de 11 de julho de 1982).
Deste modo, nota-se que apesar de seguir as normas estabelecidas pela legislação, a
EEFD exerce seu direito, previsto na lei 7.037/82 supracitada, apresentando critérios que
enfatizaram em todas as categorias o exame de aptidão física, que dialoga com um caráter
médico e higienista. Esse caráter estava minuciosamente destacado em inúmeras práticas da
Educação Física nacional e da própria EEFD, apresentando um processo de coerção e
disciplinamento que atinge o corpo na busca pela retidão das formas e dos comportamentos,
conforme dito por Soares & Fraga (2003).
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9
As Olimpíadas internas consistem na disputa de diversas modalidades desportivas entre equipes formadas por
alunos da EEFD.
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b) viagens da então diretora Fernanda Beltrão para discutir o Mestrado no Brasil e sua
implantação na Escola com várias entidades como MEC, CND, SEED;
c) instalação do Mestrado em Educação Física na Escola no ano de 1979
(CONGREGAÇÃO, reunião de 04 de dezembro de 1979);
d) ajuda financeira do MEC e da CAPES para o Mestrado;
e) representante da Pós-Graduação começa a participar das reuniões de Congregação
em 1983, evidenciando o destaque adquirido por esse setor dentro da instituição
(CONSELHO DEPARTAMENTAL, p. 41, reunião de 04 de janeiro de 1983);
f) inúmeros cursos de Especialização são sugeridos e aprovados nas reuniões de
Departamento e da Congregação entre 1979 a 1985.
Das atas constava, também, a divulgação de outros cursos de pós-graduação que
serviam como modelo e/ou parâmetro para a elaboração de tais cursos na Escola.
Contudo, necessita-se salientar que esta fase de cientifização da EF não se restringiu
apenas a novos cursos oferecidos dentro da EEFD. O próprio corpo docente da casa buscou
qualificação acadêmica. Sendo assim, houve relatos de professores que pediram afastamento
da faculdade para fazer o Mestrado e/ou o Doutorado, como: o caso do Professor Vernon que
solicitou licença da faculdade para fazer o Mestrado e mais tarde pediu a prorrogação para
ingressar no Doutorado; igualmente, Professor Attila pediu prorrogação de sua licença porque
tinha encerrado o Mestrado e queria ingressar no Doutorado; a Professora Elizabeth também
ingressa no Mestrado.
Aliás, destaque-se o grande número de cursos, congressos, palestras e seminários
disseminados no Brasil, que mereceram relevo nos assuntos das pautas das reuniões da EEFD,
retornando a questão das tentativas de conformação da EF como ciência. Entre esse extenso
número, houve diversos convites ao corpo docente da casa para ministrarem cursos e
palestras, caracterizando a importância da instituição analisada no cenário nacional. E, ainda,
foi notória a vantagem da área biomédica e desportiva como eixos temáticos em relação à área
didático-pedagógica, histórica, social etc. nos dados aqui analisados. No total de vinte e oito
(28) eventos de palestras, cursos e seminários, contabilizaram-se o número de dezessete (17)
referentes ao eixo biomédico/desportivo, enquanto no eixo das ciências humanas e sociais
encontraram-se seis (6), sendo que dois desses também perpassaram pelo eixo
biomédico/desportivo. Completando essa lista houve cinco (5) eventos em que não foi
possível definir a sua natureza pela interpretação das atas.
Com isso, fica claro que apesar de a Escola apresentar traços de outras abordagens e
vertentes, a proposta mais voltada ao caráter médico, técnico e desportivo estava em evidência
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na instituição. Pode-se, também, evidenciar essa proposta mais voltada ao caráter supracitado
da EEFD ao citar os nomes de alguns departamentos da instituição, exemplarmente:
Departamento de Desportos Aquáticos e Atletismo, Departamento de Biologia da Atividade
Física, Departamento de Ginástica e Acrobacia, Departamento de Jogos. Justificando essa
prevalência pelo caráter médico-higienista, Góis Junior & Lovisolo (2003) argumentam que a
mídia é um dos principais atores de legitimação e de reconhecimento atualmente, de tal modo
que com o discurso da EF voltada para promoção da saúde, a profissão ganha argumentos
legitimadores e reconhecimento social, uma vez que há um grande mercado ligado a saúde.
