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RESUMO DO LIVRO MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA1

André Lucas Demétrio de Almeida2


andrelucasnt@gmail.com

A obra inicia-se com uma breve análise de como era visto o fenômeno do comunismo ao
redor do mundo, sobretudo na Europa, onde sofria uma campanha difamatória pelos governos
dos grandes Estados. O âmbito político encarava o comunismo como algo maléfico e até
diabólico, tanto que o papa renegava-o veementemente. Tais fatos comprovavam a força que as
ideias comunistas já haviam ganhado força no mundo.

A partir de então Marx inicia as explanações sobre o que vem a ser burgueses e
proletários. A célebre frase “A história de todas as sociedades até agora tem sido a história das
lutas de classe” mostra a concepção de que as sociedades ao longo do tempo se notabilizavam
pelos confrontos entre a classe dos oprimidos e a classe dos opressores.

Desde a Grécia antiga, com a democracia escravista de Atenas, passando pela Roma
dividida nas classes de plebeus, patrícios e escravos. Na idade média e seus estamentos de clero e
nobreza senhores, vassalos e camponeses. Desse feudalismo é que gradativamente a sociedade
burguesa nasceria. Enfatiza o autor, continuaram existindo classe oprimida e opressora, o que há
de diferente agora são as condições de opressão e as formas de luta no interior da sociedade.

A diferença é a existência de apenas duas classes radicalmente opostas, a burguesia e o


proletariado. Os habitantes dos burgos feudais, homens livres de atividades mercantis originaram
a classe burguesa. Com as crescentes empreitadas de exploração e colonização do Oriente e das
Américas e a classe burguesa viu aumentar o fluxo de seus negócios mundo afora, e seus
negócios prosperaram de tal forma que era necessário tornar tamanho poder econômico em poder
político.

Tamanhas eram as descobertas no “Novo Mundo” que o modo feudalista já não dava
conta, era necessário aumentar a produção para as colônias, e para isso os meios precisavam

Resu o desti ado à avaliação da discipli a Eco o ia Política , i istrada pelo Professor Doutor Gilso Costa.
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Discente devidamente matriculado no 1º semestre do curso de graduação em Direito com matrícula nº
13016002101.
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mudar, e assim foram se desenvolvendo as manufaturas e máquinas no lugar dos artesãos e das
corporações. Tudo isso ocasionou a evolução nos meios de comunicação e transporte no mundo
e comércios cada vez mais vantajosos à burguesia.

Percebe-se assim que a burguesia é também resultado de um grande processo de evolução


histórica de produção de mercadorias e circulação destas. O fortalecimento econômico da
burguesia era cada vez mais unido ao fortalecimento político. Dessa forma, a burguesia atuou
como classe revolucionária e suprimiu as relações feudais de produção. Dominou o Estado e
governou, agora, de acordo com o que interessava à classe que chagara ao poder.

As relações de dominação passavam, então, do plano religioso (Igreja) e político (de


dependência entre classes), para uma dominação no âmbito produtivo e econômico. As
mudanças no modo de produção criaram ambiente propício para uma nova espécie de sociedade.
Em seguida Marx mostra como o capitalismo crescente colaborou com a mundialização da
produção, a necessidade de lucro fomentou a busca incessante por matéria prima e por novos
polos produtivos.

Através do uso da força o capitalismo se alastrava em direção aos territórios “primitivos”


do mundo, ameaçando com discursos de risco de ruína aos locais que não adotassem os
princípios burgueses de produção. Os instrumentos de produção capitalista acabaram por
sobrepor a cidade ao campo, êxodos para a cidade foram crescendo, e a agricultura tornara-se
submissa à indústria, ficara “o campo sob o domínio da cidade (...) as nações agrárias sobre o
jugo das burguesas, o Oriente sob o Ocidente.”.

A ciência com suas descobertas de maneiras mais eficientes de produzir, máquinas e


insumos químicos aumentavam a produtividade, todos esses avanços foram tornando a burguesia
cada vez mais forte e as relações feudais de produção já estavam ultrapassadas e, portanto,
insustentáveis A agricultura e a manufatura estavam agora desgastadas. O livre comércio crescia
e se desenvolvia cada vez mais, sepultando de vez o feudalismo.

As formas de produção capitalista, suas máquinas que favoreceram a criação e a


circulação cada vez mais intensa das mercadorias, seriam também as responsáveis por seus
momentos de crise e dos picos de instabilidade do sistema, a posse privada dos meios de
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produção e as demandas crescentes por consumo aliado às expectativas de crescimento dos


lucros ocasionariam as superproduções e as crises econômicas do capitalismo.

