Você está na página 1de 12

INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO

FÍSICA
AULA 1

Prof.ª Izabela de Gracia Yabe


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, discorreremos sobre a definição da área da Educação Física,


procurando entender a sua história como área de formação. Para o auxílio nesse
processo, consideraremos, também, a compreensão do termo “epistemologia”.
Promoveremos o debate das seguintes questões, quanto à área da Educação
Física:

 É ciência ou utiliza-se de outras ciências?


 Faz parte das ciências da saúde, biológicas ou humanas?
 Afinal, no que consiste o profissional que opta por essa área de atuação?

Assim, a partir de agora, trabalharemos algumas respostas que podem


ser atribuídas para estas perguntas, buscando o entendimento de pesquisadores
voltados ao estudo da epistemologia da Educação Física.

TEMA 1 – O QUE É EPISTEMOLOGIA? QUAL SUA RELAÇÃO COM A


EDUCAÇÃO FÍSICA?

Epistemologia trata-se de um termo que parece complicado e extenso,


mas é relativamente simples se pensarmos na sua relação com a Educação
Física. Ela pode ser conceituada como estudo ou teoria do conhecimento e se
refere, principalmente, ao conhecimento produzido pela ciência. (Tesser, 1994).
O termo ‘epistemologia’ vem do grego, em que episteme significa ‘ciência’ e logia
significa ‘ciência’ ou ‘discurso’. Dessa maneira, epistemologia nada mais é do
que a ‘ciência da ciência’. “Isso porque na Filosofia também precisamos
considerar e estudar a própria ciência; ou seja, conhecer quais são os princípios,
hipóteses e objetivos a serem considerados para que a ciência seja tida como
ciência”. (Uninter, [S.d.], on-line).
Quando pensamos, especificamente, o que é ciência, percebemos que,
com o passar dos séculos, décadas e anos, tivemos diferentes perspectivas
sobre esse entendimento. Muitas vezes, trabalhamos com a simples noção de
que ciência acontece apenas com base em experimentos, testes e
procedimentos em laboratórios, com todas as variáveis controladas e cientistas
bem paramentados. Contudo, sabemos que ciência não é só isso. Existem várias
outras possibilidades de compreendê-la, pois não estamos imersos em um

2
laboratório controlado, visto que vivemos em sociedade e estamos expostos a
diversos fatores.
Sendo assim, algumas ciências podem, de fato, ser estudadas sob essa
perspectiva, em ambientes isolados e controlados, entretanto, outras possuem
uma aplicação mais prática, que ignoram a influência das bactérias, dos vírus,
do vento, do calor, do frio, da chuva, como é o caso da Educação Física.
Vamos considerar os atletas que praticam as mais diversas modalidades
e estão suscetíveis ao calor, ao frio, ao cansaço, ou mesmo a uma noite mal
dormida, a uma rotina de treinamento exaustiva, etc. Dessa forma, quando
pensamos em Educação Física, não podemos restringi-la a uma ciência
controlada. Surge, então, a questão: “Até que ponto a Educação Física é uma
ciência dentro dessa compreensão das diferentes perspectivas do que é, de fato,
ciência?”.
Nesse momento, estamos entendendo a epistemologia e, dentro do
recorte epistemológico, com base na possibilidade de atuação e formação em
Educação Física, é possível entender como evidenciamos a ciência. Precisamos
assimilar, ainda, a epistemologia da Educação Física, considerando os aspectos
que caracterizaram essa área do conhecimento, os fatores que diferenciam essa
área das outras e os elementos que a concretizam como produtora de suas
próprias informações ou apenas usufruidora de dados advindos de outras. Ou
seja, entender, dentro da concepção de ciência, onde a Educação Física se
encontra.
É preciso refletir como a Física, a Química, a Biologia, a Biomecânica e,
também, a História, a Sociologia, a Pedagogia e várias outras áreas de
conhecimento acabam por contribuir, significativamente, para a Educação
Física. É importante levar em consideração como essas diferentes áreas
contribuem para que seja formado um conhecimento próprio da Educação
Física, até porque é preciso deixar claro que isso constantemente acontece.
Quando pensamos no movimento humano, é perceptível que existem
diversas variáveis nele. Por exemplo, eu preciso entender como acontecem as
contrações musculares, as mensagens que vêm do nosso sistema nervoso para
que essa contração aconteça, os aspectos fisiológicos envolvidos, os tipos de
proteínas, carboidratos e gorduras sendo utilizados para fazer esse movimento,
enfim, como todos esses elementos e ações interagem.