No entanto, no quesito pesquisa houve outro aspecto bastante interessante que mostra
a importância dada à pesquisa científica: a preocupação da Escola em relação às produções de
estudos. Esta preocupação confirmou-se na ata do Conselho Departamental que reproduz a
opinião do professor Luiz Guilherme Baird Abtibol:
(...) chamou a atenção para o fato de que a Escola não está elaborando pesquisas.
Alertou aos Chefes de Departamentos para o problema, que poderia repercutir
negativamente para a instituição. No ato, explicou que só o LABOFISE estava
elaborando pesquisas e os méritos ficam para o Instituto de Biofísica, visto que este
órgão ainda não está oficialmente ligado à Escola. Finalizou dizendo que para o bem
da Escola, será necessária a elaboração de pesquisas, inclusive para uma melhor
captação de recursos financeiros. Por último, o professor Luiz Guilherme Baird
Abtibol, sugeriu até que os departamentos fizessem pesquisas em conjunto
(CONSELHO DEPARTAMENTAL, p. 47, reunião de 01 de junho de 1983).
Vale salientar que a instituição, como todo país, passava por uma grave crise
financeira e por um processo de cientifização da Educação Física. Esta crise impossibilitou a
publicação do periódico da Escola, Revista Arquivos, que pedia apoio financeiro para
sobreviver, como consta na ata do dia 3 de agosto de 1983. A Revista teve sua edição em
1980 como a única dentro do período demarcado. Isto demonstra que a EEFD mostrava-se
preocupada em relação ao processo de mudança do status quo da EF, almejando dar base
científica para a mesma. E, ainda, com a escrita reproduzindo a opinião do professor Abtibol,
identifica-se que o LABOFISE ocupa um lugar de destaque dentro da instituição.
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Destaca-se que na PV, na Faculdade de Educação, são ministradas as disciplinas de caráter didático-
pedagógico, como por exemplo: Didática e Prática de Ensino.
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pelo CFE/MEC não teve uma avaliação satisfatória. Com isso, esses especialistas indicaram
um sistema sensível às mudanças, que se caracteriza:
a) pela abolição da exigência de um currículo mínimo;
b) pela volta à autonomia das instituições universitárias na elaboração de seus próprios
currículos;
c) fixação de uma carga horária mínima para concluir o curso;
d) pela fixação de um limite máximo e de um limite mínimo.
Desta forma, em 1984, o CFE decidiu pela não fixação de um currículo mínimo,
dando autonomia às instituições de ensino para formularem seus próprios currículos em
função de seus objetivos e suas peculiaridades regionais, do contexto institucional e das
características da comunidade escolar.
Todavia, o Diretor da Escola, professor Jorge Reis, após ser informado pelo
representante estudantil sobre uma reunião dos alunos sobre a obrigatoriedade do uso de
uniformes, exibiu a justificativa para esta obrigação e, a partir desta, pode-se alinhar o
discurso do diretor com o da falta de segurança:
O Senhor Diretor informou que a exigência do uniforme da Escola, não é no sentido
de pressionar o aluno, e assim, digo e sim, resguardá-lo contra incidentes e pediu ao
representante estudantil que transmitisse aos alunos (CONSELHO
DEPARTAMENTAL, p. 33, reunião de 28 de maio de 1982).
CONCLUSÃO
que valorizavam o corpo performático. Com isso, o estudo corrobora com a ideia de que a EF,
pelo menos até a primeira metade da década de 80, não teve mudanças significativas acerca
de seu papel social.
Os discursos de educação do corpo, portanto, permaneceram quase que
exclusivamente pautados pelos saberes advindos da área médica que preconizavam a busca
por um corpo que renda o máximo possível de acordo com o modelo de saúde legitimado.
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