A sociedade burguesa é refém agora de sua própria essência, os meios de produção. E


acaba por arriscá-los e deixar nas mãos da classe contrária o seu manuseio. O proletariado, a
classe daqueles que são forçados a vender suas forças de trabalho para sobreviver. O preço das
mercadorias passa então a englobar todo o trabalho social utilizado em sua produção. O
trabalhador que opera e fiscaliza o funcionamento das máquinas deixa embutido seu trabalho e
sua exploração no produto final.

A obra segue descrevendo os confrontos entre as classes e as revoltas proletárias


ocorridas no século XIX, a população trabalhadora via-se muito oprimida e explorada e
começava a se dar conta que as causas disso eram os meios de produção e os seus detentores,
passariam então a lutar contra o modelo de sociedade que favorecesse tal exploração.

Em seguida o autor analisa as estruturas que favorecem a subsistência da sociedade


capitalista o mundo. Primeiro, a concentração de riquezas nas mãos de poucos que favorecem os
monopólios dos meios de produção. Segundo, para pôr em prática a produção é necessário o
trabalho do assalariado. Terceiro, a própria existência do salário aumenta a concorrência entre os
trabalhadores por empregos. Esse último fato em particular é o que favorece que os trabalhadores
se reúnam de forma revolucionária nas esteiras produtivas das fábricas. Reitera o autor: “A
burguesia produz, antes de mais nada, seus próprios coveiros.”.

O autor passa então a explicar os aspectos ideológicos e políticos do Comunismo.


Segundo o autor os comunistas tem um único ideal: a “supressão da propriedade privada.”. Não a
propriedade que o burguês advoga como conquistada honestamente, mas a propriedade privada
que produz capital. Seria apenas uma transferência, assim como os burgueses extirparam para si
nove décimos da propriedade, os proletários poderiam fazê-lo também. Não se trata de questões
pessoais, mas sim do caráter social da propriedade. O comunismo visa suprimir a exploração do
trabalho alheio.

Marx faz então considerações sobre o papel do direito na sociedade capitalista, segundo
ele: “o direito não é nada mais do que sua classe erigida em lei.” Em seguida reitera seu
posicionamento materialista ao afirmar que os valores normatizados pelo direito são
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determinados por condições materiais de vida. O direito é uma meio que a burguesia busca para
legitimar suas “leis naturais e racionais”. Inclusive se critica ironicamente a exploração do
trabalho infantil legalizado, comprovando-se assim que o material influencia no jurídico. Na obra
em questão, notam-se aspectos de base feminista, quando Marx afirma: “O burguês vê sua
mulher como instrumento de produção.”.

Como a condição para ascensão do proletariado é uma revolução, é necessário que


conquiste a democracia de forma que se possa interferir no direito de propriedade, cerne da
desigualdade humana. Em seguida, Marx elenca políticas a ser colocadas em prática tendo em
vista objetivos comunistas, dentre elas a “Abolição do direito de herança”, e algumas que foram
colocadas em prática (muitas vezes erroneamente) em regimes ditos socialistas no século XX,
dentre as quais a centralização dos transportes na mão do Estado, a formação de forças de
trabalho obrigatório para a agricultura bastantes presentes na União Soviética e na China,
respectivamente. E “Educação pública e gratuita para todas as crianças” não só quanto às
crianças, mas a população em geral que foi alfabetizada em Cuba, por exemplo.

Marx faz críticas àquilo que chama de Socialismo feudal. Este foi gestado pelos
aristocratas do feudalismo que estavam cada vez mais insatisfeitos com o crescente poderio
político alcançado pela burguesia. Segundo o autor é contraditório, pois criticava a exploração
moderna sendo que esta era apenas fruto da ordem social anterior, a ordem feudal. Mais ainda
porque “sua principal acusação à burguesia é exatamente a de que, sob o regime desta,
desenvolve-se uma classe que vai mandar pelos ares toda a velha ordem social.”.

Tal qual o socialismo feudal, o socialismo pequeno-burguês é também criticado por ter
como proposta um retorno à ordem social anterior. A pequena-burguesia medieval, formada pelo
pequeno campesinato e comerciantes próximos às cidades estava cada vez mais sendo suprimida
pela burguesia, e não tinha mais como competir à altura com ela. O ritmo de produção da nova
burguesia era frenético e as contradições, superproduções, crises, jornadas extenuantes e as
desigualdades referentes a essa produção eram bem expostas e criticadas pelos socialistas
pequeno-burgueses. O tradicionalismo pequeno-burguês só acabaria por torná-los proletários
hierarquicamente mais elevados no sistema, nada mais do que isso.
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Depois Marx constrói uma análise daquilo que chama “verdadeiro” socialismo, o
socialismo alemão. Tal corrente defendia a manutenção do status quo favorecedora da burguesia
expressiva na Alemanha, num contexto de burguesia contrária aos senhores feudais e às
monarquias absolutistas, em suma defendia o movimento liberal por excelência. Essa pequena
burguesia alemã temia a ser dominada pela nova burguesia e temia do mesmo jeito o surgimento
de um proletariado revolucionário. O socialismo alemão era o representante dos interesses da
pequena burguesia retrógrada que subsistia ali. Essa corrente padronizava como socialista uma
sociedade homogênea de pequenos burgueses normais, a normalidade seria serem todos
pequenos burgueses. Foi esse tipo de literatura que predominou na Alemanha do século XIX.