3
Em contrapartida, faz-se necessário, também, a compreensão do motivo
pelo qual determinada pessoa pratica essa ou aquela atividade física, ou mesmo
as aulas de Educação Física na escola, como tudo isso acontece dentro de um
ambiente social, levando-se em conta a cultura em que algumas práticas são
mais ou menos conhecidas; e de que maneira, historicamente, isso se constituiu.
Na avaliação dessas singelas situações, é possível verificar a interação de uma
série de conhecimentos, os quais, nitidamente, são aplicados à área da
Educação Física. E mais importante do que isso é perceber que você, na
condição de futuro professor da Educação Física, tenha a percepção de que
essas diferentes áreas estão presentes na nossa rotina. Assim, a Educação
Física passa a ser contemplada quanto às suas especificidades, bem como na
ideia de angariar conhecimentos de outras áreas.

TEMA 2 – O DEBATE EPISTEMOLÓGICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL

“O que é Educação Física?”. Para responder a essa pergunta, você pode


ter pensado que é a “educação do físico”, ou seja, a ação de aprender
movimentos e exercícios para “educar” o corpo. Se voltarmos para o final do
século XIX e início do século XX, e analisarmos o contexto social deste período,
perceberemos que essa era uma perspectiva comum da área.
Naquele momento, não se tinha uma reflexão sobre o que é o movimento
corporal, ou ainda, sobre os seus significados e as melhores estratégias e
técnicas para realizá-los. A ideia consistia apenas em promover a reprodução.
Não existia, como hoje, uma formação no nível de graduação, com a contribuição
de diversas áreas do conhecimento para pensar o movimento humano de forma
ampliada. Mas, para entendermos a ascensão do pensamento crítico, acerca
das práticas e dos estudos realizados na área da Educação Física, é preciso
voltar no tempo e, com base no debate epistemológico, conhecer algumas das
influências recebidas no Brasil do século XX. Sendo elas:

 Higienismo (higiene): influência médica;


 Eugenismo (aptidão): influência de estudos da genética no social;
 Militarismo (mais forte e patrióticos): influência militar.

Essas diferentes áreas: médica, militar e eugênica (perspectiva de aplicar


a genética nas questões sociais) impactaram muito no desenvolvimento da
Educação Física. Obviamente, naquele momento, não se utilizava o termo

4
“Educação Física”, mas ainda assim se considerava a importância de educar o
físico.
Assim, com base no pensamento acerca do movimento corporal
associado ao interesse da higiene, da preparação de corpos prontos e
adequados para a rotina de trabalho e, ainda, mais fortes para a representação
do país, iniciou-se a ideia de apresentar a Educação Física, necessariamente,
como uma área de conhecimento, a qual passou a se tornar, então, uma área
que formava pequenos grupos e conhecimento, o qual permitia atuação de suas
práticas voltadas ao trabalho corporal, tanto na escola, como no ambiente militar
e, assim, A Educação Física passou a ser considerada socialmente. Estratégias
voltadas ao estudo da Educação Física que otimizassem o trabalho e
apresentação humana começaram a ser pensadas.
Nesta situação, de maior influência social, fomentaram-se os estudos
voltados à Educação Física. Entretanto, após algumas décadas, o
questionamento acerca da sua importância e contribuição na rotina social
ganhou repercussão. Dessa forma, tivemos as seguintes marcas históricas:

1. Década de 1980: crise da identidade e novas tendências físicas;


2. Década de 1990: debates sobre o que somos (ou deveríamos ser), com
base na Matriz Pedagógica e da Matriz Científica.

No Brasil, no início da década de 1980, com o regime militar, que restringia


os direitos individuais e a democracia, a prática da Educação Física se justificava
junto ao discurso de pátria e nação, voltado ao fortalecimento dos corpos para
possíveis confrontos. Ninguém se atrevia a pensar diferente, em virtude da
imposição do regime ditatorial instalado. No decorrer da década de 1980, com o
início da abertura democrática, tivemos mudanças sociais significativas, as quais
promoveram uma nova perspectiva de comportamento social, mais livre. E,
assim, permitiu-se um “pensar sobre a Educação Física” e a importância do
cuidar do corpo humano de uma forma mais solta, não atrelada à concepção de
“preparação para o combate”. Passou-se, então, a questionar: “Será que a
Educação Física deve, de fato, ser apenas pensada como a educação do corpo,
do físico? ”
Na década de 1990, com pesquisadores realizando mestrados e
doutorados em outros países, as áreas humanas passaram a influenciar,
também, os estudos voltados à Educação Física. Os questionamentos voltados
à necessidade de atividades físicas no dia a dia do ser humano ganharam um
5
novo sentido. Nesse período, o pensamento acerca da Educação Física dividiu
opiniões: de um lado as pessoas que acreditavam nela como ciência; do outro,
aquelas que defendiam uma matriz mais pedagógica.
Fica evidente, então, que as mudanças sociais e políticas, que ocorreram
no Brasil, principalmente entre as décadas de 1980 e 1990, possibilitaram a
revisão acerca dos conceitos e da importância da Educação Física na nossa
sociedade.

