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Erik Lorran Sousa Magalhães (N° USP 1372879) - Noturno

"Com base em dois autores do curso e das correspondentes leituras obrigatórias,


examine cuidadosamente a tensão entre as promessas políticas da modernidade e as
dinâmicas sociais do próprio mundo moderno que ameaçam ou cancelam essas
promessas".

Constant:
Liberdade dos antigos e liberdade dos modernos, suas diferenças, qualidades e defeitos,
objetivos, etc.;
Governo representativo como algo particular da modernidade, a sua vigilância, etc.;
O comércio, sua relação com guerra, escravos, arbitrariedade, etc.

Manifesto:
Classe burguesa e proletária, luta, diferenças, relação, capitalismo, mercado, indústria, etc.
Comunismo, sua função, diferença, objetivos, a sociedade comunista

Relacionados:
Consta distingue a modernidade com base na liberdade dos modernos, uma liberdade
diferente de qualquer outra, já Marx com base no capitalismo e a luta de classes, proletariado
e burguesia, algo exclusivo da modernidade.
No caso de Constant, o comércio não gerou os resultados esperados, e a revolução de Marx
nunca aconteceu.

O Manifesto, de Marx e Engels, foi um texto feito para expor a corrente comunista para o
mundo. A base do pensamento é a ideia de que a história das sociedades é guiada pela
história da luta de classes, opressores e oprimidos, as classes da modernidade são apenas
novas formas das antigas classes, e a classe do proletariado é a nova classe revolucionária que
levará a sociedade para um novo sistema social. Constant foca na diferença entre a
modernidade e os tempos antigos, sendo a principal distinção a forma de liberdade. Em seu
texto ele aborda as diferenças entre a liberdade dos antigos, a liberdade política é mais
importante que a liberdade individual, e a liberdade dos modernos, que é o contrário, e suas
implicações na sociedade.
Marx e Engels buscam explicar de forma geral toda uma ideologia, que no final justifica as
causas do movimento, primeiro explicam a origem das classes modernas, que se dá com a
queda dos feudos. Os moradores dos burgos, que também foram os antigos servos da
idade média, viriam a se tornar burgueses, o que possibilitou esse desenvolvimento foi a
descoberta da América e a circum-navegação. Logo a organização feudal, baseada na
agricultura e manufatura, foi substituída, quando a manufatura se tornou ultrapassada,
e a organização feudal não conseguia acompanhar a nova lógica dos meios de produção
e de troca, as máquinas tomaram o seu lugar e deram início a indústria, consagrando os
burgueses modernos, os milionários da indústria, o que acabou criando o mercado
mundial acelerando ainda mais essa mudança, comércio, comunicação, indústria,
navegação, cresciam junto com a acumulação de capital da burguesia.
No texto de Constant podemos ver que ele também analisa esses fatos históricos, mas chega
em conclusões diferentes. Para ele a modernidade se distancia quando ela se torna mais
extensa do que a sociedade antiga, ele diz que qualquer estado moderno é maior do que
qualquer república, por conta disso seu povo era mais ligado com as relações públicas.
Consequentemente, os sistemas antigos não necessitavam da liberdade dos modernos.
A liberdade dos antigos era necessária em sua época, os cidadão exerciam influência direta
em todas as áreas administradas pelo governo, era natural que o indivíduo se sujeitasse ao
coletivo. Já a liberdade dos modernos é o direito de não se submeter a ninguém, somente à
lei, opinar livremente, escolher seu trabalho, de ter sua propriedade e ter alguma influência,
mesmo que indiretamente, na administração do governo.
Já no Manifesto, que se baseia na luta de classes, a burguesia foi uma classe
revolucionária, destruiu as antigas relações feudais, o que antes era liberdade religiosa e
política agora era a liberdade do comércio. A burguesia é distinta das antigas classes,
ela constantemente muda as relações sociais, para continuar existindo ela tem que
revolucionar os meios e as relações de produção, ela acompanha a expansão do
mercado, se estabelecendo em toda parte, faz parte do seu caráter cosmopolita, as
demandas se tornam internacionais, então, o comércio se torna internacional. A
burguesia concentra a população, centraliza os meios de produção e propriedades na
mão de poucos. O que possibilita a centralização política. Territórios antes
independentes agora seguem uma mesma lei, a lei do livre comércio. Também houve
avanços na área da política, o estado representativo moderno é uma conquista
burguesa, o executivo no Estado moderno está a serviço da classe burguesa.
Sobre o estado representativo, Constant também entende que ele é exclusivo da modernidade,
porém, ele surge por necessidade. A liberdade dos modernos naturalmente se afasta dos