Já o socialismo conservador ou burguês é aquele que buscava harmonizar a sociedade


burguesa apenas por mudanças nas condições materiais de vida, sem que isso significasse, é
claro, a abolição das relações de produção burguesa. Tudo era almejado e idealizado por meio de
melhorias administrativas nas relações de produção, mas não mudariam as relações entre capital
e trabalho assalariado, isso como Marx deixa claro só seria possível por meio revolucionário. O
que no máximo ocorreria seria a simplificação e uma ilusória atenuação nas condições de vida do
proletariado o que facilitaria as ações do Estado burguês. O autor classifica o socialismo
conservador como simples discurso retórico em favor dos trabalhadores, mas que era mera ilusão
onírica.

O socialismo e o comunismo crítico-utópicos é o que Marx analisa a seguir. Para ele


eram essencialmente ciências sociais que buscavam doutrinar a sociedade, por meio de
propagandas, e colocar em prática seus planos de sociedade utópica. Visavam melhorar a vida de
todos os segmentos sociais, inclusive os mais ricos, objetivavam, então, toda uma sociedade sem
diferenciações. Era como se fosse necessário apenas conhecer os preceitos desta doutrina para
que a sociedade fosse gradativamente se equalizando. Rejeitavam, contudo toda e qualquer
forma de ação política ou revolucionária, queriam que se atuasse por meios pacíficos e abrir
caminho para o diálogo. Como ponto positivo dessas teorias pode-se exaltar as críticas
formuladas à sociedade burguesa que vivenciavam à época. Seu erro cabal foi o de buscar
atenuar a luta de classes e conciliar os conflitos. Por se fiarem em uma tomada de consciência e
filantropia humana e econômica dos burgueses, acabam por se assemelhar aos socialistas
conservadores, diferenciando-se deles apenas por sua base de cientificidade social. São utópicos
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por acreditarem nesse tipo de ação vindo daqueles que são os opressores e rejeitaram ações
radicais dos oprimidos, como exemplifica o autor: “Os owenistas na Inglaterra reagiram contra
os cartistas, os fourieristas na França contra os reformistas.”.

O manifesto se encerra com exposições sobre a luta política dos partidos comunistas
como oposição nas assembleias. Deixa claro que os comunistas objetivam lutar pelos interesses e
melhorias imediatas na vida da classe trabalhadora, sem, contudo, deixar de lado ou esquecer
seus projetos de futuro. Os partido comunistas da época eram aqueles que, por mais
contraditórios que as vezes fossem, discursavam contra conservadores, burgueses radicais,
monarquias absolutistas, pequenas burguesias e a propriedade feudal como um todo.

Contudo, nunca deixa de esclarecer e doutrinar a classe trabalhadora sobre a luta de


classes e a revolução proletária para a mudança no panorama político e social da sociedade. A
situação instável que passava a Alemanha antes de se firmar como nação era propícia a uma
primeira experiência efetiva de comunismo no mundo.

Todos os comunistas verdadeiros atuam e apoiam nos movimentos que visem contrariar a
ordem burguesa vigente, os comunistas são aqueles que anseiam por novas situações políticas e o
governo de todos que permitisse o real desenvolvimento humano. Trabalham por toda parte para
fomentar o dialogo entre partidos de viés democrático ao redor do mundo. Não ocultam suas
ideias, suas metas e objetivos e declaram abertamente suas aspirações por um intermédio
revolucionário violento, como única forma de se subverter a realidade produtiva burguesa em
favor da classe proletária. Por mais que seja violenta, os trabalhadores não tem nada a perder
com ela, pelo contrário, somente a ganhar sua libertação de um sistema explorador do trabalho e
da humanidade. Então, o livro se encerra com a simbólica frase que norteia o comunismo e os
trabalhadores sonhadores do mundo: “Proletários de todos os países, uni-vos!”.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BOGO, Ademar (org.). Manifesto do Partido Comunista. In. Teoria da organização política. 2.
Ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010. p. 83-125.

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