TEMA 3 – A MATRIZ PEDAGÓGICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Quando buscamos compreender a epistemologia na Educação Física,


faz-se necessário considerar duas propostas: a matriz pedagógica e a matriz
científica. Começaremos pela matriz pedagógica, cujo nome já é um indicativo
do que ela defende: a importância da pedagogia, do ensino e da aprendizagem,
da educação.
Na matriz pedagógica da Educação Física, algumas das compreensões
contemplam as ideias de que se trata de uma área de intervenção profissional e
pedagógica, a qual faz uso do conhecimento científico. Quando consideramos,
distintamente, matriz pedagógica e matriz científica, não significa que a primeira
ignore o conhecimento científico. Ela, apenas, valoriza mais a perspectiva
pedagógica da área da Educação Física, entendendo ser fundamental para a
área de formação e de profissão, isso porque o ato de ensinar é muito evidente.
O processo de ensino-aprendizagem, por parte do aluno, só acontecerá por meio
da correta escolha dos exemplos e das estratégias utilizadas para passar o
conhecimento proveniente do profissional de Educação Física. Isso pode
acontecer na escola, nas aulas de Educação Física, quando os professores
estão indicando um novo movimento, uma nova modalidade esportiva, uma nova
modalidade de ginástica, de lutas ou de danças; ou, ainda, na academia, quando
o professor ensina um novo movimento que envolva ou não pesos; na iniciação
esportiva, indicando os gestos técnicos, as questões táticas nas movimentações
das modalidades e assim por diante.
A matriz pedagógica defende, ainda, a “cultura corporal do movimento”,
que consiste em práticas historicamente incorporadas que fazem parte da vida
das pessoas. Ou seja, a importância da cultura corporal acontece tanto no plano
científico, quanto no plano filosófico e estético.

6
A cultura corporal do movimento é algo bastante relevante no que envolve
os conhecimentos da Educação Física e consiste em apresentar o significado da
realização dos movimentos dentro de uma abordagem cultural, bem como os
impactos dessas realizações no corpo. Quando se fala em “corporal” não se deve
confundir com “biológico”. Dessa forma, não restringe em compreender apenas
em como as articulações trabalham, ou como os diferentes metabolismos
reagem aos movimentos realizados, mas consideram também outros aspectos
de extrema relevância, como:

 O contexto em que determinada ação está acontecendo;


 O propósito da realização do movimento;
 O grupo social que está executando a prática;
 O significado da ação, com base em uma abordagem cultural;
 A relação com uma dança, luta, ginástica ou modalidade esportiva;
 A compreensão do porquê estarem praticando essas modalidades.

Percebe-se, então, que a cultura corporal contempla questões filosóficas


(Por que eu faço esse movimento? O que esse movimento agrega para mim
como ser humano?), questões estéticas (Por que há uma busca por determinado
movimento dentro de um determinado padrão? O que esse padrão visualmente
representa para outros?), bem como a questão científica (O que isso significa?
O que isso gera? Quais são as perdas que acontecem no decorrer da vida dos
seres humanos?).

TEMA 4 – A MATRIZ CIENTÍFICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Muitos pesquisadores da área da Educação Física voltaram seus estudos


para entender a importância da prática de atividades físicas para além da matriz
pedagógica, dando origem assim, à “matriz científica”. “Esses autores propõem
que a Educação Física seja reconhecida como ciência. Inclusive alguns deles
defendem a mudança de seu nome para ‘Cinesiologia’ (cinesio = movimento e
logia = ciência) ou ‘ciência do movimento humano’.” (Uninter, [S.d.], on-line).
Alguns críticos acreditavam, porém, que essa abordagem não apresentava
soluções para o que era considerado como um problema na época, ou seja, a
diferenciação da Educação Física para outras áreas de conhecimento. Além
disso, outros estudiosos ainda tinham algumas ressalvas em aceitar a mudança
do nome da área, colocando-a como uma ‘ciência’. Apesar das críticas, ainda é