direitos políticos, os indivíduos querem mais tempo para tratar de seus interesses privados,
daí a necessidade de representantes.
Outra característica comum, ao mesmo tempo diferente, em ambos os textos é o comércio.
Para Constant o comércio é um substituto da guerra, ambas formas de conseguir aquilo que
não possuímos, e na modernidade o comércio, que era a exceção, vira a regra. Ele cumpre sua
função sem necessitar de autoridades, além disso, sempre que o coletivo quer ditar as regras
mais atrapalha do que ajuda, e o governo não tem a mesma capacidade que os indivíduos para
fazer negócios.
Porém, na lente da luta de classes, as forças produtivas criadas pela burguesia,
máquinas, navegação a vapor, telégrafo, são as maiores já criadas. Os feudos não
conseguiam acompanhar esse progresso, o que surgiu no seu lugar foi a livre
concorrência. Porém, a sociedade moderna já não tem mais controle dos meios de
produção, há uma revolta das forças produtivas contra as relações de produção. E então
temos as crises comerciais, essas crises destroem grande parte da produção e forças
produtivas, é a civilização do excesso, indústria, comércio, e produção em excesso. As
forças produtivas que antes mantinham o desenvolvimento das relações burguesas
agora são contidas pela própria burguesia, e quando a burguesia não consegue contê-las
a sociedade fica em desordem e a burguesia é ameaçada. Mas a burguesia lida com elas
de algumas formas, destruindo uma grande quantidade das forças de produção, ou
explorando elas de formas mais intensas ou conquistando novas formas.
E quem opera essas forças é a classe oprimida, os operários modernos, vivem por meio
do trabalho, são como qualquer outra mercadoria, com o advento das máquinas e a
divisão do trabalho eles perdem a autonomia do próprio trabalho, tendo agora um
trabalho monótono e simples, o que torna possível a diminuição do seu salário ao
mínimo necessário para sua subsistência, e ao mesmo tempo possibilita o aumento da
quantidade de trabalho, seja pelo aumento da carga horária, mais exigências ou
aumento da eficiência das máquinas. Porém, conforme a burguesia se desenvolve,
desenvolvem também a classe dos operários.
O que antes era a oficina do mestre, agora na modernidade virou a grande fábrica da
indústria capitalista, dezenas de funcionários enfileirados e constantemente vigiados,
com seu avanço até mesmos as crianças e mulheres ficam sujeitas a essa rotina, assim
comos os pequenos industriais, pequenos comerciantes também incorporam as fileiras
do proletariado, pois não conseguem competir com as grandes indústrias.
Com o aumento da consciência de classe os conflitos se intensificam, a luta de classes
começa com operários isolados até que se juntam em uma grande massa, contra as
relações burguesas e os meios de produção. Mas essa união inicialmente se dá pela união
da burguesia, que usa esses operários para lutar contra outros burgueses, ou seja, a
vitória dessas lutas são da burguesia e não do proletariado.
Com o desenvolvimento da indústria, concorrência entre os burgueses, crises
comerciais, salários cada vez menores, máquinas mais eficientes, condições de trabalho
precárias, faz com que o proletariado se multiplique, e adquirem mais força e mais
consciência de seu poder. Para proteger seus interesses, os proletários se juntam contra
os burgueses. Essas lutas geram mais consciência na classe, ela se espalha e se torna
nacional, uma verdadeira luta de classes, e toda luta de classes é uma luta política. Essa
organização se torna política, um partido político, que é constantemente atacado pela
concorrência que também tem operários, mas isso é superado e eles se tornam mais
fortes, e se aproveitam das divisões internas da burguesia, eles se vêem forçados a usar o
proletario em suas lutas levando eles para o meio político, ou seja, ensinam eles a lutar,
esse conhecimento se acula com aquele trazido pelos antigos comerciantes e pequenos
industriais que agora são da classe proletária.
Assim, percebemos que a classe proletária é a única revolucionária, as outras são
conservadoras ou até reacionárias. As antigas classes que chegaram ao poder colocavam
a sociedade sob as suas condições de apropriação, e o proletariado só se apropriará dos
meios de produção quando abolir o modo de apropriação existente, toda e qualquer
garantia da propriedade privada deve ser destruída, a revolução francesa destruiu a
propriedade feudal, e o comunismo almeja abolir a propriedade burguesa.
A história da luta de classes mostra que a classe dominante garante a existência da
classe servil, e a burguesia já não consegue mais fazer isso, ou seja, ela não tem mais
poder de exercer sua soberania na sociedade. A condição de existência da burguesia é a