7
possível identificar, em nossa área, pessoas que entendem que essa seria a
melhor solução.
Com relação às compreensões da matriz científica da Educação Física,
nós temos que o seu objeto está relacionado à motricidade humana, cinesiologia
ou movimento humano. Levando em consideração essa compreensão, existe
uma crítica que diz que não há como unificar a Educação Física dentro de uma
única matriz científica, tendo em vista de que outras áreas também lidam com o
movimento. Dessa maneira, a área de educação não se distinguiria (So; Betti,
2016), ou seja, o simples ato do “estudar o movimento humano” não define, de
fato, o que é a Educação Física, tendo em vista de que é uma temática abordada
em outras áreas de conhecimento (históricos, sociológicos, pedagógicos,
políticos, etc.).
Para entender, ainda, as outras questões relacionadas à matriz científica,
é preciso considerar que nas publicações científicas, desenvolvidas como
material de pesquisa e amadurecimento da Educação Física, vemos respostas
ao “por que” acontece, mas poucas investigações sobre “como” intervir (Betti,
2005). Muitas vezes, estudantes e profissionais da Educação Física se
encontram em momentos de buscar informações complementares que
esclareçam melhores formas de atuarem junto a seus alunos com dificuldade de
compreender determinada atividade, e não as encontram.
Podemos considerar, por exemplo, a dificuldade na execução de uma
“bandeja” no basquete e como o profissional de Educação Física poderia
estruturar uma explicação ou o aluno que corresponda ao correto aprendizado.
Essa situação parece algo muito simples de ser resolvida, até mesmo por meio
de uma pesquisa na internet, com diversas publicações e artigos científicos
disponíveis para consulta, mas a verdade é que essa pesquisa não é atendida.
Isso porque, existem, de fato, muitos artigos ou teses, mas que não oferecem
subsídios suficientes para a melhoria da atuação dos profissionais da Educação
Física. Percebe-se, então, dentro da crítica envolvendo matriz pedagógica e
matriz científica, que aquilo que a matriz pedagógica valoriza como importância
de ensinar e melhorar as práticas de ensino-aprendizagem, não aparece ou não
é atendida pela matriz científica. Por esse motivo, adota-se a prática da
repetição. Fazer com o que o aluno replique o movimento realizado parece ser
mais eficaz do que orientar para a leitura de um texto de cunho científico. O
ensino passa então a ser com base na demonstração e repetição. Entretanto,

8
não são todos os pesquisadores e profissionais que aceitam essa conduta por
acharem que o aluno não adquire o conhecimento necessário apenas com a
experimentação. Porém, é preciso estar atento ao equilíbrio dessas opiniões,
pois a técnica sem experimentação também não é adequada.
Muitas das opiniões, das críticas e dos comentários acerca da conduta do
profissional de Educação Física, na realização de movimentos, são feitas com
base nas experiências de cada um, desconsiderando experimentos, pesquisas,
testes, entrevistas. Por isso, muitas vezes, nos deparamos com descrições muito
bem-feitas sobre as técnicas adotadas para a execução de movimentos, sobre
os ângulos das articulações, da necessidade de força necessária para a
realização da prática adotada, mas não fica evidente o envolvimento do aluno
(se ele está se divertindo, se existiu a compreensão, se está promovendo um
significado) ou apenas a reprodução.
Dessa maneira, torna-se evidente a necessidade de contemplarmos a
compreensão do movimento e das estratégias didáticas para o ensino da
execução desses movimentos. Tem-se, então, a importância tanto da matriz
pedagógica, quanto da matriz científica para o sucesso da atuação do
profissional de Educação Física, considerando a abordagem técnica e humana.

TEMA 5 – A EDUCAÇÃO FÍSICA HOJE

É importante conhecermos a Educação Física hoje, dentro da realidade


brasileira, como área de atuação para profissionais que buscam a realização,
seja no campo didático, quanto no de pesquisa.
A área da Educação Física se deu em 1987 com o bacharelado. Os
debates que aconteceram entre as décadas de 1980 e 1990 acerca da presença
da epistemologia da Educação Física apresentaram informações importantes
para as matrizes pedagógicas e científicas que originaram mudanças
significativas. Foi nesse cenário, a partir de 2004, que a Educação Física passou
a contar com dois cursos de formação: a licenciatura e o bacharelado.
Os debates sobre a epistemologia da Educação Física, promovidos nas
décadas de 1980 e 1990, levaram aos novos argumentos das matrizes
pedagógica e científica, e geraram algumas mudanças importantes. A partir
2004, configuraram-se dois cursos de formação: a licenciatura e o bacharelado.
“Assim, os licenciados em Educação Física têm uma formação acadêmica mais
voltada à área pedagógica, pois atuarão no ambiente formal (escolar). Já os
9
bacharéis em Educação Física têm sua formação mais voltada à área biológica,
atuando nos ambientes não formais.” (Uninter, [S.d.], on-line). Algumas críticas
acabam permeando essa divisão, porque segundo algumas pesquisas, a
formação especializada deixa algumas lacunas no conhecimento. Assim, muitos
profissionais, formados em uma ou outra vertente, voltam à faculdade para terem
sua atuação profissional complementada.
Outra questão relacionada à formação em Educação Física envolve a
pós-graduação. A educação encontra-se na área 21 do Ministério da Educação
(MEC) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Profissionais do Ensino
Superior. Dessa maneira, divide a área com a Fisioterapia, a Fonoaudiologia e a
Terapia Ocupacional. Esse fato também acaba por gerar uma crítica, a
considerar que as exigências da área biológica, da área 21, tornam a produção
científica limitada (So; Betti, 2016).
Percebe-se, então, que, mais uma vez, o debate envolve a matriz
pedagógica e a matriz científica. Ainda hoje, se questiona até que ponto é
interessante ter uma divisão na formação, ou seja, a existência de licenciatura e
bacharelado. De um lado os que defendem, pois acreditam que graduar-se nas
duas vertentes é uma oportunidade valiosa de o profissional complementar seus
estudos. Já outros pensam ser uma fragmentação da área de atuação.
Considerando se tratar de uma profissão que se encontra dentro da área
21, com cunho mais biológico, percebe-se, de fato, um interesse mais voltado
para a linha biológica do que para a linha das humanidades. O que, por vezes,
acaba por prejudicar a construção do conhecimento na área da licenciatura,
ficando prejudicada a perspectiva pedagógica.
Entretanto, mesmo diante dessa evidenciação, o objetivo não é propor a
escolha de um lado, ou seja, se você opta pelo bacharelado, ignora as questões
voltadas à pedagógica; se opta pela licenciatura, desconsidera as pesquisas
voltadas ao biológico/científico. Pelo contrário, o pensamento correto está em se
tornar um profissional de qualidade, com uma intervenção cada vez maior, que
adquira e reflita sobre os diferentes conhecimentos adquiridos.

NA PRÁTICA

Nesta aula, você pôde evidenciar o contexto histórico que influenciou


diretamente na concepção da Educação Física atual. Foi possível, também,
compreender a divisão entre licenciatura e bacharelado. Considerando essa
10
divisão, responda: quais são os conhecimentos que podem ser utilizados tanto
na formação quanto na atuação profissional? Você consegue identificar as
diferenças entre esses conhecimentos? Quais seriam elas?

FINALIZANDO

Esta aula teve como objetivo refletir acerca do entendimento da Educação


Física na realidade social, considerando a importância dos debates
epistemológicos desencadeados nas décadas de 1980 e 1990.
Você pode compreender as mudanças significativas que promoveram
novas ideias e concepções para os profissionais da Educação Física, sem
ignorar sua história e evolução.
Assim, foi possível concluir que estando o conhecimento em constante
construção, não temos respostas concretas e definitivas. Cabe, então, ao
profissional da área de Educação Física identificar as melhores opções para
seus alunos e refletir sobre sua atuação, buscando sempre a melhoria de suas
ações.

11
REFERÊNCIAS

BETTI, M. Educação física como prática científica e pedagógica: reflexões à luz


da filosofia da ciência. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São
Paulo, v. 19, n. 3, p. 183-97, jul./set. 2005.

INTRODUÇÃO à Educação Física. Uninter. Disponível em:


<https://www.passeidireto.com/arquivo/64770700/introducao-a-educacao-
fisica>. Acesso em: 11 nov. 2019.

IORA, J. A.; SOUZA, M. S.; PRIETTO, A. L. A divisão licenciatura/bacharelado


no curso de educação física: o olhar dos egressos. Movimento, Porto Alegre, v.
23, n. 2, p. 461-474, abr./jun. 2017.

LIMA, R. R. História da educação física: algumas pontuações. Revista


Eletrônica Pesquiseduca, Santos, v. 7, n. 13, p. 246-57, jan.-jun. 2015.

SO, M. R.; BETTI, M. A identidade epistemológica da educação física nos


periódicos científicos dos estratos superiores do Qualis-CAPES. Motrivivência,
Florianópolis, v. 28, n. 47, p. 109-127, maio 2016.

TESSER, G. J. Principais linhas epistemológicas contemporâneas. Educar em


Revista, Curitiba, n. 10, p. 91-98, dez. 1994.

12

Você também pode gostar