acumulação de riqueza e a criação e crescimento de capital, e a condição de existência
do capital é o trabalho assalariado. O desenvolvimento da indústria uni os operários, a
burguesia cava a sua própria cova, sua derrota é inevitável.
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O partido da classe proletária é o partido comunista, ele representa a classe como um
todo. Ele tem compreensão das condições do proletariado, seu objetivo é unir a classe,
acabar com a supremacia burguesa, ou seja, acabar com a propriedade privada
burguesa, e conquistar o poder político pelo proletariado. A propriedade pessoal,
anterior a propriedade burguesa é abolida pela própria indústria, o trabalho
assalariado cria propriedade para o burguês, cria capital, e não para o proletário. O
capital é movimentado por toda a sociedade, é um poder social que está na mão da
minoria. O que o proletário recebe pelo seu trabalho é somente o necessário para sua
subsistência, o que o partido comunista quer é a abolição dessa apropriação da
burguesia, na sociedade comunista o trabalho acumulado enriquece e melhora as
condições de vida do trabalhador e não da burguesia. Para burguesia isso é suprimir a
individualidade e a liberdade, mas essa liberdade do comércio, comprar e vender, mas
isso só se aplica nessa relação de produção, o partido comunista não vê essa abolição
como errada, pois a relação atual não permite que a maioria tenha propriedade e o
fruto de seu trabalho é todo da burguesia.
Constant por não olhar a sociedade pela lente da luta de classe vê um lado mais positivo do
comércio. O comércio possibilita a circulação da mercadoria, antes a autoridade poderia
influenciar na posse das mercadorias, mas a circulação delas impede isso, então, o comércio
além de emancipar o indivíduo também subjuga a autoridade. A autoridade é subjugada por
meio do crédito, diferente dos antigos os indivíduos têm mais poder que os poderes políticos.
Por isso os modernos precisam de um sistema representativo, para que tenham mais tempo
para seus interesses particulares.
O manifesto busca suprimir algumas dessas verdades, essa supressão das ideias burguesas
para Constant é vista como uma tentativa de retrocesso, pois esses direitos são eternos.
Constant cita a educação que pare ele, deve ser vigiado pelos indivíduos, e não controladas
por autoridades; a religião também segue a mesma lógica, não deve ser seguida de forma
cega. Em suma, tempos modernos pedem a liberdade dos modernos, e essa liberdade é a
individual que é defendida pela liberdade política.
Para o partido comunista certas ideias têm que ser suprimidas, supressão da família
burguesa que se repousa sobre o capital e ganho individual; supressão da educação
doméstica, no lugar dela uma educação social, na visão do partido comunista a
educação doméstica também é social, mas com valores burgueses; introduzir a
comunidade das mulheres, o partido diz que ele sempre existiu, isso não é mérito dele, e
no seu ponto de vista a burguesia vê a mulher como qualquer outro instrumento de
produção; supressão do casamento, o partido vê o casamento como uma simples
comunidade de mulheres casadas, e com a queda das relações de produção ela
naturalmente acabará; supressão do patriotismo, na sua visão os operários não têm
pátria, quando acabar o antagonismo de classes acabará a hostilidade entre as nações;
supressão das ideias burguesas, religião, moral, liberdade, justiça, são comuns a todas
as sociedades, verdades eternas, mas o comunismo quer dar uma nova forma a esses
valores.
Para conquistar o poder o proletariado utilizará da sua supremacia política para tomar
o capital da burguesia pouco a pouco, centralizar os meios de produção na mão do
estado e aumentar o número das forças produtivas, essas medidas parecem
economicamente insustentáveis, mas serão indispensáveis, será diferente em cada país,
mas terão algumas medidas comuns em países suficientemente desenvolvidos, cita dez
lá, quando o antagonismo desaparecer o poder político também irá, pois ele serve para
oprimir outra classe, assim a sociedade terá um livre desenvolvimento individual, que é
a condição para o livre desenvolvimento de todos.
Constant não vê esse engajamento político nos modernos, na verdade ele tem uma crítica aos
modernos, eles muitas das vezes negligenciam a liberdade política. Ela é quem vai garantir a
liberdade individual, mesmo que ela seja característica dos antigos, ela não pode ser deixada
de lado, o autor argumenta que, como os modernos buscam a liberdade individual de forma
mais intensa que os antigos e essa liberdade é assegurada pela liberdade política se esta fosse
atacada os modernos não poupariam esforços para defender ela.

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